Por Uma Defesa Contundente Do Fim Da Greve
Por Uma Defesa Contundente Do Fim Da Greve
Por Uma Defesa Contundente Do Fim Da Greve
Tenho observado que muitos criticam os que so contra a greve por eles no apresentarem melhores solues para a conquista das reivindicaes da pauta. Gostaria de comear aqui (e que fosse continuada por outras ideias) uma defesa formal e fundamentada do fim da greve. Alm disso, conclamar a uma reviso de processos do movimento estudantil praticado na Unifesp. ENTENDENDO A DINMICA DA GREVE ESTUDANTIL Brevemente preciso entender a dinmica da greve, pois a greve estudantil tem diferenas essenciais da greve de trabalhadores. Ela a interrupo coletiva e imediata do comparecimento dos alunos s aulas aps aprovao pela maioria presente em uma determinada assembleia. Os alunos se mantm neste estado de no comparecimento at que as negociaes com a reitoria a respeito da pauta de reivindicaes sejam concludas, ou por outra assembleia que opte pelo fim da greve, quando ento todos os alunos retomam o comparecimento s aulas. Como toda greve, h uma parte reclamante (os alunos, no caso) e uma parte reclamada (a reitoria). So os dois sujeitos da negociao, que envolve um processo simples de troca - o reclamante quer ver atendidas suas reivindicaes, enquanto a parte reclamada quer ver restabelecida a normalidade em um terceiro elemento da dinmica, que no caso da greve estudantil o campus e suas aulas, e no caso de trabalhadores o local de trabalho e sua produo. Na greve, preciso considerar que a interrupo da normalidade prejudica a parte reclamada de alguma forma e que ela, por ser usada como forma de negociao (a normalidade est para o reclamado assim como as reivindicaes esto para o reclamante), por uma questo lgica, no deve prejudicar o reclamante mais do que as reivindicaes podem trazer de benefcios. Alm disso, uma atividade drstica, que obriga a negociao a ocorrer por meio de uma troca de algo que se tomou fora para o reclamante: o poder sobre a normalidade, que em estado normal comumente dividido. Esquematizando, seria algo como: Em estado normal: RECLAMANTE (normalidade)
RECLAMADO
Em estado grevista: RECLAMANTE (normalidade) ----- negociao ----- (reivindicaes) RECLAMADO A greve surgiria, portanto, de uma perturbao da normalidade entre reclamante e reclamado. Em condies de equilbrio, ambos partilham do mesmo interesse no andamento normal das atividades. Aps a greve, tornam-se antagnicos, cada um com sua moeda de troca: a normalidade s pode ser devolvida pelo reclamante, enquanto s o reclamado pode satisfazer as reivindicaes do reclamante. O CASO UNIFESP Vejamos como esta breve teoria seria aplicada Unifesp. De fato o equilbrio do andamento normal das atividades foi perturbado: as instalaes do campus e sua localizao no abrigam as condies necessrias para tal. Logo, surge o reclamante (os alunos) e o reclamado (a reitoria), pois ela quem deveria prover boa instalao e acesso aos seus alunos. Ponto interessante que a reitoria tambm se prejudica com isto: como ela avaliada pelo MEC (lembremos que a reitoria pode se tornar reclamante contra o Ministrio da Educao) pela produo de seus alunos, e as dificuldades do campus impedem melhor produo, logo a reitoria perde em avaliao e se autoprejudica na relao de normalidade com MEC. No so todos os alunos que esto dispostos a serem reclamantes numa dinmica grevista. Eles preferem negociar dentro da prpria perturbao da normalidade. Como a greve instaurada por uma maioria acidental na assembleia (pois atrelada presena em dia e horrio restritos, sendo qualquer presena uma possibilidade casual, dependente de conjunturas pessoais de cada estudante), ela no representa cientificamente uma vontade dos alunos capaz de homogeneizar o corpo discente numa s parte reclamante. Isto , o poder de negociao dos alunos menor tendo em vista que o seu poder sobre a normalidade instvel durante as negociaes da greve. Uma contradio bsica em relao s assembleias que, pensando racionalmente, antes de a greve