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NOVEMBRO DE 2024

ANO SABÁTICO
Tudo o que você precisa saber para que
esses 365 dias não passem à toa
NÃO SEJA MANÉ CHEFE DE MIM MICROGERENCIAMENTO
Um guia definitivo Confira as dicas de Seu boss está no seu pé o
para não cair em Nathalia Arcuri para se tempo todo? Saiba como
golpes na internet. dar bem como autônomo. escapar desse tormento.
P. 15 P. 27 P. 36
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CARREIRA

ANO SABÁTICO
Tudo o que você precisa saber para que
esses 365 dias não passem à toa
POR SOFIA KERCHER

Não são megaférias. Nem coisa de


milionário. E sim um baita ritual de
autoconhecimento: quando bem organizado,
esse período pode trazer novas perspectivas
para a sua carreira (e a sua vida).

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CARREIRA

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anos de colheita, um ano de descanso.
Esse é o princípio por trás do Shemitá,
sétimo ano do ciclo de agricultura judeu.

Funciona assim: durante esse período,


a terra fica em repouso total. Plantar,
cultivar, colher… todas essas ativida-
des são proibidas por lei. Qualquer fru-
ta, vegetal ou erva que crescer por conta própria, sem
nenhuma vigilância, pode ser colhida por qualquer
pessoa. Todas as dívidas do povo judeu que existam
no período são perdoadas.

As escrituras prometem colheitas abundantes em


retorno desse descanso – que é positivo não somen-
te à natureza, mas também aos agricultores. Não à
toa, a tradução literal de Shemitá, do hebraico para o
português, é “libertação.” Libertação da terra, liber-
tação de quem a cultiva. Naquele ano, tudo é possível
para ambos.

DE LÁ PRA CÁ
O Shemitá é conhecido por outro nome, um que você
deve ter ouvido centenas de vezes: Sabático. Na de-
finição atual do dicionário, significa “uma interrup-
ção temporária de determinada função ou atividade
regular”. Em suma, 12 meses fazendo qualquer outra
coisa que não seu trampo atual. Um ano, literalmente,
com cara de sábado.

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CARREIRA

A prática não ficou limitada à agricultura. No sécu-


lo 19, a Universidade de Harvard implementou essa
prática aos seus professores, difundindo-a no meio
acadêmico. Mesmo esquema: a cada seis anos de aula
dada, o docente ganha um ano de folga. Inúmeras uni-
versidades operam dessa forma hoje.

Do campo ao campus e ao corporativo: os trabalhado-


res de escritórios mundo afora absorveram a prática
para si. Mas não exatamente seguindo um cronogra-
ma 6x1, nem os 12 meses exatos. Nesse universo, o
termo é usado para definir uma pausa na rota origi-
nária da sua carreira. Quanto tempo essa pausa dura
e quando ela acontece, fica a gosto do freguês.

Segundo a plataforma de soluções de RH Gusto, a por-


centagem de pessoas que tiraram um sabático au-
mentou de 3,3% em janeiro de 2019 para 6,7% em ja-
neiro de 2024.

Note: não é a maior das porcentagens. Mas dobrou


nessa janela de tempo. Cortesia de um vírus que apa-
receu pelo caminho – que virou do avesso nossa pers-
pectiva acerca do espaço que o trabalho ocupa nas
nossas vidas. E, naturalmente, dos crescentes índi-

6,7%
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é a porcentagem de
pessoas que tiraram
um sabático em
janeiro de 2024

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CARREIRA

ces de estresse e exaustão relacionados às atividades


profissionais. Só no Brasil, estima-se que 30% dos
trabalhadores sofram da síndrome do burnout (des-
trinchada na capa da Você S/A de março de 2022, que
você pode ler aqui).

Com a alternativa ganhando força, mas ainda ope-


rando no espectro do tabu corporativo (falaremos dis-
so mais para frente), fica difícil saber quando levar a
possibilidade a sério. Nosso primeiro tópico.

QUE MODELO SERVE PARA VOCÊ?


Em sua pesquisa sobre o poder transformador dos
sabáticos, publicada no finalzinho de 2022, os estu-
diosos Kira Schabram, Matt Bloom and DJ DiDonna
– da Universidade de Washington, Universidade de
Notre Dame e de Harvard, respectivamente – entre-
vistaram 50 sabatiqueiros, e encontraram três tipos
de pausa. São elas: Work Holidays (férias com traba-
lho), Free Dives (mergulhos livres) e Quests (buscas).

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CARREIRA

O primeiro grupo tirou um tempo do trabalho para


focar em projetos paralelos. Vulgo: startups e orga-
nizações sem fins lucrativos. Nesse tempo, eles al-
ternam entre períodos superintensos de trabalho e
pausas dedicadas ao descanso e à reconstrução de re-
lacionamentos. A maior parte deles retornou ao anti-
go trampo – com senso de independência e confiança
renovados, segundo os pesquisadores.

O segundo grupo tinha a pulguinha do mochilão atrás


da orelha. Esse pessoal teve mais emoção do que ra-
zão. Leia-se: profissionais que largaram o emprego
na sexta-feira e embarcaram na segunda para o outro
lado do globo. Como as viagens eram mais intensas
que o esperado, os sabatiqueiros revezavam as aven-
turas com momentos de descanso total.

Todos relataram uma perspectiva completamente


nova acerca do trabalho: apesar da maioria ter retor-
nado à profissão pré-sabática, eles retornaram para
posições, projetos ou setores diferentes. Cortesia de
uma reflexão acerca do vício em sucesso e da preocu-
pação com imagem profissional, esquecida em algum
bagageiro leste asiático afora.

