5,1-Larissa Ione - Demoniaca 05 - Sin Undone

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Como sempre, eu tenho cerca de um milhão de pessoas para agradecer

por sua ajuda, apoio e grandiosidade. Primeiro de tudo, obrigado a todos na


Hachette, que fizeram um trabalho fantástico com estes livros! Um grande
obrigado a Amy Pierpont, Logan Alex, Balasi Anna e Bullock Melissa. Tenho
certeza de que os deixei loucos, às vezes, mas vocês nunca me deixaram. E eu
não posso esquecer todos no departamento de arte, que foram seriamente
bondosos colocando um desprentensioso homem em minhas capas!

Agradecimentos especiais a Renee, Karissa e Arlene por Karlene, e a


Ashley Hopkins e Christy Gibson por seus conselhos úteis.

Obrigado a Lea Franczak, Bradley Melissa, Michelle Willingham, Ann


Aguirre e Tyler Stephanie por sua ajuda. Devo-lhes margaritas. Com tiros
duplos.

E devo a tantas pessoas apenas por serem legais e me darem apoio, não
só para mim, mas para a comunidade de romance, leitores e autores também.
Assim, uma grande agradecimento para Valentina Paolillo, Larissa Benoliel,
Jodie West, Joely Sue Burkhart, Heather Carleton, Diane Stirling, Ryan
Rohloff, Tigre Éden, Mandi Schreiner, Hasna Saadani, Sarah Gabe e Ericka
Brooks.

Finalmente, agradeço a todos meus leitores maravilhosos. Eu sou


verdadeiramente abençoada por ter vocês.

TAMBÉM POR LARISSA IONE

01 -Prazer Liberado

02 - Desejo Desencadeado

03 - Paixão Desencadeada

04 - Êxtase Revelado
— Os wargs devem morrer.

Sin andou para frente e para trás na toca de seu assassino, sua mente
trabalhando horas extras para processar as palavras de Baltazar. O mensageiro
da Associação dos Assassinos estava em pé perto do seco buraco de fogo, mão
estendida segurando um rolo de pergaminho. Sin arrebatou o macho Neethul,
que devia ter dois metros de altura mesmo sem a plataforma das botas Goth
que usava. Com elas, pelo menos, ele estava uns sessenta centímetros mais alto
que ela. Ainda assim, o criado da Associação não a intimidava. Ela matou
demônios muito maiores que ele.

— Oito deles? — Sin perguntou. — Oito lobisomens ao mesmo tempo?


Ele assentiu, seu ombro enorme, seus cabelos nevados agarrando suas
orelhas pontiagudas. Os Neethul eram, externamente, de qualquer maneira,
uma raça bonita, elfos na aparência.

— Uma matilha inteira.


Que incluía um filhote de dois anos de idade. Ela lançou um olhar oculto
para o macho em pé na esquina, saturado na sombra e em silêncio. Lycus, seu
único assassino warg, poderia muito bem ser uma estátua de pedra. A notícia
de que o contrato terminaria a vida de vários indivíduos de seu próprio povo
não o perturbava de qualquer forma. Não que ela esperasse isso. Ele era um
profissio-nal. Frio, eficiente e implacável.

Mordendo de volta uma maldição, Sin parou de andar. Ela não se


poderia permitir mostrar nervosa ou relutante. A Associação a observava
atentamente para detectar sinais de fraqueza, poderia aproveitar qualquer
desculpa para esmagá-la e levar seus assassinos para eles. Ela precisava ser
muito mais cruel do que nunca agora, especialmente porque ela já recusou
ofertar em quase uma dúzia de contratos e ela tem sido uma assassina mestre
por apenas três semanas.

Ela examinou os detalhes rabiscados no pergaminho em Sheoulic.


— Quem mais está ofertando nesse contrato?

— Você sabe que não lhe posso dizer isso. — Os lábios rubis de Baltazar
despiram um lascivo sorriso. — Mas se você usar alguns de seus talentos
súcubus em mim, eu posso deixar escapar alguns nomes em um momento de
paixão.

Por mais triste que fosse, ela estava atualmente tentando apertar o
bastardo para ele buscar a informação que ela precisava. Ela precisava ofertar
neste trabalho, mas precisava garantir que alguém cobriria o lance e ela não
ganharia o contrato. Saber quem mais estava ofertando dar-lhe-ia uma
vantagem.

— Eu diria para você ir para o inferno, Baltazar, mas sem dúvida você
possui um grande pedaço dele — Os Neethul eram ricos comerciantes de
escravos cujas ações incluíam sólidas fatias de Sheoul e, como um assassino
mestre menor, Baltazar estava definitivamente no mesmo caminho.

— Deth teria me tomado na oferta — ele ronronou.

— Eu não contaria vantagem disso. — Ela estudou o anel em seu dedo


indicador esquerdo que pertenceu a seu chefe morto. — Deth teria parafusado
um espinhoso rato do inferno se ele pudesse pegar um.

Baltazar riu enquanto andava em sua direção, sinuoso como uma


serpente.

— Seus escravos assassinos estão ficando inquietos, mestiça. É sua


moral humana interferindo em sua capacidade de gerenciá-los?

Ela bufou.

— Eu não tenho moral — Talvez tivesse no início, antes de ela descobrir


que era um demônio, mas todas as coisas que fez em sua vida, tanto forçada
como de sua livre vontade, desfalcaram seu coração e sua alma, e não havia
muito o que abandonar.

Pelo menos não até ela começar uma praga que estava matando
lobisomens em todo o globo. Algo sobre aquelas ações descartara suas cruas
emoções, revelando uma pepita de remorso que ficava dentro dela como uma
pedra em um sapato.

E agora havia um aumento misterioso no número de assassinatos


anunciados a lobisomens (wargs, como gostavam de ser chamados) e ela
estava tendo momentos difíceis ofertando em contratos que poderiam colocar
seus assassinos contra eles.
Ela já os estava matando as dúzias, sem nunca os ter tocado.

Distraidamente, ela esfregou seu braço direito, sua palma registrando a


diferença de temperatura entre sua pele nua e as nítidas linhas da tatuagem
que apareceu quando ela estava com vinte anos. A dermoire, uma herança
paterna de sua história demônio, viera com uma libido feroz e a capacidade de
infectar qualquer um que ela tocasse com uma doença que matava em poucos
minutos. Por mais chato que aquilo fosse, seu irmão gêmeo, Lore, saiu muito
pior. Ela poderia, pelo menos, controlar seu dom. Ele não poderia tocar
ninguém além de seus irmãos e sua companheira sem matá-los.

— Bem? — Baltazar estalou seus dedos, um som irritante que ecoava


nas paredes de pedra lisa da câmara. — Você dará o lance, ou deixará seus
escravos revoltarem-se?

Graças ao vínculo que a ligava a seus escravos assassinos através da


ligação assassino-mestre, eles não poderiam levantar a mão contra ela, não
enquanto ela permanecesse no refúgio ou na sede da Associação de Assassinos,
ou em um lugar protegido da violência, como o General Underworld. Mas eles
poderiam atacá-la em qualquer outro lugar em Sheoul ou na superfície, no
reino humano, razão pela qual os assassinos-mestres raramente saíam de seus
refúgios.

Pela milionésima vez desde que ela aceitou a posição de assassino-


mestre, ela amaldiçoou sua situação. Ela não queria isso, mas ela nunca
deixaria seu irmão saber que ela o aceitara para impedir que sua companheira
angelical fosse forçada a entrar no trabalho, o qual ganhara por matar
Detharu. Idess teria perdido sua alma ao longo deste trabalho e já que Sin
percebera que ela já tinha perdido a sua...

Sim. Não é grande coisa.

Pegando um canivete duplo do moderno bolso de suas calças de couro,


ela rabiscou um dígito monetário absurdamente alto sobre o pergaminho. Ela
assinou, em seguida virou a caneta para cima e cortou seu polegar com a
lâmina afiada. Uma gota de sangue espirrou na página e, instantaneamente, o
fluido vermelho pulsando de suas veias brotou e teceu seu caminho através do
docu-mento. Em segundos o pergaminho passou de um quadrado de couro
seco translúcido e de cor de cadáver para uma sucata de carne dobrável e
quente que se tornaria um contrato vinculativo se o indivíduo por trás dele
aceitasse sua oferta.

Desgostosa, Sin entregou a coisa de volta para o Neethul, seu estômago


virando enquanto ele perambulava até a saída.

— Isso foi difícil para você — Lycus disse, depois que a enorme porta se
fechou. Atrás dela, mãos desceram até seus ombros, seus dedos massageando,
mas o toque dele apenas a deixou mais tensa. — Leve-me até minha oferta.
Vincule-se comigo. Governaremos o covil juntos.

— Você é surdo, ou apenas realmente estúpido? — Nem uma única vez


desde que assumiu este trabalho ela cometera violência contra um de seus
subordinados, mas ela estava realmente tentada a virar-se e introduzir seus
joelhos nas bolas dele. — Quantas vezes tenho que dizer não?

Seus lábios roçaram o topo da orelha direita dela.

— Posso dizer não, também.


Ela enrijeceu.

— Chantagem, Lycus? — Ele era um de seus poucos, preciosos compa-


nheiros de cama agora; desde que se tornou mestre do covil, a maioria de seus
assassinos, aqueles que compartilharam sua cama por anos, tornaram-se
cautelosos ou ficaram com medo dela. Apesar de ser direito dela forçá-los a
servi-la, ela nunca faria isso. Lycus permitiu-lhe pleno uso de seu corpo, mas
isso não era porque ele sabia que ela morreria sem sexo.

Ele queria o trabalho dela, queria-a como sua companheira para que ele
pudesse assumir o controle compartilhado do covil. Mas por melhor que fosse
transferir as decisões difíceis para outra pessoa, ela não poderia dar a Lycus o
que ele queria. Ela nunca poderia, nem mesmo ser companheira de alguém.
Nunca poderia pertencer a alguém.

Engraçado como ela considerava dormir com Baltazar por informação,


mas tinha problemas com vínculos com machos a fim de passar tarefas
desagradáveis, mas necessárias, que mantinham o covil funcionando e seus
assassinos felizes.

Alguma coisa estava para mudar em breve.

Então, enquanto ela afastava Lycus, ela fez algo que não fazia desde que
descobriu que era um demônio.

Ela rezou.
“Há noites em que os lobos estão em silêncio e há apenas os uivos da lua."
George Carlin

— Seu maldito filho da puta!


Con latiu uma risada para o insulto de Luc, mesmo quando ele bateu os
ossos da coxa na neve dura o suficiente para destruir um ser humano. Mas Con
era um dampiro, uma rara união entre um lobisomem e um vampiro, e ele era
feito de coisas mais fortes. Como um lobisomem, Luc era igualmente forte,
mas não era tão rápido, como Con provara por ter carregado as cargas para
fora do helicóptero antes de Luc ter sequer abaixado seus óculos de esqui sobre
seus olhos.

Con pulou com seus esquis duas vezes para soltar-se da neve nos
congelados picos dos Alpes Suíços e então foi ziguezagueando para baixo da
montanha. O céu estava claro e azul, e aqui, acima das árvores, o silêncio foi
quebrado apenas pelo som das lâminas e o farfalhar de seus Rossignols1,
enquanto cortavam a neve fresca.

O silêncio durou somente até Luc atingir a neve e proferir insultos a Con
novamente. Os sons do helicóptero desapareceram, assim como o piloto que os
chamou de todos os nomes feios, mas aceitou (pelo quádruplo de sua taxa
usual de heli-skiing2) levá-los até a montanha mais alta, transportando-os até
lá. O cara quase pirou quando Con disse para pairar aos 30 metros ao invés
dos centímetros no qual normalmente deixava os praticantes desse tipo de
esqui.

Mas não, Con não faz o caminho mais fácil, ou da mesma maneira duas
vezes. A última vez que ele e Luc esquiaram, a queda foi mais curta. E o risco
de avalanche foi muito, muito menor.

1 Roussignols quer dizer Rouxinol em Francês, mas no caso se refere ao esqui que Con usava
http://www.skiset.com.br/equipamento-esqui/skis-rossignol-2011.html
2 Esqui realizado a partir de um helicóptero e não de um teleférico.
O pó era espesso em cima de uma camada de neve instável, a encosta
íngreme e o esforço que levou para Con atravessar tudo o fez tremer de
exaustão no momento em que atingiu o Harrowgate no vale abaixo.

À frente, a face da montanha tornou-se um penhasco e ele saltou


pegando ar sob seus esquis. O terreno incrivelmente distante dele e repleto de
pedras, mas o vento estava em seu rosto, o cheiro de pinho estava em seus
pulmões e a adrenalina estava bombeando quente em seu corpo.

Esta era a melhor maneira de viver, ou morrer, dependendo de como ele


aterrisasse.

Às vezes, ele não se importava de qualquer maneira.

Ele aterrisou com força e uma explosão de neve quase o levou a cair de
cabeça, mas conteve-se um pouco antes e o vento fez com que batesse em uma
crosta enviando-o ao voo.

Atrás dele, ouviu os esquis de Luc riscar voltas... e depois vinham os


sons de algo mais sinistro.

Con virou a tempo de ver Luc saltar de uma pedra coberta de neve, mas
por trás dele, uma folha gigante de neve começou a rachar e deslizar, uma
avalanche estava nascendo.

— Luc! — Com o coração batendo dolorosamente contra as costelas,


Con virou e apontou seus esquis para descer a colina, em direção a Luc e a uma
enorme fenda no canto da montanha. Luc não podia ver o potencial abrigo,
estava muito perto da extremidade principal da avalanche, da morte branca
que vinha com ele.

Luc, que nunca usou manobras delicadas de qualquer maneira, deixou


de lado a sutileza quando disparou diretamente para baixo da encosta,
correndo através de desvios, como um navio petroleiro através do mar, mas
porra, ele não conseguiria.

A avalanche atrás dele estava ganhando e, embora Con pudesse virar à


esquerda e evitá-la, ele dirigiu-se diretamente para seu caminho. O vento quei-
mava seu rosto enquanto ganhava velocidade, aproximando-se de Luc... para
mais perto da pedra... mais perto da porra da parede de gelo e neve. Eles
tiveram uma chance e a mente dele desligou-se, levando-o a um lugar de calma
quando acertou Luc no último segundo, levantando-os do chão e jogando-os
na pedra enquanto a onda monstruosa de neve passava sobre eles.

Con caiu em cima de Luc, agarrou seus ombros duramente e desviou


seu rosto do ataque de pedaços congelados que se quebraram contra a pedra. O
barulho era ensurdecedor, o estrondo tão feroz que fez com que o corpo de Con
vibrasse e seu coração parecia estar em um ritmo novo e frenético.
Sessenta segundos depois, ele levantou a cabeça. Exelente. Eles ainda
estavam vivos.

— Saia de cima de mim, seu maldito pervertido! — Luc murmurou.


Con afastou-se do lobisomem e tirou a neve do espaço entre sua jaqueta
e seu pescoço.

— Boa maneira de agradecer a um cara que salvou sua miserável vida.


Luc sentou-se e deu tapinhas para baixo como se verificando se faltava
algo.

— Foda-se, — Ele respirou. — Isso significa que eu devo a você.

— Condenadamente certo — Con levantou a perna e descobriu que uma


bota saiu do lugar, mas felizmente tinha uma correia para esqui, de modo que
o esqui não saiu. — Eu mal posso esperar para descontar.

— É melhor que não me obrigue a fazer nada estúpido. Como correr


com touros. — Luc cavou dentro de um dos bolsos de sua jaqueta e tirou um
frasco. — Pelado.

Con fez uma careta.

— Cofie em mim, não tenho desejo de ver sua bunda pálida e nua.
Ele pegou o frasco das mãos de Luc e tomou um gole, saboreando o rum
queimar ao descer por sua garganta.

— Mas eu não me importaria de vê-lo sendo pisoteado por um touro.


Você é um babaca.

— Idem. — Luc agarrou o licor e tomou um impulso profundo. — Você


está pronto para ir?

Con estava encaixando a bota no lugar.

— Sim.

— O que vamos fazer depois?


Um surto de arrependimento revirou o estômago de Con. Eidolon
enviara todos os funcionários do hospital que eram Wargs ao isolamento para
evitar que contraíssem o vírus que atacava a população dos lobisomens e Luc
ia ficar louco.
Embora Con e Luc nunca tenham sido exatamente amigos (eles se
conhe-ceram em uma briga de bar com os outros), eles eram parceiros
paramédicos e saíam juntos ocasionalmente, principalmente para ver quem
ganhava em qualquer coisa que fizessem.

Mas desde que Luc foi colocado em isolamento, ele estava ainda mais
ansioso para fazer merda. Con sempre foi parceiro, mas ele tinha um emprego
e estava trabalhando mais do que nunca para compensar a ausência de Luc.

— Tenho que trabalhar. Mas vamos saltar na próxima semana.


Luc assentiu e embora sua expressão fosse tão de pedra como sempre,
Con não perdeu o flash de decepção nos olhos castanho-escuros do cara.

— Quando foi a última vez que você transou? Quando estava no Egito?
Aquela garota Guardiã? — Con levantou-se. — Você precisa de uma mulher.

Luc bufou.

— As mulheres são um pé no saco — disse ele, mas não era essa a


verda-de.

Na verdade, a mulher mais pé no saco que ele já conhecera era a respon-


sável pela epidemia que estava matando Wargs. Doutor E pedira (bem,
ordena-ra) uma reunião esta tarde e ele teve uma sensação doentia de que a
mulher pé no saco, também conhecida como Sin, estaria lá.

Foda-se. Mais uma vez, Con pegou o frasco de Luc, colocou-o entre os
lábios e tomou. Em seguida desceu a montanha.

Ah é. Rum e adrenalina se misturavam bem. Muito, muito melhor do


que ele e Sin nunca fariam.

†††††

Sin foi convocada.

Lá estava ela, a louca chefe de um covil de assassinos, mestre de mais de


três dúzias de assassinos, dezenas deles altamente qualificados, e ela foi
convocada como uma canalha à audiência com seu irmão.

O grande doutor demônio.

Ela já dera a ele seu sangue, seu DNA, seu xixi, seu líquido espinhal...
Quaisquer que fossem as amostras que o doutor quisesse para sua pesquisa,
ela entregara. Afinal Sin era a responsável pela doença que estava
exterminando a raça de lobisomens.

Poderia reinvidicar para ter fama.

Dois dias atrás, ela entrou no Underworld General (UG) para canalizar
seu poder no homem infectado em uma tentativa de matar o vírus, mas ela só
acelerou a propagação.

E não pensou que poderia piorar.

Sin murmurou para si mesma enquanto atravessava os corredores


escuros do UG em direção ao escritório de Eidolon. Suas botas estalaram no
chão de pedra negra que excepcionalmente necessitava de uma limpeza das
boas. O eco saltou em vibrações estranhas pelas paredes cinzentas. Ela
arrastou um dedo sobre a escrita na parede que dizia “feitiços de proteção
antiviolência rabiscados no sangue”. Ela precisava dar crédito a seus irmãos
pelo fato do hospital servir a quase todas as espécies de demônios, muitos dos
quais eram inimigos mortais.

Ela virou à esquina para entrar na área administrativa, apenas para


amaldiçoar fortemente. Wraith, o único de seus quatro irmãos com cabelos
loiros e olhos azuis (nenhum dos quais eram originais), estava na porta como
se esperasse por ela. Seus braços estavam cruzados sobre o peito largo, a
dermoire em seu braço direito misturando-se com sua camisa do celtic dando
a impressão de que foi inteligentemente concebido para formar as palavras
FUCK OFF3.

— Bem se não é Mary Tifóide4.

— Leia sua camisa — Ela empurrou-o para entrar no escritório,


desequi-librando-se quando ela viu não só Eidolon, o Doutor, mas também
Conall, o Paramédico.

Ótimo. Quando ela viu o vampiro-lobisomem pela primeira vez, há


algumas semanas, eles separaram-se em termos de merda. Ele assumiu o pior
dela, ameaçou-a, foi totalmente um pé no saco. Ah claro, ela levou-o a
intencio-nalmente acreditar que foi ela quem começou a epidemia que estava
matando seus parentes Wargs, mas se ele não tivesse sido tão idiota, ela
poderia ter dito a verdade.

3 Fuck = Foder, Off = fora. Mas também pode ser traduzido como “vai tomar no cú” que é o que Sin insinuou logo
abaixo.
4 Mary Mallon, também conhecida como Maria Tifóide, nasceu na Irlanda do Norte em 1869 e emigrou sozinha para

os Estados Unidos em 1883, foi o primeiro caso de pessoa aparentemente saudável a ser identificada como portadora
de febre tifóide nos Estados Unidos. Seu organismo conseguiu deter os efeitos nocivos da bactéria que causa a doença,
mas continuou capaz de transmitir a doença para outras pessoas. Maria se tornou famosa por sua obstinação em negar
que ela era a causadora da aparição da enfemidade, negando-se a deixar de trabalhar e com isto continuou a propagar
as bactérias mortais.
Não que a verdade fosse muito melhor.

— Sin. — Eidolon manteve-se em sua mesa, seus olhos expressamente


emoldurados por olheiras. Seu curto cabelo preto despenteado, provavelmente
devido ao passar de seus dedos repetidamente. Praticamente parecia que o
próprio inferno havia lançado toda a merda sobre ele. — Sente-se.

O comando agradou suas pernas, mas ela enganchou uma cadeira com o
pé, afastou-a o quanto pôde de Conall e plantou sua bunda.

— E agora? Eu não tenho nenhum sangue e, se você acha que vai


receber uma amostra de fezes, você pode...

— Eu não preciso de uma amostra de fezes — Eidolon interrompeu. —


Eu preciso de sua ajuda.

Ela sentiu os olhos prata de Con perfurarem-na e, para seu


aborrecimen-to, seu corpo foi lavado com calor como para lembrar-se de outra
perfuração que ele deu-lhe. Isso não estava acontecendo novamente.

— Olha, você deve saber que a Associação dos Assassinos foi inundada
com pedidos de batidas a Wargs. Eu não sei se o súbito aumento está
relaciona-do, mas eu percebi isso e estou repassando a você.

Wraith lançou um olhar afiado para Eidolon.

— Eu ouvi a mesma coisa. A palavra na rua é que algumas espécies


estão preocupadas que os lobos possam transmitir a doença para eles, então
eles estão sendo um pouco... pró-ativos.

Ambos, Eidolon e Con, proferiram uma maldição crua.

Sin recostou-se na cadeira e obrigou-se a manter a calma, quando tudo


o que ela queria fazer era gritar para este desastre que criara.

— Você disse que precisava de minha ajuda. Que tipo?


Eidolon pegou a garrafa de água em sua mesa e tomou um gole antes de
falar.

— Graças ao Harrowgate e à capacidade de viajar instantaneamente, o


vírus já se espalhou em todos os continentes, exceto na Antártida. O número
de mortos está subindo. A doença tem uma taxa de cem por cento de
mortalidade, um período de incubação praticamente inexistente e nenhuma
vítima viveu mais de setenta e duas horas depois de infectada. Basicamente, no
momento em que um paciente chega, não temos muito tempo para o
tratamento.
Jesus. Era pior do que ela pensava.

— Você não fez nenhum progresso?

— Um pouco. — Couro rangeu quando Eidolon se recostou na cadeira.


— Descobrimos uma meia dúzia de wargs que foram expostos, mas não
contraíram a infecção. O R-XR está tentando determinar o que os torna
imunes.

A Unidade Paranormal do Exército dos EUA estava envolvida agora? E


Eidolon estava trabalhando com eles? Ela sabia que Runa, a cônjuge de seu
irmão, Shade, costumava ser um membro e que o irmão de Runa, Arik, ainda
estava lá, mas puta merda, apenas não parecia certo o governo estar envolvido
de alguma forma com Underworld General.

Especialmente uma unidade militar que matava, capturava e fazia


experi-ências com demônios.

Então, novamente, UG teve vários laços fortes com o Aegis, uma organi-
zação civil que matava demônios do inferno. Eidolon era ainda acoplado a um
Guardião Aegis e até agora a associação beneficiara tanto o UG quanto o Aegis.

— Então, eu estou aqui por quê? Você necessita de meus serviços de


assassina, ou o quê? — Ela falou isso apenas para obter uma tensa reação de
seu irmão sempre no controle, mas para sua surpresa foi Con quem fez o
barulho.

— Você está aqui porque Wargs estão morrendo e é sua culpa — Ele
rosnou, uma pitada de um estranho sotaque britânico aprimorando suas pala-
vras. Isso acontece quando ele fica todo irritado e é estranhamente... quente.

Mas ela ainda não gostava dele e virou a cabeça para encará-lo. O que
poderia ter sido um bom plano se ele não parecesse tão gostoso em seu unifor-
me preto de paramédico, o qual destacava sua pele profundamente bronzeada
pelo sol e seu tão lindo cabelo loiro. Mirou nos olhos prateados brilhantes e
olhou para ele. Apenas admirando.

— Por que mesmo você está aqui? — Ela retrucou, mais irritada com
sua reação para ele do que qualquer outra coisa. — Eu não acho que os
dampiros sejam afetados pela doença.

— Eu estou no Conselho Warg. Estou mantendo-os informados.

— Bem, bom para você.


Eidolon pigarreou imperiosamente.
— Na verdade, ambos estão aqui por uma razão. Sin, é hora de colocar-
mos um grande esforço para trabalhar com seu dom. Temos que determinar
uma maneira de usá-lo para tratar a doença.

— Nós tentamos isso antes. Meu dom mata. Ele não cura — Seu dom
era algo que ela realmente gostaria de devolver para seu pai Seminus. Pena que
ele estava morto.

— Sim, bem, tecnicamente, você não deveria existir, então eu não estou
pronto para escrever o impossível.

Ah, ela amava os lembretes sobre como ela era uma aberração da
nature-za, o único demônio Seminus feminino já nascido. A Smurfette5, como
Wraith gostava de chamá-la.

— Então, qual é seu plano?

— Você pode usar seu dom para determinar que tipo de doença reside
dentro de um corpo? Se você tocar em alguém que está doente, você pode dizer
qual a doença deles?

— Mais ou menos. Eu posso sentir o arranjo do vírus ou bactéria ou o


que for. E depois que eu aprender, eu posso replicar a doença específica. — Ela
atirou a Conall um sorriso. — Khileshi cockfire6 é minha favorita.

Wraith riu. Conall empalideceu. Eidolon olhou para ela como se ela
fosse responsável por cada caso excruciante de doença venérea que ele já
tratara. O cara estava tão tenso que provavelmente engomou a cueca de
pânico.

— Tão perturbador quanto possa ser, — Eidolon disse, sem rodeios, —


é exatamente o que eu queria ouvir.

Houve uma batida na porta e Lore passou por Wraith, que ainda estava
brincando de sentinela no batente. Lore carregava uma pasta em sua mão com
luva de couro e Sin não achou que se acostumaria a ver seu irmão gêmeo em
uniforme.

— Eu li o relatório inicial do R-XR sobre os wargs imunes e uma coisa


chamou minha atenção. Os wargs que não desenvolveram a FS após serem
expostos foram aqueles que nasceram wargs. Então, examinei os corpos em
nosso necrotério e fiz alguns testes. Eu não sei se todos os wargs que foram
infectados vieram ao hospital, mas os que vieram? Wargs transformados.

5 Única Smurf feminina entre seus vários irmãos e seu pai. Saiu no cinema o filme Smurfs; vocês sabem qual é.
6 Algo como “pinto flamejante ou pinto pegando fogo”. Pelo contexto é algum tipo de doença sexualmente
transmissível.
Sin franziu a testa.

— FS?

— Febre Sin — Wraith interrompeu um pouco entusiasmado demais.


Febre Sin? Eles deram seu nome à doença? Bastardos.

E virou animadamente o relatório que Lore lhe dera.

— E eu pensei que nunca encontraria um link entre as vítimas. Vou ligar


para o R-XR e informá-los. Excelente trabalho Lore.

Apesar do tema sombrio, Sin não poderia deixar de estar feliz por seu
irmão, que como um assassino conhecera apenas morte e solidão até poucas
semanas atrás, agora estar casado, feliz e trabalhando no necrotério do
hospital, onde seu toque de morte não poderia acidentalmente matar ninguém.

— Espere — disse Sin. — Como você pode dizer a diferença entre os que
viraram lobisomens e o que nasceram lobisomens?

— Os que nasceram Wargs geralmente têm uma marca de nascença em


algum lugar de seus corpos, mas nem sempre podemos confiar nisso. — Antes
de Sin perguntar por que, Eidolon terminou. — Os excluídos são obrigados a
removê-las e alguns wargs que foram transformados aplicam-nas
artificialmen-te, por isso temos que realizar testes genéticos para determinar
se eles são nasci-dos ou transformados.

Huh. Quem iria imaginar?

— Então, o que você queria comigo?


Eidolon olhou por cima da papelada e os círculos sob seus olhos
pareciam ter aliviado um pouco.

— Sobre isso... Veja, foi por isso que chamei Con para esta reunião.
Apoiando seus braços musculosos nos joelhos, Con inclinou-se em sua
cadeira. Quando falou, suas presas brilharam tão ferozmente quanto os olhos.

— O que você está dizendo?

— Seus exames de sangue semanais para FS estavam voltando negativos


— disse Eidolon. — Até ontem.

— O quê? Eu tenho a doença? — Con explodiu fora de sua cadeira, mas


Eidolon ergueu as mãos pedindo calma.
— Não exatamente. Está em seu sangue. Seu corpo não a está atacando,
nem ela o atacou e você não está produzindo anticorpos. Mas quando
introduzi-dos no sangue de Sin para misturar no laboratório, seus glóbulos
brancos e os dela uniram-se para atacar o vírus.

A pele de Sin arrepiou com um mau pressentimento. Eidolon estava


dan-çando em torno de algo.

— Vá direto ao ponto e ao fim da história. Ponto principal, o que você


quer de nós?

— Eu preciso que Con se alimente de você — disse ele com uma


estranheza incomum. — E eu preciso que isso aconteça agora.

†††††

Eu preciso que Con se alimente de você.

Con amaldiçoou em voz baixa.

— Tanto quanto eu gostaria de ajudá-lo, doutor, eu não posso fazer o


que você está pedindo — Sim, ele sentiu o gosto do sangue de Sin antes e era
conde-nadamente bom, mas era exatamente por isso que ele não podia fazê-lo
nova-mente. Ele já fora viciado em sangue de uma fêmea antes e nunca iria
permitir que isso acontecesse novamente.

— Eu aceito que ela não é sua pessoa favorita...

— Ele disse que não pode fazê-lo — Lore interrompeu. — Deixe-o ir.
Eidolon bateu um lápis sobre a mesa, o baque surdo da borracha na
madeira pontuando suas palavras.

— Infelizmente, não há esta opção. Esta pode ser nossa única chance de
uma solução imediata.

— Eu não entendo — disse Sin. — O que quer dizer, uma solução?


Eidolon virou um dos trabalhos para mostrar a Sin e a Con onde ele
rabiscou uma longa coluna de números.

— Eu não posso injetar a quantidade necessária de sangue de Sin para


destruir o vírus em Conall sem matá-lo. Ele precisa ingeri-lo. Como dampiro,
ele tem um estômago com dupla câmara, a segunda câmara funcionando da
manei-ra que trabalha em um vampiro, entregando o sangue da vítima quase
que dire-tamente para a corrente sanguínea do vampiro. Então, se meus
cálculos estive-rem corretos, uma alimentação normal permitir-lhe-á ter no
sangue o suficiente para começar a atacar o vírus. Uma vez feito isso...

— Eu posso controlar o sangue para saber como o vírus morre e, em


seguida, usar meu poder para eu mesma tentar destruí-lo — Sin terminou.

— Exatamente. — Eidolon sorriu. — Você realmente deveria trabalhar


aqui em vez de como um assassino.

Em algum ponto, Sin surgiu com uma faca e agora brincava, virando-a
entre os dedos, e Con tinha um sentimento que a velocidade estava
diretamente relacionada a seu nível de agitação. A faca estava girando como
uma lâmina de helicóptero.

— Morda-me.
Eidolon fez um gesto para Conall.

— Isso vai ser trabalho dele.

— Não — Con disse severamente. — Não vai. Tem que haver outra ma-
neira.

— Eu concordo. — Sin levantou-se, seu cabelo preto-azulado


balançando furiosamente em volta da cintura. — Eu não deixo qualquer um
colocar a presa em mim.

Você permitiu-me, sua pequena mentirosa. Pequena mentirosa,


gostosa. Cara, Con queria gritar exatamente como ela fez, mas pelo menos dois
de seus irmãos no quarto eram um pouco superprotetores e o outro não
precisa de uma desculpa para matar coisas. Pensando bem, nenhum deles
precisava de uma desculpa. Nem Con.

— Se houvesse qualquer outra forma — Eidolon disse, — eu


encontraria. Mas não há. — Ele amassou uma folha de papel e jogou no lixo
transbordando no canto. — Você tem o vírus, ele só não está atacando você e
eu não sei ainda o porquê. É uma tensão ligeiramente diferente da que está
atacando os wargs... É adaptado suas espécies, mas pode tentar se transformar
em algo que pode atacá-lo, razão pela qual é preciso eliminá-lo o mais
rapidamente possível. Quanto aos wargs... Isso é o que era tão estranho sobre
as amostras de sangue tomadas pelo R-XR. Era como se os wargs não
infectados fossem uma espécie diferente e incapaz de pegar o vírus.
— Você quer dizer da mesma maneira que os cavalos não pegam
sarampo a partir de seres humanos — disse Sin e Eidolon assentiu.

— Exatamente. Eu ainda não sei o que faria os wargs nascidos tão


diferentes dos transformados. — A frustração na voz Eidolon foi ecoada em
sua expressão quando ele se virou para Con. — E você, mesmo com o status de
vam-piro, é de algum modo mais intimamente relacionado com os wargs
transforma-dos do que com os nascidos.

Um tremor de desconforto passou por Con. Isso era apenas um dos


pequenos segredos sujos da raça dampira, mas era um que ele teria que
compar-tilhar com o médico. Qualquer coisa para ajudar a parar esta maldita
epidemia. Bem, não tudo. Ele deixaria de fora os pequenos detalhes. Embora
acreditasse que não devia a seu povo a cortesia de manter seus segredos, pois
foi exilado por todos eles. Oh, eles não o perderam de vista, afinal, ele era
muito valioso para jogar completamente fora, mas ele tinha vergonha deles e
eles se divertiram punindo-o por isso.

— Dampiros não nascem exatamente desta forma.


Eidolon fez uma careta.

— O que você quer dizer?


Con inclinou-se para frente e colocou seus antebraços nas coxas.

— Quero dizer que quando atingimos nossa adolescência, surgem


nossas presas, começamos a desejar sangue... e depois ficamos doentes. Na
primeira noite de lua cheia após as presas estarem plenamente desenvolvidas,
temos que ser mordidos por um warg ou morremos.

— Interessante — Eidolon murmurou. — Então dampiros são básica-


mente lobisomens transformados que bebem sangue. Acho que isso explica por
que você acabou com uma forma do vírus, mas há outra coisa a considerar.

Con não gostou de seu tom. Nem um pouco.

— O que mais?
Eidolon fez uma pausa, como se seu cérebro procurasse as palavras
certas e o intestino de Con esvaziou.

— É provável que o vírus dentro de você não deseje atacá-lo. Ele quer
sair.

— Então o que você está dizendo — Con cuspiu, — é que eu sou


portador. Eu poderia ter infectado pessoas.
— Infelizmente, sim. A doença parece ser transmitida tanto via contato
direto como indireto, bem como por via aérea, mas como um portador assinto-
mático, você pode transmiti-la de forma diferente. Eu testei sua saliva e está
definitivamente presente. Nós precisamos realizar testes para ter certeza, mas
como Luc não teve o vírus, você provavelmente não o transmite pela respiração
ou pelo toque casual. Mas é preciso evitar o contato íntimo com lobisomens e
outros dampiros.

Oh, diabos. Quantas mulheres o alimentaram e dormiram com ele desde


o último mês? Sua mente correu enquanto contava e eliminava aquelas que
não eram lobisomens. Apenas uma paciente era um warg... Uma warg
transformada. E, ironicamente, uma mulher que ele evitara dormir por anos
porque se preocu-pava com ela e ela merecia mais do que uma única noite com
ele. Merda.

— Espere, doutor. — Con cavou seu celular do bolso, discou e


Yasashiku, um membro do Conselho Warg, respondeu no segundo toque.

— Con. Você está perdendo a reunião. Valko está prestes a ter um


filhote de um maldito cachorro. Onde você está?

— Eu estou no trabalho. Eu estarei lá assim que puder. — Caminhando


para um canto, ele baixou a voz. — Você soube de Nashiki ultimamente?

O silêncio de Yasashiku fez Con, de repente, dolorosamente consciente


do som das batidas de seu coração em seus ouvidos.

— Você não soube?

— Saber de quê? — Não diga isso. Não faça isso. Foda-se. Diga.

— Ela pegou o vírus — disse Yas, seu leve sotaque japonês com emoção.
— Ela morreu ontem à noite.
Con nem sequer respondeu. Entorpecido, ele fechou o telefone. Ele
fizera sua parte de matar em seus mil anos de vida, algumas delas justificadas,
outras não. Mas havia algo verdadeiramente obsceno sobre matar alguém com
prazer. Especialmente porque, anos atrás, ele salvou a vida de Nashiki após ela
ser ata-cada por um bando de homens-leões e, embora ele normalmente não
mantives-se contato com seus pacientes, ela era especial, espumante e
brilhante, uma das poucas pessoas que ele conheceu em sua vida que nunca
deixou que nada a levasse para baixo.

Então ele a salvou... só para matá-la.

Claro, não havia prova que ele dera o vírus para a linda warg de pele cor
de mel, que não merecera ele ter se alimentado dela enquanto fantasiava sobre
Sin, muito menos ele ter dado a ela uma doença que transformou seus órgãos
em mingau. Nenhuma prova, mas o tempo estava certo, dado o tempo
decorrido entre o início e a morte.

Carmesim coloria sua visão tanto como náusea por ele ter matado uma
mulher inocente, quanto como raiva porque a pessoa responsável, em última
análise, estava bem ali na sala com ele. Isso precisava acabar e, neste ponto, os
riscos de alimentar-se novamente de Sin era a menor de suas preocupações.
Especialmente desde que todo o risco seria de Sin.

— Con? — A voz profunda de Wraith era um zumbido simples entre os


outros ruídos na cabeça Con. — Cara. Você está bem? Parece que você está
prestes a tomar uma pancada.

— Então é melhor eu me alimentar. — A voz de Conall era fria quando


ele se virou para Sin. — E parece que você será o almoço.
Isso era uma merda completa.

Sin entendeu que esta podia ser a resposta à epidemia, mas Con não
precisava olhar para ela como se fosse um bife suculento. Ele poderia ao menos
tentar ser tão repulsivo quanto ela.

— Sente-se — A voz de Con aprofundou-se, ficando rouca, praticamente


fazendo-a cumprir sua exigência como um cão bem treinado.

— Nós vamos fazer isso aqui?


Ele levantou uma sobrancelha.

— Você prefere fazê-lo em um quarto de paciente? Ou talvez um


armário fosse mais a seu gosto?

Oh, o bastardo. Eles não iriam a um quarto de paciente, onde uma cama
tornaria muito fácil fazer mais do que a coisa do sangue, e a observação do
armário era uma sátira ao primeiro (e último) lugar em que estiveram juntos.

Ela afundou-se numa cadeira.

— Ótimo. Vamos acabar logo com isso.

— Tão doce — disse Wraith. — Vocês soam como um velho casal.


Ela virou-se, assim como Con virou-se para seus irmãos.

— Poderíamos ter um pouco de privacidade?

— Não. — Sin apontou um dedo para Eidolon. — Você. Fica. — Princi-


palmente, ela estava sendo uma puta, mas também, a vibração em sua barriga
com o pensamento de estar sozinha novamente com Con foi um sinal perigoso
que ela não deveria ficar a sós com ele.

Lore deu um passo à frente.

— Eu vou ficar.
— Está tudo bem, mano — disse ela. A última coisa que ela precisava
era de Lore. Ele vem fazendo isso há 30 anos e parecia estar tendo dificuldades
para quebrar o hábito. — Isto será estritamente um procedimento clínico.
Eidolon pode fiscalizá-lo.

Clínico? Isso foi uma piada, porque ela sabia que ter as presas de Con
em sua carne seria agradável, não importava o quanto ela quisesse negar.

Por um longo momento, Sin tinha certeza que Lore argumentaria.


Punhos cerrados, ele estava ali carrancudo, sua dermoire contorcendo-se com
raiva. Como a dela, era uma imitação fraca das marcações de seus irmãos de
raça, mas ainda se comportava da mesma maneira, parecendo mover-se
durante períodos de emoção elevada. Ele finalmente concordou e, depois de
encarar Con um olhar de advertência fraternal mordaz, saiu.

Ela fez um movimento enxotando Wraith.

— Você também. Desapareça.

— Smurfy. — Wraith saiu, assobiando a música tema de Os Smurfs.

— Nós não precisamos de Eidolon — Con disse. — Eu venho fazendo


isso por mil anos. Eu sei quando parar.

Sin não estava preocupada em ser drenada, mas ela não estava disposta
a admitir que o medo real fosse que sem um acompanhante, ela acabasse
fazendo muito mais do que brincar de McLanche Feliz.

Felizmente, ela não teve que dizer nada, porque Eidolon, com uma
expressão severa no rosto, fechou a porta e colocou um ombro contra ela,
longas pernas cruzadas casualmente na altura dos tornozelos. Ele não iria
mover-se e aparentemente Con chegou à mesma conclusão, porque ele
murmurou algo em voz baixa e caiu de joelhos ao lado dela.

Com ele de joelhos, eles estavam ao nível dos olhos e ela engoliu seca-
mente quando ele trancou seu olhar ao dela.

— Dê-me o pulso — disse e, quando ela hesitou, seu sorriso frio estava
em desacordo com o bramido de calor que exalava de seu corpo. — Você
prefere a garganta? Ou na virilha? Claro, seria mais rápido dessa maneira, mas
eu não acho que você queira que a intimidade seja muita. — Seus olhos
despertaram com divertimento, zombando dela.

Ela enfiou o braço esquerdo nele.

— Claro que não.


Ele tomou seu pulso cautelosamente, como se o simples pensamento de
tocá-la causasse nojo a ele. E talvez causasse em algum nível. Mas ela nunca
conheceu um vampiro que não admitisse ficar pelo menos um pouco, enquanto
acelerava a alimentação.

Um sussurro de dor veio com a penetração de seus dentes, seguido por


faíscas de prazer tão intensas que teve que segurar um gemido.

— Sin — Eidolon disse suavemente, — você vai precisar monitorar os


níveis de vírus em seu sangue agora e depois. Você deveria obter uma linha de
base agora.

Sim, uma linha de base. Qualquer coisa para arrancar a atenção de


como é bom sentir os lábios de Con sobre ela, os dentes nela. Concentrando-se,
despe-diu-se de seu dom e sua dermoire começou a brilhar, em seguida,
segurou o om-bro de Con. Sob seus dedos, seus músculos amontoaram-se
como se em protes-to, mas ela pegou os sinais de excitação que aumentavam: o
som de sua frequên-cia cardíaca, elevando-se rapidamente no subir e descer do
peito, o aumento da temperatura de sua pele.

Seu próprio corpo respondeu com uma onda de calor líquido, mas ela
cerrou os dentes e concentrou-se na leitura de seu sangue. Seu poder entrou
em um feixe focalizado e enfiado em suas veias e artérias. Quando ela usava
seu dom para criar uma doença, suas vítimas não sentiam nada, mas nunca
sondou assim antes.

— Você está bem? — Perguntou ela e quando os olhos cintilantes de


Con piscaram, ela arrependeu-se de perguntar. Quem se importava se ele
estava bem? Ela era a única sendo sugada. A pessoa que estava começando a
ver man-chas.

Ele deu um aceno lento e voltou a tomar longos goles de seu pulso. Fe-
chando os olhos, em parte porque o quarto começou a girar, concentrou-se em
torno de sentir Con dentro de suas veias. Sombras preto-e-branco, imagens
for-madas em sua cabeça. Ela podia ver as células sanguíneas individuais
correndo através dos vasos estreitos e, com elas, o vírus. Novas células
juntaram-se à cor-rida; dela, ela tinha certeza. Quase como se a presença de
células frescas cutu-casse as de Con, as células dele atacaram o vírus, como
uma matilha de lobos derrubando um veado ferido.

— Está funcionando — Ela sussurrou, esperando que os rapazes não


per-cebessem a maneira como seu discurso foi um pouco arrastado.

A sucção de Con começou a diminuir.

— Continue. Você precisa de mais de meu sangue para juntar-se à luta.


Ele grunhiu um som de recusa e suas presas começaram a deslizar de
sua carne. Ela agarrou sua cabeça e obrigou-o a ficar, apesar de ter tomado
muito mais esforço do que deveria.

— Quase, Con. Podemos matá-lo...

— Sin! — Os fortes dedos de Eidolon puxaram seu cabelo, afastando-a


de Con. E talvez ela não devesse ter notado quão sedoso era seu cabelo loiro,
mas por alguma razão, ela notou. — Ele tem que parar.

— Só um pouco mais...
Retornando a si, Con rasgou longe dela. Seus olhos agitados como poças
de metal derretido, com medo de que a fome carnal o tivesse feito ir longe
demais e seu desejo ainda mais longe. Eidolon bateu uma palma em seu pulso
que ainda sangrava mesmo quando ela pulou para frente, desesperada para
fazer Con tomar mais sangue. Ela precisava de mais tempo para estudar como
o vírus sobrevivia, como ele morria...

— Nós não podemos parar agora!


Con jurou, agarrou a mão dela e por um momento ela pensou que ele ia
continuar, mas em vez disso, ele tirou a mão de seu irmão e, enquanto Eidolon
despedia seu próprio dom para curá-la, ele passou sua língua ao longo dos
furos. Diante de seus olhos, eles selaram e uma fúria irracional agarrou-a.

— Seus idiotas! — Mais sombras reuniram-se em sua visão e sua cabeça


girava enquanto ela cambaleava a seus pés. — O vírus vai correr nele. Vai...

— Merda! — Con fechou os braços em volta dela quando o chão ficava


mais próximo dela.

†††††

— Então, você está se alimentando por mil anos, hein? — O sotaque


sar-cástico de Eidolon tocou em cada um dos nervos de Conall, enquanto ele
carre-gava Sin para a sala de exame mais próxima e colocava-a gentilmente na
cama.

O fato era que Con não tinha desculpa. Claro, Sin encorajou-o, dizendo
que estavam quase lá, mas pior do que isso, terrivelmente pior, foi que a fome
por ela substituiu o bom senso e ele alimentou-se por mais tempo do que
devia.

Ele estava apenas feliz por não ter lutado com ela no chão e tentado dar
muito mais do que sangue.

— Cure-a — Ele arrebentou sua raiva de si mesmo colocando uma nota


cáustica em sua voz que Eidolon não merecia. Ainda assim, o médico apenas
deu de ombros enquanto preparava uma intravenosa ao lado da cama. — Meu
poder une os tecidos aos ossos. Não faz sangue. — Ele alinhou os produtos em
uma bandeja e aproximou-os de Sin. — Precisaríamos de Shade para isso. Ele
pode usar seu dom para forçar a medula a produzir sangue mais rápido.

Con afastou o brilhante cabelo do rosto, que estava muito pálido.

— Então chame Shade — Ele pressionou. Sin não estava em perigo, mas
ele não gostava de como sua vida fora literalmente sugada para fora dela. Mas
era a primeira vez que ela estava calma. Ele deveria ser grato.

— Ele está fora por alguns dias. — E fez um gesto para os armários atrás
de Con. — Traga um soro para mim.

Con foi buscar um saco de soro fisiológico e arremessou-o ao médico.

— Então, chame-o de volta.

— Runa está doente e ele não pode deixar os trigêmeos.


A respiração de Con ficou alojada em sua garganta. A companheira de
Shade era um lobisomem transformado.

— Não é FS, certo?


Eidolon inseriu uma agulha em uma veia do lado esquerdo de Sin.

— Graças a Deus, não. É um leve vírus estomacal.

— Bom. — Con odiaria ver alguma coisa acontecer com a fêmea que fez
de Shade uma pessoa muito mais agradável para se trabalhar. E por falar em
trabalho... — Você vai chamar Bastien de volta agora que sabe que o vírus não
está afetando o pricolici? — Bastien, um warg nascido que foi excluído décadas
atrás porque nasceu com um pé torto, dedicou sua vida ao UG, e saber que Con
forçou suas férias matava-o tanto quanto a Luc.

— Claro que sim. — Eidolon fez um gesto para invólucros de gaze no


chão. — O departamento de zeladoria está caindo aos pedaços sem ele.
Enquanto Eidolon ligava a bolsa de soro fisiológico em um suporte, Sin
gemeu e seus olhos abriram-se.

— O que... O que você está fazendo?

— Espere — disse Eidolon. — Nosso menino aqui ficou um pouco


entusi-asmado com sua refeição.

Ela sorriu fracamente.

— Isso é porque eu sou tão doce e irresistível.


Con bufou.

— Não são essas as palavras que eu usaria para você — Bem,


irresistível, talvez, mas havia um monte de elogios inferiores que se
encaixavam nela, também.

— Burro — Ela murmurou. Ela levantou a mão e franziu a testa para a


linha conectada a ela. — Ei, pare com isso. Eu não preciso disso.

Con agarrou seu pulso e empurrou-o de volta para o colchão.

— Sim, você precisa. Eu tomei muito sangue.


Eidolon lançou um olhar severo a ele.

— Se você tivesse entregado mais de seu sangue, como eu pedi para


você fazer, eu poderia estar colocando-o em vez de soro em suas veias.

— É, é. Que seja. Eu curo rápido.

— Um dos benefícios de ser um demônio Seminus — Eidolon disse em-


quanto levantava a cabeceira da cama para que ela pudesse sentar.

— Há mais? — Sarcasmo pingava da voz de Sin, mas Eidolon ignorou


para verificar seu bip.

— Eu tenho um trauma entrando. Con, fique com ela até que o soro aca-
be. Quando puder, vá ao laboratório. Eu quero uma amostra de seu sangue.
Quero ver se já há quaisquer anticorpos em seu sistema agora. E você — Ele
apontou o dedo para Sin, — seja boazinha.

Sin revirou os olhos, mas pelo menos ela não retrucou de volta. Em vez
disso, ela esperou até que o médico saísse e então se virou para Con, com furio-
sos olhos cor de ébano.

— Seu idiota!
Ela era sexy quando estava irritada.

— Eu disse que estava arrependido por ter tomado muito sangue — Na


verdade, ele não disse, mas ele sentia-se um pouco mal com isso, então achava
que contava.

— Você deveria ter tomado mais. Você ainda pode ser contagioso.

— Não vale a pena matar você. — Não que matá-la não fosse tentador.

— Bem, duh. Mas outro litro de sangue não me teria matado.

— Sim, teria. — Ele cavou através de uma das gavetas um kit de fleboto-
mia7. — Por que você não entregou seu sangue como E queria?

— Quem é você? Meu pai? Não é assunto seu — Ela mexeu-se na cama,
o raspar sedutor de sua apertada calça de couro contra o lençol fazia seu pau
con-trair. Con podia não gostar dela, mas seu pau não ligava para seu
julgamento.

— Se você tivesse feito isso, eu poderia beber agora ao invés de esperar


você produzir mais sangue — Ele puxou uma cadeira com um puxão frustrado,
sentou-se e arregaçou a manga da camisa.

— Vou ver se consigo acelerar as coisas só para você — disse ela irônica-
mente. — E enquanto isso, tome cuidado para não espalhar a doença por aí.

— Irônica coisa a dizer, vindo de você, você não acha? — Ele bufou. —
Eu acho que posso gerenciar não morder ou foder um warg por alguns dias. E
você realmente se importa?

Manchas vermelhas em suas bochechas e ele sentiu o cheiro de irritação


que vinha dela.

— É. Você está certo. Estou emocionada que o vírus esteja matando as


pessoas. Parabéns para mim.

— Por que você o começou, então?

— Eu estava entediada. Não houve uma boa pandemia desde a gripe


espanhola em, o que, 1918?

7A flebotomia é uma incisão praticada na veia, com objetivos diversos. É o método de sangria onde ocorre extração de
sangue através de sistema estéril com agulha, equipo e bolsa de coleta, semelhante ao procedimento para doação de
sangue.
— Filha de uma... — Enrolou um torniquete de borracha em torno de
seus bíceps. — Só uma vez, você pode dar-me uma resposta direta? — Traba-
lhou com raiva e com movimentos bruscos fixou uma extremidade do tubo em
seus dentes e puxou forte.

Sin apertou os olhos e, por um instante, uma sombra assustadora de


vulnerabilidade escureceu sua expressão. Mas foi tão depressa que Con
duvidou do que viu, ela abriu os olhos e olhou para ele como se o raio da morte
fosse sair dela.

— Matar é o que eu faço. Você realmente acha que eu preciso de um


mo-tivo para iniciar uma epidemia?

Jesus Cristo. Ele nunca encontrou uma fêmea (ou macho) com um muro
tão grande ao redor. Jurando para si mesmo, ele inseriu uma agulha na veia
situada na dobra do cotovelo.

— Eu realmente acho que você precisa de um motivo. Você pode ser


uma assassina, mas eu ainda não encontrei um assassino que não planeje cada
morte com muito cuidado.

Surpresa cintilou em seus frios olhos negros em sua avaliação.

— A maioria das pessoas acha que corremos por aí matando tudo, quer
queira quer não.

— A maioria das pessoas são idiotas. — Ele pegou um vacutainer8, um


tubo para coleta de sangue. — A maioria dos caçadores, seja humano, animal,
ou demônio, são seletivos e cuidadosos sobre suas presas. Você fica preso ou
ferido e você está morto. A caça é uma questão de vida ou morte se você
precisa comer.

— Como você.

— Como eu. — Ele olhou para ela, queria que ela parasse de contorcer-
se e fazer sons obscenos ao esfregar-se no lençol. — Mesmo em forma warg,
tenho cuidado com o que eu pego.

— Eu pensei que lobisomens matavam todos à toa — A maneira como


um canto de sua boca transformou-se em um sorriso travesso disse a ele que
ela estava brincando.

8 Vacutainer é uma marca registrada de tubos para coleta de amostras.


— Wargs pricolici e dampiros mantêm o controle. É com os lobisomens
transformados que você precisa tomar cuidado, mas normalmente só os mais
novos. Os wargs mais velhos conseguem controlar-se durante a fase da lua.
Wargs mais jovens tendem a matar sem muita habilidade ou premeditação.

Wargs jovens eram os que tendiam a ser presos por Aegis e os que
deram a todos os lobisomens a reputação de serem monstros. Na outra pata,
quanto mais velho um warg era, menos humano ele ficava. Havia
definitivamente uma compensação. O controle enquanto em forma animal
vinha com a perda da conexão com os seres humanos enquanto no corpo
humano.

Ele empurrou o vacutainer no suporte e o sangue começou a encher o


tubo. Sin franziu a testa.

— Uh... Você precisa de ajuda com isso?

— Nah. Eu sou bom com uma mão.

— Sem dúvida você é.


Ele sorriu, divertindo-se com sua presunção.

— Não tenho necessidade de ser. As mulheres caem a meus pés — Sin


não tinha exatamente caído a seus pés, não, ela tentou chutar sua bunda
quando eles se conheceram. Mas ela finalmente cedeu. Claro que, como um
súcubo, ela poderia muito bem abrir-se para todos os homens que cruzaram
seu caminho. E por que, de repente, o pensamento o deixou mal-humorado ele
não tinha ideia.

— O dia que eu cair a seus pés — ela disse com voz arrastada, — será o
dia que eu desistirei de pizza.

— Pizza?

— Mmm, amo. Todos os tipos. Massa fina, massa de pão, apenas


queijo... hum. — Ela esfregou sua lisa e esbelta barriga e Con teve que cerrar o
punho para não alcançá-la e juntar-se à ação. — Estômago roncando.
Necessito de pizza.

— Fale comigo. Você explica-me por que começou a epidemia e eu vou


trazer-lhe uma pizza quando voltar da reunião do Conselho — Ele também fez
uma nota mental para chamar Luc com uma atualização sobre a FS. Con
prometeu ao warg que o manteria a par das últimas notícias.

Ela hesitou, então deu de ombros.


— Foi um golpe errado. Eu deveria matar este lobisomem, então eu
cana-lizei meu dom para ele. Geralmente mata rapidamente, mas fui
interrompi-da por Idess.

— A companheira de Lore? Por que ela interrompeu-a? — Con


lembrou-se da primeira vez que ele viu o lindo anjo que deu um brilho de pura
bondade, apesar dos rumores que corriam de que ela era humana agora. Idess
foi trazida para o hospital por Lore depois de uma batalha em que tentaram
matar um ao outro.

Agora eles estavam casados, felizes e praticamente inseparáveis.

Sin acenou com a mão.

— É uma longa história. Mas, basicamente, ela era um anjo-caído no


mo-mento e ela estava protegendo o cara. — Ela lançou um olhar de soslaio
para ele. — Foi a primeira vítima que você trouxe para o hospital. Lembra
quando eu estava esperando ao redor da emergência?

Inferno, sim, ele lembrava-se. Ele trouxe Chase e Sin havia pairado. Ele
deixara o lobisomem morrer em uma sala de trauma e parou fora da porta para
escrever a papelada. Sin estava lá.

Ela limpou a garganta.

— Ei, como está o warg?


Con olhou para cima, surpreso ao ver a posição incrivelmente quente
da fêmea parada na frente dele.

— Morrendo. Por quê?

— Nenhuma razão. — Ela esfregou os braços, que estavam cobertos


pelas mangas de sua jaqueta jeans. — O que há de errado com ele? Foi um
aci-dente? Ele está doente com alguma coisa?

— Você é do tipo intrometida.


Ela encolheu os ombros.

— Apenas uma cidadã interessada.


Viu-a por um momento, deixando seu melhorado sentido vampiro e
warg detectar sua espécie. Sua temperatura alta e baixa frequência cardíaca
indicavam sangue de demônio, mas ela cheirava um pouco a humano.

Então demônio e humana, mas que tipo de demônio? Aparentemente,


ela sangrava como todo mundo. O perfume veio a ele em uma bolsa de ar,
dando água na boca e suas presas caíram. Como um paramédico, ele
treinou-se a ignorar o cheiro tentador e o doutor E franzia a testa para seus
médicos quando atacavam pacientes para o alimento, mas por alguma
razão, ele esta-va reagindo a esta criatura sexy.

— Você deve conseguir alguém para olhar sua perna.


Franzindo a testa, ela olhou para a mancha de sangue que vazou atra-
vés de seus jeans.

— Não é grande.
Ele não esperou que ela terminasse. Fome havia sequestrado seu
corpo, e se ele não se afastasse um pouco da sedutora, ele logo estaria
sentindo os efeitos da magia Haven quando pulasse em cima dela.
Rapidamente, ele entre-gou a área de transferência para uma enfermeira e
dirigiu-se ao estaciona-mento.

— Então — ele disse, — você tentou matar o warg com seu dom e ele
sobreviveu tempo suficiente para infectar outras pessoas.

Sin dobrou os joelhos contra ela e envolveu seu braço marcado pela
dermoire em torno deles, dando a ele uma tentadora visão da redonda bunda
dela. Não que ele estivesse olhando.

— Sim.

— Por que não cortar suas gargantas ou matá-los? Por que seguir a rota
da doença?

— Por que não?


De volta às respostas negativas. Fêmea impossível.

— Você quer a pizza, ou não?

— O que, pizzas são racionadas agora e só pode conseguir uma? Eu


estou fora daqui. — Ela puxou o catéter de sua mão e saltou para fora da cama
com uma graça sinuosa e o leve baque das botas no chão. — Eu tenho coisas
para fazer, pessoas para matar e eu posso pegar minha própria pizza. —
Sangue escorria de sua mão e, embora Con estivesse saciado, sua boca ainda
encheu d’água.

— Venha cá — Sua voz era baixa e áspera e Sin virou, seu olhar furioso
queimando um buraco no meio dele.

— Vá se danar.
— Estive lá, fiz isso — ele rosnou. — Agora, venha aqui.
Ela atirou-se como um pássaro e seguiu para a porta.

— Eu não respondo bem a ordens.


Ele estava lá em um segundo, o tubo de sangue pendurado em seu
braço, e teve-a apoiada contra a parede.

— Então o que você responde, pequena demônio? Porque agora, eu


tenho em mente colocá-la sobre meu joelho e bater em você para ver como
você responde. — Seu suspiro de indignação foi um ponto brilhante em seu dia
de merda. — Oh, sim — ele sussurrou, enquanto se colocava entre as coxas
dela. — Você não responde a mim. Você respondeu muito bem ao que eu
derramei dentro de você.

Quando ela disse a ele que não poderia atingir o clímax até que seu par-
ceiro atingisse primeiro, ele ficou surpreendido. E então ele fez vir. Difícil. Ele
ainda podia ouvir o som de suas respirações ofegantes, ainda podia sentir seu
interior apertado, os músculos apertados ao redor dele.

Ela estendeu a mão, mas antes que o punho pudesse atingir alguns de
seus dentes, ela sussurrou e pegou a cabeça com as duas mãos quando a dor do
encantamento antiviolência que protegia o hospital a atingiu. Ela e seus irmãos
eram imunes, mas somente se eles lutassem um com o outro.

— Esqueceu do feitiço Haven, hein?

— Eu odeio você — Ela respondeu asperamente e, por que isso o fez


sorrir, ele não tinha ideia.

Mais suave do que ela merecia, ele afastou a mão sangrando de sua
cabeça e passou sua língua sobre a punção da agulha. Deus, ela tinha um gosto
decadente, com uma mordida como bom brandy, e ele não podia evitar deixar
sua língua permanecer em sua pele. Ela estava tensa, liberando lentamente a
outra mão da cabeça.

Sob seus dedos, a pulsação batia em seu pulso, combinando sua batida
para uma batida louca. O ar entre eles crepitava com o calor repentino e seus
quadris aumentaram quando ele pressionou a palma da mão à garganta
delicada, querendo absorver a sensação de sua força vital que fluía em ambas
as mãos.

Ah... nada. Poder inundou-o como se tivesse completado um circuito.


Ela era a vida. Ela era a morte. Ela era a mulher mais perigosa que ele já
conhecera e, se ele fosse inteligente, ele correria como o diabo. Lambendo os
lábios, Sin tomou uma respiração profunda, tremendo, que terminou com,
“Liberte-me”.

Agora, isso era a última coisa que ele queria fazer, mas ele fez seu ponto.
Ela poderia odiá-lo, mas ela o queria. A cabeça um pouco confusa e ainda sen-
tindo o zumbido de seu sangue dentro de suas veias, ele recuou, mas ela o sur-
preendeu quando pegou seu pulso.

Sua dermoire iluminou-se e o calor espalhou-se por seu braço.

— Basta verificar seus níveis de vírus — disse ela, sua voz grossa com o
mesmo desejo que corria através dele como xarope. — Você realmente deveria
ter bebido mais.

Ele fixou o olhar em sua garganta e só foi meio sério quando ele
murmurou: — Ainda posso.

Seus olhos brilharam com malícia quando ela aproximou-se mais e


aper-tou todo seu corpo contra ele. Todas suas partes moles encaixaram-se
perfeita-mente com seus entes rígidos, mas então ele sabia disso.

— Vá em frente — disse ela, expondo sua garganta e fazendo seu blefe.


Ela conhecia-o bem e sabia que ele não podia arriscar levando mais
sangue dela, especialmente dada a forma como ele perdeu o controle anterior-
mente. E ele não estava prestes a tirar de sua garganta. Muito íntimo, muito
contato e Sin demais para ele.

Engraçado. Muito pecado9. Aquilo nunca foi uma preocupação antes.


Ele passou a maior parte de sua vida cometendo todos os pecados e inventando
novos.

Mas essa pequena súcubo estava matando seu povo, tinha feito dele um
portador da doença e seus irmãos eram superprotetores filhos de demônios
que colocariam suas bolas num espeto se ele a mordesse e batesse nela aqui,
agora.

Você transou com ela em um armário de merda.

Sim e falar sobre um erro. Um que não se importaria de repetir. Claro,


ele desprezava, mas deixariam as coisas interessantes, não é?

Imagens dela arranhando suas costas, mordendo seu pescoço, lutando


com ele mesmo quando abriu as pernas para ele inundar seu cérebro. Um
sexto sentido disse que sendo tão boa como ela foi, não teria dificuldades em

9 Ele compara a tentação que Sin representa usando o significado do nome dela. Sin é pecado em inglês.
manter-se com ele mesmo durante o pior da febre da lua, quando
acasalamentos violen-tos podiam matar.

Cai fora... cai fora... Ele respirou de forma irregular, desesperado para
manter o controle, porque, embora a lua cheia fosse daqui a duas semanas, o
sangue de Sin forçou uma maré alta em suas veias e todo desejo primal estava
começando a se enfurecer.

Além disso, não havia uma raça de súcubos lá fora que não roubasse
algo. Se era sua semente, sua alma, sua força vital, ou seu coração, sugavam
algo fora de você e raramente devolviam.

Sin definitivamente não o agrediu do jeito aproprieado

A porta abriu-se com um estrondo. Con saltou com instintos selvagens,


articulado, dentes arreganhados, para enfrentar a ameaça.

Wraith caminhou para dentro, seu andar solto enganosamente relaxado.


Enganoso, porque seu olhar brilhante era predatório, ele estava plenamente
consciente do que acontecia quando entrou e Con sabia que o bastardo era
sufi-cientemente cauteloso para arquivar as informações e usá-las quando
tivesse a vantagem.

— Smurfette — Wraith demorou, com os olhos focados em Con. — E


precisa de você na emergência. Warg entrou, circulando o ralo.

Sin fez uma careta.

— Circulando o ralo?

— Morrendo — Con rangeu para fora. — Ele está morrendo.


Wraith assentiu.

— Chegou a hora de ver se você pode salvar vidas em vez de apenas


tomá-las.
Karlene Lúcio não sabia o que viria primeiro: congelar até a morte ou
sangrar até a morte. Havia outra possibilidade também, mas ela recusou-se a
considerar a ideia de que seria decapitada por caçadores Aegis.

Alguns dos caçadores Aegis eram os mesmos com quem ela vinha
trabalhando há anos.

Dor irradiava através de seu ombro direito, onde a bala entrou, e neve
picava seu rosto enquanto ela tropeçava através da densa floresta, deixando
um rastro de sangue que um homem cego poderia seguir. Maldito deserto
canaden-se. Quem vivia aqui?

A pessoa que você precisa encontrar era quem vivia.

Tremendo, apesar das camadas de roupa que usava, ela tropeçou em um


galho caído e caiu de cara em uma planta na crosta de gelo. Uma fenda abriu-
se e pedaços de madeira explodiram a um centímetro de seu rosto. Um grito
abafa-do escapou enquanto rolava e escondia-se atrás de um tronco grosso.
Sua mão tremia quando ela cavou no bolso de sua capa de chuva procurando
sua pistola – não que ela pudesse atingir o amplo demônio Gargantua com sua
mão esquer-da.

Vazio. Sua arma havia desaparecido.

Freneticamente, ela olhou em volta, cavou através da neve, rasgando as


unhas e pontas dos dedos, deixando manchas sangrentas na neve intocada. Ela
nem sequer ouviu o segundo tiro que meteu uma bala em seu braço e alojou-se
em seu lado. Ela sentia como se um ferro quente a golpeasse com a força de um
caminhão e ela voou para trás, batendo em um tronco de árvore, forte o sufi-
ciente para faltar ar em seus pulmões. Enquanto estava deitada no chão,
aturdi-da, o fogo atingiu suas veias, espalhando-se por seu corpo, e ela quase o
saudou. Qualquer coisa para não sentir mais frio.

A neve e as árvores começaram a diluir-se ao mesmo tempo. Algo foi


esmagado ao lado dela: passos. Fracamente, ela olhou para Wade, o Guardião
do sexo masculino em pé diante dela, o cano de sua pistola visando sua testa.
— Sinto muito que precisou chegar a isso — disse ele rispidamente.
Seus olhos eram tristes, mas decididos. Ela não esperaria nada mais de um
guardião que fora forçado a destruir alguém que havia enganado e traído o
Aegis durante anos. Não importava que eles tivessem lutado lado a lado,
trabalhado em um objetivo comum (livrar a Terra do mal).

Ela agora era considerada uma inimiga... e uma traidora, para começar.
A nova postura do Aegis, mais branda com criaturas do submundo, era mais
uma piada do que uma política de sem-perguntas-sem-respostas.

Ela poderia implorar por sua vida, mas não faria nenhum bem. E, na
verdade, ela nunca pediu nada e não estava prestes a começar agora. Além
disso, talvez fosse o melhor.

— Feche os olhos — disse ele.

— Vá para o inferno — A morte dela poderia ser o melhor, mas isso não
queria dizer que ela facilitaria para seu assassino. Wade teria que olhar em
seus olhos quando terminasse com sua vida.

Desta vez, ela ouviu o tiro. Mas não o sentiu. Sangue pulverizou em
todos os lugares, espirrando nas árvores, na neve, no rosto dela. Wade caiu no
chão, o topo de seu crânio desaparecido. E de pé, onde estava o corpo de Wade,
estava agora o lobisomem por quem ela percorreu todo o caminho no meio do
nada.

E apesar de sua visão estar sumindo, ela poderia dizer que ele não
parecia feliz em vê-la.

†††††

Filho da puta.

Luc olhou para a Guardiã do sexo feminino cujos pálidos olhos azuis
estavam vítreos e ele sabia que ela estava prestes a perder a consciência. Tão
certo como ele apontou a coronha de sua espingarda para a neve, ela
contorceu-se como um besouro morrendo, o rosto pálido pela perda de sangue
e pelo frio e ela sangrava um rio quente na neve.

Karlene.

Jesus. A última vez que a viu foi no Egito, onde a conheceu. E


transaram. E então se separaram sem uma palavra e Luc não esperava vê-la
novamente.
Então o que diabos ela estava fazendo aqui? E por que seu companheiro
Aegi estava tentando matá-la? Será que eles sabem seu segredo?

Agora, isso não importa. Ela estava sangrando até a morte, a anormal
nevasca do final da primavera estava piorando e havia, sem dúvida, outro Aegi
aqui em algum lugar. Os caçadores de demônios raramente trabalhavam sozi-
nhos.

Praguejando, ele pendurou o fuzil no ombro, pegou Karlene em seus


braços e forjou seu caminho de volta para sua cabine. Ela estava sangrando
muito, mas não podia arriscar ser seguido por um Guardião e, assim, teve que
tomar um longo caminho de volta, um caminho que o levou ao longo de um
leito que poderia esconder seus rastros, se a tempestade não o fizesse.

Finalmente, molhado, gelado e exausto, ele chegou sua cabine. No inte-


rior, o fogo ardia e o cheiro de coelho guisado permeava o ar. Em seus braços,
a mulher gemeu. O som era esganiçado, fraco e ele precisou apressar-se.

Cuidadosamente, ele deitou-a perto da lareira e, em seguida, retirou o


tapete de pele de urso perto do canto sul da sala. Noz e grãos de madeira
natural escondiam a escotilha que ele instalara e que foi oculta por uma
feiticeira, mas com uma batida bem colocada com a lateral de seu punho sobre
um nó especial a porta abriu-se. Instantaneamente, uma rajada de ar gelado
soprou seu cabelo na altura do queixo preto para longe de seu rosto e secou os
olhos. Ele teria que ter uma fogueira lá em baixo ou Kar iria congelar até a
morte antes que tivesse uma chance de sangrar completamente.

Gentilmente, ele pegou-a e levou-a, descendo os íngremes degraus. A


sala estava escura por baixo, roubando luz apenas a partir das ripas no andar
de cima. Ele deitou-a no leito de palha, acendeu um fogo na lareira que foi
habil-mente exalado pela chaminé acima e correu de volta para as escadas.

Depois de pegar seu material de saltar e um par de cobertores, ele ajoe-


lhou-se ao lado dela e colocou luvas nela. Seu rosto levemente sardento estava
pálido, seu curto cabelo loiro morango emaranhado em sua cabeça e ela já não
parecia a maldita resistente Guardiã que foi de igual para igual com ele
durante a batalha de luxúria induzida de sexo entre lobisomens. Ela parecia
vulnerável e frágil e, agora, ele era sua única esperança de sobrevivência.

Trabalhando rapidamente e com precisão, ele passou pelo ritual ABC


padrão (vias aéreas, respiração, circulação) e não ficou muito feliz com os
resultados. Seu pulso era rápido e filiforme, sua respiração custosa e, caramba,
ele desejava que fosse um médico em vez de um paramédico.

Ele pegou uma tesoura para cortar seu casaco, a camisola por baixo e a
camisa térmica de seda. A menina estava definitivamente preparada para o
frio. Pena que ela não estava preparada para as duas balas que dilaceraram seu
ombro e braço.

A carne estava desconfigurada, perfurada pelo osso, feio, como hambúr-


guer. Rastros negros espalharam-se como cipós das feridas, através de seu om-
bro e no peito, alongando e ramificando enquanto observava.

Bala de prata. Então, o Aegis definitivamente sabia o que ela era, um


warg nascido. Ele viu a marca de nascença em forma de lua crescente na sola
de seu pé quando foi despida. Se não fosse por isso, Luc a teria deixado morrer
na neve. Ele não correria nenhum risco, sorte dela que ele havia acabado de
receber uma chamada em seu telefone por satélite de Con, dando a ele a mais
recente atualização da FS. Apenas Wargs transformados foram afetados. Isso
era uma sorte para os bastardos nascidos.

As feridas estavam ruins. Kar precisava ir para a UG, mas o Harrowgate


mais próximo era a dois quilômetros de distância e na nevasca levaria horas
para chegar lá, se conseguisse chegar lá. Ele tinha um snowmobile10, mas não
faria muito bem neste tempo e o barulho poderia atrair qualquer Aegi nas
proxi-midades.

E eles ainda estavam há duas semanas da lua cheia, o que significava


que não havia esperança para Kar transformar-se e curar suas feridas.

Se ele não buscasse ajuda médica real, essas feridas iriam matá-la.

No entanto, ele poderia ganhar tempo. As balas de prata precisavam


sair. O veneno espalhava-se por seu corpo e já havia atingido seu abdômen e,
nesse ritmo, ela estaria morta dentro de uma hora.

— Kar? — Ele falou em um tom baixo e suave enquanto vasculhava o kit


médico em busca de seus fórceps. — Isto vai doer. — Ela não respondeu e ele
esperava que ela estivesse muito longe para sentir o que ele estava prestes a
fazer.

Puxando um fôlego revigorante, ele cavou ao redor aprofundando-se no


buraco que a bala fez ao atravessar seu braço e inseriu entre a quarta e a quinta
costelas. Ele tirou a bala de seu corpo e jogou-a no lixo. Esses bastardos Aegis.

Ele desprezara-os por mais de noventa anos, desde o dia que quase o
mataram quando ele mudou para sua forma de lobisomem. Mas seu ódio atin-
giu um novo patamar três anos atrás.

Ula.

10Uma moto de neve, também chamada de motoneve, mota de neve ou snowmobile, é um veículo misto entre uma
motocicleta e um carro desenvolvido para andar em lugares com neve, possui tração traseira por esteira com cravas
para melhor estabilidade e pás na parte dianteira.
Maldição. Ele não teve nem tempo de tentar viver com a mulher que
queria tomar como parceira. De qualquer maneira, ela estava morta e sua
morte nas mãos dos assassinos Aegis tomou muito tempo em seus pesadelos.

A segunda bala estava mais difícil de remover. Ele foi forçado a fazer
uma incisão para alargar a ferida e Kar, embora não tenha acordado, gemeu. A
bala de prata fixou-se em seu úmero e tudo em torno dele estava escurecido
com o veneno.

Praguejando, ele trabalhou a bala com a pinça e, enquanto puxava, Kar


gritava em agonia. Seu corpo tremeu e ele teve que usar seu peso para segurá-
la.

— Quase pronto — ele grunhiu, enquanto ele a prendia e esperava ela se


acalmar. Levou um minuto, mas ela acalmou-se e aquietou-se, misericordiosa-
mente perdeu a consciência novamente.

Luc trabalhou rapidamente ao fim, mas demorou uma eternidade para


conseguir costurar as feridas e tampá-las. Não foi o suficiente. Ela perdeu
muito sangue, provavelmente tinha uma hemorragia interna e se ele não a
levasse rápido ao UG, ela morreria.

†††††

Kynan Morgan não podia acreditar que estava fazendo isso. Nenhum ser
humano em sã consciência iria conscientemente andar no prédio que abrigava
o Conselho Warg. Especialmente se você fosse um membro do Aegis.

Mas então Kynan não era completamente humano, provavelmente não


estava em seu juízo perfeito e ele definitivamente não estava sem defesas. Não,
o amuleto no pescoço, Heofon, poderia ter colocado o peso do mundo em seus
ombros, mas vinha também com um legal encanto de invencibilidade que não
significava nada, mas um anjo caído poderia prejudicá-lo.

Muito legal.

Ok, Lore poderia matar Ky, mas eles trabalharam suas diferenças um
tempo atrás. A maioria delas. O demônio ainda gostava de agulhá-lo, mas era
recíproco.

Kynan ficou no limiar da antiga ruína de um prédio que, provavelmente,


abrigara, ao mesmo tempo, a nobreza russa. Agora ele estava destruído e
quando uma mulher de cabelos escuros com olhos desconfiados gesticulou
para ele segui-la para dentro, ele percebeu que o interior estava em pior forma
do que o exterior.

Pisos de pedra em ruínas e paredes lascadas o cumprimentaram, apesar


dos tapetes em tons vibrantes de vermelho e ouro estarem do lado de fora.
Vasos de plantas e árvores que cresceram no chão deram ao ambiente uma
sensação de estar ao ar livre, o que fazia sentido, dado que wargs,
especialmente os nascidos, eram basicamente animais selvagens.

A fêmea parou diante de uma sala que poderia ter sido uma vez uma
grande biblioteca. Ela ainda abrigava livros, mas a maioria deles estavam ama-
relados com a idade e a poeira. Dois homens estavam no centro da sala e
enquanto Kynan entrava na casa, percebeu o movimento atrás dele.

Ele não se precisou virar para saber que acabara de ser cercado e preso.
Os wargs definitivamente não queriam correr nenhum risco.

O maior dos dois, um com o nariz largo e cabelo desgrenhado


avermelha-do, estreitou os olhos para Kynan.

— Você deve saber que nenhum Guardião nunca pôs os pés na sede do
Conselho Warg. Como você nos encontrou?

— O Aegis tem maneiras. — Na verdade, eles procuravam este lugar há


décadas e eles ainda não sabiam onde ele estava. Kynan e Wraith rastrearam
ontem, o demônio poderia encontrar qualquer coisa, especialmente agora que
ele estava tão encantado como Kynan. — Quem é você?

Red zombou.

— Valko. — Ele acenou para o branquelo. — Este é Raynor. E seu nome


para que possamos notificar o parente mais próximo?

Cara engraçado.

— Eu sou Kynan.

— E por que está aqui, Kynan? — Raynor perguntou. — Você tem infor-
mações sobre a praga que está matando nosso povo?

— Se ele tivesse, você acha que nos diria? — Valko zombou. — O Aegis
não quer nada mais do que nos ver extintos.

— Isso não é verdade. — Kynan tirou os óculos e pôs no bolso. — O


Aegis tem matado menos lobisomens ultimamente e você sabe disso. — Graças
a Tayla e Kynan, o Aegis passou por diversas mudanças, que incluíam uma
políti-ca de captura em vez de morte para a maioria dos lobisomens. Contanto
que não prejudicassem os seres humanos, os lobisomens eram deixados em
paz. Pelo menos, eles deveriam ser. Nem todos no Aegis concordaram com as
novas políticas que tentavam evitar a morte das espécies não nocivas do
submundo e era difícil para as células individuais da polícia Aegis.

— Então, por que você está aqui?

— Porque eu preciso de informações sobre uma nova espécie de lobiso-


mem.

Valko franziu a testa.

— Raça nova?

— Uma que muda durante a lua nova em vez da lua cheia.


Ambos os wargs arregalaram os olhos. A expressão de Valko transfor-
mou-se em pedra.

— Não há tal coisa.

— Há. — Kynan estalou os dedos, preparado para também quebrar


cabe-ças, se fosse necessário para conseguir algumas respostas. — Um deles
está fugindo de Guardiões que estão atrás dela e estou tentando salvar sua
vida.

E então algumas cabeças iam rolar por isso. O pai da Guardiã, ele
mesmo um Aegis, entrou em contato com o Sigil em pânico, temendo que sua
filha estivesse em perigo. Com certeza, depois de um pouco de instrução,
Kynan descobriu que, ao invés de trazer o assunto ao Sigil, a célula da Guardiã
decidiu ignorar as novas políticas e fazer justiça de acordo com as leis antigas.

— Nós já perdemos o contato com o Guardião que a caçava — Kynan


continuou. — Então, eu quero saber o que diabos está acontecendo com ela e
por que ela foi para os Territórios do Noroeste.

— Independente do que ela seja, você precisa matá-la — disse Valko,


pe-gando Ky de surpresa. — Abominações são sempre perigosas.

Raynor endureceu e uma corrente de tensão correu pela sala.

— Você acha que quem não nasceu warg é uma abominação.

— Isso não foi o que eu disse — Valko disse em uma agradável voz zom-
beteira. — Vocês varcolac são muito sensíveis. Nem tudo é sobre vocês. — Ele
voltou-se para Kynan. — Não sabemos nada sobre wargs que podem mudar
durante a lua nova. Eu sugiro que você mate a mulher e esqueça isso.
Valko estava mentindo, mas claramente, ele não ia desistir de nada. E já
que ninguém havia falado com ele, nem mesmo Eidolon ou o R-XR ouviu falar
de qualquer tipo de warg que se transformava na lua nova, Kynan estava em
um beco sem saída.
— Nossa espécie enfrenta a extinção.
O Primeiro Executor do Conselho Warg fez seu pronunciamento severo
enquanto se inclinava sobre a mesa onde nove outros membros estavam senta-
dos, seus punhos plantados firmemente no tampo de carvalho manchado.
Como tantos outros wargs nascidos, Ludolf tinha cabelo negro, olhos
castanhos e uma queda pelo drama.

— Isso é um exagero — Con disse calmamente, apesar de que por


dentro ele estava tudo, menos calmo. Ainda em seu uniforme de paramédico,
ele viera direto para o esconderijo em Moscou depois de deixar Sin e enquanto
ele anteci-pava o temperamento flamejante comum entre os wargs nascidos e
transforma-dos, ele não esperava que eles o atacassem da maneira que eles
fizeram. Ansio-sos por informação do Underworld General do único membro
do Conselho com informações internas, eles praticamente o arrastaram para
dentro da sala, que era uma câmara grande em um porão de um prédio que o
Conselho possuía desde que mudou de seu reduto romeno há mais de um
século.

O interrogatório, de todos os lados, começara no momento que ele


tomou seu assento como o único representante da raça dampira.

— Um exagero? — Valko, o líder do Conselho, bateu seu punho na


mesa. — É isso que seu chefe lhe falou? Eu acho que ele falaria qualquer coisa
para proteger a preciosa irmã dele.

Sem dúvidas a respeito disso. Mas Eidolon também estava trabalhando


demais para achar uma cura. Conall ficou de pé para enfrentar os outros.

— Eidolon está fazendo progressos...

— Que tipo de progressos? — Isso veio de Raynor, um dos quatro


membros do Conselho de wargs transformados. — E Sin deveria ter sido morta
há muito tempo pela participação dela nisso.

Por alguma razão, um rosnado começou no peito de Con, mas ele conse-
guiu esmagá-lo.
— Sin pode ser uma resposta para a cura — ele atirou de volta. —
Eidolon está fazendo experimentos com as habilidades dela enquanto falamos.

