O Segredo Maçónico

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 30

O Segredo Maçónico

24/04/2011

A Maçonaria é uma instituição ancestral e que


preza a Tradição. Mas, como todas as
instituições ancestrais bem sucedidas, sabe
preservar a Tradição, adaptando os seus usos
e costumes ao evoluir dos tempos e das
sociedades. Só assim evita ser anacrónica e
mantém interesse e importância e valor, ao
longo da passagem dos anos, décadas e
séculos.
O século XXI lançou-nos a todos na voragem
da Sociedade da Informação. As chamadas
Novas Tecnologias permitem aceder a
mananciais de informação que ainda há
poucas décadas – há poucos anos… – eram
impensáveis. A Maçonaria não pode, não
deve, obviamente, ser indiferente às
consequências desta evolução. Não deixou de
fazer sentido a subsistência do segredo
maçónico. Mas a mitificação do mesmo, essa
sim, não me parece que seja vantajosa, nem
para os maçons, nem para os profanos.
A Maçonaria prossegue objetivos honrosos e
louváveis. É frequentemente denegrida por
quem, sendo-lhe hostil, a acusa de prosseguir
propósitos menos recomendáveis e,
sistematicamente, esgrime com o segredo
maçónico como alegada prova dos tenebrosos
propósitos da Maçonaria. Em época de
acelerada circulação da informação, não basta
à Maçonaria seguir o seu caminho, não
ligando aos cães que ladram à passagem da
caravana. Porque tanto ladrido de tanta
canzoada acaba por impressionar quem o
ouve. A Maçonaria deve continuar a
prosseguir o seu caminho, apesar dos rafeiros
e seus latidos. Mas, para bem de si própria e
elucidação de todos, nestes tempos de
abertura de informação, deve mostrar e
informar para onde vai, porque vai e como vai.
Assim todos verão qual o caminho e não se
impressionarão com a barulheira dos
canídeos, que todos poderão ver ser vã e sem
motivo que a sustente.
O segredo maçónico é um dos objetos dos
latidos. Pois bem, é tempo de mostrar, a quem
estiver de boa fé, que esse vozear não tem
razão de ser. Não abandonando o segredo
maçónico ou traindo os compromissos
assumidos. Mas explicando os limites, a
natureza e as razões do dito segredo. Quem
estiver de boa fé perceberá. Os outros…
continuarão a ladrar, mas já impressionarão
menos…
Na minha opinião, não há um segredo
maçónico. Há dois. Um exotérico e outro
esotérico. Quero com estes adjetivos significar
duas diferentes realidades. No meu
entendimento, o segredo maçónico exotérico
é aquele que é constituído por matéria ou
conhecimento que é suscetível de fácil
apropriação por qualquer pessoa, que sem
dificuldade de maior pode ser transmitido por
quem o sabe a quem não o sabia.
Inversamente, o segredo maçónico esotérico
não comunga dessa facilidade de apreensão e
de transmissão. O segredo maçónico exotérico
só existe enquanto e na medida em que for
preservado por todos aqueles que o detêm, os
maçons, nos seus respetivos graus e
qualidades. O segredo maçónico esotérico
existe independentemente de qualquer
esforço de preservação, porque o seu teor não
é suscetível de ser adequada e
completamente transmitido por quem atinge o
seu conhecimento (apenas alguns, maçons ou
não). Tem de ser descoberto, num esforço
individual, mediante um percurso de
autopreparação para o atingir e reconhecer,
em que cada patamar atingido é condição
necessária para poder conseguir-se chegar ao
seguinte. Este segredo existe
independentemente de qualquer propósito de
preservação por quem o detém. Direi mesmo
que existe apesar dos esforços e das
tentativas de partilha por quem o descortinou.
Dito de outro modo: o segredo maçónico é
composto por uma parte que não é sequer
particularmente importante (o segredo
exotérico) e subsiste graças e na medida dos
cuidados dos maçons na sua subsistência; e
existe também uma outra componente (o
segredo esotérico) que existe
independentemente da vontade dos seus
detentores, por impossibilidade de sua
adequada e completa transmissão, seja por
via oral, seja por escrito. O acesso a este
implica vivência, experiência, vontade,
esforço. Não basta ouvir ou ler. Portanto, o
segredo que se guarda não é especialmente
importante e o que importa não se consegue
transmitir…
O segredo maçónico exotérico é constituído
por quatro aspetos:
1.Reserva da identidade dos maçons que
não se hajam assumido publicamente
como tal;
2.Reserva de divulgação das formas de
reconhecimento entre os maçons;
3.Reserva de divulgação de rituais e de
cerimónias;
4.Reserva de divulgação do teor concreto e
específico dos trabalhos de qualquer
reunião de Loja ritualmente realizada.
