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Linard AG, Chaves ES, Rolim ILTP, Aguiar MIF.

Princípios do Sistema
Único de Saúde: compreensão dos enfermeiros da Estratégia de Saúde da ARTIGO
114 Família. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2011 mar;32(1):114-20. ORIGINAL

PRINCÍPIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE:


compreensão dos enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família

Andrea Gomes LINARDa, Emilia Soares CHAVESa,


Isaura Letícia Tavares Palmeira ROLIMb, Maria Isis Freire de AGUIARc

RESUMO

O estudo objetivou analisar a compreensão dos enfermeiros a respeito dos princípios do Sistema Único de Saúde
universalidade, equidade e integralidade. Pesquisa descritiva realizada nos meses de agosto e setembro de 2008,
por meio de entrevista semi-estruturada com 26 enfermeiras lotadas nas unidades básicas de Saúde de Fortaleza,
Ceará. Na organização dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. Os resultados apontaram que as
enfermeiras concebem a universalidade como acesso universal de todos os usuários aos serviços de saúde, a equidade
é o atendimento de forma igualitária a população, garantindo mais atenção aos menos favorecidos e a integralidade
da assistência é a prestação de serviços nos três níveis de atendimento. Concluímos que os profissionais sinalizam
possuir uma concepção dos princípios semelhante a que está presente na Constituição Federal. Este fato represen-
ta um elemento importante para a concretização e fortalecimento do modelo de atenção à saúde vigente no Brasil.

Descritores: Equidade em saúde. Sistema Único de Saúde. Serviços de saúde.

RESUMEN

El estudio analizó la comprensión de los enfermeros con respecto a los principios del Sistema Único de Salud universalidad,
justicia e integridad. Estudio descriptivo realizado entre Agosto y Septiembre de 2008, a través de entrevistas semiestructuradas
con 26 enfermeras de las unidades básicas de salud de Fortaleza, Ceará, Brasil. En la organización de datos se utilizó la
técnica de análisis de contenido. Los resultados muestran que las enfermeras conciben la universalidad como acceso universal
de todos los usuarios a los servicios de salud, la equidad y la atención de forma igualitaria a la población, brindando más
atención a los menos favorecidos e integralidad de la atención y la prestación de servicios en los tres niveles de atención.
Concluimos que los profesionales señalizan poseer una concepción de los principios semejante a la presente en la Constitución
Federal. Esto representa un elemento importante para concretizar y fortalecer el modelo de atención de salud vigente en
Brasil.

Descriptores: Equidad en salud. Sistema Único de Salud. Servicios de salud.


Título: Principios del Sistema Único de Salud: comprensión de los enfermeros de la Estrategia de Salud de la Familia.

ABSTRACT

The study aims to examine nurses’ understanding of the principles of the Unified Health System: universality, equity and
integrality. This is a descriptive study conducted from August to September, 2008, through semi-structured interviews with
26 nurses of the basic units of Health from Fortaleza, Ceará, Brazil. The technique of content analysis was used to organize
the data. The results show that nurses perceive universality as a universal access for all users of health services; equity as an
equal attendance of the population, guaranteeing special attention to the poor; and integrality of care as the provision of
services at all three levels of care. The conclusion shows that the practitioners' conception of these principles are similar to
those presented in the Federal Constitution. This represents an important element for the implementation and strengthening
of the model of health care in Brazil.

Descriptors: Equity in health. Unified Health System. Health services.


Title: Principles of the Unified Health System: nurses' conception of the Family Health Strategy.

