9 Matrizes e Cunhas para Restauraes de Amlgama

de Prof. Dr. Fernando Mandarino

com a colaborao de Alessandra N. S. Rastelli; Cristina Magnani; Elaine C. Guerbach Conti; Emanuel Arraes Alencar; Laura E. H. de Andrade; Liz Marie G. Sierpinski; Luana C. Oliveira Arajo; Patrcia S. Jardim; Ricardo P. de Faria; e Maria Salete C. Machado.

Verso 1.0 de 2003

9.1 Definio de Matrizes para Restauraes de Amlgama

So dispositivos de metais, que tem por finalidade substituir as paredes ausentes da cavidade, manter e dar forma ao amlgama durante sua condensao, possibilitando assim a restaurao dos caracteres anatmicos da coroa dental.4

9.2 Objetivos das Matrizes

=> fornecer proteo ao dente vizinho; => substituir as paredes faltantes da cavidade permitindo assim a condensao do amlgama; => permitir a reconstruo do contorno ou da superfcie (palatina, vestibular ou lingual) do dente, atravs da restaurao; => dar forma correta relao de contato; => proporcionar ligeiro afastamento da gengiva e dique de borracha durante a restaurao; => permitir a condensao do amlgama na cavidade sem que ocorra extravasamento de material para a regio gengival e conseqentemente venha a provocar danos aos tecidos de suporte.

9.4 Requisitos necessrios que uma matriz deve apresentar4

=> ser de fcil colocao e remoo, sem comprometer o contorno a ser obtido na restaurao; => ser de fcil adaptao e fixao ao dente; => ser resistente presso usada durante a condensao; => estender-se ligeiramente abaixo da parede gengival e cerca de 2mm acima da superfcie oclusal, ou na altura da cspide mais alta; => apresentar superfcie lisa e polida; => possibilitar reforo de godiva ou outro material; => ter espessura mnima para no impedir a formao do ponto de contato proximal.

As matrizes podem ser constitudas de diferentes materiais: cobre, ao inoxidvel platina, lato, alumnio, etc. Alm disso podem apresentar diferentes espessuras e alturas, de acordo com a altura de cada dente. Basicamente, as matrizes de 5mm so utilizadas em pr-molares e as de 7mm em molares. Os porta matrizes so dispositivos metlicos, os quais permitem que a matriz seja encaixada e fixada numa extremidade, de modo a torn-la circular e ajustvel ao contorno dos dentes.2 Segundo Yamasaky et al.,6 em 1991, uma matriz bem adaptada diminui o risco de crie recidivante, mantm a qualidade do espao interproximal e facilita a correta higienizao da rea restaurada. As matrizes so indicadas para restauraes de cavidades compostas ou complexas de dentes posteriores, cavidades de classe V e cavidades de classe III em dentes anteriores.

9.5 Classificao das Matrizes

9.5.1 Matrizes individuais As Matrizes Individuais so aquelas preparadas especialmente para o caso em questo. Podem ser de cinco tipos: => Matriz de Hollemback; => Matrizes rebitadas e matrizes soldadas; => Matriz em T ou em forma de cinta; => Matriz de Barton; => Automatriz. 9.5.1.1 Matriz de Hollemback De posse de uma fita matriz metlica, so feitas as prvias adaptaes necessrias3,4. Depois, confecciona-se orifcios para a passagem do fio dental e ainda fixao com godiva (figura 1). Para facilitar a aplicao desta matriz na clnica diria, a tcnica de sua confeco ser relatada detalhadamente1: => recortar aproximadamente 8mm da tira matriz (de acordo com o tamanho do dente), de modo que envolva a superfcie proximal indo at a metade das faces vestibular e lingual; => Devem ser confeccionados dois orifcios nos extremos da matriz, prximo gengival, com fresas esfricas no 1/2. Estes devem ser regularizados com um disco de lixa; => Passar um fio dental de 20 cm pelos orifcios e em seguida brunir a matriz, sendo que o fio dental deve permanecer externamente; => Posicionar a matriz no dente de modo que penetre ligeiramente no sulco gengival (0,3mm), 2

ultrapassando o nvel da parede gengival, e amarrar ao dente com o fio dental; => Aps a insero da cunha e colocao da godiva, pode ser feita uma nova brunidura na altura da rea de contato, contra a superfcie proximal do dente vizinho; => Para a remoo da matriz, remover a godiva, desfazer primeiramente o n feito com o fio dental, e depois retirar a matriz por vestibular.

