MONOGRAFIA CaracterizaçãoPopulaçãoUsuária
MONOGRAFIA CaracterizaçãoPopulaçãoUsuária
MONOGRAFIA CaracterizaçãoPopulaçãoUsuária
MARIANA
Outubro 2024
Maria Gabriela Ferreira Pedrosa
MARIANA
2024
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 616.89(815.1)
Bibliotecário(a) Responsável: Essevalter De Sousa - Bibliotecário Coordenador
CBICSA/SISBIN/UFOP-CRB6a1407
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
INSTITUTO DE CIENCIAS SOCIAIS E APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVICO SOCIAL
FOLHA DE APROVAÇÃO
Caracterização da População usuária do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil do município de Ouro Preto
Membros da banca
Cristiane Tomaz, orientadora do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito na Biblioteca Digital de Trabalhos de Conclusão
de Curso da UFOP em 18/10/2024
Documento assinado eletronicamente por Cristiane Silva Tomaz, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em 18/10/2024,
às 12:59, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de
2015.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.012919/2024-19 SEI nº 0797348
Keywords: Adolescents; Children; Mental health personnel and patients; Mental health;
Psychosocial Care Center - Ouro Preto (MG).
LISTA DE SIGLAS
ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria
APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
BPC - Benefício de Prestação Continuada
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
CAPS IJ/OP - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil de Ouro Preto
CAPS AD - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas
CF/1988 - Constituição Federativa de 1988
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CID - Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde
CNDE - Campanha Nacional pelo Direito à Educação
CONANDA - Conselho dos Direitos da Crianças e Adolescentes
CRAS – Centro de Referência da Assistência Social
CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social
CT – Conselho Tutelar
DACT/MDS - Departamento de Apoio a Comunidades Terapêuticas
DINSAM - Divisão Nacional de Saúde Mental
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FAMOP - Federação de Associação de Moradores de Bairros do Município de Ouro Preto
FEBEM - Fundações Estaduais do Menor
MLA – Movimento da Luta Antimanicomial
MTST - Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
NAPS - Núcleos de Atenção Psicossocial
NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família
NEE - Necessidades educacionais especiais
PIB - Produto Interno Bruto
PSF – Programa de Saúde da Família
PTS – Projeto Terapêutico Singular
RAPS - Rede de Atenção Psicossocial
SUS - Sistema Único de Saúde
TAB - Transtorno Afetivo Bipolar
TEA - Transtorno do Espectro Autista
TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
TOC - Transtorno Obsessivo-compulsivo
TOD - Transtorno de Oposição Desafiante
TR – Técnico de Referência
UBS - Unidade Básica de Saúde
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UPA - Unidade de Pronto Socorro
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
3.1 As refrações de classe, raça, gênero e etnia na saúde mental infantojuvenil ...... 43
6. ANEXOS .................................................................................................................. 87
1. INTRODUÇÃO
Naquele tempo, costumávamos ver nossa avó falar sozinha, pedir coisas estranhas
como alguém, que – que não víamos – se afastasse de Carmelita, a tia que não
havíamos conhecido. Pedia que o mesmo fantasma que habitava suas lembranças se
afastasse das meninas. Era uma profusão de falas desconexas. Falava sobre pessoas
que não víamos – os espíritos – ou de pessoas sobre as quais nunca ouvimos, parentes
e comadres distantes. Nos habituamos a ouvir Donana falar pela casa, falar na porta
da rua, no caminho para a roça falar no quintal, como se conversasse com as galinhas
ou com as árvores secas. Eu e Belonísia nos olhávamos, riamos sem alarde, e nos
aproximávamos sem que percebesse. Fingíamos brincar com algo por perto para
escutar e, depois, com as bonecas, os bichos e as plantas, repetíamos o que Donana
havia dito como coisa séria. Repetíamos o que minha mãe dizia baixo para o pai na
cozinha. “Hoje ela está falando muito, a cada dia fala sozinha”. O pai relutava em
admitir que minha avó estivesse com sinais de demência, dizia que que a vida toda a
mãe havia falado consigo mesma, a vida toda havia repetido rezas e encantos com a
mesma distração com que revirava os pensamentos. (Junior, 2019, p. 14)
Quando li esse trecho do primeiro capítulo do livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira
Júnior, em que o autor retrata a vida de uma família no campo, repleta de memórias coletivas
sobre as desigualdades raciais, sociais e de gênero, à minha mãe, Lúcia Silva, imediatamente
ela disse: “eu ouvi falar sobre a minha história”. Nesse momento, havíamos acabado de acordar
de uma noite na Unidade de Pronto Socorro (UPA) de Ouro Preto. Um dia antes, minha mãe
havia sido levada para lá, depois de uma crise psicótica, e ainda estava sonolenta, sob o efeito
dos remédios. Não pude deixar de pensar o quanto aquela fala era potente, pois sei que a vida
da minha mãe, enquadrada no chamado “CID 10”, também foi árdua, e de certo que ela foi a
minha central motivação para a construção deste trabalho.
Esse trabalho, para além de tudo, tem pedacinhos da minha caminhada até aqui, do meu
processo de crescimento e de amadurecimento, durante a minha infância, adolescência e
juventude, sobre o que é o autoconhecimento e o olhar para a saúde mental. A graduação em
Serviço Social da UFOP me abriu portas para estas questões, ainda mais quando tive a
oportunidade de estagiar no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ) do
município de Ouro Preto/MG, cidade onde nasci e cresci.
Durante três semestres letivos foram vislumbradas algumas inquietações quanto ao
conhecimento adquirido sobre a condição sócio-histórica das crianças e adolescentes
acompanhadas por seus familiares e/ou responsáveis, que são assistidas pelo referido serviço
de saúde mental. Acredito que este trabalho poderá servir como uma maneira de dar voz àqueles
que deveriam ser o público prioritário da atenção à saúde: as crianças e os adolescentes.
11
Esta pesquisa não tratará diretamente do Serviço Social ou da atuação profissional na
saúde mental, mas problematizará o público atendido pelo CAPS ij como expressão da questão
social e, portanto, objeto da intervenção profissional.
Objetiva-se centrar no objeto de trabalho da/do assistente social, a “questão social”
expressa, que tanto contribui com os agravos à saúde mental do usuário (a) e de sua situação
econômico-familiar. De acordo com Iamamoto e Carvalho (2006, p.77),
O Serviço Social atua com o sujeito que vive as expressões da questão social, nas suas
mais diversas manifestações, primordialmente por meio de políticas sociais, a partir das quais
entende o usuário (a) como um sujeito social e, para além disso, pretende colocar o mesmo e
sua família no foco do atendimento, o que é favorável à lógica antimanicomial cunhada pela
Reforma Psiquiátrica Brasileira.
As relações sociais no modo de produção e reprodução capitalista são expressas na
totalidade da vida social, no que tange tanto à reprodução da vida material quanto a espiritual.
Logo, a fase da infância e juventude são atravessadas pelas condições objetivas e subjetivas que
influenciam o âmbito da saúde, enquanto uma condição física, mental e social. Sua vivência
dentro da sociedade, em outras palavras, é permeada pela desigualdade social, econômica e
cultural que é intrínseca ao sistema capitalista, caracterizada pela contradição entre o capital e
o trabalho, chamada de “questão social”. Isso inclui as refrações de raça, gênero e etnia, que
são manifestadas pela falta de acesso ou acesso reduzido aos bens e serviços disponíveis e a
violação de direitos historicamente conquistados.
A discriminação, a pobreza, a fome, a violência, a baixa escolaridade, o abuso de álcool
e outras drogas, são algumas das principais refrações da “questão social” vivenciadas pelas
crianças e adolescentes no Brasil contemporâneo. Em seu estudo sobre essas expressões,
Badaró (2013, p. 174-175) ressalta:
Com isso, na concorrência com outros segmentos sociais de classes mais elevadas,
jovens pobres se encontram em situação desfavorável devido à distribuição desigual
de capital econômico, social e cultural. Com um cenário de precariedade decorrente
das desigualdades, sentimentos de descrença e baixa expectativa são comuns, pois
com o acúmulo histórico de experiências de êxito e de fracasso, em um processo não
deliberado, indivíduos e grupos sociais acabam constituindo um conhecimento prático
relativo ao que pode ser alcançado dentro da realidade concreta em que vivem.
12
Vítima de preconceitos de classe, gênero ou cor, por causa de mecanismo de
opacidade e de naturalização da inferioridade, o indivíduo pode creditar o seu fracasso
como pessoal, merecido justificável. Assim, um perverso ciclo de exclusão social
passa a ser reproduzido. E jovens marcados pela baixa autoestima e por um senso de
derrota antecipada podem desistir da disputa antes mesmo de tentar concorrer.
13
[...] As expressões da Questão Social na Saúde Mental são vivenciadas na exclusão
social dos usuários com transtorno mental, inviabilização dos direitos sociais,
privação de seu convívio social e do sistema sócio-ocupacional no mercado de
trabalho e a não inserção dos mesmos nas redes intersetoriais, sendo essa uma
realidade que coloca o usuário como se fosse uma pessoa incapaz e estigmatizando-
o, para o mundo do trabalho em uma sociedade capitalista preconceituosa e
conservadora.
Essas questões citadas pela autora são mais acentuadas, quando se considera as inflexões
que permeiam o campo ideológico do sistema capitalista atual: o neoconservadorismo. Essa
característica, conforme Barroco (2022, p. 13), “consiste na junção entre os valores do
conservadorismo moderno e os princípios do neoliberalismo”. Ou seja, diz respeito à
valorização das tradições, preconceitos e/ou hierarquia do antigo conservadorismo clássico,
juntamente com questões relacionadas ao neoliberalismo, como a não intervenção do Estado na
economia, a meritocracia, a privatização e/ou o combate aos movimentos sociais e direitos
sociais.
O neoconservadorismo se desenvolve de formas particulares em cada país. Em se
tratando do Brasil, o aprofundamento das contradições vivenciadas no capitalismo atual
desencadeou em maiores problemas subjetivos, de acordo com (Molano, 2021, s/p).:
Essas premissas apontam para uma maior demanda aos Centros de Atenção Psicossocial
Infantojuvenis, pois consistem em elementos chave para a infância saudável os seguintes
quesitos: o convívio com a família e/ou responsáveis, os amigos, a sala de aula, as brincadeiras,
o lazer e outros estímulos que foram prejudicados durante os três anos recentes da pandemia da
COVID-19. Por isso, torna-se mais que imprescindível a existência e permanência da oferta
acolhimento de portas abertas para usuários (crianças e adolescentes) com transtornos mentais
“graves e persistentes”, como também para aqueles que sintam esporadicamente a necessidade
desse tipo de atendimento. Esses transtornos incluem:
14
Entretanto, apesar de ser importante a identificação da “hipótese diagnóstica”1 nas
crianças e adolescentes assistidas pelos CAPS IJ, entendemos que também se faz necessário a
condução de uma perspectiva diferente da dimensão fenomênica através manifestações
sintomáticas do sujeito com transtorno mental. Isso significa conhecer a objetividade da vida
material dos usuários e de suas famílias, ou seja, a conhecer a dimensão sócio-econômica desses
sujeitos, as questões relacionadas à sua vida comunitária e escolar, às necessidades materiais e
os direitos que possuem, ou seja, à sua existência. Essa questão nos chama a atenção e é um
aspecto que foi muito discutido durante as oficinas de supervisão de estágio em Serviço Social.
Como dito, esse estágio foi cumprido durante três períodos letivos da graduação, na
cidade de Ouro Preto/MG. Com o afinco de explicar melhor os procedimentos do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) em questão, tem-se que o funcionamento do CAPS IJ é incluído e
organizado pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da cidade e realiza atividades que
incluem o acolhimento, acompanhamento contínuo por meio do Projeto Terapêutico Singular
(PTS) e atenção às urgências psiquiátricas.
Aqui, cabe a nós chamar a atenção para o acolhimento, essa atribuição caracteriza-se
pelo “cadastro” e o primeiro atendimento oferecido para novos usuários, incluindo as situações
de crise no território. Ele é realizado por meio do preenchimento da “Ficha de Acolhimento”
pelo trabalhador da saúde mental, seja para atender usuários (as), familiares e/ou responsáveis
que vão pela primeira vez no serviço, ou que, por ventura, sejam atendidos depois de um tempo
suficiente para a atualização de seu cadastro. É dessa forma que são identificadas as demandas
dos (as) usuários (as) e, caso seja um sofrimento mental intenso, o usuário (a) terá acesso a
continuidade do seu tratamento no CAPS IJ. O documento central que direciona as bases para
os CAPS nacionalmente salienta as explicações acima da seguinte forma:
Quando a pessoa chega deverá ser acolhida e escutada em seu sofrimento. Esse
acolhimento poderá ser de diversas formas, de acordo com a organização do serviço.
O objetivo nesse primeiro contato é compreender a situação, de forma mais
abrangente possível, da pessoa que procura o serviço, e iniciar um vínculo terapêutico
e de confiança com os profissionais que lá trabalham. Estabelecer um diagnóstico é
importante, mas não deverá ser o único, nem o principal objetivo desse momento de
encontro do usuário com o serviço.
A partir daí irá se construindo, conjuntamente, uma estratégia ou um projeto
terapêutico para cada usuário. Caso essa pessoa não queira ou não possa ser
beneficiada com o trabalho oferecido pelo CAPS, ela deverá ser encaminhada para
outro serviço de saúde mais adequado para sua necessidade. Se uma pessoa está
isolada, sem condições de acesso ao serviço, ela poderá ser atendida por um
profissional da equipe do CAPS em casa, de forma articulada com as equipes de saúde
da família do local, quando um familiar ou vizinho solicitar ao CAPS. Por isso, é
1
No caso das crianças e adolescentes, por estarem em fase de desenvolvimento, é mais dificultado o processo de
fechamento de um diagnóstico de transtorno mental. Por isso, trabalha-se apenas com hipóteses.
