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HISTÓRIA DA

SOCIOLOGIA
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 03

1. O QUE É SOCIOLOGIA: OBJETO E RAMOS DA SOCIOLOGIA ......... 05

1.1. OBJETO DE ESTUDO: A SOCIEDADE ................................................ 05

1.2. RAMOS DA SOCIOLOGIA .................................................................... 06

2. BREVE HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA .................................................. 09

3. A SOCIOLOGIA CIENTÍFICA .................................................................. 15

3.1 AUGUSTO COMTE ................................................................................ 16

3.2 KARL MARX........................................................................................... 20

4. A SOCIOLOGIA ACADÊMICA ................................................................ 28

4.1 EMILE DURKHEIM ................................................................................ 28

4.2 MAX WEBER ......................................................................................... 32

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ...................................... 38

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INTRODUÇÃO

O termo sociologia, cunhado por Augusto Comte para nomear o estudo


da sociedade tem, grosso modo, objetivo de estabelecer “leis” ou buscar
regularidades referentes à organização das relações humanas e a sua
dinâmica específica. O estudo desta ciência fundamenta-se na crença de que
as representações, os hábitos, as maneiras de agir e de pensar estão ligadas
com os meios sociais nos quais se inserem os indivíduos.

Os indivíduos mantêm relações, fazem escolhas, ou seja, tomam


decisões a todo o momento. Essas decisões, voltadas sempre para a resolução
de problemas práticos, vão de encontro à satisfação de suas necessidades em
diversas ordens. Essa tomada de postura, no entanto, tem um impulso, que
pode ser analisado de forma individual ou coletiva. O comportamento social e
suas implicações na vida cotidiana é justamente o ponto que concerne o
estudo das Ciências Sociais.

É fato que os indivíduos, desde o surgimento da história, pactuaram


relações em sua rotina, seja individual, seja coletiva. Isso constitui uma
necessidade humana. A interação entre o individual e o coletivo define em
grande parte a vida social. De acordo com Ferreira (2003), é comum
encontrarmos afirmações no dia a dia que corroboram com essa visão:

“- Você agiu por impulso pessoal ou por pressão do


grupo?

- Eu agi por minha conta e risco, não dou importância ao


que os outros pensam! Ou,

- Eu agi de acordo com o grupo, dou muita importância ao


que os outros pensam!” (p.31)

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Que parâmetros definem se um indivíduo age em interesse próprio ou


pela coletividade? Definir isso é o papel desta ciência. A sociologia busca
reunir ferramental para este conjunto de conceitos, de técnicas e de métodos
de investigação produzidos visando explicar a vida social no contexto histórico
que possibilitou o seu surgimento, formação e desenvolvimento (BERNARDO,
1994, p.4).

A partir deste conceito, podemos dizer que a sociologia evoluiu desde o


início, juntamente com o pensamento humano e suas tentativas de entender os
processos sociais. Existe um consenso historiográfico em afirmar que a
sociologia nasceu num contexto histórico próprio. As primeiras tentativas de
criar parâmetros científicos para entender as relações sociais aparecem no
século XVIII, com o advento da sociedade industrial. Nosso esforço neste
primeiro módulo de estudo é apresentar as definições mais emblemáticas
acerca da sociologia e o contexto no qual ela surgiu.

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1. O QUE É SOCIOLOGIA: OBJETOS E RAMOS DA SOCIOLOGIA

1.1. OBJETO DE ESTUDO: A SOCIEDADE

O objetivo da Sociologia é estudar o comportamento social dos homens


e seus mecanismos de interação social, de forma sistemática, afastada do
empirismo e do senso comum. Abrange segundo Oliveira, o estudo dos grupos
sociais, dos fatos sociais, da divisão da sociedade em camadas, da mobilidade
social, dos processos de cooperação, competição, conflitos na sociedade, etc.
(2001, p.10). O elemento que diferencia o trabalho do sociólogo no grupo dos
cientistas sociais (que incluem ainda a Economia, Política e Antropologia) é o
estudo sobre comportamento dos grupos humanos.

A complexidade e a amplitude do estudo da sociedade criam segundo


Lago, a necessidade de criar uma proposta de definição mais precisa do objeto
de pesquisa desta ciência. A sociedade, objeto de estudo sociológico, define-se
por pessoas unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo
comportamento é regulado por uma estrutura social dinâmica, resultante das
ações dos vários grupos que a constituem (LAGO, 1996, p. 15).

Segundo Lago (p.16) existe ainda várias definições para o termo


sociedade:

1) Em ecologia: incluindo sociedades animais e humanas;


2) Conforme Comte: no sentido da humanidade;
3) Conforme Durkheim: no sentido da sociedade informal;
4) Em Direito: Equivalendo a associação contratual;
5) A sociedade civil de Hegel: equivalendo ao conjunto de governados, em
contraste, com os governantes do Estado;
6) Uso livre: variando a amplitude do termo desde humanidade, passando
por um determinado tipo de sociedade (capitalista, comunista,
nacionalista, microrregionais, etc);

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7) Uso mundano dos cronistas sociais, referindo-se a “alta sociedade”.

Dada a complexidade do termo a ser estudado pela sociologia, vale


lembrar que cada um dos pensadores clássicos constitui um recorte do campo
de pesquisa sociológico. Em Durkheim, temos a sociologia como pesquisa dos
fatos sociais; em Weber, os grupos sociais. No entanto, são noções
importantes que ajudam a compreender a sociedade humana, suas formas de
associação e os grupos sociais em que se enquadram.

1.2. SOCIOLOGIAS ESPECIALIZADAS

Para além da sociologia, encontramos alguns ramos que estudam


categorias mais específicas dos fatos sociais. Abaixo temos uma breve
descrição de algumas delas (LAKATOS, 1995):

a) Sociologia criminal: estuda aspectos da vida social atrelado a prática de


crimes ou outras dimensões de delinquência;

b) Sociologia da família: estuda a dinâmica da transformação e formação


da relação entre membros das famílias em diferentes sociedades;

c) Sociologia histórica: investiga a origem dos processos sociais;

d) Antropossociologia: estuda a relação entre fatores sociológicos e


antropológicos (questões étnico-raciais ou étnico-culturais em uma
sociedade);

e) Sociologia do Direito: estuda o impacto das normas jurídicas sobre o


comportamento dos componentes de uma sociedade. Busca assim
entender o processo de normatização social a partir da inter-relação
entre Direito e Sociologia;

f) Sociologia Econômica: Estuda a organização da sociedade em busca de


suas necessidades materiais; a influência das relações de produção na
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organização social e das instituições que compõem a sociedade e vice


versa;

g) Sociologia Política: Encarregada de estudar os movimentos políticos e


ideologia e suas implicações nas diversas sociedades; o
desenvolvimento do Estado e seus aspectos teóricos; relações entre
Estado e Direito; Estado e Economia; as relações de dominação,
liberdade e coerção;

h) Sociologia da Educação: Estuda a escola enquanto instituição, a relação


entre o pensamento sociológico e os mecanismos referentes a educação
formal e informal;

i) Sociologia da Religião: Estuda a origem, desenvolvimento e formas de


instituições religiosas, além de sua influência no campo das
mentalidades e controle social;

j) Sociologia da Comunidade: Estuda a organização das comunidades


numa determinada circunscrição;

k) Sociologia Rural: Estuda o modo de vida rural e suas diferentes formas


de organização social ao longo do tempo;

l) Sociologia Urbana: Estuda a origem das cidades e a influência do modo


de vida urbano nas estratégias sociais;

m) Sociologia do Desenvolvimento: Analisa as condições estruturais que


precedem o desenvolvimento das sociedades humanas e a forma como
influem nela; verifica as implicações sociais do seu desenvolvimento,
como marginalidade, conflitos de classe, dependência econômica, etc;

n) Sociologia Industrial e Sociologia do Trabalho: Estudo das relações


sociais e interação entre indivíduos e grupos relacionados com a função
econômica da produção e distribuição de bens e serviços necessários à
sociedade; estudam ainda os papéis profissionais, as normas e
expectativas a eles associadas no contexto social;

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o) Sociologia da Burocracia: Estudam os fenômenos que decorrentes da


estrutura das organizações burocráticas;

p) Sociologia da cultura: Estuda as inter-relações da cultura de um


determinado grupo social sobre a dinâmica de seus componentes;

q) Sociologia da Arte: Estuda as relações entre a arte e Sociologia; a


influência da sociedade sobre a produção artística e vive versa;

r) Sociologia da Comunicação: Estuda as estratégias de comunicação


entre os seres humanos; os comportamentos sociais frente as
ponderações feitas pela imprensa e os meios de comunicação em
massa.

