TCC Surdos Atualizado 2019
TCC Surdos Atualizado 2019
TCC Surdos Atualizado 2019
INTRODUÇÃO
(2005), Quadros (2002), Salles (2007), Skliar (1997), Ropoli, et al., (2010),
Vasconcellos (1996), dentre outros.
O trabalho também aborda uma analise acerca da prática inclusiva, novos
conceitos e práticas na busca de uma inclusão digna e que respeite a diferença
linguística dos indivíduos surdos, com o aprendizado e uso da língua de sinais,
assim como investigar os limites e potencialidades enfrentadas pelos profissionais
do Centro de Atendimento ao Surdo no Amapá.
Diante do exposto, a pesquisa tem como questão problema: quais os limites
e potencialidades enfrentadas pelos professores do Centro de Atendimento ao
Surdo no Amapá - CAS na realização das atividades desenvolvidas? Parte-se da
hipótese que o Centro de Atendimento ao Surdo do Amapá – CAS oferece
oportunidades para que as pessoas surdas sejam inseridas na sociedade em geral,
pois tem proporcionado diversos benefícios aos surdos, no entanto, possui alguns
entraves que dificultam o desenvolvimento do atendimento ao surdo, como falta de
material pedagógico e qualificação profissional.
A abordagem metodológica foi fundamentada mediante os princípios da
abordagem qualitativa, sendo necessário realizar uma pesquisa bibliográfica, logo
em seguida a pesquisa de campo, onde confrontou a teoria e a prática pedagógica
sobre o atendimento ao surdo no Amapá.
Ressalta-se que o Centro de Atendimento ao Surdo no Amapá - CAS é fruto
de uma parceria entre o Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial e
Secretaria Estadual de Educação (MEC/SEE e SEED). O CAS oferece suporte
pedagógico às escolas e aos professores que trabalham com alunos com deficiência
auditiva e surdez no Amapá.
Sendo assim, este trabalho está dividido da seguinte maneira: no primeiro
capítulo, foi enfatizado um breve contexto histórico da surdez no mundo, no Brasil e
no Amapá observando os avanços e retrocessos na educação de surdos no decorrer
da história.
No segundo capítulo abordou o processo de inclusão do aluno surdo,
ressaltando a educação voltada para uma cultura e uma identidade da Língua de
Sinais, bem como a legalidade da educação de alunos surdos, o atendimento
educacional especializado, o papel dos professores no crescimento escolar dos
alunos, como deve ocorrer o planejamento, avaliações e aprendizagem significativa
para o aluno surdo.
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Por muito tempo as pessoas com deficiência foram tidas como anormais e
como um problema, pois estas eram vistas como um obstáculo para o
desenvolvimento da sociedade da qual faziam parte, como se pudessem
simplesmente ser descartadas ou abandonadas de qualquer maneira, a não ser que
estas fossem do interesse de uma determinada época. Ou seja, determinadas
comunidades cuidavam por piedade e por motivos religiosos e não por terem
consciência social tinha sempre algum interesse por trás dessas boas ações.
Com esse direcionamento, ao analisar o contexto histórico da Educação
Especial, percebe-se que os comportamentos sociais que predominavam e
caracterizavam as sociedades focavam-se num padrão social, que discriminava
todos que fossem diferentes, remetendo-os quase sempre à exclusão. A esses fatos
nos apresenta Sahb (2006,p.4):
Percebe-se com isso que os deficientes de maneira geral eram tidos como
atraso à sociedade da qual faziam parte, pois é histórico, visto que de início foram
exterminados por serem tidos como um peso para a sua comunidade,
posteriormente abandonados e segregados. Após séculos de lutas pelo direito de ao
menos sobreviver, ainda não têm seus direitos conquistados nem efetivamente
respeitados por um Estado hegemonicamente controlado por uma classe dominante
que continua excluindo, nos moldes do sistema capitalista que obriga a
competitividade, que trata o ser humano especialmente aquele fora do padrão social
17
como mercadoria que não tem qualidade e que por isso deve ser descartado
(SKLIAR, 1997).
