MONOGRAFIA CaracterizaçãoPopulaçãoUsuária

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 105

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


APLICADAS
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

Maria Gabriela Ferreira Pedrosa

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO USUÁRIA DO CENTRO DE


ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTOJUVENIL (CAPS IJ) DO MUNICÍPIO DE
OURO PRETO/MG

MARIANA
Outubro 2024
Maria Gabriela Ferreira Pedrosa

A CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO USUÁRIA DO CENTRO DE


ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTOJUVENIL (CAPS IJ) DO MUNICÍPIO DE
OURO PRETO/MG

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Serviço Social da Universidade Federal de
Ouro Preto, como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social.
Orientadora: Dr.ª Cristiane Silva Tomaz

MARIANA
2024
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

P372c Pedrosa, Maria Gabriela Ferreira.


PedA Caracterização da População Usuária do Centro de Atenção
Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ) do Município de Ouro Preto/ MG.
[manuscrito] / Maria Gabriela Ferreira Pedrosa. - 2024.
Ped103 f.

PedOrientadora: Profa. Dra. Cristiane Silva Tomaz.


PedMonografia (Bacharelado). Universidade Federal de Ouro Preto.
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas. Graduação em Serviço Social .

Ped1. Adolescentes. 2. Crianças. 3. Pessoal da área de saúde mental e


pacientes. 4. Saúde mental. 5. Centro de Atenção Psicossocial - Ouro
Preto (MG). I. Tomaz, Cristiane Silva. II. Universidade Federal de Ouro
Preto. III. Título.

CDU 616.89(815.1)
Bibliotecário(a) Responsável: Essevalter De Sousa - Bibliotecário Coordenador
CBICSA/SISBIN/UFOP-CRB6a1407
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
INSTITUTO DE CIENCIAS SOCIAIS E APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVICO SOCIAL

FOLHA DE APROVAÇÃO

Maria Gabriela Ferreira Pedrosa

Caracterização da População usuária do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil do município de Ouro Preto

Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal


de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social

Aprovada em 10 de outubro de 2024

Membros da banca

Drª Cristiane Tomaz - Orientadora (Universidade Federal de Ouro Preto)


Drª Adriana de Andrade Mesquita (Universidade Federal de Ouro Preto)
Drª Sheila Dias (Universidade Federal de Ouro Preto)

Cristiane Tomaz, orientadora do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito na Biblioteca Digital de Trabalhos de Conclusão
de Curso da UFOP em 18/10/2024

Documento assinado eletronicamente por Cristiane Silva Tomaz, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em 18/10/2024,
às 12:59, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de
2015.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site http://sei.ufop.br/sei/controlador_externo.php?


acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 , informando o código verificador 0797348 e o código CRC
B6C337E6.

Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.012919/2024-19 SEI nº 0797348

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35402-163


Telefone: (31)3558-2275 - www.ufop.br
AGRADECIMENTOS
Agradeço puramente à proteção de algo que eu não vejo, mas sinto que sempre está
próximo de mim.
A UFOP foi um lugar de muito crescimento pessoal, acadêmico e profissional.
Agradeço a todos que fizeram parte dessa jornada comigo, dentro e fora da universidade,
família, amigos, professores e profissionais do CAPS IJ/OP.
À minha mãe, Lúcia, que é a justificativa de eu ter escolhido essa temática, senti a
necessidade de entender e chegar um pouquinho mais perto da sua vivência. Obrigada por ser
meu guia, mãe. Agradeço também ao meu pai, Adalberto, que do seu jeitinho, sempre esteve
presente nos momentos mais difíceis e felizes da minha trajetória de vida. O mesmo foi com a
minha tia Dora, é uma pessoa incrível, não atoa considerada a minha segunda mãe.
Uma curiosidade sobre o meu avô (pai do meu pai e da minha tia), é que em 1958, após
o falecimento de sua mãe Amélia, queria muito que seus filhos tivessem a oportunidade de uma
bolsa de estudos, e assim ele partiu da roça no distrito de Ouro Preto, em Santo Antônio do
Leite, para ir ao encontro do então Presidente da República, JK. Pegou uma “muda de roupa” e
andou a cavalo até a estação de trem mais próxima, que o levaria à BH e, posteriormente, à
Brasília. Voltou no meio do caminho, mas esse episódio marcou a vida de quem conviveu com
Candinho, e representa suas duras dificuldades passadas para que a sua família tivesse as
oportunidades que ele infelizmente não teve. Me formei em Serviço Social, vô, que alegria eu
estou sentindo!
Minha família é grande, igualmente agradeço a todos eles. Obrigada demais aos meus
irmãos Marco, Rodrigo e Pedro, vocês sempre foram os meus pilares... Aos meus sobrinhos
João Lucas, João Pedro e Mimin, cunhadas Vanessa e Teca, primos Luiza, Xandi, Aline, assim
como o restante dos primos, tias e tios, saibam que tenho um amor imenso por todos vocês!
Agradeço muito aos meus professores da UFOP, em especial a minha orientadora
Cristiane, que esteve do meu lado desde o início, na construção do projeto de intervenção do
estágio, até a finalização desse trabalho. Como eu já te disse, te admiro muito!
Sou muito grata à Sheila, que além de professora é uma grande amiga e membra da
banca, juntamente com a Adriana, a minha supervisora acadêmica do estágio e também muito
querida! Um agradecimento especial também às professoras e professor: Kathiuça, Daniele,
Vivian e Cláudio.
Ao CAPS IJ/OP, obrigada pelos ensinamentos e pela confiança! Obrigada, Luciana,
com você do meu lado foi tudo mais fácil! Aos familiares e usuários do serviço, meu sincero
agradecimento pela troca.
Às minhas amigas Alana e Ana Caroline (ordem alfabética para não dar briga), obrigada
pela amizade sincera, pelo apoio incondicional e pelas palavras de encorajamento que tantas
vezes me ajudam a seguir em frente, no processo de construção da monografia e na vida, meu
coração transborda de gratidão por tê-las sempre por perto, amo de paixão!
Obrigada ao meu grupinho de fofocas, firme e forte desde o ensino fundamental, minhas
queridas Maria Ana, Ceci, Júlia e Maria Clara e nossa pequena Soso.
Aos meus amigues que a UFOP me deu, Alice, Niddy, Marília, Bruna, Laura, Luiza,
Amanda’s, Jéssica... Vocês são muito especiais pra mim! Na alegria, na tristeza e nos surtos de
fim de período...
À minha companheira silenciosa, minha gatinha Candy (e sumida Pandinha), por terem
estabilizado o meu estado emocional quando não estava conseguindo fazer isso sozinha...
Por último, mas não menos importante, à minha psicóloga Gilmara, gratidão por ter me feito
perceber que sou capaz!
“Se ves um monte de espumas, es mi verso lo que ves
Mi verso es um monte y es um abanico de plumas”
(Tierra Sagrada - Muerdo)
RESUMO
O estudo aqui descrito teve como objetivo geral: caracterizar a população assistida pelo Centro
de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ) do município de Ouro Preto, em Minas
Gerais. Essa pesquisa foi realizada no ano de 2024, e conseguiu abranger 101 usuários e
usuárias ativos do serviço de saúde mental. Trata-se de um estudo documental, com abordagem
quali-quantitativa, em que foram investigadas as fichas de acolhimento, contida nos prontuários
dos usuários (as), além da realização de uma pesquisa bibliográfica, realizada em livros, artigos
científicos e sites, para construir embasamento teórico sobre a população usuária da saúde
mental, em especial, crianças e adolescentes. Constatou-se, em resumo, os seguintes dados: a
população do CAPS IJ/OP é majoritariamente masculina (62,4%), negras (pretas e pardas –
51,4%), com média de idade de 10,5 anos, que estão matriculados na escola formal e em escola
pública (96,5%). Em geral, os usuários (as) residem em ambiente urbano, na sede de Ouro Preto
e distrito de Cachoeira do Campo e Antônio Pereira. Conseguem acessar o CAPS IJ/OP,
majoritariamente, por demanda espontânea e PSF. Sobretudo, o tipo de família natural (83,2%)
foi prevalente e os pais ou responsáveis tem empregação precarizada (34,7%), renda familiar
aproximada de 1 até 2 salários mínimos (34,7%) e recebem benefícios socioassistenciais e/ou
previdenciários. Sobre o saneamento básico, 49,5 % tem acesso à rede de distribuição de água
paga e rede coletora de esgoto sanitário (não tratado). O acesso à limpeza urbana foi equivalente
a 59,4%. 52,9% residem em casa própria e 13,9% estão em risco habitacional, na maior parte
das vezes, por serem famílias atingidas pela mineração. Por fim, em relação às demandas sobre
a saúde mental dos usuários (as), encontramos dados que indicaram em maior quantitativo a
agitação, que aparece em 61 vezes dos casos. O 6A05 - Transtorno do déficit de atenção e
hiperatividade (28 vezes) aparece com mais frequência, quanto às hipóteses diagnósticas.

Palavras-chaves: Adolescentes; Crianças; Pessoal da área de saúde mental e pacientes; Saúde


mental; Centro de Atenção Psicossocial – Ouro Preto (MG).
ABSTRACT
The study described here had the general objective of characterizing the population assisted by
the Child and Adolescent Psychosocial Care Center (CAPS IJ) in the city of Ouro Preto, Minas
Gerais. This research was carried out in 2024 and managed to cover 101 active users of the
mental health service. This is a documentary study, with a qualitative and quantitative approach,
in which the reception forms contained in the users' medical records were investigated, in
addition to a bibliographic research, carried out in books, scientific articles and websites, to
build a theoretical basis on the population using mental health, especially children and
adolescents. In summary, the following data were found: the population of CAPS IJ/OP is
mostly male (62.4%), black (black and brown - 51.4%), with an average age of 10.5 years, who
are enrolled in formal school and public school (96.5%). In general, users live in urban areas,
in the city center of Ouro Preto and the districts of Cachoeira do Campo and Antônio Pereira.
They can access CAPS IJ/OP, mostly through spontaneous demand and PSF. Above all, the
natural family type (83.2%) was prevalent and parents or guardians have precarious
employment (34.7%), a family income of approximately 1 to 2 minimum wages (34.7%) and
receive social assistance and/or social security benefits. Regarding basic sanitation, 49.5% have
access to the paid water distribution network and the sewage collection network (untreated).
Access to urban cleaning was equivalent to 59.4%. 52.9% live in their own homes and 13.9%
are at risk of housing, most of the time, because they are families affected by mining. Finally,
regarding the demands on the mental health of users, we found data that indicated agitation in
greater quantity, appearing in 61 cases. 6A05 - Attention deficit hyperactivity disorder (28
times) appears most frequently, regarding diagnostic hypotheses.

Keywords: Adolescents; Children; Mental health personnel and patients; Mental health;
Psychosocial Care Center - Ouro Preto (MG).
LISTA DE SIGLAS
ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria
APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
BPC - Benefício de Prestação Continuada
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
CAPS IJ/OP - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil de Ouro Preto
CAPS AD - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas
CF/1988 - Constituição Federativa de 1988
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CID - Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde
CNDE - Campanha Nacional pelo Direito à Educação
CONANDA - Conselho dos Direitos da Crianças e Adolescentes
CRAS – Centro de Referência da Assistência Social
CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social
CT – Conselho Tutelar
DACT/MDS - Departamento de Apoio a Comunidades Terapêuticas
DINSAM - Divisão Nacional de Saúde Mental
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FAMOP - Federação de Associação de Moradores de Bairros do Município de Ouro Preto
FEBEM - Fundações Estaduais do Menor
MLA – Movimento da Luta Antimanicomial
MTST - Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
NAPS - Núcleos de Atenção Psicossocial
NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família
NEE - Necessidades educacionais especiais
PIB - Produto Interno Bruto
PSF – Programa de Saúde da Família
PTS – Projeto Terapêutico Singular
RAPS - Rede de Atenção Psicossocial
SUS - Sistema Único de Saúde
TAB - Transtorno Afetivo Bipolar
TEA - Transtorno do Espectro Autista
TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
TOC - Transtorno Obsessivo-compulsivo
TOD - Transtorno de Oposição Desafiante
TR – Técnico de Referência
UBS - Unidade Básica de Saúde
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UPA - Unidade de Pronto Socorro
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

2 A LOUCURA ENQUANTO UMA EXPRESSÃO DA “QUESTÃO SOCIAL” ..... 20

2.1 Formação sócio-histórica brasileira e a loucura ................................................. 20

2.2 A constituição da Política de Saúde Mental brasileira e ouropretana ............. 30

2.3 (Neo)conservadorismo e contra-reforma psiquiátrica no Brasil ......................... 37

3 AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SOFRIMENTO PSICOSSOCIAL ....... 43

3.1 As refrações de classe, raça, gênero e etnia na saúde mental infantojuvenil ...... 43

3.2 A população assistida pelos CAPS IJ no Brasil .................................................. 47

3.3 A caracterização dos usuários (as) do CAPS IJ de Ouro Preto/MG ................... 53

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 77

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 80

6. ANEXOS .................................................................................................................. 87
1. INTRODUÇÃO

Naquele tempo, costumávamos ver nossa avó falar sozinha, pedir coisas estranhas
como alguém, que – que não víamos – se afastasse de Carmelita, a tia que não
havíamos conhecido. Pedia que o mesmo fantasma que habitava suas lembranças se
afastasse das meninas. Era uma profusão de falas desconexas. Falava sobre pessoas
que não víamos – os espíritos – ou de pessoas sobre as quais nunca ouvimos, parentes
e comadres distantes. Nos habituamos a ouvir Donana falar pela casa, falar na porta
da rua, no caminho para a roça falar no quintal, como se conversasse com as galinhas
ou com as árvores secas. Eu e Belonísia nos olhávamos, riamos sem alarde, e nos
aproximávamos sem que percebesse. Fingíamos brincar com algo por perto para
escutar e, depois, com as bonecas, os bichos e as plantas, repetíamos o que Donana
havia dito como coisa séria. Repetíamos o que minha mãe dizia baixo para o pai na
cozinha. “Hoje ela está falando muito, a cada dia fala sozinha”. O pai relutava em
admitir que minha avó estivesse com sinais de demência, dizia que que a vida toda a
mãe havia falado consigo mesma, a vida toda havia repetido rezas e encantos com a
mesma distração com que revirava os pensamentos. (Junior, 2019, p. 14)

Quando li esse trecho do primeiro capítulo do livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira
Júnior, em que o autor retrata a vida de uma família no campo, repleta de memórias coletivas
sobre as desigualdades raciais, sociais e de gênero, à minha mãe, Lúcia Silva, imediatamente
ela disse: “eu ouvi falar sobre a minha história”. Nesse momento, havíamos acabado de acordar
de uma noite na Unidade de Pronto Socorro (UPA) de Ouro Preto. Um dia antes, minha mãe
havia sido levada para lá, depois de uma crise psicótica, e ainda estava sonolenta, sob o efeito
dos remédios. Não pude deixar de pensar o quanto aquela fala era potente, pois sei que a vida
da minha mãe, enquadrada no chamado “CID 10”, também foi árdua, e de certo que ela foi a
minha central motivação para a construção deste trabalho.
Esse trabalho, para além de tudo, tem pedacinhos da minha caminhada até aqui, do meu
processo de crescimento e de amadurecimento, durante a minha infância, adolescência e
juventude, sobre o que é o autoconhecimento e o olhar para a saúde mental. A graduação em
Serviço Social da UFOP me abriu portas para estas questões, ainda mais quando tive a
oportunidade de estagiar no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ) do
município de Ouro Preto/MG, cidade onde nasci e cresci.
Durante três semestres letivos foram vislumbradas algumas inquietações quanto ao
conhecimento adquirido sobre a condição sócio-histórica das crianças e adolescentes
acompanhadas por seus familiares e/ou responsáveis, que são assistidas pelo referido serviço
de saúde mental. Acredito que este trabalho poderá servir como uma maneira de dar voz àqueles
que deveriam ser o público prioritário da atenção à saúde: as crianças e os adolescentes.

11
Esta pesquisa não tratará diretamente do Serviço Social ou da atuação profissional na
saúde mental, mas problematizará o público atendido pelo CAPS ij como expressão da questão
social e, portanto, objeto da intervenção profissional.
Objetiva-se centrar no objeto de trabalho da/do assistente social, a “questão social”
expressa, que tanto contribui com os agravos à saúde mental do usuário (a) e de sua situação
econômico-familiar. De acordo com Iamamoto e Carvalho (2006, p.77),

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e


desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade,
exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e
repressão.

O Serviço Social atua com o sujeito que vive as expressões da questão social, nas suas
mais diversas manifestações, primordialmente por meio de políticas sociais, a partir das quais
entende o usuário (a) como um sujeito social e, para além disso, pretende colocar o mesmo e
sua família no foco do atendimento, o que é favorável à lógica antimanicomial cunhada pela
Reforma Psiquiátrica Brasileira.
As relações sociais no modo de produção e reprodução capitalista são expressas na
totalidade da vida social, no que tange tanto à reprodução da vida material quanto a espiritual.
Logo, a fase da infância e juventude são atravessadas pelas condições objetivas e subjetivas que
influenciam o âmbito da saúde, enquanto uma condição física, mental e social. Sua vivência
dentro da sociedade, em outras palavras, é permeada pela desigualdade social, econômica e
cultural que é intrínseca ao sistema capitalista, caracterizada pela contradição entre o capital e
o trabalho, chamada de “questão social”. Isso inclui as refrações de raça, gênero e etnia, que
são manifestadas pela falta de acesso ou acesso reduzido aos bens e serviços disponíveis e a
violação de direitos historicamente conquistados.
A discriminação, a pobreza, a fome, a violência, a baixa escolaridade, o abuso de álcool
e outras drogas, são algumas das principais refrações da “questão social” vivenciadas pelas
crianças e adolescentes no Brasil contemporâneo. Em seu estudo sobre essas expressões,
Badaró (2013, p. 174-175) ressalta:

Com isso, na concorrência com outros segmentos sociais de classes mais elevadas,
jovens pobres se encontram em situação desfavorável devido à distribuição desigual
de capital econômico, social e cultural. Com um cenário de precariedade decorrente
das desigualdades, sentimentos de descrença e baixa expectativa são comuns, pois
com o acúmulo histórico de experiências de êxito e de fracasso, em um processo não
deliberado, indivíduos e grupos sociais acabam constituindo um conhecimento prático
relativo ao que pode ser alcançado dentro da realidade concreta em que vivem.
12
Vítima de preconceitos de classe, gênero ou cor, por causa de mecanismo de
opacidade e de naturalização da inferioridade, o indivíduo pode creditar o seu fracasso
como pessoal, merecido justificável. Assim, um perverso ciclo de exclusão social
passa a ser reproduzido. E jovens marcados pela baixa autoestima e por um senso de
derrota antecipada podem desistir da disputa antes mesmo de tentar concorrer.

A saúde mental e bem-estar infantojuvenil, dessa maneira, dependem do acesso à


direitos instituídos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), como: a habitação
e saneamento básico; a alimentação saudável (como cereais, frutas, verduras, legumes); os tipos
formação educacional; a relação com a condição de aprendiz e/ou trabalho infantil; o esporte,
a cultura e o lazer; o acesso às interações sociais comunitárias e à convivência com a rede
territorial; e se os mesmos estão seguros de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
As crianças e os adolescentes que possuem algum tipo de sofrimento psíquico, podendo
ser resultado de toda conjuntura desfavorável à este segmento, são propensos, se garantido o
acesso, a serem usuários (as) dos serviços do Centros de Atenção Psicossociais Infantojuvenis
(CAPS IJ). Os CAPS IJ são serviços da saúde mental, incluídos na Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) pela Portaria n° 3088/2001, e criados pela Lei n° 10216/2001, principal
lei destinada às pessoas com transtornos mentais e que consolida as bases constituintes da
Reforma Psiquiátrica Brasileira.
O que sustenta a atual Política de Saúde Mental no país são Leis, Portarias e Diretrizes
específicas em saúde mental, que durante as últimas duas décadas – após a aprovação da Lei nº
10.2016 - têm sido responsáveis, por meio da constante luta e organização da classe
trabalhadora, usuários e familiares das pessoas com transtorno mental que tiveram início nos
anos de 1970, pelo enfrentamento a todo o histórico de violência e maus tratos destinados as
pessoas com transtornos mentais.
Cria-se, então, uma Política de Saúde Mental que busca ser integral, consistente,
igualitária, inclusiva e antimanicomial, com os usuários (as) protagonistas do seu tratamento,
agora humanizado e buscando entender suas verdadeiras necessidades para proporcionar as
condições mínimas para viabilizar acesso ao tratamento da sua saúde mental. Mesmo porque,
soma-se a todas as questões citadas que esses usuários (as) vivenciam todo o estigma que lhes
é atribuído, sob a égide do pensamento de que as mesmas não sabem/podem conviver em
sociedade e são uma ameaça de periculosidade, por exemplo. Importa ressaltar a importância
da luta contra tais estereótipos, pois estes acabam fortalecendo o preconceito, a exclusão,
violência e a marginalização, conforme demonstrado por Appel (2017, P.2):

13
[...] As expressões da Questão Social na Saúde Mental são vivenciadas na exclusão
social dos usuários com transtorno mental, inviabilização dos direitos sociais,
privação de seu convívio social e do sistema sócio-ocupacional no mercado de
trabalho e a não inserção dos mesmos nas redes intersetoriais, sendo essa uma
realidade que coloca o usuário como se fosse uma pessoa incapaz e estigmatizando-
o, para o mundo do trabalho em uma sociedade capitalista preconceituosa e
conservadora.

Essas questões citadas pela autora são mais acentuadas, quando se considera as inflexões
que permeiam o campo ideológico do sistema capitalista atual: o neoconservadorismo. Essa
característica, conforme Barroco (2022, p. 13), “consiste na junção entre os valores do
conservadorismo moderno e os princípios do neoliberalismo”. Ou seja, diz respeito à
valorização das tradições, preconceitos e/ou hierarquia do antigo conservadorismo clássico,
juntamente com questões relacionadas ao neoliberalismo, como a não intervenção do Estado na
economia, a meritocracia, a privatização e/ou o combate aos movimentos sociais e direitos
sociais.
O neoconservadorismo se desenvolve de formas particulares em cada país. Em se
tratando do Brasil, o aprofundamento das contradições vivenciadas no capitalismo atual
desencadeou em maiores problemas subjetivos, de acordo com (Molano, 2021, s/p).:

Durante a pandemia de Covid-19, a depressão e a ansiedade na juventude dobraram


em comparação aos níveis pré-pandêmicos [...]. Um em cada 4 adolescentes em todo
o mundo está ‘experimentando sintomas de depressão clinicamente elevados,
enquanto 1 em cada 5 jovens está experimentando sintomas de ansiedade clinicamente
elevados.

Essas premissas apontam para uma maior demanda aos Centros de Atenção Psicossocial
Infantojuvenis, pois consistem em elementos chave para a infância saudável os seguintes
quesitos: o convívio com a família e/ou responsáveis, os amigos, a sala de aula, as brincadeiras,
o lazer e outros estímulos que foram prejudicados durante os três anos recentes da pandemia da
COVID-19. Por isso, torna-se mais que imprescindível a existência e permanência da oferta
acolhimento de portas abertas para usuários (crianças e adolescentes) com transtornos mentais
“graves e persistentes”, como também para aqueles que sintam esporadicamente a necessidade
desse tipo de atendimento. Esses transtornos incluem:

Transtornos mentais diagnosticados – incluindo transtorno do déficit de atenção com


hiperatividade (TDAH), ansiedade, autismo, transtorno bipolar, transtorno de
conduta, depressão, transtornos alimentares, deficiência intelectual e esquizofrenia –
podem prejudicar significativamente a saúde, a educação, as conquistas e a capacidade
financeira de crianças, adolescentes e jovens no futuro. (UNICEF, 2021, s/p)

14
Entretanto, apesar de ser importante a identificação da “hipótese diagnóstica”1 nas
crianças e adolescentes assistidas pelos CAPS IJ, entendemos que também se faz necessário a
condução de uma perspectiva diferente da dimensão fenomênica através manifestações
sintomáticas do sujeito com transtorno mental. Isso significa conhecer a objetividade da vida
material dos usuários e de suas famílias, ou seja, a conhecer a dimensão sócio-econômica desses
sujeitos, as questões relacionadas à sua vida comunitária e escolar, às necessidades materiais e
os direitos que possuem, ou seja, à sua existência. Essa questão nos chama a atenção e é um
aspecto que foi muito discutido durante as oficinas de supervisão de estágio em Serviço Social.
Como dito, esse estágio foi cumprido durante três períodos letivos da graduação, na
cidade de Ouro Preto/MG. Com o afinco de explicar melhor os procedimentos do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) em questão, tem-se que o funcionamento do CAPS IJ é incluído e
organizado pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da cidade e realiza atividades que
incluem o acolhimento, acompanhamento contínuo por meio do Projeto Terapêutico Singular
(PTS) e atenção às urgências psiquiátricas.
Aqui, cabe a nós chamar a atenção para o acolhimento, essa atribuição caracteriza-se
pelo “cadastro” e o primeiro atendimento oferecido para novos usuários, incluindo as situações
de crise no território. Ele é realizado por meio do preenchimento da “Ficha de Acolhimento”
pelo trabalhador da saúde mental, seja para atender usuários (as), familiares e/ou responsáveis
que vão pela primeira vez no serviço, ou que, por ventura, sejam atendidos depois de um tempo
suficiente para a atualização de seu cadastro. É dessa forma que são identificadas as demandas
dos (as) usuários (as) e, caso seja um sofrimento mental intenso, o usuário (a) terá acesso a
continuidade do seu tratamento no CAPS IJ. O documento central que direciona as bases para
os CAPS nacionalmente salienta as explicações acima da seguinte forma:

Quando a pessoa chega deverá ser acolhida e escutada em seu sofrimento. Esse
acolhimento poderá ser de diversas formas, de acordo com a organização do serviço.
O objetivo nesse primeiro contato é compreender a situação, de forma mais
abrangente possível, da pessoa que procura o serviço, e iniciar um vínculo terapêutico
e de confiança com os profissionais que lá trabalham. Estabelecer um diagnóstico é
importante, mas não deverá ser o único, nem o principal objetivo desse momento de
encontro do usuário com o serviço.
A partir daí irá se construindo, conjuntamente, uma estratégia ou um projeto
terapêutico para cada usuário. Caso essa pessoa não queira ou não possa ser
beneficiada com o trabalho oferecido pelo CAPS, ela deverá ser encaminhada para
outro serviço de saúde mais adequado para sua necessidade. Se uma pessoa está
isolada, sem condições de acesso ao serviço, ela poderá ser atendida por um
profissional da equipe do CAPS em casa, de forma articulada com as equipes de saúde
da família do local, quando um familiar ou vizinho solicitar ao CAPS. Por isso, é

