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Desenvolvimento de um Protótipo de Repositório Digital

Aplicado à Faculdade de Farmácia da Univ. Lisboa

Sílvia Lopes Pedro Faria Lopes Fernanda Campos


Biblioteca da Faculdade de Farmácia ISCTE - IUL Biblioteca Nacional de Portugal
Universidade de Lisboa Av. Forças Armadas Campo Grande, 83
Av. Prof. Gama Pinto 1649-026 Lisboa 1749-081 Lisboa
1649-003 Lisboa Tel. 21 7903978 Tel. 21 7982182
Tel. 217946484 E-mail: [email protected] Email: [email protected]
E-mail: [email protected]

RESUMO publicação e disponibilização da sua produção


Na presente comunicação apresentam-se soluções científica, por isso torna-se importante que os serviços
práticas para o tratamento e disponibilização de de apoio à investigação, como as bibliotecas, criem e
informação em formato digital no contexto das ciências desenvolvam mecanismos que respondam de forma
farmacêuticas, tendo sido criado um protótipo de positiva a estas questões. Estas respostas positivas
repositório digital de ciências farmacêuticas aplicado à passam por olhar para os utilizadores como clientes que
realidade da Faculdade de Farmácia da Universidade de buscam um serviço – neste caso, informação – e para os
Lisboa. Numa primeira fase, desenvolveu-se um quais se desenvolvem esforços no tratamento da
trabalho de investigação sobre a realidade das mesma, bem como pela criação de serviços cada vez
bibliotecas e repositórios digitais no contexto mais próximos e amigáveis. Para tal, necessitam
universitário, as vantagens, os problemas e os principais adequar os seus serviços às novas necessidades e à nova
desafios que os profissionais da informação e as tipologia de utilizadores, cada vez mais ávidos na
instituições têm de ultrapassar. Finalmente, tendo por utilização das tecnologias de informação mas nem
base o trabalho até então desenvolvido, e após a análise sempre preparados para a imensa informação que se
de plataformas disponíveis em open source para criação descobre na Web. Assim, propõe-se o desenvolvimento
e implementação de repositórios digitais, procedeu-se à de um protótipo de repositório digital, em especial para
escolha da plataforma e construção de um protótipo de a área das Ciências Farmacêuticas mas que possa ser
repositório digital. Esta construção implicou a instalação implementado em qualquer biblioteca ou instituição
e configuração do software adequado e a parametrização universitária na área da Saúde.
do sistema de acordo com as necessidades previamente
TECNOLOGIAS DIGITAIS NO CONTEXTO
identificadas. Este trabalho foi realizado no contexto da
UNIVERSITÁRIO
dissertação de mestrado em Estudos de Informação e
As bibliotecas universitárias têm desempenhado um
Bibliotecas Digitais.
papel fundamental para o desenvolvimento científico e
PALAVRAS-CHAVE: Repositório digital, Metadados, para a investigação, bem como, no apoio às actividades
Organização da informação, Protótipo, Dspace; ligadas ao ensino. Possuem como principais objectivos
proporcionar aos seus utilizadores o acesso rápido à
KEYWORDS: Digital repository, Metadata, informação pertinente, através de fontes de informação
Organization of information, Prototype, Dspace. actualizadas nas suas áreas de interesse. Com o advento
das novas tecnologias é bastante importante tentar
perceber que transformações o “digital” acrescenta à
INTRODUÇÃO realidade das bibliotecas.
Um dos problemas que, actualmente, se coloca às ARMS (2000) acredita que as bibliotecas digitais
bibliotecas universitárias, é o acesso e o tratamento de possibilitarão uma melhor disponibilização da
informação em formato digital por ser um tipo de informação e que trazem diversos benefícios como a
informação tecnologicamente diversificado e não existir aproximação do utilizador à biblioteca, a facilidade da
conhecimento técnico correcto sobre o seu pesquisa de informação através das aplicações
manuseamento. Assim, pretende-se saber de que modo informáticas, a partilha e actualização da informação, o
as bibliotecas devem actuar e que tipo de ferramentas e facto de estar disponível 24 horas sobre 24 horas bem
metodologias deverão utilizar de forma a disponibilizar, como o aparecimento de outros formatos para além do
de forma organizada e validada, o vasto conjunto de impresso.
informação existente em formato digital. Dado que a
ciência evolui rapidamente, as necessidades de Produção Científica e Repositórios Digitais
informação quotidianas na área da Saúde, que é objecto Nos finais do século XX, o modelo de publicação da
de interesse, no âmbito deste trabalho, são grandes e produção científica entra em crise (CORREIA et al.,
requerem um acesso rápido à informação. A 2002a e 2002b ; WEITZEL, 2006) colocando em causa
credibilidade das instituições que se dedicam à a acessibilidade e a disseminação dessa produção. Os
investigação e ao desenvolvimento científico resulta da prazos entre a submissão, aceitação e efectiva
publicação são muito extensos e as bibliotecas deixaram se fundamental criar uma equipa multidisciplinar
de conseguir acompanhar os elevados custos das constituída por bibliotecários, informáticos,
publicações periódicas comprometendo quer o acesso investigadores, responsáveis departamentais, directores
quer o desenvolvimento científico. Desta forma, no da instituição e pessoal envolvido com a política de
início do século XXI, deu-se uma “revolução” no gestão da instituição. Em simultâneo, é indispensável o
modelo de comunicação da produção científica, com a apoio e participação de toda a comunidade para que o
reorganização dos processos e iniciativas dos próprios repositório seja amplamente reconhecido como uma
investigadores, através da Web, que permitem o acesso mais-valia para a instituição e, em particular, para os
livre à sua produção, promovendo a comunicação entre seus membros (CAFÉ, et al., 2003; LYNCH, 2003;
investigadores, a integração de comunidades científicas COELHO, 200?).
geograficamente dispersas e a partilha de conhecimento Para que se avance na construção, implementação e
(VIANA et al., 2005; WEITZEL, 2006; VIANA et al., desenvolvimento do repositório é necessário
2007). Assim, para garantir um modelo de publicação desenvolver políticas internas relacionadas com os
da produção científica que permita o acesso, a procedimentos a adoptar para submissão de documentos
credibilidade, a disseminação e o desenvolvimento no repositório, com os direitos de autor, com o acesso à
científico surgem os repositórios digitais, baseados na informação, com a preservação digital e com a
filosofia OAI – Open Archive Initiative. utilização do repositório pela comunidade
O facto de as universidades serem geradoras de (responsáveis, administradores e utilizadores do RI,
