Comunidade Centrada - 1
Comunidade Centrada - 1
Comunidade Centrada - 1
Todo ser humano deseja manter relacionamentos significativos: um ambiente no qual ele possa conhecer BATE-PAPO: 10 MIN
ARTIGO: 30 MIN
pessoas e ser conhecido por elas. Do ponto de vista teológico, esse desejo pela vida em comunidade está DEBATE: 10 MIN
enraizado no próprio Deus (Ele é um ser relacional – três pessoas em uma), e nós fomos feitos à imagem EXERCÍCIOS: 30 MIN
dele. Esta lição estabelece a base para o entendimento bíblico do evangelho e a comunidade. CONCLUSÃO: 10 MIN
Hoje vamos nos dedicar a um novo conteúdo, cujo propósito é nos ajudar a pensar a respeito de como o evangelho
afeta a vida em comunidade.
Entre as religiões mundiais, existem basicamente dois pontos de vista a respeito de Deus: o monoteísmo (um só
Deus) e o politeísmo (vários deuses). Mas, entre as grandes religiões monoteístas – judaísmo, islamismo e
cristianismo – o conceito cristão sobre Deus é distinto. Os cristãos creem que Deus é uma Trindade ou Triunidade:
um ser em três pessoas. Para começar o debate, queremos observar a passagem bíblica que estabelece o
fundamento para essa doutrina. A passagem é Gênesis 1:26,27.
LEIA: Gênesis 1:26,27 em voz alta.
PERGUNTE: O que aprendemos a respeito de Deus nessa passagem? / O que aprendemos a respeito da humanidade
nessa passagem?
Uma das implicações de termos sido feitos à imagem de Deus é o nosso profundo desejo de fazer parte de uma
comunidade.
2) ARTIGO (30 MINUTOS)
A vida em comunidade é algo que todos nós queremos. Independentemente de seu perfil – seja ele introvertido,
extrovertido, sociável ou reservado – algo na sua alma anseia por relacionamentos significativos com outros
humanos. Desejamos conhecer outras pessoas e ser conhecidos por elas. Apreciamos amizades que nos permitem
ser “nós mesmos”. Ainda que alguns de nós nunca tenham encontrado esse tipo de comunidade e apesar de outros
terem sido profundamente feridos por relacionamentos, todos ainda desejamos uma vida profunda, autêntica e
verdadeira em comunidade.
Por que somos assim? Por que esse anseio, esse desejo, é intrínseco em nós? A Bíblia responde a essa pergunta
ao explicar que fomos criados à imagem de Deus. Deus nos criou para a vida em comunidade.
Uma das doutrinas mais antigas e queridas da teologia cristã histórica é a doutrina da Trindade. O credo Niceno
(325 d.C) sintetiza da seguinte forma a Trindade:
A Trindade significa que o próprio Deus está em comunidade. Mais precisamente, Deus é comunidade: um Deus, três
pessoas. “Antes de todos os séculos” – antes da existência de qualquer tipo de comunidade humana – lá estava
Deus, habitando em harmonia perfeita e amorosa em seu ser tríplice.
No relato bíblico da Criação, o Deus triúno diz: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” Gn 1:26. Os seres
humanos foram feitos para representar a imagem de Deus, para refletir sua semelhança. Essa é a razão pela qual o
desejo por uma vida em comunidade parece tão profundo e primordial. Fomos criados assim, como portadores da
imagem de Deus.
Portanto, se a vida em comunidade intensa é algo que todos queremos, se ela é parte de ser feito à imagem de Deus,
o que a torna, então, tão difícil de ser alcançada? O que nos impede de concretizar o tipo de relacionamento humano
significativo para o qual Deus nos chamou?
QUEDA: O ROMPIMENTO DA VIDA EM COMUNIDADE
Se você refletir por um momento a respeito da natureza dos seus relacionamentos, rapidamente identificará outra
tendência presente – algo mais obscuro e sinistro do que o desejo concedido por Deus de integrar a comunidade.
Trata-se da tendência de usar as pessoas para satisfazer suas próprias necessidades em primeiro lugar. Não é dificil
perceber com que frequência nos encontramos concentrados em nós mesmos, buscando nossos próprios interesses
e nos protegendo de outras pessoas e de relacionamentos que exigirão muito de nós. Por exemplo: pense nas vezes
em que você evitou, de maneira intencional, alguém que o incomoda; ou nas vezes em que falou o que as pessoas
gostariam de ouvir só para evitar ofendê-las; ou nas vezes em que se apegou a relacionamentos ruins ou doentios
apenas para evitar a sensação de estar sozinho.
