Bens públicos

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FEPI – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ

BACHARELADO EM DIREITO

ANNA CLARA, JAQUELINE, MARIA EMÍLIA,


MICHELLE,ROSIMEIRE,TAINARA E THAIS

TRABALHO DIREITO ADMINISTRATIVO


BENS PÚBLICOS

ITAJUBÁ – MG
2024
Sumário

1. USO DE BENS PÚBLICOS POR PARTICULARES NO BRASIL .............. 3

2. CONCEITO DE BENS PÚBLICOS ............................................................ 4

3. REGIME JURÍDICO DOS BENS PÚBLICOS ............................................ 4

4. EVOLUÇÃO .............................................................................................. 5

5. Definição de Bens Públicos ....................................................................... 6

6. CLASSIFICAÇÃO ...................................................................................... 7

7. MODALIDADES DE USO PRIVADO DE BENS PÚBLICOS ................... 10

1. Autorização de Uso ................................................................................. 10

2. Permissão de Uso ................................................................................... 10

3. Concessão de Uso .................................................................................. 11

4. Cessão de Uso ........................................................................................ 11

8. REQUISITOS PARA O USO PRIVADO DE BENS PÚBLICOS ............... 11

9. CONTROLE E FISCALIZAÇÃO .............................................................. 12

10. BENS DE DOMÍNIO PRIVADO OU BENS DOMINICAIS .................... 13

11. CARACTERÍSTICAS ........................................................................... 13

12. QUANTO A DISPONIBILIDADE ........................................................... 14

13. AFETAÇÃO E DESAFETAÇÃO ........................................................... 15

14. REGIME JURÍDICO ............................................................................. 15

15. IMPENHORABILIDADE ....................................................................... 15

16. IMPRESCRITIBILIDADE ..................................................................... 16

17. ALIENAÇÃO: ....................................................................................... 17

18. Formação do Patrimônio Público ......................................................... 19

19. O modo de formação ........................................................................... 20

20. Contratos ............................................................................................. 21


21. Usucapião ............................................................................................ 22

22. Desapropriação.................................................................................... 22

23. Acessão ............................................................................................... 23

24. Aquisição Causa Mortis ....................................................................... 24

25. Arrematação ........................................................................................ 25

26. Resgate na Enfiteuse ........................................................................... 25

27. Aquisição Ex Vi Legis .......................................................................... 25

28. Bens de domínio público do Estado:.................................................... 27

Natureza Jurídica ............................................................................................ 28

29. Modalidades de Bens do Domínio Público .......................................... 28

30. Regime Jurídico dos Bens do Domínio Público ................................... 29

31. Afetação e Desafetação ....................................................................... 29

32. BENS PÚBLICOS EM ESPÉCIE ......................................................... 30

33. Espécies de Bens Públicos .................................................................. 31

34. Terras devolutas:.................................................................................. 31

35. Faixa de fronteira: ................................................................................ 36

36. Águas públicas:.................................................................................... 38

37. Minas e jazidas: ................................................................................... 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................... 42


1. USO DE BENS PÚBLICOS POR PARTICULARES NO BRASIL

O uso de bens públicos por particulares no Brasil é um tema regulado por um


complexo conjunto de normas jurídicas, constituído pela Constituição Federal de 1988,
pelo Código Civil de 2002, pela Lei n.º 8.666/1993 (Lei de Licitações e Contratos
Administrativos), bem como por diversas outras leis e regulamentos administrativos. A
doutrina também oferece diretrizes baseadas nos princípios do direito administrativo,
incluindo os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência, que norteiam toda a atuação da Administração Pública.
2. CONCEITO DE BENS PÚBLICOS

Os bens públicos são aqueles que pertencem às pessoas jurídicas de direito


público (União, Estados, Municípios e Distrito Federal, além das autarquias e
fundações públicas). Esses bens são destinados ao atendimento do interesse público
e, em virtude disso, estão sujeitos a um regime jurídico especial. Conforme o artigo 99
do Código Civil de 2002, os bens públicos são classificados em três categorias:

Bens de uso comum do povo: Aqueles destinados ao uso coletivo, como ruas,
praças, praias, mares e rios. Estes bens são de uso geral e livre para a população,
exceto quando alguma regulamentação específica restringe seu acesso.

Bens de uso especial: São aqueles afetados a um serviço público, como


edifícios onde funcionam repartições públicas, escolas, hospitais e outros bens móveis
ou imóveis que servem ao desempenho das funções públicas.

Bens dominicais: Estes bens não possuem destinação pública específica e

integram o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como terras


devolutas e imóveis desocupados.

3. REGIME JURÍDICO DOS BENS PÚBLICOS

Os bens públicos estão submetidos a um regime jurídico protetivo, que se


manifesta por três características principais: inalienabilidade, impenhorabilidade e
imprescritibilidade. Essas características derivam do princípio da supremacia do
interesse público sobre o interesse privado.

Inalienabilidade: Os bens públicos, em regra, não podem ser vendidos ou


alienados, exceto se houver prévia desafetação, isto é, se o bem perder sua finalidade
pública. A desafetação deve seguir um processo administrativo e, em alguns casos,
legislativo, como exige a Constituição Federal.

Impenhorabilidade: Os bens públicos não podem ser objeto de penhora em


processos judiciais, visto que são destinados ao atendimento do interesse público e
não podem ser comprometidos por dívidas ou litígios de natureza privada.
Imprescritibilidade: Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião, ou seja,
não podem ser adquiridos por terceiros através de posse contínua e prolongada, já
que pertencem ao patrimônio público.

4. EVOLUÇÃO

Desde as sociedades mais antigas, sempre se observou a necessidade de


haver algum tipo de controle e regulamentação, exercido pelo Estado, sobre
determinados bens. De fato, a vida em sociedade seria praticamente inviável sem a
existência de bens voltados para o atendimento de interesses coletivos.

Já no Direito Romano se fazia referências aos bens públicos, constando da


divisão das coisas apresentadas por Caio e Justiniano nas Institutas que incluíam as
res communes (mares, portos, estuários, rios, insuscetíveis de apropriação privada) e
as res universitatis (fórum, ruas, praças públicas), ao lado das res publicae (terras,
escravos, de propriedade de todos e subtraídos ao comércio jurídico). Estas últimas,
insusceptíveis de apropriação privada, pertenciam a todos, ao povo.

Na idade média, os bens públicos conquistados ou herdados passaram a ser


considerados propriedades do rei, e não mais do povo, como ocorria no Direito
Romano. No entanto, com base nos antigos textos romanos, que influenciaram todas
as legislações ao longo da história, logo se voltou a atribuir ao povo a propriedade
desses bens, cabendo ao monarca, na condição de governante supremo, tão somente
o exercício do poder de polícia sobre eles, fiscalizando seu uso pelo povo para impedir
o abuso.

Durante o período em que os bens foram considerados propriedade da Coroa,


não se fazia distinção de regime jurídico entre as diferentes espécies de bens. No
entanto, quando se passou a segunda teoria, que atribuía ao rei apenas o poder de
polícia, começaram a surgir os primeiros passos rumo a uma classificação. Assim, já
nos séculos XVII e XVIII, alguns autores passaram a distinguir duas categorias de
bens públicos:

as coisas públicas, que eram afetadas ao uso público, como os cursos d’água,

rios, estradas etc.; sobre tais bens o rei não tinha direito de propriedade, mas apenas
um direito de guarda ou poder de polícia; os bens integrados no domínio da coroa,

sobre os quais o monarca detinha a

propriedade.

Com o surgimento do Estado Moderno e o desenvolvimento da ideia de Estado


como pessoa jurídica, este assumiu a propriedade dos bens públicos, em substituição
ao príncipe.

5. Definição de Bens Públicos

O conceito de bens públicos, no Direito Positivo Brasileiro, é dado pelo Novo


Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406/2002), em seu art. 98 e seguintes, ao dispor que
“são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno; todos os outros são particulares, seja qual for à pessoa a que
pertencerem”.

O Código Civil de 1916, somente enumerava como públicos os bens


pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios. Apesar dessa relação
anacrônica, compatível com a antiguidade do Código (1916), especialistas e órgãos
judiciais já tinham o pensamento de que titulares dos bens públicos seriam todas as
pessoas de direito público, incluindo-se nelas, portanto, o Distrito Federal, as
autarquias e as fundações autárquicas de direito público.

Portanto, em virtude de ser obra de doutrinadores, não existe consenso entre


os mais importantes autores. Há doutrinadores que somente incluem como públicos
os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público (União, Estados, Distrito
Federal, Municípios, autarquias e fundações de direito público). Já outros consideram
públicos os bens de todas as pessoas integrantes da Administração Pública, Direta e
Indireta, o que insere na categoria de bens públicos os bens das empresas públicas e

das sociedades de economia mista (que são pessoas jurídicas de direito


privado).

Deste modo são considerados bens públicos os bens materiais ou imateriais, assim
como as prestações, pertencem às pessoas jurídicas públicas, visando a fins públicos
e sujeitas a regime jurídico especial, derrogatório e exorbitante do direito comum. De
forma mais ampla, bens públicos são todas as coisas, corpóreas ou incorpóreas,
imóveis, móveis e semoventes, créditos, direitos e ações, que pertençam, a qualquer
título, às entidades estatais, autárquicas, fundacionais e empresas governamentais.

De fato, todos os bens pertencentes à União, aos Estados, ao Distrito Federal,


aos Municípios, bem como os das suas autarquias e fundações públicas, e até mesmo
os bens de propriedade de particulares quando destinados à prestação de serviços
públicos, integram o conceito de bens públicos. Como esses bens integram o
patrimônio público, devem receber proteção e controle constantes por parte do ente
público que detém a propriedade ou a posse. Portanto, sempre que estiverem
indevidamente sob o controle de particulares, cabe ao titular reivindicá-los por meios
adequados, incluindo a ação judicial. Nesse sentido, já se estabeleceu o entendimento
de que o ente público possui legitimidade e interesse para intervir, de forma incidental,
na ação possessória entre particulares, podendo apresentar qualquer defesa,
incluindo a do domínio.

