Slides 3 - Clássicos Da Sociologia

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Introdução à sociologia

Pablo Ornelas Rosa


O grande responsável pela atribuição
deste nome a este campo do
conhecimento foi Augusto Comte
(1798–1857) que, em sua obra
intitulada Curso de Filosofia Positiva,
escrito em 1839, propõe a alteração
da física social - termo empregado
pelo autor em 1830, mas já utilizado
anteriormente por Saint-Simon e
Thomas Hobbes - para sociologia.
Nesse caso, a substituição do termo
física social para sociologia ocorreu
devido à constatação de Comte de
que, em 1836, Quételet havia
aplicado este termo no estudo
Nascimento da sociologia estatístico dos fenômenos morais.
com o positivismo
•"O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim."
Contexto
Após o período das revoluções, a Europa viu crises deixadas pelo caos
político resultante da Revolução Francesa e pelo acirramento da
miséria causado pela repentina explosão demográfica das grandes cidades
inglesas. A ideia de Comte era analisar a situação em que as sociedades
europeias encontravam-se e propor soluções para os problemas enfrentados.
Comte cria o termo Física Social para falar de uma ciência que, assim como as
ciências da natureza descobrem as leis naturais, descobriria as leis sociais.
Através da observação, o físico social conseguiria desenvolver um trabalho
positivo de observação e experimentação que o permitiria decodificar a sociedade
para então criar propostas de intervenção nela. Mais tarde, essa ciência passa a
ser chamada de Sociologia, mas não tendo ainda um método próprio e preciso,
atribuição esta que foi deixada para Émile Durkheim.
Principais Influências de Comte
Além de Saint Simon, Comte também foi influenciado por cientistas da natureza,
como Galileu e Newton. Nesse caso, ele acreditava que a biologia, ou seja, as
ciências da vida, seria o campo de conhecimento mais avançado para o
positivismo, com exceção da sociologia.
Émile Durkheim teceu críticas ao pensamento comtiano e acabou
desenvolvendo um método mais preciso para que os estudos sociológicos
pudessem ser estabelecidos, recebendo forte influencia da sociologia positivista
de Comte na elaboração de sua sociologia funcionalista.
Também é necessário destacar que, embora distintos e até mesmo antagônicos,
tanto o positivismo de Comte quanto o materialismo histórico e dialético de Karl
Marx são duas perspectivas teóricas que formam as bases para o entendimento
da intelectualidade desenvolvida no século XIX e de grande parte do pensamento
filosófico, sociológico e histórico do século XX.
Ciências Naturais e Ciências Sociais
A grande preocupação de Comte ao propor esta nova disciplina
consistia em formular as bases deste campo de saberes sobre a
sociedade moderna que emergia, amparando-se na utilização de
metodologias validadas pelo conhecimento científico da época. Deste
modo, o autor propôs que fossem utilizados às Ciências Sociais
métodos semelhantes àqueles validados pelas Ciências Naturais e
Exatas daquele período, no intuito de que fossem abandonados os
pressupostos analíticos abarcados pela filosofia política, saber que até
aquele momento se dedicava exclusivamente a analisar os fenômenos
sociais, por meio de especulações.
Dinâmica e Estática Social
Para Comte, a sociologia se fundamenta em duas dimensões distintas: a estática
social e a dinâmica social.
Assim, enquanto a estática social estabeleceria certa conexão entre os diferentes
aspectos da vida em sociedade, como a política, a economia e a cultura; a
dinâmica social investigaria as leis através das quais a sociedade se desenvolve,
considerando a existência de três estágios pelos quais o progresso percorreria – o
teológico, o metafísico e o positivo.
Como a estática social estuda a ordem enquanto que a dinâmica social estuda o
progresso da sociedade, o desenvolvimento e o progresso social seguiriam estes
três estágios justamente porque as pessoas também os seguem em seu
desenvolvimento. Neste caso, a história da humanidade seria um reflexo da
natureza humana.
Três Estágios de Desenvolvimento
Segundo Comte, a racionalidade humana havia passado por três
estágios durante o seu desenvolvimento: o teológico, o metafísico
e o positivo, sendo o último destes o mais importante por se
fundamentar exclusivamente no conhecimento científico, que para
o autor era o saber mais avançado. Comte ainda constatou que no
interior do campo científico existia uma espécie de hierarquia, na
qual a matemática encontrava-se no nível mais baixo desta escala,
entretanto, a biologia, naquela época chamada de fisiologia e,
principalmente, a sociologia ocupava o posto mais alto.
Poder Temporal e Poder Espiritual
Para Comte o princípio fundamental da Sociologia Estática é o “princípio de Aristóteles”,
segundo o qual toda sociedade consiste na separação de ofícios e na convergência dos
esforços. Em termos políticos, esse princípio resulta em que há sempre uma separação
entre o governo e a sociedade civil: o governo baseia-se em última análise na força – é o
que Augusto Comte chama de “princípio de Hobbes” – e é o responsável por manter a
coesão social, orientar os esforços gerais e evitar as ações por demais divergentes.
O governo baseia sua ação na força e na coerção física, portanto, isso é o Poder
Temporal. Em oposição, porém complementar a ele, existe o Poder Espiritual, responsável
pelo surgimento, pela sistematização e pela difusão de ideias e valores, caracterizando-se
pelo aconselhamento. Ambos são “governos”, ambos dirigem e mudam as condutas
humanas. Entretanto, enquanto o Poder Temporal age objetivamente, exteriormente, o
Poder Espiritual age subjetivamente
Evolução do Conhecimento
Para Comte, a evolução do conhecimento é
comparada à evolução do ser humano. Assim, a
religião representaria a infância da humanidade,
a filosofia (metafísica) representaria a
adolescência e só a ciência traria a plena
maturidade, atingindo o estado positivo.
Religião da Humanidade
Entendendo que a ciência positivista seria a única explicação legítima
da sociedade, Comte constatou que a religião e a filosofia conduzem o
ser humano ao engano, mas que este estava sendo substituído pelo
avanço da ciência, propiciando à sociedade um completo domínio e
conhecimento do mundo que o cerca. Embora tenha proferido críticas à
religião, no final de sua vida, Comte acabou propondo a chamada
Religião da Humanidade, em sua obra intitulada Catecismo Positivista,
escrita em 1852. O principal objetivo de Comte era resgatar a
moralidade perdida com a ascensão da modernidade. Daí o fato de ser
caracterizado como um autor conservador.
Apesar de Maquiavel ser comumente
considerado o fundador da Ciência
Política, e Comte o instituidor da
Sociologia, principalmente pelo fato
de ter atribuído o nome a esta
disciplina, há certo consenso entre os
sociólogos acerca da maior
importância dada, do ponto de vista
teórico-metodológico e político, a Karl
Marx, Émile Durkheim e Max Weber
(além de outros autores como
Simmel, Tarde, Tönnies, etc.).

Diferentes Sociologias
Porém, é importante ressaltar que, embora tenham desenvolvido suas
teorias sociológicas e políticas, bem como suas visões acerca da
modernidade, de forma bastante distinta, não há uma unidade no
pensamento desses autores. Logo, cada um deles desenvolveu
distintamente sua teoria sociológica, sua teoria da modernidade e sua
teoria política:
Métodos de estudo da realidade
Teoria sociológica: social.
Interpretações quanto às
Teoria da modernidade: características das relações sociais em
tempos modernos.
Discussão sobre os problemas e
Teoria política: desafios da vida em sociedade.
Modernidade
Como Comte, Marx, Durkheim e Weber viveram em diferentes momentos daquele
período que se convencionou chamar de modernidade, marcado por diversas
mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas, sobretudo, em decorrência do
Renascimento, Iluminismo, Revolução Industrial e Revolução Francesa; cada um
deles desenvolveu suas metodologias e teorias destinadas a analisar os fenômenos
sociais que estavam à sua volta, posicionando-se politicamente diante daqueles
acontecimentos. Aliás, a construção desses diversificados arcabouços teóricos
elaborados pela sociologia clássica, que trata tanto dos fenômenos sociais daquela
época, como também da sistematização de metodologias e dos posicionamentos
políticos desses autores, são reflexos de suas diferentes concepções de mundo.
Importância dos clássicos
Também é importante destacar que os clássicos da Sociologia foram alguns dos grandes
intérpretes do mundo moderno. Eles nos ajudaram a entender que a modernidade implica
uma profunda ruptura com o passado, trazendo novas formas de organizar a produção
(economia), distribuir o poder (política) e compreender a existência (cultura)

Autores Teoria Sociológica Teoria da Modernidade Teoria Política


Método Histórico- Modo de Produção
Marx Comunismo
Dialético Capitalista
Durkheim Método Funcionalista Divisão do Trabalho Social Culto do indivíduo
Racionalismo da Dominação
Weber Método Compreensivo Liderança Carismática
do Mundo
Importantes acontecimentos
A Revolução Francesa e a Revolução Industrial – que, de certa forma, estiveram permeadas por certa
revolução científica – foram acontecimentos imprescindíveis para o surgimento da sociologia. Sendo
assim, tanto o Renascimento quanto o Iluminismo proporcionaram importantes mudanças dos pontos de
vista social, cultural e religioso, assim como a Revolução Francesa provocou uma transformação política e
a Revolução Industrial uma modificação na ordem econômica.

Todavia, antes da Revolução Francesa consagrou-se uma nova forma de pensar filosoficamente o mundo,
através do chamado ou Século das Luzes. Este se destacou por ser um movimento intelectual que possuía
como objetivo entender e organizar o mundo a partir da razão. Segundo os filósofos Voltaire, Rousseau,
Diderot, D’Alembert dentre outros, a razão era a luz que sepultaria as trevas apresentadas pela monarquia
e pela religião que manipulavam o conhecimento da época.
Esse processo de transformação cultural teve seu início no Renascimento, século XV, pois embora tenha
sido mais forte no campo das artes, o objetivo era colocar o ser humano (antropocentrismo) no lugar de
Deus (teocentrismo). Entretanto, o Iluminismo acabou acrescentando um elemento importantíssimo ao
Renascimento, que seria o potencial da razão humana.
Émile Durkheim
De certa forma, seguidor de Comte, Durkheim teve como
principal objetivo desenvolver um importante aspecto que
faltava na sociologia criada por seu precursor: um método
de análise: o Funcionalismo. Através de sua tese intitulada
Divisão do Trabalho Social (1893), Durkheim desenvolveu
“ferramentas” que o ajudaram a ser considerado por seus
pares um dos pesquisadores pioneiros na área da sociologia
da religião (com sua obra intitulada As Formas Elementares
da Vida Religiosa, 1912), na área do conhecimento (com sua
obra intitulada As Regras do Método Sociológico, 1895), nos
estudos empíricos sobre o fenômeno do suicídio (em sua
obra intitulada O Suicídio, 1897), e na área da educação
(expostos em sua obra Educação Moral, 1925).
Principais Influências de Durkheim
Além de Herbert Spencer e Alfred Espinas, Durkheim foi influenciado diretamente pelo filósofo francês
considerado o fundador da sociologia, Auguste Comte. De Comte, Durkheim colheu a ideia acerca
da criação de uma ciência capaz de estudar a sociedade e reconhecer as suas especificidades.
Porém, Durkheim foi além ao produzir uma crítica à teoria de Comte que consolidaria a sociologia
como uma ciência bem fundamentada.
Segundo Durkheim, Comte não fundou a sociologia como uma ciência bem definida, tampouco
ultrapassou a filosofia na medida em que continuou formulando teorias no campo do ideal metafísico.
O que ele fez de fato foi fundar um método baseado no reconhecimento dos fatos sociais como
primeira regra sociológica, inaugurando, portanto, a sua sociologia funcionalista.
Durkheim criticou algumas ideias de Comte relacionadas à sociologia, o que demonstra as influências
sofridas pelo pensador considerado o criador do método sociológico por aquele que é considerado o
“pai” da sociologia (Comte). Para Durkheim, apesar da pretensão oposta, o modelo sociológico
comtiano é demasiadamente filosófico, pois a base do positivismo e da sociologia é a Lei dos três
estágios, que não recorre a um método preciso de observação e estudo rigoroso de uma sociedade,
mas trata-se de uma mera abstração.
Relação entre Indivíduo e Sociedade
- Ao averiguar que a sociedade incide sobre os indivíduos, Durkheim verificou que a
explicação da realidade está condicionada pelo objeto. Portanto, a sociedade
(objeto) tem precedência sobre o indivíduo (sujeito).

