O Deturpador O Conselheiro Do Submundo & A Neta Do Pakhan

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Copyright©2024 Thamy Bastida

Capa: Bruna Silva Capista


Revisão: Patrícia Suellen
Revisão final: Lidiane Mastello
Leitura crítica: Juliana Almeida
Diagramação: Bee RB Designer

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.Esta obra segue as regras da Nova
Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos direitos reservados.

Nome: Thamy Bastida


E-mail: [email protected]
Thamy Bastida é uma autora independente, nascida no estado do Rio de
Janeiro, mora mais afastada da cidade, universitária e capricorniana. Escreve
desde nova, mas só em 2020 decidiu mostrar seus livros ao público.
SUMÁRIO

SUMÁRIO
SINOPSE
PLAYLIST
GLOSSÁRIO
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Leia o Corruptor
SINOPSE
PLOT TWISTS
Sasha Dobow é uma princesa russa, sobrinha do Pakhan da Bratva,
desde o nascimento foi prometida ao futuro capo da Cosa Nostra, como uma
boa menina aceitou o seu destino.
Contudo, tudo muda quando ela cruza o caminho de Otto Exousía, o
enigmático sýmvoulos do submundo. Otto, determinado e audacioso, não
queria uma esposa, mas ao conhecer Sasha, decidiu que a tomaria para si,
mesmo que isso iniciasse uma guerra.
Ignorando a regra que proíbe roubar a noiva de um capo, ele provocou
um caos ao sequestrá-la na véspera do casamento, desencadeando uma guerra
que mudará para sempre o equilíbrio das facções.
Em um mundo onde lealdade e traição andam de mãos dadas, quem
sairá vencedor?
PLAYLIST

LINK:
OUÇA AQUI
GLOSSÁRIO
Afentikó - chefe
Sýmvoulos - conselheiro
Exousía - poder, autoridade
láthos mou - meu erro
fávlos - vilão, perverso
gia séna tha prokaléso cháos sti gi - por você causarei caos na terra
Dioikitís - comandante
provolí - exposição, exibição
Prinkípissa – Princesa
Prinkípissa mou- Minha princesa
Chamós mou - minha confusão, meu caos
- Vasilíssa – rainha
Papochka - papai (forma carinhosa de pai)
Pakhan (- chefe, líder (em contexto de máfia)
Bratva - irmandade, gangue (geralmente relacionado à máfia)
pokhititel - sequestrador
Chamós mou - minha confusão, meu caos
sovershenno krasivyy - absolutamente bonito
DEDICATÓRIA
Para todas as garotas más que sonham com o cavaleiro das trevas...
Parabéns, vocês são tão sombrias quanto a noite.
PRÓLOGO

Ela estava de joelhos no chão, diante de mim, em um templo santo,


implorando para que alguém a salvasse da sua vida miserável, chorando
sangue. Seu pequeno corpo tremia descompassadamente. Era como observar
uma obra de arte distorcida pela desgraça e pela dor. As bordas do seu
vestido azul, antes impecáveis, agora estavam manchadas de barro, um
contraste perfeito com os cabelos cor de sangue, rebeldes e desgrenhados,
como se sua própria essência lutasse contra a ordem do mundo ao seu redor.
Bati meu pé no chão de propósito. A lathós mou [i]se virou
bruscamente, os olhos azuis-esverdeados se arregalaram, faiscando com uma
mistura de terror e surpresa. Eu podia ver a confusão em seu rosto, como se
não soubesse se deveria me temer ou implorar por mim. Por um momento,
me vi refletido naqueles olhos — não como o homem que eu era, mas como a
sombra que pairava sobre sua vida. Meu coração morto bateu de um modo
diferente, perturbado pela primeira vez. Ali, diante de mim, não havia mais a
velha realidade de preto e branco. Pela primeira vez, pude ver colorido.
Aproximei-me, observando com fascínio, enquanto ela se afastava, uma
tentativa inútil de escapar. Cada movimento dela só me atraía mais, como se
sua fraqueza fosse o laço que me prendia. Sorri diante de sua desgraça,
bebendo de sua fragilidade. A dor e o medo que emanavam dela eram como
um néctar que alimentava algo em mim que pensei estar morto há muito
tempo. Inspirei seu medo, senti-o percorrer meu corpo como uma corrente
elétrica que me trouxe de volta à vida. Foi então que eu soube o que ela era
para mim. Meu chamós mou.[ii]
Não havia fuga. Assim como Hades tomou Perséfone para o submundo,
eu levaria Sasha para o meu inferno. Onde nossos destinos estariam
amarrados para sempre. Eu sabia que ela era o meu caos e, da mesma forma,
eu seria sua destruição. Ela, com seus olhos de pura inocência manchada, e
eu, o predador que faria do seu corpo e alma a personificação do caos.
Seríamos a destruição um do outro, uma colisão inevitável de forças
opostas, onde nenhum dos dois sairia ileso. Não havia retorno, apenas a
certeza de que, no fim, o mundo que conhecíamos queimaria conosco.
Colocaria fogo na porra da Itália por ela.
A prinkípissa [iii]era minha até o confim da terra.
CAPÍTULO 1
Acordei com soluços abafados, presa em mais um pesadelo. Nele,
revivia o dia em que presenciei meu papochka[1] desferindo golpes no rosto
de mama, que caiu ao chão diante dos meus olhos, ela tentava se levantar,
mas não conseguia, tossia sem parar. Uma frieza tomou conta de mim,
paralisando meus ossos. Sem saber como reagir, fui contida pelo meu irmão
mais velho, Yuri, que exibia um sorriso cruel, enquanto mama jazia
ensanguentada no chão. Lágrimas quentes e pesadas marcavam meu rosto,
queimando minha pele como ácido.
O reflexo do horror me fez vomitar diante da pequena poça de sangue.
Aquele dia terrível, em que testemunhei a violência de meu papochka contra
minha mama, sua segunda esposa, não que fosse novidade, pois havia boatos
de que ele havia matado a mama do Yuri, sua primeira esposa, ainda me
assombrava. Lancei um olhar trêmulo ao relógio: eram 05h. O inverno se fez
sentir, e, apesar do aquecedor estar ligado, um frio glacial parecia querer
me petrificar.
Arrastei-me para a beira da cama, e o úmido constrangedor do xixi e o
mau cheiro me saudaram. Precisava limpar antes que mama visse e me
enchesse de reprimendas, como já aconteceu tantas vezes antes com a minha
cama molhada. Segundo Polina, devia comportar-me como uma criança
normal da minha idade. Segundo Polina, as outras meninas da irmandade,
com cinco anos como eu, já não faziam xixi na cama, eu era uma exceção.
Estava prestes a correr para o closet em busca de lençóis limpos
quando a porta do meu quarto se abriu. Polina entrou, envolvida em sua
camisola longa de seda, alheia ao frio que me assolava. Acendeu a luz, seus
olhos castanho-escuros varreram o quarto e pousaram nos lençóis molhados.
Seus lábios se crisparam. Fechando a porta, ela caminhou em minha direção
com olhos ardentes de ira. Encolhi-me, sabendo o que estava por vir.
Polina não era uma mama carinhosa; muitas vezes me culpava por ser
uma menina e não um menino. Sua mão apertou meu pescoço com raiva,
impedindo-me de respirar. Tentei afastar seu braço, mas ela era forte
demais. Lágrimas de desespero arderam na minha pele. Quando pensei que
meus pulmões explodiriam, ela me soltou. Tossi, puxando o ar com
dificuldade, engasgando-me.
— Sua mijona, eu disse para controlar sua bexiga! — sibilou, entre
dentes.
— Mama, eu tive um pesadelo ruim — tentei me defender, a voz
trêmula.
— Quieta! Vou te ensinar algo que jamais esquecerá. — Ela me puxou
pelo braço para o banheiro. — Esvazie sua bexiga — ordenou, jogando-me
na direção do vaso.
— Pra quê?
— Faça o que mandei, Sasha!
Tremendo, fui até o vaso, abaixei minha calça encharcada e me forcei
a urinar mais. Fiz uma certa quantidade. Polina observava com um olhar
calculista. Assim que terminei, ela me puxou bruscamente para longe do
vaso. Tropecei nas calças abaixadas e caí no chão, sufocando um grito de
dor. Ao me virar, vi-a pegar o copo que uso para enxaguar a boca e
mergulhá-lo no vaso. Quando o ergueu, estava cheio do líquido amarelado
que eu havia deixado ali.
Recuei, assustada, mas não consegui fugir, pois ela rapidamente se
aproximou com um olhar feroz. Abaixou-se, agarrando meu maxilar com
unhas afiadas que ameaçavam rasgar minha pele delicada. Mama
pressionou o copo contra meus lábios; eu me debati, tentando virar a
cabeça, chutar, mas foi em vão.
— Beba. Vai beber tudo para aprender — rosnou como um monstro.
Arregalei os olhos, implorando.
— Por favor... — Ela enfiou o líquido na minha boca.
— Engole todo o seu mijo, Sasha...
Cambaleei para fora do banheiro, o gosto amargo ainda estava na
minha boca mesmo depois de escovar os dentes diversas vezes. Apertei meu
estômago, tentando amenizar a dor, passei as mãos trêmulas e frias pelo meu
rosto suado. Puxei o ar, contei até dez e o expeli dos meus pulmões devagar,
tentando desesperadamente controlar meus nervos. Me sentia exausta. Olhei
para o relógio que marcava: 05h10. Fazia apenas dez minutos que acordei e,
como todas as outras vezes, vomitei como há anos. Me arrastei de volta ao
meu ninho de cobertores no chão do tapete e me deitei.
Olhei para a minha cama arrumada. Desde os meus cinco anos de
idade, dormia no tapete ao invés da cama. Ainda via os lençóis molhados e
parecia que, a qualquer momento, Polina passaria pela porta e me faria beber
tudo novamente. Toda manhã sua voz ecoava na minha cabeça: “beba seu
mijo, Sasha”. Sacudi a cabeça tentando expulsar a voz maldosa.
Toda manhã era assim: eu acordava às 05h, corria para o banheiro,
fazia xixi, esvaziando uma bexiga nem tão cheia e, após dar descarga com
medo de ter que bebê-lo, vomitava por minutos antes de escovar meus dentes
feito uma louca. Vivia em um círculo vicioso e doloroso que zombava de
mim todos os dias.
Para mim, todas as estações eram as mesmas. Enquanto todos
aproveitavam o sol do verão, usando vestidos de alça fina, eu estava
agasalhada. Para mim, todos os meses eram a estação mais fria do ano. Nada
mudava. Me sentia congelada no tempo.
Papochka ainda era o mesmo, Oleg Dobrow, o braço-direito e irmão do
Pakhan. Tratava sua família como mercadoria. Para ele, ter uma filha mulher
só servia para transações comerciais. Demorei a perceber isso. Quando
descobri quão cruel ele era e que tanto mama quanto eu só servíamos de saco
de pancadas, mas Polina mais do que eu, era o que me forcei a acreditar, para
tentar manter alguma boa memória dela comigo. Acreditava que os pais eram
heróis, mas no meu caso, os meus eram os vilões da minha vida.
Ainda doía, porém, como toda mulher criada na Bratva, eu sabia que
aquele era o meu destino: casar por uma aliança e orgulhar meu papochka
sendo uma esposa submissa. Não existia fuga. Tínhamos que aceitar, sufocar
a dor, erguer a cabeça e sorrir no salão de baile como se a vida fosse um lindo
conto de fadas.
Não era nenhuma princesa. O dragão que me vigiava não voava e nem
soltava fogo pela boca. Ele era um homem como qualquer outro, meu
papochka e meu tio, o Pakhan, garantindo que ninguém tomasse minha
virgindade. A torre não era de tijolos, mas as leis do meu mundo que me
aprisionavam entre fortes e correntes inquebráveis que feriam. Eu tinha o
dever de suportar. Sendo franca, em algum momento me acostumei com a
dor.
Aceitação era o entorpecente, amenizava os bons sonhos, não que eu os
tivesse. Quando vi que já eram 06h, me levantei, desfiz a minha bola de
cobertores do tapete, dobrei tudo, pus no closet e fui me arrumar para o meu
último dia morando nesta casa. Meu casamento seria em menos de cinco dias
em Veneza, Itália, onde Antônio Ferraz morava.
Meu noivo era o capo da Cosa Nostra, dezesseis anos mais velho do
que eu e um ano mais velho que minha mãe. A diferença de idade era algo
normal. Sabia que tinha sorte de haver dezesseis anos de diferença, pois
existiam mulheres que se casavam com homens quarenta anos mais velhos. E
havia o fato de que meu tio, Vladimir, o Pakhan, aceitou me mandar para a
Itália aos vinte e um anos.
Estava noiva desde os meus dez anos de idade. Pouquíssimas vezes vi
meu noivo. Com o tempo, passei a admirar sua beleza, mesmo que cruel. Ao
contrário de mim, Antônio não era fiel, não que eu esperasse fidelidade.
Sabia pelos sites de celebridades que ele namorava uma modelo, Carlota,
uma loira alta de cabelos curtos, mais velha do que eu. Confesso que senti
uma pontada de dor, pois mesmo sem querer, criei sentimentos por ele e
algumas expectativas. Era tola e, no auge do meu desespero por acreditar em
algo melhor, depositei minha fé em Antônio, esperando poder fazer da nossa
relação inexistente algo bom.
Depois de me arrumar, desci para tomar o desjejum em família. Seria o
meu último na Rússia. Até mesmo meu irmão com sua esposa, Natalia,
estariam presentes com meu sobrinho Bapa, de oito anos. Meu tio e sua
esposa também estariam, junto com meu primo.
Nika, minha melhor amiga, me aguardava no fim da escada,
impaciente, com seus cabelos cortados na nuca, os fios castanhos bagunçados
como sempre. Ela não se preocupava em se arrumar como as outras meninas
do nosso meio.
Eu e Nika éramos opostas em tudo. Enquanto eu gostava de ler e ouvir
músicas clássicas, Nika amava baladas, músicas eletrônicas e agitadas. Por
ser filha de um soldado sem grande renome, não havia preocupação com o
que ela fazia ou deixava de fazer. Seus pais não eram tão conservadores ou
ambiciosos quanto os meus.
— Sua vadia, eu senti sua falta! — declarou, abraçando-me apertado,
Nika chamava quem amava de “vadia, vaca ou piranha”, termos nada comuns
por aqui, mas para ela, que vivia navegando na internet conhecendo culturas
diferentes, era comum e, com o tempo, havia adaptado. — Não acredito que
amanhã partiremos para a velha Itália.
Soltei-me do seu abraço sufocante.
— Fale baixo — sussurrei.
Ela soltou um tufo de ar e revirou os olhos. Naquela hora da manhã,
Nika usava um batom vermelho e sombras escuras nos olhos. Sua roupa era
uma calça jeans rasgada de lavagem escura, uma blusa de alça fina vermelha
e botas de cano alto. Brincos de argolas grandes adornavam suas orelhas.
Nada discreta, ao contrário de mim, que vestia um macacão longo azul-
escuro de mangas compridas e uma sandália Wild Thing prata confortável.
Não gostava de me arrumar, pois para mim, nunca estava bonita. Meus
cabelos ruivos eram cheios demais, por isso sempre os prendia em uma
trança. Minhas sardas se destacavam, principalmente nas maçãs do rosto e no
nariz. Olhos, de um tamanho mediano, eram azul-esverdeados, uma herança
da minha avó já falecida, cílios eram curtos e as sobrancelhas ruivas,
naturalmente arqueadas, faziam parecer que eu estava sempre desafiando
alguém.
— Vamos, antes que venham te buscar. Estou faminta — disse
Nika, puxando-me para a sala de jantar. — Vamos nos separar aqui, amiga,
coma tudinho, vou para a cozinha.
— Odeio que não possa almoçar comigo — falei com tristeza.
— Fica tranquila, amiga, cada um em sua posição social. — Apertou
minha mão e sorriu com leveza. — Até mais tarde.
Entrei na sala de jantar, o ambiente carregado de formalidade e tensão.
Todos já estavam sentados, cada um em seu lugar, como peças num tabuleiro
onde as regras eram claras, mas não ditas. Meus passos ecoaram pelo chão de
mármore enquanto me aproximava, sem pressa, ocupando meu lugar à mesa.
Meu irmão, Yuri, aos 37 anos, lançou os olhos na minha direção com
aquele desdém familiar. Ele nunca aceitou a ideia de nosso papochka se casar
novamente, especialmente após a morte da sua mama, Daria. A sombra do
mistério em torno da morte dela pairava sobre nós como uma nuvem que eu
jamais consegui dissipar.
Sentei-me, ignorando os olhares que me rodeavam. Yuri e a Polina
tinham a mesma idade, e a tensão entre eles era palpável. Era como se o fato
de estar tão próximo em anos tivesse apagado qualquer resquício de respeito
entre eles. Talvez fosse essa proximidade de idade que irritava Yuri, que o
fazia enxergar nela uma rival em vez de uma figura materna.
Uma vez, aos meus dez anos de idade, peguei os dois transando no
quarto de hóspedes, enquanto papochka estava viajando com meu tio a
negócios. Fiquei tão espantada que não consegui olhar para meu irmão ou
minha mãe por dias.
Ninguém falou nada, apenas começamos a comer em total silêncio.
Não era costume conversarmos durante a refeição. Nem mesmo meu
sobrinho abria a boca para falar. Mastigava devagar para não sentir enjoo,
sem sentir o gosto da comida, pois nada para mim tinha gosto, não mais.
Comer não era prazeroso, mas uma tortura para me manter viva e saudável.
Me obrigava a correr todas as tardes. Ao menos me exercitar me fazia
esquecer os turbilhões de pensamentos que passavam pela minha cabeça,
onde me via fugindo da minha família, ou tentando algo pior para não ser
mais uma cobaia em seus jogos, deixando-me inquieta.
Minha cabeça não parava. Meus pensamentos acelerados muitas vezes
faziam minha cabeça doer, por isso constantemente me distraía lendo ou
tocando violino, estudando inglês e italiano, a verdade era que sempre
buscava aprimorar meus conhecimentos.
— Sasha, hoje é seu último desjejum com a família — falou meu tio
Vladimir. — Você está sendo a ponte de paz entre a Bratva e a Cosa Nostra.
Sorri sem mostrar os dentes, olhando-o.
— Que a paz reine! — consegui dizer sem gaguejar.
Ele sorriu para mim em concordância, assim como papochka. Foquei
em mastigar, engoli e bebi um pouco do meu chá. Tentei não demonstrar
nervosismo pela vida que me esperava.
Saber que eu era a ponte para a paz fazia meus ombros pesarem. Eu não
era de rezar, mas de olhos abertos pedi para que nada, absolutamente nada,
desse errado no meu casamento, senão minha família me culparia pelo resto
da minha vida.
CAPÍTULO 2
Vesti o roupão e saí do quarto, deixando a mulher adormecida envolta
nos lençóis de seda vermelhos. Caminhei pelo corredor decorado de forma
exagerada. As estátuas e os vasos de flores extravagantes me irritavam, assim
como o brilho amarelado das luzes e o cheiro sufocante das flores. O chão de
madeira escuro era a única coisa aceitável naquele lugar. Veneza nunca foi
minha escolha. Alguém decidiu por mim onde eu passaria esses dias. Isso não
se repetiria.
O capo Antônio Ferraz ia se casar com a sobrinha do Pakhan da família
Dobow. Eu não tinha contato direto com eles, mas meu irmão, Kai, sim. Eu
evitava os russos, italianos e suas guerras, não tinha paciência para suas rixas.
No entanto, em nome da paz, resolveram se unir em um casamento arranjado,
um costume que eu detestava. Contudo, fazia parte do meu mundo e nem
tudo poderia ser mudado conforme minha vontade.
Mudanças levavam tempo, era preciso cuidar dos mínimos detalhes,
enfrentar as curvas fora da estrada e, acima de tudo, manter sua palavra até o
fim. Desde jovem, busquei formas de burlar o sistema. Quanto mais
pesquisava mais certeza tinha de que primeiro teria que derrubar o atual
governo para criar um novo, com leis mais favoráveis. Era isso que meus
irmãos e eu estávamos fazendo nos últimos anos.
Infelizmente, ainda não havíamos conseguido interferir nos costumes
russos e italianos. As tradições arcaicas italianas eram cruéis para as
mulheres. Seus maridos abusadores me incomodavam a ponto de querer
arrancar suas cabeças. Desde novo, sempre detestei qualquer tipo de violência
contra mulheres e crianças. Podia não ser um homem bom, mas era honrado o
suficiente para não abusar de ninguém.
Entrei na sala espaçosa e vi Kai deitado de modo despojado no sofá de
couro marrom, vestido apenas com uma cueca boxer verde-escura. Seus
cabelos estavam despenteados enquanto ele digitava freneticamente em seu
celular. Meus irmãos e eu éramos diferentes em diversos modos, da
personalidade à aparência física, mas nem eu nem Eros tínhamos a
hiperatividade de Kai, nem gostávamos de jogos como ele.
— Bom dia, irmãozinho — disse Kai, olhando-me de relance. —
Acordado a essa hora? — Fez uma pausa dramática e riu baixo, como se
estivesse prestes a contar uma piada. — Não me diga que sua coroa não
soube fazer um bom trabalho, não gozou?
Suspirei. Meu irmão era intrometido e falava o que pensava, sem
sequer filtrar seus pensamentos inúteis. Não podia cortar a língua do infeliz,
pois era acostumado com sua irritante voz ao meu ouvido desde o dia em que
aprendeu a falar.
— Por que há homens do Ferraz ao redor da nossa cobertura? —
indaguei, servindo-me uma dose de uísque escocês no bar.
— O filho da puta acha que pode nos controlar. Segundo ele, quer
garantir que nossa estadia em seu território seja pacífica, até nos ofereceu
suas meninas de cortesia. — Bufou. — Tem certeza de que não posso matar
Ferraz? Um capo a menos não faria falta na nossa folha de pagamento. —
Suspirou dramaticamente.
— Não estamos aqui para criar conflitos, mas sim para o casamento —
pontuei, sentando-me na velha poltrona que rangeu sob meu peso. — Mande
os homens dele embora ou os matarei.
— Tudo bem — falou, à medida que me observava. — Helena
perguntou quando um de nós se casará para dar primos para Zeus brincar...
Helena, minha cunhada, uma garota inocente que se tornou a obsessão
do meu irmão mais novo, Eros. Ela me incomodava com suas orações e
sorrisos doces. Sua obediência ao meu irmão fazia dela uma mulher
submissa, o que tornava entediante vê-los juntos. No entanto, Eros sorria
mais com ela, o que me era estranho, e toda vez que pegava meu sobrinho
Zeus no colo, via o orgulho estampado nos olhos de Eros por ser um pai
melhor do que o nosso.
Confesso que sentia uma pequena satisfação ao ver meu sobrinho de
quase dois anos sem nenhum ferimento ou marca roxa, como eu e meus
irmãos tínhamos em sua idade. E, caso meu irmão tentasse endurecer seu
filho desde já, eu interferiria. Como irmão mais velho e conselheiro, jamais
permitiria que uma criança Exousía fosse torturada como fomos.
— Você gosta de crianças — falei, tomando o resto do meu uísque.
— Gosto dos filhos dos outros, não quero ter um. — Ele se levantou e
riu, um costume quando estava incomodado. — Vou me divertir um pouco.
Observei-o sair com pressa. Me recostei na poltrona barulhenta,
tentando colocar meus pensamentos em ordem. Precisava extravasar a
adrenalina dentro que se acumulava em meu corpo. Foder feito um louco na
noite passada com Loren não acalmou a fera dentro de mim; precisava do
sangue dos inimigos nas minhas mãos. Foi o que me ensinaram, era o que eu
absorvi, a parte de que adorava. Era essa lasca de mim que Hades criou e da
qual nunca me livraria. Estava tão impregnada na minha alma que sabia que
não saberia viver sem.
Costumava ter controle sobre meus instintos. Porém, me sentia vivo ao
estripar um coração. Nunca arrancava de inocentes, apenas de culpados, e
meu julgamento era tudo o que importava.
— Então está aqui? — perguntou Loren, aproximando-se nua. Seu
corpo esbelto e sem curvas mostrava sua magreza. — Vou te chupar para te
animar nessa manhã.— Não estou disposto para suas habilidades medíocres
— disse sem olhá-la. — Pegue suas coisas e suma.
— Otto, eu sou a sua mulher! — gritou, lágrimas escorreram por seus
olhos.
Olhei-a com firmeza, irritado. Já estava cansado dessa merda. Nesse
momento, me perguntei por qual razão a trouxe nesta viagem, sendo que
podia ter qualquer boceta italiana.
— Você não passa de alguém que eu fodo, agora saia. — Bastou meu
olhar para ela ajeitar os ombros e sair marchando.
Loren tinha 42 anos e nos encontramos desde os meus 19 anos. Havia
uma longa história entre nós, mas nada romântico. Eu a fodia e ela ganhava
alguns trocados por isso. Não prometi nada além do meu pau. Era alérgico a
perfumes florais e a mulheres grudadas em mim.
Sendo franco, detestava desde criança contato e afetos exagerados.
Lágrimas? Estupidez. Tristeza? Algo desnecessário que não me recordava se
um dia senti. A vida para mim não era um carrossel de emoções. Tudo o que
eu precisava me movia: lógica, tesão e atitude. O resto desconsiderava.
Psicólogos e psiquiatras poderiam consultar seus livros e a ciência para
descobrir o que havia de errado, mas para mim tudo era pacífico. Nem bom
nem ruim, apenas normal. Vez ou outra, a raiva vinha, mas nunca me fazia
sair dos trilhos. A parte irracional pertencia aos meus irmãos, não a mim.
Meu pai costumava dizer que meu coração era escuro desde a hora em
que nasci. Eu diria que me tornei assim no meu renascimento aos nove anos.
No final, foi bom ter meu coração arrancado de dentro do peito. E, de novo,
me tornei perfeitamente tranquilo.
Loren passou por mim vestida, fungou dramaticamente e foi embora,
me deixando, enfim, sozinho. Estar na presença da raça humana por muito
tempo me incomodava, mesmo estando a metros de distância de mim. Só
tolerava a presença dos meus irmãos, pois prometi há anos protegê-los.
Somente a eles.

Existia uma razão para que eu não suportasse os italianos: se achavam


donos da porra do mundo, quando, na verdade, estavam abaixo de mim,
poeira sob a sola dos meus sapatos. Idiotas que bebiam vinho, fumavam
charutos e fodiam suas mulheres após espancá-las. Imbecis.
Encarei Antônio Ferraz. O cigarro em sua boca me enojava. A forma
como girava a tequila de excelente qualidade no copo deixava claro que não
sabia beber com decência. Detestava quem não sabia apreciar o que lhe era
dado. Seus olhos estavam fixos em mim, um sorriso frouxo nos lábios
enquanto soltava a fumaça. Pressionou a mão sobre o pênis ao encarar Kai
maliciosamente. Não me surpreendi; Antônio tinha fama de gostar de
espancar mulheres e se submeter aos homens.
Sua orientação sexual não me incomodava, mas o fato de o desgraçado
achar que poderia me passar a perna fazia o sangue em minhas veias ferver.
Três cargas desapareceram em seu território, e o filho da puta não queria
pagar pelo armamento, alegando que a carga havia sido roubada.
— Otto, não posso pagar por uma carga que não recebi — falou com
desdém, sem um pingo de respeito. — Seus homens não fizeram a escolta,
agora estou com poucas armas e os russos em breve estarão em meu
território, porra!
Alinhei minha gravata, deixando que ele e seu consigliere, Zola
Colombo, pensassem que eu estava nervoso. Liberei um suspiro profundo,
peguei meu uísque e tomei em um gole, fazendo barulho, dando a entender
que a bebida desceu rasgando. Passei a mão pelo cabelo, penteando os fios
para trás. Vi ambos trocarem olhares, vitoriosos.
Ajeitei meu corpo e fiquei de pé, olhando nos olhos deles, um de cada
vez. Estiquei os lábios em um falso sorriso.
— Senhores, vou averiguar junto com Eros o que aconteceu, e vamos
resolver isso — falei com a voz baixa.
— Exigimos que mandem uma nova carga e, se chegar até nós,
pagaremos — pronunciou Zola, confiante. — Meu Don tem passado por
grandes transtornos por conta de vocês. É de tamanha incompetência a forma
como estão gerenciando toda a organização.
Kai, que estava atrás da minha poltrona, bufou, mas nada disse. O
escritório de Ferraz fedia a cigarro e sexo. A desordem em cima da mesa me
incomodava, odiava bagunça. A caneta sem tampa me atraiu. Dei a volta na
mesa de madeira e parei ao lado de Zola, que sorria feito um lunático e me
estendeu a mão. Em um movimento rápido, peguei a caneta e enfiei em seu
pescoço, perfurando a pele com força. Seus olhos se arregalaram de dor e
surpresa.
— Porra! — soltou Antônio.
Kai soltou um riso alto.
— Não o mate, Otto, o Afentikó pode não gostar — alertou Kai entre
risos.
— Façam a porra do pagamento. A carga sumiu em seu território, sob
sua supervisão — disse em voz baixa. — Não tentem me passar para trás
novamente.
— Não estamos tentando passá-lo para trás, sýmvoulos — Ferraz falou
com cautela. — Iremos averiguar quem está nos roubando e depois
resolveremos isso. Mas estamos diante do meu noivado. Uma aliança com os
russos é essencial para os meus negócios.
Olhei para ele e dei as costas. Não havia mais nada a ser dito. Ele já era
um homem morto, após o casamento mataria Ferraz.
CAPÍTULO 3

Polina me encarava com desdém. Estávamos na casa que nos foi


ofertada como boas-vindas por Ferraz, meu noivo. Fazia poucas horas que
havíamos pousado em solo italiano. Ninguém da família do meu noivo veio
nos receber, mas meu tio e meu pai saíram para encontrá-los. Havia negócios
a serem tratados. A governanta designada a nós mostrou o meu quarto, uma
das maiores suítes da casa, escolhida por Ferraz, que havia deixado a ordem
de que eu fosse bem tratada. Minha mama e Olga, a esposa do meu tio, não
ficaram satisfeitas. Com tantos funcionários italianos pela casa nos
observando, seria impossível me expulsar do quarto.
Sentei-me no colchão macio, mantendo minha coluna ereta enquanto
era analisada. Aprendi a ficar em silêncio enquanto mama me avaliava,
buscando algo ruim para falar, caçando motivos para me punir. Por mais
atenta que eu fosse, ela sempre conseguia me ferir. Sua missão de vida é me
machucar. Eu era o reflexo de tudo que Polina odiava, a imagem do seu
fracasso em dar um filho homem ao meu pai.
Tentei por diversas vezes ao longo da minha infância compreender sua
aversão por mim. Livros diziam que mães amavam seus filhos, cuidar e zelar,
mas a minha apenas despejava seu desprezo sobre mim. Aprendi a desviar
dos seus ataques e a evitar estar no mesmo lugar que ela, mas sua sombra me
perseguia, até mesmo em pensamentos. Até mesmo em meus sonhos, que tão
breve se tornavam pesadelos infinitos. Minha imagem era o autorretrato do
que polia em mim.
Por isso ansiava tanto em me casar. Ferraz havia se tornado minha
fuga, o amor que não sentia, mas que projetei em mim por proteção, por isso
acreditava fielmente na predição dele que criei em mim. A Itália deveria ser o
meu novo lar; seu calor e graça deveriam me envolver. Mas, mesmo em
pleno verão italiano, sentia frio, o suficiente para ligar o aquecedor, me
envolver em uma coberta no chão e dormir por horas. O frio que sentira
nunca passava.
— Você está gorda — pronunciou Polina por fim. — Seu noivo tem
amantes belíssimas, enquanto você é esse troço sem vida — cuspiu as
palavras para me ferir. Aproximou-se de mim, segurou meu maxilar,
apertando com as unhas. — Sorria, mostre seus dentes perfeitos, seja a porra
de uma boneca de porcelana e agrade ao menos seu noivo pela aparência.
— Polina, querida — disse tia Olga, tentando amenizar a situação
— Olga, vá embora — rosnou mama. — Tenho que me resolver com
essa inútil.
— Não chame atenção dos funcionários de Ferraz — lembrou Olga, à
medida que se retirava.
Tentei manter a respiração calma. Não iria me descontrolar na frente
dela. Fiz o que me pediu, alarguei os lábios puxando um sorriso, mostrei
meus dentes, pisquei os olhos algumas vezes, mostrando doçura, uma que
não tinha.
— Parece uma boneca defeituosa — falou, liberando-me do seu aperto.
Virou as costas e me deixou finalmente sozinha. Assim que a porta
bateu, levantei-me e corri até o banheiro. Debrucei-me sobre o vaso e vomitei
o que tinha no estômago. O gosto do ácido gástrico tomou conta das minhas
papilas gustativas. Cambaleando, fui até a pia, abri o registro da torneira,
enfiei a boca na torneira e bebi o máximo de água que pude. Quando me
saciei, fechei o registro. Peguei enxaguante bucal, lavei a boca e cuspi, mas o
gosto azedo ainda estava por toda a minha boca.
Rastejei para fora do banheiro, fui até minha bolsa e peguei uma das
balas que me acalmavam. Engoli duas de uma só vez. Precisava descansar
para o que viria: festa de noivado, sorrisos e muita conversa fiada. Minha
cabeça doía.
Preparei-me por toda a minha vida para este momento, mas, ainda
assim, era terrivelmente estranho. Estar em outro país, pertencer a um homem
que era de várias. Meu coração apertava. Joguei-me na cama e me encolhi em
posição fetal. Senti uma vontade louca de rir enquanto meus sentidos eram
entorpecidos. Meus olhos pesavam e uma falsa calmaria tomava conta do
meu coração. Ri, alto, feito uma louca. Era como me sentia. Insana, ansiosa
por um noivo arrogante e, ao mesmo tempo, querendo sair correndo de suas
garras. Mas pássaros poderiam ser livres?
Eu era como um pássaro sem asas, presa em uma gaiola de
prata. Gargalhei. O que faria com a liberdade, quando vivi a vida toda presa,
sendo punida e moldada para esse momento.
Engasguei-me com minha saliva, tossi algumas vezes. Passei a mão no
rosto suado, ao menos era o que parecia.
As batidas do meu coração diminuíram, uma paz tomou conta do meu
ser. Girei no colchão, abri os braços, pronta para receber qualquer coisa boa
que viesse até mim. Não acreditava em Deus, mas talvez, se ele existisse,
poderia me mandar uma salvação, qualquer coisa que me tirasse do mundo
caótico em que vivia.
Deveria me acostumar, aceitar o que me era dado. Nunca reclamei ou
menosprezei meu destino, mas, de vez em quando, me questionava se poderia
ir para longe, em busca de outro rumo e me aventurar longe de tudo isso.
Talvez morar na Suíça, acordar e admirar a vista de Rigi, minha montanha
favorita e depois tomar uma boa xícara de chocolate quente. Talvez eu
apreciasse o sabor doce, quem sabe ele me aquecesse. Por algumas vezes, me
permiti sonhar com algo bom.
Estava desesperada e sem nenhum pingo de esperança.
Segurava com leveza a taça em minhas mãos enquanto ouvia histórias
ruins e planos falidos sobre investimentos dos italianos e russos. Dei um
aceno de cabeça e me afastei. Minha intuição me dizia que algo iria acontecer
naquela noite, meus sentidos estavam todos em alerta. Minhas facas bem
guardadas e minha arma carregada. Olhei todos à minha volta; meninas
solteiras me cobiçavam, sem esconder suas intenções. Seus pais as jogavam
em minha direção como se fossem meros objetos. Talvez fossem, aliás, eram
dadas como moedas de troca.
Nunca entendi a necessidade de um casamento para que houvesse uma
união. Qualquer homem honrado deveria cumprir sua palavra sem ter que
foder a filha do aliado. No submundo, a palavra valia mais que o sangue, e
suas atitudes definiam se você vivia ou morria.
Estava tentando me manter naquele ambiente por um tempo maior.
Minha paciência estava por um fio. Preferia eventos da empresa que
gerenciava. Lidar com certos tipos de bajuladores era mais fácil. No entanto,
como braço-direito do meu irmão, o Afentikó, garanti a ele que tudo ocorreria
bem. Ferraz e a pobre Dobow se uniriam, então estava ali para abençoá-los.
Deixar claro que a família Exousía aprovava a união.
Eu odiava bênçãos.
Encostei-me em uma pilastra e coloquei a taça cheia sobre a bandeja de
um garçom que passava. Coloquei as mãos nos bolsos confortáveis. Quando
ergui os olhos para varrer o salão, eu a vi.
Tudo à minha volta desapareceu. Meus instintos animalescos foram
despertados, como se a chama de um dragão tivesse sido reacendida. Tudo
que ansiava era ir até ela, tomá-la e reivindicá-la para mim.
Um nervo pulsou no meu peito. Meu coração bateu tão forte que
queimou toda a minha caixa torácica. Era insuportável a dor que estava
sentindo, no entanto, me trazia de volta à vida, puxando-me para fora d'água,
soprando ar para os meus pulmões. E como um tsunami, aqueles olhos azul-
esverdeados estavam tão surpresos quanto os meus. Emoções inefáveis
tomaram conta de mim, esmagando todo o meu discernimento, devorando-me
de dentro para fora, consumindo-me com fervor. O tempo parecia ter parado
e tudo que eu via era ela. A coisinha ruiva que já era minha. Das pontas dos
pés até o último fio de cabelo, e dane-se que fosse a noiva. Sasha nasceu para
ser minha.
A colisão de nossos olhos acendeu uma faísca. Não, trouxe à tona o
vulcão adormecido dentro de mim. Todos os sentimentos que repeli por anos
foram despertados. Não sabia dizer o quão ruim isso era para nós dois.
CAPÍTULO 4
Meu noivo sorria sem pudor para sua amante, uma mulher próxima à
família Ferraz. Estávamos em nosso jantar de noivado, apenas um dia antes
do casamento. Sorri educada para as pessoas que vinham me parabenizar,
algumas mulheres italianas mais velhas olhavam para mim com pena,
abraçando-me forte, como se quisessem transmitir algum conforto. Não que
eu precisasse, sabia o que me esperava. Ainda assim, uma pontinha de dor
estava lá, junto com várias outras que eu carregava ao longo da vida.
Cansada de sentir pena de mim mesma, pedi licença e saí. O salão
estava cheio, era um evento importante. Dei as costas ao meu noivo, mas
parei bruscamente ao ver um homem alto, de cabelos escuros como a noite,
bem penteados. Seus olhos eram claros como o céu ao meio-dia. Estava
encostado em uma pilastra, observando tudo, vestido com um terno azul-
escuro. A camisa preta estava com os dois primeiros botões abertos, sem
gravata. Quando dirigiu seu olhar frio e analítico para mim, o mundo ao meu
redor ficou estático. O ar sumiu dos meus pulmões, esqueci-me de como
respirar e nem sequer recordei meu nome. Uma energia magnética me
arrastava para o homem mais sovershenno krasivyy[2] que eu tinha visto em
toda a minha existência. Minhas mãos coçavam para tocar as maçãs de seu
rosto bem esculpido; parecia uma reencarnação de Apolo, o deus da beleza.
Pelo pouco que sabia de mitologia grega, podia afirmar que aquele
homem era um deus, pois sua postura arrogante e nariz afilado deixavam
claro que era soberano. Um verdadeiro insurgente diante de nós, derrubando
todos sem mover um dedo.
Minhas pernas se moveram de forma involuntária em sua direção,
desejava estar mais perto, apreciar seu perfume, sentir o calor que emanava
de seu corpo. Estava desesperada, sedenta por ele.
Alguém me puxou. Olhei para ver quem era a pessoa que me
importunava. Nika me olhava com a testa franzida.
— O que está fazendo, Sasha? — indagou com os olhos arregalados.
Pisquei, atordoada.
— Eu... não sei — confessei, desviando o olhar para o homem.
— Você ia falar com o sýmvoulos[3] da Exousía. Está louca? —
Praticamente sacudiu meu corpo.
Espantei-me. Meu corpo tremeu, pois era claro que sabia. Todos no
submundo tinham ao menos uma vaga noção de quem Otto Exousía era, o
sýmvoulos do submundo, o segundo homem mais poderoso do nosso mundo,
aquele que homens como meu tio temiam, pois era tão frio quanto o gelo que
cobria parte da Rússia e nunca derretia. Havia histórias sobre sua
impassibilidade. Meu coração havia acelerado para ele, Otto. Deus, naquela
vez quem estava tentando escalar o Olimpo era eu, sem sequer uma corda
amarrada na cintura para me ajudar.
Mesmo assim, não entendia o porquê da corrente magnética me puxar
em sua direção. Minha nuca suava, mesmo estando fresco. Meu coração
pulsava com tanta força que o sangue zumbia em meus ouvidos, minha boca
estava seca. O que estava acontecendo comigo? Que necessidade era aquela
de querer estar ao menos perto dele? Inspirei e expirei, mas ainda me sentia
sem ar. Soltei-me do aperto de Nika e caminhei em busca de ar fresco,
movendo-me rápido. Quando vi as escadas que davam ao terraço, subi sem
pensar, pulando degraus. Ouvi vozes me chamando.
— Quero ficar sozinha, por favor — gritei, algo que normalmente não
fazia.
Puxei a bainha da saia do meu vestido lilás para não tropeçar. Queria
jogar meus saltos longe, mas isso me atrasaria. As vozes e a música foram
abafadas e, ao chegar ao último degrau, desapareceram completamente.
Empurrei a porta dupla e soltei todo o ar dos meus pulmões ao sentir a brisa
fresca bater em meu rosto. Era verão e o céu estava estrelado. Caminhei em
direção ao guarda-corpo e me apoiei nele.
O muro baixo me protegeu de cair. A altura me assustou, pois tinha
medo desde criança. Não me recordava do motivo, apenas que nunca gostei
de estar em lugares altos demais.
Andar de avião era uma tortura. Por isso, sempre tomava calmantes antes e
dormia durante toda a viagem. Era o único modo de suportar. Não contava
desse medo a ninguém, pois sabia que poderiam usar isso contra mim. Fingia
que os calmantes eram balas e chupava os comprimidos para que não
houvesse desconfiança. Nika os contrabandeava para mim, pois tinha lhe dito
que só eles me ajudavam a dormir naquela casa. Sabendo metade das coisas
que se passava na grande mansão em Moscou, ela me deu sem protestar,
abastecendo-me sempre. Por mais que não os tomasse com frequência,
aceitava e muitas vezes os descartava em algum lugar.
Temia vícios e, por isso, os evitava diariamente, sem descanso.
Acredito que, por isso, nunca me adaptei ao verão, porque sabia que nem a
estação mais quente conseguiria derreter o gelo e a frieza da minha família.
Me afastei do guarda-corpo, tonta pela altura. Olhei à minha volta em
busca de algo para me sentar, mas não encontrei nada. Respirei fundo, ignorei
o nó no meu estômago. Precisava voltar para o meu jantar inútil de noivado,
faltando apenas um dia para me tornar a senhora Ferraz. Era mais uma
recepção, uma forma de mostrar a todos que estávamos em paz, pela primeira
vez em séculos.
— Vejo que está aqui, Sasha! — falou Antônio, meu noivo, se
aproximando com uma taça de champanhe na mão. — Estão procurando a
noiva — ele falava em italiano. — Algum problema?
Forcei-me a mais um sorriso falso, estiquei os lábios, não muito, pois
sorrisos contidos eram educados. Polina me treinou bem para isso.
— Não, não há problema, apenas queria admirar sua cidade e as luzes
das estrelas — respondi em seu idioma. Era o que esperavam de mim, que
dominasse a língua materna do meu marido. Passei anos estudando inglês e
italiano.
— Já irei descer — disse docemente.
Antônio me analisou. Seus olhos escuros... de fato, ele era bonito.
Sempre o admirei pela aparência feroz, mas agora, qualquer beleza masculina
depois do que vi em Otto Exousía parecia banal. Apenas meros mortais
diante de um deus.
— Quero que sorria — ordenou de modo discreto, contido, evitando
mostrar a verdadeira face. — Você conhece o Exousía de onde? — indagou.
Pisquei e franzi o cenho.
— Não, quem é ele? — fiz-me de desentendida.
Antônio sorriu e se aproximou devagar, ergueu sua mão envolvendo
meu pescoço e o apertou, não a ponto de sufocar. Encarei meu noivo com os
olhos arregalados.
— Eu vi como o olhou, com desejo, porra! — rosnou, apertando ainda
mais forte meu pescoço, tirando um pouco do meu ar. — Não quero ser
tachado como corno, sua russinha de merda.
— Eu não fiz nada — consegui sussurrar, sem fôlego.
Seu aperto me feria, me sentia fraca e usada diante dele. Meus olhos
estavam marejados, mas segurei cada lágrima. Uma vez que elas
escorressem, queimariam como lavas vulcânicas, e eu as odiava. Então as
segurei com toda a minha força, não me permitia chorar mais diante de
alguém. Aprendi aos meus cinco anos que, uma vez que mostra sua fraqueza
para uma pessoa, ela pode usar isso contra você no momento mais
inoportuno.
— Eu vi com meus próprios olhos, sua puta. Na frente dos meus
homens e familiares, quase gozou para o Exousía! — acusou mais uma vez,
intensificando o aperto.
Minhas mãos tremiam. Lembranças da noite mais medonha da minha
vida, a ânsia de vômito veio com força, causando um gosto amargo na boca
entreaberta, buscando ar. Quando achei que fosse morrer, Antônio me soltou
e me deu um tapa na cara. O gosto de sangue me deixou ainda mais enjoada,
mas me preocupei em respirar. Meus pulmões doíam mais do que meu rosto
que ardia. Não ousei olhar para meu noivo, mantive minha cabeça virada para
o lado, congelada, não por medo, mas por indignação.
— Seu pai não me disse que teria que te adestrar, mas farei isso. Amo
domar cadelas — riu como se tivesse contado uma piada —, te dou dez
minutos para descer.
Antônio saiu, fechando a porta atrás dele. Ergui a cabeça, passei a mão
na maçã do rosto ardida. Meu orgulho estava mais ferido. Segurei as lágrimas
imaginárias, passando delicadamente os dedos pelos meus lábios trêmulos.
Olhei para o céu, admirando a beleza das estrelas que sempre foram minhas
amigas nessa vida solitária.
Comecei a contar os minutos, olhando para a aliança em meu dedo.
Pela primeira vez, senti um grande pesar. Uma vontade avassaladora de jogá-
la fora me abateu, contudo, sufoquei dentro de mim. Nunca havia alimentado
o anseio de sair daquela vida, até porque fugir não era uma solução. Seria
encontrada, e as consequências seriam dez vezes piores.
Minha vida de casada seria um inferno. Antônio acabou de comprovar
isso. Tudo que eu mais temia era um marido agressivo, e meu noivo acabou
de se mostrar uma besta cruel que me machucaria tanto quanto meus pais.
Alguns ciclos não se podiam fechar, e eu sabia perfeitamente disso.
Uma rajada de vento fresco passou sobre mim, trazendo o miasma de
uma essência refrescante como bergamota, apimentada como sálvia e, no
final, masculina e bem amadeirada com notas de patchouli. Tinha certos
vícios em essências de perfume, pela primeira vez senti todas essas
fragrâncias juntas. Era maravilhoso, sensual e perigoso.
Quando me virei para ver quem era o dono de toda aquela ousadia, eu o
vi. Encostado na parede, pernas cruzadas, mãos no bolso da calça, olhos
fechados como se estivesse descansando. De perto, ele era ainda mais
perfeito, a perfeição de beleza: Otto Exousía, o homem que despertou todos
os meus instintos. Eu queria fugir dele, na verdade, devia, mas não conseguia.
Estava travada, meus pés pareciam ter sido engolidos pelo cimento
endurecido.
— Você realmente é láthos mou[4] — grunhiu com sua voz grave e
rouca que me deixou arrepiada. Seu sotaque grego era forte, por isso não
compreendi as últimas palavras. Pareciam uma ofensa. — Eu não me meto
em problemas dos outros — rosnou com uma fera, assustei-me, mas mantive
o queixo erguido.
— Quem te chamou aqui? — sibilei com uma coragem que não me
pertencia. Aquele homem despertava tudo em mim, inclusive a petulância.
— Seu desejo por mim despertou a minha fome, uma implacável que
nunca senti — respondeu, abrindo os olhos e mais uma vez roubando todo o
meu ar. — Eu nunca fujo da lógica, fávlos[5], mas você está me obrigando a
começar uma guerra.
Pisquei atordoada, tentando entender o que ele estava dizendo. Seu
olhar afiado como a lâmina de uma espada me deixou apavorada, mas, ao
mesmo tempo, com uma pitada de excitação. Todos aqueles sentimentos
eram estranhos para mim: o medo, o impulso de querer tocá-lo de alguma
forma me consumia. Não sabia ao certo o que fazer, era demais para mim.
Estava zonza, confusa e perdida na imensidão do seu olhar penetrante.
— O que está dizendo? Eu sou a ponte para a paz entre a Rússia e a
Itália — falei, erguendo o queixo. Algo nele fazia com que uma chama da
afronta acendesse dentro de mim, como se abrisse as portas que tranquei anos
atrás, obrigando-me a ser submissa.
Otto riu sem qualquer humor, desencostando-se da parede de tijolos
avermelhados. Aproximou-se de modo gradual, como se calculasse cada
passo. Queria me afastar, pois sabia que um toque e tudo mudaria. Estática no
lugar, observei-o cada vez mais perto de mim. O calor do seu corpo era tão
eminente que eu só o respirava; não existia mais nada, nem outro tipo de ar
que não fosse ele.
Parou diante de mim, erguendo as mãos. Me encolhi, esperando um
tapa, já que me acusara de ser responsável por uma guerra. Mas tudo o que
recebi foi o nó dos seus dedos roçando minha bochecha dolorida pelo tapa de
Antônio. Não havia expressão em seu rosto ou olhar; era como uma estátua
bem esculpida pelos deuses. A barba escura sombreava seu rosto bem-feito.
De perto, era tão lindo quanto de longe.
Seu toque não só incendiava, mas também me destruía. Uma vez que
ganhei um mísero afago, já me sentia carente por mais.
— Nunca entendi meu irmão, até pôr meus olhos em você — rugiu de
forma primitiva. — Nunca quebrei as regras da organização, mas gia séna
tha prokaléso cháos sti gi[6] — murmurou as últimas palavras em grego.
— O que está falando? — inquiri, confusa.
— Durma, láthos mou. — Beijou minha têmpora.
— Como assim dormi... — Senti uma picada no meu pescoço.
A última coisa que vi antes de apagar foram os olhos de Otto Exousía.
CAPÍTULO 5
Olhei para o pequeno corpo adormecido ao meu lado, na poltrona do
meu jato particular. Observei atentamente suas sardas marrons contra a pele
clara e pálida da minha fávlos, que parecia uma criatura angelical. No
entanto, eu via em seus olhos o caos, uma pequena turbulência de confusão
que me despertava uma fome insaciável de desvendar.
Não costumava ser imprudente, deixava isso para os tolos. Mas, nesta
noite, algo em mim se acendeu como nunca antes. Meus instintos mais
depravados despertaram a ponto de me sufocar, tudo por conta de uma
pequena criatura ruiva. Quando ela me olhou e mostrou que queria ser minha
tanto quanto eu ansiava tomá-la, comecei a imaginar diversas formas de
possuí-la. Todas essas ideias me levavam a um único lugar: tomá-la de seu
noivo, Antônio Ferraz, o capo da Cosa Nostra, um homem que desprezava,
mas que sempre foi leal à Exousía.
Eu não tive tempo para criar um plano mais lógico. Quando pedi ao
Antônio que abrisse mão dela, ele a agrediu diante dos meus olhos. Não
interferi, visto que não era a hora ainda. Em vez disso, usei a forma como ele
a tratou para levá-la até meu Afentikó e evitar que ele a devolvesse, não que
houvesse algo na terra ou no inferno com força suficiente para tirá-la de mim.
Inibi o anseio de tocar suas maçãs do rosto; minha mão coçava, mas me
esquivei. Precisava focar em formas de amenizar o dano que estava causando.
Roubar a noiva do capo em seu jantar de noivado era uma insanidade, um
plano mal calculado. Poderia tê-los deixado se casar e, depois, usado o fato
de Ferraz adorar espancar mulheres a meu favor para anular o casamento.
No entanto, era incapaz de permitir que qualquer homem tocasse no
que era meu. E dane-se as leis do submundo e o fato de ela ser mais jovem.
Jamais deixaria que qualquer homem a tomasse, a fizesse sangrar na porra
dos lençóis de seda brancos. Sasha só sangraria sob o meu domínio, seria o
único a romper seu hímen; seus gemidos e orgasmos seriam meus.
Encostei a cabeça na poltrona, fechei os olhos e imaginei diversas
formas de matar o capo da Cosa Nostra, lhe daria uma morte lenta, queria vê-
lo sangrar, queimar cada parte do seu corpo e, finalmente, afogá-lo. Reprimi a
vontade de mandar o piloto dar meia-volta e retornar a Veneza. Sabia que
nenhum acordo firmado entre a Bratva e a Cosa Nostra deveria me deixar
eufórico; nunca temi o caos, era isso que me aguardava fora daquele avião.
Se exigissem minha cabeça, que me vencessem em um duelo, como as regras
exigiam.
Ia direto para a casa e estava tudo pronto para receber sua nova
hóspede, sabendo o que me esperava, mas nunca me importei com as
consequências ou com a necessidade de responder a alguém.
Abri meus olhos depois de um tempo e olhei para minha fávlos, que
ainda dormia como a Bela Adormecida. A dosagem de calmante que lhe dei
não era alta; ela acordaria em poucas horas, quando chegássemos a Atenas,
onde possuía uma casa, embora não fosse minha residência fixa.
Encarei meu irmão, Kai, que estava sentado na outra extremidade
digitando furiosamente em seu notebook. Um verdadeiro viciado em diversão
e trabalho, seus olhos verdes cristalinos encontraram os meus, e o filho da
puta sorriu.
— Sabe que o Afentikó não vai ficar feliz em saber que roubou uma
noiva um dia antes do casamento. Ele estava querendo apaziguar a guerra
entre a Cosa Nostra e a Bratva — disse ele, como se contasse uma piada.
— Eu não respondo a ninguém, e Eros sabe que, se faço algo, é porque
tenho uma solução para o problema que criei — respondi, à medida que bebia
uma taça de vinho branco que a comissária de bordo acabara de me servir em
silêncio. — Sei o que estou fazendo...
— Não sequestramos mulheres e as forçamos, Otto — recordou com
cautela. — Não somos o filho da puta do Hades...
Apertei minha taça com força, ouvindo-a trincar. Semicerrei os olhos e
me segurei para não avançar sobre meu irmão e estrangulá-lo.
— Cuidado com o que fala, Kai — alertei em voz baixa. — Não me
compare a ninguém. Ela me implorará pelo meu domínio. Até lá, esperarei.
Ele riu, alto.
— Calma, irmãozinho. Só estou te lembrando de quem somos e do que
jamais seremos — falou com a voz contida, mas o conhecia como a palma da
minha mão. Seus olhos deixavam clara a amargura que sentia ao descobrir a
verdade sobre seus super-heróis na infância. — Quando fará dela uma
Exousía?
— Ainda esta semana — declarei, relaxando o corpo.
Kai arqueou a sobrancelha e não disse nada. Apenas riu e voltou a
digitar. Eu, por outro lado, voltei a olhar para a garota ruiva desmaiada ao
meu lado. Poderia tê-la colocado no quarto do jato para que ficasse mais
confortável, mas então ela ficaria longe de mim e eu não queria perder
qualquer possível expressão do seu rosto, mesmo adormecido.
"Devore-a, devore-a, devore-a, devore-a..." sussurrou o meu téras[7],
despertando. Engoli em seco e obriguei-o a se calar antes que cometesse uma
atrocidade. Minhas mãos tremiam de necessidade de tocar em um fio sequer
da minha pequena fávlos. Me contive. Era eu que controlava o to téras mou[8],
não ele a mim. Uma chama se inflamou dentro de mim, minha cabeça pesou
e tudo começou a parecer vermelho. Aspirei o ar e liberei. Prendi o ar por
vinte segundos, mas, ainda assim, não consegui enxergar normalmente.
Estava consciente de que minha sanidade estava se dissipando, algo que
não acontecia há anos. Passei a ter controle de mim, tornando-me um homem
racional, nunca indo além do que poderia controlar. Desejos insanos eu
descartava; tudo que fazia era por pura consciência, sem impulso. Até nossos
olhares se chocarem e tudo em mim ser despertado.
Minha pequena Rosída Pringkípissa[9] abriu a caixa de Pandora que
havia esquecido, trancafiada dentro de mim. Com seus olhos inocentes, azuis-
esverdeados, girou a chave e, aos poucos, liberou meus demônios. Não que
eles me assombrassem, mas a destruiriam, corromperiam e seria de forma
letal.
Incapaz de me conter mais, estendi a mão, afastando as mechas
acobreadas dos seus olhos. As sardas minúsculas na ponta do seu nariz reto,
mas pequeno, me atraíram. Em uma ânsia irresistível, apertei a ponta do seu
nariz, sentindo de leve a textura da sua pele e as sardas que traziam um relevo
quase imperceptível. Queria vê-la sem as amarras que ela mesma se deu...
— Controle-se! — ladrou Kai, chamando minha atenção. Ergui os
olhos e o vi diante de mim. — Chegamos, Afentikó já está aqui com a sua
Vasílissa.
Pisquei, voltando a ter o foco. Olhei ao redor; estávamos parados na
pista de voo particular. Porra! Fiquei tempo demais perdido dentro de mim
mesmo. Precisava ser mais cuidadoso; o que pensei ser um minuto ao lado
dela se passou mais de uma hora. Totalmente perigoso, não deveria baixar
minha guarda daquela maneira.
— Vamos descer, peça para que preparem o carro. Ficarei na minha
casa em Atenas! — declarei, levantando-me.
— Primeiro você vai me explicar que porra está fazendo, Otto! —
vociferou Eros, parado no corredor.
Não o vi chegar. Estava desatento demais, era como me sentia perto
dela.
— Eu achei uma noiva para mim — disse, simplista, sem me alongar.
— Ela é minha, Eros.
O maldito riu, zombando de mim. Essas foram as palavras dele ao
decidir seduzir a filha do homem que ansiava matar e depois fez dela sua
rainha.
— Está disposto a pagar o preço por começar uma guerra com a Cosa
Nostra e a Bratva? — indagou, rindo como o diabo.
— Os queimarei, se preciso for. — E seria! Ninguém a tiraria de mim,
nem o céu ou o inferno.
— É proibido até para nós, que somos a lei, roubar a esposa de um
capo — lembrou, recostando-se em uma poltrona. — Ferraz já me ligou e o
Dobow também. Tenho um capo e um pakhan voando para a minha casa com
sangue nos olhos. Devia ter me dito antes do noivado que a queria —
proferiu.
— Posso matar todos eles — anunciei, friamente.
— Eu apoio uma chacina de inúteis — pronunciou Kai.
Eros revirou os olhos. Eu sabia que começar um derramamento de
sangue naquele momento seria loucura, mas se Antônio Ferraz e os Dobow
ousassem fazer algo. Decapitaria cada um deles, mas só depois de ouvi-los
implorar, de arrancar suas tripas lentamente, saboreando cada grito. Passaria
horas pintando um quadro com o sangue podre que escorreria de seus corpos
arruinados.
— Vamos conversar e resolver isso de modo civilizado. Pelas regras da
Exousía, ela deve querer ficar contigo e, então, você deve duelar com o capo
pela noiva dele — Eros emitiu as regras de forma lenta e tediosa. — Fui
claro?
— Eu sei das regras, irmão, e ela me quer! — enunciei, lentamente.
— Aja como um sýmvoulos — articulou, afastando-se. — Helena quer
saber como sua garota está?
— Está viva, e não lhe fiz nada — afirmei.
— E esse vermelho no rosto dela? — inquiriu, arqueando a
sobrancelha.
— Foi o Ferraz! — Mal consegui conter a raiva na minha voz.
Um nervo se tensionou no meu pescoço, o ímpeto avassalador de
destruir Ferraz cresceu ainda mais dentro de mim. Mas antes que pudesse agir
por impulso, Kai interveio novamente.
— Temos que seguir as regras, Otto — disse ele com mais seriedade
desta vez. — Isso não é só sobre você e ela. É sobre todos nós. — Olhou para
Eros e riu. — Pode ir, depois leve Helena até a casa do Otto, para que ela
converse com a nossa nova cunhadinha e segure os pontos.
— Otto e Kai, se essa menina em uma semana quiser ir embora, você a
liberará! — declarou Eros, sendo o Afentikó[10] e não o meu irmão.
Respirei fundo, lutando contra a fúria crescente. Sabia que Eros tinha
razão, mas aceitar essa realidade era um desafio.
— Vamos para a minha casa em Atenas — declarei.
Kai assentiu e Eros saiu do meu caminho, juntos saímos do jato,
levando a minha fávlos ainda adormecida em meus braços. O carro já estava
preparado, então entramos nele, prontos para enfrentar o que viesse a seguir.
A viagem para minha casa foi silenciosa. Eu sentia a tensão em cada
músculo do meu corpo. Estava decidido a proteger Sasha a qualquer custo,
mas sabia que os desafios à frente seriam imensos.
Chegando à minha casa, carreguei Sasha nos braços até o meu quarto,
deitando-a sem pressa na cama. Ela parecia tão frágil e vulnerável, mas eu
sabia que havia uma força dentro dela que ainda não havia sido
completamente revelada.
Kai entrou no quarto logo depois, observando-me com uma expressão
cautelosa.
— Precisamos criar uma excelente estratégia — disse ele. — Quando
estiver pronto, desça.
Assenti, sabendo que ele estava certo. Precisávamos de aliados fortes
para enfrentar o que estava por vir. Mas, antes de qualquer coisa, precisava
garantir que Sasha estivesse segura.
— Eu sei e montarei — respondi. — Mas, primeiro, preciso ficar um
tempo com ela.
Kai deu um aceno de cabeça e saiu do quarto, deixando-nos a sós.
Sentei-me na beira da cama, observando-a enquanto dormia. Cada respiração
sua era um lembrete do que estava em jogo.
— Prometo que ninguém te machucará — sussurrei, acariciando
levemente seu rosto. — Você é minha e eu te protegerei a qualquer custo.
Lentamente, seus olhos começaram a se abrir, e ela me olhou com uma
mistura de confusão e medo. Mas, ao mesmo tempo, havia uma curiosidade
ali, uma centelha de algo mais profundo.
— Onde estou? — perguntou com a voz rouca.
— Está segura — respondi, suavemente. — Estamos em minha casa em
Atenas. Vou te proteger, Sasha. Nada nem ninguém vai te fazer mal.
Ela piscou algumas vezes, tentando processar minhas palavras. A
tensão em seu corpo parecia diminuir um pouco, mas ainda havia muitas
perguntas em seus olhos.
— Por que eu? — perguntou, finalmente. — Por que fez isso?
— Porque você é minha — respondi, a intensidade da minha voz
refletia a verdade profunda do que sentia. — Desde o momento em que te vi,
soube que não podia deixar ninguém mais te tocar. Você pertence a mim,
Sasha. E farei tudo para garantir isso.
— Eu não posso ser sua — afirmou e, em seguida, saiu da cama, com
os olhos arregalados e confusos, suas pernas vacilaram e ela tropeçou, a
peguei antes que caísse. — Me solte, me solte! — exalou, histérica,
empurrando-me para longe, com a voz arrastada, lágrimas brotaram no canto
dos seus olhos. — Me deixe voltar para o meu noivo, senhor Exousía!
Havia súplica em sua voz, seus olhos estavam turvos de desespero.
— Não há volta, a partir de agora morará comigo e será minha esposa
em menos de uma semana — informei sem qualquer emoção na voz.
— Eu tenho um noivo, eu o amo, por favor, me deixe ir — implorou
com os olhos cheios de lágrimas, mentindo descaradamente para mim. —
Senhor Exousía...
— Você não vai a lugar algum, chamós mou — rosnei, irritado, por
ouvi-la falar que amava aquele infeliz.
— Eu preciso me casar com Antônio — sussurrou, arranhando o pulso.
Peguei sua mão, contendo o ato de se ferir, a pele que parecia de porcelana
estava vermelha pelos poucos arranhões.
— Basta, não há mais volta, contente-se em ser minha e pare de pensar
no Ferraz — ordenei, empurrando-a de volta à cama.
Ela me olhou por um longo momento e, em seguida, vi algo mudar em
sua expressão. Talvez fosse aceitação, ou algo mais. Mas sabia que, de
alguma forma, estávamos conectados de uma maneira que nem mesmo eu
podia entender por completo.
— Descanse agora — disse, bruscamente, a raiva salpicava em meu
peito.
Ela se ajeitou na cama, talvez temerosa, se cobriu com a manta de pele
e fechou os olhos de novo, e eu fiquei ali, observando-a até que o sono a
levasse de volta.
Minutos depois, me retirei, sabendo que tinha uma guerra a lutar.
CAPÍTULO 6
Cada segundo se alongava como uma corda fina naquele banheiro
abafado. O cheiro de desinfetante, misturado com o ácido revirando no meu
estômago, era quase insuportável. Sentia-me frágil, vulnerável, como se
minha própria existência dependesse de um fio tênue.
Meu estômago se contorcia, as náuseas eram intensas, mas nada saía,
por mais que eu quisesse. Fechei os olhos, tentando conter minhas emoções
tumultuadas. Medo e desespero se entrelaçavam dentro do meu ser, como se
estivesse prestes a cair em um abismo sem fim.
Sentia-me perdida, pois mesmo quando Otto me libertasse, teria que
enfrentar as consequências. Eu não estava lá por vontade própria, fui
sequestrada. E, mesmo ciente disso, sabia que me culpariam. Antônio me
agrediu ao perceber a energia sexual entre mim e Otto. Nem eu mesma
entendia o que tanto me atraía naquele homem desconhecido; talvez fosse o
mistério em seus olhos.
Mamãe me puniria de maneira muito severa. Ser espancada seria
pouco; talvez, como castigo, ela me obrigasse a comer minhas próprias fezes.
Polina sempre foi implacável quando se tratava de punições. Ela acreditava
na disciplina severa e na obediência cega. Sabia que, se ela me encontrasse
agora, não hesitaria em me castigar com crueldade. A ideia de enfrentar sua
ira só aumentava minha agonia. Eu me encolhi ainda mais perto do vaso
sanitário, desejando fervorosamente que o chão se abrisse e me engolisse.
As lágrimas invisíveis continuavam a escorrer silenciosas, uma mistura
de dor física e emocional. Minha mente era um turbilhão de pensamentos
caóticos, incapaz de encontrar uma saída para a minha situação
desesperadora.
Mas mesmo em meio ao desespero, uma chama de determinação
queimava dentro de mim. Eu não permitiria ser quebrada. Se Otto Exousía
pensava que poderia me fazer de brinquedo, estava muito enganado. Eu era
mais forte do que ele imaginava, sobreviveria a isso.
Com um esforço doloroso, levantei-me do chão gelado do banheiro,
apoiando-me no lavatório. A vertigem era avassaladora, mas recusei-me a
ceder ao desespero. Lentamente, tomei uma respiração profunda, tentando
acalmar meu estômago revirado e minha mente turbulenta. Eu sabia que
precisava encontrar uma maneira de sair dessa situação, por mais impossível
que parecesse.
Minutos depois, arrastei-me para fora do quarto, caminhando nas
pontas dos pés, descalça, até a porta de madeira clara. Girei a maçaneta e,
para minha surpresa, estava destrancada. Ao sair, meus sentidos estavam
aguçados. O corredor, todo em tons de cinza, exibia alguns quadros em preto
e branco. Um deles, retratando uma flor em chamas, chamou minha atenção
pela forma como as faíscas tentavam brilhar no contraste monocromático.
Caminhei a passos lentos até a escada, tentando ouvir qualquer som,
mas o silêncio era absoluto. Desci os degraus com cuidado e me deparei com
uma sala ampla, inundada pela luz do sol que atravessava as janelas de vidro
do chão ao teto. As paredes cinzentas ostentavam mais quadros, todos
meticulosamente posicionados. Um sofá de couro branco ocupava o centro da
sala, diante de um tapete da mesma cor que se estendia pelo chão de mármore
escuro. Não havia estantes de livros ou televisão, apenas uma mesa de centro
quadrada e vazia.
Apesar da beleza da sala, uma sensação de vazio pairava no ar, como se
seus ocupantes fossem fantasmas. Olhei ao redor, meus passos ecoavam ao
redor, mesmo que fossem curtos. Era estranhamente familiar estar ali.
Enquanto meus olhos exploravam cada detalhe, percebi que havia algo
de perfeitamente inquietante naquele lugar. Cada peça de mobília parecia
estar no lugar exato, como se fosse parte de uma exposição de arte
cuidadosamente curada. Não havia nenhum sinal de desordem ou de vida
cotidiana.
Dei mais alguns passos, hesitante, até que uma porta entreaberta à
esquerda chamou minha atenção. Aproximando-me com cautela, empurrei a
porta devagar, revelando um escritório pequeno, mas impecável. Uma
escrivaninha de madeira escura, polida, estava situada junto à janela,
oferecendo uma vista panorâmica dos jardins lá fora.
Sobre a escrivaninha, apenas um único objeto: um porta-retrato
prateado. Aproximei-me, sentindo um nó se formar em meu estômago. Era
ele e os irmãos quando crianças, mas o que me chamou atenção foi os olhos
azuis e tristes de Otto, segurando nos braços Eros, o caçula da família. Seus
olhos grandes e tristes me encaravam, como se compartilhassem do mesmo
sentimento de aprisionamento que eu sentia.
— Vejo que a Bela Adormecida acordou! — Uma voz rouca e divertida
soou atrás de mim, fazendo-me saltar de susto.
Virei-me bruscamente para encarar Kai Exousía, seu sorriso exibindo
os olhos verdes cintilantes. Sua pele bronzeada, mais escura que a de seus
irmãos, revelava sua vaidade, natural ou não.
— Quero voltar para a minha família — falei, firme, quase em tom de
exigência.
Ele virou a cabeça para o lado, como se fosse um boneco manipulado.
— Somos sua família agora, Sasha. Sua vida passada morreu, o que
existia antes de meu irmão não tem mais importância — declarou, coçando o
queixo nu.
Uma queimação surgiu em meu peito, deixando-me fraca.
— Isso não pode ser verdade. Hoje é o dia do meu casamento. Sou a
ponte da paz... — murmurei.
— Você se tornou a ponte para o caos, cunhadinha. Mas relaxe, está
tudo sob controle — disse ele, sorrindo como se estivesse em um parque de
diversões.
Sacudi a cabeça, cravando as unhas no pulso. Precisava de dor física
para dissipar a angústia mental.
— Eu amo meu noivo — menti de novo. — Antônio e eu fomos feitos
um para o outro.
O nojo que sentia por Antônio, ou seria ex-noivo, me consumia. Mas eu
repetiria isso mil vezes se significasse me libertar de Otto. Precisava voltar,
saber como Nika estava, minha amiga provavelmente seria acusada de ser
minha cúmplice. Isso era terrível. Ela não sabia de nada, assim como eu,
apenas caíra numa emboscada.
Olhar nos olhos de Otto Exousía, o sýmvoulos da organização, foi meu
erro. Deveria ter lutado contra mim mesma e virado a cabeça. Quando
Antônio me bateu, eu deveria ter descido com ele e encarado as pessoas,
mesmo envergonhada, com o rosto avermelhado. Seria mais fácil do que isso.
Não que Kai ou Otto fossem inimigos. Não, eles eram as leis do
submundo, os donos de tudo. Cabia a nós nos curvar perante eles, os reis.
Mas, ainda assim, havia regras que nem mesmo eles deveriam quebrar.
— Você mente mal. — Ele riu, seu sorriso parecia se alimentar do meu
infortúnio. — Não diga ao Otto que ama Ferraz, Sasha. Meu irmão não será
tão complacente quanto eu, te garanto. Se minha mulher dissesse que quer
outro homem, eu certamente não seria tão tolerante.
— Eu não sou a mulher dele! — rosnei, avançando em sua direção.
Parei diante dele, meu olhar desafiador. — Eu sou a garota do...
— Minha, e você confirmará isso em voz alta perante o meu afentikó, a
Cosa Nostra e a Bratva — interrompeu Otto, surgindo atrás de mim. —
Agora, afaste-se do meu irmão.
Virei-me irritada, ergui o queixo em desafio e peguei a mão de Kai,
apertando-a.
— Eu não quero me afastar. Talvez eu goste do cheiro dele misturado
ao meu — blefei, mantendo meu olhar firme no dele. Otto me aterrorizava
tanto quanto me excitava. A linha tênue entre esses sentimentos era frágil. —
Já que terei que pertencer a um Exousía, cabe a mim escolher qual...
Otto riu sem humor, seus olhos claros escurecendo. Seu semblante
sereno tornava tudo ainda mais assustador.
— A arte da guerra é a paciência, favólos, e isso eu tenho de sobra —
sibilou lentamente. — Você dirá a todos que me quer, a menos que queira me
ver matar toda a sua família e depois te possuir no meio do sangue deles.
Estremeci com suas palavras, meu núcleo pulsou, fiquei surpresa e
assustada, e Kai se soltou de meu aperto. Pela minha visão periférica, vi-o
sair da sala, deixando-me sozinha com o seu irmão mais velho. Encarei-o,
sentindo a mesma força magnética que nos atraía. Por uma fração de
segundo, esqueci-me de como respirar; seu perfume salpicou meu nariz,
deixando-me zonza de tão envolvente que era. Minhas pernas ansiavam em
correr em sua direção, pular em seus braços e beijar sua boca.
Eu estava louca!
Forcei-me a ficar parada. O desejo e a raiva bombeavam dentro de
mim, queimando minha pele, e minha garganta estava seca, mas não era de
sede. Tudo sobre nós era estranho. Nos conhecemos há menos de vinte e
quatro horas e já estávamos em uma bola de neve, confusa e com apenas um
caminho: derramamento de sangue.
— Você e eu nunca teremos nada — constatei entre rugidos. — Você
não me tocará e nem matará meus pais.
Deu um passo em minha direção, depois outro e outro. Parou diante de
mim, quase me sufocando, segurou meu queixo com as pontas dos dedos
quentes. Seu toque me queimava, mesmo que fosse só a ponta dos seus
dedos.
— Sou um caçador paciente, mas se continuar falando o nome desse
infeliz, eu a punirei — sussurrou, passando o dedo por meus lábios secos de
forma lenta, tomando seu tempo. — Daqui a três dias, verá seus familiares, e
dirá que me quer. Depois disso, nos casaremos.
Segurei a vontade de chupar seu dedo; minha boca salivava com
apetite. Aquele homem trazia à tona sensações que só tinha lido. Porém, os
livros não me prepararam para tudo o que Otto me fazia sentir.
— Então fique você e a sua paciência no inferno — cuspi. — Não
quero nada de você, Otto Exousía.
Os azuis dos seus olhos cintilavam com um brilho de pura malícia,
perigoso. Quis recuar, seria o mais inteligente, mas ao invés disso, fiquei
parada estática diante dele. Não desviei o olhar, mesmo que me assustasse;
jamais me curvaria ao desgraçado. Mesmo que meu corpo berrasse para que
me aproximasse e afundasse meu rosto no seu pescoço, tomando uma dose a
mais de sua presença, permaneci parada.
— Eu sou o seu inferno, chamós mou — segredou, mantendo a voz
baixa. O vento bateu pela janela como se concordasse com ele.
— E eu o seu — afirmei, sorrindo de lado.
— Vou preparar a nossa cama no mais profano tártaro. — Sorriu bem-
humorado. — Vou para o escritório. A cozinha fica naquela porta, coma algo.
Tenho uma reunião para participar.
— Quero voltar para a minha casa! — exaltei-me, cansada dos
joguinhos dele.
— Eu sou a sua casa, Sasha — falou e saiu com toda a sua elegância.
Olhei à minha volta; as cores claras me incomodavam. O sol brilhante
ao lado de fora me irritava. A forma como o vento balançava as folhas das
árvores parecia zombar da minha cara, do meu desespero. Precisava beber
água. Caminhei até a cozinha, me afastando da direção em que Otto seguiu.