6. CLASSIFICAÇÃO

Inicialmente, não existia uma classificação formal para os bens públicos. O


Código Civil de Napoleão, de 1804, apenas estabelecia que certos bens, como rios e

estradas, não poderiam ser objeto de propriedade privada. De acordo com


alguns estudiosos, esse princípio teria dado origem à divisão dos bens em duas
categorias principais: aqueles do domínio público e os pertencentes ao domínio
privado do Estado.

A primeira classificação dos bens foi proposta por Pardessus, que distinguiu
dois tipos principais: o domínio nacional, passível de apropriação privada e gerador de
renda, e o domínio público, destinado ao uso comum e ao serviço geral. Este último,
por sua natureza, é inalienável, imprescritível e insuscetível de servidão.

Proudhon adotou uma distinção semelhante, dividindo os bens em duas


categorias que continuam a ser utilizadas no direito francês atual: os bens de domínio
público e os bens do domínio privado do Estado.

Na Itália, diferencia-se o domínio público, que abrange os bens de uso comum


do povo, dos bens patrimoniais, os quais se subdividem em patrimônio disponível e
patrimônio indisponível.
No direito brasileiro, o Código Civil de 1916 trouxe a primeira classificação
metódica dos bens públicos, ainda vigente atualmente. Antes disso, a doutrina sobre
o tema era pouco desenvolvida.

O Código Civil adotou uma terminologia própria, característica do direito


brasileiro, diferenciando-se do modelo estrangeiro, onde prevalece a bipartição dos
bens públicos conforme o regime jurídico aplicado.

No artigo 66, o Código estabelecia uma divisão tripartite, distinguindo:

I-os bens de uso comum do povo, tais como mares, rios, estradas, ruas, e praças;

II- os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos aplicados a serviço ou


estabelecimento federal, estadual ou municipal;

III- os dominicais, isto é, os que constituem o patrimônio da União, dos Estados ou dos
Municípios, como objeto de direito pessoal ou real de cada uma dessas entidades.

O Código Civil de 2002 mantém a classificação, porém deixando claro que se


incluem entre os bens públicos os pertencentes às pessoas jurídicas de direito público.
Nos termos do artigo 99, “são bens públicos:

I- Os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;

II- Os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou


estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas
autarquias;

III- os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades”.

A classificação baseia-se na destinação ou afetação dos bens: os da primeira


categoria são destinados, por natureza ou por lei, ao uso coletivo; os da segunda
destinam-se ao uso da Administração para atingir seus objetivos, como imóveis que
abrigam repartições públicas, bens móveis utilizados em serviços públicos (como
veículos oficiais, materiais de consumo, navios de guerra), terras indígenas, mercados
municipais, teatros públicos e cemitérios. Já os da terceira categoria não possuem
uma destinação pública específica, permitindo ao Poder Público aplicá-los para
obtenção de renda, como é o caso das terras devolutas, terrenos de marinha, imóveis
não utilizados pela Administração e bens móveis que se tornem inservíveis.
Entretanto, de acordo com o parágrafo único do artigo 99 do Código Civil de
2002, “não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
direito privado.” Essa redação indica que, nesse caso, a destinação do bem é
irrelevante; independentemente de qual seja, o bem é classificado como dominical
apenas pelo fato de pertencer a uma pessoa jurídica de direito público que tenha
estrutura de direito privado, a menos que a lei determine o contrário. Assim, a
legislação que institui a pessoa jurídica pode definir a categoria dos bens conforme
sua destinação.

De acordo com o artigo 99, é possível observar um ponto comum — a


destinação pública — nas duas primeiras categorias (bens de uso comum do povo e
bens de uso especial), que as distingue da terceira categoria, que não possui
destinação pública. Por essa razão, sob o aspecto jurídico, pode-se afirmar que
existem duas modalidades de bens públicos.

I - Os do domínio público do Estado, abrangendo os de uso comum do povo e os de uso


especial;

II- Os do domínio privado do Estado, abrangendo os bens dominicais.

No direito brasileiro principalmente quando se trata da transferência de uso de


bens públicos aos particulares, cuida-se dos vários institutos como se fossem os
mesmos para as várias modalidades, quando, na realidade, existem sensíveis
diferenças, principalmente no direito positivo federal.

Outra classificação dos bens públicos era aquela prevista no Regulamento do


Código de Contabilidade Pública da União, aprovado pelo Decreto nº 15.783, de 8 de
novembro de 1922 (revogado pelo Decreto de 25 de abril de 1991). Embora utilizasse
a mesma terminologia do artigo 66 do Código Civil anterior em seu artigo 803, oferecia
uma distinção mais clara. No artigo 807, os bens de uso especial eram chamados de
patrimoniais indisponíveis, enquanto os dominicais eram classificados como
patrimoniais disponíveis. Essa diferenciação tornava mais evidente a natureza
alienável dos bens dominicais e a inalienabilidade dos bens patrimoniais, que são
indisponíveis, seja por serem destinados ao uso coletivo ou por estarem voltados ao
uso direto ou indireto da Administração para a realização de seus objetivos.
Essa classificação seguia a do direito italiano e baseava-se no critério da
natureza, patrimonial ou não do bem. Os bens de uso comum não são suscetíveis de
valoração patrimonial ou avaliação econômica, enquanto os demais possuem um valor
patrimonial. No entanto, alguns (os de uso especial ou do patrimônio indisponível) são
inalienáveis devido à sua afetação pública, enquanto os outros (dominicais ou do
patrimônio disponível) são alienáveis por não terem a mesma afetação.

Os bens públicos também podem ser classificados, quanto à titularidade, em


bens federais, estaduais e municipais.

7. MODALIDADES DE USO PRIVADO DE BENS PÚBLICOS

Embora os bens públicos sejam, por sua natureza, voltados ao atendimento da


coletividade, em certas situações, é possível que sejam utilizados por particulares.
Esse uso deve ser devidamente autorizado pela Administração Pública e pode ocorrer
por meio de diferentes instrumentos jurídicos, dependendo da finalidade e da natureza
do bem em questão.

1. Autorização de Uso

A autorização de uso é um ato administrativo unilateral e discricionário pelo qual


a Administração Pública permite que o particular utilize um bem público de forma
temporária e precária. Por sua natureza precária, a autorização pode ser revogada a
qualquer momento pela Administração, sem que o particular tenha direito a
indenização ou compensação. Exemplo: a autorização para utilização de uma praça
pública para a realização de eventos.

2. Permissão de Uso

A permissão de uso é também um ato administrativo unilateral, mas que é


formalizado por um contrato, ainda que precário e revogável. A permissão é concedida
para fins específicos e, diferentemente da autorização, costuma envolver maior
controle e formalidade. Um exemplo típico seria a permissão para explorar uma banca
de jornal em uma praça pública. É importante ressaltar que a permissão também pode
ser revogada a qualquer tempo, sem direito a indenização.
3. Concessão de Uso

A concessão de uso é um contrato administrativo por meio do qual o Estado


transfere a um particular o direito de utilizar um bem público por um determinado prazo,
com a finalidade de explorá-lo economicamente, conforme as regras estabelecidas no
contrato. A concessão é sempre precedida de licitação, conforme exige a Lei n.º
8.666/1993 e a Lei n.º 8.987/1995 (que regula concessões e permissões de serviços
públicos). Ao contrário da autorização e da permissão, a concessão gera direitos mais
estáveis ao concessionário, mas também exige contrapartidas do particular, como
investimentos e manutenção do bem público. Exemplos incluem concessões de
rodovias, aeroportos e parques.

4. Cessão de Uso

A cessão de uso é o ato pelo qual a Administração Pública transfere o uso de


um bem público para outra entidade pública ou para entidades privadas sem fins
lucrativos que desempenham atividades de interesse público, como organizações não
governamentais (ONGs). Diferentemente das modalidades anteriores, a cessão não
envolve exploração econômica e geralmente tem por objetivo o desenvolvimento de
atividades de interesse social, educacional ou cultural.

8. REQUISITOS PARA O USO PRIVADO DE BENS PÚBLICOS

Para que o particular utilize um bem público, alguns requisitos devem ser
observados:

Autorização Legal: Qualquer cessão de uso de bem público deve estar


autorizada por lei. Isso significa que a Administração só pode ceder o uso de bens
públicos a particulares se houver previsão normativa para tal.

Licitação: No caso de concessões de uso, ou em outras situações em que a


cessão de uso envolva interesse econômico, a Constituição Federal (art. 37, XXI) e a
Lei de Licitações (Lei n.º 8.666/1993) exigem a realização de processo licitatório. A
licitação é um mecanismo que visa garantir a igualdade de oportunidades entre os
concorrentes e a seleção da proposta mais vantajosa para o interesse público.

Observância dos Princípios Administrativos: Todas as formas de uso de bens


públicos por particulares devem obedecer aos princípios que regem a Administração
Pública, como os da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
(art. 37, caput, da CF/88). A finalidade pública deve sempre prevalecer, ou seja, o uso
particular não pode prejudicar a destinação pública original do bem.

9. CONTROLE E FISCALIZAÇÃO

A Administração Pública tem o dever de fiscalizar o uso de bens públicos


concedidos a particulares para garantir que estes sejam utilizados de acordo com os
termos estabelecidos no contrato ou na autorização. A fiscalização inclui a verificação
do cumprimento de cláusulas contratuais, da preservação do bem e da adequada
destinação do uso. Em caso de descumprimento ou uso indevido, a Administração
pode revogar a autorização ou rescindir o contrato, com a consequente retomada do
bem público.

A doutrina do direito administrativo enfatiza que o uso de bens públicos por


particulares deve sempre ser pautado pela supremacia do interesse público. Celso
Antônio Bandeira de Mello destaca que a concessão ou permissão para uso de bens
públicos não pode significar a transferência de privilégio a particulares, mas sim um
meio de satisfazer uma necessidade pública.

