Os Elementos Da Pesquisa Social
Os Elementos Da Pesquisa Social
Os Elementos Da Pesquisa Social
CAPÍTULO 1
como sendo “a teoria da intuição racional do absoluto como fonte única, ou pelo
menos principal do conhecimento humano (p.12)”.
Encontram-se controvérsias no que diz respeito à ontologia. De um lado estão
aqueles que, embasados em Santo Tomás de Aquino, defendem a teoria dos três
estágios de abstração e consideram a ontologia o cume da Filosofia, estando depois da
analogia, cosmologia, psicologia e a filosofia matemática. De outro lado, encontramos
aqueles que atribuem à ontologia o papel de uma disciplina da filosofia, com base na
epistemologia e constituída por uma dupla metafísica: a do homem e a do mundo
material. Segundo Steenberghen (1965, p. 38), o objeto da ontologia pode ser
construído por meio de toda experiência humana, pois se ela é humana é
necessariamente do ser. Para o autor,
a ontologia tem como objeto precisamente o estudo do valor
comum, da investigação do que implica a realidade desta
representação sintética, o determinar em que consiste,
exatamente, a unidade que revela e expressa o conceito de ser.
Em outros termos, o objeto formal da ontologia é o valor do
ser, incluindo em todo objeto de experiência: estuda o dado da
experiência enquanto ser, enquanto real.
Por esse prisma, todas as pessoas possuem determinada ontologia; uma visão e
uma maneira de justificarem a realidade na qual vivem, quer dizer, uma visão acerca
da totalidade do real que as circunda. Nesse sentido, a ontologia corresponde a uma
determinada leitura da realidade (SIGRISTI, 1997).
Se cada pessoa pudesse registrar no papel, em fita de vídeo ou na tela de um
computador como vê a realidade, teríamos a ontologia de cada ser humano. Não
podemos viver sem explicar o mundo que nos circunda, mesmo que façamos isso de
forma mística, mítica ou mistificada. É justamente porque conseguimos, de algum
modo, dar algum tipo de explicação sobre este mundo, que a vida tem sentido,
qualquer que ele seja. Sem fazer certa leitura da realidade, não se saberia como agir e
interagir dentro da sociedade, se ficaria sem normas de comportamento, não sabendo
o que fazer ou no que acreditar. Enfim, essa leitura corresponde à nossa ontologia. Se
fizermos isso com um grau acentuado de racionalidade, um fundamento teórico sólido,
seria muito melhor. Mas em todos os níveis em que o ser humano pode operar -
empírico, racional e teórico - há uma ontologia presente, e ela se constitui na diretriz
básica
3 do nosso comportamento.
A lógica hegeliana postula três tipos de atitudes perante o real, que revelam três
formas de consciência. A primeira é chamada de consciência empírica; a segunda, de
consciência racional e a terceira, de consciência teórica. A consciência empírica é a
atitude de quem apenas responde aos estímulos imediatos da experiência. A racional
é a de quem responde a esses estímulos, mas também é capaz de dar razões
explicativas aos elementos constitutivos desta experiência. A consciência teórica é a de
quem responde a estímulos da experiência do cotidiano, dá certas razões explicativas
aos seus elementos e, ao mesmo tempo, é capaz de perceber e integrar esta
experiência na totalidade das coisas que compõem o que Hegel chama de mundo,
realidade ou totalidade do ser.
Em se tratando da formação universitária, na qualidade de professores
comunicamos nossa ontologia aos nossos alunos em qualquer disciplina por nós
ministrada. A visão de mundo do professor se manifesta, implícita ou explicitamente,
em qualquer área do conhecimento. Assim, todos trabalham, vivem e se expressam a
partir de uma ontologia, de uma leitura que se faz da realidade. Nossos
comportamentos veiculam uma leitura, uma compreensão de mundo, de sociedade.
Quando falamos de leitura de realidade, não estamos pensando em uma
situação abstrata, indefinida, mas nos aspectos mais concretos da nossa vida, na vida
pessoal, na interpessoal, na profissional, na vida em sociedade. Em todos os
momentos, queiramos ou não, comunicamos a nossa ontologia, ainda que disso não se
tenha consciência. Suponha, por exemplo, que você não tenha religião, por nela não
acreditar, pois este fato influenciará a sua leitura do mundo e dos fatos e
acontecimentos sociais. As explicações dos fenômenos sociais, portanto, estarão
relacionados com seus sentimentos sobre uma determinada temática.
