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Resumo Abstract
A Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) The National Urban Mobility Policy (PNMU)
prevê que cidades com mais 20.000 habitantes ou provides that cities with more than 20,000
pertencentes a regiões metropolitanas ou voltadas inhabitants, belonging to metropolitan regions,
para atividades turísticas elaborem e aprovem pla- or focused on tourist activities must create and
nos de mobilidade. Contudo, as cidades de peque- approve mobility plans. Small cities, however,
no porte possuem especificidades que dificultam have specificities that hinder the development
o desenvolvimento desse instrumento. Nesse con- of this instrument. In this context, the purpose
texto, esta pesquisa teve como objetivo analisar as of the study was to examine mobility initiatives
iniciativas de mobilidade implementadas no mu- implemented in the municipality of Conde, State
nicípio de Conde-PB, visando à sua replicação em of Paraíba (PB), aiming at their replication in
cidades de contexto socioeconômico semelhantes. cities with similar socioeconomic conditions. A
Para isso, foi realizado um estudo de caso através case study was conducted through documentary
de pesquisa documental, no intuito de compre- research in order to understand the context in
ender o contexto de elaboração e os resultados which the initiatives were created and the results
alcançados. Como produto, esta pesquisa traz con- obtained. As a result, this research contributes to
tribuições às discussões relacionadas à mobilidade discussions related to sustainable mobility in cities
sustentável nas cidades, por meio do fornecimento by providing references to guide future efforts.
de referências para direcionar ações futuras. Keywords: urban mobility; small city; Conde-PB;
Palavras-chave: mobilidade urbana; cidade de pe- PNMU.
queno porte; Conde-PB; PNMU.
Cad. Metrop., São Paulo, v. 26, n. 60, pp. 637-661, maio/ago 2024 Artigo publicado em Open Acess
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2024-6011 Creative Commons Atribution
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Mobilidade urbana sustentável em cidade de pequeno porte
Fonte: autores, em 2023, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021); MapBiomas
(2019); Geo Portal Aesa (2020).
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André Pinto dos Santos, Juliana Silva Almeida Santos, Daniella do Amaral Mello Bonatto
Fonte: autores, em 2023, com dados de Brasil (2008); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021);
Geo Portal Aesa (2020); Open Buildings (2023).
de loteamentos com grandes glebas que foram lotesa serem vendidos, gerando ruas íngremes
incorporadas ao tecido urbano e resultaram em e áreas sem infraestrutura urbana adequada
um aumento de 3.298% da área da vila origi- (Batista e Silveira, 2020; Costa et al., 2020).
nal. Apesar de o seu traçado urbano apresentar Ainda de acordo com Costa et al. (2020),
uma ocupação condicionada pela topografia da as ruas que se encontram pavimentadas atual-
região, os novos empreendimentos ignoram as mente são as vias que estão no núcleo central
características naturais em detrimento de uma da cidade, dificultando o acesso a outras par-
priorização de aspectos mercadológicos dos tes da cidade. Nota-se, também, um conflito
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resultante da rodovia estadual PB-018 que liga a enormes distâncias para serem percorridas
a BR- 101 ao distrito de Jacumã e corta a sede a pé, como no caso do distrito de Jacumã, no
de Conde. A rodovia apresenta uma infraestru- litoral (Figura 3). Além disso, outras opções co-
tura prioritariamente voltada para automóveis, mo cânions ou outros locais de ambiente na-
contudo é muito utilizada por pedestres, justa- tural só são acessíveis a pessoas que têm mo-
mente por estar inserida junto ao tecido urba- tocicletas ou automóveis, itens cujos custos de
no (Batista e Silveira, 2020). manutenção podem chegar a quase metade do
Em síntese, a cidade de Conde apresenta rendimento médio mensal do município (1,9
uma concentração populacional mais definida salário-mínimo). Dessa forma, a população
sobre o platô, com interfaces com a área se- restrita a meios de transporte público, bicicle-
mirrural que fica no entorno dele, e a partir de ta ou a pé correspondem a 75% da população
análises territoriais apresenta um crescimento (Vialle, 2020). O mesmo autor indica outro re-
fragmentado do tecido urbano, dificultando a flexo da ausência de infraestrutura adequada:
implantação de infraestruturas e distribuição cerca de 87,1% das vias públicas não possuem
de bens e serviços pela mancha urbana. qualquer tipo de pavimentação, seja asfalto ou
bloco, impactando diretamente na mobilidade
Assim, a área de fato urbana, mais den-
urbana, inviabilizando locais de parada de ôni-
sa e consolidada, encontra-se assentada
sobre o platô. Dentro deste perímetro, o bus, sinalização viária ou sistemas de informa-
cruzamento das principais vias (antigas, ção para passageiros.