1
No caso das crianças e adolescentes, por estarem em fase de desenvolvimento, é mais dificultado o processo de
fechamento de um diagnóstico de transtorno mental. Por isso, trabalha-se apenas com hipóteses.
15
importante que o CAPS procurado seja o mais próximo possível da região de moradia
da pessoa (Brasil, 2004, p.15, grifo nosso)

Pudemos verificar que o acolhimento, feito com o direcionamento da Ficha de


Acolhimento Psicossocial existente no serviço até determinado momento, é um processo que,
de forma alguma, pode ser dispensado e, na visão da estagiária e da assistente social do serviço
(supervisora de campo), deveria conter diferentes atualizações conforme as demandas forem se
diversificando e ampliando ao longo do tempo. No entanto, durante nosso período de estágio
pudemos verificar insuficiência de dados e informações sobre a vida sócio-familiar e
comunitária dos usuários. O que no fez propor um projeto de intervenção que consistiu na
revisão dessa ficha de acolhimento, com vistas a garantir que os referidos dados e informações
pudessem ser colhidos durante o acolhimento do usuário no serviço. No Anexo 1, podemos
verificar a antiga Ficha de Atendimento Psicossocial do CAPS IJ/OP. A primeira proposta para
a nova ficha de acolhimento (Anexo 2), que foi criada pela estagiária, buscou auxiliar na
ampliação de conhecimentos sobre a totalidade da vida social dos usuários, como os aspectos
relacionados à condição sócio-econômica, familiar e comunitárias dos usuários, bem como
apurou dados referentes às questões raciais, étnicas e de gênero.
A partir dessa nova ficha de acolhimento foi possível pensar no objeto desta pesquisa:
a caracterização dos usuários do CAPS IJ de Ouro Preto.
Entretanto, após discussões durante as reuniões de equipe e apresentação desse projeto
de intervenção, o mesmo foi avaliado com ressalvas e consentido pela equipe do CAPS IJ de
Ouro Preto. A proposta de nova Ficha de Acolhimento Psicossocial passou a identificar os
seguintes dados: nome social, identidade de gênero, auto declaração, origem do
encaminhamento, renda familiar, meio de transporte, situação de moradia, necessidades
educacionais especiais, acesso ao lazer, acesso ao saneamento básico especificidades
sociais/étnicas/culturais, dentre outras questões. Contudo, após apresentação da mesma aos
profissionais do CAPS ij/OP, a equipe optou pela retirada de várias questões, para que o
instrumento ficasse mais “enxuto” e pudesse ser utilizado por todos os profissionais que
realizam o acolhimento dos usuários. Com isso, foi necessário rever a proposta inicial e adequá-
la as demandas apresentadas pela equipe do serviço.
Apesar das alterações, a Nova Ficha de Acolhimento Psicossocial (Anexo 3), aprovada
pela equipe, permite um atendimento mais qualificado, colocando em evidência os
determinantes sociais do processo saúde-doença na integração e promoção da saúde do usuário
(a). Foi feita uma análise quantitativa e qualitativa dos dados obtidos nas novas Fichas de

16
Acolhimento Psicossocial, contidas nos prontuários do serviço. Essa análise incluiu a
atualização das fichas de acolhimento dos familiares e/ou responsáveis e usuários (as) ativos
(as), além de interpretações dadas aos acolhimentos que foram feitos pelo plantonista.
Conseguimos abranger 101 usuários (as) ativos no serviço, incluindo os seguintes
dados: idade; identidade de gênero e auto declaração; tipo de escola que frequenta (pública ou
particular); série escolar;, moradia, incluindo local (sede do município ou no distrito e se é em
área urbana ou rural); origem do encaminhamento para o serviço ou busca esporádica; a
principal demanda; hipótese diagnóstica de algum transtorno mental; medicações utilizadas;
perfil familiar e socioeconômico, incluindo composição familiar (natural, extensa ou
substituta); estado civil dos pais ou responsáveis; existência de emprego remunerado; nível de
escolaridade; casos de transtorno mental na família; renda aproximada do núcleo familiar;
benefício sócio assistencial ou previdenciário recebidos; pensão e contribuição do adolescente
com a renda familiar; hábitos alimentares; meio de transporte utilizado; tipo de moradia; acesso
aos dispositivos no território; necessidades educacionais especiais; , especificidades
sociais/étnicas/culturais e, por fim, acesso à serviços básicos como à água, esgoto, limpeza
urbana e, por fim, existência de risco habitacional e/ou no território.
Sabe-se que a pesquisa científica tem o papel de construir um conhecimento “novo”,
que atenda, acima de tudo, as necessidades do público alvo e, no caso deste trabalho, a
população infantojuvenil da comunidade e do serviço de saúde. O objetivo geral dessa pesquisa
foi caracterizar a população assistida pelo Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil
(CAPS IJ) do município de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Tínhamos os seguintes objetivos específicos: refletir sobre a população usuária da saúde
mental, em especial, crianças e adolescentes, como expressão da questão social, considerando
suas refrações de classe, raça, gênero e etnia; fazer um resgate sócio histórico da política de
saúde mental no Brasil e as particularidades dessa política no município de Ouro Preto/MG;
refletir sobre o avanço do neoconservadorismo e sua relação com a “contra-reforma
psiquiátrica” na política de saúde mental brasileira; apresentar um panorama geral da população
assistida pelos CAPS IJ no Brasil; realizar um levantamento de dados sobre a população
assistida pelo CAPS IJ de Ouro Preto/MG ,e também; contribuir para que os trabalhadores do
CAPS IJ/OP possuam mais um instrumento de conhecimento sobre a realidade dos usuários
para a construção do “Projeto Terapêutico Singular” destes.
O método assumido é o materialismo histórico dialético, a partir do qual o pesquisador
(a) busca conhecer a realidade objetiva em sua totalidade. É “[...] o método de pesquisa que
17
propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, [que] visa alcançar a essência do
objeto” (Netto, 2011, p. 22). Em outras palavras, se parte da realidade concreta para ir à essência
dos fenômenos, compreendendo o significado de sua aparência e relacionando-os com sua
essência.
Dessa forma, além da pesquisa empírica descrita acima, esta investigação também está
metodologicamente organizada a partir da realização de uma pesquisa bibliográfica dividida
em dois capítulos. A mesma foi realizada em livros, artigos científicos e sites, para buscar
conhecimento, constituir referencial e embasamento teórico sobre a população usuária da saúde
mental, em especial, crianças e adolescentes. Vale dizer que, esse público pode ser atravessado
pelas expressões da “questão social” e as refrações de classe, raça, gênero e etnia. Foi realizado
um estudo, também, sobre a condição sócio histórica da política de saúde mental no Brasil e as
particularidades dessa política no município de Ouro Preto/MG; ademais dos impactos do
neoconservadorismo e da recente crise econômica para a política e análise de um panorama
geral da população assistida pelos CAPS IJ no Brasil.
Nesta pesquisa, buscou-se fugir da perspectiva de individualização, fragilidade e
insegurança, pois com o reconhecimento do sujeito em sua totalidade, os direitos das crianças
e adolescentes com transtornos mentais podem ser melhor identificados e viabilizados. Assim
as perguntas norteadoras dessa pesquisa foram: Quem são essas crianças e adolescentes
atendidas pelo CAPS ij/OP? Qual é o seu lugar no território? Quais são os determinantes sociais
da saúde2 que os atravessam? Como acolher sem conhecer? Como requisitar os direitos dos
usuários (as) sem saber quais são as características dessa população atendida e quais são suas
demandas mais abrangentes? E para além disso, como esses direitos serão efetivados sem dados
concretos que o comprovem? Como garantir a promoção da saúde sem refletir sobre toda a
conjuntura atual da região e do país? Qual o foco do “cuidado em saúde mental” a que devemos
promover?
Apesar de não nos esgotarmos com as reflexões aqui tratadas – baseadas nas perguntas
descritas acima –, desconhecemos estudos dessa natureza na região. Como estudo realizado
neste território, esta pesquisa pode inspirar a realização de novas investigações sobre a temática;
poderá servir como mais uma possibilidade de diálogo dessa população com os movimentos
sociais, coletivos e associações de moradores, potencializando suas requisições acerca da

2
Utiliza-se o termo “determinantes sociais da saúde” por ser mais acessível ao entendimento do leitor, porém, o
correto seria dizer “determinação social do processo saúde doença”, por apropriar-se do entendimento dessa
determinação da saúde como um ‘processo’ social, e não ‘fator’ social, como alertado por Garbois (2017).
18
preservação do bem-estar e autonomia das crianças e adolescentes. Ademais, ao estudar acerca
da realidade regional em que a UFOP está inserida, esta pesquisa justifica-se também pelo fato
de a UFOP estar cumprindo sua função social de aproximação e fomento da produção de
conhecimento no território de sua abrangência.
Diante de todo o exposto, torna-se evidente a importância da demonstração de pesquisas
que envolvam as especificidades da vida das crianças e adolescentes assistidas pela atenção
psicossocial. Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPS IJ) desempenham um
papel crucial no processo de inclusão social desses indivíduos em seu próprio território,
fundamentais para garantir um futuro mais saudável e promissor para as gerações vindouras.
Convém uma convicção de pensamento “crítico direto sobre a essência da organização social
da sociedade de mercado e do regime de acumulação capitalista, por meio dos processos de
geração e reprodução da exploração humana e da natureza e as suas marcadas consequências
na saúde.” (Garbois, et.al, 2017, p. 69).

19
2 A LOUCURA ENQUANTO UMA EXPRESSÃO DA “QUESTÃO SOCIAL”

“a loucura é a loucura. Só em determinadas condições é que ela se


torna um problema social”

Karl Marx

2.1 Formação sócio-histórica brasileira e a loucura

Neste tópico, pretende-se tratar sobre a formação sócio histórica brasileira, o surgimento
da “questão social” no país e a questão da loucura nesse contexto. Até o início do processo de
construção da Reforma Psiquiátrica, a assistência as pessoas com transtornos mentais
constantemente permeada pela lógica manicomial e a indústria da loucura em seu auge.
Ressalta-se que a chegada até o cenário atual é resultado de muita luta e, há que se considerar
as diversas contradições que envolvem a história de constituição das políticas socais dentro da
ordem capitalista, em especial a Política Nacional de Saúde Mental.
Na obra “O Povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”, Darcy Ribeiro (1995)
retrata de forma sábia a formação sócio-histórica do país brasileiro, que nada mais é do que a
constituição de suas bases econômicas, sociais, políticas e culturais, que demonstram uma
particular forma de vida e de interesses coletivos. O genocídio indígena, a escravidão e as
revoltas, por exemplo, são reflexos de uma trajetória totalmente submissa aos interesses e
ganâncias de outrem. Sabe-se que antes da chegada dos colonizadores no Brasil, o povo
indígena já havia se firmado, mas foi a partir de 1500, mais especificamente, que seus costumes
e modos de ser nunca mais tiveram as mesmas expressões.

Mais tarde, com a destruição das bases da vida social indígena, a negação de todos os
seus valores, o despojo, o cativeiro, muitíssimos índios deitavam em suas redes e se
deixavam morrer, como só eles têm o poder de fazer. Morriam de tristeza, certos de
que todo o futuro possível seria a negação mais horrível do passado, uma vida indigna
de ser vivida por gente verdadeira (Ribeiro, 1995, p. 43).

Com a chegada dos colonizadores, aos poucos foi se definhando a abundância de


recursos para sua subsistência indígena e sua agricultura, que obtinha predominância na
plantação de frutas e tubérculos, caça e pesca (Ribeiro, 1995). Foi negada a sua existência, ao
considerá-los como povos “atrasados” e passíveis de adaptação aos padrões homogeneizantes
da “modernidade”, além do etnocídio físico, cultural e espiritual. Essa dinâmica acontecia ao
mesmo tempo de uma grande rivalidade internacional em busca das riquezas naturais e
humanas. Marx e Engels pontuam a centralidade da escravidão colonial, que obviamente

20
também ocorreu no Brasil, como fundamental para a então chamada acumulação primitiva de
capital.

A descoberta das terras auríferas e argentíferas na América, o extermínio, a


escravização e o soterramento da população nativa nas minas, o começo da conquista
e saqueio das Índias Orientais, a transformação da África numa reserva para a caça
comercial de peles-negras caracterizam a aurora da era da produção capitalista. Esses
processos idílicos constituem momentos fundamentais da acumulação primitiva. A
eles se segue imediatamente a guerra comercial entre as nações europeias, tendo o
globo terrestre como palco (Marx, 2013, p. 998).

O grande motivo para que o povo negro e indígena fosse colocado à mercê da servidão,
foi justamente por causas econômicas de produção para além da vida. Segundo Williams
(1975), a escravidão possui diversas vantagens, como por exemplo, o uso mais proveitoso da
terra e o lucro exorbitante. Isso porque, o povo africano também tinha habilidades específicas
apreendidas em sua cultura que eram funcionais para a mão de obra escrava na extração de
recursos, como: antilhas, açúcar, fumo e algodão e, posteriormente, o ouro, a prata e o minério
de ferro. Quanto aos indígenas, o seu conhecimento sobre a terra e o clima, de certa forma, foi
favorável à fuga.
Por meio dessa forma econômica, Ribeiro (1995) coloca em evidência que o processo
de formação do povo brasileiro se fez pelo entrechoque de seu contingente altamente conflitivo:
indígenas, negros e brancos. Vivemos então, principalmente neste período, em estado de guerra
latente, havendo uma certa predominância que marca e caracteriza cada conflito colonial que
aconteceu no Brasil. À título de exemplificação, Ribeiro (1995) incita a luta dos Cabanos no
estado paraense marcada por tensões inter‐raciais (brancos versus caboclos), classistas
(senhores versus serviçais) e, acima de tudo, pela busca por hegemonia interétnica. O mesmo
ocorreu em Palmares, no sertão nordestino, que obteve o enfrentamento racial como
componente principal em busca de poder expressar sua forma de vida com dignidade. A Guerra
de Canudos , que aconteceu no interior da Bahia, também pode ser exemplificada, prevalecendo
a tensão classista entre sertanejos e fazendeiros. Tem-se que a população brasileira em formação
“não tinham qualquer possibilidade de orientar seu próprio trabalho para o atendimento de suas
necessidades” (Ribeiro, 1995, p.168).
Dessa maneira, o sistema produtivo que aqui se manifestava herdou, segundo Couto
(2010), um Estado incipiente e comprometido com o poder privado, que incide mais fortemente
nos direitos civis, em detrimento dos outros direitos. Os direitos civis, em que são valorizadas
a liberdade, a autonomia, a justiça e a propriedade privada, em condições objetivas, só era
exercido para uma parcela ínfima da população brasileira. Além disso, “os direitos políticos
21
estavam atrelados à manutenção da sociedade brasileira dentro dos seus padrões tradicionais”
(Couto, 2010, p. 87). Em resumo,

O Brasil, do tempo da proclamação da sua independência herdou a existência de uma


sociedade escravocrata, uma economia monocultora e latifundiária e um Estado
absolutista (Carvalho, 2002). Estas características dificultaram sobremaneira a
implantação de mecanismos transformadores e garantidores de direitos, como é
possível observar pelos acontecimentos que conformaram a formação sóciohistórica
brasileira (Couto, 2010, p. 89).

É necessário sublinhar que a abolição da escravidão no Brasil só aconteceu por meio de


pressões externas, pois o sistema capitalista internacional no século XIX experimentava
mudanças em seu ordenamento que buscavam ampliar o seu crescimento através do controle
dos mercados. Tais pressupostos, apontam para as bases da estruturação capitalista no Brasil.
Podemos dizer que essa transição ocorreu tardiamente, de maneira muito semelhante a outros
países dependentes da América Latina. A mesma ocorreu sem nenhuma mudança substantiva
na organização social, ou seja, com a prevalência da liderança dos mesmos grupos políticos no
poder - latifundiários (da elite cafeeira), estrangeiros, etc. A proclamação da república e a
manifestação do capitalismo, então, não significou a ampliação dos direitos para a maior parte
da população, apenas uma miséria material cada vez mais crescente e um mercado que coloca
em evidência o capital externo para a sua reprodução.
Se estruturam, nesse âmbito, de um lado, os possuidores de mercadorias (propriedade
privada), dinheiro, meios de produção, meios de subsistência e que buscam valorizar a força de
trabalho alheia, de outro lado, trabalhadores livres, vendedores da sua força de trabalho,
desvinculados dos meios de produção. A partir de 1930, com o governo gestado por Vargas, o
sistema econômico brasileiro se desloca do eixo agroexportador para o urbano industrial. Nesse
sentido, Iamamoto e Carvalho (2014) demonstram que o aparecimento da “questão social” está
diretamente ligado à generalização do trabalho livre.

a “questão social” deixa de ser apenas contradição entre abençoados e desabençoados


pela fortuna, pobres e ricos, ou entre dominantes e dominados, para constituir-se,
essencialmente, na contradição antagônica entre burguesia e proletariado,
independentemente do pleno amadurecimento das condições necessárias à sua
superação (Iamamoto, et.al., 2014, p. 135).

Em face dessa contingência, numa análise sobre o surgimento da questão social no


capitalismo, e de seu pressuposto, o fenômeno do pauperismo na Inglaterra, do século XVIII,
Netto (2011, p. 153) afirma que “pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na
razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas”. Em outras palavras,
o aumento da riqueza socialmente produzida, é diretamente proporcional ao crescimento da
22
pobreza, pois, notoriamente, as necessidades de quem produz toda essa mesma riqueza (o ser
social), não são supridas. Daí que se coloca a centralidade da “questão social” nas contradições
que atravessam a sociedade, exigindo um posicionamento frente às demandas dos trabalhadores
e dessa nova ordem produtiva. A “questão social” é não só a expressão das desigualdades
sociais na sociedade burguesa recém constituída, como também, a materialização das lutas
sociais contra as suas contradições.
Destarte, o apoio interdependente do Estado para a manutenção da classe burguesa,
implicará na negação da existência da própria “questão social”, na negação da canalização do
movimento operário, etc. A perspectiva sobre a “questão social” dada pela burguesia, tinha a
coesão social como estratégia de enfrentamento, o que acarreta no acirramento da luta de classes
e o tratamento da mesma como “questão de polícia”, ou seja, com o envolvimento de violência
e desdém. Além disso, as ações do Estado se dão por meio da conciliação e pela lógica do favor,
como mostrado por Iamamoto e Carvalho:

Seu posicionamento natural variará entre a hostilidade e o apoio explícito à repressão


policial e ações caridosas e assistencialistas, especialmente após o sufocamento dos
movimentos reivindicatórios e nas crises econômicas que lançam grandes maças em
situação de extremo pauperismo (Iamamoto, et.al., 2014, p. 135).

Com o objetivo de superação da dependência econômica e atraso em seu


desenvolvimento, após a Segunda Guerra Mundial, o país se dedicou a uma política
desenvolvimentista e nacionalista dos interesses burgueses, que prioriza manter seus privilégios
de prosperidade, soberania, paz e ordem social. Isso indica um papel diferenciado na mediação
e interferência do Estado na economia, operando como administrador dos períodos de crise.
Netto (2011) afirma que, neste momento, a “questão social” deve ser combatida preservando a
propriedade privada dos meios de produção, isto é, sem tocar nos fundamentos da sociedade:
um reformismo para conservar. Significa dizer que não é lucrativo para o Estado fazer
mudanças nas bases que estruturam a sociedade e que de fato poderiam, dessa forma, suprir as
necessidades econômico sociais da população. Esse meio de intervenção, chamado de
“reformista” é responsável por criar as políticas sociais que conhecemos hoje, que obtém
características compensatórias, fragmentadas, focalizadas e refilantropizadas, como forma de
preservar e controlar a força de trabalho.
Assim, a exploração da força de trabalho e das desigualdades sociais tornam-se cada
vez mais evidentes ao longo do desenvolvimento das forças produtivas. Temos que “passaram
a ser critérios de inclusão e exclusão dos benefícios sociais a posição ocupacional e o

23
rendimento auferido” (Couto, 2010, p. 96), assim, os direitos sociais foram expandidos, porém
vinculados à legislação trabalhista3, que, por conseguinte, contribuiu diretamente com a
potencialização da acumulação capitalista. Obtendo como base o ideário liberal4, influência das
concepções europeias, Couto (2010) ainda chama a atenção para a ampliação das oportunidades
educacionais com enfoque à necessidade técnica do processo de industrialização, além do
atendimento à saúde, o que forma um grupo específico de trabalhador e de formação útil ou
inútil ao trabalho. De certa maneira, então, as questões que não põem em risco a classe
hegemônica eram bem aceitas, o que prova a barganha da burguesia brasileira.
Enfim, chegamos ao ponto que queríamos. Diante desse cenário, segundo Bravo (2006),
a política de saúde brasileira foi criada nos moldes apresentados acima, com o objetivo da
própria manutenção da ordem e mediação entre as classes sociais. A saúde emerge como uma
“questão social” a partir do início do século XX, momento em que, como dito acima, o
capitalismo se aprofunda e há um avanço da própria divisão do trabalho e a emergência do
trabalho assalariado. Entretanto, antes de pautar sobre a função social dada à saúde e a
constituição dos manicômios no Brasil, é necessário fazer um apanhado sobre a história da
loucura no mundo e o seu significado, que nem sempre foi conhecida tal qual conhecemos hoje,
ou seja, em forma de diagnósticos e transtornos.
Temos que na antiguidade clássica, a loucura era considerada como algo natural, pois a
sociedade era guiada pela natureza e a instintividade, sendo assim, “a loucura aparecia diluída
imprecisamente em todos os homens” (Resende, 1987, p. 19). Dessa forma, o louco era uma
pessoa que vivia livremente, pois a sociedade era pouco discriminatória em relação às
diferenças. Havia certa tolerância, apesar de alguns escritos da bíblia frequentemente
demonstrarem o louco como “atirado por pedras”. Com base nos estudos de Resende (1987), a
curta duração da vida, naquela época, era um fator decisivo para que os transtornos não
tomassem proporção muito significativa, o próprio conceito não era identificado até o momento
em que causasse “estorvo” para o ambiente familiar ou comunitário.

3
Isto é, o cidadão brasileiro só era reconhecido como tal se estivesse em ocupação reconhecida e definida por lei.
Por isso, alguns grupos acabam sendo excluídos da chamada cidadania regulada, como por exemplo os
agricultores, os desempregados, as pessoas negras, dentre outras, por consequência dessa segregação social. A
cidadania, além de se constituir como um direito social, também representa liberdade política.
4
O liberalismo econômico é uma ideologia de pensamento que defende a não-intervenção ou de pouca intervenção
do Estado nas relações de mercado. Em conformidade com Netto (2011), no último quartel do século XIX, o
capitalismo enfrentou mudanças em seu ordenamento, passando do estágio concorrencial para o estágio
monopolista. A relação do Estado com a economia também se modifica ao longo dos anos, incidindo na sua função
de assegurador do profícuo desempenho capitalista.
24
A partir da América Colonial, conforme as considerações de Resende (1987), a
assistência a pessoa considerada, de certa forma, “louca”, era ofertada de forma totalmente
privada e os “tratamentos” existentes eram restritos a poucas famílias abastadas, que mantinham
os loucos dentro de casa, sob os cuidados de um “auxiliar psiquiátrico” contratado. Como o
poder público apenas se responsabilizava e intervinha em situações específicas de direito civil
(como anulação de casamento, etc),

Aos pobres, era permitido vagar pelos campos ou pelos mercados das cidades, sua
sobrevivência assegurada pela caridade pública ou pequenos trabalhos realizados para
particulares. Na América Colonial, os governos municipais passaram a remunerar
aquelas famílias de lavradores que se dispunham a receber os loucos pobres não
totalmente incapacitados para o trabalho, um sistema precursor da chamada
assistência heterofamiliar que viria a ser proposta séculos mais tarde como parte do
armamentário terapêutico psiquiátrico científico (Resende, 1987, p. 21).

Simplificando, aproximadamente do século XVI ao início do século XVIII, a situação


de saúde como um todo, era permeada por uma baixa expectativa de vida e uma população
restrita de doentes mentais. Restava aos loucos pobres ou a caridade pública ou o abrigamento
em “colônias agrícolas”, nas quais utilizavam o trabalho 5 como uma forma de tratamento e
reintegração social. Podemos dizer que a loucura não foi e não é a mesma, vista de forma
diferenciada, de acordo com a história e a cultura que está inserida.
Sendo assim, para provar que a loucura se conforma enquanto uma expressão da
“questão social”, chamamos a atenção com a seguinte indagação de Resende (1987): a partir de
qual momento a loucura começa a se expressar como um “problema social”, e por isso, vai
necessitar da construção de instituições para controlá-la? O autor afirma que na Europa, “foi
justamente o princípio do fim do campesinato como classe e o declínio dos ofícios artesanais
que vieram selar a sorte do louco e elevar a loucura à categoria de problema social” (Resende,
1987, p. 23). A aptidão ou não para o trabalho se torna um fator decisivo para justificar a ideia
de normalidade ou anormalidade.
Já no Brasil, a situação aconteceu diante das mesmas violações que ocorriam em outros
países, onde eram recorrentes os maus tratos com as pessoas em sofrimento mental, ainda que
tardiamente, submetidas à exclusão de seu convívio social e ao tratamento por meio da lógica
manicomial. Resende incita que “a doença mental no Brasil, parece ter permanecido silenciosa
por muito tempo, suas manifestações diluídas na vastidão do território brasileiro” (Resende,

5
Ainda nos dias atuais, a “loboterapia”, ou seja, o ato do trabalho como forma de tratamento é exercido em
algumas “comunidades terapêuticas”. O trabalho ainda é uma das “questões centrais da problemática da doença
mental” (Resende, 1987, p. 20)
25
1987. P. 31). No século XVIII, quando acordada, “será arrastada na rede comum da repressão,
à desordem, à mendicância, à ociosidade” (Resende, 1987, p. 35)
A loucura enquanto um “problema social” emerge no Brasil a partir do século XVIII,
período no qual os loucos pobres dependiam da caridade pública e eram abrigados nos porões
das Santas Casas de Misericórdia. Apesar dessas instituições já existirem no Brasil desde o
século XVI, anteriormente não tinham como clientela doentes mentais e, nesse momento,
tinham o “tratamento” diferenciado dos demais.
Com a criação das prisões e dos manicômios, os chamados “rejeitados sociais”/
“desviantes” e “vagabundos” eram ainda mais segregados6. O primeiro manicômio no país,
surge em 1852 no Rio de Janeiro, cujo rapidamente atinge a sua lotação máxima, pois não
obtinha função curativa, “os pobres alienados saíam das casas fortes para as valas do cemitério”
(Resende, 1987, p. 40). Seguindo as teorias e práticas já executadas na Europa a mais tempo, a
forma de tratamento por meio da psiquiatria moderna também ganha força no Brasil. O
manicômio surge para encarcerar os loucos, vistos como rejeitados e improdutivos pela
sociedade e que precisavam de um tratamento, no caso, um “tratamento” assassino, torturante
e acima de tudo, lucrativo.
É importante ressaltar que o “asilamento” está diretamente ligado à capacidade dos
sujeitos para o trabalho, visto que este sempre foi central, até mesmo em meio terapêutico
quando era utilizado como meio de tratamento, claro que, por razões ideológicas. Behring e
Boschetti (2011), alertaram que quando se inicia a Ditadura Civil Militar, o contexto brasileiro
de desenvolvimento foi palco para o reforço ainda maior da patologização e do controle
sanitário nas periferias brasileiras, para padronização dos trabalhadores e, acima de tudo, a ideia
da saúde diretamente ligada à política higienista, ou seja, de limpeza da população.
Ratton (2020) e Arbex (2013) ilustraram as condições desumanas em um manicômio de
Minas Gerais, em especial para as pessoas de pele mais retinta, e que possuíam algum transtorno
mental, como: o encarceramento, terapias de choque e/ou lobotomia. Não só os loucos, mas as
pessoas que fugiam dos padrões normativos, como: homossexuais, pessoas com deficiência,
“mendigos”, mulheres com pensamentos revolucionários para época, também eram “pacientes”
dos manicômios. Esse tipo de “tratamento” era feito sem autorização das famílias, que sequer
sabiam o paradeiro de seus parentes e amigos. Esse é apenas um exemplo do que, de forma
mais contundente da década de 1960 à 1980, aconteceu no Brasil.

