Fusco, 2010

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ELVIS FUSCO

MODELOS CONCEITUAIS DE DADOS COMO PARTE DO PROCESSO


DA CATALOGAÇÃO: PERSPECTIVA DE USO DOS FRBR NO
DESENVOLVIMENTO DE CATÁLOGOS BIBLIOGRÁFICOS DIGITAIS

MARÍLIA
2010
1

ELVIS FUSCO

MODELOS CONCEITUAIS DE DADOS COMO PARTE DO PROCESSO


DA CATALOGAÇÃO: PERSPECTIVA DE USO DOS FRBR NO
DESENVOLVIMENTO DE CATÁLOGOS BIBLIOGRÁFICOS DIGITAIS

Tese de Doutorado apresentada como


requisito parcial para a obtenção do título
de doutor em Ciência da Informação, junto
ao Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, Unesp – Marília.

Orientação: Profa. Dra. Plácida L. V. A. da


Costa Santos

Linha de Pesquisa: Informação e


Tecnologia

MARÍLIA
2010
2
3

ELVIS FUSCO

Modelos conceituais de dados como parte do processo da catalogação:


perspectiva de uso dos FRBR no desenvolvimento de catálogos bibliográficos
digitais.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Profa. Dra. Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa Santos (Orientadora)
UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Filosofia e Ciências. Campus de Marília

__________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo César Gonçalves Sant'Ana
UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Filosofia e Ciências. Campus de Marília

__________________________________________________
Prof. Dr. José Remo Ferreira Brega
UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Ciências. Campus de Bauru

__________________________________________________
Profa. Dra. Virginia Bentes Pinto
UFC – Universidade Federal do Ceará
Departamento de Ciências da Informação

__________________________________________________
Prof. Dr. Alex Sandro Romeu de Souza Poletto
FEMA – Fundação Educacional do Município de Assis

Marília, 2010.
Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP/Marília
4

Ao meu Deus Pai, meu criador e ao meu Senhor Jesus, meu salvador.

Aos meus pais que pelo seu amor e incentivo, sempre me deram segurança,
estímulo e visão para estudar e crescer profissionalmente.

A minha esposa Alecsandra, por nós sermos uma só carne, essa conquista é sua
também.

Aos meus amados filhos João Pedro e Paulo Henrique por simplesmente existirem e
serem o maior motivo para eu concluir mais essa etapa da minha vida.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente a Profa. Dra. Plácida L. V. A. da Costa Santos pela


orientação e apoio durante toda essa trajetória.

Na figura da Dra. Silvana Ap. B. Gregorio Vidotti, coordenadora do Programa de


Pós-Graduação em Ciência da Informação agradeço a todos os docentes do PPGCI,
que contribuíram para minha formação durante todo o curso de Doutorado.

Agradeço aos docentes Dra. Juliana de Oliveira e Dr. Ricardo César Gonçalves
Sant’Ana, que participaram do Exame Geral de Qualificação e contribuíram para a
finalização desta pesquisa.

Agradeço ao Centro Universitário Eurípides de Marília – Univem, sua Reitoria, Pró-


Reitorias, corpo docente e corpo administrativo pela compreensão e apoio durante
esses meses de estudo.

E principalmente agradeço a Deus pela minha família, que não poupou esforços
para me apoiar incondicionalmente, compreendendo cada minuto que me foi tirado
deles para a concretização desta tese.

Obrigado a todos vocês.

Elvis Fusco
6

“A responsabilidade pela criação de


conhecimento científico – e para a maior parte
de aplicação do mesmo – se assenta naquele
pequeno grupo de homens e mulheres que
compreendem as leis fundamentais da
natureza e são versados nas técnicas da
pesquisa científica”

Vannevar Bush
7

Fusco, Elvis. Modelos conceituais de dados como parte do processo da


catalogação: perspectiva de uso dos FRBR no desenvolvimento de catálogos
bibliográficos digitais. Elvis Fusco – Marília, 2010. 249f.

RESUMO

O processo de catalogação ocupa-se dos registros bibliográficos, enquanto suporte de


informação, servindo como base para a interoperabilidade entre ambientes informacionais,
levando em conta objetos diversificados de informação e bases cooperativas e
heterogêneas. Dentre as principais propostas da área de catalogação estão os FRBR -
Functional Requirements for Bibliographic Records (Requisitos Funcionais para Registros
Bibliográficos), que constituem novos conceitos nas regras de catalogação. As regras dos
FRBR mostram um caminho na reestruturação dos registros bibliográficos de maneira a
refletir a estrutura conceitual de persistência e buscas de informação, levando em conta a
diversidade de usuários, materiais, suporte físico e formatos. Neste contexto, o objetivo
desta pesquisa é refletir e discutir, a partir de uma arquitetura conceitual, lógica e de
persistência de ambientes informacionais, baseada nos FRBR e na Modelagem Entidade-
Relacionamento e estendido pelo uso dos conceitos da Orientação a Objetos, o processo de
catalogação no contexto do projeto de catálogos utilizando a metodologia computacional de
Modelagem Conceitual de Dados, considerando a evolução dessa área no âmbito da
Ciência da Informação em relação ao contexto da representação da informação com vistas
ao uso e à interoperabilidade de todo e qualquer recurso informacional, que vise a
preencher a lacuna entre o projeto conceitual de um domínio de aplicação e a definição dos
esquemas de metadados das estruturas de registros bibliográficos. Esta pesquisa defende a
necessidade e a urgência da releitura do processo de catalogação adicionado de elementos
da Ciência da Computação com utilização de metodologias de Tratamento Descritivo da
Informação (TDI) no âmbito da representação da informação na camada de persistência de
um ambiente informacional automatizado. O problema de pesquisa está alicerçado na
pressuposição da existência de uma relação de comunicação entre catalogação, padrões de
metadados, interoperabilidade, modelagem de dados, entrelaçados pelos FRBR na busca e
construção de um projeto de catálogo. A hipótese é que a utilização dos FRBR preencha a
lacuna entre o projeto conceitual de um domínio da aplicação e a definição dos esquemas
das estruturas de registros bibliográficos. Neste contexto, defende-se a tese da necessidade
de adoção de uma metodologia de modelagem conceitual de dados que permita ao
profissional da catalogação atuar no processo de construção de banco de dados que
reflitam os conceitos da área de catalogação, e por meio dos recursos dos Modelos
Entidade-Relacionamento e Orientado a Objetos da Ciência da Computação encontram-se
funcionalidades suficientes para atender os requisitos da Ciência da Informação no
Tratamento Descritivo de Recursos Informacionais (TDRI) em ambientes informacionais
digitais. A modelagem de dados possibilita uma visão não linear dos elementos descritivos
de um item bibliográfico e permite uma eficiente transmissão das mensagens contidas nas
representações e a otimização do acesso e uso de ambientes catalográficos, por meio da
intersecção entre os itens bibliográficos e as necessidades informacionais dos usuários.
Nesse sentido, o processo de catalogação deve ser ampliado adicionando a ele a
responsabilidade de definição das estruturas conceituais de representação dos itens
bibliográficos e, para tanto, o profissional catalogador necessita buscar essas ferramentas
que possibilitam um melhor desenvolvimento da área da catalogação.

Palavras-Chave: Catalogação; FRBR; Modelagem de Dados; Orientação a Objetos;


Framework.
8

Fusco, Elvis. Conceptual models of data as part of cataloguing process:


perspective of use of the FRBR in the development of digital bibliographic
catalogues. Elvis Fusco – Marília, 2010. 249f.

ABSTRACT

The cataloguing process is aimed at dealing with bibliographic registers as information


support, serving as a basis for an interoperability among information environments, taking
into account different objects and cooperative and heterogeneous basis. Among the main
propositions of the cataloguing field are the FRBR - Functional Requirements for
Bibliographic Records, which constitute of new concepts in cataloguing standards. These
standards indicate access to the rearrangement of bibliographic registers in order to reflect
on the conceptual framework of persistence and search of information, considering the
diversity of users, material, physical support, and formats. In this context, the present
research is aimed at reflecting and discussing, from a conceptual architecture, logic and
information environment persistence based on FRBR and Entity-Relationship Modeling and
extended by the use of concepts of Object Orientation, the process of cataloguing in the
context of the catalogs project by using computation methodology of Data Conceptual
Modeling, considering the evolution of this area in the scope of Information Science in
relation to the context of the representation of information aiming use and interoperability of
every and each information resource to fill the lack between the conceptual project of an
application domain and the definition of the metadata scheme of bibliographic registers
structures. Thus, this research defends the necessity and urgency to review the cataloguing
process adding the elements of Computing Science with the use of Information Descriptive
Treatment methodologies in the scope of the information representation in the layer of
persistence of an automated information environment. The research issue is based in the
presupposition of the existence in a relation of community among cataloguing, metadata
patterns, interoperability, data modeling, all interlinked by FRBR in the search and building of
a catalog project. The hypothesis is that the use of FRBR fill the lack between the conceptual
project of an application domain and the scheme definition of the bibliographic registers
structures. In this context, it is supported the thesis of data conceptual modeling which allow
the catalogue professional to operate in the process of building a database to reflect the
concepts of the cataloguing area and, by means of the resources of Entity-Relationship and
Object Oriented Modeling of Computing Science, it is found functionalities enough to fulfill
the requirements of Information Science in Information Resources Descriptive Treatment in
digital information environments. Data modeling allows a non-linear view of descriptive
elements of a bibliographic item, and also an efficient transmission of the messages in
representations and optimization of the access and use in catalogue environments by means
of the intersection between bibliographic items and the users’ information necessity. In this
manner, the cataloguing process has to be extended, adding to it the responsibility to define
the representation conceptual frameworks of bibliographic items and, to do so, the catalogue
professional need look for these tools which enable a better development of the catalogue
area.

Keywords: Cataloguing; FRBR; Data Modeling; Object Orientation; Framework


9

LISTA DE SIGLAS

AACR – Anglo-American Cataloging


AACR2 – Anglo-American Cataloging – 2ª edição
AACR3 – Anglo-American Cataloging – 3ª edição
AITF – Categories for the Description of Works of Art
ALA – American Library Association
CBU – Controle Bibliográfico Universal
CCAA – Código de Catalogação Anglo-Americano
CCAA2 – Código de Catalogação Anglo-Americano – 2ª edição
CIDOC – International Committee for Documentation
CIDOC – CRM - International Committee for Documentation - Conceptual Reference
Model
CILIP – Chartered Institute of Library and Information Professionals
DC – Dublin Core
E-R – Entidade Relacionamento
EUA – Estados Unidos da América
FRBR – Functional Requirements for Bibliographic Records
FRBR O.O. – FRBR Orientado a Objetos
FRAD – Functional Requirements for Authority Data
GARE – Guidelines for Authority and Reference Entries
GSARE – Guidelines for Subject Authority and Reference Entries
ICP - International Cataloguing Principles
IFLA – International Federation of Library Association
ISBD – International Standard Bibliographic Description
ISBD (A): International Standard Bibliographic Description for Older Monographic
Publications (Antiquarian)
ISBD (CF): International Standard Bibliographic Description for Computer Files
ISBD (CM): International Standard Bibliographic Description for Cartographic
Materials
ISBD (CR): International Standard Bibliographic Description for Serials and Other
Continuing Resources
ISBD (ER): International Standard Bibliographic Description for Electronic Resources
ISBD (G): General International Standard Bibliographic Description
ISBD (M): International Standard Bibliographic Description for Monographic
Publications
ISBD (NBM): International Standard Bibliographic Description for Non-Book Materials
ISBD (PM): International Standard Bibliographic Description for Printed Music
ISBD (S): International Standard Bibliographic Description for Serials
ISBN – International Standard Book Number
ISO – International Standard Organization
JSC – Joint Steering Committee
LC – Library of Congress
MARC – Machine Readable Cataloging
MFC – Meta Content Framework
MODS – Metadata Object Description Standard
OCLC – Online Computer Library Center
RDA: Resource Description and Access
10

RDF – Resource Description Framework


RFDA - Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade
RIEC – Reunião Internacional de Especialistas em Catalogação
ROA – Resource Description and Access
SDLIP – Simple Digital Library Interoperability Protocol
SGBD – Sistema Gerenciador de Banco de Dados
TDI – Tratamento Descritivo da Informação
TDRI – Tratamento Descritivo de Recursos Informacionais
UML – Unified Modeling Language
W3C – World Wide Web Consortium
XML – Extensible Markup Language
11

Lista de Ilustrações

Figura 1 – Partes que compõem a catalogação. ....................................................... 37


Figura 2 – Estrutura do código RDA.......................................................................... 56
Figura 3 – Os padrões de metadados e a interoperabilidade .................................... 66
Figura 4 – Ficha catalográfica ................................................................................... 69
Figura 5 – Representação de um registro MARC mostrando o significado
dos campos ............................................................................................................... 69
Figura 6 – Representação de um registro MARC mostrando os campos ................. 70
Figura 7 – Arquivo texto com um registro MARC21 .................................................. 71
Figura 8 – Correspondência entre padrões de metadados ....................................... 85
Figura 9 – Esquema de interoperabilidade com metadados ..................................... 86
Figura 10 – Componentes de um sistema de banco de dados ................................. 91
Figura 11 – O processo de modelagem de dados..................................................... 96
Figura 12 – Elementos de um banco de dados ......................................................... 98
Figura 13 – Diagrama Entidade-Relacionamento.................................................... 101
Figura 14 – Relacionamento um-para-um ............................................................... 103
Figura 15 – Notação gráfica para o relacionamento um-para-um ........................... 104
Figura 16 – Relacionamento um-para-muitos ......................................................... 104
Figura 17 – Notação gráfica para o relacionamento um-para-muitos...................... 105
Figura 18 – Relacionamento muitos-para-muitos .................................................... 105
Figura 19 – Notação gráfica para o relacionamento muitos-para-muitos ................ 106
Figura 20 – Existência-dependente ......................................................................... 106
Figura 21 – Notação gráfica para representação de objetos................................... 112
Figura 22 – Relacionamento de dependência ......................................................... 113
Figura 23 – Relacionamento de associação............................................................ 114
Figura 24 – Relacionamento de generalização ....................................................... 115
Figura 25 – Relacionamento de agregação............................................................. 115
Figura 26 – Relacionamento de composição .......................................................... 116
Figura 27 – Diagrama Entidade-Relacionamento.................................................... 123
Figura 28 – Diagrama FRBR para conjuntos entidade-relacionamento .................. 125
Figura 29 – Diagrama FRBR de relacionamentos com conjuntos de entidades
múltiplas .................................................................................................................. 125
Figura 30 – Diagrama FRBR de instâncias de entidades específicas ..................... 126
Figura 31 – Relacionamento “produzido por” .......................................................... 127
Figura 32 – Entidades do Grupo 1 e relacionamentos primários............................. 129
Figura 33 – Diagrama FRBR de instâncias de entidades para diferenciar obra e
expressão ................................................................................................................ 130
Figura 34 – Entidades do Grupo 2 e relacionamentos de responsabilidade ........... 132
Figura 35 – Entidades do Grupo 3 e relacionamentos de assunto .......................... 134
Figura 36 – Diagrama FRBR de instâncias de entidades para diferenciar obra e
expressão ................................................................................................................ 152
Figura 37 – Relacionamento derivativo do tipo revisão (expressão relacionada).... 153
Figura 38 – Relacionamento derivativo do tipo adaptação (obra relacionada) ........ 154
Figura 39 – Diagrama FRBR demonstrando um relacionamento descritivo ............ 155
12

Figura 40 – Relacionamento todo-parte no nível de obra com partes


independentes ......................................................................................................... 157
Figura 41 – Relacionamento sequencial (serial issues) .......................................... 160
Figura 42 - Relacionamento de característica compartilhada (“criado por”) ............ 161
Figura 43 – Relacionamento de característica compartilhada (assunto) ................. 162
Figura 44 – Base fundamental para o FRAD........................................................... 164
Figura 45 – Relacionamento da obra com outras entidades FRAD ........................ 165
Figura 46 – Relacionamento do item com outras entidades FRAD ......................... 166
Figura 47 – Requisitos básicos de um catálogo ...................................................... 171
Figura 48 – Fontes das necessidades informacionais um catálogo ........................ 172
Figura 49 – O projeto de um catálogo digital ........................................................... 173
Figura 50 – Modelo de Processo de Catalogação................................................... 176
Figura 51 – Modelo Conceitual com as Entidades do Grupo 1 ............................... 179
Figura 52 – Modelo Conceitual com as Entidades do Grupo 1 e Grupo 2 .............. 180
Figura 53 – Relacionamento ternário com a entidade Tipo de Responsabilidade... 181
Figura 54 – Modelo Conceitual com as Entidades do Grupo 1 e Grupo 3 .............. 183
Figura 55 – Relacionamentos complementares das entidades do Grupo 1 ............ 186
Figura 56 – Estendendo o modelo com entidades FRAD ....................................... 187
Figura 57 – Modelo conceitual baseado nas entidades e relacionamentos dos
FRBR e FRAD ......................................................................................................... 188
Figura 58 – Normalizando atributos multi-valorados ............................................... 190
Figura 59 – Forma como entidade em vez de atributo ............................................ 191
Figura 60 – Frequência Esperada como entidade Periodicidade ............................ 192
Figura 61 – Modelo baseado na entidade Obra ...................................................... 193
Figura 62 – Modelo baseado na entidade Expressão ............................................. 194
Figura 63 – Representação do atributo Indicação de Responsabilidade ................ 195
Figura 64 – Representação dos atributos lugar e data da publicação/distribuição.. 197
Figura 65 – Modelo Baseado na entidade Manifestação ........................................ 198
Figura 66 – Modelo Baseado na entidade Item ....................................................... 199
Figura 67 – Modelagem Dinâmica de Atributos....................................................... 201
Figura 68 – Representação Gráfica da Modelagem Dinâmica de Atributos ............ 202
Figura 69 – Integração com padrões de metadados ............................................... 204
Figura 70 – Bases para construção do framework conceitual ................................. 216
Figura 71 – Diagrama de Classes base para a construção do framework
conceitual ................................................................................................................ 217
Figura 72 – Proposta de um Framework Conceitual para Catálogos baseados
nos FRBR ................................................................................................................ 220
Figura 73 – Persistência das classes do framework conceitual .............................. 222
Figura 74 – Esquema de acesso às informações do catálogo bibliográfico ............ 223
13

Lista de Quadros

Quadro 1 – Relacionamentos todo-parte no nível da Obra ................................. 156


Quadro 2 – Relacionamentos todo-parte no nível da Expressão ........................ 157
Quadro 3 – Relacionamentos todo-parte no nível da Manifestação.................... 158
Quadro 4 – Relacionamentos todo-parte no nível do Item ................................. 158
Quadro 5 – Relacionamentos complementares das entidades do Grupo 1 ........ 185
14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA CATALOGAÇÃO ........................................................ 29


2.1 A Catalogação.................................................................................................. 29
2.2 Breve Histórico Sobre as Regras de Catalogação ........................................... 38
2.3 Códigos de Catalogação .................................................................................. 45
2.3.1 AACR2 - Anglo American Cataloguing Rules – Second Edition ................ 46
2.3.2 ISBD – International Standard Bibliographic Description ........................... 48
2.3.3 RDA – Resource Description and Access.................................................. 52

3 METADADOS......................................................................................................... 60
3.1 Funções dos Metadados na Catalogação ........................................................ 63
3.2 Padrões de Metadados .................................................................................... 64
3.3 O Padrão de Metadados MARC....................................................................... 67

4 INTEROPERABILIDADE ........................................................................................ 76
4.1 Definição de Interoperabilidade........................................................................ 77
4.2 Histórico de Cooperação e Compartilhamento ................................................ 79
4.3 Níveis de Interoperabilidade ............................................................................ 80
4.4 Abordagens de Interoperabilidade ................................................................... 82
4.5 O Uso de Metadados na Interoperabilidade ..................................................... 84

5 MODELAGEM DE DADOS .................................................................................... 89


5.1 Conceituando Banco de Dados ....................................................................... 90
5.2 Modelo de Dados ............................................................................................. 92
5.3 O Processo de Modelagem de Dados ............................................................. 95
5.4 Modelagem Conceitual .................................................................................... 99
5.5 Modelo Entidade-Relacionamento ................................................................. 100
5.6 Modelo Orientado a Objetos .......................................................................... 108
15

5.6.1 Análise e Projeto Orientado a Objetos ..................................................... 110


5.6.2 A Linguagem de Modelagem Unificada (UML) ........................................ 111

6 FRBR – FUNCTIONAL REQUIREMENTS FOR BIBLIOGRAPHIC RECORDS ... 118


6.1 Diagramas FRBR ........................................................................................... 124
6.2 As Entidades .................................................................................................. 127
6.2.1 Grupo 1 .................................................................................................... 128
6.2.2 Grupo 2 .................................................................................................... 131
6.2.3 Grupo 3 .................................................................................................... 133
6.3 Os Atributos ................................................................................................... 135
6.3.1 Atributos da Obra ..................................................................................... 136
6.3.2 Atributos da Expressão ............................................................................ 138
6.3.3 Atributos da Manifestação ....................................................................... 139
6.3.4 Atributos do Item ...................................................................................... 143
6.3.5 Atributos de Pessoa ................................................................................. 144
6.3.6 Atributos de Entidade Coletiva ................................................................. 145
6.3.7 Atributos de Conceito............................................................................... 146
6.3.8 Atributos de Objeto .................................................................................. 146
6.3.9 Atributos de Evento.................................................................................. 147
6.3.10 Atributos de Lugar.................................................................................. 147
6.4 Os Relacionamentos ...................................................................................... 148
6.4.1 Relacionamentos de Alto Nível ................................................................ 149
6.4.2 Relacionamentos Complementares entre as Entidades do Grupo 1 ....... 150
6.5 FRAD - Functional Requirements for Authority Data...................................... 162
6.5.1 Entidade Nome ........................................................................................ 164
6.5.2 Entidade Identificador .............................................................................. 165

7 O USO DA MODELAGEM CONCEITUAL DE DADOS NO PROCESSO DA


CATALOGAÇÃO: UMA PROPOSTA BASEADA NOS FRBR ................................. 169
7.1 Bases Para o Projeto de um Catálogo ........................................................... 170
7.2 Aplicação da Modelagem Conceitual no Projeto de Catálogos ...................... 173
7.3 Construção do Modelo Conceitual de Dados Baseado no Modelo E-R ......... 179
16

8 O DESENVOLVIMENTO DE UM FRAMEWORK CONCEITUAL BASEADO NOS


FRBR ...................................................................................................................... 211
8.1 Framework Conceitual ................................................................................... 214

CONCLUSÕES ....................................................................................................... 226

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 234

ANEXOS ................................................................................................................. 242


Anexo A: Mapeamento dos FRBR para Elementos de Dados MARC ................ 242

APÊNDICES............................................................................................................ 243
Apêndice A: Estrutura de Metadados do Modelo Proposto................................. 244
16

INTRODUÇÃO
17

1 INTRODUÇÃO

No cenário contemporâneo as informações digitais fazem parte do universo

de bases informacionais e necessitam de estruturas de representação e

mecanismos de acesso e entre elas podem-se citar publicações avulsas e

periódicas, enciclopédias virtuais, bibliotecas digitais e repositórios institucionais e

temáticos. As estruturas de representação e os mecanismos de acesso provocam

uma evolução na gestão, na modelagem e no uso da informação em meio digital e

nesse contexto a catalogação, enquanto geradora do Tratamento Descritivo da

Informação (TDI) e construtora de formas de representação dos recursos

informacionais, passa a ser associada à usabilidade da informação digital, aos

metadados, às ontologias no uso das taxonomias, à modelagem de dados e

conteúdos, ao projeto de banco de dados e à recuperação e descoberta de

recursos informacionais.

Esse cenário caracteriza-se pela indissociabilidade entre informação e

tecnologia e, neste contexto, o conceito de biblioteca foi ampliado para uma

organização provedora de informação diversificando-se, por exemplo, em

bibliotecas digitais e repositórios institucionais, nesta tese, denominada unidade de

informação.

A crescente introdução de padrões que procuram adequar a organização

da informação às novas realidades, a publicação de regras, recomendações e

estudos que apontam tendências e perspectivas da catalogação atual, constitui

reflexo da evolução do conceito da catalogação que se tornou inegavelmente mais


18

complexa e ampliada, com a rápida transformação dos formatos, padrões, funções,

opções de exibição e busca, bem como, com algumas mudanças fundamentais,

como as expectativas de controle bibliográfico (BAPTISTA, 2006).

Considerando as mudanças e desafios trazidos pela tecnologia, é preciso

notar que o conceito de coleção bibliográfica passa a englobar não somente os

documentos tangíveis proprietários da unidade de informação, mas também, todos

os documentos a que se tem acesso nesta unidade (GORMAN, 1997).

São inúmeros e imensos os desafios no sentido de articular os avanços

técnicos da Biblioteconomia tradicional com as novas possibilidades inseridas pela

tecnologia. Exige-se cada vez mais um profissional hábil e capacitado para atuar

em novos processos, bem como, se faz necessário o desenvolvimento de estudos

mais aprofundados de novas metodologias de catalogação direcionadas ao

tratamento da informação digital.

O processo de catalogação ocupa-se dos registros bibliográficos de

documentos, enquanto suporte de informação, servindo como base para a

interoperabilidade entre ambientes informacionais, levando em conta objetos

diversificados de informação e bases cooperativas e heterogêneas. Segundo

Lourenço (2005, p. 21)

A visão do código de catalogação, como fonte de consulta para a


resolução de processos de representação, ressalta o papel deste
instrumento como manancial de experiência prévia acumulada,
preservando-se tipos e características do incontável número de
itens que serviu para proporcionar paulatinamente a criação das
regras hoje sistematizadas. Ressalta-se, entretanto que o
conhecimento não é estático e novas necessidades sempre surgem
impulsionando a atualização dos referidos instrumentos.

A catalogação continua sofrendo mudanças em sua natureza e processos,

o que gera novos desafios e revisão das necessidades e conhecimento sobre

essas mudanças. As novas tendências da catalogação, como por exemplo, os


19

FRBR - Functional Requirements for Bibliographic Records (Requisitos Funcionais

para Registros Bibliográficos) e FRAD - Functional Requirements Authority Data

(Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade), tomam autores clássicos e

regras já estabelecidas, como os princípios de Cutter, base para a introdução de

novos conceitos. Portanto, a estas tendências, todo conhecimento já adquirido nas

estruturas bibliográficas deve ser mantido. Entretanto, deve ser expandido e novas

tecnologias devem ser implementadas a partir dessa base conceitual já

estabelecida e conhecida.

Alguns desafios são postos para o processo da catalogação, como a

representação dos diversos tipos de materiais que surgem a partir das novas

tecnologias e a interoperabilidade de bases informacionais heterogêneas. Essa

complexidade deve ser abstraída do usuário, estabelecendo uma sólida teoria e

compreensão das necessidades dos usuários, com a preservação de documentos

digitais para acesso futuro e a definição de um nível de padronização que permita

um nível global de cooperação.

Para tais desafios é necessário que os profissionais da Ciência da

Informação discutam várias questões sobre a organização do conhecimento

registrado e sua representação nas mais diferentes formas e práticas.

Todas essas considerações levam à necessidade de estudo da questão da

representação informacional de registros bibliográficos no cenário atual.

Os FRBR agem como um modelo de referência e, portanto, operam no

nível conceitual, não levando a análise dos requisitos ao nível necessário para um

modelo físico de dados. Esta característica é bem estabelecida conforme

afirmação, “[...] demasiado abstratos e genéricos para ser um modelo de dados:

nenhuma base de dados prática poderia realmente ser desenvolvida


20

exclusivamente baseada naquelas entidades, atributos e relacionamentos que são

definidos nos FRBR” (IFLA, 2006).

Isto leva à necessidade da reflexão e pesquisa para o desenvolvimento de

padrões e modelos conceituais e lógicos de implementação utilizando esses

requisitos.

A análise lógica dos dados refletidos nos registros bibliográficos gera a

descrição dos elementos básicos no Modelo Entidade-Relacionamento (E-R)

proposto por Chen (1990) que define uma representação de informações para

modelagem de banco de dados baseada em entidades, atributos e

relacionamentos entre as entidades.

As implementações dos FRBR se dão em um modelo de dados lógico e

físico qualquer, valendo-se do seu modelo conceitual, que é baseado no modelo

E-R que trabalha somente no âmbito conceitual.

Os aspectos atuais da catalogação levam a análises mais complexas no

desenvolvimento de ambientes informacionais de mediação do conhecimento. As

regras dos FRBR mostram um caminho na reestruturação dos registros

bibliográficos de maneira a refletir a estrutura conceitual de persistência e buscas

de informação, levando em conta a diversidade de usuários, materiais, suporte

físico e formatos.

Para tratar desses aspectos, novas leituras devem ser feitas sobre as

tecnologias no processo de análise e projeto de sistemas em ambientes

informacionais automatizados baseados no modelo FRBR, devido à ausência de

padrões de implementação utilizando esses requisitos.

A utilização de uma arquitetura para ambientes informacionais tendo como

base um modelo conceitual de requisitos bibliográficos pode corroborar a idéia de


21

que o processo de catalogação sofreu uma evolução, passando da descrição para

a representação de recursos informacionais sempre com vistas às expectativas e

necessidades do usuário e a interoperabilidade de todo e qualquer recurso

informacional. Considerando esta idéia, o papel do profissional da catalogação

amplia-se de modo que este deve determinar não somente os elementos a serem

representados, mas também participar da elaboração do modelo de dados a ser

implementado para persistir as informações desses elementos.

O processo estabelecido a partir do ato de elaborar a representação de um

objeto e descrever seu conteúdo, tornando-o recuperável com vistas ao uso

encontra nos FRBR elementos que fortalecem o objetivo da elaboração de

catálogos, aprimorando e introduzindo nesse processo uma nova perspectiva sobre

a estrutura e as relações dos registros bibliográficos. A compreensão e adoção dos

FRBR podem direcionar os responsáveis por códigos de catalogação, os

fornecedores de sistemas de informação e os próprios catalogadores a repensarem

seus produtos objetivando a atender as necessidades dos usuários. Todavia, é

importante destacar que os FRBR não se constituem em um novo código de

catalogação, mas provoca impactos sobre sua revisão e construção de novos

códigos e na definição de catálogos.

Novas perspectivas devem ser consideradas sobre as tecnologias no

processo de desenvolvimento de sistemas informatizados na área da catalogação.

Ambientes informacionais complexos e heterogêneos tendo a Internet como

cenário, a adição de novos formatos e meios de aquisição e recuperação, além do

aparecimento de recentes objetos informacionais, leva a uma demanda por

mecanismos de persistência e instância dessas informações. Entende-se por

persistência, o registro da informação num suporte de armazenamento digital e não


22

volátil e por instância, a ação de tornar a informação persistida disponível para uso

em ambientes informacionais digitais.

Isso justifica a apresentação de uma reflexão para projetos de catálogos

que sejam implementados por sistemas computacionais de automatização de

unidades de informação, essencial no fruto de esforços coletivos das áreas da

Biblioteconomia, Ciência da Informação e Ciência da Computação.

Além desses aspectos, a atividade específica da catalogação passa a fazer

parte de um processo mais amplo e complexo com a introdução de novos materiais

digitais e suas especificidades (por exemplo: objetos tridimensionais e documentos

multimídia, estruturados e semi-estruturados), a crescente demanda por integração

de ambientes informacionais e a inserção de teorias vindas de outras áreas como

da Ciência da Computação.

Neste sentido, o objetivo desta pesquisa é refletir e discutir, a partir de uma

arquitetura conceitual, lógica e de persistência de ambientes informacionais,

baseada nos FRBR e na Modelagem Entidade-Relacionamento e estendido pelo

uso dos conceitos da Orientação a Objetos, o processo de catalogação no contexto

do projeto de catálogos utilizando a metodologia computacional de Modelagem

Conceitual de Dados, considerando a evolução dessa área no âmbito da Ciência

da Informação em relação ao contexto da representação da informação com vistas

ao uso e à interoperabilidade de todo e qualquer recurso informacional, que vise a

preencher a lacuna entre o projeto conceitual de um domínio de aplicação e a

definição dos esquemas de metadados das estruturas de registros bibliográficos.

No intuito de criar uma infra-estrutura de implementação de ambientes

informacionais automatizados na área da catalogação que permita que

desenvolvedores e pesquisadores da Ciência da Informação possam utilizá-la no


23

processo de análise, projeto e implementação de sistemas de informação de

catálogos e unidades de informação, há a necessidade da utilização de uma

recomendação que visa a nortear e a padronizar a estrutura dos registros

bibliográficos.

Frente a essa necessidade, a proposta dos FRBR apresenta dois objetivos

de acordo com Beacom (2003): primeiro que catálogos online, baseados no

modelo, possam mostrar as relações bibliográficas mais claramente, de forma útil

ao usuário e, segundo, a proposta de um nível básico de funcionalidade para os

registros bibliográficos.

Para além da proposta desta pesquisa, os FRBR são amplamente

discutidos e aceitos em nível internacional e já estão sendo utilizados em

implementações que utilizaram com êxito o modelo conceitual dos requisitos

(ONLINE COMPUTER LIBRARY CENTER - OCLC, LIBRARY OF CONGRESS -

LC).

A proposta de apresentação de um processo de construção de catálogos

bibliográficos utilizando os conceitos dos FRBR como base para o desenvolvimento

de sistemas automatizados de ambientes informacionais vai ao encontro da

necessidade na área da Ciência da Informação, que trata da gestão em unidades

de informação, e a utilização do modelo Orientado a Objetos na sua estrutura

lógica, além de possibilitar a reutilização das classes que compõem o modelo

conceitual de dados poderá permitir um entendimento maior do modelo FRBR que

conceitualmente contém idéias da Orientação a Objetos.

Para fins de conceituação, esta pesquisa adota a visão de Borko (1968)

sobre a Ciência da Informação:

É a disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da


informação, as forças que regem o fluxo informacional e os meios
24

de processamento da informação para a otimização do acesso e


uso. Está relacionada com um corpo de conhecimento que abrange
a origem, coleta, organização, armazenamento, recuperação,
interpretação, transmissão, transformação e utilização da
informação. Isto inclui a investigação, as representações da
informação tanto no sistema natural, como no artificial, o uso de
códigos para uma eficiente transmissão de mensagens e o estudo
dos serviços e técnicas de processamento da informação e seus
sistemas de programação.

Sendo assim, pode-se afirmar que a Ciência da Informação se caracteriza

por manter uma interdisciplinaridade com outras áreas, como a Ciência da

Computação e, esta pesquisa justifica-se por mostrar e definir conceitos que são

trabalhados por ambas as áreas e que muitas vezes não são compreendidos pelos

pesquisadores dessas áreas e contribui em mostrar como acompanhar os avanços

da área da Ciência da Informação sobre a temática abordada, buscando em outra

ciência subsídios para aprimorar e estabelecer formas mais eficazes nos processos

de representação, persistência, descrição, organização, acesso e recuperação de

recursos informacionais, ou seja, o objeto principal da área que é a informação.

O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação para processar a

informação científica é uma das idéias fundadoras da Ciência da Informação. Com

relação às tecnologias de informação essas relações com a Ciência da Informação

e os problemas com os quais se ocupa, em particular com o problema do acesso e

transferência da informação e do conhecimento, Saracevic (1995) fala

explicitamente: “a ciência da informação está inexoravelmente conectada à

tecnologia da informação. Um imperativo tecnológico está compelindo e

restringindo a evolução da Ciência da Informação, como é na evolução da

sociedade da informação”.

Esta pesquisa defende a necessidade e a urgência da releitura do

processo de catalogação adicionado de elementos da Ciência da Computação com


25

utilização de metodologias de Tratamento Descritivo da Informação no âmbito da

representação da informação na camada de persistência de um ambiente

informacional automatizado.