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2. BREVE HISTÓRICO DA ORIGEM DA SOCIOLOGIA

A evolução do pensamento científico no mundo europeu começou bem


antes do que convencionamos chamar de mundo industrial. Nas civilizações
mais antigas, o conhecimento esteve concentrado nas mãos de grupos
sacerdotais ou privilegiados. A separação do saber social em relação ao
sobrenatural ocorreu de forma processual, culminando no século XIX.

Na antiguidade grega, a cultura acadêmica e o saber metódico


passaram a ser produzidos e transmitidos pelos mestres em instituições
culturais, obras literárias e obras de arte. A erudição constituía um traço social
desta época. Ao saber grego convencionou-se chamar de filosofia. A existência
humana era estudada de forma metódica, reflexiva e critica. Durante muito
tempo, as teorias acerca da sociedade humana foram mediadas pela filosofia.

Vale ressaltar a importância de Aristóteles no processo de construção do


pensamento científico. A partir da observação que empreendia sobre a
natureza humana e sua expressão material em cada individuo, influenciou uma
série de estudos a partir do Renascimento.

Segundo Lago, o pensador Aristóteles foi o primeiro precursor dos


cientistas políticos ao distinguir os sistemas de governo a partir do interesse
privado ou pelo bem comum. Dessa visão mais flexível e “humana” da
sociedade resulta a seguinte classificação (1996, p.24):

1) Governo (puro ou bom) de um só: monarquia


2) Governo (impuro ou mau) de um só: tirania, visando o interesse privado
3) Governo (bom) de poucos: aristocracia
4) Governo (mau) de poucos: oligarquia
5) Governo (bom) do povo: democracia
6) Governo (mau) do povo: oclocracia

O período posterior (Idade Média) ficou marcado pelo dogmatismo


religioso e reforço do teocentrismo. A Igreja Católica controlava qualquer e
rechaçava qualquer questionamento de ordem social, cultural ou político. A

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maioria das teorias originais era classificada como heréticas e passíveis de


condenação na fogueira ou outras torturas físicas.

Temos um exemplo na obra Cidade de Deus, escrita por Santo


Agostinho. Nela, a visão que se tinha da sociedade era claramente religiosa.
Segundo Oliveira, nas cidades reinava o pecado e as normas eram
necessárias para criar uma nova ordem moral e social. (2001, p. 12)

Com o Renascimento, surgiram pensadores que abordavam os


fenômenos sociais de formas mais concreta e realista. De acordo com Oliveira
(2001), escreveram sobre a sociedade de seu tempo: Maquiavel em o Príncipe;
Thomas Moore em Utopia, Francis Bacon em Nova Atlântida; Erasmo de
Roterdã em Elogio da Loucura; e Thomas Hobbes em O Leviatã.

A Reforma Protestante, iniciada no século XVI foi outro momento


importante nesta trajetória, já que lançou questionamentos acerca da tradução
e interpretação dos textos sagrados pela Igreja Católica. Instituindo o livre
exame, fez do exercício individual da consciência a ligação com a divindade.
Esse foi mais um passo para reforçar a convicção de que o destino dos
homens dependia também de suas ações.

Ao longo de toda a Idade Moderna, pudemos observar o desmonte do


aparelho ideológico baseado no Antigo Regime e o advento do mundo burguês.
Francis Bacon (1561-1626) propunha que a teologia deveria abandonar o
centro das discussões acerca dos fenômenos naturais e

Chegou a propor um programa para acumular os dados


disponíveis e com eles realizar experimentos a fim de
descobrir e formular leis gerais sobre a sociedade. O
emprego sistemático da razão, do livre exame da
realidade - traço que caracterizava os pensadores do
século XVII, os chamados racionalistas, representou um
grande avanço para libertar o conhecimento do controle
teológico, da tradição, da "revelação" e,
consequentemente, para a formulação de uma nova

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atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da


cultura. (MARTINS, 1994, p.9)

O processo de racionalização do conhecimento ganha grande impulso


no século XVIII com o movimento iluminista, que ao propor o desmonte do
aparelho ideológico do Estado absolutista, atacava de forma impiedosa toda a
matriz do conhecimento até então existente. Montesquieu (1689-1775) em seus
estudos institui a partir da observação, experimentação e acumulação de dados
algumas ideias acerca da religião, moral e família.

As primeiras ciências surgidas neste período lançavam postulados,


fazendo uso da reflexão, nascida geralmente de vivencias e observações.
Surgiam a partir de então, hipóteses e modelos para explicar ou descrever os
objetos pesquisados. Segundo Lago:

As primeiras ciências, definidas como tal, surgidas na


Idade Moderna foram as ciências naturais, as quais se
revelam mais acessíveis a pesquisa. Isso não impediu
que filósofos sociais produzissem notáveis obras sobre a
sociedade humana, influenciadoras dos cientistas sociais
até os nossos dias. Por outro lado, eles estavam abrindo
caminho para o futuro estabelecimento dos princípios que
iriam criar a noção de ciência social, a partir do século
XIX. (1996, p. 26)

O auge das mudanças do pensamento social é simbolizado, do ponto de


vista histórico, por dois fatos: a revolução industrial e a revolução francesa. A
primeira consolidou, a partir do mundo das fábricas, o pensamento capitalista
na sociedade europeia. Os empresários aos poucos concentraram em suas
mãos os mecanismos de produção e ganharam uma importante ferramenta de
controle sobre a grande massa de trabalhadores.

Em suma, temos a partir de então, o advento do mundo capitalista e


todos os problemas que dele advém. O advento da burguesia industrial trouxe
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uma série de mazelas e desequilíbrios sociais: desemprego, êxodo rural,


surgimento dos bairros periféricos e todos o seus problemas estruturais. A
marginalização de parcela significativa da sociedade estimulou a atividade
pensadora em diversas partes da Europa. O pensamento liberal era a bandeira
da burguesia, a parcela detentora dos meios de produção. E os problemas
sociais? Como resolvê-los? Como pensá-los do ponto de vista científico?

De acordo com Carlos Martins, “a profundidade das transformações em


curso colocava a sociedade num plano de análise, ou seja, esta passava a
constituir em problema, em objeto que deveria ser estudado” (TESKE, 1999
Apud MARTINS, 1994, p.14-15). As transformações foram profundas. Vale
lembrar ainda que o desmonte da estrutura social do mundo rural e de suas
permanências de longa duração acabou com o mundo artesanal e implicava
uma reorganização das formas habituais de vida.

O primeiro motor das transformações europeias foi demográfico. O


número de habitantes aumentou bastante, passando de 600 milhões em 1750
para mais de bilhão em 1850. Esse movimento, segundo Schnerb (1969) foi
sentido em todo o mundo, com índices de crescimento que chegaram a
incríveis 300% na América do Norte, 73% na América do Sul e Central e 43%
na Europa. O aumento populacional foi acompanhado pelo crescimento da
produção e produtividade. Com isso, houve mais trabalho, mais consumidores,
expansão de mercados, das comunicações e a ampliação dos recursos
tecnológicos.

