MONOGRAFIA DesenvolvimentoAplicativoComputacional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE MINAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS

MARCELA CHINEN MACHADO

DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO COMPUTACIONAL PARA


CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS PELO MÉTODO GEOLOGICAL
STRENGTH INDEX - GSI

OURO PRETO - MG
Janeiro de 2022
MARCELA CHINEN MACHADO

DESENVOLVIMENTO DE APLICATIVO COMPUTACIONAL PARA


CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS PELO MÉTODO GEOLOGICAL
STRENGTH INDEX - GSI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Engenharia de Minas da Universidade Federal de
Ouro Preto como requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Engenharia de Minas. Área de
concentração: Lavra de Minas/Geotecnia.

Orientador: Prof. Dr. Elton Destro


(DEMIN/EM/UFOP)

OURO PRETO - MG
Janeiro de 2022
À minha família, que a cada dia me faz uma profissional e uma pessoa melhor.
AGRADECIMENTOS

À minha família pelo suporte e apoio incondicional em tudo que sempre quis fazer. A
motivação e a vibração a cada conquista são essenciais para continuar seguindo, bem como o
acolhimento perante os fracassos. Agradeço especialmente aos meus pais, Rosiney e Neila, por
serem meu exemplo e meu porto seguro.
À minha irmã Carol por ser minha referência de dedicação, compaixão e modelo
profissional.
À querida colega e amiga Laura pelas incontáveis discussões técnicas e suporte nas mais
diversas dificuldades.
Ao geólogo e companheiro Victor pela motivação e toda a ajuda com a tradução de
termos técnicos.
Ao meu orientador Prof. Dr. Elton Destro por todo o conhecimento compartilhado e
compreensão nos momentos difíceis, e principalmente pela dedicação aos alunos e a esse
trabalho, além do acolhimento e orientação nas inúmeras incertezas que surgiram nesse
processo.
Ao Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto por
propiciar a realização desse estudo e por tudo que me foi oferecido ao longo dos anos.
A todos os professores que, durante o curso de Engenharia de Minas, dividiram comigo
um pouco do seu conhecimento e se dedicaram a me tornar uma profissional melhor.
Aos meus colegas de turma pelos anos de convívio, somando muitas risadas, estudo e
diversão, mesmo nos momentos em que a pandemia nos separou fisicamente e o ensino remoto
nos trouxe uma realidade nova a qual tivemos que nos adaptar. Tudo é mais fácil quando temos
uns aos outros.
A todos os colegas da Mineral Geologia pelo apoio diário e pela compreensão nos
momentos em que o curso exigiu mais de mim.
“A vida não é sobre o que você faz. É mais sobre como você faz.”
Lulu Wang
RESUMO

Classificações geomecânicas são extremamente necessárias para avaliar a qualidade de maciços


rochosos, especialmente em formações geológicas complexas. Diversos métodos foram criados
nas últimas décadas, na qual se destacam o Rock Quality Designation (RQD), Sistema Q e Rock
Mass Rating (RMR). O Geological Strength Index (GSI) surge para a permitir a estimativa de
propriedades dos maciços rochosos e sua aplicação no critério de ruptura de Hoek-Brown, em
casos de rochas com comportamento homogêneo e isotrópico, a partir de dados geológicos de
campo, inseridos de forma qualitativa. Ao longo dos anos, várias modificações foram feitas,
resultando no ábaco atual do GSI, de Hoek & Marinos (2000), bem como o surgimento de outro
ábaco para rochas heterogêneas e algumas propostas de quantificação. Com o intuito de facilitar
a aplicação do GSI, este trabalho objetiva desenvolver um aplicativo computacional em que
seja possível plotar dados de maciços rochosos no ábaco, permitindo a sua classificação a partir
de uma interface gráfica. Utilizou-se a plataforma IDE do Lazarus, na linguagem de
programação Pascal, para criar o programa, no qual pode-se avaliar até 20 unidades geotécnicas
ao mesmo tempo, bem como plotar um ponto no ábaco e variar sua posição em tempo real. O
aplicativo foi validado com dados de mapeamento geotécnico da Mina Capiru, em Rio Branco
do Sul/PR, no qual foi possível classificar o maciço segundo o GSI de forma visual.
Comparando com o cálculo do GSI a partir da soma dos valores de condição de superfície
(SCR) e da estrutura da rocha (SR), como proposto por Hoek et al. (2013), percebe-se que há
pouca variação nos resultados, considerada desprezível pela precisão requerida pelos autores.
Percebe-se também que o aplicativo atingiu o objetivo de permitir ao usuário a classificação
segundo o GSI de forma simples e intuitiva, tornando-se uma boa contribuição à comunidade
científica se for distribuído de forma livre, ampliando o acesso de profissionais da área de
geotecnia a programas computacionais específicos.

Palavras-chave: Mecânica de rochas, Classificação geomecânica, Geological strength index,


Desenvolvimento de software
ABSTRACT

Geomechanics classification systems are extremely necessary to assess rock mass quality,
especially in complex geological formations. Many methods were created in the last decades,
like Rock Quality Designation (RQD), Q-System and Rock Mass Rating (RMR). The
Geological Strength Index (GSI) arises to allow rock mass properties estimations from field
data entered qualitatively and its application at Hoek-Brown failure criterion, for rocks of
homogeneous and isotropic behaviour. Over the years, the method faced many modifications,
resulting in the current GSI chart, from Hoek & Marinos (2000), as well as the development of
another chart for heterogeneous rocks and some quantification proposals. In order to facilitate
the application of GSI, this study aims to develop a computational application in which is
possible to plot rock mass data at a chart, allowing its classification in a graphical interface.
The IDE Lazarus platform was used to create the program, in Pascal programming language, in
which up to 20 geotechnical units can be evaluated at the same time, as well as the plotting and
real-time manipulation of a point’s position at the chart. The app has been validated with
geotechnical mapping data of Capiru mine, in Rio Branco do Sul, state of Paraná, in which it
was possible to visually classify the rock mass according to GSI. Comparing this method with
the GSI calculation from the sum of surface condition (SCR) and rock structure (SR) values, as
proposed by Hoek et al (2013), minimal variance was verified between the results, which can
be considered insignificant by the precision required by the authors. From those results, it is
possible to conclude that the app reached its goal of allowing the user to classify according to
GSI in a simple and intuitive way, and being freely distributed also expands the access of
geotechnical professionals to some specific computational programs thus becoming a fine
contribution to the scientific community.

