01 DIREITO
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01 DIREITO
e Previdenciário
A Caracterização da Relação de Emprego – Parte 1
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
A Caracterização da Relação
de Emprego – Parte 1
• Noções Iniciais;
• Proteção das Pessoas Vulneráveis;
• Constituição Federal de 1988 e o Direito do Trabalho;
• Princípios do Direito do Trabalho;
• A Relação de Emprego;
• Empregado e Empregador.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a relação de emprego e seus elementos;
• Conhecer os princípios do Direito do Trabalho e como eles interferem na relação de trabalho;
• Caracterização do empregado e do empregador.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Caracterização da Relação de Emprego – Parte 1
Noções Iniciais
Quando nos deparamos com o estudo do Direito do Trabalho, temos como
inicial desafio entender quais relações jurídicas constituem o seu objeto de estudo.
Se verificarmos todos esses marcos históricos, veremos que eles têm um elemento
comum, ou seja, estabelecer padrões mínimos de proteção do trabalhador – de sua vida
e integridade (corporal, moral e saúde), por meio da intervenção na relação jurídica que
o liga ao empregador, pois essa se destaca pela clara desigualdade entre as partes.
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Relação jurídica: deve ser entendida como uma relação que liga duas ou mais pessoas (físi-
Explor
Ocorre que, nem sempre, encontramos em nossa sociedade relações que sigam
esse ideal, sendo corriqueiro que certos grupos sociais – em razão de questões his-
tóricas, econômicas, dentre outras causas – se caracterizem por:
• Possuírem menor capacidade de estabelecerem relações jurídicas com maior
equilíbrio;
• Terem seus direitos mais facilmente desrespeitados.
Infelizmente, isso não é incomum em nossa sociedade, razão pela qual esses
grupos, chamados de grupos vulneráveis ou hipossuficientes, precisam ter uma
diferenciada atenção do Direito. Não se trata de estabelecer privilégios, mas de
buscar um maior equilíbrio nas relações que os integrantes desses grupos travam
com outras pessoas (físicas ou jurídicas), com o Estado e com a sociedade em geral.
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UNIDADE A Caracterização da Relação de Emprego – Parte 1
Constituição Federal
• Art. 7º – São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
• XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cin-
quenta por cento à do normal;
A Constituição Federal determina que o adicional que deve incidir sobre as horas extras
deve ser, no mínimo, 50% do valor da hora normal de trabalho, com isso, não teria
qualquer validade uma lei que fixasse o valor desse adicional em 20%, por exemplo.
Constituição Federal
Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre:
I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;
[...]
Direitos Sociais
Assim como ocorre com outras áreas do Direito que se destinam, especificamen-
te, para a proteção dos hipossuficientes, o Direito do Trabalho deve ser enquadrado
como um Direito Social.
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Constituição Federal
Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Vamos encontrar a enumeração desses direitos em seu artigo 7º, que estabelece:
• relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa,
com previsão de indenização compensatória, dentre outros direitos;
• seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
• fundo de garantia do tempo de serviço;
• salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
• piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
• irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
• garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remune-
ração variável;
• décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da apo-
sentadoria;
• remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
• proteção do salário, constituindo crime sua retenção dolosa;
• participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excep-
cionalmente, participação na gestão da empresa;
• salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda;
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Estruturação da Justiça do Trabalho
Na estruturação do Poder Judiciário Brasileiro, vamos encontrar órgãos criados
com o específico papel de realizar a proteção dos direitos dos trabalhadores – sejam
direitos individuais ou coletivos.
Princípio da Proteção
Esse princípio está intimamente ligado à concepção protecionista que norteia
o Direito do Trabalho, tendo o papel de orientar como as normas que regem essa
disciplina jurídica devem ser estabelecidas, interpretadas e aplicadas.
