Introdução A Sociologia
Introdução A Sociologia
Introdução A Sociologia
INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 4
10 REFERÊNCIAS............................................................................................ 64
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
http://teoriacomprensivabeatrizcastro.blogspot.com/2016/10/que-es-la-teoria-comprensiva.html
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objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos fenômenos
sociais. A sociologia, desta forma, é o estudo e o conhecimento objetivo da
realidade social.
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fenômenos que ocorrem ao seu redor. Segundo Tomazi (2000), essa nova forma de
conhecimento da natureza e da sociedade, na qual a experimentação e a observação
são fundamentais, aparece neste momento, representada pelas ideias e pelas obras
de diversos pensadores, entre os quais Nicolau Maquiavel (1469-1527), Galileu Galilei
(1564-1642), Thomas Hobbes (1588-1679), Francis Bacon (1561-1626), René
Descartes (1596-1650). Junto com esses, há outros dois pensadores que farão a
ponte entre esses novos conhecimentos e os que se desenvolverão no século
seguinte: John Locke (1632-1704) e Isaac Newton (1642-1727).
Já no século XVII, percebemos a ascensão da burguesia comercial nos países
europeus, que se estendia a todo o restante do mundo. Nesta época, irão surgir novos
formatos de organização da produção das manufaturas, criando novos inventos que
pudessem aprimorar os processos e diminuíssem o número de pessoas envolvidas
neles. É quando surgem as primeiras máquinas de tecer, descascar algodão, as
máquinas a vapor, etc. O trabalho mecânico começa a ser utilizado paralelamente ao
trabalho artesanal. (GOLDSPAN, 2018)
O século XVIII começa em meio a toda essa ebulição de novas descobertas
focadas na produção e numa sociedade em modificação, proposta pelos eventos
anteriores. Da mesma forma, a Revolução Inglesa ocorrida no século anterior irá
inspirar as Revoluções Americanas e Francesas e irá trazer novos formatos de
organização política para as nações. As transformações nas esferas da produção, a
emergência de novas formas de organização política e a exigência de representação
popular dão características muito específicas a esse século, em que pensadores como
Montesquieu (1689-1755), David Hume (1711-1776), Jean-Jaques Rousseau (1712-
1778), Adam Smith (1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804), entre outros,
procurarão, por caminhos às vezes divergentes, refletir sobre a realidade, na tentativa
de explicá-la (TOMAZI, 2000).
Estas tentativas de busca por explicações das novas realidades no século XVIII
citadas pelo autor irão servir de base para o surgimento da sociologia como uma
ciência; ciência esta que nasce em meio à consolidação do sistema capitalista. No
início do século XIX, pensadores como Saint-Simon, Hegel e David Ricardo irão fazer
com que Auguste Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) venham a refletir sobre
a sociedade, porém de maneiras muito divergentes. Comte irá focar seus
pensamentos em busca de uma filosofia positiva, que busca a explicação dos
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fenômenos e a modificação da maneira de pensar do homem utilizando as ciências
existentes na época e propondo uma reforma prática das instituições. Outro expoente
da sociologia que irá se inspirar nas ideias propostas por Comte nesta época é Emile
Durkheim.
Karl Marx e Friederich Engels, por sua vez, irão analisar os aspectos sociais,
econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, entre outros, sem a preocupação de
definição de uma ciência específica para tal, como a sociologia representava para
Auguste Comte. Suas análises procuraram focar as mudanças nos processos
produtivos, o surgimento da sociedade capitalista, visando fornecer aos trabalhadores
condições de melhor analisar o contexto em que se encontram vivendo e as relações
entre as classes trabalhadoras e capitalistas. (GOLDSPAN, 2018)
Podemos dizer que a sociologia como ciência, acadêmica, irá afirmar-se nas
obras de Émile Durkheim, na França, e de Max Weber, na Alemanha; ambos
preocupados em integrar a sociologia aos aspectos científicos necessários para
garantir os métodos e teorias necessárias para tal afirmação.
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explicações acerca da vida em sociedade. Lembramos que a
observação sistemática faz parte da própria característica de toda a
ciência que se vale do método científico para o estabelecimento de suas
regras e verdades sobre o objeto estudado; com a sociologia não é
diferente!
Neutralidade valorativa — não cabe à sociologia realizar juízos de valor
sobre os objetos e fatos pesquisados, ou afirmar e estabelecer o certo e
o errado, o justo e o injusto, como faria a Ética. Tampouco apontar o que
deveria ser feito, o que seria legítimo, como faz o Direito. A sociologia
estuda as relações que ocorrem na sociedade, tentando classificar e
identificar seus componentes, porém isentando-se de julgá-los,
deixando de exercer os juízos binários que comentamos anteriormente
entre o que é bom e mau para a sociedade.
