Rebel Kings MC - Ame Teu Irmão - Garrett Leigh

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SÉRIE REBEL KING'S 04 – AME TEU IRMÃO

O quarto livro da Série Rebel Kings

Imagine: o melhor amigo de teu irmão. O irmão mais novo de seu melhor amigo. O

urso de coração mole e o gremlin do caos turbulento. O inevitável só acontece quando

você permite.

“Riv, se você me deixar falar, saberá exatamente como me sinto.”

Já disse isso a ele mil vezes, mas a teimosia de River tem um quilômetro e meio de

largura.

Ele não quer ouvir.

Para ele, estamos condenados.

Amaldiçoado.

Proibido.

Porque ele acha que eu amo um maldito motoclube mais do que ele.

Meu pior pesadelo é perdê-lo antes que eu tenha a chance de fazê-lo mudar de ideia

e, em nosso mundo, pesadelos se tornam realidade. Nossa realidade é confusão e dor, mas

eu o amo. E ele me ama.

E lutarei por nós até o fim.

AME TEU IRMÃO é um romance MM de mágoa/conforto da série best-seller

Rebel Kings MC. Avisos de conteúdo para violência, abuso fora da página,

automutilação e luto.

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PREFÁCIO

Este é um romance sombrio, com personagens presos no mundo das gangues de

MC e tudo o que vem com isso. Esses personagens nem sempre são legais e fazem coisas

que não são legais. É um romance, então os doces momentos que desejamos chegam, mas

tenha essas palavras em mente antes de mergulhar.

Este é o quarto livro da série Rebel Kings MC.

Agradeço infinitamente a Packy, meu leitor sensível, e meu marido por

compartilhar sua história familiar comigo. E para Pipey, que ainda estou tentando

persuadir a me deixar cair da garupa de sua Harley algum dia.

Além disso, porque isso surgiu na sequência de Devil's Dance e eu esqueci de incluí-

lo na época: os mesmos princípios fluidos da linguagem de rua que expliquei em minha

série Darkest Skies se aplicam aqui. Em particular, a palavra alimentado é um termo bem

conhecido no submundo do Reino Unido usado para descrever a polícia/autoridades de

qualquer tipo. Não tem nada a ver com o FBI americano, juro.

Avisos de conteúdo: violência, uso de drogas, trauma/abuso sexual passado,

automutilação implícita e ideação suicida, histórico de morte de um dos pais.

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LISTA DE REPRODUÇÃO

Cemetery Gates - Pantera

Open Your Eyes - Guano Apes

Rebel Yell - Billy Idol

No More Tears - Amyl and The Sniffers

If You Could Read My Mind - Gordon Lightfoot

Child in Time - Deep Purple

Battle of the Beanfield - the Levellers

Leaving Blues - Bombay Bicycle Club

A Pair of Brown Eyes - The Pogues

Sonny The Strong - Gas Coombes

Ever Fallen in Love (with someone you shouldn’t have) – Buzzcocks

Ouça no Spotify:

https://open.spotify.com/playlist/0FnQKUCBSvgrCipPRXh8kL

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OS REBEL KINGS MC

The Rebel Kings MC

Presidente: Cam O'Brian (33)

Vice-presidente: Nash McGovern (32)

Sargento de Armas: Saint Malone (30)

Executor: Mateo Romano (28)

Tesoureiro: Alexei Ivanov (30)

Secretário: Seth — Decoy— Greene (31)

Capelão: — Padre1— Embry Carter (25)

Road Captain: Rubi Matherson (32)

Irmãos:

Locke Halliwell (39)

Folk Whitlock (34)

Nômades

Guarda-florestal

Crows

Rocco St John (falecido)

Frank Crow (falecido)

Butch Crow (falecido)

McGif (falecido)

1 Pai, padre, capelão.

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Sócios do clube

Orla O'Brian (irmã de Cam) - 29

River O'Brian (irmão de Cam) - 27

Skylar Buchanan (enfermeira de emergência)

Sol Bosanko (pescador de Porth Luck)

Ivy Greene (filha de Decoy)

Viktor Petrenko

Bear

Axel

Família Sambini

Mário Sambini (chefe)

Gianni Sambini (filho)

Lorenzo Sambini (falecido)

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COMENTÁRIOS DA REVISÃO

Cle

Quando penso que não poderia amar o próximo livro desta série tanto quanto o

anterior, Garrett Leigh faz isso de novo. Este é o livro 4 da série e, sim é tão

maravilhoso quanto os outros.

Rubi e River têm cada um mais do que seu quinhão de bagagem, mas eles se

encaixam perfeitamente. Há muito calor, mas ainda mais coração. Adorei cada

palavra de sua história de amor surpreendentemente tenra e lenta.

“Eu o odeio. O problema era que eu também o amo.”

E assim segue a história... leiam, intenso demais e super vale a pena.

Ansiosa pelo próximo!!!

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CAPÍTULO 01
RIVER

Dezessete meses atrás

Eu esperava que a cama fosse muito pequena para ele. Na minha cabeça, ele era o

maior cara que já existiu. Às vezes eu esquecia que ele começou apenas como um menino,

como o resto de nós. Fazia muito tempo desde que qualquer um de nós era criança, e hoje

em dia, acredite em mim, Rubi Hummingbird Matherson era todo cara.

Ele era todo coração também. Por isso doía tanto vê-lo assim, curvado em uma

cama de hospital, o rosto escondido nos braços, cada tendão rígido. Uma bagunça

certificada por causa da vida de merda em que nascemos.

Fodam-se os Rebels Kings.

Foda-se para o inferno e de volta.

A menos que eles já estivessem lá. Olhando para Rubi, para o rosto de Cam quando

ele o deixou aqui, até mesmo para Saint enquanto os protegia, não era difícil imaginar.

Skylar veio atrás de mim, os Vans em seus pés mantendo seus passos quietos.

Mantive meu olhar em Rubi. — Que drogas você deu a ele?

Skylar me poupou de uma carranca complexa. Ele odiava isso tanto quanto eu, mas

por motivos diferentes. — Boas. Ele vai dormir um pouco.

— Quanto tempo é um pouco? Ele já está inconsciente há três horas.

— Depende da tolerância dele. Ele é um cara grande, mas Cam me disse que ele é

um peso leve com tudo, exceto maconha.

— A noite toda então?

Skylar deu de ombros, brincando comigo, e eu me inclinei mais forte na cama de

Rubi, esfregando a mão no meu rosto.

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— Você pode se sentar, você sabe. — Skylar empurrou uma cadeira para mim. —

Você não vai perder nada.

Eu já sentia falta de Rubi, e não tinha direito. Ele não tinha o direito de me fazer

sentir isso. Não era justo que eu não pudesse sobreviver a outro gemido torturado saindo

de seu peito. Outro vislumbre de seu rosto tão ferido e quebrado. Sobrevivi a muita

merda, mas nunca tinha visto alguém de quem gostava com tanta dor física. Alguém que

eu amava.

E porra, eu amava esse idiota mais do que qualquer coisa.

Ignorando Skylar e sua cadeira, inclinei-me sobre a cama e esfreguei o antebraço

tatuado de Rubi, ignorando a pressa de anos que me abalou apenas com aquele simples

toque...

— Eu preciso de você, Riv. Venha para casa comigo, por favor?

Eu nunca saberia se ele quis dizer onde acabamos - nus na minha cama Porth Luck.

Ou se os sonhos arrepiantes que tive desde então tinham alguma relação com a realidade.

Não deveria ter enfiado um grama de ket no seu nariz.

História da minha vida. E agora era dele também, tanto quanto ele queria que fosse.

E dado que eu não o tinha visto desde então, que ele me deixou, porra, eu acho que não era

tanto assim.

Eu tentei não me importar, mas um estremecimento de luto me abalou do mesmo

jeito, reprimido apenas por uma porra de uma idade adulta inteira de prática. Anos

passados sabendo que não importava o quão louca era nossa conexão física ou o quanto eu

o amava.

Estávamos condenados.

Amaldiçoado.

Proibido.

Porque ele amava o clube que destruiu toda a minha família mais do que ele me

amava.

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Deixar.

Deus, eu queria. Mas enquanto eu olhava para ele, a vontade de ir embora... era

inexistente. Eu não poderia fazer isso. Além disso, prometi a Cam que ficaria e, por mais

que odiasse meu irmão mais velho e tudo o que ele representava, nunca menti para ele.

Não sobre nada. — Nem mesmo você, boo.

O termo carinhoso escapou com muita facilidade. Eu sussurrei as palavras

enquanto tirava o braço de Rubi de seu fodido rosto perfeito, revelando maçãs do rosto

salientes e um maxilar cinzelado grosso com a barba loira escura. — Onde está o piercing

no nariz dele?

— Tirei para o choque cerebral. — Skylar colocou um envelope na minha mão livre.

— Nenhum metal no scanner. Coloque-o de volta, se quiser.

Eu enviei a ele um olhar de que porra é essa.

Skylar revirou os olhos e saiu da sala, deixando-me com o envelope acolchoado e

um gigante sedado.

Os olhos de Rubi ainda estavam fechados, escondendo as esferas cor de avelã que

assombravam meus sonhos e preenchiam qualquer momento de descuido quando ele não

estava por perto.

O que era frequente. Minha escolha, não dele, até que ele veio até mim naquela

noite.

Masoquista.

Se apenas. Sentir falta de Rubi doía como uma cadela, mas tê-lo em minha vida,

sabendo que poderia perdê-lo a qualquer momento para uma bala perdida, uma faca. O

tubo no crânio que fez isso com ele. Porra, cara. Isso me destruiu.

O envelope que Skylar havia deixado pesava em minha mão. Mantive a outra no

antebraço de Rubi, acariciando a parte inferior de seu pulso com pouco pensamento

consciente, e derramei o conteúdo na cama.

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A minúscula argola de prata de Rubi caiu entre as joias mais volumosas. A pulseira

de couro que ele usava nos últimos dez anos. Os anéis por ainda mais tempo. Peguei o

sinete do clube, idêntico ao que Cam usava. Para aquele que eu ainda usava em uma

corrente em volta do meu pescoço, como uma placa de identificação da porra da

vergonha. O emblema dos Rebel Kings era uma caveira gótica emoldurada por rosas

vintage, com quatro décadas de idade. Como se isso significasse qualquer coisa, exceto a

mágoa e a dor que cada novo ano parecia trazer.

Tire-o então.

Alguns dias eu tentei, mas me sentia desmantelado sem isso, e a ironia de que eu

sentia isso mais agora que morava longe do clube era bíblica pra caramba.

Deslizei o anel de Rubi de volta em seu dedo, tentando não demorar. Para

entrelaçar nossas mãos como se fôssemos amantes. Seu bracelete era mais fácil, mas ele se

mexeu quando coloquei o piercing de volta em seu nariz, estremecendo com meu toque

antes que ele respirasse fundo. — Riv?

Senhor, ele foi o único filho da puta que não me irritou me chamando assim.

Empurrei seu cabelo para trás de seu rosto, segurando-o, esperando que seu olhar

espertinho me fisgasse.

Mas quando seus olhos se abriram, não estava lá. Ele estava fodidamente blitz. —

Riv?

— Estou aqui.

Rubi piscou, encolhendo-se com a luz do teto. Demorou um segundo, mas vi o

momento em que ele voltou à terra e o deixei ir.

Afastei-me da cama, avançando para a porta por instinto. Eu tinha prometido a

Cam que não iria embora, mas o pensamento da atenção consciente de Rubi em mim por

quanto tempo levasse para ele estar inteiro novamente, eu não poderia aguentar.

— Riv.

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Ele ainda soava a um milhão de milhas de distância, mas sua voz profunda me

capturou. Eu congelei, observando suas mãos tatuadas se debaterem enquanto ele se

estendia para mim, sua falta de jeito tão estranha que revirava minhas entranhas. A

autopreservação me puxou para a porta, mas o domínio perverso e primitivo que ele tinha

em meu coração levou meu corpo na direção oposta.

Recuei para a cama e peguei suas mãos grandes, apoiando-me na curva em que ele

havia caído, enraizando minhas botas descombinadas no chão. — Ei, ei, estou aqui.

Rubi gemeu, recuperando uma de suas mãos para proteger os olhos. — Por que está

tão brilhante aqui?

— Porque você tem uma enxaqueca infernal. — Eu bloqueei a luz com meu corpo.

— Melhor?

Ele fez outro som de dor que me rasgou. Estendi a mão para o interruptor acima de

nós, mexendo nele até encontrar um ajuste mais escuro.

Não era muito, mas ele relaxou um pouco. O suficiente para eu colocá-lo de volta

na cama, mas não para a tensão em seu corpo desaparecer.

Ele se enrolou em si mesmo novamente. Eu esfreguei suas costas e ombros tensos.

O pescoço dele. Rocei a ponta do meu polegar sobre sua bochecha, meus dedos

emaranhados em seu cabelo sedoso.

Rubi gemeu. — Faça isso parar, porra.

A emoção crua me queimou. Foda-se. Estendi a mão e apaguei totalmente a luz,

inundando-nos na escuridão.

Rubi estremeceu. Ele respirou fundo e se deitou de costas, o olhar pesado com uma

piscada lenta, o rosto contraído e pálido. — Não consigo ver.

— Porque está escuro?

— Não. Não consigo me concentrar.

Ele não parecia tão preocupado com isso. Ou talvez ele tivesse perdido a vontade

de se importar.

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Eu esfreguei seu ombro novamente. — Você está louco com analgésicos. Você ficará

bem quando eles passarem.

— Hum.

— Você quer água?

— Eu vou vomitar, porra.

— Isso é um aviso?

— Não. — Rubi saiu, sua mão na minha caindo frouxa.

Eu queria sacudi-lo para acordá-lo.

Eu ainda queria ir embora.

Em vez disso, sentei-me na cadeira de Skylar e observei Rubi dormir. Rastreou a

dor quando ela começou a desaparecer, uma careta opaca substituindo as linhas nítidas

em seu rosto. Uma nuvem escura ainda pairava sobre ele, mas quando ele abriu os olhos

novamente horas depois, ele finalmente me viu.

— Porra. — Rubi se endireitou. Como se me ver o jogasse de um pesadelo para

outro. — O que você está fazendo aqui? Cam está bem?

Sempre Cam. — E você? Você está bem, porra?

Na penumbra da sala, Rubi olhou fixamente, seus olhos salpicados de ouro

segurando um mero fragmento de seu poder potente usual, mas o suficiente para me

prender. Ele respirou fundo e pousou as mãos trêmulas na cabeça. — Não brinque

comigo, Riv. Eu sinto que meu crânio fez oito rodadas com Lord Nashie e não consigo me

lembrar como cheguei aqui - porra, apenas me diga. Por favor?

O medo em seus olhos cansados acabou comigo. A maneira como ele disse por favor.

A maneira como ele pronunciou essa palavra sempre foi minha ruína.

Forcei minhas mãos cerradas a relaxar e contei a verdade. — Você tem síndrome de

concussão por causa daquele golpe que levou algumas semanas atrás. Aquele no qual você

nunca viu a porra de um médico. Skylar não deixou Cam e Saint ficarem. Expulsou-os.

Eles estavam inteiros quando partiram, no entanto.

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— Eles saíram juntos?

— Sim.

— Ninguém mais estava com eles?

— Como quem?

Rubi fechou os olhos, sua deflexão padrão quando eu fazia as piores perguntas.

Perguntas para as quais eu normalmente não queria respostas. Mas sua reação parecia fora

de contexto. Eu quis dizer Nash. Ou minha irmã. Qualquer outro irmão que eu não desse a

mínima para citar. Não havia nenhuma razão para ele se esconder, e a marca da velha

frustração era brutal.

Violenta.

Empurrei a cadeira para trás com um arranhão áspero. — Foda-se.

Rubi deu um pulo, abrindo um olho e fechando o outro com tanta força que eu

sabia que ele ainda sentia muita dor. — Qual é o problema?

— Você está falando sério?

— Eu... merda. — Rubi cobriu a boca, a cor se esvaindo de seu rosto já pálido.

Ele vai ficar vomitar.

Comecei a avançar, mas Skylar chegou lá primeiro, aparecendo do nada e

bloqueando a visão de Rubi enquanto seu corpo se rebelava contra o que quer que

estivesse acontecendo com ele.

Foi confuso e doloroso.

Traumático. Meu estômago se contorceu com cada ânsia que destruiu seu corpo

forte. Não porque eu queria vomitar junto com ele. Porque doía muito vê-lo assim. Saber

disso de uma forma ou de outra, nunca iria acabar.

A derrota substituiu a raiva que tantas vezes lutei para conter. Skylar ajudou Rubi a

se deitar na cama e saiu do quarto.

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Sentei-me ao lado de Rubi e segurei suas mãos, dobrando seus ossos e os meus. —

Deixa comigo. Quando você estiver melhor. Suba na sua motocicleta e saia desse lugar

maldito.

A alma de Rubi desabou em seus olhos injetados. Ele lentamente balançou a cabeça.

— Eu não posso.

— Você pode. Se você realmente quisesse. Poderíamos ir a qualquer lugar.

— Mas ainda seríamos nós, Riv. E nos afogaríamos longe das pessoas que amamos.

Nossa família. Você sabe que sim.

— Eu não faria isso. Eu não dou a mínima para nenhum deles.

— Você deixaria Orla?

— Ela estaria com Nash.

Rubi balançou a cabeça novamente. — Não é tão simples e você sabe disso.

— Poderia ser. — Deixei cair suas mãos. — Se você quisesse.

— Eu quero isso.

Uma risada fria me esfolou. — Você não quer nada para você. Você nunca quis. E

onde isso te levou? Deitado aqui morrendo pelo meu irmão enquanto ele conta a porra do

dinheiro dele?

— Cam não é-

— Ele não está aqui, porra. — A raiva voltou, chicoteando através de mim enquanto

os olhos injetados de Rubi ficavam úmidos. — Você está, por conta própria, como sempre

estará enquanto continuar indo para o inferno e voltando sem dar a mínima para as

pessoas que te amam.

Rubi engoliu em seco, desviando o olhar de mim e fixando-o no lençol amassado

em seu colo. — Isso não é justo. Fazemos tudo pelas pessoas que amamos, assim como seu

pai fazia.

— Meu pai está morto. — Eu cuspi as palavras. — Um carro-bomba o explodiu,

lembra?

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Rubi se encolheu e uma única lágrima escorreu por seu rosto. Mas ainda assim ele

não olhava para mim.

Maldição.

Eu o havia perdido mil vezes e o estava perdendo novamente.

Eu abaixei minha cabeça, a luta drenando de mim, deixando um abismo

escancarado em seu rastro. — Você não é velho demais para morrer jovem, boo. E você

nunca será. Não para mim.

Rubi enterrou o rosto nas mãos.

Meu coração se despedaçou com o dele e eu o deixei lá. Apesar da minha promessa

a Cam, deixei Rubi e, desta vez, não voltaria.

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CAPÍTULO 02
RUBI
Dias de hoje

— Você tem batom no pescoço e fede a manga.

Nash se jogou no sofá do bar, sua cabeça caindo em meus pés calçados com meias.

— Foda-se. Está tão escuro aqui que você não saberia dizer se eu tivesse pintado meu rosto

todo de rosa como sua cueca.

— Foi um palpite educado. E você ainda cheira como se tivesse rolado em uma

poça de Rubicão.

— Há coisas piores que eu poderia sentir o cheiro.

Nash relaxou e fechou os olhos, falando alto, já que estava quase amanhecendo e ele

não era uma pessoa muito matutina.

Adequado para mim. De manhã cedo era minha hora favorita do dia, nada melhor

do que acordar e assar ao nascer do sol, mas eu também não estava com humor para

conversas. A sinfonia batendo contra a minha têmpora cuidou disso.

Um crescendo indesejável caiu sobre mim. Eu fechei um olho, esfregando minha

têmpora. Uma reação em fração de segundo a uma vida inteira de dor. Pelo menos,

parecia assim. Este bastardo estava arruinando meu sono de beleza desde a hora das

bruxas.

— Oi. Você está bem?

Lancei um olhar a Nash. Ele estava olhando para mim, aparentemente bem

acordado e me transmitindo suas vibrações patenteadas de Mãe Nash. — Tudo bem aqui,

mano.

— Sim? Por que você está sentado no escuro, então?

— Era noite quando vim para cá.

— De onde?

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— Seu quarto. Escovei meu cabelo na sua cama a noite toda.

Nash fez uma careta. Ele estava tão frio quanto tínhamos tempo para estar neste

manicômio, mas ele odiava quando eu deixava meu longo cabelo loiro em sua cama. Disse

que fazia seu velho divã raquítico parecer que um galgo afegão havia dormido ali.

Ele também odiava quando eu o enganava. Fazia ele franzir a cara todo fofo.

Meu precioso melhor amigo.

Ele se sentou, juntando-se a mim no braço oposto do velho chesterfield, de frente

para a janela. — Você precisa de alguma coisa? Um zoot ou uma das pílulas malignas de

Alexei?

Um estremecimento involuntário percorreu meu corpo. — Foda-se as pílulas de

Alexei. Da última vez que peguei uma dessas, coloquei meu pé esquerdo na bota direita

por duas semanas seguidas.

— Um baseado então? Mateo encheu o estoque ontem à noite.

— Isso foi ontem? — Pisquei com força, resistindo à compulsão de esfregar minha

cabeça dolorida novamente. Não ajudou. Nunca tinha. Só havia uma alma nesta terra que

carregava esse tipo de magia na ponta dos dedos, e não era eu, porra.

Nash pulou do sofá e desapareceu.

Voltei minha atenção para a janela e para a cena que eu estava espiando em um

esforço para me distrair de Thor batendo seu martelo contra o meu crânio. Embry e Mateo

estavam no pátio de caminhões, carregando os vagões para a corrida de transporte que

Decoy conduziria em algumas horas. Pelo menos era o que deveriam estar fazendo, mas

Mats não conseguiu passar pelo bom capelão sem beijá-lo e foi fofo pra caramba.

E o sorriso de resposta de Embry toda vez?

Sim. Eu precisava dessa merda na minha vida quase tanto quanto eles.

— O que você está olhando? — Nash reapareceu ao meu lado, brandindo um zoot,

uma caneca de chá e uma caixa de ibuprofeno.

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Peguei a erva e a xícara de chá e joguei fora as drogas de merda. — Se eu engolir

mais desses, vou ter uma maldita úlcera.

— Como quiser. — Nash apontou um isqueiro para o baseado. — A questão ainda

permanece. O que você está sonhando acordado?

— Eu não estou sonhando. Completamente vestido aqui, companheiro.

— A outra definição de sonhar acordado, idiota.

— Você não diz. — Revirei os olhos. Me arrependi enquanto o latejar na minha

cabeça zumbia em um novo ritmo. Foda-me e foda-se essa maldita enxaqueca.

— Estou cuidando dos jovens. — Admiti, para evitar que a preocupação de Nash

aumentasse meu mau humor, apontando para os caminhões estacionados. Mateo desistira

de qualquer pretensão de carregar caixotes. Ele pegou Embry pela cintura e o puxou para

perto, sorrindo para ele com mais calor do que eu jamais imaginei que ele fosse capaz. Eles

não se beijaram desta vez, mas sua conexão era poderosa o suficiente para que Nash

suspirasse e passasse um braço em volta de mim.

— Isso é um romance de outro nível bem ali.

— Notícia. — Dei uma tragada profunda no baseado, me perguntando por que não

tinha me recomposto o suficiente para pegar um para mim quando abandonei a cama de

Mateo - minha antiga cama - em primeiro lugar. Ninguém nunca dorme naquela cama. É muito

estranho. Talvez devêssemos queimá-la. Foi claramente amaldiçoada.

Essa linha de pensamento me fez relaxar contra Nash, seu corpo quente e familiar.

Fraternal. Tínhamos tanta merda de história. Eu, Nash e Cam. Nossos pais antes de nós.

Orla.

River.

Joguei minha cabeça no ombro de Nash, lutando contra o desejo gutural que torcia

minhas entranhas, e meu velho amigo, meu irmão, me segurou, sem dizer nada, apenas

sendo o fiel de conforto e empatia que sempre foi.

Você não merece a simpatia dele.

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Eu não? Ele tinha a garota. Ele tinha Orla e estava vivendo o sonho que merecia.

Eu? Eu estava me afogando e um segredo pesava em meu coração. Um segredo sujo,

imundo e terrível. Sua pele tatuada quente e músculos magros dançavam ao meu toque. Seus

olhos estavam fechados, o olhar derretido escondido de mim, mas ele cheirava tão bem, parecia tão

certo, eu não me importava...

Sentei-me abruptamente o suficiente para fazer Nash pular. Ele franziu a testa, uma

irritação bem-humorada contorcendo seu belo rosto. Eu fiquei boquiaberto, o peso da

minha confissão me balançando. Diga à ele. Ele vai entender. Mas, infelizmente, não. Eu ia

vomitar minhas entranhas em vez disso.

Nash me leu e saiu do caminho quando eu pulei do sofá e passei pelo bar.

Não é seu primeiro rodeio.

Ou meu. Encontrei uma pia nos fundos e vomitei, sabendo que a provação me

colocaria de bunda, mas aliviaria a pressão em meu crânio. Era um fato triste que eu

conhecesse o ciclo por dentro e por fora. Uma reviravolta ainda mais triste do destino que

Cam me surpreendeu enquanto eu estava me recompondo.

— Que porra você está fazendo?

Fechei a torneira. — Limpeza.

Nosso líder destemido e meu amigo mais antigo me lançou um olhar sombrio de

O'Brian. Em River, era sexy como o inferno. Em Cam, era irritante e o grunhido irritado

que veio a seguir me fez querer dar um soco na garganta dele.

— Você teve outra enxaqueca?

Limpei minhas mãos em uma toalha de bar. — Se eu fiz, isso é jeito de falar

comigo? Cadê o amor, mano?

— Você quer a porra de um abraço?

Não dele. Mostrei-lhe o dedo do meio e mudei de assunto. — O que você está

fazendo aqui? Veio se despedir dos meninos?

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Decoy e Mats estavam pegando a estrada por alguns dias, liderando um comboio

de irmãos para o norte para entregar materiais de construção e madeira personalizada.

Eles fizeram isso o suficiente para que Cam não supervisionasse mais todas as viagens,

mas não era inédito ele aparecer na hora do lançamento. Inferno, Cam sempre aparecia

para seus irmãos, de uma forma ou de outra.

Esta manhã, porém, quando a noite se transformou em uma manhã cinzenta de

inverno, uma brisa úmida soprando do mar, ele balançou a cabeça. — Honestamente,

estou procurando por Alexei. Achei que ele poderia vir aqui para encontrar Saint. Ele e

Nash estão de volta, certo?

— Nashie está no bar. Não vi Saint, mas ouvi sua moto. Nenhum sinal do professor

Números, no entanto. — Não que minha ignorância significasse alguma coisa. Alexei era

um ninja. Ele poderia estar na ponta dos meus pés com uma faca na minha garganta antes

que eu o notasse, especialmente quando eu estava distraído com outras coisas.

Minha têmpora deu um pulsar alegre, fodidamente feliz consigo mesma.

Cam me olhou. — Tem certeza que você está bem?

— Sim. — Passei por ele e voltei para o bar.

Nash ainda estava na janela.

— Saint está com Liliana. — Ele disse antes que Cam pudesse perguntar. — Ela

estava acordada quando voltamos, e Mats ainda está carregando os vagões.

Cam absorveu a atualização com um aceno de cabeça. — Aquela garota não dorme.

— Nem o pai dela. Hereditário, não é?

— Quando ela vai começar a escola?

Nash deu de ombros, sem respostas.

Cam se virou para mim.

— Fim do mês. — Eu forneci. — Alexei inventou uma escola de espanhol obscura o

suficiente para que nenhum filho da puta verifique, mas ele queria que ela lesse melhor

primeiro. Menos perguntas.

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Cam se empoleirou no braço do velho sofá. — Você já imaginou, tantos anos atrás,

que acabaríamos reunindo nossa inteligência limitada para educar em casa uma criança de

dez anos?

— Inteligência limitada? — Acomodei-me nas almofadas flácidas do sofá. — Fale

por você, cara.

— Eu estava. Isso me surpreende, só isso. Que ela está aqui.

Eu senti isso. O momento de vir a Jesus de Mateo foi intenso. Um passeio selvagem

do qual ainda estávamos nos recuperando. Mas nossa recompensa veio na forma da

garotinha mais doce e inteligente, e vendo nosso irmão torturado e zangado se

transformar no pai e amante maduro que ele deveria ser.

Isso mesmo, eu disse isso. Papá Mateo era os peitos. — Não se esqueça que teremos

um recém-nascido para considerar em breve.

Cam soltou um suspiro estressado. — Sempre esqueço que Juana está grávida.

— Não, você não. Você comprou uma casa para ela.

— Eu comprei uma casa para Mateo. — Cam corrigiu. — Ele vai tirar isso de mim

até o final do mês. Não consigo ver ninguém morando lá por um tempo, no entanto. Essas

crianças não querem sair de casa.

Nosso olhar coletivo se voltou para Embry e Mateo. Eles voltaram a carregar

paletes, mas era uma piada comum entre nós três que eles ficariam presos no quarto de

Embry no andar de cima para sempre, usando minha casa na estrada como uma almofada

de pelúcia por razões que eu não queria entender.

A atividade no portão chamou minha atenção. Folk se aproximou para abri-la e o

carro de Orla entrou, seguido por Locke em sua moto.

O olhar de Nash se aguçou. Ele os rastreou enquanto eles entravam no pátio e

estacionavam do lado de fora do prédio de vendas, observando Locke desmontar e

examinar a área, sua guarda-costas vigilante, antes de abrir a porta do carro de Orla.

Ele disse algo.

23
Ela riu.

Ao meu lado, Nash puxou um vape e o chupou, exalando uma névoa com cheiro de

maconha pelo nariz. Eu o conhecia tão bem quanto a mim mesmo, mas pela primeira vez,

sua expressão era difícil de avaliar.

— Você sabe... — Eu comecei, afastando sua nuvem de mentiras e alcançando o

verdadeiro zoot que eu havia abandonado. — Se você não quer que ela se relacione com

Beefcake2 Halliwell, você deveria ter ficado na cama dela em vez de invadir meu tempo

sozinho.

Nash revirou os olhos. — Todo o seu tempo é tempo sozinho.

— Então? Não deveria impedir você de ficar louco?

Cam limpou a garganta. — Realmente? Vamos falar sobre ele transando com minha

irmã?

— Eu não estou transando sua irmã. — Nash disse categoricamente.

— Besteira. — Eu tossi, não dando a mínima para que Cam estivesse ali. — Ela está

no seu quarto o tempo todo.

— Então é você.

Verdade. Mas eu não era o único amor verdadeiro de Nash. Poderíamos dormir nus

juntos pelo resto de nossas vidas e nada aconteceria. Já tenho essa camiseta.

Fumei mais maconha e olhei para Nash. Ele veio aqui fedendo como se tivesse

passado a noite toda rolando no feno com a garota mais gostosa da cidade. Ele estava

falando sério que não estava dormindo com Orla?

Cansado e doido, não consegui decifrá-lo.

Cam também não podia, e pela primeira vez, ele mordeu primeiro. — Como diabos

você não está transando com a minha irmã? Vocês estão um sobre o outro.

OK. Não com o que eu abriria, mas poderíamos trabalhar com isso. Talvez. Se Nash

não piscasse muito cedo, algo em que ele não era bom quando se tratava do irmão mais

2 Significa Homem atraente, montanha de músculos em inglês.

24
velho de Orla, e eu entendi. Amar os irmãos de Cam era emocionante e mais doloroso do

que qualquer merda de enxaqueca.

Sabia.

Vivia isso.

Não estava preparado para o olhar culpado que Nashie me lançou, no entanto.

Quando se tratava dele e de mim, essa emoção era toda minha e, desta vez, não fui rápido

o suficiente para bloquear as imagens desconexas que inundaram meu cérebro.

Eles me bombardearam. A construção masculina de River. Seu cabelo bagunçado e

mãos errantes. Seu olhar selvagem e suplicante quando ele me implorou para não fazer a

única coisa que poderia queimar tudo.

— Não me deixe, boo. Prometa-me. Se vamos foder assim, não consigo acordar sem você.

Cam algemou meu ombro, seu olhar pesado. Por um momento de revirar o sangue,

temi ter feito aquela viagem pela estrada da memória em voz alta. Então ele sacudiu a

cabeça para Nash. — Você está ouvindo essa porcaria?

Não. — Uh...

— Deixe-o em paz. — Disse Nash. — Ele acabou de vomitar as entranhas.

Incrível. Seria pedir demais que passássemos alguns minutos nas besteiras de Nash

em vez das minhas?

Pela primeira vez, aparentemente não. Cam me enviou uma carranca exasperada,

então voltou-se para Nash. — Você não pode ter um relacionamento com Orla e não

transar com ela porque Rubi não está transando com meu irmão. Isso é ridículo.

Aquele ditado, cuidado com o que você deseja, me chutou no pau como um filho da

puta. Eu balancei minha cabeça de Cam para Nash, medo agitando uma tempestade em

minha barriga sensível. — Dizer o que agora?

Nash deu de ombros, jogando o vaporizador na mesa e tirando o cigarro de mim. —

Eu já te disse. Parece errado, como se eu estivesse quebrando um pacto ou algo assim.

— Já me disse? Quando?

25
— A outra noite. Quando fizemos o patch em Locke e Folk.

— Você está me gozando? Eu estava bichado. Como você espera que eu me lembre

de uma conversa profunda e significativa quando acordei na manhã seguinte com as

calças na cabeça?

— Não foi uma conversa profunda e significativa. Você me disse para ir transar e eu

dei várias razões pelas quais eu não faria isso. Então você caiu da cadeira.

— Eu encerro meu caso. Isso é um acidente de carro. Não é você que já está me

contando alguma coisa.

— Eu concordo. — Cam acendeu um cigarro. — Diga a ele novamente, Nash.

Vamos ouvir essa bobagem pela terceira vez.

A verdadeira irritação obscureceu o exterior descontraído de Nash. Ele passou a

mão pelo cabelo loiro de surfista quando Decoy entrou no bar, mudou de ideia e saiu

novamente.

Não poderia culpá-lo. Em algum lugar ao longo da linha, perdemos o ar de três

velhos amigos - três irmãos - conversando em uma fumada matinal. A facilidade havia

desaparecido. Até o jeito que ficamos, encarando um ao outro, a frustração transbordando

de nós para um homem, tinha o ar do apocalipse.

Nash me olhou, aquela culpa horrível e imerecida retornando aos seus sérios olhos

azuis. — Eu amo ela. Você sabe que eu sei. Mas toda vez que estamos juntos e até penso

em transar com ela, penso em todos os anos em que não pude. Eu penso em você, e como

saber que você estava sofrendo junto comigo me fez superar.

— Você não deveria estar pensando em mim quando está transando com Orla.

— Eu não estou transando com ela. Isso é o que estou dizendo a você - parece uma

merda.

— Bem, fodidamente não deveria. — Eu rosnei. — Você a deixou esperando por

muito tempo.

26
— Eu a deixei esperando? — Nash olhou para mim. — Foda-se, Rubes. Não coloque

isso em mim.

— Você está colocando isso em mim. Deixar cada coisa bagunçada arruinar minha

vida arruinar a sua também. E para que diabos? Então Orla pode te odiar tanto quanto

River me odeia?

— River não te odeia. — Cam interrompeu.

— Claro que ele me odeia! — O grito explodiu. — É tudo o que você nos deixou ter.

Foi um golpe baixo e atingiu Cam com força. A culpa o engoliu inteiro. Seus olhos

ficaram vermelhos e ele parecia tão enjoado quanto eu, mas Alexei apareceu antes que eu

pudesse retirar tudo.

Antes que eu pudesse arrancar a responsabilidade de meus amigos e assumi-la,

libertando-os enquanto eu definhava no purgatório onde eu pertencia.

Alexei examinou a cena, tão fantasmagórico quanto sempre foi. — Você está

falando sobre River?

Nash não tinha nada.

Cam baixou a cabeça.

Alexei se virou para mim, levantando as sobrancelhas em questão.

Eu dei a ele um aceno de que ele voltou.

— Uma coincidência, talvez. — Sua voz sedosa enviava mensagens conflitantes ao

meu sistema nervoso. O cara era assustadoramente melífluo. — Mas talvez não. — Ele

gesticulou para todos nós. — Eu tenho algo que precisamos discutir. Se vocês puderem se

acalmar, devemos nos encontrar à mesa.

Alexei derreteu. Pela minha visão periférica, eu o vi sair e atravessar o pátio até a

capela. O olhar de Cam geralmente o seguia, mas estava fixo em mim, ainda ferido pela

dor, distraindo-me da insinuação de Alexei de que o que ele queria falar de alguma forma

envolvia River.

Cam estendeu a mão para mim. — Rubes...

27
Eu o sacudi. — Filho da puta, não. Eu ouvi isso de sua alma mil vezes. Eu não posso

ouvi-lo novamente, ok? Apenas deixe isso, porra.

— Você não sabe o que eu ia dizer.

— Eu não ligo. Eu superei. — Eu me afastei antes que ele pudesse responder,

deixando ele e Nash para trás, culpa e mágoa me seguindo como uma erupção perniciosa.

Eu deveria ter tirado o sofrimento de Nash. Acertá-lo com uma bomba da verdade que

destruiria nossa amizade, mas o livraria de bolas azuis terminais. Mas como um pedaço de

merda covarde e preguiçoso, eu deixei minha raiva por Cam superar tudo. Cam não

merecia. Não tudo de qualquer maneira, porque não foi Cam quem fez a única coisa que

River tinha tanto medo.

Não foi Cam quem quebrou o coração de River.

Não. Isso foi tudo eu, e agora River me odiava. Game Over. E o que quer que Alexei

quisesse falar, isso nunca iria mudar.

28
CAPÍTULO 03
RIVER

O Transporter preto espreitava no final da estrada, escondido entre os SUVs e

caminhões de passageiros, misturando-se com a corrida escolar. Passei por ele e girei,

andando para trás para virar o capanga atrás do volante, a porra do pássaro.

Ele me encarou e eu deixei meu sorriso virar maníaco, como eu sempre fazia,

enxaguar e repetir, antes de me virar e continuar meu caminho alegre.

Longe dos olhares curiosos, meu sorriso morreu, frágil e sem suporte de humor

real. Cheguei à O'Brian's Garage — a porra da minha garagem — e entrei, me preparando

para qualquer carnificina que encontrasse na soleira da porta. Meses atrás, quando a van

apareceu pela primeira vez no final da estrada, eu cheguei a uma maquete tosca do prédio

e do terreno transformado em apartamentos de férias.

Na semana passada, minha cabeça estava em um pico.

Oh, hum. Deixe-os tentar, porra.

E se eles fizerem isso? Eu tenho lutado desde o dia em que nasci, mas nada disso

importava se eu fosse atacado por mais caras do que eu poderia suportar. Eu cairia e

perderia a única coisa que eu tinha no mundo que era toda minha.

Destranquei a porta da garagem e deslizei para dentro, a mão segurando a chave

inglesa que carregava no bolso de trás, o olhar disparando para cada sombra e forma.

Cada canto escuro do espaço desordenado. O instinto me disse que eu estava sozinho, mas

meu instinto estava errado no passado, e onde isso me levou?

Entrando sorrateiramente no meu próprio negócio como Burglar Bill3, é aí.

3 Burglar Bill é um livro infantil de 1977 de Janet e Allan Ahlberg sobre um ladrão (Burglar Bill) que
acidentalmente rouba um bebê.

29
Satisfeito por não haver nenhum esquadrão da morte à espreita, larguei a chave

inglesa e fui até a chaleira. Naturalmente, esqueci de comprar leite por três dias seguidos,

então era chá preto o tempo todo. Mas eu tinha açúcar, e foda-se, depois de uma noite toda

em Mandy4, eu precisava de um gole disso.

Coloquei a chaleira no fogo e peguei a parte solitária da minha vida que estava em

ordem - o diário transbordante de reservas. Trabalhos saindo dos meus ouvidos. Eu

poderia trabalhar dia e noite e ainda assim não conseguir recuperar o atraso, e era assim

que eu gostava. Mãos ociosas me colocaram em apuros e eu precisava ficar longe de

problemas.

Não quero que o irmão mais velho pegue os negócios da família de volta.

Quis o destino que a próxima página do diário continha a papelada que Cam me

trouxe alguns meses atrás, assinando a garagem e o terreno ao redor em meu único nome,

desistindo da influência que ele tinha sobre mim desde que nossos pais morreram. Era

tudo que eu queria. Liberdade. Desassociação do clube que tanto reclamou de mim.

A sensação de vazio na minha barriga toda vez que eu via aquele documento não

era justo. Talvez fosse por isso que eu não o havia enterrado ainda. Por que eu me obriguei

a olhar para ele todos os dias, ainda esperando pela reação com a qual contei todos esses

anos.

Ou talvez eu estivesse apenas voltando do MDMA que tomei por volta da meia-

noite para me animar. Fazia mais sentido do que qualquer coisa profunda.

Eu não era um cara profundo.

Rubi era.

4MDMA. A 3,4-metilenodioximetanfetamina, conhecida pelo termo impreciso ecstasy, é uma substância


psicotrópica usada frequentemente como droga recreativa. Os efeitos recreativos desejados mais comuns são
aumento da empatia, estado de euforia e sensação de prazer.

30
Porra do inferno. Comedowns 5 geralmente me deixavam frio como a merda.

Rasgado de dentro para fora. Mas tudo sobre Rubi era quente, até mesmo a raiva ainda

ardendo em meu coração.

Eu o odeio.

O problema era que eu também o amava.

A chaleira ferveu. Derramei água sobre um saquinho de chá empoeirado e joguei

açúcar na caneca lascada e rachada. Era velha, como todo o resto. Havia muito dinheiro

entrando no negócio, mas de alguma forma eu nunca me dediquei às coisas mais simples.

Fechei o diário, deixando os documentos de propriedade para outro dia, e levei

meu chá para a baia onde trabalhava, escondido nos fundos, deixando a área da frente

para os outros mecânicos, Axel e Bear. Eles não chegariam por um tempo ainda, mas eu

era um madrugador. Sempre tinha sido. Não importa o que acontecia durante a noite, eu

estava sempre acordado com o sol.

Bebendo meu chá açucarado, estudei a Road King6 que desmontei ontem à tarde.

Estava em um milhão de peças, reservada para uma reconstrução personalizada do motor,

meu tipo favorito de trabalho. Mas, enquanto olhava para o metal e o cromo, senti zero

entusiasmo pelo trabalho que amava, e a sensação de solidão e peso em meu estômago

voltou.

Comer alguma coisa. Porra. Por que meu subconsciente sempre dizia coisas assim na

voz de Rubi?

Porque você ama a voz dele. Sempre foi, desde que se aprofundou e cresceu nessa

coisa suave e ressonante que me consumia toda vez que ele abria a maldita boca.

Eu o odeio.

Eu o amava.

5A queda, ou queda, é uma fase de abstinência da droga que envolve a deterioração do humor e da energia
que ocorre quando uma droga psicoativa, geralmente um estimulante, é eliminada do sangue na corrente
sanguínea.

6
Motocicleta da Harley Davidson.

31
Puta merda, eu precisava me ocupar ou tirar uma soneca. Qualquer coisa para tirá-

lo da minha cabeça.

Eu bebi meu chá, deixando o líquido escaldante queimar um caminho através do

meu corpo, limpando as teias de aranha de uma noite tumultuada que eu não conseguia

me lembrar inteiramente. A única coisa que eu tinha certeza era que eu não tinha transado.

Porra, não. Às vezes eu me perguntava se tinha esquecido como.

Aposto que ele não tinha.

Enquanto o pensamento se enraizava em meu cérebro traiçoeiro, meu telefone

tocou, zumbindo com o desagradável toque que eu havia reservado para chamadas que eu

queria ignorar. Cam. Rubi. Às vezes Nash. Bloqueie-os. Se minha irmã não fosse me

perseguir até a morte, eu o faria em um piscar de olhos. O único Rebel King de quem eu

estava preparado para atender era Saint Malone, e isso só porque alguém que eu amava

teria que estar morrendo antes de atender o telefone.

Além disso, eu confiava nele. Saint era o único irmão que nunca mentiu para mim.

A chamada soou. Um breve silêncio reinou, então tocou de novo e de novo e de

novo antes de uma mensagem piscar na tela. Não era do estilo de Cam colocar suas

exigências em um texto de seis palavras. Ele ficava bravo no meio do caminho e me ligava

de novo de qualquer maneira.

Rubi, no entanto. Ele era bom com as palavras, mas escolheu usá-las.

Nem olhe. Delete isso.

Eu era um idiota teimoso como meu pai. Mas eu tinha a força de vontade da minha

mãe. Ou falta dela. Salvei meu copo da carnificina do motor e fiz uma viagem até a pia que

me fez passar por onde joguei meu telefone, me preparando para a eloquência calorosa de

Rubi.

Não era o Rubi.

Número desconhecido: Este é o Alexei. Por favor, compareça ao complexo o mais cedo

possível. Não desejo viajar para Porth Luck para encontrá-lo.

32
Jesus Cristo. Eu não sabia muito sobre o segundo cara de Cam, exceto que ele

amava meu irmão e Saint o suficiente para morrer/matar por eles. E que ele era um

maldito especialista na parte de matar. É por isso que ninguém nunca fala sobre ele. Porque ele

é maluco.

Não que eu escutasse muito quando se tratava do clube. Eu não tinha ideia do que

estava acontecendo. Eu não tinha passado por lá em meses. Um ano, quase. Não tinha

falado com ninguém, exceto Orla e Cam quando eles se forçaram a mim.

E se for Rubi? E se algo aconteceu com ele?

Percorri a dúzia de chamadas perdidas. Quatro eram do telefone de Rubi e relaxei

um pouco, mas uma curiosidade indesejável me agitou e eu odiei.

Odiava que eu me importasse o suficiente para que a fúria brotasse em mim,

explodindo em uma tempestade de raiva.

— Pelo amor de Deus. — Joguei minha caneca na parede, ainda enraizada no lugar.

Lutando contra isso.

Perdi, como sempre fiz.

33
CAPÍTULO 04
RIVER

Minha família deixou Kilkenny antes de eu nascer. Para que meu pai pudesse

escapar de uma briga de família com seu irmão e encontrou o Rebel Kings MC no bumfuck7

Devon.

Aterrissei no lado terrestre do complexo Whitness seis meses depois. Cresci

rasgando o quintal, óleo e sujeira manchando meu rosto, o cheiro de diesel e fumaça densa

em meus pulmões.

Ainda cheirava o mesmo. Agora, a única diferença era que eu reconhecia o fedor

por tudo que ele me trazia: tragédia com V maiúsculo.

Estacionei minha motocicleta, arranquei o suporte e arranquei meu capacete.

A porta da capela se abriu. Meu irmão saiu, Nash ao seu lado, o capelão atrás deles.

Foi uma recepção e tanto. — O que eu fiz? Conseguiu um saco de dez de funil

errado?

Cam fez uma careta. — Você ainda está enfiando essa merda no nariz?

— Ainda matando pessoas por diversão?

Nada na vida do meu irmão era divertido, exceto talvez suas aventuras sexuais.

Mas se eu o machuquei, eu não vi. Eu já tinha arrastado minha atitude de merda para o

motociclista bonito atrás dele.

Embry. Meu lábio se curvou por conta própria. Ele não era meu irmão favorito.

Como ele poderia ser quando passou mais noites com Rubi em sua cama do que eu?

Eles não estão fodendo.

Eu nunca perguntei; eu simplesmente sabia disso. Mas de alguma forma a visão de

Embry Carter me fez querer colocar fogo na merda e eu nunca fui capaz de esconder isso.

7 Significa um lugar remoto ou insignificante.

34
Não que eu tenha tentado tanto.

Olhei com raiva para o bom capelão, mais jovem que eu com seus olhos elétricos.

Ele sorriu de volta e continuou andando, atravessando o quintal até uma mulher

que não reconheci.

Boceta.

Como Cam ouviu meus pensamentos irracionais, ele exalou uma respiração mal-

humorada. — Você tem que fazer isso?

— Fazer o que?

— Jogar sombra nas pessoas que fizeram tudo de errado com você.

— Eu não joguei nada. Se ele não quer bater papo comigo, é com ele.

Cam tinha mais a dizer, eu poderia dizer, mas ele era melhor em ser um adulto do

que eu. Ele forçou a carranca de seu rosto e me puxou para um abraço de urso. — Eu não

pensei que você viria.

Eu o deixei espremer a vida fora de mim antes de empurrá-lo para longe. — Alexei

não me deu muita escolha.

A carranca de Cam voltou. — Você não estava atendendo o resto de nós.

— Você poderia ter vindo até mim. Você sabe que eu odeio este lugar.

— É seguro aqui.

— Desde quando? Você ficou coberto e baleado aqui. Seus irmãos foram gaseados.

Até o menino bonito levou uma facada no estômago.

Cam empalideceu, o maxilar contraído com força. Ao lado dele, Nash me deu um

sutil aceno de cabeça, mas não entendi. Se viver esta vida mexia com a saúde mental de

Cam, que assim seja. Vê-lo sangrar foi uma flechada no meu coração, mas fingir que

demônios eram fodidos unicórnios não ajudou ninguém.

Esperei que Cam voltasse de onde quer que minha boca viciosa o tivesse enviado,

sem surpresa que Saint emergisse da capela, onisciente como sempre. Quando ele veio

aqui pela primeira vez e eu percebi que ele conhecia cada homem melhor do que eles

35
mesmos, eu perguntei a ele se saber todas as coisas era cansativo. Demorou três dias para

responder. Até então, eu tinha esquecido que perguntei, mas sua resposta ficou comigo.

— Não é o conhecimento que cansa. É o barulho.

Minha cabeça também estava barulhenta, mas por motivos menos inteligentes.

Menos telepatia, mais caos sem sentido. Embora, às vezes, fosse uma bênção. Como agora.

Qualquer outra pessoa que colocasse aquele olhar no rosto de Cam, comeria terra antes de

respirar. Eu não. Por alguma razão, Saint me deu mais corda do que eu merecia.

Cam inalou. Estendeu a mão e agarrou meu pulso. — Entre.

Ele quis dizer a capela. Uma recusa amarga queimou minha garganta, e o desejo de

colocar meu capacete de volta e sair rugindo era forte. Mas o puxão no meu peito, na porra

da minha alma, era mais forte.

Rubi.

Ele estava tão perto.

Eu preciso vê-lo. Mesmo que fosse apenas para dizer a ele para ir se foder de novo.

Nash me ofereceu uma caixa de cigarros. O interior contundente era tentador, mas

eu ainda estava um pouco fodido da noite anterior.

Muito foda. Não deveria ter montado. Mas aqui estava eu. Em vez disso, reivindiquei

uma fumaça convencional e deslizei da motocicleta.

Alívio inundou o rosto de Cam, mas as linhas de preocupação estavam lá para ficar.

Ele se virou e caminhou em direção à capela.

Eu o segui, desviando do fato irritante de que Nash estava me perseguindo por trás,

notando as mudanças no quintal desde a última vez que estive aqui. O hub HGV. A

cozinha externa acabada. Até as velhinhas e as crianças correndo pareciam diferentes.

Novos irmãos circulando.

A capela surgiu rápido demais. A porta estava aberta e eu estava dentro antes que

pudesse me preparar para o que me esperava do outro lado.

36
Mais uma vez, a familiaridade me deixou tonto. Eu procurei por um rosto que eu

pudesse olhar e encontrei Saint sentado ao lado de Alexei, olhando para a tela de um

laptop.

O quente, esquisito russo - sim, eu disse isso - olhou para Cam quando ele alcançou

a mesa e se jogou em um assento aleatório. Então Alexei virou seu olhar para mim. —

Irmãozinho, você veio.

Sarcasmo? Eu não poderia dizer. E eu perdi o poder do cérebro para decifrá-lo,

todos os sentidos que eu tinha abandonaram o navio na fração de segundo em que eles se

concentraram na presença gigantesca no fundo da sala.

Alto.

Largo.

Cabelos dourados bagunçados e olhos tão gentis que me fizeram chorar mesmo

quando ele estava sorrindo.

Ele não estava sorrindo agora.

Definitivamente não. Rubi encostou-se na parede dos fundos, os braços maciços

cruzados em seu peito, seu lindo rosto torcido em uma carranca tão cansada que arrepios

formigaram minha pele.

— Você está bem? — Estava fora de mim antes que eu pudesse retirá-lo, e minha

voz pareceu assustá-lo.

Rubi ficou mais alto e achatou seu rosto expressivo em nada. — Sente-se, Riv.

— Não.

— Por favor?

Um impasse se estendeu. Acendi o cigarro que não queria, examinando a sala,

analisando os homens que moldaram minha vida. Cam e Rubi estavam inteiros. Nash e

Saint também. A única outra pessoa com quem eu realmente me importava era Orla, e eu

sabia que ela estava bem. Eu a tinha visto no balcão de vendas quando entrei no complexo.

Além disso, Nash não estava intimidando, então o que diabos era isso?

37
Descobrir e o peso do olhar de Rubi sobre mim me obrigou a sentar. Peguei um

cinzeiro e apaguei a fumaça que havia iniciado meu pulso exausto. — Continue com isso

então. Eu tenho merda para fazer.

A sala já estava cheia de tensão, mas quando Alexei se inclinou para frente, uma

nova camada pesou no ar. — Você está sendo vigiado.

— Pelo prospecto de merda com o cabelo ruim? Sim, eu meio que o vi me seguindo

há um ano.

— Não por ele. Por este homem. — Alexei girou seu laptop, revelando imagens

granuladas do Transporter preto e do capanga que o dirigia. — Você sabe quem ele é?

Emoções conflitantes surgiram em mim. A fúria por Alexei ter se intrometido em

meus negócios guerreou com o alívio por ele ter ido direto ao ponto para que eu pudesse

encerrar a conversa antes que ela começasse.

— Claro que sei quem ele é. Ele é o executor de uma empresa imobiliária. Algumas

putas de Surrey. Com o que você se importa?

— O que me interessa não é importante. Estou perguntando se você sabe quem está

rastreando cada movimento seu e por que eles estão fazendo isso.

— E eu estou dizendo que não importa. Eles podem me assistir o quanto quiserem.

Eu não sou tão interessante.

Na minha periferia, captei o protesto que derrubou o estoicismo fingido de Rubi.

Ele era fodidamente forte, por dentro e por fora, mas eu era sua fraqueza. Sempre tinha

sido. — Riv, se algum idiota está-

— Está o que? Almoçando fora da minha garagem todos os dias? Ele vai ser morto

por chutar do lado de fora de uma escola primária antes de entrar na minha cara.

Rubi se afastou da parede e atravessou a sala em dois passos largos, pisando na

mesa ornamentada que era mais velha que ele e eu juntos. Aproximando-se de mim, antes

que Saint se levantasse e o interceptasse, falando com ele sem palavras.

38
Cam observou a interação deles com olhos torturados. Então ele virou aquele olhar

nuclear para mim. — Alexei pode jogar esse jogo o dia inteiro, mas não tenho tempo para

ficar conversando em círculos. Nós sabemos quem é, e sabemos que eles estão atrás de

você desde que Alexei está vigiando. O que eu não sei é o que eles querem de você e por

que diabos você não me contou.

Lá estava. A rotina dos pais e irmão mais velho que trazia o pior de mim. Enfrentei

ele, Nash e Alexei, enquanto Saint e Rubi ficaram de lado, e minhas mãos coçavam para

virar a mesa. Jogar minha cadeira pela sala como a criança estúpida e fraca que eles

acreditavam que eu fosse.

Apenas provar que eles estavam errados me manteve no meu lugar. Isso, e meu

pulso de MDMA batendo tão forte que eu não tinha certeza se ficaria consciente se pulasse

rápido demais.

Deveria ter comido. Deveria ter feito um monte de coisas. Principalmente ignorar a

porra do meu telefone.

Cam ainda estava esperando por uma resposta. A coceira em minhas mãos se

arrastou sob minha pele, infiltrando-se na bagunça que uma noite sem dormir e muito pó

me deixou dentro. Sozinho na garagem, meu maldito reino, eu me senti invencível.

Arrastado na frente desses homens como um adolescente travesso, eu queria que a terra

me engolisse inteiro.

— Você é como sua mãe, garoto.

Não, eu não era. Como eu poderia ser quando ainda estava vivo e chutando no

último lugar na terra que eu queria estar?

— Eu não te disse. — Eu resmunguei, — porque não é da sua conta. É da minha

conta, lembra? Se algum idiota quiser lutar comigo por isso, eu posso lidar com isso

sozinho.

— Isso é o que eles querem? — Alexei respondeu por Cam. — A garagem?

39
Lancei-lhe um breve olhar. — A terra em que fica. Um terreno como esse é um

imóvel de primeira em uma cidade litorânea.

Alexei girou seu laptop novamente e digitou algumas teclas. — Seu pai comprou

por sessenta mil. Se você vendesse hoje, ganharia dez vezes mais.

— Mas não estou vendendo, estou?

— Porque?

— Porque é meu, porra. Levei anos para comprar de Cam e Orla. Por que eu iria

vendê-lo agora?

— Eu não disse que você deveria.

Esse cara, cara. — O que você está dizendo então?

Alexei fechou seu laptop, olhando para Cam, antes que toda a sua atenção voltasse

para o velho e sortudo eu. — Estou dizendo que devemos olhar para os fatos. É a

Timmersons Ltd que está enfrentando o assédio contra você. Eles ganham dinheiro

comprando terras de pessoas que não sabem o seu valor e reconstruindo-as, sim?

— Se você diz.

— Os fatos dizem que sim. — Alexei tirou um cigarro da caixa de Nash. Acendeu e

passou para Cam. — Mas isso é tudo que eu tenho. Esta empresa tem dez anos com

registros limpos e nenhuma conexão com ninguém que o MC tenha encontrado no

passado. Isso é preocupante.

— Por que?

— É óbvio, irmãozinho. Ou eles não conhecem suas conexões familiares, o que é um

problema para você. Ou eles sabem e não se importam, o que é um problema para todos

nós.

A voz de Alexei era uma mistura estranha de música severa e legítima. Seu sotaque

russo entrava e saía, e seu olhar desarmante me dissecava, prendendo-me no lugar

quando eu queria correr.

Rubi.

40
Porra, eu precisava dele, mas procurei meu irmão em vez disso. — Não é problema

de ninguém, apenas meu. Estou cuidando disso.

Cam se mexeu em seu assento, tão parecido com meu pai com seus ombros largos e

olhar suave. Às vezes eu esquecia como ele era durão. Quão duro ele teve que ser para

sobreviver.

Você não poderia viver a vida dele.

Porra, eu mal conseguia viver a minha.

— Diga-me a verdade. — Disse Cam. — Quão forte eles estão vindo para você?

— Por que isso importa?

— Por que você pensa? — A voz de Cam se elevou, estalando como um chicote

sobre a mesa. — Você é meu irmão. Se alguma vadia está tentando te machucar, ela

precisa morrer.

— Porque você me ama? Ou porque sou seu irmão?

— O que isso significa?

— Você sabe o que isso significa.

Cam abriu a boca.

Alexei o interrompeu. — É uma pergunta justa. O fato de ele não saber a resposta é

uma luta para outro dia. — Para mim, ele disse: — Você está perguntando se Cam vai

intervir para salvar a cara em vez de salvar você?

— Eu não preciso de uma porra de economia.

— Talvez, mas qualquer vulnerabilidade faz o clube parecer fraco. E se os Kings são

vistos como frágeis, todos os negócios e todas as pessoas ligadas a eles estão em risco.

Nesta vida, isso significa morte, não?

Uma risada seca me escapou. — Eu não sou um King.

— Mas você é um O'Brian. Quer você goste ou não, é a mesma coisa.

Eu tinha ouvido o suficiente. Seja o que for que eu pensei que viria aqui, um

assassinato ancestral do amante extra do meu irmão não era.

41
Empurrei minha cadeira para trás, ficando de pé, mentalmente já a meio caminho

de casa, mas Rubi bloqueou a porta, seu rosto era o de um estranho.

Sentir-me preso me irritou de maneiras que nenhum filho da puta precisava ver.

Selvagem, invadi seu espaço pessoal. — Você acha que eu não vou lutar com você para

sair deste inferno?

Ele não se mexeu. Mal piscou. — Eu não quero lutar, Riv.

— O que você quer então? Oh sim. Eu lembro. Nada. — Eu girei e voltei minha

raiva para Cam. — Tire-o do meu caminho.

— Não.

— Sim.

Cam recostou-se em seu assento, transformando-se cada vez mais no presidente

que eu nunca pedi em minha vida. Engolindo o irmão que eu precisava. O irmão que eu

amava. — Precisamos descobrir isso. Independentemente de nossas motivações, ninguém

pisa em você e sai impune. Poderíamos ser criadores de porcos e eu sentiria e agiria da

mesma forma.

— Suas mãos também estariam sujas.

— Suas mãos não estão limpas, mano. Antigamente, você pilotava conosco, tanto

quanto Saint.

A negação torceu minha traqueia. Eu não era como Saint. Eu nunca matei ninguém.

Ou me tornei útil o suficiente para limpar a bagunça de um irmão que tinha.

Mas... sangue manchou minha pele do mesmo jeito. Eu lutei contra homens.

Machuquei-os. Derrotei-os e dei-lhes uma surra só porque usavam as cores erradas, ou um

irmão mais importante do que eu me disse para usar.

E não foi a moral que me impediu. Era o medo de perder os homens que eu poderia

jogar alegremente no mar agora.

Rubi não ia se mover e eu estava muito irritado para arriscar colocar as mãos nele.

Brigando ou fodendo, alguns dias não havia muita diferença.

42
Em vez disso, fui para a janela, virando as costas para ele enquanto lutava contra a

compulsão de jogar uma cadeira no vidro e abrir caminho para sair de uma sala que meu

pai havia construído do zero. Fundações, tijolos, reboco. Foi a primeira construção que ele

e o pai de Rubi terminaram no complexo. Provavelmente cheio de amianto, e não era

adequado?

Deus, doía estar com tanta raiva o tempo todo. Meu estômago doía, minhas veias

queimavam e minhas articulações estalavam como a porra de um bastão luminoso. Em

casa, quando meu colega de quarto não estava navegando pelos sete mares, eu usava sua

calma inata em vez de drogas de festa. Ficar em casa e o observar cuidar de seu filho de

três anos como se fosse seu plano de vida o tempo todo, não uma ligação aleatória que

descarrilou sua existência.

Mas Oscar não estava aqui agora. Tudo o que eu tinha era história e julgamento nas

minhas costas, e a vista desta janela de merda.

E, claro, tudo o que pude ver foi o bonito capelão atravessando o pátio com uma

criança que eu nunca tinha visto antes. Ela tinha cabelos longos e escuros e pele morena.

Não consegui ver a cor de seus olhos, mas ela se parecia tanto com outro irmão que espetei

meu dedo no vidro. — Quem diabos é essa?

Saint se juntou a mim na janela. Eu não tinha ouvido ele se mover. — Filha do

Mateo.

— Sua o quê?

Saint não se repetiu. Em vez disso, ele olhou para mim, esperando que as palavras

fossem assimiladas melhor, mas não importava de que maneira eu olhasse, não fazia

sentido.

— A menos que ele a esteja escondendo debaixo da cama todo esse tempo, como

isso é possível? Eu estava com você quando o investigamos. Ele só tinha a mãe e uma

prima em Bethnal Green.

Saint encolheu os ombros, não me dando nada.

43
Atrás de mim, Cam suspirou. — É uma longa história. Se você estivesse mais por

perto, saberia disso.

— Foda-se você. Eu falo com a Orla o tempo todo e ela nunca mencionou isso.

— Não? Ela nunca disse a você que ele e Embry estão juntos, então?

Eu me virei, encontrando o olhar de Cam na bagunça do quarto. Ignorar Rubi está

queimando um buraco no lado da minha cabeça. — Por que ela me diria isso? Onde seus

soldados colocam seus paus não tem nada a ver comigo.

— Não tem?

— Não. — Sim. Não passou despercebido que Embry interpretando famílias felizes

com Mateo demoliu a narrativa de que ele estava usando Rubi como um ursinho de

carinho normal. Mas eu não conseguia pensar nisso. Se o fizesse, imaginaria Rubi com

milhares de outras pessoas e era muito desconexo para lidar com isso.

Ele não gosta de dormir sozinho.

Quantas vezes ele me disse isso?

Demais para contar.

— Você tem Crows por aí também. — Encostei-me na janela atrás de mim,

ancorando-me no vidro frio como se isso pudesse acalmar meu temperamento em brasa.

— Sobre o que é isso? Uma porra de troca de prisioneiros ou algo assim?

Alexei me respondeu. — Não há Crows lá fora, irmãozinho.

— Certeza sobre isso? Porque eu conto pelo menos dois, e um deles costumava

coletar o dinheiro da proteção de Frank Crow em Porth Ewan.

— Qual deles?

— O grande. Ele não era tão bom nisso, no entanto. Muito coração. Tenho certeza

de que ele mesmo costumava adiantar o dinheiro na metade do tempo, em vez de foder

com os negócios de alguém.

— Isso é consistente com o que sabemos sobre Locke Halliwell. — Alexei me

mostrou os dentes. — Mas minha declaração permanece. Não há Crows lá fora.

44
— Você os remendou?

Cam assentiu e minhas sobrancelhas subiram tão rápido que me dei uma plástica.

Cara, eu realmente estava fora de alcance, e me ressentia por isso me incomodar tanto.

Eu preciso sair daqui.

Rubi ainda trancava a porta.

Eu ainda não conseguia olhar para ele sem pegar fogo, mas porra, eu precisava de

um amigo nesta sala.

Nash sempre foi razoável. O sorriso frio para a carranca feroz de Cam. A fácil

aceitação do instinto de Rubi de questionar e zombar de tudo. Cristo, ele me deu metade

de suas ferramentas quando eu saí do clube e levei seus negócios legítimos comigo.

Eu me virei para ele agora, ignorando os outros. — Você precisa deixar essa merda

de propriedade em paz. Eu estou lidando com isso. Ninguém está me expulsando do meu

negócio, e eu não quero besteira de clube assustando os locais.

Nash tinha um cigarro meio fumado enfiado na boca. Ele deu uma tragada

profunda e seu olhar passou por mim.

Para a porta.

— Não. — Eu bati. — Não faça isso. Não olhe para ele como se ele tivesse alguma

opinião sobre a porra da minha vida. Nenhum de vocês tem.

— Não é tão simples assim. — Nash falou calmamente. — Você não pode esperar

que fiquemos sentados enquanto você se machuca.

— Ninguém está me machucando.

— Ainda. E se eles tentarem? E se eles incendiarem o lugar com você dentro?

Caramba, eu não esperava aquele golpe de Nash. Aquele que sugou o ar da sala e

deixou a pele de Cam cinza. Até Alexei parecia doente. — Eles não vão fazer isso. Eles só

querem me assustar o suficiente para que eu morda suas mãos quando eles fizerem uma

oferta em dinheiro dentro de alguns meses.

45
— Você não sabe disso. Independentemente disso, mesmo que sejam apenas

aventureiros tentando ser legais, a garagem ainda é um negócio de clube...

— É meu.

— E você é um King, River. Para todos, exceto para você mesmo.

Uau, Nash. Eu o subestimei. Talvez eu devesse ter escolhido Saint, mas quando

olhei para ele, não entendi nada.

Cam se levantou e foi até a janela. Ele sabia que não devia me tocar, mas se

levantou na minha cara, me pressionando contra o vidro. — Isto não é apenas sobre você.

Mas digamos que seja. Você é meu irmão. Minha família. Se alguma puta tivesse ameaçado

Orla, eles já estariam mortos.

— Porque ela mesma os mataria. Onde você quer chegar?

— River.

— Não. — Coloquei minhas mãos no peito de Cam e o empurrei para longe de mim.

— Você não pode fazer isso. Lutei com você por esse negócio há cinco anos e você não me

deixou ficar com ele. E agora você quer ser a porra do meu herói? Você é um maldito

palhaço, Cam. Como você pode cuspir essa merda com uma cara séria?

Cam era um homem maior do que eu. Não um gigante como Rubi, mas mais alto.

Mais pesado. Mais forte de muitas maneiras. Mas eu sabia como machucá-lo, e era uma

coisa doentia que eu desejasse a dor violenta que nublava seu rosto. Que eu precisava

daquele cabo flexível para me manter inteiro.

Porra, eu queria que ele me batesse. Eu queria que seus dedos triturassem ossos até

que eu estivesse em pedaços no chão e o demônio dentro de mim estivesse morto.

Rubi se colocou entre nós. — Isso não está nos levando a lugar nenhum.

Cam bufou. — Nunca iria. Porra, eu disse que isso era uma perda de tempo.

Um rosnado retumbou do peito largo de Rubi. — E eu disse a você o que aconteceria

se você fizesse o que queria.

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Eles eram amigos há mais tempo do que eu era vivo. Ninguém os chamava melhor

do que um ao outro. Mas eu estava perdendo alguma coisa aqui, e levei um minuto para

recuperar o atraso.

Porra, não. — Deixe-me adivinhar. Você ia bancar o consertador pelas minhas

costas, certo? Neutralizar meus inimigos como se eu não fosse notar que eles

desapareceram durante a noite?

Não havia culpa no rosto de Cam enquanto ele me olhava mortalmente. — Sim. Eu

ia. E talvez ainda o faça.

Eu avancei.

Saint se moveu como uma víbora e me conteve, seu aperto forte drenando qualquer

amor ou respeito que eu tinha por ele a cada segundo que ele me segurava.

Lutando, enfrentei Cam. — Foda-se você. Se você interferir na minha vida, estamos

acabados. Para o bem. Vou dar essa terra para a porra dos Crows e sair da sua vida para

sempre.

— Não existem Crows. — Cam disparou. — Alexei já disse a você.

— Alexei não é meu irmão.

— Nem eu se ignorar isso.

Eu zombei. — Você não está me ouvindo, porra.

— Eu estou. — A agressividade de Cam desapareceu. — Eu estive ouvindo você o

tempo todo. É você que não está ouvindo o que estou dizendo. Eu quero mais do que tudo

que você seja feliz, mas não posso deixar isso acontecer e não fazer nada a respeito. Dói

mais do que você, entendeu? — Ele passou a mão pelo cabelo. — Isso deixa os irmãos na

estrada transportando nossa carga legítima vulneráveis a tudo o que estamos tentando

escapar porque não podemos enfrentar a perda das pessoas que amamos.

— Você não está tentando escapar disso, está? Se estivesse, teria ido embora no dia

em que o conheceu. — Eu apontei o polegar para Saint atrás de mim. — Mas você ficou,

47
então todos tiveram que ficar, e veja onde estamos. Todo mundo está fodido e é tudo culpa

sua.

Eu me arrependi das palavras assim que elas saíram da minha boca. Mas era tarde

demais. O golpe de martelo nocauteou meu irmão mais velho. Eu pensei que ele tinha

perdido a cor antes, mas não tinha nada na palidez mortal que desceu sobre ele agora. O

brilho assombrado que fechava seus olhos.

Conserte isso.

Mas eu não podia. Eu era um humano de merda e não pertencia aqui.

Afastei Saint e me afastei, saindo da capela enquanto tinha chance.

Lá fora, o ar úmido do inverno me atingiu com tanta força quanto a culpa perversa

que eu merecia. Meus pés se arrastavam, as pernas pesadas. Talvez seja por isso que parei

quando alguém chamou meu nome.

Quando ele chamou meu nome.

— Riv, espere.

Minhas botas enraizadas no chão.

Rubi me alcançou, disparando na minha frente mais rápido do que um homem de

seu tamanho tinha direito. — Espere. Por favor.

— Não diga por favor assim.

— Por que não? — Rubi inclinou a cabeça, os cabelos cor de mel caindo sobre os

olhos cansados. — Eu quero dizer isso e eu preciso que você saiba. Além disso, a inflexão

sincera nunca matou ninguém.

Nem ele. A menos que eu tivesse perdido algo mais devastador do que o executor

mais mortal de Cam ter um filho. — O que você quer?

— Você sabe o que eu quero.

Eu não. Por anos, eu tive tanta certeza, mas estes últimos... cara, eu não sabia mais

nada, muito menos ele. — Apenas acabe com isso, ok? Tenho trabalho a fazer.

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As mãos de Rubi pairaram sobre meus ombros. Ele queria me tocar, mas estava

com medo.

Bom... foda-se. O que havia em amá-lo que me tornava tão idiota?

— Quão longe foi?

Eu pisquei. Rubi se aproximou, ainda sem me tocar, mas seu cheiro picante e

defumado tomou conta de mim, tonteou meu cérebro o suficiente para que eu levasse um

segundo para lembrar do que diabos ele estava falando. — Nenhum de seus negócios.

Como você descobriu sobre isso? Perguntei a Saint no verão passado se ele estava me

espionando. Ele negou.

Rubi deu de ombros, sem se preocupar em esconder seu olhar astuto. — Saint não é

um mentiroso.

— Então como?

— Você não vai gostar.

— Então? Eu não gosto de muitas coisas. Não impede que aconteçam.

— Você quer ir a algum lugar e conversar?

— Eu quero ir para casa. Sozinho. Então me dê a porra do chá.

A dor sombreava o olhar encantador de Rubi. Outra pontada de culpa me atingiu,

mas eu estava ficando sem corda. Eu precisava dar o fora daqui antes que fizesse algo

catastroficamente estúpido. Como implorar para ele vir comigo.

— Foi Mateo. — Admitiu Rubi. — Ele sabia que eu estava preocupado com você,

então ele recrutou Alexei e eles fizeram o que queriam. Eu não sabia disso até esta manhã,

e entendo que você se sinta fodidamente violado, mas não me arrependo.

— Não mesmo?

Rubi recuou, balançando nos calcanhares.

Não estávamos mais falando sobre espionagem MC. Sem pensar conscientemente,

eu levei uma marreta para a nossa conversa e mudei de assunto.

49
Rubi balançou a cabeça. — Isto é o que você pensa? Que eu me arrependo? Que eu

me arrependo de você?

— Você não? — Desta vez fui eu quem deu um passo à frente. — Você pode me

olhar nos olhos e me dizer que não há nada nessa maldita bagunça que você gostaria que

nunca tivesse acontecido?

Rubi riu. Sem humor. Exausto. — Riv, se você me deixar falar, saberá exatamente

como me sinto.

— Você quer dizer que não posso obtê-lo dos lençóis frios que você deixou para

trás? Porra, cara. Você até levou a camisinha com você, então não finja que está todo

apaixonado agora.

Foi injusto. Eu sabia que era. Mas ele nunca me disse por que ele saiu. A próxima

vez que o vi, ele estava se contorcendo em agonia em uma cama de hospital, e o cansaço

em seu rosto atemporal agora estava muito próximo disso para conforto.

Eu não queria me importar. Cortou fundo o que eu fiz, e o fato de que ele nem

estava mais olhando para mim doeu mais do que tudo.

Quase passou por mim que Rubi estava se preparando para a fúria crua de Nash

McGovern caindo sobre ele.

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CAPÍTULO 05
RUBI

Nos segundos sinistros que Nash levou para calcular o que tinha ouvido, River

escapou de mim, correndo para sua moto e rugindo para longe.

Ele arrancou outro pedaço do meu coração do meu peito, mas havia uma

tempestade maior atrás de mim.

Eu me virei para encarar meu irmão de armas, preparado para sua raiva, mas não

para a traição violenta fodendo seu rosto.

— Você estava transando com ele o tempo todo?

— O que? Não..

Nash voou para mim, grandes punhos voando.

E aqui estava a coisa sobre Nash McGovern. Ele era o cara mais legal, doce e justo

do planeta, mas quando ele pirava?

Foda-me, seu soco mais suave foi mortal.

Seu ceifador brutal?

Fodidamente letal, e eu não poderia aguentar aquele golpe agora. Eu desmoronaria

e não me levantaria.

O modo de defesa entrou em ação. Dei um soco cruel no meu rosto, então levantei

meus braços para proteger meu crânio golpeado, deixando os golpes choverem em minhas

costelas. Tomando aquela dor, porque eu merecia isso. Flutuando nele, quase. Qualquer

coisa para me proteger das onipotências que este dia se tornou.

O ar deixou meus pulmões.

Nash me jogou sobre uma mesa de piquenique, e eu deixei isso acontecer também,

me preparando para o concreto do outro lado.

Mas nunca veio.

51
Braços fortes me pegaram.

Braços de irmãos.

E mais deles apareceram em uma debandada de botas no asfalto.

Cam e Saint lutaram com Nash para longe.

As pessoas me seguraram, me firmando até que eu me desvencilhei dele e cuspi

uma bola de sangue no chão.

Bom rapaz que era, Folksie me deu espaço. Não perguntou por que Nash voou para

mim como um gorila enlouquecido, ou por que eu deixei. Garoto esperto, aquele. Me fez

pensar como ele acabou sendo um Crow e não um King em primeiro lugar.

Porra, minha cabeça estava em todo o show.

Coloquei a mão na mesa de piquenique, procurando equilíbrio. Procurando por

fôlego, porque santa sodomia, Nash tinha arrancado isso de mim.

— Sente-se. — Folk murmurou.

Eu o ignorei, fechando os olhos, engolindo mais sangue.

Não os abri novamente até que passos que eu reconheceria em meu leito de morte

se aproximaram de nós.

A irritação ardente de Cam O'Brian era como o inferno. — Você está falando sério?

Depois de tudo o que passamos, você está transando com ele pelas minhas costas o tempo

todo?

O povo evaporou. Inteligente, lembra?

Enfrentei a raiva de Cam. Merecida, mesmo que sua narrativa fosse muito mais

profunda do que a realidade. — Não foi isso que aconteceu.

— Sim? Por que o punho de Nash está impresso em seu rosto então?

— Você sabe por quê. — Eu ofeguei. — Ele enlouqueceu porque você manteve ele e

eu como reféns em nossas próprias vidas por mil malditos anos.

52
Qualquer leviandade que eu pretendia foi eliminada pela amargura que envolvia

cada sílaba. Corri um dedo sobre meu lábio cortado e testei minha mandíbula para ver se

estava firme.

Cam olhou furioso para mim, suas próprias mãos fechadas em punhos malignos. —

Comece a falar, filho da puta. Eu não preciso dessa merda. Não de você.

Eu suspirei e tardiamente segui o conselho de Folk para estacionar minha bunda no

banco. Fogo floresceu em minhas costelas. Machucada, não quebrada, mas ainda uma

vadia. — Eu transei com ele. Uma vez. Eu penso. Então eu corri uma milha, então ele me

odeia. E agora Nash também me odeia porque ele se aproximou de Riv quando ele estava

me chamando de puta por causa disso tudo de novo. Feliz?

— Em êxtase. — Cam brincou. — Quando isto aconteceu?

— No dia seguinte, fui abatido com aquele tubo. — Uma batida surda bateu em

minha têmpora. — Eu estava fora da porra da minha mente. Não está pensando direito,

sabe? Eu estava com medo e precisava dele. Então eu fui procurar e fodi tudo.

Cam olhou por cima do ombro. Acenou para quem diabos sabia, antes de se sentar

ao meu lado, bem perto, seu corpo quente contra o meu. — Você se arrepende?

— Qual parte?

— Estar com ele em primeiro lugar.

— Foda-se, não. — Eu empurrei minha cabeça latejante para cima. — Eu acabei de...

porra. Você realmente quer ouvir isso?

— Eu preciso ouvir isso, irmão. Eu preciso entender.

Uma sensação de destruição iminente tomou conta de mim. O inverno está chegando.

Quero dizer, tecnicamente, estava aqui desde o solstício de dezembro, mas eu o sentia

agora mais do que nunca enquanto procurava o vernáculo para me explicar. — Nunca

imaginei que seria assim – assim – quando finalmente acontecesse. Eu tinha essa fantasia

de que na primeira vez que eu o beijasse tudo se encaixaria. Tipo, eu sabia que o mundo

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nunca mais seria o mesmo, mas nunca imaginei um onde ele me odiasse e Nash me desse

um soco na cara por causa do meu problema.

— River não te odeia. Ele te ama.

— É uma linha tênue, irmão.

— Meu ponto ainda está de pé. — Cam quase sorriu. Então seu telefone tocou e ele

xingou. — Pelo amor de Deus. Eu voltarei.

Ele se levantou e desapareceu.

Embry o substituiu e eu soltei um suspiro. Eu amava tanto o bom capelão, mas às

vezes doía olhar para ele, e nunca lhe disse por quê.

Ele me lembra Lark.

A última vez que pronunciei essas palavras em voz alta, foi para Nash. Ele tinha

entendido porque sempre entendia. E ele entenderia isso também, que eu perdi o controle

e fodi tudo. Era enganá-lo que ele não perdoava.

Não por um tempo, de qualquer maneira.

Embry me cutucou. — Você quer entrar? Está frio aqui fora.

Estava? O fato de eu não ter notado provavelmente era uma coisa boa. Significava

que a enxaqueca do inferno estava finalmente fodidamente fora. Eu não gostei de como

Embry estava olhando para mim, no entanto. Era um olhar profundo e penetrante que ele

normalmente reservava para Cam quando ele estava ficando todo assustado e merda. —

Estou bem, Em. Você não precisa ficar aqui também.

— Você sairia se Nash tivesse acabado de me dar um soco na cara?

Embry tinha metade do meu tamanho. Se Nash tivesse dado um soco nele, ele

estaria em coma. Tinha que pegá-lo primeiro, no entanto. Embry era rápido. Ágil e afiado.

Acrobático. Um viciado em adrenalina.

Como River.

Maldito. — Eu não deixaria você. Mats saiu bem?

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Embry assentiu, esticando as pernas para longe da mesa. — Ele não vai estar de

volta até o fim de semana, se você espera que ele me distraia de entrar em seus negócios.

— Eu não estava.

— Não? Você quer me dizer por que diabos você e Nash estavam brigando?

— Cam não te contou?

— Ele não teve chance. Tudo o que sei é que começou e eu tive que levar Liliana

para outro lugar.

— Ela está bem?

— Ela não viu nada. Nem eu. Provavelmente por isso estou tendo dificuldade em

acreditar.

Eu dei a ele um resumo super breve.

Embry absorveu tudo sem fazer comentários, pensando antes de falar, o que eu

apreciei. Deixei que ele cozinhasse enquanto minha mente vagava para River. Eu o

imaginei como eu fazia na maioria das vezes, quando estava afundado na negação de que

ele passou a maior parte do ano passado me odiando.

Ele tinha cabelos tão escuros quanto os de Cam e tão bagunçados quanto os meus,

presos em um coque na nuca, argolas de ouro e presilhas em cada orelha brilhando ao sol.

Olhos como uma lagoa de chocolate meio amargo.

— Nash vai voltar. — Disse Embry eventualmente.

— Eu não quero que ele volte. Quero que ele me dê um soco na cara mais algumas

vezes.

— Ele nunca vai fazer isso.

Eu sabia. Mas senti que precisava. Eu estava passando muito tempo com Alexei?

Ele me disse uma vez que a dor era uma terapia para ele quando a merda ficava difícil.

Limpeza. Eu o chamei de bastardo doente, mas sua abordagem masoquista de autocuidado

não parecia tão estranha agora.

55
— Você está pensando demais. — Embry apertou meu braço. — E provavelmente

sobre as coisas erradas.

— Como você sabe disso?

— Estou tentando me colocar no seu lugar.

— Como você pode fazer isso quando não sabe o que estou pensando?