O aumento da população acompanhou outra dimensão desta mudança e


que, do ponto de vista social, nos ajuda a entender o porquê do
desenvolvimento de um novo status quo na sociedade industrial: as
transformações do mundo rural e o deslocamento populacional para o mundo
urbano. Em primeiro lugar, a transferência abasteceu as fábricas de mão de
obra. Em segundo lugar, com a transferência, os trabalhadores se adaptaram
as exigências dos donos das fábricas.

Cria-se, de acordo com Canêdo, uma verdadeira Filosofia das


Manufaturas, visando “decretar e fazer efetiva a vigência de um código eficaz
de disciplina industrial apropriada as necessidades da grande produção” (1987,
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p.55). Multas e normas foram criadas de forma a criar um laço de obediência.


Saem as figuras do suserano e vassalo e entram o patrão e o empregado.
Muitas das leis da época permitiam o cárcere de empregados para evitar o
abandono da linha de produção, instituem salários e rotinas de trabalho
desumanas.

Em suma, o ritmo da vida urbana foi ditado pelas fábricas inglesas no


início do século XIX. Poluição, imundície, falta de serviços públicos básicos,
doenças, ausências das festas (tão comuns na tradição do mundo rural),
passeios e piqueniques em jardins, transformaram os trabalhadores urbanos
em verdadeiras “ferramentas” das fábricas.

A vida dos operários era curta. A liberdade para vender sua força de
trabalho constituía uma vantagem apenas teórica. Quem realmente ganhava
com isso eram os capitalistas, que ofereciam valores irrisórios pelo trabalho.
Podemos dizer que a situação dos operários e se assemelhava a dos escravos,
pelo menos alimentados pelos seus proprietários.

Movimentos sociais e intelectuais surgem aos poucos: temos o ludismo,


o cartismo, anarquismo, sindicalismo, trabalhismo e finalmente o socialismo.
Desse panorama histórico nascido no século XVIII e aprofundado no XIX surge
o embrião do que conhecemos como sociologia científica. Os precursores
desta ciência nascem justamente da reação de setores sociais desprivilegiados
e que estavam envolvidos diretamente nestas questões, como Owen (1771-
1858), Willian Thompson (1775-1883) e Jeremy Bentham (1748-1832).

Das indagações dos primeiros pensadores nascia segundo Ferreira


(1993), a própria essência da Sociologia enquanto ciência. O conceito de
indivíduo1, sua relação com a sociedade, assim como a implicação de suas
ações na teia social, é fruto da sociedade burguesa europeia. A nova ciência
funcionava como uma reação a ao individualismo no qual se baseava grande
parte da teoria econômica liberal da época.

1
Vale lembrar que o conceito de indivíduo é bastante diverso e depende do contexto histórico em que
está inserido. O conceito que usamos está presente na obra de Tomazzi (1993) e tem como base a idéia
de que a sociedade industrial reduziu o funcionamento das estruturas sociais ao conjunto de interesses
de alguns agente privados.
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Ainda segundo Ferreira (1993, p.34-35)

O homem passou a ser visto, do ponto de vista


sociológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos
grupos sociais que a compõem. Nesse sentido, o produto
dessa modernidade, os estudos de sociologia, ora
enfatizam a ação individual, ora a ação coletiva. Alguns
autores privilegiam o papel ativo do individuo na escolha
de certas ações sociais, enquanto outros enfatizam o
papel da sociedade e de suas instituições, e outros ainda,
ressaltam a importância ao conjunto das práticas que
definem as próprias relações entre indivíduo e sociedade.

Independente da matriz de pensamento, a sociologia tem como grande


objetivo de pesquisa na sociologia o indivíduo, ou melhor, a pessoa social,
imbuída de status e papel nas relações humanas.

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3. A SOCIOLOGIA CIENTÍFICA

Os primeiros pensadores estavam preocupados em dar uma explicação


científica para os fenômenos sociais que aconteciam em pleno século XIX.
Conflitos sociais relacionados ao desequilíbrio causado pelo mundo industrial
estiveram presentes nas obras de pensadores como Auguste Comte (1798-
1857), Saint Simon (1760-1830), Hegel (1770-1830), David Ricardo (1772-
1823) e Karl Marx (1818-1883).

Saint Simon foi o precursor da chamada sociologia científica. Ele viveu o


momento de intensas mudanças que descortinavam no final do Antigo Regime
francês. Com base no pensamento iluminista, buscou rever uma série de
conceitos e, mesmo seduzido pelo liberalismo, foi capaz, segundo Martins, de
perceber

Novas forças atuantes na sociedade, capazes de


propiciar uma nova coesão social. Em sua visão, a nova
época era a do industrialismo, que trazia consigo a
possibilidade de satisfazer todas as necessidades
humanas e constituía a única fonte de riqueza e
prosperidade. Acreditava também que o progresso
econômico acabaria com os conflitos sociais e traria
segurança para os homens. A função do pensamento
social neste contexto deveria ser a de orientar a
indústria e a produção. (1999,p.21)

O princípio do industrialismo utilizado por Simon era fundamentado pelo


método científico. A sua influência positivista lhe permitia enxergar a nação
como uma grande oficina social onde os indivíduos eram vistos pela sua
capacitação e qualificações profissionais. A ordem social no mundo fabril
estava rompendo com os padrões familiares anteriores. Não interessava mais a
origem familiar da mão de obra.
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O trecho abaixo revela o peso do pensamento positivista de Saint Simon


na concepção posterior de sociedade apropriada por sociólogos posteriores:

A sociedade não é uma simples aglomeração de seres


vivos (...); pelo contrário, é uma verdadeira máquina
organizada, cujas partes, todas elas, contribuem de uma
maneira diferente para o avanço do conjunto. A reunião
dos homens constitui o verdadeiro SER, cuja existência é
mais ou menos vigorosa ou claudicante, conforme sues
órgãos desempenhe mais ou menos regularmente as
funções que lhes são confiadas. (FERREIRA, 2003 APUD
SIMON, t.5, p.177).

3.1. AUGUSTE COMTE

Foi o primeiro intelectual a utilizar o termo sociologia em seus cursos de


filosofia, ainda na primeira metade do século XIX, “a fim de designar, por um
nome único, esta parte complementar da filosofia natural que se relaciona com
o estudo positivo do conjunto das leis dos fenômenos sociais” (COMTE, t.4, p.
132).

Augusto Comte, assistente de Saint Simon, retomou algumas ideias de


seu mentor. No entanto, não tinha uma visão progressista da sociedade. Para
Comte, a sociedade encontrava-se em estado de anarquia e caos social. A
perda do poder de coerção das ideias religiosas desintegrou os elementos de
coesão oriundos da ordem social anterior.

Temos então, em sua obra, um conflito entre a ordem feudal e a


sociedade industrial, sendo a última causadora da perda da unidade social. A
perda dos elementos consensuais deveria levar a criação de novos. Comte não
se limitava a refletir sobre a sociedade, mas queria interferir nela, criando

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novas instituições sociais. Nasce juntamente com a obra Discurso preliminar


sobre o espírito positivo, a base do das leis de organização social positivista2.

Comte contribuiu decisivamente para a constituição sociologia enquanto


ciência. Três pontos devem ser destacados. Seu primeiro contributo para a
Sociologia está no fato de ter tentado uma classificação científica para os fatos
sociais a partir de leis gerais:

O caráter fundamental da filosofia positiva é tomar todos


os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis,
cuja descoberta precisa e cuja redução ao menor número
possível constituem o objetivo de todos os nossos
esforços (...) Cada um sabe que, em nossas explicações
positivas, até mesmo as mais perfeitas, não temos de
modo algum a pretensão de expor as causas geradoras
dos fenômenos, posto que nada mais faríamos então
além de recuar a dificuldade. Pretendemos somente
analisar com exatidão as circunstâncias de sua produção
e vinculá-las umas às outras, mediante relações normais
de sucessão e de similitude (MARTINS, 1999 Apud
COMTE, p. 7)

Objetivo central de suas leis era construir um arcabouço capaz de


conduzir o pensamento humano a coerência racional. A sociologia seria o fio
condutor do pensamento humano até a razão positiva pensada Por Comte.