Da mesma forma, quando se lida, por exemplo, com o conceito de cultura
política e a forma como as pessoas constroem seus valores a respeito de como vêem
o mundo, os posicionamentos em relação aos valores hierárquicos são diferentes dos
valores igualitários. Segundo Almeida (2007, p.75), “os que compartilham de uma
visão hierárquica de mundo consideram que há posições predefinidas e, portanto,
deve-se esperar que cada um desempenhe o papel determinado por sua condição
social. Já os que se orientam por valores igualitários, consideram que não há papéis
socialmente predefinidos”. A princípio, todos os indivíduos são iguais e eventuais
desigualdades ou diferenças em papéis sociais são estabelecidas apenas nos limites
de um contrato. Essa forma dicotômica de construção de valores numa cultura
política influencia a forma como o pesquisador examina e conclui a respeito de como
lidar com valores hierárquicos, são os pressupostos que estão subjacentes à visão do
mundo do pesquisador. Sabendo os pressupostos, podemos entender o tipo de
literatura com a qual o pesquisador passa a se identificar e a forma como vai propor
soluções ao problema examinado nessa perspectiva
Recapitulando, ontologia é o ponto de partida de toda pesquisa. Neste plano, a
ontologia pode ser vista como a natureza da realidade social, sobre a qual a teoria
está construída, de outro modo, a ontologia se refere aos pressupostos sobre a
natureza da
realidade social, sobre o que existe, como são e como essas unidades do contexto
examinado interagem umas com as outras. Em suma, os pressupostos ontológicos
referem-se a como o pesquisador acredita que se constitui a realidade social. Dessa
forma, não é difícil entender porque diferentes tradições teóricas, com base em
contextos culturais diversos, apresentam perspectivas divergentes do mundo e
diferentes pressupostos sobre a realidade pesquisada. É, portanto, necessário que o
aluno tome conhecimento e compreenda a forma como a ontologia impacta seu
conhecimento sobre a realidade na qual está inserido.
Esse posicionamento é a resposta do pesquisador à pergunta: Qual a natureza
política e social da realidade a ser investigada? Somente depois que esta pergunta
estiver respondida se pode discutir o que é possível saber sobre a realidade político-
social que se pensa existente.
Exemplos de posicionamentos ontológicos são aqueles expressos nas
perspectivas
4 do “objetivismo” e do “construtivismo”. De maneira ampla, o
objetivismo é um posicionamento ontológico segundo o qual os fenômenos sociais e
seus significados existem independentemente dos atores sociais, enquanto que o
construtivismo é uma abordagem holistica de construção social. Isso implica que
fenômenos e categorias sociais não só são construídos pela interação social, mas que
estão num processo constante de revisão. Assim, se ontologia diz respeito ao que
sabemos, então a epistemologia refere-se a como vamos saber o que sabemos.
Epistemologia
ciência, precisamos ter bem claras para nós mesmos, as respostas a duas questões. O
que nós podemos conhecer: a totalidade do real ou parte do real? Em que condições
esse conhecimento é verdadeiro, inquestionável, irrefutável?
Para Kant, antes de fazer uso da razão devemos criticar, ou seja, apreciar o seu
limite. Não podemos começar a usar a razão sem saber com clareza qual o seu alcance
e quais são as leis que ela deve respeitar para chegar à verdade científica. Essas duas
questões guardam uma ligação muito grande, pois, ao definir as condições do
conhecimento verdadeiro, se definem também seus limites. Ao identificar o objeto, se
definem, igualmente, as condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro. Esta
é a base em que se assenta a Filosofia moderna e contemporânea.
O conhecimento, e as formas de descobri-lo, não é um processo estático, mas
está sempre mudando. Quando são consideradas teorias e conceitos em geral, os
alunos devem refletir acerca dos pressupostos sobre os quais se basseiam e onde se
originam em primeiro lugar. Por exemplo, as teorias geradas nas democracias
ocidentais são suficientes para explicar processos de transição na América Latina, cuja
história se caracteriza pela presença de traços autoritários, personalistas e
patrimonialistas?
Dois posicionamentos epistemológicos contrastantes estão contidos nos termos
“positivismo” e “interpretativismo”. Estes conceitos podem ser encontrados na História
em relação a tradições específicas da filosofia da Ciência Social. O positivismo é um
posicionamento epistemológico que defende a aplicação dos métodos das ciências
exatas ao estudo da realidade social. O interpretativismo, por seu turno, pode ser visto
como um posicionamento epistemológico fundamentado na perspectiva de que uma
estratégia necessária é a que respeita as diferenças entre as pessoas e os objetos das
ciências naturais; portanto, exige que o cientista social domine o significado subjetivo
da ação social.
Como podemos
Metodologia adquirir esse
conhecimento?
Quais procedimentos
Métodos podem ser usados?
Fontes
Fontes
Um exemplo concreto das Ciências Sociais onde o Quadro 2 pode ser aplicado é
o estudo de Capital Social desdobrado em duas dimensões: (a) a perspectiva
apresentada por Putnam (2000) e (b) uma abordagem alternativa.
No que se refere ao aspecto da ontologia, Putnam (2000) acredita na
predisposição inata da pessoa para se envolver em atividades de natureza coletiva.
Desse modo, parte da premissa que o Capital Social é fruto de características
históricas de uma região, freqüentemente da capacidade associativa em redes e da
confiança recíproca. É fundacionalista na medida em que atribui um valor antecedente
aos aspectos históricos e culturais no fracasso do desenvolvimento democrático de
uma nação. Na abordagem alternativa, pressupõe-se uma abordagem mais
compreensiva, ou seja a pesquisa e realizada com base numa totalidade e num
processo multifatorial.
