Uni III - Diagnósticos dos Problemas de Aprendizagem

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Diagnósticos

dos Problemas
de Aprendizagem
Diagnósticos dos Problemas de Aprendizagem

A Dimensão Cognitiva dos Problemas de Aprendizagem

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Laura Marisa Carnielo Calejon

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Unidade A Dimensão Cognitiva dos Problemas de
Aprendizagem

Sujeito 1: A criança que estou avaliando demonstra muita


dificuldade para construir conhecimento. Como
poderia compreender esta criança?
Sujeito 2: Na unidade dimensão cognitiva dos problemas
de aprendizagem acho que podemos encontrar
respostas.

Os conceitos realmente interessantes deste mundo têm o péssimo hábito de evitar as


tentativas obstinadas de definição e de determinação do seu significado de um modo preciso
e bem definido. Seus significados permanecem múltiplos, imprecisos e abertos às revisões e
reformulações. Isto ocorre com o conceito de cognição diretamente relacionado com o tema
tratado nesta unidade.
Davidoff (2001) ao descrever as perspectivas da Psicologia no século XX, aponta a Psicologia
Cognitiva como uma das perspectivas construídas na década de 1970, por um grande número
de psicólogos que pesquisavam a aprendizagem e que rejeitavam o modelo estímulo-resposta
instituído pela perspectiva comportamentalista.
Davidoff (2001) assinala que os psicólogos cognitivistas não rejeitavam o behaviorismo
completamente, mas incorporaram outras dimensões não enfatizadas pelos comportamentalistas.
De um modo geral, esta perspectiva destaca os processos, estruturas e funções mentais que
permitem compreender o processo da aprendizagem.
Flavell (1999) assinala que a imagem tradicional da cognição tende a restringir este termo
aos processos e produtos considerados “inteligentes” da mente humana. Essa imagem inclui
entidades psicológicas como o conhecimento, a consciência, a inteligência, o pensamento, a
criatividade, o raciocínio, entre outras funções.
Flavell (1999) descreve quatro abordagens explicativas de desenvolvimento cognitivo
humano: o modelo ou explicação proposta por Piaget, a abordagem do processamento de
informação, as explicações neopiagetianas, a abordagem contextual considerada como recém-
chegada em relação às abordagens anteriores na explicação do desenvolvimento cognitivo.

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Unidade: A Dimensão Cognitiva dos Problemas de Aprendizagem

A respeito da abordagem contextual, os autores mencionados sugerem o exame direto dos


trabalhos de Vygotsky apresentados como raízes desta abordagem ou os trabalhos considerados
mais modernos que se constituem em interpretes do pensamento destes autores soviéticos.
Nesta unidade, consideramos instrumentos para avaliar a dimensão cognitiva do processo de
aprendizagem, construídos a partir de diferentes leituras da cognição humana e dos pressupostos
do Enfoque Histórico-Cultural. Optamos pela leitura dos conceitos de Vygotsky, por considerar
a posição metodológica assumida pelo autor.
Entendemos que as proposições e explicações apresentadas para a cognição humana
focalizam aspectos particulares do processo. Para compreender a abrangência da explicação
produzida pelo Enfoque Histórico-Cultural, abordagem recém-chegada, também no contexto
brasileiro, é necessário considerar os fundamentos epistemológicos assumidos pelos diferentes
modelos explicativos.
A Psicologia Cognitiva assume os mesmos fundamentos e a mesma visão de homem da
Psicologia Comportamental, ou seja, um sujeito ou um indivíduo que responde e atua em
função de um conjunto de situações estimuladoras. O sujeito na perspectiva de Piaget é um
sujeito participante, ativo, participante de um processo de construção de conhecimento que
depende de esquemas, das estruturas cognitivas e da adaptação (assimilação/acomodação)do
processo de construção de conhecimento.

Entendemos que falta a estas explicações considerar o papel desempenhado pela


cultura dado pela possibilidade que o sujeito tem de apropriar-se e internalizar
os conteúdos da cultura na produção das funções psíquicas superiores. Nesta
perspectiva, estas funções representam um salto qualitativo do sujeito resultante
da possibilidade de apropriar-se e internalizar os conteúdos da cultura na
produção das funções psíquicas superiores.

Procuramos como assinala Vygotsky, ao sistematizar o conceito de vivência, superar a


dicotomia cognição/afeto presente em várias propostas do diagnóstico dos problemas de
aprendizagem.
Kiguel (1990) ao propor uma abordagem psicopedagógica da aprendizagem descreve a
área emocional, a cognitiva e a percepto-motora. Na área emocional, a Psicanálise constitui-se
como referencial teórico, na área cognitiva, a autora destaca as contribuições de Piaget. Na área
percepto-motora, não existem referenciais claramente apresentados pela autora.
Ainda que recém-chegada a abordagem histórico-cultural não é uma explicação recente,
porém no contexto brasileiro, ela é recente e muitas vezes trazida por interpretes que não
consideram seus fundamentos epistemológicos.
Por esta razão, consideramos a categoria dinâmica do desenvolvimento como categoria
de análise do desempenho escolar e de outras situações relacionadas com a aprendizagem,
procurando compreender as dimensões cognitivas do desenvolvimento real ou atual do sujeito.

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Os esquemas que caracterizam ou se constituem em uma das dimensões do desenvolvimento
real ou atual do sujeito podem ser compreendidos a partir das provas operatórias construídas por
Piaget e seus colaboradores, como as provas de conservação, de reversibilidade de pensamento,
seriação, inclusão de classes entre outros. Wadsworth, ao tratar da inteligência e da afetividade
na teoria de Piaget e ao demonstrar a possibilidade de professores usarem os conceitos de Piaget,
apresenta uma série de situações ou provas que permitem compreender o desenvolvimento dos
esquemas e a qualidade do pensamento do sujeito.
A entrevista operativa centrada na aprendizagem (EOCA) organizada por Visca (1985),
constitui-se em outra estratégia para avaliar o desenvolvimento real ou atual do sujeito, ainda
que o autor tenha sistematizado este recurso a partir de uma epistemologia convergente e
focalizada no modo como o sujeito aprende e aprende a aprender.