Talvez com exceção da última faceta, o
segredo maçónico exotérico é um verdadeiro
segredo de Polichinelo: só não o conhece
quem não quiser. Basta um pouco de esforço e
trabalho para apurar o seu conteúdo. Então
com as possibilidades atualmente disponíveis
com as Novas Tecnologias de Informação e os
potentes motores de busca universalmente
disponíveis, aceder a esse conhecimento é
uma pura questão de perseverança, trabalho
e alguma habilidade. Ao contrário do que
vulgarmente se pensa, está tudo publicado. Só
é preciso descobrir onde… E – esta será
porventura a maior dificuldade – destrinçar
entre o que verdadeiramente é e o que é falso
ou imitado ou errada ou desajustada ou
intempestivamente utilizado.
O objetivo primacial do segredo maçónico
exotérico é permitir aos maçons saber, de
uma forma exclusivamente a si acessível,
quem é e quem não é maçon – e também que
grau detém quem é maçon. Nos tempos de
antanho, foi essencial. Hoje, nem por isso.
Outras formas de saber, rápida e eficazmente,
quem é e quem não é maçon existem. Hoje, a
facilidade e rapidez das comunicações,
particularmente das telecomunicações e da
comunicação eletrónica, permitem, em caso
de necessidade, fácil e rapidamente verificar
junto de uma Grande Loja ou de uma Loja se
fulano é seu membro. Antigamente, era
diferente. Daí que a importância do
conhecimento da forma de obter essa
informação, e a sua preservação, fosse
nuclear. As realidades da vida, da evolução e
do desenvolvimento em muito erodiram a
necessidade e importância do segredo.
Sendo assim, porque continuam os maçons a
preservar esse já não tão importante segredo?
Por duas razões, uma acessória, outra
essencial. A acessória é que, embora a
necessidade de preservação das reservas de
informação tenha diminuído, seja menos
importante, não cessou completa e
universalmente, não perdeu TODA a
importância (ainda há locais onde é perigoso
ser maçom). A essencial é que os maçons
preservam o segredo maçónico PORQUE SE
COMPROMETERAM, POR SUA HONRA, A FAZÊ-
LO.
Sendo assim, porque se continua a exigir aos
maçons esses compromisso de honra? Não já
pela necessidade de antanho. Ou não já
essencialmente. Nem também por um cego
tributo à Tradição, o continuar a fazer agora
assim porque dantes assim se fazia. Antes
como um exercício permanente do que é na
essência inerente à condição de maçom. Um
maçom é um homem livre, apenas escravo da
sua palavra; sério, sempre preservando a sua
honra; cumpridor dos seus compromissos,
apenas porque se obrigou a eles. A palavra de
um maçom vale tanto ou mais do que um
contrato escrito, é mais duradoura do que se
tivesse sido gravada em pedra.
Independentemente da importância do
assunto. Um homem só é honrado e de
confiança se o for nas pequenas como nas
grandes coisas. A verdadeira palavra sagrada
de um maçom é a sua palavra de honra.
É portanto em execução desse princípio
inderrogável de que o maçom cumpre sempre
a sua palavra, seja-lhe ou não conveniente,
seja o assunto importante ou sem destaque
particular, que este preserva o segredo
maçónico. Porque se comprometeu a fazê-lo.
Independentemente de ser ou não ser já
importante fazê-lo. Mesmo que, por esse
mundo fora, esse segredo, total ou
parcialmente, tenha sido centenas ou milhares
de vezes exposto. Se o não fizesse, sabia-se
merecedor do opróbio e desprezo unânimes
dos maçons. E um maçom só o é na medida
em que seja reconhecido como tal pelos seus
pares…
O maçom preserva o segredo maçónico
porque se comprometeu a fazê-lo e esse
compromisso continua a ser exigido aos
maçons como forma de exercício diário,
constante, permanente, dos deveres inerentes
a um homem honrado, livre e de bons
costumes. Outros existem que, diz-se para aí,
pontuam a sua pertença à organização em
que buscam a excelência através do cilício, da
mortificação do corpo. Os maçons buscam a
excelência do caráter, do espírito, e portanto
exercitam continuamente o caráter e o
espírito. Uma das formas de o fazerem é
honrando escrupulosamente os seus
compromissos. Independentemente de serem
importantes. Sem questionar a eficácia ou o
interesse desse cumprimento. Sendo-lhes
indiferente que outros, mais fracos ou
imerecedores, porventura tenham falhado
esse cumprimento.
RESERVA DA IDENTIDADE DOS MAÇONS QUE
NÃO SE HAJAM ASSUMIDO PUBLICAMENTE
COMO TAL
Mesmo nas sociedades mais abertas e com
maior inserção social da Maçonaria, mesmo no
Brasil, nos Estados Unidos ou em Inglaterra,
existem preconceituosos contra a Maçonaria
que, se tiverem o poder e a posição para tal,
podem subrepticiamente prejudicar um
maçom apenas por o ser – embora porventura
ocultando o seu preconceito e usando uma
qualquer outra desculpa ou justificação…
Também nas sociedades mais abertas e com
maior inserção social da Maçonaria se
continua a justificar uma atitude prudente em
relação aos preconceituosos e, portanto, o
cumprimento do princípio de não revelar que
alguém é maçom, se esse maçom não
assumiu publicamente essa condição,.
Uma outra razão justifica ainda o
cumprimento deste princípio. A Fraternidade
implica o reconhecimento da dignidade do
outro em todas as circunstâncias. Implica o
respeito pelo outro, pela sua inteligência,
pelas suas escolhas. Se um maçom divulgasse
que outrem tem essa qualidade, sem que o
visado tivesse previamente assumido a
mesma publicamente, estaria, sobretudo a
desrespeitá-lo, a desrespeitar essa sua
escolha. Se o visado não se tinha assumido
publicamente como maçom, isso resultava de
uma análise do mesmo, de uma escolha sua.
Análise e escolha que era seu direito fazer e
que só a ele competia fazer. Divulgar que esse
que se não assumiu como maçom é maçom
corresponde a substituir, a desvalorizar, a
desconsiderar, o juízo por ele feito, em favor
do juízo (ou da falta de juízo…) do próprio.
A decisão de cada um se assumir
publicamente como maçom a cada um
pertence. Não pode, não deve, ser apropriada
por nenhum outro maçom. E não o é. Em
nome do respeito pelo outro, pela sua
inteligência, pela sua capacidade de análise,
pelas suas escolhas, que é inerente ao elo que
une todos os maçons: o elo da Fraternidade.
Trair esse elo, mais do que trair o outro seria
traição ao próprio e a todos.
RESERVA DE DIVULGAÇÃO DAS FORMAS DE
RECONHECIMENTO ENTRE OS MAÇONS
Antigamente era, em muitos locais, perigoso
ser maçom. Ainda hoje o é, em várias partes
do globo. Os maçons tinham necessidade de
se conseguirem reconhecer uns aos outros,
sem necessidade de perguntar. Com efeito, se
um maçom perguntasse a outrem se também
era maçom e esse outrem não só não o fosse
como denunciasse quem o inquirira, estava o
caldo entornado… Havia, pois, que arranjar
maneira de um maçom se poder assegurar
que outro homem também tinha essa
qualidade, de forma que, se assim fosse, o
interrogado soubesse que tal interrogação lhe
estava a ser feita e soubesse responder da
mesma forma, mas que, se o interrogado não
fosse maçom, não se apercebesse sequer da
interrogação. Havia que criar uma forma de
um maçom se dar a conhecer como tal, de
maneira que só os maçons se apercebessem
disso e só eles reconhecessem essa forma.
Havia que poder testar se alguém que se
arrogava de ser maçom efetivamente o era. E,
sobretudo, havia que tudo isto fazer de forma
discreta, apenas percetível por quem devesse
perceber. E havia, obviamente que guardar
segredo dessas formas de reconhecimento.
Antigamente,não havia as facilidades e
rapidez de comunicações e de deslocação que
há hoje. Os agregados populacionais eram
fechados, muito mais isolados do que agora e,
sobretudo, mais distantes, em termos de
tempos de viagem. Ir de Lisboa ao Porto
demorava dias. Ir de Lisboa a Londres
demorava semanas. Ir da Europa à Ásia, a
África ou à América demorava meses. Um
viajante que chegava a um qualquer local era
um desconhecido e desconhecia todas ou
quase todas as pessoas desse local. Se se
arrogava qualquer título ou condição, não
havia meios de comunicação rápidos que
permitissem verificar, em terras distantes, se
o afirmado era verdade.
Viajar era demorado e perigoso. Os maçons
em viagem podiam beneficiar do auxílio de
seus Irmãos. Muitas vezes sendo – viajante e
residente – desconhecidos um dos outro. Não
bastava ao viajante dizer que era maçom.
Tinha de comprovar essa qualidade.
Antigamente era, pois, essencial que
existissem formas de reconhecimento
discretas, eficazes e de conhecimento restrito
aos maçons. Que deviam ser e eram
avaramente guardadas em segredo.