Keywords: Rock mechanics, Geological strength index, Geomechanics classification systems,


Software development
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ábaco original do GSI proposto por Hoek & Marinos (2000). ................................ 15
Figura 2: Ábaco do GSI para rochas heterogêneas proposto por Hoek & Marinos (2000). .... 16
Figura 3: Aplicação do GSI segundo diferentes escalas de projeto. ........................................ 18
Figura 4: ábaco do GSI de Hoek e Marinos (2000) com as escalas A e B e seus respectivos
intervalos .................................................................................................................................. 21
Figura 5: Gráfico com a relação dos valores de GSI obtidos pelo ábaco e pelo somatório das
escalas A e B............................................................................................................................. 22
Figura 6: Interface do programa Lazarus. Em vermelho, encontra-se o menu do software; em
verde, o editor de códigos e, em amarelo, o inspetor de objetos. O formulário, onde se faz a
interface gráfica, consta no retângulo laranja, e as mensagens estão no polígono azul ........... 25
Figura 7: Aba principal do GSI Plotter. ................................................................................... 27
Figura 8: Imagem do Autocad com o ábaco original do GSI inserido. Os círculos vermelhos
correspondem aos pontos que formam as linhas de valores de GSI; os azuis correspondem aos
extremos das linhas de N/A e, o ponto verde, simboliza a origem. As linhas de cor magenta
foram utilizadas para definir a posição dos pontos a partir dos seus comprimentos, como consta
grifado em amarelo no lado esquerdo da ilustração. ................................................................ 28
Figura 9: Imagem da planilha da aba “Inserir Pontos” na qual é possível adicionar os dados de
caracterização dos maciços rochosos. ...................................................................................... 30
Figura 10: Aba "Sobre o aplicativo”. ....................................................................................... 31
Figura 11: Arquivo de texto criado a partir do aplicativo. ....................................................... 33
Figura 12: Resultado do ábaco do GSI a partir da plotagem dos dados das unidades geotécnicas
da Mina Capiru. ........................................................................................................................ 34
Figura 13: Gráfico com os valores de GSI obtidos de diferentes formas, no qual é possível
observar a pouca variação entre os resultados. ......................................................................... 35
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Descrição e intervalo de valores utilizado no SCR com base no ábaco de Hoek &
Marinos (2000). ........................................................................................................................ 20
Tabela 2: Descrição e intervalo de valores utilizado no SR com base no ábaco de Hoek &
Marinos (2000). ........................................................................................................................ 20
Tabela 3: Tabela com os pontos medidos no Autocad e os valores obtidos, bem como as
posições que representam os extremos das linhas desenhadas no ábaco no Lazarus............... 29
Tabela 4: Caracterização das unidades geotécnicas segundo SCR e SR. ................................. 32
Tabela 5: Valores de GSI obtidos do ábaco e da soma de SCR e SR para as unidades geotécnicas
da Mina Capiru. ........................................................................................................................ 35
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8

2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 9

2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 9

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 9

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 10

3.1. CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS .................................................................. 10

3.2. ÍNDICE DE RESISTÊNCIA GEOLÓGICO - GSI ................................................... 12

3.2.1. Origem e Modificações ...................................................................................... 13

3.2.2. Aplicação e Limitações do GSI .......................................................................... 17

3.2.3. Propostas de Quantificação do GSI .................................................................... 18

3.3. CRITÉRIO DE RUPTURA DE HOEK-BROWN .................................................... 23

3.4. PROGRAMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS .................... 24

3.5. O LAZARUS ............................................................................................................... 24

4. METODOLOGIA............................................................................................................. 26

4.1. DESENVOLVIMENTO DO GSI PLOTTER ............................................................ 26

4.2. VALIDAÇÃO DO APLICATIVO ............................................................................ 31

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 33

6. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 37

SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 39


8

1. INTRODUÇÃO

A natureza complexa e o comportamento incerto devido a anisotropias e a presença de


inconformidades fazem dos maciços rochosos um material de difícil modelagem empírica e
numérica. Além disso, a modelagem de forma precisa para reduzir as incertezas associadas ao
processo de caracterização é um trabalho complicado (HUSSIAN et al., 2020).
Por isso, as diversas classificações geomecânicas surgem de forma a ajudar os
profissionais a definir índices de qualidade dos maciços rochosos e, consequentemente, prever
seu comportamento. Isso permite a definição de parâmetros da estrutura que busquem evitar
sua ruptura, ou mesmo a implantação de obras de estabilização ou contenção.
De acordo com Fiori & Carmignani (2009), os sistemas de classificação mais utilizados
são o Q de Barton et al. (1974) e o RMR de Bieniawski (1974). Com suas limitações, o
Geological Strength Index – GSI de Hoek surge em 1994 para classificar maciços rochosos
com base em observações geológicas de campo, com a proposta de ser um método simples e
rápido de ser utilizado, além de permitir a estimativa de propriedades dos maciços para a
aplicação no critério de ruptura de Hoek-Brown.
Na geotecnia, diversos softwares são utilizados para facilitar e agilizar a análise dos
profissionais, desde os mais simples até os mais complexos, que permitem fazer em minutos
uma modelagem que poderia levar meses. Porém, para a classificação geomecânica, poucos são
os programas disponíveis no mercado e mesmo os existentes não costumam classificar segundo
o GSI, mesmo sendo um parâmetro essencial para o critério de Hoek-Brown.
Além disso, os custos elevados da aquisição das licenças dos softwares dificultam a
popularização da modelagem geotécnica, restringindo profissionais e empresas que não dispõe
de recursos financeiros à aplicação de métodos menos precisos para realizar seus trabalhos. O
desenvolvimento de softwares livres permite o acesso desses engenheiros e geólogos a uma
gama de possibilidades antes elitizadas, restritas a grandes empresas, fazendo com que a ciência
e a sociedade ganhem com a qualidade do serviço prestado pelos profissionais, aumentando a
segurança dos empreendimentos e o aproveitamento dos recursos naturais.
9

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo geral desse trabalho é desenvolver um programa computacional capaz de


plotar dados referentes às condições de superfície e estruturais de maciços rochosos de forma a
classificá-los segundo o método do Índice de Resistência Geológico (Geological Strength Index
- GSI) de Hoek & Marinos (2000).

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1) Apresentar a origem e modificações do método GSI ao longo dos anos, bem como as
propostas de uso com dados quantitativos, além de suas aplicações e limitações;

2) Discutir as formas qualitativa e quantitativa da aplicação do GSI;

3) Desenvolver um aplicativo computacional que permita ao usuário plotar dados


geológicos de campo e classificar um maciço rochoso segundo o GSI, que possa ser distribuído
em regime de licenciamento aberto para a comunidade científica;

4) Mostrar a diferença do uso do ábaco original do GSI e o resultado a partir da soma dos
valores dos eixos proposta por Hoek et al. (2013) utilizando as escalas A e B, e discutir os
resultados.
10

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo, informações bibliográficas sobre as principais classificações


geomecânicas e o método do GSI, bem como softwares de classificação de maciços rochosos e
o programa Lazarus são trazidas de forma a embasar o trabalho.

3.1.CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS

Um maciço rochoso é essencialmente heterogêneo, anisótropo e descontínuo, composto


por blocos de rocha intacta e descontinuidades, na qual sua complexidade é produto da evolução
geológica a que foi submetido. A definição das características que condicionam seu
comportamento perante as solicitações é chamada de caracterização geomecânica, e a
hierarquização e organização desses atributos a fim de se associar comportamentos consiste na
classificação geomecânica (SERRA JUNIOR & OJIMA, 1998).
Fiori & Carmignani (2009) contam que os sistemas de classificação geomecânica
surgiram com Terzaghi em 1946, aparecendo mais classificações ao longo do tempo devido ao
aumento de obras e do entendimento de diversos fatores antes desconhecidos. Os autores
também afirmam que as mais utilizadas são as classificações de Barton et al. (1974) e
Bieniawski (1974), que aplicam parâmetros quantitativos e introduzem índices de ponderação
de cada classe. Ainda assim, as classificações geomecânicas são variadas, tanto em
complexidade quanto na forma da sua aplicação.
Na comunidade geotécnica, é amplamente aceito que as propriedades geomecânicas de
maciços rochosos são mais importantes que as da rocha intacta, bem como a influência das
descontinuidades em sua qualidade. Portanto, as classificações que têm sucesso abordam
medidas geométricas e propriedades das descontinuidades (FIORI & CARMIGNANI, 2009).
Os autores também contam que as primeiras classificações eram mais simples, e tinham
principalmente caráter qualitativo. Propriedades como o grau de alteração do maciço rochoso,
e o espaçamento, orientação, persistência e rugosidade das descontinuidades surgem em
métodos modernos.
Em 1967, Deere et al. desenvolveram o Rock Quality Designation (RQD), aplicado em
testemunhos de sondagem na qual conta-se os comprimentos dos pedaços superiores a 10
centímetros, cujo somatório, divido pelo comprimento total, fornece o valor da qualidade da
rocha (DEERE et al., 1967 apud FIORI & CARMIGNANI, 2009).
11

