Flor de Seda Na Produção Animal

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REVISTA CAATINGA — ISSN 0100-316X

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA)


Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Revisão de Literatura

PERSPECTIVAS DE UTILIZAÇÃO DA FLOR-DE-SEDA (Calotropis procera)


NA PRODUÇÃO ANIMAL

Roberto Germano Costa


Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Depto. de Zootecnia, Areia-PB, Brasil
E-mail: [email protected]

Ariosvaldo Nunes de Medeiros


Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Depto. de Zootecnia, Areia-PB, Brasil
E-mail:[email protected]

Aldivan Rodrigues Alves


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPGZ/UFPB), Areia-PB, Brasil

Geovergue Rodrigues de Medeiros


Pesquisador do Instituto Nacional do Semi-Árido (INSA), Campina Grande – PB, Brasil

Resumo – A Calotropis procera tem sido uma alternativa alimentar para os ruminantes na região semi-árida brasileira,
apresentando rápido estabelecimento e disponibilidade constante de fitomassa, até 3,0 t de MS/corte, no período seco.
No aspecto bioquímico estudos detectaram diversas substâncias ativas como cardenolídeos ou glicosídeos cardioativos,
proteínas não-enzimáticas e proteínas enzimáticas, que podem causar toxidez nos animais quando inseridas em sua
dieta. Do ponto de vista nutricional, a C. procera tem em média 20% de proteína bruta e digestibilidade in vitro acima
de 70%. Pesquisas mostraram que a ingestão da C. procera por caprinos e ovinos na forma in natura pode ocasionar
óbitos, todavia, ao realizar os processos de ensilagem e fenação os efeitos toxicológicos são reduzidos. A utilização da
C. procera é promissora, necessitando de estudos para maximização da produtividade; de avaliação bioquímica para
identificação de substâncias ativas, seus mecanismos e locais de atuação no animal, bem como a realização de ensaios
para obter os níveis seguros de inclusão nas diferentes formas de oferta (in natura, feno e silagem).

Palavras-chave: dieta, forrageira, glicosídeos cardioativos, ruminantes, toxidez

PROSPECTS FOR USE OF ROOSTER TREE (Calotropis procera) IN


ANIMAL PRODUCTION
Abstract – The Calotropis procera has been an alternative feed for the ruminants in the brasilian semiarid region,
presenting fast establishment and constant availability of fitomassa, until 3.0 t of DM/cut, in the dry season. On the
aspect biochemical studies have detected various active substances as cardiac glycosides, non enzymatic proteins and
enzimatics proteins, that can cause toxicity in animals when inserted in their diet. In nutritional terms, this species
provides important nutrients with emphasis on protein, average value of 20%, and in vitro digestibility above 70%. It
researches they showed that the intake of C. procera by goats and sheep in the form in nature can cause deaths,
however, to make the process of hay and silage the toxicological effects are reduced. The utilization of C. procera is
promissing, needing studies for maximize of the productivity; biochemical evaluation for identification of active
substances, their mechanisms and local action in the animal, as well as testing to obtain the safe levels for inclusion in
various forms of supply (in natura, hay and silage).

Key words: cardiac glycoside, diet, forage, ruminants, toxicity

Caatinga (Mossoró,Brasil), v.22, n.1, p.01-09, janeiro/março de 2009


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INTRODUÇÃO Magnoliophyta; Classe: Magnoliopsida (Dic.);


