O Rio Secreto de Fortaleza
O Rio Secreto de Fortaleza
O Rio Secreto de Fortaleza
FORTALEZA
2017
MARCELO GONÇALVES DUTRA
FORTALEZA
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Aprovada em / / 2017.
BANCA EXAMINADORA
Este estudo tem por objetivo analisar a relação do Riacho Pajeú no contexto da paisagem urba-
na da cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, procurando compreender as complexas interações
antrópicas com o traçado do referido riacho em seus 4.714,50 metros oficialmente reconheci-
dos, desde a sua nascente no bairro da Aldeota até sua foz no litoral da região central da cidade,
assim como a forma de convivência de seus habitantes com esse relevante recurso hídrico. Para
tanto, foram analisados registros cartográficos e de sensoriamento remoto, procurando identi-
ficar o grau de degradação de seu curso original durante o processo de urbanização da Cidade,
através da sistematização da análise das imagens obtidas. Ao final, propõe-se a apresentar con-
siderações e sugerir algumas ações para minimizar os efeitos causados pela expansão da malha
urbana sobre seu curso parcialmente encoberto ou canalizado, através dos tempos, apesar de
sua importância ambiental e histórica.
This study aims to analyze the relationship of the Pajeú Creek in the context of the urban
landscape of the city of Fortaleza, State of Ceará, seeking to understand the complex anthropic
interactions with the course of the stream in its officially recognized 4,714.50 meters from its
source in the district of Aldeota until its mouth on the coast of the central region of the city,
as well as the way of living with its inhabitants with this relevant water resource. For this
purpose, cartographic and remote sensing records were analyzed, trying to identify the degree
of degradation of its original course during the process of urbanization of the City, through the
systematization of the analysis of the images obtained. In the end, it is proposed to introduce
considerations and suggest some actions to minimize the effects caused by the expansion of
the urban network over its partially covered or channeled course, through the times, despite its
environmental and historical importance.
Figura 32 - Imagens do trecho da Rua Dom Manuel. À esquerda, residência particular apre-
sentando a calha do riacho encoberta por concreto. À direita, o Parque Pajeú,
mantido pela CDL .............................................................................................. 57
Figura 33 - Detalhe do mapa apresentando o quadrante D do mapa do curso do Riacho Pa-
jeú para análise detalhada da situação atual do mesmo nesse segmento .......... 58
Figura 34 - Imagens de trecho do Parque Pajeú, limítrofe à Avenida Dom Manuel ............. 59
Figura 35 - Imagens do primeiro trecho do Parque Pajeú, entre a Avenida Dom Manuel e
a Rua Vinte e Cinco de Março ............................................................................ 60
Figura 36 - Imagens do primeiro segmento do segundo trecho do Parque Pajeú, entre a Rua
Vinte e Cinco de Março e a Rua Pinto Madeira.................................................... 61
Figura 37 - Imagens do segundo segmento do segundo trecho do Parque Pajeú, entre a Rua
Vinte e Cinco de Março e a Rua Pinto Madeira.................................................. 62
Figura 38 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamen-
to Pajeú Park, na Rua Pinto Madeira número 73, ao lado do Parque Pajeú ......... 64
Figura 39 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamen-
to Central Park, na Rua Sena Madureira número 945 ...................................... 65
Figura 40 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamen-
to Correia, na Rua Melvin Jones número 72 ..................................................... 66
Figura 41 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estaciona-
mento V-Park, na Rua Sena Madureira 883 ........................................................... 67
Figura 42 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamen-
to 21, na Rua do Pocinho número 150 ................................................................. 68
Figura 43 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú atrás do Edifício Portugal,
na Rua Pedro Borges 135 ............................................................................... 69
Figura 44 - Detalhe do mapa apresentando o quadrante E do mapa do curso do Riacho Pajeú
para análise detalhada da situação atual do mesmo nesse segmento ................... 70
Figura 45 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Palácio
João Brígido (Paço Municipal de Fortaleza) na Rua São José número 1 ......... 72
Figura 46 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú por detrás do Mercado
Central de Fortaleza, na Avenida Alberto Nepomuceno 199 ............................... 73
Figura 47 - Mapa ilustrativo do curso do Riacho Pajeú, desde sua nascente até a sua foz,
indicando seus trechos originais expostos, modificados e subterrâneos ........ 75
LISTA DE FIGURAS
Figura 48 - Mapa ilustrativo do curso do Riacho Pajeú, desde sua nascente até próximo a sua
foz, indicando em qual Regional está inserido, conforme o IPECE ................. 77
Figura 49 - Detalhe do Mapa de Zoneamento Urbano do Plano de Desenvolvimento Parti-
cipativo de Fortaleza .......................................................................................... 78
Figura 50 - Detalhe do Mapa de Zoneamento Ambiental do Plano de Desenvolvimento
Participativo de Fortaleza ................................................................................. 80
Figura 51 - Fortaleza. População residente e domicílios (1970-2010) .............................. 82
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 18
2.1 Objetivo geral ................................................................................................................... 18
2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 18
3. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 18
3.1 O conceito de Espaço ....................................................................................................... 19
3.2 O conceito de Paisagem ................................................................................................... 20
3.3 O Espaço e a Paisagem sob a ótica de Milton Santos ................................................... 20
3.4 Rios Urbanos .................................................................................................................... 21
4. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 22
5. ANTECEDENTES DE OCUPAÇÃO DO ENTORNO DO RIACHO PAJEÚ............... 29
6. O PROJETO DO PARQUE PAJEÚ ................................................................................. 35
7. PERCORRENDO O RIACHO PAJEÚ ............................................................................ 41
8. ANÁLISE E TRATAMENTO DAS INFORMAÇÕES / DADOS OBTIDOS ............... 74
9. CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................... 82
10. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 84
15
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Com o intuito de se embasar teoricamente a análise, é necessário recorrer ao con-
ceito de urbanização concentrada e metropolização, no qual o processo de urbanização de uma
cidade atinge um novo nível, tanto sob a ótica da quantidade do ambiente quanto sob sua ótica
qualitativa (SANTOS, 1993), a partir dos anos 1970. No Brasil, nesse período, adota-se o con-
ceito de “País do Futuro”, num contexto que pode ser configurado como desenvolvimentista.