1.3 O Reflexo do Congresso de Milão na Educação das Pessoas com Surdez-
Idade Moderna
Dentro das questões discutidas com relação à educação da pessoa surda que
é foco da pesquisa, na França, por volta do século XVIII o Abade Charles Michel de
L’epée, como representante do gestualismo, foi o primeiro a estudar uma língua de
sinais para os surdos, preocupando-se com as características linguísticas
observando grupos de surdos percebeu o desenvolvimento destes para se
comunicarem através do canal viso-gestual. Assim, desenvolveu um método
educacional apoiado na linguagem de sinais da comunidade surda, adicionando a
esta, sinais próximos a estrutura do francês, desenvolvendo um sistema de sinais
metódicos (LACERDA, 1998).
Dessa forma, sugeriu que os educadores deveriam aprender esses sinais
com as pessoas surdas, efetivando assim uma comunicação, ensinando a língua
falada e escrita. L’epée ao fundar uma escola não se limitou somente a um espaço
escolar fechado, colocava-se a disposição fazendo reuniões periódicas e
consequentemente discutindo os resultados obtidos com essa forma de
comunicação. No ano de 1776, este mesmo autor, publica um livro divulgando suas
técnicas que facilitariam no aprendizado e a consequente comunicação da pessoa
surda (LACERDA, 1998).
Seus alunos dominavam bem a escrita e muitos deles tornaram-se
professores de outros surdos e isso sem dúvida nenhuma foi um ponto relevante no
respeito às diferenças do surdo, visto que a partir desse momento poderiam interagir
com pessoas que sabiam de suas reais necessidades. Para o Abade a língua de
sinais é a linguagem natural dos surdos, e é a ponte para desenvolver o pensamento
e a comunicações destes.
E, segundo ele, o domínio de uma língua oral ou gestual é concebido como
um instrumento para o sucesso de seus objetivos. Por volta de 1791, a escola
fundada por L’epée se transforma no Instituto Nacional de Surdos e Mudos em Paris
obtendo sucesso e resultados positivos na história da surdez. Ao contrário de
L’epée, o alemão Heinick defendia o método oral, afirmava que o pensamento só era
possível através da língua oral, dependendo quase que exclusivamente dela, e a
língua escrita teriam uma posição secundária. Portanto, a língua de sinais para o
18
Com isso em 1933, o Instituto é transferido para a cidade de São Paulo, que
até o ano de 1970 funcionava somente em regime de internato para meninas com
deficiência auditiva e, após essa data começa a receber meninos em regime
externo. Diante disso, Mazzota (2005) relata que em 1970 o instituto deixou de ser
internato feminino e passou a funcionar em regime de externato para meninas
e meninos. Na mesma ocasião, inicia-se o trabalho de integração de alunos
deficientes auditivos no ensino regular.
Assim, pode-se perceber que a preocupação com a surdez, relacionada às
crianças começa a ter uma pequena contribuição por parte das autoridades, é
relevante citar que tudo o que foi conquistado é uma luta daqueles que acreditam no
desenvolvimento desses educandos independente das suas diferenças existentes.
Por meio dessas iniciativas mencionadas anteriormente, houve
consequentemente a necessidade de melhores condições para um aprendizado
efetivamente eficaz e, com a cobrança por parte da população, as autoridades vem
obrigadas a criar políticas voltadas para pessoas com deficiência, estabelecendo e
garantindo um desenvolvimento às mesmas.
21
Instituto de Educação para Crianças Excepcionais Helen Keller - IECE Helen Keller-
(1969), Escola Municipal de Educação de Deficientes Auditivos Helen Keller-EMEDA
Helen Keller (1976) e finalmente Escola Municipal de Educação Infantil e de 1°grau
para deficientes auditivos Helen Keller (MAZZOTA, 2005).