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CARREIRA

Por fim, o terceiro grupo: aqueles que saíram do tra-


balho por exaustão. O sabático se tornou menos uma
escolha, e mais o recurso final: trilhar o caminho pro-
fissional que estavam, naquela intensidade, tornou-
-se insustentável.

O começo é voltado a descansar. Depois, alguns se


aventuraram a viajar, adentrar novos projetos, repen-
sar suas carreiras. Isso raramente os levava a retornar
ao trabalho que antes exerciam.

Viajar pelo mundo é para todo mundo? De forma al-


guma. Abrir uma startup? Muito menos. Mas o sabá-
tico não precisa estar injetado de produtividade, trens
à Tailândia e ambições à la Shark Tank para valer a
pena. Acima de tudo, ele traz uma oportunidade de
recalcular a rota, especialmente para quem sente que
há uma parte que falta no trabalho. Também é uma
forma de descanso duradouro e necessário a funcio-
nários que, infelizmente, chegaram no limite.

Viajar pelo mundo é para todo


mundo? De forma alguma. Abrir
uma startup? Muito menos. Mas
o sabático não precisa estar
injetado de produtividade, trens
à Tailândia e ambições à la
Shark Tank para valer a pena.

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CARREIRA

Respondendo, então, à principal questão: sim, qual-


quer um pode tirá-lo. O sol – e a sombra – são para
todos. O que muda é o melhor momento e a melhor
forma que ele pode ser tirado. Para ambos, não há
receita de bolo.

Apesar disso, existe um conjunto de boas práticas,


financeiras e psicológicas, que pode te ajudar a pla-
nejar o seu, à sua maneira. Vamos a elas.

QUANTO CUSTA
O primeiro passo – e o mais importante antes, du-
rante e depois do seu sabático – é grana. Coloque na
sua cabeça: não existe sabático bom sem organização
financeira. A partir do momento em que você decide
tirá-lo e define uma data para que aconteça, as plani-
lhas se tornarão suas melhores amigas. Acostume-se
com isso.

Para Eduardo Freitas, CFO da Contabilizei, as pri-


meiras despesas a serem consideradas são as fixas.
“Aluguel, parcelas, empréstimos, dívidas…tudo isso
precisa ser levado em consideração. São boletos que
continuarão chegando, independentemente de você
estar em sabático ou não”, afirma.

Levando isso em conta, está na hora de adicionar os


gastos extras que vão acontecer durante seu sabáti-
co. Pretende viajar? Está na hora de pesquisar preços
de passagens, hospedagem, alimentação e passeios.

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CARREIRA

Quer fazer um curso, aprender uma nova língua, co-


meçar a empreender? Defina esses valores e adicione
na conta final.

Por fim, os últimos gastos são aqueles que, atual-


mente, a empresa assume por você. Plano de saú-
de, plano odontológico, seguro de vida, vale-refeição
e alimentação… especialmente se há dependentes
dentro dessa conta, será necessário estimar quais
serviços essenciais precisarão sair do seu bolso ao
longo do sabático.

Depois de contabilizado aquilo que não pode ser re-


movido, está na hora de remover o que pode ser cor-
tado. Isso vale para os serviços de streaming, aulas
semanais de pilates, cinema de fim de semana… cor-

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CARREIRA

tes esses que, provavelmente, se estenderão para seu


período off. Aqui, vale a mentalidade no pain, no gain.
São sacrifícios que valerão a pena ao final da jornada.

Some o que pode ser economizado com o que você já


tem de reserva financeira e… bingo: aí está o valor
que você precisa guardar. Isso te dá uma estimativa
de quanto tempo precisará para conseguir a grana –
e quanto tempo terá para planejar as atividades do
seu sabático.

Eduardo monta uma conta hipotética: digamos que


você ganha R$ 5 mil todo mês, e já tenha R$ 10 mil
guardados. Considerando que você deve gastar me-
tade do que ganha atualmente por mês, para seis
meses OOO (out of office), será necessário economi-
zar, no mínimo, R$ 15 mil. Faltam R$ 5 mil nesse
caso, portanto.

Economizando R$ 500 por mês, o período sabático


poderia rolar em menos de um aninho. Não há segre-
do, herança ou mega-sena: é a boa e velha matemá-
tica. “Será necessário ter uma disciplina financeira
enorme – metas diárias de gasto. Mas você precisa
entender esse momento como um projeto. De reen-
contro, reconexão, até de detox… isso faz com que va-
lha a pena”, adiciona.

LI E GUI POR AÍ
É isso que fez Livia Marcka (38) e Guilherme Balen-
sifer (38). Durante dois anos – 2015 a 2017 – o casal

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CARREIRA

economizou para 20 meses de mochilão. “As decisões


dos anos seguintes foram pautadas nesse sonho de
conhecer o mundo”, afirma Guilherme.

O casal explica que o respeito aos budgets e escolhas


econômicas permitiram com que eles vivessem com
cerca de R$ 3 mil cada, por mês, ao longo desses 20
meses. Guilherme é craque nos infográficos – e con-
tabilizou que, durante o primeiro ano de viagens, a
maior parte da grana foi gasta em hotéis e transpor-
te (24% para cada, totalizando 48%), seguido de ali-
mentação (19%) e lazer (14%). Os outros 19% foram
destinados a compras, vistos e mercado (como pro-
dutos de higiene pessoal, remédios e afins).

A história de Livia e Guilherme também serve para


tranquilizar quem está nervoso com outro momento
do sabático: a volta dele. Falaremos dela a seguir.

Durante o primeiro ano


de viagens, o casal Livia
e Guilherme gastou
48% da grana em hotéis
e transporte, 19% em
alimentação e 14% em lazer.