O sol da Grécia queimava minha pele, assim como o vestido que usara
desde o meu noivado. Olhei o céu azul, sentada no sofá de Otto, e me permiti
coexistir ali. Minha cabeça só cogitava formas de eu fugir dali; seria quase
impossível, vi soldados vagarem ao lado de fora. Seria pega com muita
facilidade, um desperdício de energia.
Fazia horas que não via meu sequestrador. Não tentei procurá-lo pela
casa, consideravelmente pequena para um homem bilionário. Esperava algo
maior ou melhor, não toda essa simplicidade. Não havia uma decoração
particular; era como se fosse uma maquete com sugestões de como um lar
poderia ser.
O vazio que habitava em mim se identificava com o lugar silencioso.
Fechei meus olhos por um segundo, busquei mais uma vez na minha
cabeça soluções, mas não encontrava nenhuma. Se não aceitasse o que me foi
sugerido, todos da minha família pagariam, inclusive Nika, minha melhor
amiga.
Não poderia permitir que sofressem por minha causa.
Havia tomado uma decisão e estava determinada a fazer da vida de
Otto Exousía um inferno. Ele pagaria por toda a agonia que estava me
fazendo sentir. E, principalmente, sangraria por despertar algo que enterrei há
muito tempo dentro de mim... a esperança.
Levantei-me do sofá, sentindo cada músculo do meu corpo protestar,
ainda dolorido e tenso. Caminhei pela sala, observando os detalhes que me
pareciam insignificantes, mas que agora ganhavam um novo significado.
Cada objeto era uma pista, uma possível saída daquele pesadelo.
Cheguei à cozinha e abri a geladeira. O brilho metálico dos
eletrodomésticos refletia minha imagem pálida e abatida. Peguei uma garrafa
de água e bebi avidamente, sentia o líquido frio escorrer pela minha garganta
seca.
De repente, ouvi um ruído vindo do corredor. Meu coração disparou, e
meu corpo entrou em alerta. Virei-me rapidamente, tentando identificar a
origem do som. Era Kai, que voltava da reunião.
— Achei que você estivesse descansando — disse ele, entrando na
cozinha com um sorriso despreocupado.
— Não consigo descansar sabendo que estou presa aqui — respondi,
tentando manter a calma.
— Entendo, mas você vai se acostumar, Sasha. Otto é um homem justo,
apesar de tudo.
— Justo? — Ri amargamente. — Sequestrar alguém no dia do noivado
é ser justo?
Kai suspirou, como se estivesse cansado daquela discussão.
— Há muitas coisas que você não entende. E nem sempre tudo é o que
parece.
— Então me explique. — Cruzei os braços, desafiadora.
Kai hesitou por um momento, mas depois balançou a cabeça.
— Não posso, não agora, mas confie em mim, um dia você entenderá.
— Eu não quero entender. Quero ir para casa — repliquei, firme.
Kai apenas deu de ombros e saiu da cozinha, deixando-me sozinha
novamente. As palavras dele ecoavam na minha mente, mas eu sabia que não
podia confiar neles. Minha única opção era encontrar uma maneira de
escapar.
Olhei pela janela e vi os guardas. Eles pareciam atentos a qualquer
movimento. Precisaria ser astuta e rápida. Comecei a formular um plano,
cada detalhe sendo meticulosamente pensado.
Enquanto isso, sabia que precisava continuar fingindo, ganhar tempo
até encontrar a oportunidade perfeita. E quando essa hora chegasse, Otto
Exousía descobriria que seu inferno pessoal estava apenas começando.
CAPÍTULO 7
Saí do escritório com cada molécula do meu corpo desejando matar
Antônio Ferraz. O bastardo estava no meu território e exigia sua noiva de
volta. Me segurei para não arrancar a sua língua, antes deceparia as suas
mãos, por ter ousado ferir minha fávlos. Arrancaria cada membro do
desgraçado por ter tocado na minha mulher.
Dane-se, ela era minha antes mesmo de nascer. Foi designada a mim;
sua alma, seu corpo me pertenciam e, em breve, domaria os seus
pensamentos. Não me sentia egoísta por tomar tudo dela, pelo contrário, a
satisfação tomava conta do meu peito. Nunca houve regras ou empecilhos
que impedissem um Exousía de tomar o que lhe pertencia. Desde novo fui
criado a pegar para mim, e assim o fazia.
Caminhei até a cozinha, parei na porta e a vi comer tâmaras e
castanhas, enquanto um copo cheio de água estava ao lado. Encostada no
balcão, desatenta, olhava para fora. Passava das 21h e o sol se fora. A noite
estava fresca e ventava bastante, trazendo para dentro o cheiro das flores do
jardim, assim como o cheiro de mato. Eu gostava disso, por isso todas as
minhas residências eram cercadas por árvores, flores e lagos.
Estar envolto na natureza me tranquilizava. Por anos, me abrigava na
floresta quando não suportava mais os gritos dos meus pais. Pegava Kai e
Eros e os levava comigo. Deixava-os brincando — brigando —, ao redor do
riacho, enquanto me sentava sobre uma grande rocha, atento a qualquer sinal.
Meus irmãos, mesmo sendo mais novos, compreendiam o que acontecia ao
nosso redor. Eros era tão atento quanto eu e ainda mais audacioso, já Kai
possuía sonhos, contudo, cada um deles foi destruído por nossos pais, no caso
dele, nossa mãe: Hera.
Desde cedo, Hades me ensinou que eu tinha responsabilidades, e que
como primogênito ele esperava muito de mim. Iniciou meu treinamento aos
cinco anos de idade e só parou quando Eros apontou uma arma para a sua
cabeça, ordenando que se afastasse. Daquele dia em diante, ficou claro que o
meu irmão mais novo seria o Afentikó, e eu, o mais velho, o Sýmvoulos. Kai
é perfeito como Dioikitís[11]; nossos pais não ficaram orgulhosos, mas
amedrontados.
— Até quando vai ficar me olhando? — indagou Sasha, com os olhos
vidrados na lua, mas eu conseguia ver os pelos dos seus braços arrepiados,
perante minha presença.
Ela tentava ser indiferente, mas era tão afetada quanto eu por essa
corrente elétrica que nos ligava, uma atração perigosa que nos fazia dançar a
valsa da morte. Ela se virou, de forma lenta, capturando o meu olhar, piscou
algumas vezes atordoada.
— Admirando a sua beleza, Fávlos mou[12] — respondi ao me
aproximar, parando a centímetros de distância. — Não trocou de roupa, por
quê?
Suas mãos sobre a bancada tremeram, sua respiração se agitou.
— Achou que eu ia tomar banho, depois vestir uma das suas camisas e
te esperar com o jantar pronto? — inquiriu entre dentes, quase rosnando
como um filhote de raposa.
Ri, o que a irritou ainda mais, mas adorava o tom vermelho em seu
pescoço.
— Não, mas confesso que me agrada ver minha mulher usando algo
meu. Há roupões e roupas femininas no closet — disse, aproximando-me
mais, deixando-a mais nervosa. — Se quiser me esperar nua também, com as
pernas abertas para eu te devorar, não me importo. — Beijei sua têmpora,
fazendo-a estremecer e meu terás[13] despertar aos poucos, faminto por ela.
— Só nos seus sonhos, senhor Exousía, deixe-me em paz, me libere! —
rosnou, cada palavra carregada de uma mistura de desespero e fúria. Sua
respiração estava ofegante, sentia o coração bater descontroladamente. Seus
olhos eram brasas vivas de petulância, encarando-me com fervor. — Agora
pare de me tocar, não quero nada que venha de você! — A voz dela quebrou
no final, traindo o medo que tentava esconder.
Puxei-a bruscamente, fazendo o seu rosto se chocar contra o meu peito.
Envolvi seu pescoço com a minha mão esquerda, com a direita apertei sua
cintura fina. Seus olhos claros brilhavam de medo e excitação. Meu pau se
contorceu na calça, precisando de espaço. Nunca uma mulher me deixou tão
necessitado dela a ponto de perder o controle, mas a minha fávlos era
diferente. Irritante e teimosa ao ponto de me enlouquecer — eu nunca
enlouquecia.
Perto da Sasha, o meu normal não existia, uma fúria surgia em meu
peito e minha mente tendia a ficar turva. Fosse seu maldito perfume de flores
ou sua boca atrevida, ou seus olhos implorando ajuda. Tudo nela remetia a
algo que enterrei profundamente dentro de mim há anos. A parte sentimental
que tanto odiava, o garotinho que morreu há muito tempo.
Acariciei sua garganta de forma lenta, apreciando a maciez da sua pele
pálida, que facilidade se tingia em um tom avermelhado. Senti os tremores
em seu corpo esculpido para se encaixar perfeitamente ao meu.
— Você é minha, Prinkípissa[14], apenas faço o que quero — falei,
puxando seu corpo ao meu encontro, minha ereção roçando em sua barriga a
assustou. — Não se assuste com o que é seu.
Sasha piscou, atordoada, espalmou as mãos em meu peito, tentando me
empurrar, mas falhou. Suas bochechas se inflamaram de ar, a raiva cintilava
em seu olhar.
— Não quero nada de você. Vai me violentar? — gritou, acusatória.
Rangi os dentes, lutando para conter a raiva que queimava e crescia
dentro de mim..
— Eu não te estuprarei, Sasha. Não sou a porra do seu ex-noivo! —
grunhi, sentindo tremores por meu corpo. — Acha que vou te obrigar a
transar comigo?
— Não foi para isso que me sequestrou? — rebateu, raivosa.
— Não, te tomei porque quis, e será minha por conta própria —
declarei, afastando-me um pouco para que ela pudesse respirar.
Não a liberei do meu aperto, mas ter meu corpo um pouco mais
afastado melhorou sua tensão.
— Nunca serei sua. Só me terá quando me forçar, Otto! — exclamou,
as narinas dilatadas.
Petulante. Era isso que ela era, uma menina sem freio nessa boquinha
atrevida. Minha vontade era de enfiar a mão entre suas pernas e sentir o
quanto ela estava molhada, porque eu sabia que estava. O cheiro da sua
lubrificação já denunciava. Se eu enfiasse meus dedos ali, sua vulva me
engoliria, faminta, e logo imploraria pelo meu pau, mas não era a hora.
Jamais a obrigaria, ela viria até mim por vontade própria, arrastada pelo fogo
que queimava dentro de nós dois.
Sua indiferença? Não me incomodava nem um pouco. Pelo contrário,
me fascinava. Vê-la lutar contra seus próprios desejos era uma tortura
deliciosa, atiçando ainda mais o meu. Cada vez que ela endurecia a expressão
ou desviava o olhar, eu sentia um triunfo silencioso. Sabia que, por mais que
resistisse, o desejo dentro dela era ainda mais intenso que o meu. E quando
suas defesas finalmente caíssem, eu estaria lá, esperando para reivindicar o
que já era meu. A verdadeira Sasha emergiria, implorando pelos meus toques,
então eu saciaria seu apetite voraz.
Havia tanto que eu queria fazer com ela, mas não por gentileza. Queria
arrancá-la da bolha onde vivia, expô-la ao desconhecido e moldá-la como eu
quisesse. Ela não tinha voz, nem poder. Duvidava que soubesse o que
realmente desejava. Se eu perguntasse qual sua comida favorita,
provavelmente me encararia sem resposta. Não importava. Eu decidiria por
ela.
Mulheres do submundo raramente tinham uma vida digna e livre. Meus
irmãos e eu estávamos lutando para mudar isso, mas não era tão simples. Os
nossos Kapetánios[15] que nasceram diretamente no seio da Exousía sabiam
como deviam tratar suas esposas, pois acreditávamos que o homem que era
capaz de trair a mulher que dormia ao seu lado, com toda certeza, trairia a
organização. No entanto, essa lei surgiu com meus irmãos e eu. Eros desde o
dia em que foi declarado que ele seria o Afentikó enfrentou discórdias e
grandes problemas. No entanto, seu modo vingativo e desenfreado de cortar
as línguas fez com que metade aceitasse e outra lidasse com as
consequências.
Ter controle de tudo exigia mais que força, exigia precisão. Traidores
sempre apareciam, como ervas aparentemente, mas nós os arrancávamos com
nossas próprias mãos. Não importava quantos caíssem, outros surgiriam. E
nós os esmagaríamos, um por um, sem descanso. Mas agora, minha atenção
estava toda voltada para Antônio Ferraz. Ele seria o próximo a cair.
Ferraz estava em minhas terras, respirando o mesmo ar que minha
mulher. No dia seguinte nos encontraríamos para conversar. Sasha ficaria
aqui com a minha cunhada, Helena. Minha mãe queria vir, mas impedi. Da
mesma forma que a mãe de Sasha ficaria distante, só sua amiga viria. Apenas
ela que liberei estar aqui e ouvir a minha fávlos.
Mesmo que Sasha dissesse em voz alta que deseja se casar com
Antônio, não permitiria, pois mesmo que nunca me permitisse tocá-la, a teria
aqui, junto a mim, dia após dia até a morte.
Nós nos tornaríamos dois santos sem sexo. Hilário, mas sincero. Eu não
traía, nunca.
— Continue acreditando em suas próprias mentiras — disse, por fim, e
a soltei. — Vou preparar o jantar. Se quiser subir e se limpar, fique à vontade.
Como já disse, há roupas no closet.
— Das suas amantes? — indagou, rindo sem qualquer humor. —
Vamos festejar juntas contigo, sýmvoulos?
— Vá se lavar — falei, me afastando. — Ou terei que te dar banho?
— Jamais! — gritou, saindo da cozinha.
Torci o nariz ao ver as roupas no closet de Otto. Eram todas delicadas,
com flores e de tons claros. Até mesmo as calças compridas, não era do meu
interesse, e as outras peças de roupa eram muito extravagantes, algo que me
recusava a usar. O estranho era que todas as roupas possuíam o meu tamanho,
até os calçados. Peças íntimas estavam separadas em uma gaveta, algumas
lingeries sensuais me assustavam. Pareciam desconfortáveis para usar. Optei
por uma calcinha de algodão, um top sem bojo e um vestido longo. Coloquei
um casaco por cima. Meus cabelos já estavam secos e penteados. Usaria o
secador que estava no banheiro.
Meus cabelos foram limpos com um xampu que nunca tinha visto
antes, mas o cheiro era divino, erva-doce, e o condicionador da mesma
fragrância. Quando me olhei no espelho, uma estranha sensação de leveza me
envolveu. As olheiras sob meus olhos e a tensão nos meus ombros ainda
estavam lá, testemunhas do meu medo e incerteza. Mas havia algo mais, algo
quase libertador. Talvez fosse o cansaço mental finalmente me desarmando,
ou talvez fosse a sutil promessa de mudança. Pela primeira vez em anos, senti
uma centelha de algo que parecia vagamente com esperança.
Desde os meus cinco anos, era atenta ao que acontecia ao meu redor.
Nunca abaixava a guarda, mas sempre mantinha os olhos no chão. Não falava
alto. Se sentisse dor, guardava para mim. Aprendi do jeito difícil a me calar.
Suportar até a morte era o destino de uma filha da Bratva.
No entanto, Otto Exousía girou uma chave, abrindo uma porta dentro
de mim que eu mesma desconhecia. Meu sangue fervia perto dele, meus
pensamentos soavam pela minha boca desenfreados. Com ele sentia vontade
de brigar, duelar e gritar como louca. Minha vida estava fora dos eixos, eu me
sentia perdida, ao mesmo tempo em que estava diferente. Uma tempestade de
confusão se formava dentro de mim. Talvez a loucura tivesse, enfim, me
alcançado.
Adentrei a cozinha ainda perdida em meus pensamentos. O cheiro da
lasanha me atingiu, fazendo com que meu estômago roncasse. Me assustei,
pois não me recordava da última vez em que sentira fome. A vontade de
comer não me acompanhava há anos. Olhei a travessa na mesa, minha boca
salivou. Estava apetitosa. Caminhei assustada até o balcão, observei de perto
um prato simples que nunca apreciei me deixar esfomeada. O cheiro estava
por todo o lugar.
— Acho que podemos comer — disse meu sequestrador, secando a
mão em um pano de prato extremamente limpo. — Quer ir para a mesa?
— Não, quero comer aqui. — A ideia de me sentar a uma mesa me
causava desconforto.
— Se assim deseja. — Deu de ombros. — Tome seu prato, sirva-se à
vontade.
Peguei a porcelana com as mãos trêmulas, cada movimento carregado
de uma incerteza esmagadora. Não conseguia me lembrar da última vez em
que coloquei comida no meu próprio prato. A fome era um sentimento
desconhecido, quase assustador, e a ideia de me servir parecia uma tarefa
monumental. O estômago roncava, mas a mente estava repleta de dúvidas e
medo de errar.
As empregadas sabiam a quantidade que eu comia, pois era Polina que
administrava. Nunca me permitiu repetir pratos, e uma vez que pedi, quebrou
duas louças de porcelanato em minha cabeça. Fui parar no hospital, levei
alguns pontos e, por sorte, não ficou uma cicatriz na minha testa.
Olhei para Otto inquieta, Polina sempre ditava o quanto eu deveria
comer, e me questionava se era um teste ou não.
— Quanto devo comer? — indaguei com a voz trêmula. O medo de ele
me mandar pegar pouco me consumia, queimando a boca do meu estômago.
Otto franziu a testa.
— A quantidade que quiser, fávlos — respondeu. Meus lábios
tremeram e, pela primeira vez em muito tempo, meus olhos se encheram de
lágrimas sinceras. Senti o calor delas queimando minha pele enquanto
rolavam silenciosamente pelo rosto. Uma dor familiar se contorceu dentro de
mim, mas dessa vez era acompanhada por uma sensação nova, quase
reconfortante. Mordi os lábios, tentando decifrar essa emoção que queimava
meu peito como uma floresta em chamas. Era assustador, mas, de algum
modo, estranhamente bom.
Peguei a escumadeira ainda incerta. Afundei na grande massa e
arranquei um pedaço, coloquei no prato incerta. O tamanho não era grande.
Ergui os olhos e encarei Otto que estava encostado no outro lado da bancada,
me olhando atentamente.
— Acho que essa quantidade está boa — murmurei, sentindo-me frágil.
Odiava demonstrar fraqueza, mas diante da sua gentileza ao me alimentar.
Sacudi a cabeça.
— Coma o que sentir vontade, Prinkípissa — falou.
Otto se serviu, enquanto eu me sentava em um dos bancos altos. Nunca
havia comido na cozinha, sempre na sala de jantar. Soltei um gemido de
prazer na primeira garfada. A lasanha bolonhesa derreteu na minha boca, o
queijo se esticava com o garfo, sorri de leve. O sabor era delicioso e não me
deu ânsia de vômito. Comecei a comer mais rápido.
— Coma devagar, fávlos — orientou Otto, sentando-se ao meu lado.
Fiz conforme dito, mastiguei mais devagar, porém, com vontade,
apreciando o sabor. Ao cair no meu estômago, não pesou. Ao contrário,
parecia uma pena. Nunca havia provado algo tão saboroso. Quando terminei,
ainda estava faminta.
Meus olhos escorregaram para a travessa diante de mim, ainda na
metade. Engoli a saliva, meus olhos correram para Otto que mastigava
devagar.
Empurrei meu orgulho para baixo.
— Posso comer mais um pouco?
Seus olhos encontraram os meus. Ele me olhou atentamente, lendo
todas as minhas expressões. Por um instante, pensei que estivesse vendo
minha alma quebrada.
— Fique à vontade, Sasha. — Sua voz grave tinha uma nota de
compaixão.
— Obrigada — agradeci, servindo-me de mais um pedaço farto.
Olhei para o homem diante de mim. Seus olhos claros brilhavam o
desconhecido para mim. Ao respirar, traguei seu perfume misturado ao cheiro
da lasanha. O que essas fragrâncias juntas me causavam era assustador,
porém, o que me assustava mais era a familiaridade que estava sentindo ao
lado do meu sequestrador.
CAPÍTULO 8
Olhei para a cama bagunçada onde despertei, o sol já começava a
iluminar o quarto de forma tímida. Devido ao horário de verão europeu,
Moscou estava agora na mesma faixa horária de Atenas, o que apenas me
lembrou do quanto a realidade parecia distorcida em comparação com meus
pensamentos conturbados. O relógio marcava pouco mais 05h30 e a única
coisa que conseguia pensar era em como havia acabado dormindo na cama.
Recordei-me de como havia me enrolado em cobertores no chão,
exausta depois de passar horas intermináveis tentando encontrar uma maneira
de escapar daquele cativeiro. O pensamento de estar tão perto de meu captor,
com seu rosto impassível e seus olhos penetrantes sempre analisando cada
movimento meu, me desgastou. Sua presença constante, sua falsa gentileza
disfarçada de cuidado, quase me fez desejar estar em seus braços, um desejo
que há anos não experimentava. O sentimento era confuso e perturbador, uma
mistura de necessidade e repulsa que me deixava sem rumo.
Não sabia se Otto tinha passado a noite ao meu lado, mas o lado oposto
da cama parecia intacto, como se ninguém tivesse ocupado aquele espaço. Ao
correr para o banheiro, encontrei o boxe molhado, o que só aumentou a
sensação de incerteza e desorientação que me assolava. Minha mente girava,
tentando encontrar respostas para as minhas dúvidas incessantes.
Soltei um suspiro cansado e decidi arrumar a cama, ajustando os
lençóis rapidamente em um gesto quase automático. Fui até o closet e escolhi
uma calça jeans escura e uma blusa de manga longa, sentia a necessidade de
vestir algo confortável e prático. Penteei meus cabelos, prendendo as mechas
em um coque solto que não apertasse minha cabeça ao longo do dia. Vesti um
par de tênis brancos e saí do quarto sem pressa, tentando encontrar algum
tipo de normalidade em meio ao caos que parecia dominar minha vida.
A casa estava silenciosa, como da última vez, parei na sala de estar em
frente às janelas, observei o céu ficando alaranjado, não costumava admirar o
nascer do sol, mas me vi ali parada. A casa cheirava a limpeza, não com
lavandas ou algo do tipo, mas sim álcool e talco de eucalipto, uma mistura
estranha que irritava o meu nariz.
Olhei ao redor, o espaço parecia vazio. Meu captor, o pokhititel[16], não
estava por perto. Fui para a cozinha e, para minha preocupação, não havia
sinal de que alguém tivesse passado por ali. A passos leves, quase felinos,
abri a porta de madeira que não rangeu, e a brisa fresca da manhã me
envolveu. Coloquei a cabeça para fora e respirei fundo, o ar puro parecia um
alívio temporário. Não avistei nenhum soldado entre as árvores que
circundavam a propriedade, mas sabia que eles estavam por perto, escondidos
em algum lugar.
Voltei à bancada e peguei uma faca do faqueiro, sentindo a lâmina fria
e ameaçadora em minhas mãos. Meu coração batia forte, a epinefrina
disparava pelas minhas veias, aguçando meus sentidos e tornando cada
pequeno som e movimento mais nítidos.
Com a faca firmemente segura, saí pela porta, determinada a fugir.
Sabia que a poucos cem metros à frente havia um portão que poderia me
levar de volta à liberdade. Eu precisava passar por ele, retomar minha vida e
não envergonhar minha família. Era uma questão de honra e de cumprir o
acordo para o qual fui prometida.
A passos largos e cuidadosos, atravessei o gramado macio, movendo-
me entre as árvores. O vento uivava ao meu redor, trazendo consigo o cheiro
de terra e mar, uma mistura que evocava uma sensação de urgência e
estranheza. A sensação de liberdade era palpável, mas precisava manter o
foco.
Sacudi a cabeça, tentando afastar as distrações, e continuei, cada passo
me aproximava da possibilidade de escapar daquele pesadelo.
Não vi nenhum soldado à vista, o que me deu coragem para apressar os
passos em direção ao portão de ferro, que se erguia imponente com mais de
três metros de altura. A ausência de um guarda era estranha, e a sensação de
que algo estava errado me fez encostar no tronco de uma árvore próxima,
apertando ainda mais o cabo da faca. Nenhum homem sensato manteria a
casa tão desprotegida, por isso a inquietação só aumentava.
Fechei os olhos, tentando me acalmar e pensar com clareza, mas minha
mente estava um turbilhão de pensamentos confusos e medos esmagadores. A
necessidade de fugir de Otto era avassaladora. Ele me aterrorizava tanto
quanto Polina, mas de uma maneira diferente. Enquanto Polina era uma
ameaça conhecida, Otto era uma fonte constante de ansiedade, sua presença
estimulava um medo visceral que fazia meu coração acelerar de forma quase
insuportável.
Abri os olhos e, com determinação renovada, corri em direção aos
portões. Mas, ao olhar para o lado, vi Otto pular corda com uma energia
inquietante. Seus olhos estavam fixos em mim, com uma intensidade que
fazia meu corpo inteiro vibrar. O suor escorria lentamente pelo seu peito nu,
brilhando sob a luz suave, destacando cada músculo esculpido. Ele usava
apenas uma calça de moletom cinza, baixa o suficiente para deixar à mostra
sua barriga definida, com os gominhos perfeitamente talhados, cada linha
desenhada com precisão. O famoso "V" que descia até o cós da calça parecia
me provocar, direcionando meu olhar para onde eu sabia que mais desejava.
Salivei, meu corpo treinava o pensamento, imaginando o que ele escondia
além daquele tecido, o calor crescia dentro de mim e queimava em
antecipação. Parei bruscamente, o choque fez meu coração acelerar ainda
mais ao perceber a tatuagem que cobria a parte superior de seu corpo.
Um dragão impressionante serpenteava ao longo de sua pele. As
escamas intricadas começavam na costela e subiam pelo braço esquerdo, as
asas abertas e as garras afiadas espreitando pelo bíceps e antebraço. A cabeça
do dragão repousava sobre seu ombro, seus olhos cor de âmbar flamejante
pareciam estar sempre em vigia, conferindo uma sensação de que a criatura
mítica estava a ponto de ganhar vida. As linhas precisas e sombras profundas
davam ao dragão uma qualidade quase real, como se pudesse se mover a
qualquer momento.
Fiquei hipnotizada, os olhos de Otto pareciam me prender em uma
dança perigosa. Sua beleza era tão assustadora quanto cativante, um crime a
si mesma. Ofeguei ao ver seus músculos se tensionarem, meu corpo parecia
entrar em colapso emocional. A sede era quase insuportável, como se tivesse
passado horas caminhando sob um calor escaldante. Ver o suor escorrer por
seu peito fez minha boca salivar involuntariamente. Desconcertada, dei dois
passos para trás, piscando para sair do transe hipnótico em que me
encontrava, tentando recuperar a clareza.
Estávamos perto demais. O ar entre nós era sufocante, quase palpável,
carregado de tensão e um desejo bruto que eu não queria admitir. Cada
centímetro que ele avançava parecia selar o meu destino, sua presença se
infiltrava na minha pele como uma corrente fria. Em poucos passos, ele me
alcançou, e meu coração disparou com um misto de medo e excitação. A
mente gritava para fugir, mas meu corpo estava preso, enraizado ao chão.
Com um movimento desesperado, meus dedos apertaram o cabo da
faca, minha única chance. Minha respiração ficou errática, o suor escorria
pela nuca enquanto eu a erguia, sem hesitar. Num impulso selvagem, fui
direto ao seu abdômen, mirando o ponto vital, mas ele era rápido, mais rápido
do que eu esperava. Seu braço se ergueu no último segundo, um reflexo
preciso, quase cruel.
A lâmina pressionava contra sua pele, e eu forçava mais ainda, minha
mão tremia com a força do desespero. Mas, para meu horror, o desgraçado
apenas sorriu com um prazer perverso, seu olhar cruel. Com uma facilidade
aterrorizante, ele tomou a faca das minhas mãos, a lâmina suja escorregava
para seus dedos como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele a ergueu e
a aproximou de meus lábios, e eu tentei me afastar, meu corpo se contorcia
em uma tentativa frenética de escapar. Mas seu aperto no meu braço era
como uma corrente de ferro, implacável e firme. Com uma força imprevista,
ele me puxou para mais perto, seus olhos fixos nos meus, enquanto a lâmina
fria e ameaçadora dançava a centímetros da minha boca, cada movimento
dele tornando a tensão quase insuportável.
Umedeci os lábios, um gesto instintivo, quase inocente, mas que
parecia carregar uma tempestade silenciosa entre nós. Seus olhos, sempre tão
calculados, captaram cada movimento, atentos como um predador estudando
sua presa. Eu podia sentir o peso do seu olhar como uma carícia invisível,
algo quase palpável, queimava minha pele. Suas pupilas dilataram, escuras
como a própria noite, expandindo-se com uma fome silenciosa que ele não se
preocupava em esconder.
— Lambe — ordenou ele, sua voz tranquila contrastando com a tensão
palpável. — Sinta o gosto do sangue que derramou, agápi.[17] — O tom rouco
em sua voz e o brilho de luxúria em seus olhos tornaram o momento ainda
mais perturbador.
Neguei com a cabeça, meus lábios cerrados em resistência. Mas ele não
hesitou, passando a lâmina fria e cortante por meus lábios fechados, os olhos
dele brilhavam com uma determinação implacável. Seu olhar deixou claro
que não pararia até que eu provasse aquele maldito sangue.
Com relutância, abri a boca e comecei a lamber cada gota de sangue
com cuidado, evitando o corte da lâmina. Olhei em seus olhos e o que vi me
deixou eufórica. O gosto metálico era inusitadamente saboroso, uma onda de
sensações estranhas invadiu meu corpo. Meu ventre se contorceu e a saliva se
acumulou em minha boca, o desejo por mais crescia a cada instante. Era
como se eu estivesse explorando um novo e viciante mundo, algo
profundamente perturbador e irresistível. Os deles estavam tensos, brilhavam
em satisfação, focados em mim, em cada movimento que fazia.
Olhei para ele com uma mistura de medo e espanto, mas, ao contrário
da minha apreensão, Otto Exousía parecia prestes a oferecer mais do seu
sangue, o olhar dele revelava uma satisfação sinistra e predatória.
— Me deixe ir embora — exigi, ofegante e com a voz rouca. — Já se
divertiu o suficiente às minhas custas.
— Só comecei — respondeu Otto, com um tom frio e calculista. —
Vamos para casa. Tenho que preparar o café da manhã e reuniões me
aguardam.
Ele afastou a faca com um movimento brusco e me puxou de volta para
dentro da casa. Olhei para o portão, relutante, tentando me libertar do seu
aperto. Minha liberdade estava a poucos metros, ou ao menos era o que eu
queria acreditar.
— Otto, por favor, não tenho nada a oferecer — grunhi entre dentes, a
voz carregada de desespero.
— Você tem mais a me oferecer do que imagina, prinkípissa —
afirmou ele, com uma calma perturbadora. — Foi decidido que sua amiga e
sua mãe virão te ver amanhã à tarde. Você poderá dizer a elas que quer ficar e
evitará uma guerra, ou minta, e farei Moscou virar cinzas.
Ameaça e desespero se misturaram, um frio cortante percorreu minha
espinha ao imaginar a devastação que ele poderia causar. A perspectiva de
enfrentar Polina e Otto ao mesmo tempo me aterrorizava. Não estava pronta
para lidar com essa pressão.
— Mentir? — indaguei, a voz carregada de incredulidade e raiva. —
Eu mentiria se dissesse que quero ficar com você, seu pokhititel — cuspi as
palavras com um ódio que era, talvez, mais voltado para mim mesma do que
para ele.
— O pior mentiroso é aquele que mente para si mesmo — declarou
Otto, a voz carregada de um tom implacável. — Mais tarde, irá replantar
novas mudas das flores que destruiu.
— Não irei — rebati, com firmeza. — Que seus jardineiros cuidem
disso.
— Prinkípissa, aqui, se você destrói algo, você conserta. E se não o
fizer, será castigada — alertou ele, liberando-me do aperto assim que
entramos na cozinha. — Vou me lavar, já volto.
— Não vou plantar mato algum, seu filho da puta cruel! — berrei, a
raiva se espalhando pela minha voz. No entanto, em resposta, só recebi o
silêncio cortante de Otto, sua presença sólida como uma rocha.
Enquanto ele se afastava, a sensação de impotência e frustração me
consumia, sabendo que, apesar de minha resistência, estava à mercê de suas
regras cruéis e implacáveis.

O sol estava se pondo quando, enfim, terminei o trabalho, minhas mãos


doíam de tantos buracos que cavei para plantar as mudas de flores. Estava
coberta de barro, exausta, suada e com fome, após horas intermináveis
mexendo naquele maldito jardim. Estava sozinha, quer dizer, quase sozinha.
O cão de guarda de Otto, Kai, seu irmão do meio, estava me vigiando de sua
espreguiçadeira, e quando cometia algum erro, ele não hesitava em disparar
ordens com um tom autoritário.
Kai passou o dia me corrigindo, enquanto bebia e digitava algo em seu
notebook. De vez em quando, me filmava e falava algo em grego,
presumivelmente para Otto. A sensação de ser constantemente observada era
opressiva, e cada palavra de Kai parecia um eco da crueldade de Otto.
Quando terminei de amassar a terra por cima da última muda, me
levantei com dificuldade. Meus joelhos gritaram de dor, e minhas costas
estavam queimando devido às horas passadas na mesma posição. Minhas
unhas estavam quebradas e cobertas de terra escura.
— Fez um bom trabalho — disse Kai, aproximando-se com seus óculos
escuros. — Na próxima vez, tenha mais cuidado com as flores. Meu irmão as
adora — ele comentou com seu típico sorriso debochado.
— Então, vou colocar fogo em tudo — falei, forçando um sorriso, um
lampejo de raiva percorreu meu corpo.
— E ele queimará tudo o que considera importante, incluindo sua
amiga vadia. — O sorriso de Kai se alargou. — Um conselho, Sasha, Otto é
como um dragão da mitologia nórdica, ele rói a árvore da vida e traz caos aos
nove mundos. Não queira provocar sua ira; você não é a águia no topo da
árvore pronta para lutar contra o dragão. Você é apenas um sabiá sem canto
ou asas.
— Você está enganado, Kai. Eu vou arruinar o seu irmão — afirmei
entre dentes, a raiva e a determinação em minha voz.
— Não se pode destruir pessoas como nós, Sasha. — Ele sorriu de
forma sombria e se afastou. — Tenha uma boa noite, cunhada.
— Nos seus pesadelos! — gritei em resposta, observando-o se afastar
com um misto de frustração e determinação.
Recolhi as ferramentas de jardinagem que usei e fui para o quarto,
enquanto pensava em maneiras de destruir Otto, assim como ele estava
arruinando minha vida. A sensação de impotência só alimentava minha
determinação em encontrar uma maneira de vencer esse pesadelo.
CAPÍTULO 9
Ferraz me lançou um olhar carregado de ódio, olhei com indiferença.
Ao seu lado, Oleg Dobow parecia estar mais calmo, embora tenha conferido
seu relógio algumas vezes desde que entrou no meu escritório no centro de
Atenas. Não arriscaria deixá-los perto de Sasha em minha casa, seria um risco
alto demais.
O dia de hoje foi repleto de emoções intensas. Só de lembrar dela me
apontando uma faca e lambendo meu sangue fazia meu corpo reagir de forma
violenta. A imagem dos seus pelos eriçados e dos olhos transbordando
luxúria me deixou completamente embriagado. Ansiava pelo toque de sua
língua sobre minha ferida. Sasha era o caos da minha vida e eu estava viciado
por cada segundo.
— Pelo que sabemos, pelas leis da organização Exousía, o senhor não
pode roubar minha noiva — rosnou Ferraz, com a ferocidade de um filhote
de gato prestes a ser abatido. — Afentikó, sabe que seu sýmvoulos cometeu
um crime ao sequestrar minha noiva.
Eros soltou um suspiro, inclinando-se e apoiando as mãos na mesa de
madeira com um sorriso que se assemelhava ao de um psicopata. Eu observei
as veias do pescoço de Ferraz esticarem-se com a tensão.
— Seguindo a lei da Exousía, eu tomei uma mulher que quis vir
comigo, após seu noivo agredi-la. A trouxe para minha casa para sua
proteção — respondi, calmamente. — Pela lei do nosso código, desafio
Antônio Ferraz, capo da Cosa Nostra, para um duelo de sangue pela honra e
segurança de Sasha Dobow.
Vi a surpresa nos olhos de Ferraz e do pai de Sasha. Um desafio formal
era a forma tradicional de resolver as coisas, mas os italianos e russos não
costumavam se dedicar às espadas ou lutas corporais, especialmente os
capos.
Eles realmente acreditavam que poderiam usar as leis que ajudei a criar
contra mim? Era risível, mas ambos não eram homens suficientes. Talvez eu
pudesse rir quando Ferraz estiver sangrando e implorando pela sua vida.
— Você pode recusar, capo — Eros disse com um tom de deboche. —
Ou aceitar e mostrar sua dignidade e honra.
Antônio inflou o peito e me olhou nos olhos, tentando me intimidar.
— Desafio aceito, Exousía — respondeu ele, exibindo um sorriso que
revelava dentes desgastados e quebráveis.
Calculei o tempo necessário para cruzar a mesa e acertar seu rosto,
quebrando seus dentes e destruindo sua expressão arrogante, 37 segundos. No
entanto, não era o momento ainda. Havia mais coisas a resolver do que lidar
com um homem chorando, além do mais, odiava que manchassem minhas
coisas.
— Sendo assim, daqui a sete dias nos encontraremos em Salonica, no
grande museu de duelos — declarou Eros, levantando-se finalmente.
— Afentikó, se me permite falar — disse Oleg, com respeito.
Eros fez um sinal de cabeça, concedendo-lhe permissão.
— Quero ver minha filha. Sei que minha esposa a verá, mas como pai,
gostaria de conversar com ela.
Olhei para Oleg, tentando ler seus olhos, mas ele abaixou a cabeça.
Mantive a calma, olhei para Eros e pisquei, concedendo permissão. Meu
irmão sabia que qualquer pessoa só veria Sasha se eu permitisse, e isso
incluía ele e sua esposa emotiva. Helena, muitas vezes, me incomodava com
suas lágrimas, e, por vezes, quase arranquei a porra da cabeça dela.
— Claro, no sexto dia, em Salonica, sob minha supervisão, é claro —
disse finalmente o Afentikó. — Se me dão licença, tenho que ir até a minha
vassílissa.
— Sim, Afentikó — concordou Oleg, mal disfarçando o desgosto.
— Senhores, tenho que trabalhar e gostaria que saíssem da minha sala
— falei com tédio.
— Ainda não acho justo minha noiva estar em sua casa, Otto — Ferraz
falou, empurrando a cadeira bruscamente. — Não quero ter uma noiva
impura. Os Dobow passaram anos cuidando dela para que seu sangue
manchasse os meus lençóis e assim ela se mostrasse honrada — profanou
asneiras.
— Sasha está intocada, não deveria se preocupar tanto com um hímen,
senhor Ferraz. Se ela tropeçar e cair, ele pode romper — comentei.
— Então deve cuidar bem dela, Exousía, para que nem tropece —
enunciou com uma autoridade que não tinha.
O infeliz estava a cada hora me dando mais um motivo para matá-lo
diversas e diversas vezes, até eu achar que sofreu o suficiente. Homens como
ele não eram da minha laia, por mim exterminava todos esses infelizes. No
entanto, perderíamos mais da metade dos nossos homens, o que seria um
grande problema por agora.
Mudanças e matanças eram feitas aos poucos. Já eliminamos alguns e
assim faríamos até não restar mais nenhum como Antônio Ferraz e Oleg
Dobow.
— Cuidado com a língua, Ferraz — adverti. — Eu sei como cuidar do
que é meu.
Suas narinas se dilataram. Sua mão voou para o cós da calça, puxando
uma pistola e apontando-a para mim, como o covarde que era. Oleg se
levantou rapidamente e se afastou para o canto. Eros, que já estava na porta, a
fechou, encostando-se nela com os braços cruzados.
— Eu vou estourar os seus miolos, seu desgraçado! — berrou Ferraz.
Pisquei e contei até três antes de avançar sobre ele. Tomei a arma de
sua mão, que disparou para o teto, e dei um soco no nariz, quebrando-o. O
sangue jorrou do seu nariz, manchando o chão de mármore branco.
A sala ficou em silêncio por um instante, o som do impacto ainda
reverberando nas paredes. Dei um soco no estômago, Ferraz caiu de joelhos,
ofegante e ensanguentado, sua expressão uma mistura de dor e surpresa,
gemendo de dor. Oleg olhava horrorizado, mas não ousou se mover.
— Você quer brincar de homem, Ferraz? — Minha voz era baixa,
quase um sussurro. — Então aprenda que homens de verdade não ameaçam
sem consequências.
Ferraz tentou falar, mas apenas um gemido saiu de sua boca. Joguei a
arma no chão, perto dele, e olhei para Eros que apenas arqueou uma
sobrancelha, o filho da puta lavou as mãos, após me obrigar a aceitar levar
Polina para dentro da minha casa, apenas para conter uma possível revolta
interna dos nossos homens.
Passei a mão pelo rosto, tentando me recompor. O desafio estava
lançado e, em sete dias, as coisas seriam resolvidas de uma vez por todas. Até
lá, eu precisava manter a calma e me preparar. A batalha seria sangrenta,
porém, necessária.
Oscilando entre adrenalina e ódio. Ferraz avançou novamente, tentando
me acertar, mas fui mais rápido. Segurei-o pelo braço e o torci, imobilizando-
o. Com um movimento preciso, desferi dois socos violentos em seu
estômago, fazendo-o cair de joelhos.
Sem hesitar, pisei em sua garganta com toda a força, esmagando-o
como se fosse uma barata. Ferraz se debateu, tentando empurrar meu pé, mas
apenas aumentei a pressão, sentindo seu desespero. Seus olhos reviraram e
fecharam, e eu recuei, observando seu corpo desacordado e ensanguentado
estendido no chão.
O téras dentro de mim exigia mais sangue desse infeliz. Mas controlei
meus impulsos; tudo tinha a sua hora. Eu o desafiei e seguiria com o desafio.
O estriparia na frente da Sasha e dos outros, como testemunhas. Olhei para
Oleg, que me encarava com medo, e suspirei. Ajeitei minha gravata e
caminhei até meu irmão, que ria. Ele abriu a porta para que eu passasse. Sem
dizer uma única palavra, me dirigi aos elevadores, sentindo uma necessidade
urgente de ir para casa e ver minha prinkípissa, que passou o dia consertando
as flores que destruiu em nossa pequena brincadeira hoje cedo.
Eu precisava ver seus olhos amedrontados e, ao mesmo tempo, cheios
de desejo. Sua fome por prazer era tão intensa quanto a minha, apenas estava
adormecida dentro dela. Era perceptível para mim que ela não sabia lidar com
coisas simples.
Me perguntara por que não conseguia dormir sozinha na cama. Quando
a peguei em meus braços e a pus sobre o colchão, ela se agarrou a mim,
envolvendo suas pernas em minha cintura e prendendo meu pescoço com
seus braços magros. Passou a noite aninhada a mim, só me soltou perto das
05h. Então, a deixei sozinha na cama para poder me exercitar.

Ao chegar em casa, encontrei Kai sentado no meu sofá, tomando chá,


um dos seus vícios. Ele me lançou um olhar enigmático e sorriu, como se
tivesse segredos para revelar. Sabia que não passava de suas artimanhas para
confundir os outros. De nós três, Kai era o mais habilidoso em interagir e
manipular as pessoas. Movido pela diversão e adrenalina, adorava apostas e
raramente perdia. Eu diria que ele era o mestre das máscaras, raramente as
removia, mesmo para mim ou Eros.
— Sua garota machucou as mãos, mas cuidou das plantas — informou
Kai, sem me olhar. — Esse trabalho de babá não é pra mim, exijo um
aumento.
— Onde ela está? — perguntei, ignorando suas reclamações.
— Subiu para o quarto, depois de comer um sanduíche que preparei. —
Ele se levantou e me encarou. — A garota mal come e está queimada do sol,
pelo menos no rosto. Sei lá, não reparei direito.
Arqueei a sobrancelha.
— Não lhe deu protetor solar?
Ele bufou.
— Foda-se, ela está no verão grego, deveria saber que protetor solar é
uma regra básica! — exclamou, impaciente.
— Vou vê-la, pode ir.
— Sabe que, para ela, saber o que a amiga faz será pior do que a de
Helena, o desafio pode doer mais nela — disse Kai, olhando para fora. As
folhas balançavam devido à ventania da tarde. Uma tempestade estava a
caminho, típico meltemi de verão. — O laço dela com essa garota é mais
forte.
— É algo que ela terá que enfrentar, não vou esconder ela — finalizei.
— Não se sabe se ela vai querer ser sua, irmão.
Olhei furioso para ele e me aproximei rapidamente.
— Ela já é minha — afirmei com a voz baixa.
Ele me olhou com diversão.
— Se você diz. — Piscou e caminhou até a cozinha.
Subi para o segundo andar sem pressa. Quando parei na porta do meu
quarto, não bati; apenas girei a maçaneta, entrando no cômodo mal
iluminado. Acendi as luzes e me deparei com uma criatura ruiva sentada no
chão, olhando para as mãos vermelhas e feridas.
— Não usou luvas? — questionei, aproximando-me. Sasha me olhou
com desdém, raiva e desejo.
— Usei, mas não estou acostumada a trabalhos manuais. — Havia uma
nota de acusação em sua voz.
— Você que destruiu as flores — relembrei. — Passe pomada, há
algumas na gaveta de primeiros socorros no banheiro, terceira gaveta.
— Não finja se preocupar.
Abaixei-me, equilibrando o meu corpo nos calcanhares. Peguei seu
queixo e o ergui suavemente.
— Eu não perguntaria se não me importasse, fávlos mou — sussurrei,
passando o dedo por seus lábios finos e rosados. Suas bochechas estavam
vermelhas por conta do sol, destacando ainda mais suas sardas. Seus olhos
verdes, felinos, me olhavam assustados, prontos para atacar ou fugir, sua
respiração descompassada agitava a minha.
Meu coração, que raramente batia mais forte, acelerou, o que me
incomodou. Uma pequena ruiva, cheia de sardas, mexia comigo de um jeito
que ninguém jamais fez. Era perigoso para nós dois, senti meu coração
martelar com tanta intensidade.
CAPÍTULO 10
A ansiedade me corroía naquela manhã. Minha mãe e Nika chegariam a
qualquer momento para discutir meu sequestro, e a expectativa de confrontá-
las fazia meu estômago revirar.
Ontem à noite, depois de me mandar passar pomada na mão
machucada, Otto desapareceu, mencionando que o jantar estaria pronto às
20h. Quando cheguei à cozinha, ele não estava lá. Apenas uma travessa de
macarrão com queijo, algo que nunca havia provado antes. O sabor era
divino, um raro momento de prazer em meio ao caos. Repeti duas vezes,
mesmo com a náusea insistente, saboreando cada mordida.
Na verdade, sempre que Otto estava longe, a tensão aumentava, mas a
intensidade de seu olhar quando presente me fazia querer fugir. A mistura de
sentimentos que ele provocava era perturbadora. Nunca conseguia prever
suas ações ou intenções. Seus gestos gentis me desconcertavam. Talvez ele
quisesse ganhar minha confiança para depois me usar. Eram tantas
suposições, mas não queria vê-lo como um homem bom. Homens como ele
não eram heróis.
Meu futuro ainda estava preso ao sonho de me casar com Antônio.
Passei a vida toda me preparando para esse casamento. Meu pai e meu tio
sempre deixaram claro meu papel: ser uma esposa, ajudar a irmandade com
filhos, ser obediente e não causar problemas. Cumpri esse papel, até ser
sequestrada por Otto e me encontrar em um jogo perigoso, sem saída.
Se contasse que fui sequestrada, a verdade poderia desencadear uma
guerra entre os Exousías e a Bratva. Mas mentir traria grandes problemas
para papochka e o Pakhan com a Cosa Nostra. Nenhuma escolha traria paz.
Restava a mim decidir qual delas causaria menos destruição.
Eu sabia que estava jogando um jogo perigoso, mas a cada segundo
parecia mais frágil na corda bamba. De um lado, um grande Antônio, pronto
para me devorar; do outro, um Otto, perigoso, com olhos flamejantes que
perturbavam meu ser. Ambos me trariam destruição, disso eu não tinha
dúvida. Mas o que um pássaro enjaulado podia querer? Aceitar minha nova
prisão parecia ser a única opção.
Otto ou Antônio?
Minha mente entorpecida gritava essa pergunta curiosa. Afastei as
mangas do vestido longo, expondo meu pulso para arranhá-lo. O alívio veio,
mas era insuficiente. Precisava de algo mais. Meus calmantes estavam na
minha bolsa em Veneza, e um chá não me ajudaria. Não era uma viciada,
apenas precisava de algo para acalmar meus nervos em frangalhos.
Levantei-me do sofá e caminhei pelo corredor até o escritório de Otto.
Não bati, apenas abri a porta. O aroma familiar de seu perfume me envolveu
instantaneamente. O cômodo parecia vazio, mas estava impregnado de sua
presença: paredes neutras, prateleiras de livros organizadas por cores, uma
mesa de madeira robusta sem nenhum papel, apenas seu notebook. Meus
olhos buscavam desesperadamente algo que pudesse me ajudar, até que
encontrei o minibar.
Caminhei rapidamente, peguei um copo e o enchi com a primeira
bebida escura que encontrei. Nunca gostei de álcool, mas naquele instante
precisava de algo que entorpecesse meus demônios. Minha cabeça latejava e
meu estômago queimava tanto que queria gritar de dor, arrancar minha
própria pele para aliviar a queimação.
Com as mãos trêmulas, ergui o copo. Gotas da bebida caíram no chão
de tão trêmula que estava. Fechei os olhos, prestes a dar o primeiro gole.
— Não! — A voz de Otto cortou meus pensamentos, enquanto ele
tomava o copo das minhas mãos e com a outra me puxava para junto a si,
apertando-me com força. Abri os olhos e o vi na minha frente, olhando-me
por baixo dos longos cílios. — O que pensa que está fazendo, fávlos mou? —
indagou com a voz baixa e intensa.
O cheiro da colônia dele, misturado ao hálito quente, congelou meus
sentidos. Todo o medo de ver Polina desapareceu. Não havia mais nada
naquele instante, apenas nós e toda a venalidade que ele trazia. Eu queria
correr de seu olhar, mas, ao mesmo tempo, precisava do calor que emanava
de seu corpo.
— Me solta — rosnei, tentando sair do seu aperto, mas nem ao menos
coloquei força o suficiente. A quem estava tentando enganar? — Seu
pokhitite dos infernos, me deixe! — gritei, chutando sua canela com força,
mas seus olhos continuavam frios e seu rosto, uma máscara de gelo.
— Você está proibida de beber — disse ele, tomando o copo da minha
mão e colocando-o sobre a pequena bancada. — Se entrar no meu escritório
novamente sem ser chamada, terei que te castigar, prinkípissa.
— Então me dê os meus remédios! — exigi sem pensar, inebriada por
sua presença, desesperada.
— Seus calmantes? — inquiriu, seu tom me assustou. — Você é uma
viciada — acusou com frieza.
Sem pensar, dei um tapa forte em sua cara, minhas unhas curtas
arranharam sua bochecha. Um fiapo de sangue surgiu acima de sua barba por
fazer. Seus olhos azuis, como o céu de verão, brilharam com uma excitação
que causou arrepios na minha pele.
Minha respiração ficou inquieta, meu ser inteiro tomado por um desejo
que eu não conseguia controlar. A luxúria gritava dentro de mim.
— Eu não sou — me defendi, arisca. — Apenas preciso de um
comprimido em dias terríveis como esses. Minha mãe e minha melhor amiga
estão vindo aqui, você não entende? Eu preciso estar calma.
— Então respire fundo e se acalme sem drogas na minha casa. — Sua
voz era contida, o que me irritava ainda mais.
Soltei-me de seu aperto, dando alguns passos para trás. Ficar perto dele
não ajudava a pensar claramente, eu precisava de distância. Mas tudo naquele
ambiente me lembrava ele: o perfume no ar, a poltrona, os livros. Passei a
mão pela minha trança, um hábito que adquiri quando criança sempre que
estava em público e não podia fugir.
Minha pele coçava tanto que eu queria me arranhar na parede como um
felino. Engoli em seco, meu raciocínio estava péssimo, minha mente nublada
pelo medo e pelo desejo por Otto, que corroía minhas entranhas.
— Já falei que não sou uma viciada! — exclamei, voando para cima
dele, dando tapas e socos em seu peito. Ele ria, sua risada me atiçava ainda
mais, então desejei ter uma faca para esfaqueá-lo. Avancei com minhas
unhas, arranhando seu pescoço, mas tudo que ouvi foi um gemido escapar de
sua boca, um som gutural que fez minha vagina se contrair em desejo. —
Deus! — Suspirei, espantada.
Suas mãos me envolveram, pegando-me desprevenida. Sua mão direita
apertou meu pescoço enquanto a esquerda puxava minha trança para trás com
força, inclinando minha cabeça para trás.
— Você não quer me provocar, Sasha — falou devagar, passando o
nariz pela minha bochecha. — Eu vou te destruir, láthos mou, vou te fazer
querer me matar, mas você estará tão viciada em mim que ficará ao meu lado
até o fim do inferno — sussurrou, mordiscando minha pele. — Serei seu
novo vício, deixarei que me bata e arranque um pouco do meu sangue, mas
toda vez que o fizer, chupará a ferida. — Ele afastou um pouco o rosto,
apertando mais minha garganta e olhando fundo nos meus olhos.
— Otto! — Suspirei, embriagada por suas palavras.
Ele me soltou devagar, alisando minha pele.
— Sua mãe e sua amiga chegaram. Há uma mesa pronta para o café da
manhã na sala de jantar. Receba-as e seja inteligente ao tomar sua decisão —
disse ele, afastando-se.
Engoli em seco, suas palavras martelando freneticamente na minha
cabeça, sua proposta indecente ecoando. Estava um caos, perdida, sem saber
o que fazer.

Respirei fundo enquanto voltava para a sala de estar da casa de Otto.


