Desenvolvimento de Software Ágil: Uma Revisão Sistemática Da Literatura Sobre Technostress E Exaustão No Trabalho

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DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE ÁGIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA

LITERATURA SOBRE TECHNOSTRESS E EXAUSTÃO NO TRABALHO

AGILE SOFTWARE DEVELOPMENT: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW ON


TECHNOSTRESS AND WORK EXHAUSTION

ADRIANNE PAULA VIEIRA DE ANDRADE


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

ADRIANO CÉSAR PETROVICH BEZERRA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

Anais do XI SINGEP-CIK – UNINOVE – São Paulo – SP – Brasil – 25 a 27/10/2023


DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE ÁGIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA SOBRE TECHNOSTRESS E EXAUSTÃO NO TRABALHO

Objetivo do estudo
Baseando-se na literatura atual, o presente estudo tem como objetivo identificar os conhecimentos
consolidados e em construção acerca dos efeitos, causas e consequências do uso de métodos ágeis na
exaustão no trabalho e technostress em desenvolvedores de software.

Relevância/originalidade
Demonstra-se a relevância e originalidade diante da lacuna científica que há sobre a temática, em
especial quando une os pilares aqui abordados, quais sejam: technostress, exaustão no trabalho e
metodologias ágeis em equipes de desenvolvimento de software.

Metodologia/abordagem
Alcançou-se 177 artigos, em 4 bases, os quais foram submetidos a critérios de inclusão e exclusão de
modo que restaram 16 estudos lidos na íntegra a fim de compor o presente trabalho que desenvolve-se
como Revisão Sistemática da Literatura.

Principais resultados
Os resultados demonstram as influências positivas e negativas que as metodologias ágeis podem ter
em relação a exaustão do trabalho, bem como apresentam as principais consequências desta fadiga no
ambiente de desenvolvimento de software.

Contribuições teóricas/metodológicas
O presente estudo consolida o conhecimento atual acerta da intersecção que une metodologias ágeis no
ambiente de TI, exaustão no trabalho e technostress, dando o primeiro passo para o aprofundamento
dos estudos que abordem a saúde e bem-estar de desenvolvedores.

Contribuições sociais/para a gestão


Como contribuição social e à gestão, ressaltam-se os cuidados e pontos de atenção a fim de garantir o
bem-estar dos desenvolvedores de software, garantindo, por consequência a retenção de talentos,
qualidade nas entregas e redução de custos.

Palavras-chave: Métodos ágeis, Desenvolvedores de software, Technostress, Exaustão no trabalho

Anais do XI SINGEP-CIK – UNINOVE – São Paulo – SP – Brasil – 25 a 27/10/2023


AGILE SOFTWARE DEVELOPMENT: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW ON
TECHNOSTRESS AND WORK EXHAUSTION

Study purpose
Building upon current literature, the present study aims to identify consolidated and emerging
knowledge about the effects, causes, and consequences of using agile methods on work exhaustion and
technostress in software developers.

Relevance / originality
The relevance and originality are demonstrated in the face of the scientific gap concerning the theme,
particularly when it combines the pillars addressed here, namely: technostress, work exhaustion, and
agile methodologies in software development teams.

Methodology / approach
A total of 177 articles were gathered from 4 databases, which were subjected to inclusion and
exclusion criteria, resulting in 16 studies that were fully reviewed to compose this work, developed as
a Systematic Literature Review.

Main results
The results demonstrate the positive and negative influences that agile methodologies can have on
work exhaustion, as well as presenting the main consequences of this fatigue in the software
development environment.

Theoretical / methodological contributions


This study consolidates current knowledge about the intersection that combines agile methodologies in
the IT environment, work exhaustion, and technostress, taking the first step towards deepening studies
about the health and well-being of developers.

Social / management contributions


As a social and management contribution, the care and points of attention are highlighted to ensure the
well-being of software developers, thereby ensuring talent retention, delivery quality, and cost
reduction.

Keywords: Agile Methods, Software Developers, Technostress, Work Exhaustion

Anais do XI SINGEP-CIK – UNINOVE – São Paulo – SP – Brasil – 25 a 27/10/2023


DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE ÁGIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA SOBRE TECHNOSTRESS E EXAUSTÃO NO TRABALHO

