Cartilha Adoção

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CARTILHA INFORMATIVA

LABORATÓRIO DE VIOLÊNCIA E VULNERABILIDADE SOCIAL


UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

O NA ADOLESC
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DO IA
A
A adoção é a possibilidade de fundar uma família,
senão por conta de vínculos consanguíneos,
legitimamente fundada em laços afetivos.

Este processo é juridicamente validado através da lei


8.069/90, promulgada em 13 de julho de 1990, do
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

O artigo 19 garante como direito da criança e do


adolescente ser criado e educado em sua família
biológica, excepcionalmente, em família substituta;
de modo que garanta seu desenvolvimento integral.

O estatuto traz avanços importantes ao colocar


criança e adolescente como sujeitos de direitos,
pessoas com condições peculiares de
desenvolvimento e prioridade absoluta (VARGAS,
2013).

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, a


adoção tardia é a adoção de uma criança a partir da
segunda infância, ou seja, com mais de 3 anos de
idade, ou de um adolescente.
Existem 34 mil crianças e adolescentes abrigadas
em casas de acolhimento e instituições públicas
por todo o Brasil, destas, 5.040 estão totalmente
prontas para a adoção, em contraposição aos
36.437 pretendentes dispostos a adotar.

2.133
2.008 5%
4%

Vinculado a nenhuma criança

9.887
Vinculado a alguma criança
21%
Em processo de adoção
Adotou

Fonte: Sistema Nacional


32.310
de adoção e acolhimento, CNJ
70%

Destes 36.437, 93,8% não desejam o perfil de


crianças disponíveis. Apenas 0,3% pretendem
adotar adolescentes.
Os principais justificativas para a recusa em optar
pela adoção tardia são:

Receios sobre como a história pregressa da


criança irá influenciar na convivência,
consequentemente, na formação de vínculos
com a nova família;

Estigma da "criança problema", reforçado


culturalmente pela ideia de que a
criança/adolescente irá agir de maneira
violenta, inconsequente e desrespeitosa
com a familia.
As motivações que levaram as famílias a optar pela
adoção são diversas, sendo comumente relacionadas
a tragetória familiar e individual de cada candidato.

Dentro desse escopo, suas motivações também


envolvem desafios pessoais enfrentados ao logo da
vida (como a infertilidade) sonhos e objetivos que
remetem a parentalidade e que culminam no
primeiro passo para a concretização da adoção.

Embora as motivações sejam diferenciadas, os


principais aspectos observados foram:

Desejo de exercer
a parentalidade
Altruísmo

Infertilidade

Embora o altruísmo esteja presente no discurso das famílias entrevistadas, é preciso destacar que tal motivação,
causada pela necessidade de ajudar o próximo, é um fundamento vulnerável diante da complexidade que envolve a
adoção de crianças e adolescentes.
No geral, os candidatos revelam ter optado pela
adoção tardia devido a indisponibilidade para cuidar
de crianças menores.

Com a rotina intensa, é unânime o pensamento de


que bebês demandam mais tempo e energia das
famílias. A escolha para a adoção de adolescentes
emerge como um facilitador devido a crença de que
o adolescente irá se adaptar facilmente à dinâmica
familiar.
Entre outras justificativas estão:

Independência e autonomia do adolescente;

Facilidade na interação, que acontece de


maneira mais ativa;

Flexibilidade da família quanto a gênero, cor,


raça ou qualquer outra atribuição relacionada às
características da criança/adolescente;

Influência de informações recebidas durante a


participação em Grupos de Apoio à Adoção.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), o período de convivência é imprescindível
para o estabelecimento da relação parento-filial de
maneira gradativa. A princípio, destacam-se os
principais desafios da adoção tardia que permeiam o
momento em questão:

Idealização mútua: pais e filhos idealizam a


relação parento-filial de formas divergentes, há o
depósito de altas expectativas entre as partes;

Submissão do adolescente durante as primeiras


relações, sendo o filho querido, que se esforça
para se encaixar nas expectativas de seus pais e
que não se expõe verdadeiramente devido ao
medo da rejeição;

Dificuldade de víncular com uma das figuras


parentais devido a fatores de sua história
pregressa. Há conflitos que antecedem a adoção
e distanciam o jovem da figura materna ou
paterna
O filho ideal, aos poucos, abre margem para o
surgimento do ilho real junto a sua identidade e
história, causando angústias devido à quebra de
expectativas, tanto parentais quanto filiais,
desenvolvidas anteriormente.