6
O isolamento era uma proteção contra as fugas.
26
O capitalismo é um gerador do sofrimento psíquico e aproveitador dos corpos para
perpetuação de uma lógica asilar que segrega e que não leva em conta as vontades dos
trabalhadores, sua história de vida, seu território, subestimando a potência dos indivíduos. O
sistema é adoecedor e, para tanto, gera uma população adoecida. Dentro da lógica asilar, os
direitos dos “doentes mentais” são violados e estes não são considerados enquanto pessoa livre
e cidadã. A Reforma Psiquiátrica Brasileira, concomitantemente com a Reforma Sanitária, veio
para mudar esse contexto.
A Reforma Psiquiátrica surgiu na Itália, tendo como grande referência e influência
mundial, o psiquiatra Franco Basaglia. O autor critica a centralidade hospitalocêntrica, na qual
o cuidado em saúde mental se faz apenas nos hospitais; a patologização, a partir da qual o
sofrimento humano é explicado apenas por categorias médicas e diagnósticas; e a
medicalização, uma prática que, segundo ele, cria cada vez mais uma práxis alienada e
alienante7. Essas questões, para Basaglia (2010), acabavam perdendo de vista a ideia do
chamado louco como um corpo social, das suas potencialidades de análise da totalidade da vida
social e de tudo que atravessava o seu sofrimento. Apesar de não dizer a palavra explícita sobre
as diferentes classes sociais, o autor tinha uma leitura revolucionária, que pautava a relação da
loucura com a miséria e o poder. Segundo ele, “se a razão burguesa tornou-se razão humana, a
relação entre razão e loucura “segregada” é essencialmente uma relação entre poder e miséria”
(Basaglia, 2010, p. 268).
Franco Basaglia teve diferenciação em sua abordagem ao priorizar o doente e não mais
a doença em si, e influenciou diretamente a Reforma Psiquiátrica brasileira. Segundo Tomaz
(2018), autores como Paulo Amarante, Franco Rotelli, Eduardo Vasconcelos e Joel Birman
defendiam no país a influência mais forte da psiquiatria democrática italiana no processo da
Reforma Psiquiátrica Brasileira, apesar desta ter sido influenciada por autores como Foucault,
Goffmann, Szaz e Castel. Ainda hoje, existem diferentes projetos de Reforma Psiquiátrica que
estão em disputa no processo da luta antimanicomial, que serão discutidos posteriormente.
Neste momento, é importante destacar as 4 fases de desenvolvimento da Reforma
Psiquiátrica, que ocorreu tardiamente no Brasil. Amarante (1998) as descreve da seguinte
forma: a primeira fase (década de 1970) conta com a crítica ao asilamento e a mercantilização

7
No período do Iluminismo (séc. XVII e XVIII), internacionalmente, a exclusão estava diretamente ligada a “falta
de razão”. Porém, segundo Amarante (1998, p. 59): “Durante a segunda metade do século XVIII, a desrazão,
gradativamente, vai perdendo espaço e a alienação ocupa, agora, o lugar como critério de distinção do louco ante
a ordem social. Este percurso prático/discursivo tem na instituição da doença mental o objeto fundante do saber e
prática psiquiátrica.”

27
da loucura. Crítica esta feita por parte dos trabalhadores da saúde mental que viam de perto a
realidade e eram responsáveis por divulgar as atrocidades que ocorriam no interior das
instituições manicomiais. Essa primeira fase, aconteceu sob influência do recém inaugurado
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) e outras associações. Seu estopim
foi representado pela chamada 'Crise da DINSAM ' (Divisão Nacional de Saúde Mental), pois
foram identificadas e divulgadas irregularidades nas unidades hospitalares. Melhor dizendo,

A pauta inicial de reivindicações gira em torno da regularização da situação trabalhista


– visto que a situação dos bolsistas é ilegal – aumento salarial, redução do número
excessivo de consultas por turno de trabalho, críticas à cronificação do manicômio e
ao uso do eletrochoque, por melhores condições de assistência à população e pela
humanização dos serviços. Ou seja, reflete um conjunto heterogêneo e ainda
indefinido de denúncias e reivindicações que o faz oscilar entre um projeto de
transformação psiquiátrica e outro de organização corporativa (Amarante, 1998, p.
101).

Percebe-se que a luta por mudanças na política de saúde mental, inicialmente, ainda era
muito tímida e mesclava elementos de transformação da assistência psiquiátrica com elementos
da luta dos trabalhadores das instituições manicomiais por melhores condições de trabalho.
Amarante (1998) incita que a partir das discussões realizadas no 1° Congresso Brasileiro de
Saúde Mental (resultado dos desdobramentos da 8ª Conferência Nacional de Saúde), que a
segunda fase da Reforma (1980-2001) salta para a transformação do sistema asilar e a
ampliação da oferta de atendimento em saúde mental fora dos “hospitais psiquiátricos”. Nela,
foram discutidas questões relacionadas à “economia, sociedade e o Estado – impactos sobre a
saúde e doença mental; Reforma Sanitária8 e reorganização da assistência à saúde mental;
cidadania e doença mental – direitos, deveres e legislação do doente mental” (Amarante, 1998,
p. 133).
Essa fase acontece em consonância com a redemocratização brasileira (pós Ditadura
Militar), na qual, segundo Behring (2011), há a constituição de políticas voltadas para os
princípios da universalização, responsabilidade pública e gestão democrática, apesar das
tendências reformistas, com a introdução do conceito de seguridade social, articulando as
políticas de previdência, saúde e assistência social e os direitos a elas vinculados. Assim, por
intermédio da ampliação da participação popular, do crescimento da denúncia à violência e
ineficácia do sistema assistencial hospitalocêntrico, além das discussões sobre a ampliação da

8
Aconteceu no mesmo período da Reforma Psiquiátrica. O seu marco foi a ampliação do conceito da saúde de
forma integral e ampliada, ou seja, o seu acesso deve ser garantido desde as ações de promoção até as de
recuperação, envolvendo o sujeito e suas relações sociais de no geral.
28
saúde pública e universal, há a criação de leis e estruturas que dão mais suporte ao movimento
da Reforma Psiquiátrica.
A partir do Congresso de Bauru, realizado em 1987, aquele movimento inicial dos
trabalhadores da saúde mental se transforma no Movimento da Luta Antimanicomial (MLA),
separando a luta política por melhores condições de trabalho da luta pela transformação do
hospício, que une profissionais de saúde mental, usuários e seus familiares, com o propósito de
transformar o modelo tradicional de tratamento psiquiátrico. Este movimento desempenhou um
papel crucial ao desafiar a "inviabilidade da mera transformação institucional, da simples
modernização da psiquiatria e suas instituições" (Amarante, 1998, p. 142). Diante disso, a
proposta do MLA foi de ir além das reformas do manicômio e visou uma mudança radical no
paradigma do cuidado em saúde mental, defendendo o lema “Por Uma Sociedade Sem
Manicômios”. Esse lema simboliza um compromisso com a construção de um modelo de saúde
mental inclusivo, humanizado e em liberdade houve um avanço significativo na construção da
política social universal e não contributiva, representada pela criação do Sistema Único de
Saúde (SUS).
A promulgação da Lei nº 10.216/2001 foi o marco mais importante na Reforma
Psiquiátrica, pois, apesar de não ter extinto os hospitais psiquiátricos, promoveu uma série de
avanços significativos na luta antimanicomial ao estabelecer princípios fundamentais para a
proteção dos direitos dos pacientes e a promoção de cuidados.
Antes da Lei nº 10.216/2001 ser aprovada, em 1989, o político Paulo Delgado criou um
projeto de lei que previa o fechamento gradual de manicômios e hospícios existentes no país
até sua extinção. No entanto, o projeto de que foi aprovado, doze anos depois não deixa explícita
essa finalidade, pelo contrário, deixa em aberto, contribuindo para que sejam abertas “brechas”
para ampliação de “comunidades terapêuticas”, hospitais psiquiátricos, como vem ocorrendo
na última década. A Reforma Psiquiátrica no Brasil, então, se conforma como uma luta
inacabada, por isso a mesma perdura até os dias atuais. Logo, a terceira fase da Reforma
Psiquiátrica Brasileira se iniciou em 2002 e segue em curso. A criação dos Centros de Atenção
Psicossociais e outros serviços públicos de integração dos cuidados das pessoas com transtornos
mentais são um passo muito significativo para a consolidação da Política Nacional de Saúde
Mental Brasileira e a promoção da inclusão social.
Como ressalta Passos e Moreira (2017), a MLA tem o desafio e compromisso na
desconstrução e dissolução do capitalismo, do patriarcado e do racismo. Considera-se que, não
diferente do auge dos manicômios, a população negra e pobre é a que ocupa mais espaço nesses
29
locais, seja nas antigas instituições ou nos serviços substitutivos aos manicômios. Esse lugar
dado a essa população é socialmente construído, o que “nos leva a nos preocupar com a
qualidade do cuidado oferecido aos/às negros/as no âmbito da saúde mental” (Passos; Moreira,
2017, p. 350).
Podemos citar que, segundo Fernandes (2006), o desenvolvimento da nação brasileira
constituiu-se em um modelo denominado de “modernização conservadora”. Ou seja, em seu
processo de formação sócio-histórica, há uma combinação de elementos de desenvolvimento e
da forma de dominação burguesa com a manutenção de relações atrasadas de modo de produção
e de relações sociais tardias. Essas relações sociais tardias incluem as intersecções entre todo o
seu histórico escravocrata, patriarcal e desigual, que claro, obteve as mais diversas influências
no seguimento da lógica manicomial e de uma reforma psiquiátrica que não condiz com as
reivindicações da maior parte da população brasileira.
Diante do exposto, temos que a marca principal dos manicômios é o racismo, o que nos
leva a indagar-se: batizá-los de “os porões da senzala brasileira” não seria mais condizente do
que “holocausto brasileiro”, visto que o objetivo é que reconheçamos o seu histórico/função
social no território brasileiro, e não internacional?

2.2 A constituição da Política de Saúde Mental brasileira e ouropretana

Considerando as colocações acima referidas, cabe aqui resgatar as diretrizes e normas


mais importantes que foram cruciais para o processo da reforma nacional no âmbito da saúde
mental, que permitiram uma diminuição considerável no número de internações psiquiátricas
em todo o Brasil. Serão apontadas, além disso, as particularidades da Política de Saúde Mental
no município mineiro, ressaltando a constituição e a organização atual do Centro de Atenção
Psicossocial Infantojuvenil de Ouro Preto (CAPS IJ/OP).
Com o decorrer do processo de reivindicações para que fossem reconhecidos os direitos
dos loucos, podemos evidenciar que mesmo antes da criação da Lei Nacional da Reforma
Psiquiátrica, já havia normativas que incentivaram regionalmente a reintegração do louco à
comunidade, como é o caso da Lei 11802 de 18 de janeiro de 1995, que planeja em Minas
Gerais (pelos poderes estadual e municipal), a criação de ambulatórios; serviços de emergência
psiquiátrica em prontos-socorros gerais e centros de referência, leitos ou unidades de internação
psiquiátrica em hospitais gerais, serviços especializados em regime de hospital-dia e hospital-
30
noite, centros de referência em saúde mental, centros de conveniência, lares e pensões
protegidas (Brasil, 2002, p. 28).
Em âmbito nacional, a Portaria/SNAS n° 189/1991 do Ministério da Saúde foi
importante, pois coloca o coloca o SUS como principal responsável pelo financiamento para a
saúde mental, ao definir os “procedimentos” dos Núcleos e Centros de Atenção Psicossociais,
inicialmente em organização mais voltada para o incentivo público a outras modalidades de
assistência que não as tradicionais (internação e ambulatório de consultas). A Portaria/SNAS
n° 224/1992 foi complementar a esta, nela foi regulamentado o funcionamento de todos os
serviços de saúde mental - incluindo de hospitais psiquiátricos – os fiscalizando e proibindo de
práticas de violência à luz da Lei Orgânica da Saúde (Lei n° 8080/1990). Essa normativa
também estabelece a diversidade de métodos terapêuticos na assistência multiprofissional.
No entanto, apenas a partir de 2002, são ampliadas e definidas as diferentes modalidades
de CAPS e os seus objetivos, na Portaria ministerial GM n° 336. A partir desta portaria são
estabelecido os portes diferenciados dos Centros de Atenção Psicossocial, os CAPS, a conforme
a população do município em que estes serviços são criados e, principalmente, direciona novos
serviços específicos para área de álcool e outras drogas e infância e adolescência. Por
conseguinte, finalmente é marcada a criação dos CAPSi II (Centros de Atenção Psicossocial
Infantojuvenis), que inclui as seguintes atividades:

a) atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre


outros);
b) atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social,
entre outros);
c) atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior
ou nível médio;
d) visitas e atendimentos domiciliares;
e) atendimento à família;
f) atividades comunitárias enfocando a integração da criança e do adolescente na
família, na escola, na comunidade ou quaisquer outras formas de inserção social;
g) desenvolvimento de ações intersetoriais, principalmente com as áreas de assistência
social, educação e justiça;
h) os pacientes assistidos em um turno (4 horas) receberão uma refeição diária, os
assistidos em dois turnos (8 horas) receberão duas refeições diárias (Brasil, 2002, p.
116-117).

Sabemos que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), são constituídos como


serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico e buscam prestar a assistência em saúde
mental territorializado, comunitário e em liberdade. Esses serviços de saúde buscam a
valorização da equidade, a organização por meio da “territorialização” e a integralidade. Seu
público é composto por pessoas com intenso sofrimento psíquico decorrente de “transtornos
mentais graves e persistentes”. A rede que organiza e direciona os serviços públicos e
31
comunitários regulamentados pelo Ministério da Saúde atualmente, desde a atenção básica, os
CAPS/NAPS, residências terapêuticas serviços de urgência e emergência e hospitalares, a Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS) foi criada em 2011 pela Portaria Nº 3088/2011.
A RAPS é uma rede prioritária e essencial para o fortalecimento da rede de saúde mental
regional como um todo, as suas articulações e planejamento de ações condizem com o
protagonismo da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Um dos seus pilares de funcionamento é o
reconhecimento da participação social, de forma a ater-se a ações com organismos sociais
(conselhos, comitês, associações de usuários, etc) para não perder de vista as possibilidades de
crescimento e manutenção da luta antimanicomial. Tem-se o 18 de maio como o dia nacional
da luta, onde os movimentos sociais, compostos pela sociedade, usuários, familiares e
profissionais se reúnem em manifestações “por uma sociedade sem manicômios”.
Antes que possamos situar o CAPS IJ/OP nesse contexto, cabe a nós apresentar o
histórico do município de Ouro Preto/MG, local em que foi requisitada a construção de um
serviço de saúde mental infantojuvenil, justamente por suas particularidades. O território é
marcado nacionalmente, e até, mundialmente, pela sua intensa riqueza natural. Conforme
informações fornecidas pela Prefeitura de Ouro Preto (s.d), sua origem está na junção de vários
arraiais, com isso, tornando-se sede de conselho, foi elevada à categoria de vila em 1711 com
o nome de Vila Rica. Como seu próprio nome já propõe, era sede da extração de ouro preto,
coberto com óxido de ferro e, facilmente encontrado nos córregos dos rios durante o ciclo do
ouro.
Ao contrário dos outros países latino-americanos, que dependiam de um trabalho mais
elaborado e especializado para a extração dos metais preciosos, e Minas Gerais, o fácil acesso
ao recurso era motivo por receber diversos visitantes que vinham para a região em busca de
melhores condições de vida. Porém, com a efêmera disposição dos metais preciosos, muitas
pessoas tiveram que se estabelecer no local, o que aumentou a sua população e tornou Ouro
Preto a cidade mais populosa da América Latina e nos anos de 1730 contou com cerca de 80
mil habitantes, uma expansiva população para época.
Minas Gerais, então, se transformou em um grande polo econômico e, de certa maneira,
intelectual, com diversos centros urbanos e comércios desenvolvidos. A grande quantia
investida nas obras culturais por parte de Portugal, foi de extrema importância para que, nos
dias atuais, seja evidenciado o histórico do período escravista e, consequentemente, a
exploração/opressão ao povo negro que ainda reverbera e estrutura a sociedade mineira e
brasileira. Enfim, no ano de 1789 (mesma data da Revolução Francesa), aconteceu a
32
Inconfidência Mineira, na qual a cidade de Ouro Preto foi sede. Ribeiro (2010, p. 69) acrescenta
que:
O momento crucial da auto identificação desses mestiços como brasileiros se dá na
Insurreição Mineira. Ali se fala, pela primeira vez, de brasileiro como gentílico. A
palavra deixa de designar quem explorava o pau-brasil para ser o nome de um povo,
de uma nacionalidade.

Dessa forma, além da cidade ser palco para luta pela liberdade, emancipação e
autonomia econômica e identitária, Ouro Preto chegou a ser a capital da província e, mais tarde,
do estado, até 1897. Em 1980, foi considerada a primeira localidade elevada à título de
Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO). Até a atualidade, o município representa grande polo cultural,
ainda hoje sendo referência nas categorias de artes plásticas, restauração, teatro, música ou,
ainda, a literatura. Segundo o IBGE (2022), a cidade conta com aproximadamente 74821
habitantes, e possui abrangência de 12 distritos, sendo 6 destes com origem colonial.
Chama também atenção o fato de Ouro Preto ser considerada a população com maior
número de pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, destas, a maioria mulheres. À título de
curiosidade, no ano de 2005, o brazão/bandeira da cidade de Ouro Preto, motivo de
constrangimento para os moradores por descrição racista, configurou novo texto. “A frase em
latim "proetiosum tamen nigrum" (precioso ainda que negro), referência ao ouro coberto por
óxido de ferro encontrado na região, foi substituída por "proetiosum aurum nigrum" (precioso
ouro negro) (Guimarães, 2005, s/p).
Conforme Gomes (2019, s/p) este polo cultural é “situado em terreno extremamente
montanhoso e acidentado, somente a febre aurífera escolheria este rincão como palco de uma
cidade”. A ocupação de morros e encostas, ao longo do tempo se expandiram e, foram motivos
para grande parte da população mais empobrecida ocupasse casas em risco e alto risco de
desmoronamento, ameaçando suas vidas e também, o patrimônio histórico e cultural do
município. Abaixo, mostra-se dados quantitativos sob essa questão:

Um levantamento do Serviço Geológico do Brasil mostra que o município –


localizado na Região Central de Minas Gerais – tem o maior número de áreas de risco
do país. São 313, sendo que pelo menos 97% delas estão no patamar de risco geológico
alto e 2,8%, muito alto. Ao todo, 6.486 pessoas são afetadas pelo problema (Couri,
2023).

Assim sendo, a maior justificativa para essa ameaça, evidencia-se que é e sempre foi o
poder econômico acima do bem-estar social. Isso porque, quando se analisa o contexto da atual

33
extração de minério de ferro no estado de Minas Gerais, especificamente na região do
quadrilátero ferrífero, as consequências são ainda mais emblemáticas:

[...] seja pelo seu passado rico em ouro, diamantes e outros metais preciosos que
foram expropriados pelas metrópoles europeias, ou pelo seu presente em que o
minério de ferro ocupa a referência central da extração mineral, produção esta que é
direcionada prioritariamente ao exterior, aos grandes centros imperialistas e em
desenvolvimento (Bertollo; et.al., 2020, p. 194) .

Ou seja, todo o lucro advindo do que é retirado do país e especificamente na região, não
é direcionado para o seu desenvolvimento social e econômico próprio, mas sim para os países
de capitalismo central, como afirmado por Misereor:

Já Ouro Preto, município histórico e um dos principais produtores de ouro do Brasil


durante o período colonial, segue ainda hoje como um território central para a
mineração, convivendo com a presença de empresas como a Vale, Gerdau e Irmãos
Pedrosa que extraem, entre outras coisas, ferro, topázio e pedras (Misereor, 2021, p.
19).

Outro fator que reverbera a questão da dependência da região e do país, é a questão do


consumo de água. Recentemente, de acordo com Cardoso (2023), houve a privatização da água
por uma megacorporação coreana chamada Saneouro, por meio de um pacto com a prefeitura
do município, sem obter participação popular. Essa decisão provocou revolta da população ao
vir a público, pois sabe-se que a empresa ao menos faz o tratamento correto para oferecer água
de qualidade para a população, apenas cobra valores absurdos e incapazes de ser custeados pela
maioria dos moradores do município.
Toda a conjuntura citada é geradora do aprofundamento dos problemas relacionados à
questão da saúde pública e, em particular, da saúde mental. Principalmente, após a pandemia
da COVID-19, aprofundou-se a crise mundial do capitalismo, expondo as mais diversas
contradições desse sistema, como as relacionadas à classe, raça, gênero, sexualidade dentre
outras.
Desde a sua criação e principalmente no período atual, as três modalidades de CAPS
oferecidas desempenham um papel crucial na promoção da saúde mental da região, sendo elas:
CAPS II - Casa dos Artistas - Centro de Atenção Psicossocial para adultos -o CAPS Ad - Centro
de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas - e o CAPS IJ - Centro de
Atenção Psicossocial, para crianças e adolescentes. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
de Ouro Preto/MG, criada no ano de 2007 conta com todos os dispositivos previstos em lei,
exceto as Estratégias de Desinstitucionalização e Reabilitação. Citando-as: Atenção Primária à
Saúde (porta de entrada para ações de promoção e prevenção da saúde); Atenção Especializada
34
(modalidades de CAPS); Atenção às Urgências e Emergências (UPA, SAMU, Bombeiro e
Serviços de Segurança Pública em emergências psiquiátricas); Atenção Residencial de Caráter
Transitório; Atenção Hospitalar (internações de curta duração no Hospital Santa Casa de
Misericórdia).9
A Política de Saúde Mental do município de Ouro Preto foi constituída com muita luta,
como mostrado pelos trabalhadores, que em conjunto deixaram os relatos do histórico dos
primeiros acolhimentos fornecidos durante a Reforma Psiquiátrica local em uma revista
chamada “Olympia”. De acordo com a produção, os acolhimentos foram iniciados em 1993,
“[...] num trabalho em equipe, dada as implicações para vida familiar, social e de trabalho
decorrentes das crises e urgências psiquiátricas.” (Moebus, p. 5, 2004), com o finco de reduzir
o internamento em Hospitais Psiquiátricos da época. Com isso, na década de 1990, foi
oficializada a construção do projeto de saúde mental, com a ampliação da equipe
multiprofissional, oficinas terapêuticas, participação da comunidade e inserção da família,
graças à criação da Associação de Usuários e Familiares. Outro marco foi o conhecido “Bloco
Conspirados”, que ainda estreia em todos os anos no famoso carnaval da cidade.
Nessa ótica, a Revista Olympia (2004) sinaliza que é reorganizada a assistência em
saúde mental com a criação do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I), credenciado pelo
Ministério da Saúde no ano de 2001. A sua responsabilidade era de atender todos os tipos de
usuários para o atendimento à crise e urgências em conformidade com as diretrizes do SUS e a
da Reforma Psiquiátrica. No mesmo local de sua fundação, no Bairro Água Limpa funciona nos
dias de hoje o CAPS II – Casa dos Artistas, que atende adultos em grave sofrimento psíquico.
É de fundamental importância ressaltar os qualificadores dos CAPS, ou seja, para que o
usuário (a) permaneça no serviço, é necessário que se enquadre nos seguintes parâmetros:

Uso de álcool ou outras substâncias psicoativas que causem sofrimento significativo


pessoal e social, riscos à saúde e/ou outros prejuízos clínicos e psicossociais sem risco
iminente à vida. Situações de abstinência com sintomas leves a moderados sem quadro
clínico agravado;
Quadro psicótico agudo, sem sinais de agitação psicomotora e/ou agressividade,
porém sem apoio sociofamiliar;
Episódio conversivos/dissociativos, sem alteração aguda do comportamento e risco à
própria integridade ou à de terceiros;
Determinações judiciais (a depender da competência e especificidades da RAPS);
Quadro depressivo grave com ou sem sintomas psicóticos, com ideação suicida sem
planejamento, porém sem apoio sociofamiliar que possibilite tratamento
extrahospitalar;
Autonegligência (perda do autocuidado) grave;
Quadro psicótico agudo, sem sinais de agitação psicomotora e/ou agressividade auto

9
Disponível em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/diario-publicacoes/3247. Acesso em: 09 ago
2024.
35
e heterodirigida
Transtorno Afetivo Bipolar: episódio depressivo ou maníaco sem risco para si ou para
terceiros; (Ouro Preto, 2024, p. 17-18).

