Direito Seguro Resseguro Athayde Delphino Jri

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SEGURO ATIVIDADE INDIVIDUAL

Matriz de análise

Disciplina: Direito do Seguro e Resseguro Módulo:

Aluno: Athayde Delphino Junior Turma:

Tarefa: Atividade Individual

Introdução

Cuida-se de consulta encomendada pela Seguradora Brasil Warranties acerca da reclamação de sinistro
garantido por Apólice de Seguro-Garantia decorrente de contrato adminsitrativo firmado pelo Segurado,
Governo Federal e a empresa de Engenharia Construtora XPTO (Tomador), para execução de obra de
infraestrutura. O contrato foi assinado em 25 de maio de 2014 estando, portanto, sujeito ao disposto
pelo artigo 23 da Circular SUSEP nº 477/2013.
Considerando a exigência licitatória, por se tratar de obra de grande vulto, a garantia contratada ficou
fixada em 10% do valor total do contrato, ou seja, BRL 98.000.000,00 (noventa e oito milhões de reais)
repeitados os dispositivos legais estabelecidos pelo artigo. 6º, V, c/c art. 23, I, c, ambos da lei n.
8.666/93.
Em 20 de fevereiro de 2016, a seguradora Brasil Wirranties foi notificada pelo Segurado Governo Federal
da rescisão do contrato publico, após regular processo administrativo movido em face exclusivamente do
Tomador, culminando na aplicação de multa de BRL 120.000.000,00 (cento e vinte milhões de reais) ao
mesmo, diante da inêrcia na execução dos serviços contratados, requerendo que a referida multa seja
garantida pela apólice em epígrafe.
A seguradora negou cobertura, notificando o Governo Federal em 03 de março de 2016, com o
argumento de que o segurado descumpriu com as obrigações previstas em apólice.
Desta forma, o parecer tem como objetivo apresentar o prognostico deste patrono a cerca do instituto
do seguro-garantia aplicável aos contratos administrativos de obras e serviços de grande vulto,
considerando as peculiaridades que envolvem este modelo de seguro diante da relação trilateral entre a
Administração Pública, o contratado e a seguradora, aplicando a legislação vigente a época dos fatos,
sem considerar as eventuais mudanças estabelecidas pela Lei n˚ 14.133/21, a nova lei de licitações e
Contratos Administrativos.

Desenvolvimento
O seguro garantia para obras publicas de grande vulto visa assegurar eventual indenização frente ao
descumprimento das obrigações assumidas por meio dos contratos licitatório firmados com a
administração pública, passando a contar com a garantia pecuniária de uma empresa seguradora até
o limite de Indenização estabelecido em contrato, de forma que o Estado seja indenizado por danos
sofridos em decorrência do inadimplemento contratual ou até mesmo a possiblidade conclusão da
obra segurada, direta ou indiretamente. Assim, constatada a existência de risco (o que podemos
chamar de expectativa de sinistro), incumbe ao segurado promover a intimação da
Seguradora, a fim de que esta tenha possa acompanhar o caso, promovendo o adimplemento
ou minorando as consequências decorrentes do inadimplemento, sob pena de perda da garantia
pelo Segurado.
A regulamentação técnica do seguro-garantia está contida, basicamente, na Circular nº 477/2013 da

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Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
Entre os dispositivos normativos contidos na Circular e importante a nossa fundamentação destaca-
se o artigo 4º que estabelece:

Art. 4º Define-se Seguro Garantia: Segurado – Setor Público o


seguro que objetiva garantir o fiel cumprimento das obrigações
assumidas pelo tomador perante o segurado em razão de
participação em licitação, em contrato principal pertinente a
obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, concessões ou
permissões no âmbito dos Poderes da União, Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, ou ainda as obrigações assumidas em
função de:

I – processos administrativos;
II – processos judiciais, inclusive execuções fiscais;
III – parcelamentos administrativos de créditos fiscais, inscritos
ou não em dívida ativa;
IV – regulamentos administrativos.