É a partir dessa década que o país e suas cidades começam a experimentar um crescimento
exponencial, capitaneado por um sentimento ufanista de desenvolvimento e progresso. Nesse
momento, as médias cidades começam a transpor um patamar de crescimento que as inserem
num novo contexto, em um processo gradativo de metropolização. Novos comportamentos são
criados, novas interações interpessoais e com o meio ambiente despertam novos hábitos com
relação ao espaço humano, com o bem viver, com a necessidade de ocupar as áreas públicas.
Segundo Maria Cecília Barbieri Gorski (2010), em seu livro “Rios e Cidades –
Ruptura e Reconciliação”, existe toda uma problemática que inclui a tomada de decisões equi-
vocadas por parte do gestor público, nas diversas esferas, totalmente insustentáveis, apresen-
tando um olhar urbanístico e ambiental da questão, bem como propostas de recuperação desses
corpos hídricos urbanos.
Lucia Maria Costa (2006), em seu livro “Rios e Paisagens Urbanas em Cidades
Brasileiras, realiza uma profunda análise sobre os impactos e a importância dos rios urbanos
que atravessam as grandes cidades brasileiras em seu processo de urbanização, e as consequên-
cias antrópicas desencadeadas por esse processo.
19
Por outro lado, para Saide Kahtouni (2004), o remodelamento dos rios através de
intervenções tecnológicas tem por objetivo ampliar a oferta de solo para possibilitar a ocupação
humana, paralelamente à perda dos antigos vínculos cotidianos dos habitantes das metrópoles
com seus cursos hídricos históricos.
letores de efluentes domésticos e industriais, bem como são receptores de toda a espécie de
detritos sólidos que nelas são depositadas pela população de seu entorno.
Esse convívio involuntário dos rios urbanos com a cidade em expansão suscita uma
pergunta: como coexistir com a urbanização crescente que transforma e se apropria do meio
natural para satisfazer suas necessidades prementes e, muitas vezes, questionáveis?
Os rios são organismos “vivos”. Eles esculpem e modificam a paisagem, alimentam
fauna e flora, se expandem e se contraem em virtude das condições ambientais. Assim, o rio é
condicionado e, ao mesmo tempo, condiciona a Paisagem em que está inserido. E como todo ser
vivo, não é aceitável aprisioná-lo, domesticá-lo, tentar transformar suas características naturais
impondo-lhes convicções estéticas ou interesses pessoais.
Os rios possibilitaram a existência de grande parte das cidades mas, essas, contradi-
toriamente, agem de modo a inviabilizar esses mesmos rios que lhes deram origem, tratando-os
de maneira displicente e, invariavelmente, criminosa, a despeito de um sem número de leis e
normas estabelecidas para, pretensamente, conferir-lhes proteção sem que, infelizmente, te-
nham obtido sucesso nesse sentido.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
A obtenção de dados que subsidiou este estudo deu-se através das seguintes etapas:
• Consulta de material iconográfico em bibliotecas e internet;
• Consulta aos projetos urbanísticos no Arquivo Público / Prefeitura de Fortaleza;
• Uso de imagens georreferenciadas disponibilizadas através do aplicativo Google
Earth Pro® em 30 de Setembro de 2017;
• Pesquisa bibliográfica: pesquisa nas bibliotecas universitárias e bibliotecas de órgãos
ambientais (SEUMA, SEMACE, FUNCEME, SDA, IPHAN, etc);
• Pesquisa de bases cartográficas na bibioteca do curso de Arquitetura e Urbanismo
da UFC, no Arquivo Público, IPHAN e na biblioteca da SEMACE;
• Coleta de dados de campo, através de incursões a pé, para aquisição de dados
referentes às interferências urbanísticas e outras no período de setembro a ou-
tubro de 2017;
• Análise e sistematização das informações / dados obtidos através de softwares de
tratamento de imagens fotográficas e de sensoriamento remoto;
• Entrevistas informais com a população do entorno do curso do Riacho Pajeú.
Foram realizadas pesquisas em órgãos públicos para obtenção de dados, imagens e
relatos sobre a nascente, curso e foz do referido riacho, contudo, cabe ressaltar que as informa-
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ções encontradas eram divergentes, imprecisas e, muitas vezes, contraditórias. Mapas e levanta-
mentos diferentes apontavam localizações diversas.