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CARREIRA

ESCRITÓRIO: O RETORNO
Em suas pesquisas, o professor de Harvard DJ Di-
Donna – também responsável pelo The Sabbatical
Project, site que oferece dicas, relatos e até um quiz
para ajudar você a tomar essa decisão – calculou que
é preciso seis semanas, no mínimo, para desestressar
de uma rotina de trabalho.

Para reconectar, contudo, talvez seja necessário um


pouquinho mais de tempo. Eduardo, da Contabilizei,
defende que está na hora de começar a mexer seu es-
queleto corporativo ao menos dois meses antes do fim
do seu ano sabático. Isso dá cerca de 16% do tem-
po. Aplique a regra de três à sua realidade temporal e
marque na sua agenda quando voltar ao LinkedIn.

Se você pretende retornar à sua área de trabalho –


ou, em caso de licença sabática, à sua empresa –, é
importante retomar o contato com antigos colegas de
trabalho, mentores, funcionários de sua equipe. Lem-
bre-se: as coisas não estarão do mesmo jeito que es-
tavam quando você as deixou, nem você será o mes-
mo. É importante realinhar essas expectativas antes
do retorno do jedi.

Se pretende fazer uma mudança, está na hora de traçar


um plano profissional para que isso aconteça. Aqui,
além desta reportagem, vale a leitura do dossiê da
Você S/A sobre transição de carreira – que você pode
ler aqui.

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CARREIRA

Livia voltou ao mesmo time, na mesma empresa.


Decisão tomada dois meses antes de ele retornar do
mochilão – sua antiga chefe entrou em contato e ela,
já empolgada para voltar à rotina de escritório, topou
imediatamente. Guilherme, que antes trabalhava na
área de inteligência de dados, resolveu seguir para
a consultoria – e arranjou um emprego dois meses
após ter retornado do sabático. Com o caixa ainda
positivo, reiteram.

VOCÊ (E SUA CARREIRA)


VÃO FICAR BEM
Parece chover no molhado quando escrevemos que
descanso é importante. Mas, se esse fato já tivesse
sido martelado o suficiente na cabecinha corporativa,
os anos sabáticos talvez teriam uma reputação muito
melhor do que têm hoje.

Primeiro, é importante deixar claro: um ano sabático


não é uma pausa na sua carreira. Não existe sua car-
reira sem você – se você está se desenvolvendo, cres-
cendo, evoluindo, sua carreira também está. Pode vir
de um curso, uma viagem, de um mês que você tirou
para passar com a sua avó… em tudo há potencial de
aprendizado. Beba dessa fonte sem culpa.

Isso serve para desmistificar outra retórica cruel, de


que é preguiçoso quem dá esse tempo para si. Como
calculou DiDonna: se você tira seis meses de sabáti-
co a cada dez anos, isso corresponde a meros 5% da

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CARREIRA

sua vida de trabalho. Coisa que Livia e Guilherme se-


guiram à risca: no dia do nosso papo, ambos tinham
pedido as contas novamente, e estavam no México
rumo ao segundo sabático de suas vidas. “Com abso-
lutamente nenhum arrependimento”, defende Livia.

Acima de tudo, é importante lembrar que o sentido do


nosso trabalho – e da nossa vida – é a gente que cria.
Somos senhores e senhoras de nosso próprio desti-
no. Se está na hora de repensá-lo, ignore o ruído e vá
fundo. O mundo vai te esperar.

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ECONOMIA

não, você não é


imune a golpes
um guia definitivo de como
se proteger na internet
POR LUANA FRANZÃO

Está achando que é mais esperto que o golpista? Não


se esqueça de que ele é um profissional especializado
em te sabotar. Entenda como se blindar de possíveis
armadilhas no mundo digital – ou ao menos tentar.

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ECONOMIA

I
Imagine a seguinte cena: em um sábado ensolarado
de manhã, perto do Natal, você decide descer a La-
deira Porto Geral – ponto mais cheio da Rua 25 de
Março, polo de comércio popular de São Paulo, com a
sua carteira dando sopa no bolso de trás da calça. Ao
chegar ao final da empreitada, acha que ainda estaria
com todos os cartões no lugar?

É fácil apostar que você nunca seria inocente o bastan-


te para fazê-lo. Mas talvez você esteja tão vulnerável
quanto passeando despreocupado por vias virtuais.

Segundo Adriano Volpini, diretor de Segurança Cor-


porativa do Itaú, a população brasileira ainda é pouco
informada sobre segurança no ambiente digital.

A questão é que não dá mais para navegar despreo-


cupado. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública, publicado em julho deste ano, os crimes de
rua caem no Brasil, enquanto os estelionatos crescem
– muito ajudados pela tecnologia. Um golpe é regis-
trado a cada 16 segundos, mostrou o levantamento.
Uma pesquisa do Datafolha, divulgada em agosto,

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ECONOMIA

apontou que os prejuízos causados por golpes ban-


cários nos 12 meses anteriores ao levantamento che-
garam a R$ 186 bilhões.

A mesma investigação revelou que 25% da população


brasileira já sofreu tentativas de golpes – e percebeu.
Aliás, essa é outra parte do problema: a maioria das
pessoas não se toca de que já sofreu uma tentativa ou
um golpe de fato.

FACILITANDO O TRABALHO
DO GOLPISTA
O especialista do Itaú destaca que grande parte das ví-
timas não se entende como vítima. Não absorve men-
sagens de segurança, pensa que nunca vai acontecer
nada do gênero. Talvez, inclusive, você mesmo esteja
lendo essa matéria e pensando que nada disso lhe cabe.