A abordagem metodológica desta pesquisa, considerando os objetivos,

aliados à análise de conhecimento teórico sobre as formas de representação de

recursos informacionais e suas tecnologias, caracteriza-se por ser uma pesquisa

de análise exploratória e qualitativa descritiva do tema.

Os procedimentos metodológicos utilizados baseiam-se no levantamento e

na revisão bibliográfica sobre os assuntos principais da pesquisa na área da

Ciência da Informação como Catalogação, Metadados, Padrão de Metadados,

Interoperabilidade, FRBR e FRAD e na área da Ciência da Computação como

Modelagem de Dados, Banco de Dados, Modelo Entidade-Relacionamento, Modelo

Orientado a Objetos e Frameworks. Além disso, a apresentação do modelo de

processo de construção de um projeto de catálogo destacando a capacidade de

interoperabilidade com outros ambientes a partir de uma estrutura que utilize

padrões de intercâmbio de dados, como por exemplo, uma integração entre as

entidades dos FRBR com padrões de metadados.

O problema da pesquisa está alicerçado na pressuposição da existência de

uma relação de comunicação entre catalogação, padrões de metadados,

interoperabilidade, modelagem de dados, entrelaçados pelos FRBR na busca da

construção de catálogos bibliográficos digitais. A hipótese é que a utilização dos

FRBR preencherá a lacuna entre o projeto conceitual de um domínio da aplicação

e a definição dos esquemas das estruturas de registros bibliográficos. Nesse

sentido, defende-se a tese da necessidade de adoção de uma metodologia de

modelagem conceitual de dados que permita ao profissional da catalogação atuar


26

no processo de construção de banco de dados que reflitam os conceitos da área de

catalogação, e que por meio dos recursos dos Modelos Entidade-Relacionamento e

Orientado a Objetos da Ciência da Computação encontram-se funcionalidades

suficientes para atender os requisitos da Ciência da Informação no Tratamento

Descritivo de Recursos Informacionais (TDRI) em ambientes informacionais

digitais.

A presente pesquisa inicia-se com a fundamentação histórica e conceitual

da Catalogação, destacando os Códigos de Catalogação, em especial as ISBDs -

International Standard Bibliographic Description (Descrição Bibliográfica

Internacional Normalizada), AACR2 – Anglo American Cataloguing Rules – Second

Edition (Regras de Catalogação Anglo Americanas – 2ª edição) e RDA – Resource

Description and Access (Descrição de Recursos e Acesso).

Os capítulos subseqüentes abordam e conceituam os principais temas

desta pesquisa: conceituação e contextualização de metadados e padrões de

metadados, com destaque para o padrão MARC21; interoperabilidade, destacando

seus níveis e sua relação com os padrões de metadados; modelagem de dados,

que busca na Ciência da Computação a conceituação necessária para entender os

FRBR e o paradigma da Orientação a Objetos para estender os FRBR. Dando

continuidade são apresentados os modelos FRBR e FRAD, conceituando e

descrevendo entidades, atributos e relacionamentos.

Finalmente, apresentam-se os capítulos que tomam por base todos esses

conceitos para refletir a utilização da modelagem conceitual no processo de

construção de catálogos, demonstrando o processo de modelagem conceitual e

lógica de um catálogo bibliográfico baseado nos requisitos dos FRBR e FRAD, bem

como a demonstração de um framework conceitual baseado na extensão dos


27

FRBR utilizando conceitos da Orientados a Objetos. O intuito da proposta de

disponibilizar um framework conceitual é de auxiliar a criação de novas estruturas

de catálogos bibliográficos digitais por meio de um modelo conceitual considerando

as perspectivas atuais da atuação do profissional catalogador.

.
28

CONTEXTUALIZAÇÃO DA CATALOGAÇÃO
29

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA CATALOGAÇÃO

Considerada uma ciência recente, a Ciência da Informação tem como

imperativo condicionante de sua atuação, lidar com o grande volume e a

diversificação de informações persistidas em variadas formas, objetivando a sua

mais ampla difusão. Segundo Cardoso (1996, p. 73-74), as primeiras

manifestações desse campo foram fortemente influenciadas pelas ciências

empíricas e pretendiam “[...] estabelecer leis universais que representassem o

fenômeno informacional, daí a recorrência a modelos matemáticos (teoria da

informação), físicos (entropia) ou biológicos (teoria epidemiológica)”.

Dentre as áreas de estudo da Ciência da Informação está a catalogação

que permite, a partir de informações de forma e de conteúdo, a busca por

documentos existentes em uma unidade de informação, em especial, nas

instituições de patrimônio cultural.

2.1 A Catalogação

Também conhecida como Representação Descritiva, uma vez que fornece

uma descrição única e próxima do documento, é caracterizada pelo conjunto de

informações que são determinadas a partir do exame de um recurso informacional.

Nesse exame são extraídas as informações e descritas de acordo com as regras

definidas para se identificar e descrever o documento, estabelecer as entradas de

autor e oferecer informação bibliográfica adequada para identificar uma obra. Esse
30

exame do documento torna-o único e possibilita sua busca por vários pontos de

acesso, dando-lhe a característica de multidimensional (BARBOSA, 1978).

Considera-se a catalogação, no seu sentido mais amplo, como um conjunto

de normas, procedimentos e tarefas necessárias à aquisição de uma informação e

sua inserção em um catálogo. De acordo com Santos e Corrêa (2009), o catálogo

bibliográfico é um dos produtos resultantes do processo de catalogação e está

presente em diversos momentos da história das bibliotecas mundiais. A

catalogação consolida e ordena, de maneira lógica, os dados de identificação e

codificação, representando-os numa lista de nomes ou códigos que estão

associados a informações com dada finalidade.

Para os propósitos desta pesquisa, estende-se o conceito de catalogação

com a inclusão de um momento anterior em que se é projetado um modelo

conceitual de dados de um catálogo. Este entendimento será adequadamente

explicitado no Capítulo 7.

Além de identificar o material, a catalogação permite diferentes escolhas

para o usuário encontrar o material desejado. Mey (1995, p. 07) ressalta que, no

cumprimento de suas funções, a catalogação deve manter as características de

“integridade, clareza, precisão, lógica e consistência”, demonstrando, assim, que

existe a necessidade do profissional responsável realizar um serviço em que não

seja omitido nenhum detalhe que venha prejudicar a recuperação do item

informacional pelo usuário.

Neste contexto, o objetivo do catálogo é informar ao usuário quais

documentos uma unidade de informação possui em seu acervo e, desta forma,

segundo Mey (1995, p. 05), a catalogação pode ser definida como


31

[...] o estudo, preparação e organização de mensagens codificadas,


com base em itens existentes ou passíveis de inclusão em um ou
vários acervos, de forma a permitir a intersecção entre as
mensagens contidas nos itens e as mensagens internas dos
usuários.

A catalogação exerce a função de mediação entre uma possível

informação e um usuário, já que é a partir de um catálogo e um ambiente

sistemático informacional eficiente, que o usuário poderá encontrar um conteúdo

que satisfaça sua necessidade e gere nele conhecimento que poderá, então, ser

chamado de informação. Esse conceito pode ser contemplado na seguinte idéia:

A informação ganha sua existência tão somente no plano de quem


a recebe e não no plano de quem a emite. Na origem, tem-se
apenas um conjunto de dados, que se pretende mais que meras
cifras, mas que ainda não são informações. Assim, o dado só se
tornará informação na medida em que provoque ação por parte de
quem o recebe, vale dizer, quando altera alguma estrutura vigente,
o que nem sempre ocorre. Resulta que a informação é da ordem da
subjetividade, enquanto o dado é da ordem da objetividade.
(SENRA, 1994, p. 38).

Sob a perspectiva de um processo que busca a mediação entre

conhecimento codificado (informação registrada ou persistida) e o usuário, Pereira

e Santos (1998, p.123) afirmam que:

O processo de catalogação pode ser identificado como meio de


comunicação, um instrumento de ligação entre o usuário e o
documento, um processo de representação documentária que
desde a antiguidade atua como instrumento de acesso à
informação e ao documento a que se utiliza dos instrumentos
disponíveis, numa ação que interliga a biblioteconomia e as
tecnologias disponíveis, possibilitando uma rápida recuperação e
disseminação da informação, proporcionando assim condições para
a agilização de conhecimento.

De uma forma geral, para se ter acesso a algum conhecimento registrado,

cabe ao profissional da informação fazer com que esse conhecimento seja

acessado de acordo com a demanda. Para isso, é necessário analisar e tratar os

itens, preparando-os com vista a seu uso (MEY, 1995).


32

De acordo com Mey (1995) e Castro (2008), o catálogo é um dos

instrumentos mais antigos na história da descrição e organização da informação

registrada. A origem da palavra catálogo remonta ao grego onde kata significa “de

acordo com”, e logos significa “razão”. Tem-se assim catálogo, que significa “de

acordo com a razão”.

Mey (1995, p. 09) define catálogo como:

Um canal de comunicação estruturado, que veicula mensagens


contidas nos itens, e sobre os itens, de um ou vários acervos,
apresentando-as sob forma codificada e organizada, agrupadas por
semelhanças, aos usuários desse(s) acervo(s).

De acordo com a autora, são contidas no catálogo as informações

necessárias para que o material de uma biblioteca seja localizado, servindo desta

maneira como um instrumento mediador da informação contida no documento, que

é retirada pelo profissional e transferida para o usuário, mantendo sua

característica principal, considerando o perfil da instituição, de seus pesquisadores

e dos recursos disponíveis.

De uma forma geral, o público deseja ter acesso a algum conhecimento

registrado, cabendo ao profissional da informação fazer com que esse

conhecimento seja acessado, de acordo com a demanda, o que exige análise e

tratamento dos recursos ou itens informacionais para sua utilização (MEY, 1995).

Nessa perspectiva é importante destacar que o conteúdo intelectual ou

artístico, ou seja, a Obra é um conjunto completo de criação intelectual ou artística,

ou registro do conhecimento em qualquer suporte ou meio. Distingue-se do item

recurso informacional, por ser este o suporte, ou meio, que contém um ou mais

conteúdos de registros do conhecimento, ou parte de um conteúdo (MEY, 2003).


33

Enquanto a Obra é uma entidade abstrata, que pode reproduzir-se em

diferentes suportes, o Item é concreto, mesmo que digital. Uma Obra é um todo,

acabado. Um Item pode conter uma Obra, várias Obras ou partes de Obras.

Essas representações abrangem tanto o aspecto físico dos Itens como seu

conteúdo. Com essas representações criam-se instrumentos como os catálogos, as

bibliografias, os inventários, etc.

A riqueza da catalogação repousa nos relacionamentos entre os Itens,

estabelecidos de forma a criar alternativas de escolha para os usuários.

Por exemplo: Se um usuário vem à biblioteca em busca de Hamlet, de

Shakespeare, e os relacionamentos entre os Itens permitem que esse usuário opte

por diferentes versões ou suportes, isto é, Manifestações do mesmo Item (como

livro, disco, vídeo, diferentes línguas ou traduções), certamente seu universo de

escolha será ampliado.

Então, essa representação de Itens ou catalogação passa a ter as

seguintes funções (MEY, 1995):

1) Permitir ao usuário:

a) Localizar um Item específico;

b) Escolher entre as várias Manifestações de um Item;

c) Escolher entre os vários Itens semelhantes, sobre os quais,

inclusive, possa não ter conhecimento prévio algum;

d) Expressar, organizar ou alterar sua mensagem interna.

2) Permitir a um Item encontrar seu usuário.

3) Permitir a outra biblioteca:

a) Localizar um Item específico;


34

b) Saber quais os Itens existentes em acervos que não o seu próprio.

Cutter foi o primeiro a elaborar os objetivos do catálogo e sua proposta tem

sido aceita até hoje, com pequenas variações:

a) Permitir a uma pessoa encontrar um livro do qual ou o autor, o título, o

assunto seja conhecido;

b) Mostrar o que a biblioteca possui de um autor determinado, de um

assunto determinado, de um tipo determinado de literatura;

c) Ajudar na escolha de um livro de acordo com sua edição

(bibliograficamente) e de acordo com seu caráter (literário ou tópico).

Catalogar não é simplesmente ler as propriedades evidentes de um Item,

mas uma atividade que exige habilidade para interpretar as propriedades pouco

evidentes desse Item. Neste contexto, catalogação é uma atividade de

padronização e regularização que utiliza categorias e padrões de descrição, a fim

de obter um produto final que corresponde a uma idealização de um Item descrito.

Segundo Santos e Corrêa (2009, p. 15) “com o passar do tempo, a

transmissão de informações passou a ser grafada em diferentes suportes, que são

os meios físicos para o armazenamento de dados e informações, de modo que se

possa processá-los e disponibilizá-los aos interessados.” Os suportes podem ser

classificados conforme a sua natureza destacando-se entre eles:

a) Suportes tradicionais: papel, plástico, tecido e madeira;

b) Suportes perfurados: cartões, fitas;


35

c) Suportes magnéticos: tambor, fita, disco, disquete, tinta magnética;

d) Suportes óticos: caracteres óticos, código de barras, CD-ROM.

Para realizar a catalogação, procede-se, inicialmente, a identificação do

tipo de documento e, então, a sua leitura técnica. De acordo com Santos e Corrêa

(2009) a catalogação é composta por:

• Descrição bibliográfica;

• Indicação dos pontos de acesso e

• Dados de localização.

A descrição bibliográfica é uma das etapas da catalogação, mas algumas

vezes, esses dois termos são tomados como sinônimos, bem como o de

representação descritiva (MEY, 1995).

Para Mey (1995) descrição bibliográfica é a representação sintética e

codificada das características de um Item, de forma a torná-lo único entre os

demais. A partir da RIEC – Reunião Internacional de Especialistas em

Catalogação, que foi realizada em Copenhague em 1969, criou-se um padrão

internacional de descrição bibliográfica denominado ISBD – International Standard

Bibliographic Description (Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada), que

representou um acordo no caminho da padronização.

A descrição bibliográfica é tanto um processo quanto um produto:


36

• Processo: realiza a descrição da parte física do Item, descreve os

elementos de identificação do Item e indica as relações bibliográficas

com elementos descritivos.

• Produto: um conjunto organizado de informações acerca de determinado

item, destinado a fornecer uma descrição única deste documento,

permitindo sua identificação.

Os pontos de acesso são a parte pela qual os usuários podem acessar a

representação de um Item no catálogo. Em catálogos manuais, são pontos de

acesso: responsabilidade pelo conteúdo intelectual, título e assunto do Item. Em

catálogos automatizados permanecem os pontos de acesso, mas é possível

procurar toda e qualquer informação contida na representação.

Os pontos de acesso necessitam de controle rigoroso, de modo a não

haver ambigüidade ou dúvida na informação oferecida. São escolhidos e

determinados pelo catalogador, de acordo com regras e normas, contidas em

diversos instrumentos de auxílio (por exemplo, o código de catalogação e normas

de documentação).

Os dados de localização são as informações que permitem ao usuário

localizar um item em determinado acervo.

A descrição bibliográfica e a escolha dos pontos de acessos são objetos de

regras específicas de catalogação. Código de catalogação é o conjunto de regras

que determinam como elaborar a descrição bibliográfica e orientar sobre a

definição dos pontos de acesso (MEY, 1995).

Entretanto, os pontos de acesso de assunto se tornaram por demais

amplos e específicos, merecendo instrumentos próprios. Em 1996, Arilla fez


37

apontamentos sobre a definição de pontos de acesso de assunto como mostrado

na Fig. 1.

Figura 1 – Partes que compõem a catalogação.


Fonte: Arilla (1996)

A indicação dos pontos de acesso de assuntos permite a recuperação da

informação temática, utilizando para isso os cabeçalhos de assunto.

Para realçar e reunir nos catálogos aspectos especiais de um item (autoria,

título, assunto, série etc.), usam-se palavras, frases, nomes ou expressões

denominadas cabeçalho, havendo dois tipos essenciais: cabeçalho principal e

cabeçalhos secundários (TEIXEIRA, 1979).

A origem dos cabeçalhos de assunto foi, de um modo geral, conseqüência

do uso freqüente das palavras encontradas nos títulos das Obras. Uma vez

comprovada a necessidade de palavras elucidativas dos títulos como elementos de

ordem para agrupar nos catálogos e Obras de um mesmo assunto, começou a ser

utilizada uma palavra-chave para agrupar Obras de um mesmo assunto

(TEIXEIRA, 1979). Por exemplo: Matemática, Compêndio de; Matemática, Manual

de; Matemática, Resoluções dos Problemas de.


38

De acordo com Santos e Corrêa (2009, p. 65), “a mera acumulação dos

acervos bibliográficos deixa de ser suficiente e o tratamento do acervo é requerido,

o que demanda o desenvolvimento, a atualização e a adequação de códigos,

técnicas e competências especializadas”. Tendo em vista um controle bibliográfico

eficiente e um acesso mais fácil aos recursos informacionais disponíveis foram

desenvolvidas regras e códigos de catalogação que são apresentados a seguir

num breve histórico da catalogação.

2.2 Breve Histórico Sobre as Regras de Catalogação

Barbosa (1978) destaca que a primeira referência a respeito da

catalogação ou da relação de Obras de uma coleção é atribuída a Biblioteca de

Assurbanípal, na Assíria datando entre 668-626 a.C. Outro registro, posterior a

esse, data de 260-240 a.C em Alexandria, onde Calímaco realizou a primeira

iniciativa para a organização de um catálogo.

Observa-se um desenvolvimento da atividade catalográfica nos mosteiros

ingleses no século XIII onde se pretendia fazer um catálogo de seus acervos. No

século XIV surge a idéia de símbolos de localização e a preocupação de se

identificar as Obras publicadas ou encadernadas conjuntamente. Mas foi em

meados do século XV, a partir da criação da imprensa por Gutenberg, que os

acervos de bibliotecas e das livrarias passaram a ter uma organização mais

cuidadosa e os catálogos tornaram-se peças importantes para consultas e

pesquisas deixando de ser apenas índices bibliográficos ou listas.


39

Para manter uma relação de cooperação, o catálogo deve conter

informações que outras bibliotecas utilizam. Desta maneira, faz-se necessário

estabelecer regras que possam tornar mais fácil o trabalho dos bibliotecários, uma

vez que um determinado material poderá ser compartilhado por outras bibliotecas.

Diante disso, identificou-se a necessidade da elaboração de códigos para que o

trabalho feito nos catálogos se tornasse sistematizado e universal. Dias ressalta a

importância dos códigos:

São os códigos, os instrumentos da catalogação que permitem


disciplinar a complexa operação de elaborar os catálogos de uma
biblioteca. A racionalização das normas de catalogar sempre foi a
preocupação dominante dos bibliotecários de todos os tempos.
(DIAS, 1967, p.74)

O primeiro código de catalogação nacional surgiu na França em 1791 e é

de autoria de Jean-Baptiste Massieu. Esse código não tinha as características

técnicas dos códigos mais modernos, que estão na base dos atuais.

O primeiro código moderno de catalogação é atribuído ao bibliotecário

Anthony Panizzi, que em 1839 juntamente com seus colaboradores da Biblioteca

do Museu Britânico de Londres, elaborou as primeiras 91 regras de catalogação,

destinadas à confecção de catálogos de livros impressos, mapas e música. As 91

regras, Rules for the Compilation of the Catalog – Catalogue of printed books in

British Museum, foram aprovadas em 1841 pelos autores do Museu Britânico,

tendo sua última edição em 1936.

Segundo Barbosa (1978, p. 27), as principais características do código de

Panizzi são:

a) a valorização da página de rosto;


b) a introdução do conceito de autoria coletiva, embora de maneira
vaga e imprecisa;
c) a escolha do cabeçalho de entrada de um autor, de acordo com
a forma encontrada na página de rosto, acatando, sempre, a
vontade do autor. Este cabeçalho era determinado:
a) pelo prenome, quando preferido, seguido pelo sobrenome;
40

b) pelo título, no caso de obras anônimas, seguido pelo nome do


autor quando identificado;
c) pelo pseudônimo, mesmo quando o nome verdadeiro fosse
descoberto;
d) pelo sobrenome de família, para autores pertencentes à nobreza.

Sua publicação deu início a uma série de discussões entre bibliotecários

ingleses e pode-se dizer que essas regras influenciaram todas as seguintes.

Exemplo disso são as 33 regras de Charles C. Jewett, publicadas em 1853

para a Smithsonian Institution dos Estados Unidos da América (EUA), baseadas

amplamente nas regras de Panizzi. Com modificações e ênfase às obras escritas

sob pseudônimo e à questão de autoria coletiva, Jewett ficou conhecido pela idéia

de elaboração de um catálogo coletivo das bibliotecas americanas impresso por

estereotipia1, mas não conseguiu colocar sua proposta em prática.

Em 1876, Charles Ami Cutter bibliotecário norte-americano, publicou suas

Rules for a Dictionary Catalogue, Regras para um catálogo dicionário. Cutter não

elaborou apenas um código de catalogação, mas uma declaração de princípios,

pois as regras são entremeadas com as explicações das soluções e com

observações diversas. Com a idealização do catálogo dicionário, observa-se uma

mudança na lógica de organização, até então basicamente pautada pelo critério

sistemático e que, a partir daí, passa a nortear-se, também, pela ordem alfabética.

Cutter preconizou três princípios:

1. Princípio específico: norteia a preocupação com a especificidade do

conteúdo;

1
Em 1727, William Ged, ourives de Edimburgo, inventou a técnica da estereotipia, possibilitando a
múltipla reprodução de uma página de tipos móveis através da execução prévia de um molde. Ged
utilizou um composto de gesso para a moldagem da forma e produziu uma matriz da mesma. A
partir dessa matriz, fundia as páginas (clichês) em metal, chumbo e antimônio para a impressão.
41

2. Princípio de uso: norteia a demanda e as necessidades do usuário e

3. Princípio sindético: norteia as relações que os assuntos mantém entre

eles.

Observa-se, nesse sentido, que os princípios: específico, de uso e

sindético preconizados por Cutter continuam a ser, ainda hoje, um dos alicerces

sobre os quais se assenta a indexação alfabética.

Otlet e La Fontaine, partindo do princípio de socialização do conhecimento,

iniciaram no ano de 1895 o levantamento de registros das publicações editadas em

todo mundo. A estimativa era de aproximadamente 16 milhões de registros. Esse

foi o primeiro passo para o Controle Bibliográfico Universal – CBU.

Devem ser mencionadas nesta seção três importantes publicações:

a) As Instruções Prussianas (Instruktionen für die Alphabetischen Kataloge

der Preussischen Bibliotheken) de 1886, cuja segunda edição se deu em

1908 e seu reconhecimento internacional em 1936, quando foram

usadas na compilação do Catálogo Coletivo Prussiano e do Catálogo

Coletivo da Alemanha;

b) O Código Anglo-americano, da American Library Association (ALA) de

1908. A segunda edição foi publicada em 1949 em dois volumes: O

volume 1 - ALA Cataloging rules for author and title entries, editado por

Clara Beeth, concernente à entradas e cabeçalhos e o volume 2 - Rules

for descriptive cataloging in the LC, concernente à parte descritiva,

trazendo introdução, com os objetivos da catalogação descritiva e os


42

princípios em que se devia fundamentar sua aplicação. Foi aceito e

usado amplamente;

c) O Código da Biblioteca da Vaticana, de 1920, idealizado por um grupo

de bibliotecários americanos. Baseava-se no Código da ALA e foi

redigido especialmente para atender a reorganização da Biblioteca

Apostólica da Vaticana.

Em 1961, foi realizada em Paris a Conferência Internacional sobre

Princípios de Catalogação que resultou na publicação da Declaração de Princípios.

A padronização na representação das informações contidas nos catálogos e os

diversos códigos de catalogação desenvolvidos e aperfeiçoados, juntamente com a

preocupação com a uniformidade, era o tema central das discussões.

O objetivo da declaração era servir como base para uma normalização

internacional na Catalogação. Inúmeros códigos de catalogação desenvolvidos

posteriormente em todo o mundo seguiram a Declaração de Princípios de modo

expressivo.

No início da década de 60 Henriette Avram criou o Padrão MARC –

Machine Readable Cataloging, um conjunto de códigos e determinações de

conteúdos definido para codificar registros que serão interpretados por máquina.

Seu objetivo é facilitar o intercâmbio de dados, ou seja, importar dados de

diferentes instituições ou exportar dados de sua instituição para outros sistemas ou

redes de bibliotecas através de programas de computador desenvolvidos para essa

finalidade.

Em 1967 foi publicada a primeira edição do AACR - Anglo-American

Cataloguing Rules, que mantinha diferenças entre as normas britânicas e norte-


43

americanas. A segunda edição de 1978 unificou esses dois conjuntos de normas e

apresenta-se como o AACR2, Anglo-American Cataloguing Rules, Second Edition.

É uma publicação conjunta do American Library Association, do Canadian

Library Association e Chartered Institute of Library and Information Professionals

(no Reino Unido). Seu uso é projetado para a construção de catálogos e outras

listas em geral e pode ser utilizado em bibliotecas de todos os tamanhos. As

normas abrangem a descrição e a oferta de pontos de acesso para todos os

materiais na biblioteca.

À medida em que cresceu a produção de documentos passíveis de serem

armazenados e a dificuldade de interpretação das regras foi se instalando, surgiu a

necessidade de se estabelecer padrões de catalogação mais claros e rígidos.

Diante disso, a IFLA (International Federation of Library Association –

Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias), constituiu

um grupo de estudos para viabilizar uma proposta de padronização internacional

para a catalogação. O objetivo desse grupo que apresentou seu relatório no

International Meeting of Cataloguing Experts, em Copenhague, 1969, foi o

seguinte:

(1) a reunião dos princípios da CIPC11 anotados por A. H. Chaplin


e Dorothy Anderson e (2) o estudo e discussão do documento
elaborado por Michael Gorman sobre a descrição bibliográfica
normalizada (Standard Bibliographic Description). (CUNHA, 1977,
p. 10)

Após a Reunião Internacional de Especialistas em Catalogação, realizada

em Copenhague (1969), a IFLA publicou no ano de 1971, um documento

denominado ISBD - International Standard Bibliographic Description (Descrição

Bibliográfica Internacional Normalizada).


44

Este documento organiza e sistematiza a ordem das informações

bibliográficas, identifica elementos e utiliza uma seqüência de pontuações

padronizadas. De acordo com Moreno e Arellano (2005), a ISBD é até hoje um

instrumento de comunicação internacional de informação bibliográfica, inclusive

dando origem a outros documentos, até mesmo contemplando diferentes tipos de

suportes, como a ISBD(G), para oito tipos de materiais.

Oliveira et. al. (2004) salientam que com o aumento da produção editorial

que gerou milhares de documentos em uma variedade de suportes e com a

ampliação da comunicação entre pessoas e instituições, surgiu a necessidade de

codificar e organizar informações para torná-las vastamente acessíveis. A IFLA e a

Unesco, procurando um controle bibliográfico mais eficiente lançaram, na década

de 1970, o programa CBU – Controle Bibliográfico Universal, cujo objetivo,

segundo Barbosa (1978) é:

[...] promover um sistema mundial de controle e permuta de


informações bibliográficas, de modo a facilitar, rapidamente, em
forma internacionalmente aceita, dados bibliográficos sobre todas
as publicações editadas em todos os países. (BARBOSA, 1978, p.
145).

Seu elemento principal era a disponibilidade universal de dados

bibliográficos de todas as publicações de todos os países em um formato de

descrição internacionalmente aceito pelos participantes do programa.

A década de 90 é marcada pelos estudos realizados pela IFLA que em

1998 identificou a necessidade de uma avaliação dos registros bibliográficos,

criando os FRBR – Functional Requirements for Bibliographic Records (Requisitos

Funcionais para Registros Bibliográficos), com o objetivo de:

[...] produzir um quadro que fornecesse um entendimento claro,


precisamente determinado e compartilhado [por todos] do que seria
aquilo sobre o que o registro bibliográfico proveria informação e o
45

que se esperaria que o registro obtivesse, em termos de responder


às necessidades dos usuários. (IFLA, 1998, p. 8).

Os FRBR permitem uma nova perspectiva da estrutura e nos

relacionamentos dos registros bibliográficos e sua proposta é:

Primeiro, fornecer um quadro estruturado, claramente definido, para


relacionar dados registrados em registros bibliográficos às
necessidades dos usuários destes registros. O segundo objetivo é
recomendar um nível básico de funcionalidade para registros
criados por entidades bibliográficas nacionais (IFLA, 1998, p. 7).

Diante das diversas e significativas mudanças observadas no campo da

catalogação, faz-se necessário a revisão de conceitos básicos, assim como dos

principais códigos de catalogação, para, posteriormente, proceder a reflexão

processos de catalogação nos novos contextos e tecnologias.

2.3 Códigos de Catalogação

As tendências atuais de catalogação, como por exemplo, os FRBR, são

diretamente influenciadas por regras estabelecidas da área, como os códigos de

catalogação. Portanto, torna-se relevante a apresentação desses códigos. Para os

propósitos desta pesquisa, serão abordados a seguir AACR2, ISBD e RDA.


46

2.3.1 AACR2 - Anglo American Cataloguing Rules – Second Edition

Publicado em 1967 e de acordo com Alves (2005, p. 49), o AACR em sua

segunda edição, lançada em 1978, “é um conjunto de regras e normas para o

estabelecimento de uma padronização na representação de diversos recursos

informacionais”.

Traduzido para o português como CCAA – Código de Catalogação Anglo-

Americano, é um código internacional utilizado na construção de formas de

representação bibliográfica, apresenta abrangência e detalhamento, sendo

bastante utilizado no ensino de catalogação. Outra grande característica do AACR2

é o formalismo em sua estrutura de representação que permite, através de suas

regras, uma relação semântica entre os elementos descritos, apresentando uma

estrutura coerente e lógica.

O seu objetivo é normalizar a catalogação no âmbito internacional servindo

de base para o tratamento da informação por meio de um sistema de pontuação

em que a catalogação pode ser feita pelo suporte físico da Obra, através da forma

escrita convencional ou legível por máquina. Para atingir tal objetivo, estabelece

normas relativas à descrição das publicações, atribuindo uma ordem aos

elementos descritivos, prescrevendo, ainda, um sistema de pontuação da descrição

(ALVES, 2005). Divide-se em duas partes apresentadas a seguir.

2.3.1.1 Parte I – Descrição

Esta primeira parte do código lida com as informações que descrevem o

Item que está sendo catalogado. É composta pelos Capítulos 1 a 13. O Capítulo 1
47

contém regras gerais aplicáveis a todas as formas de materiais. Os Capítulos 2 a

13 aplicam-se a tipos particulares de materiais:

Parte I – Descrição

1. Regras Gerais de Descrição

2. Livros, Folhetos e Folhas Impressas

3. Materiais Cartográficos

4. Manuscritos (incluindo Coleções Manuscritas)

5. Música

6. Gravação de Som

7. Filmes Cinematográficos

8. Materiais Gráficos

9. Recursos Eletrônicos

10. Artefatos Tridimensionais

11. Microforma

12. Recursos Contínuos

13. Análise

2.3.1.2 Parte II – Pontos de Acesso, Títulos Uniformes, Remissivas

A segunda parte trata da determinação e estabelecimento de posições

(pontos de acesso) de como a informação descritiva é para ser apresentada aos

usuários do catálogo. É composta pelos Capítulos 21 a 26.


48

Parte II – Pontos de Acesso, Títulos Uniformes, Remissivas

21. Escolha dos Pontos de Acesso

22. Cabeçalhos para Pessoas

23. Nomes Geográficos

24. Cabeçalhos para Entidades

25. Títulos Uniformes

26. Remissivas

O AACR2, como outros códigos de catalogação nele baseados, encontram-

se em uma fase de revisão diante das novas exigências conceituais e formais

de descrição bibliográfica. Após a publicação do AACR2 em 1978, observou-se

uma mudança no universo da informação registrada. Para dar conta dessas

mudanças no campo da catalogação tem-se a proposta do RDA que será

demonstrado no item 2.3.3.

2.3.2 ISBD – International Standard Bibliographic Description

Pode-se dizer que a origem da ISBD data de 1969 quando a Comissão de

Catalogação da IFLA, posteriormente chamado de Gabinete Permanente da Seção

de Catalogação da IFLA, organizou a Reunião Internacional de Especialistas em

Catalogação, produzindo assim, uma resolução que propôs a criação de normas

para regularizar a descrição bibliográfica na sua forma e conteúdo.

A principal tarefa da Comissão de Catalogação era providenciar os meios

para ampliar o compartilhamento e troca de dados bibliográficos, tarefa que

resultou no conceito da ISBD.


49

Pode-se dizer que as ISBDs têm como objetivo principal tornar a

catalogação descritiva compatível à escala mundial, facilitando assim a troca

internacional de referências bibliográficas entre agências bibliográficas nacionais e

entre a comunidade internacional das bibliotecas e da documentação.

As ISBDs definem os elementos necessários numa descrição bibliográfica,

prescrevem a sua ordem de apresentação e a pontuação que os delimitam e

objetivam, em especial:

1. Tornar intercomunicáveis as referências bibliográficas produzidas por

diferentes fontes para que as referências produzidas num país possam

ser facilmente integradas nos catálogos ou na bibliografia de qualquer

outro país;

2. Contribuir para a compreensão das referências, mesmo havendo

barreiras lingüísticas, para que as referências produzidas para os

utilizadores de uma língua possam ser entendidas pelos utilizadores de

outras línguas e

3. Auxiliar na conversão das referências bibliográficas em formato legível

por máquina.

As ISBDs foram elaboradas na medida em que foram surgindo suportes,

seguindo um planejamento baseado na necessidade, tipo e quantidade de suportes

existentes. São elas (IFLA, 2007)2:

2
Disponível em http://archive.ifla.org/VII/s13/pubs/ISBD_consolidated_2007.pdf
50

a) ISBD (A): International Standard Bibliographic Description for Older

Monographic Publications (Antiquarian) – para monografias anteriores a

1801;

b) ISBD (CF): International Standard Bibliographic Description for Computer

Files – para Recursos eletrônicos alterada para ISBD (ER), em 1995;

c) ISBD (CM): International Standard Bibliographic Description for

Cartographic Materials – para materiais cartográficos;

d) ISBD (CR): International Standard Bibliographic Description for Serials

and Other Continuing Resources – para recursos contínuos, inclusive

periódicos;

e) ISBD (ER): International Standard Bibliographic Description for Electronic

Resources – para recursos eletrônicos;

f) ISBD (G): General International Standard Bibliographic Description –

contém as regras gerais aplicáveis a todas as outras ISBD;

g) ISBD (M): International Standard Bibliographic Description for

Monographic Publications – para monografias;

h) ISBD (NBM): International Standard Bibliographic Description for Non-

Book Materials – para materiais não livros, conceituados como os

materiais visuais em duas dimensões;

i) ISBD (PM): International Standard Bibliographic Description for Printed

Music – para partituras;

j) ISBD (S): International Standard Bibliographic Description for Serials –

alterado para ISBD (CR).


51

As ISBDs podem auxiliar qualquer código de catalogação, servindo como

base essencial para a descrição. Mey destaca que:

Todos os países se dispuseram a usá-la e esta aceitação


internacional acarretou mudanças nos códigos de catalogação, que
incorporaram essas normas em novas edições. Acabou-se a era
dos códigos nacionalistas, da catalogação individualista, das
decisões pessoais. Mas não da catalogação individualizada,
adequada aos diferentes universos de usuários. Isso porque a ISBD
deixa claro, no prefácio de sua primeira edição, que o conjunto
completo de elementos deveria ser incluído com bibliografias
nacionais, mas caberia a cada biblioteca a decisão sobre os
elementos necessários e adequados para seu próprio uso. (MEY,
1995, p.29).

O conceito da ISBD tem sido aplicado por agências bibliográficas, códigos

de catalogação nacionais e internacionais e catalogadores em todo o mundo

devido ao seu potencial para promover o compartilhamento de registros.