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UNIDADE A Caracterização da Relação de Emprego – Parte 1
Essas mudanças, contudo, não podem estabelecer uma piora nos direitos do em-
pregado, sendo que, nem mesmo se houver a sua concordância, essas modificações
podem ser tidas como válidas. Nesse particular, deve ser observado o disposto no
artigo 468 da CLT.
Constituição Federal
Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre:
I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;
[...]
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Consolidação das Leis do Trabalho
Art. 468 – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respec-
tivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem,
direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula
infringente desta garantia.
[...]
O Princípio da Irrenunciabilidade
Pouco adiantaria a proteção que a lei dá ao trabalhador se ele pudesse, de forma
válida, renunciar a seus direitos quando a assinatura do contrato de trabalho. Em
razão dessa constatação é que esse princípio foi estabelecido.
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A aplicação desse princípio faz com que qualquer forma de extinção do contrato
de trabalho deve ser objeto de clara comprovação por parte do empregador, sendo
que a ele se atribuiu o ônus de provar a sua ocorrência em caso de dúvida.
É para situações como essas que deve ser aplicado o Princípio da Primazia da
Realidade, segundo o qual, a realidade prevê prevalecer, mesmo que os documen-
tos firmados pelo empregador demonstrem situação diferente.
É claro que, para ter seu direito reconhecido em um caso como esse, o traba-
lhador deve, de alguma forma, comprovar que ocorreram essas extensões em sua
jornada de trabalho, porém, uma vez estabelecida essa prova, ela deve prevalecer
sobre os registros do empregador que firmam fatos contrários.
Um dos mais destacados fundamentos para esse princípio está no artigo 9º da CLT.
Princípio da Boa‐Fé
Esse princípio não é exclusivo do Direito do Trabalho, sendo inerente a toda re-
lação jurídica, sobretudo as contratuais, e se baseia na expectativa de que as partes
da estipulação, no nosso caso o empregado e o empregador, cumpram suas obri-
gações, quer sejam elas firmadas pela legislação, quer sejam firmadas pelo contrato
de trabalho.
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A Relação de Emprego
Como vimos anteriormente, a relação de trabalho e a relação de emprego
não se confundem.
Uma relação jurídica para ser caracterizada como relação de emprego, que é
protegida pelas normas do Direito do Trabalho, somente estará caracterizada se
apresentar todos os requisitos abaixo indicados:
• Pessoalidade;
• Continuidade;
• Subordinação;
• Onerosidade;
• Alteridade.
Vamos ver cada um desses elementos, os quais são retirados dos conceitos de
empregado e de empregador, que são apresentados pelos artigos 2º e 3º da CLT.
Pessoalidade
O contrato de trabalho estabelece uma obrigação personalíssima do empregado, de
sorte que somente por ele pode ser cumprida, razão pela qual ele não pode, por sua
iniciativa, ser substituído por outra pessoa no desempenho de suas atividades laborais.
Outra característica inerente a esse requisito é que o empregado deve ser, ne-
cessariamente, uma pessoa física. Com isso, por exemplo, um contrato que tenha
como partes duas pessoas jurídicas nunca poderá ser classificado como um contra-
to de trabalho. Essa característica faz com que, por exemplo, a morte do emprega-
do acarrete a extinção desse contrato.
Também deve ser destacado que esse requisito não se aplica ao empregador, pois
poderá, durante a relação de emprego, ocorrer a sua substituição, tal como no caso
da empresa ser incorporada por outra, caracterizando a sucessão trabalhista – que
não acarreta a extinção do contrato, mas somente a mudança de uma das partes.
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UNIDADE A Caracterização da Relação de Emprego – Parte 1
Continuidade
Vamos supor que uma pequena empresa contrata uma pessoa para que ela,
na eventualidade de ocorrer algum problema elétrico nas instalações, realize o
reparo. Nessa situação, observa-se que os trabalhos realizados pelo contratado se
caracterizam como sendo esporádicos e descontinuados – um contrato com essas
características não pode ser enquadrado como um contrato de trabalho.
