Informações Hidrogeologicas Erosao Do Solo-Município Bauru
Informações Hidrogeologicas Erosao Do Solo-Município Bauru
Informações Hidrogeologicas Erosao Do Solo-Município Bauru
São Carlos
2009
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Antônio Röhm
UFSCAR
__________________________________________________________________
Prof. Dr. José Eduardo Rodrigues
EESC/USP
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Heraldo Luiz Giacheti
UNESP/Bauru – orientador
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram para que fosse possível concluir esse trabalho,
Aos amigos de longa data e aos que conheci durante o mestrado. Às taruíras, pelas
pacientemente.
no curso de mestrado.
dados pluviométricos.
ii
“Um homem não é grande pelo que faz, mas pelo que renuncia.”
Albert Schweitzer
iii
RESUMO
iv
ABSTRACT
This dissertation presents geotechnical site characterization results of an erosion process area,
in Bauru city, inland of São Paulo State, Brazil. The objective is to characterize the local soil
and define the major causing factors for the erosion process evolution, which initiated with
deforestation, soil sealing and discharge of pluvial and sewer water. The erosion turned huge
with an urban setting with inappropriate design and no drainage infrastructure jobs. This
phenomenon was studied by field observation, in situ and laboratory tests to establish a
mechanism to explain the erosion process. Young residual soils of sandstone, mature residual
soil weathered by pedogenetic processes and transported soils occur in the site.
Characterization, erodibility and mechanical tests were carried out on three typical and
distinct soils as well as SPT testing. The soils were classified as clayey sand with variable colors,
almost always in unsaturated condition. Erodibility test results from three different methods
classified the soils as very high erodibility, and Nogami and Villibor (1979) method was the
most interesting for the studied soil. Suction plays an important role in the shear strength and
soil saturation significantly reduced cohesion. Water is the trigging agent and the major
responsible for the erosive process evolution, even by superficial or groundwater flow. The
flow inside the soil mass changes the grain size distribution of the soil and also modifies their
properties. The evolution mechanism begins increasing the soil water content by the rain and
it can, in some places, reach soil saturation reducing shear strength turning cohesion equal to
zero. Since the soil is saturated and with water flow, it can loose its structure by piping, so it’s
easily detached and dragged along causing slope instability and evolution of erosion
process.
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Feições erosivas do tipo sulcos (Camapum de Carvalho et al., 2006) ............................................4
Figura 2. Vista geral de feições erosivas do tipo ravina (Ferreira, 2004) ..........................................................5
Figura 3. Feição erosiva do tipo voçoroca em Bauru (SP)................................................................................6
Figura 4. Representação do efeito da cobertura vegetal no processo erosivo (Prandini et al., 1976 apud
Jorge & Uehara, 1998)...........................................................................................................................................9
Figura 5. Classificação das encostas (Troeh, 1965 apud Moreira & Pires Neto, 1998) .................................10
Figura 6. Representação esquemática de modelo evolutivo de erosão em V e U (Camapum de
Carvalho, 2005)....................................................................................................................................................20
Figura 7. Detalhe da rampa do ensaio Inderbitzen com o anel fixado (Fragassi & Marques, 2001) .........22
Figura 8. Sistema com simulação do impacto da gota de chuva (Freire, 2001) .........................................24
Figura 9. Gráfico para avaliação da erodibilidade do solo segundo proposta de Nogami &Villibor (1979)
...............................................................................................................................................................................25
Figura 10. Equipamento do ensaio de penetração de cone (Alcântara & Vilar, 1998) .............................25
Figura 11. Gráfico para avaliação da erodibilidade do solo sugerido por Alcântara & Vilar (1998) ........26
Figura 12. Principais curvas de retenção de água para diferentes tipos de solos (Rodrigues, 2007) ........35
Figura 13. Principais áreas de processos geodinâmicos em São Paulo (IPT) ................................................37
Figura 14. Zonas de susceptibilidade à erosão em Bauru (IPT, 1994).............................................................42
Figura 15. Local de estudo..................................................................................................................................47
Figura 16. Vista geral do trecho erodido...........................................................................................................47
Figura 17. Ramificação da erosão em 2003 (Corghi, 2005)............................................................................48
Figura 18. Ramificação fechada com entulho e lixo orgânico em 2006......................................................48
Figura 19. Ramificação em 2002 (Corghi, 2005)...............................................................................................50
Figura 20. Avanço em 2003 (Corghi, 2005) .......................................................................................................50
Figura 21. Destruição das galerias em 2004 (Corghi, 2005).............................................................................50
Figura 22. Início do aterramento em 2004 (Corghi, 2005) ...............................................................................50
Figura 23. Ramificação aterrada e coberta com camada de solo em 2005 (Corghi & Giacheti, 2005) .51
Figura 24. Remoção da camada superficial de solo da região aterrada em 2006 ....................................51
Figura 25. Gabião destruído pela ação da água em 2003 (Corghi & Giacheti, 2005)...............................51
Figura 26. Início das obras em 2004 (Corghi & Giacheti, 2005) ......................................................................52
Figura 27. Início de 2005 (Corghi, 2005).............................................................................................................52
Figura 28. Canal aberto no início de 2005 (Corghi, 2005)...............................................................................52
Figura 29. Assoreamento do canal e erosão do talude no final de 2005 .....................................................52
Figura 30. Incisões no terreno ao lado do cachimbo em 2006 ......................................................................53
Figura 31. Duto entupido ....................................................................................................................................53
Figura 32. Escorregamento no local de afloramento de água em 2005 ......................................................53
Figura 33. Afloramento de água aterrado em 2006........................................................................................53
Figura 34. Local onde existia afloramento de água em 2008 ........................................................................54
Figura 35. Localização dos ensaios de campo, das amostras coletadas e dos pontos onde foram feitos
acompanhamento topográfico........................................................................................................................55
vi
Figura 36. Local de coleta da amostra 1 - Voçoroca..................................................................................... 56
Figura 37. Local de coleta da amostra 2 - Ravina........................................................................................... 56
Figura 38. Local de coleta da amostra 3 - Sulcos............................................................................................ 56
Figura 39. Aparelho do ensaio ATD e ATG........................................................................................................ 61
Figura 40. Saturação dos corpos-de-prova e detalhe do papel filtro em contato com o corpo-de-prova.
............................................................................................................................................................................... 63
Figura 41. Ensaio de funil de placa porosa para determinação da curva característica do solo............ 64
Figura 42. Equipamento Inderbitzen construído .............................................................................................. 67
Figura 43. Representação da perda de solo versus tensão cisalhante aplicada no ensaio Inderbitzen
(Lafayette et al., 2005) ........................................................................................................................................ 68
Figura 44. Ensaio de cone e heterogeneidade da amostra 3 (superior) e 1 (inferior) ................................ 70
Figura 45. Realização das sondagens de simples reconhecimento na área de pesquisa ........................ 71
Figura 46. Curvas granulométricas da amostra 1 com e sem defloculante................................................. 73
Figura 47. Curvas granulométricas da amostra 2 com e sem defloculante................................................. 73
Figura 48. Curvas granulométricas da amostra 3 com e sem defloculante................................................. 73
Figura 49. Resultado do ensaio ATD da amostra 1 .......................................................................................... 75
Figura 50. Resultado do ensaio ATD da amostra 2 .......................................................................................... 75
Figura 51. Resultado do ensaio ATD da amostra 3 .......................................................................................... 76
Figura 52. Resultado característico do ensaio ATG para uma das amostras estudadas ........................... 76
Figura 53. Curva característica da Amostra 1 ................................................................................................. 77
Figura 54. Curva característica da Amostra 2 ................................................................................................. 78
Figura 55. Curva característica da Amostra 3 ................................................................................................. 78
Figura 56. Resultados do ensaio Inderbitzen para a amostra 1 ..................................................................... 79
Figura 57. Resultados do ensaio Inderbitzen para a amostra 2 ..................................................................... 79
Figura 58. Resultados do ensaio Inderbitzen para a amostra 3 ..................................................................... 80
Figura 59. Resultado típico da curva de absorção de água para determinação do coeficiente angular
............................................................................................................................................................................... 81
Figura 60. Resultado típico da curva compressão edométrica na condição natural e inundada (Am. 3)
............................................................................................................................................................................... 83
Figura 61. Determinação do tempo para ocorrer 100% do adensamento primário (t100) com base no
resultado do ensaio de compressão edométrica da amostra 3 para tensão vertical de 100 kPa........... 85
Figura 62. Curvas típicas do ensaio de cisalhamento realizado em uma das amostras ensaiadas ......... 85
Figura 63. Envoltória de resistência e respectivos parâmetros de resistência para a amostra 1 na
condição natural e inundada ........................................................................................................................... 86
Figura 64. Envoltória de resistência e respectivos parâmetros de resistência para a amostra 2 na
condição natural e inundada ........................................................................................................................... 86
Figura 65. Envoltória de resistência e respectivos parâmetros de resistência para a amostra 3 na
condição natural e inundada ........................................................................................................................... 87
Figura 66. Resultado obtido da sondagem 2................................................................................................... 88
Figura 67. Perfil longitudinal interpretado a partir do resultado das sondagens 1, 2 e 5............................. 89
Figura 68. Amostras de solos em cápsulas de umidade coletadas na sondagem 1 .................................. 89
vii
Figura 69. Representação esquemática da evolução do processo erosivo no local 1 da área estudada
...............................................................................................................................................................................90
Figura 70. Escorregamentos sucessivos observados em campo....................................................................91
Figura 71. Superfície resistente do talude no seu topo....................................................................................92
Figura 72. Solo escorregado no pé do talude no local de levantamento topográfico 2...........................92
Figura 73. Formação de canais devido ao fenômeno de erosão interna retrogressiva.............................93
Figura 74. Gráficos para interpretação do ensaio Inderbitzen para a amostra 1 .......................................98
Figura 75. Gráficos para interpretação do ensaio Inderbitzen para a amostra 2 .......................................98
Figura 76. Gráficos para interpretação do ensaio Inderbitzen para a amostra 3 .......................................99
Figura 77. Ábaco com resultados dos ensaios de absorção de água para avaliação da erodibilidade
das amostras estudadas ...................................................................................................................................100
Figura 78. Ábaco com resultados dos ensaios de penetração de cone para avaliação do grau de
erodibilidade do solo ........................................................................................................................................ 101
Figura 79. Influência da sucção na resistência para a amostra 1 ............................................................... 103
Figura 80. Influência da sucção na resistência para a amostra 2 ............................................................... 103
Figura 81. Influência da sucção na resistência para a amostra 3 ............................................................... 103
Figura 82. Perfil transversal interpretado a partir do resultado das sondagens .......................................... 105
Figura 83. Variação da granulometria ao longo do perfil transversal ......................................................... 106
Figura 84. Variação do pH ao longo do perfil transversal à erosão ............................................................ 107
Figura 85. Perfis de sondagem obtido a partir da sondagem 2................................................................... 108
Figura 86. Escorregamento em fatias devido ao fluxo de água na base do talude no local de coleta da
amostra 1............................................................................................................................................................ 109
Figura 87. Representação do avanço do processo erosivo por mês observado com levantamentos
topográficos em ponto mais crítico do Local 1 ............................................................................................. 110
Figura 88. Representação da precipitação acumulada por mês no local estudado.............................. 110
Figura 89. Escorregamento por alívio de pressão e solapamento da base ............................................... 112
Figura 90. Representação do mecanismo de instabilização ....................................................................... 114
viii
LISTA DE TABELAS
ix
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................................................1
4 – METODOLOGIA ............................................................................................................................55
x
4.4.3 – Penetração de cone .........................................................................................................69
4.5 – Ensaios de campo ....................................................................................................................70
5 – RESULTADOS ..................................................................................................................................72
xi
1 – INTRODUÇÃO
Um problema recorrente causado pela ação antrópica é a erosão urbana, que vem
Bauru, localizada no interior de São Paulo, sofre com fenômenos de erosão e, por isso,
foi escolhida como local para o desenvolvimento desse trabalho. O principal fator que
influencia o início do processo erosivo na cidade é a ação antrópica, que ocorre através do
medidas corretivas realizadas não levaram em conta as feições do terreno e, por isso, foram
atingidas e destruídas. Esse fato foi verificado na execução dos aterros, utilizados somente
para fechar as ramificações existentes, e dos taludes laterais ao leito do córrego, de grande
Além disso, observa-se que na maioria dos locais afetados não houve preocupação
corretivas.
encontrado na área em estudo e determinar quais são os principais fatores que atuam em
1
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 – Erosão
solo, rochas ou fragmentos causado pela ação da chuva, do vento, de organismos (animais
e plantas) ou do gelo, que atua na expansão do material no qual se infiltra a água depois
congelada (Salomão & Iwasa, 1995 apud Infanti Junior & Fornasari Filho, 1998).
