Minha Buceta É O Poder! (Ensaio Ritmado para Um Corpo Pensante)
Minha Buceta É O Poder! (Ensaio Ritmado para Um Corpo Pensante)
Minha Buceta É O Poder! (Ensaio Ritmado para Um Corpo Pensante)
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[ENSAIO RITMADO PARA UM CORPO PENSANTE]
...Caio Fernando Abreu gostava de sentir o ritmo do texto que criava. Quando começara
a escrever, desejava um capítulo em ritmo de blues ou rock ou heavy _e conseguia dançar,
talvez por isso, tornou-se uma divindade4 da grafia marginal.
Ouvia música para pensar, pensava para se libertar, libertava-se escrevendo. Escrevia para
ouvir música e dançava, conforme suas letras um ciclo de vício à margem
Ele e sua geração de poetas, que percorreram tantas cidades e sentimentos comuns a todos,
como o amor, não imaginavam a guerra paradoxal que se intensificaria. [:] como lidar com a cidade?
Com os sentimentos? Como lidar com um mundo que insiste em ignorar os sensíveis?
Antes mesmo de todas essas questões, a tal guerra cultivava em seu objeto gerador o
principal alvo: as pessoas >especialmente as mulheres< – como lidar com o feminino que marca
historicamente seu pensamento e seu território nas cidades, nos sentimentos, na poesia, no
mundo? – como lidar com o feminino que quer ser livre?
eu não te olho com o teu olho que sabe que quase tudo em ti é transitório.5
A arte, tão culpada, tão alvo, tão criminalizada, parece ser o caminho do desvio. Escapa
espraia espalha impregna enlouquece reafirma os territórios tanto dos sensíveis quanto dos
manipuladores, está em todo canto esquina zona beco boca mãos e mentes. [por mais que você
não goste, ou queira. está aí também. dentro e fora.
Nas cidades, as zonas de conflito e a linha sutil entre o que é ou não arte nos atravessa sem
termos tempo para pensar. ainda assim, o que a define está exatamente em cada um: a
subjetividade + a pessoalidade + a experiência dos indivíduos é que expressam o que é ou não tudo,
até mesmo a arte. >>>por mais que você não goste, ou queira está aí também no meio [–] e um
paradoxo: impossível a experiência de um indivíduo na rua ser individual, apenas. Impossível
mesmo à solidão de um indivíduo na rua ser individual, ele está sempre atravessado e deslizando.
1
Pixo assinado por MiC, bairro da Campina, Belém-PA. Tornou-se domínio público na internet. Refere-se à
música My Pussy é o Poder, Gaiola das Popozudas.
2
Licenciada em Educação Artística, com habilitação em Artes Visuais, pela Faculdade Dulcina de Moraes. Suas
pesquisas atravessam a rua, a partir dos lugares de experiência e das narrativas de cotidianos compartilhados. É
grafiteira, assina como MiC. E-mail: [email protected]
3
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Pará – UFPA.
Mestra em Arte, Cultura e Sociedade pela mesma universidade, pesquisa Corpo, Estética e Cidade a partir dos
campos da Arte, da Filosofia e da Comunicação. E-mail: [email protected]
4
Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar. – afirmava Friedrich Nietzsche em Assim Falou Zaratustra.
5
Árias Amaríssima de um Instante. Hilda Hilst. Cadernos da Literatura Brasileira.
Rupturas, múltiplos afetos com velocidades variáveis. Afinal, há rizoma quando os ratos
deslizam um sobre os outros 6.
Arte:
rizoma-caos. rizoma-crime.
6
Sobre Rizoma. Deleuze; Guattari, 1995, p. 15.
7
Árias Pequenas. Para Bandolim XI. HILST, 1974. Disponível em: <http://www.jornaldepoesia.jor.br/hilda.html#ama>.
8
Em Poesias nunca publicadas de Caio Fernando Abreu. CHAPLIN; LIMA e SILVA (Org.). 2012, p. 120.
9
Trecho de My Pussy é o Poder, Gaiola das Popozudas.
Tudo no meio, o muro o feminino a arte. A liberdade de pensamento que gera liberdade
de enfrentamento –
A metamorfose do espaço cotidiano depende do crime [:] ideia expandida pelo corpo. sujeira-
culpa.
>>> símbolos [que também são coisas] e pessoas [que também são simbólicas] – ioga da
imagem ou feitiçaria.13
10
Referente a Caos, capítulo de CAOS: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico, de Hakim Bey.
11
Referente a Crime, capítulo de CAOS: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico, de Hakim Bey.
12
Última frase de Terrorismo Poético, capítulo de CAOS: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico, de Hakim Bey.
13
Referente à Feitiçaria, capítulo de CAOS: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico, de Hakim Bey.
Arte
: crianças selvagens dançando feitiçaria, o caos de um amor louco.
P. S.: as palavras pertencem àqueles que as usam apenas até alguém as roube de volta.15
P. S.2: cidadesar-me-se.
14
Em Amor Louco, capítulo de CAOS: Os Panfletos do Anarquismo Ontológico, de Hakim Bey.
15
idem.
Referências
CHAPLIN, Letícia C.; LIMA e SILVA, Márcia I. (Org.). Poesias nunca publicadas de Caio
Fernando Abreu. RJ: Record, 2012.
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Felix. Mil Platôs 1. SP: Ed. 34, 1995.
JORNAL DE POESIA. Árias Pequenas para Bandolim XI. Hilda Hilst. Disponível em:
<http://www.jornaldepoesia.jor.br/hilda.html#ama>.
RB; MANDRAK. My Pussy é o Poder. Intérprete: Gaiola das Popozudas. Produção musical:
RB Dj e Mandrak. RJ: Independente, 2010. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=pXcZxiv_5Qs>.