Figura 1. Matriz de Hollemback posicionada no dente. interessante que o profissional j tenha prontas algumas matrizes de vrios tamanhos, economizando tempo clnico. Apesar de ser uma das matrizes idealizadas a mais tempo, apresenta algumas vantagens em relao quelas utilizadas com porta matriz: so mais fceis de serem inseridas e removidas; possibilitam um melhor contorno proximal e permitem a restaurao simultnea de at quatro cavidades prximo-oclusal num mesmo hemi-arco1. 9.5.1.2 Matrizes rebitadas e matrizes soldadas Tanto para as Matrizes Rebitadas quanto para as Matrizes Soldadas, primeiramente deve ser medido o dimetro do dente com um alicate de ponta reta. Elas so importantes no caso de molares muito destrudos, que necessitam de restaurao extensa4. No caso da matriz rebitada, a tira ser perfurada com um alicate 121, criando-se rebarbas, as quais sero amassadas e desta forma criada a fixao (Figura 2).

Figura 2. Matriz individual do tipo rebitada. 3

Nas matrizes soldadas, aps ter sido determinado o dimetro do dente com um alicate de ponta reta, levam-se as extremidades a um soldador e dispara-se um ponto de solda. Ambas as matrizes devem ser reforadas com godiva de baixa fuso para serem mais resistentes condensao e fixadas junto parede gengival com cunhas de madeira. Aps o correto posicionamento da matriz, esta deve ser brunida contra o dente vizinho, melhorando a capacidade de aproximao e tornando mais fcil a obteno da rea de contato. A remoo deve ser feita por vestibular, cortadas junto ao ponto de fixao para facilitar este movimento2. 9.5.1.3 Matriz em T ou em forma de cinta Esta matriz pode ser adquirida no comrcio ou pode ser preparada partir de um lmina de metal. Deve-se cortar duas tiras, sendo um de aproximadamente 7cm e a outra de 4cm. A tira maior deve ser brunida, formando uma rea convexa, que devolver melhor a forma do dente. Em uma extremidade desta tira corta-se as duas pontas (figura 3a). Esta tira ser colocada sobre a tira menor formando um T (figura 3b). As duas extremidades da tira menor vo abraar a tira maior, e com um alicate de ponta chata, esta dobra ser reforada, mas sem muita presso (figura 3c). A extremidade da fita maior, prxima fita menor ser dobrada sobre esta ltima (figura 3d). A extremidade em forma de V da fita maior ser encaixada no local onde as duas tiras esto juntas, e depois de colocada no dente, ser ajustada de acordo com o dimetro do dente (Figura 3 (E) e Figura 3 (F).

Figura 3. Confeco da matriz individual em forma de cinta. 9.5.1.4 Matriz de Barton Utilizada para restauraes da superfcie palatina de molares superiores e superfcie vestibular de molares superiores. Neste sistema sero utilizadas duas matrizes. A primeira delas poder ser confeccionada por qualquer uma das tcnicas descritas acima. 4

Figura 4. Matriz de Barton em posio no dente Depois de colocada no dente, na regio do sulco da superfcie vestibular ou lingual, dever ser colocado um outro pedao pequeno de matriz, e entre estas duas matrizes uma cunha de madeira com a base de sua forma triangular voltada ao lado oposto do dente. Dever ser utilizada godiva de baixa fuso para estabilizar a cunha em sua posio. Esta tcnica permite que haja uma melhor condensao do amlgama nesta regio, devolvendo a forma anatmica original do dente com a presena do sulco. 9.5.1.5 Automatriz um sistema de matriz que apresenta 4 tipos de bandas, desenhada para se ajustar em todos os dentes independentemente de seu dimetro. A largura das bandas variam de 4,7 a 7,9 mm e so fornecidas com duas espessuras: 0,038mm e 0,002 mm (figura 5). Estas matrizes so indicadas para preparos de Classe II extensos, especialmente quando houver a necessidade de substituio de duas ou mais cspides. Igualmente aos outros sistemas apresentados, apresenta vantagens e desvantagens. Uma de suas vantagens que sua ala pode ser posicionada tanto pela vestibular quanto pela lingual com a mesma facilidade. Uma desvantagem que as bandas no so prcontornadas, e o reestabelecimento do contorno proximal fisiolgico dificultado5.