Moralmente neutra — este aspecto refere-se ao não estabelecimento de
juízos de valores que falamos antes; porém, o sociólogo possui
compromisso moral com a verdade que foi buscada através da
observação realizada sobre os fenômenos sociais. É preocupação dos
sociólogos, também, não permitir que suas questões morais pessoais
interfiram nos resultados de suas análises, nas suas percepções e
leituras sobre as mais diversas realidades sociais que estejam sendo
observadas/ pesquisadas.
A transitoriedade — a sociologia estabelece o estudo de fatos que
venham a acontecer na sociedade com uma certa regularidade. Esta
observação, porém, pode ser modificada com o próprio desenvolvimento
ou reconfiguração destes aspectos observados pelo pesquisador com o
passar do tempo. Ou seja, as teorias e análises sociológicas efetuadas
anteriormente sobre algum fato social poderão vir a ser reformuladas em
observações posteriores sobre este mesmo objeto pesquisado, o que
caracteriza este aspecto da transitoriedade.
A busca pela classificação — as atividades do cientista sociólogo vão
além dos pressupostos estabelecidos pelo método científico, como a
elaboração de hipóteses, a observação em si, as generalizações típicas
e a criação de teorias. O sociólogo também se encarrega da busca pela
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classificação dos fenômenos que ocorrem no tecido social. Essas
classificações são observadas nos esforços em dividir a sociedade em
partes, como: grupos, culturas, categorias, castas, classes, entre outros.
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https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/pensadores-classicos-sociologia.htm
O século XX não ofereceu rupturas tão intensas como as vividas pelos teóricos
da sociologia no século XIX. Contudo, ofereceu transformações mais rápidas e mais
eventos de instabilidade social, política e econômica, além de duas guerras mundiais.
Por isso, os sociólogos que emergem nesse contexto trabalham com cenários
diferentes dos vividos pelos autores clássicos. Mas, por outro lado, se apoiam nas
teorias desses autores para estabelecer suas próprias leituras, fomentando o que se
denomina sociologia contemporânea (AUGUSTINHO, 2017).
A sociologia contemporânea passa a produzir análises segmentadas das
interações culturais, menos amplas do que as dos teóricos clássicos, que abarcavam
economia, política e sociedade. Elas se concentram em facetas, como a cultura, o
trabalho ou a identidade, por exemplo, embora esses segmentos tenham conexões
com os cenários políticos e econômicos e estes permaneçam sendo estudados. Uma
marca da sociologia do século XX foi a continuidade das escolas sociológicas. Por
isso, as produções marxistas, weberianas e durkheimianas fomentaram as leituras
contemporâneas, como o funcionalismo, o interacionismo e a teoria do conflito.
A perspectiva funcionalista compreende a função social sistêmica como um
organismo ou uma engrenagem. Assim, cada parte contribui para a formação do todo.
Nesse sentido, o todo é o foco, já que o objetivo dos órgãos é permitir que o organismo
sobreviva, ou o objetivo das engrenagens é permitir que o maquinário funcione.
Derivado especialmente da abordagem de Durkheim, o funcionalismo teve especial
influência nas leituras e produções antropológicas da primeira metade do século XX,
nas obras de Marcel Mauss e Radcliffe-Brown, por exemplo. Há ainda a derivação
teórica para o funcional-estruturalismo.
As teorias sociológicas do conflito são aquelas derivadas da noção de
mudança estrutural a partir de tensões entre partes sociais, como no caso em que
Marx definiu a luta de classes como o motor da história. Portanto, tratam-se de leituras
marxistas (que aplicam as mesmas teorias em suas abordagens científicas) e
derivadas do marxismo (que utilizam o aporte metodológico de Marx, mas que
consideram outras particularidades e teorias).
A teoria sociológica interacionista, conhecida também como interacionismo
simbólico, é derivada da sociologia compreensiva, que esteve presente nas leituras
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weberianas. Parte do princípio de que as sociedades e culturas são diferentes.
Portanto, o significado social de uma ação precisa ser compreendido a partir do
sistema simbólico presente naquela cultura. A ação seria preenchida de significado
por meio da leitura simbólica de outras ações semelhantes que dão sentido à ação
individual.
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1980 abriram o espaço para as leituras do interacionismo simbólico, que relativizavam
as ações sociais a partir da constituição do espaço social em que emergiam. Afinal,
as mobilizações estudantis, por exemplo, que emergiram num mesmo segmento
temporal, se desenrolaram com múltiplos resultados nos diversos países em que
aconteceram. Nesse momento, emergem sociólogos como Pierre Bourdieu (que
carrega também pontos da sociologia francesa pautada em Durkheim). Há a tentativa
de aliar a sociologia estruturalista à perspectiva interpretativa, de modo que
extrapolasse as versões anteriores que se pautavam em determinismo e voluntarismo.