Pode-se perceber que mesmo sofrendo várias alterações em seu nome, o
Instituto não deixou de oferecer atendimento durante este período. E assim, ganhou
mais relevância, pois sem dúvida possibilitou que ocorresse a criação de mais
escolas para pessoa com diferenças na rede municipal de São Paulo.
Instituto Educacional São Paulo – IESP, a priori possuía como professores,
Pais de alunos não especializados, o qual foi de extrema relevância, pois possibilitou
esse primeiro aprendizado a pessoa surda. Segundo (MAZZOTA, 2005. p.25): “[...]
seus primeiros professores não eram especializados, tinham formação em curso
nacional e eram pais de alunos”.
O interessante nessa informação é saber que os pais mesmo não sendo
especializados, encararam esse desafio na tentativa de uma melhor educação para
seus filhos, já que o próprio poder público pouco fazia para que houvesse um
atendimento específico.
Nesse direcionamento Rodrigues (2008) afirma que é importante ressaltar
que naquele tempo, o trabalho de oralização era feito pelos professores comuns,
não havia os especialistas. Com isso a comunidade surda veio ganhando aos
poucos pessoas especializadas para o trato através de uma linguagem que de fato
atendesse os anseios do surdo na sociedade.
Com isso, no Brasil mais especificamente nos anos 70, os institutos estavam
preocupados com o sistema educacional público e em garantir o acesso dos alunos
com deficiência à escola, obtendo assim, alguns avanços. Porém, esse modelo não
possibilitou efetivamente o ingresso destes no sistema regular de ensino, visto que
os colocaram em salas isoladas, as chamadas classes especiais, não permitindo o
contato com as outras crianças, limitando assim definitivamente o seu
desenvolvimento, ou seja, percebe-se dessa forma que as autoridades
simplesmente jogaram esses indivíduos em salas isoladas com o discurso de
estarem dando a esses alunos oportunidades de convívio com outros do ensino
regular, taxando-os de alunos especiais, provocando mudanças no contexto
histórico educacional (SKLIAR, 1997).
23
Ao entrarem no espaço escolar, muitos alunos com surdez são vistos como
incapazes de se desenvolver e de participar ativamente das atividades
desenvolvidas em sala de aula. Com isso, acabam se sentido inúteis naquele
ambiente, e isto fatalmente faz com que esses indivíduos sejam cada vez mais
alijados do ambiente escolar que deveria, pelo menos em tese, proporcionar
momentos de satisfação e não de repulsão para a pessoa surda e para o indivíduo
que tem alguma necessidade educacional específica, deixando claro o
tratamento que é dado ao sujeito que apresenta alguma diferença dos demais
dentro da sociedade.
1.5 Evolução da Educação dos Surdos no Amapá
1.5.1Implantação do Centro de Atendimento ao Surdo no Amapá
De início mencionou aspectos da trajetória do surdo a nível mundial e
posteriormente no Brasil. Agora, tem como objetivo analisar a trajetória dos surdos
no Estado do Amapá, e com relação aos registros escritos voltados para o referido
tema é valido salientar que as fontes são escassas, e são as coletâneas que
tratassem da questão da surdez no referido Estado.
O trabalho que é considerado como ponto inicial na Educação Especial no
Amapá ocorre na década de 70, quando foi elaborado um plano de atendimento de
24
duas classes especiais, uma com 22 alunos e outra com 25, tendo um total de 47,
que foram denominados atrasados especiais (SANTOS 2009).
Em 1973, é elaborado um projeto com o objetivo de oficializar o atendimento
às crianças com alguma diferença, principalmente na aprendizagem, o qual já era
assegurado na lei nº 5692/71, essa Educação Especial buscava proporcionar ao
educando, o desenvolvimento de suas potencialidades, na qualificação e a própria
preparação para a cidadania.
