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DOI: 10.14295/idonline.v14i50.

2451 Comment
os

Concepções do Multiletramento na Contemporaneidade


Francisca dos Santos Fontes1; Joelson Rodrigues Miguel2

Resumo: O presente estudo objetivou uma discussão sobre as concepções do multiletramento na


contemporaneidade. A metodologia consistiu em revisão integrativa com os seguintes aportes teóricos
de autores como: Jonassen (2008), Diesel, Baldez e Martins (2017), Ortunes e Sousa (2018), Pereira,
Schimitt e Dias (2007), Pretto e Silveira (2008), Santos e Lacerda (2019), Sousa (2018) e Staker e Horn
(2015), dentre outros. Os resultados parecem indicar que as tecnologias da informação e conhecimento
(TICs) disponíveis, assim como a internet possuem uma grande influência no processo de ensino e
aprendizagem. Sendo assim, é necessária a conciliação do processo de constituição do saber com as
novas tecnologias, ampliando o leque de possibilidades de aprender. E finalmente, os saberes que são
construídos no cotidiano são indispensáveis para a construção do saber dos indivíduos, pois são
referências, marcas e aspectos que constituem a identidade do aluno.

Palavras-chave: Multiletramento, Metodologias de ensino. Formação de professores.

Conceptions of Multiliteracy in Contemporary

Abstract: The present study aimed at a discussion about the concepts of multiliteracy in contemporary
times. The methodology consisted of an integrative review with the following theoretical contributions
from authors such as: Jonassen (2008), Diesel, Baldez and Martins (2017), Ortunes and Sousa (2018),
Pereira, Schimitt and Dias (2007), Pretto and Silveira (2008 ), Santos and Lacerda (2019), Sousa (2018)
and Staker and Horn (2015), among others. The results seem to indicate that the information and
knowledge technologies (ICTs) available, as well as the internet, have a great influence on the teaching
and learning process. Therefore, it is necessary to reconcile the process of constituting knowledge with
new technologies, expanding the range of possibilities for learning. And finally, the knowledge that is
constructed in everyday life is indispensable for the construction of the knowledge of individuals, as
they are references, marks and aspects that constitute the student's identity.

Keywords: Multiliteration, Teaching methodologies. Teacher training.

_______________________
1Mestrado Em Educação pela Florida Christian University, Orlando, Florida - USA. Graduação em Filosofia pela Faculdade
Pan América .
2 Doutorado em Ciências da Educação pela Universidade Autónoma de Asunción – PY. Pós-Doutorado pela Universidade

Autónoma de Asunción – PY. Pós-Doutorando pela Florida Christian University. Participa dos programas de Educação EAD,
Education Without Borders Program. Orientador de Dissertações e Teses pela Florida Christian University. Autor
correspondente: [email protected].

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Introdução

O atual contexto de inovações e mudanças sociais, exige do educador posturas mais


compromissadas com o processo de constituição do saber, levando em consideração a realidade
do alunado, bem como o contexto em que a escola está situada.
Quanto às metodologias de ensino, é importante que os profissionais da educação
insiram no campo escolar ferramentas que os discentes já conhecem, como por exemplo, a
tecnologia que cada vez mais tem ganhado espaço e tornando-se imprescindível como recurso
pedagógico.
A escolha desse tema se justifica pelo fato, de que cada vez mais os profissionais
docentes têm enfrentado grandes desafios no que se refere ao processo de aquisição do
conhecimento de seus alunos. Hoje, os jovens/adolescentes e crianças adentram a escola com
diversas informações que estão espalhadas nas novas ferramentas tecnológicas. Cabe pois, ao
educador, o desafio de inovar suas práticas pedagógicas e incluir de forma participativo-ativa o
aluno em todo o processo, estimulando o seu protagonismo.
Ante o exposto, o objetivo do presente estudo é trazer uma discussão sobre as
concepções do multiletramento na contemporaneidade. Trata-se de uma revisão integrativa, à
partir de autores que tratam de temáticas relacionadas aos pressupostos cognitivos da
criatividade de quem forma, dificuldades sobre o uso da tecnologia nos contextos escolares,
aprendizagem significativa, relação professor/aluno e relação dos profissionais docentes com
as novas ferramentas, multiletramentos, formação do professorado e construção do
conhecimento. Selecionamos nomes como: Jonassen (2008), Diesel, Baldez e Martins (2017),
Ortunes e Sousa (2018), Pereira, Schimitt e Dias (2007), Pretto e Silveira (2008), Santos e
Lacerda (2019), Sousa (2018) e Staker e Horn (2015), denre outros.

