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Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 15, n. 3, p.

609-611, setembro 2012

Limites da clínica. Clínica dos limites


Claudia Amorim Garcia e Marta Rezende Cardoso (Orgs.)
Rio de Janeiro: Cia. de Freud/Faperj, 2011, 212 págs.

Sobre limites em psicanálise

Eliane Michelini Marraccini

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Esta coletânea de artigos inéditos aborda o importante tema dos
limites em psicanálise, retomando o Simpósio Limites da clínica. Clínica
dos limites, realizado na PUC-Rio em 2010. São discutidas questões
intrínsecas à própria psicanálise, sua teoria e desafios da clínica atual,
de modo a problematizar, ampliar e aprofundar esse tema instigante e,
por vezes, polêmico.
A psicanálise como prática de subjetivação e não de normalização
dos sujeitos, vem construindo novos espaços de potência para a clínica
que, embora contando com limites e tendo de lidar com o limite da
própria psicanálise, ultrapassou alguns limites instituídos em relação ao
seu próprio campo. Alargou sua amplitude para o tratamento das
psicoses, das crianças, das somatizações, das compulsividades e dos
estados-limite, salientou Joel Birman.
Os limites do setting tradicional vieram sendo revistos para demais
contextos, com atendimentos inovadores em relação aos individuais,
além de abarcar atendimentos especiais, como no caso do autismo, tema
do artigo de Suzana Faleiro Barroso e Ana Beatriz Freire. Estendeu-se
em propostas de cunho social, como a Casa da árvore que acolhe
crianças de favelas, tema do artigo de Lulli Milmann. Em semelhante
R E V I S T A
L AT I N OA M E R I C A N A
DE PSICOPATOLOGIA
F U N D A M E N T A L

direção, o artigo de Andréa Reis e Marcus André Vieira descreve a experiência no


Projeto de psicanálise aplicada Digaí-Maré, oferecendo atendimento dentro de uma
favela.
Numa visão de continuidade entre psique e soma, contrária à dicotomia
cartesiana que influenciou o desenvolvimento da teoria freudiana, Monah Winograd
retoma a questão desde os filósofos gregos. Os limites entre o psíquico e o
somático foram abordados por Maria Helena Fernandes com foco na clínica
contemporânea. O olhar e a escuta do psicanalista, recebendo os traços de
inscrição da dor do outro, acolhem seus efeitos muitas vezes em seu próprio
corpo, de modo a figurar esta imagem e descrevê-la em palavras, acompanhando
o paciente no estabelecimento de um sistema simbólico.
Em perspectiva mais ampla do funcionamento psíquico e manifestações da
clínica, Regina Herzog considera impróprio pensar-se o aparelho psíquico como
um aparelho de representar, considera que deveria abarcar, além da linguagem
verbal, a linguagem do sensível. O que vai de encontro com as reflexões de Paulo
de Carvalho Ribeiro em torno dos momentos iniciais da constituição psíquica,
destacando a concepção de Gaddini sobre os estágios pré-primitivos e “memória
fisiológica” da vivência de limite dentro do útero. A experiência esquizóide e a
organização da personalidade esquizóide foram examinadas por Carlos Augusto
610 Peixoto Junior com base nas contribuições de teóricos que tomam por base as
relações objetais primitivas, como Fairbain, Ogden, Winnicott, Guntrip e Bollas.
De acordo com Gabriela Maldonado Borges e Marta Rezende Cardoso, os
sonhos traumáticos condensam a interligação entre o encontro com a morte, a
fixação no momento do “acidente” e a compulsão à repetição. O risco da vida em
perigo que não consegue ser representado e o retorno alucinatório da “fixação ao
trauma” são aspectos revividos, enquanto a compulsão à repetição reflete o
fracasso da elaboração psíquica.
Relembrando que Freud articulou a interpretação ao estabelecimento da
transferência, Ana Maria Rudge destaca a oposição entre os que consideram a
interpretação a grande arma da psicanálise (freudianos e lacanianos) e aqueles que
consideram a relação terapêutica a promovedora das modificações (winnicottianos
e ferenczianos). Por outro lado, os limites da interpretação são destaque para Luiz
Augusto M. Celes e Claudia Amorim no exame do texto freudiano, em abordagem
da psicanálise como clínica do trauma, como clínica da representação e como
clínica da pulsão. Em diferentes condições da prática psicanalítica atual, Luís
Claudio Figueiredo considera que a noção de situação analisante, proposta por
Donnet, substitui com vantagem a noção de “situação analítica”, sugerindo
vivacidade e atividade de seu objeto, o analista sendo presença viva e mais
implicada.

Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 15, n. 3, p. 609-611, setembro 2012
RESENHA
DE LIVROS

Como é possível conferir, esse livro teve a felicidade de discutir importantes


e variadas questões sobre os limites da psicanálise, da teoria ou da clínica
psicanalítica atual, implícitos ou explicitados nas reflexões íntimas de cada
profissional, nas discussões entre pares, tendo lugar no atendimento clínico
tradicional ou em diferentes contextos onde a psicanálise possa se dar. Especiais
cumprimentos às organizadoras pela ampla visão ao empreenderem a publicação
dessas múltiplas e ricas contribuições, compilando-as em livro de referência com
tratamento de excelência para o tema.

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ELIANE MICHELINI MARRACCINI


Psicóloga; psicanalista; mestre e doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo – PUC-SP (São Paulo, SP, Br); professora e supervisora do
curso “Formação em Psicanálise” do Departamento Formação em Psicanálise do Institu-
to Sedes Sapientiae (São Paulo, SP, Br); membro da Associação Universitária de Pesquisa
em Psicopatologia Fundamental (São Paulo, SP, Br).
Rua Pará, 50/44
01243-020 São Paulo, SP
Fone: (11) 3257-3790 / Fonefax: m(11) 3815-9521
e-mail: [email protected]

Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 15, n. 3, p. 609-611, setembro 2012

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