Assim que entrei no cômodo bem iluminado pelas grandes janelas, vi minha
mãe, sempre impecável, seus cabelos escuros em um corte Chanel elegante.
Seu vestido azul abraçava suas curvas, seus scarpins brancos completavam o
look sofisticado. Estava de costas para mim, olhando para fora.
Nika, minha melhor amiga, estava sentada no sofá, de jeans, blusa preta
e botas. A saudade apertou meu peito, mas me contive. Caminhei em direção
a elas, tentando controlar minha respiração.
— Mãe, Nika! — Tentei manter minha voz estável, mas o nervosismo
era evidente.
Nika pulou do sofá e correu até mim, abraçando-me com força.
Retribuí o abraço, sentindo o conforto da sua presença.
— Amiga, como você está? — perguntou, afastando-se para me
examinar. — Ele te violou ou te espancou?
— Não, Otto jamais faria isso! — defendi-o, apesar das dúvidas que me
corroíam. Até agora, ele só me mantinha presa e confusa.
— Não precisa mentir, amiga. Sabemos o quanto o Exousía é perigoso
— insistiu Nika, apertando-me mais. — Não seja forte diante de mim e da
sua mãe, vamos te tirar daqui.
Olhei para ela, confusa. Suas palavras pareciam ensaiadas, tentando
extrair de mim uma confissão que não existia.
— Não, eu estou bem — reforcei. Queria sair dessa situação, mas não
mentiria sobre isso.
— Amiga, não precisa ter medo dele. Sabemos de tudo que ele te fez.
Antônio está furioso e prometeu vingança. O sangue do sýmvoulos será
derramado para proteger sua honra — sussurrou Nika, seu hálito cheirando a
maconha. — Mesmo que não se casem, Antônio prometeu te proteger e eu
ficarei com você na Itália.
Afastei-me dela, atordoada. Suas palavras não faziam sentido. Minha
virgindade estava intacta. Otto nunca sequer se aproximou de mim na cama.
Ele deixava claro que me desejava, dizia que eu pertencia a ele, mas nunca
avançou com sinal. O que Nika falava era mentira.
Todos nós sabíamos que os irmãos Exousía odiavam abusos contra
mulheres e estavam banindo isso do nosso círculo. Por enquanto, só a Grécia,
América do Sul e algumas máfias da América do Norte seguiam essas regras.
O resto ainda mantinha as tradições mais antigas.
Passei por Nika, que me olhava de forma diferente, e fui até minha
mãe. Polina me olhou com desdém. Quando me aproximei, ela ergueu a mão
e me deu um tapa tão forte que o anel rasgou minha pele. Caí no chão com o
impacto, meu rosto ardia de vergonha e dor, e senti uma dor aguda no pulso.
Olhei para cima, encontrando o olhar frio de Polina.
— Você arruinou o nome da nossa família! — acusou com fervor. —
Sua vadia! — Tentou me chutar, mas ergui o braço para me proteger. O bico
do sapato bateu com força no meu antebraço. — O que pensa que é para
transar com o segundo no comando do submundo no dia do seu noivado?
— Mãe... — murmurei, sentindo a dor.
— Cale a boca! — gritou Polina. — Eu e seu pai fomos
envergonhados. Antônio nos culpou por criar mal uma garotinha como você.
Você é inútil até para ser uma boneca perfeita. — Suas palavras estavam
carregadas de raiva. — Seu dever era apenas ser a noiva perfeita. Você
estragou tudo.
Engoli em seco, sentindo as lágrimas queimarem meu rosto enquanto
escorriam pelas bochechas, fazendo a ferida recém-aberta doer com força.
Meu punho doía tanto que mal conseguia me sustentar no chão. Sentia-me
envergonhada e desolada. Fechei os olhos, tentando colocar minha cabeça em
ordem.
Abri os olhos e me arrastei para longe de Polina. O olhar dela sobre
mim era de ira e poder, ela sabia que me ferira, conhecia meus medos e
compreendia que era a causadora deles. Passou toda a minha vida me
atormentando.
Mesmo sem querer, me pus de pé, odiando como me sentia pequena e
frágil diante dela. O pavor de errar, de não a agradar, me assombrava dia e
noite. Estava enjoada e queria colocar para fora qualquer coisa que houvesse
em meu estômago. Passei o dedo sobre a ferida em meu rosto, sentindo a
ardência. Olhei para o lado e vi Nika observando tudo em silêncio, mas
percebi um brilho diferente em seus olhos, que não era compaixão. Pisquei,
confusa, não reconhecendo minha melhor amiga.
Polina se aproximou de mim, e eu recuei como um animal ferido diante
de um grande predador. Ela ria, eu chorava. A mesma cena de sempre. Minha
falta de coragem para enfrentá-la me destruía por dentro, mas me sentia
incapaz de confrontar sua fúria.
— Mãe... — sussurrei, quase inaudível.
— Vou te ensinar a ser uma filha obediente! — exclamou Polina,
exaltada, erguendo a mão com o punho fechado, adornado por diversos anéis.
Fechei os olhos, aguardando o impacto e a dor que nunca vieram. Em
vez disso, senti o perfume familiar do meu pokhititel e o calor do seu corpo.
Abri os olhos e me deparei com suas costas musculosas e bem definidas sob
o tecido da camisa social preta.
— Se tocar mais um dedo na minha prinsípessa, eu arranco todos os
seus dedos fora — grunhiu Otto, segurando a mão da minha mãe.
— Eu sou a mãe dela — se atreveu a dizer Polina, com a voz temerosa.
— E eu sou o homem dela — declarou Otto com uma voz tenebrosa. —
Saiam da minha casa.
Espalmei minhas mãos em suas costas e inalei sua colônia almiscarada,
que trazia uma sensualidade e um toque picante que me acalmava ao mesmo
tempo em que atiçava tudo em mim. Fechei os olhos, sentindo-me segura em
sua presença. Tudo à minha volta começou a desaparecer, como sempre
acontecia quando eu chegava perto demais dele.
Ouvi-lo declarar que eu era sua me deixou completamente estonteada,
incapaz de reagir, negar ou afirmar. Eu não ouvi mais nada. Não sei quando
minha mãe e Nika foram embora; apenas me recordo de ser erguida no ar,
com minha cabeça repousando sobre um peitoral firme. Eu temia aqueles
braços que me apoiavam, mas me sentia incapaz de abrir os olhos e lutar.
Minha mente se desligou sozinha, como se eu não dormisse há anos e,
finalmente, estivesse apagada.
CAPÍTULO 11
Olhei para o rosto pálido e adormecido de Sasha, a iluminação fraca do
quarto de hospital lançava sombras inquietantes em seu rosto. O susto que ela
levou a fez desmaiar, mas os médicos garantiram que não havia fraturas ou
ferimentos graves. O único resultado que ainda não havia chegado era o
exame de sangue, e era isso que faltava para eu tomar uma decisão definitiva
sobre o destino de sua mãe.
Estava em uma reunião de emergência com Kai sobre uma transição na
Espanha e no Brasil quando Polina chegou. Conhecendo bem os russos, levei
em consideração que respeitavam a casa dos outros, por isso não cancelei
com meu irmão para estar na recepção, porém, ao ver que Polina estava
atacando a minha Prinkípissa, minha paciência se esgotou.
Por mim, Polina estaria morta ali mesmo, mas a ideia de sujar meu piso
com seu sangue indigno era inaceitável. A minha mente estava tomada por
um desejo intenso de erradicar a família Dobow da face da Terra. Respirei
fundo, o ar frio me encheu os pulmões, e soltei lentamente, como se estivesse
tentando esfriar o fogo interno que ardia em dentro de mim. Tudo tinha o seu
tempo, e o primeiro passo era seguir a maldita tradição: casar-me com Sasha,
proclamando-a como minha. Se necessário, penduraria os lençóis
ensanguentados ao lado da bandeira da Grécia. Ninguém deveria ousar
questionar a honra da minha esposa.
Levantei-me da cadeira de couro escura, que parecia absorver a tensão
no ar. O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave das máquinas que
monitoravam o estado de Sasha. Decidi que precisava sair daquele quarto, ela
não acordaria tão cedo, e os seguranças estavam estrategicamente
posicionados por todo o andar reservado com exclusividade para mim.
Vantagens de ser dono de um hospital. Eu detestava ter que compartilhar
qualquer coisa, já bastavam dois irmãos.
Percorri o corredor com a segurança de um predador em seu território.
Os soldados inclinavam a cabeça em respeito, como esperado. Subi até o
terraço, onde meu irmão me aguardava. Kai, sempre à espreita, estava lá, e eu
me perguntava o que se passava em sua mente. Algo o perturbava, e não era
por causa de mulheres. Muitas coisas tiravam Kai do sério.
Quando cheguei ao terraço, o cenário era mais do que eu esperava. A
noite estava fria, e o vento sussurrava contra as janelas de vidro. Encontrei
Kai e uma das nossas melhores médicas, pois usava um jaleco e estava na
nossa folha de pagamento em um ato explícito de submissão. Ela estava de
joelhos diante dele, engasgando-se, o barulho era sôfrego, dedicando-se a um
serviço que eu preferia ignorar. Mantive meu olhar distante, não precisava
focar nos detalhes grotescos. Em vez disso, fui até o beiral e me apoiei no
muro, o olhar fixo na cidade iluminada abaixo.
O tempo passou com os barulhos da doutora chupando meu irmão até
que parou. O barulho dos saltos se afastando, um zíper sendo fechado, e
finalmente, Kai parou ao meu lado. Sua presença era uma constante fonte de
tensão, um lembrete de que o mundo ao nosso redor estava sempre à beira do
caos.
Kai, com seu habitual desdém, acendeu um cigarro e tragou lentamente.
Sua expressão era uma mistura de desinteresse e provocação.
— Preciso foder uma freira — disparou ele, a voz rouca, não por vício,
mas por uma necessidade mais visceral.
— Contrate uma prostituta — respondi, sem dar muita importância. O
desprezo em minha voz era evidente.
— Não seria a mesma coisa. Quero contaminar uma ovelhinha do
senhor. — Ele riu, a fumaça do cigarro se misturava com o ar frio da noite.
— Não pode ser tão difícil encontrar uma noviça.
— Freiras e noviças são diferentes — corrigi, meu tom era cortante,
como a lâmina de uma faca.
— Vou acabar com ambas. — Deu de ombros, como se estivesse
falando sobre uma trivialidade. — E quanto à minha cunhada? — perguntou
com um tom de curiosidade disfarçada de cautela.
— Ainda falta o exame de sangue — respondi. — A mãe dela a
espancou.
Kai riu, soltando a fumaça do cigarro em um movimento que parecia
mais um desprezo. Jogou o cigarro fora com um gesto desdenhoso.
— Mães são uma praga — declarou. — Mate-a, jogue para os tubarões,
e depois cuide do resto da família. Uma escória como ela não merece mais do
que isso.
— Não podemos agir por impulso, Kai. A família Dobow tem
relevância na Rússia — lembrei, tentando manter a razão em meio ao
turbilhão.
— Não, irmão, nós somos a força. Faça dela uma Exousía o mais
rápido possível e depois arruíne-os. Não podemos permitir que alguém nos
desafie. Paciência é uma dádiva, mas sejamos francos, nós não a temos. —
Apertou meu ombro com um aperto firme e me olhou com uma intensidade
fria. — Já conquistamos a coroa, agora queime aquele país gelado de merda.
Com um piscar de olhos, Kai se afastou, deixando-me sozinho para
refletir sobre suas palavras. Ele estava certo. Minha paciência estava no
limite, cansado de esperar pelo respeito ao Eros, que prezava pela ordem e
estratégia. O duelo com Ferraz era inevitável, mas meu objetivo era simples:
matá-lo.
Peguei meu celular e comecei a enviar mensagens. O juiz recebeu uma
notificação com cópias dos documentos de Sasha, e ordenei que minha
governanta trouxesse o vestido que comprei. Eu me casaria naquela noite, no
terraço do hospital.
Enviei uma mensagem a Kai para que voltasse. Eros não conseguiria
chegar a tempo, então a médica que havia servido ao Kai se tornaria a
segunda testemunha. À meia-noite, Sasha se tornaria a senhora Exousía.
Enquanto esperava, a cidade brilhava sob a luz das estrelas, uma
metáfora cruel para o caos que eu estava prestes a desencadear. O frio da
noite parecia penetrar na minha alma, mas eu estava determinado. Esta noite,
o destino da família Dobow seria selado. E Sasha, minha prinkípissa, tomaria
seu lugar ao meu lado, como minha esposa e a nova senhora da nossa casa.
Em menos de duas horas, o terraço ganhou uma pequena decoração,
sutil luzes amarelas piscavam suavemente entre as flores, criando uma
atmosfera intimista. Nada de tapete vermelho ou exageros tradicionais; eu
desprezava esses clichês. Meu pai, Hades, com seus gostos excêntricos e a
indiferença implacável pelos desejos alheios, havia me ensinado a desdenhar
do convencional.
Desde pequeno, ele me ensinou que, se desejamos algo, devemos
simplesmente tomar, sem ressentimentos ou medo. Acho que meus irmãos e
eu herdamos essa característica com orgulho. Hades tirou muitas coisas dos
outros, até mesmo dos próprios filhos, mas ele nos deu uma lição valiosa: o
poder da vontade.
Fui informado que Sasha estava prestes a acordar. Desci para seu
quarto, meus passos lentos e deliberados. Não havia pressa e, menos ainda,
disposição para lidar com seu drama previsível sobre não querer se casar. A
ilusão de ela de estar apaixonada por Ferraz era um espinho em minha carne,
atiçando meu desejo sombrio de possuí-la completamente.
Às vezes, eu queria vê-la sangrar, lamber suas feridas e adorar cada
centímetro de seu corpo. Outras vezes, a necessidade de trancá-la em uma
jaula e admirar seu corpo nu me consumia. Queria explorar cada sarda,
descobrir se havia alguma escondida em sua intimidade. Morder sua pele
cremosa, deixá-la marcada por mim, era um desejo contínuo e feroz.
Ela era tão essencial para mim quanto o ar que eu respirava. Uma
obsessão, para outros talvez loucura, mas, para mim, era uma lógica
indiscutível. Sasha fazia meu coração bater de um jeito diferente. Sua
presença despertava minha curiosidade e um prazer perverso em vê-la corar
sempre que me via.
A luxúria em seus olhos me excitava. Sua resistência só aumentava
meu desejo, e a ideia de quebrar suas defesas me estimulava ainda mais. Ela
precisava de mim para viver, e eu dela para experimentar as cores da vida.
Ao entrar no quarto, vi seus olhos se abrindo lentamente. A luz suave
das máquinas piscava, refletindo nas paredes brancas do hospital. Ela tentou
se levantar, mas a fraqueza a impediu. Aproximei-me, sentindo a tensão no
ar.
— Está na hora, prinkípissa — minha voz era baixa, mas firme —,
vamos nos casar esta noite.
Seus olhos se arregalaram, e ela balbuciou algo inaudível. Aproximei-
me mais, sentindo a energia entre nós se intensificar.
— Não há escolha, Sasha. Você é minha, e esta noite, todos saberão
disso.
Ela tentou resistir, mas segurei seu braço, não com força, mas com a
firmeza de alguém que não aceitava um não como resposta. Sua pele estava
fria, pude sentir seu pulso acelerado sob meus dedos.
— Não quero me casar com você — sussurrou ela, a voz fraca, mas
determinada.
— Não importa o que você quer, prinkípissa. — Minhas palavras eram
como aço, cortantes e definitivas. — A partir de hoje, você é minha esposa. E
ninguém me ousará desafiar.
Ela me olhou com uma mistura de medo e raiva. Seus olhos brilhavam
com lágrimas não derramadas, mas não havia mais espaço para fraqueza. Não
naquela noite.
— Levante-se, Sasha — ordenei, ajudando-a a se levantar da cama. —
A cerimônia está pronta.
— Otto, não, por favor — implorou com os olhos marejados. — Eu
amo o Antônio — mentiu.
Passei o polegar por seus lábios, pressionando com força, como se
pudesse arrancar as mentiras de sua boca.
— Não minta para mim — rosnei, minha irritação crescente. Toda vez
que ela falava o nome dele, dizia essas asneiras, uma fúria crescia em meu
peito. — Vou pedir para uma enfermeira te ajudar a se arrumar, não passe
maquiagem — ordenei.
— Por favor — suplicou em soluços.
— Uma prinkípissa não implora — falei, acariciando sua bochecha
marcada. — Ao menos não a minha.
A enfermeira entrou e eu saí. Fui me trocar, entrei no quarto em frente
ao dela, vesti um terno preto sem gravata, ajeitei meu cabelo. Olhei o relógio
e fui buscar Sasha.
Ao entrar no quarto e vê-la, soltei um suspiro. Estava linda com um
vestido branco de renda sem mangas, um decote quadrado. Colocou o colar
de dragão que comprei para ela. Calçava uma sandália baixa, pois percebi que
não se sentia confortável usando saltos. Me aproximei dela lentamente.
Ela tentou se afastar, mas seu corpo frágil não tinha força para resistir.
Segurei sua cintura, sentindo a fragilidade e a resistência em um único toque.
Caminhamos juntos pelo corredor, a cada passo, a tensão aumentava. O
destino estava selado, e não haveria volta.
As flores exalavam um perfume suave, e as luzes amarelas davam um
toque de calor à noite fria. Sasha estava ao meu lado, relutante, mas presente.
A cerimônia seria breve, porém, definitiva.
Kai estava ao lado do juiz, sua expressão séria. A médica ao seu lado,
como a segunda testemunha. Tudo estava pronto. Sasha, ainda trêmula,
tentou uma última vez resistir, mas minha mão firme na dela a impediu.
— Você é minha, prinkípissa — sussurrei em seu ouvido, sentindo sua
pele arrepiar. — E esta noite, isso será oficial.
O juiz começou a falar, suas palavras eram meras formalidades. Tudo
que importava era o momento em que Sasha se tornaria minha esposa. Seu
olhar encontrou o meu, por um breve instante, vi uma mistura de desespero e
aceitação.
Quando o juiz perguntou se ela aceitava, seu silêncio foi quebrado
apenas pelo meu comando firme.
— Diga sim, Sasha — rosnei baixo, me aproximei do seu ouvido
ouvindo sua respiração ofegante e sussurrei: — Aceite ou matarei toda sua
família, inclusive seu sobrinho e amiga. Ainda a foderei na frente de Antônio
e depois o matarei por vê-la nua.
Ela hesitou, mas sob meu olhar intenso, por fim murmurou a palavra
que selaria nosso destino.
— Sim — ela falou me olhando diretamente nos olhos, sua voz
carregada por uma mistura quase palpável de raiva e dor, mas o que mais me
prendeu foi o desafio. Aquele olhar... profundo, feroz, como se estivesse me
testando, provocando-me a ceder ou a lutar. Havia algo de selvagem ali, algo
que vibrava entre nós, um fio invisível esticado até o limite, pronto para se
romper a qualquer instante.
Satisfeito, observei o resultado da cerimônia com um orgulho
silencioso, um prazer sombrio corria por minhas veias. Tudo estava sob
controle, exatamente como eu havia planejado. Ela, vulnerável, submissa,
mas com a chama da resistência ainda queimando por trás de seus olhos. Era
esse contraste que me fascinava, o equilíbrio delicado entre sua força e sua
fragilidade, entre o desejo de lutar e a necessidade de ceder.
Eu me inclinei sobre ela, meus movimentos deliberadamente lentos,
como um predador que saboreava o momento antes do ataque. O cheiro suave
de sua pele atingiu minhas narinas, um misto de medo e desejo, quase podia
sentir sua respiração vacilante, enquanto meu rosto se aproximava do dela.
Nossos corpos estavam tão próximos, quase se tocando, mas eu mantinha a
distância exata, controlando cada centímetro, cada suspiro.
Com um gesto firme, mas não violento, segurei seu rosto entre minhas
mãos, meus polegares traçando uma linha suave ao longo de suas têmporas.
Seus olhos se fecharam por um breve momento, como se estivesse tentando
se preparar para o que sabia que viria, mas, ao mesmo tempo, resistindo ao
impulso de se entregar completamente. O que ela ainda não entendia era que
eu ditava as regras. Era sempre eu quem decidia quando e como.
Não tomaria seus lábios, não ainda. Eu sentia o calor que emanava dela,
o pulsar silencioso do seu desejo e da sua humilhação misturados numa
confusão de emoções que ela tentava esconder. Mas eu podia ver, sempre via.
E era esse controle, essa espera, que me dava o maior prazer. Ela achava que
ainda podia manter algum vestígio de controle, de orgulho. Mas, no fundo,
ambos sabíamos... isso não duraria muito.
O vento frio do terraço parecia nos aquecer por um instante, e o mundo
ao nosso redor desapareceu. Esta noite, Sasha se tornava a senhora Exousía, e
ninguém, absolutamente ninguém, ousaria questionar isso.
Olhei em seus olhos e vi o brilho de lágrimas não derramadas, um
reflexo de sua alma atormentada. Eu sabia que ela estava aterrorizada, mas
também sabia que não tinha escolha.
Conduzi-a pelo terraço, sentindo seu corpo tremer levemente ao meu
lado. Kai observava tudo com um sorriso calculista nos lábios, e a médica
testemunha estava pálida, claramente desconfortável com a situação. Eu não
me importava. Essa noite era sobre Sasha e eu, e o mundo poderia queimar.
Após a cerimônia, levei Sasha de volta ao quarto. Ela estava em
silêncio, seus olhos perdidos, como se ainda tentasse processar tudo o que
havia acontecido. Sentia-me triunfante, mas também sabia que essa era
apenas a primeira batalha de muitas.
— Você é minha agora, Sasha — disse, minha voz um sussurro de
promessa e ameaça. — E eu cuidarei de você, de uma forma ou de outra.
Ela não respondeu, apenas se deitou na cama, exausta. Observei-a por
um momento antes de sair do quarto. Havia muito a ser feito, e eu não podia
perder tempo.
Kai me encontrou no corredor, sua expressão satisfeita.
— Finalmente a tomou, irmão — falou ele, acendendo um cigarro. —
O que vem agora?
— Agora, arruinamos os Dobow — respondi, minha voz gelada. —
Cada um deles pagará pelo que fizeram.
Kai assentiu, um brilho perigoso em seus olhos. Estávamos apenas
começando, e a vingança seria doce.
À medida que a noite avançava, o hospital estava silencioso, minha
mente fervilhava com planos e estratégias. Sasha era minha esposa agora, e
nada mais importava. O mundo veria o poder dos Exousía, e ninguém ousaria
desafiar nossa vontade.
CAPÍTULO 12
Deitei-me na cama branca, as lágrimas rolando silenciosamente pelo
meu rosto. A aliança em meu dedo queimava como fogo, a dor intensa
parecia querer derreter a minha pele e corroer o meu dedo. Ainda não
conseguia acreditar que aquelas palavras haviam saído da minha boca. Eu
estava casada com meu captor, meu pokhititel. Era a desgraça da minha
família, a primeira em décadas a manchar o nome Dobow dessa forma. Uma
guerra entre a Itália e a Rússia era iminente, muito sangue seria derramado
por minha causa.
O vestido de noiva que Otto escolhera pesava sobre mim como uma
âncora, sufocando-me. Levantei-me da cama com uma raiva crescente,
arrancando os sapatos com fúria. O tecido delicado do vestido parecia
zombar de mim, e eu o rasguei com toda a força, transformando a beleza
frágil em trapos jogados ao chão. O ar parecia escapar dos meus pulmões, e
a respiração tornou-se impossível. Minha cabeça latejava, meu estômago se
revolvia, e antes que pudesse correr para o banheiro, caí de joelhos no chão
frio, vomitando violentamente.
Tentei me levantar, mas escorreguei nos meus próprios fluidos, caindo
de cara no chão. O impacto foi brutal, um grito de dor e frustração escapou
dos meus lábios ao sentir meu rosto se chocar contra o meu próprio vômito.
A humilhação e o desespero me envolviam, e eu me perguntava como tinha
chegado a esse ponto, como tinha permitido que minha vida se
transformasse nesse pesadelo.
No fundo do meu ser, uma chama de resistência começava a arder.
Não podia permitir que Otto ou qualquer outra pessoa controlasse meu
destino. Levantei-me lentamente, ignorando a dor e a sujeira. A guerra
estava prestes a começar, e eu teria que encontrar uma maneira de lutar,
mesmo que isso significasse desafiar todos os que me rodeavam.
Caminhei até o banheiro, tirei o resto do vestido, entrei no boxe, girei
o registro do chuveiro e para tomar uma ducha. Me lavei com calma como
se estivesse anestesiada. Ao terminar minutos depois, me enrolei em uma
toalha e escovei os dentes. O quarto do hospital parecia a suíte de um hotel.
Me olhei no espelho e vi as marcas que Polina havia me deixado pela
manhã. Era estranho como a sua rejeição doía em mim depois de anos, a dor
dos seus tapas e socos não era nada comparado ao que suas palavras me
traziam.
Enrolei meu cabelo em uma toalha, vesti o roupão e saí. Apertei a
campainha do quarto chamando uma enfermeira, precisava que alguém
limpasse a bagunça e trouxesse algo que eu pudesse vestir. Não sabia se
passaria a noite ali ou se voltaria para a casa do Otto.
Meu marido.
Casei-me e nem sequer fui beijada pelo noivo, seus olhos não
brilharam, suas palavras frias eram puras ameaças de destruição como se
fosse sair por aí destruindo todos que me importavam. Estava
definitivamente presa em sua jaula dourada.
Aquele título ainda soava estranho em minha mente. Eu me casei e
nem sequer fui beijada pelo noivo. Seus olhos, frios como gelo, não
demonstraram nenhuma emoção, nenhuma fagulha de afeto. Suas palavras
eram ameaças veladas, promessas de destruição para todos que eu amava.
Estava definitivamente presa em sua jaula dourada, uma prisão de luxo da
qual não conseguia escapar.
Uma batida suave à porta interrompeu meus pensamentos. A
enfermeira entrou, com um olhar compassivo, pronta para limpar a bagunça
e trazer um conjunto de roupas limpas. Enquanto ela trabalhava, sentei-me
na beira da cama, a mente vagava. A guerra entre Itália e Rússia parecia um
eco distante comparado ao conflito interno que eu enfrentava.
— Precisa de mais alguma coisa, senhora Exousía? — perguntou a
enfermeira, seus olhos atentos examinavam meu rosto. — Já aplicaremos
seus medicamentos para a dor. Os resultados dos seus exames ainda não
saíram, então permanecerá internada e em repouso.
Era estranho ser chamada de senhora. Parecia errado, como se fosse
um título roubado.
— Apenas traga algo para beber, estou com sede — respondi, minha
voz quase um sussurro.
— Trarei água e algo para comer, também vou conferir o acesso
venoso — disse a enfermeira, oferecendo um sorriso gentil.
— Quero um calmante para poder dormir. — Minha voz saiu dura,
mais uma exigência do que um pedido.
— Não posso, senhora — ela respondeu com uma calma que apenas
aumentou minha frustração.
Arqueei a sobrancelha, tentando controlar a agitação crescente dentro
de mim.
— Por quê? — perguntei, minha respiração acelerada. Precisava de
algo para dormir, qualquer droga que me desse um alívio momentâneo dessa
realidade sufocante.
— Ordem do senhor Exousía, seu marido — disse a enfermeira, antes
de se retirar. — Já volto.
Assim que ela saiu, soltei um grito primal, uma expressão da raiva e
do desespero que me consumiam. Atirei os travesseiros no chão com força,
minha frustração explodia em cada movimento. Precisava de um
comprimido, qualquer coisa que me fizesse descansar por algumas horas.
Sentia-me presa em um avião em turbulência, sem nenhuma esperança de
pouso seguro.
A porta do quarto se abriu lentamente, e Otto entrou. O aroma da sua
colônia encheu o ambiente, trazendo uma sensação paradoxal de calma e
nervosismo que se instalou no meu estômago. Seus olhos claros pairaram
sobre mim, analisando-me com uma intensidade que fez minha pele
formigar.
— Por que quer tranquilizantes? — inquiriu, à medida que encostava
as costas na porta e colocava as mãos nos bolsos da calça, em uma pose que
parecia relaxada, mas sua coluna permanecia ereta, demonstrando o controle
que sempre exercia sobre si mesmo.
— Estou com dor e preciso dormir — falei, tentando manter a voz
firme. — Agora me deixe sozinha.
— Estamos casados, chamós mou. — Sua voz soou mais baixa e rouca
do que o normal, cada palavra carregada com uma promessa velada.
Levantei-me de um salto e caminhei em sua direção, minha mão
levantada para acertar seu rosto. Ele, porém, foi mais rápido. Segurou meu
braço e, com uma agilidade surpreendente, girou meu corpo como se eu
fosse uma boneca de porcelana, colando minhas costas ao seu peito. Suas
mãos fortes seguraram minha cintura, enquanto uma delas repousava
provocativamente um pouco abaixo do meu ventre. Prendi o ar, sentindo a
proximidade perigosa entre nós.
— Eu não quero ser nada sua — rosnei, tentando reunir força para me
libertar do seu aperto, mas mal consegui me mover. — Me solta! — exigi,
minha voz soando fraca e trêmula.
— Quer que eu te solte, fávlos? — sussurrou em meu ouvido, sua
respiração quente enviando um arrepio pela minha espinha, incendiando
cada nervo do meu corpo.
Estar tão perto dele era perigoso. Sua presença me envolvia, uma
mistura intoxicante de desejo e medo. Meu coração batia descompassado, a
boca seca enquanto lutava contra a atração irresistível que ele exercia sobre
mim. Otto não era apenas um homem; ele era uma tempestade prestes a
consumir tudo em seu caminho.
— Quero que me deixe em paz! — gemi, tentando acertá-lo com uma
cotovelada.
Ele riu, um som baixo e carregado de diversão maliciosa, como se
meu sofrimento fosse um entretenimento para ele.
— Quando realmente quiser isso, eu a deixarei — declarou, em
seguida mordeu minha orelha e circulou a língua lentamente ao redor dela,
enviando ondas de calor pelo meu corpo.
— Me solte, quero ir dormir! — consegui dizer, minha voz tremendo.
Ele riu novamente, desta vez sem qualquer traço de humor.
— Dormir? — indagou, devagar, como se a palavra fosse um pequeno
incômodo em sua língua. — Você acabou de pedir drogas para poder
adormecer.
Engoli em seco, sentindo a pressão aumentar.
— Eu pedi calmantes, estamos em um hospital — me defendi, nervosa
diante de suas acusações. — Estou com dor, minha mão dói, minha cabeça
também, assim como meu corpo inteiro.
Ele estreitou os olhos, seus lábios se curvando em um sorriso
perigoso.
— Ah, dor — ele murmurou, sua voz um sussurro sedutor. — E eu
aqui, pensando que talvez a dor fosse a única coisa que ainda a mantivesse
conectada à realidade.
Seus dedos se moveram levemente abaixo do meu ventre, enviando
uma onda de sensações conflitantes pelo meu corpo. Estar tão perto dele era
perigoso, um risco que não sabia se estava disposta a correr. Mas havia algo
em Otto, algo inegavelmente magnético, que tornava impossível resistir à
sua presença.
— Você não entende nada — sussurrei, minha voz quebrando.
— Eu entendo mais do que imagina, chamós mou — ele rosnou suave,
aproximando seus lábios do meu pescoço, sua respiração quente provocando
arrepios em minha pele. — E é por isso que não vou deixá-la ir tão fácil.
— Me solta — exigi novamente, minha voz tremia de nervosismo. —
Estou ficando enjoada.
Não estava mentindo. Toda essa conversa e a proximidade de Otto
estavam me deixando tão nervosa que meu estômago vazio se contorcia em
protesto. Fui salva por batidas à porta. Otto me soltou com facilidade, mas,
surpreendente, me ergueu no ar como se eu fosse uma noiva e me levou até
a cama, onde me depositou com uma delicadeza que eu não esperava dele.
— Entre — disse ele, acomodando-se na poltrona de frente para a
cama.
A enfermeira entrou junto a um carrinho, trazendo água e um prato de
sopa. Ela sorriu ao se aproximar, e eu estendi a mão para tomar alguns goles
de água. Minha garganta estava seca e senti dor quando a água bateu em
meu estômago vazio, fazendo-me enrugar a testa em uma careta.
— Senhora Exousía, coma primeiro e beba depois — instruiu a
enfermeira.
— Sasha, me chame de Sasha — falei, nervosa.
A mulher de meia-idade olhou para mim e depois para Otto.
Acompanhei seu olhar e vi que ele estava apenas nos observando, parecendo
uma estátua polida e cheia de beleza. Ele mal piscava e sua respiração era
tão suave que, por um segundo, pensei que não respirava.
— Irei fazer o intravenoso com os seus medicamentos para dor —
continuou a enfermeira. — Senhora Exousía, trarei um chá para a senhora
conseguir dormir.
— Pode ir e não traga o chá — falei rápido quando ela terminou.
Com um aceno, a mulher saiu pela porta como um foguete. Olhei para
as coisas que ela trouxe, buscando algo afiado que eu pudesse usar contra
Otto.
— Se busca uma faca, basta me pedir, fávlos — ressoou Otto, a voz
carregada de uma calma perigosa. — Já disse, se quiser me fazer sangrar,
basta pedir. Porém, terá que lamber toda a ferida até não restar uma única
gota de sangue.
Pisquei, atordoada. Novamente, ele vinha com esse convite
perturbador. Meu ventre se contraiu, e uma parte de mim queria dizer sim,
mas outra se recusava a ceder. A tensão entre nós era quase palpável, cada
palavra dele infligia uma mistura de medo e desejo em mim.
Mas o quão ruim seria arrancar sangue desse bastardo?
A ideia de fazê-lo sofrer, de vê-lo vulnerável, era tentadora. Contudo,
ceder a essa tentação significava entrar em um jogo que eu não sabia se
poderia vencer. Otto era uma tempestade de emoções conflitantes, e eu
estava presa em seu olho, incapaz de escapar.
— Por que está fazendo isso? — perguntei, minha voz quase um
sussurro.
Ele inclinou a cabeça, um sorriso demoníaco.
— Porque, chamós mou, você é minha. E eu não permito que aquilo
que é meu sofra sozinha. Vou mantê-la segura, mesmo que tenha que
quebrar você para isso.
Seu olhar era intenso e hipnótico. Meu coração batia descompassado,
e a incerteza do que viria a seguir pairava no ar, como uma ameaça velada.
Eu sabia que estava prestes a cruzar uma linha da qual não haveria retorno,
mas a excitação e o desejo eram incontroláveis.
— Eu aceito, mas só eu te tocarei! — rosnei para ele, minha voz
carregada de determinação.
Ele deu um passo à frente, seus olhos brilhavam com pura luxúria, um
sorriso predador se formando em seus lábios.
— Vamos começar o jogo então — disse ele, a promessa de prazer e
tormento em suas palavras.
O quarto ao nosso redor pareceu desaparecer, deixando apenas nós
dois, envolvidos em uma tensão elétrica. Cada movimento, cada toque, era
carregado de uma intensidade quase palpável.
Ele se aproximou ainda mais, seus dedos roçando de leve pelo meu
braço, enviando ondas de arrepio pelo meu corpo, mas mantendo uma
distância deliberada, apenas o suficiente para que o desejo crescesse, para
que o desejo se tornasse uma dor doce.
— Vou te fazer sentir coisas que você nunca imaginou — sussurrou,
sua voz um convite e uma ameaça ao mesmo tempo.
Eu estava pronta para o desafio, para mergulhar nesse jogo de poder e
desejo. O mundo lá fora não importava mais; havia nós e o fogo que ardia
ao redor.
Com um gesto suave, mas firme, ele me puxou para mais perto, sem
nos tocar completamente, criando uma tensão quase insuportável.
— Não vou te beijar — avisou, o olhar fixo no meu. — Não agora.
Primeiro, você vai implorar por isso.
A provocação em suas palavras fez meu corpo tremer, uma mistura de
frustração e excitação. Eu sabia que ele estava no controle, mas isso apenas
aumentava meu desejo de desafiá-lo, de provar que eu também tinha o poder
de inflamar essa paixão.
Estava perdida nele e, ao mesmo tempo, mais viva do que nunca. O
jogo havia começado, e eu estava determinada a jogar até o fim,
independentemente das consequências.
CAPÍTULO 13
Sasha era viciada em Phenibut, uma droga russa contrabandeada, era
usada para acalmar as pessoas e controlar a ansiedade. O exame sanguíneo
revelou o uso de alguma substância, mas a confirmação veio dos itens que
retirei da casa de Ferraz. Entre suas coisas, encontrei frascos disfarçados
como embalagens de balas, cheios de medicamentos. Tinha certeza de que
seus pais não sabiam disso, e ninguém de sua família a teria fornecido,
exceto pela sua amiga.
Minha fávlos sequer percebia que estava viciada e que o que tomava
era uma droga perigosa. Segundo os meus químicos, o Phenibut que ela
ingeria estava adulterado, tornando-o ainda mais agressivo do que a versão
vendida em farmácias.
Respirei fundo, sabendo que precisava ir para Salonica e que Sasha
tinha que me acompanhar. A vassílissa deveria vê-la, se eu estivesse
seguindo as tradições. Mas, como mandei todas as regras para o inferno ao
torná-la minha esposa, o que restava era adiantar o maldito duelo. Mesmo
casados, ainda havia a tradição a ser cumprida. Não poderia adiar por meses,
não quando Sasha sofria de dependência química.
Peguei meu celular e disquei o número de Eros.
— Você se casou sem a minha presença — disse ele preguiçosamente
ao atender no segundo toque.
— Quero adiantar o duelo para amanhã e a prova da Sasha para o mais
breve possível. — Já que não podia adiá-lo, o adiantaria.
— Quer quebrar mais regras? — indagou meu irmão, sem qualquer
resquício de humor.
— Foda-se elas. Amanhã o duelo, em seguida a prova dela e depois
me afastarei — declarei com firmeza.
— Está esquecendo o seu lugar, Otto? — inquiriu ele, desafiador.
— Eros, sabemos que estou onde quero estar — falei, devagar, minha
voz carregada de determinação.
Ele riu, um som seco e desprovido de alegria.
— Você terá que lidar com as consequências de sua impulsividade,
irmão.
— Eu sei — pontuei, pronto para desligar.
— Foda-se tudo isso. Mate o bastardo amanhã e depois traga sua
garota ruiva para conhecer Zeus. O empata-foda está me tirando do sério
perguntando pelo tio. — Gargalhou. — E depois lide com as questões
políticas, odeio essas merdas.
O bastardo desligou na minha cara. Levantei-me da cadeira de couro e
saí do escritório médico que havia requisitado para mim. Caminhei até o
quarto de Sasha. Ao entrar, me deparei com ela arrumada e pronta para ir
para casa. Seu rosto ainda estava marcado pelos hematomas que me
irritavam profundamente. A mãe dela pagaria por isso, mas de forma lenta e
dolorosa.
Seus olhos encontraram os meus, e vi ali o desejo e o medo. Ela havia
concordado com o meu jogo, mas eu ainda não lhe dissera quando
começaríamos. Não falei mais nada. Sua excitação diante de mim, por
querer me ferir, despertava o meu téras[18], a ponto de querer tirar dela tanto
quanto ela tirara de mim.
— Estamos indo para Salonica — anunciei, minha voz firme,
quebrando o silêncio tenso. — O duelo será amanhã, e sua prova logo
depois.
Ela respirou fundo, absorvendo minhas palavras. A determinação em
seus olhos era inconfundível, mesmo com o medo que ainda pairava ali.
— Por que tão cedo? Achei que teríamos mais alguns dias — falou,
receosa.
— Já nos casamos. Amanhã apenas atestarei a morte de Ferraz —
disse com calma, vendo seus olhos se arregalarem e seu corpo estremecer.
Vê-la triste por causa dele me irritava profundamente. Sasha não tinha
o direito de sofrer por nenhum outro homem além de mim. Tudo dela me
pertencia, até o mero sofrimento.
— Não deveria haver necessidade disso, já que estamos casados —
comentou. — Vou afirmar que quero ficar com você. Apenas não o fira,
nem a minha família.
Algo dentro de mim ferveu. Avancei contra ela, envolvendo uma das
minhas mãos em sua cintura, puxando-a para mim, enquanto a outra
envolvia seu pescoço.
— Não defenda esse bastardo! — grunhi. Seus olhos brilhavam, mas
não de medo. Suas unhas cravaram na minha mão que envolvia sua
garganta, perfurando a pele. Expirei e ela inspirou, lambendo os lábios.
Foda. — Você está molhada por mim, não é, esposa? — provoquei,
aumentando o aperto ao redor do seu pescoço. — Se eu enfiar minha mão
por baixo do seu vestido e tocar sua calcinha, verei que está encharcada,
necessitada por mim, seja meu dedo, boca ou pau.
— Você é um depravado — murmurou entre longos suspiros.
— Você que quer lamber meu sangue, sua boceta que está encharcada
com um simples aperto, prinkípissa — proferi. — Você que está
choramingando.
Seu corpo tremia de excitação, e eu podia sentir a tensão elétrica entre
nós. A batalha interna dela, o desejo que lutava contra a razão, era um
espetáculo que me enfeitiçava.
— Ferraz não importa mais — continuei, minha voz um sussurro
áspero. — Amanhã ele será apenas uma lembrança, e você será minha por
completo
Ela ofegou, suas unhas cravando-se mais profundo na minha pele, a
mistura de dor e prazer incendiava cada nervo do meu corpo.
— Aceite isso, Sasha — murmurei, minha boca a milímetros da dela.
— Aceite que você é minha, e que nada mudará isso.
Seus olhos brilharam com uma mistura de desafio e rendição, e, por
um momento, tudo ao nosso redor desapareceu. Nada mais importava além
de nós dois, presos nesse jogo perigoso de poder e desejo.
— Eu não sou sua, Otto — desafiou-me, a voz carregada de dor, sua
respiração quente tocando a minha pele. — Nem ao menos sou minha. Sou
apenas um peão nesse jogo de vocês, uma peça substituível.
— Se é assim que pensa — falei devagar, tentando esconder a fúria
que fervilhava dentro de mim.
Ela riu, mas logo fez uma careta de dor por conta de suas feridas.
Aquele som, aquele vislumbre de vulnerabilidade, despertava algo primal
em mim, um desejo de protegê-la e possuí-la ao mesmo tempo.
— É o que vejo, nós, mulheres, somos meros peões em seus jogos de
poder.
Aquelas palavras me irritaram, mas também despertaram uma tristeza
profunda. Ela não entendia, não enxergava a realidade como eu via.
Aproximando-me novamente, segurei seu rosto com delicadeza, forçando-a
a olhar nos meus olhos.
— Eu sou a sua família agora — declarei, minha voz firme, mas com
um toque de suavidade. — E isso significa que você não é mais um peão.
Você é minha rainha. E eu protegerei você, mesmo que tenha que quebrar
todas as regras para isso.
Ela piscou, surpresa, e por um momento, vi um brilho de algo que
poderia ser esperança em seus olhos. Mas logo ela recuou, erguendo sua
barreira novamente.
— Vamos, o helicóptero já vai pousar para nos levar — falei,
afastando-me e estendendo a mão para ela.
Ela passou por mim marchando, o vestido azul se arrastando pelo chão
com elegância. As mangas compridas escondiam os hematomas, mas não
podiam esconder a força que ela emanava. Seu cabelo estava solto e úmido
de um banho recente, exalando um perfume que me deixava hipnotizado.
Ela parou na porta e me olhou com desdém.
Eu queria a possuir ali mesmo, contra a porta, sentir seu corpo
reagindo ao meu toque, mas ainda não era a hora. Sasha imploraria por
mim, e eu queria que fosse por escolha dela, não por imposição.
Os olhos de Sasha se arregalaram quando pousamos no local de
batalha em Salonica. Sua expressão ao ver o grande museu, que, na verdade,
era um antigo templo desativado e usado por nossa organização há décadas,
era de pura surpresa. O contraste entre o passado de glória e o presente
misterioso parecia amplificar a importância do que estávamos prestes a
enfrentar. Aqui, neste campo sagrado, o confronto não era apenas um
combate, mas um eco das batalhas de antigamente, reverberando com a
força e a honra.
Havia soldados espalhados por todo o lugar. Sabia que Kai já estava
aqui e que Eros chegaria em algumas horas. Olhei para o jatinho mais ao sul
da pista de pouso. Hades e Hera haviam chegado. Pela tradição e por ser
minha mãe, ela deveria estar aqui, assim como Helena, a atual vassílissa.
Repousei minha mão na coluna de Sasha, enquanto caminhávamos
para dentro. Era cerca de um quilômetro andando até a entrada. Árvores e
arcos de pedras nos cercavam, e as estátuas de Zeus, Athena e Poseidon, os
três maiores deuses, nos recepcionavam. A de Hades havia sido quebrada
por Eros quando ele completou vinte anos, um dos seus maiores atos de
rebeldia contra nosso pai, que ao tentar bater nele, levou dois murros na
cara. Uma lembrança um tanto quanto prazerosa.
Aquele dia estava quente, mas ventava com força, balançando o
vestido de Sasha. Seus cabelos rebeldes voavam, e, mesmo com o rosto
marcado por hematomas, sua beleza cintilava ao brilho do sol. Sua pele
pálida e fria absorvia o calor, mesmo que isso parecesse incomodá-la.
Me perguntava por que ela nunca dormia na cama e por que preferia
usar roupas de mangas compridas. Sempre se escondendo, tentando ser
invisível, querendo não chamar atenção para si. Acreditava que era por
conta da sua família, em particular sua mãe, a forma como a temia e recuava
diante de sua presença. Era um assunto que ainda conversaríamos.
Entramos no primeiro salão e avistei Kai mexendo em seu celular.
Seus olhos encontraram os meus, e o bastardo sorriu, caminhando até nós.
— Cunhada — brincou. — Logo seu rosto estará mais perfeito, sem
esses hematomas.
Kai não estava verdadeiramente se importando com Sasha. Ele odiava
pais oportunistas, especialmente mães. Não tinha um fraco por mulheres
feridas como Eros. O certo seria dizer que ele era o mais caótico de nós,
porém, o que mais atraía as pessoas.
— Estou bem — rebateu minha mulher. — Quero descansar.
— Impossível, o duelo será à meia-noite — proferiu Kai. — Temos
muitas coisas para fazer, inclusive você. Seu pai te aguarda no pátio ao sul,
irei levá-la.
— Meu pai? Mas por quê? — indagou Sasha, aflita.
— Ele pediu para poder conversar e concedi — falei, tirando a mão de
suas costas. — Pode levá-la.
Kai estendeu a mão, mostrando o caminho que iam seguir. Observei
enquanto ela se distanciava. Não importava o que conversasse com o seu
pai, nada mudaria o fato de que ela era minha.

Meu pai estava sentado em um banco de concreto diante de um jardim


belíssimo, vestindo um terno azul riscado e parecendo relaxado. Kai parou e
me olhou sorrindo como sempre.
— Irei ficar aqui, qualquer coisa grite — disse Kai.
— Meu pai não irá me ferir — menti, tentando me convencer.
— Minta para si mesma, cunhada. — Ele gargalhou. — Vá falar com
o homem.
Pisquei atordoada. Não havia comido nada pela manhã e me sentia
irritada, às vezes tonta. Suava frio. Olhei para meu pai novamente e engoli
em seco. Poucas vezes nos falamos. Oleg raramente dirigia palavras a mim.
Respirei fundo e caminhei até onde ele estava, sentindo como se
estivesse andando em cordas bambas. Um movimento em falso e eu cairia
no abismo. Parei ao seu lado e me sentei no espaço disponível.
— Minha casa nunca foi tão envergonhada quanto agora — falou Oleg
sem se virar para mim, a voz fria e cortante.
— Peço desculpas — murmurei, a voz baixa e trêmula.
— Você podia ter o seduzido antes de pisar na Itália — sibilou baixo.
— Fugir no seu noivado foi uma imprudência.
— Papochka, eu não tenho culpa de nada — tentei me defender,
desesperada.
— Você ousou seduzir o sýmvoulos — rosnou, entre dentes. — Se
tivesse feito isso em nosso território, eu teria uma aliança maior com os
Exousías. Mas esperou eu armar todo o circo com o Ferraz.
Sacudi a cabeça, sentindo-me tonta.
— Não foi assim, papochka. Eu não seduzi ninguém...
— Basta! Irei aceitar esse casamento porque os Exousías são melhores
que o Ferraz. Fale bem de nossa família para o sýmvoulos — ordenou, a voz
firme.
— Mas eu não...
— Volte a honrar nossa casa e pare de agir como uma vadia. — Sua
voz severa me fez estremecer.
Ele se levantou, acariciou meu cabelo fingindo afeto. Fechei os olhos
quando ele se afastou, engolindo o choro. Esperei um pouco antes de me
levantar.
Enquanto caminhava de volta para Kai, meu corpo tremia. A cada
passo, a raiva e a tristeza se misturavam, formando um nó apertado no meu
peito. Não importava o que meu pai dissesse, eu não podia mudar o passado.
E agora, presa entre os jogos de poder e minha própria luta interna, tinha
que encontrar uma maneira de sobreviver.
Kai me observava como um falcão, a expressão dele ainda
descontraída, mas os olhos mostrando um lampejo de preocupação.
— Tudo bem, Sasha? — perguntou, a voz mais suave do que antes.
— Sim — respondi, tentando soar convincente. — Vamos voltar.
Kai assentiu e, sem dizer mais nada, começou a caminhar ao meu
lado. Enquanto nos afastávamos do jardim e do banco onde meu pai estava,
senti o peso das expectativas e das demandas familiares me pressionarem,
mas sabia que tinha que continuar. A noite ainda prometia muitos desafios,
e eu precisava estar pronta para enfrentá-los.
CAPÍTULO 14
Entrei no grande salão, vendo os homens posicionando as katanas na
ordem correta. Nossos duelos eram em estilo medieval, sem armas de fogo.
Uma espada, honra e determinação. Por Ferraz ser um capo, ele poderia
pedir clemência ou desistir do embate; no entanto, sua honra ficaria ainda
mais manchada. Seu trabalho como chefe da Camorra tinha sido uma merda,
infringindo leis, transando com as filhas dos soldados e as descartando,
esquecendo-se de suas próprias tradições.
Hades, meu pai, estava parado no final do salão, perto de um pequeno
altar, onde o vencedor subia e recebia sua recompensa. Seus olhos, idênticos
aos meus, me encontraram, e ele sorriu. Caminhei em sua direção sem
pressa, sentindo a sua expectativa e ansiedade. Nos analisamos, e eu sabia
que meu pai sempre achou que eu seria o seu triunfo, que me usaria contra
Eros ou Kai, mas o filho da puta se esqueceu de que meus irmãos eram uma
parte de mim.
— Pai — saudei em um tom neutro.
— Filho! — falou, animado, vindo me abraçar. Ao ver minha
antipatia, apenas me deu dois tapas nas costas e apertou meu ombro,
sorrindo. — Sabia que, dos seus irmãos, o meu primogênito seria o mais
idêntico a mim.
Franzi os olhos. Hades roubou Hera do seu antigo marido, mas antes o
matou na frente dela. Minha mãe passou meses trancada, feita uma cativa,
até que aceitasse por livre e espontânea vontade, segundo o meu pai, ser sua
esposa. Quando aceitou, Hades matou sua primeira esposa, Leandra.
Segundo minha mãe, com o tempo, passou a amá-lo. Kai costumava
perguntar como ela podia amar quem tirou tudo dela e a feriu. Nossa mãe o
puniu tanto naquele dia que passei a noite inteira cuidando dos seus
ferimentos, enquanto Kai chorava, sem entender. Foi a primeira vez que
Hera o quebrou.
Assim como eu, Eros sempre soube ser mais traiçoeiro que nossos
pais, três passos à frente dos seus planos e cem vezes mais forte e com mais
poder. Quando se vivia no meio de escorpiões, ou você os picava antes ou
se tornava presa. Optamos pela segunda opção. Isolar nossos pais foi algo
necessário; tê-los apenas em grandes eventos da Exousía foi a forma segura
que encontramos de não causar tantos tumultos, já que Hades ainda tinha
muitos soldados leais, e matar todos seria tolice. No entanto, uma boa parte
se foi.
— Vou acabar com isso rápido — disse, frio.
— Tem que torturá-lo, Otto — retrucou Hades. — Fazê-lo sofrer por
achar que pode ter algo nosso, mas seria ainda melhor se primeiro fodesse
Sasha e depois o matasse.
Ele queria que eu fosse como ele.
— Não — pontuei, deixando claro no meu tom que não haveria
discussão.
Ele se afastou e suspirou, negando com a cabeça.
— Ele toma algo seu e você não o faz sangrar? — indagou com
desdém. — Te criei para ser mais do que um covarde.
Olhei nos seus olhos, não caí em sua provocação. Ri baixo, isso o
irritou. Hades sempre odiou o meu temperamento, o fato de que eu não me
importava com o que dizia ou fazia a mim.
— Estou tomando algo dele, pai. Estou envergonhando-o, e ele
sangrará segundo a nossa lei — lembrei-o.
— Isso é fraqueza, Otto — sibilou, passando a mão pelos cabelos
escuros.
— Não, Hades. Isso é o que eu e meus irmãos criamos: a lei absoluta
da Exousía, dando a oportunidade ao meu oponente de duelar comigo por
sua honra — declarei. — Esse é o legado que eu, Kai e Eros estamos
criando.
Ele me olhou com desprezo, mas não disse nada. Ele sabia que, por
mim, passaria por cima de todos, mas precisava ser exemplo. E Eros iria me
atormentar até o fim dos tempos se eu ao menos não duelasse com Ferraz. O
bastardo amava essa tradição.
— A lei é nossa, pai. E eu a seguirei — continuei, a voz firme —,
Ferraz terá sua chance de lutar por sua honra, e eu provarei a minha.
Hades estreitou os olhos, claramente insatisfeito, mas não pôde refutar
minha lógica. Ele sabia que eu tinha razão, mesmo que isso o irritasse.
— Veremos se sua honra será suficiente — disse ele, por fim, sua voz
carregada de desdém.
— Eu te venci ainda menino, com apenas doze anos — comentei
devagar. — Matei seus homens, quinze deles.
Seus olhos brilharam de ódio, uma lembrança do seu fracasso. Ele
abaixou a guarda demais para mim. Me achava fraco por vigiar e cuidar dos
meus irmãos, tolice dele. Foi assim que me fortaleci.
— Eu deixei que me derrubasse, filho — mentiu, passando a mão pelo
cabelo.
— Não é disso que me lembro — disse Eros, aproximando-se, a voz
fria. — Aceitar a derrota é preciso, pai.
Hades suspirou antes de encarar seu filho mais novo. Ambos pareciam
estar sempre prestes a duelar até a morte. O fato de Eros ter assumido seu
lugar na organização o incomodava profundamente.
— Você sempre foi um espinho ao meu lado, Otto — disse Hades, sua
voz carregada de desdém. — Mas um dia, você aprenderá o verdadeiro
significado de poder.
— Já aprendi — falei com falsas emoções que não sentia. —
Somos o verdadeiro poder, pai. Eros, eu e Kai. Nunca houve e jamais
haverá na nossa família uma era maior que a nossa — afirmei. — Vou
me trocar, não posso ir a um embate assim.
Sem esperar respostas, me afastei. Em breve, acabaria com
Antônio Ferraz, cortaria a mão que ousou tocar na minha mulher.
Caminhei pelo corredor, sentindo o peso das expectativas em cada
passo. O som dos meus sapatos ecoava nas paredes de pedra do antigo
templo, e cada passo parecia me levar mais perto do inevitável
confronto. Pensei em Sasha, em sua força e vulnerabilidade, e na
promessa que fiz a mim mesmo de protegê-la a qualquer custo.
Ao chegar aos meus aposentos temporários, encontrei um traje
preparado para mim: uma vestimenta tradicional de duelo, que
misturava o estilo medieval com toques modernos, refletindo a fusão de
nossas tradições com a era contemporânea. Vesti-me com cuidado,
sentindo a seda e o couro se ajustarem ao meu corpo como uma segunda
pele. Uma calça e blusa. Peguei minha katana, sentindo o peso familiar
da arma em minhas mãos, e respirei fundo.
O duelo seria mais do que uma simples batalha. Seria uma
declaração de poder, um lembrete a todos de que os Exousías eram
imbatíveis.