15
importante que o CAPS procurado seja o mais próximo possível da região de moradia
da pessoa (Brasil, 2004, p.15, grifo nosso)
16
Acolhimento Psicossocial, contidas nos prontuários do serviço. Essa análise incluiu a
atualização das fichas de acolhimento dos familiares e/ou responsáveis e usuários (as) ativos
(as), além de interpretações dadas aos acolhimentos que foram feitos pelo plantonista.
Conseguimos abranger 101 usuários (as) ativos no serviço, incluindo os seguintes
dados: idade; identidade de gênero e auto declaração; tipo de escola que frequenta (pública ou
particular); série escolar;, moradia, incluindo local (sede do município ou no distrito e se é em
área urbana ou rural); origem do encaminhamento para o serviço ou busca esporádica; a
principal demanda; hipótese diagnóstica de algum transtorno mental; medicações utilizadas;
perfil familiar e socioeconômico, incluindo composição familiar (natural, extensa ou
substituta); estado civil dos pais ou responsáveis; existência de emprego remunerado; nível de
escolaridade; casos de transtorno mental na família; renda aproximada do núcleo familiar;
benefício sócio assistencial ou previdenciário recebidos; pensão e contribuição do adolescente
com a renda familiar; hábitos alimentares; meio de transporte utilizado; tipo de moradia; acesso
aos dispositivos no território; necessidades educacionais especiais; , especificidades
sociais/étnicas/culturais e, por fim, acesso à serviços básicos como à água, esgoto, limpeza
urbana e, por fim, existência de risco habitacional e/ou no território.
Sabe-se que a pesquisa científica tem o papel de construir um conhecimento “novo”,
que atenda, acima de tudo, as necessidades do público alvo e, no caso deste trabalho, a
população infantojuvenil da comunidade e do serviço de saúde. O objetivo geral dessa pesquisa
foi caracterizar a população assistida pelo Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
(CAPS IJ) do município de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Tínhamos os seguintes objetivos específicos: refletir sobre a população usuária da saúde
mental, em especial, crianças e adolescentes, como expressão da questão social, considerando
suas refrações de classe, raça, gênero e etnia; fazer um resgate sócio histórico da política de
saúde mental no Brasil e as particularidades dessa política no município de Ouro Preto/MG;
refletir sobre o avanço do neoconservadorismo e sua relação com a “contra-reforma
psiquiátrica” na política de saúde mental brasileira; apresentar um panorama geral da população
assistida pelos CAPS IJ no Brasil; realizar um levantamento de dados sobre a população
assistida pelo CAPS IJ de Ouro Preto/MG ,e também; contribuir para que os trabalhadores do
CAPS IJ/OP possuam mais um instrumento de conhecimento sobre a realidade dos usuários
para a construção do “Projeto Terapêutico Singular” destes.
O método assumido é o materialismo histórico dialético, a partir do qual o pesquisador
(a) busca conhecer a realidade objetiva em sua totalidade. É “[...] o método de pesquisa que
17
propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, [que] visa alcançar a essência do
objeto” (Netto, 2011, p. 22). Em outras palavras, se parte da realidade concreta para ir à essência
dos fenômenos, compreendendo o significado de sua aparência e relacionando-os com sua
essência.
Dessa forma, além da pesquisa empírica descrita acima, esta investigação também está
metodologicamente organizada a partir da realização de uma pesquisa bibliográfica dividida
em dois capítulos. A mesma foi realizada em livros, artigos científicos e sites, para buscar
conhecimento, constituir referencial e embasamento teórico sobre a população usuária da saúde
mental, em especial, crianças e adolescentes. Vale dizer que, esse público pode ser atravessado
pelas expressões da “questão social” e as refrações de classe, raça, gênero e etnia. Foi realizado
um estudo, também, sobre a condição sócio histórica da política de saúde mental no Brasil e as
particularidades dessa política no município de Ouro Preto/MG; ademais dos impactos do
neoconservadorismo e da recente crise econômica para a política e análise de um panorama
geral da população assistida pelos CAPS IJ no Brasil.
Nesta pesquisa, buscou-se fugir da perspectiva de individualização, fragilidade e
insegurança, pois com o reconhecimento do sujeito em sua totalidade, os direitos das crianças
e adolescentes com transtornos mentais podem ser melhor identificados e viabilizados. Assim
as perguntas norteadoras dessa pesquisa foram: Quem são essas crianças e adolescentes
atendidas pelo CAPS ij/OP? Qual é o seu lugar no território? Quais são os determinantes sociais
da saúde2 que os atravessam? Como acolher sem conhecer? Como requisitar os direitos dos
usuários (as) sem saber quais são as características dessa população atendida e quais são suas
demandas mais abrangentes? E para além disso, como esses direitos serão efetivados sem dados
concretos que o comprovem? Como garantir a promoção da saúde sem refletir sobre toda a
conjuntura atual da região e do país? Qual o foco do “cuidado em saúde mental” a que devemos
promover?
Apesar de não nos esgotarmos com as reflexões aqui tratadas – baseadas nas perguntas
descritas acima –, desconhecemos estudos dessa natureza na região. Como estudo realizado
neste território, esta pesquisa pode inspirar a realização de novas investigações sobre a temática;
poderá servir como mais uma possibilidade de diálogo dessa população com os movimentos
sociais, coletivos e associações de moradores, potencializando suas requisições acerca da
2
Utiliza-se o termo “determinantes sociais da saúde” por ser mais acessível ao entendimento do leitor, porém, o
correto seria dizer “determinação social do processo saúde doença”, por apropriar-se do entendimento dessa
determinação da saúde como um ‘processo’ social, e não ‘fator’ social, como alertado por Garbois (2017).
18
preservação do bem-estar e autonomia das crianças e adolescentes. Ademais, ao estudar acerca
da realidade regional em que a UFOP está inserida, esta pesquisa justifica-se também pelo fato
de a UFOP estar cumprindo sua função social de aproximação e fomento da produção de
conhecimento no território de sua abrangência.
Diante de todo o exposto, torna-se evidente a importância da demonstração de pesquisas
que envolvam as especificidades da vida das crianças e adolescentes assistidas pela atenção
psicossocial. Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPS IJ) desempenham um
papel crucial no processo de inclusão social desses indivíduos em seu próprio território,
fundamentais para garantir um futuro mais saudável e promissor para as gerações vindouras.
Convém uma convicção de pensamento “crítico direto sobre a essência da organização social
da sociedade de mercado e do regime de acumulação capitalista, por meio dos processos de
geração e reprodução da exploração humana e da natureza e as suas marcadas consequências
na saúde.” (Garbois, et.al, 2017, p. 69).
19
2 A LOUCURA ENQUANTO UMA EXPRESSÃO DA “QUESTÃO SOCIAL”
Karl Marx
Neste tópico, pretende-se tratar sobre a formação sócio histórica brasileira, o surgimento
da “questão social” no país e a questão da loucura nesse contexto. Até o início do processo de
construção da Reforma Psiquiátrica, a assistência as pessoas com transtornos mentais
constantemente permeada pela lógica manicomial e a indústria da loucura em seu auge.
Ressalta-se que a chegada até o cenário atual é resultado de muita luta e, há que se considerar
as diversas contradições que envolvem a história de constituição das políticas socais dentro da
ordem capitalista, em especial a Política Nacional de Saúde Mental.
Na obra “O Povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”, Darcy Ribeiro (1995)
retrata de forma sábia a formação sócio-histórica do país brasileiro, que nada mais é do que a
constituição de suas bases econômicas, sociais, políticas e culturais, que demonstram uma
particular forma de vida e de interesses coletivos. O genocídio indígena, a escravidão e as
revoltas, por exemplo, são reflexos de uma trajetória totalmente submissa aos interesses e
ganâncias de outrem. Sabe-se que antes da chegada dos colonizadores no Brasil, o povo
indígena já havia se firmado, mas foi a partir de 1500, mais especificamente, que seus costumes
e modos de ser nunca mais tiveram as mesmas expressões.
Mais tarde, com a destruição das bases da vida social indígena, a negação de todos os
seus valores, o despojo, o cativeiro, muitíssimos índios deitavam em suas redes e se
deixavam morrer, como só eles têm o poder de fazer. Morriam de tristeza, certos de
que todo o futuro possível seria a negação mais horrível do passado, uma vida indigna
de ser vivida por gente verdadeira (Ribeiro, 1995, p. 43).
20
também ocorreu no Brasil, como fundamental para a então chamada acumulação primitiva de
capital.
O grande motivo para que o povo negro e indígena fosse colocado à mercê da servidão,
foi justamente por causas econômicas de produção para além da vida. Segundo Williams
(1975), a escravidão possui diversas vantagens, como por exemplo, o uso mais proveitoso da
terra e o lucro exorbitante. Isso porque, o povo africano também tinha habilidades específicas
apreendidas em sua cultura que eram funcionais para a mão de obra escrava na extração de
recursos, como: antilhas, açúcar, fumo e algodão e, posteriormente, o ouro, a prata e o minério
de ferro. Quanto aos indígenas, o seu conhecimento sobre a terra e o clima, de certa forma, foi
favorável à fuga.
Por meio dessa forma econômica, Ribeiro (1995) coloca em evidência que o processo
de formação do povo brasileiro se fez pelo entrechoque de seu contingente altamente conflitivo:
indígenas, negros e brancos. Vivemos então, principalmente neste período, em estado de guerra
latente, havendo uma certa predominância que marca e caracteriza cada conflito colonial que
aconteceu no Brasil. À título de exemplificação, Ribeiro (1995) incita a luta dos Cabanos no
estado paraense marcada por tensões inter‐raciais (brancos versus caboclos), classistas
(senhores versus serviçais) e, acima de tudo, pela busca por hegemonia interétnica. O mesmo
ocorreu em Palmares, no sertão nordestino, que obteve o enfrentamento racial como
componente principal em busca de poder expressar sua forma de vida com dignidade. A Guerra
de Canudos , que aconteceu no interior da Bahia, também pode ser exemplificada, prevalecendo
a tensão classista entre sertanejos e fazendeiros. Tem-se que a população brasileira em formação
“não tinham qualquer possibilidade de orientar seu próprio trabalho para o atendimento de suas
necessidades” (Ribeiro, 1995, p.168).
Dessa maneira, o sistema produtivo que aqui se manifestava herdou, segundo Couto
(2010), um Estado incipiente e comprometido com o poder privado, que incide mais fortemente
nos direitos civis, em detrimento dos outros direitos. Os direitos civis, em que são valorizadas
a liberdade, a autonomia, a justiça e a propriedade privada, em condições objetivas, só era
exercido para uma parcela ínfima da população brasileira. Além disso, “os direitos políticos
21
estavam atrelados à manutenção da sociedade brasileira dentro dos seus padrões tradicionais”
(Couto, 2010, p. 87). Em resumo,
23
rendimento auferido” (Couto, 2010, p. 96), assim, os direitos sociais foram expandidos, porém
vinculados à legislação trabalhista3, que, por conseguinte, contribuiu diretamente com a
potencialização da acumulação capitalista. Obtendo como base o ideário liberal4, influência das
concepções europeias, Couto (2010) ainda chama a atenção para a ampliação das oportunidades
educacionais com enfoque à necessidade técnica do processo de industrialização, além do
atendimento à saúde, o que forma um grupo específico de trabalhador e de formação útil ou
inútil ao trabalho. De certa maneira, então, as questões que não põem em risco a classe
hegemônica eram bem aceitas, o que prova a barganha da burguesia brasileira.
Enfim, chegamos ao ponto que queríamos. Diante desse cenário, segundo Bravo (2006),
a política de saúde brasileira foi criada nos moldes apresentados acima, com o objetivo da
própria manutenção da ordem e mediação entre as classes sociais. A saúde emerge como uma
“questão social” a partir do início do século XX, momento em que, como dito acima, o
capitalismo se aprofunda e há um avanço da própria divisão do trabalho e a emergência do
trabalho assalariado. Entretanto, antes de pautar sobre a função social dada à saúde e a
constituição dos manicômios no Brasil, é necessário fazer um apanhado sobre a história da
loucura no mundo e o seu significado, que nem sempre foi conhecida tal qual conhecemos hoje,
ou seja, em forma de diagnósticos e transtornos.
Temos que na antiguidade clássica, a loucura era considerada como algo natural, pois a
sociedade era guiada pela natureza e a instintividade, sendo assim, “a loucura aparecia diluída
imprecisamente em todos os homens” (Resende, 1987, p. 19). Dessa forma, o louco era uma
pessoa que vivia livremente, pois a sociedade era pouco discriminatória em relação às
diferenças. Havia certa tolerância, apesar de alguns escritos da bíblia frequentemente
demonstrarem o louco como “atirado por pedras”. Com base nos estudos de Resende (1987), a
curta duração da vida, naquela época, era um fator decisivo para que os transtornos não
tomassem proporção muito significativa, o próprio conceito não era identificado até o momento
em que causasse “estorvo” para o ambiente familiar ou comunitário.
3
Isto é, o cidadão brasileiro só era reconhecido como tal se estivesse em ocupação reconhecida e definida por lei.
Por isso, alguns grupos acabam sendo excluídos da chamada cidadania regulada, como por exemplo os
agricultores, os desempregados, as pessoas negras, dentre outras, por consequência dessa segregação social. A
cidadania, além de se constituir como um direito social, também representa liberdade política.