informação científica que tenderá a ser utilizada quer a sejam eles indivíduos ou centros e departamentos)
nível interno quer a nível externo, factor que atribui (WEITZEL, 2006; VIANA et al., 2006).
maior credibilidade quer aos próprios autores- Os próprios autores investigadores identificam inúmeras
investigadores quer às próprias universidades, originou vantagens na existência de repositórios institucionais
o aparecimento de repositórios nas instituições de como uma maior audiência, acessibilidade e impacto da
ensino superior (CAFÉ, et al., 2003). produção científica (COSTA et al., 2006). Os
CROW (2003) e RODRIGUES (2004b) consideram repositórios também afectam positivamente as próprias
repositórios institucionais como “colecções digitais que instituições, uma vez que podem ser a forma da
armazenam, preservam, divulgam e dão acesso à instituição se mostrar no mundo académico e científico
produção intelectual de comunidades universitárias” e ter maior credibilidade, ao disponibilizar a sua
(CROW, 2003 in CAMARGO et al., 2006; produção científica em livre acesso (L’HOSTIS et al.,
RODRIGUES, 2004b). No entanto LYNCH (2003) 2007).
define repositório institucional de uma universidade Outra vantagem identificada é o facto de o repositório
como um conjunto de serviços que a universidade poder ser uma importante ferramenta no processo de
presta à sua comunidade, e que visa a gestão e difusão avaliação das unidades de investigação e dos próprios
dos documentos digitais criados pela instituição e pelos investigadores ao possibilitar o acesso a dados
membros dessa mesma comunidade e CROW (2002) estatísticos, gerar relatórios de actividade, estatísticas de
acrescenta que os repositórios institucionais, para além acesso aos seus documentos (número de acessos,
de permitirem o acesso livre à informação e de consultas e downloads) (RODRIGUES, 2004c).
reduzirem o monopólio dos periódicos científicos, Apesar dos diversos benefícios da criação de um
também podem servir como indicadores da qualidade da repositório institucional, são apontadas algumas
própria universidade e “demonstrar a relevância preocupações, tais como, a diversidade de tipos de
científica, social e económica das suas actividades de utilizador poder dificultar a recuperação da informação
investigação, aumentando a visibilidade, o status e o (CAMARGO et al., 2006). Outros estudos recentes
valor público da instituição” (CROW, 2002; LEITE et efectuados evidenciam preocupação com o peer review
al., 2006a e 2006b). nos repositórios (COSTA et al., 2006) no entanto
No que se refere aos conteúdos, os repositórios podem VIANA, et al., (2005) consideram que os repositórios
armazenar diversos tipos de documentos que podem ser podem gerar condições de discussão entre os pares e
arquivados em diferentes formatos de texto, imagem, intercâmbio de ideias. LYNCH (2003) alerta, ainda,
áudio, vídeo, podendo co-existir vários para o mesmo para a possibilidade de, por razões que se prendem com
conteúdo (RODRIGUES, 2004a; CÂNDIDO, 2004; as políticas adoptadas, falhas de gestão e/ou questões
CAFÉ, et al., 2003). Quanto à veracidade dos conteúdos técnicas, o repositório deixar de funcionar. Neste caso
ao longo do tempo, é necessário adoptar políticas de poderão ocorrer problemas no acesso à informação ou,
gestão e selecção dos conteúdos com valor científico. pior, poderão ocorrer perdas totais e permanentes de
Desta forma, a criação de um repositório digital que documentação armazenada no repositório.
centralize, também, os materiais produzidos na própria
instituição, que os organize e permita a sua pesquisa e CRIAÇÃO DE CONTEÚDOS DIGITAIS
recuperação e que permita serem os próprios autores a
alimentarem a base de dados do repositório digital, Integridade e Autenticidade dos Objectos Digitais
torna-se uma mais-valia no contexto académico e Objectos Digitais. Objecto Digital é definido pelo
científico na medida em que fomenta, preserva e PREMIS (2005) como sendo a unidade discreta de
divulga a produção científica interna de uma instituição informação no formato digital. Esta unidade pode ser de
universitária. 3 tipos: file, bitstream e representation. File é uma
sequência de dígitos binários com determinado
Repositórios Institucionais: Vantagens e Problemas tamanho, geralmente expresso em bytes, com ordem e
Um dos aspectos mais importantes no processo de nome e que é reconhecida por um sistema operativo.
construção de um repositório institucional, para além de Um bitstream é um conjunto de dados dentro de um file
todas as questões técnicas que dizem respeito ao que possui características importantes ao nível da
software de suporte e implementação das diversas preservação digital. Uma representation é um conjunto
aplicações, é a questão dos intervenientes. Assim, torna- de files que inclui metadados estruturais necessários
para a apresentação de uma Intellectual Entity Metadados. Metadados são definidos como sendo
(BARBEDO, et al., 2007). PREMIS (2005) define informação estruturada que descreve, explica e localiza
Intellectual Entity como um conjunto de conteúdos ou facilita a recuperação e utilização de um recurso de
coerentes que podem ser descritos como uma unidade informação (NISO, 2004; TAYLOR, 2003). A
indissociável de informação (um livro, uma imagem ou informação armazenada numa biblioteca digital deve
uma base de dados) e que pode conter outras entidades ser dividida em dados e metadados. Os dados são
no seu interior (como uma imagem dentro de um livro) utilizados para descrever informação que está
(BARBEDO, et al., 2007). codificada sob a forma digital enquanto metadados é
informação sobre informação (ARMS, 2000). Os
Identificadores. Um identificador tem como função metadados podem ser descritivos (informação
referenciar um objecto que é único. A identificação dos bibliográfica e identificação dos recursos, tais como
diversos recursos é fundamental para a sua utilização, títulos, autores, informação de indexação ou
sejam esses digitais ou analógicos. classificação, resumos, etc.), administrativos (direitos,
Se numa biblioteca, os documentos estão associados a permissões e outras informações relacionadas com a
um suporte físico, num ambiente digital essa associação gestão do acesso e elementos sobre a sua forma de
torna-se bem mais árdua pois os objectos digitais não aquisição, custo, etc.) e estruturais (informação acerca
possuem características físicas. Com vista a obviar esta dos formatos e estrutura dos documentos, informação
dificuldade, os documentos digitais são identificados de autenticação, chaves de codificação ou de
através de URIs. descodificação, informação estrutural, etc.) (ARMS,
Os URIs (Uniform Resource Identifiers) são um 2000; BORBINHA et al., 2002).
conjunto de caracteres definidos com uma sintaxe Existem diversos esquemas de metadados. Os