Quadro 3- Duas abordagens para estudar Capital Social
CAPÍTULO 2
uma p
Método
Formas de obter informações úteis
para explicações de fenômenos
sociais.
Pesquisa social
3.Situação sócio-econômica das pessoas. Que inibe a participação popular, bem como
uma situação que frustra os cidadãos nas
suas expectativas
4.Apatia e desmobilização política. E os leva a desenvolver atitudes de
hostilidade e resignação em relação à política.
5. 44
Crescimento do individualismo. Esses fatores incidem no aumento da
individualização da política onde prevalecem
os interesses pessoais em detrimento da
construção coletiva.
Fonte: Elaboração própria
O quadro 5 identifica, na coluna da esquerda, cinco aspectos que demonstram o
contexto dentro do qual se pode encontrar respostas para a pouca participação dos
cidadãos na América Latina. Derivados do contexto emergem vários sub-temas que
adquirem visibilidade para a opinião pública, para os gestores públicos e para atores
econômicos estratégicos e passam a ser considerados questões que precisam ser
estudadas e compreendidas, buscando encontrar alternativas para contribuir com a
sua solução.
Esse conjunto de temas considerados relevantes e atuais para serem
investigados é o que se denomina de metagenda. Nessas circunstâncias, geralmente,
os órgãos de financiamento de pesquisa priorizam seu apoio àquelas iniciativas que
estão dentro da metagenda. No lado negativo, tal procedimento tem gerado uma
situação na qual muitos estudos que poderiam se constituir em contribuições teóricas
importantes, são deixados de lado, pois não são vistos como prioritários. A título de
exemplo, pode-se mencionar pesquisas que tenham como base a classe social.
Nessa direção, cabe destacar que a refutação de uma teoria ou paradigma não
significa que desapareça definitivamente da comunidade científica (FISICHELLA, 1989,
p.8), mas passa a ser considerada geralmente não prioritária.
A partir do exemplo acima citado, alguns temas que compõem a agenda de
pesquisa contemporânea na América Latina a respeito de participação política são:
1. Engenharia Institucional;
2. Testar hipóteses;
3. Estabelecer relações entre variáveis;
4. Testar novas teorias e modelos;
5. Desenvolver novos conceitos para pesquisas científicas;
6. Produzir conhecimento novo.
perguntas. Em parte, isto se deve ao fato de que, além da falta de hábito, as pessoas
que são entrevistadas não compreendem as bases técnicas de survey, bem como sua
importância na área acadêmica. Uma desconfiança normal é com relação a como
explicar que a opinião de “poucos” indivíduos representa a opinião de todos, em
termos mais amplos.
Neste sentido, tornou-se fundamental compreender a lógica subjacente às
pesquisas de levantamento de opinião pública, para determinar a sua validade e
confiabilidade. Evidentemente que nem todos os surveys merecem nossa confiança,
visto que nem todos são conduzidos corretamente. A confiabilidade dos resultados de
uma pesquisa tipo survey é proporcional ao rigor exercido em cada etapa de coleta e
interpretação dos dados.
Para exemplificar a situação acima exposta, suponhamos que somos informados
que a maioria dos porto-alegrenses desaprova a educação pública e gratuita. Antes de
aceitarmos esta conclusão, devemos saber quem foi entrevistado, a forma como as
perguntas foram estruturadas e, principalmente, se as interpretações dessas
perguntas estão corretas, e se realmente representam as opiniões da maioria da
população.
Não se deve pensar, no entanto, que o propósito de survey seja nas Ciências
Sociais ou outras, tão simples. Muitas indagações procuram explicar, ao invés de
descrever. Sua função pode ser teórica - para testar alguma hipótese sugerida pela
teoria estudada – ou altamente prática – para avaliar a influência de vários fatores, os
quais
51 podem ser manipulados pela ação pública sobre algum fenômeno. É fundamental
ressaltar neste ponto que, a simples coleta de dados não é substituta da pesquisa
teórica.
Em suma, para confiar nos resultados de pesquisas tipo survey, deve-se
examinar aspectos tais como:
a) a forma através da qual os surveys são conduzidos; e
O último tipo de pesquisa tipo survey é aquele que requer informação pessoal
dos entrevistados. Esta informação é utilizada extensivamente por analistas políticos,
sociólogos e instituições governamentais. O interesse por trás dessas pesquisas pode
ser imediato ou de longo prazo. Por exemplo, qual é o índice de desemprego, ou qual
é o índice de criminalidade, são tópicos que se enquadram dentro deste tipo de
pesquisa.
O exemplo mais conhecido de enquetes de dados demográficos é o Censo,
conduzido no início de cada década, e cujo objetivo é obter informação das pessoas
morando em cada residência, seu sexo, idade, experiência escolar e outros fatos em
relação às mesmas. O Censo talvez seja o método mais antigo de coleta de
informação, já que pode ser traçado desde a civilização egípcia antiga, quando era
considerado útil para os governantes ter dados empíricos sobre os seus governados.