Após algumas revisões da ISBD foi constituída uma Comissão de Revisão

da ISBD que se reuniu em 1981 para definir o plano para rever e reformular as

ISBDs relativas às publicações monográficas, publicações em série, material

cartográfico e, material não livro. As metas dessa revisão concluída no fim dos

anos 80 eram:

1. Harmonizar os conceitos entre as ISBDs, de forma a aumentar a sua

consistência;

2. Promover exemplos;

3. Fazer com que os conceitos se adaptem melhor aos catalogadores que

trabalham com materiais publicados em escritas não romanas.

Complementando essas metas, designaram-se os seguintes esforços:


52

a) Rever o uso do sinal de igual;

b) Considerar as propostas sobre a ISBD (NBM) provenientes de grupos de

especialistas, tal como, a da Associação Internacional dos Bibliotecários

de Música.

Com o surgimento do Grupo de Estudo dos FRBR no início dos anos 90 a

maior parte do trabalho de revisão das ISBDs foi suspensa. Em 1998 após o Grupo

de Estudo dos FRBR publicar o seu relatório final e depois das suas

recomendações terem sido aprovadas pela Comissão Permanente da Seção de

Catalogação da IFLA, o Grupo de Revisão da ISBD foi reconstituído para retomar o

seu trabalho.

Instituiu-se, então, um segundo projeto geral de revisão que pretendia

assegurar a coerência entre as determinações das ISBDs e as exigências dos

FRBR para o “nível básico dos registros da bibliografia nacional” (BYRUM JR.,

2005).

2.3.3 RDA – Resource Description and Access

Diante do grande número de recursos informacionais em meio digital e do

surgimento de novos formatos e novas tecnologias disponíveis e para atender às

exigências atuais referentes aos impactos nas estruturas de descrição bibliográfica,

foi criado o RDA.

Barbara B. Tillett afirmou durante o III Encuentro Internacional De

Catalogadores (2007) que o código tinha regras rígidas, tratava de materiais

clássicos e reforçava a linguagem desatualizada. Neste contexto, a autora indica a


53

necessidade para a criação de um novo conjunto de regras e justifica essa

necessidade a partir dos seguintes motivos: simplificação das regras; proporcionar

maior coerência; regras orientadas aos problemas atuais e baseadas em princípios

de catalogação.

É nesse cenário que surge o RDA. O RDA está sendo desenvolvido por um

comitê denominado Joint Steering Committee (JSC) for Development of RDA, e

conta com representantes das entidades: American Library Association; Australian

Committee on Cataloguing; British Library; Canadian Committee on Cataloguing;

Chartered Institute of Library and Information Professionals (CILIP); Library of

Congress (LC).

Esta norma estabelece um padrão para a descrição e o acesso dos

recursos informacionais, remodelado e/ou projetado para o meio digital,

caracterizando-se por um conjunto compreensível de normas e instruções que dão

conta de todos os tipos de conteúdos e mídias, permitindo ao usuário encontrar,

identificar, selecionar e obter a informação desejada de forma mais eficiente. Este

código deve contemplar:

[...] modelos multinacionais de conteúdos a fim de fornecer


descrições bibliográficas e acesso que abriguem todos os tipos de
informação, incluindo meios emergentes, audiovisuais, objetos
tridimensionais, etc. [...]. Será aplicado não apenas a bibliotecas,
como a museus, arquivos, galerias e fontes de informação
digitalizadas disponíveis na Web. O AACR3 irá englobar o conjunto
de princípios e regras internacionais para catalogação denominado
FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records) para
controle das fontes autorizadas (TSENG, 2005, p. 01).

O RDA pode ser considerado uma ferramenta online, baseada na web que

poderá ampliar a eficiência da catalogação. Devido às suas características de

ferramenta online, o RDA pode ser organizado para se adequar a qualquer perfil de

aplicação ou a tarefas particulares e para catalogar tipos específicos de materiais.


54

Além disso, o RDA pode proporcionar uma maior eficiência na catalogação de

formatos pouco conhecidos, uma vez que a ferramenta online pode recuperar todas

as regras necessárias ao item que esteja sendo catalogado.

Outra possibilidade que o RDA oferece aos usuários é acrescentar suas

próprias anotações online, bem como, integrar interpretações de regra e políticas

institucionais ou de rede com o RDA online. Além disso, o RDA proporciona a

integração com produtos comerciais aperfeiçoando o fluxo e desempenho do

trabalho dos catalogadores.

De acordo com Castro (2008, p. 87),

Ao ser comparado com o código em exercício - AACR2, pode-se


verificar notórias diferenças com relação à estrutura do RDA. O
AACR2 contempla atualmente duas partes: Description (descrição)
e Access (acesso). No RDA percebemos a inserção de alguns
elementos, como por exemplo, na parte A (Descrição) onde estão
agregados os Relationship (Relacionamentos) dados pelo modelo
de relacionamento FRBR, ou seja, a parte A é agora descrição e
relacionamento e abarca o conteúdo dos registros bibliográficos. Já
a parte B Access Point Control (Controle de Pontos de Acesso)
abarca o conteúdo de autoridade dos registros bibliográficos.

Construído sobre dois modelos conceituais desenvolvidos pela IFLA, os

FRBR e os FRAD3, o RDA oferece instruções para a catalogação, tanto dos

recursos digitais como dos tradicionais. Esse código desenvolve-se a partir dos

pontos positivos do AACR2 e seu foco está voltado às necessidades dos usuários

para encontrar, identificar, selecionar e obter os materiais de que eles necessitam.

O RDA suporta o compartilhamento de metadados entre diferentes comunidades

de metadados e novos usos de registros bibliográficos em serviços online.

3
FRBR e FRAD identificam as relações que uma obra pode ter com seu criador, assim como suas
relações com quaisquer traduções, interpretações, adaptações ou formatos físicos dessa mesma
obra. O uso das entidades do FRBR pelo RDA torna possível melhor visualização de buscas em
catálogos, agrupando informação sobre o mesmo titulo (ex. traduções, condensações, diferentes
formatos físicos).
55

Por ser um novo padrão para a descrição e acesso de recurso planejado

para o ambiente digital, o RDA consegue enfocar a informação necessária para

descrever um recurso e os usuários serão capazes de usar o conteúdo do RDA

com muitos esquemas codificados, como por exemplo, o MODS (Metadata Object

Description Standard), o MARC21 ou Dublin Core. Por ser adaptável e flexível, o

RDA tem seu uso potencializado tanto por bibliotecas como por outras

comunidades de informação.

Entre as vantagens do RDA, destacam-se4:

- O RDA provê uma estrutura flexível para a descrição de conteúdo


de recursos digitais, enquanto atende também às necessidades de
bibliotecas na organização de recursos tradicionais.
- O RDA provê flexibilidade ao descrever aspectos múltiplos de uma
obra como um resultado do uso do modelo conceitual FRBR.
- O RDA identificou e adicionou elementos, não incluídos no
CCAA2, que são comumente usados em descrições de recursos
digitais.
O RDA provê uma melhor adaptação às tecnologias de bases de
dados emergentes, tornando as instituições mais eficientes no
levantamento, armazenagem e recuperação de dados.
- O RDA enfatiza ‘ter o que você vê’, encorajando o levantamento
automático de metadados, sem uma edição extensa –
economizando o tempo dos catalogadores.

Uma vez que o RDA trabalha sobre os pontos fortes do AACR2, os

registros originados a partir dele serão compatíveis com os registros AACR2 e,

desta forma, na grande maioria dos casos não será preciso re-catalogar registros

mais antigos. Ainda, as indicações do RDA para escolha e forma de entrada têm

origem nas instruções constantes do AACR2. Enquanto a forma de alguns

cabeçalhos mudará com o RDA, a implementação de mudanças será facilitada por

sistemas online cada vez mais sofisticados.

4
Fonte: http://www.collectionscanada.gc.ca/jsc/rda.html
56

O RDA divide-se em duas partes, Parte A: Descrição e Relacionamentos e

Parte B: Controle de Pontos de Acesso, conforme pode ser observado na Fig. 2:

RDA – Novo Arranjo

Parte A
Parte I: Descrição
Parte I: Descrição

Parte II: Acesso Parte II: Relacionamento

Parte B
Parte III: Ponto de
controle do acesso

Figura 2 – Estrutura do código RDA


Fonte: Adaptado de Bowen e Atting (2007, p. 19).

A seguir está um esboço dos capítulos do RDA. Este documento foi

atualizado de acordo com o texto final RDA fornecido pelos co-editores para a

primeira versão (JSC-RDA, 2009).

Introdução

Atributos

Seção 1 - Gravação de atributos de Manifestação e Item;

Seção 2 - Gravação de atributos de Obra e de Expressão;

Seção 3 - Gravação de atributos da Pessoa, Família e Entidade Coletiva;

Seção 4 - Gravação de atributos do Conceito, Objeto, Evento e Lugar.


57

Relacionamentos

Seção 5 - Gravação de relações primárias;

Seção 6 - Gravação de relacionamentos a Pessoas, Famílias e Entidades Coletivas

associadas a um recurso;

Seção 7 - Gravação de relacionamentos Assunto;

Seção 8 - Gravação de relações entre as Obras, Expressões, Manifestações e

Itens;

Seção 9 - Gravação de relações entre Pessoas, Famílias e Empresas;

Seção 10 - Gravação de relações entre Conceitos, Objetos, Eventos e Locais.

RDA contém doze apêndices:

Apêndice A. Capitalização;

Apêndice B. Abreviaturas;

Apêndice C. Initial;

Apêndice D. Sintaxes Record de dados descritivos;

Apêndice E. Sintaxes para registro de dados de controle de acesso ponto;

Apêndice F. Instruções adicionais sobre os nomes das pessoas;

Apêndice G. Os títulos de nobreza, termos de classificação;

Apêndice H. Datas no calendário cristão;

Apêndice I. Designadores civil: relações entre um recurso e das Pessoas, Famílias

e Entidades Coletivas associado com o recurso;

Apêndice J. Designadores civil: relações entre as Obras, Expressões,

Manifestações e Itens;
58

Apêndice K. Designadores civil: relações entre as Pessoas, Famílias e Órgãos

Sociais;

Apêndice L. Designadores civil: relações entre Conceitos, Objetos, Eventos e

Lugares.

De acordo com a JSC-RDA (2009), o RDA está sendo projetado para a

facilidade e eficiência de utilização. Sua estrutura é direcionada para facilitar a

aplicação de uma variedade de recursos, que vão desde aqueles que podem ser

descritos de forma relativamente simples e direta aqueles para os quais uma

orientação mais detalhada é necessária. A JSC destaca que as instruções gerais

sobre os aspectos básicos de descrição de recursos e de acesso que são

aplicáveis a todos os tipos de recursos serão formuladas em termos claros,

concisos, fornecendo, ainda, instruções mais detalhadas aplicáveis a determinados

tipos de conteúdos, meios e modos de emissão.

O fato de uma forma de representação prover a informação que é

pertinente para a realização de uma determinada tarefa, justifica a padronização

por meio de códigos de catalogação. O uso de códigos na catalogação para o

desenvolvimento de uma forma de representação bibliográfica e catalográfica

aceita universalmente é baseada em regras já descritas anteriormente. Tais regras

têm por objetivo facilitar a construção da representação de documentos para a

alimentação de bases de dados e catálogos por meio de metadados.


59

METADADOS
60

3 METADADOS

O termo metadados possui funções de acordo com a área em que é

utilizado. Na Ciência da Informação tem sempre como objetivo principal a descrição

da informação para sua representação, busca e recuperação.

No contexto da representação da informação, atuam como referenciais à

informação representada e como intermediário entre o objeto representado e o

usuário, seja ele o profissional que projeta a representação ou o consumidor da

informação. São dados associados com os objetos de informação que fazem com

que seus potenciais utilizadores tenham pleno conhecimento antecipado da sua

existência e características.

O termo é geralmente aplicado a recursos digitais embora possa ser

utilizado para qualquer tipo de recurso e normalmente se refere a dados de

descrição e localização de documentos como conjuntos de dados, informações

textuais, gráficos, música e qualquer outro recurso eletrônico, conforme Vellucci

(1998, p.192),

Metadado é definido aqui como dados que descrevem atributos de


um recurso, caracteriza suas relações, possibilita a sua
recuperação e uso efetivo e sua existência no ambiente eletrônico.
Metadados normalmente consistem em um jogo de elementos de
dados onde cada elemento descreve um atributo do recurso, sua
administração ou uso.

E neste sentido, de acordo com Milstead e Feldman (1999, p.3), “todos os

motivos pelos quais a indexação e a catalogação são necessárias para fontes

impressas se aplicam ainda mais enfaticamente aos metadados para documentos

eletrônicos”.
61

Embora o conceito inclua indexação e catalogação de informações para a

descoberta de recursos na web, pode ir muito além de representações de

documentos convencionais, tais como registros MARC.

O conceito de metadados não é algo novo, mas o uso desse termo em

ambientes digitais e a variedade de padrões e as formas de utilização o são. Os

registros bibliográficos que tem sido criados por profissionais da informação a muito

tempo devem ser considerados essencialmente como metadados, pois

proporcionam informação descritiva e analítica sobre um objeto de informação,

para Milstead e Feldman (1999, p.1):

Como o homem que esteve escrevendo prosa toda sua vida sem
saber, os bibliotecários e indexadores têm produzido e padronizado
metadados há séculos. Ignorando este legado, uma imensa
variedade de outros profissionais têm recentemente entrado neste
campo, e muitos deles não têm idéia de que alguém já “esteve ali e
feito isso” antes. Vários sistemas estão sendo desenvolvidos para
diferentes e algumas vezes até para o mesmo tipo de informação,
resultando numa atmosfera caótica de padrões.

O termo metadados é utilizado em várias áreas de conhecimento, sempre

no conceito de dados sobre dados e na Ciência da Informação é utilizado como:

Conjunto de atributos, mais especificamente dados referenciais,


que representam o conteúdo informacional de um recurso que pode
estar em meio eletrônico ou não. Já os formatos de metadados,
também chamados de padrões de metadados, são estruturas
padronizadas para a representação do conteúdo informacional que
será representado pelo conjunto de dados-atributos (ALVES, 2005,
p.115).

Resumidamente, os metadados podem ser considerados como um

conjunto de elementos que descrevem as informações contidas em um recurso,

com o objetivo de possibilitar sua organização, busca e recuperação.

O conjunto de elementos representa o conteúdo do recurso descrito, ou

seja, as informações que possibilitam identificar o que o recurso representa e o que


62

ele contém. Esse conjunto pode ter um número de elementos variável de acordo

com a necessidade informacional de organização e uso, resultado do processo de

projeto de representação ou catalogação.

Além de sua função descritiva, no entanto, um esquema de metadados,

para ser bem sucedido, deve também estabelecer uma estrutura padrão e

terminologia. Declarações de rótulos como "criador", "autor", "escultor", ou

"compositor" têm pouca representatividade se esses campos, que todos têm a

mesma função, não poderem ser mapeados para o mesmo conceito único. Um

formulário deverá ser estabelecido, quer através de uma lista de autoridade e

assuntos, quer de um vocabulário padrão controlado e então, os relacionamentos

precisarão mapear formas alternativas para a forma estabelecida.

Enquanto na Ciência da Informação, os metadados são elementos de

representação de recursos informacionais, na Ciência da Computação, são

informações que descrevem os elementos de representação no banco de dados

como tipo de dado, tamanho, restrições de unicidade, entre outras informações que

definem as características de um campo de uma tabela de banco de dados,

também chamados de dicionário de dados.

Na Ciência da Informação o termo metadados foi inicialmente utilizado com

o uso das tecnologias da informação no tratamento da informação e suas

representações e tem forte relação com a representação de informações digital

principalmente em documentos na web, porém podem-se considerar os elementos

de representação de qualquer suporte de material bibliográfico ou não, digitais ou

não, como elementos de metadados. No contexto da Biblioteconomia, os

elementos de metadados têm relação com os elementos de descrição de registros


63

bibliográficos contidos no catálogo, e podem ser considerados como produto do

processo de projeto do catálogo.

Portanto, pode-se estabelecer a relação de um recurso com a sua

representação por metadados, como se faz a relação dos documentos de uma

Biblioteca com os seus registros no catálogo, com o objetivo de organizar as

informações contidas nos documentos e permitir sua recuperação (GRÁCIO, 2002).

Com o conceito de metadados relacionado a catálogos bibliográficos, pode-

se entender que as informações contidas nas fichas bibliográficas de um livro são

elementos de metadados, pois proporcionam dados básicos sobre as obras.

Os metadados têm grande importância na identificação, organização e

recuperação da informação digital e não digital, neste sentido sua finalidade é

facilitar a localização e recuperação das informações para os usuários e, para isso,

utiliza-se de procedimentos técnicos de indexação e classificação de conteúdos

informacionais, possibilitando a integração de fontes diversificadas e heterogêneas

de informação.

No contexto da catalogação, um catálogo pode ser exemplificado como um

conjunto de metadados, que emprega, basicamente, regras de catalogação e um

padrão de metadados que exerce a função de um formato de intercâmbio de

registros bibliográficos, como o formato MARC.

3.1 Funções dos Metadados na Catalogação

No que concerne a catalogação, os metadados podem ser definidos como

os elementos de representação de recursos resultantes do processo de construção


64

do catálogo utilizando como requisitos informacionais, as regras de catalogação,

padrões de intercâmbio de dados e necessidades de organização.

Para os profissionais da Ciência da Informação, os metadados estão

relacionados com o tratamento da informação, mais especificamente com as

formas de representação de um recurso informacional para fins de descrição,

identificação, localização, busca e recuperação, ou seja, dados bibliográficos e

catalográficos que servem para organizar, representar e tornar a informação

identificável, localizável e acessível (GILLILAND-SWETLAND, 1999).

Nos ambientes digitais, metadados eletrônicos tem a finalidade de obter

uma recuperação eficiente dos recursos e atender os requisitos de

interoperabilidade entre os sistemas informacionais.

A utilização de metadados permite também estabelecer padrões de dados

diante da heterogeneidade das informações de unidades de informação distintas.

Esses padrões possibilitam uma melhor descrição dos recursos.

Os padrões de metadados, uma vez estabelecidos, permitem a troca de

informações entre instituições que utilizam o mesmo padrão ou até mesmo entre

aquelas que utilizam padrões diferentes. Isso é importante, pois além de diminuir o

trabalho de descrição de recursos, permite que um usuário possa, em uma única

pesquisa, buscar informações em diferentes instituições.

3.2 Padrões de Metadados

Um padrão de metadados pode ser compreendido como um conjunto de

elementos descritores que segue um determinado modelo de dados com o objetivo


65

de descrever recursos de um domínio específico. Pode-se entender como um

modelo de dados contendo um conjunto de conceitos e requisitos (BARRETO,

1999).

Para Rosseto (2003), referem-se a padrões que estabelecem regras para a

definição de atributos (metadados) de recursos informacionais, para obter

coerência interna entre os elementos por meio de semântica e sintaxe; promover

necessária facilidade para esses recursos serem recuperados pelos usuários e

permitir a interoperabilidade dos recursos de informação.

Segundo El-Sherbini (2000, p.188), os padrões de metadados “têm um

importante papel no suporte ao uso de serviços e recursos eletrônicos. No entanto,

para maximizar o uso destes e assegurar consistência, são necessários padrões

universalmente aceitos que orientem a criação de metadados”.

Entre os benefícios na área da catalogação, os padrões de metadados

possibilitam em ambientes digitais:

• Catalogação na Publicação: editores são incentivados a participar de

modo que os documentos publicados circulem já catalogados por

centrais especializadas;

• Catalogação Centralizada: central responsável pela catalogação e

distribuição das representações as instituições associadas;

• Catalogação Cooperativa: bibliotecas participantes catalogam

cooperativamente, responsabilizando-se pela padronização,

normalização e distribuição dos registros para as instituições co-

operantes.
66

Ainda, os padrões de metadados podem ser considerados como um

elemento imprescindível para a implementação do recurso de interoperabilidade

entre ambientes, softwares e unidades de informação com bases informacionais

heterogêneas como exemplificado na Fig. 3.

Figura 3 – Os padrões de metadados e a interoperabilidade

Com as diversas iniciativas e os vários projetos, surge a questão de qual

padrão de metadados utilizar. Cada domínio define suas necessidades

informacionais e diante delas escolhe-se o padrão de metadados que melhor

atende a elas. Mas, dentro de um mesmo domínio pode-se ter a utilização de

padrões diferentes ou ainda, mais de um padrão.

Para resolver o problema da troca de informação entre instituições que

utilizam padrões de metadados diferentes, é necessário estabelecer a

correspondência entre esses padrões como mostrado na Fig. 8 do Capítulo 4.

O grande objetivo de padrões de metadados como MARC21, MARCXML,

Dublin Core, por exemplo, ferramentas importantes da área da Ciência da


67

Informação, é estabelecer um grau de normalização, padronização de

representação descritiva automatizada dos dados informacionais, favorecendo a

compatibilidade e a transferência de dados legíveis por computador, possibilitando

o compartilhamento e a cooperação de recursos e serviços entre diferentes

unidades de informação.

Pode-se considerar que o primeiro padrão de metadados foi o MARC,

criado na década de 60 nos Estados Unidos, com o objetivo de possibilitar a troca

de registros bibliográficos e catalográficos entre bibliotecas com o uso de

computadores. Atualmente a versão original do padrão é denominada MARC21 e é

o padrão mais utilizado para nortear os projetos de catálogos na área da

Biblioteconomia e que será utilizado na presente pesquisa.

3.3 O Padrão de Metadados MARC

O objetivo do padrão de metadados MARC, quando da sua criação no

início da década de 60, era padronizar a descrição bibliográfica, uma vez que se

iniciava a utilização de computadores e era necessário gerenciar o processo de

catalogação em meio eletrônico.

Sobre o padrão MARC, Barbosa (1978, p. 199) destaca:

O MARC começou como um projeto piloto distribuindo os registros


da L.C., em forma legível por computador, para as bibliotecas
participantes. O projeto piloto resultou em:
a) um formato padrão para intercâmbio de todas as formas de
dados bibliográficos;
b) um conjunto generalizado de programas para a criação de
registros bibliográficos em forma legível por computadores na LC e
c) o desenvolvimento de um serviço de distribuição para tais
registros.
68

Nas palavras de Barbosa (1978, p. 205) assim pode ser descrita a

finalidade do formato MARC:

A finalidade do MARC não é apenas a de facilitar a circulação dos


dados catalográficos (inclusive em plano internacional) usando uma
linguagem comum em sistema de informação tão flexível que se
preste às mais diversas exigências de apresentação formal de
documentos; consiste, também, numa tentativa mais funcional da
análise das unidades de informação contidas numa ficha
catalográfica, permitindo controlá-las e recuperá-las o mais
rapidamente possível. O sistema MARC tem por objetivos:
a) proporcionar um registro bibliográfico central para o uso da LC;
b) proporcionar uma base de dados para os serviços bibliográficos
norte americanos e
c) fornecer à comunidade internacional informações bibliográficas.

Registros MARC são compostos por três elementos: a estrutura de registro,

a denominação de conteúdo e o conteúdo dos dados do registro. A estrutura do

registro implementa padrões nacionais e internacionais. A designação de conteúdo

são os códigos e as convenções estabelecidas para identificar e caracterizar

explicitamente elementos de dados dentro de um registro e apoiar a sua

manipulação. O conteúdo dos elementos de dados de registros MARC é definido

por padrões de formatos como o AACR2.

O formato MARC foi projetado para auxiliar na transição de uma forma de

representação já constituída para uma outra forma, legível por computador. Na Fig.

4 é apresentada uma ficha catalográfica que contém as informações que

tradicionalmente estão presentes em um registro bibliográfico ou catalográfico.


69

Figura 4 – Ficha catalográfica

Eventualmente pode-se observar uma variação entre as interfaces, como

por exemplo, métodos diferentes de oferecer ajuda ou


ou confecção da tela do

software, como na Fig. 5 que mostra as informações dos nomes aos quais os

campos MARC se referem e seus valores correspondentes para essa ficha

catalográfica a partir do catálogo do sistema Athena da Unesp.

Figura 5 – Representação de um registro MARC mostrando o significado dos campos


Fonte: Catálogo Athena da Unesp
70

Na Fig. 6 têm-se o registro no formato mostrando os campos MARC e seus

valores correspondentes para este registro.

Figura 6 – Representação de um registro MARC mostrando os campos


Fonte: Catálogo Athena da Unesp

Podem-se destacar, como observado na Fig. 6, três aspectos de forma de

representação: (i) cada informação é precedida por um número formado sempre de

três caracteres, por exemplo, 005, 040, 100 e 245. Estes são denominados

usualmente como etiquetas MARC, e cada uma tem seu significado, por exemplo,

245 contém o título do documento; (ii) logo após as etiquetas encontram-se os

indicadores, compostos de dois caracteres, como no caso da etiqueta 082, os

caracteres 04 caracterizam-se como indicadores, ou por uma seqüência de

caracteres, como no caso da etiqueta 008, que neste caso não são denominados

indicadores. Em ambos os casos cada caractere tem seu significado e (iii) e por

final são os caracteres encontrados após o símbolo |, como por exemplo, na

etiqueta 100, tem-se os caracteres |a, sendo o |, identificador de subcampos e o “a”


71

o subcampo propriamente dito. Esses caracteres, assim como no caso dos

indicadores, têm significados distintos.

A forma de representação apresentada na Fig. 5 e Fig. 6 é utilizada na

apresentação para o usuário, porém no processo de intercâmbio de dados a

representação tem um formato legível por computador como mostrado na Fig. 7.

Figura 7 – Arquivo texto com um registro MARC21


Fonte: Catálogo Athena da Unesp

O registro MARC21 legível por computador é formado por uma única linha

com todos os caracteres que o representam. No processo de intercâmbio de um

registro MARC21 os dados da Fig. 6 serão utilizados pelo sistema de informação

no processo de importação e de exportação de registros.

O formato MARC21 é um conjunto de códigos e designadores de conteúdo

definido para a codificação de registros legíveis por máquina. É considerado um

formato rico, completo e complexo e sua estrutura se baseia na semântica

estrutural do AACR2. Pode-se dizer que é o primeiro formato para comunicação de

registros bibliográficos que descreve e identifica as características e

especificidades do recurso informacional através de representação padronizada.

Além disso, o formato do padrão MARC21 é bastante abrangente e contempla a

descrição bibliográfica nos mais variados suportes de armazenamento, como livros,


72

periódicos, mapas, música, materiais de arquivo e manuscritos, arquivos de

computador e materiais visuais.

Alves e Souza (2007) destacam que a função do MARC21 é criar,

armazenar e gerenciar o intercâmbio de registros bibliográficos e catalográficos, de

maneira que diferentes computadores e programas possam reconhecer, processar

e estabelecer pontos de acesso dos elementos que compõem a descrição

bibliográfica.

Para dar tratamento mais adequado e específico para diferentes tipos de

dados foi criada a Família MARC21 (LC, 2006):

• Formato MARC21 para dados bibliográficos (Bibliographic data):

especifica a representação dos mais variados tipos de recursos

informacionais e garante a descrição e a recuperação dos diferentes

suportes;

• Formato MARC21 para dados de autoridade (Authority): especifica a

codificação de elementos que identificam autoridade (responsabilidade

pela obra) de um registro bibliográfico e estabelecem o controle do

conteúdo;

• Formato MARC21 para controle de dados (Holding): especifica a

codificação dos elementos referentes ao controle e a localização dos

recursos informacionais. Pode ser utilizado para o gerenciamento dos

materiais;

• Formato MARC21 para dados de classificação (Classification):

especifica a codificação e controle dos elementos de dados relacionados

à classificação do conteúdo dos recursos informacionais e


73

• Formato MARC21 para comunidade informacional (Community

Information): especifica a codificação de registros que contenham

informações sobre eventos, programas, serviços etc. Permite a inclusão

e a disseminação de informações que podem ser integrados ao

catálogo, tornando o recurso informacional acessível ao público.

Segundo a LC (1996), os formatos bibliográficos e de autoridade foram

desenvolvidos em princípio para permitir a Biblioteca do Congresso comunicar os

registros de seu catálogo a outras instituições. Isso demonstra que esse padrão

teve em sua criação uma relação estreita com as necessidades e práticas de

bibliotecas norte-americanas com coleções universais, refletindo, assim, os vários

códigos de catalogação aplicados na comunidade de bibliotecas e as exigências da

comunidade.

Um registro MARC é composto por três seções principais: líder, diretório e

campos variáveis (LC, 1996).

a) Líder: constituído por elementos de dados que contêm valores

codificados e são identificados pela posição do caráter relativo. São os

elementos de dados líder que definem parâmetros para o

processamento do registro. O líder é fixo em comprimento (24

caracteres) e ocorre no início de cada registro MARC;

b) Diretório: contém a marca, local de partida e comprimento de cada

campo dentro do registro de entradas. Em ordem crescente de marcas,

aparece primeiro o diretório para campos de controle variável. Na

seqüência, as entradas para campos de dados, que são dispostos em


74

ordem crescente de acordo com o primeiro caractere da marca. A ordem

dos campos no registro não corresponde necessariamente à ordem das

entradas do diretório e as etiquetas duplicadas são distinguidas apenas

pela localização dos respectivos campos dentro do registro. O

comprimento de uma entrada de diretório é de 12 caracteres. O diretório

termina com um caractere terminador de campo e

c) Campos de variáveis: são as divisões do conteúdo dos dados de um

registro. É possível distinguir dois tipos de campos variáveis: campos de

controle variável e campos de dados variáveis. Controle e campos de

dados são diferenciados apenas pela estrutura.

Em geral, os registros MARC21 são autônomos, seus elementos contêm

informações que podem ser utilizadas para vincular os registros relacionados.

Sendo assim, podem ocorrer dois tipos de ligação: a implícita, que ocorre através

de pontos de acesso idênticos em cada registro e a explícita, que ocorre através de

um campo de entrada de ligação.

É importante destacar que o MARC21 é um formato para intercâmbio de

dados, que informa como um registro bibliográfico e catalográfico deve estar

descrito para que sua importação ou exportação ocorra com sucesso, porém o

modelo de dados do catálogo não necessariamente deve estar organizado

estruturalmente no mesmo formato de um registro MARC21.

Um modelo de dados de um catálogo pode atender aos requisitos do

MARC21, ou seja, estar no padrão MARC21 e também atender a outro padrão de

metadados, esta idéia é apresentada no Capítulo 7.


75

INTEROPERABILIDADE
76

4 INTEROPERABILIDADE

Tendo em vista que na área da Ciência da Informação os serviços

cooperativos são demasiadamente utilizados, principalmente com desenvolvimento

de padrões e normas para reutilização da informação, o termo cooperação torna-se

essencial para atuação na área. Sendo assim, a interoperabilidade é encarada

como requisito principal para se implantar a cooperação entre as mais diversas

bases informacionais.

A complexidade do compartilhamento de informações foi ampliada nos

últimos anos com a utilização de ambientes altamente distribuídos e heterogêneos

como a web e a busca por normas, padrões, regras e protocolos que permitam

uma organização e representação da informação de modo que se possa alcançar a

interoperabilidade.

Conforme Oliveira (2005, p. 34),

Um dos aspectos importantes para a interoperabilidade de


informações é a organização do conhecimento e representação da
informação. Para que duas pessoas, duas bases de dados ou até
duas instituições possam trocar informações de forma eficaz é
necessário o entendimento dos códigos utilizados por ambos e que
eles tenham o mesmo entendimento quanto ao significado destes
códigos. Para isto é necessária a implementação de padrões e
normas que possibilitem o entendimento entre eles, rompendo
barreiras trazidas pela hiper especialização e pela fragmentação da
informação, desenvolvendo e reforçando trabalhos cooperativos.

Visando a interoperabilidade semântica, é preciso estabelecer acordos em

relação à utilização destes descritores, isto é, que um termo tenha o mesmo

significado que o utilizado em outra base (OLIVEIRA, 2005).

A interoperabilidade é buscada por diversos fatores. Sistemas antes

orientados basicamente para recuperação de referências bibliográficas em bases


77

de dados isoladas e texto em papel, atualmente exigem uma recuperação

distribuída de objetos digitais publicados na Internet em fontes heterogêneas e

globalmente distribuídas. Além disso, há a necessidade da máxima divulgação de

trabalhos científicos e os resultados da pesquisa precisam ter maior impacto

possível sobre as pesquisas de seus pares e sobre outras publicações. Outros

fatores que levam à busca da interoperabilidade são o aumento das citações de

publicações eletrônicas e o desenvolvimento de mecanismos de publicação

eletrônica para a comunidade acadêmica aumentando sua visibilidade, questões

essenciais para o desenvolvimento e maturidade da pesquisa científica.

4.1 Definição de Interoperabilidade

Segundo a International Standard Organization (ISO) interoperabilidade é a

habilidade de dois ou mais sistemas, que podem ser computadores, meios de

comunicação, redes de software e outros componentes de tecnologia de

informação, de interagir e de intercambiar dados a partir de um método definido,

objetivando obter os resultados esperados.

Interoperabilidade pode ser definida como a capacidade que sistemas ou

produtos têm de trabalhar com outros sistemas ou produtos sem necessitar de

esforço especial por parte do cliente, pode-se dizer que é a capacidade de operar

em conjunto.

A literatura sobre Engenharia de Software considera a interoperabilidade

como o esforço necessário para se vincular um sistema a outro, um fator de


78

garantia de qualidade de software, conjuntamente com manutenibilidade,

portabilidade, integridade, confiabilidade (PRESSMAN, 2002).

Segundo Arms (2002), interoperabilidade tem como objetivo desenvolver

serviços coerentes para os usuários, utilizando recursos informacionais que são

tecnicamente diferentes e gerenciados por variadas organizações. Isto requer

acordos de cooperação em três níveis:

• O nível técnico proporciona a interoperabilidade tecnológica;

• O nível de conteúdo remete a interoperabilidade semântica, na qual a

representação e organização do conhecimento são áreas chave a serem

estudadas e

• O nível organizacional se refere à interoperabilidade política, quando

organizações se reúnem com o intuito de alcançar a interoperabilidade,

implementando padrões e tecnologias que cooperem com este objetivo.

De acordo com Oliveira (2005, p. 36),

Cooperação e compartilhamento de recursos foram fundamentais


iniciativas para que as bibliotecas pudessem fazer frente à explosão
informacional. Para viabilizar a cooperação e o compartilhamento
de informações, padrões e metodologias foram desenvolvidos,
como o Marc e o Z39.50.

Em todos os conceitos apresentados para alcançar a interoperabilidade é

necessário identificar e representar, em todos os seus níveis, características

comuns para que os pares possam cooperar ou compartilhar informações ou

serviços.
79

4.2 Histórico de Cooperação e Compartilhamento

Suaiden (1976) destaca que o primeiro Centro de Permutas foi fundado em

1851 em Washington sob o título de International Exchange Service da

Smithsonian Instituition. Seqüencialmente, outros centros foram criados,

convergindo com a Convenção de Bruxelas em 15 de março de 1886, na qual

foram acordados entre 8 países, incluindo o Brasil, normas para a permuta i

nternacional de documentos oficiais e publicações de caráter científicos e literários.

Entre essas normas, destaca-se a adoção de modelos e formulários uniformes para

as notas detalhadas do conteúdo.

A cooperação permeia a noção de Biblioteconomia na atualidade, que

segundo Miranda (1994), é a conseqüência de esforços do passado no sentido de

integração, ou como era mais comum denominá-la, pelos ideais de cooperação e

de normalização de sistemas de informação.

Pode-se dizer, segundo Marcondes e Sayão (2002), que as bibliotecas

começaram a investir na cooperação na metade do século XX, a partir da invenção

do computador, que possibilitou que as tecnologias de informação pudessem ser

usadas pelas bibliotecas para fornecer acesso não só a documentos dos seus

próprios acervos, mas também aos armazenados em acervos de outras bibliotecas.