O Rock Mass Rating (RMR) é a classificação geomecânica proposta por Bieniawski


(1973), com diversas alterações de sua forma original desde então, com destaque para a versão
de 1989 que corresponde ao método utilizado atualmente. Para a avaliação, atribui-se pesos a
cinco parâmetros: resistência à compressão simples, RQD, espaçamento das fraturas, condições
físicas e geométricas das fraturas e a presença de água, além de um ajuste de acordo com a
orientação das descontinuidades. Cada parâmetro tem subdivisões que recebem pontos
ponderados, cuja soma atinge no máximo o valor de 100, na qual é possível dividir os maciços
em cinco classes que vão desde muito bom até muito pobre. Em determinadas aplicações,
desconta-se uma quantidade de pontos do valor final de acordo com a relação entre a orientação
das descontinuidades e do talude.
Em 1985, Romana propôs uma variação do RMR para taludes, chamada de Slope Mass
Rating (SMR). Essa classificação surgiu de forma a permitir a aplicação do RMR em taludes
sem o desconto dos valores extremos proposto por Bieniawski. Assim, Romana cria quatro
fatores que são somados ao valor original do RMR. O primeiro está relacionado ao paralelismo
entre as descontinuidades e o talude (F1), e o segundo é relativo à probabilidade de cisalhamento
de uma descontinuidade (F2), na qual leva-se em conta o mergulho da estrutura. Já o terceiro
fator depende da relação dos mergulhos do talude e da descontinuidade (F3), e o quarto é uma
correção baseada no método de escavação (F4). Dessa forma, os fatores F1, F2 e F3 podem causar
um decréscimo no valor do RMR, e o fator F4 pode aumentá-lo (ROMANA et al., 2015).
Barton et al. (1974) propuseram uma classificação específica para túneis, chamada de
Sistema Q. Esse método inclui aspectos tridimensionais do maciço rochoso, definindo índices
com valores ponderados, sendo eles o índice de qualidade de rocha (RQD), índice do número
de famílias de fraturas (Jn), índice de rugosidade das fraturas (Jr), índice de alteração das paredes
das fraturas (Ja), índice da influência da água subterrânea (Jw) e o índice de influência do estado
de tensão do maciço no entorno da abertura (SRF). Os parâmetros são combinados de acordo
com uma equação específica, e os valores de Q podem variar de 0,001 a 1000, representando a
qualidade do maciço rochoso.
Bar & Barton, em 2015, publicaram o método chamado Q-Slope, o qual já vinham
estudando e aplicando há quase uma década. Essa classificação consiste em utilizar o Sistema
Q para uma aplicação em taludes, em que se permite estimar ângulos de inclinação de suas
faces a partir de poucas mudanças na atribuição de valores dos parâmetros (BAR & BARTON,
2017). Os autores propuseram o O-factor, na qual a orientação das descontinuidades em relação
à direção do talude define o peso que os parâmetros Jr e Ja terão no cálculo. O Jw se torna Jwice,
e leva em consideração as condições ambientais em que o talude está exposto, e o SRF aplicado
12

será o valor menos favorável entre três possibilidades, definidas em tabelas específicas, e passa
a se chamar SFRslope. Bar & Barton (2017) afirmam que esse método não pode ser aplicado em
maciços de material inconsolidado ou com alturas superiores a 50 metros.
O GSI foi desenvolvido por Hoek em 1994 e Hoek et al. em 1995 para coletar
informações de campo e incorporar às equações do critério de ruptura de Hoek-Brown. A
classificação foi formulada considerando os dois principais fatores que influenciam nas
propriedades mecânicas de um maciço rochoso: a estrutura e a condição das juntas (HOEK &
BROWN, 2018).
O índice de resistência geológico (Geological Strength Index – GSI é uma ferramenta
de caracterização de maciços rochosos desenvolvida para projetos de túneis e outras estruturas
subterrâneas, baseado em observações de campo de geólogos e engenheiros experientes,
provendo dados confiáveis sobre as propriedades do maciço, utilizados posteriormente em
soluções analíticas ou numéricas (HUSSIAN et al., 2020). O sistema classifica o maciço em
cinco classes, de acordo com sua qualidade. Os autores afirmam que o método obteve grande
aceitação como ferramenta empírica de estimativa de características de resistência e
deformação de rochas muito fraturadas. A excepcionalidade do GSI em relação a outros
métodos empíricos está na determinação de propriedades dos maciços rochosos de resistência
baixa a muito baixa, além de rochas heterogêneas.

3.2.ÍNDICE DE RESISTÊNCIA GEOLÓGICO - GSI

O GSI é um método de classificação desenvolvido para suprir a necessidade de dados


confiáveis de propriedades de maciços rochosos para aplicar em soluções numéricas ou
analíticas para projetos de túneis, taludes ou fundações em rocha (MARINOS et al., 2007).
A ideia principal é ser uma classificação essencialmente qualitativa, baseada em dados
geológicos como litologia, estruturas e condição das faces das descontinuidades, sendo um
método simples de aplicar no campo, em afloramentos, escavações em superfície como cortes
de estrada, faces de túneis e testemunhos de sondagem (MARINOS et al., 2005).
Pode-se estimar o GSI de três diferentes formas: qualitativa, quantitativa e calculada a
partir de outros métodos empíricos de classificação de maciços rochosos, como RMR e Q
(HUSSIAN et al., 2020). A seguir serão discutidos aspectos sobre a origem, modificações,
aplicações, limitações e quantificação do método.
13