Em se tratando do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ) de Ouro


Preto, o mesmo atende apenas as crianças (de 2 à 12 anos completos) e adolescentes (de 12 aos
18 anos), podendo se estender ao atendimento destes até os 21anos, em raros casos. O CAPS
Infantojuvenil, conforme o Projeto de Implantação do CAPSi de Ouro Preto (2008),
inicialmente era chamado de “Ambulatório da Criança e do Adolescente”, obtendo objetivos
de atuação diferentes e em desenvolvimento. Neste ambulatório, cabia aos profissionais de
saúde o cuidado clínico psiquiátrico, a reabilitação psicossocial e educacional para os pacientes
e familiares.
Desse modo, o serviço do CAPS IJ, localizado no endereço Rua Travessa Sargento
Francisco Lopes, 79, bairro Água Limpa em Ouro Preto, foi criado em 2008 e busca, mediante
ao acompanhamento integral e interprofissional, atender os pacientes que possuem algum
transtorno mental intenso e persistente. O CAPS IJ/OP segue a atual Política de Saúde Mental
e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), buscando valer seus direitos e favorecer o
bem-estar dessa faixa etária. Vale dizer que recentemente, com base no Decreto n° 8087/2023,
o serviço chegou a mudar de local de atendimento e ganhou uma sede própria, o que representa
grande conquista para o a população usuária do serviço.
Por meio de seu financiamento federal e municipal, de aproximadamente 33 mil (Anexo
4), o CAPS IJ/OP oferece tratamento que abrange atividades como
acolhimento/(re)acolhimento, atendimento individual e/ou em grupo, busca ativa, oficina
terapêutica, intervenções familiares, permanência-dia, ações de articulação com a rede intra e
intersetoriais10, ações com a comunidade, dentre outras. Claro, as famílias das crianças e
adolescentes atendidas, compõem parte integrante do tratamento.
Quanto à sua organização, no momento, o serviço possui profissionais da área da
Psicologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia, que não trabalham enquanto
sua especialidade, mas sim como “Técnicos de Referência”.11 O serviço conta, ainda, os
profissionais da enfermagem de nível superior (que também assume o cargo de Coordenadora)
e médio, além de médicos psiquiatras, monitores de oficina terapêutica (nível superior e médio),

10
Em Anexo 5 deste trabalho, podemos verificar com mais amplitude algumas das instituições, sejam elas da
saúde, assistência social, educação, esporte e lazer que são oferecidos de forma gratuita à população infantojuvenil
de Ouro Preto/MG.
11
Problematização acerca dessa discussão pode ser encontrada em Tomaz (2024), disponível em
https://www.editoranavegando.com/tecnico-de-referencia.
36
agente administrativo, secretária, motorista e serviços gerais.
O papel de profissionais da saúde mental citado, faz parte do processo recente de
reconfiguração dos seus processos de trabalho, chamado de Técnico de Referência (TR). Para
isso, foi feita a territorialização, ou melhor, a distribuição dos distritos e bairros da sede para
cada profissional, pois cada um se torna responsável por referenciar o cuidado com os usuários
(as) do seu território em específico. Significa dizer que os profissionais de nível superior, tem
o papel de acolher os usuários/pacientes, criar conjuntamente com o usuário (a) e sua família o
seu Projeto Terapêutico Singular (PTS) e acompanha-lo. Segundo o Ministério da Saúde,

O Terapeuta de Referência (TR) terá sob sua responsabilidade monitorar junto com o
usuário o seu projeto terapêutico, (re)definindo, por exemplo, as atividades e a
freqüência de participação no serviço. O TR também é responsável pelo contato com
a família e pela avaliação periódica das metas traçadas no projeto terapêutico,
dialogando com o usuário e com a equipe técnica dos CAPS (Saúde, 2004, p. 16).

Essa estrutura de funcionamento, segundo a análise de Tomaz, foi inserida nos serviços
por parte de uma requisição institucional como “algo dado, inevitável e, para nós, desprovida
de historicidade” (Tomaz, 2024, p. 128), sendo reflexo do “conservadorismo profissional
implícito e camuflado sob o manto do trabalho inter/transdisciplinar”. Por isso, entende-se que
essa mudança na organização do trabalho foi uma alternativa para lidar com as novas demandas
que aparecem à saúde mental, que são socialmente produzidas e se tornam mais complexas de
acordo com a recente crise do capitalismo global. É importante que o Técnico de Referência
não seja reduzido ao âmbito individualista/subjetivo, pautando que a construção do PTS tenha
abrangência às questões sociais e territoriais, impactando amplamente e permanentemente a
materialidade da vida dos usuários (as).
Há que se considerar que, além das reformas no aspecto profissional, os impactos do
neoliberalismo e neoconservadorismo na Reforma Psiquiátrica Brasileira vão muito além, tanto
na redução das políticas sociais em geral, quanto pelo controle das formas de agir e pensar da
sociedade, como será demostrado no tópico a que se segue.

2.3 (Neo)conservadorismo e contra-reforma psiquiátrica no Brasil

Sabe-se que, na medida em que o avanço do neoconservadorismo se consolida no


capitalismo periférico brasileiro, a partir da década de 1990, o mesmo se torna responsável por
mudanças substantivas no direito à saúde no geral, especialmente dentro da Política de Saúde

37
Mental. Por isso, neste momento, buscamos refletir sobre a “contra-reforma psiquiátrica” e seus
rebatimentos na vida dos usuários (as) e familiares da saúde mental.
Para fundamentarmos a presente investigação, deve-se frisar que, conforme Passos e
Moreira (2017, p. 343), “há dois projetos em permanente disputa no interior da reforma
psiquiátrica: 1) o calcado na perspectiva de radicalização da luta antimanicomial, fundamentado
nos princípios basaglianos e na Carta de Bauru; e 2) o projeto flexível aos interesses do grande
capital”. O primeiro e claramente o que concordamos, expressa um projeto contra o modo de
produção e reprodução opressor, para além de uma perspectiva de mudança simplista e
“reformista” sob o atual modelo de assistência psiquiátrica. Já o segundo projeto, está vinculado
com uma perspectiva que defende a saúde focalizada e voltada aos interesses do mercado Isto
é,

[...] a reforma psiquiátrica encontrou diversos entraves para sua efetivação devido a
uma série de contrarreformas no âmbito das políticas sociais. Este cenário de
contrarreforma vincula-se a um processo amplo de reestruturação produtiva do
capital, contendo uma dimensão política, social e cultural. Assim, suas mudanças não
só ocorreram na produção em si, mas também na correlação de forças entre capital e
trabalho e no redirecionamento do papel do Estado (NOVAIS; SANTOS, 2015). Este
redirecionamento do Estado ficou conhecido como (contra) reforma do Estado, que
consiste em uma série de medidas que objetivam a diminuição dos gastos públicos,
tendo início a partir dos anos 1990 (Behring; Boschetti, 2011, apud Chibatto, et.al,
2022, p. 85).

O neoliberalismo, ao fazer mudanças no papel do Estado na execução das políticas


sociais, como dito pela autora, tem contribuído para um aumento no adoecimento e a
diminuição dos recursos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS). Behring e Boschetti (2011) destacam a influência da criação da Federação
Brasileira dos Hospitais e da indústria farmacêutica no Brasil a partir da década de 1990, atores
que se alinham aos interesses mercadológicos no setor da saúde. Como discutiremos adiante, o
modelo hospitalocêntrico, que prioriza o cuidado em saúde mental exclusivamente nos
hospitais, continua sendo valorizado na atualidade. Esse enfoque não só legitima a
medicalização e patologização, que trata o sofrimento humano apenas sob categorias médicas
e diagnósticas, mas também perpetua uma prática mais alienada e alienante. Tal abordagem
desconsidera o potencial do corpo social e a análise integral do sofrimento humano, limitando-
se a explicações que ignoram a complexidade das experiências e condições que afetam a saúde
mental.
Todos esses são aspectos, como demonstrados na produção da autora Cristiane Tomaz
(2009), também são consequência das mudanças que aconteceram bases teóricas da luta

38
antimanicomial nas últimas décadas. A sua vinculação com a desinstitucionalização italiana e
com a dimensão universal e totalizante sobre o cuidado em saúde mental é mais invisibilizada
com a ascensão do neoconservadorismo no Brasil. Tomaz (2009, p. 133) deixa claro que:

Para os pós-modernos, as lutas políticas atuais teriam deslocado seus interesses


universais para dar lugar às particularidades étnicas, sexuais, ecológicas, de gênero,
etc., perdendo a sua vinculação com a dimensão universal, ou seja, perdendo o
reconhecimento dos interesses coletivos contidos em tais reivindicações, trazendo
como premissa uma representação singular e subjetivista sobre o real em
contraposição a uma interpretação universalista e totalizante (EVANGELISTA, 2007,
p. 177). O que parece ir ao encontro do que este segundo grupo de intelectuais defende
enquanto cidadania do louco.

Seja por propostas sutis ou mais explícitas, as alterações recentes no âmbito da saúde
mental ameaçam fortemente as conquistas da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Esse cenário é
acentuado, ainda mais, com o congelamento de recursos públicos e universais (incluindo a
saúde) no governo de Michel Temer (Emenda Constitucional 95/2016) e durante a Pandemia
da COVID 19 (2020-2022), no governo Jair Bolsonaro. Durante esse período, os governos
obtiveram mais respaldo para o controle dos gastos com a população empobrecida,
submetendo-as à árdua violação de direitos. Ressaltamos que o aumento de recursos para áreas
que são consideradas favoráveis à política de “asilamento”, ressaltam a orientação política e
ideológica que o governo brasileiro enaltece.
Podemos exemplificar esse contexto com as ressalvas que Bravo e Pelaez (2020) fazem
em seu artigo: “A saúde nos governos Temer e Bolsonaro: lutas e resistências”. Segundo as
autoras, a emenda do “Teto de Gastos” que foi aprovada durante o governo Temer (2016-2018),
simboliza que quanto mais a economia cresce ao longo dos anos, mais terá impactos na saúde,
pois ela depende da porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Como se não fosse o
bastante, a Política de Saúde Mental ainda sofreu retrocessos com a Portaria nº 3.588, de
dezembro de 2017, que foi muito criticada pelos profissionais e usuários (as) da saúde mental.
Por meio desta, foram feitas mudanças na RAPS12, como o fortalecimento das internações em
hospitais psiquiátricos e a criação de leitos de internação em hospitais gerais. Sendo assim,
doando mais recursos para essas áreas, há um incentivo da cultura de hospitalização.
Outrossim, pela busca por maior articulação entre o setor empresarial e a saúde, foi
aprovada (sem participação popular) a “Coalizão Saúde Brasil: uma agenda para transformar o
sistema de saúde” em 2017. Criada pelo mesmo instituto, defende-se a ideia de que os setores

12
Essas mudanças que foram feitas na RAPS, como não favorecem aos avanços das Políticas de Saúde Mantel
locais, muitas vezes é desconsiderada pelas organizações, que continuam seguindo a Portaria n° 3088/2001.
39
públicos e privados precisam construir uma rede de cuidados contínuos, o que demonstra o
papel da iniciativa privada na gestão de recursos. Em 2018, a política de saúde ainda teve o seu
orçamento reduzido em R$ 179 milhões.
No decorrer do governo Bolsonaro (2018-2022), segue-se a mesma lógica. Segundo as
autoras, a Nota Técnica nº 11/2019 da Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras
Drogas trouxe à tona debates que pautam a redução da importância dos CAPS, a liberação da
compra de choques elétricos, além do fortalecimento dos manicômios ainda existentes. Após
diversas manifestações de repúdio ao documento, por parte dos movimentos que compõem a
luta antimanicomial, o mesmo foi retirado do ar. Outra questão que mostra a ânsia de
privatização e dos fins mercadológicos, foi a Proposta do Ministro da Economia, do governo
Bolsonaro, Paulo Guedes, que propõe a criação de um voucher/vale para a saúde e a educação,
com o intuito de repassar do Estado para o setor privado a responsabilidade da prestação de
serviços e ações de saúde, ainda conforme Bravo e Pelaez (2020).
Esses ataques passam a obter peso maior aos usuários de álcool e outras drogas, como
por exemplo o Decreto nº 9761/2019, que busca estabelecer uma nova Política Nacional de
Drogas com a “construção de uma sociedade protegida do uso de drogas lícitas e ilícitas a ser
alcançada por meio da promoção da abstinência e do fortalecimento de “Comunidades
Terapêuticas” (Bravo; Pelaez, 2020, p. 202). Esse decreto ignora totalmente a política de
redução de danos que é ofertada pelos CAPS - Álcool e Drogas, em prol de uma religiosidade
conservadora que defende o “tratamento” por via da abstinência. O governo também anuncia
um documento que propõe a revisão da RAPS e uma “nova” proposta de assistência em saúde
mental. O documento, que foi retirado do ar, criticava a Reforma Psiquiátrica por “desvalorizar
o saber psiquiátrico”. Ressalta-se também a criação do Decreto nº 11.098/2022, que extinguiu
a Coordenação Nacional de Saúde Mental e fez com que a atenção primária exercesse uma
função que não compete a ela, mas à RAPS.
Considerando esse conjunto de contrarreformas autoritárias, a Psiquiatra e pesquisadora
Renata Gonçalves (2020), chama atenção para a gravidade do desfinanciamento do SUS e da
RAPS. A preocupação se refere à um maior número de pessoas que precisa de assistência em
saúde mental, ao mesmo tempo em que há um menor número de pessoas que efetivamente
recebe esse cuidado.

Para analisar mais a fundo esses dados, a pesquisadora calculou os gastos com saúde
mental por pessoa e o percentual da saúde mental nos gastos totais da saúde. A saúde
mental representava apenas 2,7% dos gastos da saúde em 2001 e, em 2019, essa
dimensão era ainda menor, somente 2,1% – ou R$ 12,50 por pessoa. [...]. A

40
pesquisadora comentou, ainda, a linha dos gastos federais com comunidades
terapêuticas, mostrando que ela varia de acordo com o gestor, subindo e descendo ao
longo dos anos (Marques, s/p, 2020).

Para além dos impactos do neoliberalismo e da redução de recursos, percebe-se que


reprivatização, a mercantilização do cuidado e ofensiva neoconservadora estão lado a lado, o
que retoma a compreensão da “questão social” como algo natural e ligado à moral. Nesse
sentido, os serviços da saúde mental e, principalmente, os usuários (as) e suas famílias são
atingidos pela política do “familismo” que, segundo Chibatto (2022, p. 89) cria intervenções
“culpabilizantes, individualistas e psicologizantes de medicalização da vida”. Isso coloca um
cargo maior às famílias em relação ao cuidado, pois os atendimentos nos serviços da RAPS se
tornam cada vez mais pontuais e individualizados. Além disso, se distanciam da leitura do
sujeito em sua integralidade, atravessado pelas suas características sociais, históricas e culturais
da vida e não apenas o aspecto da doença/transtorno. Chibatto conclui que

Ao vivenciar a rotina em serviços de saúde, através da residência multiprofissional e


por meio da revisão de literatura, tendo como eixo a reforma [psiquiátrica], a
contrarreforma psiquiátrica e a família, concluiu-se que é neste campo de disputas que
ocorre o aumento da responsabilização da família no cuidado em saúde mental,
estando esta à mercê da própria sorte: com precário acesso às políticas sociais e à
renda, visto o acirramento da desigualdade social. A família, antes partícipe de uma
rede de cuidados apoiada nos serviços da Raps, agora é parte de uma gama reduzida
de alternativas: ou arca sozinha com as responsabilidades ou institucionaliza e interna
em hospitais psiquiátricos. Os serviços do meio, de base territorial e com participação
social e da comunidade, são invisibilizados neste processo, sofrendo com a redução
de investimento e a deslegitimação de sua importância, como é o exemplo do material
produzido pela ABP no ano de 2020 (Chibatto, et. al, 2022, p. 92).

Logo, o papel da família13 junto ao cuidado de usuários em sofrimento psíquico foi


precarizado com a contrarreforma psiquiátrica. Em relação ao governo Lula, apesar das
expectativas serem altas no bom sentido, por ser um governo mais progressista, a maioria das
ações continuam por seguir a lógica manicomial. Os retrocessos que atingiram as políticas de
saúde mental, álcool e outras drogas nos governos anteriores se perpetuam no governos atual,
na medida em que este, até o momento, revogou uma parcela ínfima das normativas aprovadas
anteriormente que redirecionaram a assistência aos usuários das referidas políticas para o

13
Considera-se o conceito de família ampliada e mutável, sendo os tipos descritos a seguir: “Família Matrimonial:
formada pelo casamento; Família Informal: formada pela união estável; Família Monoparental: qualquer um dos
pais com seu filho (ex.: mãe solteira e seu filho); Família Anaparental: Sem pais, formadas apenas pelos irmãos;
Família Reconstituída: Pais separados, com filhos, que começam a viver com outro também com filhos; Família
Unipessoal: Apenas uma pessoa, como uma viúva, por exemplo; Família Paralela: O indivíduo mantém duas
relações ao mesmo tempo, por exemplo, casado que também possui uma união estável; Família Eudemonista:
formada unicamente pelo afeto e solidariedade de um indivíduo com o outro, buscando principalmente a
felicidade.” (Oliveira, 2017, s/p)

41
modelo privatista, centrado no atendimento hospitalar e nas Comunidades Terapêuticas (Tomaz
e Santos, 2024). A exemplo, tem-se a criação, em janeiro de 2023, do Departamento de Apoio
a Comunidades Terapêuticas (DACT/MDS). Essa ação também foi repudiada por diversos
movimentos sociais, considerando que essas “Comunidades Terapêuticas” também são cárceres
para as pessoas em sofrimento mental, e acabam por oferecer o “tratamento” assentado em
fundamentos religiosos e não científicos. Porém, todas as formas de repúdio não surtiram o
efeito desejado, de acordo com Navai (2023).
Por outro lado, não podeos deixar de citar alguns avanços que aconteceram neste
governo, como a ampliação em R$ 414 milhões por ano os recursos para custeio dos serviços
da RAPS (Brasil, 2023) e a sanção da Lei nº 3.383, que institui a Política Nacional de Atenção
Psicossocial nas Comunidades Escolares (Brasil, 2024). Ao ampliar integração da comunidade
escolar com as equipes de atenção primária à saúde e colocar os estudantes como atuantes na
construção da atenção psicossocial, podemos falar mais abertamente sobre o sofrimento
psíquico e identifica-los precocemente.
Diante do que foi destacado, conclui-se que as instituições que reproduzem formas
violentas de “tratamento” são totalmente funcionais à reprodução das desigualdades e opressões
que atravessam a formação sócio-histórica brasileira. O direito restrito à cidadania das pessoas
com transtornos mentais é uma problemática que está relacionada ao controle de corpos, ao
racismo e ao patriarcado, que condizem com a lógica manicomial. Assim, “é a população negra
e pobre que sofrerá com o retorno do modelo manicomial, dado que compõe a maioria da
população brasileira” (Caputo, et. al., 2020, p. 100). Essas questões serão retratadas com mais
profundidade no capítulo a seguir, com foco nas crianças e adolescentes, que possuem ainda
mais um agravante por serem sujeitos em processo de desenvolvimento.

42
3 AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SOFRIMENTO PSICOSSOCIAL

“Que o nosso povo nas periferia


Precisa encher suas panela vazia
Dignidade é dignidade, não se negocia
Porque essa troca leva infância, devolve apatia
E é pior na pandemia
Sobra ferida na alma
Uma coleção de trauma
Fora a parte física
E nóis já tá na parte crítica”

Emicida e Drik Barbosa

3.1 As refrações de classe, raça, gênero e etnia na saúde mental infantojuvenil

A infância e a juventude são atravessadas pelas condições objetivas e subjetivas da


realidade social. Nas condições atuais, essa realidade está cada vez mais complexa, precarizada
e desigual, principalmente aos sujeitos que estão abaixo da pirâmide socioeconômica, como
mulheres e meninas negras ou de comunidades indígenas ou quilombolas. A COVID-19 foi um
dos fatores que geraram grande aumento na incidência de questões relacionadas à saúde mental
à essa população:

Segundo as últimas estimativas disponíveis, calcula-se que, globalmente, mais de um


em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos viva com algum
transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a
cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária. Enquanto isso,
persistem grandes lacunas entre as necessidades de saúde mental e o financiamento
de políticas voltadas a essa área (UNICEF, 2021, s/p).

À vista disso, neste capítulo, pretendemos demonstrar as particularidades que compõe


as expressões da “questão social”. Devemos frisar que as intersecções entre classe social, raça,
gênero e etnia não são propriamente uma “questão social”14, mas sim o que estrutura a “questão
social”, ou seja, estruturantes e estruturais do modo de produção capitalista. Ainda assim, a
população infantojuvenil está imersa neste sistema e, por consequência, é impactada por essas
opressões e aprofundadas com as recentes crises e com o avanço do neoconservadorismo no
Brasil.

14
São exemplos das expressões da questão social: a “pobreza, desemprego, violência, discriminação de gênero,
raça, etnia e orientação sexual, trabalho precário, dificuldade de acesso à saúde, à educação e ao trabalho, falta de
moradia, violação dos direitos das crianças e idosos” (Badaró, 2013, p. 168)
43
De fato, nas últimas décadas houve avanços consideráveis nas condições de cidadania
de crianças e adolescentes. O histórico dessa população é de plena violação de direitos pela
conjuntura de institucionalização e de maus-tratos, sendo comum, num passado recente, a
permanência de crianças “anormais” e adolescentes “desviantes” em hospitais psiquiátricos,
Fundações Estaduais do Menor (FEBEM) ou segregadas na Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE).
Num processo de longa data e de consolidação de lutas sociais, os atores da sociedade
civil e o Estado reconhecem o “problema do menor” como uma expressão da “questão social”,
assim, o antigo Código de menores (1979) foi substituído pelo ECA (Lei n° 8069), em 1990.
Conforme Carvalho (2020), a infância e adolescência passam a ser consideradas prioridade
absoluta da família, da sociedade e do Estado, também havendo mudanças nos métodos de
intervenção, não mais punitivos e corretivos, mas de respeito às fases de desenvolvimento
psicossocial infantojuvenil. A reordenação institucional da relação entre a União, os estados e
os municípios também foi uma importante conquista. Carvalho (2020) explica que a partir dessa
reordenação, foram criadas leis municipais, como, por exemplo, o Conselho dos Direitos da
Crianças e Adolescentes (CONANDA), o Fundo dos Direitos da Criança e Adolescente e a
atuação do Conselho Tutelar (CT), buscando estar mais perto das problemáticas e realidades
locais.
Tendo isso em vista, Surjus (2016) considera que a população infantojuvenil, enquanto
sujeitos de direitos, passa a obter acesso a melhorias de condições que são riscos à piora da
saúde mental, à exemplo da redução da mortalidade infantil, do aumento nos indicadores da
educação e a redução da exploração do trabalho infantil. Por outro lado,

têm se constituído como grandes preocupações: o avassalador aumento de homicídios


de jovens negros – com um crescimento de quase 700% nos últimos 30 anos
(WAISELFISZ, 2013; 2016); a morbimortalidade por suicídio (ABASSE ET AL,
2009) e automutilação (BRAGA CAVALCANTI, 2014); o aumento de consumo de
medicamentos para controle de comportamento e melhora do desempenho intelectual
(ORTEGA ET AL, 2010), o aumento e a antecipação do uso de drogas por estudantes
(CEBRID, 2010) (Surjus, 2016, p. 6).

Entende-se que essa desproteção à infância e adolescência no Brasil, é consequência do


racismo e do patriarcado que compõe a ordem social, intrinsecamente vinculada ao modo como
se constituem as relações em termos políticos, econômicos, jurídicos e familiares.
Para justificar essa afirmação, consideramos o estudo de Dayrell (2003), no qual o autor
considera que a infância e a juventude são conceitos difícil de serem definidos por se tratarem
de sujeitos diversos, variados de acordo com as suas relações sociais e com o período histórico
44
determinado. Dessa forma, “essa diversidade se concretiza com base nas condições sociais
(classes sociais), culturais (etnias, identidades religiosas, valores) e de gênero, e também das
regiões geográficas, dentre outros aspectos” (Dayrell, 2003, p. 42). Ressalta-se que o pleno
desenvolvimento ou não das potencialidades de cada sujeito, depende da qualidade das relações
sociais em que está inserido. Dayrell (2003, p. 43) ainda afirma que em “contextos de
desumanização, nos quais o ser humano é “proibido de ser”, privado de desenvolver as suas
potencialidades, de viver plenamente”, os seres humanos se constroem enquanto seres,
conforme os recursos de que dispõem.
Assim, independente da ação de cada um, as questões relacionadas à raça, etnia, gênero,
o seu cotidiano e até mesmo a condição de trabalho e escolaridade dos seus pais/responsáveis,
são dimensões que interferem diretamente na perspectiva do jovem ou criança de quem é no
mundo. A população infantojuvenil que passa por diversas experiências de “vulnerabilidades”
- estar imersa à violência em comunidades, nas quais o seu direito de segurança não é garantido;
ter recursos financeiros reduzidos; viver situações constantes de estresse e ansiedade; sofrer
violência na comunidade ou no núcleo familiar – tem grandes chances de desenvolver uma
piora no processo saúde/doença. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE)
corrobora com essas afirmações:

Crianças e adolescentes em plena fase de formação de sua personalidade são


induzidos ao desejo de conhecer o novo, sendo este um território de poder e
encantamento, que faz, muitas vezes, irem ao encontro do mundo idealizado, onde
tudo parece ser interessante. As crianças em territórios conflagrados passam por
situações que podem ter impacto direto em seu desenvolvimento, em sua educação,
na saúde mental e na maneira como construirá, enquanto sujeito, seu preparo e suas
relações sociais em relação ao mundo. Nesses territórios periféricos e em situação de
vulnerabilidade, algumas possibilidades são negadas às crianças e adolescentes,
muitos nunca saíram de seus territórios ou quando saem são estigmatizadas ou
ultrapassam suas fronteiras para o abandono das ruas, o trabalho infantil, a exploração
sexual, o abrigamento e para o sistema socioeducativo. E, em casos mais graves,
morrem, vítimas da violência oriunda dos conflitos armados (CNDE, 2022, p. 78,
grifo nosso).

Em relação às crianças e adolescentes indígenas ou quilombolas, seus territórios são


marcados pela luta de garantia pela demarcação, também imersas em um contexto de violência
e disputa. São povos historicamente invisibilizados (invisíveis para o Estado) em sua proteção
de direitos.
Essa discrepância de oportunidades também se manifesta na forma que acontece a
socialização de meninas e meninos desde a infância. Na sociedade capitalista, o acesso já é
reduzido aos recursos que permitam as crianças e adolescentes de desenvolver com plenitude
as suas capacidades e desafiar as normas de gênero, como por exemplo. Essas normas de gênero
45
são reforçadas pelo controle de corpos femininos15, pela passividade/subordinação estrutural,
pela “masculinidade tóxica, dentre outras problemáticas.
As estatísticas seguintes mostram esse contexto: primeiramente, há o fato de que
meninas são os principais alvos da violência sexual e do bullyng, de acordo com Loschi (2021,
s/p)

Os relatos de bullying e de violência sexual também seguem mais frequentes entre as


meninas do que entre os meninos. A PeNSE mostrou que 20,1% das meninas já
sofreram violência sexual (meninos, 9%) e que 26,5% das meninas relataram ter
sofrido bullying (eles, 19,5%). Aparência corporal foi declarada como motivo do
bullying por 16,5% dos estudantes no Brasil.