— Não posso. — Embry puxou um pacote de balas de menta do bolso e ofereceu

para mim, deslizando uma com o polegar. — Não me impede de tentar, no entanto. E me

desculpe, eu não vi que você estava tão confuso depois de ser atingido até que fosse tarde

demais. Talvez se eu tivesse, um pouco dessa dor...

Ele não quis dizer o latejar recuando em meu crânio, e eu apreciei suas palavras.

Mas não era função de Embry manter meu pau na minha calça jeans. Lesão na cabeça ou

não, foi por minha conta. — Calma, capelão. Deixe-me monopolizar toda a culpa, ok?

— E River? Ele devia saber que algo não estava certo naquela época, mesmo que

não soubesse por quê.

— River também teve um ferimento na cabeça. Ele nem sempre pensa e reage como

o resto de nós.

Embry franziu a testa, confusão marcando seu rosto. — O que você quer dizer?

Eu estiquei minha coluna. Me arrependi enquanto minhas costelas latejaram com

uma nova queimadura. — Você perdeu aquele capítulo da história de O'Brian?

— River não aparece muito nas conversas. Há algo que eu deva saber para entender

isso melhor?

— Entendê-lo melhor, talvez. Não é uma desculpa para o quão bastardo ele é para

você, no entanto. Ele faz essa merda de propósito.

Embry sorriu. — Eu sei. — Então seu sorriso desapareceu. — Diga-me algo que eu

não sei.

Deixei minha mente viajar no tempo. Muito, muito cedo para uma vida muito cedo,

mesmo para Nash. — Riv caiu da bicicleta quando tinha dez anos - como em bicicleta, não

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em moto. Não havia uma marca nele, mas ele ficou inconsciente por três dias e, quando

voltou a si, não era o mesmo garoto.

— De que maneira?

— Ele era paciente antes. Quase como a Liliana, sabe? Feliz. Calmo. A merda

simplesmente rolou de seus ombros como a maldita água. Então, depois do acidente, a

paciência acabou e ele tem sido uma granada viva desde então. Sem ofensa, mas ele é mais

parecido com você agora, exceto que ele não tem uma fração do seu autocontrole.

Embry bufou. — Realmente? É isso que você pensa de mim?

— Tudo bem. Coloque desta forma, se Riv tivesse vivido sua vida, ele teria atirado

na cara de mil homens agora.

Não, ele não faria isso. Ele não é um assassino mais do que eu.

Mas o temperamento dele, cara. Isso o tornava perigoso e, nisso, ele e o bom

capelão eram iguais.

Embry me cutucou. — O que aconteceu na noite em que vocês estiveram juntos?

Não, não vou lá. Mas Embry tinha esse jeito de arrancar merda de mim sem dizer

uma única palavra. Passei a língua pelo lábio partido, ainda com gosto de clarete. — Eu

não sei o que aconteceu. Na verdade. Só que eu o arrastei para fora do Joker e o levei para

casa. Então eu acordei nu em sua cama.

— Você não se lembra de mais nada?

Uma onda de dor gutural tomou conta de mim. — Apenas flashbacks de como me

senti. A cara dele quando... foda-se. — Eu bati com os nós dos dedos na velha mesa de

madeira, desejando mais sangue do que a merda rançosa que azedava minha boca. — Eu

estava tão confuso naquela época, e não me sinto o mesmo desde então. Fui ao River

naquela noite pensando que se pudesse ficar perto dele, tudo daria certo de novo. E durou

enquanto eu me perdi nele. Então era de manhã antes que eu percebesse. Meu telefone

estava explodindo com mensagens de Cam querendo saber onde diabos eu estava, então

eu saí. Escapei enquanto River estava dormindo.

57
— E você nunca mais voltou? Nunca contou a ele o que aconteceu?

Eu balancei minha cabeça. Devagar. Como a passagem do tempo entre agora e

aquela noite. — Deixei muito tempo. No momento em que encontrei minhas bolas, ele

terminou comigo.

— Ele estava com raiva. Ferido. Há uma diferença.

— Nenhuma que importe. — Estudei minha mão machucada, desejando que a tinta

desaparecesse para poder ver melhor os ferimentos. — Eu sempre prometi a ele que nunca

faria algo que eu abandonaria. Eu nunca transaria com ele e terminaria com ele. Eu

prometi a ele naquela noite também, repetidamente. Então amanheceu e foi exatamente o

que eu fiz.

— Não porque você quis, cara. Ele sabe disso.

— Não importa o que ele sabe. Aconteceu e está me matando. É como se parte de

mim tivesse sido arrancada, e mesmo que Riv me perdoe, se Nash perdoar, eu nunca vou

recuperá-la - aquela primeira vez, sabe? Eu queria tanto, eu queria ele, e agora eu quero

morrer, porra.

Eu não tinha dito essas palavras em voz alta até agora, mas quando elas saíram da

minha boca, percebi como eram verdadeiras, como me sentia perturbado, e isso me

assustou.

Assustou Embry também. Ele tinha essa calma que impôs a si mesmo para o

benefício de todos, menos dele. Às vezes, isso o deixava estranhamente parado. O que

tornou óbvio quando escapou e um medo profundamente enraizado se infiltrou em seus

olhos tempestuosos.

Ele olhou por cima do meu ombro. Um momento depois, outro irmão flanqueou

meu lado. Por seu silêncio, eu sabia que era Saint.

Pelo fato de ele ter colocado a mão em mim, eu sabia que estava uma bagunça.

Embry evaporou. Eu me forcei a encarar meu irmão mais quieto, e Saint esfregou

meu ombro, apenas uma vez, antes de sua palma cair.

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Eu joguei minha cabeça em meus braços cruzados. — Você está ficando melhor

nisso.

— Eu estou?

— Sim. É menos como uma aranha fugitiva agora.

— Shh.

Essa era a linguagem de Saint para calar a boca quando ele não tinha as sílabas de

sobra.

Ficamos sentados em paz por um tempo. Eu estava muito na minha cabeça para

deduzir se era deliberado ou se Saint estava planejando o que ele queria dizer.

Estou tão cansado.

Não estava além de mim tirar uma soneca lá fora, mas Saint possuía essa estranha

energia que me mantinha acordado. Suporte de vida. Foi assim que me senti.

— Ele veio até você no hospital. — Disse Saint um tempo incontável depois. —

Depois do que quer que tenha acontecido para deixá-lo tão zangado com você.

— Eu lembro. Ele me pediu para sair com ele. O clube, a família. Tudo. Eu não faria

isso.

— E você não vai, porque você sabe que não é o que ele quer também.

— Eu?

Saint tamborilou com os dedos na mesa de piquenique. — Você deveria ir e ficar

com ele o tempo suficiente para descobrir.

— Estar com ele? Irmão, eu te amo, mas você está louco. Não há como estar com

River. Mesmo sem a mina terrestre, pareço detonar toda vez que estamos na mesma sala,

decreto real, lembra?

Saint inclinou a cabeça, seus olhos verdes brilhando como um lagarto sobrenatural

que tudo vê. Em qualquer outro dia, eu teria gritado pelo quintal por Cam, destruindo-o

por se dedicar a dois reptilianos filhos da puta. Mas havia algo sobre Saint ultimamente.

Ele sempre foi de outro mundo, mas seu contato com a morte o consolidou mais do que

59
nunca. Seu olhar sobrenatural tinha um propósito, mesmo que eu não tivesse uma ideia

que porra era.

Sua intensidade característica me obrigou a sentar. Para ignorar a tensão em meu

corpo dolorido e dar a ele mais inteligência do que eu tinha. — Você está tentando me

dizer que Cam mudou de ideia?

Saint deu de ombros. — Talvez você não deva esperar que algo literal seja diferente.

Ok. — Sim, bem, como eu literalmente acabei de dizer a Em, nada disso importa

mais.

Saint foi menos afetado pelo meu pessimismo. Ele abriu a mão, revelando um

molho de chaves. Déjà vu me atingiu, embora eu não pudesse dizer por quê. — O

esconderijo em Porth Luck. — Ele esclareceu quando eu apenas consegui um olhar

impassível. — Fique lá um pouco. Assista River. Proteja-o. Cam sabe que você pode fazer

isso melhor do que ninguém. Ele não vai se importar com mais nada por um tempo.

— Não é com Cam que estou preocupado. Você ouviu Riv. O que ele fará se

forçarmos demais. Ele quis dizer essa merda, mano.

— Não significa que ele faria isso.

— Você acha que ele não vai?

A resposta de Saint foi difícil de avaliar. Nem um aceno. Nem um encolher de

ombros. Algo intermediário que não consegui decifrar.

Ele pressionou as chaves na minha mão.

Elas estavam quentes com o calor de seu corpo. Ou talvez eu estivesse apenas com

frio. Independentemente disso, deixei-as cair sobre a mesa. — Eu não posso montar, cara.

Minha cabeça está fodida. Mesmo que eu concorde com seu plano maluco, isso terá que

esperar.

— Ou você poderia dirigir. O carro de Cam está aqui.

— Você realmente quer se livrar de mim, hein?

60
Saint me deu um olhar penetrante, tão ofendido como nunca por qualquer coisa,

mas ele realmente ficou sem palavras agora. E eu não precisava delas. Ou o abraço que ele

não quis me dar. Com esse irmão, sempre foram as pequenas coisas.

Ele saiu para encontrar as chaves do carro de Cam. Depois de uma manhã louca,

finalmente estava sozinho e senti isso. O isolamento. Essa dor baixa de estar sozinho pra

caralho. Geralmente era um momento em que eu procurava Nash. Encontrar conforto em

enrolá-lo. Agora, tudo que eu tinha era subir as escadas sozinho para juntar minhas coisas

do quarto abandonado de Mateo.

Cara, eu estava dolorido. Os punhos de Lord Nashie foram proibidos pela

Convenção de Genebra. Esfregando minhas costelas, sentei-me na beirada da cama de

Mateo. Aquela em que ele não dormia há mais de um ano. Eu tinha uma bolsa por aqui em

algum lugar. Alguma erva. Um monte de roupas que provavelmente precisavam ser

lavadas. Passou pela minha cabeça ir para casa antes de colocar o plano ridículo de Saint

em ação, mas não tive vontade de agraciar minha casa vazia com minha presença fabulosa.

Passos soaram na escada.

Saint encheu a porta e me jogou um segundo conjunto de chaves.

Ele saiu novamente sem comentários, e eu tomei isso como permissão para dar o

fora daqui.

Levantei-me, pegando minha bolsa do chão.

Você precisa de comida. Haverá foda-se tudo no esconderijo. Não podia me ver com fome

tão cedo, mas eu era um profissional. A preparação era minha geleia.

Coloquei minha bolsa no ombro e fiz trilhas. O SUV de Cam estava estacionado do

lado de fora da recepção de vendas, perto do carro de Orla. Senti seu olhar em mim

quando joguei minha bolsa no banco do passageiro e deslizei para trás do volante. Ouviu

suas botas no chão de ladrilhos ficarem mais altas e depois pararem.

Ela não veio até mim. Não rasgou a porta do carro e me abriu um novo buraco. E de

Orla, minha irmã em tudo menos no sangue, seu silêncio doía.

61
Vá embora.

Eu coloco o idiota-móvel automático em movimento.

Embry apareceu na minha janela. Ele me passou uma sacola Tesco com

mantimentos e uma garrafa de óleo Frankincense 8. — Para te ajudar a respirar.

Filho da puta estranho. — Estou respirando, Em.

— Eu sei. É apenas no caso de você sentir que não está.

Muita empatia nadou nessas palavras. Muito amor.

Minhas mãos se contraíram no volante. Eu amava Embry de volta, mas merda, eu

precisava sair deste lugar antes que o miserável saca-rolhas dentro de mim saísse de

controle.

Ele me soltou, deslizando um pedaço de papel dobrado pela janela no último

minuto.

Caiu no meu colo. Deixei lá e fui embora. Pelo espelho retrovisor, vi Nash sair da

sede do clube e afundar nos degraus.

Ele baixou a cabeça e enterrou o rosto nas mãos. Isso quase me fez girar - o

desespero para consertar. Mas eu e Nash, nós pilotávamos ou morríamos. Espancado, não

quebrado como minhas costelas. Estaríamos bem. Eu sabia disso, mesmo com os nós dos

dedos impressos em meu lábio gordo.

Apenas River tinha um domínio mais forte em meu coração.

8 Olíbano, também conhecido como Frankincense, é uma resina aromática muito usada na perfumaria e
fabricação de incensos. É obtido de árvores africanas e asiáticas do gênero Boswellia.

62
CAPÍTULO 06
RIVER

Eu estive sob o controle de alguém toda a minha vida. O meu pai. Minha mãe.

Cam.

Quando me afastei do MC, me cerquei de pessoas que ficaram fora da minha

merda. Um colega de quarto que guardava suas opiniões para si mesmo. Mecânicos que

me deram um amplo espaço em um bom dia. Isso significava que eu nunca tive que me

explicar. Ou justificar o caos furioso que me perseguiu.

Isso significava que ninguém me reprovava e eu ficava com raiva de tudo para

sempre.

Eu rugi de volta para Porth Luck, acelerando minha Softail9 nas estradas rurais,

fazendo curvas fechadas muito duras e rápidas demais, queimando borracha. A depressão

da noite anterior ainda estava me chutando no pau, mas eu dei boas-vindas à fadiga

áspera e farpada. Isso me fez parar de pensar em Rubi e Nash e em que merda eles se

meteram quando eu fui embora.

Nada, provavelmente. Eles nunca brigam.

Mas o rosto de Nash, cara. A última vez que o vi assim, alguém enfiou a pata na

saia da minha irmã.

Eu caí na calçada do lado de fora da garagem. Na estrada, o Transporter preto

estava ausente. Mas estaria de volta, hoje, amanhã, quando quiser. A menos que você arraste

aquele filho da puta e coloque fogo nele.

9
Moto da marca Harley Davidson.

63
Imaginar isso me deixou nervoso. Apesar do pavio curto que governava minha

vida, eu não tinha um instinto assassino, a menos que alguém machucasse as pessoas que

eu amava, e eu me retirei à força disso anos atrás, por todo o bem que isso me fez.

Porra. Faça parar.

Eu entrei.

Fiel à forma, Axel e Bear mal olharam para cima, absortos em seu trabalho

enquanto a música metal tocava ao fundo.

Eu aumentei, perseguindo a calma nostálgica que uma dose de Pantera 10

geralmente me dava, mas eu estava além desse tipo de terapia hoje. Eu precisava quebrar

algo que não fosse irreparável, jantar e desmaiar. Consertar a Road King não apelou. Mas

eu me dediquei. Empenhado. Eu tinha que ser, ou abandonaria todos com quem me

importava por nada.

Não era uma nova realidade, mas bateu forte do mesmo jeito. A ansiedade tomou

conta de mim, sacudindo meus nervos. Minhas mãos tremiam e a paranoia dançava em

minha periferia enquanto me curvava sobre o motor da moto fragmentado.

Eu cerrei os dentes, resistindo ao impulso de raspar minhas unhas na pele nua dos

meus braços. A tinta cobriu as cicatrizes que eu carregava em meus pulsos. Eu não estava

mais no mercado. Além disso, eu não tinha quinze anos. Eu era um adulto com um

negócio filho da puta e um plano de vida que não envolvia esculpir pedaços de mim

mesmo para um alívio abençoado.

Baixei a cabeça e me obriguei a trabalhar. Pantera deu lugar a Guano Apes 11 e uma

faixa que Rubi e Cam tocavam tanto quando eram crianças que minha mãe cortou o

plugue do estéreo de Cam. A letra era uma batida em minha alma. Um chute na estrada da

memória que eu não precisava ou queria, mas ainda assim, eu expus aquele filho da puta.

Deixe-o zumbir em meu sangue até que eu realmente fosse um adolescente novamente,

rastejando sobre o melhor amigo do meu irmão do outro lado do bar do clube.

10 Pantera é uma banda norte-americana de heavy metal formada na cidade de Arlington, no estado do Texas, no ano de 1981.
11 Guano Apes é uma banda alemã de rock alternativo formada em 1993, na cidade de Göttingen.

64
Ou vê-lo lutar no ringue, todo força bruta e risadas. Era estranho que os

congestionamentos de metal me fizessem pensar nele. Passamos nossas vidas saturados

disso, mas Rubi amava todos os tipos de música, de Billy Idol ao ABBA. E ele cantava

todas elas como uma estrela do rock operístico.

Meu pulso fugiu de si mesmo. Ele trovejou em meus ouvidos, e a ferramenta em

minha mão caiu no chão de concreto.

A garagem era barulhenta o suficiente para que ninguém mais notasse, mas o som

reverberou em meu cérebro e meu tênue controle sobre mim mesmo cedeu.

Deixei a chave inglesa onde estava e me afastei do Road King. Eu tinha feito

progresso, mas ainda estava em pedaços demais para eu avaliar o quanto. Tudo o que vi

foi o caos. E eu senti isso também, de uma forma elementar que convenientemente esqueci

quando estava enfiando Mandy no meu nariz. Comedowns sempre fodem com você. Por que

você é tão estúpido?

Porque sair da minha cabeça valeu a porra da dor. O problema era que eu não tinha

contabilizado a confusão mental de uma viagem de volta para casa. De lutar contra Rubi e

Cam. De estar tão perto da minha irmã e nem mesmo falar com ela. Em algum momento,

eu teria que ler as mensagens com as quais ela estava enchendo meu telefone o dia todo,

mas eu não conseguia encarar isso. Ainda não.

Eu não conseguia enfrentar nada, e esse sempre foi o meu problema.

Você é fraco.

Às vezes eu lutava contra aquela voz na minha cabeça, mas não hoje. Saí, saindo

pela porta dos fundos para o quintal, eu e os meninos costumávamos chutar quando não

estávamos trabalhando. No ano passado, construímos um abrigo a partir de um antigo

ponto de ônibus. Era a coisa mais feia, mas mantinha o sofá de couro surrado seco. A

fogueira quando chegamos a acendê-la.

Talvez mais tarde. Oscar passaria os próximos dias no mar, então eu não conseguia

me imaginar voltando para casa, mesmo sabendo que outra noite sem dormir me mataria.

65
Meu coração ainda estava martelando em meus ouvidos. A desassociação começou.

O ambiente familiar tornou-se um lugar distante que eu não conseguia alcançar, e a

ansiedade se transformou em um pânico total de sucção de oxigênio.

Porra. Concentrei-me no vento que soprava do porto a algumas ruas de distância. O

ar frio e salgado me lembrou que havia deixado minha jaqueta na motocicleta e que ia

chover, mas não fiz nenhum movimento para resgatá-la.

Em vez disso, afundei no sofá e deixei cair minha cabeça em minhas mãos, os dedos

emaranhados no cabelo escorregando do nó bagunçado na minha nuca. Não conseguia me

lembrar da última vez que o amarrei novamente. Eu provavelmente parecia um sem-teto

agora.

Porra senti isso, mesmo em um sofá rasgado que eu sentei tantas vezes que foi

moldado ao meu corpo. Eu me senti mal, mas não do jeito que vomitava. Eu senti isso em

todos os outros lugares. Como se tudo dentro de mim estivesse errado.

Como se os dedos quentes que deslizaram sobre minhas rótulas, repentinos e

calmantes, fossem legítimos e não uma invenção da minha imaginação desesperada.

— Riv.

Não.

— Riv.

Eu abri meus olhos.

Orbes castanhos avermelhados brilharam de volta para mim. Cabelos desalinhados

caindo sobre ombros largos. O rosto bonito se contraiu com uma preocupação gentil.

Foi a primeira vez que ele me tocou... caralho, eu nem sabia. Não importava. Tudo

que eu sabia era que tinha esquecido o que isso fazia comigo. Como isso me fez esquecer

que havia ar em meus pulmões e sangue em minhas veias. Como isso me entorpecia para

tudo, menos para o calor de suas mãos em meus joelhos. — O que você está fazendo aqui?

Rubi se mexeu ligeiramente, equilibrando seu grande corpo agachado aos meus

pés. — Nada que não possa esperar. Quer respirar por mim?

66
— Não.

— Ok. Sufocar e morrer. Isso me deixaria super feliz.

— Essa é a psicologia reversa mais merda que eu já ouvi.

Rubi deu de ombros, um pequeno sorriso brincando em seus lábios beijáveis, o

inferior inchado e aberto. — Se você está falando, você está respirando. Isso é bom o

suficiente para mim.

Eu me perguntei quanto tempo ele estava lá, me observando perder a cabeça na

chuva. Ele era a única pessoa que sabia que eu tinha ataques de pânico como um chefe.

Que eles me fizeram tremer tanto que eu tiraria sangue só para fazê-lo parar.

Você não faz mais essa merda.

Não. Mas eu queria. E alguns dias isso era tão ruim quanto.

Rubi se ergueu do chão, seu toque se esvaindo. Eu lamentei até que ele preencheu o

espaço ao meu lado no sofá, perna pressionada contra a minha, deixando cair um braço

pesado em volta de mim.

Em qualquer outro dia, eu o empurraria, mas a vontade de repetir cada movimento

idiota que eu já fiz uma e outra vez simplesmente não estava lá.

Ele estava tão fodidamente quente que me inclinei para ele. Lamentava, mas não

conseguia parar. Minha cabeça colidiu com seu ombro, e eu a deixei lá, fechando meus

olhos, fechando qualquer parte do universo que não fosse ele e eu neste sofá surrado na

chuva.

Por longos minutos, foi perfeito. A batida silenciosa do grande coração de Rubi. Sua

respiração suave. O padrão de luz que ele traçou no meu bíceps com a ponta dos dedos.

Eu queria dormir aqui, talvez para sempre.

Então me lembrei de quem éramos e das vidas que sobrevivemos para chegar a esse

ponto.

Sentei-me, me afastando dele e me levantando. — O que você está fazendo aqui?

67
Rubi não piscou. Apenas me observou, a tensão de como seu dia havia se

desenrolado ainda estava gravada em seu rosto de mais maneiras do que em seu lábio

inferior pulverizado.

— Responda à pergunta. — Eu bati. — Não fique apenas olhando para mim.

— Você precisa de um casaco, Riv? É soco inglês aqui, cara.

— Você tem um cérebro em seu crânio grosso? Ou você precisa que eu pergunte

uma terceira vez?

Rubi suspirou, inclinando-se para a frente. — Você não vai gostar.

De novo. — Então? Quando isso afetou alguma coisa?

Uma risada baixa retumbou no peito largo de Rubi. — Você ficaria surpreso.

— Sim?

— Sim, mas não tenho energia para entrar nisso tudo. Estou aqui por cortesia. Para

que você saiba que estarei por aqui por um tempo.

— Em volta?

Rubi assentiu. — Escondendo-se em plena vista. De olho nesses bocetas, você não

quer que lutemos por você. Você não quer que o clube interfira, é um direito seu. Mas você

não vai enfrentá-los sozinho e desprotegido.

Cansado pra caralho e atordoado com sua chegada abrupta, demorou um segundo

para que todas as informações fossem absorvidas. Ainda mais para a raiva que Rubi

claramente esperava tirar o resto do dia de folga.

Eu não tinha nada além de uma mínima noção do que ele estava dizendo.

— Vou ficar por aqui por um tempo.

Droga.

Meu pulso desacelerou em sua mera presença, mas voltou a acelerar agora,

impulsionado pela esperança e euforia que eu perseguia tantas vezes com as coisas

erradas. Ter Rubi em minha vida por mais de dez dolorosos minutos de cada vez era o

68
maior sonho. A ironia de eu constantemente dizer que ele não era bem-vindo era quase

engraçada.

Respirei trêmula que escondi com uma tosse. — Deixe-me ver se entendi. Você está

aqui para ficar de olho em mim enquanto eu cuido da minha própria merda? Ou isso é

mentira?

— Mentira?

— Sim, porque você é um mentiroso, não é? Então, por que não desta vez?

Pela primeira vez, eu não estava gritando na cara dele, mas minha aceitação plana

pareceu cortar Rubi mais fundo. Dor irrestrita brilhou em seus olhos. — Eu não sou um

mentiroso, Riv.

Eu discordei. E nós dois sabíamos disso. Mas eu não podia lutar com ele agora. Não

queria. — Só estou me perguntando se você está aqui para me distrair enquanto Cam joga

um rolo compressor sobre minha vida.

— Cam não está aqui.

— Esse é meu argumento.

— E essa é a minha resposta. Sou só eu, e não é coisa de clube.

— Então o que é?

Rubi enfiou a mão nos bolsos e tirou um baseado. Ele o acendeu e deu uma tragada

profunda antes de queimá-lo novamente e colocá-lo de volta na caixa.

Esquisito.

— Cam estava ouvindo mais cedo. — Disse ele. — Quando você disse a ele o que

faria se ele interferisse. Ele não está feliz com isso, mas ele te ouviu. Este é um

compromisso. Vou ficar por aí como um cheiro ruim enquanto você faz o que quiser, mas

não vou intervir a menos que você queira ou aqueles bocetas vão longe demais.

— Odeio ter que dizer isso a você, mas isso ainda é interferir na minha vida.

— Não, não é. Está interferindo no meu.

— Como você resolveu isso?

69
Rubi se levantou e diminuiu a distância entre nós, parando antes de me tocar, mas

engolindo o suficiente do meu espaço pessoal para que ele pudesse nos deixar nus. —

Porque eu sou o triste saco de merda que chega tão perto sem nenhum lugar na sua vida.

Acho que vai doer mais do que nunca ver você, e não sei se vou sobreviver.

Engoli em seco. — Você acha que eu vou te matar?

Rubi se inclinou e esfregou o nariz no meu. — Um dia, Riv. E eu estou bem com

isso.

Ele saiu antes que eu pudesse responder. Vaporizou como se nunca tivesse estado

ali. Se eu tivesse que lidar com um megadesconto, teria aceitado a alucinação como meu

tipo favorito de devaneio. Mas já havia se passado um dia, então fiquei parado, em estado

de choque e esperando pelo estrondo profundo da Bobber12 de Rubi, tão profundo e

visceral quanto seu piloto.

Quando não veio, eu caí de joelhos.

12
Moto da marca Triumph.

70
CAPÍTULO 07
RUBI

A casa segura era um quarto no primeiro andar, em frente à casa que River dividia

com Oscar, o Pescador Gostoso.

Esse era seu nome oficial. Pelo menos, era agora que eu me treinei para não me

referir a ele como Aquele Cunt13 por nenhuma outra razão, que ele passava mais tempo

com River do que eu.

Eles nem passavam tanto tempo juntos. Pescador, ó. O cara sumia de uma semana

para a outra.

Ele se foi agora.

Eu verifiquei. Era por isso que eu estava grudado na grande janela da sacada em

vez de inspecionar o pequeno espaço que seria minha casa no futuro próximo.

Em vez de falar com meus irmãos favoritos, como normalmente faria a essa hora do

dia. Lembrando Alexei de voltar para casa para jantar, tanto para o bem dele quanto para

o de Cam. Certificando-se de que Saint e Em estavam se sentindo bem. Que Mats ainda

estava tão discretamente encantado com sua vida quanto desde o último verão.

Um ritual sagrado, mas eu não estava sentindo isso esta noite. Minha primeira

mensagem sempre foi para Nash e essa estrada estava bloqueada agora. Em vez de fazer

check-in, fiz check-out. Hiperfocado em River e em todos os detalhes microscópicos de que

me lembrava desse dia fodido.

Ele está em casa. Deveria ter me tranquilizado, mas não o fez. River era como eu - ele

não se dava bem sozinho. E ao contrário de mim, ele não importunava as pessoas para lhe

fazerem companhia. Ele ia procurar problemas para distraí-lo do que quer que estivesse

torcendo seu melão, e o cara que vi antes tinha um cérebro como a porra de um pretzel.

13 Uma palavra ofensiva para uma pessoa muito desagradável ou estúpida.

71
Era triste que eu pudesse dizer pelo fato de que ele não tinha me socado quando eu

invadi sua existência. Que ele se apoiou em mim. Eu não conseguia me lembrar da última

vez que ele fez isso... afundou em mim com pouco pensamento consciente. Como se ele

confiasse em mim. Como se ele me amasse. Mas por melhor que ele se sentisse em meus

braços, eu não conseguia mudar a inquietação que rastejava em minhas veias. River era um

mini Cam sem a responsabilidade e distração de uma centena de outras pessoas para se

preocupar. Como todo O'Brian, ele sentia tudo em seu âmago e não tinha a capacidade de

Orla de desligar essa merda.

Uma luz se acendeu na frente de sua casa. Eu vi sua sombra cruzar a sala e

mergulhar em outra - a cozinha. Para jantar ou tomar uma cerveja. Para uma xícara de

leite. Qualquer que seja. O fato de eu estar tangenciando com tanta força me deixou saber

o quão cansado eu estava. Eu precisava que Riv abaixasse a cabeça e pegasse alguns Zs. Eu

ainda o observaria enquanto pudesse, mas se havia uma coisa que eu sabia sobre River

O'Brian era que ele acordava com os pássaros todas as manhãs. O que significava que eu

precisava dormir, e logo, antes que a exaustão me desse outra enxaqueca de rachar o

crânio.

A luz se apagou novamente. Observei River subir as escadas até desaparecer de

vista, mas não relaxei. Não poderia. A fadiga pesava em meus ossos, mas eu estava muito

tenso. Não conseguia nem me afastar da janela, e a sincronia com a forma como comecei

meu dia era trágica pra caralho.

Meu telefone tocou.

Uma mensagem.

Não podia mentir e dizer que não esperava por Nash, mas entre os textos não lidos

de Orla, foi o nome de Alexei que iluminou a tela.

Alexei: Eu estou aqui. Saint estará mais tarde. Descanse um pouco, velho.

72
Antigo. De todos os apelidos indesejados que ele distribuiu, o meu era

definitivamente o menos elogioso. Mas enquanto lia a mensagem, não me importava se ele

me chamasse de idiota feio pelo resto da minha vida.

Rubi: Sua maldita estrela. Vou mandar uma mensagem para ele quando acordar de novo.

Alexei: Você acha que ele não vai saber?

Rubi: Não gosto de pensar no que vocês dois duendes lagartos sabem. Faz-me sentir como

um gerbil em um laboratório.

Alexei: Um fetiche por roedores não é algo que eu possa ajudá-lo.

Bastardo seco. O senso de humor de Alexei era um mistério para mim. Eu nunca

poderia dizer se ele era imune à diversão ou me rasgava em pedaços o tempo todo. Para

sua sorte, eu gostava de um desafio.

Enviei a ele um meme de um rato em uma tanga brilhante.

Ele me ignorou.

Ainda assim, nossa troca questionável aliviou a tensão em meus músculos. Alexei

não amava River como eu; ninguém jamais o faria. Mas ele amava Cam. E ele era o cara

mais esperto que eu já conheci. Feroz. Engenhoso. Eficiente pra caralho. Ninguém chegaria

a River esta noite.

Depois de uma pausa prolongada, fechei as cortinas e me forcei a me afastar da

janela.

O quarto de dormir estava envolto em escuridão. Eu bati a lanterna no meu

telefone, esperando uma carnificina estéril ao meu redor, mas meu cérebro cansado tinha

esquecido que Alexei provavelmente era a última pessoa aqui, e aquele cara gostava de

merda. Tipo, clinicamente limpo. Portanto, a quitinete estava impecável. Nem uma

partícula de poeira ou cinza de cigarro foi encontrada. Nada de latas de cerveja ou pacotes

de Rizla. Sem manchas duvidosas no sofá que seria minha cama pelo tempo que eu

estivesse aqui.

73
As almofadas encaroçadas chamavam meu nome, mas os suprimentos que eu havia

abandonado no corredor precisavam ser guardados primeiro. Peguei a sacola que Embry

havia me dado e a levei para a pequena área da cozinha - apenas uma geladeira, um fogão

de duas bocas e um micro-ondas.

Embry adorava comer, mas não cozinhava, e seu saco de truques mostrava isso. Ele

embalou bacon e três latas de sopa aleatória. Manteiga, mas sem pão. Cenouras,

presumivelmente para minha visão, e... um multipack de Rice Krispy Squares 14.

Delicioso. Abri a geladeira vazia e joguei tudo dentro, até mesmo os Squares. Tinha

que estar drogado para comer aquela merda e isso não acontecia. Eu fumava o suficiente

para saber que não podia parar de fumar, mas entorpecer meus sentidos estava fora da

mesa. Tudo estava até River estar seguro.

A quitinete tinha o menor banheiro do mundo. Eu me espremi na cabine da ducha e

lavei o dia. Não havia toalha. Secando-me com uma camiseta, voltei para a janela e abri as

cortinas o suficiente para ver a casa de River novamente. Sem luzes ou sinais de vida.

E se ele saiu?

Na hora, meu telefone tocou novamente.

Alexei: Ele está em sua cama.

Eu não queria saber como Alexei sabia disso. Ou talvez eu tenha. Então eu também

pude ver. Qualquer coisa para acalmar o pico de estresse que eu não conseguia mudar.

De qualquer maneira, não estava acontecendo. Alexei, gostasse ou não do termo,

era meu irmão e eu confiava nele.

Rubi: obrigado x

O filho da puta respondeu com um emoji de hamster.

14

74
Os hábitos matinais extremos de River haviam se expandido desde a última vez que

estive por perto o suficiente para notar. Quando Saint ligou para me acordar, ele já estava

na garagem.

— Foda-se um pato. — Esfreguei a mão no rosto. — Que horas são?

— Cinco.

Saint encerrou a ligação sem dizer mais nada.

Cambaleando, deixei o telefone cair em algum lugar no sofá e me sentei, agradecido

por ter dormido como um homem morto e não ter uma maldita dor de cabeça.

Grato. Grato. Aproveitando o momento enquanto o tinha, rolei do sofá, ereto, em

movimento e, apesar dos hematomas nas costelas, me sentindo bem. Porque você consegue

ver River. Mesmo que ele me dissesse para foder um cacto, hoje era tudo o que eu sempre

quis.

Tipo.

Calcei minhas botas e saí do esconderijo, mantendo-me nas sombras do amanhecer

enevoado até chegar à estrada. Porth Luck era mais boêmio do que a sonolenta Whitness.

Eu não me destacava tanto, mas ainda era uma morsa gigante se escondendo no escuro.

Não seria bom ser notado se eu pudesse evitar.

O'Brian's Garage ficava a três ruas de distância. Tentei não correr, mas estava

impaciente por vários motivos. Por um lado, eu não estava acostumado a conduzir meus

negócios a pé. Sem meus irmãos ou minha motocicleta, eu me sentia vulnerável pra

caralho.

A segunda era a incerteza de em que diabos eu estava entrando. Eu tinha visto sete

tons de River no dia anterior. Nervoso. Assustado. Preocupado comigo. No momento em

que o deixei, ele quase parecia aceitar o fato de que eu estaria cara a cara com ele pelas

próximas semanas. Mas River era o camaleão do humor. Eu teria mais sorte em prever o

inconstante clima da Cornualha.

75
Eu vim para a garagem. As luzes estavam apagadas, a porta da frente trancada,

todo o lugar desprovido de atividade para o olho destreinado. Mas eu conhecia os hábitos

de River. Ele estaria nos fundos, trabalhando no escuro, esperando o sol bater no céu com

sua bebida açucarada matinal.

Além disso, Saint nunca estava errado. Se ele disse que River estava aqui, não tinha

dúvidas.

A porta dos fundos estava destrancada. Bati um ritmo tão velho quanto nós e entrei,

meio que esperando uma emboscada.

Em vez disso, obtive silêncio e a visão feliz do cabelo escuro de River caindo sobre

seu rosto enquanto ele se inclinava sobre a mesa em seu pequeno escritório, carrancudo

para a papelada que sempre se acumulava em cima dele.

Ele tinha um lápis enfiado atrás da orelha e uma mancha de óleo na bochecha, tão

lindo que meu coração fazia acrobacias para as quais eu não estava preparado.

Foda-me. Fechei a porta e me apoiei nela, procurando minha compostura quebrada.

— Bom dia.

River olhou para cima, sua carranca irritada se aprofundando. — Então não foi uma

viagem fodida?

— Se esse é o tipo de viagem que você está fazendo, você precisa de drogas

melhores. — Ou, você sabe. Nenhuma. Mas eu sabia que não devia chutar aquele ninho de

vespas. — O que você está fazendo aqui tão cedo?

— Eu trabalho aqui. Você é quem está invadindo.

— Vai chamar os federais para mim?

— Do jeito que vai a minha sorte, eles cortariam minha bunda em vez disso. —

River arrastou seu olhar sobre mim, queimando-me da cabeça aos pés e vice-versa. —

Além disso, você só voltaria. Você sempre faz quando é a última coisa que eu quero.

Ai. Se eu não estivesse acostumado com a língua letal de River, ele teria me matado

com aquela.

76
Eu empurrei a porta e me aproximei dele, sugado por seu olhar quente. River usava

bem a raiva, mas eu não estava recebendo raiva dele agora. Frustração, talvez. Mas ele não

tinha o ar de um cara prestes a jogar um quebra-nozes na minha cara. — Você dormiu

bem? Você parecia bem alto ontem.

River me olhou por um momento, então balançou a cabeça. — Não. Você não pode

fazer isso. Ficar na minha cara como se você se importasse. Você quer brincar de guarda-

costas? Tudo bem. Mas não finja que isso é algo que não é.

— É uma conversa, cara.

— Nós não somos companheiros. E eu não quero falar com você. Se você não

consegue ficar de boca fechada, fique do lado de fora.

Arrisquei e continuei andando até chegar à mesa. — Se você me quisesse lá fora,

você teria trancado a maldita porta.

— Isso mesmo?

— Sim. — Inclinei-me mais perto do que normalmente faria quando ele era tão

hostil. — Embora eu não vá me opor se você quiser tentar me maltratar. Eu amo essa

merda.

Por um momento, como ontem, eu o tive. Então toda a mágoa e complicações

voltaram à tona, e sua indiferença forçada foi pior do que sua fúria gloriosa. — Você tem

razão. Eu não me importo onde você está. Apenas fique fora do meu caminho, certo?

Ele empurrou a mesa e foi embora. No espaço confinado da garagem, não havia

muitos lugares para onde ir, mas mesmo suas costas voltadas para mim pareciam um

abismo que eu não deveria atravessar.

Não deveria.

Não, não poderia.

E todos nós sabíamos como eu me sentia sobre isso. Eu tinha uma tatuagem feita

com a mão no meu pau para provar isso.

77
River ligou o rádio. Death metal preencheu o espaço entre nós. Era um pouco cedo

para ter meus tímpanos estourados pelo Slayer, mas eu poderia cavar. Observei suas mãos

hábeis trabalhando com uma Road King dissecado por um tempo, absorto. Todos éramos

bons com motores, estava em nosso sangue, mas River e Nashie tinham o toque mágico

que tornava a graxa e a sujeira poéticas.

Nash. Eu não tinha pensado muito nele, muito envolvido em minha grande fuga,

mas com River são e salvo onde eu podia vê-lo, meus pensamentos voltaram-se para casa.

Eu flexionei meus dedos raspados e passei minha língua sobre meu lábio inferior

machucado. Doeu um pouco, mas eu sabia que tinha sorte. Um soco de Nash poderia

arrancar a mandíbula de um homem. Isso não me disse que ele realmente não quis dizer

isso, e eu não encontrei nenhum conforto nisso. Pior, eu sabia que por mais zangado que

ele estivesse então, agora ele estaria se despedaçando por ter me machucado.

Ligue para ele.

Eh. Ainda não.

Mas, como quis o destino, meu telefone tocou um segundo depois.

Orla.

Eu não tinha respondido às mensagens dela.

Inferno, eu nem as tinha lido e estava prestes a perder um testículo pelo meu

problema.

Com um olho em River, me afastei da mesa e encontrei o canto mais silencioso no

mosh pit em que ele transformou a garagem em ponto da manhã.

Eu atendi. — Khaleesi.

— Rúben.

— Você sabe que esse não é meu nome, certo? Diz Rubi na minha certidão de

nascimento.

— Diz idiota também. Idiota gigante. Porque é isso que você é.

— Ai, irmã. Foi por isso que você ligou? Para me dizer merda que eu já sei?

78
— Não, eu liguei para contar todo tipo de merda sobre sua idiotice e perguntar por

que diabos você não me ligou.

— Não tinha certeza se você atenderia.

— Você acha que tenho medo de conversas difíceis?

— Nah, apenas pensei que você poderia não querer ouvir minha voz sexy ainda.

Orla riu. — Você é tão sexy quanto a unha de um javali. Não sei o que meu irmão

vê em você.

— Qual deles?

— O mal-humorado.

— Isso não define nada.

A risada gutural de Orla encheu a linha novamente, um som que deixou Nash de

joelhos. Mas estava perdido em mim. Ela era a mulher mais sexy que já existiu, mas eu não

vi. Nunca tinha. É por isso que tudo entre nós era tão fácil, mesmo quando seu humor

desaparecia e o verdadeiro motivo pelo qual ela ligou cresceu chifres e um rabo bifurcado.

— Como ele está?

Orla suspirou. — Quieto. Acho que ele daria um soco na cara se não o tivéssemos

feito prometer que não o faria.

— Nós?

Claramente, ela quis dizer Cam. Ou talvez Em. Mas algo fez um tique-taque dentro

de mim e me endireitei na poltrona de couro em que me espremi.

— Ele está chateado. — Disse Orla, ignorando minha pergunta, que aguçou ainda

mais meus sentidos de aranha. — Com ele mesmo, não com você. Você sabe disso, certo?

— Não sei de nada. Nós não conversamos.

— Bem, você provavelmente deveria. Talvez não agora, mas em breve. Quando ele

descobrir que sua merda com River não tem nada a ver com a confusão em que ele se

meteu.

Uma carranca vincou meu rosto. — O que isso significa?

79
— Significa que se você fodeu com meu irmão mais novo...

— Pare de falar assim.

— ...tirou sua desculpa para não olhar mais profundamente para si mesmo. Em sua

sexualidade. Ele não é como você e Cam... é mais complicado para ele.

De todas as direções que a conversa poderia ter desviado, essa era uma tangente

para a qual eu não havia me preparado.

Olhei para River. Ele ainda estava me ignorando e martelando algo mais alto do

que precisava. — Nash é bi. — Eu disse, lentamente, no caso de estar errado. — Pensei que

ele soubesse disso.

— Ele faz. Mas ele não foi criado como você - com pais que não dão a mínima para

coisas assim. Ele guardou tudo até crescer e, a essa altura...

— Ele estava apaixonado por você?

— Algo parecido.

— Você está dizendo que ele precisa semear sua aveia antes que ele possa estar com

você? Porque eu não acho que é isso. Ele teve anos para foder outras pessoas, Orls, e

nunca o fez. Na verdade.

— Esse é meu argumento.

— Que ele precisa transar com outras pessoas?

— Outros homens, talvez. E eu estou bem com isso. Afinal, é um hobby

compartilhado.

— Essa é a abordagem mais estranha sobre a bissexualidade que já ouvi.

— Isso é? — Onde quer que Orla estivesse, uma porta se abriu e se fechou. — Ou é

apenas diferente da sua? E se Nash precisar de ambos? E se ele me amar tanto quanto

sempre amou, mas não se sentirá completo até explorar esse lado de si mesmo? E não,

transar com você dez anos atrás não conta.

Eu ri em um estremecimento. — Espero que você não esteja gritando essa

informação em uma sala lotada.

80
— Como se você desse a mínima.

Eu não. Não tinha certeza se Cam conhecia aquela pepita suculenta da história do

clube, mas não fiquei com o coração partido por ele ter descoberto.

— Eu não dou a mínima. — Eu concordei, deixando o resto fluir. Enigmático.

Honestamente, independentemente do sexo, não consigo ver Nash e Orla tendo um

relacionamento aberto. Mas eu vi o sentido no que ela estava dizendo. — Vocês precisam

de um namorado.

Orla me deu outra risada suja. — Ah, sério, irmão. Você pensa?

Ela desligou, deixando-me com as consequências da conversa mais alucinante que

tive por um tempo.

Joguei meu telefone em uma mesa de café próxima. Desapareceu na confusão de

revistas de motocicleta e tinta.

Não perca. Inclinei-me para a frente e esfreguei as mãos no rosto. — Se não

tivéssemos feito ele prometer.

Talvez ela não quis dizer Cam.

— Tudo certo?

Deixei minhas mãos caírem.

River estava parado ao meu lado, com uma caneca em uma das mãos e um cigarro

apagado na outra.

Ele não fuma. Não, a menos que ele estivesse bêbado ou ansioso como o inferno.

Esse foi meu primeiro pensamento.

O segundo foi como ele era devastadoramente bonito. Tipo, esfaquear-me-no-

coração lindo. Cabelo bagunçado caindo sobre o rosto. Olhos castanhos fervendo com uma

emoção que ele não parecia gostar.

Responda à pergunta.

— Tudo bem. Apenas conversando com sua irmã.

— E?

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— E o que?

— Ela está bem?

Ela estava? Porra, eu não tinha ideia. E eu não podia mentir para River. De novo

não. Eu não sobreviveria a isso. — Ela está estressada com Nash. Acha que está se

destruindo por me dar um soco na cara.

River me ofereceu o cigarro.

Eu acenei para longe.

Ele atualizou sua oferta para o chá. Não tinha leite, mas eu precisava daquele doce

elixir na minha vida como precisava do maldito ar. — Obrigado.

River deslizou o cigarro para trás da orelha. Em algum lugar ao longo da linha, ele

perdeu o lápis.

Esperei que ele se afastasse.

Em vez disso, ele se sentou na mesa de centro. — Nash socou você?

— Você não viu isso acontecer?

— Eu o vi vir atrás de você. Achei que não dava a mínima e fui para casa.

— Justo.

— É isso? Se ele deu um soco em você por causa do que ele pisou, eu diria que foi

minha culpa.

— Nah, você me fez um favor. Esconder coisas dele me dá pesadelos.

— Por que fazer isso então? Ele não teria contado a Cam.

— Mas então ele teria pesadelos de culpa em vez de eu, e essa merda não está certa.

River se inclinou para a frente.

Mudou de ideia e recuou. — Eu não ligo.

— OK.

Ele se levantou e voltou ao trabalho.

Eu vacilei entre ele e o telefone que joguei sobre a mesa. Uma enxaqueca foi o

problema de ontem, mas ainda me sentia meio confuso.

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Precisando de uma distração, levantei-me e entrei no minúsculo escritório de River.

Havia merda por toda parte - papelada, recibos, faturas. Registros de clientes que ele

mantinha à mão em vez de usar o laptop rachado e empoeirado enterrado sob tudo.

Eu folheei alguns deles, prestando atenção ao contexto, não aos números. O negócio

de River não era meu. Fiz uma caixa de entrada rudimentar e arquivei as contas que

haviam sido pagas, encontrando um ritmo. Organizar as coisas era minha terapia. Eu

poderia fazer isso o dia todo.

Então eu fiz. E River me deixou, provavelmente porque o salvou de ter que falar

comigo.

Doze horas depois, eu estava tão absorto no código de cores de suas declarações de

imposto de renda que quase o perdi fazendo as malas para o dia.

Droga.

Eu o peguei na porta, parando na frente dele antes de me dar a chance de fazer

escolhas melhores. — Onde você está indo?

— Não é da porra da sua conta. Mova-se.

— Não.

— Mova-se.

Eu não era de me repetir. Enraizei meus pés no chão e preenchi o espaço entre ele e

a porta dos fundos. — Você está indo para casa?

— Foda-se. — River bateu com os nós dos dedos no crânio com muita força para eu

me sentir confortável. — Não é suficiente que eu deixe você me assombrar aqui o dia

todo?

— Ei, se estou assombrando você, sou um fantasma amigável. Pergunte a Alexei.

River não estava tão familiarizado com o peculiar russo que seu irmão adorava. A

piada passou por cima de sua cabeça e sua frustração permaneceu.

Muito ruim para ele que eu poderia viver com isso mil vezes mais do que ele

desaparecendo na noite.

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Ele não vai para casa. Ele nunca o fazia, a menos que estivesse caindo de exaustão ou

Oscar estivesse lá.

Eu odeio aquele cara.

Eu não.

Ciúmes, cara. Que puta.

River deu meia-volta e disparou em direção à porta da frente que seus mecânicos

haviam trancado ao sair.

Corri à frente e o bloqueei novamente.

Ele bateu, me empurrando para fora de seu caminho.

— Riv.

Ele continuou andando.

— Riv.

Foda-se, ele parou.

Não se virou, no entanto.

Eu encontrei o meu equilíbrio e fiquei em seu rosto novamente. — Aonde quer que

você vá, eu vou seguir, então você pode me contar.

River curvou o lábio. — E estragar a surpresa? Onde está a diversão nisso?

— Você está se divertindo, querido?

— Você está?

Aproximei-me, respirando-o, óleo, suor e fúria. — Claro que estou. Estou com você.

O brilho de River se expandiu para o território nuclear. Sua mandíbula estalou, as

mãos se contraindo para me bater. Mas ele não faria isso. Com exceção de alguns

empurrões hardcore ao longo dos anos, ele nunca fez.

— Nós poderíamos ir a algum lugar, você sabe. — Deixei minhas mãos pousar em

seus ombros tensos. — Pegar um jantar. Falar um pouco. Não precisa ser assim.

— Como conseguir a porra de uma pizza muda o fato de que você está na minha

vida quando eu não quero que você esteja?

84
— Não. Mas você estaria alimentado e com raiva em vez de com fome.

— Extravagante?

— Se você gostar.

Juro por Deus, ele quase sorriu.

Quase. Então seu olhar voltou ao lugar e ele me empurrou novamente. — Eu não

vou jantar com você. Eu vou me ferrar. Se você quer me seguir como um perseguidor, isso

é com você.

85
CAPÍTULO 08
RIVER

Claro que ele me seguiu. Se havia uma coisa que eu sabia sobre Rubi Matherson, era

que uma vez que eu tivesse toda a sua atenção, seria preciso mais do que meu

temperamento amargo para assustá-lo.

Ele me seguiu até o Joker, alheio aos olhares quentes que sua mera presença

provocava. Para o fato de que ele era bonito e tão fraco dos joelhos quanto me deixava, eu

precisava que ele estivesse em qualquer lugar, menos aqui.

Um sentimento que compartilhei com o rabugento nortista atrás do bar.

Skylar Buchanan fez uma careta. — O que você está fazendo aqui, Matherson?

— Tomando uma cerveja. Qual é a sua desculpa? Trabalhando clandestinamente no

hospital de novo?

— Eu moro aqui, cara. De propósito. Para ficar longe de você.

Significando o clube, não Rubi especificamente, mas para Skylar, era tudo a mesma

coisa.

Rubi encolheu os ombros enormes, deixando cair os cotovelos no bar. — É uma

merda ser você então. Eu estou ficando por aqui por um tempo. Eu só estava dizendo a

Riv para se acostumar com meu rosto.

Skylar permaneceu indiferente. Ele foi embora sem nos servir.

Uma das garotas do bar o substituiu. Ela mordeu o lábio e piscou para Rubi.

Ele não percebeu.

Seu olhar estava em mim. — O que você quer?

— Eu quero que você vá se foder.

— Garrafa ou cerveja?

— Você é um babaca.

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— Como quiser.

Rubi encomendou para mim. Cerveja. Nada para si mesmo. Ainda queria

estrangulá-lo, mas a curiosidade venceu.

— Você está fora do molho?

Ele encolheu os ombros. — Achei que não estava me fazendo bem quando estava

achando difícil parar, sabe?

Mais do que eu queria. Mas eu não estava prestes a admitir isso. Não quando a

única maneira de passar o resto da noite era acabar com o mundo com a porra de um

martelo de garra.

Engoli minha cerveja. Comprei outra enquanto Rubi permanecia ao meu lado,

observando. Era irritante como o inferno, mas eu não podia negar que me senti mimado

por sua companhia constante. O contexto me deu vontade de gritar. Mas... ele estava aqui.

Isso não era tudo que eu sempre quis?

Não assim.

Apoiei-me no balcão, exausto. Cansado da mesma velha dor correndo pela minha

cabeça. Ser esmagado geralmente ajudava, mas com Rubi rastreando cada movimento

meu, não era tão atraente. Porque você não quer que ele te veja fora de si por qualquer coisa que

Jonsey apareça.

Talvez. Mas foi mais do que isso. Eu tinha pegado fogo quando ele apareceu da

última vez. Quando ele me arrastou daqui até em casa.

Não o suficiente para que ele tivesse notado.

Mas o suficiente para que eu o deixasse.

Que eu acreditasse nele.

Eu não poderia cometer esse erro novamente, porque eu morreria quando ele fosse

embora. E ele iria embora. Claro que sim. Ele faria qualquer coisa que Cam lhe dissesse

porque ele sempre fazia.

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— Ei. — A mão de Rubi pousou nas minhas costas, sua grande palma encontrando

uma casa entre minhas omoplatas enquanto sua voz era baixa. — Não temos que ficar

aqui. Você pode me mostrar sua casa.

Minha cabeça estalou. — Você já esteve na minha casa antes.

Rubi sustentou meu olhar. — Não me lembro.

— Abalou seu mundo, hein?

Eu me virei. Ele pegou meu braço, mas eu o afastei e o abandonei no bar,

afundando ainda mais na agitação dos moradores que se reuniam no Joker todas as noites

depois do trabalho.

Achei que sentiria se ele me seguisse, mas não senti nada e, por um momento, foi

puro êxtase. Então suas palavras foram absorvidas. — Não me lembro.

Besteira. Ele lembrava. Ele tinha que. Ou eu era um lunático delirante e ele mal era

humano.

— Eu preciso de você, Riv. Eu te amo.

O mundo me alcançou. Aquele baque arrastado no meu peito. A sensação sufocante

que de alguma forma me deixou fria.

Continuei empurrando a multidão até que cheguei à porta lateral e deslizei para

fora.

O ar fresco me atingiu. O vento espetado. Eu virei meu rosto para ele e respirei

fundo, lutando contra o pânico destrutivo que Rubi já tinha visto me dominar nas últimas

vinte e quatro horas. Antes disso, foram alguns anos. Porra, esta semana foi o presente que

continuou dando.

Joker era o ponto mais ao sul de Porth Luck. Ficava na frente do porto, seu jardim

se estendendo até a parede onde barcos de pesca menores atracavam e vendiam sua pesca.

Algumas noites você podia ouvir o barco Bosanko rolando, Sol e Oscar cantando com o

coração, já com duas cervejas antes de chegarem à costa.

Mas estava tudo quieto esta noite. Muito quieto, e o silêncio gerava más decisões.

88
— Tudo bem, companheiro. Você quer alguma coisa?

Eu me virei. Jonsey olhou de soslaio para mim, o dente de ouro brilhando à luz das

estrelas. Outras pessoas tinham medo dele. Para mim, ele não passava de um idiota com

uma farmácia no bolso.

Não faça isso.

Foda-se. — O que você conseguiu?

— Key15. Mandy. Um pouco de bolha, mas não é o melhor.

Como se eu fosse um conhecedor de drogas de merda. Isso era tudo o que minha

vida significava? Às vezes eu justificava isso pelas semanas sóbrias que passei com Oscar e

seu filho. Então ele iria embora de novo, e eu estaria de volta aqui, não dando a mínima se

a próxima pílula que eu tomasse fosse a minha última. — Dê-me o key.

Jonsey assentiu e enfiou a mão no casaco, mas antes que pudesse tirar qualquer

coisa, uma mão grossa e tatuada envolveu sua garganta e o lançou por cima da parede do

porto.

Eu pisquei.

Duas vezes.

Na minha segunda tentativa, Rubi apareceu como o irmão gêmeo zangado de Odin,

mais furioso do que eu jamais o vira. — Você está falando sério? Uma conversa difícil e

você corre para essa vadia? Você sabe quem traz essa porcaria? Com o que eles cortam?

Porque eu não quero, e vou cortar minhas próprias bolas antes de deixar você chegar

perto.

— Deixar-me? — Eu arrisquei um olhar sobre a parede do porto. Jonsey estava

nadando para os degraus. — Mesmo que fosse uma coisa legítima, estive perto disso todas

as semanas por meses. Se fosse me matar, eu já estaria morto.

— Não diga isso.

15 Conhecida como key, a ketamina, ou special k, é uma droga de fabricação caseira produzida a partir de um anestésico de uso
veterinário, geralmente aplicado em cavalos. Usuários dizem ter a sensação de sair do corpo ao consumir a droga. Seu efeito rebaixa o
sistema nervoso central e causa perda de sensação do corpo.

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— Por que não? A verdade dói? Como acontece quando você transa com alguém e

eles dizem que não se lembram?

— Não foi isso que eu disse.

— Não foi? Na verdade, eu não me importo.

Passei por ele, meio olho em Jonsey enquanto ele se lançava para fora da água.

Ele não olhou para Rubi.

Ninguém o fez. Apenas Skylar ousaria, e ele já estava indo embora, deixando a

porta do pub bater atrás dele.

Peguei a dica e continuei andando, deixando o porto para trás, voltando para casa

apenas por falta de ideias melhores.

Rubi me seguiu até a porta da frente, e desta vez eu o senti, em minha pele

formigando e pulso acelerado. No calor tão diferente do calor frio do pânico infundado.

Apesar de tudo, isso me acalmou.

Na verdade, me colocou em coma, porque de alguma forma ele chegou antes de

mim na porta da frente.

Suspirei e afundei na parede baixa de pedra seca. — É assim que vai ser? Eu não

posso mijar sem você pisando no meu pau?

Rubi cruzou os braços sobre o peito, os ombros bem amarrados. No escuro, era

difícil ver seu rosto, mas o calor que brilhou em seu olhar era mais quente do que Vênus

pela fração de segundo que estava lá. — Bastante. Eu vim aqui para impedir que alguém

crie o inferno, mas vou lutar com você se for preciso, a cada passo do caminho.

— Você vai tomar conta de mim?

— Você não está me dando escolha.

— Há sempre uma escolha. Você poderia simplesmente ir embora. Vá para casa e

transe com uma garota do clube como você sempre faz.

Rubi bufou. — Isto, certo? Desfilando-os dentro e fora do meu apê de merda, estou?

Colocando-as na cama do seu irmão quando ele não está usando?

90
— Você diz como se nunca tivesse feito isso.

— Você diz isso como se eu ainda faço. Como se você fosse a porra de uma virgem.

Você nunca transou com ninguém que não fosse eu, Riv?

Claro que eu tinha. Eu transei com uma garota duas semanas depois que ele me

abandonou. Uma semana depois que ele me rejeitou no hospital. Isso me deixou mal do

estômago e eu não tinha ficado desde então.

Ele me quebrou.

Mas neste momento, era ele quem parecia fraturado. Desfiado nas bordas e se

desfazendo.

Muito tempo se passou para eu responder a sua pergunta. Ele fez do meu silêncio o

que diabos ele queria. Não importava. Estávamos reclamando um do outro por dois dias

seguidos e nada havia mudado.

Um telefone tocou.

Meu.

Eu puxei para fora, esperando o texto de merda de Skylar. Contando com isso, para

me lembrar qual era o caminho.

Não era Skylar.

Cam: cuidado com ele.

Eu digitei rápido com os dois polegares.

River: Envie-lhe essa mensagem. Ele acabou de jogar minha conexão na porra do mar.

Cam: bom. meu ponto permanece.

River: Seu ponto é muito enigmático para eu dar a mínima. Explique isso ou foda-se.

Três pontos apareceram quando Cam digitou uma resposta que provavelmente era

tão farpada quanto a minha. Nós dois éramos cabeças quentes. Rápido para atacar, a

menos que homens melhores nos parassem.

Rubi era um homem melhor, mas estava estranhamente imóvel, seu olhar distante.

Mudei-me para o bolso do meu telefone, mas tocou novamente.

91
Cam: Só estou dizendo para não foder muito com ele. Se quiser que eu explique melhor,

atenda o telefone quando eu ligar amanhã.

Promessas, promessas. Meu irmão quebrou muitas. Não de propósito, mas pecado

era pecado.

Eu joguei meu telefone entre minhas mãos. Larguei porque estava frio e eu não

tinha comido nada de verdade desde então...

Porra, eu não tinha ideia.

Rubi pegou meu telefone. Ele olhou para a tela em branco como se quisesse entrar e

ver para quem eu estava mandando mensagens. Como se ele pensasse que eu estava

mandando uma mensagem para Pablo Escobar para marcar.

Eu estendi minha mão. — Devolva.

Rubi balançou a cabeça, guardando-o no bolso enquanto eu me levantava para

pegá-lo. — Você pode tê-lo de volta quando comer alguma coisa.

Ele se afastou antes que eu pudesse responder, passando por mim e deslizando pelo

portão.

Eu gritei para ele: — Fique com ele.

Nada.

Ele continuou andando.

— Idiota. — Rolei para fora da parede de pedra seca e corri atrás dele, alcançando-o

no final da estrada. — Me dê o telefone.

— Não.

— Eu não estou com fome.

— Eu estou.

— Qual é o meu problema?

Rubi diminuiu a velocidade, o olhar fixo em algo à frente, estendendo a mão para

mim do jeito que um pai faria em uma estrada movimentada.

Eu evadi.

92
Ele não pareceu notar.

Ou talvez ele tenha feito e eu não o estivesse interpretando direito. De qualquer

maneira, ele continuou se movendo e eu o segui, seguindo-o até o Chippie que estava em

Porth Luck há tanto tempo quanto o Joker, vendendo pescados locais durante o dia e

jantares de peixe à noite.

Rubi entrou e esperou por mim no balcão. — O que você quer?

— Meu telefone.

Ele deu de ombros e fez o mesmo truque que tinha feito no pub, pedindo para mim.

Batatas fritas com sal, sem vinagre.

Água engarrafada.

Ele apontou para uma mesa de plástico e cadeiras. — Senta.

— Não.

— Tudo bem. Sem telefone.

Ele juntou a comida e saiu da loja, atravessando a rua até o quebra-mar onde se

sentou, esperando.

Idiota que eu sou, ele não precisou esperar muito.

Encostei-me na parede e peguei a caixa de salgadinhos que ele empurrou para mim.

Eu não os queria. Eu não queria nada, exceto meu telefone e que minha vida voltasse a ser

como era trinta e seis horas atrás.

Mentiroso. Trinta e seis horas não era nada. Dê-me um ano. Dois. Dez. Qualquer

coisa para não acabar aqui.

— Coma, Riv. Sua barriga acha que sua garganta foi cortada.

Abri a boca para protestar, mas meu estômago me traiu, roncando como um urso

raivoso, então comi devagar, ouvindo meu irmão em meu ouvido o tempo todo.

Minha mãe. — Boyo, você sempre esquece as coisas fáceis.

Hehe.

93
Rubi sorriu como se pudesse ler minha mente. Comeu suas próprias batatas fritas.

Bebeu sua água, seus olhos sábios dançando entre mim e as ondas escuras abaixo de nós.

Era uma noite calma, mas o mar ainda estava alto. E eu gostava assim. Como isso me

lembrava que sempre havia algo lá fora maior do que nós.

Não existe nós.

Joguei a caixa de batatas fritas em uma lixeira próxima e me endireitei.

— Riv.

— Pare de dizer a porra do meu nome.

— Se você for embora agora, vou gritar para as gaivotas.

— Boa sorte com isso.

Na minha cabeça, eu já tinha ido. Mas meu coração venceu e eu não me mexi.

Rubi jogou fora a caixa e a garrafa de água. Ele desdobrou seu eu gigante da parede

e gesticulou - me deu permissão - para sair.

Eu o odeio.

Não. Eu me odiei por obedecer. Que me acalmava de uma forma estranha e fodida

deixá-lo tomar decisões por mim.

Ele deixou sua mão vagar para a parte inferior das minhas costas, a mão grande

espalmada na minha espinha.

Eu gostava disso também, até que não gostei.

Até que não pude.

Eu dei um passo para o lado, desviando de seu alcance.

Rubi suspirou. — Por que você não me deixa tocar em você?

— Eu deixei você me tocar.

E você foi embora.

Mas eu deixei ele me tocar desde então. No bar. Mesma coisa. Uma mão nas minhas

costas. Uma âncora que ele arrancaria assim que eu me acostumasse.

94
Minha casa veio sobre nós muito rápido. Por mais que eu quisesse que ele se

fodesse, eu não estava pronto para ele ir embora. Meus passos diminuíram e me vi

sentado no muro do jardim novamente, esperando que ele ocupasse o espaço à minha

frente.

Ele parou mais perto desta vez, sugando o oxigênio da atmosfera, roubando minha

consciência de qualquer coisa que não fosse o calor balsâmico irradiando de seu corpo.

Lembrei-me de sua pele deslizando contra a minha. Suas mãos quentes e boca

frenética. O tremor em seu peito que me confundiu na hora e eu não me permiti pensar

desde então.

— Não me lembro.

Porra. E se ele tivesse destruído também?

Ele não usa drogas.

Ele bebia, no entanto. Demais às vezes.

— Estava achando difícil parar, sabe?

— Você estava bêbado?

Rubi pairava sobre mim. — Quando?

— Na noite em que deixei você entrar em minha casa.

— É assim que você está chamando?

— Você quer que eu pense em outra coisa?

— Eu quero... quer saber? Chame do que você quiser. Eu não estava fodidamente

bêbado. Eu tinha minha moto, lembra?

Por muito pouco. Mas eu acreditei nele. Os Kings não bebiam e pilotavam. Regras

do clube. Desde que perdemos o tio de Nash na estrada quando eu era muito jovem para

contemplar o que a dor fazia com um homem.

Um motor soou em algum lugar na estrada. Rubi arrastou seu olhar intenso de mim

e voltou para o portão. — Você já viu algum outro veículo por aí?

— Essa é uma pergunta real?

95
Rubi deslizou pelo portão e se dissolveu na noite.

Fiquei onde estava. Se ele iria estourar um vaso sanguíneo toda vez que um carro

passasse, isso era problema dele.

Tenha cuidado com ele.

Jesus. Levantei-me e fui até o portão no mesmo instante em que Rubi voltou.

Nós colidimos.

Por um mau e terrível hábito, recuei para afastá-lo.

Ele pegou meus pulsos. — Não.

— Ou o que?

— Ou nada. Apenas não. Por favor?

Dei de ombros. — Tudo bem.

Um momento pesado vibrou entre nós. Então ele me deixou ir. — Eu não estava

bêbado naquela noite. Tive uma concussão. Não sabia que porra eu estava fazendo. Para

onde eu estava indo até chegar aqui.

— Com uma concussão?

— Sim. Foi mais ou menos um dia depois que levei aquele tubo no crânio. Eu não

sabia o quão forte era o golpe até mais tarde. Ninguém o fez. Se tivessem, eu não estaria de

motocicleta naquela noite.

— Você não teria vindo até mim?

Ele estremeceu em um aceno lento. — Não é assim.

Não desesperado por mim. Não rasgando minhas roupas no próprio chão em que

estávamos. Ele teria vindo a mim como um amigo. Um irmão. E depois? Teríamos

assistido Jon Snow desossar sua tia antes de partir para o pôr do sol novamente?

Era muito para processar.

Eu pesquei minhas chaves do bolso e enrolei meus dedos em torno delas, deixando

o metal morder minha pele, juntando as peças que faltavam e não gostando mais da

96
imagem finalizada. — Eu não percebi que você não estava bem porque eu tinha usado um

saco de Key antes de você chegar aqui.

— Sério?

Apertei as teclas com mais força, agarrando-me à dor pungente. — Quando eu

acordei e você tinha ido embora, pensei que tinha tropeçado na coisa toda. Se Oscar não

tivesse visto você sair, talvez eu nunca tivesse ficado tão bravo com você.

— Isso não é uma coisa boa, Riv. Esse key vai te matar.

— Não, não vai.

— Como você sabe? — Rubi me apoiou contra a porta da frente, estendendo a mão

para arrancar as chaves da minha mão. — Não transportamos mais produtos por Porth

Luck. Foda-se, nós não o movemos para lugar nenhum. Essa merda vem de Londres

agora.

— Não me importa de onde vem.

— Você deveria.

— Por que? Porque não estou mais chapado com os negócios da família?

— O negócio da família é madeira e caminhões.

— Sim, ok. Me dê minhas chaves. E meu telefone.

Rubi apoiou o braço na porta, prendendo-me com seu corpo mais largo. Ele se

inclinou como se fosse me beijar, mas em vez disso segurou meu queixo, forçando-me a

manter seu olhar. — Não quero falar de negócios. Eu quero você, porra, eu preciso de você,

acredite que eu nunca teria te machucado como fiz se estivesse em meu juízo perfeito.

Ele estava tão perto. Desejo e amor se desenrolaram dentro de mim. A cara dele.

Seus lábios. Sua mão áspera no meu queixo. Antes daquela noite, ele nunca tinha me

beijado. Nunca forçamos nossa sorte além de olhares demorados e uma mão em meu

braço que ficou lá por muito tempo. Mas desde aquela noite de merda no ano passado,

meus sonhos me atormentaram com memórias de sua língua varrendo minha boca. Dentes

se chocando, o impacto tão bonito e violento que tirou sangue.

97
Isso aconteceu? Foi real?

Eu não fazia ideia, e aos poucos fui percebendo que talvez ele também não.

— Foda-se. — Rubi rosnou e socou minha porta da frente.

Era o tipo de loucura que eu fazia o tempo todo, mas tão fora do personagem dele

que pulei uma porra de um quilômetro, tarde demais para pegá-lo quando ele se afastou

de mim.

A mudança abrupta em nossas personalidades me deixou cambaleando. Estendi a

mão para ele, mas ele foi rápido para um grande filho da puta, já no portão, mãos na

cabeça, olhos selvagens.

Era como se olhar no espelho. Só que Rubi não era eu. Ele não era um pedaço de

merda volátil que quebrava e chutava coisas em vez de lidar com suas emoções. Ele era

gentil, inteligente e paciente.

Algo está errado.

Suas mãos ainda estavam fechadas em punhos, minhas chaves no chão entre nós.

Passei por cima delas e envolvi meus dedos nos de Rubi. — Oi. Relaxe. Eu sou o

psicopata frio, lembra?

Rubi soltou um suspiro. — Eu não, no entanto. Esse é o maldito ponto. Estou

olhando para sua boca e querendo te beijar pra caralho como se fosse a primeira vez, mas

não sei se é. Eu não sei de nada, e isso está mexendo com a minha cabeça.

— Pergunte-me então.

— Você também não sabe. Eu sei como você fica quando se lava no Key. Você é

outra pessoa e eu odeio isto. — Ele cuspiu as palavras e arrancou suas mãos das minhas.

— Eu odeio isso, e eu me odeio por deixar você pensar que você é esquecível.

— Você não pode-

— Não me lembro do interior da sua casa. — A voz de Rubi aumentou, tornando-se

mais profunda como um trovão. — Sua cama. Como chegamos lá ou o que fizemos. Porra,

Riv. Eu nem sei se eu fodi você ou você me fodeu.

98
Agora, esse era um enigma que não havia me ocorrido. Isso tropeçou no meu

cérebro. — Você me deixaria te foder?

Rubi piscou. — Eu nunca te disse isso?

— Eu teria que cheirar uma traineira de cada droga sob o sol para esquecer essa

frase saindo de sua boca.

Ele relaxou um pouco, mas não era de bom humor. Era derrota. Seus grandes

ombros caíram e ele baixou a cabeça. — Sinto que meu cérebro caiu e coloquei apenas

metade dele de volta, e não está melhorando. Me desculpe, eu estraguei tudo, mas não

posso prometer que não vou fazer isso de novo.

— Fazer o que? Foder-me ou deixar-me?

— Qualquer um deles. Tudo isso. — Rubi agarrou minha mão e cutucou sua

têmpora com meus dedos. — Estou fodido da cabeça. Você não entende?

Lentamente, estendi a mão e agarrei seu pulso, puxando nossas mãos para baixo,

cobrindo as dele com as minhas. — Você está em recuperação.

— Eu estou? E se isso for tão bom quanto parece? O que se aquela noite fosse tudo o

que teríamos e eu não me lembrasse de nada, exceto como você se sentia debaixo de mim?

— Eu estava abaixo de você? Parece que você estava fazendo merda então.

Um pequeno sorriso ameaçou a expressão fissurada de Rubi. — Por que você está

sendo legal?

Porque eu nunca o tinha visto assim, e eu estava com medo de que minha boca

rebelde pudesse machucá-lo mais do que ele poderia aguentar agora.

E porque era melhor do que ser um idiota colossal para ele.

— Eu estou indo. — Disse ele de repente.

Pelo menos, foi repentino para mim. Soltei suas mãos. Recuei e varri minhas chaves

do chão frio. — Você está indo para casa?

Rubi deu de ombros e seu olhar deslizou para o lado, o que indica que ele estava

me enganando pelo bem do clube. Mas, pela primeira vez, não senti vontade de ficar com

99
raiva disso. Honestamente, eu não me importava para onde ele fosse, desde que estivesse

bem.

Peça para ele ficar.

Deus, eu queria. Mas e daí? Nós não poderíamos foder de novo, não assim.

Estávamos muito quebrados para sobreviver. Nós dois. Eu vi isso agora, depois de meses

e meses de raiva egoísta. O problema era que eu não tinha ideia de como consertar nada e

tinha o tipo de cérebro que precisava de tempo e espaço para descobrir.

— O que você está pensando?

Sua pergunta murmurada parecia fora do campo e eu não tinha uma resposta.

Eu virei de volta para ele. — Não muito. Quer me dizer o que está acontecendo com

esse seu grande cérebro?

Rubi se aventurou mais perto e pegou minhas chaves. Ele destrancou a porta e me

guiou por ela, mantendo-se do lado de fora. — Eu estava pensando sobre o que você disse

antes sobre pisar no seu pau.

— Legal. Aonde isso te levou?

— Para a única conclusão que existe.

Apoiei-me no batente da porta, convidando-o silenciosamente a elaborar.

O sorriso de Rubi foi breve e perverso. — A verdade. — Disse ele. — Que se você

colocar seu pau perto de mim de novo, estará na minha boca.

100
CAPÍTULO 09
RUBI

Levei o telefone de River comigo. Escondi de volta para o esconderijo e adormeci,

seguro sabendo que Alexei e Saint estavam me protegendo.

De manhã, acordei no sofá-cama do esconderijo, com as pernas penduradas, o

pescoço torcido e dolorido devido ao duplo golpe da má postura e do estresse.

Era cedo, ainda estava escuro e enevoado lá fora, mas eu estava muito ligado para

voltar a dormir. Muito malditamente desconfortável também. Fiquei de pé e fui para o

banheiro, passando por cima das roupas molhadas que joguei no chão quando tomei um

banho frio ontem à noite para me acalmar.

Você está se transformando em Alexei. Ele gosta de coisas frias.

Ele não. Era mais que ele ainda estava aprendendo a gostar de estar aquecido, mas

isso era uma reflexão filosófica para outro dia.

Tomei um banho quente e pendurei minhas roupas molhadas. Encontrei meu

telefone e estremeci com a mensagem que enviei a Saint ontem à noite.

Rubi: Sinto que tenho oito personalidades.

Seu conselho?

Saint: escolha uma

Saúde, mano.

A troca inútil me lembrou que eu ainda mantinha o telefone de River como refém. E

que eu não me lembrava inteiramente por que o peguei, além de impedi-lo de comprar

dez sacos de key.

Não o teria parado.

101
Verdade. Esfreguei meu rosto, o estresse estilhaçando a calma antes do amanhecer.

A ingenuidade com a qual todos acordamos antes que a realidade caísse sobre nós.... todas

as semanas há meses.

Eu estremeci.

Foda-se isso. E foda-se a bagunça que a noite anterior havia feito. Eu estava

acostumado a conversas complexas. Para noites que giravam de cabeça para baixo e

voltavam rápido demais para acompanhar. Mas eu estava sem prática em passar tempo

com River. Por estar tão perto dele e me esfolar, sabendo que ele me via de uma maneira

que ninguém jamais viu.

Isso machuca.

Tudo isso.

E eu não conseguia ver como isso iria parar.

Peguei roupas secas da minha bolsa e as vesti, o telefone de River em uma mão, o

meu na outra. O bastardo intrometido em mim queria dar uma olhada nas notificações

que zumbiram durante a noite.

O resto de mim estava com medo. De tantas coisas. Mas com o telefone de Riv,

principalmente porque ele tinha uma conta no Tinder que era mais legal com ele do que

eu.

Serviria para você, porra.

OK. Eu superei o monólogo interno irritante por um dia e ainda não tinha tomado

uma bebida.

Enfiei o telefone de River no bolso e bati no meu, mandando uma mensagem para

Saint.

Rubi: Indo para a garagem. Você pode ficar na casa até ele ir embora?

Saint: são 4 da manhã

Rubi: Parabéns. Você pode dizer o tempo.

Saint: você vai para lá agora?

102
Rubi: Estou acordado.

E eu queria examinar o lugar sem o olhar de River rastejando sobre mim, mas não

estava com vontade de me explicar para Saint.

Enviei a ele um emoji de beijo na esperança de que ele entendesse a dica e calasse a

boca.

Ele fez. Sem me beijar de volta.

Rude. Ainda assim, confiei nele e saí do apartamento sem olhar para a casa

geminada que River chamava de lar.

A garagem estava trancada. Sem alarmes ou CCTV. Até ontem, as chaves

sobressalentes estavam penduradas em um prego enferrujado no escritório, mas eu as

roubei na hora do almoço e ninguém notou.

Eu as usei para entrar agora, deixando as luzes apagadas até chegar ao escritório

sem janelas.

Estava exatamente como eu havia deixado ontem à noite. Faturas empilhadas.

Pedidos arquivados. A caneca de chá sobre a mesa.

Mas algo parecia errado. Uma sensação de arrepio subiu pela minha espinha e me

senti como Diet Saint.

Alguém esteve aqui. River não. Axel. Bear. E definitivamente não foi eu.

Na chance, enviei uma mensagem para Cam.

Rubi: Você ainda tem a chave da garagem?

Cam: Este é Alexei. Ele nunca teve uma.

A resposta de Alexei significava que Cam estava dormindo. Que Alexei o acordaria

se eu desse motivo para preocupação.

Foda-se isso.

Ainda não.

103
Eu respondi com um emoji de polegar para cima e guardei o telefone no bolso,

saindo do escritório e indo para a porta da frente. River nunca a usou, então eu também

não, e não tinha checado ontem.

Deveria ter.

Ops.

Atravessei a garagem para chegar às portas de correr por onde os veículos

entravam e saíam do prédio. Eles estavam seguros, o que deixou a entrada do pé pelo

esforço mínimo que River colocou na recepção do cliente. Uma alcova com uma cadeira,

uma cópia de Piston Heads de quatro anos atrás, três copos de água de plástico usados e

tinta vermelha arremessada nas paredes brancas desgastadas.

Porra. Meu olhar disparou para a porta. À primeira vista, parecia trancada e

carregada, mas uma inspeção mais detalhada revelou o cadeado arrombado e as

dobradiças quebradas.

Em guarda, voltei para a garagem e peguei um pé de cabra do porta-ferramentas,

com as luzes acesas, varrendo cada canto escuro desse maldito lugar, desafiando qualquer

filho da puta a ficar à espreita.

Foi uma bagunça que me irritou não encontrar ninguém.

— Bucetas. — Joguei o pé de cabra e tranquei a porta da frente.

Então me mudei para as paredes manchadas de vermelho e uma percepção doentia

me atingiu.

Isso não é tinta.

Jesus-porra, era sangue. Porco, pelo cheiro, mas tanto faz. A origem não era

importante. Era a mensagem. O sentimento. E em nosso mundo, sangue significava uma

coisa.

Morte.

— Filhos da puta. — Disquei para Saint, saindo da alcova e entrando na garagem

principal. — Atenda, idiota.

104
— Eu fiz.

— Porra, fale então. — Eu bati antes de me lembrar com quem eu estava falando,

mas estava além de mim me desculpar agora. — Alguma puta entrou aqui e jogou sangue

nas paredes.

— Sangue?

— Sim. Como em clarete. Muito disso.

Pausa. Em seguida, um farfalhar que parecia muito com uma árvore derrubada

pelo vento. — River está seguro. Eu posso vê-lo.

Alívio me inundou. Mas durou pouco. Ele estava seguro agora porque Saint o

estava observando. Ele estaria seguro quando chegasse aqui porque eu não o perderia de

vista. Mas o que aconteceria quando ele tirasse essa escolha de mim? Ou quando eu

estragasse minha pilha e saísse como na noite passada?

Não pode acontecer de novo.

Não deveria ter acontecido em primeiro lugar. Mas eu não conseguia controlar o

temperamento que não reconhecia como meu. O fusível que raramente disparou enquanto

eu estava vivo, mas parecia desgastado agora.

Frágil.

Eu enfiei a mão no meu cabelo, emaranhando meus dedos nos nós, torcendo forte o

suficiente para me derrubar. — Você não vai me deixar arrancar aquele filho da puta de

sua van se ele aparecer hoje, vai?

Mais farfalhar veio do lado de Saint. — Ainda não. Não é lógico.

— Desde quando você se preocupa com a lógica?

— Eu não. Mas você sabe, e quando você respirar, você verá o sentido do que estou

dizendo.

— Você acha que eu vou levar uma surra por bater na cabeça de um soldado de

infantaria e isso não vai resolver o problema?

— Você também acha isso. Você só não sabe ainda.

105
— Tudo bem, Yoda.

Eu desliguei na cara dele e fiz uma careta para o meu telefone, desejando que ele

me ligasse de volta para que eu pudesse ser um idiota ainda maior. Desejando que alguém

aparecesse em minha órbita para que eu não estivesse sozinho com a névoa violenta e

áspera pairando sobre mim.

Este não sou eu.

Mas quem quer que eu tenha sido, talvez não volte. Ou isso, ou troquei de

personalidade com Mateo.

Ele roubou meu frio.

Não é legal, mano. Não é legal. Mas ficar irritado com Mats por um crime fictício

descarrilou o desejo de O'Brian de assassinar o mundo o suficiente para que eu ignorasse a

tentadora porta quebrada e voltasse para o escritório e o armário de utilidades próximo a

ele.

Eu vasculhei entre a porcaria empilhada no armário em busca de algo para limpar o

sangue. Encontrei um balde e um rolo azul. Uma garrafa meio cheia de alvejante. A

procura por outro me levou às profundezas escuras do armário empoeirado e a uma caixa

de papelão bem no fundo.

Segurando um bando indisciplinado de vassouras com uma mão, puxei a caixa para

fora com a outra, colocando-a sobre meu ombro.

Eu digo peso - era leve como papel, o que acabou com minhas esperanças pela

tonelada métrica de alvejante com a qual eu queria revestir as paredes.

Não fez muito pela minha curiosidade natural, no entanto. Eu reivindiquei a caixa e

saí do armário como uma aranha, deixando-a cair no chão quando aterrissei.

Foi fechado com fita adesiva. Eu descolei essa merda e levantei as abas, me

preparando para uma grande pilha de nada.

O que consegui foi uma maquete fotocopiada da cabeça de River em uma estaca.

106
River chegou por volta das cinco. A essa altura, eu havia abandonado o retrato de

sua cabeça decepada em favor de esfregar o sangue de porco das paredes.

Ainda estava escuro lá fora, projetando sombras em seu rosto enquanto ele

examinava a cena em que havia entrado. Eu tentei não olhar enquanto ele absorvia tudo,

mas era uma pergunta difícil. River sempre foi deslumbrante para mim, mas logo pela

manhã, com suas roupas amarrotadas e sua cabeleira, eu queria devorá-lo, porra.

Ajudou com a raiva assassina que eu ainda lutava para conter.

O medo.