3.2.1. Origem e Modificações

Marinos et al. (2007) contam que com o aumento da abertura de túneis décadas atrás,
métodos numéricos surgiram para incrementar a análise de problemas de escavação,
necessitando de dados confiáveis de tensão e deformação do maciço rochoso. Os autores
destacam que, uma vez que é praticamente impossível determinar esses parâmetros por testes
in situ, com exceção de túneis já construídos, Hoek & Brown, em 1980, desenvolveram o
critério de ruptura de Hoek-Brown. Hoek e Brown reconheciam que o método precisava ter
relação com observações geológicas que pudessem ser feitas de forma fácil e rápida por
geólogos ou engenheiros geólogos, e consideraram desenvolver um sistema de classificação,
porém desistiram da ideia e resolveram se ater ao RMR (MARINOS et al., 2005).
Os sistemas Q e RMR são amplamente usados para vários propósitos na mecânica de
rochas e considerados a base do desenvolvimento de outras classificações, porém utilizam o
RQD como parâmetro de entrada, e este tem valor igual a zero em rochas de baixa resistência,
levando a resultados equivocados (HUSSIAN et al., 2020).
Após anos de uso, chegou-se à conclusão de que era necessário um sistema de
classificação baseado em observações geológicas do maciço rochoso, que refletisse no material,
suas estruturas e história geológica, bem como fosse desenvolvido para estimar propriedades
do maciço ao invés de projetos de reforços e suportes de túneis (MARINOS et al., 2007). Nesse
contexto, o GSI começou a ser desenvolvido em Toronto em 1992 por David Wood para
classificar maciços fraturados e de baixa resistência (HUSSIAN et al., 2020). O método foi
publicado por Hoek em 1994 e por Hoek et al. em 1995 (HOEK & BROWN, 2018) e, após
diversas modificações, resultou no ábaco atualmente utilizado, feito por Hoek e Marinos em
2000.
O método tem a função de coletar informações de campo e incorporar às equações do
critério de ruptura de Hoek-Brown (HOEK & BROWN, 2018), que serão dados de entrada em
análises numéricas ou soluções analíticas (MARINOS et al., 2007). Hoek & Brown (2018)
afirmam que a classificação foi formulada considerando os dois principais fatores que
influenciam nas propriedades mecânicas de um maciço rochoso: a estrutura (Structural Rating
– SR) e a condição das juntas (Surface Condition Rating – SCR).
Em 1998, Hoek et al. fizeram uma extensão do ábaco para incluir maciços xistosos de
baixa resistência situados em Atenas, resultando na última linha, de rochas foliadas, laminadas
ou cisalhadas, porém não associados a condições de superfície boas a muito boas (HUSSIAN
et al., 2020). Marinos & Hoek, em 2000 e 2001, trabalhando em túneis em maciços rochosos
14

fraturados na Grécia, incluíram a categoria de estrutura de rochas intactas ou maciças e, anos


mais tarde, Hoek et al., em 2005, incorporaram maciços heterogêneos, de baixa resistência, e
com variação litológica ao GSI, desenvolvendo outro ábaco para esse para esses tipos de rochas
(HUSSIAN et al., 2020). Os ábacos citados podem ser observados nas Figuras 1 e 2,
respectivamente.
15

Figura 1: Ábaco original do GSI proposto por Hoek & Marinos (2000).

Fonte: adaptado de Hoek et al. (2013).


16

Figura 2: Ábaco do GSI para rochas heterogêneas proposto por Hoek & Marinos (2000).

Fonte: adaptado de Hoek et al. (2013).


17

3.2.2. Aplicação e Limitações do GSI

O propósito original do GSI era providenciar um guia para a estimativa inicial das
propriedades do maciço rochoso. Sempre se assumiu que o usuário aperfeiçoaria essas
estimativas com investigações in situ mais detalhadas, análises numéricas e retroanálises do
comportamento de túneis e taludes para validar ou modificar esses resultados iniciais (HOEK
& BROWN, 2018).
Marinos et al. (2005) ressaltam que a classificação GSI baseia-se no princípio de que o
maciço rochoso tem descontinuidades orientadas de forma que não há uma direção preferencial
que compromete sua estabilidade, assumindo um comportamento homogêneo e isotrópico, da
mesma forma que o critério de ruptura de Hoek-Brown. Assim, o sistema não deve ser utilizado
em situações onde há uma orientação predominante ou existem instabilidades gravitacionais
que dependem de estruturas (HUSSIAN et al., 2020). Apesar disso, os autores assumem que
em situações onde há uma única descontinuidade bem definida, como uma falha ou zona de
cisalhamento, é possível aplicar o GSI ignorando essa estrutura, mas deve-se utilizar os outros
parâmetros do critério de Hoek-Brown relativos à essa descontinuidade (MARINOS et al.,
2007).
O GSI não é aplicável em rochas resistentes com poucas descontinuidades, cujo
espaçamento tenha dimensão similar ao túnel ou talude, uma vez que nessas situações a
estabilidade será controlada pela interseção das descontinuidades com a face livre da escavação
(MARINOS et al., 2005). A Figura 3 mostra que a relação do tamanho dos blocos com o
tamanho da estrutura é um importante fator a ser considerado na decisão de se usar o GSI
(HOEK & BROWN, 2018).
O método também não se aplica em maciços a grandes profundidades (superiores a 1000
metros), pois comporta-se como rocha intacta uma vez que as descontinuidades são
comprimidas pelo peso da coluna de rocha acima delas, atingindo valores de GSI em torno de
100 (MARINOS et al., 2007).
Em casos de descontinuidades com preenchimentos, o GSI pode ser aplicado, porém
quando espessos (mais que alguns centímetros) ou em zonas de cisalhamento com material
argiloso, recomenda-se o uso do ábaco do GSI para maciços heterogêneos (MARINOS et al.,
2005). Os autores recomendam que quando o maciço se encontrar tão intemperizado a ponto
de não se reconhecer mais suas estruturas, deve ser avaliado como solo e, dessa forma, não é
possível aplicar o GSI.
18

Figura 3: Aplicação do GSI segundo diferentes escalas de projeto.

Fonte: adaptado de Hoek & Brown (2018).

Sabe-se que há diversas correlações do valor do GSI baseado em outros métodos de


classificação geomecânica como RMR e Q. Apesar de ter boa aplicação em maciços de boa
qualidade, não deve ser feita em maciços de menor resistência (GSI<35) ou heterogêneos
(MARINOS et al., 2007).

3.2.3. Propostas de Quantificação do GSI

O ponto inicial de cada programa de investigação de um local é um bom modelo


geológico, feito por geólogos que tenham familiaridade com a geologia regional da área e
experiência trabalhando com esse tipo de rocha (HOEK & BROWN, 2018). O GSI funciona
bem para aplicação por engenheiros geólogos experientes, porém sabe-se que pode ser
desconfortável para engenheiros por utilizar parâmetros qualitativos, que dificultam na precisão
19

do valor obtido (MARINOS et al., 2007). Marinos et al. (2005) alertam que a ideia de
quantificar é interessante, porém deve ser utilizada com cuidado para que não se perca a lógica
geológica do GSI. De qualquer forma, autores afirmam que a precisão não é significativa, sendo
o GSI melhor descrito por um intervalo de valores, como 33-37, ao invés de sua média, que
seria 35.
O grau de certeza do valor do GSI depende da expertise do coletor dos dados, o que
permite que diferentes pessoas obtenham resultados distintos. Por isso, era necessário superar
essas dificuldades de estimativa, o que fez com que, em 1999, Sonmez & Ulusay criassem a
primeira forma de quantificar o GSI, que incluía apenas as quatro categorias iniciais das classes
de estruturas (HUSSIAN et al., 2020). Os autores afirmam que o método proposto utiliza a
quantidade de juntas por unidade de volume (Jv) e condições de superfície baseadas em grau de
intemperismo, rugosidade e preenchimento das descontinuidades, aplicados em algumas
equações que fornecem os valores a serem colocados no ábaco.
Em 2004, Cai et al. introduziram o volume do bloco (Vb) e a condição da junta (Jc) no
sistema de quantificação do GSI, permitindo a avaliação de rochas intactas e maciças (linha
superior das características estruturais do maciço no ábaco), além de reduzir a dependência da
experiência de campo e manter a simplicidade do ábaco original do GSI (HUSSIAN et al.,
2020).
Hoek et al., em 2013, inseriram as escalas A e B nos eixos x e y do ábaco,
respectivamente. A escala A, que representa a condição da superfície (SCR), admite valores de
0 a 45 divididos em 5 intervalos, seguindo a classificação original, como mostra a Tabela 1. Da
mesma forma, a escala B representa a estrutural (SR) da rocha, e varia entre 0 e 50, dividida em
5 intervalos (HUSSIAN et al., 2020), como apresentado pela Tabela 2. Esse ábaco pode ser
conferido na Figura 4. A última linha do ábaco foi removida pois não se aplica às condições de
homogeneidade e isotropia, porém, para determinação do GSI desse tipo de maciços rochosos,
é possível usar o ábaco específico para rochas heterogêneas (HOEK et al., 2013).
Em cada interseção das escalas A e B, o valor do GSI pode ser estimado pelas linhas do
ábaco ou pela soma dos valores atribuídos nas escalas (HOEK et al., 2013). A Figura 5 mostra
pontos plotados com a relação entre as duas formas de determinação do GSI, e a tendência
linear dos resultados, com pouca variação. Os autores explicam que essa pequena variação
ocorre porque as linhas do GSI foram desenhadas a mão originalmente, fazendo com que não
sejam paralelas ou igualmente espaçadas, porém é possível fazer essa correção, na qual elimina-
se o erro sem alterar a função do ábaco original (HOEK et al., 2013).
20