Concepções do Multiletramento na Contemporaneidade

O multiletramento é compreendido no contexto educacional como sendo as várias


formas que o professor dispõe no mundo contemporâneo para levar o letramento ao aluno. Hoje,
os textos vêm agregados com muitas informações e imagens, em que a junção dessas formas
leva o alunado a uma nova compreensão de como ler. Por isso, no contexto atual o uso da
tecnologia faz com que tenhamos essa nova forma de letrar, o computador, através da internet,

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as ferramentas que estão dispostas ao redor do discente e o próprio celular que está em sala de
aula.
Conforme Pretto e Silveira (2008):

O aprendizado exige a exploração das redes de saberes e das malhas de produção de


conhecimento. [...] estabelecer a relação da educação com as tecnologias, com as
novas exigências para a formação ética e para a autonomia política. [...] a
ambivalência cultural de nosso cotidiano nessa mudança de era com a crise de
medição do valor em uma sociedade do conhecimento, cada vez mais centrada na
ampliação das informações e na substituição da lógica da reprodução pela lógica da
inovação contínua (PRETTO; SILVEIRA, 2008, p. 10).

Todos esses equipamentos estão ao alcance da nova forma de letrar, é a comunicação


de uma forma mais expandida. Portanto é necessário que percebamos essa nova forma de
multiletramento também através da tecnologia. A importância da mídia no aprendizado é a
facilidade de absorção do conteúdo pelo aluno por ele está utilizando algo que já está bem
familiarizado, ou seja, o uso das suas ferramentas como o próprio celular para pesquisa, para
interagir com o vídeo. Então, tudo isso facilita o aprendizado e absorção do conteúdo. As novas
ferramentas dispostas na sociedade, tem essa potencialidade de facilitar o trabalho do professor
em relação ao alunado e ao seu aprendizado.
Corroborando com esta concepção, segundo Sousa (2018):

A sociedade vem passando por profundas mudanças tecnológicas, podendo de essa


forma ter influência na prática educativa. Portanto, como educadores e indivíduos nós
temos as necessidades de nos adequarmos a essas inovações, introduzindo essas
transformações no meio educacional, com intuito de contribuir na melhoria da
qualidade do desenvolvimento de ensino/aprendizagem e nas práticas docentes.
Diante de todas as tecnologias da informação e conhecimento, (TIC), disponíveis, a
internet tem uma grande influência no processo de ensino-aprendizagem. Existem
diversas possiblidades em que a internet pode ser explorada na sala de aula por
professores no sistema educativo (SOUSA, 2018, p. 12).

Através do uso de recursos que o discente já conheça possibilita a produção de novos


conhecimentos e a fixação do mesmo em sala de aula, interagindo na aula. A juventude hoje
em dia está cada vez mais atenta as novas tecnologias e fazer uso disso na aula apenas favorece
o aprendizado. No âmbito atual de ensino se faz necessário à reestruturação quanto aos
processos de construção do saber, e essa diversidade cultural e de linguagens é imprescindível,
é importante o exercício da reflexão por parte dos profissionais quanto compreensão de como
utilizar essas ferramentas (os direitos autorais, da imagem, do som etc.).
Destarte, é preciso também ter o cuidado de como introduzir os novos mecanismos em
sala de aula, uma vez que é importante que as ferramentas tragam sentido e significado ao que
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está sendo trabalhado em sala. O planejamento é extremamente necessário para que a inserção
de novidades no contexto escolar tenha relação com os conteúdos e com os discentes. Assim
sendo, é preciso esse cuidado, pois os alunos por estarem imersos as mudanças tecnológicas
percebem quando o professor está despreparado e/ou quando a aula não tem relação com os
recursos pedagógicos (FUGIMOTO; ALTOÉ, 2010).
Em vista disso, cabe não só ao professor de português compreender a importância do
uso de novos mecanismos para a construção do conhecimento, mas também todos os
professores precisam saber como lidar com este novo contexto de ensino, assim como utilizar
essas ferramentas para facilitar o letramento, a compreensão textual, a compreensão de leitura
de mundo, a ligação de textos com mídias, com fotografias, essa nova maneira de escrever.
Então, é necessário que o aluno esteja apto a fazer essa compreensão, sendo assim possível a
conciliação do processo de constituição do saber com as novas tecnologias, ampliando o leque
de possibilidades de aprender.
Sobre essa realidade do ponto de vista de Diesel, Baldez e Martins (2017):