Estas estratégias de cooperação possibilitavam que as bibliotecas fossem

capazes de operar em conjunto, isto é, fossem interoperáveis, ampliando os

serviços aos usuários.

A LC começou a publicar seu catálogo impresso em 1905, visando permitir

seu aproveitamento por outras bibliotecas. Com o desenvolvimento do padrão


80

MARC na década de 60, foi possível publicar seu catálogo não apenas em papel,

mas em meio legível por computador.

O processo de interoperar faz parte do cotidiano das unidades de

informação, há muito tempo, porém esse termo não era comumente utilizado como

atualmente, com a introdução de recursos tecnológicos, estes passam a ter um

papel fundamental na implementação da interoperabilidade entre essas unidades.

4.3 Níveis de Interoperabilidade

Do ponto de vista da interoperabilidade de informações é necessária a

compreensão de três níveis de características no intercâmbio das informações:

semântico, estrutural e sintático.

a) Nível Semântico

Este nível permite entender o significado de cada elemento descritor do

recurso em conjunto com as associações nele embutidas. Segundo Moura (2002),

o uso de vocabulários específicos, ontologias e/ou padrões de metadados são

essenciais para assegurar esse tipo de interoperabilidade.

De acordo com Marino (2001), existem dois subníveis no nível semântico:

• Epistemológico: relacionado ao significado dos elementos descritores do

formato e das relações nele existentes;


81

• Ontológico: relacionado ao uso de ontologias, vocabulários controlados e

padrões de metadados para o estabelecimento dos significados dos

dados representados.

Como exemplo desse nível de interoperabilidade pode-se destacar os

campos que têm o mesmo significado entre elementos descritivos de padrões de

representação como o MARC21.

b) Nível Estrutural

Este nível estabelece cada elemento componente de um padrão de

metadados, descreve os seus tipos, a escala de valores possíveis para esses

elementos e os mecanismos utilizados para relacionar esses elementos de modo a

que possam ser processados de forma automática. Como exemplo pode-se

destacar os padrões de metadados Dublin Core (DC) e MARCXML.

c) Nível Sintático

Barreto (1999, p. 85), afirma que “a sintaxe fornece uma linguagem comum

para representar a estrutura dos metadados”. Este nível de interoperabilidade

define como os metadados devem ser codificados para a transferência de

informações. Como exemplo apresenta-se a linguagem XML (eXtensible Markup

Language) na gerência da troca de informações.


82

4.4 Abordagens de Interoperabilidade

Inúmeros são os estudos direcionados a apontar problemas existentes e

possíveis soluções quando se trata da integração de base de dados heterogêneas

e complexas. Diversos processos precisam ser executados para se tentar atingir

uma integração que permita a interoperabilidade adequada, proporcionando às

instituições o acesso a informação de forma rápida e simples e que toda essa

complexidade da interoperabilidade se mostre transparente para o usuário.

Neste sentido, Almeida (2002, p. 75-76) apresenta algumas abordagens

adotadas:

• Protocolos, modelos e visualizações: são os níveis a serem

considerados ao projetar uma solução que objetiva interoperabilidade.

Protocolos formam a infra-estrutura base para ambientes informacionais

de rede. A pesquisa, em modelos conceituais, tem lugar em áreas como

recuperação da informação, bibliotecas, bancos de dados, e trabalho

cooperativo em computador e as técnicas de visualização são

necessários para mostrar os vários componentes de um ambiente ao

usuário.

• Nível sintático versus nível semântico: um dos problemas de

interoperabilidade, que permeiam os sistemas informatizados das

organizações, é relativo ao grau de heterogeneidade das fontes e dos

componentes nos níveis sintático e semântico. Prover interoperabilidade

semântica, a qual proporcionaria maior possibilidade para interpretação

de uso dos dados, seria uma tarefa mais complexa.


83

• Middleware: é proposta a integração de sistemas de bibliotecas digitais,

procurando integrar diversos protocolos de uso corrente a partir de um

middleware, chamado SDLIP-Simple Digital Library Interoperability

Protocol.

• Ontologias: na classificação dos tipos de dados para a extração,

baseiam-se em um conceito de hierarquia fundamentado em uma

ontologia para um domínio específico do conhecimento. As ontologias

são desenvolvidas para prover elementos semânticos passíveis de

leitura por computadores. Esses elementos semânticos podem

possibilitar a comunicação entre diversos agentes (humanos ou

softwares).

• Interfaces: abordagem baseada em uma interface que faz a mediação

entre vários tipos de recursos de trabalho em grupo utilizando a Internet

como meio de comunicação.

• Metadados: procuram solucionar problemas de interoperabilidade em

ambientes heterogêneos através de uma arquitetura de metadados que

integra informações sobre as diversas coleções e serviços disponíveis

em uma rede.

• Linguagens de Consulta: Problemas de busca em fontes heterogêneas

do ponto de vista das dificuldades em integrar diferentes estilos e

linguagens de consulta booleanas. Arquitetura e um mecanismo para

tradução de consultas em uma linguagem comum.

A adoção dessas abordagens demonstra a diversidade e a complexidade

do assunto. Ressalta-se que muitos outros estudos e diferentes possibilidades


84

devem ser desenvolvidos visando à implementação do intercâmbio de sistemas e

informações.

4.5 O Uso de Metadados na Interoperabilidade

A interoperabilidade é a capacidade de compartilhamento de informações

em diferentes ambientes informacionais e que, por meio de tecnologias como

linguagens de marcação associadas ao uso de padrões de metadados, faz com

que informações persistidas e em plataformas heterogêneas possam ser trocadas

possibilitando a colaboração entre diferentes sistemas de informação.

Neste contexto, os metadados cumprem um papel importante na

descoberta de recursos, ou seja, possibilitam a busca de elementos de informação

por critérios relevantes, identificação de recursos, agrupamento de recursos

similares, diferenciação de recursos não similares e a obtenção de informação de

localização. A descrição de recursos por meio de metadados permite que eles

sejam semanticamente compreendidos por sistemas de informação possibilitando a

interoperabilidade entre aplicações e o compartilhamento de dados entre sistemas.

A heterogeneidade semântica, ou seja, os diferentes significados que uma

mesma informação pode ter, é causadora de um obstáculo entre diversas fontes de

dados gerando conflitos como sinonímia (dados com o mesmo conteúdo

semântico, mas com nomes diferentes) e homonímia (dados com o mesmo nome,

mas com conceitos diferentes). Os metadados são um mecanismo que ajuda a

resolver este problema da interoperabilidade, os dados podem estar descritos por


85

um único padrão de metadados, para tanto, há a necessidade de correspondência

entre padrões de metadados, mesmo dentro de uma mesma área.

A Fig. 8 mostra parte da tabela de Correspondências entre padrões de

metadados (CROMWELL-KESSLER, 1998), exemplificando a construção de

relações entre diferentes padrões de metadados, requisito para interoperar

sistemas baseados nesses tipos de bases heterogêneos.

Figura 8 – Correspondência entre padrões de metadados


Fonte: Cromwell-Kessler (1998)

Pode-se verificar nessa correspondência que nem todos os elementos têm

correspondência nos diversos padrões.

As arquiteturas de metadados foram desenvolvidas para garantir a

interoperabilidade entre diversos padrões de metadados, com o propósito de

representar e dar suporte ao transporte de uma variedade de esquemas de

metadados em ambiente distribuído, promovendo interoperabilidade nos níveis

sintático, estrutural e semântico (MOURA, 2002).


86

Pode-se destacar entre os tipos de arquitetura de metadados na web a

arquitetura Warwick, MFC – Meta Content Framework, o RDF – Resource

Description Framework e a arquitetura de modelagem de quatro níveis.

De acordo com Alves (2005), o RDF vem sendo indicado e recomendado

pelo W3C5 para a interoperabilidade na rede, uma vez que, unido aos metadados,

ao uso da linguagem XML e às ontologias, possibilita de modo flexível, a

interoperabilidade nos três níveis. A Fig. 9 esquematiza a definição de um esquema

para interoperar diversos sistemas utilizando padrões de metadados distintos.

Ambiente Informacional Centralizado

Representação que
integra semanticamente
Metadados Padrão os diversos metadados
utilizando ontologias

Metadados X Metadados Y Metadados Z

Banco de Dados X Banco de Dados Y Banco de Dados Z

Figura 9 – Esquema de Interoperabilidade com Metadados

Nota-se, na Fig. 9, que deve ser definida uma arquitetura de metadados

padrão, em que deve haver uma correspondência entre os diversos metadados que

participam da integração das bases com o metadados padrão, a esses metadados

5
O Consórcio World Wide Web (W3C) é um consórcio internacional no qual organizações filiadas,
uma equipe em tempo integral e o público trabalham juntos para desenvolver padrões para a Web.
Pode ser visualizado em http://www.w3c.com.
87

são feitos os acessos às diversas bases de dados do ambiente integrado. Qualquer

instituição que queira se interoperar a esse ambiente deve fazer a correspondência

do metadados utilizado em seu sistema legado com o metadados padrão.


88

MODELAGEM DE DADOS
89

5 MODELAGEM DE DADOS

Ao analisar as atividades concernentes à Ciência da Informação como a

geração, coleção, organização, interpretação, armazenamento, recuperação,

disseminação, transformação e uso da informação, o processo de construção de

representações de recursos informacionais tem um papel primordial no âmbito da

catalogação. Neste sentido, ressalta-se a importância de novos estudos de

modelos conceituais e lógicos para repensar e projetar a percepção do cenário da

representação descritiva. Esses modelos conceituais e lógicos objetivam uma nova

visão por parte de profissionais da informação dos princípios fundamentais que

estão por trás de códigos, regras e padrões de catalogação, permitindo uma

representação mais ampla e efetiva em todas as dimensões da informação.

Neste contexto, apresenta-se com significativa importância para a

catalogação automatizada, a modelagem de dados, que basicamente é o processo

de criação de uma estrutura de dados eletrônica (banco de dados) que contém as

informações representadas do recurso a ser modelado. Esta estrutura permite ao

usuário recuperar dados de forma rápida e eficiente.

Utilizada de modo crescente, a tecnologia aplicada aos métodos de

armazenamento de informações gera um impacto cada vez maior no uso de

computadores, em qualquer área em que os mesmos podem ser aplicados.


90

5.1 Conceituando Banco de Dados

Um banco de dados é uma coleção de dados inter-relacionados que

contém informações de um cenário em particular. Compreendem-se dados como

fatos conhecidos que podem ser persistidos e que possuem um significado

implícito e relevante. Um banco de dados possui as seguintes propriedades:

• Um banco de dados é uma coleção lógica coerente de dados com um

significado implícito e deste modo, uma relação de dados desordenados

não pode ser referenciada como um banco de dados;

• Um banco de dados é projetado, implementado e alimentado com dados

para um propósito específico;

• Um banco de dados representa um escopo de um cenário também

conhecido como mundo real ou mini-mundo e mudanças efetuadas no

cenário devem ser automaticamente refletidas no banco de dados.

Chu (1983, p. 39) define banco de dados como “um conjunto de dados

estruturado de maneira adequada de forma que pode ser utilizado com eficiência

por uma diversidade de aplicações dentro de uma organização”. Um banco de

dados é criado e mantido por um conjunto de aplicações programadas

especialmente para estas tarefas, chamado de Sistema Gerenciador de Banco de

Dados (SGBD).

Um SGBD permite aos usuários criarem e manipularem bancos de dados

de acordo com necessidade de um cenário específico. O conjunto formado por um


91

banco de dados mais as aplicações que o manipulam é chamado de Sistema de

Banco de Dados ou Sistema de Informação como mostrado na Fig. 10.

Sistema de Banco
Software de Aplicação de Dados

SGBD
Software para processar manipulação

Software de Acesso aos Dados

Metadados Dados

Figura 10 – Componentes de um sistema de banco de dados

O SGBD é um “sistema de software de propósito geral que facilita os

processos de definição, construção, manipulação e compartilhamento de banco de

dados entre vários usuários e aplicações” (ELMASRI, 2005, p. 04). Os principais

objetivos são gerenciar o acesso, manipulação e organização dos dados e

metadados (dicionário de dados) e disponibilizar uma interface para que os

sistemas de informação possam manipular os dados.

Os metadados no contexto dos bancos de dados referem-se às

informações que descrevem a estrutura lógica e de armazenamento dos dados

contidos no banco de dados e também os relacionamentos e restrições referentes

a esses dados, conceito também utilizado para Esquemas de Bancos de Dados.


92

Ao criar sistemas de informação, devem ser construídos modelos

conceituais de dados que possam ser validados pelos profissionais especialistas

nos processos referentes ao cenário em que este sistema se objetiva informatizar.

O objetivo é criar um modelo de dados que represente todas as

informações do cenário a ser modelado em que há a necessidade da persistência

dessas informações no ambiente informatizado.

5.2 Modelo de Dados

De acordo com Silberschatz et. al. (1999, p.7), modelo de dados pode ser

definido como “(...) um conjunto de ferramentas conceituais usadas para descrição

de dados, semântica de dados e regras de consistência. Está sob a estrutura do

banco de dados”.

Em relação à abordagem de banco de dados, uma das suas características

é fornecer níveis de abstração de dados que omite do usuário consumidor da

informação detalhes de como estes dados são armazenados. O modelo de dados é

uma representação utilizada para descrever a estrutura conceitual, lógica e física

de um banco de dados, esta estrutura compreende objetos de dados,

características desses dados, relacionamentos e regras que restringem esses

dados num cenário. Podem ser construídos três níveis de modelos de dados:

• Modelo de dados conceitual: fornece uma visão abstrata que representa

os dados no domínio do cenário;


93

• Modelo de dados lógico: fornece uma visão numa representação de uma

estrutura de modelo de banco de dados;

• Modelo de dados físico: fornece uma visão mais detalhada de como os

dados estão armazenados no banco de dados.

Para tratar desses aspectos, novas leituras devem ser feitas sobre o

processo de catalogação estendendo a atuação do profissional que projeta o

catálogo de ambientes informacionais e, neste sentido, há a necessidade de refletir

a importância da modelagem de dados no processo de catalogação, descrevendo e

ilustrando o Modelo Entidade-Relacionamento (E-R), que foi idealizado por Peter

Chen em 1976 (CHEN, 1976; CHU, 1983, p. 148) e vem sendo estudado e aplicado

atualmente, sendo uma das metodologias da modelagem que mais freqüentemente

é utilizada no desenvolvimento de sistemas de informação, pois “conforme nos

movemos para uma sociedade cada vez mais orientada para a informação, a

determinação de como organizar os dados para maximizar sua utilidade torna-se

um problema muito importante” (CHEN, 1990, p.1).

Os modelos são representações simplificadas e inteligíveis do mundo, que

permitem visualizar características essenciais de um domínio de aplicação e nas

palavras de Sayão (2001):

Os modelos, em uma generalização arriscada, buscam a


formalização do universo através de meios de expressões
controláveis pelo ser humano; derivam da necessidade humana de
entender a realidade aparentemente complexa do universo
envolvente. São, portanto, representações simplificadas e
inteligíveis do mundo, que permitem vislumbrar características
essenciais de um domínio ou campo de estudo. A necessidade de
idealização é, portanto, uma reação tradicional do homem à
aparente complexidade da realidade em que está submerso. A
mente tenta decompor o mundo real em uma série de sistemas
simplificados e atingir assim em um único ato "uma visão das
características essenciais de um domínio". Esta simplificação exige
criatividade, tanto sensorial quanto intelectual, o que,
94

evidentemente, implica admitir-se que, na construção de modelos,


algumas características da realidade, que não se referem
diretamente aos objetivos buscados, são desprezadas ou
abandonadas, em função da maior inteligibilidade ou facilidade de
compreensão.

Segundo Sayão (2001), um modelo pode servir a muitos propósitos, mas

sua função principal é comunicar alguma coisa sobre o “objeto da modelagem de

forma a gerar um entendimento mais completo sobre a realidade”. O autor ainda

destaca que em muitas vezes o valor de um modelo é diretamente relacionado ao

seu nível de abstração.

No que concerne ao modelo de informação, tem-se que ele representa um

indivíduo enquanto usuário e/ou parte de um sistema de informação, bem como

das suas relações de aquisição, organização e manipulação de informação.

A sofisticação dos sistemas de informação gerou a necessidade de

desenvolvimento de modelos que pudessem facilitar a compreensão do usuário em

relação ao sistema e também que pudesse evitar o contato do usuário com a

estrutura física dos dados dentro do computador.

No que concerne ao papel das ferramentas de modelagem para o

desenvolvimento das atividades profissionais do cientista da informação, Burt &

Kinnucan (1990, p. 177) destacam que:

Os cientistas da informação [...] podem encontrar, nas técnicas de


modelagem, um mecanismo útil para capturar e comunicar seus
conhecimentos sobre fontes de informação e sobre padrões de
comportamento de quem busca informação. Os modelos
resultantes podem ser amplamente desenvolvidos mediante
seleção e composição de conceitos e técnicas de modelagem
provenientes de várias disciplinas (informática, psicologia, física,
lingüística e outras).

Esses modelos de dados gerados refletem o conjunto de informações

analisado e transcrito em níveis de abstração para um entendimento teórico do


95

universo informacional associado a conceitos universais e não temporais,

transformando-se em informações formais.

5.3 O Processo de Modelagem de Dados

O projeto de uma estrutura otimizada e eficiente de dados impõe a adoção

de uma metodologia na análise das informações envolvidas.

Segundo Sayão (2001)

A ação de modelar, por sua vez, impõe a quem modela uma visão
clara e sem ambigüidades de quem ou do que está sendo
modelado, além de exigir uma correta seleção dos elementos do
universo do discurso que comporão a visão a ser representada.

A Modelagem de Dados é um processo de abstração que visa à definição

das informações a serem persistidas de um cenário definido por um domínio de

aplicação declarado por um escopo na especificação de requisitos.

Essa atividade tem como objetivo identificar, modelar e implementar um

modelo de dados consistente com as necessidades do cenário expressas na

especificação de requisitos.

O produto final desse processo é a estrutura ou esquema do banco de

dados (metadados) e o banco de dados que conterá as informações a serem

persistidas no catálogo.

Na perspectiva da construção de sistemas de informação, segundo Booch

et. al. (2005, p. 03-04),

A modelagem é uma parte central de todas as atividades que levam


a implantação de um bom software. Construímos os modelos para
comunicar a estrutura e o comportamento desejados do sistema.
Construímos modelos para visualizar e controlar a arquitetura do
96

sistema. Construímos modelos para compreender melhor os


sistemas que estamos elaborando [...]

Na Fig. 11 pode-se constatar que o processo de modelagem de dados é

composto por diversas fases que geram em cada uma delas artefatos6 que ajudam

a compor a documentação do modelo de dados.

Figura 11 – O processo de modelagem de dados

O cenário refere-se à identificação do domínio do problema ou campo de

estudo a ser abstraído pelo processo de modelagem e é a partir deste que o

projetista direciona o estudo das informações a serem representadas. Por exemplo,

o acervo de uma unidade de informação ou a própria unidade de informação.

6
Artefatos são subprodutos gerados pelas fases da modelagem de dados, podem ser documentos
textuais, gráficos ou diagramas.
97

Dentro do cenário definido é necessário especificar o escopo, o qual tem a

visão das características essenciais de um domínio, contendo a descrição das

necessidades informacionais a serem contempladas pelo projeto. Este deve

garantir que o modelo inclua todo o trabalho exigido e, somente o trabalho exigido,

para completar o projeto com sucesso, como por exemplo, a definição dos recursos

(tipos de materiais) e processos (catalogação, circulação, reservas) presentes na

unidade de informação que devem fazer parte do projeto.

Tendo o escopo das necessidades informacionais o projetista deve, então,

levantar dentro deste domínio, os requisitos informacionais de descrição, acesso,

localização, interoperabilidade, entre outros e gerar um documento de requisitos

que é a definição dos requisitos funcionais ou funções que o usuário deseja que o

sistema de informação realize (necessidades informacionais do usuário).

Finalmente, de posse das informações referentes aos elementos de dados

a serem persistidos e as necessidades informacionais de descrição, acesso,

localização e interoperabilidade, o projetista deve fazer a representação conceitual

desses elementos de forma que esse modelo represente fielmente o domínio do

cenário representado. Esse processo é chamado de Modelagem Conceitual, que é

a fase que modela a análise dos requisitos levantados no cenário e representa os

elementos do domínio do problema e, portanto, não considera questões

tecnológicas.

É a descrição do banco de dados de maneira independente ao SGBD, ou

seja, define quais os dados que aparecerão no banco de dados, mas sem se

importar com a implementação que se dará ao banco de dados.


98

No âmbito dos bancos de dados modernos são utilizados o Modelo E-R e o

Modelo Orientado a Objetos para a criação do Esquema Conceitual, produto da

Modelagem Conceitual.

suficiente para que o profissional da computação


O esquema conceitual é suficiente

possa gerar o banco de dados. Para tanto, é realizada a Modelagem Lógica que é

o resultado ou produto da conversão ou mapeamento do modelo conceitual em um

modelo de implementação de banco de dados, como por


por exemplo, o Modelo

Relacional. Com base no modelo relacional e definido o SGBD, é gerado o Modelo

Físico que descreve em detalhes como os dados são armazenados e contém a

se constitui em meta-informações
descrição da estrutura do banco de dados que se

que descrevem as informações, ou seja, o esquema físico do banco de dados

(metadados).

Neste contexto, um banco de dados é formado pelos dados somados a sua

estrutura ou esquema (dicionário de dados), ou seja, os metadados, como

observado na Fig. 12.

Figura 12 – Elementos de um banco de dados


99

A maior dificuldade para o aprendizado das técnicas de modelagem de

dados é entender a visão a ser representada e convertê-la num modelo conceitual

de dados, criando uma solução.

O profissional da informação precisa entender o problema e conceituar o

que será a solução e, para isso, duas questões são consideradas imprescindíveis:

a) Saber abstrair a necessidade informacional do usuário do ambiente e

os processos referentes ao seu domínio, no caso da representação

catalográfica de unidades de informação, os códigos, regras e padrões

da catalogação e

b) Conhecer as técnicas de modelagem a fim de representar o problema

de forma conceitual antes da implementação tecnológica da solução.

5.4 Modelagem Conceitual

O Modelo Conceitual descreve quais são os dados que devem realmente

ser armazenados no banco de dados e quais são os relacionamentos existentes

entre os dados. Fornece uma visão mais próxima do modo como os usuários

visualizam os dados e define especificações necessárias à qualidade das

informações do ambiente informatizado a ser criado. Por desenvolver uma

atividade de abstração de nível superior e não depender de tecnologia, o

profissional da informação deve se preocupar como os elementos de dados

definidos no escopo do domínio estarão conceitualmente representados e


100

relacionados e, para tanto, deve conhecer uma metodologia de construção de

modelos conceituais.

A Modelagem Conceitual é uma fase importante no projeto de uma

aplicação de bancos de dados bem sucedida. De modo geral, o termo aplicação de

banco de dados refere-se a uma base de dados particular e aos programas

associados que implementam as consultas e atualizações do banco de dados. Por

exemplo, a aplicação de banco de dados de uma biblioteca corresponde ao banco

de dados que mantém registros sobre livros, periódicos entre outros objetivos

informacionais e também os programas de computador que informatizam os

processos deste domínio, como a catalogação, indexação, circulação e gestão da

unidade de informação.

5.5 Modelo Entidade-Relacionamento

O Modelo E-R é uma metodologia de construção de modelos conceituais

que se baseia na percepção do domínio do cenário como um conjunto de objetos

básicos, chamados entidades e o relacionamento entre eles. As entidades são

descritas por meio de seus atributos. O número das entidades às quais uma outra

entidade se relaciona é determinado pelo mapeamento das cardinalidades

(SILBERSCHATZ; et. al., 1999).

Possui uma semântica que possibilita o mapeamento dos objetos definidos

no domínio do problema e gera um modelo de alto nível, independente do SGBD

que representa o problema a ser modelado.


101

A Modelagem Conceitual que utiliza o Modelo E-R gera como produto

desse processo o Diagrama Entidade-Relacionamento (E-R), notação gráfica

utilizada para a representação desse modelo.

Existem diversas notações para representar um Diagrama E-R, na Fig. 13

são mostradas duas entidades (livro e autor) com seus respectivos atributos, e

entre essas entidades, há um relacionamento com cardinalidade muitos para

muitos.

Figura 13 – Diagrama Entidade-Relacionamento

Ao se projetar conceitualmente um banco de dados utilizando o Modelo

E-R devem-se examinar as seguintes etapas:

1. Identificar as entidades mais relevantes ou representativas do domínio;

2. Identificar as propriedades ou características mais notáveis ou de

interesse das entidades escolhidas;

3. Estabelecer os atributos correspondentes às propriedades. Tais

atributos consistem nas diversas classes de informação que

caracterizam as propriedades das entidades;


102

4. Mapear os relacionamentos ou associações que existem entre as

entidades;

5. Identificar as restrições de unicidade, domínio e cardinalidade que

ocorrem nas entidades, atributos e relacionamentos.

As Entidades são objetos que podem ser identificados de forma inequívoca

em relação a todos os outros objetos contidos no domínio do problema. São

elementos relevantes, abstratos ou concretos, sobre os quais é necessário persistir

informação. Pode-se entender Entidade como um objeto existente no mundo real

que pode ser identificado de maneira única em relação aos outros objetos do

cenário.

Atributos são propriedades ou elementos de dados que caracterizam uma

entidade. Os atributos são preenchidos por valores e, portanto, contém um

Domínio, que é o conjunto de valores permissíveis para este atributo.

Relacionamento constitui-se numa associação entre entidades.

Formalmente é a relação matemática com ݊ ≥ 2 conjunto de entidades podendo

não ser distintos. Sendo E1, E2,..., En conjunto de entidades, um conjunto de

relacionamentos R é um subconjunto de:

{(e1, e2,..., en) / e1 ∈ E1, e2 ∈ E2,..., en ∈ En}, onde

(e1, e2,..., en) são relacionamentos.

Na Fig. 13 foi definido o relacionamento entre as entidades livro e autor

para representar a informação dos livros que um autor publicou e os autores de

cada livro no acervo do cenário especificado. Este relacionamento é restringido


103

pela cardinalidade NxM (muitos-para-muitos), ou seja, um livro pode se relacionar

com vários autores e um autor pode conter vários livros associados a ele.

A cardinalidade é uma restrição a qual o conteúdo do banco de dados

precisa obedecer. Expressa o número de entidades ao qual uma entidade pode

estar associada via um conjunto de relacionamentos.

Em termos de cardinalidade, um relacionamento pode ser:

• UM-PARA-UM: uma entidade A está associada com no máximo uma

entidade em B, e uma entidade em B está associada com no máximo

uma entidade em A como mostrado nas Fig. 14 e 15.

Figura 14 – Relacionamento um-para-um


104

Figura 15 – Notação gráfica para o relacionamento um-para-um

• UM-PARA-MUITOS: uma entidade em A está associada com qualquer

número de entidades em B, e uma entidade em B está associada a no

máximo uma entidade em A como mostrado na Fig. 16 e 17.

a1 b1

b2
a2
b3

a3
b4

Figura 16 – Relacionamento um-para-muitos


105

Figura 17 – Notação gráfica para o relacionamento um-para-muitos

• MUITOS-PARA-MUITOS: uma entidade em A está associada com

qualquer número de entidades em B, e uma entidade em B está

associada a qualquer número de entidades em A como mostrado nas

Fig. 18 e 19.

Figura 18 – Relacionamento muitos-para-muitos


106

Figura 19 – Notação gráfica para o relacionamento muitos-para-muitos

Dependências existenciais formam outra importante classe de restrições.

Por exemplo, se a existência da entidade x depende da existência da entidade y,

então diz-se que x é existencialmente dependente de y. Isto significa que se y for

removido, então x também o será. A entidade y é chamada de entidade forte (ou

dominante) e x de entidade fraca (ou subordinada).

No exemplo da Fig. 20, a existência da entidade Artigo está subordinada a

existência dos periódicos. Se um registro de periódico for excluído do sistema do

catálogo, não será mais preciso manter o registro dos seus artigos. No Diagrama

E-R a entidade fraca é representada por um retângulo de linhas duplas indicando

que o relacionamento é de existência-dependente.

Figura 20 – Existência-dependente
107

De acordo com Mey (1995), a catalogação tem, entre outras funções,

permitir ao usuário localizar um item específico, distinguível dentro do catálogo.

Essa idéia é implementada no processo de modelagem de dados por meio do

conceito de chave primária representado no diagrama (Fig. 20) com um círculo

preenchido ligado ao atributo.

Entidades individuais e relacionamentos são distintos, mas na perspectiva

do banco de dados a diferença entre eles precisa ser expressa em termos dos seus

atributos. Para tais distinções uma superchave é assinalada para cada conjunto de

entidades. Esta superchave é um conjunto de um ou mais atributos, que tomados

em conjunto, nos permite identificar unicamente uma entidade no conjunto de

entidades. Por exemplo, o atributo Número do Tombo do conjunto de entidades

Livro (Fig. 19) é suficiente para distinguir uma entidade Livro (Item) de outra. Então,

Número do Tombo, é uma superchave. As superchaves mínimas são chamadas de

chaves candidatas.

Usa-se o termo chave-primária para denominar uma chave candidata como

mecanismo principal para a identificação de uma entidade em um conjunto de

entidades ou um relacionamento em um conjunto de relacionamentos

Uma entidade fraca pode não possuir atributos suficientes para formar uma

chave primária. Assim, a chave primária dessas entidades é formada pela chave

primária da entidade forte da qual ela é existencialmente dependente, mais o seu

descriminador (título do artigo, no exemplo da Fig. 20).

De posse da especificação dos requisitos das necessidades informacionais

do domínio do problema, o projetista deve, então, representar os elementos em

forma de entidades, atributos ou relacionamentos, identificar as restrições de


108

domínio e unicidade de atributo e cardinalidade dos relacionamentos, gerando,

assim, o Diagrama Entidade-Relacionamento que é o modelo conceitual do banco

de dados a ser gerado para esse ambiente informacional, ou seja, a representação

conceitual do catálogo digital.

5.6 Modelo Orientado a Objetos

Pode-se considerar os modelos de dados orientados a objetos outra

perspectiva de modelos de dados de implementação de mais alto nível, mais

próximos aos modelos de dados conceituais. Na perspectiva da representação da

estrutura das informações de um domínio, o Modelo Orientado a Objeto difere do

Modelo E-R por descrever tanto os elementos de dados, quanto as operações que

podem ser aplicadas a esses dados.

Existem algumas características fundamentais na metodologia baseada em

objetos:

• Abstração: permite que o foco recaia sobre os aspectos essenciais de

uma aplicação, ignorando os detalhes, determinando apenas conceitos

do domínio da aplicação, isto é, focaliza o que o objeto é e faz, antes de

decidir como implementá-lo.

• Encapsulamento: também chamado de ocultamento de informações,

separa os aspectos externos de um objeto, que são acessíveis a outros

objetos, dos detalhes internos da implementação, que estão escondidos

de outros objetos (RUMBAUGH, et al, 2006).


109

• Herança: é o compartilhamento de atributos e operações entre classes

com base em um relacionamento hierárquico. Uma superclasse possui

informações gerais que as subclasses especializam e elaboram. Cada

subclasse incorpora ou herda todos os recursos de sua superclasse e

acrescenta seus próprios recursos (RUMBAUGH, et al, 2006).

• Poliformismo: significa que a mesma operação pode se comportar de

formas diferentes para diferentes classes. Permite que o estado de um

objeto seja capaz de assumir diferentes formas. Capacidade de uma

operação ser executada de acordo com as características do objeto que

está recebendo a mensagem.

Na visão de Booch et. al (2005), a Modelagem Orientada a Objetos adota

uma perspectiva em que o principal bloco de construção de todos os sistemas de

informação é o objeto ou a classe, este podendo ser definido como alguma coisa

geralmente estruturada a partir do vocabulário do espaço do problema ou do

espaço da solução, e uma classe é a descrição de um conjunto de objetos comuns.

Modelagem e projetos baseados em objetos utilizam modelos

fundamentados em conceitos do cenário ou mundo real. A estrutura básica é o

objeto, que combina uma estrutura de dados e comportamento destes em uma

única entidade.

Um modelo conceitual é uma representação de conceitos em um domínio

de problema (MARTIN; ODELL, 1995) (FOWLER, 1996). Na UML7 (Unified

7
UML, segundo Booch et. al. (2005, p. 13) é “uma linguagem-padrão para a elaboração de estrutura
de projetos de software. A UML poderá ser empregada para visualização, a especificação, a
construção e a documentação de artefatos que façam uso de sistemas complexos de software”
110

Modeling Language), um modelo conceitual é exibido como um conjunto de

diagramas de estrutura estática, nos quais não se definem os métodos.

O termo modelo conceitual tem a vantagem de enfatizar fortemente os

conceitos de domínio e não de implementação da solução. Ele contém: (i)

conceitos, (ii) associações entre conceitos e (iii) atributos dos conceitos. Ele pode

ser visto como um modelo que comunica às partes interessadas, como usuários

especialistas (catalogador) e desenvolvedores, quais são os termos importantes e

como eles são estabelecidos.

5.6.1 Análise e Projeto Orientado a Objetos

A essência da análise e do projeto Orientado a Objetos é enfatizar a

consideração de um domínio de problema e uma solução lógica, segundo a

perspectiva de objetos. Os objetos do domínio da aplicação compõem a estrutura

do modelo projetado. Uma das vantagens de adotar esse modelo é utilizar a

mesma notação desde o modelo conceitual até a análise, projeto e implementação.

Durante a análise Orientada a Objetos, há a ênfase na descoberta e na

descrição dos objetos – ou conceitos – do domínio do problema. Por exemplo, no

caso da construção de um sistema que informatize um catálogo bibliográfico, esses

conceitos podem ser encontrados nos FRBR como Obra, Pessoa, Evento.

No projeto Orientado a Objetos existe uma ênfase na definição de

elementos lógicos direcionada ao domínio da solução. Estes objetos têm atributos

e métodos.

A análise Orientada a Objetos se preocupa com a criação de uma

especificação do domínio do problema e dos requisitos, segundo uma perspectiva


111

de classificação por objetos e segundo a perspectiva da compreensão dos termos

usados no domínio do problema. Uma decomposição do domínio do problema

envolve uma identificação dos conceitos, atributos e das associações, no domínio,

que são considerados necessários para representar esse cenário. O resultado

pode ser expresso por meio de um modelo conceitual que pode ser ilustrado no

diagrama de classes (LARMAN, 2005).

5.6.2 A Linguagem de Modelagem Unificada (UML)

A UML é “uma linguagem para especificar, visualizar e construir os

artefatos de sistemas de software...” (BOOCH, et al., 1997). É um sistema de

notação dirigida à modelagem de sistemas usando conceitos orientados a objetos.

Atualmente é a notação Orientada a Objetos mais aceita no universo de

desenvolvimento de software e se tornou uma notação padrão para projetos

orientados a objetos (RUMBAUGH, et al, 2006).

Para construir um modelo conceitual utilizando a UML pode se utilizar dos

seus diversos diagramas que são apresentações gráficas de um conjunto de

elementos.

Para o objetivo da definição de um modelo de dados conceitual, será

utilizado nesta pesquisa o Diagrama de Classes que servirá como base para a

proposta do framework conceitual.

Um diagrama de classe exibe um conjunto de classes, interfaces e

colaborações, bem como seus relacionamentos. É a notação gráfica do conjunto

das classes que define um domínio de aplicação. Esses diagramas são utilizados

na modelagem estática da estrutura de um sistema Orientado a Objetos.


112

As classes especificam a estrutura e o comportamento dos objetos, ou

seja, objetos são instâncias de classes.

Um objeto pode ser definido como uma entidade independente, composta

por um conjunto de elementos ou atributos que a caracterizam (domínio) e as

ações que agem sobre esse domínio (operações ou métodos).

