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Tempo

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APONTAMENTOS TEMPO, ESPAÇO E MEMÓRIA

EPISTEMOLOGIA HISTÓRICA - reflexão sobre a natureza, a validade e o processo de construção do


conhecimento histórico, ou seja, sobre o ofício do historiador (APAGOU) - não tão necessário para já, mais
tarde
1. HISTÓRIA: O CONCEITO
A palavra história pode ser interpretada em 3 sentidos:
- o objeto da procura, a realidade história
- o resultado da procura, o conhecimento histórico
- a área do saber ou ciência que se dedica ao estudo da vida dos homens ao longo do tempo, a
História
HISTORIOGRAFIA - conceito que engloba as obras dos historiadores relativas a temas históricos que
divulgam o conhecimento disponível
FILOSOFIA DA HISTÓRIA - vertente da filosofia ou da História que se dedica ao estudo dos pensadores
(filósofos) que refletiram sobre o sentido da história / Ex:Bossuet, Voltaire, Hegel, Kant, etc
TEORIA DA HISTÓRIA - aborda os modelos interpretativos sobre a dinamica historica elaborados pela
comunidade de historiadores
Na prática, o campo da filosofia e da história são muitas vezes compartilhados.
MEMÓRIA HISTÓRICA - construção seletiva e algumas vezes alterada, do passado de um grupo,
comunidade ou nação. “Representação do passado” que pode conter informação resultante de uma
investigação científica, podendo também integrar ideias vindas da tradição oral, bem como de
discursos ideológicos. A memória tem um papel fundamental na configuração das identidades tendo sido
particularmente vigiada pelos poderes ao longo do tempo
2. NOÇÕES BÁSICAS DE EPISTEMOLOGIA HISTÓRICA
Epistemologia - estudo da natureza do conhecimento e da sua validade / Também designada por Teoria
do Conhecimento, Gnoseologia ou Filosofia das Ciências / estudo da relação sujeito - objeto num
processo de conhecimento
Quais são os intervenientes no processo de construção do conhecimento histórico? Qual é o papel
do sujeito (historiador) e do objeto (a realidade histórica fixada em fontes) na relação do
conhecimento? (...)
O conhecimento histórico resulta da interação entre o historiador e as fontes.
Que discursos epistemológicos marcaram a História?
O PARADIGMA POSITIVISTA
Apesar de ser um dos campos do saber mais antigos, apenas no século XIX, a História foi
institucionalizada e obteve o reconhecimento do estatuto de ciência legitimada também e na adoção
do paradigma discursivo das ciências naturais, denominado positivista.
O discurso positivista deve ser interpretado consoante as circunstâncias em que foi produzido. Entre
essas:
- as mudanças políticas, institucionais, económicas e sociais decorrentes das revoluções liberais
- as reações ao Romantismo
- a crença no progresso e o clima de otimismo científico
Tem como modelo o paradigma das ciências da Natureza.
Segundo Fustel de Coulanges: (ver livro, página 17)
Atribui-se assim, um papel passivo ao historiador e ativo às fontes. Diz-se que o conhecimento histórico
é objetivo.
O conceito de facto, entendido como um dado preexistente ao historiador, tem uma matriz positivista
marcando o discurso historiográfico ao longo do tempo.
Revue Historique - um dos principais órgãos da escola positivista
- foram publicados os propósitos de procura por objetividade, imparcialidade e verdade
sustentados em “provas”
- proclamação do distanciamento do historiador em relação às teorias filosóficas e políticas
Devemos à escola positivista a sistematização de um método crítico e a distinção entre hipóteses,
opiniões e factos.
PARADIGMAS ANTI - POSITIVISTAS
Os acontecimentos no campo da ciência da primeira metade do século XX alteraram a forma de pensar
o conhecimento científico.
Simultaneamente, os acontecimentos históricos provocaram um sobressalto nas formas de pensar na
evolução histórica. Assim, os historiadores sentiram necessidade de atualizar o discurso sobre o
conhecimento histórico bem como sobre as práticas historiográficas.