1 Introdução

A gestão de projetos de software é uma atividade fundamental para negócios e


sociedade. Apesar de décadas de experiência, a complexidade inerente ao desenvolvimento
de software persiste devido às interdependências e à necessidade de colaboração entre
indivíduos com diferentes conhecimentos. As demandas em constante evolução das empresas
amplificam essa complexidade, levando a mudanças imprevisíveis nos requisitos do software
e causando desafios significativos. Isso pode resultar em falhas de projetos, incluindo a
excedência do orçamento previsto e atrasos (Maruping, Venkatesh & Agarwal 2009).
No enfrentamento dessa complexidade e das mudanças frequentes no cenário da
indústria de software, os métodos ágeis consolidaram-se como uma abordagem amplamente
adotada. Essas metodologias buscam acelerar o desenvolvimento e a entrega de software,
estabelecendo processos iterativos, incentivando a auto-organização e promovendo a
colaboração não apenas entre os desenvolvedores, mas também com partes interessadas
externas (Venkatesh, Thong, Chan, Hoehle & Spohrer, 2020). Desde a publicação do
Manifesto Ágil em 2001, marco que completa mais de duas décadas, as metodologias ágeis
têm ganhado um protagonismo crescente na gestão de projetos (Beck, Beedle, Van
Bennekum, Cockburn, Cunningham, Fowler & Thomas, 2001). Esse enfoque, muitas vezes,
é contraposto ao modelo tradicional em cascata, trazendo à tona uma discussão em evolução.
No entanto, apesar do crescente interesse e dos estudos nessa área, é relevante observar que a
literatura atual frequentemente se concentra na definição dos princípios da agilidade e suas
características distintivas, como ressaltado por Cetin e Tolay (2022).
Intimamente ligado às discussões sobre agilidade está a indústria de desenvolvimento
de software, que se posiciona como um dos principais mercados globais, com um
crescimento de cerca de 9% nos últimos anos (Gartner, 2021). Esse mercado é formado por
equipes de desenvolvimento ágil que constituem grupos de profissionais que trabalham
juntos para criar novos sistemas de software ou modificar sistemas já existentes. Tais equipes
geralmente reúnem membros com habilidades abrangentes, incluindo análise, programação,
design, arquitetura, administração de banco de dados, engenharia de sistemas e
gerenciamento de projetos. Esses profissionais interagem diariamente com tecnologias
digitais para avançar em suas atividades (Tripp, Riemenschneider & Thatcher, 2016).
A literatura evidencia que as metodologias ágeis oferecem vantagens significativas
para equipes de desenvolvimento de software. Destaca-se a flexibilidade no
desenvolvimento, permitindo reações ágeis a mudanças nos requisitos do projeto. Essas
abordagens também focalizam funcionalidades específicas e priorizam um design simples
(Beck et al., 2001; Fowler, 2001). As abordagens de desenvolvimento ágil fomentam a
agilidade por meio de ciclos curtos, incrementais e iterativos, equipes auto-organizadas,
envolvimento ativo das partes interessadas e a entrega contínua de software funcional. A
autonomia e a diversidade da equipe são princípios essenciais consistentemente destacados
pela literatura, reforçando a agilidade no desenvolvimento de software (Lee & Xia, 2010).
Apesar das vantagens amplamente discutidas do desenvolvimento ágil e do crescente
número de organizações adotando essa abordagem, ainda há uma lacuna em estudos
empíricos que investiguem a eficácia dos métodos ágeis de desenvolvimento (Lee & Xia,

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2010), bem como a relação entre a utilização desses métodos e o bem-estar no ambiente de
trabalho (Tuomiraava, Lindholm & Kansala, 2017). Notadamente, há uma lacuna na
compreensão quanto a como e por que esses métodos são eficazes, especialmente em
entender como as práticas de desenvolvimento ágil se relacionam com os sentimentos dos
membros da equipe sobre seu trabalho (Tripp, Riemenschneider, & Thatcher, 2016).
As empresas de software enfrentam diretrizes contraditórias em relação às questões
de como o uso de métodos ágeis afetam seu recurso principal - os desenvolvedores de
software - e por que alguns desenvolvedores ficam mais exaustos do que outros ao utilizar
métodos ágeis
As empresas de software enfrentam diretrizes contraditórias em relação ao impacto
do uso de métodos ágeis em seu recurso primordial: os desenvolvedores de software. Além
disso, persiste a questão de por que alguns desenvolvedores experimentam maior exaustão do
que outros ao adotar métodos ágeis (Venkatesh et al., 2020). Uma das características
proeminentes das metodologias ágeis é a pressão por produtividade. Essas metodologias
impõem ciclos curtos, levando as equipes de desenvolvimento de software a produzirem
incrementos funcionais em iterações rápidas (Beck, 2000). Entretanto, Tripp,
Riemenschneider e Thatcher (2016) observaram que, apesar de equilibrar a carga de trabalho
durante um período, mantendo um ritmo sustentável, os desenvolvedores se sentem mais
pressionados ao final do projeto para alcance dos prazos.
Investigações recentes têm começado a analisar os efeitos do desenvolvimento ágil de
software em desenvolvedores individuais, explorando aspectos como a satisfação no trabalho
(Tripp, Riemenschneider & Thatcher, 2016), motivação, confiança (Conboy, Lang &
McHugh, 2011), bem-estar (Tuomiraava, Lindholm & Kansala, 2017) e exaustão no trabalho
(Venkatesh et al., 2020). No entanto, ainda são escassas as pesquisas que associam esses
temas ao technostress.
Apesar das premissas ágeis de otimizar os períodos de descanso no trabalho para
preservar o funcionamento, mudanças repentinas nas informações, problemas técnicos e
alterações nos recursos da equipe podem dificultar a recuperação e aumentar o estresse. A
pressão do tempo e a tensão cognitiva devido ao excesso de entradas da mídia também
elevam o estresse entre os desenvolvedores (Tuomiraava, Lindholm & Kansala, 2017).
Poucos estudos têm abordado o efeito do uso de TI no estresse experimentado pelos
desenvolvedores de software. Em geral, a atividade de desenvolvimento de software muitas
vezes se revela como uma área altamente estressante, com profissionais da área enfrentando
níveis significativos de estresse (Siitonen, Ritonummi, Salo & Pirkkalainen, 2022)
Nesse contexto, emerge o Technostress, um fenômeno emergente intimamente ligado
à disseminação abrangente das tecnologias de informação e comunicação (La torre et. al,
2019). No entanto, uma carência persiste no âmbito da pesquisa relacionada aos efeitos do
Technostress no ambiente de trabalho de desenvolvimento de software, assim como nas
causas subjacentes que geram esses fatores estressores (Siitonen et al., 2022). Diante desse
cenário, esta pesquisa tem como foco a seguinte pergunta: "Quais são os conhecimentos
atuais sobre os efeitos, causas e consequências do uso de métodos ágeis na exaustão no
trabalho e technostress em desenvolvedores de software?" Essa questão, por sua vez, se
desdobra nas seguintes subquestões:
1. Como os métodos ágeis (MAs) podem influenciar o technostress e exaustão no
trabalho em desenvolvedores de software?
2. Quais são as consequências observadas da exaustão no trabalho e technostress em
desenvolvedores de software que adotam métodos ágeis?