A Fig. 21 mostra uma notação gráfica para expressar os modelos baseados

em objetos.

Figura 21 – Notação gráfica para representação de objetos

Neste exemplo, é apresentada uma classe chamada Livro, contendo os

atributos Título, Edição e Volume e os métodos ou operações Emprestar, Reservar

e Cadastrar, essa notação mostra a representação conceitual da classe que pode

ser implementada em alguma linguagem de programação Orientada a Objetos.

As classes são abstrações do domínio do problema, que definem a

descrição de um conjunto de objetos com os mesmos atributos, relacionamentos,

operações e semântica.

Como no Modelo E-R, as classes colaboram entre si por meio de

relacionamentos. Um relacionamento é uma conexão entre Itens. Na modelagem

Orientada a Objetos, os três relacionamentos mais importantes são as


113

dependências, as generalizações e as associações. Um relacionamento tem como

notação gráfica tipos diferentes de linhas para diferenciar os tipos de

relacionamentos. Estes relacionamentos podem ser classificados como:

• Dependência: é um relacionamento de utilização, determinando que um

Item (por exemplo, a classe Empréstimo) usa informações e serviços de

outro Item (por exemplo, a classe Circulação). A dependência tem como

notação gráfica uma linha tracejada apontando o item do qual o outro

depende (Fig. 22).

Figura 22 – Relacionamento de dependência

• Associação: é um relacionamento estrutural entre objetos de tipos

diferentes. A partir de uma associação conectando duas classes, é

possível navegar do objeto de uma classe até o objeto de outra classe e

vice-versa (BOOCH, et al., 2005). Uma associação tem como notação

gráfica uma linha sólida conectando a mesma classe a classes

diferentes, podendo ter a indicação da multiplicidade da associação que

determina a quantidade de objetos que podem ser conectados pela

instância de uma associação e o nome que pode ser utilizado para

descrever a natureza do relacionamento (Fig. 23).


114

Figura 23 – Relacionamento de associação

• Generalização: é um relacionamento entre tipos gerais (superclasses) e

tipos mais específicos (subclasses). A generalização organiza classes

por suas semelhanças e diferenças, estruturando a descrição dos

objetos. A superclasse mantém atributos, operações e associações

comuns; as subclasses acrescentam atributos, operações e associações

específicas. Diz-se que a subclasse herda as características de uma

superclasse (RUMBAUGH, et al, 2006). A notação gráfica para

generalizações é uma linha sólida com uma grande seta triangular

apontando a superclasse (Fig. 24).


115

Acervo

Livro Periódico Apostila

Figura 24 – Relacionamento de generalização

• Agregação: uma associação representa um relacionamento estrutural

existente entre objetos que estão num mesmo nível, sem que uma seja

mais importante que a outra. Em alguns casos é necessário fazer a

modelagem de um relacionamento “todo/parte”, no qual uma classe

representa o “todo” formado por Itens menores (“parte”) (BOOCH, et al.,

2005). Esse tipo de relacionamento é chamado de agregação e

representa um relacionamento especial do tipo associação. Para

demonstrar graficamente uma agregação, é colocado um losango aberto

na extremidade do todo (Fig. 25).

Figura 25 – Relacionamento de agregação

• Composição: é uma forma do relacionamento de agregação com

restrição que define que as partes podem ser criadas após o todo, mas,
116

uma vez criadas, “vivem e morrem com ele”. Essas partes também

podem ser removidas antes da morte do objeto composto (BOOCH, et

al., 2005). A representação gráfica da composição é o losango fechado

na extremidade do todo (Fig. 26).

Figura 26 – Relacionamento de composição

O Modelo Orientado a Objeto contem uma restrição na etapa de

construção do projeto lógico e físico de dados, pois, no âmbito do SGBD, são

atualmente aceitos Modelos Relacionais de dados que encontram compatibilidade

com o Modelo E-R, mas não com o Modelo Orientado a Objeto.

Esta restrição é resolvida em projetos de software orientados a objeto com

uma técnica chamada Mapeamento Objeto-Relacional, que mapeia os objetos do

modelo para tabelas no banco de dados relacional.

O Modelo Orientado a Objeto é abordado nesta pesquisa por possuir

algumas características que podem ser aplicadas nos conceitos dos FRBR,

tornando-os uma referência mais próxima na representação de registros

bibliográficos. Algumas dessas características da Orientação a Objetos podem ser

encontradas nos conceitos dos FRBR como herança, agregação, composição,

entre outros, como será tratado nos próximos capítulos.


117

FRBR - FUNCTIONAL REQUIREMENTS


FOR BIBLIOGRAPHIC RECORDS
118

6 FRBR – FUNCTIONAL REQUIREMENTS FOR BIBLIOGRAPHIC RECORDS

Os FRBR foram criados pelo grupo de estudos da Seção de Catalogação,

Classificação e Indexação da IFLA que apresentou em 1998 um relatório final

intitulado FRBR, configurando uma recomendação para reestruturar os registros

bibliográficos de maneira a refletir a estrutura conceitual de buscas de informação,

levando em conta a diversidade de usuários, materiais, suporte físico e formatos

(MORENO; ARELLANO, 2005).

O contexto que antecede a confecção deste relatório é marcado por

pressões econômicas que conduziam as instituições para o exercício de uma

catalogação cada vez mais simplificada ou com custos cada vez mais reduzidos.

Surgiu então uma preocupação com a criação de registros bibliográficos que

reduzissem os custos da catalogação, mantendo o consenso sobre a composição

do registro e sem perder de foco a necessidade do usuário, a diversidade de

suportes da informação e os contextos de utilização dos registros bibliográficos.

Realizou-se, assim, o Seminário sobre Registros Bibliográficos, no ano de

1990 em Estocolmo. Este Seminário criou o grupo de estudos que posteriormente

definiu os requisitos funcionais para os registros bibliográficos. O objetivo era

proporcionar um entendimento claro e compartilhado sobre o que os registros

bibliográficos deveriam prover de informações, bem como, recomendar um nível

básico de funcionalidade e requisitos básicos para a elaboração dos registros. Para

isso, levou em conta toda a gama de funções para o registro bibliográfico em seu

sentido mais amplo, incluindo elementos não apenas descritivos, mas também, os
119

elementos e pontos de acesso (nome, título, assunto), que se relacionam e

organizam outros elementos (classificação), e as anotações.

Segundo a IFLA (2007), um registro bibliográfico pode ser definido como

“um conjunto de dados que estão associados a entidades descritas em catálogos

de bibliotecas e bibliografias nacionais”. São incluídos nesse conjunto de dados:

• As ISBDs;

• Elementos de dados utilizados nas posições para as pessoas,

sociedades, títulos e assuntos que funcionam como dispositivos de

depósito ou entradas de índice;

• Elementos utilizados para organizar um arquivo de registros, tais como

números de classificação;

• Anotações como resumos ou dados específicos para as cópias em

coleções de bibliotecas, tais como números de adesão e os números de

chamada.

Segundo Moreno e Arellano (2005, p. 23), no desenvolvimento dos FRBR

leva-se em consideração a diversidade de:

• Usuários: usuários da biblioteca, pesquisadores, bibliotecários da seção

de aquisição, publicadores, editores, vendedores;

• Materiais: textuais, musicais, cartográficos, audiovisuais, gráficos e

tridimensionais;

• Suporte físico: papel, filme, fita magnética, meios óticos de

armazenagem, etc. e;
120

• Formatos: livros, folhas, discos, cassetes, cartuchos, etc. que o registro

possa conter.

Os FRBR oferecem uma perspectiva da estrutura e dos relacionamentos

dos registros bibliográficos. São considerados uma nova abordagem para a

representação descritiva nos seus moldes convencionais. Isso se deve ao fato de

propiciarem uma recuperação mais efetiva e intuitiva dos Itens documentários,

relacionando todos os materiais ligados ao termo da busca, possibilitando trazê-los

de uma só vez em uma única interface. Para Campello (2006, p. 61) “utiliza uma

abordagem baseada no usuário para analisar os requisitos da descrição

bibliográfica e, a partir da análise, define de forma sistemática os elementos que o

usuário espera encontrar no registro bibliográfico”.

A proposta dos FRBR é:

Primeiro, fornecer um quadro estruturado, claramente definido, para


relacionar dados registrados em registros bibliográficos às
necessidades dos usuários destes registros. O segundo objetivo é
recomendar um nível básico de funcionalidade para registros
criados por entidades bibliográficas nacionais (IFLA, 1998, p. 07).

De acordo com Beacom (2003), o primeiro objetivo evidencia o papel

inovador dos FRBR que possibilitaria aos catálogos em linha, baseados no modelo,

mostrar as relações bibliográficas de modo mais claro e útil ao usuário. Já o

segundo objetivo propõe um nível básico de funcionalidade, baseado em análises

de entidades relatadas como necessárias para os diversos tipos de usuários.

Uma vez que cada usuário tem determinada necessidade e é preciso

atendê-las, os FRBR são projetados para ter maior aderência às tarefas genéricas

realizadas pelos usuários quando fazem buscas ou utilizam catálogos


121

bibliográficos, quais sejam, “encontrar, identificar, selecionar e obter”, chamadas de

user tasks e podem ser descritas da seguinte maneira (IFLA, 1998, p. 8; 82):

• Uso dos dados para encontrar materiais que correspondam aos critérios

estabelecidos para a busca do usuário; as entidades que correspondem

aos critérios indicados da busca do usuário, isto é, para encontrar uma

única entidade ou um conjunto de entidades em um arquivo ou base de

dados como o resultado de uma busca usando um atributo ou o

relacionamento da entidade;

• Uso dos dados recuperados para identificar uma entidade, isto é, para

confirmar que a entidade descrita corresponde à entidade procurada, ou

para distinguir entre duas ou mais entidades com características

similares;

• Uso dos dados para selecionar uma entidade adequada às

necessidades do usuário, isto é, para escolher uma entidade que vá ao

encontro das exigências do usuário em relação ao conteúdo, formato

físico, etc., ou à rejeição de uma entidade como sendo imprópria às

necessidades dos usuários e

• Uso dos dados para encomendar, adquirir, ou obter acesso à entidade

descrita, isto é, para adquirir uma entidade por meio da compra ou

empréstimo, etc., ou para alcançar eletronicamente uma entidade por

meio de uma conexão a um computador remoto.

Essas tarefas genéricas realizadas pelo usuário têm uma grande relação e

inspiração nos objetivos do catálogo propostos por Cutter (IFLA, 1998):


122

• Uso dos dados para encontrar materiais que correspondam aos critérios

estabelecidos para a busca do usuário;

• Uso dos dados recuperados para identificar uma entidade;

• Uso dos dados para selecionar uma entidade adequada às necessidades

do usuário;

• Uso dos dados para encomendar, adquirir, ou obter acesso à entidade

descrita.

Os FRBR podem ser encarados como instrumentos que favorecem as

tarefas dos usuários em um sistema de informação automatizado. São

considerados um modelo conceitual, na medida em que representam e descrevem

simplificadamente o universo bibliográfico em nível teórico. Podem servir como

base para implementação de sistemas ou bases de dados bibliográficas.

É um modelo conceitual baseado no Modelo E-R, que define uma técnica

utilizada para especificar estruturas conceituais para registros bibliográficos. Para

Moreno (2006) esse modelo conceitual objetiva reestruturar os registros

bibliográficos a fim de reorganizar os elementos por meio da análise de entidades,

atributos e relacionamentos.

O Modelo E-R incorpora uma técnica particular de diagramação que não é

utilizada nos FRBR, conhecida por Diagrama Entidade-Relacionamento, porém é

bastante útil para explicar o modelo. Nesta tese o modelo conceitual proposto para

descrever estruturas bibliográficas utilizando conceitos dos FRBR é baseado nas

técnicas do Diagrama Entidade-Relacionamento que retrata mais graficamente o

que pode ser um banco de dados baseado no modelo FRBR.


123

Um Diagrama Entidade-Relacionamento simplificado para o

relacionamento “produzido por” entre as entidades Manifestação e as entidades

Pessoa e Entidade Coletiva pode ser representado como na Fig. 27. A figura

mostra que no banco de dados gerado por meio deste modelo conceitual,

instâncias da entidade Manifestação podem estar relacionadas com um conjunto

de entidades Pessoa e Entidade Coletiva por meio do relacionamento “produzido

por”.

Figura 27 - Diagrama Entidade-Relacionamento

O diagrama da Fig. 27 é baseado nos FRBR, embora esteja muito

simplificado. O diagrama também difere dos FRBR em associar “Local_Produção”

e “Data_Produção” como atributos do relacionamento “produzido por” ao invés de


124

associar com a entidade Manifestação. Como visto, os FRBR não associam

atributo a relacionamentos, mas o modelo entidade-relacionamento o faz para

relacionamentos com cardinalidade muitos-para-muitos como no caso do

relacionamento “produzido por”. O modelo FRBR poderia assim ser descrito como

sendo baseado na teoria do modelo entidade-relacionamento, mas não seguindo

todos os aspectos que esse modelo descreve.

6.1 Diagramas FRBR

Os FRBR têm dois estilos de diagramas: um baseado em conjuntos

entidade-relacionamento e outro para instâncias específicas do modelo entidade-

relacionamento. Diagramas FRBR para entidade-relacionamento podem ser

descritos como uma versão simplificada do diagrama entidade-relacionamento

mostrado na Fig. 27, na qual as entidades são desenhadas em retângulos mas os

relacionamentos são simplesmente representados por linhas conectando os

retângulos, com a natureza do relacionamento mostrado por palavras perto das

linhas. Atributos não são mostrados nesses diagramas.

A Fig. 28 reproduz as entidades Obra, Expressão, Manifestação e Item e

os relacionamentos “é realizada por meio de”, “está contida em” e “é exemplificada

pelo”. Setas simples significam que somente uma instância de uma entidade pode

ocorrer no relacionamento. Setas duplas significam que mais de uma instância

pode ocorrer. Por exemplo, de acordo com o modelo, mais de uma instância da

entidade Item pode estar associada a uma Manifestação, mas somente uma

Manifestação pode estar associada a um Item. Visto de outra forma, uma


125

Manifestação pode ter vários Itens, mas um Item pode ser de somente uma

Manifestação.

Figura 28 – Diagrama FRBR para conjuntos entidade-relacionamento


Fonte: IFLA (2009, p. 14)

O diagrama entidade-relacionamento mostrado na Fig. 28 é baseado em

parte dos FRBR. No diagrama FRBR o mesmo relacionamento entre a entidade

Manifestação e as entidades Pessoa e Entidade Coletiva seria diagramada como

na Fig. 29.

Manifestação

Pessoa

Entidade Coletiva

Figura 29 – Diagrama FRBR de relacionamentos com conjuntos de entidades múltiplas


126

A caixa destacada em negrito em torno das entidades Pessoa e Entidade

Coletiva é um tipo de notação que significa que o relacionamento pode ser aplicado

para qualquer das entidades.

As Fig. 28 e 29 demonstram o diagrama FRBR quando usado para mostrar

conjuntos de entidades. O diagrama FRBR para instâncias particulares de uma

entidade utiliza-se de um estilo diferente, como pode ser visto na Fig. 30. Esse

esboço de diagrama mostra um relacionamento entre Manifestação e Entidade

Coletiva, o mesmo relacionamento mostrado na Fig. 27, mas com instâncias

específicas das entidades Entidade Coletiva (ec) e Manifestação (m). O tipo de

relacionamento entre as entidades nesse caso não é feito explicitamente, é

somente a indentação que mostra que o relacionamento existe. Na Fig. 30 as três

Manifestações (m1 à m3) são mostradas em posições deslocadas pra ter

relacionamento a uma particular entidade coletiva.

• ec1 Kelmscott Press

o m1 a publicação de 1891 de Poems by the Way por Willians Morris

o m2 a publicação de 1892 de The Recuyell of the Historyes of Troye de


Raoul Lefevre

o m3 a publicação 1896 de The Works of Geoffrey Chaucer

o …

Figura 30 – Diagrama FRBR de instâncias de entidades específicas

Se necessário este diagrama FRBR pode ser usado para mostrar

explicitamente o relacionamento entre instâncias de entidades, usando uma

notação de seta em torno do relacionamento expressado como uma frase. O

relacionamento “produzido por” entre a Manifestação e a Entidade Coletiva pode


127

ser mostrado como na Fig. 31. No diagrama FRBR, a seta aponta para fora da

entidade que é sujeita da frase.

• ec1 Kelmscott Press

é o produtor de →

← tem um produtor

o m1 a publicação de 1891 de Poems by the Way por Willians Morris

o m2 a publicação de 1892 de The Recuyell of the Historyes of Troye de


Raoul Lefevre

o m3 a publicação 1896 de The Works of Geoffrey Chaucer

o …

Figura 31 – Relacionamento “produzido por”

Para instância, a seta seguindo “é o produtor de” aponta para fora de

Kelmscott Press, e assim o diagrama poderia ser lido como: “Kelmscott Press é o

produtor da publicação de 1891 de Poems by the Way de William Morris” e

reciprocamente poderia ser lido “A publicação de 1891 de Poems by the Way de

William Morris tem um produtor, Kelmscott Press”.

6.2 As Entidades

As entidades são objetos do mundo real que são identificados

univocamente em relação a todos os outros objetos. As entidades que foram

definidas para os FRBR representam os objetos de interesse para os utilizadores


128

de registros bibliográficos. Dividem-se em 3 grupos que podem ser compreendidos

como:

• Grupo 1: Produto de trabalho intelectual ou artístico;

• Grupo 2: Responsáveis pelo conteúdo intelectual ou artístico, pela

produção física e disseminação ou pela guarda das entidades do

primeiro grupo e

• Grupo 3: Conjunto adicional de entidades que servem como assuntos de

Obras: conceito, objeto, evento e lugar.

6.2.1 Grupo 1

O Grupo 1 é composto pelas entidades descritas nos registros

bibliográficos. Representam os diferentes aspectos dos interesses dos utilizadores

dos produtos de natureza intelectual ou artística. São entidades do Grupo 1: Obra,

Expressão, Manifestação e Item.

Segundo a IFLA (1998, p. 12):

As entidades no primeiro grupo representam os diferentes aspectos


dos interesses dos usuários dos produtos de natureza intelectual ou
artística. As entidades definidas como obra (uma criação intelectual
ou artística distinta) e expressão (a realização intelectual ou
artística de uma obra) refletem o conteúdo intelectual ou artístico.
As entidades definidas como manifestação (incorporação física de
uma expressão de uma obra) e item (um exemplar único de uma
manifestação), por outro lado, refletem a forma física.

A Fig. 32 demonstra as entidades referentes ao Grupo 1.


129

Obra

é realizada por meio de

Expressão

é incorporada em

Manifestação

é exemplificada por

Item

Figura 32 – Entidades do Grupo 1 e relacionamentos primários


Fonte: IFLA (2009, p. 14). Tradução nossa

De acordo com a IFLA (2007), os relacionamentos representados na Fig.

32 indicam que uma Obra é uma entidade abstrata, uma criação intelectual ou

artística distinta e pode ser realizada por meio de uma ou mais Expressão, por isso

aparece a seta dupla na linha que liga a Obra à Expressão. A Expressão, por sua

vez, é a realização intelectual ou artística específica que assume uma Obra ao ser

realizada, excluindo aspectos de alteração característica física. Neste sentido,

aparece a seta única no sentido inverso da linha que une a Expressão à Obra. Uma

Expressão pode ser incorporada em uma ou mais Manifestação que é a

materialização de uma expressão de uma Obra, ou seja, seu suporte físico, que

podem ser livros, periódicos, arquivos multimídia, etc. Por fim, pode haver um ou

mais Item para exemplificar uma Manifestação, mas um Item pode exemplificar

uma e apenas uma Manifestação.

Obra e Expressão refletem o conteúdo intelectual ou artístico, ao passo

que Manifestação e Item, enquanto entidades concretas, refletem a forma física.


130

Nos FRBR, se duas versões são consideradas a mesma Obra, elas são

chamadas diferentes Expressões da mesma Obra. Se elas não são consideradas a

mesma Obra, então são chamadas Obras separadas. Essa diferenciação pode ser

visualizada na Fig. 33 que demonstra o diagrama FRBR para instâncias das

entidades Obra e Expressão.

• o1 A Fantástica Fábrica de Chocolate (filme)

o e1 a versão original em língua inglesa

o e2 a versão original com legendas em português adicionada

• o2 uma adaptação anônima de A Fantástica Fábrica de Chocolate para teatro

Figura 33 – Diagrama FRBR de instâncias de entidades para diferenciar Obra e Expressão

Os FRBR delimitam o conceito de conteúdo e suporte ao destacar que a

Manifestação e o Item são a forma material, física que contém Expressões de uma

Obra.

Em alguns casos, pode-se ter apenas um único exemplar físico


produzido desta manifestação da obra (por exemplo, um manuscrito
do autor, uma fita gravada para um arquivo de história oral, uma
pintura a óleo original, etc.). Em outros casos, há múltiplas cópias
produzidas de modo a facilitar a disseminação ou distribuição
públicas [...]. Todas as cópias produzidas que fazem parte do
mesmo conjunto são consideradas como cópias da mesma
manifestação. Os limites entre uma e outra manifestação são
determinados tanto com base no conteúdo intelectual como na
forma física. (IFLA, 1998, p. 20-21)

O Item é a exemplificação da Manifestação, que permite separar cópias

específicas de uma Manifestação, em Unidades de Informação, conhecidas por

exemplares.
131

6.2.2 Grupo 2

Este grupo de entidades contém aqueles que são responsáveis pelo

conteúdo intelectual ou artístico, pela produção física e disseminação, ou pela

guarda das entidades do primeiro grupo, ou seja, as Pessoas (entidade individual,

pessoa física) e Organizações (entidade coletiva, pessoa jurídica) que relacionam

de modo específico às entidades do Grupo 1.

Como Pessoa, entende-se aquele que é responsável pela realização ou

criação de uma Obra. A entidade Pessoa pode ser identificada por:

• Autor;

• Editor;

• Compositor;

• Artista

• Diretor;

• Interprete;

• Tradutor.

A Fig. 34 demonstra quais são as entidades do Grupo 2 e como se dá o

relacionamento com as entidades do Grupo 1:


132

Obra

Expressão

Manifestação

Item

é propriedade de
é produzido por Pessoa

é realizado por
é criado por Entidade Coletiva

Figura 34 – Entidades do Grupo 2 e relacionamentos de responsabilidade


Fonte: IFLA (2009, p. 15). Tradução nossa

Uma Obra pode ser criada por uma ou mais Pessoa e/ou Organização.

Inversamente, uma ou mais Pessoas ou uma ou mais Organizações podem criar

um ou mais tipos de Obra. Uma Expressão pode ser realizada por uma ou mais

Pessoas ou Organizações, assim como uma ou mais Pessoas ou Organizações

podem realizar uma ou mais Expressão. A Manifestação pode ser produzida por

uma ou mais Pessoa ou Organização, assim como uma ou mais Pessoas ou

Organizações podem produzir uma ou mais Manifestação. Um Item pode ser

propriedade de uma ou mais Pessoas ou Organizações, assim como uma ou mais

Pessoas ou Organizações podem possuir um ou mais Itens (IFLA, 2007).


133

6.2.3 Grupo 3

O Grupo 3 refere-se a um conjunto adicional de entidades que servem

como assuntos de Obra, como Conceito, Objeto, Evento e Lugar, entidades que

conforme a IFLA podem ser entendidas da seguinte maneir a:

• Conceito: abrange uma variedade de abstrações que podem ser objeto

de uma Obra: áreas do conhecimento, disciplinas, escolas de

pensamento (filosofias, religiões, ideologias políticas), teorias,

processos, técnicas, práticas. Um conceito pode ser de natureza ampla

ou estritamente definida e precisa;

• Objeto: abrange uma variedade de coisas materiais que podem ser

objeto de uma Obra: objetos animados e inanimados que ocorrem na

natureza, objetos fixos, móveis e objetos em movimento;

• Evento: Abrange as ações e ocorrências que podem ser objeto de uma

Obra: acontecimentos históricos, épocas, períodos de tempo;

• Lugar: Abrange uma gama completa de localidades: terrestres e extra-

terrestres, históricas e contemporâneas, características geográficas e

jurisdições geopolíticas.

A Fig. 35 apresenta as entidades do Grupo 3 se relacionando com as

entidades dos outros dois grupos.


134

Obra
Obra

Expressão
tem como assunto

Manifestação

Item

Pessoa
tem como assunto

Entidade Coletiva

Conceito

tem como assunto


Objeto

Evento

Lugar

Figura 35 – Entidades do Grupo 3 e relacionamentos de assunto


Fonte: IFLA (2009, p. 16). Tradução nossa

De acordo com a IFLA (2007), a Fig. 35 demonstra que uma Obra pode ter

um ou mais Conceitos, Objetos, Eventos e/ou Locais. Um Conceito, Objeto,

Evento e/ou Local pode ser objeto de uma ou mais Obras.


135

6.3 Os Atributos

As entidades identificadas nos FRBR estão associadas a um conjunto de

características ou atributos. São os atributos que constituem o meio pelo qual os

usuários elaboram as suas buscas, obtém e interpretam as respostas quando

procuram por uma informação.

Cada entidade contém uma lista de características que devem ser incluídas

de acordo com a relevância, que podem ser diretamente ligados à entidade ou

externos à entidade, essas características são chamadas de atributos, similares a

elementos de dados. Atributos ou metadados são como os elementos de descrição

bibliográfica propriamente ditos, por exemplo: informações da capa, na página de

rosto, número do catálogo temático, contexto em que a obra foi escrita, forma de

acesso, etc. Cada atributo da entidade torna-se um ponto de acesso para esta

entidade.

Podem-se dividir os atributos em duas categorias (BEACOM, 2003):

a) Atributos inerentes à entidade: características físicas e informações

obtidas diretamente no documento, como o tipo do suporte físico e as

informações contidas na página de rosto, por exemplo. Em geral, são

determinados através do exame da própria entidade;

b) Atributos externos à entidade: características não contidas no

documento, como por exemplo, o número no catálogo temático. Em

geral, são determinados a partir de uma fonte externa, uma referência.

Para Moreno e Arellano (2005, p. 33-34),


136

Atributos ou metadados são como os elementos de descrição


bibliográfica propriamente ditos. Nos FRBR, são categorizados de
acordo com as entidades, incluindo os mais diferentes tipos de
materiais e suas características. Abrange desde registros sonoros
tendo como atributos modalidade de captação, meio físico,
extensão do suporte, velocidade de execução (no caso de uma
manifestação), até objetos cartográficos, por exemplo, que
possuem, na expressão, como atributos: escala, projeção, técnica
de apresentação, entre outros. Um recurso eletrônico de acesso
remoto, por exemplo, apresenta como atributos as características
do arquivo, forma de acesso, endereço de acesso, e assim por
diante.

Por meio de atributo, pode-se definir as entidades, estabelecer as

distinções entre uma Obra e outra, entre uma Obra e sua Expressão, entre duas

Expressões e usar as diferenças nestes atributos para demonstrar as diferenças no

conteúdo intelectual ou artístico (IFLA, 1998).

Os atributos definidos nos FRBR para entidades foram obtidos a partir de

uma análise lógica dos dados que normalmente são refletidos nos registros

bibliográficos. As principais fontes utilizadas na análise incluiu: International

Standard Bibliographic Descriptions (ISBDs), Guidelines for Authority and

Reference Entries (GARE), Guidelines for Subject Authority and Reference Entries

(GSARE) e o Manual UNIMARC. Dados adicionais foram obtidos a partir de outras

fontes, tais como as categorias AITF Categories for the Description of Works of Art,

por meio de informações fornecidas por especialistas consultados a partir de uma

extensa revisão de estudos de usuário, e dos comentários recebidos como parte da

revisão mundial do projeto de relatório. O âmbito de aplicação de atributos

incluídos no modelo se destina ser global, mas não exaustiva (IFLA, 2009).

6.3.1 Atributos da Obra

Os atributos lógicos de uma Obra definidos nos FRBR são:


137

• Título da Obra

• Forma da Obra

• Data da Obra

• Outra característica distintiva

• Término previsto

• Público a que se destina

• Contexto da Obra

• Meio de execução (obras musicais)

• Designação numérica (obras musicais)

• Tonalidade (obras musicais)

• Coordenadas (obras cartográficas)

• Equinócio (obras cartográficas)

O atributo Título da Obra inclui todas as variações possíveis sobre o Título

e não apenas o Título uniforme. Para programar esse requisito, modelos de dados

devem ser implementados utilizando o conceito de atributo multivalorado

permitindo que no modelo lógico de dados possa ser possível instanciar mais de

um valor para o mesmo atributo conceitual.

O atributo Forma da Obra é a classe a qual a Obra pertence, podendo ser

novela, peça teatral, poema, ensaio, biografia, sinfonia, concerto, sonata, mapa,

desenho, fotografia, pintura, etc. Neste caso, associar uma entidade de tipos de

forma à Forma da Obra pode ser uma boa prática no modelo de dados do catálogo.
138

6.3.2 Atributos da Expressão

Os atributos lógicos de uma Expressão definidos nos FRBR são:

• Título da Expressão

• Forma da Expressão

• Data da Expressão

• Língua da Expressão

• Outra característica distintiva

• Expansibilidade da Expressão

• Capacidade de revisão da Expressão

• Extensão da Expressão

• Sumarização do conteúdo

• Contexto para a Expressão

• Resposta crítica à Expressão

• Restrições de uso da Expressão

• Padrão seqüencial (periódico)

• Regularidade esperada da publicação (periódico)

• Frequência esperada da publicação (periódico)

• Tipo de partitura (notação musical)

• Meio de execução (notação musical ou gravação sonora)

• Escala (imagem ou objeto cartográfico)

• Projeção (imagem ou objeto cartográfico)

• Técnica de apresentação (imagem ou objeto cartográfico)

• Medição geodésica, de malha e vertical (imagem ou objeto cartográfico)


139

• Técnica de registro (imagem por sensor remoto)

• Característica especial (imagem por sensor remoto)

• Técnica (imagem projetada ou gráfica)

Podem existir mais de um Título associado à mesma Expressão e como

descrito em relação à Obra, implementações no nível lógico devem considerar essa

característica.

O atributo Forma da Expressão está ligado a como a Obra se expressa ou

o meio pelo qual a Obra se realiza. Por exemplo, por meio de notação alfa-

numérica, notação musical, palavra falada, som musical, imagem cartográfica,

imagem fotográfica, escultura, dança, mímica, etc., podendo ser diferente da forma

da Obra e também pode ser utilizada uma entidade específica para a forma da

Expressão associada à entidade Expressão.

O atributo Língua da Expressão é a “língua em que a obra se expressa. A

Língua da Expressão pode compreender mais de uma língua, cada um

pertencendo a um componente individual da expressão” (IFLA, 2009, p. 36).

O atributo Freqüência Esperada da Expressão é a periodicidade que é

esperada da publicação serial, podendo ser semanal, mensal, anual, etc.

Tanto no atributo Língua da Expressão como Freqüência Esperada da

Expressão, podem ser utilizadas entidades associadas à entidade Expressão para

categorizar tanto a Língua quanto a Freqüência da Expressão.

6.3.3 Atributos da Manifestação

Os atributos lógicos de uma Manifestação definidos nos FRBR são:


140

• Título da Manifestação

• Indicação de responsabilidade

• Designação de edição/impressão

• Local de publicação/distribuição

• Publicador/distribuidor

• Data de publicação/distribuição

• Fabricante

• Indicação de série

• Forma do suporte

• Extensão do suporte

• Meio físico

• Modo de captura

• Dimensões do suporte

• Identificador da Manifestação

• Fonte para aquisição/autorização de acesso

• Termos de responsabilidade

• Restrições de acesso à Manifestação

• Tipo de letra (livro impresso)

• Tamanho da letra (livro impresso)

• Notação de folhas (livro de impressão manual)

• Colação (livro de impressão manual)

• Velocidade de execução (registro sonoro)

• Largura do sulco (registro sonoro)


141

• Tipo de corte (registro sonoro)

• Configuração da fita (registro sonoro)

• Tipo de som (registro sonoro)

• Característica especial da reprodução (registro sonoro)

• Condição da publicação (periódico)

• Numeração (periódico)

• Cor (imagem)

• Taxa de redução (microforma)

• Polaridade (microforma ou projeção visual)

• Geração (microforma ou projeção visual)

• Formato de apresentação (microforma ou projeção visual)

• Requisitos do sistema (recurso eletrônico)

• Característica do arquivo (recurso eletrônico)

• Forma de acesso (recurso eletrônico de acesso remoto)

• Endereço de acesso (recurso eletrônico de acesso remoto)

Os atributos nos FRBR nem sempre têm relação com os elementos de

dados num registro bibliográfico, e isso pode ser comprovado pelo atributo Título

da Manifestação que inclui todos os títulos que podem aparecer numa

Manifestação como o título da página de rosto, no quadro, na lombada bem como

aqueles que são utilizados para o propósito do controle bibliográfico como o Título-

chave, Título expandido, Título traduzido, etc., informações essas que são

encontradas nas etiquetas MARC por exemplo.

Importante esclarecer o atributo Indicação de Responsabilidade que

nomeia um ou mais indivíduos ou grupos responsáveis pela criação ou realização


142

do conteúdo intelectual ou artístico incorporado na Manifestação. Um indivíduo ou

grupo nomeado pode ser diretamente responsável pela Obra incorporada na

Manifestação (exemplo: o autor, compositor, etc.), ou indiretamente responsável

(exemplo: o autor de uma novela na qual o roteiro do filme é baseado). Outros

indivíduos ou grupos podem ser incluídos nesse atributo como: tradutores,

intérpretes, editores e compiladores. A indicação também pode abranger o papel

ou função que cada indivíduo ou grupo exerce na responsabilidade. Essa indicação

pode ser ou não a mesma utilizada nas entidades Pessoa e Entidade Coletiva que

podem estar relacionadas ao conteúdo intelectual ou artístico.

O atributo Forma de Suporte é uma classe específica de material ao qual o

suporte físico da Manifestação pertence, como fita cassete, microfilme, DVD,

transparência, podendo também estar em mais de uma forma como um CD em

separado de um livro.

O atributo Meio Físico também representa uma classe de tipos de materiais

pelo qual o suporte é produzido como papel, madeira, plástico, metal, etc.

O atributo Publicador/Distribuidor é o indivíduo, grupo ou organização

nomeada na Manifestação como sendo responsável pela publicação, distribuição,

emissão ou lançamento da Manifestação. Uma Manifestação pode estar associada

com um ou mais publicadores ou distribuidores.

O atributo Identificador da Manifestação é um número ou código que

diferencia uma instância da Manifestação de outra. Podem existir mais de um

Identificador associado a uma Manifestação. Este pode ser atribuído como parte de

uma numeração internacional ou um sistema de código como o ISBN –

International Standard Book Number (Número Padrão Internacional de Livro) ou


143

pode ser atribuído independentemente pelo publicador ou pelo distribuidor da

Manifestação.

O atributo Fonte para Aquisição/Autorização de Acesso é o nome de um

publicador, distribuidor, etc. indicado na Manifestação como fonte pela qual a

Manifestação pode ser adquirida ou por meio do qual o acesso pode ser

autorizado. Normalmente é incluído também o endereço da fonte e a Manifestação

pode estar associada a uma ou mais fontes.

O atributo Numeração define a designação do volume, edição, número,

data, etc. para publicações periódicas e podem incluir dados numéricos,

alfanuméricos e de data como volume 1, número 1, fevereiro de 2008.

6.3.4 Atributos do Item

Os atributos lógicos de um Item definidos nos FRBR são:

• Identificador do Item

• Impressão digital

• Proveniência do Item

• Marcas/inscrições

• Histórico de exibição

• Condição do Item

• Histórico de tratamento

• Plano de tratamento

• Restrições de acesso ao Item


144

O atributo Identificador do Item é um número ou código que identifica

unicamente o Item e serve para diferenciar uma instância de um Item de outra na

mesma coleção e/ou organização, como por exemplo: número de chamada,

número de acesso, número do tombo, código de barras, etc.

