Por Uma Defesa Contundente Do Fim Da Greve

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POR UMA DEFESA CONTUNDENTE DO FIM DA GREVE por Cristiano, 3 termo de Histria da Arte (2012)

Tenho observado que muitos criticam os que so contra a greve por eles no apresentarem melhores solues para a conquista das reivindicaes da pauta. Gostaria de comear aqui (e que fosse continuada por outras ideias) uma defesa formal e fundamentada do fim da greve. Alm disso, conclamar a uma reviso de processos do movimento estudantil praticado na Unifesp. ENTENDENDO A DINMICA DA GREVE ESTUDANTIL Brevemente preciso entender a dinmica da greve, pois a greve estudantil tem diferenas essenciais da greve de trabalhadores. Ela a interrupo coletiva e imediata do comparecimento dos alunos s aulas aps aprovao pela maioria presente em uma determinada assembleia. Os alunos se mantm neste estado de no comparecimento at que as negociaes com a reitoria a respeito da pauta de reivindicaes sejam concludas, ou por outra assembleia que opte pelo fim da greve, quando ento todos os alunos retomam o comparecimento s aulas. Como toda greve, h uma parte reclamante (os alunos, no caso) e uma parte reclamada (a reitoria). So os dois sujeitos da negociao, que envolve um processo simples de troca - o reclamante quer ver atendidas suas reivindicaes, enquanto a parte reclamada quer ver restabelecida a normalidade em um terceiro elemento da dinmica, que no caso da greve estudantil o campus e suas aulas, e no caso de trabalhadores o local de trabalho e sua produo. Na greve, preciso considerar que a interrupo da normalidade prejudica a parte reclamada de alguma forma e que ela, por ser usada como forma de negociao (a normalidade est para o reclamado assim como as reivindicaes esto para o reclamante), por uma questo lgica, no deve prejudicar o reclamante mais do que as reivindicaes podem trazer de benefcios. Alm disso, uma atividade drstica, que obriga a negociao a ocorrer por meio de uma troca de algo que se tomou fora para o reclamante: o poder sobre a normalidade, que em estado normal comumente dividido. Esquematizando, seria algo como: Em estado normal: RECLAMANTE (normalidade)

RECLAMADO

Em estado grevista: RECLAMANTE (normalidade) ----- negociao ----- (reivindicaes) RECLAMADO A greve surgiria, portanto, de uma perturbao da normalidade entre reclamante e reclamado. Em condies de equilbrio, ambos partilham do mesmo interesse no andamento normal das atividades. Aps a greve, tornam-se antagnicos, cada um com sua moeda de troca: a normalidade s pode ser devolvida pelo reclamante, enquanto s o reclamado pode satisfazer as reivindicaes do reclamante. O CASO UNIFESP Vejamos como esta breve teoria seria aplicada Unifesp. De fato o equilbrio do andamento normal das atividades foi perturbado: as instalaes do campus e sua localizao no abrigam as condies necessrias para tal. Logo, surge o reclamante (os alunos) e o reclamado (a reitoria), pois ela quem deveria prover boa instalao e acesso aos seus alunos. Ponto interessante que a reitoria tambm se prejudica com isto: como ela avaliada pelo MEC (lembremos que a reitoria pode se tornar reclamante contra o Ministrio da Educao) pela produo de seus alunos, e as dificuldades do campus impedem melhor produo, logo a reitoria perde em avaliao e se autoprejudica na relao de normalidade com MEC. No so todos os alunos que esto dispostos a serem reclamantes numa dinmica grevista. Eles preferem negociar dentro da prpria perturbao da normalidade. Como a greve instaurada por uma maioria acidental na assembleia (pois atrelada presena em dia e horrio restritos, sendo qualquer presena uma possibilidade casual, dependente de conjunturas pessoais de cada estudante), ela no representa cientificamente uma vontade dos alunos capaz de homogeneizar o corpo discente numa s parte reclamante. Isto , o poder de negociao dos alunos menor tendo em vista que o seu poder sobre a normalidade instvel durante as negociaes da greve. Uma contradio bsica em relao s assembleias que, pensando racionalmente, antes de a greve acontecer, antes da assembleia, os que so a favor e contra j esto definidos. No importa onde a pessoa esteja, ela sabe se quer ou no a greve. necessria uma forma de conhecer esta vontade de cada um, contar e concluir quem maioria. E ento, em vez de privilegiar a identidade, privilegia-se a localizao, algo completamente fora de contexto. o local e a reunio neste local que determina a maioria. A identidade de cada um simplesmente descartada. Alm disso, o cessar da normalidade no prejudica o reclamado tanto quanto a prpria perturbao da normalidade. Como a atividade normal j prejudicada, a greve pode vir a intensificar esta perturbao, mas o seu efeito nocivo reitoria minimizado por aquilo que prejudica tambm aos alunos - a falta de aulas, a necessidade de rep-las, o desgaste interno entre os reclamantes e com os professores, etc. Logo, se as condies de normalidade j

esto alteradas, a greve uma redundncia. O mesmo vale para as empresas: a normalidade perturbada diminui a produo. Mas os trabalhadores tm algo que os alunos no possuem - o poder sobre a gerao de receita para o reclamado. Com greve ou sem greve, o salrio do reitor e de seu gabinete sero rigorosamente pagos pela Unio, ou seja, para o reitor, controlar a greve apenas uma parte de seu trabalho, como qualquer outra. A greve no o impele a agir porque no passa de algo inerente a seu dia a dia. Muitos questionaro porque, ento, outros movimentos grevistas tiveram alguns sucessos. Lembremo-nos que, com a normalidade em perturbao, a reitoria e os alunos esto sendo prejudicados. Para solucionar a greve, basta que o reitor ceda quelas reivindicaes dos alunos que sejam iguais quilo que a prpria reitoria teria de fazer para no se prejudicar. A greve estudantil pede reitoria que ela faa o prprio trabalho. Uma greve de trabalhadores no coloca a prpria normalidade como pauta de reivindicaes, porque eles tm o poder de restabelec-la. Manter a normalidade dever e vantagem para o reclamado. Os trabalhadores exigem um elemento externo normalidade - reivindicaes ligadas salrio ou qualidade de vida fora da empresa. Logo, urge mais uma contradio: o reclamante estudantil, na greve, coloca a prpria normalidade como reivindicao, ou seja, quer devolver aquilo que toma para si como moeda de troca. Sem muito alarde, o reitor utiliza a prpria funo como forma de satisfazer o reclamante, que sai acreditando que a conquista ocorreu por sua luta. Duplamente o reitor sai reforado de toda greve: por fazer o seu trabalho e por tornar este trabalho um agrado, uma concesso. Concede ao prprio trabalho, ento, uma valorao. O QUE FAZER? No resta outra forma de o reclamante estudantil negociar a no ser durante a perturbao da normalidade. Em condies espordicas e constantes, no definitivas, como a greve. Por exemplo, em determinado dia do ano passado, lembro-me que o fretado atrasou muito e vrias pessoas chegaram Unifesp aps as 21h. Todos se reuniram imediatamente na secretaria e fizeram presso para falar o Marcos Cezar, cobrando imediata melhoria para ESTE problema pontual. O Marcos Cezar falou de casa por telefone com um aluno e, na semana seguinte, durante vrios dias enviaram o micro-nibus alm dos grandes fretados, que raramente atrasaram naquele perodo. No se pode deixar nada acumular para as greves. Tudo deve ser questionado e reivindicado de pronto, coletivamente. O que impossvel se no tivermos uma mobilizao constante, fora de um estado de greve. preciso estar preparado para, a todo momento, mostrar o real poder da maioria - o enfrentamento coletivo de ideias, o convencimento automtico e situacional, EM FLAGRANTE CONDIO. protestar contra

a xrox na demora da xrox; protestar contra o refeitrio na alimentao ruim; protestar pela falta de salas na falta de uma sala. Enfim, no se enganem com mais um fretado ou com o novo terreno: tudo j no os parece pensado demais pela reitoria? A ideia do terreno no se originou por causa da greve. A ideia j existia e querem us-la como concesso de reivindicao. 26 de abril de 2012.

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