Artigo Ajustamentos de Seguros de Responsabilidade Civil
Artigo Ajustamentos de Seguros de Responsabilidade Civil
Artigo Ajustamentos de Seguros de Responsabilidade Civil
Embora possa haver pequenas variações nas redações das apólices, regra geral
consideram-se entre os riscos cobertos “as custas judiciais do foro cível, os honorários
de advogados e as demais despesas relacionadas com o processo e a defesa do
segurado, devidamente comprovadas.”
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- Afigura-se obrigatória a consulta da obra SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL GERAL NO
BRASIL & aspectos internacionais, de Walter Antonio Polido, EMTS.
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lucros cessantes, etc).
Por isto, deve o segurado procurar o advogado ou escritório de sua confiança para
defendê-lo, enviando a minuta do contrato de prestação dos serviços jurídicos ao
segurador, juntamente com a contrafé da ação, seja para atender ao comando expresso
do artigo 787, § 1º do CC, que impõe ao segurado o dever de comunicar imediatamente
ao segurador qualquer fato suscetível de lhe acarretar responsabilidade incluída na
garantia, seja para que o segurador possa aferir se há algum excesso, exagero ou
inadequação na contratação proposta.
Num passado não muito distante, algumas seguradoras chegaram a oferecer aos seus
clientes um serviço de assistência jurídica para situações como esta (sobretudo nos
seguros de automóveis), mediante o cadastramento de escritórios de advocacia, que se
tornavam prestadores de serviços das seguradoras, atendendo aos segurados
“gratuitamente”2.
Tal modus operandi foi considerado contrário às normas deontológicas pelo Tribunal de
Ética e Disciplina da OABSP, com a seguinte ementa:
Competência deste Tribunal de Ética e Disciplina I, pela condição sine qua non da
participação de profissional advogado, caracterizando captação de clientela e
intromissão indevida no direito do segurado nomear advogado de sua confiança.
Possibilidade de conflito de interesses entre a seguradora e o segurado a não
recomendar, em princípio, para a generalidade dos casos em que ambas as partes
estejam representadas por um único advogado. Necessária comunicação, à
seguradora, do inteiro teor do presente parecer e solicitação à FENASEG (Federação
Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização), para que seja
recomendada às companhias seguradoras, a não inclusão em seus contratos de cláusulas
que possam ser entendidas como se instituíssem obrigação do segurado, de aceitar, em
ação cível que lhe seja movida, advogado escolhido pela seguradora.
Durante o período em que tal “assistência jurídica” foi ofertada, muitos foram os
problemas relativos à contratação de advogados que não figuravam na lista de
escritórios cadastrados, sendo o principal deles, a não autorização da contratação em
vista do valor dos honorários cobrados, já que o volume de indicações fazia com que
2
- Na verdade os honorários eram pagos diretamente pelos Seguradores com os prêmios arrecadados.
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as seguradoras pagassem honorários reduzidos, segundo tabelas por elas próprias
desenvolvidas, tendo em conta não o valor da causa, mas as importâncias seguradas.
Tal qual sucede na área médica, a escolha do advogado/escritório tem como fundamento
a relação de confiança que o segurado tenha com o profissional escolhido.
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- Processo nº 583.00.2001.028918.8.26.0002 da 1ª Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro
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no artigo 70, inciso III do CPC. Afrontaria as obrigações contratuais e legais o segurado
que não se defendesse adequadamente ou fizesse uma defesa superficial ou desleixada,
apenas por ter contratado o seguro de responsabilidade civil.
Diz o artigo 765 do Código Civil que o segurado e o segurador são obrigados a guardar
na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa fé. E por boa fé deve
entender-se, segundo Cláudia Lima Marques (Ajuris 54/34-77, com destaques nossos):
“ Boa fé objetiva significa uma atuação “refletida”, uma atuação refletindo, pensando
no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses
legítimos, suas expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem
abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva.”