Assim, as contínuas e rápidas mudanças da sociedade contemporânea trazem em seu


bojo a exigência de um novo perfil docente. Daí a urgente necessidade de repensar a
formação de professores, tendo como ponto de partida a diversidade dos saberes
essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica de um fazer
instrumental para uma perspectiva que busque ressignificá-la, valorizando os saberes
já construídos, com base numa postura reflexiva, investigativa e crítica. Dessa
perspectiva, é possível inferir que os saberes necessários ao ensinar não se restringem
ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. Quem leciona sabe muito bem que,
para ensinar, dominar o conteúdo é fundamental, mas reconhece também que este é
apenas um dos aspectos desse processo (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017, p.
269).

Caso não haja essa alteração da função do professor corre-se o risco de ficar de fora
dessa gama de possibilidades de aprendizagem. Percebe-se que o aluno está ainda mais
atualizado com a questão do uso dessas ferramentas e se o professor não estiver acompanhando
estas transformações passa a ser ainda mais difícil estimular o aluno a querer aprender, fazendo-
os não apenas a frequentar os estabelecimentos escolares, mas permanecer neles. A exigência
de um novo perfil docente no século atual objetiva a formação de um profissional ainda mais
preparado para lidar com a nova realidade educacional.
Segundo Oliveira (2010):

[...] o professor que adota essa concepção de aprendizagem passa a ser corresponsável
pelo aprendizado do aluno, que é o principal responsável por esse processo. A adoção
da visão interacionista implica que o professor entende a aula como um espaço no
qual a voz do aluno deve ser ouvida para que ele possa constituir-se como sujeito da

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sua aprendizagem. Isso conduz o aluno à formação de uma consciência crítica, que o
professor precisa fomentar (OLIVEIRA, 2010, p. 29).

Neste sentido, o educador contemporâneo precisa estar preparado e capacitado para


levar o alunado às várias formas de comunicação e expressão que há na atualidade. Logo, essa
capacidade multiletrada encontrada hoje pelo professor torna-o mais capaz de lidar com os
conflitos envolvendo os processos de ensino e aprendizagem na atualidade. A partir dessa
variedade de multiletramento pode surgir um aluno com maior capacidade seja sociocultural de
compreensão, comunicação, expressão. Em meio a essa realidade o aprendente do mundo
contemporâneo está cada vez mais atualizado e a educação precisa ir nesse mesmo sentido,
renovando e buscando atrai-los e estimulá-los.
A escola por muito tempo trabalhou com textos lineares, hoje nós estamos diante de
textos muito diferentes, por exemplo, quando olhamos para um outdoor enxergamos na maioria
das vezes imagens, e essas imagens comunicam. Esse e outros exemplos fazem parte do
multiletramento, e todas essas formas estão na sociedade e em diversos espaços, o implica que
há uma multiplicidade de formas de ensinar e de pensar a educação, mas para isso os
profissionais precisam ampliar seu olhar acerca dessas questões, entendendo a importância de
trazer para o ambiente escolar essas experiências, esses saberes que são construídos no
cotidiano e que são indispensáveis para a construção do saber (BARBOSA, et al, 2019).
Essa discussão acerca do multiletramento tem provocado mudanças nos modos de atuar
de diversos profissionais da educação, visto que muito se tem falado sobre a necessidade de a
escola explorar as práticas de linguagem contemporânea. Na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), essas práticas de linguagem aparecem associadas às práticas da cultura digital e aos
novos multiletramentos. Quando mencionamos multiletramentos, estamos falando da
necessidade de trabalhar com duas multiplicidades: de linguagens e mídias, e de referências
culturais, ou seja, com a diversidade cultural.
Em relação aos novos gêneros e das distintas e complexas formas de organização da
atividade humana, resgatamos a reflexão de Barbosa (2001), de que:

O desenvolvimento e a transformação dos gêneros, bem como o surgimento de novos


gêneros – como não poderia deixar de ser, dada a relação intrínseca entre ambos – é
dado pelo desenvolvimento e complexificação das esferas de atividade humana, por
novas motivações sociais decorrentes dessa complexificação e pelo embate entre
forças centrípetas e centrífugas. […] O surgimento de novas mídias também pode
originar novos gêneros (por exemplo, entrevista radiofônica, e-mail etc.) (BARBOSA,
2001, p. 36).