Figura 5. Automatix posicionada no dente.

9.5.2 Matrizes Universais So aquelas utilizadas com o auxlio de um porta matriz. Os Porta Matrizes podem ser de sete tipos: => Porta matriz de Tofflemire; => Porta matriz circular de Ivory (no 8); => Porta matriz de Ivory (no 1); => Porta matriz separador de McKean; => Porta matriz separador de Harper; => Porta matriz de Siqveland; => Palodent. 9.5.2.1 Porta matriz de Tofflemire Este tipo de porta matriz permite ser empregado tanto por vestibular quanto por lingual e permite tambm ser separado da fita, antes que a mesma seja removida do seu stio. Outras vantagens que este sistema apresenta que possibilita a utilizao de fitas de diferentes larguras e em trs posies distintas, alm de possibilitar o uso de fitas curvas que proporcionam um dimetro cervical menor que o oclusal.1,4 Segundo Studervant,5 estas matrizes so indicadas principalmente para cavidades de classe II complexas em dentes posteriores, mas tambm para cavidades de classeI composta e classe II complexa. Antes da fita ser montada ao porta matriz, ela deve ser brunida na regio correspondente superfcie proximal a ser restaurada. Em seguida deve-se montar a fita ao porta-matriz, de modo que a ranhura existente no extremo onde a fita ser presa fique voltada para gengival. Isto ir possibilitar a remoo do porta-matriz no sentido oclusal. A seguir, o conjunto retentor/matriz dever ser levado ao dente a ser restaurado. A fita matriz dever penetrar ligeiramente no sulco gengival e ultrapassar por oclusal, a crista marginal do dente vizinho. Uma vez que a matriz tenha sido posicionada, deve-se girar o dispositivo maior do cabo do retentor em sentido horrio para ajustar a matriz ao contorno do dente. Posiciona-se ento a cunha de madeira e deve-se brunir novamente a matriz contra a superfcie proximal do dente vizinho (figura 6).

Figura 6. Porta matriz de Tofflemire 6

A matriz dever ser retirada no sentido vestbulo-oclusal. Segundo Mondelli,4 em 1990, existem dois tipos de Tofflemire: um para molares e pr-molares e outro especialmente indicado para dentes anteriores, em restauraes com materiais plsticos temporrios. 9.5.2.2 Porta matriz circular de Ivory (nmero 8) Este dispositivo composto basicamente por dois parafusos, presos uma haste (figura 7). Um deles tem a funo de prender as extremidades da matriz e o outro de movimentao, o que faz com que o dimetro da matriz possa ser aumentado ou diminudo.2,4 Pode ser utilizado em qualquer cavidade classe II, com limitada abertura vestbulo-lingual, pois do contrrio, no momento da fixao que se dar por trao da fita metlica, estaremos deformando o contorno proximal. O porta matriz deve estar para vestibular do dente. Requerem o uso concomitante de cunhas de madeira, preparadas de acordo com o volume de cada espao interdental2.

Figura 7. Porta matriz circular de Ivory n o 8. 9.5.2.3 Porta matriz de Ivory (nmero 1) Somente indicado para cavidades classe II compostas, pois substitui apenas uma parede (mesial ou distal), e necessita de bandas especiais.4 9.5.2.4 Porta matriz separador de McKean um dispositivo que tem a forma de um arco, com duas barras verticais. Ao mesmo tempo que fixa a matriz, separa os dentes. Tem o incoveniente de no poder ser usado em cavidades muito extensas vestbulo-lingualmente, pois precisa apoiar-se em tecido dental. Este porta matriz colocado em posio com o auxlio da pina de Brewer.4 9.5.2.5 Porta matriz separador de Harper um aparelho de trplice ao: separa os dentes, mantm a matriz em posio e proporciona adaptao da matriz na regio gengival. Aps a sua fixao no dente conveniente fix-lo com godiva4.

