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http://dx.doi.org/10.21168/rbrh.v21n1.p200-208
Marcos Rodrigo Momo1, Adilson Pinheiro2, Dirceu Luís Severo3, Luz Adriana Cuartas4 e Antonio Donato Nobre5
1,2,3
Fundação Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC. Brasil
[email protected]; [email protected]; [email protected]
4
Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, São José dos Campos, SP, Brasil.
[email protected]
5
Centro de Ciência do Sistema Terrestre, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, SP, Brasil.
[email protected]
RESUMO
O mapeamento das áreas suscetíveis à inundação constitui uma etapa importante na minimização dos danos gerados por enchentes, sobretudo em áreas
urbanas. Este mapeamento é usado no estabelecimento de diretrizes de uso e ocupação do solo e na formulação dos planos de defesa civil. No município de
Blumenau e Brusque, mapeamentos das áreas atingidas por inundação foram realizados, a partir de levantamentos efetuados após a ocorrência de enchentes.
A partir da topografia representada em modelos digitais de terrenos (MDT) o modelo HAND vinha sendo aplicado preliminarmente para a previsão de
áreas potenciais de inundação. Recentemente introduziu-se um novo conceito nas curvas de nível acima da drenagem mais próxima (HAND contours),
demonstrando para o rio Itajaí Açú em Blumenau a capacidade especifica deste modelo para utilização em mapeamentos de áreas de risco hidrológico. Este
trabalho teve por objetivo avaliar mais amplamente o desempenho do método HAND contour no mapeamento de áreas suscetíveis à inundação, tendo por
base os levantamentos topográficos e mapas de inundações disponíveis para os municípios de Blumenau e Brusque. Nesta avaliação, foram usadas as variáveis
acerto, omissão e comissão e, os parâmetros F estatístico, acurácia geral, Fit (%), taxa de alarme falso (TAF) e a taxa de tendência (BIAS). Os resultados
mostraram que para enchentes de pequena magnitude, o modelo HAND superestima significativamente a área suscetível à inundação. À medida que a cota
de inundação aumenta, o desempenho do modelo HAND melhora. Para a maior enchente simulada de Blumenau e de Brusque, a omissão (área faltante)
foi de 7,5 e 4,7%, respectivamente. A comissão (área excedente) foi de 35,3 e 42,2%, respectivamente. A comparação com outros estudos mostra que o
desempenho do modelo HAND é similar aqueles obtidos por outros autores com modelos hidrodinâmicos, cujo requerimento de dados de entrada é elevado.
ABSTRACT
Mapping areas susceptible to flooding is an important step to minimize the damage caused by floods, especially in urban areas. This mapping is used to esta-
blish guidelines for use and occupation of the soil and in the formulation of civil defense plans. In the municipalities of Blumenau and Brusque, flood stricken
areas were mapped, from surveys carried out after the events. From the topography represented in digital terrain models (DTM), the HAND model had been
preliminarily applied to predict potential flood areas. Recently a new concept was introduced in contours above the nearest drainage (HAND contours),
demonstrating the specific ability of this method for use in hydrological risk area assessment. This study aimed to evaluate more widely the performance of the
HAND contour method in mapping areas susceptible to flooding, based on topographic surveys available for the municipalities of Blumenau and Brusque.
The evaluation used the variables accuracy, omission and commission, and the parameters F statistic, overall accuracy, Fit (%), false alarm rate (FAR) and
the trend rate (BIAS). The results showed that for floods of small magnitude, the HAND model overestimates the area susceptible to flooding. As the flood
level increases, the HAND model performance improves. For the largest simulated flood of Brusque and Blumenau, the omission (missing area) was of 7.5
and 4.7%, respectively. The commission (surplus area) was 35.3 and 42.2%, respectively. Comparison with other studies shows that the performance of the
HAND model is similar to those obtained by other authors with hydrodynamic models, which have a high demand for data input.