Os sociólogos procuravam o caminho do meio, com propensão a uma ou outra
direção.
O fim do século XX trouxe aos sociólogos novas perspectivas e novas questões
sociais (provocadas pela Terceira Revolução Industrial), que algumas das teorias
clássicas já não ajudavam a responder. As tecnologias alteraram novamente os
sistemas e padrões de produção e consumo. Mas a mais intensa alteração se deu no
tocante à maleabilidade das fronteiras territoriais provocadas pela globalização e
pelas telecomunicações, especialmente pela internet. O novo paradigma põe em
questionamento o que é o Estado e quem é o indivíduo na modernidade. As
identidades se tornam voláteis e, ao mesmo tempo, há uma busca para que elas não
se dissolvam completamente. Nesse cenário, emergem leituras que analisam as
relações estabelecidas, como em Manuel Castells, e a quebra de conexões sociais
reais fomentada pelo isolacionismo tecnológico, como em Zygmunt Bauman e em
Boaventura Sousa Santos (AUGUSTINHO, 2017).
O século XXI permite à sociologia uma abordagem mais etnológica quanto às
questões identitárias, mas também imprime a responsabilidade política da
manutenção das identidades culturais, especialmente nas temáticas sobre feminismo
e raça, como em Judith Butler e na retomada de Angela Davis por trabalhos como os
de Chimamanda Ngozi Adichie.
A sociologia do Direito como ciência social tem por objeto o estudo das relações
concretas entre o Direito e a sociedade. Para compreender tal fenômeno, você vai
estudar, neste capítulo, o conceito de sociologia do Direito, também chamada de
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sociologia jurídica, após recordar os conceitos da sociologia e do Direito. Além disso,
você vai identificar a sociologia do Direito e no Direito, e como essas ciências se
relacionam, bem como ler sobre a influência da sociologia no estudo do Direito e
analisar as abordagens aqui destacadas (MELO, 2016).
https://estudodireito.com/resumos-esquematizados/sociologia-juridica/
16
Tratando-se do conceito de Direito, para o professor Sérgio Cavalieri Filho
(2015), o Direito é um conjunto de normas de conduta, universais, abstratas,
obrigatórias e mutáveis, impostas pelo grupo social, destinadas a disciplinar as
relações externas do indivíduo com o objetivo de prevenir e compor conflito.
Partindo dessas definições, é possível destacar e traçar os principais aspectos
da sociologia e do Direito:
estudo das relações e instituições sociais, sociedade, em relação à
sociologia;
conjunto de normas de conduta que disciplinam as relações externas do
indivíduo (prevenção), pontos destacáveis em relação ao Direito.
Nesse sentido, segundo entendimento do professor Ricardo Soares (2012, p.
16), a sociologia do Direito, ou sociologia jurídica, é um:
Ramo da Sociologia Geral e que tem por objeto o estudo das relações
concretas entre o Direito e a sociedade, ou seja, busca investigar a influência
da sociedade na formação do direito, bem como o influxo do fenômeno
jurídico no campo das relações humanas em sociedade.
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sociologia do Direito, é o estudo dos fatos sociais com relação à criação e aplicação
do Direito.
A definição da sociologia do Direito, ou sociologia jurídica, evidencia como é
constante e profunda a relação entre as duas ciências, ou seja, entre o Direito e a
sociologia, visto que, independentemente das suas definições primárias, ambas se
encontram conexas no que diz respeito à sociedade.
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de plano horizontal. Nesse plano, a comparação é feita entre os resultados obtidos
nas observações efetuadas em diferentes sociedades contemporâneas.
O jurista, ao valer-se de tais métodos, principalmente da observação e da
comparação, evita que haja violação da norma jurídica e que não seja preciso a
aplicação de sanções, visto que, segundo o professor Eduardo Iamundo (2013, p. 60),
“as normas do Direito servem simultaneamente como instrumentos para conformar de
modo sistemático a convivência social”. Cabe destacarmos, nesse sentido, que a
eficácia da norma jurídica depende de uma circunstância sociológica, ou seja, social.
Além disso, quanto à interação da sociologia do Direito ou jurídica no Direito, a
lei, segundo Eduardo Iamundo (2013, p. 62), “tem participação na manutenção e
transmissão dos fatores que compõem o meio social, assim as transformações sociais
devem ser observadas e obrigatoriamente incorporadas à lei”. Nesse sentido,
analisando a atualidade, temas como a transexualidade, o aborto de filhos gerados
por barriga de aluguel e a robótica humana devem ser observados, comparados,
interpretados e incorporados à lei, compaginado assim a sociologia, o Direito em
profusão dos estudos e do aperfeiçoamento da aplicação de estudos da sociologia
jurídica.