Discurso da escola Francesa
Na reflexão em relação à objetividade do historiador e à natureza do conhecimento histórico
destacam-se alguns historiadores franceses (Marrou) que demonstrou a impossibilidade de apreensão e
descrição da vida dos homens ao longo do tempo “tal como tinha acontecido” - ler livro (página 19)
Já Marc Boch chamou a atenção para a necessidade de atualizar o discurso epistemológico sobre a
História - ler livro página 20.
(vários outros autores)
No contexto da crítica ao discurso positivista, o conhecimento científico foi apresentado como produto do
diálogo, cientificamente conduzido, entre o historiador e as fontes, atribuindo assim um papel ativo a
ambos: o sujeito (historiador) e o objeto (fontes). Embora não tenham totalmente abandonado a busca da
“objetividade” e “verdade”, os franceses demonstraram a impossibilidade de descrever os factos tal
como aconteceram.
Por fim, a ambição do historiador é também compreender a evolução histórica, o que implica o seu
envolvimento como sujeito cognoscente.
O discurso presentista
- primeira metade do século XX
- autores como Croce, Backer ou Charles Beard
Afirmavam a primazia do sujeito (historiador) na relação de conhecimento.
Contrapunham o conceito de objetividade positivista com a subjetividade do conhecimento e a ideia de
que a visão do passado é sempre uma projeção do pensamento e dos interesses do presente.
Abriu-se caminho ao relativismo histórico.
OS DISCURSOS PÓS - MODERNOS: O TEMPO DAS INCERTEZAS
Na última década do século XX, a história cruza-se com o movimento “linguistic turn”, que viria a
colocar o discurso histórico e o discurso literário no mesmo plano.
A subjetividade e a objetividade são duas linhas importantes do discurso pós - moderno. Anuncia-se o fim
da crença que fosse possível a explicação científica das transformações do passado (Lawrence Stone).
(ler livro página 23)
ENTRE A OBJETIVIDADE DO POSITIVISMO E O SUBJETIVISMO DAS CONCEÇÕES PÓS -
MODERNAS
Afirmam-se discursos mais coerentes e racionais de acordo com as práticas do ofício de historiador.
Numa conjuntura marcada pelo discurso pós - moderno e pelos retornos positivistas, o grupo História A
Debate elaborou um manifesto, baseado num inquérito feito à comunidade de historiadores, onde se
apela a uma atualização do conceito de ciência na convergência entre a cultura histórica e científica.
(ler livro página 24)
À objetividade e à subjetividade contrapôs-se a concepção de intersubjetividade do conhecimento
histórico: o conhecimento histórico válido resulta dos consensos da comunidade dos historiadores.
Os consensos historiográficos são sempre “verdades provisórias”. Assim, o conhecimento está sempre em
reconstrução, podendo refazer-se à luz de novas problemáticas ou com novas fontes, metodologias ou
teorias.
Concluindo, podemos afirmar que o conhecimento histórico é fruto do diálogo, cientificamente
conduzido, entre o historiador e as fontes: sem fontes não há história, mas sem historiador também não há
história / O historiador dá significado aos vestígios do passado ao inseri-los num determinado contexto
sociocultural / o historiador seleciona e interpreta a informação colhida nas fontes condicionado por um
conjunto de circunstâncias, destacando a natureza, quantidade e qualidade das fontes, metodologia de
pesquisa, tratamento e interpretação das fontes, o estado do conhecimento nas diversas ciências, a
preparação histórica, metodológica e cultural dos historiadores e as circunstâncias do tempo em que os
historiadores e os historiadores de Arte ou os arqueólogos vivem.
A HISTÓRIA, AS CIÊNCIAS SOCIAIS E AS HUMANIDADES
A História partilha com as ciências sociais o objeto: o estudo dos homens e das sociedades. Tendo o
mesmo objeto de estudo (apesar de métodos de análise diferentes) fundamenta a necessidade de
diálogo entre elas.
Sedas Nunes - o campo das ciências sociais é “um só”, sendo os fenómenos abordados por estas ciências
fenómenos sociais totais
A interdisciplinaridade foi defendida e praticada por muitos historiadores, desde o início do século XX,
afirmando-se os renovadores da historiografia francesa.
