Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Faculdade de Veterinária Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Faculdade de Veterinária Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Faculdade de Veterinária Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias
FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
Porto Alegre
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
PORTO ALEGRE
2019
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 .
This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de
Nivel Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001.
Márcia Kutscher Ripoll
LEVEDURIFORMES E FILAMENTOSOS
APROVADO POR:
RESUMO
A Oliveira (Olea europaea L.) é a única espécie da família das Oleaceae que
produz fruto comestível, é considerado um dos plantios mais antigos, com sua origem
relatada primordialmente na Palestina. Estudos recentes revelam que o azeite e seus
compostos têm comprovada eficácia na medicina para tratamentos de doenças crônicas,
sendo eficaz também em enfermidades cardiovasculares, diabetes, possuindo ação
anticancerígena, anti-inflamatória, anticarcinogênica, antinociceptiva, antioxidante e
citoprotetora, e tanto no azeite quanto em extratos de folhas e ramos da planta, sua ação
frente a micro-organismos já foi comprovada através de estudos in vitro. Estudos têm
revelado cepas resistentes a antifúngicos tradicionalmente utilizados na clínica, nessa
perspectiva e com propósito de avaliar a atuação dos extratos provenientes da oliveira
frente a fungos patogênicos e/ou oportunistas, delineou-se esta proposta com a intenção
de obter-se um extrato fungicida e/ou fungistático, testando a citotoxicidade dos extratos
em bovine kidney cells (MDBK) e também a presença de compostos fenólicos através
da CLAE. Na possibilidade de novas alternativas e na tentativa da obtenção de produtos
efetivos, foram obtidos extratos aquosos do bagaço para utilização em teste de
sensibilidade in vitro a partir da microdiluição em caldo conforme proposto pelo CLSI
de acordo com os documentos M27-A3 e M38-A2, frente a fungos do gênero Candida
spp., Complexo Sporothrix schenckii e dermatófitos. Segundo a metodologia
desenvolvida obteve-se os seguintes resultados, a INF 10’ não foi efetiva para nenhum
dos isolados e cepas padrões testados, assim como as variedades arbequina, arbosana,
frontoio e manzanilla não revelaram presença de oleuropeína e obtiveram baixas
concentrações de hidroxitirosol na sua composição. Os extratos de DEC 10’ foram
efetivos para duas cepas padrões de Candida albicans, inibindo a partir de
concentrações de 3,12 mg/mL, porém não apresentou inibição em isolados clínicos de
Candida spp., dermatófitos e Sporothrix spp. Os extratos apresentaram taxas de 15 a
50% de viabilidade celular a partir do teste de toxicidade dos extratos de concentração
de 25 mg/mL, que torna o extratos viável por não apresentar intensa toxicidade. Nas
condições trabalhadas, permite-se concluir que os extratos não apresentaram os
resultados esperados como antimicrobiano, não apresentaram citotoxicidade e algumas
variedades revelaram presença de oleuropeína.
Palavras-chave: Extratos aquosos, oliveira, dermatófitos, Sporothrix spp., Candida spp.
V
ABSTRACT
Oliveira (Olea europaea L.) is the only species of the Oleaceae family that
produces edible fruit, is considered one of the oldest tree, with origin reported primarily
in Palestine. Recent studies have shown that olive oil and its compounds have effect in
the treatment of chronic diseases. It’s also effective in cardiovascular diseases, diabetes,
anticancer, anti-inflammatory, anticarcinogenic, antinociceptive, antioxidant and
cytoprotective actions, and in extracts of leaves and part of the plant, their action against
microorganisms has already been proven through in vitro studies. Studies revealed
antifungal resistant against clinical strains, with the purpose of evaluating the
performance of extracts from the olive tree against pathogenic and/or opportunistic
fungi, this proposal was outlined with the intention of obtaining a fungicide extract
and/or fungistatic, testing the cytotoxicity of extracts in bovine kidney cells (MDBK)
and also the presence of phenolic compounds through HPLC. With the possibility of
new alternatives and in the attempt to obtain effective products, aqueous extracts of the
bagasse were obtained for use in an in vitro sensitivity test from the microdilution in
broth as proposed by CLSI according to documents M27-A3 and M38-A2 , against
fungi of the genus Candida spp., Sporothrix schenckii Complex and dermatophytes.