2
Sob base do pensamento de Immanuel Kant,e David Hume, Comte adotou a noção de progresso
histórico na qual a sociedade deveria passar por três etapas de desenvolvimento (As Leis dos Três
Estados ou Lei de Evolução da Humanidade). De acordo com esta doutrina fundamental, todas as nossas
especulações estão inevitavelmente sujeitas, assim no indivíduo como na espécie, a passar por três
estados teóricos diferentes e sucessivos, que podem ser qualificados pelas denominações habituais de
teológico, metafísico e positivo, pelo menos para aqueles que tiverem compreendido bem o seu
verdadeiro sentido geral. O primeiro estado, embora seja, a princípio, a todos os respeitos,
indispensável deve ser concebido sempre, de ora em diante, como puramente provisório e
preparatório; o segundo, que é, na realidade, apenas a modificação dissolvente do anterior, não
comporta mais que um simples destino transitório, para conduzir gradualmente ao terceiro; é neste,
único plenamente normal, que consiste, em todos os. gêneros, o regime definitivo da razão humana.
(COMTE, VER data e página)

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Em segundo lugar, Comte buscou a classificação das ciências tendo


como base a sua complexidade. Julgava a sociologia acima de outras ciências
como a matemática e a astronomia, dada a grandiosidade do seu objeto de
estudo: a sociedade.

Por último, Comte pensava a reforma das instituições sociais em busca


do elo perdido. Segundo o pensador, uma elite técnico-científica burguesa
conduziria os indivíduos em torno de um consenso:

Em relação à política, suas posições foram imperativas: o


governo deveria ser exercido em nome de todos e sua
ação se daria pelo exercício da força material, impondo
seu poder coercitivamente. Governar equivalia a ditar as
normas de coordenação do todo social; para isso, todo
governo deveria constituir-se em uma ditadura, de
conteúdo autocrático e republicano. O poder legislativo
deveria ser extinto, uma vez que sua função perderia
sentido. Em seu lugar, existiria um colegiado eletivo com
funções estritamente financeiras, dedicado apenas ao
controle rígido da ação administrativa relacionada ao
erário público, objetivando o exercício do governo de
acordo com os princípios do equilíbrio orçamentário, não
se admitindo ações de despesa sem receita
correspondente. Tais condutas no exercício da política
deveriam levar a sociedade no sentido da manutenção da
ordem e da continuidade do progresso. (MARTINS, 1999
Apud COMTE, p. 7)

Comte entendia que o sustentáculo da sociedade estava no conjunto de


princípios admitidos pelo consenso coletivo. A unidade social foi uma busca
constante no pensamento do autor. Esse consenso definia a forma de pensar,
representações e crenças numa nova ordem social. A nova coesão do
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pensamento burguês traria de volta a normalidade. A modernização burguesa


daria novo sentido a sociedade depois da crise do pensamento feudal.

Sua crença neste espírito positivo levou a criação, segundo Ferreira, do


que Comte chamava de Física- social:

Em sua concepção, essa disciplina deveria adotar os


paradigmas do método positivo das ciências naturais,
uma vez que “há leis tão determinadas para o
desenvolvimento da espécie humana com há para uma
queda de uma pedra”. Comte aceitava plenamente os
pontos de vista mecanicista e reducionista da física
newtoniana como modelos capazes de promover a
descriçao correta da realidade social, por isso adotou
como fundamentos para suas teorias. Assim, o
surgimento da Física Social não significava apenas uma
adoção do método positivo a um novo ramo do
conhecimento. Com ela, o espírito positivo deveria
alcançar a maturidade e oferecer os elementos
fundadores da formação do espírito da nova ordem
burguesa (2003, p. 36)

De acordo com Comte, para alcançar o espírito positivo, a sociedade


deveria passar por três estágios ou leis. O primeiro estado da humanidade é o
teológico. Nesse estágio o homem vive segundo Ferreira, em estado de
aculturação, o que justificaria sua ligação mais intima com as divindades. Essa
concepção era fundada na impossibilidade da humanidade, num primeiro
momento, de buscar explicações com bases racionais. Dessa forma, a fé era o
elemento capaz de explicar a ordenação do mundo social (2003, p.37).

O segundo estado é definido por Comte como metafísico. Esse elo


intermediário se fazia necessário, pois os homens começariam a negar uma
ordem estritamente espiritual, mas ainda não eram capazes de sistematizar
seus próprios esquemas explicativos sociais. Deus não era mais o regente

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único da vida social e os dogmas da fé começariam a ser colocados a prova.


Segundo Comte, esse estágio poderia ser considerado o inicio do progresso no
percurso da sociedade.

O último estado da Teoria da História Comteana (FERREIRA, 2003,


p.37) seria o positivo, onde a sociedade encontraria o espírito moderno
burguês. O homem seria capaz de por si só buscar as soluções e razoes
científicas do ordenamento social. A sua ciência físico-social conferiria a
unidade lógica necessária para a obtenção da unidade social.

A coerência racional necessária a sociedade só seria alcançada,


segundo o espírito positivo de Comte, com um processo evolutivo cuja eficácia
científica estaria a encargo da sociologia. Dessa forma, a ciência por ele
proposta seria o elo capaz de fazer a humanidade evoluir.

O trabalho de Comte teve penetração relevante no Brasil no final do


século XIX por conta do combate no campo ideológico em torno da construção
da república brasileira. A sua ordem e progresso teria como objetivo moralizar
a sociedade aristocrática brasileira dos tempos do Império. As Forças Armadas
apreenderam essas ideias em sua propaganda republicana juntamente com
setores ilustrados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Além do caso citado, destacamos ainda o legado do seu pensamento


sociológico no século XX, com Spencer, Durkheim, Raymond Aron, Levi
Strauss e Marcel Mauss.

3.2. KARL MARX

O alemão Karl Marx (1818-1883), diferente de Comte, adotou uma


postura antipositivista. De acordo com Ferreira (p.54), a formação de Marx
incluía a seguinte tríade: do pensamento alemão, espelhou-se em Hegel,

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absorvendo o método dialético3; do pensamento francês, criticou de maneira


aguda o pensamento socialista encabeçado por Saint Simon, Proudhon e
Fourier. Dessa crítica surge o chamado socialismo científico. Por fim, a partir
de seus estudos econômicos de base burguesa, veio sua ferrenha crítica ao
pensamento liberal4.

Ao passo em que uma sucessiva onda de revoluções assolava a Europa


Ocidental, aparecia ainda uma forma nova de conceber a sociedade. No
entanto, os pensadores mais influentes não colocavam em xeque a
composição estrutural ou os privilégios de classes sobre outras. A reordenação
pensada até então somente encaixava atores sociais em seus respectivos
papeis, mas sem o desmonte efetivo dos aparelhos de dominação. Não
existiam propostas práticas e efetivas, nem mesmo no campo do socialismo
utópico.