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Para contemplar multiplicidade de linguagens podemos incluir gêneros que apresenta
uma variedade semiótica ou uma hibridação de linguagens. História em quadrinhos, por
exemplo, que envolvem a linguagem verbal e o desenho; fotorreportagem, que expressa o
conteúdo por meio de texto escrito e foto; vlogs de diferentes tipos; animês, que trabalham
animação em desenho, foto e elementos gráficos; e outros gêneros. As História em quadrinhos
(HQs) misturam linguagem visual, possibilitando um trabalho com essas diferentes semioses,
mas para que os multiletramentos possam ser amplamente considerados, não basta contemplar
somente a multiplicidade semiótica.
Nesta concepção, é preciso considerar também a diversidade cultural, no caso dos
quadrinhos, isso significaria trabalhar com HQs a partir de diferentes referências culturais, e
não apenas com a referência dada pela cultura de massas ou com as adaptações de clássicos da
literatura. É preciso que os alunos possam explorar outras referências de quadrinhos: mangás,
romances gráficos, produções alternativas, quadrinhos produzidos pelas culturas juvenis e
assim por diante. E os novos letramentos, outra referência da BNCC, o que seriam? Falar em
novos letramentos pressupõe a necessidade de trabalhar com as novas maneiras de se produzir
e distribuir significados (KAWAMOTO; CAMPOS, 2014).
O foco, então, está em dois tipos de novidades: novo Ethos, isso é, uma nova
mentalidade, e os novos meios ou técnicas de se produzir e distribuir significados a partir dessas
novas mentalidades. Até pouco tempo atrás, por exemplo, o valor de determinado objeto era
definido em função da sua raridade, ou seja, o quadro de um pintor tinha um valor enorme,
porque ele era único e original. A nossa mentalidade considera que o valor é definido pela
dispersão, isso é, quanto mais um produto puder ser reproduzido, distribuído, conhecido e usado
em diversas esferas, mais valor ele terá.
Outra característica da nova mentalidade é o foco crescente em coletivos como unidade
de produção, competência e inteligência. Ao mesmo tempo, emergem relações sociais do
espaço da mídia digital, e os textos estão em constante mudança para abranger todas essas
inovações. Uma forma de trabalhar os quadrinhos em sala seria sugerir a leitura e produção
colaborativa de uma revista eletrônica, um “e-zine”, com quadrinhos multimodais. Há várias
outras possibilidades para contemplar os novos instrumentos e multiletramentos a partir de
produções e gêneros sugeridos pela BNCC (MARCUSCHI, 2004).
No ambiente educacional se faz necessário novos mecanismos que possibilitem o
processo de ensino e aprendizagem de forma significativa. Assim, os multiletramentos
contribuem para os processos de aquisição do conhecimento de forma que discente vivencie na

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escola experiências que eles já vivenciam fora da escola, ou seja, que a realidade desse
indivíduo seja considerada e que ele possa aprender por meio de mecanismos já presentes em
seu cotidiano. Salientando que o aluno é coautor do processo de construção do saber, que devem
ser contemplados de acordo com seu contexto e suas experiências.
Em relação a esse contexto Freitas, Santos e Mercado (2019):

É em situações como essa, seja qual for o cenário em que se concretiza a


aprendizagem, que os professores devem imbuir-se de um esforço coletivo para
buscar mecanismos para aproximar plenamente o estudante da aula. [...] o professor
tem a chance de (re) pensar o processo didático, considerando os objetivos, a
metodologia e a especificidade da turma (FREITAS; SANTOS; MERCADO, 2019,
p. 17707).