Com a finalidade de padronizar a metodologia de estudo, considerou-se o levanta-
mento realizado pelo Serviço Geográfico do Exército Brasileiro, de 1945, que resultou na Carta
da Cidade de Fortaleza e Arredores (Figuras 4 e 5), consultada na biblioteca do curso de Arqui-
tetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará. Optou-se pela referida Carta em virtude
da reconhecida expertise do Exército Brasileiro em elaborar estudos cartográficos precisos e
apurados, com alto nivel de detalhamento.
Tal Carta foi digitalizada e sua folha 3 (na qual está inserida a área de estudo), so-
breposta à imagem atual de satélite (Figuras 6 e 7), obtidas através do aplicativo Google Earth
Pro®. Nessa sobreposição, realizada com o software Adobe Photoshop® versão 6.0, uso edu-
cacional, foi possível comprovar o alto grau de precisão da imagem elaborada pelo Exército,
com alta correspondência de elementos às referidas imagens atuais. Considerou-se, portanto, s
nascente e curso constantes nesta Carta.
Em seguida, isolou-se o traçado do curso do Riacho Pajeú constante na Carta e
aplicou-se tal traçado, sobreposto e de forma realçada, à imagem atual de satélite obtida através
do aplicativo Google Earth Pro®, utilizando-se a mesma versão do software Adobe Photoshop®.
Uma vez sobrepostas as imagens, o curso foi subdividido em cinco quadrantes
(Figura 8), desde sua nascente até sua foz, visando subdividir a área de estudo em quadrantes
de modo que o quadrante central englobasse a zona de transição entre as zonas de ocupação
consolidada e de consolidação prioritária, para facilitar a análise dos aspectos antrópicos que
incidiram sobre o mesmo e as diferenciações decorrentes dessas qualificações.
Em seguida, em visitas de campo, a pé, acompanhou-se o curso do rio em toda a
sua extensão, sempre que se obteve acesso, para documentação através de fotografias digitais,
procurando registrar as condições atuais em que se encontram os referidos trechos.
Desse modo, procurou-se traçar um histórico de ocupação e uso do entorno do Ria-
cho Pajeú através de textos, documentos e relatos cronológicos dessa ocupação.
24
Fonte: Adaptado do serviço Geográfico do Exército e Google Earth Pro® (30/09/2017). Escala 1:10.000.
27
Figura 7 - Sobreposição final do traçado do curso do Riacho Pajeú (em azul) com a
imagem de satélite do Google Earth (2017).
Figura 8 - Divisão do mapa do curso do Riacho Pajeú (em azul) em quadrantes para
análise detalhada da situação atual do mesmo.
1 - Nascente do Riacho Pajeú segun-
do a Carta do Exército Brasileiro
2 - Final do curso do Riacho Pajeú
segundo a Carta do Exército Bra-
sileiro, próximo à foz
2 E
Quadrante B
Entre a Rua Dr. José Lourenço e a Rua Ildelfonso Albano.
Quadrante C
Entre a Rua Ildelfonso Albano e a Rua Rodrigues Júnior.
Quadrante D
Entre a Rua Rodrigues Júnior e a Rua Sena Madureira.
Quadrante E
Entre a Rua Sena Madureira e a Av. Presidente Castelo Branco.
29
Até o início do século XX a Cidade crescia, de ambos os lados, limitada pelos li-
mites naturais do Riacho. A partir de 1918, porém, com intervenções urbanísticas promovidas
pela Diretoria de Obras Públicas da Capital, ocorreu a canalização do Riacho para possibilitar a
ocupação de suas margens (FORTALEZA EM FOTOS. “O Riacho Pajeú”. Acessível em http://
www.fortalezaemfotos.com.br/2013/06/o-riacho-pajeu.html).
Na década de 1960, Fortaleza sofre um expansionismo urbanístico em bairros como
Aldeota e Meireles. As classes mais favorecidas começam a instalar suas mansões e belas casas
no bairro, que experimenta um boom imobiliário e um processo ainda inicial de especulação
imobiliária. Um ambiente outrora composto de sítios, dunas e vegetação característica cedeu
lugar a projetos paisagísticos e a uma urbanização crescente. Esse processo persiste por toda a
década de 1960 e 1970, com a edificação dos primeiros prédios residenciais, inaugurando um
processo de verticalização da região.
Nos primeiros anos da década de 1980, a Prefeitura de Fortaleza realiza uma nova
requalificação da região, operando um novo processo de canalização do Riacho Pajeú (cerca
de 3.360 metros) e, como já existiam significantes edificações na região, alguns trechos de seu
curso original acabaram por ser modificados para desviar desses empreendimentos, agravando
a degradação ambiental de suas margens. Quando, em 1995, a Prefeitura anunciou a constru-
ção do Mercado Central, às margens do Riacho Pajeú em seu trecho final, próximo à sua foz,
anunciou-se também a criação de um Parque Ecológico com área de aproximadamente 15.000
m2 que, no entanto, nunca foi efetivado (FORTALEZA EM FOTOS. “O Riacho Pajeú”. Acessí-
vel em http://www.fortalezaemfotos.com.br/2013/06/o-riacho-pajeu.html).