Subclasse: Asteridae; Ordem: Gentianales; Família:
A produção e disponibilidade constante de alimentos é um Asclepiadaceae; Gênero: Calotrpis R. Br.; Espécie:
dos principais entraves a ser enfrentado para maximização Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton.
da eficiência nos sistemas de produção animal inseridos Esta espécie vegetal possui porte arbustivo ou subarbórea,
em regiões áridas ou semi-áridas. Dessa maneira, diversas podendo chegar a 3,5 m de altura, ereta e perene com
estratégias têm sido desenvolvidas nestas regiões para poucas ramificações. Nas plantas jovens têm ramos,
viabilização destes sistemas, dentre elas podemos destacar folhas, pedúnculos e frutos revestidos de cera. Suas folhas
o uso racional da caatinga, bioma predominante no simples, sésseis, geralmente opostas, subcoriáceas e de
Nordeste do Brasil. coloração verde-clara, estão mais presentes na parte
A caatinga dispõe de grande diversidade de espécies elevada da planta, sendo que as inferiores se desprendem
nativas e exóticas, com características promissoras em gradualmente. Inflorescência em pedúnculos carnosos e
termos de disponibilidade de fitomassa e composição cilíndricos, terminais e axilares com flores roxas,
química, permitindo sua utilização em programas actinomorfas e hermafroditas. Os frutos são folículos
alimentares para ruminantes. inflados, globosos ou mangiformes, com sementes
Uma espécie que vem ganhando destaque é a Calotropis ovóides que no ápice possui filamentos sedosos (painas),
procera SW (flor-de-seda), da família Asclepiadácea. prateados ou brancos (Kissmann e Groth, 1999).
Introduzida no Brasil no século passado com fins A casca corticiforme, sulcada, de coloração cinza,
ornamentais, tem sido alvo de diversos estudos, apresenta abundante fluxo de seiva branca (látex), que
principalmente, por apresentar diversas propriedades pode ser observado sempre que o caule e as folhas são
como a presença de substâncias ativas permitindo seu uso cortados (Francis, s.d). Sistema radicular bastante
farmacológico. Possui teores significativos de nutrientes, desenvolvido, com raiz principal pivotante profunda e
bem como adaptabilidade às condições edafoclimáticas da com quase nenhuma raiz lateral próxima à superfície
região semi-árida brasileira, sendo uma planta sempre (Sharma, 1968).
verde durante todo ano podendo ser utilizada como
alimento para caprinos, ovinos e bovinos.
Apesar de alguns trabalhos já terem sido realizados, a ASPECTOS DE ADAPTABILIDADE DA Calotropis
escassez de estudos da Calotropis. procera como cultura procera
racional para alimentação animal, no que concerne ao
método de plantio, espaçamento, adubação, época de
corte, além do conhecimento dos fatores anti-nutricionais Nativa da África, Madagascar, Península Arábica,
decorrentes de suas substâncias ativas e seus possíveis Sudoeste da Ásia esta espécie possui ampla distribuição
efeitos no animal, limita sua utilização. geográfica, atualmente naturalizada no Norte da Austrália,
Esta revisão tem o objetivo relatar os diversos estudos Tailândia, Vietnã e outros países (Csurshes & Edwards,
utilizando a C. procera, relacionando seus aspectos de 1998; Rahman & Wilcock, 1999), já está sendo
adaptabilidade, bioquímicos, valor nutritivo, considerada como invasora em alguns deles, a exemplo do
consumo/aceitabilidade pelos animais, toxidez e níveis de Brasil (Ferreira, 1973).
inclusão nas dietas, para uma possível utilização desta
espécie como forrageira na produção animal.
CLIMA E PRECIPITAÇÃO

Calotropis procera: Descrição Botânica e


Características gerais A região semi-árida brasileira é caracterizada por
apresentar clima tropical seco, tipo BSW’h, com
temperatura variando de 26 a 35 ºC, duas estações bem
Popularmente conhecida no Nordeste como Flor-de-seda, definidas, uma chuvosa e outra seca, com chuvas escassas
a Calotropis procera possui diversos sinônimos de acordo e mal distribuídas, precipitação variando de 250 a 800
com as regiões do Brasil, como: Algodão de Seda, mm/ano e alta evapotranspiração. Os solos são
Algodão da Praia, Leiteira, Paininha-de-Seda, Saco-de- sedimentares arenosos, pertencentes às associações de
Velho, Leiteiro, Queimadeira, Pé-de-Balão, Janaúba e neossolos, luvissolos, arrisolos e planossolos. São solos
Ciúme. Pertencente a família Asclepiadaceae que possui alcalinos, pouco profundos, pedregosos, pouco
280 gêneros e 2000 espécies, apresenta a seguinte permeáveis, ricos em bases trocáveis e com matéria
descrição botânica: Reino: Plantae; Subreino: orgânica menor que 1%.
Tracheobionta; Superdivisão: Spermatophyta; Divisão:

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Em regiões semi-áridas, uma espécie vegetal para se A C. procera possui fácil propagação através das
estabelecer precisa tolerar as adversidades ambientais e sementes devido à excelente germinação, sem haver a
dispor de mecanismos fisiológicos que permitam sua necessidade de pré-tratamentos, pois não apresenta
sobrevivência e perpetuação, a exemplo da flor-de-seda no dormência podendo ser plantadas diretamente no solo
Nordeste brasileiro. (Vogt, 1995).
Sharma (1934) afirma que esta planta ocorre em áreas de Com florescimento e frutificação durante todo ano, produz
baixa pluviosidade, com precipitação anual variando de milhares de sementes por planta que são disseminadas
150 a 1.000 mm; tolera altitudes de 1.000 metros e pelo vento, anemocórica, podendo alcançar vários
temperaturas entre 20 a 30 ºC, permitindo desenvolver-se quilômetros (Little et al. 1974), este tipo de dispersão é
em montanhas ou mesmo, ao nível do mar, conferindo a um dos mais favoráveis ao estabelecimento das espécies
esta planta alta dinâmica em sua ocorrência. vegetais.
Ainda de acordo com Little et al. (1974), em média 85 %
SOLO das sementes germinaram entre 7 e 64 dias após a
semeadura em vasos. No campo, o crescimento é
A C. procera possui grande afinidade a regiões desérticas abundante, mas passado o período das chuvas a queda na
e áridas (Khan & Malik, 1989), solos arenosos, ocorre em quantidade de plântulas reduz consideravelmente
pastagens degradadas, no litoral a beira do mar, dunas, (Campolucci & Paolini, 1990).
rodovias, terrenos baldios e margens de estradas. Tolera Suas sementes são sensíveis a variações de temperaturas, e
solos pobres, solos ácidos, salinos e com elevado teor de segundo Labouriau & Valadares (1976) a C. procera
alumínio (INSTITUTO HÓRUS, 2005). suporta variações de temperatura de 18 a 37 °C para
Segundo Corrêa (1939) esta espécie também encontra-se germinação, mas o intervalo de 28 °C a 32 °C é
disseminada nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, além da considerado ideal.
região Nordeste do Brasil, com destaque para áreas Esta planta, por reunir esses atributos relacionados à
degradadas do semi-árido. Pode ser encontrada em solos propagação, é considerada invasora em diversas regiões,
drenados e precipitação superior a 2000 mm. Portanto, é devido à tamanha capacidade de propagação e
perceptível que a C. procera é uma espécie pouco estabelecimento.
exigente em termos de condições edafo-climáticas, e esta
característica permite grande amplitude de ambientes para
o seu o desenvolvimento. PRAGAS

MORFOLOGIA Apesar da característica inerente a diversas espécies da


família Asclepiadaceae de apresentar o látex, lactífera,
líquido esbranquiçado que funciona como sistema de
A Caatinga é composta de inúmeras famílias botânicas de defesa contra ataque de microrganismos, vírus e fungos,
ervas, arbustos, árvores e cipós, mas sendo dominada por até mesmo de insetos, a C. procera é muito susceptível a
vegetação tipo xerófila, ou seja, vegetação que apresenta pragas. Amritphale & Sharma (2007) relatam que existem
uma morfologia e um mecanismo fisiológico adaptativo espécies de insetos que dependem da semente desta planta
para resistir em ambiente seco, cuja água disponível às para completarem seu ciclo de vida.
plantas é proveniente exclusivamente do curto período de Algumas espécies de lepidópteros como a borboleta
estação de chuvas. monarca, pertencente ao gênero Danaus, utilizam a C.
Para C. procera seu caule corticiforme parece ser uma procera em sua alimentação (Marian & Pandian, 1980).
grande adaptação morfofisiológica que reduz a perda de
água excessiva para o meio, funcionando também como
isolante térmico e ação direta dos ventos, apresenta Calotropis procera E SUA DISPONIBILIDADE DE
fissuras ou sulcos que pode permitir a troca controlada FITOMASSA
com o meio, além de caule seroso que reduz o ataque de
insetos. Sua raiz pivotante e profunda proporciona a
retirada de água e nutrientes nas diversas camadas do solo. Uma característica que confere posição de destaque para
C. procera em relação a diversas espécies nativas e
naturalizadas na caatinga é sua capacidade de oferta de
PROPAGAÇÃO fitomassa durante todo ano. Segundo Abbas et al. (1992)
esta planta é um arbusto sempre verde e abundante nas
regiões áridas do Sudão.

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Andrade et al. (2008) encontraram em estudo realizado no e terpenos (Morcelle et al. 2004), além de componentes
Curimataú paraibano, valores médios de produtividade de celulares em solução ou em suspensão, dentre eles
MS de 164,5; 199,94 e 699,72 kg/ha no sistema de plantio núcleos, mitocôndrias, ribossomos e ácidos nucléicos
sem camalhão e 315,61; 351,95 e 533,36 kg/ha com (Lynn & Clevette-Radford, 1986). Apresenta ainda alto
camalhão, para 2,0 x 2,0 m, 1,5 x 2,0 m e 1,0 x 1,5 m, conteúdo de polímeros formados por unidades de isopreno
respectivamente, estes espaçamentos correspondiam a que originam a fração borracha, quando exposto ao ar,
6.666; 3.333 e 2.500 plantas por hectare, sendo o corte este é o seu constituinte químico principal (Mekkriengkrai
realizado após 60 dias de rebrota a 40 cm a cima do nível et al. 2004), sendo a fração livre de borracha, rica em
do solo. proteínas solúveis.
Em pesquisa realizada pela EMPARN (2004), foram Na C. procera foram detectadas proteínas não-
encontradas variações quanto à disponibilidade de enzimáticas, proteínas enzimáticas e cardenolídeos ou
MS/ha/corte, obtendo produção de 1 a 3 t MS/ha/corte, glicosídeos cardioativos (Akhtar et al. 1992; Melo et al.
aos 70 e 120 dias de rebrota, nos espaçamentos 1,0 x 0,20 2001).
m; 1,0 x 0,50 m e 1,0 x 1,0 m, com precipitação de 150 A ingestão de flores, folhas ou sementes de plantas que
mm. Os autores ainda ressaltam a perspectivas da contêm glicosídeos cardioativos poderá acarretar em
realização de três cortes ao ano com estimativa total de 9 t disfunção celular, interferindo na regulação da bomba
MS/ha/ano. sódio-potássio, resultando na diminuição da frequência
Em trabalho semelhante, realizado por Oliveira (2002) no cardíaca e aumento na intensidade na força de contração
município de Patos e Santa Luzia, semi-árido da Paraíba, do miocárdio, além de sintomas gastrointestinais como:
também com a finalidade de estimar a produção de náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia e anorexia.
fitomassa da C. procera em função de espaçamentos e da Atentando a overdose que levam a paradas cardíacas e
circunferência do caule, obteve em Patos: 49,40; 24,70 e morte (Vickery & Vickery, 1981).
12,30 t/ha de biomassa, no espaçamento de 0,5 x 0,5 m; Ramos et al. (2006) ao fracionar o látex desta espécie e
1,0 x 0,5 m e 1,0 x 1,0 m, respectivamente, aos 10 cm de procedendo a análise bioquímica parcial da fração
altura do solo e 103,20; 51,60 e 25,80 t/ha a 15 cm nos protéica, verificaram no estudo de digestibilidade in vitro,
mesmos espaçamentos. Já em Santa Luzia encontrou 26,0; através das enzimas tripsina, quimiotripsina e pepsina,
13,0 e 6,5 t/ha e 56,7; 28,3 e 17,2 t/ha, utilizando os percentuais de 18, 22 e 45%, respectivamente, mostrando
mesmos espaçamentos e as mesmas alturas de corte. que a proteína do látex (PL) é susceptível a digestão
No contexto atual de demanda de alimentos para as proteolítica.
diversas explorações animais na região semi-árida, o fator Pode-se encontrar também, diversas substâncias ativas a
produção é preponderante quando se visa à maximização exemplo de compostos fenólicos, saponinas, esteróis,
da eficiência dos sistemas de alimentação. Embora os triterpenóides, ésteres norditerpênicos, flavóides,
trabalhos indiquem baixa disponibilidade de matéria seca benzoilisolineolona, benzoilienolona, procesterol, hidróxi-
da C. procera, esta espécie requer mais estudos quanto a cetona esteriodal, estigmasterol, β-sitosterol, proceraína,
sua forma de produção, com destaque para o protease, cisteína estável, histamina, frugisida,
melhoramento genético através da seleção e propagação coroglaucigenina, corotoxigenina, uzarigenona e
de plantas mais produtivas visando incrementar esta deglucouzarina.
disponibilidade. Dessa maneira, diferentes partes da planta tem sido usadas
como fitoterápicos em muitas enfermidades na tradicional
medicina da Índia, como analgésicos, anti-inflamatórios,
ASPECTOS BIOQUÍMICOS E VALOR NUTRITIVO agentes purgativos, anti-helmínticos, anti-microbianos,
DA Calotropis procera larvicidas, nematicidas, anti-cancerígenos; no tratamento
das úlceras gástricas, nas doenças hepáticas e como
Heath et al. (1985) relatam que diversos aspectos são antídoto de envenenamento por serpentes (Khan & Malik,
decisivos para a qualidade da forragem dentre eles as 1989; Basu et al. 1991; Aktar et al. 1992; Hussein et al.
características próprias da espécie, o estádio de 1994; Tanira et al. 1994) e até mesmo na coagulação de
desenvolvimento da planta e a idade de corte, além da queijos (Adetunji & Salawu, 2008).
influência de fatores ambientais como clima e solo. Com relação aos parâmetros bioquímicos séricos, a
ingestão do C. procera pode alterar os níveis aumentando
a concentração de amônia, sódio, potássio, creatinina e
ASPECTOS BIOQUÍMICOS reduzindo as concentrações de proteínas totais, cálcio,
alterações nas atividades da sorbitol desidrogenase (SD),
O látex das plantas lactíferas é uma emulsão constituída glutamato desidrogenase (GD), inibição ou aumento
de proteínas, aminoácidos, carboidratos, lipídios, significante da atividade de anilina 4-hidroxilase e
vitaminas, alcalóides, carbonatos, resinas, gomas, taninos

