TCC - Cássia Maria Bonifácio
TCC - Cássia Maria Bonifácio
TCC - Cássia Maria Bonifácio
MARINGÁ
2010
CÁSSIA MARIA BONIFÁCIO
MARINGÁ
2010
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Débora e Edegar pelo amor incondicional, dedicação e confiança que sempre
me dedicaram, e por nunca terem poupado esforços para que eu pudesse alcançar meus objetivos e
sonhos.
A minha Orientadora, Prof. Dra. Maria Teresa, por ter acreditado em minha capacidade de
estudo. E principalmente pela ajuda, paciência e compreensão.
Aos amigos de curso, Marcel H. Fumiya, Tatiana M. Tamura, Vinicius R. Conceição, Hugo
Castilho, pela ajuda nesses anos de graduação.
Aos professores de Geografia do ensino médio: Luzia, Malu, Luiz Henrique e Muller, pelo
incentivo e influência na escolha deste curso.
Ao meu Ju, pelo companheirismo desses anos, e pela ajuda na coleta de dados em campo.
Muito Obrigada!
“O mundo está mudado.
Eu sinto isso na água.
Eu sinto isso na terra.
Eu farejo isso no ar.
Muito do que já existiu se perdeu, pois não há mais ninguém vivo que se
lembre”
(J.R.R.Tolkien)
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS................................................................................................................07
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...........................................................................09
LISTA DE EQUAÇÕES..........................................................................................................09
RESUMO...................................................................................................................................10
ABSTRACT..................................................................................................................... ..........10
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................................12
3. MATERIAIS E METODOS..................................................................................................19
4. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO................26
4.1. LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE AVARÉ E DA ÁREA DE ESTUDO.................26
4.2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO MUNICÍPIO DE AVARÉ......................................27
4.3. ASPÉCTOS HISTÓRICOS E SOCIOECONÔMICOS DO MUNICÍPIO DE AVARÉ..
.......................................................................................................................................................29
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................32
5.1. CÓRREGO RANCHO ALEGRE.......................................................................................32
5.2. RIBEIRÃO ÁGUA BRANCA...........................................................................................47
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................58
ANEXO I......................................................................................................................................61
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 7 – “O sinal da cruz e da fé simboliza o nascimento de todos os corações de patriotas que, por
mercê de Deus, receberam por berço ou por cidade esta bela comarca de Avaré”.................29
Figura 15 – Uso do solo e limite da área de mata ciliar no córrego Rancho Alegre................................37
7
Figura 19 – Resíduos Sólidos encontrados sobre o córrego Rancho Alegre........................................39
Figura 37 – Esquema de medição da vazão pelo método do flutuador, no ribeirão Água Branca..........52
8
Figura 39 – Parte visível do ribeirão Água Branca no centro urbano de Avaré-SP....................................54
Figura 41 – Impermeabilização completa da bacia nono centro urbano de Avaré-SP. Aqui o ribeirão
Água Branca está canalizado e sobre ele foi construídas vias de circulação urbana.....................55
LISTA DE EQUAÇÕES
F = A/L² (1).............................21
IC = 12,57 * A/P² (2)..............................21
Q = (AmédiaxLxC)/Tmédio [m³/s] (3)..............................23
V = (LxC)/Tmédio [m/s] (4)..............................23
9
RESUMO
ABSTRACT
The chaotic urban growth and poor planning, generated strong impacts on the
environment, especially with regard to water resources. And as watersheds have well
defined limits, you can detect human activities and pollution points. With this
assumption, with this assumption two wathersheds were studied, the stream of Rancho
Alegre and the stream of Agua Branca, in the urban area and outskirts of the city of
Avare - SP. Were applied two different methodologies, one referring to transgressions
of environmental laws, applied in stream Rancho Alegre, and another addressing the
floods caused by the stream Agua Branca.
10
1. INTRODUÇÃO
11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Recursos Hídricos
12
c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção
integral.