De acordo com Florestan Fernandes, a situação da Alemanha, berço do


pensamento de Marx era propício a um avanço de suas teorias sociológicas
para um patamar mais “combativo”:

O mundo estava vivendo uma situação revolucionária que


se ligava as transformações produzidas pela revolução
burguesa na Europa, se quiserem usar uma palavra que
os acadêmicos gostam. Aquela era uma situação na qual
surgiram novas forças sociais; o proletariado estava se
constituindo e era a partir de uma nova perspectiva que
Marx encarava a revolução. Perspectiva que se vinculava
a uma nova classe social. É preciso que vocês façam um
esforço de imaginação para pensar que homens que
viveram e se educaram na Alemanha – a Alemanha que
era um país atrasado na Europa, economicamente

3
Marx absorveu o caráter revolucionário do método de análise revolucionária, que afirmava que tudo
que existia, por conta de suas contradições, naturalmente se extinguia. Dessa forma, do ponto de vista
filosófico, os fenômenos ligados a realidade eram projeções do pensamento.
4
Karl Marx possuía formação nas áreas de Filosofia, História, Sociologia e Economia, por isso não é
possível perceber, aos moldes da sociologia moderna, uma preocupação clara em definir fronteiras
entre essas áreas do conhecimento.
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atrasado e culturalmente dependente, que vivia das idéias


políticas, econômicas, filosóficas e científicas importadas
de outros países da Europa. Por isso, a Alemanha acabou
sendo um país no qual havia uma consciência filosófica
do fazer alheio. E é esse o problema todo que Marx
discute numa introdução à crítica da filosofia do direito de
Hegel. Essa introdução é muito importante (FERNANDES,
1995, p.44)

A sociologia de Marx, assim como em Comte, tinha objetivos práticos.


No seu método de estudo, o juízo crítico acerca do objeto era algo inerente ao
estudo científico. Por conta da excessiva aproximação com a realidade
estudada, Marx propõe uma filosofia de ação, visando modificar e não apenas
interpretar o mundo. Por isso, o pensamento de Marx se forma voltado para a
crítica e para a mudança revolucionária do capitalismo em direção ao
socialismo e posteriormente ao comunismo.

A ideia de antagonismo entre capitalismo e socialismo parte dos


princípios filosóficos de antagonismo e contradição presentes na obra de
Hegel. No entanto, para Marx, as contradições se resolvem numa esfera mais
concreta: na ação histórica e social. O pensamento dialético do pensador
alemão conflui no choque dos antagonismos entre o velho e o novo.

A luta de opostos, por ele denominada de luta de classes define-se


como o motor da história, com os sucessivos embates entre os modos de
produção, que desde as primeiras formas de organização social definem as
relações sociais.

Do ponto de vista científico, seus escritos têm por finalidade demonstrar


as contradições do pensamento capitalista. O principal alvo de suas críticas é a
voracidade desse sistema econômico. Esse sistema segundo Marx é
autodestrutivo, pois a luta revolucionária contra a burguesia é uma
consequência da pauperização da classe trabalhadora. Este inclusive é o
objetivo de sua obra mais emblemática: O Capital.

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A obra de Karl Marx encontrava-se em perfeita consonância com o


momento histórico em que estava inserido. Era uma reflexão acerca da
realidade que o cercava. Sua obra, no entanto, não teve grande repercussão
enquanto esteve vivo. De acordo com Meksenas:

“obras fundamentais como “Crítica da Filosofia do Direito


de Hegel” (1843), “Manuscritos Econômico-Filosóficos”
(1844), “Teses sobre Feuerbach” (1845), “A Ideologia
Alemã” (1846), “Teorias da Mais-Valia” (1862) e os
volumes II e III de “O Capital”, por exemplo, somente
começaram a ser publicadas após a sua morte, algumas
quase 50 anos depois, como lembra Perry Anderson.
Mesmo o “Manifesto Comunista”, publicado pouco antes
das eclosões de 1848 (em fevereiro/1848) nenhuma
repercussão teve além do círculo restrito que o
encomendou”. (2008).

A teoria marxista possui alguns princípios fundamentais, a saber:

a) O materialismo histórico: De acordo com Marx, a luta de classes é o


motor de transformação da sociedade, atribuindo ao estrato mais
organizado o papel de conduzir os indivíduos rumo a transformação. Em
O Capital, Karl Marx afirma que o capitalismo é apenas mais uma etapa
rumo ao inevitável socialismo. A revolução contra a burguesia se daria
pela classe trabalhadora, que eliminaria os conflitos sociais.
b) Alienação: Este conceito, que foi apropriado por Fich por Hegel e a partir
de então por Marx, foi definido em o Capital a partir da condição da
classe operária onde o “seu trabalho se torna um objeto, uma existência
exterior, mas que o seu trabalho existe fora dele, independentemente
dele, estranho a ele e se torna um poder autônomo em relação a ele”
(MARX,1867). A força de trabalho torna-se mais uma mercadoria regida

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pelas leis do mercado e torna-se algo exterior ao homem. Este, segundo


Marx, perde a sua dignidade
c) Modo de produção: A partir desse conceito, a sociedade é caracterizada
pela sua maneira de produzir. As relações sociais são fundamentadas
dessa forma em cada uma das etapas da sucessão linear a que as
sociedades são submetidas: comunismo primitivo, escravismo,
feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. São os modos de
produção que dão sentido histórico a teoria marxista. As contradições
dentro das etapas e as relações sociais produzidas pelas condições
particulares em cada contexto dão vazão aos conflitos (luta de classes)
e rupturas inerentes ao processo materialista do marxismo. Em suma, a
história para Marx é a resultante do desenvolvimento e da derrocada de
modos de produção distintos, que seria movida pela ação da luta de
classes (FERREIRA, 2003, p.57).
d) Infraestrutura e superestrutura: Segundo Marx, estas são as duas
estruturas que englobam as dimensões fundamentais da sociedade. A
primeira corresponde aos conjuntos de forças produtivas e relações
sociais de produção. A segunda aos elementos imateriais da sociedade,
representadas por instituições sociais, culturais e jurídicas de uma
sociedade. A doutrina marxista propõe que existe uma articulação entre
esses grupos, e nessa relação é que fundamentam as bases de
dominação da classe burguesa no sistema econômico capitalista.
Althusser, pensador de influência Marxista, utiliza essas noções para
construir seu conceito de Aparelho Ideológico do Estado e Aparelho
Repressor do Estado;
e) Classe Social e luta de classes: Em Karl Marx, temos o que chamamos
de teoria realista. Temos de um lado, os detentores das forças
produtivas e dos meios de produção (proprietários). Do outro, o
proletariado, detentor da força de trabalho (trabalhadores não
proprietários). São essas duas classes (chamadas por Marx de classes
fundamentais), que segundo Marx, polarizam as tensões sociais
decorrentes da exploração da mão de obra da classe trabalhadora. A
partir da utilização do trabalho livre assalariado, os burgueses se

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apropriam das riquezas produzidas pelos trabalhadores. É justamente


essa apropriação que impede que os operários recebam uma
remuneração justa. A dissidência entre as duas classes dá origem a luta
de classes, o “motor revolucionário” da teoria de Karl Marx.

As relações de produção capitalistas estão fundamentadas na


transformação da força de trabalho, dentre outros elementos, em mercadoria.
Essa força seria negociada por certo valor entre o trabalhador e o dono dos
meios de produção. O parâmetro de negociação do valor é o mercado. De um
lado temos o trabalhador que oferece seu trabalho e do outro o empregador
que o compra (salário).

Fernanda Alcântara afirma que Marx acreditava na centralidade da


noção de mercadoria dentro da categoria explicativa sobre a essência do
capitalismo. Isso se dá, segundo ela, porque toda a teoria de Marx está
centrada na exploração do trabalhador enquanto mercadoria e as implicações
que seguem. (ALCÂNTARA, 2007, p. 67)

Nesse sentido, Alcântara aponta três dimensões da visão de Marx sobre


mercadoria (2007, p. 69-70):

a) A mercadoria possui utilidade quando tomada para consumo, ou seja,


possui valor de uso;

b) A mercadoria também possui valor de troca, isto é, caracteriza-se como


um produto que pode ser trocado por outro ou por moeda de qualquer
espécie;

c) A mercadoria tem seu valor calculado a partir da quantidade de tempo


gasto para a sua produção.

A força de trabalho enquanto mercadoria, é o elemento capaz de


produzir riquezas para aquele que a compra. O salário, segundo Marx, é um

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fator que aprofunda as desigualdades entre a classe burguesa e o proletariado.