Eles o querem morto. Quatro palavras tocando em um loop, não importa quantas

vezes eu tentei substituí-las com a garantia que eu busquei em Saint dez minutos atrás em

uma rara ligação em que ele realmente respondeu para mim.

— Eles não têm a capacidade de tornar nada disso real.

— E se você estiver errado?

— Então vamos agir primeiro.

Eu acreditei nisso. Mais, talvez, do que eu acreditava em qualquer outra coisa

agora. Mas nós vivemos muito drama recentemente para eu confiar no destino para nos

dar uma mão fácil desta vez, e eu não poderia viver com River em perigo. Isso fez tudo

dentro de mim sangrar.

Dedos frios pelo vento arrancaram a escova da minha mão, uma voz baixa e

rosnada na minha garganta. — Venha comigo.

— Hum?

River jogou o pincel. — Por aqui, boo.

Boo. Já fazia um tempo desde a última vez que ele me chamou assim. Anos, talvez,

embora isso não parecesse certo, e o arranhão vazio de perder algo percorreu meu cérebro.

Um vazio em minha alma que me deixou atordoado o suficiente para deixar River agarrar

meu pulso e me rebocar até as portas de enrolar na frente da garagem. — Me expulsando?

— Você me deixaria?

107
— Experimente e veja.

— Prefiro beber chá e ver o nascer do sol, se você não se importar.

River soltou meu pulso, pegou duas canecas no balcão e apontou para as portas

com a cabeça.

Dei de ombros e abri uma, saindo para o frio lá fora. A garagem de River ficava a

algumas ruas do mar, mas através dos prédios estranhos e maravilhosos de Porth Luck,

ele tinha uma vista incrível e um banco que chamava meu nome.

Ignorando o vento cortante, estacionei minha bunda e virei meu rosto para o céu. A

névoa ainda pairava no ar, mas estava se dissipando, o sol da manhã abrindo caminho.

Havia um monte de simbolismo ali em algum lugar, mas eu estava muito envolvido

em outras merdas para descobrir, e Embry não estava aqui para tirar isso de mim.

River estava, no entanto. Aqui. Presente, e pela primeira vez não atirando fogo e

enxofre na minha cara.

Passei o telefone para ele. Ele me entregou uma caneca de chá. Com leite desta vez.

— Eu fui à loja. Saint não se importou.

— Você sabia que ele estava aqui?

River deu de ombros. — Saint não me espiona. Ele prometeu que nunca o faria.

— Isso foi legal da parte dele. Isso foi antes ou depois que ele e Cam resolveram a

situação?

— Muito antes. Foi o dia em que deixei o clube.

Droga. Um arrepio sacudiu minha espinha. Lembrei-me daquele dia. A raiva, a

mágoa e a dor de Cam. As lágrimas de Orla. A minha, quando finalmente fiquei sozinho

com a realidade de que a vida que nasci para levar estava destruindo a pessoa que eu mais

amava. — Você deve saber que nem sempre é Saint lá fora, e você nunca arrancará essa

promessa de Alexei.

108
River se dobrou no banco. Ao meu lado, ele parecia magro, mas na realidade não

era muito mais magro que Mateo. — Sim, eu recebo essa vibração dele. Ele é um

verdadeiro rebelde.

— Rebel King agora, cara.

Esperei que os lábios de River se curvassem em desgosto.

Isso não aconteceu. Ele tomou um gole de chá e recostou-se no banco, sua camiseta

manchada de óleo subindo, expondo uma lasca de seu estômago tenso à brisa do inverno.

Eu desviei o olhar.

Tive que fazer, ou eu morreria da melhor forma possível.

— Você não é velho demais para morrer jovem, boo. — Pisquei e me endireitei, a estática

soando em meu ouvido, um aviso de merda de que uma enxaqueca estava chegando.

Porra foda. A ansiedade floresceu em meu peito. Juro por Deus, se a vida no clube

não me desse TEPT, esses filhos da puta dariam.

— Você está bem?

A pergunta silenciosa de River perfurou minha introspecção, e sua mão no meu

braço me assustou como o inferno. Olhei para onde a palma da mão dele tocava minha

pele, esperando para explodir em chamas, mas o latejar surdo de uma dor de cabeça me

atingiu em vez disso.

Brilhante. Eu me levantei, deixando a mão de River deslizar do meu braço, e virei as

costas para o sol nascente, bloqueando a luz dos meus olhos hipersensíveis. — Vamos

falar sobre o matadouro manchado em suas paredes?

O olhar escuro de River se estreitou. — Essa é a sua resposta?

O único que ele estava recebendo. Eu o encarei. — Que tal o desenho da morte no

armário?

— Como diabos você achou isso?

— Eu estava procurando alvejante.

109
A irritação esquentou o rosto adorável de River, cortando suas feições em linhas

duras, todos os ângulos e maçãs do rosto afiadas como navalhas. — Para limpar uma

bagunça que não é sua.

— Também não deveria ser sua.

— Não altera o fato de que é. — River estendeu a mão e empurrou minha caneca de

chá em direção à minha boca. — Ou que é grosseiro deixar uma xícara esfriar.

— Talvez eu goste de fria.

— Você não.

River recostou-se e esperou.

Aborrecimento pulsou através de mim, mas não era real. Enxaqueca me deixava um

idiota mal-humorado, e eu enfiaria meu osso em uma betoneira antes de descontar nele de

bom grado.

Eu bebi o chá. Era quente e doce, as duas coisas que River fazia melhor quando

estava de bom humor. Eu não conseguia discernir qual era o seu humor agora. Inferno,

além da irritação irracional latejando em minha têmpora, eu também não conseguia

entender a minha. — Conte-me sobre a foto da decapitação.

River esvaziou sua caneca e a colocou no concreto a seus pés. Para um homem que

frequentemente jogava coisas com pouco cuidado onde caíam, parecia fora de contexto.

Como se estivesse ganhando tempo. Medindo suas palavras. Um costume para o qual

raramente tinha paciência. — O que você quer saber?

— Quem fez isso? Quando eles fizeram isso? Como eles deram a você?

— Por que?

— Por que você pensa? — Eu lutei para manter o rosnado fora da minha voz. Ser eu

mesmo em vez de um pseudo-Cam que traria a pior versão do River para jogar. — Se

estiver ligado a Timmersons e ao sangue nas paredes ali, isso mostra uma imagem

diferente dessa besteira do que a que você me deu. Se não for, então alguém veio atrás de

você e eu quero ouvir tudo sobre isso também.

110
River fez um som baixo em seu peito, o olhar fixo no horizonte atrás de mim. No

nascer do sol eu estava ausente. — Por que tudo isso é para me proteger? Por que você não

pode estar aqui só porque quer?

— Por que não pode ser os dois? Talvez eu esteja fodidamente encantado com

aquele idiota na van por me dar uma desculpa para me colar a você.

— Então você não vai gostar dele quando ele se mudar para outra pessoa e você

tiver que ir para casa?

Sim. — Não encantado não é uma palavra.

— Quem disse?

— Eu. — Pisei um pé no banco, apoiando-me no joelho dobrado. — E quem sabe?

Talvez eu não vá para casa. Mas nada disso importa se algum psicopata matar você, então

podemos focar nisso primeiro?

— Talvez eu não vá para casa... — River repetiu as palavras como se tivessem vindo

do espaço sideral. — Isso não é uma coisa. Você não quer estar aqui, ou em qualquer outro

lugar que não seja o clube. Não finja que isso termina com outra coisa senão você indo

embora como sempre faz.

Argumentos borbulhavam na minha garganta. Alguns iguais. Alguns novos. Mas

um raio de dor me atingiu antes que eu pudesse soltá-los, deixando-me atordoado em

silêncio e roubando os poucos momentos preciosos que eu tinha para dizer a River que ele

estava errado.

Ou pelo menos, que eu queria que ele estivesse.

Não podia negar que a vida no clube era tudo que eu conhecia. Tudo que eu sempre

quis. Eu amava River, e algo profundo e primitivo dentro de mim gritava para estar com

ele, custasse o que custasse. Mas eu também amava meus irmãos. Eu estive sem Nash por

dois dias, e a dor no meu peito era fodidamente insuportável a cada segundo que meu

crânio não segurava minha cerveja sem um bom motivo.

River levantou-se do banco, virando-se.

111
Eu agarrei a mão dele. — Não vá.

— Não vá para onde? Dentro? Você é quem não vai embora.

— Você quer que eu? — Eu plantei meu pé de volta no chão e me aproximei,

entrelaçando nossos dedos de uma forma que eu não teria ousado se uma maldita

enxaqueca não estivesse bagunçando minha cabeça. — Realmente?

River olhou para nossas mãos, emoções conflitantes furiosas em seus olhos

derretidos. Ele geralmente se contentava com a raiva, mas parecia diferente esta manhã,

como se tivesse deixado aquela parte de si na loja de salgadinhos na noite anterior. — Eu

não trouxe você aqui para falar nos mesmos círculos fodidos em que estivemos girando

por anos.

— Por que você me trouxe aqui então?

River avançou, estreitando ainda mais o espaço entre nós, seu quadril pressionado

contra o meu, seu abdômen saliente. Foda-se, eu podia sentir o cheiro dele, e era a melhor

cura para o ritmo vertiginoso batendo em meu cérebro. Diesel e algodão. O óleo de coco

que ele usava às vezes para domar sua cabeleira selvagem de ondas castanho-chocolate.

Me beija.

Uau. Muitas vezes, era beijá-lo que flutuava em minha consciência. Através da

minha imaginação - porque eu nunca vi essa merda acontecer.

Isso você sabe.

Apertei meus olhos fechados, esmagando a mão de River na minha, sentindo-o se

aproximar ainda mais e deslizar um braço em volta da minha cintura.

Não, não está acontecendo.

Ele provavelmente já estava lá dentro, trancando a porta atrás de si, deixando-me

do lado de fora. Era mais crível do que os dedos quentes esfregando meu quadril. O

polegar no ponto de pulsação no meu pulso. Mais sobrevivente. River não me tocava

assim há muito tempo, e eu tinha esquecido o quão desgastante era. Que eu não poderia

lidar com isso sem passar por todos os limites mantendo meu coração como refém.

112
Eu abri meus olhos. Seu rosto estava bem ali, o olhar fixo em mim, uma carranca

vincando suas sobrancelhas escuras. Alisei-o, deixando minha mão deslizar para sua

mandíbula. Neste momento em que tudo ao nosso redor, tudo dentro de mim, parecia

errado, isso parecia tão fodidamente certo.

Beije-o.

Lá estava. Mas eu não me mexi. Eu apenas olhei para ele, desejando que ele

quebrasse o feitiço torturante ao qual estávamos presos por muito tempo.

River se inclinou ao meu toque, sua bochecha áspera arranhando minha palma.

Nossos lábios estavam a centímetros de distância. Lambi a minha, um dardo rápido da

minha língua, desejando que fosse dele. Eu acariciei meu polegar sob seus olhos

sombreados e respirei fundo, e... e...

Meu maldito telefone tocou.

Enfiei a mão no bolso para silenciar a maldita coisa, mas era tarde demais. O

momento foi quebrado, e quem sabe se algum dia o recuperaríamos.

River recuou. Ele colocou alguma distância entre nós, seu braço deslizando para

longe da minha cintura, o ar frio preenchendo a lacuna. — Vou te contar a verdade.

Eu fiz uma careta. — Sobre o que?

— Sobre a foto da minha execução que te deixou tão excitado.

Criminalmente, tê-lo em meus braços - ou talvez eu estivesse nos dele - limpou meu

cérebro daquele show de terror em particular. Quando voltei à terra, a tensão voltou ao

meu corpo, reacendendo a dor de cabeça que estava se espalhando rapidamente da minha

têmpora até a nuca e irradiando para o meu ombro. — Não precisamos falar sobre isso

agora.

Nós precisamos. Nós realmente precisamos. Eu só não queria, porra. Eu queria trazê-

lo de volta para a minha bolha e nunca deixá-lo ir. Foda-se o mundo exterior. Foda-se tudo

isso e todos nele.

Você não quis dizer isso.

113
Não. Mas talvez esse tenha sido o primeiro ponto real da minha vida que eu

gostaria de ter feito.

— Temos que conversar sobre isso. — Disse River sem rodeios. — Antes de

transformar em algo que não é e chamar a cavalaria.

— Como isso é diferente de exatamente o que é?

— Oh meu Deus. — River revirou os olhos para a lua e voltou. — Você acha que é

uma intenção assassina porque está condicionado a ver o pior em tudo. Você não vê como

isso é anormal? Você acha que mais alguém que esses idiotas perseguiram está

interpretando essa merda literalmente?

— Eles devem ter feito isso, ou esses idiotas não acreditariam que esses métodos

funcionam.

— Não significa que eles tenham qualquer intenção de seguir em frente. Eles só

estão tentando me assustar, cara. E não estou com medo, então não há com o que se

preocupar.

Claro que ele não estava com medo. River era um King. Mas ele também era um

lobo solitário, longe do bando. Exposto. Isolado. Se Alexei estivesse errado...

Meu telefone tocou novamente.

Mais uma vez, eu silenciei, mas River estava acabado.

— Nunca somos só nós, não é? — Ele me deu um sorriso triste e foi embora.

114
CAPÍTULO 10
RIVER

Rubi ficou de mau humor nos quatro dias seguintes. Rosto dobrado em uma

carranca permanente. Seu espírito tão quieto e subjugado que eu mal sabia que ele estava

lá. Se não fosse pelo sonho molhado da secretária que ele fez do meu escritório, ele

poderia muito bem ter enviado um recorte de papelão em seu lugar.

Então ele passou uma semana sendo gentil com todas as almas em um raio de um

quilômetro, exceto comigo, uma realidade com a qual eu disse a mim mesmo que poderia

viver até que de repente não conseguia.

Ele esteve na minha merda por três semanas quando eu e Cam finalmente

encontramos um momento para conversar sobre tudo e nada, já que ele parecia não saber

sobre o sangue nas paredes da garagem.

Estudei Rubi enquanto permanecia perto da chaleira, o telefone pressionado contra

minha bochecha, a voz de Cam baixa em meu ouvido. Ele estava ao lado de Axel,

vasculhando as fichas de estoque de peças e equipamentos que deveriam estar no

escritório com uma mão enquanto esfregava a nuca com a outra. Para qualquer outra

pessoa, ele provavelmente parecia focado pra caralho.

Para mim, ele apenas parecia perdido.

— Ele teve outra enxaqueca?

Voltei minha atenção para meu irmão. — Outra?

— Nash acha que teve uma no dia em que você veio aqui.

— E ele ainda deu um soco na cara dele?

— Fácil. — Cam aconselhou. — Ninguém pode fazê-lo se sentir pior do que ele já se

sente.

Fiz a pergunta que não havia feito a Rubi. — Por que ele fez isso então?

115
Cam soltou um suspiro áspero que sacudiu a linha. — Porque Rubi nunca disse a

ele que você e ele estavam transando. Então ele também não estava fazendo isso com Orla.

— Nós não estamos fodendo. Dane-se com essa narrativa.

— Qualquer que seja. A questão é que eles tinham algum tipo de pacto de

abstinência que nenhum dos dois conhecia as regras, então os dois estragaram tudo.

— Uau. OK. — Eu esfreguei meu olho. Eu tinha esquecido de colocar os óculos mais

cedo e o pó de metal era uma merda. — E o resto?

Eu não estava preocupado com a bela amizade de Nash e Rubi. Ambos eram bons

demais para punir um ao outro por muito tempo. Rubi, no entanto. Se ele estivesse como

sempre, eu teria arrancado os detalhes dele dias atrás. Mas pela primeira vez na vida ele

não parecia querer uma conversa, e isso me perturbou mais do que tudo.

— Ei. — Cam me trouxe de volta ao presente. — Onde você está? Ele pode ouvir

você?

Olhei para Rubi novamente. Nada havia mudado. — Ele não pode me ouvir. Ele me

veria se olhasse para cima, no entanto.

— Vá para outro lugar.

— Como onde? Ele vai me seguir se eu sair da garagem.

— Ele segue você até o pântano também?

Não exatamente, mas ele notaria se eu fosse. Se eu ficasse lá por mais tempo do que

ele decidiu que era socialmente aceitável eu mijar. — Apenas me diga, cara. Ele está

bastante ocupado.

Cam respirou fundo e pareceu se fortalecer. — Embry acha que Rubi está no limite.

Tipo, sério.

Embry. Imaginei o lindo capelão, como sempre fiz, mas o ciúme insano e irracional

não estava lá hoje. Talvez eu finalmente tivesse crescido. Ou talvez imaginar todas as

razões horríveis pelas quais ele chegou a essa conclusão fosse horrível demais para deixar

espaço para muito mais. — Por que ele pensa isso?

116
— Rubi disse a ele que quer morrer.

O ar deixou meus pulmões. — O que?

— Não me faça dizer isso de novo. — A voz de Cam falhou um pouco. — Apenas

me diga que você entende por que isso me assusta tanto. Isso não é uma figura de

linguagem. Não dele. Ele nunca diria algo assim e não quis dizer isso.

Por causa da minha mãe. A mulher que ensinou Rubi a cozinhar e tratar as

mulheres como rainhas, antes que o desgosto e a dor a matassem. — Quando ele disse

isso?

— O dia em que você veio para o complexo. Depois que você saiu. Mas eu não

contei a Nash. Eu não acho que ele poderia lidar com isso, e ele já tem o suficiente

acontecendo agora.

— Como o que?

— Nada que eu queira os detalhes.

Algo envolvendo minha irmã então. Mas não sentia a mesma vontade de proteger

Orla que Cam sempre teve. Aquele impulso obstinado de interferir na vida dela. Eu fiquei

fora da merda dela e ela ficou fora da minha. O fato de ela cuidar de si mesma melhor do

que eu era irrelevante. — O que Embry pensa?

— Você realmente quer saber?

Afastei seu ceticismo. Eu merecia. — É o trabalho dele, não é? Saber se um irmão

precisa de ajuda?

— É um trabalho difícil. — Disse Cam. — Especialmente com um rebanho de

homens que não falam. Mas a cara dele, cara, quando ele me contou. Ele acreditou, e eu

também.

Eu acreditei nele também, e combinado com o colapso de Rubi na minha porta

algumas semanas atrás, isso me assustou pra caralho. Rubi não era um cara que escondia

suas emoções. Ele ria. Ele chorava. Ele deixava as pessoas saberem que ele se importava.

117
Que ele as amava. Mas isso... Porra. Há quanto tempo ele se sentia assim? E se ele estivesse

se afogando há meses e não contou a ninguém?

Não posso perder outra pessoa assim.

Meu pulso, muitas vezes rápido demais, mergulhou na sarjeta, uma tatuagem lenta

que transformou meu sangue em lama com cimento. Dei outra espiada em Rubi. Desta

vez, ele olhou para cima no mesmo momento, mas seu olhar patinou sobre mim, ausente,

antes de pousar em seu trabalho novamente.

Cam falou. — Você sabe que eu nunca quis que fosse assim, não é?

Eu estava perdido em Rubi, a visão embaçada enquanto eu olhava muito duro, os

olhos queimando com mais do que apenas o fato de que eu tinha esquecido de piscar.

Afastando-me, me abaixei em uma esquina e me agachei perto de uma parede

manchada de óleo. — Você vai ser mais específico, ou me fazer adivinhar do que diabos

você está falando agora?

— Eu ainda estou falando sobre Rubes. Sobre vocês dois. Junto. Eu quero que você

saiba que eu vou me arrepender de ter machucado tanto vocês dois por toda a minha vida.

Eu caí contra a parede. Eu estava sufocando desde que Cam jogou sua bomba, meus

pulmões empoeirados e secos, mas a autoaversão em suas palavras me destruiu

novamente. Como se eu não tivesse passado os últimos anos forçando a culpa goela abaixo

em todas as oportunidades, como a vadia egocêntrica que me tornei.

Meu mundo inteiro parecia de cabeça para baixo. Pressionei os nós dos dedos de

um punho em meu olho mais dolorido, esfregando meu globo ocular contra meu crânio,

buscando consolo no desconforto pressionado. Mas não havia alívio a ser encontrado. Não

dessa bagunça gigantesca que nós mesmos fizemos. — Cam, eu sei por que você fez isso.

Talvez se eu estivesse no seu lugar, eu também teria feito isso.

Foi a coisa mais razoável que eu já disse a ele. E isso o chocou. Eu poderia dizer

pelo seu silêncio. Pela respiração que prendeu em seu peito. Em um rolo, eu o acertei com

118
outra granada da verdade. — Mas nada disso importa mais. Aconteça o que acontecer, é

tarde demais para um final feliz.

— Por que?

— Porque ele fodeu demais com a minha cabeça. Porque já cuspi na cara dele

muitas vezes. Escolha um motivo. Todos eles funcionam.

— Só porque você acha que nada muda. Que o mundo para de girar conforme você

o vê e você nunca se dá ao trabalho de olhar duas vezes. — Cam falou com cautela, mais

cuidado com suas palavras do que eu provavelmente merecia. — Mas tudo é diferente

agora. Com o clube. Comigo.

— Você se estabelecer com dois caras não muda o mundo para ninguém, exceto

para você.

— Não é o que eu quis dizer.

— Explique então.

— Sério? Não vou perder meu fôlego se você não quiser ouvir.

Estiquei minhas pernas na minha frente, inclinando minha cabeça para trás contra a

parede. Oscar estava ausente de novo, um estado de coisas que geralmente me deixava em

uma farra de uma semana e definitivamente não com humor para uma relação profunda e

significativa com meu irmão mais velho. Mas desde a noite em que Rubi jogou Jonsey no

mar, eu estive bem. Indo para casa. Tomar um banho. Rastejar na cama para se contorcer

na minha própria pele e olhar para o teto até adormecer. Não posso dizer que me senti

melhor por isso, mas se Cam queria falar, eu estava ouvindo. — Diga o que pensa, mano.

— Essa coisa com aquela empresa imobiliária...

— Não sobre isso.

— É tudo relevante.

Eu exalei uma respiração raivosa. — É melhor que seja. Não me inscrevi para uma

palestra sobre como proteger o patrimônio do clube.

119
— Eu não estou dando sermões para você. Estou tentando explicar que aquilo de

que você fugiu não existe mais - não como antes, pelo menos. Há uma razão para você ter

ket no ano passado. Por que Porth Luck pensa que é Tower Hamlets à beira-mar. Você já

parou para pensar nisso?

Não o suficiente para formar uma resposta concreta. Tomei drogas para parar de

pensar. Não passar minhas noites pensando em merdas com as quais não me importo.

Você se importa - não, eu tinha que me importar. Havia uma diferença. — Continue

falando.

— Nós saímos. — Disse Cam. — De todo o comércio. Distribuição, abastecimento,

proteção. Cortamos laços e perdemos território. Desistimos de tudo que não era legítimo e

reduzimos nossas operações de volta ao estaleiro e à empresa de transporte. Nos deixou

malucos por um tempo, mas estamos chegando lá.

— Você desistiu de tudo? — Eu não conseguia esconder a descrença da minha voz.

A risada seca de Cam ressoou pela linha. — Ainda temos os bares e boates. E

mudamos algumas propriedades para manter o fluxo de caixa onde precisamos. Mas, no

que diz respeito aos negócios, somos tão legítimos quanto jamais seremos.

Ainda não era o suficiente para resistir em um tribunal, mas era o suficiente para

mim? — E quanto a carnes velhas? Essa merda nunca vai embora.

— Não importa. — Cam concordou. — Mas é mais difícil atingir alguém que vive a

vida abertamente. E é mais difícil para nós atingir outras pessoas, mas isso não significa

que não possamos. Que não faríamos se tivéssemos que fazer. Não estou fingindo que

somos pessoas diferentes, porque não somos. Tudo o que estou dizendo é que estamos

tentando.

— Tentando o quê?

— Para dar às pessoas que amamos uma vida melhor. Um futuro melhor. Puta que

pariu... — Cam acendeu um cigarro. Ouvi o clique do isqueiro e sua inspiração profunda

antes de continuar. — Dois membros do meu conselho têm filhos, Riv. Crianças pequenas

120
que precisam de seus pais. Não quero que eles sofram o que nós passamos, e não quero

que meus irmãos vivam com medo de nunca os verem crescer. Mas acima de tudo, eu só

quero que você volte para casa.

— Estou em casa. — Respondi automaticamente.

Cam bufou. — Não, você não está. E onde quer que Rubi esteja, ele também não

estará enquanto você estiver fora.

Falar com Cam nunca foi fácil. No momento em que terminamos, eu estava

desejando uma dose de quase qualquer coisa para aliviar as emoções rastejando sobre

minha pele.

Eu tinha cicatrizes de mais de uma década. Quase todos os dias eu esquecia que

elas espreitavam em meus pulsos e coxas, escondidas por tinta e uma teimosa vontade de

ser outra pessoa. Outros, elas latejavam e coçavam, lembrando-me que eu estava apenas a

uma lâmina de um batimento cardíaco do esquecimento.

Porque era só isso. Uma fração de segundo. Uma respiração profunda. Então tudo

voltou, carregado com o peso extra de vergonha e arrependimento. Aquele pânico com

cheiro de ferro de que alguém ia ver como eu era fraco e patético.

Foda-se isso. Eu tinha maneiras melhores de me esconder do meu coração hoje em

dia. Muitas delas. Inferno, se eu mandasse uma mensagem para o número certo, eu

poderia conseguir uma sacola de dez na loja da esquina na estrada.

Meu telefone ainda estava na minha mão, o polegar pairando sobre a tela, o barulho

da garagem uma trilha sonora familiar para meus piores hábitos. O cheiro de borracha e

combustível. O ranger de metal contra metal com death-rock tocando ao fundo. Eu deixei

tudo se infiltrar em mim antes de registrar que algo estava diferente.

Algo estava faltando.

Música. Alguém a havia desligado.

121
Ficando momentaneamente esquecido, saí do meu canto escuro para encontrar Bear

e Rubi carrancudos um para o outro pelo sistema de música, Rubi mais animado do que

nunca. — Motörhead ou Puddle of Mudd. Essa é sua escolha. Se você tocar Pussyfoot

repetidamente mais uma vez, a única célula cerebral que você possui vai derreter de seus

ouvidos.

Bear resmungou. Eu não estava perto o suficiente para ouvir o que ele disse, mas

apesar da estimativa de Rubi de sua inteligência estar correta, nem mesmo ele era estúpido

o suficiente para discutir.

O Motörhead venceu, cerca de seis níveis mais baixo do que o volume que abaixei

quando Cam ligou, e Bear voltou para o Fat Boy que estava atendendo.

Rubi juntou uma pilha de papéis do chão e se afastou, me dando uma visão de suas

costas musculosas enquanto ele pisava forte no escritório, a única coisa errada com isso era

que ele estava indo na direção oposta de onde eu estava.

Facilmente corrigido. Depois de verificar Bear, eu o segui, apoiando um ombro no

batente da porta enquanto Rubi se inclinava sobre a mesa. — Você não gosta de SikTh?

Ele me lançou um olhar. — Não gosto de nada oitenta e quatro vezes seguidas. Não

muitas coisas, de qualquer maneira.

O fantasma de seu senso de humor brilhou em seus olhos de outono. De alguma

forma, isso me prendeu mais do que o sorriso espetacular que ele enterrou profundamente

nos últimos dias, e me atraiu, as palavras de despedida de Cam ecoando na minha cabeça.

— Eu preciso que você cuide dele. E preciso que você entenda que a única maneira de fazer isso é

deixá-lo cuidar de você.

Eu passei muito tempo me forçando a não dar a mínima para o que meu irmão mais

velho precisava. Fechando todo e qualquer pedido que ele já me fez. Mas isso...

Cheguei ao lado de Rubi, cavando um espaço onde não havia nenhum. — O que

você está fazendo com toda a minha merda?

— Hum?

122
Examinei as pilhas ordenadas, a falta de caos uma paisagem estranha. — Eu nunca

vou conseguir encontrar nada se você não me disser para onde tudo vai agora.

Rubi me olhou quando me acomodei tão perto que nossos cotovelos bateram. —

Com quem você estava falando?

— Quando?

— Durante uma hora você foi enganado por seu telefone.

— Me espionando?

— Não de propósito. — Rubi grampeou a pilha de papéis à sua frente. — Não é

fácil estar tanto perto de você. Eu poderia segui-lo em qualquer lugar.

— Essa é nova. Nas últimas vezes que perguntei, você disse não. — Eu sorri para

deixá-lo saber que eu não estava ansioso por uma briga. — Eu estava conversando com

Cam, se você realmente se importa.

Rubi bufou. — Sim. OK.

— Pergunte a ele.

— Não, obrigado. De qualquer forma, não é da minha conta.

— Por que você perguntou então?

— Porque eu sou um filho da puta intrometido e estou me matando imaginando

que você tem alguém no anzol que não sou eu.

Sua escolha de palavras me arrastou de volta para o aviso de Cam. Para o medo que

esmagou meu coração. Olhei mais de perto para Rubi, para seus olhos vermelhos e as

linhas cansadas em seu rosto. Como ele estava com seus ombros largos curvados para

dentro como se eles pudessem protegê-lo de como ele se sentia.

Ele ainda estava mexendo na papelada e digitando teclas no laptop de dez anos que

levava vinte minutos para fazer qualquer coisa. Virei a tampa para baixo e empurrei os

papéis para fora da mesa. — Onde está sua motocicleta?

Rubi lentamente virou a cabeça, os poucos centímetros que ele tinha de mim

forçando-o a olhar para baixo. — Por que?

123
— Eu só queria saber onde você estacionou.

— Onde eu sempre estaciono, entre Saint e Mateo na avenida.

— Não está aqui?

— Não estava com vontade de pilotar. Deixei o carro de Cam em Morrisons.

Provavelmente já foi rebocado.

Calculei a logística. — Você esteve aqui o tempo todo? Você não esteve em casa?

O olhar de Rubi deslizou para as faturas que eu joguei no chão, os dedos se

contorcendo como se ele quisesse pegá-los. — Ah, droga, Riv. Achei que você não se

importasse.

— Onde você está dormindo?

— Casa segura.

— O que?

Ele se agachou e resgatou as notas fiscais. — Temos vagas em todos os lugares.

Você sabe disso.

— Eu não sabia que vocês as tinha aqui.

— Então você é um idiota. Mesmo sem você para se preocupar, temos negócios em

Porth Luck há anos. Negócios que você ajudou a administrar quando andava com o clube.

— Cam me disse que vocês desistiram de tudo.

— Quando?

— Dez minutos atrás. Ele foi convincente e eu quero acreditar nele. Ele estava

mentindo?

Rubi colocou as faturas de volta na mesa. Ele passou a mão pela barba dourada, um

pequeno sorriso brincando em seus lábios. Um lindo sorriso que eu ansiava

profundamente. — Ele não está mentindo. Nem eu quando contei que o negócio da família

hoje em dia é toras e caminhões.

— Caminhões e toras, hein?

— Algo parecido. Não é perfeito, mas temos um conselho com muito a perder.

124
— Nossos pais tinham isso e não davam a mínima.

— E eles perderam tudo, Riv. Não pense que nunca nos esquecemos disso.

Rubi segurou meu olhar por um momento, então ele voltou para o oásis organizado

que ele fez da minha mesa.

Eu não estava pronto para deixá-lo ir, mas estava com medo do que veria se o

obrigasse a olhar para mim novamente.

Seu ombro sempre foi a altura perfeita para eu apoiar minha cabeça. Muita coisa

havia mudado, mas não isso.

Foi tão fácil inclinar minha bochecha contra sua carne sólida e fechar meus olhos.

Depois de um segundo, ele esfregou seu queixo desalinhado contra minha têmpora,

um suspiro lento rompendo seus lábios. — Tudo bem?

Não. Ele também não. Ignorei a pergunta e encontrei a mão dele, juntando nossos

dedos. — Você vai me esperar depois do trabalho?

— Essa é uma pergunta real?

Eu esfreguei meu polegar sobre seus dedos. — Essa é a sua resposta?

Ele riu, baixo e rico. — Eu não vou embora sem você.

Para que ele pudesse me acompanhar até em casa e me guiar até minha casa, como

fazia todas as noites desde que chegara aqui. Mas por mais divertido que tenha sido - e

não foi - eu superei. Eu não poderia passar outra noite andando pela minha sala de estar

enquanto ele me observava de quem diabos sabia onde. — Apenas espere por mim, certo?

Vou tentar ser legal por mais de dez segundos de cada vez.

Eu me forcei a ir embora antes que ele respondesse, mas quando o fim do dia

chegou, ele estava onde sempre estava, encostado na parede perto da porta dos fundos,

uma bota levantada atrás dele. A única coisa diferente era a curiosidade que substituiu sua

apreensão justificada habitual.

— Você tem as chaves de Cam?

125
Ele levantou uma sobrancelha. — Escondi-as na minha bunda, companheiro. Por

que?

— Porque... — Segurei a porta dos fundos enquanto ele passava por ela. Deixe-o

pairar enquanto eu a tranquei e depois apontei para a estrada costeira. Meia milha adiante,

poderíamos virar para o interior e caminhar até o feio parque comercial. — Eu preciso

fazer compras. Vamos rolar.

O que quer que ele esperasse de mim, uma ida ao supermercado claramente não era

isso. Tampouco era uma caminhada ao longo da parte mais tranquila da estrada marítima,

mas ele me seguiu de qualquer maneira, alcançando-me na loja da esquina - o último

negócio antes de Porth Luck se tornar mais pitoresco do que civilizado. — Não há nada

que você queira aí?

Sim. — Hoje não. Oscar vem para casa amanhã, então preciso colocar comida na

geladeira.

— Isso é legal da sua parte.

Lancei um olhar de soslaio para Rubi. — Ele é um bom homem. Como Embry,

certo?

— Você não gosta de Embry.

— Eu não o conheço.

— Sua escolha, mano.

— Eu não sou seu irmão.

Rubi parou sob um poste de luz quebrado, um meio brilho assustador lançado em

seu rosto, a noite fria o suficiente para sua respiração embaçar o ar. — Se você está falando

de carne e osso, sabe que nunca te vi assim.

— Não? — Eu também parei e girei para encará-lo. — Nem mesmo quando éramos

crianças?

Uma dor que não tinha nada a ver comigo brilhou, velha e cansada, no olhar de

Rubi. — Você era irmão de Cam, não meu.

126
Certo. Porque ele tinha um irmão, moreno e magro. Olhos como seu nome. Lark

Sapphire Matherson. — Eu pensei que era por isso que você nunca dava em cima de mim.

Porque você tinha uma estranha afeição fraterna que não conseguia deixar de pensar.

O humor aqueceu o rosto de Rubi novamente. — Eu bati em você. O tempo todo.

Apenas nunca fora da minha imaginação selvagem.

— Quando isso começou?

— Dar em cima de você na minha cabeça? — Rubi diminuiu a distância entre nós

rápido demais para eu escapar. Ele nos trouxe juntos, uma mão no meu quadril, a outra

segurando meu queixo. — Você está me perguntando quando eu percebi que você era o

garoto mais bonito que eu já vi?

Não. Sim. Qualquer que fosse a resposta, eu não sabia. Com a mão de Rubi em volta

do meu queixo, eu não sabia de muita coisa. Parei de me importar que sua presença

avassaladora no meu dia-a-dia fosse temporária. Que eu não fazia ideia de onde ele

deitava a cabeça à noite.

Parei de me importar com o fato de que cada empurrão e puxão indutor de

convulsão que compartilhamos nunca trouxe nada além de mágoa e dor.

Eu quero ele. E eu estava cansado de dizer não, tanto para mim quanto para ele.

Rubi pressionou nossas testas juntas, um gemido estrondoso vibrando em seu peito

forte. — Não consigo respirar perto de você, mas quando estamos separados, eu me afogo,

Riv. Porque eu estou fodidamente vazio por dentro sem você.

Eu queria dizer a ele que eu sabia como isso era. Que os anos que passei fora do

clube me machucaram mais do que tudo, até mesmo perder meus pais, os pilares de toda a

nossa vida, para tal horror show de tragédia. Mas ele também havia perdido pessoas.

Lark.

Seus pais.

127
Minha mãe, que o criou melhor do que ele jamais tentou. E ele não tinha fugido. Ele

ficou e apoiou seus melhores amigos - seus irmãos - apesar de saber, como eu sabia, que

ele poderia perdê-los também.

Um arrepio passou por mim, frio e cruel. Como o mundo seria sem ele nele.

— Ei. — Rubi soltou meu queixo e tirou meu cabelo do rosto. — Desculpe. Eu não

queria jogar minhas merdas em cima de você.

Eu empurrei para trás. — O que? Porra. Não. Você pode empilhar qualquer coisa

em mim. Eu apenas me perco nisso às vezes e isso me lembra que ser humano terrível eu

sou.

Rubi me pegou antes que eu pudesse me afastar, seu aperto mais forte desta vez,

sua mão apertando meu pulso enquanto ele me puxava de volta para ele. — Você não é

nada terrível. Você ama demais as pessoas. Isso é tudo.

Tentei me livrar de seu aperto, mas Rubi era forte. Enraizado no lugar. Ele me

segurou forte, puxando-me de volta em seus braços, ajustando-nos novamente como se

tivéssemos sido assim por toda a nossa maldita vida.

Ele esfregou sua bochecha na minha, como um leão farejando sua companheira, e

meu Deus, se eu não adorava quando ele fazia coisas primitivas como essa. Como se isso

não me lembrasse que, no fundo, éramos apenas animais destinados a se amar.

O calor aumentou em mim. Lambi seu pescoço. — Você é bom demais para mim.

Rubi riu. — Cara, eu não sirvo para nada quando você faz merda assim comigo.

Eu queria lambê-lo novamente. Eu queria enterrar meu rosto nele e nunca sair para

respirar.

Cristo, eu só queria que beijá-lo fosse fácil.

Facilite então.

Eu deslizei meus braços ao redor de sua cintura e pressionei minha boca na

tatuagem de caveira de pirata que eu tinha acabado de deslizar com minha língua. Um

roçar dos meus lábios. O beijo dos meus sonhos.

128
Os doces onde tínhamos todo o tempo do mundo. Onde o estremecimento que

abalou o corpo corpulento de Rubi não teve limite de tempo.

Começou a chover. O tipo pernicioso que encharcava você até a pele com gotas

leves como plumas, salgadas do oceano barulhento em algum lugar abaixo. Meus lábios

ainda estavam no pescoço de Rubi. Eu levantei minha cabeça. Seu rosto estava bem ali,

olhos arregalados, como se ele não acreditasse que eu era real. — Você se lembra se você

me beijou naquela noite?

O meio sorriso cauteloso de Rubi desapareceu. — Eu quero dizer que não, porque

não há como eu esquecer isso. Mas às vezes, mesmo que não consiga me lembrar, gostaria

de ter lembrado. No caso de eu nunca conseguir fazer isso de novo.

Sua honestidade me matou. Rasgou-me e abriu um túnel através de cada parede

amarga que construí ao redor do meu coração, liberando cada emoção pura - e não tão

pura - que já senti por ele.

Todos eles saíram caindo, e a sensação de me soltar voltou para mim, mesmo que

fosse apenas neste momento.

Já estávamos mais perto do que perto, minhas mãos em seus quadris, dedos

enganchados em seu cinto enquanto ele olhava para mim. Eu me estiquei lentamente,

dando-lhe tempo para fugir, apesar de saber que no segundo em que meus lábios

tocassem os dele, tudo sobre nós mudaria para sempre.

Eu o beijei. A chuva continuava caindo, mas essa era a única constante da existência

que deixamos para trás.

Nunca fizemos isso antes.

Foi meu único pensamento quando mergulhei na magia que estivemos

simultaneamente nutrindo e escondendo de toda a nossa vida adulta. Os lábios de Rubi

estavam quentes e secos. Estoico. Mas o tremor nas mãos grandes que agarraram meus

ombros o denunciaram.

129
Ele me beijou de volta, um som suave escapando dele. A porra de um gemido

melancólico que me segurou mais apertado contra ele do que seus braços jamais poderiam.

Seus olhos se fecharam e ele me puxou para mais perto, os planos sólidos de seu corpo se

moldando ao meu. Suas pernas, seu peito.

Seu pênis.

Eu o tinha visto nu antes, mais de uma vez. Mais do que apenas aquela noite. Eu

sabia como era o pau dele pendurado pesado e flácido. Não conseguia lembrar muito.

Porra. Como isso foi possível? À medida que a protuberância em seu jeans se expandia, eu

tinha certeza de que os alienígenas em Netuno provavelmente poderiam vê-lo.

Inferno, eu nem estava tocando e senti em todos os lugares.

O beijo se aprofundou. Separei meus lábios e me entreguei ao lento deslizar de sua

língua quente. Rubi era bom em tudo que fazia, e nisso ele era o mestre. A maneira como

ele tocou minha boca - droga. Meu pau não poderia ficar mais duro. Nenhuma pílula ou

pó poderia me deixar chapado, e talvez não importasse se nunca mais fodêssemos. Desde

que fizéssemos isso até o fim dos tempos, eu não precisava de mais nada.

Foi apenas a chuva gelada que soprava do mar que me fez parar. Os arrepios nos

braços nus de Rubi - o filho da puta nunca usava uma jaqueta, a menos que estivesse

pilotando. Eu diminuí a velocidade até que nossos lábios estivessem parados, dedos

envolvendo seu moletom Harley desbotado, torcendo, como se isso fosse aliviar a

debandada no meu peito. — Devemos ir.

Rubi levantou as pálpebras o suficiente para olhar para mim. Seu olhar era

nebuloso. Sonhador. — Isso acabou de acontecer?

Eu beijei seus lábios e recuei. — Você me diz, boo.

Sua risada estrondosa me perseguiu quando eu me virei e continuei andando,

ficando perto do quebra-mar na calçada costeira. O sorriso cada vez maior que eu não

precisava ver para saber que estava dividindo seu rosto ao meio.

130
Porra, era bom fazê-lo sorrir. Melhor do que o zip orgânico no meu sangue. Do que

a queimadura de seu beijo gentil em meus lábios formigando. Pela primeira vez desde que

eu conseguia me lembrar, era bom estar vivo, e o monstro da dúvida sacudindo sua gaiola

poderia foder até o fim.

Faróis apareceram à distância. Eu não prestei muita atenção neles, muito focado no

calor atrás de mim. Os passos correndo para me alcançar.

Rubi chamou meu nome. Uma vez.

Duas vezes.

Então mais alto. — Riv!

A urgência em sua voz profunda me virou. Eu era um caminhante rápido –

coloquei alguma distância entre nós enquanto ele permanecia no lugar.

Ele estava correndo agora, suas longas pernas comendo o chão, seus olhos

arregalados fixos na estrada. No veículo que se aproximava, parecia muito próximo para

as especificações de luz que eu tinha visto no horizonte.

Eu conhecia o timbre de um motor em alta velocidade tão bem quanto conhecia

meu próprio porco, e nunca foi um som que me alarmou. Mas a cara do Rubi, cara. Eu já

tinha visto suas feições se estilhaçarem de terror antes. Vi-o atacar um desastre que não

conseguiu descarrilar.

Só que desta vez não era o nome do meu pai em seus lábios, era o meu.

— Riv! O carro. Saia da porra do caminho.

Eu não estava no caminho. Eu não poderia estar. O beijo de Rubi tinha

encaminhado meu cérebro. Toda a porra do meu ser. Mas eu não estava dissociado o

suficiente da realidade para ser um maldito gay-walking.

O motor ficou mais alto.

Desviei meu olhar de Rubi e me virei para encará-lo. Um carro preto com faróis

diferentes, como minhas botas. Um motor diesel bruto que precisava de alguns cuidados

amorosos para fazê-la ronronar direito.

131
Estava a seis metros de distância.

Dez.

Cinco.

Estava subindo na calçada e não ia parar.

132
CAPÍTULO 11
RUBI

O barulho de nossos corpos era mais alto do que o velho Vectra. A colisão de

membros. Da carne e dos ossos de que falávamos.

A queda foi silenciosa. Uma lufada de ar que não durou nem o tempo que levei

para registrar que o carro em alta velocidade não havia me atingido, mas eu não tinha

ideia se havia atingido River.

Tarde demais. Porra. Porra. Tudo sobre nós sempre foi tarde demais. E como tudo

mais, porra, a gravidade nos separou. Caímos como balas de canhão, e meu último

pensamento antes de cair na água foi este: Karma. Um ano atrás, deixei ir quando deveria

ter segurado. Agora não importa o quão forte eu me agarrei a ele, ele foi arrancado de

meus braços de qualquer maneira.

Eu me choquei contra a água negra e gelada. No mar agitado pra caralho, ondas de

concreto batendo em minhas costelas mal curadas, a fúria cega do oceano

instantaneamente um manto de morte sufocante.

Mãe dos Dragões, não é assim que eu quero morrer.

Ou era? Meu corpo lutou contra a poderosa onda da natureza, lutando contra a

corrente. Contra a escuridão infinita da água gelada. Mas quando me dei conta de que eu

não tinha ideia de qual era o caminho - se eu estava nadando ou chutando meu próprio

túmulo - uma névoa repentina e reconfortante de não dar a mínima tomou conta de mim.

Me afogou.

Eu parei de me debater. Parei de lutar contra o inevitável e cedi ao chamado do

vazio. Por um segundo, flutuei no nada glacial e foi uma felicidade. Foi paz. Então me

lembrei de River, que ele também estava na água, e um novo pânico tomou conta.

133
Com os pulmões queimando, soquei a água e chutei minhas pernas, lutando contra

o frio paralisante em meus músculos, buscando ar ou areia ou a porra da chuva. Qualquer

coisa para me guiar de volta para ele.

E se ele já se foi?

E se tudo que você fez fosse matá-lo de uma maneira diferente?

Quando o pensamento tomou conta, uma lacuna no escuro brilhou em minha visão

- a estrela do Norte - e chutei com mais força, como se pudesse chutar para longe a

desesperança que esperava nos bastidores. Nocauteie aquele filho da puta com meu estilo

de golpe questionável.

O brilho da estrela era meu único ponto de foco. O único sinal que tive de que não

estava totalmente debaixo d'água. Eu enganchei na porra da minha alma e me enfureci

contra o mar. Empurrando e debatendo, pegando ar onde quer que eu o encontrasse.

Agarrando-me à dor que cada onda violenta enviava pelo meu corpo para me manter em

movimento.

Meu joelho bateu em uma dureza escarpada. Rochas. Alívio e medo lutaram pelo

domínio. Se eu tivesse batido na pedra, ainda estaria perto da terra. Se eu batesse com

mais força, viraria comida de caranguejo.

Lutei para me orientar, colidindo com a rocha novamente e suas bordas irregulares.

Eu ainda estava na merda, ainda engasgando com a água salgada, meus pulmões e peito

um fogo de agulhas mortais das quais eu não conseguia escapar. Minhas mãos estão

ficando dormentes. Apesar do desespero que desafiava a morte que eu tinha para chegar a

River - para sobreviver pelo único motivo de garantir que ele chegasse -, eu me imaginei

inchado e pálido, lavando-se no porto ao lado do barco de Solomon Bosanko.

Foi muito fácil. Como beijar River tinha sido esta noite. Um truque cruel que se

tornou uma circunstância sólida que eu não pude evitar. Eu ia morrer aqui.

E ele também.

134
Meu rosto bateu em algo que não era pedra. Algo macio e granular, partículas

enchendo minha boca.

Areia.

Foi tão imprevisto que me afastei dela, caindo de volta para as ondas, perdendo

qualquer aparência de terra seca com um gole de sal.

Espalhando areia, percebi meu erro e chutei para frente novamente, jogando meu

corpo com força, esperando errar e me afogar como um peixe sem nadadeiras de qualquer

maneira.

Mas alguém me agarrou. Mãos fortes envolveram meus ombros, puxando-me da

espumosa lagoa da morte, e o barulho do oceano furioso deixou meus ouvidos tão

abruptamente quanto havia chegado.

Eu caí em um monte molhado, com uma tosse brutal chutando a merda do meu

diafragma, uma barriga de água do mar saindo da minha boca.

Isso machuca. Cristo, realmente doía, mas enquanto eu arfava e engasgava,

pequenos goles de ar alcançaram meus pulmões, empurrando a névoa frenética para o

lado.

Algum filho da puta ainda tinha as mãos em mim. Perdido na luta, eu as empurrei

para longe, mas braços musculosos as substituíram, bem apertados ao meu redor, e foi só

então que ouvi meu nome.

— Rubi. Rubi. Porra do inferno. Tosse, boo. Jesus, pensei que você tinha ido embora.

Boo. Ele me chamava assim desde que era um bebê que não conseguia pronunciar

duas sílabas. Eventualmente, ele se transformou em Rooboo, mas boo foi o que pegou.

Eu o amo. Dificilmente uma nova revelação, mas conforme nos solidificamos,

despedaçados e não mortos, eu senti isso mais do que nunca.

— Vamos. — River me agarrou novamente e me arrastou para cima. — Precisamos

chegar aos degraus antes que a maré suba.

135
Suas palavras faziam sentido, mas pareciam estar a um milhão de quilômetros de

distância. Sua voz, no entanto. Era irregular e áspera e tinha tanto poder sobre mim.

Isso me deu força. Enfiei os pés na areia e estabilizei as pernas, deixando River me

impulsionar antes que o instinto assumisse e eu avançasse, forçando um pé na frente do

outro até chegarmos aos degraus perfurados no quebra-mar.

River tropeçou.

Peguei-o pela cintura e manobrei-o até o pé da escada. Ele agarrou o metal, mas

suas pernas pareceram congelar, e ele me lançou um olhar selvagem para o qual não

tivemos tempo.

— Vá. — Dei-lhe um empurrão. — Estou bem atrás de você. Você não vai cair.

Provavelmente não era o que o preocupava. River não tinha medo de altura ou de

se molhar. Ou mesmo morrer na metade do tempo. Mas de qualquer forma. Os deuses do

mar viriam atrás de nós se não nos mexêssemos.

River começou a subir. Eu segui, minhas mãos dormentes mal segurando, meus

músculos frios gritando com o esforço de puxar meu corpo pesado na direção oposta da

gravidade. A queda levou uma fração de segundo. Recuperar essa distância pareceu levar

horas, meu único consolo observando o fato de que o jeans de River agora estava tão

perfeitamente moldado em seu corpo que, se meu pau não tivesse se escondido do frio, eu

estaria cavando trincheiras no mar.

Ele alcançou o topo e deslizou para longe antes de se esticar para trás para agarrar

minhas mãos e me arrastar pelo resto do caminho.

Eu era um filho da puta pesado, mas River era Hércules preso no corpo de um

homem menor. A escada do mar desapareceu, substituída pela grama arenosa atrás do

quebra-mar.

Passamos por baixo da barreira que derrubamos para escapar do carro em alta

velocidade. River pousou em uma confusão de membros longos e roupas molhadas, e usei

o que restava de minha energia para interromper meu impulso e não cair em cima dele.

136
Ainda estendi a mão para ele, no entanto. Não pude evitar. Eu precisava sentir seu

peito arfando para acreditar que ele estava respirando.

— Porra. — Lutei pelo meu próprio ar. — O que infernos acabou de acontecer?

River tossiu e arrancou a parte superior do corpo do chão. Ele pegou minha mão

agitada e apertou com força. — Não sei. Você está bem? Você está machucado?

Eu estava? Minhas costelas e joelho latejavam algo sagrado, mas todo o resto

parecia funcionar. — Estou bem.

— Você está mentindo?

— Não dessa vez. — Eu caí de costas, levando-o para o passeio, puxando-o para

cima de mim. — Você está ferido?

River procurou meu olhar, cabelo pingando, sangue escorrendo lentamente de um

arranhão em sua bochecha. — Estou bem.

Eu segurei sua mandíbula, virando seu rosto de um lado para o outro. — Você está

sangrando.

— Não é nada.

Não havia uma única coisa sobre isso que não fosse nada. Mas seu olhar agitado era

perversamente firme. No entanto, ele sentiu sobre o nosso mergulho não programado,

fisicamente, ele parecia bem.

— Devemos sair daqui. — Disse ele. — Caso eles voltem.

Se voltassem, precisavam enfrentar um exército de irmãos. Eu apalpei meus bolsos

para o meu telefone.

River me leu e soltou uma risada áspera. — Para quem quer que você esteja

pensando em ligar, isso não vai acontecer. Você acha que seu telefone sobreviveu a isso?

Ele tinha razão, mas havia esquecido que eu era o campeão indiscutível de estar

preparado para qualquer eventualidade. Até afogamentos surpresa.

Eu pesquei meu telefone do meu jeans encharcado. A água do mar pingava da

caixa, mas não me preocupava. Veja, aquele caso, graças a Folksie, era à prova de

137
mergulho. Nós ficamos acordados uma noite e ele o construiu depois que eu apostei com

ele que faria meu telefone do tamanho de um filho da puta do Gameboy.

Na época, a piada era sobre mim. Agora, eu estava grato que o bêbado Rubi era um

idiota combativo que discutia com tudo até bater na cara dele.

Apertei o botão lateral e digitei meu código. Para surpresa óbvia de River e minha

alegria, a tela se iluminou, brilhante e ilesa. — Sobreviveu. A puta que estava naquele carro

não vai ter tanta sorte.

River derrubou o telefone da minha mão. — Não se atreva, porra.

— O que?

— Se você ligar para o meu irmão, terminamos aqui.

Sentei-me, deixando meu telefone heroico onde estava. — Eu tenho que ligar para

ele. Alguém tentou matar você.

— Você não sabe disso. Pode ter sido um acidente.

— Oh sim? Onde estão as sirenes então? Os botes salva-vidas? Se aquele boceta

dirigiu para você por acidente, você não acha que ele estaria se perguntando onde diabos

você foi?

Na escuridão encharcada, River olhou para mim com raiva. — Não seja um idiota

sarcástico.

— Não estou sendo sarcástico. São perguntas genuínas para contrariar sua teoria

fodida.

Perguntas que River só estava preparado para responder com um tremor violento.

Uma convulsão de sacudir o corpo que senti em meus ossos.

Foda-se, estava muito frio para ter uma discussão que nenhum filho da puta iria

ganhar sem fatos simples. Sem provas de que alguém havia planejado o desastre que

vivíamos atualmente para ser mil vezes pior.

Eles tentaram matá-lo.

E Cam precisava saber.

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Mas talvez não neste segundo.

— Tudo bem. — Cutuquei o telefone com o pé. — Confisque-o. Silencie-me.

Qualquer coisa que te faça feliz.

River estreitou o olhar, mas varreu o telefone do chão de qualquer maneira e se

levantou para enfiá-lo no bolso molhado.

Levei mais tempo para me levantar.

Ele estendeu a mão. Eu a peguei e envolvi meu outro braço em volta do meu tronco,

gemendo enquanto me levantava.

River me olhou. — Suas costelas?

— Sim. Eles já estavam fodidos pelos punhos de Nashie, então não estou

preocupado.

Ele estava, eu poderia dizer. Mas ele não tinha o monopólio de ser um idiota

teimoso.

Além disso, a dor nas minhas costelas era lógica. Eu aceitaria uma enxaqueca sem

sentido em qualquer dia da semana.

— Vamos. — Eu apertei sua mão. — Vamos.

O supermercado era uma caminhada mais curta do que voltar para a cidade.

Ficamos fora da estrada e vagamos pelo pasto, só saindo das sombras quando chegamos

ao limite do estacionamento.

O SUV de Cam estava perto do banco de garrafas, livre de multas e vandalismo. O

controle remoto estava muito encharcado para acionar o travamento central, mas nós dois

estávamos errados o suficiente para levar menos de um minuto para abrir as portas.

River deslizou para trás do volante, lançando-me um olhar que me desafiou a

discutir.

Eu não. Dobrei-me no banco do passageiro e inclinei a cabeça para trás enquanto ele

ligava o motor e mexia nos aquecedores. — Você ainda precisa fazer compras?

River bufou. — Olhe no espelho e me faça essa pergunta.

139
Virei o quebra-sol e estudei meu reflexo. Absorvi a sujeira do meu rosto e a bagunça

do meu barnet16.

Sim. OK. Talvez não. Com River ainda sangrando, não era o nosso melhor visual.

River pôs as mãos no volante. Na luz misteriosa do estacionamento, elas estavam

brancas como ossos, quase azuis, e me ocorreu o quão perto eu estive de perdê-lo esta

noite.

Estendi a mão para ele no mesmo momento em que ele olhou por cima do ombro

para sair do espaço. — Espere.

Ele franziu a testa. — O que é?

Eu te amo. Mas meu telefone começou uma rave no bolso de River, matando o

momento antes de eu encontrar o que restava da minha voz.

Sua carranca voltou. Ele arrancou meu telefone do bolso e olhou para a tela. —

Video chamada. Mateo. Que porra ele quer?

Nada. Se fosse uma chamada de vídeo, o último rosto que eu veria ao atender seria

o de Mats. Ele odiava merdas assim. A única pessoa que teria coragem de usar o FaceTime

de seu telefone era meu segundo melhor amigo, que era mais bonito do que Nash e Embry

juntos.

Peguei o telefone de River e atendi a ligação. A tela ficou borrada antes de reiniciar

no rosto angelical de Liliana Romano-Carter - o novo nome que ela havia escolhido alguns

meses atrás.

Seus olhos de botão eram grandes e profundos. Seu sorriso suave, cheio de dentes e

lindo. — Rubieeee. — Ela chamou. — Onde você está? Eu e Ivy queremos ver você.

A cabeça loira de Ivy apareceu, galhos em seu cabelo, um tigre pintado em sua

bochecha. — Tio Gigante. — Ela disse seriamente. — Onde você está? Papai disse que você

não está aqui.

16 O cabelo de uma pessoa e o estilo em que é usado.

140
— Talvez ele esteja brincando com você. — Apertei os olhos para a tela, resistindo à

compulsão de esfregar a areia dos olhos. — Você olhou em todos os lugares?

Ivy assentiu. — Além do banheiro no bar. Não tenho permissão para entrar lá,

embora Cam diga que você dorme lá às vezes.

— Hum. Talvez você devesse perguntar a Cam onde ele dormiu na noite de seu

trigésimo aniversário. E o que aconteceu com as roupas dele.

Ivy deu uma risadinha e desapareceu, presumivelmente para procurar tio Cam e

demiti-lo com mil perguntas que ele não sabia como responder sem xingar.

Boa menina. Isso me deixou com Liliana, que estava me estudando com um olhar

sábio demais para a década que passou na Terra. — Por que seu cabelo está molhado?

— Fui nadar.

— Em uma piscina?

— Não, no mar. Foi um acidente. — Eu puxei meu cinto de segurança para baixo

quando o carro começou a se mover. — O que você está fazendo? Desenhando alguma

coisa boa hoje?

Liliana fez uma careta. — Papai me fez ler em vez disso. Ele escondeu minhas

coisas e não posso recuperá-las até depois do jantar.

— Jantar? — Meu estômago roncou. — O que você está comendo?

— Não sei. Frango, talvez? — Liliana encolheu os ombros, tão desinteressada em

sustento quanto Alexei. — Estou comendo na casa nova.

— Qual delas?

— Aquela que Cam deu para minha mãe.

O carro rolou para trás. Senti o olhar de River perfurando buracos no lado da minha

cabeça, mas mantive meu olhar em Liliana. Se River quisesse saber, tudo o que ele

precisava fazer era perguntar. — Isso significa que você vai morar lá em breve?

O beicinho de Liliana se aprofundou. — Eu não quero morar lá. Eu gosto daqui.

141
— Sim, mas não é divertido quando você tem que estar em algum lugar o tempo

todo. Ivy não mora no complexo. E seu pai não vai saber quando se mudar para a casa

dele.

O lábio inferior de Liliana permaneceu no nível dez. Honestamente, a vida que essa

criança levava, ela era a pessoa mais fria que eu já conheci. Mas ela tinha problemas de

apego, e cada vínculo que ela forjou desde que ela entrou gritando em nossas vidas

significava o mundo para ela.

Mudei o assunto de volta para o desenho dela. Ela pegou um bloco e me mostrou os

esboços a carvão que havia feito de seu cavalo de aparência bizarra.

Eles eram incríveis, assim como ela.

— Quem está no carro com você? — Ela perguntou de repente.

Eu pisquei. River estava tão quieto que quase esqueci que ele estava lá. Que nós

quase morremos juntos vinte minutos atrás. — Hum. River. Ele é o irmão mais novo de

Cam, viu? Você acha que eles são parecidos?

Sem pensar, virei o telefone para River e seu rosto ensanguentado, pegando-o

desprevenido.

Mas ele era bom com crianças. Todos nós éramos. Sua mãe se certificou disso. Ele

forçou seu rabugento natural em um sorriso torto e acenou uma saudação. — Mocinha.

Prazer em conhecê-la.

Liliana sorriu de volta. — Você se parece com seu irmão, mas não tão bonito.

Eu discordei, mas isso era um debate para outro dia. Deixei River fora do gancho e

virei o telefone de volta para mim. — Eu tenho que ir. E é melhor você se preparar para ir

jantar em casa.

Enquanto falava, ouvi vozes de adultos ao fundo e me despedi apressadamente,

desligando antes que quem estivesse ali pudesse ver o meu estado.

Estendi o telefone para River. — Você quer isso de volta?

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Ele ignorou, estacionando paralelamente na estrada fora de sua casa. — Então ela

realmente é filha de Mateo?

Eu o cortei um olhar. — Você acha que inventamos?

River desligou o motor e soltou o cinto. — Não, eu simplesmente não entendo. Ele

não tinha família, exceto sua mãe e sua prima gostosa. Eu chequei. Saint checou. De onde

veio essa garota?

Agora havia uma pergunta. Uma que eu não tinha tempo de responder se

estivéssemos prestes a seguir caminhos separados, um pensamento que fez meu coração

pular uma batida.

Passei a mão pelo meu cabelo desgrenhado e arrisquei. — Faça-me uma xícara de

chá e eu te conto tudo sobre isso?

River deu de ombros. — Tudo bem então.

Ele teria me surpreendido menos se tivesse me convidado para ir à lua.

Ele saiu do carro, deixando-me em choque, e caminhou até a porta da frente.

Depois de um tempo, eu o segui com as pernas bambas, o frio voltando aos meus

ossos sem uma conversa real para me distrair.

Quando cheguei à porta de River, ele já estava lá dentro. Prendendo a respiração,

passei pela soleira, esperando que um ataque de memórias me atingisse.

Nada aconteceu.

Fechei a porta atrás de mim e enxuguei os pés, antes de me abaixar para tirar

minhas botas e colocá-las ao lado do par incompatível de River.

Minhas meias estavam encharcadas. Também as tirei e caminhei descalço pelo

corredor escuro em busca de River.

Encontrei-o na cozinha, enfiando a camiseta molhada pela cabeça e uma geleia

quente em um biscoito, não estava preparado para isso.

River teve músculos magros por anos. Pele tatuada que cheirava a diesel e raiva. A

única luz na sala vinha do exaustor. Tinha lâmpadas amarelas quentes que lançavam um

143
brilho dourado sobre ele, lavando o azul pálido que minha mente havia imaginado no

carro.

Eu dei um passo inconsciente para frente.

Ele me ouviu chegando, mas não se virou. Apenas se apoiou no balcão, cabeça

baixa, respirando lentamente enquanto eu tirava minha própria camisa e me envolvia em

torno dele, meu peito em suas costas, meu coração encontrando um lar batendo contra seu

ombro.

Enterrei meu rosto na curva de seu pescoço, sentindo o gosto de sal em sua pele,

deslizando ao longo de sua mandíbula até encontrar sua boca e beijá-lo.

De verdade desta vez, em meus termos, não dele.

Eu não era cuidadoso. Eu o reivindiquei, engolindo seu gemido, segurando-o

contra mim, meu pau encontrando um lugar onde mais queria estar. E por longos

momentos, eu deixei acontecer, moendo um ritmo lento enquanto eu esmagava nossos

lábios juntos, alimentando um fogo que nunca havia realmente se apagado.

Então ele estremeceu, e o fato de nós dois estarmos frios até os ossos me trouxe de

volta à realidade.

Acalmei-me, afastando-me para olhá-lo.

Ele olhou de volta. — Você fez uma lobotomia?

— Você fez? Não vibramos tão bem em anos. — Eu balancei minhas sobrancelhas.

River me empurrou. — Vá tomar um banho quente. As roupas de Oscar vão servir

em você.

Eu não queria me separar dele. Eu o queria no chuveiro comigo. Mas seguir suas

instruções me deu uma desculpa viável para verificar o resto da casa - janelas, portas.

Debaixo das malditas camas.

Já deveria ter feito isso. Pior guarda-costas de todos os tempos.

Sim. Mas eu estava bêbado e um cachorro-do-mar salgado gigante. Eu não estava

pensando direito.

144
Nunca pensaria perto do River.

Deixei-o na cozinha e tomei o caminho panorâmico até as escadas, examinando a

sala de estar, observando os violões, as peças do motor e os brinquedos infantis.

Filho de Oscar. Em algum lugar ao longo da linha, eu tinha esquecido disso. Ou

talvez eu não tivesse me importado. O cara não era nada para mim, exceto um homem que

fazia muitas das coisas que eu queria para mim.

Eu sou um filho da puta ciumento.

Quem sabia?

O andar térreo era seguro. Subi os degraus de dois em dois e cheguei ao patamar e

à janelinha que dava para a rua.

Eu verifiquei o trinco e fechei a persiana, escondendo-me na escuridão, mas a casa

de River era pequena, apenas quatro outras portas - dois quartos, um banheiro e um

armário arejado que continha nada além do corte Rebel Kings que seu pai lhe dera em seu

aniversário de dezoito anos.

A visão disso me torceu mais do que sua pele nua. Toquei os remendos costurados

no couro. A caveira e as rosas nas costas. Eu tinha um corte do mesmo jeito, mas isso...

parecia um passado que eu não conseguia alcançar.

Fechei a porta e fui para o primeiro quarto. Era o maior, com uma cama de casal e

uma de solteiro enfiada no canto com um dossel de selva pendurado sobre ela.

De Oscar.

Parecia errado bisbilhotar as coisas do cara. Chequei a janela e espiei embaixo das

camas, depois saí, fechando a porta atrás de mim.

O quarto de River ficava nos fundos da casa. Menor que o de Oscar, continha

apenas uma cama e uma cômoda com um toca-discos enfiado em cima.

Pilhas de vinil cobriam o chão. Roupas limpas que ele ainda não havia guardado, se

é que alguma vez o fez.

145
Eu verifiquei a janela. Baixei meu corpo dolorido em uma prancha para espiar

debaixo da cama.

Um martelo e um taco de beisebol me cumprimentaram. Você poderia pegar o

homem dos Rebel Kings, mas ele sempre seria um O'Brian.

Deixei seu esconderijo de armas sozinho e me arrastei até o banheiro. O chuveiro

ficava sobre a banheira e era menos claustrofóbico do que o minúsculo cubículo da casa

secreta. Além disso, havia xampu de verdade em vez de líquido de fada, então me

obriguei a cheirar a banana, e meus dentes pararam de bater antes de sair de novo.

Minhas roupas estavam em uma pilha molhada no chão. Déjà vu me atingiu, e o

estresse zumbindo em minhas veias também era terrivelmente familiar. Eu roubei uma

toalha e me sequei, esfregando-a sobre o meu cabelo quando uma leve batida soou na

porta.

Não estava fechada. Eu a abri com o pé, mas não havia ninguém lá. Apenas uma

pilha de roupas secas - moletons desbotados e uma camiseta Valhalla 17. Como se eu

precisasse de mais provas de que Oscar, o Pescador Gostoso, era meu irmão gêmeo há

muito perdido.

Vesti as roupas, juntei meus restos e segui meus instintos de volta para a cozinha.

River estava exatamente onde eu o havia deixado. Se não fosse pelas roupas de Oscar, eu

teria pensado que ele não havia se mexido. — Você precisa tirar esses jeans molhados.

— Eu sei. Dê-me o seu, eu vou lavá-los.

— Você não precisa fazer isso.

— O último esconderijo do clube que frequentei não tinha água corrente.

— Nós evoluímos desde então. Tem torneiras e tudo.

River se virou e estendeu as mãos. — Dê-me suas roupas, Boo.

17 Assassin's Creed Valhalla é um jogo eletrônico de RPG de ação desenvolvido pela Ubisoft Montreal e publicado pela Ubisoft.

146
Tudo bem então. Eu as entreguei, minha mente imunda captando a possibilidade

de que ele pudesse tirar o resto dele comigo aqui. Mas River estava muito à minha frente.

Ele pegou minhas roupas e apontou para a sala. — Não me chateie.

Eu fui por nenhuma outra razão além de não querer que ele usasse jeans

encharcados por mais tempo do que o necessário. Estacionei minha bunda em seu sofá e

tentei não me concentrar no tilintar da fivela de seu cinto. — Cuidado com os meus

biscoitos. — Eu disse. — A menos que você queira rosas também.

Um bufo baixo foi a única resposta de River, então ouvi seus passos pesados na

escada e percebi que estava seguro para migrar de volta para a cozinha e inspecionar o

conteúdo de sua geladeira.

Queijo. Leite. Manteiga. Algumas fatias solitárias de bacon defumado e três

tomates.

Nos armários, entre uma quantidade surpreendente de comida de verdade,

encontrei macarrão e farinha.

Posso trabalhar com isso. Macarrão com queijo da velha escola era a única coisa que

minha mãe já havia cozinhado sem colocar fogo na cozinha e eu poderia fazer isso de

olhos fechados.

O que foi uma sorte. Enquanto o calor se instalava em meus ossos frios, mal

conseguia mantê-los abertos. Apenas a monotonia da nostalgia e minha imaginação

ultrajante me mantinham acordado.

Eu estava comendo três formas de macarrão quando River se aproximou de mim.

— Meu telefone está fodido.

Eu pulei, espirrando água no escorredor. — Jesus. Avise um cara, sim?

— Você parece realmente irlandês quando diz isso.

— Eu sou irlandês.

— Um irlandês que engoliu um cockney.

— Mais de uma vez. — Eu brinquei.

147
River fez uma cara que o deixou mais infantil do que sua mandíbula desalinhada e

seu olhar feroz queriam que ele fosse. Ele jogou minha cueca molhada em mim. — Eu

lavei isso no chuveiro. Talvez eu as pendure na chaminé para secar.

— Faça o que quiser com elas, cara. — Eu as deixei cair no chão, contente por elas

ficarem lá pelo resto de nossas vidas, mesmo que isso significasse deixar outro pedaço de

mim com River O'Brian. — Eu invadi sua geladeira, a propósito.

— E você encontrou algo que vale a pena comer?

— Achei o suficiente. Não esperava que seus armários fossem tão frutíferos.

River espiou por cima do meu ombro, observando-me misturar macarrão com

molho de queijo com bacon. — Não me dê muito crédito. Oscar é diabético. Uma cozinha

vazia poderia matá-lo. Você está colocando tomates nisso?

— Sim.

— Por que?

— Porque saúde é riqueza e bege é chato.

River passou os lábios pela minha nuca. Uma pincelada de sensação que fez minha

cabeça girar. — Você não poderia ser chato se tentasse.

Uma batida na porta da frente me salvou do gemido estrangulado preso em meu

peito.

River se moveu para atender.

Eu agarrei seu pulso. — Não.

— Você está falando sério? — A irritação substituiu o comportamento tranquilo que

River trouxera para o andar de baixo. — É a minha casa.

— Alguém acabou de tentar matar você.

— Você não sabe disso.

— Você não sabe que eles não o fizeram. — Joguei a panela que estava segurando

na pia. — Você está esperando alguém?

148
Por sua careta, deduzi que não. Procurei no balcão pelo meu telefone. Nenhum

irmão estava em Porth Luck que eu soubesse, mas Alexei era imprevisível. Pelo que eu

sabia, ele estava no esconderijo vigiando a porta. Ou se escondendo no sótão. Imaginar isso

me deu uma dose sombria de humor, mas durou pouco quando percebi que tinha deixado

meu telefone no banheiro e não havia chance de River esperar que eu subisse as escadas

antes de abrir a porra da porta.

Porra. Eu ziguezagueei meu corpo em torno dele e coloquei minha mão em seu

peito, empurrando-o para trás enquanto ele avançava. — Onde estão suas armas aqui

embaixo?

— Minhas armas aqui embaixo? Foda-se. Uma criança mora aqui.

Eu arqueei uma sobrancelha e esperei, aplicando minha teoria O'Brian testada e

patenteada pela segunda vez em dez minutos. Um jogo de frango que terminou com o

bufo barulhento de River e uma chave de fenda sendo pressionada em minha mão. — Tá.

Espere aqui.

River jogou uma segunda arma - uma chave inglesa pesada - de uma mão para a

outra. — Vá se foder.

Legal. Mas realista. O melhor que eu podia esperar era que ele ficasse atrás de mim

o tempo suficiente para descobrir se isso era uma emboscada, mas era um sonho vago.

River era letal em uma luta e mais difícil de controlar do que a porra do Embry.

Mudei minha ambição para pelo menos chegar à porta antes dele e desviei para o

corredor, alcançando o trinco com uma mão, a outra ao meu lado, segurando a chave de

fenda. Não havia olho mágico na porta, apenas uma pequena janela com vidro de

privacidade tão nebuloso que tudo que eu podia ver era o contorno de um cara alto

vestido de preto.

Um cara com cabelos escuros ondulados e pele morena. Agressivo, ombros

marcados e jaqueta de montaria com uma mancha branca rasgada no braço.

Eu relaxei e abri a porta.

149
Mateo fez uma careta para mim, o rosto cheio de cicatrizes, torcido e mau. — Você

perdeu seu telefone?

— Está lá em cima. — A tensão me inundou. — Por que? O que está errado?

— Foi isso que vim descobrir. Liliana disse que você estava ferido.

— Não estou ferido.

Mateo me deu um longo olhar, então seu olhar vagou por cima do meu ombro. —

Certeza sobre isso? Lili viu sangue.

Atrás de mim, senti River se aproximando, preenchendo o espaço atrás de mim.

Acendeu a luz do degrau, iluminando seu rosto esfolado. — Era meu.

O olhar âmbar de Mateo era difícil de ler. Ele puxou um truque do arsenal de Saint

e inclinou a cabeça. — Você está bem?

River bufou em uma risada sem humor. — Mortalmente ferido, claramente. Você

está assustando meus vizinhos ou entrando?

Mateus deu de ombros. — Vou assustar seus vizinhos um pouco mais, depois vou

foder. Será como se eu nunca estive aqui.

River grunhiu e desapareceu.

Estremeci e enfrentei Mateo sozinho. — Desculpe.

Ele finalmente abriu um leve sorriso. — Não é pior do que a merda que eu fiz para

você.

Não poderia argumentar com isso. — Por que você está realmente aqui? Cam te

enviou?

Mateo lançou outro olhar fugaz por cima do meu ombro. — Ninguém me enviou.

Apenas Em e Lili sabem que estou aqui.

— Sério?

— Não mentiria para você, companheiro. Faça-me um favor, no entanto. Atenda o

telefone, certo? Eu estava bloqueando todo o caminho até aqui que alguma merda tinha

acontecido e eu fodi tudo por não ligar.

150
Meu telefone. Ainda estava lá em cima no banheiro de River. Minhas calças

estavam no chão da cozinha. Ele me beijou.

Que hora de estar vivo.

No entanto, senti que isso atraiu Mateo para a frente. Seu meio sorriso macabro

desapareceu, substituído por uma carranca. — Você precisa de ajuda com alguma coisa?

Foi por causa de sua ajuda que eu estava aqui. Ele e Alexei. Que eu estava parado

nesta porta com roupas emprestadas com o fantasma dos lábios de River em meu pescoço.

Mas o peso da preocupação de Mateo me pesou. Eu não estava acostumado com esse

irmão se intrometendo nos meus negócios. — Estou bem. Tem alguma merda para

compartilhar, mas não esta noite, hein?

Mateo assentiu, a empatia esquentando um rosto que nossos inimigos viam em seus

piores pesadelos. — Eu preciso voltar. Traga meu jantar antes de sair com Saint. Você vem

à igreja de manhã?

Igreja. Porra. Isso havia escapado da minha mente. E eu não tinha exatamente

concordado com Cam que estava dispensado. — Sinceramente, não faço ideia. Alguma

coisa acontecendo que eu precise saber?

— Não consigo pensar em nada. Será bom se você limpar o ar com Nash, no

entanto. Ele não está certo desde que você saiu.

Minhas costelas latejavam no mesmo ritmo da agitação do meu estômago. Um

suspiro me escapou e eu esfreguei a mão no rosto. Senti falta de Nash mais do que poderia

explicar, mas havia muito em meu cérebro para pensar nele esta noite. — Me liga de

manhã?

Mateo me abraçou, depois socou meu braço. — Eu tenho você, irmão.

151
CAPÍTULO 12
RIVER

Rubi voltou enquanto eu colocava seu prato de macarrão no forno. Eu não era tão

proficiente na cozinha quanto ele ou Cam, mas eu poderia fazer o suficiente para não nos

matar.

Havia uma garrafa de Dead Man's Fingers em cima da geladeira. Peguei-a e um par

de canecas e acenei com a cabeça para o bar de café da manhã. — Sei que você está fora do

suco, mas nós tivemos uma noite disso.

Rubi não discutiu. Ele afundou em um banquinho, chutando o outro para mais

perto de mim.

Sentei-me ao lado dele.

Ele colocou dois dedos sob meu queixo e virou meu rosto para a luz. — Você se

sente bem?

— Bom como novo agora que estou aquecido.

Ele não acreditou em mim, eu poderia dizer. Mas era a verdade. Eu me sentia bem.

Eu estava mais preocupado com ele. — O que Mateo queria?

Rubi pegou o rum e derramou uma boa medida em cada caneca. — Liliana viu o

sangue em seu rosto. Ele veio verificar se não estávamos mortos.

— Isso foi legal da parte dele.

— Ele é um cara legal.

Legal não foi minha experiência com Mateo Romano. Ele era o executor do meu

irmão. Eu o tinha visto fazer merdas que iriam assombrar minha consciência se eu não

estivesse cansado pra caralho, e o ceticismo rolando por mim implorou a pergunta que

Rubi ainda não tinha respondido. — Você vai me dizer como aquela linda garotinha veio a

ser dele?

152
Rubi levou o rum aos lábios e tomou um gole. — Você realmente quer saber?

A maneira como seus olhos ficaram sérios me disse que havia mais nessa história

do que um caso perdido de uma noite há muito tempo. Claro que havia. Nada sobre

minha família - o MC - era simples. Mas, por mais que eu tentasse enfiar a cabeça na areia,

por mais que aquela garota tivesse se tornado de Rubi no complexo dos Rebel Kings, havia

algo bom nisso em algum lugar, eu senti. — Eu quero saber.

Rubi agitou o rum que restava em sua caneca e depois o pousou. — É uma longa

história e, para entendê-la, preciso contar quase tudo. Mesmo as merdas que você

geralmente não quer ouvir.

— Vá em frente então.

— Tudo bem. — Ele respirou fundo e me contou tudo. Tudo, desde a gravidez na

adolescência até a vida fugindo de um traficante espanhol. Apesar de tudo que ele deixou

de fora, ainda era muito. Jesus. — O que aconteceu com o avô malvado?

O olho esquerdo de Rubi piscou. Quando eu estava tão imerso na vida do clube

quanto ele ainda estava, eu chamava isso de espasmo mortal. Um indício de que alguém,

merecido ou não, escapou de seu invólucro mortal nas mãos de um Rebel King.

Eu processei isso. Dado o que eu tinha ouvido, isso não me incomodou. A menos

que tenha sido Rubi quem brandiu a espada. Ele não foi construído para o assassinato

mais do que eu. — Quem fez isso?

Com isso, Rubi sorriu, o que aliviou o medo em meu estômago. — O bom capelão.

Tenho certeza de que ele estava na frente de uma longa fila, mas chegou primeiro.

— Amor verdadeiro, hein?

Rubi pegou sua caneca novamente. — Como se você não acreditasse. Nunca pensei

que veria alguém amar alguém mais do que Cam e Saint, mas esses últimos anos têm sido

loucos em termos de romance.

153
Ele era o único homem que poderia proferir uma frase como essa em uma conversa

sobre guerras mortais de gangues. Eu me perguntei se ele sabia que essa era uma das

muitas fodidas razões pelas quais ele era meu humano favorito.

Claro que não. Você nunca disse a ele.

Levantei-me e caminhei até o forno, espiando pelo vidro. A massa não estava

pronta, mas olhar para ela me deu um momento para me recompor e pensar em outra

pergunta horrível para fazer. — Você estava lá quando aconteceu?

Rubi se mexeu no banquinho, destampou a garrafa de rum e nos encheu. — Eu não

estava nem perto de nada disso. Passei um mês com Liliana e sua mãe em um esconderijo.

Guardando-as até que estivesse claro para voltar para casa.

— Por que você?

— Hum?

Encostei-me na porta do forno, absorvendo o calor. — Como é que você foi

escolhido para brincar de babá?

— Eu queria fazê-lo. Tínhamos que lutar por Mats. Ele é nosso irmão e nós o

amamos, e eu sabia que proteger sua família era a melhor maneira de fazer isso.

Saber que ele estava em outro lugar quando o pior aconteceu deveria ter me

acalmado, mas não. A agitação rasgou com um arrepio violento que não consegui

esconder, e arrancou Rubi de seu banquinho.

Atravessou o estreito vão entre o balcão e o forno. Ele segurou meu queixo com as

duas mãos - elas estavam quentes agora - e me fez olhar para ele. — O que está errado?

Envolvi minhas mãos em seus pulsos e contei a verdade. — Incomoda-me que você

tenha ido embora por um mês e eu não sabia.

— Eu estava em Bristol. Se você tivesse ligado, eu teria contado.

— Mas eu nunca ligo, não é?

154
— Isso não é verdade. Você me fez companhia em uma corrida de transporte pouco

antes da merda com Liliana acontecer. Lembro-me claramente de ter levado uma mordida

na orelha no estacionamento de um posto de gasolina.

Levei um minuto para lembrar o que ele quis dizer. Uma conversa telefônica de

cinco minutos em que eu repetidamente disse a ele para ir se foder, jogando seu amor e

preocupação por mim de volta em seu rosto. — Eu estava bêbado e com fome. Eu sou mais

legal quando um bêbado segue um caminho diferente.

Rubi deixou suas mãos caírem, seus pulsos escorregando do meu aperto frouxo.

Esperei pela palestra, mas ela não veio. Ele voltou para a mesa do café da manhã, bebeu

seu rum e saiu da sala.

Como ele não voltou, tirei o jantar do forno e joguei na bancada. Parecia bom, com

tomate e tudo, e cheirava ainda melhor, mas eu não estava com fome. Sem Rubi, não havia

chance de eu comê-lo.

Frio. Ele só subiu as escadas. Mas sua ausência parecia um buraco no meu pulmão.

Cada respiração que eu dava não ia a lugar nenhum e o suor frio ameaçava o calor que ele

havia deixado para trás.

Desliguei o forno e resgatei meu telefone de onde o havia jogado no balcão. Estava

encharcado e inútil, mas tentei assim mesmo, apertando o botão para ligá-lo.

Nada aconteceu. Parecia simbólico de uma forma que não seria se Rubi estivesse ao

meu lado, e uma percepção repentina tomou conta de mim. Você precisa dele para se sentir

humano. Assim como eu precisava de Oscar. Como se eu precisasse de ajuda sintética

quando nenhum deles estivesse por perto.

Minhas veias começaram a coçar. A loja da esquina me chamou. Não havia cerveja

em casa. Seria a coisa mais fácil do mundo sair para comprar um pacote de quatro e voltar

para casa com um cérebro lento demais para me machucar. Sedado. Eufórico.