Outra questão é a capacidade do poder institucional dos homens, que acabam por moldar
e rebaixar a autoestima das mulheres e meninas. Wolf (2020, p. 31) incita que “o mito da beleza
de fato sempre determina o comportamento, não a aparência. [...] nossa identidade deve ter
como base nossa “beleza”, de tal forma que permaneçamos vulneráveis à aprovação externa,
trazendo nossa autoestima, esse órgão sensível e vital, exposto a todos”. Esta realidade se
adensa quando se trata de crianças e adolescentes negras e negros:

Tem uma música antiga chamada “Nega do cabelo duro” que mostra direitinho por
que eles querem que o cabelo da gente fique bom, liso e mole, né? É por isso que
dizem que a gente tem beiços em vez de lábios, fornalha em vez de nariz e cabelo
ruim (porque é duro). E quando querem elogiar dizem que a gente tem feições finas
(e fino se opõe a grosso, né?) (Gonzalez, 2020, p. 89).

Importa sublinhar, dessa forma, que as imagens sobre si mesmas são ruins, do mesmo
modo, surgem as comparações com os supostos corpos perfeitos nas redes sociais. Estudos
apontam que “considerando apenas os estudos que avaliaram crianças, 72% deles constataram
aumento da depressão associado ao abuso da exposição a telas nesse grupo” (Pepino, 2023,
s/p). Logo, em relação à saúde mental, as mulheres tendem a internalizar os seus problemas,
sendo mais expostas a problemas como depressão, transtornos do sono e da alimentação,
enquanto os homens tendem a externalizar, com o abuso de álcool e drogas, raiva.
Diante desses fatos, o patriarcado e o racismo são componentes estruturais da “questão
social” na formação social brasileira e mundial e têm relação direta com a condição de saúde
mental, em especial, de crianças e adolescentes. Isso reverbera dento do sistema vigente,
sobretudo, com a divisão sexual e racial do trabalho.

15
De acordo com Davis (2016, p. 202), os homens “[...] seja qual for sua etnia, podem ser motivados a estuprar
pela crença de que sua masculinidade lhes concede o privilégio de dominar as mulheres”.
46
No Brasil, o rebaixamento dos salários e a ampliação da exploração são questões que
devem ser levadas em conta nesta análise. Segundo G1 (2023), o país tem composição familiar
de 11 milhões mães que criam o (s) filho (s) sozinhas, em sua maioria, mulheres negras. As
“chefes de família” são obrigadas a lidar com o seu duplo trabalho, um remunerado (formal ou
não formal) e um não remunerado, que é o cuidado maternal. Sem rede de apoio suficiente16, é
desnecessário dizer que a saúde mental dos seus filhos e filhas também é amplificada.
Lembrando também que as mulheres/famílias são colocadas como culpadas de tudo que
acontece com seus filhos, porém isso é uma discussão que abrange responsabilidade de outros
agentes.
Considerando o exposto, o capitalismo molda a experiência de meninas e meninos desde
a sua infância, é necessário, por isso que as mudanças sejam feitas pela base. Fica notório que
existem algumas camadas da população brasileira que estão à margem da sociedade e mais
suscetíveis aos problemas relacionados à saúde mental. A mesma também obtém acesso mais
reduzido às políticas públicas e aos serviços, incluindo os CAPS IJ. No próximo tópico,
apresentaremos o perfil da população assistida pelos CAPS IJ no Brasil.

3.2 A população assistida pelos CAPS IJ no Brasil

A criação do CAPS IJ, mais precisamente a partir do ano de 2002, viera para dar a
qualificação adequada e articulação da rede intersetorial de cuidados em saúde mental de
crianças e adolescentes. É necessário que esses serviços estejam atentos às características que
compõe os seus usuários, e que essas pesquisas sejam constantemente atualizadas e avaliadas.
Neste tópico, pretende-se revelar os resultados de algumas pesquisas sobre o perfil dos e dos
usuários e usuárias de alguns CAPS infatojuvenis no Brasil. Iremos refletir criticamente sobre
o resultado dos dados coletados pelos autores, a fim de que esta discussão possa iluminar a que
faremos ainda neste capítulo, quando apresentaremos os dados obtidos por meio da pesquisa
empírica realizada junto à população usuária do CAPS ij de Ouro Preto.
Concordamos com Régio, et. al (2023, p. 2), no sentido de apontar a “escassez de
pesquisas brasileiras utilizando a variável raça/cor”, quando esse tema é abordado nas
literaturas sobre os CAPS em geral. Sem dúvida este seria um importante marcador social para

16
Sendo assim, o uso prejudicial das redes sociais citado anteriormente também tem relação com o trabalho.

47
contribuir com práticas e políticas públicas que viabilizem o direito a essa população, visto que
até mesmo um dos princípios do SUS é a equidade, ou seja, devem-se considerar as
particularidades regionais, de classe social, gênero, raça, etnia, etc. Porém, infelizmente as
pesquisas que aqui serão retratadas também não contam com essa categoria.
Hoffman, et. al. (2008) realizaram a sua análise com os CAPS IJ recentemente
implementados, em seu 1° ano de funcionamento. O estudo abrangeu sete unidades localizadas
nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. Ao longo do ano de 2002,
constataram os registros de atendimento de 1.456 pessoas, destes, a maioria (62,8%) se encaixa
no sexo masculino e com média de idade de 11,1 anos.
A modalidade de atendimento predominante foi a não intensiva (49,3%), seguida de
semi-intensiva (40,2%) e intensiva (10,5%). Hoffman, et. al. (2008) destacam esse resultado
demonstra o funcionamento do CAPS dentro da lógica ambulatorial. Isso não depende apenas
da vontade do CAPS, pois há outras dificuldades, tais como: de se obter recursos materiais para
o transporte, que seria constante; do adulto responsável ter a disponibilidade para acompanhar
o usuário; além da dificuldade da equipe de estruturar um modelo de assistência em saúde
mental no seu primeiro ano de funcionamento.
Dos diagnósticos mais frequentes identificados junto aos usuários dos serviços, os
autores se referem ao transtorno de comportamento e os transtornos emocionais. Ainda
destacam a predominância de diagnósticos de esquizofrenia, transtornos de humor e retardo
mental - com mais frequência entre os usuários (as) mais velhos, de 15 a 21 anos. É pertinente
destacar as particularidades dos diagnósticos mais frequentes, por sexo. O sexo feminino obteve
mais prevalência do transtornos de humor e dos transtornos neuróticos; já o sexo masculino
apresentaram maior prevalência de transtornos de comportamento e de desenvolvimento
psicológico. Esses resultados corroboram com os pontos que foram discutidos no tópico
anterior, no qual se chama a atenção para as tendências de “internalizar” ou “externalizar” os
problemas. Além disso, também é observada pelos autores a elevada frequência de diagnósticos
relativos a problemas relacionados às habilidades escolares, o que indica a necessidade desses
jovens de terem um serviço exclusivo que atenda de maneira mais específica as suas demandas.
Na pesquisa de Hoffman, et. al. (2008), não houve registro de atendimentos decorrentes
do uso de substâncias psicoativas, apesar dessa ser uma expressão da “questão social” das mais
frequentes entre os jovens brasileiros. A dificuldade de acesso, anecessidade de capacitação
técnica de detecção desses problemas e o possível encaminhamento de jovens para o CAPS AD
foram os motivos que os autores alertaram para a inexistência desse dado.
48
No ano de 2008, em uma unidade de CAPS IJ de São Paulo (SP), Delfini, et. al (2009),
também realizou uma pesquisa do perfil de usuários/as ativos/as no serviço, com pelo menos
três meses de frequência. A predominância se manteve do sexo masculino (61,2%) e a faixa
etária corresponde a 9,3 anos. Neste âmbito, os transtornos de comportamento e transtornos
emocionais (21,4%) foram os mais predominantes, seguidos de transtornos de desenvolvimento
global (16,2%). A faixa etária entre meninos foi de 10 a 15 anos (39,7%) e entre meninas foi
de 5 a 10 anos (37,5%). Como previsto, meninos tiveram em sua maioria transtornos de
comportamento e emocionais (25,4%) e transtornos do desenvolvimento psicológico (22,2%),
já meninas apresentaram retardo mental (20%) e transtornos de comportamento e emocionais
(15%) e 24,8% da população infantojuvenil assistida não possuem hipótese diagnóstica. Os
autores esclarecem os motivos da dificuldade de identificação de transtornos mentais na
população infantojuvenil:

[...] a indefinição de normal e patológico para determinada idade e contexto


sociocultural; as variações qualitativas e quantitativas de cada sintoma; o fator do
desenvolvimento, a implicação em avaliar algo que a priori está em transformação.
Outras variáveis que podem interferir na avaliação de sintomas são a percepção do
informante e suas características (pais, professores e vizinhos terão percepções
distintas acerca de uma mesma problemática); os métodos e tipos de instrumentos para
avaliação usados por diferentes profissionais que nem sempre são padronizados, o que
gera diferentes classificações (Delfini, et. al, 2009, p. 228).

Por isso, considera-se utilizar o termo “hipótese” diagnostica para essa população. Por
isso, os diagnósticos só são “fechados” quando é necessário viabilizar o acesso a benefícios,
como: monitor/professor de apoio em escola; carteirinha de passe-livre, entre outros, que
exigem para sua concessão que o diagnóstico seja indicado.
A falta de padronização dos prontuários foi colocada como um fator que dificultou as
análises, acabando por não apresentar algumas informações relevantes. Porém, foi interessante
os mesmos considerarem a origem do encaminhamento, sendo o Conselho Tutelar (22,3%)
aquele que apresentou maior número de encaminhamentos. Evidencia-se que “embora o modelo
de rede de saúde pública preveja que a porta de entrada do sistema de saúde seja a Unidade
Básica de Saúde, apenas 6,8% dos usuários do serviço estudado são provenientes dessas
unidades” (Delfini, et. al, 2009, p. 232).
O resultado dos motivos que levaram às consulta foram: queixas neuromotoras (17,5%),
escolares (15,5%) e sociocomportamentais (14,6%). Nesse sentido, os autores acharam
pertinente também identificar as particularidades por sexo:

49
Constataram-se diferenças importantes entre o sexo e o principal motivo de consulta.
No caso dos meninos 20,6% apresentaram queixa escolar como principal motivo,
seguido de lesões ou transtornos neuromotores (17,5%) e agressividade ou problema
sociocomporta-mental (17,5%). Já crianças e adolescentes do sexo feminino
apresentam como principal motivo de consulta lesões ou transtornos neuromotores
(17,5%), seguido por ansiedade e isolamento, comprometimento de linguagem e fala
e vítimas de negligência, abandono e maus-tratos, cada grupo com 12,5% (tabela 5)
(Delfini, et. al, 2009, p. 232).

O grande número de crianças com queixas neuromotoras ocorre pela fato da cidade do
estado de São Paulo ter fechado recentemente um serviço de reabilitação. Sobre as queixas
escolares, Delfini, et. al (2009) destacam a dificuldade das escolas de lidarem com
comportamentos que “fogem do seu controle” além da falta de articulação entre a escolas e a
saúde. Essa pesquisa aponta ainda que 83,1% dos usuários (as) frequentam escola regular, 7%
escola especial e 9,9% não frequentam a escola.
Em relação às interpretações do perfil de uma unidade de Santa Catarina, as autoras
Cunha, et. al. (2017) verificaram os prontuários (ativos e inativos), abrangendo o total de 444
fichas, que correspondem a 90% dos usuários (as). A média de idade foi de 9 anos, num público
predominantemente masculino (67%). As idades são compatíveis com o grau de escolaridade,
sendo estudantes do ensino fundamental I, em sua maioria.
As autoras foram as primeiras a colocar em evidência a perspectiva relacionada à
configuração familiar. Dentre elas, estavam dispostas a família nuclear (39,4%) como
majoritária; a composta apresentando-se em 20,7% dos casos; a família estendida com 19,1%;
e a mononuclear com 18,7%. Como mostrado abaixo, esses dados são similares à realidade
brasileira, conforme demonstrado por Régio, et. al (2023):

Em relação à configuração familiar de crianças e adolescentes acompanhados pelos


serviços de saúde mental infantojuvenil, estudos apontam que a maioria pertence a
famílias nucleares e residem com os pais. Um estudo aponta que a mãe é a cuidadora
principal de crianças e adolescentes com problemas de saúde mental, e que nos casos
em que era a responsável pela renda familiar, a ela também era atribuído o cuidado da
criança, em contrapartida, o pai, quando provedor desta família, não se
responsabilizava pelos cuidados da criança (Régio, et.al., 2023, p. 2).

Diante disso, a carga atribuída às mulheres também é prova da importância de considerar


a interseccionalidade entre raça, classe e gênero. Outra questão indicada no estudo são as
queixas significativas das crianças e adolescentes atendidas de acordo com o sexo, vejamos:
sexo masculino prevalecem os sintomas psicóticos, a dificuldade no processo de ensino-
aprendizagem e luto; do sexo feminino, são maiores as queixas de somatização, evento
traumático e humor deprimido. Apesar das autoras não terem explicitarem o que são os “eventos
traumáticos”, questionamos se estes podem estar relacionados à violência familiar. Assim
50
sendo, “verificou-se que menos da metade dos registros continham informações que faziam
alusão à presença de violência. Dentre os tipos de violência indicados, prevaleceram à violência
física - em metade dos casos -, seguida da violência psicológica - em torno de 1/3” (Cunha, et.
al., 2017, p. 29).
As referidas autoras também assinalam a necessidade de maior articulação do CAPS IJ
com a escola, visto que a origem dos encaminhamentos predominante foi de educação (39,1%)
e as principais queixas dos usuários (as) foram justamente a dificuldade no processo de ensino-
aprendizagem, bem como ansiedade e agressividade.
Diferente dos autores citados acima, Trevisan (2018) opta por revisar 17 artigos sobre o
perfil dos CAPS no total, sendo apenas dois referentes aos CAPS IJ no Brasil. O método
utilizado pelo autor foi quali-quantitativo e bibliográfico. Por isso, os dois artigos analisados
correspondem a mesma referência e estatística utilizada neste trabalho, dos autores Hoffman e
Defini. Os resultados, então, se conformam nos seguintes dados: prevalência da hipótese
diagnóstica de transtornos de comportamento e transtornos emocionais (sem porcentagem);
modalidade de atendimento não intensiva (49,3%); atendimentos semanais (63,2%); frequência
de escola regular (83,1%) e encaminhamentos de maioria do Conselho Tutelar (22,3%).
A pesquisa mais recente encontrada sobre o perfil dos CAPS IJ é a monografia do
Assistente Social Machado (2018). Esse trabalho fornece mais informações sobre o
detalhamento do perfil dos usuários (as) do CAPS IJ em questão, mesmo porque, amplia-se a
visão para o perfil socioeconômico desse público. Tal pesquisa foi realizada com base em 553
prontuários ativos do CAPS IJ de Santa Maria/RS e, igualmente, foi constatada a maioria de
usuários do sexo masculino (68%), na faixa de 13 anos de idade, dos usuários (as) adolescentes,
correspondem a 55%.
Segundo o autor, na ocasião dessa investigação, percebeu-se a demanda de
aprofundamento sobre as características dos/as usuários/as pela alta demanda do CAPS IJ de
Santa Maria durante o estágio em Serviço Social, bem similar às motivações para realização
deste trabalho de conclusão de curso. Foram identificadas as seguintes expressões da “questão
social” deste CAPS IJ: “além da pobreza, outras expressões da questão social foram
evidenciadas, tais como desemprego, trabalho infantil, abuso, violência, maus tratos,
desinformação quanto aos seus direitos, dentre outras” (Machado, 2018, p. 26).
A principal demanda dos atendimentos foi a consulta com o médico psiquiatra e os
encaminhados realizados pelas UBSs (em especial “UBS Florianos da Rocha”). Os principais
transtornos que aparecem foram os hipercinéticos ou TDAH. Obteve prevalência de demandas
51
do “Bairro Nova Santa Marta”, que sua maioria estuda na “Escola Marista Santana Marta”, no
ensino médio, metade no turno da manhã e metade no turno da tarde. Durante a leitura,
identificamos falta das considerações do autor sobre os dados coletados e o que representam
para a política de saúde mental da região.
A despeito da renda média, Machado (2018) verificou que somente 222 das fichas (10%)
informavam a declaração de sua renda mensal. Destas, a média salarial estava por volta de R$
1.315,61 (pouco mais de 1 salário mínimo), o que representa R$ 305,00 per capta, dividindo
para quantidade de pessoas na casa prevalente, de 4 pessoas. Dos usuários que recebem
benefícios sociais, muitos recebem o Bolsa Família (75%) e o Benefício de Prestação
Continuada - BPC (25%).
Frente ao exposto, é pertinente levar em conta as desigualdades étnico-raciais no Brasil,
pois segundo o antigo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (Brasil, 2015), dos
beneficiários do Bolsa Família, 10,3 milhões são negros, o que representa 75% do total do
programa de complementação de renda. Outro aspecto significativo é o fato de 80% da
população brasileira, que depende do Sistema Único de Saúde (SUS), se autodeclarar negra
(preta e parda), de acordo com o Nações Unidas Brasil (2017). Essas questões raciais e étnicas
também se relacionam com a saúde mental da população brasileira, fundamentam o manicômio
e se refletem nos atuais serviços de saúde mental. Por isso, precisam ser explicitadas e trazidas
para o debate.
Para finalizar, também foi considerada na pesquisa de Machado (2018), a idade em que
o usuário é acolhido, sendo entre 13 e 15 anos. O tempo médio de permanência em tratamento
no serviço é de 3 anos. Entre os/as usuários/as, 24% permanecem em atendimento por, no
mínimo, 5 anos, enquanto 4% já estão há mais de 10 anos. Sobre esse assunto, o autor faz alguns
comentários que julga relevante:

Os períodos de tratamento e vinculação ao serviço por vezes parecem muito grandes


e exagerados, mas em se tratando de saúde mental, há que se considerar que o serviço
trata de distúrbios mentais leves, médios e graves e, que, alguns usuários nem tem
uma perspectiva de alta, devido ao nível de comprometimento cognitivo e mental.
Existe o caso de famílias que se apropriam da doença do usuário para receberem
algum benefício social. Muitas delas não demonstram interesse pelo tratamento ou
pela alta por medo de perderem seus direitos (Machado, 2018, p. 46).

Não concordamos com as conclusões do autor sobre a alta permanência de alguns


usuários no serviço. Essa é uma questão delicada, pois a duração do tratamento nos CAPS em
geral, não demonstra uma lógica de interesse ou conveniência por parte das famílias, mas sim
uma consequência da complexidade que exige o cuidado em saúde mental. Além disso, o que
52
foi dito sugere que os benefícios sociais fornecidos pelo governo garantem mais do que as
condições mínimas para sobrevivência e para o cuidado ao usuário (a), o que não corresponde
à realidade brasileira.
Em síntese, percebeu-se uma similaridade em relação aos dados apresentados pelas
pesquisas, como a proeminência de usuários do sexo masculino, a modalidade de atendimento
não intensiva e os diagnósticos de transtornos de comportamento e emocionais. Na nossa visão,
um dos principais motivos para a proeminência do sexo masculino nos serviços, se deve à alta
“masculinidade”. Meninas tendem a procurar o tratamento mais rápido por se sentirem mais
confortáveis em falar abertamente sobre os seus sentimentos. Por outro lado, meninos são
levados aos serviços de CAPS IJ apenas no momento em que a situação chega a seu ápice,
sendo acolhidos e permanecendo na unidade por se enquadrarem em transtornos “graves e
persistentes”.

3.3 A caracterização dos usuários (as) do CAPS IJ de Ouro Preto/MG

Finalmente, neste tópico, pretende-se realizar um levantamento de dados sobre a


população assistida pelo CAPS IJ de Ouro Preto. Como já evidenciado, esta pesquisa foi feita
a partir da atualização da ficha de acolhimento com os usuários (as) e famílias do CAPS IJ/OP,
durante a permanência em campo de estágio em Serviço Social, no ano de 2024. Conseguimos
abranger 101 usuários (as) ativos do serviço, aqueles que mantém o seu tratamento de forma
contínua. Isso representa uma média estimada de 67%17 dos usuários ativos.
O CAPS, como um serviço de portas abertas à população, tem o seu primeiro
atendimento feito pelo profissional da saúde mental durante o plantão de acolhimento. É
necessário colocar que as informações vindas de outros sujeitos, sejam eles profissionais e/ou
familiares e responsáveis, não substitui a palavra da criança ou do adolescente, logo, há um
momento do acolhimento que a criança ou adolescente é ouvida em seu sofrimento, incluindo
o que desencadeou sua ida para o serviço, sua história e outras assuntos.
Dessa maneira, com base nas fichas de acolhimento18, foi possível identificar dados
relacionados a: idade; sexo e identidade de gênero; raça/cor; acompanhamento da gestação da

17
Não foi possível demonstrar esse dado concreto, pois parte da média dos usuários e usuárias ativos dentro do
serviço do CAPS IJ/OP, isto é, que frequentam o serviço mensalmente, podem estar duplicados. Isso porque,
podem estar presentes no serviço mais de uma vez no mês. A estimativa é que 25% dos 200 usuários ativos estejam
duplicados.
18
As fichas de acolhimento foram preenchidas ou pela estagiária, ou pelo plantonista. As fichas atualizadas pela
estagiária foram feitas no período da espera por atendimento com o usuário (a) e seu familiar ou responsável.
53
mãe (pré-natal); desenvolvimento psicomotor (quando criança); parto da mãe; situação escolar;
moradia; origem do encaminhamento; principais demandas; hipótese diagnóstica; utiliza
medicamento; existência de transtorno mental na família; composição familiar; estado civil dos
pais/responsáveis; se recebe pensão (se um dos pais biológicos não residem na mesma casa);
nível de escolaridade dos pais/responsáveis; se os pais/responsáveis exercem função
remunerada; tipo de trabalho dos pais/responsáveis; se recebem benefícios socioassistenciais
e/ou previdenciários; a renda familiar aproximada; se contribui com renda familiar; se tem
alimentação saudável; se tem acesso aos dispositivos no território; qual meio de transporte
utiliza; suas especificidades sociais/étnicas/culturais; se sua moradia possui saneamento básico;
e se a mesma está em situação de risco habitacional.
Abaixo (GRAF. 1) podemos identificar a faixa etária que é atendida no CAPS IJ/OP.
Há a predominância de crianças, mas os quantitativos ficaram muito divididos. Sobre os adultos
ainda frequentes no CAPS, se justifica por terem direito a frequentar o serviço, se sofrimento
intenso, até os 21 anos de idade. Os 4 adultos contabilizados (4%) representam uma passagem
de transição para a adaptação ao CAPS que atenda adultos ou que atenda usuários de álcool e
outras drogas.

Gráfico 1 – Faixa etária

Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Ainda sobre o aspecto da idade, podemos verificar uma média de idade que equivale a
10,5 anos, considerando os dados do QUADRO 1. Dentre as idades mais prevalentes temos 10

Foram realizadas com usuários (as) que mantinham o seu tratamento a mais tempo dentro do serviço, mas que as
informações do documento estavam desatualizadas. Já em relação às informações colhidas pelos profissionais da
equipe, eram realizadas durante o acolhimento, quando o usuário (a) chega a primeira vez no serviço, ou no
(re)acolhimento, quando retorna ao serviço depois de tempo suficiente para que suas demandas já não sejam as
mesmas. Porém, os usuários (as) que por ventura foram acolhidos ou (re)acolhidos e que foi identificado que não
continuará tratamento no CAPS IJ, não foram contabilizados pela estagiária. Foram contabilizados apenas os
usuários ativos, que estão em sofrimento psíquico grave ou persistente.
54
e 14 anos, o que também é condizente com as estimativas que vimos no tópico anterior, sobre
o perfil dos CAPS IJ no Brasil.

Quadro 1 – Idade
Idade Qt de pessoas %
2 1 1,0%
3 4 4,0%
4 0 0,0%
5 4 4,0%
6 8 7,9%
7 4 4,0%
8 6 5,9%
9 6 5,9%
10 12 11,9%
11 4 4,0%
12 7 6,9%
13 7 6,9%
14 10 9,9%
15 8 7,9%
16 7 6,9%
17 4 4,0%
18 3 3,0%
19 1 1,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

O sexo prevalecente também condiz com as pesquisas apresentadas anteriormente,


porém, neste trabalho, conseguimos evitar a leitura binária e reduzida sobre as diferentes
diversidades existentes, reconhecendo o lugar da identidade de gênero19 (QUADRO 2). Ainda
assim, a população masculina (62,4%) foi a maior em relação à população feminina (37,6%).

Quadro 2 – Sexo e Identidade de gênero


Sexo e Identidade de gênero Qt de pessoas %
Feminino 14 13,9%
Mulher cis 24 23,8%
Mulher trans 0 0,0%

19
Outra questão é o lugar dado ao nome social, visto que há uma dificuldade de obter o registro judicial do nome
das pessoas transgênero registrado, ainda mais para adolescentes que dependeriam da aprovação dos responsáveis,
muitas vezes contra a aceitação da sua identidade de gênero.
55
Masculino 40 39,6%
Homem cis 21 20,8%
Homem trans 2 2,0%
Não-binário20 0 0,0%
Feminino + Mulher cis + Mulher trans 38 37,6%
Masculino + Homem cis + Homem trans 63 62,4%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Não poderíamos deixar de citar a necessidade de ampliação do debate sobre a questão


étnico-racial dentro dos CAPS IJ. Por isso, colocamos em pauta a raça/cor dos usuários (as)
atendidos pelo CAPS IJ de Ouro Preto/MG (QUADRO 3). As crianças foram “declaradas” por
seus pais, por causa da complexidade que exige a autodeclaração das mesmas, pois muitas ainda
não se reconhecerem em sua cor de pele e etnia. Os adolescentes foram declarados por si
próprios. Como previsto, pessoas negras (pretas e pardas) representaram a maioria,
correspondendo a 51,4% dos usuários (as). A população branca representa 16,8% e indígena
1%. Salienta-se o grande número de informações que não constaram na ficha de acolhimento
pela falta de preenchimento, quando esta é utilizada por outros profissionais com o total de
30,7%.

Quadro 3 – Raça/cor
Raça/cor Qt de pessoas %
Branco (a) 17 16,8%
Pardo (a) 36 35,6%
Preto (a) 16 15,8%
Indígena 1 1,0%
Amarelo (a) 0 0,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 31 30,7%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

A autora Roseli Rocha (2018) faz a reflexão em relação às expressões comuns nas
relações sociais dos espaços sócio ocupacionais, que colocam um tipo de tratamento
diferenciado às pessoas pretas e pardas, causando a falta de um acolhimento favorável a essas
pessoas por parte dos profissionais, no caso, da saúde, e representam violação de direitos. Rocha
(2018) afirma que o “quesito cor” é uma expressão do racismo institucional, ou seja, em muitos

20
Gênero que não se encaixa nas categorias tradicionais de homem ou mulher.
56
casos, há a ausência do “quesito cor” nos formulários e sistemas de informação nos serviços de
saúde. A inviabilização do dado ou o não preenchimento correto gera o que chamamos de
racismo institucional.
Devemos ressaltar que existe, além disso, de acordo com Eurico (2022) uma dificuldade
da sociedade em reconhecerem ou se assumirem enquanto pessoas negras. Por conta de toda a
política do branqueamento que foi historicamente permeada no Brasil, “a sociedade, em geral,
continua a associar a população negra a comportamentos ruins, próprios de pessoas ignorantes,
indisciplinadas e violentas” (Eurico, 2022, p. 10). Por isso, preferem se autodeclarar como
pardas, por entenderem que, de certa forma, ameniza a sua vinculação com a população negra.
Melhor dizendo,

preta e parda são cores validadas pela sociedade e que, agrupadas nas análises do
IBGE, nos permitem identificar o percentual de população negra no Brasil.
Analisando os dados do quesito, prevalece a concentração alta da população negra na
categoria parda, o que nos desafia a esmiuçar o desafio que é se reconhecer
negra/negro/negre diante de uma estrutura racista. A hipótese é de que a alta
concentração na categoria parda é resquício da política de branqueamento, cuja
centralidade era a valorização do grupo branco e a desvalorização do grupo negro,
sinônimo de preto (Eurico, 2022, p. 9-10).