According to the methodology developed, the following results were obtained: INF 10'
was not effective for any of the isolates and strains tested, as the arbequina, arbosana,
frontoio and manzanilla varieties didn’t show presence of oleuropein and obtained low
concentrations of hydroxytyrosol their composition. The DEC 10' extracts were
effective for two standard strains of Candida albicans, inhibiting from concentrations of
3.12 mg/mL, but did not present inhibition in clinical isolates of Candida spp.,
Dermatophytes and Sporothrix spp. The extracts presented rates of 15 to 50% of cell
viability from the toxicity test in extracts of concentration with 25 mg/mL, which makes
the extracts viable because it doesn’t present intense toxicity. Under the conditions
studied, it’s possible to conclude that the extracts did not present the expected results as
antimicrobial, didn’t present cytotoxicity and some varieties showed the presence of
oleuropein.
Keywords: Aqueous extracts, olive tree, dermatophytes, Sporothrix spp., Candida spp.
IV
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................8
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................10
2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................10
2.2 Objetivo Específico ...............................................................................................10
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................11
3.1 Oliveira (Olea europaea L.) .................................................................................11
3.2 Antifúngicos na Medicina Veterinária ...............................................................13
3.3 Dermatofitose ........................................................................................................15
3.4 Esporotricose ........................................................................................................16
3.5 Candidose ..............................................................................................................18
4 ARTIGOS CIENTÍFICOS ...................................................................................20
4.1 Artigo I – Delineamento de suscetibilidade in vitro de extratos aquosos de
Olea europaea frente a fungos filamentosos e leveduriformes ............................20
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................42
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................42
REFERÊNCIAS ....................................................................................................44
ANEXOS ................................................................................................................49
ANEXO I - Resumo expandido publicado na Terceira Semana Integrada
(SIIEPE) da Universidade Federal de Pelotas 2017, categoria XIX Encontro de
Pós-Graduação ........................................................................................................50
8
1 INTRODUÇÃO
A Oliveira (Olea europaea L.) é a única espécie da família das Oleaceae que
produz fruto comestível. O seu cultivo data de três a quatro mil anos a.C., sendo
considerado um dos plantios mais antigos, com sua origem relatada primordialmente na
Palestina. A partir da azeitona que são extraídos os óleos de oliva, também
denominados de azeite. O seu plantio é realizado em regiões de clima temperado ou
subtropical, caracterizados por verões calorosos e secos, contando com baixas
temperaturas para sua floração. (COUTINHO et al., 2015).
Na indústria oleícola, durante cultivo e processamento do azeite têm-se grande
produção de resíduos. Esses resíduos podem ser provenientes da poda, onde ocorre o
descarte das folhas e também do processamento do azeite, podendo ser classificados em
resíduos líquidos e sólidos (bagaço). Estudos realizados em regiões de grandes
produções localizadas na Europa indicam que das azeitonas colhidas para produção de
azeite, o rendimento é de apenas 20% do total, e 80% são destinados ao descarte
(bagaço e resíduo aquoso) (ALCAIDE et al., 2010). Esses subprodutos têm sido
utilizados de diversas formas, sendo eles, adubos e pesticidas (CABRERA, et., 2010),
ração animal, obtenção de energia (MORE, 2008) e também através dos seus extratos,
revelaram atividade antimicrobiana (PEREIRA et al., 2007; MARKIN et al., 2003;
ZORIC et al., 2013; GOEL et al., 2016).
De modo geral, há dois tipos de metabólitos produzidos por vegetais, o primário
e o secundário. O primeiro corresponde à sobrevivência da planta, e o segundo
correspondente à sua defesa, podendo ser separados em três grandes grupos: compostos
fenólicos, terpenos e compostos que contém nitrogênio (TAYZ & ZEIGER, 2004).
Sabe-se que a oliveira é rica em compostos fenólicos tais como: oleuropeina, tirosol,
hidroxitirosol (JUVEN et al., 1970). Historicamente, os extratos de oliveira eram
utilizados na medicina no combate a doenças (BENAVENTE-GARCIA et al., 2000).