Os fenômenos erosivos podem ser causados por fatores naturais (erosão natural) e
por ação antrópica (erosão acelerada), como distinguem Infanti Junior & Fornasari Filho (op.
do solo.
processo, aliada ao fato de que as erosões, mesmo em regiões próximas, podem não
A água é o principal fator dinâmico no processo erosivo, sendo responsável por sua
acelerados pelo uso e ocupação do solo. Infanti Junior & Fornasari Filho (op. cit.) explicam
que o processo erosivo é deflagrado pela chuva através do impacto das gotas, que
2
provoca a desagregação das partículas, e o escoamento superficial é responsável pela
remoção e transporte.
solo têm o tamanho reduzido devido à sua desagregação e, além disso, são deslocadas
processo erosivo. Pode ocorrer de forma pontual ou na forma de uma linha bem
instabilização e carreando as partículas do solo. A liquefação dos sedimentos dos pés dos
(Rodrigues, op. cit.). A parcela de água que escoa na superfície é classificada como laminar
A erosão laminar é causada pelo escoamento difuso das águas das chuvas,
1990), lateralmente ou em pequenos filetes, que são evidenciados por tonalidades mais
claras dos solos e pelo abaixamento da cota do terreno. Geralmente ocorre em locais com
pouca ou nenhuma vegetação. Não há um limite definido que separe a erosão laminar da
3
2.1.1.2 – Erosão linear
Já a erosão linear é causada pela concentração das linhas de fluxo das águas de
sulcos, que se aprofundam formando ravinas e, posteriormente, voçorocas (Infanti Junior &
Fornasari Filho, 1998). Há várias classificações que separam os estágios da erosão linear, pois
Sulcos
além de possuir ruptura das bordas na superfície do terreno (Ferreira, 2004; DAEE/IPT, 1990).
(Figura 1). Esse tipo erosivo pode, algumas vezes, não ser percebido até que interferir no
Ravinas
forma alongada e seção em “V”, não atingindo o nível d’água (Figura 2). Normalmente,
4
(1987) cita que a maior concentração de ravinas, bem como de voçorocas, que ocorre no
podzólicos).
Voçorocas
fazendo com que o ravinamento atinja grandes dimensões, dando-se a esse fenômeno o
nome de voçoroca (Infanti Junior & Fornasari Filho, 1998). No início do processo do
características permitem fácil distinção, tais como: a presença comum de água no fundo
freático, adquire uma seção em U devido aos fenômenos de piping e transporte fluvial de
massas recém descalçadas (Guidicini & Nieble, 1976 apud Rodrigues, 1982).
5
O escorregamento se processa através da movimentação de massas achatadas, em
taludes com inclinação de 60º a 80º (Guidicini & Nieble, op. cit.). Rodrigues (1982) explica
que sua ocorrência pode estar relacionada a pontos particulares, como contatos, fraturas,
se desenvolve. Além disso, o recente rebaixamento no nível da base da voçoroca pode ser
desenvolvimento do piping. Rodriques (op. cit.) também salienta que esse tipo erosivo é
importante no alargamento da feição, uma vez que a liquefação nos sopés do talude
alguns casos, a uma ramificação. Numa fase senil, a remoção do material é menor e nota-
se uma estabilização gradual do leito, em conjunto com um pequeno curso d’água em seu
atinge o nível de base local, em geral comandado pela rede de drenagem ou por
6
Rodrigues (1982), em seus resultados, salientou a ocorrência de um pequeno
Segundo Ferreira et al. (1993) é muito comum no Estado de São Paulo encontrar
taludes formados em sua parte mais superficial por solos mais evoluídos pedologicamente,
como os latossolos e, inferiormente, por solos saprolíticos. Embora não se possa generalizar,
já que existem solos lateríticos com baixa resistência à erosão e nota-se um comportamento
saprolíticos subjacentes.
encontram misturados na fração areia desses solos. Entretanto, nos horizontes saprolíticos
não se nota esse benefício além de haver mecanismos subsidiários que agravam a erosão,
o solo e a natureza do substrato rochoso. Tais fatores não podem ser entendidos como
composições possíveis.
Ellison (1947, apud Alcântara & Vilar, 1998) descreve como agentes erosivos da
& Villibor (1995) explicam que a erosividade é caracterizada, sobretudo, pela chuva
principais é o impacto das gotas, que causa a fragmentação dos agregados, que faz com
que o seu deslocamento seja facilitado. Quando a quantidade de água é maior que a
ocasionando a erosão laminar. Também ressaltam que há uma grande variedade de tipo
relativamente curto.
Vegetação
aumento da infiltração devido à maior porosidade do solo causada pelas raízes e aumento
8
da capacidade de retenção de água por efeito da produção e incorporação de matéria
orgânica pelo solo, como mostrado na Figura 4. O equilíbrio entre vegetação e solo é
escoamento superficial.
Figura 4. Representação do efeito da cobertura vegetal no processo erosivo (Prandini et al., 1976 apud
Jorge & Uehara, 1998)
Cabe ainda à vegetação a função de reter e aglutinar o solo por ação das raízes, o
que implica um aumento da coesão aparente. Trata-se então de uma proteção mecânica,
que inclusive contribui para deter outros processos de instabilização de maciços, como
(piping).
Relevo
que interferem na velocidade do escoamento superficial (Infanti Junior & Fornasari Filho,
9
1998). Assim, nos locais em que esses fatores são maiores, a velocidade do fluxo também é
analisadas porque há uma relação entre o espaçamento das linhas de talvegue, que
Figura 5. Classificação das encostas (Troeh, 1965 apud Moreira & Pires Neto, 1998)
côncavo, ocorre deposição. A evolução dos perfis ao longo do tempo mostra que a
tendência dos perfis convexo e retilíneo é tornarem-se côncavos com taxas decrescentes
forma da encosta sobre a erosão pode trazer implicações práticas relevantes no projeto de
transporte do fluxo. Há uma tendência à evolução para um perfil côncavo, com redução
da carga de sedimento erodida ao longo do tempo, o que leva a uma idéia de um perfil de
10
equilíbrio para as encostas sujeitas á erosão pela chuva, que pode variar dependendo do
Vilar (op. cit.) também analisou que, para superfícies com inclinações superiores a
máximo e depois decresce com o aumento da inclinação. A erosão total de uma área
tende a crescer com a distância, visto que as vazões aumentam. Esse acréscimo de erosão
deve estar associado ao acréscimo da erosão nos sulcos, já que se tem observado que a
Ação da Água
Alcântara e Vilar (1998) comentam que a erosão causada pela ação da água é um
conjunto de fatores que causam destacamento do solo e seu transporte, podendo ser
influenciada pelo homem e ligada ao clima. Além disso, consta que a erodibilidade é um
através dos seguintes mecanismos: impacto, que provoca a desagregação das partículas,
produzidos, formando depósitos de assoreamentos (Infanti Junior & Fornasari Filho, 1998).
Vilar (1987) explica que a ação fundamental da gota consiste em minar a resistência
do solo e deixar as partículas soltas, de forma que o fluxo pode facilmente levá-las sem
grande gasto de energia. O trabalho erosivo é máximo quando o solo está recoberto por
uma película de água de espessura igual ao diâmetro seu diâmetro. A gota ao chocar-se
gota pode provocar a compactação e o selamento da superfície. A água que atinge o solo
11
superficial, que apresenta feições extremamente complexas. Em pequenas áreas, o fluxo
gradiente, que pode ser tanto para jusante, como para as laterais. Pequenas variações de
existência de dois tipos de fluxo, o superficial e o subterrâneo, descritos por Ferreira et al.
(1993).
processo erosivo.
12
Substrato Rochoso
principais áreas de ocorrência de boçorocas no país (Infanti Junior & Fornasari Filho, 1998).
Solo
destacam-se e são transportadas e é um dos fatores que contribuem para a erosão do solo,
dois, de uma forma simplificada, variam em sentidos contrários, isto é, quanto maior a
utilizadas as metodologias propostas por: Inderbitzen (1961), que avalia a erosão causada
por escoamento laminar; Nogami & Vilibor (1979), com o ensaio de absorção de água e
Alcântara & Vilar (1998) avaliaram a erodibilidade de alguns solos do estado de São
diferentes comportamentos frente à erosão. Além disso, os autores também verificaram que
13
• Baixa a nenhuma – Aparência estável sem ocorrência de sulcos ou ravinamento
grandes sulcos. Presença de ravinas localizadas com forma similar aos sulcos, mas
Porém, a erodibilidade do solo obtida por métodos indiretos, nem sempre é capaz
Ensaios simples, que permitam avaliar mesmo que qualitativamente a erodibilidade dos solos,
Segundo Bertoni & Lombardi Neto (1985, apud Infanti Junior & Fornasari Filho, 1998),
enxurradas no solo e na coesão entre partículas. A estrutura ou arranjo das partículas afeta
textura arenosa são normalmente porosos, o que permite uma alta infiltração de chuva e
diminui o escoamento superficial. Porém, são mais facilmente erodidos, pois possuem
Vilar (1987) explica que os sedimentos arenosos que recobrem vastas áreas do
14
características mecânicas quando compactados. Porém, em condições naturais, ao
surgimento de enxurradas pela rápida saturação dos horizontes superiores e solos arenosos,
seus horizontes. A cor do solo reflete as variações dos conteúdos de matéria orgânica, sílica
pela acumulação de matéria orgânica. As migrações de argila e ferro podem torna o solo
partículas do maciço.
superfície de materiais arenosos, tanto em solos como em rochas, ocorre uma cimentação
das partículas de areia por sílica, óxidos e hidróxidos de ferro e argilominerais. A observação
dos sedimentos modernos, não apenas em várias boçorocas como também em taludes de
15
mobilização da sílica e ferro pela água que percola o sedimento. A ascensão dessa água
mostraram que este processo de cimentação superficial se desenvolve com relativa rapidez
partículas pequenas, como argilas e siltes, os grumos podem ser maiores e mais pesados que
as partículas individuais. Assim, eles oferecem maior resistência ao transporte pelo fluxo.
Além disso, grumos formados por argila e silte tendem a apresentar densidades próximas às
das partículas individuais, enquanto nos grumos formados por partículas maiores, as
argilas e matéria orgânica, em virtude da ligação preferencial dos íons de hidrogênio nas
solos, que, uma vez perdida, possibilita a ação dos processos erosivos (Guerra et al., 2007).
deflagração dos processos erosivos, rompendo o equilíbrio natural do meio físico e fazendo
com que a erosão natural local seja acelerada na busca de um novo equilíbrio.
16
Dessa maneira, favorece o aparecimento de feições de ravinas e voçorocas, as
quais são bastante freqüentes no Estado de São Paulo, tanto em áreas urbanas como em
rurais. A indução dessa forma erosiva por obras como loteamentos e estradas é enorme, pois
além de desproteger o solo, provocam concentrações de fluxo. Além disso, essas obras
sistemas apropriados de condução das águas, o problema pode ter origem no ponto de
lançamento das águas captadas. Os incrementos das vazões, por ocasião das chuvas
intensas, aliados às alterações no nível freático, fazem com que a dinâmica do processo
seja acelerada.
drenagem na parte central, à medida que as águas pluviais descem essas “ladeiras”, sua
dos loteamentos, tanto quanto as ruas horizontais, quase paralelas às curvas de níveis, ficam
privadas de sistemas de drenagem na maioria dos casos. O destino final das águas das
enxurradas é o fundo de vale, que passa a ser assoreado (Iwasa & Fendrich, 1998).
Os custos para a correta reabilitação das áreas degradadas são muito elevados e,
necessárias.
17
Corghi & Giacheti (2005) citam que as maiores voçorocas ocorridas em Bauru são
primeiras áreas a serem afetadas pelo processo erosivo são as institucionais destinadas à
região próxima às Áreas de Preservação Ambiental, onde são necessários gastos maiores
com dissipadores de energia de águas pluviais. A manutenção e custeio dessas obras ficam
estrutura.
brasileiros. Na região de Bauru, no interior do Estado de São Paulo, são encontrados solos
grande porte, provocadas pela inadequada ocupação do meio físico. Muitos municípios do
conseqüência das erosões, devido ao seu enorme poder destrutivo, criando danos ao meio
Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 1994), certas regiões são mais
18
regime das precipitações. Exemplos clássicos de áreas degradadas por erosões urbanas, em
regiões sedimentares da bacia do rio Paraná, são encontrados nas cidades de Assis, Bauru e
Marília. IPT (op. cit.) estima que existam no Estado de São Paulo em torno de 3.000 erosões,
Futai (2002) cita que a gênese do processo pode ocorrer pela evolução da erosão
evolução, o autor explica que a influência do fluxo subsuperficial é maior quando o lençol
rios. Além desses fatores, Cavaguti (1995) cita a ausência de estruturas de dissipação de
energia nos pontos de descarga, que causam a concentração do efeito. O autor também
explica que depois de atingir o lençol freático o processo intensificasse e torna-se complexo,
resultam na evolução das vertentes. Nessa fase são facilmente observáveis erosão à
montante (recuo das cabeceiras) e surgimento de novos ramos. A maioria dos locais
para a jusante.
quantidade de chuva com maior erosão, isto nem sempre ocorre, sob qualquer condição.
As regiões de maior precipitação no globo terrestre, geralmente estão recobertas por maior
vegetação, como nas regiões tropicais úmidas. Além disso, a relação entre carência de
vegetação e erosão não é linear. Em regiões parcialmente cobertas por vegetação, nota-
19
se que a erosão não cresce proporcionalmente com a área desprotegida. Entretanto,
também a intensidade e duração dos eventos. Almeida Filho & Ribeiro (1995) analisaram a
primavera e verão e normalmente escassas nos demais, podendo ocorrer nos períodos
secos de inverno.
eclosão e evolução das erosões, como o indicado na Figura 6. Mortari (1994) afirma que o
geotécnicas e estruturais da região e, além disso, que inicialmente o processo erosivo tem a
20
sendo parte do solo carreado pelo escoamento superficial e a parte remanescente no pé
do talude é solapada pela saída da água. Ao secar, o talude volta a estabilizar, porém
propiciada pela ocupação. Boa parte das erosões é formada em cabeceiras de drenagem
planejamento urbano, colaboram para que Bauru possua vários pontos de erosão.
problema torna-se cada vez maior e, além disso, o município é adepto a prática de aterrar
suas erosões com entulho gerando uma série de danos ambientais pela falta de critérios
de erosões decorre dos seguintes aspectos: ocupação de encostas a partir da baixada sem
loteamentos projetados de maneira inadequada feita sem critérios técnicos que levassem
Mortari (1994) afirma que o mecanismo de evolução das erosões está associado às
21
Caracterização
como a expansão do solo), índice de plasticidade, entre outros, pois são fatores que influem
na capacidade do solo resistir ou não a erosão. Para essa finalidade podem ser citados os
ensaios de granulometria conjunta, limites de consistência e massa específica dos solos. Sua
larga utilização se deve ao fato da fácil execução e interpretação dos resultados, além de
Erodibilidade
se e são transportadas. Esse é um dos fatores que contribuem para a erosão do solo
em 1961), Nogami & Villibor (1979) com o ensaio de absorção de água, Alcântara & Vilar
do solo. Seu procedimento básico consiste em fixar um anel cilíndrico contendo uma
amostra de solo em uma rampa de inclinação variável (Figura 7). O escoamento de água
na rampa provoca erosão no solo, que pode ser avaliada através da massa das partículas
Figura 7. Detalhe da rampa do ensaio Inderbitzen com o anel fixado (Fragassi & Marques, 2001)
22
Santos & Merschmann (2001) destacam as limitações de aplicabilidade do ensaio
impacto das gotas de chuva no solo, representando locais com pouca vegetação ou
desprovidos dela.
solo, para isso, o fluxo de água foi lançado em forma de gota diretamente sobre o corpo-
de-prova (Figura 8). Através dos resultados, observou que houve um aumento considerável
chuva, fato esse que modifica a classificação do solo em relação ao seu potencial erosivo
parâmetros de resistência.
Sobre o mesmo ensaio, Mendes (2006) explica que, após o início da saturação, há
instante e, retomada do aumento de perda de solo em seguida. Ele explica que o fato
carreando-as.
23
Figura 8. Sistema com simulação do impacto da gota de chuva (Freire, 2001)
Bastos (1999) sugere que os solos mais erodíveis apresentam taxa de erodibilidade
superiores a 0,1 g/cm2/min e que os solos mais resistentes à erosão apresentam valores
inferiores a 0,001 g/cm2/min. Para concluir, Inderbitzen (1961) cita que esse ensaio indica
somente o quão rápido um solo irá erodir sob condições diferentes de compactação,
inclinação e vazão. Também explica que os resultados devem ser considerados de forma
absorção d’água e perda de massa por imersão em corpos de prova. Para avaliar a
absorção e da perda de massa seca. Nesse ensaio, anota-se o volume de água absorvido
pelo corpo de prova em função do tempo por cerca de 1 hora. Após, realiza-se o ensaio
de perda por imersão (Pi) por um período de 24 horas. Os corpos-de-prova são moldados a
Nogami & Villibor (1979) propõem um limite no qual E=52S/P, amostras acima dessa
relação são classificadas como de alta erodibilidade (Figura 9). Porém, Pejon (1992) realizou
pesquisas e sugeriu o limite de 40S/P. É importante ressaltar que tais limites foram definidos a
24
Figura 9. Gráfico para avaliação da erodibilidade do solo segundo proposta de Nogami &Villibor (1979)
natural (Pnat) e a penetração após a saturação por uma hora (Psat), e da variação limite
(DPlimite) indicada por Alcântara & Vilar (1998). Para valores de DP maiores que DPlimite, a
erodibilidade é alta; caso contrário, ela é baixa, como pode ser observado na Figura 11.
Figura 10. Equipamento do ensaio de penetração de cone (Alcântara & Vilar, 1998)
25
100
80
Alta erodibilidade
60
DP (%)
40
DP = 4,5 Pnat
20 Baixa a nenhuma
erodibilidade
0
0 2 4 6 8 10 12 14
P nat (mm)
Figura 11. Gráfico para avaliação da erodibilidade do solo sugerido por Alcântara & Vilar (1998)
grandes sulcos. Presença de ravinas localizadas com forma similar aos sulcos, mas
Perfilagem estratigráfica
Como o perfil das camadas de material inconsolidado pode variar com o local, pois
do local erodido, bem como as propriedades dos solos envolvidos, e assim conhecer a
Para definição do perfil estratigráfico podem ser realizados ensaios de campo como
26
Lima et al. (2001) utilizaram sondagens de simples reconhecimento e ensaios de
verificaram que o percentual de argila diminui com a profundidade, enquanto ocorre uma
voçoroca, ocorre uma diminuição da fração argilosa, mantendo os maiores percentuais nos
de Lafayette et al. (2005), que verificou diferente graus de alteração e oxidação do ferro ao
longo de um perfil longitudinal ao processo erosivo. Dessa maneira, pode concluir que a
areia superficial presente ocorre devido a uma formação existente no local e encontra-se
simples reconhecimento.
intemperismo ocorrido.
Em locais onde o processo está evoluído, pode-se observar o perfil do solo nos
27
avaliação da estabilidade, auxiliando o estudo de como se dá o processo de evolução do
fluxo de água. Isso também pode ser definido a partir de algumas sondagens de simples
erosivo, tais como:, ângulo de atrito interno, coesão e condutividade hidráulica. O ensaio de
cone mecânico, porém é constituído por uma única peça, que possui células-de-carga
durante a cravação (U), bem como registrar sua dissipação quando se para a cravação.
CPT/CPTU, bem como as correlações para estimativa dos parâmetros geomecânicos terem
sido desenvolvidas para solos sedimentares de regiões temperadas e ainda não terem sido
De Mio (2005). A vantagem desse ensaio é o detalhamento do perfil do terreno com rapidez,
estudo de processos erosivos. Vilar (1987) menciona os ensaios de natureza física, como:
28
granulometria, plasticidade, peso específico dos sólidos, umidade equivalente; além
taxas de infiltração, umidade, expansão e profundidade dos horizontes de solo para avaliar
(1979).
