Movimentos Oscilatórios

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The pendulum of the mind oscillates

between sense and nonsense, not


between right and wrong.

Memories, Dreams, Reflections (1962)


C ARL J UNG

Capítulo 6

Movimentos Oscilatórios

Vimos no capítulo anterior que o oscilador harmónico é o paradigma para


o comportamento de um sistema perto de um ponto de equilíbrio estável.
Por isso os movimentos oscilatórios aparecem um pouco por todo o lado à
nossa volta e são tão importantes para perceber o funcionamento do uni-
verso que nos rodeia. Em boa medida a Natureza é ritmo e regularidade.

Por serem regulares, estes sistemas têm uma natural simetria de trans-
lação temporal e por isso conservam a energia. Vimos, logo quando intro-
duzimos o oscilador harmónico, que isto é verdade. Claro que o modelo
que introduzimos é apenas uma aproximação: como sempre existem for-
ças de atrito que vão dissipar a energia, o que implica que a mais ou me-
nos longo prazo todos os osciladores vão parar a menos que recebam es-
tímulos externos. Isso contudo não invalida que durante um tempo mais
ou menos longo as propriedades de elasticidade dos corpos façam com
que estes oscilem e transmitam essa oscilação a corpos ou meios que com
eles estejam em interacção. Se esta interacção existir a perturbação perió-
dica transmitir-se-á a distâncias mais ou menos longas com a consequente
transferência de energia.

Por outro lado, se se definir um código de conversão da oscilação em


informação, o mesmo processo serve para transmitir informação a distân-
cias mais ou menos longas. Na verdade, oscilações mecânicas, electromag-
néticas, ou outras, são a única forma conhecida para transmitir energia e
informação à distância.

267
268 Movimentos Oscilatórios

6.1 Prólogo: o oscilador amortecido


Como dissemos acima, a primeira correcção ao modelo simples de osci-
lador harmónico que introduzimos na secção 5.3 é a inclusão de atrito no
sistema. Poderíamos à partida sempre considerar o caso de um pêndulo
“quase-estático” que se movesse tão devagar que o atrito seria constante,
como encontrámos em (4.38). Surpreendentemente este caso é bastante
complicado como o leitor poderá facilmente comprovar no Problema 6.35.
Bem mais simples é o caso em que a força de atrito F a depende da veloci-
dade
F a = −χẋ

onde χ é uma constante com dimensões1 N.m−1 .s. Com este termo assume-
se que o atrito é provocado pelo escoamento laminar (isto é, não turbu-
lento) de um fluido a baixa velocidade à volta do sistema. A equação do
movimento (5.15) do oscilador harmónico simples é então substituída por

m ẍ = −k x − χẋ , (6.1)

ou ainda,
χ k
ẍ + ẋ + x = 0 . (6.2)
m m
Tal como fizemos em (5.18), vamos introduzir a frequência angular ω0 de-
finida em (5.19) e, por conveniência de cálculo e notação, vamos definir
também a quantidade
χ
2ρ = , (6.3)
m
que, como o leitor facilmente verificará, tem dimensões de frequência. A
equação (6.2) fica então

ẍ + 2ρ ẋ + ω20 x = 0 . (6.4)

Para resolver esta equação precisamos de encontrar uma função x(t ) tal
que a função, a sua primeira derivada e a sua segunda derivada estão rela-
cionadas desta forma. A escolha natural recai sobre a função exponencial.
Todavia não pode ser uma função exponencial real porque com esta esco-
lha não poderíamos nunca descrever um movimento oscilatório como o
que é observado experimentalmente. Para que isso seja possível temos de
ter uma função exponencial complexa2 já que com esta escolha podemos
de imediato ter acesso a funções trigonométricas – e portanto periódicas
– através da escolha da parte real ou da parte imaginária da solução. A
nossa hipótese natural de solução da equação do movimento deveria pois
ser algo como
x(t ) = ae i Ωt
1 Caso o conceito de dimensão lhe seja estranho pode consultar o capítulo 12.
2 Caso o conceito de exponencial complexa não seja familiar para o leitor pode consultar

o Apêndice B, em particular a definição na página B.18.


6.1 Prólogo: o oscilador amortecido 269

onde a amplitude a é uma constante arbitrária com dimensão de compri-


mento.
Se efectivamente esta hipótese de solução for correcta, então deverá
haver um valor de Ω para o qual ela satisfará (6.4). Introduzindo esta pro-
posta na equação obtemos
¡ ¢
−Ω2 + 2i ρΩ + ω20 ae i Ωt = 0 .

A única hipótese desta equação ser verdadeira para qualquer t é que Ω seja
solução da equação característica Î Equação
característica
Ω2 − 2i ρΩ − ω20 = 0 , (6.5)

isto é, q
Ω = iρ ± ω20 − ρ 2 . (6.6)
Existe portanto um valor de Ω (complexo, em geral) para o qual a nossa
proposta pode ser solução da equação (6.4).
Há assim duas soluções x + e x − possíveis da equação do
qmovimento
correspondentes aos sinais + e − associados ao valor de ω = ω20 − ρ 2

x ± (t ) = Ae i (i ρ±ω)t . (6.7)

Como no caso do oscilador harmónico simples, também aqui a combina-


ção linear de duas soluções é ainda uma solução da equação. Daqui se
deduz (ver Problema 6.4) que a solução mais geral é

x(t ) = a + e (−ρ+i ω)t + a − e (−ρ−i ω)t (6.8)

em que a + e a − são constantes a determinar através das condições iniciais


do problema.
Cada termo da solução (6.8) tem a forma
¡ ¢
x ± (t ) = a ± e −ρt e i (±ωt ) ,

ou seja, tem duas componentes:

• uma amplitude dependente do tempo

A ± (t ) = a ± e −ρt ,

• uma componente oscilatória com frequência ω

Φ± (t ) = e i (±ωt ) .

O termo e −ρt designa-se por factor de amortecimento. A solução corres- Î Factor de


ponde pois, em geral, a um movimento oscilatório com uma amplitude amorteci-
amortecida no tempo. O comportamento exacto em cada caso depende mento
crucialmente do que se passa dentro da raiz quadrada presente no expo-
ente de Φ± (t ). Existem dois casos possíveis:
270 Movimentos Oscilatórios

ω20 > ρ 2 : Neste caso a força de restituição domina a força de atrito

χ2
k> ;
4m

as componentes Φ± (t ) tem o seu carácter oscilatório usual e a ampli-


tude A(t ) da oscilação diminui com o tempo. O tempo aparece aliás
como um termo secular, ou seja, não apenas no argumento das fun-
ções trigonométricas. O comportamento genérico da solução neste
caso está representado na Figura 6.1(a).
A solução pode ser escrita na forma (ver Problema 6.4)

x(t ) = ae −ρt cos(ωt + ϕ) . (6.9)

Daqui resulta que a parte oscilatória tem um período

2π 2π
T= =q .
ω 2
ω0 − ρ 2

Para ρ ≪ ω20
à !2
2π ρ
T≈ + πω0 2 + . . . , (6.10)
ω0 ω0

ou seja, o período de oscilação será aproximadamente igual ao do


oscilador harmónico não amortecido.

ω20 ≤ ρ 2 : Aqui, pelo contrário, a força de atrito domina a força de restitui-


ção
χ2
k≤ ;
4m
o argumento da raiz quadrada no expoente é negativo ou nulo e o
comportamento oscilatório deixa de estar presente em Φ± (t )
³ p ´ p
i ±i ρ 2 −ω20 t +ϕ ρ 2 −ω20 t +i ϕ
Φ± (t ) = e = e∓ .

A amplitude a(t ) mantém a sua forma tal como foi definida, mas a
parte Φ(t ) deixa de ser oscilatória e adiciona uma componente real
que transforma a solução em
µq ¶
x(t ) = 2ae i ϕe −ρt cosh ρ 2 − ω20 t .

O atrito é tão grande que o sistema se limita a regressar à posição


de repouso sem oscilar, como é visível na representação gráfica da
solução apresentada na Figura 6.1(b).
6.2 O oscilador forçado 271

x(t)
a

Φ (t) ae-ρ t

-a
t
(a)
x(t)

ae-ρ tΦ (t)

0
t
(b)

Figura 6.1: Gráficos da posição em função do tempo para um oscilador


harmónico sujeito a uma força de atrito. Em cima (a) a força de atrito é
pequena quando comparada com a força de restituição da mola, em baixo
(b) é grande. Em ambos os casos a condição inicial corresponde a x(0) = 0,
ẋ(0) 6= 0

6.2 O oscilador forçado

Quando uma força periódica é aplicada a um oscilador harmónico o seu


comportamento modifica-se significativamente. O caso mais simples é o
272 Movimentos Oscilatórios

de uma força aplicada segundo a direcção do movimento e da forma

F = βe i ωt ,

com β e ω constantes, em presença da qual a equação do movimento fica

m ẍ + k x − βe i ωt = 0 . (6.11)

Esta equação diz-nos que x e a sua segunda derivada têm de estar relaci-
onadas com a exponencial envolvendo ω. É portanto natural tentar uma
solução do tipo
x(t ) = C e i ωt .
Introduzindo esta proposta de solução em (6.11) obtemos

(k − mω2 )C = β ,

ou seja, temos de ter


β
C=
k − mω2
para que a nossa proposta possa ser uma solução. Usando a frequência
natural de oscilação ω0 definida em (5.19), a constante C pode então ser
escrita como


β
C= 2
(6.12)
m(ω0 − ω2 )
Há todavia um pequeno problema com esta solução. Na realidade,
com a determinação de C obedecemos à equação do movimento, mas não
às condições que definem o nosso sistema particular. Ora a equação do mo-
vimento é de segunda ordem, o que implica que têm de existir duas cons-
tantes a determinar em função dessas condições. O leitor não terá dificul-
dade em verificar, generalizando a discussão realizada na página 210, que

x(t ) = x 0 (t ) +C e i ωt (6.13)

é a solução geral da equação (6.11), onde

x 0 (t ) = a + e +i ω0 t + a − e −i ω0 t

é solução da equação (homogénea) do movimento do oscilador harmó-


nico simples
m ẍ + k x = 0 .
As constantes a ± são definidas pelas condições iniciais do sistema.3 Por-
tanto teremos uma parte oscilatória com amplitudes a ± fixas e uma parte
igualmente oscilatória de amplitude C definida pela forma da força F . A
3 É simples mostrar que isto é um resultado geral: para encontrar a solução de uma equa-