4
O liberalismo econômico é uma ideologia de pensamento que defende a não-intervenção ou de pouca intervenção
do Estado nas relações de mercado. Em conformidade com Netto (2011), no último quartel do século XIX, o
capitalismo enfrentou mudanças em seu ordenamento, passando do estágio concorrencial para o estágio
monopolista. A relação do Estado com a economia também se modifica ao longo dos anos, incidindo na sua função
de assegurador do profícuo desempenho capitalista.
24
A partir da América Colonial, conforme as considerações de Resende (1987), a
assistência a pessoa considerada, de certa forma, “louca”, era ofertada de forma totalmente
privada e os “tratamentos” existentes eram restritos a poucas famílias abastadas, que mantinham
os loucos dentro de casa, sob os cuidados de um “auxiliar psiquiátrico” contratado. Como o
poder público apenas se responsabilizava e intervinha em situações específicas de direito civil
(como anulação de casamento, etc),
Aos pobres, era permitido vagar pelos campos ou pelos mercados das cidades, sua
sobrevivência assegurada pela caridade pública ou pequenos trabalhos realizados para
particulares. Na América Colonial, os governos municipais passaram a remunerar
aquelas famílias de lavradores que se dispunham a receber os loucos pobres não
totalmente incapacitados para o trabalho, um sistema precursor da chamada
assistência heterofamiliar que viria a ser proposta séculos mais tarde como parte do
armamentário terapêutico psiquiátrico científico (Resende, 1987, p. 21).
5
Ainda nos dias atuais, a “loboterapia”, ou seja, o ato do trabalho como forma de tratamento é exercido em
algumas “comunidades terapêuticas”. O trabalho ainda é uma das “questões centrais da problemática da doença
mental” (Resende, 1987, p. 20)
25
1987. P. 31). No século XVIII, quando acordada, “será arrastada na rede comum da repressão,
à desordem, à mendicância, à ociosidade” (Resende, 1987, p. 35)
A loucura enquanto um “problema social” emerge no Brasil a partir do século XVIII,
período no qual os loucos pobres dependiam da caridade pública e eram abrigados nos porões
das Santas Casas de Misericórdia. Apesar dessas instituições já existirem no Brasil desde o
século XVI, anteriormente não tinham como clientela doentes mentais e, nesse momento,
tinham o “tratamento” diferenciado dos demais.
Com a criação das prisões e dos manicômios, os chamados “rejeitados sociais”/
“desviantes” e “vagabundos” eram ainda mais segregados6. O primeiro manicômio no país,
surge em 1852 no Rio de Janeiro, cujo rapidamente atinge a sua lotação máxima, pois não
obtinha função curativa, “os pobres alienados saíam das casas fortes para as valas do cemitério”
(Resende, 1987, p. 40). Seguindo as teorias e práticas já executadas na Europa a mais tempo, a
forma de tratamento por meio da psiquiatria moderna também ganha força no Brasil. O
manicômio surge para encarcerar os loucos, vistos como rejeitados e improdutivos pela
sociedade e que precisavam de um tratamento, no caso, um “tratamento” assassino, torturante
e acima de tudo, lucrativo.
É importante ressaltar que o “asilamento” está diretamente ligado à capacidade dos
sujeitos para o trabalho, visto que este sempre foi central, até mesmo em meio terapêutico
quando era utilizado como meio de tratamento, claro que, por razões ideológicas. Behring e
Boschetti (2011), alertaram que quando se inicia a Ditadura Civil Militar, o contexto brasileiro
de desenvolvimento foi palco para o reforço ainda maior da patologização e do controle
sanitário nas periferias brasileiras, para padronização dos trabalhadores e, acima de tudo, a ideia
da saúde diretamente ligada à política higienista, ou seja, de limpeza da população.
Ratton (2020) e Arbex (2013) ilustraram as condições desumanas em um manicômio de
Minas Gerais, em especial para as pessoas de pele mais retinta, e que possuíam algum transtorno
mental, como: o encarceramento, terapias de choque e/ou lobotomia. Não só os loucos, mas as
pessoas que fugiam dos padrões normativos, como: homossexuais, pessoas com deficiência,
“mendigos”, mulheres com pensamentos revolucionários para época, também eram “pacientes”
dos manicômios. Esse tipo de “tratamento” era feito sem autorização das famílias, que sequer
sabiam o paradeiro de seus parentes e amigos. Esse é apenas um exemplo do que, de forma
mais contundente da década de 1960 à 1980, aconteceu no Brasil.
6
O isolamento era uma proteção contra as fugas.
26
O capitalismo é um gerador do sofrimento psíquico e aproveitador dos corpos para
perpetuação de uma lógica asilar que segrega e que não leva em conta as vontades dos
trabalhadores, sua história de vida, seu território, subestimando a potência dos indivíduos. O
sistema é adoecedor e, para tanto, gera uma população adoecida. Dentro da lógica asilar, os
direitos dos “doentes mentais” são violados e estes não são considerados enquanto pessoa livre
e cidadã. A Reforma Psiquiátrica Brasileira, concomitantemente com a Reforma Sanitária, veio
para mudar esse contexto.
A Reforma Psiquiátrica surgiu na Itália, tendo como grande referência e influência
mundial, o psiquiatra Franco Basaglia. O autor critica a centralidade hospitalocêntrica, na qual
o cuidado em saúde mental se faz apenas nos hospitais; a patologização, a partir da qual o
sofrimento humano é explicado apenas por categorias médicas e diagnósticas; e a
medicalização, uma prática que, segundo ele, cria cada vez mais uma práxis alienada e
alienante7. Essas questões, para Basaglia (2010), acabavam perdendo de vista a ideia do
chamado louco como um corpo social, das suas potencialidades de análise da totalidade da vida
social e de tudo que atravessava o seu sofrimento. Apesar de não dizer a palavra explícita sobre
as diferentes classes sociais, o autor tinha uma leitura revolucionária, que pautava a relação da
loucura com a miséria e o poder. Segundo ele, “se a razão burguesa tornou-se razão humana, a
relação entre razão e loucura “segregada” é essencialmente uma relação entre poder e miséria”
(Basaglia, 2010, p. 268).
Franco Basaglia teve diferenciação em sua abordagem ao priorizar o doente e não mais
a doença em si, e influenciou diretamente a Reforma Psiquiátrica brasileira. Segundo Tomaz
(2018), autores como Paulo Amarante, Franco Rotelli, Eduardo Vasconcelos e Joel Birman
defendiam no país a influência mais forte da psiquiatria democrática italiana no processo da
Reforma Psiquiátrica Brasileira, apesar desta ter sido influenciada por autores como Foucault,
Goffmann, Szaz e Castel. Ainda hoje, existem diferentes projetos de Reforma Psiquiátrica que
estão em disputa no processo da luta antimanicomial, que serão discutidos posteriormente.
Neste momento, é importante destacar as 4 fases de desenvolvimento da Reforma
Psiquiátrica, que ocorreu tardiamente no Brasil. Amarante (1998) as descreve da seguinte
forma: a primeira fase (década de 1970) conta com a crítica ao asilamento e a mercantilização
7
No período do Iluminismo (séc. XVII e XVIII), internacionalmente, a exclusão estava diretamente ligada a “falta
de razão”. Porém, segundo Amarante (1998, p. 59): “Durante a segunda metade do século XVIII, a desrazão,
gradativamente, vai perdendo espaço e a alienação ocupa, agora, o lugar como critério de distinção do louco ante
a ordem social. Este percurso prático/discursivo tem na instituição da doença mental o objeto fundante do saber e
prática psiquiátrica.”
27
da loucura. Crítica esta feita por parte dos trabalhadores da saúde mental que viam de perto a
realidade e eram responsáveis por divulgar as atrocidades que ocorriam no interior das
instituições manicomiais. Essa primeira fase, aconteceu sob influência do recém inaugurado
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) e outras associações. Seu estopim
foi representado pela chamada 'Crise da DINSAM ' (Divisão Nacional de Saúde Mental), pois
foram identificadas e divulgadas irregularidades nas unidades hospitalares. Melhor dizendo,
Percebe-se que a luta por mudanças na política de saúde mental, inicialmente, ainda era
muito tímida e mesclava elementos de transformação da assistência psiquiátrica com elementos
da luta dos trabalhadores das instituições manicomiais por melhores condições de trabalho.
Amarante (1998) incita que a partir das discussões realizadas no 1° Congresso Brasileiro de
Saúde Mental (resultado dos desdobramentos da 8ª Conferência Nacional de Saúde), que a
segunda fase da Reforma (1980-2001) salta para a transformação do sistema asilar e a
ampliação da oferta de atendimento em saúde mental fora dos “hospitais psiquiátricos”. Nela,
foram discutidas questões relacionadas à “economia, sociedade e o Estado – impactos sobre a
saúde e doença mental; Reforma Sanitária8 e reorganização da assistência à saúde mental;
cidadania e doença mental – direitos, deveres e legislação do doente mental” (Amarante, 1998,
p. 133).
Essa fase acontece em consonância com a redemocratização brasileira (pós Ditadura
Militar), na qual, segundo Behring (2011), há a constituição de políticas voltadas para os
princípios da universalização, responsabilidade pública e gestão democrática, apesar das
tendências reformistas, com a introdução do conceito de seguridade social, articulando as
políticas de previdência, saúde e assistência social e os direitos a elas vinculados. Assim, por
intermédio da ampliação da participação popular, do crescimento da denúncia à violência e
ineficácia do sistema assistencial hospitalocêntrico, além das discussões sobre a ampliação da
8
Aconteceu no mesmo período da Reforma Psiquiátrica. O seu marco foi a ampliação do conceito da saúde de
forma integral e ampliada, ou seja, o seu acesso deve ser garantido desde as ações de promoção até as de
recuperação, envolvendo o sujeito e suas relações sociais de no geral.
28
saúde pública e universal, há a criação de leis e estruturas que dão mais suporte ao movimento
da Reforma Psiquiátrica.
A partir do Congresso de Bauru, realizado em 1987, aquele movimento inicial dos
trabalhadores da saúde mental se transforma no Movimento da Luta Antimanicomial (MLA),
separando a luta política por melhores condições de trabalho da luta pela transformação do
hospício, que une profissionais de saúde mental, usuários e seus familiares, com o propósito de
transformar o modelo tradicional de tratamento psiquiátrico. Este movimento desempenhou um
papel crucial ao desafiar a "inviabilidade da mera transformação institucional, da simples
modernização da psiquiatria e suas instituições" (Amarante, 1998, p. 142). Diante disso, a
proposta do MLA foi de ir além das reformas do manicômio e visou uma mudança radical no
paradigma do cuidado em saúde mental, defendendo o lema “Por Uma Sociedade Sem
Manicômios”. Esse lema simboliza um compromisso com a construção de um modelo de saúde
mental inclusivo, humanizado e em liberdade houve um avanço significativo na construção da
política social universal e não contributiva, representada pela criação do Sistema Único de
Saúde (SUS).
A promulgação da Lei nº 10.216/2001 foi o marco mais importante na Reforma
Psiquiátrica, pois, apesar de não ter extinto os hospitais psiquiátricos, promoveu uma série de
avanços significativos na luta antimanicomial ao estabelecer princípios fundamentais para a
proteção dos direitos dos pacientes e a promoção de cuidados.
Antes da Lei nº 10.216/2001 ser aprovada, em 1989, o político Paulo Delgado criou um
projeto de lei que previa o fechamento gradual de manicômios e hospícios existentes no país
até sua extinção. No entanto, o projeto de que foi aprovado, doze anos depois não deixa explícita
essa finalidade, pelo contrário, deixa em aberto, contribuindo para que sejam abertas “brechas”
para ampliação de “comunidades terapêuticas”, hospitais psiquiátricos, como vem ocorrendo
na última década. A Reforma Psiquiátrica no Brasil, então, se conforma como uma luta
inacabada, por isso a mesma perdura até os dias atuais. Logo, a terceira fase da Reforma
Psiquiátrica Brasileira se iniciou em 2002 e segue em curso. A criação dos Centros de Atenção
Psicossociais e outros serviços públicos de integração dos cuidados das pessoas com transtornos
mentais são um passo muito significativo para a consolidação da Política Nacional de Saúde
Mental Brasileira e a promoção da inclusão social.
Como ressalta Passos e Moreira (2017), a MLA tem o desafio e compromisso na
desconstrução e dissolução do capitalismo, do patriarcado e do racismo. Considera-se que, não
diferente do auge dos manicômios, a população negra e pobre é a que ocupa mais espaço nesses
29
locais, seja nas antigas instituições ou nos serviços substitutivos aos manicômios. Esse lugar
dado a essa população é socialmente construído, o que “nos leva a nos preocupar com a
qualidade do cuidado oferecido aos/às negros/as no âmbito da saúde mental” (Passos; Moreira,
2017, p. 350).
Podemos citar que, segundo Fernandes (2006), o desenvolvimento da nação brasileira
constituiu-se em um modelo denominado de “modernização conservadora”. Ou seja, em seu
processo de formação sócio-histórica, há uma combinação de elementos de desenvolvimento e
da forma de dominação burguesa com a manutenção de relações atrasadas de modo de produção
e de relações sociais tardias. Essas relações sociais tardias incluem as intersecções entre todo o
seu histórico escravocrata, patriarcal e desigual, que claro, obteve as mais diversas influências
no seguimento da lógica manicomial e de uma reforma psiquiátrica que não condiz com as
reivindicações da maior parte da população brasileira.
