MONOGRAFIA DesenvolvimentoAplicativoComputacional
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ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS
OURO PRETO - MG
Janeiro de 2022
MARCELA CHINEN MACHADO
OURO PRETO - MG
Janeiro de 2022
À minha família, que a cada dia me faz uma profissional e uma pessoa melhor.
AGRADECIMENTOS
À minha família pelo suporte e apoio incondicional em tudo que sempre quis fazer. A
motivação e a vibração a cada conquista são essenciais para continuar seguindo, bem como o
acolhimento perante os fracassos. Agradeço especialmente aos meus pais, Rosiney e Neila, por
serem meu exemplo e meu porto seguro.
À minha irmã Carol por ser minha referência de dedicação, compaixão e modelo
profissional.
À querida colega e amiga Laura pelas incontáveis discussões técnicas e suporte nas mais
diversas dificuldades.
Ao geólogo e companheiro Victor pela motivação e toda a ajuda com a tradução de
termos técnicos.
Ao meu orientador Prof. Dr. Elton Destro por todo o conhecimento compartilhado e
compreensão nos momentos difíceis, e principalmente pela dedicação aos alunos e a esse
trabalho, além do acolhimento e orientação nas inúmeras incertezas que surgiram nesse
processo.
Ao Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto por
propiciar a realização desse estudo e por tudo que me foi oferecido ao longo dos anos.
A todos os professores que, durante o curso de Engenharia de Minas, dividiram comigo
um pouco do seu conhecimento e se dedicaram a me tornar uma profissional melhor.
Aos meus colegas de turma pelos anos de convívio, somando muitas risadas, estudo e
diversão, mesmo nos momentos em que a pandemia nos separou fisicamente e o ensino remoto
nos trouxe uma realidade nova a qual tivemos que nos adaptar. Tudo é mais fácil quando temos
uns aos outros.
A todos os colegas da Mineral Geologia pelo apoio diário e pela compreensão nos
momentos em que o curso exigiu mais de mim.
“A vida não é sobre o que você faz. É mais sobre como você faz.”
Lulu Wang
RESUMO
Geomechanics classification systems are extremely necessary to assess rock mass quality,
especially in complex geological formations. Many methods were created in the last decades,
like Rock Quality Designation (RQD), Q-System and Rock Mass Rating (RMR). The
Geological Strength Index (GSI) arises to allow rock mass properties estimations from field
data entered qualitatively and its application at Hoek-Brown failure criterion, for rocks of
homogeneous and isotropic behaviour. Over the years, the method faced many modifications,
resulting in the current GSI chart, from Hoek & Marinos (2000), as well as the development of
another chart for heterogeneous rocks and some quantification proposals. In order to facilitate
the application of GSI, this study aims to develop a computational application in which is
possible to plot rock mass data at a chart, allowing its classification in a graphical interface.
The IDE Lazarus platform was used to create the program, in Pascal programming language, in
which up to 20 geotechnical units can be evaluated at the same time, as well as the plotting and
real-time manipulation of a point’s position at the chart. The app has been validated with
geotechnical mapping data of Capiru mine, in Rio Branco do Sul, state of Paraná, in which it
was possible to visually classify the rock mass according to GSI. Comparing this method with
the GSI calculation from the sum of surface condition (SCR) and rock structure (SR) values, as
proposed by Hoek et al (2013), minimal variance was verified between the results, which can
be considered insignificant by the precision required by the authors. From those results, it is
possible to conclude that the app reached its goal of allowing the user to classify according to
GSI in a simple and intuitive way, and being freely distributed also expands the access of
geotechnical professionals to some specific computational programs thus becoming a fine
contribution to the scientific community.