O atributo Condição do Item reflete as condições físicas e desvios entre a

composição do Item e o que a Manifestação exemplifica como páginas faltando ou

rasgadas, folhas escritas ou imagens desbotadas. Para normalizar, categorias de

condições podem ser definidas como uma entidade e associada ao Item.

Como visto, de acordo com a IFLA (2009), os atributos das entidades dos

FRBR exercem um papel mais amplo em relação aos registros bibliográficos,

englobando não somente elementos descritivos, mas também pontos de acesso,

elementos de organização e notas, porém não incluem os atributos associados

com as operações como a circulação ou a transformação de um Item. Os atributos

dos FRBR nem sempre são similares a padrões de metadados como o MARC, por

exemplo, podendo seus elementos estar dispersos em mais de um campo e

subcampo.

6.3.5 Atributos de Pessoa

Os atributos lógicos de uma Pessoa definidos nos FRBR são:

• Nome da Pessoa

• Datas da Pessoa

• Título da Pessoa

• Outra designação associada à Pessoa


145

O atributo Nome da Pessoa define como a pessoa é conhecida, nome e

sobrenome, apelidos, codinomes e nomes abreviados. A entidade Pessoa pode ter

mais de um nome e a Unidade de Informação pode escolher um ou mais nomes

como cabeçalho uniforme para a pessoa.

O atributo Datas da Pessoa pode incluir a data precisa ou aproximada do

nascimento e/ou morte da pessoa ou as datas indicando o período que a pessoa

esteve ativa em um dado campo da organização.

6.3.6 Atributos de Entidade Coletiva

Os atributos lógicos de uma Entidade Coletiva definidos nos FRBR são:

• Nome da Entidade Coletiva

• Número associado à Entidade Coletiva

• Local associado à Entidade Coletiva

• Data associada à Entidade Coletiva

• Outra designação associada à Entidade Coletiva

O atributo Nome da Entidade Coletiva define como a entidade coletiva é

conhecida (por exemplo, Sociedade Brasileira de Computação, Encontro Nacional

de Pesquisa em Ciência da Informação, W3C, etc.). A Entidade Coletiva pode ter

mais de um nome e a Unidade de Informação pode escolher um ou mais nomes

como cabeçalho uniforme para a entidade coletiva.


146

6.3.7 Atributos de Conceito

Os atributos lógicos de Conceito definidos nos FRBR são:

• Termo para o Conceito

O Termo para o Conceito é uma palavra, frase ou grupo de caracteres

usado para nomear ou designar o conceito (por exemplo, computação,

cristianismo, jurisprudência, etc.). Um conceito pode ser designado por mais de um

termo, ou por mais de uma forma do termo. A Unidade de Informação normalmente

seleciona um desses termos como cabeçalho uniforme, para fins de consistência

na nomenclatura e referência do conceito. Os outros termos ou formas do termo

podem ser tratados como termos variantes do conceito.

6.3.8 Atributos de Objeto

Os atributos lógicos de Objeto definidos nos FRBR são:

• Termo para o Objeto

O Termo para o Objeto é uma palavra, frase ou grupo de caracteres usado

para nomear ou designar o objeto (por exemplo, um computador, um edifício, etc.).

Um objeto pode ser designado por mais de um termo, ou por mais de uma forma

do termo. A Unidade de Informação normalmente seleciona um desses termos

como cabeçalho uniforme, para fins de consistência na nomenclatura e referência


147

do objeto. Os outros termos ou formas do termo podem ser tratados como termos

variantes do objeto.

6.3.9 Atributos de Evento

Os atributos lógicos de Evento definidos nos FRBR são:

• Termo para o Evento

O Termo para o Evento é uma palavra, frase ou grupo de caracteres usado

para nomear ou designar o evento (por exemplo, viagem, olimpíada, etc.). Um

evento pode ser designado por mais de um termo, ou por mais de uma forma do

termo. A Unidade de Informação normalmente seleciona um desses termos como

cabeçalho uniforme, para fins de consistência na nomenclatura e referência do

evento. Os outros termos ou formas do termo podem ser tratados como termos

variantes do evento.

6.3.10 Atributos de Lugar

Os atributos lógicos de Lugar definidos nos FRBR são:

• Termo para o Lugar

O Termo para o Lugar é uma palavra, frase ou grupo de caracteres usado

para nomear ou designar o lugar (por exemplo, São Paulo, Sul da Itália, etc.). Um
148

local pode ser designado por mais de um termo, ou por mais de uma forma do

termo. A Unidade de Informação normalmente seleciona um desses termos como

cabeçalho uniforme, para fins de consistência na nomenclatura e referência do

lugar. Os outros termos ou formas do termo podem ser tratados como termos

variantes do lugar.

6.4 Os Relacionamentos

É por meio dos relacionamentos que se estabelece o vínculo entre uma

entidade e outra. São eles também que auxiliam o usuário a navegar pelo universo

representado em uma bibliografia, um catálogo ou uma base de dados bibliográfica

(IFLA, 1998).

O que ocorre é que o usuário elabora uma pergunta utilizando um ou mais

atributos da entidade que procura. Através desses atributos o usuário localiza a

entidade.

Os relacionamentos refletidos no registro bibliográfico proporcionam


informação adicional que ajudam o usuário a fazer novas conexões
entre a entidade encontrada e outras entidades que se relacionam
com aquela entidade (IFLA, 1998, p. 56).

As relações refletidas no registro bibliográfico possibilitam uma informação

adicional ao usuário, auxiliando-o a estabelecer conexões entre a entidade

encontrada e outras entidades relacionadas com a mesma. Os relacionamentos

servem como veículo para descrever ligações entre uma entidade e outra.
149

6.4.1 Relacionamentos de Alto Nível

Os diagramas das Fig. 32, 34 e 35 mostram relacionamentos lógicos entre

entidades de alto nível de generalização no modelo. Os relacionamentos

mostrados nestes diagramas indicam como em um nível lógico os diferentes

conjuntos de entidades no modelo estão associados com outro conjunto de

entidades, por exemplo, como Obras estão conectadas com Expressões, como

eles estão conectados com Pessoas e Entidades Coletivas, etc., e a linha rotulada

como “realizada por meio de” que liga Obra com Expressão indica em termos

gerais que a Obra é realizada por meio de uma Expressão (IFLA, 2009).

Na Fig. 32 nota-se que embora as relações entre Obra, Expressão,

Manifestação e Item estejam representadas no diagrama de uma forma

segmentada, logicamente essas entidades operam como uma cadeia contínua.

Isso quer dizer que o relacionamento Obra e Expressão continua no

relacionamento entre Expressão e Manifestação e os dois relacionamentos

posteriormente continuam no relacionamento entre Manifestação e Item. Assim,

quando um relacionamento é feito entre uma Expressão e uma Manifestação que

incorpora a Expressão, a Manifestação é, ao mesmo tempo, logicamente ligada à

Obra que é realizada por meio da Expressão, uma vez que a Expressão tem sido

associada à Obra que ela realiza.

Os relacionamentos de responsabilidade associam as entidades do Grupo

1 às entidades do Grupo 2: Pessoa e Entidade Coletiva. Essas entidades podem

criar uma Obra, realizar uma Expressão, produzir uma Manifestação e possuir um

Item. Esses relacionamentos têm diversas funções no modelo de dados

bibliográfico:
150

O relacionamento “é criado por” pode ligar uma obra a uma pessoa


responsável pela criação do conteúdo intelectual ou artístico da
obra; também pode ligar uma obra a uma entidade coletiva
responsável pela obra. A ligação lógica entre uma obra e uma
pessoa ou entidade coletiva serve como base para identificação de
ambas, a pessoa ou a entidade coletiva responsável por uma obra
individual e para assegurar que todas as obras de uma pessoa ou
entidade coletiva estejam ligadas àquela pessoa ou entidade
coletiva (IFLA, 2009, p.59).

Os relacionamentos de assuntos (Fig. 35) definem como as entidades dos

três grupos estão ligadas à Obra. Uma Obra pode ter como assunto uma ou mais

Obra, Expressão, Manifestação e Item, como também pode ter como assunto ou

mais Pessoa e Entidade Coletiva e finalmente pode ter como assunto as entidades

específicas como assunto: Conceito, Evento, Objeto e Lugar.

O relacionamento “tem como assunto” indica que algumas das


entidades no modelo, incluindo a própria obra, podem ser assunto
de uma obra. Dito em termos levemente diferentes, o
relacionamento indica que a obra pode ser sobre um conceito, um
objeto, um evento ou lugar; pode ser sobre uma pessoa ou
entidade coletiva. A ligação lógica entre uma obra e um assunto
relacionado serve como base para identificação tanto do assunto de
uma obra individual quanto para assegurar que todas as obras
relevantes a um dado assunto estão ligadas aquele assunto (IFLA,
2009, p.61).

6.4.2 Relacionamentos Complementares entre as Entidades do Grupo 1

No relatório dos FRBR no item 5.3 da pág. 61 dá uma visão geral de

relacionamentos complementares entre as entidades do Grupo 1 que não são

descritos nos relacionamentos de alto nível vistos anteriormente. Esses

relacionamentos complementares identificam os principais tipos de

relacionamentos que operam entre instâncias do mesmo tipo de entidade e entre

tipos diferentes e incluem exemplos de tipos específicos de entidades que são

envolvidos em cada tipo de relacionamento, cabe ressaltar que nem todos os tipos
151

de relacionamentos complementares que podem existir entre as entidades do

Grupo 1 são necessariamente relacionados neste item dos FRBR.

Esses relacionamentos bibliográficos entre as entidades FRBR do Grupo 1

foram influenciados pelos estudos de Barbara B. Tillett na dissertação intitulada

“Bibligraphic Relationships: Toward a Conceptual Structure of Bibliographic

Information Used in Cataloging”. Seus resultados estão presentes em uma série de

artigos8 e tem sido base para pesquisas subseqüentes9 que definem uma

taxonomia para relacionamentos bibliográficos que estabelece que o universo

bibliotecário pode ser classificado em sete diferentes tipos de relacionamentos

(MAXWELL, 2008):

• Relacionamentos de equivalência

• Relacionamentos derivativos

• Relacionamentos descritivos

• Relacionamentos todo-parte

• Relacionamentos de acompanhamento

• Relacionamentos seqüenciais

• Relacionamentos de característica compartilhada

8
TILLETT, B. A taxonomy of bibliographic relationships. Library Resources and Technical
Services, 35, n. 2, 1991, p. 150-158.
TILLETT, B. A summary of the treatment of bibliographic relationships in cataloging rules. Library
Resources and Technical Services, 35, n. 4, 1991, p. 393-405.
TILLETT, B. The history of linking devices. Library Resources and Technical Services, 36, n. 1,
1992, p. 23-36.
TILLETT, B. Bibliographic relationships: an empirical study of the LC Machine-Readable Records.
Library Resources and Technical Services, 36, n. 2, 1992, p. 162-168.
9
VELLUCCI, S. L. Bibliographic relationships. International Conference On The Principles And
Future Development Of AACR. Toronto: American Library Association: Library Association
Publishing, 1998. p.105-147.
152

6.4.2.1 Relacionamentos de Equivalência

O relacionamento de equivalência acontece entre um recurso e as cópias

exatas do mesmo recurso, desde que haja o mesmo conteúdo artístico ou

intelectual. O relacionamento de equivalência existe entre as várias Manifestações

de uma Expressão de uma Obra e nos FRBR este relacionamento é chamado de

“relacionamento manifestação-para-manifestação” (IFLA, 2009, p.73).

Por definição, todas as Manifestações de uma Expressão particular têm

entre si relacionamentos de equivalência.

• o1 livro Harry Potter de J. K. Rowling

o e1 o texto original em Inglês do autor

 m1 a publicação de 1997 Londres de Bloomsbury intitulado Harry


Potter and the Philosopher’s Stone

 m1 a publicação de 1998 Nova Iorque de Arthur A. Levine


intitulado Harry Potter and the Sorcerer’s Stone

 m1 a publicação de 1999 Londres de Bloomsbury intitulado Harry


Potter and the Philosopher’s Stone

Figura 36 – Diagrama FRBR de instâncias de entidades para diferenciar Obra e Expressão

O diagrama da Fig. 36 mostra instâncias das Manifestações de uma

mesma Expressão de uma Obra.

6.4.2.2 Relacionamentos Derivativos

Os relacionamentos derivativos acontecem entre um recurso e um outro

recurso que é baseado no primeiro, cujo o original foi modificado de uma certa
153

forma. Dois recursos podem estar relacionados por um relacionamento derivativo

desde que sejam da mesma Obra como, por exemplo, uma nova edição.

Semelhante à relação horizontal no formato MARC, nos FRBR esses

relacionamentos podem ser esquematizados entre diferentes Expressões da

mesma Obra.

O mesmo diagrama mostrado na Fig. 36 pode ser abstraído como na Fig.

37.

• o1 livro Harry Potter de J. K. Rowling

o e1 o texto original em Inglês do autor

 m1 a publicação de 1997 Londres de Bloomsbury intitulado Harry


Potter and the Philosopher’s Stone

 m2 a publicação de 1999 Londres de Bloomsbury intitulado Harry


Potter and the Philosopher’s Stone

o e2 o texto original em Inglês do autor revisado pela publicação American

 m1 a publicação de 1998 Nova Iorque de Arthur A. Levine


intitulado Harry Potter and the Sorcerer’s Stone

Figura 37 – Relacionamento derivativo do tipo revisão (Expressão relacionada)

Neste caso, a Obra revisada é vista como uma nova Expressão e então

acontece um relacionamento derivativo da Obra original. Essa possibilidade é

gerada devido ao caráter subjetivo de conceituar a modificação de uma Obra

possibilitando a existência de dois cenários, ficando, assim, a critério do

catalogador tomar essa decisão.

Nos FRBR, relacionamentos derivativos são discutidos em várias

situações, não são chamados de relacionamentos derivativos, mas são

encontrados em subcategorias de relacionamentos “obra-a-obra” (IFLA, 2009, p.


154

63), relacionamentos “expressão-a-expressão” (IFLA, 2009, p. 70) e

relacionamentos “expressão-a-obra” (IFLA, 2009, p. 73).

Nos relacionamentos “obra-a-obra”, “expressão-a-expressão” entre

expressões de diferentes obras ou “expressão-a-obra” são encontrados as

subcategorias (MAXWELL, 2008):

• Sumarização

• Adaptação (Fig. 38)

• Transformação

• Imitação

• o1 Don Giovanni de W. A. Mozart

tem uma adaptação →

← é uma adaptação de

• o2 filme Don Giovanni de Joseph Losey

Figura 38 – Relacionamento derivativo do tipo adaptação (obra relacionada)

Nos relacionamentos “expressão-a-expressão” entre Expressões da

mesma Obra:

• Resumo

• Revisão (Fig. 37)

• Tradução

• Arranjo (música)
155

6.4.2.3 Relacionamentos Descritivos

Os relacionamentos descritivos acontecem entre uma Obra e uma outra

Obra que a descreve. Relaciona uma entidade bibliográfica e uma descrição, crítica

ou revisão dessa entidade como, por exemplo, o comentário ou a crítica de uma

Obra (MORENO, 2006).

Nos FRBR acontece entre as entidades do Grupo 3 (assunto), lembrando

que o Grupo 3 inclui todas as entidades dos Grupos 1 e 2 bem como conceitos,

objetos, eventos e lugares, e uma entidade do Grupo 1 (MAXWELL, 2008). No item

Relacionamentos de Assunto (IFLA, 2009), pode ser encontrada uma referência

aos relacionamentos descritivos e a Fig. 39 mostra relacionamentos descritivos de

uma Obra.

• o1 Gone with the Wind (filme)

é um assunto de →

← tem um assunto

o o2 On the Road to Tara

o o3 Gone with the Wind on Film

Figura 39 – Diagrama FRBR demonstrando um relacionamento descritivo

Neste diagrama os filmes On the Road to Tara e Gone with the Wind on

Film tem um relacionamento descritivo com o filme Gone with the Wind.

Relacionamentos descritivos podem acontecer nas subcategorias

“suplemento” e “sumarização” de uma Obra.


156

6.4.2.4 Relacionamentos Todo-Parte

Os relacionamentos todo-parte são aqueles que ocorrem entre um recurso

e suas partes. O relacionamento inclui divisões que são consideradas Obras

singulares como, por exemplo, o relacionamento entre um prefácio ou um capítulo

de uma Obra completa. Ocorre também em obras agregadas e suas partes como,

por exemplo, o relacionamento entre uma monografia e suas séries. No formato

MARC tem semelhança com o relacionamento vertical (IFLA, 2009).

Os FRBR apresentam esse relacionamento nos níveis de Obra, Expressão,

Manifestação e Item. O Quadro 1 mostra o relacionamento todo-parte no nível de

Obra.

Quadro 1 – Relacionamentos todo-parte no nível da Obra

Tipo do Parte Dependente Parte Independente


Relacionamento

Todo-Parte Capítulo, Seção, Parte, etc. Monografia em uma série


tem parte → Volume/assunto de série Artigo de Revista
← é parte de Parte intelectual de uma obra Parte intelectual de uma
multipartes. obra multipartes.
Ilustração para um texto
Aspecto sonoro de um filme

Fonte: Traduzido de IFLA (2009, p. 67)

Como mostrado no Quadro 1, existem duas categorias nos

relacionamentos todo-parte no nível de Obra: os envolvendo partes independentes

e aqueles envolvendo partes dependentes.

A seguir, a Fig. 40 mostra o relacionamento todo-parte de uma Obra

(Bíblia) com suas partes (livros do Velho Testamento), esse relacionamento é do


157

tipo independente no qual quase sempre tem em suas partes nomes ou títulos

distintos da Obra principal e que não dependem do todo para ter algum significado

no contexto da Obra principal.

• o1 Bíblia

tem parte →

← é parte de

o o2 Livro de Gênesis

o o3 Livro de Êxodo

o …

Figura 40 – Relacionamento todo-parte no nível de obra com partes independentes

No Quadro 2 é mostrado o relacionamento todo-parte no nível de

Expressão.

Quadro 2 – Relacionamentos todo-parte no nível da Expressão

Tipo do Relacionamento Parte Dependente Parte Independente

Todo-Parte Tabela de conteúdos, etc. Monografia em uma série


tem parte → Volume/assunto de série Artigo de Revista
← é parte de Ilustração para um texto Parte intelectual de uma
obra multipartes.
Aspecto sonoro de um
filme
Emenda

Fonte: Traduzido de IFLA (2009, p. 71)

O relacionamento todo-parte no nível de Expressão acontece da mesma

forma que no nível da Obra, porém acontecem com partes que formam uma

Expressão.
158

No Quadro 3 é mostrado o relacionamento todo-parte no nível de

Manifestação.

Quadro 3 – Relacionamentos todo-parte no nível da Manifestação

Tipo do Relacionamento Manifestação

Todo-Parte Volume de uma manifestação


multivolume
tem parte →
Trilha sonora de um filme em
← é parte de
mídias separadas
Trilha sonora de um filme
incorporado em um filme

Fonte: Traduzido de IFLA (2009, p. 75)

Um conteúdo físico representado por uma Manifestação pode ser dividido

em mais de uma unidade ou suporte físico. Por exemplo, um manual de instrução

acompanhando um CD ROM seria um componente de uma Manifestação ou um

CD ROM com exemplos de código-fonte que vem com um livro de programação de

computadores.

Finalmente, o Quadro 4 mostra o relacionamento todo-parte no nível do

Item.

Quadro 4 – Relacionamentos todo-parte no nível de Item

Tipo do Relacionamento Item

Todo-Parte Componente físico da cópia


tem parte → Vínculos de um livro
← é parte de

Fonte: Traduzido de IFLA (2009, p. 78)


159

Partes de Itens podem ser componentes discretos ou partes integrantes.

Um componente discreto é um pedaço separável fisicamente que faz parte do Item

como um todo. Por exemplo, uma cópia de uma Manifestação particular pode

consistir em dois volumes separados, cada um desses volumes pode participar de

um relacionamento todo/parte com a cópia da peça como um todo.

Uma parte integrante de um Item é aquele que é normalmente considerado

fisicamente inseparável do Item. As partes de um livro, por exemplo, são

considerados partes integrantes. Assim, pode a capa de um CD-ROM, que,

embora, na realidade, seja um pedaço físico separado, não seja normalmente visto

como uma parte separada.

6.4.2.5 Relacionamentos de Acompanhamento

Os relacionamentos de acompanhamento são os que ocorrem entre uma

entidade e outra que a acompanha. Em alguns casos uma entidade é

predominante e a outra é subordinada a esta, como entre um texto e seu

complemento.

Os FRBR apresentam este tipo de relacionamento nas subcategorias

suplemento e complemento nos níveis de Obra a Obra (Tabela 5.1 de IFLA, 2009,

p. 63), Expressão a Expressão (Tabela 5.4 de IFLA, 2009, p. 70) e Expressão a

Obra (Tabela 5.6 de IFLA, 2009, p. 73).


160

6.4.2.6 Relacionamentos Sequenciais

Os relacionamentos sequenciais acontecem entre entidades que continuam

ou que precedem outras entidades. Nos FRBR são chamados relacionamentos do

tipo “sucessor” nos níveis de Obra a Obra (Tabela 5.1 de IFLA, 2009, p. 63),

Expressão a Expressão (Tabela 5.4 de IFLA, 2009, p. 70) e Expressão a Obra

(Tabela 5.6 de IFLA, 2009, p. 73). Ocorrem entre as várias partes de uma série

numerada ou periódicos, semelhante ao relacionamento cronológico no formato

MARC.

Itens individuais de um periódico têm um relacionamento sequencial entre

eles e também um relacionamento todo-parte ao periódico como mostrado na Fig.

41.

• o1 Scientific American

o o1.1 vol. 295, no. 4 (Out. 2006)

tem um sucessor →

← é um sucessor para

o o1.2 vol. 295, no. 5 (Nov. 2006)

tem um sucessor →

← é um sucessor para

o o1.3 vol. 295, no. 6 (Dez. 2006)

tem um sucessor →

← é um sucessor para

o ...

Figura 41 – Relacionamento sequencial (serial issues)


Fonte: Maxwell (2008, p. 102)
161

6.4.2.7 Relacionamentos de Característica Compartilhada

Recursos bibliográficos que não tem nenhum dos relacionamentos

descritos anteriormente, mas que compartilham autor, título, assunto ou outra

característica mantém entre si relacionamentos de característica compartilhada.

Essas características podem ter algo que um usuário de uma biblioteca

pode querer buscar – incluindo data da publicação, local da publicação, publicador,

idioma, características físicas, conteúdo, etc.

Relacionamentos de característica compartilhada não são explicitamente

mencionados nos FRBR como um tipo de relacionamento. Os FRBR contêm

implicitamente certas características desse relacionamento quando discute como

as entidades do Grupo 2 podem estar ligadas às entidades do Grupo 1 por quatro

tipos de relacionamentos: “criado por” relacionado a Obras, “realizado por”

relacionado a Expressões, “produzido por” relacionado a Manifestações e

“propriedade de” relacionado a Itens (MAXWELL, 2008, p. 106).

Na Fig. 42, o relacionamento “criado por” é um relacionamento de

característica compartilhada na qual as obras compartilham um autor em comum.

Por exemplo, um usuário pode procurar por todas as obras de Jorge Amado.

• p1 Jorge Amado

o o1 Tieta do Agreste

o o1.2 Gabriela, cravo e canela

o o1.3 Dona Flor e seus dois maridos

o ...

Figura 42 - Relacionamento de característica compartilhada (“criado por”)


162

Relacionamentos de assunto são relacionamentos de característica

compartilhada na qual as Obras não relacionadas são relacionadas pelo fato delas

terem um assunto em comum. Os FRBR chamam isto de relacionamento “tem

como assunto”. Este relacionamento permite ao usuário identificar pelo assunto

todas as obras relevantes em uma dada coleção e selecionar aquela que atenda as

suas necessidades (MAXWELL, 2008). No caso da Fig. 43 o usuário pode buscar

todas as obras do assunto “Música de Filme”.

• a1 Música de Filme

é o assunto de →

← tem como assunto

o o1 Accidentally in Love (Shrek)

o o2 Lion Sleeps Tonight (Rei Leão)

o o3 My Own Summer (Matrix)

o ...

Figura 43 – Relacionamento de característica compartilhada (assunto)

6.5 FRAD - Functional Requirements for Authority Data

Em 1998, a Division of Bibliographic Control e o Universal Bibliographic

Control e o International MARC Program da IFLA nomeou o grupo de trabalho

Functional Requirements and Numbering of Authority Records (FRANAR). Um dos

três encargos do Grupo de Trabalho era “definir requisitos funcionais de registros

de autoridade, continuando o trabalho dos FRBR” (IFLA, 2009). O Grupo de


163

Trabalho preparou vários resumos de um modelo conceitual que define esses

requisitos funcionais. Em 2003, o modelo era denominado FRANAR, como o nome

do grupo de estudos (PATTON, 2003). Em 2005, a primeira versão preliminar do

modelo, então chamado Functional Requirements for Authority Records (FRAR) foi

disponibilizado para revisão e renomeado para Functional Requirements for

Authority Data (FRAD) (MORENO, 2009).

O modelo conceitual que o Grupo de Trabalho desenvolveu pode ser

melhor descrito como: Entidades no universo bibliográfico, como os identificados no

FRBR, são conhecidos por nomes e/ou identificadores. No processo de

catalogação esses nomes e identificadores são usados como base para a

construção de pontos de acesso controlados.

Simplificando, no FRAD, uma entidade bibliográfica como uma Obra, uma

pessoa ou objeto é “conhecido por” um nome e/ou identificador; por sua vez, o

nome e/ou identificador é a “base para” um ponto de acesso controlado, isto como

uma entidade FRAD. Por sua vez, um ponto de acesso controlado pode ser

“registrado em” um registro de autoridade, outra entidade FRAD. Esse conceito é

representado na Fig. 44.


164

Entidades Bibliográficas

é conhecido por
Nome

Identificador

é a base para
Ponto de Acesso
Controlado

é registrado em
Registro de
Autoridade

Figura 44 – Base fundamental para o FRAD.


Fonte: Baseado em IFLA (2007a, p. 4 e 63)

6.5.1 Entidade Nome

O modelo FRAD não inclui “Título” como um atributo da Obra, Expressão

ou Manifestação. Isto acontece porque o FRAD trata o “Nome” ou “Título” da Obra,

Expressão ou Manifestação como uma entidade separada dentro do modelo. A

entidade Nome é ligada às entidades Obra, Expressão ou Manifestação no FRAD

por meio de um relacionamento “conhecido por”, isto é, a Obra, Expressão ou

Manifestação é “conhecida por” um ou mais Nomes. A entidade Nome no FRAD

contém vários atributos, incluindo “Tipo do nome”, definido como a categoria do


165

nome, por exemplo, nome pessoal ou nome corporativo. No caso do nome de uma

Obra, o tipo do nome seria “Título da Obra” (Fig. 45).

Obra

é conhecida por
Nome

é base para
Ponto de Acesso Controlado

é registrado em
Registro de Autoridade

Figura 45 – Relacionamento da Obra com outras entidades FRAD

6.5.2 Entidade Identificador

O modelo FRAD define também a Entidade Identificador que é definida

como “um número, código, palavra, frase, logo, dispositivo, etc. que é associada

unicamente com uma entidade, e serve para diferenciar que esta entidade de

outras entidades dentro do domínio no qual o identificador está associado” (IFLA,

2007a, p. 13).
166

Item

é especificado por
Identificador

é base para
Ponto de Acesso Controlado

é registrado em
Registro de Autoridade

Figura 46 – Relacionamento do Item com outras entidades FRAD

Um número de código de barras, por exemplo, é um número que identifica

unicamente uma entidade como o Item (Fig. 46), entretanto a entidade Identificador

do FRAD pode estar relacionada a qualquer entidade FRBR para identificá-la

unicamente.

O grupo também desenvolveu tarefas do usuário, à semelhança das

encontradas nos FRBR (IFLA, 2007a, p. 50) e definiu qual o grupo de usuários a

que se destinam os dados de autoridade.

Para os propósitos desta análise, os usuários de dados de


autoridade são amplamente definidos a fim de incluir:
- criadores de dados de autoridade que criam e mantém arquivos
de autoridade;
- usuários que utilizam informação de autoridade através de acesso
direto aos arquivos de autoridades ou indiretamente através do
ponto de acesso controlado (formas autorizadas, referências, etc.)
em catálogos, bibliografias nacionais, outras bases de dados
similares, etc.

Segundo Patton (2009), no FRAD, do mesmo modo como no modelo

FRBR, as entidades, atributos e relacionamentos foram mapeados em consonância


167

com as tarefas do usuário, com o objetivo de explicar como os dados de autoridade

apóiam cada tarefa específica do usuário.

Ainda, o autor destaca que os FRAD já têm sido incorporados no

International Cataloguing Principles (ICP) e no RDA.

As tendências futuras mostram os FRBR com um conceito acima dos

códigos e normas, entretanto são baseados nelas, como as ISBDs e como forma

de revisão de formatos como o MARC, isso os torna possíveis de expansão e como

objeto de pesquisa na área da catalogação e provavelmente gerará um grande

impacto no futuro da organização do conhecimento.


168

O USO DA MODELAGEM CONCEITUAL DE DADOS


NO PROCESSO DE CATALOGAÇÃO: UMA
PROPOSTA BASEADA NOS FRBR
169

7 O USO DA MODELAGEM CONCEITUAL DE DADOS NO PROCESSO DA

CATALOGAÇÃO: UMA PROPOSTA BASEADA NOS FRBR

A principal função dos modernos profissionais da informação está na

mediação da informação entre os ambientes informacionais e os usuários. Nesse

sentido, justifica-se a visão de Araújo e Freire (1999, p. 10):

[...] na Era do Conhecimento, cabe a nós, profissionais da


informação, esse papel de mediador dos discursos, aproximando
produtores e usuários do conhecimento [...]. E precisamos fazê-lo
de tal forma que a consciência dos receptores seja respeitada em
seus limites e aproveitada em suas possibilidades: além da
organização do conhecimento em sistemas, nosso campo de
atuação abrange a análise e a reformulação dos conteúdos da
informação. Isso significa um maior envolvimento não somente com
o fazer, com a prática profissional, com o conhecimento em si dos
conceitos e tecnologias disponíveis na Ciência da Informação e
áreas correlatas — significa uma profunda interação com o usuário
final.

A metodologia usada nesta pesquisa é derivada do conceito da

catalogação vista como um processo subdividido em duas fases:

1) O projeto do catálogo: fase em que o catalogador baseado em

necessidades e requisitos informacionais define as estruturas dos

objetos e elementos de representação e seus relacionamentos;

2) A descrição do objeto documentário: fase em que o catalogador realiza a

entrada de dados em um registro baseado em um padrão de metadados

e a definição dos pontos de acesso deste registro com base em normas

de catalogação.

Com base na questão apresentada por Santos (1995, p.35), a seguir:


170

É preciso concentrar esforços para que a disciplina Representação


Descritiva deixe de ser encarada como um recurso meramente
técnico da Biblioteconomia, em que o treino da redação de fichas
catalográficas serão suficientes para capacitar um profissional ao
desempenho de sua função em um sistema de informação.
Providências imediatas são necessárias para modernizar e
expandir o preparo do bibliotecário no que se refere a catalogação.
É importante que se pense na reformulação do conteúdo e da
metodologia da disciplina de Representação Descritiva, para ser
assimilada de forma coerente pelo aluno. É preciso que ele
compreenda o papel da catalogação e conheça sua relação e inter-
relação no contexto informacional de um sistema. É necessário,
enfim, se desmistificar a idéia de que o fazer da catalogação seja
um produto absoluto e completo que se encerra nele mesmo.

Esta pesquisa contempla a reflexão da extensão do processo de

catalogação no que tange a etapa de projeto de um catálogo, no qual o profissional

da informação detém as competências necessárias para, com seus conhecimentos

prévios da disciplina de representação tradicional, planejar e implementar modelos

de dados, utilizando-se de métodos conceituais de modelagem.

Diante disso, apresenta-se o conceito de projeto de catálogo contemplando

métodos e regras já estabelecidas na área da representação da informação sob os

aspectos e requisitos dos FRBR e FRAD, somados a modelos oriundos da área da

Ciência da Computação que estudam o tratamento da informação no âmbito

conceitual, lógico e de persistência.

7.1 Bases Para o Projeto de um Catálogo

A catalogação tem como objetivos principais a descrição e a recuperação

dos Itens bibliográficos em ambiente centralizado ou interoperável. Neste sentido,

para atender esses objetivos, comumente são utilizadas as regras de catalogação


171

(e.g. AACR2) e os padrões de metadados (e.g. MARC) como requisitos

informacionais básicos para construção dos catálogos (Fig. 47).

Figura 47 – Requisitos básicos de um catálogo

O MARC21 é utilizado atualmente como formato padrão para

gerenciamento de acervo eletrônico e intercâmbio entre bancos de dados

bibliográficos. A entrada de dados em um registro MARC e a definição dos pontos

de acesso deste registro são baseadas nas normas de catalogação do AACR2.

Desta forma, o MARC tem fornecido a maioria dos requisitos para construção de

catálogos digitais de softwares bibliográficos.

O uso de códigos na catalogação para o desenvolvimento de uma


forma de representação bibliográfica e catalográfica aceita
universalmente é baseada em regras, sendo recomendado o uso
do AACR2. Tais regras têm por objetivo facilitar a construção da
representação de documentos para a alimentação de bases de
dados e catálogos (SIQUEIRA, 2003, p. 37).

E, portanto, esta pesquisa toma como padrão de regras de catalogação o

AACR2 e como padrão de representação de metadados o MARC21.

O profissional que projeta um catálogo tem como fontes básicas das

necessidades informacionais do ambiente informacional e seu acervo:


172

• A Representação Descritiva;

• A Definição dos Pontos de Acesso;

• A Definição dos Dados de Localização.

Baseado nesses requisitos funcionais, o projetista do catálogo define,

então, os elementos que farão parte dos metadados do catálogo (Fig. 48).

Figura 48 – Fontes das necessidades informacionais um catálogo

Independente de o profissional catalogador participar do processo de

construção do banco de dados do ambiente digital, esses elementos de descrição,

acesso e localização terão que ser representados neste banco de dados e, para

isto, o profissional da computação utilizará esses elementos como base para a

construção do modelo de dados (Fig. 49).


173

• Elementos de descrição, acesso e localização


• Padrões de metadados
Requisitos • FRBR e FRAD

• Modelo Entidade-Relacionamento
Modelagem • Modelo Orientado a Objetos
de Dados

• Banco de Dados Relacional


Catálogo
Digital

Figura 49 – O projeto de um catálogo digital

Excluindo as etapas de modelagem lógica e física do banco de dados, na

construção de um catálogo digital que utiliza como suporte um banco de dados

relacional, a especificação conceitual (Modelagem Conceitual) da representação

dos elementos de descrição, acesso e localização deve fazer parte do processo de

construção do projeto do catálogo.

7.2 Aplicação da Modelagem Conceitual no Projeto de Catálogos

Normalmente o processo de catalogação não considera a representação

conceitual dos elementos que farão parte dos metadados do catálogo, ficando a

critério de um profissional da Ciência da Computação fazer o mapeamento dos


174

elementos definidos pelo catalogador numa estrutura conceitual de entidade,

atributos e relacionamentos entre os Itens bibliográficos.

É na Modelagem Conceitual que se desenvolvem modelos de

representação das informações de um domínio como um acervo físico ou digital e

esta idéia é compartilhada por outros autores dentro da área da Ciência da

Informação.

Segundo Delsey (1997, p.1), “num nível teórico e prático, vários estudiosos

especulam o desejo de (re)conceituar as estruturas utilizadas para registrar e

armazenar dados bibliográficos com uma visão de exploração das tecnologias

atualmente disponíveis”.