Em sua concepção, a remuneração dada aos trabalhadores é apenas o
necessário para que ele continue trabalhando e fornecendo a sua força de
trabalho ao patrão e continue reproduzindo excedentes de riqueza.
(ALCÂNTARA, 2007, p. 70)

Uma das críticas fundamentadas por Marx está na falta de equivalência


entre o que é pago ao trabalhador e o que se realmente ele vale, ou seja, entre
o que o trabalhador pode produzir e o seu salário é incompatível. Em função
das relações sociais de produção capitalistas, o valor que é produzido durante
o tempo de trabalho excedente ou não-pago é apropriado pela burguesia. Parte
desse valor extraído gratuitamente durante o processo de produção e passa
a integrar o próprio capital, possibilitando a acumulação crescente
(QUINTANEIRO, 2003 p. 45).

Na realidade, a situação de liberdade aparente na venda da força de


trabalho é apenas aparente:

“O valor que ultrapassa o dos fatores consumidos no


processo produtivo (meios de produção e força de
trabalho), e que se acrescenta ao capital empregado
inicialmente na produção, é a mais-valia. Ela se
transforma, assim, em uma riqueza que se opõe à
classe dos trabalhadores. A taxa de mais-valia, a
razão entre trabalho excedente e trabalho necessário,
expressa o grau de exploração da força de trabalho pelo
capital. O que impede o trabalhador de perceber como se
dá efetivamente todo esse processo é sua situação
alienada” (QUINTANEIRO, 2003 p. 45).

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4. SOCIOLOGIA ACADEMICA

4.1. EMILE DURKHEIM

Considerado o primeiro catedrático de Sociologia na França, dirigiu


durante muitos anos a revista “L’Année Sociologique”. Desenvolveu estudos e
conceitos tidos como fundamentais para a história da sociologia. Dentre estes,
destacamos: fatos sociais, suas regras explicativas, anomias sociais (com
ênfase em estudos sobre suicídio), etc.

Durkheim formulou as primeiras orientações para a Sociologia,


demonstrando que os fatos sociais têm características próprias, que os tornam
diferentes dos objetos de outras ciências.

Durkheim afirma que a sociologia é o estudo dos fatos sociais. De


acordo com essa ideia, o fato social é o conjunto de elementos que a priori,
orientam a forma de agir, pensar e sentir de um grupo social. Oliveira
apresenta um exemplo simples para compreender o conceito de fato social

Um exemplo simples nos ajuda a entender o conceito de


fato social, segundo Durkheim. Se um aluno chegasse à
escola com roupa de praia, certamente ficaria numa
situação muito desconfortável: os colegas riram dele, o
professor lhe daria uma enorme bronca e provavelmente
o diretor o mandaria de volta para pôr uma roupa
adequada.

Existe um modo adequado de vestir que é comum, que


todos seguem. Isso não é estabelecido pelo indivíduo.
Quando ele entrou no grupo, já existia tal norma e,
quando ele sair, a norma provavelmente permanecerá.
Quer a pessoa goste, quer não, vê-se obrigada a seguir o
costume geral. Se não a seguir, sofrerá uma punição. O
modo de vestir é um fato social. São fatos sociais também
a língua, o sistema monetário, a religião, as leis e uma

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infinidade de outros fenômenos do mesmo tipo. (2001, p.


13)

Para Durkheim, os fatos sociais são elementos externos ao indivíduo, e


exercem poder de influência sobre ele. Os elementos que dão objetividade e
proporcionam a possibilidade de um estudo metódico dos fatos sociais são

a) Generalidade: é comum a todos os membros


b) Exterioridade: os fatos sociais acontecem independentes da ação dos
indivíduos
c) Coercitividade: força que induz as pessoas a seguir os comportamento
preestabelecidos.

Os fatos sociais compreendem segundo Durkheim, toda maneira de agir


fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou
então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando
uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa
ter. Incluem ainda as maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao
indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem.
(DURKHEIM, 1974, p. 31)

O fato social é tipo por Durkheim como uma entidade autônoma, com
vida própria e eu exerce atração sobre os indivíduos. É essa força atrativa que
leva os membros de um grupo social a agir e pensar de uma determinada
maneira. Dessa forma, a sociedade não pode ser compreendida como um
somatório de indivíduos que se interpõem.

As características de um determinado grupo social nascem da fusão de


elementos externos e a sua apreensão pelos componentes do todo. A
sociedade é uma síntese. A explicação está no todo e não nas partes.

Durkheim concebia a sociedade como uma estrutura semelhante ao


corpo humano. As partes funcionavam de forma integrada. Cada integrante
tinha a sua função específica. Uma analogia pode ser feita a partir da seguinte
afirmação (SEED,2007 Apud MONTE, 1997, p. 257):

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O médico Joaquim Monte, em seu livro “Promoção da


qualidade de vida (1997) considera o corpo humano como
sendo um “organismo vivo concebido sob forma de uma
estrutura que apresenta constituição e função (um
conjunto organizado de elementos bióticos de anatomia e
fisiologia). A estrutura do corpo humano representa a
dimensão orgânica da pessoa: a carne da qual somos
constituídos (matéria orgânica com suas características e
propriedades funcionais) e que tem a potencialidade de
reproduzir, nascer, maturar, crescer, desenvolver, agir,
adaptar, sarar e morrer (p.257)

Durkheim entendia que cada parte da sociedade tinha uma função


dentro de uma dinâmica integrada. A falha de um componente deste corpo era
chamada por ele de anomia (uma desconformidade social).

Um exemplo interessante utilizado por Durkheim para explicar esta


questão está em seus estudos sobre o suicídio. Ele tipificou três categorias de
suicídios, se acordo com a dinâmica social e a relação entre realidade coletiva
e a ação dos indivíduos:

a) Altruísta: ocorre quando o individuo supervaloriza a sociedade em


relação a si própria. Isso significa dizer que os laços que o unem a
sociedade são muito fortes (encontramos um exemplo emblemático nos
ataques terroristas, que trazem em si elementos religiosos ou
nacionalistas).
b) Egoísta: acontece quando o individuo encontra-se desvinculado das
instituições sociais (família, escola, igreja, partido político). Isso reflete a
falta de rede de convívios ou limites para as suas ações.
c) Anômico: Acontece quando as partes do corpo social param de
funcionar e as normas que poderiam socializar ou integrar os indivíduos
perdem sua eficácia.

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A exterioridade dos fatos sociais aparece na obra de Durkheim em outro


aspecto teórico. A consciência coletiva, expressa nos movimentos coletivos,
movimentos sociais e políticos possuem formas cristalizadas no seio social.
São elementos moldadores de opinião e valores: dogmas morais e religiosos,
sistemas financeiros, regras matrimoniais, normas de etiqueta. Essas regras
são passadas para gerações futuras de forma imperativa, coagindo os
membros da sociedade a adotar certas condutas.

Dessa forma, o processo educacional ganha um papel decisivo na teoria


de Durkheim. É preciso que a consciência coletiva, agregada aos valores de
uma determinada sociedade, seja canalizada e transmitida para a juventude:

Desde muito pequenas, lembra, as crianças são


constrangidas (ou educadas) a seguir horários, a
desenvolver certos comportamentos e maneiras de ser e,
mais tarde, a trabalhar. Elas passam por uma socialização
metódica e é uma ilusão pensar que educamos nossos
filhos como queremos. Somos forçados a seguir regras
estabelecidas no meio social em que vivemos. Com o
tempo, as crianças vão adquirindo os hábitos que lhes
são ensinados e deixando de sentir-lhes a coação,
aprendem comportamentos e modos de sentir dos
membros dos grupos dos quais participam. Por isso a
educação cria no homem um ser novo, insere-o em uma
sociedade, leva-o a compartilhar com outros de certa
escala de valores, sentimentos, comportamentos. Mais do
que isso, nasce daí um ser superior àquele puramente
natural. E se as maneiras de agir e sentir próprias de uma
sociedade precisam ser transmitidas por meio da
aprendizagem é porque são externas ao
indivíduo.(QUINTANEIRO, 2003, p.63)

Os valores de uma sociedade, outro elemento estudado por Durkheim,


também possuem, segundo ele, uma dinâmica própria, que independe do juízo
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de valores de um ou mais indivíduos. A sua aceitação ou a concordância com


eles também deve ser levado em consideração por quem faz parte de um
determinado grupo.