A caracterização da relação de emprego exige que os trabalhos realizados pelo
empregado sejam habituais e com continuidade, de forma a se prolongar enquanto
perdurar o contrato de trabalho.
Não é exigível que o trabalho seja diário, mas que haja uma previsibilidade de
sua realização. Uma interessante solução foi dada pela legislação para diferenciar o
trabalho esporádico realizado por um diarista que realiza trabalhos domésticos e o
empregado doméstico.
Subordinação
Esse requisito estabelece que o empregador tem o poder de estabelecer a forma
como o trabalho deve ser desenvolvido, estando o empregado sujeito às ordens
emanadas por ele.
Em razão dos poderes do empregador, a ele cabe, com exclusividades, determinar:
• As etapas que serão desenvolvidas para a conclusão dos trabalhos;
• As técnicas e ferramentas utilizadas para o seu desenvolvimento;
• O treinamento a que o empregado deve ser submetido para que desenvolva o
trabalho da forma estabelecida;
• A forma como ocorrerá a fiscalização das tarefas desenvolvidas pelo empregado.
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Ou seja, o empregador tem o poder de organizar a sua empresa e estabelecer
como o trabalho será desenvolvido. Naturalmente, esse poder tem como limites a
lei e as normas que regem a relação de emprego, não se permitindo qualquer forma
de abuso de sua parte.
Cabe ao empregado se sujeitar às determinações do empregador, sendo que a
falta de acatamento a elas pode sujeitá-lo a sanções decorrentes do poder discipli-
nar inerente à relação de emprego – tais como as advertências (verbais e escritas),
as suspensões e a demissão por justa causa.
Onerosidade
Uma importante característica da relação de emprego é que ela é sempre one-
rosa, ou seja, em troca do serviço desempenhado pelo empregado cabe ao empre-
gador o pagamento de uma remuneração estabelecida pelo contrato de trabalho ou
pela legislação trabalhista.
Em razão de acordos e convenções coletivas ou mesmo em razão de disposição
legal, pode ser estabelecido o chamado “piso salarial”, ou seja, a menor remune-
ração que pode ser paga aos trabalhadores de determinada categoria. Essa forma
de estipulação, obrigatoriamente, deverá ser observada pelo empregador, sendo
vedado que ele realize o pagamento do empregado em valor menor.
Em razão da necessidade de remuneração, por exemplo, não podemos falar em
relação de emprego no trabalho voluntário, mesmo que, aparentemente, os demais
requisitos que estamos estudando estejam presentes.
Nesse particular, deve ser observado o disposto pela Lei n.º 9608/98, que trata
do serviço voluntário.
Alteridade
Essa característica decorre do poder do empregador em organizar sua empresa
e as atividades dos empregados, de forma que é ele quem assume todos os riscos
da atividade econômica desenvolvida.
Dessa forma, eventual insucesso nas atividades desenvolvidas não pode afetar
os direitos dos empregados, tais como salários, comissões, depósito no Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço etc.
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UNIDADE A Caracterização da Relação de Emprego – Parte 1
Empregado e Empregador
Agora que já conhecemos os elementos caracterizadores da relação de empre-
go, vamos conhecer a forma como a CLT apresenta os conceitos de empregado
e empregador.
Como podemos ver pela simples leitura desses artigos da CLT, a maior parte
dos requisitos da relação de emprego é retirada dessas disposições legais, razão
pela qual elas possuem destacada importância, especialmente naquelas situações
que possam gerar algum tipo de dúvida sobre a aplicabilidade das leis trabalhistas e
a competência da Justiça do Trabalho.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Constituição Federal
https://bit.ly/2QYzDMn
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT
http://bit.ly/2OgHPsd
Lei Complementar n.º 150/15, que trata dos empregados domésticos
https://bit.ly/2yrbs2N
Lei n.º 5889/73, que trata do trabalho rural
https://bit.ly/341GklO
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Referências
LEITE, C. H. B. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. (e-book)
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