A jurisprudência dos tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal


(STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), tem reafirmado reiteradamente a
necessidade de estrita observância das normas jurídicas e dos princípios
administrativos no uso de bens públicos por particulares. Um dos principais pontos
defendidos pelos tribunais é que, mesmo nos casos em que há exploração econômica,
o benefício coletivo deve sempre prevalecer sobre o interesse individual do particular.

Por fim, O uso de bens públicos por particulares é um instituto que, embora

possível, deve ser sempre subordinado ao interesse público. A autorização,


permissão, concessão ou cessão de uso de bens públicos por particulares requer
observância de normas legais rigorosas, licitação quando necessário, e respeito aos
princípios constitucionais da Administração Pública. O controle e fiscalização pela
Administração são essenciais para garantir que esses bens continuem servindo aos
fins coletivos a que se destinam, mesmo quando utilizados por particulares.
10. BENS DE DOMÍNIO PRIVADO OU BENS DOMINICAIS

A legitimação define os bens do estado privado como "os que são constitutivos
do patrimônio da União, dos Estados ou Municípios, como objeto de direito pessoal ou
real de cada uma dessas entidades", bem como bens dominicais pelo Código Civil e
bens do patrimônio disponíveis pelo antigo Código de Contabilidade Pública.

O conceito é mantido no artigo 99, III do Código Civil de 2002, apenas para
esclarecer que todas as pessoas jurídicas de direito público são titulares de bens
dominicais. Como objetivo de direito pessoal, ou real, de cada uma das pessoas
jurídicas de direito público, o dispositivo estabelece que eles mesmos “constituem o
patrimônio das pessoas”.

Além disso, o parágrafo único afirma que “não dispondo a lei em contrário, considerase
dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha
dado estrutura de direito privado”. Afirma que "não dispondo a lei em contrário,
considerar-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
a que se tenha dado estrutura de direito privado”.

A ideia é que essa categoria inclui todos os bens que não são considerados de
uso comum do povo ou de uso especial. Assim, se um bem é utilizado pelo público em
geral ou para fins administrativos, ele não se classifica como um bem dominical.

11. CARACTERÍSTICAS

Representam um papel patrimonial ou financeiro, pois têm como objetivo


garantir rendas ao Estado, em contraposição a demais bens públicos, que têm um
impacto em áreas de interesse geral. Assim, a gestão dos bens dominicais foi
considerada uma atividade privada da Administração em vez de um serviço público;

Submetem-se a um regime jurídico de direito privado, pois a Administração


Pública age, em relação a eles, como um proprietário privado.

Atualmente, está claro que a natureza desses bens não é apenas patrimonial,
e uma administração deles pode ter como objetivo geral de interesse. Assim, os bens
do domínio privado são empregados como locais de obras e atribuídos a indivíduos
para fins públicos. Por exemplo, emana Direito brasileiro, o direito real de uso direito
é reservado para fins de urbanização, industrialização e cultivo. Também está sujeito
a cessação gratuita ou onerosa para fins culturais, recreativos e esportivos. É que
esses bens sejam administrados no benefício de todos, incluindo as terras públicas
onde estão situadas florestas, mananciais ou recursos naturais de preservação
permanente, mesmo sem serem empregados por terceiros ou diretamente pela
Administração.

Além disso, a própria administração financeira não tem objetivo apenas


imediato, pois, de uma perspectiva mais ampla, atende a fins de interesse geral.

Alguns autores estão convidados a conceber uma administração de bens dominicais


como um serviço público submetendo um regime de gestão privada devido a um este
novo método de encarar a natureza e função desses bens. Dupla natureza dos bens
dominicanos justifica sua submissão ao direito privadoO duplo aspecto dos bens
dominicais justifica sua subordinação ao regime legal de direito privado, que é
parcialmente derrogado pelo direito público.

12. QUANTO A DISPONIBILIDADE

Bens indisponíveis: As pessoas que possuem bens indisponíveis não têm caráter
tipicamente patrimonial e, por isso mesmo, não podem dispor deles. Isso informa uma expressão.
Deixar de dispor, nessa situação, significa que eles não podem ser desvirtuados das específicas
aos que estão voltados, nem alienados ou onerados. Em outras palavras, indica que o Poder
Público tem a responsabilidade de proteger, melhorar e manter ajustados aos seus propósitos,
sempre ao benefício da coletividade.

Bens patrimoniais indisponíveis: A classificação leva em consideração dois fatores: o


primeiro está relacionado à natureza patrimonial do bem público, e o segundo é sua característica
de indisponibilidade. Em tese, a demonstração de valor é admitida pelos bens, mesmo sendo
indisponíveis, sendo por isso suscetíveis à avaliação pecuniária. Por isso, eles têm caráter
patrimonial. No entanto, são indisponíveis, pois são empregados eficazmente pelo Estado para
alcançar os seus propósitos. Estes bens são indisponíveis enquanto servem aos fins estatais,
mesmo que terceiros possam usá-los.
Bens patrimoniais disponíveis: Os bens patrimoniais disponíveis são os bens
dominicais em geral, porque nem se destinam ao público em geral, nem são utilizados
para o desempenho normal das atividades administrativas.
13. AFETAÇÃO E DESAFETAÇÃO

O fato administrativo que atribui ao bem público uma destinação pública


especial de interesse direto ou indireto da Administração é conhecido como afetação.
E o prejuízo é o oposto: é o fato administrativo de que um bem público e privado de
seu anterior privado propósito. Finalidade anterior. Como já se confirmou corretamente,

nessa situação, a desafetação traz implícita a faculdade de alienação do bem. A


afetação e a desafetação servem para demonstrar que os bens públicos não se
perenizam, em regra, com a natureza que adquiriram em decorrência de sua
destinação.

Concluindo, é importante ressaltar que tanto a ampliação quanto a redução são


fatos administrativos, ou seja, eventos que ocorrem dentro de uma atividade
administrativa importante independentemente de como são apresentados. Observar
que tanto à amplificação quanto a redução são fatos administrativos, ou seja, eventos
que ocorrem dentro de uma atividade administrativa, independentemente de como são
apresentados.

14. REGIME JURÍDICO

Alienabilidade condicionada: Os bens dominicais, por via de consequência,


seriam passíveis de alienação na forma da lei. Entretanto, os bens de uso especial e
alguns de uso comum do povo, ao serem objeto de desafetação, passam à categoria
dos bens dominicais.

Porém, considera-se que os mares e os rios navegáveis são bens extra


comerciais, e por isso, insuscetíveis de alienação. Portanto, conforme a estipulação
do Código anterior, seria impróprio discutir uma inalienabilidade; A ideia mais valiosa
era que os bens tivessem como característica uma alienabilidade condicionada, ou
seja, uma alienação deveria ser efetivada em conformidade com o que a lei autoriza.

15. IMPENHORABILIDADE

Os bens públicos, contudo, não estão sujeitos ao regime da penhora, o que o


caracteriza como impenhoráveis. A constituição federal estabelece, no artigo 100, que
estabelece que os créditos de terceiros contra a Fazenda Pública, por meio de
sentenças judiciais, são pagos através do sistema de precatórios, onde o Judiciário
recomenda ao Executivo que introduza o crédito, em ordem cronológica, na relação
de credores para ulterior pagamento.

É bem verdade que há alguma doutrina que advoga a penhorabilidade de bens


públicos dominicais, quando estiverem sendo utilizados em caráter privado.
Semelhante posição, contudo, além de minoritária, não encontra ressonância no
ordenamento jurídico vigente; ao contrário, esbarra no princípio da garantia dos bens
públicos, independentemente da categoria a que pertençam. O fato de serem objeto
de uso por particulares, por se caracterizarem como bens dominicais, não elide a sua
garantia, já que esse tipo de uso se insere na gestão normal dos bens públicos levada
a efeito pelos entes titulares.

16. IMPRESCRITIBILIDADE

Atualmente, a Constituição estabelece regra especificamente a respeito,


disponível no art. 183, § 3o, que os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião, norma, aliás, repetida no art. 191, relativo a imóveis públicos rurais.

Desse modo, mesmo que o interessado tenha a posse de bem público pelo
tempo necessário à aquisição do bem por usucapião, tal como estabelecido no direito
privado, não nascerá para ele o direito de propriedade, porque a posse não terá
idoneidade de converter-se em domínio pela impossibilidade jurídica do usucapião. O
Estado pode formular a respectiva pretensão reintegratória em caso de ocupação
ilegítima na área do domínio público, sendo a causa da alegação de omissão
administrativa.

Portanto, os bens de domínio privado são aqueles que compõem o patrimônio da

União, Estados ou Municípios, tratados como propriedade de direito pessoal ou real.


O Código Civil de 2002 afirma que todas as pessoas jurídicas de direito público
possuem bens dominicais, que não se destinam ao uso comum do povo.

Características:

• Relação Patrimonial: Proporcionam renda ao Estado e são administrados como


bens privados.
• Regime Jurídico: Governados pelo direito privado, mas podem atender a
interesses públicos.
Classificação:

• Bens Disponíveis: Não destinados ao interesse público direto.


• Bens Indisponíveis: Servem a fins estatais e não podem ser alienados.

A afetação e desafetação definem a destinação dos bens, permitindo mudanças


em seu status. Os bens dominicais são passíveis de alienação condicionada, mas não
podem ser penhorados ou adquiridos por usucapião, garantindo a proteção do
patrimônio público.

17. ALIENAÇÃO:

A alienação de bens públicos é um processo que exige o cumprimento de


algumas normas legais. Para bens imóveis, a alienação deve estar fundamentada no
interesse público, que precisa ser devidamente justificado pela Administração Pública.
Além disso, é necessária uma avaliação prévia para determinar o valor de mercado
do bem, e a autorização legislativa é imprescindível para bens sob a tutela de pessoas
jurídicas de direito público, como municípios, estados e União, conforme estabelece o
artigo 17 da Lei 8.666/93.