201
Momo et al.: Desempenho do modelo HAND no mapeamento de áreas suscetíveis à inundação
usando dados de alta resolução espacial
𝑂𝑂∩𝑆𝑆
O𝐹𝐹 modelo
= HAND, 𝑋𝑋 100 (1)
escrito em C++, contém procedi-
𝑂𝑂∪𝑆𝑆−𝑂𝑂∩𝑆𝑆
mentos estabelecidos para o processamento do MDT (estrutura
raster), extraindo dele automaticamente a rede de drenagem. A
partir da rede de drenagem e 𝑜𝑜∩𝑠𝑠 do MDT, é então gerada a topologia
HAND (NOBREAcurácia et Geral =
al., 2011). 𝑋𝑋100 (2)
𝑂𝑂
Para classificar as áreas suscetíveis à inundação e indicar
a altura de𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹(%)
uma determinada
=
𝑂𝑂∩𝑆𝑆 localização geográfica,
𝑋𝑋 100 (3) em vez do
nível do mar, o algoritmo HAND define como referência a
𝑂𝑂+𝑆𝑆
202
RBRH vol. 21 no.1 Porto Alegre jan./mar. 2016 p. 200 - 208
maior o limiar, menos pontos na grade serão encontrados. Desta Este parâmetro é zero quando não há sobreposição
forma, menor será a densidade de drenagem. Neste caso, são e 100 quando as áreas observada e simulada coincidem perfei-
detalhados apenas os cursos de água principais (maior ordem). tamente (YU; LANE, 2006; BATES, 2000; HORRITT et al.,
Limiares menores incluirão as drenagens menores, aumentan- 2002).
do o detalhamento da rede de drenagem da área considerada. - Acurácia Geral: este parâmetro representa a relação
A área de contribuição é calculada através da contagem do entre a área de acerto simulada
𝑂𝑂∩𝑆𝑆 e a área total observada. Este
número de células, cujas trajetórias de fluxo convergem para a = quando 𝑋𝑋
parâmetro tem valor𝐹𝐹zero 100 (1)
𝑂𝑂∪𝑆𝑆−𝑂𝑂∩𝑆𝑆 não há sobreposição e 100
célula considerada. quando as áreas coincidem perfeitamente (YU; LANE, 2006).
- Etapa 3: geração da topologia HAND: nesta etapa A acurácia geral é expressa por:
o modelo classifica todos os pontos da grade de entrada com 𝑜𝑜∩𝑠𝑠
base nas distâncias verticais relativas, ao longo das trajetórias Acurácia𝑂𝑂∩𝑆𝑆
Geral = 𝑋𝑋100 (2)
𝐹𝐹 = 𝑋𝑋 100
𝑂𝑂 (1)
𝑂𝑂∪𝑆𝑆−𝑂𝑂∩𝑆𝑆
superficiais de fluxo, para o curso d’água mais próximo. Como
resultado desta etapa é produzido um MDT normalizado, onde - Fit(%), ou 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹(%)
método = de 𝑂𝑂∩𝑆𝑆
ajuste, é a razão entre o núme-
𝑋𝑋 100 (3)
𝑂𝑂+𝑆𝑆
a cada ponto de grade é ajustado um novo valor altimétrico ro de pixels coincidentes nas áreas de inundação observadas e
referenciado topograficamente com a rede de drenagem. simuladas e a soma das duas áreas (simuladas 𝑜𝑜∩𝑠𝑠 e observadas).
Acurácia Geral = 𝑋𝑋100 (2)
Neste trabalho foi utilizado o MDT obtido do le- Este parâmetro é expresso por (BATES,𝑂𝑂 2000):
𝑆𝑆−𝑆𝑆∩𝑂𝑂
𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 = 𝑋𝑋100 (4)
vantamento aerofotogramétrico realizado pela Secretaria de 𝑆𝑆
𝑂𝑂∩𝑆𝑆
Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Santa Catarina 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹(%) = 𝑋𝑋 100 (3)
𝑂𝑂+𝑆𝑆
(SDS-SC) em 2013. Para o levantamento acoplaram-se aos aviões 𝑂𝑂∩𝑆𝑆
computadores, aparelhos GPS de alta precisão, sistema inercial Esta medida𝐹𝐹assume
= valor 𝑋𝑋zero
100quando não há sobre- (1)
𝑂𝑂∪𝑆𝑆−𝑂𝑂∩𝑆𝑆
𝑆𝑆−𝑆𝑆∩𝑂𝑂
e acelerômetros, tornando possível o conhecimento preciso da posição e 50 quando𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇
as áreas
= coincidem 𝑋𝑋100perfeitamente. (4)
posição e altitude da aeronave na hora da tomada das aerofo- - Taxa de alarme falso 𝑆𝑆(TAF): avalia o rendimento do
tos. Foi utilizado o Sistema Aerotransportado de Aquisição e modelo em relação aos erros de comissão, ou seja, o percentual
𝑜𝑜∩𝑠𝑠
Pós-processamento de Imagens Digitais (SAAPI), com pixels de área simulada peloAcurácia
modelo,Geralcomo=sendo inundada, mas (2)
𝑋𝑋100 que
𝑂𝑂
de 1,0 m e resolução vertical de 0,39 m do solo. na realidade, não é área de inundação (STEPHENSON, 2000).