própria e que permitem identificar um determinado metadados são uma linguagem e, como tal, são
recurso que, assim, poderá ser utilizado em diversas compostos por vocabulário, semântica e sintaxe. O
aplicações. No conjunto de URIs podemos reconhecer vocabulário é o conjunto de palavras conhecidas por um
outros identificadores como os URLs (Uniform indivíduo ou qualquer outra entidade, concreta ou
Resource Locator), os URNs (Uniform Resource abstracta. A semântica corresponde ao significado
Names) e ainda os URCs (Uniform Resources atribuído ao vocabulário e a sintaxe são as regras de
Characteristics) (PEACOCK, 1998). estruturação do vocabulário e da semântica. Importa,
Genericamente, um URL identifica a localização de um então, perceber a utilidade destas linguagens no âmbito
determinado documento digital enquanto um URN das Bibliotecas e Repositórios Digitais.
identifica o próprio documento que poderá estar em
diversos locais da rede ou mesmo ter sido movido. Preservação de Conteúdos Digitais.
Inicialmente, os objectos digitais eram identificados A Comissão das Comunidades Europeias (CCE)
através de URLs. No entanto, rapidamente se percebeu elaborou, em 2005, um relatório no qual dá a conhecer a
a necessidade de que esses objectos tivessem, para além sua posição relativamente à iniciativa «i2010:
do local, um nome a ele associado pois a instabilidade Bibliotecas Digitais». Nesse relatório, a CCE
do ambiente digital não garante que a localização de um pronuncia-se acerca da preservação dos conteúdos
documento seja persistente no tempo. digitais a longo prazo, sobre a qual considera que todo o
Em 1994, foi criado um sistema que possibilita o material digital, seja ele digitalizado ou nado-digital,
armazenamento e mapeamento de identificadores, tem de ser preservado a fim de se manter disponível
denominado Handle System. No entanto, este sistema para utilização. Considera ainda, que a “preservação
requer a utilização de software específico, digital é um problema vital para a sociedade da
disponibilizado pela própria Corporation for National informação”, identificando algumas fragilidades, como
Research Initiatives (CNRI), e usa servidor proxy. a “sucessão de gerações de hardware que podem tornar
Nesse sentido, a OCLC desenvolveu o sistema PURL os ficheiros ilegíveis”, a “sucessão e obsolescência
para evitar a utilização do software especial. rápidas dos programas informáticos” ou a “vida
O sistema PURL (Persistent URL) foi criado utilizando limitada dos dispositivos de armazenamento digital, por
apenas tecnologia normalizada da Web. O PURL exemplo os CD-ROM” (CCE, 2005). A este nível a
fornece acesso indirecto aos documentos e dessa forma CCE (2005) considera que “(…) a menos que se
garante que, mesmo que o URL do recurso seja proceda à migração dos dados para os programas
alterado, o PURL será mantido e o recurso permanecerá actuais ou se tenha o cuidado de conservar o código-
recuperável (CÂNDIDO, 2004). fonte original, a recuperação da informação pode
Em termos de funcionalidade, a OCLC (2008) esclarece tornar-se muito onerosa, senão mesmo impossível. (…)
que um PURL é o mesmo que um URL. A diferença [como acontece no] caso de formatos de dados
está em que o PURL aponta para um servidor “fechados”, cujo código-fonte não é conhecido
intermédio (serviço intermediário) que associa o PURL publicamente” (CCE, 2005).
com o URL de determinado documento e o devolve ao A preservação digital pode ser encarada segundo dois
cliente (OCLC, 2008). contextos: preservação da informação existente num
Outro tipo de identificador existente é o DOI (Digital suporte analógico através do processo de digitalização
Object Identifier) e pode ser atribuído a qualquer da sua imagem ou a preservação no sentido de
entidade para ser utilizado em ambientes digitais. Os armazenar, manter e permitir o acesso aos conteúdos
DOI, que utilizam o Handle System, providenciam uma digitais a longo prazo (CAMPOS et al., 2007).
identificação persistente, gerindo os conteúdos Preservação digital pode ser definida como o “conjunto
intelectuais e os metadados e fazem a ligação entre de actividades ou processos responsáveis por garantir o
clientes e editores, facilitado o comércio electrónico acesso continuado a longo prazo à informação e restante
(IDF, 2007; PASKIN, 1999). Por essa razão, património cultural existente em formatos digitais”
vulgarmente, são usados nas publicações periódicas em (FERREIRA, 2006).
linha, nomeadamente, nos artigos científicos. Importa, neste momento, compreender a preservação
digital num ambiente de repositório e, portanto, assegurar da interoperabilidade implica a reestruturação
debruçar esta análise no âmbito da recuperação dos e remodelação dos procedimentos organizacionais,
conteúdos digitais a longo prazo. nomeadamente nas relações com os utilizadores e com
O contexto tecnológico que permitirá o acesso aos o uso da informação. Nesse sentido têm-se
objectos digitais torna-os vulneráveis pois a tecnologia desenvolvido uma série de padrões e protocolos de
está sujeita a grandes mutações que as tornam obsoletas. comunicação, transferência, armazenamento e
No entanto, esta questão da obsolescência também se codificação de informação, como o Z39.50, o OAI-
verifica ao nível do software. À medida que surgem PMH e o XML (SAYÃO, 2007).
novas versões de software, os formatos que eles
produzem também sofrem alterações pelo que é DIREITOS DE AUTOR E PRESERVAÇÃO
necessário que as novas versões suportem e consigam INTELECTUAL
ler os formatos das versões anteriores (FERREIRA, Os direitos de autor e a preservação intelectual são duas
2006). das grandes questões com que as bibliotecas se
Importa, agora, perceber de que formas se deve deparam. Se até final dos anos 60, as bibliotecas
proceder com vista à preservação dos conteúdos digitais conviveram de forma pacífica com estas questões,
do ponto de vista do próprio objecto digital. Assim, o posteriormente, com os desenvolvimentos tecnológicos,
modelo de referência OAIS (Open Archive Information a crescente necessidade de informação e o aumento da
System) visa associar a arquitectura e operacionalidade produção científica, as contendas com os direitos de
dos repositórios com os metadados. É fundamental que autor intensificaram-se (SANTOS et al., 2007). Os
um repositório considere as questões da preservação mesmos autores colocam três questões fundamentais, no
digital a longo prazo desenvolvendo e mantendo âmbito das bibliotecas digitais: “(…) como manter as
metadados descritivos, estruturais e administrativos. excepções ao Direito de Autor (…) de modo a permitir
SARAMAGO (2004) define metadados para que as bibliotecas participem na livre circulação de