Diante do exposto, temos que a marca principal dos manicômios é o racismo, o que nos
leva a indagar-se: batizá-los de “os porões da senzala brasileira” não seria mais condizente do
que “holocausto brasileiro”, visto que o objetivo é que reconheçamos o seu histórico/função
social no território brasileiro, e não internacional?
Dessa forma, além da cidade ser palco para luta pela liberdade, emancipação e
autonomia econômica e identitária, Ouro Preto chegou a ser a capital da província e, mais tarde,
do estado, até 1897. Em 1980, foi considerada a primeira localidade elevada à título de
Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO). Até a atualidade, o município representa grande polo cultural,
ainda hoje sendo referência nas categorias de artes plásticas, restauração, teatro, música ou,
ainda, a literatura. Segundo o IBGE (2022), a cidade conta com aproximadamente 74821
habitantes, e possui abrangência de 12 distritos, sendo 6 destes com origem colonial.
Chama também atenção o fato de Ouro Preto ser considerada a população com maior
número de pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, destas, a maioria mulheres. À título de
curiosidade, no ano de 2005, o brazão/bandeira da cidade de Ouro Preto, motivo de
constrangimento para os moradores por descrição racista, configurou novo texto. “A frase em
latim "proetiosum tamen nigrum" (precioso ainda que negro), referência ao ouro coberto por
óxido de ferro encontrado na região, foi substituída por "proetiosum aurum nigrum" (precioso
ouro negro) (Guimarães, 2005, s/p).
Conforme Gomes (2019, s/p) este polo cultural é “situado em terreno extremamente
montanhoso e acidentado, somente a febre aurífera escolheria este rincão como palco de uma
cidade”. A ocupação de morros e encostas, ao longo do tempo se expandiram e, foram motivos
para grande parte da população mais empobrecida ocupasse casas em risco e alto risco de
desmoronamento, ameaçando suas vidas e também, o patrimônio histórico e cultural do
município. Abaixo, mostra-se dados quantitativos sob essa questão:
Assim sendo, a maior justificativa para essa ameaça, evidencia-se que é e sempre foi o
poder econômico acima do bem-estar social. Isso porque, quando se analisa o contexto da atual
33
extração de minério de ferro no estado de Minas Gerais, especificamente na região do
quadrilátero ferrífero, as consequências são ainda mais emblemáticas:
[...] seja pelo seu passado rico em ouro, diamantes e outros metais preciosos que
foram expropriados pelas metrópoles europeias, ou pelo seu presente em que o
minério de ferro ocupa a referência central da extração mineral, produção esta que é
direcionada prioritariamente ao exterior, aos grandes centros imperialistas e em
desenvolvimento (Bertollo; et.al., 2020, p. 194) .
Ou seja, todo o lucro advindo do que é retirado do país e especificamente na região, não
é direcionado para o seu desenvolvimento social e econômico próprio, mas sim para os países
de capitalismo central, como afirmado por Misereor:
9
Disponível em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/diario-publicacoes/3247. Acesso em: 09 ago
2024.
35
e heterodirigida
Transtorno Afetivo Bipolar: episódio depressivo ou maníaco sem risco para si ou para
terceiros; (Ouro Preto, 2024, p. 17-18).
10
Em Anexo 5 deste trabalho, podemos verificar com mais amplitude algumas das instituições, sejam elas da
saúde, assistência social, educação, esporte e lazer que são oferecidos de forma gratuita à população infantojuvenil
de Ouro Preto/MG.
11
Problematização acerca dessa discussão pode ser encontrada em Tomaz (2024), disponível em
https://www.editoranavegando.com/tecnico-de-referencia.
36
agente administrativo, secretária, motorista e serviços gerais.
O papel de profissionais da saúde mental citado, faz parte do processo recente de
reconfiguração dos seus processos de trabalho, chamado de Técnico de Referência (TR). Para
isso, foi feita a territorialização, ou melhor, a distribuição dos distritos e bairros da sede para
cada profissional, pois cada um se torna responsável por referenciar o cuidado com os usuários
(as) do seu território em específico. Significa dizer que os profissionais de nível superior, tem
o papel de acolher os usuários/pacientes, criar conjuntamente com o usuário (a) e sua família o
seu Projeto Terapêutico Singular (PTS) e acompanha-lo. Segundo o Ministério da Saúde,
O Terapeuta de Referência (TR) terá sob sua responsabilidade monitorar junto com o
usuário o seu projeto terapêutico, (re)definindo, por exemplo, as atividades e a
freqüência de participação no serviço. O TR também é responsável pelo contato com
a família e pela avaliação periódica das metas traçadas no projeto terapêutico,
dialogando com o usuário e com a equipe técnica dos CAPS (Saúde, 2004, p. 16).
Essa estrutura de funcionamento, segundo a análise de Tomaz, foi inserida nos serviços
por parte de uma requisição institucional como “algo dado, inevitável e, para nós, desprovida
de historicidade” (Tomaz, 2024, p. 128), sendo reflexo do “conservadorismo profissional
implícito e camuflado sob o manto do trabalho inter/transdisciplinar”. Por isso, entende-se que
essa mudança na organização do trabalho foi uma alternativa para lidar com as novas demandas
que aparecem à saúde mental, que são socialmente produzidas e se tornam mais complexas de
acordo com a recente crise do capitalismo global. É importante que o Técnico de Referência
não seja reduzido ao âmbito individualista/subjetivo, pautando que a construção do PTS tenha
abrangência às questões sociais e territoriais, impactando amplamente e permanentemente a
materialidade da vida dos usuários (as).
Há que se considerar que, além das reformas no aspecto profissional, os impactos do
neoliberalismo e neoconservadorismo na Reforma Psiquiátrica Brasileira vão muito além, tanto
na redução das políticas sociais em geral, quanto pelo controle das formas de agir e pensar da
sociedade, como será demostrado no tópico a que se segue.
37
Mental. Por isso, neste momento, buscamos refletir sobre a “contra-reforma psiquiátrica” e seus
rebatimentos na vida dos usuários (as) e familiares da saúde mental.
Para fundamentarmos a presente investigação, deve-se frisar que, conforme Passos e
Moreira (2017, p. 343), “há dois projetos em permanente disputa no interior da reforma
psiquiátrica: 1) o calcado na perspectiva de radicalização da luta antimanicomial, fundamentado
nos princípios basaglianos e na Carta de Bauru; e 2) o projeto flexível aos interesses do grande
capital”. O primeiro e claramente o que concordamos, expressa um projeto contra o modo de
produção e reprodução opressor, para além de uma perspectiva de mudança simplista e
“reformista” sob o atual modelo de assistência psiquiátrica. Já o segundo projeto, está vinculado
com uma perspectiva que defende a saúde focalizada e voltada aos interesses do mercado Isto
é,
[...] a reforma psiquiátrica encontrou diversos entraves para sua efetivação devido a
uma série de contrarreformas no âmbito das políticas sociais. Este cenário de
contrarreforma vincula-se a um processo amplo de reestruturação produtiva do
capital, contendo uma dimensão política, social e cultural. Assim, suas mudanças não
só ocorreram na produção em si, mas também na correlação de forças entre capital e
trabalho e no redirecionamento do papel do Estado (NOVAIS; SANTOS, 2015). Este
redirecionamento do Estado ficou conhecido como (contra) reforma do Estado, que
consiste em uma série de medidas que objetivam a diminuição dos gastos públicos,
tendo início a partir dos anos 1990 (Behring; Boschetti, 2011, apud Chibatto, et.al,
2022, p. 85).
38
antimanicomial nas últimas décadas. A sua vinculação com a desinstitucionalização italiana e
com a dimensão universal e totalizante sobre o cuidado em saúde mental é mais invisibilizada
com a ascensão do neoconservadorismo no Brasil. Tomaz (2009, p. 133) deixa claro que:
Seja por propostas sutis ou mais explícitas, as alterações recentes no âmbito da saúde
mental ameaçam fortemente as conquistas da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Esse cenário é
acentuado, ainda mais, com o congelamento de recursos públicos e universais (incluindo a
saúde) no governo de Michel Temer (Emenda Constitucional 95/2016) e durante a Pandemia
da COVID 19 (2020-2022), no governo Jair Bolsonaro. Durante esse período, os governos
obtiveram mais respaldo para o controle dos gastos com a população empobrecida,
submetendo-as à árdua violação de direitos. Ressaltamos que o aumento de recursos para áreas
que são consideradas favoráveis à política de “asilamento”, ressaltam a orientação política e
ideológica que o governo brasileiro enaltece.
Podemos exemplificar esse contexto com as ressalvas que Bravo e Pelaez (2020) fazem
em seu artigo: “A saúde nos governos Temer e Bolsonaro: lutas e resistências”. Segundo as
autoras, a emenda do “Teto de Gastos” que foi aprovada durante o governo Temer (2016-2018),
simboliza que quanto mais a economia cresce ao longo dos anos, mais terá impactos na saúde,
pois ela depende da porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Como se não fosse o
bastante, a Política de Saúde Mental ainda sofreu retrocessos com a Portaria nº 3.588, de
dezembro de 2017, que foi muito criticada pelos profissionais e usuários (as) da saúde mental.
Por meio desta, foram feitas mudanças na RAPS12, como o fortalecimento das internações em
hospitais psiquiátricos e a criação de leitos de internação em hospitais gerais. Sendo assim,
doando mais recursos para essas áreas, há um incentivo da cultura de hospitalização.
Outrossim, pela busca por maior articulação entre o setor empresarial e a saúde, foi
aprovada (sem participação popular) a “Coalizão Saúde Brasil: uma agenda para transformar o
sistema de saúde” em 2017. Criada pelo mesmo instituto, defende-se a ideia de que os setores
12
Essas mudanças que foram feitas na RAPS, como não favorecem aos avanços das Políticas de Saúde Mantel
locais, muitas vezes é desconsiderada pelas organizações, que continuam seguindo a Portaria n° 3088/2001.
39
públicos e privados precisam construir uma rede de cuidados contínuos, o que demonstra o
papel da iniciativa privada na gestão de recursos. Em 2018, a política de saúde ainda teve o seu
orçamento reduzido em R$ 179 milhões.
No decorrer do governo Bolsonaro (2018-2022), segue-se a mesma lógica. Segundo as
autoras, a Nota Técnica nº 11/2019 da Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras
Drogas trouxe à tona debates que pautam a redução da importância dos CAPS, a liberação da
compra de choques elétricos, além do fortalecimento dos manicômios ainda existentes. Após
diversas manifestações de repúdio ao documento, por parte dos movimentos que compõem a
luta antimanicomial, o mesmo foi retirado do ar. Outra questão que mostra a ânsia de
privatização e dos fins mercadológicos, foi a Proposta do Ministro da Economia, do governo
Bolsonaro, Paulo Guedes, que propõe a criação de um voucher/vale para a saúde e a educação,
com o intuito de repassar do Estado para o setor privado a responsabilidade da prestação de
serviços e ações de saúde, ainda conforme Bravo e Pelaez (2020).
Esses ataques passam a obter peso maior aos usuários de álcool e outras drogas, como
por exemplo o Decreto nº 9761/2019, que busca estabelecer uma nova Política Nacional de
Drogas com a “construção de uma sociedade protegida do uso de drogas lícitas e ilícitas a ser
alcançada por meio da promoção da abstinência e do fortalecimento de “Comunidades
Terapêuticas” (Bravo; Pelaez, 2020, p. 202). Esse decreto ignora totalmente a política de
redução de danos que é ofertada pelos CAPS - Álcool e Drogas, em prol de uma religiosidade
conservadora que defende o “tratamento” por via da abstinência. O governo também anuncia
um documento que propõe a revisão da RAPS e uma “nova” proposta de assistência em saúde
mental. O documento, que foi retirado do ar, criticava a Reforma Psiquiátrica por “desvalorizar
o saber psiquiátrico”. Ressalta-se também a criação do Decreto nº 11.098/2022, que extinguiu
a Coordenação Nacional de Saúde Mental e fez com que a atenção primária exercesse uma
função que não compete a ela, mas à RAPS.
Considerando esse conjunto de contrarreformas autoritárias, a Psiquiatra e pesquisadora
Renata Gonçalves (2020), chama atenção para a gravidade do desfinanciamento do SUS e da
RAPS. A preocupação se refere à um maior número de pessoas que precisa de assistência em
saúde mental, ao mesmo tempo em que há um menor número de pessoas que efetivamente
recebe esse cuidado.
Para analisar mais a fundo esses dados, a pesquisadora calculou os gastos com saúde
mental por pessoa e o percentual da saúde mental nos gastos totais da saúde. A saúde
mental representava apenas 2,7% dos gastos da saúde em 2001 e, em 2019, essa
dimensão era ainda menor, somente 2,1% – ou R$ 12,50 por pessoa. [...]. A
40
pesquisadora comentou, ainda, a linha dos gastos federais com comunidades
terapêuticas, mostrando que ela varia de acordo com o gestor, subindo e descendo ao
longo dos anos (Marques, s/p, 2020).
13
Considera-se o conceito de família ampliada e mutável, sendo os tipos descritos a seguir: “Família Matrimonial:
formada pelo casamento; Família Informal: formada pela união estável; Família Monoparental: qualquer um dos
pais com seu filho (ex.: mãe solteira e seu filho); Família Anaparental: Sem pais, formadas apenas pelos irmãos;
Família Reconstituída: Pais separados, com filhos, que começam a viver com outro também com filhos; Família
Unipessoal: Apenas uma pessoa, como uma viúva, por exemplo; Família Paralela: O indivíduo mantém duas
relações ao mesmo tempo, por exemplo, casado que também possui uma união estável; Família Eudemonista:
formada unicamente pelo afeto e solidariedade de um indivíduo com o outro, buscando principalmente a
felicidade.” (Oliveira, 2017, s/p)
41
modelo privatista, centrado no atendimento hospitalar e nas Comunidades Terapêuticas (Tomaz
e Santos, 2024). A exemplo, tem-se a criação, em janeiro de 2023, do Departamento de Apoio
a Comunidades Terapêuticas (DACT/MDS). Essa ação também foi repudiada por diversos
movimentos sociais, considerando que essas “Comunidades Terapêuticas” também são cárceres
para as pessoas em sofrimento mental, e acabam por oferecer o “tratamento” assentado em
fundamentos religiosos e não científicos. Porém, todas as formas de repúdio não surtiram o
efeito desejado, de acordo com Navai (2023).