Parágrafo único. Encontram-se também garantidos por este


seguro os valores devidos ao segurado, tais como multas e
indenizações, oriundos do inadimplemento das obrigações
assumidas pelo tomador, previstos em legislação específica, para
cada caso. (GRIFO NOSSO)

Considerando o caso em questão, dentro da regulamentação técnica apresentada, o pedido


formulado pelo Segurado poderia encontrar legitimidade, se não fosse o fato de ter o Segurado
deixado de cumpir com as obrigações contratuais estabelecidas nas condições especiais do contrato
de seguro garantia, mais especificamente na Cláusula De Seguro Garantia Para Construção,
Fornecimento Ou Prestação De Serviços – Modalidade Ii. (Ramo 0775) – Seguro garantia para
construção, fornecimento ou prestação de serviços que prevê:
4.1. Expectativa: tão logo realizada a abertura do processo
administrativo para apurar possível inadimplência do
tomador, este deverá ser imediatamente notificado pelo
segurado, indicando claramente os itens não cumpridos,
remetendo cópia da notificação para a seguradora, com o fito de
comunicar e registrar a Expectativa de Sinistro.

O princípio legal que nortea os contratos de seguro é pautado na Boa Fé Segurado e Seguradora,
sendo portanto imperioso lembrarmos o disposto no artigo 765 do Código Civil senão vejamos:

Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar


na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-
fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das
circunstâncias e declarações a ele concernentes. (Grifo nosso).

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A partir do momento que a Administração Publica Federal iniciou um processo administrativo para
apurar falhas na prestação de serviços por parte do tomador, deveria ter notificado a Seguradora do
fato, formalizando assim o que chamamos de Expectativa de Sinistro. Desta forma, além de
descumprir com o dispositivo contratual expresso, deixou de cumprir com o disposto no artigo 771
do Código Civil, que assim dispõe:

Art. 771.  Sob pena de perder o direito à indenização, o


segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e
tomará as providências imediatas para minorar-lhe as
conseqüências.

Em outras palavras, percebido pelo Segurado indícios de inadiplmento contratual por parte do
tomadador, era obrigação Sine qua non do Segurado, notificar o tomador do fato, bem como a
seguradora, registrando a possiblidade de ocorrência de sinistro, fato este que não ocorreu no caso
em epígrafe. A Seguradora só foi notificada do sinistro, após ter ocorrido a rescisão contratual. Desta
forma, é entendimento deste patrono que o Segurado deixou de agir com boa fé, impedindo que a
seguradora, durante a expectativa de sinistro, pudesse desenvolver soluções junto ao tomador para
que o sinistro não ocorresse.

Desta sorte, a negativa do Sinistro encontra subsídios Legais e Regulatórios, bem como se apoia na
jurisprudência dominante sobre o assunto:

CIVIL APELAÇÃO CIVEL AÇÃO MONITORIA. SEGURO GARANTIA


CONTRATO ADMNISTRATIVO. DESCUMPRIMENTO DO DEVER
CONTRATUAL. PERDA DO DIREITO A INDENIZAÇÃO. EXPECTATIVA
DE SINISTRO. 1. O descumprimento do dever do segurado em
comunicar à seguradora tão logo ocorra a inadimplência do tomador
do serviço, a fim de registrar a expectativa do sinistro, acarreta a
perda do direito ao pagamento do seguro. 2. A deflagração do
procedimento administrativo para apurar falhas cometidas no curso
do contrato administrativo deveria ser objeto de informação imediata
a seguradora , a fim de possiblidar a minoração do sinistro. 3.
Recurso desprovido. (TJ-DF 07031038420198070018 DF 0703103-
84.2019.8.07.0018 Relator: MARIO ZAM BELMIRO, DATA DE
JULGAMENTO: 04/12/2019, 8 Turma Civel. Data de publicação:
Publicado no DJE: 18/12/2019)