preservação a longo prazo como toda a informação que conhecimentos no universo digital? Como evitar que os
poderá apoiar os processos associados à preservação a novos direitos e técnicas de propriedade a ele
longo prazo de um objecto, ou seja, informação sobre a associadas venham a reduzir a capacidade de acedermos
sua proveniência, autenticidade, actividades de ao conhecimento? Como manter no seio dos bens
preservação, ambiente tecnológico e condicionantes comuns os documentos do domínio público que vão ser
legais. Estes processos estão associados quer às digitalizados?” (SANTOS et al., 2007).
transformações que os objectos sofrem ao longo do Assim, importa perceber o que são os direitos de autor,
tempo quer à rápida evolução das tecnologias que que directrizes e legislação existe neste âmbito a nível
permitem o acesso aos recursos (SARAMAGO, 2004; nacional, e de que modo as bibliotecas digitais devem
FERREIRA, 2006). Relativamente à inclusão de agir de forma a respeitar a legislação vigente, sem
metadados, esta deve ser efectuada desde a criação do esquecer o seu papel na transmissão do saber e no
objecto, pois ao serem introduzidos desde o início do acesso universal ao conhecimento.
processo facilitam todo o pro-cesso de preservação. Se É fundamental compreender as questões que se
os criadores dos recursos digitais adicionarem com os levantam quer por parte dos autores e editores quer por
seus trabalhos os metadados, será possível documentar parte das bibliotecas e dos seus utilizadores, pois esta
o recurso desde a sua criação. Quando os metadados são situação que se vive relacionada com os direitos de
incluídos numa fase mais avançada do ciclo de vida do autor e propriedade intelectual não é justa para nenhum
objecto, torna-se mais difícil adicionar determinadas dos intervenientes. Neste sentido, de forma a encontrar
informações e corre-se o risco de se perder alguma uma situação de equilíbrio entre as partes, e apesar de
informação. De qualquer modo, será sempre da não resolver totalmente o problema, nos últimos anos
responsabilidade de quem administra o repositório a surgiram algumas Directrizes Europeias bem como um
verificação da existência dos respectivos metadados novo enquadramento legal que visa a concessão de
bem como suprir as falhas existentes (CAMPOS et al., licenças Creative Commons. Estas disponibilizam um
2007). conjunto de licenças-padrão que permitem a partilha de
O repositório deverá ser responsável pela definição de informação pelos seus autores garantindo protecção e
um conjunto mínimo de metadados a integrar, pela liberdade, salvaguardando os seus direitos. Estas
elaboração de boas práticas a adoptar, pela licenças são totalmente gratuitas e constituem uma
monitorização dos processos, incluindo os de migração, ferramenta que permite a partilha e utilização legal de
e pela gestão e utilização dos metadados de forma a obras e trabalhos de carácter científico, pedagógico,
assegurar a preservação dos conteúdos digitais tecnológico e cultural (UMIC, 2007).
(CAMPOS et al., 2007).
PROTÓTIPO DE REPOSITÓRIO DIGITAL PARA A
PADRÕES DE INTEROPERABILIDADE FACULDADE DE FARMÁCIA DA UL
A necessidade de garantir a interoperabilidade e
integração entre os inúmeros sistemas de informação é Caracterização da Instituição
inquestionável. A criação de repositórios de dados e Desde que surgiu, em 1836, e até hoje, muitos foram os
serviços comuns/partilhados exigem a implantação de planos de estudos, como forma de acompanhar as
soluções que permitam a integração eficaz e segura importantes transformações ocorridas na área das
entre diferentes sistemas. Assim, pode definir-se Ciências Farmacêuticas. Actualmente, o plano de
interoperabilidade como o processo através do qual se estudos é composto por três áreas científicas: Ciências
assegura que diferentes sistemas, procedimentos e a Biológicas, Ciências Farmacêuticas e Ciências
própria cultura de uma organização sejam maximizados Químicas sendo que cada área científica é subdividida
permitindo a recuperação e utilização constante da em diversos subgrupos. (Faculdade de Farmácia da
informação (MILLER, 2000 in SAYÃO, 2007). O Universidade de Lisboa, 2008).
No que respeita à submissão/depósito pode concluir-se
pela caracterização prévia que ambas as plataformas
foram desenhadas para permitir que os próprios autores-
investigadores coloquem os seus materiais no
repositório. No entanto, o Eprints está mais
direccionado para o auto-arquivo de artigos científicos
peer reviewed produzidos pelas universidades enquanto
o DSpace se destina a uma variedade de usos
institucionais, que incluem também a gestão de
conteúdos digitais, preservação digital e publicações
electrónicas (HARNAUD, 2004).
Segundo o estudo comparativo da University of
Glasgow, o processo de submissão é bastante similar. A
diferença reside no facto de, no Eprints o processo se
Figura 1: Áreas Científicas e Subgrupos existentes basear na tipologia de documento e no Dspace se
na FFUL centrar na colecção em que se pretende adicionar o
documento (NIXON, 2003).
Paralelamente à actividade pedagógica, a Faculdade de Ambas as plataformas permitem ao utilizador o acesso a
Farmácia desenvolve actividade de investigação. Esta uma área pessoal. Para tal os utilizadores têm de se
actividade distribui-se pelos seguintes centros de registar com as suas credenciais de acesso. Uma vez
investigação: registados, os clientes têm a possibilidade de submeter
ƒ Centro de Patogénese Molecular os seus trabalhos, visualizar o estado processual dos
ƒ Centro de Estudos de Ciências Farmacêuticas trabalhos anteriormente submetidos. No Dspace, os
ƒ Centro de Química e Biotecnologia Farmacêutica utilizadores que sejam responsáveis por algumas tarefas
ƒ Unidade de Ciências e Tecnologia Farmacêuticas de admissão/verificação dos conteúdos previamente
ƒ Unidade de Biologia Molecular: Genética submetidos, têm a possibilidade de visualizar essa
Ambiental e Farmacogenética informação na sua área pessoal e a possibilidade de
ƒ Institute for Medicines and Pharmaceutical serem notificados por correio electrónico quando
Sciences existam novas tarefas pendentes.
Por sua vez, cada um destes centros é composto por Relativamente à área de administração, que permite
grupos associados a projectos de investigação. Da administrar um leque de serviços como a gestão de
actividade desenvolvida em cada projecto surge diversa utilizadores registados, a admissão de itens e a criação
informação em forma de artigos científicos, de comunidades e colecções, o estudo da University of
comunicações em conferências, contribuição dos Glasgow considera que o Dspace tem uma interface de
investigadores em literatura científica nomeadamente administração muito bem conseguida, com uma zona