Triste.

Porra.

155
Um suspiro pesado escapou quando Rubi voltou para a sala, um braço enganchado

em torno de seu grande corpo, mancando.

Ele está ferido.

Idiota como eu era, eu não tinha verificado antes de levá-lo para o chuveiro lá em

cima, mas a maneira como ele se movia agora era dolorosa de assistir.

Eu o encurralei perto da porta e o empurrei suavemente contra ela. — Mostre-me.

Cansado, ele franziu a testa em uma piscada lenta. — Quer ser mais específico?

Imagino que você não esteja se referindo à minha varinha mágica.

Revirei os olhos. — Mostre-me onde você está ferido. Suas costelas.

Negação dançou através de seu olhar, mas ele levantou a camisa emprestada de

qualquer maneira, revelando um torso musculoso tão coberto com tinta que não havia

como dizer se ele estava machucado para foder ou não.

Nenhum sangue. Isso era bom, certo? Mas ele estava sangrando em algum lugar. Eu

podia sentir o cheiro. — Onde você está cortado?

Rubi deixou cair a camisa. — Você é um vampiro.

— Onde você quer chegar?

Foi a vez de Rubi suspirar. Ele começou a se curvar, então pareceu pensar melhor e

apontou para sua perna. — Bati meu joelho nas pedras.

Não consegui contar quantas vezes me imaginei de joelhos na frente dele, mas

nunca assim. Não com ele exausto e ferido por salvar minha vida.

Enrolei o moletom de Oscar, revelando mais pele tatuada, mas a tinta era menos

densa na perna de Rubi. Menos camuflagem para os horríveis hematomas em sua rótula

arranhada e esfolada.

— Porra. — Eu afundei nos calcanhares, uma mão curvada em torno de seu

músculo da panturrilha enquanto estendi a mão para o freezer próximo com a outra. —

Você precisa de um pouco de gelo nisso.

— Está tudo bem, Riv.

156
— Porra, não está.

— Riv.

Rubi se abaixou e pegou meus pulsos, me levantando antes que eu pudesse resistir.

Ele nos colocou cara a cara, seus ombros subindo e descendo rápido demais para um

homem parado. — Você precisa parar com essa merda agora.

— Que merda?

Ele nos inverteu, minha espinha batendo na porta com um baque, sua proximidade

sugando cada grama de oxigênio da sala. — Essa merda. Você acha que eu dou a mínima

para algumas contusões enquanto você está de joelhos? Você acha que eu dou a mínima

para qualquer coisa quando sua mão está deslizando para cima e para baixo na minha perna

assim? Saint Khaleesi, cara. Você acha que estou morto por dentro?

Eu não sabia o que eu pensava. Só que de alguma forma ele ainda cheirava a mar.

Que seu cabelo úmido estava começando a secar, ficando mais claro e ondulando nas

pontas.

Que se ele não me beijasse, eu morreria.

Rubi me pressionou contra a porta, esmagando nossos corpos juntos, o

comprimento duro em sua calça de moletom impossível de ignorar quando colidiu com a

minha, a fricção infinitesimal o suficiente para arrancar um gemido do meu peito. Ele me

encarou por um longo momento, como se esperasse uma resposta coerente de mim. Então

ele desceu e bateu nossas bocas juntas, e eu juro por Deus, algo explodiu em algum lugar.

Estrelas.

Planetas.

A maldita lua.

O aperto tênue na minha necessidade por ele.

Ele tinha gosto de rum e risco. De uma década de contenção desfeita.

Do sangue em meus lábios quando nossos dentes se chocaram como se fosse a

primeira vez que nos beijamos, não a terceira em uma noite.

157
Às vezes eu me perguntava se tinha conhecido Rubi em outra vida - ele era tão

familiar para mim. Mas isso, cara. Tanto disso era novo que eu balancei em meus pés,

fodidamente perdido nisso. Apenas a escavação de seu pênis e a pulsação no meu me

mantinham presa à terra.

O tremor no corpo desmedido de Rubi.

Era um conhecimento poderoso saber que eu era a única coisa que poderia fazer um

homem tão forte perder o controle.

Que eu era sua fraqueza.

Mordi seu lábio inferior. Ele me beijou com mais força e me puxou para longe da

porta o suficiente para abri-la com uma mão.

A sala ficava atrás da cozinha, silenciosa e desordenada. Rubi nos guiou entre os

carrinhos de brinquedo e a caótica mesa de café e me empurrou para o sofá.

Seu corpo cobriu o meu, me prendendo. Não era uma posição que eu gostava com

ninguém, mas com ele era fodidamente mágico. Eu usei minha perna para enganchá-lo

mais perto para uma moagem mais áspera, deleitando-me com o gemido grave que rasgou

por ele. Em sua palma possessiva segurando a parte de trás do meu crânio, as pontas dos

dedos roçando meu pescoço.

A sensação era elétrica, mas eu precisava mais dele.

Muito mais, porra.

Segurei a camisa que ele estava vestindo e puxei-a para cima de seu corpo. Ele

parou de me beijar por tempo suficiente para eu puxá-lo sobre sua cabeça. Então ele estava

em cima de mim novamente, sua pele quente me pressionando contra o sofá, sua

mandíbula áspera contra meu rosto, seu beijo mais exigente do que nunca.

Ele não precisava exigir nada de mim. Ele me excitava por dentro e por fora. Sempre

tinha, desde que eu sabia para que lado meu pau deveria estar apontando. Mas isso era

melhor do que minha fantasia mais suja. Mais sujo do que os clipes editados que nadavam

na minha cabeça. História que não era bem nossa.

158
Deslizei minhas mãos por suas costas largas, meus dedos mergulhando abaixo de

sua cintura, o músculo duro sob minhas palmas enviando sangue mais quente para o meu

pau. Nós nos beijamos como demônios até que ele rasgou a boca para devastar a porra da

minha garganta.

— Porra. — Meu pescoço arqueou por conta própria, meus quadris subindo

enquanto ele descia.

Rubi soltou uma risada. — Você gosta disso?

— Não. É uma merda. Faça outra coisa.

Ele se afastou, um canto de sua boca se curvando em um sorriso, seus olhos

castanhos emotivos brilhando com excitação e travessura, o trauma de nossa noite juntos

ausente por esses momentos preciosos. — Esqueça essa merda de camiseta.

Tirei-a e seu olhar brilhou mais. A sala estava bem escura, mas ele olhou para o

meu peito nu como se estivesse derretendo a porra do sol.

— Riv.

— O que?

Rubi mergulhou e beijou meu pescoço novamente, mais forte desta vez, sugando a

pele sensível. Mordendo. — Não aguento. Você é tão gostoso.

Quente para ele. Eu o queria nu, esparramado sobre mim enquanto minha mente

estava afiada o suficiente para lembrar cada segundo. Eu não me importava com o que

acontecia depois disso. Se ele me fodesse. Se eu transasse com ele. Se não houvesse nada

além de pele na pele. Ele e eu. Eu e ele.

Deslizei minhas mãos por seu torso novamente e empurrei seu moletom para baixo,

parando uma batida antes de seu pau grosso entrar no caminho.

Rubi levantou a cabeça. — Tem certeza que você quer ir tão longe?

— Tem certeza que você quer me parar?

159
Seu sorriso suave se tornou mortal. — Tudo o que estou dizendo é que eu fiz uma

promessa sobre o que aconteceria na próxima vez que você tivesse seu pau perto de mim,

e eu quis dizer isso.

Meu corpo respondeu antes que a memória se solidificasse o suficiente para que eu

me lembrasse dela. Calor sacudiu minhas veias, pulsando no mesmo ritmo de minha

pulsação.... se você colocar seu pau perto de mim de novo, estará na minha boca.

Droga.

Eu empurrei seu moletom sobre seus quadris, usando meus pés para empurrá-los

para baixo. Seu pênis saltou livre, mas eu não olhei. Ainda não. — Eu nunca disse a você o

que aconteceria com o seu.

Rubi passou a mão no meu peito. — Parece perigoso.

— Para quem?

— Para mim.

Ainda sem olhar, peguei seu pau e envolvi minha mão em torno dele, o peso dele

pesado na palma da minha mão. — Eu não vou te machucar.

Eu quis dizer literalmente. Neste momento. Mas as palavras seguiram seu próprio

caminho, atingindo mais profundamente, e os olhos de Rubi ficaram marejados. Ele não

acredita em mim. E ele tinha todo o direito de não fazê-lo. Nós nos machucamos com muita

frequência no passado. — Me beija.

Rubi piscou. — Sim?

Em resposta, agarrei seu pescoço com a mão livre e o puxei para baixo, apertando

seu pau com a outra. Trabalhando enquanto eu levava meus lábios ao seu ouvido. — Nós

nunca seremos perfeitos. Dia após dia, boo.

Uma risada baixa e apertada saiu dele. — Então o que é isso? Terapia? Recuperação

sexual?

— Hum. Talvez.

160
Rubi agarrou meu queixo, trazendo nossos rostos nivelados novamente. — Se este é

o seu tipo de cura, posso cavar.

Nossos lábios se encontraram novamente. Eu bombeei seu pau no ritmo de sua

língua acariciando a minha, a respiração vindo mais rápido enquanto a atração física se

transformava em emoção para se tornar uma onda crescente e imparável. Uma fodida força

contra a qual eu não poderia lutar.

Rubi já estava nu. Suas mãos quentes e ásperas me despiram também, e pela

primeira vez qualquer um de nós poderia realmente se lembrar, estávamos nus um para o

outro, duro como pedra e foda-se, ele era grande.

Ele sabia disso também, recuando um toque, apenas para eu persegui-lo.

— Não se esconda de mim.

Rubi cravou os dentes no lábio inferior, arqueando os ombros largos. — Também

não quero te machucar.

— Então fique. — Aproveitei sua distração e manobrei-o para baixo de mim,

pegando suas mãos e prendendo-as acima de sua cabeça. — Não vá embora, porra.

Essas palavras eram mais pesadas do que eu pretendia que fossem também, mas eu

não podia retirá-las, e a ironia de que eu passei o último mês mandando ele se foder

passou por mim.

Inclinei-me, deixando meu corpo cobrir o dele o máximo que pude, e pressionei

nossas testas juntas. — Não vá embora.

Rubi colocou a língua para fora e lambeu a costura dos meus lábios. — Eu não

poderia, Riv. Juro que me mataria desta vez.

O gesto fofo me ajudou a respirar. Eu não disse a ele que sabia o que ele disse a

Embry, e talvez eu nunca soubesse, mas o pensamento de qualquer coisa fazendo com que

ele sentisse que não queria viver me perturbou.

Eu o amo.

Foda-se. Se eu fosse dizer alguma coisa a ele, seria isso.

161
Um dia.

Talvez.

Eu o beijei e a tensão repentina entre nós começou a se dissolver, deixando nada

além de lábios perscrutadores, mãos vagando e a pressão lenta de nossos pênis

emaranhados.

O calor sempre crescente conforme nossos movimentos aceleravam a cada batida

do coração.

As mãos de Rubi estavam por toda parte. Percorrendo minhas costas. Apertando

meus quadris, sua boca feroz em minha garganta, seus longos dedos emaranhados em

meu cabelo bagunçado. — Foda-se, Riv. Você se sente tão bem.

Bom, que merda de palavra para o inferno que ele alimentou dentro de mim. Joguei

minha cabeça para trás, um gemido violento rompendo meus pulmões enquanto eu

empurrava com força contra seu pênis, fricção e fluido se fundindo, um deslizamento

escorregadio de alquimia.

Eu ia gozar. Duro. E assim por diante. Mas eu precisava que ele gozasse primeiro.

Eu precisava vê-lo – senti-lo – ou eu morreria.

Rubi inverteu nossas posições novamente, me jogando de costas.

Sem fôlego, pela primeira vez me permiti olhar entre nós em seu pau esfregando

com o meu.

Seu enorme e belo pau.

Não deveria ter me surpreendido que seu pênis fosse tão lindo quanto ele, e não

mais do que o fato de que ele aparentemente tinha tinta em todos os lugares.

Qualquer que seja. Estendi a mão entre nós e envolvi uma mão em torno de nós

dois, segurando firme e seguro, sacudindo com a onda de choque resultante.

Rubi colocou a mão sobre minha cabeça. — Puta merda.

Ele resistiu ao meu alcance, levando-me junto para o passeio. Eu cerrei os dentes,

lutando por compostura, mas era uma causa perdida. Tantos começos falsos e sonhos

162
desfeitos. Tantas incertezas, mas nunca sobre isso. Não conseguíamos nos lembrar de

nossa primeira vez, mas talvez não precisássemos.

Talvez todas as nossas segundas vezes fossem melhores.

Rubi empurrou para baixo, reivindicando o ritmo que eu tinha começado,

amplificando-o com cada movimentação áspera. O suor cresceu em sua pele tatuada. No

minha. Sua respiração tornou-se irregular. Meu pulso explodiu.

— Riv. Porra. — Ele dirigiu mais forte, comandando cada ação, seu peso me

consumindo. — Maldição, eu vou estourar minhas malditas bolas.

Eu também, boo. Eu também. Eu agarrei seu ombro, minha mão apertando cada vez

mais seu pau e o meu, meus quadris subindo enquanto ele descia. Ele soltou outro

profundo gemido de prazer, e isso me levou ao limite.

— Merda. — Músculos em chamas, minhas costas arqueadas. A cabeça latejava

enquanto cada gota de sangue corria para o sul e uma pressão perfeita crescia dentro de

mim. — Eu estou-

Eu gozei, fazendo uma bagunça real de mim mesmo, mas eu estava obliterado

demais para me importar. Muito obcecado em ver Rubi desmoronar.

Sua maldição de cascalho.

O impulso final e violento de seus quadris.

A cara mais gostosa que eu já vi.

Porra... foda-se. Ele era quase real quando seu gozo se juntou ao meu na minha mão

e meu abdômen trêmulo. Eu era uma bagunça trêmula, mas havia uma elegância em cada

idiota que chacoalhava seu corpo. Um charme que só esse idiota possuía.

Eu o amo.

Meu clímax escaldante desapareceu. A fisicalidade diminuiu, deixando-me com

meu cérebro barulhento e coração transbordante. Ao longo das últimas semanas, eu perdi

a tampa que mantive presa nele, e cada pensamento e sentimento que eu sempre temi

fervia no topo.

163
Mas neste momento, nada disso importava. Ele havia prometido que não iria

embora e, idiota por ele que sempre fui, acreditei nele.

Rubi beijou minha testa, ambas as bochechas e meus lábios. — OK? Tudo bem?

Estamos bem?

Eu pisquei com sua ansiedade repentina. Alcancei-o no mesmo momento em que

ele estendeu a mão para mim. Nós nos juntamos em um abraço confuso e eu o abracei

forte, sentindo seu coração martelar contra meu peito. — Estamos bem. Porra, acabamos de

sobreviver a orgasmos nucleares.

Rubi riu, trêmulo e sem fôlego, recuando com um sorriso hesitante. — Fale por você

mesmo. Eu sinto como se tivesse tido um maldito ataque cardíaco.

Ele levantou seu corpo de mim e desceu do sofá, desaparecendo na cozinha, mas ele

estava de volta antes que o pânico instantâneo em meu estômago se tornasse algo que

importasse.

Sorrindo, ele jogou sua boxer limpa e úmida para mim.

Sentei-me, peguei-as e me limpei. — Não vou lavá-las de novo.

— Por mim tudo bem.

— Você é nojento.

— Eu prefiro pervertido. — Rubi pegou algumas roupas do chão. — Quando Ozzie

vai voltar?

— Amanhã. E eu o desafio chamá-lo assim na cara dele.

O sorriso de Rubi aumentou um pouco. — Você sabe que nunca nego um desafio.

— É por isso que você tem hieróglifos no seu pau?

— É uma runa.

— Mostre-me?

Inabalável, Rubi deu um passo para mim e espalmou seu pênis amolecido, virando-

o para revelar a escrita germânica gravada perto da base. Estava um pouco exagerado,

mas as letras pareciam familiares.

164
Lutei contra a vontade de rastreá-los com a ponta do dedo.

Fracassado. — Quero saber o que diz?

Rubi estremeceu. — Não sei. Você?

— É o nome de outro cara?

— Foda-se, não.

— Então me diga.

Rubi largou o pau e se abaixou para me beijar. — É o seu nome, seu idiota.

Uau. OK. Eu o deixei enfiar a língua em minha boca, tonto em pensamentos. Ele

estava me enrolando? Ele tinha que estar. A tinta tinha anos. Ele estava me dizendo

seriamente que estava semeando sua aveia selvagem esse tempo todo com meu nome

esculpido em seu pau?

Meus pensamentos devem ter mostrado no meu rosto. Rubi se afastou com uma

risada baixa. — Pesquise no Google se não acredita em mim.

— Você acha que eu não vou?

— Eu sei que você vai. — Rubi puxou o moletom de Oscar pelas pernas,

escondendo a fera tatuada. — Eventualmente. É uma pena que você não tenha um telefone

agora.

Que ele não me ofereceu seu peso adicionado à minha suspeita de que ele estava

tirando sarro real.

Observei-o se vestir e passar a mão pelo rosto. — Cansado?

Rubi bocejou. — Você não está?

Mais do que eu provavelmente sabia, mas a noite louca que compartilhamos era

muito crua para eu sentir. Tudo o que importava era ele, e ele precisava descansar. Na

minha cama. Comigo.

Era uma coisa louca que estava tão perto de acontecer. Que algo tão mundano era,

mais do que qualquer outra coisa, a porra do meu sonho mais louco.

165
Enganchei meu moletom descartado com o pé e o vesti. Minha camiseta havia

desaparecido. Abandonando-o ao seu destino, atravessei a sala até onde Rubi pairava, a

fadiga nervosa fazendo estragos em seu rosto enquanto ele digitava em seu telefone.

Quando ele terminou, deslizei meus braços ao redor de sua cintura. — Você me fez

uma promessa.

— Sobre chupar seu pau?

— A outra promessa.

Rubi bateu com a cabeça no meu ombro. — E eu quis dizer isso. Uma horda de

selvagens não poderia me arrastar para longe de você agora.

E depois? Mas o monstro da dúvida não ganhou força. Peguei sua mão e o levei

escada acima para minha cama, lentamente, cuidando de seu joelho e costelas

machucados.

Os lençóis estavam frios. Rubi tirou a camiseta novamente, mas deixamos o

moletom.

Eu não era como ele. Não podia pular na cama com meu punhado de amigos. Eu

nunca deixei ninguém dormir comigo, mesmo depois de uma transa, mas a presença dele

ao meu lado não parecia estranha.

Parecia estranho que ele não estivesse me tocando. Que ele não parecia saber que

podia quando me encarou e cautelosamente afastou uma mecha de cabelo emaranhado do

meu rosto. — Posso te abraçar?

— Como?

— Assim. — Ele se aproximou e me rolou, trazendo seu peito para as minhas

costas, a magia de sua pele quente, todo o calor que eu sempre precisaria. — Tenho tantas

fantasias sobre nós, mas essa é a que me mantém acordado à noite.

Era tão próximo de um eco perfeito que não consegui encontrar uma resposta.

Peguei a mão dele e entrelacei nossos dedos, fechando os olhos, embora ainda estivesse

ligado como o inferno.

166
Rubi suspirou e enterrou o rosto no meu pescoço, os músculos relaxando a cada

respiração lenta e uniforme.

Quando a tensão o deixou, mais me inundou.

Apertei sua mão com mais força. Muito apertado.

Ele tossiu um pouco. — O que é?

— Não vá embora.

Rubi passou o braço em volta da minha cintura, nos puxando para mais perto, e

enganchou uma perna na minha. — Eu não vou a lugar nenhum, Riv. Eu prometo.

167
CAPÍTULO 13
RUBI

Abri meus olhos para um tesão abrindo um buraco no colchão de River e uma

mensagem de Mateo.

Mateo: sem drama durante a noite. deixe-me não quando estiver acordado

Esfregando meu rosto, eu mandei uma mensagem para ele de volta.

Rubi: estou acordado

Sua resposta foi instantânea.

Mateo: ru cominho para a igreja

Mateo: CHEGANDO

Eu sabia o que ele queria dizer, mas ele sempre se corrigia, como se qualquer um de

nós desse a mínima se ele confundisse algumas letras. Sua pergunta me deu uma pausa,

no entanto. Ele me perguntou ontem à noite e eu estava muito confuso para lhe dar uma

resposta. Tonto demais para dizer foda-se não. Mesmo que eu gostasse de uma viagem - e

não queria - pela primeira vez em toda a minha vida, o complexo MC era o último lugar

que eu queria estar.

Não posso sair do River. Por muitas razões, mas principalmente porque alguma vadia

tentou matá-lo ontem à noite e essa merda não estava acontecendo novamente.

Rubi: Não. Me encontra mais tarde

Mateo: você disse à cam?

Rubi: Você pode?

Mateo não respondeu imediatamente. Coloquei o telefone na pilha caótica de 78s

que River usava como mesa de cabeceira, velhos singles de sete polegadas que estavam

muito empoeirados e deformados para tocar. O primeiro era Rebel Yell. A porra da ironia.

168
Rolei para longe dele e caí no espaço vazio ao meu lado, ouvindo os sons suaves de River

se movendo no andar de baixo.

Não me surpreendeu que ele já estivesse acordado. O filho da puta nunca conseguia

dormir depois do amanhecer, mesmo quando era pequeno e ainda me chamava de

Rooboo.

Eu já sinto falta dele. Muito verdadeiro. Mas sua ausência me deu um segundo para

me recompor. Para fazer um balanço de uma noite que me jogou em mil direções

diferentes, do fundo do mar até a porra de Plutão e vice-versa.

E, claro, meu eu excitado escolheu se concentrar na corrida espacial para o êxtase.

Eu o vi gozar.

Porra, eu senti isso contra o meu pau. Em cada espasmo estremecido que seu corpo

tinha feito. Cada tensão idiota. Fechei os olhos e imaginei seu rosto contorcido de prazer,

dentes maltratando seu lábio inferior, tendões em seu lindo pescoço tensos o suficiente

para quebrar. Arrepios estouraram sobre minha pele formigando e a coluna de pedra com

a qual eu acordei voltou, a doce dor eclipsando o latejar surdo no resto do meu corpo.

Não toque nele. Porra. Eu rolei com um gemido.

Uma risada baixa me respondeu. Eu puxei minha cabeça para cima, mas uma mão

quente pousou no meu ombro antes que eu pudesse me atrapalhar mais.

— Fácil, boo. Você não precisa fazer nada tão rápido hoje.

Eu me orientei com o fato de que River estava sentado na beira da cama, e eu estava

muito ocupado imaginando-o nu para ouvi-lo chegando. Suprimindo um estremecimento,

mudei para o meu lado. — O que há de especial hoje?

River olhou para mim, olhos escuros uma confusão de muitas coisas para eu

decifrar, anel de ouro brilhando contra seu peito nu. — Nada. Mas não pense nem por um

minuto que você vai se levantar tão cedo.

— Isso é uma promessa? — As palavras escaparam, misturadas com intenção, com

calor, antes que eu me pegasse, mas River apenas revirou os olhos.

169
— Depende de como você se comporta.

— Farei qualquer coisa que você quiser pelo resto de nossas vidas se esse chá que

você está segurando for para mim.

River entregou. — Isso torna este o seu dia de sorte ou o meu?

— Depende de como você se comporta. — Tomei um gole da magia quente e doce.

— Como você está se sentindo? Bateu?

— Não. É você.

— Certeza sobre isso? Você atingiu aquele oceano com tanta força quanto eu.

— Eu sou menor. Eu saltei.

Eu bebi mais chá. — Tenho certeza de que não é assim que a física funciona.

— Tenho certeza de que não dou a mínima. — River deslizou ainda mais na cama e

encostou-se na cabeceira, as pernas esticadas à sua frente.

Joguei o edredom sobre ele, larguei meu chá pela metade e joguei minha cabeça em

seu colo.

Cara, ele era confortável. Melhor do que qualquer travesseiro. Fechei os olhos,

apenas por um segundo, cantarolando enquanto seus dedos encontravam meu couro

cabeludo e minha nuca. Será que eu estava acordado agora? River era um filho da puta

espetado, mas os raros momentos em que ele era doce como uma noz sempre foram meus,

e eu não conseguia me lembrar da última vez que ele foi tão legal.

Era como montar uma bomba, mas era bom demais para pensar em outra coisa que

não fosse o golpe hipnótico de seus dedos. Do leve arranhão de suas unhas rombudas. Eu

ainda tinha a ereção de Thor começando uma guerra com a calça de moletom do Pescador

Oscar, mas eu poderia viver com isso.

Inferno, eu poderia viver com qualquer coisa, desde que River mantivesse suas

mãos em mim.

Eu estava quase dormindo quando meu telefone tocou. Soltei um suspiro, tentado a

ignorá-lo, mas River me cortou da equação e o roubou da pilha de vinis.

170
— Sua senha ainda é o aniversário de Lark?

— Nah, é seu.

— Por que?

Engoli o súbito nó na garganta. — Porque qualquer um que olhasse muito para

mim saberia que o aniversário do meu irmão morto foi uma data memorável. Você teria

que estar bem envolvido com os negócios do clube para saber o que eu sinto por você.

River aceitou minha resposta com um suave curvar de seu lábio. Ele digitou os

números e digitou minhas mensagens, e eu não o impedi. Não poderia ser questionado.

Eu não tinha mais nada que quisesse esconder. Não dele.

— É Mateo. — Disse ele depois de uma batida. — Disse que ele está saindo. Duas

vezes.

— Hum?

River me mostrou a tela.

Mateo: ok. estou saindo

Mateo: Estou indo embora

Abençoado. — Ele ficou do lado de fora a noite toda. — Expliquei para a confusão

de River.

— Ele voltou?

Eu bocejei em um aceno de cabeça. — Saint também. Eles vigiavam a casa para que

eu pudesse dormir.

A expressão de River escureceu. — Eles não precisam fazer isso.

— Eu respeitosamente discordo.

— Não significa que você está certo. — O temperamento explosivo de River escoou

para fora dele em ondas quentes, me fazendo levantar de seu colo. — Eles não têm nada

melhor para fazer?

— Eles deveriam estar coletando dinheiro para proteção, então depende de onde

você cai... moralmente, e tudo mais.

171
Eu fui para a leviandade, deixando as raízes de Peckham do meu pai brilharem,

mas River permaneceu sem graça.

— Eu não quero Kings fora da minha casa pelo resto da porra da minha vida. Tem

que terminar em algum lugar.

Eu abro minhas mãos. — Eu não estou discutindo com isso. Apenas tentando

garantir que não termine com uma bomba incendiária em sua caixa de correio.

O único incêndio nas proximidades agora era River. Ele olhou lava para mim,

punhos cerrados, corpo apertado com emoções que estavam a um mundo de distância do

êxtase que demos um ao outro na noite passada. — Nada disso vai acontecer.

Eu ri, seco e sem humor. — Riv, eles tentaram esmagar você com um Vauxhall

Vectra ontem à noite. Se você estivesse sozinho, estaria morto.

— Se eu estivesse sozinho, não estaria lá.

— Sim? Onde você esteve? Atrás de bunda e peito no Joker? Ficando louco com K?

— Não gritei, não era meu estilo, mas a raiva começou a queimar dentro de mim também.

O que diabos seria preciso para fazê-lo dar a mínima para si mesmo?

River chutou o edredom para longe e pulou da cama.

Esperei que ele saísse furioso da sala, mas ele se virou para me encarar novamente,

ainda segurando meu telefone.

— Isso sempre acontece. Toda vez que nos aproximamos, algo de merda aparece e

explode.

— Eu sei. — Não podia negar. — Mas não temos que permitir. Não dessa vez. —

Sentei-me e joguei as pernas para fora da cama. — Se você apenas-

— Não.

— Me deixe terminar-

— Não.

— Você não sabe o que vou dizer.

172
— Você vai me dizer para deixar meu irmão matar o mundo inteiro para que tudo

desapareça. Mas não vai, vai? Isso nunca acontece. Há sempre um idiota maior lá fora para

nos foder.

Ele não estava errado.

Mas ele também não estava certo. Eu me levantei, ignorando a dor nas costas e o

peso surdo do hematoma martelando na minha rótula. Eu encostei River contra a parede,

prendendo-o, inundando-o com meu corpo maior, como uma camisa de trovão em um

bull terrier furioso. — Você não está me ouvindo.

River se contorceu, desesperado para me empurrar para longe, mas eu sabia que ele

não o faria. Não enquanto ele soubesse que eu estava ferido. — Você não está dizendo

nada que eu não tenha ouvido antes.

— Como você sabe? Você não me deixa falar.

— No entanto, de alguma forma, você está sempre falando.

Rosnando, eu me aproximei impossivelmente, meu pau ainda duro. Mais duro, na

verdade. River era um bastardo teimoso, mas Deus, ele era gostoso quando estava com

raiva.

Eu o quero nu novamente.

Eu queria girá-lo e jogá-lo contra a parede.

Nenhum dos dois era plausível neste momento fraturado no tempo, mas me

consolei com o fato de que ele também estava duro, a cabeça de seu pau presa no cós do

velho moletom do Metallica que ele usava.

Mais tarde. Talvez. Afinal, era River. As chances eram de que ele me expulsaria e

não falaria comigo por um ano e meio. Mas agarrei-me à esperança de que ele não o

fizesse, não desta vez, e coloquei as mãos sobre a cabeça, do jeito que ele tinha feito

comigo no sofá na noite passada, segurando seus pulsos com uma mão, a outra indo para

a garganta dele.

173
Eu espalhei meus dedos ao redor de seu pescoço, aplicando a menor quantidade de

pressão, observando a contração em seu pênis e a forma como seu peito cedeu. Ele gosta

disso. E fez sentido... que River gostava de duro. Eu também, mas havia tantas outras

maneiras de transar com ele quando nosso momento finalmente chegasse.

Agora, eu tinha que me concentrar em mantê-lo vivo.

Eu o sufoquei um pouco mais, então relaxei. — Ouça o que estou dizendo. Se você

ainda não gosta, tudo bem. Mas me dê uma chance. Por favor.

River gemeu, fechando os olhos enquanto revirava os quadris um pouco,

esfregando seu pau na minha perna. — Isso é uma merda de chantagem.

— É persuasão. E é tudo que me resta quando você é tão do contra.

O som que saiu do peito de River era sexo puro. Um rosnado oco e primitivo.

Inclinei meu pescoço e sua boca encontrou a minha, sua língua escaldante invadindo meus

lábios, seus dentes tão agressivos quanto o resto dele.

Mas havia algo mais também. Não uma derrota, mas um consentimento de que

precisávamos desesperadamente se quiséssemos sobreviver a isso.

Seu beijo desapareceu.

Eu o deixei recuar, ainda segurando-o firme. — Você vai ouvir?

Ele encolheu os ombros. Tomei isso como sua resposta e relaxei, soltando seus

pulsos. Doía-me perder a proximidade, mas tanto quanto dominá-lo fazia meu sangue

bombear, era apenas uma questão de tempo antes que ele me desse uma joelhada nas

bolas.

Recuei, sentando-me na beirada da cama. — Você não sabe disso porque não quer,

mas o clube tem outras formas de derrubar as pessoas agora. Maneiras limpas, ish, sem

violência e uma sentença de prisão perpétua na prisão.

River respirou fundo e esfregou os braços. — Isso me deixa nervoso.

— Deveria, se você está recebendo, mas isso não vai acontecer enquanto seu irmão

mantiver o louco russo feliz.

174
— Alexei?

Eu balancei a cabeça, observando River com cuidado. Estar praticamente afastado

do clube significava que ele não tinha nenhum relacionamento real com Alexei, mas eu os

vi juntos quando Cam foi ferido. Quando Saint esteve tão perto da morte. Dada a chance,

eles provavelmente se dariam bem. — Ele é o novo cérebro da nossa operação. Eu

realmente não posso explicar o que ele faz porque é muito complicado para nós, mortais,

entendermos, mas quando eu digo que ele poderia aniquilar Timmersons com a porra de

seu iPad, preciso que você acredite em mim.

River era um cara inteligente. Não livros e merda, mas ele era afiado, suas sinapses

disparando tão rápido quanto seu temperamento. — Ele é um hacker?

— Mais de um consertador se ele estiver do seu lado, mas sim. Essa é a essência

disso.

— Como isso ajudaria aqui?

— Nenhuma empresa vai comprar sua terra se estiver falida. Se seus diretores estão

se afogando em empréstimos pessoais e CCJs. Acredite em mim, Alexei pode foder tudo.

O olhar de River cintilou e minha má escolha de palavras revirou minha barriga.

Confie em mim. Esse era o problema, não era? Ele não. E ele não tinha por muito tempo.

Eu me retirei para minha caneca de chá.

River voltou a bisbilhotar meu telefone e, com ele tão longe, a temperatura gelada

de sua casa formigou em minha pele. Estiquei-me para tocar o radiador. Pedra fria pra

caralho. Em maldito janeiro. — Seu aquecimento está quebrado?

— Hum? — River não ergueu os olhos da rolagem no meu telefone. — O que? Não.

Está apenas desligado. Eu coloco quando Oscar está em casa.

— Porque...?

Ele deu de ombros como se fosse óbvio.

Não era. Pelo menos, não de forma alguma que eu queria contemplar. — Você

precisa de uma palestra sobre como a umidade funciona?

175
— Cale a boca.

— Acenda sua caldeira e você tem um acordo.

River vibrou com descontentamento, mas abriu a porta do quarto de qualquer

maneira e desceu as escadas. Um momento depois, o gemido de canos negligenciados

ressoou pela casa e eu peguei a vitória oca.

Desconcertado, terminei meu chá e deitei na cama, verificando o teto em busca de

bolhas e rachaduras. A casa de River era velha. Ele havia reformado as áreas que

compartilhava com outras pessoas, mas seu quarto estava preso em um túnel do tempo.

Artex. Tapete redemoinho. Pintura brilhante congelada nos caixilhos das janelas. Eu não

tinha prestado muita atenção ontem à noite, muito cansado e com a cabeça doendo, mas

este quarto tinha uma montanha de malditas metáforas para um homem que estava

sobrevivendo, não vivendo.

— Como ela é?

Eu me contorci com tanta força que meu pescoço rachou. Pela segunda vez em dez

minutos, River se aproximou de mim. — Quem?

Ele levantou meu telefone. Na tela havia uma foto de Liliana rabiscando em um

dedo que Cam ainda não tinha tatuado. Era um sprite psicodélico com uma barba mais

longa que o Papai Noel e um nariz de Asterix. Minúsculo e intrincado, não tinha lugar nas

ousadas adagas e caveiras que Cam tinha sobre o resto de seu corpo, mas de alguma

forma funcionou. — Ela é mágica. — Eu disse a ele honestamente, antes que um flash no

tempo sacudisse meu cérebro. — Espera aí, vou te mostrar.

Rolei da cama e desci as escadas, pisando em minhas botas na porta da frente.

As chaves do carro de Cam secaram o suficiente durante a noite para ativar o fecho

central. Dobrei-me no banco do passageiro e vasculhei o console antes de me lembrar do

porta-luvas. Lá dentro, encontrei o pedaço de papel que Embry me passou antes de eu

deixar o complexo, dobrado ao meio.

Levei-o de volta para dentro.

176
River estava no final da escada, olhos arregalados e em pânico. — Onde você foi?

— No carro.

— Por que?

— Para conseguir isto. — Estendi o papel. — Ei, qual é o problema?

— Não vá embora.

— Eu não. Não vou, prometo.

Estendi a mão para ele, mas ele se esquivou e abriu a porta da cozinha. As luzes do

exaustor ainda estavam acesas, lançando no espaço um brilho quente que combinava com

o bombeamento de calor dos radiadores. River entrou na sala e eu o segui, ainda

segurando o papel.

Ele ligou o forno e lançou um olhar divertido para o prato abandonado ao lado. —

Deveríamos jantar.

Trabalhou para mim. Mas a ansiedade nublando seu olhar meio que me assustou.

River sempre foi um turbilhão de emoções que transbordavam dele, descontroladas e

selvagens. Mas isso? Não. Eu não gostei. Nem um pouco.

Eu o observei jogar o prato no forno, então desmontei a distância entre nós,

deslizando meus braços ao redor dele, ainda surpreso que ele me deixou. Eu esfreguei

meu queixo em sua mandíbula. — Você está bem?

— Sim.

— Você está mentindo?

— Um pouquinho.

— Quer falar sobre isso?

— Não.

Essa parte não era mentira, mas eu não iria forçá-lo. Dei-lhe um abraço, em seguida,

estendi o papel novamente e, desta vez, ele o pegou.

177
Ele o desdobrou e piscou. — Merda. Este é o minha Softail18?

Eu balancei a cabeça e tracei os traços finos de lápis. — Ela desenhou quando você

estava na capela. Embry me deu antes de eu sair.

River estudou o esboço, segurando-o sob as luzes do exaustor, virando-o para um

lado e para o outro. — Ela tem dez anos?

— Onze, em breve.

— Foda-se, ela poderia ter quarenta e cinco anos e isso ainda seria incrível.

— Bíblico. E isso não é nada. Você já olhou para a tinta do parque de diversões em

Embry?

— O que você acha?

— Isso você deveria. Ela e Mateo desenharam antes que Em soubesse que ela

existia. Quão louco é isso?

— Comparado com a história que você me contou ontem à noite? — River balançou

a cabeça, soltando a mesma respiração estupefata que eu tive no verão passado, quando

Liliana entrou em nossas vidas. — Sim, ok. Você ganhou este.

Ele prendeu o desenho na geladeira com um imã da Harley e desapareceu. Ouvi o

chuveiro ligar e, por mais tentador que fosse subir as escadas e invadir sua privacidade,

fiquei onde estava. Meu cérebro estava um carrossel agora e eu não conseguia sair.

Os desejos de maconha que eu consegui ignorar durante toda a semana voltaram

repentinamente e eu bati os dedos inquietos no balcão. Os únicos zoots que eu trouxe

comigo deram um mergulho no oceano, e River não fumava. Não com frequência, de

qualquer maneira. Droga. Quer dizer, eu não queria outro hábito sujo para ele, mas era

irritante pra caralho que erva era a única coisa com a qual ele não envenenava seu corpo.

Faça mais chá. Não poderia machucar. Fervi a chaleira e imaginei River nu,

absorvendo o fato de que poderia aposentar minha imaginação para sempre. Minha

18
Moto da marca Harley Davidson.

178
imaginação inferior. Porque deixe-me dizer a você, o River em que eu coloquei minhas

mãos na noite passada estava a anos-luz de distância daquele que viveu em meus sonhos

mais imundos. Músculos magros e médios. Pelos do corpo que pareciam veludo na ponta

dos meus dedos. Assombrosas linhas brancas em suas coxas.

Cicatrizes.

Eu respirei fundo. Essas marcas tinham anos. Como aquelas escondidas pela tinta

em seus braços. Às vezes eu esquecia que a resposta de River ao trauma e a dor sempre foi

se machucar um pouco mais.

O cheiro da comida no forno chegou até mim. Perdido em pensamentos, peguei-o e

coloquei-o no mesmo lugar onde estivera a noite toda na cozinha gelada de River. Meu

estômago roncou, mas não dei muita atenção até que os passos mal-humorados de River

soaram na escada.

Desta vez, eu estava pronto para ele. Majoritariamente. A visão dele com o cabelo

úmido penteado para trás e restos de água escorrendo em sua pele ainda me virava do

avesso.

Enfrentei o balcão para esconder a impressão do meu pau. — Melhor?

River chegou perto o suficiente para apoiar o queixo no meu ombro. — Então o

que?

— Eu não sei. O que você quiser.

Ele bufou e mordeu meu pescoço, depois se afastou para desenterrar a louça de

seus armários caóticos. Garfos da rave de talheres de prata em sua gaveta de talheres.

Deixando-me cambaleando com admiração que de alguma forma chegamos a um lugar

onde sua afeição era tão fodidamente fácil.

Além disso, depois de anos de contenção agonizante, levei menos de um mês para

eu rolar em sua cama. Ou em seu sofá.

179
Qualquer que seja. Eu estava vivendo uma vida diferente de todas as que eu tinha

vivido antes, e apesar do novo caos contundente que isso trouxe, eu me sentia mais

acordado do que me sentia em meses.

— Alexei é realmente tão bom?

Voltei a me concentrar para encontrar River acenando com uma tigela de cereal de

queijo e bacon bem debaixo do meu nariz. Alexei. Hum. Havia adjetivos suficientes em

qualquer idioma para descrevê-lo? — Ele é como trazer uma bomba atômica para uma

briga de bar.

River assentiu lentamente, cutucando seu café da manhã com uma colher torta. —

Então talvez você devesse ir à igreja esta manhã.

— Dizer o que agora?

— Você deveria ir à igreja. — Repetiu, como se fosse uma frase normal para ele falar

sem lançar uma cadeira na parede. — Se o que você disse é verdade, provavelmente

deveríamos fazer isso.

— Você deixaria Alexei ajudá-lo?

— Talvez. — River abaixou sua tigela.

Peguei-o e empurrei-o de volta em suas mãos. — Não preciso ir à igreja para que

isso aconteça. Posso ligar para ele.

— Isso não é seguro.

— Ele pode vir aqui então.

— Foda-se isso. — River sorriu um pouco. — Cam pode vir com ele.

Improvável. Cam tinha história em Porth Luck. Mil entalhes na cabeceira da cama.

Certeza que ele não queria dar a Alexei a visita guiada. — Ele não virá. E eu não posso ir

lá. Eu não vou embora, lembra? Não sem você.

River deu de ombros e finalmente começou a comer. — Eu irei com você então.

180
CAPÍTULO 14
RUBI

River não ia à igreja. Sabia que não. Ele me seguiu de volta para Whitness em sua

motocicleta, então saiu rugindo no último momento, desviando para o pátio do mercado

para ver Orla.

Balançando a cabeça, dirigi o SUV de Cam para o estacionamento e o abandonei.

Cansado disso. Eu não me sentia completo o suficiente para pilotar, mas não me importava.

Carros eram gaiolas e eu tinha a estrada aberta em meu DNA.

Eu manquei para longe do SUV e me dirigi para a capela. Ainda era cedo para os

padrões de todos os outros, mas havia bastante gente por perto para que as pessoas me

notassem e gritassem saudações que eu ignorei até que um demônio loiro colidiu com

minhas pernas.

Ivy. Liliana não ficou muito atrás.

Peguei Ivy e abracei Liliana com meu braço livre, bagunçando seu cabelo.

Ela riu e me empurrou. — Seus braços são tão grandes quanto as pernas de papai.

— Papá é uma vagem. Alimente-o com espinafre.

— Como Popeye?

— Sim. — Meu olhar caiu sobre o uniforme escolar de Liliana. Era roxo e cinza,

como o de Ivy. Foda-se. Eu tinha perdido seu primeiro dia. A culpa me comeu, não importa

o quão alto a voz na minha cabeça raciocinou que ela tinha pelo menos seis outros “tios”

para aparecer para ela quando eu não. Eu e essa garota. Quatro semanas enfurnados em

uma cobertura de calças chamativas nos uniram fortemente. Eu prometi a ela que sempre

estaria lá para ela, e agora, eu não estava aqui.

— Ei. — Decoy apareceu ao meu lado, calmo e quieto. — Bom ver você, cara.

181
Sua mão estava quente nas minhas costas. Firme, mas fraterno, forte e tudo o que eu

precisava. Ele me ancorou da maneira que só um irmão poderia, mas quando encontrei

meu cérebro novamente, Decoy já tinha ido em frente, levando as pequenas com ele.

Forcei minhas pernas doloridas a continuarem em movimento e empurrei até

chegar à capela.

Cam estava à mesa, sozinho e imerso em pensamentos, até que me viu. — Pensei

que você não viria.

— Mudei de ideia.

— Por que?

Pronto, fui para a cozinha e coloquei a chaleira ferver.

Cam me seguiu. — O que é? Algo aconteceu?

— Paciência, irmão. Não me faça contar a mesma história mil vezes. Ei, temos

algum descartável sobressalente aqui?

Cam estendeu a mão ao meu redor e abriu uma gaveta. — As dúvidas são quem

diabos sabe onde, mas há um velho Samsung aqui em algum lugar.

Ele cavou e passou para mim. — Você quebrou o seu?

— Riv.

— Ele jogou na sua cabeça?

— Ainda não.

Cam encostou-se no batente da porta, observando-me mexer com saquinhos de chá

e leite. — Não se esqueça que eu preciso de você naquele caminhão em breve. Mateo e

Decoy têm merda de pai para fazer no semestre ou algo assim.

— Eu não esqueci. — Mentira. Praticamente qualquer coisa que não fosse River

tinha escapado da minha mente nas últimas semanas, mas eu não ia dizer isso a Cam. —

Quem é meu companheiro de direção? Nash?

— Isso funciona para você? Se não, você pode ficar com Locke e eu enviarei Nash

para o País de Gales.

182
— Quem guarda Orla se Locke e Nash estão na estrada?

— Eu. Estamos atrasados em algum tempo de irmãos.

Atirei-lhe um olhar seco. — O tempo entre irmãos geralmente termina em briga ou

ressaca.

— Estou preparado para ambos. Quem está assistindo River agora?

— Ninguém. Ele veio comigo.

Cam piscou. — Ele está aqui? Onde?

— Com Orla, a menos que ele já tenha desistido.

— É provável?

Dei de ombros. Então balancei a cabeça. — Ele vai esperar.

Não poderia explicar por quê. Ou dar muito sentido à perplexidade de Cam. River

era o dono dos meus pensamentos, e a supernova sexual que criamos ontem à noite estava

na frente e no centro. Era tudo o que eu conseguia pensar. Porra, até mesmo dormir com

ele estava indelevelmente gravado em meu cérebro, o que tornava muito mais criminoso o

que tínhamos feito antes e eu não conseguia me lembrar. Você não transou com ele naquela

época. Não tem jeito.

— Ouça. — Cam começou, mas a batida da porta da capela o interrompeu. Ele

olhou por cima do ombro e uma preocupação mais profunda tricotou sua testa.

Ele evaporou da porta.

Eu o segui até a mesa onde Embry caiu na cadeira de Mateo, respirando pelo nariz,

o rosto branco de cor.

Merda. Eu conhecia esse olhar. Eu encontrei o olhar de Cam e acenei com a cabeça,

então puxei uma cadeira e esfreguei as costas de Embry. — Dia ruim?

Embry murmurou uma afirmativa, mas o humor dançou em seus olhos índigo

também, deixando-me saber que não era tão terrível quanto parecia. — Estou bem.

— Mentiroso. — Cam resmungou.

Embry o ignorou e se concentrou em mim. — Mateo disse que você não viria.

183
— Eu não ia.

— O que mudou?

— Porra da Nora. — Revirei os olhos ao redor do sol e voltei. — O que há com

vocês? A igreja não é mais sagrada?

Embry abriu a boca, mas o que quer que estivesse acontecendo por trás de sua

barriga cicatrizada o calou. Eu dei a ele espaço para respirar enquanto Cam voltava para a

cozinha e, Deus o ama, pegava meu chá.

— Você quer alguma coisa, Em?

— Não.

— Tudo bem, companheiro. — Cam ficou perto, de costas para a porta quando ela

se abriu novamente e Saint rolou para dentro, desgrenhado e nervoso.

Eu o estudei quando ele se sentou, e varreu seu olhar inquieto ao redor da sala,

absorvendo tudo. Ele não expressou surpresa com a minha presença, mas com Saint, era

difícil dizer. Tudo o que eu sabia com certeza era que estar preso nesta sala era o último

lugar que ele queria estar agora.

Você e eu, irmão.

A porta se abriu novamente. Mats desta vez. Ele franziu a testa, mas sua atenção foi

rapidamente desviada para Embry. Deixei meu lugar vago, dando a ele espaço para ser o

que Embry precisasse, mas quando olhei para trás, Embry já parecia melhor.

O amor cura.

Para todos, menos para mim.

Cinco minutos depois, Nash balançou, com linhas de travesseiro em seu rosto. Em

tempos normais, eu estaria em cima dessa merda, mas o ar ficou tenso no momento em

que nossos olhos se encontraram, e ele piscou primeiro, jogando-se no assento mais

próximo da porta.

Suprimindo um suspiro, voltei para a cozinha e fiz um café para Mateo. Quando

voltei, Alexei e Decoy estavam lá e a vida havia mudado.

184
Eu não olhei para Nash novamente. Peguei uma cadeira e sintonizei Cam enquanto

ele chamava a ordem e apontava o martelo para Decoy. Os negócios assumiram. Negócio

legítimo, ganhando tempo para reunir meus malditos pensamentos. Mas brevidade era a

especialidade de Decoy. Ele não carecia de palavras como Saint, ou era exigente sobre a

quem as dava, mas lidava com os fatos. Ele não brincava, e sua atualização acabou antes

que eu pudesse piscar.

Cam apontou para mim. — Sua vez.

Porra. Onde começar? Olhei entre ele e Saint. Saint tinha contado a ele sobre o

sangue nas paredes da garagem? Improvável, já que Cam não tinha explodido meu

telefone, mas e Alexei? Não conseguia imaginar Saint guardando um segredo dos dois,

mas com o Povo Lagarto, quem diria?

Supor nada. Conte-lhes tudo. Bom conselho, mas a fixação repentina de Nash com a

mesa me descarrilou. Olhe para mim, irmão.

Ele não.

Suspirando, encarei Cam e comecei a falar, começando pelo começo e terminando

com o mergulho gelado que me levou ao leito de River, embora guardasse aquela pepita

suculenta para mim. Cam não precisava dessa informação. Ninguém o fez. Era tudo meu.

Terminei e recostei-me na cadeira, absorvendo as reações ao meu redor. A raiva. A

preocupação. O surto visceral que levou Saint de seu assento e para fora do prédio.

Estremeci quando a porta se fechou atrás dele. — Droga, talvez eu devesse ter

deixado de fora a parte da natação.

Mateo acendeu um cigarro e se levantou para afastar a fumaça de Embry. — Ele

descobriria eventualmente.

Aceitei essa verdade e me preparei para a fúria de Cam. Negócios eram negócios,

mas vindo para River? Para sua carne e sangue? Ele estava louco com isso antes. Agora eu

estava esperando que ele batesse um bastão na mesa e cavalgasse para esses filhos da

puta.

185
Ele não fez nenhum dos dois. Ainda. Apenas me encarou, olhos escuros que eram

tudo e nada como os de River me espetando do outro lado da mesa. — Isso aconteceu

ontem à noite?

— Sim.

— Você conseguiu um registro?

— Não. Não importaria se eu tivesse. Fadados a serem enganados, a menos que

esses yuppies sejam estúpidos o suficiente para puxar essa merda nos carros de sua

empresa.

O olhar furioso de Cam se intensificou. — E se não fosse eles?

— Quem mais poderia ser?

— Talvez quem está executando K e soprando em Porth Luck atualmente. Você

jogou o traficante deles no mar na primeira noite em que esteve lá.

Foi a minha vez de encarar. — Isso foi semanas atrás. Como diabos você sabe sobre

isso?

— River me disse seis segundos depois que você fez isso. Estragar sua diversão o

deixa tagarela.

Essa era uma informação nova. Não que eu tenha perturbado a ideia fodida de

diversão de River, mas que ele foi correndo para Cam para reclamar sobre isso quando ele

não mencionou isso na minha cara. — Eu não estou arrependido. O desgraçado estava

vendendo merda de condado, provavelmente cortada com a porra de veneno de rato.

Você quer que isso suba pelo nariz do seu irmão?

— Não quero que meu irmão cheire nada.

— Bom. Bem, ele não tem por um tempo, tanto quanto eu sei. E eu não vi o garoto

da estrada nadando desde então.

— Mas você acha que é uma coincidência você ter acabado na bebida também?

186
Eu não tinha pensado sobre isso, mas como as implicações da teoria de Cam

afundaram, a possibilidade de que ele estava certo era difícil de descartar. — Então, se não

foram essas manchas de propriedade, eu comecei uma guerra com outra pessoa?

— Talvez. — Cam recostou-se em seu assento. — E é a última coisa que qualquer

um de nós precisa, mas se jogar aquela boceta no oceano impediu River de ficar chapado

por uma maldita noite, estou aqui para isso. Mas não posso falar por mais ninguém.

Ele olhou ao redor da mesa. Embry primeiro, depois Mateo, Nash, Decoy e Alexei,

que colocou os cotovelos na mesa e me lançou um olhar penetrante. — Velho, o que são

essas fronteiras de condado de que você fala? Já ouvi todos vocês dizerem isso antes, mas

não é uma frase que eu compreenda completamente.

— É assim que o produto é distribuído em áreas que não foram reivindicadas por

peixes maiores. — Expliquei quando ninguém mais se aproximou para me ajudar. —

Gangues de outras cidades enviam crianças nos trens para entregar reforços para os

meninos da estrada.

— Pequenas operações, então?

— Depende de como você olha para ela. — Eu belisquei a caixa de cigarros de

Mateo e furtei o baseado enfiado no fundo. Acendi-o e dei-me uma tragada doce de

fumaça de ervas. — Uma criança com um pacote não é muito, mas se você enviar uma

dúzia delas para a mesma quantidade de cidades pequenas, é um grande negócio.

Alexei digeriu isso e olhou para Cam. — Quem estaria mirando em Porth Luck?

Eles também estão aqui, em Whitness?

— Não aqui. — Disse Cam. — Pelo menos não em qualquer quantidade. O clube é

muito visível para qualquer um ter as pedras. Mas quanto a Porth Luck, não sei dizer.

Desde que saímos e fugimos de Sambini, tem sido uma loucura lá embaixo. Mercado

aberto pela primeira vez em décadas. Se eu estivesse administrando uma rede de

distribuição em Londres, também a exploraria.

187
— Não é ninguém grande. — Nash falou pela primeira vez. — Nós saberíamos se

fosse.

Alexei inclinou a cabeça. — Você tem certeza sobre isso? Não é mais da sua conta

saber essas coisas.

— Não significa que não prestamos atenção. — Nash olhou para Decoy, que estava

se preparando para sair. — Sambini se move pela Irlanda agora, mas eles ainda

reivindicam cada pedacinho de território que estamos abrindo mão à medida que a

empresa de transporte se expande. Faz mais sentido que quem quer que seja não saiba

com quem pode estar fodendo se alguém importante decidir que eles se importam.

Essa era o meu Nashie. Equilibrado e lógico.

Eu o amava e sentia tanto a falta dele que não conseguia olhar para ele. Então eu

não fiz. Concentrei-me na respiração lenta de Embry ao meu lado, então a raspagem de

sua cadeira quando ele a empurrou para trás e saiu da sala mais rápido do que Saint.

A porta se fechou uma segunda vez.

Cam estremeceu e se virou para Mateo. — Ele está bem?

Mateo deu de ombros e arrancou o baseado dos meus dedos gananciosos. — Ele

está cansado. Há muita coisa acontecendo.

— Com a casa?

— E o resto. Estamos prestes a ter outro filho para nos preocupar quando, um ano

atrás, não conseguíamos nos recompor o suficiente para nos amarmos.

A empatia aqueceu o olhar de Cam. — Se precisar de ajuda, é só pedir. Não posso

dizer que ninguém além de Decoy será de grande ajuda com um novo bebê, mas vamos

tentar.

— Fale por você mesmo. — Bati com os nós dos dedos na mesa. — Eu sou a porra

de um encantador de bebês.

Cam zombou. — Nah, você só tem braços como travesseiros. Qualquer um ficaria

confortável deitando em você.

188
— Venha tirar uma soneca então. — Eu abro meus braços, acenando para Cam. —

Não seria a primeira vez.

Ele me mostrou o dedo, então ficou sério novamente. — Tudo bem. Parece-me que

temos dois problemas para lidar que não estão relacionados, então precisamos de um

maldito plano.

— Essa é a minha deixa. — Decoy juntou suas merdas e se levantou. Ele nunca ficou

para o âmago da questão das partes duvidosas.

Ele hesitou na porta, porém, e Alexei percebeu.

— Você tem algo a dizer?

Decoy franziu os lábios, conflito furioso em seus olhos estoicos. — Não tenho

certeza se é o meu lugar.

— Você tem um lugar à mesa. — Eu disse. — Isso significa que você tem voz.

Decoy juntou as mãos na frente dele, postura rígida, cada centímetro do soldado

que ele tinha sido. — Isso é mais pessoal.

— Para mim?

— Talvez. — Seu olhar cintilou para Cam. — O que River quer fazer? A última vez

que ouvi dizer ele não apoiava a interferência do clube em sua vida. Mesmo que isso tenha

mudado, fazer planos sem ele parece um retrocesso.

— Ponto válido. — Cam concedeu. — Mas ele prefere foder um cacto do que se

sentar nesta mesa.

Decoy assentiu e saiu da capela, mas deixou para trás uma lata de minhocas que

nenhum de nós pensou em abrir.

Alexei acendeu um cigarro e passou para Cam, então ele se levantou e se

aproximou de mim, olhando para o meu rosto enquanto se sentava na beirada da mesa. —

River veio aqui com você, sim?

— Sim. — Alexei não estava na sala quando contei a Cam, mas esse cara não perdeu

nada. — Tivemos uma discussão antes de partirmos sobre o emprego de táticas mais

189
técnicas com os yuppies. Ele parecia interessado, mas tenho certeza de que só voltou aqui

para garantir que eu abandonasse o carro de cafetão de Cam.

— Para não te abandonar?

— Eu não acho. Ele não é de esquemas elaborados.

Alexei sustentou meu olhar por mais um instante, depois voltou para uma cadeira

diferente da que havia deixado. Ainda havia muitos assentos vazios na sala, no entanto.

Muito para Riv escolher se os porcos praticassem parapente e ele quisesse se juntar a nós.

Peguei meu telefone para mandar uma mensagem para ele. Então lembrei que seu

aparelho estava encharcado e inútil. — Tudo bem. Eu vou buscá-lo.

Na janela, Mateo acenou com o telefone para mim. — Em está voltando. Ele pode

fazer isso no caminho.

Nash assobiou. — Certeza sobre isso? Ele não parecia com disposição para as

besteiras de River hoje.

— Não é besteira. — Eu retruquei.

Nash piscou. Então franziu a testa. — Claro que é. Ele acha que você está transando

com Embry.

— Sim, e ele superou isso.

— Desde quando?

— Não sei. Pergunte a ele.

Meu tom era brando. Frio. Não de propósito, mas aparentemente eu estava abrindo

minha boca e uma boceta mal-humorada estava saindo.

Foda-se. Foi a minha vez de pagar a fiança. — Vou mijar e encontrar Saint.

— Rubes-

Dispensei Cam. — Me deixe em paz.

Espernear não era realmente minha praia, mas o ar naquela porra de capela estava

começando a me afetar.

Ser um idiota com Nash não vai resolver isso.

190
Não. Mas nenhum dos dois estava na mesma sala. Então saí e me retirei para o ar

livre, seguindo meus instintos e anos de experiência para rastrear Saint até o outro lado do

complexo, no ponto mais alto, onde eu e Nash vimos o nascer do sol quando ficamos

acordados a noite toda.

Naturalmente, Saint estava no meio de uma árvore.

Eu estiquei meu pescoço, estremecendo com a dor irritante na base, desejando que

não se transformasse em uma enxaqueca sugadora de alma. — Alimentando os esquilos?

Saint pulou, caindo como um gato aos meus pés. Ele não respondeu à minha

pergunta, mas o saco de nozes em sua mão o delatou. — Um mês parece um ano.

— Ah, você sente minha falta?

Ele assentiu e minha afeição por ele cresceu um pouco mais.

— Eu te abraçaria se você não enfiasse uma faca no meu olho pelo meu problema.

— Você pode me abraçar.

Tudo bem então. Meu resmungo insaciável foi instantaneamente vencido. Abraçar

Saint era uma coisa rara. Um privilégio que eu teria que ser pão integral para recusar.

Ainda assim, eu o abracei com braços cuidadosos. Saint era imprevisível e eu fodi

com isso antes. Todos nós tínhamos, mas parecia diferente desta vez. Saint me segurou

como se fosse fácil, e eu não sabia o quanto precisava disso até que aconteceu.

Eu lutei muito para não me dissolver nele. Para empurrá-lo longe demais. Eu estava

tremendo pra caralho quando ele se afastou e falou novamente.

— Eu vi você beijando ele naquela noite e nunca contei a ninguém.

OK. Para o qual eu não estava preparado. River. Tinha que ser River. Por mais que

eu não me lembrasse de beijá-lo antes dos últimos dias, eu também não tinha beijado

ninguém.

Na verdade.

E definitivamente ninguém que se identificasse como um cara.

191
— Você vai ter que ser mais específico. — Eu disse a Saint cansadamente. — Minha

cabeça está totalmente fodida.

— Isso dói?

— Aqui? — Eu bati no meu peito. — Como um filho da puta. No meu crânio, é

basicamente sopa agora. Toda vez que pego um pensamento, ele se torna outra coisa.

Saint chutou a terra sob nossos pés com sua bota, revelando um esconderijo

escavado. Ele derramou o resto de suas nozes na terra e embolsou a bolsa antes de me

presentear com o visual mais sábio da história dos looks sábios. — Doeu-me também

quando percebi que os amava. Eu não gostava de me sentir frágil. Então me machuquei e

aprendi o que aquela palavra realmente significava.

Eu passei meus braços em volta de mim, de repente com frio. Eu não queria pensar

em Saint ferido mais do que em River no fundo do mar com a cabeça esmagada pelas

rochas. — Aposto que saber as coisas não tornou as coisas mais fáceis.

Saint deu de ombros. — Eu tive que me treinar para parar de pensar o tempo todo.

Às vezes, apenas fico olhando para eles e espero que tudo fique bem novamente.

— Esse é o seu conselho? Parar de pensar?

Silêncio. Claro. Qualquer outro irmão, eu o teria cutucado por mais, mas quando

Saint terminava, ele terminava.

Deixei passar e apontei o caminho por onde vim. — Você precisa voltar. Se Embry e

ele não se mataram, River está vindo para a igreja.

192
CAPÍTULO 15
RIVER

O trabalho de Orla era chato. E ela era irritante. Não importava quantas vezes ela

insinuasse que eu estava transando com Rubi e eu dissesse que não, de alguma forma

ainda nos encontrávamos no mesmo lugar.

Eu aguentei dez minutos antes de ir para a garagem de Nash.

Ele não estava lá. O grande Crow estava trocando extintores de incêndio antigos.

— Expirou. — Ele explicou sem nenhum motivo.

— Eu não perguntei.

O Crow, Locke - aquele de quem minha irmã falava quase tanto quanto Nash e

Rubi - deu de ombros e voltou ao trabalho.

Na semana passada, pensei em perguntar a ele que diabos ele estava fazendo aqui.

Um Dog Crow transformado em Rebel King foi um fenômeno que meu pai nunca teria

imaginado. Mas eu tinha que pensar em Rubi.

Nada mais parecia importar.

Deixei Locke em paz e vasculhei a garagem improvisada de Nash. Era básica

porque eu tinha roubado a maior parte do equipamento do clube quando saí, mas ainda

havia o suficiente para me manter ocupado. Encontrei uma Triumph Tiger desmontada e

vasculhei as peças enquanto espionava Locke disfarçadamente.

Ele era grande. Mais alto que Rubi, embora não tão largo. Cabelo loiro bagunçado,

barba desalinhada. Olhos verde-mar que pareciam tão gentis quanto quando o espiei cinco

anos atrás em Porth Luck.

Ele é um Crow. Um homem que eu estava patologicamente destinado a odiar. Mas

Orla não o odiava. Nem meu irmão. Ou Rubi.

— O que você está fazendo com essas velas de ignição?

193
Eu empurrei minha cabeça para a esquerda. Embry estava parado na porta da

garagem, o olhar estreitado nas peças da motocicleta em minhas mãos ociosas. — Colocá-

las de volta e tentar descobrir por que Nash as tirou em primeiro lugar. Não há nada de

errado com esta moto.

— Correto. — Embry se aproximou. — Mas não diga isso a ele. Eu estava tentando

mantê-lo ocupado.

— Esta é a sua motocicleta?

— Pelos meus pecados. — Embry abriu o alforje e pegou uma pequena garrafa

marrom. — Nash está perdido sem Rubi, então dissemos a ele que a Tiger estava jogando.

Desmontá-lo deu a ele algo para fazer quando não estava envolvido em outras coisas.

— Você mentiu para ele?

— Para um bem maior. Você nunca fez isso?

Menti por razões muito piores, embora já tivesse passado algum tempo desde que

tive paciência.

Na minha periferia, Locke se levantou e desapareceu. Eu o observei ir, então voltei

minha atenção para Embry. — Ele está fodendo minha irmã?

Embry piscou com força. — Eu não acho. Por que?

— Vibrações, cara.

— De Locke?

— Dela.

Embry ponderou isso enquanto eu voltava a reconstruir sua motocicleta. Foi

provavelmente a conversa mais longa que já tivemos, mas não parecia tão estranho quanto

deveria. Porque ele está ignorando o fato de que você tem sido um idiota com ele por anos e anos e

anos.

Como Rubi tinha.

Enquanto essa realidade tumultuava minha consciência, Embry encostou-se na

parede, seu olhar fixo em mim, mas não intrusivo o suficiente para me irritar.

194
Eu literalmente nunca estive sozinho com esse cara. Tudo o que eu sabia sobre ele

era que ele havia passado de uma cela de prisão a capelão de clube no espaço de um mês.

Que meu irmão tinha visto algo nele que o clube precisava para sobreviver, e eu não tinha

estado por perto o suficiente para saber se ele estava certo. — Desculpe, eu fui um idiota

com você sobre Rubi.

A cabeça de Embry se ergueu e eu percebi que ele não estava me observando e não

pegou meu pedido de desculpas improvisado e meio idiota.

Eu o observei por cima da Tiger desmontada. — Você está bem?

Ele balançou a cabeça devagar o suficiente para me deixar saber que não. O cara

estava pálido como a porra de uma garrafa de leite.

Havia uma caixa perto dos meus pés. Eu chutei mais perto dele. — Pegue um

banco.

Embry empurrou a parede e afundou no caixote virado para cima, uma mão

segurando-se para ficar de pé, a outra em seu abdômen.

Ele foi esfaqueado, lembra?

Às vezes não. Aquele show de terror foi o mesmo que levou Cam a ser baleado e,

quando pensei nisso, foi tudo o que vi. Meu irmão grande e forte ensanguentado e

quebrado. Um estranho russo costurando-o de volta.

Cara, essa vida foi fodida. Eu rastejei para fora da minha cabeça e voltei a me

concentrar em Embry. — Precisa de alguma coisa, cara?

Ele encolheu os ombros. — Uma distração ajudaria. Você vai me bater se eu

perguntar como Rubi está?

Provavelmente não. Era a coisa mais estranha que os menores Rebel Kings fossem

os homens com quem eu menos gostaria de lutar. Além disso, ele definitivamente não

ouviu meu pedido de desculpas murmurado.

Nash tinha uma geladeira em sua garagem de merda.

195
Fui até lá e me agachei para vasculhar as bebidas energéticas e a cerveja. A água

estava atrás. Peguei uma garrafa e levei para Embry.

Ele aceitou com outro aceno silencioso, esperando que eu respondesse à sua

pergunta.

Peguei uma chave inglesa e voltei ao trabalho. — Não sei como Rubi está. Tem sido

uma merda de alguns dias.

— Ele nos contou.

— Tudo isso?

— O sangue, as fotos, o carro do assassinato. Havia mais alguma coisa?

Ficamos nus e isso causou um curto-circuito em toda a minha existência. — Não.

Embry bebeu sua água e recostou-se na caixa, com mais cor em seu rosto do que

quando ele apareceu. — Cam acha que o carro pode não estar relacionado ao problema na

garagem.

— Ele mandou você me dizer isso?

— Estou te contando porque estamos conversando.

Não havia limite na voz suave da Cornualha de Embry. Apenas paciência que eu

não merecia, mas pela minha vida, eu não conseguia pensar em mais ninguém que

quisesse me matar.

Eu disse isso a Embry.

Ele esvaziou sua garrafa de água e deu de ombros. — Talvez eles não estivessem

mirando em você.

Minhas mãos ocupadas pararam. — O que?

Embry respirou fundo, jogando a garrafa vazia em uma lixeira próxima. — Aquele

canalha que o Rubi agrediu. Não sabemos para quem ele trabalha.

— Jonsey? Ele não trabalha para ninguém. Ele é apenas um idiota com algumas

sacolas extras nos bolsos.

— Onde ele as consegue?

196
Lá atrás, eu teria uma ideia aproximada. O clube nunca havia vendido produtos nas

ruas, mas nós - eles - o controlávamos desde que eu era vivo. Agora, porém, se Cam e Rubi

estivessem me dizendo a verdade... porra, poderia ter sido qualquer um. — Não há

nenhum garoto importante em Porth Luck. Onde quer que Jonsey obtenha suas recargas,

não é local.

Embry cantarolava e tamborilava com os dedos na caixa. — Cam acha que é um

condado e quem quer que seja veio atrás de Rubi por mexer com o homem deles.

— Ninguém faria isso. Jonsey pode não saber quem é Rubi, mas outras pessoas

sabem.

— Jonsey sabe que você está sozinho. — Embry respondeu. — E mesmo que seus

fornecedores conheçam o clube, eles podem não dar a mínima. Já estamos fora do jogo há

algum tempo.

— Não é tempo suficiente para alguém por aqui ou Porth Luck começar esse tipo de

treta.

— Então eles não são daqui. São estranhos que veem o estaleiro de uma construtora

e uma empresa de transporte. E isso se eles se preocuparam em olhar, certo? Você e Rubi

podem se passar por sangue. Talvez eles pensem que ele é um irmão mais velho protetor

que precisa cuidar de seus negócios.

— A história da porra da minha vida.

Embry começou a sorrir, mas foi interrompido pela porta se abrindo.

Mateo apareceu, o olhar ardente varrendo a garagem até pousar em Embry. — Que

porra você está fazendo aqui?

— Legal. — Embry desdobrou seu corpo da caixa e se levantou. — Você fala assim

com sua mãe?

— Você disse que estava voltando. Eu estava preocupado pra caralho.

Mateo chegou ao lado de Embry e curvou a mão em volta de seu pescoço, olhando

para ele com tanta ferocidade que tive que desviar o olhar.

197
Embry murmurou alguma coisa.

Mateo amaldiçoou novamente, mas foi doce.

Amoroso.

A um mundo de distância do homem que ajudei Saint a prospectar todos aqueles

anos atrás.

Antes de eu sair.

Uma emoção indesejada borbulhou em meu estômago. Por muito tempo, eu tive

certeza de que era a coisa certa a fazer. A única coisa. Mas o que tinha consertado? Cam

ainda tinha levado um tiro. Saint ainda quase morreu queimado. E eu? Eu estava tão

caótico e com raiva como nunca estive.

E isso foi antes de eu considerar a bagunça diabólica entre mim e Rubi.

Não existe eu e Rubi.

Mas, porra, havia. Tinha que ter, ou eu pularia no mar e ficaria lá.

O pensamento mórbido me fez ansiar por ele, uma dor no estômago que fez minhas

mãos tremerem e meu peito apertar. Trabalhar em motocicletas sempre foi a única terapia

que não me mataria mais rápido do que sentir tanto a falta dele. Desmontá-las e montá-las

novamente em uma máquina melhor do que antes. Sim, a ironia era ridícula, mas

funcionou.

Não com Embry, no entanto. Não havia nada de errado com ele que uma troca de

óleo não curasse.

— Ei. — Mateo acenou com a mão na frente do meu rosto, quebrando meu olhar

com a Tiger. — Você está sabotando isso ou o quê?

— Deixe-o em paz. — Embry o cutucou, seu olhar em mim. — Cam quer que você

venha à igreja antes de descobrirmos como lidar com o que diabos está acontecendo em

Porth Luck.

— Outra convocação?

— Um convite.

198
— Sim, ok. — Limpei minhas mãos em um pano oleoso. — Como da última vez?

Não, obrigado.

Mateo estava atrás de Embry, peito nas costas, braços em volta da cintura. Doce,

lembra? — Não é assim. — Disse ele. — Queremos sua opinião antes de fazer qualquer

coisa. Não posso prometer onde está a cabeça de Cam - ele te ama, e isso o deixa louco -

mas Rubi está lá. Ele não vai deixar nenhuma merda de homem mau acontecer.

— Aquele homem da estrada fala sobre o apocalipse?

— Não sei, companheiro. Apenas dizendo que Rubi tem você, como sempre.

Como sempre. A coceira em minhas veias ficou mais forte, alimentada pela percepção

de que Mateo estava certo. Rubi sempre me apoiou, mesmo quando criança, quando ele

me levava para um show indie que ninguém mais queria ir. Quatorze anos de idade,

montando em sua Bobber19 fodida, foi o mais livre que eu já senti. Às vezes eu pensava

que foi a primeira e última vez que eu estava feliz, mas houve outros momentos também.

Todos eles com ele.

Embry e Mateo ainda estavam ocupados comigo, esperando por uma resposta. O

pedaço de merda teimoso que ocupava a maior parte da minha personalidade queria

mandá-los se foderem até o fim, mas as palavras ficaram presas na minha garganta,

apreendidas por algo mais profundo.

Algo que importava mais.

Eles tentaram matar Rubi.

Não sabia quem. Não me importava. Tudo o que eu sabia com certeza era que

ninguém chegaria até eles antes de mim.

Joguei o pano de lado e me afastei da moto de Embry. Senti seu olhar me seguir.

Mateo foi menos sutil.

19
Moto da marca Triumph.

199
Ele pegou meu braço, seu aperto implacável. — Este não é o meu lugar para dizer,

mas vou dizer de qualquer maneira. Se você não agir, Rubi e Cam vão entrar em guerra

um com o outro para protegê-lo, e nenhum deles vai vencer, porra.

A vontade de dar uma cabeçada nele era avassaladora. Mas sua profecia - e precisa

- cheia de desgraça sobre Cam e Rubi não era exclusiva. Mateo Romano era um filho da

puta perigoso, mas eu também era. Se eu o enlouquecesse e ele revidasse, seria um banho

de sangue, e não tínhamos tempo para isso, então eu o afastei. — Eu sei de tudo isso. Só

não espere que eu use um maldito corte e me comporte.

O olhar de Mateo se estreitou. Então ele balançou a cabeça e apontou para a porta.

— Funciona para mim.

Saímos, Mateo e Embry em algum lugar atrás de mim enquanto eu atravessava o

quintal. Meu cérebro era uma coisa estranha. Às vezes gritava tão alto que não conseguia

se concentrar em nada. A única maneira de calá-lo era emburrecê-lo com drogas de merda.

Mas havia outro lado também - o foco teimoso e único que me expulsou deste complexo

em primeiro lugar. Visão de túnel. Eu não vi nada além de Rubi e Cam destruindo uma

amizade de trinta anos, se matando para me salvar, e isso não poderia acontecer.

Quase me esqueci de Embry quando ele chamou meu nome.

Eu me virei quando os céus se abriram sobre nós, uma chuva forte e repentina

caindo das nuvens e encharcando o chão.

Embry estava um passo à frente de Mateo e estendeu a mão, acenando para que eu

voltasse. — Antes de entrar, podemos te contar um segredo?

Embry era um feiticeiro legítimo. Tanto pelo feitiço que ele lançou sobre Mateo

quanto pelo fato de que ele era praticamente um estranho para mim, e ainda assim eu

passei a maior parte de uma hora atirando na merda com ele como se ele fosse um velho

amigo.

Feitiçaria. Tinha que ser.

200
Limpo do segredo mais fofo de todos os tempos, Mateo marchou à nossa frente e

desapareceu lá dentro.

Eu o segui, Embry um batimento cardíaco atrás de mim.

O ar estava denso de fumaça e tensão. O rosto plácido de Rubi estava virado para

baixo em um olhar irritado que eu teria felizmente possuído para mim, e meu irmão

estava sangrando estresse de seus malditos globos oculares.

Além disso, ele estava no lugar errado. Todos eles estavam.

Inclinei minha cabeça para Saint. — Você é o chefe agora?

— Se você gostar. — Ele puxou a cadeira ao lado dele. Nash está nos velhos tempos.

— Sente-se.

A recusa borbulhou na minha garganta, mas Saint era difícil de ignorar.

Fiz meu caminho até a cadeira, passando por Rubi e queimando com a necessidade

desesperada de tocá-lo. Para pressionar meus lábios em sua nuca - para a esquerda, onde

eu o peguei esfregando dia sim, dia não.

Resistindo apenas para nos salvar do escrutínio de todos os olhos na sala.

Eu me conformei em tomar uma profunda lufada de ar, saturando-me em tudo o

que era ele e o zoot preso entre seus dedos tatuados. Eu não usava drogas há semanas. Não

conseguia ver um momento em que teria a chance, então a leve dose de ervas era tudo que

eu tinha.

A menos que ele saia.

Isso fazia parte do grande plano sobre o qual eles queriam minha opinião? Não

poderia culpá-los se fosse. Quão alto eu tinha sido em minha objeção à sua companhia

constante? Tive muitos arrependimentos na vida, mas se minha boca desenfreada o

afastasse de mim agora...

Ele não pode ficar. Ele é o alvo.

201
Porra. Eu afundei no meu assento com aquele prazer zumbindo em minha cabeça.

Se Embry estivesse certo e o carro apontasse para Rubi, ele tinha que sair. Ou nós os

destruímos antes que eles tenham a chance de vir atrás dele novamente.

Uau. Então, aparentemente, a mentalidade pela qual passei os últimos anos

crucificando meu irmão voltou para mim em um piscar de olhos.

Mas por que? Eu não tinha me sentido assim quando Rubi levou aquele taco na

cabeça. Quando Cam foi baleado e Saint quase morreu. Eu os culpei, não as pessoas que os

machucaram.

Você está fodido da cabeça.

Cara, eu realmente estava.

Rubi estava na cadeira do tesoureiro. Perto o suficiente para que eu pudesse

arrancar o baseado de seus dedos.

Ele me olhou quando eu levei um golpe. Talvez ele soubesse que a última coisa que

eu fumei que não fosse um cigarro ocasional foi um cachimbo de crack três anos atrás,

antes de descobrir que a única droga que não me enlouquecia era Mandy. Qualquer que

seja. Eu não me importava. Se eu ia sentar nesta sala com essas pessoas e não ter um

derrame, eu precisava de algo.

A erva entrou na minha corrente sanguínea, lenta e quente, suavizando as arestas

de estar sentado nesta porra de mesa, o fantasma do meu pai me caçando.

De Rubi.

Minha mãe.

— Tudo bem. — Eu me forcei a focar em Cam ao invés de Rubi. Tinha que fazer, ou

eu esqueceria que alguém tentou matá-lo e pensaria nele nu. Ou alguma coisa. Maconha

fez minha mente vagar, passando de ansioso para excitado para fodidamente furioso com

cada respiração pesada. — Qual é o seu grande plano?

202
Cam acendeu um cigarro e deu uma tragada forte, ganhando o tempo que

precisava para me responder sem cuspir fogo. — Ainda não temos um. Quem é o

grunhido que Rubi jogou no mar? Para quem ele trabalha?

— Nenhuma ideia.

— Nenhuma mesmo?

Suspirando, terminei o baseado de Rubi e o apaguei em um cinzeiro mais velho que

eu. — Nunca pedi o currículo dele.

Esperei que Cam me desse um sermão sobre a pontuação sem dar a mínima de

onde vinha.

Isso não aconteceu.

Em vez disso, ele se virou para Mateo. — Que tripulações conhecemos que teriam

as respostas de que precisamos?

Mateo franziu a testa. — Em Londres?

— Provavelmente. Mas se for uma merda nas fronteiras do condado, pode estar

vindo de qualquer lugar.

— Isso limita. — A voz de Rubi me perfurou como uma flecha. Eu olhei em sua

direção, me preparando para seu olhar de outono me derrubar, mas ele estava carrancudo

para Cam, impaciência desgastada nublando sua calma lógica habitual. — O que diabos

devemos fazer com essa pepita de sabedoria?

Os olhos de Cam brilharam. Não havia muita gente que pudesse falar assim com ele

e manter os dentes da frente. Todos eles, exceto minha irmã, estavam nesta sala, mas o

pavio de Cam era tão curto quanto o meu, e a previsão sombria de Mateo parecia mais

provável do que nunca.

Chamei a atenção dele por cima da mesa - de Mateo, quero dizer. Ele me deu um

aceno sutil - suba - e eu peguei minha deixa. — Jonsey é de Enfield. Ele volta lá às vezes.

203
Rubi voltou seu olhar azedo para mim, entorpecido apenas pela névoa

avermelhada de ganja que senti girando em meu próprio cérebro. — Companheiros, você

são?

— Conhecidos. Eu sou um filho da puta tagarela quando estou querendo ser aceso.

— Legal. — Rubi empurrou a cadeira para trás e caminhou até a cozinha. Eu assisti

seu grande corpo desaparecer e eu fodidamente doía por ele. Mas eu não podia sair. Ainda

não. Mateo estava certo - eu tinha que consertar isso.

— Enfield é em Londres, certo? — Nash se inclinou para frente. — Fica perto de

Lewisham?

Mateo lançou-lhe uma carranca idiota. — Ao sul da água, companheiro.

— O que é?

— Lewisham. Não há como algum idiota da Enfield estar rodando o produto de lá.

Eles o matariam primeiro.

A sala aceitou sua palavra. Eu aprendi mais sobre Mateo na última semana do que

em cinco anos, mas ele era o único garoto da cidade à mesa. Exceto Alexei, o resto de nós

éramos caipiras que lutavam para algo maior.

— A equipe de Lewisham pode saber quem está trabalhando em Enfield, no

entanto. — Cam tamborilou com os dedos na mesa. — Você ainda tem o número de Benito

Martel?

Nash estremeceu e balançou a cabeça. — Ele está fora do jogo. Asa pegou sua coroa,

mas pelo que ouvi, ele também se foi. Não tenho ideia de quem comanda essa merda

agora, e não temos motivos para descobrir.

— Você tem um motivo agora, zolotoy mal'chik. — Alexei falou. — Você pode

encontrar outra fonte?

— Não, a menos que Martel saiba de alguma coisa.

— Pergunte a ele. Você precisa de todas as informações que puder obter antes de

agir.

204
Nash levantou uma sobrancelha clara. — Você está falando como se não tivesse

nada a ver com você.

— Não pode ter nada a ver comigo.

Um silêncio carregado envolveu a sala. Alexei estava sentado no assento de Saint.

Ele se levantou e empurrou a cadeira para baixo da mesa, apoiando os antebraços nas

costas enquanto parecia se fortalecer antes de seu olhar pousar não em Nash, meu irmão

ou Saint, mas em Mateo. — A Rússia é dona de Londres. Você me perguntou o que

Sidorov queria em troca de seu apoio contra o avô de Liliana. Eu lhe dei uma resposta

vaga na época - você já tinha muito com o que se preocupar - mas a verdade é esta: ele

queria que eu desaparecesse. Para deixar este lugar e me tornar o ninguém que eu era

antes de você me conhecer.

O rosto cheio de cicatrizes de Mateo se dobrou em uma carranca mais profunda. —

Você vai precisar explicar isso melhor para mim. Eu não falo enigmas russos.

Alexei quase sorriu. — É muito simples. Ele me deu minha liberdade há muito

tempo com a condição de que eu saísse de sua vida - de seus negócios - para sempre. Desde

que cheguei aqui, isso não aconteceu. Acredito que a última vez que conversamos foi o

aviso final que receberei.