Figura 1: Ábaco original do GSI proposto por Hoek & Marinos (2000). ................................ 15
Figura 2: Ábaco do GSI para rochas heterogêneas proposto por Hoek & Marinos (2000). .... 16
Figura 3: Aplicação do GSI segundo diferentes escalas de projeto. ........................................ 18
Figura 4: ábaco do GSI de Hoek e Marinos (2000) com as escalas A e B e seus respectivos
intervalos .................................................................................................................................. 21
Figura 5: Gráfico com a relação dos valores de GSI obtidos pelo ábaco e pelo somatório das
escalas A e B............................................................................................................................. 22
Figura 6: Interface do programa Lazarus. Em vermelho, encontra-se o menu do software; em
verde, o editor de códigos e, em amarelo, o inspetor de objetos. O formulário, onde se faz a
interface gráfica, consta no retângulo laranja, e as mensagens estão no polígono azul ........... 25
Figura 7: Aba principal do GSI Plotter. ................................................................................... 27
Figura 8: Imagem do Autocad com o ábaco original do GSI inserido. Os círculos vermelhos
correspondem aos pontos que formam as linhas de valores de GSI; os azuis correspondem aos
extremos das linhas de N/A e, o ponto verde, simboliza a origem. As linhas de cor magenta
foram utilizadas para definir a posição dos pontos a partir dos seus comprimentos, como consta
grifado em amarelo no lado esquerdo da ilustração. ................................................................ 28
Figura 9: Imagem da planilha da aba “Inserir Pontos” na qual é possível adicionar os dados de
caracterização dos maciços rochosos. ...................................................................................... 30
Figura 10: Aba "Sobre o aplicativo”. ....................................................................................... 31
Figura 11: Arquivo de texto criado a partir do aplicativo. ....................................................... 33
Figura 12: Resultado do ábaco do GSI a partir da plotagem dos dados das unidades geotécnicas
da Mina Capiru. ........................................................................................................................ 34
Figura 13: Gráfico com os valores de GSI obtidos de diferentes formas, no qual é possível
observar a pouca variação entre os resultados. ......................................................................... 35
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Descrição e intervalo de valores utilizado no SCR com base no ábaco de Hoek &
Marinos (2000). ........................................................................................................................ 20
Tabela 2: Descrição e intervalo de valores utilizado no SR com base no ábaco de Hoek &
Marinos (2000). ........................................................................................................................ 20
Tabela 3: Tabela com os pontos medidos no Autocad e os valores obtidos, bem como as
posições que representam os extremos das linhas desenhadas no ábaco no Lazarus............... 29
Tabela 4: Caracterização das unidades geotécnicas segundo SCR e SR. ................................. 32
Tabela 5: Valores de GSI obtidos do ábaco e da soma de SCR e SR para as unidades geotécnicas
da Mina Capiru. ........................................................................................................................ 35
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 9
4. METODOLOGIA............................................................................................................. 26
6. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 37
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
1) Apresentar a origem e modificações do método GSI ao longo dos anos, bem como as
propostas de uso com dados quantitativos, além de suas aplicações e limitações;
4) Mostrar a diferença do uso do ábaco original do GSI e o resultado a partir da soma dos
valores dos eixos proposta por Hoek et al. (2013) utilizando as escalas A e B, e discutir os
resultados.
10
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1.CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS
será o valor menos favorável entre três possibilidades, definidas em tabelas específicas, e passa
a se chamar SFRslope. Bar & Barton (2017) afirmam que esse método não pode ser aplicado em
maciços de material inconsolidado ou com alturas superiores a 50 metros.
O GSI foi desenvolvido por Hoek em 1994 e Hoek et al. em 1995 para coletar
informações de campo e incorporar às equações do critério de ruptura de Hoek-Brown. A
classificação foi formulada considerando os dois principais fatores que influenciam nas
propriedades mecânicas de um maciço rochoso: a estrutura e a condição das juntas (HOEK &
BROWN, 2018).
O índice de resistência geológico (Geological Strength Index – GSI é uma ferramenta
de caracterização de maciços rochosos desenvolvida para projetos de túneis e outras estruturas
subterrâneas, baseado em observações de campo de geólogos e engenheiros experientes,
provendo dados confiáveis sobre as propriedades do maciço, utilizados posteriormente em
soluções analíticas ou numéricas (HUSSIAN et al., 2020). O sistema classifica o maciço em
cinco classes, de acordo com sua qualidade. Os autores afirmam que o método obteve grande
aceitação como ferramenta empírica de estimativa de características de resistência e
deformação de rochas muito fraturadas. A excepcionalidade do GSI em relação a outros
métodos empíricos está na determinação de propriedades dos maciços rochosos de resistência
baixa a muito baixa, além de rochas heterogêneas.