integradas, principais e coletoras) for- Portanto, é possível inferir que a mobi-
mam nós urbanos, onde se concentram lidade urbana é um fator preponderante para
equipamentos públicos e comércios.
a melhoria da qualidade urbana no município,
(Costa et al., 2020, p. 91)
visto que são infraestruturas que articulam o
Em relação à mobilidade urbana, são traçado urbano do município e impactam di-
insuficientes as infraestruturas que possibili- retamente nas dinâmicas cotidianas, seja pelo
tem a circulação das pessoas pelo território uso da população para acesso aos bens e servi-
do município. No que diz respeito a meios de ços, seja pelo desenvolvimento econômico que
transporte, os locais de lazer correspondem é oriundo dessas infraestruturas.
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dos parâmetros de uso e ocupação do territó- Geovany Jessé A. Silva (Laurbe – UFPB), e Fe-
rio (lei complementar 1/2018). Em vista disso, derica Tortora (Laurbe – Università di Roma
foi necessário planejar propostas e estratégias “La Sapienza”), com a colaboração de bolsis-
que possibilitassem uma ação efetiva, aliada à tas de graduação dos cursos de Arquitetura e
otimização de recursos. Urbanismo, Engenharia Ambiental, Engenharia
Um exemplo de estratégia adotada con- Civil e Geografia. Um dos temas analisados pe-
sistiu na colaboração, no período de 2017 a lo grupo de pesquisa foi a mobilidade urbana,
2020, entre a Prefeitura Municipal de Conde e na qual foram identificados diversos proble-
o Laboratório de Ambiente Urbano e Edificado mas locais e elaboradas propostas baseadas
(Laurbe) que desenvolve pesquisas no cam- nas diretrizes recomendadas pelo Manual de
po da arquitetura, urbanismo e planejamento Desenvolvimento Orientado para o Transpor-
urbano e regional junto ao Centro de Tecno- te Sustentável (Dots), elaborado pela Embarq
logia (CT) da Universidade Federal da Paraíba Brasil(2015).
(UFPB). A parceria teve como meta desenvol- O diagnóstico relativo à mobilidade des-
ver um masterplan para amparar a nova gestão tacou o espraiamento e a segmentação da
em relação a aspectos técnicos e diretrizes de mancha urbana – que afeta a dinâmica do mu-
planejamento urbano em curto, médio e longo nicípio e a conexão da rede viária –, bem como
prazo, para o desenvolvimento sustentável do a subutilização das infraestruturas existentes
município, com vistas, também, em uma possí- de apoio ao sistema viário; a dificuldade de
vel revisão do Plano Diretor Municipal (Batista acesso a serviços e comércios; a falta de acessi-
e Silveira, 2020). bilidade e de equipamentos nos espaços de cir-
Segundo os autores supracitados, a ini- culação para pedestres e ciclistas e a inseguran-
ciativa foi formalizada por meio da realização ça para a circulação de pedestres nos trechos
de um projeto de extensão coordenado pelos das rodovias (Figura 4).
professores José Augusto Ribeiro da Silveira e
Ausência de
calçadas
Ausência de obstáculos
para os automóveis,
possibilidade de atingir
altas velocidades
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Em vista disso, foram propostas diretrizes estacionamento para vagas situadas na área
para melhoria da mobilidade urbana no muni- da orla marítima, visando a uma melhor ges-
cípio, com ênfase na mobilidade ativa, no de- tão da demanda na área comercial estratégica
senvolvimento de alternativas sustentáveis e do município (Vialle, 2020).