Em Portugal - destaca-se Vitorino Magalhães Godinho (ler página 28) - considerou a História forma de
pensar as ações humanas na multiplicidade das suas motivações e expressões atendendo à diversidade
das durações dos fenómenos históricos
A renovação da história (primeira metade do século XX) ocorreu respondendo a desafios de outras
ciências sociais. Fernando Braudel defende a interdisciplinaridade.
O OFÍCIO DE HISTORIADOR
Historiador é um especialista qualificado para fazer investigação e publicações na área da história,
sendo portador de formação académica. Pode exercer atividades em várias áreas, dentro ou fora da
História.
Ao estudo da História dedicam-se também amadores , nomeadamente os eruditos locais.
O passado pode construir também matéria de romance histórico.
A História tem a marca dos seus autores. A ego - história, a história dos historiadores escrita na primeira
pessoa, desvendam-nos as motivações que conduziram à prática do ofício do historiado.
4.1. MARCOS DA CONSTRUÇÃO DO OFÍCIO DO HISTORIADOR
São igualmente marcos da evolução da historiografia como resultado de uma investigação
cientificamente conduzida.
4.1.1. OS SÉCULOS XVII E XVIII: o lançamento das bases de uma investigação cientificamente
conduzida
Os fragmentos do passado que chegaram até nós (testemunhos, dados, fontes primárias, etc) podem
assumir várias formas. Depois, todos eles são interpretados pelos historiadores e transformam-se em
factos.
As fontes históricas são o elo de ligação entre o historiador e o seu objeto de estudo (independentemente
da distancia temporal). A pesquisa, inventariação, recolha e crítica constitui uma etapa decisiva do
processo de construção do conhecimento histórico.
A necessidade de definir uma metodologia crítica no campo da História inicia-se no século XVI.
Jean Mabilloon lançou as bases para a construção científica do conhecimento histórico, em 1681 com a
obra De Re Diplomatica.
O método crítico foi praticado no século XVII por muitos outros autores. O trabalho de erudição
prosseguiu, consolidando-se no século XVIII.
Portugal acompanhou o movimento, nomeadamente com investigações conduzidas por instituições
régias.
A viragem do século XVIII para o século XIX haveria de ser marcada por João Pedro Ribeiro, autor de
obras bastante relevantes em vários campos.
O esforço da Academia das Ciências na preservação e divulgação de documentos fundadores do reino
portugues culminará com a publicação dos Portugaliae Monumenta Historica (Alexandre Herculano).
4.1.2 A ESCOLA METÓDICA
Os caminhos da erudição e da construção histórica prosseguiram paralelos durante o século XVII e
XVIII, isto é, as narrativas históricas nem sempre se apoiaram em documentos sujeitos a uma apertada
crítica. A convergência entre estes dois caminhos concretizou-se no século XIX no contexto da escola
metódica, também denominada positivista.
Esta corrente afirmou-se na sequência das mudanças com as Revoluções Liberais. Assim, a história
foi convocada para legitimar os projetos políticos liberais bem como para construir a memória histórica
das nações (por exemplo, a História da França de Ernest Lavisse).
É preciso distinguir vários níveis de análise: o discurso sobre a História (estatuto científico e natureza
do conhecimento histórico); a metodologia (sistematização do método crítico) e a narrativa histórica
(conteúdos e forma de elaboração do texto histórico).
O seu ponto forte foi a publicação de documentos e a sistematização de uma metodologia crítica de
documentos.
Langlois e Seignobos escreveram a que foi considerada a obra paradigmática da escola metódica -
apresenta as diversas etapas do processo de construção do conhecimento histórico, dando destaque às
diversas fases do processo de crítica dos documentos: a crítica externa (subdividida em crítica de
procedência e de restauração) e a crítica interna (subdividida em crítica de interpretação e crítica
interna negativa de sinceridade e de exatidão)
Se a Mabillon é atribuída a criação do método crítico, cabe aos historiadores oitocentistas a sua
sistematização e aprofundamento.