Marinos et al. (2007) contam que com o aumento da abertura de túneis décadas atrás,
métodos numéricos surgiram para incrementar a análise de problemas de escavação,
necessitando de dados confiáveis de tensão e deformação do maciço rochoso. Os autores
destacam que, uma vez que é praticamente impossível determinar esses parâmetros por testes
in situ, com exceção de túneis já construídos, Hoek & Brown, em 1980, desenvolveram o
critério de ruptura de Hoek-Brown. Hoek e Brown reconheciam que o método precisava ter
relação com observações geológicas que pudessem ser feitas de forma fácil e rápida por
geólogos ou engenheiros geólogos, e consideraram desenvolver um sistema de classificação,
porém desistiram da ideia e resolveram se ater ao RMR (MARINOS et al., 2005).
Os sistemas Q e RMR são amplamente usados para vários propósitos na mecânica de
rochas e considerados a base do desenvolvimento de outras classificações, porém utilizam o
RQD como parâmetro de entrada, e este tem valor igual a zero em rochas de baixa resistência,
levando a resultados equivocados (HUSSIAN et al., 2020).
Após anos de uso, chegou-se à conclusão de que era necessário um sistema de
classificação baseado em observações geológicas do maciço rochoso, que refletisse no material,
suas estruturas e história geológica, bem como fosse desenvolvido para estimar propriedades
do maciço ao invés de projetos de reforços e suportes de túneis (MARINOS et al., 2007). Nesse
contexto, o GSI começou a ser desenvolvido em Toronto em 1992 por David Wood para
classificar maciços fraturados e de baixa resistência (HUSSIAN et al., 2020). O método foi
publicado por Hoek em 1994 e por Hoek et al. em 1995 (HOEK & BROWN, 2018) e, após
diversas modificações, resultou no ábaco atualmente utilizado, feito por Hoek e Marinos em
2000.
O método tem a função de coletar informações de campo e incorporar às equações do
critério de ruptura de Hoek-Brown (HOEK & BROWN, 2018), que serão dados de entrada em
análises numéricas ou soluções analíticas (MARINOS et al., 2007). Hoek & Brown (2018)
afirmam que a classificação foi formulada considerando os dois principais fatores que
influenciam nas propriedades mecânicas de um maciço rochoso: a estrutura (Structural Rating
– SR) e a condição das juntas (Surface Condition Rating – SCR).
Em 1998, Hoek et al. fizeram uma extensão do ábaco para incluir maciços xistosos de
baixa resistência situados em Atenas, resultando na última linha, de rochas foliadas, laminadas
ou cisalhadas, porém não associados a condições de superfície boas a muito boas (HUSSIAN
et al., 2020). Marinos & Hoek, em 2000 e 2001, trabalhando em túneis em maciços rochosos
14
Figura 1: Ábaco original do GSI proposto por Hoek & Marinos (2000).
Figura 2: Ábaco do GSI para rochas heterogêneas proposto por Hoek & Marinos (2000).
O propósito original do GSI era providenciar um guia para a estimativa inicial das
propriedades do maciço rochoso. Sempre se assumiu que o usuário aperfeiçoaria essas
estimativas com investigações in situ mais detalhadas, análises numéricas e retroanálises do
comportamento de túneis e taludes para validar ou modificar esses resultados iniciais (HOEK
& BROWN, 2018).
Marinos et al. (2005) ressaltam que a classificação GSI baseia-se no princípio de que o
maciço rochoso tem descontinuidades orientadas de forma que não há uma direção preferencial
que compromete sua estabilidade, assumindo um comportamento homogêneo e isotrópico, da
mesma forma que o critério de ruptura de Hoek-Brown. Assim, o sistema não deve ser utilizado
em situações onde há uma orientação predominante ou existem instabilidades gravitacionais
que dependem de estruturas (HUSSIAN et al., 2020). Apesar disso, os autores assumem que
em situações onde há uma única descontinuidade bem definida, como uma falha ou zona de
cisalhamento, é possível aplicar o GSI ignorando essa estrutura, mas deve-se utilizar os outros
parâmetros do critério de Hoek-Brown relativos à essa descontinuidade (MARINOS et al.,
2007).
O GSI não é aplicável em rochas resistentes com poucas descontinuidades, cujo
espaçamento tenha dimensão similar ao túnel ou talude, uma vez que nessas situações a
estabilidade será controlada pela interseção das descontinuidades com a face livre da escavação
(MARINOS et al., 2005). A Figura 3 mostra que a relação do tamanho dos blocos com o
tamanho da estrutura é um importante fator a ser considerado na decisão de se usar o GSI
(HOEK & BROWN, 2018).