A seguir, será apresentado um breve histórico das representações iconográficas e
cartográficas que ilustram a importância do Riacho Pajeú desde a colonização até os dias de
hoje, demonstrando como, com o passar dos tempos, a cidade se expandiu no seu entorno e por
sobre o seu curso original, aprisionando-o, modificando-o e contribuindo para quase ocultá-lo
da paisagem da cidade, possibilitando que, atualmente, gerações habitem sobre seu leito sem,
talvez, nem perceberem sua presença.
31
Figura 10 - Carta de Fortaleza em 1726, mandada executar por Manuel Francês , retra-
tando a “Villa Nova da Fortaleza de N. S.ra da Assumpssão...” e ampliação.
Fonte: Biblioteca Nacional, Rio de janeiro (RJ). Escala de palmos constante na Planta. Acessível em
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart519681/cart519681.jpg>
34
Ainda segundo o PDDUFOR (1992), “consta que o plano não foi colocado em prá-
tica, por pressão do setor privado” (PDDUFOR, 1992, p.24).
O projeto urbanístico, originalmente, previa a preservação total das margens do Ria-
cho Pajeú, desde sua nascente até sua foz. No entanto, de seu curso oficial de 4.714,50 metros,
apenas o trecho C, entre a Avenida Dom Manuel e a rua Pinto Madeira, num total de 590 metros
(sendo 70,50 metros em canal fechado e 520 metros em canal aberto foi concluído (Figuras 14 e
15). Desses 4.714,50 metros de seu curso, ainda segundo dados oficiais apresentados no projeto
do Parque Pajeú, 2.285,50 metros correriam em canal fechado e outros 2.429 metros correriam
em canal aberto. Ainda nas Figuras 14 e 15, pode-se observar fac-símiles da brochura original
do projeto com suas especificações técnicas e, nas Figuras 16, 17, 18 , 19 e 20, fotografias do
referido projeto extraídas da mesma brochura.
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Somente pequenos trechos, porém, ainda podem ser observados a céu aberto, prin-
cipalmente no Parque Pajeú (entre a rua Pinto Madeira e a Avenida Dom Manuel), nos jardins
do Paço Municipal (a partir da Rua São José) e por detrás do Mercado Central. Nos dois primei-
ros sofreu algumas intervenções paisagísticas mas, no último, caracteriza-se por um pequeno
fluxo de água canalizado entre paredes de pedra. Outros afloramentos ocorrem, porém incipien-
temente e em fundos de estacionamentos e áreas particulares de difícil acesso.
Esse processo de canalização e cobertura de grande parte do curso do Riacho Pajeú
contribui para a ocorrência de problemas socioambientais em seu entorno, desde a perda do
sentimento de pertencimento associado à invisibilização do Riacho até a perda de áreas verdes
que contribuem para uma maior qualidade ambiental, perda de biodiversidade, amenização do
micro-clima local, inundações crônicas e recorrentes em diversos trechos ao longo de seu curso
que atingem diretamente a população, na contramão de iniciativas atuais de resgate e recupera-
ção de rios urbanos sendo colocadas em prática em diversas cidades do mundo.
43
Fonte: Adaptado do Google Earth Pro® (30/09/2017). Ampliação da imagem escala 1:10.000.
44
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Fonte: Adaptado do Google Earth Pro® (30/09/2017). Ampliação da imagem escala 1:10.000.
Como preconizado por Saide Kahtouni (2004), o remodelamento pelo homem dos
rios através de intervenções tecnológicas objetiva ampliar a oferta de solo com o intuito de
ampliar a oferta de solo para possibilitar a ocupação humana, processo que se dá concomitante-
mente à perda dos antigos vínculos dessa população com seus cursos históricos. E esse processo
é perfeitamente observado em toda a extensão do curso do Riacho Pajeú que atravessa o bairro
Aldeota. Uma das áreas mais valorizadas da Cidade, desde sua nascente, uma parte significativa
de seu curso inicial (Figura 47) se encontra inteiramente invisibilizado para a população.
Outrora um marco histórico de Fortaleza, o Pajeú foi excluído da Paisagem urba-
na, tornando-se praticamente impossível para as novas gerações manterem um vínculo afetivo
com seu passado de relevante importância cênica, paisagística e ambiental. Nesse sentido, os
elementos fluxos tratados nos trabalhos de Santos sobrepujaram de tal forma o elemento fixo
que o anulou totalmente. O fixo, no caso o Riacho Pajeú e a biodiversidade da Paisagem ås suas
margens, fixados nesse lugar, e que nos permitiriam modificar esse próprio lugar, foram de tal
forma suprimidos pelos fluxos através da metropolização extrema que não mais se permitiria
recriar as condições ambientais e sociais que redefiniriam esse lugar. O espaço coletivo foi
completamente apropriado pelo capital, e o Espaço do Homem foi completamente alienado da
população de seu entorno, distanciando-a do sentimento de pertencimento a esse lugar. Ocorre
um processo de estranhamento entre a cidade e a região, alienando a própria região, uma vez
que essa não mais serve às necessidades reais de seus habitantes (SANTOS, 2009).
Segundo Maria Cecília Barbieri Gorski (2010), as decisões equivocadas tomadas
pelos gestores públicos, insustentáveis urbanística e ambientalmente falando, geram uma pro-
blemática que deveria levar em conta propostas de recuperação desses importantes corpos
hídricos urbanos o que, em geral, na prática, não acontece.