- Segundo o autor, a sociedade deve ser tratada como algo para além da soma dos
indivíduos que a compõem, pois uma vez vivendo em sociedade, os indivíduos dão
origem às instituições sociais que possuem dinâmica própria: os seres humanos
passam pela sociedade, mas ela fica. Para Durkheim, é a sociedade que age sobre o
indivíduo, modelando suas formas de agir, influenciando suas concepções e modos de
ver, condicionando e padronizando o seu comportamento. Assim, a noção de que
somos pessoas ou sujeitos individuais nada mais é do que uma construção social.
Método Funcionalista
Em relação ao método científico elaborado por Durkheim na construção da teoria sociológica
funcionalista a partir de sua obra As Regras do Método Sociológico (1895), o autor afirma que a
primeira e a mais importante regra da sociologia é considerar os fatos sociais como “coisas”. Essa
concepção parte do princípio de que a realidade social se aproxima da realidade da natureza. Assim,
tal como as “coisas” da natureza funcionam de forma independente da ação humana, cabendo ao
cientista apenas mostrar suas regularidades; as “coisas” da sociedade, chamadas de fatos sociais,
também seriam uma realidade distinta da ação humana.
Segundo Durkheim (1979), para a sociologia obter a objetividade plena deveria “registrar” da forma
mais imparcial e neutra possível a realidade pesquisada (objeto), tal qual fariam as demais ciências.
Desta forma, o papel do pesquisador seria elaborar um retrato da realidade pesquisada, pois ela seria
uma realidade objetiva como qualquer outra “coisa” da natureza. Na percepção sociológica do autor,
é a realidade (objeto) que se impõe ao sujeito (observador). Por isso, Durkheim e Comte defendiam
a tese de que as ciências sociais deveriam adotar os mesmos métodos utilizados nas ciências
naturais.
Fato Social e Função Social
Para Durkheim (1979), o objeto da sociologia são os fatos sociais, que consistem em “diferentes
maneiras de agir capazes de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior generalizante do
ponto de vista do conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência
própria que independe de suas manifestações individuais”. Segundo o autor, a forma como o ser
humano age é sempre condicionada pela sociedade, já que essas formas de agir chamadas de fatos
sociais possuem um tríplice caráter: são exteriores (provêm da sociedade e não do indivíduo),
coercitivos (são impostas pela sociedade ao indivíduo) e objetivos (tem uma existência
independente do indivíduo). Um professor, por exemplo, ao fazer a chamada em sala de aula no
intuito de verificar os alunos presentes e os ausentes ou ao aplicar uma simples prova, não o faz
necessariamente por ser seu próprio desejo, mas sim porque é coagido por normas e regimentos
objetivos que são exteriores a ele, provenientes da instituição de ensino da qual faz parte. Portanto,
este ato pode ser tratado, sob um viés funcionalista, como um fato social, exatamente também por
pressupor elementos exteriores, coercitivos e objetivos.
Divisão do Trabalho Social
Embora tenha desenvolvido o conceito de fato social de forma mais aprofundada somente em sua
segunda obra As Regras do Método Sociológico (1895), foi em sua primeira obra intitulada Divisão do
Trabalho Social, que Durkheim (2010) centrou suas análises sobre a função da divisão do trabalho nas
sociedades modernas. Neste trabalho, o autor adotou a tese de que a sociedade havia passado por um
processo de evolução caracterizado pela diferenciação social, partindo de uma sociedade demarcada por
laços de solidariedade mecânica – caracterizada pela consciência coletiva, pelas sociedades
fragmentadas e pelo direito repressivo – para outra demarcada por laços de solidariedade orgânica –
assinalada pela consciência individual, pela divisão social do trabalho, pelas sociedades diferenciadas e
pelo direito restitutivo.
Conforme o autor, o que distingue esses momentos de “evolução” da sociedade são os mecanismos que
geram os laços de solidariedade social (tipos de consciência e divisão social do trabalho), pois a
solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica seriam diferentes estratégias de integração das pessoas
nos grupos ou instituições sociais, correspondendo diferentes formas de organização da sociedade
(sociedades fragmentadas ou sociedades diferenciadas) e podendo ser percebidas de acordo com o tipo
de organização jurídica predominante (repressivo ou restitutivo).
Sociedades de solidariedade mecânica e orgânica
As sociedades de solidariedade mecânica se caracterizam pela semelhança, enquanto
que as de solidariedade orgânica se afirmam pela diferença. Nas primeiras, os
indivíduos se diferem pouco uns dos outros, já que os membros dessas coletividades
compartilham os mesmos sentimentos e valores, reconhecendo os mesmos elementos e
objetos como algo sagrado, conforme podemos localizar certos elementos de integração
social na chamada Idade Média. Já as segundas são aquelas em que a unidade coerente
da coletividade, o consenso, resulta de certa diferenciação ou é exprimida por meio dela,
conforme os dados encontrados por Durkheim nas formas de organização social da
modernidade. Segundo o autor, a oposição gerada entre essas duas formas de
solidariedade social se combina com a distinção entre as chamadas sociedades
segmentárias e aquelas em que aparece a moderna divisão do trabalho social. Embora as
sociedades de solidariedade mecânica sejam, em certo sentido, sociedades
segmentárias, a definição de ambas não é exatamente a mesma.
Consciência Individual e Consciência Coletiva
Ao elaborar os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica a partir da obra Divisão do
Trabalho Social, Durkheim (2010) evidenciou dois tipos de consciência presentes em todos os indivíduos e
que variam de intensidade de acordo com o tipo de organização social. A constatação de que existem
diferentes tipos de solidariedade social fez com que o autor verificasse que o grau de coesão, ou melhor,
de integração entre os indivíduos, acabou sendo alterado com a divisão do trabalho social, incidindo
sobre eles de maneira distinta através da variação da preponderância das consciências individual e
coletiva. No entanto, Durkheim alerta que a solidariedade social não pode ser realizada somente para que
cada um cumpra apenas sua tarefa, antes disso, é imprescindível que ela lhe seja conveniente.

Enquanto a consciência individual refere-se a todos os estados mentais relacionados às nossas
concepções pessoais e visões de mundo provenientes de acontecimentos ocorridos em nossas vidas; a
consciência coletiva trata do sistema de ideias, sentimentos e hábitos que exprimem em todos nós as
concepções do grupo e da sociedade que fazemos parte, revelando nossas crenças religiosas, tradições
nacionais, práticas morais, além de quaisquer outras opiniões manifestadas coletivamente que formam o
ser social.
Anomia e Moralidade
A constatação de que a sociedade francesa de sua época estava imersa em um estado doentio
provocado pela ascensão da modernidade acabaram levando-o a enfatizar em sua tese de doutorado
intitulada A Divisão do Trabalho Social tanto a importância dos fatos morais na integração e coesão
dos indivíduos à vida coletiva, quanto à preocupação com as possíveis consequências ocasionadas
pela desintegração social, chamada por Durkheim (2010) de anomia.

O primeiro diagnóstico das patologias da modernidade de Durkheim recebeu uma formulação