a
Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção, Ceará, Brasil.
b
Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São
Luís, Maranhão, Brasil.
c
Enfermeira, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), Professora Assis-
tente do Departamento de Enfermagem da UFMA, São Luís, Maranhão, Brasil.
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Único de Saúde: compreensão dos enfermeiros da Estratégia de Saúde da
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INTRODUÇÃO A partir de então as outras Conferências Na-


cionais de Saúde direcionaram toda a sua atenção
O Sistema de Saúde no Brasil se originou in- na implantação e consolidação do Sistema Único
fluenciado por características trazidas desde o flo- de Saúde (SUS) que é constituído pelo conjunto de
rescer do século passado, estas decorrentes de as- ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e
pectos econômicos e políticos. Referido modelo de instituições públicas federais, estaduais e munici-
atenção a saúde foi alvo de influencias dos movi- pais, da administração direta e indireta e das fun-
mentos denominados Sanitarismo Campanhista, dações mantidas pelo poder publico.
conferências nacionais de saúde e cartas de pro- A criação do SUS representou um avanço es-
moção da saúde. pecialmente pelos seus princípios de organização
O nascimento da saúde pública no Brasil deu- que se traduzem em garantia de acesso de toda a
se na transição do século XIX para o século XX população aos serviços de saúde e participação dos
neste período o Sanitarismo Campanhista se con- cidadãos no processo de formulação de políticas de
figurou um processo de elaboração de normas e or- saúde e controle da execução das mesmas. As ações
ganizações sanitárias e de mudança nas práticas e os serviços de saúde ofertados pela própria rede
dominantes até então. Além deste movimento a e os convênios que integram o SUS obedecem aos
VIII Conferência Nacional de Saúde representou princípios: universalidade do acesso, integralidade
um marco histórico uma vez que houve o consen- e igualdade da assistência.
so da sociedade que para o setor da saúde no Bra- Após o advento SUS, algumas estratégias fo-
sil não era suficiente uma mera reforma adminis- ram formuladas no sentido de colocá-lo em práti-
trativa e financeira, mas sim uma mudança em todo ca. Como exemplos, podemos citar a criação dos
o arcabouço jurídico-institucional vigente, que con- distritos sanitários, dos sistemas locais de saúde e
templasse a ampliação do conceito de saúde(1). do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
Neste efervescente cenário de discussão da (PACS). Esta última foi uma das principais, senão
saúde a proposta de reformulação do Sistema Na- a mais importante das estratégias criadas em re-
cional de Saúde parte de experiências que relata- lação à assistência básica à saúde(2).
ram ser o novo modelo assistencial viável, haven- Na continuidade desse processo, o Ministério
do ênfase para participação e colaboração da socie- da Saúde (MS) lança, no início de 1994 o Progra-
dade nas políticas públicas de saúde. A conjuntura ma de Saúde da Família (PSF), posteriormente
social foi propícia para que a Constituição de 1988 intitulado Estratégia de Saúde da Família (ESF),
incorporasse um conjunto de conceitos, princípios valorizando os princípios de territorialização, de
e diretivas extraídos das práticas correntes, haven- vinculação com a população, de garantia de inte-
do todavia uma reorganização desta prática na no- gralidade na atenção, de ênfase na promoção da
va lógica referida pela reforma sanitária. A saúde saúde com fortalecimento das ações intersetoriais,
na Constituição é definida como resultante de po- de estímulo à participação da comunidade, e de tra-
líticas sociais e econômicas, como direito de cida- balho em equipe com enfoque multidisciplinar, en-
dania e dever do Estado, como parte da seguridade tre outros. O PSF surge com o objetivo de reorga-
social e cujas ações e serviços devem ser providos nizar a atenção básica do SUS, tendo o aspecto mar-
por um Sistema Único de Saúde(1). cante de agilizar, de forma efetiva, a descentra-
Com a criação do SUS e sua consequente re- lização de serviços baseados nas reais necessida-