Durkheim se refere em Educação e Sociologia, as implicações da não


aceitação das regras ou convenções preestabelecidas:

“as forças morais contra as quais nos insurgimos reagem


contra nós e é difícil, em virtude de sua superioridade, que
não sejamos vencidos. (...) Estamos mergulhados numa
atmosfera de ideias e sentimentos coletivos que não
podemos modificar. à vontade.” (WEBER, 1955, p. 7)

Isso não significa que haja uma sujeição total aos preceitos e regras
sociais. É possível que haja comportamentos inovadores, desde que um
conjunto de pessoas conflua para um comportamento que posteriormente
constituirá um fato social.

Na obra Da divisão social do trabalho (1893), Durkheim analisa os


limites da coletividade social. Para tal, ele estuda as relações entre indivíduo e
sociedade. Era necessário entender, segundo Durkheim, o que unem
elementos sociais tão diversos em comunidade. A resposta estaria no que ele
chama de solidariedade.

A solidariedade exprime o conjunto de ações (estruturas) que regulam a


sociedade e criam os laços de interdependência entre os indivíduos. Dessa
forma, a sociedade é capaz de manter o mínimo de coesão mesmo naquelas
compostas por características mais individualistas.

Em Durkheim temos duas formas de solidariedade. A primeira é a


solidariedade mecânica ou por semelhança, onde os indivíduos diferem pouco
uns dos outros. A forma oposta de solidariedade, a orgânica, é aquela em que
o consenso resulta de uma diferenciação, ou se exprime por seu intermédio.
Os indivíduos não se assemelham, são diferentes.

A medida em a divisão social do trabalho se acentua, a redução da


solidariedade mecânica é inevitável. Institui-se um processo de individualização
dos membros da sociedade que a priori não deveriam manter laço algum de
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coesão. No entanto, a solidariedade passa a se expressar pela


interdependência entre os elementos sociais.

De acordo com Quintaneiro, a função da divisão do trabalho é, enfim,

“a de integrar o corpo social, assegurar-lhe a unidade. É,


portanto, uma condição de existência da sociedade
organizada, uma necessidade. Sendo esta sociedade “um
sistema de funções diferentes e especiais”, onde
cada órgão tem um papel diferenciado, a função que
o indivíduo desempenha é o que marca seu lugar na
sociedade, e os grupos formados por pessoas unidas
por afinidades especiais tornam-se órgãos, e “chegará o
dia em que toda organização social e política terá uma
base exclusivamente ou quase exclusivamente
profissional”. (QUINTANEITO, 2003, p.74)

A ideia de representação social é central na obra de Durkheim. Seus


estudos sobre religiosidade enfatizam bastante essa relação. No estudo Les
Formes elementaires de la vie religieuse, a essência da religião está no
sagrado e não no sobrenatural. O sagrado engloba o conjunto de crenças e
idéias, o que caracteriza seu aspecto coletivo e impessoal. Dessa forma, a
religião constitui um fato social.

A religião é coletiva porque suas crenças são coletivas. Por sua vez,
elas são coletivas porque emanam da sociedade. A religiosidade é o símbolo
da união de pessoas em torno de uma crença comum. Torna-se assim um
elemento de coerção.

As ideias de Durkheim sobre o funcionamento da sociedade estão


intimamente ligadas ao método por ele utilizado em suas análises. De acordo
com ele, é preciso tratar os fatos sociais como objetos ou “coisas”. Isso implica
em pensar seu método a partir do seguinte esquema:

1) Observação dos fatos sociais:

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- Os fatos precisam ser observados de forma exterior, de forma


semelhante aos fatos físicos ou naturais;

- Para conhecer fatos, muitas vezes complexos como religião e


sociedade, é preciso enxergá-los sem preconceitos ou julgamentos iniciais.
Esse é o princípio da cientificidade;

- É preciso encarar a análise social com a mesma neutralidade e


cientificidade utilizada nas ciências naturais;

2) Buscar nos fatos sociais os elementos de coerção sobre os indivíduos;

QUADRO ESQUEMÁTICO DA TEORIA SOCIOLÓGICA DE DURKHEIM

4.2. MAX WEBER

A obra de Max Weber (1864-1920), juntamente com outros pensadores,


é decisiva para a formação da sociologia, estruturando, inclusive, a base do
pensamento cientifico. Sua principal contribuição metodológica para as ciências
sociais, segundo Ferreira, foi a elaboração do conceito de tipo ideal. Ao estudar
História numa perspectiva comparativa, buscou analisar a problemática do
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HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA

funcionamento do capitalismo e da burocracia, fazendo relações com questões


ligadas a religião (2003, p. 66).

Filósofo, historiador e sociólogo alemão, era filho de uma família de


ideias protestantes e de ideais liberais. Seus estudos universitários permearam
os campos do Direito, Economia, História e Filosofia.

Sua vida profissional o manteve sempre ligado às questões políticas


concernentes ao seu país. Foi conselheiro da delegação alemã que participou
da condução do Tratado de Versalhes, em 1919. Participou ainda da confecção
da Constituição da República de Weimar no período entre guerras. Suas
concepções sempre estiveram ligadas ao nacionalismo, princípios liberais e
parlamentaristas.

Max Weber é uma referencia quando se trata da reputação científica da


sociologia. De acordo com Martins, ele tencionava criar uma fronteira rígida
entre o cientista social e o pensador empírico. A neutralidade científica é
justamente o limiar entre estas duas categorias de pensamento. Para Weber,
as paixões políticas deveriam estar fora da análise social:

Essa posição de Weber, que tantas discussões tem


provocado entre os cientistas sociais, constitui, ao isolar a
sociologia dos movimentos revolucionários, um dos
momentos decisivos da profissionalização dessa
disciplina. A ideia de uma ciência social neutra seria um
argumento útil e fascinante para aqueles que viviam e
iriam viver da sociologia como profissão. Ela abria a
possibilidade de conceber a sociologia como um conjunto
de técnicas neutras que poderiam ser oferecidas à
qualquer comprador público ou privado. Vários estudiosos
da formação da sociologia tem assinalado, no entanto,
que a neutralidade defendida por Weber foi um recurso
utilizado por ele na luta pela liberdade intelectual, uma
forma de manter a autonomia da sociologia em face da

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HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA

burocracia e do Estado alemão da época.


(MARTINS,1994, p.33)

Para ele, não existe nenhuma relação de subordinação das regras e


normas sociais sobre os indivíduos. Pelo contrario, os grandes sistemas sociais
seriam resultado de um conjunto de ações individuais orientadas pela
racionalidade. Segundo Ferreira, as grandes ideias coletivas, como o Estado,
capitalismo e religião só existiam porque muitos indivíduos orientaram suas
ações para um objetivo comum. (2003, p.66)

Sua postura teórica advém de sua formação kantiana e hegeliana. Isso


causou um distanciamento do positivismo e do marxismo. Enquanto Marx e
Durkheim deram maior importância ao estudo dos fatos sociais, Weber esteve
muito mais inclinado a postura individualista das estratégias sociais. O centro
de seus estudos é ação individual.