em capítulos de livros, alguns documentos de trabalho e específica onde se listam as áreas que podem ser
relatórios bem como registo de patentes. administradas (NIXON, 2003).
O modelo de comunidades e colecções no Dspace
Metodologia possibilita que o acesso aos conteúdos das várias
A metodologia para o desenvolvimento do Repositório colecções possa ser bastante granular. Esta gestão de
Digital de Ciências Farmacêuticas engloba diversas acesso aos conteúdos é feita através de um leque de
fases. Na primeira fase, a selecção da plataforma a opções disponibilizadas pelas ferramentas de
adoptar para o repositório digital, foi necessário administração de políticas de autorização do Dspace.
conhecer as características do software existente. Neste Este disponibiliza um sistema de informação por correio
ponto, há que referir, a escolha de software em open electrónico no qual são gerados relatórios estatísticos
source. Para tal, foi necessária uma análise da literatura detalhados sobre o uso por parte dos utilizadores
existente sobre as plataformas e respectivo software. registados, sobre as pesquisas efectuadas na plataforma
Também foi importante visualizar os casos práticos de e o número de vezes que um determinado item foi
utilização dessas plataformas. acedido (RODRIGUES, 2004c; NIXON, 2003).
No Eprints é possível aplicar os controlos de acesso a
Plataformas para Repositórios Digitais
um item específico, bem como criar diferentes
Existem, actualmente, plataformas em Open Source processos de workflow e políticas de acesso para
destinadas à criação de Repositórios Institucionais, colecções específicas. Isto é possível através da criação
como o Dspace e o Eprints.
de grupos e políticas de acesso a cada colecção e aos
Ao analisar as características do EPrints e do DSpace seus conteúdos (NIXON, 2003).
podem identificar-se algumas diferenças. Estes usam Assim, a plataforma escolhida para desenvolver o
linguagens de programação distintas, Perl e Java,
protótipo de repositório digital foi o Dspace devido ao
respectiva-mente. Em relação à configuração, através de facto de poder ser utilizado para diversos tipos de
estudos comparativos efectuados pela University of documentos dentro de uma instituição e não só para
Glasgow, o Eprints necessita ser trabalhado em termos
artigos científicos peer-reviewed como é o caso do
de configurações. Estas alterações de configuração têm Eprints, possibilitar a gestão de conteúdos digitais e a
de ser efectuadas ao nível da codificação e implicam preservação digital e ser mais facilmente configurável
alterações em diversos ficheiros *.xml (NIXON, 2003).
sem necessitar de grandes alterações a nível da
O Dspace não necessita de grandes alterações na sua codificação.
configuração. No entanto, ao nível do Administrador, é
possível efectuar alterações na página das comunidades
e das colecções, com texto ou imagem, tal como
acrescentar informações sobre direitos de autor.
As Cores e o Logótipo. As cores representam um
importante papel no desenvolvimento de websites e
devem ser compatíveis com todos os sistemas para que
sejam correctamente visualizadas por todos os
utilizadores (BARRETT et al., 2001). Assim, é
aconselhável a utilização de uma palete de 216 cores,
habitualmente designada por web-safe color palette
(LYNCH et al., 2001). As cores são o modo como o
cérebro interpreta a radiação electromagnética cujo
comprimento de onda varia entre 350 e 750 nanómetros.
Em cada comprimento de onda é visualizada uma cor
diferente (JOHANSSON, 2007). Simultaneamente, as
cores também têm uma simbologia associada e que
transmite um determinado significado ao utilizador. A
escolha das cores utilizadas no website implicou
efectuar uma análise das melhores cores a adoptar de
forma que o website transmitisse credibilidade e
seriedade. Outro aspecto considerado foi a existência de
uma cor associada à área das ciências farmacêuticas
(roxo), e que corresponde também à cor adoptada pela
Figura 2: Quadro comparativo das plataformas Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Dspace e Eprints Assim, as cores escolhidas foram o branco, o roxo e o
cinzento. O branco simboliza simplicidade e harmonia,
Construção do Protótipo de Repositório Digital o roxo significa prosperidade, nobreza e respeito e o
A construção do protótipo engloba a instalação e cinzento é uma cor que transmite estabilidade, sucesso e
configuração do software, a selecção das cores e a qualidade (SIBAGRAPHICS, 2008).
escolha do logótipo, o tipo de identificadores Para o logótipo, foram considerados três aspectos: o
persistentes e o esquema de metadados adoptados, e a nome a atribuir ao protótipo, a área temática em que se
forma de organização da informação que se considerou enquadra e a cor adoptada. Assim, como o protótipo é
para o caso do repositório digital de ciências um repositório digital de ciências farmacêuticas
farmacêuticas aplicado à Faculdade de Farmácia da aplicado à Faculdade de Farmácia da Universidade de
Universidade de Lisboa. Um dos aspectos, inicialmente, Lisboa, vulgarmente designada como FFUL, o nome
considerados foi a implementação do protótipo num atribuído foi “FFUL digital – Repositório Digital da
servidor. No entanto, esta implementação, inicialmente Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa”. Por
planeada, não se concretizou visto a aquisição do outro lado, as ciências farmacêuticas são usualmente
servidor Linux pela Faculdade de Farmácia da representadas por um almofariz ou taça de Hygeia
Universidade de Lisboa não se ter verificado, como se (deusa da saúde na mitologia grega) e a serpente de
esperava. Epidaurus (cidade da Grécia antiga, situada junto do
Assim, adoptou-se o ambiente Windows no qual foram Mar Egeu e célebre pelo santuário de Aesculapius, deus
instalados o Java SDK 1.5, o PostgreSQL 8.2 para da medicina). A utilização da serpente como símbolo
Windows, o Apache Ant 2.0. e o Jakarta Tomcat 5.5. médico-farmacêutico tem origem numa lenda segundo a
Seguidamente procedeu-se à instalação do software do qual o herói Gilgamesh mergulha nas profundezas dos
Dspace. Apesar de, no momento da instalação, já existir mares para colher a planta da eterna juventude e, ao
uma versão 1.5, a versão mais estável é a 1.4.2, pelo regressar, uma serpente engole-a e rejuvenesce (DIAS,
que foi essa a adoptada. Terminada a instalação, 2005).
iniciou-se o serviço Tomcat e abrindo o browser com a No entanto, em França, a Société Libre de Pharmaciens
hiperligação http://localhost:8080/dspace pode de Paris, fundada em 1796 usava um símbolo composto
visualizar-se a página pré-definida do Dspace. pela serpente enrolada numa palmeira e crê-se que
entrou em Portugal como uma forma de homenagem,
apesar de nunca abertamente assumida, à revolução
francesa.