Sentimos informar que esse não é o caso. Adriano des-


taca que não existe perfil de vítima – pessoa mais es-
perta ou mais lenta –, e sim comportamento de risco.
“Todo mundo tem um golpe potencial para chamar
de seu”, disse.

Grandes vazamentos de dados nos últimos anos tor-


naram mais fácil a vida de quem quer te trapacear
na internet. Informações como dados do CPF (nome,
data de nascimento, endereço), fotos de rosto, score
de crédito, renda, Imposto de Renda, escolaridade,
benefícios do INSS… podem estar circulando por aí.

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ECONOMIA

Crimes de rua caem


no Brasil, enquanto
estelionatos crescem.

A vida corrida, além de te tirar a oportunidade de dor-


mir bem e ter hobbies, mina a sua segurança. A falta
de tempo faz com que as pessoas não deem aquele
passo a mais que poderia protegê-las de muitas dores
de cabeça. Alguns exemplos desse comportamento
arriscado são: usar a mesma senha para tudo, clicar
em links sem cautela e atender a solicitações sem o
devido senso crítico, pela correria do momento.
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AUTODESENVOLVIMENTO

OS MALANDROS CONHECEM
BEM O PRÓPRIO OFÍCIO
Se você acha que o golpista está fazendo tudo no im-
proviso, novamente achou errado. Na verdade, talvez
ele saiba usar o seu aplicativo de banco melhor do
que você.

O especialista em segurança digital aponta que os es-


telionatários estudam processos de bancos e lojas, e,
muitas vezes, manjam da tecnologia. Além de serem
criativos na hora de inventar moda.

A Febraban aponta que 70% das fraudes e golpes ban-


cários não decorrem de falhas na tecnologia, e sim de
engenharia social – nome formal para a capacidade
de te tapear. É a manipulação psicológica com o obje-
tivo de fazer com que você atenda a uma solicitação.
© Freepik

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ECONOMIA

Vamos a um exemplo: quando você compra algo em


um site falso, e “comprando” um produto em uma
loja que não existe, o site não roubou seu dinheiro
sozinho. Você decidiu fazer o pix para o lugar errado.
Faz sentido?

Isso tudo não é para dizer, claro, que é culpa sua ter
caído em um golpe. E sim alertar para a engenhosi-
dade de quem quer te enganar.

O objetivo do golpista é te tirar da zona de conforto:


uma vez fora do seu lugar comum, não pensará em
gatilhos de segurança que normalmente te viriam à
cabeça. Afinal, o golpe nunca vem sem um charme: é
sempre alguém muito simpático precisando de ajuda
ou um descontão naquele produto dos sonhos, entre
outras armadilhas.

Em geral, esses golpes seguem uma linha do tempo,


que você deve prestar atenção.

1. Captura dos dados


Por meio de vazamentos, informações disponíveis nas
redes sociais e outros mecanismos, o golpista saberá
mais sobre você. Adriano Volpini alerta: quanto mais
personalizadas as informações que o perpetrador ti-
ver, mais simples ficará a manipulação. Afinal, é mais
difícil desconfiar quando alguém parece ter todos os
seus dados.

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ECONOMIA

Por isso é tão importante proteger suas informações


pessoais adequadamente. Sem elas, é mais penoso
conseguir te enganar.

2. Contato
Esse é o momento em que você recebe aquela ligação
estranha do banco, aquela mensagem no WhatsApp
te pedindo para salvar o novo número de alguém, vê
uma promoção raríssima de produtos de alto valor.
Aqui, a missão mais importante do golpista é te pas-
sar credibilidade.

3. Exploração
A manipulação psicológica acontece, em geral, por
meio desses quatro mecanismos:
Medo: “seu nome está negativado”, “sua conta foi
bloqueada”, etc.;
Ganância: descontos e ganhos fáceis;
Solidariedade: pedidos de ajuda;
Curiosidade: “veja as fotos”, “faça o teste”.

Um prazo curto também pode pressionar ainda mais


a vítima a ceder às pressões.

4. Finalização
Nesta hora, provavelmente algo será solicitado à víti-
ma: um pix, uma transferência, um número de cartão
de crédito. Essa é a sua melhor oportunidade de fugir
da situação antes de tomar prejuízo.

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ECONOMIA

MAPA DAS FRAUDES ATUAIS


O Itaú mapeou alguns dos golpes mais comuns por
aí, para que você fique atento:

• Golpe da falsa central: alguém te liga para infor-


mar sobre alguma compra ou informação bancária.
Costuma pedir informações de cartões de crédito e
débito para realizar compras não autorizadas;
• Golpe do falso motoboy: usa máquinas falsas para
roubar dados do cartão e fazer compras não auto-
rizadas;
• Golpe no WhatsApp: pede transferências usando
nome e foto de outra pessoa;
• Phishing: golpe do link falso;
• Golpe do aniversário: alguém tenta te entregar
um presente supostamente enviado em seu aniver-
sário, do qual você precisaria pagar apenas o frete.
Nesse pagamento, usando máquinas adulteradas,
fazem transações maiores;
• Golpe da troca de cartão: enquanto a vítima não
presta atenção, troca seu cartão por um outro e faz
compras por ela;
• Falso boleto: quando pago, o dinheiro é enviado
para outra pessoa;
• Roubo de celular: seus aplicativos estão todos lá.
Se o golpista tiver acesso a eles, ferrou.

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ECONOMIA

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MELHOR QUE REMEDIAR
Agora que temos uma noção melhor dos perigos lá fora,
concordamos que é melhor prevenir do que remediar.