ção diferencial não homogénea encontramos primeiro uma solução particular; somando
a esta a solução geral da correspondente equação homogénea temos a solução geral da
equação não-homogénea.
6.2 O oscilador forçado 273

expressão (6.12) revela-nos que esta amplitude cresce em função da fre-


quência angular ω no intervalo [−∞, ω0 [ e muda de sinal e tende para zero
no intervalo ]ω0 , +∞]. A mudança de sinal pode ser absorvida na fase que
passa a tomar o valor ϕ = ±π no intervalo ]ω0 , ∞] mantendo a amplitude
para esta parte da solução sempre positiva. Para ω = ω0 , todavia, a am-
plitude diverge. Na prática isso significa que a amplitude pode aumentar
até ao ponto de quebrar a coesão do material que constitui o oscilador le-
vando à sua rotura. Possivelmente nem aí chegaremos uma vez que a Lei
de Hooke, em que se baseia o modelo do nosso oscilador, só é válida num
regime limitado de deformações. O mais provável é que ele se deforme
permanentemente quando chegarmos a uma certa amplitude; a frequên-
cia natural (se existir) de oscilação muda, levando à mudança de frequên-
cia de excitação para o qual a amplitude diverge. Por outro lado, nenhum
sistema está totalmente desprovido de atrito, o que tem o efeito de amor-
tecer a oscilação como vimos na secção anterior. Voltaremos a este ponto
mais adiante.
O fenómeno de divergência da amplitude de um oscilador forçado
quando a frequência ω de excitação é igual à frequência natural ω0 do osci-
lador livre dá pelo nome de ressonância. É um dos fenómenos mais impor- Î Ressonância
tantes em Física e está presente a todas as escalas na Natureza. É essencial
tanto para estabelecer os parâmetros de segurança de uma ponte ou de
um edifício, como para identificar partículas sub-nucleares.
Para ir mais longe temos ainda de especificar as condições iniciais. Isto
implica especificar o valor de x(t ) e ẋ(t ) para um dado instante de tempo.
Vamos tomar por exemplo x(0) = 0 e ẋ(0) = 0, o que faz sentido na presença
da força periódica externa. Nesse caso
µ ¶
C ω
a+ = − 1+ ,
2 ω0
µ ¶
C ω
a− = − 1− ,
2 ω0

e a solução (6.13) fica


· ¸
iω i ωt
x(t ) = −C cos(ω0 t ) + sin(ω0 t ) − e .
ω0

Para ω − ω0 ≈ 0 podemos pôr ω = ω0 + δω que, introduzindo na expressão


anterior, permite escrever, para δω → 0 e desprezando termos da ordem de
δω2 ,
· ¸
1 i ω0 t
x(t ) = −iC δω sin(ω0 t ) − t e .
ω0

Usando a definição (6.12) para C , temos finalmente

iβ h i
i ω0 t
x(t ) = sin(ω0 t ) − ω0 t e .
2mω20
274 Movimentos Oscilatórios

Comp. x(t)
Im x(t)
Re x(t)

Figura 6.2: Evolução no tempo das componentes real e imaginária de x.


As amplitudes foram normalizadas para poderem ser representadas no
mesmo gráfico.

As partes real e imaginária desta solução são


βt
Re (x(t )) = − sin(ω0 t ) ,
2mω0

β
Im (x(t )) = [sin(ω0 t ) − ω0 t cos(ω0 t )]
2mω20
e estão representadas na Figura 6.2. Repare-se que em ambas as compo-
nentes a amplitude de oscilação cresce linearmente sem limite.
Vimos na secção anterior que a presença de atrito, pelo contrário, di-
minui a amplitude de oscilação. O atrito tem assim, potencialmente, a
possibilidade de controlar o efeito da força periódica externa e impedir o
crescimento sem limite da amplitude do movimento. Um sistema forçado
com atrito é, usando as definições que introduzimos para a força de atrito
e para a força periódica externa, descrito pela equação do movimento
β i ωt
ẍ + 2ρ ẋ + ω20 x − e =0 . (6.14)
m
Podemos mais uma vez tentar uma solução (particular) do tipo

x(t ) = C e i ωt

e obter a solução completa, como anteriormente, adicionando esta solu-


ção à da equação homogénea. Este método funciona, mas o resultado é
algo diferente. Com efeito, introduzindo esta proposta em (6.14) obtemos
β
C= £¡ ¢ ¤.
m ω20 − ω2 + 2i ρω
6.2 O oscilador forçado 275

Figura 6.3: Comportamento da amplitude e da fase para um oscilador har-


mónico forçado com atrito. O caso de atrito baixo corresponde à linha
pontilhada, o intermédio à linha tracejada e o atrito grande à linha a cheio.

A constante C é agora um número complexo que pode ser escrito na forma

C = |C |e ϕ ,

do qual temos de extrair o seu módulo |C | e fase ϕ. Para o módulo o resul-


tado é
q¡ ¢∗ ¡ ¢
|C | = C eiϕ C eiϕ =
µ ¶
β 1
= q .
m (ω20 − ω2 )2 + 4ρ 2 ω2

Quanto à fase,
C e i ϕ −C e −i ϕ 2ρω
tanϕ = −i =− .
C e i ϕ +C e −i ϕ ω20 − ω2
O máximo da amplitude |C | ocorre no mínimo do denominador, ou seja,
d £ 2 ¤
(ω0 − ω2 )2 + 4ρ 2 ω2 = 0

a que corresponde o valor ωR dado por

ω2R = ω20 − 2ρ 2 (6.15)

e para o qual a amplitude toma o valor


µ ¶
β 1
|C | = q . (6.16)
2ρm ω20 − ρ 2
276 Movimentos Oscilatórios

O valor máximo da amplitude depende, como seria de esperar, do atrito.


Para ρ = 0, de novo a amplitude diverge e reencontramos o caso do oscila-
dor forçado que estudámos acima. Quando o atrito não é nulo a amplitude
aumenta com o tempo mas estabiliza no valor de |C |.
O valor da fase, que é sempre negativo para ω não nulo, varia do valor
0 para ω = 0 até ao valor −π para ω → ∞. Para ω = ω0 a fase ϕ = −π/2.
Na Figura 6.3 podemos ver o comportamento quer da amplitude, quer da
fase para vários valores do atrito, evidenciando o aumento da amplitude
na frequência de ressonância e a tendência da fase para tomar o valor −π
à medida que o atrito diminui. Repare-se que o máximo da curva da am-
plitude só corresponde a ω ≈ ω0 para ρ ≈ 0.

6.3 Osciladores acoplados


Quando se ligam dois osciladores o comportamento do sistema conjunto
torna-se mais complexo. Comecemos por considerar duas molas com cons-
tantes de restituição k 1 e k 2 ligadas a massas m 1 e m 2 conforme represen-
tado na Figura 6.4. Este sistema tem duas variáveis independentes:4 a po-
sição x 1 da massa m 1 e a posição x 2 da massa m 2 . Cada uma das massas
tem o seu conjunto de forças aplicadas e cada uma vai ter portanto o seu
momento linear alterado por acção delas. O sistema tem por isso de ser
representado por duas equações do movimento descrevendo o comporta-
mento da massa m 1 e da massa m 2 . Sejam l 1 e l 2 os comprimentos naturais
das molas de de constante k 1 e k 2 , respectivamente, e sejam

ξ1 = x 1 − l 1 ,
(6.17)
ξ2 = (x 2 − x 1 ) − l 2 ,

as coordenadas relativas à posição de equilíbrio de cada uma das molas.


Um deslocamento ξ1 dá origem às seguintes forças sobre a massa m 1

F 1(1) (ξ1 ) = −k 1 ξ1 ,
F 2(1) (ξ1 ) = −k 2 ξ1 ,

enquanto um deslocamento ξ2 dá, sobre a mesma massa, origem a uma


força
F 3(1) (ξ2 ) = +k 2 ξ2 .
Do mesmo modo, para a massa m 2 temos o seguinte conjunto de forças

F 1(2) (ξ1 ) = +k 2 ξ1 ,
F 2(2) (ξ2 ) = −k 2 ξ2 .

É fundamental determinar correctamente o sentido das várias forças em


jogo e por isso o leitor deve convencer-se de que a escolha acima exposta
está correcta.
4 Como o sistema é unidimensional omitimos a indicação de vector em todas as variá-

veis.
6.3 Osciladores acoplados 277

Figura 6.4: Sistema de duas massas ligadas por duas molas.

As equações de movimento são, então,

m 1 ξ̈1 = −(k 1 + k 2 )ξ1 + k 2 ξ2 ,


(6.18)
m 2 ξ̈2 = k 2 ξ1 − k 2 ξ2 .

