FICHAMENTO INTERCULTURALIDADE

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RICHTER, Ivone Mendes.

Interculturalidade e Estética do Cotidiano no Ensino


das Artes Visuais. Campinas, 2000.

"A estética do cotidiano subentende, além dos objetos ou atividades presentes na


vida comum, considerados como possuindo valor estético por aquela cultura,
também, e principalmente, a subjetividade dos sujeitos que a compõem." (p. 8)

"Trabalhar com a estética do cotidiano no ensino das artes visuais supõe ampliar o
conceito de arte, de um sentido mais restrito e excludente, para um sentido mais
amplo, de experiência estética." (p. 11)

"A tendência no ensino das artes visuais, ainda hoje, é reproduzir conceitos
modernistas de arte largamente aceitos nos meios acadêmicos. Este enfoque exclui
todas as artes chamadas 'menores', e com a exclusão delas, toda a possibilidade de
um trabalho intercultural em arte." (p. 11)

"Para uma experiência intercultural de ensino das artes visuais, precisam ser
revistos os conceitos de arte desenvolvidos na escola." (p. 11)

"O conceito de cultura a ser utilizado numa proposta de educação multicultural deve
ser baseado num enfoque antropológico, para que o ensino das artes visuais seja
condizente com os valores estéticos trazidos de casa pelas/os alunas/os." (p. 12)

"A experiência estética em sala de aula foi pensada como uma performance, que se
desdobra em múltiplos questionamentos sobre o cotidiano, a crítica social e a
expressão criativa." (p. 147)

"Associar o trabalho artístico das mulheres que é realizado em casa com o trabalho
de mulheres artistas contemporâneas significa entender que os dois tipos de
trabalhos estão relacionados pela mesma linha estética." (p. 148)

"A arte contemporânea busca dissolver as fronteiras entre a arte erudita e a arte
popular.." (p. 148)

"Ao voltar-se para o cotidiano, a arte contemporânea, na pós-modernidade, permite


deslumbramentos estéticos que nos colocam dentro da obra, como parte dela, como
se fôssemos nós mesmas/os a criá-las." (p. 228)

"A educação estética pode ser, por si mesma, uma educação intercultural, é a
educação de si como parte da vida coletiva, é a formação da personalidade na
'subjetivação' do sujeito em ação, que se transforma em possibilidades infinitas." (p.
231)

"Atualmente, cada vez mais percebe-se a contribuição fundamental que a


antropologia e a sociologia podem dar ao ensino da arte." (p. 230)

"A educação estética pode nos levar a compreender o potencial enorme de nossa
pluralidade cultural. Ela é, por si só, uma educação intercultural, parte da vida
coletiva, e transforma o sujeito em ação." (p. 231)

TESE

O artigo "Interculturalidade e Estética do Cotidiano no Ensino das Artes


Visuais", de Ivone Mendes Richter, explora como o ensino de artes visuais pode ser
transformado a partir de uma abordagem intercultural, integrando a pluralidade
cultural presente no cotidiano dos alunos e alunas, com especial ênfase na estética
feminina e suas expressões artísticas.
Richter propõe, então, que o conceito tradicional de arte, amplamente
utilizado nas escolas, é excludente e centrado em uma visão modernista que
privilegia as "belas artes" e a arte erudita, relegando as chamadas "artes menores"
(como o artesanato e o folclore) a um plano inferior. Para superar essa limitação, ela
defende a ampliação desse conceito para abarcar uma visão mais inclusiva e
antropológica de arte, que valorize as manifestações artísticas do cotidiano e a
estética das famílias, especialmente no contexto de um ensino de artes visuais
intercultural.
Nela, consta que a estética do cotidiano, particularmente as práticas
femininas, como o crochê, o bordado e outras atividades manuais, pode ser
considerada uma forma legítima de produção artística. Essas práticas são
frequentemente subvalorizadas no sistema escolar tradicional, mas Richter sugere
que elas podem e devem ser integradas ao ensino de arte como uma forma de
refletir a diversidade cultural e estimular a expressão criativa dos alunos. A autora
também utiliza o conceito de "fazer especial", proposto pela antropóloga Ellen
Dissanayake, para destacar como as práticas cotidianas, muitas vezes invisíveis
aos olhos da crítica de arte tradicional, carregam valor estético e simbólico. Essas
práticas, ao serem incorporadas no ensino de arte, podem criar uma ponte entre o
ambiente escolar e a vida cultural dos alunos, contribuindo para uma educação mais
significativa e próxima de suas realidades.
Além disso, a tese argumenta que o ensino de artes visuais precisa ser
repensado sob a ótica da interculturalidade. Em vez de reproduzir um currículo
centralizado nas referências ocidentais e eurocêntricas, o ensino de arte deve incluir
as múltiplas culturas que compõem a sociedade brasileira. Isso implica a
necessidade de uma abordagem que vá além da simples "representação" de
diferentes culturas, buscando uma verdadeira inter-relação entre elas. A educação
intercultural, nesse sentido, não apenas reconhece as diferenças culturais, mas
também as valoriza como oportunidades para a construção de uma sociedade mais
justa e inclusiva. Em suma, a tese defende a necessidade de um ensino de arte que
não apenas represente a diversidade cultural, mas que a incorpore de forma ativa,
utilizando o cotidiano e as práticas artísticas femininas como ponto de partida para a
construção de uma educação intercultural e estética que seja inclusiva, crítica e
Transformadora.