Estudos recentes revelam que o azeite e seus compostos têm comprovada eficácia na
medicina para tratamentos de doenças crônicas devido a sua atividade moduladora de
radicais livres, sendo eficaz também em enfermidades cardiovasculares, diabetes,
possuindo ação anticancerígena (MELLO et al., 2012), anti-inflamatória (EIDI et al.,
2012; KIM et al., 2018), anticarcinogênica (IMRAN, 2018), antinociceptiva (EIDI et al.,
2012), antioxidante (AREE et al., 2018) e citoprotetora (ALY et al., 2018), e tanto no
9
azeite quanto em extratos de folhas e ramos da planta, e sua ação frente a micro-
organismos já foi comprovada através de estudos in vitro (PEREIRA et al., 2007;
MARKIN et al., 2003; ZORIC et al., 2013; GOEL et al., 2016).
Existem cerca de 800.000 espécies de fungos conhecidos e relatados pela
ciência, 400 deles são patogênicos para animais e seres humanos. Esses micro-
organismos pertencem ao Reino Fungi e são classificados eucariontes podendo ser pluri
ou unicelulares e heterótrofos. Há, principalmente, três tipos morfológicos de fungos, os
filamentosos, os leveduriformes, havendo também os fungos termodimórficos, que
apresentam as duas morfologias de acordo com a temperatura em que se encontram.
Fungos capazes de metabolizar queratina e transformar em nutriente são denominados
dermatófitos, pertencentes a categoria de fungos filamentosos patogênicos que podem
parasitar homens e animais. Em contato com a pele, desenvolve-se de maneira
centrífuga, invadindo o extrato córneo, realizando uma reação inflamatória devido a
produção de metabólitos tóxicos. Esse grupo compreende três gêneros que podem ser
diferenciados a partir da forma de seus conídios, são eles Microsporum, Trichophyton e
Epidermophyton. (CRUZ, 1985; LARONE, 2011; QUINN et al., 2011; MEIRELES &
NASCENTE, 2009). Já os fungos leveduriformes, são micro-organismos unicelulares,
eucariotos e de forma redonda a ovalada. Suas colônias possuem textura úmida e
cremosa, podendo ser encontradas no ambiente, comensais em mucosas e pele dos
animais e em sua maioria podem ser consideradas oportunistas. Candida sp.,
Malassezia sp. e Cryptococcus sp. são espécies de leveduras causadoras de doenças de
importância na medicina e veterinária. E por fim, o Sporothrix sp. fungos
termodimórficos, agentes da esporotricose, que causam lesões subcutâneas e sistêmicas.
A infecção ocorre através de inoculação traumática de conídios, devido a esse fator a
doença é classificada como uma micose de implantação e pode acometer homem e
animais (LARSSON, 2011; TRABULSI et al., 2008; QUINN et al., 2005).
As terapias antifúngicas consistem no emprego de fármacos como cetoconazol,
anfotericina B, itraconazol, iodeto de potássio, terbinafina e equinocandinas. Contudo,
estudos revelaram a existência de cepas resistentes a esses fármacos, principalmente
devido ao seu uso indiscriminado (NOBRE et al., 2002; ODDS et al., 2003). Nessa
perspectiva, tem-se procurado métodos alternativos para auxiliar no tratamento das
afecções fúngicas, tendo nas plantas e seus extratos uma fonte próspera para tratamento,
10
como demonstram estudos realizados, não somente com fungos, mas também com
bactérias, mostrando ser eficiente no combate a ambos micro-organismos (SUDJANA
et al., 2009; KORUKLUOGLU, et al., 2006; WALLER et al., 2016). Sempre
salientando a importância desses fitoterápicos seguirem a mesma segurança, controle de
qualidade e eficácia que os medicamentos aloterápicos disponíveis no mercado (KLEIN
et al., 2009).