Ao passar pelas portas, senti todos os olhares se voltarem para mim,


mas procurei o dela. O que recebi foi um olhar invasivo, seus olhos me
perfurando por baixo dos cílios longos antes de desviar rapidamente. Eros
estava no altar, sua presença autoritária centralizando tudo ao redor, como
se o próprio espaço curvasse à sua vontade. O altar, esculpido em mármore
branco com veios dourados, lembrava os antigos templos gregos, suas
colunas dóricas erguiam-se majestosamente, projetando sombras longas e
imponentes sob a luz suave das tochas que ardiam ao redor. O chão era
pavimentado com mosaicos intrincados, formando padrões geométricos que
pareciam se estender infinitamente, como uma metáfora para o domínio
absoluto de Eros sobre todos ali.
Atrás dele, a parede do altar exibia um imenso friso em relevo,
representando batalhas antigas entre deuses e mortais, cada figura talhada
com um nível de detalhe quase sobre-humano, como se estivesse à beira de
ganhar vida. Nos cantos, estátuas de deuses vingativos, como Ares e Hades,
observavam silenciosamente, testemunhas inabaláveis da cerimônia que se
desenrolava. A atmosfera era carregada de uma solenidade brutal, como se a
própria história estivesse sendo reescrita naquele momento.
À sua direita, Helena permanecia rígida, quase como uma estátua viva,
seus traços duros e perfeitos destacando-se contra o fundo de mármore
polido. Ela vestia uma túnica drapeada que caía sobre o corpo com a
elegância clássica da Grécia Antiga, mas suas mãos estavam cerradas, traindo
o nervosismo que ela tentava esconder. Ao lado de Eros, ela parecia uma
peça menor, subordinada à sua aura dominadora, mas sua presença, ainda
assim, exalava uma força silenciosa, como um leão acorrentado à espera do
momento certo para atacar.
À esquerda, Kai aguardava, os olhos frios e calculistas, observando
cada movimento ao redor com uma precisão cirúrgica. Seu perfil parecia
esculpido diretamente do mármore do altar, uma mistura de beleza cruel e
controle absoluto. Os braços cruzados diante do peito, a túnica justa
destacando seu físico forte, ele estava tão imóvel quanto as colunas que o
cercavam, mas seu olhar, atento e penetrante, captava tudo. Cada leve
deslocamento de ar, cada respiração nervosa, nada escapava de sua análise
meticulosa.
Ao fundo, elevado em uma plataforma semicircular de degraus largos
que lembravam os anfiteatros da Grécia Antiga, Sasha estava sentada em uma
cadeira banhada a ouro branco. No entanto, aquilo não era um trono de
conforto, mas de tortura emocional. Suas pernas estavam tensas, e os dedos
agarravam os braços do assento com força, como se o brilho do ouro fosse
insuficiente para ocultar o desconforto que aquilo lhe trazia. O trono, com
encostos trabalhados em motivos de hera e serpentes entrelaçadas,
simbolizava tanto sua posição como seu aprisionamento. Não havia luxo que
pudesse mascarar a sensação sufocante de estar presa em uma teia invisível
de poder e submissão.
O altar, com suas colunas imponentes e os ecos da grandeza dos deuses
antigos, servia como um palco perfeito para Eros. Ali, ele não era apenas um
homem; mas um deus moderno, cruel e controlador, uma personificação viva
do poder absoluto. Sua figura erguida, com os ombros quadrados e a postura
firme, irradiava autoridade. Sua voz, quando soava, reverberava pelas paredes
de mármore, preenchendo o ambiente com um comando que não poderia ser
ignorado.
Sua família estava presente, mas mantinha-se à distância, o que
aumentava ainda mais a frieza do ambiente. Desde a nossa chegada, nenhum
contato foi feito além de um breve diálogo com seu pai. Nem mesmo Helena
teve permissão para se aproximar; apenas Eros quebrara a barreira e fora ao
encontro dela. Ferraz, em sua ignorância, exigiu conversar com Sasha, sem
ter ideia de que ela já era minha esposa.
— Antônio Ferraz e Otto Exousía, peguem suas armas e venham lutar
— ordenou Eros, com sua presença dominante, deu um passo à frente como o
rei que era. Caminhamos até o centro, parando lado a lado, cada um de nós
com a katana em punho. O metal frio parecia pulsar em minhas mãos, ansioso
pelo sangue que viria a derramar. Kai desceu e se aproximou de nós, abrindo
uma caixinha que revelava um anel com o símbolo da nossa organização e
outro com o "F" de Ferraz. Um gesto simbólico, o prelúdio do caos.
— A regra é simples — disse Eros, sua voz cortante como um bisturi.
— Nada de arma de fogo. Matem-se e honrem-se. Acabem com essa porra
logo.
Kai se afastou, deixando um espaço que parecia um abismo entre nós.
A tensão no ar se transformou em eletricidade pura. Cada fibra do meu corpo
estava em alerta máximo, preparado para a violência iminente. Destruiria
Ferraz.
Ferraz foi o primeiro a agir, avançando com um golpe direto, mas eu
estava preparado. Minha katana encontrou a dele com um choque de metal,
faíscas voando enquanto nossos olhares se cruzavam, carregados de ódio e
determinação. Ele girou, tentando me desorientar com um golpe lateral, a
lâmina de sua katana cortando o ar com violência. Mas recuei com precisão,
desviando o ataque como quem brincava com a presa antes de finalizá-la.
Com um movimento fluido, avancei, minha lâmina encontrando a carne de
sua perna com precisão cirúrgica, abrindo um corte profundo. O sangue
escorreu em um fluxo quente, e o grunhido de dor que escapou dos lábios de
Ferraz soou como uma melodia macabra, o prelúdio de sua derrota iminente.
Ao nosso redor, o salão permaneceu tenso, o grito de um de seus
homens ecoando no ar enquanto as mulheres suspiravam, algumas fascinadas,
outras apavoradas, com os olhos fixos em nós. As tochas tremulavam,
lançando sombras dançantes pelas colunas de mármore, criando um cenário
de terror e violência que parecia extraído de uma tragédia antiga.
Ferraz, porém, não se deu por vencido. Voltou a atacar com fúria
renovada, desferindo uma série de golpes rápidos e ferozes. Seus olhos
queimavam de raiva e desespero, mas bloqueei cada ataque com facilidade,
meu corpo se movendo como uma extensão da lâmina em minhas mãos. O
som metálico de nossas katanas se chocando ressoava como trovões pelo
salão, o que criava uma sinfonia de morte que reverberava em cada canto.
— Isso é tudo que tem, Otto? — ele rosnou, a voz pesada de cansaço,
mas carregada de provocação. Ele tentava esconder o medo, o cansaço que já
tomava conta de seus movimentos. Sua respiração estava irregular e a katana
em suas mãos tremia.
Não respondi. Em vez disso, continuei a encará-lo com desdém,
movendo-me com uma elegância quase arrogante. Meu olhar atravessava sua
frágil resistência e aquilo o enfurecia ainda mais. Ferraz estava cada vez mais
destruído, mas seu orgulho era a única coisa que o mantinha em pé.
Ele atacou novamente, desta vez mirou meu ombro, mas eu já sabia.
Girei com precisão, desviando da sua lâmina, e num só movimento, cortei
profundamente em seu flanco. O sangue jorrou, manchando suas vestes, e ele
cambaleou, os olhos arregalados de dor. Mesmo assim, não cedeu. Era como
uma fera encurralada, disposta a lutar até o último momento. E foi isso que
ele fez, lançando-se para frente em um ataque final, desesperado.
Era exatamente o que eu esperava.
Com um movimento rápido e impiedoso, usei sua própria força contra
ele. Desviei da sua lâmina com facilidade e, num gesto brutal, cortei ambas
suas mãos. O som do aço rasgando carne e ossos foi abafado pelo grito agudo
de dor que escapou de sua garganta. Suas mãos caíram no chão com um som
surdo, e o sangue jorrou como uma cascata vermelha, manchando o mármore
ao redor. Ferraz caiu de joelhos, o rosto distorcido de agonia, seus olhos fixos
nas mãos decepadas à sua frente, como se não pudesse acreditar no que
acabara de acontecer.
— Agora você não vai mais tocar na minha mulher, Ferraz —
murmurei com desdém, minha voz fria e cortante como o aço em minhas
mãos.
Ele tentou falar, mas apenas arfou, o olhar desesperado e perdido. A
luta havia acabado, e ele sabia. Com um último movimento calculado,
empurrei minha katana diretamente em seu peito, a lâmina atravessou sua
carne e ossos com um som seco, atingindo seu coração. O corpo de Ferraz
estremeceu violentamente, os olhos se arregalaram de surpresa e dor, antes de
o último suspiro escapar de seus lábios.
Sua vida se extinguiu ali, ajoelhado e derrotado, antes mesmo de seu
corpo tocar o chão. Lentamente, puxei a katana de seu peito, o sangue
escorria pela lâmina enquanto o corpo sem vida de Ferraz tombava à minha
frente. A morte dele não trouxe mais do que um vazio momentâneo, uma
simples etapa de uma longa jornada de destruição.
Ao retirar a lâmina, me permiti um momento de silêncio, observando o
caos ao redor: o sangue espalhado, as mãos decepadas, o corpo caído. E,
então, um sorriso perverso curvou meus lábios. Era o sorriso de quem sabia
que sempre venceria, o sorriso de quem controlava o destino daqueles que
ousavam se opor. Limpei a lâmina com calma, como se estivesse realizando
um ritual sagrado, os olhos frios e vazios.
Atrás de mim, ouvi os murmúrios horrorizados das mulheres e os gritos
abafados dos homens de Ferraz, mas nenhum deles ousou se mover. Sabiam
que se desafiasse, o destino de seu líder não seria o único a ser selado.
Fiquei ereto, respirando pesadamente, enquanto o sangue de Ferraz
escorria pela lâmina da minha katana e pingava no chão. A sala estava em um
silêncio mortal, todos os olhos voltados para mim. Eros esboçou um sorriso
frio, enquanto Sasha, finalmente, desviava o olhar do teto, seus olhos
encontrando os meus com uma mistura de alívio e uma dor silenciosa.
Desviei o olhar e foquei mais uma vez no corpo de Ferraz aos meus pés.
O duelo havia terminado, mas as consequências estavam apenas
começando.
— Otto! — O grito de Sasha rasgou o silêncio. Virei-me e a vi de pé,
seus olhos fixos além de mim. Segui seu olhar e vi dois soldados italianos,
ambos com armas apontadas em minha direção.
Sorri, sentindo o peso da katana em minhas mãos. Os homens pareciam
decididos a me matar. Quando um deles destravou a pistola, agi sem hesitar.
Lançando a katana com força e precisão, vi a lâmina atravessar o olho de um
dos soldados antes que ele pudesse sequer puxar o gatilho.
Estendi a mão para o lado, e, sem que uma única palavra fosse dita, Kai
lançou a katana reserva em minha direção. Agarrei-a no ar, sem desviar o
olhar de Ferraz, meus olhos fixos nele como uma lâmina afiada pronta para o
ataque.
O segundo soldado hesitou por um momento, tempo suficiente para que
eu avançasse sobre ele. Antes que pudesse reagir, desarmei-o com um
movimento rápido. Segurei seu braço com uma força implacável, torcendo-o,
saboreando o som de seus ossos começando a ceder. O estalo seco foi
seguido por um grito alto e agonizante que ecoou pelo salão. A dor estava
estampada em seu rosto, cada fibra de seu corpo tremendo sob meu domínio,
mas não era o suficiente para mim. Eu queria mais. Sentia o poder percorrer
meus músculos, a adrenalina me consumindo enquanto o dobrava ao meu
comando.
— Grite mais — murmurei, o desdém em minha voz mal disfarçando o
prazer que sentia em esmagá-lo. A cada movimento, o braço dele se torcia em
um ângulo impossível, o som da carne e ossos se partindo reverberava como
música pelos ouvidos de quem assistia. Seus gritos se tornavam mais
desesperados, até que finalmente, com um último estalo, o osso rompeu por
completo, deixando seu braço pendendo ao lado do corpo.
Ele estava à beira do colapso, a dor tomava conta de sua mente, mas eu
não estava disposto a lhe conceder o luxo de uma morte rápida. Um golpe
final, firme e impiedoso da minha katana, atravessou sua garganta com
precisão. O sangue espirrou no chão, manchando o mármore imaculado do
altar, e a vida escapou de seus olhos num instante. Seu corpo tombou
pesadamente ao lado do companheiro caído, o olhar vidrado de morte
congelado em seus olhos, sem sequer ter tempo de registrar a proximidade do
fim.
A sala, antes preenchida pelos ecos de gritos e aço, mergulhou em um
silêncio mortal. Os corpos caídos, agora inertes, eram testemunhas
silenciosas da brutalidade do combate. Sangue escorria pelo chão, formando
poças que refletiam a luz tremeluzente das tochas, um lembrete vívido do
poder que eu acabara de reafirmar.
Observei por um momento, meus olhos percorriam as figuras abatidas à
minha frente. Havia algo profundamente satisfatório no olhar vidrado que
agora substituía a fúria e o desespero de antes. Eles eram nada mais do que
corpos vazios agora, meros obstáculos superados. Atrás de mim, ouvi o
murmúrio abafado de alguns observadores, misturado a suspiros trêmulos,
mas ninguém ousou fazer um movimento. Eles sabiam que o próximo
poderia ser qualquer um.
Dei um passo para trás, limpando o sangue da lâmina com um gesto
lento e deliberado, cada movimento cuidadosamente medido, como se
estivesse finalizando uma obra-prima. O salão inteiro parecia respirar com
dificuldade, como se a própria estrutura sentisse o peso da violência que
acabara de se desenrolar ali.
Eros, observando do seu trono, não disse uma palavra, mas o leve
sorriso de aprovação em seus lábios dizia tudo.
A adrenalina ainda corria furiosamente pelas minhas veias, enquanto eu
me erguia, o corpo vibrava com a intensidade do combate recém-concluído.
Meus olhos, ainda ferozes, subiram em direção ao altar, onde Sasha
permanecia imóvel. Ela me observava, o olhar fixo em mim, como se fosse
incapaz de desviar, capturada pela brutalidade que acabara de testemunhar.
Por um breve momento, vi emoções conflitantes passarem por seu
rosto. Era como se cada expressão surgisse e desaparecesse num piscar de
olhos, deixando suas bochechas pálidas tingidas de um rubor inesperado, o
corpo rígido, traído por suas próprias reações. Seus olhos estavam mais
dilatados, quase hipnotizados pelo espetáculo sangrento que se desenrolara à
sua frente. Havia algo nela naquele instante — uma mistura de
vulnerabilidade e força contida, algo selvagem prestes a se libertar.
Ela estava perfeita. Como uma rainha com a coroa sobre a cabeça,
imponente, mas, ao mesmo tempo, à beira de uma ruptura. Sua postura, por
mais que tentasse manter o controle, revelava uma tensão que crescia a cada
segundo. Eu conseguia sentir. E, então, de repente, ela cedeu.
Num impulso de pura rebeldia, como se estivesse sufocando sob o peso
do poder que representava, Sasha deu um passo à frente. Seus movimentos
eram abruptos, quase desesperados. Com um gesto violento, ela arrancou a
coroa da cabeça, os dedos crispados no metal como se aquilo fosse a fonte de
sua angústia. O som seco do ouro raspando seus cabelos ecoou pelo salão, o
gesto carregado de nervosismo e raiva. A tensão que ela havia mantido presa
explodiu de uma só vez.
Por um segundo, o olhar dela se encontrou com o meu novamente, mas
dessa vez havia algo diferente neles. Um lampejo de desafio, de liberdade
recém-descoberta, misturado com um medo latente. Antes que qualquer um
pudesse reagir, Sasha virou-se e saiu correndo, os passos ecoando pelo
mármore enquanto ela deixava o altar para trás, fugindo para fora como se
estivesse escapando de uma prisão invisível.
A chamós mou queria ser perseguida, então a perseguiria até o inferno,
se fosse necessário. A promessa de uma caçada que não teria fim até que eu a
tivesse em minhas mãos novamente.
CAPÍTULO 15
Minhas pernas cortavam o gramado com urgência, enquanto o vestido
se arrastava pelo chão, agarrando-se às pedras e galhos. Eu corria, guiada
pelo instinto, tentando afastar-me dele. Não era o medo do que Otto poderia
fazer que me impulsionava, mas o pavor da forma como me senti ao vê-lo
lutar por mim, ao ver Ferraz sangrar por minha causa. Deveria sentir repulsa,
mas, ao invés disso, havia algo na frieza e escuridão de Otto que me atraía de
forma irresistível. Ele fazia meu coração bater descontrolado, além de trazer
caos à minha vida e destruir tudo o que pensei que desejava.
Tropecei em uma pedra, soltando um grunhido de dor. Precisava fugir,
não apenas do Ferraz ferido no chão, mas de tudo que Otto e sua família
representavam. O Afentikó, Eros, havia me visitado naquela tarde. Seu olhar
me perscrutava, silencioso, antes de ele partir sem uma palavra. Diferente de
Kai, Eros não sorria, nem fazia piadas. Ele agia como um rei, de fato, era um.
Por um momento, temi que ele pudesse me matar ali mesmo, mas, em vez
disso, ele se retirou, deixando-me em um estado de tensão crescente. Passei o
restante da tarde isolada, até que me ordenaram que me arrumasse para o
duelo.
O céu limpo, repleto de estrelas, com a lua brilhando no alto, parecia
indiferente à minha angústia. Continuei subindo a colina até parar diante de
um desfiladeiro, onde um antigo templo de oferendas aos deuses se erguia,
imponente e misterioso. Caminhei até o lugar sagrado, onde pilastras
destruídas testemunhavam a passagem do tempo, mas a beleza do local ainda
me arrancava arrepios. O chão liso e frio sob meus pés cortados pela corrida
refletia a gelidez que se apossava de mim.
Precisava de um momento para respirar longe do meu pokhititel; seu
perfume parecia impregnar o ar ao meu redor, sufocando-me, prendendo-me
em sua teia. Nunca fui de orações, mas ali, diante daquele altar, caí de
joelhos, fechando os olhos com força. Lutei contra a maré de pensamentos
que me assolava. Queria implorar por paz, pela segurança da minha família,
mas sabia que tais preces seriam inúteis. Dentro de mim, a razão e a emoção
travavam uma batalha feroz. Parte de mim ainda ansiava pela vida que havia
sido planejada com Antônio, enquanto a outra clamava por Otto, por feri-lo,
por lamber seu sangue, por fazê-lo sentir as mesmas dores que eu sentia.
Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto, queimando-me por dentro
como a lava de um vulcão prestes a explodir. Arranhei meus pulsos em uma
tentativa desesperada de conter a dor interna, enquanto meu corpo tremia
violentamente. O vento frio batia contra meus cabelos, fazendo-os dançar
uma valsa perigosa e enlouquecedora.
Então, ouvi passos se aproximando. O perfume familiar — aquele que
me confortava e, ao mesmo tempo, aterrorizava —, me envolveu. Inspirei
fundo, e, por um instante, pareceu que eu podia respirar. Não deveria me
sentir assim diante do meu inimigo, mas Otto não era apenas isso, ele era
meu marido, a quem agora eu pertencia.
— Você o matou? — perguntei, sem abrir os olhos, tentando manter o
controle sobre minhas emoções.
— Veio ao templo para pedir pela vida dele, prinkípissá mou? — ele
devolveu a pergunta com uma calma perturbadora.
Abri os olhos e virei a cabeça, encarando-o. Ele estava ali, vestido com
suas roupas de couro medieval, os músculos expostos, as tatuagens negras
cobrindo a pele bronzeada. O símbolo da Exousía estava gravado em suas
costas, estendendo-se até seu braço esquerdo.
— Não, vim pedir forças para te matar! — rosnei, levantando-me com
dificuldade. — Mas é o que farei, Otto.
— Então me mate, chamós mou, me destrua. — Ele se aproximou
lentamente, cada passo seu reverberando dentro de mim. — Mas não ouse
implorar pela vida de outro homem.
Ergui o queixo, desafiadora.
— Você não pode controlar meus pensamentos ou desejos, Otto —
sussurrei, tentando manter a firmeza na voz.
Ele riu baixo, aproximando-se ainda mais, a mão forte envolveu minha
cintura e me puxou para junto de si. Sua outra mão, envolveu minha nuca.
— Está enganada — murmurou, inclinando-se em minha direção, sua
voz carregada de uma promessa sombria. — Eu sou o seu desejo mais insano,
estou em suas entranhas, dominando seus pensamentos, arrastando sua alma
para o inferno, se assim eu quiser.
Meu corpo estremeceu com suas palavras, o coração martelava contra
as costelas. Apoiei a mão em seu peito, tentando afastá-lo, mas não consegui.
— Me solta! — exigi, mas minha voz saiu como um sussurro fraco.
— Não, esposa — ele assobiou, sua voz lenta e perigosa, fazendo cada
célula do meu corpo vibrar. — Está na hora de tomar o que é meu. Pensei em
levá-la para uma ilha, mas mudei de ideia. Vamos para nossa casa.
— Nossa casa? Ou minha prisão? — indaguei, a respiração
entrecortada. — E você só conseguirá me tomar se me obrigar.
Os olhos dele brilharam com uma intensidade predatória.
— Sua excitação é palpável, chamós mou — sussurrou ele, a voz rouca
e grave, arrepiando minha pele. — Posso sentir o cheiro do seu desejo.
— Otto... — Suspirei, perdida em um turbilhão de sensações.
— Vamos descer — ele disse, à medida que me erguia e me jogava
sobre seus ombros como se eu fosse um simples saco de batatas. — Sua
família quer falar com você.
— Me solta! — gritei, batendo em suas costas, mas ele ignorou meus
protestos, carregando-me em direção ao destino que ele havia escolhido para
mim.
O som do tapa estalado na minha bunda ecoou pelo ambiente, seguido
de uma onda de calor que queimou minha pele como o próprio inferno. O
toque da mão dele, firme e possessivo, despertou algo profundo e
incontrolável dentro de mim, deixando meu núcleo molhado e pulsante. Para
a minha surpresa, eu ansiava por outro tapa. Era diferente, queimava de um
modo que nunca havia sentido antes, como se sua força fosse capaz de
incinerar a última gota de resistência que eu tinha.
Arfei, meu corpo se movendo por puro instinto. Comecei a socar suas
costas largas e nuas, tentando liberar a energia selvagem que se acumulava
em mim. Olhei para as tatuagens que adornavam sua pele, o símbolo da
Exousía destacando-se como uma marca de poder indelével. Desesperada e
excitada, mordi sua pele, arrancando dele um gemido gutural que reverberou
por todo o meu ser. Esperei pela próxima palmada, ansiando pelo impacto,
mas ela não veio. A frustração se misturou com o desejo, então minhas unhas
curtas se cravaram em sua pele dourada, arranhando-o até que fios de sangue
surgissem, incendiando-me ainda mais.
Gritei, perdida em uma tempestade de emoções conflitantes, sem me
reconhecer. Ele riu, a satisfação transbordando em seu tom, como se minha
frustração fosse uma fonte de prazer para ele.
— Qual o problema, chamós mou? — indagou com um tom de
provocação, sua mão grande massageando minha panturrilha de forma
possessiva.
— Eu te odeio! — rosnei, arrancando ainda mais sangue dele. Minha
boca estava cheia de saliva, como se eu fosse uma criatura faminta, uma
vampira em busca de algo além da carne.
A reação dele foi apenas uma gargalhada sombria, como se estivesse
completamente no controle da situação, enquanto eu lutava contra a
intensidade do que estava sentindo.
— Me odiando ou me amando, você é minha — sibilou ele, cada
palavra carregada de uma possessividade que fez meu coração disparar. A
voz dele era um aviso e, ao mesmo tempo, uma promessa, por isso algo
perigoso se agitou dentro de mim, uma emoção que eu não conseguia
decifrar, mas que me apavorava e me atraía na mesma medida.
Meu corpo sacudiu violentamente quando ele pulou de uma pequena
ribeira, a queda abrupta arrancando um grito agudo dos meus lábios. Mas
Otto pousou com a mesma elegância implacável que parecia definir cada um
de seus movimentos, como se a gravidade se curvasse à sua vontade.
— Você vai me derrubar — protestei, minha voz entrecortada pelo
medo e pela adrenalina.
— Não deixarei minha mulher cair — respondeu, a certeza em seu tom
mais forte do que qualquer corrente que pudesse me prender.
As luzes das tochas aqueceram minha pele fria, e senti a aproximação
do grande salão como uma sombra que se arrastava, cheia de promessas
sombrias. Os sussurros chegaram até mim, como pequenos punhais cortando
o silêncio, e engoli em seco ao perceber o que estava por vir. Encarar
Antônio, minha família, e todos os que aguardavam para testemunhar o que
restava de mim. Otto não me soltou nem por um instante.
Quando, enfim, entramos no local do duelo, o cheiro de sangue tomou
conta do ar, ácido e nauseante. Meu estômago revirou, e o zumbido em meus
ouvidos se intensificou, tornando o ambiente ainda mais sufocante. Todo o
calor que o toque de Otto havia despertado em mim desapareceu no instante
em que ele me colocou de pé no chão, como se a realidade tivesse finalmente
me alcançado.
Meus olhos fixaram-se no peito dele, nas escamas flamejantes do
dragão tatuado que parecia pulsar com vida própria, seduzindo-me por um
breve momento antes de ser bruscamente virada para encarar as pessoas à
minha frente.
Yuri, meu irmão, estava de pé ao lado do nosso pai, que mantinha o
olhar fixo no chão, o peso de sua decepção claro em sua postura. O Pakhan
me encarava com uma ira contida, a mesma que parecia consumir todos os
outros ao redor. Eu havia arruinado seus negócios, sua sobrinha depravada.
Sabia que era assim que me chamavam, ouvi sussurros mais cedo nos
corredores. Polina estava mais afastada, perto de Natalia, que me olhava com
uma pena que fazia minha pele arrepiar. O consigliere de Antônio Ferraz,
meu agora ex-noivo, parecia querer arrancar minha cabeça ali mesmo.
Mas foi Nika, ao lado de Carlota, a amante de Antônio, que realmente
me pegou de surpresa. O que elas faziam ali juntas? A pergunta rodava em
minha mente, sem encontrar resposta, enquanto a tensão no ar se tornava
quase palpável, prestes a explodir a qualquer momento.
Encarei minha melhor amiga, Nika, que, a meu pedido, foi permitida
pelo meu pai que ela fosse próxima a mim, apesar de ser apenas a filha de um
soldado sem importância. Quando seus olhos encontraram os meus, ela me
lançou um pequeno sorriso, um gesto discreto que não consegui decifrar.
Meu olhar varreu o grande salão cercado de soldados, então vi o pai de
Antônio conversando com um médico, que estava ao lado do corpo do seu
filho, não sabia dizer se estava morto ou não. O pobre homem não teve
qualquer chance de se defender dos golpes de Otto, suas habilidades eram
insignificantes comparadas às do meu pokhititel.
Dei um passo hesitante em sua direção, sentindo um impulso
inexplicável de dizer algo, qualquer coisa. Talvez um sinto muito por vê-lo
naquele estado, mesmo depois de tudo. Apesar do tapa que ele me deu no
nosso noivado, havia uma parte de mim que ainda se compadecia ao vê-lo tão
derrotado.
Contudo, antes que pudesse chegar perto, braços fortes e implacáveis
me prenderam no lugar. Otto me envolveu pela cintura, seus músculos rígidos
como aço, mantendo-me cativa contra seu corpo. O calor dele, tão familiar e
avassalador, me cercou, mas foi a ameaça sussurrada em meu ouvido que
congelou meu sangue:
— Se se aproximar dele, foderei você na frente do Ferraz — sua voz
era baixa, perigosa, cada palavra impregnada de uma possessividade sombria
—, e depois, nos lençóis onde seu sangue virgem foi derramado, o matarei.
O peso de sua promessa me atingiu com força, cada palavra afiada
como uma lâmina. Fiquei imóvel, o coração batia descompassado enquanto
minha mente lutava para processar o terror e a excitação que suas palavras
despertaram em mim. Eu deveria me sentir horrorizada, mas a proximidade
de Otto, sua voz e sua presença, me deixavam atordoada, presa em um
turbilhão de emoções conflitantes.
Respirei fundo, recusando-me a ceder à ameaça.
— Eu quero me despedir...
Minhas palavras foram cortadas de maneira abrupta quando ele me
virou com força, seus dedos longos me seguraram firme. Seu rosto se curvou
em direção ao meu, por um breve momento, pensei que me beijaria. Mas, ao
invés disso, seus lábios apenas roçaram minha pele antes de ele murmurar, a
voz baixa e carregada de uma ferocidade primitiva.
— Fique caladinha, chamós mou — grunhiu como um animal
selvagem. — Vamos até a sua família, e você se despedirá, ou eu os
destruirei um por um.
Apoiei a mão em seu ombro, fechando os olhos enquanto o calor de seu
hálito acariciava minha pele, quase me fazendo perder a noção do que era
real. Sentia-me completamente fora de mim, como se estivesse à beira de um
precipício.
— Tudo bem — concordei, a voz saiu baixa, quase um sussurro.
Virei-me e marchei até meu pai, sentindo o peso de cada passo como se
estivesse atravessando um campo minado. Quando finalmente parei a poucos
metros do papochka, ergui o olhar para encará-lo. Porém, desviei
rapidamente quando meu tio pigarreou, quebrando o silêncio tenso que
pairava no ar.
— Sasha, a partir de agora você pertence ao Sýmvoulos, Otto Exousía
— declarou o Pakhan Vladimir, meu tio, com a voz carregada de
formalidade. — Mesmo diante desta situação desastrosa, desejo-lhe todas as
felicidades e que o seu dono e nossa família possam manter boas relações.
Meu dono? A raiva subiu pela minha garganta, quase explodindo em
palavras que eu sabia que trariam consequências. Queria gritar que Otto não
passava de um sequestrador, mas conhecia o medo do Pakhan de instigar uma
guerra direta com seus superiores. Em vez disso, forcei um sorriso em
concordância, tentando com desespero aliviar a tensão arranhando meu pulso.
Mas nem isso consegui, pois Otto segurava minhas mãos firmes atrás do meu
corpo, seu toque implacável.
Meu olhar se voltou para Polina, e os olhos de minha mãe, cheios de
ira, encontraram os meus. Uma pressão crescente subiu pela minha nuca,
deixando-me tonta. Queria desaparecer, fugir daquele olhar que me
condenava. Minha respiração acelerou, a falta dos meus comprimidos atingiu
minha mente como uma faca afiada, cortando qualquer fio de estabilidade
que eu ainda tentava segurar. A ausência daquelas pequenas pílulas que, de
alguma forma, mantinham a minha sanidade em equilíbrio, agora era um
buraco negro dentro de mim, sugando tudo para um vórtice de pensamentos
confusos e alarmantes. Sentia minha cabeça girar, a mente se fragmentar em
pedaços cada vez menores, incapaz de encontrar um ponto de apoio. Queria
correr até Nika, implorar por ajuda, perguntar se tinha algum remédio para
me acalmar. Mas meu corpo estava preso, incapaz de se mover.
Inspirei profundamente, inalando o perfume de Otto que, de uma forma
perturbadora, trouxe uma mínima sensação de segurança. Por impulso, colei
minhas costas em seu peito, buscando algum tipo de conforto naquele homem
que tanto me aterrorizava quanto me atraía.
— Obrigado, tio — gaguejei, minha voz fraca e trêmula.
— Minha filha, dou-te a minha bênção —papochka falou, mas não se
aproximou.
— Adeus — disse Otto, puxando-me para longe deles, como se eu
fosse apenas uma marionete em suas mãos.
CAPÍTULO 16
Segurei firme a mão de Sasha, guiando-a em silêncio pela entrada
imponente da minha casa principal em Esparta. A mansão de dois andares se
erguia como um monumento de poder, com paredes brancas impecáveis e
detalhes em madeira vermelha que irradiavam uma aura de força e tradição.
Colunas imponentes guardavam a entrada, dando à fachada uma majestade
quase intocável, enquanto as grandes janelas permitiam que a luz natural
revelasse cada ângulo da beleza austera do lugar, ecoando a grandiosidade de
uma casa grega.
Láthos mou permanecia em um silêncio opressivo desde que saímos do
helicóptero. A despedida gélida de seu pai a havia silenciado, ou talvez
fossem as minhas ameaças que a reduziram ao mutismo. Não me
incomodava. O silêncio dela era apenas mais uma forma de controle que eu
exercia, uma prova da minha autoridade. Ainda assim, podia sentir a tensão
que vibrava em cada fibra de seu corpo, uma inquietação que falava mais alto
que qualquer palavra. O desejo reprimido, a confusão, e aquele anseio quase
palpável de se entregar a mim, mesmo enquanto lutava para manter qualquer
distância segura.
Dentro de mim, o desejo crescia com uma força que beirava o
insuportável me levavam ao limite da sanidade. Meu téras interior, a besta
que eu controlava a duras penas, rugia em meu subconsciente, clamando para
ser libertada, para reivindicar o que já era seu por direito, no entanto, ainda
não era o momento.
Ela estava assustada e vulnerável. E isso a tornava ainda mais atraente.
Eu a deixaria acreditar que tinha algum controle, que poderia resistir. Mas, no
fundo, ambos sabíamos a verdade. Ela era minha. Cada parte de seu ser
clamava por isso, mesmo que não quisesse admitir. E eu, paciente, lhe daria a
ilusão de segurança apenas para, no instante seguinte, tomar de volta o que
sempre fora meu.
Não lhe dei tempo para admirar a casa. Assim que cruzamos a entrada,
conduzi Sasha pelo corredor à esquerda, sem uma palavra. Ao chegarmos ao
final, destranquei uma porta com a chave mestra e a puxei escada abaixo em
um silêncio sepulcral. As luzes amarelas mal iluminavam o caminho, criando
sombras inquietantes nas paredes. Senti sua respiração se acelerar, um som
que me trouxe um prazer sombrio. Estava levando-a a uma parte do meu
mundo que poucas tiveram o azar de conhecer. Três mulheres já haviam
cruzado aquele limiar antes dela; todas encontraram a morte pelas minhas
mãos, tornando-se obsoletas assim que descobriram demais. Deixar qualquer
uma viva, sabendo dos meus segredos, seria um risco que nunca correria.
As escadas pareciam infinitas, descendo em espiral até os recantos mais
sombrios da minha alma. No último degrau, acendi as luzes, e o grito de
Sasha ecoou pelas paredes como uma música dissonante.
— O que é isso? — Sua voz estava carregada de espanto e medo.
Soltei sua mão, avançando alguns passos, deixando que absorvesse a
visão que estava diante dela. Minha masmorra do prazer se revelava como
um santuário de luxúria perversa. No centro, uma cama king-size, com
colunas de aço que se erguiam como sentinelas sombrias, ocupava boa parte
do espaço. Lençóis vermelhos de seda cobriam o colchão, contrastando com
o aço frio. Nas paredes, uma exibição de chicotes, facas e brinquedos sexuais
que eu mesmo criei, não para um simples prazer, mas para infligir dor.
Um vibrador áspero estava entre eles, com uma ponta áspera que
poderia arrancar sangue quando pressionado contra os lábios de uma mulher.
Não o concebi para machucar suas bocetas, mas para torturar suas mamas,
deixar a pele pálida e macia dos seios em carne viva, quase gotejando sangue,
antes de, enfim, saciar minha sede, sugando cada gota. Os chicotes com
pontas de aço eram especialmente para mim, instrumentos de autossatisfação.
Havia também as algemas, aquelas clássicas, mas com toques que as
tornavam perfeitas para o propósito ao qual serviam. Este lugar não era
apenas uma câmara de prazer; era um altar onde eu era o deus e o demônio.
— Prinkípissa — sussurrei, virando-me para ela com um sorriso
predatório. — Aqui começa o nosso jogo. Eu saciarei seus desejos... e você
os meus. — Aproximei-me dela, segurando seu rosto com uma firmeza que
beirava à brutalidade. — Desfrutará de mim até não aguentar mais, então, eu
vou devorá-la.
Seus olhos piscaram, o brilho da luxúria tornando o verde-azulado de
suas íris mais intenso. A pupila se contraiu como a de um gato, refletindo a
mistura de medo e excitação que fervilhava dentro dela. Sasha engoliu em
seco, seus olhos percorriam o ambiente com uma hesitação visível.
— Eu... não quero que seja aqui a minha primeira vez — sussurrou,
quase suplicante, enquanto suas mãos tremiam levemente. Sua pele clara
brilhava com o suor do nervosismo.
Soltei um suspiro, carregado de uma paciência forçada.
— Quem disse que tomarei sua doce boceta aqui, esposa? — perguntei,
minha voz impregnada de ironia.
— Não vai? — A surpresa tingiu sua voz, misturada com uma ponta de
alívio, talvez.
Aproximei meus lábios de seu ouvido, rugi, fazendo-a estremecer:
— Não, hoje vou realizar outro dos seus desejos. Você vai beber do
meu sangue... e depois vai engolir cada gota da minha porra.
A promessa crua era inegociável em minhas palavras a fez ofegar, seu
corpo reagiu ao que sua mente ainda lutava para aceitar. Eu podia sentir sua
resistência se esvaindo, como areia entre os dedos, enquanto o terror e a
atração se mesclavam em uma dança perigosa dentro dela.
— Otto — murmurou, sua voz perdida no meio de um turbilhão de
emoções. — Isso é... perigoso. Essas coisas não são certas, isso entre nós é
tão errado.
Inclinei a cabeça, observando-a com olhos afiados como lâminas.
— Você é casada comigo, Sasha Exousía — lembrei-a, minha voz
carregada com a gravidade da situação. — Vamos começar, láthos mou. Não
temos o dia todo.
Afastei-me dela, sem pressa, desnudando-me das roupas marcadas pelo
duelo. Meu tronco já estava exposto, cada músculo delineado pela tensão e
desejo insuportável. Quando fiquei e nu, meu membro duro, rígido e
imponente, uma manifestação física do poder que ela exercia sobre mim,
mesmo sem perceber. Deliberadamente, passei a mão pelo comprimento,
sentindo o olhar dela fixo em cada movimento. Vi quando engoliu em seco,
lutando para manter o controle diante da intensidade do momento.
— Tudo nesta sala pode ferir — falei com uma lentidão calculada,
deixando que cada palavra se impregnasse em sua mente. — As facas são
finas, projetadas para cortar sem deixar cicatrizes... a menos que você as
enterre fundo. Se quiser usar os chicotes, use-os. Estou aqui, completamente
seu, chamós mou... me destrua.
O convite não era apenas para o prazer, mas para algo mais sombrio,
um jogo de poder e submissão onde ambos testaríamos nossos limites. Meu
olhar não vacilou, enquanto aguardava a decisão dela, o calor da expectativa
misturava-se à frieza da minha voz. Estava oferecendo a ela uma escolha,
mas o controle ainda estava em minhas mãos.
Ela ergueu o olhar, determinada, e passou por mim sem dizer uma
palavra. Ouvi o som distinto de algo sendo retirado da parede, por um
instante, meu coração bateu mais forte, uma lembrança tangível de que, por
baixo de todo o controle, eu ainda era vulnerável.
— Se ajoelhe naquele tapete, Otto — ordenou, sua voz carregada de
dúvidas, mas também de uma resolução inesperada.
Um sorriso sombrio curvou meus lábios enquanto obedecia, meu corpo
consumido por um desejo fervente que fazia cada músculo latejar de
antecipação. Meu membro estava tão duro que doía, o pré-sêmen pingava no
chão, um testemunho do efeito que ela tinha sobre mim. Caminhei até o
tapete branco ao lado direito, redondo e felpudo, com pouco mais de um
metro de diâmetro. Ajoelhei-me de costas para ela, sentindo a tensão no ar,
como se cada segundo fosse esticado até o limite.
Ouvi seus passos hesitantes e irregulares, enquanto se aproximava. A
expectativa queimava em minha pele, cada nervo em meu corpo alerta,
esperando o toque dela. Então, enfim, senti a lâmina fina contra a minha pele,
começando perto do cóccix e subindo lento. A dor aguda era uma bênção, um
contraste com o prazer ardente que corria em minhas veias. Seus dedos
pequenos e trêmulos tocaram a ferida que havia aberto, sua atitude me fez
fechar os olhos, saboreando o pequeno prazer que me concedia. Ela apertou a
ferida, e um suspiro baixo escapou dos meus lábios, um som de pura
gratidão.
Sua respiração quente roçava a minha nuca, enquanto sua mão subia e
descia pelas minhas costas, espalhando o sangue que escorria lentamente.
Cada movimento dela era uma combinação perfeita de delicadeza e
crueldade, como se descobrisse pela primeira vez o poder que possuía sobre
mim.
— Lamba meu sangue e se deleite — sibilei entre dentes, o comando
carregado de uma fome insaciável. — Porra! — rugi, o som escapando de
meus lábios como um trovão, quando senti sua língua quente tocar uma das
feridas.
O calor da sua língua contra minha pele sensível me fez estremecer.
Sasha arrastou os dentes lentamente, provocando cada centímetro da minha
carne, arrancando de mim um gemido rouco e baixo. Quando começou a
lamber e, em seguida, sugou a ferida aberta, uma onda avassaladora de prazer
me dominou. O mundo ao meu redor desapareceu, deixando apenas um
vermelho intenso em minha visão. Meu pau pulsava de maneira violenta,
como se estivesse prestes a explodir de tanto desejo contido. Incapaz de
resistir, me curvei para frente, oferecendo-lhe um acesso ainda melhor às
minhas feridas, como uma oferenda à sua recém-descoberta fome.
Minhas mãos tocaram o chão, buscando apoio enquanto o prazer se
espalhava pelo meu corpo como fogo. Cada lambida, cada movimento de sua
boca sobre minha pele, intensificava a sensação, me levando a um estado de
êxtase primitivo. Estava completamente à mercê de Sasha, consumido por um
desejo tão profundo que se misturava à dor, criando um círculo vicioso de
prazer e tormento que parecia não ter fim.
Quando ela se afastou, senti a falta de seu toque como uma perda
profunda, mas suspirei com força, tentando recobrar o controle. Levantei-me
e me virei para encará-la, seus olhos, de um azul-esverdeado profundo,
estavam dilatados, as pupilas tão escuras que quase engoliam a cor vibrante
ao redor. Era como se aquele azul-esverdeado tivesse se tornado mais
intenso, mais hipnótico, refletindo o desejo que queimava dentro dela. Eles
brilhavam, fixos em mim, cheios de uma fome que não podia mais ser
disfarçada. O mundo parecia sumir à nossa volta, restando apenas o espaço
entre nós, carregado de uma tensão tão densa que quase podia ser tocada.
Ela umedeceu os lábios com um movimento lento e provocante, a
língua passava suavemente sobre a boca, deixando um brilho tentador. O
gesto, aparentemente simples, pulsava com um convite silencioso, e o calor
que irradiava dela era palpável. Seus lábios ficaram úmidos, meus olhos
foram atraídos para eles, como se cada detalhe seu exigisse atenção.
Seu rosto estava completamente tomado pelo tesão. As bochechas
levemente coradas, os olhos fixos nos meus, como se cada batida do coração
dela estivesse sincronizada com o meu. O desejo parecia moldar suas feições,
os lábios entreabertos e a respiração acelerada revelava a batalha interna que
travava para conter aquilo que já não podia ser contido.
Minha mão deslizou pelo meu comprimento, longo e grosso, que
latejava com a iminência de explodir.
Observei o rosto da minha rosída prinkípissa, seus lábios manchados
com meu sangue, a expressão de excitação e prazer que dançava em seus
olhos. Estendi a mão, acariciando suas bochechas manchadas, à medida que
sentia a suavidade de sua pele. Seus olhos, repletos de pura luxúria, e seus
lábios entreabertos a tornavam ainda mais irresistível. Estava ajoelhada,
cabelos desgrenhados.
— O que você fez comigo? — inquiriu, desnorteada, como se tentasse
entender o que estava acontecendo dentro dela.
— Eu ainda não fiz nada — sussurrei, minha voz rouca e carregada de
desejo.
— Eu não sou assim — mentiu, tentando negar o que era evidente.
— Não minta para mim, rosída prinkípissa — divergi grosseiramente,
minha voz se tornando uma lâmina afiada.
Seu rosto corou, quase do mesmo tom que seus cabelos. O rubor se
espalhou como um fogo, tornando-a ainda mais fascinante.
— Você não me conhece — rebateu com fervor, como se ainda tivesse
algo a provar.
— Conheço o suficiente para entender seus desejos mais profundos.
Agora, chupe o meu pau — ordenei, dando um passo à frente. Pincelei meu
membro pingando sêmen em sua boca, molhando seus lábios com minha
semente. — Engula tudo, esposa.
Seus lábios se abriram lentamente, tomando meu pênis, duro como
concreto, com uma mistura de hesitação e curiosidade. Seus olhos não
desviaram dos meus, nem por um segundo, enquanto ela lambia a fenda
devagar e circulava a língua ao redor, degustando meu sêmen antes de tomar
mais do meu comprimento, sem pressa, torturando-me enquanto se deleitava.
Sasha podia não ter experiência, mas compensava com uma curiosidade
ardente e uma timidez delirante. Ela me chupava com uma fervorosa
inocência que beirava o desespero. Eu a puxei pelo cabelo, seus fios
escorriam por entre meus dedos como seda, forçando-a a olhar para mim
antes de empurrar meu pau contra seus lábios entreabertos. Sua respiração
acelerada era música para meus ouvidos, um prelúdio para o que estava por
vir. Não havia espaço para gentileza, não naquele momento.
Forcei minha entrada, cada centímetro desaparecendo em sua boca,
enquanto seus olhos se arregalavam, o brilho do medo e do desafio
estampado neles. Continuei, implacável, até sentir sua garganta contrair, o
reflexo involuntário de quem se afoga. E eu queria mais. Queria ver até onde
ela aguentaria, até onde sua força e resistência a levariam.
Ela tentou se afastar, mas minhas mãos firmes mantinham o controle,
segurando-a no lugar, sem chance de fuga. A humilhação dela só fazia o
desejo ferver dentro de mim. Seu corpo lutava, mas havia um vislumbre de
entrega nos seus olhos — uma chama que eu estava disposto a atiçar.
Cada gemido sufocado, cada lágrima que escorria silenciosa por seu
rosto, só me fazia avançar mais fundo, desafiando seus limites. Eu queria
quebrá-la, mas também moldá-la, fazê-la entender que, naquele instante, eu
era o único que controlava o jogo.
Caralho. Minha consciência estava sendo obscurecida por nuvens
vermelhas, uma neblina de puro desejo e dominação.
Esporrei em sua boca, ela engoliu tudo, se engasgou um pouco, sêmen
escorria pelo seu queixo, deixando-a ainda mais sexy, suas unhas estavam
fincadas em minhas coxas. Quando terminei acariciei seu rosto, minha
respiração estava agitada, ver seu rosto manchado por meu sangue e porra
agraciou a fera em mim.
Ela apertava as coxas uma contra a outra, o corpo tremia de excitação,
seus olhos suplicantes enquanto eu a observava com um olhar predatório.
Sem hesitar, me abaixei, abrindo seus joelhos com uma firmeza implacável.
Minhas mãos deslizaram por baixo de seu vestido longo, sentindo a
suavidade de sua pele antes de alcançar o tecido fino de sua calcinha.
Empurrei o tecido para o lado e, como imaginei, estava encharcada, gozando
em antecipação por mim.
Sasha gemeu ao meu toque, um som que reverberou pelo meu corpo,
despertando uma fome primitiva. Apertei seu clitóris inchado, ouvindo suas
lamúrias inquietantes, o prazer evidente em cada respiração ofegante. Mas,
em vez de continuar, parei abrupto, retirando minha mão de sua boceta
necessitada, deixando-a à beira da loucura.
— Otto — protestou baixo, o desespero evidente em sua voz, quase
uma súplica.
Segurei seu queixo com firmeza, forçando-a a me olhar nos olhos.
— Você defendeu o Ferraz, disse que o queria, mentiu para mim e
tentou fugir — listei seus delitos com uma frieza cortante. — Seu castigo,
esposa, será não gozar. E não ouse se tocar até que eu decida tomar essa
boceta como minha.
Antes que pudesse reagir, sua mão voou em direção ao meu rosto, o
estalo do tapa ecoou pelo quarto. O ardor em minha pele não fez nada além
de me excitar ainda mais. Inferno, só ela conseguia me deixar assim, em um
estado de descontrole tão absoluto.
— Eu te odeio, Otto Exousía — rosnou, a voz carregada de fúria.
Um sorriso lento e perigoso se formou em meus lábios, sem mostrar os
dentes.
— Você odeia me desejar, Sasha Exousía. Essa é a verdade que você
não pode negar.
CAPÍTULO 17
Eu queria matar Otto Exousía. Se pudesse, o torturaria por horas por
me deixar daquele jeito, à beira da loucura, necessitada do seu toque. Meu
corpo queimava como brasa viva, meus ombros estavam tensos e minha
vagina gotejava, um lembrete constante do desejo intenso que ele plantara em
mim. Nem mesmo o banho frio aliviou a tensão que me consumia. Horas
depois de ter chegado à minha mais nova prisão, ainda me sentia agitada. A
vontade de me tocar, de aliviar a pressão avassaladora entre minhas pernas,
era esmagadora. Mas o medo de ser castigada por Otto era maior. Eu não
sabia do que ele seria capaz, não conseguia decifrar seus sinais. Seus olhos
gaélicos raramente demonstravam algo. Tudo nele era calculado, sempre no
controle, até mesmo quando o cortei.
Passei as mãos pelo meu cabelo solto, ainda úmido por conta da
madrugada fria. Cada vez que tentava dormir, a memória do que tinha feito
algumas horas atrás me invadia, enchendo-me de vergonha e, ao mesmo
tempo, de desejo por mais. Cortar sua pele, lamber seu sangue, foi como
despertar um demônio dentro de mim. Sentia-me uma libertina, a maior de
todas as pecadoras, mas não me arrependia. Ao contrário, necessitava de
mais.
Desconhecia o que estava me tornando. Esse homem, agora meu
marido, ativara algo brutal e carnal dentro de mim, algo tão selvagem quanto
ele.
Rolei pelo tapete ao pé da grande cama king size de tons claros,
puxando apenas alguns lençóis para me cobrir. Não conseguia dormir na
cama, o luxo dela me parecia estranho, frio e sem vida. Estava alheia se Otto
voltaria para dormir comigo. Desde que me deixou no quarto, ele se retirou
sem dizer uma única palavra. Não ousei explorar a mansão, mesmo com a
porta destrancada.
Suspirei frustrada. O sono não vinha, e a adrenalina ainda corria por
minhas veias, pulsando diretamente no meu núcleo molhado e pegajoso.
Senti a calcinha nova ficar cada vez mais úmida. Frustrada, me levantei.
Precisava resolver essa situação. Se não podia me tocar, que Otto aliviasse
essa necessidade...
Saí do quarto e adentrei o vasto corredor claro e bem-iluminado.
Quadros de paisagens perfeitas adornavam as paredes, bem posicionados
entre vasos e janelas que iam do chão ao teto, permitindo a entrada de uma
suave luz natural. O céu lá fora estava escuro como breu, sem indicar o
horário.
Desci as escadas em espiral, parando na elegante sala de estar ao estilo
grego. Meu olhar vagou entre o corredor que levava ao calabouço e outro,
mais amplo. Decidi seguir por este. Avancei com passos firmes até encontrar
uma porta entreaberta, que me revelou Otto, vestido apenas com uma calça de
moletom preta, o torso nu e tatuado. Ele estava concentrado em uma tela de
computador, sentado em uma cadeira que mais parecia um trono cinza. A
mesa de madeira branca era grande e de maneira meticulosa organizada, com
papéis em perfeita conformidade e canetas separadas por cores.
Fechei a porta com um clique audível e tranquei-a, chamando sua
atenção para mim. Seus olhos azuis desceram por todo o meu corpo,
devorando-me, antes de encontrarem os meus, provocando um arrepio que
percorreu toda a minha pele.
Aproximei-me, movida por um fio de coragem, e parei diante dele.
Meus quadris quase encostados na ponta da mesa, sua cadeira a poucos
centímetros de mim. O calor de seu corpo irradiava, tocando minha pele
como se quisesse incendiar ainda mais o desejo que pulsava em mim. Engoli
em seco, sabendo que não podia vacilar. Ele me tirou tudo, então que, ao
menos, me concedesse o básico de um casamento.
— Quero que me alivie — ordenei, tentando soar firme.
Otto arqueou uma sobrancelha escura, um gesto quase desdenhoso.
— Você quer? — inquiriu de maneira lenta, como se saboreasse cada
palavra.
Apoiei a mão na quina da mesa, buscando manter a compostura.
— Eu quero, senão arranjarei quem o faça — declarei, mantendo o tom
firme, embora meu pulso acelerasse.
Para a minha surpresa, ele se recostou na cadeira, relaxando como se
estivesse se divertindo com a minha audácia. Seus olhos me observaram de
soslaio, aumentando meu nervosismo. Senti a necessidade de fazer algo com
as mãos e rocei os dedos no meu pulso, tentando me concentrar, mas a
ansiedade só aumentava. Então, forcei a unha contra a pele, buscando
despertar-me da tensão sufocante.
O susto me tomou quando a mão de Otto agarrou meu pulso com força,
puxando-me abruptamente para o seu colo. Seus braços fortes envolveram
minha cintura, prendendo-me em uma posição que me fez sentir pequena e
vulnerável. Tentei me mexer sobre suas coxas firmes, mas era inútil. A
respiração quente de Otto fez cócegas na minha garganta quando ele afastou
meus cabelos com um gesto possessivo.
— Outro fará — murmurou em meu ouvido, a ameaça velada em sua
voz. — Prinkípissa, se quer ser fodida sobre os cadáveres de homens mortos,
basta pedir. — Ele mordeu minha garganta com força, arrancando de mim
um gemido de dor e prazer. Minha vagina se contraiu violentamente,
refletindo o conflito que ele incitava em mim.
Seus olhos, que habitualmente reluziam com a tranquilidade de um céu
límpido, agora se transformavam em poços de fúria descontrolada, como o
prelúdio de uma tempestade avassaladora.
— Então seja um bom marido e me faça gozar — exigi, a voz baixa e
carregada de atordoamento pela sua proximidade. Cravei minhas unhas em
seu antebraço. — É seu dever me saciar, senão outro fará.
A verdade era que a ideia de outro homem me tocando me causava
repulsa, mas eu precisava manter a fachada.
Antes que eu pudesse sequer pensar em uma reação, um grito de
surpresa escapou dos meus lábios quando meu corpo foi erguido no ar e, em
um movimento brutal, virado e empurrado para frente. O computador foi
jogado de lado, tornando-se nada mais que um mero obstáculo, enquanto meu
peito se chocava contra a madeira fria da mesa, provocando uma onda de
sensações gélidas que percorriam minha pele como um choque elétrico.
A camisola azul de renda, foi levantada. Otto, com seus dedos longos e
grossos, rasgou minha calcinha com uma facilidade sádica, como se aquilo
fosse seu direito inquestionável Seus dedos me invadiram com uma
intensidade que um gemido involuntário escapou da minha boca, misturando
dor e prazer em um único som que ecoou pela sala, preenchendo o espaço
com uma tensão palpável.
A brutalidade de seu toque fazia meu corpo tremer, uma mistura de
terror e excitação que me deixava em um estado de confusão e êxtase. Cada
segundo parecia uma eternidade, enquanto o desejo sombrio pulsava em meu
interior, como uma chama voraz alimentada pelo caos que ele trazia. Estava
presa em um jogo perigoso, onde o limite entre dor e prazer se tornava cada
vez mais tênue, e a cada toque dele, eu sentia uma parte de mim se despir da
razão, entregando-se ao desejo profundo que ardia em mim.
Quando ele inseriu o segundo dedo, toda a razão me abandonou. A
sensação me lançou em um delírio insano, enquanto eu me agarrava à mesa,
perdida no alívio que seu toque proporcionava. Otto massageava meu clitóris
com uma força bruta, sem qualquer delicadeza, enquanto seus dedos
entravam e saíam de mim com uma ferocidade desenfreada.
— I skýla mou — sussurrou em grego, a voz carregada de domínio. —
Você está desesperada para gozar, não é?
Suspirei, empurrando minha bunda contra seus dedos, aflita por mais.
A dor queimante irradiou pela minha nádega quando ele me bateu com
força.
— Responda — exigiu, a voz rouca e repleta de comando.
— Otto, sim, eu quero — murmurei, entorpecida pelo prazer. — Por
favor.
Ouvi sua risada baixa antes de ele meter os dedos ainda mais fundo,
cada movimento trazendo uma onda de êxtase incontrolado. Gemi alto, sem
qualquer controle sobre meu corpo. Era a primeira vez que era tocada dessa
maneira; nunca havia sequer me permitido sentir prazer até aquele instante.
Otto estava incendiando tudo em mim, corrompendo-me, distorcendo minha
lógica, e eu não queria que parasse.
Ele me deu mais dois tapas fortes, fazendo-me regozijar. Minha mente
estava nublada pelo prazer avassalador, algo tão novo e inebriante que me
deixava à beira da loucura. O prazer era intenso, mas também trazia uma
necessidade colossal, um desejo que queimava em cada célula do meu corpo.
— Sua boceta molhada está engolindo os meus dedos, Sasha — rosnou,
enquanto apertava meu clitóris inchado. — Quer o meu pau dentro de você,
te fodendo? — indagou, mordendo a pele exposta da minha nuca.
— Sim, sim! — gritei, exasperada, meu corpo implorava por mais.
Ele riu baixo, uma risada que reverberou dentro de mim, aumentando
ainda mais o meu desejo.
— Goze — ordenou, movendo os dedos com uma precisão que me
tirou todo o controle.
Meu ventre se contorceu violentamente, em seguida minha vagina se
contraiu em espasmos intensos. Um calor avassalador percorreu todo o meu
corpo, e a tensão acumulada explodiu em ondas de prazer. Gritei alto,
sôfrega, enquanto meu corpo tremia, cada parte de mim estava sensível,
como se estivesse tocando as bordas do êxtase.
— Seu primeiro orgasmo, chamós mou — murmurou Otto, tirando os
dedos de dentro de mim, deixando-me com uma sensação de vazio que quase
doeu. O afastamento dele era uma tortura em si, um contraste abrupto com o
prazer que havia me proporcionado. — Agora vá dormir.
As palavras dele foram um comando frio, embora meu corpo ainda
estivesse pulsando com as sensações recém-descobertas, a ordem me trouxe
de volta à realidade. Otto não era um homem de carícias, ele me dava o que
eu precisava, mas, ao mesmo tempo, mantinha-me sob seu controle
implacável.
— Vai me dispensar após me usar? — perguntei, virando-me para ele,
ficando de frente para Otto, que já estava sentado novamente. — Sou sua
esposa!
Otto passou a mão pelo cabelo, jogando-o para trás com um movimento
despreocupado.
— Você me usou para gozar — informou, com a calma implacável que
era característica sua. — Já gozou, agora vá dormir.
Ri, incrédula, a situação era absurda. Não esperava carinho ou beijos
apaixonados, sabia que Otto não era esse tipo de homem. Mas a indiferença
dele me atingia de um jeito que não estava preparada para enfrentar.
Desde o início, algo me incomodava profundamente: Otto nunca me
beijou. Nem mesmo no dia do nosso casamento, ele fez questão de selar seus
lábios aos meus. Isso parecia errado, quase como se algo essencial estivesse
faltando entre nós. Estávamos ligados por um contrato, um papel, mas essa
ausência de beijos me fazia questionar a profundidade de nossa conexão, se é
que existia alguma.
Os lábios dele nunca haviam tocado os meus, embora parte de mim
soubesse que o desejo dele era algo mais bruto, mais visceral, a falta desse
gesto simples deixava um vazio que eu não sabia como preencher. Eu era sua
esposa, mas, às vezes, sentia-me como uma estranha em seu mundo, uma
peça a ser usada e descartada ao seu bel-prazer.
— Isso é ridículo! — bradei, minha voz carregada de frustração. —
Você só me usou, como fez mais cedo.
Otto arqueou uma sobrancelha, a calma em sua expressão era quase
irritante.
— Mais cedo, saciei os seus desejos, chamós mou — sibilou, as
palavras saindo frias, calculadas. — E agora também.
A tranquilidade dele contrastava com o tumulto que fervilhava dentro
de mim. Otto parecia estar em perfeito controle, como sempre, exceto pelo
óbvio detalhe de sua ereção marcada na calça. Meu olhar foi irresistivelmente
atraído para o volume de seu pênis, grande e grosso, a lembrança dele em
minha boca ainda fresca na minha mente. Meu coração disparou, uma mistura
de excitação e confusão me dominando.
— Inferno! — murmurei para mim mesma, lutando para entender o que
estava acontecendo comigo. Meu corpo respondia ao Otto de forma
incontrolável, refletindo a batalha interna entre desejo e orgulho. Embora ele
permanecesse indiferente, meu corpo traidor ansiava por mais, mesmo ciente
de que ele apenas jogava comigo, mantendo-me à beira do precipício, sempre
faminta por algo que nunca me daria completamente. Otto suspirou e, sem
dizer uma palavra, levantou-se. Senti um arrepio percorrer minha espinha
quando ele se aproximou, mas antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para
o seu colo. Instintivamente, agarrei seus ombros largos e envolvi minhas
pernas ao redor de sua cintura. Cada movimento seu era firme, decidido. Ele
caminhou comigo para fora do escritório, subindo as escadas em silêncio,
enquanto eu inspirava o aroma de sua colônia pós-banho, que, de alguma
forma, tinha o poder de me acalmar.
Ter seu corpo tão próximo ao meu era uma tortura deliciosa, uma
mistura de desespero e conforto. Era como uma ferida aberta que,
paradoxalmente, eu não queria que cicatrizasse, pelo menos não naquele
momento. Ele entrou no quarto que agora dividíamos, deitando-se na cama
comigo ainda em seus braços. Sem esforço, puxou os lençóis sobre nós, me
prendendo em seu aperto. Tentei me afastar, mas era inútil. Minha cabeça
repousava em seu peito, e o som lento e constante de seu coração batendo
começava a me embalar.
Senti sua ereção contra meu corpo, mas ele não parecia inclinado a agir
sobre isso.
— O que está fazendo? — perguntei, a confusão misturada com uma
ponta de esperança na voz.
— Te colocando para dormir — respondeu, firme e sem hesitação. —
Durma! — ordenou, sua voz era como uma âncora que me puxava para a
tranquilidade.
E, de forma estranha, meu corpo obedeceu. Meus olhos se fecharam
involuntariamente, e as batidas rítmicas do coração de Otto me embalaram
para um sono profundo, sua presença imponente, de certa forma, sendo o
único consolo que meu corpo e mente precisavam naquele momento.
Sasha deslizou para fora dos meus braços, correndo em direção ao
banheiro. Meus olhos a seguiram, absortos, até que ela desapareceu pela
porta entreaberta, levando consigo uma parte da tranquilidade da manhã.
O relógio na mesa de cabeceira marcava 05h, e o silêncio que se
instalou no quarto parecia denso, carregado de expectativa. Esperei por seu
retorno, mas o tempo se arrastou, e ela não voltou. Um suspiro escapuliu dos
meus lábios enquanto eu afastava os lençóis que me cobriam, sentindo a
frieza do ar matinal contra minha pele exposta. Levantei-me, a ansiedade
crescendo dentro de mim, cada segundo se transformando em uma
eternidade.
Caminhei em direção à porta do banheiro e, ao entrar, a vi debruçada
sobre o vaso, seu corpo tremia. Nossos olhares se encontraram, seus olhos
pareciam distantes, apagados e, imediatamente, ela se encolheu, tentando se
afastar ainda mais, como se minha presença aumentasse seu desconforto.
— Por favor — suplicou com a voz embargada pelo medo. — Eu não
fiz xixi na cama, não me obrigue, por favor.
A apatia de suas palavras me atingiu como um soco, uma súplica que
ela não deveria estar fazendo. Apertei o interruptor, iluminando o cômodo,
caminhei até onde estava e o vaso não estava devidamente limpo, sem
hesitar, apertei a descarga. O som da água correndo fez Sasha se arrastar,
afastando-se um pouco mais do sanitário. Fechei a tampa e me abaixei,
erguendo-a gentilmente pelos braços.
Ela estava tremendo, e suas mãos, frias e trêmulas, mal conseguiam se
manter firmes enquanto a guiava até a pia. Lavei suas mãos em silêncio,
observando a água escorrer, levando consigo um pouco de seu pavor. Sem
trocar uma única palavra, levei-a de volta ao quarto. Deitei-a na cama e a
puxei para perto de mim, segurando seu corpo frágil nos meus braços. Seu
tremor ainda persistia, mas lentamente, enquanto o tempo passava, ela
adormeceu, suas respirações voltando a um ritmo mais regular.
Eu, no entanto, fiquei acordado. Cada batida do meu coração estava
preenchida pela raiva, meu corpo em alerta. Minha mente girava, pensando
em quem foi o responsável por isso, quem a havia traumatizado a ponto de
torná-la uma mulher marcada, com medo até de algo tão simples. O desejo de
punição queimava dentro de mim. Eles iriam pagar... e pagar caro.
CAPÍTULO 18
Sentia-me profundamente envergonhada naquela manhã, incapaz de
olhar nos olhos de Otto depois de tudo o que havia acontecido. O café da
manhã foi consumido em um silêncio sufocante. Depois, cada um seguiu seu
caminho. Otto foi para o escritório, enquanto eu voltei para o andar superior,
tentando me afastar das memórias que me atormentavam.
Fui explorar os quartos de hóspedes, o fato de Otto, meu pokhititel, ter
me ajudado durante uma das minhas crises matinais me deixava inquieta.
Esses surtos, como eu os chamava, não tinham nome definido, e a ideia de
buscar ajuda ou tratamento era impensável naquele momento. Era minha
carga, um fardo que precisava carregar sozinha.
Depois de explorar os quartos, entrei no nosso quarto e me dirigi ao
closet, um espaço amplo e elegante, decorado em branco e cinza. As
prateleiras de vidro exibiam as roupas de forma organizada, enquanto
espelhos refletiam o ambiente com uma precisão quase intimidadora. No
centro, um recamier cinza era macio e convidativo.
Olhei para o lado direito, onde as roupas de Otto estavam
meticulosamente organizadas por cores, exalando uma fragrância familiar.
Não consegui resistir e peguei uma de suas camisas, inalando profundamente
o aroma da colônia dele, que me trouxe uma sensação de calma e segurança.
Do outro lado, o closet estava repleto de roupas femininas que
lembravam as que eu costumava usar, mas com um toque mais leve, ideal
para o clima quente de Spartacus. Havia vestidos curtos, regatas e short de
malha — peças que Polina nunca teria permitido que eu usasse, pois sempre
exigia que eu optasse por sapatos sociais e roupas elegantes, banindo
qualquer informalidade.
Suspirei ao ver os calçados, em especial os tênis. Era uma liberdade
que eu nunca havia experimentado. Lembrei-me de uma ocasião, quando era
pequena, em que pedi ao meu pai uma bota de cowboy que tinha visto em
algum lugar. A resposta foi uma surra brutal, com minhas panturrilhas sendo
castigadas pelo cinto de couro. Depois daquele dia, nunca mais ousei pedir
sapatos novos. Era uma das lembranças mais antigas que eu tinha, minhas
panturrilhas ficaram quase em carnes vivas.
Sentei-me na grande penteadeira e soltei o cabelo das tranças que os
mantinham presos. Peguei o pente e deslizei pelos fios lentamente,
desembaraçando cada nó com cuidado, até que meu cabelo caísse solto ao
redor dos ombros. O ato simples de pentear trouxe à tona as lembranças da
noite anterior — a forma como Otto puxara meu cabelo com força enquanto
seus dedos me invadiam, dobrando-me ao seu desejo. Senti um calafrio
percorrer minha espinha, meu corpo reagiu com uma excitação involuntária,
como se apenas a memória de seus toques fosse suficiente para incendiar-me
por dentro.
Não era assim que eu havia imaginado minha vida de casada. Sabia que
haveria sexo, claro, pois herdeiros precisavam ser gerados. Mas nunca havia
concebido que seria dessa maneira — sujo, depravado, com um toque
sanguinário. O mais perturbador de tudo era o quanto eu ansiava por mais.
Esse novo lado de mim, que Otto havia despertado, estava tomando forma,
ainda desconhecido, mas sedento.
Levantei-me e caminhei até minha parte do closet, buscando algo para
vestir. Meus dedos deslizaram pelos tecidos até que escolhi um macacão de
mangas compridas e finas, uma peça confortável, mas elegante o suficiente
para o dia. Peguei uma calcinha e decidi que precisava de um banho, não só
para limpar o corpo, mas para tentar apaziguar o calor que pulsava em minhas
veias.
O banheiro era uma mistura fascinante de modernidade e antiguidade.
Havia uma grande banheira oval no canto direito, uma peça quase imponente,
enquanto o boxe com chuveiros duplos estava mais ao fundo, elegante em sua
simplicidade. Optei por uma chuveirada rápida, desejando sentir a água fria
percorrer meu corpo, na esperança de que acalmasse o desejo que ainda
fervilhava sob minha pele.
O som da água caindo ecoou pelo ambiente, quando entrei debaixo do
chuveiro, o choque da água fria contra minha pele quente foi um alívio
imediato, mas passageiro. Fechei os olhos, deixando a água escorrer pelo
meu corpo, como se tentasse lavar não apenas o suor e a tensão, mas os
resquícios das sensações que Otto deixara em mim na noite passada.
Ao sair do boxe, me sequei com calma, sem pressa de decidir o que
fazer com o restante do dia. Minha mente vagava em busca de algo que me
proporcionasse paz, e a ideia de explorar a biblioteca parecia perfeita. Ler
sempre foi uma fuga para mim, uma maneira de escapar da realidade que, em
muitos momentos, parecia sufocante. Vesti-me com o macacão confortável,
deixei os cabelos soltos, preferindo que secassem ao natural após o banho. A
toalha foi lançada ao cesto e, em seguida, saí do quarto.
Escolhi andar descalça, um gesto de liberdade que me era estranho, mas
bem-vindo. Antes, nunca me fora permitido andar sem sapatos; sempre
impecável, sempre representando algo maior do que eu mesma. Sentir o chão
frio sob os pés me trouxe uma sensação de autonomia que nunca havia
experimentado. Um sorriso escapara involuntariamente dos meus lábios.
Desci as escadas correndo, um ato impulsivo, sem medo de ser
repreendida. O som dos meus pés descalços ecoou pela casa, mas não me
importei, apenas aproveitei o momento de leveza que, por alguma razão, me
invadiu. Segui direto para o corredor direito, onde sabia que a biblioteca
estava localizada, e, ao empurrar as grandes portas de madeira maciça, fui
recebida por uma visão impressionante.
A biblioteca era magnífica. Dois andares cobertos por fileiras
intermináveis de livros, todos de maneira perfeita, organizados nas prateleiras
que subiam até o teto. Sofás e poltronas confortáveis estavam espalhados
pelo ambiente, convidando-me a me perder em suas páginas. Abri e fechei a
boca, surpresa com o tamanho e a beleza daquele lugar.
Ali, em meio à vastidão dos livros, senti que, enfim, havia encontrado
algo meu, um pequeno refúgio em meio ao caos do meu casamento.
As portas duplas se abriram de modo silencioso, revelando a figura de
Otto. O aroma inconfundível de seu perfume preencheu o ambiente, algo em
mim imediatamente despertou. Meu corpo reagiu, como se cada célula
estivesse à espera de sua presença. Ele vestia roupas sociais impecáveis, mas
sem a gravata, o que lhe dava um ar de descaso calculado. Os dois primeiros
botões da camisa preta estavam abertos, deixando à mostra parte de seu peito,
irradiando um charme brutal, quase predatório. Seus cabelos, geralmente
alinhados, estavam levemente desalinhados, como se ele tivesse passado a
mão por eles repetidas vezes. Havia algo ferozmente sedutor naquela
imagem.
— O almoço já foi servido. — Sua voz ressoou no silêncio, fria,
enquanto seus olhos analisavam a capa do livro que eu lia. O
constrangimento me atingiu como um golpe. — Escolha... interessante.
Senti meu rosto esquentar. Coloquei o livro sobre a mesinha ao meu
lado, tentando manter a compostura, e me levantei.
— Achei que deveria conhecer melhor o seu mundo sádico —
retruquei, tentando disfarçar minha tensão com um tom de deboche, as mãos
firmes na cintura, temendo o que fariam se permanecessem soltas.
Ele arqueou uma sobrancelha, o olhar penetrante. Não havia como não
me sentir despida sob aquele olhar.
— Nosso mundo, senhora Exousía — corrigiu ele, a voz firme e
autoritária. Não havia espaço para discussão. — Uma médica virá vê-la esta
tarde.
— Para quê? — indaguei, à medida que cruzava os braços, tentando
esconder o desconforto.
— Não trabalho com imprevistos. — Seu olhar era afiado, e sua voz,
implacável. — E não usarei camisinha ao foder minha esposa.
Seu tom era gélido, as palavras carregadas com uma indiferença que
me atingiu em cheio. Ele estava sendo prático, mas a crueza de sua
declaração me fez sentir um misto de raiva e desejo. A ideia de um filho
parecia-lhe quase repulsiva, como se fosse um fardo indesejado.
Ri nervosa, sabendo que não tomava pílula. A gravidez era algo que se
esperava de mim, logo na noite de núpcias. Um papel a ser cumprido.
— É tão repulsivo assim ter um filho comigo? — provoquei, a voz
cheia de sarcasmo e ressentimento. — Medo de uma criança, Otto?
Seus olhos se estreitaram, implacáveis.
— Eu não planejo ter filhos — respondeu ele, cortante.
A frieza de suas palavras me atravessou, acendendo uma fúria que eu
nem sabia estar ali. Não era o fato de querer ou não ser mãe naquele
momento. Era o desprezo dele, a negação de algo que, de certa forma, sempre
foi parte de mim. Criar, amar, proteger... Mas ele negava até isso.
— E se eu quiser ser mãe? — Minha voz saiu elevada, o corpo
vibrando de raiva. — Você me forçou a ser sua esposa, vai me roubar os
sonhos também, Otto Exousía?
Aproximei-me dele a passos decididos, o peito estufado, o coração
batendo descontroladamente. Seus olhos fixos nos meus, desafiando, sem
recuar.
— Se procriar é seu sonho, chamós mou. — Sua voz soou rouca,
arrastada, cada palavra carregada de uma ameaça velada me atingindo com
força, mesmo diante da pequena distância entre nós. — Então eu vou foder
você até que tenha um filho meu, depois outro e mais outro. Mas saiba de
uma coisa... você vai ter que estar sempre disposta para me saciar. Sempre
com sua boceta encharcada, pronta para receber o meu pau.
As palavras duras, cruas, brutais... cada uma delas me atingiu como um
soco. Mas, ao invés de repulsa, tudo que senti foi desejo. Apertei minhas
coxas, tentando conter a onda de excitação que se formava em mim, mas
meus olhos o traíam. Eu queria aquilo. Queria que ele me tocasse com a
mesma brutalidade com que falava.
Otto não era um homem que cedia. Ele tomava. E, naquele momento,
eu desejava ser tomada.
— Você fala como se eu fosse sua propriedade — desafiei, a voz
trêmula de emoção, tentando soar firme, mas falhei com miséria. A hesitação
no fundo de minhas palavras era impossível de esconder, e eu sabia que ele a
sentia. — Como se a minha vontade não tivesse importância.
Os olhos de Otto escureceram no mesmo instante, como se algo
sombrio e primitivo estivesse prestes a emergir. Um predador. Ele deu um
passo à frente, invadindo meu espaço de forma implacável, e eu recuei
instintivamente, meu corpo colidiu com a parede atrás de mim. O ar ficou
pesado, cada centímetro entre nós se tornou uma corda esticada, pronta para
se romper. O calor que irradiava dele era sufocante, como se queimasse
minha pele sem sequer me tocar. Otto não precisava de gestos grandiosos, ele
dominava tudo à sua volta com uma simples presença. Agora, ele dominava a
mim, capturando-me, prendendo-me com um olhar que parecia atravessar
minha alma.
— Você é minha, Sasha, sei o que deseja mesmo sem emitir um som.
— A voz de Otto saiu baixa, rouca, cada palavra proferida com a precisão de
uma lâmina afiada. Não havia emoção em seu tom, apenas a certeza de quem
sabia exatamente o que possuía. — Minha... desde o dia em que me olhou
com fome nos olhos.
— Eu não te olhei dessa forma — rebati, a defesa soando frágil,
enquanto minhas mãos se agarravam com força em seus bíceps, buscando
algum tipo de equilíbrio. Meu corpo inteiro tremia, pernas vacilantes, uma
necessidade que eu mal compreendia queimava dentro de mim. — Você me
roubou do meu noivo.
Um sorriso cruel curvou os lábios de Otto. Ele apertou meu queixo
entre os dedos, seu toque forte, dominador, enquanto sua presença me
subjugava ainda mais.
— Porque você me quis tanto quanto eu a você — murmurou, os olhos
faiscando de um desejo primitivo. — Prinkípissa mou, você quer ser fodida
por mim. Quer o meu pau devastando sua boceta apertada.
Ele passou os dedos lentamente pelo meu lábio inferior entreaberto, o
gesto carregado de provocação, e meu corpo respondeu com um suspiro
trêmulo. Eu mal conseguia raciocinar, meu cérebro confuso entre o ódio e a
excitação que ele despertava em mim.
— Otto — sussurrei, minha voz fraca, como se eu estivesse me
rendendo ao peso daquela tensão sufocante.
Ele ergueu uma sobrancelha, satisfeito com minha rendição
momentânea. Mas, ao invés de me conceder o toque bruto que eu tanto
ansiava, Otto simplesmente me soltou, recuando.
— Agora, vamos almoçar, senhora Exousía. — Sua voz soou firme,
fria, enquanto ele me deixava ali, à deriva. — Depois, preciso trabalhar.
Tenho assuntos a tratar com meus irmãos.
Senti o mundo girar. Quase caí quando ele se afastou, a falta de seu
toque roubou meu equilíbrio. Mordi a parte interna da bochecha, meus olhos
fixos em suas costas largas, enquanto ele se afastava com a mesma
indiferença que sempre demonstrava. Eu o odiava por me fazer desejar
alguém que eu devia desprezar.
Mas, no fundo, odiava ainda mais o quanto meu corpo o desejava.
CAPÍTULO 19
Observei o corpo adormecido da minha esposa pela última vez naquela
manhã, outro de seus episódios maníacos havia se repetido no mesmo
horário, quase como um ritual doentio. Eram quase 06h, e nos últimos dias eu
havia atrasado todos os meus compromissos para dar atenção a ela. Levava-a
para a cama depois de vê-la debruçada sobre o vaso, entre crises de vômitos e
de choros, ou então correndo para o banheiro com o desespero de quem
acreditava estar molhada de urina. Acordava sempre antes dela, sentia seu
corpo despertar assustado, tremendo, antes de saltar da cama e disparar para o
banheiro. Seus soluços eram constantes, embora nenhuma lágrima escorresse
de seus olhos.
Durante a noite, uma rotina se formou entre nós. Ela me esperava para
dormir, fosse enrolando na sala de estar, fosse sentada na poltrona do nosso
quarto, como se sua vida dependesse da minha chegada. Quando eu entrava, a
arrastava para a cama, e, como uma gatinha de rua faminta, ela se enrolava ao
meu redor, os braços me prendendo com desespero, enquanto seu corpo
buscava o meu. Não antes, claro, de tentar me provocar, roçando sua boceta
na minha virilha, ansiosa, quase desesperada, mas eu permanecia imóvel. Se
ela quisesse o meu pau, teria que implorar por ele. Ou exigir que eu a
tomasse.
Ela precisava se abrir, se entregar por completo. Queria me pertencer,
mas ainda não havia aprendido como. Havia uma necessidade óbvia em seus
olhos, uma fome que ela mal sabia controlar, podia vê-la gritar em silêncio
pelos meus toques. No entanto, eu nada fazia. Não até que ela estivesse
pronta, não até que seus desejos, ainda tão presos, fossem libertados.
Eu fiz o primeiro movimento no nosso jogo. Agora, restava a ela mover
a próxima peça.
Saí do nosso quarto sem pressa, desci as escadas devagar, apreciando
os primeiro raios de sol surgindo no horizonte, as amplas janelas de vidro me
davam esta visão, admirava a natureza e suas peculiaridades, gostava da
minha casa bem arejada, com bastante luz natural e cores claras.
Não fiquei surpreso ao ver a porta traseira do Bentley aberta para
mim. Entrei com passos calculados, como sempre. Peguei meu celular e
deslizei os dedos pela tela, enquanto lia as mensagens e e-mails que se
acumulavam. Era para eu estar focado no primeiro mês do meu casamento,
mas a interferência de Hades desestabilizou tudo. Ele decidiu incomodar seus
filhos com sua presença repentina em Esparta, e isso afetava a todos. Sua
permanência irritava Eros, e, por consequência, Eros me irritava.
Até Kai, que deveria estar a caminho da Espanha, foi obrigado a adiar
sua viagem por conta desse caos familiar. Hera exigia mais tempo ao lado do
neto, Zeus, meu sobrinho, um demônio disfarçado de criança. Ele tinha
menos de dois anos, mas sua inteligência era perturbadora, assim como sua
rebeldia. Não era apenas uma criança malcriada, era uma força caótica. Sabia
que meu irmão teria que se esforçar para lidar com o menino, mas o
desgraçado parecia gostar da paternidade, algo que jamais poderia entender.
Crianças me incomodavam. Eu as odiava por sua fragilidade, por sua
inocência ingênua e pela dependência que exigiam dos outros. Ainda assim,
eu teria minha própria ninhada. Porque esse era o desejo da minha fávlos. A
única exceção que eu permitiria ao meu controle implacável. Talvez, apenas
talvez, seria possível desenvolver algum tipo de empatia por essas pequenas
criaturas que carregariam o meu DNA. Talvez.
Desde a discussão na biblioteca, Sasha não tocou mais no assunto de
filhos, e eu não senti necessidade de pressioná-la. Dispensara a médica, não
haveria necessidade de interferências por enquanto. O jogo estava apenas
começando, e eu era paciente. Sabia que, eventualmente, Sasha cederia. Ela
sempre cedia, mesmo quando não admitia.
O carro parou na sede da organização, e eu desci antes mesmo que o
motorista pudesse abrir a porta. O ar fresco das montanhas me envolveu,
enquanto entrava no grande museu oculto entre os picos. As estátuas
quebradas, testemunhas silenciosas de batalhas antigas, contrastavam com a
grama verde demais para o verão. Passei pelos soldados com um simples
aceno de cabeça; eles sabiam o suficiente para não exigir mais que isso.
Ao entrar no grande salão, soltei um suspiro ao avistar Kai encostado
em uma pilastra. Ele usava uma calça jeans, botas gastas e uma regata. Uma
provocação clara. O desgraçado provavelmente queria irritar nosso pai, ou
talvez já não se importasse com mais nada. Não fazia diferença para mim; a
imprevisibilidade de Kai havia deixado de me incomodar há tempos.
— Está atrasado. A reunião começou às 05h — disse ele, sem levantar
os olhos do celular. — Já encerramos com uma ordem direta do Afentikó de
que nossos pais partirão amanhã.
— Onde estão? — perguntei, desinteressado.
— Na sala de treinamento, assistindo aos novatos — respondeu, por
fim, me dando atenção, um sorriso debochado. — Sorri. — Se casou, agora
está transando com uma novinha, em vez das bocetas velhas de sempre.
Meu punho se conectou com o queixo de Kai antes que ele pudesse
reagir. Sua cabeça virou de forma brusca para o lado, mas o filho da puta
apenas riu.
— Defendendo as putas velhas? — provocou.
Aproximei-me devagar, seu nariz quase roçou no meu, deixando o peso
das minhas palavras cair sobre ele.
— Não. Apenas não gosto da maneira como fala da minha esposa. —
Minha voz saiu fria e calculada. — Respeite sua cunhada.
Kai riu novamente, mas desta vez havia um brilho de algo mais
sombrio em seus olhos.
— Você é pior que o Eros. — Ele sorriu, um sorriso que carregava toda
a tensão entre irmãos.
Eu me afastei, caminhando em direção à sala onde Eros estaria. Antes
de entrar, parei por um momento e soltei um suspiro, sem me virar.
— Você será pior, Kai. Não porque se importe menos, mas porque, ao
contrário de mim e de Eros, você sente demais. Sente tanto que não sabe o
que fazer com esses sentimentos.
Continuei meu caminho, ouvindo Kai praguejar atrás de mim.
Entrei no salão e o som de espadas se chocando contra o aço
preenchia o ar. Homens sem camisa treinavam em combates corpo a corpo,
suas espadas cortando o espaço com precisão brutal. No fundo, vi Eros e
Hades observando a cena. Meu irmão estava sentado, relaxado, enquanto
nosso pai permanecia de pé, a expressão fechada e sombria. Devia ser
desconcertante para ele ver o caçula assumindo o lugar que um dia fora seu.
Aproximei-me com passos firmes, ignorando o suor e a violência ao
redor. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Hades explodiu, sua voz grave
ecoando pelo salão.
— Você não exerce mais suas funções, sýmvoulos! — Seu grito cortou
o ar. — Virou o chicote daquela piranha ruiva?
A raiva subiu quente e imediata dentro de mim, como uma chama
prestes a incendiar tudo. Avancei sobre ele antes que pudesse reagir, meus
punhos acertaram seu rosto com um soco. O som do impacto foi seguido pelo
estalo do nariz dele se quebrando, o sangue espirrou em sua boca e nariz.
Quando ele tentou revidar, virei meu corpo com precisão, girando minha
perna em um arco perfeito que acertou sua têmpora. Ele caiu no chão como
um peso morto.
Abaixei-me lentamente, minha voz baixa e letal.
— Chame minha mulher de puta mais uma vez, e eu te mato.
As palavras saíram sibiladas, mas carregadas de uma ameaça fria, como
o aço de uma lâmina pronta para cortar. Hades se remexia no chão,
sangrando, e por um breve momento, o silêncio reinou no salão. Todos os
olhares estavam sobre nós, mas ninguém ousou intervir.
Eu me ergui, sentindo o controle absoluto da situação retornar ao meu
corpo, alisei o meu paletó, ajeitei as mangas com a calma fria que sempre me
dominava depois de um surto de violência. Hades tentou se levantar, ainda
atordoado, mas sabia que eu não brincava com ameaças.
Eros apenas observou, impassível, como se aquela cena fosse algo
corriqueiro. Afinal, entre nós, a violência sempre foi um idioma familiar. O
bastardo, abriu um sorriso sádico antes de voltar a encarar Hades no chão.
— Você está se esquecendo de que sou o seu pai, caralho? — Hades
gritou, sua voz trêmula de fúria e humilhação, enquanto tentava se equilibrar
e se erguer do chão. — Onde está o respeito?
Encarei-o com o sangue ainda fervendo nas minhas veias, mas meu
exterior permanecia impassível, frio. Encarei-o com desprezo, cada palavra
saindo calculada, cortante.
— Não me esqueci — respondi com um meio-sorriso. — Só não me
importo se vou te matar ou não.
Afastei-me sem esperar por mais uma palavra, ignorando os sons de
esforço que Hades fazia para se levantar. O desejo de voltar e esmagar seu
crânio no chão, de acabar com ele de uma vez por todas, era tentador. Mas eu
tinha coisas mais importantes a tratar. O controle que mantinha sobre mim
mesmo era a chave para tudo, e, por mais que quisesse ceder à brutalidade,
meu instinto me guiava para o próximo passo.
— Estou indo para o meu escritório — disse com frieza, sem olhar para
trás.
Cada passo que dava, a raiva se diluía em uma calma perigosa. Eu
podia sentir os olhares nas minhas costas, o silêncio que pesava no salão.
Eros permaneceu onde estava, não havia nada que ele pudesse fazer ou dizer,
meu irmão apenas sorria, pois sabia que isso era entre mim e Hades. O
respeito, ou talvez o medo, estava selado com a violência que Hades recebeu.
Continuei andando, minha mente já em outro lugar, mas a verdade era
que o desejo de sangue ainda estava ali, queimando, aguardando a próxima
oportunidade.
Eu me sentia estranha naquela casa sem Otto. Não que passássemos o
dia todo juntos, mas sempre soube onde encontrá-lo se precisasse. Agora,
saber que ele saiu sem se despedir me irritava profundamente, embora não
tanto quanto o fato de todas as noites e manhãs eu me sentir tão bem em seus
braços. Odiava a forma como reagia ao Otto. Ele acalmava meus surtos com
uma facilidade irritante, e cada vez que o fazia, me esquecia de quem eu era,
me perdia em questionamentos sobre meus sonhos, vontades e desejos.
Eu não me reconhecia mais. Em poucos dias ao seu lado, algo dentro de
mim havia mudado. Meu rosto continuava o mesmo, mas meu corpo estava
ganhando mais curvas. As olheiras que antes carregava como um fardo
sumiram, as dores nas costas que eu sentia ao dormir no chão desapareceram.
Minha pele, antes pálida, estava mais corada, mesmo sem ter saído para o
exterior da propriedade. Eu havia me recusado a conhecer os jardins ou
qualquer outro lugar lá fora; preferia me trancar na biblioteca, esperando por
ele, tentando prever seus passos, contudo, Otto sempre me surpreendia.
Sua presença contorcia meu ventre de uma forma que me enojava.
Cada palavra rouca e suja que saía da sua boca fazia meu clitóris pulsar de
uma maneira que eu nunca havia sentido antes. Meu corpo, contra a minha
vontade, ansiava por ele. Minha vagina implorava por sua invasão, desejando
a brutalidade de seus toques. Mas, por mais que meu corpo o quisesse, eu
jamais imploraria. Jamais pediria que ele me preenchesse com seu pau, por
mais que minha necessidade lhe gritasse.
Otto despertava algo em mim, algo primitivo e irracional, mas o ódio
que eu nutria por ele se misturava a um desejo obscuro, algo que me corroía
por dentro. Não era apenas a atração física, era a sensação de estar presa em
uma teia que eu mesma não conseguia compreender.
Eu me recusava a ceder, mesmo que meu corpo estivesse gritando por
ele. Cada fibra em meu corpo se queimava de necessidade, mas meu orgulho
era mais forte. Almocei sozinha. Olret, a cozinheira, era sempre silenciosa.
Não dizia uma palavra a mais do que o necessário, desaparecendo assim que
a refeição estava servida, reaparecendo apenas para tirar os pratos. Senti falta
da voz de Otto me obrigando a comer. Com ele, as refeições não me
enjoavam.
Depois de escovar os dentes, me sentei no sofá da sala de estar, o
silêncio da casa ecoava ao meu redor. Olhei pela janela, o céu estava azul,
limpo e sem uma única nuvem. O calor parecia sufocante, e eu sabia que as
piscinas, tanto a interna quanto a externa, estavam impecáveis e limpas. Mas
nadar nunca fora algo que eu gostasse, e biquínis... eu não me sentia
confortável o suficiente para usá-los.
O som da campainha me arrancou dos meus pensamentos. O coração
disparou com o susto. Antes que eu pudesse abrir a porta, uma das
empregadas invisíveis passou por mim a passos rápidos. Levantei-me para
receber a visita. Uma mulher de mais ou menos quarenta anos entrou na
minha sala de estar, seus saltos finos martelavam o chão com arrogância. Ela
vestia um curto e justo vestido preto, que moldava seu corpo magro. Seus
cabelos loiros, cortados curtos e repicados, emolduravam o rosto severo. Os
lábios, pintados de um rosa-choque, formavam um sorriso cruel. Ela segurava
uma bolsa de grife, ostentando status.
— Chame o Otto — exigiu, os olhos castanhos me fitando com puro
desprezo. — O que faz aqui, bonequinha?
Bonequinha? Minha raiva aumentou. Cruzei os braços, me preparando
para enfrentar aquela mulher.
— Meu marido não está — respondi, firme.
Ela riu, uma risada afiada, cheia de escárnio.
— Então é verdade que Otto Exousía se casou com uma ninfeta? —
zombou entre risadas. — Oh, querida, ele vai enjoar de você tão rápido...
Sabe quantas passaram pela vida dele enquanto estava comigo? Muitas.
Estamos juntos desde que ele tinha dezenove anos.
Ergui o queixo. Se essa versão de amante pensava que podia me ferir
com suas palavras insignificantes, estava redondamente enganada. Fui criada
por Polina, acostumada a insultos e a enfrentar desafios de frente. Não era
qualquer vagabunda que me desrespeitaria. Não senti ciúme de outras
mulheres, mas a ideia de que essa mulher poderia ter tido algo com Otto...
isso me corroeu por dentro.
— Ele deveria ter te usado e te jogado fora, porque, em todos esses
anos, só te tratou como um objeto. — Minha voz saiu firme, clara. — E foi a
mim que ele pediu em casamento. Tantos anos e olha só você aqui, tentando
criar rivalidade com uma ninfeta, porque o homem que você diz conhecer te
abandonou assim que me encontrou.
Os olhos dela brilharam de raiva. Avançou em minha direção, erguendo
a mão, como se fosse me bater, mas fui mais rápida e segurei seu pulso com
força, tentando manter o controle. Com a outra mão, atingi seu rosto com um
tapa desajeitado. A dor nas minhas juntas se espalhou pelo braço, mas a
satisfação de vê-la cambalear para trás, surpresa, compensou a claudicação da
minha ação.
— Ouse levantar a mão para mim de novo e eu te mato, piranha! —
rosnei, apontando o dedo em sua direção, o sangue fervia em minhas veias.
— Fora da minha casa, e se eu souber que procurou meu marido outra vez,
você vai se arrepender de existir.
Ela me olhou com olhos arregalados, o choque evidente.
— Parou para pensar que ele me chamou aqui? — a mulher provocou,
arrastando-se para trás enquanto se levantava, segurando o rosto ferido.
— Não me recordo de ter enviado um convite. — A voz calma de Otto
ecoou pelo cômodo. Ergui os olhos e o vi parado, me observando com um
brilho de excitação. Ao seu lado, Kai e Eros, seus irmãos, pareciam curiosos
com a situação.
— Otto, querido, eu... — Antes que ela pudesse terminar, a raiva
explodiu dentro de mim, e eu a interrompi com um golpe desajeitado,
mirando seu rosto. O som do impacto ecoou pelo ambiente, e ela caiu,
desorientada, enquanto eu me perguntava se realmente havia conseguido
machucá-la.
— Calada! — sibilei, fora de mim, o sangue fervia em minhas veias. —
Alguém tire essa vagabunda da minha sala de estar. O sangue dela vai
manchar o chão. — Passei as mãos pelos meus cabelos, tentando recompor a
calma que me escapava. — Olá, Eros e Kai. Sejam bem-vindos.
— Cunhadinha, que belo chute! — Kai elogiou com um sorriso
enquanto caminhava até a mulher, agora quase inconsciente no chão. Não me
sentia nem um pouco culpada pelo estado dela, pelo contrário, até gostei de
machucá-la. — Vamos, Loren. Tenho que te arrastar para algum lugar onde
você não cause mais problemas.
Observei Kai arrastá-la para fora com total desprezo, sem o menor
cuidado. Em seguida, voltei meu olhar para Otto, o rosto quente de fúria e
desapontamento.
— Agora suas amantes vêm até a nossa casa? — questionei, a raiva
transbordava em cada palavra.
— Não tenho amantes — ele respondeu com a mesma calma, dando
passos lentos na minha direção, invadindo meu espaço pessoal com sua
presença. O calor do seu corpo me envolveu, e senti a tensão se intensificar
entre nós. — Chamós mou, você é bem possessiva.
— Se me trair, eu retribuirei — avisei, apertando as unhas em sua pele
exposta, o contato ardia contra o pescoço dele.
Sem perder a compostura, sua mão se enroscou nos meus cabelos,
puxando minha cabeça para trás. Seus lábios roçaram a minha garganta,
provocando uma onda de eletricidade que percorreu meu corpo. Fechei os
olhos, esperando que ele finalmente me beijasse, ansiosa pelo toque que
agora parecia inevitável.
— Eu não traio, Sasha — murmurou contra minha pele, a voz baixa,
carregada de uma intensidade avassaladora. — Sou leal e fiel à minha
esposa... até depois da morte.
O silêncio entre nós era denso. Esperei, quase implorando, que seus
lábios por fim encontrassem os meus. Mas ele se afastou, deixando-me presa
no limiar do desejo e da decepção. A frustração de ser negada de novo me
corroeu, mas também me fez querer mais, muito mais.
CAPÍTULO 20
Passei a faca cega e enferrujada de forma lenta pelo peito do traidor.
Um dos meus próprios soldados, que ousou permitir a entrada de Loren em
minha ausência. A faca resistia ao cortar a carne, o metal áspero cravando-se
fundo, forçando um gemido rouco a escapar de seus lábios. Seus olhos
imploravam por misericórdia, mas eu estava distante e frio. A única coisa que
eu permitia sentir era o peso da lâmina em minha mão. A faca avançava, e
com ela, a dor se intensificava.
Ele lutava para se soltar das amarras, mas era em vão. Lágrimas
começaram a se formar nos cantos de seus lábios, traindo a dor e a
impotência que tentava esconder.
Seu corpo tremia, o sangue escorria pelo peito aberto, manchando a
cadeira de ferro onde estava amarrado. Forcei a faca mais fundo, a lâmina
enferrujada lutava contra a carne. Seus dentes rangiam, a pele pálida e
coberta de suor, mas ele ainda não havia gritado o suficiente para mim.
— Sýmvoulos... — murmurou com a baba escorrendo, a voz fraca,
quase inaudível. — Não irei repetir o mesmo erro...
Suas palavras patéticas não me comoviam. Ainda não tinha nem um
arranhão no rosto. Eu queria que ele soubesse que sua punição não era por
descontrole. O castigo era metódico, controlado. Não desferi socos. Não
havia pressa. O medo lento era o que me interessava.
— Não viu problema? — perguntei, a voz baixa e perigosa. Sem
esperar resposta, enfiei a faca de forma brusca em sua mão presa, o som da
carne e do osso cedendo ecoou pela sala.
Ele sufocou um grito, o som escapando entre os dentes trincados.
Afastei-me, limpando as mãos manchadas de sangue. O sangue seco relutava
em sair. Suspirei, irritado com o resquício de sujeira.
— Peguem a pera[19] — ordenei, com a frieza de quem já havia feito
isso antes. — Deitem-no de bruços no Cavalete de Estiramento. Ele ainda
não gritou o suficiente.
Dois dos meus homens se moveram rapidamente. O traidor seria
submetido à pera — um instrumento de tortura que poucas pessoas poderiam
descrever com clareza após o uso. Eu queria ver o desespero tomar conta de
seus olhos. Não era sobre o sangue, ou a dor física. Era sobre o medo. O
terror profundo que ele sentiria ao perceber que a morte não seria rápida.
Os olhos do traidor se arregalaram em puro terror ao perceber o que
estava prestes a acontecer. Seu corpo se debatia em desespero, mas meus
homens, com uma eficiência brutal, o agarraram e o arremessaram sobre o
Cavalete de Estiramento, um dispositivo de tortura medieval que conhecia
muito bem. A estrutura de madeira, com suas cordas prontas para amarrar os
membros do perjuro, era feita para infligir dor extrema, esticando braços e
pernas até o limite. Eles o prenderam com firmeza, assegurando que ele não
tivesse a menor chance de escapar.
Com um movimento cruel, a calça foi arrancada, revelando sua
vulnerabilidade de forma humilhante. O pânico exalava dele como um aroma
nauseante, e eu assisti enquanto seus gritos e súplicas se tornavam cada vez
mais altos e estridentes, ecoando pelo ambiente e preenchendo-o com a
melodia de sua agonia. Era um espetáculo que não apenas esperava, mas que
alimentava minha própria satisfação.
Ignorei. Seu desespero não me tocava. Para mim, ele já estava morto
desde o momento em que traiu minha confiança. Peguei o antigo instrumento
de tortura, a pera, e abri suas lâminas afiadas, o som metálico preencheu o ar.
O grande parafuso central estava pronto, cada rotação pensada para infligir
uma dor excruciante.
Aproximei-me do traidor, sentindo seu corpo tremer sob meu olhar, e
sem hesitar, forcei o objeto cruel dentro de seu reto. Ele se arqueou, o grito
que ecoou pela sala era uma sinfonia de pura agonia, o tipo de som que só a
verdadeira dor pode produzir. Cada gemido, cada súplica desesperada era
música para os meus ouvidos. Girava o parafuso de forma lenta, ampliando o
horror, dilatando as lâminas dentro dele com a precisão calculada de um
maestro que conduzia sua obra.
O sangue misturava-se ao suor que escorria pelo chão, e eu observava
com indiferença, o rosto impassível, enquanto a pele do traidor se contorcia
em um último esforço fútil para escapar. Não havia escapatória. Não havia
redenção.
Eu não tinha pressa. Seus gritos, desesperados e cada vez mais
sufocados, me diziam que ele estava no limiar de sua resistência, mas ainda
não tinha alcançado o ponto de quebra que eu desejava. Continuei girando o
parafuso mais uma vez, observando-o se afundar em um abismo de dor do
qual ele jamais retornaria.
Levantei-me lentamente, sentindo o peso da tortura no ar ao meu redor,
mas sem qualquer emoção que me afetasse. O traidor já não era mais uma
preocupação. Seus gritos agora ecoavam distantes em minha mente.
Caminhei para longe, sem olhar para trás, e parei diante da pia enferrujada no
canto do calabouço. Abri a torneira, deixando a água fria correr sobre minhas
mãos manchadas de sangue. Esfreguei-as com precisão, removendo cada
traço da sujeira e da dor que havia causado.
— Se livrem do corpo — ordenei aos meus soldados.
Quando minhas mãos estavam perfeitamente limpas, fechei a torneira e
saí do calabouço da ala oeste, o lugar onde eu punia os traidores e testava a
lealdade dos meus soldados. A atmosfera pesada do lugar ficou para trás,
enquanto eu me movia em direção à saída dos fundos. Fechei a porta de
acesso direto à casa, após tomar Sasha para mim.
Lá fora, o ar era fresco, e observei o céu prestes a escurecer. O fim da
tarde trazia uma calma inesperada, o silêncio contrastava com o caos que
acabara de deixar. Em breve seria a hora do jantar, um momento que eu
aguardava com um prazer peculiar.
Sasha. Era dela que eu esperava ver à mesa. Havia algo intrigante em
vê-la comer. No início, ela mal tocava na comida, como se a simples ideia de
se alimentar a incomodasse de um modo profundo. No entanto, com o passar
dos dias, ela começara a comer mais, quase faminta, como se estivesse, por
fim, cedendo a algo que evitava.
Observei sua transformação com interesse. As ânsias de vômito haviam
diminuído, e seu rosto antes pálido agora tinha um leve toque de cor. Não
parecia mais tão frágil, tão anêmica como antes. Cada pequeno progresso
dela me fazia perceber o controle que eu tinha sobre sua vida, sobre suas
escolhas. Isso me dava certo prazer, vê-la resistir e depois ceder, ver sua
fraqueza se dissipar, moldada pela minha presença.
Ao entrar na sala de estar, meus olhos caíram imediatamente sobre
minha esposa. Ela estava sentada no sofá, sua postura tensa e desafiadora.
Nossos olhares se encontraram, e o silêncio entre nós era pesado. O que
capturou minha atenção foi a mancha escura na manga do seu vestido.
Sangue. Seus dedos estavam sujos, resquícios claros de seus impulsos
autodestrutivos.
Caminhei até ela com passos firmes, cada um carregando o peso da
fúria que se acumulava dentro de mim. Sem hesitar, ergui-a do sofá,
puxando-a pelo braço e revelando sua pele machucada ao puxar a manga. Os
cortes, ainda recentes, mostravam que, mais uma vez, ela havia falhado em
controlar a si mesma.
— Me solta! — gritou, tentando em vão se desvencilhar.
Minha mão apertou seu braço com mais força, meus olhos fixos nos
seus, exigindo uma resposta.
— Por que fez isso? — Minha voz era baixa, mas carregada de ira.
Ela encontrou o meu olhar com uma mistura de raiva e dor.
— Por sua causa — retrucou, os olhos queimavam de fúria, mas com
uma ponta de vulnerabilidade que eu reconhecia bem. — Você desaparece
sem avisar, volta quando bem entende. Não me dá nenhum meio de
comunicação, me isola de todos, estou exilada aqui!
Eu sorri, um sorriso seco e sem humor.
— Fascinante — murmurei, girando nossos corpos bruscamente.
Sentei-me no sofá e a deitei de bruços sobre meus joelhos com um
movimento ágil. — Você será punida, não apenas por se machucar, mas para
que, da próxima vez que tentar, se lembre das minhas mãos na sua pele. Vai
aprender de maneira difícil.
Ela se debatia, os punhos cerrados batiam contra minhas pernas,
tentando se livrar.
— Otto, me solte! — Sua voz estava repleta de raiva, mas eu só via
desafio. E eu apreciava isso.
— Quer alguma coisa de mim? Tome. — Minha voz era arrastada,
cruel. — Agora, conte até dez. E se errar, vamos começar de novo.
— Você é louco! Me solte! — exigiu, o rosto vermelho de raiva.
Eu ri, um riso profundo, sentindo a excitação correr pelas minhas veias
como um veneno doce. Aquele controle absoluto sobre ela, sua resistência...
Tudo me inflamava. Minhas mãos coçavam, desejando marcá-la, reclamar
sua pele como minha.
Levantei seu vestido lentamente, expondo suas nádegas redondas. A
calcinha rosa mal cobria sua pele macia. Passei a mão por suas bochechas,
sentindo a textura quente, cada centímetro seu me pertencia. Meu corpo já
estava tenso, o desejo quase doloroso.
— Você é perfeita... — murmurei, meus dedos roçavam sua pele antes
de me posicionar. — Agora, conte comigo.
— O quê? Eu não... Ai! — berrou, desconcertada, quando minha mão
atingiu suas bochechas, deixando-as levemente rosadas. Ela arfou, um misto
de surpresa e antecipação. — Um!
— Boa menina — elogiei, meu tom carregado de uma satisfação cruel.
Senti a adrenalina percorrer meu corpo enquanto desferia o segundo
tapa, e a forma como ela se contorceu, virou a cabeça em minha direção, com
um olhar desafiador. A boca entreaberta em um gemido involuntário, fez meu
desejo crescer ainda mais.
— Dois! — Ela em particular compartilhava, sua voz tremia. Meu pau
se contorceu, apertado pela cueca, uma pressão quase insuportável.
Dando o terceiro golpe, observei como a pele dela se tornou mais
avermelhada sob meu toque. Um calor pulsante se manteve entre nós.
— Três, Otto...
Sasha estava à beira de um orgasmo, a respiração entrecortada e o calor
do desejo pulsando por seu corpo. Me deixando à beira da insanidade.
— Você gosta de ser espancada, esposa? — quis saber que a resposta
estava escondida sob camadas de orgulho e prazer. Acariciei sua pele
avermelhada, cada toque é uma provocação. — Responda — exigi, tomando
um tempo para me inclinar mais perto, meu olhar fixo no dela.
— Não, eu não gosto, seu sádico! — mentiu, a respiração irregular
entregou suas verdadeiras emoções. Podia sentir a umidade de sua calcinha,
um sinal claro de que ela estava longe de ser indiferente.
— Mentirosa — rosnei, dando-lhe dois tapas seguidos, o som
ressoando como um eco pela sala, como se o próprio ambiente estivesse
ligado à nossa dança de dominação e entrega.
— Três, quatro, não é mentira! — Era significativa, a frustração e a
motivação se misturava em sua voz saindo em gemidos.
A cada tapa, seu corpo se contorcia, e a lubrificação escorria por suas
pernas, deixando suas coxas úmidas. O cheiro dela me torturava, um convite
irresistível que tornava a luta entre dominação e resistência ainda mais
deliciosa.
— Dez — ela gemia entre soluços, seus olhos brilhando com uma
mistura de desafio e entrega. — Otto!
Com um movimento decidido, abaixei seu vestido e a tirei do meu colo.
Ela me olhou, surpresa e confusa, como se estivesse percebendo pela
primeira vez o que realmente estava fazendo.
— Quem mente não ganha orgasmo — disse, devagar, enquanto me
levantava, a ereção pulsando com a tensão do momento. — Você mentiu,
chamós mou.
— Você é um desgraçado! — ela rosnou aos soluços, à medida que
levantava a mão para me bater. Mas mantive seu pulso com firmeza,
aumentando sua resistência e a ferocidade que ardia dentro dela.
— Garota mentirosa, também não pode marcar o seu homem. — Minha
voz saiu rude, carregada de um poder que só aumentava minha motivação.
Soltei seu pulso, afastando-me um pouco, mas o calor dela ainda queimava
em minha pele. — Vamos jantar.
— Eu não vou a lugar nenhum com você! — ela respondeu, teimosa, a
chama de desafio em seus olhos.
— Ou vem, ou te faço comer nua, enquanto somos servidos, te fodo na
frente de todos e depois os mato por vê-la nua — avisei, minha voz baixa e
cheia de promessas sombrias. O ar entre nós estava impregnado de tensão,
cada palavra, uma carga elétrica, provocava uma destruição.
Ela me seguiu em silêncio, a atmosfera entre nós carregada de um
desafio tenso. Ao nos sentarmos à mesa, seus olhos estavam fechados,
enraivecidos, como se estivessem tentando reprimir uma tempestade dentro
de si.
Quando o pato ao molho de laranja foi servido, observei-a cortar a
carne com uma força. A lâmina deslizou pelo prato com tanta determinação
que, por um breve momento, desejei que eu fosse ferido por sua lâmina
enraivecida. A ideia de ser seu alvo, de experimentar a intensidade de sua
fúria em vez de apenas a testemunhar, era uma amarga tortura. Contudo,
minha mentirosa estava de castigo, e essa punição só alimentava o fogo entre
nós.
Ela furou o pato, cada golpe carregado de uma confusão de frustração e
raiva, era um lembrete cruel de sua resistência, como se tentasse descarregar
toda a sua indignação na refeição que deveria ser um momento de prazer.
— Está tudo bem, Sasha? — indaguei, minha voz baixa, ciente de que
cada palavra era uma provocação.
Ela levantou os olhos para mim, uma emoção de emoções neles,
percebi que cada corte e mordida era uma tentativa de se manter firme, de
não ceder ao prazer que eu sabia que a consumia.
— Perfeito — ela respondeu, a ironia clara em sua voz, mas o tremor
em suas mãos traiu sua verdadeira sensação.
A tensão entre nós era palpável, um fio esticado prestes a se romper.
Enquanto ela mastigava, seus lábios se moviam em um ritmo que quase me
fez interromper aquele jantar e levá-la de volta ao nosso quarto, onde
resolvíamos tudo à nossa maneira. Mas, por enquanto, observava cada
movimento dela intensificando o desejo que ardia em meu peito.
— Eu aprecio sua dedicação à refeição, mas lembre-se: não pode ferir o
seu homem e escapar impune — murmurei, a provocação clara em cada
sílaba.
Ela me encarou, mas a faísca de motivação nos olhos dela não passou
despercebida. Sabia que, mesmo em sua raiva, havia um desejo latente, uma
chama que só esperava a oportunidade de ser alimentada.
O jantar prosseguiu em um silêncio pesado, mas carregado de uma
tensão sexual que tornava cada garfada mais significativa. Era um jogo entre
domínio que estava amando jogar.
CAPÍTULO 21
Corri pelos corredores do casarão, cada passo ecoava pelo mármore
frio. Meu peito arfava, não por cansaço, mas pelo medo latente de mais uma
vez decepcionar. Eu estava atrasada para o café da tarde com a mamãe, e o
peso desse erro parecia maior do que o simples atraso. Em breve,
completaria dez anos, e com isso, minha primeira festa oficial. Papochka
estava ansioso, já me alertara sobre a importância desse evento. Segundo
ele, seria a ocasião em que talvez encontrasse um noivo, uma aliança
vantajosa que traria glória à nossa família.
Eu deveria me sentir orgulhosa. Afinal, não era a filha que eles
esperavam, não era o filho homem que traria continuidade ao nome da
família. Mas, ainda assim, eu poderia ser útil. Poderia ser a menina que
traria honra, que garantiria alianças valiosas.
Meus pensamentos foram abruptamente cortados quando cheguei à
sala de jantar. Mamãe estava lá, como sempre, impecável. Seu vestido
alinhado, a postura elegante, cada movimento dela era uma afirmação
silenciosa de poder. Ela tomava o café com a mesma frieza com que lidava
com tudo, até comigo.
Parei diante da porta, ajustando o vestido azul-escuro que usava,
tentando em desespero parecer perfeita, digna. Meus pés latejavam nas
sapatilhas apertadas, mas ignorei a dor.
— Está atrasada — rosnou Polina, limpando a boca com o
guardanapo de linho. Seus olhos me perfuravam como lâminas. — É incapaz
de fazer algo direito. — A acusação caiu sobre mim como um golpe. Engoli
em seco, sentindo o peso daquelas palavras afundarem dentro de mim. Não
queria decepcioná-la novamente, mas era como se qualquer esforço fosse em
vão.
— Desculpe, mãe — murmurei, minha voz trêmula, quase inaudível. —
Vou melhorar.
Ela riu, um som cruel e debochado que ressoou pela sala vazia,
ecoando no meu peito.
— Duvido. — Seus lábios se curvaram em um sorriso amargo. — Eu
deveria ter te abortado quando soube que seria uma menina.
Mordi meus lábios com força, lutando contra as lágrimas que
ameaçavam cair. Não iria chorar. Não iria dar a ela esse prazer. Mas o nó
no meu peito se apertava cada vez mais. O desejo de desaparecer, de deixar
de existir, queimava em mim como uma chama silenciosa. Eu nunca consegui
ser o que eles queriam, nunca fui o que esperavam de mim. Sempre fora
assim, desde o dia em que descobriram que eu era uma menina. Não era o
herdeiro, o filho desejado que traria orgulho e prestígio à família. Eu era a
inutilidade encarnada. Uma decepção viva, como mamãe fazia questão de
lembrar a cada oportunidade.
O olhar dela, sempre frio, sempre carregado de desprezo, me
esmagava por dentro. Eu era a inútil. Não importava o quanto me esforçasse,
nunca seria suficiente. Papochka, ao menos, mantinha suas expectativas em
silêncio, mas isso só fazia o peso sobre meus ombros crescer. A
responsabilidade de ser perfeita, de compensar o erro de não ter nascido
homem, me sufocava.
E por mais que eu quisesse, por mais que lutasse para ser digna, para
agradar, sabia, no fundo, que nunca conseguiria. Eu era inútil.