— Ele vai te matar?

Alexei olhou de soslaio. — Ele pode tentar, mas aconteça o que acontecer,

significaria, de uma forma ou de outra, que eu não estaria mais aqui.

Cam rosnou, profundo e baixo em seu peito, do jeito que nosso pai costumava fazer

antes de bater em alguém. Ele não estendeu a mão para Alexei, nem Saint, mas sua

angústia crua era pesada o suficiente para que Rubi sentisse da cozinha.

Ele voltou para a mesa, parando para apertar os ombros de Cam. — Não

precisamos de Alexei para expulsar alguns idiotas de Porth Luck. Faremos à moda antiga.

E isso se for preciso. Ainda não sabemos que eram eles naquele maldito carro. Podem ter

sido os yuppies.

205
— Não foram eles.

Todos os olhos, até mesmo os de Rubi, se voltaram para mim. Droga, eu precisava

de mais maconha para lidar com um exame tão intenso, mas me forcei a não me contorcer

na cadeira.

Ou virar minha merda e sair.

Cam acenou com a mão para eu explicar.

Dei de ombros. — Isso não faz sentido. Tentativa de assassinato está muito longe de

alguns desenhos animados e algum vandalismo esboçado.

— Aqueles desenhos retratavam sua morte. — Rubi rebateu.

— Exatamente. Por que alguém plantaria esse tipo de evidência e depois executaria

o crime? É estúpido pra caralho. Além disso, você viu aqueles desenhos, certo? Eles eram

engraçados, não sinistros.

— Não estou rindo, mano.

— Eu não sou seu irmão.

O calor queimou no olhar de Rubi antes que ele se recompusesse e afundasse na

cadeira que havia desocupado. — Eu respeitosamente discordo... sobre o valor cômico

desses desenhos animados de merda, mas eu entendo o que você está dizendo. Você ainda

quer perguntar a Alexei sobre hackeá-los?

— Se você gostar.

Rubi revirou os olhos e se virou para Alexei. — Seu ex-chefe não vai te pegar por

isso?

Alexei ficou em silêncio por um momento. Ele olhou para Cam, então balançou a

cabeça. — Posso te ajudar. Isso vai me manter ocupado enquanto o resto de vocês faz uma

grande e barulhenta bagunça com algo simples.

Rubi tocou seu peito fingindo indignação. — Barulhenta? Moi? Com que porra você

se atreve?

Cam limpou a garganta. — E o Victor?

206
Quem? O nome não significava nada para mim. Mas, quem quer que fosse, causou

alvoroço na mesa.

Uma agitação em Alexei. Ele apunhalou Cam com um olhar que me fez afundar no

meu assento. — E o Victor?

Cam estendeu as mãos, um gesto apaziguador que não fez nada para aliviar o gelo

nos olhos cinzentos de Alexei. — Só estou me perguntando como ele vai se encaixar em

tudo isso, visto que ele apareceu em tudo no ano passado e estou farto de vê-lo.

— Isso não será um problema. Viktor está operando - como você diz? No Norte,

como se os ingleses não soubessem que direção é essa.

— Eu sou irlândês. E como diabos você sabe disso?

— Elfos falaram comigo. Sério, motociclista. Quem você conhece que tem olhos e

ouvidos no Norte?

Cam desviou o olhar para Saint. — Você nunca me contou.

Saint o ignorou, digitando em seu telefone.

Alexei riu. — Talvez vocês devessem conversar mais quando estão juntos.

Pelo amor de Deus. Eu me inscrevi para uma hora de ser razoável. Não para assistir

meu irmão e seus amantes flertarem.

Eu me movi para ficar de pé.

Grandes mãos me seguraram.

De Rubi. Ele se moveu e eu não tinha notado.

Maldita erva. Não podia negar que eu cavei a estranha calma dentro de mim, no

entanto. Pela primeira vez em muito tempo, minha alma parecia suave, como se as

rachaduras amargas tivessem cicatrizado. Não demoraria muito para que se abrissem

novamente, mas eu me preocuparia com isso mais tarde.

Eu me preocuparia com tudo mais tarde, assim que as palmas de Rubi não

estivessem abrindo um buraco na minha pele.

207
— Tudo bem. — Cam pegou o martelo que meu pai havia resgatado de uma

caçamba em Kilkenny. — Alexei vai lidar com Timmersons. Isso deixa o resto de nós para

resolver este show de merda em Porth Luck. Nash, ligue para Martel. Em, você precisa ir

para os clubes e colocar seu ouvido no chão.

Embry trouxe as pernas da frente de sua cadeira para o chão com um estrondo,

desgosto curvando seus lábios. Ele não protestou, mas eu ouvi fofocas suficientes do

conselho para saber que ele não gostava de ficar em clubes de striptease.

— Quanto a mim? — Mateo perguntou.

Cam balançou a cabeça. — Você está no banco.

— Porra?

— Você tem uma filha na escola e outro a caminho. Essa merda não está mais na

descrição do seu trabalho.

Mateo abriu a boca.

Eu o interrompi. — Eu vou tomar o lugar dele.

— Inferno, não. — Rubi rosnou.

Mas Cam levantou a mão. — Tudo bem. Qualquer que seja. Mas agora, isso

significa não fazer nada até termos mais informações. Se você não puder fazer isso, ou

qualquer outra coisa que eu pedir, desde que essa merda continue, eu vou colocar você no

banco também.

Ele bateu o velho martelo na mesa antiga e se afastou antes que alguém pudesse

discutir com ele, deixando um silêncio constrangedor em seu rastro até que Nash também

fosse embora.

O aperto mortal de Rubi em meus ombros diminuiu.

Eu perdi. Não perdeu a tensão inflamável entre ele e Nash, no entanto. — Você

precisa conversar.

Rubi acendeu outro baseado. Não está respondendo.

208
— Ele está certo. — Disse Embry. — Você está com raiva de si mesmo, não um do

outro.

— Obrigado pela análise que nunca pedi. — Retrucou Rubi.

— Não seja um idiota. — Mateo, desta vez, mas não houve vantagem. Ele parecia

perdido em pensamentos, e a atenção de Embry eventualmente se voltou para ele.

Eles saíram.

Restavam apenas Saint e Alexei, duas pessoas que amavam e compreendiam meu

sobrecarregado irmão mais velho melhor do que ninguém.

Eu não conhecia Alexei tão bem.

Saint, no entanto. Quer eu o chamasse de irmão ou não, eu o amava, e se ele tinha

algo a dizer, eu queria ouvir, não importa quanto tempo demorasse para dizer.

Rubi se afastou, desaparecendo na cozinha novamente. Eu enfrentei Saint e esperei,

ainda curtindo o zumbido da erva, as batidas inquietas de Saint na mesa uma batida suave

na minha cabeça.

Huh. Talvez fumar maconha fosse a resposta. Mas então... não. Eu odiava fumar, e

muito dessa merda me deixava paranoico pra caralho. Não como Rubi, que podia fumar o

dia todo e ainda ser uma pessoa razoável no final.

Você nunca é uma pessoa razoável.

— Ele acha que te decepcionou.

Pisquei, assustado com a voz áspera de Saint. — Quem?

— Cam. Ele estava começando a esperar que você acreditasse que o clube estava

indo em uma direção diferente. Agora temos que rastejar na merda de novo, e ele está com

medo de perder você.

Uma carranca vincou meu rosto antes que meu cérebro o alcançasse. — Mas é

minha culpa. Rubi atacou Jonsey por minha causa.

209
Saint não discordou. Apenas me observava com olhos tão insondáveis quanto os de

Rubi eram gentis. — Port Luck sempre foi um problema. É por isso que seu pai comprou

aquela terra em primeiro lugar, para impedir que os Crows se estabelecessem lá.

— Eu não preciso de uma aula de história. — Eu disse isso com um sorriso, mas

Alexei ergueu os olhos de qualquer merda inteligente que ele estava fazendo em seu

laptop.

— Talvez sim, irmãozinho. Essas pessoas esquecem que não vêm com manual de

instruções.

— Irmão mais novo? Esse é o melhor apelido que você poderia pensar para mim?

Alexei fechou o laptop. — É o que você é.

— Do que você chamou Nash?

— O que ele é.

Nash era muitas coisas. Tentei adivinhar qual de seus atributos falaria mais com

Alexei, mas não me levou a lugar nenhum, a não ser um monte de buracos de coelho que

não ajudavam ninguém no momento.

Cam.

Rubi.

Eles precisam de mim.

Eu me virei para Saint. — Diga a Cam que está tudo bem. Se eu fosse ser um grande

idiota sobre isso, não estaria aqui.

Saint assentiu, inclinando a cabeça, avaliando-me. — Você tem certeza que quer se

envolver? Mateo não está tão animado na estrada como costumava ser, mas sem ele, vou

precisar de soldados.

— Eu era um soldado muito antes de ele chegar aqui.

— Eu sei... — Saint tossiu, e a frustração trancou seu rosto.

O que quer que ele quisesse dizer se foi.

210
Rubi apareceu com canecas. Ele colocou algo à base de ervas na mão de Saint e uma

poção na minha.

Ele voltou com café para Alexei e mais chá para si mesmo, sentando-se no assento

oposto.

Honestamente, esse jogo de dança das cadeiras estava começando a girar minha

cabeça. Ninguém mais ficava no mesmo lugar?

— River. — Saint reivindicou minha atenção novamente. Ele esperou que eu me

concentrasse, então se inclinou mais perto. — Se você vai pilotar conosco de novo, preciso

saber onde está sua cabeça. Você quer isso? Realmente? Depois de todo esse maldito

tempo?

Na minha periferia, Rubi cruzou os braços sobre a mesa e jogou a cabeça neles.

Senti seu olhar em mim, mas não olhei para ele. — Eu quero que acabe – a merda com a

garagem, e o que quer que esteja acontecendo – e eu não posso sentar e deixar o resto de

vocês fazer isso acontecer para mim.

— Esse é o seu motivo? — O ceticismo dançou nos olhos verdes de Saint, um

cinismo que eu merecia.

A erva começou a passar. A suavidade que eu não usava naturalmente desapareceu

com ele e a fúria com a qual entrei voltou. O medo que constituía seus alicerces. Eu não

posso perdê-lo. — Minha razão é a mesma que a sua sempre que algum filho da puta tentou

matar Cam. Se eu preciso explicar isso para você, então talvez seja você quem precisa de

uma dissecação emocional antes que ele vá para a porra da guerra.

Guerra.

Minha cabeça girou de verdade desta vez. Ainda não tínhamos chegado lá, mas já

tinha visto coisas piores acontecerem com catalisadores menores. E eu sabia o que Saint

estava realmente perguntando. Estou pronto para isso? Cada dia da minha vida era uma

luta, de um jeito ou de outro, mas fazia muito tempo que eu não usava ferramentas e

derramava sangue.

211
Tempo suficiente para que eu esperasse que Rubi falasse. Para me contrariar com

mais força do que Saint jamais faria.

Seu silêncio me distraiu do que quer que Saint estivesse pensando.

Deixei meu olhar derivar para ele. Sua cabeça ainda estava em seus braços, um olho

meio fechado, o outro me observando. Ele parecia profundamente cansado, como se

estivéssemos naquela mesa por doze horas em vez de uma. Enxaqueca? Porra me irritou

que eu não poderia dizer. Que tínhamos nos distanciado tanto que eu não estava

sintonizado com cada dica e nuance.

Enrole isso. Desviei meu olhar de Rubi e olhei para Saint novamente. — O que estou

dizendo é que tenho todos os motivos para lutar e, quando não estou fora de mim, sou

bom nisso. Você sabe que eu sou. Está na porra do meu sangue.

Os lábios de Saint torceram em um sorriso irônico antes de me nivelar com outro

olhar penetrante. — Não estou preocupado com isso. É a parte de tirar o fôlego. Você não

pode entrar nisso com um hábito. É muito perigoso.

— Eu não sou um viciado.

— Você é impulsivo e zangado. — Disse Alexei. — E insatisfeito com tudo ao seu

redor. Eu acharia você estranho se não tivesse uma muleta para isso.

— Hum... obrigado. Eu penso? — Olhei para Rubi pedindo ajuda, mas seus olhos

estavam fechados agora, o rosto meio escondido por um braço.

Alexei percebeu e se aproximou de Saint. — Eu não estava sendo legal. As

preocupações de Saint são válidas. Mas o que quer que você seja, você não é estúpido.

Você sabe que qualquer erro pode matar as pessoas de quem você gosta, então você não

vai cometê-los.

— Você parece bastante certo sobre isso.

— Também não sou idiota. — Alexei cutucou Saint a seus pés. — Ala, precisamos

estar em outro lugar.

212
Para mim, ele estendeu um frasco de comprimidos marrom. — Estes são para Rubi.

Com comida ou eles não vão ficar para baixo. Entrarei em contato sobre nosso outro

projeto. Atenda quando eu ligar.

Eu não tinha telefone, mas Alexei saiu da conversa sem esperar por uma resposta.

Ele pegou o laptop e sumiu, deixando-me com Saint, que, por mais que eu não

pudesse prever, tinha cara de quem estava prestes a dizer algo que eu não gostaria.

Tomei um gole da bondade quente e açucarada que Rubi trouxe.

Saint me olhou. — Fale-me sobre o carro.

— Hum?

— O carro que veio até você.

— Não consegui um número.

Saint esperou.

Suspirando, eu elaborei. — Sedan preto. Vectra, eu acho. Três litros. Diesel. Liga

dianteira direita ausente. Luzes apagadas.

— E o motorista?

— Não vi.

— Certeza sobre isso?

Eu lutei para manter meu olhar parado enquanto ele ameaçava voltar para Rubi. —

Eu disse, não disse? Mais alguma coisa em sua mente?

Saint tamborilou com os dedos um pouco mais, olhando rapidamente entre mim e a

janela. — Cam quer que você fique aqui alguns dias.

— No complexo?

Saint assentiu. — Foda-se sabe onde. Rubi geralmente dorme no antigo quarto de

Mateo, mas eu estava prestes a perguntar a Locke se ele quer. Ele é alto demais para os

beliches do antigo albergue.

— O Crow?

— Ele não é um Crow.

213
— E o outro?

— Folk?

Eu não sabia o nome dele. Apenas de onde ele veio. — Ele parece diferente dos

outros.

— Ele é. — Saint me deu aquele sorriso seco novamente. — Temos dificuldade em

fazê-lo entrar.

— Você pode falar, porra. — Rubi levantou-se e sentou-se, afastando o cabelo do

rosto. — Não é de admirar que você suba.

— Ele está quieto. — Retrucou Saint. — Cam quer você em casa também.

Rubi mostrou dois dedos do meio para Saint. — Não, não. Não vou viver sob o

controle dele enquanto ele tem um pau enfiado no traseiro.

— Cam não mora aqui.

— Exatamente. Se ele não pode subir para a cidade dos ossos, ele não tem para

onde ir a não ser na minha cara.

A expressão de Saint se achatou. Piadas sobre sexo não eram coisa dele, e eu intervi

antes que ele pudesse reagir a Rubi correndo pela boca. — Também não posso ficar aqui.

Eu e Cam vamos nos matar antes que qualquer outra pessoa o faça. E eu tenho um

emprego, lembra? Não posso deixar Axel e Bear sozinhos.

— Ou Oscar. — Disse Rubi.

Eu empurrei meu olhar para ele. — Desde quando você se preocupa com Oscar?

— Eu não. Mas você faz. E ele tem um filho. Se não é seguro para você, não é seguro

para ele.

— Você é o único na lista de alvos se esses palhaços estiverem certos sobre Jonsey.

— E você é quem está inspirando os quadrinhos de assassinato. É discutível neste

ponto. Viemos como um pacote para quem está ficando complicado. Ninguém pode

dormir naquela casa.

Viemos como um pacote.

214
Meu mundo girou em seu eixo, pensamento coerente me abandonando. Saint disse

algo que eu perdi até registrar o nome de Oscar. — O que?

Saint fez um som baixo e pegou o telefone. Ele digitou algo e o ergueu para que eu

visse.

Saint: você precisa dizer ao Oscar para ir para outro lugar

— Ele não tem outro lugar. É por isso que ele mora comigo em primeiro lugar. Sou

barato e fácil.

Rubi bufou.

Saint franziu a testa e digitou novamente.

Saint: mãe do bebê? namorada?

— Não. Se fosse só ele, dormiria no barco ou ficaria com Sol no Joker, mas não

levaria o filho para lá.

— Nem mesmo se você disser a ele que não é seguro em casa? — Disse Rubi.

Esfreguei a mão no rosto. — Eu não vou dizer isso a ele. Ele vai se mudar, e isso é a

última coisa que eu quero.

— Você sentiria falta dele? — Humor nervoso atou a pergunta de Rubi.

Majoritariamente. Mas minha resposta foi honesta independentemente. — Eu sou

uma bagunça quando moro sozinho. Quem quer que sejamos quando tudo isso acabar,

isso não vai mudar.

— Tudo já mudou.

Tinha? A capela desapareceu, levando Saint com ela. Era só eu e Rubi brigando um

com o outro na mesa. Mas o calor crescente não continha respostas, e eu pisquei primeiro.

— Oscar não pode viver em outro lugar que tenha espaço para seu filho. Isso me mataria

tirar isso dele.

Saint assentiu lentamente. Então respirou fundo. — Compromisso. Ele pode ficar e

eu o protegerei. Mas você não pode, nenhum de vocês, então você precisa encontrar uma

maneira de fazer isso funcionar.

215
CAPÍTULO 16
RUBI

— Você cozinhou comida de verdade sem mim.

A profunda voz lituana do companheiro de casa de River foi abafada pela

geladeira, os ombros curvados enquanto ele investigava o conteúdo, o cabelo ondulado

caindo em seu rosto.

Ele não estava falando comigo, mas eu respondi mesmo assim. — Eu estava com

fome.

Oscar parou de vasculhar e ficou de pé tão rápido que quase caiu com a cabeça

numa prateleira.

Ele fechou a geladeira e girou. — Você cozinhou comida de verdade sem mim?

— Acontece, mano. — Encostei-me no balcão.

Oscar me olhou através de cílios grossos e escuros, nada além de curiosidade por

trás deles. — Quando?

— Ontem.

Ele se voltou para a geladeira. Abriu e pegou o prato de sobras. — Você está

vestindo minhas roupas.

Droga. Eu tinha esquecido disso. — Nós nos molhamos. River disse que estava tudo

bem.

— Está bem. Onde ele está?

— Lá em cima. — Fazendo uma mala enquanto Saint, Decoy e Folk espreitavam em

algum lugar do lado de fora. Decoy iria nos seguir de volta para Whitness. Para minha

casa. Não há consenso sobre em qual cama River dormiria, mas eu esperava que fosse a

minha. — Vamos ficar na minha casa alguns dias.

— Está tudo bem?

216
— Sim.

Oscar aceitou minha resposta e abriu uma gaveta, pegando um garfo. — Aras vai

sentir falta dele. Às vezes acho que ele gosta mais de River do que do pai.

— Claro que não é verdade.

Oscar deu de ombros e começou a demolir o prato de Macarrão Matherson.

Afundei no silêncio sociável, acompanhando a enxaqueca medíocre pulsando em minha

têmpora. Honestamente, eu tinha passado por coisas piores - muito piores - mas foi um

chute no pau que estava acontecendo hoje quando, graças a alguns misteriosos aspirantes

a assassinos, eu estava prestes a entrar em um bloqueio de duas pessoas com o amor da

minha vida. Um golpe ainda mais duro do que perceber que Oscar, o Pescador, era cerca

de sessenta vezes mais quente de perto.

Não tão quente quanto River.

De jeito nenhum. De tudo que estava girando em torno da minha cabeça, esse era o

único pensamento que eu não conseguia escapar. Talvez fosse porque estávamos prestes a

ficar sozinhos novamente quando o mundo inteiro parecia ter implodido desde então. Mas

então... não. Não era isso. O mundo implodiu a cada duas semanas. Se eu não tivesse

aprendido a lidar com os socos até agora, eu nunca aprenderia.

— Que é aquele?

Oscar me trouxe de volta ao presente. Fui até a janela onde ele estava e espiei ao seu

redor. Ele apontou para o Transporter preto que eu tinha visto nas fotos de vigilância que

Alexei trouxe para a mesa, mas ele estava visivelmente ausente desde a manhã do

massacre de sangue de porco. — Nenhuma ideia. Você os viu antes?

— Algumas vezes. Eles estacionam lá desde o verão.

— Durante o dia?

Oscar olhou por cima do ombro. — À noite. Por que? Quem é esse?

— Não sei, companheiro. Alguém desesperado por uma vaga no estacionamento,

sem dúvida.

217
— Os ingleses são obcecados por estacionar, é verdade. — Oscar me encarou

novamente. — Mas não é por isso que você está com raiva dessa van, é?

— Eu não estou bravo. — Mas quando as palavras escaparam, a mentira me deu

um tapa na cara. A raiva vibrou através de mim, fervendo em minhas veias, e eu estava

longe da janela e na porta antes que eu soubesse o que diabos eu estava fazendo.

— Fique fora de vista. — Saint me presenteou com meu segundo abraço do ano. — Não faça

nada louco só porque River está sob sua pele.

Tarde demais. Abri a porta com força e desci o caminho curto, pés com meias

encharcando as poças, a claudicação no meu joelho dolorido esquecida. Eu não tinha ideia

de quem estava naquela van. Dois caras ou dez, não importava, eu estava sobre esses

bocetas e suas besteiras.

Abri o portão e pisei na calçada. A van estava na minha mira. Laser focado, eu ia

acabar com esses idiotas e suas malditas pegadinhas e desenhos animados. Eles pensaram

que essa merda era engraçada? Eles não tinham a menor ideia de quem estavam irritando.

Com os punhos cerrados, eu avancei, a agressão se acumulando em meus músculos,

a adrenalina subindo do poço da pior pessoa que eu poderia ser. Foda-se essa puta. Matar

pessoas não era a minha praia, mas pela primeira vez em muito tempo, eu senti que podia.

Pela milionésima vez na memória recente, me senti perturbado. Mas isso não me

assustou. Nada aconteceu enquanto esses idiotas estavam sentados em sua van, fodendo

com a minha vida.

Foder com a vida de River.

— Boo. — Braços quentes me pegaram pela cintura, não fortes o suficiente para me

parar, mas não precisavam ser. Não com os lábios mágicos em minha garganta, cabelos

macios fazendo cócegas em minha mandíbula. — Boo. Pare. Ainda não é a hora deles.

Era difícil acreditar que palavras tão razoáveis e racionais estavam saindo da boca

áspera de River. Mas ninguém mais tinha tal poder sobre a porra da minha alma instável.

Ninguém mais poderia me arrastar deste lugar que eu nunca pensei que estaria.

218
Todo o seu corpo colidiu com as minhas costas, os braços apertando ao meu redor.

Ele me puxou de volta quando senti outro irmão na minha periferia, mas eu estava longe

demais para saber quem.

— Vamos lá. — River persuadiu. — Não lute comigo.

Eu não estava lutando contra ele, não conscientemente. Mas o que quer que ele

quisesse que eu fizesse, de alguma forma, eu não estava fazendo, e o paralelo obscuro com

toda a porra da nossa história me deixou tonto.

River me arrastou até o portão e passou por ele.

O irmão misterioso fechou atrás de nós. Quando a névoa vermelha se dissipou,

reconheci a postura estoica dos ombros de Decoy. O estrondo baixo de sua voz calma

enquanto ele murmurava em um microfone de rádio escondido preso a sua jaqueta.

Ele bloqueou o portão e varreu o desastre em que eu me transformei com seu olhar

firme. — Você está bem?

Nem mesmo perto. Como eu me tornei essa pessoa que explodia sem aviso prévio?

Porra de controle zero? Eu não queria ser esse homem.

Eu não era esse homem.

Decoy não poderia me consertar, no entanto. Eu balancei a cabeça. — Tudo certo.

Desculpas. Ainda não jantei.

— Isso vai fazer isso. Chame-me quando estiver pronto para sair. — Decoy baixou o

queixo e desapareceu.

Deixei minha frustração sair em uma respiração barulhenta e caí contra River,

apenas por um momento. — Desculpe amigo.

— Eu não sou seu companheiro.

— Não? E se eu precisar de um?

— Então precisamos ser cisnes. Ou raposas. Agora acalme-se. Não faça de mim o

são.

219
Ele me soltou, beijou minha bochecha e entrou em casa. Eu o segui, arrastando

meus pés molhados, o frio penetrando em meus ossos quando fechei a porta atrás de mim

e me inclinei contra ela.

Oscar saiu da cozinha e nos olhou. — Existe algo que eu deva saber?

Ele estava falando mais com River do que comigo.

Eu respondi a ele de qualquer maneira. — Provavelmente.

— Não. — River retrucou ao mesmo tempo.

Oscar se aventurou mais perto e deu um soco no ombro de River — Há algum

problema com o clube?

River suspirou. — Tipo de.

— É minha culpa. — Eu engasguei. — Eu bati em alguém que não devia e ele está

tentando me morder na bunda.

— Aqui? Em Porth Luck?

— Ele jogou Jonsey sobre o quebra-mar. — Forneceu River.

— Oh. — Os lábios de Oscar se contraíram da maneira mais próxima da malícia que

eu já vi nele. — Isso não é justo com os peixes. Mas por que isso é um problema para o seu

clube? Ele é... como se diz?

— Um escriba?

Oscar considerou isso da mesma forma que Alexei às vezes fazia quando

jogávamos para ele uma gíria que ele nunca tinha ouvido antes. — Eu não conheço essa

palavra. Mas se significa fraco e estúpido, então funciona para mim. Por que você tem

medo dele?

— Não é sobre ele. — Inclinei-me com mais força contra a porta. — Não sabemos

para quem ele trabalha, e eles podem vir atrás de mim para fazer um ponto.

— Você não pode simplesmente ir para casa sozinho?

Válido. Se eu fosse o problema, era a solução mais fácil para mim dar o fora e não

voltar. Mas havia alguns empecilhos com essa solução.

220
Um: não sabíamos com certeza que Jonsey McScumbag era o problema.

Dois: Douchy McVanface do lado de fora ainda estava lá.

E três: não havia nada na terra que pudesse me tirar de River agora. Toda vez que

eu pensava em dar dois passos para trás, algo dentro de mim entrava em curto-circuito, e

se os últimos seis minutos tinham provado alguma coisa, era que eu não tinha muita corda

sobrando. — River fica comigo.

Emitir comandos não fazia mais meu estilo do que golpes de cabeça furiosos à luz

do dia, mas eu disse o que disse e Oscar não fez mais comentários.

Ele voltou para a cozinha. Eu me preparei para a fúria de River, mas Oscar estava

de volta antes que eu pudesse respirar, as chaves em uma mão, o macarrão da minha mãe

na outra. — Vou levar Aras para ver meu irmão em Peterborough. Quando voltarmos,

estarei ausente por algumas semanas. Se precisar de mais tempo, é só me dizer.

— Não precisamos de tempo. — Protestou River. — Nada vai acontecer.

— Você pode me prometer isso? Na vida do meu filho? — Oscar voltou seu olhar

para mim. — Você pode?

Eu não podia. Nem River e isso o atingiu com força. Ele abaixou a cabeça, a miséria

caindo em seus ombros, e eu me senti fodidamente terrível. Se Cam estava certo, isso era

tudo culpa minha. E mesmo que não fosse, deveríamos ter feito mais para proteger River.

O suficiente para que nenhuma boceta tivesse tido as pedras para atacá-lo. — Sinto muito,

cara. Estamos consertando, eu prometo.

Oscar assentiu e se virou para River, abraçando-o com um grande braço. — Você

me avisou que ser seu amigo era perigoso. E eu aceitei isso tanto quanto você aceitou

dividir sua casa com um pequeno humano que limpa geleia nas paredes. Você só precisa

me dizer a verdade quando algo acontecer. Se você fizer isso, tudo sempre ficará bem.

Tudo bem. Estava ficando mais difícil a cada dia não gostar desse pedaço. Que

idiota.

221
Afastei-me da porta para deixá-lo sair. — Desculpe, você tem que ir para

Peterborough. Ninguém merece isso.

— Então talvez você deva ir da próxima vez.

Oscar sorriu, e então ele se foi.

A porta se fechou atrás dele. River ainda parecia quebrado, mas eu também me

sentia quebrado e não sabia como consertar.

Meu telefone vibrou com uma mensagem recebida. Eu o pesquei do meu bolso com

uma mão enquanto passava para River o sobressalente que Cam tinha me dado com a

outra.

Saint: você quer que eu siga Oscar ou fique por conta da casa?

Ele estava me perguntando? Jesus, foda-se.

Estendi o telefone para River.

Ele examinou a mensagem. — Oscar é mais importante.

— Acordado. — Eu disparei o veredicto e li rapidamente a próxima mensagem que

chegou. O Transporter havia se movido. O povo foi atrás dele. Decoy permaneceu para

nos escoltar de volta a Whitness. Saint não disse nada sobre a cena que eu causei na

calçada. Talvez ele não soubesse, mas isso era improvável. Chamariz não era grama, mas

Saint via tudo, olhando ou não.

Estendi a mão para River sem parar para me perguntar se deveria. Peguei seu pulso

e o puxei contra mim. — Desculpe. Eu sou um maldito selvagem no momento. Não sei o

que há de errado comigo.

River se sentiu em casa em meus braços, seu olhar mais sombrio do que o pecado

mais doce e rude. — Não há nada de errado com você, boo. É o resto do mundo.

— Oh sim?

— Sim.

222
— Ok, bem, é legal da sua parte dizer isso, mas eu não acredito em você. Eu sinto

que toda a porra da minha pessoa está desmoronando. Acho que se você der uma olhada lá

fora, encontrará pedaços do meu cérebro na rua.

— Excesso de bits. Tudo sobre você é muito grande de qualquer maneira.

— Tudo? — O humor germinou pequenos brotos verdes em minha alma. Eu apertei

meu aperto em River, deixando meu corpo se moldar ao dele, o calor entre nós ficando

mais potente a cada momento desconhecido como este. — Isso significa que você não quer

tudo?

A língua de River disparou para lamber seu lábio inferior. Peguei com o meu e

caímos em um beijo que deixaria Decoy esperando do lado de fora a noite toda.

Encostamos na porta. River era mais leve que eu, a maioria das pessoas era, mas ele

me prendeu com facilidade. E eu deixei porque essa merda era tão fodidamente boa. Era a

vida, e eu precisava do tumulto que meu pau começou tanto quanto eu precisava das

calças de moletom de pescador amigáveis longe do meu pau.

De alguma forma, a confusão de pensamentos gritando em meu cérebro alcançou

River. Ele deslizou as mãos por baixo da minha cintura e libertou meu comprimento

dolorido, apertando seus dedos calejados em torno dele com força suficiente para bater

minha cabeça contra a porta. — Merda.

River segurou meu queixo, sorrindo por trás da intensidade ainda em chamas em

seus olhos. — Sim? É disso que você precisa?

Outro som baixo saiu do meu peito. River me puxou da porta e nos girou,

esperando até que eu apoiasse a mão na janela, cobrindo-a, antes que ele caísse de joelhos.

Santo maldito inferno. — Riv... foda-se.

Ele envolveu sua boca em volta do meu pau e a sensação me atingiu como uma bala

em alta velocidade. Quente. Molhado. Sua língua era um míssil em busca de calor

enquanto deslizava sobre a tatuagem rúnica de seu nome, os dentes roçando a parte

inferior sensível do meu pau.

223
Eu afundei para frente em meus antebraços. — Você não precisa fazer isso.

River riu, gutural e maldoso. — Quer que eu pare?

Ele abriu a garganta. Meus quadris balançaram por vontade própria, fodendo mais

fundo em sua boca, e uma risada áspera violou meus lábios.

River tomou isso como minha resposta e afundou de volta no boquete mais imundo

que eu já tive. Ele não adorou meu pau; ele era o dono, e eu adorei cada segundo. Agarrei-

me a cada momento sujo como se fosse o meu último. O burburinho da excitação, da porra

do paraíso puro, dominou a inquietação que eu não conseguia me livrar. Até mesmo o

baque na minha têmpora calou a boca quando River me destruiu.

Eu precisava da porta para me segurar. O aperto contundente de seus dedos no

meu quadril, o outro bombeando meu pau em sua boca. Fechei os olhos e deixei as

palavras saírem da minha boca frouxa. — Tão fodidamente bom. Não pare. Nunca pare,

porra.

Claro que sim. Ele puxou a boca do meu pau e chupou minhas bolas em sua boca, e

foda-me, se isso não me catapultasse para outro plano de prazer sangrento. — Você vai me

fazer gozar.

River soltou minhas bolas e me chupou novamente, mais forte desta vez. Sem

sutileza. Apenas uma pressão forte e desagradável que desdobrou algo dentro que eu não

pude conter.

A contenção me abandonou. Eu fodi sua boca, morrendo de vontade de saber que

ele foder a minha tinha sido minha última fantasia por muitos anos para contar. Uma doce

tensão inundou meus nervos, cada músculo contraído. O suor cobriu minha pele e o

rosnado em meu peito transbordou.

Gozei com um grunhido violento, enfiando meu pau na garganta de River,

segurando seu queixo, pulsando mais forte enquanto seus olhos lacrimejavam e minha

liberação escorria de sua boca exuberante.

Maldito.

224
Maldição.

Eu caí em meus antebraços, tentando retornar à terra da experiência fora do corpo

que ele me presenteou com seus lábios perversos. Tremores de corpo inteiro me assolaram

e minha respiração estava uma bagunça. Meu joelho latejava com a pressão do ângulo que

eu tinha preparado para alcançar a boca de River, mas porra, eu me sentia bem.

Você está sufocando ele. Merda. Eu me afastei e me agachei, com as mãos em todos os

lugares que pude alcançar: o cabelo de River, seus ombros, seu rosto. — Porra. Eu

machuquei você?

Ele riu. De novo. E limpou a boca. — Não, boo. Você não me machucou.

Eu segui seu olhar para a protuberância em seu jeans e meu pau empobrecido deu

uma contração esperançosa. — Posso chupar você também?

— Mais tarde. Talvez.

— Por que mais tarde?

River esfregou as mãos sujas na camiseta e depois a tirou. — Porque precisamos

sair daqui e não quero que os soldados do meu irmão me escutem gozar.

— Decoy não é o tipo de cara de ficar de orelha na porta.

— Qualquer que seja. Vamos.

Ele se moveu para ficar de pé.

Eu o peguei, enfiando meu pau com a outra mão. — Ei, você sabe que não há nada

que eu não deixaria você fazer comigo, não é? Eu vou ficar de joelhos por você em um

piscar de olhos. Curve-se, abra minhas malditas pernas, eu não dou a mínima.

Os olhos de River se arregalaram um pouco. — Uau. Mate-me completamente, por

que não? Você sabe que eu tenho que pilotar com essa madeira, certo? Se eu bater, vai

quebrar.

— Quero dizer.

225
— Eu sei que você faz. É por isso que você é o cara mais gostoso que já existiu. Mas

meu ponto ainda permanece. Precisamos sair, então estamos de volta a Shitness antes de

escurecer.

— Me beija primeiro?

River se inclinou e gentilmente roçou seus lábios salgados sobre os meus, tenros de

uma forma que ele negaria o dia inteiro que era capaz. Ele levou as mãos ao meu rosto, as

pontas dos dedos roçando minhas maçãs do rosto, e isso me balançou em meus pés, um

ataque furtivo ao meu equilíbrio.

Agarrei-me a seus pulsos, me preparando para o inevitável latejar em meu crânio

agora que o clímax de partir a alma estava começando a desaparecer. Mas não veio.

O que você sabe?

Aparentemente, a enxaqueca que eu carregava o dia todo não tinha resposta para a

feitiçaria de River em boquetes.

226
CAPÍTULO 17
RIVER

Não importava o que nos acontecesse ou quem nos tornássemos, uma coisa

permanecia constante: a emoção da estrada aberta. Rubi não estava em condições de

cavalgar o dia todo, mas ele o fez de qualquer maneira, sua moto era um quinto membro

sem o qual ele não poderia mais ficar.

Depois de carregar meu cartão SIM no telefone sobressalente e parar na garagem,

deixamos Porth Luck para trás para uma viagem tensa de volta a Whitness. Uma viagem

lenta, atingindo o tráfego escolar em todas as malditas estradas, deixando-nos expostos a

qualquer um que quisesse nos pegar até que deslizámos para a rota rural que nos levaria

além do complexo e para a casa de Rubi no subúrbio de Devon.

Cheguei lá primeiro, depois Rubi, Decoy atrás.

O irmão quieto não parou. Apenas tirou o capacete e saiu rugindo.

Desliguei o motor enquanto ele desaparecia na esquina. Na entrada estreita, a

Bobber de Rubi ainda roncava atrás de mim, o som tão familiar quanto ele. Confortante,

apesar dos motivos que nos perseguiram até aqui.

Cara, eu estava fodidamente atraído por ele.

Ele desligou o motor e passou a perna por cima da moto, e eu estava lá. Pegando

ele. Segurando-o. Tirando o peso do joelho machucado, gostasse ou não.

Tirei seu capacete, revelando seu belo rosto, o piercing no nariz refletindo a luz da

lâmpada bruxuleante em sua varanda. — Tudo bem?

Ele acenou com a cabeça, lentamente, seu sorriso mais suave do que nossas

circunstâncias fodidas mereciam. — Cuidado. Eu poderia me acostumar com você sendo

legal.

— Cale a boca e entre.

227
Ele não discutiu. Apenas me passou a chave do bolso.

Fazia anos que eu não ia à casa de Rubi. A última vez foi no meu vigésimo primeiro

aniversário. Ele me deu a corrente que eu ainda usava em volta do meu pescoço e um beijo

na bochecha, e eu ainda não tinha superado isso.

Naquela época, a casa era um canteiro de obras. Agora, quando empurrei a porta e

entrei no corredor, ficou claro que perdi muita coisa. As tábuas nuas do piso ainda

estavam lá, mas foram restauradas agora, flanqueadas por paredes limpas de lascas de

madeira e papel de parede esponjoso e holofotes no teto. — Amei o que você fez com o

lugar.

Rubi bufou. — Às vezes esqueço, e é uma casa novinha toda vez que venho aqui.

— Com que frequência isso acontece?

— Depende.

— Sobre?

— Quem mais precisa.

Ele deu um passo ao meu redor e tirou as botas, tirando a jaqueta. Ele a pendurou e

estendeu a mão para a minha.

Passei por ele e deixei minhas botas com as dele, depois o segui até uma cozinha

que tinha o dobro do tamanho da minha. — Quanto tempo vamos ficar aqui?

Rubi deu de ombros e abriu a geladeira, uma mão cobrindo a boca enquanto ele

bocejava. — Até sabermos mais.

— Então o que?

— Quem diabos - oh, sua belezinha.

— Quem?

— Mats. Temos comida.

Juntei-me a ele na geladeira e espiei por cima de seu ombro. — Como você sabe que

foi ele?

— Bocadillos, querido.

228
Como se isso esclarecesse tudo. Como se importasse quando Rubi bocejou

novamente, desta vez com força suficiente para quebrar sua mandíbula.

Estendi a mão sobre ele e fechei a geladeira. — Mostre-me a sala de estar.

Ele me lançou um olhar interrogativo, mas saiu da cozinha assim mesmo.

A sala ficava na frente da casa, a grande janela saliente dava para a rua. Fechei as

persianas, isolando o mundo, e apontei para o enorme sofá. — Sente.

Rubi sorriu um pouco. Divertido. Confuso. Ambos. — Por que?

— Porque eu disse.

Ele deu de ombros, aceitando, mas hesitou a poucos centímetros do sofá. — Não

tenho certeza se quero parar depois do que este sofá viu nos últimos meses.

Foi a minha vez de ficar confuso, mas ele não deu mais detalhes e, finalmente,

sentou-se, dobrou as pernas e pegou o telefone.

Deixei-o sozinho e voltei para a cozinha. Eu fervi a chaleira e vasculhei a geladeira

dos sonhos que Mateo havia deixado para nós. Ainda não sabia o que diabos eram

bocadillos, mas encontrei sanduíches que vieram do céu e um saco gigante de Doritos em

um armário, então não tive muito com o que me preocupar.

Armado com o chá, levei tudo de volta para a sala. Rubi estava sentado meio caído

sobre o braço do sofá, ainda mexendo em seu telefone, a testa franzida em concentração.

Eu tive que perguntar. — O que você está fazendo?

— Pesquisando no Google se orgasmos curam enxaquecas.

Coloquei o chá onde ele pudesse alcançá-lo. — E?

— Depende. Em que ponto do ciclo da enxaqueca você faz isso. Se você atingir o

pico muito cedo, pode piorar ou desencadear uma nova.

— Parece complicado.

Rubi suspirou. — Não é tudo, porra?

— Você está chateado por não podermos curá-lo com sexo?

229
— Não estou chateado com nada se a implicação é que você estaria disposto a me

ajudar a tentar.

Não havia nada que eu não faria para aliviar sua dor. Se eu pudesse curá-lo com

meu pau mágico, eu o faria em um piscar de olhos. Mas sexo... era complicado. Já o tinha

visto gozar duas vezes - disso me lembrava - e já era uma pessoa diferente. Eu não estava

pensando em me acender. Tudo que eu queria era ficar nu com ele pelo resto da porra da

minha vida. — Eu não estava insinuando nada. Mas... sim, eu provavelmente faria isso.

Rubi jogou o telefone de lado. — Essa é a única razão pela qual você me foderia?

— Você está me perguntando agora quando eu acabei de colocar seu pau na minha

boca?

— Boquetes não são foda.

— Ainda é sexo, boo.

— Eu sei. É apenas... diferente. Pensando em estar dentro de você. Você dentro de

mim. Eu quero tanto, mas também tenho medo.

— Por que? — Quero dizer, eu sabia por quê. Também me aterrorizava. Essa

intimidade. Essa proximidade. Nós a tivemos uma vez e a perdemos. Eu não poderia viver

isso de novo. — Diga-me.

Rubi sentou-se, desenrolando as pernas. Ele não estava mais usando a calça de

moletom de Oscar e eu estava feliz por isso. Foi meio esquisito sentir o cheiro do meu

companheiro de casa com o pau de Rubi na minha boca. Eu adorava Oscar. Ele importava

para mim mais do que sabia, mas caramba, eu não queria transar com ele. Ou pensar nele

enquanto eu estava fodendo.

Ninguém está fodendo ninguém. Em vez disso, você está tendo uma conversa complicada.

Deixei-me ser sugado para a órbita de Rubi, deslizando entre suas pernas, olhando

para ele enquanto ele olhava para mim.

230
Ele pegou minhas mãos, entrelaçando nossos dedos. — Eu odeio que algo tão foda

nos forçou a ficar juntos, mas eu não sinto muito pelo tempo que tivemos nas últimas

semanas. Estou apavorado com o que vai acontecer quando acabar.

— Você sabe o que acontece. Você vive sua vida. Eu vivo a minha. Se não

conseguirmos encontrar felicidade nisso para nós dois, será o mesmo que sempre foi...

— E nós, porra, não vai mudar isso. Não importa o quão enlouquecedor seja. —

Finalizou Rubi.

Eu balancei a cabeça. — Exatamente. Embora, talvez não seja de derreter o cérebro.

Não foi exatamente memorável da primeira vez.

— Você está louco se pensa isso. Você sabe o que? Acho que não trepamos naquela

noite. Não poderíamos. Eu não me importo com o quão confuso eu estava ou quanta

merda você colocou em seu corpo, não há como um de nós estar dentro do outro e a lua

não ter explodido.

Rubi estava quase gritando quando ele terminou. Nariz dilatado, rosto corado, era

fodidamente glorioso.

E devastador, porque ele estava errado. — Havia uma embalagem de preservativo

no chão do meu quarto. Você deve ter perdido durante sua grande fuga.

Engoli a amargura. Ele não merecia essa merda de mim.

Ele não merecia a tristeza em seus olhos agora também. — Talvez nós tentamos?

Tem droop de cerveja ou alguma merda assim?

— Não estávamos bêbados.

Uma carranca de menino franziu o rosto adorável de Rubi. — Poderia muito bem

ter sido, porque eu não estou tendo isso. Não há como transarmos, e essa é uma colina

onde eu morreria.

Morrer por algo não tornava isso um fato, mas se era assim que ele queria

transformar nossa bagunça sórdida daqui em diante, eu estava deprimido. Talvez um dia

231
testássemos sua teoria. Foderíamos e seria tão incrível que teríamos certeza de que nunca

havíamos feito isso antes.

Não hoje, no entanto.

Definitivamente não hoje.

Empurrei os sanduíches e Doritos para cima dele.

Ele os pegou e me puxou para o sofá. — Você quer assistir alguma coisa?

— Como o que?

Ele deu de ombros e apontou o controle remoto para a TV. A sala estava escura

devido às persianas fechadas. A Netflix deu um pouco de luz ambiente e deixei seu

grande sofá e volume reconfortante me sugarem.

Os sanduíches eram fodidamente incríveis.

Comi dois.

Rubi comeu três e todos os Doritos e desmaiou na frente de Yellowstone.

Se não estivéssemos nus, provavelmente era o lugar mais seguro para ele. Sua casa

era um ninho de coisas aconchegantes. Encontrei um cobertor e o cobri, depois acendi a

caldeira para mantê-lo aquecido enquanto me tornava o maior hipócrita do mundo e

investigava sua caldeira.

Era muito mais chique que a minha. Muitos botões e um termostato móvel. Eu

cutuquei até que fizesse os ruídos certos, então subi as escadas com meu eu intrometido.

A casa de Rubi era estreita e funda. Dois quartos menores na frente e um master nos

fundos. Não foi possível dizer qual ele reivindicou como seu. A lógica dizia que era

grande, mas Rubi não era do tipo tamanho queen. Além disso, ele nunca dormiu aqui.

Isso você sabe. Talvez ele traga encontros do Tinder aqui para transar com eles.

Como se ele precisasse de um aplicativo para transar.

Eu olhei para o quarto escuro, acendendo as luzes sem nenhum motivo discernível

além de eu ser um idiota de merda. Uma cama enorme me cumprimentou, arrumada com

lençóis cinza, uma bolsa esporte desbotada da Rebel Kings jogada no meio.

232
A mesma bolsa que ele carregou por toda a porra de sua vida.

Huh. Talvez este fosse o quarto dele, afinal.

Não olhe na bolsa.

Eu olhei na bolsa. Três pares de boxers rosa. Um par de camisetas. Uma escova de

cabelo que eu provavelmente precisava mais do que ele.

No fundo, encontrei uma caixa fechada de co-codomol, e ela me chamou de uma

forma que me fez me odiar. Apenas o fato de que eu teria que explicar para onde eles

foram me impediu de roubá-los.

Realmente? Você roubaria os analgésicos dele?

Não.

Em vez disso, peguei o pacote aleatório de Rice Krispy Squares e voltei para a sala

de estar.

Rubi ainda estava cochilando e lindo demais para olhar por muito tempo. Como

todos os Kings da velha escola, sua casa estava abarrotada de discos de vinil. Cada

prateleira. Mesa de café. Armários. Cam tinha a maior parte da música metal que nossos

pais haviam coletado no clube.

Rubi manteve a merda excêntrica e a tornou ainda mais excêntrica. A única coisa

que fazia sentido em sua coleção era a sequência de gêneros em que os havia empilhado.

Ele tinha uma unidade de mídia construída com o tipo de carvalho que Saint

gostava de trabalhar. Cheirava a mancha de madeira e a floresta. Sentei-me em frente a ele

e tirei os discos das pilhas punk, alguns antigos, outros novos, e dei uma festa tranquila

para alguém em frente ao fogo.

Rubi tinha maconha escondida em um pote de geleia atrás dos alto-falantes. Eu

roubei, enfiei um pouco em seu cachimbo de metal boho e fumei como um demônio,

abafando minha tosse ofegante com o punho.

Que nojo. Era por isso que, apesar do meu apetite por fugir da realidade, eu não

fumava. Talvez ele tenha comestíveis aqui também.

233
Mas não estava com vontade de vasculhar mais as coisas dele. Eu queria estar onde

ele estivesse.

— Onde mais estaríamos senão aqui um com o outro?

Ele disse isso para mim uma vez, um dia antes de seu pai morrer, em um festival de

motoqueiros em Swindon. Antes de adormecer com a cabeça nos meus pés. Cochilando ao

sol. Sua cabeleira se espalhava na grama como fios de ouro.

A memória me virou. Rubi ainda estava dormindo, o cobertor jogado até as pernas,

a cabeça apoiada em uma almofada com padrão marinho. Quando a erva começou a fazer

efeito, comecei a encará-lo, mas doía, então fechei os olhos e fui para Amyl e os

farejadores.

Estar chapado era estranho pra caralho. Meu corpo tornou-se parte do tapete grosso

em que eu estava deitado, o calor do fogo muito e não o suficiente ao mesmo tempo.

Como sexo ruim. Ou talvez fosse a erva. Eu não queria isso. Eu queria algo mais difícil.

Um hit mais perturbador do que esse zumbido suave e ruminado.

Mais do que tudo, porém, eu queria Rubi e sentia falta dele enquanto ele dormia.

— Ei, não monopolize todo o meu bom gambá.

Um peso pesado caiu sobre mim. O cachimbo de maconha foi arrancado de meus

dedos frouxos e abri meus olhos para todos os meus sonhos se tornarem realidade.

Rubi deitou sobre mim, seu grande corpo cobrindo o meu. Ele acendeu o cachimbo

de maconha, tragou uma lufada de fumaça de ervas e soltou-o pelo lado de sua boca

beijável. — Se divertindo?

— Passando o tempo.

— Com punk australiano e verde?

— É tudo o que você tinha.

— Não é verdade. Você poderia ter Gordon Lightfoot e a porra de um Horlicks.

— Ainda poderia.

— Você quer isto?

234
— Você?

Rubi largou o cachimbo e examinou a estante de discos mais próxima. Ele tirou

uma manga de sete polegadas do pacote e o punk discordante me fazendo companhia foi

cortado, substituído por suaves guitarras dos anos 70.

Se você pudesse ler minha mente.

Eu balancei minha cabeça. — Você não é um fantasma que não consigo ver, boo.

A única resposta de Rubi foi um leve zumbido. Ele aliviou seu peso de cima de mim

e se esticou no tapete, perto o suficiente para não ter ido embora.

Nossas pernas se entrelaçaram, nossos corpos se aproximando. Apoiei minha

cabeça no cotovelo e o observei, e ele me observou de volta, o calor de seu olhar potente

eclipsando o fogo.

A velha canção terminou.

Ele trocou por Deep Purple e algo - tudo - mudou. O companheirismo gentil que

tínhamos quase aperfeiçoado tornou-se um lento deslize para o inevitável. O lugar sem

volta que eu tinha tanta certeza era uma péssima ideia.

E, no entanto, não fiz nada para impedi-lo.

Nada para me impedir quando colidimos no chão da sala de estar, tão bagunçados

quanto antes.

Caótico.

Nu, enquanto as roupas desapareciam.

A pele nua de Rubi cheirava a vento. A chuva de inverno. A fumaça da maconha

em meus pulmões e a lenha no fogo.

Ele me rolou de costas, joelho apoiado entre minhas pernas. Mas eu resisti ao seu

peso me prendendo ao seu tapete felpudo.

Eu sabia o que ele queria.

235
Ele queria dar enquanto não levava nada para si, como fazia com todos os outros

em sua vida. Mas... foda-se isso. Motores e sexo eram as únicas coisas em que eu era bom,

e já tinha feito planos para consertar sua moto pela manhã.

Enfiei a palma da mão na parede de tijolos de seu baú e inverti nossas posições.

Rubi deixou acontecer, enganchando uma perna no meu quadril, levando-me para

a mesma rotina profunda e infernal que encontramos no meu sofá na noite passada.

Uma energia frenética se formou entre nós. Apertei-o com mais força contra o

tapete no chão da sala, arrancando beijos abafados de seus lábios avermelhados. Ele me

puxou para mais perto, incitando-me com suas pernas abertas e a inclinação fácil de seus

quadris.

Sem fôlego, eu me afastei de sua boca quente. — Onde-

— Mesa de café. Na gaveta do boticário.

— Você não sabe o que eu ia dizer.

— Diga-me que estou errado.

Ele não estava errado.

A mesinha de centro estava a um bom trecho de distância. Abri a gaveta e encontrei

cerca de mil preservativos e três tipos de lubrificantes. Tudo o que eu estava procurando,

mas a visão deles ainda me pegou desprevenido. — Esperando sua coleção de esposas

irmãs?

Estendido e nu, Rubi ria. — Eu não. Não posso mentir e fingir que vivi como uma

freira, mas não sou o único filho da puta com uma chave.

— Você é uma casa felpuda para todos os outros?

Ele começou a cantarolar a música de Gordon Lightfoot de novo, e eu revirei os

olhos. Eu não tinha o direito de ficar com raiva, mesmo que o kit de sexo de toda a vida

fosse dele, mas o fato de que provavelmente envolvia meu irmão mais velho ninfomaníaco

- antes de seu conto de fadas a três - era mais fácil de aceitar.

Deixando para lá, voltei meu foco para o aqui e agora.

236
Ao desconhecido.

Os indecisos.

Rubi precisava de preservativos magnum. Eu tinha um pau humano, então peguei

um punhado aleatório e joguei por cima do ombro, deixando o destino decidir o que

aconteceria a seguir.

A seleção do lubrificante foi menos complicada. Peguei um e voltei para Rubi no

tapete.

Duas camisinhas caíram em sua barriga. Uma de cada tamanho. Tanto para o

destino.

Deixei-os lá e subi nele novamente, me encaixando entre suas pernas.

Ele os envolveu em volta da minha cintura, fácil com a vulnerabilidade física da

posição. Sorrindo enquanto meu pau pressionava contra ele. — É isso que você quer, Riv?

Me foder assim?

Eu poderia cavar. Não com aquele sorriso no rosto, porém, sua compostura em alta.

Suas mãos estavam relaxadas em meus quadris. Eu os reivindiquei e os levantei

sobre sua cabeça. Não prendendo-o desta vez. Não forçando uma promessa de que ele não

iria me deixar. Baixei seus braços gentilmente e trouxe meus lábios aos dele em um beijo

sussurrante. — É isso que eu quero. Você embaixo de mim, relaxado e feliz, levando tudo

que eu te dou. Você pode fazer isso? Você pode deitar aqui e não pensar em ninguém além

de si mesmo?

Rubi lambeu os lábios. — Você vai me desmontar duas vezes em um dia?

— Não. Você fodeu minha boca mais cedo. Desta vez, estou fodendo você. — Uma

decisão tomada enquanto as palavras saíam da minha boca para a dele. — Duro. Lento.

Rápido. Qualquer que seja. Não se mexa, boo. Ou eu paro.

— Isso é cruel.

— Eu nunca fingi ser legal.

— Você não precisa. Eu sei quem você é.

237
— Então você sabe que eu quero dizer o que eu digo. Cabe a você decidir se quer ou

não.

— Quero isso. — Rubi pegou meu lábio inferior com os dentes, mordendo um

segundo antes de me soltar. — Eu já te disse, eu quero você.

— Tudo de mim?

— Sempre.

Estávamos muito irritados para ter essa conversa agora. Para ter qualquer conversa.

As palavras me abandonaram e eu o beijei em vez disso, deixando minhas mãos

percorrerem sua pele quente e meu corpo cair em alinhamento natural com o dele.

Já tínhamos feito isso antes, o grind selvagem que enviava ondas de prazer aos

meus nervos. Isso arqueou suas costas do chão, apesar do esforço de cerrar a mandíbula

que ele investiu em ficar parado.

Viramos uma confusão de gemidos e suor. De palavras sujas e súplicas sussurradas.

E havia algo de outro mundo em fazer seu grande corpo tremer de desejo. Sentindo seu

pau pulsar e vazar contra mim, clamando pela fricção que eu não daria a ele por muito

tempo.

Não em seu pau, de qualquer maneira.

Tornou suportável o inferno que queimava meus nervos. Mantive minha cabeça no

jogo quando a tentação de mergulhar em meu próprio prazer escureceu minha visão.

Enrolei uma camisinha e deslizei uma almofada do sofá para baixo de Rubi,

levantando sua pélvis do chão. Suas pernas estavam sobre meus quadris, tão frias quanto

possível. Mas sua pele corada e peito arfante contavam uma história que mal tínhamos

começado.

Seu olhar me fisgou. Eu nos encaixei e afundei dentro dele, a fricção e o calor

apertando minha traqueia. Sua confiança fácil em mim é o bolsão de ar que me manteve

vivo.

238
Ele tomou tudo de mim com um suspiro longo e lento, os olhos caindo fechados, até

que ele os forçou a abrir e me procurou.

Estávamos a milímetros de distância, sua respiração quente em meus lábios.

Inclinei-me e beijei seu pescoço, mordendo e chupando, absorvendo a flexão de resposta

de seu corpo.

Seu gemido profundo.

Eu rolei meus quadris. Rubi estremeceu. Eu trouxe meus lábios de volta aos dele e

os abri com minha língua no mesmo ritmo enlouquecedor que eu o abri com meu pau, a

felicidade surgindo em meu coração amplificada pelo amor em seus olhos.

Nós não estávamos fodendo. Em algum lugar além da sensação de girar a cabeça, eu

sabia disso. Mas eu não conseguia pensar nisso. Eu não conseguia pensar em nada, exceto

na batida crescente de mim dentro dele enquanto ele estava deitado embaixo de mim, tão

passivo e bonito quanto eu exigi.

Seu pau enorme deslizou contra meu abdômen, preso entre sua barriga e a minha.

Eu levantei meu torso para liberá-lo e fechei minha mão em torno dele, apertando algumas

vezes, deleitando-me com a doce tensão que o inundou. — Você gosta disso?

Outro gemido áspero retumbou dele. — Eu gosto de você.

Bom o suficiente para mim. Eu o fodi um pouco mais rápido, o ritmo de uma

música com a qual crescemos envolvendo-nos, derretendo-se na cadência de seu corpo e

do meu. Eu queria ver seu pau, seu rosto, seus punhos cerrados acima de sua cabeça, mas

eu não podia estar em todos os lugares, e seus olhos eram o que mais importava.

Balançando nele com mais força, eu caí novamente, pressionando minha testa na

dele, minha respiração mais pesada com cada impulso de meus quadris. A subida da qual

não pudemos escapar.

Um cobertor de calor me envolveu. Dirigi com força por três batidas de parar o

coração, depois desacelerei, com os nervos à flor da pele, com medo de parar.

Com medo do fim.

239
— Riv.

Eu fechei meus olhos.

— Riv.

A súplica frágil em seus lábios me despedaçou. Eu diminuí tanto que eu podia

sentir cada tremor balançando ele. Cada salto sob minha própria pele.

Eu abri meus olhos. — O que é, boo? O que você precisa?

Rubi respirou fundo. — Eu preciso tocar em você. Por favor, Riv. Eu preciso de

você.

Estava em mim recusar. Não por causa disso, mas por causa dele. Mas qualquer

lição que meu cérebro fodido estava tentando nos ensinar deixou de importar quando ele

olhou para mim do jeito que ele estava agora.

E foda-se se eu não precisava dele também.

— Tudo bem. — Eu roubei um beijo molhado e bagunçado. — Você pode me tocar,

mas ninguém vai tocar no seu pau até que você dispare seus miolos.

Uma risada áspera escapou de Rubi e ele estendeu a mão para mim, mãos quentes

deslizando pelo meu tronco até minha cintura, flexionando seus quadris no mesmo

momento, um pequeno impulso que me levou mais fundo dentro dele. — Eu posso

concordar com isso, mas não pare o que você está fazendo comigo. Nunca pare, porra.

Não poderia tê-lo negado, mesmo que eu quisesse. Eu balancei contra ele, um

gemido saindo de mim quando ele deslizou a mão sobre a minha nuca, os dedos

emaranhados no meu cabelo, nós dois ansiando por essa liberação sagrada.

— Porra. — Aumentei o ritmo e lutei para me apoiar no tapete, mais suor cobrindo

minha pele, empurrando com mais força, meu tênue controle se esvaindo. — Foda-se.

Abaixo de mim, Rubi ergueu os quadris mais alto, suas pernas fortes me rodeando,

drenando o oxigênio do meu cérebro. Ele jogou a cabeça para trás, rosnando meu nome, e

seu pau latejava entre nós, preso naquela fricção selvagem que não parecia suficiente, mas

iria explodi-lo quando chegasse a hora.

240
Eu sabia como era gozar sem tocar no seu pau. Aquele esforço desesperado para

alcançar algo enterrado tão profundamente dentro de você que você realmente não sabia

que estava lá até que detonou. Mas quando aconteceu... Porra. Não havia prazer maior,

exceto testemunhar aquela euforia em alguém que eu amava mil vezes mais do que eu

jamais amei.

Ele era lindo pra caralho.

Tão quente pra caralho.

Ele me catapultou sobre a borda e um clímax fora deste universo colidiu comigo.

Sons sem sentido. Respiração difícil que eu não conseguia pegar, não importa o quanto

meus pulmões lutassem por ela. Gozamos juntos em um emaranhado desordenado e

suado, meu pau tão fundo dentro dele que eu não conseguia ver como poderia retirá-lo.

Meu coração tão cheio que nunca mais seria o mesmo.

241
CAPÍTULO 18
RUBI

River me fodeu até o sol nascer. No chão. Na minha cama. Então nos levantamos e

malhamos na academia improvisada que eu mantinha no porão. Comemos o café da

manhã. Tomamos um banho.

Depois fez tudo de novo.

Foi um padrão que continuou por três dias turvos e felizes. Eu não dormi muito.

Não tenho certeza se ele dormiu. Quando acordei na quarta tarde, cansado e dolorido

depois de uma manhã passada da melhor maneira, ele já estava de pé, e digamos assim:

meu joelho não doía mais.

Eu me arrastei para o chuveiro e me recompus. Quando saí, encontrei sua camiseta

no chão do banheiro e tive um maldito momento. Ele está na minha casa. Porra. Eu estava

acordado? Ou uma enxaqueca me colocou em coma que eu não queria acabar?

Não que eu tivesse uma enxaqueca. River tinha fodido isso fora de mim também.

Desci as escadas sentindo o cheiro de bacon queimado. Havia uma panela no fogão,

River em nenhum lugar à vista. Resgatando-o, eu apaguei a chama e girei, procurando por

ele, a ansiedade atípica que eu carregava por meses queimando para a vida de maneiras

que eu não precisava quando eu ainda podia sentir suas mãos perversas na minha pele

superaquecida.

Ele me fodeu.

Muitas vezes para contar, mas eu ainda não tinha superado. Eu era um filho da

puta versátil, mas a merda que River estava fazendo comigo...

Não.

Nunca vi isso chegando.

Onde ele está?

242
Porra. E se ele foi embora?

— Manhã.

Eu pulei, girando minha cabeça para a porta dos fundos.

River estava agachado, examinando a moldura, o cabelo uma bagunça certificada,

os olhos ainda vermelhos da maconha que havíamos fumado durante a porra da manhã.

Ele se levantou lentamente, me dando uma revelação gradual de seu corpo magro e

tatuado, calças de moletom cinza desbotadas penduradas em seus quadris.

A visão perfeita aliviou o estresse arranhando minha alma, e eu estava sobre ele em

um segundo quente. — Santa Mãe Natureza, pensei que você tivesse feito um corredor.

River esfregou sua bochecha áspera contra a minha. — Eu nunca.

Eu queria dizer a ele que eu também não. Isso eu fiz naquela manhã há muito

tempo porque eu estava fora da minha maldita cabeça. Mas tivemos essa conversa mais de

uma vez.

Era hora de seguir em frente.

Puxei-o para perto, beliscando-me sutilmente enquanto meu queixo encontrava

uma casa no topo de sua cabeça.

— O que aconteceu com a porta dos fundos?

— Hum?

— A porta. — River repetiu. — O quadro parece ter sobrevivido a uma guerra

nuclear.

— Você não está longe. — Beijei sua têmpora e me afastei para estudar a moldura

da porta consertada. — A máfia espanhola atacou quando eles sequestraram Mateo.

River bufou. — Na vida de qualquer outra pessoa isso seria uma piada.

— Gostaria que fosse. Já são duas vezes que tive que limpar um reservatório de

sangue de Embry. — Um tremor vicioso me balançou. Afastei-me de River e peguei a

frigideira de bacon. — Você estava incinerando isso de propósito?

243
River me olhou por um segundo, então se aproximou e franziu a testa para a

panela. — Eu me distraí. Podemos salvá-lo?

— Se você não se importa em mastigar carvão.

Provavelmente não, mas aquela merda era cancerígena, e ele passou bastante tempo

inalando fumaça de diesel e pó de metal.

Peguei uma faca em uma gaveta e comecei a cortar os pedaços queimados do bacon

enquanto ele voltava a passar manteiga no pão que havia abandonado ao lado.

Ele tinha feito chá. Eu já estava apaixonado por ele, mas a visão da caneca com meu

nome me deixou ainda mais apaixonado.

— Me desculpe, eu fui um idiota com você sobre Embry. — River terminou com o

pão e se aventurou mais perto. — Eu sempre soube que você não estava transando com

ele. Eu só estava com ciúmes porque vocês são tão tranquilos um com o outro enquanto

você e eu somos uma bagunça fumegante.

— Ah. Bem, se serve de consolo, tenho chamado Oscar de babaca desde que ele foi

morar com você exatamente pelo mesmo motivo, não ajudado pelo fato de ele ser anos-luz

mais gostoso do que eu.

River engasgou com o chá. — Não, ele não é.

— Sim, ele é. Mais jovem também. Eu não sou cego.

— Você está cego em algum lugar se não consegue ver que é o homem mais lindo

do planeta. — River empurrou um prato de pão para mim. — Faça-me um sanduíche e

cale a boca.

Não foi a pior coisa que ele já me pediu para fazer. Fiz os sanduíches e o segui até a

sala, deixando meu olhar se demorar no tapete em frente ao fogo. As brasas ainda estavam

acesas.

Eu também.

244
Passei o prato para River e me ajoelhei para carregar o fogão com mais gravetos e

lenha. Senti o olhar de River sobre mim, mas me perdi jogando Tetris com carvalho e

bétula do acampamento de Saint à beira-mar.

Ele ligou a TV. — Você já assistiu House of the Dragon?

— Um episódio. Doctor Who ficou nu e isso me assustou.

— Você não gosta de Matt Smith?

— Não é o que eu disse. — Eu me levantei e manquei até o sofá - aparentemente, o

sexo não curava tudo, afinal. — Só não estava pronto para isso. E... Eu não poderia entrar

nisso sem você. Parecia que estava traindo as partes mais nerds de nossa bela amizade.

— Nós não somos amigos.

— Claro que sim. Não doeria tanto se não fossemos.

River enfiou meio sanduíche na boca em vez de responder.

Provavelmente para o melhor. E eu adorava vê-lo comer. Significava que seu

humor estava bom e eu estava aqui o dia todo para isso. — Você assistiu?

— Não.

— Por que não?

River estendeu o prato de sanduíche.

Peguei e esperei. Se ele estava desviando, ele teria que fazer melhor do que isso.

Tipo, tirar meu pau ou algo assim.

Como se tivesse ouvido meu cérebro caindo na sarjeta, o olhar de River vagou entre

meu rosto e minha virilha. O calor queimou em seus olhos escuros como carvão, mas ele

não me tocou. Ele me observou comer e franziu o rosto em uma carranca bonitinha. —

Tudo bem. Tudo bem. Eu também não queria assistir sem você.

Eu sorri. Duro.

Ele me mostrou o dedo e foi para a cozinha bater pratos sujos. Não parecia que ele

estava lavando, mas quem diabos se importava?

245
Eu me joguei no sofá e coloquei as notícias enquanto eu fuçava no meu telefone. Eu

era muito velho e criminoso para a maioria das mídias sociais, mas edições de fãs eram a

porra da vida, desde que eu evitasse merdas que ainda não tinha assistido.

O Joker tinha uma conta no TikTok. Não faço ideia de quem a dirigia, já que

definitivamente não era nenhum dos caras mal-humorados que eram donos do lugar, mas

quem quer que fosse fez vídeos doentios. O Joker tinha uma história maluca, e isso

transparecia no prédio antigo excêntrico e na lealdade dos moradores que reivindicavam

todo o bar dos fundos como seu, sem entrada de turistas.

Assisti ao último clipe, procurando por Jonsey no meio da multidão, mas não me

surpreendi. Skylar iria queimar o lugar antes que se tornasse um antro de drogas.

Sempre dispara, não é? Eu nunca tinha pensado sobre isso até que quase perdemos

Saint, mas talvez eu precisasse de algumas novas malditas piadas.

— Sobre o que você está fazendo beicinho? — River acenou com uma caneca limpa

debaixo do meu nariz. Na outra mão, ele segurava um Swizzels Double Dip 20 de sabe-se lá

de onde. Talvez Nash. Ele era o tio divertido que sempre tinha doces no bolso, embora eu

não conseguisse pensar em uma razão pela qual ele estaria aqui em qualquer momento da

memória recente. Não agora que eu sabia que ele e Orla não estavam fodendo.

— Você realmente vai comer isso?

River deu de ombros. — Melhor do que crack.

Desligo o telefone. — Isso é uma coisa?

— O que?

— Crack. Você está batendo em cachimbos tão bem quanto K?

A expressão de River azedou. — O que você está me perguntando? Se eu sou um

crackhead?

20

246
Eu estava? Talvez. Quanto mais tempo eu passava com River, mais eu notava como

ele estava inquieto por algo que eu não conseguia ver. Inquieto. Agitado. Ele era ansioso

desde a adolescência, mas isso parecia diferente. Como se houvesse um demônio dentro

dele, ele lutava todos os dias para silenciar. Ele era um viciado? Difícil de dizer. Que eu

saiba, ele não tinha sido usado desde que eu invadi sua vida, mas se ele estava lutando, eu

queria saber.

Porra, eu precisava saber. — Eu estou perguntando o quão fundo nessa merda você

está. Então eu posso ajudar se você precisar.

O rosto de River fez algo complicado. Raiva, mágoa e tristeza passaram por suas

feições. Mas também havia diversão, irônica e divertida. Então talvez ele não me desse um

deck. — Eu não gosto de estimulantes, boo. Você acha que preciso de ajuda para ficar

acordado?

— Com o que você precisa de ajuda?

River deu um tapinha na cabeça. — Sendo quieto. Feliz. Contente. Eu só fico fodido

quando Oscar não está por perto. Quando ele está, posso passar sem ele.

Algo se instalou dentro de mim. Mas não por muito. Tudo o que eu sempre quis

para River foi que ele fosse feliz. — E agora? Está pensando nisso?

— Sobre o que?

— Não sei. No que quer que você se apoie quando Hunky McFisherman está no

mar.

— Você sabe que ele é hétero, certo? Mesmo se eu quisesse desossá-lo, não iria voar.

— Você está errado.

— Sobre o que? A sexualidade de Oscar?

— Não. A parte não voadora. Riv, até mesmo objetos inanimados iriam acabar com

você se você pedisse.

— Você age como se eu nunca tivesse enfrentado rejeição. — A diversão seca de

River aumentou, fugaz e bela, antes de desaparecer. — Mas a inexistência de Oscar para

247
mim não vem ao caso. Você está perguntando se sou viciado, e a verdade é que não sei.

Achei que não, mas nas últimas semanas... lidando comigo mesmo dia após dia. É difícil,

cara. Quando não estamos totalmente envolvidos um com o outro, eu só quero que tudo

pare.

Eu havia feito a pergunta, mas talvez não tivesse me preparado para a resposta.

Emoção crua estilhaçada dentro de mim. — Desculpe.

— Pelo que?

— Por perguntar a você um milhão de anos tarde demais.

— Não é tão tarde. Beba seu chá e pare de reclamar.

River pegou a lata de maconha da mesinha de centro - não sobrou muita coisa - e

carregou o cachimbo. Observei-o levar um golpe e me perguntei se ele tinha alguma ideia

de como aquelas quatro palavrinhas me atingiram.

— Não é tão tarde.

Ele quis dizer isso?

A esperança de não estar esperando fez cócegas em minha alma. Peguei o cachimbo

dele, mas pela primeira vez desde que me lembro, não precisei dele. Não queria. O

desespero me arrastando para baixo parecia leve, e eu não estava me afogando.

Larguei a lata e bebi meu chá.

River afundou no sofá, os olhos pesados, os membros relaxados. Afastei seu cabelo

do rosto e ele suspirou. — Vou ter pulmões de mineiro quando voltar para casa.

Meu coração se apertou com a ideia de ele ir embora. Aproximei-me um pouco

mais e passei um braço ao redor dele. — Vamos acabar logo. A menos que eu peça a Mats

para deixar alguns.

— Nah, não se incomode. Não preciso de novos maus hábitos.

Ele fechou os olhos, tão perto de dormir quanto eu o tinha visto no tempo em que

estivemos juntos. Eu persuadi sua cabeça em meu ombro e beijei sua têmpora, esperando

248
que ele cochilasse, mas meu telefone escolheu aquele momento para zumbir com uma

mensagem de texto que eu não podia ignorar.

Alexei: Cam está a caminho. Orla está pilotando com ele.

— Pelo amor de Deus.

River piscou de volta à realidade. — Hum? Quem é esse?

— Alexei. Temos entrada.

— Ele está vindo?

— Ele não. Seus irmãos.

— Ambos? — River se sentou, esfregando o rosto. — Para que diabos?

— Nenhuma pista. Não pode ser tão ruim se Cam está com Orls com ele, no

entanto. Ele não iria arrastá-la para negócios duvidosos do clube.

— Sortuda.

River se levantou do sofá e subiu as escadas.

Eu ansiava por ele a cada segundo que ele se foi, e me irritou profundamente que

ele reapareceu com a porra de uma camiseta. — Não se vista por causa dele.

River me jogou uma camisa. — É para meu benefício, não dele. Orla vai subir no

meu rabo e morrer se não estivermos vestidos.

— Nós estávamos vestidos. Isso é apenas mais roupas.

— Vista-se, boo. Não estou enfrentando minha irmã com uma semi.

Por ele, arrastei a velha Henley sobre minha cabeça. Por mim, fui até ele e enterrei

meu rosto em seu pescoço, respirando-o antes que ele se cobrisse.

Eventualmente, ele me empurrou.

Rindo, voltei para o sofá e fumei um pequeno cachimbo. Sozinho com River, eu não

precisava de mais nada. Diante de uma casa cheia de O'Brian's beligerantes, precisava de

toda a ajuda possível.

249
River não fumou mais. Ele roubou um par de minhas meias - ele tinha esquecido de

colocar algumas na bolsa que trouxera de Porth Luck - e voltou para o sofá. — A que

distância eles estão?

Eu abri minha boca para dizer a ele que não tinha ideia, mas uma chave triturando

a fechadura me cortou.

Segundos depois, Cam entrou na minha sala, alto, mal-humorado e bonito. Eu mal

podia ver Orla atrás dele. Senti o cheiro dela, no entanto. Por mais nada sexy que eu

achasse sua sensualidade, ela era a mulher mais doce e perfumada que já existiu nesta

terra.

Saint estava com eles.

Surpreendeu-me que Alexei não achasse que isso merecesse um aviso também.

Saint era muitas coisas, mas normal não era uma delas.

Minha sala de estar de repente estava cheia.

Orla juntou-se a mim no sofá. Cam abraçou River, depois veio até mim e se abaixou

para me puxar para perto. — Você está bem?

— Sim.

— Sem febre de cabana?

— Ainda não.

Cam bufou e se endireitou. Então ele se deixou cair na poltrona a alguns metros de

distância.

Saint e River pararam na porta, sem falar, mas astutos pra caralho.

Eu peguei o olhar de River.

Ele passou a língua pelo lábio inferior e desapareceu na cozinha.

Idiota.

Suspirei e encarei Cam. — A que devo a visita real?

Cam girou o telefone no braço da cadeira. — Você não me visitaria se eu estivesse

escondido em algum lugar? Pelo menos eu bati.

250
— Você não bateu.

— Opa. — O sarcasmo de O'Brian era forte. O humor rabugento. Então Cam coçou

a barba escura e se inclinou para frente. — Nós temos merda para falar que eu não queria

usar os telefones. Você checou este lugar em busca de escutas quando chegou aqui?

— Não.

Cam revirou os olhos e sacudiu a cabeça para Saint. — Faça isso, não tenho o dia

todo.

— Em algum lugar melhor para estar?

— Sempre. A menos que você queira que eu fique por aqui. Eu posso fazer isso

acontecer, irmão.

— Faça o que quiser, cara.

— Uh-huh.

Ao meu lado, Orla fez um barulho impaciente e me cutucou com o mesmo

movimento que viu sua bota balançar e chutar Cam na canela. — Parem de ser idiotas.

Você tem alguma comida? Estou morrendo de fome.

Arranquei suas unhas compridas da minha caixa torácica. — Sirva-se, amor.

Orla levantou-se e seguiu River até a cozinha, deixando-me sozinho com Cam.

Não foi estranho. Tínhamos muita história para isso. Mas eu não sabia o que diabos

dizer a ele. Talvez, obrigado por colocar minha vida em espera por dez anos. Seu irmão consertou

tudo transando comigo em todos os cômodos desta casa.

Lol. Na parte de fixação.

Nada foi consertado, porra.

Saint voltou. Menos suas botas. O cara tinha uma queda por sapatos dentro de casa

desde que Alexei apareceu. Ele flutuou entre mim e Cam e encostou-se no braço do sofá,

olhos apenas para Cam.

Ele não disse nada, mas a implicação era clara. Sem escutas. Eu te amo pra caralho.

251
Cam sorriu de volta e, por um momento, eram apenas os dois na sala. Eu não me

importei. Às vezes era difícil estar perto de pessoas que se amavam tanto quanto eles, mas

River estava aqui. Ele estava na minha casa, batendo na minha cozinha enquanto sua irmã

ria como uma hiena suja. Cam e Saint podiam desmaiar um com o outro o quanto

quisessem, eu estava bem.

— Tudo bem. — Cam bateu com o punho na cadeira. — Não conseguimos falar

com Martel, então eu e Nash fomos procurá-lo. Não posso dizer que ele ficou feliz em nos

ver e não sabia tanto quanto esperávamos, mas fez algumas ligações. Nos colocou em

contato com alguém que o fez.

— Quem?

— Nino Moretti.

Eu balancei minha cabeça. O nome não significava nada para mim. — Quem diabos

é esse?

— O filho de Asa. Eu penso. Não consegui entender direito. Qualquer que seja. O

que quero dizer é que descobrimos que a merda das fronteiras do condado não tem nada a

ver com nenhum cartel ou equipe de quem precisamos ter medo. É o excesso de merda das

ruas, canalizado por grunhidos empreendedores.

— Aspirantes a chefes?

— Nem mesmo isso. Apenas sangues jovens com muito produto e nenhum

território para lançá-lo. Ninguém vai dar a mínima se os expulsarmos.

— Mas?

Os dedos de Cam se contraíram em busca de seus cigarros. Ele os amarrou juntos e

me olhou com um olhar que reconheci tão bem quanto o meu. — Mas isso é uma cultura,

cara. Podemos foder essa equipe o quanto quisermos, mas enquanto formos passivos em

nosso próprio território, sempre haverá mais.

— Não podemos manter os revendedores fora de Porth Luck, a menos que

troquemos o produto nós mesmos.

252
— Eu sei.

— E nós não queremos fazer isso.

— Nós não.

— Então, o que fazemos?

Cam soltou um suspiro irritado. — A última coisa na terra que eu quero fazer.

Precisamos fazer um acordo, então é problema de outra pessoa. Afastar-se e deixar

acontecer o que quer que aconteça.

— Quem? Sambini?

— Provavelmente. — Cam fez uma careta, odiando isso tanto quanto eu. — E não

podemos lucrar com isso, não se quisermos ficar limpos, mas ainda assim teremos que

monitorar cada maldita remessa para ter certeza de que não são meninas nesses malditos

barcos. É uma perda para nós, de qualquer maneira que eu veja isso.

— E se eles não quiserem o acordo? E então?

— Não sei. Vou me encontrar com Gianni na próxima semana. Saberemos mais

então. Nesse ínterim, a tripulação que vende veneno de rato e tenta matar você tem que ir.

Você quer participar disso ou vai deixar Saint se divertir?

O dilema sempre presente. Eu não era um homem violento. Ser bom em alguma

coisa não a tornava uma porra de um hobby. Então, novamente, esses bocetas jogaram

River no Atlântico e quase o mataram. Quem quer que eles estivessem mirando, essa

merda não poderia voar.

— Estou dentro.

— Eu também.

Eu balancei minha cabeça para o lado, o movimento agudo vibrando em meu

pescoço.

River estava parado na porta, o bastão de chocolate de seu Double Dip enfiado na

boca, açúcar brilhando em seus lábios, olhos tão escuros e raivosos que eram quase pretos.

Cam respirou fundo.

253
River falou novamente antes que pudesse. — Não brinque comigo. Quem tentou

machucar Rubi precisa de uma bota no pescoço, e vai ser minha.

254
CAPÍTULO 19
RIVER

Ninguém discutiu comigo. Não Cam. Não Saint. Nem Rubi. Ele convidou todos

para ficar para o jantar e passou por mim na direção da cozinha.

Cam me deu uma olhada.

Eu mostrei a ele meu dedo do meio. — Cale a boca.

— Não disse nada.

— Sim, bem, não.

Saint fez um som que poderia ser uma risada, mas era difícil dizer. Ele evaporou na

cozinha também, e eu enfrentei meu irmão mais velho sozinho.

Eu o cutuquei para obter informações. — O que você sabe sobre a tripulação que

fornece Jonsey?

Cam se levantou e foi até a janela, abrindo-a para fumar um cigarro. — Incluindo

ele, há três traficantes no terreno. Ele está escondido, mas os outros estão fora de casa

todas as noites.

— Quem os está fornecendo?

— Uma equipe em um esconderijo em Truro. Fica perto da estação de trem, onde as

crianças estão trazendo as recargas da cidade. Mateo e Folk estão nisso enquanto falamos.

Eles encontraram o carro que você identificou do lado de fora e, na próxima viagem, eles

seguirão os mensageiros de volta de onde vieram, então saberemos com certeza com quem

estamos lidando.

— Então o que?

— Então nós os atingimos onde dói. E continuamos batendo neles até que acabe.

— Você vai matá-los?

— Espero que não.

255
Eu também. — Essa bagunça é minha culpa.

— Parcialmente. — Cam soprou fumaça pelo nariz. — Mas é de Rubi também. Ele

sabe que não deve jogar seu peso em uma cidade onde não temos mais influência.

— Nenhuma mesmo?

Cam encolheu os ombros. — Deixamos um vácuo quando paramos de movimentar

o produto. Era apenas uma questão de tempo antes que explodisse em nossos rostos como

sempre acontece.

— Você não pode manter as drogas fora de Porth Luck mais do que em qualquer

outro lugar.

— Eu sei que. É o processo que é o problema. Se Rubi vai ficar cirurgicamente

ligado a você, vai sair que ele é um de nós. Então vaza que uma equipe veio atrás dele e

não fizemos nada a respeito. Que somos fracos e o que acontece a seguir?

Sangue. Muitos disso. Agachei-me junto à mesinha de centro e resgatei o cachimbo

de Rubi. Ele o deixou carregado. Aproveitei ao máximo e acendi enquanto Cam me

observava, olhando mil flechas abrindo buracos em minha armadura. — Você está

dizendo que precisa ir duro com isso?