A legalização da maconha, por exemplo, destaca-se como tema de constante
debate sociojurídico no cenário brasileiro.
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Dessa forma, é importante que o legislador esteja atento à realidade social, pois
é por meio da observação da mudança comportamental da sociedade que o legislador
terá condições de idealizar a melhor norma para assegurar ou punir determinado ato.
A inobservância das mudanças sociais faz leis obsoletas seguirem existindo e projetos
de leis inócuos serem criados, que de nada contribuem para o progresso jurídico social
democrático de um Estado.
Além disso, os operadores do Direito — como juízes, advogados, promotores,
defensores, delegados e outros — valem-se da sociologia jurídica para analisar o caso
sobre o qual terão que expressar uma opinião jurídica. Como consequência, é cada
vez mais comum que juízes realizem interpretações extensivas ou restritivas a partir
da coleta de informações sociais sobre o caso em apreciação.
Nesse sentido, os costumes, a analogia e a eficácia da norma são utilizados
como recursos na aplicação da norma jurídica e, por exemplo, no convencimento de
um juiz.
A observância dos fatos sociais contribui para que o jurista, ao aplicar o Direito,
busque previamente entender o motivo da motivação do ato que requer a aplicação
do Direito, pois, assim, a partir da sociologia do Direito, o profissional do Direito terá
condições de estabelecer parâmetros e propor medidas de combate ao crescente
número de casos de violência sexual realizados em transportes públicos, suicídio de
jovens incentivados por jogos virtuais, alimentos geneticamente modificados, entre
outros.
Segundo o professor Reinaldo Dias (2014), os principais fatores sociais que
influenciam o Direito são:
Desenvolvimento econômico — as normas jurídicas são adaptadas segundo
o processo de produção, forma de distribuição e níveis de consumo. Um exemplo
disso é a diferenciação de sociedades agrícolas e industrializadas.
Transformações sociais — a Lei Maria da Penha (Lei nº. 11.340, de 7 de
agosto de 2006, que combate à violência doméstica) e a Lei Carolina Dickman (Lei nº.
12.737, de 30 de novembro de 2012, que combate ao crime cibernético) são exemplos
de fatos sociais que implicaram na mudança no Direito. Acompanhando as
transformações sociais e a evolução da ciência, é cada vez mais comum a divulgação
de novas pesquisas de reprodução humana, como a divulgada no ano de 2014, que
causou polêmica social em consequência de cientistas ingleses e americanos criarem
21
embriões humanos a partir do DNA de um homem e duas mulheres. Em caso de
conflito, o operador do Direito teria que precisar quem seria a mãe biológica e o destino
dos embriões não utilizados.
Política — em decorrência da luta por poder e considerando a realidade atual,
é constante a judicialização política. Com relação ao poder e ao domínio da política e
do Estado, na concepção marxista, seria o Direito um mecanismo de domínio da
classe dominante sobre a dominada.
Tecnologia — os avanços da tecnologia são temas de embate social
principalmente em razão dos costumes e da religião. Contudo, influenciados pela
sociologia, os operadores do Direito, cada vez mais, têm recorrido à tecnologia para
avançar o acesso jurídico à população em geral, outro ponto que, em países como
Brasil, ainda carece de regulamentações.
Cultura — a cultura, um dos principais campos de estudo da sociologia, serve
como instrumento para compreendermos a formação e evolução social. Em
consequência disso, é notório o fato de que o Direito se relaciona diretamente com a
cultura da comunidade na qual está imerso, ou seja, integra-a, sofre influência e a
influencia.
Partindo de tais pressupostos, fica visível como a sociologia influencia
significativamente os estudos do Direito, visto que ambas as ciências, de modo direto
ou indireto, analisam os aspectos sociais, e, em comunhão com outros ramos da
ciência, os operadores do Direito impedem que sejam realizadas injustiças sociais e
que o Direito seja aplicado à letra fria da lei.
O cenário jurídico e social mundial demonstra como ainda é latente a
inobservância dos aspectos sociais na aplicação da norma, ponto esse que bloqueia
o progresso da justiça. Além disso, o desconhecimento e a confusão da sociologia
jurídica com outros ramos favorecem análises superficiais e aplicação errônea de
métodos científicos (MELO, 2016).
Assim, é importante que a sociologia do Direito siga influenciando o estudo do
Direito, possibilitando ao indivíduo perceber o fenômeno jurídico como fato social.