A partir dessa concepção se faz necessário destacar que o desempenho do professorado


é essencial para que os alunos possam descobrir novas formas de aprender, toda escola é
heterógena e o educador precisa entender que essa diversidade é desafiadora, ao mesmo tempo
em que é prazerosa, pois o profissional será instigado cada dia mais a buscar mecanismos que
estes alunos precisam para ampliar seus conhecimentos e serem desafiados diariamente a querer
aprender. Neste sentido, conhecer o ambiente no qual está inserido é fundamental para poder
oportunizar processos de ensino e aprendizagem que possa ir de encontro com os aprendentes.
Nesse contexto Freire (1996) explicita que:

O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do
movimento de pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”.
Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de
seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas (FREIRE,
1996, p. 96).

Dessarte, em meio a essa conjuntura, se faz necessário ressaltar que só é um bom


ensinante que for um bom aprendente, quem não conseguir ser um bom aprendente não será um
bom ensinante. Essa concepção antes mencionada leva a outra não menos importante que é a
necessidade de ter humildade pedagógica, isto é, a capacidade de saber que não se sabe tudo o
tempo todo e de todos os modos. Por isso, é preciso juntar as competências e assim será possível
conseguir aquilo que é necessário, que é ir em direção ao futuro. Neste sentido, o professor
precisa cada vez mais procurar inovar em suas práticas pedagógicas, com metodologias que
tenha significado para os alunos.
Nesse cenário, é fundamental que se construa um professor/mediador que “orienta
potencialmente os processos educativos, estimulando e acompanhando os percursos de
aprendizagem e intervindo pedagogicamente no sentido de promover avanços significativos”
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(FREITAS; SANTOS; MERCADO, 2019, p. 17701). Sendo assim, é importante
compreendermos a necessidade de não estagnar e/ou interromper um processo de vitalidade, ou
seja, a capacidade de aprendizado contínuo.
Portanto, todos os sujeitos histórico-sociais devem continuar em direção do
desenvolvimento, da ampliação dos conhecimentos, da busca incessante por melhores
condições de ensino, de um professorado humilde dotado de experiências que possam
corroborar para um ensino de qualidade e alunos críticos-reflexivos, emancipados e libertários.
Neste sentido, podemos também dizer que as novas ferramentas dispostas na sociedade têm
essa potencialidade de facilitar o trabalho do professor em relação ao alunado e ao seu
aprendizado.
Em consonância com este exposto, para Jonassen (2008):

Tanto a multimídia quanto a hipermídia têm sido usadas primeiramente como veículos
de transmissão de informação ou instrução. Isto é, são projetadas para instruir os
estudantes. Entretanto, quando a multimídia e a hipermídia são usadas como uma
plataforma autorizada para os estudantes representarem seus próprios significados, os
alunos têm a propriedade de suas próprias produções e idéias. Este uso construtivista
da tecnologia, para a construção de artefatos e significado, natural e necessariamente
põe os alunos em tipos de construção de conhecimento complexos, mas pessoalmente
significativos (JONASSEN, 2008, p. 78).

Diante disso, o multiletramento refere-se às diversas linguagens de tecnologia que está


no mundo contemporâneo. O multiletramento adentrando as escolas é de grande importância
por que são justamente as mídias que estão no contexto do aluno, este ser pensante tem acesso
à diversidade de aparelhos que estão postos socialmente e isso tem provocado cada vez mais o
professor a redesenhar o universo escolar com práticas pedagógicas concernentes a realidade
dos educandos, conteúdos que tragam sentido e significados para o mesmo e o estimulo a
reflexão e busca pelo novo.
De acordo com Ortunes e Sousa (2018):

Desta forma, não basta somente ao professor ser competente em seu conteúdo de
ensino, assim como dominar determinada área de conhecimento, mas sim em
aprimorar-se nas novas formas de comunicação e tecnologia que podem atuar no
processo de abordagem de seus conteúdos. Além disso, essa necessidade não se limita
em comunicar um conteúdo aos seus alunos, mas também que saiba interagir de forma
mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de forma
autêntica de viver, de sentir e de aprender (ORTUNES; SOUSA, 2018, p. 30).