Agena & Saad (1995) fizeram um estudo da erodibilidade para a prevenção dos
bases e das porosidades no solo de Bauru para planejamento de uso do solo. Também
solo local. Já Futai et al. (2005) estudaram a evolução de uma voçoroca com ensaios de
triaxiais e permeabilidade.
paisagem terrestre. A atuação lenta e contínua dos processos erosivos traduz-se por
homem altera esse processo natural, diminuindo, ou como é mais comum, aumentando sua
intensidade. Parte das partículas erodidas pode continuar agregada mesmo com a ação
do fluxo de água, característica do processo erosivo. O autor explica que contribuem para
29
a agregação das partículas, além da argila, a matéria orgânica, os cátions divalentes
erosão é maior e tende a decrescer nos eventos subseqüentes. Essa variação tem sido
creditada à retirada de finos pelos agentes de transporte, de forma a haver uma menor
geralmente ocorre por redução de declividade, como nas porções terminais da encosta, ou
pela presença de obstáculos que alteram o fluxo, como a vegetação (Vilar, op. cit.).
Além disso, Vilar (op. cit.) cita que algumas explicações plausíveis para o
gota de chuva, além de destacar partículas de solo, também compacta alguns tipos de
solos, formando crostas, mais resistentes e menos permeáveis. Em conjunto com a ação
mecânica da gota, podem ocorrer também diversos processos químicos, que se traduzem
(saprolitos).
erosão pela chuva, caracteriza-se pelo fato de que nem sempre é possível distinguir se as
superfícies de solos laterizados, uma vez expostas, comumente vêem-se protegidas por uma
30
secagem-umedecimento não é simples de se quantificar, além de provocar nos solos
do maciço pela água que percola e que posteriormente é evaporada. Há uma distinção
dos resultados, concluiu que os sedimentos das voçorocas apresentam baixos valores de
compacidade, de ângulo de atrito e de coesão e que os dois últimos podem sofrer redução
com a percolação de água. Além disso, o autor observou que os sedimentos arenosos de
granulação fina são os que apresentam maior susceptibilidade à erosão e o arraste das
partículas pelo lençol freático, bem como a liquefação do solo do pé do talude, são os
principais eventos para a evolução lateral das voçorocas. Já sobre a ciclagem do solo,
observou que ela contribui para o desenvolvimento de trincas paralelas aos taludes e que
principal da mesma.
taludes rodoviários freqüentemente apresentam instabilidades e uma das razões pode ser a
diferença nas condições de tensões induzidas nos taludes convexos e côncavos. Hoek (1972,
apud Queiroz, 1986) explicou que em um talude côncavo, a forma arqueada tende a
induzir tensões laterais de compressão, que aumentam a tensão normal através de planos
escorregamento. Por outro lado, a relaxação das tensões laterais, no caso de taludes
31
potencial e, em casos extremos, podem ocorrer aberturas de sistemas de juntas verticais em
não são suficientes para caracterizar o comportamento de solos erodíveis. Muitas vezes o
quando inundados. Por isso, sugere que a classificação quanto à colapsibilidade do solo
deveria considerar também o estado de tensões e parâmetros de estado do solo, que pode
(2004) explica que na condição não inundada, a curva carga versus recalque é variável em
praticamente nula). Devido a isso, pode-se concluir que a avaliação do colapso do solo
pode variar com o tempo, logo o solo pode ser classificado como colapsível e não
Futai (op. cit.) também ressalta a necessidade de classificação específica para solos
classificações tradicionais. O autor reuniu informações obtidas por vários trabalhos, além de
simulações através dos softwares SEEP e UNSAT2 para estudo de um processo erosivo.
talude, pois ocorre saída de água pelo pé da voçoroca. Segundo os autores, os resultados
geometria do mesmo. O talude volta a estabilizar depois de seco, porém novas chuvas
Ferreira & Pejon (2007) verificaram que a instalação e propagação das voçorocas
32
desencadeamento o índice pluviométrico, a erodibilidade dos materiais geológicos
superficial, agindo como deflagrador ou intensificador dos processos. Por fim, destacam a
importância da evolução dos processos erosivos em áreas urbanas como ferramenta útil no
Porém, nos climas tropicais úmidos, esse fenômeno é freqüente. Nogami & Villibor (1995)
explicam que, caso a infiltrabilidade for maior que a precipitação pluviométrica, a erosão
não ocorrerá.
proporciona grandes alterações estruturais, fazendo com que o efeito das tensões iniciais
e/ou da rocha na sua estrutura seja removido. Além disso, complementa que os solos
cimentação dos solos intemperizados interferem na inclinação dos taludes, fazendo com
diferente aos das premissas clássicas da Mecânica dos Solos. As complexidades dos solos
não-saturados são muito grandes, pois a interação sólidos-água-ar e suas interfaces traz
enormes dificuldades, tanto analíticas quanto de controle durante os ensaios. Nesse sentido,
33
entrada de ar em muito contribuíram com os ensaios, nos quais se busca o controle da
a água está sob a condição de uma pressão subatmosférica, ou sucção, cujo gradiente de
potencial pode ser considerado como uma força tratora. Outra diferença importante é que
Vilar et al. (1995) ressalta que prevalece a opinião de que a sucção matricial
bem definido em Libardi (1995). Outro ensaio útil é o de papel filtro, no qual a sucção é
papel filtro para determinar o valor de sucção. Outro fato influente nos resultados é a
A curva de retenção de água nos solos tem sido muito utilizada no estudo de solos
não saturados, uma vez que é a única forma de relacionar a sucção com um índice físico
do solo, A Figura 12 mostra as principais curvas de retenção para diferentes tipos de solos.
A curva com distribuição de poros bimodal possui dois pontos de inflexão, isto é, duas
pelos vazios entre agregados e/ou grãos maiores, e pelos microporos, formados no interior
dos agregados. A forma da curva depende da trajetória do ensaio, que basicamente são
34
Figura 12. Principais curvas de retenção de água para diferentes tipos de solos (Rodrigues, 2007)
Futai (2002) explica que as deformações induzidas ao solo modificam sua curva
característica, pois alteram a quantidade, tamanho e distribuição dos vazios. Dessa forma, a
estrutura do solo é que determina a forma da curva. Assim como Futai (op. cit.) será
matricial.
destaca que um dos mecanismos de ruptura é causado pela rápida redução da sucção
matricial devido à infiltração nas encostas e ao avanço da frente de saturação, que pode
provocar uma perda de coesão aparente. Logo, segundo o autor, é muito importante
Dessa forma, analisou que no fluxo de água em meio saturado o produto lixiviado é
carregado para fora do maciço e, no fluxo em meio não saturado, ocorre uma tendência
desse produto se depositar e acumular a partir da face dos taludes, devido a fatores como
35
3 – A CIDADE DE BAURU
regional é formado em sua maioria (65%) por colinas amplas e suaves, com solos residuais de
arenitos das Formações Marília, Adamantina, do Grupo Bauru, e Cenozóicas, com textura de
humana. Cavaguti (1994) estudou erosões lineares na cidade e explica que, com o
evolução observado em Bauru ocorreu em 1993, ano em que a chuva foi o principal agente
partes da cidade. Além disso, grande impacto ambiental ocorreu nos locais de deposição
de vida fizeram necessário decretar estado de calamidade pública nesse mesmo ano.
Bauru. Na segunda, encontra-se a maior parte da área urbana e, logo, as áreas mais
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Observa-se nessa figura, que a cidade de Bauru
(ponto vermelho) encontra-se numa área com predominância de erosão, fato esse de
36
Figura 13. Principais áreas de processos geodinâmicos em São Paulo (IPT)
Almeida Filho (2000) explica que a distribuição de chuvas no Estado de São Paulo
está associada ao domínio das massas tropicais (continentais e marítimas) e polares, com
cita que o clima de Bauru é tropical de altitude (CWA), ocorrendo temporais violentos com
relativamente secas, faz com que haja uma intensa lixiviação dos finos do horizonte
superficial, formando um solo com uma estrutura porosa e permeável, normalmente com o
também são colapsíveis. As temperaturas são altas e relativamente estáveis no ano todo. Já
37
nesse tipo de clima. As precipitações máxima e mínima ocorrem em janeiro e julho,
em janeiro, enquanto as mínimas são verificadas no mês de julho, bem como suas médias. A
do fenômeno, pois chuvas de pouca intensidade contínuas podem erodir maior quantidade
de solo do que uma torrencial de pouca duração. Várias pesquisas tentaram determinar o
limite de intensidade a partir do qual a erosão inicia-se, porém não se obteve um valor final
São Paulo quase todo o Planalto Ocidental onde predominantemente se assentam sobre os
basaltos da Formação Serra Geral. Sugere que a seqüência estratigráfica é a que subdivide
o grupo nas Formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina, Marília e Itaqueri. Dentre essas,
Segundo IPT (1981, apud Queiroz, 1986), a Formação Adamantina (Grupo Bauru)
ocorre por vasta extensão do oeste do estado de São Paulo, constituindo os terrenos da
maior parte do Planalto Ocidental, só deixando de aparecer nas porções mais rebaixadas
dos vales dos principais rios, onde já foi removida pela erosão.
Conforme De Mio (2005) a Formação Adamantina está presente nos vales e porções
com presença de arenitos finos e muito finos, podendo localmente apresentar cimentações
38
estratificação cruzada de pequeno e médio porte. A porção superficial desses sedimentos
foi submetida a intenso intemperismo tropical, podendo estar presente colúvio, apesar da
fluvial meandrante e, na parte inferior dessa formação, a drenagem era pouco organizada
entre rios e em áreas isoladas com indicações de maior compartimentação tectônica que a
intensa concentração de óxidos de cálcio, contribuindo para a fertilidade dos solos nessas
existem bolsões sem a presença desse cimento, o que causa grandes problemas em obras
seus flancos devido à erosão. A união dos corpos coluvionares ao sopé das escarpas gera
et al., 1993).
39
O sedimento cenozóico é produto do retrabalhamento dos materiais do Grupo Bauru
e das Formações Serra Geral e Botucatu através de pequeno transporte em meio aquoso e
selecionadas, o que lhe garante uma estrutura muito porosa. São freqüentemente
inferior a 10 metros e acima do nível d’água. A textura do solo pode ser arenosa ou argilosa,
metros, porosos, com aspecto maciço, porém friável quando seco, apresentam grande
poros, são típicos de áreas planas, colinas suaves e de topos de morrotes com declividade
estabilidade natural e baixa tendência aos problemas geotécnicos, desde que não
rapidamente podem evoluir para ravinas, atingir o lençol freático e se tornar boçorocas de
40
podzólicos: são solos profundos, bem desenvolvidos, heterogêneos, e com clara
erosivos são mais intensos. Em geral, são mais frágeis que os latossolos, revelando médio a
vegetal. Em conjunto, latossolos e podzólicos recobrem mais de 70% do estado de São Paulo.
arenoso que passa abruptamente para um horizonte subsuperficial (B) argiloso e deste para
do horizonte superficial uma camada com maior concentração de argilas, que formam
uma barreira à infiltração das águas e, conseqüentemente, o fluxo de água logo abaixo da
Agena & Saad (1995) definiram classes de susceptibilidade potencial dos solos de
condutividade hidráulica elevadas com drenagem vertical livre, com índice de incidência
de ravinas menor que 30 e de voçorocas menor que 15, com ocorrência de ravinas,
sobretudo em cabeceiras de nascente e raras voçorocas provocadas pelo mau uso do solo.
