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PIRES, D.

A relação público-privada da educação na América Latina: apontamentos de uma pesquisa

Volume 15 Número 35 28 de agosto de 2021

A relação público-privada da educação na américa latina:


apontamentos de uma pesquisa

The public-private relationship of education in latin america: research


notes

La relación público-privada de la educación en américa latina: notas de


investigación

Daniela de Oliveira Pires1

Citação: PIRES, D. de. A relação público-provada da educação na América Latina:


apontamentos de uma pesquisa. Jornal de Políticas Educacionais. V. 15, n. 35. Agosto de
2021.

http://10.5380/jpe.v15i0.82651

Este dossiê trata das formas de privatização da educação na América Latina, com
base no aprofundamento da relação público-privada e da prevalência das orientações de
mercado, com base no avanço do neoliberalismo e do neoconservadorismo,
proporcionando, com isso, implicações para a democratização da educação pública. Os
textos aqui apresentados são contribuições de alguns dos integrantes da pesquisa
“Implicações da relação público-privado para a democratização da educação na América
Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Venezuela”, coordenada pela Professora
Doutora, Vera Maria Vidal Peroni que integram o Grupo de Pesquisa Relações entre o
Público e o Privado na Educação (GPRPPE), da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.

1
Doutora em Educação. Professora da Universidade Federal do Paraná – UFPR/DEPLAE. Integrante do
Núcleo de Políticas Educacionais – NUPE. Curitiba, Paraná, Brasil. Orcid: http://orcid.org/0000-0002-6671-
9195. E-mail: [email protected]

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O Grupo de Pesquisa Relações entre o Público e o Privado na Educação (GPRPPE)


está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS e é composto por
bolsistas, mestrandos, doutorandos, pós-doutorandos e docentes do programa, assim
como pesquisadores de outras instituições. Este grupo de pesquisa aprofunda a temática
da relação público-privado desde o ano de 2001 e, nos últimos anos, tem-se debruçado na
análise das consequências dessa relação para a construção da democracia na esfera
educacional. As pesquisas desenvolvidas por este coletivo, se caracterizam pelo
intercâmbio de experiências e reflexões com outros grupos no Brasil e com pesquisadores
internacionais, dos países latino-americanos e, também de Portugal, Espanha e Inglaterra,
entre outros.
É importante destacar que a partir de 2010, o grupo passa a analisar o processo
de reconfiguração do papel do Estado brasileiro e a relação público-privada sob o enfoque
das etapas e modalidades no Brasil. Para tanto, fortalece o sua identidade
internacionalista, na medida em que, aprofunda a interlocução com grupos estrangeiros,
tomando como fio condutor as pesquisas que foram concluídas, com destaque para as
seguintes “Parcerias entre sistemas públicos e instituições do Terceiro Setor: Brasil,
Argentina, Portugal e Inglaterra implicações para a democratização da educação” e, desde
2016, com a pesquisa “Implicações da relação público-privado para a democratização da
educação na América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Venezuela”.
A atuação do setor privado mercantil na promoção da educação pública, passa a se
configurar, enquanto o fio condutor dos artigos deste dossiê. Tal atuação encontra-se
regulamentada, desde o final da década de 1990, por meio das seguintes legislações
infraconstitucionais: Lei º 9.637/98 e a Lei 9.790/99, que passam a reconhecer a
existência das Organizações Sociais (0S) e das Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIP) e, mais recentemente, tem-se a aprovação da Lei nº 13.019/14,
que ao sancionar o Marco Regulatório do Terceiro Setor, passa a estabelecer a existência
das chamadas Organizações da Sociedade Civil (OSC).
A compilação destas leis, acabam por assegurar, a realização das parcerias entre o
setor privado mercantil com o poder público no atendimento educacional. Como exemplo,