Figura 4: Símbolo original da Société Libre de


Pharmaciens de Paris (extraído de Simon, 2005)
Figura 3: Página de entrada original do Dspace.
Assim, o símbolo da FFUL, composto pela serpente
De seguida, configurou-se o Dspace de acordo com as enrolada na palmeira, é adaptado do símbolo original da
necessidades do cliente. Sociedade Farmacêutica Lusitana, criada em 1835.
Os elementos que compõem este símbolo têm um A existência de templates tem como principais
significado mais específico: a palmeira representa o vantagens a identificação dos principais campos a serem
reino vegetal, a serpente o reino animal e as rochas na preenchidos numa situação de auto-arquivo, por parte
base da palmeira o reino mineral (Royal Pharmaceutical dos utilizadores. Por outro lado, a existência de
Society of Great Britain, [S.d.]). templates para cada tipo de documento permite manter,
Desta forma, considerou-se importante manter a quer a qualidade e completude dos registos
identidade da Faculdade, conjugando o símbolo bibliográficos, quer facilitar a recuperação da
utilizado pela faculdade com o nome do protótipo. informação no repositório e/ou no catálogo
bibliográfico. Assim, para os principais tipos de
recursos, definiram-se templates com os respectivos
campos de preenchimento.
Um aspecto importante é a integração dos recursos com
Figura 5: Logótipo e designação adoptados no o catálogo bibliográfico ou, no mínimo, a existência de
protótipo ligação entre os objectos do repositório digital e o
registo bibliográfico do catálogo da biblioteca. Esta
Identificadores. O Dspace usa o CNRI Handle System ligação é possível colocando o identificador persistente,
para criar identificadores persistentes, que permitem atribuído a cada documento, no registo bibliográfico da
que referências para recursos digitais permaneçam obra em causa, nos registos bibliográficos do catálogo
disponíveis a longo prazo. No entanto, é possível da Biblioteca. Esta informação deverá ser introduzida
utilizar outro tipo de identificador, por exemplo, PURL. no campo 856 (Unimarc) como se exemplifica a seguir:
Até à entrada em produção do repositório, o Dspace
disponibiliza um servidor teste que gera handles
fictícios do tipo http://hdl.handle.net/123456789/n em
que n varia de [1,+∞[ e corresponde ao número de
ordem de um determinado objecto criado no Dspace.
Estes handles são gerados meramente para testes (são
iguais em cada uma das instalações de teste que existem Figura 7: Campo 856 – Localização e acesso
do Dspace e o Handle System não os reconhece). electrónico
Para usar o sistema handle é necessário instalar o
servidor handle que o Dspace disponibiliza. Dado que, Desta forma, qualquer utilizador que efectue a pesquisa
no decorrer do desenvolvimento deste trabalho, não foi no catálogo bibliográfico da Biblioteca da Faculdade de
possível ter um servidor específico para a Farmácia conseguirá aceder ao documento em formato
implementação deste projecto, na fase de testes foi digital.
utilizado o servidor teste disponibilizado pelo Dspace. A integração do repositório digital com o catálogo
No futuro, assim que o processo de instalação do bibliográfico também poderá ser considerada na
servidor handle e registo no CNRI for efectuado, ser- alimentação inicial do repositório digital. Outra
nos-á atribuído um prefixo único e o nosso identificador possibilidade é o catálogo bibliográfico poder ser
passa a ser do tipo http://hdl.handle.net/xxxx/n, alimentado a partir do repositório digital, no caso de
identificando os objectos digitais de forma unívoca. introdução de novos objectos digitais. Desta forma,
evitar-se-ia a duplicação de tarefas.
Esquema de Metadados. O Dspace incorpora o Dublin
Core como esquema de metadados por defeito. No Organização da Informação. No processo de
entanto, permite que se configure outros esquemas de organização da informação, e pelo que se observou no
metadados caso o cliente neces-site. No caso particular estudo das bibliotecas e repositórios digitais
do repositório digital de ciências farmacêuticas, dadas apresentado no capítulo 3, percebe-se a possibilidade de
as características e tipologias de objectos digitais que se estruturar a informação de três formas: por
consideraram, o esquema de metadados adoptado foi o comunidades, por tipo de recursos e por área temática.
Dublin Core. Ao analisar as capacidades e ferramentas do Dspace, no
Considerou-se de extrema importância a elaboração de que diz respeito à estrutura da base de dados e à
templates para os diversos tipos de documentos recuperação da informação, excluiu-se a organização
considerados no repositório. temática. Esta decisão baseia-se em diversos factores:
por um lado, o Dspace permite pesquisar e percorrer
toda a base de dados por assunto; por outro lado, no que
se refere ao auto-registo, seria mais difícil para o
utilizador efectuar a ingestão de documentos segundo a
área temática, já que os documentos podem abordar
diversos assuntos, o que poderia confundir o utilizador.
Salienta-se que, no que se refere à indexação e
atribuição de descritores ou palavras-chave, o papel dos
profissionais da informação se considera de extrema
importância.
Assim, mantiveram-se em análise, duas opções:
organização por comunidades e organização por tipo de
recursos. Analisadas as duas situações, e considerando o
que se observou anteriormente noutras bibliotecas e
Figura 6: Campos adoptados para os principais tipos
repositórios digitais, optou-se por, num primeiro nível
de recursos considerados
organizar a informação segundo comunidades e sub-
comunidades e, num segundo nível, por tipo de
recursos. As comunidades correspondem aos diversos distintas. Na primeira surge informação sobre o
sectores existentes na instituição e relativamente aos repositório, objectivos, público-alvo e tipo de
tipos de recursos, estes vão corresponder às colecções, documentos que disponibiliza. Na segunda, está
onde se incluem artigos científicos, livros, publicações disponível a possibilidade de efectuar pesquisas,
periódicas, teses de doutoramento e de mestrado, entre simples ou avançadas. E, finalmente, na terceira,
outros. apresenta-se uma lista ordenada alfabeticamente com as
comunidades que constituem o repositório.
No final da página, em rodapé, aparece indicação da
plataforma utilizada e entidade responsável pelo seu
desenvolvimento, com os pontos de acesso para os
respectivos websites, a possibilidade dos utilizadores
contactarem com os responsáveis pelo repositório,
através da opção “Comentários”/ “Feedback”. Esta
última funcionalidade implicou a utilização de uma
caixa de correio electrónico que utilizasse Post Office
Protocol 3 (POP3) e Simple Mail Transfer Protocol
(SMTP). Os servidores de POP3 guardam as mensagens
de correio electrónico recebidas até que o correio
electrónico seja verificado pelo utilizador, altura em que
as mensagens são transferidas para o computador. Os
servidores de SMTP tratam do envio das mensagens de
correio electrónico para a Internet. O servidor SMTP
trata do correio electrónico a ser enviado e é utilizado
em conjunto com um servidor de correio electrónico a
ser recebido, por exemplo, servidor POP3
(MICROSOFT CORPORATION, 2008).

Figura 8: Organização da Informação proposta para


o Repositório Digital

Foram criadas duas comunidades iniciais: Biblioteca e


Centros de Investigação. Sendo possível criar sub-
comunidades dentro de cada comunidade, foram criadas
algumas sub-comunidades na comunidade Centros de
Investigação. Assim, independentemente de poder vir a
ser reorganizada de outra forma, a informação foi
organizada de acordo com o exemplo da figura 7.

Após a fase de construção do protótipo foi importante


analisar e interagir com o sistema através da introdução
de documentos de acordo com os respectivos templates,
criar registos de novos utilizadores, analisar o
funcionamento do esquema de metadados e dos
identificadores bem como a apresentação da informação Figura 9: Página inicial do Repositório
e as respostas do sistema para as diversas etapas do
workflow. Desta forma, foram analisadas as Ferramentas de Pesquisa. Um dos requisitos essências
funcionalidades do sistema e efectuados os devidos num repositório digital é a possibilidade do utilizador
acertos de modo a optimizar o protótipo. efectuar pesquisas. Assim, no repositório é possível
efectuar pesquisas simples ou avançadas. A pesquisa
Funcionalidades do Protótipo simples é executada na globalidade dos documentos
Página Inicial. A página inicial foi configurada de forma existentes no repositório enquanto a pesquisa avançada
a fornecer um conjunto de ferramentas essenciais. No possibilita, para além de definir o campo a pesquisar,
cabeçalho da página introduziu-se a identificação da seleccionar a comunidade, sub-comunidade e colecção
página, ligação à página principal da instituição e da que se pretende. Para além destes tipos de pesquisa
biblioteca. Também se acrescentou a possibilidade de apresentados na página inicial do repositório, é ainda
visualizar a página em português ou em inglês. possível efectuar pesquisas após entrar na comunidade/
Na barra de navegação, à esquerda, encontram-se as sub-comunidade e colecção. Para tal, dever-se-á
ferramentas disponíveis, como a área de pesquisa, a seleccionar o conjunto pretendido e, uma vez dentro
área de registo dos utilizadores e serviços associados e, desse conjunto, efectuar a pesquisa desejada.
ainda, a área de ajuda.
No lado direito da página colocaram-se alguns
endereços electrónicos de páginas consideradas úteis e
incluiu-se a possibilidade de subscrever RSS Feeds do
repositório. RSS (Really Simple Syndication) permite
que os utilizadores estejam sempre informados sobre as
últimas novidades do website. Para tal, apenas terá que Figura 10: Ecrã de pesquisa dentro de uma
se inscrever e subscrever os RSS Feeds. Comunidade
Ao centro da página, podemos encontrar 3 áreas
Para além da pesquisa, o repositório disponibiliza ainda sobre ela, com um logótipo da comunidade e definir
a possibilidade de percorrer toda a base de dados por políticas e permissões para a comunidade. No caso
título, autor, assunto e por data. Esta ferramenta concreto da FFUL digital, não existe apenas uma
também está disponível na barra de navegação, onde se comunidade de topo mas sim um conjunto de
acrescenta a possibilidade de percorrer por comunidades principais que correspondem à Biblioteca
comunidades e colecções. e Centros de Investigação. Uma vez criada uma
comunidade de topo é possível alterar as suas definições
Ferramentas de Administração. O acesso às ferramentas bem como criar sub-comunidades e colecções dentro de
de administração é efectuado através de Meu Dspace. cada comunidade.
Aqui o administrador introduz as suas credenciais de A criação de colecções no repositório requer o
acesso e, para além de aceder à sua área pessoal, como preenchimento de formulários mais específicos já que é
o sistema o reconhece como administrador, surge na aqui que são definidos todos os parâmetros para cada
barra de ferramentas a opção “Administrador”. colecção. Em qualquer altura é possível efectuar
alterações, eliminar ou acrescentar comunidades e
colecções.