Tabela 1: Descrição e intervalo de valores utilizado no SCR com base no ábaco de Hoek & Marinos (2000).

Surface
Condition
Descrição Intervalos
Rating
(SCR)
Superfície muito rugosa, não
Muito Boa 36 - 45
intemperizada, fresca
Superfície rugosa, levemente
Boa intemperizada, com manchas 27 - 36
ferruginosas
Superfície lisa, moderadamente
Regular 15 - 27
intemperizada e alterada
Superfície com espelho de falha,
altamente intemperizada com
Pobre cobertura compacta ou 9 - 15
preenchimento de fragmentos
angulares
Superfície com espelho de falha,
altamente intemperizada, com
Muito Pobre 0-9
cobertura ou preenchimento
argiloso

Tabela 2: Descrição e intervalo de valores utilizado no SR com base no ábaco de Hoek & Marinos (2000).

Structure
Descrição Intervalos
Rating (SR)

Rocha intacta ou maciça, in situ,


Intacta ou
com poucas descontinuidades 40 - 50
Maciça
amplamente espaçadas
Maciço rochoso não perturbado
com blocos interconectados e
Fraturada 30 - 40
cúbicos, formados por três
famílias de descontinuidades
Maciço rochoso parcialmente
perturbado, com blocos
Muito
interconectados angulares e 20 - 30
Fraturada
multifacetados formados por
quatro ou mais famílias de juntas
Maciço rochoso dobrado, com
blocos angulares formados por
Fraturada
várias famílias de
Perturbada 10 - 20
descontinuidades que se
Deformada
interceptam. Estratificação ou
xistosidade persistentes.
Maciço rochoso pobremente
interconectado, altamente
Desintegrada 0 - 10
fraturado, com fragmentos de
rochas angulares e arredondadas
21

Figura 4: Ábaco do GSI de Hoek e Marinos (2000) com as escalas A e B e seus respectivos intervalos

Fonte: adaptado de Hoek et al. (2013).


22

Figura 5: Gráfico com a relação dos valores de GSI obtidos pelo ábaco e pelo somatório das escalas A e B.

Fonte: adaptado de Hoek et al. (2013).

Para facilitar a quantificação, os autores definiram a escala A sendo 1,5 vezes o Joint
Condition Rating (JCond89) de Bieniawski (1989) e a escala B como o RQD de Deere (1967)
dividido por 2, sendo o GSI a soma dos dois resultados (HUSSIAN et al., 2020). Até o momento
da escrita do artigo, os resultados disponíveis se mostraram satisfatórios, porém os autores
afirmam que, com o uso dessa quantificação, é possível que alguns ajustes sejam feitos nas
posições das duas escalas para que fiquem mais próximos aos resultados vindos de dados
qualitativos (HOEK et al., 2013).
Hussian et al. (2020) afirmam que a versão quantitativa do GSI é aplicável em situações
em que a frequência e orientação das descontinuidades é medida facilmente, e não é efetiva em
maciços perturbados tectonicamente, onde o arranjo estrutural foi destruído, sendo que nesses
casos recomenda-se o uso da versão qualitativa do método. A adição de escalas quantitativas
ao ábaco do GSI não deve limitar o uso da forma como foi concebido, ou seja, baseada em
observações visuais de campo, de forma qualitativa (HOEK et al., 2013).
23

3.3.CRITÉRIO DE RUPTURA DE HOEK-BROWN

O GSI é um sistema de classificação de maciços rochosos criado para associar o critério


de ruptura de Hoek-Brown, desenvolvido por Hoek & Brown em 1980, a observações
geológicas de campo. Esses métodos tiveram boa aceitação como ferramentas para estimar
características de resistência e deformação de maciços fraturados (HOEK & BROWN, 2018).
Hussian et al. (2020) contam que o critério de Hoek-Brown trata-se de uma proposta de
um critério de ruptura não-linear para estimar a resistência da rocha intacta baseado em uma
ampla variedade de testes triaxiais em amostras de rocha intacta. Os autores afiram que o
critério é atualizado frequentemente, de acordo com a experiência ganhada em seu uso, além
de identificarem certas limitações. Dessa forma, em 2002, Hoek & Brown desenvolveram um
critério de ruptura generalizado para estimar a resistência de maciços rochosos fraturados,
expresso pela equação 1.

𝜎 𝑎
𝜎1 = 𝜎3 + 𝜎𝑐𝑖 (𝑚𝑏 𝜎 3 + 𝑠) (1)
𝑐𝑖

Onde:
σ1 e σ3 são a maior e a menor tensão principal, respectivamente;
σci é a resistência à compressão uniaxial; e
mb, s e a são as constantes do material do maciço rochoso.

A aplicação do GSI é feita nessas constantes do material, na qual o valor do GSI é


parâmetro de entrada, como mostram as equações 2, 3 e 4.

𝐺𝑆𝐼−100
𝑚𝑏 = 𝑚𝑖 exp ( 28−14𝐷 ) (2)
𝐺𝑆𝐼−100
𝑠 = exp ( ) (3)
9−3𝐷
1 1
𝑎= + (𝑒 −𝐺𝑆𝐼/15 − 𝑒 −20/3 ) (4)
2 6

Onde:
mi é uma constante da rocha intacta; e
D é um fator que depende do grau de perturbação ao qual o maciço rochoso é exposto
devido ao dano do desmonte por explosivos e ao relaxamento das tensões.
24