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aumento nas atividades de aminopirina N-dimetilase Soares et al. (2005) utilizaram proteínas da fração solúvel
(Mahmoud et al. 1979a; El Sheikh et al. 1991). do látex da C. procera e realizaram aplicações de doses de
Mello et al. (2001) afirmaram não haver alterações nas 12,5; 25 e 50 mg/kg em ratos, após indução de dores a
concentrações das enzimas aspartato aminotransferase partir de ácido acético, formalina e placa quente.
(AST), alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase Constataram o efeito analgésico desta planta alcançando
alcalina (FA) em caprinos alimentados com feno de C. redução de 99,5 % nas constrições abdominais causadas
procera. pelo ácido acético quando receberam 50 mg/kg. Estes
Padhy et al. (2007) administraram diariamente, via oral, 5, autores também procuraram elucidar a relação deste poder
50 e 100 mg/kg de uma suspensão aquosa do látex da C. analgésico com receptores opióides (constituintes do
procera em ratos com hepatotoxicidade induzida através sistema nervoso central), através da aplicação de
do tetracloreto de carbono (CCl4). Verificaram redução naloxona, um antagonista opiáceo, e verificaram que
nos níveis de AST e ALT, dos mediadores inflamatórios mesmo na presença desta substância o efeito analgésico da
prostaglandina E2 (PGE2), além da diminuição e C. procera, não foi inibido, demonstrando sua
normalização dos níveis de ácido tiobarbitúrico (ATBR), independência do sistema opióide.
glutationa (GSH), superóxido dismutase (SOD) e
glutationa peroxidase (GPx) parâmetros bioquímicos do VALOR NUTRITIVO
estresse oxidativo. Os resultados demonstraram o efeito
positivo da C. procera como antioxidante e anti- Segundo Gerdes et al. (2000), o conceito do termo “valor
inflamatório, sugerindo também seu uso como agente nutritivo” refere-se à composição química da forragem e
protetor da hepatotoxicidade, pois atenuou as necroses do sua digestibilidade.
fígado em decorrência do aumento do α-fator de necrose Ao estudar os constituintes químicos de algumas
tumoral (α-FNT) ocasionado pelo CCl4. De acordo com plantas que possuem látex no nordeste da Índia,
Roy et al. (2005) a propriedade antioxidante do látex tem Kalita & Saikia (2004) encontraram a seguinte
sido atribuída aos cardenolídeos, lignanas e flavóides. composição química para C. procera (Tabela 1).