A lei determina que essa autorização seja aprovada por órgãos legislativos
competentes, como câmaras municipais, assembleias legislativas ou o Congresso
Nacional, dependendo da jurisdição. Ademais, o processo de alienação de imóveis
deve ser realizado através de licitação na modalidade leilão. No entanto, a licitação
pode ser dispensada em situações específicas previstas no artigo 17 da referida lei,
em seus incisos de A ao I.

Para bens móveis, a alienação segue regras diferentes. Embora o interesse


público e a avaliação prévia também sejam exigidos, não é necessária a autorização
legislativa para esse tipo de bem. A modalidade de licitação é determinada pelo valor
do bem, sendo permitido o uso de modalidades mais simples para valores de até 650
mil reais. Contudo, quando se trata de bens inservíveis, penhorados ou apreendidos,
a modalidade de leilão é a mais adequada, conforme estipulado no artigo 22, parágrafo
quinto, da Lei 8.666.

A dispensa de licitação é prevista em casos específicos, listados no artigo 76


da Lei 14.133/2021, onde o legislador estabelece as hipóteses em que a alienação
pode ocorrer sem a necessidade de licitação. Esses casos geralmente envolvem
situações excepcionais, como transferência de bens entre entidades públicas ou
alienação de bens de baixo valor.

A alienação de bens públicos pode ser viabilizada através de institutos próprios


do direito público, que permitem sua transferência entre entes públicos sem que esses
bens sejam incluídos no comércio jurídico privado. Essa exclusão é fundamental para
assegurar que a administração pública utilize plenamente esses bens em consonância
com sua função social. Segundo Marcello Caetano, bens públicos, enquanto tal, são
inalienáveis e fora do comércio jurídico privado, mas podem ser transferidos entre
pessoas jurídicas de direito público ou concedidos, respeitando a legislação específica
de direito público.

O art. 99, inciso III, do Código Civil Brasileiro define os bens públicos dominicais
como aqueles pertencentes ao patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,
sendo objeto de direitos reais ou pessoais dessas entidades.

A alienação desses bens está condicionada a certas formalidades legais, as


quais se diferenciam entre instrumentos de direito privado e público. O administrador
deve seguir rigorosamente essas normas, sob pena de seus atos serem considerados
ilegítimos, uma vez que estão limitados ao poder discricionário da administração, que
é a liberdade de agir dentro dos limites legais.

Os instrumentos de direito privado para alienação incluem:

• Venda: A transferência de propriedade por meio de um preço acordado, regulada


pelo art. 481 do Código Civil, e, para bens imóveis públicos, é necessário seguir os
procedimentos da Lei 8.666/93, como licitação e autorização legislativa.
• Doação: Contrato benéfico no qual a administração pode transferir bens, desde
que o interesse público esteja justificado e haja autorização legislativa.
• Permuta: Troca de bens entre a administração e terceiros, sendo considerada uma
forma simultânea de alienação e aquisição, exigindo justificativa de interesse
público e avaliação prévia.
• Dação em pagamento: A administração pode quitar uma dívida entregando um
bem público, sendo necessário o interesse público e autorização legal.

Os instrumentos específicos de direito público incluem:

• Concessão de Domínio: Transferência de bem público para outra entidade,


formalizada por lei.
• Investidura: Venda de áreas remanescentes de obras públicas aos proprietários de
imóveis vizinhos, visando evitar desperdícios.
• Incorporação: Integralização de capital em entidades administrativas por meio de
bens públicos.
• Retrocessão: Devolução de bem desapropriado ao expropriado caso o projeto
original não seja realizado.
• Legitimação de posse: Transferência de domínio de terras públicas ocupadas por
particulares por longo período, conforme legislação pertinente, ou seja, legitimação
de posse é, em regra, precedida de um processo de discriminação de terras
devolutas, cujo objetivo é separar as terras públicas das terras particulares;
concluído o processo, os posseiros que não tenham título legítimo de domínio, mas
que preenchem os requisitos para a legitimação, recebem o título de domínio do
poder público. A Lei nº 6.383/76 estabelece as seguintes características para a
legitimação de posse:
• O ocupante tem direito subjetivo público à posse do imóvel por um período mínimo
de quatro anos.
• Após esse período, o ocupante adquire o direito de preferência para adquirir o
imóvel, conforme critérios do art. 29, § 1º, da Lei nº 6.383/76.
• A licença de ocupação pode ser cancelada por necessidade ou utilidade pública, e
a União pode reassumir a posse, com a desocupação em até 180 dias e
indenização pelas benfeitorias, além de realocar o ocupante em outra terra da
União.
• A licença é intransferível e inegociável, não podendo ser objeto de penhora ou
arresto.
• O ocupante pode acessar financiamentos rurais, com as obrigações garantidas
pelo INCRA. Em caso de inadimplência, o INCRA cancela a licença e aliena o
imóvel para ressarcir-se dos valores garantidos.
Posto isto, vale ressaltar que, a alienação de bens públicos requer o
cumprimento de normas legais específicas, e, se o bem estiver destinado a fins
públicos, deve ser previamente desafetado para que possa ser alienado. Essas
alienações seguem as regras da Lei 8.666/93, que prevê licitação, dispensas ou
inexigibilidade.

18. Formação do Patrimônio Público

Neste capítulo, discorremos sobre de que forma o Poder Público pode adquirir
bens, esclarecer quais são os instrumentos que a norma disponibiliza para aquisição
de coisas móveis e imóveis, verificar qual tratamento a legislação dá para cada
situação em específico. Também as formas de aquisição originária e derivadas;
incorporação de bens ao patrimônio público (doação, desapropriação, compra e
venda).

19. O modo de formação

Este tópico aborda as diversas maneiras pelas quais o Poder Público pode
adquirir bens. As formas de aquisição são classificadas em duas categorias principais:
aquelas regidas pelo direito privado, como compra, doação, permuta, usucapião,
acessão e herança; e as que estão sob o direito público, que incluem desapropriação,
requisição de bens móveis consumíveis, aquisições previstas por lei ou decorrentes
de execução, confisco, investidura, perda de propriedade, reversão, caducidade de
aforamento e a arrecadação de imóveis abandonados.

No que se refere a compra, são utilizadas geralmente para adquirir coisa móvel
e semoventes, devendo seguir o que dispõe a Lei nº 14.133, de 01-04-2021, como
exemplo temos o art. 6º, X, que estabelece sobre aquisições de bens feitas de uma só
vez ou parcelada, será considerada imediata se o prazo de entrega for de 30 (trinta)
dias. Já o art. 40 estipula que deve ser levado em consideração o consumo anual e
verificar e deve observar as seguintes condições: a) sistema de registro de preços; b)
unidades e quantidades com base no consumo e utilização, com utilizando técnicas
adequadas de estimativas; c) verificação para guarda e armazenamento de modo que
não vá se deteriorar; e por fim respeito ao princípio da padronização, parcelamento e
responsabilidade fiscal (PIETRO, Maria Sylvia, p.791, 2024).

De acordo com Maria Sylvia (2024), em se tratando de bens e serviços comuns


a Administração Pública, deve ser feito um pregão e seguir o disposto no art. 6, XLI
da Lei nº 14.133/21, sendo uma aquisição com pagamento instantâneo e a pronta
entrega, a norma segue com os parâmetros estabelecidos pelo Código Civil, isso claro,
se não gerar obrigações futuras. Já nos casos em que a doutrina define como

fornecimento - entrega dividida e contínua - ganha natureza de um contrato


tipicamente administrativo conforme o que estabelece a Lei 14.133/21. Explica ainda,
que para os casos de obtenção de imóveis dificilmente ocorrerá uma relação de
compra, justamente por ter poderes de desapropriação, ressaltando que essa forma é
incorreta, já que em regra a Administração deve analisar o local e características, não
pode ficar a mercê do dono do imóvel, ou seja, quando falamos de uma relação de
compra e venda, fica sujeita a avaliação do particular quanto ao valor do imóvel, pois
na maioria dos casos sempre rejeita a quantia ofertada pelo poder público.

Para entender melhor cada forma de aquisição de bens públicos, discorreremos


separadamente sobre cada um deles.

20. Contratos

A compra de bens públicos por meio de contrato não confere ao gestor público
a mesma liberdade que os indivíduos comuns têm para expressar seu desejo de
aquisição, e nem poderia ser de outra forma. Como a legitimidade da Administração
Pública depende da conformidade com a lei, é natural que esta estabeleça certas
condições específicas para que os funcionários públicos possam representá-lo em
contratos para a compra de bens. Uma condição específica para a aquisição de bens
pelo Estado através de contrato de compra é a necessidade de licitação prévia,
conforme estabelecido na Lei no 14.133/2021 - algo que não se aplica nas transações
entre indivíduos.

Ao adquirir bens através de contrato, pode haver variações na categoria em que


serão classificados. Se o Município, por qualquer motivo, adquirir um conjunto de salas
e a utilizam como um centro de treinamento para seus auditores qualificarão as salas
como bens de uso específico. Se você comprar uma área para construir um edifício
público no futuro, esse bem será classificado como um bem dominical enquanto a
construção não for concluída e o serviço não for implementado. É certo que, ao serem
incorporados ao patrimônio das entidades de direito público, esses bens serão
classificados como bens públicos.

Finalmente, é importante salientar que, de acordo com o Direito brasileiro, a


compra de um imóvel objeto de contrato está sujeita ao registro no Registro de Imóveis
do título de transferência da propriedade por ato Inter vivos (art. Código Civil, artigo
1.245). Em relação a bens móveis, a aquisição ocorre por meio da tradição (art. 1.267).
Assim, os contratos não transmite diretamente a propriedade, mas possibilitam a
transferência, desde que sejam cumpridos os requisitos aqui mencionados. Essas
normas se aplicam à compra de bens pelo governo.
21. Usucapião

O Código Civil explicitamente autoriza o usucapião, dessa forma identificamos


que é uma outra modalidade de obter bens públicos. Isso significa ser um meio de
aquisição de propriedades (art. 1.238, Código Civil) e define alguns requisitos para a
efetivação da aquisição, tais como a posse do bem por um período específico, a boafé
em certas situações e a sentença que declara a propriedade.