na produção de ambientes mais seguros e agra- Em relação à reestruturação urbana, foi
dáveis para os pedestres e os ciclistas (Batista e realizado um importante projeto de reurbani-
Silveira, 2020). A saber: zação de uma região central do distrito de Con-
1) Encurtamento das distâncias: por meio do de, que acabou recebendo o Prêmio Cidade
fomento ao modelo de cidade compacta, no Caminhável (2021). O prêmio foi uma iniciativa
qual são estabelecidas distâncias máximas entre do Movimento SampaPé, organização sem fins
as residências e as infraestruturas de equipa- lucrativos liderada por mulheres que visam
mentos e serviços (como escolas, unidades bási- contribuir para a construção de cidades mais
cas de saúde, supermercados, e áreas de lazer); caminháveis para e com as pessoas, e contou
2) Eliminação do medo do tráfego: a partir da com apoio do Instituto de Políticas de Trans-
implementação de medidas de traffic calming porte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) e do
no desenho urbano (como o estreitamento de Instituto Walk 21, ambos com iniciativas que
ruas, criação de faixas de pedestre elevadas e o buscam a promoção de cidades mais caminhá-
estabelecimento de binários), em pontos estra- veis e sustentáveis. O município de Conde foi
tégicos da malha urbana, para redução das ve- premiado na categoria de Cidades pequenas
locidades e melhoria da segurança de pedestres; (SampaPé, 2021).
3) Viabilização da mobilidade sustentável: A proposta de reurbanização destacou-
mediante a melhora das condições de deslo- -se pela forma de condução do processo de
camento para pedestres e ciclistas, através da planejamento e pela execução da obra, garan-
padronização de calçadas acessíveis, criação de tindo a participação da população por meio da
rede cicloviária hierarquizada composta por ci- cocriação de carta de diretrizes projetuais, in-
clovias, ciclofaixas e ciclorrotas – dispostas com corporação de moradores no júri participativo
base na hierarquia e na localização das vias no do concurso e, ainda, na equipe de obras res-
município – e fornecimento de transporte públi- ponsável pela execução da praça. O projeto ob-
co acessível, suficiente e de qualidade. jetivou “tornar o centro uma área convidativa e
Em nível administrativo, outra impor- acessível para pedestres e ciclistas, conectando
tante ação consistiu na municipalização do as duas praças em um grande espaço público
trânsito (já existia uma legislação de 2015, equipado e agradável, contiguo ao calçadão do
porém era considerada inadequada) e a cria- eixo da igreja” (Versa, 2018).
ção da Coordenadoria de Mobilidade e Trân- Conforme observado na Figura 5, foi pro-
sito (órgão ainda inexistente no município) no posta no projeto uma ampla calçada de pedes-
ano de 2017. Dentre as iniciativas realizadas, tres presente no centro da caixa viária da rua
destaca-se a implementação de campanhas que desemboca na igreja, solução que traz o
de conscientização no trânsito e de tarifas de pedestre como principal ator da dinâmica de
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mobilidade local. Além disso, foi prevista a me- comoas ações pontuais implementadas no mu-
lhoria dos passeios públicos a partir do incre- nicípio de Conde contribuíram para o atendi-
mento de elementos arbóreos e de iluminação. mento às orientações da mobilidade sustentá-
Fruto de concurso nacional de projetos, vel propostas por esses instrumentos, visando à
a solução vencedora apresentou como diretriz sua possível replicação em outras cidades.
central o fomento à mobilidade ativa, a criação
de novas áreas de estar e lazer para a popula- Análise da proposta sob a ótica
ção e o aumento de mobiliários e equipamen- da PNMU e dos princípios
tos urbanos, como foi preconizado no edital do da Mobilidade Urbana Sustentável
concurso (Archdaily Brasil, 2018). A equipe do
projeto também aplicou soluções baseadas na Embora o município não possua um Plano de
racionalidade, na funcionalidade e na exequibi- Mobilidade Urbana efetivamente implantado,
lidade do projeto, conforme a realidade econô- percebe-se que as propostas de adequação em
mica local (CAU-RS, 2018). alguns pontos críticos da mobilidade trouxeram
benefícios à população. Nesse sentido, cabe
analisar quais princípios de sustentabilidade
Conde conseguiu cumprir ao implementá-las,
Resultados e discussão tendo como referência a PNMU.