4.1.3 PROBLEMATIZAÇÃO E TEORIZAÇÃO: precursores
Os filósofos iluministas manifestaram as limitações sobre o conhecimento histórico disponível na sua
época. Não se limitaram a fazer uma crítica, mas propuseram também o estudo de outros temas que
consideravam úteis tanto para a explicação da evolução histórica como das circunstâncias do tempo em
que viviam.
(ler texto de Voltaire, página 36 - manifesta a esperança que a História venha conseguir explicar os
“mecanismos” da evolução social e apresenta as limitações de uma narrativa de acontecimentos políticos
e interroga os historiadores sobre questões de método)
(ler texto de Alexandre Herculano, página 38 - crítica à historiografia do seu tempo, enquanto formula uma
proposta sobre uma nova forma de fazer história, (...) / reconhece a utilidade de uma história narrativa de
acontecimentos protagonizados por indivíduos )
(ler texto Kartl Marx, página 41 - no século XIX, apresentou uma resposta às perguntas de Voltaire relativas
à explicação da evolução histórica, formulando o primeiro modelo explicativo da evolução das
sociedades: “materialismo histórico” - a novidade reside numa interpretação da evolução histórica na
qual se faz interagir economia e sociedade)
4.1.4. O PROCESSO DE RENOVAÇÃO DA HISTÓRIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: a
escola dos Annales
As mudanças mundiais na primeira metade do século XX deitaram por terra a crença no progresso e a
euforia científica que haviam pautado o imaginário dos homens do século XIX, provocando uma crise de
consciência e valores.
No caso da história, as vivências da guerra sofridas por alguns historiadores (Marc Bloch e Braudel)
levaram-nos a contestar uma história política e militar centrada na heroicidade de alguns
protagonistas que esquecia os “homens de carne e osso”. A ciência histórica foi igualmente confrontada
com o dinamismo de mudança vivido no seio de jovens ciências sociais, como a Geografia Humana e a
Sociologia.
4.1.5. POR UMA “HISTÓRIA NOVA”
No inicio do século XX, a história narrativa de acontecimentos, não satisfazia alguns historiadores,
principalmente os mais novos, que pugnaram por uma História Nova.
1900 - Henri Berr - Revue de synthese historique - começa a estabelecer o diálogo entre ciências sociais.
Marc Bloch e Lucien Febvre distinguem - se no esforço de renovação do processo de construção do
conhecimento histórico. / Valorizavam o trabalho dos positivistas no entanto consideravam que faltava
audácia
Neste contexto, afirmou-se um grupo de historiadores franceses que se congregou em torno da Revista
Annales d'Histoire économique et sociale criado pelos historiadores em cima referidos. Propunham
prosseguir um trabalho honesto e com valores positivistas, mas marcado por uma abertura (em várias
áreas) a outros saberes, nomeadamente os produzidos no âmbito das ciências sociais.
4.1.5.1. UMA REDEFINIÇÃO DO OBJETO DA HISTÓRIA: “o homem todo e todos os homens”
Operaram de imediato uma mudança no objeto da História. (Marc Bloch, página 44 e Vitorino Magalhães)
Esta redefinição do objeto da História e consequentemente no seu campo (homens concretos, na
multiplicidade das suas expressões e na diversidade dos seus espaços e tempos), implicou uma
reformulação do processo de construção do conhecimento histórico, isto é, da metodologia
histórica.
4.1.5.2. NO INÍCIO: a definição de problemas e a formulação de hipóteses
A investigação científica é sempre uma procura de respostas para determinados problemas. Assim, no
caso da História, o ponto de partida passa a ser a definição dos problemas e a formulação de
hipóteses. A identificação e a seleção das fontes é feita em função dos problemas e das hipóteses que
foram previamente definidos. Por sua vez, as fontes só respondem às questões que lhe são colocadas.
Afirma-se uma nova atitude perante a fonte - passa a ser uma “construção” do historiador na medida em
que é o historiador que lhe dá vida e sentido, quando a integra num determinado contexto espacial e
temporal.