Podemos escrever o conjunto das duas equações sob forma matricial


· ¸ · ¸· ¸
ξ̈1 −ω211 ω212 ξ1
= , (6.19)
ξ̈2 ω221 −ω222 ξ2
com q
k 1 +k 2
ω11 =
q m1 ,
k2
ω12 = m 1 ,q
k2
ω21 = ω22 = m2 .
Vamos, como de costume, experimentar uma solução oscilatória do
tipo
· ¸ · ¸
ξ1 (t ) a1
= Ae i (ωt +ϕ) .
ξ2 (t ) a2
Inserindo esta proposta em (6.19) obtemos
· ¸· ¸ · ¸
−ω211 ω212 a1 2 a1
= −ω ,
ω222 −ω222 a2 a2

que é a equação definindo os valores e vectores próprios5 associados à ma-


triz introduzida em (6.19). A relação anterior pode ainda ser escrita na
forma · 2 ¸· ¸ · ¸
ω11 − ω2 −ω212 a1 0
2 2 2 = ,
−ω22 ω22 − ω a2 0
que, como é sabido, só tem solução se o determinante da matriz for nulo
¯ 2 ¯
¯ ω − ω2 −ω212 ¯¯
¯ 11 =0.
¯ ω222 ω222 − ω2 ¯

Os dois valores ω± de ω que são solução desta equação designam-se por


frequências próprias do sistema. São dadas por Î Frequências
5 Caso o leitor não esteja familiarizado com estes conceitos poderá consultar o Apêndice
próprias
A, muito em particular a página 669.
278 Movimentos Oscilatórios

· r ¸
1 ¡ 2 ¢ ¡ 2 ¢
2 2 4 m2
ω2± = 2
ω22 + ω11 ± ω22 + ω11 − 4ω22 , (6.20)
2 m1

enquanto os vectores próprios correspondentes são


· ¸ " #
a1 a±
=
a2 ± 1

com  v 
à ! uà !2
1 ω212 m2 u ω2
m2 m2 
a± =  1− − ± t 1 + 12 + −4  .
2 ω222 m1 2
ω22 m 1 m1

As soluções para ξ2 são então

ξ2± (t ) = A ± e i (ω± t +ϕ± )

e as soluções para ξ1 são

ξ1± (t ) = A ± a ± e i (ω± t +ϕ± ) ,

em que A ± e ϕ± são constantes arbitrárias a serem fixadas pelas condições


Modos Ï iniciais escolhidas. Estas soluções designam-se por modos próprios de vi-
próprios de bração do sistema. Como as equações do movimento são lineares outras
vibração soluções podem ser encontradas por combinação linear destas soluções.
Qualquer uma delas pode ser convertida em solução para as posições x 1 e
x 2 das massas através de (6.17).
Se as molas e as massas forem iguais o sistema torna-se particular-
mente simples. Nesse caso k 1 = k 2 = k, m 1 = m 2 = m, e a equação (6.19)
fica · ¸ · ¸· ¸
ξ̈1 k 2 −1 ξ1
=− .
ξ̈2 m −1 1 ξ2

As frequências próprias são agora dadas por6


à p ! " Ãp !#2
k 3± 5 5±1
ω2± = = ω0 ,
m 2 2
p
em que ω0 = k/m, ou seja,
à p !
1∓ 5
ω± = −ω0 .
2

Quanto às amplitudes próprias a ± , temos agora


" p #
− 1±2 5
a± = ,
1
6 Se o leitor tiver um pendor mais matemático há-de reparar que estas frequências e

respectivas amplitudes envolvem a razão áurea.


6.3 Osciladores acoplados 279

Figura 6.5: Sistema de duas massas ligadas por três molas. O sistema tem
ainda dois graus de liberdade já que o comprimento da terceira mola está
fixado unicamente por x 2 devido ao tamanho fixo l do sistema.

e as soluções completas neste caso são


· ¸ " 1+p5 #
ξ1 − 2
= A + e i (ω+ t +ϕ+ ) ,
ξ2 1
· ¸ " 1−p5 #
ξ1 − 2
= A − e i (ω− t +ϕ− ) ,
ξ2 1

onde A ± e ϕ± são constantes arbitrárias a serem fixadas pelas condições


iniciais. Repare-se que na primeira solução as massas movem-se em di-
recções opostas e na segunda elas movem-se na mesma direcção, o que
intuitivamente corresponde às duas situações possíveis quando as duas
massas se movem com a mesma frequência.
Embora o método usado para encontrar a solução do sistema ante-
rior possa sempre ser usado, casos há em que a solução pode ser encon-
trada por meios mais expeditos. Consideremos o sistema de duas massas
e três molas representado na Figura 6.5. Mais uma vez o sistema tem dois
graus de liberdade uma vez que o comprimento da terceira mola de cons-
tante k 3 está univocamente determinado por x 2 e pelo tamanho total fixo
l do sistema. As equações do movimento para as duas massas são agora,
referindo-nos, como sempre, à posição de equilíbrio das molas,

m 1 ξ̈1 = −k 1 ξ1 + k 2 (ξ2 − ξ1 ) ,
(6.21)
m 2 ξ̈2 = −k 2 (ξ2 − ξ1 ) − k 3 ξ2 .

Suponhamos agora que m 1 = m 2 = m e que k 1 = k 3 = k. Somando e sub-


traindo as equações obtemos

m(ξ̈1 + ξ̈2 ) = −k(ξ1 + ξ2 ) ,


m(ξ̈1 − ξ̈2 ) = −(2k 2 + k)(ξ1 − ξ2 ) .

Vemos assim que o sistema pode ser descrito por duas variáveis

ξ± = ξ1 ± ξ2
280 Movimentos Oscilatórios

e as equações de movimento são, nestas variáveis,


µ ¶
k
ξ̈+ = − ξ+ ,
m
µ ¶
2k 2 + k
ξ̈− = − ξ− ,
m

 que descrevem formalmente dois osciladores desacoplados. As suas frequên-


cias de oscilação são, como se depreende das equações anteriores,
s
k
ω+ = .
m
s
k + 2k 2
ω− = ,
m

A solução das equações do movimento é agora trivial

ξ± = a ± e i (ω± t +ϕ± ) , (6.22)

onde a ± e ϕ± são constantes arbitrárias a determinar a partir das condi-


ções iniciais. A partir destas soluções podem-se reconstituir as soluções
ξ1 (t ) e ξ2 (t ) do sistema original:

1h i
ξ1 (t ) = a + e i (ω+ t +ϕ+ ) + a + e i (ω− t +ϕ− ) ,
2 (6.23)
1h i
ξ2 (t ) = a + e i (ω+ t +ϕ+ ) − a + e i (ω− t +ϕ− ) .
2
Para perceber a relação com os modos próprios de oscilação voltemos
ao sistema (6.21) nas mesmas condições que anteriormente e procuremos
soluções em que as duas molas vibram com a mesma frequência
· ¸ · ¸
ξ1 (t ) α1
~
ξ(t ) = = e i (ωt +ϕ) = ~
αe i (ωt +ϕ) . (6.24)
ξ2 (t ) α2

Inserindo esta hipótese no sistema (6.21), vemos que encontrar a solução


se resume a encontrar os valores e vectores próprios da matriz
 
− (k+k
m
2) k2
m
Ω= .
k2 (k+k 2 )
m
− m

Os valores próprios são, como seria de esperar, ω± encontrados em (6.3).


Os correspondentes vectores próprios ~α± são
· ¸
1 +1
~
α+ = p ,
2 +1
· ¸
1 +1
~
α− = p .
2 −1
6.3 Osciladores acoplados 281

A solução mais geral é, como de costume, construída como uma combina-


ção linear destas soluções
~ α+ e i (ω+ t +ϕ+ ) + a −~
ξ(t ) = a +~ α− e i (ω− t +ϕ− ) . (6.25)

Absorvendo os factores de normalização nas constantes a ± vemos que esta


solução e a encontrada em (6.23) são idênticas.
Os modos próprios de oscilação (6.24) correspondem às formas de os-
cilação mais simples do sistema. Tal como já tinhamos encontrado acima,
no caso ~ α+ as massas oscilam na mesma direcção enquanto no caso ~ α−


oscilam em direcções opostas. Como as equações do movimento são line-
ares, qualquer combinação linear de modos próprios é ainda uma solução,
o que não quer dizer automaticamente que qualquer solução é uma com-
binação linear de modos próprios. É no entanto possível demonstrar que
isso também é verdade, como o leitor poderá verificar na secção 6.5. Este
facto confere um papel especial aos modos próprios que representam as-
sim a base para a construção de qualquer solução do sistema.
Para descrever na totalidade o movimento é necessário ainda fixar as
condições iniciais o que fixa os valores de a ± e ϕ± . Suponhamos que a
massa m 1 é deslocada (sempre em relação à posição de equilíbrio) para a
posição a na direcção positiva, sendo largada a partir do repouso. A massa
m 2 está inicialmente sua posição de equilíbrio. Esta situação corresponde
às condições iniciais
ξ1 (0) = a ,
ξ2 (0) = 0 ,
ξ̇1 (0) = ξ̇2 (0) = 0 .
Vamos assumir mais uma vez que m 1 = m 2 = m e que k 1 = k 3 = k. Para
estas condições as coordenadas próprias têm inicialmente o valor
ξ± (0) = a ,
(6.26)
ξ̇± = 0 .
Tomemos, por exemplo, a parte real da solução geral (6.22)
ξ+ (t ) = a + cos(ω+ t + ϕ+ ) ,
ξ− (t ) = a − cos(ω− t + ϕ− ) .
As condições iniciais (6.26) permitem determinar as constantes a ± e ϕ± ,
obtendo-se
a± = a ,
ϕ± = 0 .
Com este resultado as soluções do sistema ficam então, em termos das va-
riáveis originais ξ1 e ξ2 ,
a
ξ1 (t ) = [cos(ω+ t ) + cos(ω− t )] ,
2 (6.27)
a
ξ2 (t ) = [cos(ω+ t ) − cos(ω− t )] .
2
282 Movimentos Oscilatórios

Figura 6.6: Evolução temporal das soluções do sistema (6.21) quando a


constante elástica da mola central é muito menor que a das duas restantes
molas. É visível neste caso o fenómeno de batimento.

Usando identidades trigonométricas de adição e subtracção de ângulos é


possível escrever as duas equações anteriores na forma
³ω +ω ´ ³ω −ω ´
− + − +
ξ1 (t ) = a cos t cos t ,
2 2 (6.28)
³ω +ω ´ ³ω −ω ´
− + − +
ξ2 (t ) = a sin t sin t .
2 2

Por outro lado, podemos escrever a frequência ω− na forma


s
2k 2
ω− = ω+ 1+ .
k

Se k 2 for muito pequeno comparado com k, podemos definir


6.4 Múltiplos osciladores acoplados 283

k2
ǫ= ≪1
2k
e podemos aproximar a raiz quadrada pelos dois primeiros termos da sua
expansão em série de Taylor

ω− ≈ ω+ (1 + 2ǫ) .

Podemos assim reescrever (6.28) usando de novo as relações trigonométri-


cas de adição e subtracção de ângulos

ξ1 (t ) ≈ a cos (ǫω+ t )cos (ω+ (1 + ǫ)t ) ,


(6.29)
ξ2 (t ) ≈ a sin (ǫω+ t )sin (ω+ (1 + ǫ)t ) .

A solução anterior evidencia um comportamento muito interessante.