Essas formas de reconhecimento eram e são
constituídas por determinados sinais, por
certas palavras, por específicos toques. Os
sinais permitiam que os maçons se
reconhecessem como tal no meio de uma
multidão, se preciso fosse, sem que mais
ninguém se apercebesse. As palavras
permitiam confirmar esse reconhecimento,
constituindo uma segunda forma de
verificação, que confirmaria a identificação ou
permitiria desmascarar impostor que, por
conhecimento ou sorte, tivesse efetuado
corretamente um sinal de identificação. Os
toques, discretos, permitiam, além de uma
fácil identificação mútua absolutamente
discreta e insuscetível de ser detetada por
estranhos, também desmascarar impostores,
pois não bastava, nem basta, usar um certo
toque: é preciso saber quando o usar, para
quê e que deve suceder em seguida…
Sempre os sinais de reconhecimento foram
objeto de curiosidade profana. Por quem
perseguia a Maçonaria e os maçons, por
razões evidentes. Por quem, não sendo
maçom, gostaria de se infiltrar entre os
maçons ou, viajando, beneficiar da ajuda que
os maçons residentes davam aos maçons
viajantes. Ou, simplesmente, por quem era
curioso…
Milhares e milhares de maçons conhecem os
sinais de reconhecimento. Ao longo do tempo,
milhões de maçons acederam a esse
conhecimento, nas quatro partidas do Mundo.
Houve zangas. Houve dissensões. Houve
abandonos. Houve traições. Houve
inconfidências. Um segredo só é
verdadeiramente secreto se for conhecido
apenas por um – e, mesmo assim, se este não
falar a dormir… Era inevitável que as formas
de reconhecimento dos maçons fossem
expostas. Existem livros. Existem filmes.
Existem vídeos. Existem panfletos. Existem,
hoje em dia, inúmeros suportes em que estão
expostas aos profanos as formas de
reconhecimento dos maçons. Mas também
existem publicados nos mesmos suportes
formas de reconhecimento falsas ou
inventadas ou simplesmente ultrapassadas…
Quem está de fora tem o magno problema de
descobrir o que é verdadeiro e o que é falso,
de distinguir o certo do inventado, de
descortinar o que se mantém vigente e o que
foi ultrapassado…
Por isso, ainda hoje, as formas de
reconhecimento vigentes, apesar de
conhecidas por milhões, apesar de
repetidamente expostas, continuam a ser
úteis e eficazes.
Mas, mesmo que algum profano consiga
conhecer os sinais, palavras e toques certos e
consiga descobrir quando os utilizar e como o
fazer corretamente, ainda assim só logrará,
quando muito, enganar alguns maçons
durante algum tempo e acabará – porventura
mais cedo do que mais tarde – por ser
desmascarado como impostor. Porque não
basta executar o sinal certo na hora precisa,
pela forma correta, nem dizer a palavra
adequada, pela forma prescrita, a quem deve
ouvi-la, nem dar o toque acertado, no
momento asado e sabendo o que se deve
passar a seguir. Tudo isso já é suficientemente
complicado – mas não basta! Tudo isso, ainda
que porventura executado de forma atinada,
constitui ainda uma determinada informação:
que quem o fez tem um determinado nível de
conhecimentos, uma certa postura e
compostura, um exigível comportamento, um
específico nível de desenvolvimento pessoal,
social e espiritual. Ser maçom e ser
reconhecido como maçom não é só conhecer
e saber executar sinais, palavras e toques.
Isso é o que menos importa. É, sobretudo,
saber fazer um percurso, utilizar um método,
avançar num caminho.
As formas de reconhecimento são apenas
sinais exteriores básicos e nem sequer
particularmente importantes. Isso também,
mas sobretudo muito mais, é que faz com que
um maçom seja reconhecido como tal pelos
seus Irmãos.
Reservo o segredo dos sinais, palavras e
toques que constituem as formas de
reconhecimento dos maçons, porque a isso
me comprometi. Mas digo e afirmo: podíamos
divulgar, publicar, mostrar, explicar,
exemplificar, ensinar, filmar e exibir o filme,
executar todos os sinais, palavras e toques de
reconhecimento; podíamos ensinar a toda a
gente como e quando e por que forma utilizar
cada um deles. Ainda assim, pouco tempo e
apenas um razoável cuidado bastariam para
reconhecer quem efetivamente é maçom e
quem, ainda que perfeitamente executasse
todos os sinais, palavras e toques, não o é!
Porque ser maçom é muito mais do que saber
sinais, palavras e toques. Ser reconhecido
como tal implica muito mais do que essas
minudências, pois não basta saber sinais,
palavras e toques para ser reconhecido
maçom. É preciso efetivamente sê-lo e vivê-lo
e praticá-lo.