Seria possível questionar se a União, um Estado ou Município, ou até mesmo


uma autarquia, têm o direito de adquirir propriedades através do usucapião. A
afirmação é afirmativa. Ao definir os requisitos para a aquisição da propriedade através
da usucapião, a lei civil não exclui o Estado como um possível detentor do direito.
Portanto, considerando os requisitos legais aplicados aos possuidores particulares em
geral, as entidades de direito público podem adquirir bens através da usucapião.

Uma vez finalizado o processo de aquisição, esses bens se transformarão em


bens públicos. É importante destacar, por oportuno, que o atual Código de Processo
Civil (art. 1.071), acrescentando o artigo. O artigo 216-A da Lei no 6.015/1973 (Lei de
Registros Públicos) passou a permitir a solicitação de reconhecimento extrajudicial de
usucapião (usucapião administrativa), que deve ser realizada diretamente no cartório
de registro de imóveis da comarca onde o imóvel está localizado. Para isso, é
necessário apresentar os documentos requeridos listados no dispositivo. A legislação
exige o cumprimento de um procedimento específico para tal solicitação. Se este for
negado, o interessado pode propor a ação de usucapião (art. 216-A, parágrafo 9o).
Se houver uma contestação válida ao pedido de usucapião, o magistrado deve
remeter o caso ao tribunal da comarca do imóvel, onde o requerente deve alterar a
petição inicial para adequá-la ao procedimento comum. No entanto, se a impugnação
for injustificada, o registrador a rejeitará, situação em que o interessado deve
manifestar dúvida, conforme estabelecido pela Lei de Registros (art. 216-A, da Lei
número 6.015/1973, introduzido pela Lei número 14.382/2022).

22. Desapropriação

O Código Civil refere-se à desapropriação como um método de perda da


propriedade imobiliária (art. Código Civil, artigo 1.275, V).
No entanto, como normalmente a desapropriação é realizada por entidades
públicas, a perda da propriedade pelo proprietário privado representa, de outra
perspectiva, a aquisição pelo expropriante.

Os bens confiscados se convertem em bens públicos assim que entram no


patrimônio do expropriador. Embora possam ser transferidos para terceiros, como
ocorre na reforma agrária, os bens desapropriados continuam sendo considerados
bens públicos enquanto a transferência não ocorre.

23. Acessão

A acessão é outra maneira de adquirir propriedades imobiliárias, conforme


estabelecido no artigo. Código Civil, artigo 1.248. Isso indica que tudo que for
incorporado à propriedade passa a ser propriedade do proprietário, representando um
acréscimo a esse direito.

A acessão pode ocorrer de diversas formas: (a) pela criação de ilhas; (b) por
aluvião; (c) por erupção; (d) pela desertificação de áreas; (e) pela edificação de
estruturas ou cultivos. Já em relação à formação de ilhas, é necessário determinar em
quais águas isso acontece. Se a ilha se origina em águas territoriais ou rios que são
propriedade da União, como já vimos (rios que atravessam mais de um Estado, por
exemplo), ela será claramente federal. Se a formação ocorrer em águas estaduais, a
forma de aquisição beneficiará o Estado.

O fenômeno conhecido como aluvião ocorre quando as águas se acumulam


lentamente nas margens dos rios, expandindo a área das propriedades ribeirinhas.
Avulsão é a separação repentina de uma área de terra que se torna parte de outra
propriedade. Se uma entidade de direito público possuir uma propriedade ribeirinha e
ocorrer um desses fenômenos, os bens privados adquiridos passarão a ser
classificados como bens públicos. Existe também outra situação, na qual as águas do
rio cessam de percorrer seu curso, essa condição é conhecida como álveo
abandonado: o rio, após secar, se converte em terra comum. A desocupação do
terreno é uma forma de adquirir propriedade imobiliária, e a área resultante dessa
situação é repartida entre os proprietários ribeirinhos. Assim como acontece com a
aluvião e a avulsão, o abandono do álveo pode representar a compra de bens por
entidades de direito público, caso sejam proprietárias de terras ribeirinhas. Quando
esses bens passam a fazer parte do seu patrimônio, eles passam a ser classificados
como bens públicos.

Em relação a construções e plantações, aplica-se a norma do artigo. De


acordo com o artigo 1.253 do Código Civil, as obras são consideradas feitas pelo
proprietário e custeadas por ele, até que se comprove o contrário. Se um indivíduo
público constrói ou cultiva em terrenos de sua propriedade, ele também adquire a
propriedade dessas construções e plantações através de acessão.

24. Aquisição Causa Mortis

O autor José Carvalho (2024) explica que neste tipo de aquisição, existe a
possibilidade de adquirir bens pela morte da pessoa da mesma forma como ocorre no
direito privado. E a doutrina explica, que no antigo Código Civil de 1916, o Estado,
seja da figura do Município, Distrito Federal e a União, faziam parte da linha vocacional
no Direito das Sucessões, isso significava que figuravam como legitimados quanto ao
direito de herança. Hoje, com as alterações do Código civil de 2002 foram retirados
desta figura no direito sucessório, mas nos casos em que nenhum dos legitimados
elencados no art. 1829 do Código Civil reclamar a herança, ou talvez, feita renúncia
dos herdeiros o Município ou Distrito Federal terão direito sobre os bens, tendo como
marco para definir a quem pertence o território, e se, localizado em território federal
pertencerá a União (art. 1.844 do CC).

De acordo com José Carvalho (2024), no contexto jurídico, o sistema vigente é


mais técnico, porém, no final das contas, os efeitos serão praticamente os mesmos.
Isso indica que, após a realização dos pressupostos fáticos estabelecidos na lei, as
mencionadas entidades federativas terão direito subjetivo à herança e,
consequentemente, aos bens que a compõem. Nesse contexto, tais propriedades
passam a ser classificadas como bens públicos, podendo ocorrer também nos casos
de herança jacente, quando decorrido o prazo de cinco anos de abertura da sucessão.
E para encerrar o tema, a doutrina ressalta que em relação aos Estados, mesmo não
incluídos neste rol, podem receber a herança através da sucessão testamentária,

assim, ao transferir bem para o ente federativo, integrará o acervo de bens públicos.
25. Arrematação

É a formação do patrimônio público através do bem que foi penhorado, nos


casos de execução, praça ou leilão judicial. Quanto à maneira que será realizada o
procedimento de aquisição, no art. 881 do CPC encontramos de que forma se dará o
Registro do Imóvel de modo que possa integrar aos bens públicos.

26. Resgate na Enfiteuse

José Carlos (2024) esclarece, que a enfiteuse era um direito real sobre o
patrimônio alheio, no qual o uso e o usufruto do bem (domínio útil) eram de
propriedade do enfiteuta, enquanto ao proprietário (ou senhorio direto) restava apenas
a propriedade nua (propriedade abstrata). O Código Civil anterior regulava o instituto,
contudo, o atual Código não mais enquadrou a enfiteuse entre os direitos reais (art.
(2.125). Contudo, não alterou as já vigentes, que seguem sendo regidas pelo Código
anterior (art. (ver 2.038). Portanto, este tópico deve se restringir às enfiteuses
estabelecidas antes da entrada em vigor do atual Código.

Uma das normas que regulavam a enfiteuse dizia respeito ao resgate, uma
condição legal que possibilitava ao enfiteuta, após o período de dez anos, consolidar
a posse, pagando ao senhorio direto um valor estipulado por lei.

A circunstância mais habitual era que, sendo o imóvel público, o senhorio direto
era o Estado e o enfiteuta era o indivíduo. Contudo, nada impedia a inversão da
posição. Se o enfiteuta for uma entidade de direito público e fizer o pagamento devido
ao proprietário-senhorio direto, a propriedade será estabelecida em seu favor e, como
resultado, o bem, antes privado, assumirá a condição de bem público.

27. Aquisição Ex Vi Legis

A doutrina explica, que além das situações mencionadas como métodos de


aquisição de bens, existem outras particularidades e especificidades do direito público,
estabelecidas em leis ou normas constitucionais, que discutiremos de maneira clara e
direta. Este tipo de incorporação de bens é conhecido como aquisição "ex vi legis",
devido ao fato de não se adequar aos regimes convencionais de aquisição de bens.

Uma dessas formas é aquela que emerge dos loteamentos. A norma que
regulamenta a divisão do solo urbano determina que certas áreas dos loteamentos
serão destinadas ao Estado. Assim, desde o registro do loteamento no cartório
apropriado, as vias, praças, áreas livres e, se for o caso, as áreas reservadas para a
edificação de edifícios públicos passam a fazer parte do domínio público. A compra
desses bens - geralmente classificados como bens de uso comum do povo devido à
sua finalidade - não requer nenhum instrumento especial, entrando automaticamente
na categoria de bens públicos. Normalmente, os bens (especialmente os de uso
coletivo do povo) são transferidos para a posse do Município. No entanto, pode
ocorrer, por exemplo, a atribuição de uma área para a construção de uma escola
estadual; neste caso, o bem será de propriedade estadual.

E continua esclarecendo sob outra opção o perdimento de bens, estabelecido


em certas normas jurídicas específicas. Em primeiro lugar, o Código Penal determina
que, entre as consequências da condenação, está a perda para a União dos
instrumentos do crime, caso sejam objetos cuja produção, venda, uso, porte ou posse
sejam caracterizados como atos ilícitos. Isso inclui também o produto do crime ou
qualquer outro bem que resulte do ganho obtido pelo agente ao cometer o crime (art.
("91, I e II"). Estes bens passam a ser classificados como federais, uma vez que
apenas a União é mencionada na legislação penal. Outra legislação que determina o
confisco de bens é a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, que estabelece as
penalidades aplicáveis em situações de improbidade administrativa e enriquecimento
sem causa. Em tais situações, a decisão que considerar o pedido procedente ordenará
o pagamento ou declarará a perda dos bens dos responsáveis, incorporando-os à
entidade jurídica prejudicada (art. "18". Nesta modalidade de compra, os bens podem
ser federais, estaduais, distritais ou municipais, dependendo do indivíduo que tenha
sido prejudicado pela corrupção.

O autor continua informando que a revogação das concessões de serviços


públicos implica também na compra de bens por entidades públicas. Já observamos
que, em certas concessões, os bens do concessionário utilizados na prestação do
serviço podem ser incorporados ao patrimônio do concedente ao final do contrato. A
Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que regulamenta as concessões, estabelece
claramente a possibilidade de reversão (art. 35, § 1º). Com a reversão, esses bens,
anteriormente propriedade privada do concessionário, tornam-se bens públicos,
geralmente classificados como bens de uso especial, caso continuem a ser utilizados
na execução do serviço. Portanto, é outra maneira de adquirir bens públicos.

A figura do abandono de bens, sejam eles móveis ou imóveis, constitui uma


forma de perda de propriedade (art. 1.275, item III. No abandono (ou derretimento), o
proprietário retira o bem de sua posse sem expressar explicitamente seu desejo;
simplesmente demonstra desinteresse por ele. No entanto, é necessário que haja a
intenção de abandoná-lo, uma vez que o simples não uso não resulta na perda da
propriedade.66 Se a posse for interrompida e o proprietário não pagar as obrigações
fiscais sobre o bem, presume-se que ele o deixou; trata-se de uma presunção absoluta
(iuris et de iure), que não é passível de prova contrária (art. 1.276, parágrafo 2 º). A lei
civil estabelece que um imóvel abandonado, que não esteja em posse de terceiros,
pode ser arrecadado como um bem vago e, após três anos, se tornar propriedade do
Município ou do Distrito Federal, caso seja um bem urbano (art. 1.276) ou à União
Federal, caso a propriedade esteja localizada em área rural (art. 1.276, parágrafo 1o).
Portanto, se os requisitos legais forem atendidos, a perda da propriedade resultará na
aquisição dos bens pela entidade federativa, fazendo com que eles se tornem bens
públicos. Essas modalidades possuem especificidades de direito público, porém,
representam situações onde bens públicos são obtidos.

No entanto, alguns escritores sugerem mais duas possibilidades: a


desapropriação de áreas destinadas ao cultivo de plantas psicotrópicas ou a utilização
de trabalho escravo (art. A desapropriação (art. 243, CF) e a investidura, que envolve
a incorporação de uma área remanescente à propriedade devido a uma mudança no
traçado urbano. A primeira situação, no entanto, se enquadra na categoria de
desapropriação, enquanto a segunda, apesar de possível teoricamente, é mais
frequente como meio de alienação, para incorporação a propriedades privadas. Por
essa razão, o assunto será abordado mais detalhadamente no tópico referente à
venda de bens públicos.

28. Bens de domínio público do Estado:

Os bens do domínio público do Estado são aqueles pertencentes a entidades


públicas, como a União, Estados, Municípios, Distrito Federal, Territórios e autarquias.
A expressão "domínio público" pode ter diferentes significados, dependendo do
contexto:

Em um sentido amplo, refere-se a todo o conjunto de bens pertencentes às


pessoas jurídicas de direito público.

Em um sentido restrito, são os bens destinados ao uso comum do povo, como


ruas e praças, e aqueles destinados a fins específicos, como repartições públicas,
formando o que no direito brasileiro são chamados de bens de uso comum do povo e
bens de uso especial.

O conceito de bens do domínio público se baseia no entendimento de que eles


são afectados a um fim público, ou seja, são destinados ao uso coletivo ou ao uso da
Administração Pública para a prestação de serviços que beneficiem a coletividade.
Segundo a doutrina, bens do domínio público compreendem tanto bens móveis quanto
imóveis, como edifícios públicos, estradas, praças, rios navegáveis, veículos oficiais e
outros bens utilizados pela Administração.

Natureza Jurídica

Historicamente, a doutrina divergiu sobre a natureza jurídica desses bens. No


século XIX, havia a ideia de que os bens públicos não poderiam ser considerados
propriedade do Estado, uma vez que não havia um direito de propriedade exclusivo
sobre eles. Autores como Proudhon defendiam que esses bens pertenciam ao povo,
e não ao Estado, devido à sua destinação coletiva.

Com o passar do tempo, prevaleceu a tese da propriedade pública, proposta


por Maurice Hauriou. Segundo essa teoria, o Estado exerce direitos de propriedade
sobre os bens do domínio público, porém essa propriedade é regida pelo direito
público, com restrições e prerrogativas específicas. A Administração Pública tem o
poder de usar, permitir o uso por terceiros e até dispor desses bens, mas sempre
dentro das limitações impostas pela sua destinação pública.

29. Modalidades de Bens do Domínio Público

Os bens do domínio público do Estado são classificados em duas modalidades:

Bens de uso comum do povo: são aqueles que, por sua natureza ou
determinação legal, podem ser utilizados por qualquer pessoa, como ruas, praças, rios
navegáveis e estradas. Esses bens são acessíveis a todos e seu uso não requer
autorização da Administração Pública, a menos que seja necessária a regulação de
forma especial.

Bens de uso especial: são os bens afetados ao uso da Administração para a


prestação de serviços públicos. Isso inclui edifícios onde funcionam repartições
públicas, escolas, museus, bibliotecas, veículos oficiais, aeroportos, mercados
públicos e outros bens utilizados diretamente pela Administração. A expressão "uso
especial" refere-se ao fato de que esses bens servem a uma finalidade pública,
embora seu uso possa ser exclusivo da Administração ou de particulares autorizados
a utilizá-los.

30. Regime Jurídico dos Bens do Domínio Público

Os bens do domínio público estão submetidos a um regime jurídico de direito


público, o que implica várias restrições, sendo as principais:

Inalienabilidade: enquanto mantiverem sua destinação pública, os bens de uso


comum e de uso especial não podem ser vendidos, doados, trocados ou penhorados.
A inalienabilidade, porém, não é absoluta. Bens que perdem sua destinação pública
podem ser desafetados e, a partir desse momento, passar a integrar o domínio privado
do Estado, tornando-se alienáveis.

Imprescritibilidade: esses bens não podem ser adquiridos por terceiros por meio
de usucapião, ou seja, seu uso prolongado por particulares não gera direito de posse
ou propriedade.

Impenhorabilidade: os bens públicos não podem ser penhorados em processos


judiciais, sendo garantidos contra execuções.

31. Afetação e Desafetação

A afetação é o processo pelo qual um bem é destinado a um fim público,


integrando-se ao domínio público. Já a desafetação ocorre quando um bem deixa de
ser utilizado para fins públicos e passa para o domínio privado do Estado. A
desafetação pode ser feita de maneira expressa, por ato administrativo ou lei, ou de
forma tácita, quando o bem perde sua destinação pública de fato, como no caso de
um rio que seca ou um prédio público que é desocupado.
• Bens de uso comum: ruas, praças, estradas, rios, praias e mares.
• Bens de uso especial: repartições públicas, escolas, museus, bibliotecas, veículos
oficiais, aeroportos, cemitérios públicos, mercados e terras devolutas.

Pode-se concluir que, os bens do domínio público do Estado desempenham um

papel fundamental na prestação de serviços públicos e na garantia do uso coletivo de


espaços e recursos naturais. Sua destinação para fins públicos impõe um regime
jurídico específico que busca assegurar sua preservação, inalienabilidade e
destinação ao interesse público, limitando a atuação do Estado no que se refere à
venda ou alienação desses bens

32. BENS PÚBLICOS EM ESPÉCIE

No direito brasileiro, a especificação dos bens públicos está distribuída em


vários diplomas normativos. A Constituição Federal aborda os bens da União em seu
artigo 20, que lista diferentes tipos de bens, incluindo aqueles que atualmente
pertencem à União e outros que podem ser atribuídos a ela. A relação também inclui
terras devolutas necessárias para defesa e preservação ambiental, além de lagos, rios
e correntes de água situados em áreas que pertencem à União ou cruzam limites
interestaduais, servem de fronteira ou se estendem para territórios estrangeiros.
Incluem-se ainda as ilhas fluviais e lacustres situadas nas fronteiras, as praias
marítimas e diversas áreas insulares, com exceções especificadas.

A Constituição também define outros bens como os recursos naturais da


plataforma continental e da zona econômica exclusiva, o mar territorial, terrenos de
marinha, potenciais de energia hidráulica, recursos minerais, cavidades naturais
subterrâneas, sítios arqueológicos e terras indígenas. Os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios têm direito a participar dos resultados da exploração de petróleo, gás
natural e recursos hídricos, conforme estabelecido em lei.

O art. 26 da Constituição trata dos bens dos Estados, incluindo águas


superficiais e subterrâneas, áreas em ilhas oceânicas e costeiras de domínio estadual,
ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União, e terras devolutas não
compreendidas naquelas da União.

A regulamentação de bens imóveis da União está detalhada no Decreto-lei nº


9.760/46. Outros diplomas normativos, como o Código de Águas, o Estatuto da Terra
e o Código Florestal, trazem normas adicionais sobre águas públicas, terras rurais e
outros tipos de bens.

33. Espécies de Bens Públicos

Terrenos Reservados: No direito administrativo, terrenos reservados são áreas


destinadas à servidão pública de trânsito, surgidas com a Lei nº 1.507/1867, que previa
uma faixa de sete braças ao longo de rios navegáveis para tal fim. Atualmente, o
Código de Águas (Decreto nº 24.643/34) considera terrenos reservados aqueles
próximos a correntes navegáveis, com uma faixa de 15 metros medida a partir do
ponto médio das enchentes ordinárias.