Essas tendências egoístas revelam que algo muito errado ocorreu em nossa procura pela comunidade. Apesar de
termos sido criados à imagem de Deus, decaímos de nossa glória original. Transforma-nos em algo inferior ao que
fomos criados para ser. Há algo de egoísta e egocêntrico em nós que nos impede de espelhar Deus do modo que
fomos criados para fazer.
Nosso egoísmo inerente é uma evidência do que a Bíblia chama de “pecado”. Quando ouvimos a palavra pecado,
tendemos a pensar em um mau comportamento. Mas o pecado é bem mais profundo do que ações externas. A
Bíblia se refere ao pecado muitas vezes como incredulidade. Em outras palavras, em vez de crer no que é verdadeiro,
damos crédito a mentiras, as quais obviamente nos levam ao mau comportamento e às emoções negativas. A
incredulidade se encontrava na raiz do primeiro pecado. Eva acreditou na mentira da serpente a respeito de Deus e
de suas intenções em relação a eles: “Com certeza, não morrereis. Na verdade, Deus sabe que no dia em que
comerdes desse fruto [proibido], vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus” (Gn 3:4,5). A incredulidade é a
incapacidade de enxergar a verdade a respeito de Deus, do mundo e de nós mesmos, e de crer nela. É não aceitar
a palavra de Deus, não crer nas promessas dele e não confiar na bondade dele.
E o efeito do pecado não se restringe ao fato de não crermos, mas inclui o fato de que, sem Cristo, somos incapazes
de crer. O pecado nos tornou egoístas e deformou nossos relacionamentos com as outras pessoas. Precisamos de
Alguém que possa nos libertar de nossa incredulidade e de nosso egoísmo, e que restaure nossa capacidade de
participar de uma vida verdadeira, profunda e duradoura em comunidade.
REDIMIDOS PARA A VIDA EM COMUNIDADE
É nesse ponto que as boas notícias do evangelho nos encontram. A palavra evangelho significa, literalmente, “boas-
novas” – uma mensagem, uma proclamação, um anúncio. Um dos paradoxos dessa mensagem é que, antes de
poder ser boas-novas, ela deve ser introduzida por más notícias: somos pessoas pecadoras e falidas. Rebelamo-nos
contra Deus. Estamos atolados em mentiras e na adoração de nós mesmos, e procuramos por qualquer coisa –
menos Deus – que nos dê identidade e significado. Não podemos libertar a nós mesmos, fazer com que Deus fique
contente conosco, ou realizar boas obras que sejam suficientes para compensar nossos pecados. Mas, Deus, rico
em misericórdia, enviou Jesus ao mundo como nosso substituto. Jesus assumiu nosso lugar em sua vida ao
obedecer a Deus de modo perfeito e adorá-lo com todo o seu ser, coisas que não conseguimos fazer. Ele se tornou
nosso substituto. Jesus assumiu nosso lugar em sua vida ao obedecer a Deus de modo perfeito e adorá-lo com todo
o seu ser, coisas que não conseguimos fazer. Ele se tornou nosso substituto em sua morte quando pagou a dívida
que tínhamos com Deus como penalidade por nosso pecado e incredulidade. Se nos humilharmos, reconhecermos
nossa necessidade e nos voltarmos para ele, Deus Espírito Santo aplicará a obra substitutiva de Jesus a nós, pela
fé. A Bíblia chama isso de redenção – palavra que significa “ser redimido, resgatado ou libertado”.
Jesus nos redime de quê? Do pecado e de todos os seus efeitos. Jesus nos redime para quê? Para a vida que reflete
Deus e a bondade dele em relação ao mundo. Ou seja, uma das principais coisas realizadas por Jesus quando ele
nos redime é restaurar nossa capacidade de integrar a comunidade. Não uma comunidade de pessoas que se
parecem conosco e que agem da mesma forma que nós, mas uma comunidade composta de pessoas de todas as
tribos, línguas e nações da terra (Ap 7:9). Deus nos criou para a vida em comunidade, e Jesus nos redimiu para essa
mesma vida em comunidade. Ao fazer isso, ele nos inseriu em seu próprio corpo (1 Co 12:27), o qual é capaz de
viver, de amar e de tornar as suas “boas-novas” conhecidas aos nossos amigos e a outras pessoas ao nosso redor.