A fim de recorrer a novas alternativas para tratamentos de doenças causadas por
fungos, plantas com ação medicinal estão sendo testada devido a sua atual utilização a
nível popular, seja em infusões, óleos essenciais e extratos alcoólicos. Sabe-se que os
principais compostos que atuam combatendo micro-organismos são os compostos
fenólicos, contudo o extrato, em seu conjunto, tem se mostrado mais benéfico que estes
compostos isoladamente (PEREIRA et al., 2007). A possibilidade dessas novas
alternativas e na tentativa de observar efetividade dos extratos, os quais há escassez de
estudos in vitro, realizou-se esse projeto com a prerrogativa de obter-se um extrato
eficiente frente à fungos patogênicos mais recorrentes na medicina veterinária e após
testes in vitro e in vivo, utilizar os compostos isolados ou em associação a antifúngicos
comerciais para combate desses micro-organismos.
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.3.Dermatofitose
Os dermatófitos são capazes de metabolizar queratina transformando-a em
nutrientes para sobrevivência, fazem parte das espécies fúngicas
patogênicas/oportunistas que parasitam tanto humanos quanto animais. Classificada
como uma escleroproteína, a queratina possui diversas cadeias de polipeptideos unidas
através de ligação covalente e de ligações de hidrogênio a moléculas de enxofre. Ao se
instalar causando lesão, os dermatófitos realizam a quebra dessas ligações e expandem
seu crescimento em busca de novas fontes de queratina. A dermatofitose é classificada
como uma micose superficial e a partir da produção de metabólitos pelo agente, ocorre a
reação inflamatória devido a toxicidade dos mesmos. E por não sobreviverem muito
tempo em tecidos inflamados ou com infecção bacteriana secundária, alguns
dermatófitos extinguiram a produção desses elementos irritantes. São divididos em três
gêneros, os Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton, suas diferenciações se dão a
partir da macro e microscopia. Na clinica de pequenos animais, destacam-se as espécies
M. canis, M. gypseum e T. mentagrophytes, devido a sua alta ocorrência. É uma micose
que atinge principalmente animais jovens, devido ao sistema imune estar menos
preparado (CRUZ, 1985; LARONE, 2011; REIS-GOMES, 2012).
O período de incubação dá-se em torno de 7-28 dias, sua transmissão pode
ocorrer através de fômites, solos com contaminação e contato direto com animais
infectados. As lesões são caracterizadas por alopecia descamativa e quando presente
reação inflamatória mais acerbada pode apresentar hiperpigmentação com as bordas da
lesão levemente aumentadas (CRUZ, 1985; LARSSON, 1988).
O diagnóstico é realizado através do conjunto: anamnese, tipo de lesão
encontrada e crescimento e identificação em cultura fúngica. Sendo a coleta realizada
com a assepsia recomendada e é facilmente isolada em laboratório. Em um estudo
realizado no Paraná, entre os casos de dermatopatias a dermatofitose foi a terceira que
mais acometeu cães e gatos na clinica de pequenos animais, ficando atrás das dermatites
16
3.4.Esporotricose
A esporotricose é uma doença causada por fungos do Complexo Sporothrix, é
uma micose de implantação que acomete humanos e diversas espécies animais. Esse
Complexo compreende seis espécies, sendo elas S. albicans, S. brasiliensis, S.
mexicana, S. lurei, S. schenckii e S. globosa (MANIMON et al., 2007; RODRIGUES et
al., 2014). É um fungo saprofítico que prefere solos com intensa quantidade de matéria
orgânica ficando em locais com matéria em decomposição e cascas de árvores, sendo
transmitido através da inoculação traumática de seus conídios (CRUZ, 2011; LACAZ et
al., 2002).
É uma micose reconhecida mundialmente, no Brasil as regiões onde há mais
relato da doença, na qual ela tornou-se endêmica e importante problema de saúde
pública, são Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (MADRID et al., 2010; BARROS et
al., 2001). Anteriormente, a doença era reconhecida como doença dos floristas,
justamente pelo contato com os espinhos da rosa que realizavam inoculação traumática,
quando em contato solo contaminado (BRAUNWALD et al., 2013), porém atualmente
sabe-se que nas regiões endêmicas do Brasil o principal tipo de transmissão está
intimamente relacionado com a mordedura e arranhadura de felinos, espécie de maior
importância na cadeia de transmissão tanto zoonótica quanto inter-espécies (CRUZ,
2011; MADRID et al., 2011). Devido ao hábito de afiar as unhas e cavar na terra para
tapar as fezes, os felinos são mais propensos a albergar os conídios nas garras, sendo
capazes de transmitir a doença para outros animais e humanos através de brigas e/ou
brincadeiras envolvendo arranhaduras. Apesar dos felinos e humanos serem as espécies
17
recomendado na dose de 10-40mg/kg ao dia, por via oral e com duração mínima de três
meses de tratamento (MADRID et al., 2007; SCHUBACH et al., 2004).
3.5.Candidose
A candidose é uma doença micótica causada por fungos do gênero Candida,
micro-organismos comensais presentes em mucosa e pele. São leveduras oportunistas
que cometem principalmente indivíduos imunodeprimidos e também aqueles que
possuem alguma doença crônica, causando lesões cutânea úmidas, eritematosas com
erosões e em formato placóide de coloração esbranquiçada acometendo mucosas,
junções mucocutâneas e locais com umidade persistente, podendo também apresentar
caráter sistêmico (CRUZ, 1985; WILLEMSE, 1994; MEIRELES & NASCENTE;
2009).
Dentro do gênero encontram-se as C. albicans, C. krusei, C. tropicalis, C.
curvata, C. lambica, C. rugosa, C. humicola, C. guilliermondii, C. parapsilosis, C.
dublinensis, C. famata, C. lusitanie, C. stellatoidea, que são as principais espécies. O
diagnóstico se da através do cultivo celular em ágar Sabouraund dextrose acrescido de
cloranfenicol e possui célere crescimento, sendo ele entre 24-48h formando colônias de
coloração branco a creme com textura cremosa. Microscopicamente são identificados os
blastoconídeos com formatos de esféricos à ovais de 3 a 5µm de diâmetro, paredes
delgadas e não apresenta cápsula, a identificação de espécie pode ser realizada através
de testes bioquímicos como assimilação de açucares, fermentação de carboidratos e
presença ou não de pseudo-hifas ou hifas verdadeiras, destacando-se a C. albicans,
espécies mais envolvida em casos de candidose em mamíferos (LACAZ, 2002; SIDRIM
& MOREIRA, 1999; RIPPON, 1988).
Apesar da colonização do fungo não denotar doença, a alta concentração de
leveduras e principalmente doenças agregadas ao paciente como: transplantados,
pacientes oncológicos que fazem uso de antineoplasicos, uso prolongado de
antimicrobianos e anti-inflamatórios não esteroidais, alterações na barreira primária da
pele, doenças metabólicas e uso prolongado de dispositivos intravenosos fazem com que
a doença se instaure e até mesmo evolua causando lesões mais graves ou tornando-se
sistêmica. (SIDRIM & MOREIRA, 1999; CLEFF et al., 2007; FERREIRO et al., 2002;
RODRIGUEZ et al., 2003)
19
4. ARTIGO CIENTÍFICO
4.1. Artigo I
Márcia Kutscher Ripoll1, Stefanie Bressan Waller2, Otávia de Almeida Martins2, Luiza
da Gama Osório3, Renata Osório de Faria4, Mario Carlos Araujo Meireles4, Rogério de
Oliveira Jorge5, Fabio Clasen Chaves6, João Roberto Braga de Mello7.
1
Mestranda em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
2
Doutoranda em Veterinária pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas, Rio
Grande do Sul, Brasil.
3
PNPD pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pelotas, Rio Grande do Sul,
Brasil.
4
Faculdade de Veterinária, Departamento de Veterinária Preventiva, Setor de Micologia
na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
5
Responsável Técnico na EMBAPA - Cascata.
6
Faculdade de Agronomia, Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial na
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.
7
Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Departamento de Farmacologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do
Sul, Brasil.