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5 ÉMILE DURKHEIM E A SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA AUTÔNOMA
Neste capítulo, você vai ler sobre um dos maiores nomes da sociologia pura e
do Direito: Émile Durkheim, um clássico que influencia autores até os dias de hoje.
Ainda neste capítulo, você vai conhecer os conceitos fundamentais da sua obra, como
de anomia, solidariedade e divisão do trabalho, conceitos interligados fundamentais
para a compreensão da teoria de Émile Durkheim (ARAUJO, 2019).
https://www.clicksociologico.com/2017/03/emile-durkheim-o-metodo-de-estudo-da.html
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5.1 Émile Durkheim e a sociologia do Direito
Preliminares biobibliográficas
Émile Durkheim (1858–1917), junto com Karl Marx e Max Weber, é considerado
um dos pilares da disciplina que conhecemos hoje como sociologia. Nasceu em 15 de
abril de 1858, em Épinal, França. Formou-se na École Normale Superieure (Paris), à
época dirigida por Fustel de Coulanges, e, mais tarde, lecionou em Bourdoux, onde
escreveu:
A divisão do trabalho social, como tese de doutoramento (1893);
As regras do método sociológico (1895);
O suicídio (1897);
Lições de sociologia;
Física dos costumes e do Direito (cursos ministrados entre 1896–1900).
Lecionou na Sorbonne em 1902, como professor auxiliar na cátedra de
educação, disciplina da qual se tornou titular em 1906, mudando, em 1910, o nome
da cátedra para sociologia. Assim, tornou-se o primeiro professor dessa disciplina. Os
seus principais discípulos foram:
o antropólogo Marcel Mauss, que era seu sobrinho;
o historiador Gustav Glotz;
o jurista Léon Duguit.
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5.2 Sociologia do Direito
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5.3 Fato social e instituições
5.3.1 Objeto
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5.3.2 Método
5.4.1 Solidariedade
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das crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade.
Como é forte, abrange todas as esferas da vida.
A solidariedade orgânica, por sua vez, é a solidariedade fundada na diferença.
É típica das sociedades modernas, em que a divisão do trabalho provoca a
diferenciação entre as pessoas. O termo orgânica é utilizado em analogia com os
órgãos de um ser vivo: estes são diferentes, e é a sua diferença que os torna
indispensáveis uns aos outros. Cada membro da sociedade funciona como órgão de
um organismo.
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6 EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS E OS SEUS EFEITOS SOCIAIS
A norma jurídica isolada sequer pode ser válida. Para ser estudada, ela precisa
ser considerada com as demais normas que, juntas, compõem o ordenamento
jurídico. Para a análise desse conjunto de normas, é necessário estudarmos conceitos
essenciais, como validade e eficácia. O primeiro diz respeito a estabelecer se uma
norma pertence ou não ao ordenamento jurídico; o segundo define o grau de
efetividade que essa norma encontra na sociedade — em outras palavras, se ela é
obedecida ou não.
Como o ordenamento deve ser um todo coerente, livre de contradições, quando
encontramos normas que se contradizem no sistema, devemos recorrer a algum
critério que defina qual norma deve prevalecer. Em nome da segurança jurídica,
recorremos aos critérios de resolução de antinomias (ARAUJO, 2019).
Neste capítulo, você vai descobrir quais são os tipos de antinomias que trazem
incoerência ao ordenamento jurídico e qual é o critério utilizado para a sua resolução.
Além disso, vai conhecer a hierarquia existente entre os critérios para solucionar os
conflitos entre os próprios critérios de resolução de antinomias.
https://diegoleonardoadvogado.jusbrasil.com.br/artigos/555790945/aplicabilidade-imediata-dos-
direitos-fundamentais
30
6.1 Validade e eficácia das normas
Validade e eficácia são dois termos que têm relação íntima. O primeiro diz
respeito à correspondência da norma a outra norma ou decisão superior estabelecida
formalmente pelo Estado; o segundo se refere a como as normas são realmente
observadas na sociedade. No Brasil, em termos simples, dizemos que uma lei “pegou”
ou “não pegou” se ela é considerada eficaz ou não. (ARAUJO, 2019)
O maior autor do positivismo jurídico, Hans Kelsen, vincula um conceito ao
outro dizendo que:
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pesquisas que são realizadas quando se trata de determinar a magnitude e
alcance de um evento (BOBBIO, 1993, p. 24, tradução nossa).
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6.2 Efeitos sociais da norma jurídica
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social algum, pois só pode produzir efeitos se for considerada com outras normas
jurídicas. Disso, surge a ideia de ordenamento (ARAUJO, 2019).
O professor Luis Fernando Barzotto, ao analisar a obra de Kelsen, evidencia a
separação entre ordenamento e sistemas normativos de natureza moral:
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6.3 Antinomias
Aqui não faz sentido falarmos em conflito entre ordenamentos, mas entre
normas.