Neste parâmetro quanto mais 𝑂𝑂∩𝑆𝑆 próximo de zero for o valor
𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹(%) = 𝑋𝑋 100 (3)
Desempenho do modelo HAND obtido, melhor será o rendimento 𝑂𝑂+𝑆𝑆 do modelo. A equação de
TAF é dada por:
Para avaliar o desempenho do modelo HAND na pre- 𝑆𝑆−𝑆𝑆∩𝑂𝑂
visão da extensão de áreas inundadas, foram escolhidas variáveis 𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 = 𝑋𝑋100 (4)
𝑆𝑆
que determinam o acerto, a omissão e a comissão. Foram calcu-
lados os seguintes parâmetros: F estatístico, acurácia geral, Fit - Taxa de tendência (BIAS): este parâmetro avalia
(%), taxa de alarme
Figura falso (TAF) e a taxa
1 - Localização das de tendência
áreas de estudo(BIAS). apenas o erro. Apresenta qual é a tendência de erro por omissão
Estes parâmetros são explicados a seguir. ou por comissão na simulação do modelo (STEPHENSON,
São consideradas áreas de acerto as áreas coincidentes 2000). O parâmetro é obtido pela relação entre a área simula-
no mapa observadoDesempenho
e no mapa do modelo
simulado. OuHAND
seja, são as áreas em da e a área observada. Quanto mais próximo de 1 for o valor
que o modelo prevê corretamente as áreas de inundação. Quanto deste parâmetro, melhor será o rendimento do modelo. Se o
Figura
maior é o percentual . da1 variável
- Localização
acerto,das áreas de
melhor estudo
o desempenho valor obtido for maior que 1 indica uma tendência de erro por
do modelo. Considerando que o representa a área observada e comissão e, se o valor for menor que 1, indicará tendência de
s a área simulada, o(𝑜𝑜acerto
∩ 𝑠𝑠). é obtido por (o∩s). erros por omissão de áreas.
Desempenho do modelo HAND
As áreas de omissão são aquelas observadas como Ressalta-se que índices altos no parâmetro de acurácia
inundáveis, mas que (𝑜𝑜na
− simulação
𝑜𝑜 ∩ 𝑠𝑠). do modelo, o resultado não geral, não necessariamente significam um rendimento aceitável
.
classifica como sendo área inundável. A omissão é obtida por do modelo. Se o modelo sempre simular uma área de inundação
(o - o∩s). (𝑠𝑠 − 𝑜𝑜 ∩ 𝑠𝑠). bastante grande, sempre serão obtidos valores altos no parâ-
(𝑜𝑜 ∩ 𝑠𝑠).