4.1.5.3. O ALARGAMENTO DO CONCEITO DE FONTE
Levou a uma reformulação dos processos de crítica histórica que passou a convocar múltiplas áreas
do saber para fazer o tratamento e aproveitamento das fontes.
O sentido de crítica histórica foi igualmente reformulado: a confusão entre subjetividade e
parcialidade marcou o discurso sobre a história, ignorando-se os princípios deontológicos que devem
guiar o historiador.
É importante ter em conta que o receio que o historiador deve experimentar ao analisar uma fonte não é o
de ser enganado por ela mas o de se enganar ou não ser capaz de interpretar a informação nela contida.
4.1.6. FACTOS DE REPETIÇÃO E METODOLOGIA SERIAL / QUANTITATIVA
A História concebida segundo o modelo positivista centrava-se no estudo de indivíduos e acontecimentos;
estudava os factos na sua perspetiva de factos singulares
A identificação e o estudo dos factos de repetição pressupôs a utilização de fontes seriais (que fornecem
séries homogêneas e contínuas de dados). Implicava também contar e avaliar estatisticamente o peso dos
dados históricos, utilizando uma metodologia quantitativa.
Permitiu o estudo de fenómenos estruturais e dinâmicas conjunturais nas áreas da demografia
histórica e da história económica, por exemplo. O cruzamento estatístico de informação revelou
interações entre diversas componentes da realidade histórica permitindo a sua compreensão num âmbito
mais alargado.
4.1.7. A METODOLOGIA COMPARATIVA
Os historiadores começaram a aplicar este método quando sentiram necessidade de comparar
aspectos formais dos documentos no sentido de proceder à sua avaliação crítica e à sua interpretação.
Esta necessidade passou a assumir outra dimensão no quotidiano do ofício do historiador quando se
registou um alargamento do campo da história a objetos historiográficos que, não se confinando a
especificidades locais ou nacionais, fazem parte de toda a vida humana.
Implica a utilização do método comparativo, mas não se circunscreve a este.
Marc Bloch defendia que era obrigatório um inquérito bem definido às realidades a comparar, bem como
a utilização de fontes susceptíveis de fornecerem dados de idêntica natureza.
Ao comparar sociedades distantes no tempo e no espaço, é preciso ter em atenção aos anacronismos
(generalização indevida)
Reis Taumaturgos - Marc Bloch - uma das primeiras obras da história comparada
4.1.8.UMA NOVA CONCEÇÃO DE TEMPO HISTÓRICO
Na definição de Marc Bloch a história é a “ciência dos homens no tempo"; (ler livro página 49)
O tempo tradicional da história, fundamentalmente da história politica, é cronológico tendo como
particular caracteristica a inserção de um acontecimento numa data, século ou época; expressava-se
ainda numa arrumação da evolução histórica em períodos batizados por acontecimentos considerados
fundadores de tempos novos (Revolução Francesa marca o inicio da contemporaneidade no mundo
ocidental.
O alargamento do conhecimento histórico, derivado do estudo de outros campos a partir de novas
fontes e metodologias, demonstrou as limitações da dimensão cronológica tradicional para situar e
periodizar a multiplicidade de factos históricos bem como para percecionar a diversidade das durações e
dos ritmos históricos.
Ao mesmo tempo, no campo da ciência, registou-se uma alteração na concepção de tempo: o tempo
deixa de ser o quadro onde se desenrolam os fenómenos para ser inerente aos próprios fenómenos
(teorias de Einstein).
(ler livro página 50)
4.1.9. A ELABORAÇÃO DE MODELOS EXPLICATIVOS
Enquanto os historiadores tiveram apenas como ambição apresentar uma sequência, ordenada
cronologicamente, de factos particulares não sentiram necessidade de recorrer ou formular teorias.
Essa necessidade apenas surgiu com a necessidade de passar a fase da simples descrição para a da
explicação / compreensão. (ler livro página 52)
Peter Burke define modelo teórico como uma “construção intelectual que simplifica a realidade para
realçar o que se repete, o que é constante e típico, o que se apresenta como um grupo de traços e
atributos”.