No que se refere às crianças e adolescentes, acreditamos que muitas vezes essa


população possa não encontrar espaços em que seja discutida e valorizada a sua auto-imagem
e identidade racial. No caso desta pesquisa, percebeu-se também o recuo de alguns pais em
“declarar” seus filhos como pessoas pretas, o que condiz com a visão da autora.
Em relação ao acompanhamento da gestação da mãe (QUADRO 4), do parto da mãe
(QUADRO 5) e do desenvolvimento psicomotor quando criança (QUADRO 6), são
informações que influenciam biologicamente na saúde mental das crianças e adolescentes e,
por essa questão, também foram incluídas na pesquisa. Sobre o acesso à realização do pré-natal
durante a gravidez da mãe tivemos os seguintes dados: mãe com acompanhamento de pré-natal
(53,5%), sem acompanhamento (5,9%), e sem informação na ficha (20,8%). O total de 12,9%
das mães passou por complicações durante o parto. O parto de 41,6% das mães foi normal e
40,6% foram por cesariana. Os dados acerca do desenvolvimento psicomotor (quando criança),
foram os seguintes: 56,4% normal, seguido de 21,8% atraso na fala. O atraso no andar
representou 2% e estereótipos com as mãos 1%.

Quadro 4 - Acompanhamento da gestação da mãe (pré-natal)


Acompanhamento da gestação da mãe (pré-natal) Qt de pessoas %
Acompanhada 54 53,5%

57
Acompanhada, mas houveram complicações 9 8,9%
Não acompanhada 6 5,9%
Não acompanhada, houveram complicações 4 4,0%
Não sabe 7 6,9%
Sem informação na ficha de acolhimento 21 20,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 5 - Parto da mãe
Parto da mãe Qt de pessoas %
Normal 42 41,6%
Cesária 41 40,6%
Não sabe 5 5,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 13 12,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 6 - Desenvolvimento psicomotor (quando criança)
Desenvolvimento psicomotor (quando criança) Qt de pessoas %
Normal 57 56,4%
Atraso na fala 22 21,8%
Atraso no andar 2 2,0%
Estereótipos com as mãos 1 1,0%
Não sabe 2 2,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 17 16,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

A escola é um local onde as crianças e adolescentes passam a maior parte do dia,


principalmente quando funciona em período integral. A matrícula escolar (QUADRO 7) é
composta por usuários (as) com frequência regular em 80,2%. A frequência irregular (13,9%)
se justifica por, em alguns casos, o usuário (a) estar em crise e precisar se ausentar por algum
tempo, ou questões relacionadas ao bullying, ou a falta de adaptação, quando a criança
(principalmente) está em algum tipo de transição, por exemplo, mudanças familiares, escolares
ou geográficas.

Quadro 7 - Matrícula escolar


Matrícula escolar Qt de pessoas %
Matriculado na escola formal, com frequência 81 80,2%
regular
Matriculado na escola formal, com frequência 14 13,9%
irregular

58
Formado no EM 1 1,0%
Não está matriculado na escola formal 4 4,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 1 1,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

O QUADRO 8 mostra que a natureza da escola é pública, com 96,5% - mais


especificamente, 47,5% que estudam em escola municipal, seguido de 34,7% em escola
estadual, 5% em escola federal e 3% estudam em escola especial -; sendo a escola particular
representada por apenas 5% dos usuários. Apenas 1% dos adolescentes frequenta a
universidade.

Quadro 8 - Natureza da escola


Natureza da escola Qt de pessoas %
Escola municipal 48 47,5%
Escola estadual 35 34,7%
Escola particular 4 4,0%
Escola federal (Ex: IFMG) 5 5,0%
APAE Ouro Preto 3 3,0%
Universidade federal 0 0,0%
Universidade particular 1 1,0%
Não matriculado (a) 4 4,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 1 1,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

É importante ressaltar que 3% dos usuários (as) analisados frequentam a escola


“especial” - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) - devido a criança ou
adolescente possuir necessidades específicas relacionadas à deficiência ou a condições que
exigem um acompanhamento pedagógico, terapêutico e clínico especializado. O ensino em
escola especial não é separado por séries, pois cada aluno possui um acompanhamento
particular para o seu tipo de demanda. Em alguns casos, o aluno pode continuar e permanecer
frequentando a escola mesmo quando atinge a fase adulta.
A maioria dos usuários e usuárias atendidos está frequentando o 7° e 5° ano do ensino
fundamental e o 1° ano do ensino médio. Não foram identificadas irregularidades em relação
às séries escolares e a faixa etária.

Quadro 9 - Série escolar

59
Série escolar Qt de pessoas %
1 período 0 0,0%
2 período 3 3,0%
3 período 1 1,0%
1 ano EF 9 8,9%
2 ano EF 1 1,0%
3 ano EF 4 4,0%
4 ano EF 8 7,9%
5 ano EF 12 11,9%
6 ano EF 4 4,0%
7 ano EF 13 12,9%
8 ano EF 5 5,0%
9 ano EF 8 7,9%
1 ano EM 11 10,9%
2 ano EM 4 4,0%
3 ano EM 5 5,0%
Sem série escolar 11 10,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

As necessidades educacionais especiais (NEE) podem estar relacionadas a crianças ou


adolescentes que possuem ou precisam de monitor/professor de apoio, da adequação das
instalações, do ensino de libras, das salas de apoio ou de outras necessidades, promovendo uma
educação mais inclusiva. Por esse motivo, esse dado foi colhido apenas quando o usuário (a)
possui alguma hipótese diagnóstica que tem a possibilidade de dificuldades no aprendizado,
como por exemplo os diagnósticos de TEA, Deficiência Intelectual e TDAH. No quadro abaixo
(QUADRO 10) podemos identificar que em 6,9% delas tem acesso ao monitor ou professor de
apoio, seguido de 5% não identificadas NEE, juntamente com 5% das crianças que possuem
essa necessidade, porém, sem assistência na escola em que está matriculado (a). Salas
multifuncionais ou salas de apoio à inclusão e APAE representam 3% cada uma.

Quadro 10 - Necessidades educacionais especiais - NEE


Necessidades educacionais especiais - NEE Qt de pessoas %
Não foi identificada nenhuma NEE 5 5,0%
Monitor/professor de apoio 7 6,9%
Sala multifuncionais ou salas de apoio à inclusão 3 3,0%
Possui NEE, sem assistência na escola em que está 5 5,0%
matriculado (a)

60
APAE 3 3,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Seguindo, podemos sintetizar as questões em relação a moradia. Fica evidente que a a


maioria da população usuária reside no ambiente urbano, com porcentagem de 92,1; 7,9%
vivem em ambiente rural, geralmente localizado em algum distrito do município de Ouro Preto
(MG), considerando que de acordo com o IBGE (2022), o município conta com um território
vasto de 1.245,865 km². Na MAPA 1, o mapa de Ouro Preto é apresentado, com isso,
percebemos que os distritos têm um território mais extenso do que a sede, apesar da menor
quantidade de habitantes. A Sede do município compõe 62,4%21 do total dos usuários (as),
enquanto as famílias que residem em algum dos 12 distritos, são 37,6%.

Mapa 1 – Locais de moradia de Ouro Preto/MG

Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Como apresentado no tópico 2.2, por meio do Decreto n° 8.087/2023, a Prefeitura de


Ouro Preto concedeu ao CAPS IJ/OP uma nova sede, que passou a ser o seu local de
funcionamento oficial a partir julho de 2024. Desde a fundação do serviço, em 2008, até a
mudança para a nova sede, o CAPS IJ/OP era localizado em um imóvel cuja localização era de

21
Sede – 56,4%; Cachoeira do Campo - 11,9%; Outros distritos – 31,7% e sem informação sobre a moradia, 5,9%.
61
difícil acesso para os usuários (as) e seus familiares/responsáveis. O imóvel, além de nunca ter
sido propriedade da prefeitura, se encontrava em um lugar mais isolado, onde nem mesmo era
rota dos ônibus circulares da cidade. Ademais, a localidade também era sede da antiga FEBEM
que carregava o estereótipo das pessoas que o frequentavam e do tratamento dado no serviço
em si. Acreditamos que a mudança recente de local do CAPS IJ/OP, para um bairro mais perto
da comunidade, possa ser um motivo para que o serviço receba mais acesso de usuários (as)
dos distritos22.
Se tratando do transporte oferecido aos usuários (as), por motivos de lotação, apenas se
enquadra àqueles em situação de crise, o que também dificulta o acesso das famílias que
residem em bairros periféricos ou distritos do município.
Mais especificadamente, os bairros de moradia da Sede e os bairros do maior distrito de
Ouro Preto, Cachoeira do Campo, foram apresentados no MAPA 2 e 3, a seguir:

Mapa 2 - Bairros de moradia da Sede de Ouro Preto/MG

Fonte: Produzido pelo próprio autor.


Mapa 3 - Bairros de moradia do distrito de Cachoeira do Campo (Ouro Preto/MG)

22
Destaca-se que alguns possíveis usuários (as) que moravam muito longe não conseguiam o transporte para se
deslocarem para o CAPS IJ/OP, o que os restava continuar o seu tratamento de saúde mental nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS). Essa é uma problemática, pois as UBS, muitas vezes não está preparada o suficiente (recursos
humanos e financeiros) para lidar com pacientes com transtornos mentais graves e persistentes.
62
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

A identificação desses mapas está no QUADRO 11 abaixo, com as respectivas


numerações.
O QUADRO 11 também mostra os bairros mais populosos que tem acesso ao
atendimento, sendo Alto da Cruz (6,9%), Bauxita (5,9%), Antônio Dias (5%), Morro Santana
(4%) e Nossa Senhora do Carmo (4%) da Sede. Dos distritos, Antônio Pereira foi o mais
prevalente (7,9%), seguido de Amarantina (5%), Vila Alegre – Cachoeira do Campo (4%) e
Santa Rita de Ouro Preto (4%). Sobre isso, enfatiza-se que os bairros do Alto da Cruz e Morro
Santana são periféricos e os distritos de Antônio Pereira e Amarantina são atingidos pela
mineração.

Quadro 11 – Distrito
Distrito Identificador Bairro Sede Municipal Qt de atendidos %
(Mapa)
Sede 2 AGUA LIMPA 3 3,0%
Sede 3 ALTO DA CRUZ 7 6,9%
Sede 4 ANTONIO DIAS 5 5,0%
Sede 6 BAUXITA 6 5,9%
Sede 7 CABECAS 1 1,0%
Sede 8 CAMINHO DA FABRICA 1 1,0%
Sede 11 DORES 1 1,0%

63
Sede 13 JARDIM ITACOLOMI 1 1,0%
Sede 16 MORRO DA QUEIMADA 1 1,0%
Sede 18 MORRO SANTANA 4 4,0%
Sede 19 MORRO SAO JOAO 2 2,0%
Sede 20 MORRO SAO 2 2,0%
SEBASTIAO
Sede 22 NOSSA SENHORA DO 4 4,0%
CARMO
Sede 23 NOVO HORIZONTE 1 1,0%
Sede 24 PADRE FARIA 2 2,0%
Sede 27 PIEDADE 3 3,0%
Sede 28 PILAR 1 1,0%
Sede 29 ROSARIO 1 1,0%
Sede 30 SANTA CRUZ 2 2,0%
Sede 31 SAO CRISTOVAO 3 3,0%
Sede 33 SARAMENHA 3 3,0%
Sede 34 TAQUARAL 2 2,0%
Sede 36 VILA APARECIDA 1 1,0%
Amarantina 5 5,0%
Antônio Pereira 8 7,9%
Cachoeira do Campo 2 ALTO DA BELEZA 2 2,0%
Cachoeira do Campo 3 BELA VISTA 1 1,0%
Cachoeira do Campo 4 CENTRO 1 1,0%
Cachoeira do Campo 6 METALÚRGICOS 2 2,0%
Cachoeira do Campo 15 SANTA LUZIA 2 2,0%
Cachoeira do Campo 19 VILA ALEGRE 4 4,0%
Glaura 1 1,0%
Lavras Novas 2 2,0%
Miguel Burnier 1 1,0%
Rodrigo Silva 3 3,0%
Santa Rita de Ouro Preto 4 4,0%
Santo Antônio do Leite 2 2,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Um aspecto apresentado nas pesquisas sobre os dados nacionais foi a origem do


encaminhamento (QUADRO 12), visto que identificaram poucos encaminhamentos vindos das
UBSs, que são (ou deveriam ser) a porta de entrada para o SUS. É importante o fortalecimento
da atenção básica pois, sabendo que os CAPS atendem apenas transtornos mentais graves,
64
severos e persistentes, mas os transtornos “menos graves”, quer dizer, que não estão tão
prevalentes em seu funcionamento de vida, são atendidos pela atenção básica.
A demandas espontâneas23 (31,7%) foi o meio de chegar ao serviço que mais prevaleceu
na nossa pesquisa. Sobre a origem do encaminhamento predominante foi o Programa de Saúde
da Família – PSF (18,8%), seguido da escola (13,9%) e UBS (11,9%).

Quadro 12 - Origem do Encaminhamento


Origem do Encaminhamento Qt de pessoas %
Demanda espontânea 32 31,7%
PSF 19 18,8%
UBS 12 11,9%
Conselho Tutelar 5 5,0%
CREAS 1 1,0%
UPA 5 5,0%
Escola 14 13,9%
CER 2 2,0%
Creche 1 1,0%
Ministério Público 2 2,0%
Abrigo 1 1,0%
Outro CAPS IJ 4 4,0%
NASF 1 1,0%
Hospital 2 2,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

No que diz respeito as principais demandas (QUADRO 13), as queixas estão


relacionadas com a agitação, que aparece em 61 vezes dos casos. A dificuldade de convívio
com outras pessoas (46 vezes); falta de entusiasmo, energia ou motivação (40 vezes);
dificuldade de aprendizagem (38 vezes); crise de ansiedade (35 vezes) e sem rotina de sono (33
vezes) também foram destacadas como recorrentes.

Quadro 13 - Principais demandas


Principais demandas Qt de pessoas
Abandono 10
Agitação 62
Agressividade 29

23
O dado sobre a demanda espontânea pode estar incondizente com a realidade, pois pode incluir também os casos
em que os prontuários analisados pela estagiária não constavam essa informação.
65
Anorexia e/ou bulimia 2
Autolesão 15
Baixa autoestima 26
Confusão mental 2
Crise de ansiedade 35
Crise de pânico 11
Dificuldade de aprendizagem 38
Dificuldade de concentração 30
Dificuldade de convívio com outras pessoas 46
Dificuldade de raciocínio 22
Discurso de que não quer viver 13
Falta de entusiasmo, energia ou motivação 40
Isolamento 29
Mudanças de humor repentinas 35
Mudanças no comportamento 30
Problemas de expressão de ideias 19
Seletividade alimentar 6
Sem rotina de sono 33
Tentativa de autoextermínio 8
Usuário (a) abusivo de álcool e/ou outras 1
drogas
Violência emocional 18
Violência física 10
Violência sexual 5
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Os “comportamentos suicidas”, que aparecem 36 vezes nas fichas analisadas, são a


junção dos casos de tentativa de autoextermínio (8 vezes), autolesão (15 vezes) e discurso de
que não quer viver (13 vezes) são dados preocupantes. Estão, como previsto, mais evidentes na
população adolescente (31 vezes) e feminina (23 vezes).
Também há de se notar que tiveram alusão em 32 prontuários dos analisados ao usuário
(a) ter passado por algum tipo de violência. Dentre os tipos indicados, inclui-se a de violência
emocional24 (18 vezes), física (10 vezes) e sexual (5 vezes). O comportamento agressivo foi
identificado 29 vezes das fichas de acolhimento.

24
O bullyng foi incluído como um tipo de violência emocional.
66
Nesse sentido, a uma produção de Assis, et. al. (2009), é elaborada para enfatizar as
violências cometidas contra crianças e adolescentes brasileiros. Na visão das autoras, a vivência
de graves situações violentas em casa, na escola e na comunidade, são um dos principais
aspectos que geram a piora na saúde mental. A experiência de violência, inclusive, gera
sintomas relacionados ao comportamento violento da própria criança ou adolescente violentada.
Ao abordar a questão da agressividade, Delfini, et. al (2019, p. 233) já haviam chamado
a atenção para esse aspecto, o que corrobora com a perspectiva das autoras citadas.

Vale destacar que agressividade ou problemas sociocomportamentais nem sempre


configuram quadros patológicos, podendo se caracterizar como passageiros ou
reativos de modo que é importante não patologizar a agressividade. Nesse sentido,
levanta-se a hipótese de que tanto as famílias, quanto as escolas e os profissionais do
CAPSi podem reforçar preconceitos relacionados à saúde mental e periculosidade ou
violência. Como categoria de ansiedade e isolamento foram consideradas resposta
como ansiedade propriamente dita, dificuldade ou falta de interação no contato social
e familiar, isolamento e angústia.

Outra questão que conecta com as pesquisas do perfil dos usuários (as) dos CAPS IJ, no
Brasil, foi o número reduzido de pacientes que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas,
correspondendo a apenas 1%. Vale dizer, ainda sobre a antiga sede do CAPS IJ/OP, que a
mesma era em frente à sede do batalhão da Polícia Militar. Arriscamos dizer que esse era um
dos fatores decisivos para o receio de adolescentes pretos e periféricos, por exemplo, não
obterem acesso ao seu direito. Corroboramos com Silva, et. al. (2021, p. 5), ao colocar o
prejudicial de substâncias psicoativas como uma expressão da “questão social”,

Os adolescentes em situação de risco ou vulnerabilidade estão mais susceptíveis a


realizarem o uso de substâncias psicoativas, buscando tentar esquecer os problemas
sejam eles familiares, sociais ou econômicos, que consequentemente podem levar ao
desenvolvimento de transtornos mentais como ansiedade, depressão, transtorno
bipolar, esquizofrenia entre outros. O uso abusivo de substâncias psicoativas é como
uma fuga da realidade (Barbosa, et al., 2020 Apud Silva, et. al., 2021, p. 5).

Por outro lado, a despeito da hipótese diagnóstica (QUADRO 15), com base no CID 11,
a recorrência é do 6A05 - Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (28 vezes); sem
hipótese diagnóstica (23 vezes); 6A70/6A71 - Transtorno depressivo (episódio único ou
recorrente) (13,3%); 6A02 - Transtorno do espectro do autismo (15 vezes) e 6A73 - Transtorno
misto de ansiedade e depressão (12 vezes).

Quadro 14 - Hipótese Diagnóstica


Hipótese Diagnóstica Qt de pessoas
6A00 - Transtornos do desenvolvimento intelectual 10

67
6A02 - Transtorno do espectro do autismo 13
6A05 - Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade 28
6A20 - Esquizofrenia 2
6A70/6A71 - Transtorno depressivo (episódio único ou recorrente) 15
6A73 - Transtorno misto de ansiedade e depressão 12
6B00 - Transtorno de ansiedade generalizada 1
6C90 - Transtorno desafiador opositivo 4
6D10 - Transtorno de personalidade 1
Sem hipótese diagnóstica 23
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Durante a leitura das produções no Brasil, identifica-se que a população feminina25 sofre
com transtornos neuróticos e psicossomáticos26 e a população masculina27, com transtornos de
desenvolvimento e no processo de ensino-aprendezagem28. Sobre as fichas do CAPS IJ/OP, não
foi diferente, pois a os transtornos neuróticos e psicossomáticos apareceram em 19 prontuários
femininos e 13 em prontuários femininos. Já os transtornos de desenvolvimento e no processo
de ensino-aprendezagem apareceram 46 vezes em prontuários masculinos e 6 vezes em
prontuários femininos. Crianças mais velhas, geralmente, evidenciaram taxas maiores nos
quadros mais graves de transtornos29, pois são mais difíceis de serem diagnosticadas de acordo
com a idade. Neste caso, as três hipóteses diagnósticas de transtornos graves são identificadas
em adolescentes/adultos.

Sobre a utilização de medicamento, o total de 64,4% dos usuários (as) possuem esse
dado na ficha de acolhimento, dos que não utilizam, 34,7%. Todavia, esse conteúdo pode estar
desatualizado, pois nas fichas analisadas quando os usuários (as) tinham acabado de ser
acolhidos, muitas vezes não estavam sob uso de remédios psiquiátricos.
Os dados colhidos também sugerem a existência (ou não) de transtorno mental na
família - sim (62,4%), não (22,8%), não sabe (4%) e sem informação na ficha de acolhimento
(10,9%). Além da questão genética, os autores Régio, et. al. (2023 p. 2) colocam que “a
constituição familiar, os recursos financeiros, a rede social de apoio e os recursos individuais

25
Incluem crianças do sexo feminino e adolescentes/adultas: mulheres cis e mulheres trans.
26
Incluem os diagnósticos de Transtorno depressivo (episódio único ou recorrente), Transtorno de
ansiedade generalizada (TAG) e Transtorno misto de ansiedade e depressão.
27
Incluem crianças do sexo masculino e adolescentes/adultos: homens cis e homens trans.
28
Incluem os diagnósticos de Transtornos do desenvolvimento intelectual (DI), Transtorno do espectro
do autismo (TEA), Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e Transtorno desafiador opositivo
(TOD)
29
Incluem Esquizofrenia, Transtorno de personalidade, etc.
68
das pessoas responsáveis pelo cuidado influenciam o processo saúde/ doença de crianças e
adolescentes.[...]”. Partindo desse pressuposto, nos QUADROS 15, 16 e 17, podemos iniciar o
detalhamento da vida familiar dos usuários do CAPS IJ/OP.
O núcleo familiar dominante é composto pela família natural (83,2%), ou seja, onde o
genitor tem vínculo consanguíneo com o filho menor (ECA, 1990). O estado civil dos
pais/responsáveis, são solteiros, divorciados ou separados (34,7%). Destaca-se a porcentagem
de 15,8% de crianças ou adolescentes que não tem o contato ou vínculo estabelecido com o pai.
Justifica-se pelo fato das mulheres ainda serem as principais cuidadoras de seus filhos e,
majoritariamente, as mulheres negras. Se um dos pais biológicos não residem na mesma casa,
a criança ou adolescente tem o direito de solicitar o recebimento de pensão para auxiliar nas
despesas do dia-a-dia, no entanto, apenas 30 pessoas (44,7%) tem esse direito viabilizado e
ainda, quando recebe, o valor muitas vezes é irrisório.

Quadro 15 - Composição familiar


Composição familiar Qt de pessoas %
Família natural 84 83,2%
Família extensa 13 12,9%
Família substituta 3 3,0%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 16 - Estado civil dos pais/responsáveis
Estado civil dos pais/responsáveis Qt de pessoas %
Casados/ União Estável 30 29,7%
Solteiro/ Divorciados/ Separados 35 34,7%
Viúvo (mãe falecida) 0 0,0%
Viúva (pai falecido) 1 1,0%
Sem contato com o pai 16 15,8%
Sem contato com a mãe 3 3,0%
Sem contato com ambos os pais 1 1,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 15 14,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 17 - Recebe pensão (se um dos pais biológicos não residem na mesma casa)
Recebe pensão (se um dos pais biológicos não Qt de pessoas
residem na mesma casa)
Sim 30
Não 31
Sem informação na ficha de acolhimento 6
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
69
No tópico 3.1 deste trabalho, colocamos em pauta que a escolaridade dos pais ou
responsáveis (QUADRO 18), é uma característica social que influencia na visão da criança ou
adolescente sobre quem ela é no mundo, pelas interpretações de Dayrell (2003). Em razão da
escolaridade dos mesmos ser impactante na condição socioeconômica dos indivíduos, pode
influenciar no agravo à saúde mental dos filhos e filhas. Embora, em muitos prontuários
(52,2%) não constar essa informação, daqueles que constava pudemos identificar que o ensino
fundamental completo ou incompleto30 dos pais ou responsáveis foi informado por 15 pessoas;
já o ensino médio completo por 25 pessoas e superior completo, por 5 pessoas.

Quadro 18 - Nível de escolaridade dos pais/responsáveis


Nível de escolaridade dos pais/responsáveis Qt de pessoas %
Analfabeto 1 1,0%
Fundamental completo ou incompleto 15 14,9%
Médio incompleto 0 0,0%
Médio completo 25 24,8%
Superior incompleto 2 2,0%
Superior completo 5 5,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 53 52,5%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Acerca da situação socioeconômica familiar, são questões que certamente afetam o


acesso de qualidade à cuidados de saúde, alimentação, educação e/ou segurança, também
podendo agravar os sintomas relacionados à saúde mental. Dos pais ou responsáveis que
exercem função remunerada tivemos o seguinte resultado: 54,5% informaram função
remunerada, 26,7% não remunerada e em 18,8% das fichas de acolhimento não constavam esta
informação%). Esse tipo de trabalho (QUADRO 19), muitas vezes é precarizado, considerando
que 16,8% dos responsáveis que possuem empregação informal, 14,9% possuem empregação
autônoma e empregação freelancer, 3%. No total, isso representa um quantitativo de 34,7% dos
casos.