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Para o andamento nesta pesquisa e resposta às perguntas levantadas, foi realizado um
aprofundamento no tema, conforme referencial teórico, bem como construiu-se uma revisão
sistemática da literatura, seguido do mapeamento dos resultados, conforme tópicos a seguir.

2 Referencial Teórico

O movimento ágil ganhou o seu documento oficial com o Manifesto publicado em


2001, o qual determinou os valores e princípios da agilidade que sugerem a valorização de
indivíduos face a processos, bem como a adaptabilidade e o funcionamento da solução em
contraponto às documentações excecivas (Beck, 2000).
Acerca desse assunto, destaca Tuomiraava, Lindholm e Kansala, (2017) que os
princípios ágeis promovem o bem-estar no trabalho, especialmente quando direcionamos
nossa atenção para os quatro princípios a seguir destacados: (a) Empoderamento de
indivíduos motivados que recebem o ambiente e o suporte necessários, confiando-se em sua
competência para realizar o trabalho; (b) Manutenção de um ritmo sustentável, assegurando a
capacidade de manter um ritmo constante ao longo do tempo; (c) Estímulo à formação de
equipes auto-organizadas, permitindo que tomem decisões internas e se auto-gerenciam de
maneira eficaz; e (d) Promoção da melhoria contínua, por meio da avaliação regular das
equipes e da reflexão constante sobre oportunidades de aprimoramento. Ao abordar essas
características, a literatura destaca o papel ativo dos princípios ágeis na promoção de um
ambiente de trabalho saudável e produtivo, e interliga o bem-estar dos indivíduos e a eficácia
do desenvolvimento.
Para além da visão geral sobre a agilidade, é importante destacar que existem
diversos frameworks ou métodos conhecidos, como o SCRUM e Extreming Programing
(XP), cada qual com suas particularidades e práticas. Nesse sentido, Belian (2022) aponta
que cada método pode ter o seu foco, como por exemplo, o SCRUM é comum à gestão de
projetos, enquanto o Extreming Programing tem maior afinidade com o desenvolvimento de
softwares, porém, além disso, existem as práticas, tais quais integração contínua, reuniões de
abastecimento, cadências específicas, entre outras, que compõem e caracterizam os
respectivos métodos ágeis. Portanto, um método é um conjunto de práticas que refletem os
valores e princípios ágeis.
Como destaca Mueller (2021), os métodos ágeis estão cada vez mais presentes no
desenvolvimento de sistemas de informações, uma vez que, seguindo os princípios ágeis, as
empresas responderão mais rapidamente às mudanças no mercado. Em ato contínuo,
conforme pesquisa da VersionOne (2019), 97% das empresas respondentes afirmam usar de
metodologias ágeis, sendo 20% dos respondentes (o maior grupo) empresas de
desenvolvimento de software.
Para fins de contexto, Godliauskas (2021) define o desenvolvimento de software
como o processo em que as necessidades de usuários são traduzidas em produtos de
softwares. Ademais, para que esse processo funcione bem, são necessárias tanto hard skills,
quanto soft skills como comunicação e cooperação, bem como lidar bem com prazos. Assim
sendo, o referido autor sinaliza que a área de desenvolvimento de software pode promover
níveis mais elevados de estresse aos envolvidos.
De igual modo, Siitonen et al. (2022) afirma que o desenvolvimento de software pode
ser considerado uma área de trabalho estressante, ao passo que os desenvolvedores e demais
pessoas do time podem conter níveis de estresse bem maiores que de outros nichos por
lidarem com demandas constantes, prazos e demais particularidades. Neste contexto, traz-se