As áreas de comissão são aquelas que não são observadas metro de acurácia. Neste parâmetro não é considerado os erro
como áreas de Figura
inundação, ∩mas
𝑠𝑠). que nadassimulação
(𝑜𝑜 −1 𝑜𝑜- Localização do modelo,
áreas de estudo por comissão. Os parâmetros de TAF e BIAS permitem fazer
são classificadas como sendo áreas inundáveis. A comissão é esta constatação. O parâmetro de TAF considera os erros do
obtida por (s-o∩s).(𝑠𝑠 − 𝑜𝑜 ∩ 𝑠𝑠). modelo em comissão, enquanto que o parâmetro BIAS mostra
São asDesempenho
seguintes as do definições
modelo para
HAND os parâmetros uma tendência dos erros (omissão ou comissão), tanto em ter-
calculados: mos de sub ou de superestimação. No entanto, a comparação
- F estatístico:
. Os mapas observados e simulados são dos valores das áreas simulada e observada não representa a
comparados usando as três áreas: observada, simulada e acer- sobreposição das mesmas. Ou seja, é possível que haja áreas
to. A média entre elas
(𝑜𝑜 ∩é 𝑠𝑠).
o F estatístico (COOK; MERWADE, inundáveis subestimadas em determinadas regiões e superestima-
2009), expresso por: das em outras e, ainda assim, o parâmetro esteja próximo de 1.
(𝑜𝑜 − 𝑜𝑜 ∩ 𝑠𝑠). . Da mesma forma, bons resultados alcançados com o
𝐹𝐹 =
𝑂𝑂∩𝑆𝑆
𝑋𝑋 100 (1) índice de TAF, não necessariamente indicam um bom desem-
(𝑠𝑠 − 𝑜𝑜 𝑂𝑂∪𝑆𝑆−𝑂𝑂∩𝑆𝑆
∩ 𝑠𝑠). penho global do modelo, pois o TAF não considera os erros
203 𝑜𝑜∩𝑠𝑠
Acurácia Geral = 𝑋𝑋100 (2)
𝑂𝑂
1
Momo et al.: Desempenho do modelo HAND no mapeamento de áreas suscetíveis à inundação
usando dados de alta resolução espacial
do modelo por omissão de área. Na Figura 1 são apresentados os resultados dos cruza-
Os valores dos parâmetros F e FIT refletem a capacidade mentos entre as manchas de inundação observadas e as manchas
do HAND em simular a área efetivamente inundada, mas não de inundação simuladas pelo modelo HAND, para as diversas
incluem a área não inundável que foi simulada corretamente. cotas de inundação no município de Blumenau (Figuras 1A,
Isto constitui uma das limitações do cálculo destes parâmetros 1B, 1C, 1D e 1E) e no município de Brusque (Figura 1F). Os
que em ambos utiliza-se apenas a área de inundação simulada resultados estão representados pelas áreas coincidentes entre
corretamente. a mancha observada e simulada, assim como, pelas áreas de
omissão e comissão.
Processo operacional Em relação à área observada, percebe-se que para as
superfícies com cotas de inundação menores (10 e 12 m), o
Na fase de pré-processamento do modelo, o mosaico da modelo simula uma área com contornos mais largos, represen-
superfície de inundação foi obtido a partir das imagens do MDT. tando uma elevada área de comissão (área em azul). Entretanto,
Em seguida, foram criados os arquivos shapefile e realizá-los três na medida em que a cota de inundação vai aumentando, a área
recortes da área total. Uma vez realizados os recortes, os mesmos de acerto do modelo (área em vermelho) vai crescendo e a
foram exportados para arquivo do tipo TIFF. Os recortes foram área de omissão vai diminuindo. Além disso, em todas as cotas
necessários apenas para reduzir o tempo de processamento A de inundação, as áreas de omissão (área em verde) mantêm-se
partir das ferramentas de sistema de informações geográficas sempre pequenas, praticamente imperceptíveis.
foram executadas as operações de correção do MDT e gerações A partir da mancha na cota de inundação 13 m, per-
do DFD. Uma vez realizada estas operações, os recortes foram cebe-se uma diminuição importante das áreas de comissão. Na
importados para o HAND, onde foram executadas as funções medida em que a superfície de inundação aumenta, melhora o
para obtenção da área acumulada e a rede de drenagem a partir rendimento do modelo.
da atribuição do limiar. Neste trabalho utilizou-se limiar de 4,05 A análise da capacidade do modelo de simulação de
km² de modo a reduzir contribuição das drenagens de pequena áreas inundadas não é tarefa fácil, pois elas devem ser realizadas
ordem. Definida a rede de drenagem, foi processado o algoritmo sob os diversos aspectos de rendimento. Neste trabalho foram
HAND e as classificações HAND de 1 à 20 m. Na sequência selecionados os parâmetros estatísticos mais utilizados na lite-
estes arquivos (recortes) foram exportados para o SIG onde ratura para compor a análise dos índices de acerto, índices de
foi realizada a remontagem da área total de inundação simulada erros por omissão e os índices de erros por comissão de áreas
e feitos os cruzamentos das saídas do HAND com as cartas inundáveis. Neste caso, os índices expressam as áreas em termos
-enchente de Blumenau nas cotas de inundação de 10,0; 12,0; de valores percentuais, obtidos com relação as áreas observadas.