O método também não se aplica em maciços a grandes profundidades (superiores a 1000
metros), pois comporta-se como rocha intacta uma vez que as descontinuidades são
comprimidas pelo peso da coluna de rocha acima delas, atingindo valores de GSI em torno de
100 (MARINOS et al., 2007).
Em casos de descontinuidades com preenchimentos, o GSI pode ser aplicado, porém
quando espessos (mais que alguns centímetros) ou em zonas de cisalhamento com material
argiloso, recomenda-se o uso do ábaco do GSI para maciços heterogêneos (MARINOS et al.,
2005). Os autores recomendam que quando o maciço se encontrar tão intemperizado a ponto
de não se reconhecer mais suas estruturas, deve ser avaliado como solo e, dessa forma, não é
possível aplicar o GSI.
18
do valor obtido (MARINOS et al., 2007). Marinos et al. (2005) alertam que a ideia de
quantificar é interessante, porém deve ser utilizada com cuidado para que não se perca a lógica
geológica do GSI. De qualquer forma, autores afirmam que a precisão não é significativa, sendo
o GSI melhor descrito por um intervalo de valores, como 33-37, ao invés de sua média, que
seria 35.
O grau de certeza do valor do GSI depende da expertise do coletor dos dados, o que
permite que diferentes pessoas obtenham resultados distintos. Por isso, era necessário superar
essas dificuldades de estimativa, o que fez com que, em 1999, Sonmez & Ulusay criassem a
primeira forma de quantificar o GSI, que incluía apenas as quatro categorias iniciais das classes
de estruturas (HUSSIAN et al., 2020). Os autores afirmam que o método proposto utiliza a
quantidade de juntas por unidade de volume (Jv) e condições de superfície baseadas em grau de
intemperismo, rugosidade e preenchimento das descontinuidades, aplicados em algumas
equações que fornecem os valores a serem colocados no ábaco.
Em 2004, Cai et al. introduziram o volume do bloco (Vb) e a condição da junta (Jc) no
sistema de quantificação do GSI, permitindo a avaliação de rochas intactas e maciças (linha
superior das características estruturais do maciço no ábaco), além de reduzir a dependência da
experiência de campo e manter a simplicidade do ábaco original do GSI (HUSSIAN et al.,
2020).
Hoek et al., em 2013, inseriram as escalas A e B nos eixos x e y do ábaco,
respectivamente. A escala A, que representa a condição da superfície (SCR), admite valores de
0 a 45 divididos em 5 intervalos, seguindo a classificação original, como mostra a Tabela 1. Da
mesma forma, a escala B representa a estrutural (SR) da rocha, e varia entre 0 e 50, dividida em
5 intervalos (HUSSIAN et al., 2020), como apresentado pela Tabela 2. Esse ábaco pode ser
conferido na Figura 4. A última linha do ábaco foi removida pois não se aplica às condições de
homogeneidade e isotropia, porém, para determinação do GSI desse tipo de maciços rochosos,
é possível usar o ábaco específico para rochas heterogêneas (HOEK et al., 2013).
Em cada interseção das escalas A e B, o valor do GSI pode ser estimado pelas linhas do
ábaco ou pela soma dos valores atribuídos nas escalas (HOEK et al., 2013). A Figura 5 mostra
pontos plotados com a relação entre as duas formas de determinação do GSI, e a tendência
linear dos resultados, com pouca variação. Os autores explicam que essa pequena variação
ocorre porque as linhas do GSI foram desenhadas a mão originalmente, fazendo com que não
sejam paralelas ou igualmente espaçadas, porém é possível fazer essa correção, na qual elimina-
se o erro sem alterar a função do ábaco original (HOEK et al., 2013).
20
Tabela 1: Descrição e intervalo de valores utilizado no SCR com base no ábaco de Hoek & Marinos (2000).