Tabela 1. Composição química da C. procera


Umidade Carbono Hidrogênio Nitrogênio Cinzas
Partes da planta
(%) (%) (%) (%) (%)
Folhas 85,3 36,8 6,27 3,83 1,26
Caule 58,4 43,5 6,37 1,43 0,82
Casca 84,5 37,8 5,83 2,03 1,02
Planta inteira 73,8 40,3 6,19 2,06 0,92

As folhas da C. procera apresentaram 94,62 % de MS e Cruz et al. (2007), com a planta in natura, caracterizando
19,46 % de PB, em análises bromatológicas realizadas por os taninos condensados e estimativas de correlações entre
Abbas et al. (1992) e Fall (1991) obteve valores de 72 % a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e a
para a digestibilidade da MS e 68 % para digestibilidade composição química de espécies forrageiras, encontraram
da MO. valores de 20,7; 40,6; 27,4; 13,2; 7,5; 0,3; 5,3; 16,1 e
Lima et al. (2005), avaliando a C. procera cultivada em 80,1% para PB, FDN, FDA, HE, LI, nitrogênio insolúvel
diferentes densidades de plantio, obtiveram teores de 10 e em detergente ácido (NIDA), EE, MM, DIVMS,
12% de MS e 20 a 22% de PB, nos espaçamentos de 1,0 x respectivamente. Neste trabalho, os autores destacam o
0,5m e 1,0 x 1,0m, respectivamente, com 70 dias de teor de PB e DIVMS, como valores promissores para
rebrota. utilização da flor-de-seda na alimentação animal.
Andrade et al. (2008), obtiveram para C. procera in De acordo com Touré et al. (1998) o feno da C. procera
natura os seguintes valores de composição bromatológica: apresentou 20,0; 15,9; 29,0; 2,6 e 0,22% de MM, PB,
23,25 % de matéria seca (MS); 86,69 % de matéria FDN, cálcio (Ca) e fósforo (P), respectivamente. A
orgânica (MO); 19,44 % de proteína bruta (PB); 3,61 % digestibilidade in vivo da MS variou de 50,0 a 61,1%.
de extrato etéreo (EE); 13,72 % de matéria mineral (MM); Marques et al. (2007) obtiveram valores de 90,78 % de
42,17 % de fibra em detergente neutro (FDN); 28,41 % de MS; 9,4 % de PB; 3,9 Mcal/kg de energia bruta (EB);
fibra em detergente ácido (FDA); 14,59 % de 56,01 % de FDN; 39,63 % de FDA; 12,55 % de MM; 2,6
hemicelulose (HE); 20,25 % de celulose (CE); 9,25 % de % de Ca e 0,22 % de P.
lignina (LI); 25,22 % de carboidratos não fibrosos (CNF) Segundo Lima et al. (2005) a silagem apresenta 39,57 %
e 65,5 de carboidratos totais (CHOT). de Matéria Seca (MS), 10,74 % de PB, 46,33 % de FDN,
30,09 % de FDA, 24,88 % de carboidratos não estruturais