gulamentação pelas Leis 8.080, de 19 de setembro des da população, que se manifestam como priori-
de 1990, e 8.142, de 28 de dezembro de 1990, fica- dades e refletem problemas concretos(3).
ram claros conceitualmente os seguintes princí- Nesse processo histórico, a Atenção Básica foi
pios: universalidade de acesso aos serviços de saúde gradualmente se fortalecendo, o que fez se consti-
em todos os níveis de assistência; a integralidade tuir como porta de entrada preferencial ao Siste-
de assistência, entendida como conjunto articula- ma Único de Saúde, passando a ser o ponto de par-
do e contínuo das ações e serviços preventivos e tida para a estruturação dos sistemas locais de saú-
curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada de. Neste cenário foi aprovada e publicada em 2006
caso em todos os níveis de complexidade do siste- a Política Nacional de Atenção Básica que traduz
ma e a igualdade da assistência à saúde, sem pre- a marca da maturidade no que se refere a ESF na
conceitos ou privilégios de qualquer espécie(1). Atenção Básica em Saúde. Em seu bojo esta políti-
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ca orienta-se pelos princípios da universalidade, para a reflexão dos profissionais acerca da univer-
da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do salidade, equidade e integralidade em saúde, pos-
vínculo e continuidade, da integralidade, da res- sibilitando um novo olhar para a assistência pres-
ponsabilização, da humanização, da equidade e da tada aos usuários que procuram atendimento nas
participação social(4). Unidades Básicas de Saúde (UBS).
A ESF veio reorganizar a prática da atenção Diante dessa conjuntura se questiona: o en-
à saúde e substituir o modelo tradicional, levando fermeiro que compõe a equipe do ESF compreen-
saúde às famílias, e, dessa forma almeja melhorar de na íntegra o real significado dos princípios in-
a qualidade de vida de todos que a buscam. O aten- tegralidade, universalidade e equidade no contex-
dimento é prestado na unidade básica de saúde ou to de trabalho da UBS? De que maneira o enfer-
no domicílio pelos profissionais (médicos, enfermei- meiro concebe o cumprimento destes princípios na
ros, dentistas, auxiliares de enfermagem e agentes sua prática de atendimento?
comunitários de saúde) que compõem as equipes Estes questionamentos emergem, pois parti-
da ESF. mos da premissa que a compreensão dos profissio-
No leque de profissionais que integram a ESF nais a respeito de saúde, assim como, do ordena-
a enfermeira desempenha relevante papel na exe- mento jurídico que subsidia o direito a saúde apre-
cução de ações que permeiam as esferas gerenciais, sentará desdobramento na qualidade do atendimen-
clínica e educativas. No exercício de suas funções to prestado a população.
além da competência técnica, compromisso ético e Considerando esse aspecto e na tentativa de
responsabilidade se fazem necessário ao enfermei- responder as indagações citadas elaboramos o se-
ro compreender e discutir de que forma a filosofia guinte o objetivo de analisar a compreensão dos en-
dos princípios doutrinários do SUS são concebi- fermeiros a respeito dos princípios do SUS uni-
dos. versalidade, equidade e integralidade.
Outros estudos corroboram essa colocação
ressaltando a importância de se discutir a concep- MÉTODOS
ção da enfermeira sobre o processo da municipa-
lização por entender que a enfermeira é um agen- Estudo descritivo com abordagem qualitati-
te da equipe multidisciplinar em saúde estan- va. Compuseram a pesquisa 26 enfermeiras lota-
do diretamente envolvida com a consolidação do das nas unidades básicas de saúde em Fortaleza vin-
SUS(5). culadas a ESF.
Aos longos dos 22 anos de existência do SUS A coleta de dados aconteceu durante os me-
diversas experiências vem buscado descrever, com- ses de agosto e setembro de 2008, onde foi utili-
preender experiências e avaliar o sistema de saú- zado um roteiro de entrevista com questões a res-
de considerando a participação efetiva dos sujei- peito do conhecimento e cumprimentos dos princí-
tos envolvidos no cotidiano dos serviços – usuá- pios do SUS no atendimento. As entrevistas acon-
rios, gestores e profissionais de saúde, a fim de re- teceram na Unidade Básica de Saúde sempre após
organizar as práticas assistenciais em saúde(6). As o expediente de atendimento das enfermeiras em