Quadro 19 - Tipo de trabalho dos pais/responsáveis


Tipo de trabalho dos pais/responsáveis Qt de pessoas %

30
Um equívoco durante a coleta de dados inviabilizou que possamos apresentar os dados específicos dos
pais/responsáveis que concluíram ou não o ensino fundamental.
70
Formal (com garantias trabalhistas) 19 18,8%
Informal (não tem vínculo, nem carteira assinada ou qualquer tipo de 17 16,8%
contrato)
Autônomo (exerce atividade econômica por conta própria) 15 14,9%
Freelancer (abordagem mais específica e temporária) 3 3,0%
Do lar 16 15,8%
Estudante 1 1,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 18 17,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

A precarização, má remuneração do trabalho e/ou inacessibilidade para tal, fazem com


que tenham a necessidade de acessar o direito aos benefícios eventuais fornecidos pelo governo.
44,6% dos familiares ou responsáveis recebem algum tipo de benefício, 50,5% não recebem,
pela característica de fragmentação da assistência social, que faz com que não tenham esse
direito, ou por que não foram informados sobre seus direitos. Em 5% dos casos, não há essa
informação na ficha de acolhimento.
No município de Ouro Preto, de acordo com a lei municipal de benefícios eventuais
oferecidos pelo Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) - Lei n° 1281/2022, altera e
acrescenta a Lei n° 905/2014 -, as famílias com renda per capta de ¼ de salário mínimo têm
direito ao auxílio natalidade (emergencial), auxílio funeral (emergencial), auxílio alimentação
(temporário), aluguel temporário (temporário), auxílio subsistência (caráter transitório e
emergencial), vale transporte urbano (caráter transitório e emergencial), análise em situação de
“calamidade pública”. Sobre os direitos previdenciários, os principais são o Benefício de
Prestação Continuada (BPC), a aposentadoria e a pensão por morte.
O QUADRO 20, é apresentado o recurso financeiro mensal que a composição familiar
dos usuários e usuárias do CAPS IJ/OP possuem. Na maior parte, as famílias possuem renda de
aproximadamente de 1 até 2 salários mínimos (34,7%). No entanto, conforme as pesquisas do
Dieese (UOL, 2023), o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas
no Brasil é de R$ 6.578,41, segundo pesquisas recentes. Nota-se que 40,6% das famílias
sobrevivem com menos de 1 salário mínimo mensal.

Quadro 20 - Renda familiar aproximada


Renda familiar aproximada Qt de pessoas %
Sem renda 9 8,9%
Até R$486 3 3,0%

71
R$487 até R$900. 7 6,9%
R$901 até 1 salário mínimo 22 21,8%
de 1 até 2 salários mínimos 35 34,7%
de 2 até 3 salários mínimos 13 12,9%
de 3 até 4 salários mínimos 1 1,0%
de 4 até 5 salários mínimos 1 1,0%
mais de 5 salários mínimos 2 2,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 8 7,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Acerca da contribuição dos usuários (as) adolescentes com renda familiar, a quantidade
foi apenas de 6,4%. Usuários (as) que trabalham, mas não contribuem com a renda familiar, foi
de 2,1%, dos que não contribuem com a renda familiar, porque não exercem nenhum tipo de
trabalho, foi de 83%.
A alimentação saudável também é um fator que influencia a saúde física e mental das
crianças e adolescentes. Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) “analisou 1 396 crianças de 7 a 14 anos e constatou que jogar games ou assistir a vídeos
à noite levava essa população a consumir menos alimentos saudáveis, como frutas e verduras,
e mais ultraprocessados, industrializados ricos em sal, açúcar e gordura.” (Félix, 2024, s/p). Isto
é, até mesmo o uso das redes sociais em excesso, podem causar a má alimentação. De acordo
com as informações fornecidas pelos pais ou responsáveis, 47,5% dos usuários (as) do CAPS
tem uma alimentação saudável e 31,7% não tem. Em 20,8% das fichas de acolhimento esta
informação não constava.
Não poderíamos de deixar de falar sobre a condição peculiar do município de Ouro
Preto, sobre o acesso aos dispositivos presentes no território (QUADRO 21), sejam eles
educação (ex.: creche, escola, faculdade, etc.); da saúde (ex.: posto de saúde, UPA, hospital,
etc.); assistência social ou previdência (ex.: CRAS, CREAS, abrigo/casa de acolhimento,
CadÚnico/Bolsa Família, INSS, etc.) e lazer (esporte, quadras, parque, arte e cultura, etc).
Enfatiza-se o pequeno número de crianças e adolescentes que frequentam atividades de
lazer (30,7%), ou seja, que fazem algum tipo de atividade física, tem acesso a parques, quadras
ou outros espaços culturais. O lazer e o ato de brincar vão muito além da diversão, sendo direitos
fundamentais para o desenvolvimento emocional, social, cognitivo e físico das crianças (ECA,
1990). Na cena turística, os moradores da região não se sentem pertencentes ao espaço e acabam

72
não o frequentando. Conforme o estudo de Alves (2022, p. 394): “a produção da cena turística
e o uso do espaço ocorrem de modo desigual e contraditório”.

Quadro 21 - Acesso aos dispositivos no território


Acesso aos dispositivos no território Qt de pessoas %
Educação 97 96,0%
Saúde 67 66,3%
Lazer 31 30,7%
Assistência Social 45 44,6%
Tem acesso a 1 variável 15 14,9%
Tem acesso a 2 variáveis 25 24,8%
Tem acesso a 3 variáveis 40 39,6%
Tem acesso as 4 variáveis 5 5,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 16 15,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Com base na análise sobre o principal meio de transporte (QUADRO 22) utilizado pelos
usuários e usuárias do CAPS IJ/OP, a predominância foi de 36,6% que utilizam ônibus pago e
22,8% transporte próprio. Em relação aos que utilizam ônibus com passe livre municipal, é um
benefício que independe da renda e é fornecido para pessoas com deficiência, incluindo o TEA
(Rota Real, s/d)

Quadro 22 - Meio de transporte


Meio de transporte Qt de pessoas %
A pé/carona 19 18,8%
Transporte próprio 23 22,8%
Ônibus pago 37 36,6%
Ônibus passe livre municipal 6 5,9%
Sem informação na ficha de acolhimento 16 15,8%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Sobre as especificidades sociais/étnicas/culturais (QUADRO 23), podem incluir as


famílias atingidas por barragem, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, ciganas, catadoras de
material reciclável, agricultoras familiares, dentre outras. A única especificidade que foi mais
identificada entre as famílias, foram os usuários (as) atingidos pela mineração (9,9%). A
mineração, nos locais onde se instaura, cria novas expressões da “questão social” e agrava as
que já existiam, obviamente, impactando na saúde mental da comunidade que vive em volta
73
dessa realidade. Os moradores do distrito de Antônio Pereira, por exemplo, trouxeram essas
discussões para a oficina do Plano Diretor31 no ano de 2024:

Assistência social: um dos grandes problemas destacados foi que a comunidade de


Antônio Pereira está “mentalmente doente”. Por isso, demandaram a ampliação da
atuação da assistência social no distrito (CRAS) devido à vulnerabilidade social -
alcoolismo, tráfico de drogas, violência doméstica. Ainda solicitaram ações de
fomento às entidades/organizações que atuam no território, tais como - Movimento
Socioambiental, Cultural, Patrimonial da Saúde Mental de Antônio Pereira (UFOP,
IFMG, FAPEMIG), Pura diversão, Grupo das mulheres guerreiras, Acalento, Pereira
(Ouro Preto, 2024, p. 116-117).

Dos usuários 51,5% não identificaram possuir alguma especificidade


sociais/étnicas/culturais e em 37,5% das fichas de acolhimento não constavam esta informação.

Quadro 23 - Especificidades sociais/étnicas/culturais


Especificidades sociais/étnicas/culturais Qt de pessoas %
Nenhuma das alternativas acima 52 51,5%
Família atingida por mineração 10 9,9%
Família indígena 1 1,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 38 37,6%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Outro aspecto fundamental para essa análise, foi a questão da situação de saneamento
básico QUADRO 24, 25 e 26, que incluiu o acesso à água, ao esgoto e a limpeza urbana. Os
resultados predominantes, foram: 49,5% das famílias dizem tem acesso à água por meio da rede
de distribuição paga; 49,5% diz ter rede coletora de esgoto sanitário e 59,4% diz ter acesso à
limpeza urbana. Contudo, as informações tiveram um alto índice de dados não fornecidos na
ficha de acolhimento (37,6%). Segundo Municípios e Saneamento - BETA (2022, s/p), o
município de Ouro Preto “gera 4.911,62 mil m³ de esgotos por ano. Do volume gerado, 56,45%
é coletado, e 0,6% é tratado. Em 2022, foram despejados 2.138,80 mil m³ de esgotos na natureza
sem tratamento”. A demanda do saneamento básico na cidade foi uma questão muito discutida
pela comunidade na oficina do Plano Diretor, no sentido de que a falta de saneamento está
diminuindo a sua qualidade de vida:

A questão do saneamento básico foi 3º tema mais abordado e muito frequente nas
questões ligadas à qualidade da água, à carência de redes e ao tratamento de esgotos,
da tarifa alta paga pelos serviços. Consideram o acesso à água potável limpa e ao
tratamento adequado de esgoto elementos cruciais para evitar doenças e garantir a
qualidade de vida. Neste sentido, observou-se que a população de Ouro Preto vê essa

31
Realizada pela empresa Fundação Gorceix, juntamente com a Prefeitura de Ouro Preto.
74
questão como urgente, necessitando de melhorias/adequações nos sistemas de
tratamento de água e implantação de rede e tratamento de esgoto, preservando o meio
ambiente e seus recursos que são tão caros à população (Ouro Preto, 2024, p. 180).

Quadro 24 - Acesso a água


Acesso a água Qt de pessoas %
Rede de distribuição paga (Saneouro) 50 49,5%
Rede de distribuição isenta de pagamento 1 1,0%
Nascente 10 9,9%
Não potável 2 2,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 38 37,6%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 25 - Disposição do esgoto doméstico gerado
Disposição do esgoto doméstico gerado Qt de pessoas %
Rede coletora de esgoto sanitário 50 49,5%
Fossa 9 8,9%
Esgoto a céu aberto 4 4,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 38 37,6%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.
Quadro 26 - Limpeza urbana
Limpeza urbana Qt de pessoas %
Sim 60 59,4%
Não 3 3,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 38 37,6%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Em relação ao tipo de moradia (QUADRO 27) que os usuários (as) residem, 52,5%
ocupam casas próprias e 20,8% ocupam casas alugadas. Essa realidade também é a brasileira,
pois Basílio (2022), 70% dos brasileiros moram em imóveis próprios. Entendemos que essa
característica é ainda mais predominante em Ouro Preto, pela cidade possuir muitas casas
antigas, que podem passar de geração em geração.

Quadro 27 - Tipo de moradia


Tipo de moradia Qt de pessoas %
Própria 53 52,5%
Cedida 14 13,9%
Alugada 21 20,8%
Financiada 0 0,0%

75
Abrigo 1 1,0%
Sem informação na ficha de acolhimento 12 11,9%
Fonte: Produzido pelo próprio autor.

Por fim, também analisamos uma questão crucial da particularidade ouro-pretana, o


risco habitacional que, como exposto no item 2.2, o município é considerado como o que possui
maior área de risco do país. Concorda-se com Alves, quando o autor pontua sobre essa questão,
destacando o direito da população à ocupação da cidade:

O processo de urbanização em Ouro Preto tem relação direta com o desenvolvimento


do turismo, cria uma nova racionalidade no uso e na ocupação do território.
Problemas, como a ocupação de áreas irregulares, onde não há uma preocupação com
o uso e ocupação do solo, ou seja, áreas com fragilidade ambiental são ocupadas, sem
que haja uma política urbana eficaz, onde o seu papel seria reestruturar e não manter
os mecanismos que possibilitem a especulação. “A especulação imobiliária leva os
residentes para a periferia que, sem infraestrutura básica que dê condições de moradia,
faz com que se tornem bairros periféricos, desarticulados do contexto urbano (Silva e
Junior, 2008, p. 6 Apud Alves, 2022, p. 398).

Melhor dizendo, consideramos que a ocupação do território de Ouro Preto é mais


pensada para atração de turistas e não com a qualidade de vida dos moradores, semelhante a
realidade brasileira, quando refletimos sobre a formação sóciohistórica brasileira, no item 2.1.
Referente aos dados coletados os riscos habitacionais, incluindo em período de chuvas, moradia
em ocupação, etc, são a realidade em 13,9%; 50,5% dizem não conter riscos em sua residência,
o “talvez” representa 2% e sem informação na ficha de acolhimento, 33,7%. Apesar disso, pode
ser que tenhamos mais pessoas que não saibam sobre a sua situação de peculiaridade da
condição geológica da cidade, que favorece deslizamentos, uma vez que “O município não tem
mapeamento de áreas de risco” (Municípios e Saneamento – BETA, 2022, s/p).

76
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Serviço Social, ao longo da sua trajetória sócio-histórica, assumiu um compromisso


ético em que prioriza a população usuária dos serviços, com vistas à garantia de direitos civis,
sociais e políticos da classe trabalhadora. O estudo aqui descrito, embora tenha encontrado
limites, está diretamente relacionado ao papel do Serviço Social, pois é a partir da análise do
perfil dos usuários e usuárias do serviço em questão, é que as (os) assistentes sociais podem
planejar e executar ações mais eficazes e direcionadas. Para os Técnicos de Referência do CAPS
IJ, função assumida pelos profissionais da equipe interdisciplinar, este estudo também poderá
implicar em um atendimento mais personalizado e eficiente aos usuários (as), além de obter
uma ampliação das demandas relacionadas aos determinantes sociais da saúde mental.
As dificuldades encontradas para realização dessa pesquisa estão mais relacionadas ao
tempo de execução, que envolveu várias etapas: construção coletiva e (re)formulação da Nova
Ficha de Acolhimento do serviço32; localização do prontuário do usuário (a) nos arquivos da
secretaria; transcrição e/ou atualização de 101 usuários (as) ativos; repasse do conteúdo para
um questionário do Google forms; avaliação e controle das etapas e, por fim, a análise dos dados
coletados, que fizeram com que pudéssemos traçar o perfil dos usuários e usuárias do CAPS
IJ/OP.
Em síntese, podemos relatar que as crianças e adolescentes atendidas pelo CAPS ij/OP
são uma população majoritariamente masculina (62,4%), negras (pretas e pardas – 51,4%), com
média de idade de 10,5 anos. Em relação ao acompanhamento da gestação da mãe, foi
acompanhada na maioria dos casos, com parto normal e desenvolvimento psicomotor da criança
normais. Os usuários (as) do serviço de saúde mental estão matriculados na escola formal (com
frequência regular) e em escola pública (96,5%). A maioria está cursando o 6° ano do ensino
fundamental, com idades condizentes à faixa etária. Dos que tem a necessidade educacional
especial, em sua maioria, obtém acesso ao monitor/professor de apoio.
Em geral, os usuários (as) residem em ambiente urbano, na sede de Ouro Preto (bairros
prevalentes: Alto da Cruz e Bauxita) e do distrito de Cachoeira do Campo e Antônio Pereira.
Conseguem acessar o CAPS IJ/OP, majoritariamente, por demanda espontânea e PSF.
Sobretudo, os mesmos utilizam medicamento e, em sua família, há a existência de parentes com
transtornos mentais. O tipo de família natural (83,2%) foi prevalente, com pais ou responsáveis

32
Atividade realizada a partir do Projeto de Intervenção proposto como requisito da disciplina de Estágio
Supervisionado em Serviço Social II
77
solteiros, divorciados ou separados. Se um dos pais biológicos não residem na mesma casa, o
quantitativo de recebimento de pensão ficou bem dividido, mas um alto número (30,7%) não
recebe pensão.
Predominantemente, os pais ou responsáveis tem escolaridade de médio completo33;
exercem função remunerada (54,5%), com empregos precarizados (34,7%) e renda familiar
aproximada de 1 até 2 salários mínimos (34,7%) e das famílias sobrevivem com menos de 1
salário mínimo mensal, a porcentagem foi de 40,6%. 44,6% dos pais ou responsáveis recebem
benefícios socioassistenciais e/ou previdenciários e 43% dos adolescentes/adultos não
contribuem com a renda familiar.
De acordo com os pais ou responsáveis, 47,5% dos usuários (as) tem a alimentação
considerada saudável, além de apenas 5% possuírem acesso aos 4 dispositivos que existem no
território (educação, saúde, lazer e assistência social) juntos. Somente 30,7% tem acesso ao
lazer, como por exemplo. O meio de transporte mais prevalente foi o ônibus pago, com 36,6%.
Sobre o saneamento básico, 49,5 % tem acesso à rede de distribuição de água paga (Saneouro)
e rede coletora de esgoto sanitário (não tratado). O acesso à limpeza urbana foi equivalente a
59,4%. 52,9% residem em casa própria e 13,9% estão em risco habitacional, na maior parte das
vezes, por serem famílias atingidas pela mineração.
Por fim, em relação às demandas sobre a saúde mental dos usuários (as), encontramos
dados que indicaram em maior quantitativo a agitação, que aparece em 61 vezes dos casos;
dificuldade de convívio com outras pessoas (46 vezes) e falta de entusiasmo, energia ou
motivação (40 vezes). O 6A05 - Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (28 vezes)
aparece com mais frequência, quanto às hipóteses diagnósticas. Mais especificamente, os
transtornos neuróticos e psicossomáticos apareceram mais em prontuários femininos (19 vezes)
e os transtornos de desenvolvimento e no processo de ensino-aprendizagem apareceram mais
em prontuários masculinos (46 vezes). Crianças mais velhas se enquadraram nas seguintes
hipóteses diagnósticas de transtornos graves: Esquizofrenia e Transtorno de Personalidade.
O lugar dessas crianças e adolescentes no território em que vivem, portanto, é marcado
pela desigualdade social e desigualdade de oportunidades. Por isso, concordamos com Tomaz
(2018), quando a autora coloca que a questão de necessidade da atuação do (a) assistente social
e, em geral, da Referência Técnica (RT) deve ser ressignificada, para que o foco da sua direção
social continue sendo a materialidade da vida dos sujeitos, historicamente caracterizada como

33
Apesar de um alto quantitativo de sem informação na ficha de acolhimento, que corresponde a 52,5%.
78
objeto principal da saúde mental pela visão da desinstitucionalização italiana, pautada no tópico
2.1.
Assim, o papel do profissional na saúde mental, deve levar em conta o ser social em sua
totalidade, colocando a cidadania como elemento central para a reinserção sociofamiliar do
usuário (a). Os serviços primam contra o preconceito e o estigma e a segregação, implicando o
acesso de qualidade à educação, moradia, trabalho, segurança pública, etc. É sobre inserir o
sujeito no seu território por meio da articulação dos serviços da rede, mostrando alternativas
para atender às suas necessidades e ampliando, ademais, a sua autonomia. Sendo assim, temos
que o livre desenvolvimento de uma pessoa, é requisito para o livre desenvolvimento de todas
as outras pessoas.
De fato, temos a percepção de que os dados apresentados poderiam ter sido melhor
aprofundados, no entanto, diante do curto prazo para a defesa do TCC, infelizmente não foi
possível. As reflexões aqui tratadas, não se esgotam no momento presente, podem ser revistas
e melhor articuladas ao longo do tempo e, como já foi destacado anteriormente, poderá servir
como mais uma possibilidade de diálogo das crianças, adolescentes e familiares/responsáveis
com os movimentos sociais, coletivos e associações de moradores, potencializando suas
requisições acerca de seus direitos previstos na Constituição Federal (1988), na Reforma
Psiquiátrica e, principalmente, no Estatuto da Criança e Adolescente (1990).
A luta pela garantia de direitos às crianças e adolescentes é composta por um
desenvolvimento de continuidade e ruptura e, de certa maneira, uma violação que acontece
nesta faixa etária pode trazer impactos para a vida toda e podendo, infelizmente, perpassar de
geração em geração. Cabe aos profissionais da saúde mental, tentar minimizar os impactos das
expressões que atravessam a vida desses seres sociais de forma totalmente democratizante.
Acredita-se que o Trabalho de Conclusão de Curso cumpriu com o seu papel, no sentido de
buscar ter o olhar para a compreensão das demandas dos usuários (as) e famílias/responsáveis
da saúde mental não apenas em sua aparência, mas em sua essência.
Por fim, na obra de Júnior (2019), o autor revela a existência e resistência de pessoas
que sobrevivem nas sombras, à margem da sociedade. Podemos também mostrar que a falta de
acesso aos direitos básicos, a exclusão social e a violência estrutural são fatores que amplificam
o sofrimento psicossocial e que também fazem parte da vida das irmãs Bibiana e Belonísia. São
reflexos de expressões da “questão social” que ainda afetam muitos jovens no Brasil
contemporâneo. A consciência de classe e raça tiram a falsa paz que acreditamos existir, mas
ao mesmo tempo nos fortalece na luta pela dignidade, respeito e sobrevivência dessa população.
79
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRINQ. Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2024. São Paulo, SP: Fundação
Abrinq, 2024
ALVES, Kerley; et. al. Turismo local e conviver em Ouro Preto em tempos de pandemia: lugar
de encontros e desencontros de moradores. In: Revista Direito e Cidadania, Rio de Janeiro,
vol. 14, n° 01, p. 392-410, 2022.
AMARANTE, Paulo. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio
de Janeiro, 2° ed.: Editora FIOCRUZ, 1998.
APPEL, Nicolle. O Assistente Social inserido na Saúde Mental e suas estratégias de
intervenção. VIII Jornada Internacional de Políticas Públicas. Maranhão, 2017.
ASSIS, Simone Gonçalves de; AVANCI, Joviana Quintes; et. al. Situação de crianças e
adolescentes brasileiros em relação à saúde mental e à violência. Ciência & Saúde Coletiva,
14(2):349-361, 2009.
BADARÓ, Luiza. Múltiplas expressões da questão social ecoam sobre a Infância e
Juventudes. Artigos Temas Livres, v. 15, n. 32, p. 167-183. Brasília: SER Social, jan./jun.
2013.
BARROCO, Maria Lúcia. Direitos Humanos, neoconservadorismo e neofascismo no Brasil
contemporâneo. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, 143, p. 12-21. jan/abr 2022.
BASAGLIA, Franco. Escritos selecionados em saúde mental e reforma psiquiátrica. Rio de
Janeiro, RJ: Garamond, 2010.
BASILIO, Patrícia. Censo da moradia: 70% dos brasileiros moram em imóveis próprios, diz
pesquisa. G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/02/15/censo-
da-moradia-70percent-dos-brasileiros-moram-em-imoveis-proprios-diz-quintoandar.ghtml.
Acesso em: 28 de set. de 2024.
BEHRING, Elaine. Política Social: fundamentos e história. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.
BERTOLLO, Kathiuça. REIS, Neidimar. Relações de trabalho na mineração: análise
dosacordos coletivos firmados entre o Sindicato Metabase Inconfidentes e a Vale S.A. São
Paulo: Expressão Popular, p. 193-222, 2020.
RÉGIO L.; BARROS S.; et. al. O cuidado de crianças e adolescentes negros com problemas de
saúde mental na interseccionalidade entre gênero e raça. Revista Latino-Americana de
Enfermagem. São Paulo, SP: Copyright, 2023
Bilhetagem eletrônica. Rota Real, s/d. Disponível em:
https://consorciorotareal.com.br/bilhetagem-eletronica/ . Acesso em: 28 de set. de 2024.
BRASIL. Atenção psicossocial a crianças e adolescentes no SUS: tecendo redes para
garantir direitos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

80
______. Dados sobre pobreza entre a população negra são apresentados no CNPIR. Gov.br,
2015. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/noticias_seppir/noticias/maio/dados-
sobre-pobreza-entre-a-populacao-negra-sao-apresentados-no-
cnpir#:~:text=Dos%20benefici%C3%A1rios%20do%20Bolsa%20Fam%C3%ADlia,program
a%20de%20complementa%C3%A7%C3%A3o%20de%20renda. Acesso em: 17 de set. de
2024.
______. Instrutivo Técnico da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) no Sistema Único de
Saúde (SUS). Brasília DF: Ministério da Saúde, 2022.
______. Legislação em saúde mental 1990-2002. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002.
______. Lei Federal nº 8069/1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
outras providências. Brasília, 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 20 de Maio de 2023.
______. Lei Federal nº 8080/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.
Acesso em: 01 de Abril de 2024.
______. Lei Federal Nº 10.216/2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saude mental. Brasília,
2001. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm.
Acesso em: 20 de Maio de 2023.
______. Ministério da Saúde amplia em R$ 414 milhões por ano os recursos para custeio dos
serviços da Rede de Atenção Psicossocial. Ministério da Saúde, 2024. Disponível em:
https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2024/01/presidente-lula-
sanciona-lei-que-institui-a-politica-nacional-de-atencao-psicossocial-nas-comunidades-
escolares. Acesso em: 04 de set. de 2024.
______. Presidente Lula sanciona lei que institui a Política Nacional de Atenção Psicossocial
nas Comunidades Escolares. Planalto, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-
br/assuntos/noticias/2023/julho/com-foco-em-atendimento-humanizado-e-cuidado-integral-
ministerio-da-saude-fortalece-assistencia-para-saude-mental-no-sus. Acesso em: 04 de set. de
2024.
______. Portaria GM/MS nº 3.350/2020. Institui, em caráter excepcional e temporário,
incentivo financeiro federal de custeio, para o desenvolvimento de ações no âmbito dos
serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no contexto do Enfrentamento da
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) decorrente da Covid-19.
Brasília, 2020. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2020/prt3350_09_12_2020.html. Acesso em:
07 mar 2024.
______. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2004.
BRAVO, M. I. Política de saúde no Brasil. MOTA, A et al. Serviço Social e Saúde – Formação
e Trabalho Profissional. São Paulo: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2006.

81
BRAVO, M. PELAEZ, E. A saúde nos governos Temer e Bolsonaro: lutas e resistências.
Ser Social. estado, democracia e saúde Brasília, v. 22, n. 46, janeiro a junho de 2020.
CAMARGO, L. G. G.; et.al. Situação atual de saúde mental de crianças e adolescentes no
Brasil. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.9, n.1, p. 1997-2010, jan., 2023
CAPUTO, L. R.; TOMAZ, M.; BEDIM, V. B.; DUARTE, M. J. O. A saúde mental em tempos
de desafios e retrocessos: uma revisão. Argum., Vitória, v. 12, n. 2, p. 91-106, maio/ago. 2020.
CARVALHO, Denise Bomtempo B. Criança e adolescente. In: Capacitação em Serviço Social
e Política Social. Brasília: UnB/Cead, 2000.
CHIBATTO, C. C.; NUNES, I. S.; AGUIAR, K. S. P.. Contrarreforma psiquiátrica e seus
reflexos no cuidado ao usuário e à família. Revista EM PAUTA, n. 49, v. 20, p. 81 – 94. Rio
de Janeiro, RJ, 2022.
CNDE. Crianças e adolescentes em territórios vulneráveis. São Paulo, SP: Outras
Expressões, 2022.
COSTA, Renata; RAFAEL, Josiley. Questão social e sua particularidade no Brasil: imbricação
entre patriarcado-racismo-capitalismo. Revista Temporalis, ano 21, n. 42, p. 77-93. Brasília,
DF: UFSC, jul./dez. 2021.
COURI, Leandro; COSTA, Mariana. Ouro Preto é a cidade brasileira com mais áreas de risco
do país. Estado de Minas, 2023. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2023/01/08/interna_gerais,1441927/ouro-preto-e-a-
cidade-brasileira-com-mais-areas-de-risco-do-pais.shtml#google_vignette. Acesso em 03 de
jul. de 2023.
COUTO, Berenice Rojas. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma
equação possível?. São Paulo – 4 ed: Cortez, 2010.
CUNHA, Maiara; BORGES, Lucienne; BEZERRA, Cecília. Infância e Saúde mental: perfil
das crianças usuárias de um Centro de Atenção Psicossocial Infantil. Mudanças. Santa
Cartarina: Psicologia da Saúde, Jan.-Jun, 2017.
DAVIS, Ângela. Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo, SP:
Boitempo, 2016.
DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, n° 24, p.
40-52. Belo Horizonte, MG: UFMG, set/out/nov/dez 2023.
DELFINI, Patrícia; BARBOSA, Caroline; FONSECA, Felipe; TAVARES, Carlos; REIS,
Alberto. Perfil dos usuários de um centro de atenção Psicossocial infanto-juvenil da grande
São Paulo, Brasil. Revista Brasil Crescimento Desenvolvimento Humano, p. 226-236.
Taubaté, SP, 2009.
EURICO, Márcia Campos. Nota Técnica sobre o trabalho de assistentes sociais e a coleta do
quesito Raça/Cor/Etnia. Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, nº 33/2021,
Brasília/DF: CFESS, 2022.