13,0; 15,46 e 17,0 m e, para Brusque, com a cota de inundação Foram definidos critérios para a seleção do melhor
de 10,03 m. Como resultado deste processamento, obteve-se o resultado entre as simulações HAND para cada mancha na
valor quantitativo da área de acerto, do erro por omissão e do cota de inundação. O primeiro critério de corte definido foi:
erro de comissão de áreas para cada simulação HAND. Obtidos índice de omissão menor que 15%. Desta forma, as simulações
os valores destas variáveis foram calculados os parâmetros de que apresentaram índice de omissão maior que 15% foram
acurácia geral, FIT, F estatístico, TAF e BIAS. descartados. Este critério foi definido porque no contexto de
um sistema de prevenção, o erro por omissão é o mais grave,
podendo causar maior impacto na gestão de uso e ocupação
RESULTADOS E DISCUSSÃO do solo. O segundo critério de corte, foi de índice de comissão.
Neste caso, analisou-se o contexto de maneira que mesmo es-
timando corretamente todas as áreas suscetíveis a inundação,
Tabela 1 - Índices e parâmetros estatísticos obtidos na aplicação do modelo HAND para estimar manchas de inundação nos
municípios
Tabela 1 - Índices e parâmetros estatísticos obtidos nade Blumenau
aplicação e Brusque
do modelo HAND para estimar manchas de inundação nos municípios
de Blumenau e Brusque.
Cota de inundação (m)
Parâmetro Blumenau Brusque
10,0 12,0 13,0 15,46 17,0 10,03
Área observada (km2) 6,7 10,9 15,7 23,4 26,9 16,1
Área simulada (km2) 23,2 25,8 28,1 33,23 34,4 22,1
Área de acerto (km2) 5,7 9,8 15,4 21,8 24,9 15,3
Omissão (%) 13,8 10,6 1,6 6,9 7,5 4,7
Comissão (%) 262,3 146,0 81,2 48,9 35,3 42,2
F estatístico (%) 23,8 36,3 54,3 62,5 68,3 67,0
Acurácia geral (%) 86,0 89,3 98,0 93,0 92,0 95,3
FIT (%) 19,2 26,6 35,2 38,5 40,6 40,1
TAF (%) 75,3 62,0 45,2 34,0 28,0 30,7
BIAS (%) 3,5 2,3 1,8 1,4 1,3 1,4
204
RBRH vol. 21 no.1 Porto Alegre jan./mar. 2016 p. 200 - 208
Figura 2 - Áreas de inundação de Blumenau para as cotas de 10 m (A), 12 m (B), 13,0 m (C), 15,46 m (D) 17 m (F). A área de inundação
Figura 2 - de
Áreas de inundação
Brusque de Blumenau
na cota 10,03 para as
m (F). Vermelho cotas deas10áreas
representa m (A), 12 m (B),
de acerto; azul13,0 m (C),as15,46
representa áreasmde(D) 17 m (F).
comissão; A área
verde de inundação
representa as áreas de
de Brusque na cota
omissão 10,03 mpelo
simuladas (F).modelo.
Vermelho representa as áreas de acerto; azul representa as áreas de comissão; verde representa as
áreas de omissão simuladas pelo modelo
205
Momo et al.: Desempenho do modelo HAND no mapeamento de áreas suscetíveis à inundação
usando dados de alta resolução espacial
ainda assim, pode não ser eficiente, caso o modelo apresente rácia geral e F estatístico para avaliar o modelo HEC-RAS
exorbitantes áreas com suscetibilidade, gerando assim, altos combinando 1D e 2D com três configurações distintas, no rio
índices de erros por comissão. O terceiro e último critério, foi Wharfe no Reino Unido. Os mapas obtidos pelas simulações
o de percentual de acerto entre as áreas observada e simulada. com o HEC-RAS foram comparados com as observações em
Os valores obtidos para os parâmetros calculados na análise de campo, logo após a ocorrência da inundação dos pontos em
rendimento do modelo são apresentados na Tabela 1. Nota-se que a água ultrapassou o canal principal. Os melhores resultados
que com o aumento da cota de inundação observada, foram alcançados foram de 75% pelo coeficiente de acurácia geral e
obtidos melhores índices de acerto, representado pela omissão. 62% pelo coeficiente de F estatístico.
Ao mesmo tempo, diminuiu o erro por comissão. Os parâmetros Os resultados obtidos com o modelo HAND devem
F estatístico e Fit também apresentaram melhores resultados ser analisados em duas perspectivas. Primeiro, a inundação na
para as maiores cotas de inundação. cidade de Blumenau é gerada pela enchente produzida na bacia
Da mesma forma, o índice TAF premia a área de acerto, do rio Itajaí-Açú. As áreas ribeirinhas adjacentes são diretamente
penalizando os erros por comissão de áreas. Assim, obtém-se inundadas pelo escoamento fluvial no rio principal. No entanto,
os melhores resultados deste parâmetro nas cotas inundações nas bacias de drenagem dos afluentes, a inundação é provocada
mais elevadas (13,0; 15,46 e 17,0 m). pelo escoamento de refluxo, quando o nível de água do rio
Para o parâmetro de acurácia geral, analisa-se uma média principal é mais elevado do que no escoamento no canal de
simples da divisão entre a área de acerto do modelo pela área drenagem. Deste modo, a velocidade de enchimento nas áreas
total observada de inundação. Neste caso, quanto maior for à suscetíveis a inundação dos afluentes depende da diferença de
área de inundação simulada pelo modelo, maior serão as chances nível entre o rio principal e o ponto considerado. Isto signifi-
de melhorar o rendimento do parâmetro de acurácia modelo. ca que a hidrodinâmica do escoamento de refluxo controla a
O cálculo de acurácia considera apenas os erros por omissão abrangência da área efetivamente inundada. Para enchentes de
de áreas. Isso explica os valores altos de acurácia geral, obtidos curta duração, parte da área suscetível a inundação pode não ser
nas simulações de todas as cotas de inundação. atingida se a velocidade de enchimento for reduzida. Em geral,
Os erros de comissão foram maiores que os erros de esta situação é observada para enchente de pequena magnitude,
omissão. Esta constatação pôde ser verificada nos resultados do como aquelas com cota de inundação de 10,0 e 12,0 m. Para as
parâmetro BIAS, que apresenta a tendência do erro. enchentes com cota de inundação mais elevadas, o tempo de
Os resultados obtidos neste trabalho podem ser com- passagem da onda de cheia é maior, possibilitando o completo
parados com estudos realizados em outros locais. Cook e Me- enchimento das áreas suscetíveis à inundação.
rwade (2009) utilizaram dois modelos de simulação: o modelo Segundo, a inclinação da linha de água da onda de cheia
HEC-HAS 1D e modelo FESWMS 2D, para gerar mapas de é variável em função da magnitude do evento. Pinheiro et al.
extensão de inundação para duas bacias nos Estados Unidos, em (1987) apresentaram as linhas de água levantadas ao longo do
Stroud’s Creek na Carolina do Norte e Brazos River no Texas,. rio Itajaí-Açú para diferentes enchentes registradas no município
Utilizaram como dados de entrada MDTs com resoluções de 11 de Blumenau. Cordero et al. (2012) apresentaram as linhas de
e 30 m e dados LIDAR (Light Detection and Ranging). Os mapas águas levantadas para as enchentes recentes. As alterações das
simulados pelos modelos foram comparados como os mapas linhas de água das ondas de cheias podem ser provocadas por
base disponibilizados pelo FEMA (Federal Emergency Management modificações na hidrodinâmica fluvial, tais como obras efetuadas
Agency). Na análise comparativa eles utilizaram três variáveis no canal, alteração da rugosidade das margens (crescimento da
com índices quantitativos: área de inundação, largura média vegetação, remoção de cobertura vegetal, aterramentos, proteção
de inundação e F estatístico. A média dos F estatístico, para as das margens com gabiões, entre outras ações), assoreamento e
diferentes condições topográficas (escalas e fonte dos dados) extração de areia no fundo do canal, aprofundamento do calado
e geométricas (espaçamento longitudinal e perfil transversal). em regiões navegáveis, erosão e escorregamentos das margens,
Os valores de F estatístico foram diferentes para estas caracte- entre outras intervenções humanas e processos naturais ou
rísticas assim como para os rios simulados e para os modelos induzidos por atividades antrópicas. Essas alterações se desen-
utilizados. O F estatístico variou entre 55,5 e 100,0% para as volvem ao longo do tempo e dos cursos de água (rios principais
condições topográficas e entre 82,5 e 100,0% para as condições e afluentes) e fazem parte da dinâmica de ocupação da paisagem,
geométricas consideradas. sobretudo em áreas urbanas, com ocupação desordenada.
Horritt et al. (2002) apresentam os resultados dos testes O modelo HAND descreve a elevação relativa das cotas
com os modelos de inundação HEC-RAS 1D, LISFLOOD-FP do terreno. Em princípio ele representa a cota de inundação em
1D e TELEMAC 2D, abrangendo uma área de 60 km no rio uma condição hidrostática, onde a variação da linha de água da
Severn, no Reino Unido. Os mapas de extensão de inundação cheia é produzida pela alteração altimétrica da superfície do
obtidos pelos três modelos foram comparados com os dois terreno. Neste sentido, as condições hidrodinâmicas descritas
eventos de cheias registradas com imagem de satélite. O coe- acima não são consideradas no traçado das superfícies inundá-
ficiente Fit foi utilizado na análise de eficiência dos modelos. veis. Similar aos modelos hidrodinâmicos unidimensionais, que
Os rendimentos dos modelos ficaram muito próximos. Em um consideram a superfície da água distribuída de forma uniforme
evento de cheia, os coeficientes Fit foram da ordem de 65 % e na seção transversal, o modelo HAND considera a superfície
no outro na ordem de 40%. da agua distribuída de forma uniforme lateralmente, mas em
Tayefi et al. (2007) utilizaram os coeficientes de acu- contraste com os anteriores, considera apenas as seções ajusta-
206
RBRH vol. 21 no.1 Porto Alegre jan./mar. 2016 p. 200 - 208
das para as trajetórias de fluxo superficial. O plano da linha de para aquelas cotas de inundações mais baixas, representativas de
inundação se distribui ao longo da rede de drenagem em função pequenas enchentes, reduzindo para as enchentes com maiores
da elevação da altimetria do terreno. cotas de inundação.
Assim, o desempenho do modelo HAND pode ser O rendimento do modelo HAND pode ser considerado
influenciado pelas intensidades das variações hidrodinâmicas adequado no traçado das áreas suscetíveis à inundação, para
que ocorrem no curso de água principal e de seus afluentes. A modelos digitais de terreno de alta resolução espacial. Assim,
aplicação do modelo HAND na cidade de Blumenau mostra considera-se que ele constitui uma ferramenta que pode ser
que o desempenho foi menor para as cotas de inundação mais empregada no traçado das áreas suscetíveis a inundação no es-
baixas, onde as variações hidrodinâmicas são mais expressivas, tado de Santa Catarina, onde os municípios têm levantamentos
melhorando para as cotas de inundação mais elevadas. Isto planialtimétricos obtidos com imagens aerofotogramétricas de
permite considerar que em regiões com reduzidas variações alta resolução.
hidrodinâmicas, como em trechos inferiores de cursos de águas,
o desempenho do modelo HAND poderá ser mais elevado.