Que nunca ninguém se esqueça disto. Seja
profano ou tenha sido iniciado. Especialmente
estes!
RESERVA DE DIVULGAÇÃO DE RITUAIS E DE
CERIMÓNIAS
Os maçons estruturam o seu trabalho em Loja
mediante rituais. A abertura e o encerramento
dos trabalhos são sempre executados da
mesma forma, a maneira como, durante os
trabalhos, cada um fala ou se movimenta em
Loja está tipificada, etc.. Os maçons assinalam
também diversas situações, individuais ou
coletivas, consideradas significativas com
Cerimónias meticulosa e ritualmente
executadas. Assim sucede com a Iniciação, a
Passagem, a Elevação, a Instalação, a
Consagração de Loja, etc..
A preservação do segredo sobre os rituais e
cerimónias é uma das obrigações dos maçons.
Quanto aos rituais, porque são parte
integrante da identidade da instituição, que só
fazem sentido no âmbito da mesma. A pior
coisa que se pode fazer a um conceito, uma
informação, uma declaração, é
descontextualizá-la. A descontextualização
atraiçoa o espírito, o propósito, o aspeto, do
conceito, da informação, da declaração. Torna-
o, ou pode torná-lo, inentendível. Desvaloriza-
o. Quiçá, submete-o a ridículo. No entanto, no
seu devido contexto, os rituais maçónicos, não
só são entendíveis, como são fonte de estudo
e iluminação. Não só têm valor, como são
fonte de união. Não só são seriamente
tomados e executados, como são fonte de
fortalecimento do espírito de grupo e da
fraternidade entre os maçons.
Os rituais só fazem plenamente sentido se e
quando executados no local e pela forma
próprios, por e perante quem está apto a
compreendê-los. Expô-los aos olhares
profanos seria permitir que juízos turvados
pela ignorância, obnubilados pelo preconceito,
prejudicados pela distância, extraíssem
conclusões erradas, perfunctórias, vãs.
Quanto às cerimónias, acresce ainda um outro
motivo para o seu teor e o seu desenrolar ser
reservado não apenas aos maçons, mas aos
maçons do grau em que são executadas, ou
superior. É que é importante preservar o fator
surpresa, em relação àquele ou àqueles em
benefício de quem cada cerimónia é
executada. A Maçonaria destina-se a propiciar
um terreno apto para o aperfeiçoamento
moral e espiritual dos seus membros. Coloca
ensinamentos, princípios, máximas, à
disposição destes. Faseadamente. Um pouco
de cada vez, para que os ensinamentos, os
princípios, possam ser detetados, descobertos
e interiorizados pelos interessados. A
Maçonaria nada ensina. Apenas possibilita que
se aprenda. Mas essa aprendizagem não é
efetuada apenas com o recurso à memória e
ao elemento racional. Essa aprendizagem,
essa melhoria, esse avanço, resulta também
da marca deixada em cada um, através da
respetiva inteligência emocional e seu
desenvolvimento. Daí que as noções obtidas
não sejam apenas adquiridas, mas realmente
entranhadas. Daí que se dê valor ao tempo,
ferramenta indispensável à construção da
melhoria de cada um. Todo este processo se
desencadeia através da disponibilidade de
apreensão de algo que se desconhece. Daí a
importância do fator surpresa. Muitas vezes o
que se transmite não é novo. Já foi centenas
de vezes lido, milhares de vezes visto. Mas
nunca foi visto ASSIM, nunca foi
contextualizado DESTA forma, nunca tinha
sido introduzido COMO tal.
O maçom a quem uma cerimónia é dedicada é
sempre o centro da mesma. Para que a viva e
não apenas a ela assista. O objetivo é VIVER a
cerimónia. Não revivê-la. Por isso a deve
desconhecer antes de dela beneficiar. Por isso
devem as cerimónias maçónicas permanecer
secretas, de conhecimento reservado a quem
o deve ter – e só a esses.
Mas há dezenas de versões de rituais
publicados. através dos quais se pode ler o
texto de diversas cerimónias. Qual então o
interesse de continuar a preservar o sigilo
sobre rituais e cerimónias? Duas razões
avanço: em primeiro lugar, muito do que está
publicado não é já atual. Pode ter
semelhanças com o que atualmente se
pratica, mas também tem diferenças, algumas
significativas. Em segundo lugar, um ritual,
uma cerimónia, não é – longe disso! – apenas
um texto que se lê ou recita. É muito mais que
isso. É movimento, é entoação, é gesto, é
interpretação. Muito do que ritualmente é
executado não está escrito. É aprendido pela
observação, aperfeiçoado com o auxílio dos
que antes aprenderam a executar. Por isso é
importante o trabalho de aperfeiçoamento
ritual de uma Loja. Como um meio. Nunca um
fim em si mesmo.