Surface
Condition
Descrição Intervalos
Rating
(SCR)
Superfície muito rugosa, não
Muito Boa 36 - 45
intemperizada, fresca
Superfície rugosa, levemente
Boa intemperizada, com manchas 27 - 36
ferruginosas
Superfície lisa, moderadamente
Regular 15 - 27
intemperizada e alterada
Superfície com espelho de falha,
altamente intemperizada com
Pobre cobertura compacta ou 9 - 15
preenchimento de fragmentos
angulares
Superfície com espelho de falha,
altamente intemperizada, com
Muito Pobre 0-9
cobertura ou preenchimento
argiloso
Tabela 2: Descrição e intervalo de valores utilizado no SR com base no ábaco de Hoek & Marinos (2000).
Structure
Descrição Intervalos
Rating (SR)
Figura 4: Ábaco do GSI de Hoek e Marinos (2000) com as escalas A e B e seus respectivos intervalos
Figura 5: Gráfico com a relação dos valores de GSI obtidos pelo ábaco e pelo somatório das escalas A e B.
Para facilitar a quantificação, os autores definiram a escala A sendo 1,5 vezes o Joint
Condition Rating (JCond89) de Bieniawski (1989) e a escala B como o RQD de Deere (1967)
dividido por 2, sendo o GSI a soma dos dois resultados (HUSSIAN et al., 2020). Até o momento
da escrita do artigo, os resultados disponíveis se mostraram satisfatórios, porém os autores
afirmam que, com o uso dessa quantificação, é possível que alguns ajustes sejam feitos nas
posições das duas escalas para que fiquem mais próximos aos resultados vindos de dados
qualitativos (HOEK et al., 2013).
Hussian et al. (2020) afirmam que a versão quantitativa do GSI é aplicável em situações
em que a frequência e orientação das descontinuidades é medida facilmente, e não é efetiva em
maciços perturbados tectonicamente, onde o arranjo estrutural foi destruído, sendo que nesses
casos recomenda-se o uso da versão qualitativa do método. A adição de escalas quantitativas
ao ábaco do GSI não deve limitar o uso da forma como foi concebido, ou seja, baseada em
observações visuais de campo, de forma qualitativa (HOEK et al., 2013).
23
𝜎 𝑎
𝜎1 = 𝜎3 + 𝜎𝑐𝑖 (𝑚𝑏 𝜎 3 + 𝑠) (1)
𝑐𝑖
Onde:
σ1 e σ3 são a maior e a menor tensão principal, respectivamente;
σci é a resistência à compressão uniaxial; e
mb, s e a são as constantes do material do maciço rochoso.
𝐺𝑆𝐼−100
𝑚𝑏 = 𝑚𝑖 exp ( 28−14𝐷 ) (2)
𝐺𝑆𝐼−100
𝑠 = exp ( ) (3)
9−3𝐷
1 1
𝑎= + (𝑒 −𝐺𝑆𝐼/15 − 𝑒 −20/3 ) (4)
2 6
Onde:
mi é uma constante da rocha intacta; e
D é um fator que depende do grau de perturbação ao qual o maciço rochoso é exposto
devido ao dano do desmonte por explosivos e ao relaxamento das tensões.
24
3.5. O LAZARUS
Figura 6: Interface do programa Lazarus. Em vermelho, encontra-se o menu do software; em verde, o editor de
códigos e, em amarelo, o inspetor de objetos. O formulário, onde se faz a interface gráfica, consta no retângulo
laranja, e as mensagens estão no polígono azul
Um IDE é um software criado para auxiliar programadores, uma vez que já se encontram
funções para o desenvolvimento de programas e alguns recursos que reduzem erros nos códigos
(PSAFE, 2014).
A linguagem de programação utilizada no Lazarus é o Pascal. O Pascal foi criado entre
1968 e 1970 por Nicklaus Wirth na Universidade Técnica de Zurique, na Suíça, com o objetivo
de desenvolver uma linguagem de alto nível para ensinar programação estruturada
(RODRIGUES, 2007). De acordo com o autor, os programas em Pascal são compostos por
cabeçalho, onde se faz sua identificação, área de declarações, em que se valida o uso de
identificadores que não são pré-definidos, e corpo, na qual se escreve efetivamente o programa
e pode ser dividido em blocos.
26
4. METODOLOGIA
O aplicativo GSI Plotter é composto por três abas, sendo uma o programa principal e as
restantes itens secundários. Para isso, é necessário o desenvolvimento da interface gráfica em
três formulários no Lazarus, que contam com códigos e propriedades distintas, porém que
conversam entre si.