O principal é se manter atento. Parece óbvio, mas, se


fosse, esta reportagem não teria razão de ser. É funda-
mental saber como as coisas acontecem normalmen-
te: como é um pix normal, uma transferência normal,
uma ligação normal ao banco. Dessa forma, quando
algo estranho acontecer, o desconfiômetro apitará.

Os especialistas do Itaú aconselham que você assuma


que seus dados sensíveis já estão expostos, e descon-
fiar que um golpista também pode saber de informa-
ções pessoais que você considerava secretas. Portan-

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ECONOMIA

Assuma que seus


dados sensíveis já
estão expostos.

to, sem dar confiança para estranhos, ainda que eles


aparentemente saibam muito sobre você.
Durante um golpe, uma solicitação sempre é feita:
seja um pix, uma transferência, um número de car-
tão, um código de segurança. Não atenda nenhuma
solicitação imediatamente.

O desconfiômetro apitou? Tente verificar em canais


confiáveis se a solicitação feita por alguém é verda-
deira. Se ligaram dizendo que há uma fraude em sua
conta bancária, desligue a chamada e faça uma liga-
ção para o canal oficial do banco. Eles saberão infor-
mar se o aviso é verdadeiro ou falso. Via de regra, o
banco não te liga – portanto, suspeite sempre desse
tipo de chamada.

O mesmo vale para mensagens esquisitas no Whats-


App ou promoções maravilhosas.

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ECONOMIA

PROTEJA SUAS SENHAS


O banco aconselha que senhas diferentes sejam cria-
das para acessos que requeiram dados financeiros:
bancos, e-commerces, assinaturas, etc. Ah, e na hora
de criar as senhas, vamos evitar dados óbvios. Você
sabe quais: datas de aniversários, números sequen-
ciais, anos importantes, por aí vai.

As plataformas, como redes sociais e e-mails, ofere-


cem a autenticação em dois fatores: ative-a. Procu-
re a função nos aplicativos e a mantenha acionada.
Usar aplicativos que funcionam como cofres de se-
nhas também é prudente.

PROTEJA SEU CELULAR


O aplicativo Celular Seguro BR já está disponível para
download para diferentes sistemas operacionais nos
celulares. A partir dele, é possível bloquear seu nú-
mero e dados pessoais no caso de roubo de celular.
Deixe os limites para transferências em patamares
baixos e configure o recurso de localização remota
do celular.

Muito importante: anote o código do IMEI do seu apa-


relho. Não no seu bloco de notas do celular, evidente-
mente, porque ele irá embora junto com o seu iPho-
ne querido em caso de roubo. Pegue um lápis e um
caderno, e anote. Esse número será essencial para o
bloqueio do aparelho perdido.

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ECONOMIA

É possível verificar o IMEI do celular discando *#06#


no telefone.

A senha do seu bloqueio de tela também precisa ser


diferente de todas as outras, e não salve senhas de
sites em navegadores.

Para se lembrar de todos esses códigos diferentes,


faça como os astecas: anote com papel e caneta em
um lugar muito bem guardado, dentro da sua casa.
Bom mesmo seria ser mais esperto que todo mundo.
Ou que ninguém tentasse dar golpes nos outros. Mas,
por agora, o que resta é ficar atento – e não se achar
a última bolacha do pacote.

© Freepik

VC S/A | NOVEMBRO DE 2024 26


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FINANÇAS PESSOAIS
© Divulgação / Instagram

ESTABILIDADE SEM
CARTEIRA ASSINADA
É POSSÍVEL?
Novo livro de Nathalia Arcuri
quer provar que sim
Em “Chefe de Mim”, a educadora financeira
traz um método para auxiliar autônomos a
ter maior previsibilidade e retorno de grana.
Confira o papo completo com a Você S/A.

POR SOFIA KERCHER

VC S/A | NOVEMBRO DE 2024 27


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FINANÇAS PESSOAIS

S
e você pedir para um profissional autônomo fa-
zer uma lista de prós e contras do trabalho sem
vínculo empregatício, há uma frasezinha que
provavelmente aparecerá na primeira linha da
primeira coluna: “ser meu próprio chefe”. Afinal, to-
mar as próprias decisões, ter independência para de-
cidir o que é melhor para a sua carreira e não dever
satisfação a ninguém só pode ser um benefício. Certo?

Não é exatamente por aí. Seja por escolha ou por ne-


cessidade, ser chefe de si está longe de ser a mais fácil
das incubências – especialmente quando falamos de
grana. Ser o próprio financeiro e estar sujeito às im-
previsibilidades da demanda, incertezas de retorno,
dificuldades na precificação… tudo beira o clássico fil-
me de Laís Bodanzky, de 2001: Bicho de Sete Cabeças.

Na missão de domesticar a fera, nasce o livro Chefe


de Mim: Liberdade Financeira Sem Carteira Assinada, de
Nathalia Arcuri. Nathalia é fundadora da Me Poupe!,
uma das principais plataformas de entretenimento
financeiro do país, e autora de livro homônimo, que
teve mais de 700 mil exemplares vendidos.

Agora, a missão da educadora financeira é trazer


técnicas, reflexões e exemplos de casos de sucesso
para conquistar mais estabilidade, previsibilidade
e liberdade financeira para dentistas, diaristas, ar-
quitetos, engenheiros… autônomos de todo o Brasil
(que correspondem a quase 30% da nossa força de
trabalho, diga-se). Tudo isso dito por alguém que,

VC S/A | NOVEMBRO DE 2024 28


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FINANÇAS PESSOAIS

há quase dez anos, largou tudo para embarcar nes-


sa jornada.