Terrenos de Marinha e Seus Acrescidos: São áreas situadas até 33 metros da


linha do preamar médio de 1831 e pertencem à União, podendo ser utilizadas por
particulares sob aforamento ou enfiteuse. Terrenos acrescidos são os formados
naturalmente ou artificialmente ao longo de rios ou mares e pertencem à União, exceto
em casos específicos.

Terras Tradicionalmente Ocupadas pelos Índios: Estas são terras habitadas


permanentemente por povos indígenas, necessárias para suas atividades e
preservação cultural, inalienáveis e insuscetíveis de usucapião. A posse indígena é
garantida constitucionalmente, e a exploração de recursos hídricos e minerais nessas
áreas exige autorização do Congresso Nacional e consulta às comunidades afetadas.

Dessa forma, o direito brasileiro reconhece uma vasta categoria de bens


públicos, cada qual com características e funções específicas para a defesa do
território, preservação ambiental, e atendimento a interesses sociais e culturais.

34. Terras devolutas:

A história da propriedade rural, no Brasil, compreende quatro fases: a de


sesmarias, a de posses, a que se inicia com a Lei de Terras (Lei nº 601, de 18-9-1850)
e a que tem por marco a instauração da República, com a Constituição de 1891. No
início, todas as terras existentes no Brasil eram públicas e pertencentes a Portugal.

As terras utilizadas pelo poder público, aquelas sob legítimas sesmarias ou


sesmarias ilegítimas passíveis de revalidação, e as que estivessem ocupadas para
moradia e cultivo. As demais terras eram consideradas devolutas. Não se pode dizer
que fossem terras sem dono, pois pertenciam ao patrimônio público, que poderia
dispor delas por meio de venda ou doação (art. 1º).

Essa lei também deu origem ao processo de discriminação das terras devolutas;
o art. 10 determinava que o Governo adotasse um método prático para distinguir o
domínio público do particular.

O art. 3º dessa lei define como terras devolutas:

“§ 1º as que não se acharem aplicadas a algum uso público nacional, provincial


ou municipal;

§ 2º as que não se acharem no domínio particular por qualquer título legítimo,


nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou
Provincial, não incursas em comisso por falta de cumprimento das condições de
medição, confirmação e cultura;

§ 3º as que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do


Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta lei;
§ 4º as que não se acharem ocupadas por posses que, apesar de não se
fundarem em título legal, foram legitimadas por esta lei.”

No conceito legal, terras devolutas eram aquelas terras vagas,


abandonadas e não utilizadas, tanto pelo Poder Público quanto por particulares.
Esse entendimento está alinhado ao sentido etimológico do termo "devoluto", que
significa devolvido, vazio ou desocupado.

O Decreto-lei nº 9.760, de 5-9-46, define as terras devolutas federais em seu


art. 5º: “são devolutas, na faixa da fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito
Federal, as terras que, não sendo próprias nem aplicadas a algum uso público federal,
estadual ou municipal, não se incorporaram ao domínio privado:

a) por força da Lei nº 601, de 18-9-1850, Decreto nº 1.318, de 30-1-


1854, e
outras leis e decretos gerais, federais e estaduais;

b) em virtude de alienação, concessão ou reconhecimento por parte


da União
ou dos Estados;
c) em virtude de lei ou concessão emanada de governo estrangeiro
e ratificada ou reconhecida, expressa ou implicitamente, pelo Brasil, em tratado
ou convenção de limites;

d) em virtude de sentença judicial com força de coisa julgada;

e) por se acharem em posse contínua e incontestada com justo título


e boa-fé,
por termo superior a 20 anos;

f) por se acharem em posse pacífica e ininterrupta, por 30 anos,


independentemente de justo título e boa-fé;

g) por força de sentença declaratória nos termos do art. 148 da


Constituição Federal, de 10-11-1937”.

Observe-se que esse decreto foi promulgado durante a vigência da


Constituição de 1937, que previa o usucapião pro labore; daí a menção à "sentença
declaratória nos termos do art. 148 da Constituição de 1937".

O conceito de terras devolutas permaneceu como residual: são


consideradas devolutas aquelas que não estão destinadas a nenhum uso público
nem incorporadas ao domínio privado.

As terras devolutas são um tipo de terra pública, como terrenos reservados, de


marinha e terras indígenas. São destinadas a uso comum ou especial, nem
incorporadas ao domínio privado por título legítimo. Integram os bens dominicais de
qualquer das entidades estatais, não sendo destinadas a fins administrativos
específicos. No Brasil, todas as terras que não são particulares são presumidas
públicas até que se prove o contrário.

O art. 225, § 5º, da Constituição de 1988 trouxe uma inovação, ao estabelecer


que “são indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais”.

O conceito residual de terras devolutas permanece válido, abrangendo todas


as terras no território brasileiro que não foram legitimamente incorporadas ao domínio
privado, bem como as já incorporadas ao patrimônio público, mas sem destinação
para uso público.

A primeira parte do conceito inclui terras ainda não discriminadas, mantendo o


sentido original de "devoluto" (vago, sem dono). A segunda parte abrange terras já
incorporadas ao patrimônio público.

A definição e a abrangência das terras devolutas são especialmente relevantes


para o usucapião. Salvo o período anterior ao Código Civil de 1916 e algumas
exceções (como o usucapião pro labore nas Constituições de 1934, 1937 e 1946, e o
usucapião especial pela Lei nº 6.969/81), a regra no direito brasileiro tem sido a
proibição do usucapião de bens públicos. Essa proibição foi reafirmada sem exceções
pela Constituição de 1988 (arts. 183, § 3º, e 191, parágrafo único).

As terras já incorporadas ao patrimônio público são incontestavelmente


insuscetíveis de usucapião. Contudo, quanto às demais terras devolutas, há
controvérsias na jurisprudência, inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF).

Trata-se de uma presunção juris tantum, cabendo ao interessado em adquirir


a terra por usucapião demonstrar que ela não é devoluta, provando que foi
legitimamente adquirida por um particular. O Estado não precisa comprovar nada, pois
a única forma de demonstrar que a terra não pertence a um particular é por meio de
ação discriminatória.

As terras devolutas passaram por diferentes fases de titularidade ao longo da


história brasileira:

Durante o período colonial, pertenciam a Portugal.

Na época imperial, eram da Coroa.

Com a Proclamação da República, a Constituição de 1891 transferiu-as para os


Estados, reservando à União apenas aquelas essenciais para a defesa das fronteiras,
fortificações, construções militares e estradas de ferro federais (art. 34).

A Constituição de 1946 reconheceu as terras devolutas como bens da União


(art. 4º, I). Em seguida, a Constituição de 1967, por meio da Emenda nº 1 de 1969,
reservou à União "a porção de terras devolutas indispensável à segurança e ao
desenvolvimento nacionais" (art. 4º, I).

Na Constituição de 1988, essa classificação foi ampliada para incluir "as terras
devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em
lei" (art. 20, II).

Essa mudança trouxe uma definição mais restritiva, limitando as terras


necessárias a apenas aquelas mencionadas, em contraste com as definições mais
amplas das constituições anteriores. Ao mesmo tempo, houve uma ampliação ao
incluir terras para preservação ambiental.

Assim, parece ter ocorrido uma reversão ao domínio público federal,


recuperando terras devolutas que antes pertenciam aos Estados. A definição dessas
terras será estabelecida por lei, e a elas se aplica o art. 225, § 5º, da Constituição.

O processo de discriminação de terras devolutas foi regulamentado pelo


Decreto-lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946, que estabeleceu uma fase
administrativa e uma fase judicial. A Lei nº 3.081, de 22 de dezembro de 1956, trouxe
apenas o processo judicial, mas o Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro
de 1964) restabeleceu a instância administrativa, conforme o Decreto-lei nº 9.760.
Atualmente, a matéria é regulamentada pela Lei nº 6.383, de 7 de dezembro de 1976,
que prevê tanto o processo administrativo quanto o judicial, aplicando-se também às
terras devolutas estaduais, conforme o art. 27.

O objetivo do processo discriminatório é diferenciar as terras públicas das


particulares, verificando a legitimidade dos títulos de domínio privados e, por exclusão,
identificando as terras de domínio público.

Desde a Lei nº 601, de 1850, a intenção ao criar o procedimento de


discriminação de terras devolutas sempre foi legitimar as posses que atendem aos
requisitos de cultura efetiva e morada habitual. Assim, ao final do processo de
discriminação, o Poder Público legitima a posse em benefício daqueles que cumprem
os requisitos legais estabelecidos no art. 29 da Lei nº 6.383/76.
Tanto o processo administrativo quanto o judicial de discriminação incluem uma
fase de convocação dos interessados e uma fase de demarcação.

Na primeira fase da instância administrativa, ocorre o chamamento, por edital,


de todos os interessados em áreas localizadas em um perímetro previamente definido,
para que apresentem seus títulos de domínio, documentos, informações e, se
necessário, testemunhas.

Após o término do prazo, o Poder Público deve se manifestar sobre os


elementos apresentados. Para as áreas que suscitarem dúvidas sobre a legitimidade
dos títulos, será proposta uma ação judicial; em relação aos títulos legítimos, será
lavrado o termo pertinente.

Em seguida, inicia-se a segunda fase, de demarcação, na qual, com a ajuda de


peritos, serão delimitadas as terras consideradas devolutas, as que pertencem ao
domínio particular (tanto as já registradas quanto as reconhecidas durante o
processo), as terras passíveis de legitimação de posse (caso atendam aos requisitos
de cultura efetiva e morada habitual) e as terras cujos títulos apresentarem dúvidas.

35. Faixa de fronteira:

A faixa de fronteira é uma área de 150 km de largura ao longo das fronteiras


terrestres do Brasil, considerada estratégica para a segurança nacional. A ocupação
e utilização dessa área estão sujeitas a restrições especiais impostas por lei. Com
base no art. 1º, § 3º, da Lei nº 13.240, de 30-12-15, considera-se faixa de segurança
“a extensão de trinta metros a partir do final da praia, nos termos do § 3º do art. 10 da
Lei nº 7.661, de 16-5-1988”.