Na aba principal foram criados os seguintes itens:
• Botão “Inserir pontos”: botão no qual abre outra aba com uma planilha preparada
para a inserção dos dados de SR e SCR, com a possibilidade de salvar o arquivo ou abrir um
preexistente, além de orientações sobre a caracterização;
• Botão “Plotar”: botão que lê os dados inseridos pelo usuário e os plota na forma
de círculos no ábaco;
• Botão “Sair”: botão que encerra a execução do aplicativo;
• Área “Plote um ponto”: retângulo composto por duas barras de rolagem na qual
é possível variar a localização de um ponto em formato de cruz no ábaco, a partir dos eixos x
(SCR) e y (SR). Nesse local, também consta a informação denominada “GSI calculado”, em
que aparece o valor do GSI a partir da soma do SCR e SR, conforme apresentado por Hoek et
al. (2013);
• Ábaco modificado do GSI: ábaco em que é possível plotar os pontos a partir dos
dados de entrada, em que o SCR corresponde ao eixo x e o SR ao eixo y. Nesse ábaco estão
27
reproduzidas as linhas originais do GSI, com seus respectivos valores para possibilitar a sua
classificação. Abrange todos os campos originalmente criados do SCR, com valores variando
de 45 a 0 e intervalos de 9 pontos, e os cinco primeiros do SR, que varia de 0 a 50 com intervalos
de 10. O campo de rochas laminadas foi excluído por possuir um ábaco a parte, bem como por
não se aplicar na escala A e B desenvolvida pela quantificação de Hoek et al. (2013). Na linha
do SR que corresponde a rochas maciças ou com poucas juntas, foram adicionados os campos
de “(N/A)”, que são as situações de SCR boa e muito boa e que não são aplicáveis no GSI.
A aba principal pode ser observada na Figura 7.
O desenho do ábaco foi feito de forma a manter as características originais das linhas
dos valores de GSI, como constam no ábaco 2000 de Hoek & Marinos (2000). Para isso, o
ábaco original foi inserido como imagem no software Autocad e determinados pontos nos
extremos de cada linha, tanto de valores de GSI como de N/A. Com o uso de polilinhas, foram
anotadas as posições de x e y de cada ponto, na qual a origem corresponde ao início do ábaco.
Esse procedimento está ilustrado na Figura 8 e os valores obtidos encontram-se na Tabela 3.
Figura 8: Imagem do Autocad com o ábaco original do GSI inserido. Os círculos vermelhos correspondem aos
pontos que formam as linhas de valores de GSI; os azuis correspondem aos extremos das linhas de N/A e, o ponto
verde, simboliza a origem. As linhas de cor magenta foram utilizadas para definir a posição dos pontos a partir dos
seus comprimentos, como consta grifado em amarelo no lado esquerdo da ilustração.
29
Tabela 3: Tabela com os pontos medidos no Autocad e os valores obtidos, bem como as posições que
representam os extremos das linhas desenhadas no ábaco no Lazarus.
X- Y-
PONTO X Y LINHA
CÓDIGO CÓDIGO
1 1,0710 0,0000 25 24,5045 0,0000
2 1,2930 0,0000 20 29,5838 0,0000
3 1,5420 0,0000 15 35,2810 0,0000
4 1,7700 0,0000 10 40,4976 0,0000
7 1,9670 0,4170 10 45,0050 8,1148
8 1,9670 0,8710 15 45,0050 16,9497
9 1,9670 1,2610 20 45,0050 24,5391
10 1,9670 1,5850 25 45,0050 30,8441
11 1,9670 1,8710 30 45,0050 36,4097
12 1,8790 2,0610 35 42,9915 40,1071
13 1,6920 2,0610 40 38,7130 40,1071
14 1,5170 2,0610 45 34,7090 40,1071
15 1,3550 2,0610 50 31,0024 40,1071
16 1,1880 2,0610 55 27,1814 40,1071
17 1,1880 2,2660 60 27,1814 44,0964
18 1,1880 2,4340 65 27,1814 47,3656
19 1,1160 2,5700 70 25,5341 50,0122
20 0,9480 2,5700 75 21,6902 50,0122
21 0,7780 2,5700 80 17,8006 50,0122