41
topo (declividades <6%, como na primeira classe), média a forte nos perfis B de meia
no terço inferior, declividade entre 12% e 20% , onde ocorrem ravinas e voçorocas. O sistema
afloramento de rocha/ Litossolo/ Brunizem/ solo com B textural nas vertentes e sopés dos
morrotes e escarpas, com declividades elevadas engloba outras duas classes. A drenagem
índices de incidência de ravinas e voçorocas são altos (superiores a 50), indicando grande
assoreamento.
Conforme Carta Geotécnica elaborada pelo IPT (1994), a cidade possui como
superficial, a muito alta. As classes de susceptibilidade estão mais bem detalhadas nos
42
3.3.1 – Susceptibilidade muito alta
Tipologia e descrição
não conservacionista.
declividades entre 10% e 20%. Ruptura de declive na encosta. Solo podzólico vermelho-
amarelo com textura areno-argilosa ou arenosa média, transição nítida ou abrúptica entre
horizontes A e B, gradiência textural A/B, horizonte A com estrutura porosa e B com estrutura
encosta.
43
Aspectos do uso do solo
Observações complementares
Esta unidade recobre quase 25% do estado e concentra a ocorrência de 80% das
erosões. É a porção mais crítica, que engloba as regiões de Presidente Prudente, Marília,
Tipologia e descrição
águas pluviais associado ao uso do solo (urbano, viário, etc.). Voçorocas de grande porte
44
formam-se pelo aprofundamento de ravinas e interceptação do nível d’água, alargando-se
d’água.
loteamentos, de estradas, ferrovias e obras civis é a causa principal destes processos. Nas
urbana.
45
Instalar sistemas adequados de drenagem das águas superficiais,
Observações complementares
do Rio Bauru é a mais crítica entre as existentes na cidade, apesar da predominância das
declividades suaves, pois áreas com declividades de 6%-12% e 12%-20% são as que
terraplenagem.
da Água Comprida, afluente do Rio Bauru, em uma região cercada por loteamentos
residenciais.
46
Figura 15. Local de estudo Figura 16. Vista geral do trecho erodido
Optou-se por esse local, pois apesar das várias restrições ambientais exigidas pelos
residencial Chácara Odete, ele apresentou problemas erosivos nas áreas de preservação
permanente.
Observa-se que o agravamento das erosões existentes não se justificou apenas pelos
processo erosivo aumentou devido à falta de rigor técnico ao se lidar com reparos de danos
responsabilidade sobre o ocorrido. Por fim, a erosão cresceu vertiginosamente desde que se
vem acompanhando o processo, que data do segundo semestre de 2003 (Figura 17).
47
A erosão na área verde foi licenciada para servir de bolsão de entulho (Figura 18),
procurado pela maioria dos caçambeiros, devido à boa localização da área. Porém, como
Figura 17. Ramificação da erosão em 2003 Figura 18. Ramificação fechada com entulho e
(Corghi, 2005) lixo orgânico em 2006
orgânico foi jogado em seu interior, devido à pouca fiscalização no local. A instalação de
outro loteamento próximo desse residencial, não coincidentemente, colabora para que
mais matéria orgânica, principalmente galhos de árvores, seja jogada no interior do bolsão
de entulho.
48
ocorre em maior intensidade, pois o lixo apresenta alta permeabilidade e de menor
área é considerada inadequada para construção, devido aos recalques citados acima.
Além disso, o local fica contaminado pelo chorume exudado e pelo lixo, resultando em
dissipadores de energia previstos ao final das tubulações dos sistemas de drenagem, o que
acabou por agravar consideravelmente o processo erosivo, que constava de uma pequena
contenção do processo, com ênfase à correção das obras já instaladas e atingidas pelas
chuvas.
processo principal.
Tal ramificação, devido suas grandes dimensões, foi aterrada principalmente com
entulho de construção e coberta com uma camada de solo. Uma vez que o local não foi
revegetado após o aterro, o solo da superfície foi removido por erosão laminar. Apesar disso,
Figura 19. Ramificação em 2002 (Corghi, 2005) Figura 20. Avanço em 2003 (Corghi, 2005)
Tubulação
Entulho
Figura 21. Destruição das galerias em 2004 Figura 22. Início do aterramento em 2004 (Corghi,
(Corghi, 2005) 2005)
50
Figura 23. Ramificação aterrada e coberta com Figura 24. Remoção da camada superficial de solo
camada de solo em 2005 (Corghi & Giacheti, da região aterrada em 2006
2005)
foram utilizadas no controle do processo erosivo principal, porém não suportaram a ação da
Figura 25. Gabião destruído pela ação da água em 2003 (Corghi & Giacheti, 2005)
Um dos fatores responsáveis foi o fato das medidas corretivas não levarem em conta
as feições do terreno, fato esse verificado pela execução de aterros somente para
pequena inclinação até o nível do terreno, a fim de garantir a estabilidade. Além disso,
51
observa-se que na maioria dos locais afetados não houve preocupação com a influência
Figura 26. Início das obras em 2004 (Corghi & Figura 27. Início de 2005 (Corghi, 2005)
Giacheti, 2005)
Figura 28. Canal aberto no início de 2005 Figura 29. Assoreamento do canal e erosão do
(Corghi, 2005) talude no final de 2005
52
Figura 30. Incisões no terreno ao lado do Figura 31. Duto entupido
cachimbo em 2006
sulcos nos taludes laterais (Figura 32). Como o seu avanço colocava em risco o limite do
Residencial Tavano, o local foi aterrado com solo de outras localidades seguindo o nível do
terreno imposto pelas construções locais (Figura 33). Dessa forma, o afloramento de água foi
Figura 32. Escorregamento no local de Figura 33. Afloramento de água aterrado em 2006
afloramento de água em 2005
53
Figura 34. Local onde existia afloramento de água em 2008
processo erosivo (como paliçadas, diques, aterros e barragens) não são eficientes,
54
4 – METODOLOGIA
foram escolhidos os ensaios a serem realizados de modo que permitissem a análise do tipo
mesmos, classificar o solo quanto à sua erodibilidade e avaliar o efeito do fluxo de água no
consistência, índices físicos, adsorção de azul de metileno, análise térmica diferencial (ATD),
Em duas áreas, o avanço do processo erosivo no tempo foi avaliado com auxílio de
Figura 35. Localização dos ensaios de campo, das amostras coletadas e dos pontos onde foram feitos
acompanhamento topográfico.
55
4.1 – Coleta de amostras
Ide (2006) com material coletado na área em diversos pontos do processo erosivo
classificaram o solo como areia média a fina argilosa, com limites de consistência baixos,
erodibilidade do tipo penetração de cone (Alcântara & Vilar, 1998) e absorção de água
A partir desse estudo, foram selecionados três locais típicos e neles foram coletadas
amostras deformadas e indeformadas (Figura 35). Estes locais foram escolhidos devido à
representa um tipo estágio da erosão linear: sulco (Am. 3), ravina (Am. 2) e voçoroca (Am. 1),
Figura 36. Local de coleta da amostra 1 - Figura 37. Local de coleta da amostra 2 - Ravina
Voçoroca
56
A Amostra 1 foi retirada de um solo residual jovem com características da rocha
em local com solo intermediário entre jovem e maduro, heterogêneo, porém sem
principalmente por quartzo, a pouca mica e feldspato existentes praticamente não são
identificados. Além disso, esses minerais sofrem maiores alterações que o quartzo, que é
4.2 – Caracterização
termogravimétrica diferencial (ATG), ∆pH e curva característica (papel filtro e funil de placa
deixado em repouso úmido. Após o repouso, transferiu-se a mistura para o dispersor e bateu
realizaram-se as leituras nos tempos 1, 2, 3, 5, 9, 15, 30, 60, 120, 240 e 480 minutos. O ensaio
seguiu o procedimento da norma da ABNT NBR 7181/84. Também foram realizados ensaios
57
4.2.2 – Limites de consistência
Limite de Liquidez
Após seco ao ar, o solo foi passado na peneira #40 (0,42mm) e no almofariz.
Colocou-se sobre a placa de vidro cerca de 100g do material adicionando água suficiente
alisou-se a superfície com a espátula. Abriu-se um sulco (1mm) com o cinzel ao longo do
número de golpes necessários para fechar a ranhura. Retirou-se cerca de 15g de solo junto
Limite de Plasticidade
água destilada suficiente para formar uma pasta. Sobre a placa de vidro esmerilhada, rolou-
se o solo com a mão. Pelo procedimento do ensaio, o mesmo deveria ter sido interrompido
fissuras no mesmo, mas devido ao solo não plástico, isso não foi possível. A metodologia de
Foram feitas determinações de três índices físicos dos solos estudados, de massa
específica dos sólidos, do teor de umidade e de massa específica dos solos em laboratório.
A massa específica dos sólidos foi determinada segundo a NBR 6508/84 colocando-
58
aproximadamente, a metade do mesmo (500cm3 a 20°C). Para expulsão do ar contido na
presentes nas amostras de solo. A metodologia seguida foi a de Pejon (1992), cuja
A amostra deve ser previamente seca ao ar até seu peso ficar constante. Pesa-se
passar pelo agitador magnético por durante três minutos, adiciona-se 1 ml da solução de
azul de metileno ao béquer e cronometra-se o tempo. O agitador deve ser mantido ligado
constante por 3min, em seguida é retirada uma gota da suspensão com o bastão de vidro e
Caso o teste seja negativo (não apresentar um anel mais claro ao redor), o
procedimento é repetido quantas vezes forem necessárias para que se atinja o ponto onde
o teste seja positivo. Ao se atingir este ponto, aguarda-se mais 3 minutos e realiza-se
59
novamente o teste para a confirmação. Se for positivo o ensaio está encerrado. Caso seja
inerte (óxido de alumínio), com registros das transformações endo ou exotérmicas da argila
amostra a ser analisada. Os materiais devem ser levemente compactados, para que se
do ensaio. Nos ensaios executados foi adotada uma variação de 12,5°C/min e temperatura
para este fim e sua realização é contínua até o final sem a interferência do laboratorista.
(Santos, 1989).
(ATG) é a mesma utilizada para o ATD. O aparelho utilizado para a análise de ATD e ATG
60
Figura 39. Aparelho do ensaio ATD e ATG
utilizada foi de 50g para 125ml de água ou KCl, que foi posteriormente agitada por 30min.
Após, a solução foi deixada em repouso por 60min e, assim, foram realizadas as medidas de
ou seja, ele possui maior capacidade de absorção de cátions. Já para resultados maiores
que zero, as cargas positivas são predominantes. Nesse último caso, o teor de oxi-hidróxidos
de ferro e alumínio é maior que o de argilominerais, o que ressalta o fato do solo estar em
do papel filtro e do funil de placa porosa. Inicialmente, pretendia-se realizar somente ensaios
61
saturação, ou seja, para sucções muito baixas. Devido ao fato, o ensaio de funil de placa
porosa foi realizado porque permite definir os valores de umidade correspondentes a baixos
para o estudo de solos não saturados porque permite relacionar um índice físico do solo
Papel filtro
A sucção matricial foi determinada pelo método do papel filtro, descrito por Marinho
por 24 horas sobre uma placa porosa em um recipiente com água destilada até a metade
de sua altura. Cada um foi seco ao ar até atingir o valor massa desejado, que corresponde
a certa umidade escolhida previamente. Após isso, foram embalados com papel filtro
Whatman n° 42 em ambas as faces da amostra (Figura 40), de modo que o papel só ficasse
em contato com o solo. Para garantir o contato, discos de PVC foram dispostos sobre o
papel. O conjunto foi embalado com papel filme e deixado em ambiente isolado
de-prova. Para que a umidade do papel não fosse afetada, o que causaria mudanças no
matricial do solo (Ψ) utilizando-se as equações propostas por Chandler et al. (1992).
para wp ≤ 47%:
62
Com os pares de pontos de sucção por umidade foi determinada a curva de
retenção do solo com auxílio do software RETC® e ajuste proposto por Van Genutchen
(1980).