Abri os olhos de repente, o peito subia e descia rápido, como se o ar


fosse insuficiente. Meu coração martelava com força, ecoando na escuridão
do quarto, mas percebi que o som que preenchia meus ouvidos não era
apenas o meu. O coração de Otto batia forte contra minhas costas, enquanto
ele me apertava com mais força, puxando-me ainda mais contra o corpo dele.
Seu calor envolvia parte de mim, sufocante ao mesmo tempo em que me
confortava. Olhei para o relógio na mesa de cabeceira, os números brilhavam
na penumbra: 02h. Eu tinha ido para a cama às 22h, exausta demais para
continuar sozinha na imensa biblioteca. Não tive coragem de confrontá-lo de
novo sobre a mulher, sobre as marcas que ele deixou em mim. Minhas
nádegas ainda ardiam, lembranças vivas dos tapas que ele me dera. Só de
pensar, senti o calor subir pelo meu corpo.
Gostei. Eu gostava de ser estapeada. Não podia mais negar isso para
mim mesma. Cada toque brutal de Otto parecia despertar algo primitivo
dentro de mim, algo que nunca soubera que existia. Quanto mais eu me
afastava da mulher que era antes de conhecê-lo, mais gostava da mulher que
me tornava com ele.
Havia uma chama que ardia dentro de mim agora, uma vontade de
lutar, de viver de uma forma que nunca havia experimentado. Seus toques
eram como lava, queimando minha pele, marcando-me de formas que eu
odiava admitir, mas amava sentir. Eu estava cada vez mais dependente desse
homem, e isso me apavorava.
Não conseguia adormecer sem seus braços ao meu redor. Mesmo no
meu íntimo, onde as sombras do desejo e da raiva se misturavam, havia uma
certeza: eu pertencia a ele de uma forma doentia e deliciosa. Só com Otto ao
meu lado, preso àquele abismo de controle e submissão, eu conseguia
encontrar a paz.
Mas o que mais me assombrava era o quanto eu odiava depender dele...
e o quanto isso me excitava.
Nossa relação era marcada por jogos sujos, repletos de provocações e
punições, mas nunca por beijos. Otto nunca havia me beijado, e até conhecê-
lo, nunca soubera o que era ansiar por isso. Havia algo de intencional em sua
distância. Meu pokhititel parecia ter uma aversão aos meus lábios. Ele beijava
cada centímetro do meu corpo, explorava minhas reações, me consumia, mas
evitava minha boca.
Inferno. Eu queria sentir o gosto dele, queria que seus lábios se
encontrassem com os meus de forma crua, sem reservas. Nunca desejei tanto
algo, e isso me deixava inquieta. Meu corpo parecia em chamas, mas era a
ausência de seus beijos que me corroía por dentro.
Fechei os olhos, nervosa, tentando ignorar o desejo que pulsava em
mim. Queria dormir, apagar aquele sentimento que me deixava exposta, mas
a inquietação não me permitia. Mexi-me entre seus braços, tentando me
desvencilhar do aperto firme que me prendia a ele, como se fosse uma rocha.
Suspirei, derrotada. Ele não me deixaria escapar.
Mesmo no escuro, sabia que ele estava me observando. Senti o peso de
seus olhos sobre mim, penetrantes, como se pudesse ler cada pensamento que
tentava esconder, mas me recusei a olhá-lo de volta, a confrontar o que estava
se passando dentro de mim.
— Por que não me beija? — murmurei, a voz baixa e hesitante, mal
reconhecendo a fragilidade que soou em minhas palavras. Aquilo me
incomodava mais do que eu queria admitir.
Otto não respondeu de imediato. Em vez disso, sua mão se moveu
sobre minha barriga, os dedos deslizavam de forma lenta, deliberada, através
do tecido fino da minha camisola de seda. O toque leve das unhas dele me fez
arrepiar por completo, o calor subindo instantaneamente.
— Se quer algo, prinkípissa mou, tome — sussurrou ele, sua voz rouca
carregada de um comando perigoso. Então, seus lábios se aproximaram do
meu ouvido, e ele chupou o lóbulo de leve, provocando uma onda de prazer.
— Não seja tímida com seu marido.
Suas palavras ecoaram em mim, carregadas de desejo e desafio. Ele me
provocava, incitava a uma ação que eu não sabia se teria coragem de tomar.
A cada toque, a cada palavra, ele me empurrava para o limite, me testando de
maneiras que nenhum homem jamais ousou. O calor entre nós era
insuportável, e eu odiava o controle que ele exercia sobre mim, em
contrapartida, ansiava por mais.
Num movimento impulsivo, me movi com agilidade e fiquei por cima
dele. Meus joelhos se cravaram no colchão ao lado de sua cintura, e eu me
sentei em sua barriga, sentindo a força e o calor que emanavam de seu corpo.
O controle que Otto exercia sobre mim sempre fora absoluto, mas agora, pela
primeira vez, tentava inverter os papéis. Mesmo assim, a sensação de estar no
comando parecia ilusória.
Ele me observava com um olhar sombrio e cheio de presunção. Seus
lábios curvaram-se em um sorriso sinistro e cruel. Aquilo deveria me
intimidar. Qualquer mulher sensata recuaria diante daquele homem que
parecia uma fera prestes a atacar. Mas, em vez disso, algo mais primitivo
queimava dentro de mim. O medo e o desejo se misturavam, deixando meu
núcleo ainda mais molhado.
Senti o calor subir pelo meu corpo, minha pele se arrepiou ao perceber
o quanto me dominava. Meus olhos desceram de forma lenta até os lábios
dele, tão próximos e, ao mesmo tempo, tão distantes. Engoli em seco. Eu
queria mais do que tudo sentir o gosto dele, tomar o que ele se recusava a me
dar, contudo, o peso daquele desejo me fazia hesitar.
Otto não disse uma palavra, apenas continuou a me encarar, como se
soubesse em exato o que eu estava pensando. Seus olhos penetrantes eram
como uma promessa silenciosa de que, não importava o que eu fizesse, ele
sempre estaria no controle.
Respirei fundo, reunindo a coragem que eu nem sabia que possuía.
Sabia que ele estava me testando, me provocando, esperando que eu falhasse.
Mas eu não podia voltar atrás agora. Precisava quebrar essa barreira,
precisava provar a mim mesma que tinha poder sobre ele, nem que fosse por
um segundo.
— Eu só vou te beijar quando você for homem o suficiente para tirar
minha virgindade — provoquei, deslizando as unhas suavemente por seus
lábios, provocando-o com um sorriso atrevido.
Ele não hesitou. Em um movimento rápido, mordeu meu dedo, seus
dentes cravaram-se com firmeza, enviando uma onda de choque direto ao
meu ventre. Senti o calor pulsar, um suspiro escapou de mim, misturado com
um desejo que não conseguia mais controlar.
— Não ache que essas suas palavras me incomodarão, esposa — ele
murmurou com uma calma perigosa, passando a língua devagar pelo meu
dedo, saboreando cada segundo de minha provocação, transformando-a em
algo que queimava dentro de mim. Meu corpo todo reagia a ele, e eu mal
conseguia pensar. Senti sua dureza me cutucar por baixo, sua presença firme
e imponente.
Em um gesto rápido, suas mãos subiram até o meu pescoço, apertando
com uma força que beirava o limite entre prazer e dor. O ar parecia escapar
de mim, o controle que achava ter por um breve momento desapareceu como
fumaça. Seus dedos firmes apertavam minha garganta, dominando-me
completamente, enquanto meu corpo traidor se arqueava, implorando
silenciosamente por mais.
— Você não dita as regras, querida — ele rosnou, a voz grave e
carregada de autoridade. — Eu o faço.
A intensidade em seus olhos me fez tremer, mas não de medo. Era algo
mais profundo, mais primitivo. Eu estava nas mãos dele, e não importava o
quanto tentasse resistir, Otto sempre encontraria uma maneira de me lembrar
quem estava no comando.
A mistura de força e excitação me consumia, e a cada aperto, a cada
palavra dita com frieza, eu me rendia mais ao jogo perigoso que ele tecia ao
nosso redor. Otto não era apenas o homem que controlava meu corpo, ele
controlava meu desejo e prazer, mesmo quando eu tentava confrontá-lo, sabia
que ele estava sempre um passo à frente.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o som do telefone ecoou
pelo quarto, cortando o silêncio pesado entre nós. Otto, sempre atento, se
moveu rápido. Sentou-se na cama comigo ainda em seu colo, sem tirar os
olhos de mim, e estendeu a mão para pegar o celular. Seus dedos firmes
apertaram o aparelho, e ele levou-o ao ouvido sem desviar o olhar, como se
estivesse me estudando, avaliando cada reação.
— Afentikó — murmurou, a palavra carregada de uma frieza que me
fez estremecer. Ele ouviu por alguns segundos, seus olhos ficaram ainda mais
gélidos, a raiva cintilava neles como uma chama sombria prestes a explodir.
— Sim, estarei aí em breve.
Um calafrio percorreu minha espinha ao ver sua expressão endurecer.
A situação mudara em um piscar de olhos, e a intensidade nos seus olhos me
deixou inquieta. Algo sério havia acontecido, algo que o tirava daquele
controle implacável e o empurrava para as sombras da violência que ele
escondia tão bem.
— O que houve? — inquiri, a voz incerta, temendo a resposta.
Otto não hesitou. Sua voz saiu tão fria quanto seus olhos, cortante
como gelo.
— Meu irmão está internado. Sofreu um atentado.
O peso daquelas palavras pairou no ar, carregado de uma tensão
sufocante. O poder implacável de Otto parecia vacilar, mas não de fraqueza.
Era o tipo de raiva controlada que fazia os homens agirem com uma
brutalidade calculada. Ele se ergueu, com a decisão clara no olhar, enquanto
sua mandíbula se apertava com fúria contida.
— Vamos — ordenou com firmeza, me puxando junto com ele.
— Eu irei contigo? — perguntei, surpresa. A situação era grave, mas
não imaginava que ele me levaria junto a esse tipo de cenário.
Otto me segurou pelo rosto com ambas as mãos, seu toque era forte,
possessivo, como se estivesse reivindicando não apenas minha presença, mas
minha completa submissão naquele momento. Seus olhos frios penetravam os
meus, e sua resposta veio como um aviso.
— Sim, você não sairá das minhas vistas.
Sua voz era firme, sem espaço para debate, o que apenas reforçava o
poder que ele exercia sobre mim. Não havia opção. Eu iria com ele, não por
escolha, mas porque, para Otto, eu era algo que ele controlava. O ar ao redor
parecia pesado, e eu sabia que a noite estava prestes a se transformar em algo
muito mais sombrio.
CAPÍTULO 22
Entramos no hospital a passos lentos e calculados. Otto caminhava ao
meu lado, com a mão fria envolta na minha, um toque duro e firme. Ao nosso
redor, mais soldados do que o habitual nos escoltavam, suas presenças
silenciosas ampliavam a gravidade da situação. Passamos direto pela
recepção, ignorando olhares curiosos. Quando as portas do elevador se
fecharam, o silêncio pesado entre nós se intensificou.
Meu coração batia acelerado, e eu me sentia cada vez mais nervosa.
Não conseguia me concentrar em nada além do frio das mãos de Otto contra
minha pele, uma sensação gélida que refletia o clima de tensão ao nosso
redor. A presença dele sempre despertava algo em mim, mas naquele
momento, havia mais. Uma incerteza, uma dúvida constante sobre qual seria
meu papel ao seu lado. Deveria consolá-lo? Ser seu apoio silencioso? Ou ele
sequer aceitaria qualquer demonstração de fraqueza, mesmo vinda de mim?
Com Antônio, as coisas eram diferentes. Eu sabia o que fazer, sabia
como reagir. Mas Otto... Otto era um mistério que eu ainda não conseguia
decifrar. A frieza dele, misturada com uma possessividade feroz, me deixava
sempre incerta. O que ele realmente queria de mim? Será que algum dia eu
seria capaz de suprir os desejos e expectativas que ele impunha? Essa dúvida
me corroía, me deixava inquieta a cada passo que dávamos em direção ao
desconhecido.
Quando o elevador parou e as portas se abriram, caminhamos juntos
pelo corredor. O chão era impecável, branco, as paredes pintadas em um
azul-claro e iluminadas pelas lâmpadas que pendiam do teto. O cheiro de
álcool e medicamento impregnava o ar, invadindo minhas narinas e trazendo
um leve enjoo à tona.
Conforme nos aproximávamos do quarto, meu estômago se revirava de
ansiedade. Eu não sabia como seria a reação dele ao ver o irmão naquele
estado, mas sabia que, de alguma forma, essa visita mudaria algo entre nós. O
Otto que eu conhecia, implacável e controlador, estava diante de uma ameaça
que ele não podia enfrentar com a brutalidade que tanto o definia. E eu... eu
apenas seguia ao seu lado, incerta sobre onde meu lugar nessa história.
Parei de maneira abrupta no meio do corredor ao ver a família dele —
agora a minha —, reunida à frente. Eros estava de pé, segurando nos braços
um garotinho que parecia adormecido. Sentada, com uma postura rígida,
estava sua esposa, Helena. Mais afastados, em uma clara demonstração de
hierarquia, estavam os pais de Otto. Uma onda de tensão tomou conta de
mim, tornando minha respiração mais pesada. Em todo esse tempo, não havia
conseguido um contato direto com eles. O peso desse momento me
pressionava, e a incerteza de como lidar com aquela dinâmica familiar só
aumentava minha ansiedade.
— Qual o problema? — Otto indagou, olhando-me com seus olhos
cortantes, percebendo minha hesitação.
— Sua família está aqui — sussurrei, sentindo o coração martelar
dentro do peito. — Eu posso esperar no carro e...
Antes que eu pudesse terminar, ele rosnou em desaprovação. Sem
qualquer aviso, girou meu corpo bruscamente e me pressionou contra a
parede com uma força que me tirou o ar. Seu corpo colou-se ao meu, firme,
inescapável, com as mãos apoiadas em cada lado da minha cabeça,
impedindo-me de qualquer tentativa de fuga. A proximidade fazia cada batida
do meu coração parecer ainda mais intensa.
— Você é minha esposa — ele sibilou, sua voz carregada de uma fúria
contida que eu nunca havia visto antes. Seus olhos azuis queimavam,
dominadores, perigosos. — Você vai ficar ao meu lado, porra. Eles também
são a sua família agora.
Sua boca roçou minha têmpora com uma gentileza que contrastava com
o tom imperioso de suas palavras. Senti o calor de sua respiração se misturar
ao frio da parede em minhas costas.
— Agora, láthos mou, seja gentil com seu marido.
Aquele tom exigente, quase uma ordem, fez minha respiração vacilar.
Minhas mãos tremiam, enquanto as erguia, hesitante, até tocá-lo. Meu
coração acelerou, e meus dedos deslizaram por seu rosto. Por trás de toda
aquela tempestade de raiva e controle, havia algo mais profundo. Uma
preocupação real por seu irmão, uma conexão que ele raramente
demonstrava. Otto não era um homem de afeto explícito, mas era inegável o
quanto seus irmãos significavam para ele. Eles eram uma extensão de si
mesmo, assim como, de certa forma, eu estava me tornando.
Sem pensar, com o impulso crescente de querer quebrar aquela tensão,
segurei seu rosto com as duas mãos, a aspereza de sua barba por fazer fez
cócegas na palma das minhas mãos. Então, com um movimento decidido,
selei nossos lábios. A textura dos seus lábios contra os meus era tudo o que
eu jamais soubera que ansiava. Meu coração disparou, e uma onda de calor
me inundou.
Otto não hesitou. Uma de suas mãos envolveu minha cintura, puxando-
me para mais perto, enquanto seus lábios se abriram, tomando os meus,
exigentes e sedentos. O sabor de conhaque que tomou antes de virmos em sua
boca me inebriou, e sua língua encontrou a minha em uma dança ardente. Ele
roubou minha respiração, dominando cada parte de mim com uma
intensidade que me deixava incapaz de pensar.
Eu fechei os olhos, rendendo-me por completo ao prazer daquele
momento. Tudo ao redor desapareceu, e a única coisa que importava eram
seus lábios nos meus, seu toque, sua presença avassaladora. Mil borboletas
dançavam em meu estômago, e pela primeira vez, senti que estava
exatamente onde deveria estar. Seu aperto se tornou mais forte, dominante e
exigente.
Quando ele cessou o beijo, um vazio profundo tomou conta de mim. A
ausência dos seus lábios nos meus era um contraste cortante com o calor que
antes me envolvia. Abri os olhos lentamente, encontrando o olhar de Otto,
mas dessa vez havia algo diferente ali. Um brilho desconhecido que me
deixou tímida, quase acuada, mas me recusei a desviar o olhar. Não podia
demonstrar fraqueza, não diante dele.
— Peguei algo que queria — murmurei com a respiração
descompassada, tentando manter o controle.
Otto sorriu, mas não era um sorriso comum. Havia algo malicioso,
perigoso em sua expressão.
— Você o fez, chamós mou. — Sua voz era baixa, quase um rosnado,
enquanto ele acariciava minha bochecha com o polegar, deixando um rastro
de fogo onde me tocava. — Mas quando chegarmos em casa, quero essa
boquinha beijando o meu pau também.
Meus olhos se arregalaram instantaneamente, o choque e a excitação
misturando-se dentro de mim como um veneno lento. Sua voz, rouca e
carregada de desejo, fazia minha pele formigar e meu corpo responder de
maneiras que ainda não conseguia controlar. Ele sabia exatamente o efeito
que suas palavras tinham sobre mim, e o brilho de satisfação em seus olhos
me deixava ainda mais vulnerável.
A cada momento ao lado dele, afundava-me mais nessa relação insana,
perigosa, e, no entanto, não conseguia resistir. Otto não era um homem que
pedia; ele tomava, e o fazia com a certeza de que eu não lhe negaria nada.
A tensão entre nós era palpável, e, mesmo ali no corredor de um
hospital, o desejo dele por mim era inegável. As borboletas no meu estômago
se transformaram em um incêndio que consumia tudo. Meu corpo inteiro
ansiava por mais, mesmo sabendo que ceder completamente a ele era
perigoso.
— Isso daqui não é local para voyeurismo, Otto! — A voz de Hades,
meu sogro, ecoou pelo corredor, fazendo meu corpo pular de susto.
Instantaneamente, senti minhas bochechas corarem, a vergonha queimava em
minha pele. Nunca me acostumaria com esse tipo de exposição,
especialmente diante da família dele.
Otto, no entanto, permaneceu inabalável. Nem se deu ao trabalho de
responder ao pai, apenas me lançou um olhar gélido e possessivo antes de
agarrar minha mão e me puxar em direção ao Eros e Helena. Não havia
espaço para discussão, nem desculpas.
Helena levantou-se rapidamente assim que nos aproximamos, e, para
minha surpresa, me puxou para um abraço apertado. Seu gesto era caloroso,
um contraste tão grande com o ambiente e o clima pesado entre os homens da
família que me deixou sem reação.
— Oi, estou tão feliz por finalmente poder falar com você, mesmo que
seja nessa situação — sussurrou Helena, apertando-me com ainda mais força.
Retribuí o abraço, ainda me sentindo desconfortável, mas agradecida pelo
gesto. — Seja bem-vinda à família, Sasha — disse ela, afastando-se um
pouco, mas manteve as mãos nos meus ombros, sorrindo gentilmente.
— Obrigada — balbuciei, ainda incerta sobre o que dizer. Tudo parecia
tão fora do meu controle ao redor dessa família. — Obrigada por me receber.
Helena sorriu, tentando quebrar o gelo, mas o ambiente carregado de
tensão ao redor de Otto e seu pai deixava claro que as palavras não seriam o
suficiente para suavizar o que acontecia ali.
— Qual é o estado do Kai? — perguntou Otto entrelaçando a mão à
minha.
— O filho da puta está bem, só precisa repousar. Ele nos expulsou do
quarto porque a enfermeira tem peitos grandes, segundo ele — Eros disse,
ninando seu filho que resmungava como se estivesse insatisfeito com a
situação.
— Fico feliz que ele esteja bem — consegui articular, quase deixando
escapar um gemido de frustração pelo jeito como Otto apertava meus dedos,
como se quisesse me controlar.
— O que aconteceu? Quem fez isso?
Eros trocou o filho nos braços, um pequeno clone dele.
— Eles estão no museu. Resolva isso, sýmvoulos — ordenou, seu olhar
fixo em Otto, um desafio silencioso pairando no ar.
— Vamos, Sasha — disse Otto, puxando-me em direção à saída. Notei
Helena me lançando um olhar de pena, como se pressentisse a tempestade
que estava por vir.
— Para onde estamos indo? — indaguei, confusa, o coração acelerado
com a intensidade da situação.
Ele não respondeu, apenas me arrastou para longe. Tropecei um pouco,
mas antes que eu pudesse cair, Otto me agarrou em seus braços, em um gesto
possessivo.
Entramos na ala de tortura do complexo da Exousía. O ar denso era
sufocante, carregado por uma mistura de medo e expectativa. Soldados se
moviam ao redor como predadores à espreita, suas presenças ameaçadoras
faziam meu coração disparar. Um arrepio correu pela minha espinha, como se
o próprio ambiente estivesse impregnado com ecos de dor e sofrimento
acumulados ao longo dos anos.
Ao meu lado, Otto caminhava em silêncio. Não disse uma palavra
desde que saímos do hospital. Sua presença era opressora, quase sufocante,
dominando cada centímetro daquele vasto corredor de arquitetura que remetia
à Grécia antiga. As paredes de pedra estavam cobertas de sombras e pareciam
sussurrar segredos antigos, segredos de dor e desespero. A cada passo, eu
sentia o peso crescente da escuridão que nos envolvia, como se fôssemos
entrar em um abismo sem volta.
Parei bruscamente quando o corredor terminou. Diante de nós, em uma
cela de metal, estavam dois soldados russos — homens de confiança do meu
tio —, e três soldados italianos que reconheci da minha festa de noivado. Eles
estavam ilesos, mas a tensão no ar indicava que isso não duraria por muito
tempo.
— Vocês feriram meu irmão — disse Otto, liberando seu aperto em
meu braço. Sua voz era uma promessa fria de retribuição. — Agora vão pagar
caro por isso.
Um calafrio percorreu meu corpo. Eu não sabia o que estava fazendo
ali, mas uma coisa era clara: a vingança de Otto estava prestes a se desenrolar
diante de meus olhos. Os homens estavam ajoelhados, amarrados, à mercê
dele. Uma parte de mim queria correr, escapar daquele pesadelo, mas eu
sabia que não havia saída. Então, permaneci, forçando-me a manter a calma,
escondendo-me em um canto da parede vazia.
Observei enquanto Otto, com calma metódica, começava a remover o
paletó cinza. Ele o jogou em minha direção e, por reflexo, agarrei-o no ar.
Seus olhos escuros não saíam dos homens, mas seu corpo parecia cada vez
mais selvagem conforme ele se despia. Um a um, ele desabotoou os botões da
sua camisa, expondo os músculos definidos das costas. Prendi a respiração. O
símbolo da Exousía, tatuado nas suas costas, era um aviso de poder e
domínio. O dragão que enfeitava sua pele parecia ganhar vida, uma criatura
que despertava para o caos.
Quando ele se virou para mim, seus olhos brilhavam com uma mistura
perigosa de desejo e crueldade. Algo dentro de mim se agitou, e antes que eu
pudesse pensar, meu corpo já havia tomado a decisão. Pulei em sua direção,
minhas pernas se enroscaram em sua cintura, minhas mãos agarraram seus
ombros largos e quentes. Nossos lábios se encontraram com urgência, um
vício do qual nunca poderia me libertar. A intensidade entre nós era
insaciável. Mordi seu lábio inferior com força, arrancando sangue. O gosto
metálico me incendiou ainda mais. Eu queria tudo dele, cada pedaço.
Com uma mão firme em minhas nádegas, Otto me segurava com
facilidade, sem que eu corresse o risco de cair. Enquanto eu o devorava com
desespero, ansiando por mais, ele se mantinha impassível. Seus movimentos
eram calculados, roubando meu fôlego aos poucos, como se quisesse me
destruir sem pressa. Sua calma implacável contrastava com minha urgência
desesperada.
Nossos lábios se separaram abruptamente, e eu olhei para Otto,
assustada. Incrédula com o que havia acabado de fazer. O peso do momento
parecia esmagador, mas não havia arrependimento em mim. Tomei o que era
meu, exatamente como ele sempre dizia.
— Fique ali no canto, prinkípissa mou — ordenou, sua voz grossa,
cheia de controle, enquanto me colocava de volta no chão com firmeza. —
Ninguém vai interferir — disse em um tom alto, quase cortante, virando-se
para os seus homens. — Nada chega perto dela.
Os soldados acenaram com a cabeça em um sinal de obediência
imediata, posicionando-se ao meu lado como uma barreira viva. Dois deles
surgiram carregando uma cadeira alta, quase como uma poltrona, robusta e
imponente. Colocaram-na ao meu lado e, com um gesto silencioso, indicaram
que eu deveria me sentar. Sem hesitar, me acomodei. Os homens da Exousía
ficaram diante de mim como barreiras humanas, mas me dando total visão ao
que acontecia à minha volta. Eu me movi em direção ao canto da parede,
onde ele havia me instruído a ficar, mas ainda mantinha uma visão clara de
toda a sala. O espaço era amplo, com um cheiro penetrante de mofo e
decadência. Um rato cruzou rapidamente o canto da sala, sumindo nas
sombras como se também estivesse fugindo da violência que estava prestes a
acontecer.
Otto, o meu pokhititel, começou a remover os sapatos, ficando descalço
no chão de pedra fria. Havia uma tranquilidade assustadora em seus
movimentos, como se a brutalidade que estava por vir fosse algo natural para
ele. Meus olhos o seguiram, cada gesto lento, e não consegui conter um
suspiro profundo quando ele colocou o soco-inglês entre os dedos,
transformando suas mãos em armas mortais. Aquilo o fazia parecer ainda
mais selvagem e perigoso, como se ele fosse o próprio predador naquele
ambiente de tortura.
Não havia armas nas paredes, o que só podia significar uma coisa: Otto
iria lutar com eles usando apenas os punhos e sua fúria contida. A tensão no
ar era palpável, quase eletrizante. Ele estava ali, de pé, sem camisa, trajando
apenas sua calça de alfaiataria, cada músculo delineado e pronto para a
batalha. O contraste entre sua postura elegante e o caos iminente me deixava
desnorteada. Eu não deveria sentir o que estava sentindo, mas não conseguia
evitar. Vê-lo prestes a brigar, a expressão inabalável de poder e controle
estampada em seu rosto, fez algo dentro de mim queimar. Uma sensação
quente, primal, percorreu meu corpo, um desejo proibido que me fazia sentir
como se estivesse em chamas.
Eu sabia que deveria temer o que estava por vir, mas a visão de Otto,
preparado para derramar sangue, me excitava de um jeito que não conseguia
explicar. O caos, a violência, e o controle que ele exercia sobre tudo ao seu
redor me envolviam. E, mesmo à distância, eu não conseguia desviar o olhar.
— Soltem todos — ordenou Otto, sua voz cortante como uma lâmina.
Ele não precisou levantar o tom, mas a ameaça implícita em suas palavras
fora clara o suficiente. Os soldados hesitaram por um breve momento, mas
logo obedeceram, libertando os homens amarrados.
— Vocês podem tentar me matar — continuou Otto, seu olhar frio e
desafiador —, mas duvido que consigam.
Sua gargalhada explodiu, alta e sombria, reverberando pelas paredes de
pedra. Era um som que fazia o sangue gelar, tão cheio de crueldade e poder
que senti o medo percorrer meu corpo como uma corrente elétrica. Aquela
risada parecia ecoar de algo profundo e obscuro, como se ele estivesse se
divertindo com a ideia da violência que estava prestes a acontecer.
Quando ele se virou para me olhar, nossos olhos se encontraram por um
breve segundo, e o ar ao meu redor pareceu desaparecer. Foi como olhar
diretamente para o abismo, como se, por um instante, eu vislumbrasse o
próprio diabo habitando aqueles olhos escuros. Havia uma maldade latente
ali, algo que ele não se preocupava em esconder, e isso me fez recuar
instintivamente, pressionando as costas contra a parede fria.
Otto não era apenas um homem; naquele momento, ele parecia ser algo
muito pior. Uma força implacável, uma tempestade prestes a destruir tudo em
seu caminho. E o mais aterrorizante de tudo era o fato de que ele sabia
exatamente o que estava fazendo. Ele queria que eu visse, queria que eu
soubesse do monstro que habitava dentro dele — e, de alguma forma
distorcida, ele sabia que isso me atraía.
CAPÍTULO 23
Senti meu téras — o monstro adormecido dentro de mim —,
começando a despertar. Depois de tanto tempo suprimindo essa parte
sombria, eu, enfim, a deixei emergir, libertando-a como uma fera que ansiava
por sangue. Fechei os olhos e permiti que a sede por violência me dominasse
por completo. Meu coração, antes acelerado, agora batia em um ritmo calmo
e constante, quase sereno. Enquanto ao meu redor, as respirações se tornavam
agitadas, eu me sentia em perfeita paz, como se estivesse exatamente onde
deveria estar.
Um sorriso cruel se formou nos meus lábios quando percebi um dos
desgraçados se aproximando. Senti sua presença antes de ouvi-lo. Não reagi,
deixei que ele me atingisse, seu punho acertou minhas costelas com força. A
dor, que deveria ter me dobrado, mal me fez mover. Em vez de gritar ou
recuar, gargalhei. A risada explodiu da minha garganta, ecoando pela sala
como um aviso. Abri os olhos, e o choque no rosto dele ao ver que eu não
havia caído só alimentou meu desejo por mais.
Com um movimento rápido, cravei o punho no rosto dele. O som do
impacto foi alto, seguido pelo som molhado de sangue voando no ar. O soco-
inglês entrelaçado nos meus dedos aumentou a força do golpe, despedaçando
a carne e os ossos do homem. Ele caiu para trás, sangrando e atordoado,
enquanto eu o observava, sentindo a excitação de ver a destruição que tinha
causado.
Outro homem avançou. Sem hesitar, me virei e o ataquei com um chute
feroz no pescoço. O estalo foi alto, direto, quebrando seus dentes. Seu corpo
desabou no chão em um movimento pesado, ele soltou um gemido de dor,
enquanto o sangue escorria da boca, tingindo o chão frio. O som dos seus
grunhidos era música para os meus ouvidos. Eu o observei contorcendo-se,
sua dor evidente, seu corpo quebrado aos meus pés.
Meus instintos estavam à flor da pele, e cada golpe que eu desferia me
aproximava mais daquilo que sabia ser inevitável — a carnificina que só a
violência podia proporcionar.
Vi quando um dos quatro restantes tentou escapar, correndo
desesperado em direção à minha láthos. A covardia estampada em seu rosto o
denunciava. Sem hesitar, movi-me com velocidade, puxando a faca que
estava escondida no cós da minha calça. Em um movimento rápido, agarrei o
cabelo comprido do soldado italiano, seus gritos abafados pelo choque. Ele
tentou se desvencilhar, mas já era tarde. Virei-o com força para mim, e com
um sorriso de pura crueldade, enfiei a lâmina em seu peito. O som da faca
penetrando a carne foi abafado apenas pelo som do seu gemido de dor, o
sangue expeliu entre nós dois, manchando nossas roupas e meu rosto.
Ri, um riso sem compaixão, enquanto ele tropeçava para trás, seus
olhos arregalados de dor e incredulidade, caminhei em sua direção a passos
ágeis. Ele tentou me acertar com um soco desesperado, mas desviei com
facilidade, devolvendo o golpe com precisão. Meu punho acertou seu olho
com força, o impacto fez o sangue espirrar diretamente em meu rosto. Eu
sorri, lambendo os lábios como se saboreasse aquele momento.
— Acha mesmo que permitirei que se aproxime da minha esposa? —
murmurei, minha voz baixa e carregada de ameaça.
O italiano riu, ou pelo menos tentou, cuspindo sangue enquanto
provocava com um sorriso torto de dor.
— Ferraz a fodeu gostoso — ele sussurrou, a respiração entrecortada.
O riso que escapou de mim foi sombrio, carregado de desprezo. Sem
hesitar, arranquei a faca do peito dele com um movimento violento, mas o
ódio que pulsava dentro de mim exigia mais. Em um frenesi de pura fúria,
cravei a lâmina direto no seu olho esquerdo, afundando o metal sem piedade.
O grito que ele soltou foi ensurdecedor, um som que ecoava puro desespero.
O som de carne sendo rasgada e ossos estilhaçados encheu o ar, enquanto o
sangue jorrava, quente e abundante.
Ele tentou se debater, mas seu corpo estava fraco demais para resistir.
A faca ficou ali, presa em seu crânio, e seus gritos foram morrendo, até que
tudo o que restou foi o silêncio de um corpo sem vida desabando ao chão.
Os três homens restantes, vendo seu aliado cair em uma poça de
sangue, avançaram contra mim ao mesmo tempo. Larguei o corpo do infeliz
sem sequer olhar para ele e me esquivei com agilidade dos golpes dos outros
três. Meus instintos estavam afiados, e o cheiro de sangue fresco no ar me
deixava mais alerta, mais faminto. Eles atacaram com desespero, mas não
podiam me alcançar. Eu era mais rápido, mais forte.
Eu gargalhava alto, a diversão estampada em cada som que escapava da
minha garganta, enquanto eles tentavam desesperadamente me atingir. Eram
como crianças, perdidas no medo, atacando sem coordenação, e não homens
treinados para matar. Cada tentativa era um fracasso patético. Meus soldados
permaneciam imóveis, formando uma barreira ao redor de Sasha,
assegurando que nenhum deles sequer se aproximasse dela. Ela estava
protegida — e eu, implacável.
Em um movimento veloz, avancei sobre um dos infelizes, meus olhos
fixos nele como um predador prestes a atacar sua presa. Sem hesitar, deslizei
a faca com precisão, cortando a ligação dos tendões em suas pernas. Ele
gritou de dor, sua voz ecoava pela sala enquanto caía no chão, incapaz de
sustentar o próprio peso. Ele se contorcia, gemendo, mas sua dor era sem
importância para mim — apenas mais uma trilha sonora da carnificina.
Os outros dois avançaram contra mim, gritando como se isso pudesse
lhes dar alguma vantagem. Permiti que um deles me acertasse no peito, o
impacto forte, mas insignificante. Seu punho atingiu meus músculos como
uma pedra atinge um rochedo, e antes que ele pudesse tentar outro golpe,
agarrei seu pulso com ambas as mãos. A pressão que exerci ao torcer foi
rápida, letal. Senti os ossos dele se partirem sob meus dedos como vidro
sendo esmagado. Seu grito de dor foi imediato, seus olhos arregalados de
desespero. Sorri enquanto ele se debatia, incapaz de escapar.
— Você não é nada — murmurei, minha voz baixa e implacável, o som
de um juiz condenando sua vítima.
Sem soltar o homem, girei meu corpo e, com a força de um golpe
preciso, desferi um chute no pescoço do outro que se aproximava. O estalo do
osso se quebrando foi audível, uma sinfonia de violência. O corpo dele caiu,
inerte e sem vida, enquanto o último ainda se debatia em minhas mãos, seu
pulso destroçado. Soltei-o, ele caiu aos meus pés, choramingando,
implorando com os olhos, mas não tinha mais nada a dizer.
O cheiro de sangue e suor misturava-se no ar pesado da sala, e a
sensação de poder absoluto dominava cada célula do meu corpo. Eram meros
brinquedos em minhas mãos, incapazes de me deter, e sabiam disso. A fúria
que queimava em mim, no entanto, não estava satisfeito.
Olhei ao redor, contemplando a cena de destruição que eu havia
causado. Os corpos caídos no chão, os gemidos de dor se misturavam ao
cheiro metálico de sangue fresco. Dos seis, apenas dois ainda respiravam,
mas isso não duraria muito. Meu téras rugia dentro de mim, mais vivo do que
nunca, impelindo-me a continuar, a afundar mais fundo na selvageria.
O instinto assumiu o controle e avancei sobre um dos sobreviventes.
Curvado sobre seu peito, comecei a socar seu rosto várias vezes, cada golpe
era uma liberação de poder e prazer. O som surdo dos meus punhos
esmagando sua carne, o estalo dos ossos quebrando, me consumiam. Sangue
espirrava em meu rosto e peito, e eu sorria, extasiado pelo controle total sobre
sua vida. Ele gemia de dor, sua resistência se esvaindo de forma célere, mas
eu não parava. Cada soco me trazia mais satisfação.
Sobrou apenas um vivo. Seus olhos estavam fixos nos meus, um medo
desesperado refletido em seu olhar. O italiano, já com cortes profundos no
rosto, parecia um animal encurralado. Quando avancei em sua direção, ele
simplesmente fechou os olhos, resignado ao destino que o aguardava. Ele
sabia que não havia escapatória.
O primeiro soco foi seco, direto no maxilar, e ele murmurou entre
dentes:
— Você é pior que o diabo, Exousía.
Eu ri, um som baixo e cruel, e continuei socando. Cada impacto
reverberava pela sala, meus punhos afundando em sua carne, até que seu
rosto não passava de uma massa ensanguentada e irreconhecível. Seus ossos
estalaram sob o peso dos meus golpes, e, quando finalmente me cansei, seu
corpo caiu mole e desacordado no chão, sem mais vida ou dignidade.
Então, um som suave cortou o ar — um suspiro. Prazeroso, quase como
um gemido. Me virei lentamente, os olhos focando na única pessoa na sala
que conseguia me alcançar em meio àquela carnificina.
Sasha.
Seus olhos estavam marejados, seu rosto vermelho, claramente lutando
contra o medo. Mas, por baixo da superfície, havia algo mais. A excitação
brilhava em seu olhar, um desejo que ela não conseguia esconder, mesmo que
quisesse. Ela estava apavorada com o que via, mas também enlevada. O
desejo a consumia tanto quanto a mim.
Ela me queria.
Foda-se a cama. Foda-se os lençóis brancos e a ilusão de controle
civilizado. Eu a tomaria ali, no meio do caos e da violência.