Como ǫ ≪ 1, o segundo coseno em x 1 e o segundo seno em x 2 correspon-
dem muito aproximadamente a um movimento oscilatório com frequên-
cia ω+ . Como é visível na Figura 6.6, esse movimento oscilatório tem toda-
via agora uma amplitude que é modulada no tempo pelo coseno, no caso
de x 1 , ou pelo seno, no caso de x 2 , de ǫω+ t . A este fenómeno dá se o nome
de batimento. A frequência desta modulação é muito menor que ω+ . A Î Batimento
razão R ω das duas frequências é

ω+ (1 + ǫ) 1 2k
Rω = = 1+ = 1+
ω+ ǫ ǫ k2

e tende para infinito quando k 2 tende para zero. Este resultado é perfeita-
mente natural: quando k 2 tende para zero as duas massas deixam de estar
acopladas pela mola central e passamos a ter dois osciladores harmónicos
independentes idênticos.

6.4 Múltiplos osciladores acoplados


Os movimentos oscilatórios correspondem, como vimos, ao comporta-
mento natural de um sistema perto da situação de equilíbrio. Por isso
mesmo devemos esperar que a Natureza utilize abundantemente este me-
canismo, tanto mais que conserva a energia. Grandes movimentos colec-
tivos de oscilação são de facto comuns por todo o Universo e serão o nosso
tema de estudo no capítulo 7. Nesta secção limitar-nos-emos a, segundo
o procedimento usual em Física, criar um pequeno modelo de oscilações
colectivas que realçará as características essenciais do processo.
Consideremos então um conjunto de N corpos idênticos de massa m,
movendo-se sem atrito, ligados por molas perfeitamente elásticas e idên-
ticas de constante de restituição K . Quando o sistema está parado, em
equilíbrio e não sujeito a nenhum constrangimento as molas têm todas o
mesmo comprimento l , conforme se encontra representado esquemati-
camente na Figura 6.7. O problema é unidimensional e com N graus de
liberdade, sendo a posição de equilíbrio das massas dada por x n = nl com
284 Movimentos Oscilatórios

Figura 6.7: Sistema de N massas acopladas por molas.

n = 1, 2, . . ., N de acordo com o referencial escolhido que tem a sua origem


na extremidade esquerda da primeira mola, ou seja, x 0 = 0. Quando as
massas são desviadas da sua posição de equilíbrio a sua posição em cada
instante t durante o movimento passa a ser dada por

x n = nl + φn (t ) n = 1, 2, . . ., N , (6.30)

em que assumimos que os desvios φi (t ) ≪ l , ou seja, que são pequenos re-


lativamente à posição de equilíbrio. Tal como vimos na secção anterior, a
força a actuar sobre a massa na n-ésima posição resulta, para além do des-
locamento φn (t ) dessa massa, do deslocamento da massa na (n −1)-ésima
posição e do deslocamento da massa na (n + 1)-ésima posição. Portanto, a
equação do movimento da n-ésima massa vai ser

m φ̈n = −K (φn − φn−1 ) + K (φn+1 − φn ) , (6.31)

ou, colectando os termos,

φ̈n = ω20 (φn−1 − 2φn + φn+1 ) (6.32)

com s
K
ω0 = .
m
Como as molas e as massas são todas iguais, uma equação idêntica a (6.32)
descreve o movimento de cada das massas, excepto das que se encontram
nas extremidades da cadeia. Para essas tem de se estabelecer quais as con-
dições a que estão sujeitas e que se resumem a especificar o que acontece
em x 0 = 0 e x N +1 = (N + 1)l . Por exemplo, se uma das extremidades da
cadeia estiver fixa teremos

φi (t ) = 0 i = 0 ou i = N + 1 ; (6.33)

se uma ou outra das extremidades estiver solta não há extensão da mola


correspondente e o deslocamento de uma das extremidades será igual ao
Condições de Ï deslocamento da outra, ou seja,
fronteira
φ0 (t ) = φ1 (t ) ou φN +1 (t ) = φN (t ) . (6.34)

Com estas condições de fronteira o problema fica completamente especifi-


cado havendo um número igual de variáveis e de equações de movimento.
6.4 Múltiplos osciladores acoplados 285

Como anteriormente, vamos procurar os modos próprios do sistema,


ou seja, soluções em que todas as molas oscilem com uma frequência co-
mum ω. As funções φn (t ) são reais e por isso a escolha natural para a evo-
lução temporal conjunta são funções seno ou coseno. Vamos, para além
disso tentar uma solução em que a dependência na posição e no tempo
estejam separadas, ou seja,

φn (t ) = A n χ(x n ) cos(ωt − δn ) , (6.35)

em que A n é a amplitude e δn a fase para o movimento da n−ésima massa.


A função χ(x n ), dependente unicamente da posição, permitirá eventual-
mente satisfazer as condições de fronteira do sistema. Como o sistema
tem globalmente um comportamento oscilatório podemos tentar para a
dependência espacial algo do tipo

χ(x n ) = cos[k(x n − µ)] , (6.36)

onde µ é um comprimento e k é uma grandeza com dimensão de inverso


de comprimento. É possível demonstrar que esta solução é viável desde
que exista uma relação específica entre ω, ω0 e k, mas deixaremos a dis-
cussão dessa relação para mais adiante.
Para determinar µ e k vamos utilizar as condições de fronteira. De
acordo com o sistema representado na Figura 6.7, a extremidade esquerda
da cadeia está livre; o lado direito está fixo. Sendo assim,

φ0 = φ1 ,
φN +1 = 0 .

para qualquer instante t . A maneira mais simples de satisfazer a primeira


condição é
kµ = k(l − µ) ,

ou seja,
l
. µ=
2
A segunda condição diz-nos então que
· µ ¶¸
1
cos kl N − =0,
2

isto é, µ ¶
π 2j −1
k= j = 1, 2, . . . (6.37)
l 2N − 1
A imposição das condições de fronteira limita portanto os valores de k a
um conjunto discreto,7 de valores. Como o sistema tem N graus de liber-
dade só pode haver no máximo N soluções independentes, o que implica
que j só pode tomar valores inteiros entre 1 e N .
7 O termo discreto indica que os valores são indexados por números inteiros.
286 Movimentos Oscilatórios

A nossa proposta de solução fica então


· µ ¶¸
1
φn (t ) = A n cos kl n − cos(ωt − δn ) .
2
em que A n e δn são constantes a serem determinadas para todas as N mas-
sas pelas condições presentes no instante inicial.
Inserindo esta proposta em (6.32) vemos que existe uma relação entre
Relação de Ï ω e ω0 para que esta solução possa ser válida
dispersão µ ¶
kl
ω = 2ω0 sin . (6.38)
2
Esta relação designa-se por relação de dispersão e estabelece a forma como
a frequência do modo próprio de oscilação do sistema com frequência ω
está relacionada com a frequência de oscilação natural de cada elo da ca-
deia de N osciladores.8
Tendo isto em conta, os modos próprios de oscilação do sistema ficam
então · µ ¶¸
(2 j − 1)π 1
φn, j = A n cos n− cos(ω j t − δn ) , (6.39)
2N − 1 2
onde · µ ¶¸
π 2j −1
ω j = 2ω0 sin , (6.40)
2 2N − 1
o índice j indexando o modo próprio de oscilação e n a massa em causa.
A frequência de oscilação temporal passa a poder assumir apenas valores
discretos devido à imposição das condições de fronteira no sistema e o seu
valor está limitado superiormente.
Na Figura 6.8 está representada a evolução temporal de um conjunto
de modos próprios de um sistema de 200 massas com as condições de
fronteira escolhidas. Uma maneira de julgar o número de modos necessá-
rios para descrever o sistema é olhar para a grandeza k, cujo valor é dado
por (6.37), restringe a modulação espacial do conjunto de osciladores da
cadeia. Essa modulação está limitada superiormente pela dependência
em seno na relação de dispersão e portanto kl ≤ π. Também pela mesma
razão a frequência temporal está limitada e não pode ser superior a 2ω0 .
Se kl ≪ 1, então j ≪ N e apenas um número restrito de modos é relevante
para a descrição do sistema. Nesse caso a parte de modulação espacial da
posição das massas fica
· µ ¶¸
1
cos kl n − ≈ cos(kl n) ,
2
ou seja, há uma periodicidade em n para um dado instante t fixo

kl n = 2π .

Comprimento Ï Definindo a distância λ = l n a igualdade anterior diz-nos que


de onda e 8 A razão do nome relação de dispersão só se torna totalmente clara no contexto da so-
número de breposição de fenómenos ondulatórios. Para mais detalhes consultar a secção 8.2, em par-
ondas ticular o conteúdo da página 382.
6.5 A análise de Fourier 287

j=1 j=2

1 1

0.5 0.5
φ

φ
0 0

−0.5 −0.5

−1 −1
800 800
700 700
600 600
500 200 500 200
400 160 180 400 160 180
t 300 120 140 t 300 120 140
200
100 60 80 100 200
100 60 80 100
20 40 n 20 40 n
0 0

j=3 j=10

1 1

0.5 0.5
φ

φ
0 0

−0.5 −0.5

−1 −1
800 800
700 700
600 600
500 200 500 200
400 160 180 400 160 180
t 300 120 140 t 300 120 140
200
100 60 80 100 200
100 60 80 100
20 40 n 20 40 n
0 0

Figura 6.8: Modos próprios de oscilação j = 1, 2, 3 e 10 para um sistema de


200 massas acopladas. A posição das massas é indexada pelo seu número
de identificação. A evolução temporal é especificada para 800 s.


k= , (6.41)
λ
ou seja, que k é inversamente proporcional a uma grandeza λ que se de-
signa por comprimento de onda. A grandeza k designa-se também normal-
mente por número de ondas.
Para valores de kl ∼ π, ou seja j ∼ N , o modo apresenta grandes va-
riações de oscilação de massa para massa e frequências de oscilação que
dependem de forma não linear com k. Pelo contrário, quando kl ≪ 1 a
relação de dispersão (6.38) assume a forma simplificada

ω = kω0 l . (6.42)
p
A grandeza c = ω0 l = l K /m tem dimensões de velocidade e representa
a velocidade de propagação da oscilação no sistema. Os dois regimes são Î Velocidade de
identificáveis na Figura 6.9. propagação

6.5 A análise de Fourier


Como vimos nas secções anteriores, podemos construir toda uma classe
de soluções para o oscilador harmónico — e seus derivados— na base de
combinações de funções seno e coseno ou, o que é equivalente, na base de
funções exponenciais complexas. A questão a que agora vamos responder
é se qualquer solução periódica pode ser escrita usando como base essas
funções. Surpreendentemente a resposta é afirmativa. Este resultado, que
foi proposto em 1807 pelo matemático, físico e engenheiro francês Jean
Baptiste Joseph Fourier, revolucionou a ciência e a engenharia, estando
presente em inúmeras aplicações tecnológicas que nos rodeiam.
288 Movimentos Oscilatórios

Figura 6.9: Gáfico da relação de dispersão (6.40) para o caso de 200 massas.
A recta corresponde ao comportamento esperado para kl ≪ 1.