Mas, dadas as características da região, não é plausível acreditar que algum gestor
público vá contrariar a lógica econômica vigente e se impor às pressões do Mercado com pro-
postas de resgate do Riacho Pajeú e do cumprimento da legislação ambiental que preconiza a
preservação e proteção dos cursos hídricos e suas margens. Isso suscitaria um enfrentamento
jurídico, administrativo e econômico com grupos hegemônicos que, via de regra, se constituem
nos patrocinadores das campanhas políticas de tais gestores e que, invariavelmente, são tam-
bém a aristocracia e burguesia locais.
O local indicado pelo Serviço Geográfico do Exército (Figura 22) como sendo o
da nascente do Riacho Pajeú em nada sugere a existência da mesma. Trata-se de um terreno,
no bairro da Aldeota, encravado numa das áreas de maior especulação imobiliária atualmente
na cidade de Fortaleza. Segundo a Carta do Exército, porém, seria o local correto da nascente.
46
Figura 23 - Imagens da localização da nascente do Riacho Pajeú segundo informações do Serviço Geográfico do Exército.
Figura 24 - Imagens da localização da nascente do Riacho Pajeú segundo informações da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Fonte: Adaptado do Google Earth Pro® (30/09/2017). Ampliação da imagem escala 1:10.000.
Fonte: Adaptado do Google Earth Pro® (30/09/2017). Ampliação da imagem escala 1:10.000.
impossível, a olho nú e através do olfato, identificar que ocorre o despejo de efluentes clandes-
tinos, possivelmente esgoto, em suas já insípidas águas. Por não haver qualquer indicação ou
sinalização, para um leigo que se depare com tais afloramentos, seria difícil identificar que se
trata de um riacho natural, sendo mais óbvio achar que se trata de um canal de esgotamento
pluvial.
Na Figura 27, observa-se o primeiro afloramento identificado do curso do Riacho
Pajeú, no interior de um estabelecimento comercial (Beto’s Car), situado na Avenida Heráclito
Graça. Tal afloramento se constitui em um canal com aproximadamente 2 metros de largura,
paredes de concreto, por sobre o qual, em determinado trecho, existe uma ponte de madeira
para acesso ao restante do terreno, nos fundos do estabelecimento. Esse canal segue até o muro
que dá para a rua lateral, onde o riacho adentra um canal fechado por sob a rua asfaltada. Em
seguida, atravessa toda uma quadra totalmente canalizado por sob estabelecimentos comerciais
diversos (colégio, edifício residencial e outros).
Somente na segunda quadra a seguir, entre as ruas Nogueira Acioli e J. Penha,
reaparece, exposto, em um terreno ainda não edificado e não murado (Figura 28) para, em
seguida, ser novamente canalizado por debaixo da rua e adentrar uma galeria subterrânea na
quadra compreendida entre as ruas J. Penha e D. Leopoldina. Nessa quadra, segue canalizado
até sua metade, onde aflora nos fundos de um estacionamento, em terreno particular murado
(Figura 29), onde não foi possível adentrar devido a sucessivas visitas nas quais não foi possível
encontar algum morador. Nesse terreno, no qual existe uma moradia, ressurge entre paredes de
concreto, até o limite com o muro da propriedade, onde novamente submerge por sob a rua.
Do outro lado da rua, adentra uma outra propriedade particular (Figura 30), a UNI-
CE, Faculdade de Ensino Superior, na qual não foi permitido pela direção da mesma que seu
curso exposto fosse registrado ou fotografado. Recorreu-se, então, a imagens de satélite, com
uso do aplicativo Google Earth Pro, onde pode ser constatado, pela descrição do Serviço de
Geografia do Exército, que houve alteração do curso original do riacho com o intuito de pos-
sibilitar a edificação do prédio principal da Faculdade. Na segunda metade da referida quadra,
segue novamente por um estreito canal de concreto de aproximadamente 1,5 metros de largura
(Figura 31), em um terreno em processo de construção, até o muro que dá para a rua Rodrigues
Júnior, onde é novamente canalizado por baixo da rua.Em seguida, atravessa a quadra compre-
endida pela rua Rodrigues Júnior e a Avenida D. Manuel (Figura 32) onde, na primeira metade,
corre subterrâneamente sob as construções existentes e, na segunda metade, prossegue por ca-
nal de concreto recoberto por uma laje de concreto, atravessando os jardins de uma imponente
propriedade particular.
52
Figura 27 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior da empresa Beto’s Car, na Avenida Heráclito Graça número 861.
Figura 28 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior de terreno localizado entre a Rua Nogueira Acioli e a Rua J da Penha.
Figura 29 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior de terreno localizado entre a Rua J da Penha e a Rua Dona Leopoldina, ao qual não se teve acesso.
Figura 30 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior da UNICE, localizada entre a Rua Dona Leopoldina e a Rua Rodrigues Júnior, ao qual não foi permitido acesso.
Figura 31 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú em terreno localizado na Rua Rodrigues Júnior, nos fundos da UNICE, ao qual foi permitido acesso parcial.