sociológica e é representado especialmente pelo conceito de anomia (a + nómos, que significa
ausência de normas). Segundo a tese desenvolvida em A divisão do trabalho social, com a passagem
da sociedade de solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade orgânica, ocorre uma
ampliação da esfera da individualidade. A especialização das funções acarreta o declínio da
consciência coletiva que ainda não havia sido substituída por novos valores adaptados aos diversos
órgãos da sociedade. Nesta obra, Durkheim sustenta que a anomia seria um fenômeno passageiro,
fruto de um desajuste temporário na integração das tarefas econômico-sociais.
Fatos Morais
A preocupação de Durkheim com a anomia também está relacionada com a questão
da moral, que aparece em vários pontos da sua obra, apresentando como fatos
morais aqueles fenômenos em que a moral aparece como um sistema de
acontecimentos relacionados ao sistema total do mundo que permite tratar dos
fatos da vida moral a partir do método das ciências positivas, apresentadas no
capítulo anterior. É possível constatar que a concepção durkheimiana de divisão do
trabalho se apresenta intimamente relacionada à sua visão de moral, quando o autor
verifica que a divisão do trabalho deve estar permeada por um caráter moral, porque
as necessidades de ordem, de harmonia e de solidariedade social são geralmente
tidas como elementos morais. Assim, verifica-se que a construção do conceito de
solidariedade social é visto como um fenômeno totalmente moral.
Moral Objetiva e Moral Subjetiva
Para Durkheim (2004), a chamada realidade moral pode ser visualizada sob dois
aspectos diferentes: um objetivo e outro subjetivo. A moral objetiva pressupõe que
sociedade é regida por normas baseadas em seus preceitos morais sob as quais os
tribunais se guiam para tratar da condenação dos indivíduos que violam as barreiras
dessa moral, ou seja, o compartilhamento d e uma moral comum e geral para todos os
seres humanos que pertencem a uma coletividade. Já a moral subjetiva se situa na
esfera da posição dos indivíduos frente à moral objetiva citada. Nela, cada um pode
interpretar a moral comum ao seu modo, possibilitando ainda que os diferentes
indivíduos interpretem-na como imoral. Portanto, ao verificar que existe um número
indefinido desse tipo de moral, Durkheim (2004) acabou constatando que o seu
enraizamento nas consciências originaram-se das influências do meio, da educação e,
até mesmo, da hereditariedade.
Instituições e coesão social
Para Durkheim (2010), o mundo moderno passou a ser caracterizado pela redução da eficácia daquelas
instituições sociais integradoras como a religião e a família, uma vez que os indivíduos passaram a se agrupar
conforme suas atividades profissionais. Enquanto a família deixou de manter sua condição integradora de
garantir a unidade e a indivisibilidade diminuindo, assim, sua influência sobre a vida privada, o Estado também
se manteve distante dos indivíduos, exercendo sobre eles relações exteriores intermitentes, possibilitando
uma profunda penetração nas consciências individuais, socializando- as interiormente. Para ele, o
enfraquecimento do poder de coesão da religião proporcionou às profissões uma importância cada vez
maior na vida social, substituindo e excedendo a antiga condição da família.
Ao constatar o deslocamento da ênfase da religião e da família como instituições que engendravam laços de
coesão social para o campo do trabalho, sobretudo, dos grupos profissionais, Durkheim encontrou nesses
espaços os caminhos para a reconstrução da solidariedade social e da moralidade integradoras que careciam
nas sociedades industriais. Assim, conforme o autor, os grupos profissionais e as corporações poderiam suprir
essas demandas na medida em que cumpririam as condições necessárias para a regulamentação da vida
social que havia sido perdida com a emergência da modernidade.
O Estado para Durkheim
Segundo Durkheim (1958), a utilidade do Estado seria de possibilitar a introdução de certos tipos de
reflexões sobre a vida social, tendo elas papéis cada vez maiores na medida em que ele se encontre mais
desenvolvido. Da mesma forma que o cérebro não cria a vida do corpo, o Estado não cria a vida coletiva,
conforme podemos averiguar naquelas sociedades políticas em que ele não existe. Nelas, a coesão se dá
através das crenças dispersas em todas as consciências que movem os indivíduos.
Quando há algum tipo de Estado, os elementos diversos que podem mover a multidão anônima em
sentidos diferentes não teriam a capacidade de determinar a consciência coletiva, pois essa
determinação seria a própria ação do Estado, segundo Durkheim (1958). Deste modo, entende-se o
Estado como um lugar onde todos deveriam convergir, pois ele não é somente um órgão de reflexão
social, como também é um espaço de inteligência institucionalizada.
Para Durkheim (2010), o direito e a moral são compreendidos como a materialização da lógica de
funcionamento das distintas sociedades. Além disso, em seu entendimento, o responsável pela
manutenção da sociedade na modernidade não é mais o Estado, mas as leis que ele expressa que são
constituídas pelos costumes presentes nos fatos morais.
Karl Marx
Apesar de não ter a mesma preocupação de Comte em
fundar uma disciplina científica que reivindicasse sua
supremacia em relação não somente aos demais
saberes, mas também em relação às outras ciências
como a matemática, a física, a química, a astronomia e
a biologia, por exemplo, Marx elaborou uma ampla
teoria social através da utilização de elementos da
filosofia, da história, da economia e da política. Embora
Marx, diferentemente de Comte, Durkheim e Weber,
não tenha sido um sociólogo de profissão, ele foi um
exemplo de pensador que soube unificar a teoria com
a prática, pois tanto a sua vida quanto as suas obras
estiveram marcadas pelo pensamento voltado para a
classe proletária, buscando construir um novo tipo de
sociedade.
Principais Influências de Marx
Marx produziu uma vasta obra que permeou diferentes áreas. Dentre as suas maiores influências
estão: filosofia alemã– iniciou suas análises fazendo parte de um grupo de pensadores alemães
chamados de esquerda hegeliana, da qual faziam parte Bauer, Stirner e Feuerbach. Embora
adotassem o método dialético elaborado por Hegel que, grosso modo, consistia em pensar as relações
sociais por meio de suas contradições, possuíam uma atitude crítica em relação ao pensamento deste
autor do qual eram estudiosos; socialismo utópico, pois, embora Marx já tivesse conhecimentos sobre
o socialismo, foi na França que aproximou o seu contato com este movimento de intelectuais do qual
fazia parte Fourier, Saint Simon e Proudhon. Estes foram chamados por Marx de socialistas utópicos,
devido a não elaborarem análises mais aprofundadas sobre o funcionamento do capitalismo e não
reconhecerem a classe operária como a única possibilidade de construção do socialismo, embora
fossem eles críticos severos do capitalismo de sua época; economia política, uma vez que o seu
contato com a ciência econômica se ampliou e se aprofundou, quando Marx passou um período na
Inglaterra buscando demonstrar as leis do funcionamento do modo de produção capitalista e
apontando as possibilidades de sua superação. Neste estudo, aproveitou a contribuição de vários
economistas ingleses, principalmente Adam Smith e David Ricardo que apontavam o trabalho como
elemento chave para o entendimento do sistema econômico.
Dialética e Metafísica
A noção de dialética possui uma longa história no pensamento filosófico, que começa
com Heráclito, passando por Platão, Kant e outros pensadores até chegar a Hegel, que
sistematizou o método dialético no sentido moderno. A intenção de Hegel ao apontar o
seu método dialético era entender a história do “movimento”, criticando o método
dominante da filosofia de sua época chamada de metafísica, que não tinha como objeto a
investigação empírica, mas, ao contrário, as realidades transcendentes que somente
poderiam ser descobertas pelas luzes da razão.
Esta, contrariamente à dialética, defendia a ideia de que a realidade possui uma essência
que a define e que, embora as coisas se modifiquem, a essência permanecerá a mesma.
Assim, enquanto o método metafísico propõe uma essência imutável das coisas, a
dialética proposta por Hegel defenderá a ideia de que a realidade é um movimento
constante.
Dialética Marxista
A dialética marxista consiste em adotar a ação recíproca e a unidade polar, pressupondo que “tudo se
relaciona”; pressupõe certa mudança, onde ocorre à negação da negação amparada na concepção de que
“tudo se transforma”; pressupõe a passagem da quantidade à qualidade, amparada na mudança
qualitativa; e a interpenetração dos contrários, contradição ou luta dos contrários.

No intuito de explicar como todas as coisas estão submetidas à lei do movimento e da contradição, os
estudiosos de Hegel afirmavam a existência de três momentos fundamentais: tese, momento da
afirmação; antítese, momento da negação; síntese, momento da negação da negação e que gerará uma
nova tese, que produzirá uma antítese e assim por diante. Assim, para Hegel, tudo seria história e toda
realidade seria modificação e movimento gerados pela contradição. Partindo da evolução histórica é que
Hegel desenvolverá sua filosofia chamada de “idealismo dialético”, que partirá da ideia de que no início da
história tudo era essencialmente espírito ou pensamento, ou seja, o “espírito absoluto” ou a ideia era o
elemento fundante das coisas.
Crítica de Marx à Esquerda Hegeliana
Marx, que era da esquerda hegeliana, adotara o método dialético elaborado por Hegel, mas havia conservado uma atitude
crítica diante do mesmo. Segundo o autor, o seu método dialético difere fundamentalmente do método hegeliano, sendo
inteiramente oposto a ele, pois em Hegel, a dialética está “de cabeça para baixo”. Assim, seria necessário pô-la de cabeça para
cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico. Marx se utiliza da dialética enquanto método,
entretanto, adota uma atitude crítica em relação ao seu conteúdo, o fundamento. Enquanto Hegel parte de um princípio
idealista permeado pela concepção de que as ideias constituem as relações matérias de existência, Marx inverte esta lógica,
partindo do pressuposto de que são as relações materiais de existência que criam as ideias.

O ponto de partida do pensamento de Marx foi à crítica radical tanto ao idealismo de Hegel, quanto aos filósofos da esquerda
hegeliana, em especial a Feuerbach, que partia de uma concepção materialista, entretanto, sem levar tanto em consideração a
história. Marx buscou colocar o pensamento humano sobre novas bases, rompendo com o pensamento filosófico, propondo que
estes possuem bases ideológicas, tratadas por ele como falsas representações. Suas críticas, ao mesmo tempo, não conseguiram
romper sua dependência com Hegel, já que são os pressupostos reais e materiais de que não se pode fazer abstração a não ser
na imaginação. São indivíduos reais em meio as suas relações sociais, ações e condições materiais de vida, tanto aquelas já
encontradas, como as produzidas por sua própria ação.
Consciência e História
Segundo Marx, o primeiro pressuposto básico da história é que os seres humanos devem estar em condições de viver
para fazer história, pois a primeira realidade histórica é a produção da vida material; o segundo pressuposto é que tão
logo a primeira necessidade é satisfeita, a ação de satisfazê-la e o instrumento já adquirido para essa satisfação criam
novas necessidades. E essa produção de necessidades novas é o primeiro ato histórico; o terceiro pressuposto existente
desde o início da evolução histórica é a de que os indivíduos, que renovam diariamente sua própria vida, se põem a criar
outros, a se reproduzirem – é a relação entre homem e mulher, pais e filhos; o quarto pressuposto é de que um modo de
produção ou um estágio industrial está sempre ligado a um modo de cooperação. Assim, a massa das forças produtivas
determina o estado social; o quinto e último pressuposto é que se pode verificar que o indivíduo tem consciência que
nasce da necessidade e da existência de intercâmbio com outros indivíduos. A consciência é, desde o seu início, um
produto social.