Registo de Utilizador. O registo de utilizadores é


efectuado a partir da página inicial do repositório. Ao
seleccionar a opção Meu Dspace, surge no ecrã uma
área de registo de utilizador. No caso do utilizador já se
encontrar devidamente registado, apenas terá que
preencher as suas credenciais de acesso (endereço de
correio electrónico e palavra-passe).

Figura 11: Barra de Navegação - antes e após login


do administrador

É através das Ferramentas Administrativas que se Figura 12: Formulário de registo de utilizador
definem e gerem as comunidades e colecções,
utilizadores e grupos, registos e esquemas de Sempre que se trate de um novo utilizador, este deverá
metadados, permissões e políticas de acesso, entre seleccionar a opção “Utilizador Novo? Clique aqui para
outras. Para além da criação das comunidades e se registar”.
colecções, um dos aspectos mais importantes relaciona- Após criação do novo registo, o utilizador pode aceder à
se com a gestão dos utilizadores e grupos e as sua área pessoal no repositório. No entanto, para poder
permissões que lhes são dadas. Esta gestão, efectuada efectuar depósitos, o administrador do sistema terá que
pelo administrador do sistema, pode ir desde permissões lhe dar as respectivas permissões.
de depósito e de emissão de metadados até à criação e O Dspace admite ainda que se faça a autenticação de
alteração de políticas das colecções. utilizadores através do sistema LDAP. Este sistema
Outro aspecto definido na área de administrador é a permite que todos os utilizadores que se encontrem
questão dos metadados. Assim é nesta área que se registados na instituição (tenham uma área de trabalho e
procede à introdução de novos esquemas de metadados, endereço de correio electrónico) não tenham que
de novos elementos no esquema ou esquemas efectuar um novo registo no Dspace. Assim as
anteriormente definidos, bem como, criar campos de credenciais de acesso são as mesmas que habitualmente
metadados pré-definidos e preenchidos para depósitos são utilizadas para aceder à rede da instituição.
em determinadas colecções.
As comunidades e as colecções podem ser criados de Ingestão de Documentos e o Processo de Workflow. O
acordo com as necessidades da instituição. Para tal, o processo de ingestão de documentos só é possível para
administrador do sistema deverá criar a nova utilizadores autorizados. Esta autorização é dada pelo
comunidade e parametrizar determinadas características administrador do sistema ou por um administrador da
necessárias ao seu bom funcionamento. No momento de comunidade ou colecção na qual se pretende colocar
criação das comunidades e colecções, são definidos os documentos. Desta forma, o Dspace permite que o
utilizadores com permissões para as gerir. De acordo processo de depósito varie de comunidade para
com as directrizes definidas, estes utilizadores podem, comunidade e, dentro da mesma comunidade, possa
por sua vez, criar sub-comunidades e colecções no seio variar entre colecções. Foram definidos templates
da comunidade pela qual são responsáveis. específicos para colecção. Assim, para cada colecção,
Para que se mantenha a coerência e a organização das surgem no ecrã os campos de preenchimento
comunidades, o sistema foi parametrizado de forma que específicos adequados a cada tipo de documento.
apenas o administrador do sistema possa criar as O depósito de documentos requer que o utilizador entre
comunidades e colecções. na sua conta do Dspace, em “Meu Dspace”. Existem
O processo de criação de comunidades e colecções dois pontos de acesso para o depósito dos documentos:
inicia-se através da área de administrador, com a um é através da área pessoal, onde aparece a opção
criação de uma comunidade de topo. É possível “Iniciar Novo Depósito”. O segundo é, uma vez
personalizar a comunidade com informação específica registado, através da opção “Percorrer Comunidades e
Colecções”. Quando se selecciona a colecção onde se no contexto universitário, exista uma ferramenta que
pretende depositar surge a opção “Depositar Nesta permita, para além do acesso aos documentos digitais, a
Colecção”. preservação e arquivo de toda a produção académica e
O processo de ingestão de documentos é composto científica da instituição. A resposta a esta exigência
pelas etapas apresentadas no seguinte esquema de passa pela criação de um repositório digital e por
workflow: compreender de que forma as próprias bibliotecas e as
instituições universitárias devem actuar, para dar
resposta às suas próprias necessidades. Da experiência
Figura 13: Esquema do processo de workflow internacional, percebe-se que as bibliotecas devem
desenvolver um serviço bastante amigável bem como
As três primeiras fases referem-se à descrição do sessões de esclarecimento sobre o modo de
registo, com o preenchimento dos campos com o autor, funcionamento dos repositórios, de forma a garantir que
título, assunto, etc. De seguida, o sistema pede que a própria comunidade o veja como mais-valia. De igual
carreguemos o(s) ficheiro(s) respectivos. Antes de se modo, deve existir uma política institucional que
concluir o depósito é necessário, ainda, verificar a estabeleça as orientações e directrizes necessárias ao
informação e que o autor autorize e conceda as licenças sucesso dos projectos que se pretendam desenvolver.
de direitos de autor. Caso o autor não conceda, o Outra questão que se coloca no contexto das bibliotecas
processo é interrompido. Sempre que tenha sido digitais refere-se à preservação dos conteúdos digitais.
definida uma política de depósito diferente da Assim, a preservação digital é o conjunto de acções
predefinida pelo sistema, no final do depósito, o levadas a cabo de forma a garantir o acesso à
documento mantém-se inacessível para pesquisa. Os informação existente em formato digital, a longo prazo.
responsáveis pela aceitação de documentos numa dada Para tal existe uma série de processos que se devem ter
colecção são notificados por correio electrónico sobre em consideração quer num contexto tecnológico, como
uma nova tarefa pendente. Do mesmo modo, o autor do a preservação tecnológica, emulação, migração e
depósito é notificado por correio electrónico sobre o encapsulamento, quer do ponto de vista do próprio
estado do processo de depósito do documento em causa. objecto digital, como a utilização de metadados
descritivos, estruturais e administrativos. Os metadados
Informação Estatística. A informação estatística permitem garantir o acesso aos documentos a longo
disponibilizada pelo Dspace implica a utilização de prazo na medida em que preservam toda a informação
linguagem PERL. Para que o PERL corra em Windows relativa à proveniência, autenticidade, actividades de