O fogo que ardia dentro era mais intenso do que eu jamais poderia ter
imaginado. O corpo estava em chamas, cada centímetro de pele coçando,
quente, fervendo. O estômago se revirava em ondas de ansiedade e desejo,
entre as pernas, já sentia a umidade se espalhando, as coxas pegajosas pela
excitação que escorria sem controle. A respiração vinha em arfadas curtas e
descompassadas, e a mente turva, completamente consumida pela
necessidade. Só conseguia pensar nele.
Otto.
Tudo ao redor se desfazia em segundo plano, e o único som que me
restava era o dos meus próprios gemidos baixos, entrecortados pelo desespero
crescente. Apertei minhas coxas, tentando encontrar algum tipo de alívio,
mas só piorava. Estava perdida, fora de mim, dominada pelo desejo. Cada
soco que meu pokhititel desferia no último homem fazia algo dentro de mim
vibrar, alimentando ainda mais essa fome insaciável.
Meus olhos o seguiam, presos à figura brutal e irresistível dele. Seus
punhos, ainda ensanguentados, se moviam em golpes certeiros, e com cada
impacto, eu gemia silenciosamente, desejando que fosse a minha pele sob
aquelas mãos. Ele parou, enfim, depois de dar o golpe final, e me olhou com
um sorriso cruel que fez meu corpo inteiro estremecer. Seus lábios,
manchados de sangue, o deixavam ainda mais perigoso e, ao mesmo tempo,
impossível de resistir..
— Saiam do complexo — ele ordenou, os soldados obedeceram sem
hesitar, saindo em completo silêncio. Em questão de minutos, éramos só nós
dois, sozinhos naquele lugar com odor forte de morte. Meu coração batia
descontrolado, antecipando o que viria.
— Agora venha até mim, láthos mou. — Sua voz era um comando
velado de promessa.
E meu corpo, traidor, respondeu antes que minha mente pudesse
hesitar. Cada passo em direção a ele era uma batalha entre o que restava de
sanidade e a necessidade primitiva que me consumia. O aroma fúnebre e sua
colônia formavam uma mistura intoxicante, algo que parecia feito para me
enlouquecer ainda mais. Quando meus olhos encontraram os seus, eu soube
que não tinha volta. Otto estava ali, sujo de sangue, o dragão tatuado em sua
pele parecia ganhar vida, enquanto seu peito arfava com a adrenalina.
Qualquer pessoa normal teria corrido, teria sentido o medo rasgar seus
sentidos e fugir dali sem olhar para trás. Mas eu? Eu fiz o oposto.
Lancei-me contra ele. Meus braços envolveram seu pescoço, e no
instante em que nossos corpos se chocaram, suas mãos fortes agarraram meus
quadris, puxando-me contra seu corpo duro. Nossas bocas se encontraram em
um beijo feroz, faminto, como se estivéssemos à beira do abismo e apenas a
presença um do outro pudesse nos salvar. O gosto metálico do sangue se
misturava com o calor de sua boca, e eu o queria cada vez mais.
Cada movimento era selvagem, desesperado, como se eu fosse uma
presa finalmente rendida ao predador.
Otto mordia minha garganta com uma voracidade que fazia minha pele
arder, enquanto sua voz rouca sibilava contra minha carne:
— Eu vou te possuir aqui, chamós mou.
O som de seu nome saindo dos meus lábios veio como um gemido
desesperado.
— Otto...
Minhas unhas rasgavam seus ombros, e ele parecia gostar da dor que eu
infligia. Mesmo assim, com uma força bruta, ele me abaixou no chão frio e
sujo, onde os corpos dos homens mortos ainda jaziam ao nosso redor. Meu
coração disparou, mas não era de medo. Era o caos da excitação me
dominando por completo, me afogando em algo sombrio e primal.
Ele me prendeu ali, com suas pernas de cada lado do meu corpo, me
olhando como se fosse um bárbaro pronto para tomar aquilo que ele já havia
reivindicado. Seu olhar era carregado de luxúria, mas havia uma escuridão
nele, uma fome insaciável que se refletia no modo como ele examinava cada
parte de mim. Meu peito subia e descia com a respiração pesada, e naquele
momento, uma clareza cruel me atingiu: entregaria minha virgindade ao meu
sequestrador, ali, cercada por sangue e morte. Nada me parecia mais
apropriado. Eu precisava senti-lo dentro de mim. Aquela vontade carnal me
devorava, corroendo cada fragmento de racionalidade que eu ainda tinha.
Otto, sem hesitar, rasgou ao meio o meu vestido como um animal
faminto, jogando o tecido destruído para longe. Seus olhos brilharam com
uma luxúria quase inumana quando viu meus seios nus, um sorriso cruel se
formou em seus lábios. Ele se curvou sobre mim, lambendo o bico do meu
seio direito com uma lentidão torturante. Minha respiração ficou
entrecortada, e o contraste entre o calor do meu corpo e o toque gelado da
língua dele me fez arfar.
— Otto... — o nome dele escapou de mim de novo, dessa vez mais
como um sussurro suplicante.
Ele sabia o que estava fazendo. Cada movimento lento da sua língua,
cada mordida provocante, era um golpe direto no meu autocontrole. Minhas
unhas se cravaram em seus braços, que estavam apoiados de cada lado da
minha cabeça, enquanto ele se movia para o outro seio, sugando com força,
seus dentes arranhavam a pele sensível, fazendo um gemido de dor e prazer
escapar dos meus lábios.
Estava à mercê de Otto, completamente perdida naquela mistura insana
de agonia e êxtase.
— Gosto quando geme meu nome — ele murmurou, sua voz baixa e
rouca enquanto rasgava minha calcinha em um único puxão, deixando-me
nua por completo, apenas vestida de minha vulnerabilidade. Seu olhar
faminto percorreu cada centímetro do meu corpo exposto, e um sorriso
torturante se formou em seus lábios. — Sua boceta é perfeita, láthos.
Meu corpo reagiu de imediato, contraindo de forma involuntária minha
vagina encharcada. Estava molhada, cada parte de mim clamava pelo seu
toque. Otto ajoelhou-se entre as minhas pernas, abrindo-as com uma firmeza
que não dava espaço para resistência, expondo-me completamente. O ar frio
do ambiente fez meu corpo tremer, mas a verdadeira tempestade estava
dentro de mim.
Com uma calma perversa, ele passou dois dedos pelos meus lábios
molhados, subindo até o meu clitóris. Quando apertou o ponto sensível com
força, meu corpo arqueou, um gemido alto escapou dos meus lábios. O prazer
era intenso e doloroso, cada toque, cada pressão era uma tortura doce que me
destruía e me reconstruía ao mesmo tempo. Meus dedos se enterraram nos
farrapos que sobrou do meu vestido, desesperada para encontrar algum
controle, mas ele era o mestre daquele jogo, e eu estava completamente à sua
mercê.
Os dedos dele circularam o meu clitóris devagar, o movimento lento e
preciso, criando ondas de prazer que deixavam meu ventre em espasmos. Eu
me contorcia, meus quadris involuntariamente seguiam o ritmo que ele
impunha. Quando ele finalmente deslizou dois dedos dentro de mim, uma
estocada lenta e superficial, meu corpo reagiu instantaneamente. Ele sabia
que não romperia meu hímen, mesmo assim, a sensação da invasão fez um
grito escapar da minha garganta, e em um momento de puro abandono, gozei
violentamente. Meu corpo tremeu, os espasmos de prazer me dominando,
fazendo-me perder a noção de tudo ao meu redor.
Estava fora de mim, consumida pela necessidade esmagadora dele,
cada célula do meu corpo clamando por seu toque.
— Eu preciso de você — implorei, minha voz entrecortada pela
urgência, enquanto impulsionava minha pélvis contra os seus dedos,
buscando alívio.
Otto me ignorou de propósito, o controle dele era absoluto. Com uma
brutalidade controlada, ele colocou minhas pernas sobre os seus ombros e me
puxou ainda mais de encontro a si. Senti a pele sensível do meu cóccix sendo
arrastada no chão áspero, a dor se misturava ao prazer insano que ele
causava. Meu coração batia desenfreado, o som ecoava no meu peito, cada
vez mais intenso quando percebi o que ele estava prestes a fazer.
— Estou louco para degenerar sua boceta com a minha boca, Sasha —
ele rosnou, a voz carregada de luxúria crua.
Sem aviso, sua boca se aproximou e sua língua lambeu meus lábios
maiores. O choque de prazer foi tão intenso que um grito escapou da minha
garganta. Arquejei, meu corpo se entregou por completo, enquanto ele me
devorava com uma fome insaciável. A cada lambida, a cada sucção, ele me
levava mais perto do abismo, minha mente enevoada de tanto prazer. Otto
explorava cada parte de mim com sua língua, brincando com os meus nervos
de uma forma que me deixava enlouquecida. Meu corpo tremia, meu clitóris
latejava, e eu sabia que não aguentaria por mais tempo naquela tortura
deliciosa.
Estava à beira de explodir de novo, e tudo que eu queria era mais dele,
mais daquela loucura que me consumia.
Otto me levou ao limite, torturando-me com a sua boca de forma
implacável, mas parou no momento em que meu corpo estava prestes a
explodir em um orgasmo. Ele liberou minhas pernas dos seus ombros e, de
pé, me observou por um momento, seu olhar carregado de luxúria selvagem.
Sem desviar os olhos dos meus, Otto desceu a braguilha da calça com
uma calma que só acentuava o controle que exercia sobre mim. Quando ele
puxou a boxer preta para baixo, seu pau ereto saltou para fora, grande, grosso
com veias azuis e gotejante de pré-gozo como se estivesse à beira de perder o
controle. Ele removeu a calça com uma elegância contrastante à brutalidade
do momento, então agarrou o próprio membro, massageando-o de forma
lenta, espalhando o pré-gozo com uma destreza que só aumentava minha
agonia.
Meu corpo, já fervendo de desejo, tremeu à visão dele, cada parte de
mim clamava por ser preenchida por ele. Eu podia sentir o calor que
emanava, o poder bruto que ele exalava, e a cada movimento, minha
excitação crescia, tornando-se insuportável.
— Me diga o que quer, láthos mou — exigiu ele, sua voz rouca
preenchia o espaço entre nós, como um comando que não podia ser ignorado.
— Você dentro de mim. — Minha resposta saiu quase em um sussurro,
um fio de desejo desesperado.
Otto riu perverso, um som que misturava diversão e desejo, enquanto se
ajoelhava entre minhas pernas. Ele posicionou seu membro, o calor dele
contra a minha entrada molhada de excitação, e inclinou seu corpo sobre o
meu. Nossos lábios se tocaram em um beijo breve, uma conexão elétrica que
fez meu coração disparar.
Então, com um movimento controlado, ele pressionou seu peso em
mim, em uma estocada poderosa, entrou em mim. A dor se misturou ao
prazer de uma forma deliciosa, e eu uivei, meu fôlego sendo tomado de
assalto. Era tudo o que eu desejava, um momento que transcendeu qualquer
limite, a sensação de ser preenchida por ele, de pertencer a ele.
Nós nos beijamos com volúpia, dois seres conturbados tentando tomar
o controle, mas, nessa dança, ele conduziu. Otto permaneceu parado dentro
de mim por um tempo, distraindo-me com seus beijos intensos, até que
libertou minha boca e, em um movimento poderoso, começou a estocar com
força. Meu corpo se arrastava pelo chão ensanguentado, sacudido a cada
investida. A cada estocada, eu gemia mais alto, incapaz de conter os sons que
escapavam dos meus lábios, nossas respirações se entrelaçavam em um ritmo
frenético.
Grudei minhas unhas em suas costas, perfurando sua pele, enquanto
mordia seus ombros, tentando silenciar os rugidos altos que ecoavam pela
sala.
— Não esconda seus gemidos de mim, porra — rugiu Otto,
aprofundando cada vez mais seu movimento, atingindo um lugar dentro de
mim que me deixava ainda mais enlouquecida. — Deixe-me ouvir seus
gemidos, porra, apertada pra caralho — ele grunhiu entre gemidos, suas
palavras carregadas de desejo. — Sasha, você é minha, caralho.
— Otto, sua... isso — gemi, aturdida pelo prazer avassalador.
Tê-lo dentro de mim era esplêndido; a forma como ele me tomava, por
completo, era tudo o que eu desejava. A mistura de dor e prazer me fazia
flutuar, e cada movimento dele parecia me transportar para um lugar onde só
existíamos nós dois.
Ele apertou minha garganta com força, seus dedos pressionavam a pele
enquanto estocava cada vez mais forte e rápido. O som da pele dele batendo
contra a minha enchia o ambiente, nossos gemidos se misturavam em um
ritmo frenético. Sem tirar a mão do meu pescoço, ele ergueu minha perna
direita, posicionando-a sobre o ombro dele, o que fez meu corpo arquear.
Arfei, sentindo-o entrar ainda mais fundo em mim, o prazer e a dor se
fundiam em uma onda avassaladora. Seus dedos apertaram minha garganta
com mais intensidade, sufocando-me, enquanto ele continuava seu ritmo
implacável.
— Inferno, mais, mais — gritei, alucinada, sentindo meu ventre e
minha vagina se contrair em resposta ao prazer avassalador.
— Goza no meu pau, láthos mou — ordenou Otto, sua voz rouca e
imperativa.
Meu corpo obedeceu, uma onda de choque me atravessou, fazendo-me
tremer. Fechei os olhos, contorcendo-me, enquanto algo desmoronava em
meu ventre. A onda de alívio veio em seguida, entorpecendo todos os meus
sentidos. Meu coração batia tão forte que achei que ia explodir. Abri os olhos
e encarei meu sequestrador, seu suor escorria pelo corpo e pingava em mim,
todo molhado.
— Minha porra — rugiu Otto, gozando dentro de mim com força. Seus
olhos grudados nos meus, vi o prazer em seu rosto, uma onda de satisfação
tomou conta de mim, pois eu havia causado aquilo nele.
— Eu sabia, chamós mou, que seria perfeito foder você — ele
murmurou, a voz carregada de um orgulho selvagem.
Sorrindo, cansada e satisfeita, permaneci calada incapaz de dizer
qualquer coisa, o momento se estendeu entre nós, carregado de uma
intensidade que mal podíamos compreender.
CAPÍTULO 24
Não fazia ideia do que deveria sentir. Estava deitada nua, meu corpo
coberto de suor e sangue, o cheiro metálico dos mortos ao nosso redor se
misturava com o aroma denso de sexo e de Otto. Minhas pernas estavam
entrelaçadas nas dele, a cabeça apoiada em seu ombro esquerdo, enquanto
meus braços envolviam seu tronco forte, como se agarrá-lo fosse a única
coisa que me mantivesse ancorada à realidade. A respiração ainda pesada, o
calor da minha boceta melada contrastava com o frio sujo do chão. Sentia o
sêmen de Otto escorrer pelas minhas coxas, quente.
Ele se moveu com precisão, desentrelaçando nossas pernas, enquanto
me posicionava deitada sobre seu corpo duro e musculoso. O calor que
emanava dele era palpável, seu coração batia mais rápido do que o normal,
ressoando contra o meu peito. Seu pau, duro e pulsante, cutucava minha
entrada, despertando em mim uma necessidade voraz que só ele podia saciar.
Sua mão direita cravava-se na minha bunda, os dedos apertando minha
carne com uma firmeza possessiva. Na outra mão, ele traçava linhas
invisíveis nas minhas costas com as unhas, uma carícia que, por mais suave,
ainda parecia cheia de controle e poder. O silêncio entre nós era espesso,
apenas interrompido pelo som da nossa respiração. A dele, sempre calma e
controlada, como se nada o afetasse. A minha, ofegante, desgovernada.
Estava excitada além do suportável, mesmo que meu corpo gritasse por
descanso. Minha boceta doía, mas o desejo parecia não ter limites, a cabeça
gorda do pau de Otto roçava minha entrada pulsante, o que apenas aumentava
meu tormento. A parte mais primitiva de mim ansiava que ele me
preenchesse de novo, me consumisse por completo. A necessidade de mais
me corroía por dentro. Meus pensamentos eram um caos — eu queria sentir
seus lábios, seu toque, sua brutalidade de novo, em um ciclo insaciável de
prazer e dor.
Não havia dormido a noite inteira, e a realidade ao nosso redor se
tornava cada vez mais grotesca e distorcida.
Meu coração disparou enquanto meus olhos percorriam as paredes
sujas, cobertas de teias de aranha que balançavam suavemente, como se o
ambiente estivesse vivo, nos observando. O chão estava imundo, manchado
com sangue seco e fragmentos de corpos. Havia perdido minha virgindade
em um lugar que era o ápice do caos e da decadência.
Eu deveria estar horrorizada, mas a única coisa que conseguia pensar
era no pau de Otto — na sensação de ele afundando de forma intensa na
minha vulva de novo, me consumindo por completo. O mundo ao nosso redor
era infernal, no entanto, eu só desejava mais dele.
O desejo me consumia por completo e antes que eu pudesse pensar
duas vezes, movi meu corpo para baixo, cutucando com delicadeza o pênis
dele. A resposta de Otto foi instantânea: sua mão apertou minha nádega com
mais força, os dedos afundaram em minha carne com uma possessividade que
me fez estremecer. Um suspiro escapou dos meus lábios, carregado de
anseio. Dor? Que se dane. Eu o queria agora.
Com uma determinação que superava o cansaço, ergui-me e me sentei
em sua barriga trincada, sentindo o calor de sua pele contra a minha. Meus
olhos encontraram os dele — frios, dominadores e calculistas. Suas mãos de
forma instantânea voaram para meu quadril, conduzindo-me com firmeza em
direção ao seu pênis ereto. Não havia necessidade de palavras entre nós;
nossos olhares diziam tudo. O silêncio carregava uma conversa muda, onde
ele, sem precisar de algo, me comandava com aquele olhar intransponível.
Minha mão desceu até seu membro pulsante, segurando-o com firmeza,
sentindo seu peso, sua dureza, e, com um movimento lento, comecei a descer.
A sensação de me esticar ao redor dele era quase impossível de aguentar —
cada pedaço me invadia, rasgando-me por dentro, minha boceta queimava
com uma intensidade que mesclava prazer e dor, consumindo cada parte de
mim que me deixava zonza, mas não era o suficiente para eu parar. Meu
corpo o tomava por completo, devagar, como se cada segundo desse
momento fosse uma extensão da nossa luta silenciosa.
Quando, enfim, senti-o tudo dentro de mim, um gemido alto e rouco
escapou dos meus lábios. A dor me dilacerava por dentro amplificava o
prazer bruto, e a conexão entre nós parecia mais profunda e intensa, como se
eu estivesse sendo devorada por ele. O controle estava nas mãos de Otto,
mesmo quando eu me movia, ele me possuía, ditando o ritmo, e eu, rendida,
só podia ceder a cada impulso de desejo que seu corpo desencadeava no meu.
— Rebola com força. — A voz grave de Otto cortou o ar, um comando
que não aceitava questionamentos. Sua mão pesada desceu firme sobre
minhas nádegas, o som do tapa ecoou pela sala. Meu corpo estremeceu com o
impacto, e o calor da dor logo se manteve, misturando-se com o prazer. Ele
era meu pokhititel, meu dono. Sua mão esquerda deslizou pelo meu corpo
sem misericórdia, agarrando meu mamilo com severidade, os dedos
cravaram-se em minha pele sensível, arrancando um suspiro de dor dos meus
lábios entreabertos. O mundo parecia girar quando ele, enfim, envolveu
minhas costas com as mãos grandes, uma delas subindo ao meu pescoço,
apertando-o com austeridade que me deixava à beira da asfixia. Eu gemia,
meus quadris seguindo seu comando, rebolando com ímpeto sobre seu pau.
— Toma meu pau com vontade, i skýla prinkípissá mou. — Sua voz era
um rugido grave e exigente, cada palavra carregada de autoridade.
Com as unhas cravadas em sua pele, obedeci. Subia e desça em seu
pênis, cada movimento mais intenso, como se minha vida dependesse de
satisfazê-lo. Ele afrouxava o aperto em meu pescoço apenas para me deixar
respirar um pouco antes de voltar a pressão com vigor em seguida. Contraí
minha boceta ao redor de seu pau, apertando-o com a intenção de arrancar-
lhe prazer. Vi seus olhos se fecharem brevemente, o rosto rígido se contorceu
por um momento, e uma onda de satisfação me invadiu, dominando-me.
Inclinei-me para frente, tomando seus lábios em um beijo desesperado,
desajeitado, onde nossos dentes se batiam, e sua língua invadia a minha boca
com uma exigência crua e impiedosa. Ele impulsionou os quadris para frente,
afundando dentro de mim com uma pressão que atingiu um ponto profundo e
mágico. Gemi alto, minha voz cheia de necessidades.
— Otto! — gritei, incapaz de me controlar. — De novo, mais, por
favor...
— O que você quer? — ele provocou entre os beijos, sua respiração
quente colada em mim. — Fala, o que você quer?
Mordi seus lábios com desespero, mas ele parou de se mover,
segurando meu corpo com firmeza, impedindo-me de seguir o ritmo que eu
tanto ansiava. A frustração me invadiu, a necessidade de gozar se tornou
insuportável, quase dolorosa. Eu, provavelmente, me aliviaria, ouvir seus
gemidos roucos e descontrolados quando ele explodisse dentro de mim. O
som de Otto perdendo o controle havia se tornado meu vício, algo que eu
desejava a cada segundo com ele.
— Você me fodendo com força! — gritei, minha voz rouca de desejo,
enquanto nossas bocas se chocavam de novo... — Me deixe gozar, tome-me!
Ele riu, um som sombrio que me arrepiou até a alma, antes de me
arrebatar completamente. Seu corpo se moveu com uma violência controlada,
cada estocada uma mistura de céu e inferno, levando-me à beira da loucura.
Fechei os olhos, sentindo-o preencher até o limite, enquanto uma euforia crua
e selvagem tomava conta de mim. Contraí minha boceta, de forma extrema
descontrolada, e o orgasmo me atingiu de forma avassaladora. Eu estava
completamente à mercê dele, sufocada pela mão que apertava meu pescoço,
arrancando de mim cada gota de prazer.
Quando ele gozou, seu corpo inteiro tensionou, e abriu meus olhos,
ainda trêmula, apenas para ter o prazer de ver o rosto de Otto se contorcer em
êxtase. Seu pau pulsava dentro de mim, enchendo-me com jatos quentes,
marcando-me por completo. E, naquele momento, não havia nada além de
nós dois, conectados pela intensidade brutal e descontrolada que dominava
nossas almas.
— Vamos para casa — declarou depois de uns minutos em silêncio.
Sorri cansada, concordando.
A fome por Sasha queimou em mim como um incêndio incontrolável.
O monstro que habitava meu ser queria tomá-la novamente, um desejo
visceral que não conhecia limites. Apenas uma prova da sua doçura havia
despertado algo inextinguível dentro de mim, e agora, seu sabor ainda ecoava
em minha boca, como um pecado tentado. Uma ereção teimosa que persistia
mesmo após um treino extenuante e horas intermináveis de reuniões com
Eros.
A dor e o prazer de seu corpo consumido por mim se entrelaçavam em
uma dança tortuosa. Deixá-la descansar, mesmo que por uma noite, era uma
escolha amarga, mas necessária; amanhã, no calabouço, eu a tomaria
novamente, desta vez, com uma ferocidade insaciável.
Eu ansiava por suas feridas, por suas chicotadas que fariam meu sangue
ferver antes que eu a consumisse com uma brutalidade deliciosa. Nossa
relação, distorcida e sombria, era um jogo de dominação e entrega, onde o
prazer e a dor coexistiam em um equilíbrio precário.
E, no entanto, havia algo sobre seus lábios que me deixava inquieto.
Sasha, em um momento de ousadia, quase me pegou de surpresa ao se
aproximar e me beijar. O fato de eu nunca ter iniciado um beijo a
incomodava era um fio que mantinha a tensão entre nós, porém, sua
impulsividade ao me beijar no hospital, em meio àquele caos, havia acendido
uma chama de motivação dentro de mim.
Por mim, eu a tomaria ali, mas nunca permitiria que seus gemidos, que
pertenciam apenas a mim, ecoassem para outros ouvidos.
Entrei em nosso quarto ao início da noite, a luz suave filtrando-se pelas
cortinas, quase como se o ambiente estivesse se preparando para o que viria.
Ela estava sentada na poltrona, envolta em um vestido longo verde, as
mangas curtas moldavam suas formas de maneira sedutora, enquanto um
pequeno decote triangular revelava um vislumbre de sua pele. Meu olhar
percorreu o pescoço pálido dela, onde as marcas de minhas mãos se
destacavam, arroxeadas e provocativas, um lembrete da possessividade que
me consumia.
Nossos olhares se encontraram, pude ver a expectativa refletida nos
olhos dela, misturada a um nervosismo palpável. Sua respiração tornou-se
densa, e as bochechas ganharam um tom avermelhado, à medida que seus
olhos vagavam pelo meu tronco nu, onde as marcas das unhas dela ainda
estavam visíveis, como cicatrizes de uma batalha privada. Quando seus olhos
desceram até minha pelve, vi seu espanto se transformar em uma mistura de
desejo e recebimento; ela engoliu em seco ao perceber a ereção marcante que
se destacava na calça.
— Vou tomar banho para que possamos jantar — declarei, caminhando
em direção ao banheiro, meu tom impessoal refletindo a necessidade de
controle.
— Como está Kai? — A voz dela trazia uma nota de culpa, um
lembrete do passado que ainda a assombrava.
Ela sabia que sua família e Ferraz traíram a Exousía, e a traição exigia
um preço. Tentar contra a vida de um de nós era uma sentença de morte, mas
eu não daria um fim rápido; eles conheceriam o sofrimento antes de qualquer
libertação. Primeiro, os soldados envolvidos. Depois, os mandantes.
Senti uma onda de raiva ao perceber que Sasha ainda nutria empatia
por Ferraz, como se houvesse um fio invisível que os ligava, um laço que
ainda não havia cortado. Mas em breve, isso mudaria. Minha esposa
realmente entenderia que a única confiança que deveria ter era em mim.
— Ele está bem, já em sua casa — respondi, sem me aprofundar no
assunto.
— Otto, eu gostaria que não ferisse meu sobrinho — pediu, a voz dela
quase um sussurro.
— Ele é uma criança — retruquei, a frieza da minha resposta ecoando
no ar.
— Obrigada — ela murmurou, mas a ignorei, ao passo que entrava no
banheiro.
Suspirei, uma frustração se acumulando em meu peito. Não me tocaria;
apenas Sasha mereceria cada gota da minha essência. Em sua boceta, em sua
boca, em seu corpo — em qualquer lugar que eu decidisse marcar, que eu
decidisse possuir. Só ela.
CAPÍTULO 25
Despertei com a bexiga tão apertada que o desespero tomou conta de
mim. O quarto ainda estava mergulhado na escuridão, e desvencilhei-me dos
braços possessivos de Otto. Meus olhos fixaram-se na porta, enquanto a
umidade se acumulava em minha calcinha de renda, quase como um lembrete
de que o controle sobre meu próprio corpo estava escapando. Pulei da cama,
o pânico confuso à lembrança amarga de Polina. O terror de vê-la entrar, de
me humilhar na frente do meu marido, me fez correr.
Entrei no banheiro em um frenesi, levantando a saia da camisola
enquanto levantava a tampa do vaso. Senti-me em desespero, lágrimas
quentes começaram a brotar nos meus olhos. Fechei os olhos ao liberar a
bexiga, mas o silêncio me despertou de um transe confusa. Não houve som de
líquido contra a água, e quando abri os olhos, minha calcinha estava seca.
Não estava úmida como tinha certeza de que estaria. Apertei a bexiga mais
uma vez, mas parecia vazia. O pânico ressurgiu.
Levantei-me do vaso, abaixei a camisola e corri de volta para a cama,
palpitando o lençol como se procurasse uma evidência de que me livrasse do
terror que subia pela minha garganta, trancada como se uma bola enorme
impedisse qualquer som de sair.
Um grito escapou dos meus lábios quando mãos fortes agarraram meu
pulso com firmeza. Meu coração disparou quando ergui a cabeça e encontrei
os olhos azuis de Otto me perfurando com uma intensidade sufocante. Ele
está ajoelhado na cama, me olhando com atenção.
— O que está procurando? — Sua voz era profunda, rouca, mais áspera
do que o normal, ainda pressa na transição entre o sono e a vigília.
Balancei a cabeça em negação, as palavras presas em minha garganta.
O pânico se espalhava pelo meu corpo, enquanto meu estômago se
embrulhava. Polina invadiria o quarto a qualquer momento, eu sabia. Ela me
puniria, iria me expor por ser suja.
— Sasha, o que procura? — Sua voz agora era mais dura, cortante.
Meu corpo estremeceu, incapaz de esconder o medo crescente.
— Eu... eu acho que fiz xixi na cama — sussurrei, sentindo as lágrimas
quentes rolarem pelo meu rosto, queimando como brasas contra minha pele.
— Por favor, não me faça beber meu mijo de novo...
Otto soltou meu pulso e, com uma frieza calculada, segurou meu rosto
com ambas as mãos, obrigando-me a encará-lo. Seus dedos pressionaram
minha pele, dominando-me sem esforço.
— Você não urinou na cama, chamós mou. Você se levantou há vinte e
cinco minutos, foi ao banheiro e voltou. — Sua voz era controlada, como se
ele já soubesse exatamente o que estava acontecendo. — Agora me diga,
quem a obrigou a beber urina?
Sacudi a cabeça, lutando para me libertar de seu aperto, mas a dor no
meu peito aumentou. O ar começou a faltar, como se algo estivesse me
estrangulando de dentro para fora. Agarrei seus pulsos, desesperada para
afastá-lo, mas ele era implacável, mais forte do que eu jamais seria.
— Responda! — ordenou com uma autoridade inquestionável.
— Minha mãe! — O grito saiu de mim em um tufo de ar, e, de repente,
o colapso veio como uma torrente, levando consigo o peso que me esmagava.
Eu nunca falei sobre isso com ninguém. A vergonha queimou dentro de mim,
mas, de alguma forma, confessar aquilo em voz alta me despia de parte do
fardo.
Os olhos claros de Otto cintilaram de raiva, mesmo por trás das
lágrimas estúpidas que rolavam pelo meu rosto. Pude ver a fúria contida nele,
manifestada no súbito movimento do seu peito, subindo e descendo em uma
respiração pesada que logo se estabilizou. Então, sem aviso, ele me
suspendeu contra seu corpo em um gesto brusco, os braços duros me
envolveram em um abraço firme, quase sufocante. Não disse uma palavra.
Permiti-me desmoronar tudo, sentindo minha testa encostar em sua pele
fria e nua. Meu corpo tremia em soluços descontrolados, como se estivesse
me despedaçando. Agarrada a ele, como se fosse a única coisa que me
mantivesse flutuando nesse mar de caos dentro da minha cabeça, inalei o
cheiro familiar de sua pele, deixando-me afundar na interrupção que ele
sempre causava em meus maus momentos. Otto tinha essa habilidade de me
irritar e acalmar ao mesmo tempo, como se fosse o equivalente àquelas
pílulas que eu tomava para tentar manter minha sanidade.
Ele era uma distração perfeita para a confusão da minha mente fodida.
Quando estava com ele, todo o resto se dissipava e evaporava, tudo o que
restava era uma obsessão que me consumia por cada centímetro daquele
homem. Eu poderia passar horas tocando-o, testando seus limites, fazendo-o
sangrar e, agora, o beijava. Havia algo viciante em Otto. Cada toque, cada
gesto, era um veneno que eu ansiava injetar em mim, uma dor que eu queria
tanto quanto o prazer que só ele me soubesse dar.
Nosso relacionamento era um jogo perigoso, um campo minado de dor
e prazer. Estávamos entrelaçados, presos um ao outro por arames farpados
invisíveis que nos cortavam e nos prendiam, mas nenhum de nós recuava.
Pelo contrário, eu queria mais. Queria vê-lo sofrer, queria levá-lo ao limite,
mas, ao mesmo tempo, queria ser a única capaz de dar o prazer que ele não
encontraria em nenhum outro lugar. Era essa mistura explosiva que nos
mantinha por vir, um círculo vicioso de posse e desejo que só aumentava a
cada toque, a cada respiração compartilhada.
— Sasha, eu preciso ir trabalhar. O dia vai ser corrido, só chegarei após
o jantar — disse Otto, afastando-se dos meus braços com uma calma
aparente, mas seus olhos revelavam algo mais profundo. Havia um brilho
sutil de hesitação, quase um pesar, como se ele não quisesse me deixar. —
Pegue sol, regue as flores, distraia a mente — completou, mas seus olhos
ainda me observavam, como se não quisessem se afastar.
Ele saiu da cama com a mesma tranquilidade, o corpo musculoso e
controlado. Cada movimento parecia calculado para me manter no limite da
frustração.
— Você não pode me ordenar a fazer as coisas — retruquei, tentando
manter firmeza, embora já sentisse a falta do calor dele contra mim.
Ele parou de maneira abrupta, girando a cabeça devagar. Mas, desta
vez, seus olhos, embora ainda me estudassem com intensidade, carregavam
algo além da frieza costumeira. Havia uma hesitação quase imperceptível, um
brilho silencioso de receio, como se estivesse lutando internamente com a
ideia de me deixar ali. O olhar dele demorou mais que o necessário,
revelando uma fração de vulnerabilidade que fazia meu coração vacilar.
— Eu tanto posso quanto já fiz — murmurou, com uma voz que agora
soava menos implacável. Antes de desaparecer no banheiro, ele me lançou
um último olhar, mais suave, contudo, ainda carregado de poder. E me
deixou sozinha, com uma mistura de irritação e uma nova onda de incerteza.
Deitei-me, mas o vazio ao meu lado era insuportável. A sensação de
estar naquela cama, sozinha, parecia errada, como se algo me faltasse. A
inquietação tomou conta de mim, e, sem pensar muito, me levantei e
caminhei até as portas enormes que levavam à sacada. Afastei as cortinas
pesadas, abri as portas para o ar frio da manhã que começava a tomar forma.
Lá fora, o céu começava a ganhar tons alaranjados, e o sol, ainda
tímido, preparava-se para surgir. Não me aproximei muito do beiral, o vento
fresco acariciava meu rosto, a sensação de estar no alto era desconfortável.
De longe, observei a vasta propriedade que se estendia diante dos meus
olhos, cercada por árvores imponentes e jardins perfeitamente cultivados. Um
caminho de pedras serpenteava pela vegetação, desaparecendo em algum
ponto distante, oculto pelas árvores. À esquerda da propriedade uma quadra
de tênis. Ao longe, o hangar para o jatinho e o helicóptero. Havia tanto
território para explorar, hectares de terra que ainda não ousara desbravar.
Olhando tudo aquilo, enquanto o céu ganhava tonalidades
avermelhadas, uma decisão se formou dentro de mim. Iria explorar cada
centímetro daquele lugar que, embora fosse uma prisão luxuosa, começava a
parecer menos sufocante. A ironia de tudo isso me atingiu — uma prisão que,
de alguma forma, me fazia sentir mais livre do que em qualquer outro lugar
em que estive antes. Aqui, sob o domínio de Otto Exousía, eu estava presa,
mas talvez, pela primeira vez, também estivesse verdadeiramente livre.
Com um sombreiro de palha grego, de aba larga que me protegia
parcialmente do sol escaldante, caminhei pela estrada de pedras no meio da
tarde. O vestido de verão, de alças finas e cor azul, que vesti após minutos
discutindo comigo mesma se o usaria ou não, balançava contra o vento forte
e imprevisível. O ar úmido da Grécia fez meu cabelo solto ficar cheio de
frizz, mas não me importei. Usava um chinelo de palha simples, típico daqui,
enquanto meus pés afundavam ligeiramente nas pedrinhas da trilha.
Entupi minha pele pálida de protetor solar, uma camada protetora que
eu precisava, pois raramente permitia que os raios solares me tocassem assim.
Mesmo sob as sombras das árvores imponentes que ladeavam o caminho, o
calor era sufocante, o tipo que faz o ar vibrar ao redor, quase sólido.
Respirei fundo, sentindo uma mistura de curiosidade e exaustão. Estava
intrigada para saber onde aquele caminho de pedras me levaria, mas o
cansaço começava a pesar. A manhã havia sido turbulenta, cheia de emoções
e sensações intensas, agora meu corpo reclamava. Cada passo era um
lembrete da dor latente — uma dor misturada com prazer, uma memória
fresca do que acontecera mais cedo.
Minhas coxas estavam assadas, meus joelhos arranhados, minhas costas
e cotovelos ainda ardiam dos pequenos cortes que ganhei ao transar contra
um chão áspero e implacável. O desconforto era inegável, mas,
paradoxalmente, havia uma satisfação oculta na dor que eu sentia. Era o tipo
de dor que latejava de maneira gostosa, lembrando-me de que, apesar do
desconforto, meu corpo desejava mais. Um sorriso discreto dançou em meus
lábios. Repetiria aquilo sem pensar duas vezes, mesmo que a dor fosse o
preço a pagar.
Após mais alguns minutos de caminhada, meu olhar foi capturado por
algo à frente, e minha respiração falhou por um segundo. Um riacho largo, de
águas verdes cristalinas, me esperava no fim do caminho. Ele parecia quase
mágico, como uma miragem, contrastando com o calor sufocante ao redor.
Havia uma escadinha de pedras que levava para mais perto da água, e uma
ponte de madeira que se estendia sobre o riacho, convidando-me a atravessá-
la. A correnteza era calma, serena, mas profunda o suficiente para instigar um
certo receio. Embora sentisse uma vontade quase incontrolável de molhar
minhas pernas naquela água refrescante, sabia que seria arriscado. Eu era
uma péssima nadadora, e a profundidade oculta sob a superfície verde me
assustava.
Ainda assim, a tentação estava ali, no ar, assim como a sensação de
perigo iminente. Passei pela ponte com passos cuidadosos, a madeira rangia
levemente sob o peso de meus pés, mas meus olhos continuavam fixos na
água abaixo, como se algo dentro de mim quisesse ceder à atração daquele
riacho.
Ri sozinha, incrédula diante da beleza que me rodeava. Eu, que sempre
odiei o sol e o calor do verão, estava me apaixonando pelo modo como os
raios dourados dançavam na superfície da água. Os pássaros cantavam uma
melodia suave, quase hipnótica. Ignorei meu medo de altura por estar naquela
ponte suspensa e fechei os olhos, abrindo os braços como se pudesse abraçar
o calor que não sentia há anos. Rodei devagar, sentindo o vento tocar minha
pele, e quando abri os olhos novamente, a sensação de liberdade me invadiu
de forma tão intensa que me roubou o fôlego.
Atravessei a ponte com um sorriso largo no rosto, minhas bochechas
quase doloridas pelo prazer inesperado que tomava conta de mim. Estava tão
imersa na minha própria alegria que não percebi a aproximação de um
soldado, até que ele, um homem barbudo de quase cinquenta anos, estendeu
um celular em silêncio. Sabia imediatamente de quem era a ligação. Peguei o
aparelho e o levei ao ouvido, antecipando a familiaridade daquela voz que
sempre mexia comigo.
— Otto — murmurei, como se seu nome tivesse peso nas minhas
palavras.
— Está dando um espetáculo aos meus homens, chamós mou. — Sua
voz soou ríspida, controlada, mas havia algo mais, uma tensão oculta nas
palavras.
Eu me recostei contra a ponte, deixando o sorriso nos lábios aumentar.
— Estou fazendo o que você ordenou, explorando a propriedade —
retruquei, tentando esconder o prazer em minha voz.
— Sim, Sasha, mas não há necessidade de sorrir para eles. — Sua voz
ficou mais grave, quase possessiva, e a irritação por trás da calma aparente
era palpável.
— Estou rindo para a natureza, não posso? — desafiei com um tom
petulante, gostando da troca.
Houve uma breve pausa, o tipo de silêncio carregado de eletricidade.
— Não, não pode. — Sua resposta veio com uma gravidade maior,
cada palavra enunciada lentamente. — Tudo que você tem deve ser
direcionado a mim, apenas a mim.
Arfei, surpresa e excitada pela sua exigência. O controle que ele exercia
sobre mim, mesmo à distância, me deixava tensa, mas havia algo incrível e
atraente na forma como ele me reivindicava. Meu coração disparou, por um
instante, senti-me completamente presa a ele.
— Não posso dar o que não recebo, senhor Exousía — provoquei,
minha voz carregada de insinuações. Antes que ele pudesse responder,
desliguei na sua cara, saboreando o choque que ele sentia do outro lado.
Entreguei o telefone de volta ao soldado, que me olhou sem qualquer
expressão, apenas fez um aceno discreto. Soltei uma risada baixa e comecei a
correr de volta para casa, sentindo meu coração pulsar acelerado contra o
peito. As bochechas doíam ainda mais pelo sorriso que não conseguia conter.
Otto estava com ciúme. Ele se importava, de algum modo. Essa pequena
revelação fez meu peito se encher de algo novo, uma satisfação oculta que eu
mal conseguia explicar.
Só parei de correr quando cheguei à frente da casa, meu corpo congelou
de forma imediata.
Arregalei os olhos ao ver Nika parada à porta, seus olhos fixos em
mim. A sombra de seu corpo, rígido e imponente, sugeria que ele já estava ali
há algum tempo, observando-me.
O que ela fazia ali?
Caminhei até Nika com passos largos e rápidos. Ela estava usando um
vestido bege justo, sem alças, algo que nunca a vi usar antes. Seus lábios
estavam revestidos por um batom rosa suave. Tudo nela parecia oposto ao
que eu lembrava.
Nika sempre preferiu roupas escuras, práticas e botas em vez de saltos.
Até brincos de pérolas ela usava agora, combinando com um colar de
diamantes que chamou minha atenção. Um alerta soou dentro de mim ao
considerar a joia: aquele colar fora um presente de Antônio no meu
aniversário de dezoito anos, um presente que eu nunca usei.
À medida que me aproximava, notei uma marca roxa em seu pescoço,
semelhante às que Otto deixou em mim. O desconforto foi instalado mais
fundo.
— Que roupas horríveis são essas que você está usando, Sasha? —
Nika perguntou, a voz alta e compartilhada de crítica. — Você está péssima
nessas vestes!
Parei, surpresa com o ataque inesperado. Não me senti feia, apenas um
pouco fora do comum com o vestido leve que havia escolhido. O tecido fino
caía suavemente sobre minhas curvas, a saia soltinha chegava até um pouco
acima dos joelhos. Apreciei a sensação, mesmo sem estar acostumada.
— Eu gosto do que estou usando — respondi, firme, parando a poucos
centímetros dela. Poderia convidá-la para entrar, mas algo nela me
incomodava desde o duelo entre Otto e Antônio. — O que você faz aqui?
Ela soltou uma risada baixa, passando a mão pelos fios curtos de
cabelo. Seu sorriso era maldoso, um gosto amargo se formou em minha boca.
Tudo nela parecia errado. Desde a escolha de roupas até sua atitude. Era
estranho que Nika aparecesse assim, especialmente depois do atentado de
Kai. Se meus pais a enviaram para me sondar, eu não revelaria nada. Jamais
trairia Otto. Ele era meu marido agora e minha lealdade era de nossa família.
— Vim te ver, o que mais? — A nota de sarcasmo na voz de Nika era
inconfundível.
Ri, levantando a aba do meu chapéu de forma casual, mas a observava
de perto. Algo dentro de mim sabia que havia maldade em sua expressão. Por
um segundo, duvidei da minha própria sanidade, mas mantive o foco. Estava
certo. Esse brilho sempre esteve lá, só que eu nunca tinha notado.
— Por que você está usando o meu colar? — indaguei, mantendo a voz
firme. Sua expressão foi calculada, quase entediada. Seus dedos deslizaram
até o diamante com um toque relaxado, seus olhos fixos nos meus.
— Porque estava lá, não achei que fosse se importar — disse ela,
desinteressada. — Mas, amiga, eu jurei que iria vê-la em uma cela privada,
seu maridinho é um bárbaro.
O tom desdenhoso com o qual falou de Otto me atingiu como uma faca.
— Eu estaria em uma cela se tivesse me casado com o Ferraz — rebati
com frieza, meu corpo tenso. — Pode ficar com o colar, mas peço que se
retire da minha casa. Na próxima vez que vier, avise antes.
— Você o defende — pontuou. — Como uma boa esposa.
— Ele é o meu marido e cuida bem de mim — quase rosnei as
palavras.
Nika riu baixinho, mas havia veneno em suas palavras.
— O sýmvoulos deve estar te fodendo bem gostoso, porque eu vim aqui
como uma boa amiga — sua voz cheia de sarcasmo —, para trazer suas
pílulas. Achei que você precisaria. — Ela retirou um saquinho de
comprimidos da bolsa e o balançou no ar, provocativa. — Bem comida ou
espancada? Essas marcas no seu pescoço... alguém está te tratando como se
deve.
Um frio percorreu minha espinha. Dei um passo para trás, minha
garganta seca, mãos tremendo. Olhei para o saquinho de pílulas, o desejo por
elas cresceram, mas não. Eu não deixaria Otto me ver como uma viciada
novamente. Eu era mais forte que isso.
— Não preciso delas — declarei, minha voz firme, apesar do turbilhão
dentro de mim. — Agora, vá embora.
Nika arqueou as sobrancelhas, incrédula.
— Você está me mandando embora? — Sua voz vacilou por um
instante, o choque visível em seu rosto.
— Preciso chamar os seguranças? — Arqueei uma sobrancelha, o olhar
firme.
Ela bufou, irritada, e passou por mim com ódio, esbarrando no meu
ombro. Seu toque carregava uma mistura de desprezo e inveja.
Fiquei ali, parada. Como não percebi antes? A mulher que eu
considerava minha melhor amiga sempre teve inveja de mim.
CAPÍTULO 26
Encarei meus irmãos, o silêncio pesado no ar como uma tempestade
prestes a estourar. Estávamos sentados, cada um em sua poltrona, no coração
da organização. A grande sala ampla parecia pequena diante da tensão
palpável. A raiva de Eros e Kai parecia ocupar cada metro quadrado,
eletrizando o ambiente. Eu não me importava com a pressão crescente; estava
acostumado com isso. O que importava era decidir quem lidaria pessoalmente
com Ferraz e os Dobow.
— Eles me atacaram — rosnou Kai, sua voz carregada de uma fúria
quase selvagem. Havia um curativo grosseiro em sua testa, disfarçando a
ferida que o deixava ainda mais assustador.
— Sabemos disso — Eros murmurou, levantando um copo de uísque
escocês de dezesseis anos. O som do líquido cristalino bateu contra o vidro e
ecoou pela sala como uma provocação silenciosa.
— Então por que caralhos tenho que deixar a vingança nas mãos dele?
— Kai cuspiu as palavras com veneno, apontando para mim, seus olhos
verdes fervilhando com um ódio ardente. — Fui eu quem queriam matar,
caralho!
— Como sempre, tão impulsivo, irmão — falei pela primeira vez desde
que entramos ali, mantendo minha voz baixa, quase casual, mas
primeiramente comunicada com um subtexto de ameaça. — Eles querem me
provocar, me atingir através de você. Se você quiser, podemos fazer explodir
cada esquina, mas chamaremos atenção demais. Em época de eleições,
precisamos de discrição, não de caos... — rosnei de volta, minha paciência
prestes a se esgotar. — Eu resolvo isso e, de quebra, faço a iniciação de
Sasha.
— Passou da hora de ela fazer o juramento — murmurou Eros, seus
olhos predadores brilhando à menção do nome dela.
Kai se levantou de forma abrupta, em seguida jogou seu copo contra a
parede atrás da minha poltrona. O som de vidro estilhaçando preencheu o
espaço, mas não me movi. Estava acostumado à impetuosidade dele.
— Eu quero matar o Ferraz! — ele bradou, seu peito subia e descia de
forma errática, como um animal encurralado. — Por que infernos não posso
ter minha vingança?
Suspirei, a paciência sempre curta com ele. Quando se tratava de
sangue, Kai perdia por completo o controle, em particular quando sua
aparência perfeita estava em jogo. Um arranhão no rosto de um narcisista
como ele era mais grave que um golpe mortal.
— Kai, o velho quer me matar pelo que fiz ao filho dele. Manchei o
legado da família Ferraz. — Minha voz era firme, fria como gelo. — Isso é
entre mim e ele. Os Dobow são um assunto de exclusividade minha, pelo que
fizeram à minha esposa.
Ele bagunçou os cabelos com violência, as narinas dilatadas enquanto
se aproximava de mim devagar, como um predador prestes a atacar.
— É melhor que faça logo essa porra, ou você vai acabar destruindo
cada maldito canto da Itália. — Sua voz saiu num rosnado grave, carregada
de ameaça. — E nem pense em matricular sua mulher naquela merda. Eu
poderia ter ficado com uma cicatriz no rosto, caralho!
— As mulheres gostam de cicatrizes — Eros provocou, o sorriso cínico
dançava em seus lábios.
— Foda-se o gosto delas. No meu rosto, o que eu gosto é de ter as
bocetas delas melando minha cara com seu mel. — A voz de Kai era crua,
cada palavra impregnada de uma lascívia descarada.
Observei em silêncio por alguns segundos, estudando seus
movimentos. Seus olhos faiscavam, o corpo tremia de raiva, como um animal
enjaulado, à beira de perder o controle.
— Se eu atacar, te mando direto pro hospital com o rosto tão
deformado que nem sua própria sombra vai te reconhecer. — Minha voz saiu
fria, cada palavra afiada como lâmina. — Aqui, quem decide é o Afentikó.
Kai me encarou, seus olhos fervendo de raiva, mas sabia que não ousaria
atravessar a linha. Ainda assim, ele olhou para Eros, buscando algum tipo de
apoio. Eros, no entanto, mantinha uma expressão de tédio absoluto, como se
as explosões de Kai fossem apenas uma interrupção irritante em sua noite.
— Otto, limpe essa merda de bagunça que sua fixação por bocetas
alheias trouxe — Eros provocou, sua voz carregada de sarcasmo.
— A boceta da minha esposa sempre foi minha — pronunciei devagar,
tomando um longo gole do meu uísque, saboreando a queimadura do álcool,
como um predador saboreava sua presa antes do golpe final. — O bastardo
que ousou pensar que poderia tocar o que é meu pagou o preço por essa
ilusão.
Ergui o copo, um gesto que parecia selar o destino do infeliz que havia
cruzado meu caminho. O silêncio na sala era denso, mas minha decisão já
estava tomada.
— Agora que resolvemos isso, preciso que o Kai volte ao Brasil e
organize a nossa empresa por lá — disse Eros, sua voz baixa, mas cheia de
comando. — Já que todos estamos na Grécia, preciso de alguém de confiança
cuidando dos nossos negócios em outros países.
— Não me importo de ir — respondeu Kai com um sorriso perverso se
formando em seus lábios. — Mas diga-me, irmão, quer que eu contrate sua
sogra para um programa? — Sua risada ressoou pela sala, cruel e afiada
como uma lâmina.
A sogra de Eros, uma mulher que um dia fora respeitável, havia se
tornado prostituta após destruir a família de sua esposa, Helena. Um gesto de
vingança calculada, uma vingança lenta e dolorosa.
— Quer pegar alguma doença, Kai? — retrucou Eros, com um brilho
gelado nos olhos. — Aquela mulher deveria estar morta, mas vê-la se
degradando dia após dia como uma vagabunda de rua satisfaz meu ego. Cada
lágrima dela é um tributo à minha vingança.
Kai gargalhou, sempre encontrando diversão na miséria dos outros. Ele
se virou para mim, ainda com aquela expressão zombeteira que lhe era tão
característica.
— Eu não gosto de mulheres mais velhas. Esse feito é mais a cara do
Otto... bem, era. Agora você está com uma novinha... — provocou Kai. —
Sasha é o quê? Quatorze anos mais jovem que você? Não acha estranho?
— Não, não acho. — Dei de ombros, minha voz carregada de uma
indiferença letal. O que para outros poderia parecer uma diferença de idade
incomum, para mim era uma questão simples, uma questão de poder e
controle. Sasha não era apenas jovem, ela era maleável, alguém que eu
pudesse moldar aos meus desejos.
— Eu me recuso a ter alguém tão jovem assim comigo — disse Kai,
ainda de pé, sua postura rígida e desafiadora. — Helena era uma santa, quase
uma freira. Sasha? Ela é uma pobre coitada marcada pela vida. Ambas
sofriam nas mãos de pais violentos. Eu quero alguém menos complicado para
a minha vida, com menos bagagem. Não estou aqui para ser babá de traumas.
Eros e eu nos entreolhamos por um breve momento. Sabíamos que Kai
falava com a arrogância de quem ainda não conhecia seu destino. O idiota
estava caminhando cegamente para o seu maior carma, e era apenas uma
questão de tempo até que ele encontrasse sua ruína.
Sorri para mim mesmo, sabendo que o caos estava acontecendo. Kai
ainda não havia percebido que o destino não se importava com suas
preferências. Um dia, ele cairia, e estaríamos lá para assistir.
Estava em nosso sangue, como uma maldição, escolher garotas
problemáticas e proibidas. Era o risco que nos atraía, o perigo silencioso que
cada uma delas carregava. Suas cicatrizes — físicas e emocionais —, eram
como marcas que nos pertenciam, troféus de vidas arruinadas. Não importava
o quão danificadas estivessem, elas nos fascinavam de uma forma doentia e
inescapável. Cada escolha era uma peça do nosso quebra-cabeça de obsessão
e controle.
— Bem, agora que está decidido o que farei... vou me retirar.
Fiquei de pé, deixando os dois bastardos para trás. O som das minhas
botas ecoou pela sala, cada passo firme, marcado pelo controle absoluto
enquanto por dentro eu fervia, pois em breve tomaria mais da Sasha!
Ao entrar em casa, ainda processando o relatório do dia sobre Sasha,
fui surpreendido pelo impacto do seu corpo contra o meu. Prinkípissa me
encarou com uma fome que quase me tirou a respiração. Sem hesitar, ela se
jogou em cima de mim, entrelaçando suas pernas em meu quadril como se
quisesse que eu me prendesse a ela, selando nossos destinos em um único
movimento. Seus lábios encontraram os meus com uma necessidade
selvagem, e eu deixei que me devorasse.
Dei a ela o controle naquele momento. Minha mão encontrou a carne
macia de suas coxas, apertando com força, sentindo o calor que irradiava de
seu corpo enquanto ela se movia contra mim. Meu pau latejava de forma
dolorosa dentro da cueca, queimava sob minha pele como fogo. Quando,
enfim, nos separamos para respirar, um fino fio de saliva ainda nos
conectava, como se mesmo o ar entre nós não fosse suficiente para quebrar a
intensidade naquele momento.
Sua respiração estava irregular, o peito subia e descia rápido, seus olhos
brilhavam com uma mistura de desejo e desespero. O rosto dela estava
corado, uma beleza crua e primitiva que me deixava ainda mais insano. O
cheiro da sua excitação preencheu o ar ao nosso redor, fazendo com que
minha respiração acelerasse, sentindo o gosto do desejo dela.
Caminhei com ela em meus braços pelo corredor estreito, sem pressa,
mas com uma firmeza que deixava claro que, a partir dali, o controle seria
meu. Peguei a chave do calabouço e abri a porta com um movimento preciso,
antes de atravessá-la com Sasha ainda agarrada a mim, mordendo meu
pescoço com uma paixão feroz, roçando sua bochecha contra a minha barba.
Ela sabia que isso me instigava, provocava-me.
Quando acendi as luzes, o brilho suave revelou o quarto envolto em
sombras, os lençóis escuros da cama prontos para acolher o que estava
prestes a acontecer. Sem qualquer aviso, a joguei sobre a cama com força,
observando o choque em seus olhos. Seus cabelos se espalharam sobre os
lençóis como uma moldura perfeita para o rosto iluminado por sua ânsia.
Ela me olhou de volta, os olhos fixos nos meus, tão faminta, tão
desesperada. Cada movimento dela parecia me implorar para tomá-la, fazer
dela minha prisioneira e meu prazer. Ali, naquele instante, eram dois
indicadores, cada um à espera do próximo movimento.
Dei o primeiro passo, em seguida tirei o paletó e o deixei cair no chão
com um movimento lento e deliberado. Desabotoei cada botão da minha
camisa com a calma de um predador observando sua presa. O sorriso surgia
nos meus lábios, enquanto a via engolir em seco, o brilho de antecipação em
seus olhos, cada segundo de espera alimentava seu desejo, tornando-o ainda
mais palpável. Saboreava o poder que tinha sobre ela, como ela salivava pelo
que estava por vir.
Desci o zíper da calça devagar, o som ressoava no quarto silencioso.
Me agachei, removi os sapatos e as meias com a mesma precisão calculada,
antes de puxar a calça e a cueca para baixo, deixando meu pau livre. Ele
pulsava com uma dor deliciosa, o pré-sêmen já começava a lubrificá-lo,
enquanto segurava a base com firmeza, meus dedos envolvidos, ao passo que
meus olhos a devoravam.
— Sabe, você não tem sido uma boa garota — murmurei, a voz
arrastada e carregada de luxúria. Comecei a acariciar meu pau, devagar,
observando o efeito que minhas palavras tinham sobre ela. — Ousou se exibir
por aí, sorrindo para os meus homens, mostrando algo que pertence apenas a
mim.
Ela arfou, os lábios entreabertos, o peito subia e descia rápido enquanto
absorvia minhas palavras.
— Eu estava sorrindo para mim mesma... Me senti feliz — rebateu,
mas sua voz estava quebrada, vacilante.
— Ah, me deixa satisfeito saber que exibiu minhas marcas, mostrar
para todos que te toquei, que sou dono de cada pedaço do seu corpo. —
Minha voz saiu rouca, quase gutural, tomada pelo desejo crescente. — Cada
olhar deles te desejando apenas me dá mais prazer.
— Mas você não se exibe como meu — ela murmurou em protesto,
com um toque de frustração.
Sem perder um segundo, avancei sobre ela. Peguei seu tornozelo,
puxando-a para mim com um único movimento, rápido e decidido. Agarrei
sua nuca, forçando-a a me encarar, enquanto me posicionava entre suas
pernas. Pressionei minha testa contra a dela, nossos rostos tão próximos que
podiam sentir o calor da sua respiração, o cheiro do desejo pulsava no ar ao
nosso redor.
Mordi seu lábio inferior com força, deixando uma marca.
— Quer que eu exiba sua obra de arte em mim, lathós mou? —
sussurrei, a voz um tom de ameaça e promessa ao mesmo tempo.
Ela ofegou, estendendo a mão para me tocar em desespero, os dedos
ansiosos encontraram meu pau com um desespero quase animalesco.
— Você está se tornando minha puta, uma puta louca pelo meu pau,
não é, esposa? — provoquei, observando cada expressão dela com fascinação
cruel.
— Sim, sua... sua... — ela mal conseguiu responder, os olhos fechados,
as palavras escapavam entre os gemidos. — Quero que exiba que é meu.
O ego inflou dentro de mim, o controle que tinha sobre ela era absoluto.
Ri baixo, com um toque de crueldade, e então soltei seu corpo. Seus olhos se
abriram em confusão, piscando para mim como se não pudesse entender o
que eu estava fazendo.
Tirei sua mão do meu pau, meus movimentos firmes, e caminhei sem
pressa até a parede onde as algemas de ferro estavam penduradas em uma
barra de ferro. Me algemei com um estalo seco, olhando para trás por cima
do ombro, desafiando-a.
— Faça o seu melhor em mim, i skýla prinkípissá mou — provoquei, o
brilho de malícia nos meus olhos.
Agora era ela quem tinha o controle, e eu ansiava pelo que estava por
vir.
Virei-me para a parede, observando as sombras que a luz amarelada
lançava pelo quarto, criando um clima sensual. O ar-condicionado estava
ajustado com a temperatura mínima, mas ainda sentia o calor abrasador na
minha pele, quase febril. O som dela mexendo entre os chicotes e correntes
chegou aos meus ouvidos, mas permaneci imóvel, ansioso pelo que ela
escolheria. Sua respiração acelerada, ofegante, revelava que sempre a tomava
quando estávamos assim, tão próximos.
— Eu amo as suas costas — sussurrou, enquanto passava as tiras de
couro do chicote pela minha pele arrepiou, engoli em seco, sua voz quase
uma carícia. — Adoro a sua tatuagem, seus músculos...
Ela fez uma pausa, a admiração se transformou em algo mais sombrio.
— Odeio que outras mulheres pensem o mesmo! — A chicotada veio
em viço, estalando em minhas costas.
— Ah... — um gemido baixo escapou dos meus lábios, não de dor, mas
de prazer.
— Você é um homem experiente, fico maluca só de pensar que outra
mulher já tocou em você... Isso é um erro. — A motivação se misturava-se na
voz dela, enquanto a tensão no ar aumentava.
Ela não sabia que era uma das poucas mulheres.
— Então é um erro? — murmurei, um sorriso provocante se formou
nos meus lábios. — Me puna, querida... Vamos, mostre o quão irritada está
com o meu deslize, o quanto quer me castigar por demorar tanto a te
encontrar.
Ela hesitou por um segundo, mas logo seus golpes voltaram com pudor.
— Você merece ser castigado por me fazer sentir diferente! — grunhiu,
acertando minhas costas com mais intensidade.
— Como eu faço você se sentir, você sabe? — A voz rouca de desejo.
Meu pau latejava, duro e dolorido, minha pele queimava de puro prazer com
cada golpe.
Ela me chicoteou sem misericórdia, cada golpe um estalo que rasgava o
ar e atingia minha pele com uma precisão cruel. Sua respiração entrecortada
acompanhava o ritmo de seus movimentos, uma sinfonia de fúria e desejo,
como se cada marca deixada em meu corpo fosse uma tentativa desesperada
de silenciar o caos que eu despertava dentro dela.
Meu coração disparava, martelando violentamente no peito, enquanto
minha pele queimava, e o calor se espalhava por cada centímetro de mim. A
dor aguda corria como uma corrente elétrica, intensificando o prazer que
pulsava, implacável, entre minhas pernas. Meu pau latejava, endurecendo a
cada chicotada, como se cada golpe só alimentasse minha necessidade
insaciável.
Porra, eu precisava de mais. Mais dela, mais da dor e da escuridão que
nos envolvia.
— Diferente, especial... Dependente de você! — disse, enfurecida,
acertando-me mais forte. — Faz com que eu me sinta desejada, única. Sua!
Um sorriso predatório se formou em meus lábios, enquanto ela
continuava a me chicotear, enfurecida, excitada, seus gemidos entrecortados.
Eu não conseguiria suportar mais. Precisava sentir sua boceta apertando ao
redor de mim, engolindo-me.
Livrei-me das algemas com um puxão brusco, girando sobre os
calcanhares para agarrar o chicote que ainda estava em suas mãos. Joguei-o
para longe com um movimento firme e, em um só gesto, puxei-a pela cintura,
colando nossos corpos. Minhas mãos seguraram sua nuca, enquanto minha
boca esmagava a dela, arrancando-lhe o fôlego. A urgência em seus lábios era
palpável, faminta.
Rasguei sua camisola de renda preta sem qualquer cerimônia,
revelando o corpo nu e quente que tanto ansiava. Rosnei de satisfação ao ver
a pele exposta, os seios arfando de desejo.
Girei nossos corpos, contra a parede, minha mão deslizando para sua
boceta molhada, quase gotejante de tanto desejo. Ela suspirou contra meus
lábios, os olhos fechados em pura entrega. Meu clamor interior rugiu quando
senti o clitóris inchado, sensível ao toque.
Em um único movimento, entrei fundo dentro dela, arrancando-lhe um
grito involuntário de prazer. Sasha me agarrou forte, mordendo meus lábios,
enquanto a fodia com violência, cada estocada mais rápida, mais intensa.
Estava descontrolado, meu monstro interior tomando o controle.
Desci-a do meu colo e a virei de costas, tomando-a novamente. Sua
boceta apertada me estrangulava, e eu metia, fazendo seu corpo balançar
contra a parede. Dei dois tapas na sua bunda, vendo sua pele pálida tornar-se
vermelha sob meus dedos.
Segurei seus cabelos em um punho firme, puxando sua cabeça para
trás, enquanto mordia o nódulo da sua orelha.
— Você depende de mim, prinkípissa — sibilei, minha voz baixa. —
Você é única... E toda minha. Gia séna tha prokaléso cháos sti gi —
murmurei contra sua pele, devorando mais um pouco do seu gosto.
— Otto... Eu preciso gozar — implorou, a voz falhava tamanho era o
desejo.
— Goze no meu pau, chamós mou — ordenei, com um tom grave e
controlado.
Minhas estocadas ficaram mais fortes, mais profundas, enquanto meus
dedos apertavam seu clitóris com precisão. Ela gemeu, o corpo inteiro tremia
de prazer, à medida que se rendia ao orgasmo, uivando descontrolada.
Incapaz de me conter, rugi de prazer, libertando-me dentro dela,
preenchendo-a por completo.
— Porra, você é perfeita, prinkípissá mou — gritei, meus olhos
fechados enquanto o prazer tomavam conta de mim.
— Otto, eu preciso de um banho — sussurrou Sasha, virando-se para
mim, a voz rouca, ainda trêmula pelo orgasmo.
Eu a olhei por um instante, o corpo dela exausto e reluzente de suor, o
cheiro do sexo impregnava o ar. Sem dizer nada, passei os braços ao seu
redor e a levantei em estilo noiva, sentindo sua pele quente e úmida contra a
minha. Caminhei em direção ao banheiro com passos firmes, cada
movimento meu carregado de uma mistura de cuidado e posse.
— Vou cuidar de você, prinkípissá mou — murmurei, o nariz enterrado
em seus cabelos, inalando seu cheiro. Um perfume agridoce, uma
combinação da sua essência e do nosso prazer compartilhado.
Ela se aconchegou em meu peito, exausta, enquanto a levava até o
chuveiro. Ao chegarmos, coloquei-a suavidade no chão, e as luzes
amareladas do banheiro refletiam na pia de mármore, criando um brilho
suave e aconchegante pelo ambiente. Abri o registro, deixando a água quente
cair, criando uma cortina de vapor ao nosso redor, como se o mundo externo
não existisse mais.
— Eu sou tão seu quanto você é minha... — sussurrei perto de seu
ouvido, minha voz de tesão e promessas
Sasha olhou para mim com os olhos espantados, a respiração ainda
irregular. Sua vulnerabilidade misturada com o desejo inabalável que sempre
tinha por mim me fez sorrir. Entrei no chuveiro primeiro e, em seguida, a
puxei, deixando que a água quente escorresse por nossos corpos. Minhas
mãos se moveram devagar, lavando-a com uma mistura de devoção e
autoridade, passando sabonete por sua pele, sentindo cada curva, cada detalhe
que já era meu território.
— Ninguém nunca vai te tocar como eu — falei, a voz baixa e grave.
— Ninguém jamais vai te fazer sentir o que eu faço.
Ela não disse nada, apenas fechou os olhos, entregando-se por
completo à minha vontade. Eu a puxei mais para perto, deixando que nossos
corpos se alinhassem, a água escorria entre nós como se purificasse os
pecados da noite.
CAPÍTULO 27
Sentada na sala de jantar, tomando café da manhã com Otto, percebi
algo diferente em mim. Não acordei às 05h para ir ao banheiro e, pela
primeira vez, não me sentia enjoada. Dormi a noite inteira, e, embora o
cansaço ainda pesasse nos meus músculos, uma sensação de leveza me
envolvia, apesar da intensidade da noite anterior. Meu corpo estava dolorido,
mas de um jeito que trazia prazer.
Otto tomava seu café com calma, seus olhos permaneciam em mim,
atentos a cada movimento. A energia entre nós parecia eletrizar o ambiente,
com desejo evidente no ar, mas havia também algo mais profundo, quase
uma adoração velada. Deveria me sentir exposta ou intimidada, no entanto,
de uma maneira perturbadora, aquela intensidade silenciosa me fazia sentir
desejada e adorada de um jeito possessivo. Sua atenção, ao mesmo tempo
poderosa e carregada de desejo, fazia meu corpo responder, cada vez mais
sensível à sua presença.
Por um instante, senti meu estômago revirar, não de medo, mas de uma
emoção que pulsava dentro de mim. Uma parte de mim parecia frágil,
enquanto outra se sentia totalmente à mercê daquela presença dominante.
— Ontem, a Nika veio me visitar — comentei casualmente, colocando
um pedaço de koulouri na boca. O sabor delicioso me arrancou um gemido
involuntário.
Otto pigarreou, sem alterar sua expressão.
— O que ela queria? — Sua voz grave carregava um perigo subjacente
que fez meu estômago apertar.
Suspirei, induzido não me deixar abater pela tensão crescente.
— Ela disse que queria me ver... e trazer meus comprimidos — admiti,
sentindo um nó de vergonha na garganta. — Mas não aceitei — defendi-me
rapidamente, tentando manter firmeza.
Otto manteve-se em silêncio por mais alguns segundos, seus olhos
avaliavam minuciosamente cada reação minha. Ele sabia. Sabia antes mesmo
de eu dizer.
— Sei que rejeitou, mas você queria os comprimidos? — perguntou
com uma calma que beirava o inquietante.
— Não — a resposta saiu sincera, e dizer isso em voz alta me trouxe
um alívio inesperado. — Achei que precisava, mas, estranhamente, nas
últimas semanas não senti falta deles. Talvez eu tenha me viciado em outra
coisa... — minha voz tremeu enquanto admitia — em você.
A intensidade no olhar de Otto se transformou, agora carregada de algo
primitivo. Ele colocou a xícara de café sobre a mesa lentamente, como se
calculasse o próximo passo.
— Então, você se tornou completamente dependente de mim, Sasha —
vociferou com uma promessa sombria na voz. — Pensa em mim tanto quanto
eu penso em você.
O ar entre nós parecia pesado. Otto me analisava com uma precisão
implacável, como se enxergasse cada canto oculto de mim, aqueles que eu
mesma tentava esconder.
— Então, você também pensa em mim? — perguntei, querendo
confirmação.
— Todo maldito instante — afirmou, sem hesitar.
Tentei controlar a onda de sentimentos que ele sempre provocava. Algo
perigoso emanava de sua presença, uma mistura de desejo, obsessão e posse.
Era como se ele quisesse me consumir inteira, transformar-me em algo que
existia apenas para ele. E, de forma surpreendente, parte de mim ansiava por
isso.
— Eu já penso em você — confessei, minha voz mais baixa do que
pretendia, sem conseguir desviar o olhar. — Talvez mais do que deveria...
Otto sorriu de leve, aquele sorriso sutil que sempre mexia comigo. Ele
se inclinou para frente, aumentando a tensão entre nós.
— Não é o bastante — murmurou, sua mão se aproximou da minha
sobre a mesa. — Você vai me querer tanto que a ideia de estar longe de mim
será insuportável.
Um arrepio percorreu meu corpo. As palavras dele, ditas com tamanha
tranquilidade, carregavam uma promessa que me deixava à beira de algo
incontrolável. Eu sabia que, uma vez que me entregasse, não haveria volta.
Mas as horas longe dele eram insuportáveis. Eu tentava ocupar minha
mente com a leitura ou perseguindo a governanta sempre que a via, mas a
mulher parecia um fantasma, difícil de alcançar.
Antes, quando imaginava o casamento, sempre torcia para que meu
marido me evitasse, que ficasse distante. Agora, era diferente, eu ansiava por
cada segundo ao lado de Otto, mesmo que fosse em silêncio. Sua presença
me confortava, e, às vezes, sufocava... Mas eu gostava disso, gostava da
maneira como ele me tocava, como me fazia sentir única, especial, adorada.
Ele estava em meus pensamentos a cada instante, a cada maldito
segundo...
— Talvez eu já esteja mais dependente de você do que percebe... —
sussurrei, meu coração acelerando.
Ele sorriu mais abertamente agora, seu olhar queimando com desejo e
dominação.
— Boa garota — disse ele, a voz rouca, carregada de promessas.
Aquelas palavras simples fizeram minhas pernas tremerem sob a mesa.
Sabia que estava cada vez mais presa nesse jogo perigoso, e, por mais
estranho que fosse, não tinha medo. Otto me tinha nas mãos, talvez fosse
exatamente onde eu queria estar.