No Amapá, a sensibilidade para se atender alunos surdos deu-se no ano de
1977, na escola São Pedro, hoje denominada Escola Estadual Zolito de Jesus
Nunes. Essa instituição contribuiu com a educação local, implantando uma classe
especial para alunos surdos.
Com isso, segundo Santos (2009), somente uma classe não conseguiu suprir
a demanda e a necessidade dos alunos, pois em um sistema escolar, foi a primeira
vez que ocorreu a integração como uma realidade no Estado, que aos poucos veio
sendo concretizada, até então as escolas não recebiam alunos com deficiência. O
certo é que a escola que antes atendia alunos do ensino regular deve responder às
novas necessidades de acordo com as especificidades apresentadas pelos
diferentes educandos, ou seja, as limitações do currículo escolar tendem a sofrer
significativas transformações para absorver essa parte relevante da sociedade.
Com uma reforma administrativa ocorrida em 1978, na Secretaria Estadual de
Educação e Cultura do então Território Federal do Amapá, há uma mudança na
seção de Educação Especial e cria-se a divisão de Educação Especial a qual traça
diretrizes para o atendimento de alunos com deficiência.
Seguindo esta mesma reflexão, a Escola Estadual José de Anchieta, no ano
de 1979, se dispõe a atender os alunos surdos de forma especializada. O fato é que
a escola não possuía estrutura escolar e pedagógica, e seu atendimento inicia-se
enfrentando dificuldades relacionadas à faixa etária dos alunos de idades diversas
esperando para serem alfabetizados, que eram divididos em grupos onde cada um
recebia somente duas horas de atendimento. Logo, percebe-se que o aluno surdo
ficava prejudicado no seu aprendizado, pois a tentativa de se ensinar e consolidar
uma educação social escolar frustrava-se diante desse obstáculo.
Com a criação da Divisão de Educação Especial - DIEESP, hoje Núcleo de
Educação Especial - NES, no início dos anos oitenta a Secretaria de Estado da
Educação - SEED incube a esta divisão a responsabilidade pelo atendimento
25
educacional no ensino regular. Sendo que, toda criança com surdez teria acesso à
escola em seu município de origem, fosse de forma individual ou grupal desde que
houvesse um atendimento especializado. Entretanto, a verdade é que isso tudo só
era garantido no papel, pois na prática não havia condições de acesso a esses
educandos nem na capital e menos ainda no interior do Amapá. Era inserida no
programa uma bolsa trabalho, permitindo a este uma oportunidade de ocupação, em
especial a função de serviços gerais.
O que se percebe diante dessa iniciativa, é que mesmo os surdos, recebendo
uma instrução educacional, estes ainda eram discriminados, pois seu destino
limitava-se a funções inferiores, como se não tivessem capacidade para exercer
outras funções nas quais pudessem desempenhar seus conhecimentos e
habilidades.
Diante desta situação, o Ministério da Educação - MEC foi obrigado, através
de pressão popular, a cumprir a legislação vigente, pois é dever do poder público
programar medidas essenciais de acesso à educação, que está atrelada ao modelo
Neoliberal, em que os princípios de um Estado social são mitigados, dando origem,
assim, ao conceito de um Estado subsidiário (BEVILACQUA, 2007).
Nesse encaminhamento da educação oferecida as pessoas com
necessidades específicas, a mesma era trabalhada de forma clínica e terapêutica,
como concebe Santos (2009, p.18):
A educação do surdo caracterizou-se neste espaço pelo predomínio de
modelos clínicos e terapêuticos da educação, a qual o aluno era visto como
paciente e o professor como terapeuta. A política educacional era centrada
na deficiência, tendo como consequência, práticas corretivas e de
reabilitação.
Art.12° [...] §2° Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que
apresentem dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos
demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a
utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a
língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa [...]
(BRASIL, 2001).