Cam terminou o cigarro e me encarou novamente com um aceno sombrio. — Estou

dizendo que temos que fazer. É um grande passo para trás, mas se não dermos a cara por

isso, todas as vadias vão ter um estalo. Então os meninos grandes começam a vir também.

Para os clubes de strip. O Jardim. A empresa de transporte. Então o que? Eles matam

todos nós?

— Não diga isso.

— Eu tenho que dizer isso. Porque é verdade. É um fato triste, Riv, mas alguns de

nós nascemos muito envolvidos nessa merda para escapar.

— Então realmente nunca acaba. — Dei outra tragada no cano, depois deixei de

lado. — Todo esse tempo, pensei que você simplesmente não queria um nove às cinco.

256
— Eu quero nove às cinco. Também quero uma hora de dormir às dez horas, onde

possa dormir sem me preocupar com o desemprego de cinquenta irmãos. Maridos e pais

que se enforcam antes de verem seus filhos morrerem. Mas isso não vai acontecer, então

preciso aproveitar ao máximo até que o clube morra comigo.

Eu tremi, esfregando meus braços nus. — Esse é o seu plano? Até que a morte nos

separe do MC?

Cam acendeu outro cigarro. — Espero que você tenha um melhor para você.

— Port Luck era meu plano, e aqui estamos, cinco anos depois, ainda enterrados na

mesma bagunça tóxica.

Pela primeira vez na minha vida, falei sem raiva e ressentimento, mas Cam

estremeceu no mesmo momento em que senti Rubi na porta.

— Eu mandei uma mensagem para o seu outro amante. — Ele disse a Cam

categoricamente. — Disse a ele para trazer a si mesmo e as tropas para o jantar.

Ele voltou para a cozinha sem olhar para mim.

Cam fez uma careta. — Pensei que você estava se saindo melhor em não ser um

babaca com ele?

— Eu estou. Eu estava falando sobre o clube.

— Uh-huh.

— Esse grunhido fala bem?

— Se você gostar.

— Vai servir. Ei, se a inteligência está certa sobre os garotos desconectados do

condado, isso significa que Alexei está fora de perigo com seu suserano?

— Ex-senhor. — O olhar furioso de Cam se aprofundou em proporções quase

cômicas. — E é complicado. Não tenho certeza se até mesmo Saint entende isso na metade

do tempo, muito menos eu. Mas é o que importa no que diz respeito a isso. Podemos lidar

com nossa própria merda.

— Mas ele está bem?

257
— Alexei? — Cam suspirou. — Não sei. Ele tem a mesma necessidade intrínseca de

consertar tudo que o resto de nós, então sentar nessa é tão provável que o mate quanto

qualquer outra coisa. Mas tem que acontecer. Não podemos cair em cima dele toda vez

que algo estragar. Somos mais fortes do que isso. Temos que ser, ou tudo o que perdemos

foi em vão.

Eu tinha ouvido fragmentos daquele discurso antes e atirei de volta na cara de Cam,

mas a compulsão de fazê-lo agora não estava em mim. Eu queria ajudar. — Onde você

precisar de mim, eu estarei lá.

— Sério? Quer voltar à estrada?

Era uma pergunta justa. Abandonei o cachimbo de maconha e me aventurei mais

perto de onde Cam estava parado perto da janela. — Eu não estou remendando de volta,

se é isso que você está perguntando.

— Você nunca corrigiu. Você acabou só saindo.

— Bonitinho.

— É verdade. Rubi paga suas dívidas.

— Ele não.

Pela primeira vez, meu irmão sorriu de verdade, um sorriso malicioso dividindo

seu rosto ao meio. — Claro que sim. Eu o peguei fazendo isso, idiota sentimental.

— Ele não é um idiota. — O estalo saiu de mim, instintivo e feroz. Eu amava meu

irmão, mas não hesitaria em censurá-lo se ele desrespeitasse Rubi novamente.

Você faz isso o tempo todo.

Não.

Não mais. Algo mais mudou dentro de mim, e não importa o que aconteceu, não

estava mudando de volta. — Eu vou fodidamente pagá-lo.

O sorriso de Cam se expandiu para um território absolutamente idiota. — Fale com

Decoy então. Ele é o secretário.

258
Então seu humor desapareceu e a tensão nos envolveu como gás cloro. Espesso.

Sufocando. Apesar da erva a que me agarrava, o pânico tomou conta de mim, eclipsando o

calor que Rubi havia deixado para trás.

Meu pulso saltou.

Manchas escuras dançavam em minha visão.

Cam continuou falando, mas eu não conseguia ouvi-lo por causa do rugido de

sangue em meus ouvidos.

— Ei. — Uma mão gentil roçou a base da minha espinha. — Sem brigas no meu apê.

Apenas amantes dentro dessas paredes sagradas.

— Nós não estamos brigando. — Cam disse distante.

A risada baixa de Rubi parecia um milhão de vezes mais próxima. — Lembre-se

com quem você está falando. Conheço um motim O'Brian quando vejo um.

— Não é um motim. É uma conversa, e já que vocês estão aqui, vou dizer isso a

vocês dois...

— Deixe isso de fora, companheiro. — Rubi retrucou. — Você disse que cansou de

bancar o assassino do Cupido...

— Não sobre isso. — Cam rosnou. — Pelo amor de Deus. Você pode falar sério por

um maldito minuto?

— Então é aqui que todos vocês estão.

A nova voz veio de trás de mim.

Alexei.

Anos atrás, se alguém tivesse me dito que Cam encontraria um amante mais

enigmático e estranho que Saint, eu teria dado a eles drogas melhores. Mas quando meus

membros se reconectaram com meu cérebro e eu girei, lá estava ele. Um ombro apoiado no

batente da porta, nos observando com diversão fria. — Diga-me que você tem uma razão

melhor para me convocar aqui do que isso?

Cam desviou seu olhar de Rubi para Alexei. — Você tem outro lugar para estar?

259
— Agora mesmo? — Um leve sorriso brincou nos lábios de Alexei. — Não se você

estiver aqui, mas ainda assim. Esse argumento é antigo. Deixe-os em paz.

— Farei quando terminar.

Alexei deu de ombros, esperando.

O calor no olhar de Cam se transformou em algo menos raivoso, mas a trégua foi

breve, e foi para mim que ele fez uma careta em seguida. — Eu vou dizer isso uma vez,

então qualquer resposta que você me der se torna um evangelho.

— Você é o pregador, irmão mais velho.

Cam cruzou os braços sobre o peito, escondendo as mãos, e seu olhar disparou para

Alexei. Seu olhar nervoso. Porra. Eu estava bagunçando isso também.

Eu me aproximei e me forcei a alcançá-lo quando tudo que eu queria era a

segurança dos braços de Rubi. — Com o que você está preocupado?

— Tudo. Todos. Você quer entrar nisso, tudo bem. Somos seu povo enquanto você

quiser que sejamos. Mas você precisa deixar todo o resto na porta. Se você não pode fazer

isso, não pode viajar conosco, e não vou ceder a isso. Eu não posso... foda-se. — Cam

fechou os olhos e respirou fundo antes de me encarar novamente. — River, não posso ver

outro irmão sangrar. Isso vai me matar, juro por Deus.

Eu acreditei nele. Bloqueando Rubi, passei meus braços em volta do meu irmão

mais velho e o segurei com força. — Eu te escuto. Mas isso não vai acontecer, ok? Nós

fodemos uma centena de equipes idiotas como esta antes. Eu sei que faz um minuto desde

que eu estava na estrada, mas Nash estava certo. Quer eu goste ou não, ainda sou um

Kings, e essa merda está no meu sangue.

— Nada mais está em seu sangue?

— Apenas maconha e amor, Cam. Eu prometo.

Cam riu em meu ombro. — Acredite em mim, o amor deixa um homem louco pra

caralho.

— Ainda está aqui, não é?

260
— Quase. — Cam suspirou e me soltou.

Tardiamente, percebi que estávamos sozinhos - que Rubi e Alexei haviam

evaporado no ar.

Ou, você sabe, a cozinha, como todo mundo. Eu estava começando a me perguntar

o que Rubi tinha lá que eu perdi nos quatro dias que estivemos aqui.

Recuei para o sofá e observei Cam vacilar entre querer se juntar a mim e sentir falta

de Saint e Alexei o suficiente para que ele não soubesse o que fazer consigo mesmo. Foi

hilário pra caralho, embora possa ter sido a erva.

Eventualmente, ele escolheu a cozinha e, pela primeira vez, não me importei de

perder para o que quer que o puxasse em uma dúzia de direções. O amor que ele tinha por

aqueles esquisitos era épico, e ele merecia. Todos eles fizeram. Meu único problema com a

ausência dele era a aversão que desenvolvi por ficar sozinho. A batida em meu coração no

momento em que a porta se fechou atrás dele.

Porra, eu estava uma bagunça.

Inclinei-me para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e deixei minha cabeça

pender, fechando os olhos. Rubi. Esse foi meu único pensamento, mas quando o sofá

afundou ao meu lado, não era ele.

O cheiro de limão e menta tomou conta de mim. Abri meus olhos para Embry

olhando para mim, e não foi a pior coisa do mundo. E melhor do que isso, ele não falou.

Apenas sorriu e afundou nas almofadas, já meio adormecido.

Eu o deixei em paz, notando que ele não apareceu sozinho. Alexei também estava

de volta, me observando com um olhar que eu não tinha esperança de decifrar.

Suspirando, sentei-me, esticando as dobras da minha coluna. — Você tem algo a

dizer?

— Nada que você já não saiba.

— Eu não vou machucar Cam.

— Eu não pensei que você iria.

261
— Ou Saint.

Alexei levantou uma sobrancelha. — Você acha que é apenas Cam e Saint que me

preocupam?

Fiz uma pausa na ação de pegar um fio da minha velha camiseta. — Você está

preocupado com Rubi?

Alexei deu de ombros e se aproximou para se sentar na mesa de centro. — Talvez.

Vou poupá-lo de outra conversa dolorosa, no entanto. Você é mais astuto do que gostaria

de ser.

— Obrigado. Eu penso.

Ao meu lado, Embry bufou, mas sua risada foi interrompida pela porta da cozinha

se abrindo.

Eu pulei uma milha. Apenas a contenção gentil de Embry me impediu de ficar de

pé.

— Fácil. Eles não estão vindo atrás de você.

Um coro desafinado de Feliz Aniversário o apoiou. Então a filha de Mateo e sua

pequena ajudante loira dançaram com poppers e cercaram Alexei, jogando seus braços

esguios ao redor dele como se ele não fosse um assassino letal que aterrorizava o

submundo.

Eles subiram em cima dele, Ivy em seu colo, Liliana em suas costas. Elas tinham

presentes e cartões.

Amor e risadas.

Eu tinha visto um monte de merda que me surpreendeu, mas este foi o top dez.

E talvez para Alexei também.

Ele se levantou, levando Ivy e Liliana com ele, agarrando-se a seu corpo esguio

como lapas. Para onde ele planejava ir, eu não fazia ideia, mas a sala se encheu de irmãos

antes que ele tivesse a chance, e ele se sentou para receber mais presentes.

Mais risadas, principalmente às custas dele.

262
Ivy amarrou uma pulseira trançada em seu pulso. Era igual a da Rubi, mas sem o

rosa choque. Alexei traçou o bronze prateado com a ponta do dedo. — Por que você

escolheu essa cor para mim?

Ivy terminou seu nó áspero e frouxo. — É como suas meias com os unicórnios

prateados. Todo o resto é preto ou branco.

— Hum. Então a coisa mais interessante sobre mim são minhas meias?

— Não bobo. Você também sabe muitas coisas estranhas.

— Tudo bem. — Rubi caminhou entre eles e tirou Ivy do colo de Alexei. — Nash, dê

a ele seu verdadeiro presente.

Nash. Droga. Não o tinha notado vagando o mais longe possível de Rubi. Não

poderia deixar de notar a tensão repentina na sala, no entanto. Ou a falta de contato visual

entre ele e Rubi quando ele deu um passo à frente, um presente embrulhado em jornal em

suas mãos tatuadas. — Você é um bebê de ano bissexto. E você é, tipo, russo e tal. Não

consegui encontrar um Daily Star que servisse em você, então usei o que guardamos para

o aniversário de Saint.

Alexei pegou o presente e examinou a impressão no papel de embrulho do jornal.

— É onde os ingleses guardam seus vegetais?

Nash deu de ombros, estranhamente quieto.

Rubi preencheu o vazio. — Foi um bom dia para ser irlandês.

— É isso que você é, ala? — Alexei olhou para Saint, inquieto na janela. — Irlandês?

Saint não disse nada.

Talvez ele não soubesse.

Alexei deixou passar e desembrulhou seu presente de aniversário. Era um livro.

Um livro russo que fazia as duas sobrancelhas desaparecerem na linha do cabelo. —

Tchekhov?

Nash murmurou algo que não entendi.

Alexei riu. — Sim. OK. Eu vou levar isso. Obrigado. Você é muito gentil.

263
Perplexo, deixei minha atenção se voltar para Rubi. Ele ainda estava segurando Ivy.

Liliana se aproximou de Embry, sentando-se no braço do sofá ao lado dele, mas seu olhar

profundo estava em mim, olhos arregalados e curiosos.

A reunião se dispersou um pouco. Os irmãos se dispersaram, a maioria voltando

para a cozinha, inclusive Rubi.

Embry ficou onde estava e tirou outra soneca. Liliana deslizou para o colo dele,

aninhou-se nele e ficou me encarando.

Engraçado, mas não estava com vontade de ser interrogado por um mini-Mateo. Eu

poderia dar a ela as respostas que ela queria sem isso.

Levantei-me e enterrei o cachimbo de maconha na gaveta do boticário antes de

encará-la. — Eu não vou machucar Rubi. Eu amo ele.

Liliana brincou com o cordão do moletom de Embry. — Você vai ficar aqui?

— Ficar onde?

— Aqui. Todo mundo fica triste quando ele está na sua casa.

— Eu sei.

— Você deveria melhorar.

— Eu sei disso também.

— Você pode ficar com sua pulseira então. — Liliana enfiou a mão no bolso e

pescou outro pedaço de trança, amarelo brilhante entrelaçado nos fios mais lisos. — Eu

disse a Ivy que você era muito mau para tê-lo ainda, mas papai disse que você também

está triste.

— Isso é legal da parte dele.

— Ele é legal. — Ela retrucou com ousadia.

Suprimindo um sorriso, estendi meu braço, observando seus dedos hábeis

amarrarem um nó que resistiria ao Armagedom. — Rubi é mais legal. Ele é a minha pessoa

favorita em todo o mundo.

Liliana assentiu. — Você é dele também. É por isso que sua cor é como o verão.

264
— É ele. — Rubi murmurou baixo em meu ouvido, atrás de mim novamente sem

nenhum aviso. — Raio de sol O'Brian.

Eu dei uma cotovelada nele. — Você nunca me chamou assim em sua vida.

— Não na sua cara.

Eu não sabia se ele estava falando sério, mas com o olhar atento de Liliana sobre

nós, discutir sobre isso não parecia certo. Em vez disso, deixei que ele envolvesse seus

braços em volta de mim e me inclinasse contra ele, moldando minhas costas em seu peito,

e o som feliz que ele fez acalmou cada centímetro de mim que ainda estava uma bagunça

ansiosa.

— Está chovendo. — A voz de Orla veio da porta da cozinha. — Locke pode entrar?

Rubi beijou meu pescoço e me soltou. Ele passou por mim e se moveu para onde

minha irmã estava. — Isso não depende de mim.

— É sua casa.

— Ele está trabalhando, Orls. Protegendo você. É o trabalho dele ficar do lado de

fora e se molhar.

Orla fez uma careta.

Rubi a olhou com olhos mortos. — Locke é duro como eles vêm. Ele não vai pegar

pneumonia por causa de um pouco de chuva, mas vou garantir que ele receba um prato,

ok? Assim como Saint sempre faz quando está guardando Cam.

— Como se Cam fosse deixar Saint na chuva.

— Como se Saint fosse dar a ele a escolha. — Rubi bagunçou o cabelo de Orla, então

recuou antes que ela pudesse olhar. — E Locke também não daria a você. Ninguém o

forçou a aceitar seu destacamento.

A ferocidade no olhar de minha irmã vacilou o suficiente para que eu me colocasse

entre eles, de costas para Rubi, e agarrei suas mãos. — O que é? Estamos perdendo alguma

coisa?

265
Orla balançou a cabeça. — Nada que eu possa te dizer. Eu acabei de... não quero

que ele seja tratado como se fosse descartável.

— Não fazemos isso. — Disse Rubi.

Orla lançou um olhar furioso por cima do meu ombro. — Claro que você faz. Mas

não ele, ok? Promete-me.

— Eu prometo. — Rubi parecia tão confuso quanto eu. — Mas eu não tomo as

decisões, então talvez você devesse conversar com outra pessoa.

Ou talvez ela quisesse que Rubi fizesse isso por ela, mas o momento passou sem

que Orla elaborasse, e ela passou por nós para se sentar com Liliana e Embry.

Rubi suspirou e me puxou para a cozinha.

O mundo inteiro estava lá, menos Mateo.

Cam, Saint, Alexei, Nash. O pai de Ivy, cujo nome ainda não combinava com a

forma como eu o via. Decoy. Parecia conivente. Manipulativo. Mas o homem que enrolava

os cachos loiros da filha nos dedos parecia muito mais simples do que isso.

Cam estava mexendo com uma panela grande.

Rubi o empurrou para fora do caminho e assumiu, e por um momento, foi tão como

nos velhos tempos que me senti dez anos mais jovem.

Mas minha mãe não estava aqui para acabar com isso. Em vez disso, Saint e Alexei

observavam com expressões tão ilegíveis que eu queria gritar, e Nash – gentil, engraçado e

confiável Nash, olhava para o chão como se desejasse que ele o engolisse inteiro.

Isso é besteira.

Eu abri minha boca para dizer isso.

Do lado de fora, uma explosão devastadora me cortou.

266
CAPÍTULO 20
RUBI

O mundo estava em movimento antes que eu o alcançasse.

Em massa, entramos em ação, uma máquina bem oleada, acostumada demais ao

drama para quebrar diante do desastre. Exceto, pela primeira vez, não era nosso.

Enquanto a poeira caía da casa destruída na rua, a minha permaneceu de pé.

— Gaso. — Locke gritou. — Eu posso sentir o cheiro. Tire as crianças daqui.

Decoy já os estava conduzindo para fora de casa e para seu carro, protegendo Ivy

com seu corpo.

Embry e Orla flanqueavam Liliana. Eu não conseguia nem vê-la. Mas não foi o

suficiente. Dois irmãos, três meninas. E Locke já havia partido, correndo em direção ao

pandemônio sem olhar para trás.

Ele é bombeiro. Ele pode ajudar.

Cam o soltou e pegou o braço de Saint, empurrando-o em direção ao carro. —

Pegue River e proteja-os. No caso de isso ser uma porra de uma distração.

Pensamentos sombrios, mas vivíamos em tempos sombrios há tanto tempo que

faziam um sentido doentio.

River e Saint correram para suas motocicletas. Cam e Nash correram atrás de Locke,

mas eu fui mais lento. Principalmente incapaz de deixar River sair sem... Porra. Eu não

sabia. Sem algo.

Dobrei-me para trás, agarrando seu braço antes que ele pudesse enfiar o capacete

para baixo. — Tome cuidado.

— Você também.

— Eu quero dizer isso, Riv. Por favor.

267
Ele me sacudiu. — São as pessoas que amo que se machucam e morrem, boo.

Nunca eu.

Deus, ele estava tão fodidamente errado. Mas não havia tempo para discutir com

ele. Decoy ligou o motor de seu carro e partiu, levando Saint com ele enquanto a Softail de

River ganhava vida.

Dei um passo para trás e ele disparou, deixando-me comendo poeira.

Literalmente. Estava em todo lugar. Passei a mão no rosto e saí correndo pela rua,

perseguindo Cam e Nash. Cheguei à casa explodida e os vapores acre de fumaça e gás

encheram meus pulmões.

Locke já estava nos escombros, arremessando tijolos com suas mãos grandes. — Por

aqui! — Ele gritou. — Faça exatamente o que eu digo.

Ninguém discutiu. Nós rastejamos para a bagunça e levantamos cada pedaço de

concreto e madeira que ele nos mandou, descobrindo a senhora idosa que morava na casa.

Ela estava viva.

Maltratada e empoeirada, mas vivo.

O gato dela também.

Peguei-o e recuei quando os serviços de emergência chegaram para assumir.

Cam se juntou a mim no caos. Ele encontrou uma caixa. Colocamos o gato dentro e

ele me deu uma olhada. — Não vamos ficar com ele.

— Essa é a sua principal preocupação agora?

— É sempre minha preocupação com vocês, filhos da puta.

— Onde está Alexei?

— Aqui não.

Luzes azuis inundaram minha rua, validando o desaparecimento de Alexei. Ele

tinha identidades falsas há dias, mas ainda era mais seguro ficar invisível.

Meu? Eu não dou a mínima. Fiz sinal para um policial e dei a ela o gato e meu

endereço. — Vamos levá-la se ela precisar de cuidados um pouco.

268
— Porra não vai. — Cam resmungou. — Você nem mora aqui metade do tempo.

— Cale a boca. Posso ir agora?

— Não sozinho.

Foi a minha vez de rosnar, mas Cam não me notou. Ele andou pela rua até que

Nash e Locke emergiram ilesos dos destroços, então decretou que pegaríamos a estrada

juntos.

Locke não queria ir embora. A sensação do passado chamando-o para casa era forte

no ar e demorou um pouco para acalmá-lo.

Preocupado, fiquei para trás, mandando mensagens de texto para River e Orla até

que um deles respondeu.

Orla: No complexo. River está bem.

Rubi: Eu não perguntei.

Orla: Não precisava. Agora retribua o favor.

Rubi: Nash também está bem.

Orla: RUBI

Oh. Ah.

Rubi: Locke não quer ir embora. Por que ele não é mais bombeiro?

Orla: Não sei. Ele está bem?

Eu me inclinei para trás, esticando o pescoço para ver melhor onde Locke estava,

flanqueado por Nash e Cam. Ele parecia bem, mas a tensão em seus ombros fez os meus

doerem de solidariedade. Coçar isso, fez com que eles queimassem em agonia, uma

pontada de dor passando por eles até a base do meu crânio, me deixando com uma

enxaqueca instantânea.

Porra. Eu me endireitei, esfregando minha têmpora. Mas Thor estava com um

humor péssimo e ele trovejou de volta para mim, embaçando minha visão. Eu preciso

vomitar. Foi a única coisa que aliviou a pressão no meu crânio. E sexo. Oooh. Mas River não

269
estava aqui, e eu sabia que estava em um mundo de diversão antes que meu corpo jogasse

seu trunfo e purgasse a porra da minha alma.

Naquele momento, eu queria tanto River que era uma dor física mais forte do que

qualquer dor que eu já senti. Isso quase me deixou de joelhos, mas Cam estava na minha

cara antes que eu pudesse ceder.

— Sele-se. Estamos partindo.

— Sim senhor.

Eu estava sem sapatos. Voltei para minha casa e encontrei minhas botas. Guardei o

jantar meio cozido na geladeira e me arrastei para fora com minha jaqueta de montaria

pendurada nos ombros.

Cam já estava montado e pronto para voar.

Locke também.

Nash me deu um olhar demorado. Um que viu cada centímetro de mim. — Você

está pronto para montar?

Não. Mas eu tinha que estar. River não estava aqui, e ficar sem ele não era uma

opção. Não mais.

Eu comecei minha moto. — Estou bem. Vamos rolar.

Notícia de última hora: Eu não estava bem, e Nash sabia disso.

Cam e Locke rugiram para longe, deixando Nash preso entre proteger nosso

presidente e cuidar de mim, e apesar do MOT que nossa amizade precisava agora, a luta

era real.

Coloquei meu capacete, bloqueando-o, acelerando a Bobber, chorando por dentro

enquanto o poderoso motor fazia todo o meu corpo tremer de dor.

Não ande. Você não pode ver porra.

Não poderia dizer se era minha consciência ou a súplica de Nash.

De qualquer forma, eu ignorei isso também.

270
A viagem até o complexo foi um inferno. Nash escolheu Cam e queimou à frente

para flanqueá-lo, mas todas as esperanças que eu tinha de ficar sozinho foram frustradas

quando Folk apareceu do nada em sua Fat Boy.

Ele me seguiu por todo o caminho de volta, só se afastando quando estávamos em

segurança através dos portões para estacionar com a ralé.

Eu mal notei, muito ocupado forçando meus olhos doloridos para qualquer sinal de

River. O carro de Decoy estava onde deveria estar. A motocicleta de Saint estava

desaparecida, mas isso não significava nada. Ele nunca esteve onde deveria estar.

Nem River, porém, e eu precisava de sua presença pontiaguda mais do que o

silêncio de Saint agora.

Eu estacionei minha moto e tirei meu capacete. O sol do final da tarde me assaltou.

Estremeci antes que o corpo de uma irmã abençoada o bloqueasse.

Orla pegou meu capacete. — Ele está na capela. Alexei chamou para a igreja.

— Agora?

— Agora mesmo.

Eu não perdi a urgência em seu tom. Ou o zumbido sinistro no ar. Ou o fato de que

River estava frequentando a igreja e não parecia particularmente fora do comum.

Não se acostume com isso.

Esfreguei a mão no rosto e acenei para Orla. — Tudo bem.

Ela se derreteu. Eu me levantei da minha moto e flutuei pelo quintal.

Uma casa cheia me esperava. Apesar da V-Rod de Saint estar desaparecida, ele já

estava lá, girando em seu assento. Embry estava caído na dele, fadiga tão profunda e

indesejável quanto a minha marcando seu rosto.

River estava perto da janela, o ombro apoiado no vidro, o olhar fixo em mim. Eu

queria tanto ir até ele, minha alma doía, mas Mateo ainda não havia voltado.

271
Fui até Embry primeiro, alcançando-o no mesmo momento em que Nash preencheu

o espaço do outro lado. Não nos olhamos, mas juntos encaramos o bom capelão, e fui eu

quem fez a pergunta. — O que há de errado, Em?

Embry pegou a bebida energética que Nash lhe ofereceu. — Não sei.

Isso me deu uma pausa. Embry era tão terrível em falar sobre suas próprias merdas

quanto o resto de nós, mas seu desvio era geralmente mais imaginativo.

Eu me aproximei um pouco mais, lutando para manter minha atenção em um irmão

que precisava de mim em vez do espinhoso humano que me possuía de corpo e alma. —

Você está com dor?

Embry soltou um suspiro e balançou a cabeça. — Na verdade. Só cansado. Tipo, eu-

não-consigo-manter-meus-porra-olhos-abertos, cansado.

Eu vi então, o peso de algo invisível caindo sobre ele. Observei-o tomar um gole da

bebida energética e troquei um olhar com Cam do outro lado da mesa. — Mats sabe?

— Que eu tenho narcolepsia aleatória? — Embry fez uma careta. — Não

exatamente. Mas ele sabe que estou dormindo mais do que uma preguiça e está me

obrigando a ir à clínica depois do fim de semana.

— Isso é bom o suficiente. — Cam resmungou atrás de mim. — Deixe-o em paz.

Temos merda para fazer.

Dei um abraço em Embry com um braço só e obedeci ao meu presidente, sentando

no lugar vago mais próximo. Com Mateo ainda na estrada e Decoy com Ivy, havia lugares

vagos na mesa, mas River permaneceu perto da janela, a postura mais casual possível

quando ele estava em negócios no clube.

Cam bateu seu martelo.

O silêncio caiu.

— Tem sido um dia de merda. — Ele começou. — Não sei sobre o resto de vocês,

mas eu não tinha uma explosão de gás suburbana no meu itinerário.

272
Uma risada fraca percorreu a mesa, mas durou pouco. Todos nós conhecíamos Cam

bem o suficiente para avaliar sua expressão pelo que era. Alguma merda estava prestes a

acontecer. Merda ruim. Como sempre.

Minha têmpora latejava no mesmo ritmo do meu pulso ansioso. Como um filho da

puta fraco, procurei River no mesmo momento em que ele parecia estar procurando por

mim. Seu olhar travou com o meu. A igreja desapareceu. Por uma fração de segundo, era

só ele e eu e meu coração se acalmou.

Então Cam falou novamente. — Temos uma bolha dupla de informações. Vou

começar com a equipe de linhas do condado para que possamos seguir em frente antes de

chegarmos ao resto. Quer ficar?

Ele falou com River.

River piscou, desviando o olhar de mim. — Eu posso ficar.

— Sente-se então.

— Não.

Cam revirou os olhos. — Faça a porra de uma parada de mão por tudo que eu me

importo.

— Crianças. — Alexei interveio, suave e mortal. — Não temos tempo para

conversas inúteis. Vá direto ao ponto para que River possa tomar sua decisão.

Sentei-me ereto na minha cadeira. — Que decisão?

— Paciência, velho. — Alexei levantou a mão. — Tem muito.

Se essa era a tentativa de Alexei de tranquilizá-lo, ele poderia chupar um saco, mas

eu sabia que não devia me levantar. Meu assassino favorito não era nada senão eficiente.

O embaixador da conversa implacável.

Respirei fundo e me obriguei a esperar.

— Tudo bem. — Cam bateu com o punho na mesa. — Mateo veio com notícias

sobre a tripulação das linhas do condado. A reposição deles chegou durante a noite e ele

os rastreou de volta para Enfield. Acontece que eles estão roubando sua própria equipe

273
para transferir o produto para cá, o que é uma boa notícia para nós a longo prazo, mas

ainda nos deixa trabalho a fazer a curto prazo.

Eu balancei a cabeça, entendendo o processo.

Embry franziu a testa. — Não podemos simplesmente deixar que seu próprio

pessoal os derrube?

— Eventualmente. — Disse Cam. — Mas isso remonta ao que conversamos da

última vez. Precisamos que essas tripulações tenham medo de nós. Para nos respeitar. Se

não resolvermos isso sozinhos, estaremos lutando contra essa merda pelo resto de nossas

vidas.

Nash acendeu um cigarro. — Até onde vamos empurrá-lo? Por mais frágil que seja

essa equipe, não podemos lutar contra Enfield.

— Acordado. — Esfreguei minhas têmporas. — E eu não estou perseguindo

adolescentes por aí. Precisamos cortá-los entre lá e aqui.

O sarcasmo se acumulava no olhar habitual de Cam. — Sério, você acha? — Ele

acenou com a cabeça para Saint. — Preencha-os.

Saint ainda estava girando em sua cadeira. Ele parou o tempo suficiente para enviar

a Cam um olhar tão plano quanto os pântanos de Lincolnshire. Então ele se levantou da

cadeira com a graça de um maldito guepardo e pegou uma garrafa de água do centro da

mesa. — Há seis deles. Dois no esconderijo em Truro, os outros quatro girando para

contrabandear produtos de Enfield para um lugar em Berkshire. De lá, eles recrutam

atiradores em Reading e os colocam em trens em todas as direções que você possa

imaginar. Se os atingirmos lá, podemos impedir que o tráfego nas linhas do condado flua

para mais lugares do que apenas aqui.

Era muito para Saint dizer ao mesmo tempo. Muito. Até Cam piscou.

River não, no entanto. Ele avançou e apoiou os punhos na mesa, o anel do clube

balançando livre de sua camiseta preta desbotada. — Você não pode mirar nas crianças

nos trens. Eles são vítimas do caralho.

274
— Eu sei. — Saint andou ao redor de Nash e parou atrás de Cam. — Eu estava

chegando a isso.

— Vá em frente então.

Uma pausa se estendeu através da mesa, muito longa e carregada para qualquer

um, exceto Saint, enquanto ele se aproximava de Cam e Alexei, tomando seu lugar entre

eles. Em anos passados, ele teria acendido para ganhar mais tempo, mas não fumava mais.

Quase não bebia. Apenas comeu comestíveis em seu tempo de inatividade para manter

aquele grande cérebro tão quieto quanto o resto dele.

— Eles se encontram uma vez por semana. — Disse ele finalmente. — Os quatro.

Na estrada, em dois carros já colocamos rastreadores. Se Mateo estiver certo, eles se

juntarão esta noite para distribuir o dinheiro que os atiradores trouxeram. Se os atingirmos

agora, podemos fodê-los e pegar o dinheiro deles.

Trabalhou para mim. — E a casa em Truro?

— Teria que ser um ataque coordenado. — Disse Alexei. — Ou sua operação

continuaria aqui independentemente. É uma pena que não tenhamos mão de obra ou

inteligência para atingi-los em todos os lugares ao mesmo tempo, mas isso terá que ser o

suficiente.

— Não podemos mobilizar outras cartas? — River perguntou.

Nós. Um deslize de sua língua diabólica, mas meu coração fez uma dança

prematura e feliz do mesmo jeito. — Podemos mobilizar quem quisermos. Não nos

adiantará muito se não soubermos para onde enviá-los. Onde quer que o resto dessa carga

vá, temos que deixá-la ir.

River acenou com a cabeça, então pegou Cam observando nossa troca e soprou-lhe

um beijo de dedo médio. — O que? Posso ser razoável.

— Uh-huh. Eu também. É por isso que estou colocando você e Rubi no esconderijo

em Truro. Então você pode acertar as contas enquanto Saint e Nash lidam com os garotos

de Reading.

275
River abriu a boca, mas Cam não tinha terminado.

— Não fique muito animado. Eu vou contigo.

— O que? — Isso veio de mim. — Para que diabos? Você não deveria mais estar na

estrada.

— Nem você. — Cam rebateu. — Nenhum de nós está quando podemos evitar, mas

se você acha que vou ficar aqui sentado enquanto os idiotas que tentaram matá-lo ainda

estão soltos, você está louco. Além disso, vai me manter longe de outras coisas.

— Que outras coisas?

— Timmersons. — Ele gesticulou para Alexei. — Sua vez.

Alexei se inclinou para frente e se dirigiu a River. — Como prometido, a empresa

imobiliária agora enfrenta a falência devido a uma conta de impostos não paga. O divórcio

e outros problemas enfadonhos comprometeram todos os fundos pessoais que poderiam

salvar a empresa, e eles estão de joelhos.

River arqueou uma sobrancelha. — Incrível. Qual é o truque?

— O desespero gera estupidez. Folk acredita que eles estão se preparando para

atear fogo. Eu mesmo irei dar uma olhada quando terminarmos aqui, mas faz sentido. Sua

apólice de seguro não cobrirá tudo o que você pode perder e isso o coloca no mesmo

campo que eles.

— Desesperado?

— Quebrado. Eles estão apostando em você correndo para vender sua terra para o

primeiro licitante que aparecer.

River absorveu isso e, pela primeira vez, suas emoções eram difíceis de decifrar. Eu

esperava raiva. Preparado para isso, mesmo. Mas o brilho mudo em seu olhar expressivo

era resignação mais do que qualquer coisa. Porra. Ele estava realmente considerando isso?

Vender? Depois de tudo que ele passou para chegar a esse ponto?

— Em quanto tempo eles farão isso? — Ele perguntou.

276
Alexei deu de ombros. — Em breve, se a avaliação de Folk estiver correta, e não

tenho motivos para acreditar que não esteja. Mas vamos precisar dele na estrada para os

ataques na operação das linhas do condado. Locke também. Posso observá-los sozinho por

um tempo, mas...

— Não. Foda-se isso. Você deveria estar na estrada, protegendo as pessoas, não a

propriedade.

— Proteger sua propriedade protege o MC. — Alexei rebateu. — Você é o filho de

seu pai, o fundador. Se o clube não pode proteger você e seu negócio, então você tem o

mesmo problema que permitir o ataque a Rubi traria.

— Puta merda. — A calma assustadora de River começou a se romper. Ele esfregou

os olhos com as palmas das mãos. — Qual é a resposta, então? Porque estou começando a

achar que seria mais fácil deixar queimar.

— Não.

— Não.

— De jeito nenhum.

O refrão foi alto e pareceu pegar River de surpresa. Eu também, por nenhum outro

motivo além de gritar e bater com o punho na mesa, literalmente enjoo subindo pela

minha garganta.

Mãe de dragões.

Afastei-me da mesa e corri para a saída.

Ninguém me seguiu. Corri pelo quintal e entrei no bar, grato por estar vazio, e fiz

uma parada para vomitar na minha pia favorita nos fundos.

Não foi o pior que já tive. Depois de duas rodadas, a pressão na minha cabeça

diminuiu, deixando-me com uma dor incômoda e torturante no pescoço.

Eu esfreguei com uma mão e limpei com a outra, embora, depois de dezoito meses

dessa merda, eu fosse um especialista em apontar para o ralo.

Coloque isso na sua biografia do Tinder, querido.

277
Não que eu tivesse o Tinder.

Pensamentos flutuantes e divagados eram minha linha de base após um ataque de

enxaqueca. Eu os deixei festejar por um minuto ou mais, mas não tive o luxo de sonhar

acordado por seis horas pela frente. Cabeça baixa, respirei fundo, me recompondo. Era

noite de luta. Se eu não estivesse no ponto, os irmãos se machucariam.

River se machucava.

Foda-se isso.

Fechei a torneira e saí do banheiro. Do outro lado do pátio, avistei Locke e o chamei.

— Venha comigo.

— Onde?

— Igreja. Precisamos de alguns conselhos.

Locke, o Sr. Amigável noventa por cento do tempo, fincou os pés. — Eu não estou

no conselho.

— Então?

— Então eu não deveria estar na capela.

— Não somos tão preciosos. Vamos.

Eu o levei de volta para a capela e o puxei para dentro, interrompendo Cam

rosnando sobre algo e nada.

Provavelmente importante.

Deixa para lá.

Apontei para Locke. — Senhor Bombeiro. Herói do dia. O que podemos fazer para

proteger um prédio de ser incendiado?

A irritação cintilou no olhar plácido de Locke. — Quem você está chamando de

herói?

— Você, mano. — Nash disse calmamente. — Você rasgou suas mãos em pedaços

salvando aquela velha.

278
— Sra. Valentino. — Eu forneci, notando tardiamente os arranhões e lesões nas

mãos de Locke. Mãos que já estavam com cicatrizes e fodidas.

Eu estremeci e fiz um gesto para ele me mostrar.

Ele as enfiou nos bolsos. — Você está me perguntando se pode impedir que a

garagem de River suba se aqueles garotos da cidade atearem fogo?

— Algo parecido.

Locke balançou a cabeça. — A única chance que você tem é pulverizar o lugar com

retardadores de fogo – e eles veriam você fazendo isso – ou impedindo-os de obter acesso

em primeiro lugar. Se você não pode fazer nenhuma dessas coisas, deve pensar em

levantar qualquer coisa de seu interesse.

— Não há tempo para isso. — River baixou o queixo em agradecimento. — Não

esta noite, de qualquer maneira. Precisamos de olhos em Truro mais do que preciso salvar

uma coleção de chaves inglesas.

— É mais do que isso, Riv. — Eu protestei.

Mas River estava acabado.

Ele me excluiu e Cam terminou antes que eu pudesse discutir. — Tudo bem.

Passaremos esta noite, então falaremos sobre isso novamente. Obrigado, Locke. Você e

Folk preparem suas motos e encontrem Saint e Nash na frente. Você vai pilotar conosco

quando terminarmos aqui.

Locke franziu a testa. — E quanto a Orla?

— Ela vai passar a noite com Juana, Lili e Ivy.

— Aqui?

Cam assentiu. — Mateo está voltando. Ele os protegerá com Decoy e Embry... se o

bom capelão puder ficar acordado.

Foi a vez de Embry fazer uma careta. — Eu posso montar, Cam. Não me coloque no

banco quando já estamos com falta de pessoal sem Mateo.

279
— Não lute comigo quando precisar de sua energia para algo menos fútil. — Cam

dispensou Embry, voltando-se para Locke. — Você pode ir.

Locke foi embora.

Cam esperou que a porta se fechasse atrás dele, então soltou um suspiro e voltou a

se concentrar em River. — Rubi está certo. Seu negócio é mais do que algumas caixas de

ferramentas. Se você quiser ficar e cuidar disso, nós faremos isso acontecer.

O cabelo brilhante de River tinha escapado do coque bagunçado na nuca,

escondendo o lado de seu rosto mais visível para Cam. Ele empurrou para trás com mãos

ásperas. — Não, obrigado.

— Certeza sobre isso? — Nash pulverizou um cigarro em um velho cinzeiro de

cristal. — Toda a sua vida está naquela garagem.

— Sua também se você está tão preocupado com ferramentas, mano.

Um sorriso irônico cruzou o rosto de Nash. Ele abriu as mãos em sinal de rendição,

sempre o pacificador da beligerância que corria solta no resto de nós. Era minha deixa

para tomar as rédeas com bom senso e razão, mas com uma luta no horizonte, River

brigando ao meu lado, eu não tinha muito disso sobrando.

Encontre-o. Ou você não tem nenhum negócio na estrada.

Eu sabia. Merda, eu sabia disso. Mas enquanto eu imaginava os capangas naquela

armadilha de Truro correndo contra nós, correndo contra ele, punhos voando, tacos, facas,

o que quer que fosse, eu me tornei o homem que sempre critiquei a porra do mundo

inteiro por ser.

A igreja se separou. Meus irmãos se dispersaram, Cam, Saint e Alexei partindo

juntos, nenhum sinal da turbulência me destruindo por dentro.

Como eles fazem isso?

Esta vida era uma loucura. Entre eles, eles levaram balas, gás e mais fugas de quase-

morte do que eu queria pensar, e ainda pilotaram para a batalha juntos sem se desintegrar

como eu estava agora.

280
Maldita bruxaria.

O meu eu racional sabia que não era tão simples. Que amar um ao outro tanto

machucava meus irmãos tanto quanto os salvava. Mas eu estava além da lógica. Nós ainda

não sabíamos para quem a equipe de linhas do condado tinha vindo, e o mero pensamento

deles apontando aquele carro para River fez meus dedos coçarem, mesmo quando algo

fervia em minhas veias.

Temor.

Sinistro, profundamente enraizado e repugnante.

Eu amo River desde que me lembro. E eu estava com tanto medo de perdê-lo.

281
CAPÍTULO 21
RIVER

Dezoito meses atrás, acordei com uma dor lancinante na cabeça. Era no meio da

noite. Por alguma razão inexplicável, eu estava na minha cama, encolhido como um bom

menino, não jogado no lixo e à deriva em outro lugar, e comecei a gritar.

Exceto que eu não estava. E quando levei a mão à cabeça, a dor desapareceu. Nada

além de um sonho. Um fantasma. Um taco fantasma no meu crânio quando na realidade

era o de Rubi.

É assim que estávamos conectados.

A capela esvaziou. Apenas Rubi e Embry permaneceram, Rubi perdido em

pensamentos, Embry cutucando seu telefone.

Eu não hesitei. Afastei-me da janela e rodeei a mesa. Rubi sentou-se onde o tio de

Nash uma vez - Seamus McGovern. Cara pequeno com pernas finas e um grande cérebro.

Ele fumava cachimbo, andava na Street 500 e não dava a mínima.

Rubi era assim.

Exceto quando importava e ele colocava todo o seu coração em risco.

Sua cadeira tinha rodas.

Puxei-o da mesa e me encaixei entre suas pernas, curvando-me para beijá-lo como

se pudesse puxá-lo de onde quer que seus pensamentos o tivessem levado apenas com o

poder de meus lábios.

Ele respirou fundo.

Aproveitei, deslizando minha língua em sua boca aveludada.

Ele gemeu.

Embry riu. — Porra. Agora devo uma pontuação a Mateo.

282
Recuei, deixando Rubi enterrar o rosto em meu peito enquanto eu embalava sua

cabeça. — Perdeu uma aposta?

— Sim. — Embry deslizou sua cadeira da mesa com um sorriso triste. — Ele disse

que vocês estavam definitivamente fodendo. Achei que talvez vocês ainda não tivessem

chegado lá. De qualquer forma, estou feliz por vocês.

— Foder não significa felicidade, mano.

— Confie em mim, eu sei.

Embry dirigiu-se para a porta. Ao passar, Rubi tirou uma nota de vinte do bolso e

entregou-a.

Ainda rindo, Embry saiu.

Rubi passou os braços em volta de mim e suspirou em minha camiseta desgastada.

— Ele vai contar a Mats. Mats vai contar a Saint. Quem diabos sabe o que ele fará com isso,

mas acabará voltando para o seu irmão.

— O que irá?

— Isso. — Rubi levantou a cabeça e gesticulou entre nós. — O que quer que seja.

— Boo, estamos juntos há um mês e sonhando um com o outro há mil anos. Se Cam

ficar bravo porque eu beijei você neste lugar profano, ele pode comer um saco de paus

ruins.

Rubi riu, mas seu humor foi passageiro. — Ele vai me perguntar o que nós somos.

Como vai ser para o clube, para onde estamos indo.

— E onde fica isso?

Rubi soltou outra respiração carregada. — Onde você quiser que seja.

— Foda-se isso. — Chutei minha bota na cadeira, fazendo-o rolar pela capela. —

Por que não é onde quer que você esteja? Por que eu sou mais importante do que você?

Rubi apertou os lábios. Em seguida, tentei novamente. — Não é isso. E entendo que

pressioná-lo por uma resposta é injusto. É por isso que eu não fiz isso. Eu só... foda-se. Não

consigo rebobinar, Riv. Para onde estávamos antes. Você aí, eu aqui. Vidas separadas. Não

283
posso mais viver assim e não sei o que essa porra significa para você, mas para mim...

merda. É tudo em que consigo pensar.

Ele era muito melhor em falar do que eu. Ao pensar. Na vida, enquanto eu me

debatia, rezando para que ele visse o que há de bom em mim sem cutucar com tanta força

que todo o mal saísse. — Eu-

Rubi levantou-se tão rápido que me pegou desprevenido, atravessando a sala de

onde eu havia chutado sua cadeira e colocando a mão sobre minha boca, empurrando as

palavras de volta. — Não. Agora não. Hoje não.

Eu me contorci até que ele me soltou. — Você não sabe o que eu ia dizer.

— Posso adivinhar.

Não, ele não podia. Jamais passaria pela cabeça de Rubi que eu diria a ele que o

amava. Que o que quer que tenha acontecido em nosso mundo fodido, eu sempre tinha, e

isso nunca iria mudar. — Você acha que é algo ruim porque é tudo o que consegue de

mim.

Rubi balançou a cabeça. — Eu posso lidar com o mal, porque eu sei que você não

quis dizer isso. É a merda boa que me assusta.

— Isso não faz sentido.

— Processe-me. — Rubi levou as mãos ao meu rosto e me nivelou com o tipo de

olhar que me deixou com as pernas bambas. — Mas se eu estiver certo e for a melhor

coisa? Salve-o, Riv. Diga essas palavras para mim quando eu mais precisar delas.

O silêncio antes de uma luta era uma coisa assustadora. A calma antes da

tempestade com malditos esteroides.

Saint e Nash partiram, levando o grande Crow - pare de chamá-lo assim - e alguns

irmãos lutadores com eles. O outro Crow ficou para trás.

— Nômades. — Explicou Rubi. — Ranger está levando-os para cavalgar com Saint,

então Folksie está vindo conosco.

284
— Guarda-florestal? Outro maldito Crow? — Eu assobiei. — Meu pai se reviraria

em seu túmulo.

Rubi soltou uma risada baixa. — Meu também. Mas estes são os meninos de Rocco

St John's e já mostraram suas bolas.

Ele não entrou em detalhes, mas se era assim que ele estava, era o suficiente para

mim. Voltei a verificar nossas motos e examinar a pilha de armas que Mateo me deixou

para escolher. Tubos, bastões e knuckle dusters21. Nenhum deles teve apelo. Fui à velha

escola e escolhi um martelo, deslizando-o no cinto de utilidades que Rubi me entregou.

Não o vi escolher uma arma. Nunca foi minha coisa, vê-lo lutar. Talvez porque eu

soubesse o quão bom ele era – e ele era fodidamente bom – ele não gostava disso. Não era

ele. Rubi amou muito mais do que sua raiva jamais queimou.

Porque ele é melhor que você.

Palavra.

— Você quer treinar antes de sairmos?

Eu me virei para encarar Cam. Seu olhar era escuro, ameaçador, se você não o

conhecesse. Eu o conhecia, porém, e a preocupação à espreita em seus olhos me irritou. —

É um pouco tarde para se preocupar, eu não consigo mais me controlar.

— Eu pareço fodidamente preocupado? — Cam apontou com a cabeça para o

ringue de boxe do outro lado do pátio, manchado de sangue e suor, iluminado por luzes

cintilantes. — Entre lá.

Tudo bem então. Eu não precisava de um martelo para lutar contra meu irmão.

Larguei o cinto e puxei minha camiseta sobre minha cabeça. O ar frio me atingiu. Era uma

noite gelada de inverno, mas eu sabia que não iria sentir isso por muito tempo. Cam era

um lutador lendário. Invicto nos ringues underground. Ele me manteria girando até que

eu explorasse o fato de que ele não tinha coragem de me enganar de verdade.

21
No Brasil é uma arma branca, conhecida como soco inglês.

285
Eu me abaixei no ringue. Cam seguiu, avançando para mim no segundo em que

ficou de pé.

Ele era rápido, mas eu estava pronto para ele, dançando fora de seu alcance.

Cam sorriu, e para um cara grande, ele também era leve. Seu punho roçou minha

mandíbula. Um aviso. Eu o golpeei de volta, os nós dos dedos passando por suas costelas.

E assim foi. Cam estava em melhores condições do que eu, mas era fumante. Ele perdeu os

pulmões primeiro, e eu o acertei com um golpe de raspão no ombro, evitando a cicatriz de

bala que me deu vontade de vomitar.

Meu irmão sorriu, aceitando o desafio. Ele disparou uma combinação muito rápida

para eu desviar.

Seu punho acertou meu estômago, não com força, mas com força suficiente para

expulsar o ar de meus pulmões.

— Filho da puta. — Eu tossi uma gargalhada e mergulhei, acertando-o nas costelas

novamente, mais forte desta vez. — Isso é tudo que você tem?

— Talvez. — Cam enxugou o suor da testa com o bíceps. — Mas não importa, não

é?

Enquanto ele pronunciava as palavras, um movimento fora do ringue chamou

minha atenção. Rubi abrindo as portas do celeiro de uma van Transit. Ele não estava

prestando atenção. Uma pilha de caixas caiu em seu rosto.

Xingando, ele os empurrou de volta e se virou para gritar com um irmão que eu não

podia ver, ileso, mal-humorado e glorioso.

Muito glorioso por uma fração de segundo - isso era tudo que Cam precisava para

explodir minhas defesas, seu antebraço na minha garganta.

Ele me levou contra as cordas, um fogo em seu olhar que não estava lá antes. — Aí

está. Ali.

O osso do pulso dele estava esmagando minha traqueia. Eu lutei para fora de seu

aperto, empurrando-o para longe de mim. — O que diabos isso significa?

286
— Distração. — Ele retrucou. — O que você vai fazer quando algum filho da puta

estiver dando uma surra nele? Quando há dois deles se acumulando?

Matar todos eles. Eu não disse isso, mas o sentimento apareceu em meu rosto, e o

temperamento de Cam se transformou em uma empatia irônica que me fez querer matá-lo

também. — Foda-se.

— Não. — Cam baixou as mãos, a postura de luta desaparecendo. — Precisamos

desfazer isso antes que você suba nessa maldita moto.

A insolência queimou através de mim, quente e brilhante, mas sabendo que eu

tinha uma saída para isso - mais tarde... se Cam não estava prestes a me colocar no banco -

tornava mais fácil de engolir. — Se você está me pedindo para não dar a mínima se

alguma vadia está vindo para cima dele, isso não vai acontecer.

— Eu não estou pedindo para você não se importar. É mais profundo do que isso.

— Cam se aproximou e bateu com um punho na minha têmpora e o outro no meu coração.

— Acredite em mim, você precisa encontrar um lugar onde ele não exista. Onde você

nunca o amou e nunca o amará. Se você não puder, isso fará com que vocês dois sejam

mortos muito antes de salvá-lo.

Tristeza e arrependimento escorriam de Cam como sangue de uma velha ferida.

Um cansaço que não era físico. Houve momentos em que eu me convenci de que também

não o amava. Que eu não precisava dele. Mas Cristo, Cam foi um herói maior para mim

do que meu pai jamais foi.

Diga a ele.

Cam moveu-se para se afastar.

Segurei seu braço. — Ei. Eu te amo. Você sabe disso, não é?

Seus olhos se arregalaram. Porra. Talvez não. E eu não poderia viver com isso. Não

mais. Essa parte de mim... parecia tão morta quanto eu tentei forçar meu coração a estar, e

eu não o queria de volta.

Eu o puxei para um abraço.

287
Ele devolveu com um abraço esmagador, um tremor em seu peito que me rasgou ao

meio. — Eu também te amo, Riv. E ele. Amei vocês separados, e amo vocês juntos. Você

nunca pode pensar que eu não. Isso acabaria comigo.

— Sem morrer, mano. Você prometeu.

— Eu sei.

Cam me deixou ir e algo se estabeleceu entre nós.

Apesar da batalha pairando sobre nós, o mal cresceu em mim. — Você vai arrastá-lo

aqui para um dia de escola também?

— Você acha que eu preciso? — Cam me atacou com alguma travessura de sua

autoria. — Cara, ele tem aprendido essa lição durante toda a porra da sua vida.

Ele me deixou com aquele tiro de despedida e pulou para fora do ringue. Eu o

observei se afastar por um milionésimo de segundo antes que o instinto levasse meu

coração para outro lugar.

Rubi ainda estava na van, inclinando-se, dando-me a melhor visão de suas costas e

pernas musculosas.

Um flashback me atingiu. Ele de joelhos. Eu transando com ele por trás enquanto

ele segurava a estrutura de madeira grossa da cama.

Seu gemido profundo e grave quando ele gozou.

A memória era de dias atrás. Brilhante e nova. Um fósforo para isca seca em meu

sangue. Como seria daqui a um ano? Uma década?

E se nunca descobrirmos?

O aviso de Cam pesou em meu coração. Segurei as cordas e saltei do ringue, minhas

botas descombinadas atingindo o chão no mesmo momento em que Rubi ficou de pé.

Eu estava ao lado dele antes que pudesse piscar.

Ele piscou. Assustado. Em seguida, um belo sorriso aqueceu seu rosto. — Você

ganhou? Eu tive que parar de assistir. Estava me deixando com muito tesão por você.

— Me ver lutar contra meu irmão te deixa com tesão?

288
— Assistir você ficar todo suado e mandar nele me deixa com tesão. Não tem nada

a ver com seu irmão neandertal.

— Eu não mandei nele.

— Sim. OK.

— Você não viu tudo.

— Ainda de pé, não é? — Rubi aproveitou a cobertura das portas da van e se

inclinou para um beijo rápido. — O último cara que lutou com Cam ainda tem um olho

preguiçoso.

— Não foi uma luta de verdade.

— Pareceu real o suficiente para mim. Por dois segundos, eu assisti.

— Até as caixas caírem na sua cabeça?

Rubi riu. — Porra Nash. Não poderia colocar seu pau em um saco de papel.

— Você o ama de qualquer maneira, no entanto.

— Bíblico. — Rubi fez uma saudação vulcana, seu olhar fervendo enquanto nos

encaramos, conversando só por falar. Seu cabelo loiro estava uma bagunça, caindo sobre

os ombros, a sujeira da van manchada em sua bochecha, os holofotes do quintal pegando o

anel de prata em seu nariz. Ele parecia morto mais cedo, pálido e cansado, mas algo

mudou enquanto eu estava de mãos dadas com Cam. Ele estava tão assustado e

preocupado quanto eu. Mas havia mais.

Com ele, sempre havia mais.

Eu quero ele.

Porra. Eu precisava dele, e fiz de tudo para não empurrá-lo para dentro da van e

fechar as portas atrás de nós.

Estávamos sem areia na ampulheta.

Era a hora de ir.

Trocamos nossos telefones por descartáveis, montamos e pegamos a estrada.

289
Cam nos liderou, Rubi e eu flanqueando seus lados, Folk atrás dele enquanto os

irmãos da van mantinham distância, e não parecia estranho. Nada disso. A geada no chão

nos atrasou, mas a estrada aberta, meu irmão e meu amante dividindo o passeio, droga.

Eu me senti tão fodidamente humano.

Tão vivo.

Truro veio sobre nós muito rápido. Deixamos a van para trás e escondemos nossas

motocicletas perto do esconderijo para fazer o resto do caminho a pé, mantendo-nos nas

sombras e jardins, evitando casas com campainha de câmeras.

Eu vi o carro primeiro. Tinta preta esfarrapada. Faróis estranhos e a roda de liga

que faltava. Ondas fantasmagóricas de raiva encheram meus ouvidos. Senti gosto de sal

na língua. Mas acima de tudo, o medo de perder Rubi apertou minha alma tão forte.

Não posso.

Eu não. Não. Não está acontecendo.

A armadilha ficava no final de uma estrada escura, um bangalô isolado e geminado,

a outra casa vazia com uma placa de Aluguel do lado de fora, sem postes de luz.

— Alexei os desativou. — Cam murmurou. — Ele está com os outros agora, não

que eles saibam disso.

— Saint saberá.

Cam riu e esmagou o cigarro contra um poste de amarração antes de colocá-lo de

volta na caixa em seu bolso. Ele se agachou, estudando a casa da segurança atrás de um

bloco de garagem. — Quarto e banheiro nos fundos. Cozinha e sala na frente, mas eles

trocaram de lugar, cortando suas coisas no quarto dos fundos, dormindo na frente.

Rubi se agachou ao lado dele. — Eles estão dormindo agora? Ou eles estão fazendo

um rodízio?

— Rodízio? — Cam lançou-lhe um olhar seco. — Nem todo mundo é tão

disciplinado sobre suas atividades criminosas quanto você. Mateo acha que eles passam a

maior parte do tempo jogando Xbox e se masturbando.

290
— Juntos?

— Não perguntei.

Só negócios, Rubi grunhiu, o olhar fixo na casa. Ele não tinha olhado para mim

desde que saímos do complexo, como soldado no segundo que Cam nos chamou à ordem,

e graças ao meu irmão, eu entendi o porquê. Ele está fingindo que não estou aqui. Lutei muito

para fazer o mesmo, mas foi difícil. Ele estava a um palmo de distância de mim. Porra, eu

podia sentir o cheiro dele. Sentir o calor de seu corpo grande, embora eu tivesse quase

certeza de que o deleite para os sentidos estava na minha cabeça. — Qual é o seu plano,

chefe?

Cam me deu um sutil dedo do meio por cima do ombro. — Sarcasmo não combina

com você.

— Sim.

Rubi suspirou. — Se vocês dois vão brigar na frente do bebê Folk, vou ligar para o

papai Alexei.

A ideia era tão ridícula que até mesmo Folk, um homem que eu estava aprendendo

rapidamente que frequentou a Saint School of Quiet22, nos poupou de uma risada baixa. —

Essa é a minha deixa. — Disse ele. — Eu voltarei.

Ele se afastou, movendo-se muito secretamente para que eu pudesse rastreá-lo.

Desistindo, eu me agachei no ombro de Cam. — Espero que você esteja certo sobre

ele, porque ele não parece ser um inimigo que você desejaria.

— Ele não é. — Cam me lançou um sorriso sinistro. — Mas não precisamos nos

preocupar com isso. Ele é nosso irmão agora.

Rubi resmungou seu acordo e me perguntei o que havia perdido. E por que foi mais

do que uma curiosidade ociosa que me fez querer saber.

— Quando ele voltar. — Cam disse, — ele e Rubi vão tomar a frente. Eu e você

vamos bater nos fundos. Você ainda é uma mão esperta arrombando uma fechadura?

22
Escola do Silêncio de Saint.

291
— O mar está molhado?

— Não quando a maré baixar.

— Incorreto. — Rubi fez um zumbido com os dentes. — Só está molhado em outro

lugar.

Cam fez uma careta. — Não seja uma vadia pedante.

— Eu posso fazer isso. — Interrompi antes que Rubi pudesse retaliar. — Quantos

anos tem a porta?

— Velha.

— Madeira?

— UPVC. Bloqueio único.

Eu bufei. — Dez segundos, se tanto.

— Bom. — Cam se levantou quando Folk reapareceu. — Não estrague tudo.

Eu não estava preocupado em estragar uma pausa e entrar. Nosso pai nos ensinou a

ser bons pequenos criminosos a cada momento que nossa mãe não estava limpando

nenhuma misoginia herdada de nós. Eu poderia arrombar qualquer fechadura. Ligar

qualquer carro com idade suficiente para ainda ter as peças certas. Eu poderia lutar nos

fundos da casa enquanto Rubi lutava na frente? O tempo diria.

O povo nos uniu. — Um está no sofá na sala da frente. Não posso dizer se ele está

acordado. Ele tem um laptop aberto em cima da mesa. O outro está cortando pelas costas.

Ele é o cara maior. Ele também tem algumas ferramentas. Par de chaves de fenda. Um

taco. Sem lâminas ou correias. Não tenho certeza se o cara do sofá tem alguma coisa, mas

eu vou lidar com isso se ele tiver.

Correias. Armas de fogo. A inquietação percorreu meu corpo. Eu tinha visto o que

uma bala fez com Cam, por dentro e por fora. Eu ainda podia sentir o cheiro de seu

sangue. Sua carne mutilada. Cerrei os dentes, lutando para evitar que Rubi tomasse o

lugar de Cam no flashback gráfico. Lutando para lembrar que Cam estava vivo, bem, e

resmungando sobre alguma merda ou outra a meio metro de distância de mim.

292
Foi o tipo de momento nas últimas semanas em que o toque caloroso e intuitivo de

Rubi me puxou de volta. Não aconteceu agora. Eu caí de volta à realidade, e ele não estava

olhando para mim. Ninguém estava. Eles estavam focados na casa, todos negócios.

Agarre-se, porra.

Nós nos separamos, Rubi e Folk ficando parados até que o sinal chegasse da equipe

de Saint, eu e Cam rastejando pelos fundos. Alexei já havia feito buracos na cerca. Eu

passei e abri o portão para Cam.

Ele se juntou a mim atrás da estufa e me passou uma faca de manteiga barata. O

metal estava frio na palma da minha mão. A nostalgia áspera e indesejável em meu peito.

Eu envolvi meus dedos ao redor da maçaneta, sentindo falta do calor de Rubi, mas afastei

a dor. Bloqueei-a do jeito que ele me fez. Eu estava atrasado para a festa, mas havia um

soldado dentro de mim também.

— Quanto tempo? — Eu sussurrei.

Cam verificou seu telefone descartável, escondendo a luz em sua jaqueta. — A

qualquer segundo. Aguarde o zumbido.

Eu balancei a cabeça e me concentrei na porta. De nossa posição escondida, eu não

poderia dizer o quão grossa era. Quanto oferta eu encontraria no quadro. Mas não havia

tempo para se preocupar com isso agora. Abriria ou não. De qualquer maneira, isso

acabava esta noite.

O descartável vibrou com uma mensagem recebida.

Cam me cutucou. — Vá.

Levantei-me e deslizei para as sombras do jardim aberto. As janelas traseiras eram

fechadas por persianas verticais que balançavam com a brisa que entrava pelas aberturas

de ventilação no vidro, lançando finos clarões de luz na grama.

Com os pés firmes, contornei-os e alcancei a porta dos fundos, ouvindo com

atenção, cada nervo e sentido tensos.

293
A porta dos fundos dava para um corredor vazio. A inteligência de Folk havia

colocado a marca no quarto dos fundos, mas a mudança poderia acontecer em um piscar

de olhos, muito menos nos longos minutos que levamos para chegar a esse ponto.

Dickstain poderia estar em qualquer lugar agora.

Eu não ouvi nada, porém, e uma necessidade nervosa de acabar com isso venceu.

Foda-se. Deslizei a faca de manteiga no espaço estreito entre o cabo e a velha

armação de plástico, testando a flexibilidade.

Era flexível pra caralho. Apertei o ferrolho de travamento, desenganchando-o, e

pronto. Abri. Nós estávamos dentro.

Eu me afastei da porta, encostando-me na parede, ouvindo novamente.

Nada além de silêncio me cumprimentou, e eu assobiei para Cam.

Ele atravessou o jardim em uma fração de segundo e sustentou meu olhar, a

pergunta em sua expressão clara. Preparado?

Talvez eu não tivesse estado antes, apesar de cada pensamento assassino que

passou pela minha cabeça. Mas quando o cheiro de suor e macarrão velho me atingiu, eu

sabia, sem dúvida, que não poderia descansar até que essas bocetas estivessem três tons de

fodidos.

Troquei a faca de manteiga pelo meu martelo.

Cam segurava um taco. — Você quer pegar o capanga no quarto ou na porta da

frente?

— Você está me perguntando agora?

— Seis segundos atrás você estava abrindo a porra da porta, quer você gostasse ou

não. Agora estou dando a você a escolha.

Não havia escolha. — Pegue a porta, irmão.

Cam assentiu e entramos na casa.

Ele passou por mim em direção à porta.

294
Eu explodi no quarto dos fundos, em cima da figura solitária curvada sobre uma

linha de distribuição de produtos antes que ele soubesse para onde estava. Agarrando-o

por baixo dos braços e lançando-o pela sala.

Ele bateu na parede, seu grito assustado, alto na casa silenciosa pelo batimento

cardíaco que levou para a comoção na frente entrar em erupção. Para que a bomba de

sangue em meus órgãos atingisse um tom de febre de fúria fria. Eu não conhecia esse cara

Adam, mas ou ele tinha dirigido o carro que tinha atropelado Rubi ou tinha se sentado no

banco do passageiro e rido. O que quer que aconteceria com ele nos próximos minutos, eu

não teria arrependimentos.

Eu me movi rápido, saltando sobre o sofá-cama e a mesa de café.

O cara ainda estava no chão, mas ele se recompôs quando me aproximei dele,

lutando para ficar de pé para dar um soco que foi patético em comparação com o peso que

Cam tinha jogado em mim antes.

Eu me esquivei e o derrubei novamente, pegando sua mandíbula, seu nariz,

mastigando sua bochecha.

— Ei, que porra é essa, cara? Porra, pare-

Eu não parei. E não me assustou que eu não pudesse. Eu esmaguei sua órbita

ocular, dividindo sua testa com meu punho, sangue escorrendo sobre meus dedos. Usei

meu martelo na porra das costelas dele. Seus rins.

Mate-o. Porra, eu queria, mas algo me segurou. Não medo. Não moral. Eu queria

esse cara morto. Mas, mais do que isso, queria que Rubi olhasse para mim e soubesse que

qualquer sangue em minhas mãos saísse na lavagem.

Eu queria ser tão bom quanto ele.

Você nunca será tão bom quanto ele.

Fatos verdadeiros, mas a vontade de tentar controlou minha raiva. Joguei a marca

de volta no sofá e no chão. Então eu o enganei.

Bang. Luzes apagadas.

295
Eu estava acabado. E ele também.

— Eu pensei que você poderia matá-lo.

A voz de Cam me assustou. Eu me virei. Ele encheu a porta, me observando com

uma calma que desmentia os gritos e o caos em algum lugar atrás dele.

Sacudi o punho, enfiando o martelo de volta no cinto. — Porque você pensaria isso?

— Porque você tinha um bom motivo. Estou feliz que você me mandou para a

porta. Não tenho certeza se teria sua restrição.

— Estamos incendiando o carro?

— Nah, eu não quero causar tanto alvoroço para os vizinhos. Na verdade, não

atingiu você, certo? Você pulou o muro para evitá-lo?

— Eu não pulei. Rubi me jogou. Não tenho ideia se isso o atingiu ou não.

Meu olhar se desviou para o menino inconsciente no chão e uma nova lambida de

raiva acendeu em meu estômago. No meu sangue e no meu punho ferido.

Talvez eu quisesse matá-lo, afinal.

Para sua sorte, Cam se moveu antes que eu pudesse.

Ele cruzou a soleira da sala, uma bolsa preta que eu não tinha notado em uma das

mãos. — Estamos levando o lote. Pegue o dinheiro. Vou buscar o produto.

— O que?

Cam me cutucou com o taco que ainda não teve motivo para usar. — O esconderijo,

Riv. Bater cabeças não é nossa única arma.

Lentamente me dei conta de que eu estava em uma sala com mais ket, mandy e

drone do que eu já tinha visto. Tubos literais - Wall's Vanilla - e centenas de saquinhos já

pesados e lacrados.

Porra do inferno. Lambi meus lábios, cada nervo mil watts mais aceso do que na luta.

Porra, eu poderia provar isso. Senti-lo queimando meu nariz. O fundo da minha garganta.

Eu quero.

Não.

296
Não, eu não queria.

Mas caramba, eu realmente queria.

— Ele está caído, chefe. — A voz calma de Folk roçou a superfície do meu torpor

ruim. — Sem dramas. Apenas varrendo a sala antes de fechá-la.

Cam disse algo. Sua jaqueta escura borrou quando ele se inclinou sobre a mesa de

café, de costas para mim, alheio ao buraco negro em que meu cérebro estava afundando.

As pessoas disseram meu nome.

Levou tudo que eu tinha para enfrentá-lo. — Sim?

Ele me deu um olhar de Saint. — Aqui está a outra bolsa. Para a papelada.

O dinheiro. Cegamente, peguei a bolsa e me aproximei de Cam. As pessoas

desapareceram e eu me agachei, ficando no nível dos olhos com o produto que Cam estava

varrendo na bolsa.

Peguei o primeiro rolo de notas e joguei na mochila. Um grande. E outro e outro.

Estou no jogo errado.

Uma risada fraca e histérica borbulhou em minha garganta. Cobri-a com uma tosse

e peguei mais dinheiro, enchendo a bolsa até não sobrar mais dinheiro na mesa.

Verifique o chão. O sofá. Seus bolsos.

Porra. Eu fiz o meu trabalho. Meu, o mano tinha mais quinhentos enfiados nas

calças. Um macaco, no vernáculo confuso de Rubi, e pensando nele - sobre onde

estaríamos quando deixarmos este lugar para trás - me trouxe calma que era mais fácil de

encontrar do que eu merecia.

Deixei cair o último rolo de notas na sacola e fechei o zíper enquanto Cam se

levantava de sua posição curvada, esticando as costas com um estalo e um gemido. Uma

velha piada sobre gatos idosos passou pela minha cabeça, mas a piada nunca veio.

Meu olhar caiu em um flash de branco no tapete.

Ele tinha perdido algumas malas.

297
Mais do que um par. Um punhado estava ao meu pé, e a calma fácil que Rubi me

presenteara por simplesmente existir evaporou.

Não faça isso. Mas o apelo frenético que minha alma lançou caiu em ouvidos surdos.

Eu queria Rubi. Eu o amava. Mas por razões que eu nunca entenderia, eu queria mais isso.

Com as costas de Cam ainda viradas, peguei as sacolas e as enfiei no bolso.

298
CAPÍTULO 22
RUBI

Eu vi ele. A névoa torturada em seus olhos. O olhar sombrio que lançou a Cam

antes de tirar o pó ensacado do carpete bege imundo.

A dor atravessou meu peito. Por ele. Por mim. Meu coração quebrou mil vezes, e

meu temperamento se tornou um monstro que invadia a sala e arrancava cada envoltório

mortal de veneno de seu maldito bolso.

Mas eu não fiz isso.

Eu não poderia porra fazer isso, porque eu tinha uma merda ainda pior do que o

meu pior pesadelo para lidar e uma janela de fração de segundo para fazer isso.

Uma parte de mim morreu e bloqueei River, focando em Cam. — Dê o fora daqui.

Volte para as motos.

A carranca de Cam foi instantânea. — O que? Por que?

— Apenas faça. — Apontei para o modo como ele e River entraram na casa. — Nós

vamos alcançá-lo.

A confusão aprofundou o olhar de Cam. Então preocupação. — O que é?

— Nada que você queira ver, mano. Apenas foda-se. Por favor? Por mim?

Por ele mesmo, mas essa não era uma discussão que eu ganharia com meu amigo

mais antigo.

Eu me forcei a pegar o olhar evasivo de River, rezando para que pela primeira vez

ele ouvisse tudo o que eu não estava dizendo.

Me ajude.

Tire-o daqui.

Por um longo momento, nada aconteceu. Então River piscou lentamente, e algo

pareceu mudar. Ele pegou Cam quando ele avançou e o puxou de volta. — Vamos.

299
Cam plantou seus pés. — Não até que ele me diga o que diabos está acontecendo.

— Ele pode te contar mais tarde. — River restabeleceu seu aperto, mais forte desta

vez, e puxou com mais força. — Vamos.

Cam era o filho da puta mais teimoso, mas River conhecia seus pontos fracos

melhor do que ninguém. Ele murmurou algo que não entendi e Cam cedeu.

Saíram da casa como haviam entrado, pela frágil porta dos fundos. Esperei que o

parafuso fraco deslizasse de volta para o lugar. O silêncio silencioso. Então soltei um

suspiro estressado e voltei para a paisagem infernal que havia deixado para trás na sala da

frente.

As pessoas estiveram ocupadas enquanto eu estive fora. Ele invadiu a cozinha em

busca de suprimentos, amarrou as mãos de nosso alvo com filme plástico enrolado e

pendurou-o pelo colarinho em uma luminária de parede robusta e conveniente.

A marca mal estava consciente. Eu já tinha chutado sete sinos de merda fora dele

antes que meu olhar descuidado caísse na tela de seu laptop.

Agora o filho da puta teve sorte de ainda poder respirar.

Náusea rolou em minha barriga, subindo em minha garganta. Forcei-o para baixo e

sentei-me no futon que esses bocetas estavam usando como cama. Eu bati em algumas

teclas do laptop com dedos enluvados, clicando em fotos e vídeos que fizeram minha pele

arrepiar. — Eu não vou fazer você olhar, mas você deve saber que esse cara não está

apenas assistindo essa merda. Ele está se filmando também.

As pessoas foram até a porta para ficar de olho no outro marca. — Eu já olhei. —

Ele disse categoricamente. — Eu limpei a webcam e a desativei.

Como se ele soubesse que o meu velho bobo viria estacionar minha bunda na frente

dele. — O outro ainda está fora?

— Mexendo um pouco.

— Traga-o para dentro. — Continuei digitando no laptop, esperando alguma sorte

que encontrei na próxima guia aberta. — Bingo.

300
As pessoas arrastaram o outro rato para dentro da sala e o jogaram contra a parede.

— O que você conseguiu?

— Página do Facebook. Bem aberta.

— Verifique as mensagens dele.

— Não. Eu já vi o suficiente. Acorde a outra vadia.

O povo obedeceu com um chute brutal nas costelas.

O cara no chão acordou tossindo, o olhar voando ao redor da sala até pousar em

mim.

Seus olhos se arregalaram com o reconhecimento. Se havia alguma dúvida de que

havíamos atingido a equipe errada, ela desapareceu naquele momento.

Canalizei Alexei e sorri sem alegria e com cem por cento de malícia. — Lembra de

mim?

O cara engoliu em seco e se arrastou para uma posição sentada. — Não fui eu, cara.

Eu era apenas um passageiro.

— Eu não dou a mínima. Fique de costas para a parede.

O cara não se mexeu.

Folk se aproximou e apontou para a lasca de madeira. — A parede. Agora.

Ele falou com agressão zero. Gentil, quase. Mais tarde, eu concordaria que ele era o

filho da puta mais assustador na estrada esta noite. Agora, eu precisava de sua calma

mortal para funcionar. Cliquei de volta para o show de horrores em que entramos e girei a

tela para mostrar o amigo da gangue no chão. — Seu companheiro é um turbo-nonce23. Isso

é um pouco de você também?

— O que? Não. Foda-se. Não. Desligue isso.

O cara se encolheu o suficiente para que eu acreditasse nele, embora fosse difícil

discernir qualquer coisa de um rosto tão fodido quanto o dele. River o pegou bem.

23 Gíria do Reino Unido para Pedofilia, mas pode ser usada para criticar um de seus amigos. Nesse caso refere-se a Pedofilia.

301
Deixei o vídeo tocando, posicionando-o para que eu e Folk não tivéssemos que

enfrentá-lo novamente. — Qual o seu nome?

Silêncio.

— Nome. — Eu repeti. — Se eu tiver que levantar e tirar sua identidade e telefone

do seu bolso sujo, vou te matar.

— Nós não vamos matá-los de qualquer maneira? — As pessoas se perguntaram

em voz alta.

Tentador, mas não. Assassinato era muito fácil. — Ainda não. Pegue o telefone

daquele e acorde o Sr. Nonce.

Folk obedeceu, jogando-me um iPhone que ele já havia desbloqueado com a

impressão digital do amigo da gangue.

Ele pegou uma lâmina na outra, abrindo um buraco nas costas da mão até ele

acordar gritando.

Peguei o iPhone, bisbilhotando até encontrar o que precisava. Fácil demais. — Seus

idiotas nunca ouviram falar de descartáveis?

Ninguém me respondeu. Voltei ao telefone, tirei uma foto da tela do laptop e

acessei a mídia social de Lee. — Você quer que eu poste no seu Insta ou no seu TikTok?

O peito de Lee desabou, o pânico se instalando. — Não. Por favor. Eu não sabia. Eu

juro, porra. Eu não sabia.

— Quem disse para você tentar me matar?

— Ele fez. — Lee apontou para o outro cara. Em James. — Porque você jogou nosso

traficante no mar.

— Eu fiz isso. E vou jogar você no mar também. Com a porra de uma laje de

pavimentação amarrada aos pés. Você sabe por quê?

— Por que?

— Porque você é o melhor amigo de um pedo nível dez. Por que eu não mataria

você?

302
Lee engasgou com o medo. Deixei-o com ele e passei para o outro, levantando-me

do futon para atingir seu rosto de olhos turvos, com uma faca minha em punho.

Eu não hesitei. Nem por um momento. Eu cortei aquele filho da puta de orelha a

orelha, tendo uma satisfação sombria em seu grito gargarejado antes de recuar, admirando

sua mutilação. — Isso não é nada. — Eu cuspi. — Você está prestes a mostrar ao mundo o

que você é.

As pessoas me passaram o laptop. Bastardo inteligente que ele era, ele já cortou o

vídeo, obscurecendo cada rosto que não era aquele pingando sangue em minhas botas.

Peguei essa merda e postei no Facebook.

Legenda: Este sou eu.

— Aí está você. — Fechei o laptop. — Tenha uma ótima vida.

Larguei o computador e voltei para Lee. — É isso que vai acontecer. Preste atenção,

não tenho paciência para me repetir. Você está ouvindo?

Lee acenou com a cabeça, o olhar correndo entre mim e seu sangrento amigo.

— Olhos em mim.

Ele obedeceu.

Eu o fiz esperar um segundo, então respondi direto. — Sua operação de

distribuição acabou. Por ordem dos malditos Rebel Kings. Você não negocia no Sudoeste.

Você não respira fora do seu maldito código postal.

— Eu não vou.

— Bom. Conte a seus companheiros, embora eu ache que eles já devem saber.

— Eu direi a eles. Eu prometo. Eu-

O povo o atacou com as costas da mão. — Quieto.

— Quanto à outra coisa... — Arrisquei um olhar para James. Ele desmaiou, de perda

de sangue, choque, quem se importava? — Se os federais vierem, você vai dizer a eles que

foi você. Você o cortou. Você postou o segredo nojento dele no Facebook. Porque se você

303
não... — Eu levantei o telefone dele. — Eu vou compartilhar essa merda com todos que

você já conheceu até que ninguém possa dizer a diferença entre você e ele. Você entende?

Lee assentiu. Devagar. Significando isso. E foi o suficiente para mim. Negócios

eram negócios. Eles foderam tudo e nós os colocamos no chão. Mesma merda, rostos

diferentes. Enxague e repita. O resto era outra coisa. Algo que coalhava seu estômago

tanto quanto o meu.

Então eu deixei.

Contaminei a faca com suas impressões digitais e fui embora.

Do lado de fora, esperei por Folk. Não queria saber o que o mantinha. Isso era entre

ele e Deus.

Eu tinha um descartável no bolso. Lá dentro, havia zumbido com uma mensagem.

Abri agora.

Nas motocicletas. Apresse-se.

Encantador. Enviei um emoji de polegar para cima de volta quando Folk apareceu

ao meu lado. — Precisamos chipar.

Ele olhou para a casa. — Tem certeza que você não quer queimá-la? Ainda há

tempo.

— Não. O chefe não sancionou o assassinato em massa. Vamos.

As pessoas deram de ombros, simpáticas como sempre, e partimos, desviando de

garagens e becos. — Você vai contar a Cam o que aconteceu?

— Não até que estejamos a meio caminho de casa. Não posso atestar seu

comportamento de outra forma.

— É um gatilho?

— Grande momento. Ele teria matado aqueles bocetas de forma tão confusa que

estaríamos todos em perigo agora.

As pessoas assentiram, compreendendo. — E o telefone? Se os federais vierem, eles

podem rastreá-lo se acharem que mais alguém esteve lá esta noite.

304
Eu pensei nisso. O que eu não havia considerado era que Alexei era minha solução

para todas as coisas técnicas, e não queria explicar a ele o que havia no iPhone queimando

meu bolso. — Não sei. Não pensei tão à frente.

Folk estendeu a mão enluvada.

Passei o telefone para ele. Observei enquanto ele fazia todas as coisas que eu não

sabia fazer. — Ordenado?

— Sim. Mas não vai adiantar muito se você realmente quiser detoná-lo online. Você

teria que construir perfis falsos primeiro.

— Eu sei, mas não consigo vê-lo delatando. Mesmo que ele seja preso por tentativa

de homicídio, ele ficará bem. Os não assassinos estão no topo da cadeia alimentar na

prisão.

O povo não respondeu. Ficaríamos sem tempo. A pouca distância, Cam e River

esperavam, River encostado em sua motocicleta, Cam andando de um lado para o outro e

fumando.

Ele estava em mim como uma maldita erupção cutânea. — O que diabos foi isso?

— Nada. — Eu me esquivei dele e montei na minha moto. — Está resolvido.

— Não brinque comigo.

— Eu não estou. Estou atrasando você. Dê-me oitenta milhas e eu lhe contarei tudo.

Eu liguei meu motor antes que ele pudesse responder e ronquei para longe,

confiando em meus irmãos para seguir enquanto eu os conduzia para casa, não dando a

mínima para a formação e regras do clube.

Na fronteira de Devon, fui para a costa, para uma praia remota onde meu pai havia

ensinado a mim e a meu irmãozinho a nadar. Só então eu parei e respirei fundo.

Havia sangue nas minhas botas.

Sangue sujo de pedófilo.

Tirei meu capacete e caminhei até o mar, vadeando até que as ondas frias batessem

em meu peito.

305
Folk estava a um piscar de olhos atrás de mim. Ele mergulhou, totalmente vestido,

sob a superfície e desapareceu.

Virei meu rosto para o céu, contando estrelas, até que braços nus e tatuados me

envolveram por trás e lábios frios roçaram meu pescoço.

River.

Eu me virei para encará-lo, pedindo a Deus que ele tivesse esquecido de esvaziar os

bolsos antes de vir atrás de mim. Não tome essas drogas. Eu não posso suportar isso.

River me abraçou, então me deixou pegar água do mar gelada em suas mãos e

espirrar no meu rosto, no meu pescoço, em cada parte de mim exposta ao que eu tinha

visto e feito esta noite. Merda que ele nem sabia, mas de alguma forma sabia que eu

precisava disso.

Ele alisou meu cabelo para trás do meu rosto. — Os outros estão a caminho de casa.

Eles não mataram ninguém. Você também não, certo?

— Certo.