acontecer, antes da assembleia, os que so a favor e contra j esto definidos. No importa onde a pessoa esteja, ela sabe se quer ou no a greve. necessria uma forma de conhecer esta vontade de cada um, contar e concluir quem maioria. E ento, em vez de privilegiar a identidade, privilegia-se a localizao, algo completamente fora de contexto. o local e a reunio neste local que determina a maioria. A identidade de cada um simplesmente descartada. Alm disso, o cessar da normalidade no prejudica o reclamado tanto quanto a prpria perturbao da normalidade. Como a atividade normal j prejudicada, a greve pode vir a intensificar esta perturbao, mas o seu efeito nocivo reitoria minimizado por aquilo que prejudica tambm aos alunos - a falta de aulas, a necessidade de rep-las, o desgaste interno entre os reclamantes e com os professores, etc. Logo, se as condies de normalidade j
esto alteradas, a greve uma redundncia. O mesmo vale para as empresas: a normalidade perturbada diminui a produo. Mas os trabalhadores tm algo que os alunos no possuem - o poder sobre a gerao de receita para o reclamado. Com greve ou sem greve, o salrio do reitor e de seu gabinete sero rigorosamente pagos pela Unio, ou seja, para o reitor, controlar a greve apenas uma parte de seu trabalho, como qualquer outra. A greve no o impele a agir porque no passa de algo inerente a seu dia a dia. Muitos questionaro porque, ento, outros movimentos grevistas tiveram alguns sucessos. Lembremo-nos que, com a normalidade em perturbao, a reitoria e os alunos esto sendo prejudicados. Para solucionar a greve, basta que o reitor ceda quelas reivindicaes dos alunos que sejam iguais quilo que a prpria reitoria teria de fazer para no se prejudicar. A greve estudantil pede reitoria que ela faa o prprio trabalho. Uma greve de trabalhadores no coloca a prpria normalidade como pauta de reivindicaes, porque eles tm o poder de restabelec-la. Manter a normalidade dever e vantagem para o reclamado. Os trabalhadores exigem um elemento externo normalidade - reivindicaes ligadas salrio ou qualidade de vida fora da empresa. Logo, urge mais uma contradio: o reclamante estudantil, na greve, coloca a prpria normalidade como reivindicao, ou seja, quer devolver aquilo que toma para si como moeda de troca. Sem muito alarde, o reitor utiliza a prpria funo como forma de satisfazer o reclamante, que sai acreditando que a conquista ocorreu por sua luta. Duplamente o reitor sai reforado de toda greve: por fazer o seu trabalho e por tornar este trabalho um agrado, uma concesso. Concede ao prprio trabalho, ento, uma valorao. O QUE FAZER? No resta outra forma de o reclamante estudantil negociar a no ser durante a perturbao da normalidade. Em condies espordicas e constantes, no definitivas, como a greve. Por exemplo, em determinado dia do ano passado, lembro-me que o fretado atrasou muito e vrias pessoas chegaram Unifesp aps as 21h. Todos se reuniram imediatamente na secretaria e fizeram presso para falar o Marcos Cezar, cobrando imediata melhoria para ESTE problema pontual. O Marcos Cezar falou de casa por telefone com um aluno e, na semana seguinte, durante vrios dias enviaram o micro-nibus alm dos grandes fretados, que raramente atrasaram naquele perodo. No se pode deixar nada acumular para as greves. Tudo deve ser questionado e reivindicado de pronto, coletivamente. O que impossvel se no tivermos uma mobilizao constante, fora de um estado de greve. preciso estar preparado para, a todo momento, mostrar o real poder da maioria - o enfrentamento coletivo de ideias, o convencimento automtico e situacional, EM FLAGRANTE CONDIO. protestar contra
a xrox na demora da xrox; protestar contra o refeitrio na alimentao ruim; protestar pela falta de salas na falta de uma sala. Enfim, no se enganem com mais um fretado ou com o novo terreno: tudo j no os parece pensado demais pela reitoria? A ideia do terreno no se originou por causa da greve. A ideia j existia e querem us-la como concesso de reivindicao. 26 de abril de 2012.