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da história ambiental
José Augusto Pádua
A
história ambiental, como campo historiográfico consciente de si mes-
mo e crescentemente institucionalizado na academia de diferentes países,
começou a estruturar-se no início da década de 1970. A primeira socie-
dade científica voltada para esse tipo de investigação, a American Society for Envi-
ronmental Histoy, foi criada em 1977. A publicação de análises substantivamente
histórico-ambientais, no entanto, algo bem diferente da simples proposição de
influências naturais na história humana, já vinha se delineando desde a primeira
metade do século XX e, em certa medida, desde o século XIX. Para refletir sobre a
gênese e evolução desse campo de conhecimento, é preciso levar em conta fatores
sociológicos e epistemológicos.
O primeiro curso universitário1 de maior repercussão com o título de “His-
tória ambiental” foi ministrado em 1972, na Universidade da Califórnia em Santa
Bárbara, pelo historiador cultural Roderick Nash, que em 1967 havia publicado o
livro Wilderness and the American Mind, um clássico sobre a presença da imagem
de vida selvagem na construção das ideias sobre identidade nacional norte-ame-
ricana. Ao explicar a concepção do curso, apresentado como indicador de uma
nova fronteira no ensino da História, o autor deixou explícito que estava também
“respondendo aos clamores por responsabilidade ambiental que atingiram um
crescendo nos primeiros meses daquele ano” (Nash, 1972).2 Ou seja, a “voz das
ruas” teve importância na formalização da história ambiental. Um fator sociológi-
co que pode ser inferido de vários outros depoimentos.
É verdade que muitos historiadores ambientais se sentem desconfortáveis
com a presença desse tipo de influência externa ao contexto propriamente aca-
dêmico. Ou simplesmente a rejeitam. Ela sugeriria uma politização da pesquisa,
ajudando a promover uma confusão espúria entre história ambiental e ambienta-
lismo. Mas tal postura vai de encontro às teorizações frequentemente repetidas,
por Lucien Febvre e tantos outros, sobre o fato de o historiador não estar isolado
do seu tempo e sempre mirar o passado com as perguntas do presente. Mesmo
Referências
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resumo – O artigo analisa a emergência da história ambiental, como uma ciência cons-
ciente de si mesma, no contexto histórico e cultural da passagem do século XX para o
século XXI. Ele define a história ambiental como uma investigação aberta e não redu-
cionista das interações entre sistemas sociais e sistemas naturais ao longo do tempo.
Também são discutidos os fatores sociológicos e as principais questões epistemológicas
presentes na constituição desse novo campo historiográfico.
palavras-chave: História ambiental, História ecológica, Teoria da história, Diálogo in-
terdisciplinar, Concepções de Natureza.
abstract – The article analyzes the emergence of environmental history as a self-cons-
cious science in the historical and cultural context of the passage of the twentieth to the
twenty-first century. He defines environmental history as an open and non-reductive
investigation of the interactions between social systems and natural systems over time.
Also discussed are the sociological factors and the fundamental epistemological issues
present in the constitution of this new historiographical field.
keywords: Environmental history, Ecological history, Theory of history, Interdiscipli-
nary dialogue, Conceptions of Nature.