Nunca pensei que bater uma massa de bolo pudesse ser uma batalha tão
intensa. Meus braços doíam, a massa parecia lutar contra mim, e tudo o que
eu queria era o sabor do chocolate. A receita que encontrei na internet parecia
simples, mas, uma hora depois, a cozinha parecia um campo de guerra.
Farinha e cacau cobriam tudo, inclusive a mim.
— O que diabos você está fazendo? — A voz de Otto me fez pular,
meu coração batia acelerado.
Virei-me lentamente, tentando esconder o desastre com um sorriso
forçado. Sabia que estava em apuros.
— Eu... tentei fazer um bolo — murmurei, sentindo o peso da
confissão. — Mas é mais complicado do que imaginei.
Ele riu, uma risada baixa e rouca, um som que nunca havia ouvido sair
de seus lábios. Aquela reação inesperada me desarmou. Seus olhos,
semicerrados pela diversão, brilhavam, e, contra minha vontade, me vi rindo
junto.
— Prinkípissa, se você queria comer algo, deveria ter pedido à
governanta — disse ele, aproximando-se de mim com a calma de um
predador. — Olhe o que fez com a minha cozinha.
Minha espinha endureceu diante do tom possessivo, e ergui o queixo,
desafiando-o.
— Nossa cozinha — corrigi, com a voz firme. — E destruo o que
quiser.
Os olhos de Otto cintilaram, sua expressão mudando de divertimento
para algo mais sombrio. Seus dedos frios envolveram meu queixo, forçando-
me a encará-lo. Ele acariciou minha bochecha com o polegar, de forma lenta,
calculada, enquanto sua voz soava baixa e controlada.
— Tudo aqui pertence a você, sim — sussurrou ele, sua voz carregada
de uma ameaça velada. — Mas se você destruir, será punida, com sete
palmadas.
Meu corpo gelou e, ao mesmo tempo, queimou. Arregalei os olhos, mas
antes que pudesse protestar, ele me pegou com uma agilidade feroz, virando-
me de bruços sobre a bancada. O mármore frio contra a minha pele
contrastava com o calor que subia dentro de mim.
— Otto, espera! — gritei, mas meu protesto foi interrompido pelo som
da minha saia sendo levantada e a sensação de sua mão áspera acariciando
minha nádega. Um toque que prometia dor.
A primeira palmada veio com força, um gemido escapou da minha
boca, entre dor e um prazer que eu não queria admitir.
— Conte — ele ordenou, sua voz fria como gelo, enquanto a segunda
palmada deixava a minha pele em brasas.
— Dois — murmurei, ofegante, sentindo a humilhação se misturar à
excitação. Cada golpe me levava mais longe, e quando ele chegou à sétima,
meus pensamentos estavam borrados. Meu corpo tremia, a mistura de dor e
prazer me consumia.
De repente, os dedos dele deslizaram para dentro de mim, e a tortura
mudou. Ele movia seus dedos dentro de mim com um ritmo torturante,
provocando, fazendo cada músculo do meu corpo implorar por mais.
— Me foda, por favor — pedi, minha voz rouca de desejo, sem
qualquer traço de dignidade.
Mas Otto não me deu o que pedi. Ele intensificou os movimentos de
seus dedos, empurrando dentro de mim com uma força avassaladora, porém,
seu controle frio nunca vacilava. Eu gemia, arqueando o corpo, sentindo o
clímax se aproximar, tão perto que era quase cruel.
E então, ele parou. Tirou os dedos de dentro de mim, deixando-me
vazia, arfando.
— O quê? — quis saber, em estado de choque, o prazer escapou por
entre os dedos como areia.
Ele me tirou da bancada com a mesma frieza calculada de antes, seus
dedos apertando minha pele, possessivos, como se quisessem marcar cada
centímetro do meu corpo. Seus lábios roçaram meu ouvido, e sua voz foi um
sussurro mortal.
— Meninas más não gozam, prinkípissa.
A mordida que ele deu no meu ombro foi um castigo. Meu corpo
queimava, a dor e o desejo se misturando de forma insuportável, mas ele se
afastou, deixando-me à beira da loucura, suspensa entre o êxtase e o
tormento.
Eu o observei caminhar até a porta, cada passo dele era um golpe no
meu orgulho. Queria gritar, implorar, odiá-lo, mas algo dentro de mim
ansiava por mais. Ele sabia disso. O controle dele sobre mim era absoluto.
— Mais tarde, farei o bolo para você — disse ele, antes de desaparecer,
sua voz com uma calma ameaçadora. — Tudo o que você tinha que fazer era
pedir.
Fiquei ali, sozinha, com meu corpo em chamas e a necessidade pulsava
entre minhas pernas. Ele tinha me deixado à mercê do meu próprio desejo, e
eu o odiava naquele momento por isso. Odiava como ele me manipulava,
como me deixava ansiando por mais, sempre no limite, nunca completamente
satisfeita.
E o pior de tudo... odiava como, de algum jeito distorcido, ainda queria
mais.

[i] minha princesa vadia


CAPÍTULO 28
Havia passado uma semana desde que Otto me informou que iríamos
para a Rússia. Desde então, meu corpo parecia em constante alerta, como se a
qualquer momento ele fosse me dizer que a partida estava iminente. O caos se
espalhava de maneira quase palpável para todo o lugar à nossa volta. Ao
redor da casa, havia aumentado significativamente o número de homens
armados, até Kai fez uma breve aparição, sua presença tão fugaz quanto a
brisa antes de uma tempestade, antes de desaparecer rumo ao Brasil. Sua
visita parecia mais uma passagem silenciosa por um campo de batalha. Eu
sabia que algo sombrio pairava sobre nós.
Otto saía cedo e voltava tarde, o cansaço era evidente em suas feições,
embora nunca o admitisse. Às vezes, eu percebia traços de sangue em suas
roupas, pequenos resquícios deixados para trás, mesmo depois de passar
horas no calabouço com ele, onde parecia descarregar sua frustração em
métodos mais violentos em mim e eu nele. No entanto, ele sempre me
colocava para dormir, enquanto eu me agarrava a ele, ele trabalhava no
notebook.
Confesso que aquele gesto silencioso, de trabalhar de maneira
desconfortável por mim, me fazia sentir estranhamente segura. Ele sabia que,
se se levantasse e me deixasse sozinha na cama, os fantasmas do meu
passado viriam me assombrar de novo. Mesmo em silêncio, ele me protegia.
Olhei para a cama impecavelmente arrumada e uma sensação de
inquietação tomou conta de mim. Algo me incomodava — não termos feito
amor ali, no espaço que agora era nosso. Parecia que ele podia me levar a
qualquer lugar, menos à cama, como se ela fosse o último refúgio de um
segredo que ele ainda guardava. Esses pensamentos não paravam de rondar
minha mente, e uma vontade crescente de confrontá-lo surgiu dentro de mim.
Queria exigir uma explicação, queria entender por que ele evitava aquele
espaço.
Mas, ao mesmo tempo, o medo de parecer uma garotinha mimada me
paralisava. Otto tinha o controle de tudo, e sabia que ele estava sob uma
tensão que ainda não compreendia completamente. Não queria ser mais um
peso, mais uma fonte de preocupação. Ouvi fragmentos de conversas sobre
presidentes e mortes, sobre alianças quebradas e novas ameaças surgindo.
Sabia que a Exousía comandava grande parte da Europa e estava se
expandindo para as Américas — do Norte ao Sul, do Leste ao Oeste. Mesmo
assim, nunca entendi completamente o alcance de sua influência. Não sabia
ao certo se comandavam a política ou apenas forneciam armas e drogas para
mantê-la em guerra constante.
Caminhei em direção ao escritório de Otto a passos lentos, calculando,
saboreando a antecipação do que estava prestes a acontecer. Tinha decidido
informar que usaria uma piscina, mas a verdade era outra: eu queria que ele
me visse. O biquíni vermelho que escolhi, simples e pequeno, abraçou meu
corpo de forma provocante naquela tarde abafada. Após horas de reflexão,
decidi que, apesar de ser uma nadadora péssima, o calor justificava o
mergulho. Talvez também justificasse o desejo crescente de chamar sua
atenção.
Sem bater, empurrei a porta e entrei. Otto estava de pé diante das
janelas, suas costas largas viradas para mim. O celular no ouvido indicava
que estava no meio de uma conversa, mas assim que sentiu minha presença,
ele se virou lentamente, seus olhos se estreitaram, analisando cada centímetro
do meu corpo com precisão predatória, um brilho feroz refletia sua
intensidade, intensificou-se quando parou nas minhas pernas — as mesmas
que ele tinha marcado com a palma de sua mão firme na noite anterior, ao me
devorar de uma forma que ainda fazia meu corpo vibrar.
Suas marcas estavam por toda parte: nas coxas, no pescoço, nas
nádegas e até em minha barriga. Meus mamilos, ainda sensíveis e meio
arroxeados, carregavam as provas de sua voracidade. Havia algo
perversamente esmagador no jeito como nós marcamos um ao outro, uma
crueldade consentida, quase ritualística, onde o prazer se encontrava com a
dor em uma dança violenta e primitiva.
Ele não disse nada, mas o modo como suspirou, como seus olhos
vagaram possessivamente pelas minhas marcas, revelou o que estava
pensando. Era um jogo silencioso, de domínio e provocação. Eu o havia
desafiado sem sequer abrir a boca. Cada marca, cada contusão, era um
lembrete de quem ele era, de quem nós éramos quando estávamos juntos. E,
no fundo, eu sabia que ele gostava disso. Gostava de me ver marcada por
suas mãos, como se cada hematoma fosse uma assinatura.
Sem dizer uma palavra, meu pokhititel encerrou a ligação com um
movimento calmo, mas firme, e começou a caminhar em minha direção.
Como um predador que media a presa antes de atacar. Ele colocou o celular
sobre a mesa com indiferença, como se naquele momento nada mais
importasse além de mim. Em poucos passos, ele me alcançou. Sua mão fria
tocou minhas costas nuas, fazendo com que um arrepio percorresse minha
espinha. Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou contra si com força,
prendendo-me em seu abraço possessivo.
— O que você acha que está fazendo, usando esse biquíni minúsculo,
esposa? — Sua voz saiu rouca, baixa, cheia de uma fome que parecia querer
me devorar ali mesmo.
Meus dedos deslizaram pelos seus ombros largos, apertando a firmeza
de seus músculos sob a camisa. Toquei sua pele através do tecido,
absorvendo o cheiro do seu perfume que sempre me embriagava, criando
uma mistura de medo e motivação. Eu sabia que sua presença, seu toque,
sempre despertavam em mim sentimentos contraditórios, mas irresistíveis.
— Vou nadar — respondi, minha voz saindo quase em um sussurro
enquanto meus dedos brincavam com o cabelo macio na nuca dele. — Está
um calor terrível.
Suas mãos desceram até minha bunda, apertando-a com força, seu
toque possessivo deixando claro quem ditava as regras ali. Meu corpo reagiu
de imediato, os pelos da minha pele se arrepiaram, e minha respiração
acelerou. Havia algo cruel e, ao mesmo tempo, viciante na maneira como ele
me tocava, como se quisesse marcar cada centímetro do meu corpo como sua
propriedade.
— Você quer se exibir para os meus homens, não é? — Ele me puxou
ainda mais contra si, e eu pude sentir a dureza de sua motivação pressionada
contra meu ventre. — Não gosto de você se mostrando por aí.
Um sorriso tímido, quase bobo, escapou dos meus lábios diante do seu
ciúme. Era absurdo, mas, ao mesmo tempo, me fazia sentir de uma forma
estranha, protegida, como se ele fosse capaz de tudo para me manter longe
dos olhos de qualquer um.
— Eu só quero mergulhar — murmurei, minhas bochechas corando. —
Temos uma piscina linda, que quero aproveitar.
Antes que eu pudesse terminar, o som do tapa ecoou no ar quando sua
mão estapeou minha bunda, deixando uma sensação quente e ardente em
minha pele. O choque me fez ofegar, mas também despertou algo primal
dentro de mim.
— Vou mandar meus homens se afastarem — ele decretou, enquanto
suas mãos subiam lentamente pelas minhas costas, os dedos firmes,
possessivos. — Eles ficarão de costas vigiando o perímetro. E você — ele fez
uma pausa —, vai nadar na parte rasa. Eu sei que você não está nada bem.
Senti seu controle apertado ao redor de mim como uma corrente
invisível, e meu coração acelerou. Ele conhecia minhas fraquezas, e as usava
para me manter sob sua vigilância, mesmo quando não estava presente. Era
impossível escapar de sua autoridade.
— Vou até você mais tarde — continuou, sua voz firme, sem margem
para questionamentos. — Tenho reuniões agora.
Ergui o queixo, observando-o. O azul gélido de seus olhos contrastava
com a frieza calculada de sua expressão. Sua barba mais cheia lhe dava um ar
selvagem, e cada vez que ela roçava contra minha pele, eu suspirava. Ele era
irresistível em sua brutalidade e possessividade. Apesar do medo, havia algo
viciante na maneira como ele dominava o ambiente e me envolvia.
— Está bem, estarei igual uma sereia te esperando — provoquei, com
um sorriso travesso. — Serei a Ariel.
Ele riu, baixo e grave, aquele som rouco que sempre me arrepiava. Sua
mão grande subiu devagar até meu rosto, acariciando minha pele com uma
ternura contrastante com sua presença geralmente dominante.
— Você é mais linda que qualquer outra sereia, láthos mou — declarou
com uma verdade que fez meu coração acelerar ainda mais.
Soltei um riso baixo, envergonhada e, ao mesmo tempo, derretida por
suas palavras. Borboletas voavam em meu estômago, criando uma sensação
de leveza e calor.
— Fique no raso para não se afogar — ele repetiu com um tom de
alerta, mas havia uma doçura ali, uma preocupação que era rara em meio à
sua personalidade implacável.
Assenti com a cabeça, sentindo meu corpo responder à sua ordem.
Fiquei na ponta dos pés, aproximando meus lábios de sua boca para depositar
um beijo suave. Quando meus lábios tocaram sua pele, um calor familiar
percorreu meu corpo, mas me afastei, como se estivesse fugindo de algo mais
profundo. Desvencilhei-me de seus braços e me apressei em sair, uma
sensação boa que me envolvia como se eu fosse uma menininha boba,
envergonhada e excitada ao mesmo tempo.
Caminhei para fora com um sorriso que não conseguiu esconder. Meu
corpo estava quente, febril, mas era mais do que desejo físico. Havia algo
diferente em mim, um tipo de calor que se espalhava pelo peito, um
sentimento desconhecido e intrigante que tomava conta de mim.
Era estranho, porém, de um jeito bom... gostoso. Meu coração ainda
batia forte, como se estivesse tentando me dizer algo, enquanto aquela
sensação nova crescia dentro de mim, me envolveu por completo.

Era fim de tarde, e o calor ainda pairava no ar quando Otto finalmente


se juntou a mim. Ele vestia apenas um short fino, que colava ao seu corpo,
destacando cada linha de seus músculos perfeitamente esculpidos. Seus
cabelos bagunçados balançavam de forma rebelde com o vento leve que
soprava ao redor da piscina. A visão dele se aproximando de mim me fez
engolir em seco, enquanto meus olhos percorriam cada detalhe.
Sem dizer uma palavra, ele passou por mim, seus passos firmes e
decididos, e mergulhou na água sem hesitação, indo direto para a parte mais
profunda. Seus movimentos eram fluidos, precisos.
A piscina era deslumbrante, os azulejos em tons de azul profundo e
turquesa refletiam o céu, criando uma sensação de imensidão. Ela parecia se
fundir ao ambiente, suas formas suaves e orgânicas trazendo um toque
contemporâneo que contrastava com a imponência de Otto. A profundidade
permitia que ele desaparecesse momentaneamente, como se fosse parte da
água.
A tensão entre nós crescia a cada movimento, carregada de desejo e
expectativa. Otto era uma força implacável, irresistível, e mesmo no silêncio
da tarde, parecia que estávamos à beira de algo prestes a explodir.
Ele parou do outro lado da piscina, submerso por completo. Quando
emergiu de novo, seu olhar estava cravado em mim, frio e penetrante,
enquanto suas mãos firmes agarravam a borda. O cabelo molhado gotejava,
escorrendo água de modo lento pelo rosto, criando uma imagem de controle
implacável. Respirei fundo, admirando o homem lindo diante de mim e todo
meu.
Por um segundo, decidi nadar até ele. A água parecia calma, mas, à
medida que me aproximava, senti meu corpo afundar. O cansaço me venceu
rapidamente, e quando percebi que não conseguia mais nadar, o desespero
tomou conta. A água da piscina invadiu minha boca antes que eu pudesse
fechá-la e o pânico se instalou. Meu corpo afundava cada vez mais, enquanto
me debatia em vão, esquecendo como reagir, sendo engolida pelas ondas que
agora pareciam mais profundas e ameaçadoras.
Antes que eu pudesse afundar por completo, uma mão forte me
agarrou. O toque dele era firme e impiedoso, puxando-me para a superfície
com uma facilidade perturbadora. Em poucos segundos, meu corpo estava
pressionado contra a beira da piscina, o concreto frio contra minha pele,
enquanto ele ditava as regras sem emoção.
— Segure-se — ordenou Otto, sua voz grave e autoritária. Não havia
espaço para questionamento.
Obedeci, minhas mãos tremendo ao encontrar a borda. Tosse rasgou
minha garganta enquanto tentava recuperar o fôlego. Seu corpo pressionava o
meu por trás, a água escorria entre nós, mas seu toque me oferecia conforto.
Suas costas estavam coladas às minhas, quentes e ameaçadoras. Sua mão
esquerda permanecia firme na minha cintura, enquanto a direita descansava à
minha frente, pesada e firme sobre o beiral.
— Obrigada — agradeci ainda sem fôlego.
— O que estava pensando? — indagou no pé do meu ouvido.
— Achei que conseguiria chegar até você — respondi. — E foi até eu
quase morrer afogada.
Ele suspirou, passou o braço envolta da minha barriga.
— Terei que te ensinar a nadar, esposa. — Mordeu o nódulo da minha
orelha.
— Seria bom — sussurrei, sem acreditar no que estava prestes a
acontecer.
— Vou me virar. Segure-se nas minhas costas, eu te levarei para o raso,
onde vou te ensinar a nadar — ele ordenou, sua voz cortava a tensão da água
ao nosso redor.
Sem hesitar, Otto me soltou, movendo-se com uma fluidez predatória
na água. Aos poucos, me desprendi da borda, minhas mãos trêmulas
agarraram seus ombros largos, sentindo a força rígida de seus músculos sob a
pele molhada. Ele nadava com uma facilidade inabalável. Enquanto me
carregava em direção ao raso, o frio da água parecia desaparecer, substituído
por uma sensação estranha de segurança.
Sorria sozinha, amando a ideia de estar tão próxima dele, mas logo o
toque familiar desapareceu quando ele colocou os pés na parte rasa e, sem
aviso, me puxou de suas costas, rompendo a ligação entre nós. Fui deixada
sem sustentação, como se ele já houvesse decidido o quanto eu poderia
depender dele.
— Agora, apoiarei a mão na sua barriga para te ajudar. Você vai bater
os pés, com o corpo de frente, abaixo da água — explicou, suas palavras
firmes como se cada uma fosse uma ordem inquebrável.
Seus braços estenderam-se sob a superfície, enquanto eu, hesitante, me
debrucei sobre ele. Assim que me abaixei na água, senti o choque frio me
envolver, puxando-me para baixo. A mão dele estava lá, segura, mas a
sensação era de que ele estava sempre pronto para me deixar afundar um
pouco, só para me lembrar de quem estava no comando.
— Mantenha a boca fechada. Use os braços se precisar, não vou te
soltar. — Sua voz soou próxima, autoritária, ao mesmo tempo havia algo
sombrio em sua promessa de não me deixar.
— Ok — respondi, a insegurança transparecia em minha voz.
Com um aceno de cabeça, Otto indicou que eu começasse. Bati os pés e
movi os braços de forma desajeitada, o pânico crescia a cada vez que ele
ameaçava retirar o apoio. Quando seu toque se afastou, afundei um pouco
mais, e o medo se espalhou por mim, como se ele estivesse testando minha
confiança.
Ele não dizia nada, apenas observava cada movimento, avaliando
minhas respirações irregulares. Fechei os olhos, tentando relaxar e flutuar,
cada impulso me levando mais longe, como se o mundo ao meu redor
desaparecesse. Nadei até que a falta de ar começou a me angustiar. Ao tentar
colocar os pés no chão, percebi que não havia nada sólido. O desespero
ameaçava me dominar, mas quando abri os olhos, lá estava ele.
A mão de Otto, firme e implacável, me puxou para a superfície. Assim
que emergi, instintivamente me agarrei a ele, meus braços se entrelaçaram ao
seu redor. A proximidade era sufocante e reconfortante, uma contradição que
sempre surgia ao seu redor.
— Eu nadei sozinha! — exclamei, minha voz um misto de euforia e
surpresa.
Ele esboçou um sorriso que parecia carregar um significado oculto, por
um breve instante, senti algo diferente ali, uma satisfação inesperada
aquecendo meu peito.
— Parabéns, láthos mou, você foi muito bem — disse ele, sua voz
baixa e carregada de um controle perigoso. Em seguida, seus lábios tocaram
os meus em um beijo casto, mas que carregava uma tensão subjacente,
deixando-me agitada, excitada e, ao mesmo tempo, desconcertada.
Quando o beijo cessou, meu peito subia e descia, a respiração ofegante
ecoando no silêncio ao redor. Nos braços de Otto, naquela piscina, o mundo
exterior se desvanecia. A sensação de estar protegida por ele era
reconfortante, ainda que soubesse o quanto essa proteção era volátil. Algo em
mim reconhecia que, ali, junto a ele, eu estava no lugar certo — por mais
perigoso e inquietante que isso pudesse ser.
CAPÍTULO 29
Otto estava em reunião com seus soldados, discutindo algo que parecia
sério. Ainda estávamos na piscina quando Basil, um de seus homens mais
próximos, apareceu, chamando-o com a expressão fechada de sempre. Seus
olhos não vieram em minha direção em momento algum, o que me trouxe um
alívio temporário.
Após ele partir, decidi sair da piscina e subir para o quarto, entrei no
boxe do banheiro, aproveitei para lavar meu cabelo devagar, tentando
prolongar a sensação de felicidade que ainda me envolvia. A lembrança de
Otto me ensinando a nadar não parava de passar pela minha mente, como um
filme que eu desejava reviver.
Mas então, algo inesperado aconteceu. Quando abri os olhos e olhei
para baixo, pronta para ensaboar minha barriga, levei um susto. A água
escorria vermelha pelas minhas pernas. Meu coração acelerou, e minha mão,
trêmula, foi até minha vagina, confirmando o pior: era sangue.
A decepção me atingiu com uma força esmagadora. Eu ainda não sabia
se queria ser mãe, mas a ideia de não estar grávida, de não estar esperando
um bebê, me incomodava. Pior do que isso, sentia o peso da expectativa de
Otto. Ele havia deixado claro que não queria filhos, mas por minha causa, ele
havia mudado de ideia. E agora, estava falhando de novo, decepcionando-o.
Agachei-me no banheiro, tentando conter a onda de raiva e medo,
ambos se misturavam em meu peito. Mais uma vez, a sensação de
decepcionar alguém me consumia, mas desta vez era Otto, meu marido. Com
a cabeça entre os joelhos, abracei minhas pernas, sentindo o coração disparar.
O desespero ameaçava transbordar, e os soluços escapavam em meio a uma
batalha interna.
A dor não era física, mas uma pressão que se acumulava, um eco das
palavras de Polina ressoando em minha mente. Insignificante, nojenta. As
lembranças daquela tentativa de me afogar na piscina voltaram, um lembrete
amargo de que sempre falhei, como filha e agora como esposa.
Tremendo, levantei-me e fechei o registro do chuveiro. Precisava de
algo para abafar essa angústia que me consumia. Olhei para o reflexo no
espelho — olhos vermelhos, inchados, o reflexo de alguém que não
reconhecia. Não suportando mais me ver assim, soquei o espelho com força,
observando o vidro estilhaçar enquanto um corte profundo se abria em minha
mão. A dor física foi intensa, mas ainda assim, insuficiente. Agarrei um dos
cacos de vidro, determinada a fazer algo, a não deixar a fragilidade tomar
conta novamente.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, mãos fortes me agarraram.
Debati-me, gritando com uma fúria descontrolada.
— Me solta! — berrei, em estado de desespero, enquanto os pedaços de
vidro caíam ao chão.
Otto me segurou firme, seus braços implacáveis me forçaram a virar de
frente para ele. Fechei os olhos, incapaz de encará-lo. Eu não suportaria ver a
decepção em seu olhar. Não aguentaria decepcionar mais uma vez.
— Olha para mim, Sasha. — Sua voz era baixa, mas carregada de uma
firmeza que não permitia recusa.
Sacudi a cabeça, recusando.
— Agora — ele repetiu, sua paciência perigosa prestes a se esgotar.
Tentei me afastar, mas ele me puxou para mais perto, colando minha
cabeça contra seu peito nu. O calor de seu corpo e a força em seus braços me
fizeram ceder por um momento. Sem forças, agarrei-me a ele, assustada e
perdida.
— Eu preciso que não doa — sussurrei, quase sem voz, perdida no
desespero.
— O quê? — ele perguntou, sua voz carregada de controle.
— O seu olhar de decepção — confessei, quebrada.
Ele ficou em silêncio por um momento, antes de responder, sua voz
grave ressoando em minha cabeça.
— Você estar menstruada não me decepciona, Sasha — disse ele, seus
olhos fixos nos meus, intensos. — Isso só me dá mais um motivo para te
levar para nossa cama e te devorar até que seu ventre inche com a minha
semente.
Tremi, lutando para processar as palavras que saíam de sua boca. Mas
algo dentro de mim reagiu, um desejo primal que eu não conseguia controlar.
Afastei-me de seu peito e, com uma coragem falsa, ergui a cabeça para
encará-lo. Seus olhos brilhavam com algo predatório, desafiador.
Meu coração martelava no peito, mas era um ritmo diferente, algo mais
sombrio. Senti seu pau duro roçar contra mim, sua excitação inegável.
— Eu... eu estou menstruada — gaguejei, ofegante.
— Sangue não me incomoda, láthos mou — murmurou ele, sua voz
rouca e perigosa. — Eu quero te possuir enquanto você sangra — rosnou,
feroz, levantando-me em seus braços e guiando-me para fora do banheiro. —
Vou te foder na nossa cama, e seu sangue vai marcar nossos lençóis.
Gritei quando ele me jogou contra a cama, seu corpo caindo sobre o
meu. Sua boca se chocou contra a minha com uma fome avassaladora,
sugando todo o meu ar. Envolvi minhas pernas ao redor de sua cintura, meus
braços prendendo-se ao seu pescoço. Enquanto o desespero e a raiva se
entrelaçavam, percebi que não havia espaço para fragilidade. A decepção de
não estar grávida, mesmo que nunca tivesse desejado, não poderia me
derrubar. Eu havia amadurecido e encontrado força nas adversidades e se
dissipavam sob o peso de sua presença.
— Quero você dentro de mim — supliquei, desesperada.
— Não antes de eu chupar sua boceta ensanguentada — ele sibilou, em
seguida desceu os lábios por minha garganta, mordendo e chupando minha
pele com intensidade.
— Mas... eu estou sangrando — protestei, ainda hesitante.
— Eu vou saborear seu sangue, láthos mou — rosnou ele, suas palavras
vibraram através de mim enquanto apertava meu mamilo com força, fazendo-
me gemer de dor e prazer ao mesmo tempo. — Apenas aprecie e goze.
Meus gemidos ecoaram no quarto, enquanto meu corpo se contorcia
sob o dele, o lençol branco já estava amassado. Ele desceu seus lábios pela
minha barriga, mordendo minha pele, deixando marcas de sua passagem.
Meu corpo inteiro estava em chamas, minha vagina pulsando de expectativa e
molhada.
Otto mordeu meu clitóris com força, arrancando-me um grito rouco de
prazer. Não conseguia me conter, minha mente nublada pela luxúria.
— Otto, ah! — gemi, incapaz de formular palavras coerentes.
Ele não parou. Sua boca percorreu cada centímetro de mim, sua língua
entrando em mim com uma intensidade brutal. Meu corpo respondeu de
imediato, minhas pernas se abriram mais, buscando mais contato. Agarrei seu
cabelo, puxando-o com força, enquanto minha vagina se contraía, um
orgasmo avassalador me tomou por completo. Gritei seu nome, meu corpo
tremeu violentamente enquanto o prazer me consumia.
Minha respiração estava irregular, cada parte de mim entregue a ele.
Otto se afastou, seu rosto manchado pelo sangue, a boca vermelha e
os dentes tingidos quando ele sorriu de forma quase predatória, puxando o
short e a cueca para baixo com um movimento brusco, revelando o pau ereto
e pulsante, a cabeça inchada, pronta para me invadir.
Sem hesitar, ele segurou meu tornozelo, virando-me de bruços sobre a
cama. Com uma força crua, ergueu meu quadril, me colocando de quatro. O
toque firme em minha pele enviava choques de antecipação.
— Agora, vou te comer duro, esposa. — Sua voz saiu rouca e cheia de
malícia, as palavras ressoavam com um prazer animalesco.
Um tapa forte estalou na minha bunda, e antes que eu pudesse reagir,
senti suas mãos subirem pelas minhas costas, firmes e decididas. Seus dedos
se enroscaram no meu cabelo, puxando minha cabeça para trás, expondo meu
pescoço. O prazer e a dor se misturavam em uma espiral alucinante.
— Eu não vou parar até que você fique rouca de tanto gritar — rosnou
ele no meu ouvido, a promessa de cada palavra reverberando em mim. — Até
que tenha tanto da minha porra dentro de você que escorra, junto com o seu
sangue.
Cada palavra dele parecia um golpe, e em vez de resistir, eu me
entregava por completo, ansiando por ser dominada, por ser consumida por
ele até que não restasse mais nada de mim além de Otto. A sensação de ser
sua era tão viciante quanto aterradora.
Quando ele me invadiu, sua estocada firme e implacável arrancou meu
fôlego. O som de sua pele batendo na minha, o calor e o suor escorriam por
nossos corpos, tudo se misturava em uma tempestade de sensações. Cada
movimento me levava mais fundo em um abismo que eu jamais pensei em
explorar.
Foi naquele momento, enquanto meu corpo sacudia sob seu domínio,
que percebi algo que deveria me assustar: eu estava perdidamente apaixonada
por Otto Exousía. Não era só desejo bruto ou a raiva ardente que sempre
senti. Não, era mais do que isso. Eu o amava.
Ao invés de temer esse sentimento, eu o abraçava. Com Otto, eu havia
encontrado a melhor versão de mim mesma, aquela que eu mantive trancada,
oculta por tanto tempo. Ele me sequestrou, distorceu meus conceitos, destruiu
a minha sanidade... e eu amava isso.
Era loucura sentir algo além de raiva ou luxúria por ele, mas a verdade
era que amar o modo como ele se encaixava em mim, como ele me possuía
por inteiro, era fascinante pertencer a ele.
— Você tá me esmagando com a sua boceta — rosnou, a voz rouca de
prazer, e ao contrair-me de novo, ele gemeu, aquele som grave e profundo era
como música para os meus ouvidos.
Otto puxou minha cabeça ainda mais para trás, colando meu corpo
suado ao seu, e me invadiu com mais intensidade. Cada estocada era mais
profunda, mais feroz, fazendo meu corpo inteiro delirar. Sua mão firme na
minha cintura me mantinha de pé, porque já não havia forças em mim. Ele
me possuía com uma raiva quase animal, cada movimento brutal me
arrastando para mais perto de uma loucura doce.
Mordeu meu pescoço com força, arrancando-me um gemido alto, mais
intenso do que qualquer outro. Minha garganta estava seca, meu corpo inteiro
em chamas, uma combustão de desejo e exaustão. Fechei os olhos e me
entreguei àquela onda, deixando que ele me levasse.
— Oh, Otto... Otto — jorrei seu nome, a voz falha enquanto meu corpo
tremia violentamente em seus braços.
Ele continuou, implacável, entrando e saindo de mim, sem descanso.
Estava à beira do colapso, mal conseguindo suportar a intensidade do
momento, até que ele rugiu com força, gozando profundamente.
— Porra... — O som de sua voz rouca ressoou em meu ouvido. —
Você é perfeita, láthos mou, fodidamente perfeita para mim.
Eu sentia o calor de sua libertação preenchendo-me por completo,
queimando em meu ventre, pulsando em ondas. Virei a cabeça e busquei seus
lábios com desespero, ele me beijou com uma fome insaciável, roubando
todo o meu fôlego mais uma vez. Eu era completamente sua, e naquele beijo,
entreguei o que restava de mim.
CAPÍTULO 30
As mãos de Sasha tremiam incessantemente, e ela se agarrava à minha
desde o momento em que descemos do jatinho particular. Seguimos de carro
pelas ruas desertas de Moscou, rumo à casa de seus pais. Era uma visita
surpresa, discreta, sem chamar atenção. Eu sabia que os Dobow estavam
ajudando o Ferraz, assim como o presidente da Itália, que, após negarmos
patrocinar sua campanha política, se virou contra a Exousía. O velho, com
quase noventa anos, já não tinha condições de governar o país. Então,
decidimos substituí-lo, contudo, ele não aceitou bem, por isso pagaria caro.
Com delicadeza, levei a mão do meu láthos até a boca e beijei os nós
de seus dedos, mordiscando levemente. Ouvi seu suspiro profundo, aquele
que sempre fazia quando a tocava. Eu adorava sua devoção, o modo como ela
se derretia em meus braços. Sua insanidade complementava a minha, assim
como seu corpo parecia ter sido feito para mim. No entanto, ainda faltava
uma parte essencial: conquistar todos os seus pensamentos, dominar seu
coração por completo.
Eu queria saber. Precisava de seu entusiasmo, de sua exaltação, porque,
assim como Sasha era a porra do meu coração morto, eu desejava ser tudo
para ela. Ser seu centro, sua razão e obsessão.
Era essa a loucura que havia herdado de meu pai, Hades: a obsessão. A
única parte insana dentro de mim, que nem sempre conseguia controlar. Era
uma fome constante, um desejo crescente, uma vontade de estar com ela a
cada segundo. Observar cada detalhe de sua existência era um vício. O modo
como seus olhos brilhavam quando me fitava, como sua boca se curvava num
sorriso travesso ao me ferir. Havia prazer na maneira que ela me provocava,
um êxtase cravado em seu olhar toda vez que eu a tomava para mim, faminto,
como se só eu pudesse saciar aquele fogo que ardia dentro dela.
Meu téras — meu desejo sombrio —, se alimentava de cada momento
que passávamos juntos, especialmente no calabouço. Aquele lugar onde tudo
era permitido, onde ela me entregava sua submissão e eu, em troca, lhe dava
o que mais desejava: domínio absoluto, poder cravado na carne e no prazer.
Eu venerava sua boca... O jeito como me lambia, como se estivesse
venerando um deus.
O calabouço se tornou um santuário para nosso caos, um palco onde
nossas perversões se encontraram, se entrelaçaram, até que não restasse nada
além do selvagem, da pura essência do que éramos juntos. Ela era a minha
loucura personificada, minha ruína e minha redenção, e eu estava disposto a
queimá-la e a mim nesse desejo insano que me dominava.
Olhei para fora da janela. As ruas eram quase desertas, talvez por ser
noite. O frio cortante de Moscou dominava a atmosfera, algo que não me
incomodava, mas afetava Sasha. Ela vestia um vestido de manga longa e um
casaco de lã, por conta da baixa temperatura. Mas eu sabia que o frio não era
o verdadeiro motivo da sua inquietação. Moscou era um lugar carregado de
demônios para ela, um passado cheio de cicatrizes. E hoje, estava diante de
seus maiores medos.
Apesar de tudo, eu sabia que Sasha tinha força. Era questão de tempo
até que ela se elevasse acima de suas próprias sombras, porque eu a levaria
comigo, mesmo que precisasse destruir tudo em seu caminho.
Quando viramos na rua que levava ao conjunto de mansões dos
Dobow, percebemos um movimento estranho nos telhados ao redor. Suspirei,
Clean me olhou pelo retrovisor, seus olhos atentos captando o que eu já havia
entendido: sabiam da nossa chegada. Um traidor estava entre nós. O carro
estava cercado, mas não queria arriscar a segurança de Sasha.
O veículo freou de forma brusca. Homens mascarados bloquearam a
estrada à nossa frente, portando lança-mísseis nos ombros. O coração de
Sasha disparou e um grito escapou de seus lábios. Sete figuras armadas
caminhavam em nossa direção, com uma calma que me irritava.
Olhei rapidamente ao redor, avaliando a situação. Não havia como lutar
sem colocar Sasha em perigo. Mesmo com minha escolta treinada, cada
segundo contava, além do mais, esses homens mascarados não eram apenas
russos; havia uma rede traiçoeira por trás da emboscada.
Meu sangue fervia de raiva ao perceber que havia um traidor entre nós.
Quando o encontrasse, pagaria caro por sua traição. Sasha tremia ao meu
lado, mas não poderia demonstrar fraqueza; a prioridade era mantê-la em
segurança. A vingança seria minha, e todos eles pagariam por essa afronta.
O alvo era claro: Ferraz queria me atingir através de Sasha, a ferida
mais cruel que poderia me infligir. Ele não precisava tocar em mim para me
destruir; bastava machucá-la. Essa era uma jogada de um homem
desesperado, o ódio dentro de mim crescia a cada momento. Eu seria
implacável com Ferraz, assim como com qualquer um que tentasse machucá-
la.
Eu sabia que ele queria me desestabilizar emocionalmente, mas não
daria esse prazer a ele. Com a raiva consumindo-me, estava determinado a
jogar com inteligência. Ferraz pensava que poderia me derrubar usando Sasha
como arma, mas estava enganado. Eu não apenas sobreviveria a essa
armadilha; voltaria para cobrar cada dívida de sangue com juros.
— Láthos mou, eles vão te levar. Não lute, apenas se deixe levar —
falei devagar, sem desviar os olhos do perigo à nossa volta.
— Otto, não quero me separar de você. — Sua voz saiu trêmula,
embargada
Virei-me para ela, agarrei seu rosto com firmeza e pressionei meus
lábios nos seus, sentindo o gosto salgado de suas lágrimas. O beijo foi rápido,
mas profundo. Eu precisava dela viva.
— Gia séna tha prokaléso katastrofí sti gi kai tha se vro, ston
parádeiso í stin kólasi, kokkinomálla prinkípissá mou[i]— murmurei em
grego contra seus lábios, uma promessa selada no fogo da guerra.
— Eu... eu não entendi, o que disse, Otto? — Sua voz saiu embargada,
seus olhos brilhando de medo.
— Foi a minha declaração de que você é minha. — Suspirei, soltando-a
devagar. Ao ouvir as batidas violentas na janela do carro, destravei seu cinto
de segurança com um movimento firme. — Vou matar um por um até chegar
em você.
— Otto! — disse ela, desesperada, quando a porta foi aberta e braços
fortes a puxaram brutalmente para fora do carro.
Observei por um segundo enquanto a arrastavam. O caos foi
instaurado. Eles tinham tocado em meu láthos, e isso seria o erro final de
suas vidas.
Saí do carro com calma, sem me curvar ou levantar as mãos em sinal de
rendição. Clean me acompanhava, e sentia o peso da tensão no ar. Sasha foi
colocada dentro de um carro preto que logo sumiu pela rua. Por um
momento, ri, um som áspero e cruel que ecoou no silêncio da noite. Tirei meu
paletó e o joguei no chão, o gesto calculado, quase provocador.
— Recue — ordenou o soldado à frente, o sotaque italiano marcante
em cada palavra.
Continuei andando em direção a ele, ignorando as armas que estavam
destravadas ao meu redor. Passei a mão pelos cabelos, como se estivesse
apenas em uma caminhada despreocupada. Quando o cano frio de uma arma
foi colocada em minha garganta eu ri, senti a adrenalina pulsar em minhas
veias. Eu iria cair, mas cairia lutando.
Fechei os olhos por alguns segundos, permitindo que o ódio se
solidificasse dentro de mim, e, quando os abri, o mundo ficou vermelho. Em
um movimento ágil, desarmei o soldado à minha frente, pegando sua arma
antes que ele pudesse reagir. Usei seu corpo como escudo, puxando o gatilho
e estourando sua cabeça em um borrão de sangue. Disparei contra os homens
com os mísseis, derrubando dois deles.
A troca de tiros começou. Meus homens reviveram, e perceberam que,
mesmo com o caos ao redor, nenhum tiro foi direcionado a mim. O foco
deles era claro: queriam Sasha.
Soltei a arma, deixando-a cair ao chão com um baque surdo. Comecei a
caminhar de volta ao carro com a mesma calma calculada de antes, mas antes
que pudesse dar mais dois passos, senti a mão de um deles tentando me
agarrar. Girei, agarrei o braço dele com força e, em um movimento seco,
quebrei o osso. O estalo ecoou no ar, e ele caiu de joelhos, gritando de dor.
— Falem para o chefe de vocês que estou chegando — anunciei, a voz
fria e cheia de promessas.
— Ele te espera, sýmvoulos — respondeu um soldado russo, sua voz
com o peso de uma ameaça velada.
Entrei no carro, batendo a porta com força, a fúria controlada
queimando sob a superfície. Peguei meu celular e abri o aplicativo de
rastreamento. Sasha estava se movendo rápido, rápido demais. Porra, já
estavam no ar.

Observei meu jatinho particular em chamas, como labaredas


consumindo o metal com um crepitar insuportável. A cada estalo, a ira dentro
de mim ganhava força, uma força incontrolável, como um veneno que se
espalhava rápido demais pelas veias. Os infelizes estavam me atrasando.
Respirei fundo, sentindo o ar quente invadir meus pulmões, mas era
uma fúria que dominava cada célula do meu corpo. Meus punhos cerrados,
minha visão começou a ficar turva, envolta naquela névoa espessa de raiva
pura. O desejo por sangue gritava em mim como uma maldição que eu
sempre carreguei.
Ao virar para o lado, meus olhos voltaram Clean, e a satisfação
estampada no rosto dele foi o estopim. Sem pensar, avancei. Agarrei-o pelo
colarinho, derrubando-o com força no chão de concreto. O impacto ecoou no
ar abafado. Não hesitei. Meu punho desceu com violência, estourando seus
lábios em uma explosão de sangue. Não havia espaço para misericórdia. Soco
após soco, eu o esmurrava, sentindo a pele quente dos meus nós dos dedos se
rasgar contra seu crânio.
— Você me traiu — rosnei, entre dentes, uma raiva crescendo a cada
palavra. Meu punho acertou novamente, com mais força.
Clean tentou falar, mas o sangue borbulhava em sua boca, tornando
seus gemidos inúteis. Meu corpo vibrava de ódio. Minha mão desceu às
costas, onde minha adaga reluzia como um reflexo da morte que resultou no
que ele merecia. Num movimento rápido, desci a lâmina em sua garganta,
perfurando o metal na carne macia. Seu olhar se esvaiu, e tudo o que restou
foi o som gorgolejante do sangue se misturando ao ar.
— Traição é previsível — murmurei, mais para mim do que para ele.
— Traição não traz surpresa. Apenas aqueles que conhecem minhas
fraquezas podem me esfaquear pelas costas. — Limpei o sangue dos meus
dedos, enquanto seu corpo esfriava no chão. Ele era apenas mais um, mais
uma confirmação de que a confiança era uma ilusão criada por todos.
Peguei meu telefone, o sangue ainda quente em minhas mãos marcando
a tela. A raiva que pulsava em mim começou a crescer dentro de mim, dando
espaço a um prazer frio ao ler a mensagem de Eros.
Estou a caminho. Pouso em breve.
Um lento sorriso se formou nos meus lábios, a promessa de caos
dançando em mente. A Itália iria queimar, e eu seria o combustível que
incendiaria tudo. Eros era o prenúncio da destruição, o homem que trazia a
tempestade consigo, e eu ansiava por isso.
A traição de Clean era apenas o começo, um sinal de que tudo estava se
desenrolando, era o que acontecia quando havia traidores entre os seus. Em
breve, o fogo consumiria cada centímetro daquele país miserável, queimaria
tudo e assistiria com um prazer quase doentio.
O caos estava prestes a começar.
CAPÍTULO 31
Arrancaram a touca do meu rosto com brutalidade, os dedos ásperos
puxaram o tecido que parecia colar à minha pele suada. A luz fraca que mal
iluminava o ambiente me agrediu, forçando meus olhos a se estreitarem. Eu
passei horas naquela escuridão sufocante, sem saber onde estava, sem saber o
que viria depois.
Respirei fundo, assustada, mas tentando me controlar. Pisquei algumas
vezes, sentindo a ardência nos olhos, então olhei ao redor. O coração
disparou no peito ao ver Tomasso Ferraz me encarando, o pai de Antônio,
seus olhos pequenos e impiedosos cravados em mim. Ao seu lado, Nika. A
traição estava estampada no sorriso cruel que ela exibia, seus olhos faiscando
de uma satisfação perversa.
Eu estava no chão, jogada como um saco de batata pelos soldados.
Meus membros se arranharam na queda, mas isso era o menor dos meus
problemas. O lugar fedia a mofo e podridão, um odor pesado que parecia ser
cheiro de sangue seco. Pisquei, tentando entender onde eu estava. O teto era
de madeira gasta, a luz fraca e amarela piscavam sem parar, lançando
sombras grotescas nas paredes de pedra. O chão de madeira, encardido,
outrora branca, agora estava coberto por manchas de sangue seco,
testemunhas silenciosas de torturas passadas.
Nika acenou para mim, como se eu fosse uma velha amiga, mas o
sorriso dela era de pura malícia. Respirei fundo, forçando minha mente a se
manter calma. Otto me acharia. Eu sabia disso. Até ele chegar, eu só
precisava sobreviver, precisava evitar ser ferida gravemente. Proteger
instintivamente meu ventre. Descobri no jatinho particular, a caminho da
Rússia, que estava grávida, após alguns enjoos e minha menstruação não ter
durado um dia. O teste de farmácia no banheiro do jato me trouxe uma
alegria indescritível. Eu iria contar ao Otto quando voltássemos para casa...
mas agora, eu não fazia ideia de quando, ou se, voltaria.
— Oi, Nika — falei com uma voz firme. — Senhor Ferraz.
Eles me olharam como se eu tivesse perdido a sanidade. Mas se era
para dançar a valsa da morte, então sorriria para o diabo. Polina me ensinou
isso: mesmo quando a dor e o medo te consomem, nunca deixe de sorrir.
— Você está louca? — Nika rosnou, desviando a atenção de Ferraz.
Ela caminhou até mim, seus saltos ecoando no chão de madeira, e agarrou
meu cabelo com força, puxando minha cabeça para trás. Continuei sorrindo,
mesmo quando a dor atravessou minha pele nervosa como um choque
elétrico. — Pare de sorrir e chore! — berrou, a voz dela trêmula de
frustração.
Estiquei meus lábios num sorriso ainda mais largo.
— Estou feliz em te ver — murmurei, a voz abafada pela dor que
irradiava do meu couro cabeludo.
O tapa veio rápido, forte. Os anéis em seus dedos cortaram meus lábios,
o gosto metálico do sangue inundou a boca. Eu respirei pelo nariz,
controlando a dor. Ela me empurrou com força, e meu corpo caiu no chão
duro, mas desta vez, eu apoiei meus braços para não bater a cabeça. As lições
da minha infância, quando minha mãe me agrediu, ainda estavam gravadas
em mim. Se Nika quisesse me ferir, ela teria que fazer o melhor.
— Essa vadia está louca. Sorri enquanto apanha — Nika resmungou,
voltando para perto de Ferraz.
Tomasso Ferraz era um homem baixo e barrigudo, de rosto enrugado e
careca lustrosa. Ele olhou para mim com desprezo, acendendo um cigarro, o
cheiro do tabaco invadiu minhas narinas.
— O Exousía deve ter ensinado ela a apanhar direito — rosnou, sua
voz arrastada pelo desprezo. Ele tragou fundo o cigarro antes de cuspir as
palavras: — Você matou meu filho, sua puta!
Minhas sobrancelhas se franziram. Antônio... morto? Eu realmente não
sabia. Achei que ele tinha sobrevivido ao duelo com Otto. Todo esse tempo,
eu acreditei que Antônio estava por trás das confusões com Otto, mas agora
estava claro que eu estava errada.
— Eu não fiz nada — me defendi, minha voz firme apesar da dor que
pulsava em meu corpo. — Não sou culpada.
— Você se tornou amante do sýmvoulos, desgraçou o nome do meu
filho ao fugir com ele no dia do seu noivado — Ferraz rugiu, a raiva
distorceu seu rosto até que ele ficou vermelho como um tomate. — Você
humilhou o nome da minha família, e agora... meu único filho está morto!
Ele avançou sobre mim, a fúria emanando de cada poro. O chute veio
rápido, mas consegui colocar os braços na frente do meu rosto, absorvendo o
impacto. A dor atravessou meu braço como uma onda, contudo, fechei os
olhos e me concentrei, ignorando o formigamento que se espalhava pelo meu
corpo.
Quando abri os olhos, meu foco era claro: sobreviver. Por mim e pelo
meu bebê. Otto estava a caminho... Ele havia prometido, e eu acreditava em
cada palavra. Era tudo o que eu tinha naquele momento de desespero. Olhar
para Nika, feliz ao me ver ferida e vulnerável, trouxe uma pontada aguda ao
meu peito. Sempre fui uma boa amiga para ela. Não conseguia enxergar onde
errei, mas talvez meu erro tenha sido nunca a conhecer de verdade. Eu nunca
percebi a serpente que se escondia atrás daquele sorriso falso.
Tomasso se aproximou, o peso de sua presença esmagando o pouco de
esperança que eu tinha. Seu olhar estava tomado por uma fúria cega, quase
insana. O ódio distorcia cada traço do seu rosto. Ele se agachou, aproximando
o rosto do meu, seus olhos ardendo de vingança.
— Eu vou te fazer pagar, sua putinha — rosnou, a voz grossa e cheia de
desprezo, enquanto cuspia gotas de saliva no meu rosto. — Não posso matar
o Exousía, mas ao menos vou ferir a amante favorita dele.
Antes que eu pudesse reagir, ele desferiu dois socos violentos no meu
rosto, fazendo minha cabeça virar bruscamente com a força do golpe. A dor
explodiu, irradiando como fogo através da minha pele. O calor nos meus
olhos foi imediato, as lágrimas ameaçaram a cair. Eu tentei me manter firme,
segurando o choro que queimava por dentro, mas a dor era insuportável. Meu
rosto latejava, como se estivesse em chamas, mas eu sabia que mostrar
fraqueza naquele momento só traria mais sofrimento.
— Daqui a pouco vou mandar os meus homens virem te dar um trato.
Quero saber se essa boceta é tão boa assim — ele cuspiu as palavras com um
sorriso nojento nos lábios, lançando-me em um abismo de pavor e nojo.
Aquelas palavras me deixaram nauseada, o estômago revirando
enquanto eu lutava para manter o controle sobre o pânico crescente. Nika
soltou uma gargalhada venenosa, seus olhos dançando de prazer diante do
meu medo.
— Deve ser toda largada — zombou ela, com a crueldade escorrendo
de cada sílaba. — Já transava com os soldados do pai — mentiu, encharcando
suas palavras de veneno, tentando me destruir com sua malícia.
A mentira me atingiu com força. Ela sabia o quão isolada eu fui durante
toda minha vida, sempre vigiada de perto pela minha família, cercada de
regras e proibições, tudo para preservar minha virgindade até o noivado. E
agora, ela cuspia essas mentiras como se fossem a mais pura verdade,
tentando me humilhar ainda mais.
— Meu filho ia ser chacota! — Tomasso rugiu, sua voz ecoando nas
paredes de pedra ao meu redor. Ele avançou mais uma vez, agarrando meu
cabelo com brutalidade, forçando meu corpo a se erguer antes de me jogar
com força de volta ao chão.
A dor atravessou minha cabeça e coluna, um grito de dor escapou da
minha garganta de modo involuntário. O som da minha própria voz ecoando
pelo local me trouxe de volta à realidade, lembrando-me da crueldade que eu
enfrentava. Tomasso não estava apenas me torturando fisicamente; ele estava
destruindo cada fragmento de dignidade que eu ainda tentava manter. Cada
palavra dele era um golpe, as risadas de Nika apenas pioravam a situação.
O chão duro e frio me recebeu enquanto eu lutava para respirar,
sentindo as lágrimas se acumularem nos cantos dos olhos. O gosto amargo de
sangue na minha boca, cuspi no chão.
Meu coração batia acelerado, mas eu mantinha a compostura,
tentando controlar a ansiedade crescente que pulsava em meu peito. Sem
chamar atenção, coloquei as mãos ao redor do meu ventre, num abraço
protetor. O medo estava lá, sim, mas também uma determinação feroz de
proteger meu bebê a qualquer custo.
O som de uma porta se abrindo ecoou pelo ambiente, cortando o ar
pesado e sufocante. Um perfume familiar invadiu a sala, despertando
lembranças amargas. Polina entrou, seus saltos agulha ressoando no chão de
madeira, enquanto ela caminhava com a confiança fria que sempre a
acompanhava. Vestia um vestido preto colado, que destacava sua silhueta
esguia. O sorriso perverso em seu rosto deixou claro que ela estava ali para
ser testemunha do meu sofrimento, não minha salvadora.
— Oi, filha — ela me cumprimentou, casualmente tomando um gole da
taça de champanhe que trazia nas mãos. A frieza em sua voz era cortante,
como se minha dor fosse mero entretenimento para ela. — Tomasso, o
Palazzo Chigi está pegando fogo.
As palavras de Polina caíram como uma bomba no ar, vi o pânico nos
olhos de Tomasso. Ele arregalou os olhos, puxando o celular do bolso com as
mãos trêmulas, incapaz de esconder seu desespero.
— Algum problema? — Polina perguntou com um tom indiferente,
quase debochado.
— O presidente está morto... — A voz de Tomasso tremeu enquanto
ele processava a notícia. — Um X e uma caveira foram encontrados
desenhados na testa dele.
Vi o pavor escorrer pelo rosto de Tomasso enquanto ele tragava o
cigarro com desespero, suas mãos suadas segurando o celular com força. O
choque estava estampado em cada traço do seu rosto.
— Meus galpões foram bombardeados! — gritou, a voz explodiu em
pura fúria.
Olhando ao redor, vi Nika e minha mãe trocando olhares nervosos.
Algo estava acontecendo, algo grande, mas ainda não conseguia juntar todas
as peças. Polina franziu a testa levemente, incomodada pela reviravolta
inesperada.
— Mas como ele já chegou à Itália? — indagou Polina, com uma nota
de incredulidade em sua voz. — Você queimou o jatinho dele! Não pode ter
sido ele a matar o presidente!
Meu coração deu um salto no peito. Otto... Otto havia feito aquilo? Ele
matou o presidente da Itália? A pergunta ecoava na minha mente, tentando
encontrar algum sentido na carnificina que estava se desenrolando.
— É a marca dele, sýmvoulos, mas o X e a caveira são dele... —
Tomasso murmurou com a voz falhando, seus olhos arregalados em pânico
total. — Porra!
Ele tragava o cigarro como se o próprio ato de fumar pudesse aliviar o
terror que se espalhava em seu corpo, começou a se agitar em meu interior.
Otto havia agido... e sua vingança estava incendiando a Itália.
— O que foi, querido? — perguntou Nika, com um sorriso falso nos
lábios enquanto se aproximava de Tomasso, tentando acalmá-lo. Mas, ao
invés disso, ele a empurrou com força, seu rosto contorcido de fúria.
— A mansão foi queimada! — ele gritou, quase em desespero. — A
mansão da minha família... destruída!
Uma onda de satisfação selvagem me invadiu, aquecendo cada célula
do meu corpo. Otto estava queimando tudo. Ele estava virando o mundo
deles de cabeça para baixo, destruindo tudo em seu caminho para me
encontrar. O caos se espalhava, e a destruição que ele causava trazia uma
sensação sombria de justiça. Tomasso estava perdendo tudo, e isso, de
alguma forma, trazia uma sensação de esperança em meio ao meu desespero.
Otto estava vindo para mim. Eu sabia disso. E ele estava disposto a
queimar o mundo inteiro para me encontrar.
— As joias e o dinheiro estavam lá! — gritou Nika, com a voz trêmula
de nervosismo, seu desespero se tornou cada vez mais evidente.
— Cale a boca! — Tomasso explodiu, dando-lhe um tapa que ecoou
pela sala. — Perdi meus galpões, perdi tudo, porra! — Ele se virou para
Polina, apontando o dedo. — Você disse que os russos não os deixariam sair!
Polina, já irritada, bateu o salto agulha no chão, sua raiva palpável.
— Não sei o que aconteceu! — ela rebateu, sua voz carregada de
frustração. — Meu enteado garantiu que os seguraria na Rússia ou os
mataria!
O caos entre eles era evidente, eu queria gargalhar daquela cena
patética de desespero e impotência, mas me mantive quieta, observando
enquanto se entregavam às suas próprias brigas. Nika choramingava sobre
suas joias, enquanto Tomasso e Polina discutiam, tentando encontrar uma
forma de lidar com Otto. Eles estavam desesperados, mas sabia que nada do
que fizessem poderia pará-lo.
Foi quando algo no canto da sala chamou minha atenção: uma pistola,
largada sobre uma mesinha velha. A oportunidade brilhou diante de mim.
Sem pensar muito, comecei a me arrastar em direção à arma. Minhas mãos
estavam trêmulas, o medo e a adrenalina correndo pelas minhas veias, mas
entre mim e eles, a escolha era óbvia. Eu protegeria meu bebê a qualquer
custo.
Agarrei a pistola, sentindo o peso frio em minhas mãos, e destravei o
mecanismo, como já havia visto tantas vezes antes. Respirei fundo, tentando
controlar o tremor que ameaçava me dominar. Eu não podia falhar.
— Calem a boca! — gritei, a voz firme apesar do pânico que se
escondia em meu peito, enquanto apontava a arma para eles.
O silêncio caiu instantaneamente sobre a sala. Tomasso bufou, Polina
riu com desdém, e Nika apenas revirou os olhos. Nenhum deles acreditava
que eu teria coragem de atirar. Tolos.
— Larga essa arma, Sasha. — A voz de Polina era fria, autoritária,
tentando impor seu controle habitual sobre mim.
Mas desta vez, não seria como antes. Desta vez, eu não me curvaria.
Levei o dedo até o gatilho, determinada. Era ela ou o meu bebê, e eu
protegeria essa vida dentro de mim, como ela nunca me protegeu. Meu filho
ou filha seria amado com todo o meu ser, e eu faria qualquer coisa para
garantir sua segurança — algo que Polina nunca foi capaz de fazer por mim.
— Não, mamãe — sibilei, com uma frieza que eu mesma desconhecia,
mirando em sua direção.
Meus dedos começaram a pressionar o gatilho e, em um movimento
rápido, atirei em Polina. Ela caiu ao chão, ferida. Nesse exato momento, a
porta da sala explodiu com um estrondo ensurdecedor, fazendo todos na sala
se voltarem ao mesmo tempo. Otto entrou, seu rosto coberto de sangue, os
olhos brilhando com uma fúria demoníaca. Cada traço de seu rosto estava
marcado pelo caos e pela vingança, sua presença tomou o ambiente como
uma tempestade.
E eu sorri aliviada.
CAPÍTULO 32
Minhas mãos tremiam, mas o dedo firme mantinha a arma apontada
diretamente para Nika, que observava a cena com descrença. Seus olhos se
dividiram entre minha mãe caída no chão, com um tiro no ventre, e Otto,
parado na porta, segurando uma arma e uma katana ensanguentada. Ele
estava impecável, vestido com terno e gravata, uma visão perturbadora de
elegância e brutalidade, um cavaleiro sombrio e sanguinário, pronto para
julgar e executar.
Polina pressionou uma ferida no estômago, com as mãos cobertas pelo
sangue quente que fluía sem cessar. Seus olhos encontraram os meus, mas
não havia raiva, nem dor, apenas uma frieza aterradora. Como se toda a vida
tivesse sido drenada de sua alma.
— Eu sou... sua mãe... — murmurou entre gemidos de agonia, a voz
falhava.
Sacudi a cabeça, com uma serenidade que parecia quase inumana.
— Não, você é só a mulher que me trouxe ao mundo — sussurrei,
minha voz gélida. — Ser mãe é o que eu serei quando meu filho nascer. Eu já
amo essa criança em meu ventre... a ponto de sacrificar tudo por ela.
Houve um silêncio denso. Eu olhei para Otto, por um breve instante, o
brilho sombrio em seus olhos fez meu coração disparar. A vontade de correr
para seus braços, de mergulhar no calor proibido de sua boca, era quase
insuportável. Mas me mantive firme, o olhar fixo em Nika, pronta para
disparar a qualquer sinal de ameaça.
Nika, com a respiração acelerada, virou-se para mim. A surpresa
estampada em seu rosto logo se transformou em pura inveja e ódio. Seus
lábios torceram-se em um sorriso venenoso.
— Você está grávida de um soldado? — Sua voz saiu de desprezo. —
Aposto que é do Antônio, você deve ter se deitado com ele, como uma boa
cadela.
O velho Ferraz, que até então permanecia imóvel, por fim, reagiu. Seu
rosto distorceu-se em uma mistura de indignação e repulsa.
— Essa vagabunda está esperando um neto meu? — vociferou, uma
voz repleta de desdém. — Você sabia disso e não me contou? — Ele agarrou
Nika pelos cabelos, puxando com força até fazê-la se dobrar, gemendo de
dor.
— Não... eu... não sabia! — Nika sibilou, tentando se libertar, mas sem
sucesso.
Otto, sempre controlado, falou com uma calma que fazia a pele
arrepiar.
— Diga ao seu amante, Nika, que você se deitava com o filho dele... e
que abortou o bastardo do Antônio. — Ele deu um passo à frente, cada
palavra relacionada à crueldade. — Conte também a Polina que você dormia
com o marido dela... e com o irmão. E diga a Sasha que foi a mando de sua
mãe e de seu irmão que a viciaram em comprimidos.
O mundo à minha volta pareceu parar. As palavras de Otto cortaram
como lâminas afiadas, mas não me afetaram. Eu não sentiria dor. Lágrimas
arderam em meus olhos, mas eu me recusei a deixá-las cair. O amargor
cresceu em minha garganta, então, ri. Uma risada amarga e vazia, enquanto
segurava a arma com mais firmeza.
— Então, você transou com o meu noivo? — Minha voz soou fria e
quase casual. — Que amiga incrível você foi, Nika.
Os olhos dela faiscaram de ódio. Ela avançou um passo, raivosa.
— Sua princesa mimada! — disse, sua voz histórica. — Você tinha
tudo! Joias, proteção, comida, um noivo que seria capo! Enquanto eu... — ela
soluçou entre a raiva e a frustração —enquanto eu tive que me vender desde
os dezesseis para conseguir um colar maldito, para conseguir sobreviver!
Eu a encarei, meu rosto uma máscara de pura fúria.
— Não me culpe pelos seus fracassos, Nika.
— Te culpo, sim! — berrou, avançando na minha direção, mas o som
do destravar da arma a fez parar no mesmo instante. — Eu ia para a Itália
com você! Teria uma vida! Mas você... você seduziu o sýmvoulos, o levou
embora, e agora vive numa maldita mansão, com tudo aos seus pés!
Eu não suportava mais ouvir suas lamentações. Com um movimento
rápido, apertei o gatilho. O som do tiro ecoou pelo quarto, por um breve
segundo, uma lágrima solitária deslizou pelo meu rosto. A bala atravessou
sua testa, e o corpo de Nika caiu no chão como uma marionete cujos fios
foram cortados.
Antes que eu pudesse analisar o que havia feito, Ferraz sacou uma
arma, mas Otto foi mais rápido. Com um movimento preciso, a lâmina da
katana brilhou, decepando o braço de Ferraz. O grito dele ecoou pela sala,
mas Otto, sem hesitar, completou o golpe, cortando-lhe a cabeça fora com a
mesma precisão fria. O corpo caiu inerte no chão, o sangue formou uma poça
ao redor dos restos mortais.
Silêncio. Apenas o som das gotas de sangue caindo no chão, ecoando
na escuridão ao nosso redor. Olhei para Otto, e ele olhou de volta.
Deixei a arma cair ao chão.
— Você veio — sussurrei, um sorriso suave escapando pelos meus
lábios, como um suspiro de alívio.
Otto caminhou até mim, com passos firmes e deliberados, como um
predador prestes a reivindicar sua presa. Ele guardou a arma no coldre com
um movimento preciso, sem desviar o olhar de mim, a tensão entre nós
pulsando no ar. Quando ele se inclinou, sua mão fria e dominante envolveu
minha nuca, puxando-me bruscamente para um beijo intenso. Sua boca tinha
o sabor familiar de hortelã misturado com o toque amargo de uísque. A
combinação era intoxicante, e eu me agarrei a ele com desespero, como se
estivessem distantes do meu salvador, o anjo sombrio que eu tanto desejava.
Envolvi meus braços ao redor do seu pescoço, incapaz de me afastar. A
cada segundo, havia sido uma tortura, uma agonia que me corroía por dentro.
O medo de nunca mais o ver me consumia, mas agora ele estava aqui, e isso
era tudo o que importava.
— Eu jamais te deixaria — ele sibilou contra meus lábios, suas
palavras saindo como uma promessa obscura e possessiva. — Você é minha,
e esse bebê em seu ventre também.
Sua mão desceu até a curva da minha cintura, agarrando minha bunda
com firmeza antes de me puxar para o seu colo em um único e violento
movimento. Entrelacei minhas pernas ao redor dele, segurando-me como se
ele fosse a única âncora que me mantinha à tona. Minhas mãos tremiam
enquanto acariciava seu rosto, sentindo a textura de sua barba contra meus
dedos.
— Tive tanto medo — confessei, minha voz vacilava enquanto beijava
seus lábios. — Fiz de tudo para proteger o bebê.
— Eu sei, eu vi — ele murmurou contra minha pele, seus olhos
escurecidos por uma mistura de desejo e algo mais profundo. — Você foi
incrível, chamós mou...
— Você me chamou do quê? — indaguei, curiosa e confusa. —
Sempre diz isso e outras coisas, mas não entendo.
Ele soltou uma risada baixa, quase animalesca, enquanto seus lábios se
arrastavam pelo meu pescoço, deixando um rastro de fogo e desejo.
— Meu caos — ele grunhiu, mordendo minha pele com força suficiente
para deixar uma marca. — Minha vida era sensata até você chegar,
destruindo minha paz, causando um caos dentro de mim.
Um arrepio percorreu minha espinha, e eu sorri, sentindo a verdade nas
palavras dele.
— Digo o mesmo para você, Otto. Minha vida se tornou um belo caos
depois que te vi, e eu gosto disso — admiti, com um sorriso travesso.
Ele riu contra a pele sensível do meu pescoço, sua respiração quente me
deixando em êxtase.
— É bom que goste...
Antes que eu pudesse responder, nossos lábios se chocaram novamente
em um beijo terrível, e eu senti a katana escorregar de sua mão, caindo no
chão com um ruído metálico. Tudo ao nosso redor distante; o mundo se
dissolveu em pura necessidade. Em um instante, senti-me ser pressionada
contra a parede, o frio da superfície contrastando com o abrasador de calor do
seu corpo contra o meu.
Meus sentidos estavam em alerta, cada célula do meu corpo reagia à
presença de Otto. O calor que emanava dele era quase sufocante, mas, ainda
assim, irresistível, como se me puxasse para um abismo do qual eu jamais
poderia escapar. A tensão entre nós era tangível, vibrando no ar, carregada de
uma eletricidade crua que parecia a ponto de explodir. Otto me segurava com
firmeza, sua mão grande e forte envolvendo minha cintura como se quisesse
moldar meu corpo ao dele, seus lábios dominando os meus com uma
intensidade cruel. Não havia doçura, não havia gentileza — havia posse,
controle. Cada toque era uma marca, cada beijo, uma reclamação do que já
era dele.
Seu beijo, que começou suave, logo se tornou uma invasão feroz,
arrancando-me o fôlego, exigindo rendição. Não havia espaço para
hesitações. Era como se ele soubesse exatamente onde explorar, onde
pressionar, até que o desejo e a dor se misturassem, tornando-se
indistinguíveis.
— Está bem? — A pergunta veio com um tom quase brutal, seu olhar
frio, analítico, como se a resposta fosse irrelevante. Suas mãos, que antes
exploravam, agora seguravam meu rosto, os dedos pressionavam minha pele
com uma força que beirava à crueldade, apagando qualquer traço de
fragilidade que pudesse ter restado em mim. Ele queria o controle total. E eu,
por mais que me recusasse a admitir, estava prestes a ceder.
Tentei sorrir, mas o turbilhão de emoções me esmagava.
Vulnerabilidade, medo, e, ao mesmo tempo, uma necessidade primitiva de
continuar submersa naquele jogo perigoso. Ele não me dava escolha. O peso
de tudo desaparecia com seu toque, como se apenas sob sua presença, eu
pudesse respirar. Mas, ao mesmo tempo, sabia que essa sensação de
segurança era uma ilusão perversa. Estava nas garras de um predador. Um
predador que não se cansaria até que eu fosse completamente dele.
— Estou... — A resposta saiu hesitante, um murmúrio sufocado pelo
desejo e pelo medo, que se entrelaçavam dentro de mim.
Otto não sorriu. Seus olhos, escuros e sem piedade, permaneciam fixos
em mim, avaliando, julgando. Ele se inclinou mais, o rosto tão próximo que
eu podia sentir o calor de sua respiração contra minha pele. As mãos
deslizaram pelo meu corpo, à medida que explorava cada centímetro com
uma mistura perigosa de urgência e domínio. Era como se ele quisesse me
consumir, como se cada toque deixasse uma marca invisível, me lembrando
de que eu pertencia a ele — apenas a ele.
Quando ele me puxou com força para si, o mundo ao redor
desapareceu. Eu não era mais eu. Era apenas o reflexo do que ele desejava.
Os corações que antes batiam em sincronia agora pareciam estar em um
duelo, um ritmo violento que denunciava a intensidade daquele momento.
— Você é minha. — A voz dele veio baixa, mas o peso de suas
palavras caiu sobre mim como um trovão. Seus olhos, até então cheios de
controle, agora carregavam algo mais profundo, algo sombrio. Ele não era o
homem gentil que se preocupava. Ele era uma tempestade, e eu estava no
meio dela, sem escapatória.
Com um movimento decidido, ele me envolveu em um abraço
apertado, esmagador, seus lábios tomaram os meus em um beijo que era uma
promessa cruel. Não havia suavidade, não havia consolo. Apenas uma
necessidade bruta, primitiva. Eu podia sentir o gosto de sua possessão, o
poder que ele emanava. Cada toque era uma sentença, e a cada segundo, as
barreiras que tinha cuidadosamente construído ao longo dos anos
desmoronavam. Eu estava à mercê dele, no fundo, por mais aterrorizante que
fosse, havia uma parte de mim que ansiava por isso.
— Não precisa ter medo de nada. — Sua voz agora era quase um
sussurro, mas ainda carregava aquela frieza, aquela certeza inabalável. —
Enquanto estiver comigo, o mundo lá fora não te pode tocar. Ninguém pode
te ferir, a não ser eu.
Ele acariciou meu rosto com uma suavidade calculada, um gesto que
contrastava com a brutalidade de suas palavras. O olhar fixo no meu, como se
estivesse a penetrar minha alma, buscando qualquer resquício de resistência
que pudesse restar. Mas não havia mais nada a dar. Eu estava rendida, e ele
sabia.
O silêncio caiu sobre nós, denso e carregado de significados não ditos.
O que quer que fosse aquele sentimento, era mais do que paixão, era uma
obsessão. E eu estava presa nela, como uma mariposa atraída pelas chamas,
sabendo que o fim seria a destruição, porém, era incapaz de resistir.
Otto me beijou novamente, e naquele momento, não havia mais volta.
Eu estava mergulhada na escuridão, completamente dele.
— Não permitirei que ninguém te veja desse jeito — disse ele com uma
voz fria, cada palavra relacionada de autoridade e posse. — Daqui a pouco
meus irmãos virão.
Pisquei, incrédula, tentando processar o que ele havia acabado de dizer.
— Eles estão aqui? — indaguei, minha mente girando com a
informação.
— Somos uma família, Sasha. Você é uma Exousía agora — ele
afirmou com certeza. — Mesmo que eu não viesse, Kai e Eros viriam te
resgatar. Porque é isso que fazemos um pelo outro.
Invejei a ligação deles. O companheirismo que compartilhava parecia
inquebrável, quase mítico. Meu irmão jamais faria algo assim por mim. Yuri
sempre me desprezou, como se minha existência fosse uma sombra
insignificante ao lado dele. Eu tentei ser uma boa irmã, tentei conquistá-lo de
todas as formas, mas Yuri jamais seria capaz de retribuir. Ele nunca seria um
bom irmão. O rancor enraizado em seu coração o corrompeu, assim como o
desprezo que sempre reservou para mim.
— Quero ter dois filhos — falei, sem pensar no peso das palavras que
saíam da minha boca. — Farei com que eles sejam unidos, como você e seus
irmãos.
Otto suspirou, o som ressoou no silêncio da sala como um prenúncio
sombrio.
— Eros, Kai e eu estamos unidos por vários motivos — ele começou, a
voz baixa e perigosa —, mas um deles é porque meu pai, ao tentar nos virar
uns contra os outros, acabou nos fortalecendo. Nos unimos contra ele.
Suas palavras traziam consigo um peso antigo, uma sombra de dor e
orgulho que se misturavam.
— Era minha missão matar Eros e Kai, garantir que eu seria o único no
poder, o herdeiro, o primogênito.
Meu coração parou por um instante. O frio subiu pela minha espinha,
congelando-me no lugar. As implicações do que ele disse me atingiram como
um golpe, o fôlego preso no peito.
— Otto, eu... — tentei falar, mas as palavras falharam. Não havia o que
dizer.
Ele olhou para mim, seus olhos sombrios e insondáveis. Havia uma
frieza neles, mas também algo mais profundo, algo que não conseguia
entender.
— Hades não esperava que eu fosse leal aos meus irmãos — ele
continuou, sua voz agora mais baixa, quase uma sugestão de aço. — Meu
instinto de proteção a eles surgira com naturalidade. Não queria liderar a
organização, nunca quis, Eros era a melhor opção. Ele sempre foi o mais
inteligente, o menos emotivo entre nós, ao contrário de Kai, que ainda tinha
apego à vida comum. Eros ansiava pelo poder, ele nasceu para ser o Afentikó,
eu nasci para ser seu Sýmvoulos.
Havia orgulho em sua voz, um orgulho sombrio e perigoso.
— Gosto de ser a voz da razão na cabeça deles, de guiá-los quando se
perderem. Sou o irmão mais velho, é meu dever e honra. Assim como é meu
dever proteger você e nosso filho.
As palavras dele me atingiram como uma onda de calor, dissipando o
gelo que havia tomado meu peito. Havia algo tocante em sua lealdade
implacável, sua devoção ao sangue, à família. E agora, eu e nosso filho
fazíamos parte dessa teia.
Sem conseguir conter a torrente de emoções que me invadia, beijei-o.
Apaixonada. Emocionada. Porque não havia nada que pudesse dizer naquele
momento. Tudo o que eu senti por ele, todo o caos e a confusão que ele havia
trazido à minha vida, se condensava naquele beijo. Ele era o meu caos, mas
também a minha âncora. E, pela primeira vez, senti que havia segurança em
pertencer a algo tão perigoso.
CAPÍTULO 33
A Itália estava em chamas. As ruas de Veneza e Roma tinham sido
reduzidas a escombros, o caos consumiu tudo ao redor. Na Rússia, a situação
era igualmente catastrófica; Oleg e Yuri estavam mortos, e o resto da Família
Dobow seria exilada. Em breve, um novo Pakhan seria nomeado, mas isso
era algo que Eros resolveria. Esse fardo era dele, não meu.
Subi a bordo do jatinho particular com Sasha em meus braços. Nenhum
dos meus irmãos estava conosco. Decidimos que voltaríamos para casa
sozinhos no jatinho, sem seus irmãos. Depois de descobrir sobre a gravidez,
tomei a decisão de deixá-los limpar a bagunça que restava. Minha prioridade
agora era cuidar dela e do meu filho, ainda em seu ventre. As palavras de
Sasha, prometendo proteger o bebê de todos, me deixaram satisfeito. Ela
lutou bravamente, sem hesitação, matou Nika e Polina com frieza, sem
demonstrar remorso. Assim, passou no teste.
Todas as mulheres que nasciam para nossa família eram testadas.
Minha mãe foi, Helena também, e agora Sasha. Era uma forma de medir sua
lealdade. Matar alguém que um dia você confiou, após uma traição, não era
uma escolha fácil. Poucos tinham a força necessária para tomar essa decisão.
Mas minha láthos o fez da melhor forma possível.
Confesso que, no fundo, sempre soube que o desejo por sangue corria
em suas veias, mesmo que tentasse esconder. A necessidade de sobreviver, o
instinto de autopreservação, estava ali, latente. Anos de medo e trauma
acumulados, aquela fúria silenciosa, e agora ela explodiu de maneira íntima.
Quando a vi segurando a pistola, minha respiração falhou por um segundo.
Meu pau endureceu. Tudo o que eu conseguia pensar era em fodê-la ali,
naquele exato momento.
O modo como ela segurava a arma, as mãos cruzadas trêmulas, mas
firmes, então, o som seco do gatilho sendo puxado com precisão letal.
Quando a bala saiu e acertou o alvo com uma mira perfeita, porra, quase
gozei só de assistir. A adrenalina misturada com o desejo era insuportável.
Foi tão excitante, visceral. O controle e a força que ela declarou naquele
instante me atingiram como um golpe.
Talvez eu pudesse permitir que ela matasse mais alguns traidores. Não
só para ver o que essa selvageria desencadeada fazia com ela, mas para sentir
o gosto de devorá-la com ainda mais intensidade logo depois. Devorá-la com
força, até que não houvesse mais nada além de nós dois, embriagados pela
violência e pelo desejo.
Deitei Sasha na cama do jatinho, os lençóis na cor bege, acolhendo-a
como se reconhecessem a importância de quem agora descansava ali. Ela se
aninhou, ajustando-se nos lençóis com um suspiro suave, buscando conforto.
Cobri seu corpo delicadamente, envolvendo-a em um carinho protetor, antes
de sair do quarto, deixando-a em paz.
Do lado de fora, um dos meus soldados me aguardava, uma postura
rígida e profissional.
— O Afentikó irá me nomear o novo capo de Veneza — informou,
direto. — Pediu que preparasse sua esposa para a iniciação amanhã à noite.
Apenas acenei em concordância. Ele se retirou em silêncio, e eu me
sentei em uma das poltronas, observando enquanto os preparativos para o voo
eram finalizados. Poucos minutos depois, decolamos.
A iniciação seria a etapa final que abriria todas as portas para Sasha
pertencer a mim, não que já não fosse minha, mas após o juramento, ninguém
ousaria abrir a boca para insultá-la ou chamá-la de forasteira. Ela seria
intocável.
Recostei minha cabeça no estofado da poltrona e fechei os olhos, não
para relaxar, mas apenas para processar tudo. O caos que deixamos para trás,
as batalhas que ainda estavam por vir, e a mulher que agora dormia tranquila
no quarto ao lado, carregando meu filho, tudo estava mudando, a linha tênue
entre poder e destruição se mostrava mais presente do que nunca.
Era real. Eu seria pai.
Sempre detestei essa ideia. Uma criança era uma grande
responsabilidade, uma coisinha pequena e dependente que ia além do meu
controle. Mas, ao mesmo tempo, a simples possibilidade de haver alguém
parecido comigo e com a Sasha, correndo livre pela casa, encheu meu peito
de uma satisfação que eu mal sabia como descrever. Já me via protegendo
esse ser indefeso, mesmo sem saber se era menino ou menina. Em minha
mente, o futuro se desenrolava em cenas: ele ou ela correndo pelo quintal,
destruindo minha paz e me deixando tão fora de mim como Sasha costumava
fazer. Talvez essa fosse a parte mais irônica — eu gostava dessa sensação. O
descontrole que ela provocava em mim era quase libertador.
Ouvi passos suaves se aproximando por trás, interrompendo meus
pensamentos.
— Estamos indo para casa? — A voz sonolenta de Sasha era tão suave,
ela se acomodou no meu colo com a confiança de que só ela parecia ter, em
seguida aninhou a cabeça em meu peito e envolveu meu pescoço com os
braços finos. Mesmo sem palavras, a sua presença me acalmava e agitava ao
mesmo tempo, uma mistura de conforto e provocação.
— Sim — confirmei, puxando seu corpo pequeno contra o meu,
sentindo o calor dela se misturar com o meu. O cheiro de suor, e uma leve
ferrugem ainda pairava no ar, marcas da noite caótica que havíamos passado.
— Amanhã você passará pela iniciação.
Ela franziu o cenho, sem entender de imediato e ergueu a cabeça.
— Iniciação? — Sua voz carregava uma leve confusão.
— Sim — respondi, mantendo o tom duro e direto. — Você terá que
fazer o juramento da Exousía.
O silêncio se instalou entre nós por alguns segundos, enquanto eu
aguardava. A decisão era dela, mas, no fundo, eu já sabia o que escolheria.
— Então farei parte definitivamente da sua família — ela disse, virando
o rosto para mim, um sorriso iluminando seus lábios.
Meus dedos correram pelo seu rosto, notando os pequenos cortes, um
na bochecha, outros no lábio inferior. O desejo de torturar todos que a feriram
pulsava dentro de mim, mas essa era a batalha dela, não minha. Ela precisava
lutar sozinha, e eu, egoísta como era, permiti isso. Embora gostasse de
protegê-la, havia uma satisfação em vê-la lutar, mesmo sabendo que, no final,
sempre dependeria de mim.
Eu deveria treiná-la, preparar-me para as lutas que viriam. Mas havia
algo dentro de mim que adorava vê-la assim, à mercê da minha proteção.
Amava sua fragilidade tanto quanto sua força feroz. Sua raiva, sua
sexualidade descontrolada, seu jeito obsceno de lidar com o desejo — tudo
isso me atraía. Mas, ao mesmo tempo, apreciava suas limitações: a
incapacidade de nadar, a delicadeza desajeitada com que arrancava uma flor,
como se ferisse a terra sem nem perceber.
Não, eu não lhe ensinaria tudo. Apenas o que fosse necessário. Eu lhe
daria uma liberdade controlada, a corda suficiente para que fosse longe, mas
nunca longe demais. Nunca permitiria que ela escapasse do meu alcance. E
nem que ousasse pensar nisso.
Sasha era minha. Sempre seria.
— Pode-se dizer que sim — respondi, observando o brilho de
felicidade que surgiu nos olhos dela.
— É estranho como me encaixo nos seus braços e no seu mundo —
murmurou, quase para si mesma. — Não deveria gostar tanto de estar perto
de você.
— O que deveria ou não, já não está em questão — declarei, sem
hesitar. — Você é minha.
— Eu gosto de ser sua, de carregar o seu filho — disse Sasha,
brincando distraída com o botão do meu paletó, enquanto suas bochechas
adquiriram uma tonalidade rosada.
— É bom que goste — pontuei, com uma seriedade que contrastava
com a leveza de suas palavras.
Ela me olhou com uma confusão e curiosidade, como se estivesse
ponderando algo.
— Por que não me disse que Antônio estava morto? — indagou, sua
voz carregando uma leve acusação.
— Achei que era óbvio que eu o mataria. Ele não teria como sobreviver
ao meu ataque, chamei-me. — Minha voz era baixa, porém, firme. — Queria
que ele estivesse vivo?
Ela negou quase de forma instintiva.
— Não, mas você me deixou acreditar que ele estava! — acusou, com
mais firmeza desta vez.
— Você acreditou no que quis — rebati. — Assim como não me disse
que estava grávida.
— Descobri no avião, quando estávamos indo para a Rússia —
confessou em um sussurro. — Como chegou até mim tão rápido?
— Eros estava meia hora atrás de nós. Quando te levaram e colocaram
fogo no meu jato, ele desembarcou em seguida e me encontrou — expliquei,
mantendo o tom impassível.
— Você matou o presidente da Itália! — exclamou, como se ainda
processasse o fato.
Eu ri, um som seco que ecoou pelo ambiente.
— Eu mataria minha mãe e meu pai por você, chamós mou — revelei,
aproximando meus lábios dos dela.
— Ferraz ficou repetindo que a caveira e o X eram sua marca
registrada. — Ela riu, a gargalhada suave vibrava contra os meus lábios.
Eu não gosto de deixar marcas ou jogar esse tipo de jogo, mas não
desmenti. Certos segredos não eram meus para compartilhar.
— Eu me sinto tão leve agora... tão em paz — ela sussurrou, seus olhos
brilhando com uma liberdade recém-descoberta. — E quero chocolate
quando pousarmos ou quando formos para casa! — pediu com um toque de
inocência. — Matar Polina trouxe um alívio tão grande que nem sei te dizer o
quão leve estou me sentindo.
— Como se tivesse matado o bicho-papão que ficava debaixo da sua
cama? — brinquei, com um sorriso discreto.
— Sim! Agora, posso dormir em paz.
— Seu pai e seu irmão estão mortos — informei, sem rodeios, testando
sua ocorrência. — Seu tio e primo não compactuaram com o seu pai, estão
vivos assim como seu sobrinho e cunhada.
— Ok — foi tudo o que disse, enquanto se aconchegava ainda mais no
meu colo, abraçando a tranquilidade que a dominava.
Beijei sua testa, deixando-a descansar. Ela precisava disso, e eu
também.