Dessa ideia, surge o critério de resolução de conflito entre normas, para que o
ordenamento permaneça coerente. Pressupõe-se, portanto, a regra de coerência, que
diz que “num ordenamento jurídico, não devem existir antinomias”.
As regras fundamentais para a solução do conflito de antinomias são:
critério cronológico;
critério hierárquico;
critério da especialidade.
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Critério cronológico
O critério cronológico ocorre quando duas normas se contradizem, sendo uma
mais recente do que a outra. Nesse caso, a mais nova deve prevalecer, ou seja, lex
posterior derogat priori. “Existe uma regra geral no Direito em que a vontade posterior
revoga a precedente, e que de dois atos de vontade da mesma pessoa vale o último
no tempo” (BOBBIO, 1996, p. 93). Assim, justifica-se, na ordem do sistema, que a
última vontade do legislador deve prevalecer, pressupondo que o legislador não faria
algo novo se o considerasse inútil.
Critério hierárquico
O critério hierárquico diz que, entre duas normas contraditórias, deve
prevalecer a norma superior, ou seja, lex superior derogat inferiori. Esse critério está
em consonância com a ideia de ordenamento hierárquico das leis, em que a superior
tem validade à inferior.
Critério da especialidade
O critério da especialidade afirma que, entre duas normas incompatíveis do
mesmo ordenamento jurídico, sendo uma mais geral e outra mais especial, prevalece
a mais especial, ou seja, lex specialis derogat generali. O motivo desse critério é claro.
Nesse caso, ou uma lei especial anula uma lei mais ampla ou simplesmente retira de
uma norma mais geral alguns elementos para submetê-la a uma legislação que pode
ser contrária ou contraditória. Essa característica é fundamental em termos de justiça,
porque aplica melhor a lei geral às particularidades de uma categoria de pessoas,
obedecendo a uma das regras fundamentais do Direito: suum cuique tribuere.
Se uma norma superior entra em conflito com uma nova posterior, normas
diferentes prevalecerão de acordo com o critério que utilizarmos. Nesse caso, sempre
deve prevalecer o critério hierárquico sobre o cronológico.
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prevalecer, a princípio, a lei especial. A regra geral então seria: lex posterior generalis
non derogat priori speciali, mas isso deve depender da análise do caso em questão.
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https://vermelho.org.br/2018/11/27/defender-o-estado-democratico-nao-e-apenas-um-exercicio-
retorico/
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O Direito e o homem se influenciam mutuamente. Enquanto o Direito faz parte
do processo de adaptação do homem, devendo este se adequar e obedecer às
normas, o homem também influencia na criação do Direito, vez que este deve estar
focado e adaptado ao meio para o qual foi produzido, obedecendo aos valores que a
sociedade elege como essenciais.
O Direito possui importante missão: serve como instrumento para gerar a paz
e harmonia nas diversas relações sociais. É importante salientar que o Direito não
deve refletir interesses individuais, mas interesses de toda a coletividade, que muitas
vezes colidem com os interesses individuais, gerando conflitos que serão resolvidos
pelo próprio Direito (GIACOMELLI, 2011).
O Direito, por ser fruto da elaboração humana, sofre influência do tempo e do
local em que se aplica, e por isso, ele deve estar sempre aberto às mudanças que
ocorrem durante as diferentes épocas. As inúmeras e constantes transformações que
se verificam com o passar do tempo refletem nas normas de conduta impostas pelo
Direito, motivo pelo qual se deve buscar atualizações recorrentes (GIACOMELLI,
2011).
O reflexo do Direito na sociedade ocorre de duas maneiras principais, tendo em
vista o sistema normativo que constrói a ordem social: são as normas positivadas e
as normas de costume. Em geral, as normas de costume acabam sendo positivadas;
porém, as que não são, continuam valendo com igual força.
O direito à vida é um exemplo de norma de costume que também é uma norma
positivada, pois, trata-se de um valor social que prepondera nas sociedades em geral.
Já a união de pessoas do mesmo sexo é uma norma de costume, que a sociedade
reconhece como válida, mas que ainda sofre um processo de positivação no Brasil,
não sendo absoluta: a sociedade se transformou e agora cabe ao Direito tornar essa
norma de costume, também uma norma positivada (GIACOMELLI, 2011).
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7.2 Relação entre Direito e Estado
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É no meio social que o Direito surge e se desenvolve para a concretização dos
objetivos buscados pela sociedade, como, por exemplo, a manutenção da paz, da
ordem, da segurança e do bem-estar comum, de maneira a tornar possível a
convivência e o progresso social (GIACOMELLI, 2011).