Vista é necessário proceder à instalação de um preservação, ambiente tecnológico e condicionantes
compilador de PERL. Após a instalação do compilador legais do objecto digital. São, no fundo, o historial de
compatível com este sistema operativo, passou a ser vida do objecto digital.
possível fazer correr PERL. Na fase de desenvolvimento do protótipo de repositório
No entanto, por ser uma ferramenta distinta, foi digital, foram analisadas as diversas plataformas em
necessário efectuar algumas alterações no ficheiro open source, de onde se escolheu o Dspace por poder
HTML, nomeadamente a tradução integral da ser utilizado para diversos tipos de documentos dentro
informação apresentada, definir as datas a partir das de uma instituição, possibilitar a gestão de conteúdos
quais as estatísticas são contabilizadas bem como os digitais e a preservação digital e ser mais facilmente
limites mínimos definidos para contabilização dos configurável sem necessitar de grandes alterações a
diversos processos. nível da codificação. Foi necessário explorar o Dspace
Assim, após parametrização do módulo de estatísticas, de forma a possibilitar a sua configuração e
que só está disponível nas ferramentas de administração parametrização de acordo com os objectivos delineados
do repositório, e de acordo com as necessidades do e com as necessidades identificadas, factores que estão
cliente, é possível obter informação sobre a utilização relacionados com a realidade da instituição e com a
do repositório, nomeadamente estatística sobre organização da informação. Uma das principais
documentos submetidos no repositório, itens dificuldades encontradas, na construção do protótipo de
visualizados, utilizadores que se registaram, repositório digital, prende-se com a necessidade de
processamento da informação, acções desenvolvidas no aprofundar os conhecimentos de informática ao nível da
repositório, pesquisas efectuadas e palavras programação. No entanto, com o auxílio e leitura mais
pesquisadas, entre outras possibilidades. Esta aprofundada da documentação existente sobre os
informação pode ser visualizada como um todo, numa diversos programas adoptados foi possível desenvolver
vista geral, ou mensalmente. este trabalho.
Foram desenvolvidas as ferramentas consideradas
CONCLUSÕES basilares para o bom funcionamento do repositório
O objectivo final deste trabalho foi o desenvolvimento digital, tendo em consideração as boas práticas a usar
de um protótipo de repositório digital de ciências em ambiente Web, com a criação de página utilizando
farmacêuticas. Fez-se um enquadramento teórico para a CSS (Cascading Style Sheet), legendagem de ícones e
compreensão dos principais contextos envolvidos na imagens, a escolha das cores e do logótipo. Por outro
temática. As bibliotecas digitais universitárias possuem lado, consideraram-se os aspectos identificados
algumas especificidades que se prendem com a previamente que têm que ver com o esquema de
produção científica que resulta dos trabalhos metadados e os identificadores a utilizar. O facto de o
desenvolvidos no âmbito da investigação. Percebeu-se Dspace ser um software open source, permite a
que a biblioteca digital universitária deve evoluir no parametrização e a configuração utilizando as
sentido de possibilitar que todo o trabalho desenvolvido tecnologias de base ou a adopção de outras (como por
pela comunidade universitária seja uma mais-valia para exemplo, no caso dos identificadores, a utilização de
toda a comunidade e para a valorização da instituição. Handle System ou PURL) que se encontrem disponíveis
Desta forma, conclui-se que é bastante importante que, e que se considere mais adequadas facilitando a
concretização das metas predefinidas. DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA, 1, Brasília,
Relativamente à organização da informação, o Dspace Brasil, 2006. [Consult. 26 de Setembro 2007].
permite que a informação seja organizada de acordo Disponível em www:
com as necessidades da própria instituição. No caso do http://dici.ibict.br/archive/00001077/01/cipecc_liriane.p
protótipo em causa, a organização da informação visa df
facilitar o entendimento do mesmo pela comunidade. CAMPOS, F. [et al.] - Preservação digital de longo
Desta forma, procurou-se aproximar a organização da prazo em instituições patrimoniais: reutilização e
informação no repositório digital à realidade da adaptação de metadados [Em linha]. In CONGRESSO
instituição. NACIONAL DE BIBLIOTECÁRIOS, ARQUIVISTAS
Da análise do trabalho desenvolvido resultam alguns E DOCUMENTALISTAS, 9, Ponta Delgada, Portugal,
aspectos que podem ser melhorados. Por um lado,
2007 – “Bibliotecas e arquivos: informação para a
aspectos mais técnicos que se prendem, por exemplo,
cidadania, o desenvolvimento e a inovação: actas” [CD-
com a informação estatística de diversos parâmetros,
que devem ser tidos em consideração. Actualmente é ROM]. [S.l.]: Associação Portuguesa de Bibliotecários,
bastante importante saber quais os tipos de recursos Arquivistas e Documentalistas, 2007. ISBN 978-972-
mais utilizados ou quais os documentos e autores mais 9067-37-2. [Consult. 26 de Setembro 2007]. Disponível
consultados. Assim, apesar de ter sido contemplado o em www:
aspecto da criação de um relatório estatístico no http://badinfo.apbad.pt/Congresso9/COM42.pdf
protótipo, será conveniente melhorá-lo e adequá-lo às CÂNDIDO, P. A. F. - Conceptualização de um modelo
reais necessidades da instituição universitária. de biblioteca digital de artes e design integrada no
Outro aspecto importante, é o apoio ao utilizador. portal da biblioteca da ESAD - Escola Superior de Artes
Assim, sempre que um repositório for implementado é e Design. Lisboa: ISCTE, 2004. Tese de Mestrado.
conveniente melhorar as funcionalidades do protótipo, COELHO, C. - Um repositório digital para a U. Porto:
preparar tutoriais e documentos de ajuda. relatório preliminar [Em linha]. Porto: Univ. Porto,
Com este estudo e apresentação do protótipo pretende- [200-]. [Consult. 12 de Outubro 2007]. Disponível em
se demonstrar que a construção de repositórios digitais www:
no contexto universitário é, actualmente, de importância http://sigarra.up.pt/up_uk/web_gessi_docs.download_fil
incontornável para uma maior transparência da e?p_name=F1368788598/repositorio-vpreliminar.pdf
comunicação académica, para a valorização COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS -
institucional, para o tratamento da informação em i2010: Bibliotecas digitais. Bruxelas, 2005. COM(2005)
formato digital, por parte das bibliotecas e serviços de 465 final, 30.9.2005.
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