O uso dessas novas tecnologias nos estabelecimentos de ensino tem como ponto central
fazer com que o cidadão saiba o que está utilizando, tendo um direcionamento de forma positiva
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para sua vida e que vem auxiliá-lo numa direção que seja de forma benéfica, que este indivíduo
saiba o que quer e como quer com o uso dessas ferramentas, isso precisa estar claro para o
sujeito. Os alunos até sabem usar os aparelhos tecnológicos, mas será que estão usando de forma
correta? Visto que o uso desses aparelhos pelos alunos é em sua maioria para o entretenimento,
por isso a compreensão do professor sobre de que forma abordar o aluno é importante.
O educador antes de tudo deve entender as ferramentas para poder conduzir os alunos a
uma posição de tomada de reflexão, não é simplesmente apontar que os alunos estão errados
em usar as tecnologias, mas apresentar mecanismos para que o estudante entenda a importância
do pensar, da curiosidade, do questionamento, assim como a tecnologia auxilia na busca por
novas concepções e descoberta caso seu uso seja irresponsável pode disseminar informações
inverídicas e desconexas da realidade, por isso que se fazem necessários a compreensão e
análise crítica sobre tal recurso (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007).
Na escola a ferramentas tecnologias precisam ter o foco pedagógico, o aluno precisa
aprender a problematizar, questionar para só assim poder esses recursos de forma responsável
da sua vida, de forma segura. É sabido que existe uma multiplicidade de recursos que os
professores podem utilizar dentro do contexto escolar, mas é preciso ter objetivo, ou seja, saber
o que se quer atingir com determinado recurso, como e de que forma se quer alcançar. Por esta
razão a consciência crítica do corpo docente e de todos os envolvidos no âmbito escolar é
importante, o professor não constrói o conhecimento sozinho, é preciso o auxílio de todos.
Corroborando com este pensamento Simões (2019) defende que:

Entendendo que o desenvolvimento humano ocorre na medida em que há apropriação


cultural dos meios adequados à relação com os objetos e conhecimentos
historicamente produzidos numa relação primeiramente interpsíquica, torna-se
importante problematizar o que (conteúdo da aprendizagem), como (metodologia) e
para quê (objetivo) da atividade educativa está sendo direcionada e qual o produto
gerado na qualidade desse processo (SIMÕES, 2019, p. 23).

A educação se faz nas relações, nas trocas, por meio das experiências e saberes
adquiridos. As novas tecnologias vieram mudar o cenário a sociedade e com isso a forma como
as pessoas se comunicam/interagem, o que possibilitou a reestruturação de muitos setores para
poder atender a esse novo mundo de constantes mudanças. A sociedade do atual século requer
indivíduos atuantes que conheçam suas potencialidades e competências buscando novos meios
de ampliar seus conhecimentos, por esta razão que os professores são cobrados a introduzir
novas ferramentas dentro do âmbito escolar, justamente por esses aspectos.

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Em virtude disso, se faz necessário trabalhar com textos multimodais ou
multissemióticos que tem imagem, imagem em movimento, áudio etc. Nesse caso a tendência
dos professores tem sido usar, por exemplo, o vídeo, um rap como uma ilustração, um momento
de descanso, distração ou rilex na aula, mas não como objeto de ensino de leitura e escrita, e
eles são, ou seja, tem que aprender a ler a imagem, a música, a ler o design assim como aprendo
a ler e, sobretudo produzir textos escritos. Então, essa é uma questão importante que vai se
tornar cada vez mais importante, porque hoje as crianças que estão chegando à escola já têm
acesso à boa parte dessas tecnologias móveis (MERIJE, 2012).
Um ponto importante que merece ser destacado em relação a essas multi maneiras de
produzir conhecimento é entendermos que os professores que atuam hoje em muitos
estabelecimentos de ensino não tiveram durante a sua formação o contato com tantas formas de
ensino, mas que se devem integrar esses profissionais no ecossistema de possiblidades para que
os mesmos sintam a diversidade de mecanismos inovadores que são indispensáveis no ensino
e aprendizagem. Através dessas novas possibilidades almeja-se uma educação que enxergue o
aluno em sua totalidade e não como simples educandos, mas como sujeitos sociais e históricos.
Segundo Staker e Horn (2015):

Os estudantes de hoje estão entrando em um mundo no qual necessitam de um sistema


de ensino centrado neles. A aprendizagem centrada no estudante é essencialmente a
combinação de duas ideias relacionadas: o ensino personalizado (que alguns chamam
de “ensino individualizado”) e a aprendizagem baseada nas competências (também
chamada de “aprendizagem baseada no domínio”) (STAKER, HORN, 2015, p. 8).

