Modelo Alegações Finais Trafico

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XCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

CRATO – CE

Ação Penal nº: xxxxxxxxxx. 8.06.0071

Acusado: CIDNEY BENJÓ

CIDNEY BENJÓ, devidamente qualificado nos autos em epígrafe, vem, muito


respeitosamente à presença deste juízo, por meio da Defensoria Pública do Estado, com fulcro
no artigo 403, parágrafo 3º do Código de Processo Penal apresentar a presente

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

Pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

DOS FATOS

Aos 5 dias do mês de junho do ano de 2017, o réu foi preso em flagrante como incurso no
crime tipificado no art. 33 da Lei nº 11.343/06 – tráfico de drogas, bem como no art. 29, § 1º,
III da Lei 9.605/98 – crime ambiental.

Durante o procedimento, foram encontrados na residência do réu uma ave de fauna silvestre,
23g de cocaína, 6 gramas de crack e 4g de maconha, bem como alguns objetos que a priori
seriam relacionados ao tráfico de drogas.

O acusado, ainda durante o procedimento confessou ser sua a ave, bem como que vendia as
pedras de crack pelo valor de R$ 10,00 a unidade. Em seu termo de depoimento se reservou
ao direito de permanecer em silêncio.

Em sede de depoimento, condutor e testemunhas de acusação, ambos policiais militares,


relataram que comandando a CPMA avistaram uma residência com a porta aberta e que havia
uma gaiola pendurada com a ave denominada golinha dentro, que ao perguntarem o réu
confessou que a ave era sua e que não havia outros pássaros na residência, que ao pedirem
autorização para adentrar a residência, esta foi concedida e lá foram encontrados um dólar de
maconha na estante, cocaína escondida dentro de uma boneca no quarto do réu, 20 pedras de
crack e uma balança de precisão, não havendo reação a prisão.

Em sede de termo de declaração, a irmã do réu alega que a PM pediu para adentrar a
residência para verificar se haviam outros pássaros na casa, que a PM encontrou drogas na
casa, que a mesma não sabia da existência dessas drogas, que logo ao adentrar a PM
encontrou um dólar de maconha, porém que este não havia sido encontrado na estante, e sim
dentro de um capacete. Afirmou que nunca viu seu irmão vendendo drogas, que o seu irmão
não é traficante, apenas usuário, que a balança de precisão encontrada era de uma lanchonete
que a mesma possuía e os sacos eram para fazer picolé e vender no campo de futebol.

DO DIREITO

2.1 – DA DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DE USO DE DROGAS

Cumpre ressaltar que o denunciado é primário, possui residência fixa e trabalho lícito,
conforme documentos acostados aos autos.

Cumpre esclarecer ainda, que o denunciado não exerce comércio ilícito de entorpecentes
conforme afirmado na denúncia. A irrisória quantidade de drogas encontrada, seria para o
consumo pessoal, haja vista que se trata de usuário de drogas.

TJ-DF: Embargos Infringentes Criminais. EIR 20120111829890 (TJ-DF). Ementa: PENAL


EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE

POSSE DE ENTORPECENTE –DESCLASSIFICAÇÃO DE TRÁFICO DE DROGAS PARA USOPRÓPRIO.


FALTA DE PROVAS DA MERCANCIA. RECURSO PROVIDO. I. A apreensão de pequena
quantidade de droga, bem como a ausência de investigações em curso, a demonstrar suspeita
de mercancia ilícita de entorpecentes, e a falta de abordagem de suposto adquirente são
indicativos de que a droga era para consumo próprio. II. Ausente a prova inconteste do tráfico,
correta a desclassificação da infração para uso próprio. Não é suficiente a probabilidade do
cometimento do delito. A dúvida acerca da destinação das drogas apreendidas se revolve em
favor do réu. III. Recurso provido.
Verifica-se que nos autos não há nenhuma prova capaz de incriminar o denunciado de forma
concreta e inequívoca ao delito em que é acusado, pelo contrário, existem apenas presunções
de que a droga encontrada seria para a comercialização.

Como sabemos, no processo penal vigora o princípio segundo o qual a prova, para alicerçar um
decreto condenatório, deve ser indiscutível e cristalina.