A Modelagem Conceitual pode auxiliar e melhorar o processo de

desenvolvimento de ambientes informacionais digitais baseados no conceito de

catalogação e a sua utilização nos FRBR corroborou essa idéia, como afirma

Delsey (1997, p.3) “nos ajudar a reexaminar os princípios fundamentais que estão

por trás do código de catalogação e a fixar direções para seu desenvolvimento

futuro”.

Métodos de modelagem desempenham um papel importante como recurso

metodológico para as áreas que têm fenômenos ligados à informação e conforme

Burt & Kinnucan (1990), profissionais da Ciência da Informação podem encontrar

nas técnicas de modelagem um mecanismo útil para capturar e comunicar seus

conhecimentos sobre fontes de informação e sobre padrões de comportamento de

quem busca informação.

Levando em consideração os processos da Modelagem Conceitual de

Dados, a utilização somente de regras de catalogação como o AACR2 e/ou de um

padrão de metadados como o MARC21, para modelar a estrutura conceitual e de


175

persistência de um banco de dados de um sistema informatizado de catalogação,

pode levar a algumas anomalias de informação como por exemplo:

• Redundância de dados;

• Inconsistência de dados;

• Anomalia de exclusão;

• Anomalia de inclusão;

• Anomalia de modificação.

Isso ocorre porque padrões de metadados como o formato MARC têm uma

estrutura linear em suas estruturas de registros, ou seja, um modelo bidimensional

de atributo-valor e determinam o formato de entrada e de intercâmbio de dados,

sem determinar o conceito de domínio dos objetos representados com seus

relacionamentos.

A forma de representação dos elementos de representação de Itens

bibliográficos influencia a qualidade da informação nos processos de

armazenamento, busca e recuperação dessas informações, e deve, portanto, fazer

parte do processo de construção de catálogos digitais. A utilização de um padrão

de metadados que tem como principal objetivo a entrada de dados e a

interoperabilidade e não considera questões de qualidade de persistência da

informação e, por isso, muitos ambientes digitais de informação que foram

baseados somente nesses padrões apresentam problemas tanto nos processos de

manipulação de dados quanto na recuperação das representações dos Itens

bibliográficos.
176

Com objetivo de desenvolver um ambiente informacional que atenda as

necessidades informacionais de usuários e unidades de informação e que também

atenda os requisitos de qualidade da informação, é demonstrado na Fig. 50 um

modelo de processo de catalogação contendo os requisitos e metodologias para

desenvolvimento de um catálogo digital.

Requisitos Modelagem Modelo Catálogo Digital


Informacionais Conceitual de Conceitual de •Banco de Dados
•Elementos de Dados Representação Relacional
descrição, acesso e •Modelo Entidade •Requisitos e
localização Relacionamento estrutura de
•Regras de •Normalização representação dos
catalogação •Modelo Orientado FRBR
(AACR2, RDA) a Objetos
•Padrões de
metadados (MARC)

Figura 50 – Modelo de Processo de Catalogação

Nesta proposta os requisitos de informação que farão parte do escopo do

ambiente informacional são formados pelo produto da representação descritiva,

pontos de acesso, dados de localização, códigos e regras de catalogação e pelos

padrões de metadados para manter compatibilidade com outros ambientes

informacionais numa estrutura de interoperabilidade.


177

Esses requisitos gerarão um conjunto de elementos e propriedades de

informação que podem ser definidos como a especificação dos requisitos

funcionais e não funcionais de informação do catálogo.

Utilizando o conceito da Modelagem Conceitual por meio da metodologia

do Modelo E-R ou Orientado a Objetos, faz-se um mapeamento desses elementos

de informação para a estrutura de entidades, atributos e relacionamentos pré-

definidos dos FRBR, que já contém um modelo conceitual para registros

bibliográficos sem chegar ao nível de implementação. Ou seja, nesse modelo de

processo de catalogação proposto, o catalogador irá implementar um modelo

conceitual de nível mais baixo de abstração, deixando toda a estrutura de

informação pronta para o profissional da computação somente mapear esta

estrutura para um banco de dados. Essa idéia é corroborada por Delsey (1997, p.

2-3)

O maior ganho com a modelagem lógica da estrutura do AACR é


que ajuda na mudança de enfoque no processo de catalogar as
entidades ou objetos que procuramos representar nos nossos
catálogos, passando das regras específicas para as suposições
operacionais e princípios das regras e da estrutura formal do
registro catalográfico para a estrutura lógica que está por trás dos
dados no registro. A disciplina do próprio exercício de modelagem
nos obrigaria a clarear nossos pensamentos a respeito dos
conceitos que integram a lógica do código. Talvez o mais
importante de tudo fosse o desenvolvimento e ampliação do código
de maneira que refletisse os fenômenos mais recentes no universo
de objetos de informação.

Para avaliação formal do modelo de dados antes da realização do

mapeamento entre os modelos conceituais e o modelo lógico e, com o objetivo de

eliminar possíveis anomalias de informação como redundância ou incapacidade de

representação, essa estrutura conceitual de informações resultante desse modelo


178

deve passar por um conjunto de regras de validação de modelos de dados

chamado de Normalização10.

A Modelagem Conceitual pode trazer grandes contribuições às pesquisas

na área de Ciência da Informação e tem uma grande importância na especificação

de catálogos digitais, pois:

• Permite disponibilizar as informações de forma estruturada e eficiente;

• Evita a redundância de informações e aumenta a confiabilidade dos

ambientes informacionais;

• Define um planejamento que deverá ser seguido pela equipe de

catalogadores;

• Possibilita a reutilização de artefatos produzidos em outros catálogos e

• Facilita o desenvolvimento de ambiente informacional digital e a

manutenção do catálogo.

E nesta circunstância, a documentação gerada servirá de meio de

comunicação entre a equipe.

10
Refere-se a um processo proposto por Edgar F. Codd (1972). Normalização consiste no modo
como os dados são agrupados em estruturas de registros, que permite o armazenamento
consistente e um eficiente acesso aos dados. Com os dados normalizados impedem-se anomalias
como a redundância de dados e a possibilidade dos dados se tornarem inconsistentes.
179

7.3 Construção do Modelo Conceitual de Dados Baseado no Modelo E-R

A partir desta seção, este capítulo demonstra o processo de construção de

um modelo conceitual de dados de um catálogo bibliográfico baseado nos

requisitos dos FRBR e no Modelo Entidade-Relacionamento.

A construção deste modelo utiliza a notação gráfica E-R de Peter Chen

(Chen, 1976). Este modelo não esquematiza os atributos das entidades que serão

demonstrados posteriormente. A notação gráfica do software utilizado para

diagramar as entidades e relacionamentos usa linhas duplas não tendo relação

com entidades fracas da modelagem E-R.

Figura 51 – Modelo Conceitual com as Entidades do Grupo 1

O modelo de dados mostrado na Fig. 51 tem como base as entidades do

Grupo 1 dos FRBR e relacionamentos entre essas entidades. Bancos de dados de

catálogos baseados nessas entidades mapeiam os elementos descritivos dos


180

registros bibliográficos distribuídos em objetos informacionais (tabelas no Modelo

Relacional e classes no Modelo Orientado a Objetos) gerados a partir dessas

entidades e relacionamentos.

Figura 52 – Modelo Conceitual com as Entidades do Grupo 1 e Grupo 2

Na Fig. 52 são esquematizadas as entidades do Grupo 2 e seus

respectivos relacionamentos com as entidades do Grupo 1. Esses relacionamentos

permitem identificar no catálogo os responsáveis pela produção ou propriedade das

instâncias das entidades do Grupo 1. Essa responsabilidade pode ser de criação,


181

composição, edição, tradução, direção, ilustração, publicação, revisão, etc. Para

identificar o tipo de responsabilidade nos relacionamentos entre as entidades do

Grupo 2 com as entidade do Grupo 1, pode-se criar um relacionamento ternário de

cada relacionamento de responsabilidade com uma entidade Tipo de

Responsabilidade como mostrado na Fig. 53.

Figura 53 – Relacionamento ternário com a entidade Tipo de Responsabilidade

Na entidade Tipo de Responsabilidade definem-se os atributos Identificador

e Nome do Tipo de Responsabilidade e para cada relacionamento de

responsabilidade como o “criado por” haverá a identificação do Tipo de

Responsabilidade da criação como, por exemplo, o tipo “composição”. Esse

mecanismo é baseado no seguinte conceito:

Relacionamentos são também freqüentemente realizados


implicitamente por meio do uso de uma nota ou dispositivo
similar que indica não somente que o relacionamento existe
entre a entidade descrita no registro e outra entidade, mas
também indica especificamente a natureza do relacionamento
(por exemplo, “Tradução do texto em Inglês da edição de
1891”) (IFLA, 2009, p. 55).
182

Neste caso poderia ser colocado um atributo que descreveria a natureza do

relacionamento entre a Pessoa e a Obra como, por exemplo, “criação”,

“composição”, etc., ou uma entidade de registros de Tipos de Responsabilidade

relacionando essa entidade ao relacionamento que indica a responsabilidade entre

a Pessoa e a Obra.

Nos FRBR as entidades do Grupo 3 servem como assuntos da Obra, a

entidade Conceito expressa uma idéia ou noção abstrata e serve de assunto

somente para a Obra, porém no modelo proposto esse relacionamento foi

estendido também para as entidades Expressão e Manifestação como mostrado na

Fig. 54.

Além das entidades do Grupo 3, as outras entidades do Grupo 1 e Grupo 2

também podem ser assuntos para a Obra, ou seja, uma dada Obra pode ser sobre

uma Pessoa ou sobre uma Expressão, por exemplo. No caso da Obra ser sobre

outra Obra, para implementar esse requisito, criou-se um auto-relacionamento

“muito-para-muitos” para associar uma ou mais Obras da qual uma Obra foi criada.

Este modelo foi ampliado, pois no relatório FRBR somente a entidade Obra

está relacionada com as entidades do Grupo 3 e aqui as entidades Expressão e

Manifestação também se relacionam com a entidade Conceito num relacionamento

de assunto permitindo que uma dada Expressão ou Manifestação possam ser

encontradas por meio de assunto.


183

Figura 54 – Modelo Conceitual com as Entidades do Grupo 1 e Grupo 3

No contexto do modelo, os relacionamentos bibliográficos servem como

meio para descrever a relação entre uma entidade e outra, assim como, meio de

auxiliar o usuário "navegar" no universo que é representado em uma bibliografia,

catálogo ou banco de dados bibliográficos. Normalmente o usuário vai formular

uma consulta de busca usando um ou mais atributos da entidade para a qual ele

está à procura, e é por meio do atributo que o usuário encontra a instância da

entidade requerida. Os relacionamentos refletidos no registro bibliográfico fornecem


184

informação adicional que auxilia o usuário a fazer conexões entre a entidade que

ele encontrou e outras entidades que estão relacionadas a essa entidade (IFLA,

2009).

Os relacionamentos podem ser refletidos nos registros bibliográficos em

diversas formas. Alguns relacionamentos, especialmente aqueles descritos na Fig.

51, refletem a concatenação de atributos de uma entidade com atributos das

entidades relacionadas em um único registro ou visualização. Por exemplo, para

criar uma consulta de um registro bibliográfico numa camada de visualização de

um sistema de informação são instanciados os dados de uma Manifestação em

conjunto com os atributos da Expressão ao qual essa Manifestação incorpora e os

atributos da Obra que é realizada por meio dessa Expressão.

No caso de entidades que categorizam ou que foram criadas para criar

uma entidade de autoridade como, por exemplo, o relacionamento da Obra com a

Pessoa ou Entidade Coletiva, em que para ter acesso à identificação principal do

responsável pela Obra deve-se por meio do relacionamento acessar a instância da

entidade responsável da Obra.

Como visto no Capítulo 6 sobre os FRBR, além dos relacionamentos de

alto nível entre as entidades do Grupo 1, outros relacionamentos acontecem entre

essas entidades e possibilitam ao usuário criar formas de busca no catálogo para

encontrar as informações que facilitem suprir suas necessidades informacionais,

esses relacionamentos foram descritos no item 6.4.2.

No Quadro 5 são mostrados os relacionamentos complementares e

exemplos de instâncias desses relacionamentos agrupados por tipos.


185

Quadro 5 – Relacionamentos complementares das entidades do Grupo 1

Relacionamento Tipo de Relacionamento

Adaptação
Complemento
Imitação
Obra-para-obra Sucessor
Suplemento
Sumarização
Transformação
Todo-parte
Adaptação
Arranjo (musical)
Complemento
Imitação
Expressão-para-expressão Resumo
Revisão
Sucessor
Sumarização
Suplemento
Tradução
Transformação
Todo-parte
Adaptação
Complemento
Imitação
Expressão-para-obra Sucessor
Suplemento
Sumarização
Transformação
Todo-parte
Manifestação-para-manifestação Reprodução
Substituto
Todo-parte
Item-para-manifestação Reprodução
Item-para-item Reconfiguração
Reprodução
Todo-parte

Para esquematizar esses relacionamentos no modelo proposto, foram

criados auto-relacionamentos entre as entidades do Grupo 1 e relacionamentos

extras entre Manifestação e Obra e entre Item e Manifestação (Fig. 55).


186

Figura 55 – Relacionamentos complementares das entidades do Grupo 1

Todos os auto-relacionamentos são relacionados à entidade “Tipo

Relacionamento” que descreve a que tipo de relacionamento pertence o

relacionamento complementar.

As entidades dos Grupos 1, 2 e 3 são conhecidas como entidades

bibliográficas e possuem um atributo para representar o Nome, Título ou Termo da

Instância da entidade e outro atributo como identificador dessas entidades. O


187

modelo FRAD trata esses atributos, tanto o Nome como o Identificador, como

entidades separadas que são relacionadas às entidades bibliográficas.

Figura 56 – Estendendo o modelo com entidades FRAD

Nesse contexto, no modelo proposto (Fig. 56) foi incorporado esse conceito

criando-se as entidades Nome e Identificador, relacionando todas as entidades

bibliográficas com essas duas entidades. Além disso, foram criadas as entidades

“Tipo Nome” e “Tipo Identificador”, pois as entidades Nome e Identificador possuem

atributos “Tipo do Nome” e “Tipo de Identificador”, e nesse trabalho preferiu-se

definir esses atributos como entidades. Essa técnica de modelagem será explicada

posteriormente.
188

Figura 57 – Modelo conceitual baseado nas entidades e relacionamentos dos FRBR e FRAD
189

Na Fig. 57 tem-se o modelo de dados conceitual de um catálogo

bibliográfico baseado nas entidades e relacionamento dos Grupos 1, 2 e 3 dos

FRBR e das entidades do FRAD incorporadas aos FRBR. Este modelo contempla:

• Entidades do Grupo 1;

• Entidades do Grupo 2;

• Entidades do Grupo 3;

• Relacionamentos de responsabilidade entre as entidades do Grupo 1 e

Grupo 2;

• Relacionamentos de assunto do Grupo 1 com as entidades do Grupo 2

e Grupo 3;

• Relacionamentos complementares do Grupo 1 e

• Entidades Nome e Identificador do modelo FRAD incorporadas aos

FRBR.

Modeladas as entidades e seus respectivos relacionamentos, no projeto do

catálogo devem ser definidos os atributos que servem como o meio pelo qual os

usuários formulam perguntas e interpretam as respostas que procuram

informações sobre uma determinada entidade.

Primeiramente são analisados aqui os atributos FRBR que devem ser

tomados como entidades e posteriormente os atributos que serão incorporados às

entidades.

Em conjunto com os relacionamentos, os atributos têm como objetivo

atender as necessidades dos usuários, chamadas de user tasks, qual seja,


190

encontrar, identificar, selecionar e obter informações por meio de um catálogo

bibliográfico.

Uma determinada instância de uma entidade geralmente apresenta apenas

um valor para cada atributo (por exemplo, o valor para o atributo “meio físico” de

um objeto específico pode ser "plástico"), esses atributos são chamados de “mono-

valorados”. Em alguns casos, no entanto, uma determinada instância de uma

entidade pode ter vários valores para um único atributo (por exemplo, um livro pode

conter mais de uma declaração indicando o Título da Manifestação), esses

atributos são chamados de “multi-valorados”. Nesse caso a entidade é normalizada

retirando o atributo multi-valorado e criando-se outra entidade contendo o atributo e

um relacionamento entre as duas entidades conforme a Fig. 58.

Figura 58 – Normalizando atributos multi-valorados

Uma questão importante é a definição de determinados tipos de atributos

como entidades. Um exemplo é o atributo Forma da entidade Obra. Nos FRBR

Forma é um atributo que define a classe a qual uma Obra pertence. Nesse caso,

forma categoriza a Obra e no modelo de dados seria mais interessante ter uma

entidade Forma que contivesse as formas utilizadas pelas Obras no contexto da


191

Unidade de Informação, criando assim um padrão de entrada no catálogo da Obra.

Além disso, uma Obra pode ter mais que uma Forma. Assim sendo, nesses casos

utiliza-se uma prática de modelagem que define o atributo Forma como um

relacionamento “tem como forma” entre a entidade Obra e a entidade Forma como

mostrado na Fig. 59.

Figura 59 – Forma como entidade em vez de atributo

Neste exemplo, o relacionamento entre Obra e Forma tem como

cardinalidade “muitos-para-muitos”, pois uma Obra pode ter mais que uma Forma e

esta pode ter mais que uma Obra relacionada a ela.

Outro exemplo é o atributo Frequência Esperada da Expressão que define

a periodicidade de uma publicação serial. Neste caso, cria-se uma entidade

Periodicidade e associa essa entidade à Expressão num relacionamento “muitos-

para-um”, pois uma Expressão pode ter somente uma freqüência esperada e um

tipo de freqüência (Periodicidade) pode ter várias Expressões associadas a ela

(Fig. 60).
192

Figura 60 – Frequência Esperada como entidade Periodicidade

Atributos que fazem referência a outra entidade não são vistos na entidade

por se tratar de um modelo conceitual e essa referência está implícita no

relacionamento, por exemplo, na entidade Expressão o atributo Frequência

Esperada não existe mais na entidade Expressão e nem a referência à entidade

Periodicidade criada.

Nos dois exemplos anteriores (Fig. 59 e Fig. 60), nas entidades criadas

(Forma e Periodicidade) foi criado um atributo Identificador para identificar

unicamente as instâncias dessas entidades e o atributo Nome que contém o

mesmo domínio do atributo retirado das entidades Obra e Expressão.

No estudo dos atributos dos FRBR foi utilizada uma análise lógica de

dados a partir das fontes de padrões de catalogação apresentadas anteriormente,

mas que não pretende ser tomada como esgotada, assim sendo, para cada projeto

de catálogo, deve o projetista ou catalogador verificar, de acordo com os requisitos

informacionais oriundos da Unidade de Informação e dos usuários desta, os

atributos desse projeto.

Baseado nos estudos dos atributos dos FRBR e aplicando padrões e

práticas de modelagem de dados foram realizadas as especificações dos atributos

para as entidades bibliográficas de acordo com o Apêndice A do Relatório Final dos

FRBR (IFLA, 2009).


193

A Fig. 61 mostra o modelo baseado somente na entidade Obra e seus

relacionamentos. Além dos relacionamentos de assunto e de autoridade, utilizando

a técnica mostrada anteriormente, os atributos Forma e Título foram modelados

como entidades relacionadas à Obra.

Figura 61 – Modelo baseado na entidade Obra


194

Ao especificar os atributos da entidade Expressão, foram criadas entidades

dos atributos Forma, Idioma e Periodicidade da mesma maneira que foi feito com

alguns atributos da entidade Obra (Fig. 62).

Figura 62 – Modelo baseado na entidade Expressão

O atributo Data refere-se à data de publicação, distribuição, etc. da

Expressão, ou seja, esse atributo depende tanto da entidade Expressão como das

entidades de Responsabilidade (Pessoa e Entidade Coletiva), nesse caso o

atributo Data é colocado associado aos relacionamentos “é criado por”. No Modelo


195

Entidade-Relacionamento, atributos podem estar associados a entidades e

relacionamentos com cardinalidade “muitos-para-muitos” como no caso do

relacionamento “é criado por”, porém no modelo FRBR não se encontram atributos

em relacionamentos.

Para representar os atributos FRBR da entidade Manifestação, é

apresentado um diagrama parcial demonstrando relacionamentos de

responsabilidade para descrever atributos relacionados às entidades Pessoa e

Entidade Coletiva e posteriormente um diagrama com os outros relacionamentos

da Manifestação.

O atributo FRBR indicação de Responsabilidade da entidade Manifestação

é implementado por meio dos relacionamentos desta entidade com as entidades

Pessoa e Entidade Coletiva conforme visto na Fig. 63 em relação à Obra.

Figura 63 – Representação do atributo Indicação de Responsabilidade

Como o atributo “indicação de responsabilidade” nomeia um ou mais

indivíduos ou grupos responsáveis pela criação ou realização do conteúdo


196

intelectual ou artístico incorporado na Manifestação, são definidos relacionamentos

“muitos-para-muitos” da entidade Manifestação com as entidades Pessoa e

Entidade Coletiva relacionando com o Tipo de Responsabilidade para sua

identificação.

O atributo “publicador/distribuidor” pode ser implementado nos mesmos

relacionamentos citados na Fig. 63, pois define o indivíduo, grupo ou organização

nomeada na Manifestação como sendo responsável pela publicação, distribuição,

emissão ou lançamento da Manifestação, podendo estar associada a mais de um

publicador ou distribuidor. Os FRBR ainda trazem os atributos Lugar e Data da

publicação/distribuição que neste modelo foram implementados como atributos dos

relacionamentos entre Manifestação e Pessoa e Entidade Coletiva e com o

relacionamento com a entidade Lugar respectivamente (Fig. 64).


197

Figura 64 – Representação dos atributos lugar e data da publicação/distribuição

O atributo Fabricante utiliza-se também dos relacionamentos entre a

Manifestação com as entidades Pessoa e Entidade Coletiva sendo particularizada

e identificada pela entidade Tipo de Responsabilidade, tendo também Lugar e Data

como informação associada ao Fabricante. De igual maneira o atributo fonte para

aquisição/autorização de acesso é implementado nestes relacionamentos.

Na Fig. 65 são mostrados os outros relacionamentos da entidade

Manifestação já vistos anteriormente adicionados com relacionamentos com as

entidades Forma de Suporte para especificar os materiais ao qual o suporte físico

da Manifestação pertence e o Meio Físico que define os tipos de materiais pelo


198

qual o suporte é produzido. Essa mesma técnica poderia ser aplicada a outros

atributos da entidade Manifestação como Modo de Captura, Tipo de Letra, Tipo de

Corte, Formato de Apresentação, etc.

Figura 65 – Modelo Baseado na entidade Manifestação

Na entidade Item o atributo Condição do Item foi gerado como entidade e

relacionado à entidade Item como recurso utilizado já nas outras entidades

bibliográficas. Na Fig. 66 é mostrado o modelo baseado na entidade Item com os

relacionamentos já descritos anteriormente.


199

Figura 66 – Modelo Baseado na entidade Item

Nestes modelos apresentados anteriormente não foram especificados os

atributos FRBR que são representados nas entidades especificadas. A definição

dos atributos cabe ao projetista (catalogador) diante dos requisitos funcionais

levantados no processo de construção do catálogo. Nesse contexto apresentam-se


200

duas técnicas nesta tese em relação à especificação dos atributos no projeto do

catálogo:

I) Definição dos atributos no modelo conceitual, cabendo ao projetista

(catalogador) do modelo a definição dos atributos que serão utilizados

para representar a entidade dentro do cenário, esses atributos tem como

objetivos cumprir as user tasks, além de atender a outros requisitos

levantados no processo de construção do catálogo. Essa técnica é

chamada nesta tese de “modelagem estática de atributos”.

II) Definição de uma estrutura conceitual que permita ao catalogador, na

parametrização do ambiente informacional para a construção do

catálogo, definir os atributos que cada entidade bibliográfica irá conter,

de acordo com as user tasks e os outros requisitos informacionais do

cenário. Essa técnica é chamada nesta tese de “modelagem dinâmica

de atributos”.

A Fig. 67 mostra o modelo para representar a técnica da modelagem

dinâmica de atributos que permite ao usuário catalogador definir para cada

entidade bibliográfica os atributos que serão utilizados no momento de catalogar o

objeto informacional.
201

Figura 67 – Modelagem Dinâmica de Atributos

Neste caso, são definidos para cada instância da Entidade Bibliográfica, os

atributos que serão utilizados nas interfaces de entradas de dados (entidade Tipo

Atributo). Após essa definição, para cada instância de uma entidade bibliográfica,

como Obra, podem ser criadas instâncias desses atributos pela entidade Atributo

como mostrado na Fig. 68.


202

Figura 68 – Representação Gráfica da Modelagem Dinâmica de Atributos

Na Fig. 68 foram especificadas num cenário qualquer 3 instâncias para a

entidade Tipo de Atributo referente à entidade Obra. Para a instância o1 da

entidade Obra foram definidos para os tipos de atributos ta1 e ta2, os valores a1 e a3

respectivamente, para a instância o2 foram definidos para os atributos ta1, ta2, ta3,

os valores a2, a4 e a5 respectivamente.

Nesta perspectiva de projeto, fica a critério do catalogador definir na

implantação de um ambiente informacional de um catálogo especificar os atributos

que serão utilizados para representar cada entidade bibliográfica e isso deixa de

ser papel do projetista catalogador.

Outro requisito de extrema importância em projetos de catálogos atuais é

criar uma camada de interoperabilidade com outros sistemas computacionais

baseados em padrões de metadados, neste contexto considerar que o modelo

possa permitir uma integração com diferentes tipos de padrões de metadados traz

uma característica de flexibilidade e de extensibilidade ao possibilitar à Unidade de

Informação a liberdade de escolher integrar seus registros bibliográficos em

diferentes formatos e padrões de metadados.


203

Como fonte de informação para definição dos requisitos que demonstram

um meio para existir no modelo, a integração com padrões de metadados, foram

utilizados os estudos de Delsey (2006) que analisa e mapeia modelos FRBR com o

padrão de metadados MARC 21. A partir desse estudo foi adicionado no modelo

proposto nesta tese as condições para que os elementos de dados do catálogo

pudessem ser integrados com elementos de dados de padrões de metadados

como o MARC 21.

Para os FRBR, o registro bibliográfico é entendido no seu sentido mais

amplo, cobrindo uma série de funções, não só elementos descritivos como também

pontos de acesso, como assunto, por exemplo, elementos de organização e notas.

Os atributos FRBR, portanto, nem sempre são similares aos elementos de

metadados do MARC, podendo estar distribuídos em mais de um campo e

subcampo (MORENO, 2006). Isso pode ser visto no Anexo A deste estudo que

mostra o mapeamento do campo Title of Work para os campos e subcampos do

MARC.

Nesse contexto, para criar a possibilidade de integração dos elementos

bibliográficos do catálogo com elementos de dados de padrões de metadados é

necessária a associação de entidades, relacionamentos e atributos estáticos do

modelo, ou seja, que foram projetados fazendo parte do esquema do projeto, assim

como, com os atributos dinâmicos que são estabelecidos pelo catalogador na

implantação do ambiente informacional do catálogo.

Na Fig. 69, está a visão do modelo proposto para implementar a

funcionalidade de integração com os padrões de metadados. Para tanto foi definida

uma entidade para especificar os padrões de metadados que a Unidade de

Informação irá trabalhar e para cada padrão são relacionados os elementos de


204

metadados utilizados para integrar com o catálogo. Para integrar esses elementos

às informações do esquema, foi criado um relacionamento entre as entidades

Elemento Metadados e Entidade com cardinalidade “muitos-para-muitos” e nesse

relacionamento são definidos os atributos “relacionamento”, “atributo”, “subcampo”

e posição do elemento de metadados.

Figura 69 – Integração com padrões de metadados

Para os atributos dinâmicos, cada elemento de dados do padrão de

metadados é relacionado com os tipos de atributos criados pelo catalogador para


205

representar as entidades bibliográficas indicando, caso seja necessário, o

subcampo e posição no registro bibliográfico.

De acordo com o Delsey (2006), a relação entre os atributos FRBR e o

elementos de dados MARC se diferenciam, às vezes, pela forma do objeto,

portanto, foi associada a entidade Forma ao relacionamento entre as entidades

Tipo Atributo e Elemento Metadados.

Essa relação, vista na Fig. 69, entre os atributos dinâmicos e os elementos

de metadados definidos pelo catalogador na implantação do catálogo deve ser feita

também em todas as entidades, atributos e relacionamentos do modelo que

tenham ligação com os elementos dos padrões de metadados.

Catálogos e sistemas computacionais baseados nesse modelo levam, na

implantação do ambiente informacional, o catalogador a definir os atributos a serem

utilizados para representar as entidades bibliográficas e a relacionar esses

atributos com elementos de metadados dos padrões a serem utilizados.

A riqueza dos relacionamentos entre as entidades e dos atributos que

representam essas entidades tem influência direta na capacidade que um ambiente

informacional, baseado nesse modelo, terá de possibilitar aos usuários do catálogo

condições de navegar no universo bibliográfico a fim de conseguir atender suas

expectativas informacionais.

Nesta tese procurou-se representar as possibilidades de relacionamentos

entre as entidades bibliográficas encontradas no relatório FRBR e a normalização

dos atributos transformando-os como entidades associadas às entidades

bibliográficas. A definição de atributos segue o nível básico de funcionalidades

descrito nos FRBR para atender as user tasks.


206

A descrição do dicionário de dados gerado a partir do modelo desenvolvido

pode ser visto no Apêndice A desta pesquisa resultando num conjunto de

metadados baseados nas entidades, relacionamentos e atributos FRBR e FRAD.

Na tabela do Apêndice A, têm-se as tabelas lógicas relacionais mostradas

numa notação simplificada, elas foram geradas a partir do modelo de entidades e

relacionamentos descritos anteriormente a partir dos conceitos dos FRBR e FRAD.

Essa redução de um diagrama entidade-relacionamento em tabelas segue

as seguintes regras:

I) Toda entidade é convertida numa tabela ou relação, se E é um conjunto

de entidades com atributos a1, a2,..., an, E será representada por uma

tabela E com n colunas distintas, cada um correspondendo a um atributo

de E, cada linha da tabela corresponde a uma entidade (instância) do

conjunto de entidades E.

Uma relação r(R) é uma relação matemática de grau n nos domínios

dom(A1), dom(A2), ..., dom(An), que é um subconjunto de um produto

cartesiano dos domínios que definem R, sendo:

dom(A1): domínio do atributo a1;


dom(A2): domínio do atributo a2;
...
dom(An): domínio do atributo an;
Produto Cartesiano: dom(A1) X dom(A2) X ... X dom(An);
Relação R = subconjunto de dom(A1) X dom(A2) X ... X dom(An);
Grau de R = n (número de atributos do esquema da relação).

II) Define-se um atributo identificador sintético para identificar unicamente

(chave primária) as instâncias das tabelas.

Conceitualmente, entidades e relacionamentos são distintos, mas como

no diferenciá-los num banco de dados? Para conjunto de entidades essa


207

distinção é realizada por meio de uma superchave que é o conjunto de

um ou mais atributos que permitem identificar uma entidade das demais.

Se K é uma superchave, qualquer conjunto de atributos que contenha K

é uma superchave, no entanto, uma superchave pode conter atributos

desnecessários. O que importa para o projeto são as superchaves

menores possíveis, ou seja, aquelas em que nenhum subconjunto é

superchave, nesse caso, são chamadas de chaves candidatas. Existindo

mais de uma chave candidata na relação, o projetista escolhe dentre

estas a chave que será utilizada como mecanismo principal para

identificação de uma entidade como única, essa chave candidata

escolhida é chamada de chave primária;

III) Para os relacionamentos com cardinalidade “um-para-muitos”, coloca-

se o atributo que forma a chave primária da relação “um” como atributo

formando a chave estrangeira na relação “muitos”, permitindo, então,

criar um relacionamento lógico entre as relações.

Uma chave estrangeira é o mecanismo utilizado pelos bancos de

dados para implementar relacionamentos entre tabelas e o conceito de

integridade referencial. Dois conjuntos de atributo C e D compatíveis

em que existe uma ordem entre os atributos de ambos os domínios tal

que o primeiro atributo de C tenha o mesmo domínio do primeiro

atributo de D, o mesmo valendo para os segundos atributos, assim por

diante. Uma chave estrangeira, então, pode ser definida com um

conjunto de atributos D R1 que não é chave em R1, é compatível com


208

outro conjunto de atributos C Rk que é a chave primária da relação

Rk;

IV) Para os relacionamentos muitos-para-muitos, cria-se uma relação a

partir desse relacionamento e os atributos que formam a chave

primária de cada relação é levada à relação criada formando cada um

deles uma chave estrangeira que relacionará a relação formada com as

relações do relacionamento.

Se R é um conjunto de relacionamentos envolvendo os conjuntos de

entidades E1, E2,..., En; se (Ei) é o conjunto de atributos que forma a

chave primária para o conjunto de entidades Ei; se R possui atributos

descritivos chamados {r1, r2,...,rm}, R será representado por uma tabela

com o seguinte conjunto de atributos:


ራ ܿℎܽ‫݉݅ݎ݌ ݁ݒ‬á‫ ܽ݅ݎ‬ሺ‫ܧ‬௜ ሻ ܷ {‫ݎ‬ଵ , ‫ݎ‬ଶ , … , ‫ݎ‬௡ }


௜ୀଵ

No contexto da construção de modelos conceituais e lógicos de dados, é

importante atentar-se para o conceito de padrões de projeto que visa criar regras,

como de nomenclatura de entidades, relacionamentos e atributos. Definidas essas

regras, toda a construção do modelo é baseada nessas regras. Nesse projeto,

foram utilizados alguns padrões como:

• Nomenclatura das tabelas e atributos utilizando o tipo Pascal Case, em

que a primeira letra do identificador e as primeiras letras das palavras

subseqüentes são maiúsculas.


209

• Utilização de um atributo sintético identificador (chave primária) para

todas as tabelas como atributo que identifica univocamente as

instâncias das relações.

A partir desse modelo lógico, esquemas de bancos de dados (modelos

físicos) podem ser construídos, gerando, assim, catálogos digitais baseados em

bancos de dados relacionais com os requisitos dos FRBR.

A seguir apresenta-se o desenvolvimento de um framework conceitual

baseado nos padrões da modelagem conceitual de dados sob a perspectiva da

Orientação a Objetos.
210

O DESENVOLVIMENTO DE UM FRAMEWORK
CONCEITUAL BASEADO NOS FRBR
211

8 O DESENVOLVIMENTO DE UM FRAMEWORK CONCEITUAL BASEADO NOS

FRBR

Entre as possibilidades de uso dos FRBR destaca-se a iniciativa do

FRBR/CIDOC – CRM. Os FRBR O.O. – FRBR Orientado a Objetos, é um estudo

realizado pelo grupo CIDOC - International Committee for Documentation, em

conjunto com o grupo de trabalho dos FRBR, que busca estabelecer “uma

ontologia formal destinado a captar e representar a semântica subjacente de

informações bibliográficas e facilitar a integração, mediação e intercâmbio de

informações bibliográficas e de museu”.

O objetivo deste estudo é procurar viabilizar a harmonia dos FRBR e

modelos de referência CIDOC sob a luz da Web Semântica, frente à necessidade

global de melhorar a interoperabilidade das bibliotecas digitais e sistemas de

gestão da informação.

