O Quinto Império: Fernando Pessoa

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O Quinto Império

Fernando Pessoa
Mariana Anjos
O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
E assim, passados os quatro
Faça até mais rubra a brasa
Tempos do ser que sonhou,
Da lareira a abandonar!
A terra será teatro
Triste de quem é feliz! Do dia claro, que no atro
Vive porque a vida dura. Da erma noite começou.
Nada na alma lhe diz
Grécia, Roma, Cristandade,
Mais que a lição da raiz —
Europa — os quatro se vão
Ter por vida a sepultura.
Para onde vai toda idade.
Eras sobre eras se somem Quem vem viver a verdade
No tempo que em eras vem. Que morreu D. Sebastião?
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
Os quatro Impérios

Grego Romano Cristão Europeu

Da Terceira Parte: O Encoberto (D. Sebastião), este é o segundo símbolo, o do


Quinto Império que iluminará a alma nacional revelando-lhe grandeza futura.
Conformismo
1ªParte
É triste a ideia do comformismo porque sem 1. Triste de quem vive em casa,
ideias e sonhos a sociedade não evolui, estagna. Contente com o seu lar,
Mito de Ícaro e as asas de cera. Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Costume romano de levar as brasas para a nova 5. Da lareira a abandonar!
casa.

Quem vive apenas por viver, sem sonhos e ideais Triste de quem é feliz!
é semelhante a uma raiz: vive como se estivesse Vive porque a vida dura.
sepultado. Os nomes «raiz« e «sepultura» Nada na alma lhe diz
associam-se ao imobilismo e à ausência de vida Mais que a lição da raiz —
e de sonho. Limitam-se a existir, a sobreviver. 10. Ter por vida a sepultura.
Condição humana
2ªParte

O que distingue o ser humano dos outros seres


é precisamente a capacidade de imaginar, Eras sobre eras se somem
sonhar, lutar por objetivos e ideais. No tempo que em eras vem.
Note-se que este verso é chave, que ocupa a Ser descontente é ser homem.
posição de centralidade (12 versos antes e Que as forças cegas se domem
depois), que remete para uma condição inerente 15. Pela visão que a alma tem!
ao próprio homem: o descontentamento.
O Quinto Império
3ªParte
Os quatro impérios: Grego, Romano, Cristão, E assim, passados os quatro
Europeu. Tempos do ser que sonhou,
Das trevas da noite deserta e esta escuridão A terra será teatro
dará lugar à luz ou verdade ou Quinto Império, Do dia claro, que no atro
que resplandecerá de paz e harmonia. 20. Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,