“Esse livro não serve apenas para ensinar a contro-


lar gastos, mas também mostrar que o autônomo é,
sim, a própria empresa e o próprio funcionário. Que-
ro embutir a mentalidade de empresa no leitor, para
podermos destravar sua vida financeira”, explica a
autora. No bate-papo com a Você S/A, ela compartilha
um pouco da sua inspiração para escrever o guia, o
diferencial para sua última obra, e, claro, o que vem
pela frente. Confira.

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FINANÇAS PESSOAIS

QUAL FOI O CATALISADOR PARA VOCÊ ESCREVER


ESSE LIVRO? O QUE TE FEZ PERCEBER QUE
ELE PRECISAVA ESTAR NO MUNDO?
NATHALIA ARCURI: Meu pai foi autônomo prati-
camente a vida inteira. E eu percebi, ali, essa di-
ficuldade de saber como vai ser o amanhã, como
cobrar pelos produtos, como fazer um orçamento…
Percebo essa dificuldade nos meus alunos e segui-
dores também. Pessoas que estão nessa vida e são
levadas a acreditar que não conseguem ter gestão
financeira. Mas dá, sim – o livro é feito justamente
para isso.

Diaristas, dentistas, engenheiros, arquitetos… essas


pessoas são o próprio produto. Motoristas de aplicati-
vo também, entregadores. Um lugar em que o Sebrae
não alcança e o planejamento financeiro para pessoa
física também não. O livro é pensado justamente para
esse público.

E não é feito apenas para ensinar e controlar gas-


tos. É também para mostrar como dividir a pessoa
física da pessoa jurídica, e mostrar que o autônomo
é a própria empresa e também o próprio funcioná-
rio. Quero embutir essa mentalidade de empresa na
cabeça dele.

VOCÊ TEM OUTRO LIVRO, O ME POUPE, VOLTADO


TAMBÉM À GESTÃO FINANCEIRA. PARA QUEM É

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FINANÇAS PESSOAIS

AUTÔNOMO E JÁ TEVE CONTATO COM ESSA ÚLTIMA


OBRA, O QUE ELE PODE ESPERAR DE DIFERENTE?
N. A.: Neste livro, a gente fala muito mais sobre essa
divisão. No Me Poupe, você tinha apenas um traba-
lho, que era fazer dinheiro para a pessoa física. Lá,
inclusive, havia o conceito de renda extra, que não
existe aqui.

Quero ensinar ao autônomo como gerar mais renda


enquanto pessoa jurídica, por meio da profissio-
nalização da atividade. Ensinar a cobrar mais os
clientes, e ter previsibilidade de entrada e de recei-
tas, especialmente de como dividir essas duas coi-
sas. Faço inclusive uma brincadeira de nomes, Ruth
e Raquel, para ilustrar a importância de separar a
PJ da PF.

VOCÊ TRAZ DUAS FRENTES NO LIVRO: A MAIS BUROCRÁTICA,


COM PLANILHAS, CONCEITOS, DADOS… E UMA MAIS
FILOSÓFICA. POR QUE ACREDITA QUE ISSO É IMPORTANTE
NA HORA DE PENSAR EDUCAÇÃO FINANCEIRA?
N. A.: Eu trago isso desde sempre no meu método: para
a gente poder falar de planejamento, precisamos falar
sobre metas. Ter um ponto de partida e um ponto de
chegada. E, para definir isso, eu preciso entender quem
eu sou enquanto pessoa. Acho que é por isso que você
sentiu uma certa filosofia na obra: eu sempre parto dos
novos valores pessoais para poder construir metas.

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FINANÇAS PESSOAIS

São a partir delas, inclusive, que eu construo um


plano mais individualizado, olhando para o ser hu-
mano. E o sucesso do meu método também depende
disso: afinal, nós, seres humanos, somos natural-
mente indisciplinados. Eu só vou conseguir con-
vencer uma pessoa de executar aquele plano porque
ela sentiu que o sonho dela se tornará realidade por
meio daquilo.

TOCANDO NESSE ASSUNTO DE INDIVIDUALIDADE,


COMO ESSE LIVRO REFLETE SEU ENTENDIMENTO DE
SUCESSO? COMO VOCÊ TENTA NAVEGÁ-LO?
N. A.: Eu sempre gosto de ser do contra, haha. Mas
não só por teimosia, e sim porque tenho uma sensi-
bilidade sobre o que está acontecendo no mundo hoje.
Eu percebo esse cansaço em torno da narrativa do
crescimento exponencial. Do tipo: “fique milionário”,
“como conquistar seu primeiro bilhão”... sempre fo-
cado na escalabilidade.

Para escrever, eu pensei comigo: esse não é um de-


sejo universal. Não tem a ver com falta de ambição,
e sim com dar valor para outras coisas da vida. Às
vezes, conseguir pagar as contas, ter uma aposenta-
doria tranquila, colocar a cabeça no travesseiro sem
estar constantemente preocupado com dinheiro já é
o suficiente.

Tem um momento do livro que eu falo: olha, se você


quiser escalar, é daqui para frente. Essa obra vai ser

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FINANÇAS PESSOAIS

uma excelente referência básica de como chegar lá,


mas isso não será defendido em nenhum momento.
Especialmente num contexto de trabalho autônomo,
em que às vezes o trabalhador precisa vender o al-
moço para comprar a janta. Quero trazer organização
e previsibilidade, não apenas prosperidade.