A doutora da Exousía nos olhou com um sorriso sereno


— O bebê está saudável. Você está de cinco semanas — informou com
tranquilidade. — Ainda é cedo para sabermos o sexo pela ultrassonografia,
mas podemos descobrir pelo exame de sexagem fetal.
— Vamos esperar — afirmou Sasha antes de olhar para mim, um brilho
de certeza em seus olhos. — Tenho certeza de que será uma menina.
Por dentro, me encolhi com essa ideia. Eu não era um homem religioso,
mas naquele momento, quase pedi aos céus que fosse um menino. Garotas
eram frágeis e mais fáceis de machucar. E se eu tivesse uma menina, teria que
moldá-la a algo muito além da fragilidade que a sociedade esperava. Uma
assassina implacável, melhor do que eu jamais fui. Porque minha filha não se
submeteria a ninguém, nem por um segundo.
— E você, papai? O que você acha? — indagou a médica,
olhando-me com medo.
— Só quero que tenha saúde — respondi, sabendo que era uma
meia-verdade.
Por dentro, a ideia de uma menina, um ser tão delicado e, ao mesmo
tempo, sob meu controle absoluto, trazia um peso diferente.
Quanto sangue eu derramaria por ela?
Mais do que o necessário.
CAPÍTULO 34
Acordei com batidas à porta. Tínhamos passado a noite em um dos
quartos da organização, e, após um banho, desmoronei na cama, sentindo a
adrenalina se esvair do meu corpo. Estendi a mão para o lado, procurando por
Otto, mas o espaço estava frio. Meu olhar varreu o quarto em busca de sinais
dele, mas nada. As batidas persistiram. Levantei-me, ainda atordoada, e
envolvi meu corpo num roupão de seda escuro e longo antes de abrir a porta.
Helena, a vassílissa, me esperava do outro lado. Sorria com seus olhos
azuis suaves, à medida que segurava algo nos braços, um vestido, pelo que
parecia.
— Boa noite, vim te ajudar nos preparativos da iniciação — disse com
ternura.
— Oi... entre — murmurei, dando espaço para ela passar. —
Obrigada... já é noite?
— Ela fechou a porta atrás de si, ainda sorrindo.
— Sim, você dormiu longas horas. É normal devido ao estresse... e à
gravidez — falou a última palavra com empolgação. Colocou o vestido sobre
a cama e se moveu para me puxar em um abraço apertado. — Não vejo a
hora dele ou dela nascer. Assim Zeus terá companhia, primos.
Ela me apertava com tanta força que me sentia acolhida. Retribuí o
abraço, absorvendo aquele raro momento de carinho.
— Estou tão nervosa com o bebê — confessei. — Mas feliz. Quero ser
uma boa mãe. — Helena me soltou, segurando meu rosto com as duas mãos,
o sorriso permanecendo firme.
— Você será — afirmou com confiança. — Estou tão feliz que não sou
mais a única mulher da família...
— Mas há Hera — comentei, me sentando na cama, ainda um pouco
sonolenta.
— Hera, nossa sogra, não vive por perto. Na verdade, os pais dos
rapazes vivem distantes. Eles são apenas uma sombra. Eros não se importa se
estão vivos ou mortos, mas Otto e Kai preferem manter a distância — ela
explicou rapidamente. — Então, eu era solitária, mas agora tenho você!
Podemos ser melhores amigas!
Helena segurava minha mão, seus olhos brilhando de expectativa.
— Matei ontem uma mulher que considerava minha melhor amiga —
contei com uma risada amarga. — Eu confiava nela. E ela transava com meu
pai, irmão, me drogou de propósito a mando da minha mãe e era amante do
meu ex-noivo, uma vadia do caralho.
— Só quem está perto pode nos ferir, Sasha. Estranhos não têm esse
poder, só os que amamos nos ferem de verdade — disse Helena, sua voz
suave, mas cheia de verdade. — Eu também tive que lutar contra uma amiga
e venci. Foi doloroso, mas passou. No final, tudo o que sobra somos nós, em
nossa bolha, aprendendo com a dor.
Se ela soubesse o quanto de dor eu já carreguei ao longo dos últimos
anos... Mas decidi não falar sobre isso. Não queria reviver o passado. O
presente já foi pesado o suficiente.
— O que você trouxe? — mudei de assunto, tentando escapar daquele
abismo de lembranças.
Ela soltou minha mão e ajeitou os cabelos castanhos longos.
— O vestido da cerimônia — respondeu, eufórica. — Você terá que
recitar o juramento, mas basta repetir o que Otto disser.
Assenti e me levantei. Peguei o vestido da capa que o protegia e fiquei
admirando sua beleza. Era longo, com um decote em V profundo que
destacava o colo, e uma modelagem que acentuava a silhueta. As alças finas
sobre os ombros completavam o visual elegante. O tecido azul aveludado
parecia feito sob medida para mim.
— Ele é lindo... vou me vestir — avisei com entusiasmo.
— Te espero aqui — disse Helena.
Corri para o banheiro e, com cuidado, tirei a camisola que vestia do
banho que Otto me deu. Vesti o vestido, o tecido caiu perfeitamente em meu
corpo, como se tivesse sido moldado para mim. Sorri, satisfeita, e voltei ao
quarto onde Helena me aguardava, o sorriso dela ainda mais largo.
— Você está linda! — exclamou.
— Preciso de joias, maquiagem ou algo assim? — indaguei, nervosa.
— Não, apenas o vestido e o cabelo solto — respondeu. — Posso
pentear seus cabelos? Nunca tive irmãs ou amigas para isso, e sempre quis. Li
em livros que esses momentos eram divertidos.
Ri alto, pois secretamente sempre quis o mesmo.
— Pode sim. — Minha voz saiu embargada de emoção. — Também
não tive nada disso. Cresci em um lar frio como a Antártida.
Sentei-me em frente à penteadeira, enquanto Helena pegava uma
escova e começava a pentear meus cabelos devagar, com cuidado. Ambas
sorríamos como loucas, como se esse simples ato fosse um pequeno consolo
para tudo o que temos vivido. Helena tinha um semblante de ternura, tão
oposto ao seu marido. Onde Eros era duro e implacável, ela era gentil. Eu não
poderia julgá-la. Enquanto Otto era frio e firme, eu era uma bagunça.
Helena terminou de arrumar meu cabelo, deixando-o mais volumoso e
com um toque natural. Eu adorei o resultado. Passei um perfume suave e
desodorante. Embora o outono estivesse começando, o calor ainda me
incomodava um pouco. Levantei-me da cadeira e virei para Helena, que
vestia um delicado vestido rosa de manga caída, com uma saia que ia até os
joelhos. Ela estava descalça, contrastando com a sofisticação ao redor.
— Cadê o Zeus? — perguntei.
— Ele está nos esperando com o pai no salão, onde acontecerá a
cerimônia — respondeu, pegando minha mão com um sorriso. — Vamos?
— Sim, vamos — concordei, quase sem conseguir conter minhas
emoções.
Eu não fazia ideia de como seria a cerimônia, mas estava pronta. Havia
algo em mim que ansiava por pertencer, por fazer parte dessa nova vida que
eu estava construindo. Saímos juntas do quarto, e Helena me guiou pelas
escadas para o andar inferior. Não havia soldados visíveis, o que me deixou
intrigada. A cada passo que dávamos, eu sentia uma corrente de adrenalina
percorrendo meu corpo. Meu coração batia forte, acelerado, como se
estivesse se preparando para algo grande.
Quando Helena empurrou as grandes portas do salão, foi surpreendida
pela visão de várias mulheres. Todos vestiam longos vestidos vermelhos e
seguravam lanças. Assim que pusemos os pés no salão, elas bateram as
lanças no chão com força, o som reverberou pelas paredes. O impacto me fez
sobressaltar, e o barulho ecoou sete vezes, cada batida mais intensa que a
anterior. Quando terminaram, as mulheres ergueram as lanças no ar, criando
um corredor curvo, uma reverência silenciosa que indicava o caminho que
devíamos seguir.
A grandiosidade e a formalidade da cena me encheram de uma mistura
de temor e expectativa.
Otto estava lá, sem camisa, seu corpo esculpido em músculos,
iluminado pela luz bruxuleante das velas ao redor. A calça de alfaiataria preta
ajustava-se perfeitamente em sua cintura, contrastando com a pele bronzeada.
Descalço, com os pés firmes sobre o altar, ele emanava poder bruto,
implacável. Seus cabelos, penteados para trás, transmitiam uma aparência
ainda mais predatória. Os olhos, escuros e impiedosos, estavam fixos em
mim, e aquele olhar queimava minha pele antes mesmo de ele me tocar.
Helena apertou de leve a minha mão, mas meus passos continuaram
lentos, deliberados, cada um aumentando a tensão que pulsava no ar. O
coração batia acelerado, uma mistura de medo e atração avassaladora me
dominava. Otto, o homem que tomou meus pensamentos, o homem que me
consumia. Cada passo me fazia sentir mais pequena, mais presa na teia que
ele tecia com perfeição e crueldade.
Ao redor, o público observava em silêncio. Figuras que comandavam o
submundo, cada uma mais poderosa que a outra. Eu reconheci o capo da
máfia italiana que dominava Nova Iorque, seu olhar calculista não passava
despercebido. Ao lado dele, o presidente da Alemanha, em uma sinistra
aliança com a Exousía. Eram homens de poder, impiedosos como Otto,
assistindo àquele espetáculo com interesse sombrio.
Cheguei à base do altar. Havia três degraus largos, escuros como o
mármore frio sob meus pés. Minha respiração pesou enquanto olhava para
cima. Otto caminhou lentamente em minha direção, seus movimentos eram
como o de um predador próximo de sua presa. Ele estendeu a mão, grande,
firme, um convite impossível de recusar. Peguei sua mão sem hesitar, a pele
quente contra a minha palma suada. Um arrepio percorreu minha espinha.
Subi os degraus com cuidado, cada passo ampliava a gravidade do
momento, o silêncio absoluto entre nós dois era ensurdecedor. Quando
paramos no topo, estávamos diante de Eros, que se aproximava com uma
adaga cintilante na mão. Otto e eu ficamos frente a frente, sua expressão era
neutra, fria como o aço da lâmina que reluzia entre nós. Seus olhos, no
entanto, eram um poço profundo, cheio de interesse que ele não deixava
transparecer facilmente.
— Estamos hoje aqui para receber Sasha Exousía em nossa
organização através do seu juramento de sangue. — A voz de Eros, o
Afentikó, soou como um trovão no silêncio do altar. Firme, poderosa, quase
assustadora. Ele dominava o ambiente com uma autoridade implacável, os
olhos examinando cada rosto como se esperasse algum desafio.
— Se alguém é contra a aliança, que desafie o sýmvoulos para um
duelo.
A tensão era sufocante. Meus músculos se enrijeceram, forcei-me a não
olhar para o pequeno público. Sabia que os olhares estavam fixos em mim,
esperando qualquer sinal de fraqueza. O silêncio que se abatia era mortal,
carregado de um suspense agonizante. Eros esperou, e, quando ninguém
ousou falar, um sorriso cruel se formou em seus lábios.
— Fico descontente com o silêncio de vocês, mas aprecio que não
queiram morrer. Substituir um de vocês seria um trabalho do caralho. — Eros
riu, um som que reverberava pelo espaço, cheio de malícia e desprezo. —
Agora, vamos.
Eros estendeu uma adaga ao Otto, que ele pegou com facilidade. Sua
mão esquerda ainda estava firmemente entrelaçada à minha, o toque frio de
seus dedos trazendo uma onda de calma e controle, mesmo diante da
gravidade do momento. Com um movimento controlado, Otto conduziu a
lâmina na direção do meu peito. A ponta afiada cortou o espaço entre os
seios, e ele aprofundou a lâmina na minha pele sem hesitação.
O aço frio rasgou minha carne, e a dor percorreu meu corpo como um
choque, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas involuntárias. Meu
corpo estremeceu, mas me mantive firme. Ele desceu o corte lentamente,
ampliando o tormento, antes de mover a lâmina com um movimento
calculado. Girando a adaga na mão, Otto a estendeu para mim. Meus dedos
tremiam ao pegá-la, a lâmina manchada com meu próprio sangue.
Respirei fundo, tentando conter a adrenalina que misturava dor e
emoção. Com a lâmina firme em minhas mãos, reproduzi o mesmo corte no
peito dele. Meus olhos captaram o brilho intenso de prazer que surgiu nos
olhos de Otto, o prazer sádico de sentir a lâmina atravessá-lo.
Quando terminei o corte, minha mente estava turva, incerta sobre o que
fazer em seguida. Otto, com um sorriso sombrio, tomou a lâmina da minha
mão e, sem hesitar, cortou meu pulso. Soltei um gemido baixo, uma mistura
de dor e choque, mas seus olhos... seus olhos brilharam com pura satisfação.
Aquele brilho faminto que me consumia.
Fiz o mesmo corte em seu pulso, o sangue quente escorrendo entre nós.
Otto devolveu a adaga para Eros, que repetiu o ritual, cortando a si mesmo e
depois passando a lâmina para Helena, que já estava no altar, aguardando
com uma coroa sobre sua cabeça.
Otto mudou de mão e, sem quebrar o contato visual, pingou seu sangue
sobre o corte de Eros no pulso.
— Do meu sangue, eu prometo lealdade à Exousía, nascido do
submundo, morto na tormenta. — Seu juramento soou como uma sentença,
carregada de intensidade. Seus olhos nunca desviaram, nunca fraquejaram.
Ele se virou para Helena e, em seguida, repetiu o mesmo ritual. Quando
chegou minha vez, fui até Eros e pinguei meu sangue sobre o dele. Minhas
mãos ainda tremiam, mas minha voz saiu clara, mesmo que lenta.
— Do meu sangue, eu prometo lealdade à Exousía — disse, sentindo
cada palavra pesar. — Nascida do submundo, morta na tormenta.
Fiz o mesmo com Helena, completando o juramento. Quando voltei
para o lado de Otto, ele me olhou com uma intensidade que queimava minha
pele. Seus braços me puxaram com força possessiva, e ele me beijou com
uma voracidade que me fez esquecer o mundo ao redor. Beijou-me com
desejo, e eu me embriaguei naquele beijo como se fosse minha única fonte de
vida.
Quando ele se afastou, suas mãos seguraram meu rosto com firmeza,
seus olhos cravados nos meus, como se quisesse esculpir sua presença em
minha alma.
— O mundo pode tentar intervir em nossa relação — ele sussurrou com
uma voz grave, quase animalesca —, mas eu farei tudo para mantê-la ao meu
lado. Sem você, minha existência retornaria ao vazio e à escuridão.
Suas palavras eram uma promessa, uma ameaça. Sua respiração quente
se misturava à minha.
— Você nasceu para ser minha, láthos mou — rosnou contra meus
lábios, sua voz continha possessividade.
Eu me sentia bem em ser dele.
CAPÍTULO 35
Eu a observava dançar no gramado, descalça, segurando um buquê de
flores que meu sobrinho Zeus havia arrancado de qualquer jeito, numa
tentativa infantil de oferecer a ela. O pirralho era obcecado pela minha
esposa, e isso me enfurecia de uma maneira que eu não poderia sequer
racionalizar. Uma parte de mim desejava puni-lo, mas ele ainda era sangue do
meu sangue, uma criança. Ainda assim, meu instinto possessivo crescia com
cada gesto, com cada sorriso que ela lhe lançava.
O ar de outono estava denso, quase opressivo, envolto em uma neblina
dourada que se esgueirava entre as árvores. O vento carregava uma qualidade
fresca, bagunçando os cabelos de Sasha enquanto ela girava, rindo como se
não houvesse preocupações no mundo. Cada risada dela apenas intensificava
a possessividade que queimava dentro de mim. Ela era minha, e ver seu corpo
florescendo com a vida me lembrava de que essa verdade estava mais forte
do que nunca. A beleza melancólica do cenário se refletia em minha
determinação de protegê-la a qualquer custo.
Depois da iniciação, Sasha e Helena se tornaram inseparáveis, e isso
me irritou. Eros e eu fomos incentivados a dividir a atenção de nossas
esposas, o que fez minha paciência se desgastar. Helena tocava a barriga de
Sasha, falando sobre bebês, e Zeus... bem, o pirralho tentava abraçar minha
esposa três vezes. Três. Mesmo sendo criança, mesmo sendo família, ainda
queria corrigi-lo. Ele era terrível, caótico, e sua agitação me incomodava
como um espinho cravado na pele.
Quando começou a chuviscar, todos correram para dentro da casa,
rindo e gritando. O barulho infantil contra o silêncio da mansão, algo que eu
desprezava. Virei a cabeça e lá estava ela, caminhando em minha direção
com as bochechas coradas pela corrida, os olhos brilhando com uma alegria
inocente, o cabelo bagunçado e úmido pelo sereno.
Ela se moveu, envolvendo meus quadris em um abraço de lado. Senti o
calor do seu corpo, com a mão livre, a puxei para mais perto e beijei o topo
de sua cabeça. O cheiro de jasmim em seus cabelos me envolveu, um
perfume que se tornara meu vício. Eu odiava aromas de rosas, mas nela, o
perfume floral se tornava algo irresistível, algo que me fazia querer afundar
meu rosto em sua pele e perder a cabeça.
— Seu sobrinho me pediu em casamento, pois, segundo ele, eu pareço
uma princesa — ela falou entre risos, seus olhos azuis cintilando de
brincadeira. — Ele tem os olhos tão azuis quanto os seus.
Minha mandíbula se tensionou, e sibilei baixinho:
— O pirralho está merecendo levar uma surra.
— Ele é só uma criança, Otto. — Sasha abriu mais o abraço, como se
quisesse suavizar minha raiva com o toque dela.
Bebi o último gole do meu uísque escocês, sentindo o calor descer pela
garganta. Quando olhei de novo para ela, percebi o brilho diferenciado em
seus olhos. A boca estava entreaberta, com as pupilas dilatadas. Eu sabia o
que ela queria, ela se tornou ainda mais obscena, insaciável, como se a
própria gestação tivesse inflamado seus desejos. Por isso, eu vinha
considerando a ideia de termos um filho por ano, só para poder satisfazer essa
luxúria incessante de uma forma que apenas nós dois compreenderíamos.
— O que quer, chamós mou? — perguntei, a voz baixa e carregada de
antecipação, mesmo já conhecendo a resposta.
Ela lambeu os lábios, o olhar desviando rapidamente para a sala, onde
Eros estava sentado com Helena no colo e Zeus brincava no chão,
completamente alheio ao que acontecia. Então, Sasha se virou para mim, com
um brilho de vergonha e tesão misturado.
— Quero te chupar até que seu gozo escorra pela minha boca —
sussurrou, o rosto ruborizado enquanto suas sardas ficaram ainda mais
evidentes. — Só de pensar nisso, fico molhada.
Um rugido baixo escapou de mim, o desejo crescente. Eu a queria ali
mesmo, no meio da sala, ou em qualquer outro cômodo onde pudéssemos
saciar essa fome. Mas foi Sasha quem chamou Helena para virem aqui, para
que as duas planejassem pintar o quarto do bebê, uma ideia completamente
idiota, mas deixei que quebrassem a cara juntas.
— Depois que eles foram embora, te darei o que deseja — falei
devagar, vendo o brilho desaparecendo de seus olhos. — Temos que arcar
com as consequências do que desejamos, láthos.
Ela bufou e me soltou, indo se sentar no chão ao lado de Zeus, para
brincar com ele. Observando a cena, um leve desconforto se instalou em
mim. Kai estava ausente. Não gostava de bagunça, mas havia algo em ter
todos juntos que me trazia um sentimento de controle. O fato de Kai estar
quieto demais me incomodava.
Segui para o minibar do escritório, onde Eros me acompanhou em
silêncio. Servi uma dose tripla de uísque e me sentei em uma das poltronas
junto à janela. A chuva agora caía com mais força, transformando a paisagem
em uma tela cinza.
— Kai está namorando a filha do presidente do Brasil — Eros
informou, enquanto servia sua própria bebida. — Ele me disse ontem que
hoje vai tornar o relacionamento público.
— O que esse infeliz está pensando? — quis saber sem humor.
— Em foder com o seu juízo — respondeu Eros, à medida que tomava
um gole e se sentava na poltrona ao lado. — Acho que ele vai ficar por lá por
um bom tempo.
Suspirei, com o desconforto crescendo.
— Não gosto disso. Se ele cruzar a linha, teremos que pará-lo. Sabemos
que o fato de estarmos casados mexe com a cabeça dele, Eros.
Ele riu, terminando sua dose de uma vez.
— Deixe-o enlouquecer, porra. Ele tem tanta raiva enterrada dentro de
si que uma hora vai morrer. E depois, lidamos com as consequências. Você
incendiou a Itália e a Rússia, e eu só aplaudi. Cada um de nós precisa de um
pouco de loucura de vez em quando.
Eu neguei com a cabeça. Kai era diferente. Ele era o mais sensível entre
nós, o que compreendia melhor os sentimentos dos outros, mas também o que
mais jogava com a verdade.
Enquanto o silêncio pairava entre nós, Eros cortava a quietude com
uma declaração inesperada:
— Você será um bom pai.
Suas palavras carregavam um peso maior do que apenas um elogio
fraterno. Olhei para ele, tentando entender se havia alguma dúvida ou
provocação em sua voz. Ele continuou, como se refletisse sobre nosso
passado:
— Você manteve a mim e o Kai. Mesmo sem pedir, sua proteção
sempre esteve lá.
— Deveria ter deixado que matasse? — retruquei.
Ele riu alto, o tipo de riso que só alguém que conhece sua própria
imortalidade pode dar.
— Não, mas você quase morreu por nós — disse ele, com um ar mais
sério. — Hades te torturou por nossa causa.
— Valeu a pena — afirmei, minha voz firme como aço. — Sou quem
sou hoje por conta disso, jamais deixaria vocês para trás.
Então, sem hesitar, repetimos o juramento que selou nosso destino
desde a infância:
— Nascidos na tormenta, herdeiros do submundo, donos do caos.
Eros, com um brilho nos olhos, repetiu:
— Nascidos na tormenta, herdeiros do submundo, donos do caos.
Nesse momento, a voz de Kai ecoou, finalizando o juramento:
— Juntos até o fim, todos de joelhos enquanto reinamos pelos confins
da Terra.
Kai, sempre com sua entrada dramática, estava sorrindo. Usava um
sobretudo de couro, uma cerveja na mão e aquela expressão de quem sempre
estava pronto para provocar.
— Sempre e para sempre, OKE — ele completou, referindo-se às
nossas iniciais. Era um pacto de sangue, a marca do que éramos.
— Filho da puta — murmurou Eros, rindo.
— Olá, irmãos — saudou Kai com seu habitual ar de desprezo
misturado à diversão. — Vou apostar setenta milhões que o Otto terá uma
garotinha de cabelos escuros e sardas.
Suspirei, já cansado da conversa.
— Cem milhões de que ela terá cabelos ruivos — Eros entrou na
provocação, como sempre.
Perdi a paciência.
— Um bilhão de que matarei vocês dois se não pararem com essa
merda! — rosnei, mas eles apenas riram.
Pouco depois, meu escritório foi invadido por Sasha e Helena, trazendo
consigo a leveza que, por um breve momento, tudo parecia normal. Olhei ao
redor, vendo meus irmãos rirem e brincarem, Sasha e Helena sorrindo. Era
raro termos esse tipo de paz, talvez por isso era tão precioso.
Zeus estava sentado no chão, cercado por meus livros, tirando de um
lugar e colocando em outro, alheio à organização que eu tanto prezava.
Suspirei, sentindo um misto de exasperação e nostalgia. Ele era apenas uma
criança, bagunceira e curiosa, e eu sabia que não podia fazer nada quanto a
isso. Não o repreenderia, não dessa vez.
Seu pai, Eros, fazia a mesma coisa na mesma idade, e eu me lembro de
interceder para evitar que Hades o surrasse. Naquela época, Eros também era
uma criança desobediente e cheia de energia, mas sabia que o castigo severo
não resolveria nada. Era apenas o jeito deles, uma inquietação.
Observando Zeus brincar com meus livros, eu me peguei sorrindo. Por
mais irritante que fosse ver minha coleção toda desorganizada, não podia
ignorar que ele era parte da família, parte de algo maior. E, de certa forma,
isso também me lembrava de que, em breve, eu teria meu próprio filho ou
filha para lidar com essa mesma energia incansável
Então, encostei-me na poltrona, respirando fundo. Eles estavam
bagunçando minha paz, mas por algum motivo, decidi permitir. Era, afinal,
um daqueles momentos que, mesmo caóticos, traziam um pouco de paz.
Depois de enxotar minha família de casa, desci com Sasha até o
calabouço. A tensão entre nós era quase palpável. Ela me olhou de um jeito
que me deixou em brasas — safada, com aquele sorriso atrevido e os olhos
brilhando com promessas sombrias. Passou os dedos finos pelos chicotes
pendurados na parede, mas tinha algo muito mais interessante para ela
naquela noite.
Caminhei até a cama e peguei o pequeno embrulho que havia deixado
ali mais cedo, envolto em um laço dourado. Sem dizer nada, entreguei-o a
ela.
— O que é isso? — Sua voz soava curiosa, mas com aquela faísca de
expectativa.
— Abra — ordenei, a voz fria, cheia de comando, enquanto removia
minha camisa devagar, sem desviar o olhar do dela. Senti seu desejo saltar ao
ver meu peito nu. Ela venerava meu corpo, e eu... adorava o poder que isso
me dava.
Ela desembrulhou a caixa, e vi seu olhar dilatar ao segurar o objeto:
uma pequena faca de cera, preta como a noite, adornada com uma caveira e
um X. Eu a tinha mandado fazer em especial para ela. Sabia o quanto gostava
de me marcar, de me cortar, e eu... eu adorava cada segundo do seu
entusiasmo selvagem.
Abaixei minha calça de moletom, expondo meu pau, rígido e latejando.
Peguei as roupas e as dobrei com precisão, sem pressa, colocando-as sobre a
mesa atrás de mim. Sasha engoliu em seco, os olhos fixos no meu membro,
onde gotas de pré-gozo já escorriam. Senti o poder daquela visão e comecei a
me masturbar devagar, só para provocá-la. Seus mamilos resistiram sob o
tecido fino da camisola de seda branca. Podia sentir sua emoção, o cheiro
doce e viciante de seu desejo tomando conta do ar.
A pequena caixa escorregou de suas mãos, caindo no chão sem
importância. Seus olhos estavam vidrados em mim, sua presa. Sem hesitar,
ela subiu na cama, ajoelhando-se entre minhas pernas, segurando uma faca de
cera. Seus movimentos eram apressados, quase descontrolados. Despiu-se
com pressa, jogando a camisola para o lado, revelando seus seios cheios,
mamilos rosados e duros como pedra. Ela era uma visão de pura luxúria, e
eu... o diabo que a controlava.
Ela se ajoelhou sobre mim, passando a ponta afiada da faca pela minha
coxa, perto demais da virilha. A faca de cera contrastava com o calor do meu
corpo, fazendo-me rosnar baixo, um som de prazer e ameaça. Meu pau
pulsava ainda mais forte, e ela só arranhou a pele. Uma provocação. Uma
carícia torturante.
— Isso... — murmurei, a voz rouca e cheia de desejo sombrio. — Você
sabe o que fazer. Corte mais fundo.
A lâmina, cortante como sua inocência perdida, desceu mais uma vez.
Ela, sempre a guerreira tentadora, e eu... sempre o monstro faminto.
Ela gemeu, um som carregado de luxúria, enquanto seus olhos desciam
até meu pau. Sem hesitar, ela se abaixou e lambeu minhas bolas, lenta,
provocativa, antes de enfiar meu comprimento em sua boca quente. Um
suspiro rouco escapou de mim quando seus lábios macios se fecharam ao
redor do meu pau, mas eu queria mais. Muito mais.
Segurei firme em seus cabelos, puxei-os para frente e afundei meu pau
mais fundo em sua garganta, sem qualquer misericórdia. Ela se engasgou, o
som rouco e delicioso sufocado vibrando em torno de mim. Por um
momento, ergui sua cabeça, deixando-a respirar. Seus olhos, molhados e
cheios de desejo, encontraram os meus. Ali, nos olhos dela, vi a luxúria pura,
selvagem. Ela estava entregue, perturbada e faminta. Era assim que eu queria:
sem controle, perdida em mim.
Passando a língua pela fenda da minha glande, ela me provocava.
Cacete, aquela boca era como uma maldição.
— Você gosta da minha boca no seu pau, não é, marido? — provocou,
lambendo-me de novo, a voz rouca de provocação.
— Chupa até me fazer gozar, chamós mou — ordenei, minha voz grave
e cheia de comando.
Ela obedeceu sem hesitar, como uma boa garota. O prazer rastejava
pelo meu corpo, enquanto eu gemia baixo, os músculos tensos, me
preparando para o êxtase. Mas então, algo ainda melhor.
Ela levou a lâmina de cera até minha barriga, e com um corte profundo,
rasgou minha pele. O sangue brotou, quente e pulsante, um rugido saiu da
minha garganta, primitivo e bruto. O sangue escorreu como um rio vermelho,
e ela soltou meu pau, um pequeno som molhado escapando de seus lábios
enquanto subia pelo meu corpo, lambendo o corte, seus olhos brilhando com
uma ferocidade predatória.
Ela não parou por aí; deslizou a lâmina pela lateral do meu torso,
fazendo novas feridas que ardiam como fogo. A dor era intensa, mas cada
corte apenas aguçava meu desejo, intensificando a experiência. O calor da
língua dela sobre o ferimento, o toque de sua boca enquanto limpava o
sangue, era como um veneno que me dominava. Ela desceu mais uma vez,
faminta, sugando meu pau com mais força, sua língua dançava ao redor de
mim, me levando à beira da insanidade.
A mistura de dor e prazer se entrelaçava em minha mente, cada
movimento dela era uma tortura deliciosa. Eu respirava pesado, o controle
escapava das minhas mãos, enquanto ela me conduzia diretamente para o
inferno do prazer. A insânia me consumia, e a única coisa que eu conseguia
pensar era em como aquele momento era a epítome do desejo e da loucura,
uma dança entre o sangue e a luxúria.
Fechei os olhos por um instante, tomado pelo êxtase, o corpo todo
tenso.
— Porra, Sasha — rugi, quando o prazer explodiu dentro de mim,
incontrolável.
Gozei forte, e ela engoliu tudo que pôde, mas parte da porra escoria
pela boca dela, melando seu queixo, pescoço, até os seios, agora cobertos
com a marca do meu prazer. A visão dela assim, coberta pelo meu gozo,
apenas inflamava ainda mais o monstro dentro de mim.
Ela era minha. Apenas minha.
Sasha me lançou um sorriso atrevido, repleto de malícia e desafio. Seus
olhos faiscavam enquanto largava a lâmina ao lado, o som metálico ecoou no
calabouço, e suas mãos ágeis já envolviam meu pau, que resistiram
novamente. Ela pegou um pouco da minha porra, ainda fresca em sua pele, e
deslizou os dedos até sua entrada, massageando em círculos o seu clitóris. Eu
não me movi, estava curioso para ver até onde ela iria essa noite.
Com um gemido baixo, ela enfiou dois dedos dentro de si e, em
seguida, os retirou, brilhando com sua lubrificação. Exibiu-os para mim, uma
provocação que me fez respirar fundo, quase rugir. Ela subiu sobre mim com
movimentos lentos e cheios de confiança. Colou os dedos lambuzados em
minha boca, e eu os chupei sem hesitar, saboreando a mistura dos nossos
gostos. Seu riso suave encheu o ambiente antes que ela, sem dizer nada, se
posicionasse sobre o meu pau rígido, abaixando-se lentamente.
Quando sua boceta apertada começou a me envolver, gememos juntos.
O calor e a umidade que escorriam eram quase demais para controlar. Cada
polegada do meu pau era tomada com dificuldade, e o jeito que ela contraiu
antes de me receber por completo. Ela apoiou as mãos no meu peito,
começando a se mover com uma lentidão torturante, subindo e descendo
devagar, fazendo questão de me provocar. Seus olhos estavam fechados, a
boca entreaberta, gemidos doces escapavam enquanto aumentava o ritmo. Eu
levei minhas mãos até sua bunda, apertando a carne quente sob meus dedos, e
dei um tapa forte, fazendo sua pele vibrar sob o impacto. Depois, agarrei-a
com força, ajudando-a a quicar mais rápido, mais forte.
— É tão bom ter você dentro de mim — ela gemeu, a voz carregada de
prazer, enquanto suas unhas afundavam no meu peito, deixando marcas.
Ela estava cada vez mais próxima do êxtase. Sua respiração se tornou
irregular, e o jeito como suas pernas tremiam me disse que ela estava prestes
a se entregar. O som da palavra amor, escapando de sua boca fez algo dentro
de mim se agitar de forma brutal.
Fiquei louco.
Com um movimento rápido, ergui meu tronco e a puxei contra mim,
prendendo sua cabeça com uma mão, forçando nossos lábios em um beijo
selvagem e feroz. Minha língua invadiu sua boca, meu corpo enviou o dela, e
eu rosnei entre o beijo, com uma voz que mal era humana.
— Diz de novo — ordenei, mordendo seus lábios, puxando-os com os
dentes, sentindo o gosto do meu sangue em sua boca.
Ela riu, mas logo seu corpo se contraiu ao redor do meu pau, e eu senti
o gozo dela sofrido, o calor e a pressão aumentaram, enquanto ela tremia.
— Ah, amor, amor! — gemeu, perdida em meio às ondas de prazer, seu
corpo trêmulo. — Eu te amo, Otto, te amo tanto!
Seu grito ecoava na minha mente, alimentando a parte mais sombria em
mim. Suas palavras eram um combustível para o monstro que existia dentro
de mim. Meu coração disparou com a sua declaração.
— É bom que me ame — afirmei, minha voz grave e cruel, enquanto
mordia seu queixo com força, marcando-a. — Porque eu queimei o mundo
por você, láthos mou.
E com essas palavras, empurrei ainda mais forte, explodindo dentro
dela, preenchendo-a completamente enquanto nossos corpos se uniam de
forma violenta. Nos beijamos como se estivéssemos nos devorando, naquele
momento, a única coisa que importava era ela.
Estar dentro dela era o meu lar.
CAPÍTULO 36
Eu ri e enquanto Otto pintava o quarto do nosso bebê. Minha barriga de
nove meses ficou enorme, ela dobrou de tamanho depois dos seis meses.
Ganhei mais de doze quilos, por vezes me senti pesada, desajeitada e gorda.
Mas Otto nunca deixou que essa insegurança se enraizasse. Todas as noites,
ao passar óleo e cremes em mim, ele demonstrava seu entusiasmo por cada
curva nova do meu corpo. Cuidava de mim de forma quase obsessiva. Os
orgasmos que me dava eram um lembrete constante do quanto eu ainda o
enlouquecia. Até os sete meses, nos entregávamos às nossas loucuras
habituais, mas assim que o oitavo mês chegou, ele decidiu que era hora de
uma pausa. Agora, fazíamos amor de um jeito mais contido, tradicional, em
nossa cama, mas o desejo entre nós ainda ardia, mesmo em meio à calmaria.
Olhei para a janela. O sol batia forte, típico do final da primavera. O
médico disse que o bebê nasceria no início do verão, e essa ideia me
fascinou. Nosso relacionamento começou no verão, a estação que eu
costumava odiar, mas que, desde que conheci Otto, passei a amar. Gosto da
sensação do sol esquentando minha pele, algo que antes eu desprezava.
Mesmo agora, com uma criança chutando dentro de mim, eu conseguia
dormir, os enjoos e pesadelos se foram. Otto continuou sério e indecifrável. A
máscara fria que ele vestia o tornava um mistério constante, mas todas as
noites, me envolvia em seus braços e me forçava a comer mais do que eu
gostaria, como se meu bem-estar dependesse apenas dele. Observava meus
passos, antecipava minhas necessidades e, mesmo sem dizer muito, estava
sempre lá.
Com o tempo, me aproximei de seus irmãos. Helena e eu nos tornamos
melhores amigas, o que era uma surpresa agradável. Ela e eu estávamos
curiosas para conhecer a namorada brasileira de Kai, mas ele se recusa a
trazê-la, e Otto, por sua vez, repelia a viajar para encontrá-la.
— Você precisa apertar esse parafuso direito — Otto rosnou para Eros,
que estava pendurado, trocando o lustre no quarto do nosso bebê. Decidimos
esperar o nascimento para saber o sexo, então o quarto permanecia sem um
tema definitivo.
Eros suspirou, em seguida largou a parafusadeira e se virou com uma
expressão exasperada.
— Só não enfio esse parafuso na sua testa porque sei o quanto cuidar
de uma criança é difícil e esse será o seu castigo. Zeus ainda me dá trabalho
— ele falou, com um tom mais tranquilo. — Até hoje me recuso a abrir a
janela do quarto dele. Mesmo com a tela, o garoto acha que é um deus de
verdade e pode voar. O quarto não deveria ser rosa? — provocou Eros,
enquanto olhava para as paredes bege.
Otto parou de pintar, soltando um suspiro pesado.
— Vai fazer uma menina na sua esposa, então — descontou, sem
humor.
— Zeus ainda é muito pequeno. Não vou conseguir lidar com duas
crianças competindo pela atenção de Helena — Eros respondeu, eu ri,
encostada na batente da porta, observando o progresso no quarto do nosso
bebê. As paredes eram de um bege suave, com árvores cintilantes no teto e
desenhos que representavam nosso quintal durante o verão e o outono.
Helena e Zeus estavam na piscina, onde Zeus, estava decidido a ser um
nadador olímpico.
Otto lançava olhares na minha direção a cada poucos minutos, mas
sabia que eu não sairia dali até que tudo estivesse terminado. Depois de um
tempo, sentei-me na poltrona de amamentação, observando cada detalhe. No
início, o plano era que Helena e eu decorássemos o quarto, mas isso se tornou
um desastre rapidamente. No primeiro mês, vomitei ao sentir o cheiro da
tinta, e Helena, desajeitada, quase furou o dedo tentando montar uma
prateleira. No fim, depois de muita insistência nossa, os homens assumiram a
tarefa.
Kai, como sempre, estava ausente, envolvido com a mídia, aparecendo
em jornais e sites de fofocas, encantando o público no Instagram. Enquanto
isso, Otto permanecia recluso. Após uma breve nota à imprensa, ele declarou
que estava vivendo uma vida mais privada, em seu país de origem, longe dos
holofotes.
Senti pequenas contrações, na verdade, comecei a senti-las pela manhã,
mas ignorei, pois não sentia que era a hora, mas uma veio tão aguda que
soltei um grito alto.
— Ah! — gritei, sentindo outra pontada que rasgou meu corpo. A dor
era intensa, esmagadora.
Otto estava diante de mim em segundos, os olhos atentos, frios, mas
focados em mim, como sempre. Sua mão pousou firme sobre minha barriga.
— Sasha! — Sua voz soou sombria e determinada. — Sua bolsa
estourou — ele constatou rapidamente, o controle absoluto em seu tom. O
líquido escorria pelas minhas pernas, formando uma poça no chão molhado.
— Precisamos levá-la ao quarto de emergência — declarou, pegando-me em
seus braços sem hesitar, como se eu não fosse nada além de leveza. — Eros!
— Otto rugiu em direção à porta, dispensando ordens sem titubear. — Mande
a obstetra para o helicóptero! Não vou arriscar que meu filho nasça no
caminho.
A autoridade em sua voz fez meu coração bater mais forte, mas a dor...
Ah, a dor parecia querer rasgar minha alma.
— Otto... Ainda faltam duas semanas — murmurei, o pânico se
misturava à agonia crescente.
Ele não teve tempo para esperar a médica. A urgência da situação
dominou sua mente. Com um movimento decidido, ele me carregou nos
braços, atravessando o espaço até o quarto preparado. A sala de emergência
era fria, equipada com todo o aparato médico que ele, obsessivo como era,
garantiu que estivesse lá.
Ele me colocou sobre a maca, ajustando minhas pernas abertas de
maneira crua, como se cada segundo contasse. Então, com um gesto brusco,
rasgou minha calcinha, revelando-me sem pudor, uma exposição que, em
qualquer outro momento, teria sido humilhante. Mas agora... a dor superava
qualquer vergonha.
— Eu cuido de você — murmurou, a voz grave e controlada, mas havia
algo sombrio em suas palavras. Otto me examinou com precisão, seus olhos
escurecidos focados no que precisava ser feito.
Ele lavou as mãos com meticulosidade, esterilizando-se como um
verdadeiro médico, enquanto a dor começava a se intensificar. Fechei os
olhos e gritei mais uma vez, o som ecoando pelas paredes.
— Otto... amor... — chamei, quase implorando por uma pausa. — Isso
faz!
Ele se posicionou entre minhas pernas novamente, sua voz calma como
um manto de gelo sobre minhas chamas.
— Eu sei que dói, mas você aguenta. — Era uma ordem, nada mais. —
Agora, você precisa empurrar. O bebê está encaixado, a dilatação é perfeita.
Posso ver a cabeça. Traga-o ao mundo.
Seu tom autoritário era tudo o que eu precisava para encontrar forças.
Respirei fundo, os pulmões queimavam, senti o suor escorrer pelo meu rosto,
misturando-se ao gosto amargo da dor. Cada contração era uma onda
avassaladora, sentia meu corpo ser espremido, deixando-me à beira do
desespero. Apertei com força as barras da maca, os dedos brancos e trêmulos,
enquanto a pressão aumentava.
— Empurre mais, Sasha! — ele exclamou, sua voz carregada de
urgência, como se o próprio inferno dependesse disso.
A dor se intensificou, um fogo ardente que consumia meu ventre, então
empurrei com tudo o que tinha. Gritei, um som primal, uma mistura de dor,
desespero e... vida. A cada grito, sentia meu corpo se contorcer, quase a
ponto de se quebrar, mas havia uma força dentro de mim que não podia ser
ignorada.
— Isso, Sasha! — ele incentivou, sua voz ecoava como um mantra em
meio ao caos.
Empurrei novamente o rosto em uma contorção de esforço e dor, então
ouvi. Um choro alto e forte, um som que cortou a atmosfera pesada da sala. O
choro era um sinal da vida que criamos, e mesmo em meio à dor, uma onda
de alívio e amor me invadiu. Eu tinha feito isso.
Quando abri os olhos, vi uma das cenas mais perfeitas da minha vida.
Otto, meu Otto, segurava nossa filha em seus braços. A criaturinha chorava,
coberta de sangue, o cordão umbilical ainda a ligava a mim. Mas Otto... Ele a
segurava com um cuidado quase religioso, como se estivesse lidando com a
própria essência do caos.
Ele a trouxe para mais perto do seu peito, então... algo em seus olhos
brilhou. Não era ternura comum. Era algo mais sombrio, mais profundo. Um
brilho perigoso, algo que me fez estremecer e, ao mesmo tempo, aqueceu
meu peito.
— Éris... — ele sussurrou, o nome saiu de seus lábios como uma prece
distorcida. Em seguida, colocou nossa filha em meus braços, eu a segurava,
as lágrimas escorrendo pelos meus olhos enquanto olhava para a pequena
vida que acabava de chegar. Otto cortou o cordão umbilical com uma
precisão cirúrgica, como se estivesse habituado àquele tipo de tarefa.
— Deusa da discórdia. Esse é o nome da nossa filha, Sasha. Éris.
As palavras dele reverberaram dentro de mim, então eu ri, mesmo com
o rosto molhado de lágrimas. Era uma risada de puro amor e orgulho. Minha
filha, nossa filha, chorava envolta de um pano branco, ainda ensanguentada, e
eu já a amava tanto que quase doía.
Beijei sua testa, o aroma de vida e caos preenchendo o ar.
— Bem-vinda ao submundo, Éris — sussurrei com devoção, minha voz
compartilhada de emoção. — Éris Exousía.
Otto acariciou seu pequeno rosto e o meu, com um toque que parecia
contradizer sua frieza habitual.
— Nasceu no último dia da primavera — ele murmurou, seus olhos
fixos em nós duas. — Eu vou causar discórdia no mundo... e queimarei tudo
por vocês, Éris e Sasha.
Meu coração acelerou com a promessa, naquele instante, soube que ele
faria exatamente isso. Otto era meu caos, assim como eu era o dele. E, agora,
nossa filha seria o centro desse furacão que estava prestes a libertar no
mundo.
— Nós somos o caos... — sussurrei, entregue ao nosso destino.
EPÍLOGO
Éris e Althea corriam pelo quintal, suas risadas ecoavam como um
canto rebelde sob o sol escaldante da tarde. Vestidas com trajes de banho, as
duas irmãs se entregaram ao caos da infância. Do outro lado, Sasha estava
reclinada na espreguiçadeira, sua figura adornada por um chapéu largo que a
protegia do calor e um biquíni azul que acentuava a curva de sua barriga de
seis meses. Ela esperava nosso quarto e último filho, e a ideia de ter
encerrado a fábrica com a minha vasectomia pareava sobre mim como uma
sombra.
Éris, com seus dez anos, refletia a força e a indomabilidade da mãe.
Seus cabelos escuros dançavam ao vento, e as sardas sobre o rosto eram um
eco das marcas de Sasha, um lembrete de sua rebeldia natural. Althea, por
outro lado, aos seis anos, sua teimosia fazendo com que se levantasse
rapidamente após uma queda, os cabelos de um tom peculiar, quase cobre,
emaranhados e indomados.
Enquanto observava as meninas, ouvia a voz calma de Gideon, meu
filho de nove anos, se aproximar. Ele era o oposto das irmãs, silencioso e
introspectivo, com a mesma intensidade que eu tinha em sua idade. Seus
cabelos escuros caíam sobre a testa, enquanto seus olhos verdes, cercados por
sardas, observavam o mundo com uma curiosidade cautelosa.
— Pai, posso pedir para Basil treinar comigo? — perguntou ele, a
determinação em sua voz um traço que eu admirava.
— Não quer aproveitar o dia com a sua mãe? — indaguei, a pergunta
saiu mais como uma afirmação, conhecendo bem a resposta.
— Quero aprender a manusear melhor minha espada — respondeu ele,
a calma que emanava de sua voz contrastava com a ferocidade que ele
sempre exibia quando se tratava de proteger suas irmãs.
Acenei com a cabeça, um sinal de aprovação que só os homens da casa
entenderam.
— Pode ir, mas mais tarde vou até lá ver como você está se saindo —
disse, bagunçando seu cabelo com um toque paternal antes de deixá-lo ir.
Observei Gideon se afastar, sua confiança irradiando enquanto caminhava, os
passos firmes, sem pressa. Voltei meu olhar para as meninas, que eram uma
tempestade de energia no quintal. Althea, a mais nova, caiu, mas não hesitou
nem por um segundo. Com apenas seis anos, sua teimosia era quase uma
forma de arte; afirmou-se rapidamente, desafiando a dor como se o chão não
tivesse poder sobre ela. Os cabelos em um tom peculiar de cobre e castanho
tão indomáveis quanto seu espírito, e eu sabia que ela nunca admitiria
fraquezas, mesmo que estivesse à beira do colapso.
Decidi que precisava ir até elas. O dia fora longo, repleto de reuniões e
decisões difíceis. Na noite anterior, passei horas interrogando um de nossos
homens, aquele que achou que era uma boa ideia desviar vinte e sete milhões
dos nossos cofres. O dinheiro foi recuperado, mas o homem ainda estava
vivo, sofrendo as consequências de sua insensatez sob as mãos de Kai e Eros,
que estavam fazendo o que sabiam fazer de melhor: fundir medo. O
pensamento me deu um leve prazer; havia uma satisfação peculiar em manter
os desleais sob controle.
Parei diante de Sasha, que ainda estava reclinada na espreguiçadeira.
Sentei-me na ponta, inclinando-me para acariciar seu ventre inchado. Ao
toque, senti o movimento do bebê, Prexia, a mais nova adição à nossa
família. Era uma sensação intrigante, uma mistura de possessividade. Mais
uma menina, pensei, um misto de frustração e resignação. O nome escolhido
por Sasha não me agradou; nunca tinha gostado de Prexia, mas, neste caso,
respeitei sua opinião. Era a única concessão que estava disposto a fazer, um
pequeno tributo à força dela.
— É incrível saber que você está carregando nossa filha — murmurei,
minha voz baixa, A intensidade de nosso vínculo era palpável, um fio
invisível que ligava nossas almas de maneira tão profunda, que, por um
momento, o mundo ao nosso redor estava isolado. A malícia em seu olhar,
um reflexo da própria necessidade de controle que eu tinha, me atraía, me
envolveu em um desejo sombrio que não podia ignorar.
Ela desejava, e em seu sorriso havia uma promessa silenciosa — um
desejo de mais, sempre mais. O sol filtrava-se pelas folhas, criando padrões
de luz que dançavam sobre nós, enquanto o caos das crianças se desdobrava
ao fundo. O olhar em mim se voltou para as meninas, que, em sua alegria
desmedida, estavam prestes a transformar meu jardim em um campo de
batalha. Um sorriso involuntário surgiu, mesmo sabendo que meu jardim
nunca conheceria a paz, mas eu aprendi a gostar do tumulto que era o meu
lar.
— Parece que teremos uma ninhada — ela comentou, rindo, sua risada
soando como música em meio ao caos. — Adoro estar grávida dos seus
filhos, senhor Exousía.
A malícia em sua voz não passou despercebida. Após horas de
exploração e uma manhã consumida por nosso desejo, ela ainda queria mais.
Era um ciclo insaciável, um fogo que queimava entre nós.
— Gosto de ver seu ventre inchado com a minha semente crescendo
dentro de você — sibilei, a tensão aumentava enquanto meu desejo crescia.
Minha mão subiu até seus seios, apertando-os com força, fazendo-a gemer
involuntariamente. — Cuidado, nossas filhas estão aqui — avisei, selando a
afirmação com um beijo possessivo, deixando claro quem a possuía. — Mais
tarde, vou me alimentar dessa boceta — declarei, a promessa de prazer
vibrava entre nós. A necessidade era palpável, mas era preciso interromper
esse momento antes que o desejo se tornasse incontrolável.
Seu olhar carregado de uma expectativa maliciosa. Ajudei-a a se
levantar, admirando como o movimento acentuava suas curvas, um lembrete
constante do que éramos um para o outro. Ao me virar, vi as meninas, duas
pequenas de energia, arrancando minhas flores do jardim com uma ousadia
que só a infância poderia permitir.
— Éris, Althea, vamos entrar e comer algo — falei, a voz firme, mas
controlada. — Agora!
Elas vieram correndo em nossa direção, cobertas de terra e com as
flores nas mãos, uma cena de pura destruição que me fez suspirar. Meu
jardim se transformou em um campo de batalha por suas mãos pequenas e
indomáveis. Mas, mesmo diante do caos, havia uma satisfação em mim. Meu
lar era um turbilhão de vida e desordem, um testemunho da vida distorcida
que construí ao lado do meu chamós, um amor sombrio e profundo que
alimentava tanto a dor quanto o prazer.
E, enquanto as risadas ecoavam e a bagunça se desdobrava ao meu
redor, eu sabia que esse era o meu reino. O caos era a essência da nossa
existência, e eu amava cada instante dele.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer às minhas leitoras. Vocês são


as melhores do mundo! Obrigada por tudo. Amo vocês!
À minha família: mãe, pai — Luiz.
Bruna e Tânia, vocês são as melhores irmãs que alguém poderia ter.
Não consigo descrever o quanto amo vocês.
Juliana, nós vencemos! Obrigada por ser a melhor leitora crítica que eu
poderia pedir. Adoro trabalhar com você e passar horas discutindo e
apresentando as próximas páginas. Você é incrível!
Pati e Lidi, o que seria de mim sem vocês, sempre me corrigindo a cada
erro? Obrigada por tudo!
Jack, sua fé em mim me inspira. Obrigada por ser uma assessora
maravilhosa!
Bhea, você é uma amiga incrível. Obrigada por todo o apoio.
E, acima de tudo, agradeço a Deus por tudo, por me dar mais do que eu
acho que mereço.
Até a próxima história!
Leia o Corruptor
Sinopse
A filha do pastor e o corruptor.
Helena Santos estava certa de que um dia se casaria com um rapaz
decente e que seguiria o caminho que seus pais sonharam para ela, mas tudo
muda ao esbarrar em Eros Exousía, um homem misterioso que lhe trouxe
sensações nunca sentidas em toda sua vida, ele era o oposto de tudo que
conhecia.
Helena sabia que ele era proibido para si, apesar disso, o desejou
ardentemente.
Ele finge ser quem não é para atraí-la, ganhar sua confiança e depois a
corromper, sugando sua inocência. Eros é o rei do submundo, dono de tudo, e
não medirá esforços para fazer de Helena sua rainha.
Uma atração fatal entre uma inocente menina e um homem corrompido
por suas insanas paixões.
LEIA A HISTÓRIA DO EROS E HELENA AQUI

[i] "Por você, eu causarei destruição na terra e te acharei, no paraíso ou


no inferno, minha princesa ruiva.
[1]
Papai
[2]
Perfeitamente bonito
[3]
Conselheiro
[4]
Meu erro
[5]
Perversa
[6]
Por você, eu causarei caos na terra
[7]
Monstro
[8]
Meu monstro
[9]
Princesa Ruiva
[10]
Chefe
[11]
Comandante
[12]
Minha perversa
[13]
Monstro
[14]
Princesa
[15]
Capitães
[16]
Sequestrador
[17]
Amor
[18]
Monstro
[19]
A "pera" é um instrumento de tortura utilizado principalmente durante a Idade Média, também
conhecido como "pera oral," "pera anal," ou "pera vaginal," dependendo da aplicação. Este dispositivo
macabro consistia em um objeto metálico que se assemelhava a uma pera, com um mecanismo de
expansão. Ele era composto por pétalas ou lâminas que, quando o dispositivo era girado, se abriam
lentamente, dilatando e rasgando os tecidos internos da vítima.

[i] meu erro

1. [ii] meu caos

[iii]
Princesa

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