Por outro lado, não podeos deixar de citar alguns avanços que aconteceram neste
governo, como a ampliação em R$ 414 milhões por ano os recursos para custeio dos serviços
da RAPS (Brasil, 2023) e a sanção da Lei nº 3.383, que institui a Política Nacional de Atenção
Psicossocial nas Comunidades Escolares (Brasil, 2024). Ao ampliar integração da comunidade
escolar com as equipes de atenção primária à saúde e colocar os estudantes como atuantes na
construção da atenção psicossocial, podemos falar mais abertamente sobre o sofrimento
psíquico e identifica-los precocemente.
Diante do que foi destacado, conclui-se que as instituições que reproduzem formas
violentas de “tratamento” são totalmente funcionais à reprodução das desigualdades e opressões
que atravessam a formação sócio-histórica brasileira. O direito restrito à cidadania das pessoas
com transtornos mentais é uma problemática que está relacionada ao controle de corpos, ao
racismo e ao patriarcado, que condizem com a lógica manicomial. Assim, “é a população negra
e pobre que sofrerá com o retorno do modelo manicomial, dado que compõe a maioria da
população brasileira” (Caputo, et. al., 2020, p. 100). Essas questões serão retratadas com mais
profundidade no capítulo a seguir, com foco nas crianças e adolescentes, que possuem ainda
mais um agravante por serem sujeitos em processo de desenvolvimento.
42
3 AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SOFRIMENTO PSICOSSOCIAL
14
São exemplos das expressões da questão social: a “pobreza, desemprego, violência, discriminação de gênero,
raça, etnia e orientação sexual, trabalho precário, dificuldade de acesso à saúde, à educação e ao trabalho, falta de
moradia, violação dos direitos das crianças e idosos” (Badaró, 2013, p. 168)
43
De fato, nas últimas décadas houve avanços consideráveis nas condições de cidadania
de crianças e adolescentes. O histórico dessa população é de plena violação de direitos pela
conjuntura de institucionalização e de maus-tratos, sendo comum, num passado recente, a
permanência de crianças “anormais” e adolescentes “desviantes” em hospitais psiquiátricos,
Fundações Estaduais do Menor (FEBEM) ou segregadas na Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE).
Num processo de longa data e de consolidação de lutas sociais, os atores da sociedade
civil e o Estado reconhecem o “problema do menor” como uma expressão da “questão social”,
assim, o antigo Código de menores (1979) foi substituído pelo ECA (Lei n° 8069), em 1990.
Conforme Carvalho (2020), a infância e adolescência passam a ser consideradas prioridade
absoluta da família, da sociedade e do Estado, também havendo mudanças nos métodos de
intervenção, não mais punitivos e corretivos, mas de respeito às fases de desenvolvimento
psicossocial infantojuvenil. A reordenação institucional da relação entre a União, os estados e
os municípios também foi uma importante conquista. Carvalho (2020) explica que a partir dessa
reordenação, foram criadas leis municipais, como, por exemplo, o Conselho dos Direitos da
Crianças e Adolescentes (CONANDA), o Fundo dos Direitos da Criança e Adolescente e a
atuação do Conselho Tutelar (CT), buscando estar mais perto das problemáticas e realidades
locais.
Tendo isso em vista, Surjus (2016) considera que a população infantojuvenil, enquanto
sujeitos de direitos, passa a obter acesso a melhorias de condições que são riscos à piora da
saúde mental, à exemplo da redução da mortalidade infantil, do aumento nos indicadores da
educação e a redução da exploração do trabalho infantil. Por outro lado,
Outra questão é a capacidade do poder institucional dos homens, que acabam por moldar
e rebaixar a autoestima das mulheres e meninas. Wolf (2020, p. 31) incita que “o mito da beleza
de fato sempre determina o comportamento, não a aparência. [...] nossa identidade deve ter
como base nossa “beleza”, de tal forma que permaneçamos vulneráveis à aprovação externa,
trazendo nossa autoestima, esse órgão sensível e vital, exposto a todos”. Esta realidade se
adensa quando se trata de crianças e adolescentes negras e negros:
Tem uma música antiga chamada “Nega do cabelo duro” que mostra direitinho por
que eles querem que o cabelo da gente fique bom, liso e mole, né? É por isso que
dizem que a gente tem beiços em vez de lábios, fornalha em vez de nariz e cabelo
ruim (porque é duro). E quando querem elogiar dizem que a gente tem feições finas
(e fino se opõe a grosso, né?) (Gonzalez, 2020, p. 89).
Importa sublinhar, dessa forma, que as imagens sobre si mesmas são ruins, do mesmo
modo, surgem as comparações com os supostos corpos perfeitos nas redes sociais. Estudos
apontam que “considerando apenas os estudos que avaliaram crianças, 72% deles constataram
aumento da depressão associado ao abuso da exposição a telas nesse grupo” (Pepino, 2023,
s/p). Logo, em relação à saúde mental, as mulheres tendem a internalizar os seus problemas,
sendo mais expostas a problemas como depressão, transtornos do sono e da alimentação,
enquanto os homens tendem a externalizar, com o abuso de álcool e drogas, raiva.
Diante desses fatos, o patriarcado e o racismo são componentes estruturais da “questão
social” na formação social brasileira e mundial e têm relação direta com a condição de saúde
mental, em especial, de crianças e adolescentes. Isso reverbera dento do sistema vigente,
sobretudo, com a divisão sexual e racial do trabalho.
15
De acordo com Davis (2016, p. 202), os homens “[...] seja qual for sua etnia, podem ser motivados a estuprar
pela crença de que sua masculinidade lhes concede o privilégio de dominar as mulheres”.
46
No Brasil, o rebaixamento dos salários e a ampliação da exploração são questões que
devem ser levadas em conta nesta análise. Segundo G1 (2023), o país tem composição familiar
de 11 milhões mães que criam o (s) filho (s) sozinhas, em sua maioria, mulheres negras. As
“chefes de família” são obrigadas a lidar com o seu duplo trabalho, um remunerado (formal ou
não formal) e um não remunerado, que é o cuidado maternal. Sem rede de apoio suficiente16, é
desnecessário dizer que a saúde mental dos seus filhos e filhas também é amplificada.
Lembrando também que as mulheres/famílias são colocadas como culpadas de tudo que
acontece com seus filhos, porém isso é uma discussão que abrange responsabilidade de outros
agentes.
Considerando o exposto, o capitalismo molda a experiência de meninas e meninos desde
a sua infância, é necessário, por isso que as mudanças sejam feitas pela base. Fica notório que
existem algumas camadas da população brasileira que estão à margem da sociedade e mais
suscetíveis aos problemas relacionados à saúde mental. A mesma também obtém acesso mais
reduzido às políticas públicas e aos serviços, incluindo os CAPS IJ. No próximo tópico,
apresentaremos o perfil da população assistida pelos CAPS IJ no Brasil.
A criação do CAPS IJ, mais precisamente a partir do ano de 2002, viera para dar a
qualificação adequada e articulação da rede intersetorial de cuidados em saúde mental de
crianças e adolescentes. É necessário que esses serviços estejam atentos às características que
compõe os seus usuários, e que essas pesquisas sejam constantemente atualizadas e avaliadas.
Neste tópico, pretende-se revelar os resultados de algumas pesquisas sobre o perfil dos e dos
usuários e usuárias de alguns CAPS infatojuvenis no Brasil. Iremos refletir criticamente sobre
o resultado dos dados coletados pelos autores, a fim de que esta discussão possa iluminar a que
faremos ainda neste capítulo, quando apresentaremos os dados obtidos por meio da pesquisa
empírica realizada junto à população usuária do CAPS ij de Ouro Preto.
Concordamos com Régio, et. al (2023, p. 2), no sentido de apontar a “escassez de
pesquisas brasileiras utilizando a variável raça/cor”, quando esse tema é abordado nas
literaturas sobre os CAPS em geral. Sem dúvida este seria um importante marcador social para
16
Sendo assim, o uso prejudicial das redes sociais citado anteriormente também tem relação com o trabalho.
47
contribuir com práticas e políticas públicas que viabilizem o direito a essa população, visto que
até mesmo um dos princípios do SUS é a equidade, ou seja, devem-se considerar as
particularidades regionais, de classe social, gênero, raça, etnia, etc. Porém, infelizmente as
pesquisas que aqui serão retratadas também não contam com essa categoria.
Hoffman, et. al. (2008) realizaram a sua análise com os CAPS IJ recentemente
implementados, em seu 1° ano de funcionamento. O estudo abrangeu sete unidades localizadas
nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. Ao longo do ano de 2002,
constataram os registros de atendimento de 1.456 pessoas, destes, a maioria (62,8%) se encaixa
no sexo masculino e com média de idade de 11,1 anos.
A modalidade de atendimento predominante foi a não intensiva (49,3%), seguida de
semi-intensiva (40,2%) e intensiva (10,5%). Hoffman, et. al. (2008) destacam esse resultado
demonstra o funcionamento do CAPS dentro da lógica ambulatorial. Isso não depende apenas
da vontade do CAPS, pois há outras dificuldades, tais como: de se obter recursos materiais para
o transporte, que seria constante; do adulto responsável ter a disponibilidade para acompanhar
o usuário; além da dificuldade da equipe de estruturar um modelo de assistência em saúde
mental no seu primeiro ano de funcionamento.
Dos diagnósticos mais frequentes identificados junto aos usuários dos serviços, os
autores se referem ao transtorno de comportamento e os transtornos emocionais. Ainda
destacam a predominância de diagnósticos de esquizofrenia, transtornos de humor e retardo
mental - com mais frequência entre os usuários (as) mais velhos, de 15 a 21 anos. É pertinente
destacar as particularidades dos diagnósticos mais frequentes, por sexo. O sexo feminino obteve
mais prevalência do transtornos de humor e dos transtornos neuróticos; já o sexo masculino
apresentaram maior prevalência de transtornos de comportamento e de desenvolvimento
psicológico. Esses resultados corroboram com os pontos que foram discutidos no tópico
anterior, no qual se chama a atenção para as tendências de “internalizar” ou “externalizar” os
problemas. Além disso, também é observada pelos autores a elevada frequência de diagnósticos
relativos a problemas relacionados às habilidades escolares, o que indica a necessidade desses
jovens de terem um serviço exclusivo que atenda de maneira mais específica as suas demandas.
Na pesquisa de Hoffman, et. al. (2008), não houve registro de atendimentos decorrentes
do uso de substâncias psicoativas, apesar dessa ser uma expressão da “questão social” das mais
frequentes entre os jovens brasileiros. A dificuldade de acesso, anecessidade de capacitação
técnica de detecção desses problemas e o possível encaminhamento de jovens para o CAPS AD
foram os motivos que os autores alertaram para a inexistência desse dado.
48
No ano de 2008, em uma unidade de CAPS IJ de São Paulo (SP), Delfini, et. al (2009),
também realizou uma pesquisa do perfil de usuários/as ativos/as no serviço, com pelo menos
três meses de frequência. A predominância se manteve do sexo masculino (61,2%) e a faixa
etária corresponde a 9,3 anos. Neste âmbito, os transtornos de comportamento e transtornos
emocionais (21,4%) foram os mais predominantes, seguidos de transtornos de desenvolvimento
global (16,2%). A faixa etária entre meninos foi de 10 a 15 anos (39,7%) e entre meninas foi
de 5 a 10 anos (37,5%). Como previsto, meninos tiveram em sua maioria transtornos de
comportamento e emocionais (25,4%) e transtornos do desenvolvimento psicológico (22,2%),
já meninas apresentaram retardo mental (20%) e transtornos de comportamento e emocionais
(15%) e 24,8% da população infantojuvenil assistida não possuem hipótese diagnóstica. Os
autores esclarecem os motivos da dificuldade de identificação de transtornos mentais na
população infantojuvenil:
Por isso, considera-se utilizar o termo “hipótese” diagnostica para essa população. Por
isso, os diagnósticos só são “fechados” quando é necessário viabilizar o acesso a benefícios,
como: monitor/professor de apoio em escola; carteirinha de passe-livre, entre outros, que
exigem para sua concessão que o diagnóstico seja indicado.
A falta de padronização dos prontuários foi colocada como um fator que dificultou as
análises, acabando por não apresentar algumas informações relevantes. Porém, foi interessante
os mesmos considerarem a origem do encaminhamento, sendo o Conselho Tutelar (22,3%)
aquele que apresentou maior número de encaminhamentos. Evidencia-se que “embora o modelo
de rede de saúde pública preveja que a porta de entrada do sistema de saúde seja a Unidade
Básica de Saúde, apenas 6,8% dos usuários do serviço estudado são provenientes dessas
unidades” (Delfini, et. al, 2009, p. 232).
O resultado dos motivos que levaram às consulta foram: queixas neuromotoras (17,5%),
escolares (15,5%) e sociocomportamentais (14,6%). Nesse sentido, os autores acharam
pertinente também identificar as particularidades por sexo:
49
Constataram-se diferenças importantes entre o sexo e o principal motivo de consulta.