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FINANÇAS PESSOAIS

FALANDO NESSA ORGANIZAÇÃO, ELA É DEFENDIDA NO LIVRO


COMO FORMA DE SANAR OS PROBLEMAS FINANCEIROS
DO TRABALHADOR AUTÔNOMO. MAS EXISTEM OUTROS
FATORES DE INSEGURANÇA ECONÔMICA, POLÍTICA E SOCIAL
QUE INTERFEREM NA VIDA DESSA PESSOA AQUI NO BRASIL.
COMO ISSO É LEVADO EM CONSIDERAÇÃO NA OBRA?
N. A.: É impossível pensar na nossa cultura, nossa
ancestralidade e nas bases das quais o Brasil foi cons-
tituído sem falar sobre autônomos e pequenos em-
preendedores. E, quando pensamos nesse contexto,
precisamos entender que organizar não é suficiente,
precisamos curar algumas feridas históricas – espe-
cialmente quando falamos de mulheres pretas, mães
solo, que precisam ascender socialmente não apenas
por elas, mas por toda a família que veio antes e pela
família que virá depois.

Justamente por isso, para além da organização, eu


bato tanto no ponto de geração de valor. Ter a cora-
gem de cobrar. A gente tem essa síndrome do impos-
tor (não só o público feminino, mas todas as minorias
no país), e isso faz com que entremos no mercado já
sentindo que somos piores, inferiores. O livro tenta
trazer ferramentas para que a pessoa perca o medo
de vender, que tenha autoestima, e que entenda a
importância de estabelecer e buscar contratos fixos
– que só vão ser possíveis se você acreditar genui-
namente no seu produto.

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FINANÇAS PESSOAIS

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VOCÊ EMBARCOU NA JORNADA PARA TRAZER
EDUCAÇÃO FINANCEIRA AOS CPFS, AGORA AOS
CNPJS… QUAL É O PRÓXIMO PASSO DO ME
POUPE? ALGUM NOVO LIVRO NO HORIZONTE?
N. A.: O foco agora é no nosso streaming de finanças
Me Poupe+, que tem um curso homônimo. Inclusive,
é de lá que nasce o livro: fiz o primeiro curso, per-
cebi quanto ajudou os alunos, e idealizei o Chefe de
Mim como se fosse um material didático mesmo.

A ideia é fazer com que ele chegue em muito mais


gente. Este ano fechamos parcerias excelentes com o
Tesouro Direto, com a B3, Banco Inter… estamos tra-
balhando para dar acesso à plataforma a cerca de 10
milhões de pessoas.

Sobre novos livros, não tem próximo. Ainda.

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AUTODESENVOLVIMENTO

POR LUANA FRANZÃO

MICRO
GERENCIAMENTO
Como escapar desse tormento
No longo prazo, uma liderança que não confia
em seus funcionários pode gerar desânimo e
maior rotatividade nas equipes. Saiba o que fazer
se seu chefe não sai do seu pé – de preferência,
sem ser demitido no processo

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AUTODESENVOLVIMENTO

S
e seu gestor fica de olho no andamento
de todas as suas demandas, pede uma
lista das atividades que você comple-
tou no dia e quer saber tudo sobre as
conversas entre você e seus colegas
de trabalho… bem-vindo ao clube dos
microgerenciados.

Veja bem, está na descrição da vaga de um líder ob-


servar o cumprimento das tarefas de seus subordi-
nados. Seu chefe não está errado por querer saber
a quantas anda o trabalho do time que comanda. O
problema mora em quando o controle é demais.

O estudo “The Dangers and Consequences of Micro-


management”, publicado na revista científica Issues
in Mental Health Nursing, define microgerenciamen-
to como um estilo de chefia em que o líder exerce
controle sobre membros de um time, o time como
um todo ou uma organização, sobretudo no que tan-
ge às minúcias ou pequenos detalhes das operações
do dia a dia.

Se você tem a impressão de que seu líder está procu-


rando defeitos em tudo o que você faz, pode ser que ele
esteja mesmo. E há alguns motivos que podem levar
um profissional a se tornar um chefe ultracontrolador.

Um comportamento comum é a criação de prazos ar-


bitrários e desnecessários, e relatos pouco úteis so-
bre os andamentos dos tais prazos. Parece mais uma

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AUTODESENVOLVIMENTO

interrogação do que um feedback, digamos assim.


Pode fazer com que o colaborador atrase o encami-
nhamento de documentos importantes para garan-
tir que estão absolutamente perfeitos ou porque não
consegue tomar decisões definitivas.

MICROGERENCIADOR:
UMA BIOGRAFIA
O mesmo estudo aponta que, em geral, os chefes
supercontroladores têm personalidades e tendên-
cias parecidas.

“Em geral, são competitivos, focados e obtêm altos


resultados. São ao mesmo tempo inseguros e con-
trolados, e têm medo de confiar na competência das
pessoas que gerenciam. Exibem extrema irritação
quando mesmo a menor das decisões são toma-
das sem que sejam consul-
tados. São conhecidos pela
inflexibilidade, por podar
a capacidade das equipes
de solucionar problemas e
travarem o recebimento e
doação de feedbacks”, es-
crevem os pesquisadores.

Esses gestores analisam


com escrutínio a perfor-
mance dos membros de um

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AUTODESENVOLVIMENTO

time até o último detalhe, como uma forma de asse-


gurá-los de que o trabalho está sendo feito do jeito
que eles querem.

O estudo prevê ainda que a maioria deles não é exa-


tamente um grande estrategista – ao contrário, nor-
malmente mudam de ideia porque têm muito medo
de errar.

Segundo a mentora de carreira e liderança Jaqueli-


ne Garutti, esse tipo de comportamento é originário
de uma insegurança na própria capacidade de guiar

as equipes. Sem acreditar que podem orientar os ti-


mes da melhor maneira possível, precisam garantir
o tempo todo que nada está saindo do controle.