Deste modo, deve o segurado realizar a melhor defesa que estiver ao seu alcance,
independentemente de ter a garantia de reembolso, caso venha a perder a demanda, até
porque, as apólices de seguro possuem limites de responsabilidade 4, e se a condenação
exceder a este limite, o segurado terá que suportar o excesso, justificando, mais uma
vez que sua atuação seja a melhor possível. Quaisquer prejuízos que advenham,
comprovadamente, da realização de uma defesa5 desleixada, podem ser levados em
consideração6 no momento de se proceder ao pagamento ou ao reembolso da
indenização solicitada.
4
- Em alguns ramos de seguro como o RCTRC, há extensas discussões a respeito dos limites de
responsabilidade, uma vez que existem os limites globais e limites por viagem, de acordo com as
averbações feitas pelos segurados. Falta, também aqui, a nosso ver, uma regulamentação mais adequada
da SUSEP a respeito, a fim de que o seguro também atinja sua função social. Limitar a responsabilidade
apenas ao valor averbado implica em afastar, automaticamente, todas as demais verbas que o seguro visa
cobrir (juros, perícias, custas processuais, perdas e danos, honorários de advogado, etc). O mesmo ocorre
com os danos morais que pela complexidade do tema, merecerá um estudo posterior específico.
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- A palavra “defesa” está sendo utilizada aqui no sentido amplo, compreendendo todas as atuações no
curso do processo, desde a contestação, participação ativa na colheita das provas, apresentação dos
recursos cabíveis, sustentação oral, etc.
6
- A palavra “ajustamento” utilizado no título deste artigo, tem o significado de afastar ou incluir cada
uma das rubricas da condenação no contrato de seguro de acordo com as condições da apólice.
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- Assim, se o segurado tiver uma importância segurada baixa (ex. R$200.000,00) e contratar um
advogado pagando-lhe honorários de R$40.000,00 verá reduzida sua importância segurada para
R$160.000,00 para fazer frente à condenação que poderá lhe ser imposta.
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Considerando que as demandas costumam demorar muito tempo no Brasil, torna-se
importante saber não só como a importância segurada será atualizada monetariamente
até o momento em que tiver que ser paga a indenização, mas sobretudo como serão
computados os juros, a partir de que momento tais juros incidirão.
Este é um dos problemas mais tormentosos nos seguro de responsabilidade civil, pois ao
escolher um limite de responsabilidade (e pagar o prêmio sobre ele), o segurado leva em
conta o momento presente da contratação. No entanto, pode acontecer que este limite de
responsabilidade ou importância segurada só venha a ser efetivamente despendido
décadas depois de sua contratação. Ainda que nos dias atuais a inflação esteja
controlada e a correção monetária não mais constitua o fantasma e o tormento de
outrora8, com a majoração, ou melhor, com a duplicação dos juros moratórios no atual
Código Civil, tal questão passou a ter muita importância.
A disciplina dos juros moratórios para os atos ilícitos extracontratuais, que constituem
fundamento de boa parte das ações de responsabilidade civil é diferente da disciplina
dos ilícitos contratuais (entre os quais o de seguro). Enquanto os juros nos atos ilícitos
extracontratuais contam-se desde a data do fato (artigo 398 do CC/02), os juros nas
obrigações contratuais, sem previsão específica, como ocorre nos contratos de seguro,
de transporte e em geral nas relações contratuais, contam-se a partir da citação, que é,
por definição legal, o ato de constituição em mora por excelência (artigo 219 do CPC).
Este dado demonstra que o atraso no ajuizamento de uma ação poderá trazer grandes
implicações sobre o seguro contratado. Basta pensar, hipoteticamente, num acidente de
8
- A respeito do tema, decisão do STJ no RESP 3.705-MG, rel. Min. Athos Carneiro, in RT 659/200:
Seguro de responsabilidade civil. Correção monetária. Aplicação da lei 5.488/68. A companhia
seguradora, em seguro facultativo de responsabilidade civil de proprietário de veículo automotor, citada
por seu segurado mediante denunciação da lide e judicialmente condenada ao reembolso, é obrigada a
satisfazer tal reembolso tendo em vista valores monetários reais. Assim, o valor limite da apólice, fixado
ao tempo da emissão, deve ser considerado com a atualização decorrente da desvalorização da moeda, e
feito o pagamento nos exatos termos da lei 5.488/68. Quem recebeu prêmio em 1985, relativo a uma
indenização limite de Cr$6.200.000,00 de então, não pode pretender que, hoje, ao tempo do pagamento, o
valor do seguro tenha o limite de Cr$6,20 de agora. Imperativos econômicos, jurídicos e éticos a
preservar. Recurso especial conhecido e provido.”
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- Os prazos específicos estão previstos em diplomas normativos próprios, tais como a lei 11.442/2007,
cujo artigo 18 prevê o prazo de 1 ano para as ações oriundas do transporte rodoviário de bens.
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trânsito ocorrido em 09/09/2009, cuja ação indenizatória somente veio a ser proposta
contra o segurado em 08/08/2012 (portanto, dentro do prazo prescricional).
Desprezando-se, por ora, a questão da correção monetária, apenas para deixar mais
compreensível o exemplo dado, teríamos a seguinte situação:
Caberia à SUSEP, como órgão que aprova ou fixa as condições gerais das apólices
(artigo 36, letra “c” do DL 73/66) antes da comercialização, exigir que a redação
contratual contemplasse claramente os critérios a serem observados no caso de eventual
demanda judicial. Caberia também ao CNSP – Conselho Nacional de Seguros
Privados, como órgão normativo (art. 32, inc. IV do DL 73/66), expedir instruções
claras a respeito do tema, pois o controle do Estado se exerce por meio destes órgãos
(art. 2º do DL 73/66), no interesse dos segurados e beneficiários dos contratos de
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- AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE SENTENÇA - DENUNCIAÇÃO À LIDE -
SEGURADORA - LEGITIMIDADE PASSIVA - INCIDÊNCIA DE CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS
MORATÓRIOS - RECURSO IMPROVIDO. Não haverá qualquer óbice à execução direta da recorrente pelas
vítimas do ato ilícito, vez que, tendo sido expressamente reconhecida a sua responsabilidade sobre o valor da
condenação, nos limites do contrato de seguro, mostra-se inócua e sem qualquer utilidade prática a necessidade do
pagamento ser realizado inicialmente pelo segurado para, só então, haver o seu ressarcimento pela seguradora
denunciada. Ademais, incumbe ainda salientar que, conforme jurisprudência hodierna do STJ, julgada procedente a
denunciação da lide, a seguradora denunciada assume a posição de litisconsorte passiva do denunciante, podendo,
pois, ser demandada diretamente no feito executivo. Noutro turno, insta salientar que, segundo jurisprudência do STJ,
a seguradora deverá arcar com o mesmo índice de atualização monetária suportado pelo segurado. No que concerne
à incidência de juros moratórios, entendo que os mesmos deverão ser suportados pela recorrente, nos limites
do contrato de seguro, eis que os mesmos se encontram incluídos no valor total que deveria ser por ela
reembolsado. (TJMG - AI 1.0525.99.001993-3/001 – 17ª Câmara Cível – Rel. Des. Eduardo Mariné Da Cunha –
Julg. 04/10/2007)
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- APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. Indenizatória. Dano moral.
Pensionamento. Denunciação da lide. Consectários legais. Honorários advocatícios.
1. a 4. (...) 5. Juros moratórios e correção monetária incidentes sobre a cobertura contratada: a correção monetária,
por se tratar de simples fato de recomposição, não deve ser afastada. Já quanto aos juros moratórios, levando em
conta que a seguradora não está em mora, merece reforma a sentença, no ponto que determinou a incidência
de juros sobre o valor da apólice, a contar do evento danoso. 6. (...) Apelo do réu desprovido e provido, em parte,
o da denunciada à lide. (TJRS – Apel. 70027731215 - Décima Segunda Câmara Cível – Rel. Des. UMBERTO
GUASPARI SUDBRACK – Julg. 09/07/2009)
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seguro. Sem falar que o Estado brasileiro assumiu constitucionalmente o dever de
promover a defesa do consumidor, na forma da lei (art. 5º, inc. XXXII da CR/88). No
entanto, tais orgãos vem pecando sistematicamente12 pela omissão, deixando ao Poder
Judiciário a árdua tarefa de fazer em cada caso concreto, com elevado custo para a
sociedade e para as partes envolvidas, a tarefa que não foi feita ad omnes no tempo
devido.
Em razão desta falta de regras claras e pré-estabelecidas, muito se questiona, qual seria
a verdadeira abrangência desta cobertura, o que nela estaria realmente compreendido. A
garantia compreende todas as condenações impostas ao segurado, em cada uma de suas
respectivas rubricas: danos materiais ou danos corporais, conforme o caso, excluindo-se
apenas as verbas que estiverem expressamente mencionadas entre os prejuízos não
indenizáveis ou riscos excluídos. Compreende-se, portanto, o valor principal, correção
monetária, taxa judiciária, despesas com peritos e assistentes técnicos (estes quando
autorizados previamente), juros de mora, lucros cessantes, danos emergentes, multas
impostas ao segurado no curso do processo 13, exceto aquelas decorrentes da prática
de atos temerários ou por litigância de má fé.
Vale esclarecer que a questão dos juros moratórios terá um peso maior se a importância
segurada for ou não superior à condenação imposta ao segurado. Se a importância
segurada for superior à condenação, não haverá problema algum, mas se for inferior
haverá a necessidade de se proceder aos ajustamentos, coisa que raramente 14 acontece
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- Muitas questões securitárias acabaram sendo decididas pelo Poder Judiciário, quando deveriam
receber disciplina da SUSEP: Sumula 402 - O contrato de seguro por danos pessoais, compreende os
danos morais, salvo cláusula de exclusão expressa; Sumula 257 – A falta de pagamento de prêmio do
seguro obrigatório DPVAT não é motivo para recusa no pagamento de indenização; RESP nº 316.552-
SP, da 2ª Seção, DJ 14/04/2004: “ Civil e processual. Seguro. Automóvel. Atraso no pagamento de
prestação. Ausência de prévia constituição em mora. Impossibilidade de automático cancelamento da
avença pela seguradora. I – O mero atraso no pagamento de prestação do prêmio de seguro não
importa em desfazimento automático do contrato, para o que se exige, ao menos, a prévia constituição
em mora do contratante pela seguradora, mediante interpelação. II – Recurso conhecido e
provido.”Apesar disto é forçoso reconhecer uma significativa melhora nos últimos anos, inclusive de
qualidade, na atuação da SUSEP.
13
- Como aquelas previstas nos artigos 475-J do CPC – multa de 10% pelo não cumprimento da sentença
transitada em julgado, no prazo de 15 dias - quando o segurado não tenha condições de fazê-lo, e 538,
parágrafo único do CPC - aplicadas pela interposição de Embargos de Declaração considerados
protelatórios. Para esta última será necessário aferir em cada caso, se o segurado agiu ou não de forma
temerária.
14
- Neste sentido, decisão do TJSP nos Emb. Decl. 992.07.043052-6/5000, da 30ª CC, Rel. Andrade
Neto, j. 28/07/2010, na qual se evitou que a seguradora respondesse por juros na lide principal (onde o
segurado já havia sido condenado ao pagamento dos juros moratórios) e também na lide secundária: “
(...) juros de mora não devem e nem podem incidir sobre o capital segurado de que trata a apólice, na
medida em que sua aplicação sobre o valor da apólice significaria penalizar duplamente a seguradora,
exceto se provada a sua mora, fato esse inocorrente na espécie.”No mesmo sentido: APELAÇÃO.
EMBARGOS À EXECUÇÃO DE SENTENÇA. LIMITES DA cobertura securitária. Cálculo de atualização do
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nas decisões judiciais.
Por isto mesmo, não menos importante do que considerar o que está compreendido no
seguro, é considerar o quê o segurador pode debitar à conta da importância
segurada?, já que algumas destas despesas são despesas administrativas, próprias do
segurador ou das condutas que ele pratique no curso do processo.