Para perceber o que significa a noção de análise de Fourier temos, de


passar por um breve interlúdio matemático. Muitos dos resultados vão ser
apresentados sem demonstração, sobretudo porque muitos deles o leitor
facilmente os poderá reproduzir. Consideremos o conjunto de todas as
funções complexas de variável complexa, periódicas de período T = 2π/ω,
onde ω é a frequência angular. O conjunto dessas funções, armado com
as operações de adição e multiplicação por um escalar, define um espaço
vectorial (vd. Problema 6.3). Definamos o produto escalar < α|β > de duas
funções α e β desse espaço como
ZT
1
< α|β >= αβ∗ d t (6.43)
2π 0

onde ∗ indica o complexo conjugado. É fácil verificar (vd. Problema 6.3)


que esta definição satisfaz todas as propriedades do produto escalar desde
que o integral de |α|2 e de |β|2 exista e seja finito. Funções com esta propri-
Funções de Ï edade dizem-se de quadrado somável e o conjunto das funções periódicas
quadrado de período T com essa propriedade designa-se por L 2 [0, T ]. Com a defini-
somável ção de produto interno introduzida acima este espaço transforma-se num
espaço de Hilbert.
Consideremos nesse espaço o conjunto das funções exponenciais com-
plexas
p
e n (t ) = ω e i nωt n = 0, ±1, ±2, . . . . (6.44)

Essas funções formam um conjunto ortonormado

< e n |e m >= δmn (6.45)

pelo que, à partida, poderiam ser ser usadas como base para o espaço vec-
torial L 2 [0, T ]. Pelo menos é possível, para já, projectar qualquer função
6.5 A análise de Fourier 289

φ(t ) no sub-espaço gerado por essas funções,

X
+∞
φ(t ) = < φ|e n > e n (t ) (6.46)
n=−∞

ou, em notação mais usual, Î Série de


Fourier
X
+∞
φ(t ) = c n e i nωt (6.47)
n=−∞

com ZT
ω
cn = φ(t )e −i nωt d t . (6.48)
2π 0
A equação (6.47) é a forma complexa da série de Fourier. Quer o lado
direito, quer o esquerdo desta equação têm período T , como facilmente se
verifica. Os coeficientes c n são chamados de coeficientes de Fourier e são
em geral complexos; todavia, se a função φ for real, c n∗ = c −n para qualquer
n e nesse caso os coeficientes podem ser expressos como

an − i bn
cn = n = 0, 1, 2, . . .
2
an + i bn
c −n = n = 1, 2, . . .
2
em que a n e b n são reais. Substituindo esta definição em (6.47) obtemos a
forma real da série de Fourier
a0 X∞
φ(t ) = + [a n cos(nωt ) + b n sin(nωt )] (6.49)
2 n=1
com
ZT
ω
an = φ(t ) cos(nωt )d t ,
π 0
ZT (6.50)
ω
bn = φ(t ) sin(nωt )d t .
π 0

O Teorema de Parseval diz-nos que Î Teorema de


Parseval
X
+∞
< φ|φ >= |< φ|e n > |2 (6.51)
n=−∞

ou, em termos dos coeficientes c n ,

X
+∞
< φ|φ >= |c n |2 .
n=−∞

Isto mostra que podemos encarar a função φ como um vector expresso


na base e n com “coordenadas” c n e com uma norma dada por algo seme-
lhante ao Teorema de Pitágoras num espaço que pode eventualmente ter
uma base com um número infinito de vectores. Dito de outro modo, este
290 Movimentos Oscilatórios

Espaço de Ï espaço pode ter dimensão infinita. Para reforçar o conceito de espaço vec-
dimensão torial de funções o físico inglês Paul Dirac inventou a notação de bra e ket
infinita para indicar os vectores “linha” e “coluna” no espaço de funções. Segundo
essa notação a função é representada como o ket |φ > enquanto que no
espaço dual ela é representada9 como < φ| (esta é a razão para a notação
do produto escalar introduzida em (6.43)).
Notação bra e Ï Por exemplo, podemos escrever (6.46) como
ket
X
+∞
|φ >= < φ|e n > |e n > .
n=−∞

Esta notação é usual em Mecânica Quântica.


Lema de Ï Um resultado muito importante demonstrado por Riemann e Lebes-
Riemann- gue mostra como os coeficientes de Fourier se comportam em função de
Lebesgue n: Z T
lim φ(t )e −i nωt d t = 0 . (6.52)
|n|→∞ 0

Definamos
φ(t ± 0) = lim φ(t ± h) .
h>0;h→0

Se φ for contínua no ponto t então φ(t + 0) = φ(t − 0). Se for descontínua,


a descontinuidade é igual a φ(t + 0) − φ(t − 0). Com esta definição pode-
Convergência Ï mos finalmente enunciar o resultado mais importante desta secção: se a
da série de função φ e a sua derivada φ′ em ordem a t forem contínuas por troços no
Fourier intervalo [0, T ], isto é, forem contínuas excepto num número finito de des-
continuidades, a série de Fourier de φ(t ) converge para [φ(t +0)+φ(t −0)]/2
em qualquer ponto θ ∈ [0, T ]. Reportando-nos de novo aos casos estudados
envolvendo osciladores harmónicos, concluímos agora que todas as solu-
ções periódicas podem ser expressas como combinações lineares de senos
e cosenos com coeficientes convenientemente escolhidos.
A condição de continuidade da função φ e da sua derivada é essen-
cial para que a série de Fourier forneça uma representação fidedigna da
função. Tomemos, por exemplo, um sinal periódico em dente de serra fre-
quentemente utilizado em electrónica
µ ¶
2t t
φ(t ) = a −1 0≤ ≤1 (6.53)
T T

com φ(t +T ) = φ(t ) para qualquer valor de t . Esta função está representada
na Figura 6.10. A função não é contínua em t = nT n = 1, 2, . . .. Sendo a
função real podemos calcular os coeficientes a n e b n , o que dá
Z µ ¶
ω T 2t
an = − 1 cos(nωt )d t = 0 ,
π 0 T
ZT µ ¶ (6.54)
ω 2t 2a
bn = − 1 sin(nωt )d t = − .
π 0 T nπ
9 Para detalhes sobre o espaço dual consultar o apêndice A.
6.5 A análise de Fourier 291


  

Figura 6.10: Sinal em dente de serra.

A expansão de Fourier é, portanto,


X sin(nωt )
2a +∞
φ(t ) = − , (6.55)
π n=1 n

o que nos levaria a pensar que poderíamos, dado o facto de os coeficientes


de Fourier diminuírem rapidamente com n, restringir-nos a um número
relativamente pequeno de termos da série. A Figura 6.11 mostra que isso
não é verdade: mesmo para um número grande de termos na expansão a
representação obtida não é fidedigna, sobretudo perto dos pontos em que
a primeira derivada de φ(t ) é descontínua. Este resultado dá pelo nome
de fenómeno de Gibbs e é possível demonstrar que não desaparece mesmo Î Fenómeno de
quando todos os termos da série são considerados. Gibbs
Até agora falámos apenas de sinais periódicos, o que levaria a pen-
sar que a metodologia anterior apenas se aplica a sinais deste tipo. Não
é exactamente assim: na verdade, uma função aperiódica pode ser enca-
rada como uma função periódica, mas com período infinito. Isso significa
que temos de considerar em (6.47) o caso ω → 0, ou seja, ω passa a ser
uma quantidade infinitesimal que designaremos por δω. Comecemos por
escrever (6.47) na forma
X
+∞ c n i nδωt
φ(t ) = e δω =
n=−∞ δω
X
−1c n i nδωt X c n i nδωt
+∞
=c 0 + e δω + e δω ,
n=−∞ δω n=1 δω

ou ainda
X
+∞ c −n −i nδωt X c n i nδωt
+∞
φ(t ) = c 0 + e δω + e δω .
n=1 δω n=1 δω
292 Movimentos Oscilatórios

 

 

Figura 6.11: Resultado obtido truncando a série de Fourier para vários va-
lores de n. Repare-se como nos pontos de descontinuidade da derivada a
série ultrapassa significativamente o valor real.