Para Marx, o ponto de partida em direção ao real não é mais o pensamento como propunha Hegel através da sua
filosofia chamada “idealismo dialético”, mas sim a vida material, daí o materialismo dialético. Marx, ao fazer a crítica do
método dialético de Hegel, tinha a intenção de aplicar este esquema ao estudo da história. Também compreendia que o
trabalho era o elemento central para se entender o desenvolvimento da sociedade, ou seja, seria a expressão da ação do
indivíduo sobre a matéria.
Importância do trabalho como valor
Se a matéria (mundo natural) representa a tese, temos o trabalho que representa a antítese da
matéria, que uma vez modificada pelo ser humano gera a sociedade, que é a síntese; a
sociedade é justamente a síntese do eterno processo dialético pelo qual o indivíduo atua sobre
a natureza e a transforma. Para o autor, o trabalho é um processo de que participa o ser
humano, e a natureza, processo em que o indivíduo, com sua própria ação, impulsiona, regula
e controla o intercâmbio material com a natureza. Atuando assim, sobre a natureza externa e
modificando-a, ao mesmo tempo modifica a sua própria natureza.
Assim, o trabalho não só é uma condição indispensável da vida social, mas também é o
elemento determinante para a formação do ser humano, seja como indivíduo, seja como ser
social. Sem trabalho não haveria ser humano, nem relações sociais, nem sociedade e nem
história. Por tudo isso, podemos dizer que a categoria trabalho é o conceito fundante e
determinante de toda construção teórica marxista.
Indivíduo e Sociedade
Na perspectiva dialética, existe uma relação externa entre o indivíduo e a sociedade, que faz com que tanto a
sociedade quanto o indivíduo se modifiquem, desencadeando o processo histórico-social, no qual os seres
humanos fazem a história, mas não a fazem como querem. Eles a fazem sob as condições herdadas do
passado. Deste modo, Marx deixa muito claro o peso que as estruturas sociais exercem sobre os indivíduos,
mas dialeticamente, mostrou que eles partem justamente destas mesmas estruturas para recriá-las pela
sua própria ação.
Diferentemente de Hegel, que compreende que a história é fruto do espírito absoluto, ou seja, que o fim do
processo especulativo é a culminância do processo dialético em que o real se torna racional; Marx partirá da
ideia de que a história é fruto do trabalho humano. Assim, seria a interação dos indivíduos buscando a
satisfação de suas necessidades que desencadearia o processo histórico. Foi com base neste pressuposto
geral que o autor propôs um estudo sobre a sociedade buscando a tomada de consciência fundamentada na
ideia de que o modo de produção pela vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e
intelectual em geral. Portanto, o estudo da sociedade deve se iniciar pelo estudo das condições da vida
material dos indivíduos, elemento que condiciona todo o desenvolvimento da vida social.
Infraestrutura e Superestrutura
Marx chama a dimensão econômica da sociedade de infraestrutura, sendo esta a “base” da sociedade, e
sobre esta base é que estaria construída a estrutura política e ideológica da sociedade, que são chamadas de
superestrutura. Assim, de acordo com a tese do autor, a infraestrutura (economia) condicionaria a
superestrutura (vida política e vida cultural da sociedade), ou seja, para explicar a sociedade precisaríamos
partir da análise de sua base material (economia) e perceber como ela condiciona a vida política e ideológica
da sociedade.
Em relação aos elementos que compõem a infraestrutura, Marx dirá que no processo de trabalho existem
duas dimensões principais: a relação do indivíduo com a natureza e a relação do indivíduo com os outros no
próprio processo de trabalho. A relação do indivíduo com a natureza é mediada pela matéria-prima e pelos
instrumentos de trabalho, que são os meios auxiliares que o indivíduo encontrou para desenvolver o
processo de produção. Esse conjunto, formado pela matéria-prima e pelos meios de produção de uma
sociedade, é chamado por Marx de forças produtivas. Logo, as forças produtivas da sociedade correspondem
a tudo aquilo que é utilizado pelo indivíduo no processo de produção, desde um simples martelo até as
grandes máquinas.
Relações de Produção e Luta de Classes
Como a produção ou o processo de trabalho não é um fenômeno isolado e sim um fenômeno social e coletivo,
envolvendo, portanto, a relação do indivíduo com o próprio indivíduo, Marx chamará este processo de trabalho de
relações de produção. As relações de produção são as interações que os indivíduos estabelecem entre si diante das
atividades produtivas. Corresponde, de forma geral, à divisão do trabalho, seja dentro de uma atividade específica,
seja entre as diversas atividades em seu conjunto. Portanto, os dois elementos fundamentais da infraestrutura são
as forças produtivas e as relações de produção, sendo estas as formadoras da base econômica da sociedade.
Em relação aos elementos que compõem a superestrutura, percebemos que foi partindo das relações de produção
que Marx constatou que a sociedade se dividia em classes sociais.
As classes sociais são fruto das relações que os indivíduos estabelecem no processo de produção, surgindo quando
um grupo social se apropria das forças produtivas, tornando-se proprietários dos instrumentos de trabalho. No
modo de produção capitalista, elas se dividem, grosso modo, em dois grupos: os proprietários e os não
proprietários dos meios de produção. Portanto, é através da propriedade burguesa que surgem as classes sociais
que se encontram em constante luta, uma vez que a burguesia possui os meios de produção e o proletariado deve
vender sua força de trabalho a qualquer preço para poder subsistir.
Estado
Ao consolidar o domínio dos proprietários (burgueses) sobre os não
proprietários dos meios de produção (proletariado), a classe dominante
(proprietários) intensificou sua força por meio do Estado. De modo geral,
Marx afirmou que o Estado é um instrumento criado pelas classes
dominantes para garantir o seu domínio econômico, pois suas leis e
determinações estão sempre voltadas para o interesse da classe dos
proprietários, garantindo o domínio da classe burguesa sobre o
proletariado. Quando as leis e normas do Estado falham, o poder estatal
ainda tem o recurso da força, principalmente das forças armadas, que
garantem os interesses da classe dominante.
Ideologia
Um segundo elemento que compõe a superestrutura e que também busca garantir o
domínio das classes proprietárias ocorre através da força das ideias e é chamada de
ideologia. Para Marx, as ideias da sociedade são as ideias da classe dominante. Isto
quer dizer que, quando uma classe se torna dominante (do ponto de vista
econômico e político), ela também consegue difundir a sua “visão de mundo” e os
seus valores. Assim, uma classe impõe os seus preceitos sobre as demais, que adotam
as suas concepções e acabam sendo exploradas sem perceberem a sua condição. A
ideologia, portanto, é vista por Marx como um conjunto de falsas representações da
realidade, que servem para legitimar e consolidar o poder das classes dominantes.
Modo de Produção
Tanto o Estado quanto a ideologia são considerados por Marx como dois elementos da superestrutura.
Entretanto, para se entender o funcionamento do Estado e da ideologia é preciso descer até a
infraestrutura, pois é lá que se forma a classe que vai controlar o poder político e ideológico da sociedade,
razão esta pela qual a superestrutura está condicionada pela infraestrutura.
Para Marx, a infraestrutura e a superestrutura constituem o que ele chama de modo de produção.

Para ele, as sociedades se transformam quando alteram o modo de produzir. É por esta razão que a teoria
sociológica de Marx é chamada de “materialismo histórico”. Foi analisando a infraestrutura da sociedade ao
longo da história que o autor elaborou um esquema acerca do desenvolvimento da sociedade ocidental,
mostrando como as modificações das forças produtivas alteravam as relações de produção (classes sociais),
produzindo novas classes dominantes e novas formas de enxergar a realidade através das ideologias. Marx
percebe as seguintes etapas do desenvolvimento histórico ocidental: 1) modo de produção primitivo; 2)
modo de produção escravista; 3) modo de produção asiático; 4) modo de produção feudal; 5) modo de
produção capitalista; 6) modo de produção comunista.
Teses Fundamentais sobre o capitalismo
1) o objetivo do sistema capitalista é o lucro;
2) o lucro é gerado pela exploração (mais-valia);
3) na base do sistema capitalista está um sistema de
relações de classe;
4) no capitalismo, o indivíduo se encontra alienado (sob a
égide do fetichismo da mercadoria).
Alienação em Feuerbach
A categoria alienação Marx herdara de Feuerbach, o filósofo alemão mais conhecido do grupo de pensadores
chamados de “esquerda hegeliana” que buscavam estudar o pensamento de Hegel de forma crítica, cuja
principal obra chamava-se A Essência do Cristianismo (1841). O principal objetivo da teoria filosófica de
Feuerbach era criticar o aspecto religioso da filosofia hegeliana. Para este autor, a religião representaria uma
forma de alienação do indivíduo. Por isso, Feuerbach buscou substituir o idealismo de Hegel por uma postura
materialista, pois para ele não foi Deus quem criou os seres humanos, e sim os seres humanos que o criaram; os
seres humanos não são a imagem e semelhança de Deus, e sim Deus que é a imagem e semelhança dos seres
humanos.
De acordo com Feuerbach, a religião seria uma projeção dos desejos dos seres humanos, e a ideia de que Deus
é um ser perfeito e absoluto foi uma criação dos seres humanos, pois representa tudo aquilo que eles gostariam
de ser. Deus nada mais é do que um ser humano perfeito, um “super-homem”, ou seja, ele é a própria essência
humana exposta pelo ser humano, que o coloca para fora, expressando um ser espiritual que ele mesmo
projetou. Assim, a alienação ocorreria justamente quando o ser humano não percebe as coisas como elas são.
Os seres humanos se encontram alienados quando não percebem a si mesmos.
Alienação em Marx
A ideia ou conceito de alienação exerceu enorme influência na obra de Marx, pois ele também achava que os seres humanos
estavam alienados. Entretanto, a causa da alienação, diferentemente de Feuerbach, não era a religião, mas sim o
capitalismo. Na obra Manuscritos Econômico-Filosóficos (1846), também chamada de Manuscritos de Paris, Marx
desenvolveu inicialmente uma análise sobre a alienação. Esta obra, que só veio a ser conhecida em 1932, trouxe uma grande
controvérsia entre os estudiosos do marxismo. Neste texto, o autor apresentou a ideia de que o capitalismo aliena os seres
humanos de sua própria condição humana, que é o trabalho. Em outros termos, o fundamento do capitalismo, que seria a
propriedade privada, provocaria a separação dos seres humanos de seu próprio ser, ou seja, de sua própria natureza. De
acordo com as ideias contidas no texto, Marx argumenta que a propriedade privada provoca quatro tipos de alienação
humana: 1) Alienação do trabalhador do produto do seu próprio trabalho, ou seja, aquilo que o trabalhador produz no
capitalismo não pertence a ele, mas ao proprietário capitalista (dono dos meios de produção). Portanto, o ser humano perde
o controle daquilo que ele mesmo produz que é o objeto de seu trabalho, alienando-se do mesmo; 2) Alienação do
trabalhador no ato da produção, ou seja, na economia capitalista, o trabalhador também não controla a atividade de
produzir. Esta capacidade é vendida por ele ao capitalista. Portanto, no processo de produção, o trabalhador também aliena
sua atividade. Ela não lhe pertence, além de ser controlada por outra pessoa; 3) Alienação do trabalhador de sua espécie,
ou seja, o ser humano acaba se separando de seus semelhantes; 4) Alienação do trabalhador de sua própria natureza
humana, ou seja, a principal consequência da propriedade privada e do capitalismo é que o ser humano está alienado de si
mesmo – daquilo que ele mesmo é.
Fetichismo da mercadoria
Para Marx, o segredo de sua teoria está no fato de que ela demonstra que dinheiro é mercadoria e
mercadoria é trabalho. Entretanto, quando o dinheiro perde sua relação com o trabalho e parece
ganhar vida própria, o autor chama este fenômeno de fetichismo da mercadoria.
O capital desvinculado do trabalho aliena o ser humano da produção de sua essência social. A alienação
inverte o sentido das relações sociais, pois os seres humanos (sujeitos) se tornam objetos, enquanto
que os objetos (mercadorias) se tornam sujeitos. Assim, ao invés de a produção estar a serviço dos seres
humanos, no capitalismo são os seres humanos que se encontram dominados pela produção.
Reconhecendo que o capitalismo pode levar a uma total mercantilização da vida fazendo com que
todas as tarefas da vida estejam submetidas às exigências da reprodução do capital, Marx constatou que
a produção produz a perda de sua finalidade essencial que nada mais é do que a satisfação das
necessidades. Assim, o capital, livre de qualquer impedimento, tornou-se o elemento fundante da
sociedade, reproduzindo-se constantemente como se tivesse ganhado vida própria. Foi essa inversão
que fez com que o ser humano se tornasse uma coisa e as coisas se tornassem humanas.
Mais valia
Integração social e conflito
Diferentemente de Marx, que possuía um projeto político revolucionário, defendendo a ideia de que os seres
humanos são autores e atores de sua própria história, podendo produzir uma consciência de classe a partir da
compreensão de sua condição material de existência, Comte e Durkheim, por exemplo, defenderam uma posição