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à tona o conceito de technostress que pode ser definido como o estresse relacionado ao uso
de tecnologias de informação. De maneira ampla, esse tipo de estresse deriva do uso
excessivo ou inadequado de tecnologia no ambiente de trabalho, podendo, portanto,
desenvolver-se de fatores como sobrecarga de informações, interrupções, problemas de
usabilidade, falta de habilidades técnicas, entre outros (Siitonen et al., 2022).
Siitonen et al. (2022) aprofunda o technostress ao destacar alguns techno estressores,
a saber: (a) techno-overload, que se concretiza a partir de situações em que o usuário deve
trabalhar mais em função de demandas da tecnologia da informação, ou seja, é similar a
sobrecarga de trabalho; (b) techno-invasion, quando há uma confusão entre o momento de
trabalho e o tempo livre; (c) techno-uncertainty, refletida na necessidade de atualização
constante com o surgimento de novas tecnologias; (d) techno-complexity, que se faz presente
pela dificuldade de se usar as tecnologias de informação, fazendo com que os profissionais se
sintam frustrados e experimentem o (d) techno-insecurity, que diz respeito ao medo de perder
o emprego.
É possível estabelecer uma relação entre esse conceito e as considerações de Ribeiro
(2022) sobre a instabilidade na engenharia de software. Dentre as várias formas de
instabilidade, destaca-se a instabilidade tecnológica, caracterizada pela introdução de novos
elementos como linguagens, frameworks e turbulências tecnológicas. O mesmo autor associa
diversas formas de instabilidade ao burnout, que pode ser conceituado como uma síndrome
originada por estressores interpessoais. Em seu artigo, Ribeiro (2022) aponta que o burnout
se manifesta através de três dimensões: (a) exaustão emocional, que se caracteriza pela
ausência de entusiasmo; (b) despersonalização, marcada pela insensibilidade emocional em
relação às pessoas próximas; e (c) baixa eficácia, que envolve uma tendência de
autoavaliação negativa.
Neste mesmo contexto, ao discutir o burnout, Tulili (2023) reforça as três dimensões
acima e ressalta que essa síndrome pode prejudicar a produtividade e bem-estar do indivíduo
no ambiente de trabalho. Em sentido complementar, Godliauskas (2021) ao abordar o
bem-estar no ambiente de trabalho sinaliza que este configura-se pela ausência de estresse e
burnout, associado a satisfação no trabalho, conceito que por Tripp (2014) é a resposta
positiva ao trabalho desempenhado, havendo uma relação de oposição entre a satisfação e a
exaustão no trabalho, que, segundo o mesmo autor, consiste no esgotamento recursos sejam
físicos, emocionais ou mentais em função de experiências no trabalho.
Venkatesh et al. (2020) observa que, de maneira mais superficial, há estudos na
literatura que consideram os termos "exaustão no trabalho" e "burnout" como sinônimos. No
entanto, como demonstrado acima, a exaustão é apenas um aspecto do burnout e envolve a
perda de recursos no ambiente de trabalho, enquanto o burnout é uma síndrome que se
manifesta de maneira mais abrangente.

3 Metodologia

Este estudo se configura como uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL), uma
abordagem destinada a identificar, avaliar e interpretar as pesquisas pertinentes disponíveis
em relação a uma questão de pesquisa específica, campo temático ou fenômeno em foco
(Kitchenham, 2007). No desenvolvimento deste estudo, adotamos as diretrizes de RSL
delineadas por Felizardo, Nakagawa, Fabbri e Ferrari (2017) e também as de Kitchenham
(2007). Os passos metodológicos intrínsecos à RSL foram rigorosamente seguidos,
abrangendo a formulação das questões de pesquisa, a seleção de bases de dados, a definição

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dos domínios de pesquisa, a criação de string de busca, a exploração de documentos
pertinentes, a implementação de um método de filtragem de duas etapas por meio da análise
de títulos e resumos, bem como a avaliação da qualidade dos trabalhos, culminando na
formação da lista definitiva de estudos primários. Em sequência, os dados relevantes foram
sintetizados por meio de análise temática.
Diante da necessidade de registrar todas as fases da RSL, juntamente com a
documentação integral do protocolo adotado, utilizamos a plataforma Parsif.al. Essa
ferramenta online foi desenvolvida para apoiar pesquisadores na realização de revisões
sistemáticas de literatura no âmbito da engenharia de software, e contribuiu para organização
dos estudos, a aplicação de critérios de inclusão e exclusão, além da clusterização dos
resultados apresentados neste trabalho. Além das ferramentas tradicionalmente usadas em
RSL, foram incorporadas ferramentas baseadas em modelos de linguagem de grande escala
(Largue Language Models - LLMs), como o ChatGPT. Isso possibilitou uma exploração mais
flexível e criativa do domínio de pesquisa (Ramos, 2023).
Para a criação do string de busca, foram definidas palavras-chave que guiaram a
busca por documentos correspondentes. Essas palavras devem ser criteriosamente
selecionadas para assegurar a captura de pesquisas mais relevantes dentre as diversas bases
de dados científicas. Nesse sentido, foram definidos os domínios da pesquisa por meio de
múltiplas palavras-chave, as quais foram configuradas com o auxílio de operadores lógicos,
conforme ilustrado na Figura 1.
Dentre as inúmeras bases de dados reconhecidas, foram selecionadas aquelas a serem
consultadas: Google Scholar, Science Direct, Scopus e Web of Science. Ademais, também foi
delineada a equação a ser aplicada. É relevante destacar que a construção dessa equação
baseou-se em sinônimos das palavras-chave inerentes ao tópico de estudo, alinhando-se aos
domínios já previamente estabelecidos, como visualizado na Figura 1.