complexas demandas do SUS e seu aparato ope- uma sala reservada na unidade para essa ativida-
racional vinculado à garantia da integralidade da de.
atenção, da humanização da assistência, da cons- Os dados foram organizados a partir das
trução da interdisciplinaridade e do trabalho em transcrições das entrevistas e leituras sucessivas
equipe demandam intensos processos de reflexão das falas, onde as idéias centrais, ou seja, aquelas
e discussão(7). mais evidentes, que descreveram de forma sinté-
Acredita-se neste estudo que a percepção fi- tica e precisa o sentido das falas, foram identifica-
losófica da enfermeira irá influenciar no processo das e registradas. As transcrições foram organi-
de trabalho da equipe redirecionando sensivelmen- zadas pela técnica de Análise de Conteúdo(8). Ao
te a práxis das ações de atendimento, bem como, final identificamos as categorias: Interpretação
no tocante a otimização dos recursos financeiros, conceitual dos princípios oriunda da visão das en-
humanos e materiais. fermeiras sobre princípios do SUS, durante o ser-
Assim, esse estudo justifica-se na medida em viço prestado em unidade básica de saúde e Cum-
que a sua execução oportunizará mais elementos primento dos princípios que apresenta a dinâ-
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mica empregada pela enfermeira para dar conti- Universalidade é a questão de direito a saúde que to-
nuidade ao atendimento prestado ao usuário de dos têm. Então assim, é o acesso a saúde, onde todo o
forma que este usufrua de todos os níveis de aten- cidadão deve ter o acesso garantido à saúde de uma
ção à saúde. forma universal (Enf. 06, 42 anos.).
Com o intuito de obedecer às diretrizes que
regulamentam os estudos que envolvem seres hu- A compreensão expressa pelos profissionais
manos, para as informantes desta pesquisa foi apre- do termo universalidade como o acesso aos servi-
sentando o Termo de Consentimento Livre e Es- ços de saúde sem discriminação de qualquer or-
clarecido, com dados referentes ao caráter voluntá- dem vem a complementar a afirmação de autores
rio do estudo e possibilidade de desistência a qual- que compreendem universalidade na concepção de
quer momento. Para garantir o anonimato, as falas garantia da cobertura dos riscos sociais de sua po-
foram identificadas pelo código Enf. seguido do nú- pulação em um Estado democrático de direitos(9).
mero de ordem. O estudo na fase de projeto de pes- Na cobertura dos riscos sociais a desigualda-
quisa foi enviado para o comitê de ética da Univer- de da oferta dos serviços de saúde se constitui um
sidade de Fortaleza e aprovado segundo o parecer entrave para a plena universalização. Essa desigual-
216/08. dade é fruto da construção espacial do sistema de
saúde em ritmos diferenciados nas regiões do país.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Superar essas desigualdades tem requerido dos
profissionais de saúde além do conhecimento filo-
A maioria das enfermeiras graduou-se há 10 sófico que norteia a organização do sistema algu-
anos e, portanto tem proximidade conceitual com mas condições estruturais mínimas para a conti-
o ordenamento jurídico do SUS. Inseridas na ESF nuidade do processo de implantação da universa-
estão há 08 anos. Na formação lato sensu todas as lidade da saúde.
profissionais possuem especialização na área de De posse das condições estruturais mínimas
saúde pública. Esse tipo de especialização apresen- associado à presença dos agentes comunitários de
ta em seus conteúdos temais tais como: políticas saúde (ACS) será possível trabalhar vislumbrando
de saúde do Brasil com ênfase ao Sistema Único estratégias concretas de redução das desigualda-
de Saúde. des na oferta dos serviços. A presença do ACS no
A seguir descrevemos as falas das enfermei- território brasileiro tem contribuído para a redu-
ras que direcionaram a construção da categoria ção de alguns indicadores de morbi-mortalidade,
Interpretação conceitual dos princípios. As fa- além da melhora referente à prestação de serviços(1).
las são apresentadas e agrupadas de acordo com o As falas a seguir retratam a compreensão dos
princípio que remetem em seguida apresentamos profissionais enfermeiros a respeito do princípio
a discussão. integralidade de assistência.