Em 2003 criou-se esse grupo de estudos que adotava os FRBR como

modelo de referência, harmonizado com os conceitos, ferramentas, mecanismos e

convenções de notação fornecida pelo CIDOC – CRM - International Committee for

Documentation - Conceptual Reference Model, alinhando-os ao Modelo Orientado

a Objetos, com o objetivo de contribuir para a solução do problema de

interoperabilidade semântica entre as estruturas de documentação utilizada para

informações de biblioteca e museu (DOERR; LE BOUF, 2007). O grupo está

trabalhando na harmonização dos conceitos dos FRBR com a ontologia CIDOC

CRM, gerando uma versão contendo uma dimensão temporal, essencial para o

cenário de museus.
212

Segundo Le Boeuf (2001), o grupo de estudos dos FRBR questionou o

Modelo E-R e propôs que fosse substituído pelo Modelo Orientado a Objeto. O

autor destaca que:

Michael Heaney publicou o modelo FRBR com a modelagem


orientada a objeto, mas não encontrou o apoio que merecia, o que
resultou em conclusões bastante semelhantes ao FRBR entidade-
relacionamento. Ele lamenta que noções como tempo,
temporalidade, acontecimentos, modificações etc., não sejam
contempladas no modelo FRBR com maior profundidade.

Deste modo, outro modelo de dados que pode ser utilizado para essa

modelagem e já foi considerado para o estudo nos FRBR é o Orientado a Objetos,

pois também é um modelo potencial para contribuir com um novo olhar sobre o

processo de desenvolvimento de catálogos digitais.

Baseando-se nesses estudos propõe-se a criação de um modelo de dados

conceitual que reflita os requisitos dos FRBR e FRAD sob a luz da Orientação a

Objetos.

Quando analisadas as entidades bibliográficas FRBR e seus

relacionamentos, pode-se abstrair dessas entidades, classes conceituais de nível

superior que possam se especializar nas entidades dos Grupos 1, 2 e 3. Conclui-se

que, conceitualmente, suas características são identificadas no conceito de

herança do Modelo Orientado a Objetos.

Na especialização existe um relacionamento entre um elemento genérico e

um mais específico, neste caso, uma entidade é uma classe abstrata que pode se

especializar nas entidades bibliográficas. Essa técnica pode facilitar, entre outras

coisas, os relacionamentos entre as entidades do Grupo 1 e as entidades do Grupo

3, possibilitando que a entidade Obra tenha como assunto a classe genérica e não

mais todas as entidades em particular. Outra facilidade está em associar os


213

relacionamentos de responsabilidade, pois, agora, as entidades do Grupo 1 não

precisam mais estar associadas com as duas entidades do Grupo 2, mas somente

com a super classe criada a partir das entidades Pessoa e Entidade Coletiva.

Especialização é a atividade de identificar em entidades, subtipos, ou

conceitos especializados, que refinam ou especializam o supertipo, ou conceito

geral. A identificação de supertipos e subtipos tem seu valor em um modelo

conceitual, pois a sua presença permite compreender conceitos em termos mais

gerais, aperfeiçoados e abstratos. Isso conduz a uma customização de Expressão,

a uma melhoria da compreensão e a uma redução de informações repetidas. É

uma forma de construir classificações taxonômicas entre conceitos que são

ilustradas em hierarquias de tipos (LARMAN, 2005).

A operação contrária à especialização é chamada de generalização, que é

a atividade de identificar o que há de comum entre conceitos e definir

relacionamentos entre supertipos (conceito geral) e subtipos (conceitos

especializados) (LARMAN, 2005).

Esses conceitos são importantes na medida em que o Modelo E-R não

expressa essas características de herança, pois ao se estabelecer uma

especialização (subclasse) de uma classe, a subclasse herda as características

comuns da superclasse, isto é, a especificação dos atributos, associações e das

operações da superclasse passa a fazer parte da especificação dos atributos, das

associações e das operações da subclasse.

A aplicação do Modelo Orientado a Objetos nos FRBR encontra uma

barreira de paradigma, pois o Modelo E-R opera em um nível de referência levando

a um modelo conceitual de dados, porém, com nível de abstração mais próximo da

visão do ambiente bibliográfico, mas com a impossibilidade de encontrar na


214

camada de persistência de um sistema informatizado o mesmo paradigma, ou seja,

nos ambientes em produção quase não se utilizam banco de dados Orientados a

Objetos, mas bancos de dados relacionais, que têm forte relação com o Modelo E-

R.

Para resolver esse problema, pode-se implementar um framework conceitual

contendo um conjunto de classes baseadas nas entidades dos grupos dos FRBR

que descreva o conjunto de representações de um domínio de catálogo de

registros bibliográficos e, então, mapear esse Diagrama de Classes gerado num

conjunto de tabelas relacionais lógicas como fora feito com o modelo proposto

baseado no Modelo Entidade-Relacionamento.

8.1 Framework Conceitual

Um framework é um conjunto de classes, interfaces e padrões que

incorpora um projeto abstrato para soluções para um grupo de problemas

relacionados. Essas classes utilizam-se da Orientação a Objetos que integradas

executam um conjunto bem definido de comportamentos utilizados para

reutilização no desenvolvimento de soluções em um domínio de aplicação.

Arquitetura projetada contendo um conjunto de classes abstratas

encapsuladas para resolver problemas de um domínio específico e que possibilitem

a reutilização máxima de suas funcionalidades, esse conjunto de classes deve ser

flexível e extensível para permitir a construção de várias aplicações com pouco

esforço, especificando apenas as particularidades de cada aplicação. Permite a


215

reutilização de componentes de software, isto é, possibilita reaproveitar algoritmos

já desenvolvidos para uma funcionalidade específica.

Para a definição de um framework é necessária a definição do escopo do

domínio da aplicação a ser atingida, ou seja, não se constrói um framework em

ambientes abertos, mas em ambientes específicos e bem definidos.

O framework conceitual proposto nesta tese é baseado nas regras e

formalismo da orientação a objetos e representado na notação do diagrama de

classes da Metodologia UML (LEHNEN, 2002). O objetivo de um framework

conceitual é o de fornecer um diagrama de classes que possa ser usado como

base para a modelagem das classes do domínio bibliográfico. Nesse sentido, um

framework conceitual não implica necessariamente em um produto acabado e

executável, mas em um modelo conceitual de dados que, posteriormente, será

convertido em um esquema de dados específico para catálogos bibliográficos

digitais.

O framework conceitual agrega as características dos FRBR e pode ser

utilizado como suporte a novas funcionalidades que forem adicionadas a este

modelo como o modelo FRAD.

Os requisitos implementados no framework conceitual são os mesmos

utilizados no modelo conceitual baseado no modelo E-R:

• Entidades FRBR do Grupo 1;

• Entidades FRBR do Grupo 2;

• Entidades FRBR do Grupo 3;

• Relacionamentos de responsabilidade entre as entidades do Grupo 1 e

Grupo 2;
216

• Relacionamentos de assunto da Obra com as entidades do Grupo 1,

Grupo 2 e Grupo 3;

• Relacionamentos complementares do Grupo 1;

• Entidades do modelo FRAD incorporadas aos FRBR.

A construção da arquitetura do framework conceitual é definida com base

nos conceitos da Orientação a Objetos e tem como fonte de informações duas

dimensões como visto na Fig. 70.

Framework
Conceitual

Domínio da
FRBR / FRAD
Aplicação

Figura 70 – Bases para construção do framework conceitual

Como visto anteriormente, a definição de um framework baseia-se em um

cenário bem definido e delimitado, neste caso o domínio da aplicação será

ambientes informacionais para catalogação de Itens bibliográficos. A partir das

regras encontradas neste ambiente informacional um conjunto de requisitos é

levantado para servir de base para a construção das classes do framework.

Essas regras do cenário devem ser modeladas em classes utilizando os

requisitos dos FRBR e FRAD para estruturar os registros bibliográficos, por isso,
217

toda a estrutura informacional do framework proposto tem como base essas

recomendações.

A Figura 71 mostra o diagrama de classes gerado a partir dos requisitos

FRBR e FRAD.

Tipo Nome Nom e Identificador Tipo Identificador


1 * * *
* 1
é conhecido por é identificado por

* *

Tipo Responsabilidade Entidade

Conceito
*
1

tem como assunto

Objeto
Responsabilidade * é criada por
* * *
*
*
Obra

*
Evento

1
é realizada por meio de

Expressão
Pessoa Entidade Coletiva *
é realizada por
Lugar
*
*
é incorporada em

Manifestacao
*
é produzida por
Super Classes
*
Entidades FRBR do Grupo 1 1
Entidades FRBR de responsabilidade do Grupo 2 é exemplif icada por

Entidades FRBR de assunto do Grupo 3 Item


*
Entidades FRAD é propriedade de
Classes auxiliares *

Figura 71 – Diagrama de Classes base para a construção do framework conceitual

A partir das entidades bibliográficas dos FRBR, foi feita uma generalização

gerando a classe de nível superior Entidade, dela todas as entidades dos Grupos 1,

2 e 3 são herdadas. O mesmo foi feito com as entidades do Grupo 2, gerando a

classe Responsabilidade.

Com isso, ao invés de existirem associações entre as classes geradas a

partir das entidades do Grupo 1 com as classes Pessoa e Entidade Coletiva, é


218

gerado somente uma associação com a classe Responsabilidade. Da mesma

forma, é necessária somente a associação da classe Obra com a classe Entidade

para se implementar os relacionamentos de assunto entre Obra e as entidades do

Grupo 1, 2 e 3 que foram necessárias no modelo E-R. Para agregar as entidades

do FRAD (Nome e Identificador), foi necessário criar somente a associação entre

as classes Nome e Identificador com a classe Entidade.

Finalmente, foram incorporadas ao diagrama os relacionamentos

complementares do Grupo 1, as classes para a implementação da Modelagem

Dinâmica de Atributos e de integração com padrões de metadados.

O diagrama de classes gerado (Fig. 72) tem como finalidade a

apresentação de um framework conceitual que apresente características de

portabilidade, capacidade de agregação de novos conceitos e funcionalidades,

clareza, visão global e, para tanto, para diminuir a apresentação do modelo,

tornando-o menos complexo, são representados somente o nome das classes e

associações.

O modelo apresentado possui basicamente 3 tipos de relacionamentos: (i)

associações, (ii) especializações/generalizações e (iii) composições.

Foram utilizadas associações nos (i) relacionamentos do Grupo 1, (ii)

relacionamentos de responsabilidade, (iii) relacionamentos de assunto, (iv)

relacionamentos complementares, (v) na agregação das entidades FRAD, (vi) na

implementação da Modelagem Dinâmica de Atributos e (vii) na integração com

padrões de metadados. O relacionamento de especialização/generalização foi

utilizado para os relacionamentos em que as entidades bibliográficas precisam

herdar as características (atributos, métodos) de uma superclasse e também nas

entidades do Grupo 2. Foram utilizadas composições para o relacionamento entre


219

a classe Entidade (o todo) e seus atributos (as partes) onde as partes só podem

pertencer ao todo e também entre a classe Padrão Metadados e seus elementos.


220

Figura 72 – Proposta de um Framework Conceitual para Catálogos baseados nos FRBR


221

Outra característica do modelo é que este possui classes auxiliares para

especificar atributos que categorizam classes e associações como classes

associadas a essas entidades e relacionamentos, técnica similar foi utilizada na

construção do modelo de dados baseado no modelo E-R.

Os requisitos utilizados para a construção do framework conceitual foram:

(i) o modelo FRBR, (ii) o modelo FRAD, (iii) a Modelagem Dinâmica de Atributos e

(iv) a interoperabilidade com padrões de metadados. Outros requisitos como de

gestão e circulação não foram considerados.

O framework conceitual para construção de catálogos bibliográficos não

implica necessariamente que este modelo não possa ser estendido e ampliado. O

seu objetivo é fornecer um diagrama de classes que pode ser usado como base

para a modelagem de classes do domínio de aplicação (catálogos bibliográficos

digitais). Assim, o modelo funciona principalmente como base para a construção de

catálogos que utilizem como metodologia o Modelo Orientado a Objetos ao invés

do Modelo Entidade-Relacionamento. As especificações de novas estruturas

conceituais podem ser estendidas a partir deste modelo, bem como a redefinições

de atributos e relacionamentos.

A implementação de um catálogo digital num banco de dados relacional

utilizando o framework conceitual se dá por meio do mapeamento das classes

lógicas em tabelas relacionais através do mapeamento objeto-relacional,

permitindo a construção de esquemas utilizando reuso de classes pré-definidas

(Fig. 73).
222

Figura 73 – Persistência das classes do framework conceitual

O modelo FRBR determina somente um modelo de referência para os

registros bibliográficos, portanto, o framework expõe classes lógicas de acesso e

persistência ao ambiente informacional, essas classes para serem utilizadas devem

ser instanciadas em forma de objetos em sistemas de aplicações.

Na camada de mapeamento, os objetos instanciados devem ser

convertidos no modelo relacional de banco de dados, por meio de um projeto lógico

utilizando os requisitos FRBR, ou seja, para acessar uma informação persistida no

banco de dados, a aplicação instancia um objeto de uma classe, a camada de

mapeamento acessa o banco de dados a partir de metadados baseado no modelo

FRBR e converte num objeto em memória, a aplicação, então, faz uso desses

dados por meio dos métodos expostos dessa classe (Fig. 74).
223

Figura 74 – Esquema de acesso às informações do catálogo bibliográfico

A arquitetura do framework conceitual faz uso dos requisitos para

representação dos registros bibliográficos dos FRBR, utilizando os conceitos da

Orientação a Objetos presentes nas regras dos FRBR, permitindo o

desenvolvimento de ambientes informacionais automatizados que reutilizem as

estruturas lógicas do framework.

Outra característica presente no framework é a capacidade de

interoperabilidade com outros ambientes, para tanto, é necessária uma camada

que utilize padrões de intercâmbio de dados, como por exemplo, uma integração
224

entre as entidades dos FRBR com padrões de metadados como o MARC como

visto anteriormente na construção do modelo conceitual baseado no modelo E-R.

A relevância do desenvolvimento do framework conceitual proposto nesta

tese se dá mais na variedade de conceitos e possibilidades de estrutura

disponíveis no modelo de classes do que na especificação em si.

As especificações são baseadas nos estudos dos FRBR e FRAD, e grupos

têm estudado esses modelos ampliando e estendendo suas aplicações, a proposta

de ter-se um modelo pré-definido nesses conceitos traz grandes benefícios aos

catalogadores que queiram construir seus catálogos bibliográficos baseados nestes

estudos e em técnicas de modelagem de dados.

Nesse contexto, a visão expandida do processo de catalogação, utilizando

os conceitos da Modelagem Conceitual utilizando o Modelo Entidade-

Relacionamento e o Modelo Orientado a Objetos, além dos requisitos dos FRBR e

FRAD, proposta nesta pesquisa, pretende ir ao encontro das necessidades de

atuação ampliada do profissional da informação nos ambientes digitais de

catalogação.
225

CONCLUSÕES
226

CONCLUSÕES

A lacuna entre a estrutura conceitual dos FRBR e a implementação das

representações lógicas e de persistência de um catálogo bibliográfico digital e os

aspectos atuais da catalogação, que levam a análises mais complexas no

desenvolvimento de estruturas de representação, enquanto geradora do

Tratamento Descritivo da Informação que envolve a modelagem e a gestão dos

recursos informacionais, foram os elementos motivadores e norteadores para o

desenvolvimento desta pesquisa, a qual propõe a reflexão e a defesa da ampliação

do conceito da catalogação e a extensão do papel do catalogador nessa ampliação

do processo de construção de catálogos bibliográficos digitais.

O levantamento e a revisão bibliográfica que compôs esta pesquisa, com

vistas à apresentação de uma visão ampliada e estendida do processo de

construção de projeto de catálogos bibliográficos, que tem como premissa o uso do

modelo conceitual de dados sob a perspectiva dos FRBR utilizando os referenciais

dos Modelos Entidade-Relacionamento e Orientado a Objetos, destacaram que os

FRBR constituem-se num modelo teórico que se diferencia dos demais por tratar

da maneira com que os registros bibliográficos são organizados em estruturas de

entidades e relacionamentos, com grande caráter de utilidade e com a pretensão

de atingir todo tipo de informação, em qualquer suporte, atendendo assim, de

maneira mais abrangente, as necessidades do usuário.

No que concerne ao seu papel nos estudos atuais sobre o tema da

representação no campo da Ciência da Informação e, da Catalogação em especial,

para os propósitos desta pesquisa e a proposta de um modelo de construção de


227

projetos de catálogos bibliográficos, pode-se afirmar que os FRBR não devem ser

considerados isoladamente. Toda e qualquer análise deve ser feita considerando a

relação existente entre eles e as regras de catalogação, os formatos e padrões de

metadados e os modelos conceituais de dados, assim como, a interoperabilidade

nesses ambientes.

O Modelo E-R, utilizado pelos FRBR, permite que se realizem estudos na

área de representação da informação e possibilita o aperfeiçoamento, do ponto de

vista da persistência das informações, das estruturas dos esquemas dos registros,

aumentando a riqueza das possibilidades de acesso aos documentos que

satisfaçam as tarefas do usuário e aperfeiçoando, assim, a automação de

catálogos em unidades de informação. Pode-se considerá-los como uma

ferramenta importante para a modelagem de dados no sentido de desenvolver

projetos de catálogos que conduzam às normas e padrões biblioteconômicos

estabelecidos a satisfazer as necessidades atuais dos usuários no uso de

catálogos online e digitais.

Nesse sentido, foi demonstrado no Capítulo 7 o processo de

desenvolvimento de um projeto de catálogo baseado em: (i) requisitos dos FRBR e

FRAD, (ii) Modelagem Entidade-Relacionamento e (iii) práticas de construção de

modelos de dados.

Em relação aos requisitos de representação de um registro bibliográfico, o

relatório final do Grupo de Estudos FRBR da IFLA, mostra-se como um padrão

para a construção de modelos referenciais de registros bibliográficos, mas sua

estrutura de entidades, relacionamentos e cardinalidades de relacionamentos e de

atributos não podem ser tomadas como exaustiva na modelagem de dados, pois

eles são baseados no Modelo Entidade-Relacionamento, mas não contemplam


228

todas as suas regras e normas na construção de projetos conceituais, como ficou

demonstrado durante o processo de construção do modelo proposto no item 7.3 do

Capítulo 7. Porém, a existência desse relatório mostra aos catalogadores um

caminho para o desenvolvimento de projetos de catálogos e comprova que o

conhecimento prévio do profissional especialista da área de Tratamento Descritivo

e Temático da Informação utilizando um conjunto de metodologias de

representação, torna o desenvolvimento de modelos de dados de catálogos mais

aderente em relação às demandas informacionais dos usuários, trabalho este que

anteriormente ficava a cargo de um profissional da área da computação.

Para tanto, é necessário que o profissional catalogador estenda a sua

atuação ampliando também o conceito de catalogação que passa da descrição

para a representação de recursos informacionais sempre com vistas às

expectativas e necessidades do usuário e a interoperabilidade de todo e qualquer

recurso informacional e, conseqüentemente, agrega-se ao processo da

catalogação a modelagem das estruturas bibliográficas no desenvolvimento de

modelos conceituais que servirão de base para a construção de esquemas de

banco de dados.

Com a pesquisa realizada no Capítulo 7, constata-se que o Modelo

Entidade-Relacionamento é uma metodologia que pode ser absorvida no processo

do Tratamento Descritivo da Informação como ferramenta para melhorar a

comunicação do catalogador com os profissionais da área da computação no

desenvolvimento de sistemas informatizados de catálogos bibliográficos propondo

para estes todo o modelo conceitual das estruturas de persistência dos registros

bibliográficos.
229

Nesse contexto, regras e práticas de modelagem devem ser utilizadas pelo

catalogador atuando como projetista do catálogo fazendo com que anomalias

sejam retiradas do projeto e requisitos de qualidade da informação sejam

homologadas no modelo.

A inexistência dessas anomalias leva ao desenvolvimento de sistemas de

informação de automação de catálogos que, além de atender às tarefas do usuário

e às necessidades da unidade da informação, permite: (i) ao profissional

catalogador que faz a inserção das informações de descrição documentária o reuso

de representações evitando, assim, a redundância e a inconsistência de dados

causados por essa redundância. Assim sendo, com a estrutura não-linear do

registro bibliográfico e o uso de tabelas auxiliares de controle de entrada, que

foram exemplificados no Capítulo 7, passam a fazer parte do catálogo e são

integradas, atualizadas e corrigidas automaticamente na operação do ambiente

informacional; e (ii) a estrutura de relacionamentos promovidos pelas idéias dos

FRBR permite ao catalogador criar associações entre os Itens bibliográficos que

leva o usuário a novas formas de acesso à informação antes não possibilitada.

No caso do modelo proposto vale ressaltar que o diagrama entidade-

relacionamento resultante do processo de modelagem serve como base para a

construção de projetos físicos (esquemas) de banco de dados de catálogos

bibliográficos baseados nas estruturas dos FRBR, entretanto, a maior contribuição

está no detalhamento do processo de construção do modelo demonstrando o uso

dos requisitos presentes nos FRBR, comprovando que o catalogador de posse de

seu conhecimento prévio de regras de catalogação tem condições de assumir a

responsabilidade de projetar a estrutura conceitual de um catálogo bibliográfico.


230

A presente pesquisa buscou ainda, em outro modelo, formas de

representação que se aproximassem mais do universo bibliográfico e, com base no

Modelo Orientado a Objetos, foi proposto um framework conceitual com o intuito de

prover um apoio para a criação de catálogos bibliográficos digitais e, ainda,

estimular os profissionais e pesquisadores da catalogação a buscarem nesse

modelo uma fonte de pesquisa para a modelagem de dados de padrões de

catalogação ou de metadados, conforme apresentado no Capítulo 8.

Para representar o framework conceitual foi utilizado o padrão UML por

meio do diagrama de classes que utiliza uma notação que consegue representar as

características encontradas nos requisitos levantados, ou seja, as entidades,

relacionamentos e atributos dos FRBR e dos FRAD além das funcionalidades de

integração com padrões de metadados e modelagem dinâmica de atributos.

Nesse diagrama de classes foram agregadas classes, generalizações,

associações, composições representando o relacionamento semântico entre as

classes.

Analisando os modelos gerados, o modelo apresentado do framework

conceitual apresenta uma representação mais simplificada da notação gráfica que

possibilita um entendimento mais facilitado em relação ao modelo conceitual

baseado no E-R, pois por meio da criação de uma classe de mais alto nível de

entidade e tendo todas as entidades bibliográficas como subclasses dessa

entidade de mais alto nível, os relacionamentos puderam ser diminuídos no

diagrama mantendo o atendimento aos requisitos dos relacionamentos básicos e

complementares das entidades bibliográficas. Ainda, neste contexto, simplificou a

agregação das entidades do modelo FRAD para somente um relacionamento com

a classe de alto nível, e por fim, ao abstrair uma classe de nível superior em
231

relação às entidades de responsabilidade, permitiu a diminuição dos

relacionamentos de responsabilidade com as entidades do Grupo 1.

O framework conceitual proposto permite que sejam agregados novos

conceitos sem afetar as características originais dos requisitos estudados, porém

para tanto é necessário um estudo e um entendimento aprofundado tanto dos

relatórios sobre os quais esse framework foi construído como também das técnicas

de modelagem Orientada a Objetos.

A proposta de criação de um framework conceitual que sirva de base para

o desenvolvimento de projetos de catálogos bibliográficos, utilizando os conceitos

dos FRBR, vai ao encontro da necessidade na área da Ciência da Informação que

trata do desenvolvimento de ambientes informacionais automatizados e a utilização

do Modelo Orientado a Objetos na infra-estrutura do framework, além de permitir a

reutilização das classes que o compõem, permite um entendimento maior do

modelo FRBR que conceitualmente contém idéias da Orientação a Objetos.

Conclui-se que a modelagem de dados possibilita uma visão não linear dos

elementos descritivos de um item bibliográfico e permite uma eficiente transmissão

das mensagens contidas nas representações e a otimização do acesso e uso de

ambientes catalográficos, por meio da intersecção entre os Itens bibliográficos e as

necessidades informacionais dos usuários. Nesse sentido, o processo de

catalogação deve ser ampliado adicionando a ele a responsabilidade de definição

das estruturas conceituais de representação dos Itens bibliográficos e, para tanto, o

profissional catalogador necessita buscar essas ferramentas que possibilitam um

melhor desenvolvimento da área da catalogação.

Essa ampliação do processo de catalogação permite a expansão do papel

do catalogador que passa a desempenhar atividades que até então ficavam a


232

cargo do profissional da computação, como por exemplo, a modelagem conceitual

do catálogo. Tendo em vista que o catalogador é o profissional especializado para

identificar as necessidades em todos os níveis de usuários e que a estrutura do

catálogo influencia o processo de busca da informação, esta pesquisa procurou, a

partir da demonstração da construção de modelos conceituais de dados, como

parte do processo de catalogação, baseada na perspectiva de uso dos FRBR no

desenvolvimento de catálogos bibliográficos digitais, ressaltar a importância do

papel do catalogador no desenvolvimento de ambientes informacionais de

catálogos bibliográficos digitais, bem como, apresentar um processo de

catalogação mais eficaz, que vise facilitar o encontro, a identificação, a seleção e a

obtenção de conteúdos informacionais.


233

REFERÊNCIAS
234

REFERÊNCIAS

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241

ANEXOS
242

ANEXOS

Anexo A: Mapeamento dos FRBR para Elementos de Dados MARC

Extraído de DELSEY, T. Functional analysis of the MARC21 bibliographic and holdings


formats. Washington: Library of Congress, 6 apr. 2006. Disponível em: <
http://www.loc.gov/marc/marc-functional-analysis/functional-analysis.html>. Acesso em: 20 jun.
2010.
243

APÊNDICES
244

APÊNDICES

Apêndice A: Estrutura de Metadados do Modelo Proposto

Tabela Tipo da Tabela Atributo Referência


TipoIdentificador Categorizador
IDTipoIdentificador Chave Primária
Descricao
TipoNome Categorizador
IDTipoNome Chave Primária
Descricao
TipoRelacionamento Categorizador
IDTipoRelacionamento Chave Primária
Descricao
TipoResponsabilidade Categorizador
IDTipoResponsabilidade Chave Primária
Descricao
Forma Categorizador
IDForma Chave Primária
Nome
Periodicidade Categorizador
IDPeriodicidade Chave Primária
Nome
FormaSuporte Categorizador
IDFormaSuporte Chave Primária
Nome
MeioFisico Categorizador
IDMeioFisico Chave Primária
Nome
CondicaoItem Categorizador
IDCondicaoItem Chave Primária
Nome
Nome FRAD
IDNome Chave Primária
IDTipoNome Entidade TipoNome
Nome
IDIdioma Entidade Idioma
Identificador FRAD
IDIdentificador Chave Primária
IDTipoNome Entidade TipoIdentificador
Valor
Sufixo
IDObra Entidade Obra
IDExpressao Entidade Expressao
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDItem Entidade Item
IDPessoa Entidade Pessoa
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
IDConceito Entidade Conceito
IDObjeto Entidade Objeto
IDEvento Entidade Evento
IDLugar Entidade Lugar
Obra FRBR – Grupo 1
IDObra Chave Primária
Data
Outros Atributos 1
ObraNome FRAD
IDObraNome ChavePrimaria
IDObra Entidade Obra
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
ObraForma FRBR – Grupo 1
245

IDObraForma ChavePrimaria
IDObra Entidade Obra
IDForma Entidade Forma
Expressao FRBR – Grupo 1
IDExpressao Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDIdioma Entidade Idioma
IDPeriodicidade Entidade Periodicidade
OutraCaracteristica
RestricaoUso
Outros Atributos 1
ExpressaoNome FRAD
IDExpressaoNome ChavePrimaria
IDExpressao Entidade Expressao
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
ExpressaoPeriodicidade FRBR – Grupo 1
IDExpressaoPeriodicidade ChavePrimaria
IDExpressao Entidade Expressao
IDPeriodicidade Entidade Periodicidade
ExpressaoForma FRBR – Grupo 1
IDExpressaoForma ChavePrimaria
IDExpressao Entidade Expressao
IDForma Entidade Forma
Manifestacao FRBR – Grupo 1
IDManifestacao Chave Primaria
Edicao
ExtensaoSuporte
DimensaoSuporte
FonteAquisicao
RestricoesAcesso
Numeracao
Outros Atributos 1
ManifestacaoNome FRAD
IDManifestacaoNome ChavePrimaria
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
ManifestacaoFormaSuporte FRBR – Grupo 1
IDManifestacaoFormaSuporte ChavePrimaria
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDFormaSuporte Entidade FormaSuporte
ManifestacaoMeioFisico FRBR – Grupo 1
IDManifestacaoMeioFisico ChavePrimaria
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDMeioFisico Entidade MeioFisico
Item FRBR – Grupo 1
IDItem Chave Primária
IDManifestacao Entidade Manifestacao
ItemNome FRAD
IDItemNome ChavePrimaria
IDItem Entidade Item
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
ItemCondicaoItem FRBR – Grupo 1
IDItemCondicaoItem ChavePrimaria
IDItem Entidade Item
IDCondicaoItem Entidade CondicaoItem
Pessoa FRBR – Grupo 2
IDPessoa Chave Primária
DataNascimento
DataFalecimento
Titulo
Outros Atributos 2
PessoaNome FRAD
IDPessoaNome ChavePrimaria
IDPessoa Entidade Pessoa
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
EntidadeColetiva FRBR – Grupo 2
IDEntidadeColetiva Chave Primária
246

Numero
Data
ID_Local Entidade Local
Outros Atributos 2
EntidadeColetivaNome FRAD
IDEntidadeColetivaNome ChavePrimaria
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
Conceito FRBR – Grupo 3
IDConceito Chave Primária
ConceitoNome FRAD
IDConceitoNome ChavePrimaria
IDConceito Entidade Conceito
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
Objeto FRBR – Grupo 3
IDObjeto Chave Primária
Outros Atributos 2
ObjetoNome FRAD
IDObjetoNome ChavePrimaria
IDObjeto Entidade Objeto
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
Evento FRBR – Grupo 3
IDEvento Chave Primária
Outros Atributos 2
EventoNome FRAD
IDEventoNome ChavePrimaria
IDEvento Entidade Evento
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
Lugar FRBR – Grupo 3
IDLugar Chave Primária
Outros Atributos 2
LugarNome FRAD
IDLugarNome ChavePrimaria
IDLugar Entidade Lugar
IDNome Entidade Nome
Outros Atributos 2
ObraPessoa Responsabilidade
IDObraPessoa Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDPessoa Entidade Pessoa
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ObraEntidadeColetiva Responsabilidade
IDObraEntidadeColetiva Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ExpressaoPessoa Responsabilidade
IDExpressaoPessoa Chave Primária
IDExpressao Entidade Expressao
IDPessoa Entidade Pessoa
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ExpressaoEntidadeColetiva Responsabilidade
IDExpressaoEntidadeColetiva Chave Primária
IDExpressao Entidade Expressao
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ManifestacaoPessoa Responsabilidade
IDManifestacaoPessoa Chave Primária
IDManifestacao Entidade Manifestacao
247

IDPessoa Entidade Pessoa


Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ManifestacaoEntidadeColetiva Responsabilidade
IDManifestacaoEntidadeColetiva Chave Primária
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ItemPessoa Responsabilidade
IDItemPessoa Chave Primária
IDItem Entidade Item
IDPessoa Entidade Pessoa
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ItemEntidadeColetiva Responsabilidade
IDItemEntidadeColetiva Chave Primária
IDItem Entidade Item
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
Data
IDTipoResponsabilidade Entidade TipoResponsabilidade
IDLugar Entidade Lugar
ObraAssuntoConceito Assunto
IDObraAssuntoConceito Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDConceito Entidade Conceito
ObraAssuntoObjeto Assunto
IDObraAssuntoObjeto Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDObjeto Entidade Objeto
ObraAssuntoEvento Assunto
IDObraAssuntoEvento Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDEvento Entidade Evento
ObraAssuntoLugar Assunto
IDObraAssuntoLugar Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDLugar Entidade Lugar
ObraAssuntoPessoa Assunto
IDObraAssuntoPessoa Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDPessoa Entidade Pessoa
ObraAssuntoEntidadeColetiva Assunto
IDObraAssuntoEntidadeColetiva Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
ObraAssuntoObra Assunto
IDObraAssuntoObra Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDObraAssunto Entidade Obra
ObraAssuntoExpressao Assunto
IDObraAssuntoExpressao Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDExpressao Entidade Expressao
ObraAssuntoManifestacao Assunto
IDObraAssuntoManifestacao Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDManifestacao Entidade Manifestacao
ObraAssuntoItem Assunto
IDObraAssuntoItem Chave Primária
IDObra Entidade Obra
IDItem Entidade Item
ExpressaoAssuntoConceito Assunto
IDExpressaoAssuntoConceito Chave Primária
IDExpressao Entidade Expressao
IDConceito Entidade Conceito
ManifestacaoAssuntoConceito Assunto
IDManifestacaoAssuntoConceito Chave Primária
248

IDManifestacao Entidade Manifestacao


IDConceito Entidade Conceito
ObraparaObra Relacionamento
IDObraparaObra Chave Primaria
IDObra Entidade Obra
IDObraReferencia Entidade Obra
IDTipoRelacionamento Entidade TipoRelacionamento
ExpressaoparaExpressao Relacionamento
IDExpressaoparaExpressao Chave Primaria
IDExpressao Entidade Expressao
IDExpressaoReferencia Entidade Expressao
IDTipoRelacionamento Entidade TipoRelacionamento
ExpressaoparaObra Relacionamento
IDExpressaoparaObra Chave Primaria
IDExpressao Entidade Expressao
IDObra Entidade Obra
IDTipoRelacionamento Entidade TipoRelacionamento
ManifestacaoparaManifestacao Relacionamento
IDManifestacaoparaManifestacao Chave Primaria
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDManifestacaoReferencia Entidade Manifestacao
IDTipoRelacionamento Entidade TipoRelacionamento
ItemparaItem Relacionamento
IDItemparaItem Chave Primária
IDItem Entidade Item
IDItemReferencia Entidade Item
IDTipoRelacionamento Entidade TipoRelacionamento
ItemparaManifestacao Relacionamento
IDItemparaManifestacao Chave Primária
IDItem Entidade Item
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDTipoRelacionamento Entidade TipoRelacionamento
EntidadeBibliografica Modelagem
Dinâmica de
Atributos
IDEntidadeBibliografica Chave Primária
Nome
Grupo
TipoAtributo Modelagem
Dinâmica de
Atributos
IDTipoAtributo Chave Primária
IDEntidadeBibliografica Entidade EntidadeBibliografica
Descricao
Dominio
PermiteNulo
Atributo Modelagem
Dinâmica de
Atributos
IDAtributo Chave Primária
IDTipoAtributo Entidade TipoAtributo
IDObra Entidade Obra
IDExpressao Entidade Expressao
IDManifestacao Entidade Manifestacao
IDItem Entidade Item
IDPessoa Entidade Pessoa
IDEntidadeColetiva Entidade EntidadeColetiva
IDConceito Entidade Conceito
IDObjeto Entidade Objeto
IDEvento Entidade Evento
IDLugar Entidade Lugar
Valor
PadraoMetadados Interoperabilidade
IDPadraoMetadados Chave Primária
Descricao
Parametros
ElementoMetadados Interoperabilidade
IDElementoMetadados Chave Primária
IDPadraoMetadados Entidade PadraoMetadados
Nome
EntidadeElementoMetadados Interoperabilidade
249

IDEntidadeElementoMetadados Chave Primária


IDEntidade Entidade Entidade
IDElementoMetadados Entidade ElementoMetadados
Relacionamento
Atributo
Campo
SubCampo
Posicao
TipoAtributoMetadados Interoperabilidade
IDTipoAtributoMetadados Chave Primária
IDTipoAtributo Entidade TipoAtributo
IDElementoMetadados Entidade ElementoMetadados
IDForma Entidade Forma
SubCampo
Posicao
1 – podem ser definidos outros atributos FRBR de acordo com os requisitos do cenário
2 – podem ser definidos outros atributos FRBR e FRAD de acordo com os requisitos do cenário

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