Figura 1: Domínios da pesquisa


Fonte: Elaboração própria, 2023

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A string de busca final ficou estabelecida da seguinte forma:

Para permitir a adequada execução da equação em diferentes bases de dados que


apresentam limitação de número booleanos, foram necessárias algumas adaptações. Após a
aplicação da string nas distintas bases, deu-se início ao processo de triagem dos estudos. Esse
processo compreendeu a definição de critérios de inclusão/exclusão, visando a identificação
de trabalhos pertinentes às questões de pesquisa, além de uma avaliação adicional da
qualidade, com o intuito de selecionar a lista final de estudos primários da pesquisa, como
demonstrado na Figura 2.
Em relação aos critérios de inclusão e exclusão, foram incluídas publicações escritas
em inglês, pesquisas empíricas, sujeitas à revisão por pares e veiculadas nos últimos dez
anos. Os duplicados foram excluídos, assim como publicações que não dispunham de acesso
integral. Além disso, foram excluídas publicações não científicas, incluindo resumos,
apresentações e trabalhos fora do escopo de investigação.

Critérios de inclusão (a) Pesquisas empíricas;


(b) Publicações entre os anos de 2014 e 2023 (últimos 10 anos);
(c) Publicações nas áreas de administração, negócios, ciências da computação e
engenharia;
(d) Revisado por pares;

Critérios de exclusão (a) Publicações de línguas diversas do português e inglês;


(b) Publicações cujo acesso ao texto completo não fosse possível;
(c) Trabalhos duplicados

Aplicação do ● O estudo aborda pelo um problema relevante a pelo menos uma das áreas
questionário de foco aqui estudadas (metodologias ágeis ou technostress)?
qualidade ● Os objetivos e perguntas de pesquisa são expressamente declarados no
artigo?
● Os métodos de pesquisa utilizados são apropriados para responder às
perguntas de pesquisa?
● Os procedimentos de coleta de dados e a análise são claros e bem descritos?
● Os autores reconhecem possíveis vieses ou questões não abordadas?
● Os resultados são apresentados de forma clara e apoiados por evidências
adequadas?
● O estudo discute implicações práticas e teóricas relevantes para a área de
metodologias ágeis ou technostress?
● O estudo faz referências adequadas a trabalhos anteriores e à literatura
relevante?
(Respostas para qualificação: Sim / Não)

Resultados Descrição dos passos e análises dos achados.


Figura 2: Critérios para triagem dos estudos
Fonte: Elaboração própria, 2023

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Prosseguindo, realizou-se a seleção dos estudos. Isso implicou na análise dos títulos e
resumos, visando identificar a concordância temática. Na sequência, a leitura completa dos
trabalhos selecionados foi realizada. Após a conclusão dessa fase, aplicou-se um questionário
de avaliação de qualidade aos estudos selecionados. Por fim, os resultados foram mapeados.
A Figura 3 sintetiza o processo de condução da pesquisa, destacando a quantidade de
publicações submetidas a filtragens em cada etapa. A análise inicial revelou um total de 177
publicações, as quais foram submetidas aos critérios de triagem, culminando na seleção de 16
artigos para análise final.

Figura 3: Condução da RSL


Fonte: Elaboração própria, 2023

4 Análise dos resultados

Os estudos selecionados têm um caráter recente, a maior parte deles foi publicada a
partir do ano de 2020. Essa concentração recente de estudos indica uma atualização
significativa nas pesquisas que investigam o uso de métodos ágeis por equipes de
desenvolvimento de software. A relação completa dos artigos considerados nesta revisão
encontra-se disponível na Figura 4, oferecendo uma visão ampla dos trabalhos que foram
incorporados nesta análise.

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Título Autoria Publicação Ano Abreviaçã
o
Agility and agile Cetin, Funda and Tolay, International 2022 E1
organizations from Ebru Journal of
employees perspectives: A Management
qualitative research in the Economics and
context of saas business Business
model
Burnout in software Tulili, Tien Rahayu, and Information and 2022 E2
engineering: A systematic Capiluppi, Andrea and Software
mapping study Rastogi, Ayushi Technology
Do agile work practices Uraon, Ram Shankar and International 2023 E3
impact team performance Chauhan, Anshu and Journal of
through project commitment? Bharati, Rashmi and Sahu, Productivity and
Evidence from the Kritika Performance
information technology Management
industry
Emotions online: Exploring Pultz, Sabina and Dupret, Research Square 2022 E4
knowledge workers’ Katia
emotional labour in a digital
context in an agile IT
company
How agile software Venkatesh, Viswanath and Information 2020 E5
development methods reduce Thong, James Y. L. and Systems Journal
work exhaustion: Insights on Chan, Frank K. Y.
role perceptions and andHoehle, Hartmut and
organizational skills Spohrer, Kai