Figura 32 - Imagens de trecho da Rua Dom Manuel. À esquerda, residência particular apresentando a calha do riacho encoberta por concreto. À direita, o Parque Pajeú, mantido pela CDL.
Fonte: Adaptado do Google Earth Pro® (30/09/2017). Ampliação da imagem escala 1:10.000.
Figura 35 - Imagens do primeiro trecho do Parque Pajeú, entre a Avenida Dom Manuel e a Rua vinte e Cinco de Março.
Figura 36 - Imagens do primeiro segmento do segundo trecho do Parque Pajeú, entre a Rua Vinte e Cinco de Março e a Rua Pinto Madeira.
Figura 37 - Imagens do segundo segmento do segundo trecho do Parque Pajeú, entre a Rua Vinte e Cinco de Março e a Rua Pinto Madeira.
Após atravessar todo o Parque Pajeú, o riacho adentra novo canal fechado, por
sob a Rua Pinto Madeira, para ressurgir, do outro lado da rua, no interior do estacionamento
curiosamente denominado Estacionamento Pajeú, atravessando-o com leve curva através de um
canal (Figura 38) de pedras e terra com cerca de 3 metros, a céu aberto, assoreado por folhas e
detritos, onde atravessa uma ponte de concreto e adentra um canal coberto que dá para o terreno
adjacente.
Nesse próximo terreno (Figura 39), aflora novamente, nos fundos de um estabele-
cimento comercial, o Estacionamento Central Park), em canal com paredes de concreto, com
cerca de 3 metros, também assoreado por folhas, detritos e alguma vegetação arbustiva.
Em seguida, adentra novo canal encoberto, para ressurgir em canal exposto no ter-
reno seguinte (Figura 40), também comercial, e também um estacionamento, o Estacionamento
Correia, já muito mais assoreado e recoberto por vegetação arbustiva e lixo, sendo praticamente
impossível se observar o curso dágua.
Novamente penetra em um canal encoberto e ressurge do outro lado do muro, nos
fundos de mais um estacionamento (Figura 41), o Estacionamento V-Park, nas mesmas condi-
ções do afloramento anterior, assoreado por detritos e totalmente encoberto por vegetação. Uma
última vez, nos fundos de mais um estacionamento (Figura 42), o Estacionamento 21, ressurge
entre canal com paredes de pedra, já menos assoreado, onde já se pode visualizar o pequeno
fluxo de água que corre entre detritos diversos, penetrando em novo canal encoberto pela Rua
Pedro Borges.
Após atravessar a Rua Pedro Borges, ressurge, exposto (Figura 43), nos fundos de
um edifício comercial, o Edifício Portugal, em local com acesso exclusivo por autorização da
Administração do edifício, mas visível a partir do piso térreo do mesmo. Um canal com muro
de concreto do lado esquerdo e terra do lado direito, após o qual existem inúmeras casinhas
modestas, com acesso coletivo à margem do Riacho Pajeú. Tal canal se encontra também asso-
reado por detritos, folhas e vegetação arbustiva. Esse canal desemboca num canal encoberto, ao
final desse terreno. Em seguida, por cerca de três quadras, corre totalmente encoberto por sob
galpões e armazéns comerciais, herança de seu passado histórico de entreposto comercial nas
proximidades da zona portuária de Fortaleza. Apesar do movimento intenso de trabalhadores
e clientes percorrendo as estreitas ruas dessa intensa zona comercial, nenhum dos transeuntes,
indagados informalmente, soube dizer algo sobre a existência de um riacho naquela região,
apesar de circularem sobre o seu curso sem perceberem. Invisibilidade e falta de identificação
com o Riacho. Tão próximo e tão distante.
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Figura 38 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamento Pajeú Park, na Rua Pinto Madeira número 73, ao lado do Parque Pajeú.
Figura 39 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamento Central Park, na Rua Sena Madureira número 945.
Figura 40 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamento Correia, na Rua Melvin Jones número 72.
Figura 41 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamento V-Park, na Rua Sena Madureira número 883.
Figura 42 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Estacionamento 21, na Rua do Pocinho número 150.
Figura 43 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú atrás do Edifício Portugal, na Rua Pedro Borges número 135.
Fonte: Adaptado do Google Earth Pro® (30/09/2017). Ampliação da imagem escala 1:10.000.
Nesse quadrante (E), observa-se os trechos do curso do Riacho Pajeú que afloram
no interior do Paço Municipal e nos fundos do Mercado Central. No primeiro, encontra-se com
suas margens urbanizadas e com tratamento paisagístico mas, quando comparado à carta do
Exército, observa-se uma alteração em seu curso original.
O acesso aos jardins do Paço Municipal (Figura 45), apesar de se tratar de um pré-
dio público, se dá através de autorização expressa do Departamento de Comunicação Social da
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Prefeitura, em dias e horários pré-agendados, então, de certo modo, continua indisponível para
o acesso da maioria da população.