Mas espere: se Jesus nos redime para a vida em comunidade, por que essa vida em comunidade continua sendo
algo tão difícil? Por que os relacionamentos ainda estão cheios de falhas, mesmo entre cristãos? Essa é a tensão
na qual vivemos. Mesmo que Jesus já tenha nos libertado da penalidade e do poder do pecado, ele ainda não
eliminou o pecado do mundo. Por causa da contínua presença do pecado, somos propensos à incredulidade.
Esquecemo-nos com facilidade das boas notícias do evangelho e incorremos em mentiras e na adoração de nós
mesmos. Por isso a Bíblia nos encoraja não apenas a receber o evangelho, mas também a “estar firmes” (1 Co 15:1)
e “permanecer” nele (Cl 1:23).
Em outras palavras, participar da construção de uma comunidade sadia e usufruí-la exigirá que creiamos no
evangelho, e que creiamos também que os atos realizados por Jesus em nosso favor têm poder e relevância para a
forma que nos relacionamos com Deus e com as pessoas. Isso demanda um enfoque intencional de nossa parte
para identificar a incredulidade em nosso coração que atrapalha nossa habilidade de amar outras pessoas, servir-
lhes e de receber o amor delas em troca. Demanda também receber as verdades do evangelho que curam e libertam,
permitindo que elas sejam absorvidas no cerne de nosso ser. E adivinhe onde essa obra de transformação contínua
ocorre? Na comunidade.
TRANSFORMADOS NA COMUNIDADE
Você já reparou quão paciente você é, desde que ninguém o irrite? Ou quão amoroso você é, conquanto esteja
cercado por pessoas fáceis de amar? Ou quão humilde você é, desde que seja respeitado e admirado por outras
pessoas? Todos somos santos quando estamos sozinhos! É na comunidade que nossas fraquezas, nossas falhas e
nossos pecados reais são expostos. Por isso a comunidade é essencial – não opcional – para nossa transformação.
Não podemos nos transformar nas pessoas que Deus deseja que sejamos se estivermos fora da comunidade.
Perceba que a redenção não é o fim da história. Deus está nos preparando para “novos céus e nova terra, nos quais
habita a justiça” (2 Pe 3:13). O objetivo dele é a criação renovada, onde os seres humanos redimidos habitarão em
perfeita harmonia uns com os outros e com o seu Criador. Deus se dedica à preparação de seu povo para esse
futuro glorioso mediante sua transformação agora, um processo que a Bíblia denomina santificação. O agente da
santificação é o Espírito Santo, seu instrumento é a verdade do evangelho e o contexto em que ela ocorre é a
comunidade.
Pondere sobre algumas declarações que mencionam “uns aos outros” na Bíblia: “amai-vos de coração uns aos
outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12:10); “Consolem uns aos outros, estejam
de acordo uns com os outros, vivam em paz (2 Co 13:11); “Mas não useis da liberdade como pretexto para a carne;
antes, sede servos uns dos outros pelo amor” (Gl 5:13); “Sede bondosos e tende compaixão uns para com os outros,
perdoando uns aos outros” (Ef. 4:32). Não é evidente que nenhum de nós pode fazer essas coisas com perfeição?
Esses mandamentos não nos foram dados apenas para que saibamos o que deveríamos fazer; eles foram
concedidos também para que possamos tentar aplicá-los e, mesmo falhando, cresçamos em nossa experiência com
a graça de Deus. A tentativa de cumprir esses mandamentos “uns aos outros” nos ajuda a revelar nosso pecado,
nos impele para Jesus com arrependimento e fé, e nos torna dependentes do Espírito Santo para a transformação.
A comunidade é o laboratório no qual aprendemos a depender da graça de Deus e experimentarmos o poder
transformador do evangelho.
A comunidade é também o contexto primeiro para a missão, nosso foco externo como crentes. Deus quer usar
nossas comunidades, por mais desorganizadas e frágeis que seja, para atrair outras pessoas para sua história e
apresentá-las ao Redentor! Não se trata apenas de nos tornarmos mais parecidos com Jesus, mas de fazer com que
pessoas que não conhecem Jesus, que está voltando, conheçam-no como Salvador e Senhor.