No caso dos meninos 20,6% apresentaram queixa escolar como principal motivo,
seguido de lesões ou transtornos neuromotores (17,5%) e agressividade ou problema
sociocomporta-mental (17,5%). Já crianças e adolescentes do sexo feminino
apresentam como principal motivo de consulta lesões ou transtornos neuromotores
(17,5%), seguido por ansiedade e isolamento, comprometimento de linguagem e fala
e vítimas de negligência, abandono e maus-tratos, cada grupo com 12,5% (tabela 5)
(Delfini, et. al, 2009, p. 232).
O grande número de crianças com queixas neuromotoras ocorre pela fato da cidade do
estado de São Paulo ter fechado recentemente um serviço de reabilitação. Sobre as queixas
escolares, Delfini, et. al (2009) destacam a dificuldade das escolas de lidarem com
comportamentos que “fogem do seu controle” além da falta de articulação entre a escolas e a
saúde. Essa pesquisa aponta ainda que 83,1% dos usuários (as) frequentam escola regular, 7%
escola especial e 9,9% não frequentam a escola.
Em relação às interpretações do perfil de uma unidade de Santa Catarina, as autoras
Cunha, et. al. (2017) verificaram os prontuários (ativos e inativos), abrangendo o total de 444
fichas, que correspondem a 90% dos usuários (as). A média de idade foi de 9 anos, num público
predominantemente masculino (67%). As idades são compatíveis com o grau de escolaridade,
sendo estudantes do ensino fundamental I, em sua maioria.
As autoras foram as primeiras a colocar em evidência a perspectiva relacionada à
configuração familiar. Dentre elas, estavam dispostas a família nuclear (39,4%) como
majoritária; a composta apresentando-se em 20,7% dos casos; a família estendida com 19,1%;
e a mononuclear com 18,7%. Como mostrado abaixo, esses dados são similares à realidade
brasileira, conforme demonstrado por Régio, et. al (2023):
17
Não foi possível demonstrar esse dado concreto, pois parte da média dos usuários e usuárias ativos dentro do
serviço do CAPS IJ/OP, isto é, que frequentam o serviço mensalmente, podem estar duplicados. Isso porque,
podem estar presentes no serviço mais de uma vez no mês. A estimativa é que 25% dos 200 usuários ativos estejam
duplicados.
18
As fichas de acolhimento foram preenchidas ou pela estagiária, ou pelo plantonista. As fichas atualizadas pela
estagiária foram feitas no período da espera por atendimento com o usuário (a) e seu familiar ou responsável.
53
mãe (pré-natal); desenvolvimento psicomotor (quando criança); parto da mãe; situação escolar;
moradia; origem do encaminhamento; principais demandas; hipótese diagnóstica; utiliza
medicamento; existência de transtorno mental na família; composição familiar; estado civil dos
pais/responsáveis; se recebe pensão (se um dos pais biológicos não residem na mesma casa);
nível de escolaridade dos pais/responsáveis; se os pais/responsáveis exercem função
remunerada; tipo de trabalho dos pais/responsáveis; se recebem benefícios socioassistenciais
e/ou previdenciários; a renda familiar aproximada; se contribui com renda familiar; se tem
alimentação saudável; se tem acesso aos dispositivos no território; qual meio de transporte
utiliza; suas especificidades sociais/étnicas/culturais; se sua moradia possui saneamento básico;
e se a mesma está em situação de risco habitacional.
Abaixo (GRAF. 1) podemos identificar a faixa etária que é atendida no CAPS IJ/OP.
Há a predominância de crianças, mas os quantitativos ficaram muito divididos. Sobre os adultos
ainda frequentes no CAPS, se justifica por terem direito a frequentar o serviço, se sofrimento
intenso, até os 21 anos de idade. Os 4 adultos contabilizados (4%) representam uma passagem
de transição para a adaptação ao CAPS que atenda adultos ou que atenda usuários de álcool e
outras drogas.
Ainda sobre o aspecto da idade, podemos verificar uma média de idade que equivale a
10,5 anos, considerando os dados do QUADRO 1. Dentre as idades mais prevalentes temos 10
Foram realizadas com usuários (as) que mantinham o seu tratamento a mais tempo dentro do serviço, mas que as
informações do documento estavam desatualizadas. Já em relação às informações colhidas pelos profissionais da
equipe, eram realizadas durante o acolhimento, quando o usuário (a) chega a primeira vez no serviço, ou no
(re)acolhimento, quando retorna ao serviço depois de tempo suficiente para que suas demandas já não sejam as
mesmas. Porém, os usuários (as) que por ventura foram acolhidos ou (re)acolhidos e que foi identificado que não
continuará tratamento no CAPS IJ, não foram contabilizados pela estagiária. Foram contabilizados apenas os
usuários ativos, que estão em sofrimento psíquico grave ou persistente.
54
e 14 anos, o que também é condizente com as estimativas que vimos no tópico anterior, sobre
o perfil dos CAPS IJ no Brasil.
Quadro 1 – Idade
Idade Qt de pessoas %
2 1 1,0%
3 4 4,0%
4 0 0,0%
5 4 4,0%
6 8 7,9%
7 4 4,0%
8 6 5,9%
9 6 5,9%
10 12 11,9%
11 4 4,0%
12 7 6,9%
13 7 6,9%
14 10 9,9%
15 8 7,9%
16 7 6,9%
17 4 4,0%
18 3 3,0%
19 1 1,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
19
Outra questão é o lugar dado ao nome social, visto que há uma dificuldade de obter o registro judicial do nome
das pessoas transgênero registrado, ainda mais para adolescentes que dependeriam da aprovação dos responsáveis,
muitas vezes contra a aceitação da sua identidade de gênero.
55
Masculino 40 39,6%
Homem cis 21 20,8%
Homem trans 2 2,0%
Não-binário20 0 0,0%
Feminino + Mulher cis + Mulher trans 38 37,6%
Masculino + Homem cis + Homem trans 63 62,4%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 3 – Raça/cor
Raça/cor Qt de pessoas %
Branco (a) 17 16,8%
Pardo (a) 36 35,6%
Preto (a) 16 15,8%
Indígena 1 1,0%
Amarelo (a) 0 0,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 31 30,7%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
A autora Roseli Rocha (2018) faz a reflexão em relação às expressões comuns nas
relações sociais dos espaços sócio ocupacionais, que colocam um tipo de tratamento
diferenciado às pessoas pretas e pardas, causando a falta de um acolhimento favorável a essas
pessoas por parte dos profissionais, no caso, da saúde, e representam violação de direitos. Rocha
(2018) afirma que o “quesito cor” é uma expressão do racismo institucional, ou seja, em muitos
20
Gênero que não se encaixa nas categorias tradicionais de homem ou mulher.
56
casos, há a ausência do “quesito cor” nos formulários e sistemas de informação nos serviços de
saúde. A inviabilização do dado ou o não preenchimento correto gera o que chamamos de
racismo institucional.
Devemos ressaltar que existe, além disso, de acordo com Eurico (2022) uma dificuldade
da sociedade em reconhecerem ou se assumirem enquanto pessoas negras. Por conta de toda a
política do branqueamento que foi historicamente permeada no Brasil, “a sociedade, em geral,
continua a associar a população negra a comportamentos ruins, próprios de pessoas ignorantes,
indisciplinadas e violentas” (Eurico, 2022, p. 10). Por isso, preferem se autodeclarar como
pardas, por entenderem que, de certa forma, ameniza a sua vinculação com a população negra.
Melhor dizendo,
preta e parda são cores validadas pela sociedade e que, agrupadas nas análises do
IBGE, nos permitem identificar o percentual de população negra no Brasil.
Analisando os dados do quesito, prevalece a concentração alta da população negra na
categoria parda, o que nos desafia a esmiuçar o desafio que é se reconhecer
negra/negro/negre diante de uma estrutura racista. A hipótese é de que a alta
concentração na categoria parda é resquício da política de branqueamento, cuja
centralidade era a valorização do grupo branco e a desvalorização do grupo negro,
sinônimo de preto (Eurico, 2022, p. 9-10).
57
Acompanhada, mas houveram complicações 9 8,9%
Não acompanhada 6 5,9%
Não acompanhada, houveram complicações 4 4,0%
Não sabe 7 6,9%
Sem informação na ficha de acolhimento 21 20,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 5 - Parto da mãe
Parto da mãe Qt de pessoas %
Normal 42 41,6%
Cesária 41 40,6%
Não sabe 5 5,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 13 12,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 6 - Desenvolvimento psicomotor (quando criança)
Desenvolvimento psicomotor (quando criança) Qt de pessoas %
Normal 57 56,4%
Atraso na fala 22 21,8%
Atraso no andar 2 2,0%
Estereótipos com as mãos 1 1,0%
Não sabe 2 2,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 17 16,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
58
Formado no EM 1 1,0%
Não está matriculado na escola formal 4 4,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 1 1,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
59
Série escolar Qt de pessoas %
1 período 0 0,0%
2 período 3 3,0%
3 período 1 1,0%
1 ano EF 9 8,9%
2 ano EF 1 1,0%
3 ano EF 4 4,0%
4 ano EF 8 7,9%
5 ano EF 12 11,9%
6 ano EF 4 4,0%
7 ano EF 13 12,9%
8 ano EF 5 5,0%
9 ano EF 8 7,9%
1 ano EM 11 10,9%
2 ano EM 4 4,0%
3 ano EM 5 5,0%
Sem série escolar 11 10,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
60
APAE 3 3,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
21
Sede – 56,4%; Cachoeira do Campo - 11,9%; Outros distritos – 31,7% e sem informação sobre a moradia, 5,9%.
61
difícil acesso para os usuários (as) e seus familiares/responsáveis. O imóvel, além de nunca ter
sido propriedade da prefeitura, se encontrava em um lugar mais isolado, onde nem mesmo era
rota dos ônibus circulares da cidade. Ademais, a localidade também era sede da antiga FEBEM
que carregava o estereótipo das pessoas que o frequentavam e do tratamento dado no serviço
em si. Acreditamos que a mudança recente de local do CAPS IJ/OP, para um bairro mais perto
da comunidade, possa ser um motivo para que o serviço receba mais acesso de usuários (as)
dos distritos22.
Se tratando do transporte oferecido aos usuários (as), por motivos de lotação, apenas se
enquadra àqueles em situação de crise, o que também dificulta o acesso das famílias que
residem em bairros periféricos ou distritos do município.
Mais especificadamente, os bairros de moradia da Sede e os bairros do maior distrito de
Ouro Preto, Cachoeira do Campo, foram apresentados no MAPA 2 e 3, a seguir:
22
Destaca-se que alguns possíveis usuários (as) que moravam muito longe não conseguiam o transporte para se
deslocarem para o CAPS IJ/OP, o que os restava continuar o seu tratamento de saúde mental nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS). Essa é uma problemática, pois as UBS, muitas vezes não está preparada o suficiente (recursos
humanos e financeiros) para lidar com pacientes com transtornos mentais graves e persistentes.
62
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 11 – Distrito
Distrito Identificador Bairro Sede Municipal Qt de atendidos %
(Mapa)
Sede 2 AGUA LIMPA 3 3,0%
Sede 3 ALTO DA CRUZ 7 6,9%
Sede 4 ANTONIO DIAS 5 5,0%
Sede 6 BAUXITA 6 5,9%
Sede 7 CABECAS 1 1,0%
Sede 8 CAMINHO DA FABRICA 1 1,0%
Sede 11 DORES 1 1,0%
63
Sede 13 JARDIM ITACOLOMI 1 1,0%
Sede 16 MORRO DA QUEIMADA 1 1,0%
Sede 18 MORRO SANTANA 4 4,0%
Sede 19 MORRO SAO JOAO 2 2,0%
Sede 20 MORRO SAO 2 2,0%
SEBASTIAO
Sede 22 NOSSA SENHORA DO 4 4,0%
CARMO
Sede 23 NOVO HORIZONTE 1 1,0%
Sede 24 PADRE FARIA 2 2,0%
Sede 27 PIEDADE 3 3,0%
Sede 28 PILAR 1 1,0%
Sede 29 ROSARIO 1 1,0%
Sede 30 SANTA CRUZ 2 2,0%
Sede 31 SAO CRISTOVAO 3 3,0%
Sede 33 SARAMENHA 3 3,0%
Sede 34 TAQUARAL 2 2,0%
Sede 36 VILA APARECIDA 1 1,0%
Amarantina 5 5,0%
Antônio Pereira 8 7,9%
Cachoeira do Campo 2 ALTO DA BELEZA 2 2,0%
Cachoeira do Campo 3 BELA VISTA 1 1,0%
Cachoeira do Campo 4 CENTRO 1 1,0%
Cachoeira do Campo 6 METALÚRGICOS 2 2,0%
Cachoeira do Campo 15 SANTA LUZIA 2 2,0%
Cachoeira do Campo 19 VILA ALEGRE 4 4,0%
Glaura 1 1,0%
Lavras Novas 2 2,0%
Miguel Burnier 1 1,0%
Rodrigo Silva 3 3,0%
Santa Rita de Ouro Preto 4 4,0%
Santo Antônio do Leite 2 2,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
23
O dado sobre a demanda espontânea pode estar incondizente com a realidade, pois pode incluir também os casos
em que os prontuários analisados pela estagiária não constavam essa informação.
