Segunda Geração Modernista - Poesia

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A segunda fase do Modernismo (1930-1945)

AMARAL, Tarsila do. Operrios. 1933. leo sobre tela, 150x230 cm.
A segunda fase do Modernismo (1930-1945):
Momento histrico

1929: A diminuio do consumo de caf no mercado mundial,


provocada pela crise desencadeada pela quebra da bolsa, fez despencar
o preo do caf brasileiro no mercado internacional.

1937: Estava decretado o Estado Novo. Vargas passou a exercer o poder


de modo autoritrio e centralizador.

1939: Incio da Segunda Guerra Mundial. Ela nos obrigou a enfrentar a


barbrie humana e a reconhecer que o preconceito e o desejo
desmedido de poder podem levar perda de milhes de vidas.
A segunda fase do Modernismo (1930-1945):
Momento histrico

1945: Lanamento das bombas atmicas em Hiroshima e


Nagasaki. Foi a ltima fronteira da tica derrubada pela
cincia: o ser humano havia descoberto uma forma
eficiente de exterminar a prpria raa.

Estava criado o contexto para que a arte assumisse uma


perspectiva mais intimista e procurasse as respostas para as
muitas dvidas existenciais desencadeadas por todo esse
cenrio de horror e destruio.
Poesia: misticismo e conscincia social

Conquistas da primeira gerao: o verso livre, a afirmao de uma


lngua brasileira, a priorizao da paisagem nacional e a abordagem de
temas ligados ao cotidiano.

Enquanto a primeira gerao modernista experimentou uma grande


variedade de temas e tcnicas, a segunda gerao caracterizada por
uma produo com forte dimenso social.

O contexto sociopoltico define o foco para a poesia desse momento.


A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Poesia

Poesia de questionamento da existncia humana.

Inquietaes sociais, religiosas, filosficas e amorosas.

Amadurecimento das conquistas da primeira gerao: versos


livres e brancos convivem com outros rimados e de mtrica fixa.

Estrutura sinttica dos versos mais elaborada: questionar a


realidade exige uma elaborao sinttica de complexidade
equivalente.
A segunda fase do Modernismo (1930-1945):
Poetas importantes
Carlos Drummond de Andrade;

Jorge de Lima;

Murilo Mendes;

Ceclia Meireles;

Vincius de Moraes;

Mrio Quintana.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Considerado o maior poeta


brasileiro do sculo XX. Se considerarmos
sua carreira potica, podemos perceber
que certas temticas afloram de sua poesia:
A complexidade do eu;
O amor em suas mltiplas faces;
Sua terra natal (Itabira-MG) e sua
famlia;
Dilemas existenciais o eu e o mundo;
Questes sociais (injustias,
contradies, etc);
O fazer potico e a funo do poeta.
Mos Dadas

No serei o poeta de um mundo caduco.


Tambm no cantarei o mundo futuro.
Estou preso vida e olho meus companheiros
Esto taciturnos mas nutrem grandes esperanas.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente to grande, no nos afastemos.
No nos afastemos muito, vamos de mos dadas.
No serei o cantor de uma mulher, de uma histria.
no direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
no distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
no fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo a minha matria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento


na vida de minhas retinas to fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
O boi v os homens
To delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
no sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
at sinistros. Coitados, dir-se-ia no escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como tambm parecem no enxergar o que visvel
e comum a cada um de ns, no espao. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam crueldade.
Toda a expresso deles mora nos olhos - e perde-se
a um simples baixar de clios, a uma sombra.
[...] Tm, talvez,
certa graa melanclica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitao incmoda e o translcido
vazio interior que os torna to pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agnicos: desejo, amor, [cime
(que sabemos ns?), sons que se despedaam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a gua,
difcil, depois disto, ruminarmos nossa verdade.
Jorge de Lima (1893-1953)

Filho de um senhor de engenho


decadente, Jorge conheceu de perto a
realidade escravocrata nordestina que
prevaleceu mesmo depois da abolio.
Seus poemas esboam um
interessante painel da realidade brasileira.
Porm, alm de textos de carter social,
tambm escreveu poemas de cunho
religioso.
A incorporao de variedades
lingusticas aos seus textos e a elaborao
rtmica so traos marcantes da sua poesia.
Essa negra ful

Ora, se deu que chegou Essa negrinha Ful! Ful! Ful!