CRÍTICA PESSOAL

A tese de Ivone Mendes Richter, oferece uma contribuição extremamente


valiosa para o campo da arte-educação, especialmente ao propor uma abordagem
intercultural que valoriza as práticas cotidianas e culturais diversas. Entre os
aspectos, destaco primeiramente a sensibilidade com que a autora aborda o tema
da diversidade cultural no ensino das artes. A proposta de ampliar o conceito de arte
para incluir manifestações populares e do cotidiano, especialmente as ligadas ao
universo feminino, é uma abordagem inovadora que desafia o elitismo histórico.
Um dos pontos focais da defesa, é a interculturalidade como uma prática
educativa que não se limita a apresentar diferentes culturas, mas que promove uma
interação viva entre elas. Ao propor que os alunos tragam para a sala de aula as
experiências estéticas de suas próprias famílias e culturas, Richter abre caminho
para uma educação mais inclusiva e conectada com a realidade dos estudantes.
Isso permite que a arte deixe de ser vista como algo distante e desconhecido,
aproximando-a da vivência diária e promovendo um aprendizado mais significativo e
Pessoal.
A valorização das práticas estéticas femininas, como o bordado, o crochê e
outras atividades manuais, é outro ponto forte da tese. Ao reconhecer o valor
estético dessas práticas, frequentemente subestimadas ou marginalizadas, Richter
contribui para uma reflexão mais ampla sobre o que é considerado "arte" no
ambiente escolar e na sociedade como um todo. Essa abordagem não apenas
valida as expressões artísticas do cotidiano, mas também oferece uma oportunidade
para que os alunos, especialmente as alunas, vejam suas culturas e práticas
familiares refletidas e respeitadas no currículo escolar.
A ideia de trabalhar com a estética do cotidiano é uma proposta
especialmente relevante no contexto contemporâneo, em que as fronteiras entre
arte e vida estão cada vez mais difusas. Ao trazer o cotidiano para o centro da
discussão estética, Richter reflete uma tendência contemporânea de dissolver os
limites entre arte erudita e popular, e entre arte e cultura. Isso abre um leque de
possibilidades pedagógicas que podem ser exploradas de maneira dinâmica e
criativa em sala de aula, permitindo que os alunos vejam o valor estético em suas
próprias vivências.
Por fim, a tese oferece uma visão otimista e transformadora sobre o papel da
educação estética na formação dos indivíduos. A ideia de que a educação estética
pode ser, em si mesma, uma educação intercultural, aponta para uma proposta
pedagógica que vai além do ensino técnico das artes, promovendo o
desenvolvimento integral dos alunos como sujeitos críticos e criativos. Essa visão
amplia o alcance da educação artística, mostrando que ela pode ser uma
ferramenta poderosa para o reconhecimento da diversidade cultural e a promoção
de uma sociedade mais justa e inclusiva.

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