Oriente Ocidente Fernanda Ilhéu

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A Nova Rota da Seda Marítima

do Século XXI
Os Países de Língua Portuguesa na
Cadeia de Valor Global da China
Fernanda Ilhéu
Prof. ISEG. Coordenadora ChinaLogus/ISEG. Presidente Associação Amigos da Nova Rota da Seda

As Cadeias de Valor Global rica primeiro, indiferente aos equili- terno. Este processo teve um êxito
e a China brios mundiais, para afirmar no Fó- enorme sobretudo a partir de de-
rum mais importante da economia zembro de 2001 quando a China
No Fórum de Davos de 2017, o Pre- mundial, que assumia a responsabi- aderiu à Organização Mundial do
sidente Xi Jinping pela primeira vez lidade de liderar o processo de glo- Comércio. Nessa altura a China
desafiou aos EUA a liderança do balização. Assumiu também que o abriu-se ao Mundo e o Mundo tam-
processo de globalização, afirmando processo de globalização tem pro- bém se abriu à China começando a
“Se os EUA adoptam uma via mais blemas e ameaças mas também tem mudar a geoeconomia global. Em
mercantilista, os Asiáticos e Euro- aspetos muito bons reconhecendo 2010 a China era já a 2ª Economia
peus em geral terão de se combinar que “A China não só beneficiou da do Mundo depois de ter ultrapas-
para preservar o comércio livre” … globalização económica mas tam- sado o Japão e em 2015 o rendi-
“Nós devemos permanecer compro- bém contribuiu para isso. O rápido mento per-capita chinês era de
metidos com o desenvolvimento desenvolvimento da China tem sido US$8278 em termos nominais e de
do comércio livre global e investi- um motor sustentável e podoroso US$14300 em termos de PPP (pari-
mento”. No seu discurso Xi Jinping para a expansão e estabilidade eco- dade do poder de compra), por-
identificou dois problemas muito im- nómica global”. tanto a China posiciona-se agora
portantes “A economia global tem como um país de rendimento mé-
permanecido lenta há já algum De facto de acordo com o Banco dio. Neste processo de crescimento
tempo. O gap entre ricos e pobres Mundial nos primeiros 38 anos da acelerado a China arrastou consigo
e entre o Sul e o Norte está a Reforma Económica da China 700 e beneficiou a economia global do
aumentar” e identificou 3 causas milhões de pessoas naquele país, Sul devido à integração na China
chave; a falta de forças motrizes para sairam da linha de pobreza absoluta. das Cadeias de Valor Global (CsVG)
o crescimento global, a governação O economista chinês Justin Yifu Lin das Empresas Transnacionais (ETNs),
económica global inadequada e o ex-vice Presidente do Banco Mun- que transformaram a economia chi-
desenvolvimento global desigual. dial refere no seu livro Demistifying nesa na fábrica do mundo, verda-
the Chinese Economy (2011) que em deiramente podemos dizer no está-
A China sente que por ser a 2ª Eco- 1978 o rendimento per-capita nomi- dio final dos networks de produção
nomia Mundial tem a obrigação mo- nal na China era de US$210 e afirma da Ásia e consequentemente no
ral de ativamente contribuir para a que a mudança do destino da China maior mercado de aquisição de mui-
solução destes problemas apresen- começou em dezembro de 1978 tas matérias-primas, produtos semi-
tando um novo modelo conceptual quando o 3º Plenário da 11ª Sessão acabados e energia dos países me-
para o desenvolvimento económico do Comité Central do Partido Co- nos desenvolvidos na Ásia, África e
global. A China aproveitou a opor- munista Chinês lançou a política de América Latina. A sinergia do mo-
tunidade que o novo presidente Reforma e Porta Aberta, para refor- delo chinês foi também altamente
americano lhe deu ao afirmar uma mar a estrutura económica chinesa benéfica para o poder de compra
atitude protecionista de fechamento com o objetivo de se abrir ao exte- de milhões de europeus e america-
ao mundo e proclamação da Amé- rior para obter mais comércio ex- nos das classes médias e baixas que

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A Nova Rota da Seda Marítima do Século XXI ...