Assim, o Direito é fruto de uma realidade social. O Direito, decorrente da criação
humana, é direcionado de acordo com os interesses impostos pela sociedade. Tal fato
o torna dinâmico, exigindo que ele, à cada época, acompanhe os anseios e interesses
da sociedade para qual foi criado. Desse modo, verifica-se, concretamente, constante
mutação dos significados dos institutos jurídicos. As instituições jurídicas são criações
da sociedade, que sofrem variações no tempo e no espaço. Como processo de
transformação e adaptação social, o Direito deve estar sempre evoluindo,
considerando a grande mobilidade social (GIACOMELLI, 2011).
https://www.filantropia.ong/imagens/conteudo/RFKA179UMKN9VR0BR4IU/democracia-controle-
social-e-direitos-humanos3032.jpg
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consolidou e que instituições surgiram pela efetivação desse tipo de governo. Nesse
percurso histórico, três modelos compõem os princípios básicos da democracia: a
democracia direta; a democracia indireta; e a democracia representativa semidireta
do século XX (BARBOSA, 2019).
A Grécia Antiga é o berço da democracia direta. Mais precisamente em Atenas,
o povo reunia-se em praça pública para a execução direta e imediata do poder político.
Nesse período, a democracia era tida como objeto de devoção do povo, que dedicava
a sua vida à coisa pública, priorizando as questões do Estado até mesmo em
detrimento de sua vida privada. Cada cidade mantinha um sistema democrático
próprio e tratava com orgulho sua ágora, praça onde os cidadãos se reuniam para
celebrar o exercício político daquela cidade. Esta fazia o papel do parlamento dos
tempos modernos (BARBOSA, 2019).
A crítica dos pensadores modernos ao sistema democrático dos gregos é que
este, na realidade, era uma aristocracia democrática. Afinal, os escravos, que eram
esmagadora maioria, não tinham direito de participação política. Essa base social
escrava permitia ao homem livre dedicar-se inteiramente aos negócios públicos, não
possuindo preocupações materiais. O homem econômico contemporâneo
corresponde ao homem político daquela época (BONAVIDES, 2011).
Essa distinção entre homens talvez represente a maior divergência entre a ideia
moderna de democracia e aquela da Grécia Antiga. Sobre isso, Dallari (2014, p. 146)
afirma:
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Após a democracia direta da Grécia Antiga, surge a democracia indireta nos
tempos modernos, que tem por característica a presença do sistema representativo.
Antigos pensadores, como Montesquieu, diziam que o povo era excelente para
escolher, mas péssimo para governar. Assim, necessitava de representantes que
decidissem e desejassem em nome dele. O povo, no entanto, não era o real
argumento que tornaria inviável de forma prática o antigo sistema grego de
representação direta (BARBOSA, 2019).
O Estado moderno não era mais a cidade-estado de outros tempos, e sim um
Estado-nação, de caráter unificador e com a missão de legislar todas as instituições
sociais que agora estavam alocadas em uma ampla base territorial. A ideia de um
corpo de cidadãos congregados em praça pública para administrar as leis do Estado
tornara-se impraticável nessa época. Bonavides (2011) afirma que o homem da
democracia direta, grego, era integralmente um homem político, ao contrário do
homem do Estado moderno, que era apenas acessoriamente político. Assim, o
homem, perante as esferas políticas, deixa de ser sujeito ou pessoa, tornando-se
objeto da organização política e social vigente. Veja:
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a defesa e a garantia de direitos das minorias políticas e sociais, com
incentivo à representação destes indivíduos na busca pela redução das
desigualdades sociais (talvez a mais importante das características).
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combinam ações sociais compensatórias e permanentes. Ela é executada pelo Estado
e possui identidade e estratégias próprias (ABRANCHES, 1998).
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as etapas municipais, livres, regionais, estaduais até a etapa nacional. As
etapas preparatórias (municipais, territoriais, temáticas) são momentos
importantes e ricos no processo de uma conferência. É nelas que o debate
se intensifica, tanto nos temas nacionais como nos locais, proporcionando ao
cidadão oportunidade de propor soluções para os problemas da sua cidade,
estado e do país (BRASIL, 2018, documento on-line).
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sociais no ensino superior. Esses estudantes dividem espaço com as elites que
sempre utilizaram esse “privilégio” como forma de dominação e manutenção do status
quo. Com isso, já se obtém uma transformação imediata na vida dessa população,
tanto de suas condições socioeconômicas quanto de suas condições culturais
(BARBOSA, 2019).
