O Carma Familiar
O Carma Familiar
O Carma Familiar
O CARMA
FAMILIAR,
CHAVE DO
DESTI N O
HU MA N O ?
Olavo de Carvalho
Revist a Planeta , # 67, abril de 1978
[A expre s s ã o "Car m a Familiar" foi cunh a d a pelo profes s o r Olavo de
Cavalho. Na aula de 27 de junho de 2009 do Semin á ri o de Filosofia
Online ele decla ro u que este artigo foi vertido par a o franc ê s e
apr e s e n t a d o ao Dr. Lipot Szondi que concor d o u inte g r al m e n t e com
seu cont e ú d o . Se algu é m tiver ess a vers ã o franc e s a , pode ri a, por
favor, me enviar uma cópia? -- D.M.]
O psi q u i a t r a e hu m a n i s t a hú n g a r o L. Szo n d i pas s o u a
vida te n t a n d o sab e r o que imp e d i a a liber d a d e
int e ri o r do Ho m e m . Ele de s c o b r i u que as fig ur a s dos
ant e p a s s a d o s per m a n e c e m vivas no inc o n s c i e n t e do
indiví d u o , forç a n d o - o a rep e t i r se u s co m p o r t a m e n t o s
e imp e d i n d o - o de es c o l h e r sua própri a vida.
Talvez o símbolo mais popula r da injustiç a seja o lobo da fábula, que
pune o carn ei ro pelos crim e s hipoté tic os de seus pais, avós ou
bisavós. No ent a n t o, cada um de nós carr e g a no coraç ã o um lobo que
não desc a n s a enq u a n t o não pag a m o s com fraca s s o s , doenç a s e
humilh a ç õ e s , até o último erro e a últim a ignomínia real ou
imagin á ri a de nossos ante p a s s a d o s .
Isso pode par e c e r uma simples met áfo r a , mas é uma tes e
rigoros a m e n t e científica. É a teoria básica da Análise do Destino
(Schic k s alsa n aly s e ), escola psicológic a criad a pelo psiquia t r a e
hum a ni s t a húng a r o L. Szondi. Embor a pouco conhe ci d a no Brasil, a
Análise do Destino é um dos mais origin ai s des e nvolvim e n t o s da
teoria psica n alítica depois de Fre u d, Jung e Adler.
Szondi, que foi profes s o r da Escola Supe rio r de Psicop e d a g o g i a de
Buda p e s t e até que a invas ã o nazist a o obriga s s e a fugir para a Suíça
(onde contin u a ativo aos 84 anos), pass o u a vida tent a n d o res po n d e r
a uma das que s t õ e s mais dra m á t i c a s já form ul a d a s a resp ei to da
condiçã o hum a n a : por que as pesso a s qua s e nunc a cons e g u e m agir
da man ei r a que consci e n t e m e n t e des eja m , e acab a m fazend o outr a s
coisa s, que não tencion av a m e que até proc u r a v a m evita r? Existe
algu m a força ocult a mais pode r o s a do que a vont a d e ? Existe algo
assim como um destino ? Ser á que o Hom e m nunc a pode ser livre ?
Em res po s t a a essa s perg u n t a s , Szondi criou uma gra n dio s a
conce p ç ã o psicológic a e antro p ológic a onde uma das chaves mais
import a n t e s é justa m e n t e a pes a d a influê nci a dos ante p a s s a d o s
sobr e o destino, algo assim como um car m a familiar que acom p a n h a
os indivíduo s atrav é s da existê n ci a, levand o- a, freqü e n t e m e n t e , a um
des e nl a c e trágico.
Analisa n d o milha r e s de árvor e s gene al ó gic a s de cidad ã o s de
Buda p e s t e (onde era tam b é m direto r do Institut o de Gene alo gi a),
Szondi obse rvo u que dete r m i n a d o s distú r bio s psíquicos, sociais e
somá ticos par e ci a m rep e ti r- se de ger a ç ã o em ger a ç ã o, como se uma
comp ul s ã o mist e rios a arr a s t a s s e os indivíduos à rep e ti ç ã o eter n a dos
aspe c t o s mais neg ro s na vida de seus ante p a s s a d o s .
O qu e te m a ver a
his t e r i a co m o jornal i s m o ?
Além disso, as famílias par e ci a m distrib ui r- se em grupo s clara m e n t e
delimit a d o s , onde a recor r ê n c i a de cert a s doen ç a s coincidia, por
incrível que isto fosse, com a escolh a das mes m a s profissõ e s. Para
complica r ainda mais as coisa s, as pes so a s pare cia m escolh e r seus
cônjug e s , e mes m o seus amigos, de prefe r ê n c i a entr e as famílias do
mes m o tipo.
Isso levant av a as mais estr a n h a s hipót e s e s . Que tipo de pare n t e s c o
pode ri a have r ent r e coisas tão apa r e n t e m e n t e dispa r a t a d a s como o
ecze m a , a epilepsia e a profiss ã o eclesiá s tic a ? Ou ent r e a dep r e s s ã o
e a profiss ão de antiq u á ri o? Ou, ainda, entr e a histe ri a e profiss ão de
ator ou jornalist a ?
Szondi não recuo u ante o abs u r d o apa r e n t e . Por mais difere n t e que
fosse m entr e si, era evide n t e m e n t e que as peç as não se juntava m e
sepa r a v a m no tabul ei ro unica m e n t e segu n d o as leis do acas o. Tinha
de haver uma regr a ness e jogo maluco. Na tent a tiva de descob ri- la,
Szondi form ulou as duas hipót e s e s básic a s da Análise do Destino:
Prim eira . Se as neu ro s e s , confor m e Fre u d tinha most r a d o , era m
manifes t a ç õ e s “desvia d a s ” dos instinto s hum a n o s , e se havia um
par e n t e s c o entr e ess a s doenç a s , as profissõ e s e as escolh a s de
parc ei r o s para o cas a m e n t o e a amizad e , era forçoso recon h e c e r que,
por trás de toda s essa s manife s t a ç õ e s , era a mes m a nece s si d a d e
instintiva básica que se expre s s a v a .
Seg u n d a . Se cada tipo de nece s si d a d e instintiva se rep e ti a de
gera ç ã o em gera ç ã o , entã o era forços o recon h e c e r que os instinto s
não pert e n c e m unica m e n t e à esfer a individu al (ou hum a n a em geral),
mas que têm tam b é m um cará t e r familiar . Ou seja, que ao lado do
incons cie n t e pesso al desco b e r t o por Fre u d, do incons cie n t e coletivo
estu d a d o por Jung e do incons ci e n t e social (núcleo instintivo de uma
dad a comu ni d a d e cultur al), desc ri to por Adler, devia existir aind a um
incons cie n t e familiar .