30
Para que esta ação aconteça com êxito, precisam de articulação entre a
educação especial e o ensino comum, sendo esta a função primordial do AEE,
considerando a elaboração e disponibilização e a avaliação de estratégias
pedagógicas e recursos de acessibilidade para promover a efetivação do direito de
todos à educação.
Quanto aos recursos didáticos para os alunos com surdez estes devem estar
expostos para o manuseio do aluno tais como: “mural de avisos, notícias, biblioteca
da sala, painéis de gravuras e fotos sobre temas de aula, roteiro de planejamento,
33
Assim, verifica-se que para o ensino e aprendizagem com alunos surdos, seja
o mais eficaz, e não fique apenas na responsabilidade do professor da sala comum,
é imprescindível que o planejamento seja realizado em conjunto entre o professor do
AEE e o da sala regular, bem como as avaliações.
2.3 Planejamento e Avaliações Adaptadas para os Surdos
A instituição escolar vem a ser uma dessas instâncias que contribuem para o
processo de formação do indivíduo. Por isso, precisa ter suas metas e objetivos
traçados claramente, visando oferecer um ensino de qualidade e adequado às
necessidades de seus alunos.
Para que suas ações sejam bem sucedidas, a escola precisa de um bom
Plano de ação que a leve a atingir suas metas e objetivos. O planejamento é o ato
técnico que melhora a qualidade do processo ensino e aprendizagem.
De acordo com Luckesi (1992, p. 106)
O ato de planejar, os outros atos humanos, implica escolha e, por isso, está
assentado numa opção axiológica. É uma ‘atividade-meio’, que subsidia o
ser humano no encaminhamento de suas ações e na obtenção de
resultados desejados, portanto, orientada por um fim. O ato de planejar se
assenta em opções filosóficas - políticas; são elas que estabelecem os fins
de uma determinada ação. Esses fins podem ocupar um lugar tanto no nível
34
Quando a criança aprende a lidar de forma mais consciente com a escrita, ela
passa a ter poder sobre si mesma e não mais será reprodutora de idéias dos
ouvintes, passa a reconhecer e construir o próprio conhecimento, bem como refletir
sobre o outro.
Na perspectiva do desenvolvimento cognitivo a aquisição de uma segunda
língua é similar ao processo da aquisição da primeira. Então o letramento da
primeira língua deve ser considerado, mas, neste caso, os surdos, ao iniciarem a
vida escolar, não são letrados na primeira língua e isso dificulta à compreensão da
escrita da língua portuguesa (LIMA, et al., 2006).
Ademais os autores acima mencionados explicam que o português enquanto
segunda língua apresenta vários estágios e um sistema linguístico com regras
próprias que é preciso obedecer. As oportunidades que as crianças surdas têm de
expressar suas idéias, pensamentos e hipóteses sobre suas experiências com o
mundo são fundamentais para aquisição da língua portuguesa.
39
[...] O educando surdo não é um educando comum, igual á maior parte dos
elementos que compõem a realidade social normal, mas um educando cujo
progresso intelectual depende, em grau muito elevado, da participação
abnegada, idealista e humanitária de seus semelhantes porque lhe falta a
mais importante via de transmissão de estimulação mental que é a audição
e, consequentemente, falta-lhe um meio de comunicação com os seus
semelhantes: a fala (SOARES, 1999, p.50)
Ao mesmo tempo, é desejável que o surdo adquira a língua oral da
comunidade em que vive o que remete à constatação de que língua oral será
adquirida como L2. O aspecto mais flagrante na aquisição de uma língua oral como
L2 pela criança surda é que deve adquirir propriedades no nível fonológico e
prosódico que seu aparato sensorial auditiva está impedido (ou parcialmente
impedido) de apreender. No entanto, a criança surda pode ter acesso à
representação gráfica dessas propriedades, que é a modalidade escrita da língua
oral (SALLES, ET AL., 2007).