conservadora. Não obstante, assim como para Marx a característica fundamental da modernidade foi à
consolidação do modo de produção capitalista que alienou o ser humano, para Durkheim foi à instituição da
divisão social do trabalho, conforme vimos no segundo capítulo.
Enquanto que as tradições positivistas, iniciadas com Comte, e funcionalistas, iniciadas por Durkheim, colocaram
toda a ênfase no equilíbrio e na integração social, compreendendo que grande parte das formas de conflitos ou de
contestações deveria ser vista como desvios e ano mias que precisariam ser eliminadas12. A tradição marxista
partiu de um pressuposto oposto, permeado pela constatação de que os fenômenos sociais estão tangenciados por
relações de poder circunscritas aos campos culturais, políticos e econômicos e estão situadas no campo do conflito.
Desta forma, os movimentos contestadores, que buscam algum tipo de mudança social, não encontram respaldo
neste tipo de teoria conservadora enunciada por Comte e Durkheim, pois entendem que elas estão comprometidas
com a ordem vigente e com sua preservação, tratando-se de um projeto político que se fundamenta na
manutenção da estrutura organizada pela classe dominante, diferentemente da proposta revolucionária elaborada
por Karl Marx.
Max Weber
Contrapondo-se aos pressupostos do
positivismo iniciado com Comte, Max
Weber desenvolveu uma análise pautada
na ideia de que a razão humana, na versão
encarnada pela economia capitalista e pela
burocracia do Estado, seria uma força que,
ao mesmo tempo em que “desencanta” o
mundo, invade todas as esferas da vida
humana, ocasionando a perda da liberdade
e o sentido da vida.
Principais Influências de Weber
Dentre as correntes teóricas que mais influenciaram o pensamento de Weber podemos
citar: a filosofia moderna a partir de Kant, que afirmava que o conhecimento não capta a
essência da realidade, mas apenas os fenômenos que nos são transmitidos através dos
sentidos, de Nietzsche, do qual herdou uma visão pessimista da sociedade moderna e de
Marx, que propôs uma análise rigorosa sobre o chamado modo de produção capitalista.
Weber ainda foi influenciado pelos filósofos neokantianos, como Dilthey, Windelband e
Rickert, que insistiam na necessidade da distinção entre as características das ciências
sociais (chamadas de ciências do espírito/cultura) das demais ciências da natureza,
contrapondo-se às ideias positivistas desenvolvidas por Comte, e pelo pensamento social
alemão de diferentes autores contemporâneos a ele, pois, embora tenha sido um dos
maiores expoentes da sociologia alemã, o autor retomou as ideias de vários outros
importantes pensadores da época, principalmente Tönnies, Simmel e Sombardt.
Primado no sujeito
Contrariamente às propostas do positivismo de Comte e do funcionalismo de Durkheim,
que construíram suas teorias sociológicas com base no primado do objeto, Weber propunha
uma teoria sociológica compreensiva ou hermenêutica com base no primado do sujeito,
contextualizando o objeto.
Ao inaugurar na sociologia um novo caminho para a interpretação da realidade social
chamada de teoria sociológica compreensiva ou hermenêutica, Weber atacou o
pensamento de Comte a partir da absorção da grande preocupação dos filósofos
neokantianos, que buscavam combater o pressuposto positivista de que as ciências naturais
e as ciências sociais deveriam adotar o mesmo método. Em seu texto intitulado A
Objetividade do Conhecimento nas Ciências Sociais (1904), o autor questionou se o fim ideal
do trabalho científico deveria consistir numa redução da realidade empírica a certas leis, ou
seja, se os fenômenos sociais deveriam ser tratados a partir de leis universais e invariáveis
supostamente encontradas na sociedade.
Crítica ao positivismo
Para Weber, as leis científicas seriam apenas probabilidades típicas, confirmadas pela
observação, de que determinadas situações de fato ocorrem de forma esperada, e que certas
ações sociais são compreensíveis pelos seus motivos típicos e pelo sentido típico mencionado
pelos sujeitos da ação.
Enquanto que nas ciências naturais o objeto do estudo é algo exterior aos seres humanos, nas
ciências sociais os seres humanos são o sujeito e o objeto ao mesmo tempo. Enquanto as
ciências naturais fazem uso do método da explicação, as ciências sociais devem se articular em
torno dos princípios da explicação e da compreensão, dependendo da finalidade da pesquisa.
Weber não apenas criticou os positivistas, dizendo que a realidade é infinita, logo, não pode
ser explicada totalmente a partir de leis científicas, como também deferiu suas criticas aos
neokantianos, defendo a tese de que a Sociologia deveria utilizar os dois métodos
supracitados (individualizante/ compreensivo e generalizante/explicativo), dependendo da
finalidade da pesquisa, entendendo, ainda, que as leis científicas seriam apenas probabilidades
de ação social.
Indivíduo como fundamento da sociedade
Se para Comte e Durkheim a sociedade seria superior ao indivíduo, poderíamos
dizer que para Weber o indivíduo é o fundamento da sociedade, pois a existência
da sociedade só ocorre pela ação e interação recíprocas entre as pessoas. Para
Weber, o conhecimento científico cultural que entendemos encontra-se preso,
portanto, há premissas “subjetivas” pelo fato de apenas se ocupar daqueles
elementos da realidade que apresentem alguma relação, por muito indireta que seja
com os acontecimentos a que conferimos uma significação cultural. Deste modo, o
autor enfatiza a importância do sujeito (pesquisador) ao analisar seu objeto
(fenômenos sociais), demonstrando que o primeiro incide sobre o segundo.
Ação Social
O objeto de estudo da sociologia para Weber é a ação social. Para o autor que propõe o
pressuposto filosófico do individualismo metodológico perpassado pela preponderância do
sujeito sobre o objeto, ação social significa uma ação que, quanto a seu sentido visado
pelo agente ou pelos agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por
este em seu curso.