As pesquisas em fontes seriais, que fornecem dados homogéneos e contínuos, e de metodologias que
possibilitaram o cruzamento, quantitativo e qualitativo, de diversas variáveis, permitiram a elaboração
de alguns modelos interpretativos das dinâmicas históricas.
No século XX destacam-se, as pesquisas que permitiram a compreensão do funcionamento de alguns
aspetos das sociedades do AR e a consequente formulação de modelos explicativos - caso do modelo
económico ou do modelo demográfico.
Os estudos à escala transnacional elaborados por Braudel permitem-lhe identificar diferenças e
semelhanças na evolução histórica e relações de interdependência e conexões entre espaços.
( ler livro página 53 )
O grande esforço de investigação realizado até à década de setenta do século XX permitiu conhecer as
principais tendências da organização e evolução da população das sociedades ocidentais. A História
deixa de ser uma narrativa de factos particulares e identificou o que era comum numa sociedade, época
ou conjunto de espaços. Este percurso aproximou-a das ciências sociais, facilitando o diálogo
interdisciplinar.
4.1.10. PROSOPOGRAFIA E ESTUDO DAS REDES SOCIAIS
Os caminhos da metodologia histórica no campo da história social passaram, a partir dos anos 80,
sobretudo pela prosopografia ou biografia coletiva.
(ler a definição de prosopografia segundo Lawrence Stone)
Este método permite identificar características comuns a um grupo social ou socioprofissional, aprender
as suas dinâmicas internas e os relacionamentos com outros grupos ou indivíduos.
Em Portugal, o caminho da prosopografia foi apontado, em 1979, por Andrée Mansuy num artigo que
traçou o percurso social de alguns negociantes portugueses. Outros exemplos: estudos de Nuno
Monteiro sobre a nobreza portuguesa; Mafalda Soares da Cunha sobre as redes clientelares de uma casa
senhorial; Jorge Pedreira sobre homens de negócio; etc
Esta metodologia permite representar o “campo social” como uma estrutura em rede com pontos e linhas.
(pontos - individuos / linhas - interações)
4.1.11.A MICRO - HISTÓRIA
Uma das correntes mais inovadoras, do ponto de vista teórico e metodológico, tem sido difundida em
vários países, a partir dos anos 80, mas que nasceu num país historiograficamente periférico: a Itália.
A novidade reside na redução da escala de análise - temática ou espacial - para tentar captar
comportamentos de “homens concretos”.
Do ponto de vista metodológico, caracteriza-se por cruzar a informação proveniente do maior número
possível de fontes no sentido de captar todos os traços e indícios do objeto em estudo. Implica a utilização
de bases de dados construídas para o efeito. 2 obras de referência neste campo: Carlo Ginzburg - o
queijo e os vermes - e a outra escrita por Giovani Lévi - Herança Imaterial.
Em Portugal destacam-se também dois estudos pioneiros e inovadores: Joaquim Ramos de Carvalho e José
Pedro Paiva.
Ao confrontar o geral com o particular permitiu dar sentido ao particular e substância ao geral.
Possibilitou ainda apreender a diversidade de expressões locais de fenómenos considerados gerais e
trouxe para o campo de análise histórica muitas pessoas e fenómenos até então ignorados, ou pouco
estudados.
A IMPORTÂNCIA DO TEMPO LINEAR
I. Cronologia e Causalidade:
Um aspeto fundamental do tempo linear é a sua ligação inseparável à causalidade. O tempo linear
permite que os historiadores estabeleçam relações causais entre os acontecimentos, permitindo-lhes
discernir as causas e as consequências dos desenvolvimentos históricos. Através da lente do tempo linear,
os historiadores podem identificar a cadeia de acontecimentos que conduzem a pontos de viragem
históricos significativos e compreender como as acções do passado têm repercussões no futuro.
II. Progresso e evolução:
O tempo linear implica inerentemente progresso e evolução. Os historiadores utilizam frequentemente
esta perspetiva para mostrar o desenvolvimento das sociedades, culturas e civilizações ao longo do
tempo. Ao examinar a forma como as instituições, as tecnologias e as ideologias evoluem de forma linear,
os historiadores podem ilustrar a natureza dinâmica da história humana.