O letramento é, portanto, condição e ponto de partida na aquisição da língua
oral pelo surdo, o que leva ao processo psicológico da alfabetização e à explicitação
e construção das referências culturais da comunidade letrada. Essa tarefa é, porém,
menos árdua se a modalidade escrita da língua oral é adquirida como L2, sendo a
língua de sinais adquirida como L1, cabendo desenvolver estratégias de ensino que
levem em consideração a situação psicossocial do surdo, em particular sua condição
multicultural.
A educação de surdos é um assunto preocupante, principalmente pelas
barreiras existentes e por sua limitação comunicativa. Ao longo dos séculos,
surgiram muitas propostas educacionais diferenciadas, mas poucas tiveram como
objetivo o desenvolvimento pleno dos alunos surdos. Isto ainda se observa,
concretamente, na prática escolar, pois ao término das séries os alunos surdos são
tratados como incapazes, avançam sem conhecer o mínimo do que deveriam
conhecer das séries anteriores, sem saber o alfabeto, nem mesmo reconhecem o
próprio nome.
Esta foi uma das questões que levaram vários teóricos a desenvolverem
propostas pedagógicas diferenciadas, uma delas foi o oralismo. O oralismo surgiu
como método de alfabetização dos surdos e tornou-se indispensável nesse processo
41
durante muitos anos, pois através dele os alunos surdos eram, literalmente,
obrigados a desenvolver a fala. Infelizmente esta foi uma prática inadequada, pois
grande maioria dos surdos sofreu para aprender a falar (FARIAS; ASSIS, 2012).
Ao perceber essa complexidade no método oralista, surge à necessidade de
novos estudos, surgindo então uma nova tendência, a qual ganhou impulso nos
anos 70, essa nova prática foi a chamada comunicação total.
A Comunicação Total é a prática de usar sinais, leitura orofacial, amplificação
e alfabeto digital para fornecer inputs linguísticos para estudantes surdos, ao passo
que eles podem expressar-se nas modalidades preferidas (FARIAS; ASSIS, 2012, p.
18).
O objetivo é fornecer à criança a possibilidade de desenvolver uma
comunicação real com seus familiares, professores e coetâneos, para que possa
construir seu mundo interno. Segundo Moura e Lodi (1993, p.56):
tem escrita, mas todas têm uma língua, algumas usam duas ou mais línguas,
portanto o bilinguismo é uma habilidade natural a qualquer ser humano (FARIAS;
ASSIS, 2012).
O bilinguismo nada mais é que a utilização fluentemente de duas línguas,
sendo que para o surdo é indispensável, em prol ao seu desenvolvimento social.
Para os surdos, a língua comunicativa é a língua de Sinais, pois nessa comunicação
não há emissão sonora, apenas percepção visual, ou seja, enquanto os ouvintes se
comunicam através do som, o surdo se comunica através da visão (GOFFREDO,
1999).
Um aspecto que se sobressai no contexto de modalidade comunicativa do
surdo é a visual espacial, diferentemente da língua oral-auditiva que é uma
comunicação mais criteriosa, já na comunicação sinalizada, Quadros (2006, p. 38)
enfatiza que:
Os sinais, em si mesmo, normalmente não expressam o significado
completo do discurso. Este significado é determinado por aspectos que
envolvem a interação dos elementos expressivos da linguagem, No ato da
conversação, o receptor deve determinar a atitude do emissor em relação
ao que ele produz, os surdos utilizam a expressão facial e corporal para
emitir, enfatizar, negar, afirmar, questionar, salientar, desconfiar e assim por
diante.
Dessa forma o bilinguismo está presente no dia-a-dia do surdo. Toda criança
surda ou ouvinte quando inicia sua escolaridade precisa ser estimulada a valorizar a
própria língua, pois só assim ela estará preparada a conhecer outra. A criança surda
ao iniciar a vida escolar, necessita de atenção maior, pois nesse período, a grande
maioria não conhece a própria língua, mas por interagir no mundo de ouvinte, terá
que desenvolver o bilinguismo, ou seja, necessariamente, conhecerá duas línguas,
que são elas: Língua Portuguesa e Língua de Sinais.