Email [email protected]
22
Resumo
Introdução
azeite. No momento atual, o plantio das oliveiras dá-se em regiões que possuem verões
mais antigos e no Brasil sua produção tem destaque nas regiões Sul e Sudeste [1]. O
fator climático no sul do Brasil agrega positivamente para o cultivo das oliveiras, onde a
variação de temperatura anual fica na média de 17ºC e 24ºC, tornando atrativo e viável
seu plantio, posto que a temperatura ideal para o crescimento e frutificação da oliveira
coronária [5] [6]. Além de ácidos graxos, carotenoides e tocoferóis também estão
presentes na composição [7] [8], assim como os fenóis que podem ser divididos em
elementos químicos são conhecidos pela sua ação antimicrobiana [10] [11] [12], anti-
enfermidade que causam imunossupressão nos pacientes [19] [20]. Entre estas,
caracteriza-se por uma doença oportunista causada por um grupo de fungos pertencentes
cura total [23], considerando relatos de casos de resistência aos fármacos de eleição para
habito dos felinos de enterrar fezes, arranhar cascas de árvores, disputar por território
associado aos fatores farmacológicos citados anteriormente faz com que ocorra elevado
número de casos desta micose [20] [27] [28]. Já os fungos do gênero Candida
caráter oportunista e está presente como comensal nas mucosas de cerca de 50% da
23
fármaco [29] [30] [31] [32]. Tendo em vista sanar os problemas de resistência aos
micoses apresenta-se uma alternativa farmacológica, onde estudos que usam parte de
e cepas padrões de Candida spp. frente extratos aquosos de bagaço de Olea europeae L.
Assim como testar a toxicidade celular dos extratos utilizados e determinar presença e
Material e Métodos
Isolados Fúngicos
mantido sob refrigeração entre 4 a 8ºC durante seu uso em experimento. Anteriormente
a todos os testes as culturas foram repicadas para ágar sabouraud dextrose acrescido de
cloranfenicol e incubadas a 37ºC por 48h, para comprovar pureza e viabilidade das
Extratos Aquosos
O estudo foi realizado a partir de 14 extratos aquosos derivados de bagaço, os
quais foram divididos em decocção realizada por dez minutos (DEC 10’) e infusão por
dez minutos (INF 10’), a partir de sete diferentes variedades de oliveiras, sendo elas:
propostas pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) através do protocolo
filamentosos, adaptados para uso de fitoterápicos [37] [38] [39]. Antecedendo o teste,
como preconiza o CLSI, foram realizados os inóculos a partir dos fungos a serem
chato, onde se estipulou controle positivo a coluna A e controle negativo coluna H. Nos
outros poços (de B a G), foram acrescidos 100μL do produto a ser testado e realizada
Teste de Citotoxicidade
úmida e a 37ºC, o efeito citotóxico foi estabelecido a partir do ensaio MTT (3-(4,5-
poços e essas células incubadas juntamente com meio RPMI-1640 acrescido de soro
µl de cada extrato com suas sucessivas diluições foi acondicionado às microplacas nas
concentrações de 100, 50, 25, 12,5, 6,25, 3,12, 1,56, 0,78 mg/mL sendo essas testadas
incubados a 37ºC por duas horas em atmosfera controlada. Em seguida, a solução MTT
100%.
Aldrich (St. Louis, MO, EUA) e acetonitrila de JT Baker (Phillipsburg, NJ, USA). A
cromatográfica foi realizada utilizando uma coluna Bidentate C18 (100 x 2.1 mm,
água com 0,1% de ácido fórmico (v/v) e como fase B acetonitrila com 0,1% de ácido
min, 90% em 15-18 min e 90-5% B em 18,01-20 min. Depois de cada injeção a coluna
foi re-equilibrada por 6 minutos utilizando a composição do solvente inicial. Para todas
para ambos modos de ionização. As análises MS/MS foram obtidas por fragmentação
automática empregando os seguintes valores de energia de colisão: m/z 100, 15 eV; m/z
500, 35 eV; m/z 1000, 50 eV e usando N2 como gás de colisão. A calibração externa foi
realizada utilizando Formiato de sódio 10Mm como calibrante, cobrindo toda a faixa de
m/z 539,1759).