Preservar o segredo quanto a rituais e
cerimónias é preservar a essencialidade da
cultura maçónica, da sua diferença em relação
ao mundo profano. É preservar o método de
transmissão e apreensão de conhecimentos.
É, enfim, proteger o cerne da Maçonaria.
RESERVA DE DIVULGAÇÃO DO TEOR
CONCRETO E ESPECÍFICO DOS TRABALHOS DE
QUALQUER REUNIÃO DE LOJA RITUALMENTE
REALIZADA
Os maçons comprometem-se finalmente a não
divulgar o teor concreto dos trabalhos de uma
reunião de Loja, ritualmente realizada. À
primeira vista, isto parece excessivo.
Sobretudo, se tivermos em conta que, de cada
reunião, é elaborada uma ata que, depois de
aprovada, é conservada na documentação e
no arquivo da Loja. Por essa ata se alcança
que assuntos foram tratados na reunião, que
deliberações foram tomadas. E uma ata existe
para ser consultada – senão, para quê fazê-la?
Independentemente da delicadeza dos
assuntos tratados, a ata é elaborada e
preservada. Eu publiquei no blogue A Partir
Pedra um documento histórico, uma ata que
registou os trabalhos da sessão de 18 de
setembro de 1835 da Loja brasileira
Philantropia e Liberdade. Essa ata registou,
nada mais, nada menos, do que a preparação
e planificação de um movimento
revolucionário, a Revolução Farroupilha!
Porquê então guardar sigilo sobre os sucessos
de uma reunião, ao mesmo tempo que se
regista, e se guarda escrupulosamente esse
registo, o que se passou, elaborando-se uma
ata formal? Se é certo que o acervo
documental constituído pelas atas das
reuniões das Lojas maçónicas pode constituir –
e constitui! – precioso material de
investigação histórica, nem sequer é esse o
principal objetivo do registo em ata. Como
referi, uma ata serve para ser consultada.
Cem anos depois ou dois dias depois…
Esta aparente incongruência esclarece-se se
tivermos a noção de que uma Loja maçónica é
uma organização – que deve registar os seus
eventos e deliberações mediante atas, até em
obediência às leis civis e em cumprimento dos
bons costumes sociais -, mas uma organização
com uma característica bem distintiva: é uma
fraternidade. Enquanto fraternidade, cultiva e
desenvolve especialmente as relações de
confiança mútua entre os seus elementos, em
estrito espírito de igualdade, sem prejuízo dos
graus e qualidades de cada um e dos
particulares deveres e meios que cada grau ou
qualidade confira a quem os detém.
Enquanto organização, uma Loja maçónica
cumpre as regras civis e, portanto regista
quem esteve em cada reunião, o que se tratou
nela, o que ficou decidido. E guarda e
preserva esse registo, que, a qualquer
momento, pode ser necessário nos mesmos
termos em que qualquer ata de qualquer
reunião de qualquer associação ou sociedade
pode ser necessária.
Enquanto grupo fraternal, procura-se que cada
elemento se sinta, no interior do grupo,
completa e absolutamente livre de expressar
as suas ideias, opiniões, projetos,
preocupações, sem constrangimentos de
qualquer espécie. O espaço de uma Loja em
reunião ritual é um espaço em que todos e
cada um podem baixar completamente as
suas defesas e guardas, em que não
necessitam de manter a sua “máscara social”,
em que todos e cada um podem ser e
comportar-se e aparecer como realmente
todos e cada um são, com suas forças e
fraquezas, virtudes e defeitos. Porque, neste
espaço, todos e cada um sabem que devem
aos demais a mesma tolerância que dos
demais recebem. Porque todos e cada um
sabem que todas as opiniões, ideias,
contribuições, são analisadas e consideradas
pelo seu valor intrínseco, sem argumentos ad
hominem, sem acrescentar ou retirar valia à
opinião expressa em função de quem a
expressa.
Enquanto grupo fraternal, cultiva-se a
absoluta confiança mútua, a cooperação, o
auxílio a todos na medida das possibilidades
de cada um. Procura-se criar um laço forte e
duradouro entre todos. Que por isso se
consideram Irmãos. Ao criar-se um laço desta
natureza, está-se a criar um espaço onde a
crítica é aceite, porque a aceitação existe
ainda que haja lugar a crítica. Preserva-se um
espaço de cumplicidade imensa, em que cada
um está à vontade junto dos demais, porque
confia nos demais como nele mesmo.