Figura 40. Saturação dos corpos-de-prova e detalhe do papel filtro em contato com o corpo-de-
prova.
flexível através do qual se impõem gradientes de altura pela redução ou elevação do nível
d’água de um reservatório acoplado ao funil (Rodrigues, 2007). Proposto por Libardi (1995),
esse ensaio impõe sucção no solo colocando-se uma amostra saturada sobre a placa
porosa e rebaixando o nível d’água do reservatório até o nível desejado, de forma que
ocorra drenagem por um furo no reservatório, lembrando que o sistema deve estar saturado
63
Figura 41. Ensaio de funil de placa porosa para determinação da curva característica do solo
os seguintes estágios de carga; 3,6; 7,2; 14,8; 25; 50; 100; 200; 400 e 800kPa. Em cada estágio,
na NBR 12007/90.
64
4.3.2 – Cisalhamento direto
seguido é descrito por Stancati et al. (1981). A velocidade de ensaio utilizada foi de 0,3mm/s.
Pelas características dos corpos-de-prova considera-se que esse ensaio é do tipo lento.
4.4 – Erodibilidade
se e são transportadas, fator que contribui para a erosão do solo, principalmente pela ação
MCT (absorção de água e perda por imersão) e penetração de cone, descritos a seguir.
4.4.1 – Inderbitzen
autor propôs uma rampa de 0,33m de largura por 1,30m de comprimento e declividade de
10°, na qual percola-se uma vazão de 50ml/s. A amostra, nivelada com a superfície da
65
rampa, possui 100mm de diâmetro e é embebida por 15 minutos, a fim de anular o efeito de
eventuais forças de sucção presentes no estado natural. A duração dos ensaios realizados
foi de 20 minutos com a utilização de peneiras n° 50, 100 e 200. O autor sugere ainda que os
gráficos sejam expressos em perda acumulada de solo (g/cm2) versus tempo de duração
(min).
Além disso, Santos (1997, apud Ramidan, 2003) sugeriu uma modificação na largura
da rampa, de modo que esta deveria ter o diâmetro do corpo-de-prova, assegurando que
todo o fluxo de água passe sobre a amostra. Em conseqüência, a vazão nesse ensaio foi
Dessa forma, o equipamento construído e utilizado nessa pesquisa (Figura 42) é uma
avaliação da erodibilidade do solo tanto pela ação da gota, como pelo escoamento
Como as dimensões da rampa propostas por Fácio (1991) eram muito grandes para
a adaptação do sistema que simula o impacto da gota, elas foram reduzidas para 500mm
de-prova, o qual possui altura de 5cm. As peneiras utilizadas foram as de n° 50, 100 e 200. A
vazão de ensaio foi mantida no padrão de Fácio (1991), ou seja, foi de 50ml/s.
ângulos de inclinação (15° e 31°). Além disso, elas foram analisadas em inclinações variáveis
às de campo, para possibilitar a comparação. A inclinação de 50° foi utilizada, pois existem
66
a) representação esquemática b) realização do ensaio
ação das gotas de chuva. As gotas foram distribuídas de forma a caírem somente sobre o
corpo-de-prova e, nesse caso, não houve escoamento laminar, ou seja, toda a vazão foi
direcionada à simulação da ação da chuva. Antônio (2007) explica que a máxima chuva
Porém, não foi possível reproduzir o fenômeno, pois a vazão necessária é muito baixa e
inviável ao equipamento desenvolvido. Por isso, foi mantida a vazão de 50ml/s utilizada no
Mendes (2006) observou que a maior perda de solo nos primeiros cinco minutos do
ensaio, vindo a se estabilizar próximo a 10 minutos. Porém, como outros trabalhos mostraram
que essa estabilização pode não ocorrer, dependendo do tipo de solo analisado, a
duração do ensaio realizado foi de 30 minutos, seguindo proposta de Santos (1997, apud
Ramidan, 2003). Assim, foi possível uma maior caracterização da curva perda de solo pelo
tempo.
67
Ramidan (2003) estudou uma voçoroca causada pela remoção de uma camada de
solo argiloso em Itumbiara-GO. Entre os ensaios para avaliar a erodibilidade do solo, utilizou
o Inderbitzen e verificou que a maior quantidade de perda de solo ocorre nos 5 minutos
iniciais de cada ensaio. Por isso, as peneiras utilizadas foram trocadas em 1, 5, 10, 20 e 30
minutos, permitindo uma melhor definição da curva no início de ensaio, que é quando
cisalhante aplicada (τH). A partir do ajuste das retas são identificados os parâmetros de
Figura 43. Representação da perda de solo versus tensão cisalhante aplicada no ensaio Inderbitzen
(Lafayette et al., 2005)
τH = γ.h.d (3)
68
4.4.2 – Absorção de água e perda por imersão
d’água e perda de massa por imersão de corpos-de-prova miniatura (Nogami & Villibor,
1979). Nesse ensaio, mede-se o volume de água absorvido pelo corpo de prova em função
do tempo, por cerca de 1 hora. Logo após, realiza-se o ensaio de perda por imersão por um
água absorvido dividido pela área do corpo-de-prova e a raiz do tempo (Figura 59). Para
avaliar a erodibilidade do solo é utilizado um gráfico de perda por imersão (Pi) versus índice
de absorção. Nogami & Villibor (1995) propõem um limite no qual E=52S/Pi, amostras acima
dessa relação são classificadas como de alta erodibilidade. Porém, Pejon (1992)
desenvolveu pesquisas nas quais sugere o limite de 40S/Pi. É importante ressaltar que os
Nogami & Villibor (op. cit.) estudaram solos do estado de São Paulo e Pejon estudou solos da
Nesse ensaio (Figura 44), os corpos-de-prova foram ensaiados com peso em forma
de cone de 300g liberado a 10mm de altura do corpo de prova. Para cada anel moldado,
foram feitas 9 leituras de penetração e, assim, fez-se a média dos corpos de prova em
condição natural (Pnat) e dos saturados (Psat). Foram moldados 6 corpos de prova de cada
amostra no campo, tendo assim 3 com as características do solo natural e 3 saturados por
uma hora.
69
por Alcântara e Vilar (1998), obtida pela equação 5. Para valores de DP maiores que
DP = (Psat-Pnat)/Pnat (4)
para descarte das leituras não foi levado em conta, pois desconsiderava uma grande
medida do SPT (Figura 45), conforme ABNT NBR 6484/01, por uma empresa contratada para
esse fim. Assim, foi possível representar o perfil longitudinal e transversal às bordas do
processo, além de amostras de solo com a profundidade para análise das características do
70
Figura 45. Realização das sondagens de simples reconhecimento na área de pesquisa
71
5 – RESULTADOS
5.1 – Caracterização
de consistência, massa específica dos sólidos, azul de metileno, ATD/ATG, ∆pH e curva
característica.
defloculante dos três amostras de solos ensaiados. Verifica-se que todas as amostras são
classificadas como areia média a fina pouco argilosa, apesar da Amostra 3 apresentar
cerca de 4% a mais de finos nas curvas com defloculante (Figura 48). Observa-se que, nas
72
Figura 46. Curvas granulométricas da amostra 1 com e sem defloculante
73
5.1.2 – Limites de consistência
umidade e massa específica dos sólidos. Os resultados obtidos para massa específica dos
informações possíveis. A partir da massa de solo seco e do volume de azul utilizados, pode-
resultado para 100g de solo. Os resultados obtidos para as três amostras ensaiados são
apresentados na Tabela 4.
74
Tabela 4 – Resultados do ensaio de adsorção de azul de metileno
75
Figura 51. Resultado do ensaio ATD da amostra 3
resultados dos ensaios ATD. Tal fato pode ter ocorrido devido à presença de contaminantes
no solo local. A Figura 52 mostra um gráfico característico obtido para o ensaio ATD de uma
Figura 52. Resultado característico do ensaio ATG para uma das amostras estudadas
5.1.6 – ∆pH
A Tabela 5 mostra os resultados de ∆pH obtidos, todos com valores negativos, logo,
há uma predominância de cargas negativas. No entanto, não se pode afirmar que estas
76
Tabela 5 – Valores de pH obtidos e resultados
Para uma melhor definição da curva de retenção das amostras estudadas, foram
utilizados resultados do ensaio de funil de placa porosa em conjunto com o de papel filtro.
pelo Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos, representada como uma linha tracejada
A distribuição, obtida através dos ensaios, apresenta duas pressões de entrada de ar,
chamado de bimodal, sendo a primeira parte (umidades mais altas) caracterizada pelos
macroporos, formados pelos vazios entre agregados e/ou grãos maiores, e a segunda pelos
microporos, formados no interior dos agregados, conforme descrito por Rodrigues (2007).
77
Figura 54. Curva característica da Amostra 2
5.2 – Erodibilidade
metodologias de: Inderbitzen (1961) como ensaio de mesmo nome, de Nogami & Villibor
(1979) com o ensaio de absorção de água e de Alcântara & Vilar (1998) com o ensaio de
78
5.2.1 – Inderbitzen
com a ação da gota (b), realizados separadamente. Cada amostra foi ensaiada em 3
inclinações diferentes (15°, 31° e 50°). Os gráficos estão expressos em termos da perda de
solo acumulada (g/cm2) por tempo (minutos). Verifica-se a tendência de estabilização das
perdas de solo em cerca de 10 minutos de ensaio, que está de acordo com os resultados
79
a) escoamento laminar b) gota
Figura 58. Resultados do ensaio Inderbitzen para a amostra 3
solo, apesar de todos possuírem a mesma textura. Os resultados obtidos com as três peneiras
(#50, #100 e #200) com cada inclinação encontram-se no APÊNDICE A. Também não é
Pode-se verificar uma tendência ao aumento da perda de areia média conforme cresce a
inclinação da rampa, tanto para o escoamento laminar, quanto para a ação da gota na
amostra de solo. Entretanto, esses resultados devem ser considerados como parciais, pois
por Nogami & Villibor (1979), com o ensaio de absorção de água e perda por imersão. A
curva de absorção (S) de cada corpo-de-prova, como na Figura 59. Os valores dos
coeficientes obtidos foram então relacionados com a perda imersão dos mesmos corpos-
80
de-prova após a absorção da água. Na Tabela 6 estão apresentados os resultados de vários
Figura 59. Resultado típico da curva de absorção de água para determinação do coeficiente angular
81
5.2.3 – Penetração de cone
limites de leitura mínima e máxima de ±5% da leitura média não foram considerados, pois
ensaiados apresentaram resultados distintos dos outros ensaios realizados para avaliar a
erodibilidade dos solos estudados. Isso ocorre porque alguns valores de DP obtidos foram
foram realizados para avaliar o histórico de tensões dos solos estudados. As tensões de pré-
condição natural foi sempre maior que na condição saturada, conforme ilustrado na Figura
60. Dessa forma, o aumento da umidade do solo provoca uma redução na contribuição da
82
Tabela 8 – Tensão de pré-adensamento para as amostras nos estados natural e inundado
σ'ad
Amostra Característica
(kPa)
Natural 32,0
1
Inundada 17,0
Natural 28,0
2
Inundada 5,5
Natural 30,5
3
Inundada 21,0
Figura 60. Resultado típico da curva compressão edométrica na condição natural e inundada (Am. 3)
algumas amostras coletadas não foi possível talhar os corpos-de-prova cilíndricos, porque o
solo era muito arenoso. Por isso, os ensaios de cisalhamento direto foram realizados para
esse fim.
A velocidade máxima a ser utilizada em um ensaio drenado, ou seja, para que não haja
ensaio de compressão edométrica, conforme sugere Gibson & Henkal (1954, apud Head,
83
t f = 12,7 × t100
(6)
realizado na amostra 3, apresentada na Figura 61. Assim sendo, com t100 foi igual a 0,203
minutos, tem-se:
A velocidade máxima de ensaio (Head, 1982) para que não se gere poro-pressão é
dada por:
εf ×L
Vmáx =
100 × t f
(7)
10 × 60
Vmáx = = 2,3mm / min
100 × 2,57
0,30 mm/min, muito inferior a máxima permitida para que não se gerasse poro-pressão, para
possibilitar as leituras visualmente por um único operador. Assim, esses ensaios podem ser
tensões efetivas.
deslocamento horizontal são apresentadas na Figura 62. Cada curva corresponde a uma
tensão vertical (em kPa) a qual o corpo-de-prova foi submetido, como pode ser observado
84
na legenda. As envoltórias de resistência estão apresentadas na Figura 63 a Figura 65,
Figura 61. Determinação do tempo para ocorrer 100% do adensamento primário (t100) com base no
resultado do ensaio de compressão edométrica da amostra 3 para tensão vertical de 100 kPa.
Figura 62. Curvas típicas do ensaio de cisalhamento realizado em uma das amostras ensaiadas
85
Figura 63. Envoltória de resistência e respectivos parâmetros de resistência para a amostra 1 na
condição natural e inundada
86
Figura 65. Envoltória de resistência e respectivos parâmetros de resistência para a amostra 3 na
condição natural e inundada
ângulo de atrito (Tabela 9). Esse comportamento é característico para solos arenosos.
Tabela 9 – Parâmetros de resistência para as três amostras ensaiadas na condição natural e inundada
Ensaios transversais à borda do talude foram realizados a fim de avaliar a influência do fluxo
87
de água no talude longitudinalmente e transversalmente. A localização desses ensaios está
Observa-se, nessa figura, que o perfil de solo é arenoso, mas com presença de camadas
mais argilosas. Nessa sondagem, o nível d’água foi encontrado a cerca de 3,5m de
profundidade. Os valores de NSPT indicam um ressecamento nos primeiros metros (NSPT igual a
11, no primeiro, e 8, no segundo metro) e depois este diminui para valores entre 2 e 8 a
profundidades entre 3 e 9m. A partir de 10m de profundidade, o NSPT aumenta entre 16 e 42,
88
Figura 67. Perfil longitudinal interpretado a partir do resultado das sondagens 1, 2 e 5.
de sondagens de simples reconhecimento (Figura 67). Tal variação pode ser notada
também na Figura 68, que possibilita analisar a variabilidade de cor do solo com a
89
5.4.3 – Observação da evolução do processo erosivo no campo
O avanço do processo erosivo no tempo foi avaliado realizando levantamentos
área. No local 2, no qual há um processo de ravinamento, a evolução não foi nítida, tanto
nas observações de campo, como no monitoramento topográfico. Por isso, o avanço nesse
escorregamento ocorre nos locais onde há uma concentração do fluxo de água superficial
(Figura 69).
Figura 69. Representação esquemática da evolução do processo erosivo no local 1 da área estudada
Pode-se observar que houve um avanço de cerca de 4,3m entre os meses de junho
e abril de 2009 e que este avanço não é linear. A evolução não foi representada em todos
os meses que foram feitas medidas, pois alguns não apresentaram avanços significativos das
bordas do talude.
90
Na observação de campo realizadas nas várias excursões realizadas na área foi
possível verificar trincas de retração paralelas às bordas dos taludes, as quais são caminhos
Em alguns casos, com a cimentação superficial (como observado nos ensaios SPT) e a
vegetação, é formada uma camada muito resistente, em torno de 50mm, que não é
removida inicialmente pelo fenômeno citado. Dessa maneira os taludes nesses locais são
negativos no topo, como mostra a Figura 71. Entretanto, essa camada mais resistente é
91
Figura 71. Superfície resistente do talude no seu topo
estudadas se deu por escorregamento do solo dos taludes (Figura 72). Verifica-se ao lado da
talude causados pelo fenômeno de erosão interna retrogressiva, que carreia as partículas
92
Figura 73. Formação de canais devido ao fenômeno de erosão interna retrogressiva
93
6 – ANÁLISE DOS RESULTADOS
6.1 – Caracterização
O perfil de solo obtido através da sondagem SPT é característico de locais nos quais
ocorre deposição de sedimentos com valores de NSPT baixos, com variação de textura e cor.
Em geral, os perfis apresentam valores de NSPT entre 2 e 11 golpes até 12m de profundidade.
Após essa profundidade, os solos se tornam mais resistentes com NSPT aumentando para
O solo predominante encontrado nas sondagens SPT é uma areia com pequena
quantidade de finos (silte e/ou argila). Além dele, camadas de argila de até 5m de
espessura são verificadas no perfil. Os solos têm textura e cor que variam muito, ressaltando
interpretado com base nos resultados de 3 ensaios SPT. Apesar da grande distância entre os
furos tenta-se representar esse perfil, o que não foi tarefa fácil devido à dificuldade de
representação dos horizontes de materiais que ocorrem no local, que possui grande
variabilidade de solo.
94
6.1.2 – Ensaios de laboratório
foram classificados texturalmente como areia argilosa com cores variando de vermelho a
cada fração no ensaio com e sem defloculante, esse último representado pela letra “s”.
11. O índice de vazios varia de 0,514<e<0,614 e os vazios do solo não estão totalmente
preenchidos por água (57,2%<Sr<63,5%), havendo assim a presença de fase gasosa com
95
Devido ao fato de ser um solo arenoso, o limite de liquidez é baixo, pois possui
pequena quantidade de argilominerais pouco ativos. Por isso, quando o solo é saturado, ele
auxílio de ábacos sugeridos por Fabri (1994) e Pejon (1992). Dessa forma, as amostras foram
Tabela 12 – Atividade dos argilominerais dos solos estudados e comportamento laterítico segundo
classificação de Fabri (1994).
óxidos de ferro e/ou alumínio de coloração típica vermelho, amarelo, marrom e alaranjado.
Para todas as amostras, observou-se que as curvas resultantes do ensaio ATD (Figura
argilominerais.
96
As curvas características obtidas com a integração de dados do ensaio de funil de
placa porosa e de papel filtro são representativas de solos arenosos com baixa capacidade
de retenção de água. Observa-se que há uma queda brusca dos valores de umidade
entre 5 a 10kPa. Verifica-se, através dos índices físicos, que as amostras se encontram no
local com baixa porosidade, o que causa um achatamento da curva de retenção, fazendo
com que a umidade necessária para saturação do solo seja menor que na condição de
6.2 – Erodibilidade
Analisando as curvas para a Amostra 1 (Figura 56), verificou-se que não há relação
entre a inclinação da rampa e a perda de solo para os dois tipos de ação da água (laminar
inclinação do terreno, ou seja, quanto maior a inclinação, maior é a perda de solo (Figura
57.b). Porém, para o escoamento laminar, essa relação não foi observada, uma vez que as
Foi verificado para a Amostra 3 uma maior perda de solo com o aumento da
inclinação nos dois tipos de ensaios (laminar e gota), apesar das curvas para inclinações de
rampa maiores (31° e 50°) apresentarem pequena variação entre si. Para 15°, a gota gera
uma perda de solo maior que o escoamento, que nesse solo foi em torno de 50%. Deve-se
ressaltar que nos ensaios que procuraram representar a ação da gota, empregou-se uma
vazão muito elevada que não representa o histórico de chuvas que ocorre na área.
apresentados nos APÊNDICES A.1 a A.3. Em geral, verifica-se que há uma maior perda de
97
detrimento dos grãos retidos entre as peneiras n° 50 e n° 100. O material mais fino (retido
entre as peneiras n°100 e 200) é totalmente carreado para todas as inclinações e para
A interpretação dos resultados dos ensaios Inderbitzen realizados podem não ser o
mais apropriado para representar o comportamento do local estudo, pois seria necessário
cisalhante. Com esses gráficos é possível determinar a taxa de erodibilidade (K) e a tensão
98
Figura 76. Gráficos para interpretação do ensaio Inderbitzen para a amostra 3
0,001g/cm2/min/Pa, como pode ser observado na Tabela 13, para as três inclinações de
nos ensaios de escoamento laminar e ação de gota. Nos ensaios realizados as tensões
cisalhantes críticas (τcrit) foram negativas, pois a perda de solo é muito alta para tensões
cisalhantes baixas. Isso causa o achatamento da reta, o que faz com que o coeficiente
Laminar Gota
Amostra K K
(g/cm2/min/Pa) (g/cm2/min/Pa)
1 0,036 0,141
2 0,008 0,187
3 0,140 0,042
na perda de solo por escoamento laminar ou pelo impacto da gota. Os resultados dos
ensaios representados nas curvas de perda de solo acumulada versus tempo para as três
amostras não seguiram um único padrão. Logo, as amostras analisadas, mesmo coletadas
99
num mesmo local erodido, não mostraram uma tendência, tanto com o aumento da
perda por imersão (MCT), cuja síntese dos resultados está apresentada na Figura 77. As linhas
representam os limites propostos por Nogami & Villibor (1979) e por Pejon (1992) para
Figura 77. Ábaco com resultados dos ensaios de absorção de água para avaliação da erodibilidade
das amostras estudadas
Nogami & Villibor (1979) estudaram vários solos do estado de São Paulo e verificaram
que o limite definido por eles classificava corretamente mais de 90% das amostras de erosão
em taludes de corte. Enquanto Pejon (1972), que estudou solos da região de Piracicaba
especificamente, explica que seu limite obteve cerca de 80% de bons resultados. Verifica-se
que, na maioria dos ensaios, o limite proposto por Nogami & Villibor (1979) classifica as
amostras como erodíveis. Entretanto, é o limite proposto por Pejon (1992) que engloba todos
os resultados obtidos, sendo assim mais indicado para classificar os solos do local estudado.