Resultados
de forma sinérgica ou isolada [40] [41], contudo, no presente estudo não foi observado
Sporothrix spp. E dos 15 isolados testados para susceptibilidade in vitro, dois isolados
American Type Culture Collection 14053 (ATCC) e a outra do Instituto Oswaldo Cruz
DEC 10’ do extrato de bagaço de oliveira. Já para o extrato em INF 10’ não obteve
DEC 10’ ocorreu nas sete variedades testadas, já na IOC 3691 não foi eficiente nas
Citotoxicidade Celular
80,0%
70,0%
60,0%
Viabilidade Celular (%)
50,0%
Arbosana
40,0%
Arbequina
30,0% Coratina
20,0% Frontoio
10,0%
0,0%
100 50 25 12,5 6,25 3,125 1,562 0,781
Concentração (mg/mL)
Citotoxicidade Celular
80,0%
70,0%
60,0%
Viabilidade Celular (%)
50,0%
40,0% Koroneiki
Picual
30,0%
Manzanilla
20,0%
10,0%
0,0%
100 50 25 12,5 6,25 3,125 1,562 0,781
Concentração (mg/mL)
Figura 2: Viabilidade celular frente extratos de Koroneiki, Picual e Manzanilla em DEC 10’.
31
hidroxitirosol, que de acordo com a literatura são os compostos fenólicos que possuem
extrato, variando de 0,008 a 0,034 mg/mL nos extratos de INF 10’ e de 0,011 a 0,081
mg/mL em extratos de DEC 10’. porém no extrato de INF 10’ a oleuropeína foi
detectada em baixa concentração variando de 0,001 a 0,008 mg/mL, porém ausente nas
variedades arbosana, arbequina, frontoio e manzanilla, enquanto que o extrato DEC 10’
mg/mL, sendo as mais altas observadas nas variedades coratina, koroneiki e picual
(Figura 3).
CLAE
0,100
0,090
Concentração (mg/mL)
0,080
0,070
0,060 Hidroxitirosol no extrato
0,050 (mg/mL)
0,040 Oleuropeina no extrato
0,030 (mg/mL)
0,020
0,010
0,000
DEC 10'
Figura 3: Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) de extratos de bagaço decocção 10’.
Discussão
extrato aquoso de oliveira frente bactérias [46], extratos comerciais de folhas de oliveira
0,02 e 0,02 μg/mL [48]. Estudos utilizando extrato bruto de polifenóis e com
monocytogenes [49].
teste [50].
Segundo Zoric et al. (2013) [11], em seu estudo corroboraram com um estudo
realizado por Battinelli et al. (2006) [18], testando aldeídos alifáticos, extraídos da
canis, verificando eficiente ação antifúngica nos dermatófitos testados, porém, não
apresentando boa atividade frente isolados de Candida spp., assim como foi verificado
nos extratos aquosos de INF 10’ para isolados de Sporothrix spp., dermatófitos e
33
Candida spp. do presente estudo. Divergindo do que foi obtido nesse estudo para
extratos, autores têm apresentado dados de que a oliveira e seus extratos têm ação
antimicrobiana frente a fungos patogênico e que pode evoluir para avaliação in vivo e
resultados obtidos por Sudjana et al. (2009) [47], que apesar de ter utilizado isolados de
Candidas de outras espécies além da albicans, essas foram as mais susceptíveis. Porém,
possivelmente nossos resultados não foram tão próximos e não inibiram mais isolados,
porque no estudo em questão foram utilizados outros tipos de extratos, do óleo de folhas
de oliveira, enquanto que o nosso foi realizado a partir de extratos aquosos do bagaço.
presumivelmente são os que possuem boa atividade frente a fungos do gênero Candida
Batinelli et al. (2006) [19], não obteve ação inibitória, nem antifúngica em sete isolados
um anel aromático.
onde treze dos quinze isolados não foram inibidos pelo extrato aquoso DEC 10’,
enquanto no extrato aquoso INF 10’ nenhum dos isolados foi inibido, isso deu-se
34
provavelmente, segundo Korukluoglu et al. (2006) [33], pela forma de obtenção dos
referidos extratos que devido a altas temperaturas para sua obtenção a fração não polar
desses compostos evaporam e por fim não apresentam atividade esperada. Entretanto,
esse mesmo autor afirma a partir de diversas extrações com outros solventes como
presente estudo mostrou que apesar de os extratos serem expostos ao calor, ainda sim
como grau de patogenicidade, que explica porque ser efetivo em certos isolados e não
compostos que obtiveram concentração de oleuropeína menor que 0,002 mg/mL não
apresentaram atividade.