Conforme se observa do exposto, resta comprovada a situação do denunciado como usuário,


conduta tipificada no artigo 28 da Lei 11.343/06 e não a de traficante, conforme aduzido na
denúncia.

Não há prova nos autos, de acordo com a análise dos depoimentos, do local do fato, das
condições em que se desenvolveu a ação, das circunstâncias sociais e pessoais, bem como a
conduta e os antecedentes do denunciado, cheguem à certeza de que a prática do fato era
realmente tráfico de drogas, razão pela qual, em caso de não absolvição, mostra-se necessária
a desclassificação.

A pretensa confissão do acusado, em sede policial, não é suficiente para elidir as


assertivas acima, haja vista que só vendia o suficiente para manter o próprio vício. Nesse
passo, não se trata de um mercador profissional de drogas, mas de usuário que trafica para
conseguir manter seu vício. Um é mercador criminoso, o outro é vítima da sua subserviência à
droga.

A questão da quantidade de pedras de crack é tema complexo e controverso, para determinar,


per se, a distinção entre um usuário de um pequeno traficante que comercializa para manter o
vício, como no caso.

Por essa razão a questão da primariedade, com bons antecedentes e a ausência de vínculo
com organizações criminosa são fatores imprescindíveis nesses casos para aplicação da pena
alternativa ao invés de prisão.

Quem trafica para manter o vício deve ser tratado como dependente, que após ceifados pelo
tráfico e tornados dependentes, traficam para obter a dose diária para sustentar seu vício.
No que diz respeito ao tráfico privilegiado, o legislador não estabeleceu um critério objetivo
para determinar com será feita a diminuição, que pode ser de 1/6 a 2/3. Para NUCCI, o
magistrado deve:

Pautar-se pelos elementos do art. 59 do Código Penal, com a especial atenção lançada pelo
art. 42 desta Lei: “o juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o
previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a
personalidade e a conduta social do agente”. É lógico que há de existir o cuidado de evitar o
bis in idem, ou seja, levar em conta duas vezes a mesma circunstância. As causas de
diminuição de pena são mais relevantes que as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código
Penal, de caráter nitidamente residual. Portanto, se o juiz notar um fator de destaque no crime
cometido pelo traficante primário, de bons antecedentes, sem ligações criminosas, como a
pequena quantidade da droga, deve utilizar esse critério para operar maior diminuição da
pena (ex.: dois terços), deixando de considerá-la para a fixação da pena-base (a primeira etapa
da aplicação da pena, conforme art. 68 do Código Penal).

- DA CONFISSÃO

O réu foi denunciado pelo digno membro do MP, como incurso nas sanções do art. 33 da lei nº
11.343/06, e art. 29, §1º, III da lei 9.605/98. Quanto ao réu, vale ressaltar que é réu confesso,
perante a autoridade que efetuou o flagrante, o que deve ser levado em conta por V. Exa.

Contudo, há considerações a serem feitas acerca da aplicação da pena.

Cumpre salientar que, por se tratar de direito subjetivo do agente, a confissão espontânea é
causa obrigatória de diminuição de pena.

Segundo o artigo 65, inciso III, alínea d, do Código Penal, são causas de diminuição da pena:

“Artigo 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

...

Inciso III - ter o agente:


...

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime”.

Conforme posicionamento dos nossos Tribunais.

STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 435430 MS 2002/0056953-9 (STJ)

Data de publicação: 18/12/2006

Ementa: RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO EM


FLAGRANTE E CONFISSÃO ESPONTÂNEA. APLICAÇÃO DA ATENUANTE. OBRIGATORIEDADE.
PRECEDENTES. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. Conforme entendimento pacificado no
âmbito deste Tribunal, configura-se a confissão espontânea tão-somente pelo reconhecimento
em Juízo da autoria do delito, sendo irrelevante que, preso em flagrante, não tenha restado
outra alternativa para o agente. 2. Recurso conhecido e provido para, reconhecendo a
atenuanteda confissão espontânea, redimensionar a pena imposta.

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Com efeito, para a jurisprudência, a espontaneidade é o requisito fundamental para a


concessão da redução, sendo certo que a confissão é considerada atenuante preponderante
sobre as agravantes, ante a sua importância para a convicção do Juiz.