Mostra também uma falta de jogo de cintura: querem


evitar a todo custo problemas causados pela falta de
experiência dos funcionários, pois não saberiam li-
dar com uma situação inesperada.

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AUTODESENVOLVIMENTO

A personalidade do microgerenciador está entre es-


ses dois espectros contraditórios: muita inseguran-
ça, mas também a confiança de que só ele pode fazer
o trabalho do jeito correto.

Novamente, não estamos falando de um chefe pre-


sente. Estes, na maioria das vezes, ajudam o time
com sua constância e observações sobre o trabalho
da equipe. O problema é quando a marcação é exa-
gerada. Também há times que podem se beneficiar
de chefes que analisam os pequenos detalhes – tudo
depende do grupo de pessoas que os compõem.

DO ESCRITÓRIO AO CONSULTÓRIO
Agora que você entende um pouco mais sobre como
pode funcionar a cabeça do seu chefe, vamos en-
tender o que pode estar acontecendo com a sua, en-
quanto subordinado pressionado.

Como tudo na vida, há dois lados nessa questão. A


curto prazo, pode ser que uma pressãozinha a mais
faça com que você dê mais de si no trabalho, e aca-
be atingindo resultados maiores. Com o passar do
tempo, o nó aperta.

Ninguém gosta de ser exposto, reforça Jaqueline. A


sensação de ter alguém metido em todos os seus pro-
cessos de trabalho vai gerando desgaste da relação
entre líder e funcionário, e também da autoestima
do profissional.

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AUTODESENVOLVIMENTO

A mentora entende bem do assunto: sentiu o mi-


crogerenciamento na própria pele. “Se eu fosse boa
no meu trabalho, minha gestora não teria que ana-
lisar tudo o que eu faço”, ela lembra de ter pensado
na época.

As cobranças constantes geram irritação, queda da


produtividade e aumento da rotatividade, segundo a
análise da especialista. Suas opiniões ressoam com
o estudo citado anteriormente.

Ao não delegar tarefas


para sua equipe, o líder
diminui as chances de
interação entre os co-
laboradores, o que gera
mais dificuldade para
executar tarefas em gru-
po. Com o tempo, essa
forma de gerir vai miti-

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gando o entusiasmo e a boa vontade dos funcionários.

Insatisfação e baixa autoestima profissional são im-


pactos comuns de ficar sob a lente do Big Brother Cor-
porativo. Ressentimentos, cinismo e descontenta-
mento aparecem e desincentivam a tomada de riscos,
a inovação, as iniciativas orgânicas e o engajamento
em atividades que levam ao crescimento profissional.

Deixar a situação do jeito que está pode te levar a


problemas maiores, como crises de burnout. Hora
de sair desse impasse.

COMO DEIXAR O CLUBE


DOS MICROGERENCIADOS
SEM SER DEMITIDO
Primeiro, tenha um momento sincero de autoin-
vestigação. Entenda se você está se incomodando
com algumas atitudes do seu chefe, mas o compor-
tamento dele é normal, ou se realmente ele passou
dos limites diversas vezes.

Garanta que suas entregas estejam em dia e dentro


dos conformes, e reflita se as pontuações da lide-
rança realmente são pedantes. Caso a resposta seja
afirmativa, vamos aos paliativos.

Tudo começa no diálogo. Sim, você vai ter que con-

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versar com o seu chefe. É importante ser claro na hora


de dar o recado: marque uma reunião, leve exemplos
e fale por que a forma como ele monitora a produção
é incômoda.

Jaqueline Garutti recomenda sempre o uso da co-


municação não violenta (que você pode conhecer
melhor nesta reportagem da Você S/A). Não abuse
da ironia nem do cinismo. Seja direto, e dê exemplos

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concretos de como o comportamento do seu chefe


atrapalha a sua produtividade.

Tente entender nessa conversa o que o leva a agir


dessa forma. Às vezes, é um jovem líder que ain-
da não entendeu o seu novo papel. Ou a equipe não
apresentou resultados que o deixaram seguro para
conduzir o time com punhos mais leves. Revelar os
motivos é meio caminho andado para a solução.

E transmita confiança. Indique que, sim, ele pode te


dar seu espaço, e seu trabalho será entregue da for-
ma correta. Mostre que você sabe quais são as de-
mandas e que elas serão atendidas dentro dos pra-
zos – seguindo o gerenciamento de tempo que faça
mais sentido para você. Acalmando a onça é mais
fácil ganhar independência.

Se a conversa tranquila não adiantou, hora de au-


mentar a voltagem. Quando seu chefe tiver atitudes
invasivas, aponte imediatamente o que acontece.
Reafirme que seus projetos estão sob controle e que
não há necessidade de uma supervisão tão detalha-
da. Lembre-o que esse tipo de atrito poda oportu-
nidades de inovação e criatividade.

Há inúmeras matérias na história desta revista apon-


tando a importância de um ambiente corporativo
fértil, criativo e inovador. Preso, ninguém dá os sal-
tos que precisam ser dados adiante. Comece a nutrir
as relações, e, talvez, esse solo se torne mais fértil.

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311
VICTOR CIVITA ROBERTO CIVITA
(1907-1990) (1936-2013)

PUBLISHER
Fábio Carvalho
EDITOR-CHEFE
Alexandre Carvalho
DIRETORA DE ARTE
Juliana Krauss
REPÓRTERES
Luana Franzão e Sofia Kercher
DESIGNER
Cristielle Luise
COLABORAÇÃO
Brenna Oriá
(design e colagens)

ISSN 1415-520001
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