Ensaio Painel - Perdas - Carga-V - 1 - 02

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Painel de perdas de carga:

notas para apoio ao ensaio laboratorial


Versão 1.02

António Pestana
Novembro de 2022
1 Caracterização genérica do equipamento utilizado.
Pressupostos de cálculo.
O “Painel de perdas de carga1” permite a medição, para um dado conjunto
de caudais circulantes, das cotas piezométricas em várias secções de vários
circuitos hidráulicos pressurizados. Estas secções estão criteriosamente
localizadas de modo a que as medições nelas efectuadas permitam calcular:
a) Perdas de carga localizada associadas a singularidades existentes na
tubagem (curvas, válvulas e variações bruscas de secção).
b) Perdas de carga contínuas em trechos de tubagem cilíndricos.

Os cálculos destas perdas de carga são efectuados assumindo um conjunto


de pressupostos que a execução dos ensaios deverá assegurar. Esses pressupostos
são:

a) O fluido circulante é água e a sua compressibilidade é desprezável.


b) Todos os escoamentos que ocorrem durante os ensaios são
escoamentos pressurizados, ou seja, em todos eles o fluido ocupa
completamente o interior das tubagens.
c) As medições são efectuadas sob regimes permanentes, o que implica
que durante cada medição o caudal escoado se mantém constante.
d) Os ensaios desenrolam-se a temperatura constante.

2 Âmbito do relatório. Caracterização hidráulica dos


escoamentos obtidos.
No mínimo, o relatório a efectuar deverá incidir sobre a caracterização da
variação da perda de carga unitária no trecho horizontal A da tubagem azul (ver
figura seguinte).

1 É atribuída a denominação de “carga” à energia mecânica total por


unidade de peso do fluido escoado.
1
O trecho A é constituído por um tubo cilíndrico, pelo que a secção
transversal 𝑆 é constante em toda a sua extensão. Como as medições são
efectuadas a caudal constante (ou seja, o caudal mantem-se constante durante as
medições) e como se admite incompressível o fluido, ser 𝑆 constante em todo o
trecho implica que em todo o trecho ocorra um escoamento com velocidade média
seccional constante dada por 𝑈 = 𝑄/𝑆 (ver “Dinâmica dos Fluidos: alguns conceitos
prévios” e “Caudal e velocidade do escoamento. Equação de continuidade”). No
trecho A o tubo é cilíndrico pelo que, em toda a sua extensão, a direcção de 𝑈 será
constante e coincidente com a direcção do eixo do tubo. Assim se conclui que, em
cada medição, ocorre no trecho A um escoamento uniforme.

A rugosidade interior do tubo será considerada constante em todo este


trecho. Em cada uma das extremidades de A está instalado um piezómetro. Para
cada caudal circulante serão registadas as leituras nestes dois piezómetros. Desta
forma se obtém, para cada caudal circulante, um par de cotas piezométricas que
caracterizam as secções transversais inicial e final de um escoamento uniforme.

3 Quantificação do coeficiente de resistência


Considerem-se duas secções rectas de uma conduta cilíndrica de diâmetro
interior 𝐷, na qual não ocorram fornecimentos localizados, ou perdas localizadas,
2
de energia. Considere-se também que nesta conduta ocorre um escoamento
permanente de um fluido incompressível. Seja 𝑠 uma coordenada linear medida ao
longo do eixo da conduta no sentido do escoamento. A coordenada 𝑠1 localiza a
secção recta de montante (a secção 1) e a coordenada 𝑠2 localiza a secção recta de
jusante (a secção 2). Seja 𝐸 = 𝑧 + 𝑝⁄𝛾 + 𝑈 2 ⁄(2𝑔) a energia mecânica total por
unidade de peso do fluido escoado – grandeza que se denomina carga – numa
qualquer secção recta do escoamento (𝑧 é a cota do eixo da conduta na secção
considerada). Então, de acordo com “A forma do Teorema de Bernoulli na prática
da Eng. Civil”, entre as secções rectas 1 e 2 ocorrerá uma variação da carga dada
por:
𝑠2
Δ𝐸 = 𝐸2 − 𝐸1 = − ∫ 𝐽 𝑑𝑠 (3.1)
𝑠1

Ao longo do tubo de corrente ocorrerá uma perda de carga provocada por


atritos, pelo que teremos Δ𝐸 < 0.

Demonstra-se que, para escoamentos uniformes pressurizados em


condutas cilíndricas com diâmetro 𝐷, se tem:

𝜆 𝑈2
𝐽= × (3.2)
𝐷 2𝑔

Nesta equação 𝜆, que é adimensional, é denominado coeficiente de


resistência (é o parâmetro 𝑓, de “friction factor”, que aparece em muitos textos em
língua inglesa – ver “As diferentes definições de coeficiente de resistência”) e 𝐽 é o
coeficiente de perda de carga unitária, também ele adimensional.
O coeficiente de resistência é função do “número de Reynolds”. Este
número, que é designado por 𝑅𝑒 , é a grandeza adimensional 𝑈𝐷⁄𝜈 , onde 𝜈 é o
coeficiente de viscosidade cinemático do fluido (𝜈 = 𝜇/𝜌, com 𝜇 o coeficiente de
viscosidade dinâmico e 𝜌 a massa volúmica do fluido).
Os ensaios serão efectuados com escoamentos uniformes, pelo que tanto 𝜆
como 𝐽 serão constantes.

3
Sendo 𝑄 constante teremos que 𝑈1 = 𝑈2 = 𝑈. Seja 𝐿 = 𝑠2 − 𝑠1 e considere-se
um trecho horizontal de conduta limitado pelas secções 1 e 2 (ver figura). Sejam ℎ1
e ℎ2 as leituras feita nos tubos piezométricos existentes nestas duas secções
(note-se que na bolsa de gás existente no interior dos tubos reina a pressão 𝑝𝑎 ).
Como 𝑧1 = 𝑧2 = 𝑧, o Teorema de Bernoulli aplicado entre as secções 1 e 2
escreve-se:

𝑝𝑎 + 𝛾ℎ1 𝑈 2 𝑝𝑎 + 𝛾ℎ2 𝑈 2
(𝑧 + + ) − (𝑧 + + ) = ℎ1 − ℎ2 = 𝐽 × 𝐿
⏟ 𝛾 2𝑔 ⏟ 𝛾 2𝑔 (3.3)
𝐸1 𝐸2

Então:

ℎ1 − ℎ2
𝐽= (3.4)
𝐿

De (3.2) e (3.4) resulta:

2𝑔𝐷(ℎ1 − ℎ2 )
𝜆= (3.5)
𝑈2𝐿

Podem ser efectuadas representações gráficas que ilustrem a variação de


𝜆 com 𝑅𝑒 e de 𝐽 com o caudal. A relação de 𝜆 com 𝑅𝑒 deverá ser comparada com os
valores patentes no gráfico página seguinte, o que poderá permitir inferir o
material que constitui o tubo ensaiado (ver também o texto “As diferentes
definições de coeficiente de resistência”). Note-se que neste gráfico os valores de 𝜆
estão representados no eixo das ordenadas.

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5
Bibliografia:

1. “Dinâmica dos Fluidos: alguns conceitos prévios”.


2. “Caudal e velocidade do escoamento. Equação de continuidade”.
3. “Utilização prática do Teorema de Bernoulli”.
4. “As diferentes definições de coeficiente de resistência”.

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