22 0,5820 2,5700 85 13,3162 50,0122
23 0,3910 2,5700 90 8,9461 50,0122
24 0,1730 2,5700 95 3,9582 50,0122
25 0,0000 2,4260 95 0,0000 47,2100
26 0,0000 2,2380 90 0,0000 43,5515
27 0,0000 2,0210 85 0,0000 39,3287
28 0,0000 1,8090 80 0,0000 35,2031
29 0,0000 1,5680 75 0,0000 30,5133
30 0,0000 1,3590 70 0,0000 26,4461
31 0,0000 1,1070 65 0,0000 21,5422
32 0,0000 0,8470 60 0,0000 16,4826
33 0,0000 0,5670 55 0,0000 11,0338
34 0,0000 0,2520 50 0,0000 4,9039
35 0,0680 0,0000 45 1,5558 0,0000
36 0,3430 0,0000 40 7,8478 0,0000
37 0,6040 0,0000 35 13,8195 0,0000
38 0,8270 0,0000 30 18,9218 0,0000
NA 1 1,1880 2,5700 - 27,1814 50,0122
NA 2 1,1880 2,0610 - 27,1814 40,1071
NA 3 1,9670 2,0610 - 45,0050 40,1071
NA 4 0,0000 0,5110 - 0,0000 9,9441
30
Após, para adequar as posições de x e y aos valores das escalas A e B, foram calculados
fatores de correção (Equações 5 e 6) que, multiplicados aos comprimentos obtidos no Autocad,
resultaram na posição ideal de cada ponto, conforme mostrou a Tabela 3. Posteriormente, esses
pontos foram inseridos no código do programa na forma de linhas, que resultaram nos desenhos
que aparecem no ábaco após pressionar o botão “Plotar”.
45 45
Fator de correção A = Xmax = 1,967 = 22,88 (5)
50 50
Fator de correção B = Ymax = 2,5700 = 19,46 (6)
Na aba “Inserir pontos” foi programada uma planilha (Figura 9), em que é possível
inserir dados de no máximo 20 pontos distintos para análise, conforme os valores de SCR e SR
de cada um. Também constam duas tabelas com as informações necessárias para fazer essa
caracterização, com a descrição de cada classe e o intervalo de valores que se deve adotar,
conforme pôde ser observado nas Tabelas 1 e 2 no capítulo da revisão bibliográfica. Esses
valores foram baseados nas escalas A e B desenvolvido por Hoek et al. (2013).
Figura 9: Imagem da planilha da aba “Inserir Pontos” na qual é possível adicionar os dados de caracterização dos
maciços rochosos.
Além disso, o código e a interface foram criados de forma a colocar um menu com várias
opções ao usuário. No item “Arquivo” constam os submenus “Sobre” e “Sair”. O “Sobre”
fornece informações acerca do desenvolvimento do aplicativo, e compõe a terceira aba (Figura
10). Já o “Sair” tem a função de fechar essa aba e retornar à página principal do programa.
31
O mapeamento foi realizado nos anos de 2016 e 2017 para a pesquisa de mestrado da
autora em conjunto com a empresa Mineral Geologia, na qual os bancos 1 e 2 da mina tiveram
seus taludes e descontinuidades caracterizados a partir de parâmetros geotécnicos. Após, foram
definidas 13 unidades geotécnicas, sendo as de número 1 a 11 no mármore, e 12 e 13 em diques
de diabásio, e as informações levantadas encontram-se na Tabela 4. Esses dados foram inseridos
no GSI Plotter para classificar os maciços segundo o GSI.
Unidade
Litotipo SCR SR
Geotécnica
1 Mármore 32 22
2 Mármore 34 28
3 Mármore 33 22
4 Mármore 24 24
5 Mármore 30 25
6 Mármore 33 23
7 Mármore 32 31
8 Mármore 30 37
9 Mármore 32 25
10 Mármore 34 24
11 Mármore 34 21
12 Diabásio 33 34
13 Diabásio 31 34
33
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 12: Resultado do ábaco do GSI a partir da plotagem dos dados das unidades geotécnicas da Mina Capiru.
A partir do ábaco foi possível obter os valores de GSI de cada uma das unidades
geotécnicas. Esses resultados, juntamente com o GSI calculado a partir da soma de SCR e SR,
constam na Tabela 5. Para comparar os resultados, a Figura 13 apresenta um gráfico com os
resultados plotados.
35
Tabela 5: Valores de GSI obtidos do ábaco e da soma de SCR e SR para as unidades geotécnicas da Mina Capiru.
Figura 13: Gráfico com os valores de GSI obtidos de diferentes formas, no qual é possível observar a pouca
variação entre os resultados.
Resultados do GSI
80
70
60
Valor do GSI
50
40
GSI Ábaco
30
GSI Calculado
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Unidade Geotécnica
dos valores de SCR e SR depende da interpretação do usuário acerca das feições estruturais das
condições de superfície das descontinuidades. Dessa forma, o aplicativo se mostra uma boa
opção para os profissionais que pretendem aplicar o GSI utilizando números apenas para
facilitar a plotagem dos pontos no ábaco.
Comparando com os dados de campo, percebe-se que os resultados condizem com a
realidade, uma vez que as unidades compostas por diabásio tem valores de GSI mais altos, já
que são, em geral, menos estruturadas e a rocha é mais resistente ao intemperismo do que o
mármore. Além disso, a unidade geotécnica com menor valor de GSI é justamente ao lado de
onde o dique atua como uma barreira hidráulica do aquífero livre, fazendo com que mais água
se acumule ali, sendo comum presenciar gotejamento nas fraturas. A presença de água acelera
o intemperismo do maciço principalmente no mármore, fazendo com que o SCR tenha valor
menor do que em locais onde não há percolação constante.
Como foi abordado no capítulo da revisão bibliográfica, programas de classificação de
maciços rochosos não são comuns e muitos deles são pagos, o que os torna inacessíveis para
uma parcela dos profissionais da geologia e engenharia geotécnica. Mesmo considerando os
softwares livres, não foram encontrados programas que classifiquem segundo o GSI
diretamente, apenas a partir de equações empíricas cujos dados de entrada são os resultados de
outros métodos, como o Q e RMR. Sabe-se que esse tipo de uso do GSI é limitado pois depende
das situações em que as outras classificações sejam aplicáveis. Com isso, percebe-se que a
criação de um aplicativo que classifique diretamente segundo o GSI vem a contribuir com a
comunidade científica, principalmente se for distribuído de forma livre para o uso responsável
de profissionais da geotecnia.
37
6. CONCLUSÕES
O estudo de um sistema tão complexo como o GSI permite que muitas dúvidas surjam
em relação à sua aplicação, bem como às diversas propostas de quantificação. Além disso, a
relação íntima com o critério de ruptura de Hoek-Brown permite uma avaliação mais completa
de todo o processo de classificação do maciço rochoso.
Assim, considera-se importante o aprofundamento do estudo do método em algumas
questões pouco explicadas, como as áreas “N/A” do ábaco, que foram pouco abordadas neste
trabalho. Seria interessante entender melhor os detalhes que fizeram limitar a aplicação
daquelas classes de SR, bem como analisar o contexto dos estudos que as fizeram ser inseridas.
Outro ponto que levanta questionamentos é acerca das diversas propostas de
quantificação. Seria de grande valia analisar os detalhes de cada uma, aplicá-las em maciços
diferentes e comparar seus resultados, analisando quais métodos produzem resultados mais
assertivos em cada caso.
Em relação à metodologia aplicada, seria interessante desenvolver uma análise
estatística de forma a verificar a variação dos resultados a partir do ábaco original do GSI e da
soma do SCR e SR. Dessa forma seria possível conferir se a pequena variação dos valores de
GSI obtidos nesse trabalho se aplica em qualquer situação, o que permitiria o uso dos resultados
do GSI calculado sem a necessidade confirmação pelo ábaco.
Do ponto de vista do aplicativo criado, é recomendável que se continue o seu
desenvolvimento, tanto de forma a abranger outras classificações de maciços rochosos, como o
RMR, SMR, Q e Q-Slope, quanto se projetar a interface gráfica do ábaco do GSI para maciços
heterogêneos, ampliando sua utilização pelo usuário.
Por fim, as comparações realizadas nesse trabalho e as conclusões obtidas poderiam ser
validadas pela continuidade do processo, ao aplicar os valores de GSI na estimativa das
propriedades dos maciços utilizadas no critério de ruptura de Hoek-Brown. Dessa forma, seria
possível avaliar diretamente a influência do ábaco original e do GSI calculado nas constantes
de Hoek-Brown.
39
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