O modelo de educação bilinguismo contrapõe ao modelo oralista, porque
considera o canal viso gestual, de fundamental importância para aquisição da língua
a pessoa surda. E contrapõe-se à comunicação total porque defende um espaço
efetivo para a língua de sinais no trabalho educacional; por isso advoga que cada
uma das línguas apresentadas ao surdo mantenha suas características próprias e
que não se misture uma com a outra. Nesse modelo, o que se propõe é que sejam
ensinada duas línguas, a língua de sinais e, secundariamente, a língua do grupo
ouvinte majoritário (GOFFREDO, 1999).
44
A fundamentação teórica por meio do qual foi feita a análise e reflexão sobre
o tema teve por base os autores Baalbaki (2011), Bevilacqua (2007), Brasil (2011),
Costa (2013), Damázio (2007), Faria (2012), Freire (2000), Lacerda (1998), Luckesi,
(1992), Mazzotta (2005), Melo (2014), Quadros (1997), dentre outros.
A análise começou durante a coleta dos dados o material, pois assim pode,
se fazer novos questionamentos e retornar contatos com os informantes, para tirar
dúvidas e esclarecimentos.
3.2 O Centro de Atendimento ao Surdo no Amapá
O estudo foi desenvolvido no Centro de Atendimento ao Surdo – CAS, este
está vinculado ao Núcleo de Educação Específica - NEESP, pela Secretaria de
Estado da Educação - SEED, e tem como objetivo proporcionar a formação
continuada dos professores da rede estadual de ensino, professores intérpretes,
instrutores surdos, intérpretes da Língua Brasileira de Sinais e demais profissionais
que atuam na área da surdez, bem como dar suporte ao sistema de ensino e
atendimento psicológico.
O CAS, até então com a nomenclatura de Centro de Apoio ao Surdo,
começou a desenvolver suas funções em 03 de abril de 2006, sendo seu primeiro
endereço na Av. Raimundo Alvares da Costa, no Bairro Santa Rita.
Em 15 de Junho de 2006, o centro passou a funcionar no prédio do CEPA, na
Av. Maria Quitéria, Buritizal. No dia 26 de Junho de 2008, o centro passa por mais
uma mudança e ficou durante cinco meses no prédio Graziela Reis de Souza, onde
em 01 de julho de 2008, pelo decreto de nº 2089\01\07\08, foi oficializado como
Centro de Atendimento ao Surdo.
Somente a partir do dia 29 de junho de 2009 o CAS passou a funcionar em
local adequado, na Av. Mendonça Furtado, nº 1280, Centro. Atualmente o Centro
possui oito professores e dois auxiliares de limpeza surdos. O prédio do CAS fica
localizado na Avenida José Antônio Siqueira, 875, entre Jovino Dinoá e Odilardo
Silva.
O modelo do CAS adotado é uma proposta do MEC para garantir aos
sistemas de ensino, profissionais capacitados para atuar com alunos que
apresentam quadro de surdez. Seguindo o projeto CAP (Centro de Apoio
Pedagógico ao Cego) bem sucedido em apoiar as escolas.
na sala de aula, o aluno deve ser posicionado de modo que possa ver
os movimentos e as expressões faciais e corporais do professor e dos
colegas;
os espaços da sala, como murais e paredes devem ser aproveitados na
exposição de material visual e outros de apoio, que favoreçam a apreensão
das informações passadas nas aulas expositivas;
Objetivo geral
Objetivos específicos
36%
Federal
Estadual e Federal
Estadual
64%
29%
Sim
Não
71%
Fo
nte: Nara Rúbia da Silva e Silva, outubro. Macapá, 2015.