— O que aconteceu?

— Preciso contar a Cam primeiro.

— Não, você não. Eu estou bem aqui. Ele pode esperar.

Além de River, vi Cam fazendo exatamente isso, descansando na areia úmida,

ainda fumando como se sua vida dependesse disso. — Cara estava relaxando na outra

sala. Assistindo vídeos de pedofilia de si mesmo fazendo merda desagradável. Publiquei

em seu Facebook e dei a ele um sorriso de Glasgow.

Sob a lua, as joias de ouro de River brilhavam. Seus olhos, porém, eram

fodidamente sem profundidade. Eu afundei em seu olhar derretido enquanto ele digeria

aquele pesadelo, desejando que eu não tivesse contado a ele, mas grato além da medida

por ele se importar o suficiente para perguntar.

Ele respirou fundo. — Você estava certo em tirar Cam de lá.

— Eu sei.

306
— Talvez você não devesse contar a ele.

— Eu tenho que. Não saber o deixará igualmente louco.

River se encolheu, mas ele sabia que eu estava certo. Cam era Cam. E nós o

amávamos.

— Vamos. — Ele encontrou minha mão no oceano gelado. — Acabe logo com isso

antes que você pegue uma pneumonia.

Ele me puxou para a margem.

Eu resisti e mergulhei totalmente debaixo d'água, fechando o mundo inteiro, até

mesmo ele, apenas por um maldito momento.

Quando ressurgi, ele ainda estava lá, esperando, de olhos arregalados e lindo.

Fechei o espaço frio e turbulento entre nós e agarrei seu rosto, beijando-o sob as

estrelas, não dando a mínima para o que Cam estava assistindo. Que tinha começado a

chover.

River abriu a boca.

Pela segunda vez naquele dia, fechei-o com a palma da mão.

Ainda não.

Cam reagiu exatamente como eu esperava. Fúria por eu tê-lo empurrado para fora.

Grato por ele não ter visto o que eu tinha.

Ele me abraçou forte. — Eu te amo, irmão.

— Também te amo, cara.

Combinamos de deixá-lo na praia. Ninguém mais precisava desse pesadelo em suas

mentes.

Então ele me deu o melhor presente de todos, abrindo a palma da mão para revelar

um punhado de saquinhos cheios de pó. — River me deu isso. Preciso colocá-los com os

outros e despejar tudo.

O alívio quase me deixou de joelhos.

307
Cam agarrou meu cotovelo. — Qual é o problema?

Eu balancei minha cabeça, o nó na minha garganta muito grosso e carnudo para

falar, o olhar deixando-o e procurando por River.

Ele estava perto da água, esperando para ajudar Folk a sair das ondas. Não que

Folksie precisasse disso. O cara era meio tritão.

River, porém, ele estava fodendo tudo para mim. Eu amava Cam. Os meus irmãos.

O clube que nossos pais construíram do nada. Mas sem River, tudo era vazio, e os anos

que passei esperando que isso mudasse - que ele mudasse quando era perfeitamente

imperfeito do jeito que era - foda-se... que vida desperdiçada.

Afastei-me de Cam enquanto ele ainda falava e atravessei a areia molhada,

chegando a River enquanto Folk emergia das ondas negras.

Lendo a cena, Folk acenou para River e continuou andando. Rastreando-o River

deu meia volta. Para me encarar enquanto ele tremia com o vento frio, suas roupas

completamente molhadas. Minha culpa. E minhas roupas estavam molhadas também-

— Ei.

A jaqueta de Cam atingiu o lado da minha cabeça e olhei por cima do ombro a

tempo de vê-lo e Folk já saindo da praia.

Amo esse cara.

Coloquei a jaqueta em volta de River. Ele deslizou os braços, revirando os olhos. —

E você?

— Estou com calor.

— Não, você é gostoso. Isso não o torna invencível.

— Shh. — Eu o puxei para perto, deslizando meus braços em volta de sua cintura, e

por um longo momento, eu o segurei. Mas eu tinha tanto que precisava dizer, e uma

sensação repentina de correr contra o tempo desceu sobre mim. — Riv-

O filho da puta fechou minha boca com sua mão gelada. — Oh não. Você não pode

fazer isso se eu não puder.

308
Ele segurou firme por um momento, então me soltou.

Mordi seu pescoço, deleitando-me com o calor da angústia que nos varreu. A

pressão instintiva de seu corpo contra o meu. — Fazer o que?

— Dizer coisas loucamente adoráveis. Talvez eu precise que você guarde para

quando eu mais precisar também.

Louco-adorável. Que frase foda. Não poderia argumentar com isso. — Você não

precisa disso agora?

River esfregou sua bochecha ao longo da minha mandíbula. — Nós dois estamos

respirando, boo. Isso é o suficiente para mim esta noite.

Não era o suficiente. Nunca tinha sido, e não era agora. Mas estava frio. Ele estava

com frio. Talvez as palavras que me queimam por dentro pudessem esperar até que ele

estivesse aquecido novamente.

Além disso, as ações falavam mais alto que as palavras. Eu poderia mostrar a ele o

quão orgulhoso dele eu estava chupando seu pau?

309
CAPÍTULO 23
RIVER

Havia pedras no outro extremo da praia, na direção oposta àquela onde havíamos

deixado nossas motocicletas. Onde meu irmão e Folk estavam desaparecendo na distância.

Rubi colocou as mãos no meu peito e me guiou para trás, para longe do oceano

gelado. Ele tinha um sorriso tão gentil quanto a luz fraca da lua, mas um calor diabólico

em seus olhos salpicados de ouro. Uma determinação que não me deixou espaço para

lutar contra ele.

Não que eu quisesse. Invadir o esconderijo me deixou bombeado, mas o barco cheio

de outras merdas que veio com ele foi exaustivo pra caralho. Mentalmente, eu estava

acabado.

Emocionalmente?

Quem diabos sabia.

Chegamos às rochas. Rubi me empurrou contra elas e reivindicou minha boca, seus

lábios frios do ar do inverno, mas sua língua tão quente que queimou minhas sinapses.

Eu o beijei de volta, gemendo em sua boca, feliz por Cam ter fodido até o fim. Já

havíamos feito um show para ele esta noite, mas tudo sobre o beijo de Rubi agora me dizia

que a merda estava prestes a explodir.

Ou, pelo menos, ele estava. Não tinha certeza se meu pau havia sobrevivido à

caminhada gelada no mar negro.

De alguma forma, o torso de Rubi ainda estava quente. Encontrei sua pele nua sob a

camisa úmida e deixei minhas mãos vagarem, perseguindo a corrente que fragilizava meu

pulso. Ele apertou seu pau no meu, e minhas pálpebras tremeram. — Jesus, porra, Cristo.

Rubi sorriu contra meus lábios. — Apenas me chame de Rubi, mano.

310
— Eu não sou seu irmão. — Eu cuspi essa realidade na cara dele tantas vezes, mas

agora murmurei, absorvendo cada palavra carregada e o que significava. Nós não éramos

irmãos. Não de forma alguma que tornasse esse calor louco qualquer tipo de errado.

Nunca foi errado. Não nós. Não isso.

Rubi me beijou novamente, suas mãos deslizando pela minha cintura até a fivela da

minha calça jeans. Em casa - em sua casa, em sua cama - este foi o ponto onde eu o parei.

Onde eu tinha afirmado o controle que eu precisava desesperadamente para manter meus

pés no chão. Para ficar são. Mas esta noite... era fodidamente selvagem, e eu tinha usado

meu controle para não invadir aquela casa e assassinar quem quer que tivesse feito Rubi e

Folk sentirem que nunca mais veriam o mundo da mesma maneira.

Não pense nisso.

Uma façanha que Rubi tornou mais fácil empurrando meu jeans para baixo e

resgatando meu comprimento da cueca molhada.

Aparentemente, meu pau ainda estava vivo, duro e pulsando em sua mão grande,

imune ao memorando de que tínhamos dado outro mergulho não programado no

Atlântico ártico. Ele me apertou, beijando um caminho da minha boca até meu pescoço,

seus dentes raspando minha pele. — Você não me deixa falar, Riv. Por que você nunca me

deixa falar?

Ele não quis dizer esta noite. Ele quis dizer cada segundo de nossas vidas que nos

trouxe a este ponto.

Enfiei meus dedos trêmulos em seu cabelo e contei a verdade. — Porque eu estou

com medo pra caralho.

— Eu nunca vou deixar você.

— Não disso.

— Então o que?

311
Eu não tinha uma resposta. Ou talvez eu tivesse muitas. Eu estava com medo de que

ele me deixasse. Isso eu diria a ele. Que eu o faria. Porque tudo que eu tocava, eu

quebrava, e eu não poderia viver quebrando ele.

Rubi desistiu de esperar que eu falasse. Ele beijou meu queixo, então caiu de

joelhos, arrastando meu jeans e cueca com ele.

Porra do inferno.

Sua boca estava em mim antes que eu pudesse reunir a vontade de puxá-lo de volta.

Ele levou meu pau tão fundo que meus olhos rolaram para a parte de trás do meu crânio, e

meu gemido assustado foi alto. Tão alto pra caralho, e sem vizinhos ou irmãos

intrometidos para se preocupar, eu deixei acontecer.

Eu deixei passar.

Ou talvez Rubi o tenha tirado de mim. Qualquer que seja. Acrescentei à longa lista

de coisas que não sabia e nunca saberia. Perdi-me no veludo molhado de sua boca e mãos

firmes. A maneira como ele me trabalhava com a língua. A maneira como ele agarrou

minhas coxas e me empurrou para frente, levando-me mais fundo em sua garganta.

Eu gemi de novo, minha cabeça caindo para trás contra as rochas. Aquela noite

embaçada há tanto tempo ainda era um mistério para mim, mas toda vez que

tropeçávamos em um plano superior de fisicalidade, eu reconhecia o que era - alucinante,

mágico e novo. O que quer que tenha acontecido naquela noite, eu nunca tinha colocado

meu pau na boca de Rubi antes.

Nunca.

Ele puxou a mesma merda com os dentes que tinha na minha garganta. Todo o meu

corpo estremeceu e eu cambaleei contra as rochas, o equilíbrio me abandonando tão

rápido quanto um pensamento coerente. Eu pensei que não queria isso - ele de joelhos me

dando prazer, sem pensar em si mesmo. Mas eu era fraco, cara. Fraco demais para se

afastar da felicidade alucinante.

312
Meus dedos encontraram o caminho de volta para seu cabelo. Curvei-me para a

frente, observando sua boca exuberante me manipular, enfeitiçada por seu olhar quando

seus olhos brilharam para mim. Ele sempre teve esse poder sobre mim? Possuir cada

faceta da porra do meu ser com nada mais do que um olhar?

É mais do que um olhar. Ele está com a boca no seu pau. Mas ele não precisava me

chupar para me fazer sentir assim.

Eu o amo tanto pra caralho.

Eu queria dizer a ele. Para sussurrá-lo. Gritá-lo. Só a certeza absoluta de que ele não

queria ouvir agora me impediu.

Outras palavras saíram em seu lugar. — Foda-se, você é incrível.

Só Rubi podia sorrir com um pau enfiado na garganta, os olhos enrugados nas

laterais. Ele cavou seus dedos em minhas coxas novamente, incitando-me. Como se eu

precisasse de incentivo para bombear meus malditos quadris. Foder sua boca nunca foi

minha fantasia. Mas talvez eu apenas não tivesse imaginação.

Eu comecei a desvendar. Pulmões queimando. Sangue correndo em minhas veias

tão rápido que me senti tonto. Eu sufoquei um aviso. Rubi soltou um gemido profundo e

eu gozei com um grito áspero.

Rubi continuou trabalhando em mim até que minha mente ficou branca, minha

visão embaçada pelo impacto de gozar tão forte. Então ele me pegou enquanto eu

avançava e caí de joelhos para beijá-lo.

Ele respondeu com aquele tipo de beijo que me fez afundar um pouco mais no meu

amor irrevogável por ele. Ele roubou minha respiração. Meu coração. E pela primeira vez,

o pensamento de segurar o dele na minha mão não me assusta tanto.

Beijei seu rosto inteiro. — Sua vez.

Rubi riu. — Você pode ter que esperar um pouco. Eu vim antes de você.

— Eh?

313
— Riv, chupar você tem sido minha maior fantasia por quase uma década. Eu

nunca chegaria ao fim.

— É por isso que você queria tanto fazer isso? Para você mesmo?

— Isso aí. — Rubi me puxou para um abraço. — E porque eu sei que sou muito bom

nisso, e é assim que eu quero que você se sinta. Bom - não, foda-se. Fodidamente adorado.

Sim. Isso foi o que eu pensei. Mas me senti menos mal por saber que ele tinha

gozado com tanta força que gozou de jeans. Essa merda foi hilária de outro nível.

E quente como o pecado.

O vento frio voltou a soprar. Beijei Rubi mais uma vez, depois me afastei. —

Devemos ir para casa.

Sua testa franziu, incerteza que ele não merecia. — Meu lugar?

— Eventualmente. Devíamos ir ao clube primeiro. Verificar os outros.

Rubi piscou antes que o alívio inundasse seu grande corpo. Ele se levantou,

levando-me com ele mais rápido do que eu estava preparado, sua força bruta uma

realidade que eu aparentemente esqueci. — Sim. Devemos fazer isso. Tem certeza de que

não quer verificar a garagem? Eu irei com você, e podemos ficar em...

Eu o silenciei com um beijo. — Eu quero estar aqui. Com você. Com Cam e Orla.

Vou me preocupar com a garagem amanhã.

Seu sorriso me deu vida. Juntamente com a decisão de fração de segundo que tomei

para entregar os sacos de K para Cam, foi provavelmente o melhor que já senti além de

acordar e encontrá-lo dormindo na cama ao meu lado. De rolar em sua cama, nu e rindo.

Sem fôlego e tão famintos um pelo outro, nada e ninguém mais existia.

Era tão fodidamente bom não me sentir o pior pedaço de merda que já existiu.

Pegamos a estrada e voltamos para o complexo. Cam e Folk já estavam lá, mas os

outros ainda estavam na estrada.

Embry me trouxe roupas secas. — De Mateo.

314
— Obrigado. — Peguei o jeans desbotado e a camiseta cinza do Kings e me escondi

no corredor enquanto ele observava a porta do bar. — Se sentindo melhor?

— Do que?

— Do que seja. Eu não sei merda nenhuma.

Embry sorriu, seu rosto menos cansado do que da última vez que o vi, mas

qualquer resposta que ele fosse dar foi interrompida por Rubi o agarrando em um abraço

de urso.

Eu os observei se abraçarem, o amor fraterno e caloroso emanando deles. Emoção

familiar que me fez arder os olhos. Eu era um idiota de merda. Como eu nunca tinha visto

que era só isso? Os dois? No fundo, eu sabia que era a mesma razão pela qual Rubi nunca

havia gostado do Oscar, mas eu ainda era um idiota.

A camiseta de Mateo era muito comprida nas mangas. Eu as enrolei, então coloquei

a jaqueta de Cam de volta por nenhum outro motivo além de gostar do cheiro.

Rubi deixou Embry ir. — Onde está Alexei?

Confusão cintilou nos profundos olhos azuis de Embry. — Ainda não voltou. Você

precisa de ajuda com alguma coisa?

— Não. Não, não. Vou invadir o guarda-roupa de Cam.

Ele me lançou um olhar ardente e ansioso, então foi para as escadas que levavam à

residência. Meu olhar o seguiu até que ele desapareceu, então encarei a curiosidade de

Embry.

— Estou esquecendo de algo?

Ele estava, mas eu fiz parte do acordo para deixar aquela merda na praia, então

apenas dei de ombros. — Ele é um amante, não um lutador.

— Um lutador molhado. Como você acabou no mar de novo?

— Paramos para lavar.

— Não Cam?

315
— Não precisava. — A voz do meu irmão retumbou atrás de mim. — Não dei um

soco. Quão fodido é isso?

Embry encostou-se no batente da porta. — Não está fodido. Você não deveria estar

lutando de qualquer maneira. Não é o seu trabalho.

— Você acha que eu deveria ter enviado Mateo em meu lugar?

— Você deveria ter me enviado.

Cam bufou. — Sim. OK. Você e River. Porque isso não é um show de merda

esperando para acontecer.

— Significado?

— Vocês dois são duendes do caos. — Cam acendeu um cigarro. — E nem comece,

porra. Eu quis dizer o que eu disse.

— Bíblico. — Rubi reapareceu com roupas secas. — Não posso negar que você é

uma granada carregada, Em.

Embry fez um som impaciente e se afastou com minhas roupas.

Rubi riu. — Toda vez.

Eu não conhecia Embry bem o suficiente para avaliar o quão precisa era a descrição

de Rubi. Mas se ele fosse como eu...

Tudo bem. Às vezes Cam realmente sabia melhor.

— É hora da cerveja. — Rubi anunciou. — Vamos.

Ele me puxou para dentro do bar. Decoy estava servindo. Ele colocou canecas na

frente de Rubi e Cam sem perguntar o que eles queriam, então voltou seu olhar estoico

para mim.

— Desculpe amigo. Nunca estive por perto para ver o que você bebe.

— Sou eu que nunca estou por perto. Posso pegar uma garrafa?

Decoy assentiu e pegou uma garrafa gelada da geladeira. Um irmão turbulento

gritou com ele do final do bar, mas ele esperou que Cam o dispensasse antes de seguir em

frente.

316
Eu arqueei uma sobrancelha quando ele se foi. — Você o treinou bem.

— Não. — Cam bebeu metade de sua cerveja. — Ele é apenas respeitoso, mesmo

sem tentar. Melhor cara que consertamos em anos.

— Eu gosto de Folk... mesmo que ele seja um Crow.

Cam me deu uma cotovelada. — Pode essa merda. Ele é um Kings.

Eu sorri para deixar Cam saber que eu estava brincando e o ignorei enquanto ele e

Rubi discutiam sobre preços de madeira e margens de lucro. Era hipócrita pra caralho que

eu teria me envolvido mais se eles falassem sobre o lado mais confuso dos negócios do

clube. Do jeito que estava, eu estava entediado pra caralho e deixei meu olhar vagar pelo

bar, bebendo minha cerveja até acabar e Decoy me trazer outra.

Rubi estava perto o suficiente para que nossas coxas se tocassem. Do meu outro

lado, estava... uma mulher grávida. Cabelo escuro curto, pele morena. E olhos curiosos

que eu reconheci pela assadura que recebi de sua filha hoje cedo. O nome dela era Juana.

Ela passou um mês em um apartamento com Rubi no ano passado. Quatro semanas que

eu gastei meus peitos assumindo que ele estava lá fora, fodendo crack ou algo assim,

quando ele estava guardando a família de Mateo como se fosse sua própria.

Se isso não resumia quem éramos, eu não sabia o que fazia.

— Gostei da sua pulseira. — Juana olhou para o fio trançado amarrado em meu

pulso. — Eu não tinha certeza se elas dariam a você.

— Liliana me contou.

Juana estremeceu quando Decoy colocou uma caneca de chá com aroma de frutas

na frente dela. — Ela fez? Desculpe por isso. Ela é tão rude quanto Mateo menos suas

habilidades sociais limitadas.

— Ela não foi rude. Honesto, talvez, mas isso não é uma coisa ruim.

— Isso está causando problemas para ela na escola.

— Foda-se a escola.

317
Joana riu. — OK. Você pode ficar longe dela, embora possa achar isso difícil. Ela

ama Rubi.

Tracei o fio amarelo do sol com a ponta do dedo. — Eu também.

— Eu sei.

— Como?

Juana acenou com a mão como se não fosse nada. — Mateo costumava me dizer.

Não fique com raiva dele. Acho que ele nunca imaginou que eu estaria sentada aqui com

você, jogando-o debaixo do ônibus.

Eu não estava com raiva. Apenas confuso que Mateo sabia como eu me sentia há

muito tempo, e Rubi ainda não sabia ao certo agora. Hoje. Essa noite. Quero dizer, ele sabia

que eu o amava. Ele tinha que. Mas ele não sabia que eu o amava o suficiente.

Maldito. Meu olhar se desviou para ele. As pontas de seu cabelo haviam secado em

ondas, longas mechas escapando da faixa na nuca. Eu não conseguia entender como Cam

podia ficar tão perto dele e não enrolar uma mecha em seu dedo. Ou afastá-las do lindo

rosto de Rubi. Não fazia sentido para mim.

Nenhum mesmo.

Você está rastejando. Pare com isso.

Voltei minha atenção para Juana. Sua barriga inchada pressionada contra o bar

enquanto ela pegava seu chá.

— Para quando vai nascer?

— Três semanas. — Juana esfregou a barriga. — Eu pareço pronta para estourar

para você? Esses meninos fofos vivem me dizendo que não estou gorda o suficiente.

Eu levantei minhas mãos, me rendendo antes mesmo de começar. — Você poderia

ter seis lá, pelo que sei.

— Na mesma nota. — Juana pegou seu chá e se levantou de sua banqueta. — Foi

um prazer conhecê-lo adequadamente. Não machuque Rubi ou eu corto seu pau fora. Boa

noite, Decoy.

318
Ela se afastou, balançando os quadris com uma graça que eu achava irresistível na

maioria das pessoas, mas não conseguia ver isso nela. Não a conhecia de Eve, mas ela

falava como uma mulher que passava muito tempo com minha irmã.

Além disso, ela não era Rubi.

Ninguém era Rubi.

Eu me virei para o bar e esvaziei minha garrafa, balançando a cabeça quando Decoy

silenciosamente perguntou se eu queria outra. — Ela acha que sua filha recebeu sua

insolência de Mateo?

Decoy riu. — Mateo acha que é o grande cérebro de Embry.

— O que você acha?

— Acho que Ivy e Lili vão dominar o mundo. Os outros estão de volta.

A mudança de assunto foi abrupta. Eu girei quando as portas do bar se abriram e

Saint e Nash entraram, flanqueados pelos irmãos com quem eles lutaram. Nash estava

sangrando, com a sobrancelha rachada, nada sério.

— Maldito tolo. — Cam murmurou. — Você sabe que ele tentou estar em todos os

lugares ao mesmo tempo.

Rubi afastou o copo vazio. — Deixe-o em paz, senhor hipócrita.

Cam grunhiu.

Rubi colocou a língua para fora e chutou um banquinho para longe do bar,

gesticulando para Nash vir e sentar nele. — Deeks, pegue o kit?

Decoy já estava colocando um kit médico no bar.

Nash sentou-se.

Rubi abriu a caixa.

Eles não se olharam e Cam suspirou, apenas Saint o distraindo de alguma

intromissão no estilo Loose Women. — Você está bem?

Saint assentiu. — Tentei consertá-lo na estrada, mas é um sangramento.

— Não é o que eu quis dizer. Eu sei que aquele palhaço está bem.

319
— Não seja rude. — Rubi repreendeu. — Saint, olha isso. Você acha que precisa de

costura?

Ele agarrou a mandíbula de Nash, inclinando a cabeça para Saint ver melhor.

Nash deixou.

Tudo sem contato visual. Malditos idiotas.

Saint olhou para a ferida. — Precisa de costura. Você quer anestesia?

— Não. — Nash apontou o polegar por cima do ombro. Para o bar. — Traga-me um

pouco de uísque.

Decoy estava ocupado. Eu pulei o bar e encontrei a garrafa de Bushmills atrás da

merda. Cam e Rubi reabastecidos também, antes de levar a garrafa para Nash.

Ele bebeu um gole saudável enquanto Saint se preparava. — Tudo bem em Truro?

Cam encolheu os ombros. — A mesma velha merda.

Uma carranca profunda e não convencida vincou o belo rosto de Nash. Ele me

lançou um olhar. — O que aconteceu?

Eu não era um mentiroso. E Nash me conhecia quase tão bem quanto os outros.

Mas essa merda, cara. O que Rubi e Folk tinham visto. A alma de Nash era boa demais

para isso. — Foi fácil demais. Cam está aborrecido por não ter agredido ninguém.

— Você não me deu uma chance. — Cam retorquiu. — Aquela boceta estava

inconsciente antes de eu passar pela porta.

Apoiei-me no bar. — O que posso dizer? Eu sou eficiente.

— Você é brutal. Há uma diferença.

— Tudo bem, tudo bem. — Rubi acabou com isso. — Ele consegue a porra da foto.

Eu e Cam brigamos o suficiente para que Nash fosse aplacado. Ele fechou os olhos,

bebendo, enquanto Saint trabalhava, e Cam e Rubi rondavam. Mas eventualmente, Rubi

encontrou meu olhar e sutilmente inclinou a cabeça para a porta.

Peguei minha deixa e pulei sobre o bar novamente, ainda vestindo a jaqueta de

Cam.

320
Ele percebeu. — Você vai ficar com isso?

— Talvez.

Meu irmão sorriu. Tipo, sorriu de verdade. Um mês atrás, eu teria arrancado a

jaqueta e jogado na cara dele. Porque fazê-lo feliz era a última coisa que eu queria fazer.

Mas eu queria agora. Por mais que eu quisesse que Rubi também fosse feliz.

E Nash.

Não era possível consertar isso, no entanto. Não essa noite.

Saí do bar, sentindo Rubi atrás de mim, e empurrei para fora, o ar frio batendo com

mais força do que na longa viagem para casa com roupas molhadas. Louco o que um

boquete abrasador fez com a temperatura do seu corpo.

Louco por ter sentido falta de Rubi quando ele estava a apenas meio passo de mim.

Eu preciso dele. Estendi a mão para trás, e ele estava bem ali, sua mão entrelaçada

com a minha, seu grande braço serpenteando em volta da minha cintura, os lábios

roçando minha têmpora.

— Você quer ir para casa?

— Minha casa?

— Onde quer que você esteja, querido. Isso é tudo que eu quis dizer.

Eu senti isso também. Mas, por mais que a responsabilidade me chamasse de volta

para Porth Luck, a grande cama amarrotada de Rubi era o único lugar onde eu queria

estar. — Podemos ir na sua casa?

Um largo sorriso apareceu no rosto de Rubi. — Realmente?

— Você acha que eu mentiria?

— Não, eu só não tinha certeza se você ainda gostaria tanto de ficar perto de mim

agora que essa merda de limites do condado está resolvida. Achei que teria que brigar com

você sobre Timmerson ainda ser uma ameaça.

Eu cavei meus dedos em suas costelas. — Eu não estou pedindo para você me

proteger, seu maldito palhaço. Eu quero voltar para sua casa e foder. Então eu quero jantar

321
– café da manhã – tanto faz. E para dormir com você. Nada disso tem nada a ver com mais

ninguém.

Rubi soltou um suspiro trêmulo, balançando a cabeça lentamente. Então algo do

outro lado do quintal chamou sua atenção.

Alguém.

Alexei estava de volta.

Rubi apertou minha mão, depois me deixou, correndo pelo pátio até onde Alexei

estava agachado ao lado das motas de Cam e Saint, examinando as rodas.

Ele se levantou quando Rubi o alcançou. Brilhante. Não impressionado com o que

Rubi tinha a dizer.

Eu era intrometido o suficiente para atravessar o quintal para me inserir em uma

conversa que não era da minha conta a tempo do profundo suspiro de Alexei.

— Velho, já conversamos sobre isso. Nada de abraços, a menos que alguém morra.

— Ah, mas você não disse quem. De acordo com as estatísticas, seis pessoas

morreram enquanto eu estava aqui. — Rubi abriu os braços. — Vamos, mano. Deixa

acontecer.

OK. Esse não era o chá que eu pensei que estava tomando, mas me fascinou do

mesmo jeito. Rubi era tátil com todos que amava, e até mesmo com pessoas que não

amava. Alexei mostrava seu afeto de outras maneiras, embora eu o tivesse visto abraçar

Cam. Segurar a mão de Saint. Acariciar Decoy e as doces menininhas de Mateo. Talvez

estivesse nele e ele simplesmente não soubesse.

De qualquer maneira, Rubi era difícil de dissuadir quando queria alguma coisa.

Alexei suspirou novamente. — Faça isso se for preciso. Mas quanto mais cedo você

voltar a importunar Nash por afeto não solicitado, melhor.

Rubi não respondeu. Apenas passou os braços ao redor de Alexei com muito

sentimento para igualar a hilaridade na troca que tinha acontecido antes. Muita emoção

fervendo. Se Alexei sentiu isso, eu não poderia dizer. Mas ele não lutou contra Rubi. Por

322
um segundo quente, ele até o abraçou de volta, antes de se separar com uma carranca

engraçada.

— Você está bem?

Rubi assentiu.

— E você? — Alexei virou seu olhar penetrante para mim.

Eu balancei a cabeça também. Alexei me encarou por um momento, sua descrença

mais dura do que a de Nash. Mas não éramos nós que possuímos seu coração, e ele nos

deixou ir, desaparecendo nas sombras para mandar em meu irmão.

Um arrepio me balançou quando ele se foi. — Ele me assusta.

Rubi voltou à minha órbita e apoiou o queixo no meu ombro por trás. — Sim, mas é

o tipo bom de aberração. Eu amo esse cara que bate em meu ombro.

— Todo mundo é pequeno comparado a você.

— Pequeno, ha. Vamos.

Rubi me apressou até nossas motocicletas. Passei minha perna por cima da minha

quando a porta do clube se abriu e Nash apareceu nos degraus, esfregando o lado do rosto

que não estava costurado. Ele parecia cansado. Sozinho.

Acenei.

Ele acenou de volta.

Rubi o ignorou.

— Seriamente?

Rubi resmungou enquanto Nash se afastava. — O que?

— Por que você não fala com ele?

— Ele também não está falando comigo.

— Não seja uma vadia.

Rubi fechou os olhos e respirou fundo outra vez antes de me encarar novamente. —

Sinto muito, ok? Falo com ele amanhã. Eu só... porra, eu não sei. Eu não tenho isso em

mim agora.

323
— Por que não? Nash é seu melhor amigo. Ninguém te entende melhor do que ele.

— Mas esse é o problema, não é?

Eu fiz uma careta, muito destruída para acompanhar. — Você vai ter que explicar

isso.

— Agora mesmo?

Poderia ter esperado. Talvez devesse. Mas eu amava Nash. Eu adorava Rubi. Me

matou vê-los tão bagunçados.

Rubi murmurou algo que não entendi.

Enfiei o capacete debaixo do braço e esperei que ele repetisse.

Ele não. Ele pescou um zoot do bolso interno e acendeu, inalando profundamente

antes de oferecê-lo para mim.

Eu acenei para longe. A erva ajudou com desejos mais profundos, mas acender fogo

era a última coisa em minha mente agora. Quer Rubi quisesse ou não, ele tinha toda a

minha atenção. Embora, se ele suspirasse novamente em vez de usar palavras reais, eu

provavelmente iria chutá-lo de sua moto.

— Somos co-dependentes. — Ele disse finalmente. — Faz anos. Toda vez que você

batia a porta na minha cara, se eu não estivesse com vontade de ir embora com meus

problemas - não olhe para mim assim, você fez isso também - eu iria até ele. Não

importava o que ele estivesse fazendo, eu rastejava para a cama dele, para a porra do colo

dele, e me apoiava nele até poder respirar novamente.

Eu sabia disso sobre eles. Sobre Rubi. Que ele ansiava por conforto físico quando a

merda ficava difícil. Nash era seu lugar seguro. Mais do que Cam. Mais do que Embry.

Mais que eu.

Esfreguei a palma da mão sobre o ponto dolorido em meu coração. — Estamos

todos fodidos. Não significa que você tenha que puni-lo por isso.

— Eu não estou.

— OK. Você mesmo então. Do que você está com medo?

324
— Muitas coisas. — Rubi fumou o baseado até queimar os dedos. Em seguida,

jogou-o fora. — Nenhuma delas é culpa dele. Eu amo ele. Eu estou apenas... cansado. Tipo,

eu não posso consertar tudo de uma vez, sabe?

Eu deslizei da minha moto e fui até ele. Eu não poderia encasulá-lo com todo o meu

corpo do jeito que ele poderia fazer comigo, mas eu tentei do mesmo jeito, persuadindo-o

a descansar a cabeça no meu ombro para que eu pudesse esfregar sua nuca. — Não

estamos mais quebrados, boo. Você conserta esta última coisa e se sentirá completo

novamente, eu prometo.

Foi uma promessa precipitada de se fazer. Rubi tinha passado por muita coisa para

alguém curar aquelas malditas cicatrizes. Mas o peso em seu abraço me partiu em dois. Ele

não merecia. Seu coração era muito grande e puro para doer assim.

Outro murmúrio chegou aos meus ouvidos. Eu esfreguei seu pescoço mais uma

vez, então puxei seu cabelo até que ele encontrou meu olhar. — O que é que foi isso?

Rubi franziu o rosto em uma carranca maluca. — Eu disse, amanhã. Ou talvez no

dia seguinte. De qualquer forma, não terei muita escolha, porque tenho que ir...

— River!

A urgência na voz desconhecida me arrancou de Rubi.

Eu me virei.

O grande Crow - Locke - correu pelo pátio, chamando a atenção de outros irmãos

que circulavam.

Ele me alcançou derrapando, colidindo com a moto de Rubi, o telefone agarrado em

sua mão grande. — É a garagem, companheiro. Eu sinto muito. Eles acenderam e vai

explodir.

325
CAPÍTULO 24
RUBI

Perdemos a explosão. Teria incomodado a maioria das pessoas por ser o segundo

prédio que vimos cair em 24 horas, mas eu estava acostumado com o caos. Destruição.

Dor. Mágoa.

Minha única preocupação era River, e seu humor era difícil de ler enquanto

estávamos parados, em massa, atrás do cordão policial, olhando silenciosamente para a

casca fumegante de sua garagem.

A raiva de Cam era tão palpável que contaminava o ar.

River estava quieto.

Passivo, quase. Observando tudo com um olhar mudo, postura relaxada, mãos

soltas ao lado do corpo. A única preocupação que ele expressou foi a perda das

ferramentas de Nash. Axel e Bear. Nada próprio.

— Aquela van já está por aí? — Cam rosnou.

Mateo observava a estrada. — Ainda não. O que você quer fazer quando eles

aparecerem?

— Cerque esses filhos da puta. Mostre o rosto, mas não as mãos. Ainda não. Não

até que os federais voltem para casa.

— Isso pode demorar um pouco. — Eu me aproximei de River. — A porra de uma

criança de cinco anos saberia que isso foi um incêndio criminoso.

Locke balançou a cabeça. — Tem muita merda inflamável aí. Aceleradores.

Aparelhos antigos. Incêndio criminoso não é a resposta óbvia quando não há registro de

nenhuma reclamação de assédio, e River não tem formulário para reivindicações de

seguro duvidosas.

326
— Não tenho forma para nada. — River lançou-lhe um sorriso distante. — Eu sou

um bom menino.

Não, ele não era. Minha mente desceu para a sarjeta por nenhuma outra razão do

que eu estava exausto pra caralho. Imaginei todas as coisas imundas que ele tinha feito

comigo. Como ele me provocou. Me acertou. Me fez gozar com tanta força que quebrei

meu pescoço com a força. Todas as coisas apropriadas para o apocalipse que estávamos

encarando.

Locke disse coisas mais úteis. Não absorvi muito, embora me impressionasse que

ele parecesse mais aflito com isso do que a velha senhora que ele havia desenterrado de

casa na minha rua esta tarde.

Você quer dizer ontem.

Eram seis da manhã. Acho que sim.

Os federais vieram falar com River.

Cam não era bom com uniformes.

Nash era péssimo com números e sobrecarga de informações.

Isso me deixou. E Locke, que respondeu ao meu apelo tácito e se escondeu sob o

cordão de isolamento conosco.

Os policiais nos conduziram o mais próximo possível da garagem que os bombeiros

permitiram. Um bombeiro juntou-se a nós. Locke falava a língua deles e, pela enésima vez

desde que adotamos ele e Folk, fiquei grato pelos Crows o terem descartado.

A maldita perda deles.

— Onde você estava esta noite? — Um policial perguntou a River, casualmente.

— No motoclube Rebel Kings.

— Alguém pode confirmar isso?

River assentiu. — Muitas pessoas me viram. Eu estava lá quando recebi a ligação

sobre o incêndio. Você pode me ver saindo no CCTV.

327
Eles também o viam festejando a noite toda no bar, apesar de estarmos lá apenas

algumas horas. Eu não tinha visto nada de Alexei desde que essa merda aconteceu, mas

ele estaria em cima disso. Cobrindo pistas. Fabricando provas de que não estivemos nem

perto de nada, exceto de um baile antiquado de motoqueiros.

— Precisamos falar com você novamente. — Alertou o policial. — Onde podemos

alcançá-lo?

River recitou seu número de telefone e endereço e os federais recuaram, deixando-

nos com um bombeiro amigo.

— Você quer dar uma volta por aí?

River piscou. — Nós podemos fazer isso?

— Se você ficar por perto e colocar os pés onde eu mandar.

O bombeiro nos passou capacetes de segurança e nos conduziu para mais perto da

garagem incendiada. Ainda estava muito quente para entrar, mas com as janelas

quebradas e metade das paredes desmoronadas, não importava muito.

Porra. Meu. Ela se foi. Tudo isso. A única coisa que reconheci foi o velho sofá. De

alguma forma, o couro envelhecido sobreviveu às chamas.

— A moto de Axel se foi. — Disse River. — Ele adorava aquele monte de merda.

Eu esfreguei seu braço. — Vamos encontrar outra para ele. Saint tem um monte de

velharias em sua casa.

River cantarolava e seguia à frente para olhar a baía onde havia feito a maior parte

de seu trabalho. A Road King já se foi há muito tempo. Em seu lugar, ele havia

reconstruído um helicóptero personalizado, mas não estava por perto para começar e não

restava muito agora. — Porra, isso vai me custar vinte mil para substituir.

Ia custar a alguém. E eu silenciosamente prometi a ele com todas as facetas da minha

alma que não seria ele.

Tantas emoções me atingiram em um espaço tão curto de tempo. Muitos para listar.

Até contemplar. Mas enquanto eu observava a realidade descer em River, assisti o choque

328
desaparecer e a devastação se instalar, a raiva pura tornou-se dominante, crepitando em

minhas veias. Fervendo meu sangue. Eu não tinha mais palavras de conforto. Só a justiça

poderia corrigir isso.

Meu telefone tocou. Troquei um aceno de cabeça com Locke e me afastei para

atender a ligação.

— Eu tenho o que precisamos. — A voz fria de Alexei veio pela linha, o tom russo

suavizado para um polido sotaque inglês que geralmente me fazia rir. — Se River deseja

se juntar a mim, a hora é agora.

— Entendido. Dê-nos um minuto para descobrir isso.

— Você pode ter cinco. — Alexei recitou uma localização codificada e desligou.

Coloquei meu telefone no bolso e voltei para River e Locke.

Locke estava conversando com o bombeiro. River estava agachado no chão, com as

mãos na terra cheia de fuligem.

Eu caí ao lado dele. — Você está bem?

Uma risada sem humor escapou dele. — Isso é minha culpa tanto quanto ontem à

noite foi. Quantas vezes você me avisou que isso ia acontecer?

— Nenhuma. Eu estava mais preocupado que eles matassem você.

— Eles poderiam ter feito. Já dormi aqui antes, quando estava muito louco para ir

para casa.

— Porque Oscar estava lá?

— Não. Só não queria ficar sozinho na minha cama. Ficando no sofá aqui, alguém

sempre aparecia eventualmente.

— Você poderia ter vindo até mim. Qualquer noite, qualquer dia, eu estaria lá.

— Você estaria?

Não havia acusação nas palavras de River. Apenas fato desolado. Eu também nunca

estive em casa. Eu estava na estrada. Na cama de outra pessoa. Fodendo uma garota na

praia. Enterrando minha cabeça sob o travesseiro de Nash ou Embry. — Desculpe.

329
Ele me deu um sorriso aguado. — Eu também. Quem estava ao telefone?

— O contador.

River assentiu, sabendo o código do clube tão bem quanto eu. — Ele tem alguma

coisa?

— Parecia que ele tinha tudo. Quer ir ver?

River esfregou mais terra entre os dedos. — Achei que sim, mas nunca fiquei tão

zangado com isso quanto deveria. Eu sei o que tem que ser feito, mas não consigo me

mover, porra.

Inclinei-me mais perto, envolvendo meu braço em torno dele. — Me diga o que

você precisa. Eu farei isso acontecer.

River riu novamente. — Preciso da única coisa que continuo dizendo que não

quero.

Coloquei seu cabelo atrás das orelhas, de um lado, depois do outro. — O que é? Eu

farei qualquer coisa.

— Boo, eu preciso que você vá com Cam e faça as coisas certas para mim. Porque

não posso fazer isso e não posso ser a pessoa que pode.

Ele não precisou me pedir duas vezes.

Eu o beijei. Então troquei outro olhar significativo com Locke, larguei meu telefone

e saí.

Minha moto estava com os outros. Cam já tinha ido embora. Nash também.

Saint esperou por mim. — Vou consertar o que você quebrar, mas ouça Alexei

primeiro.

Por mais raro que Saint me desse uma instrução direta, eu o ignorei. Passei uma

perna por cima da minha e enfiei o capacete.

Ele recebeu o memorando e fez o mesmo, e saímos juntos de Porth Luck, deixando

River com Locke e Mateo vigiando sua retaguarda.

330
A estrada costeira era a mesma que havíamos percorrido na noite em que o carro

nos jogou no mar. As ondas de raiva batiam em meus ouvidos tão alto quanto minha fúria

aumentava, mas não era real, e eu estava muito focado em meu objetivo final – acabar com

isso – para deixar o barulho fantasma me descarrilar.

Seguimos em frente, para fora da cidade e de volta para casa e para o campo

acidentado que conhecíamos tão bem.

Uma fazenda remota e abandonada ficava ao longe. Portões quebrados e celeiros

abandonados. Nenhuma habitação à vista por quilômetros ao redor. Era familiar para

mim por todos os motivos errados. Violência nostálgica, yo.

Deixei Saint passar por mim e o segui até o limite norte da propriedade. A van

Transporter que havia estacionado do lado de fora da garagem de River por mais tempo

do que qualquer um de nós realmente sabia estava bloqueada por três motos - duas

Harleys e uma Triumph Tiger.

Embry.

A Ninja de Alexei estava mais longe, escondida nas sombras, mas eu o cronometrei.

Segui o exemplo de Saint e estacionei perto.

Alexei apareceu no momento em que tirei meu capacete. Eu não tinha notado antes,

mas ele estava vestindo uma camiseta que já foi minha. Mallory Knox. Eu o encolhi na

lavagem de propósito para que River pudesse usá-la, mas nunca cheguei a dar a ele.

Não podia mentir, parecia bom em Alexei, mas teria ficado melhor no chão do meu

quarto.

— Velho. — Alexei me cumprimentou. — Você está calmo, sim? Não temos muito

tempo para isso.

Eu estava muito longe da calma, mas por Alexei, fiz um esforço para controlar

minhas feições. Para abrir meus punhos e parar de canalizar Rip Wheeler, por todo o bem

que isso me fez. Diante de Alexei e Saint, eu não tinha nenhuma chance.

331
— Estou tentando. — Eu me esquivei. — Isso é tudo o que eu tenho. Saint diz que

você tem um plano.

Alexei limpou a sujeira imaginária de sua jaqueta. — É uma teoria mais do que

qualquer coisa, e eu sei que você gosta disso.

— Você?

Ele olhou de soslaio. — Não seja obtuso, Rubi. Se você não se comportar, terá que

esperar do lado de fora.

Alexei não era meu superior. Mas o último ano me ensinou que ele era, de muitas

maneiras.

Saint também. Eu o senti se mover atrás de mim. Então sua mão tocou meu braço,

hesitante, inseguro de seu caminho antes de envolver seus dedos em volta do meu pulso.

— É um bom plano, irmão.

Eu balancei a cabeça. Cedi. — Estou ouvindo.

— É simples. — Disse Alexei. — E sensato. Temos os dois irmãos Timmerson e seu

executor no celeiro. Poderíamos matar todos eles. Queimá-los. E eles desapareceriam sem

deixar vestígios. Você era bom nisso antes mesmo de me conhecer.

— Parece ideal. — Eu rosnei, mesmo quando um arrepio contraditório me sacudiu.

— Diga-me por que não deveríamos.

Alexei deu de ombros. — Eles não são bandidos. Eles são homens tolos jogando um

jogo que não entendem. Homens com famílias que os esperam em casa. Eles farão falta,

velho. Eles serão procurados. Certo, eles não serão encontrados, mas a que custo?

Ele estava falando com bom senso. — Tudo bem. Então, o que fazemos?

— Jogar um jogo mais longo. Os mesmos princípios se aplicam à violência que você

provavelmente tem em mente, não? Diga-me, o que é mais perturbador do que o seu pior

medo se tornando realidade?

332
Eu estava cansado demais para pensar nos enigmas de Alexei, mas tentei, torcendo

meu cérebro com força suficiente para disparar um tiro de alerta de enxaqueca de volta

para mim. — O medo é a pior parte. Não é a coisa literal de que você tem medo.

— Correto. — Alexei sorriu como se eu fosse um bom monstrinho. Grande monstro.

Qualquer que seja. — Os homens lá dentro já estão sabendo que cutucaram uma fera.

Agora é seu trabalho garantir que eles tenham medo dessa fera pelo resto de suas vidas.

Foram duas longas horas. Mas Alexei estava certo. Matar esses caras ou espancá-los

dentro de uma polegada de suas vidas patéticas era muito fácil.

Então não o fizemos. Nós os amarramos. Torturamo-os com todos os infernos

psicológicos fodidos que poderíamos imaginar até que eles se mijassem de terror.

Eles nunca viram Alexei.

Nunca ouviram sua voz.

Mas eles me viram. Eles olharam nos meus malditos olhos e sabiam o que eu faria

com eles se pisassem em nosso território novamente. Sabia que eles estariam olhando por

cima dos ombros para o resto de seus dias.

Putas malucas. Se eles não tivessem tornado a vida de River um inferno... Mas eles

tinham. E para isso, eles tiveram que pagar.

Quando terminamos, Saint e Embry os colocaram na parte de trás da van do

perseguidor e foram embora. Eu não perguntei onde. Não me importava.

Ao meu lado, Cam acendeu um cigarro. — Decoy está a caminho para buscar as

motos. Mateo vai buscar as meninas depois da aula.

— Essa é uma frase fodida, mano. — Nash também se iluminou. — Estamos

esperando aqui ou indo para casa?

— Casa. Já tive loucura suficiente da Cornualha por um dia.

Eu senti isso. Mas, pelo que sei, River ainda estava em Porth Luck e, sem meu

telefone, não tinha como verificar.

333
Lendo minha mente, Cam acenou com um descartável na minha cara. — Ele voltou

para o complexo. Locke diz que ainda está lá com Orla.

— Sério?

Cam assentiu. — Me surpreendeu também, mas tudo está me pegando de surpresa

ultimamente.

— Vou levá-lo para casa quando voltarmos. Para meu lugar.

— Que bonitinho. — Cam apagou o cigarro. — Mas você não terá tempo. Vocês

dois... — Ele apontou entre mim e Nash — ...sairão quando voltarmos. Corrida de

transporte, lembra? Não tenho mais ninguém para fazer isso.

Meu coração afundou. — Isso é hoje?

— Quando você pensou que era?

Verdade seja dita, eu não tinha a porra da ideia. Eu bloqueei isso, como se soubesse

que no momento em que me dei conta de que teria que deixar River por três dias seguidos,

eu perderia a cabeça.

— Podemos adiar um dia? — Nash perguntou. — Então, estamos por perto se

houver uma reação de tudo isso e outras merdas?

Cam balançou a cabeça. — Já pressionamos uma vez. Quando o equipamento de

Mateo quebrou na M1 no mês passado. Se errarmos desta vez, perderemos o contrato, e

não podemos arcar com isso agora. Não com os preços do diesel subindo.

Eu sabia. Eu sabia. Mas mãe dos malditos dragões. Tudo o que eu queria era uma

refeição quente, uma soneca e uma semana na cama com River sem que o fim do mundo

pairasse sobre nós. Por que a vida tinha que me fazer assim?

— Vamos. — Nash deu um leve soco no meu ombro. O primeiro contato amigável

que tivemos em semanas. — Pelo menos Riv está onde você precisa que ele esteja.

Ele rodou para sua moto antes que eu pudesse responder.

334
Montamos e pilotamos, pegando a estrada com força e rapidez, fazendo a viagem

de meia hora em vinte minutos. Ao longo do caminho, perdemos Alexei, mas Cam não

pareceu surpreso. — Ele voltará.

Eu grunhi e me afastei para encontrar River.

Ele estava no bar, olhando as velhas fotografias na parede. Os pais dele. Meu.

Lark.

Alguns dias eu não conseguia olhar para meu irmãozinho de onze anos, mas agora

eu olhava. Só por um momento, antes de River me enrolar.

Ele tinha fuligem no rosto e um pirulito enfiado na boca.

Esfreguei a fuligem com o polegar e beijei seus lábios com cheiro de cereja. — Como

vai você?

O meio sorriso de River estava cansado. — Melhor agora que você está aqui. Locke

me ajudou com um monte de merda, no entanto. Me desculpe, eu fui um idiota sobre ele e

Folk.

— Você não esteve por perto para conhecê-los. Mats queria envenenar a comida

deles nos primeiros meses em que estiveram aqui.

River enfiou o pirulito de volta na boca. — Parece com ele. Eu provavelmente teria

passado a ricina para ele se estivesse aqui, mas estaria errado. Locke tem uma alma doce.

Como Nash.

Eu ainda podia sentir o leve soco de Nash em meu braço. Não porque ele me bateu

com força, mas porque era uma ferida que demorava a cicatrizar. Você fodeu tudo. Ele

reagiu. Deixa para lá. — Eu sei. Eu quis dizer isso quando disse que falaria com ele.

— Quando?

Uma onda de mau humor teimoso tomou conta de mim. — Hoje. Amanhã. Não

importa. Vou ficar preso em uma cabine de caminhão com ele pelas próximas setenta e

duas horas.

Os olhos cansados de River se arregalaram. — Huh? Por que?

335
— Corrida de transporte. Deeks e Mats estão de plantão, então preciso ir de carro

até o Polo Norte e voltar com meu Papai Noel loiro.

Bem. Newcastle. Mas, no que diz respeito ao meu coração dolorido, podia muito

bem ser a porra de outro planeta.

River bocejou em uma piscada lenta. — Isso é uma merda. Quando você vai

embora?

— Um par de horas. Preciso tomar banho, comer e tirar uma soneca, quando tudo o

que quero é levar você para casa e fazer cada coisinha sobre a qual conversamos antes.

— Nada disso foi pouco, boo. — River se afastou dos arquivos da família e deslizou

os braços em volta da minha cintura. — Estou preocupado com você dirigindo, no entanto.

Estamos acordados há horas.

— Eu sei. — Eu também estava preocupado com isso, mas na minha periferia, vi

Nash já esticado e roncando em um sofá de bar, aliviando minha preocupação. Ele

dirigiria primeiro porque era o melhor amigo que um homem poderia ter.

Peguei a mão de River. — Suba comigo?

Ele não discutiu, e eu o reboquei escada acima até o velho quarto de Mateo,

espionando Embry caído no outro lado do corredor.

Eu tinha deixado uma mala debaixo da cama de Mateo - nada importante, apenas

calças e uma escova de dentes.

Eu desenterrei. Ele chacoalhou. Confuso, abri o zíper e encontrei o frasco de

comprimidos que River havia me dado semanas atrás, cortesia do meu russo favorito. Eu

não tinha enxaqueca agora, mas a visão delas fez minha cabeça latejar de qualquer

maneira.

Foda-se eles. Levei o frasco para o banheiro no final do corredor, notando que estava

impecavelmente limpo pela primeira vez, e joguei os comprimidos na pia, abrindo a

torneira até que todos os vestígios deles desaparecessem.

River me observou da porta. — Alguém irritou Orla? Este lugar é como uma clínica.

336
— Nenhuma pista. Estou ficando sem fofocas do clube.

— Você sente falta?

— Fofoca?

— O clube. Estar comigo é bastante isolador para você.

Fechei a torneira. — Não vejo assim.

— Como você vê isso?

— Eu vejo isso como um homem que esteve com o clube toda a sua maldita vida, e

ainda assim me senti muito solitário nos últimos anos. Mais, talvez, e dói, Riv. Estar perto

de pessoas que você ama e não ser o suficiente para mantê-lo vivo. Mesmo que depois de

tudo isso você não me queira, algo tem que mudar, porque isso está me matando.

Era uma verdade que eu não sabia até que eu disse isso. Até que caiu de mim como

uma granada de mão carregada e caiu no chão entre nós. O arrependimento revirou minha

barriga, mas o alívio o inundou antes que tomasse conta. O consolo da honestidade que os

pais de River sempre nos prometeram. Era uma dura verdade. Uma dolorosa. Mas eu não

poderia voltar atrás.

Eu não queria.

River me observou inclinar-se pesadamente sobre a pia. Seus olhos escuros

nadavam com uma emoção que me deu esperança. Ou talvez fosse o que eu queria ver.

Porque eu era um tolo por ele e sempre fui.

Isso não é justo. Ele também te ama.

— Ei. — River moldou seu corpo ao meu, curvando-se ao redor da minha coluna do

jeito que ele fazia quando fodíamos assim, mãos fortes e endurecidas pelo trabalho

deslizando sobre minha pele suada, lábios ásperos em meu pescoço. Nossas roupas

estavam entre nós agora, mas eu o sentia em todos os lugares, sua respiração suave

aquecendo minha bochecha enquanto ele sussurrava em meu ouvido. — Rubi, eu quero

você. Eu quero tudo que você faz; Só não sei como fazemos isso.

337
Nem eu, e não iríamos descobrir isso no pouco tempo que eu tinha de sobra antes

de nos deixar.

Eu me virei para encará-lo. — Podemos conversar quando eu voltar? Sério?

River O beijou a ponta do meu nariz. — Claro que podemos. Mas você pode fazer

algo por mim primeiro?

— Qualquer coisa.

— Venha tirar aquela soneca da babá comigo. Você vai precisar dela na estrada.

Ele me guiou para longe da pia e de volta para a cama de Mateo. Não havia lençóis.

Um travesseiro que River enfiou embaixo da minha cabeça. — A respeito-

— Shh. — River envolveu-se em torno de mim. — Você está aqui. Não preciso de

mais nada.

Desejar que isso fosse verdade me fez companhia enquanto eu adormecia com a

sensação fofa de seu cabelo macio fazendo cócegas no meu nariz.

Sonhar que era verdade era a coisa mais doce. Eu não queria acordar. Eu não queria

ir embora. Tudo sobre isso me cortou mal. Nós estivemos separados por tanto tempo. Uma

maldita vida inteira.

Mais três dias pareceram o fim do mundo.

338
CAPÍTULO 25
RIVER

Perder a garagem doeu mais do que eu estava preparado, e com Rubi fora e

ninguém tentando nos matar, era tudo em que eu tinha que me concentrar. — Bear e Axel

precisam trabalhar.

Eu estava falando sozinho. Até onde eu sabia, eu estava sozinho, vasculhando a

papelada que Cam tinha mantido como refém na casa de campo em Beach Road quando

deixei o clube tantos anos atrás. Mas, por mais idiota que eu fosse, não o ouvi chegar em

casa, e ele apareceu como um periscópio presunçoso, enfiando a cabeça por cima do

corrimão. — Eu posso encontrar algo para eles.

— Eles moram em Porth Luck e não são criminosos.

— Então?

Então nada. Eu ainda estava aprendendo a não ser um idiota com meu irmão. —

Uh. Obrigado. Isso seria bom.

Suas sobrancelhas se ergueram, tão surpreso quanto eu com minhas melhores

tentativas de ser um humano razoável.

Isso o encorajou a se aventurar mais perto e sentar no patamar ao meu lado,

examinando a papelada que eu espalhei. — Existem maneiras de fazer o seguro pagar,

você sabe.

— Alexei disse.

— Você não quer levá-lo para cima sobre isso?

— Sobre hackear o sistema e cometer fraude de seguro?

— Se você quiser chamá-lo assim.

— É o que é. E não, eu não. E todas as pessoas que não têm um Alexei para chamar?

Eu ganhando dinheiro que não deveria custar a todos no final.

339
— Isso é muito nobre pra caralho, mas o que te faz acreditar que não deveria ter

isso? Você não pediu a uns yuppies idiotas para estragar sua vida.

Não. Mas eu já tinha cinquenta mil doláres de Timmerson guardados em uma conta

no exterior. Eu deixei Alexei fazer isso para mim, para que eu pudesse substituir o

helicóptero e tudo e qualquer coisa que tivesse pertencido a Axel e Bear. Eu não precisava

de mais nada. — Se eles pagam, eles pagam. Deixe estar, Cam. Não quero mais brigar com

você.

Cam suspirou e deitou-se no tapete de pouso, fechando os olhos. Ele sempre teve

uma mandíbula desalinhada, mas havia uma semana de crescimento lá agora, e mesmo

com os olhos fechados eu poderia dizer que ele estava exausto.

Quase me fez perdoá-lo por mandar Rubi embora.

A saudade apertou minha alma. Enquanto Cam distraía, peguei meu telefone,

abrindo a mensagem sinuosa que compartilhei com Rubi. Honestamente, eu passei mais

tempo trocando mensagens de texto nos últimos dois dias do que no ano passado. Era sete

tons de ridículo, mas aquele salto em meu coração toda vez que meu telefone tocava

mantinha vivo o órgão estrangulado em meu peito.

Estava quieto pela última hora ou mais, no entanto. Rubi estava dirigindo. Ele me

pediu uma playlist para irritar Nash. Eu tinha enviado a ele um compromisso de fazer.

Acabar com Nash era seu passatempo favorito, mas eu queria que eles conversassem.

Então eu estava fazendo uma playlist para irritar a Rubi também. Pelo menos, eu estava

tentando. Não havia muito que ele não gostasse. Eu aprendi isso na cama com ele.

— O que você está fazendo?

— Hum?

Cam rolou para mais perto e olhou para a tela do meu telefone. — Desde quando

você gosta de rap sérvio?

— É para irritar Rubi.

340
— Encontre algo sem palavras então, ou ele aprenderá e cantará de volta para você

todos os dias pelo resto de sua vida.

Válido. Continuei rolando o Spotify. Imaginei que Cam ficaria entediado e irritado,

mas ele se sentou e me observou por tempo suficiente para que minha decisão de ser mais

legal com ele começasse a quebrar. — Você não tem outro lugar para estar?

— Eu moro aqui, mano.

Também válido. — Onde está Saint?

— Descansando lá embaixo. — O olhar de Cam cintilou. Na minha carranca, ele

elaborou. — Ele teve uma consulta no hospital hoje. É por isso que eu mesmo não fiz o

transporte, caso você esteja se perguntando.

— Eu não estava. Tudo bem com Saint?

Cam assentiu. — Tudo certo. Ele recebeu alta do ambulatório.

— Para que serve a cara então?

— Eu odeio que ele teve que passar por isso. Isso fode com a minha cabeça.

Pensei em dar um abraço em Cam, mas meu telefone vibrou e imediatamente me

distraiu. Rubi. Mas não. Era Orla. Mostrei a mensagem para Cam. — Ela está vindo.

— Porra. — Cam se levantou com dificuldade. — Diga a ela para ficar quieta e

venha para trás.

Eu retransmiti a mensagem e juntei minhas coisas. Cam desapareceu. Eu o segui

um minuto depois e rastejei pela sala onde Saint estava nocauteado no sofá, seu gato da

vida real cuidando dele. Foi uma visão estranha para mim. Ele dormindo - não o gato. Em

todos os anos que o conheço, não consigo me lembrar de uma vez antes de ele se

machucar que eu já tenha visto.

Puta merda, essa vida.

Deslizei para a cozinha, fechando a porta atrás de mim.

Cam estava no fogão, cozinhando estressado. — Você está com fome?

— Não.

341
— Você vai comer mesmo assim? Por mim?

— Se isso te faz feliz. Onde está Alexei?

Cam esvaziou um saco de macarrão em uma panela. — Ele estará aqui em breve.

Você precisa dele para alguma coisa?

— Talvez. — Sentei-me à mesa. — Não é nada duvidoso, então ele pode não estar

interessado.

— Alexei gosta de coisas chatas. Eu sou a prova viva.

— Verdade isso. — Fiquei em silêncio, estudando as escrituras de terras à minha

frente, à deriva.

Cam caiu no assento ao meu lado. — E aí?

— Além do óbvio?

— Você não precisa se preocupar com a garagem. Mesmo sem o dinheiro do

seguro, podemos reconstruí-la em seis meses. Você sabe disso. Basta nos colocar para

trabalhar.

— Não é isso.

— OK. — Cam franziu a testa para as escrituras da terra. — Então o que? Você quer

vender?

— Algo parecido.

Sua carranca se aprofundou quando as motocicletas soaram nos fundos da casa.

— Quem você está esperando?

— Apenas Orla. — Disse Cam. — Ela está pilotando mais desde que Locke pegou

seu destacamento.

A porta dos fundos se abriu antes que eu pudesse responder. Minha irmã deslizou

por ela, fechando-a silenciosamente atrás dela, tirando as botas antes que elas batessem no

chão de ladrilhos.

Ela apontou um dedo com garra para Cam. — Só por Saint. Você pode ir se foder.

— Algum motivo em particular?

342
— Dê dez minutos. Tenho certeza que você vai me dar um.

Cam suspirou e se levantou para voltar ao fogão.

Orla roubou seu lugar e estudou a papelada sobre a mesa. — O que é tudo isso?

— Escrituras do terreno da garagem. — Olhei para Cam, verificando se ele ainda

estava sintonizado. — Quero doar o terreno para um fundo habitacional.

Cam abandonou sua panela de macarrão e voltou para a mesa, os braços grandes já

entrelaçados em seu peito. — O que você disse agora?

— Você me ouviu.

— Diga isso de novo. Faça com que faça sentido.

— Eu não quero. — Afastei as escrituras. — Mesmo que o seguro pague, não

cobrirá a reconstrução do que perdi sem que Alexei o hackeasse, e eu também não quero

isso. Está errado.

— Não está-

— Eu não acabei.

Cam fechou a boca.

Suspirei. — Eu comprei aquela terra de você por despeito. Não queria que você

abrisse outro capítulo lá, e com a garagem no local, era o lugar perfeito para isso. Papai

falou sobre isso por anos.

— Eu não tinha planos de fundar um novo capítulo. — A dor brilhou no olhar de

Cam. — A expansão nunca foi minha prioridade. Não consigo administrar o que temos.

— Nada permanece o mesmo para sempre, não é? Eu estava com medo de que tudo

de que eu fugi fosse me seguir, então eu o forcei a vender para que isso não acontecesse.

Orla se levantou e foi até o freezer de Cam, abrindo-o e pegando uma garrafa de

vodca que presumi ser de Alexei.

Cam olhou para ela. — Você não vai pilotar se beber isso.

— Não precisa. Eu posso andar de rainha na moto de Locke.

— Você pode foder-

343
— Agora. Agora. — Orla balançou o dedo. — Não mude de assunto.

Revirando os olhos, Cam fez um gesto para que eu continuasse falando.

Não havia muito o que dizer. Eu não tinha decidido o que queria fazer até seis

segundos antes de dizer a ele, mas agora eu tinha, eu sabia em meu coração que era certo.

— Não quero mais o local. E eu não quero vendê-lo, porque se o fizer, quem o comprar vai

repassá-lo para o próximo desenvolvedor que lhes oferecer uma galinha dos ovos de ouro.

E então serão as casas e apartamentos de férias que papai tanto odiava.

— Você poderia vendê-lo com uma condição... talvez? — Cam pegou seu telefone.

— Não sei como funciona.

— Nem eu. É por isso que posso precisar de Alexei, mas não vou vendê-lo, Cam.

Parece errado. Eu só quero que desapareça.

— Porquê? Você trabalhou tão duro para isso.

— Por todas as razões erradas.

— Desde quando querer algo para si é errado? E o que você vai fazer quando

acabar?

— Vou me preocupar com isso depois.

— Esse é um plano estúpido. — Orla desenroscou a tampa da garrafa de vodca e

derramou uma dose de gelo em um copo de cristal que definitivamente não era de Cam ou

Saint. — Preocupe-se com isso agora.

— Não. Não consigo me concentrar em doze coisas ao mesmo tempo. Não estou

conectado como vocês dois.

— Você é um idiota do caralho. — Cam olhou para a vodca, as mãos se contraindo,

mas resistindo.

Eu não era tão forte. Roubei o copo de Orla e esvaziei-o. — Eu não dou a mínima

para o que você pensa. Só estou contando porque você está aqui.

— Mentiroso. — Orla recuperou seu copo. Reabasteci e derrubei antes de dar outra

tacada para mim. — Se você não quisesse que ele soubesse, você não estaria aqui.

344
Talvez ela estivesse certa. Tudo que eu sabia era que a sensação em meus ossos de

que eu precisava me livrar daquela terra não pararia. E eu não queria. Não até que

acabasse, e eu não tivesse outra opção a não ser desfazer o terrível erro que cometi cinco

anos atrás.

Até que a única estrada aberta me levasse para casa.

345
CAPÍTULO 26
RUBI

Eu me tornei aquele filho da puta excêntrico que fazia promessas e as deixava para

morrer na beira da estrada.

Eu não falei com Nash.

E ele não falou comigo.

Tempos divertidos. Não. Nós nos comunicávamos por meio de grunhidos e sinais

manuais. Eu dirigi, dormi e mandei tantas mensagens de texto para River que tive cãibras

nos polegares, enquanto Nash dirigia, fumava e olhava para o nada. No momento em que

passamos pelo Angel of the North pela segunda vez, eu estava pronto para mastigar meu

próprio braço.

Nash estava relaxado no banco do passageiro, olhando furioso para o alto-falante

Bluetooth pendurado no quebra-sol, tentando descobrir que tipo de lista de reprodução ia

dos Levellers para Zig e Zag, e eu não ia contar a ele.

As garotas o irritaram.

Ele saltou de volta para a Batalha de The Beanfield 24 e se contorceu para fora de seu

assento.

Achei que ele tinha saído para tirar uma soneca, mas ele voltou com seu violão

surrado e tocou junto com a música, batendo os pés. Foram as melhores vibrações que ele

emitiu em dias e algo se instalou dentro de mim. Do jeito que acontecia quando River

sorria. Ou Saint me deu um abraço por conta própria. — Cante para mim, irmão.

Nash tinha a voz de um cantor country fumante inveterado. Ele tinha o rosto

também, embora sua sobrancelha escamosa o tornasse meio ameaçador.

24A Batalha de Beanfield ocorreu durante várias horas em 1º de junho de 1985, quando a polícia de Wiltshire impediu o The Peace
Convoy, um comboio de várias centenas de viajantes da Nova Era, de montar o Stonehenge Free Festival de 1985 em Wiltshire,
Inglaterra.

346
Ainda assim, ele cantou para mim até a música tocar e eu larguei meu telefone. —

Escolha uma lista de reprodução.

Ele pegou o telefone sem fazer comentários, clicando na lista de reprodução

ofensiva e percorrendo as centenas de outras que selecionamos ao longo dos anos. Tentar

avaliar o que ele faria me distraiu da monotonia de dirigir na estrada. Ele era um cara mal-

humorado quando se tratava de suas músicas. O metal estava em nosso sangue, mas as

jams acústicas o deixaram mais feliz, e eu não fiquei cem por cento chocado quando o

Bombay Bicycle Club saiu do alto-falante alguns minutos reflexivos depois.

A música melancólica era tão apropriada que quase engasguei com meu smoothie

de quatro libras - as únicas vitaminas de verdade que consumi desde que saímos de

Devon. Era azul. Spirulina. Nash comprou para mim e deixou em cima da minha bolsa.

Eu comprei para ele um rolo secundário que parecia fodidamente fálico. Ele nunca

disse se tinha notado.

Nash voltou a mexer em sua guitarra surrada.

Eu escutei por um tempo. Aí a playlist acabou e era só ele, e aquela coisa que eu

achava que tinha se instalado dentro de mim se partiu em mil pedaços. — Sinto muito,

cara.

Nash parou de tocar. — De que é que você está arrependido?

— Por manter merda de você. Sem falar com você por semanas. Tudo isso.

— Eu também não falei com você. — Nash dedilhou alguns acordes, então colocou

sua Fender de lado. — E eu estava errado em vir até você por não me dizer que você

dormiu com River. Também escondi coisas de você.

— Isso não. Eu sei que você nunca dormiu com Orla. E mesmo que tivesse, não era

um juramento de sangue, mano. Não devíamos o celibato um ao outro.

— Cara, nenhum de nós jamais foi celibatário.

Eu não concordei. Da parte dele, não da minha. Mas passei tempo suficiente

brigando com ele para durar o resto dos meus dias. — Qualquer que seja. Desculpa o que

347
fiz te fez sentir como se eu tivesse te manipulado. Eu nunca faria isso. Para ninguém,

muito menos para você. Eu te amo.

— Eu também te amo. — Nash estendeu a mão e esfregou meu braço. Então um

silêncio caiu sobre nós, mas não foi tenso, foi fácil, e a paz que eu ansiava com meu melhor

amigo finalmente se solidificou.

Meus olhos queimaram com lágrimas de felicidade. O que eu poderia dizer? Eu era

um chorão e não dava a mínima.

Nash voltou a tocar seu violão. Eu cantei junto com ele até o topo da M1 antes que

ele ficasse entediado e me fizesse a pergunta de um milhão de libras. — Você e Riv estão

juntos agora?

Ooof. Peguei a estrada secundária para sair da autoestrada, indo para o posto de

gasolina onde passaríamos as próximas horas enquanto ambos dormíamos um pouco. —

Não sei como responder a isso.

Nash não disse nada enquanto eu manobrava o HGV na pior parada de caminhões

da história das paradas de caminhões, e apreciei isso. O estacionamento reverso desta

besta levou toda a minha concentração. Quando terminei, porém, seus olhos azul bebê

perfuraram um buraco na lateral do meu rosto.

Desliguei o motor e me afundei no banco, esfregando os olhos doloridos. — Somos

alguma coisa.

— Vocês sempre foram alguma coisa.

— Sim, mas agora é diferente e não podemos voltar a ser como era antes.

— Então siga em frente. — Nash procurou por seus cigarros e abriu a janela do

passageiro. — Você quer ficar com ele, certo? Sério? Para ser como Mats e Em?

Claro que queria. Como eles passaram de anos de saudade para a doce felicidade

doméstica que tinham agora... foda-me, isso eram objetivos de relacionamento. Quero

dizer, eu amava Cam, Saint e Alexei juntos também, mas a vida era mais complicada para

348
eles, e eu estava doente até meu cérebro machucado e quebrado de complicações. — Eu

quero isso mais do que eu jamais vou querer qualquer outra coisa.

Nash era mais astuto do que a maioria das pessoas acreditava. Eles viam seu cabelo

de surfista e olhos bonitos, sua estética de estrela do rock amarrotada e pensavam que o

conheciam. Mas ele me conhecia. Ele ouviu tudo o que eu não disse e largou o cigarro

apagado. — Você deixaria o clube para ficar com ele?

O pensamento disso fendeu meu coração, mas não havia dúvida em minha mente

quando eu assenti lentamente. — Nash, eu faria qualquer coisa por ele. Meu maior

arrependimento é que o deixei pensar que não o faria.

A empatia dolorosa inundou o olhar de Nash. Ele se inclinou sobre o console e me

abraçou. — Por que vale a pena, eu te protejo aconteça o que acontecer, e Cam também.

Vivemos como se o clube estivesse em nosso DNA, mas não está. Somos uma família,

Rubes. Antes de qualquer coisa. Nunca esqueça isso.

Eu acreditei nele. Mas nada sobre mim e River era tão simples. Eu queria que fosse,

mas não era.

A menos que isso acontecesse, e eu estava me preocupando em um ataque quando

tudo que eu precisava era uma conversa que não envolvesse nada ou ninguém que não

fosse ele e eu.

Não era algo que pudéssemos fazer por telefone, mas quando Nash saltou da

plataforma, peguei meu soprador de qualquer maneira.

Transmitir o Spotify sem parar estava acabando com a bateria. Desenterrei o banco

de carregamento do porta-luvas e, caramba, aquele filho da puta já estava morto.

Com um suspiro cansado do mundo, coloquei as chaves de volta na ignição do

HGV, me preparando para o ronco abrasivo do motor maciço. PSA: Ao contrário das

motos, os caminhões não ronronam. Eles gritavam com você a cada momento da viagem

até que seus malditos dentes vibrassem, e eu estava farto dessa merda por um dia. Apenas

a necessidade primordial de entrar em contato com River me fez querer enfrentá-lo.

349
Virei a chave, cerrando os dentes.

Nada aconteceu.

Franzindo a testa, tentei novamente, mas em vez de um rugido de batalha, o motor

deu um clique fraco, e eu sabia, sem dúvida, que nosso compromisso de seis horas com a

terra dos sonhos estava prestes a se transformar em um pesadelo acordado.

RIVER

Minha mensagem com Rubi era a vida. Mas nas últimas horas, tinha se

transformado em uma treta que fez meu peito doer e minha pele coçar.

Rubi: busto de Rig

River: como busto?

Rubi: Morto como um rebento de porta. Nash acha que é a bateria

River: ele provavelmente está certo então

Rubi: Isso foi o que ele disse

River: você acha que é outra coisa?

Rubi: Nah, eu estou aqui fumegando porque eu quero voltar para casa

Porra, eu queria isso também. Muito. Era difícil acreditar que eu havia passado

semanas seguidas, às vezes meses, sem ver o rosto de Rubi. Ouvindo sua voz. Tocando

sua pele quente e beijando seus lábios macios. Eu estava acostumado a ansiar por alguma

coisa, mas essa merda estava fora de controle.

Era uma dor física. Uma que me fez coçar os braços nos momentos em que não me

contive.

Ou Orla não me pegou. — Você precisa de um banho Dettol?

— O que?

Ela parou na minha frente, chutando minhas botas incompatíveis apenas por

diversão. — Você está agindo como se tivesse pulgas.

350
— Me deixe em paz.

Cam voltou para a capela bem a tempo para aquela beleza. Ele soltou um suspiro

mal-humorado do qual nosso pai teria ficado orgulhoso. — Vocês tem que agir como uma

criança de cinco anos?

— Ela é irritante.

Orla deixou-se cair na cadeira de Mateo. — Ele está em seus sentimentos e não vai

admitir isso.

— Então? — Cam abriu um envelope A4. — Enrolá-lo não vai melhorar isso.

Eu não esperava que ele me defendesse, mas apesar da pesada sensação de que ele

tinha um milhão de coisas que queria dizer, ele tinha sido tudo que eu precisava desde

que aceitou minha decisão de doar o terreno em Porth Luck. Ele fundou um fundo

habitacional sem fins lucrativos que genuinamente cuidava das pessoas e recrutou Alexei

para agilizar o processo legal. Não havia muito o que fazer a não ser assinar a papelada, e

não estávamos muito longe disso.

— Ainda dá tempo de mudar de ideia. — Ele cutucou meu joelho debaixo da mesa.

— Eu posso queimar este contrato em um piscar de olhos.

— Não mudei de ideia.

— Algo mais está incomodando você?

Sim. O amor da minha vida deveria estar em casa a qualquer minuto e ele estava a

quatro malditas horas de distância.

Orla não sabia. Eu poderia dizer por seu rosto presunçoso, e talvez eu devesse ter

deixado, mas eu estava me sentindo espetado. — Seu caminhão maluco quebrou. Nash e

Rubes estão presos em Leeds.

Seu sorriso azedou e ela pegou o telefone da mesa. — Como você sabe disso?

— Magia.

— Foda-se. — Ela amaldiçoou. — Nash disse que seu telefone está morrendo e ele

não pode carregá-lo no caminhão.

351
— Ele vai ter um banco de energia, Orls. — Cam estava carrancudo para seu

próprio telefone.

Odiei ser o portador de mais más notícias, mas mesmo assim mostrei a ele as

últimas mensagens de Rubi. — Isso também está morto, e o posto de gasolina não tem

estoque. Nash vai tentar encontrar uma bateria e colocá-la, mas se ele não conseguir fazer

isso nas próximas horas, eles ficarão presos lá a noite toda.

Sem telefones. Rubi estava morrendo também.

Rosnando, Cam se levantou e foi até a porta da capela. Ele falou com alguém que eu

não podia ver. Locke, talvez. Ele parecia ir a todos os lugares que Orla ia.

Depois de um minuto de silêncio violento, Cam voltou e nos deu um olhar de irmão

mais velho. — Se eles não estiverem na estrada ao escurecer, eu vou pedir ao Ranger para

montar alguns garotos até eles. Cuidar de suas costas enquanto eles dormem um pouco.

Eu lancei um olhar para ele. — Eu não estava pensando neles sendo atacados em

um posto de gasolina. Obrigado por me dar outra coisa com que me preocupar.

— Eles vão ficar bem, Riv.

Não me chame assim.

A resposta furiosa queimou minha garganta. De alguma forma, eu me controlei.

Peguei o envelope dele e estudei a papelada. Sem Rubi para explicar coisas complicadas

para mim, isso me surpreendeu. Mas Alexei era meu novo melhor amigo e já havia

destacado algo importante. — Esta é a cláusula que diz que eles não podem vendê-lo por

trinta anos?

— Sim. É à prova d'água, mas acho que você não precisa se preocupar com isso de

qualquer maneira. Eu conheci um desses caras esta manhã e ele odeia desenvolvimento

implacável tanto quanto nós.

— Quem você conheceu? — Orla animou-se. — Foi o jogador de futebol gostoso?

O olhar de Cam vagou para a porta da capela antes de responder. — Não. Mas o

cara com quem conversei não era exatamente feio. Eu gostei dele.

352
— Porque ele era bonito?

— Porque faltam homens bonitos na minha vida. — Cam bagunçou o cabelo de

Orla. — Nah, era mais porque ele não era um idiota total. Isso torna tudo mais fácil.

Enquanto eles falavam sobre caras gostosos que eu nunca tinha conhecido, peguei

uma caneta e comecei a assinar as partes que não precisavam ser testemunhadas por um

advogado aprovado por Alexei.

Meu telefone piscou quando eu estava terminando - uma chamada recebida de

Rubi que parou antes que eu pudesse atender.

Eu liguei para ele de volta. Nada aconteceu.

Cam me chutou por baixo da mesa. — E aí?

— Nada. — Levantei-me e saí da capela antes de tentar Rubi novamente.

Desta vez tocou, mas ele recusou a ligação.

Um texto apareceu um segundo depois.

Rubi: O telefone está quase desligando. Você pode dizer a Cam que temos uma bateria para

o equipamento. Vai demorar um pouco para encaixá-lo e não é a certa, mas nos levará de volta se

tivermos sorte

River: você se sente com sorte, boo?

Rubi: Assim que chego em casa:)

Não pude evitar o sorriso que virou meu rosto do avesso. Casa. A casa dele. Minha

casa. A laje de pavimentação brilhante em que subi em meu torpor com o tema Rubi. Eu

estava começando a perceber que não importava.

Ele era minha casa. E nada parecia certo sem ele.

River: sinto sua falta x

A mensagem não foi entregue.

Seu telefone morreu.

Eu sabia. Eu sabia. Mas eu não pude evitar a sensação de afundamento em meu

estômago. Os pensamentos ansiosos que surgiram em mim enquanto eu voltava para a

353
capela. E se a bateria não funcionasse? Ou falhasse com eles no meio do caminho para

casa? A M1 estava repleta de autoestradas inteligentes. Aquelas que matavam pessoas. E

se-

— Você quer jantar? — A mão forte de Cam apertou meu ombro, me ancorando na

terra, embora sua voz soasse tão distante quanto Rubi sentia. — Não sei o que diabos vai

ser ainda, mas sempre há o suficiente.

Instintos eram uma coisa estranha. Eu queria ficar e sabia que deveria. Mas balançar

a cabeça foi uma resposta automática que não consegui bloquear. — Não, obrigado. Eu

vou para casa.

A paz frágil entre nós congelou Cam no lugar, engolindo o argumento que vi

escrito em seu rosto. Talvez se Orla ainda estivesse na sala, ela teria falado por ele. Se Rubi

estivesse aqui, e ele virasse aqueles olhos castanhos para mim e me rodeasse desse jeito.

Até mesmo Saint e seu silêncio pesado poderiam ter me parado.

Mas éramos apenas nós, eu e Cam, e fizemos o que sempre fizemos.

Nós fodemos tudo e eu fui embora.

Saí sozinho. Majoritariamente. Quando o sol se pôs, eu estava vagamente ciente de

um irmão me seguindo, mas eu não olhei para ver quem até que estacionei do lado de fora

da minha casa vazia.

Folk estacionou a uma distância respeitosa e acenou com a cabeça para mim.

O velho eu teria dito a ele para ir se foder, mas eu não era o mesmo cara de alguns

meses atrás.

Eu balancei a cabeça de volta e entrei. Fiz uma xícara de chá para aquele filho da

puta e levei de volta. — Você vai ficar entediado aqui. Vou tomar um banho e ir para a

cama.

Folk aceitou o chá e colocou-o na parede ao lado de sua motocicleta. — Seria a

mesma experiência se você jogasse Twister pelado a noite toda. Estou vigiando a casa, não

você.

354
— Por que?

— Não é meu trabalho perguntar, mas presumo que seja para o caso de todo o

fechamento dos últimos dias não se sustentar.

— Você acha que não vai?

Folk me olhou com um olhar tão antigo quanto o tempo, embora ele provavelmente

tivesse mais ou menos a idade de Cam. — Eu não estou no conselho. O que penso sobre

qualquer coisa não é importante e não sei muito sobre o que aconteceu aqui com sua

garagem. Mas se você está me perguntando se alguém vai sair balançando do que

aconteceu em Truro na outra noite, eu teria que dizer não.

Foi uma resposta justa. Aceitei com um sorriso irônico e me afastei para entrar.

Uma mão na porta, eu me virei para ele. — Você está errado, você sabe.

Folk pegou seu chá. — Sobre o que?

— Sobre o que você pensa não ser importante. Se você é leal, você importa. É assim

que funcionava na mesa do meu pai, e isso não vai mudar enquanto Cam estiver por

perto.

O olhar de Folk cintilou para o horizonte. — Eu já vi isso. Mas é uma lição difícil de

aprender quando o mundo mostra algo diferente.

Eu entendi mais do que queria. Deixei Folk sozinho e entrei. Meu plano realmente

era tomar um banho e ir para a cama, mas no segundo em que a porta se fechou atrás de

mim, o excesso de energia - excesso de emoção - disparou em meu estômago e me vi

andando de um lado para o outro na sala de estar.

Oscar esteve aqui. Percebi pelo barulho da caldeira, pelo banjo abandonado no sofá

e pela garrafa de água na mesinha de centro.

Para fazer algo, pendurei o banjo no suporte do barril de uísque fixado na parede e

joguei a garrafa no lixo. Pensei em ligar para ele, para verificar desde a mensagem que

enviei naquela manhã que era seguro voltar para casa, mas a lógica me disse que se ele

355
não estava aqui com Aras, ele estava no trabalho. Na porra do mar, e isso o tornava tão

incontactável quanto Rubi.

Maldito. Esfreguei a mão no rosto. Eu tinha sentido falta de Oscar. Estando tão

envolvido com Rubi, foi fácil fingir que não. Mas eu tinha. Eu fiz. E o que quer que tenha

acontecido com Rubi, eu sabia que não poderia viver perdendo sua amizade.

