O Quinto Império: Fernando Pessoa
O Quinto Império: Fernando Pessoa
O Quinto Império: Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Mariana Anjos
O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
E assim, passados os quatro
Faça até mais rubra a brasa
Tempos do ser que sonhou,
Da lareira a abandonar!
A terra será teatro
Triste de quem é feliz! Do dia claro, que no atro
Vive porque a vida dura. Da erma noite começou.
Nada na alma lhe diz
Grécia, Roma, Cristandade,
Mais que a lição da raiz —
Europa — os quatro se vão
Ter por vida a sepultura.
Para onde vai toda idade.
Eras sobre eras se somem Quem vem viver a verdade
No tempo que em eras vem. Que morreu D. Sebastião?
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
Os quatro Impérios
Quem vive apenas por viver, sem sonhos e ideais Triste de quem é feliz!
é semelhante a uma raiz: vive como se estivesse Vive porque a vida dura.
sepultado. Os nomes «raiz« e «sepultura» Nada na alma lhe diz
associam-se ao imobilismo e à ausência de vida Mais que a lição da raiz —
e de sonho. Limitam-se a existir, a sobreviver. 10. Ter por vida a sepultura.
Condição humana
2ªParte