Historicamente, o mercado segurador tem adotado uma postura passiva neste campo,
apostando na possibilidade de prescrição, seja do terceiro em face do segurado (que foi
reduzida de 20 para apenas 3 anos pelo Código Civil atual), seja do próprio segurado
em face do segurador (um ano a contar da citação, art. 206, II, “a” do CC/02).
Dentro deste contexto, extrai-se que, enquanto a postura passiva pode ser benéfica ao
segurador em razão da prescrição, ela se torna mais arriscada para o segurado, em
razão dos juros moratórios.
valor da apólice. Juros legais. Excesso de penhora. 1. (...) 2. Configura-se o excesso de penhora quando os
depósitos judiciais efetivados pela embargante excedem ao valor da cobertura securitária. No caso, a
sentença exeqüenda restringiu a obrigação da seguradora ao ressarcimento dos danos suportados pela ré
na ação indenizatória, até os limites do contrato de seguro. 3. Sobre o valor da apólice não devem
incidir juros moratórios contados do evento danoso, como ocorre com o valor da condenação na lide
principal, devendo sofrer apenas atualização monetária. Ainda que devida pela seguradora a integralidade
da condenação imposta ao denunciante, aí incluídos os juros moratórios imputados ao segurado, esses
não incidem sobre o valor da apólice, a não ser quando configurada a mora da litisdenunciada. Se
retroativa a mora da seguradora, estaria esta obrigada a pagar duplamente os juros moratórios,
porque o reembolso devido já abrange os juros de mora incidentes sobre as parcelas indenizatórias
pagas pelo segurado. 4. O limite da apólice deve englobar também as despesas processuais da ação de
conhecimento. 5. Redução dos honorários advocatícios nos embargos, dados os limites da discussão, a
natureza da demanda e o par.4º do art. 20 do CPC. Parcial provimento de ambos os apelos. (TJRS – Apel.
70020167276 – 12ª Câmara Cível – Rel. Des. Orlando Heemann Júnior – Julg. 08/11/2007)
15
- A palavra “assistente” aqui utilizada tem o sentido processual previsto no artigo 50 do CPC.
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Para minimizar estes riscos, haveria a necessidade de uma mudança de posição, tanto
do segurador em face do segurado, quanto deste em face das vítimas. A administração
de um sinistro deve ser feita procurando evitar o ajuizamento futuro de um ação. Assim,
caso uma reclamação de terceiro não possa ser indenizada por alguma dificuldade,
deverá o segurador comunicar o segurado, para que este tome as medidas visando a
proteção de seus interesses.
Não se deve, para terminar esta reflexões, deixar de ponderar que se a vítima demora
para ajuizar a ação, sem um motivo fundado, poderia o Juiz aplicar a teoria da supressio
pelo menos no que se refere a contagem dos juros de mora, uma vez que o ordenamento
jurídico brasileiro elevou a boa fé como princípio jurídico e este por sua vez, passou a
considerar o comportamento das partes como elemento modelador das relações
jurídicas.
Outro ponto que também merece uma consideração, ainda que suscinta, é aquele
relacionado ao atraso na instauração da relação processual primária (ou secundária)
por falhas atribuíveis ao próprio Poder Judiciário, sejam elas de cunho
administrativo (falta de empregados para confeccionar e cumprir os mandados), sejam
elas de cunho decisório (quando extingue o processo apontando alguma falha processual
inexistente, reconhecido pelo próprio Judiciário ao anular a sentença).
Estes atrasos, como vimos, são suscetíveis de causar enormes prejuízos, podendo
ensejar a nosso ver a responsabilidade do Estado, como prestador do serviço
judiciário, pela demora ou deficiência na prestação jurisdicional.
Concluindo:
e) seria altamente conveniente para o mercado segurador que a SUSEP exigisse que as
apólices de seguro de responsabilidade civil contemplassem uma redação mais clara e
adequada a respeito dos critérios a serem aplicados caso o segurado seja demandado
judicialmente.