Em todas as hipóteses relacionadas no inciso III do artigo 65 do Código Penal, a redução é


obrigatória, observando-se, obviamente, o mínimo e o máximo da pena prevista. Nesse
sentido, é o posicionamento do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual: "Entre a
circunstância subjetiva favorável ao acusado e a objetiva contrária, deve prevalecer aquela".

Além da atenuante acima invocada, é necessário destacar quanto a sua primariedade, uma vez
que nunca praticou qualquer tipo de crime anteriormente a este, assim sendo, goza ele de
idoneidade moral perante a sociedade e este juízo, pois houve confissão espontânea do crime.

Assim prevalece o entendimento dos nossos Tribunais a este respeito:

APELAÇÃO CRIMINAL - ART. 157, § 2º, INCISOS I E II, DO CÓDIGO PENAL - DECRETO
CONDENATÓRIO - RECURSO DA DEFESA PLEITEANDO: ABSOLVIÇÃO POR CARÊNCIA DE PROVAS
OU, ALTERNATIVAMENTE, QUE A CARGA PENAL SEJA FIXADA NO MÍNIMO LEGAL E, COM AS
ATENUANTES DA PRIMARIEDADE E DOS BONS ANTECEDENTES E SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS - INSUBSISTÊNCIA RECURSAL -
PALAVRA DA VÍTIMA - VALIDADE - MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS COMPROVADAS -
DOSIMETRIA - DUAS MAJORANTES - EXASPERAÇÃO DO AUMENTO DA PENA SEM
FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA - PENA REFORMADA, DE OFÍCIO, PARA REDUZIR O AUMENTO
PARA O MÍNIMO LEGAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - PLEITO DE ARBITRAMENTO -
HONORÁRIOS JÁ ARBITRADOS NA SENTEÇA - VALOR QUE SE NÃO AFIGURA CONDIZENTE COM
AS PECULIARIDADES DO CASO - RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE, COM REFORMA DA
DOSIMETRIA, DE OFÍCIO. "(. . .) No crime de roubo o fato da vítima reconhecer o agente com
firmeza e determinação, constitui prova suficiente para condenação, mormente quando
coerente com o conjunto probatório produzido" (TJPR - Ap. Crim. 0595380-0 - Londrina - 5ª
C.Crim. - Relª Des. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira - Unânime - j. 05/11/2009).
"Habeas Corpus. Penal. Homicídio qualificado. Existência de circunstância judicial desfavorável.
Pena-base fixada acima do mínimo legal. POSSIBILIDADE. Fundamentação válida. Utilização da
qualificadora sobejante para elevar a pena-base. Admissibilidade. (STJ - HABEAS CORPUS: HC
96236 MS 2007/0291719-8, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Julgamento: 14/05/2008, Órgão
Julgador: T5).

Presentes as atenuantes, a pena a ser cominada ao acusado deve ser a mínima legal.

DOS PEDIDOS
Diante o exposto requer:

I – Que seja acolhida a tese de Desclassificação para o delito de Uso de Drogas (artigo 28 da Lei
11.343/06), dando definição diversa do teor da denúncia, nos termos do artigo 383 do Código
de Processo Penal.

II - Caso entenda pela condenação do denunciado, o que não se espera, requer a aplicação da
pena no mínimo legal, com a devida aplicação do § 4º do artigo 33 da Lei 11.343/06,
analisando as circunstâncias pessoais favoráveis do denunciado (artigo 59, inciso IV, do Código
Penal) e conversão em penas restritivas de direitos, de acordo com o artigo 44 do Código
Penal, posto que o denunciado preenche todos os requisitos.

III - Em caso de condenação, a aplicação do art. 59 da Lei 11.343/06 c/c 283 do Código de
Processo Penal, somado aos princípios da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII da
Constituição Federal), entendimento da prisão como última ratio, Lei 12.403/11 (medidas
cautelares diversas da prisão), pelos efeitos negativos do cárcere, requisitos favoráveis do
denunciado (primário, residência fixa, trabalho lícito), para que possa recorrer ainda em
liberdade, sendo o caso.

IV – Por fim, caso vossa excelência decida pela condenação, que reconheça a circunstância
atenuante estabelecida no artigo 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal , bem como a
primariedade do agente, de forma a ser fixada a pena no mínimo legal estabelecido.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Juazeiro do Norte, 25 de abril de 2018

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Defensor Público

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