— Eidolon — Valko cuspiu. — Eu não confio nele. Ele é um traidor para


todos os seres do submundo. Qualquer um que tome como companheira uma
Aegis é somente merecedor de desprezo. — As sobrancelhas dele despencaram
para enquadrar um olhar assassino. — Falando de Aegi, você trabalha com um
chamado Kynan no hospital?

— Eu costumava trabalhar — Con disse. — Ele pediu demissão há um


tempo. — Demitiu-se para tornar-se um Ancião, um dos doze membros do
Sigil que comandava o Aegis, mas Con não achava que Valko precisava saber
disso. — Por quê?

— Porque ele acabou de sair alguns minutos antes de você chegar. Você
contou para ele como nos encontrar?

Con piscou.

— Kynan esteve aqui?

— Sim. Aparentemente o Aegis está caçando um warg Feast e ele queria


informação.

Isso causou um tumulto entre a multidão. Originalmente criado há


milhares de anos por uma aberração de acasalamento entre um demônio e um
warg, as abominações resultantes foram escravizadas e criadas por demônios
para matar outros wargs. Embora eles não sejam mais escravizados, os Feasts
ainda possuem um instinto inato para matar lobisomens. Eles eram tão
despre-zados e temidos que nem sequer possuíam um representante no
Conselho. Provavelmente porque seriam mortos na hora.

Sem exceções.

Os lábios de Ludolf descascaram-se de seus dentes.

— Você não contou nada para ele?

— Claro que não — Valko estourou, porque era realmente uma


pergunta idiota. Ninguém queria que o Aegis soubesse sobre os wargs Feast. O
medo de que os caçadores usassem os Feasts para caçar varcolac e pricolici
era muito grande. — Eu dei a entender que tal warg é bem único e disse para
ele matá-la. Mas eu dispensei uma equipe para caçá-la.

— Eu também — Raynor disse e sim, agora haveria uma competição


entre os transformados e os nascidos para ver quem conseguiria a cabeça da
mulher primeiro. Que pena para ela, mas no momento o Conselho tinha
proble-mas mais sérios.

Con prendeu o olhar com cada membro do Conselho um por um, sete
homens e três mulheres, começando com o warg transformado de mais baixo
escalão até Valko.

— Nós descobrimos que o vírus afeta apenas os varcolac.


Silêncio caiu como um machado. Por um momento, ninguém nem ao
menos respirou. Em seguida, bem repentinamente, a sala explodiu em xinga-
mentos dos wargs transformados e os não tão sutis “Graças aos deuses” dos
wargs nascidos.

Raynor ficou de pé com tamanha violência que a cadeira dele voou para
trás e arrebentou-se contra a parede.

— Graças aos deuses? Seus bastardos racistas!


Valko ficou de pé.

— Acalme-se. Ninguém está feliz sobre esta virada de eventos, mas isso
significa que os wargs não estão fadados à extinção.

— Não — Raynor rosnou. — Somente nós, cidadãos de segunda classe,


mas quem liga para isso, certo?

— Basta! — Con gritou. — Discutir não irá resolver nada. O importante


é que nós sabemos quem está em risco.

— E isso nos ajuda como, maldito dampiro?


Con odiava esse insulto, somente o tolerava vindo de Luc porque eles já
tinham um relacionamento antagônico de qualquer forma. Seu temperamento
flamejou e ele mostrou suas presas para a mulher que atirara a ofensa a ele.
Sonya devolveu a demonstração de agressão, seus dentes deslumbrantemente
brancos contra sua pele escura e rica que ele sentiu sob as mãos em uma noite,
não muito tempo atrás.

— Significa que os wargs nascidos não precisam mais se isolar — Ludolf


disse alto, arrastando a atenção de todos de volta para ele. — Nós podemos
reunir os varcolacs...

— E dar a vocês puros-sangues uma desculpa para nos tratar ainda


pior? Você irá nos colocar em algum tipo de campo de concentração? —
Raynor zombou. — Eu não descartaria os pricolici terem começado esta praga
em primeiro lugar como uma maneira de se livrar de nós.
Valko deu a volta na mesa, o aroma amargo de ameaça o seguindo.

— Isso é ridículo.

— É? — Raynor moveu-se para encontrar o homem maior, um plano


que poderia terminar com a garganta dele arrancada.

— Isso não foi um plano para exterminar os wargs transformados. —


Conall colocou-se entre os dois homens. Se eles queriam derramar sangue, ele
não estava nem aí, mas uma batalha agora iria requerer sua participação e, se
ele sangrasse, ele poderia colocar os transformados na sala em risco por causa
do vírus que carregava. — Mas uma coisa é certa: nós não podemos deixar isso
vazar. Se os membros do Conselho, pessoas que deveriam ter mentes
equilibra-das, acreditam que há uma conspiração, pense a respeito do público
em geral. Poderíamos ter uma guerra civil em nossas mãos.

— Então você está sugerindo que continuemos a deixar os cidadãos


pricolici viverem com um medo desnecessário? — O tom enojado de Ludolf
deixou claro o que ele pensava da ideia.

— Oh, sim, nós não queremos que os preciosos puros-sangues sofram


juntamente com nós vira-latas, não é? — Yasashiku disse.

Merda. Esta reunião iria terminar em uma grande luta de cachorros em


um minuto. Cada pessoa na sala era um alfa e, apesar de haver uma hierarquia
dentro de cada uma das sociedades pricolici, varcolac e dampira, a classe não
significa nada fora a sociedade individual. E pela maneira que a agressão
estava voando através do ar cheio de tensão, isso não iria ser um pequeno
tumulto. Pelos iriam voar.

— O que você acha, Conall? — Valko perguntou. — Já que sua raça não
é afetada por nada disso, qual é sua opinião?

— Eu já te falei o que eu acho. Nós precisamos ficar em silêncio por ago-


ra. Não podemos deixar que a histeria nos separe mais do que já estamos —
Ele também deveria manter silêncio a respeito do fato que a raça dele
aparentemen-te era afetada.

— Nós? — Raynor zombou. — Ninguém persegue vocês dampiros. Você


nasceu dessa forma. Não foi feito contra sua vontade.

— Pelo amor de Sirius, pare com a reclamação! — Ludolf gritou.


Sonya circulou Ludolf.

— Você nos culpa?


Era verdade. Os wargs transformados eram desprezados como seres
infe-riores. Varcolacs eram sub-representados no Conselho, suas palavras e
opiniões pesavam menos do que as dos wargs nascidos e seus problemas eram
tratados como triviais. O direito de voto foi dado a eles há apenas dois anos, o
que ainda incomodava a maioria dos membros pricolici do Conselho. Somente
os wargs Feast eram desprezados com ainda mais desdenho.

— Colocaremos isso em votação. — Con apertou seus punhos para


evitar bater algumas cabeças juntas se alguém discordasse. Ele não era um
diplomata. — Aqueles a favor de manter isso embaixo dos panos, por
enquanto?

Todos, menos dois membros, ambos pricolici, ergueram suas mãos,


selando a decisão.

— Está acertado, então. — Con arrancou sua jaqueta de couro das


costas da cadeira. — Nós podemos nos encontrar novamente em uma semana,
ou mais cedo se Eidolon fizer alguma descoberta.

— Espere, dampiro — Valko disse. — Ainda há o problema do que se


fazer com Sin.

Con eriçou-se.

— O que você quer dizer com “o que se fazer com Sin”?

— Ela deve ser responsabilizada. Você irá trazê-la até nós.


Con controlou sua expressão para esconder sua surpresa. Valko
exigindo justiça por algo que era um problema dos wargs transformados era
extrema-mente incomum.

— Sin não começou essa epidemia intencionalmente.

— Um motorista bêbado não quer causar um acidente, mas na corte


humana ele será responsabilizado.

— Desde quando você se preocupa com os problemas humanos? — Con


perguntou. — As leis humanas não se aplicam a ela e por Sin ser um demônio
Seminus, ela não está sujeita a lei warg também.

Valko mexeu seus dedos, sua expressão estranhamente neutra.

— Nós iremos apresentá-la ao Conselho Seminus para punição.


Opa. Ok, já era estranho o bastante que Valko quisesse justiça, mas
fazer isso através dos meios oficiais, ao invés de matar Sin, era quase
inacreditável. Algo estava errado.

— E se eles decidirem que ela não fez nada de errado?

— Então nós envolveremos os Negociadores de Justiça e o Maleconcieo.


Ah, ok. Momento lâmpada acesa. Eidolon foi criado pelo Judicia, demo-
nios cujo único propósito era medir a justiça dos demônios, e por anos ele
serviu da mesma maneira que eles, como um Negociador da Justiça. Se os
Negociado-res e o Maleconcieo, a autoridade máxima dos demônios que
presidia todos os outros Conselhos de demônios, estavam envolvidos, Eidolon
seria trazido para o meio e ele poderia muito bem ser forçado a executar a
punição de Sin... prova-velmente na forma de morte.

Valko desprezara Eidolon por anos, desde o dia que o doutor falhou em
salvar o filho de Valko após ele levar um tiro de prata de um Aegi. Eidolon
juntar-se posteriormente com uma Aegi apenas aumentou o ódio de Valko.
Valko amaria ver Eidolon forçado a matar sua própria irmã.

Con observou a sala. Antecipação brilhava nos olhos de todos os wargs,


como se eles já estivessem sentindo o cheiro de sangue no ar.

— Eidolon precisa dela para encontrar uma cura ou para desenvolver


uma vacina.

— Então talvez devêssemos envolver os Negociadores de Justiça agora


— Raynor falou. — Se ela estiver presa, ela não terá escolha a não ser se
submeter aos testes e tratamentos de Eidolon.

— Você está sugerindo que ela fugirá? — Con perguntou. — Ela não vai
fazer isso. Ela está comprometida a terminar com esta epidemia.

Ceticismo misturava-se à voz de Valko.

— Você tem uma semana.

— Uma semana não é o bastante...


Valko ficou de pé.

— Você irá grudar nela como cola por uma semana e, depois disso, você
a trará. Se Eidolon ainda estiver procurando uma cura, nós deixaremos o
Conselho Seminus decidir o que fazer com ela. Mas ela irá enfrentar a justiça
por isso.
Xingando, Con seguiu para a porta, recusando-se a ficar naquela sala
por nem mais um minuto. Aquelas duas sociedades eram bombas-relógio. E
com esta doença se espalhando mais rápido do que a Peste Negra fizera, a
última coisa que o mundo necessitaria era uma guerra civil warg.

†††††

Valko e Ludolf permaneceram para trás na sala de conferência após


todo mundo ter ido embora. Valko confiava em todos os membros pricolici do
Conselho, mas ele foi criado com Ludolf no clã Botev e não havia ninguém que
ele confiasse mais do que um bastardo implacável que havia matado o líder do
clã deles e então entregado o controle como alfa do clã para Valko.

Ludolf recostou-se em sua cadeira de couro, seu olhar de pálpebras


pesadas varrendo tudo entre a porta fechada e Valko.

— Você acha que eles acreditaram?

— Acreditaram no quê, Dolf? — Valko perguntou inocentemente.


Ludolf fungou.

— Não brinque dessa forma comigo. Eu conheço você muito bem e você
é muito ardiloso. Quando você ouviu que somente os varcolac eram afetados
pela praga, suas engrenagens começaram a rodar. — Ele colocou seus pés em
cima da mesa. — Então? Eles acreditaram?

Houve um longo silêncio enquanto Valko considerava o nível de


inteligência de cada membro. A maioria dos wargs transformados eram débeis
mentais com instintos patéticos, mas não podia subestimá-los, especialmente
Raynor. E Con, como um dampiro, definitivamente não era estúpido.

— Os varcolac não querem acreditar que podemos nos importar com a


condição deles, mas sim, eu acho que eles acreditaram que minha proposta foi
genuína. Eles estão cientes que eu quero Eidolon no chão, afinal de contas —
Ah, sim, o ódio de Valko por Eidolon era bem conhecido, então ninguém
suspeitaria que a sugestão dele de envolver os Negociadores de Justiça e o
Conselho Sem era bem mais do que apenas punir Eidolon e a irmã dele.

— E Sin?
Valko não tinha nada contra Sin. Não no momento, de qualquer forma.
Na verdade, ele gostaria de agradecer a ela por iniciar a epidemia que estava
matando os varcolac. Mas ele tinha um plano para ela.

— Você ainda está em contato com seu irmão?


Um lento sorriso esticou-se nos lábios finos de Dolf. Seu meio irmão
estava escondido pelas últimas três décadas por crimes contra outros wargs,
mas eles não perderam contato completo.

— Eu posso estar.

— Bom. Diga a ele que se ele enviar a cabeça de Sin para Eidolon sem
ninguém descobrir quem foi responsável pela morte dela, o Conselho Warg irá
perdoar suas transgressões passadas e dar a ele um lugar no conselho. Se Con
for pego no fogo cruzado, ainda melhor.

— Você é maléfico. Os transformados irão ser culpados por se vingarem.

— E nós vamos sentar e vê-los serem destruídos, se não pelo vírus,


então por nós, com a total cooperação do Conselho Seminus. — Valko não
conseguia conter o tom de expectativa em sua voz.

— Você realmente acredita que os Sems irão para a guerra por causa da
morte de uma fêmea mestiça?

— Claro que não. Mas eles ficarão bravos o bastante para ficarem de
nosso lado quando a guerra começar.

— E por que uma guerra vai começar?

— Porque — Valko disse — nós iremos vazar o fato de que a doença


afeta somente varcolacs e uma vez que os canalhas transformados começarem
com suas teorias de conspiração e presumirem que nós somos os responsáveis
pela doença...

— Eles nos atacarão. — Dolf sorriu — E nós finalmente teremos a


desculpa que precisávamos há séculos para destruir aquelas abominações.

— E — Valko adicionou — dependendo de que lado os dampiros


fiquem, nós poderemos ser capazes de acabar com eles também. O mundo de
metamor-fos caninos será finalmente purificado.

†††††
Quando ele saiu pela parte traseira do edifício do Conselho Warg, Con
sentiu a presença de outro dampiro. O terreno tipo parque espalhava-se por
meio acre, o bosque de árvores próximas da parede mais distante da
propriedade ocultando o único Harrowgate em um raio de três quilômetros. O
cheiro de warg era forte ao redor do portal; qualquer espécie com um decente
senso meia boca de cheiro iria segui-lo de volta para o Harrowate ou para
longe do prédio do Conselho imediatamente.

A menos que eles estivessem lá por uma razão e enquanto Bran emergia
das sombras da floresta, Con sabia que isso não iria ser agradável.

Bran era, como muitos dampiros gostavam de dizer, um assustador filho


da puta.

De pé ele tinha mais de dois metros de altura e uma estrutura igual à de


um touro, o cara não precisava fazer nada para as pessoas saírem de seu
caminho. Mas era seu olho direito que ele já não tinha mais e a cicatriz que
percorria desde sua têmpora direita até o lado esquerdo de seu queixo o que
completava tudo. Bem, isso e o tanque cheio de loucura que brilhava em seu
olho bom.

Ele manteve sua longa e prateada juba presa em um rabo de cavalo para
que nada obscurecesse a bagunça que era seu rosto.

— Conall — a voz rouca de Bran vibrou profundamente no peito de Con.


— Nós precisamos conversar.
Con cruzou seus braços por cima do peito.

— Eu não acho que você veio até Moscou porque a vodka é muito boa.
— Provavelmente não era a maneira mais inteligente de falar com um membro
veterano do Conselho Dampiro, mas Con não se curvava e bajulava ninguém
há um longo tempo.

— Aisling foi para a noite.


Um arrepio percorreu a pele de Con. O que acontecia com os dampiros
quando eles morriam era mantido em um forte segredo entre seu povo... O
maior segredo, na verdade. Falar sobre isso era proibido, mesmo dentro de
nossa própria espécie. Fora de nosso povo, eles eram compelidos a permanecer
em silêncio.

Compelidos, no sentido místico da palavra. Cada dampiro possuía uma


incapacidade inata de falar detalhes sobre, ir para a noite. As palavras
simples-mente não vinham e nenhuma quantia de tortura poderia forçar um
dampiro a discuti-la.
— Aisling era tão jovem — Con murmurou. Ele gostava de sua prima de
segundo grau de três séculos de idade, uma voz forte na comunidade diminuta
de dampiros que tivera dois bebês e carregava um terceiro. — O bebê...

— Morto.

— Como isso aconteceu?

— Acidente de carro. — A virada viciosa do lábio superior de Bran disse


que o motorista provara a justiça dampira. — Nós tivemos sorte em ter recupe-
rado o corpo dela... Seu carro passou por cima de um penhasco e caiu no ocea-
no.

— Sinto muito sobre a Aisling, mas por que entregar as notícias pessoal-
mente?

— Porque eu queria ser aquele a lhe dizer que você irá ocupar o lugar
dela no Conselho e que você irá participar da próxima época de reprodução.

O xingamento de Con puxou uma longa respiração e, droga, ele desejava


ainda fumar. Mas fumar tornara-se enfadonho, não importava o quanto ele
colocasse no cachimbo ou enrolasse a seda.

Por quanto tempo ele quis isso mesmo? Assumir os deveres de seu pai,
guiar o clã para a prosperidade e boas caçadas? Mas não dessa maneira. Não
porque eles tinham um assento para preencher e ele era o último adulto na
linha real de seu pai. Eles deviam pedir a ele para voltar porque queriam a
opinião dele, sua experiência. Não porque precisavam de seus genes.

O estômago dele deu alguns pulos enquanto ele erguia seu olhar para
Bran.

— Não.
O punho de Bran estalou, pegando a mandíbula de Con. Foi um golpe
leve, uma pequena punição para os padrões dos lobos, mas doeu.

— Seu filhote! Você não diz não para seu alfa.


Muito lentamente, para não provocar Bran, Con baixou os braços para
os lados e ampliou sua postura.

— Eu tenho um assento no Conselho Warg, um trabalho no Underworld


General...

— Você desistirá deles — Bran latiu. — Yordan tomará seu assento no


Conselho Warg e eu duvido que aquele hospital de demônios sinta sua falta. —
O grande macho aproximou-se, tão próximo que se Con respirasse muito
profundamente, seus peitos iriam tocar-se. — Você irá voltar para casa e
tomar seu lugar na sociedade dampira. Nós fomos pacientes contigo, deixando
passar suas abstinências durante as temporadas de acasalamento, deixando
você sair por aí, fora de nosso alcance, mas é hora de você acomodar-se e
cumprir com seus deveres como realeza dampírica.

Deixando-o sair por aí? Acomodar-se?

— Eu acho, velho, que você me confunde com algum jovenzinho filhote.


Você expulsou-me do clã. Foi somente o pedido de Aisling que convenceu o
Conselho a permitir que eu voltasse durante as marés de lua cheia. Agora você
de repente quer que eu volte e nunca vá embora novamente, exceto para
conduzir negócios e alimentar-me?

E já que os dampiros homens eram propensos a viciar-se em sangue se


eles se alimentassem do mesmo indivíduo muitas vezes, eles definitivamente
precisavam deixar o santuário dampírico para encontrar sua alimentação.

Con tinha mais do que experiência suficiente com isso agora para saber.

Bran rosnou e Con preparou-se. A batalha verbal era algo que ele podia
ganhar. Mas se Bran atacasse...

Con encontrou-se no chão, deitado por um punho carnudo. A dor


serpen-teou através de seu rosto, sinos tocaram e estrelas de verdade
rodopiaram em sua visão. Bran acertou Con nas costelas e, filho da puta, isso
doeu.

Rolando para evitar outro ataque, ele chutou, pegando a parte de trás
dos joelhos de Bran e derrubando-o ao chão. Enquanto o outro dampiro
atingia o chão, Con deu um soco que mandou Bran derrapando em sua bunda
por vários metros. Con mergulhou, conseguindo outro golpe, o barulho
ressoando pelo ar fresco da noite.

No final, Con teria que perder esta briga. Oh, ele podia derrubar o
dampiro de três mil anos de idade, mas ganhar seria interpretado como
derrotar um alfa e Con teria que se encontrar não somente de volta no clã, mas
no comando dele.

Fúria acendeu o fusível para a situação de perder ou perder e, depois de


ter conseguido mais alguns socos bem colocados, ele virou de costas e permitiu
que Bran, cuja boca enchia-se com seu próprio sangue, o imobilizasse. Bran
prendeu sua mão em torno da garganta de Con e apertou, cortando sua
respiração.
— Seu vira-lata insolente — ele sibilou. — Você é um desgraçado
mimado que deveria ter sido derrubado do salto a séculos atrás. Nós tivemos
pena de você depois da morte de sua mãe, mas você não aprendeu com isso,
não é?

“Foda-se”, Con balbuciou, mesmo com seus pulmões começando a


queimar pela falta de oxigênio.

— Não te incomoda nem um pouco? — A voz de Bran era um ronronado


grave, como se ele estivesse gostando e odiando atormentar Con. — Você se
arrepende de ter se deixado dominar pelo vício em sangue? Você ao menos
pensa na mulher que morreu porque você não tinha controle? Você já pensou
em como Eleanor morreu?

“Vá. Para. O Inferno”.

Lentamente, Bran soltou seus dedos e Con puxou uma golfada grata de
ar.

— Você irá retornar e você irá tomar seu lugar no Conselho. Você vem
comigo agora.

— Não posso — Con começou a debater-se contra o corpo pesado de


Bran e a mão que apertava seu pescoço de novo.

— Eu levar-te-ei a força, Conall. — O joelho dele acertou a virilha de


Con, efetivamente colocando um fim a luta. E talvez aos futuros filhos também.
— O que vai ser?

— A doença que está matando os wargs é uma ameaça para todos nós —
Con botou para fora. — Você pode ter-me quando a crise acabar.

— Mostre-me sua garganta.


Maldito. Não era o bastante que Con tivesse perdido de propósito a luta;
Bran iria fazê-lo suportar a completa rendição. Rangendo os molares com
tanta força que eles doíam, Con virou sua cabeça para o lado, deixando sua
jugular exposta. Por um longo momento, Bran não fez nada. O pulso de Con
pontuava os segundos e quanto mais Bran mantinha Con submisso nesta
humilhante posição, mais Con começava suar.

— Você fez seu ponto — Con grunhiu.

— Não — Bran disse, com uma risada sádica. — Eu acho que não. —
Ele abaixou sua boca até o pescoço de Con e o coração de Con pulou lá para se
juntar a festa.
— Não. O vírus está em meu sangue.
A respiração quente de Bran sussurrou pela pele de Con.

— Que conveniente.
Muito. Servir de alimento em uma demonstração de dominância nunca
era agradável.

A raspagem dos dentes ao longo da jugular de Con o deixou tenso


porque, igual a Con, Bran nunca foi cuidadoso com sua própria vida e Con não
descartaria que o bastardo louco fosse mordê-lo apesar de a infecção viral
nadar nas veias de Con.

Finalmente, Bran saltou fluidamente e ficou de pé.

— Você tem até a epidemia ser contida ou a época de acasalamento


começar. O que ocorrer primeiro — Ele entrou no Harrowgate e a cortina
cintilante solidificou-se, deixando Con sozinho no pátio.

Sozinho com o conhecimento de que seus dias de liberdade estavam


numerados e com as palavras “Tenha cuidado com o que você deseja”
percorrendo sua cabeça.
— Deixem os corpos baterem no chão.
Bodies11, do Drowning Pool, estourava do iPod Shuffle de Sin e ela
cantava a plenos pulmões enquanto caminhava com Wraith para o PS. Depois
que Con partiu, sem nem mesmo um “Obrigado pela refeição”, Wraith fê-la
parar na cafeteria para um lanche rápido para reabastecer seu açúcar no
sangue ou alguma porcaria assim. Aparentemente, Eidolon, o Grande,
insistira. Algo sobre desmaiar outra vez.

Agora, Wraith estava silencioso como pedra, embora um sorriso


arrogan-te levantasse um canto de sua boca.

— Então — ele disse, puxando seus fones de ouvidos, — você está


traçan-do o paramédico?

Muito para o silêncio sepulcral. Ela adoraria fazer o corpo dele bater no
chão.

— Não que isto seja de sua conta, mas não — Não recentemente, de
qual-quer maneira.

— Mas você quer. — Quando ela abriu a boca para negar, ele a cortou.
— Você não pode mentir para um incubus sobre sexo. Você devia saber disso.

— Tanto faz — ela murmurou e enfiou os fones de volta no lugar.


As botas de Wraith soavam como minibombas batendo no chão obsidia-
no mesmo através do som estridente da música e, a cada passo, seus nervos se
contraíam. Sem dúvida, o efeito era calculado, porque ela sabia que ele podia
se mover como um maldito fantasma quando queria. Mais uma vez, ele puxou
o cabo do fone de ouvido.

— Ele quer você, também.

— Bem, gee12, não é mais esperto do que parece. — Sabendo que a bata-
lha estava perdida, ela desligou o pequeno MP3 player. — Olá, ele é um cara. E

11 Corpos em inglês.
12 Abreviação de geesus, uma forma de falar Jesus.
um vampiro. Ele estava respondendo à alimentação. — E aos feromônios
succubus dela, que tinham uma tendência de atrair a atenção de todos os
homens não incubi, mesmo que apenas subliminarmente. — Qual é seu ponto,
afinal?

Ele encolheu os ombros.

— Apenas puxando conversa.


Besteira. Ele tentava obter o máximo de informações possíveis sobre
ela. Todos seus novos irmãos respondiam de forma diferente sua existência
(Eidolon aceitava isto como se ela estivesse por ali há anos, Shade fazia
esforços extras para construir um relacionamento e Wraith... Ele a mantinha
ao alcance e ela tinha a sensação de que ele o faria até que aprendesse a confiar
nela). Ela entendia; ela era do mesmo jeito. Só porque alguém era
biologicamente relacionado não os tornava família. Definitivamente não os
tornava agradáveis.

Pior, a família tinha o potencial de ferir uma pessoa muito mais do que
um estranho jamais poderia.

— Você não gosta de mim, não é? — Ela perguntou.

— Eu não conheço você.


Ela parou no meio do salão.

— Corta o papo furado.


Ele sorriu.

— Você é uma atiradora direta. Eu realmente gosto disso.

— Mas?
Os olhos azuis de Wraith ficaram vidrados enquanto olhavam para o
corredor, indo para algum lugar que ela não podia seguir.

— Mas nós temos uma história de algumas direções realmente fodidas


na família, começando com nosso pai e terminando com Roag. Lore provou-se,
mas você... Você é um coringa. — Seu olhar deslocou-se para ela e era tão frio
quanto a tundra ártica. — Eu não vou deixar você ferrar com meus irmãos.

— Ferrar com eles? Talvez você possa ter em mente que eu salvei a vida
de dois dos filhos de Shade. E eu nunca quis conhecer vocês de jeito algum. A
única razão para eu passar tanto tempo com vocês como estou é porque
Eidolon e Shade não me deixam em paz.
Eidolon ligava para ela ir ao hospital sobre as coisas relacionadas à
epidemia e Shade sempre a convidava para jantar com sua família para
agradecer o que ela fizera por seus filhos. E com certeza, os trigêmeos, Rade,
Stryke e Blade eram fofos e tudo, mas lidar com criancinhas babonas estava
muito fora de sua zona de conforto.

— Mas você está aqui agora e está em nossas vidas. Então, o que
acontece quando a praga acabar e você não precisar mais vir ao hospital? —
Wraith se aproximou, usando seu tamanho em uma tentativa de intimidá-la.
— Você vai desaparecer?
Ela torceu o pescoço para olhar para ele, mas de maneira nenhuma ela
recuaria.

— Esse é o plano.
Um rosnado baixo retumbou em seu peito.

— Eu não conseguiria dar a mínima, mas meus irmãos? História


diferente. Lore preocupa-se com você. E aceitou você na família e ele não vai
deixar você partir. Shade... Ele perdeu uma irmã que amava e agora precisa de
você para ajudá-lo a curar-se. Ele provavelmente não vê isso, mas mesmo tão
estúpido quanto eu sou às vezes, eu vejo. Então, adivinhe, irmãzinha? Acostu-
me-se a ter-me por perto, porque eu vou ser sua sombra até que tenha certeza
que você não vai ferir nossa família.

Sin praticamente tremeu de raiva.

— Você não me pode dizer o que fazer — ela cuspiu. — E eu não sou sua
irmãzinha. Eu sou mais velha do que você, idiota.

— Duh, os anos que passou como uma humana sem noção não contam.
Todo mundo sabe disso. — Ele estreitou os olhos para ela. — Basta lembrar-se
do que eu disse. Não tente fugir, porque não há lugar na Terra ou em Sheoul
onde eu não possa encontrá-la. — Sua voz era um murmúrio ressoante e
mortal. — E confie em mim, você não me quer em seus calcanhares. — Ele deu
uma rápida meia-volta próximo a ela e partiu pelo corredor, deixando-a
cuspindo como louca e tentada a ir atrás dele, embora não tivesse ideia do que
faria se o alcançasse.

— Sin! — Eidolon fez um gesto para ela das portas duplas balançando
para o PS13. — Eu preciso de você. Agora.

13No original em inglês, ER (Emergency Room, que significa sala de emergência). Também conhecido como Pronto
Socorro (PS).
Sin mentalmente mostrou o dedo médio para Wraith e correu atrás de
Eidolon, que nem sequer esperou para ver se ela o seguia. Ele cruzou para uma
sala perto das portas do estacionamento e arremessou a cortina pesada para
trás.

Lá, deitado em uma cama, estava um homem de cabelos alourados, um


adolescente, talvez, sua pele pálida nos poucos lugares onde não estava
manchada por contusões pretas, sangue vazando pelo nariz, olhos e ouvidos.
Máquinas respiravam por ele, bombeavam fluidos para dentro de suas veias,
monitorando seus sinais vitais. Uma jovem enfermeira humanoide (uma
metamorfa de algum tipo, de acordo com a marca em forma de estrela atrás de
sua orelha) checava o estado dele, seu rosto comprimido com preocupação.

Sin queria vomitar.

— Ele sofreu um acidente?

— Isso é o que esta doença faz. — Eidolon levantou o prontuário do


paciente de um gancho na ponta da cama. — É uma FVH, uma febre viral
hemorrágica. Ela provoca insuficiência multissistêmica, incluindo do sistema
vascular. Órgãos sucumbem e as veias, basicamente, dissolvem-se. O paciente
sangra de todos os orifícios...

— Pare — Horrorizada, Sin cambaleou para trás, batendo em um


armário atrás dela. Deus, o que ela fizera?

Eidolon fez um gesto para a enfermeira.

— Vladlena, podemos ter um minuto?

— Claro, doutor.
Uma vez que ela se fora, Eidolon agarrou os ombros de Sin.

— Sin — Eidolon disse, seu tom muito mais amável do que ela merecia.
— Eu preciso de sua ajuda. Eu preciso que você canalize seu dom nele e veja se
pode forçar o vírus a uma conformidade.

— Eu já tentei com outros wargs há poucos dias. Não funcionou e ele


não estava nem perto de tão ruim quanto esse cara.

— Eu sei. E pode não funcionar com este também. Mas você teve uma
chance de ver como o vírus no sangue de Con foi morto. Se você puder causar
uma reação similar no interior deste warg, ele poderia ter uma chance.

— Droga — ela respirava. — Okay. Sim. — Ela enrolou as mãos em


punhos, em um esforço para não tremer. Passaram-se décadas desde que
qualquer coisa a afetara tão fortemente e ela não tinha certeza de como lidar
com isso, além de enterrando suas emoções profundamente, a maneira que ela
sempre fez.

Tentando se animar, ela gentilmente segurou a mão escurecida e


inchada do warg.

— Por que está tão machucado?

— Ele está sangrando subdermicamente enquanto seus capilares se


rompem.

Querido Deus. Ela fechou os olhos, escavando por cada grama de


distanciamento frio como pedra que possuía. Ela tem sido uma assassina há
anos, fora ao inferno e voltara, literalmente, e ela já viu muito, muito pior do
que isso.

Ela apenas não o causara.

— Por que ele não pode beber meu sangue como Con fez? — Ela abriu
os olhos e moveu seu olhar para Eidolon, as paredes, o chão, porque qualquer
coisa era melhor do que observar o garoto morrer. — Quero dizer, eu sei que
wargs normalmente não bebem sangue, mas isto não forneceria algum tipo de
defesa?

— Funcionou em Con, porque ele é parte vampiro e o sangue que ele


tomou de você foi quase que imediatamente para sua corrente sanguínea. Para
qualquer outra pessoa, o sangue vai para o estômago e é digerido ou regurgita-
do.

Eca.

— Pode injetar meu sangue neles?

— Mesmo se seu tipo sanguíneo humano fosse o mesmo da vítima, você


é parte demônio. Injetar seu sangue diretamente em um lobisomem iria matá-
lo.

Entorpecida, ela assentiu. Forçando-se a olhar para o garoto, porque ele


merecia isto, pelo menos. Lentamente, muito lentamente, suas barreiras
mentais finalmente se colocaram no lugar, bloqueando o horror, a tristeza, a
culpa. Oh, tudo sairia novamente, dolorosamente assim, mas neste momento
ela precisava levantar os escudos que lhe permitissem lidar com isso.

Concentrando-se, ela abriu-se sua habilidade e calor rasgou por seu


braço abaixo do ombro para as pontas de seus dedos, seguindo as curvas e
linhas de sua dermoire. Ela brilhava enquanto seu dom se canalizava para o
lobisomem.

A doença rolou sobre ela, uma lama suja de informação que deixou seu
braço e mente pesados. Em sua cabeça, o visual rodou, ela podia ver os
torcidos e irregulares tentáculos do vírus envolvidos em torno das células do
sangue, espremendo a vida para fora delas. A forma dos filamentos do vírus
era diferente daqueles em Con, mas ela visualizou o modo como o vírus de Con
fora destruído e então ela inundou o warg com poder. Arrepios ferroantes
formiga-ram de seu ombro para as pontas de seus dedos, enquanto ela
imaginava reverter a doença, levando-o de volta para seus estágios iniciais.

Nada aconteceu.

Ela concentrou-se mais forte. Gotas de suor em sua testa.

Ainda nada.

Respirando profundamente, ela desencadeou toda a força de seu poder,


até que parecia que seu braço estava embrulhado em cercas elétricas. Dentro
de seu crânio, uma colmeia de abelhas furiosas zumbia. Distante, ela ouviu
Eidolon chamando seu nome. Seus olhos ardiam enquanto suor pingava sobre
eles.

Resposta fluiu de sua dermoire para sua cabeça... Alguma coisa estava
acontecendo. As células do sangue do lobisomem vibraram e tudo à volta
delas, os filamentos do vírus, partiu-se. Primeiro, foram apenas alguns, mas de
repente, eles explodiam como pipocas. Pequenos pedaços de vírus corriam
através dos vasos.

Encorajada, Sin sondou a rede de veias e artérias do macho e, em toda


parte, o inimigo estava sendo destruído. Sim! Estava sendo tão fácil, uma dose
tão boa, enquanto sua mente rodava a cena em alta definição, ela sorriu.

Os pedaços dos vírus corriam espessos através de sua corrente


sanguínea... Tão espessos que começaram a se amontoar, agarrando-se nas
paredes das artérias... Entupindo os estreitamentos.

Oh, merda. Sin recolheu seu poder e moveu o visual para a área em
torno do coração dele. De repente, os alarmes sonoros e uma enxurrada de
atividades cercaram-na. Ela pegou um vislumbre do coração do warg
apertando-se, então parando, as veias e artérias em torno dele achatando-se
enquanto ficavam entupidas.

Alguém a arrancou dali e ela ficou lá, atordoada e em descrença,


enquanto meia dúzia de funcionários e Eidolon trabalhavam para salvar o
warg. Idess, companheira de Lore e uma ex-anjo, a quem fora dada a tarefa de
acompanhar as almas humanas para fora do hospital, entrou na sala, o que era
um sinal muito, muito ruim. Os lobisomens transformados possuíam alma
humana, por isso, se Idess estava ali...

Enjoada e trêmula, Sin não sabia quanto tempo observara, mas quando
Eidolon praguejou violentamente e indicou a hora da morte, ela saiu da sala
como um zumbi, sem saber para onde ia ou o que estava fazendo. Tudo que
sabia era que seu braço direito coçava, um aviso de que ela estava prestes a
sangrar.

— Sin! Pare! — Eidolon entrou na frente dela e quando levantou a mão,


ela preparou-se para um golpe de punição. Mas, em vez de golpeá-la, ele
agarrou seus ombros, forçando-a a parar. — Não foi culpa sua. Ele ia morrer
de qualquer jeito.

Ela não quis salientar que ainda assim era sua culpa.

— Você pode me dizer o que deu errado?

— Sim — Ela disse, enquanto se torcia para fora de seu agarre. —


Minha mãe psicótica fodeu um demônio e aqui estou eu. — Ela riu
amargamente. — Ela sempre disse que ela era um erro. Acho que herdei isso,
hein? Quero dizer, ela sequer pôde nos abortar depois de comer uma erva
demoníaca que crescia apenas para matar erros. Culpe-me por não ter morrido
direito.

— Ei. — Eidolon estendeu a mão para ela novamente, mas quando ela
deu um passo atrás, ele desceu a mão. Ainda assim, havia compaixão em seus
olhos, compaixão que ela não queria ou precisava. — O que aconteceu com
você quando criança, o que está acontecendo agora... Sinto muito. Eu fui duro
com você...

— Tanto faz. — Ela cortou-o, desconfortável demais com o momento


piegas e impaciente para encontrar privacidade para que quando sua culpa
irrompesse, ninguém testemunhasse sua dor ou tentasse fazê-la parar. —
Vamos apenas descobrir uma maneira de acabar com isso.

Seu irmão era intuitivo o suficiente para saber que ela precisava mudar
de assunto e ele seguia a deixa como se nunca tivesse tentado ficar todo
apologé-tico.

— Diga-me o que aconteceu lá com o warg.

— Havia muito do vírus em seu sistema — disse ela. — Quando o vírus


morreu, entupiu suas veias.

Eidolon pareceu considerar isso.


— Você acha que se chegasse a alguém antes de tanto do vírus estar em
seu sangue, você poderia matar o vírus sem acontecer a mesma coisa?

— Talvez. Mas como isso o ajudaria? Não tem como eu curar cada warg
infectado dessa maneira.

— Não, mas poderíamos ser capazes de usar o vírus morto para criar
uma vacina ou uma cura, estudando como o vírus jovem foi realmente
destruído com seu poder.

Ela franziu a testa.

— Você não pode usar o vírus do lobisomem que acabou... — De


morrer.

Felizmente, Eidolon a poupou de ter que dizê-lo.

— Eu vou pegar amostras, com certeza. O problema é que enquanto a


doença progride em um paciente, o vírus se degrada. No momento em que o
paciente morre, não há muita estrutura restante para estudo ou uso. Nenhum
dos pacientes desenvolveu anticorpos, também. O R-XR tem obtido algumas
amostras de wargs recém-infectados, mas o problema é que o R-XR não
consegue matar o vírus, mesmo em laboratório. Nada o destrói. Ele tem que
envelhecer e morrer por conta própria. Isto não é um vírus humano, Sin. É um
vírus demônio, o que significa que pesquisas em seres humanos e os
procedimentos estão falhando com a gente. Enormemente. Ele não se
comporta como qualquer outro vírus humano ou animal que eu já vi.
Poderíamos muito bem estar trabalhando com uma doença de outro planeta.

O interfone grasniu e ela quase pulou para fora de sua pele quando
Eidolon foi chamado para a mesa de triagem.

Ele gesticulou para Sin segui-lo ao redor da esquina.

— Eu vou cuidar disso. Espere no... — Ele parou e ela seguiu seu olhar
para onde uma enfermeira, um slogthu de pelo desigual, observava dois
homens vestindo o macacão preto do uniforme dos Carceris (carcereiros do
submundo que não eram conhecidos por seus métodos gentis). O primeiro, um
vampiro com cabelos castanhos na altura da cintura, moveu-se para encontrar
seu irmão. O outro, humanoide e de espécie desconhecida, olhou em volta com
curiosidade.

E, como se o departamento de emergência não estivesse lotado o


suficiente, Con saiu do Harrowgate.

— Eidolon — O vamp estendeu a mão e Eidolon a apanhou com um


aperto firme.
— Seth. Como posso te ajudar?
Os olhos azul gelo de Seth moveram-se para Sin, lançando um
formigamento de presságio por sua coluna.

— Esta é sua irmã? Sin?


Eidolon enrijeceu.

— Por quê?
O outro demônio deu um passo à frente, lábios excessivamente grandes
abertos para revelar os dentes afiados e uma língua bifurcada.

— Porque — ele disse, — estamos aqui por ela. Ela está presa.

†††††

Estamos aqui por ela.

Alguém no Conselho havia mudado de ideia. Filho da puta. Primeiro,


Con fora emboscado por Bran e agora isso. Ele não podia dar uma pausa,
caramba. Sin não podia, também.

Con estivera dentro de uma prisão Carceris e não era a Disneylândia. As


celas encantadas neutralizavam os poderes especiais de todas as espécies e
seus requisitos específicos, de modo que os vampiros não precisam de sangue,
incubi não precisam de sexo, Cruenti não precisam matar. Mas eles também
deixavam os demônios sem poderes, incapazes de se defender de quaisquer
punições que os carcereiros distribuíssem.

Se Sin fosse levada, ela poderia ser mantida assim por anos. O sistema
de justiça demoníaco operava na premissa de que todos eram culpados até que
se provasse inocente, arrastar-se significava anos, até décadas, de tortura atrás
das grades.

Con sabia por experiência própria.

Ele deslizou casualmente em direção a Sin, que olhou para os oficiais


Carceris, um vamp, o outro, drake albino, em descrença. Eidolon colocou-se
entre o vampiro e a irmã, sua expressão glacial.

— Do que ela está sendo acusada? — Eidolon perguntou.


— Iniciar uma epidemia que está destruindo wargs. — A voz de Seth
espalhou-se através do departamento de emergência como se ele tivesse usado
um alto-falante e todos ao alcance da voz pararam em seus caminhos para ficar
de queixo caído. Mesmo Bastien, que, obviamente, não perdeu tempo em
voltar ao trabalho, congelou, sua vassoura pairando sobre uma pilha de lixo.

Sin aprumou os ombros, enfrentando os caras do Carceris sem um traço


de medo quando qualquer pessoa normal estaria cagando tijolos.

— E quem é meu acusador?

— Não nos deram essa informação. — Seth arrancou um conjunto de


algemas Bracken do bolso. Desenvolvido pela Judicia para negar habilidades à
espécie, estas algemas em particular apresentavam minúsculas pontas
serrilhadas no interior para evitar que o usuário se debatesse. — Você virá.

Con pegou o braço de Sin.

— Ainda não — Ele sussurrou em seu ouvido. — Mas não lute. Eles não
são afetados pelo feitiço Haven. Eles vão bater em você como o inferno e não
há nada que possa fazer.

— Eu não vou deixar que me levem — ela atirou.

— Nem eu — Con disse e da ameaça que Eidolon emanava, nem ele. O


drake albino moveu-se para bloquear o Harrowgate, deixando a Con e Sin ape-
nas uma saída. A abertura da ambulância. — Eu estou indo para o estaciona-
mento. Dê-me dez segundos e depois corra para a primeira ambulância do lado
esquerdo. Tente evitar o olhar do drake albino. Ele pode reduzi-la a um saco
de pele enrugada em cerca de dez segundos. A reconstituição não é divertida.

Para crédito de Sin, ela não discutiu. Ela simplesmente assentiu e


moveu-se para trás de E, colocando-a mais perto das portas deslizantes de
vidro do estacionamento.

— A quem eu tenho que responder? — Ela perguntou a Seth, que deu a


ela um olhar longo e avaliativo.

— Ao Conselho Warg.

— Esta é uma questão do Conselho Seminus — Eidolon disse, mas o


vampiro balançou a cabeça.

— Você conhece as leis, demônio. Se dois Conselhos não podem decidir


sobre uma punição...

— Eu não fui levada diante de qualquer Conselho — Sin interrompeu.


— Os wargs não são obrigados a levar suas questões para o Conselho de
sua espécie — Seth disse. — É recomendado, para evitar o desperdício de
tempo do Negociador da Justiça com processos frívolos, mas a escolha é deles.

— Você tem sorte dos wargs não tê-la abatido diretamente — A voz do
drake albino era monótona, entediada e Con suspeitou que ele estivesse
esperando que Sin resistisse à prisão. O cara iria obter seu desejo. E então
desejaria que ele não tivesse.

Gelo formou-se nas palavras de Eidolon.

— O Conselho Seminus teria problemas com a morte de Sin.

— Apenas se pudessem provar que o Conselho Warg estava envolvido.


Verdade. Se algum warg solitário matasse Sin, nada seria feito a menos
que a família de Sin se vingasse em um nível pessoal ou contatassem os
Negociadores da Justiça, que provavelmente decidiriam em favor de um único
warg, apesar da história de Eidolon como Negociador. Con não achava que os
irmãos Sem eram realmente do tipo de seguir a rota legal de qualquer maneira.
Eles eram muito mais do tipo, caçá-los e matá-los dolorosamente.

Con entendia.

— Bom, Sin — Con disse em voz alta, — boa sorte. E, eu estou saindo
para uma corrida. — Ele pegou o olhar sombrio de Eidolon por apenas um
segundo, tempo suficiente para entregar sua mensagem silenciosa, “Eu vou
tirar Sin daqui”.

Ele dirigiu-se para as portas deslizantes de vidro, onde Wraith esperava,


corpo grande apoiado casualmente contra a soleira, mãos enfiadas nos bolsos
da calça jeans enquanto observava. Antecipação brilhou em seus olhos azuis.
Con não fazia ideia de quando o demônio chegara, mas estava feliz pelo
músculo extra. Wraith amava uma boa luta.

Con passou por Wraith com um aceno de cabeça, subiu na mais nova
das três ambulâncias pretas e deu a partida. Como se girar a chave fosse um
sinal, Sin explodiu para fora do hospital. Wraith saiu também, seu sobretudo
de couro levantando em torno de seus tornozelos e então os oficiais da Carceris
estavam lá, Eidolon em seus calcanhares. Ele não teria sido capaz de fazer
muito para detê-los dentro do hospital, mas o estacionamento não era
protegido pelo feitiço Haven.

Sin lançou-se para a ambulância, enquanto Wraith sem esforço


derruba-va o vamp Carceris com um punho na garganta. Eidolon agarrou o
drake albino pelo braço, mas não a tempo de impedi-lo de lançar um dardo-
tranca (uma arma que, uma vez que perfurasse seu alvo, paralisava a vítima até
que ela chegasse a uma prisão Carceris).

Movendo-se rápido, Wraith bateu no dardo de esgueira com a mão, mas


ele desferiu um golpe de raspão na coxa de Sin quando caiu rodopiando.
Sangue espirrou e, embora ela tenha gritado, não desacelerou. Enquanto
Eidolon cobria o demônio, Wraith prendeu o vampiro antes que ele pudesse se
levantar e Sin pulou para o banco do passageiro do veículo.

— Vai! — Ela gritou, enquanto fechava a porta de uma vez.


Con apertou um botão no painel e a parede traseira do estacionamento
brilhou, revelando uma garagem humana do outro lado.

Os pneus do veículo guincharam enquanto eles giravam para fora da


cobertura. Uma vez que passaram através do portal, ele fechou novamente,
transformando-se em uma parede sólida de concreto. Nenhum humano, se
alguma vez fosse atravessá-la, veria a porta pelo que ela realmente era.

Ele virou-se para Sin, que olhava para trás para ter certeza que os caras
do Carceris não estavam de alguma forma avançando pela barreira.

— Você está bem?

— Sim. Por quê?

— Você está sangrando.


Ela bateu a mão sobre a ferida.

— Já tive piores.
O coração ainda martelando, ele retirou-se ao tráfego de Manhattan de
início da manhã, seu movimento agressivo causando mais de umas poucas
buzinas.

— Mantenha pressão sobre ela. Vamos encostar em um minuto e


remendá-la.

— Eu disse que estou bem.

— Não seja uma idiota teimosa. — Ele bateu o pé no freio para evitar
colidir com um táxi que saiu na frente dele, embora Con deixasse,
intencionalmente, a ambulância trocar tinta com o outro veículo, só para fazer
o motorista mijar nas calças. — Você não pode se dar o luxo de ter uma
infecção neste momento. — Além disso, o cheiro iria enganar seu interruptor
de loucura se eles não cobrissem a ferida dela.
Ela revirou os olhos.

— Em quantos problema E e Wraith estão?

— Interferir com os oficiais Carceris e o dever deles? — Ele perguntou-


se se deveria mentir, decidiu então que ela poderia lidar com isso. — Muito. —
Ele não se incomodou em dizer que ele estava entrando em um bom tempo
com chicotes, bastões e rodas d’água nas mãos de torturadores, também,
porque duvidava que ela se importasse.

— Droga — ela respirou.

— Eles vão ficar bem. E tem experiência com o sistema e Wraith é... O
Wraith.

— Eu não quero dever a eles. Eles estão em minha merda o suficiente


como está.

— Ah.

— Ah, o quê? — Ela virou-se de olhar pela janela do passageiro para


olhar para ele. — O que é que isso deveria significar?

Ela deve ter soltado a pressão sobre seu corte, porque um cheiro
particularmente forte de sangue fez suas presas pulsarem. Ele respirou contor-
nando a situação do jeito que sempre fazia quando falhava em alimentar-se e
estava tratando um paciente sangrando. Mas ele alimentou-se, de Sin, apenas
algumas horas atrás e não deveria ter essa reação.

Um arrepio rasgou por sua medula quando um pensamento feio o


invadiu. E se o vício já estivesse começando a se estabelecer? Não devia
começar até por volta da sexta alimentação, mas ele estava rapidamente
aprendendo que, com Sin, muito pouco era previsível.

— Terra para Con. — Sin acenou com a mão na frente de seu rosto,
tirando-o tanto do piloto automático quanto dos pensamentos que não queria
pensar. — O que ah significa?

— Apenas imaginando o que a faz reagir. — Ele parou lentamente em


um semáforo e obsevou os primeiros raios do sol da manhã espreitar entre
dois edifícios de escritórios. — Você não perguntou por preocupação se eles
estariam em apuros. Você perguntou, porque você não quer dever a seus
irmãos. Por que isso?

Surpreendentemente, ela não disparou um tiro contra ele. Em vez disso,


ela ficou imóvel e em silêncio, e o aroma irresistível de seu sangue (e dela)
engrossou na cabine. Ele olhou para a perna dela, onde um fluxo carmesim
fluía entre os dedos e seu controle sobre o volante deixou suas juntas brancas
quando seu lado médico, que queria consertá-la, lutou com o lado dampiro que
queria prová-la. Talvez houvesse um saco de O+ na traseira.

Ela moveu-se, jogando a cabeça para trás contra o banco, o que teve o
efeito infeliz de fazer seus pequenos seios projetarem-se para frente, testando a
elasticidade da regata preta que ela usava por baixo da jaqueta de couro.

O volante gemeu sob a força de seu aperto, enquanto o macho nele


pulava na briga com o lado médico e dampiro. Maldita súcubos. Ele deu um
puxão no volante e, com um guincho de pneus, a ambulância chicoteou a um
estaciona-mento.

— O que você está fazendo? — Ela retrucou. — Oh, meu Deus, você
sabe mesmo como dirigir?

Ele tirou um bilhete da máquina, encontrou uma vaga de


estacionamento e desligou o motor, despreocupado que os humanos notassem-
nos. A ambulân-cia enfeitiçada não era invisível aos olhos humanos, mas
registrava-se apenas em seu subconsciente. Humanos evitariam o veículo,
reagiriam a ele na estrada, mas não pensariam nele ou em seus passageiros
como qualquer coisa estranha ou interessante.

Não, sua preocupação agora eram demônios.

E seu próprio desejo, que era totalmente outro tipo de demônio.

— Suba na traseira — Ele disse firmemente. — Eu vou tratar de sua


ferida.

— Eu disse...

— Eu não me importo. — Sua voz era fria, seu corpo quente e a mistura
fazia estragos sua paciência. — Você está em meu território, em meu veículo,
então você seguirá minhas regras.

Ela olhou.

— E se os Carceris nos encontrarem?

— Eles não vão. — Ele alcançou entre os dois bancos e empurrou a


pequena porta para a seção da caixa do veículo. — Eles estarão procurando por
você nos lugares óbvios primeiramente. Não em estacionamentos da cidade.

— E depois que você terminar de remendar-me?


Boa pergunta e ele não pensara tão longe assim. Provavelmente porque
seu cérebro estava inundado com o aroma dela.

— Vou levá-la para casa — Ele disse finalmente. — Você vai voltar para
casa comigo.
— Eu não vou para casa com você.

— Nós falaremos sobre isso enquanto eu estiver remendando você. —


Con empurrou seu polegar para trás. — Vá.

Relutante, Sin subiu entre os bancos da frente evitando-o através da


porta que separava a cabine da seção da ambulância. Uma luz vermelha
maçante iluminou o espaço e os mesmos símbolos do feitiço Haven do UG
foram rabiscados nas paredes, mas fora isso, ela poderia ter sido uma
ambulân-cia humana.

Sua perna protestou quando ela fez seu caminho pelo corredor estreito
entre o banco corrido e a maca, mas a ferida não era nem de perto tão ruim
quanto a dor ao longo de seu braço. Ela não teve que olhar para saber que um
grande corte dividira sua dermoire em seu bíceps. A dor atingiu-a
subitamente, mas ela aguentou em silêncio, da maneira como ela sempre fez.
Como uma assassina, ela nunca deu suas vítimas o luxo de um grito, então ela
percebeu que ela não merecia mais do que eles mereciam.

Da mesma forma que ela não merecia que o corte fosse tratado.
Permitiria que Con remendasse seu pé, mas seu braço estava fora dos limites.

Con abaixou as máscaras pretas de borracha dos rolos sobre cada janela.
Não se via uma tira de luz exterior, obviamente uma necessidade ao
transportar vampiros e outros demônios sensíveis à luz durante o dia.

— Tire suas calças.

— Uau. Não gosta de preliminares, não é?


Girou para ela com a benevolência letal apesar das limitações do
compar-timento abarrotado.

— Eu passo horas nas preliminares — Disse, sua voz uma fala


arrastada, lenta, sexy. — E você?

O calor inundou seu rosto. De algum modo, soube a resposta, soube que
nunca teve sexo com preliminares em sua vida. Para ela, o sexo era um lanche
rápido, não uma culinária gourmet.
Oh, apreciou-o com os parceiros adequados, mas o desejo de atrasar-se
na cama, tomando o prazer em um corpo de macho foi tirado dela há muito
tempo. Agora, o sexo era sobre permanecer viva. Nos últimos trinta anos
especialmente, virou rotina escapadelas rápidas com um par de assassinos de
seu antro, com apenas o rolo ocasional no feno com machos como Con para
agitar as coisas.

E agora que era mestre dos assassinos, raramente saía do covil, exceto
para ir às matrizes da sociedade ou ao hospital, de forma que suas escolhas
foram ainda mais severamente limitadas, na maior parte a Lycus. Seria
provavelmente dessa maneira para o resto de sua vida.

— Preliminares são supervalorizadas — O rasgo em seu braço gritou


com dor enquanto tirou suas calças e colocou acima do esticador. Deixou seu
coldre da coxa e do tornozelo no lugar, embora não houvesse um porquê, suas
armas não iriam a qualquer lugar.

— Então você não está fazendo direito. — Con pegou algumas luvas
cirúrgicas, de algum modo fazendo o som e a ação eróticos. — Você teve aman-
tes preguiçosos.

— Você foi um de meus amantes — Indicou, mas ele não mordeu a isca.

— Uma vez. E há algo a ser dito sobre uma foda dura, rápida. — Sua voz
transformou-se num timbre de fascinação. — Mas não há nada como o tempo
gasto para tirar lentamente cada peça de roupa, para beijar cada polegada da
pele de seu amante. Para lamber todos os lugares sensíveis até que fique louca.
Para explorar todas as texturas do corpo de sua companheira, com seus dedos,
sua boca. — Suas presas saíram quando terminou — Seus dentes.

A fome prendeu-a tão ferozmente que teve que se esforçar para respirar.
Contudo, de algum modo, controlou sua fala calma, como se as palavras
gráficas de Con não a afetassem.

— O resultado final é o mesmo. Um orgasmo. Assim por que


desperdiçar todo esse tempo? Todo esse tempo para lamber alguém da cabeça
ao dedo do pé — Deus, sério? Queria... — Eu poderia ter tido meia dúzia de
orgasmos. — Supondo que fosse com algum macho imaginário que pudesse
gozar muitas vezes, ou um demônio Seminus, cuja ejaculação deixasse as
fêmeas gozando repetidamente, mesmo se saísse do quarto.

— Confie em mim — ele murmurou, — a espera vale a pena. Você leva


todo esse tempo, mas será melhor. Mais quente. Uma foda fantástica...

Sin estava totalmente molhada e pronta. Mesmo se suas necessidades


de súcubo não estivessem rastejando em cima dela, Con começou as coisas.
— Aplique uma pressão sobre sua dilaceração — A mudança abrupta do
tom e do assunto a fez piscar, mas ele afastou-se para retirar suprimentos dos
armários de vidro e lançar sobre a maca ao lado dela.

Ainda tonta com as imagens que pôs em sua cabeça, agarrou uma toalha
de papel do distribuidor atrás dela e prendeu a ferida sangrando. Um
gotejamento de calor começou abaixo de seu braço e em sua palma, e dobrou
secretamente outra toalha de papel sob a manga de seu casaco. Então, prestou
atenção no traseiro de Con sob as calças pretas de BDU 14. Quando ele girou de
volta para ela, começou a afastar-se e seu olhar foi para suas coxas descobertas
e cueca de seda preta que estava agora umedecida com sua excitação.

Quanto mais olhava, mais rápido seu coração batia, mais sua barriga
vibrava.

Mais quente começou a ficar o interior da ambulância.

Quando seus olhos de prata finalmente se elevaram, estavam


escurecidos, suaves, a fome neles austera e incontestável, o que não era
nenhuma surpresa dado ao que estavam falando. Por apenas um momento,
quis saber se atuaria de acordo com sua necessidade e ficou decepcionada e
aliviada quando ele sentou no banco acolchoado transversalmente ao dela.

— Isto é inútil — disse, mesmo que a toalha sob seus dedos embebesse
completamente. — Eu curo rapidamente.

— O dardo com o qual o Carceris a golpeou foi revestido com um


anticoagulante. Mantém o sangramento, assim podem segui-lo caso o dardo
não permaneça.

Inteligente.

— Como você sabe tanto sobre eles?

— Eu tive meu quinhão de experiência com eles — Prendeu seus braços


com ambas as mãos, espalhou seus pés e puxou-a para frente, de forma a
colocá-la entre suas coxas, os joelhos dela descansando de encontro a um ou
outro lado de suas costelas.

Sin tentou ignorar a posição íntima, mas seu corpo não poderia e
enrijeceu, sentindo-se presa, embora fosse ele quem estivesse preso entre suas
pernas.

— Você foi preso? O que você fez?

14 Marca de calças.
— Como eu disse, eu tenho experiência com eles.

— Ooh — ela brincou, afastando-se para trás. — Um menino mau.


Vamos lá, conte-me.

— Talvez eu tenha matado súcubos irritantes para me divertir — Suas


palavras eram ásperas, mas seus dedos eram delicados quando levantou a
toalha para inspecionar sua ferida no pé.

— Eu espero que antes você tenha dado a elas um monte daqueles


orgasmos de preliminares. — Roncou, mas não ofereceu mais detalhes sobre
seu tempo com o Carceris. Claramente, não iria falar, então estudou o interior
da ambulância, com seus armários, bancos e uma estação perto da parte
dianteira que parecia com um pequeno laboratório para mistura de poções. —
Então, como os vampiros fazem este trabalho, em todo o caso? A vista e o
cheiro do sangue deixam-no com fome?

— Se você se empanturrar na festa de ação de graças, você quer comer


um sanduíche?

Isso foi uma piada. Não tivera uma festa de ação de graças desde que
seus pais estavam vivos. Mas de repente, queria o peru, comer a torta e rolos
caseiros. Nostalgia, algo que proibira há muito tempo, enchendo-a com o
mesmo calor que sentira quando sua família reuniu-se em torno de uma velha
mesa deteriorada no feriado de ação de graças. Como uma criança, previu o
futuro, que envolvia um marido, crianças, tio Loren e sua família, todos
reunidos nos feriados com seus parentes. Agora ela sabia que seria melhor
abandonar esses sonhos infantis e cruelmente flexionou seu braço e permitiu
que a dor a trouxesse de volta ao presente, onde nunca comemoraria feriados
felizes, sentimentais outra vez.

— Eu não quero comer mais após uma grande refeição, mas… Oh, então
você se alimenta bem antes de trabalhar?

— E durante. Nós mantemos petiscos no refrigerador. Todos os médicos


fazem, dependendo de sua espécie. Trabalhei com um sócio que moeu os ossos
da equipe inteira.

Bruto.

— E se o problema para vocês não for só a dieta? Se for algo mais?

— O quê? Como a necessidade matar ou absorver a dor?


Deu de ombros.

— Ou sexo.
Uma perfeita sobrancelha foi levantada.

— Espécies que matam incontrolavelmente não podem ser médicos,


mas nós tivemos alguém que se alimentava da dor de outra pessoa. Este era o
trabalho perfeito para ele, até que decidiu que um pouco de dor não faria mal
aos pacientes. A coisa do sexo… Eu não sei. Suponho que depende da raça dos
íncubos ou dos súcubos. Shade administra muito bem em turnos curtos. Por
quê? Você está pensando sobre como se inscrever? Porque eu aposto que você
não teria nenhum problema em achar um parceiro que poderia, ah, ajudá-la
entre as corridas.

Oh e essa conversa com Shade, sobre quem administrava os


paramédicos, seria divertida?

— Eu agradeço, mas já tenho um trabalho.


Agitou sua cabeça, desparafusou um frasco de algo molhado, uma
almofada de gaze e colocou sobre seu corte.

— Este é um tipo do coagulante desenvolvido da saliva de um vampiro.


É mais eficaz em feridas sobrenaturais do que qualquer coisa que os seres
humanos inventaram.

— Eew.

— Você quer que eu lamba um pouco? — A nota escura, sensual em sua


voz envolveu em torno dela como uma fita de seda.

Como responder a isso? Porque sim ou não, ambos seriam verdade ou


mentira. No final, ela conseguiu um sussurrado, — Não — que ela só poderia
esperar ter soado mais convincente para ele do que soou para ela. Limpou sua
garganta e mudou o assunto.

— Olha, você pode dirigir agora? Eu preciso chegar minha associação de


assassinos.

Olhou-a divertido, com o olhar de “sem chance”, como se ela não tivesse
absolutamente nenhuma palavra em seu futuro.

— Eu disse que você irá para minha casa. — Terminou de lavar a


dilaceração, que, graças ao vampiro que cuspiu o remédio, escorria agora em
vez do jorrar. — O Carceris está procurando você. Baterão em todos os lugares
óbvios primeiro.

— Bem, capitão Mandão, o covil tem seguranças. — Quando Con tomou


seu tempo para torcer a parte superior de um frasco pequeno do antisséptico
para lhe dar um olhar de você-está-falando-fudidamente-sério, ela suspirou. —
Eu sei que não podem parar o Carceris, mas, pelo menos me avisarão.

— Você tem certeza disso? Pequena picada… — esguinchou o líquido no


corte em sua coxa e rangeu seus dentes de encontro à dor. — Ajudar e
acobertar você são ofensas sérias. Seus guardas amam-na a este ponto?

Não, não amam. Um lento deslizar de culpa a deixou ruborizada quando


pensou sobre como Eidolon e Wraith vieram em seu auxílio, mesmo cientes do
risco que corriam.

E Con, também. Estudou-o enquanto trabalhava em sua ferida, suas


mãos rápidas e firmes, devido à prática. Ela não esperara isso. Desde que
encontrara o lindo macho, ele não foi nada, senão intenso. Duramente. Jogou-
a para a lateral da ambulância que estavam. Apostou com seu companheiro
paramédico, Luc, que poderia entrar em suas calças.

E ele conseguiu.

Agora atendia com cuidado sua ferida e tentava levá-la à segurança.

— Por que você está me ajudando? — Soltou.

— Você ainda me deve dez dólares.


Ela lançou um sorriso falso.

— Engraçado. Mas você não está me ajudando porque eu descobri a


aposta que fez com Luc e tomei mais do que a metade do lucro.

— Certo. Como é isso? Você é responsável pela epidemia dos wargs e se


você for morta, Eidolon não terá acesso a você se precisar de sua ajuda para
desenvolver uma cura — disse. — E, além disso, eu devo a seus irmãos.

É lógico. Não a ajudava porque gostasse dela ou qualquer coisa. O que


era bom, porque tampouco ela gostava dele. E aquilo não poderia soar mais
infantil, poderia?

— Por que você deve a eles?


Ele deu um grande encolher de ombro.

— Eu estava em um mau caminho. Autodestrutivo. Começou com uma


luta em um bar com Luc e ambos terminamos no UG.

— Então, Eidolon salvou sua vida?


— Nah. Outra pequena picada. — Limpou a dilaceração com algo que,
sim, picou. — Você encontrou Vladlena? É uma enfermeira. Metamorfo-hiena.
Há poucos anos, seu pai, um doutor chamado Yuri, cometeu um erro sobre
alguma merda que caiu sobre mim e seu filho mais novo, e colocou o Carceris
atrás de mim. Eidolon disse que se eu fosse colocado na prisão, não poderia
pagar minha conta do hospital, assim tiraram-me da prisão. O pagamento era
eu trabalhar para ele por dois anos.

— Suponho que você ficou ao redor?

— Suponho que sim. Acabou sendo um trabalho legal. As chamadas


nunca são as mesmas, sem rotina. Mantém-me em meus pés.

Sin entendeu isso. Tampouco gostava muito da rotina.

— Então, você já acabou?

— Por que está tão ansiosa?

— Porque estou vulnerável em qualquer lugar fora do covil, a sede dos


assassinos, ou o hospital. O que é o porquê preciso ir ao covil em vez de sua
casa, mesmo que o Carceris procure-me lá. — Era igualmente necessário
encontrar um de seus parceiros de sexo. Rápido. Antes que ela atacasse Conall.

— Vulnerável a quê?

— Meus assassinos.
Ele piscou.

— Seus próprios assassinos são um perigo para você?

— Alguns deles cobiçam minha posição. Quem me matar consegue


tomar o covil.

— Como você permanece segura quando fica com eles?

— Os assassinos e seus mestres são ligados, assim não podem


prejudicar o mestre dentro de nenhum covil de assassino ou filial, ou de
nenhum lugar protegido por um feitiço Haven. Mas fora daquelas áreas…
todas as apostas são válidas. Alguns dos assassinos mais velhos podem
realmente detectar a localização de seus mestres.

Con soltou uma maldição.

— Você é um pé no saco, não é?


— Sua postura médica é uma merda.

— Oh, eu tenho um inferno de uma postura médica — ele falou


vagarosamente rouco, lembrando-a que seu corpo doía e não de dor. Alisou
uma grande atadura sobre a ferida, seus dedos vagueando lentamente sobre a
tela e sua pele, transformando um procedimento médico em uma das
experiências mais sensuais de sua vida.

Falando de coisas patéticas.

Deixou suas mãos onde estavam, envolvendo as coxas dela, e olhou para
cima, seu olhar esterlino encontrando o dela. O ar na ambulância pareceu ficar
mais espesso e quente. Será que mataria Shade instalar ar-condicionado
nessas coisas?

— Tire seu casaco — ele murmurou.


O coração de Sin trovejou.

— Eu não vou transar com você.

— Você quer. — Um sorriso fácil, sedutor, girou acima de sua boca


pecadora. — Mas não é por isso que eu quero você tire o casaco.

— Mentiroso. Você amaria entrar em minhas calças.


Ele olhou para ela como se ela fosse uma completa idiota.

— Você ainda está sangrando.


Oh. Humilhação. Ela fungou.

— Não, eu não estou.

— Eu posso cheirá-lo.
Malditos vampiros.

— Dê-me minhas calças.

— Tire seu casaco. Eu não direi outra vez.

— E eu não o deixarei tratar a ferida — Ficou de pé e afastou-se de seu


aperto, mas ele estava em pé imediatamente, arrancando seu casaco para
revelar o largo corte em seu bíceps.

Tentou afastar-se, mas ele prendeu-a facilmente, sem mais


divertimento.
— Como isto aconteceu? Quem fez isto? O Carceris?

— Eu o fiz — disse e afastou-se.

— Você se corta? — Alcançou uma almofada de gaze, mas ela prendeu


seu pulso.

Não, não se cortava. Mas não iria explicar qualquer coisa a Con.

— Não se meta com isto — disse com voz nivelada. — Eu cuidarei disso,
e nisso, não vou mudar de ideia.

Con considerou, suas características angulares endureceram com raiva e


ouviu o ranger de seus dentes e o queixo endurecer.

— Você não pode deixar sangrar desse jeito.

— Eu posso e eu vou.

— Eu estou na borda agora, Sin — Sua voz era gutural, com um tremor
ligeiro que se estendesse à mão não o prenderia.

Merda. Seu sangue tentava-o. Ela fechou seus olhos, maldizendo


silenciosamente. Permitiu que Eidolon costurasse seu braço uma vez, em vez
de usar seus poderes de curas. Talvez desta vez...

Uma quente respiração ventilou sobre seu braço e ela abriu seus olhos.
A boca de Con estava próxima, tão próxima… Sim, apenas uma vez…

— Faça — ela sussurrou e, com isso, ele hesitou.


Seu tremor agravou-se e alcançou para o cuspe de vampiro. Sem pensar,
Sin segurou a parte traseira de sua cabeça e trouxe seus lábios a seu braço. A
ferida era uma dor profundamente pessoal e não estava a ponto de deixar
alguma estranha mistura médica perto dela. Então outra vez, deixaria que Con
melhorasse uma parte dessa dor?

Suas emoções vacilaram e expirou lentamente, incerta se poderia lidar


com tal intimidade. Não, ela tinha certeza. Não poderia.

Então, quando estava a ponto de afastá-lo, ele gemeu, soltou um suspiro


trêmulo e afundou seu corpo de encontro ao dela, e em um piscar de olhos, sua
preocupação pareceu distante. Sua excitação era uma presença maciça de
encontro a seu centro e suas mãos, ainda envoltas nas luvas cirúrgicas,
deslizaram sob a parte superior de seu corpo para prender sua cintura. Como o
inferno do látex correndo em sua pele poderia ser tão erótico estava além dela,
mas desejou que movesse suas mãos até seus peitos ou descesse até seu sexo,
assim poderia ver o quanto mais de erotismo poderia obter. Infelizmente, ele
se manteve mansamente imóvel, sob rígido controle, como se estivesse receoso
de soltar-se e fazer exatamente o que ela estava esperando que ele fizesse.

Lentamente, tentativamente, varreu sua língua da base do corte ao


ápice. A carícia reconfortante diminuiu a dor e com cada lenta lambida,
diminuía mais, até que não foi deixado nada, a não ser uma picada suavemente
agradável. E uma luxúria pulsante que penetrava até seu núcleo. Sob a pele de
Con, seus músculos estavam tensos em todo seu corpo e detectou algo no
interior escuro, algo que estava tentando conter.

— Con? — Colocou sua mão em seu braço e, sob sua palma, seus
músculos ondularam e saltaram. Expressou algo em uma língua que não
conhecia, mas estava consideravelmente certa que era uma maldição
desagradável. Abruptamente, pulou para trás e, no mesmo momento, alguém
bateu na porta traseira. Uma voz estrondosa veio do outro lado. — Traga a
súcubo para fora, ou todos no interior morrem.

†††††

Con não parou para pensar. O instinto rugiu a superfície e ele


empurrou, jogando Sin para baixo da plataforma de equipamento, cobrindo o
corpo dela comseu. Dez segundos atrás, quando lutava contra a sede de
sangue, ele teria escapado da sensação de seu corpo duro de encontro a seu
mais duro, de suas coxas envolvendo-o, mas agora, seu interesse era somente
manter Sin viva.

Se ela morresse, acabaria com a única esperança de se livrar do vírus em


seu sangue.

E para completar, seus irmãos iriam matá-lo. Muito.

— Quem é? — Sussurrou.

— Eu não sei — ela sussurrou como resposta. — Eu não reconheço a


voz. Deve ser o Carceris.

— Não poderiam ter nos encontrado tão rapidamente. Não sem um cão
do inferno ou um rastreador de sangue. Deve ser um assassino.

Amaldiçoou.

— Deixe-me levantar.
Não havia bastante espaço no corredor entre o assento do banco e a
maca para deixá-la levantar, mesmo se ele quisesse.

— Eu vou ligar o motor e tirar-nos daqui. Fique abaixada.


Ela não discutiu, milagre dos milagres, ele afastou-se dela, apoiando-se
lentamente em suas mãos e joelhos em direção à abertura entre a plataforma e
a cabine. Pausou na entrada minúscula e escutou, permitindo que sua audição
superior procurasse qualquer coisa fora do comum. Tudo que ouviu eram os
sons normais de uma cidade. Pneus no asfalto, buzinas, seres humanos
conversando enquanto entravam e saíam das estações de metrô. Não havia
nada que pudesse indicar o número de assaltantes fora da ambulância.

Ele olhou para o táxi e viu um demônio masculino do lado de fora da


janela do motorista. Merda. Ele voltou para trás.

— Nightlash na parte dianteira.

— Tem um anel cor-de-rosa brilhante em seu nariz?


Con olhou novamente.

— Yeah. Realmente viril.

— É Zeph. — Levantou em suas mãos e joelhos. — Aquele lá atrás é um


Ramreel, chamado Trag. São sócios. Nunca trabalha sozinho.

— Seus assassinos?
Pegou suas calças e colocou seus pés nelas.

— Bastardos.

— Então é um sim. — Con soltou uma respiração. — Eu pensei que você


não havia reconhecido a voz.

— Trag é perito em disfarçá-la. Mas a boa notícia é que conheço meu


trabalho. — Fez surgir uma faca e segurou-a frouxamente em seus dedos,
pronta para jogar. — Provavelmente não sabem sobre o feitiço Haven, mas de
qualquer maneira, não planejam entrar e matar-me. Se você não me colocar
para fora, arrebentarão as portas e usarão armas variadas para matar-me.

— Armas de fogo?

— Não acredito. É mais provável usarem dardos ou bolas de fogo


venenosas.
— Você tem quinze segundos — o macho perto da porta traseira gritou
e Sin ficou de pé.

— Eu sairei pela porta lateral. Posso deslizar ao redor da parte dianteira


e pegar Zeph de surpresa, se você puder abrir a porta traseira...

— Eu tenho uma ideia melhor. — Con disse. — Qual deles é o mais


perigoso? O mais forte?

— Trag — ela respondeu e desapontamento o atravessou. Con lutara


com Ramreels antes, mas um assassino Nightlash seria algo novo. — Por quê?

— Eu matá-lo-ei. — Ele olhou para o fino teto que Shade instalara


precisamente para situações como esta. O demônio pensou em tudo. Embora
Con fosse sugerir uma instalação de armas externas na ambulância quando
isto acabasse. — Você pega o outro.

— Espera...
Muito tarde. Deslizou a porta, abrindo-a, silenciosamente passou por
ela. Lentamente, levantou-se e avançou para a parte traseira da ambulância.
Atrás dele, silenciosa como um sussurro, Sin apareceu, graciosa em seus
músculos flexíveis. Abaixo, Trag golpeou na porta.

— O tempo acabou.
Con abriu a porta, pulando no Ramreel e jogando-o no chão duramente.
Os chifres do demônio causaram uma rachadura satisfatória no pavimento.
Legal. Distante, ouviu o grunhido de dor de Zeph, mas então Con tomou um
soco na cara e a dor trouxe sua atenção inteiramente de volta a seu oponente.

— Você não me pode derrotar, paramédico — zombou Trag. — Eu sou


um assassino treinado.

— Errado. — Con atolou seu joelho no intestino de Trag. — Como um


paramédico, eu sei exatamente como matá-lo. — Uma vida de luta ensinou-lhe
muito, mas aprender como o corpo funciona o fez muito mais letal.

Nesse pensamento de energização, Con colocou sua mão no pescoço do


Ramreel, esmagando sua laringe. Trag fez um som frouxo, agonizado, que Con
eliminou com outro golpe em seu nariz largo. O demônio balançou para trás,
mas recuperou-se imediatamente, dobrando sobre ele e usando seus chifres
maciços, ondulados, para forçar Con para trás, na porta da ambulância.

Merda, isso dói.


Con desviou, mal evitando ser empalado pelo punhal de Trag. Virando
para direita, prendeu o braço do demônio atrás e lançou-o. O Trag caiu e Con
deu outro soco devastador em sua garganta, um que acertou a direita, na
artéria carótica do macho, matando-o imediatamente. O corpo desintegrar-se-
ia, como fazia a maioria dos demônios quando morriam fora do Sheoul ou de
uma estrutura construída por demônios no reino humano e Con não esperou
ao redor para ver.

Espreitando na parte dianteira da ambulância, onde Sin estava presa de


encontro à porta da janela do motorista pelo Nightlash. Prendeu uma faca em
sua garganta, mas teve sua mão no ombro do demônio, a dermoire brilhando
ferozmente e antes que Con pudesse despachar o bastardo, ele caiu no chão,
sua pele queimando e rachando, olhos afundando para dentro.

A doença que Sin bombeara no demônio o trouxe de volta à realidade


duramente. E grotescamente.

O lembrete do que era e do que fizera golpeando-o na cara, trazendo seu


cérebro de volta ao lugar necessário para tratá-la: distância profissional.

— Você está bem? — Perguntou.

— Sim — Ela chutou o demônio morto nas costelas e fez uma careta
segurando sua coxa.

Con praguejou.

— Deixe-me verificar sua perna...

— Está muito bem. — Afastou-se e chegou à parte traseira da ambulân-


cia, onde o corpo do Ramreel já não era nada, apenas uma mancha gordurosa
no asfalto. — Filho de uma cadela... — respirou e Con jurou que ouviu um
traço de pesar. — Era um maldito bom assassino.

— Não tão bom com o corpo a corpo.

— Era sua principal fraqueza. — A brisa da manhã jogou seu cabelo em


seu rosto e Con mal resistiu ao impulso de escová-lo para trás. — Confiou em
seu alvo e não se centrou bastante sobre o combate físico.

— E qual é sua fraqueza?


Guardou seu punhal em seu carregador.

— Eu não tenho.

— Se você acredita nisso, então desilusão é sua fraqueza.


—Você não é um par de calças esperto — disse cansada. — Certo.
Minha fraqueza é que sou um súcubo. Mas muito raramente é uma dificuldade
quando estou trabalhando.

Ele duvidou disso e agora queria chutar a si mesmo por não considerar
que poderia desejar tanto seu sangue por ela ser um súcubo. Pode não ser
apenas o sangue dela, talvez seus feromônios estivessem conduzindo sua fome,
não um vício iminente.

A menos que…

— Qual é sua necessidade de súcubos? — Perguntou.


Suas sobrancelhas negras levantaram.

— Uh… sexo?

— Não, eu quero dizer... O que você rouba ou causa?


Ela colocou suas mãos em seus quadris.

— Bem, eu não roubo almas, se é isso que você está perguntando. Eu


não faço nada.

Oh, ela não diria nada, mesmo se soubesse.

Um silvo, como o som de um pneu aplainando, atrás dele o corpo do


Nightlash dissolveu-se. Esperou até que o ruído morresse antes de perguntar:
— Quanto tempo antes de você precisar de sexo?

— Não por muito tempo. E todos meus companheiros regulares estão


no covil.

Um sentimento… de algo… procovou nele uma contração muscular. Não


podia ser inveja. Nunca experimentara aquilo antes. Não com uma fêmea. Mas
algo definitivamente torceu seu temperamento e colocou-a no assento de
passageiro com seu maxilar cerrado tão apertado que praticamente teve que
erguê-lo para abrir e iniciar a conversa após se estabelecer atrás do volante.

— Nós encontraremos uma solução, mas não ficaremos muito tempo


em minha casa. — Pôs em marcha o motor. — O Carceris estará procurando
você em todas suas casas, mas pode apostar seu traseiro que me estão
investigando. Não demorará muito para encontrarem onde eu vivo. — Ele
tinha duas residên-cias, esperava que verificassem seu apartamento primeiro.
— Nós devemos ter tempo para limpar e programar nosso próximo passo. —
Como talvez entregá-la para um de seus irmãos. Sin não pareceu ouvi-lo.
Olhava fixamente para fora e ausentemente friccionava seu esterno. — Hey,
você está bem?

Piscou.

— É claro que estou.


Certo. Nenhuma fraqueza. Mas não a comprava. Seus próprios
assassinos estavam tentando matá-la, tomar seu trabalho e, a menos que ela
tivesse gelo em suas veias em vez de sangue, isso deveria incomodá-la.

E ele sabia malditamente bem que seu sangue corria quente e não frio.

— Tem algum dano no peito?

— Um pouco. É uma dor maçante perder dois assassinos com quem


estive ligada.

Ele fez caretas, incapaz de imaginar poder sentir a morte de alguém


assim. Começou a dirigir a ambulância enquanto Sin pegou um telefone celular
de seu bolso e discou.

— Para quem você está ligando?

— Um de meus companheiros. — Pausou, disse no telefone, — Lycus. O


que está acontecendo?

Com a audição de dampiro aguçada, Con ouviu a conversação.

“Você está exposta. O que faz de você um alvo, Sin”. A voz do macho
soou claramente a Con, como se estivesse sentado no assento de passageiro
com Sin.

Foda-se. O cara deveria sentar-se na seção de trás do equipamento.


Amarrado à maca.

— Não brinca. — Sua voz abaixou e ela afastou-se, como se não


quisesse que Con ouvisse. — Onde você está?

“No covil. Esperando você”.

Okay, amarrado à maca e morto. Con cerrou seus dentes, irritado com
sua própria reação. Não havia nenhuma razão para ser ciumento, não importa
quão desprezível este idiota de Lycus soasse.

— Quem está atrás de mim?


Houve uma pausa e então um rugido baixo retumbou sobre os meios de
telecomunicações. “Volte ao covil, Sin. Jure acasalar-se comigo e eu
assegura-rei que a ordem seja cancelada”.

Filho de uma... Con mordeu de volta uma maldição enquanto seu corpo
inteiro sacudiu e a ambulância com ele. Os carros buzinaram quando ele
chicoteou a ambulância de volta na pista, ignorando o brilho de Sin. Ele não
dava uma merda para o que Sin fazia, ou com quem ela se “acasalava”, nem o
que ela fazia com seu negócio de assassino. Mas esse merda de Lycus a
chantageava, o que o irritou muito. A repentina imagem dela nua, debaixo de
um corpo bem musculoso não o incomodou. Absolutamente. Em. Nada.

Sin encheu-se de raiva e Con esperou ela cortar o bastardo com sua
habitual língua aguda. Então ele quase caiu quando ela disse cansada: — Eu
disse não.

Con podia praticamente ouvir o sorriso na voz do macho. Você está


enfraquecendo, súcubo. Não demore muito para ter sexo.

Muito lentamente, Sin apertou a tecla para encerrar a chamada, ainda


olhando a tela do Blackberry.

— Estúpido — murmurou.
Con viu que segurava o volante forte o bastante para por uma curvatura
nele e forçou-se a relaxar.

— Quantos mais de seus assassinos podem estar atrás de você?


Seus dedos formaram um punho em seu colo e girou para encará-lo com
um olhar fixo e penetrante.

— Todos — disse. — Todos estão atrás de mim.

†††††

Luc vigiara alternadamente através de suas duas janelas minúsculas,


mantendo um olho para o problema em potencial, quando ouviu a frágil voz de
Kar levantar-se do porão.
Desceu as escadas para o quarto abaixo e encontrou-a no pallet15 onde a
deixara, embora tenha rolado para seu lado ileso e olhasse fixamente as
correntes presas em seus braços e na parede de pedra.