QUADRO COMPARATIVO ENTRE TEORIAS SOCIOLÓGICAS


INDIVIDUALISTAS E COLETIVISTAS

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HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA

Weber se preocupa, assim como Marx, com as mudanças sociais, no


entanto, opõe-se ao materialismo como elemento determinante da sociedade.
Ao contrário, preocupa-se em demonstrar que o mundo das idéias, da
religiosidade e valores contribuíram para as diferentes configurações sociais.

Weber se ocupou de forma bastante específica ao que ele chama de


ação social. De acordo com ele, é necessário inicialmente entender para que
fins e como agiam os atores sociais. Ele buscava compreender as condições
objetivas nas quais os atores sociais agiam. Para a compreensão destas
ações, ele estabeleceu quatro tipos ideais (LAGO,1996, p.43):
1) Ações racionais, com dois tipos:
1.1) Racionais quanto aos fins – quando baseiam-se em antecipações
de consequências e ações alheias, de modo a garantir a maior
eficácia possível dos resultados
1.2) Racionais quanto aos valores – baseadas em crenças
conscientes, sem considerar os resultados que possam atingir
2) Ações tradicionais – determinadas por hábitos e costumes, sem exame
critico da realidade
3) Ações efetivas – baseadas no estado emocional atuais

A partir da construção dos tipos ideais, a ideia de Weber era agrupar os


indivíduos em comunidades de acordo com as ações que empreendiam. As
ações racionais davam as comunidades ou a sociedade um caráter burocrático
semelhante a uma empresa. Essa visão burocrática da sociedade e da
organização estatal.

Max Weber incorporou em seus estudos o problema da compreensão


das ações na chamada Sociologia Compreensiva ou Interpretativa. O homem
pode compreender ou buscar compreender as suas intenções a partir de sua
conduta ou pela interpretação destas condutas, sejam elas racionais ou
afetivas (irracionais). Para Weber não existe causas gerais que norteiem as
ações sociais.

Torna-se necessário a análise compreensiva, ou seja, a investigação do


passado histórico e da sua repercussão nas características peculiares de cada
sociedade. (FERREIRA, 2003, p.70) Dessa forma, o estudo da sociologia não
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deveria partir das instituições ou grupos sociais. O individuo e a sua ação era
considerada o ponto chave da investigação.

De acordo com Ferreira, o conceito de ação social está vinculado a ideia


de relação social. Para que a análise atinja o plano sociológico, é preciso
transpor o significado das ações individuais para o plano coletivo. O objetivo é
buscar o sentido da ação dos grupos em direção comum. De acordo com
Cohen (FERREIRA, 2003 Apud COHEN, 1997, p. 30), este conceito é
concernente a

Conduta de múltiplos agentes que se orientam


reciprocamente em conformidade com um conteúdo
específico do próprio sentido das suas ações. A diferença
entre ação social e relação social é importante: na
primeira a conduta do agente está orientada
significativamente pela conduta de outro (ou outros), ao
passo que na segunda a conduta de cada qual entre
múltiplos agente envolvidos (que tantos podem ser
apenas dois e em presença direta quanto um grande
número e sem contato direto entre si no momento da
ação) orienta-se por um conteúdo de sentido
reciprocamente compartilhado (1997, p.30)

Outra contribuição de Weber para as ciências sociais foi a elaboração do


conceito por ele chamado de “tipos de dominação pura”. Ele entende que esta
desempenha um papel fundamental na condução ou na orientação das ações
sociais:

Todas as áreas da ação social, sem exceção, mostram-se


profundamente influenciadas por complexos de
dominação. Num número extraordinariamente grande de
casos, a dominação e a forma como ela é exercida são o
que faz nascer, de uma ação social amorfa, uma relação
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associativa racional, e noutros casos, em que não ocorre


isto, são, não obstante, a estrutura da dominação e seu
desenvolvimento que moldam a ação social e, sobretudo,
constituem o primeiro impulso, a determinar,
inequivocamente, sua orientação para um "objetivo".
(WEBER,1999, p.187).

Dentro da tipologia da dominação criada por Weber, encontramos as


seguintes formas: dominação legal, tradicional e carismática. A primeira
engloba elementos hoje presentes na organização burocrática de estados,
municípios e organizações administrativas.

Em Economia e Sociedade, Weber afirma que as base da dominação


burocrática são regidas pelo principio de competencias oficiais fixas, mediadas
por regras preestabelecidas. Os poderes me mando também são previamente
estabelecidos e divididos pelos diferentes meios que possam empregá-los.
Estas verdadeiras “empresas burocráticas” são encontradas, segundo Weber,
em formacoes politicas diversas, como o Oriente Antigo e em formacoes
estatais feudais (WEBER, 1999, p. 198).

Por conta dessa tipificaçao burocrática, pertence a Weber a primeira


teorizaçao das organizaçoes burocráticas modernas. Seus estudos sobre
modelos de dominaçao nesta vertente o levou a levantar os seguintes aspectos
da burocracia:

1) a autoridade hierarquizada de forma piramidal e estabelecida por


deveres oficiais;
2) as normas encontram-se escritas sob a forma de leis que regulam o
trabalho dentro da organização;
3) os funcionários são trabalhadores remunerados de acordo com o seu
estatuto na organização;
4) a vida privada dos funcionários é independente do seu desempenho e
decorre fora do espaço de trabalho;
5) os recursos utilizados para trabalhar não pertencem ao funcionário.
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A chamada dominacão tradicional é sintetizada pela ideia do


patriarcalismo:

Em sua essência, não se baseia no dever de servir a


determinada "finalidade" objetiva e impessoal e na
obediência a normas abstratas, senão precisamente no
contrário: em relações de piedade rigorosamente
pessoais..Seu germe encontra-se na autoridade do chefe
da comunidade doméstica.(...) Na dominação patriarcal é
a submissão pessoal ao senhor que garante a
legitimidade das regras por este estatuídas, e somente o
fato e os limites de seu poder de mando têm, por sua vez,
sua origem em "normas", mas em normas não-estatuídas,
sagradas pela tradição. Mas sempre prevalece na
consciência dos submetidos, sobre todas as demais
ideias, o fato de que este potentado concreto é o
"senhor"; e na medida em que seu poder não está
limitado pela tradição ou por poderes concorrentes, ele o
exerce de forma ilimitada e arbitrária, e sobretudo: sem
compromisso com regras. (WEBER, 1999, p. 234)

Weber afirma que o líder patriarcal é a referencia das atividades


cotidianas. A estrutura burocrática é o contraponto do patriarcalismo, pois
ambos estão em limiares diferentes em relação a racionalidade proposta pelo
sociólogo em seus estudos. Como estrutura permanente, a dominação
burocrática é diferente porque traduz o cotidiano a partir de regras racionais de
forma a atender as mesmas necessidades previstas em uma rotina normal.
(WEBER, 1982, p.282)

A dominação carismática é exercida, segundo Weber, a partir do


reconhecimento da existência de um dom natural ou sobrenatural. Ela transpõe
a burocracia ou o patriarcalismo. Uma espécie de aura divina “ilumina” um
individuo e lhe dá uma missão especial. O portador do carisma assume as
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tarefas que considera adequada e exige obediência e adesão em virtude de


sua missão. Determinado por fatores locais, étnicos, sociais, políticos,
profissionais ou de outro tipo qualquer: neste caso, encontra seus limites no
círculo destas pessoas (WEBER, 1999, p.325).
O domínio de origem carismática não reconhece códigos ou estatutos
preestabelecidos. Sua situação privilegiada advém, segundo Weber, de sua
experiência concreta, da graça celestial e de sua força divina. Ele converte-se
num herói de atitude revolucionária que transpõe todos os valores
(WEBER,1982, p.289) .

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REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

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DURKHEIM, Emile. A divisão do trabalho social. Lisboa: Editorial Presença,


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_______________. As regras do método sociológico. São Paulo: Editora


Nacional, 1990.

FERNANDES, Florestan. Em busca do socialismo: últimos escritos & outros


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FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia: dos clássicos à sociedade da


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