Neste mesmo sentido:

ADMINISTRATIVO. SEGURO-GARANTIA. INADIMPLEMENTO DA


TOMADORA. FALTA DE COMUNICAÇÃO. ISENÇÃO DE
RESPONSABILIDE DA SEGURADORA. 1. Ao deixar de ter
conhecimento acerca do inadimplemento contratual por parte
da Tomadora, a seguradora apelada se viu impossibilitada de tomar
providências para minorar as consequências, tanto para a
segurada , como para a própria seguradora, trazendo prejuízo
à apelada . Sabendo da inadimplência da Tomadora, a Seguradora ré
poderia ter adotado os seguintes procedimentos: acompanhar os
procedimentos de apuração das infrações contratuais cometidas
pela Tomadora ; realizar, por meio de terceiros, o objeto do contrato
principal, e minorar as consquencias do inadimplemento impugnado
pela apelante. 2 . Não há em ponto algum das Condições Gerais
qualquer dúvida acerca das obrigações assumidas pela Segurada,
tão pouco acerca das condições que levam à isenção de
responsabilidade ou à perda do direito à garantia securitária. 3. A
cláusula que isenta a responsabilidade da Seguradora, bem como a
que exige a comunicação imediata do sinistro, são plenamente
válidas e aplicáveis ao caso concreto, não havendo falar em
abusividade das mesmas. 4. Improcedência do pedido de
condenação da ré ao pagamento do valor de apólice de
seguro-garantia relativo ao contrato de prestação do serviço de
vigi lância . (TRF4 - AC: 50287689120134047000 PR 5028768-
91.2013 .404.7000, Relat or: FERNANDO QUADROS DA SILVA ,
Data de Julgamento: 24/ 02/2016, TERCEI RA TURMA, Data de
Publicação: D.E. 25/02 /2016 )
Outro ponto não menos importante diz respeito ao valor pleiteado pela Segurada. A multa de BRL
120.000.000,00 (cento e vinte milhões de reais) supera o Limite Maximo de Garantia estabelecido na
apólice, que fora fixado em 10% do valor total da obra, nos termos do artigo 56, Parágrafo 1º, Inciso II
e paragrafo 3º da Lei de licitações vigentes a época do contrato (Lei 8.666/90). Desta forma, caso
fosse devido, a Seguradora estaria obrigad a indenizar no Limite Máximo de Garantia, ou seja, BRL
98.000.000,00 (noventa e oito milhões de reais), o que geraria a negativa da cobertura de mesmo
modo.

Conclusão

Desta forma, é nosso entendimento que a recusa no pagamento do sinistro foi decisão acertada pela
seguradora que agiu dentro dos parâmetros legais e regulatórios estabelecidos, visto que o
descumprimento do dever do segurado em comunicar à seguradora, tão logo ocorrida a
inadimplência por parte do tomador do serviço, a fim de registrar a expectativa do sinistro, acarreta
a perda do direito ao pagamento do seguro.

Este é o Parecer.

Referências bibliográficas
- Código Civil Brasileiro – Lei nº 10.406/2002
- Site Oficial SUSEP – www.susep.gov.br
- Ementário jurisprudencial do Tribunal De Justiça do Distrito Federal
- Ementário Jurisprudencial do Tribunal Federal da 4º Região
- Circular nº 477/2013 da Superintendência de Seguros Privados

Links Utilizados.
https://www.aig.com.br/content/dam/aig/lac/brazil/documents/brochure/condicoes-gerais-garantia-
setor-publico-brochure.pdf

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666compilado.htm
https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/794193893/7031038420198070018-df-0703103-
8420198070018
https://www.genebraseguros.com.br/faq-items/condicoes-especiais-do-seguro-garantia-para-
construcao-fornecimento-ou-prestacao-de-servicos/

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