Entendendo as relações entre Ribeiro, Danilo Monteiro Proceedings of 2022 E6


as percepções do burnout e da ACM Conference
instabilidade na Engenharia
de Software
The affective, behavioural Koch, Jan and Drazic, Journal of 2023 E7
and cognitive outcomes of Ivana and Schermuly, Occupational and
agile project management: A Carsten C. Organizational
preliminary meta-analysis Psychology

Sprint Zeal or Sprint Fatigue? Benlian, Alexander Information 2022 E8


The Benefits and Burdens of Systems Research
Agile ISD Practices Use for
Developer Well-Being

Siitonen, Valtteri and 8th International 2022 E9


The Emergence of
Ritonummi, Saima and Workshop on
Technostress in Software Salo, Markus and Socio-Technical
Development Work: Pirkkalainen, Henri Perspective in IS
Technostressors and Development
Underlying Factors (STPIS 2022)

__________________________________________________________________________________________
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The Role of Work Huck-Fries, Veronika and Proceedings of the 2019 E10
Engagement in Agile Prommegger, Barbara and 52nd Hawaii
Software Development: Wiesche, Manuel and International
Investigating Job Demands Krcmar, Helmut Conference on
and Job Resources System Sciences

Godliauskas, Povilas and Thesis for: Master 2021 E11


Lancer, Natalie of Science in
School of
The Well-being of Software Psychology,
Developers: A Systematic University of East
Literature Review London
Too Drained from Being Mueller, Lea and Benlian, Journal of the 2022 E12
Agile? The Self-Regulatory Alexander Association for
Effects of Agile ISD Information
Practices Use and their Systems
Consequences for Turnover
Intention
Toward an Understanding of Tripp, John F and 47th Hawaii 2014 E13
Job Satisfaction on Agile Riemenschneider, Cynthia International
Teams: Agile Development as K Conference on
Work Redesign System Science

Using Agile Information Mueller, Lea Darmstadt, 2023 E14


Systems Development Technische
Practices: Organizational Universität
Drivers and Individual Darmstadt.
Consequences
Who is attracted and why? Koch, Jan and Schermuly, International 2020 E15
How agile project Carsten C. Journal of
management influences Managing Projects
employee’s attraction and in Business
commitment

Issues, challenges, and a Baham, Corey and Information 2022 E16


proposed theoretical core of Hirschheim, Rudy Systems Journal
agile software development
research
Figura 4: Visão geral de estudos incluídos na RSL
Fonte: Elaboração própria, 2023

Após realizar a análise abrangente dos estudos selecionados, foi possível


classificá-los em quatro categorias distintas, a saber: 1)Estudos que exploram as percepções e
o impacto do trabalho ágil no desenvolvimento de software; 2) Estudos que investigam o
bem-estar e a satisfação dos desenvolvedores de software no contexto de trabalho; 3) Estudos
que elucidam e debatem as práticas ágeis e seu efeito no desempenho de equipes e 4)Estudos
que enfocam os aspectos teóricos e as abordagens inerentes ao desenvolvimento ágil. Essa
classificação é apresentada na Figura 5 e surgiu a partir da leitura completa e análise
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temática, permitindo uma organização coerente e compreensível das diferentes temáticas
abordadas.

Temáticas Estudos

Percepções e Impacto do Trabalho Ágil em E1, E3,E6,E7, E11, E13, E14


Desenvolvimento de Software

Bem-estar e Satisfação no Trabalho de E2, E10, E12, E15, E16


Desenvolvedores de Software

Práticas Ágeis e Desempenho da Equipe E4 e E5

Aspectos Teóricos e Abordagens de E8 e E9


Desenvolvimento Ágil
Figura 5: Temática dos estudos
Fonte: Elaboração própria, 2023