9.5.2.6 Porta matriz de Siqveland de tal forma construdo que proporciona dois dimetros ao mesmo tempo: dimetro maior correspondente superfcie oclusal e, menor, regio do colo do dente. Possui uma pea corredia que segura e aperta a tira-matriz na posio desejada4. 9.5.2.7 Palodent Este sistema de matriz mais uma alternativa dentro das matrizes universais, em cavidade de classe II envolvendo somente duas faces. A tira metlica prpria do porta matriz e se apresenta mais rgida do que as matrizes comerciais, fornecendo um melhor contato proximal e contorno (figura 8). A tira metlica deve se estender at 1/3 da superfcie vestibular, passar pela proximal a alcanar tambm 1/3 da superfcie lingual. Antes de ser colocada no dente, a matriz deve ser brunida para que possa se adaptar ao contorno do dente. Esta matriz mantida em posio com o auxlio de um grampo especfico do sistema ou tambm com godiva de baixa fuso. Com a matriz j posicionada, deve-se ter cuidado durante a insero da cunha, que deve estar aproximadamente 1mm subgengivalmente. A margem superior da matriz deve se estender no sentido oclusa no menos que 1mm e no mais que 2mm em relao crista marginal adjacente. A posio correta da cunha de madeira para proporcionar um contato proximal e um contorno correto a mesma das outras matrizes universais. A estabilidade da tira matriz aumentada quando ela est adaptada corretamente nas superfcies vestibular e lingual. A grande vantagem desta matriz que permite um recontorno imediato quando este estiver insatisfatrio. Recomenda-se a remoo da matriz na mesma direo que a cunha foi removida (vestibular ou lingual)5.

Figura 8. Matriz Palodent.

9.6 Cunhas de Madeira

As cunhas de madeiras so dispositivos auxiliares na restaurao de cavidades que envolvam a superfcie proximal dos dentes. Seus principais objetivos so: => Permitir correto ajuste da matriz na regio cervical; => Promover discreto afastamento dos dentes para compensar a espessura da lmina / matriz; => Evitar extravasamento do amlgama no momento da condensao. A cunha de madeira deve ser colocada de tal forma que no interfira no contorno normal da face proximal a ser restaurada e que no fique soluo de continuidade entre a parede gengival e a matriz4. A seco transversal ou forma da cunha assemelha-se uma pirmide triangular. Entretanto existem cunhas circulares. A escolha do tamanho da cunha deve ser compatvel com o espao interdental existente. Para uma melhor adaptao desta cunha podem ser feitos desgastes nesta cunha com um disco de papel (figura 9a), lmina de bisturi (figura 9b) ou esptula de Le Cron afiada2.

(a)

(b)

Figura 9. Cunha de madeira e formas de prepar-las para correto posicionamento interproximal. A cunha dever ser inserida, com o auxlio de um alicate de ponta reta, na ameia de maior amplitude, geralmente de lingual para vestibular, e dever ficar no espao interproximal de tal forma que a base do tringulo fique voltada para a parede gengival, comprimindo a matriz de encontro ao ngulo cavo-superficial sem deformar o contorno proximal. A cunha deve estar posicionada o mais perto possvel da margem gengival.5 Antes da colocao da cunha em posio, ela deve ser embebida em gua, pois permitir um ligeiro afastamento dos dentes devido sua expanso. Em alguns casos pode haver a necessidade de se colocar duas cunhas, o que possvel, sendo que ela deve manter o contato proximal e contorno adequados5 (Figura 10). 9

Figura 12. Duplo cunhamento

9.7 Reviso de Literatura

9.7.1 BARATIERI, L.N. Dentstica - Procedimentos preventivos e restauradores. Rio de Janeiro, Quintessence, 1992. 508p. 9.7.2 BUSATO, A.L.S. et al. Dentstica: Restauraes em dentes posteriores. So Paulo, Editora Artes Mdicas, 1996. 301p. 9.7.3 HOLLEMBACK, G.M. Science and technique of the cast restoration. Ist. ed. St. Louis, Mosby Co., 1964, Cap.1, p.17-33. 9.7.4 MONDELLI, J. et al. Dentstica Operatria. So Paulo, Sarvier, 1990. 255p. 9.7.5 STURDEVANT, C.M. The art and science of operative dentistry. 3ed. St. Louis, Ed. Mosby, 1995. 824p. 9.7.6 YAMASAKY LOPES, E. et al. Matriz caracol. Uma nova matriz individual para restauraes complexas em amlgama. Rev. Bras. Odontol., v.5, n. 21-2, 1991.
Edio WebMasters do Laboratrio de Pesquisa em Endodontia da FORP-USP Eduardo Luiz Barbin Jlio Csar Emboava Span Jesus Djalma Pcora Atualizado 15/09/03

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