É prevista desde a Lei nº 601, de 1850, cujo art. 1º fixava uma largura de dez
léguas. Essa faixa foi fixada depois em 100 km (Decreto nº 24.643, de 10-7-34, art.
29, I, c); depois passou a ser de 150 km (Decreto-lei nº 852, de 11-11-38, art. 2º, V);
atualmente, é mantida essa largura pela Lei nº 6.634, de 2-5-79, e pelo art. 20, § 2º,
da Constituição Federal.

A constituição de 1891 foi definido que a faixa de fronteira sejam publicas e de


propriedade da União.
O art. 91, § 1º, III, da Constituição dá ao Conselho de Defesa Nacional
competência para “propor os critérios e condições de utilização de áreas
indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso,
especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e
exploração dos recursos naturais de qualquer tipo”. Além disso, o art. 20, § 2º,
determina que a faixa de 150 km de largura, ao longo das fronteiras, é considerada
fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão
reguladas em lei.

As restrições ao uso e alienação das áreas situadas na faixa de fronteira são


as estabelecidas na Lei nº 6.634, de 2-5-79, com alterações posteriores.

Ilhas:

A Ilha é a porção de terra cercada por água de todos os lados, se classificamse,


geograficamente, em marítimas, fluviais e lacustres.

As Ilhas marítimas se subdividem-se em:

Costeiras: Resultam do relevo continental ou da plataforma submarina.

Oceânicas: Localizam-se afastadas da costa e têm origem distinta das ilhas


costeiras.

Além disso, temos:


Ilha fluvial: Formada pela bifurcação ou pelos braços dos rios.

Ilha lacustre: Situada em lagoa ou lago.

Os Estados são proprietários das áreas localizadas em ilhas oceânicas e


costeiras que estiverem sob seu controle, excluindo aquelas que pertencem à União,
Municípios ou a terceiros (art. 26, II). O texto implica que certas áreas dessas ilhas
podem ser de propriedade privada.

Além disso, pertencem também aos Estados “as ilhas fluviais e lacustres não
pertencentes à União” (art. 26, III); ou seja, ficam excluídas do domínio dos Estados
as ilhas situadas nas zonas limítrofes com outros países.
Ao falar em ilhas fluviais e lacustres, quer-nos parecer que a Constituição
somente se refere àquelas que se formam nas águas públicas; as situadas em águas
particulares a estes pertencem, conforme art. 23 do Código de Águas.

As ilhas públicas podem constituir bens dominicais ou de uso comum do povo,


conforme estabelece o art. 25 do Código de Águas.

36. Águas públicas:

O Código de Águas classificava as águas públicas em quatro categorias: a)


águas públicas; b) águas comuns; c)águas particulares; d)águas comuns de todos.

No art. 1º diz que “as águas públicas, por sua vez, podiam ser de uso comum
ou dominicais.”

O art. 2º indicava as águas públicas de uso comum:

a) os mares territoriais, nos mesmos incluídos os golfos, baías, enseadas e


portos;

b) as correntes, canais, lagos e lagoas navegáveis ou flutuáveis;

c)as correntes de que se façam estas águas;

d)as fontes e reservatórios públicos;

e) as nascentes quando forem de tal modo consideráveis que, por si sós,


constituam o caput fluminis;
f) os braços de quaisquer correntes públicas, desde que eles influam na
navegabilidade ou flutuabilidade.

Com base no art. 6º do Código de Águas, as águas públicas dominicais são


todas as águas situadas em terrenos que também o sejam, quando elas não forem do
domínio público de uso comum, ou não forem comuns.

No art. 8º do Código de Águas, diz que as águas particulares são aquelas


localizadas em terrenos particulares, excluindo-se as classificadas como águas
comuns de todos, públicas ou comuns.

São bens da União, de acordo com os incisos III e VI do art. 20 da Constituição,


lagos, rios e quaisquer correntes de água situados em terreno de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
territórios estrangeiros ou deles provenham, bem como os terrenos marginais e praias
fluviais, e o mar territorial.

Aos Estados pertencem as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,


emergentes ou em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes
de obras da União (art. 26, I, CF).

A competência para legislar sobre águas foi reservada privativamente à União


pelo art. 22, IV, da Constituição; além disso, a ela foi dada a atribuição de “instituir
sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga
de direitos de seu uso” (art. 21, XIX).

Isto, contudo, não impede os Estados de estabelecerem normas sobre o


policiamento de suas águas, visando a sua proteção, pois o art. 24, inciso VI, da
Constituição lhes defere competência concorrente com a União para legislar sobre
“florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição”.

As águas públicas permitem uso comum e privativo.

O uso comum é gratuito e acessível a todos, sujeito ao poder de polícia do


Estado para regulamentação e fiscalização, e não tem natureza de direito subjetivo,
podendo ser exercido por nacionais e estrangeiros.

O uso privativo exige um ato de outorga do Poder Público, conforme o Código


de Águas, que prevê autorização e concessão para interesse privado ou serviço
público (art. 43). A outorga não é necessária para derivações insignificantes.

O Código de Águas estabelece normas para autorização e concessão de uso


das águas:

O uso pode ser autorizado ou concedido por até 30 anos (ou 35 anos, conforme
a Lei nº 9.433/97).

A utilização não deve prejudicar a navegação, exceto em casos especiais.

O uso da derivação é um direito real que se transfere ao novo proprietário em


caso de venda do imóvel.
Mudanças de titularidade dependem do consentimento da Administração.

Há ações judiciais disponíveis para defesa de direitos dos particulares.

A competência para autorizar ou conceder é da União ou dos Estados, exceto


para energia hidrelétrica, que é da União.

Os direitos de uso podem ser extintos por várias razões, como renúncia ou
expiração do prazo.

O uso é revogável a qualquer momento.

A diferença entre autorização e concessão é que a autorização é um ato


unilateral e não requer licitação, enquanto a concessão é um contrato que envolve
outorga de poderes públicos e requer concorrência. A Lei nº 9.984 confunde os termos,
sugerindo que a autorização pode ter prazos longos, quando na verdade se refere a
uma concessão.

37. Minas e jazidas:

Jazida é “toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflorando


à superfície ou existente no interior da terra e que tenha valor econômico”; esse
conceito é dado pelo art. 4º do Decreto-lei nº 227, de 28-2-67 (Código de Mineração),
com alterações posteriores.

A jazida é fenômeno geológico, da natureza, enquanto a mina é o resultado de


exploração da jazida, traduzindo uma atividade econômica e produtiva.

Os sistemas jurídicos para a exploração e aproveitamento de jazidas incluem:

Sistema fundiário ou da acessão: A jazida pertence ao proprietário do solo, com


o Estado apenas exercendo a fiscalização. Este sistema abrange a propriedade do
solo, subsolo e espaço aéreo.

Sistema dominial ou regaliano: A propriedade do subsolo é distinta da do solo.


As jazidas pertencem à Coroa, que pode explorá-las diretamente ou autorizar
terceiros, que devem pagar uma compensação pelo direito de exploração.
Sistema da res nullius ou industrial: Recursos naturais não pertencem a
ninguém, e cabe ao Estado conceder sua exploração.

Sistema da ocupação: O direito à jazida é dado ao primeiro ocupante que a


descobrir, que pode explorá-la.

Sistema da concessão: A jazida pertence ao Estado, que pode conceder a


exploração e aproveitamento a particulares.

Durante o período colonial e sob as Ordenações Filipinas, as jazidas eram


propriedade da Coroa, que explorava o regime regaliano, exigindo o pagamento do
“quinto” pelos concessionários. Após a Independência, a Lei de 1823 manteve as
minas sob a propriedade da Nação.

A Constituição de 1891 adotou o sistema de acessão, onde as jazidas


pertenciam ao proprietário do solo, reafirmado pelo Código Civil de 1916. A falta de
legislação específica levou ao declínio da mineração.

O Código de Minas de 1934 introduziu o sistema de concessão, separando a


propriedade das jazidas da do solo. A Constituição de 1934 assegurou ao proprietário
do solo preferência na exploração e participação nos lucros. A Constituição de 1937
manteve essas diretrizes, restringindo a concessão a brasileiros.

A Constituição de 1946 eliminou o direito à participação nos lucros, mantendo


apenas o direito de preferência. A Constituição de 1967 extinguiu esse direito de
preferência, permitindo que o proprietário do solo requisitasse o direito de pesquisa e
lavra em igualdade com terceiros, priorizando o pedido anterior.

Na Constituição atual, o art. 176 estabelece que jazidas e recursos minerais são
propriedade da União, distinta da do solo, para fins de exploração. O concessionário
tem direito à propriedade dos produtos da lavra, e o proprietário do solo pode participar
nos resultados da lavra, conforme estipulado por lei.

O art. 20, § 1º, garante que Estados, Municípios e órgãos da União também
participem dos resultados da exploração de petróleo, gás natural e recursos hídricos
para geração de energia elétrica em seus territórios.
A pesquisa e lavra dependem de autorização ou concessão da União, que deve
ser concedida a brasileiros ou empresas brasileiras. A autorização de pesquisa tem
prazo determinado, e qualquer cessão ou transferência de autorizações e concessões
exige a anuência do poder concedente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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São Paulo: Malheiros, 2019.

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Thomson Reuters Brasil, 2021.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 46. ed. São Paulo:
Malheiros, 2020.
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos. 18. ed. São Paulo: Dialética, 2018.

FERREIRA, Manuel. Bens Públicos: Regime Jurídico e Aplicações Práticas.


São Paulo: Saraiva, 2016.

Di Pietro, Maria Sylvia Zanella, 1943- Direito administrativo / Maria Sylvia


Zanella Di Pietro. – 35. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

NOHARA, Irene Patrícia D. Direito Administrativo. 12ª ed. Rio de Janeiro: Atlas,
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https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786559774289/. Acesso em:
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FILHO, José dos Santos C. Manual de Direito Administrativo. 37ª ed. Rio de
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