82
FELIX, Paula. Novos estudos revelam os graves impactos do uso de celulares por crianças.
Veja, 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/novos-estudos-revelam-os-graves-
impactos-do-uso-de-celulares-por-criancas. Acesso em: 28 de set. de 2024.
FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de uma interpretação
sociológica. São Paulo – 5 ed.: Globo, 2006.
FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo, SP: Editora
Perspectiva, 1978.
GARBOIS, Júlia; SODRE, Francis. ARAUJO, Maristela. Da noção de determinação social à
de determinantes sociais da saúde. Rio de Janeiro, v. 41, n. 112, p. 63-76, jan-mar 2017.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/sdeb/a/ymxpLJDTkd5vPh5QL9YGJzq/abstract/?lang=pt. Acesso em:
02 de fev. de 2023.
GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e
Diálogos. Organização: Flávia Rios, Márcia Lima - 1° ed. Rio Janeiro: Zahar, 2020.
GOMES, Ana Claudia. História do Colégio Dom Bosco em Cachoeira do Campo (MG).
Memórias e Biscuits, 2019. Disponível em:
http://www.memoriasebiscuits.com.br/2019/04/historia-do-colegio-dom-bosco-em.html.
Acesso em: 26 de set. de 2024.
GUIMARÃES, Thiago. Ouro Preto muda bandeira "racista". Folha de São Paulo (Cotidiano),
2005. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1911200514.htm . Acesso
em: 26 de set. de 2024.
HOFFMANN, Maria Cristina; SANTOS, Darci; MOTA, Eduardo. Caracterização dos
usuários e dos serviços prestados por Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil.
Cad. Saúde Pública, p. 633-642. Rio de Janeiro, mar, 2008.
IAMAMOTO, Marilda V.; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e serviço social no
Brasil: esboço de uma interpretação teórico-metodológica. São Paulo, SP – 19. ed.: Cortez,
Celats, 2006.
JUNIOR, Itamar Vieira. Torto Arado. São Paulo, 1° ed.: Todavia, 2019.
KANTORSCKI, LP; CARDANO, M; et.al. Política de saúde mental brasileira: uma análise
a partir do pensamento de Franco Basaglia. Journal Nursing and Health. Pelotas, RS: jun,
2021.
LOSCHI, Marília. Questão de gênero: indicadores de saúde mental são piores para as meninas.
Agência IBGE Notícias, 2021. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/31606-questao-de-genero-indicadores-de-saude-
mental-sao-piores-para-as-
meninas#:~:text=As%20informa%C3%A7%C3%B5es%20da%20Pesquisa%20Nacional,50%
2C7%25%20desse%20total. Acesso em: 14 de set de 2024.
MACHADO, Felipe. Conhecendo Para Intervir: o perfil do usuário da saúde mental
infantojuvenil em Santa Maria/RS. Universidade Federal de Santa Maria. Curso de Serviço
Social. Santa Maria, RS, 2018.
83
MARQUES, Fernanda. “Saúde mental para todos”: estudo sobre (des)financiamento no Brasil
foi apresentado no primeiro dia do evento. FIOCRUZ, 2020. Disponível em:
https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/saude-mental-para-todos-estudo-sobre-
desfinanciamento-no-brasil-foi-apresentado-no-primeiro-dia-do-evento/. Acesso em: 03 de
out. de 2023.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Capital: crítica da economia política. Livro I, volume
II, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
MISEREOR, Projeto. Relatório Final: Direitos Humanos e Mineração Testeunho da
Insustentabilidade. Minas Gerais: Projeto Misereor, 2021.
MOLANO, Sarah. Depressão e ansiedade entre jovens dobram durante a pandemia, revela
pesquisa. CNN Brasil, 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/depressao-
e-ansiedade-entre-jovens-dobraram-durante-a-pandemia-
revelapesquisa/#:~:text=Depress%C3%A3o%20e%20ansiedade%20entre%20jovens%20dobr
aram%20durante%20a%20pandemia%2C%20revela%20pesquisa,-
An%C3%A1lise%20revisou%2029&text=Durante%20a%20pandemia%20de%20Covid,de%
20acordo%20com%20uma%20pesquisa. Acesso em: 01 de ago. de 2023.
WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as
mulheres. Tradução Waldéa Barcellos, 15° ed. Rio de Janeiro, RJ: Rosa dos Tempos, 2020.
NAVAI, Paulo Capel. A saúde mental no governo Lula. A Terra é Redonda, 2023. Disponível
em: https://aterraeredonda.com.br/a-saude-mental-no-governo-lula/ . Acesso em: 04 de set. de
2024.
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo, 8 ed: Cortez,
2011.
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo, 1° ed.: Expressão
Popular, 2011.
Brasil tem mais de 11 milhões de mães que criam os filhos sozinhas. G1, 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2023/05/12/brasil-tem-mais-de-11-milhoes-de-
maes-que-criam-os-filhos-sozinhas.ghtml. Acesso em: 14 de set. de 2024.
OLIVEIRA, L. P. Os vários "tipos" de família. JUSBRASIL, 2017. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/os-varios-tipos-de-familia/459692174 . Acesso em: 04 de
set. de 2024.
Ouro Preto. IBGE, 2022. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/ouro-
preto/panorama. Acesso em: 26 de set de 2024.
OURO PRETO, Prefeitura de. Decreto n° 8087/2023. Declara de utilidade pública para fins de
desapropriação, o imóvel situado à Travessa Sargento Francisco Lopes, n° 79, Bairro Água
Limpa, Ouro Preto-MG, destinado à Sede do Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil.
Ouro Preto, 2023. Disponível em:
https://sgm.ouropreto.mg.gov.br/arquivos/norma_juridica/1fb361533981daaed4fbf4e763040c
11.pdf . Acesso em: 07 mar 2024.
________. Lei n° 022/2005. Assegura às crianças e adolescentes portadoras de deficiência
física, mental ou sensorial, prioridade de vaga em Escola da Rede Pública Municipal de Ouro
84
Preto. Ouro Preto, 2005. Disponível em:
https://sgm.ouropreto.mg.gov.br/arquivos/norma_juridica/NJ_img(1776).pdf . Acesso em: 07
mar 2024.
_________. Lei n° 1281/2022, altera e acrescenta a Lei n° 905/2014. Altera os §§ 1º e 3º do
art. 4º, acrescenta os §§5º e 6º ao art. 4º, altera o caput do art. 5º, o inciso I do art. 6º, o art. 10,
o art. 14, os incisos I, III, IV, V e alínea “b” do art. 16, altera o art. 17, o art. 19, o parágrafo
único do art. 20 e o art. 22, e revoga o art. 21, todos da Lei nº 905, de 06 de junho de 2014,
que dispõe sobre os Benefícios Eventuais no âmbito do Município de Ouro Preto, conforme a
Política Nacional de Assistência Social. Ouro Preto, 2022. Disponível em:
https://www.ouropreto.mg.gov.br/pages/diario-cmop.php?page=diario-publicacoes-
cmop&id=620#:~:text=de%20Ouro%20Preto-
,Leis,Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de%20Assist%C3%AAncia%20Social. Acesso em:
26 de jul. de 2024.
________. Portaria n° 059/2023 Institui, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, o
Protocolo contendo as Diretrizes para acolhimento, regulação e encaminhamento das
urgências e emergências psiquiátricas em unidade de pronto atendimento (upa, samu, hospital
geral, bombeiro) e serviço de segurança pública (guarda municipal). Ouro Preto, 2024.
Disponível em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/diario-publicacoes/3247.
Acesso em: 09 ago 2024.
________. Portaria n° 060/2023. Institui, no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, o
Protocolo contendo as diretrizes para o acolhimento e classificação de risco em saúde mental
nas unidades básicas de saúde. Secretaria Municipal de Saúde. Ouro Preto, 2024. Disponível
em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/diario-publicacoes/3247 . Acesso em: 09
ago 2024.
Ouro Preto (MG). Município e Saneamento (BETA), 20. Disponível em:
https://www.aguaesaneamento.org.br/municipios-e-saneamento/mg/ouro-
preto#:~:text=O%20munic%C3%ADpio%20OURO%20PRETO%20gera,esgotos%20na%20
natureza%20sem%20tratamento. Acesso em: 28 de set. de 2024.
Ouro Preto, Prefeitura de. Processo de Revisão do Plano Diretor e Legislação Complementar
do Município de Ouro Preto. Fundação Gorceix, 2024. Disponível em:
https://www.ouropreto.mg.gov.br/planodiretor/consulta-publica. Acesso em: 09 de et. de 2024.
PASSOS, Rachel; MOREIRA, Tales. Reforma psiquiátrica brasileira e questão racial:
contribuições marxianas para a luta antimanicomial. SER Social, Brasília, v. 19, n. 41, p.
336-354, jul.-dez./2017.
PEPINO, Vitor. Sem limite de idade: uso excessivo de telas piora saúde mental de diferentes
gerações. Universidade Federal de Minas Gerais, 2023. Disponível em:
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/sem-limite-de-idade-uso-excessivo-de-telas-piora-
saude-mental-de-diferentes-
geracoes#:~:text=Considerando%20apenas%20os%20estudos%20que,a%20pandemia%20de
%20covid%2D19. Acesso em: 14 de set. de 2024.
Quase 80% da população brasileira que depende do SUS se autodeclara negra. Nações Unidas
Brasil, 2017. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/78576-quase-80-da-
popula%C3%A7%C3%A3o-brasileira-que-depende-do-sus-se-autodeclara-negra. Acesso em:

85
17 de set. de 2024.
RESENDE, Heitor. Política de saúde mental no Brasil: uma visão histórica. In: TUNDIS, S. A.;
COSTA, N. R. Cidadania e loucura, Política de saúde mental no Brasil. Petrópolis:
Nozes/ABRASCO, 1987.
RIBEIRO, Darcy. Falando dos índios. Org. Darcy Ribeiro, Eric Nepomuceno, Fundação
Darcy Ribeiro. Brasília, DF: Editora UnB, 2010.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo, SP:
Companhia das Letras, 1995.
ROCHA, Roseli. Colóquios SNCT 2018 - "Racismo, saúde e formação profissional". Fiocruz
Youtube, 05 de out. de 2018. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=Ah5sgJLY9kQ&list=PLQ_83_lsoGE417JfAXRSXmKyb
WOQfuxqm&index=3 >. Acesso em: 11 de jan. de 2024.
ROCHA, Mirtes Andrade Guedes Alcoforado da. Elaboração de Projetos de Pesquisa. In
CFESS, Conselho Federal de Serviço Social; Unb, Universidade de Brasília. Curso de Pós-
Graduação à distância: Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília:
CFESS/ABEPSS, 2009.
Salário mínimo em junho deveria ter sido de R$ 6.578,41, diz Dieese. UOL, 2023. Disponível
em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/07/06/salario-minimo-ideal-junho-
dieese.htm?cmpid=copiaecola . Acesso em: 28 de set. de 2024.
SURJUS, L. T. L. S. Saúde mental infantojuvenil – história, perspectivas e desafios
contemporâneos. Anais do III Congresso Internacional de Saúde Mental, Irati-PR, 2016.
TOMAZ, Cristiane Silva. A cidadania do louco: um debate necessário para a compreensão
da direção teórico-política da luta antimanicomial. Dissertação de Mestrado. – Universidade
Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2009.
TOMAZ, Cristiane Silva. O Serviço Social na saúde mental e o Técnico de Referência:
possibilidades de uma atuação crítica?. Tese (doutorado) – Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, Faculdade de Serviço Social. Rio de Janeiro, 2018.
TREVISAN, Erika; CASTRO, Sybelle. Perfil dos Usuários dos Centros de Atenção
Psicossocial. Uma revisão integrativa. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 41, n. 4, p. 994-
1012. Salvador, BA, 2017.
UNICEF. Impacto da covid-19 na saúde mental de crianças, adolescentes e jovens é
significativo, mas somente a 'ponta do iceberg' – UNICEF. Fundo das Nações Unidas para a
Infância, 4 out. 2021. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-
imprensa/impacto-da-covid-19-na-saude-mental-de-criancas-adolescentes-e-jovens. Acesso
em: 17 fev. 2024.

86
6. ANEXOS

ANEXO 1 – Antiga Ficha de Acolhimento do CAPS IJ/OP

87
PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil

FICHA DE ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL

Acolhido em: __/__/__ Acolhido por: N° do Prontuário:

Nome:

Nome da mãe:

Nome do pai:

DN: __/__/__ Telefone: ( ) Naturalidade:


( )

Auxílio Brasil:

N° do cartão do SUS:

Endereço:

Bairro:

Escola: Série: Turno:

MOTIVO DA CONSULTA (Queixa Principal)

HISTÓRICO FAMILIAR: Número de componentes na família (Primeiro nome, idade , profissão)

GRAVIDEZ/DESENVOLVIMENTO:

OBSERVAÇÕES:
Encaminhado para:

_______________________________________
Assinatura e Carimbo
ANEXO 2 – Atualização da Ficha de Acolhimento do CAPS IJ/OP criada pela estagiária
(anteriormente a ser avaliada pela equipe do CAPS IJ).

90
PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil

FICHA DE (RE)ACOLHIMENTO PSICOSSOCIAL

(Re)acolhido em: ___/___/____ (Re)acolhido por: N° do Prontuário:

Nome: Nome Social:

V) MODALIDADE DE TRATAMENTO:
( ) Intensivo (diariamente e em tempo integral).
( ) Semi-intensivo (três vezes por semana).
( ) Não intensivo. Qual a frequência em que a criança ou adolescente comparece ao tratamento no CAPS? __________________________
VI) SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICO FAMILIAR:
6.1. -Preencha o quadro abaixo, sobre a situação socioeconômica da família ou dos responsáveis do(a) usuário(a) - INCLUINDO O USUÁRIO(A).

91
Nome Par Data É E Prof Recebe benefício Renda Nível de
entesco de responsável xerce issão previdenciário e/ou mensal - considerar escolaridade
Nascimento pelo função socioassistencial ou possui o salário mínimo
cuidado remune- Cadastro Único? (SM) do ano vigente
do(a) ra
usuário(a)? da?
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria Incompleto

92
( ) ( ) R$901 até ( ) Médio
Outra?_______________________ 1 SM. Completo
( ) 1 até 2 SM. ( ) Sup.
( ) 2 até 3 SM. Incompleto
( ) 3 até 4 SM. ( ) Sup.
( ) Mais de 4 Completo
SM.
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo
___/ ( ) ( ) ( ) Não. ( ) Sim. NIS: ( ) Sem renda. ( )
___/____ Sim. Sim. _____________ ( ) Até Analfabeto
( ) ( ) ( ) Bolsa família R$300. ( ) Fund.
Não. Não. ( ) Auxílio alimentação ( ) R$301 até Incompleto
( ) Auxílio aluguel R$500. ( ) Fund.
( ) Auxílio subsistência ( ) R$501 até Completo
( ) BPC/LOAS R$900. ( ) Médio

93
( ) Aposentadoria ( ) R$901 até Incompleto
( ) 1 SM. ( ) Médio
Outra?_______________________ ( ) 1 até 2 SM. Completo
( ) 2 até 3 SM. ( ) Sup.
( ) 3 até 4 SM. Incompleto
( ) Mais de 4 ( ) Sup.
SM. Completo

Observações:
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________

94
6.2 - Recebe pensão alimentícia? ( ) Rede coletora de esgoto sanitário
( ) Não. ( ) Sim. Valor: R$ ____________ ( ) Esgoto a céu aberto
6.3 - Qual o principal meio de transporte que você ( ) Fossa
utiliza? ( ) Não sabe ( ) Outra?
( ) A pé/carona ( ) Transporte escolar ( ) Bicicleta ( ) _______________________________
Transporte próprio ( ) Transporte coletivo 7.8 - Marque aqui os serviços/políticas disponíveis
6.3.1. Possui o passe livre municipal ou em sua comunidade ou mais próximos a sua residência
intermunicipal? (Marque quantos itens forem necessários):
( ) Sim. Qual deles?________________________ ( ) Educação (Ex.: Creche, escola, faculdade, etc.)
( ) Não. Por quê? ( ) Saúde (Ex.: posto de saúde, UPA, hospital, CAPS,
____________________________________ etc.)
6.4 - Especificidades sociais, étnicas, culturais da ( ) Previdência (Ex.: INSS)
família: ( ) Assistência Social (Ex.: CRAS, CREAS,
( ) Família indígena ( ) Família quilombola Abrigo/casa de acolhimento, CadÚnico/Bolsa Família, etc.)
( ) Família ribeirinha/pescadores ( ) Marque aqui caso não exista nenhum desses
( ) Família assentada ou acampada ( ) Família cigana serviços/políticas disponíveis com facilidade.
( ) Família de catadores de material reciclável
( ) Família de agricultores familiares VIII) ESCOLARIDADE:
( ) Família atingida por empreendimento de 8.1 - Sobre a situação escolar:
infraestrutura (Ex.: barragem, transposição de rio, construção 8.1.1 - Matrícula escolar:
de estrada,etc.) ( ) Não está matriculado na escola formal.
( ) Outra: ( ) Matriculado na escola formal, com frequência
__________________________________________ regular.
6.5 - Os pais são falecidos? ( ) Matriculado na escola formal, com frequência
( ) Não. ( ) Sim. Quem? irregular.
______________________________ 8.1.2 - Natureza da escola, se matriculado:
( ) Escola municipal
VII) SITUAÇÃO DE MORADIA: ( ) Escola estadual
7.1 - Há quanto tempo reside neste município? ( ) Escola particular
_________________ ( ) Escola federal (Ex: IFMG, UFOP.)
7.2 - Onde e como mora atualmente? ( ) APAE Ouro Preto
( ) Em casa ou apartamento, com a família. ( ) Educação domiciliar
( ) Em casa ou apartamento, sozinho(a). Observações:
( ) Em quarto ou cômodo alugado, sozinho(a) __________________________________________________
( ) Em casa de outros familiares. __________________________________________________
( ) Em habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel, __________________________________________________
pensionato, etc. 8.2 - A criança ou adolescente possui alguma
( ) Outra situação, necessidade educacional especial - NEE? (Marque quantos
___________________________________ itens forem necessários)
7.3 - Em relação à moradia: ( ) Não foi identificada nenhuma necessidade
( ) Própria ( ) Cedida ( ) Alugada ( ) Financiada educacional especial.
( ) Outra? ( ) Monitor/professor de apoio
_________________________________________ ( ) Adequação das instalações (Se deficiência física)
7.4 - Tipo de Construção: ( ) Língua Brasileira de Sinais (Libras)
( ) Alvenaria ( ) Madeira ( ) Mista ( ) ( ) Sala multifuncionais ou salas de apoio à inclusão
Outra?______________ ( ) Uso de tecnologias adaptadas à inclusão
Nº de cômodos: _________ ( ) Outra?
7.5 - Especifique a forma de abastecimento de água _________________________________________
da residência da sua família: 8.2.1 - Se sim, possui essa assistência na escola onde
( ) Rede de distribuição paga (Saneouro) está matriculado?
( ) Rede de distribuição isenta de pagamento ( ) Sim. ( ) Não. Por quê?
( ) Poço, rio ou nascente _____________________________
( ) Carro/caminhão pipa Observações:
( ) Outra forma, __________________________________________________
_____________________________________ __________________________________________________
7.6 - No período chuvoso, as ruas próximas de sua __________________________________________________
residência são alagadas ou as casas são colocadas em risco? 8.3 - Se adolescente, qual a relação do(a) usuário(a)
( ) Não. ( ) Sim. ( ) Não sabe com a condição de aprendiz e/ou trabalho?
Observações: ( ) Aprendiz. Onde?
__________________________________________________ _________________________________
__________________________________________________ ( ) Contribui com a renda familiar. Como?
__________________________________________________ __________________________________________________
7.7 - Em sua residência, como é feita a disposição __________________________________________________
do esgoto doméstico gerado? __________________________________________________

95
8.4 – Atualmente, faz algum curso fora da escola?
( ) Não. ( ) Sim. Qual?
______________________________
Se pago, qual o valor da mensalidade? R$
____________

IX) SITUAÇÃO DE LAZER DO(A)


USUÁRIO(A):
9.1 - Marque aqui os tipos de atividades de lazer
que pratica e/ou tem acesso (Marque quantos itens forem
necessários):
( ) Passa a maior parte do tempo no
celular/computador
( ) Futebol ( ) Vôlei ( ) Artes marciais ( ) Handebol
( ) Natação ( ) Basquete ( ) Trampolim ( ) Bicicleta
( ) Balé ( ) Desenho ( ) Pintura ( ) Leitura
( ) Parque ( ) Cinema ( ) Teatro ( ) Museus
( ) Exposições ( ) Festivais ( ) Música
( ) Nenhuma das alternativas citadas.
( ) Outra? _______________________________
Observações:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________

96
OUTRAS OBSERVAÇÕES (SE HOUVER):
___________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
___________________

__________________________________________________
Assinatura e carimbo do(a) profissional

97
ANEXO 3 – Nova Ficha de Acolhimento (aprovada pela equipe do CAPS IJ)

1
PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
CAPS IJ - Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil

FICHA DE ACOLHIMENTO PSICOSSOCIAL N° do Prontuário:

Acolhido em: Acolhido por: Reacolhido em: Reacolhido por:


____/____/_____ ____/____/_____

Nome: Nome Social:

Sexo (criança): ( ) Feminino ( ) Masculino

Identidade de gênero (adolescente): ( ) Mulher cisgênero ( ) Homem cisgênero ( ) Mulher transgênero ( ) Homem transgênero ( )
Gênero não-binário ( ) Prefiro não dizer ( ) Outro:

Raça/cor: ( ) Preto(a) ( ) Pardo(a) ( ) Branco(a) ( ) Indígena ( ) Amarelo(a)

DN: N° da Identidade (se houver): N° do cartão do SUS: Naturalidade:


____/____/_____

Nome da mãe/responsável: Parentesco:

DN: N° da Identidade: CPF da mãe/responsável: Tel.: ( )


____/____/_____

Nome do pai/responsável: Parentesco:

DN: N° da Identidade: CPF do pai/responsável: Tel.: ( )


____/____/_____

Endereço:

Bairro: Localização: ( ) Urbano ( ) Rural

Escola: Série: Turno:

I) ORIGEM DO ENCAMINHAMENTO:

II) MOTIVO DE COMPARECIMENTO AO CAPS IJ (Queixa Principal)

2
III) HISTÓRICO FAMILIAR (n° de componentes na família, estado civil, primeiro nome, nível de escolaridade, profissão)

IV) SITUAÇÃO DE SAÚDE ( ) Não. ( ) Sim. Como?


4.1 - Faz uso de algum medicamento? ______________________________
( ) No momento, não. ( ) Sim. Qual? 5.5 - Em relação ao meio de transporte que utiliza (a
_______________________ pé, transporte próprio, ônibus...)
4.2 - Na família, há histórico de algum transtorno _____________________________________________
mental?
_____
( ) Não. ( ) Não Sabe.
( ) Sim. Qual? 5.6 - Em relação à moradia:
_________________________________________ ( ) Própria ( ) Cedida ( ) Alugada ( ) Financiada ( ) Outra:
4.3 - Em relação à gravidez da mãe: _____________________________________________
_____________________________________________ _____
5.7 - Dispositivos que utiliza no território (educação,
_____________________________________________________
saúde, previdência, assistência social, lazer – atividades físicas,
_____________________________________________________ parques, arte, cinema...):
_____________________________________________
________
_____________________________________________________
4.4 - Em relação ao parto da mãe:
_____________________________________________ _____________________________________________________
_____________________________________________________ _____________________________________________________
_____________________________________________________ ________
________
4.5 - Em relação ao desenvolvimento psicomotor da
criança ou adolescente (se houver lembranças):
_____________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
________
V) SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA
5.1 - Renda familiar (considerar o salário mínimo do
ano vigente):
( ) Sem renda. ( ) Até R$486.
( ) R$487 até R$900. ( ) R$901 até 1 salário mínimo.
( ) de 1 até 2 salários mínimos. ( ) de 2 até 3 salários
mínimos.
( ) de 3 até 4 salários mínimos. ( ) de 4 até 5 salários
mínimos.
( ) mais de 5 salários mínimos.
5.2 - Recebe benefício socioassistencial e/ou
previdenciário ou possui Cadastro Único (Bolsa família,
Auxílio alimentação, Auxílio aluguel, Auxílio subsistência,
BPC/LOAS, Aposentadoria, Passe Livre
Municipal/Intermunicipal)?
( ) Não. ( ) Sim.
Qual deles?
___________________________________________
_____________________________________________
________
5.3 - Recebe pensão alimentícia?
( ) Não. ( ) Sim. Valor: R$ ____________
5.4 - Se adolescente, contribui com a renda familiar?
3
VI) OUTRAS OBSERVAÇÕES: Alimentação; Especificidades sociais/étnicas/culturais (família atingida por barragem,
indígena, quilombola, ribeirinha, cigana, catadora de material reciclável, agricultora familiar); Necessidades educacionais especiais
(monitor/professor de apoio, adequação das instalações, libras, salas de apoio à inclusão); Saneamento básico (acesso à água, esgoto,
limpeza urbana); Risco habitacional (risco em período de chuvas, moradia em ocupação); Uso de telas; etc.

Encaminhamento para:

__________________________________________________
Assinatura e carimbo do(a) profissional

4
ANEXO 4 - Financiamento Federal para o CAPS IJ - Ouro Preto/MG

Fonte: PORTARIA GM/MS Nº 3.350, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2020.


ANEXO 5 - Diagrama: Rede de Cuidados Intersetorial do CAPS IJ

Fonte: Documentação exclusiva do CAPS IJ. Diagrama elaborado pelo Internato em Saúde Mental (Medicina).
Ricardo Moebus, UFOP, 2023.

Você também pode gostar