pecialização dos países em estádios


de produção de bens, conhecida
por especialização vertical, resul-
tante das decisões de IDE destas
empresas que assim criam novas
oportunidades de comércio interna-
cional. O Modelo dos Gansos Voa-
dores de Akamatsu (1962) conclui
que no desenvolvimento da indús-
tria e tecnologia existe uma intera-
ção entre os paises desenvolvidos e
os países em desenvolvimento uma
vez que o investimento, a tecnologia
poderam usufuir de mais conforto Socialista de Mercado em 1992, a e a produção voam dos países mais
ao adquirirem produtos de baixo Go West e a Go Global implemen- avançados para os menos avança-
preço fabricados na China. tadas a partir do ano 2000 a primeira dos, utilizando a divisão internacio-
com o objetivo orientar o investidor nal de trabalho baseada na dinâmica
Podemos assim referenciar como o para a zona Ocidental da China e a das vantagens comparativas. Na
inicio da 1ª fase de globalização da segunda para fomentar a globaliza- Ásia o ganso líder é considerado ser
China a Politica de Reforma e Porta ção das empresas chinesas conside- o Japão, seguido dos Dragões, e
Aberta com um modelo que utilizou radas os campeões nacionais. depois pelos Tigres e depois China
a cultura e alguns provérbios chine- e depois o Vietname, o Camboja…
ses para ser comunicado e enten- Estas políticas vistas à luz do racional Sabemos também que em confor-
dido internamente e que se apresen- económico das Teorias das Cadeias midade com a Teoria Eclética do In-
tou como experimentalista “atravessar de Valor Global, dos Gansos Voado- vestimento Direto Estrangeiro (Dun-
o rio sentido as pedras debaixo os res e da Eclética fazem todo o sen- ning J.H. 1980; 1988) os mercados
pés”, gradualista “quando se abre tido na lógica de atrair capital es- escolhem as empresas que os vão
uma janela entram ar fresco e mos- trangeiro, tecnologia, produção e fornecer de acordo com as vanta-
quitos” e pragmático “não interessa compradores estrangeiros. Essas gens específicas das empresas e es-
se o gato é preto ou branco desde teorias e modelos dizem-nos que o sas empresas depois escolhem os
que cace o rato” mas onde sobre- crescimento económico está relacio- lugares no mundo onde vão produzir
tudo progressivamente se imple- nado com as CsVG que contribuem esses produtos de acordo com as
mentaram políticas que tiveram em média com 30% do PIB dos Paí- vantagens próprias locais, e ao fazer
claramente como objetivo atrair ses em Desnvolvimento. Estas Ca- isso elas vão internalizar as vanta-
o Investimento Direto Estrangeiro deias estabelecem fluxos comerciais gens competitivas desses países na
(IDE) das ETNs para integrarem a de bens intermédios e serviços entre sua cadeia de valor.
China nas suas CsVG e a utilizarem diferentes locais do mundo que vão
como plataforma exportadora. Essas incorporados em vários níveis do Percebe-se assim que as políticas
políticas foram estruturantes em ter- processo de produção até o produto adoptadas pela China para conven-
mos de mudar as infraestruturas físi- acabado ser entregue ao consumi- cer as ETNs dos países mais desen-
cas e legais da China, e não se pode dor final pelas ETNs. Em 2013 estas volvidos a integrarem as suas CsVG
deixar de referir o impacto que no empresas coordenavam CsVG que na China decidindo ali investir, e
seu tempo tiveram as 4 Moderniza- eram responsáveis por 60% do co- para ali transferindo tecnologia e
ções (agricultura, indústria, defesa, mércio global de bens e serviços. produção se concentrassem sobre-
ciência e tecnologia) e a Criação das De notar o aumento progressivo da tudo na criação de vantagens es-
Zonas Económicas Especiais iniciada importância destas CsVG visto que pecificas locais. Foi grande o com-
no final dos anos 70 e início dos 80, em 2011 elas eram responsáveis por promisso do governo chinês na
a privatização de pequenas e médias 49% do comércio mundial e em construção de infraestruturas físi-
empresas que ficou conhecida pela 1995 por 36% (World Investment cas, na transformação da moldura
política de Agarra as Grandes deixa Report, UNCTAD 2013; International legal tornando-a mais aberta e fle-
ir a Pequenas Empresas lançada em Statistics 2015). Isto mostra uma ten- xível e no desenvolvimento de po-
1990, o lançamento da Economia dência crescente na progressiva es- líticas promocionais de atração de

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IDE sobretudo junto das comuni- problemas humanos e familiares aumento de créditos mal parados”
dades dos chineses ultramarinos. graves. e no 12º Plano Quinquenal (2011-
Não teria sido possivel a China 2015) fala-se na evolução da China
transformar uma economia agrária, O governo chinês começou no 11º da fábrica do mundo para a fábrica
tecnologicamente atrasada e com- Plano Quinquenal (2006-2011) a ten- da China e da fábrica do mundo
pletamente centralizada, numa tar corrigir estes e outros desiquilí- para o escritorio do mundo e
economia industrial orientada para brios como o excesso de capaci- aponta-se como chaves para a trans-
os mercados, no curto espaço de dade instalada em muitos setores formação económica o aumento do
tempo em que a China o fez, sem industriais nomeadamente os liga- consumo interno especialmente de
o contributo das reformas feitas, dos à construção, a liquidez massiva serviços, a conservação da energia,
do investimento direto estrangeiro, aplicada à economia especulativa, a a proteção do ambiente, um desen-
e a participação dos chineses ultra- bolha imobiliária e os créditos ban- volvimento regional mais equili-
marinos. cários mal parados. Um novo para- brado com maior ligação entre as
digma de desenvolvimento come- províncias do centro e ocidente com
çou a ser construído com o focus já ligações de caminho-de-ferro de alta
Novo Paradigma de
não no crescimento rápido do PIB, velocidade, a diminuição do gap en-
Desenvolvimento e a Cadeia de
mas no crescimento do PIB per-ca- tre o mundo rural e o urbano e um
Valor Global da China
pita e em outras fontes de cresci- crescimento futuro baseado na qua-
Mas a política do Produto Interno mento alternativas. Começa neste lidade e na eficiência o que coloca
Bruto primeiro, se teve resultados Plano Quinquenal a esboçar-se um um imperativo na inovação tecnoló-
rápidos e proporcionou a ascenção novo modelo de desenvolvimento gica nos processos de gestão, go-
da China a 2ª Economia Mundial, dentro da visião de Hu Jintao de um vernação e nos comportamentos.
com sinergias positivas na vida de “Desenvolvimento científico” e uma O 13º Plano Quinquenal (2016-2020)
milhões de pessoas que na China e “Sociedade harmoniosa” com novas prossegue esta orientação e coloca
em outras geografias do mundo áreas prioritárias como redistribuição como objetivo atingir o rendimento
melhoraram o seu nível de vida tam- do rendimento, a poupança de ener- per-capita em US$12000 em 2020 e
bém criou muitos problemas. No- gia e uma energia verde, o sistema maior urbanização por forma a au-
meadamente tornou-se preocu- de saúde pública e os sistemas de mentar o consumo. Mas este Plano
pante a forma de crescimento da ambiente e educação. O Plano de vai introduzir um outro objetivo im-
economia chinesa cada vez mais Médio-e-Longo Prazo para o Desen- portante que é a melhoria da indús-
insustentável em consumos energé- volvimento de Ciência e Tecnologia tria chinesa, pretende-se o desen-
ticos com problemas ambientais, aprovado pelo Conselho de Estado volvimento da Indústria 4.0 através
com cidades em que a poluição em 2006 e com horizonte temporal da implementação dos Planos Made
atinge níveis de toxidade que colo- de 15 anos pretende uma Sociedade in China 2025 e Internet Plus. Porque
cam a saúde em risco. A China tor- Orientada pela Inovação em 2020 para evitar a “Armadilha do Rendi-
nou-se também numa sociedade com não mais de 30% de importa- mento Médio” a China precisa de
altamente dividida com grandes ção da tecnologia utilizada e ambi- subir na cadeia de valor.
disparidades na distribuição do ren- ciona tornar a economia chinesa na
dimento, quer entre ricos e pobres lider global da inovação em 2050. Para conseguir obter estes objetivos
quer entre habitantes das zonas ur- a China reforça a sua política de
banas e das zonas rurais, com estas Esta mudança de paradigma tem Going out já não interessa só captar
em declínio com consequências sido um processo longo e persisten- IDE para integrar as CsVG na China
económicas e sociais nefastas, por temente defendido por sucessivos o jogo agora passa a ser liderar es-
um lado a desertificação acentuou governos. Em Setembro 2015 no 9º sas cadeias e integrá-las no mundo
a escassez de produtos agrícolas já Forum de Verão de Davos em Dalian por forma a internalizar as vantagens
de si preocupante porque a terra o Primeiro-Ministro Li Keqiang refe- de outros países nas empresas glo-
arável na China sempre foi pe- ria que “Sem transformação estru- bais chinesas cuja orientação é dei-
quena, por outro lado a forma como tural e melhorias não seremos capa- xar de ser “só cópias … A China ex-
a industrialização e urbanização fo- zes de sustentar o crescimento pandir-se-á através das suas próprias
ram conseguidas com grandes flu- económico a longo prazo” a “longo inovações e através de aquisições”
xos de milhões de migrantes social- prazo o governo terá de enfrentar (Neil Shen do Sequoia’s Capital, Eco-
mente não enquadrados, criou excesso capacidade de produção e nomist 12/09/2015). Ao caminhar

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A Nova Rota da Seda Marítima do Século XXI ...

para este novo modelo de desen- chinesas como principais produtores nomic Partnership uma zona de co-
volvimento a China está a entrar no globais e a União Europeia (UE) mércio livre entre a ASEAN e China,
que se pode considerar a 2ª fase da como a principal região do mundo Austrália, India, Japão, Coreia do
globalização da China, uma fase de consumo de produtos de alta Sul, Nova Zelândia, a SCO (Shanghai
mais proactiva em que o seu modo qualidade. Cooperation Organization) o CEPA
de entrada em outros mercados é
para além de exportações ativas di-
retas o Investimento Direto Estran- Cadeia de Valor Global da China
geiro Exterior (IDEE) sobretudo na
forma de Fusões e Aquisições. Médio e Extremo Oriente e África
Principais Fornecedores de Recursos

Uma Faixa Uma Rota, a Nova


Rota Marítima do Século XXI e a
Cadeia de Valor Global da China
Ainda antes do mundo ter tomado
conhecimento da atitude protecio-
nista dos EUA na era Trump, o Pre- UE Principal Região
sidente chinês Xi Jinping lançou em China Principal de Consumo Alta
2013 uma inicitiva ambiciosa que Produtor Global Qualidade
pretende simultaneamente resolver
os problemas globais e os da China Cadeia de Valor de Elevado Potencial
referidos acima. Essa iniciativa Uma
Faixa Uma Rota, a Nova Rota Marí-
tima do Século XXI, normalmente A visão deste documento é a cons- (Close Economic Partnership Arran-
referida como a Nova Rota da Seda, trução de um network de zonas livres gement). Também na agenda de ne-
tem uma forte componente econo- de comércio, uma forma dos países gociações com a UE está a criação
micista e pretende alcançar uma interligarem as suas estratégias de de uma zona de livre de comércio
nova fase da globalização mundial, desenvolvimento, complementando euroasiática que no entanto não tem
respeitando no entanto a filoso- as suas vantagens competitivas. A tido progressos, porque a UE consi-
fia confucionista de Harmonia no cooperação no investimento e co- dera ainda não estarem reunidas as
Mundo e na Sociedade Global. mércio é um objetivo principal na condições de abertura do mercado
implementação desta iniciatva e a chinês aos parceiros europeus com
De acordo com o documento orien- eliminação de barreiras à circulação o mesmo grau de reciprocidade com
tador desta iniciativa Vision and Ac- de capitais e produtos, assim como a China pretende que os mercados
tions in Jointly Building Silk Road a abertura de areas de comércio livre europeus se abram à China.
Economic Belt and 21st Century Ma- são tarefas essencais para expandir
ritime Silk Road publicado em março o potencial de cooperação entre os Em termos tangíveis é um enorme
2015, pela Comissão Nacional de países da Nova Rota da Seda. O au- projeto de construção de infraestru-
Desenvolvimento e Reforma do Mi- mento de cooperação no investi- turas de tranportes e bases de pro-
nistério do Comércio da República mento e comércio é um dos princi- dução e logistica ligando a China à
Popular da China “A iniciativa per- pais focus dos Acordos de Parcerias Europa com uma rota terreste que
mitirá à China expandir mais e apro- Estratégias, que China assinou já percorre 6 corredores e uma rota
fundar a sua abertura e fortalecer a com 47 países (a parceria com Por- marítima, que é praticamente tra-
cooperação mutuamente benéfica tugal foi assinada em 2005) e 3 es- çada no percurso inverso à rota que
com países na Ásia, Europa e África paços integrados a Ue, a ASEAN e os navegadores portugueses fizeram
e o resto do mundo”. A China pro- a União Africana. É também uma ra- nos séculos XV e XVI, estas rotas co-
põe-se desenvolver CsVG lideradas zão chave para o reforço de pro- meçam em vários locais da China e
por empresas chinesas integrando cesso de integração económica en- vão até Duisburg na Alemanha, per-
nelas empresas de África, Médio e tre a China e várias áreas geográficas correndo vários caminhos onde vão
Extremo Oriente como principais for- como a ASEAN-China Free Trade criando zonas de comércio livre, in-
necedoras de recursos, empresas Area, a Regional Comprehensive Eco- vestimento e desenvolvimento. Os

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países que quiserem integrar esta ram interesse em entrar com capital com o objetivo de transformar Ma-
Nova Rota da Seda deverão prepa- para este banco e o China Deve- cau numa Plataforma de Coopera-
rar-se para cooperar pacificamente lopment Bank que declarou a inten- ção Económica e Comercial entre a
num projeto global que pretende ção de investir US$900 mil milhões China e os Países de Língua Portu-
ser integrativo, construído em con- na iniciativa (Bert Hofman, Banco guesa e ao Fundo de Cooperação
junto por todos e bom para todos Mundial, 12/04/2015). A China ade- para o Desenvolvimento entre a
“win win” e não um jogo de soma riu também recentemente ao Banco China e os Países de Língua Portu-
zero. de Reconstrução e Desenvolvi- guesa que financia os projetos.
mento Europeu, que não irá investir
A China liga a iniciativa Uma Faixa na China mas permitirá às empresas A China deverá tentar ligar esta ini-
Uma Rota com duas iniciativas com- chinesas investirem em projetos de ciativa com as estratégias de desen-
plementares a ‘A Cooperação na reconstrução e desenvolvimento em volvimento dos países envolvidos e
Produção Internacional’ e ‘Coope- países europeus membros do Banco no caso dos Países de Língua Portu-
ração em Mercados de Terceiros e que apoia sobretudo a construção guesa é importante que estas ins-
Países’. A iniciativa ‘Cooperação na de projetos de infraestruturas e tituições que em Macau têm a res-
Produção Internacional’ pretende energia. A questão que se coloca é ponsabilidade de coordenação te-
combinar a produção industrial da como coordenar as diferentes eco- nham um bom conhecimento das
China com a procura global exis- nomias ao longo de Uma Faixa e realidades e dos projetos desses paí-
tente e a ‘Cooperação em Merca- Uma Rota? ses.
dos de Terceiros Países’ pretende
combinar a capacidade de produ- O Fórum de Macau realizou de 2003
A Cadeia de Valor Global da
ção da China com a tecnologia a 2016 cinco Conferências Ministe-
China e os Países de Língua
avançada e equipamentos de países riais e cinco Planos para a Coope-
Portuguesa
desenvolvidos para em conjunto de- ração Económica e Comercial. Na
senvolverem mercados nos países No caso da Cadeia de Valor Global cerimónia de abertura da 5ª Confe-
em desenvolvimento. O Primeiro- da China com os Países de Língua rência Ministerial do Fórum que
Ministro Li Keqiang, afirmou no Portuguesa a responsabilidade de decorreu em Macau a 11/10/2016
Summer World Forum em Davos coordenação das economias destes Chiu Sai On Chefe Executivo do
2015 que “Nós acreditamos que es- países a esta iniciativa está acome- Governo da Região Administrativa
tas iniciativas podem ajudar a abrir tida ao Fórum para a Cooperação Especial de Macau referiu que “O
mais o nosso país e a forjar uma ca- Económica e Comercial entre a objectivo do Fórum de Macau é a
deia industrial global mais equili- China e os Países de Língua Portu- lógica subjacente à estratégia Uma
brada e inclusiva”. guesa criado em 2003 com um Se- Faixa uma Rota são semelhantes”.
cretariado Permanente em Macau Em 2016, Macau elaborou pela pri-
A China trabalhará com os Países
da Rota em projetos de interesse
Cadeia de Valor Global da China e os Países de Língua Portuguesa
bilateral e multilateral e irá tentar li-
gar estas inciativas com as estraté- Angola; Brasil; Moçambique; Cabo
gias de desenvolvimento dos países Verde; Guiné Bissau;
São Tomé e Príncipe; Timor-Leste
envolvidos, para isso alocou recur-
sos consideráveis a esta iniciativa
tendo criado o New Silk Road Fund
com $40 mil milhões para promover
o investimento privado ao longo de
Uma Faixa Uma Rota, o Banco Asiá-
tico Investimento em Infraestruturas
com um capital inicial de $50 mil China; Macau UE; Portugal
milhões com financimento de 47
países (Portugal é um deles) mas
que deverá chegar rapidamente aos
$100 mil milhões uma vez que existe Cadeia de Valor de Elevado Potencial
uma lista de 25 países que mostra-

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meira vez um Plano de Desenvolvi- com os anúncios respetivamente de cia Ministerial marcou a posição de
mento Quinquenal que tem como que “O Governo da China irá pro- Portugal nesta iniciativa dizendo que
prioridades a participação de Macau mover ativamente a conexão das in- “Portugal e a China devem juntar
na estratégia “Uma Faixa, Uma dústrias e a cooperação da capaci- forças para a promoção de uma coo-
Rota” e a construção da “Plataforma dade produtiva com os Países de peração triangular com os restantes
de Serviços para a Cooperação Co- Língua Portuguesa do Fórum da países de língua portuguesa em se-
mercial entre a China e os Países de Macau, estimular as empresas a tores como agricultura, infraestrutu-
Língua Portuguesa”. construirem ou renovarem as zonas ras e educação, ”…” protecção am-
de cooperação económica e comer- biental, energias renováveis” e que
Durante a 5ª Conferência Ministerial cial nos referidos países” e de que ”Além da cooperação bilateral entre
várias medidas de apoio foram o “O Governo da China irá empe- a China e Portugal há disponibili-
anunciadas por Li Keqiang como a nhar-se na exploração de terceiros dade mútua para cooperação trian-
concessão aos países membros do mercados em conjunto com as em- gular” concluindo que “Juntando as
Fórum de Macau em África e Ásia presas dos Países de Língua Portu- forças de Portugal, China e Brasil e
de USD$300 milhões de emprésti- guesa”. Outra importante novidade dos restantes países de língua por-
mos em condições preferenciais desta Conferência Ministerial é que tuguesa, poderemos fazer mais em
para serem aplicados no reforço da o Fundo de Cooperação e de De- conjunto do que seria em sepa-
capacidade produtiva dos países senvolvimento entre a China e os rado”.
beneficiários e para reforçar a coo- Países de Lingua Portuguesa criado
peração na construção de infraes- durante a 3ª Conferência Ministerial Não devemos assim olhar para Ma-
truturas e de mais USD$300 milhões em 2010, no valor de US$ 1000 cau apenas como um legado histó-
para apoiar projectos que visem o milhões e da responsabilidade do rico deixado a Portugal e à China
bem-estar das populações nomea- Banco de Desenvolvimento da como mistura civilizacional harmo-
damente agrícolas, de prevenção e China e do Fundo de Cooperação niosa do oriente ocidente mas sim
combate à malária e de pesquisa para o Desenvolvimento entre a como um ativo que se projeta no fu-
de medicinas tradicionais. Foram China e os Países de Língua Portu- turo, na construção de uma iniciativa
também anunciadas medidas de guesa que passa a ser gerido em integradora global para o qual a
apoio à saúde materno infantil, 2000 Macau e não em Pequim o que per- China considera o contributo de Por-
vagas de formação em diversas mite uma maior proximidade e uma tugal e de outros Países de Língua
áreas e 2500 bolsas de estudo. Foi melhor ligação entre a China e os Portuguesa importantes e para o
ainda anunciado o perdão de 500 Países de Lingua Portuguesa. qual convoca Macau que para isso
milhóes de RMB de dívidas já ven- terá de preparar reforçando-se como
cidas de empréstimos. Nesta Con- Portugal demonstrou já o seu inte- uma plataforma de informação, co-
ferência as iniciativas complemen- resse em participar ativamente na nhecimento e relacionamentos, da
tares de uma Faixa Uma Rota a iniciativa de construção conjunta da China e outros países da região asiá-
‘Cooperação na Produção Industrial’ Nova Rota da Seda e o Primeiro-Mi- tica com Portugal na UE com o Brasil
e a ‘Cooperação em Mercados de nistro Português António Costa na na América Latina e com os Países
Terceiros Países’ foram estimuladas Sessão de Abertura da 5ª Conferen- Africanos de Língua Portuguesa.

Bibliografia
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Bert Hofman, World Bank (12/04/2015).
Dunning J.H. (1980), Towards an Eclectic Theory of International Production: Some Empirical Tests, Journal of International
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Porter, M. E (1985), The Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance, NY, Free Press.
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