No limite em que δω → 0 as somas correspondem na prática à definição de


integrais e podemos escrever
Z−∞
φ(t ) = c(ω)e i ωt d ω (6.56)
−∞

com
Z+∞
1
c(ω) = φ(t )e −i ωt d t , (6.57)
2π −∞

Transformada Ï definição que tem em conta o limite do contínuo δω → 0 em (6.48). Obvi-


de Fourier amente, se a função φ(t ) for real podemos escrever (6.56) usando senos e
cosenos tal como fizemos para a série de Fourier
A equação (6.57) define a chamada transformada de Fourier da função
φ(t ), que permite representar qualquer sinal como um conjunto (contí-
nuo) de frequências ω e amplitudes c(ω). A título de exemplo, vamos cal-
Função Ï cular a transformada de Fourier da função gaussiana
Gaussiana
µ ¶
t2
φ(t ) = exp − 2 . (6.58)

Esta função tem o máximo em t = 0 e uma largura 2σ tal como está repre-
sentada graficamente na Figura 6.12. Sendo a gaussiana uma função real
podemos utilizar a transformada em termos de senos e cosenos
Z+∞ Z+∞
φ(t ) = a(ω) cos(ωt )d ω + b(ω) sin(ωt )d ω (6.59)
−∞ −∞
6.5 A análise de Fourier 293

1
(t)
0.8

 
0.6

0.4

0.2

0
0 t

Figura 6.12: Gráfico de uma função gaussiana de largura σ.

onde
Z
1 +∞
a(ω) = φ(t ) cos(ωt )d t ,
2π −∞
Z (6.60)
1 +∞
b(ω) = φ(t ) sin(ωt )d t .
2π −∞

É fácil de demonstrar que b(ω) é nulo, mas que


µ ¶
¡ ¢ 1
2 −2 ω2
a(ω) = 2πσω exp − 2
2σω

onde
1
σω = .
σ
A função a(ω) é portanto uma gaussiana no espaço dos ω com largura σω =
σ−1 . A função gaussiana é a única função cuja transformada de Fourier
é ela própria. Repare-se que se σ for muito pequeno σω é muito grande
e vice-versa, ou seja, se o sinal estiver muito localizado no tempo, a sua
transformada estará muito deslocalizada no espaço das frequências e reci-
procamente.
Muita atenção tem sido dedicada à série e à transformada de Fourier,
sobretudo desde que as telecomunicações e os computadores começaram
a ser moeda corrente na vida da humanidade. A razão de tal atenção é


simples: a análise de Fourier permite-nos descrever qualquer sinal através
de um conjunto de coeficientes e de frequências. Isso significa que temos
uma forma muito eficaz de descodificar e de comprimir a informação con-
tida num sinal, sobretudo se apenas um número reduzido de coeficientes
de Fourier for necessário para reconstruir o sinal de forma suficientemente
precisa. As aplicações vão desde a Medicina (exemplo: a construção de
294 Movimentos Oscilatórios

imagem a partir da medição de Ressonância Nuclear Magnética) até ao re-


conhecimento de voz. O conhecido formato JPEG,10 por exemplo, usa uma
forma simplificada de séries de Fourier para comprimir uma imagem.

Sumário dos conceitos:

• Pequenas oscilações e Lei de Hooke.

• Oscilador harmónico com atrito.

• Oscilador forçado e ressonância.

• Modos próprios de oscilação.

• Análise de Fourier.

Problemas
Exercício 6.1: O pêndulo de um relógio realiza pequenas oscilações. Des-
preze o atrito e a massa da haste de sustentação da massa suspensa. Qual
o comprimento da haste para que o pêndulo oscile com um período de 2
segundos?

Exercício 6.2: Um carrinho de 200 g está preso a uma mola com uma cons-
tante de restituição k = 0.5 N.m−1 . Todo o sistema está na horizontal e
move-se apenas segundo uma direcção. Despreze o atrito.
A massa é posta a oscilar puxando-a de 3 cm relativamente à posição de
equilíbrio e imprimindo-lhe uma velocidade de 0.5 m/s na direcção oposta
à da extensão da mola.

a)Qual é a frequência de oscilação?


b)Qual é a velocidade máxima atingida pelo carrinho? Em que ponto
da trajectória é essa velocidade atingida?
c) Qual é a aceleração máxima atingida pelo sistema? Em que ponto da
trajectória é essa aceleração atingida?

Exercício 6.3: Mostre que a definição de produto interno (6.43) satisfaz to-
das as propriedades do produto escalar desde que o integral exista e seja
finito. Calcule, em particular, qual o valor do produto interno para funções
seno e coseno.

Exercício 6.4: Considere uma mola de constante de restituição k ligada a


uma massa m. O sistema move-se unidimensionalmente na horizontal e
10 Acrónimo para Joint Photographic Experts Group, o grupo de peritos que definiu o for-

mato e estabeleceu a norma em 1992.


Problemas 295

está sujeito a uma força de atrito proporcional, em módulo, à velocidade


da massa m.

a)Mostre que a combinação linear de duas soluções da equação do mo-


vimento ainda é uma solução da equação do movimento.
b)Determine a relação entre as condições iniciais e a amplitude e fase
do movimento.
c) Determine a relação entre a posição, a velocidade e a aceleração da
massa m.
d)Determine ao fim de quanto tempo a amplitude máxima do movi-
mento é metade da amplitude inicial.
e)Determine como varia no tempo a aceleração máxima.
f)Calcule a perda de energia num ciclo. Particularize para o caso de
atrito pequeno.

Exercício 6.5: Uma massa m realiza um movimento circular uniforme num


plano em torno de um ponto O. Descreva o movimento como um sistema
de osciladores aplicados à massa m.

Exercício 6.6: ⋆ Uma partícula de massa m movimentando-se num plano


está sujeita a uma força com componentes

F x = −k x x , (6.61)
F y = −k y y . (6.62)

onde (x, y) são as coordenadas da partícula no plano. A massa é largada a


partir do repouso de um ponto ~r 0 = (x 0 , y 0 ).

a)Determine a solução da equação de movimento do sistema.


q
b)Estude os casos particulares em que a razão k y /k x é um número
racional
q e desenhe,
q nomeadamente,
q as q
trajectórias para os casos
k y /k x = 1, k y /k x = 2, k y /k x = 2/3 e k y /k x = 3/4. O que acon-
tece quando a razão não é um número racional?
c) Imagine agora que o sistema parte com uma velocidade inicial ~ v0 =
(v x0 , v y 0 ). Que modificação ocorreria no movimento relativamente
ao caso anterior?
d)Considere de novo a massa partindo do repouso de um ponto ~ x=
(x 0 , y 0 ), mas em que agora o sistema está sujeito a uma força de atrito
proporcional à velocidade. Repita o estudo para os casos considera-
dos.

Exercício 6.7: Uma massa m está suspensa na vertical do tecto de um ele-


vador que desce na vertical com uma aceleração a. Num dado instante o
passageiro, que se encontra também no elevador, puxa a massa para baixo
de uma distância d cm relativamente à posição de equilíbrio e larga-a a
partir do repouso (em relação ao elevador).
296 Movimentos Oscilatórios

a)Escreva a equação do movimento do sistema do ponto de vista do


passageiro.
b)Faça o mesmo para um observador que se encontra parado no solo e
em relação ao qual o elevador tem a aceleração a.
c) Indique a frequência de oscilação para os dois observadores.
d)Resolva a equação do movimento nos dois casos e compare as solu-
ções.

Exercício 6.8: No caso do problema anterior o sistema massa mola é subs-


tituído por um pêndulo constituído por uma massa m e uma haste rígida
sem massa de comprimento l . O pêndulo é posto a oscilar em condições
em que a aproximação de pequenas oscilações é válida. Descreva o movi-
mento do pêndulo do ponto de vista d observador parado no interior do
elevador.

Figura 6.13

Exercício 6.9: Um pêndulo constituído por uma haste rígida e sem massa
de comprimento l = 35 cm e por uma massa m = 50 g encontra-se sus-
penso num carrinho que se move com aceleração constante a = 4 m.s−2
(ver Figura 6.13). O pêndulo oscila segundo o plano que contém a direcção
do deslocamento e num regime de pequenas oscilações.

a)Escreva a equação do movimento do pêndulo.


b)Determine a frequência de oscilação do pêndulo.
c) Assumindo que o pêndulo partiu de um ângulo de 22.5 ◦ relativa-
mente à vertical e sem velocidade inicial (no referencial do carro)
determine a equação da sua trajectória.

Exercício 6.10: Considere o sistema representado na Figura 6.14 em que


uma massa está sujeita a duas molas, a da direita de constante de restitui-
ção k 1 e comprimento natural l 1 e a da direita de constante de restituição
k 2 e comprimento natural l 2 . Despreze a massa das molas e o atrito no
sistema.

a)Determine a posição de equilíbrio do sistema.


Problemas 297

b)Quantos graus de liberdade tem o sistema?


c) Escreva a equação do movimento do sistema.
d)Encontre a solução da equação do movimento. Particularize para
k 1 = 9 N.m−1 , k 2 = 16 N.m−1 , m = 1 kg e uma posição inicial (rela-
tiva à posição de equilíbrio) de 0.1 m partindo a massa do repouso.
e)É espalhada um fluido sob a massa que fica assim sujeita a uma força
de atrito proporcional à velocidade com constante de proporcionali-
dade χ = 2 N.m−1 .s. Nas condições da alínea anterior, qual é a nova
frequência de oscilação?
f)Nesta nova situação, quanto tempo demora a amplitude máxima de
oscilação a ficar metade da amplitude máxima inicial?

Figura 6.14

Exercício 6.11: Considere um pêndulo simples sem atrito constituído por


uma massa m suspensa por uma haste rígida sem massa de comprimento
l . Escreva a equação geral deste pêndulo como uma condição sobre o tor-
que. Mostre que esta condição resulta numa equação equivalente à do
oscilador harmónico para pequenas oscilações. Mostre também como in-
troduzir o atrito do ar na massa m, assumindo que é proporcional à sua
velocidade.

Exercício 6.12: Reformule o problema anterior em termos de energia, mos-


trando em particular como se comporta a energia do sistema na presença
de atrito.

Exercício 6.13: Considere um pêndulo constituído unicamente por uma


vara uniforme de massa m e comprimento l suspensa numa das extremi-
dades. A vara é posta a oscilar estando o movimento de oscilação confi-
nado a um plano.

a)Determine o torque da barra em torno do ponto de sustentação em


função do tempo.
b)Determine a sua energia potencial.
c) Escreva a equação do sistema. Mostre que a energia se conserva.
d)Encontre a solução para pequenas oscilações em torno do ponto de
equilíbrio. Particularize para uma vara de secção cilíndrica muito
fina.
298 Movimentos Oscilatórios

Exercício 6.14: ⋆ Considere os sistemas representados na Figura 6.15 em


que as molas são consideradas sem massa.

a)Para o sistema de molas em paralelo (a) escreva a equação do movi-


mento e encontre a constante da mola efectiva, ou seja, a constante
que uma só mola aplicada no centro de massa da placa de massa m
teria de ter para produzir os mesmos efeitos que o conjunto das mo-
las presentes.
b)Faça o mesmo para o sistema (b) de molas em série.