utilizada entre outros fatores de acordo com características da planta, solo, umidade,
colheita, e época do ano. É importante salientar que, de acordo com o tipo de extrato, as
antimicrobiana do produto enquanto outros não [5]. Segundo Korukluoglu et al. (2006)
[33] a obtenção dos extratos aquosos do bagaço que são submetido a altas temperaturas
para sua obtenção interferiria na fração apolar desses compostos, evaporando e por fim
35
não apresentando a atividade esperada. Esse mesmo autor afirma que a obtenção a partir
de diversas extrações com outros solventes como álcool, cetona e acetato de etila
presente estudo mostrou que apesar de os extratos serem expostos ao calor, ainda sim
celular em estresse oxidativo, após identificar grande variação na eficácia dos produtos
que a variação da eficacia pode dar-se de acodo com o tipo de extrato utilizado e o tipo
de extração realizada, asim como seus compostos majoritários [52]. Assim, pressupõe-
extração, obtendo assim menor teor de compostos bioativos [53] [54] devido a esses
nos testes.
Conclusão
O estudo demonstra que o extrato de DEC 10’ foi efetivo frente a dois isolados
bagaço a 10 minutos de O. europaea não foram eficientes para eliminar e/ou inibir o
Sporothrix spp. A viabilidade celular variou de 15 a 50% em extratos de DEC 10’ com
concentrações a partir de 25mg/mL, que foi efetivo frente a duas cepas. Os extratos de
INF 10’ não inibiram frente as cepas em nenhuma das concentrações testadas (de 50 a
mg/mL, O hidroxitirosol variou em 0,008 a 0,034 mg/mL nos extratos de INF 10’ e de
0,011 a 0,081 mg/mL em extratos de DEC 10’, concentrações que não obtiveram
podem ser promissores e auxiliar em terapias antifúngicas, não só pela sua atividade
antimicrobiana, mas também outras atividades benéficas dos extratos como a baixa
citotoxicidade celular.
37
Agradecimentos
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Sul (FAPERGS) pelo auxílio financeiro. Assim como à Universidade Federal do Rio
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5. CONCLUSÃO GERAL
Os resultados obtidos permitem as seguintes conclusões:
O extrato aquoso obtido por decocção durante dez minutos (DEC 10’)
foi efetivo frente a duas cepas padrões de Candida albicans e não
mostrou efetividade frente a isolados clínicos de fungos do gênero
Candida spp., dermatófitos e Sporothrix spp.
Os extratos aquosos obtidos por infusão e decocção por dez minutos
(INF 10’ e DEC 10’) do bagaço de azeitona foram de baixa
citotoxicidade a partir da concentração de 50 mg/mL onde
apresentaram de 15 a 50% de viabilidade celular.
Os extratos aquosos de DEC 10’ revelaram moderadas concentrações
de oleuropeina e hidroxitirosol nas variedades testadas.
Os extratos aquosos de INF 10’ não revelaram presença de oleuropeína
nas variedades arbequina, arbosana, frontoio e manzanilla, e baixas
concentrações de hidroxitirosol em todas as variedades testadas.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cadeia produtiva da olivicultura no Rio Grande do Sul está organizada e conta
com a Câmara Setorial e o fundo de desenvolvimento e hoje no estado contamos com
160 produtores que cultivam aproximadamente 4.800 hectares, extraem 50 mil litros de
azeite, processado em doze indústrias que comercializam 26 diferentes marcas
(Ibraoliva, 2019).
De acordo com os dados da IOC (International Olive Oil Council) o Brasil é o sexto
maior consumidor e terceiro maior importador de azeite e está tornando-se um produtor
em franca ascensão e com a perspectiva de chegar a um milhão de hectares de oliva nos
próximos anos, com destaque de produção na região sul do Rio Grande do Sul.
Considerando a quantidade de resíduo produzido (bagaço e folha) pela indústria
43
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