A entrevista operativa centrada na aprendizagem foi sistematizada por Visca,


ganhando diferentes versões e formas de explicação. Visca sistematizou, em
uma Epistemologia Convergente, conhecimentos construídos pela Psicologia
Genética , Psicanálise e Psicologia Social. Visca sugere a apresentação de
materiais relacionados com a situação de aprendizagem, dando ao sujeito
a instrução de mostrar, com o material apresentado o que ele aprendeu e
como aprendeu.

Para uma criança na idade escolar, o psicopedagogo apresenta materiais relacionados com
a situação de ensino/aprendizagem, tais como lápis, borracha, apontador, papéis, revistas etc.
Ao apresentar este material, o psicopedagogo deve dizer ao sujeito: Mostre-me o que você
aprendeu, o que lhe ensinaram, o que você sabe fazer. A EOCA constitui-se em uma abordagem
ou entrevista inicial com o sujeito no processo de diagnóstico dos problemas de aprendizagem e
permite recolher informações e elaborar hipóteses que orientam a elaboração de hipóteses que
orientam a escolha de outros instrumentos para a coleta de dados.

Voltamos a insistir que estamos propondo um diagnóstico explicativo, ou seja,


um processo de construção de conhecimento que permite compreender a
situação a ser resolvida, que está ancorado em concepções teóricas identificadas
pelo psicopedagogo e que se baseia na reflexão como caminho para articulação
de dados oriundos de diferentes fontes.

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Unidade: A Dimensão Cognitiva dos Problemas de Aprendizagem

A entrevista operativa centrada na aprendizagem pode oferecer ao psicopedagogo elementos


para avaliar a capacidade de leitura do sujeito o domínio da escrita e da escrita e dos conceitos
matemáticos. Em função da queixa apresentada, o psicopedagogo pode introduzir nessa
entrevista materiais como gravuras, livros com histórias, problemas com operações aritméticas
apresentadas por escrito, observando como o sujeito resolve. A solicitação de “me conta o que
você vê, frente a uma gravura” permite avaliar se a criança ou o sujeito percebe e descreve
detalhes, se ele percebe e organiza a situação como um todo,a qualidade de linguagem e o
universo vocabular do sujeito. Frente a situações mais específicas que envolvem conceitos
matemáticos é possível observar a reação do sujeito em relação à matemática, sua possibilidade
de leitura e de compreensão de um problema.
A atenção concentrada é uma função psíquica superior importante no processo de
aprendizagem. Refere-se à possibilidade do sujeito manter, por algum tempo, sua atenção
voltada para um determinado foco. Pode ser avaliada pela observação da criança ou do sujeito
enquanto realiza uma tarefa escolar ou por situações em que apresenta-se graficamente ao
sujeito um modelo que deve ser encontrado entre diferentes desenhos que incluem um desenho
igual ao modelo.
O pensamento abstrato e generalizador também se constituem em uma dimensão relevante
do desenvolvimento real ou atual. O quarto excluído desenvolvido por Carmem Álvares Cruz
e Guillermo Arias Beatón permite avaliar esta dimensão do desenvolvimento real ou atual.
A prova está constituída por 13 lâminas, sendo que cada lâmina está constituída por quatro
desenhos, de modo que três deles podem ser agrupados em uma categoria e um deles deve ser
excluído. O sujeito deve indicar qual o desenho a ser excluído, por que aquele desenho deve ser
excluído e em que categoria os demais desenhos deveriam ser agrupados. O quarto excluído
foi organizado de modo a avaliar como o sujeito responde aos diferentes níveis de ajuda que
podem ser introduzidos no decorrer da prova.

Quarto Excluído é uma forma de avaliar o pensamento abstrato e generalizador


que inclui níveis de ajuda e foi organizado por pesquisadores cubanos.

A memória também é uma dimensão importante para o processo de aprendizagem. Pode ser
auditiva e visual e imediata ou remota.
A memória auditiva pode ser avaliada a partir da verbalização pelo examinador de uma
série de palavras que devem ser repetidas pelo sujeito, logo depois de serem ouvidas. Ele
pronuncia uma sequência de 15 palavras, pedindo ao sujeito que repita as palavras que ouviu.
O examinador solicita quatro tentativas de repetição, registrando as palavras verbalizadas pelo
sujeito em cada tentativa.
A memória auditiva remota pode ser avaliada pedindo-se ao sujeito que repita as palavras
que ouviu meia hora antes, sem que o examinador tenha repetido novamente as palavras.

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A memória visual pode ser avaliada pelos mesmos procedimentos adotados para a memória
auditiva, ajustando-se os estímulos, no caso estímulos visuais em lugar dos estímulos auditivos.
Nesta unidade, tratamos de instrumentos que permitem avaliar a dimensão cognitiva do
processo de aprendizagem e do desenvolvimento humano, considerando que cognição e afeto
são dimensões estreitamente relacionadas no ato de aprender. Para efeitos didáticos, nesta
unidade focalizamos os aspectos cognitivos.

Em Síntese:
Esta unidade faz uma análise crítica das diferentes abordagens que procura
explicar o desenvolvimento cognitivo. Trata ainda de provas que permitem
avaliar a aprendizagem da criança (EOCA), a memória (visual, auditiva) a
atenção concentrada e o pensamento abstrato e generalizador.

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Anotações

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