100
O terceiro tipo de ensaio utilizado para avaliar a erodibilidade dos solos foi o de
mostrado na Figura 78. Observando também que a variação de ±5% da leitura média,
proposta por Alcântara & Vilar (1998), nos solos heterogêneos estudados diminuem
Figura 78. Ábaco com resultados dos ensaios de penetração de cone para avaliação do grau de
erodibilidade do solo
Por essas razões foram realizados ensaios de penetração de cone com períodos de
por Alcântara & Vilar (1998). Constatou-se que o aumento do período de saturação da
praticamente saturado após uma hora em contato com a água. Assim, não foi possível
afirmar que a variação de Pnat (média das leituras de penetração na condição de campo)
partículas são facilmente destacadas e transportadas pela ação da água. Tal ação foi
101
avaliada através do ensaio de absorção de água, da resistência à penetração de um cone
arenoso. Os valores de ângulo de atrito foram, tanto para a condição natural, como para a
outra ao efeito dos microporos (Figura 53 a Figura 55, respectivamente para as amostras 1 a
3).
influência da sucção a partir das curvas características nas propriedades mecânicas do solo
102
a) envoltória de resistência b) curva característica
Figura 79. Influência da sucção na resistência para a amostra 1
103
Os valores de umidade dos ensaios realizados na condição natural e inundada foram
lançados na curva característica de cada amostra para que fosse possível identificar a
20%. Tais valores representam variações na sucção matricial de praticamente zero para
valores próximos a 800kPa para a amostra 1, 80kPa para a amostra 2 e 90kPa para a
destacam que a inundação do solo causa uma redução significativa da sucção matricial e,
talude da erosão (SPT 2), distante 5m (SPT 3) e 10m (SPT 4) é apresentada na Figura 83.
105
Figura 83. Variação da granulometria ao longo do perfil transversal
notada à medida que se afasta da borda do talude. É possível analisar que, na borda do
talude (SPT 2), a quantidade de argila é muito menor que a 5m (SPT 3) e 10m (SPT 4) de
face. Quanto mais distante do talude, maior é a porcentagem de argila, pois o fluxo de
água tende primeiramente a carrear os finos mais próximos à sua borda. O inverso ocorre
com a porcentagem de areia, que é maior nas bordas do talude e diminui quanto mais se
distancia da borda.
Em todas as amostras coletadas das sondagens foi observado que os valores de ∆pH
são negativos (Figura 84), o que indica que o solo não apresenta um estágio avançado de
argilominerais. Em geral, a diferença entre eles diminui mais próximo à superfície, o que
confirma que o solo se encontra mais intemperizado e evoluído nos horizontes mais
superficiais. Logo, os resultados desse ensaio estão de acordo com dos ensaios de adsorção
106
de azul de metileno, que indicaram presença de caulinita e solo de comportamento
através do grau de intemperismo do solo. Nessa análise, verificou-se que o fluxo no interior
análise de ∆pH, pode-se assumir que o solo não apresenta o teor de oxi-hidróxidos de ferro e
alumínio maior que a quantidade de argila, fato justificado pela nível d’água raso e fluxo de
água superficial. Entretanto, verificou-se que quanto mais próximo a superfície, menor é o
intemperizado é solo.
107
6.4.2 – Ensaios de campo
reconhecimento número 2, que pode ser considerado típico do local estudado. Nela consta
o perfil interpretado pela empresa contratada (Figura 85.a) com base na identificação tátil
metro das sondagens mostraram que o perfil de solo fornecido pela empresa contratada
não corresponde ao obtido nos ensaios de laboratório. Esse fato pode estar associado ao
efeito da agregação dos finos ou com outros grãos de solo, como verificado nos resultados
do ensaio de granulometria conjunta com e sem defloculante, bem como pela falta de
108
6.5 – Observações de campo
concentração de água em certos pontos do terreno que carreiam o solo, gerando um alívio
(Figura 86). Esses movimentos de massa ocorrem porque há o solapamento da base devido
aos seguintes fatores: fluxo de água, liquefação do solo e alívio de pressões, que contribuem
Figura 86. Escorregamento em fatias devido ao fluxo de água na base do talude no local de coleta da
amostra 1
talude é maior em pontos nos quais a erosão encontra-se evoluída, ou seja, as fatias de
escorregamento são maiores e mais espessas. Além disso, notou-se que novos ramos estão
se formando a partir de escorregamentos nas bordas dos taludes, nas regiões onde há maior
109
ao ressecamento do solo, uma camada fina superficial se mantém estável, mas, à medida
borda do talude (Local 1), com o tempo pode ser avaliado no gráfico que representa o
avanço do processo erosivo no tempo, conforme ilustrado na Figura 87. O início dos
registros corresponde ao mês de junho de 2008, logo o décimo e último mês de análise
Figura 87. Representação do avanço do processo erosivo por mês observado com levantamentos
topográficos em ponto mais crítico do Local 1
110
Através dos dados de precipitação fornecidos pelo Instituto de Pesquisas
da erosão. Entretanto, essa relação não é direta, como se pode analisar os meses de
2m, enquanto no de fevereiro foi de 1m, mesmo com uma maior quantidade de chuva.
Como observado através dos índices físicos das amostras ensaiadas, a umidade de
saturação do solo é maior que o limite de liquidez. Para o solo estudado, o efeito da sucção
solo pode ocorrer por excesso de umidade, ou seja, o solo pode se liquefazer e ser carreado,
levando a novas instabilizações, fato que foi observado no campo e ilustrado na Figura 72.
Nos locais nos quais o lençol freático foi atingido pelo processo erosivo, a região próxima à
base do talude se liquefaz, fato verificado através do fenômeno de areia movediça quando
amostras estudadas, que variam desde um solo residual jovem com características da rocha
fluxo de água à jusante, que solapa a base do talude (Figura 89). Tais escorregamentos de
superfície de ruptura circular geram uma estabilidade temporária, pois o solo escorregado
(Figura 72) é logo removido pelo fluxo de água na base do talude, semelhante ao
111
Figura 89. Escorregamento por alívio de pressão e solapamento da base
evolução só foi avaliada nas paredes das voçorocas. Nelas, normalmente, é possível
verificar o fenômeno de erosão interna retrogressiva, que carreia partículas de solo e facilita
face faz com que o solo seja carreado, formando assim vazios em forma de canais,
mesmo em um local no qual ocorre erosão em forma de sulcos e ravinas (Figura 73). O fato
ocorre porque o nível d’água é raso e o córrego encontra-se assoreado devido à erosão,
escorregamentos. Esse local foi escolhido porque é onde o processo erosivo está em estágio
Admitiu-se o solo na condição natural (Figura 90 - NATURAL) para que fosse possível
d’água foi simulado com profundidade de aproximadamente 3m, conforme resultado das
segurança e não foram considerados, por isso os valores apresentados são todos maiores
que um para a condição natural do solo. Dentre esses fatores, podem ser citados: a
saturação do solo e a subida no nível d’água com a chuva, o fenômeno de erosão interna
resistência e índices físicos utilizados são aqueles determinados a partir dos ensaios de
cisalhamento direto na condição natural e inundada, na qual foi verificada uma diminuição
Quando o solo está em sua condição natural, seu fator de segurança para um
talude com inclinação de 65° é de 1,471 (Figura 90.a.1). Com o aumento do teor de
fator de segurança para 0,850 (Figura 90.a.2). Assim, com a liquefação do material da base
solo escorregado.
aumento do coeficiente de segurança, tanto para o solo na condição natural (Figura 90.
b.1), como na inundada (Figura 90.b.2). O fluxo de água superficial carreia aos poucos o
solo depositado, diminuindo o fator de segurança de 1,739 para 1,569 (Figura 90.c.1)
retrogressiva, que ocorrem na base do talude devido ao fluxo d’água. Dessa forma, os
valores do fator de segurança se tornam menores que 1 (Figura 90.c.2). Essa remoção é
progressiva até que ocorram novos escorregamentos, que dão continuidade ao processo
erosivo.
113
a.1) NATURAL a.2) INUNDADA
114
7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA CONTINUIDADE
para a evolução dos processos erosivos na área estudada, que é classificada como de alta
erodibilidade, segundo IPT (1994). A ramificação do processo erosivo que foi preenchida
com entulho já sofreu erosão laminar, que removeu a camada de solo compactado
superficial. O avanço do processo nesse local foi reduzido pela vegetação que cresceu,
bolsão, que deveria ser somente de entulho, auxiliam a contaminação do solo em conjunto
com o esgoto ainda despejado no local. Tal contaminação pode ser verificada a partir dos
resultados do ensaio ATG, que apresentou curvas distintas das esperadas, pois os
não é possível identificar os argilominerais, pois essas agregações se comportam como siltes
e areias. Além disso, a caulinita, tipo de argilomineral identificado nos ensaios de adsorção
avançado (solo laterítico), como os de adsorção de azul de metileno. Entretanto, outros não
indicaram esse processo, como o ensaio de ∆pH. Constata-se no local que o solo é muito
talude. Dessa forma, há a possibilidade dos oxi-hidróxidos de ferro e alumínio terem sido
115
Outro fato que confirma a existência de solos lateríticos é a cimentação superficial
existente em toda a área em estudo, apesar da resistência do solo ser baixa até
processo erosivo no interior do talude, pois ele carreia os argilominerais do solo para o
É o fluxo de água transversal ao processo erosivo que faz com que o solo da base do talude
saturação é maior que o seu limite de liquidez. Os argilominerais do solo são as primeiras
não se encontra saturado. A saturação desse solo provoca uma redução nos valores do
coesão, enquanto o ângulo de atrito quase não varia. A associação dos ensaios de
ensaios Inderbitzen (1961) são preliminares e não devem ser generalizados, pois é necessário
foi possível constatar que nos 10 primeiros minutos de ensaio ocorreram as maiores perdas
116
cone apresentou tanto resultados coerentes como inconsistentes com o que se observa em
campo. Acredita-se que isso ocorreu devido à heterogeneidade das amostras, que
apresentaram resultados muito variáveis entre si. Para a área estudada, o ensaio que
apresentou os melhores resultados foi o desenvolvido por Nogami & Villibor (1979), apesar de
erosão não é linear, por exemplo, no mês de janeiro observou-se o maior avanço apesar de
no local de estudo, pois estes são pouco ativos. Dessa forma, acredita-se que elas devem
ocorrer devido à saturação e secagem do talude, que causam aumento e alívio de tensão
no terreno. A largura entre tais trincas que definem a espessura da fatia de escorregamento.
as chuvas aumentam o teor de umidade do solo podendo, em alguns pontos, atingir a sua
saturação. Uma vez saturado, o solo perde sua estrutura e, assim, é facilmente destacado e
responsável por uma estabilidade aparente enquanto está depositado no pé do talude. Isso
ocorre tanto em condição natural como inundada. Quando o solo depositado é retirado
ensaios Inderbitzen, para possibilitar uma melhor avaliação dos resultados desse tipo de
117
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123
APÊNDICE A.1 – Inderbitzen da amostra 1
Escoamento laminar (15°, 31° e 50°)
124
Ação da gota (15°, 31° e 50°)
125
APÊNDICE A.2 – Inderbitzen da amostra 2
Escoamento laminar (15°, 31° e 50°)
126
Ação da gota (15°, 31° e 50°)
127
APÊNDICE A.3 – Inderbitzen da amostra 3
Escoamento laminar (15°, 31° e 50°)
128
Ação da gota (15°, 31° e 50°)
129