Cansado, mas ligado, afundei no sofá e tamborilei os dedos nas rótulas. Pensar em

aproveitar as últimas semanas para Oscar e Aras me manteve ocupado por alguns

minutos, mas não demorou muito para que eu acordasse novamente.

Este era o momento em que minha casa muitas vezes se fechava sobre mim.

Quando eu fazia o que fazia de melhor e fugia, não parando até ter embotado cada

pensamento e emoção que me atravessava com qualquer veneno que eu pudesse colocar

em minhas mãos. Mas, apesar do frenesi do meu estado de espírito, permaneci no sofá,

contando as marcas de arranhões no piso laminado e as linhas de giz de cera nas paredes

que Oscar ainda não havia reparado. Qualquer coisa para manter meus pés no lugar e

minha bunda colada na porra do sofá.

Eu não queria ser iluminado.

Eu não.

Porra, eu só precisava que o barulho na minha cabeça parasse por um maldito

segundo.

Gemendo, eu me curvei e pressionei minhas mãos sobre meus ouvidos. Então me

ocorreu que o que quer que ele tenha dito, havia todas as chances de Folk estar me

observando.

A possibilidade não me deixou com tanta raiva quanto teria feito antes. Não me

levantei e fechei todas as persianas. Fiquei onde estava, balançando no ritmo do meu

coração batendo até que meus músculos doeram com a tensão.

Rígido, levantei-me do sofá e olhei pela janela, esperando o negror da noite gelada

de inverno.

356
Em vez disso, os céus malva me cumprimentaram. Névoa rodopiante. Era quase o

nascer do sol. Porra do inferno.

Confuso, levantei-me e fui até a janela de trás. Eu estava dormindo? Meus olhos

ásperos disseram que não, mas a passagem do tempo entre a residência no sofá e onde eu

estava disse o contrário. Minha cabeça também doía. Como se eu tivesse passado a noite

mijando com muita bebida forte e pouca comida.

Pensando bem, não conseguia me lembrar da última vez que comi. Ou bebi

qualquer coisa que não fosse o chá que Cam me forçou ontem à tarde.

Era difícil dar a mínima. Eu não sentia fome. Eu apenas me sentia fraco, e estava tão

acostumado que mal registrei.

O ronco de uma motocicleta na frente era mais alto.

Folk.

Uma pontada de esperança lutou contra a letargia que me sufocava. Se Folk estava

indo embora, talvez Rubi estivesse voltando para casa. Mas havia tantas falhas naquele

sonho impossível. Ou seja, que minha casa de merda não era a casa de Rubi, então por que

diabos ele viria aqui?

Você está aqui. E ele ama você.

Agarrei-me fortemente a essa lógica. Porque eu sabia que era verdade. Que onde

quer que eu estivesse, era onde Rubi queria estar, e... porra. Eu dei a ele uma hora extra na

estrada antes que ele pudesse fazer isso acontecer.

Legal, idiota.

Minha capacidade de estupidez era imensa. Além disso, eu ainda precisava da

porra de um banho.

Gente saiu.

Fechei os olhos quando o rugido de sua moto desaparecendo. Se eu quisesse estar

de volta ao complexo em breve, eu precisava me arrastar lá para cima, mas me mover

357
parecia impossível. Minhas pernas pareciam de chumbo e eu estava congelando pra

caralho.

Com os olhos turvos, cutuquei a caldeira até que o aquecimento voltou e me

arrastei para as escadas, ignorando o barulho mais alto que emitiu em protesto por ter sido

mexido.

Oscar tinha limpado o banheiro. Cheirava a toranja e ao xampu lituano que sua mãe

mandava para ele todo mês, o cheiro era tão forte que me vi olhando por cima do ombro,

esperando vê-lo no patamar, dançando com Aras nos braços, cantando músicas estranhas

que Rubi amava.

Fiquei chocado por ainda estar sozinho. Que, apesar do calor saindo dos

radiadores, eu estava com mais frio do que no andar de baixo.

Liguei o chuveiro. Apalpei a fivela do meu cinto com dedos desajeitados. Porra. Eu

ia vomitar?

Talvez.

Pisquei com força e soltei um suspiro lento. Algo está errado. A libra na minha

cabeça. A cãibra no meu estômago.

A lama no meu cérebro. Eu ainda tinha muitos pensamentos empilhados uns sobre

os outros, mas eles eram lentos, borrados juntos como uma fita de vídeo com falhas, e eu

não tinha ideia da porra do porquê.

E eu definitivamente ia vomitar.

Outra onda nauseante me assaltou. Agarrei a pia e vomitei, o ácido queimando meu

esôfago, os músculos tensos. Longos minutos se passaram antes que meu corpo se

acalmasse.

Abri a torneira, limpando a bagunça enquanto me perguntava vagamente se era

assim que Rubi se sentia quando tinha enxaqueca. Se ele tivesse um agora.

Com a garganta pegando fogo, fechei a torneira e liguei o chuveiro. Eu me senti

nojento, tonto e fraco.

358
Sujo.

Eu me despi e entrei no chuveiro, deixando o spray quente cuidar da bagunça em

que eu me meti. De alguma forma, lavei meu cabelo. Meu rosto. O resto do meu corpo. E

fiquei lá até a água esfriar.

Erro de estudante.

Saí tremendo e cambaleei até meu quarto para encontrar roupas limpas.

Oscar tinha deixado alguns na minha cama. As mesmas que lavei e sequei na noite

em que eu e Rubi acabamos no mar. Eu as coloquei - meio que desejando que Rubi tivesse

deixado a dele para trás para que eu pudesse me afogar em uma Henley quatro tamanhos

maior - e lambi meus lábios secos. Eu não tinha muita vontade de pilotar, mas Rubi me

disse uma vez que a poção do construtor curava tudo.

Lá embaixo, o zumbido da caldeira estava mais alto do que nunca. Irritado, apertei

o termostato, mas ele não desligou, e tudo o que meu temperamento fez foi prender o

interruptor na parede.

Gênio. Fui até a chaleira e a enchi, observando a água jorrar da torneira até a

chaleira transbordar. — Pelo amor de Deus.

Sequei na minha camiseta e joguei no balcão. Neste ponto, sair parecia uma opção

melhor antes de eu queimar a casa.

Não em uma camiseta molhada, no entanto. Estava muito frio para andar com

roupas úmidas.

A roupa limpa de Oscar estava pendurada em um airer ao lado do radiador da sala.

Roubei uma camisa e coloquei a jaqueta que ainda não tinha devolvido para Cam.

Enfiei minhas mãos nos bolsos no piloto automático, procurando por minhas

chaves, apesar do fato de poder vê-las na mesa de centro onde as joguei ontem à noite.

Não havia muito nos bolsos de Cam. Uma caixa de cigarros amassada e um

isqueiro. Um punhado de moedas.

Uma nota de dez.

359
Pontuação. Não vou mentir, eu estava tendo isso.

Puxei-o para fora e fui para a cozinha para deixá-lo no balcão com os cigarros e o

isqueiro antes de invadir o outro bolso.

Meus dedos bateram no plástico macio.

Em seguida, a costura mais dura de um selo de borracha.

Em qualquer outro dia, talvez eu fosse esperto o suficiente para saber o que era e

foder a jaqueta sem olhar, mas fui muito lento. Puxei minha mão livre, os dedos já se

curvando ao redor do saco cheio de pólvora, e o mundo parou de girar, porra.

Merda. Meu coração parou, vacilando até parar, antes de partir novamente em um

galope monótono, batendo no mesmo ritmo do latejar atrás dos meus olhos. Olhei para o

pó, branco e brilhante, como sal úmido, e desejei - a queimação em meu nariz, no fundo de

minha garganta.

O destacamento desarmado.

A felicidade entorpecente.

Deus, eu queria isso. Foda-se, talvez eu precisasse disso para funcionar. Sair de casa

foi um show de merda. Eu mal conseguia ver direito. Não conseguia pensar. Tudo o que

eu podia fazer era olhar para o K especial na palma da minha mão e imaginar como seria

bom, como seria doce enfiar uma linha no meu maldito nariz.

Idiota. Você nem sabe que é K. Pode ser qualquer coisa.

A pior parte de mim não se importava, e minha mão tremia, o suor pinicando

minha palma, apesar do frio ainda sacudir meus ossos. Coloquei a bolsa no balcão com

cuidado indevido e olhei para ela. Abri em câmera lenta e tirei o conteúdo, olhando para a

nota de dez libras que eu havia roubado do bolso de Cam.

Apenas um pouco.

Para me acalmar, embora eu já estivesse profundamente cansado, as paredes

pareciam estar derretendo.

Não.

360
Sim.

Não.

Por um longo minuto, eu queria aquela linha mais do que qualquer coisa. Mais do

que eu me importava com Cam e Orla.

Sobre Rubi.

Então eu o imaginei estirado em sua cama. Em frente à lareira de sua aconchegante

sala de estar, o vinil se espalhava ao nosso redor. Canecas de chá e cachimbos de maconha.

Torradas com manteiga e cobertores.

Porra. Eu queria isso. Eu queria ele.

E eu não ia desistir dele por uma linha de merda de golpe não identificado.

Não. Apenas fodidamente não.

Eu era mais forte do que isso. Eu tinha que ser, ou eu e Rubi?

Estávamos mortos na água.

361
CAPÍTULO 27
RUBI

A bateria demorou horas para encaixar. E mesmo assim a parte elétrica da cabine

estava quebrada. Sem calor. Sem custo para nossos telefones.

Sem música, mas fizemos nossas próprias canções irlandesas antigas e berramos

durante todo o caminho para nos mantermos acordados, sem ousar parar e tentar comprar

um banco de energia para o caso de não conseguirmos começar de novo.

A bateria aguentou. Apenas. Era o lado errado de amanhã quando o caminhão

entrou mancando no pátio.

Cam esperava por nós. Eu cantei o refrão final de A Pair of Brown Eyes na cara

dele.

Seu brilho era impressionante. — Eu vejo vocês dois se maquiando.

— Nós fizemos.

— Sem luta?

— Apenas amando, irmão. Você sabe que não é sobre essa merda.

— Bíblico. — Nash pulou do banco do passageiro. — Estamos todos bem. Está tudo

bem aqui?

Uma expressão estranha cruzou o rosto de Cam, apagando o mau humor com algo

mais parecido com excitação. — Juana entrou em trabalho de parto.

Pulei da cabine, aterrissando aos pés de Cam. — Sério? Quando?

— Há algumas horas atrás. Mateo a acolheu. Liliana está com Orla no chalé. Saint e

Alexei estão com ela.

— Essa é a festa do pijama mais esquisita para a qual eu já não fui convidado.

— Você definitivamente não foi convidado. Vocês dois parecem sem-teto. Tome um

banho e depois vá procurar meu irmão, se estiver seguro para dirigir.

362
— Ele não está aqui?

— Ele foi para casa.

Meu zumbido feliz interrompeu a decolagem. — Para Porth Luck?

A expressão de Cam azedou. — É onde ele mora. A menos que eu tenha perdido

algo monumental.

— Como ele perdendo todo o seu negócio durante a noite? Que porra é essa, Cam?

Por que você o deixaria em paz?

— Porque ele está bem. — Cam olhou para Nash em busca de apoio. Não encontrou

nada e girou de volta para mim. — E eu percebi que ele provavelmente precisava de uma

pausa antes de começarmos a limpar o terreno para a entrega. Não fomos tão maduros

quanto você e Nash.

Eu desmarquei isso. Ignorou o elogio indireto. — Entrega? Para quem? A

seguradora?

Cam franziu a testa. — Rubes, ele doou o terreno. Tudo isso. Deu-o ao Fundo de

Habitação para o qual o colega do Martel trabalha. Ele não te contou?

— Eu não falei com ele. Sem telefone, lembra?

Puta merda. O que mais eu perdi?

Afastei-me de Cam e entrei na casa do clube, abaixando-me atrás do bar para

conectar meu telefone a escotilha. Era doce o suficiente para fazer meus dentes doerem,

mas eu não dei a mínima. No que diz respeito ao café da manhã, teria que servir.

River.

Seu nome era uma batida em minha alma. Depois de três longos dias e uma noite

eterna, nada importava até que estivéssemos juntos novamente.

Cam enfiou a cabeça no bar. — Eu vou fazer companhia a Em no estacionamento do

hospital. Você pode vir se prometer não cantar.

— Não posso fazer essa promessa. Há uma música para tudo, mano.

363
Cam bufou e se abaixou novamente. Eu o observei atravessar o pátio no modo de

chefe de nível superior, pacotes embrulhados em papel alumínio debaixo de cada braço e,

honestamente, não poderia ter amado mais o cara.

Meu telefone voltou à vida, a tela inicial se iluminou com uma foto de Nash que

tirei na estrada, um pacote de Monster Munch em sua cabeça e bife saindo de sua boca.

Eu também o amava.

Mas River, cara. Senhor, eu precisava dele.

Entrei em nosso tópico do WhatsApp. Uma mensagem me esperava.

River: sinto sua falta x

O calor encheu meu peito e eu o chamei, curvado sobre o bar, cansado de perder a

guerra com todas as boas emoções que eu havia dado por perdidas. A voz dele ia me

matar, mas da maneira mais fodidamente doce.

Ou ele não responderia. À medida que a chamada tocava e tocava, o último se

tornava mais provável.

Eu matei a ligação, franzindo a testa para a tela do meu telefone. Era cedo para

alguns peeps, mas não para River. Em todas as noites que passamos juntos, eu não poderia

nomear uma manhã em que abri meus olhos para encontrá-lo ainda dormindo ao meu

lado.

Eu quero isso.

Meu polegar pairou sobre o botão para chamá-lo novamente quando a moto de

Cam, flanqueada por dois irmãos, deixou o complexo. Enquanto o barulho do motor

diminuía, observei distraidamente Nash atravessar o pátio até o prédio de vendas e entrar.

Locke surge em seu lugar e caminha até a esquina onde os Crows adotivos estacionam

suas motocicletas.

Tem que parar com isso. Eles não são párias.

Neste momento, eu não poderia ter dado a mínima, mas o pensamento parecia

importante o suficiente para que eu o arquivasse para mais tarde.

364
Eu apertei o botão de chamada para River novamente, colocando meu telefone

debaixo do meu queixo enquanto eu me recompunha. Cam estava certo: eu precisava de

um banho. Mas isso poderia esperar. Tudo poderia até que eu tivesse River em meus

malditos braços novamente.

Ele não atendeu minha ligação. Franzindo a testa, desconectei meu telefone e saí do

bar. Folk invadiu o complexo quando eu saí. Ele estacionou ao lado de Locke e tirou o

capacete, olhando para o quintal, pousando em mim.

Cada detalhe em seu rosto me fazia desviar para o lado oposto do quintal onde eu

deveria estar.

Ele gritou antes que eu o alcançasse. — Você vai para a casa de River?

— Eu vou. Por que?

— Apenas venho de lá. Não falo com ele desde ontem à noite, mas não me pareceu

certo deixá-lo sozinho.

— Por que?

O povo encolheu os ombros. — Parecia um pouco nervoso. É por isso que fiquei de

guarda, mas tive que voltar para virar as plataformas para a corrida de Decoy esta tarde.

Fez sentido. O gerenciamento de caminhões era trabalho de Mateo, mas ele não

estava aqui. Porque o bebê está chegando. Um dia que eu ansiava como se aquela criança

fosse minha, mas ainda assim, de alguma forma, neste momento, a perspectiva de uma

nova vida me apavorava.

E se minha velha ama estivesse certa? E se todo nascimento trouxesse a morte para

equilibrar o equilíbrio?

Acalme seus seios. Nanna Maud era uma maldita psicopata.

— Ei. — A voz baixa de Locke chamou minha atenção. — Quer que eu vá com

você? Posso esperar lá fora enquanto você verifica se ele está bem.

A recusa estava na ponta da minha língua. River não conhecia Locke, e o que quer

que estivesse acontecendo – se é que havia alguma coisa – ele não gostaria de uma

365
audiência. Mas Locke era um bombeiro. Eu o vi salvar aquela velha senhora. Ouvi

histórias dele colando o crânio de Embry de volta e até mesmo encontrando maneiras de

ajudar Saint quando a última coisa que aquele filho da puta contrário queria era a ajuda de

alguém.

Locke era sólido. Forte.

Meu irmão tanto quanto Nash era.

— Sim cara. Eu apreciaria.

Fiz um aceno com a cabeça para Folk e recuei, correndo para a minha moto.

Acelerei o motor e corri para os portões, esperando que Locke se juntasse a mim. Então

pegamos a estrada e a urgência cresceu em mim a cada quilômetro que deixamos para

trás.

Algo não está certo. Com ele ou comigo, eu não poderia dizer. Mas eu estava uma

bagunça quando chegamos a Porth Luck.

A Softail de River estava perto de seu pequeno portão. Joguei minha motocicleta no

espaço minúsculo ao lado dela e a abandonei tão rápido que ela tombou.

Eu não dei a mínima. Eu bati meu punho na porta da frente de River, telefone no

meu ouvido, martelando os painéis UPVC, gritando seu nome.

Nenhuma resposta.

Nada.

Eu não conseguia ver nada pela janela do tamanho de um duende. Ajoelhei-me e

abri a caixa de correio, mas minha visão foi obscurecida por um bloqueador de correntes

de ar. Espesso. Plástico. Escorregadio. Eu me esforcei para agarrá-lo, xingando como uma

tempestade quando Locke apareceu ao meu lado.

— Você não tem uma chave?

— Eu pareço ter a porra de uma chave?

— Tudo bem. Vou verificar a parte de trás.

Ele evaporou.

366
Voltei a rasgar a caixa de correio, arrancando a pele da ponta dos dedos, mas não

cheguei a lugar nenhum. Desisti e me levantei para abrir a porta com toda a força da

minha frustração.

Era uma engenhoca de merda. Pior do que o que River havia aberto no esconderijo

em Truro. Qualquer pingo de bom senso deveria ter me dito para me acalmar e chutar a

boceta, mas eu estava sem bom senso. A preocupação dentro de mim explodiu em

violência, e eu chutei e chutei aquela maldita porta até que ela se abriu.

A moldura se partiu da parede, a porta caindo no meu caminho.

Eu pulei e entrei na casa, encontrando Locke no corredor.

Ele se mudou para a sala de estar.

Corri para a cozinha e tropecei nos pés de River.

Ele estava no chão, caído contra os armários.

Inconsciente.

O telefone em sua mão aceso com uma mensagem de Cam.

Havia uma nota de banco enrolada no chão.

Pó no balcão.

Meu olhar caiu em seu rosto branco e lábios azuis e eu caí de joelhos.

Porra, River. Não.

Uma parte de mim morreu. Eu juro por Deus. Meu coração fraturou. Atrofiado na

fração de segundo que levei para acreditar que River estava morto.

Engoli em seco, náusea chocada forçando meus sentidos. Estendendo a mão para

ele, mas de alguma forma não se movendo, congelado no lugar pelo meu pior pesadelo se

tornando realidade.

Locke correu atrás de mim. Eu o ouvi xingar, mas era um ruído ausente. Sons sem

significado.

— Leve-o para fora.

Sua voz explodiu em meu ouvido. Suas mãos fortes me agarraram.

367
— Rubi.

Eu não tinha nada.

Locke me deixou ir. Ele passou e arrastou River do chão, erguendo-o sobre o ombro

como se não pesasse nada. — Vá. — Ele gritou. — Saia. Agora.

Eu já tinha ouvido aquele tom de Locke antes. Quando a casa da Sra. Valentino

explodiu. Foi a ordem de um homem que sabia melhor do que qualquer outro na sala, e

me alcançou.

Eu me levantei e o segui até a porta da frente e saí para a rua.

Do outro lado da rua, na entrada da casa de outra pessoa.

Só então ele deitou River.

— Ele teve uma overdose. — Eu engasguei. — Eu vi a bolsa.

Locke se agachou ao lado de River, sacudindo-o com força. — Não são drogas, cara.

É aquela maldita caldeira.

— O que? Tem certeza?

Locke sacudiu River de novo, dando um tapa em seu rosto e chamando seu nome,

curvando-se para ouvir a respiração. — Não há pó em suas vias respiratórias. Em seu

nariz. É envenenamento por monóxido de carbono. Chame uma ambulância. Ele precisa

de oxigênio antes que seus órgãos falhem.

O terror tomou conta de mim.

Procurei meu telefone e fiz a ligação.

Então me joguei no chão e comecei a tentar despertar River, fazendo tudo o que

Locke me disse para fazer, até que eu estava chorando e implorando para que River

acordasse.

Sirenes soaram à distância. Puxei River para o meu colo, embalando sua cabeça,

meus dedos emaranhados em seu cabelo úmido. — Riv, por favor. Eu não posso perder

você. Preciso ouvir você dizer essas malditas palavras.

368
Em um mundo perfeito, isso teria sido suficiente. Meu desespero teria superado. Ele

teria aberto os olhos e dito que me amava.

Mas ele não acordou.

Ele quebrou a porra do meu coração.

369
CAPÍTULO 28
RIVER

Acordei na ambulância.

Eu penso.

Ou talvez fosse o hospital. Pelo que pareceu uma vida inteira em uma valsa em

fuga, não tive noção do tempo.

Eu não tinha noção de nada, exceto girar e sentir falta de Rubi.

Náusea.

Amar ele.

De ter medo de estar morrendo e decepcioná-lo.

— Pelo amor de Deus. Não posso passar uma semana sem um Rebel King

arruinando meu dia?

Abri meus olhos pesados.

Skylar olhou para mim, seu aborrecimento feroz apenas temperado por ele

segurando minha mão. — River? Você está comigo?

Lambi meus lábios secos. — Rubi-

— Ele está no corredor, com um buraco no chão. Ele não pode entrar a menos que

você esteja morrendo, e isso não é uma porra de desafio, ouviu?

— Cam?

— Ainda não contei a ele. Esperando que não precisemos até que você esteja um

pouco menos morto.

— Seus modos de cabeceira são uma merda.

Skylar sorriu um pouco. — Acordei você, não foi?

Eu não fazia ideia. E se esta era a sensação de estar acordado, ficaria feliz em voltar

a dormir.

370
Skylar tinha outras ideias. Ele me manteve falando.

Manteve-me respirando.

— Lento e profundo. — Ele apertou minha mão. — Deixe o oxigênio consertar você.

E os IVs. Não vou voltar lá e dizer a Rubi que você não está bem.

— Diga a ele que estou bem.

— Esse é o meu plano. — Skylar quase sorriu. — Quando é verdade. Então faça o

que eu disse, porra.

Horas se passaram.

Pelo menos parecia assim. Eu não passava tanto tempo com Skylar desde que era

adolescente e havia uma razão para isso. Tudo sobre mim, minha família, o clube... ele

odiava. Para ele, meu rosto era um pesadelo, mas ele ficou comigo mesmo assim. Segurou

minha mão. Limpou-me quando vomitei ao lado da cama, e os paralelos com a forma

como ele ajudou Rubi também fez minha cabeça girar. Como se sua compaixão reservasse

algo que eu não podia ver, mas eu estava muito fodido para descobrir.

Eu não tentei. Eu apenas continuei respirando e respirando e respirando até que a

névoa doentia começou a se dissipar.

Um médico veio à minha cama. Filho da puta bonito com uma voz bonita. — Eu

sou o Dr. Ramsey. Você está indo bem, River. Estou muito satisfeito com seus exames de

sangue e seus níveis de oxigênio. Continue assim e talvez possamos transferi-lo para uma

enfermaria esta tarde.

Ele disse outras coisas, mas eu estava distraído com a cortina voando para trás e

Rubi aparecendo como um deus romano aflito.

De olhos vermelhos e pálido, ele avançou e o médico se dissolveu, levando Skylar

com ele. — Seu filho da puta. — Ele me envolveu em seus braços trêmulos. — Eu pensei

que tinha perdido você. Eu fodidamente... merda, não posso perder você, Riv. Não posso.

Ele me segurou forte, todo o seu corpo tremendo.

371
Eu o abracei de volta, cada músculo bastardo gritando de dor, mas eu não dei a

mínima. A dor dele me machucava mais. — Você não me perdeu. Estou bem.

— Você não está bem.

— Eu estou. O médico acabou de dizer isso.

Rubi respirou fundo e se afastou para olhar para mim. Tipo, realmente olhar para

mim, o tempo todo ainda me segurando em seu aperto. — Ele realmente disse isso?

Porque ele me disse que você tinha sorte de estar vivo.

— Bem, você me salvou, certo?

A culpa escureceu o olhar já perturbado de Rubi. — Não, eu não fiz.

Uma carranca se formou atrás dos meus olhos. Doeu pra caralho, mas eu era

impotente para pará-lo. — Você fez. Lembro-me de você gritando comigo.

— Você lembra?

Eu? Eu esfreguei meu rosto. — Eu penso que sim.

Rubi suspirou e colocou seu grande corpo na lateral da cama. — Eu não te salvei.

Honestamente? Achei que você tinha tido uma overdose e vou me odiar por isso pelo

resto da minha vida. Foi Locke quem descobriu que a caldeira estava tentando te matar.

Aquele que o carregou e voltou para limpar o pó antes que os federais chegassem. Eu

estava lá, mas... porra, não sei o que eu era, mas não sou a porra de um herói.

Memórias borradas começaram a se mover em meu cérebro como peças de quebra-

cabeça sem raízes desesperadas por um lar. O casaco do meu irmão. O saco de dez no

bolso. — Não levei nada.

— Eu sei que você não fez.

— Eu joguei fora.

— Eu sei disso também. E eu sinto muito por ter pensado que você tinha feito outra

coisa.

— Não me dê muito crédito. — Tentei me sentar. Falhou e afundei ainda mais na

cama. — Eu queria. Precisei de tudo para derrubar aquele desgraçado na pia.

372
— Mas você derrubou na pia.

— Como você deveria saber disso? Eu batendo no nariz é cem vezes mais crível do

que o que realmente aconteceu.

Sombras marcaram o rosto de Rubi novamente. — Eu me sinto uma merda sobre

isso também. Aquela maldita caldeira, cara.

Eu estremeci. — Eu sei. E se Oscar estivesse lá com Aras? Se alguma coisa tivesse

acontecido com eles...

A emoção tomou conta de mim. Eu pressionei a mão sobre minha boca e cavei meus

dedos no braço de Rubi.

— Ei. — Ele me puxou para outro abraço. — Tudo bem. Eles estão bem. Oscar ainda

está no mar e Nash já está perseguindo engenheiros de gás. Tudo será resolvido antes da

chegada do barco. Caldeira nova. Um detector em cada quarto. Não vai acontecer de novo,

eu prometo.

— Eu tinha um detector. Por que não disparou?

— Bateria, talvez? — Rubi beijou minha bochecha. — Mas não foi sabotagem. Foi

um acidente.

Esses fatos não nos impediram de cair em uma ninhada de culpa mútua. Eu não

conseguia entender o que poderia ter acontecido se Oscar estivesse em casa com seu filho

pequeno e não queria pensar aonde a elaborada imaginação de Rubi o havia levado.

Eu envolvi minhas mãos em torno dele, traçando seus dedos tatuados com meu

polegar. — Skylar disse que ainda não ligou para Cam.

Rubi estremeceu. — Ainda não. Só eu, Nash e Locke sabemos o que aconteceu por

enquanto, e vou continuar assim por mais algumas horas. Deixe o bode velho desfrutar de

algumas boas notícias para variar.

— Boas notícias?

O rosto de Rubi iluminou-se como uma aurora de primavera. — Juana teve seu

bebê esta manhã. Outra garota.

373
— Ela está bem?

— Melhor que você. O desmamado é minúsculo, no entanto. Dois quilos e

trezentos, o mesmo que Lark.

Esfreguei a lágrima perdida de sua bochecha. — Como eles a chamavam?

— Hope.

Eu respirei lentamente. — Mateo vai ser o pai dela? Sério?

— Papá. — Corrigiu Rubi. — Liliana chama Embry de pai às vezes.

— Muito legal.

Rubi sorriu, meio. Não era o seu sorriso megawatt de parar o tráfego, mas era

definitivamente melhor do que o rosto com o qual ele entrou.

Diga a ele.

Respirei fundo, mas Skylar voltou antes que eu pudesse falar.

Rubi começou a deslizar da cama.

Skylar o segurou com uma mão gentil em seu ombro. — Falei com o Dr. Ramsey.

Ele ia transferi-lo para uma enfermaria para ser monitorado durante a noite, mas eu o

convenci de que você provavelmente está bem para dar alta na hora do jantar.

— Alta?

— Sim. Seus números conferem e você está em boa forma. Só peço que alguém

fique com você, ok? Não fique sozinho por alguns dias...

— Ele nunca mais vai ficar sozinho. — Rubi retrucou.

Skylar piscou. Então a diversão esquentou seu olhar firme. — Melhor ainda. Você

pode garantir que ele siga as instruções de recuperação. Muito descanso. Hidratação. Sem

estresse. Acha que consegue fazer isso?

Rubi o desligou.

Skylar riu e desapareceu novamente.

Rubi olhou para ele, mais como eu do que eu me sentia agora.

Eu o cutuquei. — Quanto custa a nova caldeira?

374
— Hum? — Rubi desviou o olhar da cortina esvoaçante. — Você não precisa se

preocupar com isso.

— É a porra da minha casa.

— Você não precisa se preocupar com isso agora. — Rubi emendou. — Nash vai

resolver isso no clube e podemos resolver isso mais tarde.

— Não tenho emprego. E acabei de dar todos os meus bens. Se vou gastar três mil

em uma caldeira, preciso planejar essa merda.

— Não, você não sabe.

— Sim, eu sei.

— Não. — Rubi colocou meu cabelo atrás das orelhas. — Deixe o clube fazer o seu

trabalho e cuidar do seu. É por isso que seu pai o construiu em primeiro lugar.

— Você está jogando a carta do pai morto?

Ele deu de ombros, impenitente.

Deixei passar por enquanto e me concentrei em procurar minhas roupas. Sob a fina

bata do hospital, eu estava fodidamente nu.

Rubi tinha minha corrente. Ele a prendeu em volta do meu pescoço, e o anel pesado

estava frio contra a minha pele. Porra, eu estava com frio.

— Você sabe onde estão minhas roupas?

O olhar de Rubi estava ausente e ele levou um segundo para encontrar o meu. — O

que?

— As minhas roupas.

— Você não precisa delas ainda.

— Está congelando pra caralho aqui.

— Tudo bem, tudo bem. — Ele se agachou e pegou um saco plástico debaixo da

cama. Nela estavam minhas botas, jeans e uma das camisetas de Oscar.

Eu fiz uma careta para a camiseta. — Eu estava usando isso?

— Eu acho que sim. Não me lembro.

375
Nem eu. Mas quando uma enfermeira que não era Skylar veio e desconectou meu

IV gasto, eu a coloquei do mesmo jeito. — O que aconteceu com a jaqueta de Cam?

— Você não estava usando a jaqueta de ninguém quando o encontramos.

— Foi onde encontrei o pó. No bolso. Eu nem sei o que era.

Rubi brincou com meu cabelo novamente. — Não pense nisso. Vou pedir a Nash

para verificar se não há mais nada.

— Não diga essa parte a Cam.

— Não estava planejando isso.

Caímos no silêncio. Eu à deriva enquanto Rubi não conseguia ficar parado. Eu

estava fodidamente destruído para absorver sua agitação, mas isso me irritou de qualquer

maneira.

— Quer falar sobre isso?

Olhos castanhos ansiosos encontraram os meus. — Falar de quê?

— O que quer que tenha deixado você nervoso.

— Não estou nervoso. — Rubi cruzou os braços, escondendo as mãos inquietas.

Não foi possível esconder o rosto, no entanto. Ou seu coração.

Não de mim.

Eu o encarei e ele se levantou, andando pelo pequeno espaço ao redor da cama.

— Você não pode voltar para sua casa.

Eu sabia. Minha casa era literalmente uma armadilha mortal, e qualquer milagre

que Nash fosse fazer antes que Oscar voltasse não estava acontecendo hoje. — Eu meio

que esperava que você me hospedasse por alguns dias, boo.

Rubi parou de andar e se virou para me encarar. — Alguns dias?

— Talvez uma semana? Não sei quanto tempo leva para instalar uma caldeira. Eu

pulei aquela parte da masterclass de construção de casas do meu pai.

Sem mentira. Cam era o suserano da construção. Se não tivesse motor, eu não dava

a mínima. Nunca tinha.

376
— Riv, você não vai ficar comigo por uma maldita semana.

O tom agudo de Rubi estalou como um chicote.

Eu vacilei. — OK. Vou ficar com Orla.

— Você não está me ouvindo. — O grande corpo de Rubi borrou e ele apareceu na

minha frente, segurando meu queixo com mais força do que meus ossos doloridos

estavam prontos para suportar. — Estamos cansados de ser temporários. Se você voltar

para minha casa, é para sempre.

— Para sempre?

— Foi o que eu disse. Você precisa que eu me repita?

Provavelmente. Meu cérebro parecia melaço. Ou isso ou eu estava ouvindo coisas.

A boca de Rubi se movia e minha imaginação escolhia as melhores palavras para sair dela.

— Diga isso de novo.

Rubi me empurrou para a beirada da cama e se colocou entre minhas pernas,

prendendo-me em seus braços. — Qual parte?

— Tudo isso.

— Tudo bem. — Ele se inclinou, trazendo seu rosto tão perto do meu que eu o teria

beijado se minha cabeça não estivesse prestes a girar sobre meus ombros. — É assim que

isso é. Eu preciso de você comigo. Vou sair do clube. Vou me afastar de tudo. Mas eu

preciso de você, eu te amo, e não podemos continuar morrendo antes de termos a chance

de viver.

— Na sua casa?

— Ou a sua quando deixar de ser tudo assassino e merda. Ou a maldita lua. Eu não

ligo. Eu irei a qualquer lugar. Faço qualquer coisa. Custe o que custar, estou com os dois

pés do caralho.

Levou segundos dolorosos para que tudo fosse assimilado. Eu segurei os pulsos de

Rubi, respirando com dificuldade, a gravidade do que ele estava dizendo era quase

insuportável.

377
Imaginei ele saindo do clube. Abandonando seus anéis. Queimando seu corte.

Cortando os laços com os irmãos que significavam tanto para ele.

Parecia errado.

Tão fodidamente errado.

Eu balancei minha cabeça. — Não quero morar na minha casa.

— Não precisamos. Eu disse a você, podemos ir a qualquer lugar.

— Também não quero isso.

Rubi pressionou sua testa na minha, deslizando as mãos pela minha coluna para

apoiar a minha nuca. — O que você quer? — Ele sussurrou. — Diga-me? Por favor?

Eu pensei sobre isso por menos de um segundo. — Boo, eu quero voltar para casa.

378
CAPÍTULO 29
RIVER

Rubi me levou para casa e me manteve como refém em sua cama. Por dois dias

seguidos, não fiz nada além de dormir.

Ele não fez nada além de me observar.

— Nunca te vi tão imóvel.

Claro que não. E eu não queria dizer a ele que só estava parado agora porque doía

me mexer. — Que horas são?

— Seis.

— À noite?

— Não, Mano. É um novo dia.

Oh. Perdi essa. Apoiei a cabeça no peito de Rubi e fechei os olhos novamente. Seu

braço me envolveu, seus dedos passando pelo meu cabelo, e o alívio foi instantâneo.

Eu não voltei a dormir, no entanto. Pela primeira vez em muito tempo, eu não

queria. Eu queria apreciá-lo. Para apreciá-lo. Porra, eu queria adorá-lo, mas tão vagamente

acordado quanto eu me sentia, inclinar a cabeça para um beijo era o meu limite.

Rubi roçou seus lábios nos meus, doce e lentamente, sua mão quente segurando

meu rosto. — Como você se sente?

— Estou bem.

— Não é o que eu perguntei.

— Essa é a minha resposta.

Rubi sorriu. — Você está se sentindo melhor, então?

— O que te faz dizer isso?

— Seu chip idiota foi reativado.

379
Não poderia argumentar com isso. Eu o beijei novamente, então me mexi para

poder encará-lo corretamente. — Eu sinto que poderia me levantar. Tomar um banho.

Talvez sair de casa antes que eu comece a odiar a sua tanto quanto acabei odiando a

minha.

— A casa não é minha, Riv. Se vamos morar aqui, é nossa.

Ele estava imóvel sobre isso. Mas isso significava que minha casa também era dele,

e ele não parecia muito interessado nisso.

Pensar no meu terraço em Porth Luck me fez pegar meu telefone. Os músculos dos

meus braços doíam com um latejar surdo, mas não era nada parecido com a dor que eu

trouxe do hospital para casa. Eu ignorei e passei a tela.

As mensagens que eu esperava de Nash estavam prontas e esperando, mas havia

novas também.

Orla.

Cam.

Saint mesmo.

Maldito. — Você disse a eles?

Rubi estremeceu. — Não exatamente. Eu engarrafei e fiz Nash fazer isso, mas ele

esperou até que Cam estivesse segurando o bebê, então deu certo. Tenho certeza que ele

perdeu uma bola por esconder isso de sua irmã, no entanto.

A culpa me consumiu. Nash não merecia a ira da minha irmã. Como Rubi, tudo o

que ele fazia era para o bem de alguém.

— Ei. — Rubi esfregou meu antebraço. — Não se sinta mal. Foi minha decisão

manter segredo por alguns dias, e ele concordou comigo. Cam só está chateado porque

acha que te decepcionou por não estar aqui.

— Isso é ridículo.

— Nah, ele simplesmente ama você. Mas não posso prometer que ele não vai

derrubar a porta mais tarde.

380
— Nash colocou uma nova porta na minha casa ontem à noite. É rosa pra caralho.

O meio sorriso de Rubi se expandiu. — Eu sei. Foi o único composto que ele

conseguiu.

— Claro que foi. Você vai pintar os caixilhos das janelas também?

— Eu pintaria a porra do céu para você, Riv.

Revirei os olhos, percorrendo o resto das minhas mensagens. Abuso da minha irmã.

Duas palavras de Saint.

Saint: fique melhor

Enviei um emoji de dedo médio para Orla e um sinal de positivo para Saint.

Cam teve palavras reais.

River: Estou bem. Ele está bem. Posso te ver mais tarde?

Rubi levantou-se para fazer chá. Ele voltou quando a resposta de Cam zumbiu.

Cam: eu vou te encontrar x

— Você acha que ele ficou acordado a noite toda?

Rubi colocou as canecas na mesa de cabeceira e sentou-se na beirada da cama. —

Depende. Se Alexei está fora de casa, ele pode ter esperado por ele, mas os anciãos estão

bem domesticados hoje em dia. Se estivessem todos em casa, teriam feito uma orgia depois

do jantar e ido dormir cedo.

— Obrigado pelas imagens.

Rubi riu. — Eu estava brincando sobre a parte da orgia. Majoritariamente. Quem

sabe o que esses malucos aprontam. Mas o resto permanece: Saint e Alexei, eles sabem o

que Cam precisa e garantem que ele consiga.

— O que você precisa, boo?

— Isso. — Rubi deslizou a mão sob as cobertas, parando em meu abdômen. — Eu

preciso acordar com você. Observar o nascer do sol. Enfrentar o mundo juntos. Eu não

posso mais fazer isso sem você.

— Que sorte, porque eu te amo e quero isso também.

381
— Sim?

— Sim. — Fechei os olhos ao seu toque. — Mas você tem que prometer colocar suas

mãos em mim todos os dias assim. É o único vício de que preciso.

Rubi fez cócegas em minhas costelas.

Eu o estilizei, não querendo perder seu toque para algo tão trivial.

Uma batalha de vontades, mas venci.

Rubi voltou para o golpe lento de sua palma na minha barriga. Eu abri meus olhos

para encontrá-lo olhando.

— O que é?

— Nada mal. — Rubi recuperou a mão para afastar o cabelo rebelde do rosto. — Eu

estive pensando sobre o que você disse sobre voltar para casa antes de sairmos do

hospital. Na época, parecia que você significava tudo - eu, o clube, sua família. Mas estou

me perguntando agora se ouvi direito e quero que saiba que está tudo bem se não ouvi.

— Você me ouviu direito.

Os olhos de Rubi se arregalaram, suas mãos errantes parando na minha pele. —

Sério?

Eu me forcei a ficar de pé para encará-lo. — Este lugar, cara. O clube. Achei que

tudo iria parar se eu fugisse, mas levei todos os problemas comigo e deixei para trás o que

eu amava. Eu vejo isso agora, e eu sinto muito por ter te machucado tanto.

— Sinto muito também.

— Por que diabos?

— Por fazer você acreditar que eu amei qualquer coisa mais do que eu amo você.

— Nunca acreditei nisso.

— Não?

Uma risada seca me escapou. — Você está louco se pensa que um dia se passou sem

que eu soubesse que você me amava. Toda essa merda... é por minha conta. Não assuma a

culpa pelos meus erros.

382
— Eu também cometi erros.

— E eu te perdoo. Venha deitar comigo de novo?

Rubi bebeu o chá e deslizou para debaixo das cobertas. Eu poderia dizer que ele

tinha mais a dizer, mas acabei com o pesado por um tempo. Por mais acordado que eu

pensasse que estava, eu nem tinha energia para me levantar e mijar.

A logística do nosso felizes para sempre pode esperar. Eu coloquei minha cabeça

em seu peito e desmaiei.

Muito, muito depois, tomei aquele banho. Comi o barril de bacon e repolho da

minha mãe que Rubi enfiou na minha cara.

Então nós caminhamos para o complexo, porque o inferno teria que congelar antes

que eu montasse a cadela na moto de alguém.

Eu estava exausto quando nos juntamos a uma reunião improvisada do conselho na

capela.

Cam me deu um abraço e seu assento.

Mateo colocou um embrulho com o menor bebê que eu já tinha visto nos grandes

braços de Rubi, e tudo dentro de mim derreteu. Seu rosto gentil se iluminou com pura

alegria. Essa felicidade gentil que fazia toda a sala sorrir.

Maldito.

Uau.

Como se eu precisasse de Rubi para ser mais quente do caralho.

— Ela é adorável, Riv. Olhe. — Ele virou o bebê para que eu pudesse vê-la. — Você

quer segurá-la?

— Eu? Uh. Não.

Mateo riu. — Você está com medo dela também? Junte-se ao clube com aqueles

idiotas ali.

Ele apontou o polegar para todos os irmãos na sala, exceto Decoy e Cam.

383
— Ela é muito pequena pra caralho. — Nash protestou. — E se nós a quebrarmos?

Cam bufou. — Acho que é mais provável que ela nos quebre, mas não consigo

imaginar Rubes deixando-a ir tão cedo, então você está fora de perigo por enquanto.

Eu também, mas me aproximei para ver melhor. Hope Romano-Carter tinha

cabelos escuros, como sua mãe. E mãos minúsculas se fecharam em punhos. Eu sabia que

ela não compartilhava sangue com Mateo, mas eu o via nela do mesmo jeito. — Por que

ela é tão pequena?

Mateo foi até a janela, examinando o quintal enquanto Rubi segurava o bebê. —

Estresse, talvez. Juana estava grávida quando toda aquela merda aconteceu com seu pai.

Eu estava com medo de que não chegássemos tão longe.

— Mas você fez, mano. — Rubi murmurou. — É tudo de bom. Onde está Em?

— Dormindo.

— Ele está bem?

— Sim, apenas colocando o sono em dia.

Rubi voltou sua atenção para o bebê. Cam o observou, os olhos escuros de emoção

que eu sentia até a porra da medula.

Em seguida, ele chamou a sala à ordem. — Embry não está aqui, mas ele sabe a

maior parte disso de qualquer maneira, então vou quebrar sem ele.

Comecei a ficar de pé. Agora que todo o drama que eu trouxe de Porth Luck

acabou, a merda do conselho não era da minha conta.

— River, fique. Por favor?

Encontrei o olhar de Cam do outro lado da mesa.

Sentei minha bunda novamente.

— Antes de entrar nisso. — Disse Cam, — preciso saber quem está dentro. Quem

está ficando, quem está indo. — Ele fixou os olhos em Rubi. — O que você diz, irmão? Se

você quiser sair, eu tenho você, mas preciso saber.

384
O calor fácil ao redor da mesa amorteceu, tensão esticando o ar. Rubi se levantou e

passou o bebê para Alexei, ignorando o claro alarme do assassino mortal. — Cara, você

não é um vampiro de verdade. Acalme-se.

Então ele voltou para onde eu estava sentado e ficou atrás de mim, com as mãos nos

meus ombros. — Não vamos a lugar nenhum.

Os olhos de Cam se arregalaram da mesma forma que os de Rubi naquela manhã.

— Vocês dois?

— Nós dois. — Eu confirmei. — Vou reconstruir a garagem nos fundos. Morar com

Rubi na Macintyre Road e alugar minha casa para Oscar.

Silêncio.

Então Cam estava em cima de mim, me abraçando novamente, mas com mais força

desta vez, espremendo a vida fora de mim. — É isso que você quer dizer? Você vai pilotar

conosco de novo?

— Para as lojas, talvez. Ainda estou aposentado de uma vida de crime, então sem

graça.

— Isso funciona. — Cam me soltou e trocou um olhar com Saint. — Certo?

Podemos fazer isso funcionar?

Saint olhou para cima de olhar para o bebê. — Podemos fazer qualquer coisa

funcionar.

O amor fluiu entre eles, curando meu estressado irmão mais velho de dentro para

fora.

Ele abraçou Rubi, depois voltou para o seu lado da sala. — Não há uma maneira

fácil de dizer isso, mas vou explicar. Os últimos anos me foderam. Tipo, de maneiras que

não consigo explicar. E talvez eu não precise, sei que todos nós sentimos isso.

Um murmúrio baixo percorreu a mesa.

Peguei a mão de Rubi.

Mateo aproximou-se da filha.

385
— Vou poupar seu sangue e tripas. — Cam continuou. — Mas eu preciso de ajuda,

então estou me afastando por um tempo. Tirando uma folga. E quando eu voltar, seremos

um clube diferente do que somos agora. De verdade, desta vez.

O silêncio contemplativo saudou suas notícias, cada cérebro na sala girando,

calculando como seriam os Rebel Kings sem Cam no comando. Se ao menos pudesse

funcionar sem seu destemido líder.

Nosso destemido líder. Uma noção que se solidificava quanto mais eu me sentava

nesta mesa estúpida com Rubi tão sólido e forte nas minhas costas.

Eu poderia fazer isso. Fazer parte disso. E não era por ele, era por mim.

— Tudo bem. — Cam esperou que todos lhe dessem atenção novamente. — Não vai

ser tão simples quanto eu sair de férias e Nash segurar o forte enquanto eu estiver fora.

Estarei por perto. Estarei acessível. Só não estarei aqui todos os dias, atendendo a porra do

telefone a cada dez minutos, vinte e quatro horas por dia. E se algo louco acontecer, tenho

que confiar em meus homens para lidar com isso.

Rubi bufou e caiu no assento ao meu lado. — Parece um problema seu, cara.

— Isso é. É por isso que vou precisar da sua ajuda com algumas coisas nas próximas

semanas, se você tiver tempo.

— Contanto que isso não me prejudique no início da minha linda nova vida.

— É legal.

— Então estou aí, irmão. O que você precisar.

Cam agradeceu com a cabeça, soltando um suspiro trêmulo, os dedos se

contorcendo em busca de cigarros que não fumaria enquanto houvesse um bebê no

quarto. — Estamos nessa estrada há um tempo e não fica mais fácil, mas a cada dia que a

gente continua é um dia mais perto daquele sonho de ir trabalhar sem ninguém tentando

nos matar.

— Amém. — Nash bateu com o punho na mesa.

386
Cam se permitiu um breve sorriso antes de ficar sério novamente. — Alguns dias

ainda teremos que lutar – uns pelos outros, por nós mesmos. Mas espero que um dia

sejamos melhores em ir embora e deixar a merda ir.

Meu irmão era um cara profundo quando eu parava para ouvir.

A conversa mudou para outras coisas. Cam trouxe Locke e Folk para promovê-los a

altos cargos. O mais perto que um irmão chega do conselho sem se sentar à mesa.

Eu sabia de fonte segura que foi uma surpresa para os dois homens, mas Alexei

segurando um bebê pareceu chocá-los ainda mais.

Justo.

Observei Locke habilmente pegar Hope em seus braços. Sem hesitação ou medo, ele

ficou tão alto quanto Rubi. Tão forte. Era fácil ver por que ele virou a cabeça da minha

irmã.

E a de Nash, se a risada baixa de Rubi servir de exemplo. — Senhor, senhor, alguém

tem uma tara de papai.

Nash fez uma careta. — Cale a boca.

Rubi riu um pouco mais, imitando um zíper nos lábios enquanto a perplexidade

enrugava o rosto áspero de Locke.

Ele não perguntou qual era a piada.

Talvez ele não se importasse.

De qualquer maneira, sua presença me lembrou de algo que eu precisava fazer.

Rubi já estava em conversa profunda com Cam. Ele pegou minha mão quando me

levantei. — Onde você está indo?

— Não longe.

— Você não vai embora?

Inclinei-me e escovei meus lábios sobre sua bochecha. — Não sem você.

387
Foi uma promessa que eu exigi dele, mas nunca retribuí, e eu deveria ter feito isso.

Mas o tempo de arrependimento e mágoa acabou. Eu adorava Rubi. Ele me amava. Agora

eu só tinha que trabalhar para ser um homem digno disso.

Saí da capela e fui até a sede do clube. Eu sabia o código da residência, mas não

precisava. Embry já estava de pé e caminhando para o antigo escritório de Cracker

Delaney.

Liliana estava com ele. Ela me lançou o mesmo olhar que tinha na sala de Rubi. —

Desculpe, você quase morreu.

Ela não parecia tão arrependida, mas eu aceitei.

— Obrigado. Parabéns pela sua nova irmã. Ela é fofa como o inferno.

— Você a segurou?

— Não. Alexei, no entanto.

Liliana riu e se afastou. Embry focou nela até que ela se prendeu a Decoy quando

ele saiu da capela.

Então ele se virou para mim. — Algo em sua mente?

— O que te faz dizer isso?

— Você deixou Rubi para vir me encontrar. — Embry abriu uma gaveta na velha

escrivaninha de Cracker e tirou um rolo de Polos. — Quer um?

Claro. Cetamina era notícia velha, mas açúcar? Inscreva-me.

Eu deslizei a hortelã entre meus lábios. — Quando eu era criança, o capelão do meu

pai era um velhote que cheirava a comida de gato.

— É por isso que o chamam de Tuna?

— Provavelmente. Ele era uma vadia assustadora. Não fiquei triste quando ele caiu

de Bobber na A49. Ou que ninguém o substituiu até Cam encontrar você.

— Orla disse isso também. Mas você não está aqui para falar do passado, cara.

Esse cara. Ele era mais novo do que eu. Mas a maneira como ele falava me fazia

sentir como um menino e seu padre. — Eu queria dizer a alguém que tenho certeza de que

388
teria cheirado todo aquele K se o envenenamento por monóxido de carbono não tivesse

me nocauteado.

— Com certeza? Ou com medo do que poderia ter sido?

— Mesma coisa.

— Eu não acho que eles são. — Embry pegou outro Polo e contornou a mesa para se

apoiar nele. — E pelo que ouvi, você já tinha jogado fora as drogas antes de cair.

— Quem te disse isso?

— Rubi. Ele estava preocupado por não ter tentado ajudá-lo rápido o suficiente.

— Ele estava certo em pensar o que pensou.

— E Locke estava certo em ignorá-lo. Ninguém estava errado nesta situação. Foi um

acidente.

— Eu sei.

Embry me olhou com profundos olhos azuis que não tinham o direito de ser tão

sábios. — Você precisa de ajuda com o vício?

— Também não sei.

— Há quanto tempo você está limpo?

— Desde que Rubi veio para Porth Luck e jogou meu traficante no mar.

— Isso é um tempo. Como você está se sentindo?

— Distraído por outras coisas. Mas não vai ser assim para sempre.

Embry pensou por um momento. Então ele assentiu. — Você tem razão. Pode ser

pior quando você está feliz. Às vezes é mais difícil ser quem você quer ser quando você

tem tudo a perder.

— Não posso perdê-lo.

— Você não vai. Isso não foi o que eu quis dizer. Escute, não sou um conselheiro de

vícios, mas você sempre pode falar comigo. E posso encontrar um padrinho para você, se

achar que isso pode ajudar.

— Não quero falar com alguém que não conheço.

389
— Seria alguém do clube. MCs criam maus hábitos tanto quanto as prisões. Há

muitos irmãos em recuperação.

Eu nunca pensei sobre isso. Mas imaginei que era por isso que eu era o idiota com

uma chave inglesa e não a porra de um capelão. — Obrigado, cara.

Embry pressionou um punho no meu ombro. — É o meu trabalho.

— E a outra coisa?

— A coisa que ninguém mais sabe?

— É essa mesmo.

O sorriso de Embry iluminou o maldito mundo. — Em breve, irmão. Breve.

390
EPÍLOGO
RUBI
Três meses depois

Feliz era uma palavra estranha. Não que eu já tivesse sentido isso. Eu ri muito na

minha vida. De mim e de todos os outros. E eu vivi alguns bons dias de merda.

Semanas.

Meses.

Mesmo anos. Mas eu nunca abri meus olhos pela manhã e acreditei que se isso fosse

tudo que eu teria, morreria contente.

Ainda me chocava que eu acreditasse agora, mas estava feliz. Apenas duas coisas

realmente me incomodaram.

Um: eu e River não transamos desde a manhã anterior ao ataque ao esconderijo.

Dois: essas dores de cabeça, cara. Essas malditas enxaquecas com cara de bunda.

Eles continuaram me espancando semana após semana, e eu estava farto disso.

No sábado após o trigésimo terceiro aniversário de Lord Nashie, River me deixou

na cama e foi trabalhar no complexo. Fiquei em casa tentando derrotar o troll na minha

cabeça.

Eu estava de mau humor no sofá quando Embry bateu na porta.

— Venha comigo.

Eu o observei da soleira da porta. O bom capelão usava jeans de verdade. Uma

camiseta que caiba. — O que aconteceu com seu cabelo?

— Liliana escovou.

— Por quê?

— Entre na porra do carro.

Ele me abandonou e se retirou para o carro de Papá de Mateo.

391
Eu olhei para ele. Curiosidade era minha kryptonita, mas eu não estava com

vontade. Meus globos oculares latejavam, meu pescoço estava rígido e eu estava mal-

humorado e com tesão. Nenhum dos quais era propício para um capelão lunático me

conduzindo quem diabos sabia onde.

Pena que Embry não deu a mínima. Ele abriu a porta do passageiro. — Vamos,

irmão. Eu preciso que você confie em mim.

Eu confiava nele. Além disso, ele era um filho da puta tenaz quando sua mente

estava focada em alguma coisa. Às vezes, a maneira mais rápida de ficar sozinho era fazer

o que lhe mandavam.

Depois de vestir algumas roupas que não eram calças de pijama rosa, entrei no

carro.

Ele se afastou do meio-fio rápido o suficiente para sacudir todo o meu corpo.

Idiota. Se ele fosse qualquer outra pessoa...

Exceto River.

Eu nunca bateria nele.

Puxar o cabelo dele, talvez. Manuseá-lo nu...

Jesus chorou. Mal-humorado e com tesão, lembra?

Eu me concentrei em Embry, olhando para ele sob o sol brilhante da primavera. —

Onde estamos indo?

— Fazenda dos Sussurros.

— A casa do seu primo?

Isso chamou minha atenção. A fazenda da Família Carter era um lugar sagrado. Até

Mateo e Liliana no ano passado, apenas Orla havia sabido. — Por que estamos indo para

lá? Liliana está cavalgando hoje?

— Não.

Eu esperei.

Nada aconteceu. — Isso é tudo que você está me dizendo?

392
Embry queimou na estrada A. — Sim.

— Maravilhoso. — Eu me acomodei no meu lugar e bati no meu telefone. A tela fez

minha cabeça latejar, mas enviar mensagens de texto para River foi a única coisa que me

manteve sã o dia todo.

Rubi: Embry me sequestrou. Envie ajuda.

A mensagem foi entregue, mas River não a leu. Uma reviravolta provável, já que ele

provavelmente estava até os olhos cuidando de todas as motos do Rebel King desde que

reabriu seus livros para o MC.

Filhos da puta. Por que eles não podem servir suas próprias motos?

O fato de eu não ter consertado a minha há anos não parecia importar. Eu não me

importava se Nash estava ocupado. Não foi ele quem fez as batidas em meu crânio se

transformarem em um rugido surdo. Não foi ele que fez meu sangue cantar e meu coração

cheio.

— Você está chorando?

— O que? — Larguei meu telefone e olhei para Embry. — Eu não estou chorando.

Meus olhos estão fodidos.

— Por quê?

— Enxaqueca.

— Uh-huh.

— Oh não, você não fez.

Embry mudou de faixa. — Não o quê?

— Não puxou aquela besteira de O'Brian uh-huh comigo. Se você tem algo a dizer,

porra, diga.

— Não tenho nada a dizer, Rubes. Eu só quero que você fique bem.

— Estou bem.

Embry fez outro som incrédulo, mas eu o desliguei e mexi no DAB, ajustando-o

para Mellow Magic para acalmar minha alma irada.

393
Então eu inclinei minha cabeça contra o vidro frio da janela e bloqueei o mundo.

Eu não adormeci. Mas ainda me chocou abrir os olhos em um estacionamento de

cascalho um pouco depois.

O sol continuou sendo meu inimigo. Eu fiz uma careta ao meu redor. — Clínica de

bem-estar Whisper? Isso não é uma fazenda.

— É sim. — Embry desligou o carro e saiu de trás do volante, batendo a porta.

A minha abriu uma fração de segundo depois. — Fora, você consegue.

Porra do inferno. Eu amava Embry mais do que a própria vida, mas ele estava

começando a me irritar.

Eu saí do carro. Embry pegou meu braço como se eu tivesse 103 anos e me guiou

até um prédio estilo chalé cercado por chalés rústicos.

Um cara grande esperava por nós. Mais perto da idade de Locke do que da minha.

— Este é Harry. — Disse Embry. — O marido da minha prima. Ele é um especialista

em dor crônica e vai te ajudar.

Ele me empurrou para o Marido Harry e se afastou.

Merda. Suspirei e estendi a mão. — Ei. Eu sou Rubi.

Harry sorriu. — Eu sei. Entre.

Ele me precedeu na construção de madeira. Cheirava a incenso, desinfetante e

carvalho. Como uma clínica veterinária hippie ou algo assim. Havia muito espaço aberto.

Bonita arte nas paredes. Algumas portas que levavam a salas de tratamento.

Harry abriu uma e acenou para que eu entrasse. — Sente-se.

— Onde?

— Onde você quiser.

Eu não estava sentindo vibrações de pufe, então escolhi uma cadeira ao lado da

mesa. Harry pegou o oposto e abriu um arquivo, tirando imagens que significavam foda-

se tudo para mim.

— O que elas são?

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Ele ergueu uma. — As imagens da ressonância magnética que você teve no ano

passado.

— Como diabos você conseguiu isso?

— Honestamente? — Harry colocou um par em um quadro branco iluminado. —

Eu não quero saber. Mas eu tenho, então é melhor conversarmos.

— Sobre o que?

— Sobre o que podemos fazer para aliviar essas enxaquecas. Você não está tomando

nenhum medicamento, certo?

— Hum. Não. — Fechei um olho na esperança de que isso me ajudasse a ver o

mundo com mais clareza. — Todas as pílulas me fazem vomitar ou me dão uma

indigestão violenta.

Harry escreveu algo. — Isso é bastante comum. Algum fisio?

— Não.

— Quando foi a última vez que você consultou um médico?

— Para mim?

Harry riu. — Sim. Para você. Enquanto estamos aqui conversando sobre isso, é só

com isso que me importo.

— Por que?

— É o meu trabalho. E a família de Embry, então estou aqui para você, desde que

você apareça por si mesmo.

Esse cara tinha uma voz suave e gentil. O tipo que os aplicativos de sono usam. O

sotaque londrino era mais suave que o de Mateo, mas estava longe de ser elegante. Se ele

estivesse falando sobre qualquer outra coisa, eu poderia ouvi-lo o dia todo. — Não

entendo por que estou aqui.

— Isso faz parte da jornada. — Harry apontou sua caneta para as imagens no

quadro. — Foi aqui que você foi atingido. Na base do seu crânio. Não há dano ao osso,

395
mas não precisa causar dor crônica após o evento. Danos nos tecidos moles já são

traumáticos por si só.

— Tecidos moles? Você quer dizer músculos e outras coisas?

— E nervos. Esta área aqui... — Harry desenhou um círculo de ar com sua caneta.

— ...é particularmente vulnerável. Você sente alguma dor no pescoço ou no ombro com

suas enxaquecas?

— Como uma vadia.

— Que outros sintomas, além da dor de cabeça?

— Meus olhos latejam e lacrimejam. Não suporto luz. E eu sou uma rabugenta

rainha do drama. Tipo, eu enfiaria minha cabeça em uma colheitadeira se achasse que isso

ajudaria.

— E depois? Você se sente deprimido? Ansioso?

— Provavelmente, mas há muitas razões para isso. — Pelo menos, costumava

haver. Hoje em dia, tudo fodeu com a minha capacidade de aproveitar meus sonhos mais

loucos se tornando realidade.

Harry fez mais algumas anotações, então apagou a luz do quadro branco. — Tudo

bem. Gostaria que você voltasse na próxima semana para uma avaliação adequada, mas

enquanto isso começarei a escrever seu plano de tratamento. Exercícios, dieta, coisas

assim. Você pode querer pensar em acupuntura também. Não há evidências clínicas, mas

é eficaz para algumas pessoas.

— Plano de tratamento... quer dizer, há alguma merda que eu possa fazer que

realmente ajude?

— Claro. — Harry reuniu as imagens de ressonância magnética e as guardou em

um arquivo. — Se não houvesse nada que pudéssemos fazer, Embry não teria trazido você

aqui. No entanto, é um pouco irônico que ele tenha trazido você para uma clínica que ele

nunca pôs os pés.

— Ele não vai deixar você ajudá-lo?

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— Não. É por isso que fiquei surpreso quando ele veio falar comigo sobre você.

Estou com Joe há onze anos e é a primeira vez que Embry me pede alguma coisa.

— Ele é um filho da puta engraçado. — Eu disse distraidamente.

Harry riu. — Joe é um bastardo teimoso também. Deve estar no sangue. Como está

sua dor agora?

O desvio abrupto de volta para mim me fez piscar. — Agora?

Harry me deu uma olhada perspicaz. — Estou neste jogo há muito tempo. Não é

difícil para mim identificar alguém lutando.

Eu não queria quebrar e dizer a um estranho que minha cabeça doía tanto que eu

não conseguia sentir minhas malditas mãos. Mas quanto mais eu ficava sentado aqui,

menos estranho esse cara se tornava.

Ou talvez eu já estivesse quebrado.

Mostrei a ele onde doía mais.

Ele se levantou e ficou atrás de mim, pressionando os polegares com força em um

ponto sensível na base do meu pescoço. Por um longo minuto, não senti nada além de

raiva. Então algo mudou, uma mudança sísmica e uma sensação estranha inundou meu

corpo.

Alívio.

Inclinei-me para a frente, com as mãos nos joelhos. — Foda-se um pato. Você

acabou de lançar um feitiço em mim?

— Não exatamente. — Harry me colocou de pé novamente. — Acabei de liberar um

pouco da tensão em seu subclávio. Às vezes, os nervos se envolvem com a coisa errada ou

são expostos por ferimentos, e eles precisam de alguma persuasão para voltar para onde

pertencem.

História da minha vida, companheiro. Mas eu estava muito atordoado com o súbito

florescimento de uma existência sem dor para me preocupar com a ironia mortal. Harry

fez coisas mais abençoadas no meu pescoço e ombros. Coisas simples que me

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surpreenderam quase tanto quanto a boca perversa de River em meu pau. Ele me levantou

e manipulou a base da minha coluna. Até meus pulsos.

Então ele me deu um tapinha nas costas. — Não posso prometer uma recuperação

total, mas sempre há algo que podemos fazer.

— Isso está a um milhão de milhas de distância do que os charlatães do hospital me

disseram.

Harry fez uma careta. — Eles são subfinanciados e sobrecarregados. Estar vivo

supera viver. Mas você não precisa mais se preocupar com isso. Estou aqui para você

enquanto precisar de mim.

— Como eu pago?

— Isso não é necessário. Sua transportadora acabou de fazer uma grande doação

para a fazenda de resgate, mas de qualquer forma, eu quis dizer o que disse sobre família.

Embry significa muito para nós, e se pudermos ajudar de alguma forma que não arrisque

o que temos aqui, sempre o faremos.

Eu não sabia muito sobre os parentes de Embry, exceto que seu primo gostoso

havia entrado no complexo uma vez e chamado Cam de boceta. Anos se passaram desde

então, porém, e esse cara na minha frente era tão sério quanto você.

Apertamos as mãos e ele me deu um cartão com um endereço de e-mail e um

número de telefone.

— Me ligue quando estiver pronto para um compromisso. Pode ser depois do

expediente. Normalmente estou por perto se você não se importar com uma criança

intrometida aos seus pés.

— Você tem um filho?

— Uma filha. Clementina.

Eu me perguntei como diabos isso tinha acontecido, já que Harry e Joe eram uma

coisa por mais de uma década, mas eu não tive que especular muito.

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— Usamos uma substituta. — Explicou Harry. — Dois pais e uma mãe que aparece

sempre que a banda de Lena toca no sudoeste. Funciona para nós.

Lena. Meus sensores de fofoca emitiram um alerta vermelho. Eu segui Harry para

fora da sala de tratamento, vasculhando memórias antigas o suficiente para deixar meu

cabelo grisalho. Em seguida, os mais recentes que Saint iria me matar por pensar.

Lena.

Lena.

Oh.

Quase ri alto, mas quando cruzamos a soleira para o sol do fim da tarde, a figura

solitária sentada em cima do muro apagou todos os outros pensamentos.

River tinha o rosto inclinado para o céu primaveril, olhos fechados, pescoço

arqueado, brincos de ouro brilhando ao sol. Ele estava vestindo jeans escuros e um

pescoço limpo Rebel Kings enrolado em seus bíceps, músculos magros e tinta sinistra em

plena exibição.

Deus, ele era lindo.

Esqueci-me de Harry e me lancei sobre ele, agarrando-o na cerca e girando-o, só o

colocando no chão quando ele estava seguro em meus braços.

Ele riu, gutural e rico. — Alguém está se sentindo melhor.

— Eu me sinto incrível.

— Sim?

Enfrentei a preocupação de River. Enfrentei de frente. — Sim. Não sei o que aquele

cara tem nas mãos, mas estou novo em folha, bebê.

River beijou a ponta do meu nariz. — Novo o suficiente para fazer algo realmente

especial?

— Como o que?

— Como defender seu irmão enquanto ele se casa com o amor de sua vida.

— Fazer o que?

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River sorriu e apontou por cima do meu ombro.

Eu me virei. Embry estava atrás de mim, ladeado por Cam e seu primo Joe. Em sua

mão, ele segurava algo que brilhava tanto quanto o ouro nas orelhas de River.

Um anel de cobre. Brilhante e estranho, vestido com uma pedra âmbar como os

olhos de Mateo, palavras em espanhol gravadas no interior.

A moeda caiu, junto com meu queixo idiota pra caralho. — Espere. O que? Isto é

real? Você vai se casar? Agora?

Embry abriu um sorriso largo. — Eu estou certo pra caralho, e preciso de alguém

para me apadrinhar. Você fará isso, irmão?

Eu abri minha boca. Fechei novamente. Não fazia sentido ele estar me perguntando

quando Cam estava ali. Quando Joe estava lá. Seu sangue. A família dele. — Mas por que,

Em? Por que eu?

Os outros desapareceram quando Embry me puxou para um abraço apertado. —

Porque você me fez sentir seguro, Rubes. Sem você, eu nunca teria sido capaz de amá-lo.

Mats e Em se casaram sob uma árvore antiga, manchada pelo brilho alaranjado do

pôr do sol.

Se eles fossem caras diferentes, eu teria me perguntado se eles planejaram dessa

forma, mas do jeito que era, parecia o destino. Eles lutaram tanto e sofreram tanto que a

Mãe Natureza lhes devia este momento perfeito.

O primo Joe falava romani e apenas os Carters na multidão entendiam.

Saint não disse nada.

Eu? Esperei até que acabasse, então contei a eles a verdade. — Eu não consegui

manter o irmão que me foi dado, mas vou agradecer a quem quer que seja enquanto eu

estiver vivo por ter os irmãos que escolhi, e eu escolheria vocês dois gatos malucos toda

vez.

As pessoas riram.

400
As pessoas choraram.

Eu fiz os dois e foi tudo de bom.

Depois, Joe e Harry abriram o bar em seu celeiro de casamento. Encontrei um fardo

de feno e um pouco de pizza e absorvi tudo, varrendo meus irmãos até me decidir por

Cam e River e o bom humor entre eles. Fazia alguns meses desde que Cam havia se

afastado do clube. Ele ainda estava por perto, mas tinha sido fiel à sua palavra sobre

confiar em nós para tomar decisões por ele. Em algum momento, precisava dizer a ele que

vendi todos os clubes de strip-tease de propriedade do clube. Que Nash fez um acordo

com Gianni Sambini sobre o tráfico de drogas em Porth Luck. Mas isso poderia esperar.

Tudo poderia se fizesse Cam sorrir como ele estava agora.

Você também estaria sorrindo se River estivesse tão perto.

Mais do que sorrir, eu estaria em cima dele. Eu havia deixado meu mau humor na

clínica de Harry, mas o calor que corria por minhas veias permanecia.

Eu o queria.

Eu o amava.

E foda-se, o amor estava no ar esta noite.

— Empurre para cima. — Nash abriu caminho até meu fardo de feno. — O que

você tem? A de cogumelo?

— Pepperoni, mano. Pegue a sua. — Segurei meu prato fora de seu alcance.

Orla me atacou e roubou de qualquer maneira, e eu não fiquei triste com isso. —

Eles são tão fofos juntos.

Achei que ela queria dizer o casal feliz, mas quando segui seu olhar, encontrei Cam

e River novamente. — É bom quando vocês se dão bem.

— Ei, não me culpe por nada disso. Eu sou a Suíça.

— Você jogou um nível de bolha em Cam ontem.

— Ele é chato. Eu gostava mais dele quando estava muito ocupado para atrapalhar

o balcão de vendas.

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— Você fez?

Orla bufou, admitindo o ponto, e sua atenção se voltou para os irmãos nos

arredores da celebração. Locke e Folk. Pairando como se não soubessem bem o seu lugar.

Como seus hábitos de estacionamento, essa merda tinha que mudar, mas eu estava

sem forças para consertar isso agora. Em vez disso, encostei-me em Nash e bati os olhos

em River. Aquele filho da puta estava comendo um sorvete de limão, enrolando-o na boca

com a língua, lambendo a doçura dos lábios.

Isso me deixou louco pra caralho, e ele percebeu, seus olhos travessos brilhando na

luz baixa do celeiro.

Nash e Orla se cansaram do meu silêncio amoroso. Eles se afastaram, mas eu não

fiquei sozinho por muito tempo. Liliana saltou no meu colo, seus cachos escuros uma

bagunça selvagem, tinta fluorescente em seu rosto.

Eu não perguntei onde ela tinha encontrado isso. Criança tinha talento para farejar

qualquer coisa que ela pudesse trazer à vida. — Onde está sua parceira no crime?

Significando Ivy. Eles estavam dançando sob as estrelas desde que o sol se pôs.

Liliana fez bico. — Ela teve que sair. A mãe dela fez o tio Decoy levá-la para casa.

Irritação ameaçou a bolha de amor em que eu me envolvi. Decoy era o melhor pai, e

essa... cadela nunca deixa-o ser. Tínhamos que fazer algo sobre isso também, mas o quê, eu

não poderia dizer. Mesmo antes do impulso renovado de Cam por legitimidade, nunca

estivemos no negócio de matar ex-esposas malvadas, e eu estava orgulhoso disso.

Majoritariamente. Exceto em momentos como estes.

Eu precisava de uma distração. Peguei a grama do cabelo de Liliana enquanto ela

cochilava contra mim, a emoção do dia a alcançando. Havia muito, mas eu não me

importava. Isso me salvou de mim mesmo até que Juana veio levar Liliana para a cama.

— Você vai ficar aqui?

Juana tentou arrancar do meu colo uma Liliana ranzinza. — Na casa com Joe e

Harry. Ninguém precisa se preocupar conosco esta noite.

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— Nós sempre nos preocuparemos com você, querida. É o que as famílias fazem.

Ela sorriu no escuro e beijou minha bochecha. — Você poderia carregar esta

princesa para mim? Ela não parece com vontade de andar.

Peguei Liliana e a carreguei para fora do celeiro, fazendo contato visual com Folk

para nos seguir. Ele era um convidado tanto quanto o resto de nós, mas cuidar de Juana e

das crianças era seu trabalho esta noite, e eu estava feliz por isso.

Olhos afiados. Mãos seguras. Folk e Locke eram tudo.

Lá dentro, Juana acomodou o bebê.

Coloquei uma Liliana sonolenta na cama e deixei-as a sós.

Folk estava onde ele precisava estar. Bom rapaz. Também o deixei sozinho e voltei

para o celeiro.

River me encontrou no meio do caminho. Seus lábios tinham gosto de limão

efervescente e amor. Suas mãos em minha pele nua eram puro fogo. — Você sabe o que

significam as palavras dentro dos anéis?

— Os anéis de casamento?

— Não. Senhor dos Anéis.

— Não seja sarcástico. Não combina com você.

— Sim. Responda à pergunta.

Lambi um caminho da garganta de River até sua boca. — Eu não falo espanhol.

— Nem eu, mas Mateo me contou. Significa que você é meu amor para sempre, e eu

senti isso, boo. Para eles. Para nós. Talvez seja este lugar, mas acho que nunca te amei

tanto quanto esta noite.

— Hum. Eu também. Estou tão emocionado agora, posso morrer. Tipo, meu

coração de verdade vai explodir.

River me beijou lenta e profundamente, saqueando minha boca antes de se afastar

com um sussurro. — Parece que você precisa de uma saída. Me leve para casa?

403
Ele me levou para casa. O carro de Cam desta vez. Nenhuma pista de onde estava a

moto de ninguém, e eu não tinha mais nada para dar. Deixamos a Cornualha para trás. E a

casa de River, habitável agora, uma nova porta da frente, caldeira substituída, seu quarto

transformado em terra de dinossauro para o filho de Oscar.

River morava comigo agora. Em nossa casa, e parecia tão fodidamente normal que

era difícil acreditar que apenas alguns meses se passaram desde que ele não o fez.

Então chegamos em casa e os sinais de sua existência turbulenta estavam por toda

parte. Roupas. Vinil. Peças do motor. Suas botas diferentes começaram no corredor no

momento em que a porta da frente se fechou atrás de nós.

Tirei minha camisa e a joguei em algum lugar, mirando na escada, confiando que

ele me seguiria. Por melhor que fosse brincar no sofá, no tapete em frente ao fogo, ele

empoleirado no balcão da cozinha enquanto eu engolia seu pau, eu precisava dele na

minha cama.

Nossa cama.

River me alcançou na porta do quarto. Ele pressionou seus lábios na minha espinha

e deslizou as mãos sobre meus quadris, empurrando meu jeans para longe enquanto eu

lutava com a fivela do meu cinto. — O que você quer?

Ele me perguntou muito isso. O que eu queria? O que eu precisava? Ainda preso

naquele vórtice onde ele pensava que eu era altruísta e ele um bastardo egoísta. Talvez

fosse por isso que não transávamos há algum tempo. Por que paramos nos boquetes. Em

se esfregar até o esquecimento antes de tirarmos nossas roupas.

Ou talvez aqueles boquetes fossem bons demais para se afastar. Era um raro dia

que eu não gozava na minha mão enquanto o chupava até secar, eu amava tanto.

River abaixou meu jeans e me virou.

Eu os chutei para longe, bebendo a visão dele já de peito nu, seu torso tatuado

etéreo no escuro. — Você está usando roupas demais.

Seus olhos brilharam com calor. — Conserte isso então.

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Eu o despi e o puxei para a cama, derrubando-o, deleitando-me com a sensação dele

em volta de mim. De seu corpo ganhando vida em minhas mãos. Beijei cada centímetro

dele que pude alcançar. Seu peito, os planos duros de seu abdômen. Suas pernas

cicatrizadas. Deixei seu pau sozinho para preservar a porra da minha resistência, mas

queimei por ele em todos os lugares, cobrindo-o com meu peso maior, prendendo-o na

cama. — O que você quer?

River se flexionou embaixo de mim, os olhos com as pálpebras pesadas, a pele

úmida de suor fresco. — Eu quero que você pare de pensar e pegue tudo o que você

sempre precisou de mim.

Ele já tinha me dado tudo que eu precisava. Ele estava feliz. Saudável. Sorrindo

todos os dias sem se machucar. Ele me amava, porra. O que mais havia?

Meu cérebro não sabia a resposta, mas meu corpo sim, ansiando por ele em cada

fodido poro. Esforçando-se para cruzar a única ponte que nos restava. Eu segurei seu rosto

em minha mão, polegar acariciando sua bochecha. — Posso te foder? Serei gentil, prometo.

River lambeu minha palma. — Se você for gentil, eu vou fazer você parar.

Ele teria me assustado menos se tivesse ameaçado minha vida. Mas eu era

cuidadoso com ele de qualquer maneira porque era como eu sempre tinha imaginado.

Como eu fantasiei que esse momento seria. Eu arrancaria seus miolos outro dia. Esta noite

eu só queria amá-lo.

Não tínhamos mais camisinhas, então deslizei para dentro dele nu, confiando nele

tanto quanto ele confiava em mim, devagar, centímetro por centímetro, enquanto River

fechava os olhos e mordia o lábio inferior com os dentes.

Eu segurei sua coxa na minha mão, dedos cavando para o músculo magro, meu

peso apoiado na minha outra mão, o olhar disparando entre seu rosto tenso e onde meu

pau estava desaparecendo dentro dele.

Seu rosto venceu.

Seus lábios.

405
Eu o beijei, meu cabelo se soltando e caindo em torno de nós como uma cortina,

bloqueando o mundo enquanto eu começava a empurrar uma batida lenta, iniciando uma

onda selvagem de fome que eu lutava para conter.

A doçura se transformou em algo mais. Eu o beijei mais forte do que fodi com ele,

chupando sua língua, mordendo seu lábio, pulsos de desejo e necessidade percorrendo

meu corpo. Haveria um momento em que eu não o desejaria assim? Enquanto ele

arqueava debaixo de mim, seu gemido irregular o suficiente para sacudir as paredes, a

resposta retumbante foi não.

— Você é tão quente. — River murmurou com os dentes cerrados. — Não brinque,

boo. Eu preciso que você me foda.

— Eu estou fodendo você.

— Mais duro.

— Não. Quero ver o nascer do sol antes de deixar você gozar. — Eu quebrei o beijo

e me inclinei para trás, circulando meus quadris, construindo um ritmo mais profundo e

quente, paralisado pela flexão de seus músculos enquanto ele me perseguia, apenas para

eu recuar novamente.

Foi cruel, mas eu adorei. Limitando seu prazer. Testando a coragem dele e a minha.

Jogando com o calor eviscerante ganhando ritmo em meu intestino. O calor de um coração

que, neste momento, bate só por ele. Por muito tempo, estivemos com muito medo de

acreditar. Alcançar. Esperar.

Não tínhamos mais medo.

Eu o puxei para mais perto, inclinando-me para frente novamente, meu controle

duramente conquistado se esvaindo. Meu toque ficou mais áspero e o ar mudou, a ternura

com a qual começamos derretendo, deixando-nos impotentes contra nossa biologia. A

reação química que rejeitamos por toda a nossa vida até agora.

406
River me beijou como se estivesse morrendo de fome, suas mãos selvagens nas

minhas costas, me incitando, e nossa realidade explodiu em um sonho frenético de todas

as cores e formas.

Seus lábios começaram a ter gosto de cobre e pecado. Eu não conseguia o suficiente.

Eu não estava mais no controle.

Eu estava no céu.

Um gemido fraturado violou meu peito. Dobrei-me sobre River, reivindicando sua

boca, penetrando nele, procurando o ponto que o fazia estremecer e gemer.

Encontrando-o.

River começou a se desfazer, seus olhos escuros uma confusão derretida de

desespero e desejo. De amor. Ele apertou a mão em volta do meu pescoço, suas coxas me

apertando com força. Seu pênis preso entre nós. — Eu vou gozar tão fodidamente duro.

— Faça isso. — Eu levantei sua pélvis da cama, mudando o ângulo, esfregando nele

com cada batida do meu coração acelerado. — Faça isso, Riv. Eu quero ir com você... foda-

se.

Perdi a autonomia. A liberação caiu em mim e meus quadris desaceleraram por

vontade própria, extraindo cada átomo de prazer, expandindo meu clímax para me atingir

da cabeça aos pés quando River gozou com um grito rouco.

Foi uma agonia fodida. Dor extática. Sujo e alto.

Mudança de vida.

Ficamos ofegantes e cobertos de suor. A emoção pairou entre nós como a porra da

estrela mais brilhante. Eu estava tão apaixonado por ele. Meu irmão. Meu amigo. O irmão

mais novo do meu amigo mais antigo. Não importa como eu o chamasse, tudo parecia o

mesmo.

River aliviou debaixo de mim. O desejo profundo da alma de detê-lo, de cuidar

dele, era difícil de ignorar, mas eu o deixei ir. Deixe-o nos limpar antes de irmos para a

cama juntos.

407
Não havíamos chegado até o amanhecer. O sol ia nos acordar, mas não me

importei. Cada momento que eu estava acordado era passado com River.

Puxei-o para perto, amando a sensação de suas costas contra meu peito. Como meu

corpo se curvava ao redor dele. Como meu rosto encontrou um lar na junção de seu

pescoço. Eu o respirei, embalado pela batida constante de seu pulso contra a mão que eu

envolvi em seu pulso.

Felicidade. Paz. Esta manhã elas ainda eram coisas misteriosas, mas eu as sentia

agora.

— Ei. — River estendeu a mão para trás e esfregou meu quadril. — Posso te

perguntar uma coisa?

Forcei meus olhos pesados a se abrirem. — Claro.

— Você está bem? Quero dizer, realmente?

Eu sabia de onde isso estava vindo. Algumas semanas atrás, Cam rachou e me disse

que as palavras entrecortadas que eu joguei na cara de Embry assombraram as pessoas

que eu mais amava desde então.

— Eu quero morrer, porra.

Eu quis dizer isso na época, mas estava a um mundo de distância de como eu me

sentia agora. — Estou bem, Riv. Eu prometo. E você? Já faz um dia, mas nunca pense que

não quero saber o que está acontecendo nessa sua cabeça maluca.

Ele riu. Com sono. Aliviado, talvez. — Estou bem. Folk me ensinou como reiniciar

meu cérebro com água fria. Portanto, estou mais limpo do que nunca em mais de uma

maneira.

Beijei o pescoço de River. Sua mandíbula. O canto de sua boca. — Isso é o que você

ganha por escolher um tritão legítimo para ser seu patrocinador.

River cantarolou e se acalmou, humor e amor amarrados entre nós como uma

chama acesa. — Ele me mostra que sou forte. E eu sou forte por causa de você.

— Você é forte porque é especial, Riv. Não tem nada a ver comigo.

408
— Continue dizendo isso a si mesmo, boo. Um dia você aprenderá que o mundo

não gira direito sem você.

FIM

409

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