Após atravessar por canalização por sob a Rua Rufino de Alencar, o Riacho Pajeú
ressurge nos fundos do Mercado Central de Fortaleza (Figura 46), aos fundos de sua área de es-
tacionamento, em canal de muros de pedra com cerca de 4 metros de largura, livre de vegetação
mas, também, excessivamente assoreado por detritos. Trata-se do último trecho visível do curso
do riacho passível de ser observado a céu aberto, antes de, novamente, perder-se em canais sub-
terrâneos por sob a Avenida Leste-Oeste e o complexo do estaleiro da INACE (Indústria Naval
do Ceará S.A), construído em 1969 sobre uma outrora Praia Formosa, próximo à Comunidade
do Poço da Draga, e onde se localizaria a foz original do Riacho Pajeú.
Não se obteve autorização da Direção da INACE para adentrar o estaleiro com o
objetivo de se documentar e registrar a atual foz do riacho.
Comparando-se a carta do Exército com as imagens de satélite obtidas através do
aplicativo Google Earth Pro® em 30 de setembro de 2017, é possível afirmar que seu curso foi
alterado em função das construções edificadas no local.
Pelos dados oficiais constantes do Programa de Drenagem Urbana de Fortaleza
(DRENURB), a foz do Riacho Pajeú, canalizada, se encontra ao final da Avenida Alberto Ne-
ponucemo, desaguando no Oceano.
Assim, uma outrora praia, de acesso público, foi alienada pelo Capital em detrimen-
to de seu uso comum, e a foz de um de seus mais importantes recursos hídricos, senão o mais
importante em função de sua correlação histórica com os cidadãos fortalezenses foi, novamen-
te, invisibilizada e suprimida da Paisagem, do Espaço e do coração de sua população.
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Figura 45 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú no interior do Palácio João Brígido (Paço Municipal de Fortaleza), na Rua São José número 1.
Figura 46 - Imagens de trecho exposto do curso do Riacho Pajeú por detrás do Mercado Central de Fortaleza, na Avenida Alberto Nepomuceno número 199.
Figura 47 - Mapa ilustrativo do curso do Riacho Pajeú, desde sua nascente até próxi-
mo a sua foz, indicando seus trechos originais expostos, modificados e subterrâneos.
Neste mapa ilustrativo (Figura 47) observa-se o curso original do Riacho Pajeú de-
terminado pelo Serviço Geográfico do Exército em 1945, em seus segmentos expostos, modifi-
cados ou subterrâneos, denotando sua “invisibilidade” na paisagem Fortalezense na maior parte
do mesmo, sobretudo nas áreas mais valorizadas e de maior concentração econômica.
Sua nascente e a maior parte do curso inicial encontra-se no bairro da Aldeota, cor-
rendo sob o subsolo por baixo de complexos de apartamentos, concessionárias de automóveis,
restaurantes, clínicas e outros estabelecimentos comerciais. Observa-se, também, alterações
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Figura 48 - Mapa ilustrativo do curso do Riacho Pajeú, desde sua nascente até a sua
foz, indicando em qual Regional está inserido, conforme o IPECE.
Secretarias Regionais
SERCEFOR
SER II
Neste mapa ilustrativo (Figura 48) observa-se em qual Secretaria Regional de For-
taleza o respectivo trecho do curso do Riacho Pajeú está inserido. Tal curso se encontra prati-
camente dividido entre a Secretaria Regional II (SER II), que engloba o bairro da Aldeota, e a
Secretaria Regional do Centro de Fortaleza (SERCEFOR), que abrange o Centro da Cidade. Não
por coincidência essa fronteira marca a divisão de uma região já completamente consolidada e
urbanizada, onde não se pode identificar a presença do riacho e uma região onde ainda se iden-
tificam trechos de seu curso exposto, mas que está destinado à ocupação prpreferencial.
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Secretarias Regionais
SERCEFOR
SER II
Neste mapa ilustrativo (Figura 49) observa-se que parte do curso do Riacho Pajeú
encontra-se parcialmente inserido na Zona de Ocupação Preferencial 1 (ZOP 1), destinada a
um processo intenso de uso e ocupação do solo. É exatamente nesse segmento do Riacho Pajeú
que se encontram os trechos em que seu curso ainda está exposto, como se observa na Figura
49. O resto de seu curso se encontra na Zona de Ocupação Consolidada (ZOC), com focos de
saturação da infraestrutura, de ocupação intensiva do solo e que corresponde exatamente à àrea
na qual já não se pode identificar ou visualizar seu curso.
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Art. 1º - Fica alterado o Anexo V - Limites das Áreas de Preservação dos Recursos
Hídricos do Município de Fortaleza que estabelece a localização e os limites da Zona
de Preservação Ambiental - ZPA-1 - Faixa de Preservação Permanente dos Recursos
Hídricos, de que trata os arts. 61 e 63 da Lei Complementar nº 0062, de 02 de feve-
reiro de 2009, com redação dada pelo art. 1º da Lei Complementar nº 0101, de 30 de
dezembro de 2011.
Zona de Proteção
Ambiental 1
ZPA 1
Neste mapa ilustrativo (Figura 50) observa-se que um segmento do curso do Riacho
Pajeú encontra-se parcialmente inserido Zona de Proteção Ambiental 1 (ZPA 1). A nomencla-
tura ZPA, Zona de Proteção Ambiental, é utilizada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza para
designar áreas delimitadas com o intuito de preservar os ecossistemas e recursos naturais dos
ambientes nela inseridos. A ZPA 1, mais especificamente, designa áreas delimitadas com o intui-
to de se preservar permanentemente os recursos hídricos, o que não foi observado nos trechos
visitados em pesquisa de campo.