Por outro lado, nota-se pelos resultados obtidos por AGRADECIMENTOS
outros pesquisadores, que o empego de modelos hidráulicos uni
ou bidimensionais também apresentam desempenho da mesma Os autores agradecem ao CNPq (processos 404158/2013-
ordem de grandeza daqueles alcançados com a aplicação do 7 GEOCLIMA e 303472/2014-6) pelo fomento a pesquisa e
modelo HAND em Blumenau. Os modelos hidrodinâmicos uni- pela concessão de bolsa de produtividade de pesquisa.
dimensionais representam a evolução da linha de água ao longo
do canal principal e, a evolução transversal é obtida considerando
a ocorrência de um plano de inundação horizontal. Transversal- REFERÊNCIAS
mente, a superfície apresenta inclinação que pode representar a
ação das forças de atrito e de pressão. No caso de um modelo BATES, P.; DE ROO, A. P. A simple raster-based model for
bidimensional, estas forças poderiam ser consideradas. No en- flood inundation simulation. Journal of Hydrology, v. 236, n.1-2,
tanto, a quantidade de dados de entrada destes modelos (para p.54–77, 2000. doi:10.1016/S0022-1694(00)00278-X.
parametrização e calibração) é elevada, dificultando a medição
ou a estimação de seus valores efetivos. Assim, simplificações CENTRO DE OPERAÇÕES DO SISTEMA DE ALERTA –
precisam ser adotadas, de modo que a precisão na estimativa da CEOPS. Picos de enchentes. Disponível em http://ceops.furb.
superfície de inundação pode ser reduzida. Estas dificuldades br/index.php/sistema-de-alerta/picos-de-enchentes. Acesso
provocam incertezas que refletem no desempenho dos modelos em: 02/09/2015.
hidrodinâmicos na representação das linhas de água de inunda-
ção em área com elevada heterogeneidade espacial e temporal. CORDERO, A.; BUTZKE, I. C. Cota-enchente para a cidade
Neste contexto, o esforço para o uso de modelos hi- de Blumenau. Revista Técnico Científica Dynamis, Blumenau, v.1,
drodinâmicos que descrevem as equações completas de Saint n.12, p.5-9, 1995.
Vennant ou equações simplificadas é grande, tanto em termos
computacionais quanto em termos de dados de entrada. Em CORDERO, A.; SALVADOR, D.; REFOSCO, J.; TACHINI, M.
contrapartida a aplicação do modelo HAND requer levantamento Cotas-Enchente do município de Blumenau. In: XX SIMPÓSIO
planialtimétrico, que pode ser obtido por técnicas modernas de BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, Bento Gonçalves,
sensoriamento remoto, não requerendo muito esforço computa- 2013. Anais... Bento Gonçalves, 2013.
cional e de dados de entrada. Em ambos os casos, o traçado das
superfícies de inundação apresenta desempenhos equivalentes, COOK, A.; MERWADE, V. Effect of topographic data,
indicando que o modelo HAND constitui em ferramenta ade- geometric configuration and modeling approach on flood
quada para traçado de áreas suscetíveis a inundação. inundation mapping. Journal of Hydrology, v.377, n.1, p.131-142,
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Processes. 2015. doi: 10.1002/hyp.10581. Contribuição dos autores:
NOBRE, A. D.; CUARTAS, L. A.; HODNETT, M.; RENNÓ, Adilson Pinheiro: co-orientador do trabalho de
C. D.; RODRIGUES, G.; SILVEIRA, A.; WATERLOO, M.; dissertação concepção do estudo, interpretação dos resultados,
SALESKA, S. Height above the Nearest Drainage, a hydrologically descrição e fechamento do texto.
relevant new terrain model. Journal Hydrology. v. 404, n. 1-2,
p.13–29, 2011. doi:10.1016/j.jhydrol.2011.03.051 Dirceu Luís Severo: orientador do trabalho de dissertação,
concepção do estudo, apoio na aplicação dos índices estatísticos,
NOBRE, C. A.; YOUNG, A. F.; ORSINI, J. A. M.; SALDIVA, interpretação e descrição dos resultados.
P. H. N.; NOBRE, A. N.; OGURA, A. T.; THOMAZ, O.;
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Ipea, 2010. Cap. 13. Marcos Rodrigo Momo: este trabalho é parte de sua dissertação
de mestrado, elaboração da metodologia de aplicação do modelo
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