3.4. PROGRAMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS

A geotecnia permite uma gama de aplicações de ferramentas de modelagem


(MARCELINO & MANSO, 2009). Em formações geológicas complexas, a caracterização e
modelagem geotécnica são necessárias para avaliar a natureza, geometria e resistência das
descontinuidades (GEOSTRU, 2020). Dessa forma, é possível encontrar softwares para as mais
diversas funções, tanto pagos quanto livres.
O interesse em ferramentas de Software Livre é uma realidade global, mesmo nas
engenharias, uma vez que possibilita soluções de alta qualidade, permite a inovação,
desenvolvimento e competitividade da comunidade científica, e alimenta uma rede de
compartilhamento de informações e conhecimento, sem a dependência de disponibilidade
financeira para comprar a licença de determinado programa (MARCELINO & MANSO, 2009).
Muitos cientistas se empenham para desenvolver programas livres. Na área da
classificação de maciços rochosos, pode-se listar o ClassMass, desenvolvido para classificar
segundo o sistema Q, MRMR (Mining Rock Mass Rating) e o GSI, a partir de equações
empíricas (DELIORMANLI & ONARGAN, 2003). Já Onsel et al. (2011) criaram um software
que permite fazer uma análise completa acerca de testemunhos de sondagem, utilizando o
método RQD, e gerando diversos gráficos de distribuição dos blocos e da qualidade do maciço
ao longo das amostras.
Dentre os programas que requerem a compra das licenças, podemos citar:
• Rock Mechanics: desenvolvido pela GeoStru, classifica os maciços segundo
diversos métodos, dentre eles o Q e RMR (GEOSTRU, 2020);
• ClassRock: criado pela GEO&SOFT INTERNATIONAL, classifica maciços
rochosos nos sistemas Q e RMR (GEOTECHPEDIA, s.d.).

3.5. O LAZARUS

O programa Lazarus é um ambiente de desenvolvimento integrado (Integrated


Development Environment – IDE) compatível com Delphi/Pascal, que permite a criação de
aplicativos a partir de uma variedade de componentes prontas para uso e um formulário gráfico
para facilitar o desenho de interfaces. É um software gratuito, com download disponível no site
para qualquer usuário. O Projeto Lazarus foi criado em 1999 por Cliff Baeseman, Shane Miller
e Michael Hess, e seu desenvolvimento continuou com Marc Weustink e Mattias Gartner
(LAZARUS-IDE, c1993-2022). A interface do Lazarus pode ser observada na Figura 6.
25

Figura 6: Interface do programa Lazarus. Em vermelho, encontra-se o menu do software; em verde, o editor de
códigos e, em amarelo, o inspetor de objetos. O formulário, onde se faz a interface gráfica, consta no retângulo
laranja, e as mensagens estão no polígono azul

Um IDE é um software criado para auxiliar programadores, uma vez que já se encontram
funções para o desenvolvimento de programas e alguns recursos que reduzem erros nos códigos
(PSAFE, 2014).
A linguagem de programação utilizada no Lazarus é o Pascal. O Pascal foi criado entre
1968 e 1970 por Nicklaus Wirth na Universidade Técnica de Zurique, na Suíça, com o objetivo
de desenvolver uma linguagem de alto nível para ensinar programação estruturada
(RODRIGUES, 2007). De acordo com o autor, os programas em Pascal são compostos por
cabeçalho, onde se faz sua identificação, área de declarações, em que se valida o uso de
identificadores que não são pré-definidos, e corpo, na qual se escreve efetivamente o programa
e pode ser dividido em blocos.
26

4. METODOLOGIA

O desenvolvimento do trabalho contou com diversas etapas. Inicialmente, foi realizada


a revisão bibliográfica acerca do sistema GSI, juntamente com o aprendizado do software
Larazus e da linguagem de programação Pascal. Esse aprendizado foi feito de forma prática,
acompanhando o desenvolvimento de outro aplicativo, e continuou até a finalização deste
estudo.
Após as etapas iniciais, iniciou-se, no Lazarus, o desenvolvimento do GSI Plotter,
aplicativo computacional que plota e classifica maciços rochosos segundo o método GSI. Para
demonstrar a utilização do programa, foram aplicados dados reais, levantados em uma
mineração na região metropolitana de Curitiba, na qual os resultados são discutidos no próximo
capítulo.

4.1. DESENVOLVIMENTO DO GSI PLOTTER

O aplicativo GSI Plotter é composto por três abas, sendo uma o programa principal e as
restantes itens secundários. Para isso, é necessário o desenvolvimento da interface gráfica em
três formulários no Lazarus, que contam com códigos e propriedades distintas, porém que
conversam entre si.
Na aba principal foram criados os seguintes itens:
• Botão “Inserir pontos”: botão no qual abre outra aba com uma planilha preparada
para a inserção dos dados de SR e SCR, com a possibilidade de salvar o arquivo ou abrir um
preexistente, além de orientações sobre a caracterização;
• Botão “Plotar”: botão que lê os dados inseridos pelo usuário e os plota na forma
de círculos no ábaco;
• Botão “Sair”: botão que encerra a execução do aplicativo;
• Área “Plote um ponto”: retângulo composto por duas barras de rolagem na qual
é possível variar a localização de um ponto em formato de cruz no ábaco, a partir dos eixos x
(SCR) e y (SR). Nesse local, também consta a informação denominada “GSI calculado”, em
que aparece o valor do GSI a partir da soma do SCR e SR, conforme apresentado por Hoek et
al. (2013);
• Ábaco modificado do GSI: ábaco em que é possível plotar os pontos a partir dos
dados de entrada, em que o SCR corresponde ao eixo x e o SR ao eixo y. Nesse ábaco estão
27

reproduzidas as linhas originais do GSI, com seus respectivos valores para possibilitar a sua
classificação. Abrange todos os campos originalmente criados do SCR, com valores variando
de 45 a 0 e intervalos de 9 pontos, e os cinco primeiros do SR, que varia de 0 a 50 com intervalos
de 10. O campo de rochas laminadas foi excluído por possuir um ábaco a parte, bem como por
não se aplicar na escala A e B desenvolvida pela quantificação de Hoek et al. (2013). Na linha
do SR que corresponde a rochas maciças ou com poucas juntas, foram adicionados os campos
de “(N/A)”, que são as situações de SCR boa e muito boa e que não são aplicáveis no GSI.
A aba principal pode ser observada na Figura 7.

Figura 7: Aba principal do GSI Plotter.


28

O desenho do ábaco foi feito de forma a manter as características originais das linhas
dos valores de GSI, como constam no ábaco 2000 de Hoek & Marinos (2000). Para isso, o
ábaco original foi inserido como imagem no software Autocad e determinados pontos nos
extremos de cada linha, tanto de valores de GSI como de N/A. Com o uso de polilinhas, foram
anotadas as posições de x e y de cada ponto, na qual a origem corresponde ao início do ábaco.
Esse procedimento está ilustrado na Figura 8 e os valores obtidos encontram-se na Tabela 3.

Figura 8: Imagem do Autocad com o ábaco original do GSI inserido. Os círculos vermelhos correspondem aos
pontos que formam as linhas de valores de GSI; os azuis correspondem aos extremos das linhas de N/A e, o ponto
verde, simboliza a origem. As linhas de cor magenta foram utilizadas para definir a posição dos pontos a partir dos
seus comprimentos, como consta grifado em amarelo no lado esquerdo da ilustração.
29

Tabela 3: Tabela com os pontos medidos no Autocad e os valores obtidos, bem como as posições que
representam os extremos das linhas desenhadas no ábaco no Lazarus.

X- Y-
PONTO X Y LINHA
CÓDIGO CÓDIGO
1 1,0710 0,0000 25 24,5045 0,0000
2 1,2930 0,0000 20 29,5838 0,0000
3 1,5420 0,0000 15 35,2810 0,0000
4 1,7700 0,0000 10 40,4976 0,0000
7 1,9670 0,4170 10 45,0050 8,1148
8 1,9670 0,8710 15 45,0050 16,9497
9 1,9670 1,2610 20 45,0050 24,5391
10 1,9670 1,5850 25 45,0050 30,8441
11 1,9670 1,8710 30 45,0050 36,4097
12 1,8790 2,0610 35 42,9915 40,1071
13 1,6920 2,0610 40 38,7130 40,1071
14 1,5170 2,0610 45 34,7090 40,1071
15 1,3550 2,0610 50 31,0024 40,1071
16 1,1880 2,0610 55 27,1814 40,1071
17 1,1880 2,2660 60 27,1814 44,0964
18 1,1880 2,4340 65 27,1814 47,3656
19 1,1160 2,5700 70 25,5341 50,0122
20 0,9480 2,5700 75 21,6902 50,0122
21 0,7780 2,5700 80 17,8006 50,0122
22 0,5820 2,5700 85 13,3162 50,0122
23 0,3910 2,5700 90 8,9461 50,0122
24 0,1730 2,5700 95 3,9582 50,0122
25 0,0000 2,4260 95 0,0000 47,2100
26 0,0000 2,2380 90 0,0000 43,5515
27 0,0000 2,0210 85 0,0000 39,3287
28 0,0000 1,8090 80 0,0000 35,2031
29 0,0000 1,5680 75 0,0000 30,5133
30 0,0000 1,3590 70 0,0000 26,4461
31 0,0000 1,1070 65 0,0000 21,5422
32 0,0000 0,8470 60 0,0000 16,4826
33 0,0000 0,5670 55 0,0000 11,0338
34 0,0000 0,2520 50 0,0000 4,9039
35 0,0680 0,0000 45 1,5558 0,0000
36 0,3430 0,0000 40 7,8478 0,0000
37 0,6040 0,0000 35 13,8195 0,0000
38 0,8270 0,0000 30 18,9218 0,0000
NA 1 1,1880 2,5700 - 27,1814 50,0122
NA 2 1,1880 2,0610 - 27,1814 40,1071
NA 3 1,9670 2,0610 - 45,0050 40,1071
NA 4 0,0000 0,5110 - 0,0000 9,9441
30

Após, para adequar as posições de x e y aos valores das escalas A e B, foram calculados
fatores de correção (Equações 5 e 6) que, multiplicados aos comprimentos obtidos no Autocad,
resultaram na posição ideal de cada ponto, conforme mostrou a Tabela 3. Posteriormente, esses
pontos foram inseridos no código do programa na forma de linhas, que resultaram nos desenhos
que aparecem no ábaco após pressionar o botão “Plotar”.

45 45
Fator de correção A = Xmax = 1,967 = 22,88 (5)

50 50
Fator de correção B = Ymax = 2,5700 = 19,46 (6)

Na aba “Inserir pontos” foi programada uma planilha (Figura 9), em que é possível
inserir dados de no máximo 20 pontos distintos para análise, conforme os valores de SCR e SR
de cada um. Também constam duas tabelas com as informações necessárias para fazer essa
caracterização, com a descrição de cada classe e o intervalo de valores que se deve adotar,
conforme pôde ser observado nas Tabelas 1 e 2 no capítulo da revisão bibliográfica. Esses
valores foram baseados nas escalas A e B desenvolvido por Hoek et al. (2013).

Figura 9: Imagem da planilha da aba “Inserir Pontos” na qual é possível adicionar os dados de caracterização dos
maciços rochosos.

Além disso, o código e a interface foram criados de forma a colocar um menu com várias
opções ao usuário. No item “Arquivo” constam os submenus “Sobre” e “Sair”. O “Sobre”
fornece informações acerca do desenvolvimento do aplicativo, e compõe a terceira aba (Figura
10). Já o “Sair” tem a função de fechar essa aba e retornar à página principal do programa.
31

Figura 10: Aba "Sobre o aplicativo”.

No item “Dados” constam as opções “Novo”, “Abrir” e “Salvar”. Em “Novo”, foi


programada a abertura de uma planilha nova, que limpa os dados adicionados anteriormente.
Em “Abrir” é possível abrir um arquivo em formato .txt na qual entra-se com os dados
diretamente na planilha, sem ser necessário digitar um por um no programa. Em “Salvar”, a
programação foi feita de forma que se permita salvar na extensão .txt a planilha com os dados
adicionados manualmente.

4.2. VALIDAÇÃO DO APLICATIVO

Para validar o aplicativo, foram introduzidos dados acerca do mapeamento da Mina


Capiru, que se localiza no município de Rio Branco do Sul, no Paraná. Esse empreendimento
minerário extrai mármore dolomítico para uso industrial, agrícola e para construção civil. No
entorno do mármore da frente de lavra, há ocorrência de filito e quartzito, além de diques de
diabásio que cortam todos os litotipos.
32

O mapeamento foi realizado nos anos de 2016 e 2017 para a pesquisa de mestrado da
autora em conjunto com a empresa Mineral Geologia, na qual os bancos 1 e 2 da mina tiveram
seus taludes e descontinuidades caracterizados a partir de parâmetros geotécnicos. Após, foram
definidas 13 unidades geotécnicas, sendo as de número 1 a 11 no mármore, e 12 e 13 em diques
de diabásio, e as informações levantadas encontram-se na Tabela 4. Esses dados foram inseridos
no GSI Plotter para classificar os maciços segundo o GSI.

Tabela 4: Caracterização das unidades geotécnicas segundo SCR e SR.

Unidade
Litotipo SCR SR
Geotécnica
1 Mármore 32 22
2 Mármore 34 28
3 Mármore 33 22
4 Mármore 24 24
5 Mármore 30 25
6 Mármore 33 23
7 Mármore 32 31
8 Mármore 30 37
9 Mármore 32 25
10 Mármore 34 24
11 Mármore 34 21
12 Diabásio 33 34
13 Diabásio 31 34
33

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do desenvolvimento do aplicativo, foi possível inserir os dados da Mina Capiru


e validar o programa. Os valores de SCR e SR de cada unidade geotécnica foram adicionados
à planilha da aba “Inserir Pontos”, salvos no computador e, posteriormente, abertos no
programa. A Figura 11 mostra como ficou o arquivo de texto salvo.

Figura 11: Arquivo de texto criado a partir do aplicativo.

Os pontos inseridos no programa foram plotados no ábaco do GSI na aba principal,


como mostra a Figura 12. De acordo com os resultados plotados, percebe-se uma concentração
de unidades geotécnicas com valores de GSI em torno de 55. Apesar de mais espaçados no
ábaco, há outra concentração com resultados variando entre 60 e 70. Além disso, nota-se uma
unidade geotécnica com índice de qualidade menor, com GSI = 46, devido à pior condição de
superfície do que as demais.
A espacialização dos resultados no ábaco permite a visualização de qual fator interfere
mais na qualidade do maciço. Isso não é possível quando o GSI é calculado, uma vez que apenas
a soma de SCR e SR é fornecida, fazendo com que seja necessário analisar os dados de entrada.
34

Figura 12: Resultado do ábaco do GSI a partir da plotagem dos dados das unidades geotécnicas da Mina Capiru.

A partir do ábaco foi possível obter os valores de GSI de cada uma das unidades
geotécnicas. Esses resultados, juntamente com o GSI calculado a partir da soma de SCR e SR,
constam na Tabela 5. Para comparar os resultados, a Figura 13 apresenta um gráfico com os
resultados plotados.
35

Tabela 5: Valores de GSI obtidos do ábaco e da soma de SCR e SR para as unidades geotécnicas da Mina Capiru.