A temática "Percepções e Impacto do Trabalho Ágil em Desenvolvimento de


Software" se destaca ao englobar a maior quantidade de estudos, os quais se propõem a
compreender a forma como os profissionais que atuam no desenvolvimento de software
percebem a adoção das práticas ágeis e como essa adoção impacta seu bem-estar, motivação
e comprometimento no ambiente de trabalho. No âmbito dessas investigações, merece
destaque a análise das implicações, tanto positivas quanto negativas, que derivam da
aplicação das práticas ágeis. O estudo [E11] direciona-se ao bem-estar, enquanto o estudo
[E13] examina os efeitos energizantes e esgotantes do uso das práticas ágeis no bem-estar
dos desenvolvedores. Paralelamente, o artigo [E7] lança um olhar sobre as ramificações das
práticas ágeis..
Além disso, a categoria também examina as implicações individuais e
organizacionais da utilização de práticas ágeis. Por exemplo, o estudo [E3] aborda a eficácia
do trabalho ágil em equipes de TI e explora a influência da liderança no desempenho e
comprometimento do time. Também é importante mencionar o artigo [E6], que se concentra
no conceito de burnout e investiga como as práticas ágeis podem reduzir o esgotamento
profissional dos desenvolvedores de software, propondo um modelo teórico que explora as
influências das percepções de papel e habilidades organizacionais nesse processo.
Nesta temática, os estudos contribuem para a compreensão dos efeitos psicológicos e
emocionais da adoção de práticas ágeis no desenvolvimento de software, destacando a
importância de promover ambientes de trabalho saudáveis e adaptativos para os profissionais
envolvidos.
A temática "Bem-estar e Satisfação no Trabalho de Desenvolvedores de Software"
centra-se no bem-estar psicológico, emocional e físico dos profissionais que atuam no
desenvolvimento de software. Essa temática reconhece a importância do ambiente de
trabalho e das condições laborais na saúde e satisfação dos desenvolvedores, buscando
identificar como melhorar a qualidade de vida e promover um ambiente mais positivo.
Os estudos nessa temática analisam uma variedade de aspectos, incluindo emoções
[E15], equilíbrio entre vida pessoal e profissional, relacionamentos interpessoais,
reconhecimento, oportunidades de desenvolvimento e autonomia [E2], redesign do trabalho
[E10]. Além disso, exploram de que maneira elementos como liderança, cultura
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organizacional e práticas de gerenciamento podem exercer uma influência direta sobre o
bem-estar e a satisfação dos desenvolvedores [E12].
Esses estudos contribuem para a compreensão das dinâmicas do bem-estar e
satisfação dos desenvolvedores de software, considerando tanto os aspectos específicos das
práticas ágeis quanto os fatores gerais que influenciam a qualidade de vida e a satisfação no
ambiente de trabalho. Essa temática é crucial pois o bem-estar e a satisfação dos
desenvolvedores de software podem ter um impacto significativo na produtividade,
criatividade e qualidade do trabalho. Profissionais satisfeitos e bem-adaptados tendem a ser
mais engajados, criativos e resilientes diante dos desafios. Como resultado, as organizações
estão cada vez mais conscientes da importância de promover um ambiente de trabalho que
priorize o bem-estar e a satisfação dos desenvolvedores para alcançar resultados mais
positivos e duradouros.
A temática "Práticas Ágeis e Desempenho da Equipe" embora abrangente, não se
concentra diretamente na exaustão no trabalho e no technostress. Os trabalhos exploram os
efeitos das práticas ágeis no desempenho das equipes de desenvolvimento, ao passo que
examinam como a aplicação de práticas ágeis afeta a atração, comprometimento e retenção
dos profissionais nas organizações [E4]. Nota- se que os estudos nesta temática têm o
potencial de aprofundar a compreensão sobre como a adoção de práticas ágeis impacta não
apenas os resultados alcançados, mas também as estratégias e a cultura das organizações,
bem como as organizações lidam com os desafios e benefícios dessa transformação em seus
processos de desenvolvimento de software.
A última temática, intitulada 'Aspectos Teóricos e Abordagens de Desenvolvimento
Ágil', engloba estudos que enfatizam os fundamentos e aspectos teóricos do desenvolvimento
ágil de software. Essas pesquisas não apenas exploram questões conceituais relacionadas à
adoção de práticas ágeis, mas também abordam desafios e apresentam proposições para uma
compreensão mais abrangente das abordagens ágeis. Os estudos nesta temática têm como
objetivo identificar os elementos essenciais e as propostas teóricas capazes de guiar
investigações futuras e a aplicação prática das metodologias ágeis. O artigo [E8] introduz os
conceitos de eustress e distress, e também apresenta o conceito de 'IT mindfulness' como
solução para mitigar os efeitos estressores no ambiente de tecnologia. Além disso, o estudo
[E9] concentra-se em aspectos teóricos do technostress.
Ao analisar os resultados agrupados, observa-se que os trabalhos selecionados
abordam, em sua totalidade, os métodos ágeis, três deles já não abordam a exaustão no
trabalho, e apenas três conseguem aprofundar na temática do technostress, com destaque para
o [E9] que define essa variável de forma explícita e abrangente, alinhando-se ao nosso
referencial. Nesse contexto, fica evidente uma lacuna de pesquisa na convergência entre
metodologias ágeis e o technostress, corroborando com as observações de Belian (2022), que
ressalta que, embora haja diversos estudos sobre o âmbito ágil, estes frequentemente se
concentram na adaptação dos métodos e suas implicações nos projetos e qualidade dos
produtos, deixando de aprofundar nas suas consequências para os desenvolvedores. Da
mesma forma, Koch (2022) destaca a urgência de investigações mais aprofundadas que
abordem a saúde mental dos envolvidos em metodologias ágeis.
Por fim, estudou-se os artigos a partir das subperguntas de pesquisa aqui tratadas, de
modo a construir a figura 6.

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Figura 6: Fatores influenciadores do uso de métodos na exaustão e technostress
Fonte: Elaboração própria, 2023

Diante desta, percebe-se que são identificados tanto aspectos negativos quanto
positivos em relação ao uso de metodologias ágeis face à exaustão no trabalho, ou seja, há
características de tais métodos que podem fomentar a exaustão, assim como existem
qualidades nas MAs que podem minimizar os riscos da exaustão no trabalho.
No que diz respeito aos negativos, predominam problemas como a alta carga de
trabalho, bem como a pressão por prazo e por produzir continuamente, sobrecarga de
informações, instabilidade técnica e mudanças de prioridades e de requisitos. Por outro lado,
como particularidades que diminuem os riscos da exaustão no trabalho, tem-se que as
metodologias ágeis dão autonomia, possibilitam um maior equilíbrio entre as demandas e
recursos, e permitem maior controle do trabalho. Além disso, motiva feedbacks constantes e
distribui de forma mais equilibrada as demandas.