25%
Sim
Não
75%
13%
Sim
Não
87%
Com base nos aspectos legais que objetivam a formação dos profissionais,
questionou-se se os mesmos possuíam formação específica para desenvolver
trabalhos no CAS. 87% afirmaram que sim, enquanto, 13% disseram que não.
A esse respeito Quadros (2002, p. 98) ressalta:
todos aqueles que desejam uma educação inclusiva, o que não se pode é
desanimar diante da atitude de determinados profissionais que estão equivocados
acreditando que seu papel é somente o de ensinar a Língua Brasileira de Sinais a
pessoa surda.
Para Pimenta (1999, p.31), a política de formação de professores têm que
valorizar o “desenvolvimento pessoal-profissional dos professores e das instituições
escolares”, em vez de deixar, exclusivamente a cargo dos órgãos do setor
educacional, o dever de garantir essa formação continuada dos profissionais da
educação pública, uma vez que essas ações contribuem para que a educação se
torne um espaço de busca de dimensão da unidade teórico prática.
Com relação à proposta de formação continuada, oferecida aos professores
da rede pública, foi proporcionada e oferecida aos professores da rede pública e
comunidade em geral, mas centra-se, sobretudo, no ensino e aprendizado da Libras,
sem que haja uma discussão quanto ao sujeito surdo e o seu processo educativo.
7%
Sim
Não
93%
O projeto LIBRAS nível III visa oferecer informações mais específicas e mais
ampla sobre a Língua Brasileira de Sinais, proporcionando à comunidade surda e
ouvinte o contato mais profundo da LIBRAS estimulando assim o desenvolvimento
de capacitação de intérprete para uma boa comunicação e interpretação entre
surdos e ouvintes.
O projeto atendimento psicológico e estimulação precoce educacional infantil
do surdo proporciona atendimento psicológico e educacional na estimulação precoce
de crianças surdas, na educação infantil e ensino fundamental, para prepará-las a
superar suas limitações inserindo-o na cultura surda que tem a Língua Brasileira de
Sinais como uma das principais ferramentas.
Projeto Bate Papo no silêncio proporciona a comunidade surda um local de
referência para dinamizar o seu cotidiano através de encontros períodos com
ouvintes, oportunizando a divulgação da Língua de Sinais Brasileira, bem como o
convívio com a diversidade cultural e a formação integral.
Projeto agentes multiplicadores de Libras oferece informações sinais básicos
sobre a Língua Portuguesa para estimular uma melhor comunicação entre surdos e
ouvintes.
Projeto de Oficina de Língua Portuguesa para instrutor surdo tem como
objetivo identificar a diferença existente entre a gramática da Língua Brasileira de
Sinais e a gramática da Língua Portuguesa.
Projeto tradução de músicas para professores que atuam em corais surdos
proporciona aos professores que atuam com corais para surdos a compreensão de
como traduzir músicas para Língua de Sinais – Libras.
Projeto Curso de formação de professor interprete de Libras visa implementar
a formação de Professores Intérprete em Libras.
Projeto fisioterapia preventiva na saúde do aluno surdo proporciona a
educação em saúde nas escolas de ensino especial, principalmente no campo da
deficiência auditiva e terá como público-alvo os professores e alunos surdos das
escolas da rede estadual de ensino.
Projeto Comemorando o dia nacional do surdo momento em que é divulgado
para a comunidade surda amapaense, bem como seus expoentes sociais, como
indivíduos diferentes, merecedores de atenção, de um novo olhar da sociedade com
o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e de sua cultura como
respeito a este seguimento. Assim, percebe-se que o CAS não atende à demanda
72
da comunidade com cursos, uma vez que durante ano oferece várias oficinas,
desenvolvem projetos, comemorações que são visam à inclusão do surdo na
sociedade em geral.
35%
Sim
Não
65%
Fon
te: Nara Rúbia da Silva e Silva, outubro. Macapá, 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS