1 - Realizar uma breve descrição da situação clínica e exposição das
incongruências da paciente A cliente Glória, a quem Rogers atendeu, encontrava-se em um conflito, pois era recém divorciada e tinha dificuldade em se ajustar à vida de solteira. Apesar de satisfazer as sua vontades fisícas e procurar parceiros para ter relações sexuais, ela acreditava que aquela conduta não era apropriada para uma mulher que desempenhava o papell de mãe. Glória era uma mulher franca e honesta com os seus próprios sentimentos, e isso foi bastante notório em seu tempo de conversa com Rogers, mas tinha dificuldades de assumir as responsabilidades de suas escolhas, e procurava sempre a afirmação dos outros para sentir segurança, e dentre elas, a do terapeuta. Além disso, Glória também parece não saber identificar quando está seguindo seus sentimentos ou não. Ela relata gostar quando se sente à vontade com as decisões que toma, e que isso não a deixa conflituosa, mas em outras situações ela faz coisas que não se sente à vontade. Ela não consegue identificar quando está seguindo seus sentimentos ou não pois na maioria das vezes vem a culpa por suas decisões. E, ela também relata que a maior parte dessa culpa/conflito vem das suas decisões do dia a dia. Em sua teoria desenvolvida, chamada Abordagem Centrada na Pessoa, Rogers desenvolve condições necessárias para a mudança terapêutica de personalidade. A segunda condição dessa teoria dispõe de um estado de incongruência que o cliente apresenta, que diz respeito a um desacordo entre o que o sujeito sente e o que ele expressa. É uma ‘’discrepância entre a experiência real do organismo e a imagem do self do indivíduo’’ (WOOD et. al, 2010, p. 4). Diante disso, as incongruências observadas no caso da Glória, eram a distorção que ela tinha na sua percepção como mãe, no caso como uma mãe honesta e com um ótimo relacionamento com os filhos, mas na realidade ela não conseguia ser sincera com eles, e algumas vezes os culpava pela sua privação de relação com outros parceiros. Ela tinha medo de que a sua filha a julgasse como uma péssima mãe se descobrisse que ela, depois de divorciada, já tivera relação sexual com outros homens. E explicava esse medo por um trauma de infância, pois passou a não gostar mais de sua própia mãe quando descobriu que ela e o seu pai faziam sexo. Glória encontrava-se profundamente angustiada com essa situação antagônica de: ser uma mãe com uma ótima e honesta relação com os filhos, e viver guardando o segredo de sua vida pessoal. Ademais, outra incongruência observada foi que Glória tinha o discernimento do que deveria fazer em seu relacionamento com a filha, mas, por culpa e medo, não fazia. Ou seja, ela sabia que deveria ser sincera com a filha sobre os seus relacionamentos com outros homens, sobre a verdadeira Glória, mas não quer arriscar a fazer, pois sabe que isso pode trazer consequências. 2 - Dissertar sobre as 3 atitudes facilitadoras clássicas pela ACP, articulando com o vídeo Carl Rogers sempre reiterou a importância da autenticidade do terapeuta na relação com o cliente. O terapeuta deveria ser, nos limites dessa relação, uma pessoa integrada, genuína e congruente. Isto significa que, na relação, ele está sendo livre e profundamente ele mesmo, com sua experiência real precisamente representada em sua conscientização de si mesmo. É o oposto de apresentar uma "fachada", quer ele tenha ou não conhecimento disto. (WOOD, J.) Ele explica que o terapeuta deve ser nada mais nada menos que ele mesmo. Não é para o terapeuta ser uma pessoa perfeita, mas sim para ser o que ele realmente é, não enganando o cliente nem a si mesmo, tendo consciência de que é uma pessoa falha. O terapeuta pode também expressar seus próprios sentimentos ao cliente no momento que julgar pertinente e necessário. Podemos ver essa atitude em Rogers ao final do vídeo quando a Glória diz que ele seria como um pai substituto para ela e o próprio expressa naturalmente que ela seria uma filha muito boa Também há na relação o que chamamos de consideração positiva incondicional, que quer dizer a respeito da aceitação do cliente seja em relação aos seus sentimentos negativos como também os positivos. o terapeuta enxerga e aprecia o cliente como um todo e o aceita como ele é simplesmente porque ele existe. Na medida em que o terapeuta se encontra experienciando uma aceitação calorosa de cada aspecto da experiência do cliente como sendo uma parte daquele cliente, ele estará experienciando uma consideração positiva incondicional. (WOOD,J.) podemos ver Rogers aplicando isso no vídeo quando ele sempre valoriza o que Glória chega a lhe contar e não a julga em nenhum momento. Ele também a direciona com perguntas a chegar sozinha numa própria conclusão tendo o cuidado necessário com ela e o próprio fala que se sente íntimo dela no decorrer daquela relação. O que também fica claro para nós é a terceira atitude facilitadora a da empatia, é quando o terapeuta entende e valoriza as experiências, pontos de vista e sentimentos únicos de cada cliente, isso faz com que o cliente se sinta valorizado e aceito. Uma compreensão empática precisa da conscientização do cliente, a partir de sua própria experiência, sentir o mundo privado do cliente como se ele fosse seu, mas sem perder a qualidade “como se” - isto é empatia, e ela parece essencial para terapia. (WOOD,J.) A partir disso o terapeuta pode ter conhecimento do mundo do cliente e pode também ajudá-lo a ter pleno conhecimento de sentimentos que ainda podem ser superficiais para eles. Em todo o vídeo isso fica claro pois em todo o momento Rogers valoriza e exterioriza essa valorização dos sentimentos e pensamentos de Glória, ele fica realmente absorto ao mundo de Glória e as suas percepções, sempre externando perguntas para melhor compreensão do que Glória está comunicando o que a leva a ter certeza do acolhimento e entendimento dos seus sentimentos. um detalhe também interessante no início do vídeo é quando Glória fala que o tom de voz do terapeuta a deixou mais confortável para compartilhar o que a estava incomodando. 3 - Discutir o funcionamento da personalidade de Glória, a luz da teoria do funcionamento ótimo de personalidade na ACP (text 5-6) (proposições) A cliente relata conflitos sobre sua auto imagem e ao que ela busca passar para os outros. No caso de sua culpa ao expressar sua sexualidade, e na sua necessidade de ser uma boa mãe,ou como ela enxerga ser uma boa mãe. Quando a cliente relata que sentiu falta de algo em sua infância, como o apoio e sinceridade dos pais com ela, ela está relatando que tenha sido influenciada, direta ou indiretamente, por pessoas-critérios (no caso, os pais), fator crucial para a formação da personalidade do indivíduo e de seu campo fenomenológico. Ao passo que se encaminha a sessão, nota-se uma conduta insegura em relação a tomar suas próprias atitudes, o que mostra sua incongruência e seu desafio em busca da personalidade ótima, que se caracteriza pela confiança em si. A cliente entra em conflitos sobre seu desejo e sua culpa, ela busca aprovação do terapeuta para tomar tais decisões cruciais, analisando esse trecho, vê-se a sua falta de autonomia e confiança em entender suas necessidades e buscar supri-las, ela tenta que o terapeuta apoie suas decisões, porém a única pessoa capaz de saber o que ela precisa é ela mesma. (ROGERS, C.) A formação da personalidade, segundo Carl Rogers, começa a partir dos primeiros anos de vida e se dá a partir de experiências que o indivíduo vivencia de forma única, formando assim o campo fenomenológico. Assim, toda conduta do ser é resultado de uma reação a partir do quadro de referência do sujeito, entendendo esse como sendo a verdade e agindo guiado por esse princípio. (ROGERS, C.) Dito isso, Glória entende e age de tal forma por ser guiada de acordo com o que acha ser, porém nota-se um desajuste com o self, gerando desconforto por tomar suas atitudes e o sentimento de culpa. As condutas, em sua maioria, vão de acordo com o self, porém quando há esse desacordo, é necessário que o quadro de referência interno (guia de condutas do indivíduo) seja religado, para assim a tomada de atitudes ser consciente e sincera com elas mesma, de forma segura, buscando a personalidade ótima. Referências bibliográficas
ROGERS, C. R. Terapia Centrada no Cliente. 1. ed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 1992. cap. 11.
ROGERS, C. R. Tornar-se pessoa. 8. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2009. cap. 1.
WOOD, J. et al. Abordagem centrada na pessoa. 5. ed. Espírito Santo: