LIVRO EDUCAÇÃO A DISTANCIA - BIANCHI E MORÉ

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Educação a Distância 4.

0:
Experiências, Oportunidades e Desafios
em IES Públicas Brasileiras
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina

B823e

Brasil. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.


Universidade Aberta do Brasil.
Educação a distância 4.0: experiências, oportunidades e desafios em
IES públicas brasileiras / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior, Universidade Aberta do Brasil ; Universidade Federal
de Santa Catarina, Secretaria de Educação a Distância. – Florianópolis :
SEAD/UFSC, 2020.
196 p. : il., gráf., tab.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-00-04777-6

1. Ensino à distância. 2. Educação aberta. 3. Educação – Efeito das


inovações tecnológicas. I. Universidade Federal de Santa Catarina.
Secretaria de Educação a Distância. II. Título.

CDU 37.018.43(81)

Elaborada pela bibliotecária Suélen Andrade – CRB-14/1666

CC BY-NC

Esta licença permite que outros remixem, adap-


tem e criem a partir do seu trabalho para fins
não comerciais, e embora os novos trabalhos
tenham de lhe atribuir o devido crédito e não
possam ser usados para fins comerciais, os
usuários não têm de licenciar esses trabalhos
derivados sob os mesmos termos.
Educação a Distância 4.0:
Experiências, Oportunidades e Desafios
em IES Públicas Brasileiras

Organizadores
Isaías Scalabrin Bianchi
Rafael Pereira Ocampo Moré
FICHA TÉCNICA

Organizadores
Isaías Scalabrin Bianchi
Rafael Pereira Ocampo Moré

Projeto Gráfico Editorial


Luciano Patrício Souza de Castro
Heliziane Barbosa

Diagramação
Heliziane Barbosa

Revisão
Maria Luiza Rosa Barbosa

Ilustração da Capa
Pikisuperstar – Disponível em freepik.com
AGRADECIMENTOS
A elaboração desta obra não teria sido possível sem o apoio da Coordena-
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que tem
estimulado e colaborado com a educação a distância (EaD) da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) desde a criação da Universidade Aberta
do Brasil (UAB), em 2006. Gostaríamos, também, de expressar toda a
nossa gratidão e o nosso apreço a todos aqueles que, direta ou indire-
tamente, contribuíram para que este livro se tornasse uma realidade. A
todos queremos manifestar os nossos sinceros agradecimentos.

Em primeiro lugar, ao professor Ubaldo César Balthazar, Magnífico Reitor


da UFSC, pela condução e pelo apoio incondicional ao desenvolvimento
da EaD na UFSC.

Ao Professor Luciano Patrício de Souza Castro, Secretário de Educação a


Distância da Universidade Federal de Santa Catarina (SEAD-UFSC), que
sempre atuou, decisivamente, para o desenvolvimento da EaD na UFSC,
e colaborou com a manutenção do Núcleo UAB desta universidade.

Ao Professor Alexandre Marino Costa, Pró-Reitor de Graduação da UFSC,


por sua disposição em compartilhar seus conhecimentos na área de EaD e
seus estudos relacionados a métodos e processos voltados à educação, os
quais contribuem para a expansão e a institucionalização da EaD da UFSC.

À Professora Mônica Motta Lino, Coordenadora de Tutoria da UFSC, que


sempre ajudou nas pesquisas científicas, nos projetos de EaD e na coor-
denação de todos os tutores da UFSC, por colocar-se, continuamente, à
disposição para o fortalecimento do Núcleo UAB da UFSC, assim como
para a institucionalização da EaD nesta universidade.

À equipe da UAB: Andrey Anderson dos Santos, Thays Izabel Silva, Sérgio
Machado Wolf, agradecemos o modo como conduzem suas ações no Núcleo
UAB e por colaborarem com a EaD na UFSC, sempre de modo prestativo,
a partir de critérios científicos.

À equipe da SEAD: Wilton José Pimentel Filho e Maria José Nunes Pires
Feijó, agradecemos o modo como sempre se colocaram à disposição com
o Núcleo UAB e por colaborarem com a universidade no tocante à EaD.

À equipe técnica que atuou no projeto deste livro: Maria Luiza Rosa Barbosa
e Heliziane Barbosa, que nos ajudaram em todo o desenvolvimento desta
obra, desde sua concepção, diagramação, revisão e ajustes necessários
para sua finalização.

À equipe da SETIC: Roberto Tagliari Hoffmann, Juliana de Bona Garcia


Vendruscolo, André Fabiano Dyck e Leonardo Meurer, por sempre cola-
borarem e serem prestativos com o Núcleo UAB. Os recursos do Moodle
e as ferramentas de gestão, desenvolvidos e fornecidos por vossa equipe,
são indispensáveis para o EaD da UFSC.
Finalmente, a nossos familiares que nos têm apoiado ao longo deste pe-
ríodo em que estamos atuando na coordenação do Núcleo UAB da UFSC.
A todos agradecemos por viabilizarem a realização desta obra, por meio
da qual se torna possível difundirmos, ainda mais, os conhecimentos
acerca de ações desenvolvidas, no Brasil, na área da EaD.

Isaias Scalabrin Bianchi, Dr.


Coordenador Adjunto UAB-UFSC

Rafael Pereira Ocampo Moré, Dr.


Coordenador UAB-UFSC
PREFÁCIO
Educação a distância 4.0 com qualidade
A educação 4.0 é uma exigência nos dias atuais. Em meio às constantes
inovações tecnológicas, a educação não pode parar no tempo, pois o acesso
ao conhecimento, agora, é oportunizado por formas cada vez mais diversas
e espontâneas. Alinhadas ao planejamento pedagógico da educação 4.0,
estão as metodologias ativas, cujas técnicas integram o ensino híbrido,
modalidade que torna possível o acesso aos conteúdos ora em casa, ora
presencialmente. E, quando se fala em ensino híbrido, é primordial afirmar
que a educação a distância (EaD) é a forma de aprendizado mais abrangente
e eficaz nos campos do ensino e da capacitação profissional. Capacitar
com eficácia e abrangência significa, portanto, ensinar de forma diferente
e inovadora. Convém lembrar, ainda, que essas inovações viabilizam, por
exemplo, a colaboradores de uma empresa ou servidores de uma insti-
tuição a busca por conhecimento e lhes faculta, igualmente, participar de
capacitações flexíveis, as quais lhes permitem conciliar hábitos laborais
com os particulares.

Além dessa abrangência, a eficácia está diretamente relacionada às ino-


vações tecnológicas, como a realidade aumentada (RA) que conecta o
cursista a situações reais para a aprendizagem, mesmo estando a dis-
tância. Assim, ao aliar a qualidade necessária ao desenvolvimento dessas
tecnologias, é possível obter-se o êxito planejado. Convém, ainda, pontuar
que, associada aos notórios benefícios da educação 4.0 e da educação a
distância (EaD), eis que surge a educação a distância 4.0, a qual apresenta
muitas características que a diferem, significativamente, da modalidade
de ensino convencional, tornando-a complexa. Assim, tendo em vista
essa complexidade, o planejamento das ações deve ser bem estruturado,
o que requer um cuidadoso trabalho na concepção, no desenvolvimento
e na implementação de formações ofertadas nessa modalidade. Note-se,
portanto, que o projeto pedagógico, a utilização de recursos tecnológicos,
a produção de materiais didáticos e a adequação da linguagem para que
os conteúdos sejam não só compreendidos com maior facilidade mas
também atrativos para os cursistas, são alguns dos pontos fundamentais
para o êxito do processo de aprendizagem na modalidade a distância 4.0.

Para que tudo isso aconteça, é necessário um trabalho integrado, desenvol-


vido por uma equipe multidisciplinar de especialistas, os quais desempe-
nham funções distintas em áreas específicas que vão desde o planejamento
até a oferta dos cursos. Estruturalmente, o projeto de um curso deve ser
gerenciado a partir de um corpo de profissionais, cujo conjunto nuclear
envolve atribuições de coordenação geral e coordenação técnica. Com
vistas ao pleno desenvolvimento do objeto, esse núcleo de profissionais
supervisiona e coordena uma equipe destinada especialmente à produção
de materiais didáticos. Esses materiais devem, com efeito, estar sempre
integrados a diferentes mídias, de modo a viabilizar a produção do conhe-
cimento e a interação entre conteúdos e cursistas. Entre os profissionais
que compõem as equipes multidisciplinares lideradas por um supervisor
de produção, estão as seguintes equipes: designers instrucionais; designers
gráficos; ilustradores; animadores; produtores de vídeo; programadores;
gerenciadores de ambiente virtual de aprendizagem; e revisores de texto.
Além desses profissionais, outros colaboradores também podem compor
as equipes multidisciplinares.

Importa, também, salientar que, para a excelência no processo de desen-


volvimento de um curso que resulte, consequentemente, em um processo
de aprendizagem com qualidade, todos devem, sem exceção, estar mini-
mamente qualificados e capacitados para exercerem suas funções. Dessa
forma, necessário se faz que cada membro da equipe entenda, claramente,
a função que ocupa e sua importância no fluxograma de trabalho, no
qual são levantadas e organizadas as atribuições de cada equipe e seus
momentos de atuação no fluxo de produção. Equipe capacitada é, por
conseguinte, sinônimo de qualidade 4.0.

Dado o exposto, cabe sublinhar que os artigos que compõem este livro
se configuram como uma significativa contribuição para a discussão do
estado da arte na área de EaD, justamente pelas reflexões suscitadas a
partir de ações implementadas em distintas situações e regiões do país.
Ressalta-se, ainda, que os mais variados trabalhos desenvolvidos pelos(as)
autores(as), os quais se constituíram em práticas de ensino em institui-
ções superiores e/ou em capacitações específicas, foram viabilizados pela
utilização de recursos tecnológicos, os quais são corroborados, explícita
ou implicitamente, pelo eixo condutor que é a educação a distância 4.0,
capaz de desempenhar função relevante em todos assuntos abordados.

Uma ótima e proveitosa leitura a todos(as)!

Prof. Dr. Luciano Patrício Souza de Castro


Secretário de Educação a Distância
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
SUMÁRIO

A criação do primeiro ambiente virtual em língua de sinais:


10 curso on-line de pedagogia bilíngue

A universidade aberta do Brasil e a inclusão educacional: perfil


26 dos ingressantes na Universidade Estadual do Ceará

40 Competência empreendedora dos coordenadores dos polos UAB

Gamificação na educação on-line: o plugin bloco game como


56 estratégia de gamificação no Moodle

A filosofia e as imagens: uma experiência de ensino na modalidade


68 a distância

Método de ensino e perfil socioeconômico do aluno:


82 desenvolvendo estratégias para o estudo da filosofia na modalidade
a distância

Avaliação na educação mediada por tecnologias digitais:


100 reflexões orientadas pela teoria da aprendizagem significativa
de David Ausubel

114 Desafios atuais da educação a distância, o trabalho do tutor


presencial – uma revisão bibliográfica

128 Relato de atividades sociais realizadas no polo UAB Aracruz/ES


como estratégia de interação e redução da evasão

144 Experiência: aulas práticas para o ensino de botânica na EaD

156 Educação a distância: uma avaliação sobre o ambiente virtual


de aprendizagem Moodle e o aplicativo Whatsapp

170 Desempenho na gestão da educação a distância em uma


Instituição Federal de Ensino Superior

Curso de atendimento educacional em ambiente hospitalar


184 e domiciliar: estruturação e funcionamento
A criação do primeiro
ambiente virtual em
língua de sinais:
Curso on-line de pedagogia bilíngue
Dirceu Esdras Bruno Galasso
Instituto Nacional de Educação de Surdos Instituto Nacional de Educação de Surdos
[email protected] [email protected]

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo apre- bilíngues, analisadas em seus aspectos te-
sentar a primeira plataforma de ensino e óricos e técnicos (pré-produção, tradução e
aprendizagem totalmente bilíngue (Libras/ pós-produção), com a descrição dos princípios
língua portuguesa), bem como o modelo de da aprendizagem multimídia vinculados à con-
educação bilíngue desenvolvido para o curso de cepção de objetos digitais bilíngues. Passado
graduação em Pedagogia do Instituto Nacional mais de um ano de utilização da plataforma
de Educação de Surdos. Com o propósito de por estudantes das cinco macrorregiões do
colocar os estudantes surdos na vanguarda da Brasil, é possível concluir que a gama de re-
aprendizagem, procura-se evidenciar o de- cursos descritos neste trabalho potencializa
senvolvimento de uma proposta metodológica variados procedimentos didático-pedagógicos
pioneira mediante o uso de uma plataforma nos processos de ensino e aprendizagem de
totalmente navegável por meio da Língua estudantes surdos e ouvintes.
de Sinais, incluindo ferramentas como Mapa
Mental, Fórum Bilíngue, Ambiente Pessoal
de Aprendizagem, Repositório Digital, dentre Palavras-chave: Ambiente Virtual de Apren-
outras. São apresentadas, ainda, as diversas dizagem. Surdez. Material Didático. Peda-
etapas de produção de materiais didáticos gogia. Educação Especial.

12
1 INTRODUÇÃO
As duas primeiras décadas do século XXI pre- gues implica um deslocamento bastante
senciaram importantes avanços nos domínios complexo: trata-se de passar a ver brasilei-
da educação, com novas abordagens meto- ros natos como usuários de outro sistema
dológicas, introdução de tecnologias digitais linguístico, de outra discursividade bastante
colaborativas e formação de professores para diferente da língua portuguesa.
atender necessidades de grupos com deman-
das singulares. Mesmo com o aumento da di- Apesar do avanço linguístico mencionado,
versidade de cursos e de número de vagas, a utilização de materiais didáticos bilíngues
observa-se, contudo, que ainda há acentuada ainda é escassa no país. De acordo com Moraes,
carência na oferta de cursos que tenham como Scolari e Paula (2013), parte significativa da
foco grupos com demandas específicas, como bibliografia de disciplinas técnicas é desen-
é o caso das pessoas com deficiência auditiva, volvida somente em língua portuguesa, e os
que representam cerca de 5% da população alunos surdos contam apenas com a exposição
brasileira1 (IBGE, 2010). da aula interpretada, sem a possibilidade de
revisar o conteúdo e estudar a partir de ma-
A proposição de uma educação bilíngue para teriais didáticos produzidos em Libras. Essa
surdos (e seus desdobramentos político-pe- concepção de bilinguismo acaba por dirimir
dagógicos) ainda é um fenômeno incomum as potencialidades dos estudantes surdos no
no cenário educacional brasileiro. Há cerca desenvolvimento cognitivo por meio da língua
de duas décadas apenas, essa nova concepção de sinais. Acrescenta-se a isso o fato de escolas
de educação de surdos vem se destacando no e universidades não terem infraestrutura física
universo das políticas públicas brasileiras em adequada para esse público, nem métodos de
virtude da pressão dos movimentos sociais e ensino pensados a partir da especificidade da
da crescente produção de pesquisas, sobretudo Libras e da cultura surda (MACHADO, 2002).
nas áreas da educação e da linguística. Nesse contexto, pode-se perceber que políticas
públicas de inclusão, quando mal executadas,
Com a oficialização da Língua Brasileira de Si- resultam em propostas ineficazes de educa-
nais (Libras), pela Lei Federal n.º 10.436/2002 ção de surdos que não possibilitam o acesso
(BRASIL, 2002) e com o Decreto nº 5.626/2005 à aprendizagem por meio da primeira língua
(BRASIL, 2005), que regulamenta essa lei, al- (Libras) desses estudantes.
gumas conquistas passaram a ser asseguradas
(ao menos do ponto de vista legal), mas ainda Em continuidade às ações que visam à conso-
há um longo caminho em direção à constitui- lidação e à expansão do ensino superior e ao
ção de novos modos de representação desvin- desenvolvimento de políticas de formação de
culados da tradicional concepção terapêutica professores, o Instituto Nacional de Educação
da surdez e dos surdos (GUARINELLO, 2007). de Surdos (INES) assumiu, a convite do MEC,
Ressignificar os sujeitos surdos como bilín- a responsabilidade de implementar

1
Faz-se importante ressaltar que o Censo Demográfico 2010 pesquisou se a pessoa tinha dificuldade
permanente de ouvir (avaliada com o uso de aparelho auditivo, no caso de a pessoa utilizá-lo),
de acordo com a seguinte classificação: 1 - sim, não consegue de modo algum; 2 - sim, grande
dificuldade; 3 - sim, alguma dificuldade e 4 - não, nenhuma dificuldade. Porém, de acordo com a
Lei nº 5.626/05, considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e
um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e
3.000Hz. O art. 2 da mesma Lei considera surda a pessoa que, por ter perda auditiva, compreende e
interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente
pelo uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

13
o curso de Pedagogia Bilíngue – licenciatura, 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
na modalidade on-line. A oferta do curso ini-
ciou em 2018, por meio de treze polos, cada um O curso on-line de Pedagogia Bilíngue foi de-
com trinta estudantes, localizados nas cinco senvolvido a partir de uma abordagem inter-
macrorregiões do país, perfazendo, assim, o cultural (CANDAU, 2008, p. 51) no que tange
total de 360 estudantes contemplados, anu- à forma como se compreende a relação entre
almente, no Brasil. diferentes culturas e no que se refere à ótica
que orienta o fazer pedagógico. A abordagem
A proposta do curso de Pedagogia Bilíngue intercultural vai ao encontro do multicultu-
do INES apresenta novas demandas aos mo- ralismo crítico abordado por McLaren (1997),
delos on-line de educação, com intuito de o qual defende o pressuposto de que tal mul-
ampliar a definição dos conceitos “ensinar” ticulturalismo precisa ser situado dentro do
e “aprender”, bem como procura inibir a cul- campo da política de transformação, sob pena
tura do isolamento e do modelo instrucional, de se configurar apenas como um modelo de
tão constantes no ensino superior a distância adequação ao status quo.
tradicional. A interação, intrínseca a ambien-
tes on-line, mas incipiente nas propostas de Tal visão crítica parte da ideia de que os espaços
EaD no país, é proporcionada pela atopia e educativos não podem ser considerados “[...]
acronia do ciberespaço, estimulando a troca meramente como espaços instrucionais, mas
de informações, o que garante oportunidade devem ser vistos como locais onde a cultura,
para a negociação social do significado e da o poder e o conhecimento estão juntos para
construção de conhecimentos entre os inte- produzir identidades, narrativas e práticas
ressados no mesmo tema. sociais particulares”
(GIROUX, 2003, p. 95).
Dada a dimensão do curso supracitado, bem
como a necessidade pedagógica/comunicacio- Considerando a forma por meio da qual o su-
nal de se estabelecer relações entre surdos e jeito surdo organiza o pensamento e a lingua-
ouvintes no ambiente on-line, fez-se neces- gem, bem como a potencialidade do desen-
sário o desenvolvimento de uma plataforma volvimento do surdo no que tange ao campo
bilíngue específica, com diversas ferramentas visual, o currículo precisa ser desenvolvido em
desenvolvidas para educação de surdos em um prisma visual-espacial. Tal entendimento
Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). não nega a presença da língua portuguesa oral
Este artigo tem, portanto, como objetivo para ouvintes, os quais também fazem parte
principal apresentar a primeira plataforma do público do curso que ora se propõe. A ideia
totalmente bilíngue (Libras/língua portugue- aqui, já indicada anteriormente, é de que há
sa), bem como o modelo de educação bilíngue vantagens na adoção de diferentes línguas,
desenvolvido pelo Núcleo de Educação Online portuguesa e Libras. Ademais, se o prisma
do Instituto Nacional de Educação de Surdos visual-espacial – seja através da Libras, seja
(NEO-INES). através de textos imagéticos – é essencial para
os surdos, para os não surdos, ela mostra-se
extremamente enriquecedora. Nesse sentido,
o uso das tecnologias digitais da informação e
da comunicação (TDICs) na educação on-line
revela um grande potencial no campo da pe-
dagogia bilíngue, pois nessa modalidade “[...]
o pensamento é mapeado por domínios de
conceitos distintos, estruturado por esquemas
de imagem” (GALASSO, 2014, p. 53).

Nessa modalidade, a mediação ocorre por in-


termédio de uma base tecnológica digital, a cuja
linguagem o homem recorre para se comunicar.

14
As tecnologias, “[...] com suas interfaces in- Na educação on-line, além de educandos e edu-
terativas, potencializam a participação con- cadores, há uma série de outros profissionais
junta de alunos e professores na construção (coordenadores, administradores, técnicos em
de conteúdos de aprendizagem, ou seja, em informática, técnicos administrativos, tradu-
um processo autoral” (RICARDO; VILARINHO, tores e intérpretes de Libras, desenhistas edu-
2012, p. 4). Além disso, procurou-se construir cacionais, web designers, analistas de sistema,
o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) editores, cinegrafistas etc.) que desenvolvem
pensando do “jeito surdo”, ou seja, “[...] uma um trabalho cooperativo/colaborativo para a
maneira de pensar com base em representa- construção desse “círculo de cultura”.
ções imagéticas capazes de se traduzirem na
própria Língua de Sinais e em aspectos visuais” No que se refere especificamente ao processo
(RODRIGUES; QUADROS, 2015, p. 83). de ensino e aprendizagem, além, é claro, da
presença do aluno, destacam-se o professor-
Assim, o desenvolvimento da educação on- -autor e o professor-mediador, tradicional-
-line aqui proposta fundamenta-se em uma mente denominados de professor-conteudista
metodologia dialógica, na construção coletiva e tutor, respectivamente. O uso de conceitos
do conhecimento e na constante relação tex- diferentes para demarcar papéis assumidos no
to-hipertexto/contexto. Considerando que a curso aqui apresentado não é gratuito. O ato
educação ocorrerá, nomeadamente, em um de recorrer a adjetivos intenciona, com efeito,
campus virtual, a ideia é tornar esse espaço destacar a dimensão político-pedagógica da
um “círculo de cultura digital”, em uma abor- autonomia docente no processo de ensino e
dagem sociocultural, interacionista. Segundo aprendizagem. É certo que, ancorada em uma
Gomez (2004, p. 44), o concepção crítica, tal adjetivação poderia soar
como pleonasmo, já que autoria e mediação


fazem parte, necessariamente, da prática
docente. Quer-se, contudo, aqui sublinhar,
justamente, essas características a fim de fixar
[...] círculo de cultura digital é um espaço e a conotação libertadora, em contraposição à
uma estratégia de aprendizagem que per- visão tecnicista e conservadora.
mite a circulação da palavra e dos textos
dos educadores e educandos e, portanto, A rigor, no curso em tela, a autoria é coletiva
de poder. A ideia de círculo remete à circu- e compartilhada, já que o círculo de cultura
laridade dialógica da linguagem na qual o digital, o AVA, baseia-se na colaboração e na
homem e a mulher [o surdo e o não surdo], participação de todos os sujeitos envolvidos
na convivência, se reconhecem e o identifi- no processo pedagógico, direta ou indireta-
cam como lugar do próprio ser e o do outro. mente. Trata-se, portanto, de um trabalho


desenvolvido por uma equipe multidisciplinar.
Assim, a autoria do professor-autor se des-
dobra e se amplia através de diversas outras:
a do professor-mediador, a da equipe técnica,
a da coordenação e a dos alunos.
Desse modo, o “círculo de cultura” proposto
se desenvolveu através de um Ambiente Vir-
tual de Aprendizagem (AVA), especialmente
desenvolvido para o curso, e considerou a
especificidade de seu público: alunos sur-
dos e ouvintes. Para tanto, são garantidos o
respeito ao processo de aprendizado de cada
estudante (sistema de aprendizagem semia-
daptativo), a acessibilidade linguística, bem
como a interação dialógica entre os diversos
sujeitos envolvidos.

15
2.1 A produção de material
didático bilíngue para o curso
O conceito de material didático perpassa o tipo A fase de pré-produção dos objetos de apren-
de suporte que irá promover o acesso a um dizagem é dividida em cinco etapas realizadas
conteúdo específico, pois o texto ou o vídeo em plataforma desenvolvida pelo NEO. Essa
não existem fora dos suportes materiais que plataforma foi elaborada com intuito de faci-
permitem sua leitura e/ou visão litar o fluxo de produção de materiais didáti-
(CHARTIER, 2002). cos, possibilitando a interação on-line entre
envolvidos no processo.
Por atender principalmente estudantes surdos
e considerar os aspectos visuoespaciais da O primeiro passo para construção de um objeto
língua de sinais, a produção de materiais di- digital bilíngue de aprendizagem é o desenvol-
dáticos realizada no Núcleo de Educação Online vimento do material bruto pelo professor-au-
(NEO) é toda digital, voltada ao desenvolvi- tor (etapa 1). Ao acessar a plataforma, o pro-
mento de objetos digitais de aprendizagem, fessor é direcionado, automaticamente, para
os quais são executados por equipe multidis- a disciplina referente à sua área de atuação,
ciplinar (professores, desenhistas educacio- onde poderá elaborar um roteiro textual com as
nais, designers gráficos, roteiristas, traduto- principais indicações do material didático que
res-intérpretes e equipe de estúdio). Assim, será construído (etapa 2). Para elaboração do
estrutura-se um fluxo de trabalho coletivo roteiro, o docente tem a possibilidade de con-
dividido em três grandes fases (pré-produção, sultar o Manual do professor, desenvolvido
tradução e pós-produção), exemplificado na para auxiliar o corpo docente na formulação
Figura 1 a seguir. do material didático.

Figura 1 – Principais etapas do fluxo de trabalho para produção de materiais didáticos bilíngues em Libras/
língua portuguesa. | Fonte: Galasso et al. (2018)

16
Todo material proposto pelos professores- com a participação dos designers gráficos e
-autores é trabalhado por desenhistas educa- do editor de vídeo. Após a gravação do roteiro
cionais (etapa 3), que fazem parte da equipe final, o editor de vídeo recebe o material audio-
multidisciplinar e são responsáveis por moldar visual bruto e o roteiro de gravação para fazer
cada disciplina de acordo com as necessidades a decupagem inicial. A visualização cuidadosa
dos estudantes surdos. A linguagem utilizada do vídeo completo é a primeira tarefa execu-
em um objeto digital de aprendizagem requer tada na ilha de edição, quando o editor detecta
sensibilidade do desenhista educacional para erros técnicos de gravação e faz os primeiros
alcançar o estudante de maneira conceitual cortes no material de acordo com o roteiro de
e entretida, tornando a aprendizagem uma acompanhamento (etapa 11).
experiência multimídia eficaz dentro das pro-
postas do professor-autor. O material editado é encaminhado à equi-
pe de designers gráficos para o processo de
Após o trabalho dos desenhistas educacionais, videografismo e animação (etapa 12). Nes-
o conteúdo é enviado para o roteirista (etapa 4) sa etapa, são produzidas imagens estáticas,
com intuito de adequar a proposta do professor como ilustrações, fotos, diagramas, gráficos
à linguagem técnica de gravação. O roteirista e mapas; e dinâmicas, por meio do uso de ví-
amplia as indicações feitas pelo professor- deos e animações. Em relação a essa etapa,
-autor, trabalhando a linguagem não verbal convém pontuar que Mayer e Moreno (2002)
por meio de uma didática visual. Por se tratar esclareceram a diferença entre animações,
de educação bilíngue, com foco no visual e no vídeos, fotos e imagens estáticas. As animações
imagético, a finalização do roteiro evidencia a compreendem, por exemplo, um movimento
capacidade dialógica e representativa do mate- simulado de imagens a partir da movimentação
rial didático, tanto para o público surdo quanto de objetos criados artificialmente. Os vídeos,
para os ouvintes. Antes de finalizar a etapa de por sua vez, mostram o movimento de objetos
pré-produção, professor-autor e desenhista reais. Gráficos estáticos são representações
educacional validam as modificações feitas de objetos artificiais, enquanto as fotografias
pelo roteirista (etapa 5). são imagens estáticas de objetos reais. Nesse
processo de elaboração dos recursos visuais,
Na etapa 6, a equipe se reúne para discutir são utilizados softwares de design gráfico,
o levantamento das informações textuais e plataforma de edição de vídeo e computação
previsões anteriores, de modo individual. O gráfica em três dimensões (Figura 2).
próximo passo (etapa 7) é marcado pela ação
do tradutor que atuará no vídeo (tradutor-
-apresentador), ajustando o texto para ví-
deo-registro. Em seguida, o tradutor elabo-
ra o texto para teleprompter (TP) e estrutura
ensaios por meio de rascunhos (etapa 8). No
processo de gravação, a supervisão também
se faz necessária (etapa 9). A obrigatoriedade
desse profissional se dá, principalmente, em
vista do efeito da modalidade, pois nas línguas
orais o tradutor está o tempo todo diante do
texto que está produzindo. Após os ajustes e
as adequações estabelecidas pelo tradutor que
apresentará o texto em Libras, a gravação final
é realizada no estúdio profissional do Núcleo
de Educação Online (etapa 10), com o apoio do
tradutor-supervisor.

A pós-produção dos materiais didáticos bilín-


gues acontece na ilha de edição do NEO,

17
Figura 2 – Exemplos de materiais didáticos desenvolvidos para o curso.
Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)

Na etapa seguinte, acontece a gravação da lo- 2.2 A criação de ferramenta


cução (etapa 13), na qual são utilizados locu- específica de ensino e
tores profissionais com vozes masculinas ou
aprendizagem: o primeiro
femininas (correspondente ao sexo do apre-
sentador), que fazem a gravação das versões AVA em língua de sinais
do áudio em português. Após a gravação da
locução, é produzida a trilha de efeitos sonoros Com o propósito de colocar os estudantes
(sonoplastia) adequada ao projeto e, então, a surdos na vanguarda da aprendizagem, foi
legendagem em português (etapa 14). desenvolvida uma proposta metodológica ino-
vadora, a partir da criação de uma plataforma
Na etapa de finalização do projeto (etapa 15), com diversas trilhas de aprendizagem (Figura
o editor de vídeo unifica o áudio, o desenho 3). Nesse percurso, as relações pedagógicas são
sonoro (locução, sonoplastia) e sincroniza estabelecidas por meio das redes de conheci-
as legendas ao vídeo. Por se tratar de duas mento que vão se tecendo ao longo curso. As
línguas distintas, o processo de sincronização atividades formativas são fundamentadas na
da Libras com a locução e a legenda em língua interação e no diálogo entre os estudantes,
portuguesa é realizado pelo editor de vídeo com formando uma trama multimídia na conexão
acompanhamento de um tradutor-intérprete. de experiências.

18
Figura 3 – Exemplo do layout do Ambiente Virtual de Aprendizagem apresentando as três trilhas de
aprendizagem (A, B e C) e suas ferramentas | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)

Observação: no canto superior esquerdo, está o vídeo de resumo introdutório da unidade e abaixo as ferramentas
de apoio ao estudo.

As trilhas correspondem, portanto, a cami- 2.2.1 Fórum bilíngue


nhos virtuais de aprendizagem capazes de
promover e de desenvolver novas compe- O fórum de discussão é um importante ins-
tências e habilidades nos alunos, de acordo trumento de interação entre estudantes e pro-
com seus estilos de aprendizagem. Como cada fessores-mediadores. Essa ferramenta pos-
estudante aprende à sua maneira, é oferecido sibilita, de forma assíncrona, o debate sobre
um ambiente que possibilite a educação perso- determinado tema entre os participantes da
nalizada. Nesse ambiente, o estudante realiza mesma trilha de aprendizagem, do mesmo
diversas atividades multimídia específicas, polo ou até de todo o curso. Também propor-
utilizando-se das ferramentas de cada unidade ciona ao grupo, durante a unidade curricular,
dentro de sua trilha. Mesmo quando está em aplicação em pesquisas com maior densidade e
uma trilha específica dentro do AVA, o aluno tempo nas plataformas científicas indexadas,
pode acessar e acompanhar a participação fomentando debates complexos, organizados
dos demais em outras trilhas, fortalecendo os em torno do tema central da unidade estudada.
laços comunitários e aumentando a presença
social no ambiente. A identidade visual e as funcionalidades des-
se fórum foram pensadas para proporcionar
Assim, a proposta desenvolvida é capaz de a melhor experiência aos estudantes surdos
trabalhar a subjetivação no ato de aprender, e ouvintes. A interface é composta por duas
com a internalização das propostas e dos de- divisões, conforme mostra a Figura 4.
bates coletivos para a construção do caminho
singular, traçado de acordo com as escolhas
feitas pelo estudante no AVA.

19
Figura 4 – Exemplo de layout do Fórum Bilíngue.
Fonte: AVA do curso on-line de Pedagogia Bilíngue (INES, 2019)

Ao contrário da maioria dos fóruns de cursos 2.2.2 Ambiente pessoal de


a distância tradicionais, que fazem uso apenas aprendizagem (Rede social bilíngue)
da linguagem textual, o Fórum Bilíngue do
curso on-line do INES apresenta como dife- O Ambiente Pessoal de Aprendizagem (APA)
rencial a opção de debate em Libras por meio – do inglês Personal Learning Environment
de vídeos. De maneira simples, é possível se- –possibilita que cada estudante organize a
lecionar o tipo de mensagem — textual ou própria rede social de conhecimento e amplie o
visual. Assim, as discussões são centradas na currículo proposto no curso por meio da troca
linguagem textual e em Libras, facilitando de informações. Essa importante ferramenta
a participação de todos, na medida em que de formação permite a inserção de animações,
replica uma maneira de interação natural dos infográficos, vídeos e outros materiais para
estudantes surdos e ouvintes — a conversação. enriquecer a comunidade virtual. Tal como
Além disso, ao optar pela discussão em Libras, as redes sociais mais utilizadas em tempos
o aluno favorece seu aprendizado da Língua atuais (Facebook, Instagram, Twitter etc.), o
de Sinais. APA tem uma série de funcionalidades como:
visualização do perfil do usuário e dos outros
O AVA tem duas opções de layout para o fórum usuários; publicação de mensagens com in-
bilíngue: (1) em forma de playlist temática, em serção de mídias(incluindo gravador de vídeo/
que os estudantes têm acesso de forma organi- áudio integrado) e tags; compartilhamento,
zada às perguntas e respostas de cada tópico, curtidas e comentário para cada mensagem
evitando, assim, o amontoamento de vídeos; publicada; e, finalmente, filtros por grupos e
e (2) em forma de cascata, em que todas as tags. O ícone do botão do APA traz as notifica-
postagens são organizadas cronologicamente. ções (e quantidades) referentes à alguma ação
Dessa maneira, os participantes não precisam efetivada na ferramenta, como, por exemplo,
clicar em cada tópico para verificar a postagem. quando um estudante começa a seguir um usu-
Em ambos os formatos, as publicações ficam ário, ou alguém curtir ou comentar uma pos-
armazenadas em cada tópico, podendo ser tagem, ou quando uma publicação ou galeria é
recuperadas a qualquer momento. compartilhada com os demais (ver Figura 5).

20
Figura 5 – Exemplo de layout do Ambiente Pessoal de Aprendizagem (APA).
Fonte: AVA do curso on-line de Pedagogia Bilíngue (INES, 2019)

Essa ferramenta foi criada com objetivo de Nesse sentido, todas as produções, sejam elas
romper com a hierarquização do conhecimen- em texto sejam em vídeo, são transformadas
to, de modo a viabilizar o fomento à produção em “nós” que possibilitam a ligação entre
de conteúdos curriculares por parte dos alu- saberes, viabilizando uma retroalimentação
nos e a ampliação das trocas entre os pares. entre os objetos digitais de aprendizagem in-
Tal ação contribui, sobretudo, para abertura seridos no ambiente virtual; ou seja, a cada
e enriquecimento da comunidade virtual de novo material inserido abre-se um novo ca-
aprendizagem, bem como a promoção do in- minho na arquitetura da informação do AVA,
tercâmbio linguístico entre as regiões mais criando referências inesgotáveis ao longo do
distantes do país. Percebe-se, de fato, a pos- tempo. Essa ferramenta está intimamente
sibilidade de expansão do currículo trabalhado ligada ao repositório digital de objetos de
nas mais diversas contribuições dos estudantes aprendizagem, pois o cadastro dos materiais é
em publicações diárias. feito no repositório e acessado tanto pelo APA
quanto pelo próprio repositório. A partir des-
O APA também trabalha com web semântica. sa mecânica, os estudantes são direcionados
Dessa maneira, é capaz de criar tags (pala- aos objetos de acordo com suas produções,
vras-chave) nos principais objetos de apren- criando temas provenientes do interesse de
dizagem, direcionando os estudantes a uma cada usuário do sistema.
biblioteca digital personalizada, de acordo
com seus interesses. Assim, sempre que o es-
tudante digita em uma publicação uma palavra
(tag) pré-cadastrada, esta se transforma em
link para acesso automático ao repositório
digital do curso.

21
2.2.3 Mapa mental 2.2.4 Jogos educacionais

Considerando a visio espacialidade da lín- Em nosso ambiente virtual bilíngue, os jo-


gua de sinais, o desenvolvimento do mapa gos são objetos de destaque, pois propiciam
mental permite que os estudantes organizem momentos coletivos de aprendizagem, com
o conhecimento de maneira personalizada, a finalidade de trabalhar o conteúdo de for-
distribuindo os materiais multimídia no es- ma lúdica, ao reforçar conceitos importantes
paço virtual. O mapa mental também permite aprendidos na unidade curricular. Em grande
a interação entre os estudantes em tempo real parte dos jogos desenvolvidos para o curso,
e a possibilidade de salvar as principais mídias na medida em que o aluno avança, ocorre a
em suas galerias pessoais. pontuação e a visualização da resposta correta,
o que possibilita um feedback imediato ao alu-
A ferramenta “Mapa Mental” traz ao estudante no. Assim, criam-se incentivos diários, com a
a representação exata da partilha em grupo, possibilidade de utilização de estratégias didá-
pois tem como requisito básico a construção ticas diversas, resultando em maior ludicidade
de uma cadeia de conhecimento coletiva, em durante a aprendizagem. Dentre os principais
que cada postagem deve, necessariamente, jogos desenvolvidos, destacamos: arraste e
estar interligada à anterior. Essa metodologia cole; roleta; múltipla escolha; composição de
de trabalho requer ações individuais e coleti- cenário; jogo da memória; multiplayer; batalha
vas simultaneamente, pois os estudantes são naval; e simuladores.
avaliados pelas publicações realizadas, bem
como pela autoria coletiva do mapa mental Por conta do público específico, composto por
completo (ver Figura 6). alunos surdos e ouvintes, todos os jogos são

Figura 6 – Exemplo de layout do mapa mental.


Fonte: AVA do curso on-line de Pedagogia Bilíngue (INES, 2019)

22
produzidos do zero, ou seja, não há qualquer grandes fases: desenho educacional e desenho
tipo de adaptação de jogos preexistentes. Para gráfico. Além das questões técnicas, buscou-se
o desenvolvimento dos jogos do curso, a pro- trabalhar a formação identitária dos estudantes
dução foi dividida em etapas: planejamento, durante a criação dos jogos, com a utilização de
roteirização, layout, ilustração, animação e personagens surdas, implantadas, surdocegas
programação. Dessa maneira, a equipe é capaz etc. Esses elementos aumentam a presença
de trabalhar em produções distintas simulta- social dos estudantes no AVA, bem como pos-
neamente, segmentando o processo em duas sibilitam novos caminhos de aprendizagem.

Figura 7 – Exemplo do jogo de múltipla escolha “Na corda bamba”.


Fonte: AVA do curso on-line de Pedagogia Bilíngue (INES, 2019)

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A concepção do primeiro curso on-line de Pe- instrucional, tão constantes no ensino superior
dagogia Bilíngue Libras/Língua Portuguesa a distância tradicional. A interação – intrínseca
aponta diversos desafios educacionais, políti- a ambientes on-line, mas incipiente nas pro-
cos e tecnológicos. Nota-se, a priori, a tarefa de postas de EaD no país – é proporcionada pela
articular a dinâmica entre os fundamentos da atopia e acronia do ciberespaço, estimulando
educação on-line colaborativa e as especifici- a troca de informações, garantindo oportuni-
dades da educação de surdos, criando um lócus dade para a negociação social do significado
de realização (AVA) capaz de potencializar as e da construção de conhecimentos entre os
interações entre estudantes surdos e ouvintes interessados no mesmo tema. Além disso, a
por meio do círculo de cultura. possibilidade de navegação e a realização das
tarefas em língua de sinais fomentam a rati-
A proposta do curso resulta em novas possibi- ficação de um espaço educativo identitário,
lidades aos modelos on-line de educação, bem onde a cultura, o poder e o conhecimento estão
como à área de educação especial, inibindo a juntos para produzir identidades, narrativas
cultura do isolamento e do modelo e práticas sociais particulares.

23
Houve, ainda, a devida preocupação com a
construção do currículo, focado na formação
de professores bilíngues comprometidos com
a transformação social, aptos para atuarem
na educação infantil, no ensino fundamen-
tal (anos iniciais), na educação de jovens e
adultos, na educação especial e na gestão de
unidade escolar.

Desse modo, o curso de Pedagogia Bilíngue do


INES visa contribuir para a expansão do ensi-
no superior público e gratuito, voltado para a
comunidade surda no Brasil. Ao desenvolver
o curso na modalidade on-line, a instituição
assume o desafio de garantir a seus alunos
alta qualidade educacional, mediante o de-
senvolvimento de estratégias educacionais
inovadoras integradas às tecnologias digi-
tais de informação e comunicação (TDICs).
Assim, concretiza-se um projeto audacioso
de mudança de paradigma na formação de
professores surdos e ouvintes no país e de alta
relevância para a sociedade brasileira, no qual
os temas pedagógicos inerentes às especi-
ficidades culturais e linguísticas dos surdos
terão destaque.

24
4 REFERÊNCIAS
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico
2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio
de Janeiro: IBGE), 2010.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436,


de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art.
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BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


Sinais - Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p.
23, 25 abr. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
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Imagem de Capa – Disponível em Freepik: https://br.freepik.com/fotos-gratis/


serie-da-mao-humana-que-gesticula-a-lingua-de-sinal-surda-sobre-o-fun-
do-amarelo_5223217.htm#page=2&query=deaf+people&position=18
A Universidade Aberta do Brasil e a inclusão educacional:

Perfil dos ingressantes na


Universidade Federal do Ceará

Eloisa Maia Vidal


Universidade Estadual do Ceará

Engenheira elétrica pela UFPB, mestre e doutora


em educação pela UFC, coordenadora adjunta
da Universidade Aberta do Brasil na Universidade
Estadual do Ceará. Acesso ao lattes em
http://lattes.cnpq.br/4257594561432768.

Germânia Kelly Ferreira de Medeiros João Bosco Chaves


Secretaria da Educação do Estado do Ceará Secretaria da Educação do Estado do Ceará

Licenciada em Pedagogia (UECE), Especialista em Licenciado em Matemática (UFC), Especialista em


Informática Educativa (UECE), Mestre em Compu- Ensino de Matemática (UECE); Mestre em Educa-
tação (UECE) e Doutora em Educação (UMinho). ção (UECE) e Doutorando em Educação (UECE).
Professora Efetiva na Secretaria da Educação do Professor Efetivo de Matemática na Secretaria da
Estado do Ceará. Membro da equipe multidisciplinar Educação do Estado do Ceará. Membro da equipe
da UAB-UECE. Acesso ao lattes em multidisciplinar da UAB-UECE. Acesso ao lattes em
http://lattes.cnpq.br/6399480327179192. http://lattes.cnpq.br/8565475031558079.

RESUMO
O artigo analisa o perfil socioeconômico dos mães com baixa escolaridade, com atividades
alunos ingressantes, em 2017, nos cursos de laborais no setor informal ou na agricultura,
educação a distância da Universidade Aberta egressos de escolas públicas, mais de 60% –
do Brasil, na Universidade Estadual do Ceará. tem expectativas associadas à aquisição de uma
A metodologia utilizada é de natureza quanti- formação profissional que possibilite a inserção
tativa, trabalhando com uma amostra de 1.865 no mercado de trabalho. A pesquisa oferece
alunos de dez cursos de graduação, distribuí- um conjunto de informações que pode ajudar
dos em vinte e um polos de apoio presencial. a planejar estratégias que visem à melhoria de
Os dados mostram uma distribuição por sexo alguns indicadores, como taxa de abandono e
relativamente homogênea entre mulheres e evasão, e programar estratégias que favoreçam
homens (51% x 49%), com cerca da metade um acolhimento mais compatível com o perfil
dos estudantes na faixa de 18 a 29 anos, 58,4% do ingressante.
solteiros e 33,6% casados; 70% pertence a
famílias que vivem com até três salários mí- Palavras-chave: Educação a distância. Uni-
nimos e 37,9% é quem mais contribui com a versidade Aberta do Brasil. Universidade
renda familiar. A maioria – filhos de pais e Estadual do Ceará. Perfil do aluno.

28
1 INTRODUÇÃO
O crescimento da demanda e da oferta da Edu- Nacional (Lei nº 9394/96) e, a partir de então,
cação a Distância (EaD), no mundo, tem se torna-se possível elaborar políticas de EaD.
dado em decorrência de um conjunto de fato- Embora a história da educação a distância no
res associados, dos quais é possível destacar Brasil remonte aos anos de 1920, com a expe-
três: a importância da educação ao longo da riência da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,
vida, proposto pela Unesco (2009);o advento até a publicação da LDB de 1996, as iniciati-
e a evolução das novas tecnologias digitais vas na modalidade se faziam presentes nos
da informação e da comunicação (TDICs); planos de governos, por meio de programas
e a necessidade de expansão territorial dos e projetos esparsos, descontínuos e sujeitos
sistemas de ensino. a intempéries dos orçamentos públicos. Nos
primeiros dez anos de vigência da LDB, o pro-
A crescente revolução tecnológica – aqui des- tagonismo da oferta de educação a distância
tacada como um dos elementos promotores no ensino superior brasileiro se concentrou
da ampliação da demanda e da oferta da mo- nas instituições privadas, tendo sido, inclu-
dalidade EaD – acaba, também, por provocar sive, criadas universidades e faculdades que
a necessidade da educação ao longo da vida, ofertavam exclusivamente EaD.
pois, à medida que proporciona melhores
recursos para a promoção da EaD, gera no- A partir de 2005, o Ministério da Educação
vos desafios para todas as demais áreas. Isso (MEC) inicia um movimento envolvendo ofer-
porque os impactos dos avanços tecnológicos tas de cursos de formação de professores, em
contemplam e demandam novos saberes e parceria com algumas universidades federais,
desafios, sendo o retorno aos estudos um dos que vai culminar na criação da Universidade
caminhos para que o país possa se colocar Aberta do Brasil (UAB), por meio do Decreto
em condição de concorrência econômica no n° 5800 de 2006. Por meio dessas ações, busca
cenário global e, consequentemente, o im- incentivar as instituições públicas a parti-
pacto social que ela possa oportunizar. Para ciparem de programas de formação inicial
Castells (2016, p. 66), e continuada de professores para educação
básica que podiam ser ofertados na moda-


lidade a distância, colocando-se como uma
alternativa imediata para o problema crônico
da carência de professores para atuarem na
[...] a habilidade ou inabilidade de as so- educação básica.
ciedades dominarem a tecnologia e, em
especial, aquelas tecnologias que são es- A Universidade Aberta do Brasil (UAB) surge
trategicamente decisivas em cada período como uma iniciativa do MEC visando à inclu-
histórico, traça seu destino a ponto de po- são social e educacional por meio da oferta de
dermos dizer que, embora não determine a educação superior a distância. Ciente de que a
evolução histórica e a transformação social, ampliação de vagas nas universidades federais
a tecnologia (ou sua falta) incorpora a ca- enfrentava sérias limitações, o MEC viu na
pacidade de transformação das sociedades, UAB a possibilidade de democratizar, expan-
bem como os usos que as sociedades, sempre dir e interiorizar o ensino superior público
em um processo conflituoso, decidem dar ao e gratuito no país, com apoio da educação a


seu potencial tecnológico. distância e a incorporação de novas meto-
dologias de ensino, especialmente o uso de
tecnologias digitais. Ela é constituída por uma
“[...] rede nacional experimental voltada para
pesquisa e para a educação superior (com-
A modalidade de educação a distância é legal- preendendo formação inicial e continuada)
mente reconhecida no Brasil, pela primeira que é formada pelo conjunto de instituições
vez, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação públicas de ensino superior, em articulação

29
e integração com o conjunto de polos mu- 2 A UAB E A INCLUSÃO
nicipais de apoio presencial” (SATE-UECE, SOCIAL EDUCACIONAL
2014, não paginado). 1
A LDB de 1996, no seu artigo 80, reconhece a
A Universidade Estadual do Ceará (UECE) é educação a distância como uma modalidade de
uma das sete instituições públicas do estado ensino. Esse é o primeiro passo para a criação
do Ceará que participa do sistema UAB; e ini- de uma política cuja regulamentação começa a
ciou seus cursos em 2006, com a experiência acontecer de imediato e que, até os dias atuais,
piloto do curso de Administração, oferecido encontra-se em fase de aperfeiçoamento e
pelo Ministério da Educação em parceria com ampliação. Do ponto de vista de oferta de en-
a Fundação Banco do Brasil, no qual foram sino superior, apesar das diversas e variadas
ofertadas 11.490 vagas em 21 universidades experiências já consolidadas em instituições
estaduais e federais. Na sequência, participa públicas, a exemplo da Universidade Federal
de todos os editais lançados pela Coordenação de Mato Grosso (UFMT), Universidade Esta-
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe- dual de Campinas (Unicamp), Universidade
rior (Capes) e amplia sua oferta, priorizando de Brasília (UnB), é possível constatar que a
os cursos de licenciatura e o atendimento aos primeira onda de oferta de cursos de graduação
polos de apoio presencial que se encontram a distância é protagonizada pelas instituições
mais distantes das instituições que ofertavam privadas (ALONSO, 2010).
ensino superior público presencial, favore-
cendo a inclusão educacional e a qualificação Em 2006, as matrículas em cursos de ensi-
docente para o atendimento da educação básica no superior a distância no Brasil chegam a
em parcela significativa do território cearense. 207.206, com uma participação incipiente do
setor público. É nesse momento que o Minis-
O presente trabalho apresenta dados do perfil tério da Educação começa a estruturar uma
de alunos dos cursos de graduação oferecidos política pública de EaD, dirigida para as Ins-
no Edital no 75/2014 da UAB, que realizaram tituições Públicas de Ensino Superior (IPES),
processo seletivo em 2016 e iniciaram suas que culmina com a criação da Universidade
atividades no primeiro semestre de 2017. São Aberta do Brasil. A missão da UAB consiste em
1.865 alunos matriculados em dez cursos de criar condições para “[...] o desenvolvimento
graduação – nove licenciaturas e um bacha- da modalidade de educação a distância, com
relado – e distribuídos em 21 polos de apoio a finalidade de expandir e interiorizar a oferta
presencial no estado do Ceará. Os dados foram de cursos e programas de educação superior
coletados por meio de um instrumento de per- no País”2; e a UAB é formada por um conjunto
guntas fechadas, disponibilizado no ambiente de instituições públicas de ensino superior,
virtual de aprendizagem, que foi desenvolvido em articulação e integração com uma rede de
na plataforma Moodle, e que deveria ser res- polos de apoio presencial.
pondido quando o aluno realizasse o primeiro
acesso ao sistema. O questionário foi organi- Segundo a Capes (2016), “[...] a meta prioritá-
zado em seis temas, sendo que este artigo trata ria do Sistema UAB é contribuir para a Política
dos resultados obtidos nos temas que envolvem Nacional de Formação de Professores do Minis-
aspectos socioeconômicos, informações fami- tério da Educação, por isso, as ofertas de vagas
liares e vida acadêmica, empregando estatística são prioritariamente voltadas para a formação
descritiva para análise dos dados. inicial de professores da educação básica” 2.

1 Disponível em: http://www.uece.br/sate/index.php/conheca-a-uab. Para outras informações,


consultar: https://www.capes.gov.br/uab/o-que-e-uab.

2 Disponível em: http://www.capes.gov.br/uab/o-que-e-uab.

30

A gestão do Sistema UAB está sob a respon-
sabilidade da Capes, que também atua como
órgão de fomento, definindo o quantitativo [...] o crescimento dos cursos de ensino a
de vagas a serem ofertadas, mediante editais distância (EaD) nas IES privadas foi respon-
públicos para as instituições públicas de ensino sável por parcela significativa da expansão
superior que integram o sistema. total das matrículas nos dois períodos con-
siderados (cerca de um terço do total). Em
A construção do Sistema UAB tem como refe- 2004, os cursos de EaD privados contavam
rência a experiência “[...] espanhola da Univer- com apenas 23 mil matriculados. Em 2014,
sidad Nacional de Educación a Distancia, mas foram mais de 1,2 milhões de matrículas
não está orientada para reproduzir os modelos nesses cursos. Em segundo lugar, os cursos
da UNED [...] tendo também, uma forte intera- de EaD nas IES públicas também passaram
ção com a The Open University (Reino Unido)” por um crescimento relativamente rápido,
(MATIAS-PEREIRA, 2007, p. 11). Contando embora inferior ao das IES privadas, no nú-
com 130 IPES e 891 polos de apoio presencial mero de matrículas entre 2004 e 2012 (de
ativos ou provisórios, o sistema atende mais 36 mil para 182 mil matrículas) [...].


de 200.000 alunos e tem desenvolvido uma (INEP, 2016, p. 289).
política de uso de Recursos Educacionais Aber-
tos (REA), potencializando os investimentos
públicos e ampliando a capacidade de inclusão
social e educacional no país.
Segundo o Censo da Educação Superior (2018),
O primeiro Relatório de Monitoramento do em 2008, a modalidade de EaD representava
PNE 2014-2024 reconhece a importância da 20% da matrícula da graduação e, em 2018,
oferta da educação a distância para atingimen- chega a 40%, enquanto o ingresso nos cursos
to da Meta 12, que consiste em “[...] elevar a de graduação presenciais, nos últimos cinco
taxa bruta de matrícula na educação superior anos, cai 13%. Essa pesquisa mostra, ainda,
para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida que, dos 3.445.935 ingressantes em cursos de
para 33% (trinta e três por cento) da popula- graduação, 1.373.321 (39,8%) foram em cursos
ção de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, a distância (INEP, 2018), dos quais 62.643 in-
assegurada a qualidade da oferta e ex'pansão gressaram na rede pública e 1.310.678 na rede
para, pelo menos, 40% (quarenta por cento ) privada de ensino superior.
das novas matrículas, no segmento público”,
quando, na sua análise retrospectiva do perí- Nos últimos dez anos (2009-2018), o número
odo 2004-2014, afirma que de cursos de graduação a distância no Brasil
cresceu 276%, saltando de 844 para 3.177, o
que evidencia as demandas da modalidade.
A formação de professores para a educação
básica, por sua vez, continua como um de-
safio para o país, incluído como meta no PNE
2014–2024 e cujo atendimento dificilmente
será viabilizado sem considerar a educação a
distância como modalidade de oferta.

31
3 PERFIL SOCIOECONÔMICO
DO INGRESSANTE
O Ceará é um estado situado na região Nor- cartografia da formação de nível superior pú-
deste do Brasil, no qual persiste expressivos blica presencial, concentrada na capital ou em
graus de pobreza, com 31,7% da população cidades polos de desenvolvimento regional,
vivendo sem rendimentos e 41,1% vivendo o que dificulta o acesso por parte de jovens
com até 1 salário mínimo em 2015 (IPECE, de outras cidades que anseiam por um curso
2016). Dados de 2014 informam que o estado superior e que, para tal objetivo, precisam se
possuía 1.064.789 jovens de 18 a 24 anos, dos deslocar diariamente para o campus da ins-
quais apenas 279.988 (26,2%) frequentavam tituição ofertante, com custos financeiros
curso de graduação, sendo que a taxa de esco- nem sempre possíveis de serem assumidos
larização líquida dessa faixa etária é de 16,6%. por quatro longos anos.

Embora venha apresentando expressivas A capilarização da oferta de cursos superio-


melhoras nas taxas de rendimento do ensino res públicos proporcionada pela Universi-
fundamental e médio e o desempenho escolar dade Aberta do Brasil (UAB), com a criação
dos alunos tenha apresentado evolução nos de polos de apoio presencial, redimensiona
anos iniciais do ensino fundamental, as redes a cartografia da formação universitária no
públicas de educação básica ainda enfrentam Ceará, e faz com que a demanda e ocupação
dificuldades na melhoria dos resultados de das vagas ofertadas na modalidade EaD seja,
desempenho nos anos finais do ensino funda- majoritariamente, de pessoas provenientes de
mental e ensino médio. Isso significa que, com escola pública e em situação de vulnerabilidade
uma formação insuficiente ao fim do ensino social, conforme será apresentado ao longo
médio, o desafio de acesso ao ensino superior deste tópico.
público se coloca como uma barreira pratica-
mente intransponível para a quase totalidade A pesquisa foi realizada junto aos alunos dos
dos estudantes egressos da rede pública esta- cursos de graduação, sendo que 87,9% estão
dual, que responde por 90,1% das matrículas matriculados em cursos de licenciatura e 12,1%
em 2018 (INEP, 2018). no curso de bacharelado em Administração
Pública. O Gráfico 1 apresenta a situação das
Agregue-se às condições socioeconômicas de matrículas de cada curso.
grande parte da população do estado a

Gráfico 1 – Percentual de matrículas por curso de graduação: Edital 75 | Fonte: Elaborado pelos Autores (2019)

32
O maior percentual de matrículas ocorre no Quanto às condições socioeconômicas, de ma-
curso de Pedagogia, que detém 17,4% do total neira geral, os alunos da educação a distância
de alunos ingressantes em 2017, seguido da são trabalhadores que recebem baixos salários
licenciatura em Computação, com 13,1%, e e residem em localidades mais distantes dos
da licenciatura em Matemática, com 12,2%. grandes centros urbanos.

No que se refere à distribuição das vagas, os O fato de alunos na faixa etária de 18 a 24 anos
21 polos de apoio presencial contemplados estarem escolhendo os cursos a distância evi-
situam-se em todos os quadrantes do estado, dencia a relevância de um programa como a
sendo o polo de Quixeramobim, localizado no UAB, que faz chegar a redutos do território
sertão central, o que detém maior percentual nacional cursos de graduação gratuitos e de
de vagas (10,4%) e o polo de Limoeiro do Norte, qualidade, oferecidos por IES públicas, e que
no baixo Jaguaribe, com o menor percentual de assegura a continuidade dos estudos para
vagas (1,34%). Importa destacar que a defini- parcelas da população que, de outra forma,
ção de vagas por polo tem relação direta com teriam sua escolaridade interrompida. Cha-
os critérios estabelecidos no edital lançado ma a atenção, também, o fato de 41,4% dos
pela Capes e que tem ocorrido, em todos os respondentes situarem-se na faixa etária de
editais lançados, solicitação de vagas pelos 30 a 49 anos, apontando para o retorno de
polos em valores muito superiores ao efetiva- parcela da população economicamente ativa
mente aprovado pelo Edital. No caso dos cursos aos bancos escolares, alguns em busca de um
de licenciatura em Física, Química, Biologia, primeiro diploma e outros com interesse em
Educação Física e Artes Visuais, a exigência de requalificação profissional.
ambientes específicos para oferta dos cursos
tem sido fator impeditivo em muitos polos. No que diz respeito ao estado civil, 58,4%
informam ser solteiros e 33,6% casados. Da-
Entre os pesquisados, a distribuição por sexo dos da pesquisa mostram que 19,8% desses
é de 51% mulheres e 49% homens, asseme- estudantes vivem sozinhos e 67,2% vivem
lhando-se à situação do ensino superior pre- em agrupamentos de 2 a 4 pessoas. Quando
sencial, em que o percentual de mulheres é indagados sobre quem é a pessoa que mais
maior (INEP, 2016). No que se refere à idade, contribui com a renda familiar, os dados apre-
50,6% dos respondentes encontra-se na faixa sentados na Tabela 1 mostram que o próprio
de 25 a 39 anos, confirmando resultados já estudante é o maior responsável pelos rendi-
apresentados por Schlickmann (2008) e Gilbert mentos do agrupamento social no qual vive,
(2001), que indicam que pessoas que estudam correspondendo a 37,9% do total.
a distância geralmente são adultas, maiores
de 25 anos (BORGES et al, 2016, p. 88) e 15,3%
possui mais de 40 anos. Entre os responden- Descrição Fa Fr
tes, 31% encontra-se na faixa de 18 a 24 anos,
considerada ideal para a frequência ao ensino O próprio estudante 707 37,9%
superior. Dados do Segundo Relatório de Mo-
Cônjuge ou companheiro 351 18,8%
nitoramento do PNE 2014 – 2024 mostram
que 34,6% dos jovens que estão matriculados Mãe 349 18,7%
no ensino superior brasileiro situam-se na
Pai 367 19,7%
faixa etária de 18 a 24 anos; superior, portanto,
ao valor encontrado na amostra analisada. Outra pessoa da família 89 4,8%

Não responderam 2 0,1%


Segundo Arruda e Arruda (2015), estudos
mostram que a idade média de ingresso em Total 1.865 100,0%
cursos de EaD é de 28 anos, o que indica que
esses alunos já possuem uma vida adulta, com
responsabilidades financeiras e familiares as- Tabela 1 – Pessoa que mais contribui com a renda
familiar. | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)
sociadas a essa etapa da vida.

33
Nota-se, portanto, que mais de um terço dos localizada na cidade na qual o estudante reside.
estudantes que frequentam os cursos des- Para 38,4% dos estudantes, a pessoa que mais
sa amostra trabalham e estudam; e grande contribui para a renda familiar é o pai ou a
parcela não teria condições de desempenhar mãe e, para 18,8%, o cônjuge ou companheiro.
as duas atividades de forma concomitante se A Tabela 2 apresenta dados relativos à renda
o curso fosse oferecido na modalidade pre- familiar do estudante e, nesse caso, foi consi-
sencial, numa instituição que não estivesse derado o salário mínimo de 2016 (R$ 880,00).

Descrição Fa Fr

Até 1,5 salário mínimo (até R$1.328,00) 839 45,0%


Até 1,5 a 3 salários mínimos (R$1.328,00 à R$2.640,00) 465 24,9%

De 3 a 4,5 salários mínimos (R$2.640,00 à R$3.960,00) 216 11,6%

De 4,5 a 6 salários mínimos (R$3.960,00 à R$5.280,00) 126 6,8%

De 6 a 10 salários mínimos (R$5.280,00 à R$8.800,00) 66 3,5%


De 10 a 30 salários mínimos (R$8.800,00 à R$26.400,00) 25 1,3%

Não responderam 128 6,9%

Total 1.865 100,0%

Tabela 2 – Renda total da família | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)

Os dados mostram que 45% dos estudantes A Organização para a Cooperação e Desen-
vivem em núcleos familiares com renda de volvimento Econômico (OCDE) afirma que o
até 1,5 salário mínimo e que cerca de 70% dos diploma de nível superior aumenta, em média,
estudantes pertencem a famílias que vivem 140% os rendimentos salariais de um pro-
com até três salários mínimos. Quanto à renda fissional, em relação a quem possui somente
individual, 32% afirmam não ter nenhuma e ensino médio (INEP, 2017). Dessa forma, a
52% ganham de um a três salários mínimos; oferta desse nível de ensino para a população
e, em 38% dos casos, são esses os estudantes de baixa renda pode significar uma melhoria
que mais contribuem com a renda familiar. No da qualidade de vida, sobretudo no aspecto
cenário nacional, tomando como referência financeiro em médio e em longo prazo. E, mais
os dados do Instituto Brasileiro de Geografia que isso, possibilita inserção no mercado de
e Estatística (IBGE), o rendimento per capita trabalho, em atividades mais qualificadas que
foi, em 2016, R$ 1.242,00. Esse valor se reduz exigem domínio de competências e habilidades
nas regiões Norte e Nordeste, que possuem os de níveis cognitivos mais complexos.
menores rendimentos per capita, correspon-
dente a R$ 772,00. Nesse sentido, os alunos A Tabela 3 apresenta dados sobre nível de
da UAB-UECE situam-se no que o Instituto de escolaridade do pai e da mãe dos alunos que
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) denomina participaram da pesquisa.
de população em situação de pobreza ou extre-
ma pobreza, a considerar a situação de renda
informada pelo Instituto de Pesquisa e Estra-
tégia Econômica do Ceará (IPECE), em 2016.

34
Descrição Fa (pai) Fr (pai) Fa (mãe) Fr (mãe)

Ensino Fundamental 780 41,8% 840 45,0%


Ensino Médio 329 17,6% 442 23,7%
Ensino Superior 69 3,7% 132 7,1%
Não alfabetizado 475 25,5% 285 15,3%
Não responderam 47 2,5% 2 0,1%
Não sabem informar 135 7,2% 64 3,4%
Pós-graduação 30 1,6% 100 5,4%

Total 1.865 100,0% 1.865 100,0%

Tabela 3 – Escolaridade de pai e mãe | Fonte: Elaborada pelos autores (2019)


Sobre a escolaridade dos pais, chama a atenção
ainda o fato desses alunos possuírem 25,5%
dos pais e 15,3% das mães não alfabetiza- [...] um padrão claro entre os países entre a
das; e 41,8% dos pais e 45% das mães com educação dos pais e a conclusão dentro da
ensino fundamental. Ao comparar a taxa de duração teórica. Contudo, em quase todos os
analfabetismo de quinze ou mais, dados do países com dados disponíveis, a taxa de con-
IPEA mostram que, no Brasil, esse valor em clusão dentro da duração teórica com mais
2014 é de 8,27% e que, no Ceará, a situação de de três anos é mais alta para estudantes
analfabetismo persiste, em valores relativos, com pelo menos um dos pais com educação
muito superiores à média do Brasil, chegando superior e mais baixa para estudantes cujos


a 16,28% (IPEA, 2018). pais não concluíram o ensino médio³.

Os dados mostram que 84% dos alunos pes-


quisados representam a primeira geração das
suas famílias a ter acesso ao ensino superior,
sendo que ¼ dos pais e mais de 1/6 das mães A Tabela 4 apresenta informações sobre as
são analfabetos. Esse é um indicador impor- atividades profissionais do pai e mãe dos alu-
tante, visto a afirmação da OCDE (2019, p. 217, nos pesquisados.
tradução nossa) que explicita não existir

3
“There is no clear pattern across countries between parental education and completion within
the theoretical duration. However, in nearly every country with available data, the completion
rate within the theoretical duration plus three years is highest for students with at least one ter-
tiary educated parent and lowest for students whose parents did not complete upper secondary
education” (OCDE, 2019, p. 217).

35
Descrição fa (pai) fr (pai) fa (mãe) fr (mãe)

Funcionário público do governo federal, estadual ou municipal 271 14,5% 345 18,5%
ou militar.
Na agricultura, no campo, em fazenda ou na pesca. 936 50,2% 645 34,6%
Não responderam 3 0,2% 104 5,6%
Profissional liberal, professor ou técnico do nível superior. 111 6,0% 82 4,4%
Trabalha em casa, em serviços (costura, cozinha, aulas 60 3,2% 503 27,0%
particulares, etc.)
Trabalhador do setor informal, autônomo (sem carteira assinada) 484 26,0% 186 10,0%

Total 1.865 100,0% 1.865 100,0%

Tabela 4 – Atividade profissional que pai ou mãe trabalha | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)

Os dados mostram que 76,1% dos pais desen- A Tabela 5 procura mapear o(s) agente(s) que
volvem atividades laborais no setor informal deu(ram) maior incentivo para que o aluno
ou na agricultura e que 71,5% das mães atuam procurasse fazer um curso de graduação, ou
da mesma forma ou em trabalhos domésticos. seja, tivesse algum tipo de estímulo a seguir
Isso evidencia um perfil de atendimento a alu- sua escolaridade.
nos cujas famílias pertencem às classes sociais
menos favorecidas; a grande maioria com em-
pregos sazonais, vulneráveis aos mais variados
contextos políticos, econômicos e sociais.

Descrição Fa Fr

Pais 887 47,6%


Ninguém 392 21,0%
Outros membros da família que não os pais 235 12,6%
Colegas/amigos 196 10,5%
Professores 77 4,1%
Não responderam 67 3,6%
Líder ou representante religioso 11 0,6%

Total 1.865 100,0%

Tabela 5 – Quem deu maior incentivo para cursar graduação | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)

As respostas mostram que 47,6% dos pes- de mobilidade social. Para 12,6% dos respon-
quisados tiveram incentivo dos pais, o que dentes, foram outros membros da família que
evidencia que, mesmo com baixa escolarida- incentivaram a procura por curso superior e
de, esses pais reconhecem a educação como 10,5% encontraram estímulo nos colegas e
recurso capaz de propiciar mudança e fator amigos. Chama a atenção que 21% dos respon-

36
dentes informam que ninguém os incentivou Em pesquisa realizada por Pantoja et al. (2017,
ao prosseguimento dos estudos, o que significa p. 80) acerca das dificuldades iniciais dos alu-
que essa procura se deu por iniciativa exclusi- nos da EaD do curso de Ciências Biológicas da
vamente pessoal, representando uma ruptura UECE, é apontado que, para esses alunos, a
com uma ordem socialmente estabelecida de modalidade em pauta
pouca escolaridade da família.


A Tabela 6 informa a que dependência admi-
nistrativa pertencia a escola de ensino médio
dos alunos que participaram da pesquisa e [...] é bastante desafiadora, carecendo deles
de que forma essa etapa da educação básica a superação de obstáculos quanto à dedi-
foi realizada. cação e ao interesse pessoal ao conteúdo, a
organização do tempo de estudo, emprego
dos recursos na plataforma, a flexibiliza-
Descrição Fa Fr ção das aprendizagens e a autonomia do


estudante conduzindo-o a autoinstrução.
Todo em escola pública 1479 79,3%
Todo em escola privada 233 12,5%
(particular)
A maior parte em escola pública 82 4,4% Essa informação pode servir para que os cursos
A maior parte em escola privada 71 3,8% ofertados na modalidade EaD concebam estra-
(particular) tégias que possibilitem a esses alunos, além
da recuperação desses déficits como forma de
Total 1.865 100,0%
dar prosseguimento a sua escolarização – o
que não é um empreendimento fácil para as
Tabela 6 – Dependência administrativa da escola instituições de ensino superior –, a percepção
que estudou | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)
da necessidade de um tempo de adaptação à
modalidade EaD, considerando que 77,5% dos
respondentes da pesquisa socioeconômica aqui
Sobre a dependência administrativa da escola apresentada conclui sua última experiência de
que estudou, 79,3% dos alunos informaram estudo na modalidade do ensino médio tradi-
que são oriundos da rede pública de ensino, cional. Para Costa (2010, p. 31),
o que corrobora os dados de atendimento do


ensino médio no Ceará, em que 90,1% da ma-
trícula pertence à rede estadual. Importante
salientar que, no caso do Ceará, a oferta de
educação básica pela rede privada se concentra [...] a inserção da modalidade de educação
na capital e em algumas cidades mais populo- a distância no ensino superior no Brasil está
sas do interior, sendo ausente em vários mu- diretamente relacionada com o desafio de
nicípios, que só contam com a oferta pública. se enfrentar, de forma definitiva, proble-
Essa informação, associada aos indicadores mas quanto ao acesso e permanência do
de aprendizagem do Ceará, leva a inferir que aluno nesse nível de ensino, preservando
esses alunos ingressam no ensino superior aspectos ligados à equidade e à qualidade


com graves déficits de aprendizagem e frágil das ações desenvolvidas.
domínio de competências em todas as áreas de
conhecimento. Esse fato pode ser responsável
por parte da evasão registrada no primeiro ano
de ingresso e pelos altos índices de reprovação
em algumas disciplinas.

37
Dessa forma, mesmo não sendo objeto de in- acentuada, qualquer política pública de acesso
vestigação deste trabalho questões pertinentes ao ensino superior.
à evasão e à qualidade da oferta do ensino na
EaD, identificar elementos que contribuam não Como relação às expectativas na escolha por
só para a mitigação da evasão mas também um curso superior a distância, a Tabela 7 apre-
para a elevação da qualidade e da assistên- senta dados sobre os anseios dos alunos em
cia ao aluno se faz importante, uma vez que a relação ao curso para o qual foram aprovados.
ausência delas pode comprometer, de forma

Descrição Fa Fr

Formação profissional voltada para o mercado de trabalho 836 44,8%


Adquirir conhecimentos que ampliem sua visão de mundo 450 24,1%
Qualificar e atualizar a atividade prática que está desempenhando no 289 15,5%
mercado de trabalho
Obter conhecimentos que permitam melhorar seu nível socioeconômico 257 13,8%
Não responderam 33 1,8%

Total 1.865 100,0%

Tabela 7 – O que você espera do curso para o qual foi aprovado | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)

O que se observa pelas respostas é que 44,8% ser um período difícil para muitos jovens 4”
dos alunos alimentam a expectativa de adquirir e o desejo por uma formação que favoreça sua
uma formação profissional que possibilitará a inserção e permanência em um emprego é
inserção no mercado de trabalho; 24,1% es- desejo da maioria dos alunos.
peram adquirir conhecimentos que ampliem
sua visão de mundo; e 15,5% acreditam que Quando indagados se possuem algum outro
o curso escolhido será capaz de qualificar e curso de graduação, 46,6% dos respondentes
atualizar a atividade prática que está desem- afirmam que é a primeira graduação; para
penhando no mercado de trabalho. Os dados 38%, é a segunda; e 14% informaram que já ti-
apontam para um forte desejo de melhorar a nha iniciado alguma graduação e abandonado.
qualificação e atingir melhores condições de
empregabilidade e remuneração, desenhando
uma história diferente daquela dos seus pais.
Isso também reforça os dados já apresentados
aqui quanto à relação entre nível superior e
melhores oportunidades de salários. Segundo
a OCDE (2018, p. 60, tradução nossa) “[...] a
transição da educação para o trabalho pode

4 “The transition from education to work can be a difficult period for many young people”
(OCDE, 2018, p. 60).

38
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações levantadas sobre esse con- • mais de 1/3 dos ingressantes já possuem
junto de alunos permitem construir um perfil formação de nível superior, estando, assim,
básico sobre quem são esses sujeitos, quais matriculados numa segunda graduação, e
são suas condições objetivas de existência e 14% estão retomando uma formação de
o que esperam do curso superior que estão nível superior interrompida em algum mo-
cursando. A partir dos dados levantados, é mento de sua trajetória escolar;
possível afirmar que
• para cerca de 46%, é a primeira graduação;
• a distribuição por sexo é relativamente ho- para 38%, é a segunda, e 14% informaram
mogênea, com predomínio das mulheres que já tinham iniciado alguma graduação
sobre os homens (51% x 49%); e abandonado.

• cerca de metade dos estudantes (50,6%) Os dados obtidos na pesquisa mostram que os
encontram-se na faixa de 18 a 29 anos, ingressantes em um curso de ensino superior
sendo que 31% estão na faixa de 18 a 24 a distância numa instituição pública possuem
anos, considerada ideal para a frequência um perfil diferenciado daqueles que ingressam
ao ensino superior; num curso presencial, no que diz respeito à
idade, trajetória escolar na educação básica e
• 58,4% informam ser solteiros e 33,6% primeira graduação. Esses estudantes só con-
casados; 19,8% afirmam viver sozinhos seguem ter acesso ao ensino superior devido às
e 67,2% vivem em agrupamentos de 2 a características próprias da EaD, que rompem
4 pessoas as barreiras do espaço e do tempo e que, hoje,
com os recursos pedagógicos advindos das
• 70% dos estudantes pertencem a famílias tecnologias digitais da informação e comuni-
que vivem com até três salários mínimos cação, conseguem atender a essas populações
e 37,9% deles são quem mais contribuem com oferta de cursos de qualidade.
com a renda familiar;
Pesquisas dessa natureza são de grande
• a grande maioria (76,1% e 71,5%) são filhos importância não só para a instituição que
de pais que desenvolvem atividades labo- está ofertando os cursos, uma vez que, ao
rais no setor informal ou na agricultura e se apropriar de um conjunto expressivo de
de mães que atuam da mesma forma ou informações, pode planejar estratégias que
em trabalhos domésticos; seus genitores permitam melhorar alguns indicadores ine-
possuem baixa escolaridade, sendo 25,5% rentes ao sistema, como taxa de abandono e
dos pais e 15,3% das mães não alfabetiza- evasão, que favoreçam um acolhimento mais
dos e 41,8% dos pais e 45% das mães com compatível com o perfil do ingressante, mas
ensino fundamental; também para um delineamento mais eficaz de
políticas públicas destinadas à oferta do en-
• a grande maioria (79,3%) cursou o ensino sino superior na modalidade a distância, uma
médio na da rede pública de ensino; vez que trazem consigo indicativos quanto ao
ponto de partida do seu público, bem como do
• mais de 60% dos pesquisados alimentam contexto de realização, ou seja, das condições
expectativas associadas à aquisição de uma às quais estão submetidos os alunos que estão
formação profissional que possibilitará a nessa trajetória.
inserção no mercado de trabalho e 24,1%
esperam adquirir conhecimentos que am-
pliem sua visão de mundo;

39
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Competência empreendedora
dos coordenadores dos polos UAB

Sérgio Machado Wolf Fernando José Spanhol


Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Santa Catarina,
Núcleo UAB Campus Araranguá
[email protected] [email protected]

RESUMO
Este trabalho analisa a influência da competên- tes associações entre o nível de competência
cia empreendedora dos coordenadores nos indi- empreendedora do coordenador do polo e a
cadores de desempenho dos polos de educação avaliação efetuada pela Capes. Verificou-se
a distância do Sistema Universidade Aberta do que o grupo de coordenadores de polo avaliado
Brasil no Estado de Santa Catarina. Para tanto, totalizou 79,85% de índice de competência em-
apresenta-se a competência empreendedora preendedora, associado a um índice de 85,71%
requerida aos coordenadores de polo, baseada de sucesso (conceito AA) na avaliação.
nos indicadores: conhecimentos, habilidades,
atitudes e nível de entrega. Seguiu-se uma Palavras-chave: Competência. Empreen-
abordagem metodológica descritiva e docu- dedorismo. Competência Empreendedora.
mental, predominantemente qualitativa. Por Gestão Pública. Educação a Distância.
meio deste trabalho, obtiveram-se relevan-

42
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de tecnologias digitais de A competência é aferida com base nos conhe-
informação e de comunicação (TDICs) propi- cimentos, habilidades e atitudes – ou seja,
ciou a ampliação de programas de educação na competência individual dos gestores –,
oferecidos na modalidade a distância. Nesse somados à sua capacidade de entrega à orga-
contexto, Costa e Pimentel (2009) registram nização, para aplicação na coordenação dos
que foram desenvolvidos e implantados im- polos de apoio presencial do Sistema UAB-
portantes projetos, como a Universidade Aber- -UFSC de educação a distância do Estado de
ta do Brasil (UAB). Santa Catarina.

A UAB é proveniente da articulação e inte- Diante do exposto, esta pesquisa objetivou


gração das Instituições Federais de Ensino identificar se a competência empreendedora
Superior (IFES), dos municípios e estados, dos coordenadores de polo influencia nos indi-
visando à “[...] democratização, expansão e cadores de desempenho dos polos de Educação
interiorização do ensino superior público e a Distância avaliados pela Diretoria de Educação
gratuito no país” (UAB, 2005). Esse programa a Distância (DED) da Coordenação de Aperfei-
toma universidades abertas de várias partes çoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
do mundo como exemplos que tornaram a
educação mais acessível à população em geral. Para a consecução dos objetivos, delimitou-
-se como amostra populacional desta pes-
A implantação do Sistema UAB e outras ini- quisa todos os coordenadores dos polos de
ciativas inovadoras do setor de ensino público apoio presencial do Sistema UAB do Estado de
brasileiro se amparam, também, na competên- Santa Catarina em que a UFSC oferta cursos.
cia individual dos atores que integram as ins- Assim, o estudo parte das competências em-
tituições desse cenário. Ante a obrigatoriedade preendedoras individuais dos coordenadores,
de momentos presenciais para a realização de analisadas sob aportes teóricos da gestão do
avaliações, defesas de trabalhos de conclusão conhecimento no que respeita a suas atividades
e atividades de laboratório, os polos de apoio e experiências. Sequencialmente, a análise
presencial têm função fundamental no âmbito das competências dos coordenadores é as-
do Programa UAB. sociada aos indicadores de desempenho dos
polos, especificamente à avaliação realizada
A coordenação do polo se revela um agente im- pela Capes, por se tratar de um instrumento já
prescindível para a realização dos processos da validado e institucionalizado pelo Ministério
Educação a Distância (EaD). O coordenador de da Educação (MEC) e largamente utilizado nas
polo é um articulador, capaz de fazer a gestão ações do Sistema UAB.
das várias atividades que concernem ao polo
UAB. Durante a sua atuação, o seu capital de Entende-se que, ao contemplar a realidade
conhecimento é disponibilizado e entregue, vivenciada nos polos presenciais de educação a
de alguma forma, às instituições partícipes distância da UAB-UFSC, os resultados obtidos
do Sistema. possibilitem aperfeiçoar as práticas de gestão
nesses locais.
Entendendo que o capital de conhecimento
disponibilizado aos polos – entregue, nesse
caso específico, pelos seus coordenadores –
indica que o sistema UAB tem na competência
individual dos seus atores um dos seus ali-
cerces, este trabalho objetiva identificá-lo.
Nesse contexto, apresenta-se uma forma de
associar o grau de competência empreende-
dora dos gestores dos polos às avaliações dos
seus respectivos polos.

43
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA • prioridade à oferta de cursos de formação
de professores.
Nesta seção, apresenta-se um breve resumo
da revisão da literatura sobre o Sistema Uni- Nessa ocasião, foram selecionados 291 polos e
versidade Aberta do Brasil (UAB), detalhando 245 projetos de cursos a distância de 49 IFES
seu funcionamento com ênfase na gestão dos (COSTA; PIMENTEL, 2009). Nesse mesmo
coordenadores de polo. Em seguida, abordam- ano, foi publicado o Decreto nº 5.800, de 08
-se publicações, estudos e pesquisas realizadas de junho de 2006, que instituiu o Sistema UAB
sobre o conhecimento no âmbito das organi- e dispôs os seus objetivos.
zações, além de empreendedorismo, compe-
tência e, por fim, competência empreendedora. Quanto ao modelo de EaD, Segenreich (2009)
aponta que o adotado pela UAB é baseado no
modelo do consórcio CEDERJ, o qual conta
2.1 A UAB, os polos e com polos de apoio presencial em diversos
os coordenadores municípios, tutoria presencial nos polos e tu-
toria a distância na IES, pagamento por meio
Em um país de proporções continentais como de bolsa aos tutores e professores que atuam
o Brasil, são muitos os contrastes e é grande no programa.
a heterogeneidade do público-alvo dos cursos
a distância. Dessa forma, é preciso considerar Cabe pontuar, ainda, que o artigo primeiro do
que vários projetos de brasileiros não se desen- Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005,
volveram plenamente devido a muitos fatores não só contempla a definição de educação a
– dentre eles, a inadequação, a descontinuidade distância, mas também explicita, nos incisos
e a desarticulação das ações governamentais. de seu parágrafo primeiro, a obrigatoriedade
de espaços destinados aos momentos presen-
Costa e Pimentel (2009) contam que a ideia ciais para a realização de avaliações, estágios,
de uma universidade aberta no Brasil não é defesas de trabalhos de conclusão e atividades
uma ideia nova, porém renovada ao longo dos de laboratório, etc. Justamente por isso, os
anos. Nesse contexto, em 2005 o Sistema UAB polos de apoio presencial têm função fun-
foi criado em parceria com a Associação Na- damental na EaD, especialmente no Sistema
cional dos Dirigentes das Instituições Federais UAB. Cabe lembrar que a definição de polo foi
de Ensino Superior (ANDIFES), no âmbito do contemplada no inciso dez, alínea c, do artigo
Fórum das Estatais pela Educação, consistindo 12: os polos de educação a distância são “[...]
em uma política pública que visava à expan- entendidos como unidades operativas, no País
são do ensino público superior, conforme as ou no exterior, que poderão ser organizados
diretrizes do Plano de Desenvolvimento da em conjunto com outras instituições, para a
Educação (PDE). execução descentralizada de funções peda-
gógico-administrativas do curso, quando for
As propostas do primeiro edital de chamada o caso [...]” (BRASIL, 2005, não paginado).
da UAB (nº 1/2005) foram julgadas a partir dos
seguintes critérios (COSTA; PIMENTEL, 2009): Importa frisar que foi, todavia, com a promul-
gação do Decreto nº 6.303, de 12 de dezembro
• observância dos cursos aos referenciais de de 2007, que se estabeleceu que “[...] as ati-
qualidade para EaD, publicados em 2003 vidades presenciais obrigatórias, compreen-
pela SEED; dendo avaliação, estágios, defesa de trabalhos
ou prática em laboratório, conforme o artigo
• infraestrutura adequada dos polos; 1º, parágrafo 1º, serão realizados na sede da
instituição ou nos polos de apoio presencial,
• distribuição geográfica dos polos, devidamente credenciados” (BRASIL, 2007a).
que devem distar pelo menos 100 km Nesse mesmo documento, conceituou-se o
uns dos outros; polo como “[...] a unidade operacional, no
País ou no exterior, para o desenvolvimento

44
descentralizado de atividades pedagógicas e UAB ofereça bolsas para os coordenadores
administrativas relativas aos cursos e progra- de polo e tutores, é preciso disponibilizar os
mas ofertados a distância” (BRASIL, 2007a). demais recursos humanos requeridos para a
Já no primeiro parágrafo do artigo 2º do De- implantação e a manutenção do polo de apoio
creto nº 5.800, esse mesmo conceito havia presencial, quais sejam: Coordenador de Polo
sido elucidado: responsável pela parte administrativa e pela
gestão acadêmica, Tutor Presencial, Técnico


de laboratório pedagógico, quando for o caso,
Técnico em Informática, Bibliotecário e Au-
xiliar para Secretaria.
[...] caracteriza-se o polo de apoio presencial
como unidade operacional para o desen- O cumprimento da adequação física dos po-
volvimento descentralizado de atividades los de apoio presencial, que deverão dispor
pedagógicas e administrativas relativas aos necessariamente dessa infraestrutura básica,
cursos e programas ofertados a distância é condição determinante para a garantia da
pelas instituições públicas de ensino superior qualidade dos cursos superiores ofertados a
(BRASIL, 2006, não paginado). distância no âmbito do Sistema Universidade


Aberta do Brasil.

A importância dos polos é expressa, inclusive,


nos Referenciais de Qualidade para Educação
Superior a Distância, que são complemen-
Os municípios ou estados que almejam aderir tares às determinações específicas da Lei de
e permanecer no Sistema UAB têm requisitos Diretrizes e Bases da Educação, do Decreto n.º
mínimos a cumprir para que possam consti- 5.622, de 20 de dezembro de 2005, do Decre-
tuir um polo de apoio presencial. Esses entes to nº 5.773, de junho de 2006, e da Portaria
federativos são os mantenedores dos polos, normativa nº 40, de 12 de dezembro de 2007,
os responsáveis por prover a infraestrutura os quais servem como diretrizes norteadoras
física e tecnológica e os recursos humanos e dos processos que perfazem a EaD (BRASIL,
materiais requeridos para o desenvolvimento 2007b). Com relação à avaliação dos polos,
dos cursos EaD no polo de apoio presencial. convém registrar que ela é realizada pela Ca-
pes, sob a prerrogativa de lhes conferir, con-
Mais do que um “braço operacional” onde as forme a avaliação, aptidão para ofertar novos
atividades acadêmicas podem ser realizadas de cursos ou não.
forma descentralizada, o polo é o local onde o
estudante se estabelecerá com certa frequência Ressalta-se que, no que se refere à sua con-
para realizar diversas atividades inerentes tinuidade no Sistema UAB e às novas ofertas
ao processo de ensino e aprendizagem: es- de cursos, compete aos polos o cumprimento
tudar, inclusive em grupo; assistir às aulas e de uma série de requisitos. Conforme disposto
videoconferências; acessar a internet; efetuar pelo item 6.2.2.3.3.2 do edital da “Chamada
práticas laboratoriais; interagir com os tutores para articulação de cursos no Sistema Univer-
e coordenador de polo; efetuar avaliações; e até sidade Aberta do Brasil – 2013”, considera-se
criar vínculos amistosos e afetivos que poderão que são “[...] aptos para articulação/oferta
contribuir para a sua permanência no curso. somente aqueles que, na data da publicação
deste edital, possuam situação ‘AA’ – ‘Apto’
Não apenas a infraestrutura física garante o [...]” (CAPES, 2012c, p.5). Assim, as práticas
funcionamento pleno do polo UAB, mas tam- administrativas efetuadas nesses locais con-
bém o trabalho integrado de uma equipe que sistem nas ações realizadas para a consecução
exerce as funções pedagógicas, acadêmicas dos compromissos dos mantenedores e para o
e administrativas que implicam a oferta de atendimento das demandas dos cursos.
cursos a distância em uma estrutura descen-
tralizada. Dessa forma, embora o Sistema

45
Ainda a caminho da institucionalização, a fim Todos os polos ou proponentes a polo são
de garantir dotação orçamentária para a sua avaliados mediante visitas in loco, realizadas
continuidade, os polos de apoio presencial têm por avaliadores designados pela Diretoria de
a sua existência justificada com a articulação Educação a Distância (DED) da Capes. As infor-
de cursos. Sem cursos, não há razão para a mações obtidas são registradas no Relatório de
manutenção de uma complexa infraestrutu- Monitoramento, desenvolvido para verificar
ra e, assim sendo, considera-se que variadas e cadastrar as condições desses polos.
ações no âmbito organizacional são realizadas
visando à articulação de novas ofertas. Esse resultado é determinante para a autoriza-
ção de novas ofertas de cursos UAB nos polos
Dessa forma, pode-se estabelecer que a rotina avaliados. Um polo “Apto” (AA), conforme
organizacional de um polo de apoio presencial designação da DED-CAPES, contempla a in-
se efetiva em torno dessas ofertas – das assu- fraestrutura física, tecnológica e de recursos
midas e das almejadas. A gestão dessas práticas humanos requerida para a oferta de cursos a
visa atender as demandas dos atores envolvi- distância, além de toda a sua documentação
dos nas atividades relacionadas a essas ofertas. estar em conformidade com o disposto pela
A gestão do polo é, efetivamente, centralizada Capes. Por essa razão, a DED-CAPES auto-
na figura do seu coordenador. Como executor riza a articulação de novas ofertas de cursos
de múltiplas funções, o coordenador do polo exclusivamente nesses polos (CAPES, 2012d).
precisa, no entanto, lançar mão de uma forma
diferenciada de gestão para a consecução de Polos avaliados como “Aptos com Pendências”
todas essas atividades. (AP) têm de efetuar adequações na infraestru-
tura física, tecnológica e de recursos humanos
Constata-se que, para o exercício da função para obterem aptidão plena. Para tanto, devem
de coordenador, são requeridas “uma série efetuá-las e comprová-las em prazo determi-
de outras competências complementares às nado pela DED-CAPES, sob pena de obterem
exigidas legalmente, as quais auxiliarão na a avaliação de inaptidão. Com pendências a
gestão dos polos”. Angulski (2011) aponta, por resolver, os polos não podem articular novas
exemplo, que, sob certos aspectos, a gestão ofertas de cursos (CAPES, 2012d).
desses polos também tem se configurado em
um problema, especialmente porque, com o Quando avaliado como “Não Apto” (NA), o polo
tem graves restrições na infraestrutura físi-


ca, tecnológica e de recursos humanos, assim
como em sua documentação. A permanência
dos polos como integrantes do Sistema UAB é
[...] grande crescimento da oferta de cursos condicionada à sua infraestrutura física, tec-
de EaD nos últimos anos, os Polos cresce- nológica e de recursos humanos. Além disso,
ram de maneira acelerada. O número de sua documentação e seus instrumentos legais
Instituições de Ensino Superior (IES) con- precisam estar atualizados e formalizados.
veniadas e de cursos oferecidos aumentou
significativamente em vários destes Polos,
bem como o número de colaboradores que
ali atuam e o número de alunos atendi-
dos. Com este aumento da oferta de cursos,
de colaboradores trabalhando e de alunos
atendidos, em um espaço tão curto de tempo,
tem requerido, cada vez mais conhecimentos
específicos, não apenas na parte pedagógica,
mas também, na condução administrativa


destes Polos (ANGULSKI, 2011, p. 2).

46
2.2 A Competência Empreendedora Para os coordenadores, o desafio é assimi-
lar as determinantes de eficácia. Nesse novo
É notável a necessidade de competências em- tempo, o conhecimento se tornou o bem mais
preendedoras como requisito para entrar e, importante de uma organização, seja ela pú-
mais do que isso, permanecer no dinâmico blica seja privada. Note-se, porém, que apenas
mercado de trabalho vivenciado pela economia conhecimento não basta: é necessário praticar
do século XXI. Compete, todavia, associar o e realizar. Nesse particular, há a necessidade
empreendedorismo às atividades desenvol- de desenvolver a competência empreendedora.
vidas no trabalho, sejam elas de forma autô- Importa frisar, neste ponto, que a discussão
noma, sejam dedicadas a alguma instituição. acerca do conceito e da importância da com-
petência para a gestão das organizações é uma
Morgan (1996, p.216) afirma, por exemplo, que pauta acadêmica recorrente. Esse conceito é,
[...] as organizações não são condicionadas normalmente, analisado a partir de dois en-
somente pelos seus respectivos ambientes; são foques – organizacional e individual.
também moldadas pelos interesses incons-
cientes de seus membros”, potencializando Dutra (2008b) afirma que, embora a compe-
a vantagem competitiva da instituição em ter tência seja geralmente compreendida como
nela inserida o sujeito intraempreendedor, o conjunto de conhecimentos, habilidades e
ou seja, proativo, comprometido e aberto às atitudes necessárias ao desenvolvimento das
novas ideias e ao diálogo, com pensamento suas atribuições e responsabilidades na or-
crítico e postura ética, identificando, assim, ganização, esse conceito parece não garantir
características empreendedoras. a agregação de valor. Nesse sentido, em rela-
ção à entrega, conforme Fernandes e Fleury
Para que haja uma transformação proporcional (2007), os conhecimentos, as habilidades e
às prerrogativas ditadas pela era da gestão do as atitudes do indivíduo não necessariamente
conhecimento, as condutas profissionais tam- garantem que a organização se beneficiará
bém se modificam. Espera-se que a inserção de dele – depende do que ele pode e quer entregar
competências e a entrega de conhecimentos, à organização. Esses autores afirmam que,
habilidades e atitudes individuais ao coletivo – diferentemente de resultado, entendido como
nesse caso, a instituição pública – sejam meios “[...] algo pontual, mensurável e com data para
capazes de cumprir esse objetivo, organizando acontecer, [...] a tem maior perenidade: está
o trabalho, os conteúdos e os métodos utiliza- ligada à capacidade e contribuição” (FERNAN-
dos. Eficiência significa, com efeito, fazer o que DES; FLEURY, 2007, p. 105).
precisa ser feito com o máximo de qualidade
e com o menor custo – e não a redução dos Considerando o exposto, a pode ser entendida
custos a qualquer maneira. Pelo contrário, é pelo viés da ação competente, ou seja, é “[...] o
responsabilidade do gestor público buscar a saber agir responsável e reconhecido estabe-
melhor relação entre qualidade do serviço e lecido na definição de competência sugerido
qualidade do gasto (BRASIL, 2007c). por Fleury (1999)” (DUTRA, 2008b, p. 10).
Dessa forma, as variáveis da competência – os
Coordenadores que não desenvolvem uma rede conhecimentos, as habilidades, as atitudes e
de relacionamentos, tanto interna quanto ex- a – orientam a definição dos indicadores que
terna ao polo de educação, certamente terão permitem aferir a competência empreendedora
suas possibilidades reduzidas, limitando seu dos coordenadores de polo.
desempenho profissional, o que impacta, por
conseguinte, em sua motivação, satisfação e O profissionalismo por meio da competência
realização no trabalho. Na esfera pública, tam- empreendedora é individual – ou seja, é pró-
bém é crescente a necessidade de competência prio do sujeito, segundo Le Boterf (2003). É,
e profissionalismo; em meio às transformações entretanto, por meio do coletivo competen-
no cenário nacional e mundial, o ser humano te que a organização poderá se tornar com-
é um dos fatores responsáveis pela competi- petente. Convém sublinhar que se entende,
tividade permanente da instituição pública. neste artigo, a visão tradicional de estudo da

47
competência, contemplando o Conhecimen- 3 METODOLOGIA
to, a Habilidade e a Atitude – e acrescida da
variável que, referenciada pelos autores que Esta é uma pesquisa exploratória, descritiva
a defendem, constituirá o CHAE. e aplicada segundo os seus objetivos. Quanto
aos seus procedimentos, é bibliográfica e de
De acordo com Dutra (2008a), outros autores – levantamento. Trata-se de uma pesquisa cuja
como Le Boterf (2003) e Zarifian (2001) – pre- abordagem é, predominantemente, qualitativa
conizam o conceito de competência individual (GIL, 2002; MENEZES; SILVA, 2001; MINAYO,
associado à ideia de agregação de valores e à 2004; RICHARDSON,1989). O levantamento foi
variável . Esse modelo de contribuição para a efetuado junto aos coordenadores dos polos
composição do conceito vai ao encontro das do Estado de Santa Catarina, os quais estão
premissas adotadas para competência em- destacados na Figura 1, ao lado.
preendedora, a qual se explora nesta pesquisa
realizada com os coordenadores de polo. A pesquisa foi realizada contemplando as se-
guintes etapas: após a revisão da literatura,
O grande desafio da gestão nas organizações aplicou-se um questionário aos coordenadores
é gerar e sustentar o comprometimento dos dos polos, a partir do qual se calculou o índice
colaboradores, o que só é possível se esses de competência empreendedora de cada coor-
sujeitos sentirem que sua relação com as or- denador de polo, por meio de uma metodologia
ganizações lhes agrega valor também; ou seja, própria, já validada e desenvolvida por Wolf
trata-se de uma via de mão dupla: a organiza- (2014). Em seguida, levantaram-se as avalia-
ção necessita do capital intelectual, o elemento ções dos polos junto à Capes e, na sequência,
humano para construir e manter diferenciais confrontaram-se os resultados.
competitivos gerando, em contrapartida, mais
atenção ao desenvolvimento das competências A coleta das informações quanto à avaliação
empreendedoras nos indivíduos. Le Boterf determinada pela Capes e o tempo de perma-
(2003, p. 34) complementa afirmando: “Aquele nência dos coordenadores nos cargos foram
que é reconhecido como um profissional com- extraídas do sistema SisUAB, uma plataforma
petente possui uma identidade social que vai de suporte para a execução, acompanhamento
além do emprego que ocupa”. e gestão de processos da Universidade Aberta
do Brasil. Cabe sublinhar que a inclusão da
Os conhecimentos, as habilidades e as atitudes variável tempo de permanência no cargo foi
empreendedoras entregues pelo coordenador necessária para a associação mais fidedigna
incrementam o capital de conhecimento do dos índices de competência empreendedora
polo. Cabe destacar o entendimento de capital dos coordenadores à avaliação do polo reali-
de conhecimento como a contribuição que o zada pela Capes. Caso contrário, tal associa-
coordenador disponibiliza para o polo de forma ção poderia não corresponder ao período de
efetiva, e que se mantém no polo mesmo após coordenação do entrevistado.
a sua gestão. E, se a competência profissional
só existe quando em ação, em um evento no A referida coleta foi realizada no dia 28 de
trabalho, esse saber sobre o contexto – nesse novembro de 2013, nos Sistema de Gestão da
caso, as atividades inerentes à coordenação UAB, por meio do acesso permitido aos coor-
do polo UAB – é essencial, pois permite que o denadores UAB-UFSC por senha específica.
coordenador se adapte às contingências e con- As informações são apresentadas no Quadro 1
sidere o possível dentro da sua área de atuação. a seguir.

Destarte, incrementar o capital de conheci-


mento por meio da competência empreende-
dora dos coordenadores não é atingir metas
de gestão do polo, mas fazer acontecer uma
gestão participativa, melhorias nos processos
e assimilação da inovação.

48
Figura 1 – Polos da pesquisa | Fonte: Elaborada pelos Autores com base em UAB-UFSC (2019).

Polo Data de posse* Avaliação atual Data Avaliação anterior Data

1 Araranguá 02/03/2013 AA 15/10/12 AA 16/11/11


2 Blumenau 08/04/2009 AA 08/07/13 AP 17/11/11
3 Braço Do Norte 08/04/2009 AA 27/08/12 NA 16/11/11
4 Campos Novos 02/08/2013 AA 05/02/13 AP 09/04/12
5 Canoinhas 03/04/2009 AA 13/07/13 AP 22/11/11
6 Chapecó 01/06/2007 AA 27/05/13 AP 25/11/11
7 Concórdia 02/04/2009 AA 06/02/13 AP 23/11/11
8 Criciúma 01/03/2007 AA 09/07/13 AP 28/05/11
9 Florianópolis 11/03/2013 AA 10/04/12 AA 23/05/11
10 Indaial 02/06/2009 AP 04/02/13 AP 18/11/11
11 Itajaí 01/02/2012 AA 28/05/13 AP 01/04/12
12 Itapema 06/12/2011 AA 01/11/11 AP 01/05/10
13 Joinville 07/02/2013 AA 20/09/12 NA 14/05/12
14 Laguna 21/01/2010 AA 07/05/13 AP 28/05/11
15 Otacílio Costa 03/01/2013 AP 04/03/13 AP 11/04/12
16 Palhoça 04/09/2009 AA 10/04/12 AP 26/06/11
17 Palmitos 02/04/2009 AA 11/09/12 AA 14/08/12
18 Pouso Redondo 19/02/2013 AA 18/11/11 AA 18/11/11
19 Praia Grande 26/02/2013 AA 29/05/09 AA 29/05/11
20 São José 08/04/2009 AA 06/05/13 AP 02/06/11
21 São Miguel Do Oeste 02/09/2013 AA 30/10/13 AP 12/04/12
22 Treze Tílias 15/04/2013 AA 18/02/13 NA 28/11/11
23 Tubarão 04/02/2013 AA 02/04/13 AP 28/05/11
24 Videira 23/04/2010 AP 28/05/13 AP 10/04/12

Quadro 1 – Avaliação dos polos | Fonte: Elaborado pelos Autores (2019). *Posse dos coordenadores

49
4 RESULTADOS
Para melhor interpretar os dados resultantes tacadas no Quadro 2 referem-se aos quatorze
da pesquisa, apresenta-se o Quadro 2, de- polos habilitados para a composição final da
monstrando resumidamente os resultados pesquisa. Os valores correspondentes ao ín-
finais de cada polo quanto ao índice de compe- dice de competência empreendedora foram
tência empreendedora e à avaliação atribuída obtidos por meio de questionário aplicado aos
pela Capes ao respectivo polo. As linhas des- coordenadores de polo.

Polo Índice Competência Empreendedora Avaliação atual

1 Araranguáw 134 AA
2 Blumenau 137 AA
3 Braço Do Norte 128 AA
4 Campos Novos 118 AA
5 Canoinhas 147 AA
6 Chapecó 133 AA
7 Concórdia 138 AA
8 Criciúma 142 AA
9 Florianópolis 128 AA
10 Indaial 146 AP
11 Itajaí 131 AA
12 Itapema 113 AA
13 Joinville 121 AA
14 Laguna 120 AA
15 Otacílio Costa 126 AP
16 Palhoça 144 AA
17 Palmitos 140 AA
18 Pouso Redondo 110 AA
19 Praia Grande 124 AA
20 São José 119 AA
21 São Miguel Do Oeste 130 AA
22 Treze Tílias 125 AA
23 Tubarão 135 AA
24 Videira 141 AP

Quadro 2 – Índice CE e Avaliação CAPES | Fonte: Elaborado pelos Autores (2019).

50
De acordo com a execução da metodologia do coordenador do referido polo é incompa-
empregada, parte-se do princípio de que o tível com a data da realização da avaliação.
coordenador de polo que tivesse o menor grau Posto que a avaliação da Capes foi realizada
de competência empreendedora somaria ape- anteriormente ou concomitante à posse dos
nas 32 pontos, ao passo que o coordenador que coordenadores, tais coordenadores assumi-
tivesse excelência nessa mesma competência ram seus mandatos no exercício de 2013, por
totalizaria, no máximo, 160 pontos. Para ini- influência das novas gestões nos executivos
ciar a análise, calculou-se a média aritmética municipais. Esses, portanto, foram excluídos
simples do conjunto dos polos. Esse cálculo é da amostra da pesquisa: Araranguá, Campos
útil nesse caso, pois, ao analisar a amplitude Novos, Florianópolis, Joinville, Otacílio Costa,
total das avaliações realizadas, identifica-se Pouso Redondo, Praia Grande, São Miguel do
que não há resultados com valores extremos, Oeste, Treze Tílias e Tubarão. Apresentam-se
ou seja, índices que fujam significativamente os resultados obtidos nos gráficos a seguir. A
do padrão. Figura 2 representa o índice de competência
empreendedora dos coordenadores dos polos.
A média do índice de competência empre- Na Figura 3, demonstram-se os índices da
endedora dos coordenadores dos polos da avaliação realizada pela CAPES nesses mes-
pesquisa realizada é de 130,41 pontos, sendo mos polos.
que a amplitude varia de 110 – o menor índice
detectado, no polo de Pouso Redondo – a 147
pontos, identificado no polo de Canoinhas. Ao
Blumenau
analisar a média dos índices e associar a base
possível de resultados, que varia de 32 a 160 Braço do Norte
pontos, é possível afirmar, com segurança, Canoinhas
que o grupo de coordenadores de polos tem Chapecó
competência empreendedora bem acima da
Concórdia
média prevista na matriz. Mais especifica-
Criciúma
mente, eles têm 76,88% da competência em-
preendedora especificada nessa metodologia. Indaial
Os resultados gerais demonstram que se trata Itajaí
de um grupo homogêneo no que diz respeito Itapema
às características pesquisadas. Laguna
Palhoça
Ao realizar a análise das competências em-
preendedoras, contidas especificamente na Palmitos
variável entrega – que engloba a noção de São José
equipe, comprometimento com a missão, a Videira
visão, os valores e a estratégia da instituição,
com o melhoramento do processo e a intro-
0 20 40 60 80 100 120 140 160
dução de tecnologias –, identifica-se que o
grupo formado pelos 24 coordenadores dos
polos pesquisados têm um índice de 81,09% Figura 2 – Índice de competência empreendedora
dos coordenadores dos polos | Fonte: Elaborada
dessas competências. Esse índice demonstra
pelos Autores (2019).
um nível positivamente expressivo das compe-
tências empreendedoras da variável entrega,
sinalizando que as premissas de Dutra (2008a),
Le Boterf (2003) e Zarifian (2001) são uma re-
alidade na coordenação dos polos UAB-UFSC,
no Estado de Santa Catarina.

Ao analisar os dados supracitados, conclui-se


que, em uma série de polos, o período da gestão

51
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Blumenau
Braço do Norte Esta pesquisa objetivou identificar se a “com-
Canoinhas petência empreendedora” dos coordenadores
Chapecó dos polos influencia nos indicadores de de-
Concórdia
sempenho dos polos UAB-UFSC. Para tanto,
desenvolveu-se e aplicou-se um questionário
Criciúma
para identificar o índice de competência em-
Indaial preendedora dos coordenadores cujos polos
Itajaí integraram a amostra da pesquisa. Determi-
Itapema nou-se comparar os indicadores de compe-
Laguna tência empreendedora dos 24 coordenadores
dos polos UAB-UFSC catarinenses, com os
Palhoça
indicadores de desempenho dos polos, tendo
Palmitos
por referência a avaliação dos respectivos polos
São José realizada pela Capes.
Videira
Constatou-se que a confrontação dos índices
de competência empreendedora do coordena-
NA AP AA
dor do polo com a avaliação da Capes é uma
forma eficaz para identificar que, de fato, a
Figura 3 – Avaliação da Capes
competência empreendedora dos coordenado-
Fonte: Elaborada pelos Autores (2019)
res influencia nos indicadores de desempenho.
Registra-se, entretanto, que a consecução des-
se objetivo foi parcialmente prejudicada pela
Excetuando-se os polos desabilitados para desabilitação de dez polos do recorte inicial.
essa associação, quais sejam: Araranguá (1), Eles deixaram de fazer parte da análise devido
Campos Novos (4), Florianópolis (9), Joinville ao período de atuação do coordenador, diver-
(13), Otacílio Costa (15), Pouso Redondo (18), gente da data da avaliação do polo.
Praia Grande (19), São Miguel do Oeste (21),
Treze Tílias (22) e Tubarão (23), verifica-se Concluiu-se, ainda, que o grupo de coordena-
que não há uma proporcionalidade estatística dores de polos totalizaram 79,85% de índice de
individual padrão entre os índices de compe- competência empreendedora previsto na ma-
tência empreendedora dos coordenadores e a triz da metodologia desenvolvida, nível que foi
respectiva avaliação do polo. considerado positivamente expressivo. Além
disso, feita a análise da avaliação determinada
Note-se, porém, que , avaliando-se pelas pela Capes, constatou-se o conceito AA em
médias, ou seja, a sua totalidade, claramente 85,71% dos polos avaliados pertinentes a esta
identifica-se a correlação existente, pois o pesquisa. Esse conceito, associado ao índice
grupo de coordenadores de polos avaliados de competência empreendedora, demonstra
positivamente, que representa na média 134,21 que há uma relação entre eles, comprovando
pontos, associa-se à avaliação máxima da Ca- a hipótese inicial de que a competência em-
pes, ou seja, o conceito AA, excetuando-se os preendedora influencia na avaliação do polo.
polos de Indaial e Videira que apresentam a Nesta pesquisa, afortunadamente, os índices
avaliação AP por motivos pontuais. foram significativamente positivos.

Dado o exposto, é possível afirmar que esta


pesquisa apresenta subsídios passíveis de
utilização para melhorar os indicadores de
desempenho dos polos de EaD. Verificou-se
que os polos podem se beneficiar por meio do

52
desenvolvimento das competências empreen-
dedoras dos seus coordenadores.

Assim, comprovada a relação dos índices de


competência empreendedora com a avaliação
do polo determinada pela Capes, é possível
aplicar esse conhecimento para a melhoria e
a ampliação da qualidade desses locais e, con-
sequentemente, para a otimização do Sistema
UAB. Na somatória das contribuições mencio-
nadas, a aplicação dos conhecimentos contidos
neste estudo é mais um passo para a melhoria
na qualidade de vida da nação brasileira, ainda,
em grande parte, carente de uma educação
pública, gratuita e de qualidade.

53
6 REFERÊNCIAS
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necessários a uma boa gestão. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO UNI-
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de 16 de junho de 2009, para incluir os polos presenciais do sistema Universidade
Aberta do Brasil na assistência financeira do Programa Dinheiro Direto na Escola;
altera a Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, para contemplar com recursos do
FUNDEB as instituições comunitárias que atuam na educação do campo; altera a
Lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004, para dispor sobre a assistência financeira da
União no âmbito do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento
à Educação de Jovens e Adultos; altera a Lei nº 8.405, de 9 de janeiro de 1992; e dá
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Universidade Aberta do Brasil na assistência financeira do Programa Dinheiro
Direto na Escola, altera a Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, para contemplar
com recursos do FUNDEB as instituições comunitárias que atuam na educação do
campo , altera a Lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004, para dispor sobre a assistência
financeira da União no âmbito do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para
Atendimento à Educação de Jovens e Adultos , e dá outras providências. Diário Oficial
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dor-afro-americano-feminino-dando-apresentacao-no-salao-na-oficina-da-uni-
versidade_7354507.htm#page=1&query=empreendedor%20faculdade&position=30
Gamificação na educação on-line:
O plugin bloco game como estratégia
de gamificação no Moodle

José Wilson da Costa Danielle Xabregas P. Nogueira


Secretaria de Educação do Distrito Federal Universidade de Brasília
[email protected] [email protected]

Janaína Angelina Teixeira Lúcio França Teles


Secretaria de Educação do Distrito Federal Universidade de Brasília
[email protected] [email protected]

RESUMO
Este artigo discute a gamificação na educa- gamificação, a saber: Accomplishment (Desen-
ção on-line e apresenta o plugin Bloco Game volvimento e realização), Meaning (Significado),
como estratégia de gamificação no ambiente Empowerment (Capacitação da criatividade e
virtual de aprendizagem Moodle. Esse plugin feedback), Ownership (Propriedade) e Scarcity
constitui-se em um bloco desenvolvido para (Escassez). O resultado do uso do plugin foi o
o Moodle, que possibilita a aplicação diversas de que o engajamento dos alunos nos cursos
técnicas de gamificação no AVA. Trata-se de que estão utilizando o bloco é bem superior ao
pesquisa exploratória, que tem como objetivo dos alunos nos cursos que não estão utilizando,
explorar estratégias de gamificação na edu- tanto em participação das atividades propostas
cação on-line. Constitui-se, também, como quanto a de conclusão dos cursos.
uma pesquisa de natureza tecnológica, pois é
direcionada à produção de algo novo. O Bloco Palavras-chave: Gamificação. Educação on-
Game foi desenvolvido por meio de técnicas de -line. Plugin. Bloco Game.

58
1 INTRODUÇÃO
Aprender brincando ou brincando de aprender, a Nessa perspectiva, este artigo discute a gamifi-
gamificação pode ser uma poderosa ferramenta cação na educação on-line e apresenta o plugin
de interação e motivação, capaz de gerar um Bloco Game como estratégia de gamificação
ganho significativo para os alunos no processo no ambiente virtual de aprendizagem Moodle.
de ensino e aprendizagem (PIMENTA, 2014). Os Esse plugin constitui-se em um bloco desen-
jogos e as atividades colaborativas com suporte volvido para o Moodle, que possibilita aplicar
computacional podem auxiliar no desenvol- diversas técnicas de gamificação no AVA.
vimento de habilidades psicológicas, cogni-
tivas, físicas e sociais (BIASUTTI, 2011; SUNG; Em primeiro lugar, trata-se de pesquisa ex-
HWANG, 2013; ZEA et al., 2009). Precisam, no ploratória que tem como objetivo explorar es-
entanto, ser projetados de maneira adequada tratégias de gamificação na educação on-line.
para que os resultados sejam positivos para os Em segundo lugar, caracteriza-se como uma
usuários, uma vez que mal projetados podem pesquisa de natureza tecnológica que, segundo
desencadear baixo nível de aprendizagem e Cupani (2006), é direcionada à produção de
comportamentos de autoalienação por parte algo novo, pois pressupõe a geração de um pro-
dos alunos/jogadores (SUNG; HWANG, 2013). duto tecnológico. Cupani (2006) afirma, ainda,
que a pesquisa tecnológica parte da necessidade
Nesse sentido, o desenho de jogos colabora- de adaptar o artefato às suas circunstâncias
tivos com suporte computacional deve estar
pautado nos pressupostos da aprendizagem efetivas de funcionamento e o conhecimento
colaborativa on-line, que pode ser definida produzido volta-se a uma determinada tarefa, o
como a aprendizagem que enfatiza o grupo que requer explicações funcionais. O resultado
e as tarefas colaborativas entre professores e de uma pesquisa tecnológica é sempre uma
alunos e entre alunos e alunos, sendo possí- nova tecnologia. No caso da presente pesquisa,
vel evidenciar a interação e a participação no o produto é o Bloco Game.
trabalho on-line (TELES, 2012). A aprendiza-
gem colaborativa on-line parte da premissa da Para isso, o texto inicia tratando da gamifi-
construção coletiva do conhecimento, tese que cação na educação on-line. Em seguida, versa
ganha força na educação a distância à medida sobre estudos de casos aplicados a jogos cola-
que os alunos reconstroem coletivamente os borativos com suporte computacional e apre-
conhecimentos produzidos pela humanidade, senta o Bloco Game no contexto da gamificação
tornando-se sujeitos históricos dessa cons- do Moodle. Por fim, tece considerações finais.
trução coletiva (TEIXEIRA, 2016).

2 GAMIFICAÇÃO E
EDUCAÇÃO ON-LINE

A aprendizagem colaborativa com suporte pela CSCL (STAHL; KOSCHMANN; SUTHERS,


computacional – Computer-supported collabo- 2006). Nesse contexto, essa combinação a
rative learning (CSCL) – é um campo emergente fim de enriquecer o aprendizado possibilita
e complexo em suas interações, que estuda a inclusão de várias ferramentas e recursos
como as pessoas podem aprender em grupo disponíveis ou elaborados para os ambien-
com o auxílio do computador. A CSCL consi- tes virtuais de aprendizagem (AVAs). Esses
dera todos os níveis educacionais formais e ambientes são considerados espaços férteis
não formais. Salienta-se que a capacidade de para a mediação pedagógica de um processo
combinar aprendizagem colaborativa e suporte educativo colaborativo, pautado por iniciativas
computacional é um desafio a ser abordado “gamificadas” (PIMENTA, 2014).

59
A gamificação é definida por diferentes auto- ções e tempos; e, por fim, os componentes que
res: alguns propõem um conceito mais amplo, consistem em realizações, avatares, coleções,
como é o caso de Deterding, Sicart, Nacke, combates, presentes, placas de liderança, ní-
O’Hara e Dixon (2011), em que a gamificação veis, pontos, missões, gráfico social, equipes
consiste no uso de elementos de jogos em e produtos virtuais. Observa-se a importância
contextos de não jogos. Outros, em contrapar- de acrescentar, na categoria mecanismos, o
tida, propõem um conceito mais específico, elemento da colaboração, uma vez que os jogos
como Pimenta (2014) que define gamificação têm grande potencial para estimular o trabalho
como um conjunto de princípios aplicáveis colaborativo. Segundo Vianna et al. (2013), a
a qualquer ramo de atividade, uma vez que possibilidade de realizar desafios coletivos, por
aproveita a motivação, as metas alcançáveis, meio de missões claras e estímulos adequados,
o desejo das pessoas em atingir objetivos cla- faz com que se potencializem os resultados
ros e bem definidos, feedback positivo, bem alcançados por meio do trabalho coletivo.
como se utiliza da competição para atingir
um comportamento pretendido. Ressalta-se, ainda, que Zea et al. (2009) en-
tendem os jogos como ferramentas educativas
Com base nos conceitos apresentados, vale que possuem inúmeras vantagens; dentre elas,
ressaltar a categorização proposta por Werba- destacam-se: êxito escolar, pois os alunos que
ch e Hunter (2012), uma vez que apresentam utilizam jogos melhoram sua capacidade de
a modelação da gamificação em três catego- leitura; habilidades cognitivas, uma vez que
rias, com base em seus elementos, a saber: os jogos proporcionam ambientes de apren-
dinâmicas, mecanismos e componentes. As dizagem embasados na descoberta e na cria-
dinâmicas estão no topo da pirâmide e elencam tividade; motivação, pois os jogos supõem
restrições, emoções, narrativas, progresso um estímulo para as crianças, o que facilita
e relacionamento; a seguir, tem-se os me- o processo de aprendizagem; atenção e con-
canismos que são compostos por desafios, centração, porque aumentam a atenção dos
chances, cooperação e competição, feedback, alunos na resolução de problemas concretos
aquisição de recursos, recompensas, transa- tendo em vista a natureza lúdica desses jogos.

3 ESTUDOS DE CASOS APLICADOS A JOGOS COLABORATIVOS COM


SUPORTE COMPUTACIONAL

A gamificação se destina a utilizar os meca- nharia do conhecimento que visa à criação de


nismos dos jogos para transformar ou desen- ambientes de aprendizagem mais interessan-
volver novos comportamentos. Note-se que tes para os alunos com o uso de um “repertory
isso difere do tradicional design de games, que grid” – matriz em que as colunas representam
possui como objetivo entreter seus usuários. A os elementos (conceitos a serem aprendidos,
gamificação vai além, pois busca compreender metas a serem identificadas) e as linhas re-
as necessidades dos usuários (VIANNA et al., presentam as construções para a identificação
2013). Nesse contexto, considera-se impor- dos elementos. O experimento foi realizado
tante apresentar resultados que corroboram em uma escola primária de Taiwan da qual
o cenário de utilização de jogos colaborativos participaram 93 alunos que foram divididos
com suporte computacional. em grupos: (i) experimental; (ii) de controle A;
e (iii) de controle B. Cada grupo contou com 31
Iniciando com um experimento realizado pe- alunos, os quais foram ensinados pelo mesmo
los pesquisadores Sung e Hwang (2013) cujo instrutor. Os alunos do grupo experimental
objetivo foi desenvolver um jogo educacional aprenderam com o jogo colaborativo com
colaborativo com suporte computacional, em- suporte computacional, ou seja, jogaram em
basado em um “Mindtool” – método de enge- equipes para completar as tarefas de apren-

60
dizagem e contaram com o repertory grid. Os wiki. As atividades resultaram em duas uni-
alunos do grupo de controle A aprenderam dades de aprendizagem: uma sobre audição
com jogos colaborativos convencionais, sem musical e outra sobre composição musical, as
o uso do repertory grid; e o grupo de controle B quais eram compostas de objetivos, conteúdos,
aprendeu com o jogo colaborativo com suporte metodologias, ferramentas e instrumentos,
computacional, porém, isoladamente, uma vez duração e avaliação.
que não foi permitido que seus participantes
realizassem a atividade em grupo. A avaliação da metodologia de aprendizagem
utilizada no módulo foi feita por meio de um
Os pesquisadores aplicaram um pré-teste para questionário composto por 27 questões objeti-
nivelamento de conhecimentos dos alunos, vas e por um espaço para deixar comentários.
utilizaram técnicas estatísticas na avaliação Dos 92 estudantes inscritos no módulo, 83
dos resultados e técnicas qualitativas; ao final, responderam ao questionário de avaliação.
os alunos ainda responderam a um questio- Os resultados encontrados por Biasutti (2011)
nário de pós-teste e a um questionário para retratam que os alunos avaliaram o módulo
medir a carga cognitiva de aprendizagem. Os muito positivamente. Os estudantes relataram
resultados desse experimento apontaram a que trabalhar em pequenos grupos melhorou
aprendizagem, a motivação, as atitudes de a comunicação e o desenvolvimento de habili-
aprendizagem em relação à ciência e a autoe- dades sociais. Vários benefícios na participação
ficácia da aprendizagem em grupo. Constatou- da atividade colaborativa em um ambiente
-se que os estudantes do grupo experimental virtual on-line foram encontradas, incluindo
tiveram melhoras significativas e resultados o desenvolvimento de habilidades de trabalho
mais positivos. Os pesquisadores concluem que em equipe, a atitude de colaboração, o desen-
os estudantes do grupo experimental senti- volvimento de processos cognitivos, como a
ram-se mais estimulados e desafiados a jogar análise e integração de diferentes pontos de
e compartilhar, devido ao trabalho em grupo e vista, a compreensão de seus próprios limites
ao suporte do repertory grid que lhes forneceu e também dos inerentes a outras pessoas, e o
objetivos claros para discussão. desenvolvimento do sentido de responsabili-
dade e respeito pelos outros.
Outra pesquisa de destaque foi realizada por
Biasutti (2011), cujo objetivo foi contribuir Esses estudos aplicados permitem afirmar que
para a literatura que estuda as experiências do os jogos e atividades colaborativas com suporte
aluno em atividades colaborativas, bem como computacional podem contribuir com a moti-
expressar os critérios utilizados pelos alunos vação, aprendizagem, autoeficácia, habilidades
na avaliação de uma atividade colaborativa relacionadas a trabalhos em grupo e resolução
em um ambiente virtual de aprendizagem. de problemas, responsabilidade, bem como
O estudo foi realizado a partir de um módulo com habilidades interpessoais. Acerca dessa
de educação musical do curso de bacharelado questão, Zea et al. (2009) afirma que os jogos
on-line para formação de professores da edu- com suporte computacional são um comple-
cação primária, ofertado por uma universidade mento ao ensino tradicional e contribuem, de
que se localiza no norte da Itália. O módulo de forma positiva, para o desenvolvimento cogni-
educação musical foi implementado na plata- tivo dos alunos. Os estudos apresentam dados
forma Moodle e contou com a matrícula de 92 qualitativos e quantitativos que corroboram a
estudantes; destes, 90% atuava ou atuou como afirmação supracitada, avançando, assim, no
professor da educação primária. Os estudantes desenvolvimento da área, o que permite novas
desenvolveram atividades de leitura textual, possibilidades de estudos.
discussões on-line, tarefas em pares com fe-
edbacks dos colegas e a tarefa colaborativa na
wiki. Para a atividade colaborativa, os alunos
foram divididos em grupos de quatro pessoas
e executaram duas atividades, uma atividade
a cada quinze dias, utilizando a ferramenta

61
4 GAMIFICANDO O MOODLE: 4.1 Os plugins e a gamificação
O uso de plugins e o bloco game
Os plugins, como o nome diz, servem como
“encaixes”; funcionam para adicionar recur-
O Modular Object Oriented Distance Learning sos aos softwares principais, o que viabiliza
(Moodle) é um Ambiente Virtual de Apren- escalonar as funcionalidades e flexibilizar a
dizagem (AVA), uma plataforma educacional capacidade de personalização. Com plugins,
destinada a auxiliar educadores a criar cursos é preciso apenas “plugar” códigos adicio-
on-line de qualidade. O Moddle é um software nais nos códigos principais para realizar as
de fonte aberta (Open Source Software), o que mudanças. Caso não haja mais a necessidade
significa que se pode instalar, usar, modificar dessas mudanças, basta desativar o plugin
e mesmo distribuir o programa, nos termos da para “desplugar”. Eles são essenciais para
General Public Licence (GNU). Pode ser usado, aumentar o potencial e as funcionalidades
sem modificações, em Unix, Linux, Windows, do seu AVA. É possível encontrar plugins para
Mac OS e outros sistemas que suportem PHP. diversas funcionalidades; no AVA Moodle, por
Atualmente, está́ disponível em mais de 120 exemplo, existem 1633 plugins disponíveis em
idiomas (MOODLE HQ, 2019). seu diretório e 919 em desenvolvimento, além
de inúmeros plugins disponíveis em repositó-
Por ser de código aberto, o Moodle pode ser rios abertos na internet.
personalizado de qualquer forma e adaptado
às necessidades individuais. Sua configuração Falando especificamente em gamificação, os
modular e design interoperável permitem que próprios AVAs já possuem alguns recursos
os desenvolvedores criem plugins e integrem para aplicar algumas técnicas; no Mood-
aplicativos externos para obter funcionali- le, por exemplo, podemos citar os Badges, a
dades específicas. Pode-se ampliar o que o barra de progresso para o aluno acompanhar
Moodle faz usando plugins e complementos o percentual de conclusão de cada curso, etc.
disponíveis gratuitamente; as possibilidades Cabe destacar, porém, que é necessário, para
são, sem dúvida, infinitas. A maneira mais fácil ampliar o potencial da gamificação no AVA, o
e sustentável de adicionar novas funcionalida- uso de plugins.
des ao Moodle é instalar um plugin existente
que atenda a suas necessidades ou desenvol- Um exemplo é o plugin Bloco Game, que possi-
ver um plugin com uma nova funcionalidade bilita aplicar diversas técnicas de gamificação
personalizada para o que precisa. no AVA Moodle, de forma simples e descompli-
cada. As técnicas citadas a seguir estão emba-
sadas no Framework Octalysis, desenvolvido por
Chou (2016). O modelo de Gamificação Octalysis
possui oito perspectivas chamadas de Core
Drives (CDs), que se caracterizam como mo-
tivadores-chave. Cada um desses Core Drives
possui um conjunto de técnicas de gamificação,
associadas a eles (CHOU, 2016).

Com base nas técnicas apresentadas para o


Octalysis, foram identificadas as que podem
ser encontradas no plugin Bloco Game. A se-
guir, apresenta-se a técnica seguida de sua
descrição com base na aplicação do plugin
Bloco Game.

62
Accomplishment • High Five: pequenas mensagens de incentivo
(Desenvolvimento e realização) ao subir de nível.

• Points: por meio dessa técnica, os professo- • Step-by-Step Tutorial: tutorial descriti-
res conseguem aplicar uma pontuação para vo contendo todas as regras do jogo. Esse
os estudantes do curso executando ativida- tutorial se adapta dentro da própria pla-
des, bônus diário e conclusão de curso. Os taforma, dependendo de quais recursos
pontos são utilizados em diversos outros do plugin o professor optou por utilizar em
setores, como para realizar a classificação, sua configuração.
passar de nível, entre outros.

• Badges: ao completar um curso, o estudante Meaning (Significado)


recebe um emblema especial de conclusão;
e, com esse emblema, também recebe uma • Beginners Luck: os primeiros avatares são
pontuação. A quantidade de emblemas é um facilmente desbloqueáveis; e, conforme o
fator de desempate para a classificação geral usuário vai passando de nível, o desblo-
dos estudantes (ver Figura 1). queio de novos avatares vai se tornando
mais raro, necessitando de um maior es-
forço dos participantes.

• Free Lunch: técnica aplicada por meio do


recurso de bônus diário, que recompensa o
estudante com uma pontuação somente por
entrar na plataforma e/ou no curso.

Empowerment (Capacitação da criativi-


dade e feedback)

• Blank Fills: o professor tem a necessidade


de interagir com a plataforma, configurar
as técnicas que deseja aplicar (ver Figura 2).

• General’s Carrot: o professor tem uma certa


Figura 1 – Bloco do plugin liberdade para configurar o plugin como
Fonte: Moodle Escola Técnica de Brasília (2019).
considerar melhor para sua turma, definin-
do quais recursos irá utilizar, a quantidade
de pontos que os alunos receberão para cada
• Leaderboard: com a pontuação recebida o um desses recursos, etc.
estudante pode ver sua classificação dentro
de um curso especifico, como também de • Instant Feedback: permite, ao aluno receber
toda a plataforma. O professor ou admi- uma pontuação, passar de nível ou classi-
nistrador do Moodle pode decidir manter ficação; o plugin atualiza automaticamente
os nomes originais ou ocultar e mostrar para demonstrar os novos resultados.
somente a posição e quantos pontos os
outros teriam. • Poison Picker: o professor é capaz de ter o
controle de recusar a utilização de alguns
• LevelUP: o plugin possui um sistema de ní- recursos já oferecidos pelo plugin, como o
veis que evolui conforme o estudante recebe bônus diário ou classificação, por exemplo.
pontos; o avanço de níveis desbloqueia ou- Tem, assim, um controle dos recursos uti-
tros recursos na plataforma, como os ava- lizados em sua turma.
tares que este pode utilizar, e a pontuação
necessária para avançar cada nível.

63
Figura 3 – Página de seleção de Avatar
Fonte: Moodle Escola Técnica de Brasília (2019).

Scarcity (Escassez)

• Dangling: ao entrar na página para sele-


cionar seu avatar, serão mostrados ao es-
tudante, em tons de cinza, aqueles que ele
ainda não desbloqueou, os quais não poderá,
portanto, selecionar, como uma forma de
incentivar a continuar estudando e, com
Figura 2 – Configuração do bloco isso, conseguir liberar os restantes.
Fonte: Moodle Escola Técnica de Brasília (2019).

• Fixed Intervals: o bônus diário ocorre somen-


te na primeira vez que o estudante logar na
Ownership (Propriedade) plataforma no dia; caso ele acesse diversas
vezes durante o mesmo dia, só ganhará os
• Virtual Goods: o usuário possui alguns itens pontos pelo primeiro acesso do dia. Isso faz
que pode receber ao longo do curso, como com que ele aguarde até o próximo dia para
emblemas, novas imagens de avatares, etc. receber o bônus novamente.

• Avatar: o plugin possui uma série de avatares O plugin ainda permite que seja configurado o
que podem ser escolhidos pelo usuário como modo “preservar a identidade dos usuários”
uma representação virtual para sua conta na listagem de classificação, como mostra a
(Figura 3). Esses avatares podem ser libera- Figura 4.
dos conforme o progresso do estudante no
curso. Além disso, podem ser modificados
na página inicial da plataforma.

64
Importa registrar, ainda, que os testes do plu-
gin foram realizados nas disciplinas de Desen-
volvimento de Projetos, Linguagem Técnica de
Programação III, Inglês Técnico II e Empreen-
dedorismo do curso Técnico em Informática
na Escola Técnica de Brasília, no período de
29/06 a 29/11/2019. No AVA do curso, o Bloco
Game foi inserido com o objetivo de tornar a
aprendizagem dos alunos mais prazerosa e
criativa; e reduzir, assim, a evasão.

No conjunto de 328 estudantes, os resulta-


dos apontam que os cursos nos quais o Blo-
co Game foi utilizado – Desenvolvimento de
Projetos, Inglês Técnico II, Linguagem Técnica
de Programação III e Empreendedorismo –
tiveram melhores desempenhos em termos
de conclusão e evasão do que os cursos que
não utilizaram o plugin (Matemática Aplicada,
Português Instrumental, Linguagem Técni-
ca de Programação I, Linguagem Técnica de
Figura 4 – Lista de classificação
Programação II), como pode ser observado
Fonte: Moodle da Escola Técnica de Brasília (2019).
na Figura 5.

Inscritos Concluídos

Evadidos Não concluídos


60

50

40

30

20

10

0
Desenvolvimento Inglês Matematica Português Linguagem Linguagem Linguagem Empreendedorismo
de projetos Técnico II Aplicada Instrumental Técnica de Técnica de Técnica de
Programação I Programação II Programação III

Figura 5 – Análise de dados das disciplinas | Fonte: Elaborada pelos Autores (2019).

65
Observa-se, ainda, que a participação dos alu- 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
nos nas atividades propostas nos cursos gami-
ficados é superior, o que corrobora a afirmação O presente artigo discutiu estratégias de ga-
de Mattar (2014) no que tange à importância de mificação na educação on-line por meio do
os jogos serem criativos e terem a capacidade desenvolvimento e implementação do plugin
de prender a atenção dos alunos. Bloco Game no ambiente virtual de aprendi-
zagem Moodle. Observa-se que existe, ainda,
a necessidade de formação docente para o uso
Isso posto, cabe destacar que foi possível ob- da gamificação em sala de aula, pois essa uti-
servar, por meio dos feedbacks dos alunos, o lização deve estar atrelada ao planejamento
aumento do interesse em relação às atividades do curso/disciplina.
gamificadas. A utilização de um ambiente pau-
tado em descobertas e na criatividade propor- As atividades propostas devem considerar
cionou uma aprendizagem mais prazerosa e um ambiente de descobertas embasados na
criativa, o que gerou resultados mais positivos criatividade, com objetivos claros e bem defi-
em termos de conclusão e evasão. nidos que proporcionem motivação, desafios,
chances, cooperação e competição, feedback,
aquisição de recursos, recompensas, entre
outros (ZEA et al., 2009; WERBACH; HUNTER,
2012; PIMENTA, 2014). Entende-se, igual-
mente, que o uso sem o devido planejamento
e contextualização poderá gerar resultados in-
desejados, como ressalta Sung e Hwang (2013),
uma vez que mal projetados os jogos podem
desencadear baixo nível de aprendizagem e
comportamentos de autoalienação por parte
dos alunos/jogadores.

A partir da aplicação de técnicas de gamifi-


cação de forma planejada e organizada, o uso
do Bloco Game demonstrou, nas disciplinas
Desenvolvimento de Projetos, Inglês Técni-
co II, Linguagem Técnica de Programação III
e Empreendedorismo, como a utilização de
plugins pode potencializar a aprendizagem
dos estudantes por meio do AVA.

Como agenda de pesquisa, aponta-se a neces-


sidade de estudos que verifiquem a efetividade
do plugin Bloco Game em outros cursos/dis-
ciplinas de contextos diferentes ao aplicado,
bem como pesquisas que possam auxiliar o
professor a escolher quais plugins utilizar e
como aplicar os recursos de cada um, de forma
a explorar todo o seu potencial.

66
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Imagem Capa – Disponível em Pexels: https://www.pexels.com/pt-br/foto/adul-


to-ambiente-de-trabalho-area-de-trabalho-atividade-1181474/
A filosofia e as imagens:
Uma experiência de ensino na
modalidade a distância

Thiago Dutra Manaura


Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected]

Claudia Murta Jacir Silvio Sanson Junior


Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected] [email protected]

Carla Francesca Pera Julio Francelino Ferreira Filho


Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected] [email protected]

RESUMO
O texto busca apresentar um debate funda- do curso produziram objetos de aprendizagem
mentado na prática do ensino de Filosofia a que sedimentaram as referências básicas de
distância, exercitado na oferta do Curso de leitura e estudo dos cursistas. O debate apre-
licenciatura em Filosofia EaD-UFES. Tratou-se sentado no texto gira em torno do conceito de
de uma experiência de formação acadêmica objeto de aprendizagem e seu uso no campo do
veiculada ao Programa Universidade Aberta do ensino de Filosofia. As implicações do uso da
Brasil (UAB) e realizada no Estado do Espírito imagem para o ensino de Filosofia é o debate
Santo, entre os anos de 2014 a 2019, em doze proposto neste trabalho.
polos municipais de apoio presencial da UAB.
Durante esse período, e acenando para a busca Palavras-chave: Educação a Distância (EaD).
de uma metodologia enraizada nas demandas Filosofia. Imagem. Didática. Universidade
próprias da educação a distância, os professores Federal do Espírito Santo (UFES).

70
1 INTRODUÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Concebendo tratar-se de um recurso com pro- Assentadas na esfera do simbólico, as imagens
fundas ressonâncias na história da Filosofia – entendidas por Aumont (2002, p. 17) como
– o que não conseguiremos abordar neste mo- “[...] artefatos cada vez mais abundantes e
mento –, o uso de imagens se constitui como importantes em nossa sociedade” – inserem-
uma baliza que auxilia o trabalho pedagógico -se no contexto das linguagens não verbais
com a Filosofia na modalidade de Educação a (outras semioses) e desempenham a função
Distância (EaD). Isso não significa algum tipo de mediar a relação do sujeito com o mundo.
de sujeição nem conformação a imperativos Para evocar, breve e apenas inicialmente, as
culturais de determinada espécie. Faz as vezes memórias de um consórcio que já se mostrou
de um veículo que, além de se mostrar con- bastante próspero, Aumont (2002, p. 17) tece,
veniente às condições de ensino no ambiente ainda, a seguinte reflexão:
tecnológico, enrodilha-se a uma nova e opor-


tuna fase de parcerias entre Filosofia e imagem.

O que se propõe nesta linha é o resultado do


que foi desenvolvido pelas equipes pedagógicas A percepção visual é, de todos os modos de
e de designers educacionais que atuaram na relação entre o homem e o mundo que o
oferta do curso de licenciatura em Filosofia cerca, uma dos mais bem conhecidos. Há
EaD-UFES. Tratou-se de uma experiência de um vasto corpus de observações empíricas,
formação acadêmica veiculada ao Programa de experimentos, de teorias, que começou a
Universidade Aberta do Brasil (UAB) e realizada constituir-se desde a Antiguidade. O pai da
no Estado do Espírito Santo entre os anos de geometria, Euclides, foi também, em torno
2014 a 2019, ofertado em doze polos munici- de 300 a.C., um dos fundadores da óptica [...]
pais de apoio presencial da UAB. e um dos primeiros teóricos da visão. Na era
moderna, artistas e teóricos (Alberti, Dürer,
Durante esse período, e acenando para a busca Leonardo da Vinci), filósofos (Descartes,
de uma metodologia enraizada nas demandas Berkeley, Newton), e, é claro, físicos, em-
próprias da educação a distância, os professo- penharam-se nessa exploração. É no século
res do curso produziram objetos de aprendiza- XIX que começa verdadeiramente a teoria da
gem que sedimentaram as referências básicas percepção visual, com Helmholtz e Fechner.
de leitura e estudo dos cursistas. Em data recente (desde a última guerra),
os laboratórios de psicofísica desenvolve-
Ao longo dos dois primeiros anos, ou seja, ram-se e a quantidade de observações e
no decurso de quatro períodos, esses objetos de experiências tornou-se considerável [...].


receberam vários tipos de aprimoramento
gráfico, desenvolvidos em forma de trabalho
multidisciplinar, no qual estiveram envolvidos
profissionais de design, agentes pedagógicos
(professores e tutores) e equipe de secretaria. Se não foi preciso ultrapassar as fronteiras
Cite-se que um desses aprimoramentos foi do físico-perceptual para referenciar, num
configurar as obras didáticas em formato A4, só lance, nomes da Antiguidade à Moderni-
permitindo a sua impressão remota por parte dade filosóficas, a lista decerto aumentaria,
de estudantes e professores, o que será exposto expondo o termo “imagem” a sinônimos com
na seção “Resultados”. os quais epicuristas e estoicos articularam
suas elaborações gnosiológicas, tais como
Demócrito e Epicuro ao empregarem o vocá-
bulo “ídolo”, Lucrécio e os “simulacros” (ou
ainda “efígies”, “figuras”, “tipos”); enfim, a
terminologia mesma de “imagem” priorizada
por Cícero . A história do termo é, também,

71
acolhida em debates dos quais participaram horizonte o seu sentido imanente, ou seja, o
Bergson e Sartre, não sem algum enfren- fato de que toda imagem “[...] é utilizada e com-
tamento às teses empiristas (FERRATER preendida em virtude de convenções sociais que
MORA,1964, p. 912-913). se baseiam, em última instância, na existência
da linguagem” (AUMONT, 2020, p. 206).
O pensamento filosófico a respeito da “ima-
gem” ainda traz à baila – prioritariamente, Como superação do correspondencialismo re-
talvez – um eixo de construções que, tendo alista, toma-se a imagem (e o método analógi-
Platão acessado nos matemáticos gregos, de- co) como fonte de denotações, representações
senvolveu-se com Aristóteles, foi revisitado e expressões que veiculam, como contempo-
com a tradição neoplatônica e, na Escolástica, riza Aumont (2002, p. 204), “[...] numerosas
ampliou-se a excessos de sutilezas. Interes- conotações provenientes do mecanismo de
sa-nos pontuar que, de laços intrínsecos com certos códigos (eles mesmos submetidos a uma
a pesquisa filosófica, o método “analógico” ideologia)”. No entendimento desse estudioso,
assiste a um campo de reflexões sobre a ima- é possível substituir a noção de “mimese” por
gem, pelo menos no que diz respeito a relações “referência” e “índice”, justamente para “[...]
de proporcionalidade, de correspondência, de designar esta ideia de que a analogia é uma
atribuição, enfim, de semelhança e ou simi- construção, executada por etapas e utilizável
litude entre dois termos, ordens ou sistemas convencionalmente” (AUMONT, 2002, p. 206).
(JOLIVET, 1975, p. 18).
Essa análise empreendida por Aumont (2002)
Aumont (2002, p. 198) não deixa dúvidas de multiplica, de fato, as possibilidades de esco-
que a analogia comporta uma noção que nos lha por alguma linha que se engata por certa
remete ao “problema da semelhança entre a compreensão e certo uso da imagem analógica.
imagem e a realidade”, supostamente retra- Como não é, todavia, nosso objetivo versar
tada ou reduplicada por sua representação pela adesão nem de uma nem de outra, ate-
imagética. A questão, de profundas reverbe- mo-nos a uma evidência que lhe é subjacente:
rações para estudos em linguagem e comu- assim como não é estranho ao campo filosófico
nicação, como para a crítica da arte, irradia- tendências que se diversificam na apropriação
-se dos tratamentos que Platão e Aristóteles, das imagens, não poderá ser objeto de receio
cada qual a seu modo, dedicaram ao sentido de que, numa oferta de ensino a distância, os
“mimese” (imitação), como pontua Aumont empreendimentos realizados nessa direção
(2002, p. 200). almejem novas perspectivas tanto conceituais
como metodológicas.
Para esta discussão, isso endossa ainda mais a
afinidade que desejamos afirmar entre a Filo- Isso se confirma ainda mais se, permanecendo
sofia e a imagem, não simplesmente com fins na companhia de Aumont (2002), sublinha-
a estabilizar uma proximidade, mas para nos mos algo que desponta de suas observações. A
conduzir a um problema, destacado, sobretu- imagem não é mera cópia da realidade e nem
do, pela Semiologia europeia dos anos 1960: guarda com ela simples relação de semelhança,
independentemente da função mimética ou mas a interpreta e ao interpretá-la é como se a
especular de uma imagem em relação ao real fabricasse ao artifício de seus próprios códigos.
por ela representado, é inerente e indissociável Para Aumont (2002, p. 199-200), ao copiar a
a toda imagem/analogia o fato de ela codificar, imagem fabrica, e ao fabricar, ela ensina a ver
esquematizar, modular ou interpretar. para aquilo que copiou.

Isso é suficiente, no entendimento de Aumont Como se não bastasse o endosso da própria


(2002, p. 198-204), para que a noção de ana- tradição filosófica pela qual reverberam im-
logia se desvincule do parâmetro (metafísico- portantes posições sobre a natureza e origem
-ontológico) da imagem como representação da imagem, o que desejamos destacar é essa
verossímil, fidedigna, desinteressada, pura e sua particular propensão para gerar aprendi-
não deformante do tipo ideal, e assuma como zado e comunicação. Isso faz, por conseguinte,

72
com que o tema da imagem, de um capítulo compulsão e fragmentação (MARTINS, 2010,
expoente dos estudos filosóficos, torne-se uma p. 20-21).
prerrogativa quando tais estudos se assentam
numa plataforma virtual de ensino, dado o Tais padrões de experiência visual não impe-
estreito intercâmbio entre as tecnologias de dem que as imagens sejam usadas para fins
educação e a cultura visual. Importa, também, educativos, contanto que, num processo de
sublinhar que formação, haja espaço para questionamentos e
reconstruções, ações que põem freio e impõem


distância aos bombardeios da propaganda de
massa (MARTINS, 2010, p. 24-29).


[...] a imagem é sempre modelada por es-
truturas profundas, ligadas ao exercício de
uma linguagem, assim como à vinculação a
uma organização simbólica (a uma cultura, Este é um aspecto educativo preponderan-
a uma sociedade); mas a imagem é também te na cultura visual, ou seja, a ênfase na
um meio de comunicação de representação noção de que contradição e conflito tem
do mundo, que tem seu lugar em todas as força produtiva para gerar e debater temas
sociedades humanas (AUMONT, 2004, p. 22 e inquietações que contribuem para uma


apud SANTOS, 2008, p. 11). compreensão crítica da experiência visual.
Esses conceitos e argumentos – contradição,
resistência, interpretação – enfatizam a
importância de abordarmos as manifesta-
ções culturais e artísticas como “artefatos
Pode acontecer que a expressão “cultura da sociais”, produtos simbólicos que formam
imagem” nos remeta a uma série de consi- nossas identidades e identificações como


derações que, a rigor, não coincidam com as indivíduos (MARTINS, 2010, p. 28).
coordenadas de nosso percurso. É claro que
não nos parece, de forma alguma, desligado de
nossos interesses que o estudo da “imagem” se
remonte, conforme a linha percorrida por Rat-
to (2014) e Martins (2010), ao campo de uma Essas problematizações são improteláveis em
cultura que padece com processos de desterri- uma experiência de ensino na modalidade EaD,
torialização, obsolescência e desengajamento. quanto mais numa oferta de licenciatura em
A “imagem”, no sentido de algo incorpóreo, Filosofia. Para que ela fosse, no entanto, con-
etéreo e sem consistência, configuraria uma cretizada – além dos subsídios teóricos – são
espécie de ícone para uma época que vê surgir, necessárias algumas condições infraestrutu-
no lugar de referências estáveis, sólidas e se- rais, que, a seguir, apresentamos dentro de um
guras, “territórios precários, fugazes, fluidos” recorte metodológico a respeito da viabilidade
(RATTO, 2014, p. 165), inclusive assimilados de acesso digital dos cursistas.
por mecanismos capitalistas de produção de
espetáculo e de consumo (RATTO, 2014, p. 165;
MARTINS, 2010, p. 24).

Consonante a essa abordagem, Martins


(2010) destaca que a exposição a sensações
lançadas com propósitos publicitários gera
uma “hipervisualização”. Isso começou a se
dar principalmente a partir dos anos 1980
com a chamada “virada imagética”, ao que
se atribui determinados efeitos na subjeti-
vidade, como apatia e dependência, euforia,

73
3 METODOLOGIA
O curso de licenciatura em Filosofia EaD-U- Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) que dá
FES aplicou, em 2017, um questionário com o suporte às comunicações permite a realização
intuito de levantar informações de natureza de videoconferências transmitidas do estúdio
sociocultural de seus estudantes. Constatou-se localizado na SEAD-UFES, podendo ser feitas
favorável nele uma declarada proximidade do de forma simultânea para até quatorze salas,
cursista com a internet, acrescentando que o ligadas ao circuito; aparato que dota o sistema
acesso à conexão de banda larga, necessária com o atributo de síncrono, não obstante a
à modalidade EaD, estava disponível a 79% esse ambiente de aprendizagem colaborati-
dos alunos: na forma de acesso pessoal, para va se possa fazer uso de outras ferramentas
77%; de acesso compartilhado, para 19%; so- convencionais na forma de correio (MURTA
mente 5% contavam, exclusivamente, com et al., 2008, p. 6-8, 13).
os meios dos polos UAB para entrar no AVA
(UFES, 2017, p. 3). Por estruturar-se num sistema bimodal, ou
seja, combinando atividades presenciais e a
Convém sublinhar que, ao passo que a media- distância (MURTA et al., 2008), essa experi-
ção tecnológica não só acompanha a dinâmica ência de ensino adota uma metodologia semi-
educacional na modalidade a distância, mas presencial , propensa a contornar dificuldades
também se consolida como fator para a sua que, porventura, os alunos apresentem por
institucionalização (NASCIMENTO; VIEIRA, inépcia para com o uso de computadores, re-
2016, p. 309), podemos dizer que uma combi- alizando encontros quinzenais obrigatórios
nação de elementos opera no intuito de atender com tutores ou professores (MURTA et al.,
a demandas diversas. 2008, p. 11 et seq.). Trata-se de um modelo
blended-learning (ou b-learning) que, segundo
Num nível presencial, têm-se os encontros Padilha (2013, p. 87, 96), foi o adotado pela
periódicos assistidos por tutores e abrigados maior parte das universidades que partici-
no ambiente dos polos que receberam o projeto param do edital do Programa Universidade
de interiorização da UFES (MURTA et al., 2008, Aberta do Brasil (UAB).
p. 9-16). Já na dimensão das infovias, Rede

4 RESULTADOS 4.1 Configurações gráficas dos


materiais didáticos
Esses aspectos relacionados à interatividade
são agora, na sequência, trabalhados em duas Em termos gerais, os diversos componentes
ramificações; abordamos, inicialmente, as gráficos presentes nos fascículos foram sendo
principais características da configuração grá- reduzidos para dar lugar a uma organização mais
fica dos objetos de aprendizagem fornecidos objetiva e funcional. O mais exemplificativo de-
para a leitura do estudante; e, depois, fazemos les é a remoção da capa dos fascículos semanais.
uma explanação geral e numérica de outras
produções interativas que levaram a cabo os Algumas hipóteses de diagramação levaram à
mesmos princípios anteriormente descritos. produção de obras com capas, que tomavam
toda a primeira página. A própria equipe de
design instrucional optou pela eliminação da
capa, já que, na prática, ela não exerce função
alguma para quem vai imprimir o material
em casa.

74
Note-se que a exclusão de uma capa em cada estilo de um livro e a objetividade necessária
obra semanal evidencia a discrepância do modo de diagramação de conteúdo para o contexto
tradicional de diagramação de conteúdo ao EaD na plataforma virtual (Figura 1).

Figura 1 – Projetos gráficos do objeto de aprendizagem da primeira semana da disciplina Ética 1, período
1, e do objeto da primeira semana da disciplina Ética 2, período 4.
Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

75
Numa breve descrição dos traços aplicados à • estruturação: esse texto-base dos módulos
composição dos materiais didáticos produ- da disciplina, redigido em formato esta-
zidos pelo curso de licenciatura em Filosofia belecido pela equipe de design, já possuía
EaD-UFES, elencamos a: suas partes distribuídas em semanas pelo
professor, conforme a arquitetura temporal
• produção: o professor redige o conteúdo empregada pelo curso EaD em sua organi-
teórico da disciplina num modelo de ar- zação curricular;
quivo ‘.doc’ (Word) no qual, além de ou-
tras orientações, a equipe de designers ha- • diagramação: conteúdo textual diagramado
via previamente programado os estilos de em três colunas, no formato de impressão
caracteres e parágrafos correspondentes para folha A4, desprovido de capa e confi-
a títulos, subtítulos e citações, esclareci- gurado para permitir a impressão caseira,
mentos e destaques, rodapés e legendas, e a assim disponibilizado para que se alcan-
outros quesitos que, depois de configurados, çasse o máximo aproveitamento de papel
davam ao módulo de estudo uma fisionomia e com um menor gasto de tinta (Figura 3).
dialógica e interativa (Figuras . 2 e 3);

Figura 2 – Páginas do arquivo-modelo no qual o professor redige o módulo de estudos semanais.


Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

76
Figura 3 – Páginas mostrando o projeto gráfico do material didático da sexta semana da disciplina Seminário
de Pesquisa Filosófica, período 5, contendo a formatação de títulos e subtítulos, tópicos, parágrafos,
citações, rodapés, destaques e imagem legendada.
Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

77
4.2 Objetos interativos
de aprendizagem

Os valores uméricos da produção de materiais de 2016 a 2019, o curso de licenciatura em Fi-


realizada pelos agentes técnicos e pedagó- losofia EaD produziu um total de 216 aulas.
gicos do curso de licenciatura em Filosofia Em parceria com o Laboratório de Design Ins-
EaD-UFES indicam quão profícua se revelou, trucional (LDI) também produziu a animação
para a própria área de Ensino da Filosofia, a Filosofia da Ciência – Descartes (Figura 4),
experiência de Educação a Distância. Ousamos narrando o Discurso do Método; vários jogos
afirmar que, combinadas as circunstâncias e as interativos, como o Diálogo Górgias e Platão
peculiaridades mais ligadas a essa modalidade (Figura 5), as Linhas do tempo da Sociologia e
de ensino, articulou-se um ambiente de traba- da Filosofia e Educação, a Taberna da Metafí-
lho bastante favorável à elaboração de textos sica (Figura 6), e outros tutoriais e dezenas de
que, ao fim e ao cabo, não só enriquecem a área materiais didáticos digitais e impressos, que,
da Filosofia, mas também mostram se tratar depois de formatados, eram enviados à gráfica
de uma área pujante de criações. ou tinham seus arquivos disponibilizados na
plataforma do curso para a utilização pelos
Entre transmissões e gravações de vídeos rea- cursistas e demais intervenientes.
lizadas nas salas de webconferência da SEAD,

Figura 4 – Animação idealizada para a disciplina Filosofia da Ciência, período 4


Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

78
Figura 5 – Captura de tela inicial do jogo de aplicativo de celular feito para a disciplina Ensino de Filosofia,
período 6. | Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

Figura 6 - Captura de tela do jogo Taberna da Filosofia, programado para a semana de apresentação da
disciplina de Metafísica 3, período 5. | Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

Mediante o webdesign e o desenvolvimento e objetos interativos que foram elaborados pela


web produzidos pelo Laboratório de Design equipe do curso de licenciatura em Filosofia
Instrucional da SEAD-UFES, foi desenvolvida EaD-UFES e demais cursos oferecidos pela
uma plataforma na qual está disponibilizado SEAD-UFES.
um acervo digital gratuito, composto de livros

79
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A saber de todos os esforços profissionais,
burocráticos, técnicos e financeiros dispen-
sados na oferta de um curso EaD (BRASIL,
2007), supomos que se estime um processo
de ensino e aprendizagem com os melhores
desempenhos possíveis, conferindo para ele
uma autenticidade que minimize eventuais
prejuízos e dificuldades.

Podemos notar que o trabalho com a imagem


não implica uma traição contra os altos parâ-
metros da abstração filosófica. Não é preciso
testar limites de moralidade, nem se encher
de escrúpulos, para fazer das imagens uma
estratégia de ensino da Filosofia.

Para se trabalhar com as imagens numa for-


mação a distância de licenciatura em Filosofia,
não precisamos submetê-las a rituais que as
exorcizem de contaminações ideológicas, nem
a procedimentos que certifiquem seu lustro
estético. Seria, também, incipiente que, para
fins de aprendizado filosófico, a imagem não
tivesse outra justificativa que as relacionadas
ao veículo midiático. A imagem congrega, em
si mesma, o saber sobre algo, de tal forma que
possui a capacidade de promover no estudante
a condição primordial para a busca de saber
que é a base da filosofia possível.

80
6 REFERÊNCIAS
AUMONT, J. A imagem. 7. ed. Campinas: Papirus, 2002.

AUMONT, J. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

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Editorial Sudamerica, 1964.

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MIRANDA, G. L. Limites e possibilidades das TIC na educação. Sísifo – Revista de


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MURTA, C. P. C. et al. Sonhos presentes, concretizando-se a distância. Paidéi@


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PADILHA, M. A. S. Os modelos de educação a distância no Brasil: a Universidade
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RATTO, C. G. Enfrentar o vazio na cultura da imagem – entre a clínica e a educação.


Pro-Posições, Campinas, SP, v. 25, n. 1, p. 161-179, jan./abr. 2014. DOI 10.1590/
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SANTOS, J. T. Platão e a escolha do diálogo como meio de criação filosófica. Huma-


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SANTOS, S. S. S. O processo de percepção e a cultura visual. In: CONGRESSO DE


CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUL, 9., 2008, Guarapuava, PR. Anais…
Guarapuava, PR: Intercom, 2008. Disponível em: http://www.intercom.org.br/
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES). Superintendência de Edu-


cação a Distância. Questionário sociocultural (Filosofia – Licenciatura). Vitória:
SEAD-UFES, 2017.

Imagem de Capa – Disponível Freepik: https://br.freepik.com/fotos-gratis/livro-na-


-biblioteca-com-o-velho-livro-aberto-pilha-pilhas-de-arquivo-de-texto-de-li-
teratura-na-mesa-de-leitura_4351437.htm#page=1&query=filosofia&position=0
Método de Ensino e Perfil
Socioeconômico do aluno
Desenvolvendo estratégias para o estudo
da filosofia na modalidade a distância

Claudia Murta Jacir Silvio Sanson Junior


Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected] [email protected]

Carla Francesca Pera Julio Francelino Ferreira Filho


Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected] [email protected]

Thiago Dutra Manaura


Universidade Federal do Espírito Santo
[email protected]

RESUMO
Neste artigo, analisamos as devolutivas dispo- direcionados a público específico, assimilando
nibilizadas pelo MEC/INEP referentes ao perfil processos que levem em consideração suas
socioeconômico dos estudantes concluintes e condições, interesses e expectativas; fatores
inscritos no Enade/2017, com fins de levantar que precisam ser integrados às exigências aca-
perspectivas metodológicas para a educação dêmicas e institucionais do ensino da Filosofia.
na modalidade a distância (EaD). Os relató- Propomos que o uso de imagens, tal como
rios governamentais, cotejados com pesquisa é sondado por autores como Roland Barthes
realizada pelo curso EaD de licenciatura em e Paulo Freire, reserva nesse campo grande
Filosofia, ofertado por meio da Superinten- potencial para ações pedagógicas zelosas pela
dência de Educação a Distância da Universidade promoção da autonomia e da consciência crítica.
Federal do Espírito Santo (SEAD-UFES), junto
a seus estudantes, colhem informações que Palavras-chave: Educação a Distância (EaD).
retroalimentam a disposição dos professores Metodologia. Ensino e Aprendizagem. Ima-
para o desenvolvimento de materiais e didáticas gem. Filosofia.

84
1 INTRODUÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Com base na aplicação, em 2017, do Exame De certo ponto de vista, a lida com as ima-
Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENA- gens é indispensável, se nos referenciarmos
DE), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas no parecer que Roland Barthes (2005, p. 68)
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) – órgão faz ressoar dos historiadores. O século XVI
do Ministério da Educação (MEC) – elaborou foi o palco onde a audição, na hierarquia dos
três documentos que possibilitam ao Estado e sentidos mais requisitados, cede a primazia
às Instituições de Ensino Superior (IES) “[...] para a visão/imaginação, passando os olhos a
uma reflexão do desempenho de cada um de serem os órgãos por excelência da percepção.
seus cursos de graduação à luz de seus projetos
pedagógicos” (BRASIL, 2018a, p. 5). Essa mudança, que Barthes (2005, p. 69-70)
acompanha em sua valência religiosa, cote-
Trata-se de relatórios eminentemente estatís- jando a proposta dos exercícios espirituais de
ticos, constituídos de tabelas, quadros e gráfi- Inácio de Loyola com a mística especulativa
cos que, dentre outras informações, traçam o de João de Cruz, não se dá apenas em termos
chamado perfil socioeconômico dos estudantes sensoriais, mas, sobretudo, linguísticos. À
concluintes, que participaram do Enade/2017. medida que o olhar passa a ser mais valorizado
De modo a complementá-los, somamos a essas do que a audição, as imagens também passam
devolutivas os resultados adquiridos mediante a ser articuladas, compondo, na relação de uma
pesquisa própria, empreendida pelo curso de com as outras, um discurso, uma linguagem,
licenciatura em Filosofia EaD-UFES, por meio uma semântica (BARTHES, 2005, p. 71).
de um questionário sociocultural (UFES, 2017).
Há então para Barthes (2005, p. 71), no alvore-
Embora o MEC/INEP tenha assinalado que cer da Modernidade, a criação de uma “linguís-
os resultados reunidos de seus instrumen- tica da imagem” que, como tal, é passível de ser
tos avaliativos permitam “[...] conhecer com percebida em seus códigos, acessada em sua
profundidade o modo de funcionamento e a lógica e projetada para uma ação no mundo.
qualidade dos cursos e Instituições de Educa-
ção Superior (IES) de todo o Brasil” (BRASIL, Essas breves observações ensejam a necessi-
2018b, p. 1), nosso propósito consiste em dis- dade de se educar para que as imagens sejam
cutir metodologias que aperfeiçoem o ensino lidas; apontam também para o fato de que,
da Filosofia, considerando, para isso, o perfil como linguagem, as imagens comunicam
de seu público discente. ideias e processam narrativas.

Neste estudo, conduze-nos a hipótese de que é Não queremos fazer com que o caráter gra-
necessário produzir metodologias direciona- focêntrico de modelos tradicionais de ensino
das ao perfil do aluno da modalidade a distân- torne-se alvo de condenação, nem que certas
cia. Por essa razão, e em se tratando do ensino configurações do ensino presencial de Filo-
de Filosofia e da carga de leituras inerentes sofia passem a ser julgadas como antiquadas
à área, a elaboração de materiais atrativos, por engenharias supostamente mais atuais da
assentados em propostas de atividades inte- Educação. Importa sublinhar, no entanto, que
rativas, atende a aspectos de motivação e pla- nada nos soa mais atual do que falar em uma
nejamento que podem influir, positivamente, educação dialógica e libertadora, concepção
na eficácia do processo de aprendizagem. que obviamente prospera das ações pedagógi-
cas de Paulo Freire, de fontes que se explanam
da Filosofia Antiga à Contemporânea (CRISTI;
GARCÍA, 2018, p. 8-9).

Paulo Freire e Shor (1986 apud MARFIM; PES-


CE, 2019, p. 65-66) já externavam suas per-
cepções sobre os termos de políticas públicas

85
que reduziam a educação a processos mecâni- envolvidas na elaboração e confecção desses
cos e hierarquizados de controle de frequência, materiais, compostas como são de professo-
prescrição de tarefas, registro de materiais, res e designers instrucionais, realizarem de
quantidades de provas e outras normatizações, maneira competente a
que postulam um modelo quantificado, admi-


nistrado e supervisionado de ensino. Por certo,
trata-se de um questionamento que repercu-
te, também, do fato de ter em sua trajetória
testemunhado projetos que implementaram Análise e adequação da linguagem numa
metodologias essencialmente mecânicas e perspectiva dialógica de textos, livros didá-
funcionais, técnicas e apolitizadas, como no ticos, mídias interativas, recursos didáticos
caso do Movimento Brasileiro de Alfabetiza- e do desenho pedagógico das unidades cur-
ção (MOBRAL), pela ditadura militar (CRISTI; riculares dos cursos, apontando alternativas
GARCÍA, 2018, p. 4-5). para interatividade entre os aprendizes,
professores e tutores no Ambiente Virtual de
Ocorre-nos pensar que, com o surgimento das Ensino e Aprendizagem (AVEA) (MACEDO;


tecnologias digitais de informação e de comu- BERGMANN, 2018, p. 5-6).
nicação (TDICs), quanto mais a sua integração
a processos que contribuem para a edificação
da chamada “cibercultura” ou “cultura digi-
tal” , não deixa de ser adverso que os impera-
tivos de certa racionalidade tecnológica criem Outra questão decorre da possibilidade, sendo
tensões no sentido de favorecer currículos que esta um artifício forjado pela própria ação pe-
valham mais como objeto de consumo cultural dagógica, de o uso das imagens ser direcionado
que de apropriação crítica (MARFIM; PESCE, para a construção de autonomia.
2019, p. 59 et seq.).
A rigor, é de se cogitar que as imagens teriam
Essa não é, contudo, uma equação necessária. maior serventia prática para um público de
Embora as TDICs associadas a práticas educa- adultos em fase introdutória de alfabetização
cionais possam estar inicialmente emprenha- (ROMÃO, 2010, p. 91), e o avanço das etapas
das de um caráter instrumental e burocrático, se medisse com a gradual passagem do visu-
nada impede que ensaiemos ações pedagógicas al-pictórico para o canal gráfico-abstrato. Ao
munidas de valores que suscitem o empodera- fazer, no entanto, um levantamento do termo
mento das consciências e se sintonizem com “imagem” e correlatos (por exemplo, “visual”,
a dimensão ontológica humana (MARFIM; “ícone”, “signo”) nas obras referenciais de
PESCE, 2019, p. 70-71). Paulo Freire, Romão (2010, p. 90) lembra que,
embora Paulo Freire prezasse “a escrita como
Uma das premissas político-metodológicas de elemento de libertação em um mundo cada vez
Paulo Freire consiste em fazer da educação um mais grafocêntrico” – pois de certo “a escrita,
espaço de problematização. Esse dispositivo é nesse mundo é um instrumento de libertação
engatilhado no contexto no qual os estudantes dos alfabetizandos e alfabetizandas” – , isso
ampliam suas reflexões sobre suas realidades, não quer dizer que “nem a imagem nem o signo
explorando novas acepções das palavras que são bons ou maus em si mesmos, porque sua
medeiam suas relações e conferem sentido axiologia depende do contexto em que são
a suas experiências (CRISTI; GARCÍA, 2018, usados e dos sujeitos pelos quais são usados”.
p. 6 et. seq.).
A apreensão crítica e compreensiva do mun-
Um cuidado importante está em preparar ma- do, esta que é uma das principais categorias
teriais didáticos, cuja formatação seja posta em pedagógicas de Freire, independe se sua base
linha de constante conversação com o leitor material é escrita ou imagética (ROMÃO, 2010,
discente. Confirma uma orientação freire- p. 93). Importa, todavia, sublinhar que, ao invés
ana o fato de as equipes multidisciplinares de essa observação insinuar indiferentismo ou

86
de relacionar a imagem à preguiça mental pelas Redirecionamos, assim, para nossa experiência
letras, ela instiga que os objetivos políticos, um parecer que Rocha (2013, p. 47) endereça
sociais e emancipatórias da qualquer iniciativa ao ensino médio presencial: “Como um bom
educacional não degringolem em pormenores filme, como uma boa peça de teatro, como um
quanto ao meio utilizado para a comunicação. bom romance ou novela, a aula de filosofia no
ensino médio deve estar à altura do drama de
Mesmo na Educação a Distância, quanto mais pensamento e vida dos jovens”.
em se tratando de uma licenciatura em Filo-
sofia, seria disparatado não problematizar se Pensamos, ainda, que as imagens propiciam
o ensinar se presta, tal como delineava Freire ao ensino de Filosofia operar com a ideia de
(1997, p. 45 apud ROMÃO, 2010, p. 93), apenas à roteiro. As imagens, ou mais amplamente, a
memorização de conteúdos repassados via dis- percepção visual se constitui, na modalida-
curso vertical. É crucial analisar se a pedagogia de EaD, em um apto vetor para manejar essa
que está sendo micro e macropoliticamente massa de conteúdos do acervo filosófico que
posta em prática conduz a um servilismo à aguarda pelo gênio de um professor-roteirista.
autoridade que institucionaliza a opressão, ou


se, ao invés de petrificar os valores vigentes,
instiga a criatividade, a investigação e a desco-
berta de conhecimentos disjuntivos ao binômio
mestre-aluno (CRISTI; GARCÍA, 2018, p. 7). Se o roteirista tem uma história, de nossa
parte temos um conjunto aberto de pro-
Convém, nesse aspecto, apreciar que tal relação blemas, temas e textos que fazem parte
é atravessada por múltiplos agenciamentos, o de nossa tradição. Essa massa de temas
que confere, seja a uma aula presencial, seja e problemas é um conjunto de histórias
aos mecanismos de ensino e aprendizagem à espera de roteiristas inspirados que as
operados na modalidade EaD, uma dinâmica transformem em situações inspiradas e
de funcionamento rizomático: inspiradoras de ensino-aprendizagem


(ROCHA, 2013, p. 39).


Talvez o professor possa mudar as per-
guntas que faz a uma turma de alunos. Em Essa ideia de roteiro parece ser constitutiva do
vez de perguntar o que significa uma coisa conceito de “hipermídia”, haja vista ser en-
ou uma teoria, poderia perguntar o que tendido como o “[...] resultado da combinação
eles podem pensar e fazer com o que foi da multimídia com o hipertexto. [...] Cada novo
desenvolvido naquela aula. Ao pensar sua ambiente hipermídia tem sua própria narrativa
aula, o professor pode perguntar como ela e esta pode demandar diferentes contribuições
funciona e que conexões estabelece com hipertextuais ou multimidiáticas” (GONÇAL-
outras aulas ou coisas. Sendo a aula um VES; BATISTA, 2013, p. 92).
agenciamento, ela se conecta com outros
agenciamentos, mesmo que imperceptíveis São essas, em suma, algumas balizas que não
num primeiro momento. Não se perguntará poderíamos recusar para desenvolver um tra-
sobre a compreensão da aula, mas, sim, [...], balho produtivo e mais ajustado ao perfil do
sobre as conexões que se podem estabelecer discente do curso de licenciatura em Filosofia


(GONTIJO, 2013, p. 56). EaD-UFES.

87
3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.2 Estado civil e moradia

O curso de licenciatura em Filosofia EaD-UFES O questionário SEAD-UFES noticiou que 70%


aplicou, em 2017, um questionário a seus dis- dos alunos moram com o cônjuge ou com-
centes, com o intuito de levantar informações panheiro (apenas 25% são solteiros), 63%
relativas a seus perfis socioculturais. Após possuem filhos (27% apenas 1) e 65% residem
a planificação dos dados obtidos, cotejamos em casa com pelo menos três pessoas (UFES,
seus resultados com os insumos divulgados 2017, p. 3).
pelo MEC/INEP, por meio de suas devolutivas.
Todos os valores percentuais foram arredon- Esses valores percentuais praticamente se en-
dados e apresentados em números inteiros. trecruzam em comparação com o estado civil
dos estudantes concluintes do Enade/2017.
Destes, 25% eram casados e 68%, solteiros,
valor que aumenta para 77% no ensino presen-
3.1 Faixa Etária cial. Se consideramos, todavia, a modalidade
EaD, verifica-se uma aproximação: 51% eram
Embora constitua um dado elementar, a faixa casados e 35% solteiros (BRASIL, 2018a, p. 19).
etária já é um importante indicativo para se
estimar acerca das propensões e conveniên- O MEC/INEP não forneceu dados que corre-
cias, condições e possibilidades necessárias lacionassem ao estado civil o grau acadêmico
para que um cursista percorra integralmen- junto com a modalidade de ensino. É signi-
te a trajetória formativa que lhe é proposta. ficativo, contudo, que na licenciatura há uma
Na pesquisa SEAD-UFES, houve a adesão de distribuição mais equitativa entre as taxas
68% entre 324 matriculados, nos quais 78% de solteiros e casados (BRASIL, 2018a, p. 20).
ingressaram na Filosofia com mais de trinta Além disso, 52% vivem com pais e/ou paren-
anos de idade; e, desses, 47% acima de 35 anos tes, e 33%, com cônjuge e/ou filhos (BRASIL,
(UFES, 2017, p. 2). 2018a, p. 36).

Trata-se de um percentual que se aproxima ao Importa pensar que nesse perfil de aluno EaD,
dos estudantes respondentes do Enade/2017 um “adulto jovem” precisará abrir “espaços”
dos cursos de licenciatura da área de Filosofia para incluir em seu cotidiano algum tempo,
EaD. A maior proporção de estudantes (27%) suficiente ou não, para dedicar-se a tarefas de
está no grupo etário acima de 45 anos, mas, leitura e à realização de atividades. Evidente-
se consideramos a partir da idade de trinta mente, não se trata apenas de uma questão de
anos, o percentual sobe para 75%. A educação organização pessoal ou estritamente pesso-
presencial conta com um público mais juvenil, al, pois o aluno terá de “negociar” isso com
de 57% até 29 anos de idade (BRASIL, 2018b, aqueles que se estreitam ao círculo familiar
p. 48-49). do convívio residencial.

Cabe destacar que, dentre todos os estudantes


concluintes inscritos no Enade/2017, os que se
encontravam no grupo etário de 34-42 anos
não eram mais que 16%. E, se considerarmos
todas as faixas etárias a partir da idade de 34
anos, a quantidade de estudantes se limitava
a 23% do total (BRASIL, 2018a, p. 18).

88
3.3 Trabalho e renda

Os diversos compromissos e as várias res- tuação financeira, os dados mais específicos


ponsabilidades de um adulto, dentre as quais do Relatório de Curso (BRASIL, 2018d, p. 14)
ser o “pilar” financeiro de uma família ou quase tocam os 94% dos que possuem renda,
possuir em sua dependência econômica ou- dos quais 68% contribuem com o sustento da
tra(s) pessoa(s), é um fator que interfere no família, sendo 31% os principais provedores.
rendimento acadêmico.
Na área de Filosofia, as modalidades de en-
Mesmo que 81% dos alunos do curso EaD de sino presencial e a distância praticamente se
licenciatura em Filosofia SEAD-UFES tenham alternam no quesito renda e sustento. Entre
vínculo empregatício, podemos entrever que, os concluintes de cursos presenciais, um pou-
da maioria (70%) dos que possuem renda pes- co mais de um terço (35%) dos respondentes
soal até dois salários mínimos, grande par- assinalaram “Não tenho renda e meus gas-
te é também membro de famílias que vivem tos são financiados pela minha família ou por
com, no máximo, dois salários mínimos (42%) outras pessoas”. Quanto aos concluintes da
(UFES, 2017, p. 3). modalidade a distância, quase a mesma por-
centagem (31%) marcou mais frequentemente
Com base no 0 (BRASIL, 2018d, p. 13), os alunos a alternativa “Tenho renda e contribuo com o
que fazem parte de famílias com rendimento sustento da família” (BRASIL, 2018b, p. 55).
máximo até três salários mínimos representam
quase 60% do total. Em compensação, as notas Tanto para o curso de licenciatura em Filosofia
médias de seus desempenhos no Enade/2017 EaD-UFES (BRASIL, 2018c, p. 44) como para os
são as menores, ficando entre 36% e 40%. cursos de Filosofia em geral (BRASIL, 2018b, p.
54), a renda mensal da família dos estudantes
Trabalhar é uma atividade que está presente, EaD fica entre 57-59% das que ganham até três
em maior ou menor medida, na vida da maior salários mínimos, sendo que 23-27% ganham
parte dos estudantes concluintes que parti- até um salário mínimo e meio. Os valores se
ciparam do Enade/2017. Apenas 38% decla- assemelham à renda familiar dos estudantes
raram não estar trabalhando, enquanto que concluintes inscritos no Enade/2017 (BRASIL,
21% trabalham até 39 horas (dos quais 9% 2018a, p. 28): 23% até 1,5 salário mínimo, 29%
até 20 horas) e 34%, 40 horas ou mais (32% entre 1,5 e 3 salários mínimos.
entre os que cursam licenciatura), número que
chega a 47% em se tratando do EaD (BRASIL, Em comparação com o bacharelado (35%), a
2018a, p. 37-38). licenciatura é um grau acadêmico no qual se
concentra a maior proporção (67%) de ren-
De acordo com os indicadores relativos ao Ena- das até três salários mínimos (BRASIL, 2018a,
de/2017 e divulgados pelo MEC/INEP (BRASIL, p. 30), sendo que na modalidade a distância
2018a, p. 32), praticamente metade dos estu- esse valor é maior (60%) que o registrado na
dantes (54%) precisa da ajuda total ou parcial educação presencial (50%) (BRASIL, 2018a,
da família para custear seus estudos. Dos que p. 29). Isso, porém, inverte-se ligeiramente
possuem renda (67%), quase a metade (29%) em se tratando apenas da licenciatura em Fi-
está entre os que contribuem (20%) ou são os losofia: enquanto na educação presencial 66%
principais provedores do sustento da família dos estudantes respondentes do Enade/2017
(9%), valores muito próximos ao dos estu- são membros de famílias com renda até três
dantes de licenciatura (BRASIL, 2018a, p. 34). salários mínimos, na educação a distância são
Importa, contudo, registrar que, na modalidade 57% (BRASIL, 2018b, p. 54).
EaD, 81% dos estudantes declaram ter renda,
dos quais 51% são responsáveis pelo sustento Com relação aos dados econômicos, convém
da família, seja contribuindo (36%), seja como o lembrar que o Departamento Intersindical de
principal provedor (15%) (BRASIL, 2018a, p. 33). Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diee-
É pertinente informar que, com respeito à si- se), mediante sua pesquisa nacional da cesta

89
básica de alimentos, apresentava para dezem- alcançado/superado por 26% das famílias de
bro de 2017 uma defasagem de R$ 2.648,05 alunos cursistas da licenciatura em Filosofia
para o salário mínimo nominal. Ocorreu-nos EaD-UFES, sendo a metade (14%) por meio
constar que o valor de R$ 3.585,05, relativo ao de salário individual do próprio estudante.
salário mínimo necessário, só era realmente

3.4 Bolsas financiamentos


e Auxílios para estudo

Apesar de serem delicadas as condições finan- p. 65-66). Podemos, no entanto, dizer que “[...]
ceiras do aluno de licenciatura em Filosofia dentre os alunos de cursos EaD, quase inexiste
EaD, percebemos o quanto tal vulnerabilidade a declaração de bolsas acadêmicas. Dentre os
aumenta ante a limitada assistência dispen- de cursos Presenciais, em quase a metade das
sada por programas governamentais, como UF o recebimento de bolsas acadêmicas é a
as bolsas de estudo e as políticas afirmativas. situação mais comum” (BRASIL, 2018b, p. 73).

Enquanto 20% declara ser o principal respon- Está também no ensino de Filosofia a dis-
sável pelo sustento da família (contra 9% no tância, no grau acadêmico de licenciatura, a
ensino presencial), 31% estão entre aqueles maior proporção daqueles que, segundo sua
que, tendo (15%) ou não (16%) renda, precisam declaração de cor/raça, ingressaram no curso
da ajuda da família ou outras pessoas para universitário por meio de políticas de ação
saldarem seus gastos (BRASIL, 2018b, p. 55), afirmativa ou inclusão social. Mesmo assim,
números que caem para 16% no Relatório de no caso de Vitória (ES), a soma daqueles que
Curso (BRASIL, 2018d, p. 14). ingressaram na graduação, mediante tais cri-
térios, não supera 27%, sendo 7% por razão
Apenas 2% dos estudantes na modalidade a étnico-racial, 8% devido à renda, e 3% por ter
distância são financiados pelo Governo, contra estudo em escola pública ou em particular com
12% dos alunos de cursos presenciais de Filo- bolsa (BRASIL, 2018d, p. 14).
sofia (BRASIL, 2018b, p. 55). Quanto à licen-
ciatura em Filosofia EaD oferecida pela SEAD/ Em relação ao número total de brancos (48%),
UFES, esse percentual, contudo, cresce um a licenciatura de Filosofia a distância não só
pouco. Em se tratando de um curso gratuito, possui maior quantidade de estudantes que
97% não recebem nenhuma bolsa, tampouco se incluem na raça parda (38%) e preta (9%),
fizeram nenhum financiamento. Menos de mas também a maior proporção dos que, de-
2% obtiveram bolsa oferecida pela própria clarando-se pretos ou pardos, conseguiram
instituição, quase 1% era beneficiado do Fi- ingresso por política de ação afirmativa ou
nanciamento Estudantil (FIES), e menos de de inclusão social (BRASIL, 2018b, p. 53). Para
1% recebeu bolsas não federais) e de iniciação alunos do sexo masculino, trata-se de pro-
científica. Ninguém fez qualquer tipo de finan- porções maiores entre os que se autodeclaram
ciamento bancário, nem recebeu bolsa prove- indígenas ou amarelos; e para alunas, entre as
niente de entidades como ONG ou empresa, que se autodeclaram pretas ou pardas (BRASIL,
tampouco auxílio para moradia, alimentação, 2018b, p. 76).
permanência etc. (BRASIL, 2018c, p. 71 et seq.).

No tocante à área, somente 7,5% se diziam


auxiliados mediante bolsa ou financiamento
para pagar as parcelas mensais do curso de
licenciatura em Filosofia EaD, sendo a maioria
os que se autodeclaram pretos (BRASIL, 2018b,

90
3.5 Formação secundarista 3.6 Hábito de estudo

O levantamento da SEAD-UFES verificou uma Se cursar uma licenciatura em Filosofia pode


taxa de evasão de 42%, transcorridos os seis ser, em diferentes sentidos, um “desafio”,
primeiros semestres (2015-2017); 15% dos a isso se soma a necessidade de se criar um
cursistas chegaram a repetir ou a abandonar “hábito”, ou seja, uma disposição ou disciplina
o ensino médio uma vez, e 14% só o concluí- para se utilizar o tempo de maneira assídua
ram através do EJA/Supletivo (UFES, 2017, p. e eficiente. Coaduna-se a esse aspecto o fato
4). Importa sublinhar que os indicadores do de 47% dos estudantes do curso de Filosofia
Enade/2017 apontam para um total de quase EaD-UFES não terem lido mais que três livros
69% de estudantes que cursaram todo o ensino (obras literárias) em 2016, e 52% terem pas-
médio em escolas públicas, dos quais 25% sado mais de cinco anos sem estudos formais
ingressaram na modalidade EaD e 62% em entre a conclusão do ensino médio e o ingresso
cursos de licenciatura (BRASIL, 2018a, p. 44). no ensino superior (UFES, 2017, p. 4).

Um fenômeno comum à maioria dos cursos Tais características relacionadas ao hábito de


de ensino superior, segundo o MEC/INEP, é estudo extraclasse também foram sondadas
o de que “[...] alunos provenientes de esco- na devolutiva do MEC/INEP, por meio de seu
las públicas realizam cursos superiores, em Relatório Síntese de Área. “Concluintes de
maior medida, em IES Privadas, ao passo que Educação a Distância e Educação Presencial
estudantes que frequentaram escolas privadas declararam estudar de forma similar fora das
no ensino médio, têm maior probabilidade de aulas” (BRASIL, 2018b, p. 86), sendo que os da
realizar a educação superior em IES Públicas” modalidade a distância afirmaram estudar de
(BRASIL, 2018b, p. 60). Considerando a área uma a três horas por semana (37%), de quatro
de Filosofia (licenciatura), trata-se de 77% a sete (30%), de oito a doze (17%), mais de
no primeiro caso, e 19% no segundo (BRASIL, doze (15%), e apenas assistirem às aulas (2%).
2018b, p. 61). Esses valores são equiparáveis à distribuição
das horas semanais dedicadas ao estudo por
Podemos, também, afirmar que a maioria dos parte dos alunos de curso de licenciatura em
alunos que cursaram licenciatura em Filosofia Filosofia EaD-UFES, com exceção dos 45%
em uma IES Pública fizeram todo (71%) ou a que declararam estudar de uma a três horas
maior parte (5%) do ensino médio em escola (BRASIL, 2018a, p. 39).
pública (BRASIL, 2018b, p. 60-61). Relati-
vo à Educação a Distância, embora a maior Com esse perfil, quais as reais chances de um
parte (62%) tenha realizado o ensino médio aluno concluir um curso superior, não estando
tradicional, “[...] é digno de menção a maior ele dotado de hábito de leitura, e sem uma in-
proporção de alunos oriundos de EJA [e/ou Su- clinação para “sentar e estudar”? A pergunta
pletivo], de curso Normal [Magistério profis- parece sugerir um cenário pouco otimista,
sionalizante] ou de cursos profissionalizantes ainda mais porque quase a metade dos pais
técnicos (eletrônica, contabilidade, agrícola, (49%) e mães (48%) dos alunos da licencia-
outro)” (BRASIL, 2018b, p. 59), respectiva- tura em Filosofia EaD-UFES só completaram a
mente, 10%, 14% e 12%. quarta série do ensino fundamental (BRASIL,
2018c, p. 59; 2018d, p. 14). Esses valores são
Os dados que o Relatório de Curso UFES/Vi- similares (respectivamente 49% e 46%) aos
tória divulga a esse respeito mostram uma índices nacionais (BRASIL, 2018b, p. 57-58),
tendência mais unilateral. Foram 85% dos porém acima da média de todos os estudantes
alunos que cursaram todo o ensino médio em concluintes do Enade/2017, na qual o nível
escola pública, 8% pelo menos a maior parte, de escolaridade dos pais mostra-se em geral
contra 6% em escola particular, 1% durante o mais alto. Em todo caso, a pesquisa SEAD-U-
maior período de tempo (BRASIL, 2018d, p. 14). FES acerca da licenciatura em Filosofia EaD
ainda apontou que 47% dos pais e 64% das
mães dos alunos possuem somente o primá-

91
rio (fundamental incompleto); 76% dos pais Podemos entrever que uma “cultura” familiar
nunca ingressaram sequer no ensino médio, constitui fator de estímulo e incentivo para o
enquanto que entre as mães o valor sobe para estudo da Filosofia, sem que sua ausência seja
73% (UFES, 2017, p. 5). uma determinação irrevogável para o manejo
de livros, para a prática de leituras ou mesmo
Para o caso dos pais dos alunos concluintes de para a inclinação para a reflexão.
licenciatura em Filosofia a distância, a esco-
laridade da mãe foi ligeiramente superior à do Há outros elementos que, expressos pelos es-
pai: “[...] uma proporção menor de mães [13%] tudantes da licenciatura em Filosofia EaD-U-
do que a de pais [16%] está declarada como sem FES, apontam para tais propensões, tais como:
nenhuma escolaridade. No outro extremo, a 41% têm como lazer mais comum navegar na
proporção de mães com, pelo menos, Educação internet, e 25% em ler livros, jornais e revistas,
Superior – Graduação (agregando-se essa es- o que supera outros hobbies como ouvir música
colaridade à de Pós-graduação)” corresponde (17%) e sair para bares, shows (9%) e cinema
a 10,5%, enquanto que a de pais é um pouco (8%) (UFES, 2017, p. 4). Tais propensões po-
inferior, 9,5% (BRASIL, 2018b, p. 57-58). dem ser pedagogicamente direcionadas com
fatores de ordem motivacional, formando,
Isso, contudo, não se confirma na licenciatura assim, um quadro bastante promissor.
em Filosofia EaD-UFES por meio do Relató-
rio de Curso, gerado pelo MEC/INEP, com a É também positivo o fato de mais da metade
porcentagem de uma ponta aumentando, e dos alunos da educação a distância de licencia-
na outra, diminuindo. Sem nenhuma escola- tura em Filosofia mostrar ter suas necessida-
ridade: mães (17%), pais (18%). Com educa- des contempladas pelos títulos do acervo físico
ção superior/pós-graduação: mães (6%), pais e virtual das bibliotecas de suas instituições,
(8%) (BRASIL, 2018d, p. 14). com 70% (no primeiro caso) e 80% (no segun-
do) aderindo às alternativas que expressam os
O perfil profissional das mães dos alunos da dois maiores níveis de concordância (BRASIL,
licenciatura em Filosofia EaD-UFES é mais 2018b, p. 87-89). Para o caso da UFES, foi o
diversificado que o dos pais, embora abar- curso com o segundo maior percentual (56%)
que tarefas mais ligadas ao “fazer prático”: de estudantes que consideram proficientes
27% dos pais e 16% das mães trabalham na as referências bibliográficas indicadas pelos
agropecuária, que são também empregadas professores em seus planos de ensino (BRASIL,
domésticas (8%), servidoras públicas (9%) e 2018c, p. 93).
do lar (40%) (UFES, 2017, p. 5).

3.7 Planos, interesse e expectativas

Motivos ligados à vocação (48%) e ao prota- Supomos que uma escolha bastante alicerçada
gonismo (30%) despontam entre os fatores em convicções pessoais, tendo por assim dizer
que levaram o estudante a optar pela licencia- uma fisionomia mais autônoma que heterôno-
tura em Filosofia EaD-UFES, estando à frente ma, guarneça o aluno em momentos cujo peso
de outros supostos atrativos, como o baixo ou ônus o incitem a não prosseguir. O Relatório
desemprego no magistério (16%), a facili- de IES - UFES/Vitória (BRASIL, 2018c) apre-
dade de acesso ao Polo UAB (15%) e a baixa senta outros quesitos que ajudam a compor
concorrência do vestibular (9%). O valor de ainda mais esse panorama motivacional, con-
39% daqueles que buscaram o curso por uma siderando aspectos da formação humana, ética
iniciativa pessoal supera a soma de 38% dos e profissional, em última análise, a qualidade
que o fizerem mediante influência de amigos de ensino oferecido pela IES.
(20%) ou do trabalho (18%) (UFES, 2017, p. 5).

92
Nesse sentido, a licenciatura em Filosofia Ea- e a desenvolverem competências reflexivas e
D-UFES, com 69,4%, foi o segundo melhor críticas, com 67,6% (BRASIL, 2018c, p. 88-
da UFES dentre os avaliados pelo Enade/2017 89), quanto à contribuição de seus planos de
que, no parecer de seus estudantes concluin- ensino para o desenvolvimento das atividades
tes, contribuiu para a formação integral como acadêmicas e os estudos, com 47,7%
cidadão e profissional; mesmo assim, ficando (BRASIL, 2018c, p. 92).
acima da média nacional de 62%
(BRASIL, 2018c, p. 87). Acreditamos que foram, também, significa-
tivas as avaliações a respeito da contribuição
Vale dizer o mesmo para outros dois percentu- do curso para o desenvolvimento pessoal da
ais substancialmente ligados ao planejamento consciência ético-profissional (71%) , para o
metodológico. O curso de licenciatura em Fi- aumento da capacidade pessoal de reflexão e
losofia EaD-UFES alcançou o segundo melhor argumentação (77,6%) , e para análise e refle-
resultado da UFES relacionado tanto ao fato de xão de soluções acerca dos problemas da so-
suas metodologias de ensino terem desafiado ciedade (79,2%) (BRASIL, 2018c, p. 89 et seq.).
seus alunos a aprofundarem conhecimentos

4 RESULTADOS 4.1 Disposição dos objetos no


ambiente virtual de aprendizagem
A seção anterior retrata uma população dis-
(AVA)
cente, cujas características não se deve negli-
genciar: adulto acima de 30-35 anos; casado
e com filho(s); trabalhador assalariado; res- Pautando-se numa lógica temporal, o curso de
ponsável pela renda domiciliar; autodeclarado licenciatura em Filosofia EaD-UFES arquitetou
num contingente de pardos, pretos e amarelos, a sala virtual de cada uma de suas disciplinas
cuja soma ultrapassa os brancos; provenien- curriculares na forma de módulos semanais.
te do ensino público; com disponibilidade de Cada módulo/semana continha uma estrutura
estudo relativamente curta; que aspira a uma tripartida, organizada em rótulo/tópico, a qual
formação ética, crítica e humanística. é explicitada a seguir.

Em vista das condições desse perfil, enten- • Leitura: eram fornecidas, na Semana de
demos como sendo fundamental que os re- Apresentação, o Mapa de Atividades e de-
cursos didáticos e tecnológicos oferecidos ao mais orientações introdutórias, e nas sema-
estudante EaD componham-se de um visual nas consecutivas, os arquivos digitais das
cromático que permita rápida localização dos obras previstas pelas referências escolhidas
itens de acessibilidade, como uma fácil identi- pelo professor, bem como os cadernos de
ficação dos elementos constitutivos de estudo. estudo e outros acervos produzidos para
fins didáticos, tais como as videoaulas, as
quais eram gravadas na sala de Conferência
Web da SEAD-/UFES.

• Atividades: eram propostos os meios pelos


quais o estudante manifestaria o progresso
de seu aprendizado ao participar de fóruns,
responder a questionários, atuar em la-
boratórios, efetuar resenhas ou exercitar
quaisquer outras tarefas que o professor
tivesse selecionado do rol de possibilidades
exibidas pela plataforma Moodle.

93
• Multimídia: eram sugeridos links de vídeos 4.2 Visual cromático
relacionados ao tema da semana; dentre os
quais, animações, filmes, documentários, Como se observa na Figura 2, as disciplinas
aulas e palestras divulgadas na internet. podem ser imediatamente identificadas por
uma gradação de cores que serializa cada uma
das oito fases da grade curricular (Figura 3).

Figura 2 – Amostras de cabeçalhos de disciplinas da


organização curricular do curso de licenciatura em
Filosofia EaD-UFES | Fonte: Laboratório de Design
Instrucional da SEAD-UFES (2019)

Figura 1 – Banner e estrutura subdividida em Leitura, Obs.: o banner recebe o título correspondente à temática
Atividades e Multimídia: Semana de Apresentação da de estudo.
disciplina Ética 2, da Fase 4. | Fonte: Laboratório de
Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

94
Figura 3 – Distribuição dos matizes de cor entre as fases curriculares do curso de licenciatura em Filosofia
EaD-UFES e suas respectivas graduações de tonalidade por disciplina
Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

4.3 Gravuras

Cada disciplina também foi acomodada a uma o momento contemporâneo da Filosofia. Já o


imagem lúdica que sinalizasse, intuitivamente, termo “laboratório”, que compõe o nome de
para o eixo de sua temática. Valendo-se dessa outra disciplina, é apresentado em cenas que
estratégia, o curso de licenciatura em Filosofia transmitem noções como experimento, inves-
EaD-UFES empregou recursos pictóricos que, tigação, teste, observação, ensaio, descoberta.
por meios figurativos, auxiliassem, sobrema- Quase não seria preciso explicitar que a tomada
neira, no processo de ensino e aprendizagem. de carteiras de uma sala de aula evoque um
contexto de “ensino”, como o do Ensino da
Sublinhamos que essas ilustrações, além de se Filosofia, nome de uma disciplina ministrada,
ajustarem à paleta de cores (Figura 3), manifes- período quando também foi oferecida Antro-
tam a maneira pela qual tais gravuras harpejam, pologia Filosófica, introduzida, como se vê,
de algum modo, as cordas que fazem vibrar pelo episódio de um nascimento telúrico do
um ou outro traço da disciplina representada. homem (Figura. 4).

Assim, por exemplo, a variedade de portas


sugere a variedade de tendências que encorpam

95
Figura 4 – Amostra de capas de disciplinas períodos 5 e 6 da organização curricular do curso de licenciatura
em Filosofia EaD-UFES. | Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

As luzes de um néon futurista favorecem que a mam a respeito da constituição multiétnica da


disciplina Evolução do Pensamento Filosófico população brasileira, em termos biológicos e
e Científico aceda a uma proposta que supere geográficos, mas também de uma perspectiva
um plano revisional e se lance também para de reflexão anticolonial e de reencontro com
uma reflexão de vanguarda. Ainda na Fase 7, as peculiaridades, especificidades e realidades
os contornos de um indivíduo anônimo, todo que configuram referenciais de racionalidade
constituído por uma combinação de fichas e abertos às interrogações das várias culturas
papeletas, alertam para algo fugaz, passageiro, que integram nossa sociedade.
fugidio, transitório, o que parece se afinar com
o importante capítulo sobre o fim da Metafísica Além do mais, repercute de forma evidente
na contemporaneidade (Figura 5). que, para um Trabalho de Conclusão de Curso,
o estudante se mostre empenhado na tarefa
De certo, as silhuetas de um rosto que expri- de redigir, o que assim se proporciona nas
mem a afrodescendência não apenas infor- imagens a seguir (Figura 5).

96
Figura 5 – Amostra de capas de disciplinas dos períodos 7 e 8 da organização curricular do curso de
licenciatura em Filosofia EaD-UFES. | Fonte: Laboratório de Design Instrucional da SEAD-UFES (2019)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que uma estratégia seja funcional e efi- Se mesmo com Paulo Freire a seleção de pa-
ciente na modalidade EaD, ela precisa, de al- lavras geradoras e a formação dos círculos de
gum modo, ancorar-se no uso de imagens. cultura nunca permaneceram restritas à alfa-
É claro, no entanto, que a apropriação de betização de adultos, por que não lançar mão
estampas, gravuras ou ilustrações não pode de semelhantes prerrogativas para pensar a
ser feita de maneira aleatória ou arbitrária. formação filosófica a distância de adultos e sua
Importa sublinhar que, como as imagens são consecutiva intelecção de imagens? A execução
linguagens – e como se trata de linguagens dessa diretriz não acomodaria, de maneira
que gozam de especial recepção nos meios satisfatória, esse esforço por conhecer o perfil
digitais – elas nos parecem irremediáveis ao do aluno EaD de licenciatura em Filosofia?
ensino da Filosofia EaD.

97
Um professor não pode ser, de antemão, desa-
bilitado por força das peculiaridades da edu-
cação a distância. É evidente que per se elas
não descredenciam o professor que, atuando
nessa modalidade, usa dos recursos que lhe
é disponibilizado para, nos dizeres de Freire
(1997, p. 45 apud ROMÃO, 2010, p. 93), incitar o
aluno a produzir uma compreensão do objeto,
ou mesmo refinar sua curiosidade para inter-
rogar sobre o conteúdo daquilo que o mesmo
professor lhe propõe.

A experiência nessa oferta de educação a


distância, referida ao perfil de alunos da li-
cenciatura em Filosofia, leva-nos a apostar
que as imagens alargam os horizontes de um
ensino conceitual e reflexivo. Os resultados se
produzem em localização muito distante aos
efeitos de malogro e desafio que se poderiam
esperar para uma visão demasiado estreita
quanto às potencialidades dos recursos pe-
dagógicos na EaD.

Para um adulto em meia-idade, casado, as-


salariado e responsável pelo sustento de sua
família, não podemos descartar um engenho
que favoreceria ao curso semipresencial in-
crementar percurso e estilos mais simpáticos
a enredos imagéticos; e, nesse caso, às narra-
tivas dos quadrinhos, dos cinemas, dos games
e assim por diante.

A pergunta de maior relevância está em ques-


tionar se a metodologia de um curso EaD
promove a formação/instrução e estimula a
permanência do estudante situado num perfil
que, de um jeito ou de outro, não é o dos mais
favoráveis ao estudo.

Parece-nos crucial que a produção e o aperfei-


çoamento de materiais, de métodos e de didá-
ticas de ensino tenham viés direcionado, não só
com vistas a explorar os recursos tecnológicos
das mídias informacionais e computadoriza-
das, mas também para operar uma tradução de
linguagens; ou seja, para permitir e favorecer
que a leitura e a compreensão dos conteúdos
curriculares sejam atraentes e assimiladas
pelo aluno EaD, sintonizadas a sua fisionomia
social, econômica, cultural e motivacional.

98
6 REFERÊNCIAS
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SEAD-UFES, 2017.

Imagem Capa – Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/grupo-mul-


tietnico-de-jovens-estudantes-alegres-andando_7570746.htm
Avaliação na educação mediada
por tecnologias digitais
Reflexões orientadas pela teoria da
apredizagem significativa de David Ausubel

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
[email protected]

RESUMO
Nosso tema é a avaliação na educação não e pela degradação do processo de avaliação
presencial, tendo como referência teórica David nas escolas. Baseados nas ideias de Ausubel,
Ausubel e seus conceitos, relacionando-os a as- indicamos possibilidades de aprimoramento
pectos da avaliação da aprendizagem mediada da avaliação das aprendizagens com a inser-
por tecnologias. Apresentamos resultados de ção da mediação tecnológica. Destacamos a
uma pesquisa com cento e dez professores que importância do conhecimento dos conceitos de
atuam em Instituições de Ensino Superior (IES), estrutura cognitiva, de aprendizagem signifi-
a quem pedimos que valorassem a significância cativa e mecânica, o princípio de partir sempre
dessa modalidade avaliativa. A maioria (44,6%) daquilo que o aluno já sabe e o uso dos orga-
vê com desconfiança a educação a distância e nizadores prévios. A avaliação deve ter como
não considera relevante a avaliação da apren- meta a promoção / verificação da aprendizagem
dizagem que essa modalidade de ensino utiliza. significativa, posta a serviço da aprendizagem
Os 23,6% da amostra que consideraram essa e não das seleções e classificações.
avaliação “medianamente relevante” aponta-
ram dificuldades, mas mostram-se propensos Palavras-chave: Educação a Distância. Avalia-
e curiosos a experimentar e aprender a realizá- ção da aprendizagem. Mediação tecnológica.
-la. Os restantes 31,8% a percebem como uma David Ausubel. Aprendizagem significativa.
alternativa interessante pelos novos recursos

102
1 INTRODUÇÃO
Ciertas evaluaciones se ocupan de los procesos, sujeito e objeto. Isso começa na concepção do
otras de los resultados y otras de la relación projeto educacional em que cursos e atividades
existente entre las metas propuestas y la dis- formativas estão inseridos.
ponibilidad de recursos para su logro. Por fin,
todas las evaluaciones, si pretenden mejorar la Com o avanço das tecnologias digitais, a re-
calidad del producto deberían culminar-se con alização de uma avaliação mais participativa
la innovación necesaria para el logro de este é possível, já que os ambientes virtuais de
producto de mejor calidad. (GARCÍA ARETIO, ensino e aprendizagem (AVEA) se conso-
2002, p. 30) lidaram como ambientes de interação, de
colaboração e de construção coletiva e coo-
Com a defesa inspirada de García Aretio em perativa de conhecimento.
relação à inovação necessária a todos os pro-
cessos avaliativos, iniciamos este texto que Pretende-se, dessa forma, uma avaliação com
trata da avaliação na educação com mediação nível de abrangência compatível com a aborda-
das tecnologias digitais e toma como funda- gem que envolva: (i) quem aprende, levando-
mento teórico as ideias de David Ausubel. -se em consideração suas funções cognitivas
e níveis de conhecimento; (ii) quem ensina,
Nos processos de ensino e aprendizagem, se- atentando para sua visão do processo e suas
jam eles totalmente presenciais sejam me- expectativas; (iii) a interação entre ambos; e
diados por tecnologias digitais, a avaliação (iv) os processos de ensino e aprendizagem
assume dimensão exponencial. Para que ela em sua totalidade.
seja realizada satisfatoriamente, principal-
mente no campo da Educação a Distância, Partindo da concepção de Palloff e Pratt (2002)
fazem-se necessárias a releitura das teorias de que a aprendizagem na educação a distân-
que a embasam e a ousadia da inovação em cia deve ser considerada como um processo
aplicar novas estratégias avaliativas. individual e coletivo, dialógico e autônomo,
nós, professores que atuamos na EAD, preci-
Seja no modelo presencial seja a distância, a samos desenvolver alternativas à pedagogia
avaliação é composta de diferentes aspectos, conservadora, com suas estratégias obsoletas
mas sempre com o intuito de mensurar os de avaliação da aprendizagem. Precisamos,
conceitos aprendidos pelo aluno. Seja de for- como propõe Silva (2006), explorar mais as
ma qualitativa seja quantitativa, o que deve potencialidades do ambiente virtual de ensino
ser assegurado é a qualidade da avaliação e e aprendizagem e da internet; e estabelecer
da educação em si, independentemente da comunicações e processos colaborativos em
modalidade em que é desenvolvida. sintonia com a cibercultura e com o perfil co-
municacional dos alunos, capaz de promover o
No ensino presencial, a interação é direta, face diálogo como condição de aprendizagem e de
a face, e qualquer dificuldade será resolvida de avaliação, investindo em atividades e recursos
imediato, surgindo, assim, menor espaço para que permitam a reflexão e a comunicação in-
erros de comunicação. Na educação mediada terativa, que propiciem a aprendizagem sig-
por tecnologias, pode acontecer, no entan- nificativa, como a conceituava David Ausubel.
to, a abertura de lacunas na compreensão de
determinadas informações, fator impactante
nos resultados da avaliação.

Avaliar na modalidade educacional a distância


exige o repensar crítico não apenas de concep-
ções de ensino e aprendizagem, mas também
da avaliação nesses dois processos, rompendo
a dicotomização, estreita e maniqueísta, entre

103
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O nome de Ausubel está, indissociavelmente, Após a formação acadêmica em território ca-
ligado ao campo teórico da aprendizagem, pelos nadense, resolveu dedicar-se à educação, no
estudos que investigam e descrevem o proces- intuito de buscar as melhorias necessárias
so de cognição segundo uma perspectiva que ao verdadeiro aprendizado. Totalmente con-
muitos consideram preconizadora do cons- trário à aprendizagem puramente mecânica,
trutivismo. Essa teoria ficou conhecida como tornou-se representante do cognitivismo, e
Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS). propôs uma aprendizagem que tivesse uma
“estrutura cognitivista”, de modo a ser inten-
David Paul Ausubel nasceu nos Estados Uni- sificada como um processo de armazenamento
dos, em 1918, e faleceu em 2008. Formou-se de informações que, ao agrupar-se à estrutu-
médico-cirurgião, psiquiatra e psicólogo edu- ra mental do indivíduo, fosse manipulada e
cacional, e demonstrava extremo interesse utilizada adequadamente no futuro, através
pelo estudo da aprendizagem e da educação. da organização e integração dos conteúdos
Descreveu, criticamente, as experiências de apreendidos significativamente.
castigos e humilhações que vivenciou na es-
cola e posicionou-se radicalmente contrário Influenciado por Piaget, desenvolveu uma
à educação tradicional e conservadora. teoria da aprendizagem humana em sala
de aula, em uma época em que o estudo da
Em um de seus mais conhecidos livros, escrito aprendizagem escolar acontecia a partir de
com Novak e Hanesian, Ausubel (1980, p. 31) leis e pesquisas realizadas em laboratórios.
descreveu algumas experiências escolares de Pesquisou a aprendizagem de caráter cog-
punição e humilhação: nitivo: a integração dos novos conteúdos às
estruturas cognitivas previamente existentes


no sujeito. Defendia a abolição da aprendiza-
gem repetitiva e baseada em memorização,
advogando que esta fosse substituída pela
Escandalizou-se (um professor) com um aprendizagem significativa.
palavrão que eu, patife de seis anos, empre-
guei certo dia. Com sabão de lixívia lavou-
-me a boca. Submeti-me. Fiquei de pé num
canto o dia inteiro, para servir de escar-
mento a uma classe de cinquenta meninos
assustados. [...] A escola é um cárcere para
meninos. O crime de todos é a pouca idade


e por isso os carcereiros lhes dão castigos.

2.1 Alguns conceitos de Ausubel 2.1.1 A aprendizagem significativa e


importantes para a pesquisa seus princípios
desenvolvida
A teoria de Ausubel busca explicar como ocorre
Da extensa obra do autor, destacamos três a aprendizagem de um conjunto organizado
conceitos fundamentais, que foram exaustiva- de conhecimentos no ambiente escolar. É a
mente estudados para fundamentar a pesquisa partir de conteúdos que o indivíduo já possui
desenvolvida, os quais são circunstanciados que a aprendizagem ocorre. Esses conteúdos
nas subseções a seguir. prévios deverão receber novos conteúdos que,

104
por sua vez, poderão modificar e dar outras • a aprendizagem significativa aumenta a
significações àqueles preexistentes. capacidade de aprender outros conteúdos
de uma maneira mais fácil, mesmo que haja
Nas palavras do próprio Ausubel (apud MOREI- o esquecimento do conteúdo original;
RA; MASINI, 1982, p. 8), “[...] o fator isolado
mais importante influenciando a aprendiza- • a aprendizagem seguinte é facilitada (re-
gem é aquilo que o aluno já sabe; determine aprendizagem).
isso e ensine-o de acordo”. O autor postula
a existência de três tipos de aprendizagem: Segundo Ausubel et al. (1980, p. 159), “O
aprendizado significativo acontece quando
• por recepção – ocorre quando o conteúdo a uma informação nova é adquirida mediante
ser aprendido é trazido ao aluno na sua forma um esforço deliberado por parte do aprendiz
final. O professor simplesmente apresenta em ligar a informação nova com conceitos ou
ao aluno a generalização do que é o conteúdo proposições relevantes preexistentes em sua
e exige que ele aprenda e se recorde dele. estrutura cognitiva”. Importa, ainda, sublinhar
que, para o autor, a aprendizagem significa-
• por descoberta – nesse tipo, o conteúdo tiva obedece a dois princípios, os quais são
a ser aprendido deve ser descoberto pelo explicitados a seguir.
aluno. A tarefa para ele é reorganizar um
conjunto de informações e integrá-lo ao 1º) Diferenciação progressiva: propõe que, na
conhecimento que já possui para produzir programação de um conteúdo, as ideias e os
um novo conceito ou proposição. conceitos devem ser preferencialmente traba-
lhados em uma ordem crescente de especifici-
• significativa – ocorre quando o aluno a dade, dos mais gerais para os mais específicos.
relaciona ao novo conhecimento com a
estrutura cognitiva que possui e formula a 2º) Reconciliação integrativa: propõe que, na
generalização desse mesmo conhecimento. apresentação de um conteúdo, o professor pro-
cure tornar claras as semelhanças e diferenças
Moreira e Masini (1982) afirmam que, para entre ideias, quando estas são encontradas em
que a aprendizagem significativa ocorra, são vários contextos.
necessárias duas condições:
Mendes, Costa e Souza (2012, p. 3) apresentam,
a) o aluno precisa ter motivação para aprender de forma gráfica, a relação dinâmica que se
– se o indivíduo apenas memorizar o conteúdo, estabelece entre os dois princípios, como se
arbitrária e literalmente, a aprendizagem será pode observar na Figura 1 que é a representa-
apenas mecânica; ção esquemática do modelo de diferenciação
proguessiva e reconciliação integrativa. As
b) o conteúdo escolar a ser aprendido tem de setas contínuas representam a diferenciação
ser lógica e psicologicamente significativo: o proguessiva e as setas descontínuas represe-
significado lógico depende somente da natu- tam a reconciliação integrativa. Para se atingir
reza do conteúdo – o significado psicológico a diferenciação proguessiva é preciso “descer”
decorre do conjunto de experiências que cada dos conceitos gerais para os específicos e “su-
indivíduo tem, e que depende de suas experi- bir” novamente até os gerais para se atingir a
ências e da motivação. reconciliação integrativa.

Aprender significativamente traz para o in-


divíduo três grandes vantagens:

• o conhecimento adquirido de maneira sig-


nificativa é retido e lembrado por mais tem-
po; constitui-se, portanto, em uma marca
indelével na sua estrutura cognitiva;

105
Conceitos Gerais Conceitos Conceitos Específicos
(mais inclusivos) Intermediários (menos inlusivos)

Figura 1 – Representação esquemática do modelo de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa


Fonte: Mendes, Costa e Souza (2012, p. 3).

2.1.2 Os tipos de aprendizagem


significativa

Ausubel fala de três tipos de aprendizagem sentacional de copo, a criança vai aprender
significativa, as quais são explicitadas a seguir, que este objeto pode ser feito de materiais
diversos; que uns são mais resistentes do que
a) Aprendizagem representacional: consiste na outros; que há variações de valor/preço, de
aprendizagem de símbolos, em geral palavras, acordo com os diferentes materiais.
ou o que eles representam. Exemplo: depois
de observar várias vezes a relação entre a pa- c) Aprendizagem de conceitos: para o autor,
lavra “copo” e o conteúdo cognitivo (imagem há dois tipos principais de aquisição de con-
visual do objeto), a apresentação apenas da ceitos: a formação de conceitos (própria da
palavra será capaz de provocar na criança a criança de 5 a 6 anos, é uma aprendizagem
imagem visual do copo. Isso permitirá que por descoberta, na qual intervêm processos
ela desenhe o objeto, ou que escreva a palavra psicológicos como a discriminação, a genera-
que o designa. lização, o levantamento e a comprovação de
hipóteses); e a assimilação de conceitos (pró-
b) Aprendizagem de proposições: refere-se pria de crianças a partir de seis ou sete anos,
não mais à aprendizagem de um símbolo, mas dos adolescentes e dos adultos, que aprendem
de uma relação entre ideias. A proposição ou novos significados conceituais quando lhes
sentença a ser aprendida é relacionada com são apresentados atributos dos conceitos e
as ideias já existentes na estrutura cognitiva. quando relacionam esses atributos a ideias já
Exemplo: realizada a aprendizagem repre- estabelecidas em suas estruturas cognitivas).

2.1.3 A importância dos organizadores prévios


o significado dos subsunçores

Já dissemos que, para Ausubel, um conheci- chamados subsunçores, relevantes e já exis-


mento torna-se significativo pela interação tentes na estrutura cognitiva do indivíduo, e
com alguns conhecimentos prévios relevan- que facilitam a aprendizagem de novos con-
tes, que já existem na estrutura cognitiva de ceitos. Eles os modificam e podem ser por
quem aprende. Nesse processo, há conceitos, eles modificados.

106
A ligação entre os subsunçores e o novo conhe- 2.1.4 As formas da aprendizagem
cimento é feita pelos chamados organizadores significativa
prévios. São materiais apresentados antes do
material a ser aprendido. Têm a função de
facilitar a aprendizagem porque funcionam Moreira e Masini (1982) registram que, no en-
como “pontes cognitivas”. tendimento de Ausubel (1980), há três formas
de aprendizagem significativa, como deli-
No decorrer da aprendizagem significativa, mitamos a seguir, as quais são, por exemplo,
os conceitos subsunçores modificam-se e compatíveis com os tipos de aprendizagem
desenvolvem-se, tornando-se cada vez mais significativa.:
diferenciados, proporcionando o refinamento
conceitual, ideias densas e fortalecimento das • Aprendizagem subordinada (principal):
possibilidades de aprendizagens significativas. novas ideias são subordinadas às ideias
Para Ausubel et al. (1980, p. 34), relevantes, de maior nível de abstração,
generalidade e inclusividade já existentes


(relação entre o que se aprende e o que já
se sabe). A nova informação é significativa,
pois interage com os conceitos subsunçores,
[...] a essência do processo de aprendiza- produzindo aprendizagens significativas.
gem significativa é que as ideias expressas
simbolicamente são relacionadas às infor- • Aprendizagem superordenada: o novo co-
mações previamente adquiridas pelo alu- nhecimento a ser aprendido é mais geral
no através de uma relação não-arbitrária que as ideias relevantes que o indivíduo já
e substantiva (não-literal). Esta relação possui (relação entre o que já se sabe e o
significa que as ideias são relacionadas a conceito novo que se aprende).
algum aspecto relevante existente na estru-
tura cognitiva do aluno, como, por exemplo, • Aprendizagem combinatória: a nova in-
uma imagem, um símbolo, um conceito, formação não é suficientemente ampla para


uma proposição, já significativo. absorver os subsunçores, mas também é
muito abrangente para ser absorvida por
eles. Há uma combinação de conceitos dan-
do origem a novos esquemas mentais.

O organizador prévio consiste em informações


amplas e genéricas, e pode assumir uma varie-
dade de formas: uma afirmação, um parágrafo
descritivo, um questionário, uma pergunta,
uma demonstração ou um filme. Pode ser uma
sentença ou uma unidade que precede outra
unidade dentro do programa de uma disciplina.
Sua principal função é estabelecer uma “ponte
cognitiva” entre o que o aluno já sabe e aquilo
que ele precisa saber, para que possa aprender
com sucesso a nova tarefa.

O autor usa a metáfora da “ancoragem”: é


como se os novos conhecimentos lançassem
uma “âncora” e se firmassem em conheci-
mentos prévios, tornando-se, assim, mais
facilmente aprendidos.

107
3 A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM MEDIADA PELAS
TECNOLOGIAS DIGITAIS

Poucos assuntos têm sido tão abordados na acontecendo em função dos objetivos; (iii) ser
área da Educação como a avaliação da apren- orientadora, de modo a direcionar o aluno na
dizagem. Temos de constatar, no entanto, busca do conhecimento, mudança de atitudes
que a multiplicidade de definições, as análises e comportamento e mostrar a ele seus acertos
metodológicas e as prescrições didáticas não e erros não para penalizá-lo, mas, sim, para
facilitaram, efetivamente, ao professor e ao orientá-lo no processo de aprendizagem; (iv)
aluno enfrentarem o “tabu” das avaliações, ser integral, o que requer considerar todo o
atribuições de notas, menções ou conceitos e comportamento do aluno e não apenas pelo
processos de exclusão provocados pela avalia- seu domínio de conhecimento adquirido nos
ção. Mais recentemente a inserção das tecno- processos de ensino e aprendizagem.
logias digitais como ferramentas de mediação
pedagógica tornou ainda mais complexo o A mediação estabelecida pelas tecnologias
processo de aferição da aprendizagem escolar. oferece, por conseguinte, à avaliação algu-
Optamos, no nosso estudo, por um referen- mas vantagens que consideramos preciosas:
cial teórico para abordar a aprendizagem que a valorização da autonomia de quem aprende;
se assentasse no ideário sociointeracionista. a facilitação dos aspectos metacognitivos; a
Ilustramos essa escolha com as palavras de possibilidade de se lançar mão de variados e
Moretto (2002, p. 95): múltiplos instrumentos e procedimentos; o
estímulo aos processos colaborativos e dia-


lógicos; a operacionalidade no tratamento
dos dados obtidos, tornando essa tarefa mais
fácil para o professor; a objetivação de metas a
A perspectiva construtivista sócio-interacio- serem alcançadas pelo currículo desenvolvido;
nista propõe uma nova relação entre o pro- a promoção de abordagens multidisciplinares,
fessor, o aluno e o conhecimento. Ela parte entre outras.
do princípio que o aluno não é um simples
acumulador de informações, ou seja, um Ramal (2002) utiliza com propriedade os prin-
mero receptor-repetidor. Ele é o construtor cípios do hipertexto, formulados por Pierre
do próprio conhecimento. Essa construção Lévy, para falar do currículo em rede. Fazemos
se dá com a mediação do professor, numa o mesmo para ilustrar as características bási-
ação do aluno que estabelece a relação en- cas da avaliação em ambientes de aprendiza-
tre suas concepções prévias e o objeto de gem mediados pelas tecnologias. Ela precisa
conhecimento proposto pela escola. Assim, sofrer constante metamorfose, modificando-
fica claro que a construção do conhecimento -se de acordo com os saberes em constante
é um processo interior do sujeito da aprendi- construção e reconstrução; ser heterogênea
zagem, estimulado por condições exteriores e abrangente, envolvendo aspectos multidis-


criadas pelo professor [...]. ciplinares; contemplar aspectos de exteriori-
dade, mantendo diálogo permanente com o
contexto que envolve os processos de ensino e
de aprendizagem; e ser realizada com “mobi-
lidade dos centros”, valorando sucessivamente
Em termos conceituais mais amplos, não ve- diferentes aprendizagens e conteúdos.
mos, sinceramente, diferença significativa
entre as duas modalidades de avaliação da
aprendizagem. Seja presencialmente, seja com
mediação tecnológica, ela precisa atender a
quatro princípios básicos: (i) ser um proces-
so contínuo e sistemático; (ii) ser funcional,

108
4 ALGUNS RESULTADOS DO ESTUDO DESENVOLVIDO –
OS PROFESSORES E A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO COM
MEDIAÇÃO DAS TICs


Apresentamos uma pequena parte dos resul-
tados obtidos em uma pesquisa sobre a do-
cência com o apoio de tecnologias, desenvol- [...] os professores expressam que a avalia-
vida no Rio de Janeiro pelo grupo de pesquisa ção é trabalhosa, pois isso implica refletir
“Aprendizagem, Subjetivação e Cidadania”, sobre o processo individual e coletivo, além
do Programa de Pós-Graduação em Políticas de sistematizar (seja de forma quantita-
Públicas e Formação Humana da Universidade tiva e/ou qualitativa) dando retorno para
do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. cada aluno. O fato de existirem tabelas
automáticas para quantificar os acessos,
O projeto tem como hipótese básica a exis- número de mensagens enviadas e período
tência de um conjunto de saberes docentes de ausência, não implica deixar de avaliar
que podem tornar os professores mais bem- a qualidade do conteúdo das mensagens,
-sucedidos nas tarefas que desenvolvem e da interação e da reflexão de cada parti-
predispostos à busca da formação contínua, cipante. Para isso, é necessário acompa-
ao longo da vida. As hipóteses secundárias são nhar cuidadosamente toda a produção
de que esses saberes podem ser verificados, do ambiente e continuar replanejando e


mapeados e organizados; que eles podem ser propondo os momentos avaliativos.
desenvolvidos por meio de ações educativas;
e que as tecnologias digitais podem ser um
instrumento vital para essas ações e para a
formação humana.
Nas entrevistas realizadas, um dos itens soli-
Ao optarmos pela utilização, na pesquisa re- citados aos cento e dez professores de Institui-
alizada, da entrevista como método de coleta ções de Ensino Superior entrevistados foi que
de dados e de análise dos resultados, dos quais atribuíssem valor à significância da avaliação
trazemos uma parte neste capítulo, verifica- da aprendizagem realizada com mediação tec-
mos alguma semelhança com o que Okada nológica. Utilizamos como critério a atribuição
e Almeida (2006, p. 269) destacaram, após de graus de 1 a 5, em que 1 significa “menos
entrevistarem professores sobre a avaliação da relevante” e 5 é indício de “mais relevante”.
aprendizagem em ambientes virtuais, a saber: Tivemos a distribuição apresentada no gráfico
que se segue (Figura 2).

Irrelevante (Grau 1)

Pouco relevante (Grau 2)

Medianamente relevante (Grau 3)

Bastante relevante (Grau 4)

Muito relevante (Grau 5)

Figura 2 – Importância da avaliação na Educação a Distância | Fonte: Elaborado pela Autora (2019).

109
Pedimos, também, que os professores justi-
ficassem os graus atribuídos. Das justificati-
vas apresentadas, selecionamos algumas que
apresentamos no Quadro 1.

A avaliação da aprendizagem Justificativa


mediada pelas TIC é...

Irrelevante (Grau 1) Essa aprendizagem com TIC já não me desperta confiança


nenhuma, imagine a avaliação.

Primeiro é preciso o professor aprender a avaliar, para depoi


incluir essas novidades.
Pouco relevante (Grau 2) Não me parece que os alunos levem a sério essa forma de avaliar.

Faltam condições mínimas nas escolas para desenvolver


aprendizagem e avaliação dessa forma.
Medianamente relevante Gostaria de experimentar e ver os resultados para, então, dar
(Grau 3) um grau mais elevado.

O professor precisaria de uma completa reciclagem para


saber avaliar dessa maneira
Bastante relevante (Grau 4) Acho que o professor pode variar mais a avaliação utilizando
essas tecnlogias

As TICs oferecem recursos muito interessantes para novas


formas de avaliação.
Muito relevante (Grau 5) O processo de avaliação está tão desgastado e antigo que
essa inserção pode ser muito benéfica.

Quem sabe se, assim, haveria mais interesse dos alunos e


diminuiriam a evasão e a repetência?

Quadro 1 – Justificativas dos professores à valoração da avaliação da aprendizagem mediada pelas tecnologias
digitais. | Fonte: Elaborado pela Autora (2019).

Pudemos perceber, ainda, que a maioria dos buíram os graus 4 e 5, percebe essa modalidade
professores entrevistados (44,6%) não apre- avaliativa como uma alternativa interessante
cia ou vê com desconfiança a educação com pelos novos recursos e pelo estado de degrada-
mediação das TICs e, por consequência, não ção em que o processo de avaliação acadêmica
considera relevante a avaliação da aprendiza- se encontra nas escolas.
gem que a utiliza. Comentaram, por exemplo,
o despreparo do professor para realizá-la e a
falta de condições das escolas.

Os 23,6% da amostra que consideraram a ava-


liação mediada “medianamente relevante”
também apontaram dificuldades, mas mos-
tram-se propensos e curiosos a experimentar
e aprender a fazê-la. O restante da amostra
(31,8%), composta por professores que atri-

110
5 “COSTURANDO” AS PARTES DO TEXTO...
A TÍTULO DE CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando por base as ideias de David Ausubel, usado um pré-teste ou teste de diagnóstico,
indicamos algumas possibilidades de apri- aplicado à turma.
moramento da avaliação das aprendizagens
com a inserção da mediação das Tecnologias e) Avaliação da aprendizagem: a avaliação terá
de Informação e Comunicação (TICs). outra finalidade, além de analisar quanto os
alunos conseguiram aprender significativa-
Destacamos, para a formação do professor e mente do que foi ensinado. Essa nova finali-
para a prática docente, a importância do co- dade é a de medir a posse e a estabilidade dos
nhecimento dos conceitos de estrutura cogni- conceitos subsunçores que serão necessários
tiva, de aprendizagem significativa e mecânica. para se trabalhar os novos conteúdos do curso
Além disso, o docente pautar-se no princípio e que não foram trabalhados na disciplina.
de partir sempre daquilo que o aluno já sabe e o
uso dos organizadores prévios (subsunçores). g) Estratégias e recursos instrucionais para
a promoção da aprendizagem significativa:
Essa reflexão nos leva a Faria (1989) que propõe estão relacionadas ao uso de variados mate-
uma sequência de sete etapas no planejamento riais instrucionais e à apresentação de aulas
de um curso ou disciplina, entre as quais inclui expositivas. Em ambos os casos, o professor
a verificação de pré-requisitos e a avaliação da deve levar em conta os princípios da diferen-
aprendizagem, conforme delimitamos a seguir ciação progressiva e da reconciliação integrativa;
o trabalho dos conteúdos de acordo com o que
a) Seleção dos resultados de aprendizagem: o aluno sabe e de forma significativa para ele
trata-se de fazer uma lista de resultados de (linguagem, metodologia, exemplos relacio-
aprendizagem pretendidos, privilegiando nados à sua realidade); e o cuidado com fatores
aqueles ligados aos conceitos mais impor- relativos à manutenção da atenção do aluno e à
tantes da disciplina e do curso que o aluno está habilidade do professor em se comunicar bem.
fazendo. Devem ser selecionados, também, os
conceitos mais específicos, relacionados aos Especificando aspectos da avaliação na educa-
mais amplos já escolhidos, até um dado nível ção mediada por tecnologias, Oliveira, Costa e
de profundidade que seja adequado aos alunos. Villardi (2006) afirmam que ela deve:

b) Organização sequencial do conteúdo • fundamentar-se em um enfoque pedagó-


curricular: agora, é o momento de organizar gico, de modo a evitar riscos de incoerência
os itens curriculares selecionados na etapa entre objetivos e estratégias avaliativas;
anterior, de modo que os mais inclusivos sejam
trabalhados antes dos mais específicos, para • propor atividades contextualizadas e globais
os quais servirão de suporte. (multidisciplinares);

c) Reconciliação integrativa: consiste na • facilitar o atingimento da autonomia na


aplicação deste princípio (tornar claras as se- busca da aprendizagem (aprendizagem au-
melhanças e diferenças entre ideias, quando todirigida) por parte dos alunos;
estas são encontradas em vários contextos)
ao material e às aulas que serão preparados. • apresentar explicitação clara de critérios,
resultados esperados e padrões de
d) Verificação dos pré-requisitos: agora, o avaliação / certificação;
professor precisa determinar quais serão os
pré-requisitos necessários aos alunos para • ser realizada em oportunidades propícias
que efetuem a aprendizagem significativa do e em quantidade suficiente, conjugando
novo material. Para essa verificação, pode ser enfoques formativos e somativos;

111
• desenvolver nos alunos a consciência do • acompanhar o desempenho de cada aluno
contexto em que a aprendizagem e a ava- nas atividades presenciais e desenvolvidas
liação são realizadas, além do interesse pela virtualmente, identificando aspectos que
metacognição (o conhecimento do próprio demandem atenção especial;
processo de aprendizagem);
• identificar e planejar formas de apoio aos
• conjugar a avaliação procedimental (do alunos que apresentam dificuldades, que
conhecimento adquirido) e a avaliação podem ser expressas, por exemplo, pela
atitudinal (de competências, habilidades, ausência ou silêncio virtual;
atitudes, por exemplo).
• verificar se os objetivos propostos estão sen-
Dado o exposto, buscamos associar alguns do alcançados e planejar correções imediatas
conceitos de Ausubel às três formas de ava- possíveis, além de coletar informações ne-
liação citadas por Scriven (1967), as quais ex- cessárias no momento do replanejamento;
plicitamos a seguir.
• conseguir subsídios para a revisão dos re-
a) Avaliação diagnóstica – permite conhecer os cursos educacionais e do ambiente virtual de
conceitos subsunçores que o aluno já possui. De aprendizagem utilizado e para o aprimora-
posse desses resultados, ele pode planejar todo mento do trabalho pedagógico desenvolvido
o processo de ensino, selecionando os organi- no curso.
zadores prévios que permitirão a ancoragem
dos novos conceitos naqueles já existentes. Continuando a relacionar a avaliação da apren-
dizagem mediada pelas TICs com os prin-
b) Avaliação formativa – acompanha, de for- cípios teóricos de Ausubel, construímos um
ma contínua, a aprendizagem. Permite ajustar quadro-síntese (Quadro 2) de estratégias de
procedimentos, corrigir desvios, suprir difi- aprendizagem para a educação tecnologica-
culdades, entre outras ações que podem auxi- mente mediada, confrontando-as com alguns
liar para evitar o fracasso na aprendizagem, o aspectos cognitivo-emocionais envolvidos na
desestímulo e o abandono do curso. Ela precisa aprendizagem e com situações avaliativas.
contemplar aspectos como a verificação do
equilíbrio entre a diferenciação progressiva Convém lembrar que o conceito de apren-
e a reconciliação integradora, assim como o dizagem significativa é recorrente em todas
equilíbrio entre as aprendizagens subordina- as estratégias de aprendizagem e situações
da, superordenada e combinatória, levando à avaliativas que escolhemos.
criação de novos esquemas mentais e opera-
ções cognitivas.

c) Avaliação somativa – de cunho classi-


ficatório, verifica o grau de aprendizagem
obtido e permite a certificação. Assim, ela
precisa ser diversificada e abrange não apenas
a aprendizagem de conceitos, mas também as
formas de aprendizagem representacional e
de proposições.

É fundamental que a avaliação tenha sempre


como meta a promoção / verificação da apren-
dizagem significativa de quem é avaliado, que
se ponha a serviço da aprendizagem e não das
seleções e classificações. Quando ela se dá na
educação mediada por tecnologias digitais tem
quatro metas principais:

112
Aspecto cognitivo - Estratégias de Exemplos de situações Conceitos de Ausubel que
emocional aprendizagem avaliativas servem de fundamento à
aprendizagem e à sua avaliação

Motivação, formação de Sensibilização Exercícios diagnósticos, Localização de organizadores


atitudes, controle emocional, atividades autoavaliativas, prévios, definição dos subsunço-
autoestima. debates virtuais. res e das estratégias de ancora-
gem a serem utilizadas.

Atenção global ou seletiva e Atenção Atividades que utilizem Busca do nível de generalidade
fixada (ou meta atenção). processos como percepção dos conceitos, estimulando a
de detalhes, autocorreção, aprendizagem subordinada e
consultas a material, ao superordenada, o que leva o à
professor ou aos colegas. aprendizagem combinatória de
conceitos, de conceitos originan-
do novos esquemas mentais.

Compreensão, retenção, Aquisição Avaliações presenciais e a Estratificação de aprendizagens


transformação do conteúdo distância, com utilização de representacionais e de proposições
da aprendizagem. ferramentas de interação. que fundamentem a aprendizagem
de conceitos pretendida.

Criatividade, pensamento Personalização Atividades propostas pelos Estímulo à aprendizagem signifi-


crítico, auto regulação. próprios alunos, participação cativa transcendendo a recepção
em listas de discussão, chats de conteúdos, mas buscando a
e fóruns. descoberta de novos conceitos e
relações entre eles.

Recuperação do conteúdo Recuperação Atividades de revisão dos con- Diferenciação progressiva (ordem
(primária, na relação entre teúdos, trabalhos em grupo. crescente de especificidade,
o aluno e o material, e se- dos conceitos a serem recupe-
cundária, entre o aluno e o rados, dos mais gerais para os
ambiente). mais específicos) e reconciliação
integrativa entre esses mes-
mos conceitos (semelhanças e
diferenças entre os conceitos em
vários contextos).

Quadro 2 – Síntese de situações avaliativas em educação mediada por tecnologias e os conceitos de Ausubel
Fonte: Elaborado pela Autora (2019).

Ao final da análise dos resultados obtidos ao vas, fóruns avaliativos), mas também longitu-
entrevistar professores sobre a avaliação da dinalmente, no decorrer do processo, através
aprendizagem mediada pelas tecnologias di- de feedbacks constantes, o que não temos na
gitais, constatamos dificuldades em usar a avaliação presencial.
avaliação como suporte para ensinar, enten-
der e aprender, através da realimentação dos
processos de ensino e de aprendizagem, e que
isso se acentua nesta modalidade de educação.

Ainda predomina a concepção tradicional e


conservadora da avaliação como forma de
estabelecimento de diferenças segregadoras
e hierarquias excludentes, mas parece que
surge, por intermédio da educação mediada,
alguma esperança de progresso, já que, nessa
educação, a avaliação estimula a aprendi-
zagem e o sucesso do aluno, favorecendo a
autonomia e a autoconfiança não apenas em
situações avaliativas formais (exercícios, pro-

113
6 REFERÊNCIAS
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Imagem de Capa – Freepik: https://br.freepik.com/fotos-gratis/grupo-multiet-


nico-de-jovens-que-estudam-juntos-em-branco-de_1174219.htm#page=1&-
query=estudantes%20mesa&position=2
Desafios atuais na educação a distância,
o trabalho do tutor presencial
Uma revisão bibliográfica

Beatriz Lau
Universidade Federal de Santa Maria
[email protected]

Mestre em Educação. Tutora Presencial curso de


licenciatura em Educação do Campo da Univer-
sidade Federal de Santa Maria (UFSM).

RESUMO
O conhecimento dos principais fatores que tratando da metodologia, para o desenvolvi-
ainda desafiam o ensino no âmbito da educação mento deste estudo, pautamo-nos em uma
a distância (EaD) são premissas importantes abordagem qualitativa e, consoante ao alcance
para o aprimoramento dos profissionais que dos objetivos, de caráter descritivo, com uso
buscam qualificação por meio dessa moda- da pesquisa bibliográfica como procedimento
lidade de ensino, que passa a ter um amparo técnico. Concluímos que a EaD vem sendo cada
legal, a partir da promulgação de legislação vez mais presente no contexto dos sistemas
específica. Isso contribuiu para que houvesse de ensino universitário, o que contribui para
uma diminuição dos preconceitos que pairam a formação de novos profissionais, e facilita o
sobre essa modalidade de ensino crescente no acesso ao ensino, estando na figura do tutor
Brasil. A revisão bibliográfica é pensada como presencial o complemento necessário para o
forma de esclarecer ideias e concepções, a fim êxito e permanência do acadêmico nos cursos
de levar o sujeito a repensar sua prática frente de graduação.
ao novo universo educacional, de modo a buscar
e, consequentemente, atingir uma aprendiza- Palavras-chave: Educação a Distância.
gem significativa na modalidade EaD. Em se Ensino. Desafios. Perspectivas. Tutoria.

116
1 INTRODUÇÃO
Presenciamos, nos dias atuais, a expansão no muito mais o ensino presencial na hora de uma
uso das tecnologias para a formação acadê- seleção de candidatos, por exemplo. Em vista
mica, especialmente no âmbito da educação a disso, entendemos que é
distância. Trata-se de um tema que vem sendo


debatido no meio acadêmico, o que demonstra
a sua importância cada vez maior, de acordo
com a crescente oferta de cursos oferecidos
cuja mediação se dá por meio das novas tecno- [...] importante perceber que no movimen-
logias educacionais que alcançam um grande to de consolidação da EaD há aspectos/
número de pessoas, justamente em razão da elementos que terminaram por destacar
forma facilitada de organização para estudar. algumas das “ilusões” presentes em seus
Todas essas transformações no cenário educa- projetos/programas. Ilusões estas que se es-
cional brasileiro levam os educandos a refletir fumaçam ao reafirmarmos o entendimento,
sobre os conceitos de educação e tecnologia, por exemplo, de que não existe “aprendi-
trazendo para discussão os novos valores que zagem” a distância quando professores e
emergem no âmbito da educação a distância, alunos estão isolados em seus “lugares”
modalidade cuja aprendizagem do aluno não sociais e geográficos. Daí concluir que a
está atrelada diretamente a sua presença física aprendizagem depende de “encontros”,
em sala de aula. convivências. Estes elementos são signifi-
cativos na organização de sistemas de EaD.
A tecnologia possibilita àqueles que não ti- Assim, mais do que organizar processos
veram acesso e/ou oportunidade de realizar de ensino, a ideia de “encontro” aparece
um curso presencial devido a vários fatores como elemento catalisador dos processos
como sociais ou geográficos, de buscar, con- da aprendizagem (LIMA JÚNIOR;


cluir ou, até mesmo, voltar a estudar e ter uma PRETTO, 2005, p. 10).
formação, seja acadêmica seja profissional.
Moore e Kearsley (2007, p. 239) destacam, por
exemplo, que a EaD é “[...] um fenômeno pe-
dagógico, e não simplesmente [...] uma ques-
tão de distância geográfica”. O que se espera A EaD se torna, portanto, de grande valia
com a disponibilidade dos cursos ofertados quando seus programas são planejados, pen-
no ambiente virtual de aprendizagem é que o sados e consolidados, visando à efetivação do
acadêmico possa refletir, efetivamente, sobre processo de ensino e aprendizagem. É o pró-
sua formação, voltada ao atual contexto da prio profissional da área, diante das dificul-
sociedade em constante transformação, na dades ainda estabelecidas pela sociedade, que
qual os sujeitos estão inseridos. precisa quebrar essa barreira, demonstrando
sua seriedade e compromisso. Além disso,
A EaD, numa perspectiva atual, passa a ser precisa ser um sujeito ativo, que contribua
uma modalidade de educação que viabiliza a para promover a transformação da EaD como
busca de reflexão formativa do profissional, forma de mudança positiva e necessária no
que precisa estar ciente de suas obrigações, paradigma educacional. Notamos, ainda, a
ter claros seus objetivos, ter disciplina e es- existência de estigma em relação à educação
tabelecer metas. Essa modalidade não pode ofertada na modalidade a distância, o que
ser vista como um “modismo”, por meio do demonstra haver desafios a serem enfren-
qual o estudante busca pelo curso a fim de tados no que respeita ao processo de ensino
obter uma titulação. Essa visão tangenciada e aprendizagem que se dá nessa modalidade.
parece ser, hoje, um dos grandes desafios a Convém, ainda, pontuar que
serem superados, especialmente por algumas
áreas profissionais que ainda possuem algum
tipo de aversão às formações EaD, valorizando

117

no curso por ele escolhido. Ao tutor presencial,
cabe a interação com os alunos, de forma a lhes
[...] houve um tempo em que ninguém possibilitar a compreensão do uso do material
imaginava que se pudesse educar sem um que é disponibilizado para os estudos em cada
professor fisicamente presente junto ao disciplina do curso escolhido.
aluno, de modo a transmitir-lhe seu saber
e a corrigir os erros cometidos durante a Além de exercer multifunções, compete ao
aprendizagem. Na verdade, esta crença, tutor ser o mediador e provocar nos alunos a
ao ter sido mantida durante séculos, ditou consciência pela busca, pela reflexão e por uma
raízes tão profundas que até hoje muitas nova maneira de aprender. Para Kenski (2001,
pessoas, até nas universidades, acham que p. 97), o papel do tutor está atrelado a sua ca-
qualquer educação que não tenha profes- pacidade de criar espaços de interação e “[...]
sor presente só pode ser uma educação de em todos os tempos diz respeito à sua ação


segunda classe (BORDENAVE, 1995, p.9). como agente de valores, aqueles que influen-
ciam os comportamentos e atitudes de seus
alunos”. O papel do tutor torna-se, portanto,
indispensável no processo de aprendizagem,
haja vista desempenhar várias atividades que
A modalidade a distância precisa, ainda, vencer contribuem para a formação dos estudantes.
esse paradigma, de modo a possibilitar a de- Seu papel, no entanto, muitas vezes excede, no
mocratização da educação com qualidade. Para contexto dos cursos a distância, às atribuições
isso, necessário se faz o comprometimento do que lhes são, oficialmente, outorgadas nos
profissional envolvido tanto para a melhoria documentos oficiais.
quantitativa como qualitativa do processo en-
sino e aprendizagem e de formação do sujeito. Outro aspecto a considerarmos diz respeito aos
Nessa perspectiva, o tutor presencial exerce avanços tecnológicos que desafiam, diariamen-
um grande papel no contexto da educação a te, a construção de novos saberes. A educação a
distância. É ele que vai desempenhar a função distância, aos poucos, vem rompendo com os
de criar uma ligação entre os alunos/professo- paradigmas construídos e lançando uma nova
res/universidade, diminuindo a distância física percepção referente à qualidade do ensino. Isso
e presencial que ocorre nos cursos a distância. possibilita a criação e o desenvolvimento de
novas práticas pedagógicas. Nesse sentido, rei-
Para que ocorra um bom desempenho dos estu- teramos que as tecnologias precisam ser aceitas
dantes, no processo de ensino e aprendizagem como métodos que enriquecem as práticas pe-
na educação a distância, é essencial – além da dagógicas. Isso requer, evidentemente, endere-
presença de um tutor presencial – que o tutor çar um novo olhar sobre o contexto educacional
a distância saiba interagir de forma dinâmica, que vem se formando e tomando espaço nas
atuando como um orientador, seja técnico seja instituições de ensino, bem como compreender
didático, de modo a ser peça fundamental para o papel dos profissionais envolvidos na cons-
que o aluno interaja com o material disponível trução desse novo processo educacional.

2 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO OPORTUNIDADE NO


DESENVOLVIMENTO ACADÊMICO

Presenciamos o uso das tecnologias cada vez exemplo, possibilitam e estimulam a intera-
com mais presentes no dia a dia dos sujeitos. tividade, a capacidade de comunicação com
Assim, não poderia ser diferente o seu uso na qualquer lugar do mundo. Notícias em tempo
área educacional. No contexto da educação a real, redes sociais, informações instantâneas.
distância, os ambientes de aprendizagem, por Notemos que o Decreto nº 5.622, de 19 de de-

118
zembro de 2005, em seu artigo 1º, caracteriza que vivemos. Ademais, a educação a distância
a educação a distância vem ao encontro da necessidade de possuir
uma formação para competir no mercado de


trabalho, diminuindo a distância entre o sa-
ber e a realidade vivida na sociedade à qual o
indivíduo está inserido.
[...] como modalidade educacional na qual
a mediação didático-pedagógica nos pro- Importa lembrar, contudo, que ainda existem
cessos de ensino e aprendizagem ocorre muitas escolas que não conseguem ofertar aos
com a utilização de meios e tecnologias de seus estudantes uma aprendizagem que pode-
informação e comunicação com estudan- ria ser mais dinâmica e interativa para todos
tes e professores desenvolvendo atividades os que se envolvem nesse processo, tampouco
educativas em lugares e tempos diversos condições que viabilizem aos professores a


(BRASIL, 2005, p. 1). mudança em suas práticas educacionais, haja
vista o uso das tecnologias nas escolas ser,
ainda, muito limitado. Acerca dessa questão,
Cavellucci (2010, p.1) pontua que


No âmbito dessa modalidade educacional, são
vastas as possibilidades de uso dos diferentes
métodos e tecnologias para o desenvolvimento
com qualidade dos cursos a distância. Essas A escola que frequentamos baseia-se no
possibilidades, aliadas ao grande aumento de modelo educacional ainda predominante
adesões das Instituições de Ensino Superior no nosso país, o da educação homogênea.
(IES), incentivam e aumentam a credibili- À primeira vista esta visão pode parecer
dade e o reconhecimento dessa nova forma justa, mas se refletirmos um pouco mais,
de ver, pensar e fazer a educação. Ademais, lembrando-se de algumas situações vivi-
a legislação que a regulamenta torna a busca das por nós mesmos durante a vida escolar,
pelos cursos EaD mais concisa e diminui os podem encontrar indícios de que a educação
preconceitos relacionados a essa modalida- homogênea não atinge a todos de forma
de de ensino, além de auxiliar na mudança igual e equitativa. Ao contrário, lutamos
de paradigmas que ainda estão presentes na o tempo todo para adaptarmo-nos a um
construção da história da educação. modelo de aprendizagem que frequente-


mente não nos serve.
Surge com a educação a distância a possi-
bilidade de oferta de formações voltadas às
necessidades das pessoas que não disponibi-
lizavam de tempo para a locomoção entre sua
residência e o local onde o curso é oferecido Nessa perspectiva, podemos perceber a EaD
para estudos, diminuindo, assim, o espaço/ como uma nova representação da educação,
tempo. Além de desenvolver nos sujeitos no- com novas perspectivas e paradigmas dife-
vas habilidades mediante a manipulação de rentes de uma educação homogênea à qual
novas tecnologias, viabiliza o contato com estamos atrelados em se tratando de nossa for-
novos saberes, diversifica as formas de se ob- mação educacional. Com a EaD, há a possibili-
ter conhecimento, desenvolve a autonomia e dade de usar diferentes ferramentas síncronas
o senso de responsabilidade, uma vez que o e assíncronas, voltadas a uma nova proposta
estudante precisa organizar seu próprio tempo formação ao acadêmico. Essa modalidade vem
para os estudos. ganhando, a cada ano, novos adeptos, o que
tem contribuído para ampliar a proporção de
Para os acadêmicos, isso representa um acrés- ingressantes em cursos ofertados a distância.
cimo no seu desenvolvimento e interação na Assim, devemos ser levados a refletir sempre,
sociedade cada vez mais informatizada em com mais consciência, não só a respeito das

119

formas de ensinar e aprender, mas também
acerca das mudanças no papel do professor
e do aluno, que passa a ter um protagonismo A megaconvergência de hipertexto, mul-
mais amplo no seu processo de aprendizagem, timídia, realidade virtual, redes neurais,
principalmente sobre a forma que irá gerir o agentes digitais e vida artificial estão mu-
seu tempo de estudo. Precisa ter disciplina, dando partes diferentes de nossas vidas –
comprometimento e muita força de vontade nossos modos de comunicação, entreteni-
para aprender de uma forma nada convencio- mento e trabalho. A rede, no entanto, muda
nal, distinta daquela à qual a sociedade ainda tudo isso e muito mais, ao mesmo tempo. A
está calcada. No entendimento de Faria (2010, internet nos dá acesso a um entorno real,
p.29), por exemplo, a EaD quase orgânico, de milhões de inteligências
humanas perpetuamente trabalhando em


algo e em muitas coisas que sempre tem
uma relevância potencial para qualquer
um e para todos os outros. Trata-se de uma
[...] tem sido associada, em todo o mundo, à nova condição cognitiva a que eu chamo de


democratização do acesso às novas tecno- webness ou inteligência em conexão.
logias da informação e comunicação, sendo
reconhecida como uma política pública com
potencial para a formação dos sujeitos, bem
como sinalizadora da construção de novos


paradigmas na expansão do conhecimento. O “aprender” se tornou mais dinâmico. Hoje,
um dos maiores desafios da educação é possuir
condições para oferecer instrumentos capazes
de levar à produção do conhecimento, visan-
do à formação intelectual, às transformações
A realidade vivenciada, hoje, na área edu- da sociedade e também à competitividade do
cacional continua com uma visão voltada ao mercado de trabalho. Importa lembrar que a
tradicional ambiente presencial. Já sabemos educação é um processo que vai sendo alte-
que esse conceito de ensino e aprendizagem rado de acordo com as mudanças que a so-
não suporta mais as necessidades de enten- ciedade vai apresentando, dada a necessidade
der o mundo. Lévy (2000, p.171) deixa claro de se adequar a novas realidades, visando às
que a principal função do professor não pode transformações sociais às quais os profis-
ser entendida meramente como aquele que sionais devem estar atentos. Nesse sentido, a
multiplica o conhecimento, pois essa difusão é EaD disponibiliza ferramentas que auxiliam
feita de forma eficaz por intermédio de outros o aluno a organizar seu tempo de estudos e
meios de comunicação. O professor, então, a se tornar mais autônomo. Além disso, ela
deve entender sua competência como incen- diminui as distâncias geográficas e possibilita
tivador da aprendizagem e do pensamento que o estudante continue trabalhando de forma
diante do mundo. efetiva, o que, muitas vezes, não é possível no
ensino presencial, o que gera dificuldades ou,
Essa reflexão nos leva às contemporizações de até mesmo, empecilhos para a continuação de
Kerckhove (p. 54, 1999) ao expor que seus estudos.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-


nal (Lei nº 9394/96), no artigo 80, apresenta
a educação a distância como uma forma de
ensino que possibilita a autoaprendizagem,
contando com recursos didáticos de forma
organizada e ofertado em instituições creden-
ciadas pela União. Esse apoio da União mostra a
seriedade dessa modalidade de ensino que deve

120
ser entendida como uma nova forma de enca- zagem dos estudantes. Vale lembrar que, ao
rar a educação. Essa modalidade de educação contrário do que ainda se pensa, ela não se
busca não só se adequar às imposições de uma configura como uma formação solitária, mas,
sociedade que está em constante transforma- sim, dotada de grandes desafios e propícia ao
ção, mas também quebrar barreiras e viabilizar trabalho coletivo. Viabiliza, ainda, a construção
a emergência de novos significados no meio de novas e eficazes metodologias de ensino que
educacional e profissional. Configura-se, as- atendam às necessidades contemporâneas no
sim, um cenário em que cada vez mais a EAD âmbito da educação. Assim, a consolidação da
vai se tornar parte de uma educação inovadora EaD configura-se como uma nova e crescente
e voltada não só a atender mas também che- forma de aprimorar o ensino no Brasil.
gar a um número cada vez mais expressivo
de pessoas interessadas em qualificação, que
buscam um lugar no mercado de trabalho cada
vez mais disputado. 2.1 A atuação do tutor presencial
na modalidade EaD
Essa reflexão nos leva a Brzezinski (1992, p.83)
que reflete sobre a modernidade, a qual traz,
em seu bojo, a necessidade de A presença de um tutor presencial nos cursos
EaD vem ao encontro das necessidades que


os alunos possuem em ter uma relação mais
próxima com a universidade que oferta o curso
na modalidade a distância. O tutor é um elo,
[...] mudanças, adaptações, atualização e uma segurança, um profissional que estará
aperfeiçoamento. Quem não se atualiza fica do lado do aluno auxiliando nas dificuldades
para trás. A parceria, a globalização, a in- que possuem, seja em relação ao espaço do
formática, toda a tecnologia moderna é um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), seja
desafio a quem se formou há vinte ou trinta no que diz respeito às disciplinas e atividades
anos. A concepção moderna de educador propostas ao longo do curso. Toschi (2008,
exige “uma sólida formação científica, téc- p.32), ao discorrer sobre a importância do
nica e política, viabilizadora de uma prática atendimento presencial, afirma que
pedagógica crítica e consciente da necessi-

” “
dade de mudanças na sociedade brasileira.

[...] podem ocorrer na EaD dois tipos de


presencialidade: o presencial físico, que se
No contexto de uma formação acadêmica re- refere ao “lugar real”, e o presencial vir-
alizada na modalidade a distância, o sujeito tual, que se refere ao “espaço não real”. O
precisa internalizar, de forma consciente, que presencial físico ocorre na dimensão física
precisa haver uma interação e uma sintonia do tempo, nos aspectos institucional (cole-
entre as tecnologias usadas e as pessoas en- tivo), cronológico e individual. Quer dizer,
volvidas nesse processo, formando uma cone- as aulas ocorrem em determinado lugar,
xão com o todo. Aprender vai além de adquirir - instituição, escola – e em tempos simul-
determinados conhecimentos, uma vez que é tâneos, com encontro de vários indivíduos
preciso compreender e ser capaz de se tornar que biologicamente, estão presentes. [...] No
um multiplicador de informações, de coope- presencial virtual, de um determinado lugar
rar, de trazer ao ambiente de aprendizagem podem ser visitados outros espaços, assim
diferentes abordagens para o ensino. como outros espaços podem ser trazidos ao
lugar por meio de tecnologias como o fax, o


Dado o exposto, reiteramos que a modalidade a telefone, o computador e a videoconferência.
distância tem apresentado experiência exitosas
e bons exemplos da efetivação na aprendi-

121

O tutor presencial é, portanto, o responsável
pelo acompanhamento e desenvolvimento das
atividades propostas no AVA do curso ofertado, [...] são geralmente educadores com conhe-
auxiliando os estudantes no desenvolvimento cimento mais generalista ou formados na
dessas atividades. Além disso, leva as dúvidas área do curso. Sua função é dar atendimen-
dos acadêmicos ao conhecimento dos tutores to local para os alunos auxiliando-os em
a distância e professores do curso. Em vista suas dificuldades pontuais. Por não serem
disso, influencia os alunos no desenvolvimento especialistas nos conteúdos das discipli-
do sentimento de pertencimento ao grupo, nas, esses tutores presenciais atendem a
à universidade, ao curso. O tutor presencial dificuldades técnicas do ambiente virtual,
desempenha, por conseguinte, um importante auxiliam os docentes formadores em ativi-
papel no processo de ensino e aprendizagem. dades presenciais diversas (avaliativas ou
Para Gonzales (2004, p. 1), não), etc. [...]Sua participação no processo
de ensino-aprendizagem é extremamente


importante, mas, por vezes, considerada
dispensável em alguns sistemas de EaD, seja
pela necessidade de redução de custos do
A relação pedagógica conclama a uma cons- curso ou mesmo pela concepção pedagógica


trução cotidiana. Sozinho, o aprendiz cami- do grupo que concebeu a proposta.
nha vacilante, perdendo o rumo desejado.
Nisso o tutor pode ampará-lo, conduzi-lo
e encaminhá-lo. À medida que o proces-
so de aprendizagem se efetiva, a relação
do aluno com o tutor muda, se aprofunda, Considerando essa afirmativa, percebemos que
estreitando o laço afetivo, propiciando a a qualidade do ensino a distância fica prejudi-
permeabilidade educativa, uma vez que a cado sem a presença de um tutor presencial,
educação deve ser vista sempre como uma pois ele não apenas exerce funções ligados ao
prática social ligada à formação de valores e ambiente virtual de aprendizagem, mas tam-
práticas do indivíduo para a vida social, com bém é um suporte ao aluno bem maior do que
possibilidade de ir em direção a uma maior se imagina, como podemos inferir da citação


autonomia, liberdade e diferenciação [...]. anterior. Entendemos que, por mais que o tutor
não tenha o domínio de todo o conteúdo, ele
irá buscar o conhecimento a respeito do curso
e das disciplinas que estão sendo desenvolvidas
para melhor auxiliar o aluno.
Sendo o tutor apresentado como um elemento
central no processo de ensino e aprendizagem O tutor cria, efetivamente, as condições ne-
na EaD, os estudantes imaginam e criam, a cessárias para o desenvolvimento da apren-
partir dele, uma imagem relacionada à ins- dizagem, não ficando atrelado apenas a essa
tituição que oferta o curso. É, com efeito, o parte de prestar apoio técnico. Como afirmam
tutor a principal ligação entre o estudante e Guarezi e Matos (2009, p. 123), os tutores
o curso. Ademais, promove a interação com/
entre os alunos, fazendo com que os estudan-
tes permaneçam no curso. Embora o ensino
aconteça a distância, é no sujeito que acon-
tece o processo de aprendizagem. Ainda em
se tratando da definição do papel dos tutores
presenciais, importa registrar que, no enten-
dimento Mill, Camargo e Oliveira (2010, p. 36),
esses profissionais

122

[...] devem orientar e criar condições para
a aprendizagem, incentivar o estudo e a

Mediar à comunicação de conteúdos entre o
professor e os cursistas; acompanhar as ati-
pesquisa, a colaboração e o compartilha- vidades discentes, conforme o cronograma
mento de informações, provocar reflexões, do curso; apoiar o professor da disciplina no
focalizar e/ou ampliar discussões, comentar desenvolvimento das atividades docentes;
e esclarecer dúvidas, conduzir a linha de manter regularidade de acesso ao AVA e dar


raciocínio [...]. retorno às solicitações do cursista; estabe-
lecer contato permanente com os alunos e
mediar às atividades discentes; colaborar
com a coordenação do curso na avaliação
dos estudantes; participar das atividades de
O tutor presencial, além de estar presente no capacitação e atualização promovidas pela
polo, acompanha o aluno por intermédio do Instituição de Ensino; elaborar relatórios
Moodle e do e-mail; e, hoje, com o avanço mensais de acompanhamento dos alunos e
das tecnologias da informação, o WhatsApp encaminhar à coordenação de tutoria; par-
passou a ser uma importante ferramenta de ticipar do processo de avaliação da discipli-
interação entre tutor e aluno. É uma forma na sob orientação do professor responsável;
rápida e barata que auxilia no desenvolvimento apoiar operacionalmente a coordenação do
das atividades propostas e, na hora de sanar curso nas atividades presenciais nos polos,


dúvidas referentes ao curso, viabiliza um con- em especial na aplicação de avaliações.
tato mais próximo com o aluno. Além disso,
como pontuam Guarezi e Matos (2009), auxilia
no sentido de provocar reflexões, mesmo que
seja a distância como no caso dos grupos de
WhatsApp, os quais são amplamente utilizados O tutor presencial carrega consigo, portanto, a
hoje para os contatos entre alunos, professores responsabilidade de ser o apoio aos acadêmi-
e tutores. O papel do tutor não está, portanto, cos no polo presencial, estando a par de todos
ligado simplesmente a sua presença física de os acontecimentos que envolvam o curso ao
apoio no polo, mas, sim, possui uma conti- qual está ligado. É, pois, o principal apoio aos
nuidade de atendimento aos alunos mesmo acadêmicos no contexto de um curso ofertado
fora do seu horário presencial. na modalidade a distância.

É importante mencionar que, na Resolução Segundo o Conselho de Educação Superior


n.º 26, de 05 de junho de 2009 (Brasil, 2009, do Conselho Nacional de Educação, em sua
p. 11-12), são obrigações do tutor: Resolução nº 1, de 11 de março de 2016, é con-
siderado tutor “[...] todo profissional de nível
superior, a ela vinculado, que atue na área de
conhecimento de sua formação, como suporte
às atividades dos docentes e mediação peda-
gógica, junto a estudantes, na modalidade
EaD” (BRASIL, 2016, p. 4). Oliveira (2013, p.
25) destaca, também, que o papel do tutor

123

Ainda se observa no contexto educacional,
especialmente relacionado ao uso das tecno-
[...] deve basear-se numa concepção de par- logias, que o acesso aos meios tecnológicos
ticipação, de educador comprometido com a ocorre de forma desigual, uma vez que muitos
formação dos alunos, capaz de prepará-los têm acesso precário à internet e dificuldades
para pensar, resolver problemas e responder visíveis na utilização das ferramentas dispo-
competentemente às demandas do curso nibilizadas para a realização das atividades
em questão, o que, consequentemente, o propostas, necessitando do auxílio do tutor


prepara para ações cotidianas da vida. presencial. É, nesse momento de trocas, que
esse profissional deixa de ser apenas um “tu-
tor” e passa a ser visto pelos alunos como um
professor que está disponível e apto a sanar
suas dúvidas referentes ao conteúdo e também
Realmente, é importante viabilizar o estu- na utilização da plataforma e meios disponí-
do de uma forma que faculte aos acadêmicos veis na internet. O tutor é apoio; é professor; é
organizar seus próprios horários. Outro fator observador; é influenciador e motivador para
relevante são as técnicas apresentadas pelas que os alunos persistam no seu caminho de
disciplinas do curso, as quais mostram a in- estudantes EaD.
teratividade necessária para os estudantes
possam desempenhar um bom trabalho no seu No entendimento de Preti (1996, p. 27), a EAD
processo de aprendizagem. Nesse momento se configura como “[...] uma alternativa pe-
de interação, o papel do tutor presencial se dagógica de grande alcance e que deve utili-
torna de grande valia para o desenvolvimento zar e incorporar as novas tecnologias como
da aprendizagem dos alunos que buscam sua meio para alcançar os objetivos das práticas
formação por meio s dos cursos ofertados na educativas implementadas [...]”. Para tanto,
modalidade a distância. precisa ter “[...] sempre em vista as concepções
de homem e sociedade assumidas e conside-
Ainda em se tratando da aprendizagem na EaD rando as necessidades das populações a que
e da relevância da participação do tutor, vale se pretende servir [...]”.
mencionar o entendimento de Assis (2007,
p. 21) a respeito da tutoria e dos ambientes A tendência observada é o aumento da procura
interativos de aprendizagem, os quais e da oferta nessa modalidade de ensino, haja
vista a flexibilidade de horários e por viabili-


zar uma nova forma de organização tanto no
espaço como no tempo para que se efetive o
processo de ensino e aprendizagem. Não pode-
[...] devem permitir e estimular um processo mos esquecer, também, que o tutor presencial
educacional que propicie muito mais o ato conta com o apoio dos tutores a distância e
de pensar do que o de reproduzir, quando com os professores, que são os responsáveis
o papel do tutor como orientador e media- pela organização dos conteúdos e do ambien-
dor torna-se fundamental. Cabe ao tutor, te virtual de aprendizagem. Por ser o estudo
em seu processo espontâneo de construção organizado em plataforma EaD, também se
do conhecimento, vendo-o como pessoa configura como uma forma colaborativa de
e sujeito de todo o processo. Para tanto, é desenvolver o aprendizado em rede. Como
necessário que os tutores tenham formação sublinha Pernías (2002, p. 23),
e sensibilidade para que sejam mediadores e


aglutinadores do processo de aprendizagem.

124

demonstra o quão seu papel é, nos cursos EaD,
relevante para se ter uma educação de quali-
A melhor e maior vantagem é que os alunos dade, uma vez que é um mediador, uma pes-
podem ser atendidos de maneira mais per- soa que conhece e desenvolve as habilidades
sonalizada e o professor estabelece laços que necessárias para o aprendizado e estimula o
quando estava diante deles não teria feito. comprometimento dos acadêmicos. Trata-se,
A tecnologia nos permite isso. De alguma pois, do profissional que
forma, professores e alunos, utilizando a


tecnologia podem ir “além das montanhas”.
Isso já era possível na pedagogia clássica
porque os alunos podiam trocar cartas com
os que estão do outro lado da montanha. [...] diretamente com o estudante, seja para
Hoje em dia, graças à tecnologia e à internet, prestar esclarecimentos administrativos,
não é só possível escrever nossas cartas como seja no processo de ensino e aprendiza-
também conhecer as outras pessoas num gem, na avaliação do processo formativo
tempo muito mais reduzido, o que permite do estudante ou, simplesmente, na mo-


uma aproximação maior com elas. nitoria das atividades dos estudantes. Por
isso, é considerado o ‘fator humanizador’
do sistema de educação na modalidade a


distância (OLIVEIRA, 2008, p. 30).

Convém destacar que a diferenciação entre um


professor de um tutor presencial reside apenas
o contexto no qual estão inseridos. O tutor irá
intermediar o desenvolvimento do curso e co- Outro aspecto a considerar é que muitos alunos
laborar, presencialmente, com os alunos que – particularmente aqueles que procuram a EaD
buscam, no polo de apoio presencial, a figura como meio para o seu desenvolvimento acadê-
do tutor para auxiliá-los em suas dificuldades. mico – chegam ao curso com certa insegurança
Assim, é possível afirmar que, no cenário da por estarem adentrando em um mundo digital
modalidade a distância, ao qual estão pouco familiarizados justamente
por não ter feito parte de sua vida de estudan-


te até então. Além dessa insegurança quanto
ao uso das tecnologias – hoje, cada vez mais
presentes no dia a dia dos indivíduos –, a falta
[...] o papel do tutor extrapola os limites do professor, de forma presencial a seu dispor
conceituais, imposto na sua nomenclatu- em uma sala de aula convencional, também
ra, já que ele, em sua missão precípua, é é um fator que desencadeia inquietudes nos
educador como os demais envolvidos no estudantes. É, nesse momento, que a figura
processo de gestão, acompanhamento e do tutor presencial se torna relevante para o
avaliação dos programas. É o tutor o tênue desenvolvimento do curso. É dele que irá partir
fio de ligação entre os extremos do sistema o apoio necessário ao estudante, por meio de
instituição-aluno. O contato a distância orientações e estímulos ao estudo. Assim, evita
impõe um aprimoramento e fortalecimento que o aluno se sinta abandonado. É na figura
permanente desse elo, sem o que se perde do tutor presencial que o aluno irá encontrar


o foco (GONZALES, 2004, p. 1). respostas que irão lhe trazer a melhoria no
processo de ensino e de aprendizagem, com
uma maior agilidade no momento de solu-
cionar os problemas relacionados a seu curso.

Sem dúvida, o tutor é um dos principais pi-


lares para o desenvolvimento da educação a
distância. Sua presença de apoio aos alunos

125
3 METODOLOGIA 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta deste trabalho concentra-se em Neste artigo, foram realizadas observações
uma revisão bibliográfica, usada como proce- acerca de alguns desafios enfrentados pela
dimento técnico para a elaboração deste artigo. educação a distância e o seu acesso, de modo a
Em relação à pesquisa bibliográfica, Gil (2008, atingir todas as pessoas que buscam uma nova
p. 50) assinala que ela “[...] é desenvolvida perspectiva de ensino que está em consonância
através de material já elaborado, constituído com sociedade atual em constante transfor-
principalmente de livros e artigos científi- mação, especialmente pela necessidade de
cos”. Além de livros, recorremos, também, se qualificar para competir num mercado de
à internet como fonte de pesquisa. Com base trabalho cada vez mais exigente.
na pesquisa bibliográfica, foi possível obter
as informações que nortearam o trabalho de- Para que algumas barreiras apontadas sejam
senvolvido, especialmente por meio da análise vencidas na oferta da EaD, entendemos ser
das ideias de autores cujos estudos abordam as necessária uma permanente qualificação dos
nuanças dessa modalidade educacional. Dessa profissionais que atendem essas áreas, como
forma, procuramos descrever o estado da arte os tutores presenciais, que estão diretamente
e demonstrar o quanto as pessoas precisam ligados ao educandos e servem de elo entre a
conhecer, aceitar e entender a educação a dis- universidade que oferece o curso e os alunos
tância como uma nova forma de ver o ensino. dispostos a estudar e buscar uma nova forma
Além disso, buscamos trazer à tona pontos de ver e fazer a educação, comprometidos em
relevantes que facultem o entendimento de buscar o seu aprendizado de forma efetiva,
certas concepções e ideias inerentes a essa aberto às novas possibilidades que um curso
modalidade de ensino, bem como entender o EaD pode oferecer.
papel do tutor presencial nos polos de apoio
UAB, uma peça fundamental na concepção da Podemos afirmar, ainda, que a modalidade a
educação a distância. distância precisa ser encarada com seriedade,
tanto pelos órgãos educacionais que oferecem
Optamos, ainda, por uma pesquisa cuja essa modalidade de ensino quanto pelos alunos,
abordagem é qualitativa, sem preocupação os quais optam, por diferentes motivos, pela
em apresentar resultados e números, mas, EaD. Necessário se faz, igualmente, desmisti-
sim, com a finalidade de descrever a realidade ficar a visão equivocada de que a qualidade de
tanto no que tange aos desafios enfrentados ensino nessa modalidade é inferior à educação
na EaD quanto em relação à atuação do tutor presencial. É preciso clarificar que, por meio
presencial e seu papel diante dos acadêmicos dessa modalidade, o profissional formado terá,
matriculados na modalidade a distância. igualmente, condições de se tornar um cidadão
pronto e consciente para atuar em sociedade,
sendo motivado não só a gerar novos conheci-
mentos, mas também a utilizar novas técnicas
no seu ambiente de trabalho.

A oferta e a procura de cursos EaD vêm cres-


cendo no país, por isso as instituições de en-
sino precisam se estruturar para oferecer uma
educação de qualidade, de modo a formar e
a qualificar os profissionais que nessa área
atuam. Ademais, precisam inovar na forma
de oferecer o curso, disponibilizando um bom
material didático e a possibilidade de fazer uso
dos diferentes softwares que estão disponíveis
para o aprimoramento na área educacional.

126
Aos tutores presenciais, peças-chave nesse
processo de ensino, cabe deter o conheci-
mento eficaz quanto ao uso da plataforma do
ambiente virtual de aprendizagem, ter sólido
domínio teórico-pedagógico e do conteúdo, e
estar atento aos conhecimentos prévios dos
acadêmicos e o que eles buscam, mas sempre
atentos às características individuais de cada
sujeito. Com a revisão bibliográfica realizada,
além de perceber a crescente oferta, procu-
ra e consolidação dos cursos EaD, também
percebemos que subjazem à atuação do tutor
presencial múltiplas atribuições, o que nos
permite reconhecê-lo como um professor.

Cabe sublinhar, por fim, que necessário se faz


viabilizar ao tutor, para a realização de seu
trabalho, uma estrutura pedagógica qualifi-
cada, uma vez que seu papel está para além de
um simples assistente – um tutor esperando
os acadêmicos no polo presencial. Ele exerce,
seguramente, uma função pedagógica para
a qual lhe é requerida qualificação e deman-
da um grande conhecimento teórico-prático
para exercer atividades didático-pedagógicas
nesse novo universo em que se inserem os
cursos EaD.

127
5 REFERÊNCIAS
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tutor-que-explica-a-pesquisa-especifica-do-aluno-na-biblioteca_5890040.
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Relato de atividades sociais realizadas
no Polo UAB Aracruz/ES como
Estratégia de interação e
redução da evasão
Maria Goretti Moro Gomes
Coordenadora do Polo UAB Aracruz (ES)
[email protected]

Maria Marta Modenesi Corti Leonardo Reis Milagres


Professora de Suporte Pedagógico do Polo Tutor Presencial do Curso de Licenciatura Le-
UAB Aracruz (ES) tras-Português/IFES – Polo UAB Aracruz (ES)
[email protected] [email protected]

RESUMO
Este artigo aborda a importância do encon- os estudantes que participaram dos projetos.
tro presencial na modalidade de educação a Apresenta, também, imagens e depoimento dos
distância (EaD), especificamente no Polo da estudantes, por meio das quais é possível com-
Universidade Aberta do Brasil (UAB), em Aracruz provar o desenvolvimento da união, interação,
(ES), como forma de aproximar o estudante dos afetividade e o enriquecimento dos conteúdos
seus colegas e da instituição. Assim, por meio acadêmicos, o que fortalece a instituição e a
do desenvolvimento de atividades práticas e sensibilidade para realizar atividades práticas
sociais, buscamos reduzir a evasão. Apresenta- e sociais que contribuam para o bem-estar da
mos a descrição, links e fotografias de atividades comunidade. Essas atividades, embora sejam
realizadas no referido polo, entre 2012 a 2019. destinadas ao público em geral, priorizam a
Ademais, demonstramos o percentual de eva- participação de estudantes e de professores
são relacionando-o às estatísticas dos cursos da educação básica da rede pública e grupos
de modo geral e em relação aos estudantes específicos, como os da terceira idade.
que participaram dos referidos projetos. Além
disso, descreve como a instituição se organi- Palavras chave: Encontro. Atividade prática
za para realizar as atividades; demonstra, via e social. Afetividade. Interação. Evasão.
dados estatísticos, a redução da evasão entre

130
1 INTRODUÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A evasão é um grande problema quando se trata O Polo de Apoio Presencial da UAB e Centro
do ensino superior a distância. Outro problema de Formação de Professores José Modenese,
é a dificuldade de conseguir a presença física localizado em Aracruz (ES), foi criado pela
dos estudantes nos polos de apoio presencial lei municipal nº 3.174, de 30 de dezembro de
para realização de atividades, principalmente 2008, e inaugurado no mesmo ano. É mantido
quando se trata de atividades não obrigatórias pela prefeitura municipal e faz parte do Sis-
para conclusão do curso. O encontro desses tema Universidade Aberta do Brasil (SisUAB),
estudantes constitui-se, todavia, num as- instituído pelo Decreto nº 5.800, de 8 de junho
pecto fundamental para que se desenvolva o de 2006. Constitui-se como um espaço impor-
sentimento de pertença à instituição, criem- tante para o município e região, pois se traduz
-se laços afetivos e se promova a interação na oportunidade de continuidade dos estudos
entre eles e deles com a equipe dos polos e para jovens que não teriam outra forma de
cursos. Consideramos, ainda, que a visibilidade estudar, além de ser um ponto de referência
e fortalecimento da instituição, assim como o para formações e de compartilhamento de sa-
envolvimento da comunidade e gestores das beres e experiências, conforme detalha Gomes
instituições mantenedoras constituem outros (2015, p. 77-78):
pontos importantes para o sucesso dos cursos


nos polos.

Diante dessas constatações, a equipe do Polo


de Apoio Presencial da UAB e do Centro de O espaço físico do Polo UAB Aracruz, além
Formação de Professores José Modenese, lo- de oportunizar a possibilidade de formação
calizados em Aracruz (ES), procura motivar inicial e continuada aos jovens e professores
os estudantes a participarem de atividades do Município e regiões vizinhas, também é
práticas com objetivo de reduzir a evasão, dar utilizado para formações continuadas de
visibilidade ao polo e retribuir a comunidade – professores da rede municipal e funcioná-
comunidade esta que, via impostos, custeia os rios públicos municipais, constituindo-se
cursos ofertados – com serviços relacionados ainda um espaço para reuniões das secre-
aos conhecimentos acadêmicos adquiridos tarias municipais com seus funcionários e
pelos alunos, via palestras, oficinas, dentre comunidade. Assim, incentiva e contribui
outros. Dessa forma, nosso objetivo é abor- para o desenvolvimento do Município, por
dar a importância do encontro presencial na intermédio dos cursos de formação para
modalidade de educação a distância (EaD), aqueles que não poderiam se deslocar para
em específico no Polo da Universidade Aberta estudar, evitando saída de pessoas para ou-
do Brasil (UAB) em Aracruz (ES), como forma tros centros urbanos. Além disso, propicia,
de aproximar o estudante dos seus colegas e ainda, por meio de atividades realizadas
da instituição, por meio do desenvolvimento pelos alunos dos cursos e projetos junto às
de atividades práticas e sociais, com vistas a Universidades, a aproximação da comuni-
reduzir a evasão. dade local para momentos de discussões e
abordagens de temas relevantes, mediante
Cientes de que múltiplos fatores levam à o compartilhamento dos saberes construídos
evasão e que muitos caminhos precisam ser no espaço acadêmico com a comunidade
percorridos para reduzi-la, quando está ao local e, por isso, contribuindo para a me-


alcance da instituição, as ações desenvolvidas lhoria dos serviços prestados à população).
por nossa equipe obtêm bons resultados e
indicam que 89% dos egressos concluem os
cursos, quando consideramos os estudantes
que participaram dos projetos propostos pelo
Polo UAB, demonstrando a grande importância
dos momentos presenciais.

131

Assim, ao iniciar suas atividades com a oferta
dos cursos da Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES) e Instituto Federal do Espírito [...] no PAP um lugar de aconchego, de aco-
Santo (IFES), a equipe do Polo UAB Aracruz lhimento, local onde é bem tratado, bem
(ES) sentiu necessidade de envolver os estu- informado, bem direcionado, esse aluno
dantes em atividades que pudessem enriquecer acaba por sentir aquele espaço, aquelas
os conhecimentos adquiridos por eles ao longo pessoas, aquele curso e a instituição como
dos cursos e, ao mesmo tempo, compartilhá- algo positivo em sua vida, e passa então a
-los com a comunidade que, via impostos, paga retribuir o que recebe, estando presente,
os custos desses cursos. defendendo as pessoas, o local, a Instituição


e o curso que realiza.
Nossas intenções corroboram com Cavaleiro,
Romano e Neto (2012, p.2) quando afirmam
que a educação a distância (EaD) apresenta
dificuldade na questão do envolvimento dos
alunos em atividades práticas e sociais com a Assim, sempre motivamos os estudantes a
comunidade local, atividades estas que tra- participarem das programações e, à medi-
balhem o lado humano, de responsabilidade da que vão se envolvendo, o entusiasmo dos
social e a prática profissional, considerando participantes cresce, de modo que todos os
esses pontos cruciais para a formação plena eventos programados foram realizados com
do aluno. excelência. Em sua maioria, os eventos con-
tavam com uma abertura oficial na qual se
Nesse viés, desenvolvemos, entre 2012 a 2019, faziam presentes autoridades municipais e
várias atividades que, apesar de suas espe- representantes das Instituições de Ensino Su-
cificidades, buscavam contribuir, em linhas perior (IES). Em linhas gerais, sua programa-
gerais, para a interação entre os estudantes e ção era composta por atividades relacionadas
deles com a equipe do polo e da comunidade, às áreas de atuação de cada curso envolvido e
com intuito de desenvolver o sentimento de aconteciam via palestras, debates, oficinas,
pertença e contribuir na redução da evasão; exposições de trabalhos práticos e teóricos,
exercitar e enriquecer os conteúdos acadêmi- as quais eram abertos ao público em geral e,
cos, uma vez que precisavam dominá-los para em alguns casos, direcionados para grupos
realizar as tarefas planejadas; compartilhar de terceira idade, professores e estudantes da
os saberes construídos no espaço acadêmico educação básica.
e prestar serviços à comunidade, em especial,
professores e estudantes da educação básica Dentre as iniciativas que tivemos, destacamos
do município e da região; e fortalecer os laços a seguir doze eventos/projetos que realizamos.
afetivos entre os atores que convivem no espa- Todos envolveram estudantes das graduações
ço do Polo UAB e fazem o dia a dia dos cursos e ou especializações em desenvolvimento no
em desenvolvimento. Além desses objetivos, Polo UAB Aracruz (ES), os quais não temos
também buscávamos como resultado certi- como detalhar neste trabalho. Pretendemos,
ficar o estudante para contribuir nas horas contudo, pinçar deles aspectos que comprovam
necessárias para complementar sua formação a participação dos estudantes e o cumprimento
curricular no que se refere à comprovação das dos objetivos propostos. Para ilustrar e acres-
atividades acadêmicas curriculares comple- centar outros detalhes, como a programação,
mentares (AACCs) e dar visibilidade/divulgar por exemplo, acrescentamos os endereços ele-
o Polo UAB no município e na região. Convém trônicos de divulgação pela Universidade Fe-
lembrar que, no entendimento de Alves, Bue- deral do Espírito Santo (UFES) e pela Prefeitura
no e Rolon (2017, p. 5), é importante que o Municipal, disponíveis na data de elaboração
discente veja deste artigo. Assim, registramos no Quadro 1
os eventos apresentados s neste relato.

132
Evento Link: programação Período

I Semana Cultural e Acadêmica do Polo de http://pma.es.gov.br/noticia/2836/ 11/06 a


Apoio Presencial da UAB e Centro de Formação 15/06/2012
de Professores José Modenese – Aracruz (ES)

I Encontro de Física do Polo UAB Aracruz (ES): http://www.aracruz.es.gov.br/noticia/3132/ 30/10 a


Física Fácil de Aprender 01/11/2012

II Semana Acadêmica e Cultural do Polo UAB http://aracruz.es.gov.br/noticia/4868/ 30/06 a


Aracruz (ES) 04/07/2014

III Semana Acadêmica e Cultural do Polo UAB http://www.pma.es.gov.br/noticia/7217/ 05/07 a


Aracruz (ES) 07/07/2016
http://www.sead.ufes.br/noticias/iii-sema-
na-academica-e-cultural-do-polo-uab-a-
racruz-es/

Palestra História e Cultura Afro-brasileira e Indí- http://sead.ufes.br/ 13/09/2016


gena: diálogo com as leis nº 10.639 e nº 11.645

Seminário Integrado do Polo UAB Aracruz (ES) http://aracruz.es.gov.br/noticia/8031/ 08,12,13,19 e


21/06/2017
http://pma.es.gov.br/noticia/8047/

http://www.sead.ufes.br/noticias/seminario-
-integrado-do-polo-uab-aracruz/

Projeto Oficina de Informática: “Ensinando e http://www.pma.es.gov.br/noticia/85280/ 06/11 a


Aprendendo com a Terceira Idade” 11/12/2017
(internet básica)

Projeto 170 anos do município de Aracruz: uma http://www.pma.es.gov.br 08, 24 e


trajetória vitoriosa 25/04/2018

Palestra Angústia, Desejo e Amor http://www.sead.ufes.br/noticias/polo-uab- 04 e


-de-aracruz-promove-palestra-angustia-de-
18/07/2018
sejo-e-amor/

Projeto Resgate Histórico: Memorial do Polo de http://www.aracruz.es.gov.br/noticia/87090/ 25/02 a


Apoio Presencial da Universidade Aberta do 08/07/2019
http://www.pma.es.gov.br/noticia/87398/
Brasil (UAB) e Centro de Formação de Profes-
sores José Modenese – Aracruz (ES)

Participação dos estudantes do Curso de http://sead.ufes.br/ 21/08 a


Licenciatura em Letras Português/IFES e de 02/09/2019
Licenciatura em Informática/IFES na Comissão
Julgadora Municipal (6ª Edição 2019) – Olim-
píadas de Língua Portuguesa: Escrevendo o
Futuro, em parceria com a Secretaria Municipal
de Educação de Aracruz (SEMED)

Participação dos estudantes do Curso de http://sead.ufes.br/ 28/08 a


Licenciatura em Letras Português/IFES na 17/09/2019
Comissão Julgadora Municipal da 15ª Edição
Especial do Concurso Programa Agrinho 2019,
em parceria com a Secretaria Municipal de
Educação de Aracruz (SEMED)

Quadro 1 – Eventos/projetos do Polo UAB Aracruz (ES) realizados entre 2012 e 2019
Fonte: Elaborado pelos Autores (2019)

133
Dado o exposto, é importante lembrar que as secretarias municipais, como as de Comu-
Vieira (2018) em seus estudos, ao apontar as nicação, Turismo, Educação e Instituições de
estratégias institucionais para controle da Ensino Superior Pública, neste caso as IES
evasão, conclui, entre outros fatores, que o parceiras na oferta de cursos.


O evento “Projeto Resgate Histórico: Memorial
do Polo de Apoio Presencial da Universidade
Aberta do Brasil (UAB) e Centro de Formação
[...] desenho do curso e as práticas peda- de Professores José Modenese – Aracruz (ES)”
gógicas adequadas ao perfil e às peculiari- foi além no que diz respeito às parcerias, pois
dades dos alunos que estudam pela EaD, a houve envolvimento do curso de arquitetura e
flexibilidade e a afetividade nos contextos urbanismo, ofertado por uma faculdade par-
formativos contribuem para a permanência ticular, que construiu uma maquete virtual
dos alunos no curso e agregam qualidade contando a evolução do espaço físico do Polo
na aprendizagem, lembrando que, quanto UAB, da Secretaria Municipal de Educação/
mais interação e atenção é proporcionada Programa Parceria Pela Valorização da Edu-
ao aluno, menor é a taxa de evasão cação (PVE). Envolveu, também, uma empresa


(VIEIRA, 2018, p. 357). privada que participa do programa, a qual pa-
trocinou o mobiliário de vidro para exposição
dos objetos que compõem o acervo de resgate
histórico, organizado durante o projeto, e de
empresas menores que foram procuradas pe-
Nesse sentido, buscando evidenciar a afeti- los estudantes. Nesse projeto, houve ainda a
vidade e a interação entre os estudantes e participação de pessoas da comunidade que
deles com a equipe do Polo UAB e comunidade, fizeram parte da história do Polo UAB, como
apresentamos algumas imagens de eventos a família do homenageado in memoriam, o
distintos, mas todos organizados e realiza- Senhor José Modenese, que dá nome à insti-
dos com envolvimento dos alunos, tutores e tuição e o antigo dono de uma loja de móveis
funcionários do Polo UAB. Normalmente, os que funcionou no antigo prédio.
eventos contam com parcerias que envolvem

3 METODOLOGIA
Para organizar atividades dessa monta, há ne- Notamos uma grande diferença, pois esses
cessidade de envolvimento intenso da equipe alunos se tornam conhecidos de todos, ao
do Polo UAB. São meses de planejamento, mo- passo que, muitas vezes, não conseguimos
mentos em que a coordenação do polo assume identificar pelo nome os alunos que ficam mais
a liderança com a parceria dos poucos funcio- distantes e comparecem ao polo apenas para
nários, tutores e parceiros, na organização e realização de provas. Nas imagens apresenta-
no desenvolvimento do evento. Aqueles estu- das a seguir, identificamos o evento e alguns
dantes que se dispõem a participar – na maio- dos muitos momentos que ocorreram e que
ria das vezes, motivados pela necessidade de retratam a união do grupo, o fazer com en-
certificação para complementar seu histórico tusiasmo; ou seja, ir além, ao caprichar num
escolar no que diz respeito à comprovação das lanche ou oferecer um presente ao palestrante,
atividades acadêmicas curriculares comple- o envolvimento com instituições e comunidade
mentares (AACCs), pré-requisitos para sua e a frequência desses alunos no polo para além
formação – vêm com mais frequência ao polo, da dos momentos presenciais.
trabalham em equipe, criam laços de amizade
muito forte, o que influi, significativamente, no
fortalecimento de sua permanência no curso.

134
Figura 1 – Momentos dos eventos realizados no Polo UAB Aracruz (ES)
Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

Na Figura 1, podemos observar a “Palestra palestrantes e representante da Secretaria de


Planejando o amanhã: como investir hoje o Educação, ao final da palestra: “O Estatuto da
seu dinheiro”, ministrada pelo estudante do Criança e do Adolescente sob o Enfoque dos
curso de bacharelado em Ciências Contábeis Direitos Humanos” ministrada pelo Juiz de
da Universidades Federal do Espírito Santo Direito da Primeira Vara Criminal de Aracruz
(UFES), membro da comissão organizadora (ES)e pelo psicólogo da Coordenadoria da In-
e funcionário do Banco do Brasil em Aracruz, fância. Essa palestra contou com a participação
durante a II Semana Cultural e Acadêmica do de um público expressivo, incluindo membros
Polo UAB – Aracruz (ES). Em seguida, estu- do conselho tutelar da criança e do adolescente
dantes e a tutora presencial do curso de licen- (na segunda imagem) e professores da rede
ciatura em História da UFES, responsáveis pela pública. Na sequência, imagem da atividade de
atividade, coordenadora do polo UAB Aracruz, abertura da III Semana Cultural e Acadêmica.

Figura 2 – Imagens do “Projeto Resgate Histórico: Memorial do Polo de Apoio Presencial da Universidade
Aberta do Brasil (UAB) e Centro de Formação de Professores José Modenese – Aracruz (ES)”
Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

135
Na Figura 2, alguns momentos do “Projeto gunda, a cerimônia de culminância do projeto:
Resgate Histórico: Memorial do Polo de Apoio estudante do curso de licenciatura em Letras-
Presencial da Universidade Aberta do Brasil -Português entregando placa de homenagem
(UAB) e Centro de Formação de Professores à família do Senhor José Modenese – filha,
José Modenese – Aracruz (ES)”. Na primeira genro e neta.
imagem, a Comissão organizadora; e, na se-

Figura 3 – Momentos de planejamento da comissão organizadora da I Semana Cultural e Acadêmica do


Polo UAB – Aracruz (ES) | Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

A Figura 3 traz um pouco dos momentos de oficina. Uma vez realizada com sucesso, os
planejamento da comissão organizadora da I estudantes se tornam mais confiantes e de-
Semana Cultural e Acadêmica do Polo UAB – senvolvem experiências e ações que permitem
Aracruz (ES), que envolveu estudantes do curso associações dos estudos realizados com suas
de licenciatura em Artes Visuais da UFES e a práticas profissionais. Eventos como os que
coordenadora do Polo UAB. Após, mostramos apresentamos são momentos de aprendizado,
a confraternização temática (decoração e co- trabalho, interação, confraternização, bate-
midas juninas) entre palestrante e coordena- -papo, descontração e diálogo. Nesse sentido,
dora do curso de licenciatura em Filosofia e de concordamos com Daudt e Behar (2013, p.420)
especialização em Filosofia e Psicanálise para quando dizem que “[...] no diálogo, há cons-
professores da UFES, estudantes e funcioná- trução de conhecimento que vem atravessada
rios do Polo UAB, realizada após a “Palestra por aspectos, não só cognitivos, mas também
Angústia, Desejo e Amor”. afetivos”. Ainda segundo as autoras, é impor-
tante considerar o
Outro ponto que destacamos é a oportunidade
que esses estudantes têm de exercitar e en-
riquecer os conteúdos acadêmicos de seus
cursos, especialmente das licenciaturas. Um
tipo de atividade que compõe praticamente
todos os eventos são as oficinas e, para de-
senvolvê-las, os estudantes precisam dominar
os conteúdos e as técnicas pedagógicas para
compartilhá-los. Muitos estudantes nunca
exerceram a prática de ensino e, com a ajuda
de colegas mais experientes e tutores, en-
frentam o desafio de ensinar quando estão
planejando e desenvolvendo as atividades da

136

[...] suporte pedagógico e tecnológico dado
aos alunos pode ser decisivo no enfrenta-

[...] EaD em sua concepção não é recente,
mas se projetou de maneira espetacular
mento de sentimentos de isolamento e com a evolução das tecnologias de comuni-
solidão durante o processo formativo. A cação como a internet e as transmissões via
qualidade e a agilidade do auxílio presta- satélite. Dada a importância que os recursos
do ao estudante frente às dificuldades com tecnológicos representam na aplicação da
a utilização do ambiente e aos conteúdos EaD, acredita-se que o modelo não está
são fundamentais para que o aluno não mais na fase de aceitação, pois essa fase
perca o entusiasmo, sinta-se acolhido e à já foi superada. Mas enfrenta ainda al-
vontade no estudo on-line (DAUDT; BEHAR, gumas dificuldades, como o envolvimen-


2013, p. 420). to do aluno em atividades práticas, com
aproximar o aluno EaD de atividades so-
ciais, como proporcionar integração entre
Universidade, polo e comunidade? Ações
essas que na modalidade presencial são
Quanto à prestação de serviços à comunida- bem desenvolvidas e já rotineiras. Uma
de, podemos afirmar que esta é uma ação que instituição que atua com EaD, tem como
sempre buscamos oferecer, pois entendemos missão, em relação à universalização da
que o espaço acadêmico precisa retribuir os educação, fazer dessa modalidade um
impostos que custeiam os cursos e também meio que proporcione aprendizagem e
compartilhar seus saberes e fazeres, de modo conhecimento sem nenhum prejuízo em
a contribuir para a melhoria da qualidade de comparação ao ensino tradicional, assim
vida da população. Esperamos, porém, que sendo busca constantemente novas formas
de operação, desenvolvendo novas tecnolo-


gias, novos processos, ou novas atividades,
isso para trazer para alunos da modalidade
condições de aprendizagem que qualifique
[...] o aprendizado no curso superior seja o egresso a atuar com plenitude, há grande
meta e veículo de domínio da pesquisa, da responsabilidade em fazer do modelo edu-
ciência, da profissionalização consciente, cacional, um modelo que realmente ofereça
da realização pessoal e do aprimoramento e proporcione o desenvolvimento de todas
intelectual e político do cidadão. Enfim, que as habilidades e competências necessárias


seja o preparo para servir a comunidade e para a atuação.
a sociedade e participar dela em suas ca-
tegorias políticas, sociais e administrativas


(BARROS; LEHFELD, 2007, p. 14).

Acreditamos que essas atividades, conforme


pode ser visualizado nas imagens a seguir, são
de fundamental importância para o desenvol-
Organizar e executar eventos com duração de vimento da autonomia e da autoconfiança do
semanas ou meses, em alguns casos, não é estudante ao aplicar os conhecimentos ad-
tarefa fácil quando se trata da modalidade EaD, quiridos, o que motiva sua permanência nos
uma vez que a maioria dos alunos trabalha, já cursos, além de contribuir para a melhoria dos
tem responsabilidades com família constituída serviços e qualidade de vida na região.
e reside, normalmente, em vários municípios.
Entendemos, no entanto, que ações como es-
sas são de fundamental importância. Nesse
aspecto, Cavaleiro, Romano e Neto (2012, p.3)
clarificam essa questão ao afirmarem que a

137
Figura 4 – Momentos de eventos/oficinas realizadas no Polo UAB Aracruz
Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

A Figura 4 registra alguns momentos da para estudantes do ensino Médio durante a I


“Oficina Mecânica: Densidade – Submarino Semana Cultural e Acadêmica do Polo UAB –
na Garrafa” e “Oficina Experimento de Física Aracruz (ES). Na terceira imagem, um pouco
do Cotidiano e de baixo custo”, atividades de como foi a “Oficina Trabalhando com
desenvolvidas pelos estudantes da licenciatura “LibreOffice (Writer e Calc)”, organizada e
em Física da UFES com estudantes do ensino realizada pelo tutor presencial e estudantes do
médio de escola pública estadual nos eventos “I curso de licenciatura em Informática da IFES
Encontro de Física: Física Fácil de Aprender” e para funcionários administrativos da Prefeitura
a “Oficina Experimento de Física do cotidiano Municipal, durante a II Semana Cultural e
e de baixo custo”, realizadas por estudantes Acadêmica do Polo UAB – Aracruz (ES).
do curso de licenciatura em Física da UFES

Figura 5 – Momentos da seleção de trabalhos: “Programa Agrinho e Olimpíadas de Língua Portuguesa”


Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

Na Figura 5, seleção de trabalhos pela comissão


julgadora composta pelo tutor presencial e
estudantes dos cursos de licenciatura em Le-
tras-Português e licenciatura em Informática
da IFES no “Programa Agrinho e Olimpíadas
de Língua Portuguesa”. Nas duas imagens se-
guintes, oficina, com o título “O outro que não
sou eu, é quem?”, ministrada pelos estudantes
do curso de licenciatura em Filosofia da UFES
para alunos do ensino médio de escola pública,
durante a III Semana Cultural e Acadêmica do
Polo UAB – Aracruz (ES).

138
Figura 6 – Momentos de prática em atividades do Polo UAB Aracruz
Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

Observamos, na Figura 6, momentos de prática mostramos que ele teve a oportunidade de


na “Oficina de modelagem em argila e do ar- ser selecionado para fazer um curso em uma
tesanato”, realizada pelos estudantes do curso instituição bem avaliada. Aliado a isso, o de-
de licenciatura em Artes Visuais da UFES para senvolvimento dessas atividades se constitui
a comunidade. Essas atividades foram desen- numa excelente oportunidade para dar visibili-
volvidas no laboratório pedagógico de Artes dade aos trabalhos realizados pelos estudantes
Visuais, durante a I e III Semana Cultural e das graduações e especializações; divulgar
Acadêmica do Polo UAB Aracruz (ES). Nas duas o Polo UAB para que a população tenha co-
últimas imagens, alunos e professora na “Ofi- nhecimento do serviço que tem a seu dispor e
cina ações preventivas em saúde”, ministrada também para o fortalecimento da instituição,
pelos estudantes do curso de especialização pois são momentos em que somos prestigiados
em Epidemiologia da UFES, ocasião em que pelas autoridades locais e gestores das IES
realizaram testes rápidos e aplicaram vacinas. que, com a proximidade, conhecem o trabalho
Essa atividade também foi realizada durante a realizado e tornam-se mais sensíveis para
III Semana Cultural e Acadêmica do Polo UAB atendimento às nossas necessidades. Todos
Aracruz (ES). que nos visitam conhecem as instalações físi-
cas, as necessidades e as produções de nossos
Entendemos que, quanto mais prestígio tem estudantes, assim como aqueles que acessam
a instituição que oferece o curso, mais moti- as redes sociais, pois – como pode ser visto
vado o aluno fica para concluí-lo. Esse é um nos endereços eletrônicos já apresentados
argumento que sempre usamos ao conversar neste relato – buscamos divulgar a maioria dos
com estudantes que estão prestes a abando- nossos eventos. Algumas imagens mostram o
nar o curso e que não apresentam um motivo que acabamos de argumentar.
aparente que não seja a motivação. Sempre

Figura 7 – Imagens que registram momentos dos eventos do Polo Aracruz


Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

139
Na Figura 7, um pouco da “Exposição de fotos Visuais da UFES. Ao centro, a imagem registra a
com atividades dos cursos ativos no Polo UAB cerimônia de abertura do Seminário Integrado
Aracruz/2012” (vista externa, em parede de do Polo UAB Aracruz (ES). Composição da mesa
vidro de frente para rua) durante o evento I da esquerda para a direita: Diretor Acadêmi-
Semana Cultural e Acadêmica do Polo UAB co da SEAD-UFES e Coordenador Adjunto da
Aracruz. Na terceira imagem, registramos a UAB-UFES, Presidente da Câmara Municipal,
exposição de trabalhos na III Cultural e Aca- Prefeito Municipal, Secretária Municipal de
dêmica do Polo UAB Aracruz, realizada pelos Educação e estudante do Polo UAB Aracruz.
estudantes do curso de licenciatura em Artes

Figura 8 – Eventos realizados pelo Polo UAB Aracruz | Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

A Figura 8 traz o Auditório do Polo UAB Aracruz ração ao aniversário do município de Aracruz
repleto, na maioria por professores da escola como parte dos projetos “170 Anos do Muni-
pública, durante a palestra: “História e Cul- cípio de Aracruz: Uma Trajetória Vitoriosa” e
tura Afro-brasileira e Indígena: Diálogo com “Resgate Histórico: Memorial do Polo de Apoio
as leis nº 10.639 e nº 11.645”. Na sequência, Presencial da Universidade Aberta do Brasil
estudantes e equipe do Polo UAB Aracruz (ES) (UAB) e Centro de Formação de Professores
participando dos desfiles cívicos em comemo- José Modenese – Aracruz (ES)”.

4 RESULTADOS
Os resultados dessas ações podem ser evidencia- 1. A organização. As pessoas envolvidas de-
dos no dia a dia da instituição, pois de imediato ram o melhor de si para que se tornassem um
há construção de laços afetivos, o que torna os excelente tema.
estudantes mais próximos entre si e da equipe
do Polo UAB. Diferentemente dos demais, que 2. Despertar o senso de trabalho em equipe
muitas vezes não conhecem nem são conhecidos nos alunos.
pelos demais colegas e equipe do polo, já que
vêm apenas para as provas e apresentações de 3. Maior proximidade da direção do Polo com
trabalho, os estudantes que participam desses os alunos e vice-versa.
eventos são bastante conhecidos. É o que vemos,
por exemplo, nas respostas dos estudantes que 4. Conhecimento sobre o polo e sobre o
integraram a comissão organizadora do “Proje- José Modenese. Foi muito enriquecedor ad-
to Resgate Histórico do Polo UAB Aracruz (ES)”, quirir e transmitir essa história que poucas
quando perguntados sobre os pontos positivos pessoas sabiam.
no Projeto, os quais apresentamos nos excertos
(notas de campo) a seguir.:

140
5. Foi um momento de sucesso, onde tudo 12. Participar do projeto foi uma oportunida-
o que foi planejado teve êxito. Acredito que de única que agregou conhecimentos sobre a
o público presente conseguiu conhecer um história de Aracruz e também foi divertido e
pouco da história do Polo UAB. edificante trabalhar com colegas de outros
cursos e com a administração do Polo. Quanto
6. Considero positivo a colaboração e o empe- minha participação, acredito que tenha sido
nho de todos os colegas no projeto, assim como boa na medida do possível.
do Polo, que deram total apoio resgatando
informações e transmitindo de maneira clara 13. Consegui contribuir na medida do possí-
e objetiva para todos nós, tornando o projeto vel, buscando delegar algumas funções prin-
bem-sucedido. cipalmente na parte da pesquisa, para não
sobrecarregar os colegas. Não consegui estar
7. Dois aspectos: o empenho da direção do presente em todas as reuniões devido a correria
polo na organização das equipes bem como do dia a dia, porém busquei me comprometer
na distribuição das atividades. ao máximo nas atividades que desenvolvi para
que pudéssemos atingir a nossa meta.
8. O envolvimento de todos os integrantes
durante a elaboração e execução do projeto. 14. Parabenizar a todos os envolvidos no tra-
(Notas de campo dos autores). balho, desde os funcionários até aos alunos dos
outros cursos, em especial aos colegas que se
Os estudantes ainda apontam, nesse sentido, fizeram presentes e engajados constantemente
quando perguntados sobre os pontos negativos: no polo e indo atrás das pesquisas, informa-
ções, montagem, lanche e etc. garantindo que
9. A falta de interesse de alguns alunos a apresentação fosse um sucesso. (Notas de
participar do projeto. campo dos autores)

10. Dificuldade de mobilização dos envolvidos, Dos cursos já concluídos e nos quais os alu-
pois os horários são diversos além dos afazeres nos participaram dos projetos elencados nes-
de cada um. (Notas de campo dos autores) te artigo, quando consideramos o total das
matrículas, o percentual de estudantes que
Os encontros para organização dos eventos concluíram o curso é de 38% e dos que se eva-
permitem momentos de trabalho e de des- diram é de 62%. Quando consideramos esses
contração que levam a um envolvimento para mesmos cursos, mas utilizamos os dados refe-
além do espaço acadêmico. Muitas vezes, os rentes apenas aos estudantes que participaram
problemas de ordem pessoal são colocados no dos projetos, ressaltando que alguns fizeram
grupo e compartilhados entre os participan- mais de um projeto, mas aqui o consideramos
tes. Esse envolvimento permite conhecê-los apenas uma vez, o percentual de estudantes
melhor e intervir, normalmente, com uma que concluíram o curso é de 89% e dos que
boa conversa, para que voltem, quando é o se evadiram é de 11%. Dentre os cursos ainda
caso, a frequentar o curso. A autoconfiança e ativos, quando consideramos o total das ma-
a satisfação em aplicar seus conhecimentos e trículas, o percentual de estudantes que, nesta
construir um trabalho em prol da comunidade data, estão frequentando o curso de 58,9% e
também são percebidas e tema das sugestões dos estudantes que não estão frequentando o
deixadas por esses alunos quando pergunta- curso é de 44,1%. Quando consideramos es-
dos sobre a avaliação da sua participação no ses mesmos cursos e data, mas utilizamos os
projeto, conforme depreendemos das vinhetas dados referentes apenas aos estudantes que
narrativas a seguir: participaram dos projetos, ressaltando que
alguns fizeram mais de um projeto, mas aqui
11. Me dediquei bastante para que esse projeto o consideramos apenas uma vez, o percentual
fosse realizado, é claro que com a ajuda dos de estudantes que estão frequentando o curso
colegas tudo facilitou. é de 84,6% e dos que não estão frequentando
o curso é de 15,4%.

141
As imagens a seguir ilustram os resultados nhora diz, em sua avaliação, que não sabia
referentes à atuação dos estudantes na pres- quase nada, mas aprendeu muito no curso,
tação de serviços à comunidade, no aprendi- gostou do laboratório, dos professores e quer
zado, na divulgação e no fortalecimento do voltar mais vezes. Apresenta, ainda, o grupo
Polo UAB. Na figura 9, referente à “Oficina exibindo com orgulho seus certificados e as
de Informática Ensinando e Aprendendo com lembranças feitas pelos organizadores para
a Terceira Idade” (internet básica), uma se- a “formatura” do curso.

Figura 9 - Imagens de eventos realizados pelo Polo UAB Aracruz | Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

A figura 10 (página seguinte) mostra parte A figura 11 (página seguinte) apresenta certi-
do resultado do “Projeto Resgate Histórico: ficado de estudante participante da comissão
Memorial do Polo de Apoio Presencial da Uni- organizadora, utilizado para comprovação
versidade Aberta do Brasil (UAB) e Centro de de horas necessárias para complementar sua
Formação de Professores José Modenese – formação curricular no que se refere à compro-
Aracruz (ES)”. Importa sublinhar que o acervo vação das Atividades Acadêmicas Curriculares
organizado – resultante da pesquisa – está em Complementares (AACCs) e, na sequência,
exposição permanente na instituição. momentos da “Oficina produção de sabão a
partir de óleo de cozinha usado” e “Preven-
ção à dengue com tintura-mãe de citronela”,
ministradas pelos estudantes do curso de li-
cenciatura em Química da UFES para grupo de
terceira idade, durante a III Semana Cultural
e Acadêmica do Polo UAB Aracruz.

142
Figura 10 – Imagens de eventos e atividades realizados no Polo Aracruz
Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

Figura 11 – Certificado e oficina ministrada na III Semana Cultural e Acadêmica do Polo UAB Aracruz
Fonte: Arquivos do Polo UAB Aracruz (ES)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como Alves, Bueno e Rolon (2017, p.2), experiência e as pesquisas sobre o assunto nos
entendemos que “[...] a evasão é um assunto mostram que outros motivos são internos,
que preocupa a todos os envolvidos da EaD, como pontuam Bittencourt e Mercado (2014,
principalmente por este ser um problema p. 496):
multifatorial, haja vista não existir uma úni-
ca causa que pode ser dirigida por uma única
solução”. Alguns motivos são externos à insti-
tuição, de ordem pessoal e social, porém nossa

143

recebem por meio do partilhamento dos sa-
beres construídos no espaço acadêmico com
[...] a principal causa da evasão dos alunos a comunidade local e da região.
no curso está relacionada a problemas en-
dógenos, ou seja, relacionados a instituição
de ensino superior. Problemas como: ati-
tude comportamental ligada diretamente
à insatisfação com o tutor e professores;
motivos institucionais e requisitos didáticos
pedagógicos relacionados a problemas com


a plataforma e encontros presenciais.

Nesse viés, é que desenvolvemos as ações


elencadas, decorrentes do acompanhamento
dos cursos ofertados e que fazem a diferença.
Diferença quantitativa, especialmente quando
conseguimos reduzir o percentual de evasão.
No que se refere aos estudantes envolvidos nos
projetos, a diferença é qualitativa e isso vai se
refletir não apenas no resultado da evasão, mas
também no desenvolvimento do lado humano e
de cumprimento do papel social das IES, parti-
cularmente no que se refere à sua responsabili-
dade com os munícipes pagadores de impostos
que custeiam os cursos. Esses aspectos tornam-
-se ainda mais importantes quando se trata
de uma cidade do interior com poucas opções
para a comunidade e quando o mantenedor é
o governo municipal que já assume os custos
da educação infantil e fundamental.

Satisfação dos estudantes e da comunidade,


fortalecimento dos laços afetivos, interação e
aplicação dos conteúdos acadêmicos são re-
sultados que vivenciamos; e, com felicidade,
observamos nos gestos, olhos e sorrisos dos
envolvidos, os quais tentamos, neste traba-
lho, mostrar por intermédio das imagens que
apresentamos. Dessa forma, entendemos que
os projetos devem ser mantidos, intensifi-
cados, de modo envolver número maior de
estudantes. Para isso, há necessidade de pen-
sarmos estratégias que os motivem e que lhes
deem condições de participar, além daquelas
que já são utilizadas, ou seja, a necessidade
de comprovação das atividades acadêmicas
curriculares complementares (AACCs) como
pré-requisito para conclusão do curso e os
diálogos sobre a necessidade de reverter o que

144
6 REFERÊNCIAS
ALVES, E. B.; BUENO, A. M.; ROLON, V. E. K. Evasão na EaD: um problema de rela-
cionamento? In: CONGRESSO INTERNACIONAL ABED DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA,
26., 2017, Foz do Iguaçu, PR. Anais... Foz do Iguaçu: ABED, 2017. p. 1-10. Disponível
em: http://www.abed.org.br/congresso2017/trabalhos/pdf/35.pdf. Acesso em: 20
nov. 2019.

BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed.


São Paulo. Pearson Education do Brasil, 2007.

BITTENCOURT, I. B.; MERCADO, L. P. L. Evasão nos cursos na modalidade de edu-


cação a distância: estudo de caso do Curso Piloto de Administração da UFAL/UAB.
Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, RJ, v. 22, n. 83, p.
465-504, abr./jun. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v22n83/
a09v22n83.pdf. Acesso em: 20 nov. 2019.

CAVALEIRO, J. C.; ROMANO, S. M. V.; COSTA NETO, P. L. O. Aproximando os alunos


da EaD de atividades práticas: um relato de experiência. In: CONGRESSO INTER-
NACIONAL ABED DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 19., 2013, Salvador, BA. Anais...
Salvador: ABED, 2013. p. 1-10. Disponível: http://www.abed.org.br/congresso2013/
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DAUDT, S. I. D.; BEHAR, P. A. A gestão de cursos de graduação a distância e o fenô-


meno da evasão. Educação, Porto Alegre, RS, v. 36, n. 3, p. 412-421, set./dez. 2013.
Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/
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GOMES, M. G. M. A produção de sentido tecida na história de vida de uma pro-


fessora egressa do Curso de Artes Visuais EaD. 2015. 237p. Dissertação (Mestrado
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VIEIRA, M. F. A gestão de EaD no contexto dos polos de apoio presencial: pro-


ximidades e diferenças entre a Universidade Aberta do Brasil e as Instituições
universitárias privadas. 2018. 417f. Tese (Doutorado em Educação a Distância e
eLearning) – Universidade Aberta de Portugal, Lisboa, PT, 2018. Disponível em:
https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/7182. Acesso em: 19 nov. 2019.

Imagem de Capa – Disponível em Freepik: https://br.freepik.com/fotos-gratis/


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-cafe_3955387.htm#page=1&query=group%20students%20&position=27
Experiência:
Aulas práticas para o
ensino de botânica na EaD

Vivian Almeida Assunção Rosani do Carmo de Oliveira Arruda


Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS) (UFMS)
[email protected] [email protected]

RESUMO
O objetivo do texto é relatar a experiência de Houve uma boa interação durante as atividades
um minicurso de Botânica para alunos de gra- desenvolvidas e atribuídas. As docentes leva-
duação do curso de licenciatura em Ciências ram em consideração o aprendizado prévio dos
Biológicas da Universidade Federal de Mato alunos durante o curso, com intuito de facilitar
Grosso do Sul (UFMS), ofertado na modalidade a assimilação dos conteúdos e incentivar os
a distância. O método incluiu aulas teóricas de futuros professores a desenvolver atividades
Botânica, seguidas de aulas práticas em campo práticas em suas aulas. Conforme relatos du-
e em laboratório. Foram abordados temas re- rante o curso e depois de formados, observamos
lativos à morfologia vegetal, técnicas de coleta que o curso contribuiu significativamente para
e inclusão de amostras em Herbário, anatomia a formação dos futuros docentes, os quais so-
vegetal e noções básicas de fitogeografia em licitaram que mais cursos desse cunho sejam
Mato Grosso do Sul. Ao final, os alunos foram desenvolvidos durante a graduação.
incentivados a confeccionar diversas peças
utilizando plantas secas. As atividades foram Palavras-chave: Aula em campo. Morfologia
desenvolvidas nos polos de educação a distân- vegetal. Anatomia vegetal. Plantas.
cia da UFMS de Bela Vista e Porto Murtinho. Artesanato.
A participação dos alunos foi ativa e positiva.

146
1 INTRODUÇÃO diversidade que temos especialmente no Brasil.
Aqui, temos os domínios fitogeográficos da
O ensino de Ciências faz parte das disciplinas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica,
que constam nos Parâmetros Curriculares Pampa e Pantanal (BRASIL, [20--]), muitos
Nacionais (BRASIL, 1997). O conteúdo atribu- dos quais encontrados em Mato Grosso do Sul
ído a Ciências e Biologia é melhor assimilado (MS). Apesar disso, esse estado é um dos que
quando inclui aulas práticas durante a dis- apresentam menores índices de coleta botâ-
ciplina. Importa sublinhar, no entanto, que nica do país (PEIXOTO, 2003). Além dessas
desenvolver atividades práticas em campo e/ formações, ainda podemos citar, para MS, as
ou laboratório nem sempre é possível, pois há formações de Chaco, restritas ao município
escolas sem infraestrutura ou material para o de Porto Murtinho.
desenvolvimento dessa disciplina.
Parte da vegetação nativa no estado e no país
Ao lecionar no ensino superior ofertado na já foi substituída por atividades antrópicas; e,
modalidade a distância, observa-se que a carga atualmente, fitofisionomias de Cerrado e Mata
horária de aulas práticas é bem menor quando Atlântica, reconhecidas como florestas secas,
comparada à do ensino presencial. Realida- encontram-se sob ameaça por conta dessas
de essa que tende a dificultar a assimilação atividades (DRYFLOR et al., 2016). O Chaco
dos alunos em relação ao conteúdo recebido ocorre, essencialmente, em Mato Grosso do
durante as disciplinas na graduação e a lidar Sul, pois 70% de sua composição florística
com imprevistos e diferentes interpretações encontra-se na área (PRADO, 1993) e, confor-
(MENEZES et al. 2008). Esse fator tende a in- me Caputo e Silva (2010), também se encontra
terferir na elaboração de práticas pelos futuros inclusa no domínio do Pantanal. Quando se
docentes, uma vez que parte dos cursos de aborda essa questão em sala de aula, mesmo
Biologia ofertados na modalidade a distância em ensino superior, observamos que pouco
é de licenciatura, ou seja, docentes serão for- se conhece a respeito desse bioma. Assim, o
mados para atuar na educação básica. Somado município que apresenta a mesma diversi-
a isso, o ensino médio, geralmente, é voltado dade biogeográfica foi contemplado no curso
ao preparo dos alunos ao Exame Nacional de com intuito de os alunos, futuros docentes,
Ensino Médio e vestibulares que favorecem reconhecerem e atribuírem aos familiares,
o ingresso do acadêmico no ensino superior. amigos e futuros alunos a importância desses
remanescentes ao ecossistema e ao uso huma-
Algo corriqueiro também no ensino atual é o no. Atribui-se, também, ao Cerrado a mesma
fato de alunos e docentes terem dificuldades importância, uma vez que é considerado
em incluir acontecimentos diários ao conteúdo


teórico presente na base curricular (MENEZES
et al., 2008). Assim, tornam-se valiosas inicia-
tivas desse cunho para que a educação deixe
de ser algo distante do cotidiano e, muitas [...] um hotspots mundiais de biodiversidade.
vezes, maçante ou mesmo reconhecida como O Cerrado apresenta extrema abundância de
“decorebas”. Aliado a isso, a urbanização e o espécies endêmicas e sofre uma excepcio-
acesso das pessoas às plantas muitas vezes são nal perda de habitat. Do ponto de vista da
mais comuns em supermercados e restritos às diversidade biológica, o Cerrado brasileiro
plantas de consumo (SALATINO; BUCKERID- é reconhecido como a savana mais rica do
GE, 2016). Em alguns casos, a população utiliza mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas
plantas medicinais e ornamentais, no entanto, nativas já catalogadas. Existe uma grande
tende a estar, ainda assim, desconectada do diversidade de habitats, que determinam
que aprende nas disciplinas de Botânica. uma notável alternância de espécies entre
diferentes fitofisionomias (BRASIL; MMA,


O ensino de Ciências e de Biologia é um uni- 2019, não paginado).
verso que possibilita aos alunos e docentes
integrar a teoria ao cotidiano devido à mega-

147
Além da descontextualização mencionada, melhorar a relação de discentes que se tornarão
geralmente em aulas de Botânica, os alunos futuros docentes e poderão atuar em áreas
apresentam aversão à disciplina, especial- que envolvem Botânica, além de sala de aula.
mente pelos nomes atribuídos as diferentes
características morfológicas apresentadas pe-
los táxons relacionados ao Reino. Apesar disso,
nas Orientações Curriculares para o Ensino 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Médio (BRASIL, 2006, p. 17), constata que,
O ensino de Ciências é considerado essencial


tanto na formação de cidadãos críticos quanto
para a conscientização de seu papel ativo na
sociedade e na tomada de decisões (PINHÃO;
[...] apesar de a Biologia fazer parte do MARTINS, 2016). Nesse contexto, as aulas de
dia-a-dia da população, o ensino dessa Ciências – especialmente nos níveis iniciais da
disciplina encontra-se tão distanciado da formação escolar – podem contribuir, de ma-
realidade que não permite à população neira significativa, para despertar o interesse
perceber o vínculo estreito existente entre de crianças e jovens pelo ambiente que os cerca.
o que é estudado na disciplina Biologia e o Embora se trate de uma temática relacionada
cotidiano. Essa visão dicotômica impossi- a nossas atividades rotineiras, envolvendo
bilita ao aluno estabelecer relações entre a plantas, animais, fungos e micro-organismos
produção científica e o seu contexto, pre- utilizados na nossa alimentação, na produção
judicando a necessária visão holística que de remédios e no vestuário, o ensino dessa
deve pautar o aprendizado sobre a Bio- matéria ainda está muito distante da realidade
logia. [...] A escola, ao definir seu projeto dos alunos. A falta de aulas práticas em disci-
pedagógico, deve propiciar condições para plinas envolvendo as Ciências Naturais conduz
que o educando possa conhecer os funda- ao julgamento que os organismos são estáticos
mentos básicos da investigação científica; e desinteressantes. Essa dificuldade foi men-
reconhecer a ciência como uma atividade cionada por alunos do ensino fundamental em
humana em constante transformação, fruto uma pesquisa desenvolvida por Stanski et al.
da conjunção de fatores históricos, sociais, (2016) e também aparece no estudo realizado
políticos, econômicos, culturais, religio- por Menezes et al. (2008, p.2) que afirmam:
sos e tecnológicos, e, portanto, não neutra;


compreender e interpretar os impactos do
desenvolvimento científico e tecnológico na


sociedade e no ambiente.
Apesar de muitos motivos serem apontados
para tal desinteresse o ponto fundamental
parece ser a relação que nós seres humanos
temos com as plantas, ou melhor, com a
Ao cursar uma graduação de Ciências Bioló- falta de relação que temos com elas. O fato
gicas a distância, como a ofertada na Univer- desses seres não interagirem diretamente
sidade Federal de Mato Grosso do Sul, que é com o homem e serem estáticos, ao con-
voltada à formação de licenciados, surgiu o trário dos animais, pode justificar o dis-


interesse de se aplicar uma experiência teó- tanciamento dos estudantes.
rica, em campo e em laboratório, com intuito
de favorecer uma maior vivência prática dos
alunos com as plantas. O objetivo do texto é
relatar a experiência de um minicurso de Bo-
tânica para alunos de graduação de Biologia, A preocupação em relação à abordagem atribu-
licenciatura na modalidade a distância. O in- ída ao assunto consta nos Parâmetros Curricu-
tuito do curso também foi reduzir a aversão à lares Nacionais ao Ensino Médio+ ([PCNEM+]
referida disciplina e apontar alternativas para BRASIL, 2006, p. 32)1, ao mencionar que “[...]

148
a ciência é pouco utilizada como instrumento Dessa forma, o incremento das aulas práticas,
para interpretar a realidade ou para nela inter- nas disciplinas de Botânica, e o incentivo ao
vir e os conhecimentos científicos acabam sen- estudo das plantas nos cursos de formação de
do abordados de modo descontextualizado”. professores (licenciaturas) podem contribuir,
de maneira efetiva, com o processo de ensino
No que se refere às plantas, nas aulas de Ciên- e aprendizagem que os futuros professores
cias, o conteúdo é, muitas vezes, apresentado irão assumir. Algumas experiências práticas
de modo fragmentado, pouco atrativo e dis- envolvendo multimodos (jogos, imagens, pa-
tante do cotidiano das pessoas (SILVA; SANO, lestras e mapas conceituais, por exemplo),
2011). Muitas vezes, o conteúdo sobre Botânica como as realizadas por Stanski et al. (2016),
é ministrado apenas por meio de aulas teóricas, evidenciaram que o uso de métodos diferen-
sem apresentação de material didático para ciados favoreceu um aprendizado mais amplo
manipulação, observação e questionamentos, dos alunos sobre a temática de polinização.
ou visitas a parques, ruas com plantas, no en-
torno das escolas, embora os vegetais façam Alguns professores de graduação utilizam
parte do nosso cotidiano, seja na paisagem como método de ensino a intercalação entre
seja por seu uso direto ou indireto. atividades teóricas e práticas para um pro-
cesso de ensino e aprendizagem mais efeti-
Towata et al. (2010, p. 1608) apontaram, em vo e têm observado bons resultados (SILVA;
um curso de Botânica direcionado a docentes, SANO, 2014). Somado a isso, observamos muita
o ponto de vista discente em que fica evidente dificuldade em relacionar as plantas nativas
o entendimento serem as aulas práticas locais aos domínios fitogeográficos que as
compõem, o que dificulta discutir e conseguir


contribuição em relação a propostas em torno
de políticas públicas em favor do ambiente
nativo no país, por exemplo.
[...] muito importantes também para a
aprendizagem do aluno nas aulas de Bo- Algo salutar mencionado por Salatino e Bu-
tânica, pois são uma oportunidade de rela- ckeridge (2016, p.181) exemplifica um pouco
cionar os conteúdos teóricos com o seu dia- da cegueira evidenciada no ensino de Botânica:
-a-dia e perceber que a matéria aprendida
nos livros não está distante do seu cotidiano.
O professor pode explorar temas mais rele-
vantes ao cotidiano do aluno. No entanto,
vale ressaltar que outros instrumentos tam-
bém são importantes para a aprendizagem,
como jogos, discussões, debates, modelos e
as próprias aulas expositivas. Como vere-
mos a seguir a amplificação das estratégias
didáticas foi um dos aspectos do curso mais


ressaltados pelos participantes.

1 Consultar PCNEM+: orientações educacionais complementares - ciências da natureza, mate-


mática e suas tecnologias (BRASIL, 2006), disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
pdf/CienciasNatureza.pdf

149

3 METODOLOGIA
A pergunta é: até que ponto a ignorância O curso foi desenvolvido nos polos de Bela Vista
gerada pela cegueira botânica irá influen- e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, em
ciar negativamente a tomada de decisões julho de 2016, e teve carga horária de 20 horas.
e políticas públicas no Brasil? Diante do Durante o desenvolvimento dessa formação,
quadro atual, caracterizado por professores foram realizadas oficinas sobre conteúdos
que não se sentem confortáveis ao apresen- de Morfologia Vegetal, Fitogeografia, coleta
tar conteúdos de botânica, alunos que se e herborização de plantas, com orientações
entediam e se desinteressam pelo assunto, gerais, cuidados a serem tomados durante as
aliado ao baixo (ou nulo) aproveitamento coletas, além de instruções (roteiros) sobre as
no aprendizado da matéria, a posição da observações a serem realizadas.
botânica nos ensinos fundamental e mé-
dio certamente é muito precária. Uma vez Em relação à coleta e herborização de plantas,
que professores e alunos não se interessam foram atribuídas:
por botânica, e muito pouco (ou nada) se
aprende sobre a matéria, autoridades em • orientações gerais sobre as técnicas e pro-
ensino médio e fundamental possivelmente cedimentos de coleta de material botânico e
raciocinam que melhor seria eliminá-la de inclusão de material botânico no Herbário;


vez dos currículos.
• caminhadas assistemáticas nas proximi-
dades da escola, onde foram apresentados
os diferentes hábitos das plantas. Durante
as caminhadas, observarmos algumas es-
Urge, pois, mudanças de ponto de vista docente pécies nativas e ornamentais, algumas com
para resgatar um olhar diferenciado aos ele- partes reprodutivas que foram coletadas e
mentos que compõem o ensino, especialmente levadas ao laboratório para a identificação
o de Botânica. Em sala de aula, observamos taxonômica, e que poderiam ser utilizadas
que as mídias interferem de modo negativo como materiais didáticos;
no desenvolvimento de atividades ligadas ao
ensino, assim como o de Botânica. Acerca dessa • em grupo, os participantes preencheram
questão, Salatino e Buckeridge (2016, p.191) uma ficha com informações (Figura 1) im-
contemporizam que portantes para inclusão dos táxons em co-
leções botânicas (Herbário);


[...] entramos agora em outro círculo vicioso:
o público é pouco interessado em assuntos
relacionados a plantas; em consequência,
a mídia não tem motivação para investir
recursos e esforços para produzir matérias
que tratem de biologia vegetal; a negli-
gência botânica, já presente na sociedade,
é reforçada pela falta de informações que
poderiam emanar de jornais, revistas, in-
ternet, rádio e televisão.


150
Figura 1 – Ficha de coleta botânica de táxons em campo utilizado pelo Herbário CGMS, Campo Grande,
Mato Grosso do Sul, Brasil. | Fonte: Herbário CGMS (2019)

• aprenderam técnicas de coleta botânica em


campo, assim como itens de segurança que
precisamos utilizar em campo (Figura 2);

Figura 2 – Orientações e coleta botânica em campo com alunos de graduação ofertado na modalidade a
distância em Bela Vista e Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul, Brasil.
Fonte: Acervo das Autoras (2019)

151
• realizaram a herborização de material em • utilizaram ferramentas e tiveram acesso a
laboratório para compor coleções cientí- materiais que contribuem com a identifi-
ficas (Herbários) e com fins didáticos em cação botânica (Figura 3).
ambiente escolar (Figura 3);

Figura 3 – Herborização e identificação de material botânico, com uso de chaves de identificação, após
coleta com alunos de ofertado na modalidade a distância em Bela Vista e Porto Murtinho, Mato Grosso do
Sul, Brasil. | Fonte: Acervo das Autoras (2019)

Em Anatomia Vegetal, os conteúdos também colorações e observações, com a utilização de


foram apresentados de maneira sintética, o vidrarias e microscópios de luz, disponíveis
que possibilitou aos alunos prepararem cortes nas escolas municipais de cada polo (Figura 4).
histológicos com material coletado em campo,

Figura 4 – Aula prática de Anatomia Vegetal com alunos de ofertado na modalidade a distância em Bela
Vista e Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul, Brasil. | Fonte: Acervo das Autoras (2019)

152
No final das atividades, observamos que os rem empregadas na confecção de artesanatos,
participantes notaram que as plantas podem podem e compor uma coleção didática para a
constituir modelos didáticos para aulas de escola (Figura 5) e servir para a confecção de
morfologia e anatomia vegetal. Além de se- cartões comemorativos.

Figura 5 – Modelos de trabalhos e artesanatos desenvolvidos com material botânico por alunos nos polos
de Bela Vista e Porto Murtinho em Mato Grosso do Sul, Brasil. | Fonte: Acervo das Autoras (2019)

Após as atividades elencadas anteriormen- 4 RESULTADOS


te, eles pesquisaram, em sala de informática,
artigos científicos, livros e demais referen- Observamos que, em ambos os polos, alguns
ciais pertinentes a respeito dos domínios que alunos tornaram-se professores. Aqueles que
ocorrem em seus respectivos municípios e não estão em sala de aula nos comunicaram que
apresentaram à turma em forma de seminá- utilizaram as experiências realizadas em seu
rio. A proposta foi incluírem o cotidiano deles estágio de docência no município. Ademais,
com as plantas no momento da apresentação, alguns participantes manifestaram entusiasmo
assim como a experiência vivida durante o a respeito das oficinas oferecidas: (1) “foi muito
curso. Com isso, os estudantes (cerca de trinta) rica e produtiva.”; (2) “montar aulas ao ar livre,
nos apontaram como a participação no curso sair com os alunos fora da escola, observar o am-
contribuiu para o processo de ensino e apren- biente em que vive, conhecer os frutos nativos[...]”
dizagem. Após o curso, entramos em contato (Notas de campo das autoras).
com alguns alunos e descobrimos que, em
sua maioria, finalizaram a graduação. Alguns Conforme relato dos alunos, foi a primeira
deles, após serem questionados, informal- experiência desse cunho na vida acadêmica
mente, sobre o uso do conteúdo apresentado deles, a qual, de algum modo, fez diferença.
durante o curso, relataram-nos utilizá-lo em Eles agradeceram a oportunidade, especial-
suas atividades atuais. mente porque não haviam tido aulas práticas,
com frequência, durante a graduação e mesmo
no ensino médio que cursaram.

Observarmos, também, que a maioria dos


participantes não sabia que sua cidade fora
erguida no domínio vegetacional do Chaco
(Porto Murtinho) e Cerrado (Bela Vista). Esse
fato nitidamente os distancia de discussões
de cunho socioambiental e iniciativas de po-

153
líticas públicas de proteção desses domínios,
justamente por falta do reconhecimento dos
recursos naturais locais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que a iniciativa foi positiva, con-


forme relatos e empenho que os discentes
tiveram ao longo curso e sua contribuição
após o término da graduação. Além disso, os
participantes apontaram que foi positiva a
contribuição do curso, especialmente para
reconhecimento de componentes da Botânica,
assim como dos domínios vegetacionais que
ocorrem nos municípios e no Estado. Por con-
ta disso, ressaltamos a importância de ações
como essas; e fica, aqui, o nosso incentivo
para que outros professores também desen-
volvam iniciativas semelhantes em suas áreas
de atuação.

154
6 REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações cur-
riculares para o ensino médio. Brasília, DF: MEC, 2006. v.2 (Ciências da Natureza,
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Imagem de Capa – Disponível em Unsplash: https://unsplash.com/photos/6jtKFltvx1k


Educação a distância:
Uma avaliação sobre o ambiente
virtual de apredizagem Moodle
e o aplicativo Whatsapp

Scheila Simone Secretti Beatriz Lau


Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria
[email protected] [email protected]

Especialista em Gestão do Trabalho Pedagógico: Mestre em Educação pela UNISC. Pós-graduação


Orientação Educacional e Supervisão Escolar; Es- em Práticas Pedagógicas Interdisciplinares em
pecialista em Metodologia do Ensino da Arte pela Educação Ambiental pela FACVEST, e Docência e
UNINTER; Graduada em Artes Visuais pela UNIJUÍ, gestão na educação a distância pela Faculdade
Coordenadora do Polo de Ensino Superior a Distân- Dom Alberto. Atualmente cursando a segunda
cia de Sobradinho; [email protected]. licenciatura em Pedagogia. Tutora Presencial do
curso de licenciatura em Educação do Campo -
UFSM, no Polo de Ensino Superior a Distância de
Sobradinho, [email protected].

RESUMO
O presente estudo contextualiza a educação a do uso do o ambiente virtual de aprendizagem
distância (EaD) no cenário educacional, haja (AVA) e do aplicativo WhatsApp como ferra-
vista ter sido criada para viabilizar a interio- mentas de estudo e comunicação, a fim de
rização da formação acadêmica gratuita e de refletir sobre a importância dessas tecnologias
qualidade. Apresenta um breve histórico da digitais da informação e comunicação (TDICs)
educação a distância no cenário educacional na EaD. Concluimos que a EaD só existe pela
brasileiro e analisa a evolução das redes so- possibilidade oferecida com o desenvolvimento
ciais e mídias digitais. Discorre, também, so- tecnológico e, nessa modalidade de ensino, a
bre o trabalho realizado pelos profissionais na apropriação do uso das TDICs é indispensável
EaD, visto a grande importância que possuem – por vezes, obrigatório – ao funcionamento
na disseminação do conhecimento e auxílio e à qualificação do trabalho.
nas atividades propostas aos discentes nessa
modalidade de ensino. Utilizamos a pesquisa Palavras-chave: Educação a Distância. Comu-
bibliográfica para situar o estado da arte acerca nicação. Tecnologias. AVA. Moodle. WhatsApp.

158
1 INTRODUÇÃO
A busca pela descoberta e pelo conhecimento uma vez que, por meio do uso das tecnologias
das coisas proporciona a evolução humana, para o ensino e seus bons resultados, promove
quer seja a descoberta de como acender uma a transformação, trazendo seriedade e com-
fogueira, quer seja como utilizar um com- promisso na formação profissional. O autor
putador ou smartphone. O convívio social e pontua, ainda, que
a informação crescentes possibilitam maior


acesso à comunicação; e, com a proliferação
das tecnologias, o desenvolvimento humano
foi mais rápido e significativo. O surgimento
das redes sociais no Brasil tornou a comuni- [...] houve um tempo em que ninguém
cação bem mais ampla, acessível a todos, mais imaginava que se pudesse educar sem um
fácil e dinâmica, bem como as informações se professor fisicamente presente junto ao alu-
propagaram de uma forma muito célere. no, de modo a transmitir-lhe seu saber e a
corrigir os erros cometidos durante a apren-
Com os avanços da tecnologia na atualida- dizagem. Na verdade, esta crença ao ter
de, não sendo apenas nas redes sociais e nos sido mantida durante séculos, ditou raízes
empreendimentos empresariais e comerciais, tão profundas que até hoje muitas pessoas,
mas também na educação, observa-se a grande até nas universidades, acham que qualquer
importância da oferta de ensino a distância, educação que não tenha professor presente


que possibilita a milhares de brasileiros a só pode ser Educação de segunda classe.
continuidade da escolarização e a formação
acadêmica em qualquer lugar do país, o que
contribui de forma positiva para as transfor-
mações sociais, educacionais e profissionais
dos indivíduos. A educação a distância foi organizada para
acontecer por intermédio dos suportes tec-
Após a disseminação da internet para além dos nológicos em ambientes virtuais de aprendi-
grandes centros urbanos, foi possível intro- zagem, onde os diferentes atores do processo
duzir um sistema de ensino que conseguisse precisam trocar informações e se conectar para
chegar mais próximo da população interiorana que tudo aconteça, de forma a contribuir para
que ansiava pela continuidade do ensino formal as transformações sociais e educacionais alme-
e não possuía condições de a realizar. Assim, jadas por uma sociedade que está sempre em
a educação a distância foi um viés para que processo de transformação e que busca a de-
os índices de escolarização do país pudessem mocratização de uma educação com qualidade.
melhorar, uma vez que possibilitou ao jovem
dar sequência a sua formação e proporcionou Por outro lado, para que todo o sistema aconte-
também a habilitação necessária a um gran- ça na prática, muitas pessoas estão envolvidas
de número de educadores que trabalhavam e na criação dos ambientes virtuais, elaboração
necessitavam ter a titulação exigida nas dife- dos materiais, organização dos sistemas e no
rentes áreas do conhecimento. A atual Lei de entrelaçamento da rede educacional em sua
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) totalidade. Assim, a presença dos professores
– Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996 –, continua sendo essencial para o processo da
em seu artigo 80, estabelece o incentivo para o educação a distância porque são eles que criam
desenvolvimento e a veiculação de programas e coordenam todos os cursos oferecidos no
de ensino a distância, em todos os níveis e mo- país e são aqueles que fazem a comunicação
dalidades de ensino e de educação continuada. acontecer por meio do uso das tecnologias.

Bordenave (1995, p. 9) nos mostra, por exem-


plo, como a educação a distância vem que-
brando barreiras impostas pela sociedade,

159

2 O ENSINO A DISTÂNCIA E O
USO DA TECNOLOGIA
[...] primeira experiência de EAD no Bra-
sil, no entanto, não foi realizada pela via
A partir dos avanços na área tecnológica, a impressa, mas pelas ondas do rádio. Já em
informação e o conhecimento obtiveram uma 1923, a Fundação da Rádio Sociedade do
forma de disseminação muito grande, uma vez Rio de Janeiro transmitia programas de
que a educação avançou muito, se pensarmos literatura, radiotelegrafia e telefonia, lín-
desde a invenção da escrita. A educação a dis- guas e outros. Desde então, entre os suportes
tância foi criada mais tarde, como pontua Alves midiáticos de comunicação, o rádio tem sido
(2010, p. 1), ao afirmar que a o veículo com maior tempo de uso para ini-
ciativas em EAD no Brasil. Em 1939 criou-se


o Instituto Rádio Monitor, preocupado em


utilizar o rádio para ensinar.

[...] EaD começou no século XV, quando


Johannes Guttenberg, em Mogúncia, Alema-
nha, inventou a imprensa, com composição
de palavras com caracteres móveis. Com a A educação a distância também foi dissemi-
criação, tornou-se desnecessário ir às esco- nada por correspondência, viabilizada pelo
las para assistir o venerando mestre ler, na “Instituto Universal Brasileiro (1941), em-


frente de seus discípulos, o raro livro copiado. presa particular que oferecia ensino a dis-
tância de caráter supletivo, além de cursos
profissionalizantes, através de correspon-
dências” (KENSKI, 2010, p. 2). Inicialmente,
a população brasileira demonstrava grande
O ensino a distância também faz o uso e apoia- descrença nessa modalidade educacional e,
-se, fortemente, na utilização das tecnologias aos poucos, aqueles que precisavam de for-
digitais da informação e comunicação (TDICs) mação e não conseguiam realizar de forma
e com isso amplia, consideravelmente, suas presencial passaram a ser adeptos de cursos
possibilidades. Assim, é possível afirmar que disponíveis através da correspondência e do
o “[...] avanço tecnológico permitiu que a EaD uso da tecnologia. No Brasil,
desse um salto quantitativo com relação à dis-


ponibilização de cursos em diferentes níveis
de graduação, atendendo a clientelas bastante
diversificadas” (BEZERRA, 2011, p. 237).
[...] o surgimento da educação a distância
Cabe lembrar, em relação a essa modalidade, veio junto com aparecimento dos meios de
que se tem o registro da “[...] primeira ex- comunicação, bem como a sua disseminação
periência nesse campo de ensino em 1883. Em marcam essa evolução histórica passan-
1840 tem-se notícias da EaD na Inglaterra; do por diversas etapas”, dentre elas, “pela
na Alemanha foi implementado em 1856 e, etapa da correspondência, da radiodifusão,
nos Estados Unidos, notou-se o ensino por entrando pela fase da televisão, chegando
correspondência em 1874. O início da EaD no à atuação conjunta de diversos meios de
Brasil data, provavelmente, de 1904” (ALVES, comunicação, incluindo os que se utilizam


2010, p.1). da internet (VILELA, 2018, p.2).

Em se tratando do histórico dessa modalidade


no Brasil, Kenski, (2010, p. 2) assinala que a

160

Nessa modalidade de educação, a comuni-
cação é um elemento fundamental e ela é
mediada por diversos tipos de mídias: do- [...] resistências e preconceitos e ainda es-
cumentos impressos, rádio, vídeo, TV, fax, o tamos aprendendo a gerenciar processos
computador e os aparelhos de celulares. A Lei complexos de EaD, mas um país do tamanho
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – do Brasil só pode conseguir superar sua de-
Lei nº 5.692/71 – traz o início da educação a fasagem educacional pelo uso intensivo de
distância como uma forma “experimental”, tecnologias em rede, pela flexibilização dos
sendo que o seu funcionamento acontecia tempos e espaços de aprendizagem e pela
de forma muito precária. Nota-se uma mo- gestão integrada de modelos presenciais


dificação dessa realidade com a implantação e digitais.
da Universidade Aberta do Brasil (UAB) que
viabilizou a expansão da EaD no Brasil, por
meio da criação de polos presenciais e da
oferta de cursos na modalidade a distância,
tanto de graduação como de pós-graduação. Vencer esse paradigma da educação a distân-
É importante lembrar que, no artigo 1.º do cia é um processo lento, mas cada vez mais
Decreto n.º 5.622, de 19 de dezembro de 2005, emergente, haja vista os bons resultados que
a educação a distância é compreendida já se apresentam nos cursos oferecidos por
tantas instituições. Com base nas avaliações


educacionais, é possível verificar a importância
da EaD e o nível de qualificação educacional
alcançado pelos envolvidos, o que mostra a
[...] como modalidade educacional na qual incoerência nas afirmações de que a educação
a mediação didático-pedagógica nos pro- a distância não possui a mesma qualidade de
cessos de ensino aprendizagem ocorre com uma educação presencial. Ao contrário, as exi-
a utilização de meios e tecnologias de in- gências de um curso a distância levam o aluno
formação e comunicação, com estudantes a buscar por conta própria o conhecimento, a
e professores desenvolvendo atividades informação, a pesquisa e, assim, mais resul-


educativas em lugares ou tempos diversos . tados e aprendizado.

Ter a oportunidade de realizar um curso supe-


rior, em horários flexíveis, proporciona condi-
ções mais favoráveis de prosseguir os estudos
Cabe sublinhar que a EaD nem sempre foi vista e trabalhar ao mesmo tempo. Essa revolução
com bons olhos, mas a evolução das platafor- ocasionada no meio educacional pelos avan-
mas usadas pelos cursos dessa modalidade de ços tecnológicos abrem novas possibilidades,
ensino, que vêm se tornando a cada dia mais flexibilidade, novos conhecimentos, busca por
eficientes, complexas e com grande diversi- aperfeiçoamento e inovação, tanto para alunos
ficação de conteúdos, possibilita que o públi- quanto para professores. Vivemos na “Era Tec-
co tenha uma visão mais positiva dos cursos nológica” e o investimento da tecnologia em
ofertados, o que torna mais forte a tendência educação vem ao encontro das necessidades das
da busca por novas possibilidades de ensino. novas gerações. A flexibilidade dos horários, a
Os benefícios dessa modalidade educacional não obrigatoriedade da frequência diária, a uti-
fazem com que ocorra um grande avanço na lização do computador como ferramenta, entre
procura e uso da EaD, até mesmo tendo em outros elementos, ampliam consideravelmente
vista o mercado de trabalho cada vez mais o leque de pessoas que podem incluir-se em um
disputado. Essa reflexão nos leva às palavras processo de formação institucional. A distância
de Moran (2011, 67) que afirma ainda haver física é encurtada pelas tecnologias digitais da
informação e comunicação (TDICs) que conec-
tam professores, alunos e tutores que estão em
distintos tempos e espaços.

161

Outro aspecto positivo é a ampliação do tempo
de estudo que está diretamente relacionada
à ‘quebra’ da temporalidade, uma vez que [...] o estudante é o centro do processo,
o aluno pode acessar o material em diver- consequentemente, há necessidade da
sos momentos, inclusive de madrugada e aos compreensão de novos papéis, funções e
domingos. As orientações e aulas estão no ar responsabilidades aos professores autores/
ininterruptamente e cabe ao aluno aproveitar o supervisores, aos tutores, bem como para
momento mais adequado para interagir com o os estudantes e todos os profissionais que
material. Assim, o processo de ensino e apren- atuam nessa modalidade. O ensino passa
dizagem transpõe “a distância temporal ou ser aberto, centrado no estudante, interativo


espacial” e lança mão de recursos tecnológicos e participativo (BELLONI , 2008).


[...] “unidirecionais” (uma-uma, um-
-em-muitos), como o livro, o telefone ou
Geralmente, na EaD, os materiais didáticos
são distribuídos por meio das tecnologias e
à tecnologia digital que é “multidirecional” são produzidos para o grande público, ga-
(todos-todos), etc, eliminando a distância nhando novas proporções no contexto de um
ou construindo interações diferentes da- aprendizado que traz mudanças tanto no pa-
quelas presenciais. Mas, muito mais do que pel do professor quanto no do próprio aluno,
recorrendo à mediação tecnológica, é a re- que passa a ter muito mais responsabilidades
lação humana, o encontro com o(s) outro(s) sobre a forma como irá desenvolver as ativi-
que possibilita ambiência de aprendizagem. dades e organizar seu tempo para estudos. No
Aprendizagem e educação são processos entendimento de Preti (1996, p. 27), a EaD se
“presenciais”, exigem o encontro, a troca, configura, por exemplo, como
a cooperação, que podem ocorrer mesmo


os sujeitos estando “a distância”. “Presen-
cialidade” pode significar, também, “estar
juntos virtualmente”. O espaço físico está
dando lugar ao ciberespaço ou à construção [...] uma alternativa pedagógica de gran-
de “redes de aprendizagem”, onde profes- de alcance e que deve utilizar e incorporar
sores e alunos aprendem juntos, interagem as novas tecnologias como meio para al-


e cooperam entre si (PRETI, 2002). cançar os objetivos das práticas educativas
implementadas, tendo sempre em vista as
concepções de homem e sociedade assu-
midas e considerando as necessidades das


populações a que se pretende servir [...].
O uso de ambientes virtuais determinou mu-
danças significativas nos processos de ensino
e aprendizagem, haja vista a necessidade de
um espaço que foge, sobremaneira, do con-
ceito de espaço físico/geográfico. Na EaD, a Notemos, portanto, que a EaD vem, a cada dia,
sala de aula virtual é o espaço de atuação da firmando-se por trazer em seu bojo o uso de
prática pedagógica do tutor a distância. Ela diferentes abordagens metodológicas como
não obedece à configuração do espaço físi- uma forma emergente de ensino. O uso apro-
co e geográfico de uma sala convencional; ao priado das tecnologias presentes no cotidiano
contrário, configura-se como uma sala de aula dos indivíduos faz com que a apropriação do
que pode estar em vários lugares e a qualquer saber se torne mais eficaz no âmbito da so-
tempo. Trata-se, pois, de um contexto de ciedade atual.
aprendizagem em que

162
2.1 O ambiente virtual de aprendizagem moodle e o aplicativo Whatsapp
na educação a distância


O processo de ensino e aprendizagem na mo-
dalidade EaD é viabilizado pelo uso dos mais
diversos tipos de tecnologia, as quais vão se [...] um sistema (ou software) que propor-
aprimorando com a crescente procura pe- ciona o desenvolvimento e distribuição de
los cursos on-line. Hodiernamente, além das conteúdos diversos para cursos on-line e
ferramentas essenciais para o desenvolvi- disciplinas semipresenciais para alunos em
mento das aulas on-line, como chats e fóruns geral. Um AVA é de fato um ambiente vir-
– encontrados, geralmente, na plataforma tual desenvolvido para ajudar professores
Moodle em que são customizados os ambientes e tutores no gerenciamento de conteúdos e
virtuais de aprendizagem Ambiente (AVA) –, materiais complementares para os seus alu-
observa-se a emergência de outros tipos de nos e na gestão completa de cursos online.
tecnologia que vêm facilitando o contato entre Com este ambiente, é possível acompanhar
professores, tutores e alunos, embora ainda todo o processo de aprendizagem por parte
não sejam reconhecidas oficialmente por boa do aluno, além de gerar relatórios sobre
parte das instituições de ensino a distância, performance e progresso do mesmo em
uma vez que entendem não haver um controle determinado curso online (EDOOLS, 2019,


sobre elas, tal como acontece quando se faz não paginado).
uso do Moodle, por exemplo.

É possível incluir, no rol dessas tecnologias


ainda não plenamente reconhecidas pelas
instituições, o WhatsApp, aplicativo cujo uso Esses AVAs, salas de aulas virtuais, hoje são a
nos dias atuais, graças ao desenvolvimento e principal ferramenta para que o aluno acesse
aprimoramento tecnológico, tornou-se uma on-line o seu curso, realize suas atividades
ferramenta indispensável para a comunicação. acadêmicas, troque informações e experiências
O usuário, estando conectado a uma rede de com professores e colegas, faça suas avalia-
internet, poderá fazer uso desse aplicativo ções e acompanhe o seu desenvolvimento no
para trocar mensagens instantaneamente, curso. Nesse ambiente, de acesso individual
como vem acontecendo nos cursos EaD, nos por meio de login e senha, o aluno encontra
quais alunos, tutores e professores trocam todo o material disponível para o seu apren-
mensagens por intermédio do Whatsapp seja dizado, além de outras ferramentas, tais como
para criar grupos de estudos, passar recados, as videoaulas, links para artigos, arquivos em
tirar dúvidas, fazer lembretes, seja para pro- PDF, áudios, chats, fóruns e biblioteca virtual.
gramar encontros e criar vínculos.
Nesse espaço, a comunicação pode ser síncrona
Nesse sentido, a comunicação que ocorre entre ou assíncrona, ou seja, em tempo real ou não.
tutores e alunos tem por objetivo auxiliar todo Além disso, disponibiliza “[...] aos educadores
indivíduo a converter as informações comuns ferramentas diversas para gerenciar e promo-
chegadas até eles em conhecimento relevante ver a aprendizagem [...]”, conforme pontua
sob o aspecto pessoal (MOORE; KEARSLEY, Bertini (2015, p. 140). Essas ferramentas são
2007, p.16). Essa observação a respeito da co- usadas com diferentes finalidades. Na ‘tarefa’,
municação e informação é válida, também, por exemplo, o professor/tutor pode, além de
para os novos meios de interação que acon- delimitar prazos e registrar orientações gerais,
tecem via Whatsapp e, principalmente, nos configurar que o estudante entregue as ativida-
ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), des em arquivos de qualquer formato. Por meio
os quais são definidos como da ferramenta ‘wiki’, pode viabilizar a constru-
ção textos coletivos. Nos fóruns de discussões,
tem a possibilidade de promover “diálogos de

163
grupo sobre um determinado tema” (BERTINI, meio das tecnologias digitais e redes de co-
2015, p. 140); os ‘chats’ também podem ser or- municação, Moran (2013, p. 31) contemporiza
ganizados para o grupo discutir um assunto em que as “[...] tecnologias estão cada vez mais
tempo real, além de inúmeros outros recursos próximas do professor e do aluno, em qual-
que podem ser utilizados nessas plataformas quer momento; são mais ricas, complexas,
de aprendizagem. atraentes. Exigem um profissional mais inte-
ressante que elas, mais competentes que elas”.
No ambiente virtual de aprendizagem (AVA), Então, é necessário que o professor aprenda
há recursos que permitem ao professor ou a utilizar a tecnologia a seu favor, inovando o
tutor monitoramento do acesso dos alunos às processo de ensino e aprendizagem, de modo
atividades propostas pelo curso e a realização a utilizar tudo o que a internet dispõe. Acer-
das avaliações, sem a necessidade de possuir ca disso, Almeida (2001, p. 20) ressalta que,
a avaliação de forma física, em mãos. Para no contexto educacional, a incorporação das
esse tipo de processo, a plataforma Moodle TDICs complexifica a modalidade a distância,
dispõe de uma gama de recursos que viabiliza umas vez que subjazem a essas tecnologias as
gerenciar o aprendizado on-line, facilitando seguintes características:
a forma de aprender e ensinar. Sem dúvida, o


Moodle se configura como uma ferramenta
indispensável para o desenvolvimento das
atividades EaD.
[...] propiciar a interação das pessoas entre
Importa registrar que, atualmente, “[...] si, das pessoas com as informações dispo-
o Moodle está disponível em 34 idiomas. A nibilizadas e com as tecnologias em uso;
plataforma é utilizada por mais de 4 milhões ampliar o acesso a informações atualizadas;
de professores e alunos em 155 países, com empregar mecanismos de busca e seleção de
mais de 25 mil instalações e como suporte informações; permitir o registro de proces-
para 360 mil cursos”, conforme informação sos e produtos, a recuperação, articulação
disponível no EaDBox (2017). Esses dados nos e reformulação da informação; favorecer
mostram, com efeito, o quanto é crescente o a mediação pedagógica em processos sin-
uso de plataformas para o estudo que se efetiva crônicos ou assíncronos; criar espaço para a
por meio dos cursos EaD. Sem dúvida, uma representação do pensamento e a produção
próspera forma de estudar, de acompanhar de conhecimento. Dentre essas caracterís-
a evolução da sociedade, principalmente na ticas, merece o destaque o registro, devido
área educacional. No caso do Moodle, existe a à possibilidade de recuperação instantânea
possibilidade de customizar a plataforma a fim e contínua revisão e reformulação.


de torná-la adequada às necessidades de cada
instituição que fará uso desse ambiente virtual.

Cabe lembrar que o Moodle é um projeto que


continua em andamento e conta com o “com- As possibilidades de aprendizagem por meio
prometimento de continuidade” por parte do uso das tecnologias digitais potencializam
de seu criador, Martin Dougiamas, que pre- a mediação de ensino e aprendizagem, pro-
tende mantê-lo “Aberto e Gratuito”. Afirma, piciando a interação entre a tecnologia, pro-
ainda, que tem “[...] a profunda convicção da fessores e alunos. Como destaca Alves (2016,
importância de acesso irrestrito à educação e p. 2), a “[...] internet foi lançada no Brasil no
de ensino enriquecido (empowered teaching); ano de 1995 e com ela veio a facilidade de en-
e o Moodle é a principal forma que eu posso contrar informações sobre infinitos assuntos
contribuir para a realização desses ideais” e também, facilitou e inovou a comunicação
(MOODLE, 2006, não paginado). entre pessoas de todo o mundo”.

Haja vista o processo de ensino e aprendizagem Além disso, o computador com seus inúmeros
dessa modalidade educacional acontecer por recursos, os programas e, até mesmo, os apa-

164
relhos de celulares e smartphones modernos se não só na modalidade a distância mas tam-
configuram como possibilidades interessantes bém presencialmente, em razão da integração
e devem ser utilizados como ferramentas na promovida pelos grupos que são criados nesse
educação presencial e a distância. Behar (2013, aplicativo. Percebemos que, nesse modelo de
p. 56) afirma, por exemplo, que “[...] o uso de aprendizagem, ao contrário do que se pensa,
tecnologias digitais é primordial e para isso, o não ocorre o isolamento dos estudantes, mas,
sujeito EaD (professor, tutor, aluno e gestor) sim, viabiliza uma nova forma de desenvolver
deve possuir competências relacionadas ao habilidades que lhes possibilitam interagir
domínio tecnológico”. com os demais indivíduos envolvidos.

Notemos que, atualmente, os aparelhos de Convém sublinhar, ainda, que a tecnologia


celulares ou smartphones fazem parte da rotina móvel torna o aprendizado mais dinâmico,
da maioria das pessoas, independente de lugar atraente e prazeroso, pois as possibilidades não
ou da área de atuação em que se encontram, ficam limitadas apenas aos ambientes virtuais
pois eles são utilizados para todo tipo de co- de aprendizagem e à sala de aula presencial. A
municação. Além disso, são objetos pequenos, respeito do uso de dispositivos móveis, Costa
versáteis, potentes e com inúmeros recursos (2007, p. 99) contemporiza que “[...] o educador
que facilitam a trocas de informações. Ade- deve aproveitar as potencialidades do celular,
mais, como nos lembra Moran (2013, p. 49), como recurso pedagógico, tendo em vista que
existem “[...] inúmeros aplicativos, progra- é uma realidade presente na vida de todos os
mas e recursos que podem ser utilizados de educandos”. Assim, a melhor maneira de fazer
forma criativa e inovadora”. Assim, o “[...] o processo educacional ser inserido na vida dos
papel do educador é fundamental e agrega envolvidos e ter maiores resultados é aliar todos
valor ao que o aluno sozinho consegue fazer os aparatos da tecnologia digital aos estudos.
com a tecnologia; e o aluno aprende mais se,
na interlocução com o educador e seus cole- Em se tratando do aplicativo WhatsApp, é
gas, consegue avançar muito mais do que se importante registrar que “[...] presente na
aprendesse sozinho” (MORAN, 2013, p. 49). maioria dos aparelhos de smartphones dos bra-
sileiros, passou a ser presença constante no
As ferramentas tecnológicas como parte inte- dia a dia de milhões de pessoas, e isso mudou
grante do aprendizado, especialmente na EaD, muito a comunicação” (R7, 2014). Se antes a
fazem parte da vida dos estudantes e possi- maneira mais comum de comunicação era por
bilitam novas maneiras e caminhos para um meio do Short Message Service ¹ (SMS), hoje
aprendizado mais sistêmico. Hoje, o aplicativo em dia são raras as pessoas que optam por
Whatsapp é um dos mais populares pela sua esse método para conversar. Muitos contatos
facilidade de interagir. Além do AVA, principal telefônicos e correspondências por e-mails
instrumento de acesso à educação a distância, o também foram substituídos pela praticida-
referido aplicativo possibilita a criação de gru- de e rapidez de comunicação proporcionado
pos de estudos, o que contribui para a ampliação pelo referido aplicativo. Vale mencionar que
da capacidade de argumentação, discussão, as Diretrizes de políticas da UNESCO para a
debate e participação ativa, pois viabiliza ao aprendizagem móvel (UNESCO, 2013, p.26)
estudante defender seu ponto de vista, tal como apontam que, geralmente, “[...] as mensagens
ocorre em uma sala de aula presencial. enviadas por aparelhos móveis são mais rápi-
das, confiáveis, eficientes e baratas do que por
A interação por meio do WhatsApp aproxima canais alternativos de comunicação. Por isso,
os envolvidos (alunos, tutores e professores) e estudantes e educadores as utilizam cada vez
engendra a participação mais atuante de todos mais para facilitar a troca de informações”.

1 Em português, “Serviço de mensagens curtas” (tradução nossa).

165
Criado em 2009, nos Estados Unidos, por Brian Importa, ainda, sublinhar que as Diretrizes
Acton e Jan Koum, o WhatsApp é um aplicativo de políticas da UNESCO para a aprendizagem
multiplataformas gratuito que oferece aos móvel (2013, p. 9) apontam a existência de “[...]
usuários serviços de mensagens de texto e mais de 3,2 bilhões de assinantes de telefonia
áudio criptografadas, chamadas de voz e vídeo, celular em todo o mundo, tornando o telefone
envio e recebimento de diversos tipos de arqui- celular a TIC interativa mais amplamente usada
vos, além do compartilhamento de localização no planeta”. Ainda de acordo com essas dire-
entre os usuários. Em se tratando do uso de trizes, o uso dos aparelhos móveis pode “[...]
aplicativos, Moran (2013, p. 48) acrescenta dar um significado literal ao ditado ‘o mundo
que os “[...] celulares mais avançados, como é uma sala de aula’” (UNESCO, 2013, p. 20) .
smartphones, permitem que um aluno ou um
professor filmem ao vivo, editem cada vídeo Dado o exposto, é possível afirmar que o tra-
rapidamente e o enviem ao YouTube ou a outro balho de todos os envolvidos no processo de
site, imediatamente”. Torna-se uma atividade ensino e aprendizagem – quer sejam da área
muito instigante porque é “[...] muito fácil, pedagógica (professor, diretor, coordenador,
rápido e divertido ser produtor e transmissor tutor), quer sejam os estudantes e os profis-
de vídeo digital com tecnologias móveis hoje” sionais envolvidos na produção de materiais e
(MORAN, 2013, p. 48). Entendemos, pois, que recursos didáticos –, principalmente na edu-
os profissionais da área da educação precisam cação a distância, demanda grande necessida-
reconhecer e utilizar todas essas facilidades de de organização, eficiência e comunicação
tecnológicas que estão disponíveis para bus- instantânea, pois algumas situações necessi-
car a modernização no sistema educacional tam de resolução imediata, como no caso das
e, consequentemente, a melhora nos índices provas on-line na modalidade a distância ou
educacionais do país. diante de algum imprevisto vivenciado. Assim,
por meio das tecnologias digitais, é possível
o contato imediato e a resolução da questão
para prosseguimento das atividades.

3 METODOLOGIA 4 RESULTADOS
Para realizar levantamento bibliográfico a A educação a distância é uma modalidade edu-
respeito do assunto tratado neste artigo, foi cacional que se consolidou no Brasil e está
realizado um estudo bibliográfico de produções ganhando muito espaço por apresentar uma
que abordam as tecnologias usadas na educação série de vantagens. Além de reduzir os custos
a distância. É importante pontuar que, em con- de financiamento para o governo, a disponi-
sonância com as reflexões de Minayo (2007, bilidade de tempo para o estudo viabiliza ao
p.44), entendemos a relevância de se delinear estudante trabalhar e conciliar sua vida par-
a metodologia, a qual é entendida como “[...] ticular, especialmente em relação a questões
uma discussão epistemológica sobre o caminho de família, e outras atividades aos estudos.
do pensamento que o tema ou o objeto requer”. Além disso, as avaliações educacionais mos-
Dessa forma, a metodologia não é apenas uma tram a qualidade do ensino e a melhora dos
forma de descrever uma técnica, mas também o níveis educacionais do país, pois a modalidade
modo de se definir o caminho a ser trilhado para a distância possibilitou a formação e a qualifi-
o alcance dos objetivos de pesquisa. Convém, cação dos educadores nos mais diversos locais,
ainda, sublinhar que, no entendimento de Gil principalmente em regiões interioranas.
(1999), a pesquisa bibliográfica acontece por
meio da utilização de materiais que já foram É possível afirmar, também, que a sala de aula,
elaborados, como livros e artigos científicos, nessa modalidade educacional, é ambiente
jornais, revistas e outras fontes, que tenham virtual de aprendizagem (AVA), que dispõe
relação com o tema estudado. de recursos tecnológicos criados para viabi-

166
lizar o processo de ensino e aprendizagem. nos auxílios com documentações de matrículas
Assim, por meio do uso de diversas ferra- e uso de senhas, orientações de acesso ao AVA
mentas, o docente/tutor pode criar situações e trocas de informações entre os acadêmicos,
de pesquisa e troca de informações entre os especialmente nos grupos de WhatsApp das
envolvidos, resultando em aprendizagem para turmas ou mesmo grupos criados para estudos
todos. Além disso, o uso do smartphone e do e atividades das disciplinas dos cursos.
aplicativo WhatsApp pode ser adotado, fa-
voravelmente, para agilizar a comunicação Enfim, o uso do aplicativo pode estar pre-
e auxiliar na realização de inúmeras tarefas, sente em todo trabalho de gestão e tutoria
desde o contato entre diretores, coordenado- dos cursos. É importante, contudo, ressaltar
res, professores/tutores e alunos; enfim, com que o uso do aplicativo não deve substituir as
todos os envolvidos no processo educacional. correspondências oficiais necessárias à gestão
Também pode ser utilizado no processo de do polo e tutorias, tampouco a navegação e a
divulgação de inscrições para editais de cursos, comunicação nas plataformas de ensino.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A pesquisa oportunizou o mapeamento de es-
tudos que ressaltam a importância do avanço
tecnológico no país, o qual viabiliza e facili- [...] ela não foi produzida para resolver
ta a emergência de propostas educacionais problemas da educação, são ferramentas
exitosas assentadas no uso das tecnologias desenvolvidas para tratar a informação de
digitais de informação e comunicação na edu- forma diversificada. A internet na escola deve
cação a distância (TDICs). Numa análise geral, ser usada de maneira consciente, sem levar o
podemos afirmar que o aplicativo WhatsApp aluno a uma alienação e a educação tem que
alcança a todo público da EaD e contribui mui- continuar produzindo conhecimento peda-
to para ampliar a comunicação e melhorar o gógico adequado que solucione seus próprios


desempenho dos acadêmicos nos cursos, pois problemas (FERREIRA, 2008, p.. 43).
a inclusão de tecnologias móveis em sala de
aula desencadeia mudanças importantes e
positivas no âmbito da educação. Entende-
mos, por isso, que é necessário disseminar
estudos que ressaltem a importância de incluir, Podemos dizer, dado o exposto, que a apro-
cada vez mais e com mais propriedade, o uso priação dos meios tecnológicos pela educa-
de ferramentas tecnológicas de informação e ção, especificamente da EaD, que é tema de
de comunicação no trabalho administrativo pesquisa deste artigo, vem de forma posi-
e pedagógico da educação e, sobretudo, na tiva para contribuir com o aprendizado dos
modalidade a distância. alunos, facilitando o acesso à informação,
além de oportunizar ao aluno a autonomia e
Diante das transformações no meio educacio- a organização de seu próprio tempo e espaço
nal com o uso cada vez mais disseminado das para estudo.
tecnologias, é importante e necessário que a
busca pelo conhecimento mediada pelos meios Reiteramos, por fim, que o uso de dispositivos
tecnológicos se torne um instrumento que móveis e dos respectivos aplicativos entre os
viabilize essa apropriação de forma gradual. acadêmicos, professores/tutores e coorde-
Importa, por conseguinte, repensar o papel nação configura-se como uma importante
da tecnologia, uma vez que ferramenta na modalidade a distância, uma
vez que possibilita a emergência de ações mais
eficientes e exitosas no processo de ensino e
aprendizagem. Cabe, todavia, aos envolvidos

167
nesse processo lançar um novo olhar diante
das crescentes modificações nas práticas e
nos métodos utilizados como protagonistas na
EaD. O olhar deve estar atento, voltado para
a possibilidade do uso dos novos aplicativos
disponíveis, os quais fazem parte do dia a
dia dos usuários de internet. Esses aplicativos
rompem as dificuldades, os preconceitos e
as adversidades criadas no sistema educa-
cional, não somente na EaD mas também na
modalidade presencial. É, com efeito, salutar
que os docente passem a enxergar as novas
tecnologias como um potencial na construção
dos saberes.

168
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Imagem de Capa – Disponível em Freepik: https://br.freepik.com/fotos-gratis/clo-


se-up-mulher-lendo-sobre-educacao-on-line_6355602.htm#page=1&query=on-
line%20education&position=40
DESEMPENHO NA GESTÃO
DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
em uma Instituição Federal de Ensino Superior

Daniela Vecchia Costa Danilo de Melo Costa


Centro Universitário Leonardo da Vinci Centro Universitário Una
(UNIASSELVI) [email protected]
[email protected]
Leandro dos Santos Ferreira
Iris Barbosa Goulart Centro Universitário Una
Centro Universitário Una [email protected]
[email protected]

RESUMO
A educação a distância tem sido apontada como de entrevistas semiestruturadas, aplicadas aos
uma forma de suprir a demanda educacional do gestores da instituição. As entrevistas foram
Brasil, por meio da democratização do acesso ao gravadas, transcritas e submetidas à análise
ensino superior. A qualidade dessa modalidade de conteúdo. Os resultados apontaram que os
de ensino, no entanto, é questionada. Dessa processos são mais centrados nas mãos do co-
forma, a finalidade deste artigo é analisar, em ordenador. No tocante aos processos, foi apu-
uma instituição federal de ensino superior, o rado que as técnicas de EaD são reconhecidas
desempenho na gestão e como são administra- pela instituição que promove o envolvimento e
dos seus processos. Trata-se de uma pesquisa a qualificação dos professores e tutores.
qualitativa, de caráter descritivo, valendo-se
do estudo de caso como procedimento, o qual Palavras-chave: Educação a distância. De-
viabilizou a análise dos processos de ensino sempenho. Gestão. Ensino Superior. Uni-
adotados por uma instituição de ensino pú- versidade Federal.
blica. A parte empírica consistiu na realização

172
1 INTRODUÇÃO
A educação a distância é apontada como uma do Brasil nasce com o intuito de expandir e
modalidade de educação mais acertada para interiorizar a oferta de cursos e programas
atender às demandas educacionais decorren- de educação superior no Brasil, sobretudo nas
tes das mudanças na nova ordem econômica regiões necessitadas (PACHECO, 2010).
mundial (ARETIO, 2002; BELLONI, 2003). Com
a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Havia uma grande expectativa no que tange
Educação Nacional (LDB) – Lei n.º 9.394, de 20 à EaD, especialmente no ensino superior, e o
de dezembro de 1996 –, a educação a distância Ministério da Educação (MEC) chegou a es-
(EaD) é caracterizada como uma forma de ex- tabelecer uma Secretaria de Educação a Dis-
tensão de atividades em todas as instituições tância (SEED) que seria designada a gerenciar
de ensino (BRASIL, 1996). Dessa forma, foi as questões de âmbito nacional para a inclu-
possível a expansão na oferta de cursos em são da inovação tecnológica nos processos de
diversas modalidades, reunindo diferentes ensino e aprendizagem. Essa seria uma ma-
conteúdos, além de métodos de avaliação e neira de democratizar e aumentar o padrão
práticas pedagógicas (COELHO, 2009). A partir de qualidade da educação do país e as ações
desse momento, surgiu essa modalidade na promoveriam o desenvolvimento e a inclusão
esfera pública e privada. das tecnologias da informação e comunicação
(TICs), das técnicas de educação a distância aos
A modalidade a distância, sob o ponto de vista procedimentos didático-pedagógicos conven-
público federal, está amparada desde 2005 cionais. A SEED também se destina a estimu-
pelo Sistema da Universidade Aberta do Brasil lar a pesquisa e o desenvolvimento, ligados
(SisUAB). Tal política converge no empenho à composição de novos conceitos e práticas
das instituições participantes do Fórum das nas instituições públicas brasileiras, nome-
Estatais pela Educação para criar bases para ando diversos projetos e programas. Tendo
o primeiro sistema de ensino superior aberto, em vista os problemas financeiros na área da
que foi criado como universidade aberta do educação, em 2016 a função da SEED foi, no
país, a qual teve sua concretização por meio entanto, reunida à Secretaria de Regulação e
de amplos e democráticos debates, cuja in- Supervisão da Educação Superior (SERES),
terlocução foi mediada pelo Governo Federal, conforme o disposto no Decreto n.º 7.480, de
estatais, Associação Nacional dos Dirigentes 16 de maio de 2011. Assim, a SERES passou a
das Instituições Federais de Ensino Superior assumir a regulação e suspensão das ações
(Andifes) e empresas públicas (PACHECO, de educação a distância no ensino superior.
2010; MOTA, 2009). A Universidade Aberta

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Educação a distância:


Conceito e importância
Esta seção trata as temáticas que servirão de
base à análise dos resultados da pesquisa que
fundamenta este artigo: a primeira aborda a O Decreto n.º 5.622, de 19 de dezembro de
educação a distância, seus conceitos e im- 2005 (que revoga o Decreto n.º 2.494/98),
portância. Em outro momento, discute-se a que regulamenta o Art. 80 da Lei n.º 9.394/96
gestão dos programas da educação a distância. – Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
–, delimita a Educação a Distância como a
modalidade educacional na qual a mediação
didático-pedagógica nos métodos de ensino
e aprendizagem acontece com o uso de meios
e tecnologias de informação e comunicação,
com estudantes e professores, de modo a ex-

173
pandir atividades educativas em vários lugares a necessidade de se garantir melhor acessi-
ou tempos. bilidade a computadores e à internet. Dessa
forma, sublinham a relevância de se adotar
Há outros autores que caracterizam a EaD a modalidade EaD como uma ferramenta de
como “[....] uma modalidade educacional que formação de indivíduos capazes de desenvol-
faz uso de processos que vão além da supera- verem suas habilidades e capacidades.
ção da distância física” (FRANCO, CORDEIRO;
CASTILHO, 2003, p. 343). Sarmet e Abrahão Assim, a EaD é vista como uma probabilidade
(2008) assinalam que a metodologia de EaD de promover o aprendizado que pode ajudar
possui perspectiva positiva quanto aos obs- no dia a dia de várias pessoas que, em outras
táculos atribuídos pela distância física exis- situações, não teriam acesso ao conhecimento,
tente entre professores e alunos no método além de requerer o acesso delas a informações
tradicional, onde a sala de aula é qualificada que, até então, não eram alcançadas.
como um lugar de encontros que acontecem
no horário delimitado. Os cursos oferecidos a distância são reservados
à formação e ao aperfeiçoamento dos profis-
Ao abordar a finalidade da Educação a Distância sionais que residem distantes de centros de
(EaD), Chermann e Bonini (2000) analisam educação, o que percebe a democratização da
que se trata de uma modalidade de ensino educação. Podem, ainda, construir conheci-
destinada à propagação e à democratização mentos, desenvolver habilidades, competências
da educação. Destacam, ainda, que a e discutir modelos éticos que podem favore-
cer os alunos. Isso representa que, se o curso


a distância for cumprido de forma apropriada,
os alunos terão a competência de serem autô-
nomos e, também, profissionais qualificados.
[...] autoaprendizagem possibilita a media-
ção de recursos didáticos sistematicamente A modalidade a distância deve ser compreen-
organizados e apresentados em diferentes dida sob uma perspectiva mais ampla, o que
suportes de informação, utilizados isola- implica considerar a integração das tecno-
damente ou combinados e veiculados pelos logias digitais da informação e comunicação
diversos meios de comunicação existentes (TDICs) aos métodos educacionais, de modo


(CHERMANN; BONINI, 2000, p.17). a viabilizar um total acesso a uma formação
emancipatória. Dessa forma, a EaD é uma
modalidade de ensino que proporciona uma
formação profissional de qualidade, tendo
a pesquisa como um fundamento para uma
Não é papel da EaD suprir a educação presen- educação que tende a aprender a aprender.
cial, mas, sim, complementá-la na individuali- Entende-se, contudo, que os meios técnicos
zação dos conhecimentos, de acordo com cada deverão ser empregados de maneira crítica,
perfil, preferência e habilidades cognitivas dos competente e criativa.
alunos. É função dessa modalidade educacional
aceitar que os indivíduos excluídos do modelo A utilização das TDICs na educação pode ser
tradicional sejam inseridos no processo de seu avaliada de duas maneiras: uma como fer-
crescimento e tenham seus direitos à educação ramenta pedagógica que fornece, de forma
e à informação certificados. eficaz e criativa, o acesso a uma leitura críti-
ca, importante para o estudo e a reflexão no
Ghedine, Testa e Freitas (2006) destacam a processo de aprendizagem; outra, como meio
importância do aumento na oferta de cursos técnico que se configura como um instrumento
EaD tendo em vista a demanda da realidade da didático-pedagógico a serviço do professor e
população, como o custo da educação presen- do aluno inseridos nesse processo. Por essa
cial e também as dificuldades pessoais: a falta razão, é importante a incorporação das TDICs
de tempo, as dificuldades de deslocamento e no processo de educação. Nascimento e Trom-

174
pieri Filho (2002, p.87), acerca dessa questão, meiramente norteada pela percepção do pro-
ressaltam que fessor como designer do espaço educacional.
Dessa forma, não significa uma delimitação de


igualdade, pois não há método para instigar
uma aliança, senão a força da diversidade que
estimula a harmonia com a visão da intenção.
[...] a educação é o elemento-chave na
construção de uma sociedade fundamen- Enfim, na modalidade a distância, o docente
tada na informação, no conhecimento e no tutor desempenha um importante papel no
aprendizado. É uma estratégia da sociedade processo de ensino e aprendizagem. Ine-
para facilitar que cada indivíduo alcance rentes à função que desempenha, estão as
o seu potencial e para estimular cada in- seguintes atribuições:
divíduo a colaborar com outros em ações

” “
comuns na busca de bem comum.

[...] comentar os trabalhos realizados pelos


alunos, corrigir as avaliações dos estudan-
Esse conceito confirma que a educação deve tes; ajudá-los a compreender os materiais
apresentar informações que buscam bens- do curso através das discussões e explica-
-comuns, a melhoria de uma coletividade e ções; responder às questões sobre a insti-
também o crescimento do ser humano por tuição; ajudar os alunos a planejarem seus
meio da construção de novos saberes. Logo, trabalhos; organizar círculos de estudo; for-
como a tecnologia está sendo solicitada como necer informações por telefone, fac-símile
uma força que estimula o desenvolvimento, a e e-mail; supervisionar trabalhos práticos
instituição vê-se incentivada a adotar tais es- e projetos; atualizar informações sobre o
tratégias pela influência da própria sociedade. progresso dos estudantes; fornecer feedback
aos coordenadores sobre os materiais dos
Vale lembrar que a tecnologia pode se configu- cursos e as dificuldades dos estudantes; e
rar como uma forma de impedir a participação servir de intermediário entre a instituição


dos sujeitos em processos de EaD, quer seja e os alunos (NISKIER, 1999, p.393).
pela não familiaridade dos estudantes com
as lides tecnológicas, quer seja por problemas
técnicos. Não é difícil, por exemplo, surgir a
delimitação de acesso pela pouca capilaridade
da rede, pelo baixo desempenho da transmis-
são de dados das linhas atendem as distintas
regiões e também pelo alto custo que significa
ter o acesso a equipamentos (SARAIVA, 2006).

Os recursos da tecnologia não são suficientes


para acolher as distintas características dos
estudantes. Em vista disso, o papel dos tutores
e monitores é salutar na mediação do processo
de aprendizagem, uma vez que auxiliam os
estudantes a interagir com os mecanismos
de escuta e captura, sempre considerando as
necessidades de cada indivíduo. Para Saraiva
(2006), as pessoas do espaço tecnológico estão
motivadas pela qualidade e pelos espaços de
liberdade que o grupo é capaz de construir,
uma vez que a instituição desse lugar é pri-

175
2.2 A gestão dos programas de
educação a distancia (EaD)

A economia mundial, segundo Amaral e Rosini para alcançar excelência no desempenho. Para
(2008), vive um processo de energização da isso, deve ser construída de forma específica
competitividade e da disposição de originar e sustentável nos processos de gestão de EaD.
uma inovação tecnológica e, nesse momento, Amaral e Rosini (2008) esclarecem que, na
o processo de aprendizagem, que está sempre fase do planejamento, é preciso considerar a
conectado ao desenvolvimento humano, ganha descrição dos objetivos de aprendizagem que
um grande valor. Considerada uma inovação na admitam o desenvolvimento de um plano de
educação, a modalidade a distância torna-se avaliação capaz de sugerir como o curso deverá
uma opção importante, uma vez que oferece o ser considerado e como o aprendizado será
acesso ao conhecimento sem limites de tempo medido. Assim, após a definição dos objeti-
e espaço. Vale lembrar que um dos princípios da vos, o planejamento se volta para a definição
educação a distância é apresentar um modelo das estratégias de ensino, que contempla a
de gestão que possibilite levar conhecimentos forma como a informação é passada aos alu-
a um grande número de pessoas em diversos nos e como o plano de avaliação é construído.
lugares do país. Para Rosini (2007), a metodologia empregada
no esforço de planejamento será tanto mais
A gestão, de acordo com Bof (2005), torna-se eficiente quanto melhor introduzir a visão
importante nos programas educacionais para de futuro e a percepção do meio ambiente da
que os resultados sejam alcançados. Para as- instituição responsável pelo plano de EaD.
segurar que esse sistema funcionará de forma
eficiente, é necessária a clara definição dos A educação a distância exige condições dife-
objetivos das atividades a serem construídas, rentes da escolarização que se vale de opções
a estrutura de apoio à aprendizagem e os pro- presenciais. Os estudantes na modalidade a
cessos educacionais em sua totalidade. Ainda distância não interagem de forma presencial
no entendimento do autor, é importante que com os colegas nem com os professores, uma
a gestão assegure um bom funcionamento do vez que trabalham com materiais disponíveis
sistema, tendo como decorrência sua quali- em diferentes suportes, em locais e tempos
dade, eficácia e eficiência. apropriados para os estudos. Nesse sentido,
observa-se que os cursos de EaD possibilitam
A gestão pedagógica, como pontua Bof (2005), a obediência a diversos ritmos de estudos,
delimita estratégias para que as atividades e de acordo com a necessidade de cada um,
etapas do curso sejam cumpridas de forma permitindo novos hábitos, novas atitudes
eficiente, de modo a contribuir para a apren- frente a aprendizagem, o que permite aos
dizagem do estudante e para avaliação do tra- estudantes trabalharem de diferentes formas
balho dos tutores. Outro tipo de gestão citada com suas dificuldades.
pelo autor a “gestão de sistema”, por meio da
qual se estabelece o gerenciamento de pessoal, Outra perspectiva de gestão de um processo
dos treinamentos, da avaliação, da produção de EaD é em relação à gestão de pessoas. Gatti
e da distribuição de materiais, da tecnolo- (2005) relata que, durante a década de 1990, os
gia empregada, dos recursos financeiros, dos pesquisadores apontaram que a qualificação
métodos acadêmicos imprescindíveis para o dos professores em serviço ou pré-serviço
acompanhamento dos processos essenciais ao eram indispensáveis para suprir as exigências
e eficiente funcionamento do sistema. profissionais e sociais em seu grau de atuação.
Assim, haja vista a diferença entre o ensino
Como em qualquer outro programa de gestão, presencial e o ensino a distância, os profis-
um projeto de gestão de EaD inicia-se pelo sionais que lidam com o processo de ensino e
planejamento, que é compreendido como uma aprendizagem devem trabalhar com as dife-
seleção de estratégias que são estabelecidas rentes linguagens que são adotadas, além de

176
serem capazes de manusear equipamentos de zagem, o desenvolvimento mais integral do
multimídia e de desenvolver diferentes cami- estudante e o aprimoramento de suas habi-
nhos de comunicação, criando uma interação lidades de leitura e outros comportamentos
que mantém uma interatividade entre alunos de iniciativa.
e tutores em diferentes formatos e condições
(GATTI, 2005). Vale mencionar que as importantes quali-
dades dos programas de educação a distân-
A autora ainda ressalta que a motivação será cia são a constante, atenciosa e cuidadosa
elevada, desde que os alunos estejam atraídos interatividade, propiciada pelas diferentes
com seu próprio processo de aprendizagem. Se ocasiões presenciais, pela internet, video-
os alunos não tiverem sido informados sobre conferências, pelas trocas, relatos, vivências.
todo o processo, alguns deles terão dificulda- Ademais, os processos educacionais são meios
des em entender os conteúdos e isso acarre- de socialização, de interatividade, de parti-
tará a saída do programa. Se o aluno não tiver cipação igualitária. Dessa forma, o programa
uma visão dos processos que fazem parte do de educação a distância deverá ser abordado
programa de EaD ao qual se submete, ele não em uma perspectiva democrática, permitindo
sentirá que está investindo em seu crescimento que os profissionais envolvidos ajam de forma
nem fazendo parte de um processo educacional qualitativa na transformação dos processos
(GATTI, 2005). civilizatórios (GATTI, 2005). Note-se, ainda,
que a instituição educacional contemporânea,
Tendo como base essas observações, é possível no entendimento de Neves (1998), deve ser um
perceber a importância de se fazer uma seleção ambiente destinado a aprender a aprender,
adequada dos professores responsáveis pela por isso deve criar condições que beneficiem
oferta dos cursos de EaD. Além da formação o conhecimento multidimensional, o traba-
didática e do domínio do conteúdo a ser ensi- lho interativo e cooperativo, criativo, crítico,
nado, eles deverão ter a sensibilidade de per- além de provocar o aprimoramento contínuo
ceber as melhores formas de comunicação e de e envolvido em um espaço social e físico no
identificar as dificuldades que possam resultar qual os estudantes estejam inseridos.
na desistência dos alunos. É imprescindível,
portanto, que o processo educativo do ensino Conforme o estabelecido por lei, os cursos,
a distância seja uma formação de profissio- programas, conteúdos e disciplinas oferta-
nais que tenham uma postura de aquisição de dos a distância devem seguir as normas de
conhecimentos e que reflitam sempre acerca acompanhamento, avaliação linguagem, ad-
das práticas pedagógicas e sociais, estabele- ministração, recursos técnicos, tecnológicos e
cendo uma interação com as pessoas em seus pedagógicos, desenho de sua respectiva ordem,
diferentes contextos. Necessário se faz, ainda, ou seja, são diferentes da educação presencial.
que haja uma articulação adequada das dife- A educação a distância, no entanto, não possui
rentes áreas do conhecimento que viabilize o um modelo único de desenhos, linguagens e
processo de ensino e aprendizagem assentado recursos educacionais e tecnológicos. O tipo de
na interdisciplinaridade (GATTI, 2005). curso e as diversas vivências dos alunos irão
determinar as diversas estratégias de ensino e
Outra expectativa de gestão diz respeito ao aprendizagem dos estudantes na modalidade
material didático e de apoio, uma vez que a sua a distância.
confecção impacta, diretamente, na apren-
dizagem e na motivação dos alunos. Dessa Os profissionais dos cursos a distância são, no
forma, é preciso ter cautela com os conteúdos, entendimento de Authier (1998), produtores
com a didática, com a organização visual, com quando elaboram suas propostas de cursos; são
a linguagem e com os métodos interativos. conselheiros, quando acompanham os alunos;
O conteúdo estabelecido de maneira didáti- são parceiros, quando constroem, em parceria
co-pedagógica, criteriosamente planejada, com os especialistas em tecnologia, aborda-
possibilitará um envolvimento mais expressivo gens inovadoras de aprendizagem. Justamente
dos alunos, haja vistas estimular a aprendi- por isso, em projetos a distância, o nível de

177
cobrança nos recursos humanos é elevado, facilitada pela tecnologia da informação e da
uma vez que é preciso ter professores espe- comunicação. Para assegurar a interação entre
cialistas nas disciplinas, contar com tutores, eles, deverá haver um ambiente físico dispo-
especialistas em comunicação e informática nível, horários flexíveis para o atendimento,
e avaliadores. No contexto do programa, de- facilidade de comunicação por meio do tele-
terminam-se os objetivos, os conteúdos, a fone, fax ou e-mail, além da teleconferência e
elaboração dos materiais, a seleção das mí- de outros recursos tecnológicos. Os encontros
dias, a bibliográfica básica e complementar, presenciais também devem acontecer com
aspectos que serão determinados a priori pelos periodicidade e obrigatoriedade pela natureza
profissionais competentes que garantirão os do curso oferecido.
resultados educacionais do programa. A res-
ponsabilidade de todo esse processo é compar- Enfim, é preciso estabelecer um contínuo
tilhada pela política de interação de equipes, monitoramento e avaliação de todo o siste-
envolvendo o apoio técnico-administrativo, ma para que seja possível atingir os objetivos
o relacionamento dos docentes responsáveis propostos no projeto pedagógico e sugerir
elaboração dos materiais, assim como a tutoria mudanças necessárias para o desenvolvimento
e a coordenação do curso. dos processos. Em relação à avaliação, Neves
(1998) observa que, na formalidade da lei, esta
Wolcott (1995), por exemplo, contemporiza deve aceitar que o aluno se sinta seguro quanto
que o professor deverá analisar alguns concei- aos resultados almejados ao longo de todo o
tos importantes para ensinar em sistemas de processo de ensino e aprendizagem. Assim, a
EaD. O contexto do ensino é alterado por meio avaliação realizada pelo tutor também deverá
do afastamento físico entre os participantes ser acompanhada pelo aluno, de modo que
e intermediado pelo uso da tecnologia. Dessa o ajude a tornar-se mais autônomo, crítico,
maneira, o professor deverá abranger as po- responsável, intelectualmente independente.
tencialidades do meio e adequar às barreiras
impostas a abordagem instrucional. Assim, os Ainda em se tratando de avaliação de desem-
professores em EaD devem ficar atentos em penho, cabe registrar que Azzi (2005) asseve-
não replicar métodos de ensino presencial. ra ser preciso que esse tipo de avaliação faça
Necessitam, por conseguinte, prover métodos parte de um sistema amplo, seja na modali-
de ensino em EaD que promovam a interação, dade a distância seja na presencial. Note-se
o feedback e diminuam a distância interpes- que objetivo da avaliação de desempenho é
soal, assegurando a aprendizagem e a troca pedagógico, quando permite a comprovação
de mensagens. da aprendizagem dos alunos, a identificação
das necessidades e o progresso do método de
Para construir conhecimento, no entendi- ensino e aprendizagem. Convém pontuar que,
mento de Moran (1998), é necessário abranger como método sistemático, a avaliação coloca
todas as extensões da realidade, detendo e em destaque as ações, os fatos, os resultados
propagando esta totalidade de maneira inte- parciais e o produto, ou seja, todos os aspectos
gral e ampla. Assegura, ainda, que a rede de inerentes ao processo de ensino e aprendiza-
computadores não poderá ser esquecida no que gem. Dessa maneira, a avaliação contribui com
se refere à capacitação dos professores, uma a eficácia de uma proposta pedagógica que
vez que possibilita a construção de conheci- permite aos alunos terem sucesso.
mento não linear. Logo, busca-se a contínua
construção do conhecimento, compreendendo Na educação a distância, a avaliação favorece a
o domínio da tecnologia a fim de que seja pos- autoconfiança, pois estimula o aluno à apren-
sível obter espaços a mais de aprendizagem. dizagem e ao sucesso. A informação constante
de seu progresso não se faz presente apenas nos
É importante sublinhar, ainda, que o estu- momentos formais, como nas provas, mono-
dante faz parte dos pilares que possibilitam grafias e seminários, mas também se presen-
a qualidade de um curso a distância, no qual tifica ao construir um material didático bem
a interação entre professor e aluno deve ser elaborado, com suas próprias características,

178
e possibilita ao aluno saber de seu progresso A avaliação de processo auxilia, portanto, o sis-
e suas dificuldades. É importante sublinhar tema de recuperação de uma proposta pedagó-
que, na modalidade a distância, os professores gica com base nos resultados obtidos pelos es-
vivenciam a avaliação como um processo contí- tudantes. Avaliações formativas e diagnósticas
nuo e formador que oferece uma transformação realizadas ao longo do curso possibilitam criar
na prática avaliativa da instituição. Assim, a estratégias para que as limitações encontradas
avaliação se dá de forma contínua, sistemática pelos alunos sejam superadas no momento
e flexível, de maneira que permita acompanhar em que aparecem. Durante todo o processo de
o desempenho de cada estudante, identificar e recuperação, o aluno sente-se mais motivado
traçar meios que auxiliam os alunos em suas a investigar os métodos e recursos didáticos
limitações, averiguar se os propósitos estão que lhe permitam obter o sucesso.
sendo aplicados e, por fim, possuir informações
que possam ajudar na revisão dos materiais e
do progresso do curso.

3 METODOLOGIA
O presente trabalho está delimitado conforme se efetiva a partir de documentos classificados
os princípios de uma pesquisa exploratória como autênticos cientificamente (LAKATOS &
de abordagem qualitativa, desenvolvida com MARCONI, 1992). Dessa maneira, foram ana-
o intuito de fornecer uma visão geral, de tipo lisados documentos da instituição pública. A
aproximativo (GIL, 1995). Justificando o fato partir dos dados da pesquisa documental, foi
de ser uma pesquisa qualitativa, ressalta-se a estabelecido um plano de análise e interpre-
assertiva de Chizzotti (2001), uma vez que os tação do material coletado.
pesquisadores participaram, compreenderam e
interpretaram os dados coletados na pesquisa, Após a análise documental, houve a obtenção
por meio de entrevistas com os gestores, a fim dos objetivos previstos para verificar os proces-
de reforçar os resultados. sos e a inovação da instituição estudada e, para
isso, foram realizadas entrevistas semiestrutu-
Quanto aos meios, trata-se de um estudo de radas com dois gestores dos programas de EaD
caso, que é diferenciado pelo maior foco na que atuam na referida instituição. O objetivo
compreensão de resultados e fenômenos e por das entrevistas foi buscar um maior aprofun-
proporcionar maior abrangência (YIN, 1989). damento de análise para os dados encontrados
Essa assertiva se confirma para o presente nos documentos da referida instituição do en-
trabalho, uma vez que a pesquisa é conduzida sino público superior que oferece programa de
em uma instituição federal de ensino superior. educação a distância. Além disso, pretendeu-se
verificar de que forma a instituição avalia o
A definição dessa amostra se justifica uma vez modelo de ensino que vem adotando e quais
que a instituição tem se destacado por suas sugestões são apresentadas para que seu mo-
inovações. Ademais, mantém sua proposta de delo se mostre competitivo no mercado de EaD.
EaD mesmo no momento de crise econômica
das IES públicas no período do estudo. Em A coleta de dados foi realizada nos meses de
relação à delimitação temporal, optou-se pelo agosto, setembro e outubro de 2016, incluindo a
período compreendido entre 2014 e 2016, a fim análise de documentos fornecidos pela institui-
de contemplar o quadro administrativo vigente ção estudada e a realização de entrevista com as
na instituição de ensino superior pesquisada, pessoas responsáveis pela gestão de educação
mediante seu respondente. a distância. Foram entrevistadas a gestora do
curso de pós-graduação em Administração
No que concerne à coleta de dados, utilizou-se Pública e a supervisora de tutoria do curso de
a pesquisa documental, que é uma fonte que graduação da instituição em Santa Catarina.

179
As entrevistas aplicadas aos gestores foram e Biar (2015), uma vez que se trata da análise
gravadas, transcritas e submetidas a análise de pontos de vista subjetivos sobre o funcio-
de narrativa, conforme mencionado por Bastos namento de instituição de ensino.

4 RESULTADOS


Ao abordar a gestão de EaD, o Entrevistado 1 fez
as seguintes observações: “(1) [...] cada curso de
educação a distância tem o seu gestor e cada ges- (2) Devido à crise que hoje a gente tá, o co-
tor tem uma equipe de apoio, que inclui pessoas ordenador geral da UAB, fica mais na parte
que trabalham na parte financeira”. Comentou, do financiamento dos cursos, com o contato
ainda, que a coordenação em si trabalha com a com o MEC, com as negociações com o MEC.
seleção dos alunos, inscrições, divulgação dos Quando chega o recurso essa gestão gerencia
cursos, o contato e a gestão dos professores, entre os vários cursos, as necessidades de
os quais além de responsáveis pelos materiais, cada um. Então esse coordenador geral fica
também têm a incumbência de transmitir o mais na parte de negociação e também na
conteúdo à equipe técnica para passar ao am- parte financeira. Em épocas onde o recurso
biente virtual. A coordenação também realiza a vem mais fácil, mais regular ele acaba tendo
seleção dos tutores presenciais e a distância e outras funções, mas atualmente a função
promove sua respectiva capacitação. Caso haja é mais voltada a negociações com o MEC.
alterações, será necessário construir relatórios (ENTR1 - notas da pesquisa de campo re-


relatando à Pró-Reitoria de Pós-Graduação. alizada pelas pesquisadoras)

O Entrevistado 1 pontuou, também, que a fun-


ção é definida de acordo com a relação que cada
um tem e a disponibilidade de um período.
Há um professor do curso de Administração Para o Entrevistado 2, o coordenador do curso
que é também um gestor, responsável pela de graduação é o responsável pela gestão de
Universidade Aberta do Brasil (UAB) e, após todos os projetos. Também delega as funções
a nova gestão, que iniciou em maio de 2016, a cada profissional, decreta a responsabilidade
existe um secretário da gestão a distância, de cada polo, define a responsabilidade com a
que coordena todas as ações da educação a tutoria, decide quem irá atender aos alunos,
distância e o coordenador geral da UAB. Além além de responder a ouvidoria. Esse entrevis-
disso, expõe que, tado relata que, antes, cada projeto tinha um
supervisor que era responsável pela tutoria,
administração de calendário e administração
dos polos. Atualmente, há um supervisor para
cada dois cursos nas duas ofertas que estão
acontecendo no curso de graduação em Admi-
nistração que iniciou em 2013/2 e em 2014/2.
Há, também, um gestor financeiro responsável
por realizar os pagamentos.

Ao analisar o papel da gestão de educação a


distância (EaD), Amaral e Rosini (2008) ob-
servam que ela depende de competência téc-
nica e da decisão dos gestores acadêmicos em
implementar o processo. Logo, para que os
resultados sejam bem-sucedidos, a instituição
pública deve apresentar uma definição clara

180
dos objetivos e adotar uma estrutura de apoio modo particular, haja vista serem recursos
à aprendizagem e aos processos educacionais, do Ministério da Educação. Dessa forma, as
como propõe Bof (2005). mudanças ocorrem somente quando a Coorde-
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Ao confirmar o ponto de vista desses autores, Superior (CAPES) modifica a regra. Ademais,
pode-se apontar que o primeiro passo a ser a demanda identificada na comunidade não é
executado na gestão de sistema de EaD é or- fator que determina a oferta.
ganizar uma infraestrutura apropriada, a qual
servirá de base para a operacionalização e a Considerando a narrativa referente ao plane-
descrição do processo que permitirá alcançar jamento da EaD na instituição, observou-se
os pressupostos educacionais. que existe uma coincidência com o relatado
por Amaral e Rosini (2008), uma vez que con-
Na instituição estudada, parece haver uma sideram a definição dos objetivos da aprendi-
concentração do controle das atividades nas zagem, atendendo a um plano de ensino que
mãos do coordenador da graduação, além da valorize o curso e a aprendizagem. Na análise
inclusão de um número menor de postos de da referida instituição, nota-se que há uma
trabalho e de poucas áreas. Provavelmente, preocupação significativa com o planejamen-
devido à crise financeira vivida pelo país, com to, de modo a assegurar o sucesso do ensino
grande repercussão na área de educação, a ne- a distância.
cessidade de se ater aos recursos assegurados
pelos cofres públicos obriga a evitar custos e Ao analisar a perspectiva de gestão de pessoas e
a reduzir áreas de gestão e número de cargos. a atuação dos docentes do programa de EaD, o
Entrevistado 2 considera que a responsabilida-
Em relação ao planejamento do sistema de EaD, de de selecionar os docentes é do coordenador
o entrevistado relata que, no caso da especia- de cada departamento dos cursos de graduação.
lização, a proposta do curso é de dois anos, in- Geralmente, os docentes são doutores e fazem
cluindo a seleção, capacitação e finalização do parte da instituição. Já os tutores, para atuarem
curso. Já no caso da graduação, todo o processo em curso de Administração, são seleciona-
de planejamento do curso é de cinco anos. Com dos por estarem cursando ou terem concluído
a atual coordenação, foram construídos mais curso de graduação, ou estarem cursando ou
detalhes desse planejamento no curso, espe- já terem certificado de especialização na área
cialmente no que tange ao processo seletivo, da Administração.
ao papel de tutoria, à capacitação e também às
ferramentas para acompanhamento de alunos. Assim, a seleção de docentes de especialização
Por ser um trabalho virtual, foi necessário criar é realizada entre os professores que fazem
mecanismos para fazer um controle compar- parte da instituição, por meio da identificação
tilhado entre equipes, ou seja, papel da gestão, da competência que o professor tem para lidar
subcoordenação e supervisão. Dessa maneira, com uma determinada disciplina. Constata-se,
utiliza ferramentas on-line para realizar os também, que o professor, dependendo de sua
controles desse planejamento. disponibilidade de tempo e se mostra afinidade
com o trabalho relacionado à educação a dis-
Adicionando a essa informação, o entrevistado tância, desenvolve e grava, em média, três a
relatou que não tinha disponibilidade de recur- quatro videoaulas por disciplina e participa
sos financeiros, por isso foram criadas outras de videoconferência e chat respondendo às
maneiras de ofertar cursos de qualidade. O pla- dúvidas dos alunos.
nejamento da graduação se inicia no começo do
ano e no começo de cada semestre e é realizado Como o material usado nos cursos de EaD das
pela coordenação e pela supervisão, os quais instituições públicas é nacional, o professor
determinam o calendário, decidem quem irá deverá enviar materiais complementares que
lecionar as disciplinas, o tempo de duração ajudarão os alunos a compreenderem os con-
da oferta, quando acontecerão as provas. É teúdos passados nas disciplinas. O professor
evidente que esse planejamento é afetado de precisará, também, desenvolver atividades

181
avaliativas, compostas de questões de múltipla devido à diferença entre ensino presencial e a
escolha e estudo dirigido, materiais que de- distância, é preciso reconhecer as diferentes
vem ser disponibilizados no ambiente virtual. linguagens capazes de lidar com equipamentos
Complementando o relato do Entrevistado 1, de multimídias e garantir diferentes caminhos
o 2 informa que o professor deve criar dois de comunicação visando manter a interação
fóruns para que os alunos discutam e inte- de alunos e tutores. Dessa forma, a instituição
rajam. Enfatiza, ainda, que cabe ao professor trabalha para que alunos e tutores tenham
capacitar seus tutores para que, no começo das um maior engajamento, de modo a facilitar
disciplinas, eles possam corrigir as atividades. o aproveitamento. Fica claro, portanto, que a
instituição pública, objeto deste estudo, tem
Dado o exposto, concorda-se com Gatti (2005) desenvolvido programas destinados a suprir
quando afirma que é imprescindível a qua- as lacunas da formação docente e a garantir a
lificação dos profissionais para atuarem em qualidade do ensino que ministra.
instituições de ensino. A autora destaca que,

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordam-se, nesta seção, as principais con- possibilidade que as instituições públicas têm
clusões, as limitações identificadas neste ar- de fazer parcerias com empresas que estão em
tigo. Apresentam-se, ainda, sugestões para localidades mais distantes, de modo a rece-
pesquisas futuras no que tange ao tema. berem auxílio financeiro para levar polos de
apoio presencial e, consequentemente, mão
As preocupações que orientaram a pesquisa de obra capacitada para a região.
dizem respeito ao modelo de gestão adotado
por uma instituição pública, à análise das es- Identificadas algumas especificidades, vale
tratégias e dos processos utilizados por ela e a pena sugerir que as instituições públicas
dos desafios que enfrenta. O objetivo do estudo promovam fóruns e debates para desmis-
foi analisar o desempenho na gestão e como tificar possíveis preconceitos em relação a
uma instituição de ensino público administra alunos oriundos dessa modalidade de ensi-
seus processos da educação superior a dis- no, de forma a demonstrar que se trata de
tância. É adequado lembrar que o período em uma modalidade que exige muita disciplina e
que foi realizada a coleta de dados representa dedicação. Enfim, percebe-se a necessidade
um período difícil para a educação brasileira, de aprofundar o estudo acerca da educação
devido à convulsão política e à crise econô- a distância no Brasil e seus benefícios para
mica, cujas implicações para a organização alguns grupos específicos, como aqueles que
e o funcionamento da instituição pública de não conseguem frequentar a universidade ou
ensino superior foram salutares. Esses pro- quem vive afastado dos centros urbanos.
blemas políticos e econômicos redundaram
em limitações que afetaram, sobremaneira,
ao funcionamento das instituições de ensino
públicas, colocando-as frente a desafios, às
vezes, difíceis de serem superados, tais como
custos inesperados para a continuidade de
suas ações.

Após a análise dos dados, fica clara a neces-


sidade de se ampliar o investimento público
na educação a distância, face às necessida-
des do país e ao benefício que tal modalidade
proporciona. Uma questão a ser abordada é a

182
6 REFERÊNCIAS
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tabela-de-gerente-financeiro_5633859.htm#page=1&query=education%20ma-
nagement&position=16
Curso de atendimento educacional
em ambiente hospitalar e domiciliar
estruturação e funcionamento

Jucélia Linhares G. de Medeiros Fanny Valdez


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
[email protected] [email protected]

Carla Regina Mariano da Silva Camila Gonçalves da Costa


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
[email protected] [email protected]

RESUMO
Este artigo tematiza a oferta do Curso de e adolescentes com necessidades especiais, o
Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional que requer uma formação docente qualificada
em Ambiente Hospitalar e Domiciliar que visou para atuar em ambiente hospitalar e domiciliar.
formar/preparar professores lotados na educa- Quanto aos resultados, pode-se afirmar, com
ção básica, diretores, coordenadores e demais base na avaliação, que houve boa frequência,
profissionais para atuarem, de forma efetiva, rendimento e envolvimento de cursistas e pro-
nos serviços educacionais especializados em fissionais envolvidos.
ambientes hospitalares e domiciliares. A dis-
cussão acerca dessa oferta ancora-se em leis, Palavras-chave: Atendimento educacional.
documentos oficiais e pesquisas recentes que Ambiente hospitalar e domiciliar. Formação
ressaltam a importância do atendimento peda- docente. EaD.
gógico em classe hospitalar voltado a crianças

186
1 INTRODUÇÃO
O adoecer faz parte da vida. Algumas doenças fadiga, angústia podem ser provocados tanto
levam, todavia, à hospitalização, afetando a pela própria doença quanto pela ideia que a
vida das pessoas durante um determinado criança faz dela.
período de tempo. A situação fica mais grave
quando o paciente em questão é uma criança Já para Fontes (2008), nesse processo tam-
que necessita de uma hospitalização, pois, bém, para a criança, ser pequeno em desen-
além de ocasionar uma debilidade física, pode volvimento, a subjetividade começa a ser
haver prejuízos em uma das etapas mais im- constituída e, desprovida de qualquer com-
portantes da vida: a infância. preensão, tende a ser incorporada em sua
história de vida da mesma forma mágica e pe-
Nesse processo, o próprio nome hospital, por culiar com qual entende e interage no mundo.
si só, já nos remete a um lugar triste e de dores. Nesse sentido, a hospitalização e a distância
Como afirma Leitão (1990, p. 48), trata-se de suas atividades cotidianas podem contri-
de um ambiente que oferece certa privação buir para seu maior adoecimento. Estar no
nos estímulos fundamentais ao desenvolvi- hospital, nessa ótica, impede que outros pa-
mento infantil, por não contar, geralmente, péis sociais, diferentes daqueles que a criança
com atividades que levem em consideração as desenvolvia até então, passem a ser definidos
questões sociais, emocionais, educacionais e pelas relações que se constituem nesse novo
motoras da criança. E, quanto maior o tempo espaço de interação social, deixando marcas
de tratamento, maior o estresse, a angústia profundas em seu desenvolvimento.
e o medo da morte, assim como menor é o
desenvolvimento da criança, já que o trata- Nesse período, a criança pode sentir de ime-
mento exige uma permanência muito longa diato que seu cotidiano sofrerá mudanças.
em ambiente hospitalar. O primeiro impacto acontece quando ela se
depara, na maioria das vezes, com as pare-
Ceccim e Carvalho (1997) pontuam que a crian- des e com as roupas brancas utilizadas pelos
ça pode, nessa fase, entrar em um conflito médicos ou demais profissionais atuantes no
provocado pelo próprio ambiente em si, onde hospital. Nesses casos, a ausência de rostos,
ela deixa de existir como criança e torna-se de paisagens e de objetos familiares podem
paciente, sendo alvo de agressões a seu próprio acentuar ainda mais seu sentimento de perda
corpo, que se encontra em fase de descoberta, e de referências e de abandono. Nesse pata-
“[...] a hospitalização, em determinadas situa- mar, explica Fonseca (2003), a própria doença
ções, constitui-se num risco igual ou maior aos pode fazer com que a criança alimente seu
que da própria doença os originou” (CECCIM; sentimento de impotência diante da dor, o
CARVALHO, 1997, p. 27). que pode dificultar sua recuperação. Nessa
perspectiva, como ser humano em contínuo
Medeiros e Gabardo (2004) acrescentam que, desenvolvimento, esse fator pode prejudicar
na infância, a hospitalização pode alterar, sig- a constituição de sua subjetividade.
nificativamente, o desenvolvimento infantil,
uma vez que, em um ambiente onde a dor e a Munhoz e Ortiz (2006) consideram que o afas-
doença são presenças constantes, ela passa tamento vivenciado da família, dos amigos
a ter contato com uma realidade à qual não e de seu habitat (casa, escola e outros) pode
estava acostumada. Além disso, advêm vários causar à criança profundas e diversas reações.
efeitos psicológicos decorrentes da hospitali- Isso porque os convívios serão interrompidos,
zação, como respostas de culpa, sensação de uma vez que não é permitida a permanência
punição, ansiedade e depressão. Esses efeitos de todos junto ao leito hospitalar, mas apenas
podem ser causadores de intenso descontrole uma pessoa poderá estar acompanhando e ser
emocional da criança doente e a atinge nas di- a responsável pelo paciente, haja vista a pro-
ferentes etapas do desenvolvimento. Sintomas babilidade de aumentar o risco de infecções e/
como febre, dor, distúrbios da consciência, ou atrapalhar os procedimentos hospitalares.

187

Além disso, sua rotina é alterada, uma vez que
as refeições (agora denominadas dietas) podem
não ser servidas nos horários aos quais, quan- Art. 54 - É dever do Estado, assegurar à
do fora do hospital, estava habituada; a cama criança e ao adolescente: I - ensino fun-
(agora leito) e as roupas não são como as de damental, obrigatório e gratuito, inclusive
casa; o cheiro é outro (FONSECA,2003). Assim, para os que a ele não tiveram acesso na idade
seu mundo, que era movimentado e colorido, própria; II - progressiva extensão da obri-
passa a ser de uma única cor, estando em um gatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
ambiente impessoal, orientado por quadros III - atendimento educacional especializado
clínicos, limitando-se apenas ao cuidado de aos portadores de deficiência, preferencial-
suas condições clínicas (SOARES, 2001). mente na rede regular de ensino; IV - aten-
dimento em creche e pré-escola às crianças
Nessa direção, Freitas e Ortiz (2005, p. 36) de zero a seis anos de idade; V - acesso aos
explicam que o estar hospitalizado pode, tam- níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
bém, gerar-lhe insegurança e estresse, “[...] e da criação artística, segundo a capacidade
podendo ocasionar-lhe traumas, às vezes de cada um; VI - oferta de ensino noturno
profundos, dependendo da intensidade e da regular, adequado às condições do adoles-
estrutura de sua personalidade”. Outras ansie- cente trabalhador; VII - atendimento no
dades, tais como a impotência, a dependência ensino fundamental, por meio de programas
e a mudança da imagem corporal (dependendo suplementares de material didático-esco-
da doença), compõem-se de outras dificulda- lar, transporte, alimentação e assistência à


des da criança hospitalizada, além de ela deixar saúde. (BRASIL, 1990, não paginado).
de ter direitos sobre o próprio corpo e se ver
separada, de modo abrupto, da vida que, dia
a dia, construía e reconstruía sua identidade.

Uma das propostas à superação de tais entraves Conforme a Lei nº. 8.069, de 13 de julho de
é a implantação dos serviços de atendimento 1990 (BRASIL, 1990),
educacional em ambiente hospitalar e domi-


ciliar, uma vez que, a partir da Constituição
Federal de 1988, o direito à educação a todos
e para todos, em quaisquer circunstâncias em
que esteja e que necessite, ficou assegurado. Já Art. 3º – A criança e o adolescente gozam de
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), todos os direitos fundamentais inerentes à
Lei nº 8.069. de 13 de junho de 1990, dispõe ga- pessoa humana, sem prejuízo da proteção
rantias e direitos para crianças e adolescentes integral de que trata esta Lei, asseguran-
que se encontram em condições de hospitali- do-lhes, por lei ou por outros meios, todas
zação. O Art. 54 dessa lei versa que as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade.

Art. 4º – É dever da família, da comunidade,


da sociedade em geral e do poder públi-
co assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao espor-
te, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à


convivência familiar e comunitária.

188
Neles em geral, atendem-se, conforme Paula A hospitalização, vista como um universo com-
(2002), três grupos de crianças hospitalizadas plexo, compreende também um processo de
em hospitais: as que são hospitalizadas por penetração na esfera das relações pessoais
graves comprometimentos físicos, afetivos, e entre todos. Os profissionais, pacientes e
sociais e cognitivos e que permanecem durante seus familiares assumem um pacto de forta-
muito tempo no hospital; crianças que, com lecimento, presente nos diálogos, nos gestos,
comprometimentos moderados, permanecem nos olhares e nos silêncios, revelando toda a
em média quinze dias nas enfermarias pediá- intensidade subjetiva que perpassa uma situ-
tricas; e crianças que são hospitalizadas com ação de risco (FREITAS; ORTIZ, 2005, p. 35).
comprometimentos leves e que permanecem
pouco tempo nos hospitais. Nessa interlocução, os atendimentos educa-
cionais em ambiente hospitalar e domiciliar
Nesse contexto, durante muito tempo, nas têm a finalidade de recuperar a socialização
enfermarias dos hospitais infantis do Brasil, da criança por um processo de inclusão, dando
o isolamento, o silêncio e a passividade reve- continuidade a sua aprendizagem. A escola é um
lavam o quadro no qual as crianças e adoles- fator externo à patologia, logo é um vínculo que
centes hospitalizados estavam inseridos. Essa a criança mantém com seu mundo exterior. Se a
realidade tem se alterado, pois os movimentos escola deve ser promotora da saúde, o hospital
de humanização e inclusão social nos hospitais pode ser mantenedor da escolarização. E esco-
vêm ganhando novos contornos, como aten- larização indica criação de hábitos, respeito à
dimentos educacionais em ambientes hospi- rotina; fatores que estimulam a autoestima e
talar e domiciliar, inclusão e aprendizagem, o desenvolvimento da criança e do adolescen-
sendo uma das grandes contribuições surgi- te (FONSECA, 1999). Pode desenvolver uma
das. Acerca dessa questão, Paula (2007, p. 14) oportunidade de ligação com padrões da vida
contemporiza que “[...] algumas instituições cotidiana, pois a classe hospitalar garante um
hospitalares brasileiras já foram planejadas vínculo entre a criança e o ambiente escolar.
e construídas com arquitetura e mobiliário
adaptados para atender a essas necessidades Nesse direcionamento, é necessário que as
físicas, sociais e educacionais dessa clientela atividades realizadas com essas crianças e
e ao imaginário das crianças e adolescentes”. adolescentes tenham começo, meio e fim.
Assim, o professor precisa estar ciente de que
Nessa trajetória, Freitas e Ortiz (2005) con- cada dia se constrói com planejamento estru-
sideram que o atendimento educacional em turado e flexível. Gonçalves (2008) orienta
ambiente hospitalar e domiciliar pode ressig- que esse ambiente, além disso, necessita ser
nificar a concepção do hospital, como apenas diferenciado, ser acolhedor, com estimula-
um cenário asséptico, para vislumbrar um ções visuais, brinquedos, jogos; ou seja, um
espaço onde a vida acontece, onde é aceito tudo ambiente alegre e aconchegante. Por meio
o que faz parte da vida. A passagem da criança do brincar é que as crianças e adolescentes
nesse espaço permitirá o surgimento de outra hospitalizados encontram maneiras de vi-
mais autônoma, aparelhada para a elaboração ver a situação de doença, de forma criativa e
de relação consigo mesma, experienciando positiva. O trabalho em classe hospitalar faz,
diferentes formas de afeto com os outros e portanto, com que haja diminuição do risco
com o mundo que a cerca. As autoras ainda de comprometimento mental, emocional e
observam a necessidade de se dar uma atenção físico dos enfermos. Nesse cenário, dispor de
à saúde da criança como paciente não apenas atendimento de classe hospitalar, mesmo que
em suas questões biológicas, mas também nos por um tempo mínimo (e que talvez pareça não
cuidados psicológicos e sociais. significar muito para uma criança que atende
à escola regular), tem caráter importantíssimo
Isso implica, seguramente, um olhar para a para a criança hospitalizada. Esta pode operar
assistência integral dela, atendendo suas ne- com suas expectativas e dúvidas, produzir
cessidades, dúvidas e anseios que a levem à conceitos e produtos subjetivos de forma po-
razão “desse fenômeno: o adoecer”. sitiva, tanto para a vida escolar quanto para a

189
vida pessoal, desvinculando-se, mesmo que hospitalar e domiciliar, durante seu período
momentaneamente, do conteúdo penoso ou de de internação e/ou tratamento de saúde. Além
dano psíquico que o adoecimento ou a hospi- disso, foram estabelecidos objetivos específi-
talização podem provocar (FONSECA, 2003). cos, os quais são elencados a seguir.

A função da educação com a criança hospitali- • Levantar os principais desafios enfrentados


zada e/ou em tratamento de saúde é, com efei- pelos professores e demais profissionais
to, resgatar sua subjetividade, ressignificando atuantes no trabalho educativo no atendi-
o espaço hospitalar por meio da linguagem, mento educacional em ambiente hospitalar
do afeto e das interações sociais que o pro- e domiciliar.
fessor pode propiciar. Ressalta-se, portanto,
que é possível pensar o hospital e o ambiente • Discutir a estruturação e o funcionamento
domiciliar como um espaço de educação para dos atendimentos educacionais em ambien-
crianças e adolescentes hospitalizados. Mais tes hospitalares e domiciliares implantados
do que isso, considerá-lo como um lugar de nos diferentes Estados brasileiros.
encontros e transformações, que o tornam
um ambiente propício ao desenvolvimento • Identificar formas complementares
integral da criança e/ou do adolescente. e/ou alternativas de trabalho nos atendi-
mentos educacionais em ambientes hos-
Partindo de tais pressupostos, foi organizada pitalares e domiciliares.
a referida formação, tendo como público-alvo
professores e demais profissionais da educa- • Refletir sobre a integração e o perfil do pro-
ção, saúde e/ou áreas correlatas, diretamente fessor dos atendimentos educacionais em
ligadas ao atendimento educacional de crian- ambientes hospitalares e domiciliares como
ças e jovens em hospitais e/ou em domicílio. membro partícipe da equipe multidiscipli-
Essa formação teve abrangência nacional e nar no hospital.
foi estruturada totalmente a distância, tendo
como objetivo geral contribuir para a formação • Contribuir para a articulação entre institui-
de professores e demais profissionais parti- ções educativas e de saúde, tendo em vista o
cipantes sobre o trabalho pedagógico desen- atendimento pedagógico à criança e aos ado-
volvido com a criança e com o adolescente lescentes nos atendimentos educacionais
no atendimento educacional em ambiente em ambientes hospitalares e domiciliares.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
O aluno dos atendimentos educacionais em tanto para o adolescente quanto para a criança,
ambientes hospitalares e domiciliares não é é muitas vezes assustador, pois os afasta do
um doente agonizante, mas, sim, uma criança meio ao qual estão acostumados, e começam
ou adolescente em uma etapa peculiar e inten- a conviver com pessoas que, para eles, são
sa do desenvolvimento psíquico e cognitivo, totalmente estranhas, em um entra e sai do seu
capaz de sinalizar quando precisa descansar quarto: ora são os enfermeiros para ministrar
ou quando se sente enfraquecido. Por outro a medicação, ora são os médicos com suas
lado, essa mesma criança ou esse adolescen- visitas rotineiras; depois, mais enfermeiros
te doente também sinaliza que necessita de que acompanham seu quadro clínico, além
mais estímulo e novas convocações ao desejo do acompanhante de outros pacientes que
de saber, de aprender, de recuperar-se e de dividem o mesmo quarto, perdendo, assim,
curar-se (FONSECA, 1999). totalmente sua privacidade. Muitos desses
jovens e crianças não entendem o processo
Em relação ao ambiente hospitalar, Lima e pelo qual estão passando, sofrem pela doença
Paleologo (2012) pontuam que esse ambiente, existente em seu corpo físico, por estarem

190
longe do ambiente familiar, dos seus amigos, ou do adolescente, a fim de que seja garantida
da escola e de seu ambiente social, sentem-se a continuidade do currículo desenvolvido pela
como excluídos, o que os leva a sentir a uma escola de origem.
baixa estima. Esses fatores acabam dificul-
tando seu tratamento e comprometem, ainda, Diversos estudos levantados vêm demonstran-
seu psíquico-emocional. do baixa frequência na escola, especialmente
de crianças acometidas por doenças crônicas
Desse modo, durante esse período, há algum e/ou de um carácter mais grave, (PEREIRA,
tempo, a criança e/ou o adolescente, por es- 1999; GOMES; CABRAL; SCHILKOWSKY, 2004),
tarem debilitados, eram obrigados a esquecer assim como expressam o desejo de voltar a es-
o período escolar e as atividades que eram tudar quando hospitalizadas, mas apresentam
aplicadas na escola. Tanto os médicos quanto dificuldades para acompanhar o curso regular,
as famílias acreditavam ser desnecessária a principalmente no ensino fundamental durante
preocupação com a escola e se preocupavam o tratamento (PEREIRA, 1999). Assim, a vida
apenas com sua recuperação, ou seja, o lado escolar é marcada pelos conflitos no relaciona-
físico/biológico. Com isso, seu rendimento mento com os colegas (BORBA, 2001; BORBA;
escolar ficava comprometido e, na maioria das SARTI, 2005). Para a criança, faltar às aulas
vezes, perdia o ano. Ademais, não representa um mal, pois deixa de aprender,
embora na maioria dos casos apresente um bom


desempenho escolar, que é a forma de provar
sua capacidade cognitiva, mas, muitas vezes,
o físico não a acompanha nas atividades físicas
[...] havia o que na atualidade se defende: a ou recreativas; dessa forma, é difícil autoafir-
manutenção dos vínculos escolares, apren- mar-se (BORBA, 2001; BORBA; SARTI, 2005)
dendo e realizando experiências educativas
mediadas pelo mesmo professor das demais Com a intenção de evitar a interrupção (mesmo
crianças, em atenção aos direitos funda- que parcial) da escolaridade dessas crianças em
mentais da pessoa humana e no especial função das hospitalizações, o direito delas e
direito das crianças e adolescentes hos- dos adolescentes à continuidade dos estudos
pitalizados à proteção integral. (CECCIM; escolares durante a internação hospitalar foi
FONSECA,1999, p. 31-39). reconhecido pela Declaração dos Direitos da


Criança e do Adolescente Hospitalizados; e o
Ministério de Educação, por intermédio da
Secretaria Nacional de Educação Especial, criou
o atendimento educacional dessas crianças nos
hospitais, com o serviço de classes hospita-
Nesse processo, destacam os autores, tanto o lares que visa manter os vínculos escolares e
professor como o aluno, em uma via de mão a possibilidade do retorno da criança e/ou do
dupla, irão descobrir de que forma o trabalho adolescente à escola de origem após a alta,
poderá ser realizado. A família, preocupada assegurando sua reintegração ao currículo
com a saúde do paciente, diante do convite do (BARROS, 1999; CECCIM; FONSECA, 1999a;
professor, sente-se surpresa e aceita a pre- FONSECA, 1999; FONTES; WELLER, 1998).
sença dele como um fator positivo para o seu Nessa perspectiva, a educação especial desen-
restabelecimento ou inviabiliza o trabalho, volveu modalidades de ensino e de contato da
adiando a sua recuperação. Cabe ao profes- criança com o professor no ambiente hospita-
sor mostrar aos familiares a importância do lar que, além de proteger seu desenvolvimento,
atendimento escolar para o aluno/paciente assegurem sua reinserção escolar após a alta
hospitalizado e/ou em tratamento de saú- e o seu sucesso na aprendizagem na escola
de. Nas situações em que o aluno/paciente regular (CECCIM; FONSECA, 1999b).
está matriculado em uma escola comum, é
solicitado aos responsáveis que tragam para o Referindo-se ao professor que atende a esse
hospital todo o material escolar da criança e/ alunado, Fonseca (2001) pontua que, em di-

191
versos hospitais do Brasil, esses profissio- Concomitantemente, a exigência do reconhe-
nais compõem um quadro bem diversificado. cimento do direito à educação especial para o
Todos possuem habilitação que os qualifica conjunto das crianças que, em algum momento
para o exercício do magistério e a maioria tem de sua escolaridade, requerem apoio adicional
formação superior, em diferentes áreas. Em ou recurso especial – de forma temporária ou
geral, apresentam uma característica comum: contínua – partiu de uma intensa luta política
começam a atuar com crianças e adolescentes internacional pelo reconhecimento do direito
hospitalizados sem formação específica nessa fundamental de toda criança à educação e à
área, embora a maioria de professores que oportunidade de atingir e manter um nível
trabalham com classe hospitalar apresenta adequado de aprendizagem, que culminou
formação em pós-graduação na área educacio- na Declaração de Salamanca, em 1994, so-
nal (FONSECA, 2001). Dessa forma, a formação bre princípios, política e prática em educação
em serviço é, sem dúvida, a condição que tem especial. Na referida declaração, está alicer-
assegurado um nível de qualidade crescente çada a defesa do acesso à educação para toda
nessa modalidade de atendimento pedagógico. e qualquer criança, independentemente de
Ressalta-se, contudo, que apenas isso não quaisquer condições temporárias ou contínuas
basta. Essa clientela precisa, de acordo com que apresentem.
a autora, de mais e melhores condições de
acompanhamento pedagógico-educacional. Já na Política Nacional de Educação Especial
(1994), a educação em hospital aparece como
Sob esse prisma, o direito à educação da criança modalidade de ensino, e a nomenclatura clas-
e/ou do adolescente, independentemente de se hospitalar passa a ser reconhecida como
suas condições de saúde, expressa-se como uma modalidade de atendimento pedagógi-
direito à aprendizagem e à escolarização tra- co-educacional (FONSECA, 2006). Sua oferta
duzida, fundamental e prioritariamente, pelo educacional não se resume apenas às crianças
acesso à escola de educação básica, considera- e aos adolescentes com transtornos do de-
da como ensino obrigatório. Na Constituição senvolvimento como foi no passado (de 1950
federal brasileira, a educação é “direito de a 1980), mas também àqueles em situação
todos e dever do Estado, da sociedade politi- de risco no lar, uma vez que a hospitaliza-
camente organizada” (BRASIL, 1988, p.11) e ção impõe limites à socialização, haja vista
da família, devendo ser promovida e incenti- as internações redundarem no afastamento
vada com a colaboração da sociedade, tendo da escola, dos amigos, da rua e da casa, além
em vista o pleno desenvolvimento da pessoa, de imporem regras sobre o corpo, a saúde, o
seu preparo para o exercício da cidadania e tempo e os espaços.
sua qualificação para o trabalho, conforme se
depreende do art. 205 (BRASIL, 1988). O ensino e o contato da criança hospitalizada
com o professor no ambiente hospitalar podem
O art. 214 da Constituição federal de 1988 afir- proteger o seu desenvolvimento e contribuir
ma, além disso, que as ações do Poder Pú- para a sua reintegração à escola, após a alta.
blico devem conduzir à universalização do Além de protegerem o seu sucesso nas apren-
atendimento escolar. Nota-se, entretanto, dizagens, vêm amparando as crianças com
que diversas circunstâncias podem interferir necessidades educativas especiais transitórias
na permanência escolar ou nas condições do ao direito de continuarem estudando mesmo
conhecimento ou, ainda, impedir a frequência, não estando presentes em sala de aula
temporária ou permanente. Por outro lado, o (BRASIL, 1994, p. 42).
direito à saúde, segundo o art. 196 da Consti-
tuição (BRASIL, 1988), deve ser garantida me- Em função de tais intercorrências, o direito à
diante políticas econômicas e sociais que visem continuidade dos estudos escolares durante a
ao acesso universal e igualitário às ações e aos internação hospitalar foi também reconhecido
serviços, tanto para a sua promoção quanto pela Declaração dos Direitos da Criança e do
para a sua proteção e recuperação. Adolescente Hospitalizados (1995), e o Mi-
nistério de Educação (MEC), por intermédio

192
da Secretaria Nacional de Educação Especial, ensino regular” (BRASIL, 1996, não paginado).
propiciou o atendimento educacional deles nos Segundo as Diretrizes Nacionais para a Educa-
hospitais, criando o serviço de classes hospi- ção Especial na Educação Básica, art. 13 § 1°, as
talares (BRASIL, 2002).


Essa “exigência” do reconhecimento, no
Brasil, do direito à educação em enfermarias
pediátricas partiu de uma das principais as- [...] Classes Hospitalares e o atendimento
sociações científicas brasileiras na área da em ambiente domiciliar devem dar conti-
pediatria: a Sociedade Brasileira de Pediatria. nuidade ao processo de desenvolvimento
Esse procedimento, que teve ampla repercus- e ao processo de aprendizagem de alunos
são nas organizações não governamentais de matriculados em escolas da Educação Bá-
luta pelos direitos da criança, foi matéria de sica, contribuindo para seu retorno e rein-
deliberação específica dos direitos da criança e tegração ao grupo escolar, e desenvolver
do adolescente hospitalizado, pela Resolução currículo flexibilizado com crianças, jovens
nº 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho e adultos não matriculados no sistema edu-
Nacional dos Direitos da Criança e do Adoles- cacional, facilitando seu posterior acesso à


cente, com a chancela do Ministro da Justiça escola regular. (BRASIL,2001).
(BRASIL, 1995). Esse documento dispõe que
a criança internada deve receber amparo psi-
cológico, quando necessário, e desfrutar de
alguma forma de recreação, de programas de
educação para a saúde e de acompanhamen- E, conforme o art. 13, os “[...] sistemas de en-
to do currículo escolar, de acordo com a fase sino, mediante ação integrada com os siste-
cognitiva, durante sua hospitalização. mas de saúde, devem organizar o atendimento
educacional especializado a alunos impos-
A Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, sibilitados de frequentar as aulas em razão
de Diretrizes e Bases da Educação, define a de tratamento de saúde que implique inter-
educação especial como uma modalidade da nação hospitalar, atendimento ambulatorial
educação escolar, um conjunto de recursos e de ou permanência prolongada em domicílio”.1
procedimentos específicos do processo de ensi- (BRASIL, 2001, não paginado).
no e aprendizagem colocados à disposição dos
alunos com necessidades especiais, em respeito Freitas e Ortiz (2005), analisando essa estru-
a suas diferenças, para que eles tenham acesso turação, bem como a formação e o trabalho
ao currículo e, consequentemente, conquistem efetivado em parceria com familiares e profis-
sua integração social (BRASIL, 1996). sionais, alertam que se pode, assim, dizer que
a qualidade formativa desse profissional deve
A mesma Lei, em seu capítulo V, art. 58 § 2°, perpassar sobre as interfaces do fazer didático,
determina que o “[...] atendimento educacio- a fim de que seja capaz de promover uma práxis
nal será feito em classes, escolas ou serviços educacional que venha estimular a libertação
especializados sempre que, em função das do sujeito. O docente que atua no atendimento
condições específicas dos alunos, não for pos- domiciliar e hospitalar tem, portanto, de estar
sível a sua integração nas classes comuns de aberto ao diálogo, sem renunciar em ser um

1 Ministério da Saúde: “Hospital é parte integrante de uma organização médica e social, cuja
função básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e pre-
ventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também
em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas, em saúde, bem como
de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de
saúde a ele vinculados tecnicamente”. (BRASIL, 1977, p. 3929).

193
combatente irredutível no que diz respeito aos Faz-se necessário, para tanto, criar locais de
direitos e saberes do educando, cultuando a ensino nos grandes hospitais pediátricos. É
educação como um ato amoroso. Ademais, é conveniente procurar, para essa atividade,
necessário que conheça professores especializados e competentes no
plano pedagógico, capazes de proporcionar


um ensino que possibilite grande imaginação,
adaptação às necessidades e às possibilida-
des diversas de cada paciente. É importante
[...] as dependências do hospital, bem como que a criança doente se perceba produtiva,
os respectivos profissionais. É indispensá- em desenvolvimento, e com atividades se-
vel ao professor ser sabedor das patologias melhantes às demais crianças da sua idade.
mais frequentes na unidade hospitalar, para Deve participar de atividades acadêmicas, pois
que consiga, com sensibilidade, nortear seu essas podem significar, para ela, igualdade
ensino respeitando os limites clínicos do com outras crianças e a oportunidade de estar
paciente aluno. Para efetivação da estabi- incluída no processo de aquisição do conheci-
lidade emocional do professor e do paciente mento. O professor colabora, diretamente, com
conheça também alguns procedimentos a recuperação do hospitalizado quando de-
básicos de socorro e endereços para o enca- senvolve um autêntico programa educacional
minhamento do paciente em caso de emer- que permite, efetivamente, alívio de possíveis


gencialidade. (FREITAS; ORTIZ, 2005, p. 61). irritabilidades, desmotivações e estresse.

O professor entra como elo na relação entre a


criança e o ambiente hospitalar, entre a criança
e o familiar, e, principalmente, entre a crian-
Nesse cenário, o professor tem o papel de aten- ça/o adolescente e a escola regular, o que opor-
der as necessidades intelectuais, socioeduca- tuniza a interação entre essas três instituições
tivas, afetivas e escolares da criança e do ado- e contribui para a adaptação da criança/do
lescente hospitalizados, podendo obter ajuda adolescente às mudanças no seu cotidiano. O
metodológica por meio do uso da ludicidade e, perfil pedagógico-educacional do professor
por fim, do brincar para conseguir atingir seus deve adequar-se à realidade hospitalar na qual
propósitos, além de estabelecer laços afetivos transita, ressaltar as potencialidades do aluno
com o paciente/aluno, ganhando, assim, sua e auxiliá-lo no encontro com a vida. Mesmo
confiança para desenvolver seu trabalho. As- doente, a criança e/ou o adolescente encon-
sim, o educador reafirma o seu fazer, apostando tram força suficiente para serem percebidos.
no atendimento das necessidades intelectuais, O professor contribui para o aperfeiçoamento
sociointerativas, afetivas e escolares da crian- da assistência de saúde, de maneira a tornar a
ça hospitalizada, não esquecendo, contudo, experiência da hospitalização, ainda que sem-
que a vertente lúdica pode se apresentar como pre indesejável, um acontecimento positivo ao
ferramenta metodológica para obtenção de crescimento e ao desenvolvimento das crian-
tal pretensão formal (FREITAS; ORTIZ, 2005, ças que dela necessitam (FONSECA, 2003).
p.63). Ainda em se tratando da ação docente, O atendimento pedagógico-educacional no
cabe lembrar que, no entendimento de Fonseca ambiente hospitalar deve ser entendido como
(2003, p.25), o professor do atendimento edu- uma escuta pedagógica às necessidades e aos
cacional em ambiente hospitalar e domiciliar interesses da criança, buscando atendê-las o
é, antes de tudo, um mediador das interações mais adequadamente possível nesses aspectos,
da criança com o ambiente hospitalar. Não lhe e não como uma mera suplência escolar ou
deve, por isso, faltar noções sobre as técnicas concentrada na dimensão cognitiva da criança
que fazem parte da rotina da enfermaria, so- (CECCIM; CARVALHO, 1997).
bre as doenças que acometem seus alunos e
os problemas (até mesmo emocionais) delas Importa, ainda, destacar que o atendimento
decorrentes para as crianças, e seus familiares educacional em um ambiente imprevisível,
e para as perspectivas de vida fora do hospital. como é o caso do hospital, precisa encontrar

194
coerência e consistência para que o trabalho be-se a necessidade de uma qualificação mais
desenvolvido sirva não apenas para oferecer específica do pedagogo para que ele desenvolva
aquilo de que a criança está precisando, mas sua prática para atuar no atendimento educa-
também que isso ocorra de modo interativo. cional em ambiente hospitalar e domiciliar,
A criança deve encontrar uma determinada tendo em vista que esse ambiente é totalmente
organização que a auxilie a se sentir parte de diferenciado do espaço da escola regular. Para
um sistema estruturado. O retorno a uma certa Fonseca (1998), é necessário que esse profis-
rotina, propiciado pela escola hospitalar, faz sional tenha destreza, discernimento e flexi-
com que ela possa interferir e interagir, per- bilidade para atuação de sua função. Mesmo
mitindo um comportamento diverso de quando que o atendimento pedagógico-educacional
está na condição de paciente. O afastamento em hospitais não requeira formação específica,
da escola é um acontecimento traumático, essa atividade requer profissionais com des-
visto que ela é, hoje, o espaço no qual a criança treza e discernimento para atuar com planos e
tem possibilidade de desenvolver suas poten- programas abertos, móveis, mutantes, cons-
cialidades afetivas, cognitivas e motoras. O tantemente reorientados pela situação especial
retorno da criança/do adolescente ao ambiente e individual de cada criança sob atendimento
escolar, quando não recebem apoio adequa- (FONSECA, 1999, p.127). Todo professor, como
do a suas necessidades, torna-se complexo e um bom educador, e ainda, diante dessa nova
pode ser comprometido. Para o êxito de sua possibilidade de atuação profissional, que é o
readaptação, esta deve envolver toda a equipe ambiente hospitalar, deve procurar capaci-
pedagógica, tanto o atendimento educacional tar-se, aprofundar e aperfeiçoar seus conhe-
em ambiente hospitalar quanto da escola re- cimentos. Matos e Mugiatti (2009) relatam
gular, visando mitigar possíveis danos em seu que se tem “[...] observado profissionais da
processo de aprendizagem, para que este possa educação desafiando velhos sistemas, ousando
ter continuidade (MELO; CARDOSO, 2007). descortinar outros horizontes”.

Nesse processo, os profissionais da educação, Cabe sublinhar que, no entendimento das


tanto da escola comum quanto dos atendimen- referidas autoras, o profissional da educa-
tos educacionais em ambientes hospitalares e ção, quando engajado na busca por novos co-
domiciliares, constituem peças importantes nhecimentos e apto a essas mudanças, gera
no processo de reintegração da criança à escola em si comprometimento em fazer e agir e,
regular. As mudanças requerem dos professores consequentemente, toma para si novas res-
ações e comprometimentos que configuram ponsabilidades (MATTOS; MUGIATTI, 2009).
novas responsabilidades, as quais impõem um É importante que o professor dos atendimen-
novo fazer e agir. Para o professor da escola tos educacionais em ambientes hospitalares
regular, esse novo fazer e agir revela-se, princi- e domiciliares esteja integrado à equipe da
palmente, no fato de oferecer um acompanha- saúde em um trabalho multidisciplinar, com
mento especial ao aluno com doenças crônicas, o conhecimento do quadro clínico-patológico
respeitando suas limitações e visando a sua do seu aluno/paciente. Assim, o docente tem
máxima reintegração ao grupo. Configurar a melhor possibilidade de planejar suas estra-
diferença e se tornar com isso referência como tégias de ensino de uma forma flexível e di-
artífice da educação, bem como mostrar que versificada, dentro da capacidade de execução
sempre é possível fazer a diferença, precisa desse alunado, de modo a atender às exigências
estar imbuído no caráter do professor. curriculares. Importa destacar, ainda, que o
professor trabalha com a diversidade humana,
No entendimento de o Matos (2005), o pro- diferentes vivências culturais, e, por meio da
fissional que tem a intenção de atender a essa integração com a equipe de saúde, desenvolve
educação hospitalizada necessita de uma for- o conhecimento das especificidades das en-
mação diferenciada que desenvolva suas habi- fermidades, sendo importante que ele tenha
lidades e competências, bem como um trabalho acesso ao prontuário de seu aluno/paciente,
emocional qualificado que o beneficie diante de no qual estão contidas as orientações quanto
determinadas situações. Dessa forma, perce- aos cuidados específicos da enfermagem, da

195
patologia, dentre outras informações (MAT- contexto, essas crianças e esses adolescentes,
TOS; MUGIATTI, 2009). que foram afastados da rotina acadêmica e
privados da convivência em comunidade, es-
Essa interação é muito importante, pois fa- tão correndo o risco de fracasso escolar e de
cilita o diálogo com os pais e familiares e, até possíveis alterações de desenvolvimento. Elas
mesmo, com a criança e o jovem internado necessitam, portanto, não apenas de cuidados
sobre seu problema de saúde, uma vez que os médicos, mas também de um acompanhamen-
médicos, ao apresentarem o diagnóstico, usam to pedagógico especializado.
de palavras que são, para alguns, de difícil
compreensão e, nesse caso, o professor faz São muitas as mudanças, tanto físicas como
a ponte entre o linguajar médico/clínico e o emocionais; e, dentre essas mudanças, como
senso comum dos pais e responsáveis. Dessa apontam Munhóz e Ortiz (2006, p. 67), “[...]
forma, cria-se um vínculo amistoso e afetivo a primeira refere-se à desestruturação do
também com esses pais e responsáveis que, sistema biopsicossocial, seguida pela inter-
muitas vezes, veem de forma errônea, na fi- rupção do processo de desenvolvimento in-
gura do professor, um psicólogo, alguém com telectual, afetivo e da personalidade”, haja
quem eles podem dialogar, obter conhecimen- vista o internamento hospitalar afastar essas
tos quanto à enfermidade de seus filhos e, até crianças do convívio social. Outra mudança
mesmo, desabafar seus medos e angústias, impactante é o afastamento escolar, podendo
tendo em vista que seu próprio cotidiano foi ser temporário ou permanente, que implica o
alterado pelo fato da hospitalização de seu distanciamento de seus colegas, professores e
filho. Essa reflexão coaduna-se com as con- atividades recreativas. Essa mudança poderá
temporizações de Fontes (2005a, p.123) que causar dificuldades de aprendizagem, de con-
frisa, em seu artigo, estarem subjacentes ao vívio social e afetivo. Na tentativa de amenizar
ofício do professor no hospital “[...] diversas esses impactos, é previsto um atendimento
interfaces (política, pedagógica, psicológica, pedagógico-educacional em hospitais, que é
social, ideológica)”, mas nenhuma delas é tão direito de todo indivíduo que está em condições
importante quanto à “[...] disponibilidade de especiais de saúde e necessita de internação.
estar com o outro e para o outro”. A autora
ainda ressalta a importância de se ter com Esse professor atuante no atendimento edu-
quem compartilhar a dor para que o processo cacional em ambiente hospitalar e domiciliar
de internação se torne menos traumático, o necessitará, portanto, desenvolver a sensibi-
que é possível por meio do diálogo e de uma lidade, o tato especial ao estabelecer um pri-
escuta atenciosa. meiro contato com essa criança; suas atitudes
precisam sempre respeitar o tempo e o espaço
Nesse contexto, o cotidiano da criança e do de cada uma. As práticas pedagógicas desse
adolescente, muitas vezes, é alterado por cau- profissional devem ter como princípios a fle-
sa da condição de internamento ou em razão xibilidade e a organização, considerando-se
de tratamento de saúde. Essas alterações são a individualidade de cada estudante. O papel
sentidas pelas crianças e pelos adolescentes do professor hospitalar, todavia, vai além das
quando se deparam com uma nova realidade, a práticas pedagógicas e orientações educacio-
condição de hospitalização. Nesse momento, a nais. Como aponta Fontes (2005b, p. 26-27), o
criança começa a encarar situações e sentimen- professor precisa também ser um pesquisador
tos antes não experimentados, como mudanças em sua área, o que requer a busca constante
na rotina, medicações, exames, intervenções de novos conhecimentos, ser reflexivo, desen-
médicas e/ou cirúrgicas, dores, indisposição, volver o pensamento crítico, ser investigativo
emoções e sentimentos como o medo, a an- e produzir conceitos. Ele precisa, ainda, estar
gústia, a solidão. Assim, por ter em sua vida envolvido nas questões de saúde, como veri-
uma mudança tão repentina, é provável que a ficar prontuário médico, pesquisar sobre as
criança, ao ter contato contínuo com o hospital, enfermidades que acometem seus alunos, para
sofra interferências em seu desenvolvimento de que, assim, possa explicar para a criança sobre
modo geral, social, afetivo e intelectual. Nesse a nova rotina que ela terá de seguir, além de

196
poder auxiliar os pais nas possíveis dúvidas
sobre o tratamento de seus filhos, melhorando
e ampliando suas práticas.

3 METODOLOGIA
O Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento por professores especialistas na área, acom-
Educacional em Ambiente Hospitalar e Do- panhados por professores formadores e tu-
miciliar visou formar/preparar professores tores, os quais foram responsáveis por toda a
lotados na educação básica, diretores, coorde- orientação e correção das tarefas, provas e/ou
nadores e demais profissionais para atuarem, demais atividades requeridas. No transcorrer
de forma efetiva, nos serviços educacionais do curso, foram organizados, paralelamente,
especializados em ambientes hospitalares e do- chats, seminários, palestras, observações e
miciliares. Organizado pela Secretaria Especial atividades práticos, direcionadas por profes-
de Educação a Distância e Formação de Profes- sores selecionados para a ação. Ao final de
sores (SEDFOR) e pelo Instituto de Biociência cada atividade ou tarefa, os cursistas foram
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul avaliados e comunicados de seu desempenho,
(INBIO-UFMS), teve nove meses de duração e visando monitorar sua evolução e estimular
foi realizado na modalidade a distância. a continuidade e o bom rendimento em sua
formação. Ao término do curso, sugeriu-se a
Toda formação foi previamente divulgada no apresentação dos trabalhos produzidos pelos
território nacional, aberta a inscrições e à par- alunos via videoconferência e a publicação dos
ticipação de professores e demais profissionais artigos por eles elaborados. Ademais, o curso
efetivos, preferencialmente da rede pública foi estruturado em seis módulos de estudo
de ensino. Em geral, foi disponibilizada via (Quadro 1), o que redundou em uma carga ho-
plataforma Moodle, com material elaborado rária de 180 horas.

nº Módulo Ementa Carga horária

1 Atendimento educacional em am- Conceituação e estruturação. Vinculação. 30 horas


biente hospitalar e domiciliar Clientela. Rotina de trabalho. Profissionais
envolvidos (função/atividade no serviço).
2 Políticas públicas relativas aos aten- Pareceres, normas, resoluções e leis 30 horas
dimentos educacionais em ambien- referentes aos respectivos serviços.
tes hospitalares e domiciliares
3 Brinquedoteca hospitalar Conceituação. Trabalho pedagógico. Nor- 30 horas
mas/organização. Recursos necessários.
Função/papel do professor no atendimen-
to educacional em ambiente hospitalar.
4 Atendimento educacional em Trabalho pedagógico. 35 horas
ambiente hospitalar
5 Atendimento educacional em Trabalho pedagógico. 35 horas
ambiente domiciliar
6 Práticas e observações orientadas Práticas e observações. 20 horas
nos atendimentos educacionais em
ambientes hospitalares e domiciliares.

Quadro 1 – Módulos/ementas trabalhados no curso | Fonte: Elaborado pelas Autoras (2019)

197
4 PREVENÇÃO DA EVASÃO

Tendo em vista a prevenção da evasão e o pouco


rendimento/participação de cursistas nas aulas
e/ou atividades da presente formação, foram
realizados frequentes contatos via ambiente
virtual de aprendizagem, e-mail e telefônico,
quando necessário. Buscou-se, também, rapi-
dez no retorno das tarefas e provas efetivadas,
além de momentos de trocas de experiências
e tira dúvidas, durante toda a concretização
do curso.

5 AVALIAÇÃO
No decorrer da referida formação, os cursistas
foram devidamente acompanhados e avaliados
não só no que tange a sua participação nas
atividades realizadas e aulas, mas também em
relação a todo o seu desempenho e evolução
durante o curso. De modo geral, houve boa
frequência, rendimento e envolvimento de
cursistas e profissionais envolvidos.

198
6 REFERÊNCIAS
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