Os quatro impérios anteriores morreram.
Europa — os quatro se vão
É da morte de D. Sebastião que nasce o «sonho»
Para onde vai toda idade.
que faz a «brasa» «mais rubra». Que nasce o
Quem vem viver a verdade
quinto império, o império da verdade.
25. Que morreu D. Sebastião?
World Poetry Day infographics
What a sonnet is? When I consider how my light is spent,
Ere half my days in this dark world and wide,
Despite being red, Mars is And that one talent which is death to hide
actually a cold place. It's full of Lodged with me useless, though my soul more bent
iron oxide dust, which gives the To serve therewith my Maker, and present
planet its reddish cast My true account, lest He returning chide;
“Doth God exact day-labor, light denied?”
The sonnet is divided into fourteen I fondly ask. But Patience, to prevent
(14) hendecasyllable lines (that is, That murmur, soon replies, “God doth not need
eleven syllables) divided into two Either man’s work or His own gifts. Who best
quatrains and two triplets. Bear His mild yoke, they serve Him best. His state
In each of the quatrains, the first Is kingly: thousands at His bidding speed,
verse rhymes with the fourth, and And post o’er land and ocean without rest;
the second with the third They also serve who only stand and wait.”
Estrutura Interna
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
5 estrofes, todas quintilhas; Sem que um sonho, no erguer de asa,
E assim, passados os quatro
Faça até mais rubra a brasa
Esquema rimático: ABAAB; Tempos do ser que sonhou,
Da lareira a abandonar!
A terra será teatro
Tipo de Rima: cruzada, Tris/te/de/quem/é/fe/liz! Do dia claro, que no atro
emparelhada e interpolada; Vive porque a vida dura. Da erma noite começou.
7 sílabas métricas Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz — Grécia, Roma, Cristandade,
Ter por vida a sepultura. Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem. Quem vem viver a verdade
Ser descontente é ser homem. Que morreu D. Sebastião?
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
Estrutura Interna
Divisão
1.ª parte (estrofes 1 e 2) ‑ O sujeito poético 1.ª parte (estrofes 1 a 3) - Reflexão acerca
lamenta a sorte daqueles que vivem felizes da vivência humana e da importância do
com a mediocridade e faz a apologia do sonho.
sonho como única forma de aceder a
grandes feitos.  2.ª parte (estrofes 4 e 5) - Anúncio de uma
nova época, de um novo império.
2.ª parte (estrofe 3) ‑ Reflexão sobre a
passagem do tempo e sobre a condição
indispensável para ser homem ‑ a
insatisfação. 
3.ª parte (estrofes 4 e 5) ‑ O sujeito poético
anuncia, profeticamente, a chegada do
Quinto Império.
Estrutura Interna
Paradoxo – (v.1-2 e v.6) Pessoa exprime duas ideias, critica 1. Triste de quem vive em casa,
aqueles que se adaptam á vida e a felicidade dos mesmos que
Contente com o seu lar, E assim, passados os quatro
se conformam.
Sem que um sonho, no erguer Tempos do ser que sonhou,
Anáfora – (v.1, v.6). Esta anáfora é utilizada com o intuito de de asa,
enfatizar a passividade daqueles que vivem felizes com o A terra será teatro
Faça até mais rubra a brasa
pouco que têm como daqueles que já possuem algo mais mas Do dia claro, que no atro
5. Da lareira a abandonar!
mesmo assim não possuem um espírito sonhador. 20. Da erma noite começou.
Repetição – (v. 11) salienta a passagem do tempo. Triste de quem é feliz!
Antítese – (v.19-20) que nos remete há escuridão do Vive porque a vida dura. Grécia, Roma, Cristandade,
desconhecido "erma noite " em contraste com a luminosidade Nada na alma lhe diz Europa — os quatro se vão
do saber "Do dia claro". Mais que a lição da raiz — Para onde vai toda idade.
Enumeração – (v. 21-22) indicando que estes países chegaram 10. Ter por vida a sepultura. Quem vem viver a verdade
ao fim derrotados pelo tempo. 25. Que morreu D. Sebastião?
Interrogação retórica – (v.25) apelando assim à verdade que Eras sobre eras se somem
não quer ser vivida pelos portugueses bem como um apelo ao No tempo que em eras vem.
quinto império. Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
15. Pela visão que a alma tem!
Poeta
Falar sobre o autor
Demografias Interesses
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa é o mais universal
Origin: Portugal
poeta português. Por ter sido educado
Nascimento: 13/12/1888 na África do Sul, numa escola católica
irlandesa de Durban, chegou a ter
Morte: 30/11/1935 maior familiaridade com o idioma
inglês do que com o português ao
Movimento: modernismo escrever os seus primeiros poemas
nesse idioma. O crítico literário Harold
Profissão: Poeta, filósofo, Bloom considerou Pessoa como
Outros Nomes dramaturgo, ensaísta, "Whitman renascido", e o incluiu no
Alberto Caeiro tradutor, publicitário, critico seu cânone entre os 26 melhores
Álvaro Campos literário escritores da civilização ocidental, não
Ricardo Reis apenas da literatura portuguesa mas
Bernardo Soares também da inglesa.

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