Universalidade é o acesso universal [igualitário] a Integralidade é ver o indivíduo como um todo, garan-
todos os usuários do SUS (Enf. 01, 29 anos). tindo atendimento na atenção primaria, secundaria e
terciário (Enf. 07, 29 anos).
Universalidade nos devemos atender a todos os paci-
entes independentes da sua idade, sua condição sócio A Integralidade que essa pessoa, esse sujeito, deve ser
econômica, condição educacional. Então o conceito da atendido em todos os níveis de atenção. Nível primá-
Universalidade é o atendimento a todos, todos que pro- rio, secundário e terciário (Enf. 08, 34 anos).
curam o serviço (Enf. 02, 34 anos).
Integralidade: o SUS da direito a pessoa satisfazer suas
Universalidade todos tem direito, acesso aos serviços necessidades em todos os níveis de atenção. Começando
de saúde (Enf. 03, 36 anos). na atenção básica [hierarquização] (Enf. 09, 36 anos).

Universalidade não ter distinção de cor, raça. Partici- Integralidade é atender no todo o cliente [resolutivi-
pação popular é o povo interagir (Enf. 04, 34 anos). dade] (Enf. 10, 34 anos).

Com relação à Universalidade, é você ter condição de A Integralidade é você conseguir dar continuidade ao
atender as pessoas, todas as pessoas de qualquer lugar, tratamento da atenção primaria, secundaria e terciária
certo? (Enf. 05, 29 anos). (Enf. 11, 29 anos).
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A Integralidade eu vejo como forma de se trabalhar a Equidade é dar mais a quem tem menos (Enf. 16, 34
saúde, numa forma bem integrada nos seus diversos anos).
setores, nos seus diversos níveis primário, secundário e
terciário (Enf. 12, 42 anos.). Equidade é você atender todo mundo de forma igual
dando mais a quem tem menos, e dando menos a quem
As profissionais compreendem integralida- tem mais (Enf. 17, 29 anos).
de relacionada à idéia de atendimento em todos
os níveis de atenção com resolução de problemas. A equidade é aquela historia dar mais a quem tem
menos, agente ta trabalhando de uma forma mais igua-
A integralidade se desdobra na adoção dos meios
litária, para o individuo (Enf. 18, 42 anos).
necessários para a efetivação do cuidado, como: con-
sulta médica, consulta de enfermagem, exames,
A compreensão referida pelos profissionais
internação, atividades educativas, tratamento, en-
esta associada à igualdade de atendimento buscan-
tre outros. Implica dispor tipos diferentes desses
do garantir mais atenção à saúde das pessoas que
meios segundo o grau de complexidade da atenção
mais necessitam. Dessa forma mais do que tratar
à saúde, ou seja, exames para a atenção básica, para todos iguais, a equidade albergaria uma depen-
a média e alta complexidade; da mesma forma os dência ao valor de justiça, ou seja, de se buscar dar
medicamentos: uso ambulatorial e na atenção hos- mais a quem precisa mais.
pitalar. Neste sentido, é preciso ter clara a noção de
A garantia do princípio da integralidade re- direito de igualdade antes de discutir equidade, por-
fere-se à garantia de acesso do cidadão aos diver- que também eqüidade não significa retirar direi-
sos níveis de atenção e complexidade buscando tos, mas respeitar o direito de que todos são iguais
promover, prevenir, restaurar a saúde e reabilitar e buscar dar mais prioridade àquele que mais pre-
os indivíduos(10). cisa. Com esta compreensão, a eqüidade em saú-
No contexto de atenção integral a todos os de implica em prover a cada um a atenção, as ações
usuários de um sistema público de saúde o Brasil de saúde segundo suas necessidades(11).
ainda não apresenta condições para atender inte- Equidade pressupõe a garantia de acesso de
gralmente às necessidades de atenção a saúde de qualquer pessoa em igualdade de condições aos
todas as pessoas, nesta conjuntura mesmo dispon- diferentes níveis de complexidade do sistema, de
do de um substancial aumento dos recursos inves- acordo com a necessidade de cada situação fica as-
tidos no setor saúde e nos determinantes sociais segurado que as ações coletivas desenvolvidas pe-