O aluno contemporâneo não é mais um mero ouvinte ele é o protagonista da sua própria
história. Neste sentido, implica dizer que a escola tem que oferecer condições para que estes
educandos possam sentir prazer pelo ato de estudar e querer aprender é importante destacar que
todos os envolvidos no contexto escolar são responsáveis por todo esse processo de
acolhimento, de auxílio para que os estudantes possam formular seus questionamentos e o
professor atua como um mediador de todo o professor. A posição de centralidade que antes
tinha o professor hoje já não é aceito, uma vez que a aprendizagem se faz com os alunos e não
apenas para eles.
Conforme acredita Almeida (2011):

A aprendizagem é um processo de construção do aluno – autor de sua aprendizagem


–, mas nesse processo o professor, além de criar ambientes que favoreçam a
participação, a comunicação, a interação e o confronto de ideias dos alunos, também
tem sua autoria. Cabe ao professor promover o desenvolvimento de atividades que
provoquem o envolvimento e a livre participação do aluno, assim como a interação
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que gera a coautoria e a articulação entre informações e conhecimentos [...]
(ALMEIDA, 2011, p. 74).

A escola, os profissionais da educação, os currículos escolares precisam ser


reorganizados para atender as novas perspectivas que estão surgindo no atual século. O aluno
quando adentra a escola não quer mais aquelas brincadeiras para passar o tempo na hora do
intervalo, hoje muitos querem estar conectados ao mundo digital e os professores e a escola
precisam pensar como fazer com que esse uso seja consciente, é preciso também fazer com que
os alunos entendam que o brincar é importante é que isso faz parte do seu processo de
desenvolvimento.
Outro pronto importante envolvendo a educação, segundo Santos e Lacerda (2019) é
com relação o auxílio da comunidade familiar no processo educativo, visto que a família tem
papel fundamental na constituição dos primeiros saberes dos alunos, é no seio familiar que
muitos conhecimentos começam a serem formados, mesmo que de forma desorganizada. Na
escola esses saberes trazidos pelos alunos vão completar com os conhecimentos construídos
com a mediação do professorado e isso precisa ser entendido e respeitado pelo educador, afinal
esses saberes fazem parte do seu repertório histórico-social.

Considerações Finais

A formação continuada parece ser cada vez mais importante em meio às transformações.
Dessa forma, é preciso formar educadores que aprendam a ministrar suas aulas e entender o
contexto da sala de aula. Tal formação precisa compreender as demandas existentes na
sociedade contemporânea e, principalmente os alunos, que cada vez mais tem se evadido dos
estabelecimentos de ensino por diversos fatores. Destarte, a partir da compreensão por parte do
docente sobre os saberes e experiências trazidos pelos discentes, o profissional integra aos
conteúdos que serão trabalhados em sala de aula.
Assim produzirá conhecimentos mais apropriados e próximos a realidade dos discentes,
que usarão em seu cotidiano, com mais sentido e significado para o mesmo. Para tanto, é preciso
educadores compromissados com os processos de ensino e, em constante busca por
aperfeiçoamento. Trata-se de um dever de todo educador progressista.
É importante levar-se em conta que, os saberes necessários ao ensinar não se restringem
ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. A habilidade do professor no manuseio de

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tecnologias sem levar em conta qual será a abordagem e a mídia utilizada, também pode gerar
um desagrado por parte dos alunos, devido a não correspondência das expectativas de uma aula.
Diante de todas as tecnologias da informação e conhecimento (TICs) disponíveis, a
internet tem uma grande influência no processo de ensino e aprendizagem. Sendo assim, é
possível a conciliação do processo de constituição do saber com as novas tecnologias,
ampliando o leque de possibilidades de aprender. E finalmente, os saberes que são construídos
no cotidiano são indispensáveis para a construção do saber dos indivíduos, pois são referências,
marcas e aspectos que constituem a identidade do aluno.

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Como citar este artigo (Formato ABNT):

FONTES, Francisca dos Santos; MIGUEL, Joelson Rodrigues. Concepções do Multiletramento na


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Recebido: 11/04/2020;
Aceito: 17/04/2020

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