Unidade GSI GSI


Geotécnica Ábaco Calculado
1 52 54
2 61 62
3 54 55
4 46 48
5 53 55
6 54 56
7 62 63
8 66 67
9 55 57
10 56 58
11 54 55
12 66 67
13 64 65

Figura 13: Gráfico com os valores de GSI obtidos de diferentes formas, no qual é possível observar a pouca
variação entre os resultados.

Resultados do GSI
80
70
60
Valor do GSI

50
40
GSI Ábaco
30
GSI Calculado
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Unidade Geotécnica

Observando os resultados, percebe-se que a diferença entre eles é muito pequena e, do


ponto de vista da precisão apresentada pelos autores, é insignificante, uma vez que os valores
variaram no máximo em 2 pontos. Dessa forma, pode-se afirmar que a falta de paralelismo e
equidistância das linhas do ábaco não influencia nos resultados obtidos nesse trabalho.
O uso das escalas A e B de Hoek et al. (2013) para a entrada de dados no GSI se mostra
de fácil aplicação, e permite a tradução dos parâmetros qualitativos em números, o que facilita
a organização e comparação dos dados. Porém é fortemente subjetiva, uma vez que a atribuição
36

dos valores de SCR e SR depende da interpretação do usuário acerca das feições estruturais das
condições de superfície das descontinuidades. Dessa forma, o aplicativo se mostra uma boa
opção para os profissionais que pretendem aplicar o GSI utilizando números apenas para
facilitar a plotagem dos pontos no ábaco.
Comparando com os dados de campo, percebe-se que os resultados condizem com a
realidade, uma vez que as unidades compostas por diabásio tem valores de GSI mais altos, já
que são, em geral, menos estruturadas e a rocha é mais resistente ao intemperismo do que o
mármore. Além disso, a unidade geotécnica com menor valor de GSI é justamente ao lado de
onde o dique atua como uma barreira hidráulica do aquífero livre, fazendo com que mais água
se acumule ali, sendo comum presenciar gotejamento nas fraturas. A presença de água acelera
o intemperismo do maciço principalmente no mármore, fazendo com que o SCR tenha valor
menor do que em locais onde não há percolação constante.
Como foi abordado no capítulo da revisão bibliográfica, programas de classificação de
maciços rochosos não são comuns e muitos deles são pagos, o que os torna inacessíveis para
uma parcela dos profissionais da geologia e engenharia geotécnica. Mesmo considerando os
softwares livres, não foram encontrados programas que classifiquem segundo o GSI
diretamente, apenas a partir de equações empíricas cujos dados de entrada são os resultados de
outros métodos, como o Q e RMR. Sabe-se que esse tipo de uso do GSI é limitado pois depende
das situações em que as outras classificações sejam aplicáveis. Com isso, percebe-se que a
criação de um aplicativo que classifique diretamente segundo o GSI vem a contribuir com a
comunidade científica, principalmente se for distribuído de forma livre para o uso responsável
de profissionais da geotecnia.
37

6. CONCLUSÕES

Com o entendimento do sistema GSI, as razões de sua origem e as modificações ao


longo dos anos, é possível perceber que se trata de uma classificação com objetivo de auxiliar
na aplicação do critério de ruptura Hoek-Brown, diferentemente dos métodos RMR e Q, que
tem a intenção de sugerir projetos de suporte para túneis. O uso do GSI é simples e facilita a
caracterização do maciço rochoso utilizando observações visuais de campo. Ao mesmo tempo,
há diversas propostas de quantificação para profissionais ou situações em que não se tenha tanta
confiança no uso da avaliação qualitativa. Ainda assim, é um método com várias limitações,
não podendo ser aplicado em qualquer maciço rochoso. Isso demanda do usuário o bom
conhecimento do GSI e do maciço em que se está trabalhando para que não seja feita uma
análise equivocada da sua qualidade.
A partir do conhecimento dessa classificação, foi possível desenvolver um aplicativo de
forma que permite plotar dados de caracterização geotécnica do maciço e obter resultados em
uma interface gráfica. O programa é fácil de ser utilizado e intuitivo, o que faz com que não
seja necessário um treinamento para seu uso. Permite a avaliação de vários pontos ao mesmo
tempo, e dá liberdade ao usuário de usá-lo da forma que preferir, bem como lançar um ponto
por barras de rolagem em tempo real. Vale ressaltar que o aplicativo é extremamente
dependente da interpretação do usuário para que o resultado seja confiável.
Com a validação do aplicativo no uso dos dados levantados na Mina Capiru, em Rio
Branco do Sul, percebe-se que a falta de paralelismo das linhas do ábaco original do GSI, neste
trabalho, não influenciou de forma prática no resultado e, também, que os resultados obtidos
traduzem bem a realidade das unidades geotécnicas avaliadas.
Dessa forma, considera-se que o programa traz de forma simples e acessível a aplicação
do método para os profissionais da área de geotecnia. É importante levar em consideração o
fato de que são poucos os softwares de classificação de maciços rochosos disponíveis no
mundo, e mais escassos ainda os livres, fazendo com que o programa desenvolvido seja
inovador.
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SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

O estudo de um sistema tão complexo como o GSI permite que muitas dúvidas surjam
em relação à sua aplicação, bem como às diversas propostas de quantificação. Além disso, a
relação íntima com o critério de ruptura de Hoek-Brown permite uma avaliação mais completa
de todo o processo de classificação do maciço rochoso.
Assim, considera-se importante o aprofundamento do estudo do método em algumas
questões pouco explicadas, como as áreas “N/A” do ábaco, que foram pouco abordadas neste
trabalho. Seria interessante entender melhor os detalhes que fizeram limitar a aplicação
daquelas classes de SR, bem como analisar o contexto dos estudos que as fizeram ser inseridas.
Outro ponto que levanta questionamentos é acerca das diversas propostas de
quantificação. Seria de grande valia analisar os detalhes de cada uma, aplicá-las em maciços
diferentes e comparar seus resultados, analisando quais métodos produzem resultados mais
assertivos em cada caso.
Em relação à metodologia aplicada, seria interessante desenvolver uma análise
estatística de forma a verificar a variação dos resultados a partir do ábaco original do GSI e da
soma do SCR e SR. Dessa forma seria possível conferir se a pequena variação dos valores de
GSI obtidos nesse trabalho se aplica em qualquer situação, o que permitiria o uso dos resultados
do GSI calculado sem a necessidade confirmação pelo ábaco.
Do ponto de vista do aplicativo criado, é recomendável que se continue o seu
desenvolvimento, tanto de forma a abranger outras classificações de maciços rochosos, como o
RMR, SMR, Q e Q-Slope, quanto se projetar a interface gráfica do ábaco do GSI para maciços
heterogêneos, ampliando sua utilização pelo usuário.
Por fim, as comparações realizadas nesse trabalho e as conclusões obtidas poderiam ser
validadas pela continuidade do processo, ao aplicar os valores de GSI na estimativa das
propriedades dos maciços utilizadas no critério de ruptura de Hoek-Brown. Dessa forma, seria
possível avaliar diretamente a influência do ábaco original e do GSI calculado nas constantes
de Hoek-Brown.
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