responsáveis pela maioria das más condições de lo Estado em parceria com os profissionais de saú-
saúde não reverteríamos o quadro porque a popu- de serão dirigidas por prioridades ampla e publi-
lação cresceu nas últimas décadas sensivelmente camente reconhecidas. Alcançar este estágio de de-
e na contramão desse crescimento o desenvolvi- senvolvimento se configura um dos grandes desa-
mento das cidades acontece em ritmo lento. fios do Brasil.
O entendimento do termo equidade na ótica Na realidade, a operacionalização do conceito
das entrevistadas revela os seguintes aspectos: de equidade exige tal grau de sofisticação e de de-
licadeza da política, da gestão e da própria orga-
O princípio da Equidade devemos atender a todos de nização social que em poucas situações concretas
forma igualitária respeitando as limitações e carências foi possível observar-se sua aplicação efetiva(12).
de cada individuo, fazendo com isso, que eu atenda ele Conhecer e compreender os princípios do
de forma mais especial, aquele que mais necessita. En- SUS, bem como o conceito ampliado de saúde po-
tão a equidade nesse sentido seria dar mais a quem pre- de ser indispensável para produzir mudanças na
cisa mais (Enf. 13, 34 anos).
saúde segundo sua realidade local. Todavia, ape-
nas o conhecimento e apreensão adequada dos prin-
Equidade é o atendimento de forma igualitária a to-
dos os usuários, garantindo mais atenção aos menos cípios e diretrizes constitucionais por parte das en-
favorecidos (Enf. 14, 29 anos). fermeiras no processo de construção do SUS, não
significa necessariamente que ocorrerá uma efe-
Equidade é estabelecer prioridades de necessidade no tivação do arcabouço doutrinário do sistema na
atendimento. Atender de maneira desigual os desiguais atenção básica. Esta política de saúde se configu-
(Enf. 15, 36 anos). ra um processo em permanente construção que al-
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meja, a médio e longo prazo uma mudança no dirigentes e técnicos cumpram e façam cumprir
paradigma de atenção à saúde e a busca de um sis- a lei(14).
tema de saúde eficaz, eficiente, de qualidade e eqüi- Observamos ainda que as enfermeiras reco-
tativo. A dialética da interpretação dos termos pe- nhecem a importância da sua participação para a
los enfermeiros revela a busca pela compreensão concretização do atual modelo de saúde, apesar dos
do contexto filosófico do atual modelo de saúde e limites impostos à sua atuação, o que conduz a uma
o reconhecimento de sua importância no cenário perspectiva de acreditar que a construção deste sis-
de trabalho. tema vai se consolidando conforme sua conjuntu-
O cumprimento dos princípios do SUS impli- ra administrativa e política. Neste sentido o pro-
ca um passo a mais, cujo conhecimento das neces- fissional poderá ser influenciado, por estar inseri-
sidades e demandas individuais e coletivas acer- do nessa conjuntura como é percebido nas falas a
ca da saúde deve ser resultante da permanente seguir:
interação dos atores na relação demanda e oferta,
nos diversos níveis de atenção à saúde individual Eu acredito que sim, a gente tem muitas atividades co-
e coletiva. Violar um princípio é muito mais grave mo enfermeira generalista aqui na estratégia da saúde
que transgredir a uma norma qualquer. A desa- da família, isso faz com que a gente cumpra esses prin-
cípios mesmo que agente não queira e mesmo que a gente
tenção ao princípio implica ofensa não apenas a
não conheça basta ter bom senso e ter um coração que
um específico mandamento obrigatório, mas a todo entenda o que é a necessidade de saúde de uma pessoa
um sistema de comandos(13). Diante desta conjun- (Enf. 21, 38 anos).
tura, elaboramos a categoria Cumprimento dos
princípios a partir das seguintes falas: Mesmo que a pessoa não saiba o que é universalidade
ela tem que saber que a pessoa que chegou à unidade
Bom a gente tenta, é o profissional de saúde principal- tem uma necessidade e ela como enfermeira ou médico,
mente na área pública, a gente tenta é todos os dias tem que saber que a pessoa tem a necessidade e tem que