O art. 5º seção II da lei n. 12.587/2012
Em vista das iniciativas adotadas pelo municí- estabelece os princípios para a mobilidade
pio, é importante uma análise tendo como re- urbana pautados na acessibilidade universal,
ferência os principais instrumentos norteadores desenvolvimento sustentável das cidades,
da mobilidade urbana, como o Dots e a PNMU. equidade no acesso dos cidadãos ao transpor-
Apresenta-se, a seguir, uma reflexão sobre te público coletivo; equidade na prestação dos
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ESTRATÉGIAS DE
PRINCÍPIOS DA PNMU*
MOBILIDADE PARA CONDE-PB
DISTRIBUIÇÃO
Desenvolvimento sustentável
DO BICICLETAS
DISTRIBUIÇÃO
DO ÔNIBUS Equidade no acesso ao tranporte
público coletivo
ESTACIONAMENTO
ROTATIVO Eficiência, eficácia e efetividade na
prestação dos serviços de transporte
DESENVOLVIMENTO e na circulação urbana
MASTERPLAN DO MUNICÍPIO
ELIMINAÇÃO
ELIMINAÇÃO DO DO
MEDO
MEDODO DO TRÁFEGO
TRÁFEGO Segurança nos deslocamentos
PADRONIZAÇÃO DE
CALÇADAS, CICLOFAIXAS,
CICLOROTAS, ETC. Justa distribuição dos benefícios
e ônus no uso dos diferentes modos
MUNICIPALIZAÇÃO
DO TRÂNSITO Equidade no uso do espaço público
de circulação, vias e logradouros
IMPLANTADO
*BRASIL, 2012
PROPOSTO (AINDA NÃO IMPLANTADO)
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Mobilidade urbana sustentável em cidade de pequeno porte
DISTRIBUIÇÃO
Mobilidade não motorizada
DO BICICLETAS
DISTRIBUIÇÃO
DO ÔNIBUS Gestão do uso do automóvel
ESTACIONAMENTO
ROTATIVO
Uso misto e edifícios eficientes
DESENVOLVIMENTO
MASTERPLAN DO MUNICÍPIO
ELIMINAÇÃO DO MEDO
DO TRÁFEGO Centros de bairros e pisos térreos ativos
PADRONIZAÇÃO DE
CALÇADAS, CICLOFAIXAS,
CICLOROTAS, ETC. Espaços públicos e recursos naturais
MUNICIPALIZAÇÃO
DO TRÂNSITO Participação e identidade comunitária
IMPLANTADO
*EMBARQ BRASIL, 2015
PROPOSTO (AINDA NÃO IMPLANTADO)
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Diferentementedas ações pontuais possibilita, de Mobilidade, respaldado por lei, que coorde-
ainda, uma articulação intersetorial para asse- ne as ações e as políticas públicas, em conso-
gurar o alcance de determinadas metas e a me- nância com os desejos da comunidade. Na au-
lhoria das condições de mobilidade. sência desse Plano, as intervenções tornam-se
fragilizadas e podem ser desmobilizadas com a
Desdobramentos pós- mudança de gestão.
-implementação das propostas Em 2022, já na gestão da prefeita Karla
Pimentel, foi iniciado o processo de elaboração
Na busca por notícias no site oficial da prefeitura do Plano de Mobilidade Urbana e do Plano de
de Conde-PB relacionadas à temática de mobili- Ação Imediata de Trânsito e Transportes, a par-
dade nos últimos anos, poucas foram as maté- tir da contratação de empresa de planejamento
rias relacionadas a leis que trouxeram avanços para gerenciamento e condução do plano de
para a consolidação das medidas adotadas ante- trabalho e comunicação relacionado às ativida-
riormente. Dentre as que mais se destacam na des para criação dos planos supracitados.
gestão municipal a partir de 2020, estão a dispo- Na versão preliminar disponibilizada pela
nibilização de ônibus para estudantes de todos empresa que elaborou o documento, constam
os níveis, a partir da prorrogação do Programa diversas pesquisas sociais para a verificação de
Caminhos da Escola, ações de pavimentação de demandas urbanas no que concerne à mobili-
estradas, educação de trânsito para crianças, re- dade. Os resultados demonstram a insatisfação
gulamentação de transporte turístico e de aces- da população quanto às condições de mobili-
sibilidade em praias do litoral da cidade. dade no município, indicando que, apesar das
Outras ações estaduais ou regionais tam- ações pontuais realizadas, ainda há várias ques-
bém são mencionadas, como o subsídio de par- tões para tornar a mobilidade urbana efetiva
te do valor e redução de impostos sobre com- no território. O plano é composto por um diag-
bustível do transporte intermunicipal, bem co- nóstico detalhado sobre as condições de mo-
mo ações de planejamento no nível metropoli- bilidade, acessibilidade, sistema viário, entre
tano que consideram a cooperação em diversos outros tópicos que apontam várias questões
temas, inclusive mobilidade – sem especificar deficitárias na cidade.