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(CNE), 87,55 % de MO e 4,28 Mcal/kg de EB, obtendo digestibilidade in vivo que ao administrar doses de PL da
ainda coeficientes de digestibilidade da matéria seca fração livre de borracha, os animais não exibiram
(CDMS), da fibra em detergente neutro (CDFDN) e da toxicidade visível, mas que foi observada toxidade severa
proteína bruta (CDPB) valores de 71,23, 62,78 e 67,54 %, nos que ingeriram doses com o látex íntegro.
respectivamente. Segundo Sharma (1934) o látex promove sobre o coração
O tanino é um constituinte químico muito estudado nas dos mamíferos, aumento na força das contrações
forrageiras, devido seu fator anti-nutricional de sistêmicas e causa um persistente aumento na amplitude
adstringência e redução da digestibilidade protéica. De de contração e relaxamento dos átrios.
acordo com Touré et al. (1998) esta espécie apresenta 3,1 Ao ministrar o látex em carneiros e cabras em doses
% de tanino condensado na MS. No entanto, Mello et al. únicas ou múltiplas de 6-0,001 ml/kg, via oral,
(2001) e Cruz et al. (2007) afirmam não haver a presença intravenosa, intraperitoneal ou subcutânea, Mahmoud et
de taninos na C. procera. al. (1979b) observaram que em todas as vias, em ambas
espécies, houve morte e os animais apresentaram sinais
nervosos, micção freqüente, taquicardia e dispnéia, além
CONSUMO E ACEITABILIDADE de alterações patológicas no fígado, rins, coração,
pulmões, cérebro e intestinos.
A relação planta/animal em torno do consumo e Quando o látex da C. procera foi utilizado por Pahwa &
aceitabilidade é fundamental para validação de uma Chatterjee (1988) em Rattus rattus, na concentração de 5;
espécie vegetal quanto alimento de qualidade. A C. 7,5 e 10 (m/m) da ração (farinha de trigo, óleo de
procera por se tratar de uma planta lactífera pode reduzir amendoim e açúcares) até a mortalidade ou período
o consumo pelos animas, pois a presença do látex é uma máximo de 10 dias, obtiveram índices de mortalidade de
estratégia do sistema natural de defesa dessa planta contra 56,25; 68,75 e 87,5 % para as respectivas concentrações.
predadores. El Badwi et al. (1998) utilizaram o látex da C. procera em
Segundo Nehra et al. (1987) em trabalho conduzido em diferentes rotas de administração em caprinos.
condições áridas na Índia, observaram que o consumo das Verificaram que ao aplicarem 1 ml/kg de massa
folhas in natura da C. procera por caprinos, ovinos e corpórea/dia por via oral ou 0,005 ml/kg de massa
camelos foi baixo quando fornecida de forma exclusiva. corpórea/dia por intravenosa ou intraperitoneal, houve a
Mas, houve aumento no consumo quando picadas e morte das cabras entre 20 min e 4 dias. Porém, não
adicionadas a outros alimentos, sem a ocorrência de danos relatam mortalidade quando a dose de 0,005 ml/kg foi
aos animais. administrada via oral ou subcutânea.
Oliveira (2002) cita relatos da consorciação da C. procera, Mahmoud et al. (1979a) ao fornecerem as folhas frescas a
com Zizyphus mauritiana, Euphorbia tirucalli, Scattered ovinos observaram perda de apetite, diarréia, dispnéia e
faidherbia, em sistemas agroflorestais na Índia para alopecia, levando quatro animais a óbito dos cinco que
alimentação de bovinos em período crítico. receberam as folhas como alimento.
Mello et al. (2001) detectaram substâncias glicosídicas, Mossa et al. (1991) aplicando dose única (até 3g/kg) do
flavônicas, cardiotônicas e esteróides nas folhas da C. extrato etanólico das partes aéreas da C. procera em
procera. Estes autores afirmam que as folhas após picadas porquinhos-da-índia por período de até 90 dias,
e dessecadas perdem por volatilização algumas dessas observaram mortalidade significativa em comparação com
substâncias ativas, o que as torna menos tóxicas, o grupo controle.
proporcionando o consumo pelos animais. Segundo Lima et al. (2005), quando o consumo diário da
Lima et al. (2005) ao realizarem um estudo de inclusão da flor-de-seda, na forma in natura, representa em torno de
silagem da flor-de-seda na alimentação de ovinos, com 12, 82% do consumo da MS total, pode ocorrer toxidez.
24 e 36 horas de pré-secagem, constataram com base em Abbas et al. (1991) reportam que as folhas secas dessa
observações visuais que, nos dois primeiros dias, os espécie podem ser usadas na alimentação de caprinos, sem
animais com ingestão da silagem com 100 % de C. exceder 0,5 kg/dia ou misturadas a fenos de outras
procera apresentaram dificuldade de coordenação motora forrageiras, em até 50% do consumido.
principalmente com desequilíbrio dos membros Touré et al. (1998) fornecendo o feno da flor-de-seda em
posteriores. À medida que os animais se adaptaram às proporções de 0 a 75% na dieta de ovinos, afirmaram não
silagens, os sintomas se tornaram leves ou inexistentes. haver sinais de toxidez, histológicos ou lesões totais.
Resultados semelhantes foram encontrados por Khan &
TOXIDEZ E NÍVEIS DE INCLUSÃO NA DIETA Malik (1999) em que a ingestão diária das folhas
ANIMAL desidratadas de flor de seda, em até 60% na dieta de
caprinos, não causou alterações clínicas nem enzimáticas
Ao estudar as proteínas do látex (PL) da C. procera, séricas que inviabilizassem sua utilização como forragem.
Ramos et al. (2006) concluíram no estudo da