65
Anorexia e/ou bulimia 2
Autolesão 15
Baixa autoestima 26
Confusão mental 2
Crise de ansiedade 35
Crise de pânico 11
Dificuldade de aprendizagem 38
Dificuldade de concentração 30
Dificuldade de convívio com outras pessoas 46
Dificuldade de raciocínio 22
Discurso de que não quer viver 13
Falta de entusiasmo, energia ou motivação 40
Isolamento 29
Mudanças de humor repentinas 35
Mudanças no comportamento 30
Problemas de expressão de ideias 19
Seletividade alimentar 6
Sem rotina de sono 33
Tentativa de autoextermínio 8
Usuário (a) abusivo de álcool e/ou outras 1
drogas
Violência emocional 18
Violência física 10
Violência sexual 5
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
24
O bullyng foi incluído como um tipo de violência emocional.
66
Nesse sentido, a uma produção de Assis, et. al. (2009), é elaborada para enfatizar as
violências cometidas contra crianças e adolescentes brasileiros. Na visão das autoras, a vivência
de graves situações violentas em casa, na escola e na comunidade, são um dos principais
aspectos que geram a piora na saúde mental. A experiência de violência, inclusive, gera
sintomas relacionados ao comportamento violento da própria criança ou adolescente violentada.
Ao abordar a questão da agressividade, Delfini, et. al (2019, p. 233) já haviam chamado
a atenção para esse aspecto, o que corrobora com a perspectiva das autoras citadas.
Outra questão que conecta com as pesquisas do perfil dos usuários (as) dos CAPS IJ, no
Brasil, foi o número reduzido de pacientes que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas,
correspondendo a apenas 1%. Vale dizer, ainda sobre a antiga sede do CAPS IJ/OP, que a
mesma era em frente à sede do batalhão da Polícia Militar. Arriscamos dizer que esse era um
dos fatores decisivos para o receio de adolescentes pretos e periféricos, por exemplo, não
obterem acesso ao seu direito. Corroboramos com Silva, et. al. (2021, p. 5), ao colocar o
prejudicial de substâncias psicoativas como uma expressão da “questão social”,
Por outro lado, a despeito da hipótese diagnóstica (QUADRO 15), com base no CID 11,
a recorrência é do 6A05 - Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (28 vezes); sem
hipótese diagnóstica (23 vezes); 6A70/6A71 - Transtorno depressivo (episódio único ou
recorrente) (13,3%); 6A02 - Transtorno do espectro do autismo (15 vezes) e 6A73 - Transtorno
misto de ansiedade e depressão (12 vezes).
67
6A02 - Transtorno do espectro do autismo 13
6A05 - Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade 28
6A20 - Esquizofrenia 2
6A70/6A71 - Transtorno depressivo (episódio único ou recorrente) 15
6A73 - Transtorno misto de ansiedade e depressão 12
6B00 - Transtorno de ansiedade generalizada 1
6C90 - Transtorno desafiador opositivo 4
6D10 - Transtorno de personalidade 1
Sem hipótese diagnóstica 23
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Durante a leitura das produções no Brasil, identifica-se que a população feminina25 sofre
com transtornos neuróticos e psicossomáticos26 e a população masculina27, com transtornos de
desenvolvimento e no processo de ensino-aprendezagem28. Sobre as fichas do CAPS IJ/OP, não
foi diferente, pois a os transtornos neuróticos e psicossomáticos apareceram em 19 prontuários
femininos e 13 em prontuários femininos. Já os transtornos de desenvolvimento e no processo
de ensino-aprendezagem apareceram 46 vezes em prontuários masculinos e 6 vezes em
prontuários femininos. Crianças mais velhas, geralmente, evidenciaram taxas maiores nos
quadros mais graves de transtornos29, pois são mais difíceis de serem diagnosticadas de acordo
com a idade. Neste caso, as três hipóteses diagnósticas de transtornos graves são identificadas
em adolescentes/adultos.
Sobre a utilização de medicamento, o total de 64,4% dos usuários (as) possuem esse
dado na ficha de acolhimento, dos que não utilizam, 34,7%. Todavia, esse conteúdo pode estar
desatualizado, pois nas fichas analisadas quando os usuários (as) tinham acabado de ser
acolhidos, muitas vezes não estavam sob uso de remédios psiquiátricos.
Os dados colhidos também sugerem a existência (ou não) de transtorno mental na
família - sim (62,4%), não (22,8%), não sabe (4%) e sem informação na ficha de acolhimento
(10,9%). Além da questão genética, os autores Régio, et. al. (2023 p. 2) colocam que “a
constituição familiar, os recursos financeiros, a rede social de apoio e os recursos individuais
25
Incluem crianças do sexo feminino e adolescentes/adultas: mulheres cis e mulheres trans.
26
Incluem os diagnósticos de Transtorno depressivo (episódio único ou recorrente), Transtorno de
ansiedade generalizada (TAG) e Transtorno misto de ansiedade e depressão.
27
Incluem crianças do sexo masculino e adolescentes/adultos: homens cis e homens trans.
28
Incluem os diagnósticos de Transtornos do desenvolvimento intelectual (DI), Transtorno do espectro
do autismo (TEA), Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e Transtorno desafiador opositivo
(TOD)
29
Incluem Esquizofrenia, Transtorno de personalidade, etc.
68
das pessoas responsáveis pelo cuidado influenciam o processo saúde/ doença de crianças e
adolescentes.[...]”. Partindo desse pressuposto, nos QUADROS 15, 16 e 17, podemos iniciar o
detalhamento da vida familiar dos usuários do CAPS IJ/OP.
O núcleo familiar dominante é composto pela família natural (83,2%), ou seja, onde o
genitor tem vínculo consanguíneo com o filho menor (ECA, 1990). O estado civil dos
pais/responsáveis, são solteiros, divorciados ou separados (34,7%). Destaca-se a porcentagem
de 15,8% de crianças ou adolescentes que não tem o contato ou vínculo estabelecido com o pai.
Justifica-se pelo fato das mulheres ainda serem as principais cuidadoras de seus filhos e,
majoritariamente, as mulheres negras. Se um dos pais biológicos não residem na mesma casa,
a criança ou adolescente tem o direito de solicitar o recebimento de pensão para auxiliar nas
despesas do dia-a-dia, no entanto, apenas 30 pessoas (44,7%) tem esse direito viabilizado e
ainda, quando recebe, o valor muitas vezes é irrisório.
30
Um equívoco durante a coleta de dados inviabilizou que possamos apresentar os dados específicos dos
pais/responsáveis que concluíram ou não o ensino fundamental.
70
Formal (com garantias trabalhistas) 19 18,8%
Informal (não tem vínculo, nem carteira assinada ou qualquer tipo de 17 16,8%
contrato)
Autônomo (exerce atividade econômica por conta própria) 15 14,9%
Freelancer (abordagem mais específica e temporária) 3 3,0%
Do lar 16 15,8%
Estudante 1 1,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 18 17,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
71
R$487 até R$900. 7 6,9%
R$901 até 1 salário mínimo 22 21,8%
de 1 até 2 salários mínimos 35 34,7%
de 2 até 3 salários mínimos 13 12,9%
de 3 até 4 salários mínimos 1 1,0%
de 4 até 5 salários mínimos 1 1,0%
mais de 5 salários mínimos 2 2,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 8 7,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Acerca da contribuição dos usuários (as) adolescentes com renda familiar, a quantidade
foi apenas de 6,4%. Usuários (as) que trabalham, mas não contribuem com a renda familiar, foi
de 2,1%, dos que não contribuem com a renda familiar, porque não exercem nenhum tipo de
trabalho, foi de 83%.
A alimentação saudável também é um fator que influencia a saúde física e mental das
crianças e adolescentes. Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) “analisou 1 396 crianças de 7 a 14 anos e constatou que jogar games ou assistir a vídeos
à noite levava essa população a consumir menos alimentos saudáveis, como frutas e verduras,
e mais ultraprocessados, industrializados ricos em sal, açúcar e gordura.” (Félix, 2024, s/p). Isto
é, até mesmo o uso das redes sociais em excesso, podem causar a má alimentação. De acordo
com as informações fornecidas pelos pais ou responsáveis, 47,5% dos usuários (as) do CAPS
tem uma alimentação saudável e 31,7% não tem. Em 20,8% das fichas de acolhimento esta
informação não constava.
Não poderíamos de deixar de falar sobre a condição peculiar do município de Ouro
Preto, sobre o acesso aos dispositivos presentes no território (QUADRO 21), sejam eles
educação (ex.: creche, escola, faculdade, etc.); da saúde (ex.: posto de saúde, UPA, hospital,
etc.); assistência social ou previdência (ex.: CRAS, CREAS, abrigo/casa de acolhimento,
CadÚnico/Bolsa Família, INSS, etc.) e lazer (esporte, quadras, parque, arte e cultura, etc).
Enfatiza-se o pequeno número de crianças e adolescentes que frequentam atividades de
lazer (30,7%), ou seja, que fazem algum tipo de atividade física, tem acesso a parques, quadras
ou outros espaços culturais. O lazer e o ato de brincar vão muito além da diversão, sendo direitos
fundamentais para o desenvolvimento emocional, social, cognitivo e físico das crianças (ECA,
1990). Na cena turística, os moradores da região não se sentem pertencentes ao espaço e acabam
72
não o frequentando. Conforme o estudo de Alves (2022, p. 394): “a produção da cena turística
e o uso do espaço ocorrem de modo desigual e contraditório”.
Com base na análise sobre o principal meio de transporte (QUADRO 22) utilizado pelos
usuários e usuárias do CAPS IJ/OP, a predominância foi de 36,6% que utilizam ônibus pago e
22,8% transporte próprio. Em relação aos que utilizam ônibus com passe livre municipal, é um
benefício que independe da renda e é fornecido para pessoas com deficiência, incluindo o TEA
(Rota Real, s/d)
Outro aspecto fundamental para essa análise, foi a questão da situação de saneamento
básico QUADRO 24, 25 e 26, que incluiu o acesso à água, ao esgoto e a limpeza urbana. Os
resultados predominantes, foram: 49,5% das famílias dizem tem acesso à água por meio da rede
de distribuição paga; 49,5% diz ter rede coletora de esgoto sanitário e 59,4% diz ter acesso à
limpeza urbana. Contudo, as informações tiveram um alto índice de dados não fornecidos na
ficha de acolhimento (37,6%). Segundo Municípios e Saneamento - BETA (2022, s/p), o
município de Ouro Preto “gera 4.911,62 mil m³ de esgotos por ano. Do volume gerado, 56,45%
é coletado, e 0,6% é tratado. Em 2022, foram despejados 2.138,80 mil m³ de esgotos na natureza
sem tratamento”. A demanda do saneamento básico na cidade foi uma questão muito discutida
pela comunidade na oficina do Plano Diretor, no sentido de que a falta de saneamento está
diminuindo a sua qualidade de vida:
A questão do saneamento básico foi 3º tema mais abordado e muito frequente nas
questões ligadas à qualidade da água, à carência de redes e ao tratamento de esgotos,
da tarifa alta paga pelos serviços. Consideram o acesso à água potável limpa e ao
tratamento adequado de esgoto elementos cruciais para evitar doenças e garantir a
qualidade de vida. Neste sentido, observou-se que a população de Ouro Preto vê essa
31
Realizada pela empresa Fundação Gorceix, juntamente com a Prefeitura de Ouro Preto.
74
questão como urgente, necessitando de melhorias/adequações nos sistemas de
tratamento de água e implantação de rede e tratamento de esgoto, preservando o meio
ambiente e seus recursos que são tão caros à população (Ouro Preto, 2024, p. 180).
Em relação ao tipo de moradia (QUADRO 27) que os usuários (as) residem, 52,5%
ocupam casas próprias e 20,8% ocupam casas alugadas. Essa realidade também é a brasileira,
pois Basílio (2022), 70% dos brasileiros moram em imóveis próprios. Entendemos que essa
característica é ainda mais predominante em Ouro Preto, pela cidade possuir muitas casas
antigas, que podem passar de geração em geração.
75
Abrigo 1 1,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 12 11,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
76
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
32
Atividade realizada a partir do Projeto de Intervenção proposto como requisito da disciplina de Estágio
Supervisionado em Serviço Social II
77
solteiros, divorciados ou separados. Se um dos pais biológicos não residem na mesma casa, o
quantitativo de recebimento de pensão ficou bem dividido, mas um alto número (30,7%) não
recebe pensão.
Predominantemente, os pais ou responsáveis tem escolaridade de médio completo33;
exercem função remunerada (54,5%), com empregos precarizados (34,7%) e renda familiar
aproximada de 1 até 2 salários mínimos (34,7%) e das famílias sobrevivem com menos de 1
salário mínimo mensal, a porcentagem foi de 40,6%. 44,6% dos pais ou responsáveis recebem
benefícios socioassistenciais e/ou previdenciários e 43% dos adolescentes/adultos não
contribuem com a renda familiar.
De acordo com os pais ou responsáveis, 47,5% dos usuários (as) tem a alimentação
considerada saudável, além de apenas 5% possuírem acesso aos 4 dispositivos que existem no
território (educação, saúde, lazer e assistência social) juntos. Somente 30,7% tem acesso ao
lazer, como por exemplo. O meio de transporte mais prevalente foi o ônibus pago, com 36,6%.
Sobre o saneamento básico, 49,5 % tem acesso à rede de distribuição de água paga (Saneouro)
e rede coletora de esgoto sanitário (não tratado). O acesso à limpeza urbana foi equivalente a
59,4%. 52,9% residem em casa própria e 13,9% estão em risco habitacional, na maior parte das
vezes, por serem famílias atingidas pela mineração.