Assim, a tarefa da sociologia para o autor consistiria em determinar qual o “sentido” ou


“significado” da ação. O fundamento para explicar a ação social, portanto, é o seu motivo,
pois para a sociologia o importante seria recuperar a razão e a finalidade que os próprios
indivíduos conferem às suas atividades – bem como às suas relações com os demais
indivíduos e com a sociedade. São essas razões que explicam o motivo e a própria
existência das ações sociais. A teoria sociológica proposta por Weber é chamada de
metodologia compreensiva porque busca compreender o significado da ação social.
Quatro Tipos de Ação Social
1) Ação Racional Referente a Fins: Ação determinada por expectativas quanto ao
comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas.

2) Ação Racional Referente a Valores: Ação determinada pela crença consciente no


valor – ético, estético, religioso ou qualquer outro que seja sua interpretação –
absoluto e inerente a determinado comportamento como tal, independente do
resultado.

3) Ação Social Afetiva: Ação determinada por um modo afetivo, especialmente


emocional, através de afetos ou estados emocionais atuais.

4) Ação Social Tradicional: Ação determinada por costumes arraigados.


Tipos Ideais
Para Weber, o sociólogo não pode tratar dos seus conceitos e suas teorias como se
fosse uma mera reprodução da realidade, como propunham os positivistas.
Adotando a filosofia kantiana, o autor parte do princípio de que o conhecimento
humano não é uma reprodução da essência da realidade. Pelo contrário, o
conhecimento humano só capta as relações entre as coisas existentes, de acordo
com a estrutura da mente humana. Reconhecendo os limites das ciências sociais,
Weber dirá que a sociologia não capta toda a essência da realidade, mas sim alguns
de seus elementos que são condicionados pela cultura no qual o sociólogo está
inserido. Desta forma, o sujeito teria um papel ativo na construção do conhecimento
sociológico, na medida em que é o sociólogo que determina os traços ou aspectos da
realidade que serão analisados e qual a relação existente entre eles. Será este
aspecto que chamará de tipo ideal.
Conceito de Tipo Ideal
Segundo Weber, um tipo ideal é obtido por meio da acentuação unilateral de um ou vários
pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isolados
dados, difusos e discretos, que podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por
completo, e que se ordenam segundo pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de
se formar um quadro homogêneo de pensamento.
Desta forma, os tipos de ação social, constatados no capitalismo, feudalismo, burocracia,
Estado, dentre outros, devem ser entendidos como tipos ideais que não devem se
encontrar de forma pura na realidade. Pois eles permitem que o pesquisador possa
comparar de forma constante suas teorias com a realidade pesquisada, a partir de um
aspecto da mesma.
No intuito de empreender o seu estudo sobre a modernidade, Weber se dedicou a entender
a relação entre o protestantismo e a conduta econômica do capitalismo, concluindo que as
racionalizações existiram em todas as culturas, nos mais diversos setores e dos tipos mais
diferentes.
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Os objetivos da obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905) são, primeiramente, desenvolver uma
investigação sobre as origens do capitalismo, juntamente à ciência, arte, arquitetura, universidade, Estado,
entendendo que estes seriam marcados em grande parte pela civilização ocidental, verificando qual a influência da
religião na origem do moderno sistema econômico capitalista-industrial e, em seguida, mostrar como se dá o
progresso da racionalização no ocidente do qual o capitalismo é sua maior expressão.
Para Weber, a “ética luterana” muito mais favoreceu o capitalismo do que o gerou sozinha. Para exemplificar o
que chamou de “espírito do capitalismo”, o autor cita as máximas do ex-presidente estadunidense Benjamim
Franklin: tempo é dinheiro, crédito é dinheiro, dinheiro gera mais dinheiro, o bom pagador é dono da bolsa alheia,
etc. Assim, ser capitalista, antes de tudo, não é ser uma pessoa avara, mas ter uma vida disciplinada, ou ascética, de
tal forma que as ações praticadas se revertam em lucro – o que chamou de ascese do mundo.
Para Weber, a primeira contribuição para este processo foi dada por Lutero através de sua concepção de vocação,
que propunha a salvação das pessoas não através do retiro do mundo para a reza, mas pela aceitação de suas tarefas
profissionais proporcionadas por Deus e seu cumprimento disciplinado pelas pessoas. Ao desenvolver suas análises
sobre a ascese do mundo, o autor analisou quatro seitas protestantes: calvinismo, pietismo, metodismo e as seitas
batistas, constatando que a que mais explica a relação entre a ética protestante e a origem do capitalismo é o
calvinismo, sendo Deus quem dá a salvação aos seus escolhidos.
Relação entre Protestantismo e Capitalismo
Para Weber, mais do que a origem do capitalismo, o protestantismo ascético favoreceu também a
racionalização da vida, pois esta estaria movida pelo sistema econômico. O comportamento ideal do
protestante seria a princípio uma vida metódica, dedicada ao trabalho de forma disciplinada e ordenada,
representando uma forma extremamente racionalizada de vida.
Segundo Weber, as religiões orientais levam o crente a uma atitude contemplativa diante do mundo. Já o
caráter específico da religião ocidental, consiste em levar o crente a uma atitude de engajamento diante do
mundo. Por isso, a ideia do autor de que a ética protestante favoreceu a origem do capitalismo, enquanto
que as religiões orientais não inspiraram nenhum movimento neste sentido.
Segundo sua análise, o processo de intelectualização compreende as seguintes etapas: religião >
desencantamento do mundo > racionalização. Entretanto, o aumento do grau de racionalidade do mundo
não levou necessariamente a um estágio superior de vida social, mas à perda de liberdade e também da
burocratização (ou racionalização social) não só do Estado, mas da vida.
A racionalidade ocidental foi representada por Weber como uma jaula de ferro que, embora tenha
libertado os seres humanos das forças divinas e naturais, acabou tornando o homem um escravo da própria
criação.
Ciência e Política: Duas Vocações
Embora não fosse um político de profissão, mas um cientista, Weber acabou participando
ativamente dos debates políticos da Alemanha em sua época, que o inspiraram a pesquisar e escrever
textos e reflexões acadêmicas especialmente sobre o capitalismo, a burocracia e o poder político. Na
época em que viveu, o capitalismo industrial estava se expandindo fortemente por toda a Europa,
entretanto, a Alemanha se encontrava como um país retardatário neste processo de industrialização.
Assim, só conseguiu participar da corrida econômica com a unificação dos territórios germânicos
através de Bismarck em 1870.
Uma das características fundamentais do pensamento de Weber consiste na separação radical entre a
figura do “cientista” e do “político”, ou seja, entre as esferas da ciência e da política. Entretanto, isso
não o impediu de se pronunciar várias vezes sobre os problemas políticos de sua época. Herdado de
Rickert, filósofo alemão neokantiano, a convicção de que as ciências humanas são ciências
relacionadas com os valores, Weber insistiu que as ciências humanas são ciências subjetivas e que
dependem do “ponto de vista” adotado pelo autor. Assim, esta questão acaba levando Weber a refletir
sobre a questão da objetividade nas ciências humanas e/ou sociais.
Juízo de Valor e Juízo de Fato
No intuito de resolver este dilema, o autor afirmará que a ciência deverá cuidar
para distinguir rigorosamente entre os juízos de fato e os juízos de valor, pois
na condução da pesquisa, todas as considerações pessoais do autor (ou os seus
juízos de valor ou axiológicos) deveriam ser colocadas de lado. Na pesquisa, o
sociólogo só poderia emitir os seus juízos de fato, mostrando rigorosamente
o desenvolvimento de um determinado fenômeno sem julgá-lo, não
tomando posições sobre o problema.
Ao invés de dizer qual o melhor sistema político, por exemplo, o sociólogo
deve apontar quais as consequências da adoção deste, pois fazer a escolha é
uma tarefa da sociedade.
Duas formas de se fazer política
No texto A Política como Vocação (1919), Weber chamou a atenção para a condição do
político profissional. Para o autor, com o aparecimento do Estado, em todos os países
do globo, nota-se o aparecimento de uma nova espécie de político profissional. Assim,
há duas maneiras de fazer política: ou se vive para a política ou se vive da política.
Aquele que vê na política uma permanente fonte de renda, dirá que vive da política e
aquele que vive a partir dos ideais da política dirá que vive para a política. A partir desta
distinção, Weber observa que os governantes estão divididos entre o apelo de uma
“ética da convicção”, na qual o indivíduo permanece fiel às suas concepções e valores,
independente das consequências práticas que isto possa ter e uma “ética da
responsabilidade”, na qual se pergunta primeiramente sobre a consequência de suas
ações e decisões. Entretanto, deixa claro que a ética da convicção não significa ausência
de responsabilidade e nem o contrário.
Poder e Tipos de Dominação
Para Weber, o poder é entendido como a capacidade de impor a própria vontade
dentro de uma relação social, enquanto que a dominação é entendida como a
probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato. O autor
distinguiu três tipos puros de dominação, certamente uma das categorias mais
utilizadas pela sociologia weberiana: dominação legal racional, na qual a
obediência apoia-se na crença da legalidade da lei e dos direitos de mandos das
pessoas autorizadas a comandar a lei; dominação tradicional, na qual sua
legitimidade se apoia na crença de que o poder de mando tem um caráter
sagrado, herdado dos tempos antigos; e a dominação carismática, na qual a
legitimidade da autoridade do líder carismático lhe é conferida pelo afeto e
confiança que os indivíduos depositam nele.
Teoria da Estratificação Social
A grande novidade da teoria da estratificação social de Weber centra-se na busca pela compreensão
das diferentes posições do indivíduo em relação à sociedade, não a partir de um único critério, mas a
partir de sua inserção em várias esferas da realidade. Assim, do ponto de vista econômico as pessoas
são separadas por “classes sociais”. Do ponto de vista político, se encontrarão divididas nos “partidos”,
e enquanto o aspecto cultural, as pessoas poderão se diferenciar em diferentes tipos de “estamentos”.
A classe diz respeito aos interesses econômicos das pessoas em relação às diferenças na posse dos
bens. O partido se relacionará com a diferente distribuição do poder e o estamento relacionado com os
diferentes estilos de vida das camadas sociais, juntamente com o prestígio e a honra conferida a cada
uma.

Não obstante, Weber também foi responsável pelo desenvolvimento de umas das mais cuidadosas
análises sobre o fenômeno da organização burocrática que perpassou a história do Egito, do Principado
Romano, do Estado Bizantino, da Igreja Católica, da China, dos Estados Europeus Modernos, das
grandes empresas capitalistas modernas, dentre outros, avaliando suas vantagens e tarefas,
relacionando-a com o direito e com os meios de administração.
Burocratização
Ao constatar que o fenômeno da burocratização atinge todas as esferas da vida social e não
somente o Estado11, Weber averiguou que a burocracia moderna é regida pelo princípio das
áreas de jurisdição fixas e oficiais através de regulamentos estabelecidos por meio de leis,
documentos ou normas administrativas escritas; age por meio de princípios hierárquicos
disponibilizados pela construção de diferentes níveis de autoridade que operam em postos
distintos; promove treinamento especializado e completo, exigindo atividades oficiais que
capacitam o trabalho do funcionário; articula uma avaliação do desempenho do cargo a partir de
regras gerais supostamente estáveis e exaustivas que podem e devem ser aprendidas.

Ao ponderar sobre o crescimento do Estado e sobre a complexidade dos problemas que este se
incumbiu de resolver, Weber constatou que a ascensão da burocracia resultou em problemas
graves para os regimes democráticos, uma vez que distanciou os cidadãos das decisões
fundamentais proferidas pelo Estado e demais instituições sociais.

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