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Mello et al. (2001) ao substituírem na alimentação de A utilização da C. procera na produção animal é


caprinos adultos, o feno de “coast-cross” por feno de flor- promissora, no entanto ainda depende de estudos na área
de-seda em até 60 %, durante 40 dias consecutivos, não de sistema de produção para obter o máximo de
verificaram alterações clínicas e bioquímicas séricas nos produtividade que esta espécie possa disponibilizar; além
animais. de uma análise do seu aspecto bioquímico para
Madruga et al. (2008) estudaram a inclusão de diferentes identificação das substâncias ativas, bem como seus
níveis (0%; 16,7%; 33,3% e 50%) de feno de C. procera mecanismos e locais de atuação no animal.
na dieta de ovinos Santa Inês e registraram consumos de Faz-se necessário à realização de mais ensaios,
matéria seca em torno de 846,76; 910,33; 674,14 e 684,96 principalmente in vivo, para encontrar os níveis seguros a
g/dia e ganhos de peso de 170,03; 180,53; 96,78 e 22,90 serem utilizados por diferentes espécies através de
g/dia para os respectivos tratamentos. Relataram que o diferentes formas de oferta: in natura, feno ou silagem.
nível de 16,7% de feno da C. procera pode ser utilizado
na terminação de ovinos.
Por outro lado, esses autores comentaram que a dieta com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
50% desse feno afetou negativamente o desempenho dos
animais, resultando em baixo ganho de peso e reduzida
ingestão de matéria seca, além de fatores relacionados à
qualidade da carne, como a elevação do pH devido ao
insuficiente acúmulo de glicogênio no músculo, ABBAS, B.; EL-TAYEB.; SULLEIMAN, Y.R.
reforçando a hipótese de intoxicação pela presença de Calotropis procera: feed potencial for arid zones.
glicosídeos cardioativos e substâncias antinutricionais Veterinary-Record. v. 131, n. 6, p. 132, 1992.
presentes nesta forragem, os quais requerem energia para
serem removidos do organismo. ADETUNJI, V.O. & SALAWU, O.T. West African soft
Já Marques et al. (2007) avaliando o efeito de diferentes cheese ‘wara’ processed with Calotropis procera and
níveis (0, 33, 66 e 100 %) de feno de Flor-de-seda na dieta Carica papaya: A comparative assessment of nutritional
de cordeiros Santa Inês em substituição ao feno de sorgo values. African Journal of Biotechnology, v. 7, n. 18, p.
forrageiro, concluem que o nível de substituição de até 33 3360-3362, 2008.
% poderia ser utilizado sem prejuízo ao desenvolvimento
corporal dos animais e a qualidade da carcaça. AKHTAR, N.; MALIK, A.; NOOR-ALI, S.; KAZMI,
Para Lima et al. (2005), a silagem de C. procera pré-seca S.U. Proceragenin an Antibacterial Cardenolide from
após 12 horas, pode ser utilizada como alimento exclusivo Calotropis procera. Phytochemistry, v.31, n. 8, p.2821-
na dieta de ovinos, e o acréscimo da C. procera na 2824, 1992.
silagem, em mistura ao capim andrequicé, proporciona
aumento da disponibilidade de proteína e maior eficiência AMRITPHALE, D.; SHARMA, S. Learning foodchain
na utilização dos nutrientes pelos ovinos. with Calotropis procera. Resonance, n. 12, 67–75, 2007.
Estes autores fazem estas afirmações com base na
concentração do extrato na MS da silagem, na qual seria ANDRADE, M.V.M.; SILVA, D.S.; ANDRADE, A.P.;
necessário um consumo de 1.118 g de MS da silagem para MEDEIROS, A.N.; PIMENTA FILHO, E.C.; CÂNDIDO,
atingir o nível tóxico para o animal (144 g do extrato). O M.J.D.; PINTO, M.S.C. Produtividade e qualidade da flor-
estudo também considera a dose letal (DL50) para de-seda em diferentes densidades e sistemas de plantio.
camundongos a partir de 48 mg/10 g de PV, que resultou Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.1, p.1-8, 2008
em óbito de 50 % dos animais tratados.
Os estudos mostraram que as diferentes formas de BASU A.; SEN T.; RAY, R.N.; CHAUDHURI, A.K.N.
aplicação (oral, intravenosa, intraperitoneal ou Hepatoprotective effects of Calotropis procera root extract
subcutânea), bem como o período de duração da aplicação on experimental liver damage in animals. Fitoterapia, v.
ou consumo, têm influência quanto o grau de toxidez da 63, n. 3, p. 319-324, 1991.
C. procera, e que os processos de fenação ou ensilagem
mostram-se eficientes quanto a maximização de utilização CAMPOLUCCI, P. & PAOLINI, C. Desertification
pelos animais, devido a provável redução dos compostos control in the Sahel regions-low-cost large-scal
tóxicos. afforestatron tchnique. Centro di Sperimentazione
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CONCLUSÕES
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