Às vezes, tratamos a comunidade como uma rede de segurança que protege o equilibrista: uma boa coisa com que
contar caso algo ruim aconteça. Mas a Bíblia fala sobre a comunidade como se ela fosse a própria corda do
equilibrista: não é possível seguir adiante sem ela. Fomos criados para a comunidade. Fomos redimidos para a
comunidade. E somos transformados na comunidade.
3) DEBATE (10 MINUTOS)
a) No tópico sobre a Queda, o artigo diz: “Há algo de egoísta e egocêntrico em nós que nos impede [de viver em
comunidade]”. Como vocês percebem isso na sua vida?
b) Vamos adiante: o que vocês acham que impede a comunidade de se tornar egoísta e egocêntrica?
4) EXERCÍCIOS (30 MINUTOS)
Leia o parágrafo de introdução do exercício. Vamos dedicar alguns minutos à leitura de cada ponto. Tentem escolher
um ou dois com os quais vocês mais se identificam e, em seguida, vamos debatê-los em grupo.
b) Vamos conversar sobre a pergunta que se encontra no final: “se o seu egocentrismo fosse transformado
em um teocentrismo prazeroso, quais seriam os resultados para você e para a comunidade à sua volta?
5 INDICADORES DE INDIVIDUALISMO
Na cultura ocidental, o individualismo é como o para-brisa ou os óculos. Estamos tão acostumados a “enxergar através
deles” que não somos mais capazes de percebê-los. Precisamos de certa ajuda para reconhecer como nosso
egocentrismo se manifesta de fato. Encontram-se a seguir alguns indicadores de individualismo, algumas formas
pelas quais ele pode se expressar com base na sua personalidade. Escolha um ou dois itens listados abaixo que
podem ser percebidos com mais frequência em sua vida. (Pode ser que você se identifique com itens de vários
tópicos).
AUTOCONFIANÇA
• Você se orgulha da sua capacidade de lidar com os próprios problemas e desafios sem a ajuda de outras
pessoas.
• Você gosta que lhe peçam ajuda, mas raramente pede ajuda a outras pessoas.
• É difícil para você ser vulnerável a respeito do que se passa de verdade dentro de você, porque “são
problemas com os quais eu mesmo devo lidar”.
• Com toda honestidade, você acha que não precisa de outras pessoas para crescer espiritualmente, pois as
disciplinas espirituais de que dispõe são suficientes (estudo bíblico, oração e liturgia).
AUTOSSUFICIÊNCIA
• Outras pessoas podem considerá-lo um “bom cristão”, mas poucas pessoas o conhecem de verdade.
• Você pode ser descontraído e extrovertido, mas seus relacionamentos permanecem superficiais.
• Pouquíssimas pessoas tem pleno acesso a sua vida. Você pode revelar algumas coisas às pessoas, mas
apenas o que deseja que elas saibam, pois não quer que elas cavem muito fundo.
• Quando os relacionamentos se tornam difíceis, você tende a recuar, em vez de lidar com os problemas.
• Você tende a medir o crescimento espiritual pela quantidade de conhecimento que já adquiriu.
AUTODEFESA
• Você tende a manter as pessoas à distância, para evitar ser ferido ou rejeitado.
• Você mede crescimento espiritual ou maturidade pelo que as pessoas dizem ou pensam.
• Você, às vezes teme que, se as pessoas conhecerem o “seu verdadeiro eu”, elas se afastarão.
• Você evita conflitos. Se as pessoas o ofendem ou ferem seus sentimentos, prefere se calar, em vez de se
arriscar à ira ou à rejeição por parte delas.
PRESUNÇÃO
• Você tende a ser viciado em trabalho, pois é assim que preenche o vazio deixado pela falta de relacionamentos
profundos na sua vida.
• Você leva mais em conta o respeito que recebe de outras pessoas (atenção) do que seu senso de
responsabilidade por elas (sacrifício).
• Você se preocupa mais com o que as outras pessoas pensam a respeito de suas realizações (importância) do
que com o que pensam a respeito da sua influência relacional na vida delas (significado).
• Você tende a medir o crescimento espiritual com base em suas realizações.
VONTADE PRÓPRIA
Repare que todos os itens desta seção tem relação ao individualismo. Se o seu egocentrismo fosse
transformado em um teocentrismo prazeroso, quais seriam os resultados para você e para a comunidade a
sua volta?