(isso j faz muito tempo) ficou logo pra mucama (Era a fala da Sinh
no bang dum meu av pra vigiar a Sinh, Chamando a negra Ful!)
uma negra bonitinha, pra engomar pro Sinh! Cad meu frasco de cheiro
chamada negra Ful. [...] Que teu Sinh me mandou?
Ah! Foi voc que roubou!
Essa negra Ful! Ful! Ful! Ah! Foi voc que roubou!
Essa negra Ful! (Era a fala da Sinh)
vem me ajudar, Ful, Essa negra Ful!
Ful! Ful! vem abanar o meu corpo Essa negra Ful!
(Era a fala da Sinh) que eu estou suada, Ful!
Vai forrar a minha cama vem coar minha coceira, O Sinh foi ver a negra
pentear os meus cabelos, vem me catar cafun, levar couro do feitor.
vem ajudar a tirar vem balanar minha rede, A negra tirou a roupa,
a minha roupa, Ful! vem me contar uma histria, O Sinh disse: Ful!
que eu estou com sono, Ful! (A vista se escureceu
Essa negra Ful! que nem a negra Ful).
Essa negra Ful! O Sinh foi aoitar Ful! Ful!
Essa negra Ful! sozinho a negra Ful. Cad, cad teu Sinh
A negra tirou a saia que Nosso Senhor me
Ful! Ful! e tirou o cabeo, mandou?
Cad meu leno de rendas, de dentro dle pulou Ah! Foi voc que roubou,
Cad meu cinto, meu nuinha a negra Ful. foi voc, negra ful?
broche,
Cad o meu tero de ouro
que teu Sinh me mandou? Essa negra Ful!
Ah! foi voc que roubou! Essa negra Ful!
Ah! foi voc que roubou! Essa negra Ful!

Essa negra Ful!


Essa negra Ful!
Mulher proletria

Mulher proletria nica fbrica


que o operrio tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superproduo de mquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braos para o senhor burgus.

Mulher proletria,
o operrio, teu proprietrio
h de ver, h de ver:
a tua produo,
a tua superproduo,
ao contrrio das mquinas burguesas
salvar o teu proprietrio.
Murilo Mendes (1901-1975)

Poeta multifacetado, escreveu


poemas, crnicas e textos crticos.
Sua poesia abarca tendncias
distintas: poemas humorsticos e
pardicos, poemas de inspirao
surrealista, e poemas de cunho religioso.
O misticismo catlico pode ser
apontado como um dos traos mais
marcantes de sua obra.
O filho do sculo

Nunca mais andarei de bicicleta Os vivos pedem vingana


Nem conversarei no porto Os mortos minerais vegetais pedem vingana
Com meninas de cabelos cacheados a hora do protesto geral
Adeus valsa "Danbio Azul" a hora dos vos destruidores
Adeus tardes preguiosas a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Adeus cheiros do mundo sambas Fomes desejos nsias sonhos perdidos,
Adeus puro amor Misrias de todos os pases uni-vos
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem Fogem a galope os anjos-avies
No tenho foras para gritar um grande grito Carregando o clice da esperana
Cairei no cho do sculo vinte Tempo espao firmes porque me abandonastes.
Aguardem-me l fora
As multides famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
a hora das barricadas
a hora da fuzilamento, da raiva maior
O mau samaritano

Quantas vezes tenho passado perto de um doente,


Perto de um louco, de um triste, de um miservel,
Sem lhes dar uma palavra de consolo.
Eu bem sei que minha vida ligada dos outros,
Que outros precisam de mim que preciso de Deus
Quantas criaturas tero esperado de mim
Apenas um olhar que eu recusei.

A tentao

Diante do crucifixo
Eu paro plido tremendo
J que s o verdadeiro filho de Deus
Desprega a humanidade desta cruz.
Ceclia Meireles (1901-1964): a vida efmera e transitria

Do ponto de vista formal, a escritora foi


uma das mais habilidosas em nossa poesia
moderna, sendo cuidadosa sua seleo
vocabular e forte a inclinao para a
musicalidade e para o verso curto.

A frequente presena de elementos como o


vento, a gua, o mar, o ar, o tempo, o espao,
a solido e a msica d poesia de Ceclia
Meireles um carter fluido e etreo, que
confirma a inclinao neossimbolista da
autora.

Raramente a poesia de Ceclia Meireles foge


orientao intimista.
4.2.2. Ceclia Meireles (1901-1964): a efemeridade do tempo

Ceclia Meireles cultivou uma poesia


reflexiva, de fundo filosfico, que aborda,
entre outros, temas como a transitoriedade
da vida, o tempo, o amor, o infinito, a
natureza, a criao artstica.
Mas no se deve entender sua atitude
reflexiva como uma postura intelectual,
racional. Ceclia foi antes de tudo uma
escritora intuitiva, que sempre procurou
questionar e compreender o mundo a partir
de suas prprias experincias.
Desses temas, os que mais se destacam so a
fugacidade do tempo e a efemeridade das
coisas.
4.2.2. Ceclia Meireles (1901-1964): a efemeridade do tempo

Ela mesma revelou os objetivos que


buscava alcanar por meio da poesia:
Acordar a criatura humana dessa
espcie de sonambulismo em que
tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhe
a vida em profundidade. Sem
pretenso filosfica ou de salvao
mas por uma contemplao potica
afetuosa e participante.
MotivoEu canto porque o instante existe
e a minha vida est completa.
No sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmo das coisas fugidias,
no sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneo ou me desfao,
- no sei, no sei. No sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a cano tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

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