detalhes sobre essa integração. Dessa forma, é Dessa forma, a minuta de lei elaborada
possível inferir que a mobilidade no município pela empresa define entre outros objetivos
ainda é tratada com questões pontuais. estratégicos:
Embora sejam ações que melhorem a
Promover a gestão continuada de trân-
infraestrutura urbana, proporcionem mais in-
sito e transporte por parte da Secretaria
tegração regional e garantam meios de trans- Municipal, garantindo que todas as polí-
portes mais eficientes e seguros, observa-se ticas públicas e projetos sejam consoan-
ainda uma ausência de políticas de Estado tes às diretrizes do Plano de Mobilidade
capazes de garantir que as medidas adotadas Urbana, e prever atividades contínuas
para garantir a qualidade dos serviços de
para a melhoria da mobilidade de Conde sejam
transporte e a boa operação do sistema
efetivadas no território e se consolidem. Tal viário. (Líder Engenharia e Gestão de Ci-
constataçãoreforça a necessidade de um Plano dades, 2023, p. 14)
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Entretanto, atualmente, apenas 1.912 Dessa forma, podemos inferir que uma
cidades distribuídas em todas as Unidades da parcela significativa de cidades corresponde ao
Federação (Figura 8) têm a obrigação de elabo- perfil urbano e populacional de Conde e, nes-
ração do plano de mobilidade, de acordo com se sentido, pode-se usar o caso do município
dados atualizados em 2023 pelo Ministério das como referência para aplicação das diretrizes
Cidades (Brasil, 2023a). de mobilidade.
Desse modo, as cidades obrigadas a ela- O Caderno de Referência para Elabora-
borarem o Plano de Mobilidade Urbana cor- ção de Plano de Mobilidade Urbana estabelece
respondem a 34% dos municípios brasileiros, que os seguintes temas são pertinentes para as
e destes, uma quantidade considerável (83%) cidades com o perfil semelhante ao de Conde,
é de pequeno porte, ou seja, possui menos de ou seja, municípios com 20 a 60 mil habitantes
100.000 habitantes. Por sua vez, das cidades (Brasil, 2015):
de pequeno porte obrigadas a elaborar o Pla- • Integração da mobilidade com o planeja-
no de Mobilidade Urbana, quase metade (49%) mento e a ordenação do solo urbano;
possui o perfil populacional de Conde, faixa de • Classificação, hierarquização do sistema
20.000 a 30.000 mil habitantes (Figura 9). viário e organização da circulação;
(a) (b)
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de cidades de até 250.000 habitantes com Pla- dos Planos de Mobilidade por parte significa-
no de Mobilidade Urbana elaborado (Figura 10) tiva dos municípios, impedindo a obtenção de
demonstra a gravidade do problema da mobi- recursos federais destinados ao tema e, dessa
lidade em cidades brasileiras, o que exige um forma, a União vê-se obrigada a prorrogar os
grande esforço para reverter a situação. prazos (Brasil, 2023b).
O recente adiamento do prazo final Assim, faz-se necessário identificar ações
para a elaboração do Plano de Mobilidade que possam atuar para o cumprimento da
Urbana pelos municípios abrangidos pela lei lei, nos prazos estipulados, para que as cida-
n. 12.587/2012, redigido pela medida provisó- des consigam obter recursos para a melhoria
ria n. 1179 de 2023, reflete a baixa adesão ao da mobilidade urbana. Considerar pequenas
tema da mobilidade urbana nas cidades, princi- ações para tal finalidade é de suma relevância,
palmente nas de pequeno porte. Segundo o su- tendo em vista que apenas 15% das cidades de
mário executivo da medida provisória, os adia- até 250.000 habitantes possuem um Plano de
mentos são necessários pela não aprovação Mobilidade Urbana elaborado.
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André Pinto dos Santos, Juliana Silva Almeida Santos, Daniella do Amaral Mello Bonatto
[I] https://orcid.org/0000-0001-8028-3618
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Vitória, ES/Brasil.
[email protected]
[II] https://orcid.org/0000-0001-5278-1572
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Vitória, ES/Brasil.
[email protected]
[III] https://orcid.org/0000-0003-1547-3014
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Vitória, ES/Brasil.
[email protected]
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