Aula 9. SOP 5
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Figura 1 - Diferença ecográfica entre ovário multicístico e ovário policístico. Notar que no ovário policístico, além do aumento no número de folículos, também
há aumento no volume do estroma ovariano
Valendo-se destes estudos em maio de 2003 de é provavelmente de origem ovariana, como nas
em Rotterdam (Holanda) no encontro da European falências ovarianas precoces.
Society for Human Reproduction (ESHRE) e As mulheres destas duas categorias apresen-
da American Society of Reproductive Medicine tam amenorréia muito mais freqüentemente que
(ASRM), novos critérios para o diagnóstico da SOP oligomenorréia. Entretanto, a grande maioria da
foram sugeridos. Para confirmar o diagnóstico pacientes que sofrem de anovulação crônica (cerca de
dois destes três achados devem estar presentes: 80%) apresentam gonadotrofinas e níveis estrogênicos
hiperandrogenismo (clínico ou laboratorial), ano- dentro da normalidade e são classificadas como grupo
vulação crônica (oligo ou amenorréia) e ovários II (OMS-II). Amenorréia é tão freqüente quanto a
policísticos (presença ao exame ecográfico de 12 ou oligomenorréia neste grupo, e representa algo entre
mais folículos entre 2 e 9 mm de diâmetro médio 20 a 25% dos casais inférteis (Rowe et al., 2000).
ou volume ovariano de 10 cm3 ou mais (apenas um
ovário é suficiente para o diagnóstico).
Na presença de corpo lúteo ou de um folículo
com 10 mm de diâmetro ou mais, deve-se realizar a Calendário Mestrual
ultra-sonografia no ciclo subseqüente para confirmar
o diagnóstico. Deve-se também excluir a presença de Em mulheres oligomenorreicas, o sangramen-
hiperprolactinemia, doença tiroideana, hiperplasia to anovulatório pode ocorrer devido a flutuação dos
adrenal congênita de início tardio ou síndrome de níveis estrogênicos, ou o sangramento por privação
Cushing, assim como no consenso anterior. pode ocorrer após ovulações ocasionais. Mesmo
Stein e Leventhal, 1935, descreveram estigmas
ovulatórios em algumas de suas pacientes. Mulhe-
res oligomenorreicas com alguns ciclos ovulatórios
Classificação da OMS para Infertilidade Anovulatória podem engravidar espontaneamente e nunca procu-
rar auxílio médico. Estas normalmente apresentam
A classificação ideal da infertilidade anovu- atividade estrogênica normal, sendo freqüente a
latória deveria visar os seguintes objetivos: separar presença de níveis elevados de estrona.
doenças de início súbito que podem levar a disfunção O encurtamento dos intervalos menstruais
ovariana (tumores adrenais, prolactinomas, doenças relacionados ao envelhecimento em pacientes com
auto-imunes) de doenças crônicas como diabetes SOP já foi relatado e provavelmente se deve à perda
mellitus tipo 2, doença cardiovascular, obesidade; do número de folículos totais devido à atresia, o que
deveria estabelecer quando a indução da ovulação levaria a um novo balanço no controle endometrial.
pode ser útil e qual o medicamento mais apropriado Além disso, também ocorrem mudanças clínicas,
e, finalmente, discriminar entre pacientes com maio- endócrinas e ecográficas nestas pacientes com o
res chances de fertilização apenas com a indução decorrer da idade (Bili et al., 2001).
da ovulação das que deveriam usar técnicas mais
complexas de reprodução assistida como primeira
opção. Também seria adequado que se identificassem
as pacientes com risco elevado para desenvolver a Massa e Composição Corporal
síndrome de hiper-estimulação ovariana.
Em 1968 uma classificação voltada para a clí- Vários estudos epidemiológicos têm enfatizado
nica foi criada, sendo posteriormente modificada e a importância da composição corporal, especialmente
recomendada, em 1995, pela European Society for o padrão de distribuição abdominal de tecido adiposo
Human Reproduction and Embriology (ESHRE) (ou andrógeno), como fator de risco para doenças
e, em 2000, pela Organização Mundial da Saúde cardiovasculares ou metabólicos como diabetes melli-
(OMS). De acordo com esta classificação, que é tus. É óbvio que os hormônios esteróides têm efeito
baseada nos níveis séricos de gonadotrofinas e sobre o metabolismo e a distribuição da gordura. Nas
estrogênio, as pacientes podem ser classificadas mulheres, os parâmetros de composição corporal e
em três grupos principais. Pacientes apresentando índice de massa corporal apresentam clara associação
baixos níveis de gonadotrofinas e ausência de ati- com a função reprodutiva (Lobo et al., 1982).
vidade estrogênica constituem o grupo I (OMS-I), A função ovariana pode variar, em resposta a
sugerindo uma origem central (hipotalâmico-hipo- fatores endógenos e exógenos que afetam o balanço
fisário), como a anorexia nervosa. As pacientes que energético, desde ciclos ovulatórios regulares e com-
apresentam baixos níveis estrogênicos, mas altos pletos, passando por supressão da fase lútea, supres-
níveis de gonadotrofinas, são classificadas como são da fase folicular, falência ovariana, oligomenorréia
grupo III (OMS-III), sugerindo que a anormalida- até a amenorréia. Tanto o balanço energético negativo
exógenos também se apresentam com ovários poli- Devido à restrição dietética nas obesas com
císticos à ultra-sonografia (Pache et al., 1993). SOP reduzir tanto a resistência à insulina quan-
Os inibidores intra-ovarianos da ação do FSH to o hiperandrogenismo, a redução no peso é a
podem ser responsáveis pela inadequada indução da melhor medida nestas pacientes. Similarmente,
atividade da aromatase nas células da granulosa de o uso de sensibilizadores da ação da insulina (em
pequenos folículos. Então, devido à baixa atividade especial a metformina) melhora a resistência à
da aromatase, os folículos permanecem em um meio insulina e tornou-se nova opção para a indução
predominantemente androgênico, o que promove da ovulação. Uma boa evidência de como a resis-
o prolongamento (ou falha) da maturação folicular tência à insulina está presente nas pacientes com
e hiperandrogenismo ovariano, entretanto não foi SOP é a demonstração (dos Reis et al., 1995) de
detectada evidência de mutação no gene da aroma- que a área sob a curva da insulina de pacientes
tase associada à SOP (Soderlund et al., 2005). obesas e não obesas com SOP após o teste oral
Aproximadamente 95% das mulheres hipe- de tolerância à glicose é significativamente maior
randrogênicas irão sofrer de SOP e até 74% das que em pacientes sem disfunção ovariana e sem
hiperandrogênicas que relatam ciclos menstruais obesidade (ver Figura 2).
regulares apresentam evidências ecográficas de
ovários policísticos (Carmina et al., 1999).
Para o diagnóstico do hiperandrogenismo,
a concentração de testosterona (principalmente a
fração livre) mostrou-se ser a mais sensível medi-
da isolada para detectar o hiperandrogenismo de 150
Glicose (mg/dL)
origem ovariana (Imani et al., 2000).
100
Resistência à Insulina
50
A SOP pode ser associada à resistência à in-
sulina em mais de 50% das pacientes (Dunaif et al., 0
1999). Este fato, em freqüente associação à obesida- 0 30 60 90 120
de, explica a prevalência aumentada de intolerância Tempo (min)
à glicose nestas pacientes. A resistência à insulina 100
parece estar relacionada à fosforilação excessiva do
receptor de insulina (Li et al., 2002). A fosforilação da 80
serina também parece modular a atividade da enzima
Insulina (MU/ml)
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