No entanto, o fortalecimento da relação possibilita


que as partes possam se conhecer verdadeiramente,
sem máscaras ou omissões.

É somente a partir do diálogo e da confiança que a


relação se torna madura e segura para as partes.
Culturalmente, há uma série de estigmas que
reforçam a adolescência como um período rebeldia,
tumulto emocional, conflito familiar, impulsividade e
rejeição de valores.

No entanto, estes desafios não ocorrem


exclusivamente devido a ordem do desenvolvimento,
mas principalmente por conta da relação familiar
posto que relações instáveis, imersas em diferentes
problemáticas vivenciadas na infância podem
repercutir em adolescentes igualmente inconstantes.

Jovens anteriormente institucionalizados


possivelmente passaram por uma difícil trajetória
permeada por violência, rupturas e abandono, o que
pode suscitar em algumas das queixas mencionadas
pelos participantes, visto que todos os casais
afirmam que comportamentos conflituosos
frequentemente ocorrem ao longo da convivência
familiar, sendo eles:
Diferença de hábitos do adolescente em
contraponto à rotina familiar;
A rebeldia e a dificuldade em lidar com limites e
regras de convivência;
Influências culturais contemporâneas no
comportamento, causa de conflitos geracionais
entre pais e filhos.
Construção de novos relacionamentos com os
amigos e a preocupação da família devido a
interferência negativa no comportamento do
adolescente;

No entanto, é preciso salientar que há uma linha


tênue entre comportamentos derivados da história
pregressa e da institucionalização, em contraposição
a comportamentos essencialmente orgânicos,
igualmente enfrentados em famílias com filhos
biológicos.
De maneira geral, as instituições de acolhimento
cumprem com um papel fundamental na educação e
manutenção dos cuidados com as
crianças/adolescentes, no entanto, são enfatizados
problemas de convivência causados pela divergência
de hábitos entre adolescentes e seus pais, sendo
eles:
Ausência de entendimento sobre as necessidades
do próximo, definida como egoísmo e dificuldade
de compartilhamento de objetos, espaços e
alimentos;
Higiene e organização do tempo, atividades e
cuidados com o ambiente;

Ausência de engajamento em relações com


amigos ou demais sujeitos de diferentes
parentescos, como tios, avós, primos etc.

No geral, as famílias mencionam a "dificuldade de


convívio em comunidade" como um efeito da
institucionalização e a ausência de repertório de
aprendizagem sobre compartilhamento e apoio ao
próximo.
O processo de vinculação parento-filial acontece de
maneira gradual e diferenciada em cada família,
sendo relatados diferentes desafios e facilidades
relacionais ao longo da convivência. Aspectos como:

A promoção de um espaço seguro e confiável,

A troca de afetos positivos, seja pelo contato


físico ou compartilhamento emocional;

Desenvolvimento da intimidade através de um


ambiente leve e seguro;

Foram as estratégias amplamente utilizadas para a


maturação relacional entre pais e filhos, ou o
processo dela.
Além disso, é destacado:

A importância do diálogo sobre as diferentes


demandas do adolescente;
O manejo correto e a abertura para conversar
sobre assuntos diversos, principalmente
questões de maior vulnerabilidade;
O apoio ao adolescente diante das adversidades
promovidas pelo novo contexto onde está
inserido;
A aceitação e o envolvimento de suas origens e
memórias na relação.

Por fim, é importante que os pais possam contar com


uma ampla rede de apoio, como amigos que
passaram pela adoção, a família, profissionais da
saúde e assistência social e, principalmente, o
acolhimento e as sugestões promovidas pelos Grupos
de Apoio à Adoção.

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