Num espaço assim, de Fraternidade, pode
desabrochar sem peias a Liberdade. A
Liberdade de opinar, de arriscar testar uma
ideia, sem medo de que ela seja apoucada por
disparatada. Se o for, assim será considerada.
Mas isso não diminui quem a teve. Porque se
sabe que ela só foi expressa porque se estava
à vontade e porque é em espaços assim que
livremente se pode testar a real valia de
ideias, opiniões, propósitos. E aperfeiçoar. E
limar arestas. E – quantas vezes! –
transformar uma balbuciante e hesitante ideia
num projeto sólido e com mérito, através do
contributo de todos. Um espaço assim é
potencialmente um espaço de criatividade e
cooperação sem paralelo – porque ninguém
teme o juízo, ou a troça, ou o apoucamento,
dos demais. Porque todos sabem que ninguém
tem só excelentes ideias, que só expondo
todas – as péssimas, as sofríveis, as regulares,
as boazinhas, enfim, todas – é possível
peneirar delas as que têm efetiva valia.
Porque todos sabem que um bom projeto só
raramente é produto do valor de apenas um
qualquer iluminado, antes resulta da
concatenação de ideias, que se acumulam e
organizam e dão forma, muitas vezes
diferente no final do que fora o lampejo inicial.
Num espaço assim não se tem medo de ser
ridicularizado, apoucado, magoado. Mesmo
que se use o direito ao disparate. Num espaço
assim, sabe-se que o juízo sobre o valor de
cada um não depende de uma excelente ou
uma péssima ideia, antes resulta do Todo que
cada um é e que os demais vão conhecendo,
cuja evolução vão constatando.
Um espaço assim é um espaço de intimidade
intelectual sem paralelo. E só subsiste porque
blindado numa confiança mútua absoluta. O
que se diz ali, fica ali. Seja a ideia do século,
seja o mais profundo disparate. Quer uma,
quer outro, são ali vistos na correta
perspetiva, de procura de contribuição para a
melhor decisão do grupo, de experimentação,
de sugestão, sem reservas, sem cuidados,
sem temores de ridículo ou de crítica.
Um espaço assim propicia a mais livre da Livre
Expressão do Pensamento. Porque livre da
necessidade da pior das censuras, a
autocensura. Um espaço assim, baseado na
confiança, na Fraternidade, só pode subsistir
se todos e cada um souberem que o à vontade
em que se expressam não é traído por juízos
exteriores feitos por quem,
descontextualizando o paradigma em que as
ideias são expostas, possa vir a apoucar a
ideia, o pensamento, a opinião.
É para preservar esse espaço intimista de
Liberdade que se preserva o que de concreto
se passa numa reunião maçónica. Porque fora
julga-se segundo os critérios de fora, não se
atendendo às condições que se criam para
que todas as contribuições sejam bem-vindas.
É preciso garantir que todos e cada um
possam, no decorrer de uma reunião ritual de
Loja, expressar sem quaisquer
constrangimentos, de qualquer natureza, as
suas ideias e convicções e opiniões. Para que
essa Liberdade absoluta exista, mister é que
todos e cada um saibam que o que se passa
em Loja fica em Loja. E portanto, cada um
guarda cuidadosamente para si o que em Loja
se passou. Quem quiser saber e tenha o
direito a saber… consulte a ata!
O SEGREDO MAÇÓNICO ESOTÉRICO: O
VERDADEIRO SEGREDO MAÇÓNICO
Na minha opinião, já hoje aqui o disse, o
verdadeiro segredo maçónico vai muito além
da discrição sobre identidades, modos de
reconhecimento, rituais, cerimónias e
trabalhos efetuados. Na minha opinião, o
verdadeiro segredo maçónico, o que importa,
o que releva, existe, não porque os maçons o
queiram preservar, mas porque não o
conseguem revelar. Porque é insuscetível de
plena transmissão.
O verdadeiro segredo maçónico, aquilo a que
muitos chamam de Palavra Sagrada ou, muito
simplesmente, de Luz, é aquilo que o maçom
aprende através do contacto com seus Irmãos,
do convívio e busca de entendimento dos
elementos simbólicos que a maçonaria
profusamente coloca à disposição dos seus
elementos, do método de análise, de trabalho,
de esforço, de meditação, de extenuada
conquista, passo a passo, degrau a degrau,
patamar a patamar, sobre si próprio, a pulso
desbastando suas imperfeições, despojando-
se do interesse sobre toda a ganga material
que obnubila os nossos espíritos, indo-se cada
vez mais longe em épica viagem, com começo
e fim no fundo de si mesmo e aí descobrindo a
resposta que procura.