- Classe 1 – águas destinadas:
a) ao abastecimento para o consumo humano, após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário como natação, esqui aquático e mergulho, conforme
Resolução CONAMA n.274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam
rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película;
e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.
- Classe 2- águas destinadas:
a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário como natação, esqui aquático e mergulho, conforme
Resolução CONAMA n.274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e
lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto;
e) à aqüicultura e à atividade de pesca;
- Classe 3 – águas destinadas:
a) ao abastecimento para o consumo humano, após tratamento convencional ou
avançado;
b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) à pesca amadora;
d) à recreação de contato secundário;
e) à dessedentação de animais.
- Classe 4 – águas destinadas:
a) à navegação;
b) à harmonia paisagística;
Sendo assim, foram estabelecidos limites para os parâmetros de qualidade da
água, conforme a classe respectiva. Através disso, é possível assegurar que se a água
apresenta classificação para determinado uso, sua qualidade deve apresentar-se
conforme os padrões para o uso ao qual se destina.
Através desses parâmetros estabelecidos pelo CONAMA, é possível assegurar,
de certa forma, a preservação do curso d’água, pois este fator tem ligação direta com a
13
qualidade da água. Conforme os estudos de Farias (2006), para que haja um
gerenciamento sustentável de uma bacia hidrográfica são necessários cinco estágios,
dentre eles: determinar o estado atual; identificar as forças atuantes, estabelecer um
limite acima dos quais os dados ecológicos são prováveis de ocorrer, prognosticar a
possível extensão temporal e espacial dos danos usando características locais,
desenvolver planos de gerenciamento apropriados por meio da utilização de cenários
múltiplos de avaliação.
Desse modo, é necessário “propor que os dados e informações obtidas sirvam de
instrumentos, para que a bacia hidrográfica seja transformada para melhor, em termos
de diversidade biológica e qualidade de vida” (Freire 2010 p.13).
14
Também é uma área limitada por um divisor de águas, que serve de captação da
água da precipitação através da superfície das vertentes, além disso, este divisor também
serve para separar as bacias distintas. A bacia hidrográfica de um rio se caracteriza
como uma área de influência, onde há uma superfície limitada por um contorno, dentro
do qual toda a água precipitada, quando não é evaporada, infiltrada ou retida, escoa para
o exutório (TUCCI, 1997) (Figura 1).
Nos estudos de Von Sperling (1996) a bacia hidrográfica é definida como uma
unidade fisiográfica, limitada por divisores topográficos, que recolhe a precipitação,
defluindo-se em uma seção fluvial única. E estes divisores formam uma linha fechada
em direção às maiores elevações, enquanto que a rede de drenagem é formada pelo rio
principal e seus afluentes.
Conforme os estudos de Christofoletti (1969), a quantidade de água que atinge
um curso de água depende da sua extensão e tamanho, que compõe sua área. Sendo
assim, ela pode ser classificada como mais ou menos sujeita à concentração de água,
quando ocorre a precipitação. Já o fator de forma (determinado a partir da área da bacia,
dividido pelo valor da extensão da bacia elevado ao quadrado) juntamente com o
coeficiente de compacidade (relação entre o perímetro da bacia com a circunferência da
área igual a da bacia) e a forma do canal, são responsáveis pelo tempo de concentração
15
(tempo necessário para a chuva, que cai no local mais distante do exutório, escoar até o
mesmo) e pela tendência de cheias (MULVANY 1850 apud KOBIYAMA 2006).
Conforme os estudos de Freire (2010) o sistema de drenagem de uma bacia é
constituído por um canal principal e por seus afluentes e tributários. E para determinar o
grau de ramificação ou bifurcação de uma bacia (ordem dos rios), Strahler (1957 apud
TUCCI, 1997) propôs uma metodologia para o ordenamento dos canais de drenagem.
Essa metodologia tem como base a classificação de todos os canais sem tributários
como de primeira ordem, podendo ter tributários também de primeira ordem. Já os
canais de terceira ordem originam-se da confluência de dois canais de segunda ordem,
podendo receber tributários de segunda e primeira ordem. E a ordem da bacia será
definida pelo canal de maior ordem.
2.4. Vazão
16
por levar a erosão do talvegue e leito do rio, conforme a intensidade da precipitação.
Assim, além dos problemas de inundação/enchentes há também o problema de erosão
das margens (MULVANY 1850 apud KOBIYAMA 2006).
A ausência de vegetação nas vertentes e margens, causada pela urbanização,
deixa os rios mais susceptíveis à erosão, conforme a teoria da resistasia de H. Erhart
(1967 apud BERTRAND 1977) onde a morfogênese domina a dinâmica da paisagem. A
erosão é também conseqüência do uso agrícola das terras, após a retirada da mata nativa
e a implantação dos cultivos agrícolas (SCHNEIDER, 2009). Além disso, a qualidade
do solo é afetada, podendo perder sua capacidade produtiva.
17
a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental. Assumiu o tratamento da
matéria em termos amplos e modernos. Traz um capítulo específico sobre o meio
ambiente, inserido no título da ordem social. E isso pode ser visto nos artigos:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Quanto às competências, ficou estabelecido que:
Art. 21 - Compete à União:
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios
de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive de habitação,
saneamento básico e transportes urbanos;
Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza.
Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Art. 24 - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens de direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Art. 30 - Compete aos Municípios:
18
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal ou estadual no que couber;
VIII - promover, no que couber adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
19
3.1. Delimitação da área da bacia hidrográfica e elaboração de cartas temáticas
A área da bacia hidrográfica foi delimitada pelas linhas divisoras d’água que
demarcam seu contorno, onde são os pontos mais elevados da região em torno da rede
de drenagem.
O plano de informação (PI) das curvas de nível eqüidistantes, de 20 em 20 m foi
obtido através da transferência direta das isolinhas da carta planialtimétrica do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, editadas em 1973, em escala 1:50000, do
município de Avaré (SF-22-Z-B-II-1) do Estado de São Paulo, com o auxílio do
software SPRING. Todas as cartas temáticas (hipsometria, declividade e uso do solo)
foram geradas pelo mesmo programa e editadas posteriormente no programa Coreldraw
X3.
A Carta de Uso do Solo foi elaborada a partir de imagem do satélite Landsat-5
do ano de 2009. Este satélite possui o sensor Tematic Mapper (TM), que possui órbita
223 e ponto 076, com resolução espacial de 30 metros (para região do visível ao
infravermelho médio), 120 metros (para região do infravermelho termal), e uma
resolução radiométrica de 8bits (256 níveis de cinza) que detecta as faixas radiométrica
do azul (banda 1), verde (banda 2), vermelho (banda 3), infravermelho próximo (banda
4), infravermelho médio (bandas 5 e 7), infravermelho termal (banda 6), resolução
temporal de 16 dias (MOREIRA, 2001).
A metodologia consistiu no pré-processamento de imagens para eliminar
distorções geométricas que podem ser causadas pela rotação da Terra, deslocamento
devido ao relevo, variação da velocidade do satélite dentre outros fatores. Para realizar
estas correções realizou-se o registro de imagens, que corresponde ao ajuste do sistema
de coordenada de uma imagem em relação à outra, aplicando uma imagem Landsat
ortorretificada disponibilizadas gratuitamente pela universidade de Maryland como
imagem referência para registrar as imagens Landsat disponibilizadas pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), (FLORENZANO, 2008).
Este procedimento foi realizado com a conversão das imagens em formato tiff
para GRIB utilizando o modulo IMPIMA do SPRING, já a realização do
georreferenciamento das imagens, foi feita a partir deste processo, e foi criado um
banco de dados no SPRING 5.0, onde foram importadas as imagens georreferenciadas,
gerando planos de informações para as categorias imagem e mapas temáticos. Com esta
criação, importaram-se somente as imagens georreferenciadas nas bandas 3(B), 4(G) e
20
5(R) no sensor TM, para o SPRING. Uma vez inseridas dentro do SIG, classificou-se
manualmente as classes de uso do solo, pois esta apresentou melhores resultados e
possibilidade de aplicação devido à pequena dimensão das bacias. Após essa etapa os
resultados foram comparados a imagem do Google Earth (2004), além de aferimento em
campo.
Nessa carta foi incluída a delimitação da Área de Proteção Permanente, segundo
os critérios estabelecidos pelo Código Florestal, de tal modo que fosse possível também
verificar, a partir dela, as transgressões à legislação ambiental que ocorrem na área de
pesquisa.
3.3. Forma
O fator de forma da bacia hidrográfica, proposto por Horton (1932), pode atuar
sobre alguns dos processos hidrológicos, ou sobre o comportamento hidrológico da
bacia, incluindo os fenômenos de enchentes. Sendo assim, foi calculado, conforme
Equação 1:
F = A/L² (1)
Onde:
F = fator de forma
A = área da bacia
L = comprimento do eixo da bacia (da foz ao ponto extremo mais longínquo no
espigão).
21
Para o estudo da forma da bacia, Christofoletti (1974) atualizou o “índice de
circularidade” de Miller (1953), dando a Equação 2:
22
Figura 2 – Esquema inicial da metodologia de vazão por flutuadores.
Fonte: EMBRAPA, 2007.
23
Figura 3 – Esquema final da metodologia de vazão por flutuadores.
Fonte: EMBRAPA, 2007.
Com esses dados, obteve-se a área dessa seção. E foi possível calcular a área da
seção retangular do rio, considerando seu comprimento e profundidade do intervalo C
(central). Após essa etapa, tirou-se a média das áreas.
Para o cálculo da vazão, utilizou-se a equação abaixo:
Onde:
24
A velocidade do rio é dada pela equação:
Onde:
V = velocidade média.
L = comprimento do trecho do rio.
C = coeficiente = fator de correção
Tmédio = área média dos tempos.
25
4. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DO MUNICÍPIO DE
AVARÉ
26
As duas bacias – bacia do córrego Rancho Alegre e bacia do ribeirão Água
Branca – selecionadas para o desenvolvimento da pesquisa situam-se na área urbana e
periurbana de Avaré (Figura 5).
27
rochas do Grupo Bauru, que é constituído por diversas formações predominantemente
areníticas, ocorrendo, todavia, rochas basálticas nos fundos dos vales dos principais
rios, geralmente de forma descontinua, excetuando-se ao longo do rio Paranapanema,
onde o afloramento é mais extensivo.
A maior parte do município está situada na unidade morfológica Planalto Centro
Ocidental, onde o relevo é suave a levemente ondulado, com predomínio de colinas
amplas e baixas, com topos tabulares. E conforme Castanho (2008) apresenta grande
dimensão interfluvial média (1.750 a 3.750 metros) e grau de entalhamento dos vales
“muito fraco” (menor que 20 metros). Essas características proporcionam um nível de
fragilidade potencialmente baixo, exceto nas vertentes mais inclinadas, devido à textura
dos solos, média à arenosa (Latossolos Vermelho-amarelo e Argissolo Vermelho-
amarelo). Uma pequena parte do município de Avaré, situada ao norte do Reservatório
de Jurumirim, corresponde a um setor da unidade morfológica Planalto Residual de
Botucatu, cuja litologia é composta por arenitos, lentes de siltitos e argilitos, é
caracterizado pela dominância de altitudes mais elevadas (600 a 900 metros), além de
solos do tipo Latossolo Vermelho.
A extensão territorial do município de Avaré comporta ainda um trecho da
Depressão Periférica Paulista. Essa unidade morfoestrutural está esculpida quase que
totalmente nos sedimentos páleo-mesozóicos da bacia e apresenta altitudes entre 600 a
750 metros (ROSS & MOROZ, 1997). Divide-se em três unidades morfológicas,
contudo apenas a Depressão do Paranapanema abrange a área de estudo. É caracterizada
por apresentar formas de relevo denudacionais constituídos por colinas com topos
tabulares, com dimensão interfluvial média e fraco grau de entalhamento dos vales.
Apresenta Latossolos Vermelho-amarelos e Neossolos Quartzarênicos. Em
relação ao clima, segundo a classificação climática de Köppen, predomina no município
o tipo Cwa, ou clima tropical de altitude, que se caracteriza por apresentar a
concentração de precipitação no verão e período de estiagem no inverno. A temperatura
média anual é de 20,6 ºC, sendo julho o mês mais frio, com média de 16,4 ºC, e os
meses de janeiro e março os mais quentes, com média de 24 ºC (CEPAGRI, 2008).
A precipitação média anual é de 1388,1 mm, apresentando janeiro como o mês
mais chuvoso com 213,1 mm e agosto marcado por um período de estiagem, com 40,9
mm. Os dados de pluviosidade mensal de janeiro até setembro de 2010 confirmam essas
médias (Figura 6): o maior índice de precipitação mensal acumulada ocorreu em
28
janeiro, cerca de 290 mm, e em agosto não ocorreu precipitação, confirmando-o como o
mês mais seco.
29
na época, de “aproveitar o mais simples acontecimento ou a mais superficial observação
para dar nome ao lugar onde passavam os conquistadores” (GESIEL JÚNIOR, 2010)
(Figura 7).
30
município de Águas de Santa Bárbara), São Sebastião do Tijuco Preto (município de
Piraju) e com o Distrito Policial de São Francisco do Macuco (bairro rural pertencente
ao município de Cerqueira César).
E, ainda no ano de 1875, já autônoma, a Vila de Rio Novo promoveu a primeira
escolha de seus eleitores pelo sistema indireto, no dia 5 de dezembro, onde foram eleitos
os primeiros vereadores, obedecendo às regras do regime imperial.
No ano de 1891, houve a troca de nome, de Rio Novo para Avaré, por razões
estritamente políticas.
Deste modo, o Dia de Avaré, comemorado no município, é a data histórica da
emancipação no dia 7 de Julho. Já a data simbólica da fundação é no dia 15 de
setembro, que é o dia da Padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores. Estas são de
fato as datas mais importantes do calendário cívico local, que são comemoradas
anualmente pelos avareenses. A idéia de distinção das datas se deu pela intenção de
mostrar dois fatos diferentes: o dia 7 de julho é o momento da conquista da autonomia
político-administrativa, enquanto que no dia 15 de setembro é evocada a origem da
cidade em seu sentido religioso (GESIEL JÚNIOR, 2010).
Segundo os dados do Censo Demográfico do IBGE de 2000, a população total
do município de Avaré era de 76.472, distribuída da seguinte forma: 72.387 habitantes
na área urbana e 4.085 habitantes na área rural. Segundo os dados apresentados pela
Prefeitura Municipal (ANEXO I), o município já possuía, em 2005 uma população
urbana de 88.113 habitantes.
A base econômica do município é constituída principalmente pelas atividades
relacionadas à agricultura (cana-de-açúcar, milho, laranja, banana, café e soja),
pecuária, serviços (comércio varejista, agropecuária, indústria de vestuário, calçado e
alimentício, administração pública) e turismo (Homologada Estância Turística em
2002).
31
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para verificar as relações das formas de uso e ocupação com o meio físico foi
realizado um trabalho de campo de caráter exploratório, onde se visou encontrar
evidências físicas, na área das bacias, de impactos ambientais.
A bacia de drenagem do córrego Rancho Alegre (Figura 8) apresenta fracas
declividades (Figura 9) e hipsometria variável entre 760 a 800 metros (Figura 10).
A cabeceira de drenagem é ocupada densamente por moradias irregulares. Em
sua nascente não há presença de vegetação ciliar, além disso, ocorre o despejo de esgoto
clandestino, advindo da ocupação da Favela da Biquinha (Figura 11). Este efluente está
causando a eutrofização de parte do córrego (Figura 12).
32
Figura 9 – Declividade do córrego Rancho Alegre.
Elaboração: BONIFÁCIO, C. M. (2010).
33
Figura 11 – Nascente do córrego Rancho Alegre recebendo esgoto da Favela da Biquinha.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 10/07/2010.
34
A eutrofização, conforme os estudos de Thomann e Mueller (1987) é o
crescimento excessivo de plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, a níveis
tais que sejam consideradas advindas de interferências do tipo de uso do solo da bacia.
O principal fator de estímulo é um nível excessivo de nutrientes no corpo
d’água, principalmente de nitrogênio e fósforo. E estes, de acordo com Tavares (2006)
podem ser oriundos de fontes naturais, como chuva e a matéria orgânica e inorgânica,
ou antrópicas, como emissões atmosféricas de combustíveis fósseis, efluentes
industriais, defensivos agrícolas e esgotos domésticos.
Sendo assim, no caso em estudo, há presença de despejo de esgoto doméstico, e
este contem nitrogênio e fósforo, que conforme Von Sperling (1996) estão presentes nas
fezes e urina, nos restos de alimentos, nos detergentes e outros subprodutos das
atividades humanas.
Outro fator a ser destacado é a implantação de loteamentos recentes na bacia,
que implica em movimentos de terra para as construções. Desta forma, o solo
mobilizado pelas operações de terraplanagem gera sedimentos que são facilmente
carreados para o fundo do vale e interior do canal de drenagem, promovendo o seu
assoreamento (Figura 13), reduzindo o volume útil do corpo d’água, e servindo de meio
suporte para o crescimento de vegetais fixos maiores (macrófitas) próximo às margens.
E estes vegetais causam evidente deterioração no aspecto visual do corpo d’água (VON
SPENLING, 1996).
35
Conforme o esquema apresentado por Von Sperling (1996) (Figura 14), em
bacias de ocupação urbana há concentração de nitrato e fósforo, descritos anteriormente,
em níveis diferentes, que podem levar a uma elevação nas populações de algas e outras
plantas. E, dependendo da capacidade de assimilação do corpo d’água, a população de
algas poderá atingir valores bastante elevados, trazendo uma série de problemas. E, em
um período de elevada insolação, a concentração de algas pode aumentar e constituir
uma camada superficial, similar a um caldo verde. Esta camada superficial impede a
penetração de luz nas camadas inferiores do corpo d’água, causando a morte das algas
ali situadas. Como conseqüência ocorre uma série de outros problemas, dentre eles:
freqüentes florações das águas, distúrbios com mosquitos e insetos, mau odor,
mortandade de peixes, toxicidade por amônia, comprometimento da qualidade da água,
desaparecimento gradual do corpo d’água.
O córrego Rancho Alegre, tem sua área ocupada por alguns bairros de
implantação recente, de até menos de 10 anos, e talvez por isso seja um dos poucos
cursos d’água, no município, que ainda possui algum resquício de floresta ciliar.
36
Apresenta vegetação de cerrado e de mata galeria, que são definidos como
“hotspots” de biodiversidade (Conservation International, 2010), ou seja, são áreas com
alto grau de diversidade biológica em termos de endemismo e extremamente ameaçada.
“A vegetação ciliar é uma formação vegetal que está associada
aos cursos d’água, cuja ocorrência está relacionada com a maior
umidade do solo, sendo de fundamental importância para o
gerenciamento ambiental, pois, além de contribuir para a
manutenção da qualidade dos recursos hídricos, funciona como
corredor ecológico, entre as áreas agrícolas” (MORAES, 2003 p.
58).
Todavia, apesar dessa faixa de vegetação ser existente, ela não atende aos
critérios estabelecidos pelo Código Florestal (Figura 15), que dispõe que corpos d’água
com largura inferior a 10 metros devem ter uma área de floresta ciliar referente a 30
metros, em cada lado do canal, além de uma faixa de 50 metros de raio no entorno da
nascente. Em nenhum momento a vegetação alcança o limite mínimo estabelecido por
lei. Em alguns pontos houve plantação de espécies nativas, contudo, devido à falta de
manutenção as mudas morreram.
Figura 15 – Uso do solo e limite da área de mata ciliar no córrego Rancho Alegre.
Elaboração: BONIFÁCIO, C. M. (2010).
37
Ao percorrer o córrego Rancho Alegre, é possível notar que a vegetação ciliar é
reduzida e aparece de forma descontínua ao longo do percurso (Figura 16 e Figura 17).
38
Foi verificada também a presença de descarte de materiais urbanos nos arredores
da bacia e sobre o corpo d’água do córrego Rancho Alegre. A legislação que trata sobre
o assunto é a Política Nacional de Saneamento, especificamente a lei n° 5.318 instituída
em 1967, onde entre outros itens, abrange o controle da poluição ambiental, e, de acordo
o artigo 2º, letra “C” inclui o lixo.
O material heterogêneo gerado após a produção, utilização ou transformação de
bens de consumo, é classificado como Resíduos Sólidos (NBR 10.004/87). Ou seja, é
tudo que pode ser parcialmente ou totalmente utilizado, diferente do termo “lixo”, que
abrange tudo que não pode ser reaproveitado ou reciclado (SEMA, 2008).
De acordo com a NBR 10.004/04 e NBR 10.004/87, os resíduos se classificam
em:
- Classe I – Perigosos: Quando oferecem risco à saúde pública e ao meio ambiente.
- Classe II a – Não Inertes: São classificados de acordo com suas propriedades, como:
biodegradabilidade, combustibilidade, solubilidade em meio aquoso.
- Classe II b – Inertes: São os que não se alteram ou soludibilizam em contanto com a
água.
As maiorias dos resíduos sólidos encontrados na bacia hidrográfica são
pertencentes à Classe II b, advindos principalmente de restos de materiais de
construção, como concreto, tijolos, telhas (Figura 18). Além dos resíduos mais
corriqueiros, como garrafas plásticas e sacolas plásticas (Figura 19).
39
Figura 18 – Resíduos sólidos encontrados na bacia do córrego Rancho Alegre.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 10/07/2010.
40
Outro aspecto verificado (Figura 20) diz respeito ao traçado do arruamento dos
bairros que é perpendicular ao eixo de drenagem, favorecendo, dessa maneira, o
escoamento hídrico superficial, já que ele não produz nenhuma dissipação de energia,
possibilitando que o escoamento se concentre e adquira velocidade até chegar à última
rua, no limite com a área de floresta ciliar (Figura 21).
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Figura 21 – A. Ruas perpendiculares ao curso d’água. B. Galeria pluvial em superfície. C.
Escoamento direto ao córrego. D. Desbarrancamento da vertente.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 10/07/2010.
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Figura 22 – A. Dissipador inadequado. B. Galeria pluvial que descarrega no curso d’água.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 10/07/2010.
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Nas proximidades entre o cemitério municipal e a rodovia, foi verificado o
descarte de volumes de terra, próximos a área de floresta ciliar. O material, assim
depositado, pode facilmente ser carreado pela chuva até o leito do córrego, e contribuir
dessa maneira para o seu assoreamento (Figura 24).
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Figura 25 – Assoreamento do lago artificial do córrego Rancho Alegre.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 10/07/2010.
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Figura 27 – Gota de chuva desagregando o solo exposto.
Fonte: Internet (2010).
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5.2. Ribeirão Água Branca
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Figura 30 – Declividade do ribeirão Água Branca.
Elaboração: BONIFÁCIO, C. M. (2010).
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O ribeirão Água Branca é de 2º ordem, surgindo da confluência de três nascentes
de 1º ordem.
É importante ressaltar que as nascentes dessa bacia encontram-se em uma faixa
de transição entre área urbana e rural, e de certa forma apresentam significativa
vegetação ciliar (Figuras 32 e 33).
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Todavia, uma das nascentes, indicada como permanente na Folha Topográfica
do IBGE 1:50000, não foi encontrada nas observações em campo, a área referente a esta
nascente atualmente é ocupada por residências (Figura 34). A análise da carta
hipsométrica e da morfologia do terreno sugerem apenas a existência de um amplo vale
em berço raso onde poderia existir fluxo temporário, mas não permanente.
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Com o levantamento de campo, foi possível encontrar o despejo de resíduos
sólidos nas proximidades das nascentes, além de focos de queimadas (Figura 35).
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Figura 36 – Ponto da medição da vazão, grafado em circulo vermelho.
Fonte: Google Earth (2004).
Elaboração: BONIFÁCIO, C. M. (2010).
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Figura 37 – Esquema de medição da vazão pelo método do flutuador, no ribeirão Água Branca.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 12/10/2010.
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Onde: L x Hc = 5 x 0,24 = 1,2 m².
Tirando a média das áreas, obtém-se A(média) = (2,80 + 1,2) /2 = 2 m².
Com todos os dados calculados, calcula-se a vazão média pela Equação 2
(explicada em metodologia):
F = A/L² (1)
F = 44.539 km² / 3.445071² km² = 3,76 km².
Sendo assim, a bacia pode ser considerada semi circular, pois possui uma área
maior que o comprimento do eixo. E conforme a metodologia citada por Christofoletti
(1974), que quanto mais próximo de 1 for o valor resultante, mais próxima da forma
circular será a bacia hidrográfica, ainda pode-se entender que é semi circular. E a partir
disso e juntamente com outros fatores, pode ter maior chance de sofrer inundações.
Segundo relatos de moradores, confirmado posteriormente com dados fornecidos
pela estação automática do INMET, verificou-se que uma precipitação de apenas 14,8
mm, no dia 26 de Setembro de 2010, causou enchente do ribeirão Água Branca, no
trecho referente ao centro do município (Figura 39).
O fato relatado, confrontado com o dado de precipitação, indica que o
transbordamento do ribeirão se dá, não necessariamente pela quantidade de chuva, mas
principalmente pela ocorrência de estrangulamento do fluxo ao longo do canal, pelas
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galerias pluviais (Figura 40) e construções, como pelo planejamento inadequado do
traçado das ruas, e impermeabilização completa da área (Figura 41). Sendo assim,
quando chove, toda a água escoa rapidamente rua abaixo, e o canal de drenagem, acaba
por transbordar facilmente, afetando algumas ruas do centro.
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Figura 41 – Impermeabilização completa da bacia no centro urbano de Avaré-SP. Aqui o ribeirão Água
Branca está canalizado e sobre ele foi construídas vias de circulação urbana.
Foto: BONIFÁCIO, C. M. 12/10/2010.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº. 9433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos regulamenta
o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13
de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília,
1997. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L9433.htm > Acesso
em: 12 de Julho de 2010.
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FREIRE, R. Monitoramento da qualidade da água da bacia hidrográfica do ribeirão
Maringá. Dissertação – Programa de pós-graduação em Engenharia Química.
Universidade Estadual de Maringá, 2010.
GESIEL JÚNIOR apud Semanário oficial da estância turística de Avaré, nº 457, p. 19.
Avaré, 02 de Julho de 2010.
KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F.; SILVA, R.V. (2006). “Redução de desastres naturais
relacionados às inundações: Problemas e soluções”, in Águas Urbanas. Org. por
Mendiondo, E.M., FINEP, Rio de Janeiro – RJ, (no prelo).
ROSS, J.L.S.; MOROZ, I.C. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. São
Paulo: FFLCH-USP;IPT/FAPES, 1997. Mapas e relatório.
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Paulo: FFLCH-USP;IPT/FAPES, 1997. Mapas e relatório.
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