Figura 6.15

Exercício 6.15: Um projéctil de 20 g é disparado na horizontal com uma


velocidade de 200 m.s−1 contra um carrinho de massa 5 kg que se encontra
inicialmente parado. O carrinho está preso a uma mola com constante de
restituição k = 1.5 N.m−1 como se encontra representado na Figura 6.16
(a). O projéctil encastra-se no carrinho e o choque é totalmente inelástico.
Despreze a acção da gravidade em todo o processo.

a)Assumindo que se desloca sem atrito após o choque com o projéc-


til, calcule a amplitude, fase e frequência (angular) da oscilação do
carrinho.
b)Quantas oscilações completas fez o sistema ao fim de 12 s desde o
momento em que a mola ficou totalmente comprimida pela primeira
vez?
c) Um mecanismo interno ao carrinho aplica ao fim de 12 s nas suas
rodas um atrito proporcional à velocidade do carrinho com um coe-
ficiente de atrito χ = 0.5 N.m−1 .s. Determine a frequência com que
o carrinho oscila a partir do momento em que é aplicada a força de
atrito.
d)Quanto tempo decorre entre o instante inicial e o instante em que a
amplitude máxima é metade dessa amplitude?
e)Qual a energia total dissipada ao fim desse tempo?

Exercício 6.16: ⋆ Um carrinho de massa m 1 preso a uma parede por uma


mola de constante e restituição k é largado a partir do repouso de uma
posição em que a mola está contraída e a frente do carrinho de massa m 1
Problemas 299

Figura 6.16

está na posição z 0 relativamente à posição de equilíbrio (ver Figura 6.16


(b)). Quando a mola se distende o carrinho choca elasticamente contra
outro carrinho de massa m 2 que está na posição z 1 relativamente à posi-
ção de equilíbrio. Despreze o atrito em todo o processo. Determine

a)A velocidade com que se afasta o carrinho de massa m 2 . Estude a


situação para as várias relações de massas que foram introduzidas
no Problema 5.4. Em particular discuta a diferença de o carrinho de
massa m 2 estar inicialmente atrás ou à frente da posição de equilí-
brio da mola.
b)A frequência com que fica a oscilar a o carrinho de massa m 1 após o
choque.
c) A amplitude e fase dessa oscilação.

Exercício 6.17: De novo consideramos um carrinho de massa m 1 preso a


uma parede por uma mola de constante e restituição k e que é é largado a
partir do repouso de uma posição em que a mola está contraída e a frente
do carrinho de massa m 1 está na posição z 0 relativamente à posição de
equilíbrio. Quando a mola se distende o carrinho sofre numa colisão com-
pletamente inelástica contra outro carrinho de massa m 2 que está na po-
sição z 1 relativamente à posição de equilíbrio. Determine

a)A frequência com que fica a oscilar o conjunto após o choque.


b)A amplitude e fase dessa oscilação.

Exercício 6.18: ⋆ Considere um oscilador constituído por uma mola de


constante de restituição k à qual está ligada uma massa m. Sobre a massa
está aplicada uma força de atrito proporcional à velocidade. Tendo como
intervalo de tempo de referência o primeiro período de oscilação,

a)calcule o valor médio da velocidade e da posição;


b)calcule o desvio médio quadrático na posição;11
c) calcule o valor médio da energia definida como a soma da energia
cinética e da energia potencial elástica;
300 Movimentos Oscilatórios

Figura 6.17

Exercício 6.19: ⋆ Um disco uniforme de raio R = 10 cm e massa m = 100 g


está na horizontal e pode rodar sem atrito em torno de um eixo que passa
pelo seu centro. Em dois suportes sem massa colocados em pontos dia-
metralmente opostos na borda do disco estão ligadas duas molas de cons-
tante de restituição k = 2.5 × 10−4 N.m cada uma. As molas estão presas
num suporte fixo conforme está representado na Figura 6.17 e na posição
de equilíbrio inicial elas assumem o comprimento natural.
O disco é rodado inicialmente de um ângulo θ0 = 1 ◦ e é largado sem velo-
cidade inicial. Despreze inicialmente qualquer outra forma de atrito que
possa existir.

a)Escreva a equação de movimento do sistema.


b)Determine a frequência de oscilação e mostre que ela não depende
directamente do raio do disco.
c) Determine a solução da equação do movimento.
d)É aplicada tangencialmente na borda do disco uma força de atrito
proporcional à velocidade angular do disco. A constante de propor-
cionalidade é χ = 5×10−4 N.s. Para as mesmas condições iniciais que
anteriormente determine a nova frequência de oscilação e a solução
da equação do movimento correspondente.

Exercício 6.20: ⋆ Uma mola de constante de restituição k = 3 N.m−1 está


enrolada num círculo de raio r = 10 cm conforme está indicado na Figura
6.18. A ambas as extremidades da mola está ligada uma massa m = 200
g. Imagine que segura nessa mola no ponto diametralmente oposto à po-
sição da massa e desvia a massa de um ângulo θ = 10 ◦ , medido relativa-
mente ao centro do círculo e em relação à posição de equilíbrio, largando-
a de seguida a partir do repouso. Quer na deformação da mola, quer no
movimento subsequente a mola não perde a sua forma circular. Existe
rD E
11 O desvio médio quadrático de uma quantidade Q define-se como δQ = Q 2 − 〈Q〉2 .
Problemas 301

Figura 6.18

uma força de atrito aplicada à massa m proporcional à sua velocidade,


sendo a constante de proporcionalidade λ = 0.3 N.m−1 .s.

a)Encontre um sistema físico unidimensional cujo comportamento seja


equivalente ao deste sistema massa-mola.
b)Escreva a equação de movimento do sistema.
c) Existe dado no enunciado do problema que não tem qualquer utili-
dade. Diga qual é.
d)Determine a frequência de oscilação do sistema.
e)Determine a trajectória da massa m.

Figura 6.19

Exercício 6.21: ⋆⋆ Considere as configurações representadas nas Figuras


6.19 a) e b). Na primeira dois corpos idênticos de massa m estão liga-
dos por molas com o mesmo comprimento e constantes de restituição k
iguais. Na segunda três corpos idênticos de massa m estão ligados por
três molas de igual comprimento e de igual constante de restituição k. Em
ambos os casos não há atrito.

a)Encontre as equações do movimento para o sistema de duas molas e


para o sistema de três molas.
302 Movimentos Oscilatórios

b)Encontre os modos próprios e respectivas frequências para cada um


dos sistemas e faça a análise do que representam.

Figura 6.20

Exercício 6.22: ⋆ Considere a situação representada na Figura 6.20 (a) em


que uma massa esférica m desliza sem atrito ao longo de uma vara incli-
nada de um ângulo θ relativamente à vertical. Essa massa está ligada por
uma mola de constante de restituição κ a uma peça que desliza, igual-
mente sem atrito, ao longo de uma calha presa na parede. Ao longo de
todo o movimento a mola encontra-se sempre na horizontal

a)Encontre o ponto de equilíbrio do sistema.


b)Quantos graus de liberdade tem o sistema?
c) Escreva a equação do movimento do sistema para pequenas oscila-
ções em torno desse ponto de equilíbrio.
d)Determine a frequência de oscilação.

Exercício 6.23: ⋆ Considere agora a situação representada na Figura 6.20


(b) em que uma massa esférica m desliza sem atrito ao longo de uma vara
inclinada de um ângulo θ relativamente a outra vara. O plano descrito
pelas duas varas está na horizontal. A massa está ligada a uma mola de
constante de restituição κ cuja outra extremidade está fixa num ponto P
da outra vara que não se move.

a)Quantos graus de liberdade tem o sistema?


b)Escreva a equação do movimento do sistema para pequenas oscila-
ções.
c) Determine as frequências de oscilação.

Exercício 6.24: ⋆⋆ Considere finalmente a situação representada na Fi-


gura 6.20 (c) em que uma massa esférica m 1 desliza sem atrito ao longo de
uma vara e uma massa m 2 desliza igualmente sem atrito ao longo de outra
vara inclinada de um ângulo θ relativamente à primeira. O plano descrito
pelas duas varas está na horizontal. As massas estão ligadas por uma mola
de constante de restituição κ.
Problemas 303

a)Quantos graus de liberdade tem o sistema?


b)Escreva a equação do movimento do sistema para pequenas oscila-
ções.
c) Determine os modos próprios e as respectivas frequências de oscila-
ção.

Figura 6.21

Exercício 6.25: Um cilindro com uma base de raio r , altura h e constituído


por um material de densidade ρ c é posto a flutuar num fluido de densi-
dade ρ > ρ c , ficando na vertical. O sistema está em equilíbrio e o cilindro
encontra-se inicialmente parado. Num dado instante o cilindro é empur-
rado de uma distância z 0 pequena (quando comparada com a altura) na
vertical para dentro do fluido e é largado do repouso (ver Figura 6.21). As-
suma que o cilindro se move apenas segundo a direcção vertical. Nesse
movimento o cilindro está sujeito a uma força de atrito na direcção verti-
cal proporcional à velocidade do cilindro, sendo a constante de proporci-
onalidade µ o coeficiente de atrito.

a)Determine a frequência de oscilação do cilindro.


b)Determine a trajectória do cilindro.
c) Assumindo que quando a amplitude máxima de oscilação é δ o mo-
vimento não é mensurável, indique o tempo que experimentalmente
o cilindro demora a parar.

Exercício 6.26: ⋆⋆ Considere um tubo em U com secção de área σ con-


forme está representado na Figura 6.22. No braço esquerdo do tubo é apli-
cada pressão de modo a que o líquido de densidade uniforme ρ desça de
uma altura z 0 relativamente à sua posição de equilíbrio. A pressão é subi-
tamente libertada de modo que de ambos os lados do tubo fiquem sujeitos
à pressão atmosférica. A gravidade faz então com que a coluna de líquido
cujo comprimento total é l , fique a oscilar entre os dois braços do tubo.
Despreze o atrito do líquido quer contra as paredes, quer contra o ar.
304 Movimentos Oscilatórios

Figura 6.22

a)Escreva a equação do movimento do sistema partindo das forças apli-


cadas no sistema.
b)Encontre a equação do movimento partindo da conservação da ener-
gia.
c) Determine a frequência de oscilação do líquido e mostre, em parti-
cular que ela não depende nem da densidade do líquido nem da área
da secção do tubo. Particularize para uma coluna de líquido de 30
cm de comprimento.