Esta busca, esta viagem, esta procura, tem
um começo e um fim, mas nem um nem outro
serão porventura os esperados. O começo
será sempre depois do meio dia, a hora a que
os maçons iniciam os seus trabalhos, quando
cada um está efetivamente apto a começar a
trilhar o caminho sem marcos, bordas ou
fronteiras, que conduzirá não sabe onde. O
fim, esse, tem hora marcada, aquela em que
os maçons pousam as suas ferramentas, a
meia noite. Como em muito do que tem valor,
tão importante é o resultado como o trabalho
para o obter, tão atraente é o destino, como o
caminho que a ele conduz. E muito raramente
o caminho mais curto entre o ponto de partida
e o de chegada será uma reta…
Em bom rigor, duvido mesmo que haja apenas
um verdadeiro segredo maçónico, um único
segredo esotérico. Nesta altura do meu
entendimento, propendo a considerar que
cada maçom atinge a sua própria Luz – a
deste com mais brilho, a daquele mais baça, a
daqueloutro, qual bruxuleante chama de
longínqua vela, mal se vendo -, cada maçon
encontra e resgata a sua própria e individual
Palavra Perdida – a de um bela e cristalina, a
de outro sonora e estentória, a de um terceiro
suave e quase inaudível murmúrio.
Cada um encontra o que procura e o que
trabalha e se esforça por encontrar. Cada um
encontra Segredos, Luzes, Palavras, diferentes
ao longo da sua busca. Porque esta nunca
termina. Cada resposta encontrada dá origem
a novas perguntas, nascidas de mais lúcida
compreensão, em perpétua evolução e
aprofundamento de compreensão. É por isso
que tenho para mim que eu não posso, não
consigo, não sei, partilhar a minha Palavra,
com mais ninguém, nem sequer com o meu
mais chegado Irmão. Não só porque não
consigo descrevê-la em toda a sua extensão e
complexidade, como porque o mero enunciar
do ponto do caminho em que me encontro me
abre novos horizontes de busca, para lá dos
quais nem sequer sei se não terei de pôr em
causa e de reformular tudo ou parte do que
me levou a percorrer esse preciso caminho,
quer ainda porque cada viagem, mesmo a do
meu mais mais chegado Irmão, seguiu rumos
diversos dos meus, levando a linguagens
distintas, a conceitos diferentes, a complexas
variantes.
Cada um, em cada momento, encontra
diferente Palavra, vê diversa Luz, preserva
variado Segredo, porque cada um viaja para
destinos diferentes: cada um viaja até ao
fundo de si mesmo e cada um é todo um
Universo diferente do parceiro do lado.
Nessa viagem, nesse trabalho, nessa busca,
cada um procura coisa diversa. Eu só posso
definir o que neste momento busco. Já me
reconciliei – há muito! – com a finitude da vida
neste plano de existência, já abandonei, por
estulta e estéril, a busca do imenso porquê, a
mim nunca me interessou particularmente
interrogar-me sobre o cósmico como. Por
agora, desde há muito e não sei até quando,
concentro-me na busca do sentido da Vida e
da Criação. Tenho uma ideia rude e imprecisa
desse sentido. Busco o melhor ângulo para
obter mais Luz. Espero que consiga obter o
Brilho suficiente para, através do sentido da
Criação, entrever o Criador… E tudo isto eu –
neste momento – busco, em fantástica
viagem, sem outro veículo que não eu próprio,
não consumindo outro combustível senão tudo
aquilo de que me interiormente despojo, sem
outro destino e caminho senão o fundo de
mim mesmo. Porque é o conhecimento de
mim mesmo, em todas as complexas
vertentes que condicionam o meu Eu, que me
habilitará a conhecer o Outro, o Mundo e
quem o criou e porquê e para quê e como. Eu
sou a pergunta, a pergunta sem resposta, a
pergunta buscando a resposta e,
simultaneamente, a resposta contida na
própria pergunta, que me levará a nova
pergunta, que gerará nova resposta, em
contínuo alargar de horizontes, que espero me
permita entrever o que está para além do
horizonte e contém todos os horizontes…
Confuso, não é? Pois é! Eu bem avisei que o
segredo maçónico esotérico é aquele que
existe porque não se consegue transmitir…
Rui Bandeira – Mestre Maçon
Lido em sessão no grau de Aprendiz da R:. L:.
Mestre Affonso Domingues, n.º 5, em 13 de
abril de 6011, E:. M:..

 O “Segredo Maçónico”…
 Afinal, o que é o segredo maçónico?
 O Verdadeiro Segredo Maçónico
 Palavra Maçónica
 Especular – o trabalho maçónico
https://www.freemason.pt/segredo-maconico-
sp-906612108/

Você também pode gostar