O PROUNI, assim como outros programas executores de políticas públicas,
possui mecanismos de controle e acompanhamento. Nesse sentido, por meio da
Portaria nº. 1.132, de 2 de dezembro de 2009, o Ministério da Educação instituiu as
Comissões Locais de Acompanhamento e Controle Social do PROUNI (COLAPs).
Elas têm como finalidade articular a relação das instituições de ensino conveniadas
com a Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social (CONAP). Veja:
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Com relação à moradia, se destaca o programa Minha Casa, Minha Vida, criado
pela Lei nº. 11.977 e alterado pela Lei nº. 12.424, de 2011, e pela Lei nº. 13.173, de
2015. O programa tem por objetivo criar mecanismos de incentivo à construção e à
aquisição de imóveis em áreas urbanas para famílias de baixa renda.
Por fim, se destaca aquele que talvez seja o maior programa de distribuição de
renda já criado no País. Instituído em 2003, o programa Bolsa Família, em seus
primeiros 15 anos de existência, atingiu a marca de 14 milhões de famílias
beneficiadas. Isso compreende cerca de 50 milhões de pessoas, ou seja, um quarto
da população brasileira. Ao longo dos anos, o programa aumentou significativamente
o número de beneficiados, partindo de 3,6 milhões de famílias em 2003 e
ultrapassando a casa dos 11 milhões em 2006. Após isso, ocorreu uma estabilização
nesses números, com um crescimento desacelerado, alcançando a faixa de 13,7
milhões em 2012 e mantendo essa média até o ano final de 2015. Esses números
demonstram a importância do Bolsa Família, que se insere como uma política de
combate à pobreza estrutural do País (BARBOSA, 2019).
A democracia plena só pode ser alcançada quando o critério primordial das
práticas políticas for a busca pela formação ampla de cidadãos. Para tal, o combate
das expressões da Questão Social que se manifestam por meio da pobreza estrutural
e da pobreza cíclica torna-se pauta prioritária no fazer profissional do assistente social
e em suas escolhas políticas. O combate ao desmonte do Estado e à redução dos
direitos sociais e trabalhistas, conquistados com muito custo, deve ser uma
preocupação constante dos profissionais de Serviço Social. Como você sabe, os
assistentes sociais têm seu projeto ético-político norteado pela busca da efetivação
desses direitos e pelo combate à exclusão e à desigualdade social (BARBOSA, 2019).
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9 CONCEITOS BÁSICOS DE SOCIOLOGIA
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Para exemplificar, podemos dizer que a lei caracteriza bem a ideia de fato
social, pois todos os indivíduos precisam segui-la, independentemente de
concordarem ou não, ou de terem participado de sua criação. E, claro, optar por não
seguir a lei traz consequências aos indivíduos (BES, 2018).
Já o conceito de ação social foi desenvolvido por Max Weber e se traduz na
ideia de que as pessoas fazem escolhas, possuem poder e participam ativamente da
criação de regras e condutas sociais que serão estabelecidas. Ou seja, os indivíduos
participam da formação da sociedade, não são passivos a ela, simplesmente
conduzidos. Pelo contrário, são responsáveis pela criação das regras, normas,
regulamentos e condutas da vida social, de forma racional.
Um exemplo desta ação social desenvolvida por Weber pode ser a criação de
uma medida econômica a ser posta em prática num determinado país ou, ainda, uma
decisão sobre pesquisa científica a ser realizada para um determinado fim (BES,
2018).
É interessante perceber, nesta lógica weberiana, que os sentidos que os
indivíduos dão às coisas têm muita relação com seus valores pessoais, individuais.
Podemos reconhecer este aspecto quando nos sentimos compelidos no cumprimento
de algum dever ou algum ato diante do qual nossa consciência ou senso de dignidade
nos chame a atenção (BES, 2018).
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características particulares. Podemos exemplificar valendo-nos das sociedades
feudais, nas quais basicamente existiam três divisões hierárquicas na sociedade da
época: o clero, os nobres e os camponeses. Estas categorias apresentavam uma
interdependência e tinham posições de poder bem marcadas por ocasião do
Feudalismo (BES, 2018).
Saindo da Idade Medieval, porém, estas divisões vão se modificando, aderindo
outros extratos, como a burguesia, e, então, novos formatos começam a ser utilizados
para realizar essa divisão da sociedade em grupos, também chamada de
estratificação social pelos teóricos da Sociologia (BES, 2018).
Émile Durkheim, influente pensador da Sociologia, ao analisar as divisões do
trabalho e suas influências na constituição da sociedade, ao defender o conceito de
solidariedade orgânica, compreende que:
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ocasionada muito mais pelas questões de ordem econômica do que por quaisquer
outras. Segundo as palavras de Marx e Engels (1998, p. 7):
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9.3 Sociedade, interação e cultura
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10 REFERÊNCIAS
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