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9. CONSIDERAÇÕES
A Paisagem da cidade de Fortaleza, como ocorre com praticamente todas as cidades
ao longo do tempo, sofreu significativa alteração em virtude de seu processo de expansão e urba-
nização (Figura 51). Nesse processo, marcos históricos e geográficos como o Riacho Pajeú, pre-
sente no imaginário fortalezense desde a fundação da cidade foram sendo depreciados, relegados
e, gradativamente, obscurecidos pela urbanização desordenada e pela especulação imobiliária.
Atualmente, apenas uma pequena parte do curso original desse riacho pode ser ob-
servado a céu aberto. Sua maior parte foi encoberta, canalizada ou mesmo sofreu alteração em
virtude de interesses particulares e, até mesmo, públicos.
Afinal, como preservar a memória daquilo que não se pode ver ou sentir? Nossa
memória afetiva, nosso sentimento de pertencimento precisa de estímulos, inclusive visuais,
para desencadear toda espécie de sensações de empatia.
O ser humano, em sua busca desenfreada pelo “bem-estar” da vida cotidiana, há
muito vem se desconectando de suas raízes e de sua herança cultural, criando novos ícones e re-
criando uma “Natureza” artificial que melhor se adeque às suas necessidades e anseios contem-
porâneos. Os elementos naturais originais passaram de objetos de referência para obstáculos a
serem transpostos, contornados ou “requalificados”, termo técnico recorrentemente utilizado
pelo poder público para alterar as características originais de determinada região para atender
ao “interesse social”, como se a qualidade ambiental não fosse um atributo que atendesse a esse
interesse.
Mesmo os poucos trechos do curso do Riacho Pajeú que podem ser percebidos a
céu aberto perderam sua identidade natural, transformando-se em meros canais por meio dos
quais todo tipo de dejetos e efluentes são descartados, contribuindo para a aceleração do pro-
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cesso de degradação ambiental do mesmo. Serpenteia por entre prédios, casas e quintais, sub-
valorizado e destituído de seu valor referente aos serviços ambientais que presta à população
e ao meio urbano, tais como manutenção ecossistêmica, relações ecológicas, trabalho fluvial,
influências climáticas, etc (BOBADILHO, 2014).
Muitas das mazelas da cidade no entorno de seu curso poderiam ser explicadas
caso se conhecesse e procurasse entender melhor a dinâmica desse riacho. Episódios cíclicos
de inundações em épocas de quadras chuvosas poderiam ser compreendidos se resgatássemos
sua importância para a Paisagem fortalezense, uma vez que alguns ocorrem em áreas corres-
pondentes ao seu curso, podendo sofrer influência direta da incapacidade de seu leito reduzido
artificialmente não suportar a carga hídrica excedente.
Rios são corpos vivos, dinâmicos, que reagem ao e/ou com o ambiente, necessitam
de espaço para expandir seus fluxos quando há um aporte maior de água em seus leitos e, esses,
estando canalizados, pressionados, assoreados, se comportam de maneira caótica buscando um
novo equilíbrio, aprisionados em paredes e dutos, fluindo sempre para áreas de escape tradu-
zidas em ruas, avenidas, etc. Se observarmos o curso original do Riacho Pajeú, encontraremos
correspondência com ocorrências de súbita inundação desses ambientes, ainda que não se per-
ceba diretamente essa influência. Não se trata apenas da geografia e morfologia da cidade. Há,
também, a contribuição do aumento de fluxo que não é comportado pela redefinida calha hídri-
ca, pela infraestrutura criada para conduzir suas águas.
Pode-se observar, também, mudanças de seus cursos originais para beneficiar em-
preendimentos imobiliários ou mesmo instalações públicas, como ocorreu com a foz do Riacho
Pajeú, quando da construção da Avenida Leste-Oeste e do estaleiro INACE e a urbanização e
tratamento paisagístico do Paço Municipal. Conclui-se, portanto, que deveria ser feito um es-
forço para recuperar os trechos de seu leito existentes a céu aberto, desobstruindo-se e amplian-
do sua calha de inundação, bem como, sempre que possível, reabrir trechos hoje encobertos,
reflorestando suas margens e devolvendo à Paisagem sua função ambiental e afetiva.
Trata-se, tão somente, de cumprir as diversas legislações ambientais vigentes, pro-
tegendo os recursos hídricos, sua biodiversidade e o bem estar humano. Iniciativas recentes
em grandes cidades do mundo vem devolvendo ao cidadão e à Paisagem urbana a importância
de seus rios urbanos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida de suas populações e
revalorizando atributos naturais de seus corpos hídricos que oferecem serviços ambientais es-
senciais ao equilíbrio dinâmico das zonas urbanas. Informações e tecnologias para isso existem.
Falta interesse do poder público e uma cobrança efetiva dos cidadãos para que algo significativo
seja realizado nesse sentido.
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10. REFERÊNCIAS
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bilidades para a qualidade ambiental e social. Universidade Federal do Rio Grande. Programa
de Pós Graduação em Gerenciamento Costeiro. 2014. 210 p.
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Cultura. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.123 p. p.92-123
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Pinheiros em São Paulo. São Paulo: FAU-SP, 2003. 96 p.
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