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Quais são as consequências observadas da exaustão no trabalho e technostress em
desenvolvedores de software que adotam métodos ágeis?

Consequências Estudos
Aumento do estresse e ansiedade para concluir os
trabalhos. E1 E7 E8 E9 E11 E14
Percepção de sobrecarga e exaustão. E2
Technostress E4
Problemas de comunicação E4
Riscos à saúde e bem-estar E4 E7 E10 E13 E14
Conflitos interpessoais e de processo E4 E12
Aumento de erros em desenvolvimento, diminuição
na qualidade e aumento de custo com manutenção E5 E8 E9 E11
Turnover nas empresas. E5 E6 E8 E9 E11 E12 E13 E14
Redução de desempenho E7 E8 E11 E12 E14
Diminuição na satisfação e comprometimento
organizacional E7 E8 E12 E13 E14
Absenteísmo E8 E9
Conflito de trabalho e vida pessoal E9 E14
Comportamentos antiéticos E11
Figura 7: Consequências observadas da exaustão no trabalho e technostress.
Fonte: Elaboração própria, 2023

Em relação às consequências da exaustão no trabalho, vale o destaque inicial no


sentido de que, como desenvolve Cetin e Tolay (2022), é possível minimizar os riscos da
exaustão com descrições claras e prazos realistas acerca do trabalho a ser desempenhado, ou
ainda segundo Siitonen et al. (2022) é importante o envolvimento dos desenvolvedores nos
processo de seleção de ferramentas e tecnologias que impactarão nas atividades práticas.
Porém, conforme figura 7, uma vez atingido o nível de exaustão, as consequências podem ser
diversas, variando desde o mais comum que é o aumento do turnover na empresa, a aumento
da percepção de estresse e ansiedade, problemas de comunicação, conflitos interpessoais,
comportamentos antiéticos, aumento de erros de código e custo de manutenção, absenteísmo,
diminuição da satisfação e, principalmente, impacto negativo na saúde e bem-estar das
pessoas.

5 Considerações finais

Essa RSL representa um avanço no campo de estudos que exploram a convergência


das metodologias ágeis no contexto do desenvolvimento de software, com foco nas
necessidades e experiências dos desenvolvedores. A trajetória desta pesquisa revelou uma
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lacuna na literatura, particularmente quando se trata da integração dos três pilares
fundamentais abordados: metodologias ágeis, exaustão no ambiente de trabalho e
technostress, sendo este último merecedor de uma análise mais aprofundada.
Além disso, verificou-se que os estudos que exploram as MAs e abordam a exaustão
no trabalho apresentam uma dispersão temática. Isto é evidenciado pela percepção de
variáveis que permeiam desde habilidades emocionais até o desempenho da equipe,
engajamento ou, ainda, imagem da empresa como empregadora. Essa diversidade reforça a
amplitude da discussão em torno das abordagens ágeis.
De igual modo, identificou-se uma complexidade na temática aqui evidenciada em
função da interseção de conceitos, visto que termos como burnout, fadiga, technostress,
práticas ágeis, instabilidade técnica, bem-estar e satisfação no trabalho frequentemente se
entrelaçam, sem necessariamente compartilhar significados idênticos. Essa observação
enfatiza a demanda por estudos adicionais que analisem e elucidem essas definições de
maneira mais aprofundada.
A análise realizada identificou uma série de fatores de risco associados à exaustão do
trabalho face à aplicação de metodologias ágeis, mas, de igual modo, surgiram aspectos
positivos desses métodos que podem mitigar a fadiga. Ademais, ressalta-se que inúmeras são
as consequências da exaustão no trabalho, as quais podem prejudicar tanto a organização
empresarial, quanto o indivíduo.
Diante do exposto, traz-se como contribuições teóricas e metodológicas a
consolidação das discussões que buscam unir as metodologias ágeis no ambiente de TI,
exaustão no trabalho e technostress, evoluindo para o aprofundamento dos estudos sobre a
saúde e bem-estar dos desenvolvedores. E, igualmente, no âmbito social, promove a atenção
aos cuidados por parte da gestão com o fim de mitigar as causas da exaustão no trabalho,
pois as consequências desta podem ser desastrosas.
Faz-se importante destacar, também, que esta revisão sistemática deparou-se com
limitações que merecem destaque. A principal limitação foi a restrição de acesso a
determinados artigos previamente selecionados, visto que limitou-se àqueles encontrados nas
bases de dados, utilizando as strings indicadas, desde que estivessem acessíveis de forma
gratuita e integralmente indexados ao portal CAPES. Finalmente, como próximos passos, há
oportunidade de aprofundamento na temática de metodologias ágeis relacionando-a à saúde
mental de desenvolvedores de software, ou ainda aprofundando em algumas das
consequências sugeridas pelos estudos aqui levantados.

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