Exercício 6.27: ⋆⋆⋆ Um bloco de massa 200 g está assente sobre um car-
rinho de massa 1 kg que está preso por uma mola de constante de res-
tituição k = 0.5 N/m a um motor que pode, quando ligado, impor uma
força periódica sinusoidal de amplitude 2 N e frequência ω ajustável (ver o
esquema representado na Figura 6.23). Assuma que o movimento do car-
rinho é executado sem atrito, mas que existe atrito estático entre o bloco e
o carrinho, sendo o coeficiente de atrito µ = 0.1.

a)Com o motor parado, qual a amplitude para a qual o bloco vai desli-
zar sobre o carrinho quando o conjunto é posto a oscilar?
b)Com o motor ligado, para que condições o bloco vai deslizar sobre o
carrinho?

Figura 6.23

Exercício 6.28: ⋆⋆ Considere um oscilador forçado com atrito a uma di-


mensão tal como considerado na secção 6.2, a que corresponde fisica-
mente um arranjo semelhante ao representado na Figura 6.23 mas em que
o conjunto das duas massas é substituído por uma única massa m. As-
suma que o sistema evolui nas condições de atrito muito pequeno e que
Problemas 305

o motor, quando ligado, obriga o êmbolo a mover-se com um movimento


X (t ) = X 0 cos(ωt ) em que X é a posição do êmbolo e ω é a frequência im-
posta pelo motor.

a)O factor de qualidade Q f é definido como

E
Q f = 2π ,
∆E
em que E é a energia armazenada no oscilador no instante inicial e
δE é a variação de energia durante um período de oscilação. Com o
motor parado a massa é puxada de uma distância a relativamente à
posição de equilíbrio e é largada a partir do repouso. Determine Q f
nessas condições.
b)O oscilador é parado e fica de novo na posição de equilíbrio. Liga-
se o motor que impõe ao êmbolo o movimento acima mencionado.
Estabeleça a relação entre a amplitude do movimento para ω = ω0 e
o valor de Q f encontrado na alínea anterior.
c) Mostre que para ω muito próxima de ω0
· µ ¶ ¸
1 δω 2
C (ω) ≈ Q f β 1 − .
2 ρ

em que δω = ω0 − ω.
d)Determine a largura do pico de ressonância definido como sendo
aquele que se situa entre os valores de frequência para os quais a
p
amplitude se reduz a 1/ 2 da amplitude máxima. Usando este re-
sultado mostre que a área sob o pico de ressonância (ver Figura 6.3)
é aproximadamente constante.
e)Calcule a potência instantânea absorvida pela força periódica e a po-
tência média absorvida durante um ciclo de oscilação. Mostre ainda
que a potência máxima absorvida ocorre no máximo do pico de res-
sonância.

Exercício 6.29: ⋆⋆ No intuito de demonstrar as leis do movimento osci-


latório em ausência de gravidade um astronauta envia para outro com um
conjunto de duas m 1 e m 2 ligadas entre si por uma mola de constante de
restituição k e comprimento natural l 0 . No instante inicial a mola é esti-
cada de um pequeno comprimento δ relativamente ao comprimento na-
tural e é atribuído ao conjunto uma velocidade V ~0 , enquanto à massa m 2
é conferida, para além disso, uma velocidade ~ v 20 ao longo da direcção da
mola. As massas não têm qualquer movimento de rotação uma em torno
da outra.

a)Descreva o movimento das duas massas e escreva as equações do


movimento do sistema.
b)Encontre a solução das equações do movimento.
306 Movimentos Oscilatórios

c) Discuta, em particular, o caso em que o conjunto parte do repouso,


havendo apenas a extensão inicial da mola e a velocidade inicial for-
necida à massa m 2 ao longo da direcção da mola.
d)Discuta as limitações que a sua solução encontraria na prática.
e)Analise em geral os casos m1 ≫ m 2 , m1 ≪ m 2 e m 1 = m 2 .

Figura 6.24

Exercício 6.30: ⋆⋆ Um cabide constituído por duas varas ligadas perpen-


dicularmente uma à outra está pregado a uma parede por um prego com-
prido que permite a oscilação em torno do ponto de sustentação (ver Fi-
gura 6.24). O prego atravessa o ponto médio da vara horizontal de com-
primento 50 cm e massa 100 g e a extremidade da vara vertical de compri-
mento 70 cm e massa 150 g. Assuma que não há atrito no sistema. Num
dado instante o cabide é afastado de um ângulo de θ = 10 ◦ em relação à
vertical e largado a partir do repouso de modo a ficar a oscilar livremente.
Escreva a equação do movimento e determine a frequência de oscilação
do sistema. Determine também a solução da equação do movimento.

Exercício 6.31: ⋆⋆ Considere uma lâmina de massa 20 g, de lados 15 cm


e 30 cm e com espessura desprezável suspensa, como está representado
na Figura 6.25, por um prego num ponto P que se situa ao longo da linha
que liga o centro C da lâmina a um dos vértices e a uma distância d acima
desse ponto. Roda-se a lâmina de um pequeno ângulo relativamente à
posição de equilíbrio e larga-se do repouso ficando a oscilar em torno do
prego. Assume-se que a aproximação de pequenas oscilações é válida.

a)Escreva a equação do movimento do sistema e encontre o período de


oscilação da lâmina.
b)Demonstre que existe uma linha sobre a lâmina tal que, se o ponto
de sustentação se encontrar sobre essa linha, o período de oscilação
é mínimo.
Problemas 307

Figura 6.25

Exercício 6.32: ⋆ Um veículo de 1000 kg desloca-se com uma velocidade


v constante sobre uma estrada com um perfil aproximadamente sinusoi-
dal em que a distância d entre dois máximos é 30 cm e a distância em
altura entre o mínimo e o máximo é 2h =10 cm (ver Figura 6.26). Cada
roda está ligada a uma mola com constante de restituição k = 50 kN.m−1 .

a)Qual a velocidade máxima a que o carro se pode deslocar para que o


sistema não entre em ressonância?
b)É montado um amortecedor que introduz uma força de atrito de mó-
dulo F = αv onde α = 1.5 N.m−1 .s ao longo da direcção da mola. Para
que velocidade se atinge a amplitude máxima de oscilação?
c) Baseando-se no resultado anterior, qual lhe parece ser o papel dos
amortecedores nas características de condução do veículo?

Figura 6.26

Exercício 6.33: ⋆⋆ Um cilindro de constituição uniforme com 500 g de


massa e de 10 cm de raio da base está preso a uma parede por uma mola
de constante de restituição k = 0.5 N/m. O cilindro pode rodar livremente
308 Movimentos Oscilatórios

em torno do seu eixo (ver Figura 6.27). Despreze a massa da mola e do


suporte e assuma que o cilindro não está sujeito a nenhuma força de atrito.
Assuma ainda que o cilindro, quando roda, o faz em modo de rolamento
puro.
O cilindro é afastado 20 cm da sua posição de equilíbrio e é largado do
repouso ficando a oscilar. Determine

a)a velocidade translação máxima do cilindro no seu movimento;


b)a velocidade rotação máxima do cilindro no seu movimento;
c) a equação do movimento do sistema;
d)a solução da equação do movimento e o período de oscilação do sis-
tema.

Figura 6.27 Figura 6.28

Exercício 6.34: ⋆⋆ Considere o sistema representado na Figura 6.28 com


uma roldana presa por um fio de um lado e presa por uma mola de cons-
tante de restituição k = 0.5 N/m do outro. Assuma que o sistema, quando
posto a oscilar, satisfaz as condições de pequenas oscilações. Considere a
roldana como um cilindro de massa 200 g e raio 8 cm e despreze o peso
quer da mola, quer do fio. Considere ainda que o fio não desliza na rol-
dana, ou seja, que o movimento se efectua em rolamento puro.

a)Determine a tensão no fio em equilíbrio.


b)Determine a extensão da mola relativamente ao seu comprimento
natural para que o sistema esteja em equilíbrio.
c) Mostre que o cilindro oscila na vertical em torno da sua posição de
equilíbrio como um oscilador harmónico e determine o período de
oscilação.

Exercício 6.35: ⋆⋆⋆ Imagine que uma massa m está ligada a uma mola
com uma constante de restituição k. Todo o sistema se encontra na hori-
zontal e move-se segundo uma única direcção. A massa está sujeita, para
além da força imposta pela mola a uma força de atrito estático do tipo cou-
lombiano, (ver secção 4.4), que não depende do valor da velocidade v mas
depende do seu sinal.
Problemas 309

A massa é puxada relativamente à sua posição de equilíbrio e largada com


ou sem velocidade inicial.

a)Escreva a equação do movimento do sistema.


b)Encontre uma solução da equação do movimento compatível com as
condições iniciais.
c) Determine a evolução da energia do sistema com o tempo.

Exercício 6.36: ⋆⋆ Considere o sistema de duas massas e três molas re-


presentado na Figura 6.5. Escreva a energia do sistema em termos dos
modos próprios de oscilação do sistema.

Exercício 6.37: ⋆⋆ Considere O sistema de duas massas representado na


Figura 6.4 mas em que agora a massa na extremidade está sujeita a uma
força periódica F = F 0 cos(ωt ). Despreze o atrito. Determine

a)as equações do movimento do sistema;


b)a respectiva solução;
c) a frequência de ressonância do sistema.

Particularize para o caso em que as massas e as molas são iguais.

Exercício 6.38:Y ⋆⋆⋆ Considere um reservatório de massa M


0
(quando vazio) contendo uma massa inicial M i de areia (ver Figura 6.29).
O reservatório está suspenso na vertical por uma mola de constante de
restituição k e massa nula. É posto a oscilar afastando-o ligeiramente da
posição de equilíbrio e largando-o a partir do repouso. Enquanto oscila
o reservatório perde areia a uma taxa constante c. Considere que o atrito
do ar no movimento é proporcional à velocidade do reservatório e assuma
que a velocidade da areia à saída do orifício do reservatório relativamente
à velocidade do reservatório é nula.

a)Escreva a equação do movimento do sistema.


b)Determine a solução da equação do movimento e estude as proprie-
dades dessa solução.
c) Baseando-se numa análise da energia do sistema determine a varia-
ção da amplitude de oscilação.
310 Movimentos Oscilatórios

Figura 6.29

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