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podemos citar, a influência de algumas dessas entidades, como o Movimento Todos pela
Educação e o Instituto Positivo.
Os artigos aqui selecionados buscam aprofundar o diálogo com as formas de
atuação do setor privado mercantil na oferta educacional, regulamentadas por meio de
legislações infraconstitucionais, que garantem a participação dos agentes privados na
condução da política educacional. Entendemos que a relação público-privada é parte
constitutiva das mudanças sócio-políticas e econômicas, em escala local, regional e global,
conforme será possível atestar através da leitura dos textos deste dossiê.
O artigo “Neoliberalismo e Neoconservadorismo nas políticas educacionais para a
formação da juventude brasileira”, das autoras, Vera Maria Vidal Peroni, Maria Raquel
Caetano e Paula Valim, analisa o avanço do projeto neoliberal, associado as pautas
neoconservadoras no contexto nacional, através da etapa do ensino médio. Faz-se o
registro de que o artigo reflete sobre a configuração do atual neoliberalismo, a partir da
crise estrutural do capitalismo – pós 2008, cada vez mais identificado com as pautas do
mercado, como o empreendedorismo, o individualismo e conservadorismo, expresso por
meio do Projeto da Escola sem Partido.
No artigo “Alinhamento entre investimento social privado e negócios: um campo
de atuação da esfera privada na oferta educacional”, de autoria de Elma Júlia Gonçalves
de Carvalho e Daniela de Oliveira Pires, será demonstrado que no contexto político e
econômico, pós 2008, vem ocorrendo, gradativamente uma maior articulação do setor
privado mercantil, qualificados juridicamente como entidades do terceiro setor (OS,
OSCIP ou OSC), na disputa pelo fundo público, respaldados pelo discurso que relaciona o
investimento social empresarial ao campo dos negócios.
Nesta senda, o artigo de Lucia Hugo Uczak e Liane Maria Bernardi “A organização
e ação do movimento empresarial Todos pela Educação durante a pandemia da COVID-
19”, tensiona acerca do papel desempenhado pelo Todos pela Educação, grupo
representativo do setor privado mercantil, especialmente, durante a atual crise sanitária
global da pandemia. Ao longo do texto, as autoras salientam que essa associação de
empresários, vem sendo decisiva na condução das atuais reformas educacionais.

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Especialmente, neste momento, o movimento tem se posicionado favorável a proposta da


educação a distância, por meio da publicação de notas técnicas e, ainda, disputando o
financiamento público, por meio do novo Fundo de Manutenção da Educação Básica -
Fundeb, a partir do documento Educação Já. Destaca-se, ainda, que suas demandas são
apresentadas e pactuadas diretamente, junto ao Congresso Nacional.
Juliana Selau Lumertz, em seu artigo “O Sistema de Ensino Aprende Brasil e o
processo de privatização em educação”, ao analisar a parceria do Município de Gravataí
com o Instituto Positivo, acaba por demonstrar a capilaridade desta entidade do terceiro
setor na consecução do direito à educação, que ao redefinir o currículo escolar, provoca
implicações para o processo de democratização da educação, ampliando assim a sua
influencia no plano da execução da política educacional.
No artigo “As Transformações do Sistema Educacional do Chile: a parceria público-
privada e a privatização dos recursos”, Maria Otília Kroeff Susin e Juliana Mendonça,
apresentam aspectos históricos, políticos, sociais e econômicos do contexto chileno, país
que se caracteriza na América Latina, como um dos pioneiros na adoção da privatização,
enquanto estratégia na promoção da educação, com destaque para o período da ditadura
militar (1973-1990), com a implementação de um vasto programa de reformas políticas
de perspectiva neoliberal. O marco temporal do estudo se estende até o ano de 2019, ano
marcado pelas manifestações populares, que dentre várias reivindicações, passam a
defender o direito à educação de forma universal e igualitária.
O artigo “Atuação empresarial na educação pública em países da América Latina e
a materialidade da disputa de hegemonia”, de Andréa S. Caldas, apresenta um panorama
da ação do setor privado mercantil na prestação educacional nos seguintes países, Brasil,
Argentina, Uruguai, Bolívia, Venezuela e Chile. O texto demonstra a variedade de formas
de atuação do empresariado no campo educacional, na execução, com a venda de serviços
ou influenciando a gestão das escolas, ou ainda, na direção da política educacional,
exercendo, inclusive, importante influência na regulamentação das pautas educacionais.
Pablo Martinis, no estudo intitulado “Filantropia estratégica e educação. Notas de
um estudo de caso no Uruguai, Argentina e Brasil”, analisa uma das dimensões da atuação

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do setor empresarial na consecução da educação, especificamente, através do campo do


financiamento, por meio das chamadas “doações especiais”, pertencentente ao contexto
uruguaio, com destaque, para o estímulo governamental através das isenções fiscais. O
artigo traça um paralelo entre as realidades de três países integrantes do ConeSul,
tomando como referencia a atuação da empresa Tenaris Global Services e as implicações
para o processo educacional.
Ao final, convidamos tod@s, a refletirem sobre o papel desempenhado pelos
sujeitos individuais e coletivos, integrantes do setor privado mercantil e que se articulam,
cada vez mais, no sentido de influenciar na oferta do direito à educação e, com isso,
acabam por privilegiar e preservar os seus interesses e a sua hegemonia de classe.

Boa leitura.

Recebido em Julho de 2021


Aprovado em Agosto de 2021
Publicado em Agosto de 2021

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Volume 15, número 35 – Agosto de 2021

ISSN 1981-1969

1. Educação – Periódicos. 2. Política Educacional – Periódicos. I. NuPE/UFPR

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