Por fim, em relação às demandas sobre a saúde mental dos usuários (as), encontramos
dados que indicaram em maior quantitativo a agitação, que aparece em 61 vezes dos casos;
dificuldade de convívio com outras pessoas (46 vezes) e falta de entusiasmo, energia ou
motivação (40 vezes). O 6A05 - Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (28 vezes)
aparece com mais frequência, quanto às hipóteses diagnósticas. Mais especificamente, os
transtornos neuróticos e psicossomáticos apareceram mais em prontuários femininos (19 vezes)
e os transtornos de desenvolvimento e no processo de ensino-aprendizagem apareceram mais
em prontuários masculinos (46 vezes). Crianças mais velhas se enquadraram nas seguintes
hipóteses diagnósticas de transtornos graves: Esquizofrenia e Transtorno de Personalidade.
O lugar dessas crianças e adolescentes no território em que vivem, portanto, é marcado
pela desigualdade social e desigualdade de oportunidades. Por isso, concordamos com Tomaz
(2018), quando a autora coloca que a questão de necessidade da atuação do (a) assistente social
e, em geral, da Referência Técnica (RT) deve ser ressignificada, para que o foco da sua direção
social continue sendo a materialidade da vida dos sujeitos, historicamente caracterizada como
33
Apesar de um alto quantitativo de sem informação na ficha de acolhimento, que corresponde a 52,5%.
78
objeto principal da saúde mental pela visão da desinstitucionalização italiana, pautada no tópico
2.1.
Assim, o papel do profissional na saúde mental, deve levar em conta o ser social em sua
totalidade, colocando a cidadania como elemento central para a reinserção sociofamiliar do
usuário (a). Os serviços primam contra o preconceito e o estigma e a segregação, implicando o
acesso de qualidade à educação, moradia, trabalho, segurança pública, etc. É sobre inserir o
sujeito no seu território por meio da articulação dos serviços da rede, mostrando alternativas
para atender às suas necessidades e ampliando, ademais, a sua autonomia. Sendo assim, temos
que o livre desenvolvimento de uma pessoa, é requisito para o livre desenvolvimento de todas
as outras pessoas.
De fato, temos a percepção de que os dados apresentados poderiam ter sido melhor
aprofundados, no entanto, diante do curto prazo para a defesa do TCC, infelizmente não foi
possível. As reflexões aqui tratadas, não se esgotam no momento presente, podem ser revistas
e melhor articuladas ao longo do tempo e, como já foi destacado anteriormente, poderá servir
como mais uma possibilidade de diálogo das crianças, adolescentes e familiares/responsáveis
com os movimentos sociais, coletivos e associações de moradores, potencializando suas
requisições acerca de seus direitos previstos na Constituição Federal (1988), na Reforma
Psiquiátrica e, principalmente, no Estatuto da Criança e Adolescente (1990).
A luta pela garantia de direitos às crianças e adolescentes é composta por um
desenvolvimento de continuidade e ruptura e, de certa maneira, uma violação que acontece
nesta faixa etária pode trazer impactos para a vida toda e podendo, infelizmente, perpassar de
geração em geração. Cabe aos profissionais da saúde mental, tentar minimizar os impactos das
expressões que atravessam a vida desses seres sociais de forma totalmente democratizante.
Acredita-se que o Trabalho de Conclusão de Curso cumpriu com o seu papel, no sentido de
buscar ter o olhar para a compreensão das demandas dos usuários (as) e famílias/responsáveis
da saúde mental não apenas em sua aparência, mas em sua essência.
Por fim, na obra de Júnior (2019), o autor revela a existência e resistência de pessoas
que sobrevivem nas sombras, à margem da sociedade. Podemos também mostrar que a falta de
acesso aos direitos básicos, a exclusão social e a violência estrutural são fatores que amplificam
o sofrimento psicossocial e que também fazem parte da vida das irmãs Bibiana e Belonísia. São
reflexos de expressões da “questão social” que ainda afetam muitos jovens no Brasil
contemporâneo. A consciência de classe e raça tiram a falsa paz que acreditamos existir, mas
ao mesmo tempo nos fortalece na luta pela dignidade, respeito e sobrevivência dessa população.
79
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https://sgm.ouropreto.mg.gov.br/arquivos/norma_juridica/NJ_img(1776).pdf . Acesso em: 07
mar 2024.
_________. Lei n° 1281/2022, altera e acrescenta a Lei n° 905/2014. Altera os §§ 1º e 3º do
art. 4º, acrescenta os §§5º e 6º ao art. 4º, altera o caput do art. 5º, o inciso I do art. 6º, o art. 10,
o art. 14, os incisos I, III, IV, V e alínea “b” do art. 16, altera o art. 17, o art. 19, o parágrafo
único do art. 20 e o art. 22, e revoga o art. 21, todos da Lei nº 905, de 06 de junho de 2014,
que dispõe sobre os Benefícios Eventuais no âmbito do Município de Ouro Preto, conforme a
Política Nacional de Assistência Social. Ouro Preto, 2022. Disponível em:
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________. Portaria n° 059/2023 Institui, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, o
Protocolo contendo as Diretrizes para acolhimento, regulação e encaminhamento das
urgências e emergências psiquiátricas em unidade de pronto atendimento (upa, samu, hospital
geral, bombeiro) e serviço de segurança pública (guarda municipal). Ouro Preto, 2024.
Disponível em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/diario-publicacoes/3247.
Acesso em: 09 ago 2024.
________. Portaria n° 060/2023. Institui, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, o
Protocolo contendo as diretrizes para o acolhimento e classificação de risco em saúde mental
nas unidades básicas de saúde. Secretaria Municipal de Saúde. Ouro Preto, 2024. Disponível
em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/diario-publicacoes/3247 . Acesso em: 09
ago 2024.
Ouro Preto (MG). Município e Saneamento (BETA), 20. Disponível em:
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preto#:~:text=O%20munic%C3%ADpio%20OURO%20PRETO%20gera,esgotos%20na%20
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TOMAZ, Cristiane Silva. O Serviço Social na saúde mental e o Técnico de Referência:
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significativo, mas somente a 'ponta do iceberg' – UNICEF. Fundo das Nações Unidas para a
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imprensa/impacto-da-covid-19-na-saude-mental-de-criancas-adolescentes-e-jovens. Acesso
em: 17 fev. 2024.
86
6. ANEXOS
87
PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
Nome:
Nome da mãe:
Nome do pai:
Auxílio Brasil:
N° do cartão do SUS:
Endereço:
Bairro:
GRAVIDEZ/DESENVOLVIMENTO:
OBSERVAÇÕES:
Encaminhado para:
_______________________________________
Assinatura e Carimbo
ANEXO 2 – Atualização da Ficha de Acolhimento do CAPS IJ/OP criada pela estagiária
(anteriormente a ser avaliada pela equipe do CAPS IJ).
90
PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
V) MODALIDADE DE TRATAMENTO:
( ) Intensivo (diariamente e em tempo integral).
( ) Semi-intensivo (três vezes por semana).
( ) Não intensivo. Qual a frequência em que a criança ou adolescente comparece ao tratamento no CAPS? __________________________
VI) SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICO FAMILIAR:
6.1. -Preencha o quadro abaixo, sobre a situação socioeconômica da família ou dos responsáveis do(a) usuário(a) - INCLUINDO O USUÁRIO(A).
91
Nome Par Data É E Prof Recebe benefício Renda Nível de
entesco de responsável xerce issão previdenciário e/ou mensal - considerar escolaridade
Nascimento pelo função socioassistencial ou possui o salário mínimo
cuidado remune- Cadastro Único? (SM) do ano vigente
do(a) ra
usuário(a)? da?
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria Incompleto
92
( ) ( ) R$901 até ( ) Médio
Outra?_______________________ 1 SM. Completo
( ) 1 até 2 SM. ( ) Sup.
( ) 2 até 3 SM. Incompleto
( ) 3 até 4 SM. ( ) Sup.
( ) Mais de 4 Completo
SM.
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
93
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
Observações:
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________
94
6.2 - Recebe pensão alimentícia? ( ) Rede coletora de esgoto sanitário
( ) Não. ( ) Sim. Valor: R$ ____________ ( ) Esgoto a céu aberto
6.3 - Qual o principal meio de transporte que você ( ) Fossa
utiliza? ( ) Não sabe ( ) Outra?
( ) A pé/carona ( ) Transporte escolar ( ) Bicicleta ( ) _______________________________
Transporte próprio ( ) Transporte coletivo 7.8 - Marque aqui os serviços/políticas disponíveis
6.3.1. Possui o passe livre municipal ou em sua comunidade ou mais próximos a sua residência
intermunicipal? (Marque quantos itens forem necessários):
( ) Sim. Qual deles?________________________ ( ) Educação (Ex.: Creche, escola, faculdade, etc.)
( ) Não. Por quê? ( ) Saúde (Ex.: posto de saúde, UPA, hospital, CAPS,
____________________________________ etc.)
6.4 - Especificidades sociais, étnicas, culturais da ( ) Previdência (Ex.: INSS)
família: ( ) Assistência Social (Ex.: CRAS, CREAS,
( ) Família indígena ( ) Família quilombola Abrigo/casa de acolhimento, CadÚnico/Bolsa Família, etc.)
( ) Família ribeirinha/pescadores ( ) Marque aqui caso não exista nenhum desses
( ) Família assentada ou acampada ( ) Família cigana serviços/políticas disponíveis com facilidade.
( ) Família de catadores de material reciclável
( ) Família de agricultores familiares VIII) ESCOLARIDADE:
( ) Família atingida por empreendimento de 8.1 - Sobre a situação escolar:
infraestrutura (Ex.: barragem, transposição de rio, construção 8.1.1 - Matrícula escolar:
de estrada,etc.) ( ) Não está matriculado na escola formal.
( ) Outra: ( ) Matriculado na escola formal, com frequência
__________________________________________ regular.
6.5 - Os pais são falecidos? ( ) Matriculado na escola formal, com frequência
( ) Não. ( ) Sim. Quem? irregular.
______________________________ 8.1.2 - Natureza da escola, se matriculado:
( ) Escola municipal
VII) SITUAÇÃO DE MORADIA: ( ) Escola estadual
7.1 - Há quanto tempo reside neste município? ( ) Escola particular
_________________ ( ) Escola federal (Ex: IFMG, UFOP.)
7.2 - Onde e como mora atualmente? ( ) APAE Ouro Preto
( ) Em casa ou apartamento, com a família. ( ) Educação domiciliar
( ) Em casa ou apartamento, sozinho(a). Observações:
( ) Em quarto ou cômodo alugado, sozinho(a) __________________________________________________
( ) Em casa de outros familiares. __________________________________________________
( ) Em habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel, __________________________________________________
pensionato, etc. 8.2 - A criança ou adolescente possui alguma
( ) Outra situação, necessidade educacional especial - NEE? (Marque quantos
___________________________________ itens forem necessários)
7.3 - Em relação à moradia: ( ) Não foi identificada nenhuma necessidade
( ) Própria ( ) Cedida ( ) Alugada ( ) Financiada educacional especial.
( ) Outra? ( ) Monitor/professor de apoio
_________________________________________ ( ) Adequação das instalações (Se deficiência física)
7.4 - Tipo de Construção: ( ) Língua Brasileira de Sinais (Libras)
( ) Alvenaria ( ) Madeira ( ) Mista ( ) ( ) Sala multifuncionais ou salas de apoio à inclusão
Outra?______________ ( ) Uso de tecnologias adaptadas à inclusão
Nº de cômodos: _________ ( ) Outra?
7.5 - Especifique a forma de abastecimento de água _________________________________________
da residência da sua família: 8.2.1 - Se sim, possui essa assistência na escola onde
( ) Rede de distribuição paga (Saneouro) está matriculado?
( ) Rede de distribuição isenta de pagamento ( ) Sim. ( ) Não. Por quê?
( ) Poço, rio ou nascente _____________________________
( ) Carro/caminhão pipa Observações:
( ) Outra forma, __________________________________________________
_____________________________________ __________________________________________________
7.6 - No período chuvoso, as ruas próximas de sua __________________________________________________
residência são alagadas ou as casas são colocadas em risco? 8.3 - Se adolescente, qual a relação do(a) usuário(a)
( ) Não. ( ) Sim. ( ) Não sabe com a condição de aprendiz e/ou trabalho?
Observações: ( ) Aprendiz. Onde?
__________________________________________________ _________________________________
__________________________________________________ ( ) Contribui com a renda familiar. Como?
__________________________________________________ __________________________________________________
7.7 - Em sua residência, como é feita a disposição __________________________________________________
do esgoto doméstico gerado? __________________________________________________
95
8.4 – Atualmente, faz algum curso fora da escola?
( ) Não. ( ) Sim. Qual?
______________________________
Se pago, qual o valor da mensalidade? R$
____________
96
OUTRAS OBSERVAÇÕES (SE HOUVER):
___________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
___________________
__________________________________________________
Assinatura e carimbo do(a) profissional
97
ANEXO 3 – Nova Ficha de Acolhimento (aprovada pela equipe do CAPS IJ)
1
PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
Identidade de gênero (adolescente): ( ) Mulher cisgênero ( ) Homem cisgênero ( ) Mulher transgênero ( ) Homem transgênero ( )
Gênero não-binário ( ) Prefiro não dizer ( ) Outro:
Endereço:
I) ORIGEM DO ENCAMINHAMENTO:
2
III) HISTÓRICO FAMILIAR (n° de componentes na família, estado civil, primeiro nome, nível de escolaridade, profissão)
Encaminhamento para:
__________________________________________________
Assinatura e carimbo do(a) profissional
4
ANEXO 4 - Financiamento Federal para o CAPS IJ - Ouro Preto/MG
Fonte: Documentação exclusiva do CAPS IJ. Diagrama elaborado pelo Internato em Saúde Mental (Medicina).
Ricardo Moebus, UFOP, 2023.