— Onde… Onde estou? — Raspou, seu sotaque mal discernível por


causa de sua dor.

Agachou-se ao lado dela.

— Você está em meu quarto da lua. — Não que o usasse mais. Já não se
importava com o que fazia nas noites de Lua cheia. Ele recusou a acorrentar-
se, preferindo correr livre. Eventualmente o Aegis o mataria, ou talvez um
caçador, ou, mais provável, Wraith. O demônio jurou matá-lo quando o último
pedaço de humanidade saísse dele e, realmente, isto aconteceu quando Ula
morreu. — Do que você lembra?

Kar moveu-se, rosnando quando tentou mover seu braço.

— De ser perseguida pelo Aegis.

— Obviamente descobriram a verdade sobre você.


Um fogo cintilou em seu rosto, a luz e a sombra fizeram sua expressão
dura de ler, mas havia uma nota de divertimento em sua voz.

— Suponho que você não me possa chantagear mais.


Quase sorriu com isto. Ficaram juntos em uma fortaleza do Aegis em
Alexandria, Egito, enquanto esperavam a batalha apocalíptica entre o bem e o
mal começar e, neste conflito particular, Luc, os irmãos Seminus e muitos
outros demônios estiveram lá para lutar pela Equipe Boa e Irritantemente
Justa. Realmente estiveram trabalhando com o Aegis em uma trégua frágil que
era carregada com tensão e desconfiança.

Kar estivera lá como guardiã, toda mais-santa-que-você, e ela detectara


então o lobisomem nele.

E ele detectara-o nela.

Já que dever vem primeiro na guerra pendente, seu apetite sexual rugiu
à vida. E ele não era o indivíduo mais agradável no mundo, então ele propôs
um acordo a ela. Dez minutos despidos e ele manteria seu segredo.

Ela xingou e rosnou, mas depois que a Equipe Boa reivindicara a vitória
em Jerusalém, ela dera-lhe meia hora. Seu corpo endureceu-se mesmo agora,

15Pallet é um suporte geralmente de madeira feito para servir para cargas pesadas serem transportadas com mais
facilidade.
apenas pensando sobre como a tomara três vezes naqueles trinta minutos. Ao
lado do edifício. No chão, estilo do missionário. De joelhos, ele atrás dela.
Todos os acoplamentos foram rudes e crus, os wargs faziam dessa maneira,
especialmente após uma batalha incondicional. Ele veio embora cheio de
arranhões e feridas, e mais saciado do que estivera em um longo tempo.

— Eu estou certo que posso encontrar algo para fazer chantagem —


disse, enquanto colocava sua palma sobre a testa dela para medir sua tempera-
tura. — Você está com febre. — Deslizou seus dedos para baixo em seu
pescoço. — E seu pulso está muito rápido. Eu irei buscar gelo e medicamentos.

A mão boa dela disparou para capturar seu pulso em um aperto surpre-
endentemente forte.

— Sem medicamentos.

— Nós temos que baixar sua febre.


Lambeu seus lábios, fechando seus olhos, mas não o liberou.

— Certo, mas nada que possa ferir o bebê.


Ele olhou fixamente para ela.

— Você está grávida?

— Sim.
Ela deve ter entrado no cio poucos dias depois que ele estivera com ela.
Graças a Deus que não detectara que se aproximava. Seria compelido a
permanecer e lutar com todos os outros machos que aparecessem para
reivindicá-la. O vencedor acoplar-se-ia com ela os três dias e noites da Lua
cheia, na forma humana e da besta, e se ficasse grávida durante esse período,
sua ligação seria permanente.

— Onde está seu companheiro?

— Morto — Os olhos dela ainda estavam fechados e ele desejou que ela
os abrisse, assim poderia tê-la lido.

— O Aegis matou-o?

— Sim.

— Era nascido ou transformado?

— Transformado — disse suavemente.


Um calafrio percorreu sua coluna.

— O filhote poderia nascer humano.


Abriu finalmente seus olhos.

— Eu estou ciente disso.

— Você matá-lo-ia? — As leis dos wargs nascidos eram ásperas com


respeito às crianças humanas; deviam ser destruídas no nascimento. Embora
Luc tivesse ouvido algumas mães que deixaram os bebês em hospitais ou em
locais onde as crianças poderiam ser adotadas.

Ela hesitou e, por um momento, ele pensou que diria sim. Mas então
seus olhos piscaram, o brilho férreo neles sugerindo que tipo de mãe seria.
Feroz. Amorosa.

— Eu protegerei meu bebê com minha vida. É por isso que eu estou
aqui. O vírus…

— O que tem ele?

— Eu estou com medo. Você sabe o que está acontecendo, você tem
acesso...

Ele bufou.

— Caso não tenha observado, eu estou escondido no meio do nada. Mas


eu sei que afeta somente wargs transformados, portanto você está segura. —
Por qualquer motivo, não pareceu estar aliviada, mas então, estava tão doente
com seus ferimentos e envenenamento de prata como estaria se tivesse FS. Pôs
a mão em sua testa outra vez, sabendo bem que a febre não teria diminuído. —
Então é por isso que você está aqui? A única razão?

Deslocou seu olhar à chaminé, olhando fixamente para ela em branco.

— Eu não tinha nenhum lugar além desse para ir, uma vez que o Aegis
sabe de meu segredo.

— Você não devia ter vindo aqui — Era uma coisa estúpida a dizer, mas
de qualquer forma, ele era um estúpido. Desde o dia que foi atacado por um
lobisomem, tudo era apenas para si mesmo e não se importava com mais
ninguém.

— Claramente, foi um erro — Sua voz era tão suave que quase foi
afogada pelo crepitar do fogo.
— Sim, foi. — Ele atiçou uma seção do fogo com um pouco mais de
força do que era necessário e faíscas voaram, estalando com raiva. — A última
coisa que eu preciso é cuidar de uma fêmea grávida que tem assassinos perse-
guindo-a. Como souberam o que você é de qualquer maneira? — Quando ela
não respondeu, ele virou-se. Os olhos dela estavam fechados, sua respiração
regular. Desmaiara outra vez.

E ele estava em um inferno de uma confusão.


Ficaram em silêncio por bons trinta minutos. Sin ficou grata pelo
silêncio no início, até que seus pensamentos começaram a rodar e ela perceber
em quantos problemas estava verdadeiramente. Lycus, esse panaca enganador
e pegajoso. Sabia que não poderia confiar nele, mas esperou que ele usasse
alguma de sua considerável influência para manter a maioria de seus
assassinos longe dela, sem que ela jurasse transformar-se em sua
companheira.

E ele estava errado; ela não estava enfraquecendo. Tão agradável quanto
seria compartilhar das cargas de ser um mestre assassino, não poderia se ligar
a qualquer um, especialmente não um cabeça oca como Lycus.

Merda. Entre seus próprios assassinos que quererem sua cabeça em


uma bandeja e o Carceris que a quer amarrada em uma pilha, ela estava
começando a se sentir como um cervo durante a estação de caça. Assim
quando seu telefone celular começou a tocar constantemente (ligações e
mensagens de textos de Eidolon, Shade, Lore e mesmo de Wraith) seu último
nervo se partiu como a extremidade de uma corda e ela desligou o telefone.

— Estão preocupados com você. — Con olhou de relance no Blackberry.


— Você deveria atender.

— Eu não preciso da preocupação deles.


Sua resposta era afiada.

— Muito egoísta?
Certo, sim, era egoísta. Desde o dia em que ela e Lore atravessaram a
transição que lhe dera tatuagens, necessidades sexuais incontroláveis e
habilida-des para matar, ela fora forçada a deixar o mundo humano para trás.
O que sig-nificou deixar a suavidade, a piedade e o amor em um lugar onde
não a feris-sem. O violento mundo para o qual fora levada por um comerciante
de escravo de demônio após Lore abandoná-la endureceu-a rapidamente.

Passou um século com demônios que respiravam a crueldade como o ar


e acumulou cicatrizes físicas e emocionais, era o único modo de sobreviver.
Então, há trinta anos encontrara Lore e a devoção dele manteve afastado,
apenas um pouco, seu escudo. E agora, sua razão para não responder a seus
irmãos, não era porque não precisasse de sua ajuda, embora não precisasse.
Era porque não importava o quanto ela odiasse, encontrou-se preocupando-se
sobre a punição de Wraith e de Eidolon por ajudá-la.

Mas não ia dizer isso a Con. Dizer isso era pedir para ouvir a piedade e
um convite a frases inúteis como “Eu sinto muito” e “Tudo ficará bem”.

As colisões picavam e formigavam sua pele. Sua avó, que criara Sin e
Lore desde o dia que nasceram, dizia muito isso. “Tudo ficará bem, Sinead.
Sua mãe os ama. Ela é doente, isso é tudo”. E “Tudo bem. Todos podem ser
cruéis, mas você me terá sempre”.

A avó havia mentido. A mãe não a amava, Sin não tivera sua avó
sempre, e definitivamente não estava tudo bem.

O rádio da ambulância gritou e a voz tensa de Eidolon perfurou o silên-


cio.

— Con. Pegue o telefone.


Con apertou uma tecla no painel.

— E. Nós estamos bem.

— Graças aos deuses. — O alívio de Eidolon foi transmitido sobre as


ondas radiofônicas. — Não me diga onde você está indo. Esta frequência pode
ser monitorada. E Sin, fique longe de cada lugar que você já esteve.

— Sim. Ficarei. — Um alargamento estranho de culpa acendeu em sua


barriga e apertou sua garganta. — Hey, o uh… Você e Wraith… Eu quero
dizer… O que fizeram...

— Não se preocupe com a gente — Eidolon disse. — Apenas siga em


frente e falaremos mais tarde. — Desligou, deixando Sin e Con no tenso
silêncio outra vez.

Por outra maldita longa hora. Passou o tempo olhando os carros


passan-do pela janela, desejando poder estar atrás do volante de um deles,
conduzindo a um destino escolhido por ela em vez de ter um motorista
dampiro arrogante que não a queria.

Um dampiro arrogante cujos longos pés flexionavam enquanto mexia os


pedais do acelerador e freio. Cujo grosso bíceps relaxava e tencionava
enquanto dirigia. Os ombros largos encheram o espaço do motorista e as
imagens de suas mãos tocando-a enquanto bombeava entre suas coxas
encheram sua cabeça. Estava tão ciente dele, tão hipersensível a seu calor, seu
perfume, mesmo o som de sua respiração, que não importava o tempo que
passasse olhando o mundo lá fora, seus olhos acabavam voltando para ele.
Sentindo seu corpo inclinar-se para ele.

Era um tremendo pé no saco.

Finalmente, quando os subúrbios transformaram-se em pastos e em


terra, Con tirou a ambulância da estrada principal e seguiu em um cascalho
alinhado por fileiras das árvores.

— Eu vou supor que você não dirige para trabalhar muito


frequentemen-te — ela falou.

— Há um Harrowgate a menos de um quilômetro depois das árvores,


então não, eu não dirijo frequentemente. Umas duas horas de viagem seriam
de matar.

A ambulância triturou o cascalho durante uns poucos metros até que


Con direcionou para uma garagem de uma casa velha, mas conservada, estilo
ran-cho, de encontro a uma colina e profundamente dentro de uma floresta
que parecia ter sido cultivada para a privacidade. Saiu e fez uma varredura do
perí-metro e depois tirou seu GTO preto da garagem para dar espaço a
ambulância. Possuía também uma motocicleta, um carro de neve e um ATV. O
cara gostava de brinquedos com motores.

Con colocou a ambulância dentro. Era grande e quase não coube, e ela
pensou ouvir o raspar do metal em algum ponto. Shade iria ficar muito irritado
pelos arranhões que o veículo sofreu hoje.

— Passeio agradável — disse, porque arrastou um dedo ao longo do


pára-choque lustroso do GTO. A coisa ainda tinha placas da concessionária
nela.

Con encolheu de ombros.

— Servirá até o próximo ano.

— Próximo ano?

— Eu compro um novo todo ano.


Ela espreitou através do vidro matizado o interior de couro.

— Gosta do cheiro de carro novo, huh?

— Nah — disse, apertou a tecla da porta da garagem. — Eu fico cansado


de dirigir a mesma coisa repetidamente.
— Talvez você devesse pilotar um avião — murmurou e ele assentiu
como se ela estivesse falando sério.

— Eu estou trabalhando nisso. Eu já tenho a licença de piloto.


É lógico que ele tem.

Uma vez que a porta da garagem rolou para baixo, desarmou o sistema
de segurança e a conduziu para casa, a qual era uma verdadeira casa de
solteiro. A mobília era velha, mas bem conservada. Havia roupas jogadas sobre
as cadeiras e sofás, e quis saber se as janelas alguma vez foram limpas. Parecia
com a casa de Lore, somente mais nova. E maior. Definitivamente mais
pessoal.

Suas prateleiras e paredes eram carregadas com um material que


parecia ser cerâmica antiga, esboços moldados das catedrais de pedra, armas.
Seguiu para uma parte magnífica, um arco pendurado entre um bastão e uma
katana japonês.

— Impressionante. — Arrastou um dedo sobre a superfície lisa do


teixo16. — Embora eu não o tomasse por um tipo de pessoa de casa.

— Onde você achou que eu morasse? — Falou com divertimento em sua


voz. — Em uma barraca?

Encolheu os ombros e virou-se para ele.

— A maioria das pessoas mora em apartamento. E a maiorias dos wargs


vivem em casas um pouco mais rústicas.

Era sua vez de encolher de ombros.

— Os wargs nascidos preferem o ar livre e a região selvagem, mas


muitos wargs transformados são humanos o suficente para gostar de viver com
outros seres humanos.

— Até que descobrem que os seres humanos são alimentos e que se


acorrentar em um apartamento é muito ruidoso.

— Verdade — Lançou as chaves da ambulância na mesa da sala de


jantar.

— E sobre os dampiros? Vocês têm sorte de nascerem dessa maneira… e


depois se transformarem.

16 Árvore pequena de 10 a 15m, usada para queimar em lareiras.


Suas mãos foram para seus botões da camisa enquanto ele a prendeu
com um olhar frio e distante. Cara, desejava poder lê-lo melhor.

— Qual é seu ponto?


Havia uma vibe estranha de fuga em sua resposta, mas não poderia
determinar o que era exatamente.

— Aonde você cai na escala do warg? O que você faz? Sobre a Lua cheia,
eu quero dizer?

Tirou sua camisa de paramédico e a língua dela quase caiu de sua boca
ao ver seus músculos agudamente definidos e afiados, carne dura. Ela foi
usada por machos que se mantiveram em forma (nenhum assassino se deixou
ficar fora de forma), mas Con tinha uma carne sem gordura, corpo de corredor
poderoso, o tipo que foi usado bem e frequentemente. Foi feito para
maratonas.

Eu passo horas nas preliminares.

Oh, sim. Maratonas.

— Eu garanto que não me acorrento. — Lançou a camisa sobre a parte


traseira de uma cadeira. — Eu vou para casa. Onde eu nasci.

Ela teve que forçar seus olhos para longe de seu tórax para encontrar os
dele.

— Onde é isso?

— Scotland. É onde os dampiros se originaram. O clã de Dearghuls (o


único clã que resta) tem um santuário lá. Acres de propriedade onde nós pode-
mos caçar durante a febre da lua.

Nível dos olhos... nível dos olhos…

— Quantos de vocês estão lá?

— Nossos números são pateticamente poucos. Tão poucos que durante


a estação de acoplamento, todos os machos e fêmeas não acasalados devem
participar.

Sin mordeu sua língua para evitar lamentar na palavra, acoplamento.

— Assim você não se acopla como outros wargs? Eu quero dizer, deixar
uma fêmea grávida durante seu calor não te liga para sempre?
— Não — disse com voz rouca e ela quis saber se o assunto o afetara da
mesma maneira que a afetou. — De fato, os machos muito raramente tomam
companheiros permanentes.

Seu tom arrepiou sua pele.

— Por que não?

— Porque nós tendemos a matar as fêmeas.


Ah, bem, está bem. Isso não era legal.

Vagueou em torno da sala de visitas e saiu do salão para verificar os


quartos. Yep, era a Nellie Nosy17, mas Con não pareceu se preocupar.

— O que você faz com todo este espaço? Você dá festas e o enche?
Ele, que verificava a secretária eletrônica, olhou para cima.

— Não. Muitos de meus amigos são humanos. Fariam perguntas


demais.

— Humanos? Você é próximo dos humanos?

— Atualmente não. — Foi à janela e fechou as cortinas. — Apenas


preci-sei deixar meu último grupo de amigos. Quando começam a mencionar
como você nunca envelhece, é hora de partir para um trabalho permanente
em algum lugar remoto sem comunicações. Agora, eu estou estudando
nemátodos18 no Continente antártico.

— Bem, você é um nerd. — Mas seriamente… como é estranho ele


convi-ver com seres humanos. Ele parecia ser um típico cara do submundo.

Seu telefone celular tocou e ele tirou-o da parte inferior do bolso lateral
da perna de suas calças de BDU.

— E. Sim. Onde você está?


Con ficou perto e aproximando-se da porta da rua estava Eidolon, ainda
em seu uniforme. Shade estava ao lado dele, coberto ate à garganta de couro
preto, de suas botas de motociclista a sua roupa, os óculos de sol que
escondem seus olhos escuros. Parecia o assustador exterminador.

— Como você sabia onde estávamos? — Sin perguntou.

17 Pessoa que gosta de bisbilhotar


18 Chamados de vermes cilíndricos, são considerados o grupo de metazoários mais abundante na biosfera
— Eu sou um bom rastreador — Eidolon disse, enquanto ele e Shade
entraram. Lançou uma mochila para Sin. — Roupa. Imaginei que podia
precisar depois dos tiros que recebeu.

Con fechou a porta, mas não antes de fazer a varredura da área exterior.

— Runa está melhor?

— Não boa o bastante. — Shade dobrou seus óculos de sol em seu bolso.
— Disse-me para sair. Disse que eu a deixo louca. Além do mais, eu preciso
comprar alguns mantimentos.

Sin quase riu da imagem do demônio grande e mau, todo em couro,


empurrando um carro de compras através dos corredores de um
supermercado.

— Eu acho difícil acreditar que você a deixou sozinha, doente, com os


três bebês.

— Eu não deixei. Gema e Tay estão com ela. — A companheira de


Eidolon Tayla e sua irmã gêmea, Gema, eram ambos demônios metade
Soulshredder, os mais maus dos maus, mas eram marshmallows derretidos
quando se tratava de seus sobrinhos. Gema estava grávida e Sin imaginou que
não demoraria muito para Tayla entrar para esse trem louco.

Shade aproximou-se de Sin.

— Você está bem? E disse que você foi ferida por um tiro.

— Eu viverei. — Deixou cair a mochila e marchou de volta à cozinha,


falando enquanto seguia. — Con remendou antes que os assassinos atacassem.

Shade e E focalizaram nela, lasers escuros de um olhar muito irritado, e


soube que cometera um enorme erro dizendo isso.

— Assassinos? — Ambos rosnaram.

— Sim. — Con pegou um engradado de cerveja da geladeira e jogou


uma garrafa para cada um deles. Sin se atrapalhou com a dela. Ela estava
distraída, muito ocupada para pensar em pegar a cerveja. — Sua irmã não
pode dar um maldito passo sem causar algum tipo de desastre.

Shade retirou o lacre de sua garrafa e arremessou a tampa na pia.

— Quem eram eles?


— Eram meus. Eu estou andando por aí com um alvo em minha bunda.
— Sustentou sua mão esquerda e balançou os dedos, onde o anel de prata de
Detharu brilhou na luz. — O assassino que me matar e tomar meu anel herda
meu trabalho. Eu sou a pessoa mais querida no submundo agora.

— Sinos do inferno — Shade murmurou. — Que tipo da defesa você


tem contra eles?

Ela franziu sua testa.

— Além de minha superincrível habilidade de luta e defesa?

— Sim — Shade disse categoricamente, o indivíduo não tem nenhum


senso de humor. — Além disso.

Eu poderia me ligar a Lycus para poupar minha vida. Deu de ombros.

— Tudo que eu posso fazer é permanecer à frente deles. A maioria não


poderá me encontrar, mas alguns podem me detectar. É possível que eles
coloquem um aviso a cada célula empregada no submundo. Eu preciso me
manter em movimento.

— Você terá que fazer isso enquanto foge do Carceris, também —


Eidolon adicionou.

— Você permanecerá na caverna com Runa — Shade anunciou como se


tivesse tomado a decisão e Sin tivesse que aceitar. — A entrada é escondida e
mesmo se te seguirem, nunca conseguirão entrar.

— Você não conhece meus assassinos. Confiem em mim, eles encontra-


rão uma maneira. Eu não vou colocar sua companheira e suas crianças em
risco.

Eidolon ajuntou sua mão através de seu cabelo.

— Então nós revezaremos com você.

— Revezar?

— Há quatro de nós — Eidolon indicou, como se ela não pudesse


contar. — Um de nós estará sempre com você.

— Sem chance. — Torceu o tampão em seu frasco de cerveja. — Eu


posso tomar conta de mim mesma. Eu não preciso de vocês bancando os
irmãos mais velhos. Além do mais — disse alegremente enquanto ligava seus
braços com Con, — eu tenho este inteligente dampiro para me manter segura.
Con ficou tenso, seus braços e músculos do tórax virando ferro de
encontro a ela. Por um segundo pensou que discutiria, mas chocou-a dizendo:
— Eu não tenho escolha. Eu preciso de seu sangue para eliminar o vírus dentro
de mim.

— Bem, idiota, não soe tão excitado.

— Confie em mim — disse em um tom duro. — Eu não estou. Eu tenho


outras obrigações.

Shade bebeu a metade de sua cerveja.

— Con pode ficar com você. Isso vai lhe dar dois guarda-costas.
Sin afastou-se de Con, fingindo precisar olhar para Shade, mas a
verdade era que Con sem camisa era uma distração que não precisava.

— Você não compreende a palavra não? Eu não quero ser responsável


por você.

— Responsável? — Shade parou em sua cerveja. — Responsável por


nós?

— Sim. E se meus assassinos o usam para me encontrar? Ou, e se o


matam?

— Eu acho — Shade disse quietamente, — que você nos subestima.


Não, ela realmente sabia que seus irmãos eram mais do que capazes de
se defenderem. Mas ninguém era invencível.

— Há também o problema com o Carceris — ela lembrou a eles.

— Nós não estamos nos preocupando com isso — Eidolon disse, mas
Sin agitou sua cabeça.

— Eu estou. Eu disse não.


Shade estava tão perto dela tão rápido que não teve tempo para piscar.
Ao lado dela, Con enrijeceu outra vez, e ela queria saber se, possivelmente,
estava se preparando para defendê-la.

— Isto não está aberto para o debate — ele rosnou. — Nós cuidamos
um do outro nesta família e não deixaremos você se expor.

Ela ficou nas pontas dos pés, mas ainda alcançou somente seus ombros.
— Eu. Disse. Não. Se eu fosse um irmão em vez de uma irmã, você não
estaria tão louco assim sobre minha proteção e você sabe disso. Eu não vou ser
tratada diferente apenas porque não tenho um pênis.

— Sin...
Ela cortou Eidolon de forma decisiva, batendo bruscamente sua cerveja
e pulverizando espuma por toda parte.

— Eu não vou por você em risco — Ela fez isso aceitando a ajuda de
Lore com seu ex-mestre, Detharu, e custou anos de sofrimento a seu irmão. Ela
não faria isso para um irmão novamente e nem permitiria que ela mesma se
apegasse a eles. Se ela ficasse presa com eles vinte quatro horas por dia…

Ela estremeceu. Eles eram dominantes e protetores o bastante. Se


deixasse, ficaria presa.

— Você não tem que fazer isto sozinha. — Os dedos de Shade circunda-
ram seu pulso, seu aperto delicado, mas tão inflexível quanto grilhões. — Você
é nossa...

Vocês são meus. A voz de seu primeiro mestre, aquele que a tirou das
ruas onde ela esteve morrendo de fome, almejando as coisas que não entendia,
veio em sua mente. Ele controla um anel de crime do submundo que operava
principalmente no mundo humano (jogo, prostituição, assassina de aluguel,
drogas e escravo para o tráfico). Ele foi o primeiro mestre dela, mas ele não foi
o último.

Vocês são meus. Vocês pertencem a mim. Vocês são nossos. As palavras
dos mestres do passado ressoaram em sua mente até que sua garganta apertou
e seu coração bateu loucamente contra suas costelas.

— Seus? — Sin quebrou o aperto de Shade e tropeçou para trás até que
colidiu com Con. — Eu não pertenço a ninguém. — Deus, todo seu corpo
tremia e sua respiração ficou presa em seus pulmões enquanto a ansiedade a
inundava.

— Whoa. — Shade levantou as mãos. — Hey, está tudo bem.


Con descansou suas mãos em seus ombros, seu aperto foi
estranhamente consolador quando deveria ter feito ela se sentir mais presa
ainda.

— Meninos, eu acho que vocês deviam recuar.


Eidolon e Shade olharam Con, reflexos de ouro quebrando as superfícies
de seus olhos escuros como a raiva que provocou.
— Eu aprecio o que você fez por ela — disse Eidolon, sua voz grossa, —
mas ela é nossa irmã e podemos lidar com isso.

Tensão saía da pele de Sin como chumbo grosso. Ela abriu a boca para
mandar todos embora, mas Con falou primeiro.

— Ela precisa de vocês — ele disse, com sua voz calmante de


paramédico, a mesma que usou com ela na ambulância. — Você sabe disso.
Ela sabe disso. — Ele apertou o ombro dela, uma mensagem silenciosa para
confirmar o que ele estava dizendo. — Mas talvez seja melhor me deixarem
permanecer a seu lado enquanto organiza as coisas do UG.

Todo mundo olhava, imóvel, até que Eidolon finalmente tomou um


longo gole de sua cerveja e acenou com a cabeça.

— Você vai ligar a cada par de horas.


Sin apertou seus punhos na voz de comando, mas ela resistiu ao
impulso de falar. Confrontar E e Shade agora seria estúpido, e ela não iria
brigar para fazer Eidolon mudar de ideia.

— Eu poderia ter apenas uns dois dias, talvez horas, antes eu preciso
cuidar de alguns negócios do clã, mas vamos fazer o que nós pudermos até
então — Con prometeu.

— Bom. — Eidolon apoiou o quadril contra a bancada da ilha da


cozinha e amaldiçoou o fato da cerveja ter derramado e molhado suas calças.
— Já que vocês vão se mover muito você poderia levá-la para as áreas onde os
wargs foram infectados? Podem nos dar as localizações dos bandos de onde
meus pacientes vieram.

Con olhou com as sobrancelhas franzidas.

— Por quê?

— Porque antes do Carceris nos interromper, estávamos trabalhando


em reverter a doença em um dos wargs infectados. Sin falhou, em parte porque
muito do vírus estava no sangue do warg e o que estava lá degradara muito
para ser útil no laboratório. Se ela puder tentar a mesma coisa com alguém que
foi infectado por apenas algumas horas, ela pode ter uma chance de sucesso.
Eu preciso de uma amostra intacta de um vírus morto recentemente.

— Interessante. — Con disse num ápice, que foi quase como aprovação,
e por algum motivo, ela se sentiu como um feliz filhote de cachorro que foi
elogiado por fazer xixi fora ao invés de no tapete. Chato. — Sim, nós podemos
fazer isso.
— Lore ligou todos os casos em um programa de computador
desenvolvi-do pelo R-XR para controlar surtos e cruzá-los com populações
conhecidas de seres caninos com base no submundo...

— Eu pensei que só wargs transformados tivessem sido afetados — Sin


interrompeu. — Por que monitorar qualquer outro?

— Apenas uma medida de precaução, caso a doença sofra mutações.


Como aconteceu com Con. — Eidolon entregou a Con um papel com um
recado de Lore rabiscado nele. — É o login e a senha.

O coração de Sin saltou em seu peito.

— Como está Lore?


Shade levantou uma sobrancelha escura.

— Louco com isso tudo.


Ela passou uma mão em seu rosto. Deus, o que ela não daria para tudo
isso acabar.

— Eu percebi. Olha, por que vocês não vão fazer tudo o que vocês
fazem. Con e eu vamos ficar bem.

Ambos os irmãos olharam com dúvidas e, em seguida, com fixaram os


olhos em Con dizendo, “se alguma coisa acontecer com ela, você está morto”.

Con reconheceu a ameaça não dita com um aceno preguiçoso que trans-
mitiu que ele também não estava preocupado. Mas se isso era porque confiava
em suas habilidades para mantê-la segura ou se era porque não estava com
medo de seus irmãos, ela não sabia.

— Dê-me sua mão. — Shade estendeu para Sin. — Já que Con vai preci-
sar alimentar-se de você, eu irei ajustar seu sistema para aumentar sua produ-
ção de sangue. Depois disso, você precisará se manter hidratada. Beber litros
de água.

Sin colocou sua mão na dele. Instantaneamente, uma quente sensação


de formigamento fluiu dele para seus ossos. Ela cedeu, e Eidolon e Con
mexeram-se para pegá-la. Con foi mais rápido e enquanto a puxava em seu
grande corpo, tensão surgiu no quarto novamente.

Deus, esses caras eram impossíveis. Lore nunca foi tão mau assim, mas
também, ele pisou em ovos a seu redor porque ele se sentia tão culpado pelo
que aconteceu uma noite, há muito tempo.
Ele também percebeu que ela tinha necessidades súcubos, algo que o
trio parecia não entender. Bem, já era hora deles entenderem.

Ela apoiou longe de Shade e em um movimento deliberadamente


sensual, ela chegou e agarrou a parte traseira do pescoço de Con.

— Olhe meninos, vocês parecem pensar que eu sou algum tipo de


boneca virginal, suave e pequena. — Ela raspou suas unhas na pele de Con e
ele asso-biou. As presas eram tão sexy. — Mas eu não sou. Eu sou um demônio
Seminus. Pensem sobre o que isso significa.

Shade adquiriu uma interessante cor cinza. Eidolon estremeceu.

— Sim. Eu preciso de sexo ou morro. Então, parem com a merda desa-


gradável de me verem como uma dama, porque eu realmente não quero vocês
em qualquer lugar nas proximidades enquanto eu estiver fazendo isso e não
acho que vocês querem isso também. — Ela deu a eles o sorriso mais doce. —
E saibam que no segundo em que vocês se forem, eu vou montar Con até que
ele venha implorar por piedade.

Eidolon suspirou. Shade jurou. E Con murmurou algo que parecia


estranhamente com “misericórdia”.

†††††

Um tipo de tensão deixou a casa com Shade e Eidolon. Mas outra


perma-neceu, um sabor menos violento no ar, mas que não era menos
perigoso. Sin era uma ameaça do caralho e ninguém estava a salvo a seu redor.
Especialmente Con.

Vou montar em Con até que ele implore por piedade. Jesus. Foi sorte
Shade e Eidolon não eviscerarem ele lá mesmo. Inferno, apenas suas palavras
fizeram isso. Agora seu sangue bombeava vapor através de suas veias, sua pele
quente e tensa, e seu pau estava tão duro como um tubo de aço.

Ela estava na cozinha, a mão envolta de sua garrafa de cerveja.

— Foi divertido — ela disse.

— Qual é seu problema? — Seu latido deveria fazê-la saltar, mas não, a
senhorita “eu vou conquistar o mundo” estava pronta para a batalha.

— Perdão?
Ele foi em sua direção e, quanto mais perto ele ficava, mais o queixo se
erguia, de forma desafiadora.

— Você me ouviu. — Tirou a garrafa de sua mão e bateu com ela no


balcão. Ela fez um som de indignação quando ele a prendeu contra o armário e
falou com seus punhos plantados em cada lado dela. — Qual é seu problema
com seus irmãos? Por que é tão hostil?

Ela empurrou contra seu peito nu, mas ele não se moveu.

— Fique longe de mim.

— Responda — Ele colocou mais peso sobre ela, o que colocou mais
pele na pele. Ele também colocou seus quadris em contato com seu estômago e
não demoraria muito para ela perceber que ele estava muito feliz em estar
perto dela.

— Eu não sou hostil. — Ela se contorcia, mas assim que percebeu que
tudo o que fazia o aproximava mais e provocava um interessante atrito, ela
parou e disse aborrecida, — Eu simplesmente não os conheço.

— Por que não?


Ela esticou o pescoço para olhar para ele.

— Você não sabe?

— Saber o quê?

— Eu nem estava ciente que Shade, Eidolon e Wraith existiam até algu-
mas semanas. Eles não sabiam sobre mim até o mês passado. — Ela empurrou
de novo, com tudo que podia. Agora que estavam colados um contra o outro,
ela não tinha muita força. — Afaste-se.

Agora por que diabos sua imaginação tem que tomar essas duas
palavras pequenas e fazer um filme erótico delas?

— É uma oferta? Você vai cumprir esse anúncio encantador feito a seus
irmãos? Porque você é aquela que vai implorar por misericórdia.

Claro, ele estava, principalmente, tentando hostilizá-la, mas ele sabia o


que era estar dentro dela. Ele conhecia seu sabor. E, como todos os pecados,
este era viciante.

Literalmente.

A realidade pôs um amortecedor muito necessário sobre sua luxúria,


esfriando alguns graus.
— Isso não era uma oferta — ela disse. — Eu estava brincando com
esses dois machos dominantes porque eles precisavam de uma maldita
chamada para acordar.

— Concordo, mas da próxima vez, coloque as bolas de outra pessoa em


risco.

— Mas colocar as suas é muito mais divertido — disse ela, com uma
batida de seus cílios. Em seguida, ela franziu as sobrancelhas. Sua dermoire
iluminou e um tremor correu através de seu peito. — Você precisa se
alimentar.

— Eu não.

— Talvez não de fome. Mas o vírus está construindo-se de novo.

— Isso pode esperar. Você ainda não se recuperou da última alimenta-


ção, para não mencionar a perda de sangue de suas feridas. — Shade perfurou-
a com poder para aumentar a produção de sangue, mas Con não queria
pressio-nar. E quanto menos tempo ficasse com a boca na dela, melhor.

Ela encolheu os ombros, fazendo a cortina de seus longos e sedosos


cabelos pretos caírem contra seu peito.

— Tanto faz. Só vamos viajar para os bandos de wargs. Mas não é


minha pele que vai arriscar. Só não me culpe por todas as infecções que você
causar.

Uma súbita raiva substituiu a luxúria residual em suas veias e com um


grunhido, ele se afastou, colocando vários metros de distância entre eles.

— Eu a culpo por todas elas.


Seus olhos se estreitaram em fendas de ébano furioso.

— Sim, eu sou a culpada. Você nunca vai me deixar esquecer?

— Talvez quando meus amigos pararem de morrer. — Cerrando os


punhos com tanta força que os dedos doíam, ele girou, assim não teria que
olhar para ela, não teria de ser lembrado o quanto ele a queria e odiava. Seu
corpo pulsava enquanto lutava contra o impulso de agarrá-la, sacudi-la até que
seus dentes batessem e então despi-la e reivindicar seu direito lá no chão da
cozinha.

De repente, seus punhos estavam esmurrando as costas.


— Seu estúpido filho da puta! Eu fodi e infectei uma pancada de
pessoas, mas você não precisa fazê-lo.

Ela empurrou-o com força suficiente para derrubá-lo na geladeira, cor-


tando o último fio de controle sobre seu temperamento, borrando a linha entre
a luxúria e a ira. Uma quente e potente adrenalina subiu em suas veias
enquanto ele virava ao redor, agarrava seus braços e levantava-a. Ele sabia que
seus olhos estavam totalmente espelhados, então ela veria seu próprio terror
neles. Suas presas abaixaram e seu pau ficou duro, e merda, ele estava no
limite.

Mas em vez de terror, ele viu apenas o desafio enquanto ela olhava de
volta: — Faça isso, idiota. Morda-me. Porra, o que você está esperando?

Con bateu-a contra a parede e mordeu seu pescoço. Ela engasgou, mas o
som foi seguido por um gemido baixo. Com seu sangue derramado como mel
em sua garganta, sua libido estava frenética, do jeito que esteve no escritório
de Eidolon, exceto que desta vez estava multiplicada por cem. Talvez fosse
porque estavam sozinhos. Talvez fosse porque tiveram contato físico, sua ira
atirara todo seu bom senso pelo telhado.

Talvez porque com cada mamada, o vício aumentava.

— Con... — o nome dele saiu em um sussurro de ar contra seu ouvido e


foi sua vez de gemer.

Especialmente quando as pernas dela enrolaram em torno de sua


cintura, colocando seu eixo ardente em contato com seu núcleo.

As unhas cavaram seus ombros.

— Foda-me — ela murmurou.


Para a maioria dos dampiros e vampiros alimentação ia de mãos dadas
com o sexo e era por isso que ele preferia tomar seu sangue de fêmeas. Poucos
de sua espécie eram exigentes sobre o sexo de seus companheiros de cama e de
sangue, mas Con há muito tempo determinou que uma mulher suave e doce
era mais adequado para ele.

Exceto que não havia nada de suave ou doce sobre Sin e por algum
moti-vo, esse fato tinha um efeito muito mais poderoso sobre ele. A luta, a
intensida-de… o abalou como nada (e nenhuma outra pessoa) fez.

Sim. Não. Ah, porra, seu corpo gritava por ela, mas sua mente girava
com dúvidas. Um envolvimento mais profundo com ela seria uma coisa ruim
em muitos níveis. Ele iria mantê-la segura porque ele devia a seus irmãos e
porque ela poderia ser a chave para encontrar uma resposta à epidemia, mas
era o máximo que a relação entre eles poderia chegar.
— Con. — Seus lábios acetinados escovaram sua bochecha e o desejo
cru em sua voz pulverizou sua determinação. — Eu preciso disso.

Certo. Dãhh... Súcubo. Ele precisava mantê-la saudável e em segurança.


Justificar o sexo nunca foi tão fácil.

Ele não poderia abrir sua calça rápido o suficiente.

Sin envolveu um braço em volta do pescoço e deixou cair o outro entre


eles para que ela pudesse abrir sua própria calça. Não suavemente, colocou-a
em cima do balcão, soltou suas presas, tirou suas calças e o fio dental. Ele
rosnou com impaciência, rasgando suas calças enquanto as tirava.

— Depressa — ela respirava.


Agora definitivamente não era hora de delicadeza e ele não a poupou
enquanto agarrava suas coxas, abriu e mergulhou profundamente em seu
núcleo de cetim. Seu grito de paixão juntou-se ao dele. Ele a sentia em toda
parte (em sua pele, em seu sangue). Era como se afogasse em êxtase e ele já
não podia lembrar por que havia resistido a ela.

— Rápido — ela gemeu e inferno sagrado, ela era um fudifo sonho se


tornando realidade.

Ele plantou suas palmas das mãos na parede acima de sua cabeça e ela
se inclinou de volta, apoiando-se em seus braços atrás dela, suas pernas
enroladas firmemente em sua cintura, da forma que todos os machos amavam.
Uma gota de sangue correu para baixo em sua garganta das perfurações em
seu pescoço e ele mergulhou sua cabeça para rolar sua língua sobre ele. Ele
quase gozou só com isso.

— Eu amo seu sabor — ele rosnou contra sua garganta. — Eu quero


pro-var você em todos os lugares. — Ele a queria nua e, em seguida, passar
horas beijando-a completamente. Lamber e mordiscar. Sugar cada centímetro
de pele, com uma forte ênfase naquele lugar suculento entre as pernas.

— Sim. — A palavra saiu em um sussurro duro. — Venha Com, agora.


Uma vez que o sêmen era o gatilho para ela, a ideia de torturá-la
retendo um pouco era atraente como o inferno, mas ele estava demasiado
longe para esse tipo de controle, não quando seu sexo era como uma luva,
apertando e massageando até que ele estivesse à beira.

Ele bombeou nela, duro e rápido, muito mais selvagem do que foram no
armário do almoxarifado, quando eles eram dois estranhos escondidos em
uma rapidinha antes de seus irmãos os pegarem e chutar seu traseiro.
Seu quadril friccionou em seu coldre da coxa, em uma sensação
estranhamente erótica e quando flexionaram seus músculos, seu núcleo
apertou sua carne, catapultando-o para o clímax. Bateu-o como uma onda
quente de lava, espalhando acima de sua coluna e em cada membro. Gozou
dentro de seu núcleo e ela apertou em torno dele enquanto se juntava em uma
liberação evi-dente, mas silenciosa. Estava retendo, apenas como na primeira
vez.

Quando acabou, desmoronou em seus cotovelos de encontro à parede e


apoiou sua testa na dela em uma tentativa desesperada de travar sua
respiração. Ela respirava duramente, também, seu sexo ainda se contraía e
tomava cada última gota.

Ela mexeu-se, sentando-se, e ele deslizou para fora dela. Ela segurou
seu bíceps e por um segundo pensou que o impediria de sair, mas sua
dermoire iluminou e soube que estava verificando para ver se havia o vírus.
Quando amaldiçoou, soube que a notícia não era boa.

— Você não tomou bastante sangue. Quase desapareceu. Apenas outro


sorvo, talvez…

— Não — pisou para trás e abaixou para pegar suas calças. — Nós dare-
mos um dia para você se recuperar.

— Em um dia pode fazer com que o vírus retorne para níveis incontrolá-
veis.

— Vamos ver. — Ele olhou para suas coxas cremosas, molhadas na


junção brilhante entre elas e, inacreditavelmente, seu pau inchou de novo.
Rapidamente, ele afastou o olhar. — Vou tomar banho e trocar de roupa. Você
pode usar o banheiro de convidados, se quiser. Se não, por que você não faz
login nos registros do hospital e obtém um mapa dos focos virais. O
computador está em meu escritório. Vamos sair depois disso. — Ele saiu sem
esperar por uma resposta.

Após o banho, ele vestiu jeans e uma camisa branca. Encontrou-a em


seu escritório, cabelo molhado e vestida com as calças de couro e blusa de
manga curta preta que Eidolon trouxera.

— Eu imprimi a localização de todos os wargs infectados registrados —


disse ela, sem se importar em afastar-se da tela do computador. A impressora
cuspiu um par de páginas.

— Excelente — Ele tocou os pés em suas botas, pegou os papéis e consi-


derou fazer uma refeição rápida. Ele fez uma omelete do sudoeste de matar.

Sin veio por trás dele enquanto mexia na geladeira.


— Você sentiu isso?

— Sentir o que... — os cabelos da nuca arrepiaram.

— Abaixe-se! — Sin mergulhou sobre ele, levou-o para o chão em um


emaranhado de membros quando o mundo inteiro explodiu. A explosão
maciça perfurou sua audição e uma lufada de chama ardente explodiu em sua
pele. Rolando, ele a cobriu com seu corpo, cerrando os dentes contra a torrente
de madeira e gesso que caíram sobre suas costas. Outra explosão enviou uma
onda de choque, calor e pressão em ambos, e quase como se fossem pegos por
uma mão gigante, invisível, que os levantou e os atirou contra o fogão. Dor
irradiou através de seu ombro, mas ele ignorou enquanto agarrava a mão de
Sin e a arrastava em suas mãos e joelhos, em direção à garagem.

— Eu tenho um túnel de fuga — ele gritou e então parou quando a


fumaça preta encheu seu pulmão.

Em algum lugar da casa, vidro quebrou e os rápidos pops de armas


automáticas perfuraram o rugido das chamas. Alguém estava muito
interessado em ter certeza de que eles estavam mortos.

A garagem já estava queimando, mas Con protegeu seu rosto das


chamas enquanto descia ao porão. Tossindo, escalou para dentro, saltou e
agarrou um saco. Pulou para fora e olhou de relance para a ambulância
enegrecida através da fumaça. Shade ficaria malditamente irritado sobre a
ambulância nova. Não havia nem rodado muito ainda.

Sin agachava-se onde a deixou, segura no refrigerador feito sob medida


próximo à parede traseira. Rapidamente apertou o código de segurança e girou
a roda para abrir a porta. Não havia nenhuma arma dentro, mas a parte
inferior era uma porta escondida, ele abriu.

— Legal — Sin disse entre tosses.

— Depressa. — Indicou a abertura. — Há uma escada abaixo.


Deu um olhar saudoso em sua casa que queimava em torno dele.
Gostara deste lugar, mas supôs que não havia nenhum sentido lamentar, uma
vez que teria que se desfazer dela para se juntar ao clã em Scotland de
qualquer maneira. Apenas esperou que tivessem tempo para ajudar com a
situação da doença dos wargs.

Chamas na forma de uma mão gigante dispararam pela parede e Con


lançou um grito mudo, que congelou sua medula em seus ossos.

— Que porra é essa?


— Nada bom, o que quer que seja — Sin gritou. — Vamos!
Ele começou a descer o túnel, mas enquanto ele fez, alguma coisa fora
da janela estilhaçada chamou sua atenção. Ele piscou e foi embora.

— Con? O que você está fazendo?


Ele balançou a cabeça.

— Eu poderia jurar que vi um cara grande em um cavalo. E ele estava


vestindo uma maldita armadura.
Sin escalou a escada, sua pele chamuscada parecia ter sido queimada de
sol. No fundo, a escuridão fechou em sua volta, tornando-se um completo
blecaute quando Con fechou a porta do cofre de armas e a escotilha sobre o
buraco. Ela ouviu seus grandes pés ressoarem nos degraus e então ele colidiu
com ela na base, com o cheiro de uma estranha combinação de fumo, sabão
pinho e seu próprio aroma, escuro e natural. Foi estranho ela ter notado e
ainda mais confuso o que isso provocou com ela, mesmo que tivessem acabado
de suprir o acúmulo de sua necessidade.

Mas então, ela sempre ficou excitada pelo perigo e eles estavam nele até
seu pescoço.

Ela ouviu alguns ruídos e uma lanterna foi acesa na escuridão.

— Você é um pequeno dampiro preparado. Rota de fuga bem útil que


você tem aqui.

Ele apontou para baixo do túnel com a lanterna.

— Você nunca sabe quando precisará de uma fuga rápida.

— Você faz muitas escapadas rápidas? — Ela começou a se mover, seus


pés mal fazendo um sussurro no chão macio e sujo.

— Provavelmente não mais do que você — disse ele secamente.

— Provavelmente. — Ela sempre encontrou um jeito de escapar de


situações apertadas. Ela pegou uma curva em S bem à frente do círculo de luz
atrás dela e sua demoníaca habilidade de visão noturna finalmente veio para
ajudar. — Para onde isso vai?

— Termina perto de um Harrowgate — Sua voz, ampliada pela


passagem estreita, parecia que estava ao lado de sua orelha, mesmo que ele
estivesse a poucos metros atrás.

— O portão estará vigiado para impedir nossa fuga.

— Sem dúvida.
Ele não disse mais nada enquanto corriam como ratos para o fim do
túnel, que estava habilmente disfarçado por uma grande pedra em um
emaranhado de arbustos e árvores. O som da água corrente ajudou a mascarar
o barulho deles saindo à medida que rastejavam para a beira do mato. Eles
ficaram em silêncio por alguns instantes, sentindo os arredores, ouvindo os
inimigos. Sin sentiu o Harrowgate ao sul, muito próximo.

Uma vez que Con ficou satisfeito que não estavam sendo observados, ele
se arrastou para fora da folhagem e gesticulou para o riacho que serpenteava
através da floresta.

— O Harrowgate está logo depois da curva.


Sin sacou uma faca de sua bota.

— Quer uma? — Ela sussurrou.

— Não. Eu sou bom com minhas mãos — disse ele e seu corpo se aque-
ceu com uma entusiasmada concordância.

— Você pode fazer aquela merda de longo alcance.


Usando as árvores e os arbustos espinhosos como cobertura, moveram-
se rio abaixo. Perto da beirada, onde as corredeiras caem com uma crescente
violência, a entrada do Harrowgate brilhou entre dois carvalhos maciços. Nas
proximidades, parcialmente escondido por sombras e uma cobertura folhosa,
estava um loiro homem-leão, um dos próprios assassinos condenados de Sin.

— Filho da puta — Ela começou indo em sua direção, mas Con a


segurou pelo braço.

— Deixe-me.

— Vá para o inferno. Ele é meu.


Os lábios de Con fecharam-se novamente em um rosnado silencioso.

— Ele é o aquele que quer que você seja sua companheira?


Ela ouviu isso?

— Não, Marasco já tem seis mulheres em seu clã. Ele definitivamente


não precisa de outra. Dê-me cobertura. — Ela encolheu seus ombros, saindo
do aperto de Con e jogou a faca no ar.

Seu objetivo era mortal e perfeito... Mas seus assassinos eram bem
treinados e Marasco saltou do caminho enquanto a lâmina zumbiu, passando
por seu ouvido.
Sorrindo, o macho agachado virou, puxando sua arma característica, um
dardo paralisante, em sua mão direita e uma pistola em sua esquerda. Ele
carregava a arma de fogo porque andava com gangues humanas, mas poucas
criaturas sobrenaturais realmente as usavam. Elas não poderiam ser usadas no
Sheoul, mas mais do que isso, as armas eram consideradas armas humanas e a
maioria dos demônios as desprezavam.

Além disso, muitos dos demônios não eram tão afetados por uma bala
como a maioria dos seres humanos seriam por picadas de abelhas.

Sin não era um desses demônios.

— Marasco — ela gaguejou, com uma batida de cílios. — Depois de


tudo que passamos você ainda quer me matar?

Seu nariz largo e queimado, provavelmente procurando o cheiro de


alguém que a acompanhava. Com esperança Con estaria a favor do vento.

— Nada pessoal, amor. Apesar de sempre ser uma pena quando uma
súcubos morre. Elas são muito raras como você é.

Rindo, ela se aproximou pela direita e ele foi para a esquerda, então
estavam circulando a apertada área entre o rio e o Harrowgate.

— Eu sou a mais rara de todos. Única de uma espécie. Seria uma


lástima me matar.

Ele olhou para o anel em seu dedo.

— Tenho certeza que a troca irá valer à pena.

— Não para mim. Eu gosto de respirar. — Ela manteve contato com os


olhos, mas conservou a visão periférica em suas mãos. Sabiamente, ele as
manteve afastadas e sempre em movimento, tornando difícil acompanhar
todos seus movimentos. — Com quem você está trabalhando? Eu sei que não
está sozinho e você não tem sido um assassino tempo suficiente para sentir
minha presença.

— Isso realmente importa? Todo o covil quer você morta.


Ele avançou e a ponta de um dardo de prata brilhou na luz do sol. Ela se
jogou no chão e rolou, deslizou sua adaga de osso de Gargantua da bainha em
sua cintura e ficou de pé. O barulho de tiros a ensurdeceu quando o sussurro
de uma bala roçou em seu ombro. Ela cortou com o punhal, jogando a pistola
no chão. Marasco rosnou e, de repente, um leão de quase duzentos quilos
estava vindo para ela. Ela bloqueou com um braço e enterrou o punhal de um
lado ao outro, mas caiu debaixo da besta. Sua coluna bateu duramente sobre
uma rocha e sua bunda gigante ficou presa sobre seus ombros.

Então, de repente, ele estava no ar. Conall ao lado dela, os punhos


cerrados, dentes alongados. Ele tinha um sorriso leve e satisfeito no rosto e, se
ela não estivesse com tanta dor, ela teria pensado que isso era sexy.

Marasco bateu em uma árvore com força suficiente para lascar o tronco,
mas ele caiu de quatro e se recobrou novamente. Sin lançou a adaga que
provara o sangue dele e passaria a procurá-lo, e nunca erraria. Ela atingiu o
centro de seu peito para matar. Choque brilhou nos olhos de Marasco
enquanto ele tropeçava. Ele ficou de pé, ainda se empurrando para frente, mas
perdeu seu ímpeto e, cambaleando, perdeu também seu poder sobre sua forma
de leão.

Agora humano, ele desmaiou, rolando para o lado, sangue jorrando de


seu peito e sua boca. Deixando cair sua bolsa de médico, Con se ajoelhou a seu
lado. Sin amaldiçou. Não acreditando que Con iria tentar salvá-lo.

Ele girou a faca. Marasco gemeu entre os dentes, muito bem treinado e
condicionado para reagir a qualquer tipo de tortura.

— Diga-me com quem você está trabalhando — Con disse friamente,


mas Sin sabia que o leão não daria nenhuma informação, pela mesma razão ele
não gritava em agonia.

— Vá... para... o inferno — Os olhos dourados de Marasco vidraram e


seu peito parou de se mover, e imediatamente algo estalou dolorosamente em
seu peito quando o vínculo assassino que tinha com ele se quebrou.

Con puxou a lâmina para fora do corpo do homem-leão.

— Temos que ir.

— Nós dois precisamos voltar para casa. — Ela tirou a espada dele e a
limpou sobre as calças jeans do metamorfo morto. — Eu quero ver com quem
ele estava trabalhando...

Ela ficou de pé com o som de... cascos?... Trovejando em seus ouvidos.

Con amaldiçoou.

— Agora.
Ele a arrastou pelo braço para o Harrowgate. Ela mal teve tempo para se
firmar, antes dele a jogar dentro da sala tipo cápsula e mergulhar atrás dela.
Enquanto se formava a cortina nebulosa para selá-los dentro, uma flecha
perfurou através do véu endurecido, sussurrou perto do rosto de Sin e
perfurou a parede entre Austrália e Nova Zelândia no mapa da Terra.

— Quem diabos fez isso? — Ela gritou, enquanto Con bateu sua palma
no mapa brilhante. Ele explodiu uma dúzia de cores neon em linhas que foram
gravadas em todas as quatro paredes de obsidiana.

— Não é um de seus caras? — Ele bateu na Europa e o continente


cresceu e os outros desapareceram. Ele continuou tocando-o até que
identificou algum lugar na Romênia. A porta brilhou aberta e ela virou para
pegar a flecha (as armas muitas vezes dão pistas sobre as identidades de seus
donos), mas já havia desaparecido. Filho da puta. Quem diabos utiliza flechas
que se dissolvem? Ela nunca ouviu falar delas.

— Nenhum de meus assassinos dispara flechas em seus cavalos que


desaparecem — O que poderia significar que o bom e velho Rei Arthur era de
outro covil de assassinos. Caramba! Ela sabia que havia uma possibilidade de
seu pessoal ter outros envolvidos, mas a realidade... Bem, ela odiava admitir,
mas o forte desejo de vê-la morta doía. E agora ela estava realmente fodida.

Ela saiu do Harrowgate em um sombrio e cinzento dia frio. Ela pensou


que poderia ser tarde, mas era difícil dizer, pois o sol estava escondido atrás
das nuvens espessas do nevoeiro.

— Para onde vamos?

— A fortaleza warg. — Con virou. — Teste meus níveis de vírus.


Ela se irritou.

— Um “por favor” seria bom. — Pelo seu olhar, ela bufou. — Ótimo. —
Apertou o pulso dele, calibrando seu dom, e sondou seu sangue. — Você
acabou de se alimentar, portanto, os níveis estão muito baixos.

— Eu ainda vou ter cuidado. — Seu tom irônico ligado. — Portanto,


sem mordidas desnecessárias, transas, ou ferir alguém.

— Costuma ferir as pessoas?


Ele largou sua bolsa de médico junto ao Harrowgate.

— Você é um novelo de risos, você sabe disso, né? — Ele partiu por uma
longa trilha de gramado desgastado, deixando-a para trás.

— Hey — ela o chamou. — Sou conhecida em toda a comunidade


assassina como uma pessoa engraçada. — Con tropeçou. — Vê? Isso foi
engraçado. — Melhor se ele tivesse caído de cara no chão, mas ela pegou o que
poderia obter.

Ele a ignorou continuou andando, apesar de não ir muito longe. Eles


estavam, aparentemente, perto da base de uma cadeia de montanhas e abaixo
havia um vale encoberto de névoa. Sin pôde notar uma cidade murada, onde a
névoa diluía. De onde estava, via apenas uma estrada mal conservada que ia
para a aldeia. Claramente, aqui só aparecia quem estivesse perdido ou
procurando ativamente a cidade.

— Que lugar é esse?

— Estamos perto de Moldavia. O berço ancestral dos wargs nascidos. —


Os largos passos de Con comiam o chão, um passo para ele, dois para ela. —
Esta vila é o lar da maior matilha pricolici do mundo.

— Encantada?

— Claro.
Como muitos seres sobrenaturais que vivem no reino humano, os wargs
enfeitiçaram sua cidade com o mesmo tipo de mágica usada nas ambulâncias
do UG. A maioria dos seres humanos passaria pela cidade sem percebê-las, ou
seriam repelidos por um sentimento de profunda tristeza. Os poucos que
entraram provavelmente não ficaram lá por muito tempo.

— Então, somente pricolici vivem aqui?

— A maior parte. Varcolac podem ir e vir, mas eles não podem viver na
cidade como um pricolici, a menos que sejam companheiros de um membro da
matilha.

Sin e Con se aproximaram do portão principal, uma entrada em arco na


parede, e Sin não ficou surpresa ao ver um homem alto, com ombros largos, de
pé do lado de fora, sua posição casual, quase letárgico, mas seus olhos astutos
não perdiam nada. Este seria um olheiro, um membro da matilha atribuído
para alertar os outros sobre um intruso. Embora ele não tivesse parado Sin e
Con, ela sabia que ele transmitiria sua chegada no momento em que saíssem
de sua visão, se já não o tivesse feito.

Antes de chegarem ao portão, Con interrompeu.

— Você já esteve dentro de uma aldeia pricolici?

— Não. Por quê?


Ele olhou para baixo para o que parecia ser a rua principal, que estava
praticamente deserta. Mas Sin sentiu atividade por todos os lados e ela não
acreditou nem por um momento que as ruas não estavam sendo vigiadas.

— Você tem algumas das mesmas limitações que os Sems do sexo


masculino? Se você sentir excitação em alguém, você se sente obrigada a aliviá-
la?

— Graças a Deus não — Isso foi uma revelação interessante sobre seus
irmãos de raça pura. Antes de eles terem suas companheiras, eles eram
escravos do desejo sexual em uma escala que fez seus problemas parecem
minúsculos. Como ela, eles precisavam de sexo para sobreviver, mas também
eram obrigados a satisfazer o desejo de uma fêmea, sempre que as sentia, o
que significava que em locais públicos, como pubs, eles poderiam ser presos
por dias.

— Bom. Desta forma fique por perto e não faça contato visual com
ninguém a menos que eu a apresente a eles. Ninguém, entendeu?

— Eu posso cuidar de mim mesma.

— Não há dúvida sobre isso. Mas eu não acho que sozinha você possa
lutar contra um bando de homens excitados, ou as fêmeas que a veriam como
uma ameaça. Uma vez que eles forem capazes de sentir o demônio em você,
você terá um jogo justo.

— Eu disse...

— Sim, você disse. Mas eu já vi os wargs rasgarem os outros pelo meio


com suas próprias mãos. Se você perturbar a matilha, ambos estaremos
mortos.

†††††

Então, Con acabou por estar certo.

O cheiro de sexo entrou nos pulmões de Sin como um afrodisíaco,


aquecendo-a por dentro, enquanto a sensação no ar tremeluzia sobre sua pele.
Ela se sentia drogada, solta, completamente sonhadora. Os tentáculos da
neblina giravam em torno de seus pés enquanto caminhavam até o centro da
cidade medieval, que só contribuía para a textura surreal do mundo em que
entraram.
— Con? — Ela roçou contra ele, intencionalmente, e gemeu ao sentir
seu corpo duro contra o dela. — Talvez eu devesse esperar do lado de fora da
pare-de. — Ela já esteve dentro de bordéis, haréns e orgias, e nunca encontrou
algo tão cru, tão intenso. Era como se a própria aldeia fervilhasse com os
instintos primitivos e de fome que nunca foram saciados.

Con deve ter sentido, também, a evidência estava na protuberância


impressionante na parte da frente de sua calça jeans.

— Você estará vulnerável lá fora — ele murmurou. — Vamos nos


apressar.

Ele pegou sua mão e a levou ao longo das vias principais, onde algumas
pessoas estavam nas calçadas e as fachadas de vidro das lojas revelaram
pessoas dentro de pubs, lojas e restaurantes. Estranhamente, Sin percebeu que
passa-ram por apenas um par de veículos. Ainda mais estranho, era que de vez
em quando ela avistava casais se enroscando em becos e em ruas laterais.
Alguns estavam vestidos, alguns nus, outros em vários estágios sem roupas.
E...

— Isso é uma aldeia gay?

— Não.

— Então por que a maioria da ação é homem com homem?

— Pricolici estão com tesão — ele disse rudemente, enquanto a


arrastava passando por um casal que parecia fazer seu melhor para provar o
ponto de Con. — Especialmente durante sua adolescência humana que
equivale há anos e que se estendem até por volta dos 50 anos. Você sabe como
os cachorros machos sobem em qualquer coisa?

Agora mesmo ela subiria em qualquer coisa... Ela engoliu em seco.

— Sim.

— É praticamente a mesma coisa com os machos wargs jovens e não


acasalados. As fêmeas são menos insanas com a luxúria nessa idade, assim os
machos queimam seu excesso de testosterona com brigas e sexo. Geralmente
ambos ao mesmo tempo.

— O que explica por que muitos deles estão sangrando.

— O vencedor pega o perdedor.


Falando nisso, ela assistiu com uma fascinação mórbida enquanto dois
jovens do sexo masculino batiam um contra o outro até que um caísse no chão
e o outro montasse nele. O perdedor imediatamente parava de lutar e a
expressão súbita de prazer em seu rosto, assim como o endurecimento de seu
pau, dizia que isso não era uma situação de estupro.

— Existem regras aqui?


Ele puxou-a para que continuassem a se mover.

— Não pode foder, lutar, ou andar nu nas ruas principais ou em locais


como restaurantes, onde os seres humanos possam acidentalmente encontrar
o caminho para a cidade.

O lado humano que havia nela apreciava a necessidade de regras, mas


seu demônio do sexo queria fazer bem sujo, ali no meio da praça, só para
causar um pouco de impacto e agitar as coisas. Ela estremeceu com o
pensamento, sentiu uma onda molhada entre as pernas e se moveu em direção
à fonte. Como se Con soubesse o que ela estava fazendo, ele soltou um rugido,
baixo e erótico, apertou sua mão e a arrastou da praça.

Enfiaram-se por uma rua lateral e se depararam com três homens lutan-
do. Fascinada e imaginando como isso iria acabar, Sin parou, equilibrando-se
em seus calcanhares, quando Con tentou forçá-la a ir embora. Ela não
conseguiu uma oportunidade de ver como os homens iam resolver a batalha e
o sexo, porque Con agarrou sua cintura e puxou-a para fora de lá. Ela teria
lutado com ele, mas... Sim, sentiu-se muito bem por ter seus braços a seu
redor.

Ela estremeceu com o desejo quase incontrolável quando ele a colocou


no chão a meia quadra de distância do combate do trio, embora por apenas um
segundo ele tenha hesitado, seus dedos cavando seus quadris, sua respiração
ofegante correspondia à dela.

— Por que você está tão fortemente afetado com tudo isso? — Ela agar-
rou seus pulsos, segurando-o lá, desejando que ele chegasse mais perto. —
Você é... velho.

Ele riu, uma nota profunda e clara a tocou como uma onda agradável.

— Eu sou jovem pelos padrões dampiros. — Ele ficou sóbrio enquanto


olhava para ela, então respirou fundo e se afastou. — Normalmente não sou
afetado desta forma. É você. Você está pondo para fora algumas vibrações
infernais de foda-me.

— Não o suficiente, aparentemente — ela murmurou.


Ou ele a ignorou ou não a ouviu, mas ele pegou de novo sua mão e a
levou para baixo por mais um par de ruas de paralelepípedos até chegar aos
arredores da cidade e da estrada mais estreita, na qual corria ao lado da
muralha da cidade.

Mais uma vez, ela desacelerou com um som distante e estranho que
chamou sua atenção.

— O que é isso? Soa como uma briga de cão. Uma grande.


Con acenou, mas continuou andando.

— Quando a agressão cria faíscas em um grande grupo de wargs, eles se


transformam, não importa a hora do dia ou mês, para que possam lutar na
forma de besta.

Ela assobiou baixa e longamente.

— Vocês lobisomens tornaram a luta uma forma de arte. Viver com


vocês deve ser muito divertido.

Por alguma razão, ele ficou tenso.

— Nós lobisomens podemos ser muito gentis com nossas famílias.


Bastante verdade. Pelo que Sin viu, Runa era um perfeito exemplo.

O final da rua era um beco sem saída, com quatro pequenas casas com
telhados de palha, separado por alguns metros de terra e matas espessas de
árvores. Quando se aproximaram, um macho musculoso vestindo nada além
de calça jeans saiu de uma das casas, o olhar fixo em Con. Ao lado dela, o
cheiro de agressão flutuava sobre Con.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou baixinho.


Con não respondeu de imediato e, à medida que se aproximava, o
homem de cabelos escuros inclinava sua cabeça, embora com uma óbvia
relutância.

— Ele é um alpha — Con, finalmente, respondeu. — Mas eu sou mais


velho, mais forte e mais alfa. Nós decidimos isso alguns anos atrás.

Então... Con já havia batido muito nesse cara. Isso deve ter sido interes-
sante.

— Você fez amor selvagem e apaixonado com ele depois que você saiu
vitorioso? — Ela estava parcialmente apenas provocando, imaginando a luta, o
sexo e, novamente, uma resposta primitiva cresceu, e Deus, seus ossos derrete-
riam se ela não tivesse Con entre suas pernas. Em breve.

Um canto da boca de Con, exuberante e linda, virou para cima.


— Eu passei por isso. — O macho não levantou sua cabeça até que Con
parou em sua frente. — Dante. Bom ver você.

Dante deu um breve aceno.

— Sable está lá dentro. — Ele desviou o olhar para Sin, sua expressão
escureceu. Perigosa. — Quem é a fêmea? Ela não é uma warg.

— Ela é uma amiga.


Os lábios de Dante se levantaram em um rosnado silencioso.
Claramente, ele não a queria em nenhum lugar perto de sua família, mas Con
não deu a ele uma chance para protestar. Ainda segurando sua mão, ele entrou
na casa, onde o cheiro de carne assada deixou Sin com água na boca, e uma vez
que a porta se fechou, sua luxúria diminuiu de forma tão abrupta que ela se
afundou contra Con. Ele a pegou, segurando-a firme, até que ela pôde ficar
sozinha de novo.

— Você está bem?


Ela assentiu, grata pelo alívio temporário.

O riso das crianças veio de algum lugar da casa e uma mulher alta de
cabelos vermelhos vestindo um agasalho verde e uma camiseta veio pelos
cantos, sorrindo quando viu Con.

— Pai! — Ela correu para ele, mas caiu de joelhos aos seus pés. Ele a
levantou em um grande abraço.

— Pai? — Sin perguntou e ele deu de ombros.

— Tecnicamente, eu sou tatatatatara-avô de Sable, mas nós fingimos


que não existem tantos tataravôs nisso tudo.

— O que traz você aqui? — Sable deu um sorriso caloroso a Sin antes de
abraçar Con novamente, dando a seu pescoço um pouco de carinho e beijo,
muito parecido com a maneira que filhotes cumprimentam os mais velhos. Por
alguma razão, a exibição de afeição colocou um caroço estranho na garganta de
Sin. — Gostaria de ficar para jantar?

— Estou aqui só por um minuto — disse ele. — Não há tempo para


sequer sentar.

Franzindo a testa, Sable recuou.

— Do que se trata?
— Você já ouviu falar da FS.

— Claro. — Acenou a mão com desdém. — Temos guardas no portão


para impedir que wargs estrangeiros possivelmente infectados entrem.

— Você precisa levar sua família para outro lugar. Para algum lugar
isolado.

— Mas por que, se...


Con agarrou os ombros de Sable e a forçou olhar em seus olhos sérios e
mortais.

— Porque daqui a pouco se tornará de conhecimento que só os wargs


transformados são suscetíveis à doença e a segurança a sua porta não será
mais necessária.

Por um momento, a confusão rodeou os olhos de Sable, certamente


correspondendo ao da própria Sin, e em seguida o sangue do rosto de Sable,
que já era pálido, desapareceu, fazendo com que suas sardas se destacassem
como manchas de uma dálmata.

— Oh, deuses.

— Vai ser apenas uma questão de tempo antes que uma guerra civil
entre wargs aconteça — disse ele severamente. — Leve sua família para um
local seguro.

Ela deu um aceno trêmulo.

— Só um minuto — Ela correu para a porta, deixando Sin e Con


sozinhos na porta de entrada.

— Eu não entendi o que acabou de acontecer — disse Sin, ainda


olhando a abalada figura feminina. — Por que as notícias sobre os wargs
transformados podem ser ruins? Sua... filha... não é um dampiro?

— Nem perto disso. — Uma criança gritou em algum lugar da casa e


Con sorriu com carinho. — Antigamente, quando nosso número era muito
maior, as fêmeas dampiras, muitas vezes se acasalavam com os wargs.
Oitocentos anos atrás, minha única filha o fez. Seus filhos seguiram o exemplo,
a maioria com o sangue dampiro. Sable é uma pricolici e seu companheiro
também.

— Agora eu estou ainda mais confusa...

— Um de seus filhos é varcolac.


Oh, merda.

— Como isso aconteceu? — Ela esperou por uma resposta. E esperou.


— Con?

— Isso não é importante — disse ele sem rodeios, a flagrante omissão


foi suficiente para irritar Sin.

— Se não é importante, então não deve ser um problema para você me


dizer, certo? — Ela cruzou os braços sobre o peito. — E não é como se nós
tivés-semos algo melhor para fazer.

— É um segredo muito perigoso Sin. Algo que poderia destruir minha


família.

Sua raiva desviou bruscamente para ferir, o que a fez voltar de novo à
ira, por qual motivo de merda ele era capaz de afetá-la desse modo.

— Ah. Então você acha que eu iria usar a informação para prejudicá-los.
Boa. Deve ter sido um inferno você manter seu pau em alguém tão repugnante.

Raiva, palavras guturais caíram de seus lábios. Bom. Ele merecia estar
tão irritado quanto ela. À medida que as maldições cessaram, ele lançou seu
olhar como raio laser sobre ela, sua expressão firme, sombreada com um
inconfundível aviso.

— Quando um warg nascido dá à luz a um bebê humano, eles são


geralmente mortos antes que possam proferir um grito. Mas Sable não pôde
fazer isso. Ela mordeu a criança e tatuou uma marca nela como se fosse um
warg nascido.

— Então, eu estou supondo que ela pode entrar em uma série de proble-
mas se a criança for descoberta?

— Sob a lei dos wargs tanto ela quanto a criança poderiam ser executa-
das.

Sin fez uma careta, apesar dela não ter se surpreendido. Depois de cem
anos no mundo dos demônios, muito pouco a surpreendia. Mas agora ela
entendia sua relutância em contar o segredo.

— Se ambos os pais são wargs nascidos, como o garoto saiu humano?


Con hesitou, seus olhos encapuzados e ilegíveis. Finalmente, soltou um
suspiro e respondeu rispidamente.
— Sable entrou em temporada enquanto estava em um período sabático
privado. Ela acasalou com um warg transformado, mas foram interrompidos
pelo Aegis. Ele foi morto. Poucas horas depois, Dante a encontrou, a levou
durante o que restou do calor, e quando acabaram eles estavam unidos. Ela
veio a mim quando foi a hora do nascimento e confessou que pensava que os
filhotes podiam ser do macho morto. Ela deu à luz a gêmeos fraternos, um
warg e outro humano. Ela mordeu o humano, fez a marca e voltou para a
matilha. Nem mesmo Dante sabe a verdade.

Jesus. Isso era um inferno de segredo.

— Então, eles precisam levar o garoto para um lugar onde ele não possa
pegar a doença uma vez que a cidade se abra e wargs transformados possam
estar livres para ir e vir.

— Exatamente.

Sin ponderou o que ele disse e depois desabafou: — Onde está sua filha?
Você sabe, sua filha, filha.

Um triste sorriso tocou seus sensuais lábios.

— Ela morreu no parto. Eu não a conhecia bem. Eu havia deixado o clã


quando ela nasceu, mas eu a senti morrer.

Ela não teve tempo de pronunciar uma estranha condolência, porque a


porta se abriu e Dante passou por ela, sua mão grande envolvida em torno do
pescoço de Sable. Seus olhos verdes estavam avermelhados, seu rosto riscado
de lágrimas.

— É verdade o que minha companheira me disse? Roman nasceu...


humano? — Ele disse humano como se dissesse verme imundo.

Con olhou para Sable, que assentiu.

— Sim — ele disse, seus olhos tão frios quanto sua voz. — E se você
ferir a criança ou Sable, eu vou pendurar você pelas entranhas e fazer você
sofrer por um mês antes de morrer.

Tremendo com uma emoção tão forte que Sin poderia cheirá-la como
uma fumaça amarga, o macho warg liberou Sable e fechou os olhos. Quando os
abriu, lágrimas de cristal brilhavam em seus cílios.

— Eu teria matado a criança, se eu soubesse naquela época — ele disse


e o choro doloroso de Sable trouxe um arrepio e um silvo de Con. — Mas eu
não sou mais esse macho. Esse filho é meu e vou defendê-lo com minha vida.
Com um soluço, Sable voou para os braços de Dante e ele a segurou
firmemente, suas lágrimas se juntaram às dela.

Um respeito guardado suavizou a linha dura da mandíbula de Con.

— Você levará Roman para algum lugar seguro?

— Nós vamos embora dentro de uma hora.


Sin ficou do lado de fora enquanto os arranjos foram feitos e despedidas
foram ditas, e mesmo que eles tivessem que deixar a paz do lar, Sin estava
mais do que feliz em ir embora. Ela podia lidar com a luxúria muito mais
facilmente do que lidar com fortes emoções.

— Vamos. — Con fechou a porta atrás deles. — Eu quero sair daqui


antes...

— Tarde demais — ela respirou. Alta voltagem de luxúria, ainda mais


intensa do que antes, inundou seu corpo, fazendo sua mente distorcer e seu
sexo doer.

— Merda — Ele pegou sua mão e forçou-a a correr pelas ruas, usando
as vias principais, tanto quanto possível.

Alucinadamente, quanto mais rápido se moviam, mais quente ela ficava.


Era como se cada passo aumentasse ainda mais e, no momento em que
chegaram à praça da cidade, ela já havia desabotoado seu top e estava pronta
para que as mãos de Con estivessem sobre ela. Incapaz de esperar mais um
segundo, ela o puxou para uma parada. Os aromas potentes de desejo e perigo
que saíram dele, giravam dentro dela e ela balançou, chegando a preparar-se
contra ele.

— Sin... Não. Não me toque. — Seus olhos estavam selvagens,


brilhando com cacos de luxúria. — Eu vou perder... o controle. Vou ter você
aqui mesmo.

Ofegante, seu corpo formigou consciente, ela correu com as palmas de


suas mãos até seu estômago, deslizando sobre seu peitoral até que ela atingiu
seus ombros largos.

— Eu não me importaria...
Um som áspero irrompeu de sua garganta e muito rápido ele enlaçou
seus pulsos e os manteve longe dele e contra seu próprio peito.

— Eu não vou desvalorizar você.


Ela riu, mas o som foi rouco.
— Desvalorizar? Sério? Com as coisas que eu já fiz, eu não posso ficar
mais desvalorizada. — Surpresa cintilou em seus olhos e ela percebeu que
revelara um inferno de coisas sobre si mesmo que não pretendia. Mais do que
ela jamais dissera a alguém. Ela passou seu pé até sua panturrilha, tanto por
uma distração, quanto por estar à beira de saltar sobre ele. — E por que diabo,
você me teve em uma merda de armário de suprimentos devido a uma aposta.
Como isso é diferente?

Uma sombra cruzou seu rosto, quase como se a lembrança trouxesse


vergonha e sem dúvida ele sentia; na época ele insinuou que ele baixara seus
padrões para atender suas necessidades. Ele se deslocou para longe de seu pé.

— Você é um pequeno e amargo demônio. Seu passado deve ter sido um


inferno para lhe estrangular dessa forma.

— Foda-se — ela disse, mas até mesmo para suas próprias orelhas soou
mais como uma oferta do que uma rejeição. — Você não sabe de nada.

Cerrando os dentes, ele a afastou dele.

— Eu sei que eu nunca vou ter você em público, mesmo em um lugar


onde sexo em público é normal e aceitável.

Ela ergueu o queixo.

— Talvez seja normal para mim.

— Eu não duvido que seja. — Seu tom de voz estava nu, totalmente
desprovido de um tipo de julgamento que deveria ter acompanhado o que
disse. — Mas eu duvido que seja o que você quer.

Maldito seja. Maldito seja ele por de alguma forma olhar para sua alma
e a ler como um maldito livro. Seus olhos arderam quando ela virou e se dirigiu
para o portão da cidade.

— Sin. — Ela o ignorou. — Sin!


Desta vez, seu tom de voz afiado penetrou, junto com um arrepio de
seus pêlos e ela parou. Todos a seu redor, os jovens machos estavam
assistindo, seus olhos brilhando de fome. De onde teriam vindo? E por que eles
a estavam olhando desse jeito, enquanto poderiam estar fodendo uns aos
outros?

— Con — ela perguntou com a voz baixa. — O que está acontecendo?

— Eles sentiram sua excitação — ele murmurou. — E sua raiva. Eles


pretendem tê-la.
Isso não era bom. Sin poderia muito bem ser uma fêmea warg no cio e
poucos machos recuariam nessa situação.

Descobrindo suas presas em alerta, Con envolveu sua mão ao redor da


parte de trás do pescoço de Sin. Ao contrário de quando Dante segurou Sable,
isso não era uma coisa de dominação; era um sinal para os homens avançando
que ela era dele e eles teriam que passar por ele para pegá-la. Dele. Não, ela
definitivamente não era dele e nunca seria. Mesmo se ele não estivesse
destinado a uma vida isolada com seu clã, ele não se poderia ver vinculado à
ela, ao menos, não de uma forma não-erótica. E, no entanto, ele estava
vibrando com uma fúria surpreendente e ele ainda se estava afogando em uma
fome tão intensa que mal conseguia enxergar direito.

Alguns dos homens mais jovens hesitaram, mas os machos mais


agressivos e dominantes continuaram a vigiá-los, o brilho da luxúria (e luxúria
por sangue) incandescendo nos olhos deles. O ar estava espesso, encharcado
com antecipação violenta e a pele de Con apertou, preparando-se para uma
mudança indesejável para sua forma animal.

— Volte lentamente em direção ao portão. — Con disse, sua voz


arrastada tanto por necessidade quanto pelo fato de que suas presas encheram
a boca. — Não pegue uma arma. E por tudo que é profano, abotoe sua camisa.

Droga, ele estava com medo disso. Sin era um imã para problema. Como
ela conseguiu sobreviver todo esse tempo?

Um dos mais novos avançou. Con bateu, mandando-o para trás com um
poderoso golpe no queixo. Latindo, o garoto rodou de volta para a multidão. A
exibição incutiu um pouco de respeito nos outros e a distância entre Con e Sin
e a multidão aumentou.

Eles estavam quase chegando à parede quando o sussurro áspero de Sin


cortou através da névoa.

— O portão está fechado.


Filho da... Con arriscou um olhar sobre o ombro para o sentinela, cujo
olhar faminto estava fixo em Sin.
— Eu entro em pânico com a mentalidade de ódio do bando — ele
murmurou.

— Eu tenho uma ideia. — Sin afastou-se dele antes que ele pudesse
pará-la. Um par de machos começou a persegui-los, seus instintos de caça
ativando com a visão de seu alvo correndo para longe. Con pulou na frente
deles com um rosnado de gelar o sangue que os trouxe para perto. Ele mataria-
os e sabiam disso.

Ele inclinou seu corpo de forma que poderia manter um olho nos
machos com tesão enquanto checava o que Sin estava fazendo e ele estava
malditamente perto de engolir sua língua.

A forma como o sentinela estava engolindo Sin.

O cara fixou-a contra a parede, seus quadris triturando-a enquanto suas


mãos agarravam seu top. Uma ira selvagem e primitiva vomitou como lava
derretida através das veias de Con. Ver qualquer mulher ser atacada o irritava,
mas ele ainda podia sentir o sangue de Sin correndo por ele, ainda podia senti-
la como parte dele e a palavra minha era um zumbido fraco em sua cabeça.

Mas ele queria-a, ou queria o sangue dela? Ambos eram desejos


perigosos e ele precisava superar-se realmente rápido.

De repente, o sentinela afastou-se. Sin manteve um aperto no pulso


dele, sua expressão calma, serena... mas seus olhos brilharam fogo negro. Ela
disse alguma coisa e ele dobrou-se, perdendo seu café da manhã no
calçamento.

Apesar de seus movimentos serem bruscos, ele retirou uma chave de


ferro de seu bolso, cravando-a em um painel na parede, e o portão grosso de
madeira e ferro bateu aberto, suas dobradiças rangendo em protesto.

O bando de machos correu para o portão, bloqueando a saída, mas do


nada, um rugido furioso cortou através da névoa.

— Deixe-os ir!
Con soltou uma maldição, olhando para cima para ver Valko
caminhando de pé na parede. O líder do Conselho Warg apontou para o grupo
de machos e eles dobraram o rabo e escapuliram como vira-latas repreendidos.
Con poderia estar grato a Valko por salvá-lo, mas ele não precisava do cara
fazendo perguntas sobre porque ele estava lá.

Felizmente, Valko deu apenas um aceno lento e significativo a Con, que


deixou claro que Con o devia, e então saiu em direção à parede da torre norte.
Rapidamente, Con agarrou a mão de Sin e saíram rapidamente da
cidade e continuaram até que alcançaram o Harrowgate.

— Quem era o camarada na parede? — Ela perguntou quando eles


pararam.

— O presidente do Conselho Warg. Aquela era sua cidade. Seu bando.


— Con ainda não gostou do momento do aparecimento de Valko na parede,
mesmo que não tivesse nada fora do comum. Valko teria sido alertado pela
chegada de visitantes. — Então o que você fez ao guarda?

— Eu dei a ele Khileshi cockfire. — Um sorriso travesso iluminou sua


expressão. Deuses, ela era deslumbrante quando sorria assim. — Disse a ele
que seu pau ia murchar e queimar se ele não abrisse o portão.

— Pensei que você não podia curar uma doença uma vez que você a dá.

— Eu não posso. — Seus olhos brilharam com malícia que combinavam


com o sorriso que ela deu enquanto fazia um show de estudar as unhas. — Ele
estará fazendo uma viagem de emergência para UG.

Foi sua vez de sorrir.

— Legal.
Ele bebeu na visão dela em pé orgulhosa na colina, seu olhar selvagem,
feroz, seu cabelo negro e lustroso pegando vento e rodando em volta de seu
rosto e ombros. Como uma demônio do sexo, ela não foi criada para lutar, mas
havia algo dentro dela que era um guerreiro. Talvez sua descendência humana
desse a ela essa vantagem, ou talvez tenha sido sua vida difícil, mas alguma
coisa chamou o sangue dele de guerreiro e o consumiu de dentro para fora.

Ele queria levá-la ao chão, dirigir-se para ela em um acasalamento que


seria tão selvagem quanto as montanhas ao fundo. Ele a marcaria com seu
cheiro, seu gozo, seus dentes...

Santo inferno, ele precisava parar de pensar sobre suas presas na


garganta dela. Ele procurou na memória, tentando lembrar se havia sido assim
com Eleanor, a única fêmea que ele bebeu e levou-o ao vício. Ele lembrou sua
obsessão com o sangue dela, tão faminto que doía, mas por sua vida, ele não se
podia lembrar da necessidade insana por sexo. Lentamente, o sorriso de Sin
desapareceu e ela cuspiu no chão.

— Eu não acho que aquele guarda escovara os dentes em um ano.


Ele tinha o estranho impulso de colocar sua boca na dela, beijá-la até
que ela queimasse e provasse somente Con.
Claramente, eles estavam muito perto da vila de warg e ele ainda estava
sentindo os efeitos da natureza animal dos habitantes.

— Porque eles são assim mesmo? — Ela perguntou. — Eu pensei que


wargs eram um pouco mais... civilizados.

Ele olhou de volta para a aldeia, onde o portão foi aberto novamente e a
sentinela estava em pé, do lado de fora, observando-os através da neblina fina.

— Wargs nascidos realmente são lobos em roupa de humanos. É por


isso que eles vivem afastados dos humanos. Você nunca encontrará pricolici
vivendo em uma cidade com eles. Eles também são plenamente conscientes do
que fazem enquanto estão em forma animal e eles geralmente não matarão
humanos porque são espertos o suficiente para não se querer expor para a raça
humana. É uma das razões deles quererem exterminar os wargs
transformados. Os varcolac são um risco.

— Bem, eles não pareciam ter qualquer problema em matar-me.

— Você não é humana.

— Obrigada pelo lembrete — ela murmurou.


Ele não podia ajudar, estendeu a mão e colocou um cacho de seu cabelo
rebelde atrás da orelha dela.

— Você não aceita o que é, aceita?

— Eu não sei o que sou — ela disse, pisando fora de seu alcance.
Ele deixou sua mão cair de volta para seu lado.

— Como você pode ser tão velha quanto é e não saber? — Con sabia
muito bem o que ele era e há muito tempo aceitara isso, mesmo que nem
sempre tenha sido feliz com isso.

Ela encolheu os ombros.

— Eu pensei que sabia. Antes, nós éramos apenas mestiços vira-latas


sem nenhuma ideia de que tipo de demônio realmente éramos. Nós não
tínhamos nenhuma expectativa. Então Lore e eu encontramos nossos irmãos.
Agora nós conhecemos nosso demônio, mas não o que isso significa. Nós
sabemos o que demônios Seminus são, mas isso não faz nenhum bem porque
as regras não se aplicam para nós.

Ele não havia pensado nisso dessa forma. Mas então, ele cresceu muito
consciente do que era: um dampiro de uma linha que estava diminuindo da
realeza, que arrogantemente esperou para assumir o clã um dia, até que a
chamada para despertar disse “não, o mundo não gira a seu redor”. Ele poderia
não gostar do papel que nasceu para atuar, mas ao menos soube sobre isso sua
vida toda.

— Você pode fazer suas próprias regras.

— Oh — ela disse sedosamente, — eu realmente faço minhas próprias


regras. E eu nunca as quebro.

— Como o quê? Qual é uma de suas regras? — Ele estava começando a


pensar se uma tinha alguma coisa a ver com deixar dampiros loucos.

— Ninguém nunca me dominará novamente. — Ela ergueu o queixo


naquela posição teimosa que ele estava começando a admirar. Especialmente
porque isso descobria a coluna delgada de sua garganta e a forçava a arquear
as costas da maneira que fez quando ele estava dirigindo entre suas pernas. —
Eu nunca mais vou pertencer a ninguém, eu morrerei antes de permitir que
isso aconteça.

Ele lembrou-se de como ela pirou quando Shade disse que ela pertencia
à eles e ele perguntou-se quão abrangente era sua regra auto-imposta.

— Sobre o que estamos falando, Sin? Você não quer que ninguém lhe
domine... em seu coração?

Ela riu amargamente e entrou no Harrowgate.

— Eu não tenho um coração para alguém tomar.

†††††

Con pendurou sua bolsa sobre o ombro e seguiu Sin para dentro da
gruta do Harrowgate.

Eu não tenho um coração para alguém tomar.

Besteira. É certo que ela não parece dar a mínima para ninguém, exceto
para si mesma, e talvez Lore, mas Con testemunhara uma vez a maneira como
ela envolvia seu corpo ao redor das crianças de Shade e Runa para proteger o
garoto de um anjo caído do mal. Ela usou-se como um escudo e a preocupação
com o bebê escureceu sua expressão quando ela viu o sangue na pele dele,
sangue que acabou por ser o dela.

Sin pode se fazer de durona, mas definitivamente tinha um coração. E


alguma coisa dentro dele estava louco para incitá-la até ver quão errada ela
estava. Mas porque provar que ele estava certo era tão malditamente
importante?

Porque ela testa você. Porque ela é selvagem e imprevisível, e você


aceitará qualquer desafio que pareça impossível.

Sim, tudo bem, era por isso. Ele estava facilmente entediado, sempre à
procura de novas aventuras.

Nem sempre foi bem sucedido. Sua busca por emoção quase conseguiu
matá-lo algumas vezes, levou-o para baixo em alguns caminhos escuros e, de
uma maneira indireta, levou-o à situação em que estava atualmente.

Ele tornou-se um paramédico em parte porque Eidolon forçou a mão,


mas também havia um fascínio por fazer algo que ele nunca fizera. Ele foi
parceiro de Luc, que estava tão ansioso para arriscar seu pescoço quanto Con e
que instigara a aposta que teve Con nas calças de Sin. Deuses, a vida dava
umas voltas estranhas e irregulares. Con tocou com a palma o mapa da
América do Norte e Sin amontoou-se perto. Ele podia cheirar o fodido macho
warg nela e seus músculos contraíram-se com a necessidade de virar o rabo de
volta à cidade para matá-lo.

— Onde agora? — Ela perguntou e ele bateu no mapa.

— Montana. Montanhas rochosas do norte — ele disse, mais


agudamente do que ele esperava. — Era um dos lugares que Lore indicara no
gráfico da epidemia.

— Bem. — Ela deu um puxão forte no ombro dele. — Você não é um


grumpalufagus?

A porta brilhava aberta e ar fresco que cheirava a pinheiros inundou o


espaço pequeno. Ele praticamente pulou para dentro da floresta banhada pelo
crepúsculo, precisando afastar-se dela.

— Você quase nos matou — ele disse, sabendo que não era justo culpá-
la, mas a imagem dela beijando aquele bastardo não ia embora.

— Eu também consegui abrir o portão — ela apontou e ele cerrou os


punhos. — Nós poderíamos ter saído da cidade mesmo sem seu companheiro
líder do Conselho.

— Foi imprudente e estúpido, e você não fará isso novamente.

— Não farei? — Ela cravou os punhos nos quadris. — Não farei? Você
não tem nenhuma palavra em qualquer coisa que eu faça.
Sua mandíbula apertou-se.

— Quando se tratar de wargs, você me ouvirá. Eu os conheço. Eu sei


como eles reagem, eu sei como eles brigam e eu sei como eles têm luxúria...

— Oh, pelo amor de Deus, coloque um plug anal na porcaria do macho


valentão. Eu sei o que estou fazendo. Eu estou malditamente bem em matar e
foder, e eu usarei ambas essas armas...

Cego pela fúria, ele agarrou-a pelos braços, puxou-a contra ele e tomou
sua boca. Não havia nada gentil no beijo afinal. Tratava-se de limpar o outro
macho para fora da imagem. Era sobre dominação e toda aquela merda de
macho valentão. Tratava-se de garantir que todas suas intimidades com ela
eram sobre raiva ou pura luxúria, porque ele não se podia dar o luxo de
suavizar.

Não que ela tenha permitido que isso acontecesse. Ela gritou de
indignação e pisou no pé dele. Bateu contra seu peito. Então mordeu o lábio
dele com força suficiente para tirar sangue. Quando o sangue bateu em sua
língua, ela estremeceu, mas a dor aguda de prazer deixou-o mais duro e ele
enfiou a língua contra a dela, acariciando, lambendo, forçando-a a prová-lo.

E então ela não estava mais lutando. Ela não precisava. O fio da navalha
de uma espada estava mordendo sua virilha e ele congelou tão solidamente
como uma escultura de gelo.

— Beije-me novamente sem minha permissão — ela sussurrou contra


os lábios dele, — e eu castrarei você e venderei suas bolas em um mercado
Ruthanian de carnes especiais. Entendeu?

— Você não vai fazer isso — ele sussurrou de volta. — Você sentiria
muita falta delas.

Sin bufou e fez a lâmina desaparecer dentro do bolso enquanto dava um


passo para trás.

— Os homens estão sempre superestimando o valor de seus genitais.


Tão rápido, a raiva dele se foi e ele jogou a cabeça para trás e riu.

— Vamos lá — ele disse. — Nós temos trabalho a fazer.


Eles seguiram mais de uma dezena de metros ao longo de uma gasta
trilha de jogo quando um tiro ecoou, silenciando os grilos e enviando os
esquilos que saíram para sua última incursão antes do anoitecer deslizando em
seus buracos nas árvores. Sin e Con correram em direção ao som e em apenas
alguns metros seguiam ruídos de batalha mais violentos e o fedor de sangue.

Muito sangue.

O cheiro aumentou enquanto rodearam um afloramento de rocha e


encontraram duas pessoas mortas, provavelmente lobisomens, sob um
arbusto.

— Wargs — Con sussurrou, confirmando suas suspeitas.

— Nascido ou transformado? — Ela não via nenhuma marca para


indicar que eles eram pricolici, mas as marcas poderiam estar cobertas por
suas roupas. Ou sangue.

— Não sei.
Um grito rasgou através do ar e eles caíram pelo arbusto, sem se preocu-
par com discrição, nem mesmo quando romperam em uma trilha no meio de
uma matança.

— Oh, Deus — Sin derrapou até parar. Havia duas cabines pequenas
escondidas longe na floresta, mas elas devem ter abrigado várias famílias. Eles
estavam lutando, alguns em forma warg e alguns ainda em forma humana,
usando machados e facas. Um macho estava disparando uma espingarda em
um lobisomem pulando.

O chão estava encharcado de sangue e uma criança estava morta em


uma varanda. Uma criança. Um grande macho girou seu braço, cortando a
cabeça de uma mulher com suas garras enquanto ela implorava por
misericórdia.

— Escória varcolac doente — As palavras foram deformadas por seu


focinho animal, mas o ódio era tão claro quanto o sol acima.
Fúria irracional explodiu em Sin e ela lançou-se nos wargs nascidos,
cuja batalha engranada os separou dos outros. Atirando suas facas matou um e
sua adaga Gargantua terminou com outro. Ela perdeu a noção do tempo, do
contro-le e embora soubesse que Con estava rasgando através do pricolici
como um tor-nado através de um estacionamento de trailers, sua concentração
estava total-mente centrada em causar dor.

Finalmente, nada se movia. Sin ficou em pé no meio do pequeno campo,


entorpecida. Con ainda estava saltando na batalha, suas presas tão largas
quanto leões da montanha, seus músculos contraindo. Sin sentiu a escuridão
nele, a batalha e a luxúria por sangue que devia ter provocado sua própria, mas
por uma vez, ela estava apenas entorpecida.

Os wargs nascidos conseguiram tirar todos antes que eles caíssem


vítima das lâminas de Sin e das mãos de Con.

— Filho da puta — Con disse asperamente. Seu peito ainda arfando com
o esforço da luta. — Eles fizeram isso. Alguém vazou o fato de que apenas os
varcolac são afetados.

— Você acha que foi um membro do Conselho? Provavelmente há mem-


bros do UG que sabem. — Ela não mencionou que a neta dele e seu
companhei-ro sabiam também.

Ele varreu a área com seu olhar prata, seu corpo todo tenso, sua expres-
são ameaçadora.

— É possível que tenha sido alguém do UG, mas eu apostaria minha


bola esquerda que foi alguém do Conselho. Os varcolac estavam furiosos na
reunião. Não tenho certeza se o líder deles, Raynor, estava convencido de que a
FS não é uma conspiração para matá-los. E Valko... Ele tomará qualquer
desculpa para deixar os pricolici matar os varcolac.

— Toda essa coisa apenas continua ficando pior — Uma dor súbita
provocada por disparo em seu braço direito. Ela bateu a mão sobre o ombro
onde um de seus glifos, uma marca redonda em forma de um quadrante solar,
tinha se divido em dois. Estranho. Os cortes que geralmente apareciam em sua
dermoire eram linhas retas, mas esse era um zig zag, um Z perfeito que não se
estendia além das linhas negras desbotadas do círculo.

Con franziu a testa.

— Você está ferida?

— Não — Ela mentiu, porque a verdade era que ela não se importava.
Sua pequena picada não era nada comparada ao sofrimento que ela causou.
A mão de Con levantou para pegar sua bochecha e a carícia suave dos
dedos dele em sua pele poderia muito bem ter sido uma bola de demolição, do
jeito que rachou seu escudo de entorpecimento. Seu peito apertou e a garganta
fechou como todas as mortes empilhadas em sua conciência. Tudo isso era sua
culpa e ela de repente se sentiu como se estivesse se afogando em sangue.

— Eu tenho que consertar isso — ela sussurrou. — Tenho que terminar


isso, Con. Minha vida não pode ter sido sobre morte.

— Isso terminará, Sin... — Ele pausou, suas sobrancelhas morenas se


juntando. — Você ouviu isso?

Ela começou a balançar a cabeça, mas então um pequeno choro quebrou


o silêncio. Ela não esperou por Con. Ela correu em direção ao som e seu
coração quase parou quando ela viu uma mulher deitada na soleira da porta
aberta de um balcão atrás das cabines. Ela sabia imediatamente o que era: uma
cabana cheia.

Para wargs morrendo.

A fêmea encolheu-se ante a aproximação de Sin, seu olhar aguado cheio


de terror.

— Hey — Sin disse suavemente, enquanto afundava em seus joelhos. —


Está tudo bem. Eu não vou machucar você.

Con afundou em seus calcanhares ao lado de Sin, derrubando sua bolsa


médica no chão.

— Você está ferida?

— Doente. — Ela tossiu e sangue espirrou no chão. — Minha família...


eles estão...

— Desculpe-me. — Con puxou dois pares de luvas cirúrgicas para fora


da bolsa e ofereceu uma para Sin, mas ela balançou a cabeça. — Eles não
fizeram isso. — Em seu áspero soluço, Con agarrou o pulso da mulher
gentilmente com uma mão enluvada, provavelmente para checar seu pulso. —
Quando os primeiros sintomas apareceram?

— Hoje de manhã.
Con encontrou o olhar de Sin e ela assentiu.

— Pode ser cedo o suficiente para eu tentar. — Sin afastou o cabelo da


fêmea de seu rosto tão suavemente quanto ela pôde. Sua pele estava quente,
provavelmente sensível e ela não queria causar mais nenhuma dor. — Qual seu
nome?

— Pamela.

— Pamela, vou tentar curar você. Fique tranquila, ok?


Um tremor veio através de seu corpo delgado, mas ela assentiu.
Deixando sua mão na bochecha de Pamela, Sin colocou poder em seu dom. O
formiga-mento familiar feriu enquanto todo o caminho por seu braço até as
pontas dos dedos e, no momento que entrou no lobisomem, Pamela ofegou.

A voz calmante e profunda de Con assegurou a Pamela de que tudo


estava bem e, apesar de Sin não estar tão certa sobre isso, ela apreciou a forma
como ele estava tão calmo, tão certo, tão... complacente. Ele poderia ter pegado
o tra-balho porque Eidolon forçou a mão, mas Con pertencia ao campo médico
e ela perguntou-se se ele percebia isso.

Sin socou seu poder pelo corpo de Pamela, buscando o vírus.


Comparado ao outro warg que Sin tentara curar, essa tinha níveis muito baixos
e tirar os fios individuais do vírus não foi tão difícil quanto ela achava que
seria.

Eventualmente, o vírus estava morto. Desaparecido. Uma emoção e


exci-tamento cavalgaram-na tão duro quanto a exaustão e ela sorriu quando
soltou Pamela e ela caiu contra o lado da cabana.

— O vírus se foi — ela respondeu asperamente. — Eu acho que você


está bem.

Con olhou para cima enquanto escavava por seus equipamentos


médicos.

— E você?

— Eu poderia dormir por um mês, mas estou bem. — Sin estendeu a


mão e ajudou a outra fêmea a sentar-se. — Como você está se sentindo?

Pamela balançou, mas permaneceu em pé.

— Estou com fome.

— Isso é um bom sinal. — Con sorriu e embora esse não fosse o


momen-to ou lugar para Sin apreciar a masculinidade crua que ele jogou
quando fez isso, bem, ela definitivamente o apreciou. — Estou indo pegar um
pouco de san-gue, mas eu quero que você vá para o Underworld General.

— O hospital demônio?
— Sim. — Ele pegou alguns tubos de borracha de sua bolsa. — Você
encontrará o símbolo médico dentro do Harrowgate.

Enquanto Sin observava Con drenar sangue, ela esperou que isso fosse o
começo do fim para essa doença. O pesadelo tinha durado muito tempo, de
ma-neira que muitas pessoas morreram.

Quando Con terminou, Sin ajudou Pamela a ficar em pé, dobrando-a


para proteger a warg da visão de seus amigos e familiares abatidos. Agarrando
o ombro de Pamela, ela guiou-a em direção ao caminho para o Harrowgate,
mas congelou quando seu couro cabeludo começou a formigar com
consciência. Eles estavam sendo observados.

— Sin!
Ao grito de Con, ela girou, sentiu o sussurro de uma espada quando
nave-gou ao passar por sua orelha, ouviu um baque e um grito, e Pamela caiu,
um machado arremessado destinado para Sin incorporou entre os olhos de
Pamela. Oh... merda!

Tudo ao redor, a floresta veio à vida quando assassinos se lançaram e


lançaram suas armas. Sin mergulhou atrás do galpão, Con em seus
calcanhares. Uma demônio fêmea Croucher saltou dos galhos de uma árvore,
seus três olhos focados em Sin com intenção mortal. Con moveu-se em um
borrão de movimen-to, deslizando para trás do demônio para envolver seu
braço ao redor da gargan-ta enquanto Sin empurrou uma adaga no terceiro
olho da assassina. O grito da Croucher foi cortado por uma torção das mãos de
Con e pelo estalar de seu pes-coço. Ele liberou-a e ela desabou no chão.

Foi muito fácil. Essa fêmea era uma amadora, mas os outros não seriam.

Con deve ter chegado à mesma conclusão porque ele agarrou a mão de
Sin e puxou-a para dentro da floresta.

— Nós temos que correr!


Os sons de perseguição estavam quentes atrás deles e então, do nada,
um cavalo gritou. Sin e Con giraram ao redor e, puta merda, isso não poderia
ficar pior...

— Esse é o cara que vi em minha casa — Con respirou. — Só…


diferente. Sua armadura está manchada.

Manchada não era a palavra que Sin usaria. Estava suja, gasta e escorria
lama negra das rachaduras. Seu cavalo, um enorme animal branco com olhos
carmesim, estava esmagando os assassinos com seus cascos.
O objetivo cavaleiro mortal enviava flechas perfurando gargantas, cabe-
ças e corações.

— Agora nós temos que correr mais rápido — Con latiu e, sim, ela com-
cordava. De todo o coração.

— Há uma cabana a poucos quilômetros para cima na montanha — ele


disse, enquanto disparavam pela floresta. — Pertence a um mago ancião meu
amigo. Não é protegido por feitiço Haven, mas é protegido contra demônios.

Sin abaixou em um galho, mas pegou outro no queixo.

— Em caso de você não ter notado, eu sou um demônio.

— Eu posso levá-la através de seu campo místico minado.


Ela esperava que sim, mas baseado na forma como o dia estava indo, ela
não estava contando muito com isso.

†††††

O pai de Eidolon, Resniak, não era um macho fácil de conversar. E


apesar de Eidolon permitir a muito poucas pessoas agitá-lo, Resniak, um
corpulento demônio Judicia cuja expressão estava severamente presa, fazia o
intestino de Eidolon torcer em nós e foi sempre assim. Não importava que
Resniak não fosse seu pai biológico (o macho criara Eidolon como seu próprio
filho e os Judicia eram pais rigorosos).

— Favores não são algo concedido pelos Negociadores da Justiça — Ele


dizia enquanto parava em pé no escritório de Eidolon, preenchendo-o com
mais do que seu grande corpo verde e pares gigantes de chifres. Sua presença
vigoro-sa sugava todo o ar e deixava o peito de Eidolon apertado, como se o
oxigênio fosse um prêmio.

— Estou ciente disso, Pai. E eu admito que meu pedido é baseado no


fato de que Sin é minha irmã. Mas o pedido é razoável. Ela tem direito a uma
investigação.

Resniak preguiçosamente acariciou as pontas de sua barba negra.

— Uma investigação pode ser feita enquanto ela está presa.

— Concordo — Eidolon saiu do chão. Sem mais discussão. Ou sei pai


acharia seu pedido lógico, ou ele não iria.
Lógico. Era algo com que Eidolon crescera, mas como um demônio
Seminus puro-sangue, instinto e emoção superaram a lógica nos piores
momen-tos possíveis. E nos melhores momentos. Logicamente, ele deveria ter
matado Tayla na primeira vez que ele a viu, quando ela viera a seu hospital
machucada depois de matar demônios. Ao invés disso, ele ficara fascinado e
seu desejo por ela destruiu a lógica e o bom senso.

Graças aos deuses.

O tempo esticava e o nível de oxigênio no escritório continuava em


queda livre. Finalmente, seu pai concordou secamente.

— Eu não posso garantir nada. Mas verei o que posso fazer. Quanto à
punição que você, Wraith e Conall encaram por interferir com a prisão de Sin,
eu posso fazer um apelo pela suspensão até depois que a epidemia acabar —
Ele saiu sem sequer um adeus, mas ir tentar puxar alguns pauzinhos para tirar
Sin de problemas era o mesmo que alguém invadir uma grande festa e dizer
“eu te amo” e Eidolon desabou em sua cadeira com alívio.

Ele ouviu passos no corredor, rezou para que não fosse seu pai voltando,
e ligou seu computador.

— E. Eu esperei até que o embaixador Vulcano tivesse ido embora. Nós


temos um problema.

— Eu não quero saber. E pare de chamar os Judicia de vulcanos —


Eidolon não olhou para cima de seu computador.

Talvez se fingisse que Wraith não estava lá...

— Então eu tenho dois problemas para você.


Eidolon finalmente olhou para cima para ver Wraith e Kynan parados
na porta de seu escritório, ambos parecendo como se o Armagedon estivesse
próxi-mo. E como o Armagedon estivera próximo não muito tempo atrás, isso
era sério.

— O que é?
Kynan entrou, sua boca definida em uma linha sombria, seus olhos
azuis piscando.

— Estão falando que somente wargs transformados são afetados pela


praga. — Apesar da voz de Ky ser sempre rouca pelos danos sofridos durante
seus dias de Exército, estava ainda mais áspera do que o normal agora. — Eles
estão culpando os wargs nascidos pelo surto e wargs nascidos estão usando
essa oportunidade para destruir os wargs transformados.
— Merda — Eidolon respirou. — Nós precisamos preparar o serviço de
emergência para um fluxo de pacientes e contar para nossa equipe transforma-
da. — Embora os membros transformados da equipe ainda estivessem
isolados para evitar infecção, isolamento não os protegeria necessariamente do
extermí-nio.

Kynan afundou em uma cadeira e chutou seus pés com botas na mesa
de Eidolon. Engraçado como o humano estava confortável desde que fora
encanta-do por anjos e estava agora impenetrável para prejudicar. Então de
novo, o cara sempre esteve razoavelmente confortável em sua própria pele.

— Eu já contei a Shade. Runa deve estar segura na caverna, mas ele


ainda está entrando em modo de bloqueio total.

Sem dúvida ele estava. Eidolon não hesitaria em fazer o mesmo com
Tayla.

— Há mais — Wraith disse, porque sim, claro que havia mais. — Con
não estava respondendo seu celular, então eu fui a sua casa para checar Sin.

Eidolon franziu a testa. Estranho. Wraith não checava ninguém pela


bon-dade de seu coração.

— E?
A forma como Wraith mudou seu peso e não encontrou o olhar de
Eidolon enviou um tremor de medo por Eidolon.

— A casa foi explodida. Nada além de cinzas e fumaça.


Eidolon congelou.

— O quê?
Wraith enfiou a mão no bolso da calça de couro, alisando sua arma.

— Foi realmente fodido, E. Parece que a casa foi incendiada. O chão foi
todo rasgado pelos bombeiros, mas eu fiz uma varredura da área. Encontrei
vestígios de pegadas, poderia ser os assassinos atrás de Sin. Também encontrei
rastros de cavalo indo e vindo do Harrowgate.

— Cavalo do Inferno? — Kynan perguntou.


Wraith balançou seu cabelo loiro. Ele amarrou seu cabelo atrás com
uma tira de couro e as pontas batiam violentamente contra seu casaco.

— Seus cascos carbonizaram o chão. Essas eram trilhas regulares.


Grande, como cascos de Clydesdale.
— Wraith — Eidolon clareou a garganta, mas isso não livrou do grosso
em sua voz.

— Você acha que Sin e Con estão mortos?


Wraith deixou escapar uma longa respiração e o coração de Eidolon
despencou a seus pés. Quando Wraith finalmente falou, sua voz era forte e
clara.

— Eu encontrei evidência de um conflito perto do Harrowgate. Con não


sobreviveu por séculos sendo um estúpido e Sin tem instinto. Minha intuição
diz que eles saíram.

Desde que a intuição de Wraith estava geralmente certa e era tudo o que
eles tinham para continuar, Eidolon relaxou.

— Lore sabe?

— Não. Eu liguei para ele poucos minutos atrás para ver se ele ouviu
sobre Sin. Ele não ouviu, mas eu não disse a ele sobre a casa. Não vi nenhuma
razão para enlouquecê-lo até que soubéssemos alguma coisa.

— Concordo. — Eidolon checou seu relógio. Ainda várias horas até de


manhã, quando Wraith retornaria para casa e não deixaria seu filho e a compa-
nheira vampira até o anoitecer de novo. Não a menos que fosse uma emergên-
cia. — Você pode fazer o que puder para rastrear Sin e encontrar o que está
por trás do ataque à casa de Con?

Wraith acentiu.

— Há mais uma coisa. Quem quer que seja que incendiou a casa usou
fogo infernal. Eu pude cheirá-lo nas cinzas.

O estômago de Eidolon torceu-se.

— Alguém está seriamente com vontade de matar Sin e Con.

— O que é fogo infernal? — Kynan perguntou.

— É como gasolina do submundo — Wraith disse. — A merda é


massiva-mente poderosa, mas o que é especial sobre isso é que ele chama os
espíritos do fogo nas chamas.

— Os quais caçam qualquer um dentro do alcance do calor — Eidolon


terminou. — Seu uso é proibido no reino humano. Então, o responsável estava
disposto a arriscar ser pego e queimado vivo pelos Negociantes da Justiça. —
Eidolon amaldiçoou. — Temos que encontrar Sin.
— Eu estou nisso — Wraith saiu pela porta, mas Eidolon o deteve.

— Na saída, diga a Bastien que eu preciso vê-lo.

— Beleza — Wraith decolou, deixando E com Kynan.


Os olhos de Kynan estavam calmos, avaliando. Como Tayla gostava de
dizer, quando você olhava para ele, você sabia que ele estava lendo a situação
cerca de dez segundos antes de acontecer.

— Você chamou o R-XR? — Enquanto funcionando como um regente


local no Aegis, Kynan trabalhou com a unidade paranormal do Exército, o
Regimento de Polícia-X19, por anos depois de ser atacado por um demônio
enquanto servia em uma unidade do Exército regular, como um médico.

— Eles vão estar no modo controle de danos.

— Sim — suspirou Kynan. — Isto está determinado a se espalhar para o


mundo humano. O Aegis precisa se envolver no controle de danos, também.
Eu vou dirigir-me ao QG para uma conferência.

— O que você acha que eles vão fazer?

— Eu não sei. — Kynan passou as mãos pelo seu cabelo escuro


espetado, bagunçando ainda mais. — Mantivemos um monte de wargs
transformados sob vigilância para certificar-nos que se acorrentassem durante
a lua cheia, mas podemos acabar prendendo-os em vez de monitorá-los. — Ele
riu. — Quão estranho é isso? Não muito tempo atrás, estávamos matando-os e
agora pode-mos estar salvando-os.

— Você acha que os Guardiões irão proteger os lobisomens? Uma coisa


é não matá-los, mas outra é protegê-los ativamente.

Kynan parecia perturbado.

— Sim. Houve um incidente que fará meu argumento um pouco mais


difícil. — Ele mudou seus pés fora da mesa, abriu as pernas e apoiou os braços
sobre as coxas, quando ele se inclinou para frente, seu olhar era ainda mais
acentuado agora, seu condicionamento militar vindo à tona. — Um Guardião
recentemente se mostrou como um lobisomem. Lembra quando eu perguntei
se você sabia de algum warg que mudava durante a lua nova? Bem, o que quer
que ela seja, sua célula levou ao pé da letra e perseguiu-a para o Canadá.

19 No original, Ranger-X Regiment (R-XR).


Perderam-na, mas um Guardião está morto. No topo de tudo o que está
acontecendo no Aegis...

Eidolon xingou. Kynan não precisou terminar a frase. Muito do que


estava acontecendo era culpa de Tayla.

Correntes subterrâneas de discordância infiltraram-se através das


fileiras do Aegis com o fato de que Tayla, um meio-demônio, não era apenas
um Gardião, mas também um Regente à frente de uma das grandes células.
Kynan casou com Gem, irmã de Tay, o que agitou o pote ainda mais. E então,
dois meses atrás, Tay colocou um vampiro na folha de pagamento dos
Guardiões chamado Kaden20, que foi transformado em vampiro após ser
capturado Duran-te um ataque Aegis em um ninho.

Agora Guardiões estão quietos, enquanto outros estavam clamando por


mudança. Esta notícia do lobisomem poderia fazer a panela já fervente, trans-
bordar.

— Tayla com certeza tem uma maneira de agitar as coisas — Kynan


disse, como se estivesse lendo a mente de Eidolon.

— Tayla não seria Tayla se ela não estivesse sempre no meio de uma
tempestade de merda. — E Eidolon não via nenhuma outra maneira.

— Você salvou a vida dela, E. — A voz grave de Kynan estava quieta. —


Ela estava indo por uma estrada ruim e você tirou-a dela.

Um sóbrio e agradável calor encheu o peito de Eidolon.

— Ela salvou-me também.

— Você é um grande porre — Kynan disse, quando ele se levantou e


Eidolon quase riu. Tayla o acusou mais de uma vez da mesma coisa. — Se você
precisar de alguma ajuda com Sin, avise-me.

— Eu poderia aceitá-lo nisso. Boa sorte com o Sigil e sua lobisomem


desonesta. — Kynan saiu, passando por Bastien em seu caminho para fora.

A porta de Eidolon estava movimentada hoje.

— Bastien. Obrigado pela visita.


O warg balançou a cabeça, fazendo seu tufo de cabelos castanhos
encara-colados saltar em seus olhos.

20 Kaden tem um conto. Chama-se Eternity Embraced


— O que você precisa, senhor?

— Eu soube que a guerra civil está irrompendo entre pricolici e


varcolac. Você sabe alguma coisa sobre isso?

Os dedos de Bastien apertaram-se no punho da caixa de ferramentas,


que ele parecia ter sempre na mão, mas fora isso, ele não mostrou nenhuma
reação.

— Não, senhor. Eu não tenho mais contato com meu bando.

— Eu só quero ter a certeza que está seguro. E que isso não irá afetar
seu trabalho.

— Você quer dizer, se vou tentar prejudicar os wargs transformados que


vêm para o hospital?

— Sim.
Por um longo momento, o lobisomem olhou para o chão e, quando ele
finalmente levantou seu olhar, seus olhos castanhos normalmente suaves esta-
vam ferozes.

— Minha lealdade é para com este hospital, Doutor. Eu não vou decep-
cioná-lo.

Cara, Eidolon amava este lugar. A gestão de um hospital é composta por


dezenas de espécies diferentes, muitos dos quais eram inimigos naturais, o que
poderia se complicar, mas no final, eles estavam aqui porque queriam ajudar
os outros e Eidolon tinha muito orgulho disso. E pessoas como Bastien, que
alguns gostavam de dizer que era apenas um zelador, eram o coração da
instalação e tão importante quanto o cirurgião mais talentoso.

— Obrigado, Bastien. Que bom que você está de volta.


Após o warg mancar para longe, seu pé manco batendo no chão mais
forte que o outro, Eidolon discou o telefone. Arik, irmão de Runa e um
membro da cúpula do R-XR, respondeu no segundo toque.

— O que você quer, demônio?


Arik não era sempre o cara mais amigável.

— Eu quero saber se você está ciente de que os wargs nascidos estão


prontos para cometer genocídio sobre os transformados.

Arik xingou.
— Eu ia ligar para você para falar sobre isso. Tivemos relatos isolados
de wargs atacando wargs, mas não há confirmação ainda sobre se é ou não
violência de nascidos sobre os transformados.

— Wraith confirmou isso e ele não se engana com merdas como essa.

— Nós vamos ficar de olho nisso — Arik disse. — Tem algo de novo
sobre a FS?

— Talvez, mas eu não quero compartilhar nada até que eu ouça de


minha irmã.

Houve um silêncio quebradiço. Esses caras não gostavam de ser manti-


dos no escuro, especialmente se quem os mantivesse lá fosse um demônio. E
mesmo que a irmã de Arik, Runa, fosse acoplada com Shade, o cara ainda não
se acostumou muito com isso.

Finalmente, Arik suspirou.

— Eu acho que eu deveria trazer Runa para D.C.

— Você quer levá-la para a sede R-XR? — Eidolon riu. — Boa sorte com
isso. Você vai precisar de uma divisão blindada inteira para afastá-la de Shade.

— Eu vou conseguir uma, se eu tiver que fazer.


Eidolon jogou o copo de clipes de papel em sua mesa e começou a jogá-
los de volta, um por um.

— Você sabe que eles não podem ser separados.

— Shade e as crianças podem vir também. Eu não posso deixá-la


despro-tegida.

— Confie em mim. O único lugar mais seguro do que a caverna é o


hospital e se não fosse pelo fato de que eu estou recebendo dúzias de wargs
doentes, eles estariam aqui. Você tem o mesmo problema lá. Você pode ser
capaz de protegê-la de wargs nascidos, mas você está trabalhando com o vírus.
Você pode garantir que não vai de alguma forma encontrar seu caminho para
ela? — Silêncio foi a resposta de E. — Exatamente.

— Eidolon... Eu não tenho certeza se eu realmente tenho uma escolha


nesse sentido.

Um arrepio subiu pela coluna de Eidolon.

— Você foi obrigado a trazê-la.


— Não era uma ordem. Mais uma sugestão com palavras fortes.

— Por quê?

— Para sua própria proteção — Arik disse e quando Eidolon estava


prestes a xingá-lo por esta besteira, Arik acrescentou, — e porque sua
capacida-de de transformar-se à vontade pode fornecer alguma resistência a
FS ou nos ajudar a encontrar uma cura.

Ela pode mudar à vontade por causa do R-XR. Eles a usaram como um
teste para uma cura para a licantropia experimental, o que não funcionou, mas
havia dado a ela a capacidade de se transformar em um lobisomem a qualquer
momento que ela quisesse. Eidolon já tinha considerado seu DNA alterado na
equação da FS, havia realizado testes com seu sangue e com o vírus, mas ainda
não viu resultados encorajadores.

— Eu vou pedir para Shade enviar amostras de sangue. Talvez você


tenha melhor sorte do que eu. Mas não se atreva a tentar levá-la — ele
advertiu.

Arik amaldiçoou.

— Eu vou me segurar enquanto eu puder. Atualize-me sobre o resto o


mais rápido possível.

— Você faça o mesmo. — Eidolon pausou, lembrando-se da questão de


Ky sobre a nova geração de Wargs. Pode ser uma pista sobre uma nova direção
de teste. — Arik... você sabe alguma coisa sobre lobisomens que mudam
Duran-te a lua nova em vez da cheia?

— Não.

— Isso é o que eu pensava. Mantenha-me informado sobre a outra


merda.

Arik desligou quando o bip de Eidolon disparou. Mais três wargs


doentes deram entrada. Mais cinco estão sendo levados... mortos. Mas não por
causa da doença. Trauma.

Parecia que a guerra civil estava em pleno andamento.


Tudo doía. Kar gemeu. O calor rodeava-a, embora o frio atravessasse
seu calor uma ou outra vez. Abriu os olhos. Piscou. Voltou a piscar outra vez,
com a esperança de estar vendo coisas.

Não. Parecia estar em uma espécie de... sotão? Uma masmorra? O fogo
colocado em uma parede deixou-a ver o chão de terra pisada, coberto em
alguns lugares por palha. As paredes eram de troncos e pedras e uma áspera
laje de pedra estava pregada em uns enormes anéis, dos quais pendiam grossos
cadeados. Um gancho para carne pendia do teto.

Isto era um buraco de contenção para lobisomens. Sabia por que tinha
um.

Sua memória voltou em uma série de golpes em seu cérebro. Esteve


fugindo do Aegis. Procurando Luc. Foi presa. Tiro. E depois Luc estava ali. Na
verdade, tiveram uma conversa, mesmo que os detalhes fossem um pouco
confusos.

Ela cheirou o ar, respirou um bocado de odor de madeira queimada


misturada com o perfume almiscarado de warg e o perfume muito masculino
de Luc.

Algo bateu em cima dela, seguido pelo rangido de uma porta se abrindo.
Gemendo, girou sobre suas costas apertando com força seus dentes enquanto a
dor atravessava seu lado direito. Luc, com calças jeans e uma camisa de flanela
azul, descia pelas escadas com uma xícara fumegante, que cheirava a uma rica
e substanciosa sopa em suas mãos.

— Está acordada — Suas palavras saíram como um grunhido.

— Sim — disse ela roucamente.

— Esta grávida?

— Sim.
Oh, meu Deus, eu contei para ele. Suas lembranças agitaram-se e o
mesmo fez seu estômago. Ele perguntou se ela mataria o bebê se nascesse
humano e sua voz foi tão fria como o sopro do vento através de seu rosto. A
coisa era que o bebê provavelmente nasceria humano, não porque o pai fosse
transformado, mas sim porque ela era. Ele acreditava que ela era Varcolac
porque viu a marca que foi tatuada nela por um feiticeiro especializado em
marcas místicas.

Felizmente, durante sua festa de sexo no Egito, Luc não a colocou em


dúvida, como um warg ela pôde infiltrar-se no Aegis, mas então, não havia
pedido nada dela, nem sequer seu nome.

Luc afastou seu cabelo preto de seu rosto e ajoelhou-se a seu lado.

— Eu te trouxe um pouco de guisado.


O aroma saboroso do cordeiro encheu suas narinas e mesmo que a boca
se enchesse de água, ela não tinha vontade de comer. Queria voltar a dormir
apesar da dor que a atormentava e de sua pele estar tão sensível que doía
deitar na cama cheia de nódulos de onde podia sentir cada pedaço individual
da palha.

— Não tenho muita fome.


Ele dobrou a almofada atrás dela para elevar sua cabeça e colocou uma
colher de guisado em seus lábios.

— Você precisa comer para que eu possa dar-lhe algum remédio. Não se
preocupe — ele disse quando ela abriu a boca para protestar. — Não
machucará o bebê. — Aproveitou-se de sua boca aberta para enfiar a comida.

Ainda que não tivesse fome, gemeu ante o sabor.

— Está bom.

— Não é difícil colocar um pouco de carne, água e batata em uma


panela. — Afundou a colher na xícara e pegou um pedaço de carneiro. — Você
comerá tudo isso.

Sua ordem a irritou e mesmo que mal tivesse energia, retorceu-se


tentando sentar-se.

— Agradeço que tenha salvado minha vida, mas não precisava matar o
Guardião e...

— Eu não lhe salvei ainda.


Um calafrio a atravessou, lutando contra a febre e fazendo-a suar frio.

— O que você não me está contando?

— Você ainda poderia morrer. Provavelmente.


— Não adoce nada.
Sua expressão estava desprovida de emoção, lembrando-se do quão
friamente eficiente ele foi ao chantageá-la para que fizesse sexo com ele. Mas
essa conduta gelada transformou-se em algo quente e apaixonado, uma vez
que a guerra dos demônios acabou e a luxúria o tomou.

— Eu nunca faço isso.


Tomou um bocado que ele oferecia, mais para se dar a chance de pensar
do que qualquer outra coisa.

— Quais são minhas opções? — Apesar de tentar conservar seu nível de


voz, teve um pequeno tremor humilhante pendendo no final de sua pergunta.

— Precisamos levar-lhe ao Underworld General.


O hospital de demônios? O pensamento a assustou mais do que a
morte.

— Não sei...

— Não há escolha. Já montei um trenó na parte traseira de minha


motoneve. Sairemos depois da meia noite quando estiver completamente
escuro e com a esperança de que não tenham Guardiões esperando para nos
emboscar. — A colher arranhava a xícara enquanto ele pescava outro bocado.
— Se estivéssemos mais perto da lua cheia, você poderia transformar-se. Curar
suas feridas.

Um curioso calor percorreu sua pele e ela soube que se realmente


pudesse transformar-se durante a lua cheia, eles ou destroçariam um ao outro
ou despedaçar-se-iam na noite com paixão. Ela apostava no último.

O calor transformou-se em uma cócega e ela ofegou. Oh meu Deus,


como podia ter esquecido?

— Luc, que dia é hoje?


Ele franziu a testa.

— Por quê?

— Por que — interrompeu-se com outro suspiro. A dor, a sensibilidade


que havia sentido... não eram pela ferida. Sua pele esticou-se e seus músculos
contraíram-se duramente. — Oh, merda.

Os olhos de Luc ampliaram-se.


— Kar... — sua voz era um grunhido, mortífero, misturado com um
pouco de ansiedade. — Diga-me que não está fazendo o que eu acho que está
fazendo.

— Quem me dera pudesse — sussurrou.


Grunhindo, ele levantou-se de um pulo e jogou-se para trás.

— Não — ele negou com a cabeça, os dentes descobertos. — Você não


é...

— Eu sou... — repentinamente começaram a se abrir as articulações


com um pequeno som explosivo e os músculos afastaram-se a rasgos do osso,
ela apertou os dentes diante dessa agonia abrasadora. — Eu sou uma... Warg
Feast.

†††††

Uma Warg Feast.

Xingando violentamente, Luc agarrou um dos cadeados da parede e


enganchou a argola ao redor do tornozelo de Kar quando ela se curvou e se
contorceu. Os sons de seus ossos rangendo, sua pele rasgando e seu pelo
emergindo encheu o pequeno espaço e ele xingou ainda mais alto para que ela
pudesse ouvir cada maldita sílaba.

Uma fodida Warg Feast!

Jesus. Ele subiu as escadas de três em três degraus e foi embora


correndo para seu quarto, onde abriu a gaveta de sua escrivaninha e procurou
a Beretta. Na parte posterior da gaveta havia uma pequena caixa de madeira
talhada a mão e no interior havia seis balas de prata.

Precisava de apenas uma.

Desagradáveis grunhidos ecoavam de baixo, assim como o som de


garras na pedra. As correntes estavam feitas para segurá-los, mas ela era uma
criatura diferente. Era mais forte, cruel, violenta. O pior de tudo, a mordida de
um warg Feast era venenosa para outros wargs. Apenas um roçar de seus
dentes mataria um lobisomem normal em segundos.

Os Wargs Feast eram os monstros de jardim nos armários dos


lobisomens.
Por isso, tanto Varcolac como Pricolici treinavam equipes especiais
para encontrar os wargs Feast durante as noites de lua nova, depois de terem
se transformado, porque eram impossíveis de detectar enquanto estavam em
forma humana. Como resultado destas desalmadas equipes de execução, eles
foram caçados quase até a extinção, seus corpos tão vulneráveis a uma bala de
prata como qualquer lobisomem. Eram tão raros, de fato, que Luc nunca topou
com um.

Até agora.

Oh, ele sentiu o lobo nela, mas ela escondeu seu segredo especial muito
bem.

Desgraçada! Os passos de Luc eram pesados enquanto saía de seu


dormitório. Lá fora, o estrondo da neve na escuridão golpeava a janela e o
vento assobiava como que tentando chamar sua atenção. Embaixo do tablado,
os latidos de Kar conseguiram o que o vento não conseguiu e ele apertou seu
agarre na pistola.

Ela está grávida.

Foda-se! Não importava. Ela era uma assassina.

Como você.

Ignorando sua voz interna, que alguns poderiam chamar de consciência,


mas a dele foi embora há muito tempo, levantou o alçapão. Os rosnados de Kar
ficaram mais fortes e violentos. Moveu-se cuidadosamente pelas escadas, a
arma em sua mão, o dedo pronto sobre o gatilho.

Ela estava no canto, seu pelo vermelho brilhando sob a luz do fogo.

Ela era enorme, a maior fêmea que já viu, e quando ela se ergueu sobre
suas robustas pernas, elevou-se sobre ele. Raras vezes chegou a ver uma
completa transição warg através de seus olhos humanos, inclusive quando o
fez, teve pouco tempo para admirá-lo já que sua própria transição o pegava
desprevenido.

Mas agora... agora ele podia apreciar a poderosa forma de Kar, sua
estrutura muscular e seu pelo liso e brilhante. Sua enorme cabeça baixa, seu
olhar agudo e inteligente rastreando-o quando ele se jogou para um lado,
procurando o melhor ângulo para conseguir um tiro certeiro. Ele podia ser um
idiota brutal, mas não queria que ela sofresse.

Sem aviso prévio, ela balançou-se.

Em um só movimento suave, balançou para cima e apontou em seu


amplo peito. Ela parou em seco provocando um som metálico de correntes e
caiu em quatro patas com um sopro.
Ele amaldiçoou enquanto a confusão girava nos olhos azuis dela,
tornando-os turvos. Por quê? Ela deveria estar furiosa, tentando destroçá-lo
membro a membro.

Um gemido baixo e aflito veio do mais profundo de seu peito.

Como um paramédico, ele estava acostumado às queixas de dor de seus


pacientes. Em sua maior parte, ele havia endurecido, escolhera um campo de
força para que o sofrimento não o afetasse e ele se mantivesse adequadamente
neutro. Ou talvez simplesmente não lhe importasse. Era difícil dizer.

Mas a tristeza no semblante de Kar, de alguma forma, penetrou em sua


insensibilidade e enquanto ela ia para trás, ele franziu a testa. Depois soltou
uma maldição em uma longa respiração.

Ela está grávida. Merda. Não tinha nem ideia se a gravidez deixava as
fêmeas mais dóceis. Qual era seu jogo? Ela viera ao Canadá para matá-lo, mas
perdeu sua chance quando ele a prendeu antes que ela pudesse?

Não querendo matá-la até saber a verdade, baixou a arma.

— Você — murmurou. — Realmente tem a fodida sorte de eu estar de


bom humor.
Na hora em que Con e Sin chegaram a casa com segurança, estava
completamente escuro e nada estava os perseguindo tão de perto, apesar de
terem visto um par de aves de rapina voando sobre eles, suas asas de couro de
três metros e meio, roçando as copas das árvores enquanto procuravam por
Sin. Con odiava as malditas criaturas que deram origem à lenda do Homem
Mariposa; eram difíceis de matar e fediam a carne podre. Provavelmente
porque eles gostavam de usar as peles de suas vítimas.

Sin estava ainda com a atenção presa no modo assassino, mas, de vez
em quando, seu olhar ficava assustado e sua máscara de não mexa comigo
caía. O assassinato de uma dúzia de wargs abalou-a e Con imaginava a
frequência com que isso acontecia.

Ele tentou não pensar nisso enquanto estudava a cabana de dois


andares situada nas margens de um lago montanhoso.

— Não parece que Rivesta esteja em casa. — E, outra vez, a feiticeira


mestiça Nightlash raramente estava. Ela tinha uma dúzia de casas, espalhadas
pelo mundo todo e em Sheoul, e ela preferia os climas mais quentes. Para
junho, estava extremamente frio.

— Como você a conhece?

— Amiga de família — ele respondeu.


Ela levantou uma sobrancelha negra.

— Amiga íntima de família?

— Uma vez.
Rivesta não era sua feiticeira comum. Ela herdara um traço de
crueldade, mas seu lado humano balanceava isso e a deixava frágil o bastante
para saber com quem ela devia e não devia transar.

O que significava que dormir com ela era quase tão perigoso quanto
levar uma Nightlash sangue-puro para a cama.

Ele encontrou um dos amuletos dela pendurado no ramo de um abeto.


Ele fez um gesto para Sin.
— Dê-me sua mão.
Sin deu a mão, sem argumentar e isso disse a ele mais do estado mental
dela do que qualquer coisa, e sua garganta deu um nó. Não muito tempo atrás,
ele teria ficado feliz pelo silêncio e cooperação dela. Agora ele queria aquele
demoniozinho mal-humorado de volta.

Xingando para si mesmo, ele pegou o pulso dela. A pulsação dele


acelerou enquanto ele levantava a mão dela até sua boca e punha os dedos dela
entre seus lábios. Os olhos negros dela brilharam quando ele furou a ponta dos
dedos com a presa. O sangue dela em sua boca e ele quase grunhiu.
Rapidamen-te, antes de se perder em luxúria, ele abriu seu próprio dedo e
tocou com os dois no saco de musselina sobre suas cabeças. O sangue dos dois
infiltrou-se no amuleto e houve um estalo, um clarão e eles tinham cinco
segundos para atravessar o limite invisível.

Eles correram para a varanda da frente e um estalo atrás deles avisou


que a barreira estava fechada novamente.

Cuidadosamente, ele abriu a porta. O feitiço de Rivesta funcionava


contra criaturas sobrenaturais, mas não contra humanos, o que significava que
caçado-res ou ladrões ou invasores poderiam quebrá-lo.

— Eu checo lá em cima e você aqui embaixo — ele disse e Sin sumiu


como um fantasma.

Droga, ela era incrível e ele encontrou-se olhando para ela, seu coração
mais acelerado do que deveria estar.

Chamando-se de todos os tipos de idiota e mais alguns tipos extras de


retardado, ele desejou que sua pulsação desacelerasse e subiu na escada
espiral. Ele verificou o quarto e o banheiro, e encontrou-se com Sin no andar
de baixo, onde ela estava parada no meio da grande sala, olhando para a fria
lareira e se abraçando como se estivesse congelada.

No chão estavam os restos esmagados de seu celular.

— Acabou a bateria. A capa estava rachada.

— Então você o puniu — ele disse ironicamente, mas a bateria descarre-


gada não era boa notícia. Agora eles não tinham como pedir ajuda.

— Hey — ele alcançou-a e, como sempre, ela afastou-se e ele deixou o


braço cair. — Vamos ficar bem. Nada vai passar pela barreira de Rivesta —
Pelo menos, não até os assassinos que estão atrás dela perceberem que podem
mandar humanos. — Por que não descansa um pouco e eu penso em um plano
para nos tirar daqui.
— Dormir é para os fracos e você pode parar de tratar-me como uma
criança — ela girou e produziu uma adaga do nada, ou pelo que ele pôde ver.
— Vou lá fora patrulhar a área.

— Sin — ele disse cansado. — Pare. Você disse que está drenada.
Precisa descansar.

Ela parou, mas ficou encarando a porta. Em algum momento, ela amar-
rou o cabelo em um nó apertado cuja ponta ficava pendurada sobre uma tatua-
gem tribal pontuda na nuca e ele de repente quis libertar aquelas tranças e en-
terrar o rosto nelas. Nela.

— Preciso fazer algo.

— Ir lá fora e matar-se não é algo.


Ela deu a volta nele, toda descontrolada, de pé, e sim, cuidado com o
que deseja.

— Você viu aquelas pessoas, Con? — Ela gesticulou para a janela e para
a selva lá fora. — Você está se esquecendo daquela criança assassinada? Quem
se importa comigo? Quem dá a mínima se eu vivo ou morro? São aquelas
pessoas que importam!

— Droga, Sin. Sim, elas importam. Mas você também. As pessoas se


importam. — Ela bufou e ele agarrou-a, usou cada quilo de compostura que
tinha para não balançá-la. — Seus irmãos se importam...

— Eles querem se importar, mas não se importam. Como podem? —


Ela afastou as mãos dele e deu um passo para trás. — Tudo o que fiz foi causar
problemas a eles. Tudo bem, tem o Lore. Ele talvez se importe um pouco, mas
agora ele é casado e não precisa de mim.

— Confie em mim — Con disse. — Eles se importam e eles precisam


sim de você.

A dúvida queimou nos olhos dela, mas abruptamente, a luz tremeluziu e


ele soube que ela estava pensando na criança warg outra vez.

— Não importa — ela tirou o mapa do bolso. — Vamos para a


Alemanha. Houve um surto perto de Berlim.

— Nós não podemos simplesmente sair dançando pela porta da frente.


Precisamos de um plano. Rivesta escondeu saídas. Vamos encontrá-las e bolar
um jeito de nos tirar daqui. Só tome fôlego antes. Será melhor se pudermos
esperar pela primeira luz. — Muitos demônios podiam ver melhor à noite do
que de dia e a hora em que eles estavam mais cegos era enquanto o sol estava
surgindo no horizonte.

Ela olhou para ele, um dedo afagando o punho da lâmina e ele pergun-
tou-se se ela estava considerando a ideia de esfaqueá-lo. Então, como se um
interruptor tivesse sido acionado, ela fez a lâmina e o mapa desaparecerem, e a
raiva sumiu de sua expressão. Ela era a fêmea mais mercurial que ele já conhe-
cera.

— Preciso de um minuto — ela disse rispidamente. — Sozinha.


Ele soltou um suspiro frustrado.

— Vou assaltar a cozinha e ver o que temos. Fique na casa — Quando


ela se enrijeceu a seu comando, ele adicionou. — Estou falando sério, Sin. Se
você tentar sair, eu vou te espancar como te falei no hospital.

A luz da batalha faiscou nos olhos dela, desencadeando uma reação


primitiva dentro dele, uma reação que exigiu uma capitulação dela... debaixo
dele. Ele nunca devia ter ameaçado espancá-la, pois agora sua mão formigava
com a expectativa, seu pau endureceu e seu corpo inteiro se preparou para
sexo.

— Gostaria de ver você tentar — a voz rouca de Sin disparou direto para
a virilha dele, que estava com todo seu sangue, pois o cérebro estava passando
por vários cenários de espancamento agora.

— Eu não tento, Sin. Eu faço. Lembre-se disso.

— Tanto faz — ela murmurou, enquanto dava uma meia-volta rápida e


saía da cozinha. Ele observou a retirada rebolativa, que não fez nada para
esfriar o calor em suas veias.

Apesar de ser a última coisa que ele quisesse fazer, virou-se e começou a
tocar no armário, que estava lotado de enlatados e caixas. O freezer estava
quase tão abarrotado quanto o armário, mas a maior parte com carne crua não
identificável. Com uma careta, ele fechou a porta. Ele já comeu algumas coisas
questionáveis em sua vida, mas nunca se sabe o que os demônios consideram
ser comida.

A geladeira continha, na maior parte, garrafas de água, refrigerante e


cerveja. Con pegou duas Cocas e voltou para a sala de estar, onde Sin estava
sentada no sofá.

O cheiro de sangue estava carregado no ar.

A dermoire dela contorcia-se e um corte fino no formato perfeito da


letra Z cortava um símbolo circular em seu ombro pela metade. O sangue
gotejava pelo corte, mas era uma ferida profunda de quinze centímetros em
seu bíceps que chamou a atenção dele.

Ele soltou os refrigerantes na grande mesa de jantar e foi até ela.

— O que você fez?

— Deixe-me em paz.
Ignorando-a, ele pegou o braço dela e pressionou.

— Você tem que parar com isso, Sin. Onde está a faca? — Como ela
ficou quieta, ele gritou. — Cadê a maldita faca?

— Não tem nenhuma! — Ela gritou, soltando-se dele. O corte cresceu


mais um pouco e ficou mais largo, como se estivesse sendo cortado por dentro.
Puta merda.

Antes que ela pudesse detê-lo, ele deslizou a língua sobre a ferida e,
instantaneamente, ela fechou-se.

— Seu idiota! — Sin ficou de pé, olhou para o braço e, logo embaixo de
onde o corte estava, outra começou, crescendo rapidamente de uma linha
pequena de meio centímetro para uma de cinco centímetros em questão de
segundos.

— O que você está fazendo? — Con tentou agarrá-la, mas ela desviou
como uma dançarina.

— Eu disse para deixar-me em paz.


Acalme-se. Simplesmente recue. O gosto dela ainda estava em sua
língua, intensificando cada um de seus sentidos e emoções, o que incluía raiva,
e ela não precisava dele revoltado. O traseiro teimoso dela iria se calar mais do
que, bem, uma ostra.

— Não até você me dizer o que está acontecendo.


Ela olhou para cima, para as vigas de madeira, por um bom tempo antes
de dizer suavemente: — É minha culpa.

— Sua o quê?

— É como a maior parte de minha culpa surge — ela olhou de volta para
ele. — Eu me treinei para não sentir isso. Culpa, pesar, arrependimento. Mas
eles precisam ser libertados, então se apresentam na forma de dor.
Con soltou um suspiro cortante. Ele ouviu sobre isso antes
(manifestação de certas emoções em forma de sintomas físicos ao invés de
emoção verdadeira). E se era isso que estava acontecendo, ela estava sentindo
muita culpa. O sangue escorria pelo braço e pingava no chão, mas ela parecia
não notar. Quando ele chegou perto dela, ela o contornou para afastar-se dele.

De saco cheio e frustrado, ele se jogou sobre ela, derrubou-a sobre as


almofadas do sofá, puxou seu braço e outra vez lambeu a ferida para fechá-la.

— Pare com isso! — Ela desvencilhou-se, jogando a perna para cima


para causar algum estrago em suas partes, mas ele estava pronto e prendeu as
pernas dela com seu peso.

— Droga, Sin, você precisa sentir.

— Não, não preciso — ela levantou a cabeça, tentando morder o braço


dele, mas ele se mexeu e os dentes dela morderam o ar. — Você acha que eu
conseguiria fazer meu trabalho se me desmanchasse em lágrimas cada vez que
eu matasse alguém?

A fúria passou rasgando por ele. Ele não poderia (não iria) julgá-la por
seu trabalho. Ele também não era nenhum anjo. Mas ela estava se enganando e
enganando todas as vítimas da epidemia que ela começara.

— Então cada um que morreu por causa da doença que você causou não
consegue nada?

— Nada? — Ela perguntou, incrédula. — Eu sangro por eles.

— Sério? — Ele olhou para o braço dela, que tinha outro corte aberto. —
Você acha que tem sangue suficiente para cobrir as mortes de todos os wargs
que passaram pelo hospital? E aquela criança que acabamos de ver morta?

— Cala a boca — ela falou.


Ele passou a língua sobre o sangue de novo e ela resistiu, mas ele não se
moveu.

— Você vai sentir isso, Sin. Eu te prometo.

— Vá se danar.

— Sinta — ele disse, a voz baixa e mais severa do que ele pretendia. —
Lembre-se de todos que morreram.

— Não.
O braço dela se cortou. Ele lambeu.
— Eu não vou deixar você sangrar. Sinta.

— Fale por você — ela rebateu. — Quão mal você se sente quando você
chuta seus amigos humanos na sarjeta com mentiras.

— Não estamos falando de mim, Sin.

— Você quer que eu fique infeliz? — Ela gritou. — Você me odeia tanto
assim?

— Não! — Ele gritou em resposta. — Eu me importo tanto assim — ele


congelou, incapaz de acreditar que acabara de dizer isso.

Sin piscou, seus cílios exuberantes emoldurando a surpresa em seus


olhos. Então ela bateu nele com a mão livre, forte o bastante para ranger os
dentes dele.

— Seu idiota. Seu idiota mentiroso. Eu entendo que você tem uma
grande dívida com Eidolon, mas eu não sou tão idiota a ponto de cair numa
mentira dessas.

— Jesus. Eu não disse que estava apaixonado por você nem nada disso
— Oh, não mesmo. Nunca. — Mas eu não te odeio mais. — E quando isso
aconte-ceu, ele não tinha certeza.

— Por que não?

— Você pode até ter começado a epidemia, mas você não tinha a inten-
ção.

Sob ele, o corpo dela relaxou, só um pouco.

— Então por que você quer que eu sinta toda essa culpa?

— Porque não é só culpa que você está prendendo dentro de si mesma.


É tudo. Você precisa liberar isso e aprender a confiar em seus sentimentos.

A pele dela se cortou.

— Não — Um pouco de firmeza escapou por sua voz, mas claramente


não foi o bastante.

Abaixando mais o peso sobre ela para mantê-la contida, ele arrastou a
língua em seu braço.

— Desista, Sin. Sinta.


— Eu... Se eu pensar sobre aquela criança, as coisas que eu fiz... — seu
corpo inteiro começou a tremer e os olhos ficaram líquidos.

Vê-la, em tamanho conflito, o arranhou e ele afastou-se calmamente, e


ela o jogou no chão. Com velocidade quase vampírica ela ficou de pé e saiu
correndo pelas escadas.

Ele ficou de pé, agarrou-a, e girou-a para ficar de frente para ele.

— Sem besteira, Sin. Sinta o que você fez — ele pegou a mão dela e a
pressionou contra o peito, onde o coração dela pulsava dolorosamente rápido.
O dele também estava. — Permita-se sentir algo por outra pessoa.

— Eu te odeio — a voz dela estava tão tremida que ele mal conseguia
entendê-la.

— Isso já é alguma coisa — ele disse suavemente.


Abruptamente, os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Con... — ela engoliu em seco, várias vezes.

— Deixe acontecer.

— Estou... com medo.


Em um impulso, ele a envolveu nos braços.

— Libere.
Por um tempo insuportavelmente longo, ela tremeu. E então ela deu um
gemido agonizante, apavorado, animalesco, que deixou o coração dele
apertado.

— Isso dói — ela gemeu. — Oh, Deus.


Os soluços dela ficaram mais fortes e rápidos, e ele achou que deveria
estar tomando alguma medida de prazer da dor dela, mas tudo que ele queria
fazer era parar isso. Talvez ele tivesse cometido um grande erro. Ele quase a
libertou, quase pediu desculpas, mas quando ela começou a empurrá-lo, ele
apertou os braços em volta dela. Ela era forte e, como a luta dela ficava mais
frenética, ele precisou esmagá-la contra ele.

— Libere! — Ela tentou se jogar para trás, tentou chutá-lo, arranhá-lo,


mordê-lo. Ele aceitou, deixou-a fazer o estrago que quisesse. — Deixe... ir... —
A ordem saiu como um gemido e uma súplica, e quando a luta dela diminuiu,
ela começou a soluçar de novo.
— Sin — ele sussurrou no cabelo dela. — Shh... — Relaxando um pouco
o aperto, ele pôs um dedo sob o queixo trêmulo dela e levantou seu rosto.
Olhos negros nadavam em lágrimas que deixavam uma trilha sobre as
bochechas.

Sem pensar, ele beijou seu rosto molhado, primeiro um lado, depois o
outro.

— Não — Ela grunhiu, mas seu corpo caiu contra o dele. E quando ele
pressionou os lábios contra os dela, ela se agarrou a ele como se ele fosse uma
jangada e ela estivesse se afogando.

Ele lambeu os lábios dela, facilitando a entrada, sem querer forçar isso.
Nos braços dele, ela se sentia pequena, frágil, de um jeito que ela nunca se
sentiu, um jeito que ele não acreditava ser possível, e alguns instintos malucos
sobressaíram, fazendo-o querer cuidar dela, mimá-la e deixá-la forte outra vez.

Apesar dela não participar ativamente do beijo, ela também não estava
lutando e ele teve seu momento, mordiscando sua boca, afagando seus lábios,
seus dentes, até finalmente, sua língua. Ele começou com um ritmo suave para
dentro e para fora de sua boca e, devagar, bem devagar, o calor surgiu e ela
começou a responder.

As mãos de Sin afagavam as costas dele, tentativamente no começo, mas


quando o beijo se aprofundou, intensificou-se, seu toque ficou mais firme, até
que ela esfregava não só as palmas das mãos contra ele, mas também os seios
contra o peito dele.

— É isso — ele sussurrou contra os lábios dela. — Toque-me.


Sin baixou a mão até o zíper dele, mas ele pegou seu pulso para detê-la.

— Não aí. Não ainda.

— Mas...
Ele calou-a com outro beijo, esse ainda mais urgente, enquanto a
carrega-va para o chão. Com uma mão, ele segurava as nádegas e a envolvia
embaixo dele, e com a outra, ele segurou a cabeça dela, contendo-a para o
beijo.

As coxas dela o seguraram em um forte aperto, sua vagina suave se


esfregando, mexendo os quadris dele para frente mesmo que ele quisesse
manter essa coisa toda em paz. Mas os quadris dele já estavam cheios, seu
sangue animal espesso e quente em suas veias, e as montanhas, a selva em
volta deles, chamavam sua natureza primitiva.
Isso exigia que ele a pegasse com segurança, uma rude ligação que faria
os dois gritarem. E enquanto ela chegava ao orgasmo, ele tomaria seu sangue,
também...

A ideia o fez ficar tanto quente quanto frio. Ele queria nada mais que se
preencher com ela enquanto ele a preenchia. Mas, como sempre, no fundo de
sua mente estava o medo do vício, algo que ele sabia estar precariamente
perto.

Ele não podia ser responsável por outra morte causada por sua incauta
fome por sangue feminino.

A língua lisa de Sin passou por uma das presas dele e então subiram e
desceram, afagando, e ele gemeu, esquecendo-se de tudo, exceto dela. Nesse
momento, ele precisava se concentrar em fazê-la se sentir bem. Em fazê-la se
esquecer dos terrores do dia e dos terrores ainda por vir.

A coisa mais difícil que ele já fizera foi evitar arrancar as roupas dela e
mergulhar dentro dela, especialmente quando ela começou a se balançar
contra ele, sua carne magra ondulando em ondas sinuosas. Um “não”
suavemente pronunciado acompanhava cada movimento de seus quadris. O
corpo dela queria, mas a mente ainda não aceitara isso. Se ele fizesse o que o
corpo exigia, uma transa rápida, dura, ela estaria a bordo. Mas a ternura a
assustava.

— Fácil — ele murmurou, enquanto deixava uma trilha de beijos pelo


queixo, até o pescoço, onde a pulsação dela batia loucamente sob os lábios
dele. — Se você realmente não quer isso, eu paro. Mas é sua hora, não é?

Ele sabia que não era. Oh, ela estava manifestando as vibrações de
“transe comigo” comuns dos súcubos, mas não em quantidades desesperadas,
no estilo “pegue-me agora”. Mas ela estava nervosa, com medo e precisava de
uma desculpa para fazer isso porque ela queria, não porque ela necessitava.

— Sim — ela falou rispidamente, a mentira pareceu ficar presa em sua


garganta.

— Então eu cuido de você — ele murmurou. O problema, ele percebeu


enquanto sua fome emergia, seria cuidar de si mesmo.

†††††

Sin estava muito assustada.


Era preciso muito para assustá-la. Mas de alguma forma esse dampiro
sexy que ela beijava mexia com a ansiedade e a necessidade de que isso fosse
além da parte física. Ele a forçou a confrontar emoções que ela nunca quisera
experimentar e ela ainda estava cambaleante por isso, tentando enfiar aqueles
sentimentos de volta na caixa em que estavam trancados por tanto tempo.

Sexo frio e pesado a ajudaria a fazer isso acontecer.

Con inclinou-se para trás, só um pouco, para que ele pudesse tirar a
blusinha e o sutiã dela, as finas correias de couro da adaga, e depois as botas,
calças e as bainhas das coxas e dos tornozelos. Ele fez uma pilha bagunçada
com as armas, algo que a deixou nervosa, mas então ele a tocou novamente e
as armas ficaram esquecidas. O coração dela sibilava pela caixa torácica
enquanto ele deslizava seus dedos longos e talentosos por seus seios. Ela
inspirou, inalando os cheiros almiscarados do desejo masculino e da batalha
que ainda ocorria na pele bronzeada de Con. A luxúria agarrou-a, transformou
seus mús-culos em gelatina e deixou sua vagina molhada.

Contorcendo-se, ela deixou a cabeça cair no chão de madeira dura com


um palavrão frustrado.

— Pare de provocar — ela foi para as calças dele outra vez, mas ele
impe-diu-a, seu aperto no pulso dela impiedoso, quase ao ponto de doer.

— Vou fazer amor com você, Sin. Não vamos transar. Vamos devagar,
com muitas daquelas preliminares que eu falei para você.

O peito dela se constringiu com alarme.

— Por quê?
Ele fez um som que era algo entre uma risada e um ronronar.

— Só você questionaria brincadeiras eróticas extendidas — os dedos


dele cavucaram entre as pernas dela, passando como plumas sobre os lábios
carnudos de sua vagina. — E eu pretendo transformar você em meu
playground pessoal.

Oh, Jesus.

— Eu... não posso — ela não sabia como. Mas, mais que isso, fazer amor
deixá-la-ia aberta, vulnerável. Transar era fácil, dois corpos de chocando para
alcançar um breve momento de prazer. Fazer amor envolvia emoções emara-
nhadas e mentes se encontrando até o orgasmo ser mais que físico... E ela não
era nada boa nisso.
— Você pode e você vai fazer — ele tirou os jeans, deixando o corpo
magro e corado nu, os olhos prateados brilhando à luz da lua que jorrava pelas
janelas, as presas faiscando molhadas. Pequenos músculos se flexionaram em
seu pescoço, braços, abdômen, onde uma linha fina de cabelos loiros atraía o
olhar dela. Seu pau estava tão rígido que se curvava para o estômago, as veias
pulsando com a intensidade de seu desejo. Ele parecia um deus, um demônio,
um animal selvagem que pretendia ter o que queria.

E ainda, havia uma ternura latente na expressão e no toque dele


enquanto ele rondava pelo corpo dela. Alguma coisa deu um solavanco no
peito dela. O coração, algo que ela acreditava estar completamente isolado,
estava reagindo a esse homem de um jeito que nunca fez antes.

O pânico a envolveu e com um grito, ela empurrou-o e engalfinhou-se


para ficar apoiada nas mãos e nos joelhos. O terror deixou-a constrangida e ela
escorregou tentando ficar de pé. Um grunhido baixo e perigoso soou atrás dela,
e ela gritou antes do corpo pesado de Con cobri-la e deixá-la de barriga no
chão. Uma mão puxou os braços dela sobre a cabeça, prendendo-a, enquanto a
outra entrava entre as pernas dela.

— Por favor, Con — ela implorou, mas não tinha certeza do que estava
suplicando. Ela tentou soltar os pulsos, mas seus quadris levantavam-se de
encontro com os dedos dele enquanto eles a penetravam.

A respiração dele estava quente e desesperada contra o ouvido dela, e


ela percebeu que ele havia mordido sua orelha e usava a boca como uma forma
de contê-la. Ela fez um som de igual desespero, uma súplica de alto tom por
mais. Por menos. Ela não sabia qual.

O fato de que ela fizera tanto barulho era um sinal de que estava com
problemas.

Ela sempre foi calada em suas paixões, mas Con tinha um jeito de
persua-di-la, quer ela gostasse ou não... E, oh, sim, ela gostava daquilo...

Ele a controlou com o peso do corpo, suas pernas fortes que prendiam
as dela, e aqueles dedos que começaram um deslizar erótico para dentro e para
fora da vagina dela. Ela não gozaria com o que ele estava fazendo, mas ele
podia deixá-la tão perto que ela poderia explodir no momento em que ele a
penetrasse mesmo se uma gota de lubrificação escorresse da ponta do pau
dele.

Gemendo, ela inclinou a bunda na direção de seu pau, que pendia pesa-
damente na dobra das coxas dela.
— Ainda não — Ele murmurou. — Quase — Sua língua fez um
movimen-to lento e molhado em volta da orelha dela. — Você promete ser
boa? — Ele apertou a mão em volta dos pulsos dela para enfatizar.

— Sim — ela grunhiu. — Só me foda.


A risada profunda dele vibrou deliciosamente os órgãos dela.

— Não vai ter nada disso.

— Então eu quero muito matar você agora.


Desta vez, a risada dele foi silenciosa, mas ela sentiu no subir e descer
dos ombros dele atrás dela. Cuidadosamente, ele soltou-a e desceu pelo corpo
dela. Seus lábios beijaram a coluna dela, sua língua lambia a pele dela e suas
presas raspavam o quadril dela. Mas que... Ela tentou levantá-lo, mas ele pôs a
palma da mão nas costas dela e pressionou-a para baixo enquanto passava a
outra mão sob a barriga dela para levantar só o quadril.

Quando ele mordiscou a nádega dela, ela gritou.

— O que você está fazendo?

— Beijando sua bela bunda — E então sua língua estava entre as pernas
dela e ela gritou com a sensação maravilhosa. A ponta da língua moveu-se
rapidamente sobre o clitóris dela e então escorregou para afundar em um calor
escorregadio.

— Oh, Deus — ela tremeu com a sacudida da língua dele enquanto ele
repetia a sequência. Cada mexida, cada movimento, cada empurrão penetrante
arrancava um som diferente dela e, caramba, por que ela alguma vez pensou
que aquela preliminar era uma ridícula perda de tempo?

— Você gosta assim? — Ele disse contra sua carne íntima, a vibração
rugindo através dela e levando-a tão perto do orgasmo quanto ela poderia
chegar sem sêmen a preenchendo.

A frustração pôs um limite na resposta dela, que era mais que um grito.

— Sim!
De repente, ele girou-a para que ela ficasse de costas no chão, as pernas
abertas e a boca dele entre elas. Um ronronar animal emergiu dele enquanto
ele lambia e chupava, e ela gritou quando ele empurrou dois dedos dentro dela.

— Con, eu preciso... Preciso... de você.


Ele levantou a cabeça, a prata em seus olhos girando com calor
derretido.

— Preliminares antes.

— Mas eu não consigo gozar assim.


O sorriso dele era crueldade pura.

— Sim — ele insistiu. — Você pode — ele levantou de entre as pernas


dela, bloqueando a luz da lua que jorrava das janelas da frente. Seu pau era
uma coluna grossa e sombria contra sua pele bronzeada e a garganta dela
apertou e a boca ficou seca quando ele o empunhou e começou a bombar.

Segurando o olhar dela com o seu, ele pegou a mão dela e substituiu a
dele pela dela.

— Acaricie.
Ela nem considerou a ideia de desobedecer a seu comando gutural. Ela
apertou a carne dura dele desde a base até a ponta enquanto ele empurrava
contra o pulso dela. A respiração dele ficou mais irregular, os movimentos
menos coordenados e ele jogou a cabeça para trás e soltou um rugido que
chaco-alhou a casa. O gozo esguichou na barriga dela, um creme que
formigava. Ele tremeu, teve espasmos, até finalmente ele apertar o pulso dela e
fazê-la parar.

Ele ainda estava duro, seu pau pulando na mão dela.

— Eu posso controlar quanto sêmen eu libero — ele suspirou. — Um


benefício de ser um dampiro.

Um de muitos benefícios, ela estava descobrindo.

— Isso é tão legal — ela arqueou o quadril e envolveu as pernas nas


coxas dele. — Você ainda pode gozar dentro de mim, certo?

— Eu vou gozar dentro de você — ele disse. — Mas não agora.

— Que droga! — Ela bateu nele, só um pouco de brincadeira, mas ele


pegou sua mão, beijou as juntas dos dedos e mergulhou de volta para entre
suas pernas. A língua dele era um chicote impiedoso em sua pele macia e
inchada, e quando ela estava prestes a começar a soluçar de frustração, ele
alisou sua barriga e passou o dedo na piscina quente de umidade que ele havia
deixado ali.

Os lábios dele grudaram em seu clitóris e ele chupou forte, a língua


circulando e movendo-se rapidamente... E então ele inseriu um dedo
profundamente em sua vagina. Foi como se um raio tivesse a atingido. Cada
célula de seu corpo explodiu de êxtase, seu sangue ferveu e o prazer disparou
coluna acima e chegou a sua boca na forma de grito. O dedo dele girou dentro
dela enquanto a boca continuava trabalhando em sua carne e ela gozou outra
vez, e outra vez e outra vez, seu corpo sacudindo descontroladamente, até que
finalmente, piedosamente, ele parou e ela ficou fraca no chão.

Ele engatinhou pelo corpo dela, os músculos tensos se juntando


enquanto ele se movia.

— Não terminei com você, coração — ele grunhiu. — Não. Estou. Nem.
Perto.

Um tremor chacoalhou o corpo dela com a corrente de posse na voz


dele. Ele não terminou porque não conseguiu dela o que ele queria. E quando
ela olhava para o olhar aquecido dele, ela soube o que ele queria.

Sua alma.
As palavras quebradas e sussurradas de Sin “Eu não posso” quando ele
disse que eles iam fazer amor em vez de ficarem atracados fazendo sexo
violento e sujo esmurraram Con. Ele sabia naquele momento que nunca
ninguém fizera isso com ela, não mostraram para ela qualquer tipo de compai-
xão ou atenção durante o sexo e ela não saberia como lidar com isso, aceitá-lo
ou sentir-se merecedora. Durante muito tempo, ele entendeu que seu duro
exte-rior era uma defesa contra as coisas que ela fez e viu no trabalho, mas
agora ele visualizou algo dentro dela, uma quantia muito baixa de autoestima.

E a culpa, pelo menos parcial disso, era de Con.

Suas próprias palavras, ditas logo antes da primeira vez que tiveram
sexo, voltaram com força total. Ela perguntou por seus motivos e ele fora bem
claro. Eu não quero conhecer você. Eu quero foder com você.

Quantas vezes ela ouviu isso em sua vida? A resposta ele sabia, muitas,
e ao mesmo tempo que ele não poderia apagar todas elas, ele poderia
compensar sua própria vergonhosa insensibilidade.

— Eu vejo você, Sin — ele sussurrou. — Eu vejo você.


Ele não sabia se ela escutara, mas antes que pudesse recuperar-se dos
meia dúzia de clímax que ele lhe dera, Con levantou-se, pegou-a nos braços e
afundou suas presas em sua garganta. Ela ofegou, um som doce e feminino que
quase o derrubou sobre os joelhos novamente. Subiu os degraus de dois em
dois em direção ao quarto, caíram os dois na cama. Em algum momento, ela
pegou uma de suas adagas, ele perguntou-se se ela achava que precisava se
proteger dele... ou se este era um hábito que criara pela vida perigosa que
levava.

Gentilmente, ele extraiu a lâmina de sua mão. Ela não protestou,


embora tenha prestado bastante atenção para onde ele levou o punhal, na
mesa de cabeceira.

Usando sua coxa para separar suas pernas, ele afundou entre elas. Seu
eixo escorregou entre suas dobras inchadas e, instantaneamente, ela trancou
suas pernas em sua cintura, pedindo, tentando-o. Seu picante sangue
misturan-do-se com o sabor de seus orgasmos, alimentando seu desejo.
Seu estômago e nádegas apertados, e ele concentrando-se em manter o
controle, ao deslizar lentamente para dentro dela, em vez de ser rápido,
transando com ela no colchão como o instinto exigia dele. Ele fez as coisas
devagar até este ponto e não ia parar agora.

Ainda não.

Seu núcleo quente em volta dele, sugando e retalhando seu controle.


Seu corpo cantarolou com luxúria e nova energia com o sangue dela. No fundo,
a conexão com ela intensificou-se. Sentiu-se drogado, querendo... precisando...
de mais. Era como se cada engolir o fizesse ter mais fome em vez de saciá-lo.
Oh, isso era ruim, muito ruim...

A dermoire de Sin iluminou-se, juntando-se ao calor de suas veias.

— Quase, Con — ela respirava. — Está quase desaparecendo.


Ele teve que parar. Foi apenas um momento. Ela deve ter percebido sua
relutância, porque seu cabelo arrepiou-se.

— Desta vez, vamos terminá-lo.


Da última vez, ele teve força de vontade para afastar-se, mas então, ele
não se havia enterrado profundamente nela. Agora, ele estava impotente, um
escravo de seu sangue. Ele engoliu em seco, uma e outra vez, sabendo que ele
atravessara uma linha.

— Está feito — ela engasgou. — O vírus... se... foi.


Ele mal ouviu. O êxtase havia assumido, o sugado para um turbilhão
que não poderia escapar. Mais... ele precisava de mais.

Sin gritou com o prazer que a dominava. Tinha o perigo de se viciar... A


vítima não sentiria nada, mas a euforia e o orgasmo eram drenados com a
morte.

Deus, não!

Con rugiu quando ele rasgou sua garganta com as presas. Seu corpo
todo convulsionou e o desejo imediato começou novamente. Ele passou sua
língua sobre os furos, saboreando o gosto, ele jamais teria o suficiente de Sin.

Frustração, raiva, luxúria combinados em um humor cáustico, mas de


alguma forma ele conseguiu manter-se calmo ao invés de bombear dentro dela
com estocadas fortes. Mas de certa forma o ritmo suave foi uma punição.
Forçando-a a aceitar a bondade de forma cruel. Isso definitivamente não era o
que ela queria.
— Mais — ela gemeu e ele intencionalmente puxou-a para trás,
seguran-do-a na extremidade.

— Eu sou o primeiro? — Ele sussurrou, alguma parte profunda e


egoísta dele querendo saber com certeza, queria ouvi-la dizer que ele era o
único homem que até aquele momento havia feito amor com ela.

Ela jogou a cabeça para trás, expondo o pescoço longo e gracioso, derra-
mando o cabelo que era como seda preta sobre o edredom de cetim vermelho.

— Con...

— Diga-me. — Ele debruçou-se sobre ela, tomou seu peito na boca e


sugou até ela gemer. — Eu... sou... o... primeiro?

— Sim. — A palavra saiu quase inaudível, mas carregada de emoção:


tristeza, raiva, tristeza. Por um momento, ele pensou que ela iria quebrar, mas
depois de um momento ela cravou os dedos em sua bunda, ele estremeceu de
prazer. — Agora, por favor...

Ele deveria sentir-se vitorioso, mas sentiu-se como um bastardo.


Furioso consigo mesmo, com ela, com todo mundo, ele soltou-se, martelando
dentro dela e o resultado foi eletrizante. Um grito rasgou sua garganta e ele
explodiu em um milhão de pedaços. Sin juntou-se a ele, o efeito de liberar sua
semente dentro dela foi magnífico. Ela quebrou, contraiu o corpo, seu núcleo
ordenhan-do-o completamente.

Quando acabou, quando seus sentidos voltaram ao normal, ele percebeu


que embaixo dele, ela enrijeceu. Ele inalou, necessitando saber onde estavam
suas emoções, e sim, misturado com o cheiro de sexo havia uma nota acre de
raiva.

Bem, você queria que ela sentisse. Disse que iria fazer acontecer.
Prometeu que iria acontecer.

Pela primeira vez em sua vida, ele desejava ter quebrado uma promessa.

†††††

— Seu filho da puta — Sin falou.

— Sim, eu sou um filho da puta por fazer você gozar.


— Não é disso que estou falando e você sabe — Sentia-se nua, bem mais
que fisicamente, de qualquer maneira. Ele, de qualquer forma, arrancou parte
de sua blindagem emocional, deixando uma ferida exposta.

Con levantou a cabeça e ela viu tristeza em seu olhar, antes dele descan-
sar a testa na dela, de olhos fechados.

— Diga-me.
Ele não precisava dizer qualquer coisa. Ela sabia o que queria. Ela
tremia, e ele simplesmente segurou-a, quebrando-a com a força de sua vontade
e a força de seu abraço.

— Eles... me deixam.
Seus olhos se abriram.

— Quem deixou você?

— Todo mundo — ela sussurrou. — Se eu me preocupo com eles, ou se


quero que eles se preocupem comigo, eles não podem. Eles me deixam. —
Deus, ela não podia acreditar que estava derramando suas entranhas dessa
forma. A laceração emocional que ele fizera estava sangrando, um constante
fluxo de palavras que ela não conseguia parar.

Suavemente, rolou-os de lado e sua mão acariciava suas costas, persua-


dindo que ela falasse.

— Você tem Lore.


— Ele deixou-me também.

— Lore? O que aconteceu? — Ele colocou o rosto em seu peito, a melhor


coisa que poderia ter feito, porque ela não podia falar olhando para ele.
Quando ela não disse nada, porque ela não encontrava as palavras, ele
acariciou sua garganta. — Comece com algo fácil. Como quando você era uma
criança.

Ela quase riu, porque não foi nada fácil.

— Vamos. — Sua voz era rouca. Comandando, mas de alguma forma


encorajadora. — Conte-me sobre seus pais.

— Oh, isso é uma boa. — Sin olhava para seus peitorais bem
desenvolvi-dos enquanto falava. — Minha mãe era humana. Ela ficou louca.
Ela fodeu um demônio que havia convocado e quando soube que estava
grávida ela tentou abortar. Ela não conseguiu e ela acabou dando a luz a mim e
a Lore.

— Ela sabia que vocês eram demônios?

— Sim. Ela acreditava piamente que ela fodeu Satanás. Todo mundo
achava que ela era louca. Então, depois que ela tentou nos matar,
abandonando-nos na neve ainda recém-nascidos, meus avós nos adotaram,
batizaram-nos de Sinead e Lore, e trancaram-na em um asilo.

— Você cresceu pensando que era humana?

— Sim. — Às vezes, quando os médicos achavam que os tratamentos de


sua mãe estavam dando resultado e ela estava melhor, eles permitiam que Lore
e Sin a visitassem. Mas as visitas sempre davam errado. — A única vez que
questionamos foi quando começamos a ver nossa mãe e, quando ninguém
estava por perto, ela nos dizia que desejava que estivéssemos mortos. Que
éramos a semente do diabo.

A mão de Con congelou em suas costas e ele jurou.

— Isso deve ter doido.


Ela deu de ombros, mas sim, havia machucado. Lore lidara com isso
muito bem, mas Sin chorava por dias após as visitas.

— Meus avós ajudaram-nos com ela.

— Seus avós parecem pessoas boas.

— Eles eram — Quando ela se esforçava bastante, Sin ainda podia


sentir o cheiro dos biscoitos caseiros da avó. Conseguia lembrar-se dos
abraços, as histórias antes de dormir. O segredo e os risos compartilhados
entre seus avós. Eles amavam-se muito. Eles nunca foram ricos, mas os
tempos difíceis só os aproximavam.

— E então minha mãe fugiu do hospital. Lore e eu tínhamos dezoito


anos, dois dias antes de nosso décimo novo aniversário e ainda vivíamos com
nossos avós, quando ela chegou e os matou. A única razão pela qual ela não
nos matou também, foi que eu rolei quando ela estava tentando esfaquear meu
coração. A faca entrou em meu ombro. Eu gritei e Lore veio de seu quarto para
impedi-la.

Con pressionou um beijo em sua cabeça e era tão carinhoso, tão íntimo,
que ela respirou fortemente. Con pareceu perceber o que havia feito, seu
grande corpo ficou todo tenso, como se ele não acreditasse em suas próprias
ações.
— Sinto muito — disse, mas se ele estava arrependido de beijá-la assim
ou sobre seu passado ela não sabia.

De qualquer forma ele deixou-a desconfortável. E talvez um pouco...


exci-tada.

— Está tudo bem, sem problemas. — Mas sua bravata era falsa e ela
per-guntou-se se ele sabia disso. A verdade é que, em todo o tempo, ela foi
devasta-da além do consolo. Ela teve algum tipo de choque que durou
semanas. Se não fosse Lore forçá-la a comer, a viver, ela poderia ter morrido.
— Lore cuidou de mim. Ficamos na casa pouco mais de um ano e depois
descobrimos que tudo que ela dizia sobre nós era verdade.

Ela nunca esqueceria aquela noite. Era lua cheia. Assustador. Seu braço
direito começou a queimar e ela assistiu com horror como os vergões queima-
vam sua pele. Lore viera para casa de seu emprego em uma fábrica e ele apare-
ceu com o rosto contorcido de dor, seu braço queimando como o dela.

— Algumas das memórias são escuras. — Ela traçou com os dedos as


costelas de Con, tinha necessidade de colocar as mãos para trabalhar, porque
ela não poderia alcançar sua adaga, que ela gostava de manusear num hábito
nervoso. — Mas algumas são cristalinas. Nós desenvolvemos nossas
dermoires, e uma desesperada... necessidade. Lore tinha o pior. Ele lutou com
o que estava acontecendo com ele e teve uma fúria selvagem. — Ela
estremeceu, lembrando como sua pele ficou vermelha, as veias salientes. Seus
olhos, brilhando fogo carmesim, tinham como alvo a morte. — Eu acho que a
raça Sems é uma espécie de loucura durante seu primeiro ciclo de maturação e
eles precisam de muito sexo para passar por isso. Lore... Isso era diferente para
ele. — Pelo menos, foi diferente, enquanto ele estava dentro de casa. Depois
que ele saiu, ela só poderia adivinhar o que ele havia feito. — Ele destruiu a
casa. Não sei como sobrevivi, achei que ia morrer. Saí de casa depois dele, mas
voltei antes dele. Um par de dias, eu acho. Quando ele voltou... — ela tomou
uma respiração profunda e irregular.

“— Onde você estava?

— Eu não sei. Em toda parte. Em nenhum lugar. — Olhou em torno da


cozinha. — Eu fiz isso? — Ela balançou a cabeça.

— Sinead, desculpe-me. — Ele colocou o rosto nas mãos. — Eu... matei


e... eu fiz coisas terríveis.

— Eu também — ela sussurrou. Os dois dias passados em favelas


irlandesas de Boston deixaram-na abalada. Sua cabeça levantou e ele
estendeu a mão para ela. Ela encolheu-se longe dele, não querendo que ele a
tocasse, estava suja, mas ele não compreendeu e seu rosto caiu. — Eu sinto
muito...

— Eu preciso... — ela não pôde terminar. Ela só queria subir e deitar


na cama e rezar para que quando ela acordasse novamente, tudo isso fosse
apenas um pesadelo.”

Ela foi para a cama e quando ela se levantou na manhã seguinte, Lore
tinha ido embora. A nota sobre a mesa dizia: — Eu não poderia arriscar ferir
você. Eu amo você.

— Ele arrumou as malas e partiu. Eu não o vi novamente por mais de


três quartos de século.

— Setenta e cinco anos? Jesus. O que aconteceu com você? — Quando


ela não respondeu, porque sua garganta havia se fechado, Con levantou o rosto
e pousou os lábios nos dela, devastando-a e fazendo o nó em sua garganta
ainda maior. — Você pode me contar. Por favor, Sin.

Ela teve que engolir várias vezes antes de sua voz retornar. Finalmente,
ela enfiou o rosto dela contra ele e disse: — Eu te disse... Saí de casa por um
par de dias logo após nossa mudança estranha, logo após Lore me machucar.

Con enrijeceu.

— Ele não...

— Não... Deus, não. Ele ficou furioso, insano, mas não havia nada
sexual. — Com Con relaxado, ela continuou. — Depois disso, eu precisava de
algo, mas eu não sabia o quê. — Ela agarrou-se a Con como se estivesse se
afogando. — Eu era virgem. Eu nunca havia sentido excitação antes. Não
assim, de qualquer maneira. E o sexo não era algo que minha avó já tivesse
discutido comigo. Tudo que eu sabia era que, dentro, eu estava em chamas. Eu
sentia cólicas e dores, e imediatamente me sentia atraída por cada homem que
eu via.

Ela fechou os olhos, odiando relembrar o pior momento de sua vida.

— Eu estava apavorada. Acabei em uma das favelas irlandesas de


Boston... — Estava febril, com dor. Ela agarrou as mãos de vários homens,
implorando para eles fazerem algo, que ela nem sabia como colocar em
palavras. Ela foi poupada do físico, Lore durante a transformação sofreu, mas
sem dúvida ela parecia uma pessoa louca e um homem golpeou-a com força
suficiente para fazer sangrar seu nariz. Outro foi seduzido pelos feromônios
que ela vinha colocando para fora, mas quando ele tentou levá-la para um
beco, uma mulher, supostamente sua esposa, parou entre eles e Sin foi
obrigada a fugir.

Ela finalmente chegou à parte mais degradada da favela, que cheirava a


matadouros e a fumaça, e dois bandidos jovens a levaram para trás de uma loja
da esquina e deram a ela o que ela precisava. Ela chorou por horas, amontoada
atrás de algumas caixas, confusa, com medo, fisicamente saciada, mas mental-
mente atormentada.

— Deus — Con sussurrou e ela percebeu que falara em voz alta. — Essa
foi sua introdução ao sexo?

— Oh, não foi de todo ruim — disse ela, incapaz de manter o sarcasmo
fora de voz. — Imagina meu choque quando eles atingiram o clímax... e eu
também. — Uma lágrima quente escorreu de seu olho. Ela era nojenta. A
horrível criatura que saía, não importa quem, ou o que, a fodesse e o quanto a
machucassem.

— Você não pode lutar contra sua natureza, Sin. Você é o que é.

— Então não há nada sobre si mesmo que você odeie?

— Sim — ele olhou para o chão. — Sim, há. O que aconteceu depois
disso? Você buscou sua própria espécie? Ou tentou?

— Eu não sabia qual era minha espécie e eu nunca tive a chance de


descobrir. — Ela mexeu os dedos dos pés contra os dele, como uma coisa
íntima, curiosamente aleatória para fazer. Principalmente porque ela nunca,
nem uma vez, permaneceu na cama com um homem como esse. Estava
esfregando os dedos como amantes normais fazem? — Depois que Lore me
deixou para meu bem, eu senti-me suja e nojenta, não era digna de ficar na
casa de meus avós por mais tempo. Eu vaguei ao redor da cidade, vivendo
como um cão vadio. Você sabe, sob pontes e fazendo truques para conseguir
comida.

Ela hesitou, medindo a reação dele, mas tudo o que fez foi acariciá-la em
círculos suaves. Relaxando um pouco, ela continuou.

— Um dia, um homem aproximou-se de mim. Ele estava bem vestido,


falava com um sotaque europeu e disse que poderia cuidar de mim. Eu estava
faminta e desesperada, e fui com ele. Acontece que ele era um demônio. Um
traficante de escravos. Eu nunca sequer soube de que espécie ele era (ele era
ter’taceo, então ele nunca pareceu nada além de humano). — Retomou as
carícias nas costas de Con, contando suas costelas. — Ele foi bom no início, até
eu confiar nele. E então ele começou a usar-me. Uma vez que aprendemos a
extensão de meu dom e de minha necessidade de sexo, eu tornei-me seu
prêmio assassino.

Novamente, ela esperou para ver a reação dele, nenhuma veio.

— Ele lidou com um monte de demônios e eu economizei o suficiente


para fazer isso. — Ela esfregou a mão sobre a tatuagem na parte de trás do
pescoço. — É encantado. O demônio imbuído com mágica para aliviar minha
necessidade de sexo.

Con arrastou um dedo sobre o padrão e ela gostou de sentir seu carinho.

— Sinto muito, mas não funcionou.


Ela franziu a testa.

— Ele fez um bom trabalho. Você deveria ter me visto antes.


Con seguiu com as carícias leves e soltou uma leve maldição.

— O que aconteceu depois?

— Eu fiquei com ele por 30 anos e então ele vendeu-me para outra
pessoa depois que eu tentei escapar muitas vezes. Meu novo mestre era
desagradável. Ele bloqueou-me totalmente, negando-me sexo.

Desta vez, a maldição de Con saiu forte e desagradável.

— Por quê?
Seu estômago se revirou com a memória da impotência e humilhação.

— Castigo, diversão. Eu não sei. Ele esperava eu me contorcer no chão,


implorando por socorro. — Ela riu amargamente. — Era assim, eu não me
importava se o alívio vinha na forma de sexo ou de uma bala.

Mas o que a experiência ensinou era que ela nunca mais ficaria a mercê
de qualquer pessoa quando o assunto fosse sexo. Agora que estava livre, ela
nunca mais seria a propriedade, especialmente de alguém que seria o
fornecedor da mesma coisa que ela precisava para sobreviver. Ninguém jamais
teria tanto controle sobre ela novamente.

— Onde ele está? — Gelo poderia ter se formado com as palavras de


Con. — Vou arrancar sua medula espinhal e estrangulá-lo com ela.

— Ah, que doce. — Ela aconchegou-se a ele, algo que ela nunca fez
antes com ninguém, mas agora não era o tempo de pensar muito sobre isso. —
Mas ter acabado com ele foi a primeira coisa que fiz ao assumir a associação de
assassinos. — Ela pagou muito bem a Lycus para fazer este trabalho.

Lentamente, a tensão foi drenada para fora dos músculos de Con e ele
soltou um suspiro longo e trêmulo.

— Como você acabou aí?

— O idiota vendeu-me a Detharu, o assassino mestre, depois Idess o


matou.

— Se Idess o matou, porque não é ela a responsável pelos assassinos?


Sin contorceu-se um pouco, antes de se concentrar e ficar quieta.

— Idess não era preparada para o trabalho, por isso me ofereci.

— Mas você quer?


Ela mexeu os dedos, sentiu o peso do anel. Sentiu-o mais pesado que o
usual.

— É um show grande para alguém como eu.


Ela realmente não respondeu a pergunta, mas Con não insistiu.

— Então como você se encontrou com Lore de novo?

— Ele se juntou a Deth 20 anos mais tarde. E foi minha culpa — Ela se
meteu em alguns graves problemas com Deth e ficou desesperada o bastante
para procurar Lore. A amargura foi construída ao longo dos anos, de muitas
maneiras, ela esperava que ele a rejeitasse, apenas para dar a ela mais motivos
para odiá-lo por deixá-la.

Mas ele estava disposto a fazer qualquer coisa para compensar seu
abandono e ele concordou em ajudar a encontrar um caminho para sair de seu
contrato com Deth. Infelizmente, não havia uma maneira e ele entrou como
um assassino, a fim de salvar sua vida.

— Eu perdi a paciência e matei um dos amigos de Deth. Ele vender-me-


ia a uma galeria de sangue...

— Uma o quê? — Con rosnou e ela jurou que ouviu o barulho de suas
presas rasgando sua gengiva.

— Parece que você está familiarizado com as galerias.


— Você poderia dizer isso — ele murmurou. — Eu fiz um monte de
merda em minha vida.

E frequentar lugares onde as drogas estavam disponíveis para qualquer


um que estivesse disposto a desistir de sua vida, de seu sangue e orgãos para
alimentar vamps, seria muito estúpido na opinião de Sin. Ela foi a umas
poucas, em busca de alvos e, enquanto a maioria tinha normas e regras rígidas,
como a forma como você podia matar a presa, eles ainda eram pouco mais que
fossas subterrâneas. E eram realmente ruins, onde a presa não era exatamente
voluntária, as vítimas raramente sobreviviam mais de um par de dias nas mãos
e garras dos vamps e demônios que as utilizavam.

— Bem, obviamente, eu não fui vendida. Lore se comprometeu com


Deth para me salvar.

— Ele deve amar muito você se ele fez isso.

— Ele se sentia culpado por ter me deixado do jeito que ele fez. E você
sabe o que é a merda sobre a coisa toda? — Ela falou como se tudo isso não
fosse um monte de coisa fedida e gosmenta. — No começo, eu estava apenas
feliz que desde que ele foi amarrado a Deth, ele não poderia me deixar de novo.
— As palavras brotaram de sua garganta como ácido, ela se enrolou em si
mesma, Con iria deixá-la de qualquer maneira. — Eles sempre me deixam,
Con. Sempre.
O maldito Harrowgate não queria abrir. O que significava que um
humano estava próximo e Lore teria que esperar até que o humano (ou
humanos) deixasse a área. Ótimo. Ele atrasar-se-ia para o café da amanhã com
Idess em seu restaurante italiano favorito.

Ele bateu a bota no chão de pedra. Encarou as paredes, que pulsavam


com contornos néon do mapa das ruas de Roma. Havia três Harrowgates na
área, mas este não era somente mais próximo ao café, mas também era o único
que estava acima da terra. Ele poderia ser forçado a sair em um dos Harrowga-
tes nos esgotos e vir a pé nesta direção.

Merda.

Ele estava prestes a pressionar um dos outros símbolos do Harrowgate


quando o portão cintilou e abriu em um beco. Ele saiu rapidamente, as
estúpidas porcarias são conhecidas por se solidificar e cortar para fora os
membros das pessoas. Ou pior, cortar as pessoas no meio.

Era final da manhã na capital da Itália e enquanto Lore emergia por


entre os prédios e seguia em uma calçada alinhada por lojas no distrito
Trastevere, o aroma do café e alimentos assados fazia cócegas em suas narinas
e fazia seu estômago rosnar. Toda vez que ele comia aqui com Idess, ele sentia-
se como um maldito rei. Antes de se conhecerem, contentava-se com
sanduíches de presunto e fast food barato. Seu anjo apresentou-o às coisas
mais finas da vida e rápida-mente ele estava ficando mal acostumado.

Ele caminhou pela calçada, tecendo pela multidão de pessoas... e então


parou. Seu couro cabeludo formigou e sua adrenalina disparou, algo definitiva-
mente não estava certo. Ele passou trinta anos como um assassino e tinha um
sexto sentido dos infernos e um instinto de autopreservação, e seu sensor “oh,
merda” estava nas alturas.

Casualmente, ele entrou em uma porta lateral, colocando suas costas


contra o prédio. Seu pelo eriçou-se enquanto ele olhava a rua e seu coração
parou quando viu Idess se movendo em direção a ele, seu andar normalmente
sexy e rebolativo estava rígido e forçado. Um ter’taceo, um demônio em um
terno humano chamado Marcel, caminhava ao lado dela, uma mão segurando
seu braço e a outra no bolso. Lore sabia exatamente o que o assassino (um dos
de Sin) estava escondendo, porque Lore trabalhara com Marcel: uma caneta
que disparava um parafuso retrátil de seis polegadas destinado a passar pelo
olho e atravessar o crânio, ou o coração. Era uma maneira rápida,
relativamente sem sangue, de matar se usado corretamente e Marcel nunca
errava.

Entrando de modo furtivo, o que significava controlar sua respiração,


seus pensamentos e até mesmo seus batimentos cardíacos, Lore misturou-se
com a multidão. Ele passou por Idess, cujo olhar nunca hesitou em olhar para
frente, mesmo estando ciente da presença de Lore. Ele manteve-se atento para
qualquer um que pudesse trabalhar com Marcel, Lycus em particular. O warg e
o demônio Sensor já fizeram vários trabalhos em conjunto matando ao longo
dos anos... Algumas dessas mortes só por diversão.

Tirando a luva de sua mão direita, Lore girou lentamente na multidão e


acomodou-se atrás de Marcel, cuja altura pouco notável, aparência e um
cabelo castanho parecido com o de rato faziam com que ele se tornasse
praticamente invisível em um grupo de pessoas. Mas Idess era alta,
deslumbrante e ela definitivamente se destacava. Homens a olhavam com
luxúria, mulheres com inveja e Lore iria usar cada pedaço de suas habilidades
de disfarce para tirá-la de lá e matar Marcel.

Era uma boa coisa que somente um roçar dos dedos pudesse acabar
com o cara (Lore nem mesmo teria que aumentar seu dom de matar, o que era
legal, porque Marcel não merecia a energia que iria precisar para isso).
Ninguém que tocasse a mulher de Lore merecia.

Lore permitiu-se um sorriso sinistro enquanto ele acidentalmente


esbar-rava em Marcel e permitia que sua mão se encostasse ao braço do
demônio. Instantaneamente, o cara caiu e, na correria resultante das pessoas
que pararam para ajudar, Lore agarrou Idess e rapidamente deslizou para um
beco e entrou no Harrowgate. Ele não estava preocupado com o corpo (como
um ter’taceo, Marcel não iria se desintegrar; mais provável que ele fosse levado
para um hospital humano e então para um necrotério humano, e ninguém
notaria a diferença).

Uma vez dentro do Harrowgate, Lore não permitiu que Idess dissesse
uma única palavra enquanto colocava seus braços ao redor dela e beijava-a
desesperadamente até que ambos estavam sem fôlego.

— O que aconteceu? — Ele finalmente disse, enquanto pegava seu longo


rabo de cavalo castanho, que estava preso por fitas douradas com espaçamento
de seis centímetros e colocou-o por cima de seu ombro. — O que ele queria?
Ele machucou você? — Se tivesse, Lore iria se arrepender de não ter causado
muito mais dor no bastardo antes que ele morresse.
— Estou bem. — Ela esticou-se e passou por ele para tocar no símbolo
na parede que iria levá-los para o Underworld General. — Ele disse que eu iria
ser isca. Para Sin.

— Filho da mãe. — Lore colocou sua luva novamente para evitar quais-
quer acidentes no hospital. Idess e seus irmãos eram imunes a seu toque, mas
o resto estava em risco.

Idess curvou sua mão ao redor da cintura dele, seus olhos amendoados
da cor de mel estavam cheios de preocupação enquanto ela olhava para ele.

— Você ouviu alguma coisa dela?


Ele balançou a cabeça.

— Não é incomum não ouvir falar dela por dias, mas com assassinos
atrás dela...

— Ela ficará bem. Ela é durona. Eu sei bem — ela disse ironicamente e
Lore sorriu apesar de sua preocupação. Sin e Idess brigaram e os resultados
não foram bonitos.

Sin era durona, esperta e difícil de matar. Mas obviamente, as pessoas


tentando matá-la melhoraram seu jogo e não demoraria muito antes que o
rolar dos dados fosse a favor dos bandidos.

O Harrowgate abriu no departamento de emergência, mas Lore não


saiu.

— Fique aqui, bebê — ele disse para Idess. — É o lugar mais seguro
para você ficar até que essa coisa toda acabe.

Ela cruzou os braços sobre o peito e seu olhar foi automaticamente para
os seios dela, que estavam bem cheios por seus bíceps. Sim, ele era um
demônio do sexo. Atire nele.

— O que você vai fazer? E olhos para cima, moço.


Pego no flagra.

— Eu vou caçar. — Ele de um beijo rápido nos lábios dela e então um


gentil empurrão para ela sair do portão. — Eu vou ver quantos assassinos eu
posso derrubar antes que eles peguem Sin.

— Tome cuidado.

— Sempre, anjo. Sempre — Ele sorriu enquanto o portão se fechava


com um brilho.
†††††

O corpo inteiro de Kar estava pegando fogo. Não com febre, mas com
necessidade. Cara, ela odiava acordar na manhã depois da transformação da
lua Feast, mas normalmente ela acordava sozinha em sua própria casa. Desta
vez, ela estava no covil de um homem, nua e cercada pelo cheiro dele.

Ela também estava viva.

Luc não a matou.

Ela sentou rápido e encontrou-se olhando em seus furiosos olhos doura-


dos. Ele estava agachado em cima dela, nu como ela. Lobisomens sempre
saíam de suas transições excitados e, claramente, Luc estava reagindo a ela,
pronto para responder a seu chamado.

Sua mão levantou-se e de repente ela estava deitada de barriga para


baixo, o corpo pesado dele fixando-a no piso. Ele segurou-a deitada, controlan-
do-a com um aperto em seu pescoço e queixo enquanto ele levantava os
quadris dela.

Ela sufocou um gemido e a vontade de esfregar seu traseiro contra a


ereção dele. Outra vontade ainda mais violenta acumulou-se nela e ela lançou
seu braço para trás e o arranhou na coxa. Ele beliscou o lóbulo de sua orelha
entre os dentes em resposta, uma mordida de punição que só a fez querer que
ele mordesse com mais força.

— Por que você não me contou? — Ele falou roucamente contra sua ore-
lha. — Quem te mandou? — Os quadris dele balançaram para trás e, em segui-
da, foram com tudo para frente. Ele entrou nela, enterrando-se o caminho
inteiro até suas bolas e ela gritou com a invasão erótica.

— Ninguém me mandou — ela gemeu. — Eu juro.


Ele retirou-se novamente, até que somente a grossa cabeça dele estava
dentro dela e ela estremeceu, enfiando seus quadris para trás para tomar mais
dele. Ele a negou isso, segurando-se fora de alcance.

— Eu não acredito em você.


Ela rosnou de frustração.

— É verdade, seu idiota.


Ele penetrou novamente com um golpe cruel e ela quase chegou ao
clímax. Seus lábios roçaram na bochecha dela.

— Eu poderia matar você agora. Precisaria apenas do toque de minhas


mãos.

— Você me deixaria gozar primeiro? — Ela não acreditava que havia


acabado de dizer isso, mas seu corpo gritava pela liberação, balançava bem na
beira e ele estava apenas sendo cruel.

— Nós dois vamos gozar. — Os dentes dele se enfiaram na nuca dela,


segurando-a da maneira mais primitiva possível enquanto ele a penetrava...
lentamente. Muito lentamente para ela conseguir o que ela queria, maldito.
Depois de vários torturantes minutos, ele soltou sua mordida. — Como isso
aconteceu?

— Como o que aconteceu? — Ela perguntou entre respirações


ofegantes.

Luc manteve uma mão em seu queixo, mas deslizou a outra pela barriga
dela e entre suas pernas.

— Sua transformação.
Certo. Ele mexeu o dedo sobre o nó apertado de nervos dela e ela
gemeu.

— Meu parceiro Aegis e eu estávamos lutando contra um lagarto. — Oh,


sim, bem aí... — Depois que nós o matamos, eu encontrei uma mulher
acorren-tada no porão dele. Ela implorou para que eu a matasse. Disse que ela
iria se transformar em um lobisomem em alguns minutos. Eu pensei que ela
estava louca. Ainda faltavam semanas até a lua cheia. — Pausando para
recuperar seu fôlego, ela contorceu-se, procurando o toque elusivo de Luc. —
Ela transfor-mou-se e mordeu-me. — Agradecidamente, a parceira de Kar,
Emilia, estava procurando no sótão da mansão, então ela não presenciou o
ataque.

— E você não contou para o Aegis?


Filho da mãe. Como ele podia soar tão calmo e natural enquanto Kar
mal conseguia fazer seus pulmões funcionarem?

— Luc, por favor...


Erguendo-se, ele agarrou os quadris dela com as duas mãos e martelou
dentro dela. Finalmente, oh, finalmente! O som molhado do pênis dele
deslizando dentro de seu interior misturou-se com o estalo do fogo e o estalo
da carne deles juntando-se e ela nunca ouvira algo tão erótico em sua vida. Seu
sexo contraiu-se com o começo de seu orgasmo e Luc pegou com o punho seu
cabelo, puxou sua cabeça para trás e inclinou seu rosto para o lado para beijá-
la.

Foi bruto, um beijo para punir e dominar, e funcionou. Ela estava mais
do que pronta para submeter-se a ele contanto que aliviasse sua deliciosa ago-
nia.

Ele mordiscou seu lábio inferior com seus dentes afiados, impulsionan-
do-a até a beira do clímax.

— Eu perguntarei mais uma vez. Você veio até aqui para me matar?
As palavras brutas e guturais a enviaram ao limite.

— Não! — Seu grito de negação e prazer preencheu o pequeno porão e


então ele se juntou a ela, rosnando em sua boca e enchendo seu interior com
sua quente semente.

Seu orgasmo prolongou-se, um dos benefícios de tornar-se um warg


eram orgasmos mais longos e mais fortes. Ela pensou que talvez ele tivesse
gozado de novo, também, mas ela estava muito focada em seu próprio prazer e,
quando tudo acabou, ele caiu em cima dela.

Quando ela conseguiu respirar novamente, ela empurrou-o para longe e


moveu-se, levando o lençol com ela. Uma pontada de náusea a fez ficar zonza
quando ela se sentou e ele estremeceu enquanto enfiava as pernas debaixo dela
e puxava o lençol para cobrir seus seios.

Luc esticou-se e puxou o lençol até a cintura dela.

— Não se esconda de mim.


Ela puxou o lençol de volta.

— Não me diga o que fazer.


Ele esticou seu corpo longo e musculoso e apoiou-se nos cotovelos.
Entre as pernas dele, seu sexo grosso estava ainda semiereto, na coxa dele,
apesar dela tentar não encarar.

— Você procurou-me, não o contrário. E você mentiu para mim.


Mais do que você pensa. Culpa e raiva por ter sido chamada atenção fez
com que as bochechas dela ficassem quentes e, com um rosnado, ela arrancou
o lençol para que ele ficasse amontoado em seu colo. Apesar de terem feito
amor, o olhar dele aquecia enquanto ele olhava seus seios, o suave inchaço de
sua barriga.

— Boa menina — ele ronronou. — Agora, diga-me o que aconteceu


depois que você foi mordida.

— Por quê?

— Estou curioso. Eu nunca encontrei um Warg Feast antes. Você sabia


o que havia mordido você?

Mesmo ela não estando com frio, ela estremeceu.

— Não realmente. Ela parecia com um lobisomem, mas eu sabia que ela
não poderia ser. Quer dizer, não era lua cheia, certo? E quando nada aconteceu
comigo durante a lua cheia, eu imaginei que estava a salvo. — E aliviada. Ser
mordida por qualquer criatura do submundo, especialmente demônios,
normalmente acabava em resultados desagradáveis.

— Você contou para alguém?

— Meu pai. — Ela cerrou os punhos no lençol para não ficar mexendo
nele. — Ele é um Guardião. Ele é a razão para eu estar no Egito em primeiro
lugar. Sabe, quando nós nos conhecemos. Nós estivemos lá para treinamento.
— Ela foi criada no Texas, nascida de uma mãe americana e um pai italiano,
mas depois que seus pais se divorciaram quando ela era uma adolescente, seu
pai a levou para Itália com ele. Foi lá que ele contou a verdade para ela do que
ele fazia para viver e ela juntou-se à organização caçadora de demônios logo
que saiu da escola.

— E?

— E ele não sabia o que havia me mordido. Ele pesquisou, mas no meio
tempo, eu transformei-me na noite de lua nova. Eu estava apavorada. Acordei
na Espanha, sem ideia de como cheguei lá. Havia uma mulher comigo... Ela era
um Warg Feast também. Ela explicou o que estava acontecendo... Bem depois
disso, eu fiquei com essa estranha sensação por dentro. Eu podia sentir
dezenas de outros como eu. Ela levou-me para alguém que colocou uma marca
de warg nascido em mim para que ninguém que sentisse o lobisomem em mim
suspei-tasse no que eu me transformara. Ela disse que nós precisávamos
permanecer escondidas e em segredo porque não podíamos deixar o Aegis
saber de nós e os lobisomens normais iriam nos caçar.

A voz de Luc ficou mais profunda e seus olhos brilharam.

— Foi por isso que os Wargs Feast foram feitos para nos matar.
— Os primeiros foram — concordou, um pouco insegura.

— Então você está dizendo que vocês não querem nos matar?

— Oh, nós queremos matar vocês. É instinto. — Ela suspirou. — É isso


que nos torna tão diferentes dos lobisomens normais. Você pode se
transformar se quiser caçar... Caçar basicamente qualquer coisa que se move.
Nós queremos somente caçar outros lobisomens. O que significa que nós
normalmente não atacamos humanos, o que nos permite permanecer em
segredo. E raros. Nossos números estão diminuindo rapidamente.

Um sorriso perverso curvou um dos cantos da boca de Luc.

— Então talvez você devesse morder as pessoas para fazer mais de


vocês.

Ela fez uma careta.

— Eu nunca colocaria ninguém para passar por isso. — Quando ele


desviou o olhar, somente um lampejo de seus olhos na direção do chão, a
suspeita surgiu. — Você já transformou alguém?

— Não intencionalmente — ele murmurou.


Normalmente não era.

— Você reivindicou os Primeiros Direitos?


Primeiros Direitos, de acordo com a lei warg, afirmavam que um warg
que transformava outro tinha o direito legal de por um ano reivindicar o recém
warg transformado como um parceiro, ou matá-lo sem consequência. Claro, o
termo parceiro era mais precisamente descrito como escravo de sexo, quando
reivindicado sob Primeiros Direitos. Ela ouviu muitas mulheres tomadas sob
as cláusulas dos Primeiros Direitos sendo detidas em correntes até entrarem
na época de reprodução e ficarem grávidas, que era como um vínculo
verdadeiro e permanente era formado.

— Nah. Ela caçou-me para matar-me, mas ela já estava vinculada a meu
chefe, Shade.

— Seu chefe? Isso deve ter sido estranho.


Ele deu de ombros e arrastou as juntas sobre sua panturrilha exposta e
sua pele arrepiou-se com seu toque.

— Seu parceiro era um Warg Feast?


Seu coração deu um grande baque. Sua boca ficou seca igual as cinzas
na fogueira e, desta vez, quando ela puxou seu lençol para cima, foi porque ela
precisava de um escudo, algum tipo de barreira, mesmo fraca como estava,
entre ela e o homem em sua frente.

— Kar?
Ela ensaiara isso, tinha uma história sobre seu parceiro e como eles
ficaram juntos e como ele morreu, mas agora sua mente dera um branco e seu
coração martelava, e a única coisa que ela conseguiu foi deixar escapar “eu não
tive um”.

Luc ficou muito quieto. Até mesmo o ar ao redor dele pareceu morrer.

— Então... nenhuma febre de reprodução?


Ela podia praticamente ver as rodas girando na cabeça dele. Se ela
tivesse ficado grávida fora da época de reprodução, ela poderia ter ficado
grávida a qualquer momento. O que significava...

Luc avançou no tapete e agarrou os ombros em um aperto que


machuca-va, seus olhos piscando.

— Quem é o pai, Kar? — Sua garganta fechou-se, tornando a fala


impôs-sível e ele deu a ela uma sacudidela. — Quem?

— Você — Ela finalmente sussurrou. — Este bebê é seu.

†††††

Este bebê é seu.

Jesus. Luc caiu para trás, quase tropeçando na beirada do tapete. Filha
da mãe! Ele era tão cuidadoso em sua vida, sempre escolhia parceiras que não
estavam nem próximas de sua época. E se a parceira dele fosse de uma espécie
que não possuísse épocas, ele ainda podia sentir a fertilidade delas, podia
notar quando qualquer mulher estava madura para reprodução. Mas por
alguma razão ele não conseguiu saber se Kar estava fértil quando eles foderam
como animais por aquela meia hora.

— Como? — Ele perguntou, sua voz jogou tudo para o inferno. — Eu


teria sentido sua fertilidade.
— Minhas menstruações pararam quando eu me transformei. Eu pensei
que era infértil. Só depois que fiquei grávida que meus colegas Feast me
contaram que a fertilidade e gravidez são aleatórias.

— Aleatórias. — Ele riu sem humor. — Isso é ótimo.

— Foda-se. — Kar atrapalhou-se para ficar de pé, pegando o lençol para


colocá-lo ao redor de si mesma. — Não é como se eu tivesse feito isso de
propó-sito.

Não, ela provavelmente não fez. E ele sabia que estava sendo um
bundão, mas ela o cegou com as notícias e, realmente, ele nunca foi nada a não
ser um bundão. Ele ficou de pé e ela encolheu-se para longe dele, como se
estivesse com medo de que ele fosse bater nela e ele percebeu o quão
insanamente furioso ele deveria parecer. Ele cuidadosamente acobertou sua
expressão e concentrou-se em manter sua voz nivelada.

— O bebê é o verdadeiro motivo para você estar aqui, não é? Não tem
nada a ver com a epidemia.

— Não, eu estou aqui por causa da FS. Eu tenho medo pelo meu filho e
você trabalha no Underworld General. — Ela respirou irregularmente e ele
percebeu que ela estava mais pálida do que o normal. — E depois que o Aegis
descobriu sobre mim, eu precisava de ajuda e você era minha maior esperança.

Ele estreitou seus olhos para ela.

— Foi por isso que você não me atacou quando você se transformou? —
Ele pensou que o comportamento dela foi estranho, mas agora fazia sentido.

— Eu acho que sim. Fêmeas grávidas normalmente não tentam rasgar


ao meio os pais de seus filhotes.

Pai. Virando-se, ele enfiou a mão no cabelo, várias vezes.

— Merda — ele sussurrou. — Só... Merda.

— Foi isso que me meteu nessa bagunça em primeiro lugar. — Ela


apertou o lençol dela ainda mais, como se a fina coisa pudesse protegê-la. —
Olha, eu não quis causar problemas a você. Se você me deixar ficar pelas
próximas duas noites da lua nova, eu irei embora depois disso. Eu só não posso
perambular lá fora ou matarei wargs.

Ir embora? Cara, ele poderia não querer que isso acontecesse, mas
aconteceu e de maneira alguma ela iria embora com seu filho.

Sim, porque ele era um material ótimo para pai.


Ele pegou seu jeans do chão onde o deixara quando tirou a roupa. Ele
sabia que ela acordaria com uma luxúria pós-transformação e, verdade seja
dita, o desejo dela o afetou também. No espaço apertado do porão, ele foi
dominado pelo cheiro de uma fêmea em necessidade. E ele não foi um
cavalheiro por oferecer seus serviços.

— Você não irá para lugar nenhum — ele disse, entrando no jeans.

— Como?

— Exatamente que eu acabei de dizer. — Ele colocou sua camisa de


flane-la. — Você planejava me contar? Se o Aegis não tivesse descoberto seu
segredo, você teria me achado para me contar que eu havia te engravidado?

A luz teimosa dos olhos dela era resposta o bastante.

— Você não iria me contar — ele grunhiu.

— Oh, por favor — ela zombou. — Não faça de conta que você é a parte
ofendida aqui. Você chantageou-me a foder com você e depois você foi embora
sem nem ao menos olhar para trás. Você nem mesmo perguntou meu nome.

Isso foi por que ele ouviu outro Guardião dizer o nome dela, então ele
sabia... Mas sim, ele esteve um pouco no lado silencioso.

— O quê? Você queria meu número de telefone? Você queria sair em um


encontro? Porque você não perguntou nada para mim também.

— Você nem me deu uma chance! Você estava vestido e tinha ido
embora antes que eu encontrasse minha calcinha. Você certamente não se
incomodou em virar-se e dizer algo como, “Ei, se você acabar grávida, eu
gostaria de saber”.

— Bem, agora eu sei.

— E? Você vai se casar comigo? — Sarcasmo venenoso encobria cada


pa-lavra. — Fazer eu me mudar para sua cabana e construir um berçário?

Casamento? Um berçário? O que ele iria fazer era ficar cheio de urticá-
rias. Ele não se permitiu querer nada assim até Ula e, quando ela foi morta,
também foi morto seu desejo de uma família. Ele tornou-se perverso naquele
dia e nunca cavou seu caminho de volta da espiral de raiva.

— Sim — ela disse amargamente. — Foi isso que eu pensei. Eu contei a


você porque eu precisava de ajuda. Mas eu não espero nada mais de você.
— É meu filho — ele falou entre dentes. — Você não vai levá-lo para lu-
gar nenhum.

— Veja — ela cuspiu. — É exatamente por isso que eu não queria que
acontecesse. Uma criança não é uma propriedade. Só porque é seu não faz de
você um pai. Meu pai me tratava como uma posse, nada a não ser uma
sucesso-ra para ele no Aegis e eu nunca vou permitir que meu filho seja criado
dessa forma. É melhor não ter um pai do que um pai ruim.

Ela falara de seu pai antes, mas não com o mesmo ressentimento e a
sus-peita surgiu.

— Ele é a razão do Aegis descobrir a seu respeito.

— Sim. — Ela piscou e Luc pensou que talvez ela estivesse tentando
evitar que as lágrimas caíssem. — Eu realmente acho que ele estava tentando
arrumar ajuda para mim. Ele ouviu que o R-XR estava fazendo experimento
com curas.

— Mas o Aegis virou-se contra você.


Ela assentiu.

— Minha célula sentiu-se traída. Como se eu fosse algum tipo de espiã.


Sim, Luc podia imaginar que quando a organização que caçava bandidos
sobrenaturais há milhares de anos descobrisse que um lobisomem estava
conhecidamente trabalhando para eles, eles não levariam isso pelo lado bom.

— Eu manterei você segura, mas isso significa que você vai ficar comigo.
Sem fugir sozinha.

Um rubor tomou conta dela e ela balançou, mas quando ele a alcançou,
ela saiu de seu alcance.

— É só enjoo matinal — ela disse e então limpou sua garganta. — Se eu


vou ficar, nós precisamos falar sobre isso.

Luc começou a ir para as escadas.

— Nós vamos — Quando ele pudesse se acostumar com tudo isso.

— Quanto antes melhor. Além do período de nove meses, há uma praga


e os Guardiões Aegis estão atrás de mim.

— Eu sei.

— Mas?
Cristo, o cara não podia conseguiu um momento de paz?

— Mas eu não sou muito de conversa.


De repente, ela estava na frente dele, olhos brilhando de raiva.

— Bem, que pena. Há algumas coisas de que você não pode fugir.
Fugir? Ele não fugiu de nada desde que se transformou. Antes disso, no
entanto...

— Eu não sou covarde — ele grunhiu.

— Sério? Porque eu não sabia que fugir de todas as mulheres de sua


vida fosse um sinal de coragem. Ou estou errada? Já houve alguém com quem
você não apenas fodeu e fugiu para evitar um compromisso emocional?

A fúria acendeu-o, deixando seu maxilar tão duro que ele pensou ter
ouvido algum barulho de seus molares quebrando.

— Você não sabe nada sobre mim — ele falou entre dentes.

— Eu conheço seu tipo. O Aegis está cheio deles. Então me diga, quão
perto eu estou?

Muito perto. Perto demais. Ele passou uma vida inteira evitando
conexões emocionais. Até mesmo como um paramédico, ele não precisava se
envolver com seus pacientes. Eles eram seus por alguns momentos, mas ele os
deixava e nunca pensava neles novamente.

Até mesmo Ula, a mulher que ele queria que se tornasse sua parceira,
foi mais um escape da solidão do que uma parceria de amor. Ele gostou dela,
acha-va-a desafiadora, mas amor? Nem mesmo perto.

— Deixe quieto, Kar.


Ela riu.

— Não é de se admirar que você viva nessa desolação gelada. A terra é


igual a seu coração, não é?

Ignorando sua provocação, Luc subiu os degraus, precisando sair de


perto, mas sabendo que ela acertara bem na mosca.

Havia algumas coisas da qual você não podia fugir.


Eles sempre me deixam, Con. Sempre.

As últimas palavras de Sin antes que ela adormecesse permaneceram


com Con, ele quase a chacoalhara para acordá-la e dizer que não partiria. Mas
seria uma mentira, porque ele nunca se prendeu a nada. Então, por que diabos
ele sentiu que deveria dizer isso a ela?

Porque Sin vivera em um pesadelo acordada, é por isso. Quando ador-


meceu, ele pensou em tudo que ela disse, teve pesadelos sobre isso e agora, en-
quanto rondava a casa à luz cinzenta do começo da manhã, buscando todas as
saídas secretas, ele não conseguia parar de pensar. Sin ainda estava dormindo,
mas ele sabia que ela despertara várias vezes durante a noite.

Uma vez, ela sentou-se por causa de um sonho, ofegando e segurando as


mãos sobre suas orelhas, como se tentando bloquear alguma coisa. Outra vez,
ela apanhara sua adaga de osso de Gargantua da mesa de cabeceira e segurou-
a contra o peito, embalando-a como um ursinho de pelúcia, antes de cair no
sono.

Essas imagens o assombravam tanto quanto as coisas que ela dissera.

Ela não era uma assassina, porque queria ser. Ela fora vendida para isto.
Ela não era a mestre de seu covil, porque queria ser. Ela fez isso para poupar a
companheira de seu irmão. E porque ela era quem era (durona, forte, determi-
nada) ela fizera o melhor das situações. Instintos de autopreservação não
permitiram que ela sentisse pena de si mesma ou sentisse qualquer coisa, ou,
provavelmente, até mesmo pensar muito sobre o que fizera ou teve que fazer.

E ele fora e derrubara a única defesa que ela possuía para se proteger.

Fodido idiota.

— Hey — Ele virou-se, incapaz de acreditar que ela o pegara de


surpresa. Ela estava parada na base das escadas, vestida, cabelo molhado
amarrado com um laço que a favorecia, um tímido toque de cor em seu rosto.
Ela não se parecia uma assassina a sangue frio, forte como enxofre.
Provavelmente porque ela não era uma assassina a sangue frio como uma vez
pensara. Não, ela parecia uma mulher que foi bem amada pela primeira vez e
não sabia como lidar com isto.
Sim, bem, nem ele. Ele esteve com um monte de fêmeas. As várias
cópulas não foram nada demais além de uma noite onde sequer trocaram
nomes. Mas ele também fez amor com mulheres sensuais e experientes que ele
gostava. Ele passou horas na cama com elas, horas conversando, brincando,
fazendo coisas reais de encontros. Mas, com a única exceção de tantos séculos
atrás que terminara em desastre, ele sempre mantinha as relações casuais.

Subitamente, essa coisa com Sin não parecia casual.

As coisas que ela compartilhara o arrasaram. Ela possuía loucas


habilida-des quando se referia a matar e sobreviver, mas possuía pouca prática
com emo-ções ou relacionamentos e estava perdida. No entanto, ela se abriu,
confiou nele com um pedaço de seu passado e ele sabia o quão monumental
isto fora para ela.

Ele cometeu um erro ao persuadir que ela soltasse qualquer coisa. Ela
precisava de suas paredes e quem diabos ele era para tentar quebrá-las?

Um bastardo arrogante, isso sim.

Ela fora um desafio. Um quebra-cabeça que ele queria resolver, um


códi-go que queria decifrar.

Belo trabalho, otário.

Ele teve um amigo humano, uma vez, lá atrás, durante a Guerra Civil.
John cuidou de um coiote ferido até ele recuperar a saúde, ensinou-o a confiar
em humanos apesar da advertência de Con para espantá-lo, jogar pedras nele...
Qualquer coisa que fosse preciso para mantê-lo seguro. E um dia, o coiote se
aproximou do homem errado e foi morto.

Con esperava que ele não tivesse criado um coiote em Sin.

— Olá... Con? — Sin acenou com a mão na frente do rosto dele.

— Ah, hey. Sinto muito. — Ele fez um gesto para o fogão. — Eu fiz café
da manhã. — Se ovos e batatas desidratadas podem ser considerados comida.

Sem palavras, ela deslizou por ele e ele sentiu o cheiro fresco de
sabonete de lavanda de seu banho, e por baixo das notas florais estava o
penetrante aroma mundano do amor que fizeram. O sangue dele se agitou e
aqueceu, mas ele manteve seus instintos básicos presos quando Sin pegou os
ovos e batatas em um prato e engoliu de uma vez cada mordida. Quando ele
empilhou mais em seu prato, ela não discutiu.

— Você já pensou sobre quem está atrás de você?


Ela olhou para ele, uma sobrancelha escura levantada.
— Um... assassino? — Seus dedos deslizaram distraidamente sobre o
próprio peito e ele acompanhou o movimento com olhos gananciosos. —
Falan-do nisso, eu perdi outro esta manhã.

— Eu deveria oferecer minhas condolências?


Ela bufou.

— Dificilmente.
Ele apoiou um quadril no balcão e cruzou os braços sobre o peito.

— Bem, aqui está a questão. Entendo que eles querem seu anel, mas
isso não explica o cara do cavalo que tentou matá-la e depois a salvou.
Também não explica minha casa.

— Eu sei — ela murmurou. — Alguém que quer meu trabalho não iria
explodir uma casa comigo dentro. Tornaria encontrar o anel quase impossível.

Então, alguém a queria morta e não pelo anel. Mas por quê? A menos
que...

— Valko — ele rosnou.

— O líder pricolici?
Ele assentiu.

— Com você morta, ele pode esperar que nenhuma cura surgirá para os
transformados — Raiva o invadiu, tornando-se ainda mais potente pelo fato de
que ele não possuía provas de sua suspeita e pelo fato de que não podia fazer
qualquer coisa sobre isso no momento.

Sin era um inferno de muito mais controlada do que ele, encolhendo os


ombros enquanto terminava de comer, dando tempo para ele se acalmar. Ele
observou enquanto ela lavava a louça, levando um tempo extraordinariamente
longo.

Ela estava protelando.

Finalmente, depois de afastar seu prato e garfo, limpar a pia e secar o


balcão, ela virou-se.

— Obrigada.
Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans.

— Foi apenas café da manhã.


— Não é disso que estou falando. — Ela olhou para as botas. Elas esta-
vam gastas, surradas ao inferno. Con nunca usara um par de sapatos por
tempo suficiente para eles terem essa aparência. — Eu tenho sido uma idiota
com você, mas de alguma forma você conseguiu encarar. Você me ajudou
quando estaria bem dentro de seu direito me matar pelo que fiz aos wargs.
Então... Hum... Obrigada.

Coiote.

Sua admissão fez seu coração rachar, totalmente aberto. Ele deve atirar
pedras nela, devia pensar apenas em maneiras de fazê-la levantar suas defesas
novamente, mas em vez disso, ele estava pensando em envolvê-la em seus
braços e nunca deixá-la partir.

Você vai deixá-la partir. Quando o caixão dela for baixado ao chão.
Porra.

Pedras. Ele precisava atirar pedras. Talvez seixos.

— Sin...
Ela levantou uma mão.

— Tanto faz. Eu terminei de falar sobre isso. Nós devíamos ir — Ela


esbarrou ao passar por ele e no momento em que se tocaram, foi como se um
choque elétrico passasse por ele. Seu cérebro entrou em curto-circuito e sem
pensar, ele a puxou contra si e tentou ignorar o som que seus sentidos
vampiros captaram: o baque sibilante do batimento cardíaco dela. Eles
definitivamente precisavam ir. Eles precisavam contatar Eidolon, também, que
estaria provável-mente enlouquecendo por agora. Mas o corpo de Con estava
surtando, suas presas se empurravam para baixo e se ele pudesse conseguir
um gostinho dela primeiro... Ele se inclinou, lentamente...

— Hey. — Sin bateu as mãos em seu peito. — Ah... Você precisa se


alimentar?

A veia na garganta dela martelou e o pulso se tornou um rugido em seus


ouvidos.

— Con?
Um banho vermelho coloriu sua visão, a cor de merlot21. Ou sangue.

21 Tipo de uva escura para vinhos da região Bordeaux (França) ou o vinho tinto feito desse tipo de uva.
— Con! — Ela deu um tapa forte o suficiente para balançar sua cabeça
para trás e limpá-la o suficiente para pensar. — O que está acontecendo? Eu
posso sentir sua fome, mas é estranho.

— Droga — Afastando-se dela, ele esfregou a mão sobre o rosto e quis


saber como diabos explicaria isso.

— Hey. Desembucha, o que está acontecendo com você?


Ela merecia saber a verdade. Ele exigiu muito dela e era hora de
retribuir, mesmo que tivesse de derramar outro dos muitos segredos dampiros
que mantiveram sua raça envolta em mistério e, para pessoas de fora, muito
aterrada e estável. Nada poderia estar mais longe da verdade.

— Você sabe como eu disse que dampiros não se vinculam uns com os
outros? — Sua voz estava rouca, como se cada palavra estivesse sendo
arrastada de entre seus lábios. — É porque os machos se tornam viciados em
sangue. Se nos alimentamos de um hospedeiro mais do que algumas vezes,
forma raízes.

— Então... Por que isso seria uma coisa ruim se o casal se vinculasse?

— Porque o homem pode perder o controle e matar a mulher enquanto


se alimenta. — Merda, era difícil falar disso e não porque ele estava violando
alguma antiga regra dampira. Ele estava muito íntimo com as consequências
do vício. — É por isso que existem muito poucos casais dampiros vinculados.

— Como poderia haver qualquer um? — Seus olhos se arregalaram com


curiosidade e, pela primeira vez, ele podia ver um pouco de Eidolon nela en-
quanto se aprofundava no mistério. — Os machos vinculados se alimentam de
outros machos e fêmeas para não ficarem viciados em suas companheiras?

Ele quase riu.

— Isso só funciona temporariamente. Eventualmente o vício acontece


porque a alimentação e o sexo estão interligados. Nesse ponto, os machos inje-
tam um veneno que liga a fêmea a ele e ele a ela, e que acaba com o vício.

— Então qual é o problema?

— Há uma pegadinha. — Estranho como nada de bom vem sem


amarras. — Nós não produzimos o líquido de vinculação até que nos tornamos
viciados. Então, seu controle é eliminado e o que você anseia é a onda que você
vai ter quando morrem. Então, ao invés de injetar o líquido da vinculação, você
corre o risco de drenar a fêmea e matá-la em vez disso.
Ela enganchou seus polegares nos bolsos da frente e apoiou um quadril
contra a soleira de madeira da cozinha como se estivesse se acomodando para
uma conversa longa. Que não ia acontecer.

— Você soa como se soubesse algo sobre isso.

— Foi como minha mãe morreu. Meu pai a matou.


Mil anos atrás, antes de os dois clãs dampiros se fundirem, seus pais
pertenciam a clãs separados, ambos de sangue real. Esperava-se que por meio
da vinculação de seus pais, os clãs se unissem pacificamente. Isto correu bem...
Con e seus irmãos mais novos, Dubdghall e Eoin, foram concebidos sem seu
pai sucumbir ao vício, principalmente porque ele tomou seus prazeres (sexo e
sangue) de outras fêmeas, exceto durante os períodos de fertilidade de sua
mãe. E então, durante o quarto período de sua mãe, seu pai perdeu o controle
e, em vez de vincular-se a ela, drenou-a.

— Oh, uau — ela disse, seus olhos escuros se movendo do alvorecer que
se iluminava rapidamente de volta para ele. — O que aconteceu com seu pai?

— A morte da fêmea termina com vício, mas ele não conseguia viver
com o que fizera. Ele se destruiu — Esse foi o eufemismo do século. O pai de
Con se queimou vivo.

Sin rolou o lábio inferior entre os dentes, subitamente parecendo um


pouco pensativa e, pela segunda vez nas últimas horas, vulnerável.

— Alguma vez você já...


Por um longo tempo, ele considerou sua resposta. Por um tempo ainda
mais longo, ele considerou mentir. E então ele atirou a resposta como a rocha
que ele precisava jogar.

— Sim.

— Você se vinculou a ela?

— Não — Ele não tivera a chance... Inferno, ele não queria. Ele queria
sangue e sexo dela, mas não um compromisso de vida. E mesmo assim... o
desejo pelo sexo ainda não fora uma fração tão intensa quanto o que ele queria
de Sin.

— Ela morreu?

— Sim.

— Sua culpa?
— Sim.
Ele esperava que ela reagisse com repugnância, mas ela inclinou a
cabeça, olhou para ele e então deu um aceno definitivo.

— Eu matei alguns caras depois que dormi com eles. A maioria foi
porque eles tentaram me matar. — Ela deu de ombros. — Isso acontece. Você
não se deve punir.

Foi sua vez de encará-la. Toda vez que ele pensava que a entendera, ela
girava cento e oitenta graus e reagia da maneira exatamente oposta do que ele
antecipara. Ele adorava isso. Ninguém jamais o manteve na ponta dos pés do
jeito que ela fazia. Mesmo que ela fosse totalmente irritante sobre isso.

— Eu sabia das coisas, Sin. Eu sabia o que aconteceria se me


alimentasse dela muitas vezes e mesmo assim o fiz. Eu queria levar a
alimentação até o limite, para ver quão longe eu poderia chegar sem cruzar a
linha. Eu brinquei com a vida dela e foi ela quem perdeu.

— E isso foi há quanto tempo? Você fez novamente?

— Foi há oito séculos e não. — Ele a prendeu com os olhos, garantindo


que ela entendesse o que ele estava dizendo. — Até você.

Oh, sim, ela entendeu, inalou uma respiração irregular e engoliu em


seco.

— Você está...

— Perto — Perto demais, porra. Mesmo agora, ele estava avançando em


direção a ela, sua boca salivando.

— E o que, exatamente, isso quer dizer?

— Isso significa que sou subjugado pelo seu sangue. Apenas seu
sangue. Eventualmente, alimentar-me de qualquer outra pessoa vai me deixar
enjoado. Provavelmente já deixe. O vício cresce a cada alimentação. É como
uma droga. Vou precisar de mais e mais, até que eu não possa parar.

— E a única maneira de sair é matar a fêmea ou vincular-se?

— É possível se desintoxicar. Mas isso leva um tempo longo e miserável.


Alguns dampiros morreram antes que o vício cedesse — Afastar o hábito não
era fácil e mesmo uma vez que acontecesse, dampiros não poderiam sequer
estar na mesma sala que a fêmea cujo sangue os viciara, ou começaria de novo,
ainda mais feroz.
— Bem, eu acho que é uma coisa boa que o vírus esteja fora de seu
sangue.

— Graças aos deuses. — Ele apontou para a porta dos fundos antes que
se perdesse para a tentação de novo. — É melhor irmos. — Ele fez uma pausa.
— Quanto tempo antes de você precisar de sexo novamente?

— Várias horas, provavelmente. Você parece ter um suco poderoso.


Era uma coisa tão masculina inchar-se de orgulho com isso e, pode
após-tar, porra, que ele o fez.

— Eu não estou surpreso.


Ela revirou os olhos.

— Claro que você não está.

— Ah, hey... — ele a olhou com curiosidade, percebendo que o que ele
estava prestes a perguntar a ela provavelmente não a atingiria do modo errado,
mas não tinha certeza se realmente queria saber a resposta. — E quanto a
vampiros? Vamps puros. O... suco deles... funciona para você?

— Funciona — ela disse e ele teve que reprimir um rosnar às imagens


indesejáveis queimando em seu cérebro. — O efeito só não dura muito tempo.

Não era surpreendente. Vampiros não produzem esperma, mas desde


que ingerem sangue e outros líquidos que desejem beber, seus corpos produ-
ziam líquidos como qualquer outra pessoa. Eles poderiam chorar, urinar,
cuspir, e ejacular, tudo em quantidades menores.

— Por que você pergunta?

— Curiosidade.
Ela começou a seguir em direção à porta escondida na parte traseira da
casa com um agitar de sua cabeça.

— Vocês da medicina são demasiadamente curiosos sobre coisas assim.


Engraçado, mas mesmo ele tendo trabalhando como paramédico por
anos, ele nunca se considerara da medicina. O trabalho fora... Um trabalho.
Um passatempo com um bônus de um enorme elemento de perigo envolvido, o
que era legal. Mas agora que ele pensava sobre isso, a vida se infiltrara em sua
corrente sanguínea e o fato de que metade de seus programas favoritos de TV
estivesse no canal Discovery Health deveria ter sido uma pista.
A outra metade de seus programas favoritos estava no canal Playboy.
Ele mentalmente mediu Sin para uma fantasia de enfermeira safada e quando
ela lançou um olhar sensual por cima do ombro, mas continuou andando, seu
traseiro balançando tentadoramente, ele soube que fora pego.

— Eu sou uma súcubo — ela gritou em uma voz provocante e


melodiosa. — Eu sei o que você está pensando.

— Claro que sabe — ele murmurou, enquanto abria a porta que estava
escondida do lado de fora por uma grade cruzada coberta por videiras. Quando
eles saíram, ele parou, cheirou o vento, mas não havia nada de anormal no ar
fresco da manhã.

— Você sente alguma coisa?

— Não — ela disse, — mas... — Ela cortou com um ops e ele virou-se
para ela, um grito dele passou de alguma forma por seu coração, que havia
atolado na garganta.

Sin cambaleou para trás, seu rosto pálido e torcido pela dor, seu peito
cedeu com o que parecia a bola oito de uma mesa de sinuca (com espinhos).
Era uma arma demônio, projetada para perfurar armaduras e crânios. Uma
vez que a vítima fosse empalada, os pontos seriam adentrar, lentamente, de
modo que a vítima morresse em dor excruciante.

Sin caiu de joelhos, a boca trabalhando silenciosamente. Medo o


estrangulou enquanto ele se colocava sob seus braços e a arrastava para dentro
da casa.

— Sin? Sin! Aguente firme. Apenas... aguente firme — Merda! Ele a


deitou no tapete trançado na sala de estar tão delicadamente quanto pode.
Sangue escorria de sua boca e cada respiração ofegava ruidosamente através
de suas vias aéreas se fechando.

Oh, deuses, ela não podia morrer agora. Ela passara por muito, levara
uma vida miserável e merecia coisa melhor do que isso. Lutando contra o
desejo de entrar em pânico, ele recorreu a todo seu treinamento médico e
alcançou no profundo seu distanciamento clínico, o qual ele sempre teve no
tratamento de pacientes.

Não funcionou. Por dentro, ele estava apavorado. Por fora, ele estava
suando descontroladamente. Mas pelo menos sua voz estava nivelada e espera-
va que Sin estivesse enganada.

— Eu não posso remover a coisa — ele disse calmamente. — Você vai


sangrar completamente. Eu vou conseguir ajuda.
Seus dedos trêmulos se fecharam em torno do pulso dele.

— Não — Ela respondeu asperamente. — Muito... perigoso.

— Se eu não for, você vai morrer. — Desta vez, sua voz não estava tão
calma.

— Não... me... deixe.


Eles sempre me deixam. Um caroço se formou em sua garganta.

— Ouça-me, Sin. Eu juro, eu vou voltar. Eu não deixarei você.


Uma única lágrima escorreu por seu rosto quando ele apertou sua mão e
inclinou-se para roçar os lábios nos dela. Uma raiva profunda e primitiva
cresceu dentro dele. Ele traria seus irmãos e iria rasgar o bastardo que fizera
isso com ela.

†††††

As batidas na porta do apartamento de Eidolon começaram quando ele


se preparava para partir para o hospital. A esta hora da manhã, batidas não
eram boas. Ele estava começando tarde, mas ele ficara acordado até as três da
manhã com um departamento de emergência lotado. Wargs doentes e feridos
foram apertados em cada canto e fissura, e quando ele estava saindo,
demônios feridos chegaram também (demônios apanhados na escalada da
guerra civil warg).

A única coisa boa que acontecera nas últimas horas foi que seu pai
conseguira para Eidolon, Wraith e Con um adiamento da tortura, mexeu uns
pauzinhos e fez os Carceris se afastarem até que os Negociadores da Justiça
pudessem determinar se o Conselho Warg possuía ou não um caso contra Sin.
Não era muito, mas pelo menos ela não precisava correr dos carcereiros demo-
nios por agora.

Ele só desejava que pudesse ouvir algo dela.

Tayla respondeu antes que ele o fizesse, mas seu grito o colocou em alta
velocidade e correu pelo corredor, quase tropeçando em Mange quando o cão
correu entre os quartos, perseguindo Mickey, o furão de Tayla. Eidolon
amaldi-çoou quando viu Con de pé no hall de entrada, ensanguentado e
segurando o braço em um ângulo estranho.
— O que aconteceu? Onde está Sin? — Eidolon pegou Con pelo pulso e
alimentou seu dom nele. Con sibilou quando a dor começou.

— Ligue para seus irmãos. Venha comigo. Ela está morrendo.

— Deixem comigo — Tay disse enquanto abria seu celular. — Eu os


farei nos encontrar no Harrowgate da Rua 84.

O desejo de correr para resgatar Sin foi quase esmagador, mas depois de
anos tirando Wraith de situações mortais, ele aprendeu a ficar preparado.

— Conte-me o que aconteceu — ele disse com uma calma que não
sentia, mas Con se agitou para longe.

— Nós temos que ir. Agora!


Os olhos do cara estavam selvagens, seu pânico agitou Eidolon tanto
quanto qualquer coisa. Con sempre foi controlado. Gentil, mas firmemente,
Eidolon o empurrou contra a parede e recomeçou o processo de cicatrização.

— Escute-me. Você não será bom para ela se estiver morto. Isto só vai
levar um minuto.

— Ela pode não ter um minuto — Con rangeu, mas não lutou. — Ela foi
atingida por um exomangler. Ele está a rasgando em dois.

A pressão sanguínea de Eidolon foi ao fundo do poço. Ele viu os danos


causados por essas coisas e não era bonito.

— O que aconteceu com você?

— Tive que passar por uma floresta cheia de assassinos, todos alinhados
para matar Sin.

Tay veio pelo corredor, com os cabelos vinho em um rabo de cavalo. Ela
estava vestida para a batalha, incluindo calças de couro vermelho, casaco e
armas escondidas em todos os lugares.

— Todos seus irmãos estão a caminho.


Eidolon deu um suspiro de alívio. Ele esperava Lore e Wraith, mas
Shade era duvidoso. Ele não gostaria de deixar Runa e as crianças.

— Wraith está deixando Serena e Stewie com Runa, e Kynan vai ficar na
caverna, também.

Bom. Nada iria passar por Ky. Eidolon consultou o relógio. Gem estava
de plantão no hospital, então sem preocupações, e Idess estava praticamente
vivendo no UG por causa da sobrecarga de almas que precisam de orientação
para fora do hospital e para a luz. Era também o lugar mais seguro para ela
agora que era basicamente humana e os assassinos atrás de Sin tomaram um
novo rumo para buscá-la usando a família.

A última ferida de Con foi selada e eles estavam saindo. Eles encontra-
ram-se com os irmãos de Eidolon no Harrowgate assim que o celular de E
tocou. Gem.

Ele abriu o telefone.

— Rápido.

— A doença está afetando nascidos wargs agora — Gem disse.


O peito de Eidolon contraiu e ele mal podia falar.

— O que aconteceu?

— É o Bastien. — Houve um raro engate em sua voz. — Parece se


mover mais rápido do que a linhagem original. E... Ele não vai sobreviver.

Santo inferno.

— Eu estarei aí assim que puder.


O sinal sonoro de chamada em espera soou quando ele entrou no
Harrowgate e ele mudou.

— É o Arik. Nós temos problemas.

— Obrigado, mestre do óbvio. Meu hospital foi invadido por vítimas do


conflito warg. Eu tenho que ir...

— Não é isso. FS... Está afetando nascidos wargs agora.


Eidolon bateu a mão sobre um pedaço brilhante na pedra negra que
equivalia a um botão de Espera na porta do Harrowgate, que, se fechado,
cortaria o sinal do telefone.

— Foda-me, eu sei.

— Não nesta vida. — Arik respirou fundo. — Nossos especialistas estão


pirando. Nascidos wargs compartilham grande parte do código genético com
os lobisomens. Lobisomens compartilham uma grande quantidade de material
genético com leopardo e outros metamorfos. E como você sabe, todos os
metaformos estão relacionados de alguma forma a qualquer coisa que possam
se transformar.
Adrenalina gelada escorria para o sistema de Eidolon.

— Você acha que a FS vai atingir outras espécies.

— Sim. E uma vez que aconteça, não há nada para impedi-la de atingir
os seres humanos.

Ou a qualquer outra criatura no planeta.

Incluindo Sems.

†††††

Alguém atropelara Kar com um caminhão enquanto ela dormia. Tinha


que ser o que acontecera, porque ela acordara no sofá de Luc se sentindo
como, bem, que fora atropelada por um caminhão.

Ela o seguiu ao andar de cima e o ignorou batendo o pé a seu redor


enquanto tomava banho e se vestia com um suéter e uma camisa de flanela
verde dele, ambos os quais a engoliam completamente. Ele jogou uma tigela de
guisado para ela, encarou enquanto ela comia e então observou, de olhos
arregalados, quando ela prontamente vomitou tudo.

A coisa do enjoo matinal foi estranho. Ela teve alguns episódios de


náuseas por volta de quando descobriu que estava grávida, mas ela estava
muito bem desde então. Ela teria debitado tudo na conta dos nervos, exceto
que agora ela estava tão miserável que a morte começava a parecer boa.

— Kar? — A voz profunda de Luc era um murmúrio estranhamente re-


confortante em seu ouvido. — Você estava gemendo em seu sono... Puta que
pariu, você está quente.

— Não quente — ela murmurou. — Fria. Preciso de um cobertor.


Ela o ouviu se pôr em confusão ao redor, sentiu um cobertor cair sobre
ela e então ele estava empurrando sua cabeça para cima.

— Ei. Eu tenho algum Tylenol. Você precisa tomá-lo.


Seu estômago rolou. E então ela tossiu... Tão forte que suas costelas
gritaram.

— Luc... Eu estou com uma infecção? Da bala?


— Você não devia. Curou-se com sua transformação. — Ele franziu a
testa enquanto levantava suas pálpebras com o dedão. — Suas pupilas estão
dilatadas. — Ele se afundou ao lado do sofá e retirou o cobertor de seu peito.
— Eu vou dar uma olhada em você.
Ela sentiu sua camisa sendo desabotoada e, apesar de seu sofrimento,
ela sorriu.

— Qualquer desculpa para colocar suas mãos em mim.

— Eu não preciso de uma desculpa. Você é fácil.

— Seu... — Os olhos dela se abriram de uma vez, mas quando ela viu o
raro sorriso transformando seus lábios, ela soube que ele a estava provocando.
O que foi estranho, porque ela não o teria tomado como o tipo brincalhão. —
Você deveria sorrir mais vezes.

— Não posso. — Ele resmungou quando abriu a blusa para expor seu
peito. — Meu rosto pode congelar assim.

Ela riu, mas logo gritou com a dor que se torceu através de seu
abdômen.

— Merda. — Luc puxou suas mãos para longe dela. — Eu machuquei


você?

— Não — Ela resmungou. — Dói sorrir.


Seu olhar varreu-a com a intensidade de uma máquina de raios-X e de
repente ela sentiu que estava vendo todo o caminho através dela.

— Sinto muito. Sobre tudo.


Sobre o bebê, era o que ele queria dizer.

— Não sinta. — Ela engoliu e fez careta para a dor súbita. — O sexo foi
ótimo. Você foi apenas meu segundo, mas foi tão bom... — Engoliu seco nova-
mente, outra careta. — E o bebê é a melhor coisa e a mais normal que
aconteceu comigo nos últimos anos.

Luc desviou o olhar, por isso era impossível dizer o que ele estava pen-
sando enquanto terminava de desabotoar sua camisa. Ele abriu as abas para
revelar uma estranha contusão em torno de seu umbigo... E a cor fugiu de seu
rosto.

— O quê? — Ela sussurrou. — O que é isso?


— FS. Jesus Cristo, eu acho que você tem o vírus.
Sangramento maciço. Contusão pulmonária. Pneumotórax.

As vozes e as palavras estranhas perfuraram a névoa de dor de Sin. Pen-


sou ter ouvido Con e talvez Shade. Ou Eidolon? Uma agonia repentina, quente,
eletrificou seu corpo e ela gritou. E continuou gritando.

Até que a escuridão a tomou.

Acordar levou bastante tempo. Entre o zumbido em suas orelhas e a dor


crua em sua garganta, parecia como se tivesse sido presa em um estado de
vazio por uma eternidade. Gradualmente, tornou-se ciente que estava com dor,
sedenta e em uma cama. Piscou, abrindo seus olhos. Estava no quarto mestre
de Rivesta. Seus irmãos estavam ao lado dela. Todos. E Tayla. E Con.

— O que… aconteceu? — Sua voz soou oxidada. Aumentou. E subiu


ainda mais quando Con se afundou na cama ao lado dela e tomou sua mão.
Seus dedos deslizaram sobre seu pulso como se para verificar sua pulsação,
mas ao contrário dos tempos passados, havia mais ternura do que
profissionalismo em seu toque. — Por que estão todos aqui?

— Um dos assassinos de Bantazar atingiu-a com anexomangler — Lore


disse. — Ele está morto.

— Muito morto. — Wraith roncou e Lore levantou-se. — Inatividade


maciça.

Sin podia somente imaginar. E cara, sua imaginação era muito boa.
Bantazar era realmente um assassino de classe-A e seus assassinos não eram
melhores. Provavelmente ainda estava irritado por ela não ter oferecido a ele a
chance de dizer os nomes dos mestres assassinos que estavam oferecendo o
grande contrato do lobisomem.

Friccionou seu peito, onde recordou ter sido batida por algo que pareceu
como uma bala de canhão. Com exceção de um pouco de ternura, nunca
saberia que teve quase um túnel perfurado através dela.

Mas… A espera… A ternura… havia algo mais profundo lá e


abruptamen-te, extraiu uma respiração áspera. Era a sensação de perder
muitos assassinos. Infelizmente, não saberia quem até que voltasse ao covil ou
falasse com alguém que soubesse.

Agora, não era importante, em todo o caso. Menos pessoas tentando


matá-la era uma boa coisa.

Colocou os assassinos inoperantes fora de sua mente e moldou seu olhar


entre seus irmãos.

— Então todos vocês vieram?

— É o que nós fazemos — Eidolon disse simplesmente.


Uh-huh. Havia um porém. Precisava haver.

— Okay, então você me curou. Obrigada. O que agora?


Wraith levantou o olhar que estudava seu punhal de osso de Gargantua.

— Como você escapou do fogo infernal?

— Fogo Infernal? — Franziu a testa e então esse estrondo horrível que


ouviu na casa de Con perfurou sua memória como se o som estivesse em seu
ouvido. — Santa merda, a casa de Con foi destruída?

Con amaldiçoou.

— Eu devia ter sabido. Eu vi o que essa merda faz.

— Eu também — Wraith disse. — Mas eu nunca vi qualquer um


escapar.

— O túnel de escape de Con — Sin murmurou. — O calor não nos pode-


ria alcançar antes que nós estivéssemos fora dele.

— Nós estávamos tão distantes da casa para os espíritos nos agarrarem.

— Alguém a quer realmente morta — Wraith disse.

— Okay, então agora que você conservou minha vida e indicou o óbvio,
por que ainda estão aqui?

Todos trocaram olhares que não poderiam ser bons. Finalmente, Shade
limpou sua garganta.

— Con disse que você curou um warg.


— Também disse-lhe o que aconteceu com ela?
— Sim — Eidolon disse. — Mas eu não estou certo quanta diferença sua
sobrevivência faria. O vírus se transformou. Está afetando wargs nascidos
agora.

A informação perfurou um buraco nela mais eficientemente do que o


anexomangler. Expirou vacilante e tentou manter sua voz acima de um sussur-
ro.

— Então e agora?

— Nós vamos ter que tomar algumas medidas drásticas. Nós não temos
recursos para desperdiçar mais tempo procurando wargs contaminados e está
ficando demasiado perigoso para você. Eu coloquei o Carceris fora de sua
bunda temporariamente, então nós a traremos ao hospital e encontraremos
alguns voluntários para contaminar e curar então, assim posso trabalhar em
como matar o vírus.

— Conseguir voluntários para serme contaminados com uma doença


fatal não será fácil. — Con deslocou-se no colchão, fazendo com que ela rolasse
para ele um pouco mais. O contato a consolou, ela então desejou que ele se
deitasse ao lado dela.

— Quer que eu busque um voluntário? — Wraith perguntou e Sin teve


um sentimento que seu voluntário não seria tão voluntário assim.

A boca de Con apertou.

— Eu posso mostrar-lhe alguns membros do Conselho de Wargs que eu


gostaria de voluntariar.

— Nós não vamos forçar ninguém. — Sin levantou e fez careta. Alguém
a vestiu com roupas que não eram dela. Que fez sentido, dado que tudo que
possui estava no covil de assassinos. Mas quem teve a brilhante ideia de vesti-
la em uma medonha blusa, cor-de-rosa floral? Com glitter. Pelo menos as
calças de brim serviram. — Eu já fodi os povos o suficiente com isto.

— E quanto a Luc? — Wraith sentou na cadeira da cabeceira,


espalhando os pés, abrindo os braços largamente, como se não tivesse uma
preocupação no mundo. — Ele está com os dias contados.

Lore levantou ao redor dele.

— Por que isso?

— Ele me fez jurar matá-lo quando perdesse sua humanidade. O que


praticamente aconteceu quando a escória Aegi matou aquela que ele escolheu
para ser sua companheira.
— Hey — Tayla rosnou. — A escória Aegi está presente, você sabe.
Wraith sorriu e Sin teve a impressão que os dois tinham muito prazer
em se alfinetar.

— Então digamos que temos nosso voluntário — disse. — Curo a


doença, e uma trégua é dada na guerra civil. O Conselho de Wargs ainda
quererá minha cabeça?

Con alcançou uma jarra de água que estava na cabeceira e entregou a


ela.

— Eu falarei com eles.

— E as chances deles aceitarem recuar? — Shade perguntou.


A expressão de Con era desagradável.

— Não boas. — Afagou a parte traseira de sua mão distraidamente, mas


Sin observou que os olhos de seus irmãos acompanharam a ação. Impossível
dizer o que pensavam. Bem, Wraith ficou claramente divertido, mas os
outros… não tanto. — Assim que você encontrar um voluntário e nós
confirmarmos uma cura, eu irei. Eu tenho um pouco de influência e alguns dos
membros me devem.

Os olhos de Sin piscaram. Estava disposto a usar alguns favores para


ela? Todos estes indivíduos estavam dispostos a ajudá-la? Mais uma vez, a
emoção oprimiu-a e ela saltou fora da cama.

— Eu preciso de um jarro de água.


Nem se preocupou de que tinha um em sua mão. Ela precisava sair de
lá. Estava em sobrecarga emocional e curto-circuito era um perigo.

Desceu as escadas, dois degraus de cada vez, e arremessou-se na


cozinha, onde ficou em um canto, arfando, querendo saber o que estava
acontecendo com ela. Não soube quanto tempo esteve lá quando ouviu alguém
vir pelas escadas. Muito suave para alguns dos homens.

Tayla.

— Eu estou surpresa que mandaram você — Sin disse quando Tay


entrou na cozinha. — Eu estava apostando em Lore ou Shade.

— Eu tive que convencer aqueles dois a ficar. — Tay rolou seus olhos. —
O que era mais fácil do que convencer Con a não vir atrás de você.

Por qualquer motivo, isso deixou Sin alegre e entusiasmada.


— Eidolon, naturalmente, quis vir verificar seus sinais vitais. Eu penso
que Wraith apenas quis se divertir com você.

Sin bufou.

— E você?
A mão de Tayla deixou cair seu coldre da coxa, onde a empunhadura de
um punhal projetou-se de seu compartimento de couro e Sin enrijeceu instinti-
vamente. Mas os dedos dela jogaram somente com o punho de madeira
lustroso. Ainda, seu olhar era constante, sem medo, focalizado como raios
laser verdes e a maneira que estudava Sin eram quase adversários.

— Wraith e eu não concordamos muito — disse lentamente, — mas


nossas mentes encontram-se (debilmente) quando se trata de proteger a
família.

Okay, Sin sabia onde isto estava indo.

— E você está com medo de que eu possa ferir meus irmãos. Sim, sim,
Wraith já me deu o discurso sobre “feri-los e arrepender-me”, então conserve
seu fôlego.

Os dedos de Tayla continuaram a acariciar a arma.

— Olhe, eu sei que você não quer conversar...

— Você não sabe nada — Sin estalou.


Uma sobrancelha arqueada acima.

— Eu acho que você estaria surpresa.

— Sério? Por que você não compartilha?


Tayla subiu na mesa e dobrou suas mãos em seu colo como se preparan-
do-se para uma leitura agradável, longa. Ótimo.

— Okay, o negócio é o seguinte. Minha mãe era uma viciada. Eu nasci


no assoalho de um abandonado armazém, viciada à heroína. Eu cresci em
abrigos adotivos e nas ruas. Eu fui abusada. Eu usei drogas. Eu roubei. Eu
estava sempre em muitos problemas. Quando eu era uma adolescente, eu vi
minha mãe ser rasgada em pedaços por um demônio. Um Soulshredder. Após
isso, eu fiquei muito irritada. Eu juntei-me ao Aegis e matei cada demônio,
vampiro e metamorfo que eu poderia colocar minhas mãos. Por fim, encontrei
Eidolon, descobri que eu tinha uma irmã gêmea e aprendi que o demônio que
torturou minha mãe era também meu pai. Que tal isso para começar?
Cristo. Os maravilhosos olhos esmeraldas de Tayla eram de um
guerreiro. Não podia ser tão velha quanto Sin, mas lutara duramente para
sobreviver. O respeito relutante para sua cunhada abrandou a atitude de Sin.

— Você tem minha atenção.

— Bom. Porque me irritaram por muito tempo. O mundo, seres


humanos e demônios. Eu odiei tudo e todos.

— Sim, bem, essa é a diferença entre você e eu — Sin disse, cruzando


seus braços sobre seu peito. — Eu não odeio o mundo.

— Não. Você apenas se odeia. — Antes que Sin pudesse mesmo tentar
negar aquilo, Tay perguntou, — O que você pensa de Lore?

Sin piscou ante a mudança rápida de assunto.

— Quê?

— Lore. Você respeita seus sentimentos? Você acha que ele é um juiz de
mau caráter?

— Eu sempre confiei em seu julgamento. Por quê?

— Porque o ama. Então se é um bom juiz de caráter…


Sin rolou seus olhos.

— Por favor. Poupe-me da conversa de psicologia e de vitalidade. Eu


não irei acabar com minha vida ou qualquer coisa. Eu estou livre agora e a vida
é boa.

— Con é parte dela? De sua boa vida?


As borboletas voaram no estômago de Sin. A sensação era esquisita,
quase induzindo ao pânico, mas ao mesmo tempo, era estranha… agradável.

— Eu não sei do que você está falando.


Tayla nivelou um olhar fixo em Sin.

— Eu não sou cega nem estúpida. Eu vi a maneira que você pirou


quando ele ofereceu fazer algo agradável para você.

— Não importa. Não me quer. Não dessa forma.

— Quantas bandeiras de merda eu tenho que derrubar? Você não o viu


quando chegou a nosso apartamento. Estava apavorado por você. Eu pensei
que iria explodir de sua pele quando os meninos estavam trabalhando em você.
E apenas há um minuto, eu vi como o olhou. Não pode querer admitir, mesmo
para si mesmo, mas tem algo lá. Deixe-o entrar, Sin. Eu sei que é duro. Dar-me
a Eidolon foi a coisa mais difícil que eu fiz. Mas eu não lamentei. Nem uma vez.
Con é um bom rapaz e você pode igualmente confiar em seus irmãos.

Deus, isto estava ficando tão velho.

— Eu não preciso...

— Eu sei. Você não precisa deles. — As palavras de Tayla estavam


cheias de sarcasmo. — Você não precisa de ninguém. Mas você sabe o quê?
Eles preci-sam de você.

— Por que todo mundo continua dizendo isso? — Sin bateu seu copo de
água, chapinhando o líquido em toda parte. — Fizeram muito bem sem mim.

Houve um longo silêncio e então Tayla sorriu, mas era um levantar


triste de seus lábios.

— Não. Não fizeram. O irmão deles doente, torto, seu irmão, Roag,
quase destruiu suas vidas. E torturou e matou a irmã de Shade. Mas de certa
forma, trouxe Lore para eles. Se puderem transformar as ações de Roag em
algo positivo… Deixe-me apenas dizer que eles precisam disso. — Fechou seus
olhos e tomou uma respiração áspera. — Meu pai era um monstro. Eu posso
ainda provar o sangue de minha mamãe em minha língua porque é tão grosso
no ar. Mas por causa dele, eu tenho uma irmã. O fato de que algo minúsculo de
bom saiu do horror que impôs em mim e em minha mãe manteve-me sã e
evitou desperdiçar minha vida na amargura.

Sin virou, afastando-se, incapaz de pensar demais sobre o que Tayla


dissera. Porque independente do quanto Tayla e Sin tivessem em comum na
terra, não poderiam ser mais opostas. Sin desperdiçou sua vida na amargura.

Talvez Tayla estivesse certa. Talvez fosse hora de aceitar as boas coisas
que entraram em sua vida em vez de deixá-las afastadas. Seus irmãos eram
próximos e, embora as coisas tenham sido ásperas por um tempo, a maneira
que aceitaram Lore era absoluta, como se nunca tivesse faltado. Talvez eles a
aceitassem também.

Uma excitação estranha começou nela, através dela. Não tivera uma
família, uma família real, em mais de cem anos. Então outra vez, a mesma
ideia provocou um suor frio.

E então havia Con. Disse coisas a ele que nunca dissera a ninguém. Fez
coisas com ele que nunca fizera e seu corpo aqueceu-se nas memórias.
Protegeu-a quando poderia ter matado-a. Forçou-a a confrontar coisas que não
quis… E mesmo não sendo absolutamente legal, ninguém mais se incomodou
em ir tão longe com ela. Nem mesmo Lore, que quis se aproximar, mas era
demasiado receoso de empurrá-la até que se afastasse.

Con empurrou e em vez de afastar-se, o efeito foi o contrário.

— Sin? — A mão de Tayla veio para baixo no ombro de Sin. — Você


está bem?

Em vez da resposta, Sin fez uma pergunta.

— Como você deixou Eidolon entrar?


Uma explosão de afeição fluiu sobre Sin como um cobertor e esse anseio
estranho, caloroso voltou.

— Descobri que era uma pessoa melhor quando estava com ele. Assim
eu disse a ele meus segredos mais escuros. Eu deixei-o ver o pior de mim. E ele
me quis mais do que nunca.

Sin já dissera a Con seus segredos. Viu o mal que havia nela.

E disse que não a deixaria.

Girou ao redor, olhou Tayla. Olhou as escadas que conduziam ao quarto


onde seus irmãos e Con estavam. Onde cuidaram dela. Salvaram sua vida.

Estava em uma casa completamente cheia de pessoas que estavam lá


por ela. O conhecimento nivelou-a. Colocou-a em seu lugar.

Realmente tinha uma família e o cordão emocional entre eles e ela


ficava mais forte.

Apertado. Mas iria transformar-se num abraço, ou numa luta?

†††††

Con passeou no quarto, tecendo entre os irmãos de Sin enquanto


esperava Tayla ou Sin voltar. O alívio por ela sobreviver ao ataque assassino foi
temperado pelo fato que ela pareceu ter voltado a ser distante, ninguém
poderia entender completamente Sin.

Talvez Tayla tenha alguma sorte. Não conhecia a guardiã bem, mas
soube que era resistente e não teve uma vida fácil. Era possível que se pudesse
relacio-nar com Sin em um nível que ninguém mais poderia.
Todos os irmãos estavam prestando atenção e especulando, mas
ignorou-os.

— Aqueles bastardos que matamos fora da casa, eram todos assassinos?


Lore inclinou-se.

— Eu verifiquei suas ligações. Desses que não se desintegraram antes


que eu chegasse neles, em todo o caso. Três trabalharam para dois mestres
diferen-tes, mas os outros quatro pertenceram a Sin.

— Filho de uma cadela. — Pausou. — Você viu um cara em um gara-


nhão?

Todos os irmãos agitaram suas cabeças.

— Por quê? — Lore perguntou.

— Eu vi o que parecia um cavaleiro em um cavalo quando minha casa


foi bombardeada. Quase pegou Sin e então quando nós estávamos sob o ataque
no estabelecimento dos wargs, salvou-nos. Eu estou confundido como o
inferno. Você conhece todos os assassinos que trabalham a cavalo?

Lore dobrou seus braços sobre seu peito, que estava entrecruzado por
um chicote de fios carregado das armas. Nem mesmo Wraith andava armado
assim. Naturalmente, Wraith não precisava estar.

— Não. E esta seria uma maneira estúpida para um assassino fazer seu
trabalho. Não muito sutil.

— Nós precisamos tirar Sin daqui — Con disse. — É somente uma


quês-tão de tempo até que os assassinos atravessem a barreira de Rivesta.

Eidolon inclinou.

— Nós a levaremos ao hospital. Estará segura lá. — Virou para Wraith.


— Veja se você pode encontrar Luc. Se estiver tudo bem com ele, nós podemos
tentar experientar a infecção nele.

— Não está tudo bem com ele — Wraith disse. — Mas eu verei o que eu
posso fazer.

Não, Con não acreditava no oferecimento de Luc. O indivíduo só se


preocupava com ele mesmo e arriscar sua vida para desconhecidos completos
não estava nele. E embora Con não pudesse dizer a Luc, realmente não quis
que o warg se oferecesse. Luc cresceu com ele. Como um fungo… Talvez, mas
ainda... cresceu com ele.
— Como está o vírus? — Eidolon perguntou a Con. — Em você. Está
sob controle?

Jesus, como poderia ter se esquecido de mencionar aquilo mais cedo?

— Ele se foi. Desde a última noite.

— Então você não se alimentará mais de Sin, certo? — Os olhos escuros


de Shade pararam em Con e de algum modo… Shade sabia. Estava bem ciente
do assunto do vício. Mas como?

Con olhou de relance entre os outros irmãos, mas tanto quanto podia
dizer, não sabiam, nem tinham o mesmo interesse subjacente de Shade.

— Eu não preciso mais de seu sangue — ele assegurou ao demônio. —


Agora, nós devemos ir.

Shade obstruiu a porta.

— Calma aí, dampiro. — As sombras nos olhos do macho giraram


loucamente e Con soube o que era antes que Shade o dissesse. — Você está
bem com as alimentações. Mas e sobre o que está havendo entre vocês dois?

A boca de Wraith curvou num sorriso conhecedor.

— Duh. Está desossando-a.

— Quão sério é? — Lore perguntou e não... Isso não foi embaraçoso


para todos.

— Não há nada acontecendo — Esperou que soasse mais convincente a


eles do que soou a si mesmo, porque havia algo entre eles, não importava o
quanto ele tentou impedir que acontecesse.

— Bom — Shade disse. — Você sabe que eu gosto de você, homem. Mas
você tem… vícios. Se você a ferir…

Shade não precisou terminar sua sentença, porque o aviso nos olhos dos
irmãos deixou bem claro. Con morreria. Dolorosamente.

Lore moveu-se para frente e Con enrijeceu.

— Você tem cuidado dela. Obrigado. Mas você deve saber que se você
está procurando qualquer coisa à exceção de sexo com ela, você não
conseguirá.

Por alguma estranha razão, aquilo o irritou. Sin era mais do que um
buraco a perfurar e, embora Con entendesse o que Lore estava tentando dizer,
ele ainda mudou seu temperamento para uma marcha acelerada quando sua
própria vergonha tratou de aquecer seu rosto.

— Sim? — Cuspiu. — E por que é assim? Talvez seja porque você a


aban-donou quando ela mais precisou e agora ela pensa que todos farão o
mesmo?

A temperatura no quarto caiu para níveis sub-árticos e uma gama de


emoções, da culpa à fúria, cruzou o rosto de Lore.

— Você não sabe o que diabos aconteceu.


Con ficou em cima de Lore, sua raiva trouxe de volta tudo o que Sin
dissera a ele. Instinto o fez querer defendê-la, vingar-se por ela e provar que
Lore estava errado sobre a obtenção de nada, a não ser sexo dela. Mesmo que
Lore estivesse certo.

— Eu sei que os assassinos pegaram-na, torturaram-na. Eu sei que ela


aperta seu punhal como um animal encolhido quando dorme porque não se
sente segura. Eu sei que você a deixou como um covarde e, em seguida, sentou-
se em sua bunda sentindo pena de si mesmo enquanto ela lutava para sobrevi-
ver...

O punho de Lore bateu na mandíbula de Con. Con foi lançado para trás,
conteve-se e revidou com um soco no estômago e um soco curto no queixo. Ele
esquivou-se dos socos de Lore, mas tomou um chute no peito, forte o suficiente
para fazê-lo sugar o ar.

— Parem! — Sin pregou Lore na parede e virou para Con, empurrando-


o contra a parede oposta. — Que história é essa?

— Apenas uma pequena postura alpha. — Lore disse a Con num clarão
e Con quase partiu para cima dele novamente.

Sin estreitou os olhos em ambos, então parou em Con.

— Basta ter em mente que Lore não é um warg. Ganhar uma luta não
lhe dá privilégios especiais.

Con piscou e depois sorriu quando a contração da boca de Sin trouxe a


realização que ela se lembrou das batalhas seguidas por sexo na aldeia warg.

Lore limpou o sangue de sua boca com as costas de sua mão nua.

— Por que diabos você está sorrindo?

— Confie em mim, você não quer saber. — Então, na frente de todos,


ele agarrou e beijou Sin, não com cuidado na verdade, tendo um prazer
perverso no fato de seus irmãos estarem tensos como setas. — Você — disse
ele contra seus lábios, — é tão má.

E ele estava tão ferrado.


— Vá para o inferno, Valeriu. E leve o Sigil com você — Kynan bateu
com tanta força o telefone de satélite que uma peça de plástico soltou-se e
estalou na parede de pedra da caverna americana central de Shade.
Amaldiçoando, ele checou para ter certeza que o telefone ainda funcionava. Ele
funcionou, mas maldição, ele estava irritado. Além de irritado. E ele esperou
intensamente que Serena não tivesse escutado ele dizendo a seu pai para
curvar-se diante do grande cadáver de Satã.

Mas nem fodendo ele iria receber ordens do R-XR de novo.

Pegando o telefone, ele sentou-se no sofá de couro que percorria a


extensão da parede da sala de estar da caverna. Ele começou discando para o
número do celular de Tay... e congelou com o ruído horripilante e prolongado
de um rosnado.

As mulheres ouviram o intruso antes mesmo de Kynan. Não era que ele
não estivesse alerta; foi só porque Serena era um vampiro com um fértil e
afiado senso, e Runa era um lobisomem com uma audição ultra sensível até
mesmo em forma humana.

A qual ela não estava no momento.

Runa, graças a um experimento militar logo após ser mordida por um


warg (Luc) foi alterada. Ela ainda se transformava em uma besta feroz nas três
noites de lua cheia, mas ela também poderia se transformar à vontade. Do jeito
que ela quisesse.

Seu rosnado ecoou pelas lisas rochas da caverna. Kynan sacou sua Sig,
correu para a cozinha, onde Runa estava parada sob dois pares de fortes e
peludas pernas, dentes à mostra. Atrás dela, Serena, com as presas abaixadas,
bloqueando a porta do quarto, onde os trigêmeos de Runa e Shade e o filho de
Serena e Wraith estavam dormindo.

A estreita passagem de entrada foi preenchida quando alguém passou


para dentro. Kynan segurou sua respiração, deixando seus dedos
acomodarem-se no gatilho de sua arma.

Ele amaldiçoou com alívio quando o irmão de Runa e antigo colega do


exército de Kynan, Arik saiu das sombras. Arik vestia uma blusa bege sob
medida com sua calça BDU, uma Beretta M-9 em seu quadril, mas suas mãos
estavam vazias e, quando ele as levantou, Ky abaixou sua arma.

— Vá com calma. — A voz de Arik estava tranquila, sua fala suave como
se um policial negociador estivesse falando com alguém à beira de um
precipício. Mas Ky conhecia Arik bem o suficiente para reconhecer seu tom de
estresse. — Eu não estou aqui para buscar você Runa.

Kynan angulou seu corpo para que então pudesse encobrir a entrada da
caverna.

— Você está sozinho?

— Claro que estou — Arik retrucou. Os músculos de seus braços se


endureceram como se estivesse preparado para terminar qualquer dúvida com
seus punhos. Por causa do encanto, Kynan não poderia se machucar, a menos
que quisesse se machucar. Ele não teve nenhum desafio em meses e ele quase
esperou que Arik lhe lançasse um soco só para poder trabalhar sob alguma
agressão.

Por um longo momento a tensão circulou no ar gelado, até que Runa se


transformou novamente para sua pequena forma humana. Ky e Arik mudaram
seus olhares assim que Serena lhe passou um robe para substituir suas roupas
que foram destruídas por sua mudança. Um dos bebês começou a chorar e
Serena desapareceu de volta para o quarto.

—Desculpe-me, Arik — Runa falou, o ruído da roupa sob sua pele


misturando-se com sua voz à medida que vestia o robe. — Você nos assustou.
E o R-XR quer-me como um rato de laboratório.

Ele ruborizou-se.

— Agora, isso não é um problema.

— Então o que, eu ganhei uma licença? E você pode vigiar-me agora.


A boca de Arik apertou-se em uma linha rígida.

— Você não ganhou uma licença.


Runa congelou enquanto retirava seus cabelos cor de caramelo de
dentro do robe e o pulso de Ky acelerou-se. Ele não queria acreditar que o
homem que costumava ser seu amigo viera para apanhar sua própria irmã,
mas muitas das coisas que ele não queria acreditar nos últimos dois anos
acabaram por se provar verdade.
— Por que você está aqui? — Kynan bateu de leve contra a pistola em
seu quadril, conduzindo o olhar de Arik. — Você tem cinco segundos para
informar-nos.

A pausa de Arik durou quatro.

— Eu me recusei a entregar a localização de Runa e eles ameaçaram me


trancar até que tudo isso acabe. Então eu fugi.

— Você está AWOL22?


Arik concordou e Ky soltou um baixo assobio. Ausentar-se sem
permissão era uma séria ofensa no regime militar. Mas vindo do R-XR? A
unidade paranormal jogava para valer e sem supervisão ela poderia fazer o que
quisesse com Arik e ninguém iria argumentar, nem ao menos saber.

A única coisa que poderia salvá-lo era que as pessoas que trabalhavam
no R-XR eram especialistas e valiam seu peso em ouro. E Arik, um ex-membro
da operação da Força Delta que poderia aprender qualquer linguagem dos
demônios depois de ouvir algumas palavras, era impagável.

Runa correu para Arik e o envolveu em seu abraço.

— Você pode ficar aqui Arik. O tempo que for necessário.


Arik levantou suas escuras sobrancelhas para Kynan.

— E o que seu guarda-costas tem a dizer sobre isso?

— Irmão — Kynan falou com lentidão, — não é comigo que você precisa
se preocupar.

— Shade concordará — Runa falou enquanto afastava-se e Ky esperou


que ela estivesse certa. Arik e Shade não eram melhores amigos. Arik ainda
não perdoara Shade por seu papel em transformar Runa em um lobisomem e
Shade tinha uma total descrença no R-XR.

— Eu poderei ver meus sobrinhos?

— Eles estão no quarto com Stewie. — Os olhos champagne de Runa


iluminaram-se no ruído do chão e depois se levantaram de volta para seu
irmão. — Você não conhece o filho de Wraith, não é mesmo?

— Não.

22 Absent without leave - Ausente sem permissão.


— Ok, espere um minuto — Runa foi para dentro do quarto, deixando
Kynan e Arik sozinhos.

Ky gesticulou para Arik para segui-lo para a sala. Uma vez lá, Ky
articulou-se, colocando-se na linha para manter um olho na porta.

— Diga-me tudo.
Arik esfregou a mão sobre seu cabelo escuro, cortado baixinho no estilo
militar.

— Você já conversou com os outros anciãos recentemente?

— Você poderia dizer isso — Kynan disse.

— Disseram-lhe que o Aegis está recebendo ordens do R-XR agora?

— Val mencionou algo sobre isso. Mas eu não sei por que o Aegis vai ser
a puta do R-XR. Nós não chegamos tão longe nessa conversa.

Arik olhou através da porta do quarto dentro do qual Runa havia


desaparecido.

— Você sabe que os wargs nascidos já estão sendo afetados por FS,
certo?

— Sim. E há um perigo de saltar espécies.

— Não há tempo para encontrar uma cura.


Kynan exalou lentamente, como se isso fosse colocar para fora tudo o
que sabia e que ia ser uma péssima notícia.

— O que você está dizendo?

— Eu estou dizendo — disse gravemente Arik, — que os poderosos não


querem esperar. Eles estão mobilizando forças para unirem-se com o Aegis
para sair em uma missão de procura e destruição. Se uma cura para esta
doença não for encontrada agora, eles pretendem erradicar qualquer
lobisomem do planeta.

†††††

Eles tinham acabado de chegar ao lado da montanha do Harrowgate


quando o telefone de Tay tocou. Ela afastou-se do grupo para responder e,
através da recepção estática e de vai e volta, ela mal conseguia ouvir a voz de
Kynan.

— Tay? Onde você está?

— Montana. Runa e as crianças estão bem?

— Eles estão bem. Mas o Aegis está tentando contactá-la — Como se


por sugestão, seu telefone tocou e o identificador de chamadas indicou seu
supervisor, o chefe da célula do Estado de Nova York.

— Sim, Richard está na outra linha...

— Não responda!
Jesus. Ok... Nunca Ky ficou tão animado assim.

— Ky, você está me deixando nervosa — Ele estava deixando todos


nervosos (eles estavam se reunindo em volta e Shade estava prestes a pegar o
telefone dela).

— Olha, eu recebi um telefonema de Val anteriormente. Ele disse que o


R-XR e cada unidade militar sobrenatural do mundo estão dirigindo uma
operação, e que o Aegis ia receber ordens deles.

Tayla bufou.

— Besteira.

— Isso foi o que eu disse. Val me disse para entrar na linha e eu disse
para ele ir para o inferno. Logo depois, Arik apareceu.

Ela baixou a voz e afastou-se para que Shade não ouvisse: — Na


caverna?

— Sim. Ele está aqui porque se recusou a entregar Runa.


Aparentemente, o R-XR e o Aegis estão enviando grupos de extermínio para
matar todos os Wargs, nascidos e trasformados.

— Oh, merda. — Tayla pausou, as implicações do que Kynan havia dito


passavam como um filme em sua cabeça. Um filme de terror. O abate em todo
o mundo seria fora da escala. — Nós temos que pará-los.

— Eu tentei — disse Kynan. — Acabei de sair de uma teleconferência


com o Sigil.

— Eles não o estão ouvindo?


Um som de frustração saiu das ondas sonoras.

— Tay, eu usei todas minhas influências. Eu jurei deixar a porra da


organização, mas eles não querem ceder. Eles estão falando sério sobre
destruir os Wargs.

— É por isso que Richard está ligando? Para eu organizar minha célula
para uma caçada warg? Porque eu não vou fazer isso. — Ky fez uma pausa e
um calafrio deslizou para cima da coluna de Tay. — Ky... o que você não está
dizendo?

— Eles sabem que você não vai cooperar. Richard quer que você volte
para o QG de sua célula.

— E depois o quê?

— Eles pretendem mantê-la até que o massacre acabe. Eles não querem
que você interfira. Tay, espere — ela ficou ali, estufeta, enquanto Ky falou em
voz baixa com outra pessoa. Quando ele voltou à linha, ele parecia que estava
falando entre dentes cerrados. — Arik está com alguma informação
interessante. O R-XR indicou que há uma reunião maciça de wargs no Canadá.
Você sabe alguma coisa sobre isso?

— No Canadá? — Ela franziu a testa e depois fez uma careta quando


Con pegou o telefone dela.

— Kynan? O que tem o Canadá? Não é onde você falou ao Conselho dos
Wargs que havia um Warg Feast? — Con escutou por um momento. — Ela é
uma Guardiã? E espere... o quê? Puta merda. — Con fechou o telefone.

— O que está acontecendo? — Eidolon perguntou.

— Luc. — Seus olhos viraram em direção a Sin e Tay reconheceu esse


olhar. O dampiro estava se apaixonando, e se apaixonando rapidamente. —
Precisamos chegar onde ele está.

— Por quê? — Tayla estava confusa como o inferno.

— Cara, eu não posso acreditar que eu não juntei tudo isso antes — Con
disse. — Luc... no Egito. Ele encontrou esta Guardiã que era um lobisomem.

— Nós não temos quaisquer Guardiões lobisomens — Tay interrompeu.

— Não que você soubesse. Aparentemente, ela estava escondendo isso.


— Você não pode esconder isso. Nós nos certificamos que cada
Guardião trabalhe pelo menos uma noite de lua cheia.

Con acenou com a cabeça, impaciente.

— Ela é de uma raça especial. Eles transformam-se na lua nova. Kynan


foi ao Conselho Warg para perguntar sobre ela. Ela estava indo para os
Territórios do Noroeste. Assim, tantos os nascidos quanto os trasformados
enviaram esquadrões de extermínio para matá-la. Mas a coisa é, eu acho que
ela estava indo para lá porque é lá que Luc está. Ela é o lobisomem com quem
ele teve relações sexuais.

— Então ela está levando um bando de lobisomens direto para ele —


disse Wraith.

A voz de Con abaixou-se.

— E pior, os dois lados dos wargs sabem que o outro estará lá. Eles
estão reunindo um exército.

— É onde eles estão indo para lutar sua guerra civil — disse Sin e
pronunciou uma escura maldição. — Um armagedon para os lobisomens.
— Bem?
Luc jogou uma tora no fogo e lançou um olhar para Kar por cima do
ombro, que estava enrolada em um cobertor no sofá. O fogo rugia quente e Luc
havia movido o sofá para perto da lareira, mas ela ainda estava com frio. Era
tudo o que podia fazer para não se deitar com ela e adicionar seu calor a seu
corpo. Ele queria (se ela tivesse FS, ele já fora exposto). Mas ela não o deixava
chegar perto.

O curioso era que ela não estava tão doente como ela deveria estar se
tivesse contraído a doença. Talvez não fosse FS. Ou talvez Wargs Feast se
afetassem de forma diferente. De qualquer maneira, ele precisava entrar em
contato com Eidolon. Ele ligou para o hospital e para o apartamento de E, mas
nada. E ninguém parecia saber onde ele estava.

Inferno, ele não conseguia entrar em contato com nenhum dos irmãos.
Ou Con. Se ele não pudesse contactar Eidolon em breve, ele teria que fazer
uma corrida para o Harrowgate à luz do dia, com assassinos ou não.

— Luc, nós precisamos conversar.

— Você está doente. Você precisa descansar.


Ela esforçou-se para sentar-se e ele ficou de pé para ajudá-la.

— Não me toque — disse ela, mas era tarde demais. Ele ajudou-a a
sentar-se e recuou.

— Kar, você realmente precisa descansar. Se isto for FS...

— Se for FS — ela disse calmamente, — então o que eu preciso fazer é


conversar.

Bem, isso o manteve alerta. Ela queria manter sua mente fora disso
tudo e ele seria um grande bastardo se não permitisse.

— Ok, sim. Sobre o que você quer falar?


Ela olhou-o como se ele fosse um idiota. Como as fêmeas conseguiam
isso mesmo quando estavam com círculos de exaustão sob seus olhos e com
erupções de febre no rosto, ele não fazia ideia.

— Você ainda está cantando essa mesma música? Eu posso nomear


menos coisas que nós não temos necessidade de falar do que as que nós temos.

— Isso é sobre o garoto? Porque eu não vejo como grande problema.


Você fica aqui, tem-no e nós o criamos.

Kar escondeu o rosto entre as mãos e balançou a cabeça.

— Quanto tempo se passou desde que você era um humano?


Ele piscou com isso.

— Eu tinha 24 quando fui mordido. Isso foi em 1918.


Foi sua vez de piscar.

— Uau. Você é velho.

— Obrigado — ele murmurou.

— Como você conseguiu não engravidar mais ninguém em todo esse


tempo? — Ela estreitou os olhos para ele. — Ou você tem um monte de filhotes
correndo por aí?

Ele jogou mais lenha no fogo, apesar de não precisar.

— Não, eu não tenho filhos.

— Você lembra como era ser criança? Ter pais?


O fogo crepitava e sibilava como se o insultasse responder às perguntas
idiotas de Kar. Ele agarrou um gancho para fogo e golpeou as toras.

— Foi há muito tempo.

— Isso não foi o que eu perguntei — disse ela calmamente.

— A virada do século não era um tempo bom para ser o oitavo filho de
uma família pobre — Nem um pouco. Ele foi criado em uma fazenda no
Centro-Oeste, foi introduzido ao trabalho árduo, antes que tivesse três anos.
Seus pais eram tão bons quanto eles poderiam ter sido, mas quando cada hora
do dia era usada com o trabalho, quer na fazenda ou na cozinha, não havia
muito tempo para jogos ou carinhos. Aos dezesseis anos, ele saiu de casa,
juntou-se à carreira militar e nunca olhou para trás.
Exceto... que ele tinha. Os soldados com quem ele lutara na França se
tornaram a família unida que ele nunca teve. Pelo menos, até quando eles
começaram a morrer em batalha. Um massacre deixou-o sozinho e ferido,
vagando pela floresta, na tentativa de escapar do inimigo. Ele foi encontrado,
mas não por um inimigo humano.

Um lobisomem o atacou. Ele conseguiu combatê-lo, mas depois ficou


deitado por lá, tão mutilado que assim que o inimigo humano o encontrou, eles
deixaram-no para morrer.

Ele transformou-se em um lobisomem naquela noite, curou suas feridas


e acordou na manhã seguinte deitado entre os restos de uma dúzia de soldados
americanos.

Soldados que ele matou.

Doente, assustado e confuso, ele foi dado como desertor. Ele mal se
lembrava de como sobreviveu depois de tudo, agindo apenas por instinto e
pelo desejo de matar o monstro que o infectou. Três anos mais tarde, seu
reprodutor estava morto e Luc retornou aos Estados Unidos.

— O que aconteceu? — Kar perguntou.

— Eu fui para a guerra, fui mordido por um warg e quando cheguei em


casa, eu descobri que quatro de meus irmãos e irmãs e minha mãe morreram
de gripe. Meu irmão mais velho foi morto em um acidente na agricultura. E
meu pai cuidava do que restava de sua mente.

Luc tentou ajudar, acorrentou-se no celeiro em noites de lua cheia, mas


em seu terceiro mês, ele libertou-se, matou o gado e mordeu seu irmão mais
novo, Jeremias. O que aconteceu depois levou Luc aos limites e a uma
existência solitária.

Jeremias transformou-se em um lobisomem na noite seguinte, matou


seu pai e irmã. Quando acordou e percebeu o que fizera, ele tirou sua própria
vida.

Luc caiu no chão e recostou-se contra as almofadas do sofá.

— E por causa de mim, porque eu mordi meu irmão, eu perdi o resto de


minha família.

— Hey — Kar disse gentilmente, enquanto deitava sua mão em seu


ombro. O gesto íntimo e confortante surpreendeu a Luc e fez sua garganta se
fechar um pouco. Ela tinha todos os motivos para odiá-lo, usá-lo para a
proteção e nada mais, mas ela ainda estava tentando tirar o melhor proveito de
uma situação de merda.
— O quê? — Ele afastou-se, torcendo-se de modo que ficou de frente
para ela.

— Eu sei que você não quer isso. Um bebê também não estava
exatamen-te em minha lista de coisas a fazer. — Ela esfregou sua barriga e um
sorriso minúsculo frisou em sua boca. — Mas eu amo o pequeno guri agora. Eu
quero isso e eu vou fazer de tudo para protegê-lo. Isso significa que eu vou
protegê-lo de você, também.

— Você acha que eu iria prejudicar meu próprio filho?

— Não intencionalmente. Você seria protetor, feroz e possessivo. Mas


Luc, se você não puder amá-lo, se você não puder se conectar com ele, você irá
prejudicá-lo.

Luc olhou para o fogo. As chamas lamberam as toras, comendo a


madeira e colocando para fora tanto calor que certamente poderia derreter a
parede de gelo dentro dele. Kar estava certa. O garoto provavelmente seria
humano, seriam necessários pais que pudessem amá-lo.

Foi esse um dos motivos pelo qual aceitara tão bem ter filhotes com Ula,
ela era pricolici, de modo que a prole teria sido levantada ao mundo mais duro
dos wargs, onde os machos existiam para proteger, não criar.

Luc poderia definitivamente proteger.

Criar? Ele fechou os olhos, mas eles se abriram quando Kar pegou sua
mão e colocou-a em sua barriga.

— Você não pode senti-lo ainda. Não é nem mesmo uma batida. Mas
está lá. Seu bebê.

Algo dentro dele rachou um pouco. Mas essa fissura minúscula parecia
um terremoto em sua alma. Seu bebê. E se ele não gostasse? E se ele não
pudes-se amá-lo? Ele retirou sua mão para longe como se essa coisa dentro
fosse uma víbora.

— Eu... ah... — ele saltou sobre seus pés, uma perda completa. Então
ele girou para a porta. — Você ouviu isso?

Kar olhou para cima, sua expressão cheia de ceticismo. Sem dúvida, ela
achou que ele estava tentando pular fora da conversa.

— Ouvi o quê?

— Eu não sei. Poderia ser um ramo de uma árvore caindo — A


tempesta-de acabara deixando apenas o silêncio em seu rastro. Ele diminuiu
cautelosa-mente para a janela, mas se manteve de costas para a parede como
se olhasse para fora.

Kar pressionou-se sobre seus pés.

— Você vê alguma coisa?


Um brilho de metal contra o campo branco lhe trouxe arrepios.

— Fique abaixada.
Kar afundou-se em seus quadris suavemente, sua formação Aegis e
instintos wargs manifestando-se.

— O que é isso?

— Eu acho que os assassinos encontraram você.

— Droga — ela respirava. — Onde estão suas armas?

— Você quer dizer, além do fuzil e espingarda apoiados ao lado da


porta, as seis espingardas e pistolas nas outras paredes e o arco no canto em
pé?

Ela deu-lhe um olhar seco.

— Sim, além dessas.

— Eu tenho um baú cheio de variadas lâminas em meu quarto e, no


andar de baixo, na caixa de metal, eu tenho dinamites.

— Sério? — Perguntou ela e quando ele sorriu, ela retribuiu o sorriso.


— Demais.
Ele quase riu, algo que ele não fazia há muito tempo. Mas porra,
quantas mulheres realmente se iluminavam como lanternas quando você
mencionava que havia explosivos em casa?

— Eu preciso que você desça e fique quieta. Vou ver se eu posso tirá-los
daqui.

— Eu acho que não.

— Faça-o — ele latiu. — O porão é escondido, eles poderiam suspeitar


que você está aqui, mas mesmo que eles entrem, o que eles não vão, eles não
serão capazes de encontrá-la.
— Luc, eu não acho que isso seja uma boa ideia. — Ela olhou para a
arma perto da porta. — Eu posso estar grávida, mas eu não sou impotente.

— Isso não é porque você está grávida — Mulheres humanas grávidas


são tratadas como se fossem feitas de vidro, mas antes mesmo dele ter sido
transformado, ele sabia que elas eram mais duras do que isso. Ele viu sua mãe
passar por três gestações, trabalhando tão duro na fazenda quanto seu pai, até
ela entrar em trabalho de parto. E as mães wargs eram ainda mais duras do
que isso, lutavam e caçavam até o dia de darem à luz.

— Então o quê? — De repente, ela endureceu e um rosnado baixo e letal


retumbou em seu peito.

— Kar? O que é isso?

— Lobisomens. — Seus olhos brilharam e seus lábios empalideceram


em seus dentes. — Não são os Aegis. São wargs. Eu os sinto. Um monte deles.

Um bloco de gelo caiu na boca do estômago Luc.

— Exterminadores. As equipes enviadas para destruir os Wargs Feast


— E então ele sentiu... uma onda de violência batendo sobre ele como um
tsunami erguendo-se para fora do inferno. Seu sangue trovejou em suas veias,
sua pele ficou apertada e suas articulações esticadas ao ponto da dor.

— Luc — Kar ofegou e ele virou-se para ela. Ela dobrou-se, apertando
seu estômago. — Eu sinto... uma mudança. É como se eu precisasse... matar.

Quando muitos wargs uniam-se para lutar, todos mudavam, não impor-
tava a época do mês, a hora do dia. Kar definitivamente não precisava estar lá
fora, matando com sua mordida venenosa.

— Vá para abaixo! — Sua voz estava distorcida, como um rosnado, mas


ela entendeu e arrastou-se até o porão. Com as pontas longas em garra de suas
mãos, ele fechou a escotilha e rolou o tapete sobre ele.

Cambaleando, ele abriu a porta, mesmo com seu corpo cerrado, à beira
de se contorcer em sua forma animal.

A floresta ao redor tornara-se viva, repleta de movimentos. De um lado,


varcolac, distinguível dos nascidos wargs por seus tamanhos variados e cores
de pele, e do outro lado, pricolici, maioria escura, todos fortes e prontos para
carre-gar os outros.

— Que diabos! — Luc balançou a cabeça em direção ao grito. Seis seres


humanos (Guardiões, se sua riqueza de armas fosse qualquer indicação)
estavam perto do rio, no meio do que estava prestes a ser um unhas e dentes
do inferno.

Luc saiu exatamente quando os dois lados dos wargs encontraram-se.


Os Guardiões entraram em ação, enviando flechas para a briga. Mas um mirou
em Luc, treinado em pistola.

O único pensamento de Luc enquanto a bala atravessava seu peito foi


que durante anos ele não se importou se vivesse ou morresse. Agora ele
importava-se, mas poderia ser tarde demais.

†††††

O Harrowgate abriu-se para a neve no chão, a luz do sol cegando no céu,


com o limpo e nítido estalo de tiros no vento.

Con lidou com a neve profunda em suas canelas quase correndo, com
Wraith em seus calcanhares. Sin, E, Lore e Shade estavam logo atrás. Tayla
voltou para a UG para encontrar os médicos.

Não seja tarde demais. Não seja tarde demais...

Ao chegarem mais perto, o som inconfundível de batalha vibrou no ar.


Gritos, grunhidos de gelar o sangue e o cheiro de sangue guiaram-nos. A
cabana de Luc estava talvez cinquenta metros à frente quando os músculos de
Con bloquearam-se e ele engasgou e tropeçou em seus próprios pés quando
trombou em uma árvore. Sin pegou-o, seu forte corpo pronto contra o dele.

— O que há de errado? Con?


Ele não podia responder. Sua garganta havia se fechado e o único som
que ele podia fazer era um rosnado. Ele estava se transformando e não havia
nada que pudesse fazer para deter a transformação. Ele só poderia diminuir os
danos e, o mais rápido que pôde, ele retirou sua camisa e sua calça.

— O que está acontecendo? — A voz de Sin parecia distante e depois


Eidolon tirou-a de perto.

— A batalha dos wargs. Ele está se transformando. Ele vai ficar bem.
Temos que ir. — O som de tiros interrompeu-o e então madeiras em pedaços
pulverizaram ao lado da cabeça de Sin. — Merda! Assassinos.

Assassinos que tentaram matar Sin.

Eles tentaram matar minha mulher.


Não importava que o pensamento fosse insano. Que não fosse verdade.
Que nunca poderia ser verdade. Algo escuro alcançou-o e agarrou-se a Con,
espremendo os pensamentos racionais de seu cérebro, e antes mesmo dele
estar totalmente transformado, ele lançou-se ao grupo dos humanos engajados
na batalha com dezenas de wargs. A cena foi um caos. Wargs lutando entre si e
os assassinos na neve que virou uma lama rosa, sangrenta.

Ele saltou, com água na boca enquanto se preparava para morder um


assassino. No ar, uma massa cinzenta de pele colidiu com ele. Os dentes do
warg fixaram-se em seu ombro e suas garras cavaram as costelas de Con e,
suficientemente louco, foi o assassino condenado que levou a lâmina que
separou a cabeça do warg de seu pescoço, provavelmente salvando a vida de
Con.

Vagamente, ele ouviu a ordem de Eidolon para seus irmãos reunirem os


Guardiões sem matá-los, algo sobre Tay e Ky querendo-os vivos, e em seguida
outro pricolici atingiu Con e nada mais importava que não fosse a batalha. O
aperto dos ossos entre seus dentes, o gosto de sangue em sua língua.

Ele não sabia quanto tempo a batalha durara quando sentiu uma picada
em seu flanco. Girando, ele virou para sua fonte... Sin?

Ela estava a poucos metros de distância, um arco mirado em sua


direção. Uma escaldante agonia roubou sua respiração enquanto seu corpo
virava do avesso, torcendo-se e transformando-se até que ele estava de volta a
sua forma humana. Ela teria o atingido com um dardo do Aegis de
metamorfose e, caramba, a mudança doeu por acontecer em uma velocidade
não natural assim. Ele caiu de joelhos, a neve gelada raspando sua pele nua.
Um rosnado pavoroso soou atrás dele e Sin, movendo-se com uma graça felina,
lançou-se como uma estrela da manhã no próximo warg enquanto atirava com
seu arco. As lesões não seriam fatais, mas os wargs caídos no chão estavam
incapacitados por ela pelo seu ótimo golpe.

— Você é... boa para caramba — ele falou asperamente.


O rosado induzido pelo frio em seu rosto deu-lhe uma expressão fresca e
brincalhona enquanto ela jogava sua roupa.

— Eu sou feita de coisas incríveis. — Ela ofereceu uma mão. —


Desculpe o dardo, mas Eidolon não sabe qual destes lobisomens é Luc e ele
precisa de sua ajuda. — Ele poderia ser macho e não aceitar sua ajuda, mas
nesse momento sua perna não estava estável, ele foi machucado por uma dúzia
de garras e feridas de mordidas, e, realmente, ele pegaria isso como desculpa
para tocá-la. — Eu pensei que se transformando você se curasse.

O mundo inclinou-se e girou um pouco, e, merda, parando o passeio, ele


estava pronto para ir embora.
— Nós todos nos curamos em níveis diferentes, dependendo de nossa
espécie e do tipo de feridas. Confie em mim, eu me curei bastante com essa
mudança. — Não tanto quanto ele teria gostado, mas pelo menos ele não
estava sangrando. Ele resmungou e levantou-se. Todos em volta, a batalha
desenrola-va-se e Sin derrubou outro warg com um tiro sobre o ombro
enquanto ele arrancava o dardo de sua coxa e o jogava ao chão. — Alguém já
verificou a caba-na de Luc?

— Não que eu saiba. — Ela franziu a testa. — Parece que os varcolac


estão recuando.

Sim, eles estavam. O chão estava cheio de corpos e de wargs feridos,


alguns dos quais começavam a mudança à medida que a batalha diminuía. Ele
puxou sua calça jeans e colocou a camisa sobre a cabeça.

— Vamos lá. Vamos procurar na cabana.


Sin balançou a cabeça.

— Eu vou ajudar os meninos. Vá você. — Antes que ele pudesse argu-


mentar, ela estava fora e em ação.

— Sin — ele chamou por ela. — Tenha cuidado. Você ainda tem assassi-
nos atrás de você.

Ela lhe acenou com uma mão e derrubou um warg com a outra.

Cristo. A fêmea dar-lhe-ia um ataque cardíaco.


Con disparou para a cabine, seu coração martelando com a visão do
sangue espirrado na neve, na porta e na entrada da cabine. Luc estava rigida-
mente no chão, sangrando de um ferimento a bala aparente no peito.

— Segura aí, amigo — Con caiu sob seus calcanhares e bateu com a mão
sobre a ferida borbulhando.

— Eidolon! Shade! — Os irmãos ainda estavam ocupados na batalha,


agora mais defendendo o varcolac que estava tentando fugir.

Mantendo um olho na situação do lado de fora, porque seria um saco


ser atacado enquanto estava socorrendo, ele rasgou a camisa de Luc para expor
o buraco de bala. Luc gemeu enquanto Con fazia um rápido exame, rolando
gentilmente o traseiro pesado do warg para checar por um ferimento de saída.
Como esperado, a bala abrira um burado desfigurado através de sua omoplata.

Finalmente os dois demônios correram, deixando Wraith, Sin e Tayla


para limpar. Parecia que o pessoal do UG também havia chegado.

— O que nós temos? — E perguntou.

— GSW23 na parte superior direita do peito. Inteiramente. Ele tem


sangue em suas vias aéreas e sua respiração está rápida e superficial. — Não
que isso importasse, pois Shade e Eidolon seriam capazes de entrar em Luc e
usar seus dons para curar de forma rápida e eficiente.

Ambos espalmaram os braços de Luc, os símbolos em suas mãos


direitas brilhando intensamente. Luc gemeu, mas seus olhos estavam
brilhantes quando trancaram com os de Con. Ele murmurou algo sobre um
carro24.

— Sob... o tapete.

— Hey, cara, tudo bem...

23 Sigla de Gunshot wound. Termo usado em casos de ferimento à bala.

24Trocadilho. Luc na verdade diz o nome de Kar para Con, mas a sonoridade é a mesma da palavra Car, que significa
carro.
Ele balançou a cabeça.

— Deixe-a... sair. Seu nome é... Kar. — A fêmea Feast.

— Nós cuidaremos de Luc — Shade disse. — Vá em frente e lide com


quem ele tenha escondido embaixo do tapete. — Shade franziu a testa para o
warg. — Fogo do inferno. Você acha que conhece alguém...

Eidolon murmurou alguma coisa sobre a gruta BDSM de Shade, mas


Con os ignorou para rolar de volta o tapete grosso e amarrado. Não havia nada
lá além de tábuas de madeira. Sin e Wraith espreitaram pela porta, e atrás
deles estava Lore, carregando uma mochila médica sobre os ombros.

— O pessoal da UG está remendando os wargs e todos os Guardiões


sobreviventes estão costurados. — Wraith disse. — Mas eles poderiam prova-
velmente usar um pouco de atenção médica. Especialmente aquele merdinha
com o moicano idiota. Ele perdeu muito sangue.

— Porque você o comeu — Sin disse ironicamente.


Wraith piscou com inocência exagerada.

— Lutar deixa-me com fome.


A própria boca de Con estava regada com a visão de Sin, toda fresca da
batalha, seus olhos brilhantes e cabelo selvagem. Ela apontou para o chão.

— Oh, porta secreta!

— Você pode ver isso?

— Você não pode? — Sua expressão de inocência combinando com a de


Wraith e, sim, aqueles dois estavam definitivamente relacionados.

Lore socou-a no ombro.

— Pare de ser uma diabinha. — Ele moveu-se em direção a Con e


colocou a mochila no chão. — Assassinos são treinados para reconhecer os
feitiços lançados ao redor de entradas escondidas. A porta secreta de Luc
brilhou como sinal em neon para nós, mas poucos o veriam. Ela está brincando
com você.

— Vocês arruínam toda minha diversão — Sin fez uma careta aos seus
irmãos enquanto dobrava e traçava seus dedos ao longo do que Con assumiu
que era a borda da porta escondida. Então ela bateu seu punho em um quadro.
Bateu em outro. E outro. Na terceira vez foi seu encanto e, de repente, a porta
estalou aberta, um quarto de três por três.
— E sim, eu sabia onde todas as portas secretas de Rivesta estavam. Eu
apenas gostava de observar você procurando por elas.

Sin realmente era uma diabinha. Con espiou para baixo no buraco, a
escuridão não combinando com sua visão vampira. Ele não via nada, mas
ouviu uma batida de coração, respirações suaves e cheirou o tempero amargo
de ansiedade. E doença.

— Kar? — Ele gritou. — Meu nome é Conall. Eu sou um amigo de Luc


— ele ignorou o bufar de Luc, — e é seguro sair. — Não houve resposta. Ele
olhou para Sin. — Estou descendo.

— Tome cuidado.

— Vocês dois são tão fofos — Wraith falou pausadamente.


Con ignorou o demônio e caiu no buraco, não se incomodando com os
degraus. Ele aterrisou agachando, totalmente preparado para a faca atirada
que passou sobre o topo de sua cabeça. Ele girou para encarar o atirador, cujo
braço estava levantado para trás e preparado para lançar outra lâmina. Antes
que ela pudesse, ele a tinha em uma gravata e presa, de cara contra a parede.

— Seja legal — ele rosnou em seu ouvido. — Eu não vou machucar


você.

Ela bufou.

— O que o faz pensar que poderia me machucar?


Seu comentário arrogante e sabichão o lembrou de Sin.

— Eu perguntaria quem você é, mas algo me diz que você não responde-
ria e eu acho que sei de qualquer forma. Eu vou liberar você e liderá-la de volta
às escadas, onde Luc está sendo tratado de uma ferida à bala. Se você quer ver
como ele está, você virá e não tentará me fatiar novamente.

Ela puxou uma respiração áspera.

— Ele está bem? Quem é você?


Ele pausou ao som de maldições ferozes de Luc vindas de cima. Luc era
um paciente terrível.

— Ele ficará bem, tenho certeza. Ele tem um médico e medicamentos do


Underworld General trabalhando nele. Eu sou seu parceiro de ambulância.
Agora, você vai bancar a boazinha?
Ela assentiu e ele liberou-a, pisando para trás rapidamente em caso dela
decidir atacar. Se ela fosse de algum modo parecida com Sin, ela teria o
pregado nas bolas. Felizmente, ela não atacou. De fato, ela permaneceu contra
a parede, testa contra a pedra, seu corpo tremendo.

— Hey, você está bem?

— Sim — Alinhando seus ombros, ela balançou ao redor e, embora


estivesse pálida e instável, ela moveu-se em direção à escada.

— Você está doente.

— Só zonza da mudança.
Con entendeu isso, ele mesmo ainda estava sofrendo os efeitos. Mas ele
sentiu o que mais estava em jogo ali e o cheiro forte de doença estava no ar. Ele
gesticulou para ela ir primeiro e ele seguiu.

Quando ele emergiu, Luc estava sentando com suas costas apoiadas na
parede e uma intravenosa pregada em seu braço, e Lore, Shade e Wraith
tinham ido. Con deveria ter um olhar de questionamento em seu rosto, porque
Sin disse: — Eles estão despejando os assassinos na cidade mais próxima.
Wraith está indo embaralhar suas memórias então eles não vão lembrar o que
aconte-ceu.

Eidolon olhou para cima tirando os olhos do sangue que esfregava no


peito de Luc.

— Você terá que contatar o Conselho Warg para tê-los coletando os


mortos. Nós não podemos deixá-los aqui para os humanos encontrá-los. Não
nesses números.

Wargs eram uma das poucas espécies paranormais que não desintegra-
vam quando morriam no reino humano, o que normalmente não era um
problema porque as autópsias não revelavam nada estranho. Mas uma investi-
gação de uma batalha desse tamanho não seria boa, não importa quanto
contro-le de danos os Aegis aplicassem. Luc mudou seu olhar preocupado para
a fêmea, a qual os olhos fundos e a pele lavada eram ainda mais notáveis do
que a luz do dia. Por quanto tempo Con conhecia Luc, o warg era um solitário e
com a exce-ção de uma fêmea pricolici, ele nunca se agarrou a suas
companhias de cama. Elas eram só para deitar e era isso.

Mas a forma que ele estava observando Kar, com fome, um traço de
afei-ção e um brilho de vergonha, definitivamente a fez mais do que uma
companhia de cama. Ela moveu-se para Luc e, apesar de ser óbvio que queria
tocá-lo, não o fez.
— Você está bem? — Ela girou ao redor para Eidolon. — Ele está?

— Ele ficará bem — Eidolon disse. — Doído e nós deveríamos levá-lo ao


UG o quanto antes, mas sim.

Luc derrubou sua cabeça para trás contra a parede como por exausto,
mas Con sentiu tensão enrolada nele.

— Dr. Você tem que fazer alguma coisa por Kar. Ela está doente.

— Doente? — Eidolon ficou de pé. — Com o quê?

— Eu acho que é um vírus.


Todas as cabeças giraram em direção a Kar e o intestino de Con se
torceu.

— Deve estar nos estágios iniciais.

— O que significa que há esperança — A voz de Eidolon suavizou, mas


nunca perdeu o bom senso médico.

— Kar, você se importa se eu der uma olhada em você?


Ela estudou-o cautelosamente.

— Você é um demônio.

— Eu tentarei manter minha língua bifurcada e os cascos fendidos fora


de vista — Eidolon disse.

— Kar. — A voz de Luc era tão suave e gentil como Con nunca ouvira.
— Ele é um médico. A melhor pessoa do universo para lidar com qualquer
coisa que você tenha.

Dúvida e suspeita guerrearam em sua expressão, e então ela deu um


aceno lento para Eidolon.

— Você deveria saber que eu estou grávida.


Deuses, só continuava a ficar pior. Sin fechou os olhos, seus ombros
curvados e Con teve a urgência mais estranha de puxá-la para seus braços.
Embora talvez não fosse mais tão estranho. Ele estava muito, muito mais
profundamente envolvido com ela do que deveria estar.

Eidolon guiou Kar para o sofá, retirou um estetoscópio e um


termômetro da bolsa médica que Lore trouxe e começou o exame. Quando ele
levantou sua camisa e viu a mínima sombra de um hematoma ao redor do
umbigo, ele franziu a testa.

— Isso deve ser muito inicial. Quando você esteve em contato com um
warg infectado?

— Duas semanas atrás. Meu parceiro e eu perseguimos um demônio em


um esgoto e fomos atacados por um warg doente. Ele agarrou-me, mas quando
eu não tive nenhum sintoma mais tarde, eu imaginei que ele não tinha a
doença.

Eidolon balançou a cabeça.

— O tempo não está certo. Isso age rápido. Você estaria morta agora se
fosse ele quem tivesse infectado você.

Kar encolheu os ombros.

— Eu não sei o que dizer a você. Eu não fui em nenhuma caça Aegis
depois disso e então eu estive trancada com Luc, então a menos que ele tenha
isso, não há maneira que eu tenha pego de qualquer outra pessoa.

— Talvez o fato de você ser uma Warg Feast faça a difereça. — Ele gesti-
culou para Sin. — Você pode entrar e dar uma olhada?

Ela assentiu, afundou em seus joelhos ao lado de Kar.

— Isso não deve machucar. — Gentilmente, ela agarrou o punho de


Kar, e sua dermoire iluminou. Ela fechou os olhos e por uns bons dois
minutos, ela não fez nada além de franzir a sobrancelha e balançar a cabeça.
Então, de repen-te, seus olhos voaram abertos e ela sugou em uma respiração
assustada. — Oh, oh, cara. E, Kar não tem o vírus. O bebê tem.

†††††

— O quê? — Luc tentou absorver o que Sin estava dizendo, mas ele
este-ve no campo médico por tempo suficiente para saber que um bebê não
nascido contrair um vírus quando a mãe não tinha era quase impossível. —
Como?

Eidolon reposicionou-se para inserir o termômetro de tímpano no


ouvido de Kar.

— Sin, você tem certeza que o vírus está presente somente no feto?
— Vou checar novamente. — Sin concentrou-se, sua dermoire
brilhando ferozmente. Seus hieróglifos poderiam ser réplicas desbotadas dos
de sua raça pura, mas iluminavam-se muito brilhantemente.

— Sim. Aqueles pequenos filamentos estão correndo através do bebê e


flutuando ao redor da água do bebê.

— Líquido amniótico — Eidolon disse. — Como o vírus não se está mo-


vendo pela placenta e cordão umbilical?

Ela balançou a cabeça, mordeu o lábio e os hieróglifos em seu braço


começaram a contorcer-se.

— O que é a placenta? Uma coisa em forma de panqueca? — Ao aceno


de Eidolon, ela franziu a testa. — Eles estão... sendo atacados. Por... eu não
tenho certeza do que são as coisas. Eles estão todos na corrente sanguínea de
Kar, mas não na do bebê.

— Anticorpos — Eidolon respirou. — Puta merda, Kar está produzindo


anticorpos!

Kar fez uma careta.

— Eu não entendo. O que está acontecendo?


A voz de Eidolon foi profunda, mas com uma corrente de excitamento
que deu esperança a Luc.

— Até agora, ninguém que contraiu o vírus produziu anticorpos para


ele. Mas você... Você é o oposto exato que um warg regular. Poderia ser
diferente se você tivesse o vírus, mas uma vez que seu bebê tem, seu corpo está
combatendo-o. O pai é um warg?

— É meu — Luc disse. A surpresa de Con era tangível, uma explosão


estática no ar, mas sabiamente o dampiro manteve qualquer comentário esper-
tinho para si.

— Uma vez que ambos mudam em diferentes épocas do mês, estou


supondo que a concepção não aconteceu durante uma reprodução no cio? —
Eidolon perguntou. Kar corou, tornando sua pele já febril ainda mais vermelha
e ela assentiu. — Ok, então, isso está começando a fazer sentido. Eu não sei
nada sobre Wargs Feast, mas obviamente, eles podem dar a luz a bebês que
nascem wargs, mesmo se o pai for transformado e mesmo fora do cio. O vírus
deve ter entrado em seu sangue e passado para o bebê, mas, entretanto, seu
corpo produziu anticorpos, o que matou o vírus em você...
— Mas não no bebê — ela terminou. — Você pode curar isso? Pode
salvar o bebê?

Luc não gostou da expressão sombria no rosto de Eidolon.

— Doutor?

— Eu não sei. Sin, quão avançada parece a doença?


Ela balançou a cabeça.

— Não muito. É estranho. O vírus está reproduzindo, mas está sendo


morto também. — Ela tragou saliva. — Mas está reproduzindo mais rápido do
que morrendo. Eventualmente, o bebê estará, ah... em problemas.

Iria morrer.

Luc poderia muito bem ter sido esfaqueado no intestino. Ele apenas
descobriu sobre o bebê, mas apesar da dúvida cantar através dele sobre suas
habilidades em ser um bom pai, ele não tinha dúvidas que não queria que
morresse.

— Por favor — Kar sussurrou. — Você pode fazer algo?


Sin e Eidolon trocaram olhares e o estômago de Luc cerrou.

— O quê? O que está acontecendo?

— Sin curou com sucesso um warg em quem a doença não estava


avança-da.

— Há um mas no final da frase — Luc rosnou, sua preocupação adicio-


nando uma borda áspera a sua voz.

— Mas — Sin disse, — Eu matei outros que tentei curar. Eu poderia


matar o bebê e talvez até Kar.

Luc balançou a cabeça.

— Então não. Você não vai fazer isso.


Kar ficou de pé e moveu-se para longe de Sin e Eidolon como se
precisas-se de distância das más notícias. Mas quando ela falou, sua voz estava
firme en-quanto encarava Eidolon.

— Quais outras opções existem?


— Nós podemos esperar por uma cura. — Eidolon guardou o estetoscó-
pio e o termômetro de volta dentro da bolsa. — Mas isso poderia vir muito
tarde. Nós não estamos nem perto. Temos uma chance melhor de uma vacina,
mas não ajudará o bebê. Sin realmente é sua única esperança.

Luc puxou o catéter intravenoso para fora de sua mão e ficou em pé.

— E se nós não concordarmos com isso?

— O bebe morrerá. Mas Kar provavelmente estará segura.


Luc amaldiçoou. Ele olhou para Kar, cuja expressão estava distante, não
revelando nada, mas ela esfregava a barriga, provavelmente não
conscientemen-te, e ele sabia exatamente o que ela estava pensando. Ela
queria tentar isso.

— Podemos ter um minuto? — Ele perguntou e todos, menos Kar,


desviaram para o outro lado da sala. Ele puxou-a em direção à lareira. —
Como você está?

— Estou assustada. — Ela olhou para baixo para seus pés com meias.
Ela estava usando suas meias de lã, que eram duas vezes maiores que seus pés
e pareciam adoráveis nela. Adoráveis? Merda, ele nem sequer sabia que aquela
palavra estava em seu vocabulário.

Ele pegou a mão dela e apesar de sentir estranho, também parecia...


bom.

— Você não tem que fazer isso, Kar.

— Sim, eu tenho. — Ela inalou profundamente, soprou a respiração


para fora por um longo tempo, como se reunindo coragem para falar. — Eu
não planejei contar para você sobre o bebê. Ao menos, foi o que eu disse a mim
mesma. Mas eu não tive escolha. Não de verdade. — Ela pausou, deixou
algumas batidas de coração passar, o suficiente para Luc ficar impaciente antes
de engolir audivelmente e continuar. — Eu estava de frente para uma gravidez
que eu não sabia como lidar, por causa do que eu sou. Estou fora do trabalho, o
Aegis está me caçando e se meu pai souber... ele poder ver o bebê como um
monstro. Eu poderia ter ido a minha mãe, mas ela não sabe o que eu sou e eu
não sei o que ela faria se descobrisse. E como eu poderia cuidar do bebê nas
noites que eu mudo? Eu sei que mães lobisomens regulares não mudam por
alguns anos depois de dar à luz, mas eu sou de uma raça diferente. Deus, estou
balbuciando. Eu sei o que sou. — Ela tentou afastar-se dele, mas ele agarrou
sua mão mais apertada, forçando-a a ficar.

— Termine — ele disse calmamente.


Ela suspirou.

— É só... Eu sabia que não poderia fazer isso sozinha. Minha única
chance era encontrar você... ou deixar o Aegis me encontrar. Melhor eles me
matarem antes que eu desse a luz do que me matarem e fazer Deus sabe o que
com o bebê.

A própria ideia o gelou até o osso. Que ela estivesse tão desesperada a
ponto de sequer pensar em permitir que aqueles demônios-assassinos
desprezí-veis a matassem... Jesus.

— Eu não permitirei que eles a toquem — ele jurou. — Eu manterei


você segura não importa o que aconteça.

— Eu sei. Talvez seja hormônio, talvez seja algum tipo de conexão


warg... mas seja o que for, eu sei sobre você. E eu não quero perder nosso bebê.

Ele traçou um dedo sobre a curva exuberante de seus lábios.

— Estou contente que você me tenha contado. — Santo inferno, ele não
podia acreditar que tinha apenas dito isso. — Eu não posso prometer a você
uma cerca branca e flores e poesia — ele disse rispidamente.

— Tudo o que eu tenho para oferecer a você é... — Ele fez um gesto
abrangendo em torno da cabine. — Isso. Algumas armas e pele de coelho e eu.
Mas nada vai passar por mim até você ou nosso filho. — Nada. Pela primeira
vez desde que se tornou um lobisomen, ele deu sua vida para alguém.

Gentilmente, ele puxou Kar para seus braços, subitamente gostando de


como ela sentia lá.

— E se qualquer coisa alguma vez acontecer comigo, você ainda não


estará sozinha. Aquelas pessoas em pé lá ouvindo cada palavra que nós
estamos dizendo? Eles certificar-se-ão que você esteja segura e cuidada. Eu
prometo — Porra, ele ficou chocado ao descobrir que quis dizer o que acabara
de dizer. Em algum ponto, mesmo enquanto observava sua humanidade
desaparecer, ele tinha aprendido a confiar nas pessoas que corriam no
Underworld General.

— Obrigada.

— Deus, Kar, eu deveria agradecer a você. Tem sido um longo tempo


desde que tive algo pelo que viver. Então é melhor você sair dessa.

— Eu farei.
Antes que ele se quebrasse e parecesse como um idiota do qual Con faria
piada pelo resto de sua vida, Luc afastou-se e gesticulou para o grupo de curio-
sos.

— Vamos fazer isso.


A conversa entre Luc e kar queimava no instinto de Sin como uma
brasa. Sabia muito pouco sobre Luc, exceto que ele sempre fora brusco e
antipático. Porém a forma como falara com a mulher (sim, Sin havia
bisbilhotado, BFD25) fora impactante. Não as palavras em si, mas a dureza
delas. Ele não estava acostumado a cuidar de alguém e Sin podia compreender
isso completamente. Era um território alienígena e fazia sentido ir com
cuidado em situações onde o campo minado fazia perigosos todos os passos.

Um movimento em falso podia resultar em sofrimento e destruição.

Tampouco Con parecia estar indiferente. Seguia olhando entre Luc e


Kar, com o rosto inexpressivo, porém a dor crua e a compreensão piscavam no
prata de seus olhos.

— Nós faremos — repetiu Kar. — Cure meu bebê.


Sin guiou Kar novamente ao sofá e sentou-se a seu lado. Luc tomou o
outro lado e Sin sentiu um nó na garganta quando Luc tomou a delicada mão
de Kar em sua grande mão. Eidolon deu a volta e ajoelhou-se ante ela.

— Vou extrair uma mostra de sangue, antes que Sin comece, de acordo?
Kar assentiu, porém o medo em seu rosto era evidente. Eidolon inalou
fundo e, quando falou, ainda soava como um doutor, porém um doutor
amável. Um que não estava sendo todo arrogante como normalmente era.

— Kar, eu sei que isso é difícil. Você é uma guardiã. Nós somos demo-
nios. Inimigos naturais. Porém você também é uma mulher lobo. Obviamente,
já aceitou isso, então vai ter que aceitar seu lugar dentro de nosso mundo.

— Mas...
Ele agarrou-a pelo ombro, suavemente, mas com firmeza.

— Eu sei. Somos demônios. Eu entendo. É provável que tenha visto


minha companheira, Tayla, quando estava no Egito. E estou seguro de que
tenha ouvido que ela é meio demônio, além de uma guardiã. Porém ela não

25BFD é uma gíria muito usada em mensagens de texto que significa Big Fucking Deal. Ou mais usado no Brasil:
Grande coisa.
sabia que era um demônio quando nos conhecemos. — Um sorriso irônico
alcançou as esquinas de sua boca. — Confie em mim, não tivemos exatamente
uma viagem facil. Porém com o tempo, ela aceitou. Não somos os monstros
que acredita.

Isso não era de todo certo, Sin conhecera um montão de monstros em


sua vida e a maioria das vezes se sentia como um. Porém não, na maior parte
do tempo, Eidolon, seus irmãos e seu pessoal, não eram piores que uma boa
parte dos humanos e em muitos casos, muito, muito melhores.

Kar afastou-se como se não estivesse segura do que responder,


colocando seu olhar em Luc. E logo voltou a Eidolon, a resolução queimava em
seus olhos.

— Terei que aceitar sua palavra, por agora, já que isso se resume a que
eu faria um pacto com o diabo para salvar meu filho, então faça o que tiver que
fazer, doutor.

Bom para ela. Sin esperou até que Eidolon terminasse de tirar o sangue
antes de ligar seu dom. Cara, era estranho fazer com que seu poder caminhasse
através de Kar até o diminuto feto. O vírus flutuava em torno do interior do
útero e no interior do bebê, e, por um momento, Sin não fez nada. Sim, curara
um Warg, em Montana, mas matara outros dois. Este era um bebê, um que os
pais estavam desesperados para salvar e, se Sin cometesse um pequeno erro, se
utilizasse muita energia, ou não o suficiente...

— Sin — Con sussurrou ao ouvido. — Você pode fazer isso.


Deus, como soube o que estava pensando, o que necessitava?
Agradecida por seu estímulo, enviou uma explosão de energia controlada a
uma massa de filamentos do vírus. Romperam-se, desintegrando-se em peças,
enquanto outros acudiam, quase como se estivessem tentando ajudar. O fodido
vírus do demônio era estranho.

Ela estava a ponto de golpear outro grupo quando Kar ficou rígida, suas
costas golpeando tão rigidamente que Sin ouviu o estalar da espinha dorsal.

— Ela está convulsionando — ladrou Luc e de repente Kar começou a


cair de costas, seu corpo colapsando pesadamente. Sua pele tornou-se
vermelha, quente e seus olhos giraram para dentro de sua cabeça.

Con agarrou as mãos de Kar, enquanto Eidolon agarrava as pernas.

— Rápido, Sin! — Grunhiu Eidolon enquanto Kar se agitava. —


Precisa-mos terminar...
Interrompeu-se quando Kar rugiu, estalando fora de seu ataque
epilético. Eidolon voou pelos ares, caindo torpemente sobre a chaminé de
pedra, e Con foi sacudido para trás contra a parede. Kar, uma massa de dentes
e fúria, balançou-se sobre Sin, envolvendo as mãos ao redor de seu pescoço.

— Meu bebê — ela grunhiu, — está tentando machucá-lo.

— Kar, não! — Luc envolveu seus braços ao redor dela, porém não pôde
romper o domínio de Kar sobre Sin.

Eidolon falou bruscamente.

— Está delirando pela febre. Luc, detenha-a!


Os pulmões de Sin ardiam. O pânico deslizava nas bordas de sua cons-
ciência, a qual começava a desaparecer. Seu dom queimou, seu instinto de
matar Kar, porém ao invés disso, com os últimos restos de concentração que
tinha, atacou as cadeias de vírus no bebê, explodindo-as como pequenas bom-
bas.

De alguma maneira, Eidolon conseguiu alcançá-las para forçar os dedos


de Kar a separarem-se de sua garganta e Sin tomou vários agradecidos sopros
de ar fresco. Luc transportou Kar às almofadas do sofá e, enquanto Sin inalava
profundamente, agarrou o tornozelo de Kar e começou a trabalhar de novo.

Pareceu levar uma eternidade e, no momento em que o último filamento


de vírus transformou-se numa pequena fibra enrugada e encolhida, ela estava
tremendo e sua energia quase drenada.

— Está... feito — sussurrou ela. O mundo girou e quando ela caiu, Con
estava ali, apertando-a contra seu peito, acariciando seu cabelo e... Vá!... Ter
alguém que a agarrasse assim... fez seu mundo girar novamente.

Kar grunhiu enquanto Eidolon buscava sua maleta médica.

— O bebê? — Grunhiu ela. — Como está o bebê?

— Está bem. — Sin esclareceu a garganta. — Acredito que vai ficar


bem.

Então Con sorrindo amplamente, como se para mostrar suas sedutoras


presas, sacudiu a cabeça.

— Quem poderia acreditar? Luc um homem de família.


Luc bufou.
— Confie em mim, eu não teria apostado nestas cartas também — incli-
nou a cabeça para Sin. — Obrigado. — A palavra foi um pouco mais que um
grunhido e um desconhecido poderia duvidar de sua sinceridade. Porém suas
mãos tremiam com a emoção que faltava em sua voz e sua garganta trabalhava
para engolir de forma audível, o que dizia muito enquanto entrelaçava seus
dedos com Kar.

Há alguns dias, Sin estaria girando os olhos com o gesto íntimo e terno.
Agora apenas recordava como despertara depois de ser golpeada pelo
exomangle e Con estivera a seu lado, segurando sua mão da mesma forma.

— Apenas fique quieta. — Eidolon estava dizendo a Kar. — Vou extrair


um pouco de seu sangue. E logo precisaremos levá-la ao hospital para mais
exa-mes. O fato de que esteja produzindo anticorpos para este vírus é
importante.

— Não levará algum tempo para você fazer uma vacina? — Perguntou
Sin.

— Se esta puder ser feita, sim, porém tenho magia demoníaca e ovos de
diabo de osso a minha disposição. Devo provar o primeiro lote de vacinas em
um dia ou dois se tudo correr bem.

— Ovos de diabo de osso? — Perguntou Kar e Eidolon assentiu.

— Isso é o que usamos no lugar de ovos de galinha para o desenvolvi-


mento de vacinas. Reduz-se o tempo de incubação em dois terços.

— Você disse se — disse Sin. — Por quê?

— Porque não posso garantir. Penso que é provável, porém não vou
fazer nenhuma promessa.

O estômago de Sin deu uma volta. E enquanto os outros voltavam a se


ocupar de Luc e Kar, Sin retrocedeu até topar com a porta. Enquanto ninguém
estava olhando, deslizou para fora, necessitando de espaço, porém uma vez
que estava fora, no frio, onde o picante sabor cobre do sangue derramado
ainda flutuava no ar, havia muito espaço. Muito sangue, muita morte.

Tudo aquilo que ela havia causado.

Esteve ali, de pé, aceitando tudo, olhando como o pessoal do UG atendia


os feridos e arrastavam os mortos ao bosque, onde podiam estar ocultos aos
olhos humanos.

Em seu braço, sua dermoire estremeceu, um percussor da pena que


estalaria.
Sinta, dissera Con.

O pesar brotou nela, uma enorme onda de agonia que estalou como um
soluço. Correu, tropeçando, até o bosque e no momento que estava nas profun-
dezas do monte, gritava com tanta força que quase não podia respirar e as
lágrimas se arrastavam por suas bochechas.

— Con. Eu odeio você por isso — sussurrou, ela trabalhara tão


duramen-te para se proteger da dor e agora parecia que isso era tudo o que
podia sentir.

Inalou uma tremente respiração, desesperada por controlar a si mesma


e logo... o ar se imobilizou. E ficou mais frio. Sua respiração formou uma névoa
gelada e atrás dela um cavalo relinchou, um relincho espantoso e malvado que
Sin sentiu nas profundezas do tutano de seus ossos. O inconfundível som de
um projétil fez seu coração bater um segundo antes que uma flecha acertasse a
neve entre seus pés. Amarrado à flecha estava um pedaço de músculo retorcido
que tinha algo brilhante pendurado.

Sabendo que era uma mulher morta, Sin se virou.

O cavaleiro saiu das árvores como uma aparição, com fumaça de enxofre
como acompanhante. Aproximou sua montaria de um veículo e a gigante besta
branca se empinou, mostrando cascos maiores que as calotas de um velho
Chevy. Quando o cavalo se deteve, o cavaleiro tirou o grande capacete. A larga
cabeleira se derramou sobre os amplos ombros do macho, que estavam
cobertos com a armadura e que, igual às montanhas de Montana, estava
manchada, imunda e oleosa, uma substancia que parecia sangue secretava das
juntas e gretas.

Seus olhos brilharam com uma sanguinária luz profana, igual aos do
garanhão. Seu rosto devia ter sido belo, porém seu sorriso era pura maldade,
enquanto ele inclinava a cabeça, dava a Sin uma saudação e logo deu a volta
em sua montaria e desapareceu como se o bosque o tivesse tragado.

Incrivelmente, Sin, todavia, estava viva.

— Que demônio? — A voz de Eidolon a sobressaltou e deu a volta para


encontrar ele e Con atrás dela. — Era o homem a cavalo que estava perseguin-
do você?

— Sim. E estou me cansando de seus jogos. — De forma encoberta, Sin


engoliu o resto de suas lágrimas enquanto se inclinava para tirar a flecha da
neve e arrancar o objeto de ouro da corda. — É uma espécie de moeda. Bom, a
metade de uma moeda. Ela passou seu dedo sobre a borda quebrada, zigueza-
gueada. — Há algo escrito no verso. Aquela que... sangra... leva... propaga a
praga... batalha rompe... o selo. — Eidolon franziu a testa e Sin o devolveu o
olhar. — Quê? Por que parece como se tivesse lambido um recipiente de urina
de Mondevilin?

— Soa vagamente familiar.

— Vamos ter que averiguá-lo mais tarde — disse Con. — Temos que
levar Sin para um lugar seguro. Estamos aqui a tempo suficiente para me
deixar nervoso.

A expressão de Eidolon tomou um aspecto simpático.

— Sim, estou preocupado pelos condenados assassinos, também.


Levare-mos Sin ao UG...

— Isso não será necessário — interrompeu Sin. — Já não vou estar em


perigo por meus assassinos.

— Por que não? — Perguntou Eidolon.

— Porque — disse em voz baixa, — vou voltar ao covil.

†††††

— Como o inferno, que raiva — disseram Con e Eidolon ao mesmo


tempo.

Sin colocou as mãos nos quadris e olhou para os dois, um de cada vez.
Talvez se seus olhos não estivessem inchados e o rosto úmido de lágrimas,
poderia ter parecido mais dura. E Con não se sentiria como um pedaço de
merda, porque sabia condenadamente bem que cada lágrima era por sua
culpa.

— Essa é minha decisão — disse. — Todo mundo estará mais seguro se


eu voltar ao covil. Eu tomei minha decisão.

Eidolon deu um olhar que era de puro irmão mais velho.

— Não é necessário voltar Sin. Encontraremos uma forma de deixá-lo


seguro para você.

Certo como o inferno, Con estava de acordo com isso.

— Não podem tocar em você no hospital. Vá com seus irmãos.


— Vou voltar para lá. Esse é meu trabalho.

— Uma merda! — Ouro começou a cobrir o negro nos olhos de Eidolon


e Con se preparou. Isto podia ficar feio se o tipo começasse a dar ordens ao
redor de Sin. — Não vai...

— E — interrompeu Con. — Podia nos dar um segundo?


Ainda que a expressão de Eidolon fosse tão fria como a brisa que agitava
a neve a seu redor, ele assentiu.

— Vou levar Luc e Kar ao UG. Vocês dois podem nos encontrar lá.
Uma vez fora de vista, Sin chiou.

— Isso de policial bom e policial mau não funciona comigo. Não vai me
fazer mudar de opinião.

— Em primeiro lugar — grunhiu Con, — eu não sou o policial bom. Em


segundo lugar sei que não vai mudar de opinião. Porém, ao menos me diga a
verdade. — Queria a verdade porque planejava fazê-la mudar de ideia.

— Acabo de contar.

— Conte-me o resto.
Ela apertou as mãos em punhos e colocou uma obstinada expressão em
sua boca, essa que fazia querer beijá-la apenas para fazê-la desaparecer.

— Não sei do que está falando.

— Não faça isso — ele reclinou. — Você fez um grande progresso. Você
sabe, com seus irmãos.

Suas bochechas se mancharam de rosa e ela desviou o olhar. Deu uma


patada na neve.

— Você não entende.

— Então me faça entender. Porque mesmo que volte ao covil, seguimos


sem saber sobre o homem a cavalo, ou porque alguém além de seus assassinos
quer você morta. Então deveria ficar no hospital com pessoas que se
preocupam com você neste momento. Não em seu covil de assassinos,
totalmente sozinha e escondendo-se de seus irmãos.

A cor em suas bochechas ficou mais forte e ela levantou o olhar furioso
para ele.
— Escondendo-me?
Ele aproximou-se.

— Escondendo-se.

— Talvez sinceramente eu não queira ser tratada como uma garotinha


por eles...

— Então, deixe de atuar como uma — gritou, a cabeça dela reagiu


rapida-mente, como se a houvesse esbofeteado. E ele insistiu em sua
vantagem, pres-sionando-a. — Não quer ser propriedade de ninguém, ser
possuída, estar açor-rentada, porém que demônios acredita que está fazendo a
si mesma? Vai voltar a seu covil para ser livre? Como será livre se não puder ir
a qualquer lugar sem se preocupar em ser assassinada por seus próprios
assassinos? Segue sendo uma escrava, Sin. Mas desta vez é por sua própria
criação.

Seu olhar escuro estalou com fúria.

— Disse a você por que peguei o trabalho...

— Sim, sim. Pegou-o para poupar Idess. — Sabia que estava sendo um
idiota, de novo estava fazendo uma repetição do que havia feito em Rivesta,
mas, maldita seja, ela tinha a oportunidade de ter uma família. E se
regressasse ao covil para se isolar, novamente iria se trancar, definitivamente,
talvez mais forte que nunca dessa vez. — Porém, sabe de uma coisa? Creio que
o pegaria de todos os modos. Nem sequer podia lidar com seus sentimentos,
então, como lidaria com o mundo real se estivesse aqui fora ao invés de viver
em uma cova onde tinha uma grande desculpa para não estar com sua familia.

Seus olhos estavam fechados.

— Deus, você é tão bastardo às vezes.


Ela o chamara assim antes. Chamara-o de coisa pior. Porém desta vez
realmente doeu. Porque ela tinha razão.

— Não volte, Sin. Simplesmente... não.

— Eu creio — disse, com uma voz baixa que ele não esperava, — que
está se esquecendo de que não posso sair de meu trabalho se quisesse. — Ela
passou lentamente as mãos pelo cabelo, que brilhava com reflexos azuis sob a
luz do sol que se esgueirava entre as copas das árvores. — Isso não tem
sentido. Vou ao hospital e estou prisioneira ali, com meus irmãos como
carcereiros, ou vou a meu covil, onde ao menos sou minha própria guardiã.
— Não — Ele não podia deixá-la ir. Não podia...
Os pelos da nuca se levantaram e um grunhido animal subiu pela
gargan-ta antes que pudesse detê-lo. Virou-se, instintivamente colocando Sin
atrás dele. A visão de Bran, parado nas sombras com dois machos dampiros
chegou como uma descarregadora explosão de terror.

— É o momento, Conall.

†††††

— Con? — Sin tirou uma de suas presilhas. — Quem são esses


bastardos prepotentes?

O que havia de errado em querer rir disso? Não.

— O feio vinha sendo o líder de meu clã — disse em voz baixa. — Fique
aqui! — Ele se dirigiu até Bran com passo rápido, seguro. Não mostre
nenhuma fraqueza. — Não estou pronto.

— Teu estado de preparação é irrelevante — grunhiu Bran. — Nossa


primeira mulher entrou no cio. As demais estarão prontas para se reproduzir
no final da semana. Precisamos de você.

A ideia de ter sexo com alguém além de Sin o fez gelar por dentro.
Inferno, a simples ideia de se alimentar de qualquer outra pessoa o fez sentir-
se enfermo. O que não era bom sinal e de algum modo, Bran era consciente da
razão da renúncia de Con. Seu olhar escuro se concentrou em Sin, logo passou
abruptamente para Con quando ele se colocou diante do líder Dampiro para
bloquear sua vista.

— O conselho Warg está em nossas costas também. — Um dos outros


machos, Enric, se Con recordava corretamente, fez um gesto na direção da
cabana. — Tanto os Pricolici como os Varcolac querem nossa aliança na
guerra. Precisamos convocar o conselho Dampiro.

Con negou com a cabeça.

— Então nos negamos a eleger um grupo.

— Já fomos arrastados para dentro disto. Temos fêmeas Dampiras


empa-relhadas com Pricolici — disse Bran e Con pensou em Sable, esperava
que ela estivesse bem. — Alguns estão fugindo com suas famílias para nossas
terras e outros estão arrastando os Dampiros para o conflito.

Con tomou uma respiração entrecortada. Ele podia ser capaz de atrasar
um ou outro período de reprodução, porém não havia evasivas quando o
assunto era política e uma possível guerra. Seu povo necessitava dele. Havia se
sentido descontente com eles por tanto tempo, que apenas podia considerá-los
sua gente, mas em último caso, ele era um Dampiro, era hora de tomar a carga
atrasada.

O som das batidas do coração de Sin, tão forte e tentador, inclusive à


distância, recordou-o que era um bom momento para se afastar dela e cumprir
com seu destino. Mas as palavras não chegavam. Sim, irei com vocês. Sim,
estou pronto. Sim, permita-me me inclinar e levantar a bunda para a raça
Dampira.

Nenhuma palavra se formou em seus lábios.

O duro olhar de Bran se concentrou em Sin.

— Essa é a fêmea demônio para qual está trabalhando? — Suas narinas


se expandiram e lançou rápidos olhares entre Sin e ele, e merda... Bran sabia
que Con estava tremendo a beira da aceitação. Inferno, provavelmente já
estava no limite.

— Sim — disse Con.

— O vírus está fora de seu sangue?


Con abriu a boca pra dizer que sim, mas de repente Sin estava ali.

— Não — Disse. — Sem embargo uma alimentação a mais deveria


resol-ver. Então para o que quer que seja que precise dele, pode esperar.

— Sin...
Ela discretamente beliscou seu traseiro, silenciando-o e quase o fazendo
saltar. Bran olhou e, quando ele não disse nada, Sin fez um movimento de
espantar com a mão.

— Anda, deixe-nos.
Bran praticamente se sacudiu com fúria, o que para Con foi uma combi-
nação de diversão e “Oh foda-se”! Por último Bran grunhiu.

— Tem até amanhã para colocar seus assuntos em ordem Conall. Se


tivermos que localizá-lo, será retido na Lunacrate por um ano.
Bran e os machos se foram, e Con soltou uma suave maldição. A caixa
Lunacrate era um divertido lugar de castigo para os Dampiros. Empurrado
dentro da fechada caixa de ferro durante a lua cheia, um dampiro era
abandonado durante três dias de loucura, incapaz de caçar, gritar ou ao menos
se mover. No momento em que o dampiro se recuperava do trauma, a lua cheia
já voltara.

A mão de Sin subiu até seu ombro, um toque tímido e surpreendente-


mente suave.

— Sin... merda.
Confundido, franziu a testa.

— O quê?
Apertou seu curvilíneo corpo contra ele e de imediato o corpo dele des-
pertou ferozmente.

— Faça amor comigo.

— Aqui mesmo? — Esperava que ela não se desse conta de quão estran-
gulado estava.

— Bom, não tão perto da cabana — ela colocou sua mão sobre o coração
e o lobo nele uivou. — Parece que tem algum tipo de crise para lidar, então
pode ser a última vez por um tempo.

Ou para sempre. A verdade implícita tirava o ar entre eles, visivelmente


não na neblina de suas respirações. Todavia não queria deixá-la ir, porém a
visita imprevista de Bran aclarara as coisas. Muito. Se Sin fosse ao hospital,
estaria acessível para ele e não acreditava que tivesse a força de vontade para
se manter afastado. Ir ao covil seria o melhor para ambos.

— Sim. — Ofegou ele. — Foder, sim.


Ela deslizou o dedo descendo por seu peito, fez um movimento brinca-
lhão no cós das calças dele e logo fugiu como se sua vida dependesse disso. A
poucos metros lançou um olha sedutor por cima do ombro... e seu instinto de
atacar ativou. Ele a agarrou quando dançava entre os abetos e a deitou na neve
esponjosa. Uma vez deitada, ela não resistiu. Em vez disso girou-o para colocá-
lo de costas, mesmo que estivesse gelado, não tinha frio em absoluto, enquanto
ela rasgava suas calças e liberava sua furiosa ereção.

Logo se colocou de pé, tirando as calças. A visão dela o montando, com


seu sexo à mostra e brilhante, quase o fez gozar.

— Necessita se alimentar, certo?


— Não posso — sua voz se quebrou humilhantemente. — Não de você.

— Não têm que beber, só quero sentir suas presas em mim uma vez
mais.

— Sin — gemeu, porém não podia negá-lo e, além disso, essa seria a
última vez. Depois disso, ele iria à Escócia e não voltaria a vê-la, porque sua
vida já não estaria em perigo, devido a ele, ao menos, e eventualmente suas
ânsias pelo sangue dela desapareceriam.

Apesar de que sabia que seu desejo por ela não iria.

— Não posso esperar para senti-lo dentro de mim — sussurrou ela.


Ele gemeu novamente e enquanto ela escalava seu corpo, sua respiração
se tornava mais quente. Sufocante. E quando ela baixou a si mesma, ele deixou
de respirar por completo.

Suas mãos realmente tremeram enquanto segurava seu sexy traseiro


para mantê-la estável. Ela pôs seu sexo contra sua boca e ele beijou-o, puro
céu. Então a penetrou com sua língua, empunhando-a como se fosse seu
membro durante várias vezes antes de correr sua língua plana até em cima
pelo seu vale.

— Deus, isso é bom — ela grunhiu, enquanto mudava de postura para


colocar a artéria femural na boca. Ele ainda podia saboreá-la e enquanto suas
presas se expandiam, permitiu a si mesmo uma rápida provada mais, um
ligeiro toque de sua língua sobre seu clitóris.

Logo enfiou os dentes em seu músculo, saboreando o derrame de sua


essência vital em sua boca. Seu sabor picante se misturou com o de sua
excitação e seus quadris começaram a bombear por si mesmos, buscando o
lugar em que sua língua havia estado há pouco.

O sangue de Sin golpeou sua corrente sanguínea como uma dose de


heroína, satisfazendo sua ânsia por ela e intensificando-a também,
fortalecendo seu vício por ela. Ao mesmo tempo, seus feromônios de sucúbos o
golpearam e sua fome erótica rivalizou com sua sede de sangue. Ela gemeu,
equilibrando-se. Graças aos deuses que se alimentara desta maneira, já que
precisava deixar de se alimentar para fodê-la. Depois de tomar de seu pescoço
ou pulso, deter-se podia ser impossível.

Relutantemente, desprendeu seus dentes, lambeu as punções e


continuou seu caminho até o sexo. Suavemente a estendeu, cravou sua língua
nela como uma lança e deixou-a cavalgá-lo até que seu desejo a obrigou a
tomar medidas mais agressivas.
Separou-se dele e retrocedeu por seu corpo, arrastando sua boca por seu
peito e abdômen, até que seu eixo deslizou entre seus lábios. Sagrada merda,
isto era bom. Sua língua deu um ligeiro golpezinho sobre a cabeça dele e logo o
tomou por completo. A sensação de sucção era esquisita e teve que arquear
através do prazer para não gozar. Finalmente ela separou sua boca, porém
antes que se colocasse sobre ele, recolheu um pouco de neve.

Ele levantou uma sobrancelha e ela deu o mais malvado sorriso que
jamais viu enquanto formava uma pequena bola de neve solta. Esteve a ponto
de engolir a língua quando ela abriu a si mesma com os dedos e introduziu a
neve dentro. Jesus. Havia feito muito em seus mil anos, porém isto era a
primeira vez.

Tomando sua ereção na mão, guiou seu pênis dentro dela. Estava escor-
regadia e quente, e quando a cabeça dele beijou o gelo, o contraste erótico o fez
silvar de prazer. Lentamente ela se balançou para trás e para frente, e apesar
de seus pés estarem gelados ela não se queixou. Não parecia se dar conta. Cada
carícia para baixo dava uma sensação fodida de mistura de calor e frio. E cada
vez que ele golpeava a neve ela gemia.

— Onde... ah, sim, bem aí... Aprendeu isso?


Inclinando-se para frente ela roçou seus frios lábios contra os dele.

— Deitei-me com esse grupo de Trolls de gelo uma vez e... — ante sua
maldição doente de ciúmes, ela começou a rir, um som puro e tilintante. —
Estava brincando, foi apenas uma repentina picada de brilhantismo. — Ela se
sentou novamente nele, fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. O esbelto
arco de seu corpo era uma linha elegante no selvagem contorno das árvores e
montanhas distantes, e mais uma vez o lobo nele uivou. — Eu nunca fodi
assim.

Com um gemido torturado, agarrou-se a seus quadris e conduziu-a mais


rápido.

— Brinque o quanto quiser. — E então lhe ocorreu: Ela não transaria


assim de novo. Voltaria a dormir com alguém porque seu corpo exigiria,
voltaria a odiar quem e o que era.

E a ideia de que ela estaria transando com outro macho que não fosse
ele tornou ácido seu estômago e um grunhido apertado em sua garganta.

— Adoro quando grunhe assim — sussurrou ela. — Mmm... Con...


Apesar de sua fúria possessiva, ouvir seu nome em seus lábios o enviou
acima da borda e seu clímax explodiu através dele. Agitou-se com força, seus
quadris levantando-se da neve. Sin gritou, porém ele deslizou sua palma em
sua boca e ela o mordeu, amortecendo o grito que podia atrair a atenção da
equipe médica que seguia revistando a zona em busca de mortos e feridos.

A erótica picada de dor fez com que Con gozasse novamente, acendendo
uma reação em cadeia nela e uma série de orgasmos que a manteve o
ordenhan-do, expandindo seu orgasmo por tanto tempo que ele pensou que
poderia ter desmaiado.

Gradualmente ela se deixou cair sobre ele de forma que estava, peito
contra peito, o rosto dela fundido em seu pescoço e ainda que estivessem meio
vestidos, fazendo na gelada neve, de alguma maneira esta parecia a posição (e
a situação) mais íntima em que estivera. Ele poderia mantê-la assim para
sempre.

Ou, ao menos, até que congelassem até morrer, ou até que Eidolon os
encontrasse e matasse Con.

— Sempre fui silenciosa durante o sexo — murmurou ela.

— Querida, acaba de definir o termo orgasmo a gritos — Ele sentiu seu


sorriso sobre sua pele, porém não pôde encontrar nada divertido nele. Este era
apenas mais um exemplo de como ele havia penetrado em seu escudo e prova-
velmente não era para melhor. E ele não era uma enorme bola de indecisão?
Por que não podia dizer se sentir novamente era bom para ela ou não. Ela
necessita-va ser feliz, ter uma família. Porém também precisava proteger a si
mesma.

Ele suspirou e Sin se aproximou mais.

— Eu sei — murmurou. — Temos que voltar para a cabana.

— Daria qualquer coisa para ser capaz de fazer amor com você, sem ter
que me preocupar com o que virá — disse beijando seu pescoço ligeiramente.
— Para relaxarmos e não fazer nada, exceto tocar você. Alimentar você.
Assistir filmes.

Ela começou a rir.

— Soa tão normal. Não saberia o que fazer. — Ela levantou a cabeça,
olhou-o nos olhos e seu sorriso vacilou. — E se? E se eu pudesse sair de meu
compromisso com os assassinos?

A pena esvaziou seu peito, convertendo-o em um poço sem fundo, en-


quanto levantava a mão para tocar sua bochecha. Mesmo que ela pudesse sair
disto, ele não podia escapar de suas próprias obrigações. E inclusive não podia
se arriscar a matar ou ferir Sin.
— Não o faça. Não vamos por aí.
Ela mordeu a ponta do dedo.

— Con, venha me visitar. Você pode vir ao covil...

— Sin...

— Por favor. — A tensão de sua voz mudou com a dor em seus olhos. —
Não estou... Não estou pronta para te deixar ir.

Deus, seu coração se rompeu, aberto de par em par e ele ouviu a si


mesmo responder com uma séria desconexão entre sua boca e seu cérebro.

— Sim, irei visitar você — disse.


Mas era uma mentira.
O setor de emergência estava um caos quando Con saiu do Harrowgate,
deixando Sin lá dentro com os lábios inchados por seu beijo de despedida.

Não pense nisso.

Não pensar nisso, na verdade acabou sendo fácil dada a loucura da


situação médica. Os Wargs feridos na batalha no Canadá, que foram classifica-
dos segundo sua gravidade, jaziam ao redor do setor de emergência em macas
no piso, espalhados ao longo dos corredores principais da área.

Con saiu imediatamente para ajudar e passaram cerca de quatro horas


antes da situação estar sob controle. Passou a hora seguinte com Bastien,
fazendo o que podia para aliviar o Warg até que Con anunciou a hora de sua
morte. Mais tarde, os irmãos de Sin, Tayla e Luc se reuniram a ele na área de
espera.

— Onde está Sin? — Shade perguntou enquanto tirava as ensanguenta-


das luvas cirúrgicas.

As próprias luvas de Con acabaram no lixo e, cara, não podia esperar


para entrar na ducha.

— A caminho do covil.
Eidolon xingou.

— Pensei que você ia falar com ela sobre isso. Ela não precisa voltar lá.
Estaria segura aqui.

Incrivelmente, Lore saiu em defesa de Con.

— Ela está melhor lá. Ela precisa voltar à normalidade.


Normalidade. Que piada idiota era essa. O normal para ela era a dor e o
isolamento. E o sexo sem sentido, provavelmento com esse tal Lycus. O ciúme
se espalhou pelo peito de Con como uma inconveniente explosão de calor
ondulan-do por suas veias. Não tinha nada de sem sentido no que Sin e ele
fizeram na casa segura da montanha, ou na neve. Cada célula de seu corpo
vibrava com fome dela, tanto por seu corpo como por seu sangue e só de
pensar nisso, estava se excitando novamente.

— O que há com você Con? — Shade perguntou e Con deu algumas pro-
fundas respirações calmantes antes de responder.

— O que há comigo?

— Você não é um perigo para ela, certo?

— Não. — Con disse serenamente. — Não sou. — Mas nem mesmo ele
acreditava em suas próprias palavras.

Wraith girou uma faca no ar, um movimento parecido ao de Sin.

— Ok. O que é toda essa merda de mensagem entrelinhas aqui? —


piscou quando todo mundo ficou olhando. — O quê? Como se eu não soubesse
o que é uma mensagem entrelinhas! Eu vejo filmes.

— Isso por que você não sabe ler — Tayla disse alegremente e o
demônio mostrou-lhe o dedo. Um de cada mão.

Eidolon e Lore focaram-se novamente em Con com diferentes


expressões de confusão e Shade parecia como se quisesse arrancar a garganta
de Con. Sim, o segredo de Con estava a ponto de ser revelado.

— Os machos Dampiros são propensos ao vício se alimentam da mesma


fêmea anfitriã mais do que algumas vezes — disse Shade. — Não é assim, Con?

Eidolon amaldiçoou sob sua respiração.

— Como é que eu não sabia disso?

— Alguma vez você teve que prender uma fêmea Dampira e, humm,
sondou seus mais profundos e sombrios segredos? — Shade perguntou, cada
palavra tingida com um sinistro sarcasmo. — Bem, esse é o porquê.

Todo corpo de Con sacudiu-se com surpresa.

— Você torturou uma Dampira?


— Acredite em mim, ela não recebeu nada que não quisesse — Sombras
se retorceram nos olhos de Shade enquanto cravava seu olhar em Con, como se
o desafiasse a repreendê-lo.

— Houve coisas que Shade teve que fazer antes de conhecer Runa —
disse Eidolon em voz baixa. — Então o deixemos em paz.

Droga! Con viu uma vez a pequena caverna esconderijo de BDSM, mas
não lhe ocorreu que Shade a tivesse usado para algo mais do que para o prazer.
E o que Eidolon queria dizer com isso de que “teve que fazer”? Con
perguntava-se que outra informação teria obtido Shade da fêmea Dampira.

— Então? — Shade perguntou. — Você é um perigo para nossa irmã?


Con lutou para manter o nível de sua voz, para convencer estes caras de
que ele não era uma ameaça para ela. Para convencer a si mesmo. Mas, a
imagem dela estando com outros machos estava fazendo seu sangue ferver e
esquentando seu humor.

E ele estava... faminto.

— Eu não sou um perigo — jurou. — Nunca vou voltar a vê-la.


A mão enluvada de Lore se torceu em punho a seu lado, algo que Con
notou que ele fazia quando estava agitado.

— Por que não?

— Vou renunciar ao Underworld General a partir de agora e depois que


eu me ocupar de outras coisas, vou voltar para as terras de meu Clã na Escócia.

— Hum... Sin sabe disso?

— Não.

— Fooooda-se — Lore esfregou a mão enluvada pelo rosto, parecendo


repentinamente esgotado.

— Seu filho da puta! — Tayla retrucou, seus olhos verdes brilhando. —


Ela se preocupa com você e você vai fugir sem dizer nada a ela?

— Sim, é uma merda — ele disse. — Mas eu não posso vê-la de novo,
Tayla. Já estou muito próximo...

— E uma merda! Você podia ter dito a ela. Devia ter avisado-a. —
Quando Eidolon colocou um braço ao redor de seu ombro, ela suavizou contra
ele, mas era óbvio que ainda queria um pedaço de Con.
Merda. Ele não sabia por que mentira para Sin, exceto que não queria
feri-la depois de ter acabado de fazer sexo alucinante, o que na verdade signifi-
cara algo.

Ele era um idiota.

— Você vai voltar? — Luc perguntou.

— Não. Amanhã à noite, um ritual me unirá como membro do


Conselho, à terra e ao Clã. Não poderei me ausentar, exceto por curtos
períodos.

— Você é uma merda! — A voz de Luc era rouca. — Que ruim.

— É o que eu quis em toda minha vida — disse Con, mas sua voz era
apagada, inexpressiva. Porque não, ele já não queria isto. E sinceramente, ele
não estava seguro de alguma vez ter desejado isso. Sua rebelião contra o Clã
começou cedo, alcançando seu ponto máximo com seu jogo de paquera
atrevido e idiota, com a união que terminara tão mal para Eleanor e com ele
que conse-guiu ser expulso do Clã. Ele viveu fora da cadeia desde então,
deixando fumaça atrás de si enquanto gravava um caminho de desejo de
morrer.

— Se mudar de ideia — disse Shade. — Nós gostaríamos que você


voltas-se.

Con engoliu em seco. Por quanto tempo disse a si mesmo que esse
trabalho era temporário, que eventualmente se mudaria, porque isso era o que
ele sempre fazia?

Mas agora, merda! Estas pessoas eram como uma família e o hospital
como um lar.

— Eu me lembrarei disso — disso em tom áspero.


Lore baixou os olhos para o chão e quando voltou a erguê-los, sua
expres-são era quase... amistosa.

— Tem certeza que não há nada que você possa fazer? A respeito de Sin,
eu quero dizer. A união...

— Nada. — Con retrocedeu para o Harrowgate. As despedidas sempre


foram simples para ele. Um simples “nós nos vemos por aí” e então se despren-
dia dali. Mas isto era diferente e ele não queria fazer. — Tenho que ir. Eu, eh...
sim. Nós nos vemos.

Os irmãos pareciam céticos e Con não podia culpá-los.


†††††

Sin não voltou para o covil. Precisava fazê-lo, ela sabia. Mas ainda não
estava pronta. Por alguma razão o hospital a chamava e enquanto pudesse
voltar sempre que quisesse, sabia que uma vez que tivesse voltado para o covil,
ela endureceria, evitaria o hospital, seus irmãos e o lugar voltaria a ser nada
mais do que um frio edifício.

Só queria um pouco mais de tempo para desfrutar de suas bobas divaga-


ções sentimentais antes que tivesse que desenterrar esses quentes sentimentos
confusos de sua vida para sempre.

Tomou o Harrowgate com Con, beijou-o como despedida quando o


portal se abriu no setor de emergência do UG e ela o viu sair. Uma vez que o
portal se fechou, ela esperou um minuto, abriu a porta e enquanto reinava o
caos, deslizou para fora e para baixo por um corredor.

Vagou pelos arredores até que estranhamente, encontrou a si mesma no


berçário. Cheirava a talco para bebês e desinfetante, mas estava vazio e era o
último lugar onde alguém iria procurá-la, então se afundou em uma cadeira de
balanço e absolutamente esgotada, fechou os olhos e balançou.

— Sin?
Surpresa sentou, piscando enquanto se orientava. Onde Con estava? Seu
corpo ardia; dolorido com as necessidades de súcubus que ele tão bem saciou...
Oh, certo. Ele tinha ido embora.

Seu coração afundou enquanto se lembrava de despedir-se dele,


sabendo todo o tempo que não se tratava de uma despedida do tipo “nós nos
vemos em breve”. Foi amável de sua parte mentir, no entanto.

A decepção esfriou um pouco sua luxúria e ainda desorientada olhou ao


redor. Estava no berçário do UG. Shade e Lore estavam de pé diante dela e
Lore segurava uma xícara de café de poliestireno26. Estranho.

Deu uma olhada em seu relógio. Doze horas. Dormiu por doze horas.

— Hey! — Agradecidamente pegou o café.

— Um porteiro encontrou você — disse Shade. — Como você está?

26 Poliestireno expandido (EPS), mais conhecido no Brasil pelos nomes comerciais isopor e estiropor.
Estou dormindo em uma maldita cadeira de balanço e sinto falta de
Con.

— Ótima. — Esfregou os olhos com a palma da mão. — Alguma notícia?


Sobre a vacina?

Lore assentiu.

— Eu estive acordado a noite toda trabalhando nisso e o R-XR inclusive


permitiu a Wraith trazer especialistas do USAMRIID para o hospital para aju-
dar.

— Suas mentes serão limpas, claro — disse Shade.


Sin sorveu o café, gemendo quando queimou sua língua.

— O que aconteceu com a guerra dos Wargs e a ação militar contra eles?
Lore assobiou alto e longamente.

— As últimas horas foram uma merda. A guerra está arrastando um


monte de diferentes espécies de demônios para dentro. Alguns que são leais
aos Wargs nascidos, alguns que são leais aos transformados e alguns que
apenas gostam de lutar. Ambos os bandos tem mercenários contratados,
também.

Shade assentiu.

— Já está se tornando complicado e está se expandindo ao mundo


huma-no. O Aegis está trabalhando horas extras no controle de danos, mas as
pessoas estão vendo merdas que não deveriam ver. Os fanáticos religiosos
estão gritando sobre o fim do mundo, os governos estão tentando desviá-los,
mas não passará muito tempo antes que alguém capture algum vídeo e isso
termine na internet ou algum lixo.

— O que está acontecendo com o R-XR?


Shade rosnou.

— Arik, esse cafajeste, está trancado em minha caverna e não quer ir


embora. — Ele fechou os punhos como se imaginasse o pescoço de seu
cunhado neles. — E Runa não deixa matá-lo.

— Que chato — Sin disse, mas Shade perdeu por completo o sarcasmo e
concordou.

Lore colocou revirou os olhos.


— A caverna de Shade está se enchendo, entre Arik, Luc, Kar...

— O bom é que eu já havia preparado a caverna para uma mudança


Warg — resmungou Shade. — As mudanças Feast de Kar são uma loucura.

— Luc mencionou que os Wargs Feast são maiores e mais fortes.


Shade bufou.

— Nem me diga. Ela quase arrancou os ganchos da pedra. Teria sido


melhor colocá-la na jaula de Runa em vez de em nossa casa, mas não é seguro
ainda.

— Portanto, o R-XR e o Aegis ainda estão tentando exterminar os


Wargs?

— Até que Eidolon comece com as vacinas, sim — disse Shade. — Ele
espera começar com os testes hoje.

— Con, Wraith e Eidolon ainda estão com problemas com o Carceris?

— Eidolon e Wraith estarão bem. — Shade deu umas palmadinhas no


bolso de seu uniforme e pegou um pacote de chicletes. — Eles teriam se
arrisca-do muito mais para se assegurar de que você estivesse segura.

Portanto, sim, eles continuavam com problemas e ela se sentiu mais


culpada do que nunca.

Obrigada Con. Aprecio ter estes horríveis sentimentos.

Ela não deveria perguntar. Realmente não deveria. O fato de que seus
irmãos não tivessem mencionado o nome de Con, deveria ser um sinal de
aviso. Mas então, ela nunca foi de obedecer a sinais ou capturar indiretas.

— O que há com Con? — Disse ela bruscamente, com o coração batendo


selvagemente, porque neste ponto, ela precisava deixá-lo ir.

Devia voltar para o covil e retomar sua vida e ele precisava voltar a ser
um paramédico e lidar com os assuntos de seu Clã Dampiro.

Mas ela realmente, realmente não podia suportar a ideia de dormir com
alguém mais. Ou de estar sozinha.

A expressão de Shade se fechou e os pulmões dela lutaram para tomar


um pouco de ar.

— O que aconteceu com ele? Ele está... Está aqui agora? Trabalhando?
— Não — Shade não revelou nada nem em sua voz e nem em seus
olhos, mas Lore tinha um tic quando estava nervoso e o modo em que seu dedo
mindinho esquerdo se flexionou o delatou completamemte.

— O que está acontecendo? — Ela retrucou. — E não mintam para


mim.

Os garotos se olharam e depois de um pequeno roçar de seus pés, Lore


disse.

— Ele foi embora para a Escócia.

— Ele não vai voltar. — Shade disse. — Ele renunciou.

— Oh meu Deus! — Seu coração tremeu dolorosamente contra suas


costelas. — Ele não renunciaria, adora estar aqui.

— Não sei o que dizer a você. Seu Clã realizará uma espécie de ritual
esta noite que o prenderá a eles.

— Não. — Sua mente atordoada se negava a acreditar que ele


abandona-ria o hospital. Certo, ela planejou se manter afastada daqui, mas
uma pequena parte dela se apegou ao conforto de saber que se voltasse, ele
estaria aqui. Mesmo se eles não pudessem estar juntos, ele estaria aqui. — Eu
irei com ele. Vou falar com ele sobre isso. — E foder enquanto isso.

— Sin — Lore sussurrou. — É muito perigoso.

— Não me importa minha segurança!


Shade ficou rígido.

— A nós sim, se você não percebeu isso até agora...

— Eu sei — a voz dela era suave, mas firme, uma cópia da


tranquilizado-ra voz médica de Con que de algum modo ela aprendeu. — Mas,
eu realmente posso cuidar de mim mesma.

— Mas Idess não pode — Lore disse e então fez uma careta de dor,
fechando os olhos como se acabasse de perceber o que havia dito.

— O quê? O que você quer dizer com isso de que Idess não pode? Droga
irmão, o que diabos está acontecendo?

Lore e Shade trocaram olhares e ela quis gritar. Deu um chute. Teve um
ataque de raiva como uma criancinha, porque sem dúvida, eles estavam
tratando-na como se ela fosse uma menininha delicada.
— Eu juro. Vou bater suas cabeças uma na outra tão fortemente que
vocês ficarão ouvindo passarinhos piando durante um ano. Agora me digam!

A boca de Shade se torceu em um meio sorriso e ela supôs que ele estava
imaginando ela tentando derrubar dois demônios que eram duas vezes mais
altos que ela, mas Lore não parecia tão divertido. Provavelmente porque sabia
que ela podia fazê-lo.

Ela ficou em pé.

— E então?
Lore suspirou.

— Seus assassinos foram atrás de Idess.


Ela sentiu que todo o sangue abandonou seu rosto.

— O que aconteceu?

— Marcel tentou sequestrá-la nas ruas de Roma há alguns dias. Não foi
nada com que eu não pudesse lidar, mas Idess é humana agora e é vulnerável.

Sin afundou novamente na cadeira.

— Porra! Eu sinto tanto Lore — Ele pegou sua mão, apertou seus dedos
e nesse único gesto doce, havia mais amor do que nunca sentiu por parte dele.
Não porque não houvesse estado ali, mas sim porque finalmente ela podia vê-
lo.

Estivera tão cega. Fora tão estúpida! Sin apertou a mão de Lore como se
fosse uma corda de salvação.

— Corrigirei isso. Eu juro, vou corrigir.


Lore entrecerrou os olhos.

— O que tem planejado?


O suor umedeceu suas têmporas.

— Não se preocupe com isso.

— Por que eu sinto que tem alguma coisa que você não está me
dizendo?

— Porque você é paranoico — ela hesitou, seu cérebro se esforçava ao


máximo para processar tudo o que lhe disseram. — Marcel tem trabalhado
muito com Lycus. Você acha que ele estava envolvido no ataque a Idess?
— Eu não o vi, mas se ele estava envolvido...

— Sim, eu sei. Vou sair daqui.


Ele queria argumentar, Sin sabia disso. Mas ele ainda estava tentando
desafogar a culpa que sentia por tê-la abandonado há tanto tempo, algo que
ficaria feliz em deixar passar durante todos esses anos. A vergonha ardeu em
suas bochechas e jurou que depois disso, faria o que fosse necessário para
finalmente liberá-lo da obrigação que sentia por ela. Estava tão enganada ao
permitir que ele continuasse tentando compensá-la quando já fizera isso mil e
uma vezes.

Agora era sua vez de compensá-lo.

†††††

Sin foi recebida no covil por testas franzidas, grunhidos e xingamentos.


Não do tipo vulgar e sim do verdadeiro tipo de “esperamos que sua bile
exploda e envenene você até a morte”.

— Eu também amo vocês garotos — ela gritou enquanto descia com


passo majestoso pelos escuros corredores até o salão do trono. Uma vez
dentro, jogou-se contra a porta com a respiração pesada e rápida, com as mãos
trêmulas como uma novata em sua primeira missão de assassinato.

Que diabos? Ela foi forte como uma rocha durante cem anos e esperara
voltar para o covil e imediatamente mudar de novo para o modo assassina que
a manteve sã e salva por tanto tempo.

Nem tanto.

Furiosa por sua própria fraqueza mandou chamar Sunil e esperou; indo
e vindo para a lareira, tendo cuidado de evitar o alçapão diante do horrível
trono que Deth mandara fazer com esqueletos humanos e várias espécies de
demo-nios.

Não podia deixar de pensar em Con, perguntando-se o que dizer a ele


quando o visse. Provavelmente não diria nada a princípio. Seu objetivo
principal nesta hora era tê-lo dentro dela. Seu cérebro se transformou
rapidamente em pasta líquida de hormônios e qualquer argumento que
tentasse formar para fazê-lo voltar ao UG era interrompido por uma imagem
dele nu.
Sunil finalmente apareceu e se aproximou com cuidado, movendo-se
como um gato sendo caçado a esmo. Se ele tivesse um rabo, este estaria se
contorcendo loucamente.

— Ei, chefa! — Como sempre sua voz era um profundo estrondo, suas
palavras precisas.

Ela foi direto ao assunto, não querendo estar ali nem um segundo além
do necessário.

— Meus assassinos me querem morta.

— Sim — ele disse tristemente. — O povo está furioso. Precisamos


traba-lhar e precisamos desesperadamente.

— Eu sei — disse ela, afundando-se no trono. — Tenho sido uma chefa


terrível.

As orelhas dele se contorceram do modo que faziam quando estava


desconfortável.

— Não terrível apenas pouco agradável.


Ela riu com surpresa.

— Isso é algo que ninguém nunca disse de mim.

— Alegra-me poder ser o primeiro — ele meneou a cabeça e a


examinou. — Então, por que estou aqui?

— Primeiro, eu preciso saber quem tem tentado me matar.

— Todo mundo — Sunil simplesmente disse.


Sin moveu-se, fazendo uma careta de dor quando o osso do dedo de
algu-ma criatura cravou em seu traseiro.

— Incluindo você?

— Sim. — Suas bochechas marrons escureceram com um rubor


carmesim e seu nervosismo estava agora completamente claro. Ela tinha o
direito de torturar ou acabar com cada assassino que tentou matá-la. — Você
sabe que gosto de você Sin, mas eu tenho uma família para sustentar.

— Eu sei. Não respeitaria você se não tivesse tentado. — Oh, o código


dos assassinos era interessante, não é?
— E então. — Sunil apontou. — Eu estou aqui para ser torturado? Os
Peelers estão antecipando sua volta.

Ela estremeceu. Esses ímpios demônios sem olhos viviam para a


tortura. Eles também estavam presos no covil, de modo que Sin não encontrou
maneira de se desfazer deles.

— Eu quero que você assuma o posto de mestre assassino.


Os olhos dourados dele flamejaram, suas pupilas se alargaram e então
se arredondaram novamente.

— Você não pode estar falando sério.

— Muito.

— Mas... Por quê?

— Minhas razões são assunto meu.

— Há apenas duas maneiras de escapar desta vida — Sunil advertiu.

— Tenho consciência disso e não planejo morrer.


Sunil começou a procurar no interior do agasalho de lã trançada que
estava em frangalhos que usava desde a Segunda Guerra Mundial, mas deixou
as mãos caírem para os lados.

— Eu não posso usar uma arma contra você.

— Eu sei. — Idess foi a excessão a regra de “o escravo não pode ferir o


chefe no covil”. Ela era humana quando Deth a prendeu a ele e os humanos
não estavam destinados a carregar o vínculo dos assassinos. — Mas você pode
se transformar sempre e quando quiser, deveria ser suficiente.

Ele hesitou, o que era uma das muitas razões pela qual eu o escolhera
para isto. Aceitar o trabalho significava que ele estaria preso, do mesmo modo
que ela estivera. Teria que mudar sua família para o covil com a finalidade de
estar com eles e teria que designar-lhes guarda-costas cada vez que saíssem.
Mas era preferível isso a pertencer a alguém cruel, que usaria sua família
contra você, como Deth fizera.

— Se você não quiser, mandarei buscar Tavin. Ele é a única pessoa que
eu aprovo — O Sem loiro era novo no covil, mas seu contrato era enorme, ele
era um escravo “vale tudo multi-uso” até que atravessasse o sue genesis e fosse
liberado de seu contrato. Mas ele era muito jovem e faltavam-lhe alguns bons
setenta anos até que atravessasse o processo de amadurecimento final.
— Eu concordo. Ele seria um bom chefe. — Sunil sorriu. — Mas acho
que eu seria melhor.

— Então vamos fazer.


Sunil inclinou a cabeça.

— Tem sido uma honra servir a você.

— A coisa sentimental é vergonhosa. Terminemos com isto.


Fechando os olhos, Sunil retrocedeu. Um repentino silêncio se apoderou
do ar úmido da câmara e então uma vibração pesada sacudiu o grande macho.

Um instante depois havia desaparecido e em seu lugar havia um tigre de


270 quilos diante dela. Golpeou sua cabeça na mão dela, indo contra a palma
de sua mão até que ela coçou atrás de suas orelhas.

— Cafajeste — ela murmurou.


Poderia ter jurado que ele sorriu enquanto esfregava sua bochecha
contra ela e então pegou sua mão na boca com tanto cuidado como se
carregasse um frágil ovo. Ele usou seus afiados dentes para tirar o anel do dedo
dela, puxando até a ponta.

Então ele mordeu.

O estalo do osso ecoou na câmara, ou talvez apenas no crânio de Sin. Ela


apertou os dentes para evitar gritar. Uma agonia feroz disparou por seu braço e
quando Sunil a soltou, ela recuou agarrando sua mão ensanguentada... a qual
agora faltava a primeira falange do dedo anelar esquerdo.

— Exerça pressão sobre ele — disse Sunil com a voz rouca por causa de
sua mudança para a forma humana.

— Estou fazendo — ela suspirou. Porra, isso doía!


Ele levantou o dedo cortado.

— Quer de volta?
Sin encostou-se à parede de pedra para evitar cair.

— Guarde-o... para lanchar ou algo assim — disse entre dentes.


Sunil sorriu.

— Seu irmão não pode voltar a colocá-lo em você?


— Provavelmente, mas não tenho tempo para isso. É apenas um dedo.
Não é grande coisa.

— Obrigado — ele ronronou. — E, Sin, se você ou Lore alguma vez


preci-sarem de meus serviços, para vocês... metade do preço.

Apesar de sua dor, ela riu.

— Você é um verdadeiro mercenário. Cuide-se Sunil. — Parou na porta.


— Além disso, um aviso justo: Se eu descobrir que alguém deste covil esteve
envolvido no ataque a companheira de Lore, eu matarei, portanto esteja
preparado para conseguir um substituto.

†††††

Sin se apressou em descer pelos corredores do covil, com os


pensamentos a toda velocidade. Precisava buscar Con, mas primeiro tinha um
Warg para interrogar. As paredes eram um borrão, as pessoas pelas quais ia
passando não mereciam que lhe desse adeus. Gostara de alguns de seus
colegas enquanto trabalhara com eles, mas a dinâmica mudou quando assumiu
o controle e a maioria a tratou como uma inimiga.

Quando passou por um dos dormitórios, diminuiu a velocidade


sentindo que a única pessoa que ela queria ver estava dentro. Empurrou sua
dolorida mão para dentro do bolso e entrou no quarto.

— Lycus.
Ele se afastou de sua cômoda cheia de armas, seu movimento tão suave
que ela não saberia que o surpreendera se não o conhecesse tão bem.

— Você voltou. Eu não sabia.

— Obviamente.
Seu sorriso dentuço quase a fez estremecer.

— Alegra-me que esteja a salvo.


Ela meneou a cabeça e o examinou, sua testa e bonito rosto, seus frios
olhos.

— Por que não acredito em você?


— Eu não sei — girou um de seus poderosos ombros em um gesto
indife-rente. — Deixei bem claro que eu desejo você. Se você estiver morta, não
posso tê-la.

— Você quer dizer que não pode ter o controle do covil — ele encolheu
os ombros novamente, mas ela não esperava que ele negasse.

Ambos conheciam o acordo.

— Estou curiosa Lycus... Onde está Marcel?


Algo brilhou nos olhos de Lycus, mas desapareceu antes que ela pudesse
decifrá-lo e, em um instante, a expressão dele era neutra de novo.

— Você não sabe?

— Sei que ele foi o responsável por um ataque à companheira de Lore.

— Então suponho que Marcel esteja morto? — Ele estreitou os olhos. —


Você suspeita que eu saiba sobre o ataque.

— Você é um gênio, não? — Ela começou a se mover, um lento círculo a


seu redor, que ele seguiu com os olhos. — O que você diria se eu decidir ceder
o controle do covil?

Desta vez, seu sorriso foi genuíno. Ele se moveu para ela, deslizou a mão
pela parte traseira de seu pescoço e por um momento, ela pensou que ele fosse
beijá-la.

— Eu diria que você não se arrependerá, querida.


Ela tirou a mão do bolso e acenou brevemente com seu dedo sem anel.

— Eu não o farei.
Os olhos de Lycus se arregalaram de susto, sua expressão se encheu de
raiva, sua mão ficou tensa em seu pescoço.

— Puta!
Girando, ela se afastou dele, colocou-se em uma postura defensiva com
a cômoda de armas atrás dela.

— Não faça isso Lycus. Você conhece o castigo por ferir outro assassino
dentro do covil — Não é que continuasse sendo uma assassina, mas ela tinha
direito a um passe segura até que estivesse dentro do Harrowgate.

— Eu matarei você, Sin. Vou ter sua cabeça dentro de uma semana.
Sorrindo, ela se jogou para trás, perto da cômoda. Mantendo um olho
nele, procurou dentro da gaveta e pegou uma garrafa de barro.

— Fogo infernal, hum? Por alguma razão, eu não estou surpresa de ver
isto.

— E? — Ele rosnou.

— Você sabe que está proibido de usar isto no reino humano.

— Por isso que eu não o uso lá.

— Oh, creio que você usou. A pergunta é: por quê? Por que iria querer
me matar de uma forma que não lhe permitiria ter meu anel?

Ele arrancou a garrafa dela e ela praticamente pôde sentir o ódio


brotan-do dele, escorrendo na pele.

— Você pequena puta súcubus. Não devia ter rejeitado minha oferta de
transformar-lhe em meu par. Agora você está morta. E eu acho que, apenas
por diversão, terei seu corpo dissecado e preservado, e as coisas que eu farei
em você... — sua voz se reduziu a um sussurro lúgubre que provocava
calafrios. — Você será minha boneca inflável, querida. Para sempre.

Ela golpeu-o, derrubou-o e correu dali. Não pertenceria a ninguém mais


na vida... ou na morte.
As botas de Con pareciam estar cheias de chumbo enquanto ele
marchava pelas terras rochosas do santuário dampiro na Escócia do norte. A
brisa noturna trazia com ela o cheiro do oceano, o sabor de ar salgado e o fedor
de wargs nervosos.

Chalés de telhados de palha pontilhavam a paisagem musgosa, mas era


para a grande estrutura de madeira no estilo de uma fortificação que Con
estava se dirigindo. Na base da colina gramada, onde neblina ficara como sopa
em uma tigela, pesados cavaletes de mesa e cadeiras eram visíveis na névoa
como picos de montanhas escapando de uma cobertura de nuvens. Não
importava o tempo, dampiros preferiam estar do lado de fora, fosse
conduzindo reuniões de negócios ou celebrando um feriado.

Agora, os membros do Conselho de Dampiros estavam reunidos na


área, assim como vários membros do Conselho Warg, inclusive Valko e
Raynor. Enquanto Con se aproximava, a sensação familiar de sua pele
apertando-se intensificou-se.

— Conall — a voz profunda de Valko estalou como um chicote e todos


viraram-se para Con. — Onde você esteve? Você sabia que tem uma guerra
acontecendo? Os malditos varcolac nos atacaram.

Raynor virou-se para Valko.

— Porque alguém deixou escapar o fato de que só nós somos afetados


pelo vírus! Você sabia que isso aconteceria e agora você está usando os ataques
como uma desculpa para nos exterminar.

Valko zombou.

— Não foram os pricolici que vazaram a informação. Mas nós vamos


terminar essa guerra. Seus vira-latas estão prontos na corrida pela batalha no
Canadá...

— Não — Con interrompeu. — O Aegis e o exército humano vão acabar


com isso. O vírus sofreu uma mutação e está afetando os pricolici agora.

Cada gota de cor sumiu do rosto de Valko nesse momento.


— O quê? Tem certeza?

— Muita.
As pernas de Valko pareceram ceder e ele afundou em um banco.

— Você encontrou uma cura? Uma vacina? Onde está Sin?


Ouvir o nome de Sin vindo de uma escória warg levantou o
temperamen-to de Con.

— Por que você se importa? Você a queria morta.


Os olhos de Valko quase saltaram do crânio.

— Ela está morta?


Con não respondeu.

— Diga-me quem você contratou, Valko — ele foi em direção ao warg,


preparado para arrancar uma confissão dele, mas Raynor o bloqueou.

— Alguma vacina foi desenvolvida?

— Está perto — Con disse firmemente. — E a ironia é que, se a vacina


funcionar, é tudo por causa da Warg Fest que vocês tentaram matar.

Isso calou todos, todos exceto Bran, que deu uma risada alta até que
alguém chamou seu nome.

Uma fêmea alta e esguia galopava na direção deles, suas longas pernas
comendo terra.

— Milorde — ela arfou enquanto parava na frente deles. — Tem um


problema... uma fêmea de demônio na propriedade.

Uma lambida de mal-estar passou por Con, mas ele se segurou, pois de
jeito nenhum Sin teria vindo aqui...

— Ela exige ver Conall — a garota terminou e Con disse um palavrão.

— Que droga! — Os palavrões de Sin carregados pelo vento, e apesar da


ansiedade de Con que aumentava, ele sentiu um vislumbre de um sorriso tocar
seus lábios. Pelo menos, até ele vê-la, lutando contra o aperto de dois grandes
machos, um fio de sangue no canto de sua boca.

A raiva rolou como uma tempestade, turvando desde seu intestino e


chocando-se em seu crânio. Os pés dele estavam se movendo antes que seu
cérebro banhado a fúria soubesse o que estava acontecendo. Ele atravessou a
grama seca, cada passo separando as gavinhas finas de névoa que tocavam o
chão.

— Solte-a — ele rugiu.


Enric deu um passo para trás, mas o outro, Baine, apertou-a mais forte.
Sin aproveitou a vantagem de ter um braço livre e cobriu-o com um gancho de
direita e uma joelhada na virilha. Baine caiu no chão, uma mão apertando o
rosto, a outra segurando as bolas. Enric bateu em Sin, mas Con, seu sangue
ainda correndo quente, agarrou-o e derrotou-o com uma série de golpes. Ele ia
matar Enric por tocar em Sin. Ele ia rasgar seus...

— Con! — Sin segurou o braço dele, interrompendo seu ataque


enquanto os membros do Conselho das três sociedades vinham correndo.

O corpo ainda preso pela batalha e clamando para transformar seus


companheiros dampiros em adubo27, Con balançou-se de pé, esperando que
alguém se mexesse na direção dele ou de Sin. Ela permaneceu na frente dele,
suas tranças caídas sobre os ombros e sobre a blusinha sem mangas de couro
preto que ela usava. Uma luz selvagem brilhou em seus olhos igualmente
pretos, assim como algo tão primitivo quanto algo que chamava pelo macho
nele: desejo. E, quando ele sentiu o cheiro do sangue dela, fome.

Ele devia ter se afastado dela. Em vez disso, ele diminuiu a distância
entre eles.

— Você não deveria estar aqui.

— Eu precisava te encontrar — ela lambeu os lábios, a ponta cor-de-


rosa de sua língua capturando o sangue no canto da boca. O olhar dele focou-
se no ato, a virilha dele encheu-se de calor e seus caninos pulsaram, e ele
sentiu-se confuso, inclinando-se para ela, com água na boca, o pau
endurecendo.

Ele mal conseguiu grunhir: — Por quê?

— Eu não podia deixar você fazer aquele negócio de juramento — ela


falou em um sussurro, seu rosto inclinado para cima e ele quis beijá-la,
reivindicar por ela bem ali contra o pano de fundo robusto onde seu povo
esteve se encontrando por séculos. — Não consigo suportar a ideia de você
perder sua liberdade.

Bran bateu as mãos, o som duro chamando a atenção de Con.

— Tirem-na daqui.

27 Em inglês mulch, que é uma mistura que é colocada no solo para melhorar a agricultura.
Raynor alcançou Sin, e oh, não mesmo. Con colocou-se entre os dois, as
presas à mostra. Ele não disse uma maldita palavra. Não precisou. Raynor
recuou, mas o ódio surgiu em seus olhos. Um ódio gelado e antigo para o qual
Con não tinha explicação, mas no momento ele não dava a mínima.

Dando uma volta, ele pegou o braço de Sin e marchou com ela para
longe do grupo. Céus, a pele dela era quente em sua mão e isso radiava direto
para sua virilha.

— Você precisa ir embora — a voz dele era gutural, mal controlada. —


Agora.

— Não — ela manteve-se firme e parou os dois.


Ele piscou.

— Não?

— Eu... — o olhar dela caiu para o chão e ela mudou o peso do corpo e
de repente ele foi atingido por uma explosão de necessidade que saiu dela em
uma onda de choque atômica. — Está na hora. Eu... eu preciso de você.

O orgulho feroz de macho o fez inflar como um galo.

— Você não precisa de mim — ele apertou os pulsos para evitar agarrá-
la, beijá-la, fazer aquelas coisas públicas que ele disse que nunca faria. — Você
poderia ter qualquer um se fosse o caso. Você me quer.

Ela bufou, uma resposta automática sem dúvida, mas então seu queixo
tremeu, suavizando sua aparência, e, mais uma vez, ele sentiu-se um idiota.

— Sim, tudo bem? Eu quero você, eu sei que você tem aquele... — ela
baixou a voz, — problema, mas podemos encontrar um jeito de contornar isso.
Você não tem que me morder...

A mente dele deu uma pancada só de pensar nisso e, de repente, ele


pôde ouvir o batimento do coração dela, o açoite do sangue dela correndo
como corredeiras através das embarcações e, em volta dele, ele sentiu Bran e
alguns outros dampiros aproximando-se.

— Afaste-se dela, Con — Bran gritou. Havia uma adaga em sua mão e
ele estava concentrado em Sin. Os dedos gelados do déjà vu envolveram Con,
estrangulando-o. A morte da mãe de Con pelos dentes do pai, o Conselho de
Dampiros assumiu uma posição firme no vício.

Nenhuma outra tentativa de reabilitação.


Eles mataram a fonte, o que matou os desejos. Con não mentiu quando
disse a Sin que era responsável pela morte de Eleanor. Ele só não matara a
fêmea de transmorfo de leopardo.

Bran fizera isso com uma lâmina através do tronco cerebral. Eles nem
deram a Con a chance de se conectar com ela.

Con empurrou Sin para detrás dele e recuou os dois na direção do


Harrowgate.

— Eu cuido disso, Bran.

— Você conhece a lei — o machão disse.

— Eu vou cuidar disso.

— Vejo que vai cuidar — Bran disse, enquanto passava um dedo pela
borda da lâmina. — Ou eu cuido.

†††††

Sin não fazia ideia da loucura que isso tudo fora, mas manteve a boca
fechada enquanto ela e Con entravam no Harrowgate, manteve a boca fechada
enquanto batia levemente no mapa até o portão abrir na extremidade leste de
Londres, manteve a boca fechada enquanto ele rigidamente a conduzia para
um apartamento a meio quarteirão de distância.

Enquanto ele fechava a porta atrás dele, ela estudava o comportamento


tenso, o jeito como as feições cinzeladas dele aguçavam-se ainda mais quando
ele estava nervoso. Mas ela não podia dizer se a raiva era direcionada a ela ou
não.

A pergunta foi respondida quando ele a espreitou, toda a energia


sensual e os músculos ondulados presos nos jeans gastos e em uma camiseta
preta justa. Os lábios dele desceram aos dela e ela abriu para ele, encontrou a
língua dele enquanto revestia seu corpo contra o dele. O desejo rugiu através
dela, flamejando quente, mais quente do que já esteve com outra pessoa,
mesmo no auge da necessidade dela. Esse era diferente. Tão puro quanto a
neve em que eles fizeram amor.

Con a abraçou forte e, enquanto suas mãos afagavam as costas dela, elas
não se dispersaram. Ele arrastou a boca pelo queixo dela, desceu para o
pescoço, e então a beijou ali, bem em cima da jugular.
— Aquilo foi estupidez, Sin — ele murmurou contra a pele dela. — Você
não devia ter ido para a Escócia.

— Estamos aqui, não estamos? Onde deveríamos estar.


O corpo inteiro dele ficou tenso e ele afastou-se.

— É. Mas... — o olhar dele baixou até a mão esquerda dela e ele pegou-
a. — Que diabos? — Ele olhava para os dedos dela, ou, mais precisamente,
para o dedo que faltava. A voz dele diminuiu para um ruído gutural. — O que
aconteceu? Quem fez isso com você?

— Eu fiz isso comigo — ela disse gentilmente. — Eu desisti de meu anel


mestre de assassina.

— Oh Jesus. Precisamos levar você para o hospital...

— Não há nada que possa ser feito e você sabe disso. Está curado — ela
abanou os dedos. — E eu tenho nove de reserva.

Con fechou os olhos e quando os abriu eles estavam o cinza sombrio de


uma nuvem sobrecarregada de chuva.

— Lamento.

— Não lamente. Você estava certo. Só porque eu não tinha dono não
queria dizer que eu não era uma prisioneira. — Ela olhou a grande cama que
era praticamente o único móvel do estúdio e arrastou-o para ela. — Agora —
ela provocou, — estou pronta para mais daquelas preliminares que você esteve
falando.

Ele interrompeu-a, parando subitamente a alguns passos da cama. Ela


virou-se para encará-lo e tomou um fôlego apreciável quando o viu, seu olhar
sombrio e predatório, as presas estendidas. Ele parecia meio selvagem,
totalmente primitivo e, Deus, ele era tão gostoso. As narinas dele alargaram-se
e os lábios separaram-se, e ela perguntou-se o que ele estava pensando.

Um olhar para a virilha dele lhe deu uma grande dica do estado da
mente dele.

E rápido assim, ela esqueceu-se das preliminares, pois ela precisava dele
dentro dela. Agora mesmo. Ela alcançou-o e assobiou.

— Você alimentou-se recentemente? — Ela perguntou, a ideia dele


nutrir-se de outra pessoa acertando-a no estômago. É claro que ele teve que se
alimentar. O problema do vício mantê-lo-ia para sempre longe de poder jantá-
la. Bem, ele acabara de decidir pelo sangue empacotado, já que ele não enfiaria
aquelas presas em outra pessoa. — Con?

— Não — ele respondeu. — Estou faminto, Sin. Não só por sangue... por
você.

Por ela. Ele a queria. Ele não só precisava dela; ele a queria, da mesma
forma que ele a fez admitir querê-lo. Uma surpreendente sacudida de alegria
pôs a pulsação dela em alta velocidade, mas isso era um atalho por uma
explosão de calor e desejo que saía dele. A luxúria rasgou através dela em um
emaranhado contorcido e ela gemeu. A visão dela alternadamente aguçava e
embaçava, e o cheiro de um macho desperto na frente dela fluía através dela
como um xarope afrodisíaco.

Ela deu um passo na direção dele, mas suas pernas ficaram como
borracha e seus pés grudaram no chão. A fraqueza significava que ela foi tão
longe que, a esse ponto, ela não tinha força nem para chegar a um Harrowgate
para encontrar um homem. Que bom que Con estava ali, que bom que ele era
quem ela queria e que bom que ele gostava de pegar pesado.
Con ficou de costas para a porta, tão perto que podia esticar a mão por
trás dele, abrir a porta e sair. O que, se ele fosse inteligente, ele faria. Mas os
feromônios de Sin sequestraram-no, seu desejo foi fervendo e acima de tudo
seu vício de sangue manteve-o congelado no local.

Ela gemeu de novo e o som fez pulsar sua virilha.

— Con, agora. Já faz muito tempo.

— Eu sei — Ele deu um passo para mais perto. Ele poderia tê-la. Ele
sim-plesmente não se alimentaria. E então ele encontraria uma maneira de
explicar que ela precisava ficar longe dele, ou sua vida estaria em perigo.

Os pensamentos lógicos deslizaram como uma gota de óleo ao longo de


um galão de água, fragmentando, tornando-se liso e fino e se perderam
enquan-to os instintos mais primitivos levaram seu corpo e cérebro.

Ela sacudiu a cabeça, atirando o cabelo de seu pescoço e sua linha de


visão foi reduzida, focada, completada apenas por ela. O zumbir de sangue
através de suas veias tornou-se um farol para sua fome crescente. O coração
dela batendo tão alto que parecia afetar o bater de seu próprio pulso.

— Agora.
Mais um passo. Sua ereção brutal socou dolorosamente dura contra seu
fecho. Mais um passo. Ela poderia muito bem ser uma loba no cio e o warg
nele não puderia resistir. Ele estava morrendo de fome, precisava dela de
maneira ruim.

Se eu tocá-la, eu vou matá-la.

Violentamente, ele sacudiu a cabeça, quebrando seus medos em fuga


contra o interior de seu crânio.

— Por favor — Os feromônios dela obscurecendo a cabeça dele, fazendo


seu coração bater e sua pele encolher.

Seu olhar trancou em sua garganta. Seus lábios descascados afastados


por suas presas. Morder. Beber. Matar.
Não! Cambaleando para trás, ele se chocou contra a parede.

— Eu não posso. — Ela estendeu a mão para ele e ele assobiou. — Não.
Não me toque, porra!

Sin recuou, mágoa piscando por trás da névoa de necessidade em seus


olhos.

— Você quer que eu vá encontrar outro macho?


Outro macho? Oh, o inferno não.

— Eu o mataria — Sua voz era fumaça, cascalho, como se tivesse sido


arrancada das profundezas do inferno.

— Então o quê? — Gotas de suor escorriam da testa de Sin e ela


estreme-ceu quando colocou os braços em torno de sua barriga. Ela estava
sofrendo. — Con, você tem que...

— Eu não posso! — Ele rugiu. — Você não entendeu? Eu não sou forte o
suficiente.

— Então... deixe-me entender isso direito. — Ela jogou a mão para


segurar a si mesma contra a parede e falou entre as respirações ofegantes. —
Você não me vai foder, mas você não quer que ninguém me foda.

Resumidamente era isso.

— Droga — ele rosnou com raiva. — Você não deveria ter ido para a
Escócia. Você não deveria ter forçado esta escolha em mim. — Ele não estava
sendo justo e ele sabia disso. Mas ele estava chateado com ele mesmo, com ela,
com o alinhamento dos planetas e com o destino por fazer tudo isso.

Ela levantou a cabeça e desafio brilhou em seu rosto.

— Eu sinto muito. Eu preciso de algo que você não me pode dar porque
está se sentindo inadequado e mal-humorado. — Ela seguiu até a porta. — Vá
para o inferno. Não, espere, isso é aonde eu vou, porque eu tenho certeza que
vou ser capaz de encontrar algum demônio quente que me possa dar o que eu
preciso.

Ele estalou, seu controle rasgou além do reparo e ele atacou, levando-a
para o chão e rasgando suas roupas. Abaixo dele, ela se contorcia avidamente,
envolvendo as pernas em torno dele e empurrando seus peitos em suas
palmas. Ele rasgou a calça e entrou com força, e ambos gritaram.
Ela estava quente. Molhada. Perfeita. Seu pulso rugiu em seus ouvidos e
sua visão aguçou. Inferno, todos seus sentidos elevados a ponto de sobrecarga
sensorial, de tal forma que bateu nela primitivamente, com uma violência
normalmente reservada para as febres da lua.

Suas presas dispararam quando ele atingiu o ápice e ele mergulhou em


seu pescoço. De alguma forma, ele mergulhou em suas últimas reservas de
controle e mordeu seu braço em vez disso, e a dor chegou até ele.

Sin se juntou a ele com um grito e, enquanto ele bombeava, ela veio de
novo. Mas quando ele deveria ter se sentido saciado, ele só sentiu uma ardente
necessidade crescendo dentro dele. Fúria possessiva apertou seus músculos.
Aqueceu seu sangue até que ele ficou febril.

Ele rasgou sua boca afastando-a de seu braço.

— Minha. Sin, você é minha. Ninguém nunca vai tocar em você, você
entendeu? Você pertence a mim. Você tem um vínculo comigo — Qualquer
outra coisa, senão o êxtase era um borrão quando ele mordeu seu ombro, mal
conseguindo imperdir-se de tomar uma veia. Atrás dos dentes, as glândulas
formigavam. Seu próximo clímax foi forte e poderoso, mas o sexo com Sin o
segurou, ele observou (pouco) uma pequena mudança. Ela choramingou
através de seu orgasmo e depois ela lutava para sair de debaixo dele.

— Não — Ela gemeu. — Por favor, não.


O desespero em sua voz atravessou seu cérebro Neanderthal. O que ele
estava fazendo? Piscando, ele tentou se situar. Ele estava... Sim, ele estava
mordendo-a. Ele a soltou com um silvo de pânico, mas as glândulas continua-
ram bombeando e cheio de horror ele sentiu a quente picada de uma gota de
líquido do vínculo gotejando no local da mordida. Oh, merda! Talvez não tenha
sido suficiente. Ela não conseguiu uma dose completa...

— Saia de cima de mim!


Ele se afastou dela, sua mente girava, seu corpo em cólicas e batendo
com a necessidade de seu sangue. Ele a provou, mas ele precisava de mais. Ao
mesmo tempo, a vergonha o dividiu em dois. Não era bom se vincular com
alguém sem sua permissão. Ele seria tão ruim quanto todos os cretinos que
possuíram Sin ao longo dos anos.

Ela rolou, pegou suas roupas e olhou para ele como se ele fosse um
mons-tro.

— O que você fez para mim?


Deuses, ele não podia nem olhar para ela.
— Sin...

— O que você fez? — Ela gritou, ficando de pé.

— Eu tentei me vincular a você... Eu parei antes que fosse longe demais,


eu acho.

— Seu filho da puta — ela sussurrou. — Você, porra, bastardo. — Ela


enfiou as pernas em suas calças. — Você quer me possuir, como todos os
outros. Eu seria apenas a posse de outro, não é? E o que você vai fazer quando
se cansar de mim?

Ele não achava que isso fosse possível, mas agora, ela não acreditaria
em sua negação e ele não podia culpá-la.

— Sinto muito, Sin — Levantou-se, fechou o zíper, odiava a si mesmo


ao ver como sua mão tremia.

— Sente muito? — Ela bufou. — Você é um hipócrita Con... Você me


acusou de ter um muro ao redor de meu coração, mas você mesmo não percebe
que faz a mesma coisa? Você arrisca seu corpo, porque você não pode arriscar
o coração. Você não pode se apegar a qualquer coisa, então você está sempre
mu-dando de carros, empregos, amigos. — Ela bufou de novo. — Amigos. Que
pia-da, hein? É por isso que eles são humanos, não é? Você não tem que
mantê-los por muito tempo se você está sempre tendo que despejá-los antes
que eles sus-peitem.

Choque ondulou por ele. Ela estava certa. Puta merda, ela estava certa
sobre tudo. Ele cambaleou para trás, a dura verdade o acertando. Ele não se
entediava facilmente... Ele tinha muito medo de se apegar a algo. Deuses, que
pedaço egoísta de merda que ele era. Ele forçou Sin a confrontar seus medos,
seus sentimentos e em todo o tempo ele tinha os mesmos problemas. A mesma
parede.

Por razões muito piores. Ele ficou viciado no sangue de uma fêmea e,
então, depois que ela foi morta e que ele foi banido do clã, ele passou a vida a
culpar qualquer um menos a si mesmo por tudo isso. Ele pensou que estivesse
despreocupado, feliz, experimentando a vida só para provar que ele não
precisa-va de ninguém, nem de coisa alguma.

Você é um desgraçado mimado que deveria ter sido puxado pelo


calcanhar séculos atrás. Bran tinha razão. Assim como Sin.

Mas agora, mais do que nunca, ele não poderia enfraquecer. Não
quando se tratava dela. Ele a queria tanto que doía, como se seu coração
tivesse sido envolto em arame farpado. Ela não merecia um miserável, mimado
egoísta como ele e ele não poderia se vincular a ela, mesmo se ela o quisesse.
Ele não podia amarrá-la assim.

E ele não podia estar com ela sem estar ligado a ela.

— Você está certa, Sin. — Deuses, seu peito doía. Ele esfregou e sentiu
vazio dentro. Oco. — Portanto, não há nada a dizer. Você deve ir.

Ele tinha quase certeza que ela iria embora, mas certo como o Sheoul
cheirava a enxofre, ela era Sin, de modo ela fez exatamente o oposto. Ela termi-
nou de se vestir e plantou seus pés.

— Eu não penso assim. Você me acusou de fugir de coisas e agora você


está fazendo o mesmo? Você precisa sentir, Con — disse ela, lançando suas pa-
lavras de volta em seu rosto. — Você não me pode jogar fora porque me recuso
a ser uma possessão. Possuir uma pessoa é uma forma de tê-la sem admitir
que sente alguma coisa. Então, não. Você não pode fazer isso. Você pode ter-
me, mas só porque você me quer e eu quero você. Aceito a coisa do vício, mas
sabe o quê? De alguma forma nós vamos lidar com isso. Talvez Eidolon possa
ajudar. Ou um feiticeiro. Eu conheço alguns bons.

Jesus. Ela estava falando sério. Mesmo depois do que ele acabara de
fazer, ela ainda queria estar com ele. Era tentador, tão malditamente tentador,
e ele sempre foi um jogador. Mas ele não queria jogar com a vida de Sin.

— O clã irá matá-la, Sin. Eles não permitem o vício. E mesmo se eu


com-seguir ficar curado, não posso estar perto de você ou vai começar de novo.

— Eu não tenho medo de seu maldito clã.


Não, ela não teria, não seria ela. Seu estômago retorceu na percepção de
que havia apenas uma coisa que ele poderia fazer agora. Ele precisava atirar
pedras. E desta vez, ele precisava acertar também. Melhor do que vê-la ferida
ou morta. Ele abriu a boca, mas nada saiu. Vamos homem, idiota. Sim, porque
era muito viril para ele chutar uma mulher enquanto ela estava caída.

— Você não entendeu, pequeno demônio. — Ele deliberadamente tirou


o timbre de sua voz, mas foi difícil e ele rezou que sua voz não quebrasse. —
Você estava certa. Você seria uma possessão para mim. Eu realmente me
importo com você. Agora. Mas em poucos meses, talvez um par de anos, você
não vai servir para mim. Eu vou querer algo brilhante e novo. Provavelmente
mais alta. Loira. — Sim, que as pedras deixem feridas vivas.

Um corar difundiu por sua testa, sua respiração acelerou e ela recuou
com uma estranheza incomum.
— O que você está dizendo?

— Eu estou dizendo que eu não deveria ter deixado Luc me propor uma
aposta. Eu nunca deveria ter fodido você, até porque é só para isso que um
sucubus serve. — Um suspiro suave escapou e vergonha deslocou o chão
abaixo dele. Instinto o fez querer estender seus braços e apagar a mágoa dela,
mas em vez disso, ele esforçou-se para terminar. — O quê? Por que você
parece tão surpresa? Você é um demônio do sexo. Você acha que poderíamos
cavalgar no pôr do sol, criar uma casa e foder até ter um grupo de garotos? A
única coisa que eu sempre quis de você é sexo e sangue. Porra e alimentação
caminham juntos para mim e como eu não posso me alimentar mais de você...
— Ele fez um gesto para a porta. — Saia daqui e nunca chegue perto de mim
novamente.

Diante de seus olhos, Sin mudou. Deixou o prédio. A fêmea que


finalmen-te encontrou um pouco de suavidade, bondade e aceitação
desapareceu atrás de uma máscara fria, distante. Apenas o tremor muito
ligeiro em seus dedos, enquanto ela os espremia no bolso deu qualquer sinal de
emoção. Ele pensou que ela pegaria uma arma, ele certamente merecia.

Em vez disso, ela tirou um quadrado dobrado de notas. Ela tirou duas
notas de cinco e deixou-os cair no chão.

— Os dez dólares que lhe devo.


Ela saiu do apartamento e de sua vida. Quando a porta fechou, tão
suave-mente que ele mal ouviu, ele vomitou. Mal chegou ao banheiro.

Ele fez isso. Ele finalmente lançou a pedra que a machucaria. Que a
leva-ria embora para sempre.

†††††

Sin não ia chorar. Ela não podia se dar ao luxo. Ainda não. Ela precisava
falar com seus irmãos.

Seus irmãos.

Pareceu que não só ela sentia a necessidade de ir até eles, mas pela
primeira vez, ela realmente reconheceu o que eram. Sim, ela sabia que eles
eram irmãos, mas em algum momento, eles realmente se tornaram família
para ela. E loucamente o suficiente, seu primeiro instinto foi ir até eles.
E não apenas descobrir que o primeiro para quem correria no UG seria
Wraith.

— Smurfette! — Ele sorriu quando ela saiu do Harrowgate. — Onde


está Con? Alguns wargs estão aqui e disseram que Con deixou o santuário com
você. — Quando ela não respondeu, pois sua garganta havia fechado, o sorriso
de Wraith vacilou e sua voz suavizou. — Lore está aqui. Acho que ele está no
escri-tório com E.

Ela seguiu para o fim do corredor e Wraith diminuiu o passo ao lado


dela, seu silêncio surpreendente e estranhamente reconfortante. Quando ela
chegou ao escritório de E, era Shade quem estava lá, em vez de Lore.

Shade empurrou-se da parede que estava encostado.

— Onde está Con?


Por que todos estupidamente estão curiosos sobre ele? Ela queria gritar
com eles para calar a boca, mas no momento em que ela soltasse, a
distribuição de água iria começar e escaparia todas essas emoções que Con
queria que ela sentisse.

— Não é importante — disse ela com firmeza. — O que há com a


vacina?

— A imunização inicial começou — disse Eidolon de trás da


escrivaninha. — Muito mais cedo do que eu esperava. Assim agora, os dois
machos que eu vacinei e foram expostos ao vírus estão muito bem.

— Você realmente tem voluntários para isso?

— Hah. Voluntários. Engraçado. — Wraith deu um sorriso que era pura


maldade. — Ambos estavam no Carceris, no corredor da morte. Por se
volunta-riarem para os testes, eles tiveram suas penas reduzidas para prisão
perpétua.

Pessoalmente, Sin preferiria ter a morte, mas que seja. O fato de que o
corredor da morte no Carceris é uma prisão e durava apenas uma semana,
provavelmente assustou os pobres bastardos o suficiente para torná-los
voluntários. Bem, isso e o fato de que o principal meio de execução do Carceris
era lançar a vítima em um poço como isca para os cães infernais.

Se tiver sorte, eles apenas o dividem em partes. Se você não tiver sorte e
eles estiverem com tesão...

Ela estremeceu. Poucas coisas a assustava tanto quanto os cães


infernais. Mas ela achou divertido que as almas de humanos maus que tinham
torturado animais e foram enviados para Sheoul-gra tinham que passar muito
tempo nos poços com as feras. Ela sempre amou a coisa do olho-por-olho.

Shade empurrou um chiclete na boca.

— Agora, o que aconteceu com Con? Raynor disse...


A única coisa que eu sempre quis de você é sexo e sangue. Maldição. Ela
não queria falar sobre isso. E, no entanto, sua boca abriu e as palavras saíram.

— Ele está em seu apartamento. — As lágrimas que ela esteve retendo,


finalmente, entraram em erupção, mas ela correu antes que Eidolon pudesse
entregar a ela um lenço. — Ele tentou isso... A coisa do vínculo.

— O que quer dizer com “ele tentou”? Contra sua vontade? — A voz de
Shade degenerou em um ronco escuro. — E o que diabos aconteceu com seu
dedo?

— Eu precisava retirar o anel de mestre assassino para que pudesse ir


para... — Con. Ela fez isso, em parte, para que ela pudesse estar com ele. Que
idiota ela era! Raiva e dor apertaram em torno de seu peito, tornando difícil
respirar.

Um rosnar atrás dela assustou.

— Eu vou matá-lo — disse Wraith.


Shade jogou sua embalagem de chiclete no lixo.

— Eu vou ajudar.

— Nós vamos fazer disso uma noite de diversão em família — Eidolon


balbuciou, sua voz calma, fria e séria como a merda.

Manchas douradas salpicaram o azul dos olhos de Wraith e ele balançou


sua língua sobre a ponta de uma presa.

— Eu disse que não deixaria ninguém foder com minha família, Sin.
Na época, ele disse as mesmas palavras para ela. O que significa que ele
não queria que ela fodesse com sua família. E agora... ela era a família.

— Não. Por favor. — De alguma forma, ela impediu a voz de rachar. —


Eu só quero esquecer.

Eles se entreolharam em silêncio por um tempo e depois Eidolon


limpou a garganta.
— Descobri como você veio à existência.
Foi uma mudança brusca de assunto, mas bem-vinda. Eidolon era bom
nisso.

— Eu quero saber?
Encolhendo os ombros, Eidolon se recostou na cadeira e cruxou seus
dedos sobre o peito. No curto espaço de tempo que ela o conheceu, ela
aprendeu que, quando ele se estabelecia assim, ele estava se preparando para
uma confe-rência médica.

— Você me disse que sua mãe usou uma erva de demônio para tentar
um aborto — disse ele. — A planta mais comum usada para esse fim é
skullwort28, mas é destinada a fisiologia demônio, não humana. Quando
ingerida por espé-cies demônio, o corpo da mãe torna-se hostil aos fetos. Mas
em um ser humano faz o oposto. Fortaleceu as metades demônios de Lore e
você em vez de destruí-las. E porque é um composto químico demoníaco,
reagiu mal... com sua metade humana. Eu suspeito que sua mãe ingeriu a erva
logo após a concepção e prova-velmente um par de vezes depois disso. A erva é
carregada com hormônios e, aparentemente, retardou o progresso do
desenvolvimento normal do gene que devia ter sido do sexo masculino.

Retardou. Legal.

— Então, se Lore e eu compartilhamos o mesmo útero, por que me


afetou e não a ele?

— Vocês são gêmeos fraternais, não idênticos. Vocês têm genes diferen-
tes que são suscetíveis ou não a diferentes coisas. A mesma coisa acontece nas
mães humanas alcoólicas. Ela poderia dar à luz a um gêmeo com síndrome
alcoólica fetal, enquanto o outro não teria os sintomas. — Eidolon mexeu-se,
sentando em sua cadeira novamente. — Há algo mais. Ao contrário de Lore,
você não é estéril.

Ela piscou.

— Então, por que não engravidei, tipo, um milhão de vezes até agora?

— Porque você não ovula, mas você tem óvulos viáveis. Você pode ter
uma família, Sin. Você apenas tem que passar por um procedimento in vitro.

— Isso não vai acontecer — Não só ela não quer ter filhos, como
também com quem ela os teria? Não. Mas Con sempre quis estar com ela. Ela

28 Literalmente significa Erva de Caveira.


nunca quis estar com ninguém, a não ser com ele. E no final, ele a rejeitou.
Deixou-a da maneira como ele disse que não faria.

Deus, como ela poderia odiar alguém e ter pena, ao mesmo tempo?

Um rubor quente, irritado cobriu sua pele e ela sabia que ia explodir em
lágrimas novamente.

— Eu tenho que ir — Ela ficou de pé, fazendo um movimento de corte


com a mão quando seus irmãos tentaram impedi-la. Ela precisava estar
sozinha. Como ela sempre esteve.

†††††

Sin correu através de salas do UG tão rápido quanto podia sem parecer
uma completa idiota. Foi apenas quando ela entrou no departamento de
emergência, onde estava o Harrowgate, que ela percebeu que não tinha para
onde ir.

Ela viveu por tanto tempo no covil assassino que não tinha outras
residências. Em sua pressa para sair do covil, ela deixou suas roupas, seus
poucos pertences e todas suas armas, exceto a que estava em seu corpo e
algumas roupas que manteve no apartamente de Lore anteriormente. Agora,
acima de tudo, ela era uma sem teto.

— Sin.
Ela se virou. Ela não estava muito surpresa ao ver Raynor, o cara que
viu na Escócia, ali, mas ainda assim uma bola de “oh merda” caiu em seu
intestino. Ele estava esperando por ela. O brilho de caçador nos olhos era uma
oferta inoperante.

— Você está aqui por causa da vacina? — Era uma pergunta fraca, mas
ela estava à beira de lágrimas sobre Con, estranhamente nervosa e sua culpa
pelo fato de que ela começara uma praga que matou centenas, talvez milhares,
de seu povo ainda a corroía.

— Sim, obrigado por perguntar. — Ele moveu-se para ela e ela se sentia
como um coelho na mira de um lobo. — Você destruiu muitas vidas, incluindo
as de muitos de meus amigos e família.

— Eu sei — disse ela. — Sinto muito.


— Isso não é bom o suficiente, sua vadia — ele vociferou, a súbita
mudança colocou Sin na borda.

De alguma forma, ela manteve sua expressão e voz neutras.

— É por isso que você está aqui? Por que você quer um pedaço de
minha carne?

— É exatamente por isso que estou aqui. Tenho uma proposta para
você.

— Seja o que for — disse Sin, cansada, — você pode enfiar em seu rabo.
Ele riu. O humor do cara desapareceu como uma cobra morrendo.

— Confie em mim, você quer ouvir isso. Se você não ouvir, mais pessoas
vão morrer — Ele foi em direção ao estacionamento, obviamente esperando
ser seguido. Sin quase não o fez. Mas ela tinha uma sensação de que ele não
estava blefando e ela não poderia ser responsável por mais mortes.

Uma vez que estavam no estacionamento, ele parou perto de uma


ambu-lância. A tenda ao lado, onde o equipamento que ela e Con tomaram
deveria estar, gritou com o vazio, lembrando-a de Con, de estar na parte de
trás do equi-pamento, de suas mãos sobre ela.

Pare com isso. Cresça um par de bolas de merda e supere seus


sentimen-tos. Bom plano. Deixaria Raynor levar o peso de sua dor.

— Okay, idiota — disse ela finalmente. — O que você quer?

— Quero que os wargs nascidos sejam destruídos. É tempo de mudar o


equilíbrio de poder e os transformados assumirem.

— Isso é tudo? Bem, boa sorte com isso. Eu quero a paz mundial e que
as pessoas parem de fazer péssimos filmes do Batman, mas adivinhe amigo, eu
também estou ferrada.

— Pequena meretriz sarcástica. Eu vou conseguir o que quero e você vai


dar para mim.

— Eu não penso assim. — Ela enfiou as mãos nos bolsos da calça. Sua
mão esquerda parecia estranha e ela perguntou-se quando ela se acostumaria
sem o dedo que faltava. — Quero dizer, a parte de “eu lhe darei isso”. Eu sou
uma meretriz.

Raynor bufou.

— Só um demônio poderia se orgulhar disso.


Deus, esse cara era sujo. Como Con não o matou até agora? Con. Pare
com isso!

— O que você quer? Estou entediada. Você tem dez segundos para me
dizer por que estou aqui.

— Você está aqui porque eu quero que você crie um vírus que afete
somente os pricolici.

Não apenas sujo, mas delirante. O estacionamento de entrada de


veículos brilhou e uma ambulância surgiu, parando no espaço de descarga,
perto das portas para a Emergência. O pulso de Sin disparou quando ela olhou
para dentro da cabine para identificar os médicos. Con não era um deles. Não
que ela esperasse que ele fosse, mas ela não podia evitar olhar.

Pare. Com. Isso.

— Você percebe — disse ela, voltando-se para o warg, — que a última


vez que eu criei um vírus, ele saltou espécies.

— Não vai se os pricolici estiverem contidos.


Bastardo doente.

— Ok, para merdas e risos, o que diabos o faz pensar que eu iria fazer
isso?

Raynor sorriu.

— Porque você vai ser minha assassina pessoal.

— Você deveria ver Eidolon para uma varredura do cérebro ou algo


assim. — Ela viu os médicos descarregarem algum tipo horrível de esqueleto
de demônio para fora da ambulância. — Porque você está ferrado na cabeça.

A voz do warg tornou-se um sotaque estranhamente calmo.

— Você sabia que quando uma warg nascida esconde o fato de que seus
filhos nasceram humanos, ela está cometendo um crime punível com a morte?
Ela e seus filhos são acorrentados a postes na véspera de uma lua cheia e, uma
vez que a matilha se transforma, eles são destruídos. E comidos. É uma morte
dolorosa e horrível.

Sin não permitiu sua expressão mudar, mas por dentro, ela estava suan-
do.

— Então?
— Então eu conheço o segredo de Conall e sua pequena família. Tenho
um espião dentro da matilha pricolici que ele e você visitaram. E eu sei tudo
sobre sua neta, Sable.

Oh, santa merda.

— E o que você pensa que sabe?

— Eu sei que pelo menos um de seus filhotes gêmeos nasceu humano.


— Ele se inclinou para frente. — Porque meu irmão era o pai.

A garganta de Sin fechou, mas conseguiu falar com rouquidão: — O


quê?

Raynor lançou um olhar sobre outro veículo entrando pela porta do


esta-cionamento.

— Eu estava lá. Eu assisti o Aegis matar meu irmão e eu mantive um


olho nela há meses.

— Por quê? — Sin interrompeu. — O que você teria a ganhar? Ou você


é apenas obcecado, um assustador perseguidor?

O olhar do warg foi à deriva, suavizando sua expressão.

— Você sabe o que é ser invisível, demônio? Eu estava no Conselho


Warg, quando era ainda mais que uma piada do que é agora. Fomos
autorizados a sentar-nos em reuniões, mas não tínhamos entrada, sem direito
a voto, sem voz, quando até mesmo os dampiros, que nem sequer são Wargs
completos, tinham mais poder do que nós. Eu precisava de todas as vantagens,
cada pequena munição que eu pudesse coletar, não importava quão
insignificante pudesse ter parecido na época. — Seus olhos reorientados,
amargura queimando neles no-vamente. — Então, eu observei Sable e, quando
ela desapareceu com Conall por alguns dias e voltou para a vila com as
crianças, eu suspeitei que ela tivera um ou ambos os filhotes transformados e
marcados. Mas não foi até o aparecimento de Con há poucos dias, seguido por
sua saída rápida da aldeia com sua família, que eu soube com certeza. E eu vou
derramar o pequeno segredo.

— Bastardo. — Sin tirou a mão direita do bolso, preparando-se para


incendiar seu dom e fritar o filho da puta. — Você não faria...

— Oh, eu faria. Eu vou contar à matilha o que ela fez, sobre a participa-
ção de Conall e eu vou levar você para assistir. Ele pode até ser condenado à
morte com eles.
— A menos que eu trabalhe para você.

— Exatamente. E nem sequer pense em me prejudicar. Meu segundo


em comando é apenas uma das várias pessoas para quem eu disse e se alguma
coisa acontecer comigo, ele vai fazer o segredo de Sable com certeza se tornar
público. — Ele retirou uma delicada coleira do bolso da jaqueta. Uma fodida
coleira de cachorro. — Uma vez que você colocá-la, será de seu interesse não
permitir que eu seja ferido ou morto, porque o que acontecer comigo,
acontecerá com você.

Enfurecida, Sin, instintivamente, soltou seu poder. Calor se espalhou de


seu ombro para seus dedos, seguindo a faixa de seu glifos. Se ela olhasse, ela
saberia que estaria brilhante e se contorcendo como se estivesse viva.

— Seu filho da puta.

— Isso — disse friamente, — só seria exato se eu fosse pricolici.


Ela olhou para o colar pendurado em seus dedos, seus picos de frequên-
cia cardíaca. Como isso poderia estar acontecendo?

Após cem anos de escravidão, de pertencer a tantos mestres diferentes,


ela finalmente encontrou a liberdade e agora ela fora confrontada com a
escravi-dão, mais uma vez. Pior, ela se assustou com Con, o que era mais uma
questão de ligação, algo que poderia ter sido restritivo, mas que teria sido
preferível ao que Raynor tentava forçar em cima dela.

— Bem? — Perguntou ele. — Você vai me servir, ou você vai deixar


Sable e seu filho, e talvez até mesmo Con, morrerem?

Sua mente gritou e seu corpo tremia. Ela não tinha escolha. Na verdade
não. Talvez se ela concordasse, ganharia algum tempo para Con pôr sua
família em segurança.

— Sim — ela se firmou no chão. — Vou fazê-lo. — Ele jogou o colar


para ela e seus dedos tremiam quando ela o colocou em torno de sua garganta.
A sen-sação enjoativa de estrangulamento correu por ela, um sentimento de
ser enjaulada e sufocada. Ela dobrou-se e perdeu o conteúdo de seu estômago.

— Lá, lá — disse Ray, enquanto acariciava suas costas. — Você acabou


de salvar vidas. Isso não é motivo para se sentir mal.

— Eu vou matar você — ela jurou. — Algum dia, vou rasgar sua
garganta com minhas próprias mãos.

Ray deu de ombros.


— Até esse dia, você é minha. E eu pretendo usá-la até cair.
Usá-la. Oh, Deus, se ele a tocasse assim... Ela encolheu-se longe dele,
incapaz de suportar as mãos sobre ela por mais um segundo. Ela não sabia
como conseguiria ter as mãos de qualquer um nela agora. Não depois de Con.

Seu olhar estava cheio de justa indignação.

— Não se preocupe, eu não tocaria em você com meu pau mesmo se


estivesse em fogo e você molhada para mim. Eu não faço sexo com demônios.
Mas não me tente, Sin, porque eu tenho amigos que o fazem.
Sharla ÚltimoNomeNãoImporta esfregou seu corpo nu contra o de Con,
expondo seu esbelto pescoço.

— Tome-me, Conall.
Ele precisava. Muito. Seu corpo não estava respondendo ao convite
sexual dela, mas ele poderia forçar a si mesmo pelo menos a tomar o sangue. A
falta de alimentação estava deixando-o fraco, mas até agora, seu estômago
rebelara-se contra tudo que ele colocou para dentro, desde comida até alguns
goles de sangue que ele tomou de um humano macho vagabundo ontem à
noite depois que chutou Sin.

O fato de que ele a expulsou para salvar a vida dela não o fez se sentir
melhor sobre isso.

As mãos de Sharla deslizaram sobre seu peito nu e então para baixo,


sobre seu tenso abdômen para o cós de seu jeans. Ela era prática... como um
cisne, uma humana que de boa vontade se submeteu ao sangue e às necessida-
des sexuais de vampiros em troca da embriaguez que eles davam, ela sabia o
que era esperado dela. Mas Con não queria nada do que ela corajosamente
oferecia.

Ele ainda não tinha certeza de como conseguiu entrar no Revenant, um


clube gótico subterrâneo, não com círculos negros sob os olhos e buracos
profundos em suas bochechas, sinais clássicos de vampiros com fome extrema
que nomalmente significava não ter acesso. Clubes não se poderiam permitir
ter seus clientes rasgados por comedores fora de controle. Mas ele supôs que o
fato de que ele era um frequentador o dera um passe livre e não levou muito
tempo até que os cisnes encontrassem-no. Ele viu outros vampiros
alimentarem-se de Sharla, sabia que ela poderia lidar com grosseiros.

Suas presas estenderam-se e ele perguntou-se se ela poderia também


lidar com perigosos.

Inclinando a cabeça dela, Sharla ficou na ponta de seus pés para que sua
garganta estivesse apenas a alguns centímetros de seus lábios. Seu sangue
baqueava através de suas veias, enchendo seus ouvidos com a música mais
doce. Ele apenas desejou que Sin desempenhasse isso.
— Estou pronta — Sua voz estava rouca, necessitada e cheia de
desespero fútil, e ele perguntou-se se ele provaria drogas no sangue dela.

Con engoliu em seco, o que parecia estranho pela forma que sua boca
estava molhada. Ele precisava disto, mas isso parecia tão errado, como se ele
estivesse sendo infiel com Sin.

De certa forma, ele supôs, ele estava.

Os dedos de Sharla apertaram seus quadris, incitando-o.

A porta voou aberta. Colidiu na parede forte o suficiente para rebocar e


cair no tapete. Con girou, instintivamente colocando a humana atrás dele. Seu
coração bateu forte, sua respiração raspou em sua garganta e quando ele olhou
para os olhos duros e gelados do macho em frente a ele, ele soube que estava
morto.

Os olhos de Shade moveram-se para Sharla.

— Saia.

— Vá se foder, seu babaca — ela cuspiu, saindo de trás de Con, mas


ficando perto. Ela era bocuda, mas não estúpida.

Con agarrou seu ombro e assentiu.

— Vá.
Olhando para Shade, ela recolheu suas roupas e empurrou por ele, não
se preocupando em se vestir. Shade fechou a porta e Con preparou-se para
uma luta. Em seu estado enfraquecido, Con não se poderia colocar muito em
batalha, e Shade chutaria sua bunda. A coisa era, ele não poderia trazer à luz
muito dou-uma-merda.

— Estou surpreso que você esteja sozinho — Con disse. — Pensei que
todos vocês gostariam de matar um pedaço de mim.

— Por quê? Por tentar vincular-se com Sin contra sua vontade, ou por
machucá-la?

— Ambos.

— Tão sedutor quanto parece, não estou aqui para matá-lo. Ela nos
implorou que não fizéssemos e nós devemos a você por salvar a vida dela —
Shade cavou no bolso de sua jaqueta e tirou uma bolsa de sangue, que ele
jogou na cama.

Con respirou fundo.


— Isso é...

— De Sin.
Surpresa balançou Con para trás. Seu corpo inteiro tremeu e levou tudo
o que tinha para não lançar-se sobre isso. Mas ele definitivamente não podia
afastar seu olhar daquilo.

— Não posso. Estou tentando desintoxicar.

— Você está uma bagunça. Beba. Volte para o hospital comigo e nós
podemos desintoxicar você lá. Você terá uma melhor chance de sucesso e será
muito mais rápido e um inferno de muito menos doloroso. Nós temos tido
muita experiência com Wraith.

— Eu resolverei. Não posso ir ao hospital. — Não com Sin em volta.


Seria como agitar uma bandeira vermelha em frente a um touro. — E não vou
tocar nisso.

— Não seja um idiota. Beba a porra do sangue.

— Não.
Shade veio para ele e Con encontrou-o, de frente. Eles estavam nariz
com nariz, peito com peito e Con podia sentir a agressão saindo de Shade. O
demônio queria derramar sangue tanto quanto Con queria bebê-lo.

— Você é completamente suicida? — Ele rosnou. — Você está sofrendo


e não precisa. Sin não gostaria de vê-lo assim.

Sin provavelmente amaria vê-lo assim.

— Para trás, Shade — A adrenalina de Con subiu em uma maré de


raiva, sua fome no pico, sua fúria de si mesmo atingindo o ponto máximo,
criando um temperamento cáustico que o tinha pronto para bater os dentes do
demônio.

Shade empurrou o peito de Con.

— Seu estúpido filho da puta. Você sabe que se desintoxicar sozinho é


arriscado como a merda e a única razão do caralho para estarmos deixando-o
vivo é sabermos que não é um perigo para Sin, então beba!

Con balançou e foi adiante. Punhos voaram e móveis quebraram


enquan-to jogavam um no outro ao redor do quarto. A força diminuída de Con
tornou-se um fator e não demorou muito para que Shade estivesse
arreganhando-o, o antebraço sobre sua garganta enquanto apertava a sacola
na boca de Con. Con balançou sua cabeça, seus dentes firmemente cerrados,
mas o cheiro embriaga-dor de Sin estava em toda a unidade e suas presas
alongaram-se não importan-do quão forte ele desejasse que se retraísse.

Shade foi implacável em sua determinação e ele manteve pressão na


bolsa, arranhando para frente e para trás na boca de Con. Finalmente o
plástico rasgou na ponta de um dos caninos e uma gota de sangue pingou
sobre sua língua. O corpo inteiro de Con sacudiu como se uma corrente elétrica
tivesse disparado através dele.

Fim de jogo. Louco da vida com necessidade, ele agarrou o pulso de


Shade e segurou sua mão firme enquanto ele mordia profundamente a sacola.
A essência de Sin fluiu para sua garganta, iluminando-o por dentro. Ele gemeu
ao sentir o gosto, ao sentir o alívio da fome dolorosa que o dominara com
força. Ele desejou que Sin estivesse ali. Desejava poder afundar em seu corpo
enquanto devastava sua garganta. Ele tomá-la-ia forte e rápido, ouvindo seus
gritos de prazer... seus gritos.... seu sangue.

Con... pare. A voz quase penetrou sua alimentação agitada. Sin estava
debaixo dele, seus esforços ineficazes contra sua nova força e necessidade.

Hey, saia de mim. Não, não estava acontecendo. Ele teria que morder
novamente, porque a veia em que ele estava tinha acabado... Talvez ele tivesse
drenado-a. Terror brotou através de sua sede de sangue, perfurando o vício.

— Con! Merda! — Voz masculina. Profunda.


Con piscou, saindo de sua névoa para ver Shade abaixo dele. A ereção de
Con empurrava forte contra a coxa de Shade, e sim... não era legal.

Ofegante e tremendo como uma folha, Con saiu de cima dele.

— Ah... Eu não... Isso foi, ah... Não foi para você.

— Eu espero que não, porra! — Shade murmurou. Ele rolou facilmente


para seus pés, aparentemente imperturbável, mas então, ele era um demônio
do sexo e Con duvidou muito que o tivesse perturbado quando chegou a isso. E
ver como Con era milhares de anos mais velho e fizera muita coisa, não o deve
ter perturbado, também. Exceto que Shade era o irmão da mulher que ele
desejava e... Eca.

Con permaneceu no chão, sentado sobre seus quadris. Esfregou suas


mãos sobre seu rosto, de repente exausto.

— Deuses, eu odeio isso.

— Venha para o hospital — O casaco preto de couro de Shade rangeu


enquanto ele cruzava seus braços sobre o peito e Con sabia que esse argumento
era fracassado. Mas sua cabeça dura não poderia ceder facilmente.
— Não posso.

— Você deixou Sin aquecendo para você e então a esmagou debaixo de


suas botas — a voz profunda de Shade caiu uma oitava. — O mínimo que você
pode fazer é ficar limpo. E, amigo, eu te disse, largue o vício para que você não
seja um perigo para Sin, ou nós vamos colocá-lo no chão.

Justo e não menos do que Con merecia.