III. Compreender a continuidade histórica


O tempo linear é fundamental para compreender a continuidade histórica, demonstrando como os
acontecimentos e desenvolvimentos estão interligados em diferentes épocas. Permite aos
historiadores traçar os fios de influência, ideias e tradições que persistem ao longo do tempo, mesmo
quando outros aspectos da sociedade mudam.
IV. Análise de tendências e padrões históricos
O tempo linear facilita a análise de tendências e padrões históricos. Ao traçar o curso dos acontecimentos
numa ordem cronológica, os historiadores podem identificar temas recorrentes, ciclos e
desenvolvimentos a longo prazo que não são imediatamente visíveis quando se vê a história numa
perspetiva não linear.
O SIGNIFICADO DO TEMPO CÍCLICO NA NARRATIVA HISTÓRICA
I. Recorrência e padrões históricos
O tempo cíclico convida os historiadores a considerar a recorrência e os padrões históricos,
desafiando a noção linear de que a história progride necessariamente numa direção. Ao reconhecer
padrões cíclicos, os historiadores podem identificar semelhanças e repetições em eventos e fenómenos
históricos
II. Transformação social e política
O tempo cíclico também pode ser uma lente através da qual se pode ver a transformação social e
política. Convida à contemplação da ideia de que, tal como os ciclos naturais, as sociedades e os sistemas
políticos passam por períodos de crescimento, declínio e renovação.
24-10
MEMÓRIA:
- a construção da memória (motivação, seleção, omissão, distorção, manipulação)
- a memória como construtora da narrativa histórica >(crónicas)
A historiografia e a sua evolução nos séculos XX e XXI: campos de estudo
MEMÓRIA - DOCUMENTOS STUDOCU

5. TENDÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS
As correntes mais inovadoras da historiografia europeia, substituíram o individual pelo coletivo e o
estudo dos acontecimentos políticos pelos fenómenos económicos, sociais e mentais. (exemplo: Crise
1383 - 85)
Em Portugal, o ambiente político e ideológico em geral, e o universitário em particular, não foram muito
favoráveis à divulgação de algumas correntes historiográficas que se desenvolviam na Europa. Foram
sobretudo os historiadores estrangeiros que escolheram como temas de investigação a realidade
portuguesa, historiadores portugueses que fizeram parte das suas carreiras no estrangeiro e historiadores
não universitários os principais responsáveis pela sintonia da historiografia portuguesa com a
europeia.
5.1. HISTÓRIA ECONÓMICA
Até à década de 70, destacam-se na historiografia europeia (em particular na francesa) estudos sobre
movimentos económicos utilizando como principais indicadores os preços, salários, rendas, etc.
Pretendiam dar uma resposta ao problema do crescimento nas sociedades pré - industriais manifestando
interesse pelo estudo das crises económicas.
Em Portugal, a história económica só entra de uma forma massiva na agenda historiográfica nos anos
setenta do século XX. Condicionalismos de natureza ideológica explicam que os principais trabalhos
nesta área (relativos à realidade nacional) tenham sido elaborados por historiadores portugueses em
universidades estrangeiras ( ver nomes página 64)
5.2. DEMOGRAFIA HISTÓRICA
Uma das áreas mais cultivadas na primeira metade do século XX, em particular na Inglaterra.
Com base numa metodologia de recolha e tratamento de dados colhidos nos registos paroquiais e em
listas normativas quantificaram-se efetivos populacionais, estudaram-se comportamentos demográficos,
(...)
Em Portugal, começou a ser objeto de análise em teses de licenciatura - que constituíam um espaço de
inovação no contexto universitário português. Assim, foi possível experimentar novas metodologias e
novos campos temáticos - (página 66).
5.3. A HISTÓRIA SOCIAL
A complexidade do campo da história exige especializações no sentido de melhor captar e entender a
sociedade. A história social desenvolveu-se em estreita articulação com a história económica, mas foi
abordada igualmente numa perspetiva mais especializada. Neste sentido, foram identificados grupos
sociais e categorias socioprofissionais, mediram níveis de fortuna, (...)

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