estar exercendo as nossas atividades dentro dos princí- fazer com que isso se realize (Enf. 22, 38 anos).
pios do SUS, é difícil sim, é difícil porque a gente vive
diante de uma realidade que nos temos muitas dificul- A enf. 21 revela que por atuar como genera-
dades (Enf. 19, 42 anos). listas contribui para o cumprimento dos princí-
pios, uma vez que, a mesma não trabalha na pers-
Hoje em dia o acesso à saúde eu acredito que ta bem
pectiva reducionista do atendimento a queixa, mas
melhor, o indivíduo vem ate o posto de saúde, o PSF é
um programa que nos temos esse elo com a comunida- sim na leitura de compreender a dimensão da ne-
de, de trazer a comunidade ate o serviço de saúde, eles cessidade de saúde e solucioná-la.
tem esse acesso, porém nos temos um viés que dificulta A prática de enfermagem, nesse contexto, é
um pouco, a questão ainda da oferta de serviço, que concebida como um trabalho coletivo desenvolvido
não esta sendo dada da forma que é pra ser dado (Enf. por profissionais de enfermagem e articulado às
20, 40 anos). práticas dos demais trabalhadores da área de saú-
de. Essa prática visa a identificação das demandas
Embora existam diversas dificuldades para a de assistência a saúde do homem, bem como seus
oferta de serviços em quantidade adequada existe fatores determinantes(15).
por parte dos profissionais o desejo em superar os
obstáculos para o cumprimento de ações direcio- CONSIDERAÇÕES FINAIS
nadas ao atendimento da atenção primaria. O co-
nhecimento e busca do cumprimento dos princí- Neste estudo nos propomos a revisitar os prin-
pios é o alicerce para o alcance de uma melhor quali- cípios do SUS na ótica das profissionais enfermei-
dade das ações e serviços voltados para a promoção ras vinculadas a Estratégia Saúde da Família (ESF).
da saúde, prevenção, recuperação e reabilitação. Verificamos que as profissionais se revestem de co-
Para cumprir a lei todos os municípios deve- nhecimento a respeito das concepções e doutrinas
riam implantar o SUS nas suas áreas de influência que permeiam o Sistema Único de Saúde. Os prin-
de acordo com os princípios de diretrizes. Se a rea- cípios universidade, integralidade e equidade são
lidade que observamos ainda é diferente significa conceituados de forma correta havendo o reconhe-
que novos esforços são necessários para que os cimento da importância de seu cumprimento na
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prática clínica para superar alguns desafios ineren- 6 Ferreira VA, Acioli S, Heringer A, Barros ALS. Os
tes a oferta dos serviços e ao acesso da população a princípios do Sistema Único de Saúde nas práticas
estes. educativas dos enfermeiros no Programa de Saúde da
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meteu ao SUS é correto e moderno, mas que care- do 2010 set 06];5(3). Disponível em: http://www.
ce de condições e tempo para afirmar-se socialmen- objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/
te. E entender que seu desenvolvimento conseqüen- 469.
te vai depender da formulação estratégica de uma
7 Costa RKS, Miranda FAN. Sistema Único de Saúde e
agenda para a saúde a ser perseguida, tenazmente,
da família na formação acadêmica do enfermeiro. Rev
com muito esforço e por muitos anos.
Bras Enferm. 2009;62(2):300-4.
Na busca por responder as complexas deman-
das do SUS, a consolidação da ESF e seu aparato 8 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70;
operacional poderão os gestores e profissionais de 2004.
saúde estar criando espaços para aprofundar as dis-
cussões sobre as concepções saúde, bem como, so- 9 Marques RM, Mendes A. Democracia, saúde públi-
bre as políticas públicas existentes, trabalhando ca e universalidade: o difícil caminhar. Saúde Soc. 2007;
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Endereço da autora / Dirección del autor / Recebido em: 05/03/2010


Author’s address: Aprovado em: 08/02/2011
Andrea Gomes Linard
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60822-480, Fortaleza, CE
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