— A desintoxicação... vai ser feia. Você terá que me manter enjaulado


ou acorrentado.

— Sou um especialista nisso. — Havia um brilho de humor negro nos


olhos de Shade enquanto ele apontava para a porta. — Vamos.

†††††

Sin precisava de sexo.

A necessidade não era tão ruim ainda a ponto de doer, mas não teria
muito tempo antes das cólicas, suor e náuseas baterem nela. Ela adiou porque
a ideia de estar com alguém que não fosse Con a deixou doente.

Isso a fez chorar, também, mas ela não estava prestes a admitir para
ninguém. Nem mesmo Lore.

Ela passou a noite na casa dele, um barracão na Carolina do Norte que


ele raramente utilizava agora que vivia na Itália com Idess. Felizmente, ele
ficou longe, mesmo que provavelmente ele soubesse que tinha estado lá. Ainda
assim, ele e os outros três irmãos tentaram falar com ela a cada quinze minutos
e ela finalmente teve que desligar o telefone apenas para manter sua sanidade.
Esta manhã quando verificou suas mensagens, ela encontrou quarenta.

Ela deletou todas, sem ouvir. Mas a mensagem de texto que ela acabara
de receber de Shade enquanto estava sentada no bar em um clube demônio fez
seu coração parar. Aparentemente, Con estava no UG e seria melhor se ela
ficasse longe.

Sem problema. Ser sentida pelo demônio bonito e de pele carmesim


Sora atrás dela era o que ela queria fazer de qualquer maneira.

Seu coração bateu em sua caixa torácica, chamando-a de mentirosa.

As mãos fortes de Sora agarraram seu quadril, seu amplo peito cobrindo
suas costas e a saliência em seus jeans era uma insistente picada em sua
bunda. Não muito tempo atrás, ela teria respondido, teria transado com ele no
banheiro ou na pista de dança, fazendo uso de seu rabo multi-talentoso por
agora. Em vez disso, tudo o que ela podia pensar era em Con.

— Bastardo — ela rosnou em sua caneca de cerveja.

— Isso não é coisa para se dizer ao homem que fará você gritar seu
nome — ele disse, enquanto cheirava seu pescoço. Seus dentes tilintavam
contra a corrente ao redor da garganta dela e ela jurou que a sentiu apertar.

Ela esvaziou sua cerveja enquanto as mãos dele deslizavam sob sua saia
de couro, a ponta de seus dedos roçando o material de seda de sua calcinha.

Dor correu como um raio através dela, propagando da mão do homem


todo o caminho até seus órgãos, que de repente sentiu como se eles estivessem
mudando, reorganizando, amarrando-se em nós. Ofegante, ela saltou do banco
do bar e correu para fora, onde o único e mofado cheiro de Bangkok fez seu
estômago se rebelar na calçada. O que diabos estava acontecendo com ela?

Tomando grandes goles de ar poluído, ela inclinou-se contra a lateral do


prédio, que abrigava uma prostituição subterrânea e um salão de drogas em
frente, e o clube de demônios atrás. Os sons da vida noturna obscena abafaram
o pulso latejante nos ouvidos de Sin; eram quatro horas da manhã e essa parte
da cidade ainda estava viva. Cada vício, cada fetiche, não importa quão ilegal e
repugnante, poderia ser satisfeito em Bangkok e a verdade universal
permanecia em vigor aqui: perversidade preferia a cobertura da escuridão.

Enquanto a náusea diminuía, a necessidade de Sin voltava na frente e


no centro, uma presença dolorida e tremente. Ela nunca odiara mais o que ela
era do que agora. Antes de Con, seu corpo era uma ferramenta, algo tão
impessoal como martelo. Agora parecia seu, como se ela finalmente o
possuísse, controlas-se-o, e a ideia de compartilhar com qualquer um senão
Con...

Foda-se. Restabeleça-se. Ela roçou o segurança na porta e caminhou


diretamente para a multidão de pessoas contorcendo-se na pista de dança.
Luzes induzindo convulsões piscavam ao ritmo Techno-pop da música
enquanto Sin se aliviava contra um grande homem Bedim. Eles eram uma raça
sensual de pele escura cujos jovens do sexo masculino foram forçados a sair de
suas comunidades há dez anos para experimentar a vida fora. Ao retornarem,
eles receberiam um harém de mulheres, mas até então, eles precisavam
encontrar prazer em outros lugares.

Ele virou-se para ela, seu sorriso masculino, algo que deveria ter
iniciado seus motores. Seu corpo estava cheio de necessidade, mas enquanto
ele alisava seus braços nus, apenas calafrios se seguiram.
— Toque-me — ela resmungou e ele sorriu, mudando suas mãos para os
seios.

Instantaneamente, seu estômago rebelou-se novamente e ela afastou-se


dele, ofegante, orando para que ela não perdesse o resto de seu jantar líquido
na pista de dança. Rapidamente, ela agarrou-se a outro homem e balançou-se
ao redor dele. Ela espalmou sua virilha... e perdeu. Totalmente explodiu
pedaços sobre as calças apertadas de zebra dele. Que, realmente, precisava ser
tirada de sua miséria, porque olá, anos 80 já passaram.

Humilhação balançou-a e ela cambaleou para fora do bar. Sua luxúria


não diminuiu e também tinha fome por Con. Ele vinculara-se com ela depois
de tudo?

Um pensamento horrível a envolveu. Quando um macho Sems


vinculava-se a uma fêmea, eles não poderiam sequer transar com qualquer
outra fêmea além de sua companheira. E se as fêmeas Sems passassem por
algo semelhante? Algo que a fizesse incapaz de nunca dormir com outro
homem?

Sua cabeça nadava com as possibilidades horríveis, ela saltou para um


Harrowgate para UG.

Quando ela saiu, viu Tayla falando com Serena, que segurava um
contor-cido Stewie em seus braços. Sabendo que pelo menos um de seus
irmãos estaria perto, Sin olhou em volta e, como previsto, Eidolon, vestido em
seu usual uni-forme verde, surgiu de uma das salas de exame.

Sin marchou até ele.

— Onde está Con?


Eidolon entregou uma prancheta a uma enfermeira.

— Ele está desintoxicando. Você não pode vê-lo.

— Não me importo se ele está dançando balé em uma cafeteria. Eu


preciso dele.

— Sin, não pode. Você só vai colocá-lo de volta...

— Eu não me importo! — Ela praticamente gritava agora e suas cunha-


das dirigiam-se para ela. Droga. Ela não precisava de mais testemunhas para
sua fraqueza e vergonha. Ela iria encontrar Con sozinha. Ela empurrou,
passan-do por seu irmão, mas ele agarrou seu braço e balançou-a de volta.

— Não vou deixar você perto dele.


— Então você pode me ver morrer — Ela afastou-se dele, incapaz de
suportar seu toque, não porque fazia mal a ela, mas porque ela não conseguia
lidar com carinho agora.

Seus olhos estreitaram-se.

— Do que você está falando?

— Lembra quando eu disse que Con tentou vincular-se comigo? Bem,


parece que ele não apenas tentou. Ele fez.

Por um momento, Eidolon ficou em pé ali, franzindo a testa e então seus


olhos alargaram-se.

— Então você não pode...

— Não. Não posso.

— Merda.

— Exatamente. Agora onde ele está?


Con não esperava ser hospedado em um quarto como se estivesse na
suíte do hotel Hilton ou qualquer outro, mas ele imaginava que os irmãos Sem
iriam pelo menos providenciar aquecimento.

Não tanto.

Aparentemente, temperatura super gelada ajudava a apressar a


desintoxicação do vício de sangue. Como, Con não sabia, mas ele meio que
suspeitava que os meninos estivessem torturando-o e isso estava funcionando.
Ele estava congelando todo. Bem, ele congelava quando ele não estava ardendo
em febre.

Con sentia calafrios no avental que E jogou para ele, ele andou de lá
para cá no quarto, onde toda a mobília esperada foi retirada. Ele estava
acorrentado no chão com uma algema em volta de seus tornozelos que o
permitia andar ao redor, mas somente durante pequenos períodos de lucidez,
como este que vivenciava agora. Normalmente, ele era um animal irritado e
violento, e quando ele sentia o início da fome tomá-lo, ele apertava um botão
de chamada e um dos irmãos, junto com vários assistentes, amarravam-no na
cama, sedavam-no e comprimiam um tubo de alimentação para baixo em sua
garganta.

O sangue humano que era forçado em seu estômago mantinha-o vivo,


mesmo quando a maioria voltava.

Merda, ele estava miserável. Ele olhava-se no espelho do banheiro e mal


reconhecia sua face magra ou os profundos olhos que o encaravam de volta.
Ele estava tão fraco que depois de apenas um par de minutos caminhando ele
precisava descansar, mas então, seu período de lucidez durava somente cerca
de cinco minutos, de qualquer maneira.

Ele olhou para seu relógio. E em cerca de noventa segundos ele voltaria
à insanidade, onde nada além de fome, violência e Sin existia.

Sin.

Ele ansiava por ela. Seu corpo todo se sentia machucado e o centro de
seu peito apertava-se, falando que seu desejo era mais do que físico. Ele sentia
sua falta, não conseguia parar de pensar sobre pequenas coisas idiotas, como o
jeito que ela sorria. Como ela comia. Como sua voz abaixava e suavizava
quando ele a tocava. Santo inferno, ele daria tudo para estar com ela como
uma pessoa normal.

Mas isso nunca poderia acontecer e ele era o maior estúpido por sequer
fantasiar sobre isso. O melhor que ele poderia esperar era ficar limpo e passar
o resto de sua vida governando o clã dampiro. Participando dos rituais
matinais com as fêmeas que ele provavelmente nunca gostaria.

A porta se abriu e Eidolon avançou para dentro.

— Vá para a cama.
Era um pouco cedo, mas Con não tinha energia para argumentar. Ele
deitou firmemente enquanto Eidolon o amarrou... Mais forte do que o normal.

Con encarou.

— O quê, circulação em minhas extremidades é uma opção agora?


Eidolon puxou com força a alça de couro que cruzava sobre seu peito.

— Sin está aqui para vê-lo.

— O quê? — A voz de Con estava sufocada e não tinha nada a ver com a
última amarra que Eidolon apertava sobre seu pescoço. — Não! Você não pode
deixá-la...

— Tarde demais. — Sin moveu-se para dentro do quarto do jeito que ela
sempre fazia, como uma nuvem de tempestade que agitava tudo e todos a sua
volta. Ela estava embrulhada como um presente em couro preto, desde seu top
de zíper e espartilho sem mangas e minissaia combinando com as botas
lustradas que iam até seus joelhos, revelando a extensão torneada das coxas
que ele lembrava-se de tocar. Beijar. Lembrava-se dessas pernas o envolvendo
em torno de sua cintura e descansando nos dois lados de sua cabeça.

Febre caiu sobre ele, suas presas desceram em suas gengivas, sua visão
apontou em sua direção como um olhar de laser e seu corpo inteiro forçou
contra as amarras.

— Saia.
Eidolon obedeceu, mesmo que ele não fosse o receptor pretendido da
ordem de Con. Ele, no entanto, lançou a Con um olhar ameaçador de
advertência antes de fechar a porta atrás dele.
— Wow — Sin disse, suas botas de salto estalando sobre o chão à
medida que ela se aproximava. — Eu não esperava uma festa nem nada, mas
eu imaginei que você seria capaz de lidar com um oi.

— Eu estou falando sério — ele rangeu. — Saia.

— Bem, você sabe de uma coisa? — Ela amarrou seu cabelo para cima
em um nó. — Eu gostaria, exceto que você se ligou a mim ou algo do tipo e eu
preciso pegar emprestado seu pinto por um minuto.

Seu pau pulou em excitamento pela novidade, mas Con franziu.

— Eu não posso ter me ligado a você. O vício teria acabado.

— Mesmo? Então me explique porque tocar outros caras me dá enjoo?


Tocar? Outros caras? Ele sabia que ela precisava fazê-lo, mas ouvi-la
dizendo, saber que ela tentou... Uma terrível pressão comprimiu-se na
cavidade de seu peito e em sua cabeça, e então ele ouviu um tipo de mostro no
quarto...

— Hey — ele piscou com a forte dor aguda em seu peito, viu Sin parada
em seu lado, sua palma aberta e pronta para bater de novo. — Esse grito de
fúria e tentativa de sair de suas amarras não é atraente. — Ela alcançou o cós e
os botões do avental. Ele já estava duro, dolorosamente também, e pronto,
agora ele percebeu o porquê de Eidolon deixar a correia de seu quadril
desamarrada.

— Desculpe-me — ele disse, instintivamente tentando levantar seu


quadril para ajudá-la a arrancar suas calças, mas Eidolon deixou sua perna e
cintura amarradas muito apertadas para qualquer movimento. — Eu quero
afundar meus dentes em sua garganta e beber até que você grite para eu
parar...

Ele tinha acabado de dizer isso? Fan-foda-tástico. Parecia que ele estava
entrando em breves momentos de claridade seguido por divertidos momentos
de insanidade assassina.

Sin ergueu suas escuras sobrancelhas para ele.

— Você realmente sabe como encantar uma garota. — Rolando seu


lábio inferior entre seus dentes, ela voltou para seu quadril, onde seu pau
agora estava livre, o cós de seu avental cirúrgico acomodado
desconfortavelmente sob suas bolas. Por alguma razão ela pareceu hesitante
em tocá-lo.
— O que... — ele engoliu, dentes apertados, por que ele estava em um
momento de existência não homicida e ele queria continuar nele. — O que está
errado?

— Nada. — Ela balançou sua cabeça vivamente e então agarrou seu


eixo. Sentir seu calor, sua palma macia nele o fez gemer e seu sorriso aliviado o
fez gemer de novo.

— Agora, Sin — ele sussurrou. — Antes que eu perca o controle de


novo.

Ela não argumentou. Ela retirou suas calças, com cuidado para ela não
se prender em seus dois coldres da coxa, levantou sua camisa e subiu na cama.
Montada sob seu quadril, ela o guiou para dentro dela.

Oh, sim... Ela estava quente e molhada e seu corpo foi feito para isso.
Feito para ele.

— Sin...

— Shh. — Ela jogou sua cabeça para trás e o conduziu. — Eu não


posso... escutar sua voz. Não nesse momento. — Com cada deslize de seu sexo
por seu eixo, sua bota raspava contra seu quadril. Ele queria tocá-la, pegar um
punhado de sua mecha de cabelo azul escuro e a segurar para seu beijo, sua
mordida.

Ele uivou de frustração, seus dedos enrolaram em sua palma tão forte
que doía. Mas o prazer aumentava, as ondas cresciam amplamente e o
impactava rapidamente enquanto ela se embalava sob ele. Ela bateu suas mãos
em seu peito, cravando-o com suas unhas, agarrando-o à medida que
pequenos choramingos saíam de seus lábios semiabertos.

Isso foi bom, estupidamente bom. Ele fez um grande esforço, tentando
bombear seus quadris, coincidir com o ritmo dela. Seus dedos esticaram-se,
mas tudo o que podia alcançar era o cabo de uma de suas adagas. Se ele
pudesse obtê-las, ele poderia cortar-se livre. Então, ele poderia tê-la do jeito
que ele queria...

— Por favor — ela engasgou. — Goze.


Seu corpo obedeceu, um escravo de seu desejo. Seu clímax foi tão arden-
temente quente que seu prazer era quase doloroso. Sin gritou, seu corpo se
arqueou, um longo e gracioso trabalho de arte. Com o orgasmo (na verdade,
ele achava que ela alcançara uns três ou quatro) diminuindo ela estremeceu e
desabou sobre seu peito. Em seu interior, seu coração foi à loucura, como se
pudesse chegar até ela. Mas ainda algo mais profundo, algo mais sinistro
despertou, a necessidade de cravar os dentes nela e drenar até sua última gota
de sangue. Se ela se inclinasse mais para cima, só um pouco mais, ela estaria
na faixa de sua boca...

— Con?

— Hmm? — Só mais um pouco...

— O que nós vamos fazer?


Fazer? Ele iria prová-la... Isso é o que ele ia fazer. Sin engoliu em seco
alto o suficiente para ele ouvir. Ele engoleria também, grandes goles acetina-
dos... Pare com isso!

— Con? Existe alguma maneira de sair desta ligação?


Ligação. Ligação. Merda! Chocado de seus maus pensamentos, ele
respirou forte. Pesar e dor e cerca de um milhão de outras emoções torceram
sobre ele. Eles estavam realmente fodidos. Seu pau contorceu-se dentro dela
com calor, como se em adição ao silêncio, literalmente. Ela precisava de sexo e
poderia fazê-lo apenas com dele, mas ele estava viciado em seu sangue e
poderia matá-la se não estivesse preso. Eles estavam juntos por uma vida
inteira de, bem... isso.

E isso se assumisse que seu clã não iria caçá-la e matá-la.

— Não — Ele resmungou.


Ela levantou sua cabeça, seus líquidos olhos negros.

— Portanto, para o resto de minha vida, eu estou basicamente


acorrenta-da a você como eu estou a... — Ela parou, mas no mesmo momento,
ele perce-beu o colar em seu pescoço. Era um colar dos wargs, desenvolvido
pelos mesmos demônios que originalmente criaram os Wargs Feast.

— Que. Merda. É. Essa? — Sua voz era tão escura, tão deformada que
ele mesmo mal conseguia entendê-la e Sin sentou-se rapidamente. — Quem
escra-vizou você?

Seus dedos voaram até tocar o colar e então ela puxou-os de volta e os
mexeu para fora dele.

— É apenas uma coleira de cão. Moda atual.

— Não mente para mim, porra! — Ele rugiu. Ele ia matar o filho da
puta. Quem quer que fosse, ele estava morto. Exceto que Con não poderia
matá-lo. Não poderia nem mesmo se alimentar do bastardo com seus próprios
dentes, porque qualquer coisa que fizesse com seu mestre, a dor seria sentida
por Sin.
Sin colocou sua roupa de baixo.

— Con, está tudo bem.

— Besteira de merda de tudo bem! — Deus, ele queria derramar um


pouco de sangue e foi realmente um alívio que não era o de Sin que ele queria
derramar. — Diga-me.

Sin evitou contato com os olhos enquanto ela puxava para cima seu
uniforme

— Raynor.

— Como? — Con perguntou entre os dentes cerrados. — Como ele Che-


gou até você? — Com seu ódio e medo da escravidão, não havia nenhuma
maneira dela se inscrever para uma vida de propriedade por nada menos do
que uma ameaça de morte.

Mas ela não temia sua própria morte... Então ela estava protegendo
alguém.

— Quem ele ameaçou matar, Sin? Um de seus irmãos? Diga-me. Agora.


— Dor nublou seus olhos enquanto ela finalmente se virou para ele e seu
estômago apertou-se. — Eu? É a mim?

— Sable — ela sussurrou. — Sable e seu filho. Talvez você como um


bônus. Raynor sabe. Você também deve saber que a pessoa que explodiu sua
casa e tentou me matar é um warg nascido chamado Lycus. Eu só não sei o
porquê ele queria me ver morta assim.

— Valko. — Ele soltou uma sequência longa e vil de maldições em


várias línguas. — Eu apostaria minha vida que Valko o colocou nessa situação.
Ele a queria morta, para que você não pudesse ajudar a encontrar uma cura
para a doença.

A raiva de sua alma destruída fez seu sangue virar ácido e corroer parte
do que restava de sua lucidez. Ele foi traído pelo Conselho dos Wargs, sua
famí-lia estava em perigo e Sin, que, finalmente, depois de uma centena de
anos, escapara do vínculo de um monstro, agora era vinculada a dois. A raiva
montou, e junto com ela a necessidade de se alimentar, seu olhar vidrou na
garganta de Sin.

Isso precisava acabar e enquanto ele não tinha certeza de como tirar Sin
de seu vínculo com Ray, ele sabia exatamente como tirá-la do que a amarrava a
ele. Porque ele mentiu. Existia uma saída. Seus dedos acariciaram o punhal
que ele conseguiu retirar de sua bainha e deixou escorrer embaixo de sua
perna. Antes de ele cair completamente dentro do buraco negro da sede de
sangue, ele rosnou: — Chame Eidolon. E Luc.

Ela assentiu com a cabeça, fazendo as extremidades de seu rabo de


cavalo balançar contra a tatuagem de seu pescoço que ele sempre quis lamber.
Ele ofegou, respirando através da loucura que o sufocava. Ele não podia deixá-
la sair sem a deixar saber...

— Sin, eu... merda... — Ele respirou fundo, sugando por três vezes
maciças quantidades de ar e então parou de respirar quando seus dedos se
fecharam em torno dele.

— O que foi?

— Aquelas coisas que eu disse... no apartamento. Não quis dizê-los. Eu


tive que libertar você... para que meu clã não a matasse.

Lágrimas nadaram nas profundezas negras de seus olhos.

— Oh, Con — ela sussurrou. — Nós nunca poderemos ficar juntos se eu


não estiver ligada a você, poderemos?

— Não — Ele suspirou.


Sua garganta, cremosa e deliciosa, trabalhou uma dura engolida.

— Então... vincule-se a mim. Faça-o. Para acabar sendo para ambos os


lados.

Jesus. O que ela estava pedindo, apenas... Jesus. Seus próprios olhos
ardiam com a magnitude do que ela acabara de dizer. Depois de toda a luta, ela
estava disposta a entregar-se a ele, para dar a única coisa que ela orara por
toda sua vida: sua liberdade.

Con nunca poderia tirar isso dela.

— Sim — Ele mentiu e não era que ele estava ficando bom nisso? —
Não agora... Estou com fome. Mais tarde. Você precisa... confiar em mim. —
Ele apertou a mão dela, superconsciente de seu pulso sob as pontas de seus
dedos. — Minha...

Ela disse algo, mas ele não sabia o quê. Uma névoa vermelha lavou sua
visão e seu cérebro tornou-se totalmente animal para pensar. Tudo o que
soube depois foi fome e ódio.

†††††
Con estava um desastre. Não importava o que Eidolon fizesse, o
dampiro ficava mais violento e mais fraco. Muito pouco do sangue ficava
dentro e Eidolon estava tão desesperado que ele ainda tentou alimentar o cara
com o sangue de Lore, esperando que a semelhança com Sin tivesse algum tipo
de efeito positivo.

Nada.

Então, em um momento estranho, de um transe de clareza, Con dissera


sobre o novo vínculo de Sin com Raynor e, em seguida, pediu para tirar e
armazenar amostras de tudo, de sangue, saliva e até de seu sêmen. Agora
Eidolon estava do lado de fora da porta do quarto de Con, com Gem, Shade,
Wraith e Kynan, esperando que qualquer coisa que Luc esivesse fazendo lá
dentro acabasse. Con foi lacônico sobre suas razões para a retirada das
amostras e ver Luc, e Eidolon teve que se perguntar se a mente de Con
começava a se perder.

Eidolon esperava que não. Con jurou que ia quebrar o “vínculo que deu
errado com Sin” e que era melhor ser verdade. Quanto ao outro vínculo, aquele
com o lobisomem... Eidolon forçou sua raiva para permanecer branda e lenta
até que Wraith e Lore tivessem alguma informação útil sobre o cara e o colar
que ele usou em Sin.

— Hey. — Falando do demônio, Lore apareceu em um canto, uma pilha


de papéis em sua mão enluvada. — Tenho algumas informações sobre este
chupador Raynor.

Wraith levantou uma sobrancelha.

— Você usou seus contatos assassinos?

— E a Internet. — Lore sorriu. — Sério, eu tenho certeza que a


invenção do ciber espaço foi trabalho do diabo.

Eidolon não duvidava disso.

— Onde está Sin?

— Ela está na creche, ajudando Serena e Runa com as crianças.


A creche era uma nova adição do hospital, ideia de Serena. Ela e Runa
passavam tanto tempo no UG que fazia sentido criar um lugar seguro para os
bebês brincarem. Além disso, fazia a vida mais fácil para os funcionários com
crianças. Serena ajudava quando ela e Wraith não estavam fora em uma caça
ao tesouro, ou apenas uma caça. Runa agora dirigia esse departamento e Idess
ajudava já que ela trabalhava no hospital de qualquer maneira.
Eidolon ainda balançava sua cabeça em espanto cada vez que entrava na
creche para encontrar Wraith ou Shade dando carinho e alimentando os bebês.
Shade sempre adorou crianças, mas Wraith... E nunca pensou que ele veria o
dia em que Wraith estaria confortável e feliz com uma criança frágil em seus
braços.

Em parte Eidolon não podia esperar para chegar a vez de Tayla estar
grávida. Seu instinto Seminus para reproduzir com sua companheira estava
ficando mais intenso e Tay finalmente começava a concordar, agora que sua
irmã gêmea, Gem, carregava seu bebê. Só de pensar em sua companheira
crescendo pelo seu filho deixava Eidolon inquieto e Tayla estava
provavelmente com sorte que ela não estivesse aqui agora, ou ele a teria contra
a parede, fazendo seu melhor para que isso acontecesse.

Gem parou de tocar em uma de suas mechas pretas azuladas para deixar
suas mãos em sua barriga.

— Lore, o que você descobriu?

— Que esse cara é bom em manter suas mãos limpas. — Lore entregou
os papéis para Shade passar ao redor. — Sua foto está aí, residência suspeita,
locais favoritos. Ele é dono de um feirão de automóveis em Pittsburgh que está
dando um bom lucro. Ele tem um monte de inimigos, mas eles fugiram como
moscas. Nada pode ser fixado a ele, mas seu rastro cheira a assassinos.

— E você saberia — Kynan murmurou, mas foi uma gozação bem-


humorada e os lábios de Lore contorceram-se à medida que ele virou-se para o
humano. Eles costumavam ser amargos inimigos e apesar deles não serem
exatamente amigos, eles se deram bem e normalmente se encontravam no
ginásio da UG de vez em quando.

Eidolon virou-se para Wraith, que mexia com seu iPhone.

— Você descobriu mais alguma coisa sobre o colar em volta do pescoço


de Sin?

— Não — Ele disse, sem tirar os olhos do aparelho. — Os demônios que


fizeram isso são, tipo, lendários. Eu não posso encontrar qualquer prova de
que existiam.

— Bem — disse Gem, — até dois dias, nós não tínhamos provas de que
os Wargs Feast também existiam.

Sim, isso foi um choque total. Luc e Kar estavam agora ficando na casa
de Nova York de Shade e Runa até que Tayla e Kynan conseguissem tirar do
Aegis a ordem de morte contra Kar. Até agora, fazer isso tinha uma baixa
prioridade (o Aegis e os militares ainda tentavam decidir se apagar os wargs
era um curso desejável de ação, mesmo que a vacina de Eidolon tenha sido
bem testada e estivesse sendo fabricada com a ajuda de USAMRIID). Para
complicar as coisas, estava o fato de que ambas as agências paranormais
estavam envolvidas por desenvolvimentos preocupantes, aparentemente não
relacionados ao vírus warg no mundo humano.

O rio Nilo corria vermelho e embora os cientistas tenham determinado


que a causa era a floração de algas tóxicas vermelhas, eles não podiam explicar
como isso aconteceu da noite para o dia. Pior, as toxinas estavam sendo
espalhadas pelo vento e os efeitos normalmente leves em seres humanos e
animais (irritações respiratórias) tornaram-se mortais. Naturalmente, graças
ao aparecimento da FS, o Aegis e o R-XR foram rápidos em culpar demônios
também sobre o novo problema.

Shade cruzou seus braços sobre o peito.

— Então o que você está dizendo é que você não sabe como remover o
colar ou libertar Sin de sua ligação com o warg.

— É isso o que eu estou dizendo — resmungou Wraith. Ele odiava não


encontrar o que procurava. Apesar dele ter tido apenas um par de horas, ele
não era o demônio mais paciente do mundo e, com a liberdade de Sin, e,
possivelmente, sua vida em jogo, a ferida de Wraith especialmente se apertou.
— Hoje à noite, Serena e eu podemos espionar em torno da região de Horun
Sheoul. A maioria das lendas sobre os wargs Feast e seus criadores se
originaram lá.

A porta do quarto de Con abriu-se e Luc saiu.

— Está feito — Sua voz estava estranhamente rouca.

— Ah, o que está feito?


Luc olhou para Eidolon e ele podia jurar que os olhos do warg estavam
um pouco vermelhos, sua cor estava definitivamente manchada, um raro sinal
de emoção no warg normalmente imperturbável.

— Ele não te disse? — Quando E balançou a cabeça, Luc praguejou. —


Aquele merda. Ele me obrigou a fazer isso, E.

Alarme soou através Eidolon.

— Fazer o quê? — Ele não esperou Luc responder, abriu a porta, deu
três passos e congelou.
— Anéis de merda do inferno. — Shade correu para a cama de Con, seu
braço brilhando e Eidolon despediu seu dom também. — Que porra é essa que
você fez, Luc?

— Você não pode ajudá-lo — disse Luc. — Eu quebrei seu pescoço


depois de ter empurrado a lâmina através de sua caixa torácica. Pensei que
você soubesse.

Eidolon tremeu com fúria demoníaca enquanto se virava para o


paramé-dico e ele soube que seus olhos tornaram-se vermelhos.

— Por que ele fez isso e, caramba, por que você o ajudou?

— Ele disse algo sobre quebrar uma ligação com Sin e mantê-la segura.
Eu devia a ele, eu devo tudo a vocês por salvarem minha vida. Por salvarem
Kar e o bebê. Então ele me pediu para fazer isso e eu fiz. — A voz de Luc teve
apenas um ligeiro tremor que a maioria não notaria. — Ele me fez jurar que
levaria seu corpo para seu clã dentro de uma hora.

— Oh meu Deus. — Cada cabeça se voltou para Sin, que estava na


porta, a mão sobre sua boca e horror em seus olhos. — Ele não está... Ele não
pode estar...

Lore pegou-a em seus braços quando ela se quebrou em um alto e fino


gemido de tristeza que cortou o coração de Eidolon como uma lâmina de
bisturi. Sua ligação com seus irmãos de raça sempre foi forte, mas ele nunca
teve a mesma ligação física com Lore ou Sin. Mas pela primeira vez, ele sentiu
Sin. Sentiu sua dor.

E quando ele olhou para seus irmãos, ele viu que eles sentiram isso
também.

†††††

— Con! — Sin gritou seu nome várias vezes. Sua garganta doía e seus
olhos pareciam como se fossem sair de sua cabeça a partir da pressão de seus
gritos, mas tudo o que importava era chegar a ele. Ela saiu dos braços de Lore e
correu para o lado de Con, seus pés escorregando no sangue que se juntou no
chão. — Não, Con, não!

Atordoada, apavorada e desesperada, ela agarrou a mão de Lore.


— Traga-o de volta! — Ela empurrou as mãos de Lore para coxa de Con.
Ele ainda estava quente. Havia uma chance. Existia! — Faça isso.

— Eu não posso, Sin. — Lore gentilmente retirou seus dedos para fora
dele. — A lâmina... É seu punhal de osso de Gargantua.

Impossível. Sua mão foi automaticamente para a bainha vazia em sua


coxa. Oh, Deus. Aquele filho da puta tirou-o de alguma forma.

Luc limpou sua garganta.

— Ele fez-me usá-la. Disse que desta forma Lore não poderia trazê-lo de
volta. Algo sobre a adaga ter propriedades mágicas que impedem o dom de
Lore.

Sin mal ouviu a explicação de Luc, mal ouvia alguma coisa além dos
gritos silenciosos em seus ouvidos.

— Seu bastardo!
Ela lançou-se em Luc, mas Shade pegou-a antes que o alcançasse. Ainda
assim, a intenção de prejudicar Luc estava lá e a magia Haven agiu, fazendo a
escrita nas paredes pulsar enquanto a dor rasgava em seu crânio como garras
em seu cérebro. A agonia apagou sua visão e ela bateu no chão com o barulho
de seus joelhos e gritos. Os braços de Shade apertaram-se a seu redor. E então,
através da batida de sua cabeça, ela sentiu os outros, Eidolon, Wraith e Lore,
ajeitando-se ao chão em torno dela. Alguém pegou sua mão. Alguém encostou
em seu ombro. E então alguém... Wraith, ela percebeu, enfiou sua cabeça
contra o peito enquanto seu mundo quebrava em um milhão de peças.
Durante mil anos, Con teve pavor das três noites de lua cheia que o
convertiam em uma criatura temida por humanos e demônios igualmente. Não
era que ele odiasse ser a criatura, ou inclusive odiasse a agonia que
acompanha-va a transformação, o que ele depreciava eram os trinta segundos
de vulnerabili-dade que acompanhavam a troca.

Agora, enquanto abria os olhos para olhar o céu escuro e a lua crescente,
ofereceu uma saudação silenciosa, porque a noite era agora seu novo melhor
amigo, e o dia era seu inimigo ao menos que o ritual se completasse. Instintiva-
mente, pegou um bocado de ar, apesar de não ser necessário. Colocou a mão
sobre seu coração, embora soubesse que não bateria.

Uma bota deu um empurrão na cadeira e ele moveu sua cabeça para a
plataforma cerimonial em busca de seu amigo de infância, um homem nervoso
cujo cabelo estava coberto por um lenço azul.

— Hey — Bom, ao menos sua voz continuava funcionando.


Aed sorriu.

— Como se sente estando em sua segunda vida?


Fazendo uma careta pela rigidez de seus músculos, Con se sentou.

— Sinto-me como quem desperdiçou a primeira.

— Melhor compensar com essa, ayech? — O sotaque de Aed era uma


mistura de escocês, dinamarquês e algo que tinha a metade de um som, como
uma algazarra para Con, que, diferente de seu velho amigo, passou tempo
suficiente com humanos no mundo moderno para cultivar um sotaque que não
soasse como se viesse diretamente de Beowulf.

— Sim. — Con provou seus novos membros, entendendo-os quando se


sentou na plataforma de madeira e pele de veado, mas sentia-se muito
parecido ao que fora antes que houvesse ido à noite. — Luc. O warg que me
trouxe...

— Deram-lhe uma passagem segura. Está longe.


Bem. Homem, esse maldito warg não queria fazer o que Con pedia. Con
foi obrigado a lembrar que Luc devia a ele depois de salvá-lo da avalanche, por
não falar que Con estivera ali para ajudar na cabana, salvando não apenas Luc,
mas Kar e o bebê também. Claro, Luc não aceitara com facilidade. Suas últimas
palavras foram, “odeio você por isso, filho da puta”.

Com fez uma careta de dor pela aguda pontada de fome no estômago.

— E você teve a honra de ver meu nascimento — Um nascimento


vampi-ro. E um que estava obrigado a ocorrer em terreno dampiro. Se Con não
fosse trazido aqui antes do anoitecer, sua vida teria terminado para sempre.
Nada de segundas oportunidades. Que era o que aconteceu com sua filha
séculos atrás.

Con grunhiu em assentimento, Aed agachou-se, arrastou uma espada


através do pulso e o efeito em Con foi instantâneo. Suas presas perfuraram
para baixo, a boca umedeceu-se e um grunhido baixo e faminto elevou-se em
seu peito.

O sangue de um dampiro era necessário para essa parte do ritual, era


crucial para dar uma camada adicional de proteção, algo que o separaria dos
vampiros regulares (imunidade à água benta e capacidade de caminhar ao sol,
que ao que parece se remontava às lendas mais antigas de vampiros). Com
ainda seria suscetível a outras ameaças para vampiros (fogo, decapitação,
estacas de madeira), mas... sim, quem não era?

Con apertou o braço de seu amigo e levou seu pulso a boca. Era bom,
mas nada seria melhor que Sin.

Maldita seja.

O que ela estaria pensando agora mesmo? Desejou ter sido capaz de
dizer a ela sobre a segunda oportunidade dampira, mas tudo o que podia fazer
era tentar contatar Sin, nesses últimos segundos de lucidez que ia voltar. Que
ela era sua, mas desta vez, não haveria nenhum laço de sangue ou de magia ou
colares de vínculos.

Agora já não era dampiro, Con seria desterrado para sempre das terras
dampiras, enviado para a noite com seus irmãos antes dele, como seu primo
Aisling, a quem se supunha deveria ter substituído no Conselho Dampiro.

Já não precisava servir aos dampiros e sentia como se um enorme peso


fosse tirado de seus ombros. Espalmou o peito, onde seu coração já não batia e
sorriu. Filho da puta, isso era o que desejou desde o princípio. O porquê foi tão
irresponsável com sua vida. Oh, desejou divertir-se, fazer tudo o que podia,
mas o medo nunca esteve em jogo.
Porque no fundo, sabia que a morte era somente temporária. Sim
morre-ria, poderia voltar e então estaria livre da vida dampira para sempre.

Excelente.

Atualmente seria governado pelo Conselho de Vampiros, sua história


sobre como foi convertido em um vampiro, seria desconhecida. Inclusive os
vampiros não sabiam nada da segunda oportunidade de um dampiro.

— É o suficiente, aí garoto. — Aed agarrou Con pelo cabelo e afastou-o


de seu pulso. Ele passou a própria língua pela ferida para selar e logo ajudou
Con a levantar-se. — E agora o quê?

— Agora — Con disse sombriamente. — Vou matar um homem lobo e


reclamar minha mulher.

†††††

Sin sentia-se como o inferno e não aparentava muito melhor.

Não desejou deixar o hospital e, Deus, quão louco era que até não muito
tempo atrás fizera todo o possível para evitar o lugar e agora a única coisa que
queria fazer era ficar?

Sua família estava ali. E era tudo o que restara de Con. Era curioso como
perdê-lo a fez se dar conta que, emparelhada ou não, ela estava vinculada a ele.
Ele apropriou-se de seu coração e, agora que tinha ido, este pulsava como um
pacote inútil em seu peito vazio, um órgão perdido e sem razão para bater.

Bom, isso não era de tudo verdade. Sempre ficava a vingança.

Ela não sabia quanto tempo demoraria, mas faria Raynor pagar por sua
dor. A ideia a fez descobrir seus dentes em um tipo de careta semelhante a um
sorriso severo enquanto ia a pé pelas ruas pigmentadas na periferia de
Pittsburgh. Suas chamadas chegaram em forma de dor que irradiava desde o
colar enquanto estava no escritório de Eidolon, aonde passara a noite. Nunca
ficou sozinha, seus irmãos se asseguraram que um deles sempre estivesse com
ela.

Era Eidolon quem estava ali quando chegou a chamada e ficou furioso,
mas enquanto acompanhara-a até o Harrowgate, com as mãos atrás de suas
costas e seu rosto contraído pela concentração, ela viu uma faísca de maldade
em seus olhos que lhe gelaria até os ossos se houvesse pensado que sua mente
estava trabalhando contra ela.
— Deixe-nos saber sua localização — ele dissera. — Leve seu tempo
para chegar ali e tente que Raynor exponha seus planos genocidas.

— Não entendo...

— Apenas faça — Ele enfiou-a no Harrowgate, deixando-a


amaldiçoando e quase chorando, de novo. Não por causa de Eidolon, mas sim
porque tudo parecia lembrar Con. O Harrowgate, porque ela esteve ali com ele.
O hospital, porque ele trabalhara ali. Os jeans, porque ele foi morto vestido
com eles.

Oh, Deus.

Desesperada para não perdê-lo, pediu que ele completasse o vínculo


com ela. E em seu lugar, ele suicidara-se e não precisava de um neurocirurgião
para saber o porquê. Ele não desejou que ela perdesse sua liberdade. Foi tão
maldita-mente insistente que ninguém ia ser dono dela outra vez, que nunca
seria o único provedor da única coisa que ela precisava para sobreviver e ele
levou a sério. Ele fez o último sacrifício para honrar o que ela dissera.

E ela nunca teve a oportunidade de dizer a ele que a razão por que
queria o vínculo não era porque não tinha outra opção. Era porque o amava.

Ela. O. Amava.

Isso era algo que nunca pensou que pudesse acontecer e dera-se conta
muito tarde. Se pudesse voltar o tempo, a seu apartamento, ela mudaria tudo.
Ela seria dele, ele seria seu e não estaria morto. Era possível, inclusive, que um
vínculo mais forte com Con houvesse evitado que Raynor tivesse qualquer
poder sobre ela.

Era tão idiota!

Alimentada pelo ódio e o remorso, parou diante da entrada com batedor


metálico do depósito de sucata onde o colar a levara. Raynor estava dentro,
não tinha dúvida disso. Depois de olhar a seu redor para se assegurar de que
ninguém a via, tirou de sua mochila o telefone celular que Shade lhe dera e
discou para Eidolon.

— Estou aqui. É um tipo de depósito de automóveis fora de Pittsburgh,


perto do Harrowgate Gerunti — Sin não tinha ideia porque algumas das portas
estavam nomeadas em honra a demônios, mas então, para ela não importava.
Claro, seria bom encontrar uma porta Seminus.

— Bem. Tenha cuidado — Eidolon falou antes que ela pudesse dizer
algo mais.
Abriu a porta irregular e avançou entre a sucata de carros. Movimento a
rodeavam, gente olhando desde os recessos escurecidos e posições ocultas.
Não tinha dúvida de que eram varcolac, patrulhando por inimigos com
cachorros do depósito de sucata.

Encontrou Raynor perto do maleiro de um Corvette destruído. A fumaça


de um cigarro flutuava pelo ar desde sua mão e sorria enquanto tomava uma
tragada. O ódio rodava sobre ela com tal intensidade, que picava sua pele.

— Estou aqui seu puto — ela vociferou.


Ele deixou escapar um bocado de fumaça.

— Demorou muito tempo.

— O que quer? E por que estamos em um maldito depósito de sucata?

— Porque sou o dono.


Ela olhou a seu redor, abrangeu os pedaços de merda oxidada dos
carros, os ratos que deslizavam rapidamente e os pneus podres.

— Deve estar muito orgulhoso. — Ele lhe deu uma bofetada tão forte
que seus dentes se sacudiram e pulsaram os olhos, mas negou-se a reagir,
exceto para dizer com escárnio: — Deve ter escutado como gosto dos jogos
prelimina-res. — Exceto que ela não gostava. Até Con. Oh, Deus. Seus joelhos
quase dobra-ram e teve que bloquear a fim de se manter em pé.

— Espero que goste muito, porque com sua boca, consegui-los-á sem
parar.

— Que bom — ela disse secamente. — Porque me encantam os homens


que tem que demonstrar sua masculinidade batendo nas mulheres. Bate em
crianças e chuta gatinhos também?

Ele começou a rir.

— Você não é mulher. Você é uma abominação mestiça que ainda tem
sorte de não ter sido detectada por um Purificador.

Os Purificadores eram demônios (de qualquer espécie) que caçavam


mestiços por diversão ou dinheiro, ou simplesmente por um retorcido sentido
de responsabilidade. No mundo dos demônios, todos os mestiços com sangue
humano mereciam morrer. E ela encontrou Purificadores antes. Apenas
matara-os antes que eles a matassem.

— Então, é por isso que estou aqui? Para que possa usar esse fenômeno
mestiço como saco de boxe?
— Vou levar-lhe ao povo warg que visitou com Conall. Vai infectar
alguns pricolici com algo que transmita aos outros.

A bochecha dela palpitava pelo seu golpe e ela verificou um dente com a
língua.

— É completamente estúpido? Já passamos por isso antes. A última vez


que fiz isso o vírus sofreu mutação. O que faz você pensar que este vai ser
diferente? Poderia terminar matando a seu próprio povo.

Raynor deu uma traga em seu cigarro e Sin de repente se perguntou se


os wargs transformados teriam câncer de pulmão. Esperava que sim.

— E eu te disse: não se os pricolici forem contidos. A versão warg de


Dragaica acaba de começar. — Ao que deve ter sido um olhar de “que diabos é
isso” na cara dela, ele rodou seus olhos. — O festival de verão Romeno — ele
disse, como se ela devesse saber tudo sobre as festas da Romênia. — Muito
importante para os wargs nascidos. Na cidade que visitou com Con acontecerá
a maior reunião de pricolici do ano e agora que a vacina contra a FS começou,
há ainda muito mais razões para celebrar. Quase todos os pricolici do mundo
estarão ali. — Raynor fez mais uma pausa para tomar outra tragada e Sin
sentiu que a bílis subia até a garganta, limpando-a asperamente com
repugnância e ódio. — Vamos colocar barras na porta, eles adoeceriam e
morreriam dentro dos limites de suas próprias paredes. A beleza disto é que
mesmo que nem todos os pricolici sejam destruídos, a raça será debilitada,
dispersa ao vento e os varcolac finalmente se converterão na espécie warg
dominante.

— Você — ela disse com a voz rouca, — é um doente filho da puta.


Raynor deu de ombros.

— Segundo o olho do espectador. — Franziu a testa e, ao mesmo tempo,


Sin captou o som de... uma briga? Silenciada... e vinda de várias direções, mas
definitivamente a luta continuava. Amaldiçoando, Raynor jogou-a de bunda no
chão, agarrou o braço de Sin e arrastou-a para a parte de cima do depósito de
sucata.

Do nada, apareceu Wraith, bloqueando a saída de Raynor.

— Hey. Aonde vai? — A mão de Ray tencionou-se sobre os bíceps de


Sin. — Um de seus irmãos, suponho?

— Sim. O mau. Oh, espera, todos são maus. — Ela sorriu. — Está tão
fodido.
Ray grunhiu para Wraith.

— Dá-se conta que se me machucar ela sofre?

— Sim — Wraith disse arrastando as palavras. — Uma merda, porque


gostaria de lhe moer a murros.

A seu redor as sombras moveram-se e delas, o resto de seus irmãos,


além de Kynan, Luc, Tayla e um tipo que ela pensou que poderia ser um
Guardião, rodearam-nos. Pensou era a palavra chave, porque o homem alto e
loiro pare-cia-se para caramba com um vampiro e não acreditava que o Aegis
empregava sanguessugas. Apesar de supor que se eles poderiam ter um meio
demônio cuidando de uma célula, um vampiro não poderia ser um grande
problema.

Sin dirigiu seu olhar para Eidolon. Junto dele encontravam-se duas
mulheres Judicia, com sua pele verde inquietamente luminosa à luz da lua.
Logo ela ouviu o clique das armas sendo preparadas e droga se ela não quase
teve um ataque do coração.

Homens de preto com uma equipe da SWAT apareceram através do


recinto como formigas. Esse seria o R-XR? Aqui? Trabalhando com demônios?

— O que está acontecendo? — Raynor praticamente gritou. — Estão


matando minha gente!

— Apenas os que nos atacam — Kynan disse. — O resto está sendo deti-
do. Se forem membros produtivos e inocentes da sociedade, serão liberados.

Shade bufou.

— Algo me diz que muitos deles vão apodrecer em algumas instalações


de campos militares.

— Libere-os e eu libero Sin — Raynor disse com ênfase e puxou-a


brutal-mente contra ele.

— Sinto muito amigo — Eidolon disse friamente, — mas o momento de


negociar passou quando colocou esse colar nela.

— Se me tocar...

— Sei, sei, ela morre, bla, bla — A voz de Con chegou atrás dela e Sin se
virou, ou fez o melhor que pode, já que ainda era sustentada por Ray.

— Con? — Ela gaguejou.


Ele moveu-se como um fantasma através do labirinto de veículos, colo-
cando a mão ao redor do pescoço de um homem brutalmente golpeado, um da
aldeia warg e das terras dampiras.

— O quê? Pensou que poderia se desfazer de mim tão facilmente?


Ela sorriu tão amplamente que lhe doía e as lágrimas brotavam de seus
olhos, e vá, era uma torneira ultimamente.

— Como? Oh, Deus meu, como está aqui?


Tinha algo diferente nele. Continuava sendo tão sexy como sempre, mas
talvez um pouco mais pálido. E a maneira de se mover... Antes era como uma
pantera em movimento. Agora, era como uma pantera fantasma... silenciosa,
mas elegante e mortal. Como se os mais potentes, mais poderosos elementos
fossem destilados, deixando nada mais que a graça crua e uma presença
assustadora. Deus era tão ardente. Seu desejo sexual, que esteve tão morto
como ela acreditava que ele estivesse nas últimas vinte horas, rugiu de novo a
vida.

— É uma longa história. Quando chamei Eidolon faz uns minutos, disse
que estaria aqui, então aqui estou. — Ele empurrou o macho para frente. —
Trouxe algo. Este é Valko, se não se recordam. Ele vai fazer com que Lycus
pare de atacar. — A mão de Con bateu na garganta do warg. — Não é assim?

Valko grunhiu.

— Não, não o farei. E se me matar sem um desafio formal, enfrentará


uma sentença de morte dampira.

— Vampira. E não vou matar você. — Con sorriu, as presas


intermitentes pareciam um pouco maiores que antes. — Preciso que viva para
que possa tomar qualquer castigo que me seja imposto, e a Wraith, e a Eidolon
por manter Sin fora das mãos do Carceris. — Ele olhou para Eidolon. — Aos
voluntários se permite fazer isso, certo?

Eidolon sorriu.

— Diabos, sim.

— Nunca serei voluntário — Valko gritou e Eidolon deu de ombros.

— Será se quiser sua vacina FS.

— Já tenho.
— Tem uma injeção de B-1229. Ideia de Con. — Ele deslizou um olhar de
aprovação para Con. — Bem pensado homem.

— Obrigado. — A voz de Con era agradável, como se ele não estivesse


agarrando um warg enfurecido em meio a uma situação tão tensa que o ar
parecia pesado. Empurrou Valko ao chão e fez um gesto para Raynor. —
Liberte Sin. Esta é sua última advertência.

— Não o farei. E se você me colocar uma condenada injeção de


vitamina, sua irmã morre comigo.

— Você, infelizmente, recebeu a real. — Eidolon deu um passo para


frente com os demônios verdes. — E gostaria que conhecesse minhas outras
irmãs, Omira e Ravan.

Certo... Sin lembrava algo sobre Eidolon ter crescido com Omira, mas
Ravan nasceu muito tempo depois que ele abandonou a casa.

Raynor bufou.

— Pareço com o capitão Kirk? Porque já disse a Sin que não falo com
demônios. Especialmente os verdes e feios como um rabo.

Omira riu curiosamente um som formoso, dado que na realidade ela


não era tão atrativa.

— Meu irmão estava certo. Vou desfrutar disso. — Procurou dento de


sua maleta de couro e tirou uma corda fina dourada em forma de oito — Uma
acusação foi feita contra você por... bom, todos os presentes. A acusação é de
conspiração para cometer genocídio. Considero você culpado.

— O quê? — A voz de Raynor era estrangulada. — Não pode fazer isso!


Quem é você?

Eidolon deu uns tapinhas no ombro de Omira.

— Ela é uma executora de Justiça. Sem dúvida pode fazê-lo.


Os olhos de Ray quase saíram de sua cabeça.

— Não. O Carceris deve me prender primeiro e depois...

— O Carceris é chamado apenas para capturar aqueles que têm


encargos pendentes, que são procurados para serem interrogados, ou que
devem ser custodiados durante uma investigação ou julgamento. — Ela

29 Vitamina do complexo B.
moveu-se para ele. — Porque eu escutei sua conspiração, tenho a autoridade
de ser juiz, júri... e carrasco.

Alguém deve ter dado um sinal silencioso, porque seus irmãos e Kynan
se precipitaram sobre Ray e Con arrancou Sin das garras do warg. Ele
sustentou-a com tanta força que apenas poderia respirar, mas não se
importava. Não impor-tava. A única coisa que importava era que ele estava
vivo.

— Tenho-a — ele murmurou contra seu cabelo. — Sempre a terei.


Ela teria se derretido ante suas palavras, mas Raynor estava sendo
machucado e em resposta doíam seus braços, as articulações sentiam-se esten-
didas, seus braços e pernas feridas quando os meninos tiraram Raynor do
chão. Era óbvio que se estavam contendo, tentando ser amáveis, mas Ray
estava lutando contra eles.

— Se me matar, ela morre — ele gritou, e sim, isso era uma


preocupação.

— Apenas olhe — Con disse. — Cada membro da Judicia usa restrições


similares as que têm o Carceris. Anulam toda a magia e todas as habilidades
sobrenaturais e naturais. Enquanto ele estiver usando a corda...

— O vínculo com ele será quebrado — ela terminou, em um suspiro


emocionado. De alguma forma, Ray separou-se e colocou-se de pé, e bem, ela
estava farta disso. — Garotos? Machuque-o! Posso suportar.

Lore dobrou o braço de Ray para trás dele e, sim, doía


endemoniadamen-te. O grunhido de Ray foi cortado e por um instante ela
pensou que um de seus irmãos tinha lhe dado um soco na garganta. Mas
quando, pelo canto do olho, viu Lycus sair detrás de um guindaste e que jorros
de sangue brotavam desde a garganta de Raynor, a respiração converteu-se em
um nó de fogo em sua pró-pria garganta e deu-se conta do que havia
acontecido.

Ela e Raynor foram assassinados.


Con não tinha certeza do que acontecera. Tudo o que ele sabia era que
Sin estava morrendo, enquanto Eidolon e Shade tentavam salvar Ray, suas
dermoires brilhando tanto que Con precisou entrecerrar os olhos. Wraith,
Lore, Tayla e Kynan foram, presumidamente, atrás do assassino.

— Use as algemas — ele gritou para Omira, que apressadamente


enrolou um dos punhos de Ray com o fio de ouro. Mas foi tarde demais. Sin
convulsio-nou, deu um último gorgolejo e então amoleceu. Os sensores
vampiros de Con notaram o silêncio repentino com o cessar das batidas de seu
coração, a falta de vibração enquanto seu sangue acumulava nas veias e terror
destruiu tudo, exceto a necessidade de salvar sua vida.

Gentilmente, ele a baixou ao chão e sabendo que seu destino estava liga-
do ao de Ray, ele começou a CPR30. Maldições frenéticas e ordens berradas
vie-ram de Shade e Eidolon enquanto eles trabalhavam em Ray, mas mesmo
de onde Con estava de joelhos na terra, ele podia ver que o warg não estava
voltan-do. Não da forma como sua cabeça foi quase despojada de seus ombros
por algo que parecia como um bumerangue afiado.

O colar ao redor do pescoço de Sin bateu para fora, indicando uma total
desconexão com Ray, mas o dano estava feito.

Não vai desistir. Nunca desistirá.

— Con, nós a temos. — A mão brilhante de Eidolon veio abaixo no


ombro de Sin enquanto Shade espalmou a barriga dela.

Con sentiu o poder de Shade indo fundo, grudando os órgãos e


forçando-os a trabalhar.

— Porra — ele murmurou. — Eu posso fazê-los funcionar, mas se eu


paro...

— Eles param — Con sussurrou. O coração de Sin estava batendo, seus


pulmões estavam respirando, seu fígado estava filtrando. Mas não por conta
própria.

30 Massagem cardiorrespiratória.
— Talvez eu possa transformá-la em vampiro. Talvez eu possa forçá-la a
beber. — Mesmo enquanto ele dizia isso, ele sabia que estava agarrando-se a
palhas. Demônios não podiam ser transformados e mesmo se sua metade
humana permitisse isso, a chance de funcionar em alguém que havia morrido
era praticamente zero.

Aos pés de Sin, Lore bateu seus joelhos, um soluço quebrando do fundo
de seu peito.

— Sin, maldita seja. — Ele tirou sua luva e agarrou seu calcanhar. —
Isso funciona somente se a morte é natural, mas uma vez que a morte do warg
foi e com vocês ajudando...

— Talvez — Shade grunhiu.


Sim, a morte de Ray não foi exatamente natural, mas Con entendeu o
que Lore estava dizendo. O warg foi morto por uma arma normal. Ele não
morreu por uma maldição ou feitiço ou doença mística. A morte de Sin veio
por conexão mística... a uma morte natural. Filho da puta. Havia formas de
muitos Se’s e variáveis aqui.

— Salve-a. — Ele agarrou a mão dela tão forte que se ela pudesse sentir,
machucaria. — Por favor.

O por favor, não era necessário e ele sabia disso. Esses caras dariam
suas próprias vidas se significasse salvar a dela. Mas Con imploraria por
qualquer coisa nesse momento.

Sob sua mão, os sinais de vida estavam lá (ela tinha um pulso,


batimentos cardíacos e seu peito subia e descia), mas era tudo artificial,
forçado por seus irmãos. Lore estava ofegante, suor escorrendo de suas
têmporas, dentes rangendo juntos.

— Vamos lá, vamos lá — Eidolon murmurou.


Lore gemeu.

— Tão... perto...
Impulsivamente, Con inclinou-se e beijou-a. Era clichê e piegas e muito
Bela Adormecida, mas ele precisava que ela lutasse. Sentisse.

Carinhosamente, ele fechou sua boca na dela. Nada aconteceu, mas ele
não estava prestes a desistir. Ele cutucou seus lábios com a língua, acariciou-os
gentilmente primeiro e então mais urgentemente. Alguma coisa queimou em
seus olhos... Lágrimas? Sim, inferno sangrento, ele estava chorando como um
bebê e logo o gosto de Sin misturou com o sal de suas lágrimas.
Recusando-se a quebrar o contato, ele puxou-a em seus braços e balan-
çou-a, mesmo enquanto a beijava. Mesmo enquanto seus irmãos iluminavam o
ferro-velho com o poder de seus dons.

E então... ele sentiu isso. A profunda agitação dentro. Ela contorceu-se.


Uma vez. Duas vezes. E então ela ofegou em sua boca e seus olhos negros
voaram abertos.

Gritos ensurdecedores vinham de todos os lados, mas Con estava em


silêncio enquanto a puxava mais apertado em seu peito. Ele nunca a deixaria ir
novamente. Nunca. Os braços dela vieram ao redor dele e, embora ela não
dissesse, ele sabia que ela sentia da mesma forma.

†††††

Sin sentia como se tivesse lutado um par de rounds com um demônio


Gargantua. Tudo doía, mas principalmente suas costelas e garganta.

Garganta. A de Raynor não foi rasgada?

Gemendo, ela finalmente se afastou de Con. Bem, ela tentou, mas ele
segurava-a tão apertadamente que ela teve que sorrir.

— Con? Você está me sufocando.

— Se você estivesse sendo sufocada, você não poderia falar — Mas ele
afrouxou o aperto o suficiente para ela olhar para cima para a parede de
pessoas em pé ao redor deles enquanto Con a segurava no chão.

— O que aconteceu?

— Você meio que morreu31. — O anúncio foi entregue com certa indife-
rença, mas a tensão em sua expressão disse que ele não estava tão
desinteressa-do quanto soava. Ah, o grande e mal Wraith esteve preocupado
com ela. O que significava que as coisas foram realmente terríveis. Uma
sensação de afunda-mento fez o intestino dela despencar para seus pés. —
Lore? Você...

— Sim. Mas se não fosse por E e Shade, eu não poderia ter feito isso.

31 Em inglês é “You sort of bit it” e bit também pode ser usado para cair morto especialmente em combate.
Oh, merda. O dom de ressurreição de Lore vinha com um inferno de
efeito colateral. Ele passaria dias sangrando, contorcendo-se em sofrimento, e
era por isso que ele raramente o usava.

— Lore, eu...

— Não. — Ele agachou-se ao lado dela e de Con, e deu a ela um sorriso


que não tinha nenhum arrependimento. — Nós tivemos tanta culpa entre nós,
sentia como se devêssemos um ao outro tanto. Hora de deixar ir. Eu fiz o que
fiz porque eu amo você. Você faria o mesmo por mim. Vamos colocar o
passado atrás de nós para o bem.

Um soluço enorme escapou dela e Con a liberou para que ela pudesse se
jogar nos braços de Lore. Ela segurou-o como não fizera desde antes de suas
transformações, desde antes deles descobrirem que eram demônios.

— Eu amo você — ela sussurrou. — Eu não acho que tenha dito isso
antes.

— Você não precisou — Ele segurou-a por um momento longo e então a


passou de volta a Con.

— Eu sinto-me como uma bola de futebol — ela murmurou, enquanto


enxugava os olhos. Mas ela não mudaria nada. Exceto o assunto, longe de
tantas lágrimas. — Então, o que aconteceu com Lycus? Onde ele está?

Wraith bufou.

— Entre um Chevette e um Mustang. E sobre o capô de um


Thunderbird. E por toda a grade de um...

— Entendi — ela disse, segurando sua mão. Não muito a deixava enjoa-
da, mas ser trazida de volta da morte parecia estar causando estragos em seu
estômago.

Wraith fez um gesto para Valko, que agora se sentava acorrentado a


uma velha picape Ford.

— Eu consegui que ele falasse. Ele admitiu pegar o Lycus para matar
você. Supôs que o pricolici ia perdoar seus crimes e colocá-lo no Conselho
Warg se ele fizesse. Eles estavam também indo tentar suborná-lo para sair do
serviço de assassinos do novo mestre.

— É por isso que pegar meu anel não era um problema — ela refletiu. —
Ele queria isso, mas provavelmente imaginou que de qualquer forma ele estava
fazendo um bom negócio. Babaca. — Ela esperava que a punição que Valko
voluntariar-se-ia fosse realmente dolorosa. — Como vocês conseguiram o R-
XR aqui?

— Arik — Kynan explicou. — Uma vez que tínhamos sua localização, o


R-XR bateu nos satélites do governo para determinar contra quantos inimigos
lutaríamos e uma vez que havia uma dúzia, eles chamaram uma equipe local
para nos apoiar.

Tayla estalou seu arco na bainha de seu cinto e atirou os braços em volta
da cintura de Eidolon.

— Eu teria ligado para a célula local do Aegis, também, mas o Aegis


ainda está ateando fogo por causa do que aconteceu no Canadá com os wargs.
Wraith apagou os guardiões, mas o Comando ainda sabe que alguma coisa veio
abaixo para causar lesões e um Aegi morto. Não acho que seria sensato dar a
eles uma chance de vingança.

— Isso significa que Arik está limpo e pode conseguir o inferno para
fora de minha caverna? — Shade perguntou e Kynan assentiu.

— Eles não podiam pagar sua perda de qualquer forma.


Luc separou-se da multidão e andou a passos largos até Con. Com uma
maldição gutural, ele arrastou-se e socou-o no ombro.

— Isso, seu babaca, é por você me fazer matá-lo e não se incomodar em


mencionar que não ficaria morto.

Sin socou Con, também. No mesmo lugar. Talvez vampiros se


machucas-sem facilmente.

— Sim. Teria sido bom saber.

— Desculpe — ele disse timidamente e então ele a beijou, longo e duro,


e ela perdoou-o. — Eu prometo deixar por sua conta.

— Cara. — Luc recuou, mãos para cima. — Você não precisa deixar por
minha conta.

— Então — Lore disse, enquanto enfiava as mãos no bolso da jaqueta.


— Eu odeio ser um desmancha prazeres, mas é melhor eu ir para casa.
Oh, merda. Sin odiava o que ele precisava lidar agora.

— Eu tomarei conta de você. Idess não precisa ver pelo que você vai
passar — Além do mais, Sin foi a enfermeira de Lore em recuperações anterio-
res.
— Eu concordo. — Lore olhou para cima para a noite sem nuvens e
suspirou. — Mas você a conhece. Ela vai querer estar lá.

Claro que sim. Sin percorreria os poços de veneno do Sheoul leste para
ser capaz de cuidar de Con se ele estivesse sofrendo.

— Eu tenho uma ideia melhor — Eidolon disse. — Venha para o


hospital. Todos nós vamos cuidar de você.

Wraith deu um aceno entusiasmado.

— E é liberal com os analgésicos.

— É verdade — Shade concordou.

— Nós não vamos aceitar um “não” como resposta. — Eidolon disse,


usando sua voz de “médico sem brincadeiras”, que de alguma forma ainda
soou com compaixão.

Lore ficou lá em pé, emoção brincando em seu rosto, provavelmente


assim como no dela. Ela permitiu seus irmãos entrarem antes que ela
soubesse, mas ele esteve sozinho por tanto tempo que, claramente, ainda não
se acostumara com a maneira como eles se uniam tão ferozmente enquanto
lutavam.

— Tudo bem — ele disse asperamente.


Kynan gritou para os caras do R-XR para envolvê-los e gesticulou para
Tayla e o vampiro Guardião, que participaram da reunião de wargs.

— Vocês caras vão à frente — Sin disse. — Con e eu estaremos no


hospi-tal mais tarde.

— Tem certeza? — Shade perguntou e Con assentiu.


Sin podia dizer que os caras queriam argumentar, mas eles saíram com
as irmãs de Eidolon, deixando-a sozinha com Con.

Relativamente sozinha, de qualquer forma. Kynan, Tayla e os caras


militares ainda circulavam pelo ferro-velho, mas eles não pareciam prestar
qualquer atenção a eles.

Con abriu a boca para dizer algo, mas Sin falou primeiro.

— Sinto muito — ela disse. — Eu não deveria ter lutado quando você
queria se vincular comigo no apartamento. Eu deveria ter feito isso. Eu deveria
ter...
Con colocou seu dedo nos lábios dela.

— Shh. Você passou a maior parte de sua vida pertencendo a alguém e


pertencer a mim era a última coisa que você precisava.

Ela não podia deixar de sorrir.

— Ainda assim, foi estúpido. Eu deveria ter confiado em você então.


Mas, Con, você não precisava se matar. E como você se tornou um vampiro?

— Não posso dizer.

— Não pode, ou não vai?


Seu olhar brilhava como pedaços de diamantes na luz da lua, segurando
o olhar dela com sua intensidade.

— Não posso.
O primeiro instinto de Sin deveria ter sido ficar irritada, mas ele pediu a
ela que confiasse nele e ela teria que confiar que se ele pudesse contar a ela, ele
faria. Em qualquer caso, a coisa importante era que ele estava lá, não morto.
Bem, tipo não morto.

— Então... Sem mais dependência de sangue?

— Não.

— Você ainda tem que fazer a coisa com seu clã?

— Não.

— Mas você ainda precisa se alimentar? Como um vampiro normal? —


Diga que sim.

— Sim.
O coração dela deu uma batida feliz.

— Você precisa se alimentar em breve?


Suas presas brilharam.

— Oh, sim — A forma como ele disse isso a deixou trêmula. Derretida.
Totalmente com calafrios.

— Então talvez nós devêssemos ir?


— Boa ideia. — Ele a pegou, puxou-a contra ele. — Eu amo você, Sin.
Eu nunca quero perder você de novo.

— Você não vai — ela sussurrou. — Porque eu amo você também. E isso
é algo que eu pensei que nunca aconteceria.

— Então vamos e eu vou mostrar a você exatamente o quanto eu amo


você.

†††††

Já que Sin não tinha uma casa e a de Con foi destruída (e porque não
havia nenhuma maneira no inferno que ele fosse levá-la de volta para o flat em
Londres) Con os registrara em um hotel cinco estrelas em Manhattan.

Ele reservou o quarto pela noite, mas depois de seis horas de prazer (na
cama, no banho, no sofá, no chão) eles se dirigiram ao hospital para checar
Lore.

Como Sin predisse, ele estava em sofrimento. Ele parecia ter sido
tortura-do por dias, mas graças aos remédios, ao dom de Shade e à vigília de
Idess na beira da cama, Sin disse que Lore não parecia metade mal do que de
costume.

O que era fodidamente assustador, dado que Con viu atropelamentos


em melhor forma.

Sin e Con não ficaram por perto; sem dúvidas que Lore não precisava de
curiosos. Eles escorregaram para fora do quarto de Lore e dirigiram-se para o
Harrowgate. Ele planejava levá-la para um café da manhã cedo e então eles
iriam ficar na casa de Shade e Runa. Era um arranjo temporário até que ele e
Sin pudessem encontrar um lugar para viver, mas Shade e Runa eram
generosos o suficiente para deixá-los na cabana por quanto tempo eles
quisessem. Além do mais, Luc e Kar estavam ficando lá, também, então o lugar
já estava em uso.

O Hotel do Horror, como Wraith chamava a casa de Shade.

— Vampiros, demônios e lobisomens hospedados... e então eles


compre-enderam, e... — Serena o arrastara para longe, sussurrando algo em
seu ouvido que o fez soltar um rugido erótico e então eles se foram.

Quando Con e Sin se aproximaram do Harrowgate, ele piscou e um


garanhão puro-sangue saiu, espalhando funcionários e pacientes. Em cima do
cavalo estava um macho enorme de armadura de couro duro. Seu cabelo era
curto, marrom avermelhado, e seus olhos eram tão negros quanto os de Sin.

— Que porra você está fazendo? — Eidolon gritou, mas o grande macho
girou a cabeça e focou o olhar em Sin com tanta intensidade que Con
endureceu.

— Por que ele está olhando para você assim?

— Eu... ah... — ela escorregou um olhar tímido. — Eu meio que dormi


com ele uma vez.

Con respirou fundo e tentou conter seu desejo de rasgar a garganta do


cara do cavalo.

— Onde você o encontrou? AmorDemoniaco.com?

— Hey, isso não é engraçado. Eu conheço pessoas que usam o serviço de


encontro de demônios.

O hospital inteiro pareceu ficar parado, observando e esperando, e que


diabos acontecia com Sin e caras em cavalos de qualquer maneira?

— Bem, quem é ele?

— Guerra.
Con olhou para ela.

— Guerra. Apenas... Guerra. Que tipo de nome é esse? — Não, não com
ciúmes de todo sujeito musculoso e bonito.

— Sim, você sabe, o Guerra original. O Segundo Cavaleiro do


Apocalipse?

Con quase engoliu a porra da língua. Todo o mundo na Emergência se


embaralhou para trás. Mesmo Eidolon deu um passo para trás quando o cara
desceu do cavalo. Cristo, em pé, o cara tinha malditamente perto de dois
metros e treze.

— Sin — ele disse em uma voz impossivelmente profunda. Ele se


aproxi-mou dela, inclinou-se para beijá-la na bochecha e Con eriçou.

— Cavalo grande — Con saiu do chão. — Compensando muito?


O cara endireitou-se, atirou a Con um sorriso divertido (o desgraçado
tinha alguns dentes seriamente brancos) e voltou para Sin.
— Eu preciso do objeto que meu irmão deu a você.

— Aquela ferramenta com as flechas dissolvendo era seu irmão? — Sin


cavou a peça de ouro em seu bolso. — É isso? Essa moeda?

— Sim — Ele pegou-a e Eidolon sugou em uma respiração estrangulada


quando ele somou dois mais dois.

— Um Selo. Deuses, isso é um Selo.


Con sentiu que o sangue drenou de seu rosto.

— Um Selo quebrado. — Cavalo branco. Arco. Puta merda. —


Conquista. Seu irmão é Conquista.

— Seu nome real é Reseph — Guerra disse, — mas ele também é conhe-
cido como Peste em algumas interpretações dos Quatro Cavaleiros do Apocali-
pse.

A voz de Eidolon estava atordoada, sem entonação.

— Ela de sangue misto que não deveria existir, carrega com ela o
poder de espalhar a praga e a pestilência. Quando a batalha quebrar, a
conquista é selada. Isagreth 3:17, Daemonica.

Guerra mudou e sua armadura de couro rangeu alto no contrário


silêncio da Emergência.

— É o que estava gravado na parte de trás desse Selo.


Lentamente, Sin puxou seu braço direito para fora da jaqueta e ergueu a
manga para revelar o glifo circular que se abriu na cabana de Rivesta. A cicatriz
que passava sobre ele era uma réplica exata da borda quebrada do Selo.

— Eu sou a razão pela qual quebrou — Sin disse asperamente.

— Sim. Você é o que chamamos de agimortus, um catalisador de sortes.


Suas ações colocaram em movimento um evento que causou a quebra do Selo
de meu irmão.

— Espera — Con disse. — Então porque ele estava tentando matá-la?


Ele estava lá quando minha casa explodiu... Ele tentou atirar nela.

— Nós todos estávamos tentando matá-la — Guerra disse. — Sem


ofensa a você, Sin, mas nós queríamos prevenir que o Selo se quebrasse. Ao
contrário de muitas interpretações religiosas, nós não somos nem bons nem
maus até que o Selo quebre.
— E então?

— Então é hora de se curvar diante de seja lá que Deus você acredite.


As sobrancelhas delicadas de Sin sacudiram em uma carranca.

— Por que Peste me salvou dos assassinos em Montana, se ele estava


tentando me matar?

— Naquele momento, o Selo já havia quebrado. Nesse ponto, sua vida


ou morte não era importante, mas ele queria que você tivesse a moeda.

— Por quê?
Guerra esfregou o polegar sobre a escrita no Selo.

— Uma mensagem para mim — ele disse calmamente.

— Então, você ainda está planejando me matar? — Sin perguntou, seu


braço tenso sob a palma de Con.

— Não há nenhum ponto. — Ele rolou um ombro grande em um


encolher de ombros e seus lábios viraram em um sorriso que provavelmente
fazia as fêmeas cair em cima dele. — Além do mais, seria uma vergonha matar
você.

Outro rosnado formou no peito de Con, mas Sin apertou sua mão,
lembrando-o que ela estava lá com Con e ela não estava indo a lugar algum.
Nem mesmo com a lenda do cara musculoso. Babaca.

— Qual foi a gota d´água para quebrá-lo? — Con perguntou, muito


mais agradável do que ele teria gostado. E aquela nota de admiração em sua
voz... Sério? Humilhante.

Guerra deslizou a moeda do alforje do cavalo.

— Foi desencadeado quando a doença saltou de espécies e as duas


facções de wargs começaram a lutar entre si. — Ele olhou para Eidolon. —
Sim, nós nos mantemos por dentro de tudo o que aconteceu.

— O que podemos fazer? — Eidolon perguntou.

— Orar. — Guerra montou o cavalo. — E prepare sua equipe para


mortes em massa. As coisas vão ficar muito piores antes de melhorar. Se elas
melhorarem. — Com um puxão das rédeas, ele e o garanhão desapareceram no
Harrowgate.
Todo mundo ficou lá por um momento, congelados e em silêncio.
Quando as portas da ambulância se abriram e Blaspheme e Vladlena rolaram
um paciente em uma maca, todos finalmente entraram em ação. Todos menos
Con, que olhou para Sin.

— Não há nunca um momento de tédio com você, não é?


Ela franziu a testa.

— Você está arrependido...

— Não! — ele clareou a garganta e baixou a voz. — Não. Nunca. Agora,


vamos alimentar você e então eu vou ter certeza de que o Guerra babaca —
Cavaleiro assustador, — nunca entre em sua mente novamente.

Sorrindo, Sin juntou os braços com ele.

— Guerra quem?
Sim, Guerra quem. Enquanto Con levava Sin em direção ao
Harrowgate, ele teve a sensação de que eles o veriam novamente.
— Você está louco? — Sin perguntou a Lore, quando eles estavam em
frente à porta de Eidolon. Ele acabou de esboçar seu plano para ela e ela estava
prestes a cair. — Eu sei que eles estiveram todos fraternais e tal, mas eles
nunca farão isto. Nunca. E você vai se sentir como um idiota.

Lore, vestindo uma camisa preta apertada, jeans e botas de combate,


deu de ombros.

— Se eles não farão, é uma escolha deles e eu entendo.

— Uh-huh. — Sin apertou os punhos em seus quadris vestidos de


couro. — O que Idess tem a dizer sobre isso?

— Ela não sabe. Quero dizer, ela sabe que eu pretendo fazer, mas ela
não sabe que eu vou pedir agora. Eu não quero que eles sintam qualquer tipo
de pressão e eu não quero que ela se sinta mal se eles recusarem. Ela estará
aqui em cerca de quinze minutos.

Sin apenas balançou a cabeça. Lore estava a um inferno de uma


decepção. Seus irmãos foram um poço de apoio, sim, mas isso... isso era pedir
demais.

†††††

Con já estava lá dentro, parecendo fabuloso em um jeans meia-noite e


uma camisa prata de abotoar que realçava seus olhos.

Todo mundo estava lá na sala, exceto Idess. Mesmo Kynan e Gem


chegaram. E falando sério, como pode uma garota grávida ficar tão bonita
vestida de gótica?

Tomando a mão de Con, Sin ficou atrás de Lore, pronta para estar lá
para ele quando seus irmãos recusassem seu pedido.
Runa e Shade estavam no chão com seus trigêmeos, que rastejavam e
brincavam com o cão e o furão, que continuavam a roubar seus brinquedos.

Eidolon estava na cadeira de couro estofado com Tayla em seu colo,


enquanto Wraith estava esparramado no sofá com uma tigela de pipoca, com
os braços abertos em torno de Serena, que segurava um Stewie dormindo.

— Então, qual é? O que é esse favor que você precisa?


Os olhos de todos estavam em Lore e o coração de Sin acelerou.

— Ah... — Lore deslocou seu peso.

— Desembuche homem — Shade disse.

— Sim, isso — Lore murmurou e Sin gemeu.

— O quê? — Isso foi de Eidolon.

— Eu preciso de seu esperma — Lore deixou escapar. Shade, que estava


bebendo um refrigerante, engasgou. Todos os outros ficaram boquiabertos. Sin
gemeu de novo. Tato nunca foi um dos itens na personalidade de seu irmão.

Finalmente, Runa disse baixinho: — Você quer um bebê.

— Sim. — Lore olhou para o chão e o coração de Sin quebrou por ele. —
Você sabe que eu sou estéril. Esta merda de mestiço. Mas Idess e eu...
queremos uma família. Como não posso dar a ela, eu esperava talvez... Bem, a
próxima melhor coisa seria um irmão. — Ele tomou uma respiração profunda,
estremecendo. — Se vocês não quiserem, eu entendo. Está tudo bem.

Todos os irmãos se entreolharam. Em seguida, olharam para suas


companheiras. Deus, Sin poderia ter cortado a tensão com uma faca. Ela
agarrou a mão de Lore com a vazia.

— Hey, talvez nós devessemos ir. Dê-lhes tempo...

— Não — Tayla disse. — Eu não acho que haja sequer o que considerar.
— Ela sorriu para Eidolon, que respondeu entortando os lábios. — Se você
precisa disso, você terá. — Seu sorriso ficou muito, muito perverso. — Mas
você vai ter que esperar até acabarmos com isso. Nós vamos usar tudo isso por
um tempo.

Eidolon iluminou-se e ele puxou Tayla para um abraço esmagador, a


palma da mão foi direto para sua barriga antes de olhar para Lore.

— É, mano, você conseguiu. Talvez tão cedo como amanhã.


Wraith revirou os olhos para o casal feliz, mas depois de receber um
aceno de cabeça de Serena, ele virou-se para Lore e balbuciou: — Inferno, eu
vou desistir.

Shade deu de ombros.

— Sim.
Sin cedeu contra Con, aliviada, feliz e impressionada por esta família
incrível. Como ela foi estúpida por não querer conhecê-los.

— Trouxe cerveja — Idess gritou do salão e quando ela entrou na sala


de estar, Sin só poderia imaginar o que ela sentiria com os sorrisos que vieram
de todos os cantos.

— Oh — ela respirou e cortou seu olhar para Lore. — Você...


perguntou...?

Lore estendeu os braços e ela correu para ele, os olhos marejados de


lágrimas de alegria.

— Obrigada — ela disse, para ninguém em particular. — Oh, obrigada.

— Sim, sim, nós somos heróis — Wraith murmurou e então um sorriso


brilhante e arrogante iluminou seu rosto. — Oh, hey, eu realmente sou.
Apocalipse, anjo caído, salvar o mundo...

Serena lhe deu um soco bem merecido no lado e ele disse “aiiii”.

Eidolon carinhosamente passou a mão para cima e para baixo no braço


de Tayla, seus dedos acariciando a dermoire gravada em sua pele.

— Você pode acreditar como temos sorte? Demônios Seminus


raramente tomam companheiras de vida, mas aqui estamos, todos nós
acasalamos.

— E estamos vivos — acrescentou Shade.

— Isso é um choque total — Wraith jogou.


Gem riu para Wraith.

— Definitivamente, um milagre. Especialmente em seu caso, idiota.

— Não é um milagre.
Todas as cabeças chicotearam em torno de um homem alto e
deslumbrante que estava na entrada da sala de estar. Sua espessa cortina de
cabelo louro caía perfeitamente em torno de ombros largos, e suas calças
pretas e camisa precisavam ser feitas para caber tão perfeitamente em seu
corpo lindo.

— Reaver — Shade grunhiu e, bem, este foi o antigo anjo caído que
lutou ao lado de Wraith em Israel. — Eu odeio quando você faz isso.

Reaver sorriu, um total derretedor de calcinha.

— Por que você acha que eu faço isso?


Eidolon apertou Tayla contra ele.

— Então, por que nossa situação não é um milagre?

— Porque tudo é predestinado, seu demônio tolo. Vocês todos


desempenharam um papel na salvação do mundo e alguns de vocês têm muito
mais a fazer. — Ele encolheu os ombros. — Está tudo bem.

Wraith jogou algumas pipocas para o anjo.

— Você sabe que eu odeio a merda enigmática.


De repente, estavam todos atirando alimentos em Reaver e, enquanto
eles engajavam-se no que fora provavelmente a batalha mais estranha entre
anjos e demônios da história, Sin puxou Con para o corredor, longe dos risos e
maldições.

— Eu não tive a oportunidade de agradecer-lhe.

— Sim, você teve.

— Por salvar minha vida, talvez. Mas não por me dar uma. — Ela
estendeu a mão e segurou seu rosto. — Con, muito obrigada. Eu te amo tanto.

O calor irradiou dele e Sin perguntava-se por que ela nunca acreditara
que os vampiros eram frios.

— Nós temos uma coisa boa aqui.

— Sim. — Sin pensou em seus irmãos, suas cunhadas, seus novos


amigos e no fato de que em pé em frente a ela estava o companheiro mais
perfeito do planeta. — Eu não consigo pensar em nada melhor.

— Isso poderia ficar melhor... algum dia.


Ela estreitou os olhos para ele.
— O que você quer dizer?

— Quero dizer, o que Lore estava falando...

— Ah... eu não posso pedir aos meus irmãos por seus espermas. Porque
com meu óvulo, isso é nojento.

Con riu, suas presas piscando sensualmente.

— Não eles. Eu.


Ela bateu em sua mão como ela fazia com seus sobrinhos.

— Querido,você é um vampiro.

— Sim, mas eu não sou um vampiro estúpido. Eu meio que planejei este
cenário.

— Você tem alguns pequenos picolés?

— Isso. E eu dei amostras de tudo antes de Luc matar-me.


Seu coração deu um grande baque. Ela nunca quis filhos. Nunca sequer
pensou em querê-los.

Mas como ela estava lá com o homem que amava, em uma casa cheia de
família que ela nunca pensou que teria... ela percebeu que sim, ela os queria.
Talvez não hoje, mas ela e Con teriam centenas de anos juntos e, nesse meio
tempo, ela tinha muitos sobrinhos para brincar. Bem, é bom pensar no futuro,
de qualquer maneira.

— É engraçado — ela disse, com um engate estranho em sua voz, —


mas eu nunca quis estar amarrada a alguém. Nunca quis ser possuída ou
pertencer a outra pessoa. Mas agora eu percebo que pertencer a alguém é
completamente diferente. Eu pertenço a você, Con.

— E eu a você.
Ele beijou-a, selando-os com uma conexão que não a incomodava e que
nunca seria quebrada.

Fim...
A Série Demonica é composta pelos 5 livros:
Em especial, o nosso mais profundo agradecimento a
toda equipe de Tradução e Revisão envolvida neste
projeto, pessoas sem as quais nada disto seria possível.

Tradutores e Revisores:
A equipe TAD agradece imensamente a boa vontade e
disposição dos tradutores/revisores durante a série.
Meninas e meninos sintam-se orgulhosas pelo excelente
trabalho, e saibam que as pessoas que lêem agradecem de
coração.
Larissa Ione, uma veterana das Forças Aéreas, tem sido meteorologista,
técnica em emergências médicas e treinadora de cães, mas nunca perdeu a
esperança de dedicar-se sua autêntica paixão, a escrita. Felizmente, hoje em
dia dedica-se de corpo e alma suas novelas, o que é uma bênção tendo em
conta a carreira militar de seu marido. Vive de um lado para outro com seu
esposo, um guarda-costas dos Estados Unidos, seu filho e, como amante dos
animais que é, uns quantos mascotes. Ainda que sempre considerasse que seu
autêntico lar encontrava-se na costa do Pacífico Noroeste.

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