MMPapers 2 - Educação para A Informação
MMPapers 2 - Educação para A Informação
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Educação
para
a informação
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Ícones: FontAwesome
Ochs, Mariana
Educação para a informação [livro eletrônico] /
Mariana Ochs. -- São Paulo, SP : Ed. da Autora, 2022.
-- (MídiaMakers papers ; 2)
PDF
ISBN 978-65-00-50848-2
22-123828 CDD-370.1
Índices para catálogo sistemático:
E
Letramento e inclusão digital
m uma época em que a internet Aprender
media boa parte das nossas a aprender
O modelo abaixo,
relações – de entretenimento, criado pela Mozilla
aprendizado, trabalho, e até as Foundation¹, define
o letramento da
nossas relações pessoais –, torna-se cada internet como
“saber ler, escrever
vez mais importante o letramento para o uso e participar” nesse
adequado, seguro, ético e responsável desse ambiente. As
habilidades que
ambiente. A ubiquidade dos smartphones permitem buscar,
faz com que grande parte da população avaliar, sintetizar e
produzir informação
mundial tenha acesso ao ambiente digital; online, são, na
verdade, essenciais
mas nem todos sabem lê-lo de forma crítica, para a mais
evitando os seus riscos e aproveitando as importante habilidade
que precisamos ter
oportunidades para seu crescimento pessoal em uma sociedade
com tantas e tão
e melhoria de sua comunidade. Saber ler, velozes mudanças:
escrever e participar na internet é o que aprender a aprender.
Fonte: Mozilla Web Literacy
define, hoje, a inclusão digital.
4 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO
No caminho dessa inclusão digital, transmídia. Tudo isso faz com que
porém, existem algumas armadilhas. seja crítico ensinar aos jovens como
A maior delas, e um problema distinguir entre fatos e ficção, opinião
contemporâneo crescente, é e dados, marketing e informação.
navegar adequadamente o ambiente
informacional da sociedade – desde É essencial entender o que estamos
identificar autor e propósito até avaliar lendo. Para que as crianças adquiram o
a qualidade da informação recebida. hábito de relacionar-se com as mídias
de forma mais reflexiva, a escola e
Textos de mídia podem os educadores podem praticar o
uso consistente das cinco perguntas
ser criados para entreter, essenciais da leitura crítica (pág. 5), que
convencer, provocar, ajudam a identificar o autor, formato,
público, conteúdo e propósito de cada
informar ou vender. texto.
Analisar os textos para
entender em que zona de
Mídia e representação
informação se encaixam
é o primeiro passo do Nos filmes, jogos e outros artefatos
da cultura pop que consumimos, a
letramento midiático.
educação midiática nos permite avaliar
questões de representação que
frequentemente estão presentes. Textos
Formando leitores de mídia com grandes audiências
reflexivos têm o potencial de refletir e cristalizar
preconceitos e divisões sociais
O novo cenário da informação é cada arraigados, e o risco de uma leitura não-
vez mais complexo. Nele convivem crítica é que esses sejam naturalizados
veículos profissionais de jornalismo, na sociedade.
blogs individuais e plataformas
colaborativas de publicação, sites Publicidade, filmes e canais do YouTube
anônimos de notícias, e milhares de podem ser terrenos férteis para a
imagens e vídeos, profissionais e disseminação de estereótipos que
amadores, que nos chegam pelas redes causam preconceito e até violência.
sociais, aplicativos de mensagem ou Quando todos os terroristas nos filmes
nossos vários dispositivos conectados. são árabes, e todos os empregados
Técnicas de marketing cada vez são negros, estamos repetindo e
mais sofisticadas, voltadas para os agravando padrões de exclusão. A
consumidores mais jovens, perpassam proliferação de ambientes de criação
seus canais de YouTube favoritos e e publicação independentes tornou
oferecem ambientes de entretenimento possível aumentar a diversidade de
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 5
LENDO A MÍDIA
As 5 perguntas essenciais
para a leitura crítica de mídias
Muitas vezes é difícil ensinar conceitos abstratos, especialmente
para os alunos menores; perguntas, por outro lado, são
memoráveis e impactantes. Podemos ajudá-los a criar o hábito
de analisar rotineiramente as mensagens de mídia segundo
um conjunto de perguntas apropriadas a sua faixa etária e
habilidades:
PÚ
O
POLUIÇÃO INFORMACIONAL
O ecossistema da desinformação:
muito além das notícias falsas
Segundo a dupla de pesquisadores Claire Wardle e Hossein
Derakhshan, o termo “fake news” ou “notícia falsa” é inadequado
para descrever o fenômeno da produção, difusão e consumo de
uma gama variada de informações de má qualidade, a chamada
“poluição informacional”. Eles argumentam que o termo é
ambíguo e simplista para dar conta tanto da natureza quanto da
escala do problema, que comporta as variações abaixo:
disfarce de notícias.” Nos EUA o termo à publicação. O que antes era restrito
passou a ser brandido livremente por à mídia profissional e profissionais
Donald Trump desde que assumiu a especializados, é hoje prerrogativa de
presidência, e se popularizou. Em todo qualquer cidadão com um smartphone,
o mundo, a circulação de informações que pode criar um blog ou até fazer
falsas vem se tornando uma das um filme. A internet possibilita a
principais estratégias para influenciar circulação de conteúdo sem distinção
opiniões e até eleições. hierárquica entre proveniência
profissional e não-profissional, e não
Consumimos informações necessáriamente dá mais espaço às
notícias profissionalmente produzidas
ruins nas mesmas
ou às opiniões mais qualificadas.
plataformas em que
encontramos o jornalismo ⊲ DEMOCRATIZAÇÃO DAS
FERRAMENTAS DE CRIAÇÃO As
de qualidade, e as pessoas mesmas ferramentas acessíveis
parecem ter cada vez mais permitem a criação de uma enorme
dificuldade em diferenciar variedade de conteúdos enganosos,
desde páginas de jornais impostoras
as duas. e tweets falsos até a chamada mídia
sintética (deep fakes). Operadores
A poluição informacional é um mal-intencionados usam até retratos
fenômeno marcante dos nossos gerados por inteligência artificial para
tempos, mas não é novo. Desde a criar contas falsas nas mídias sociais.4
Antiguidade verifica-se o uso de
informações enganosas para fins de ⊲ FRAGILIDADE ECONÔMICA DO
manipulação política ou ganho pessoal; JORNALISMO PROFISSIONAL A era
a propaganda foi uma arma importante digital, com as inovações disruptivas
em todos os conflitos mundiais.3 nos modelos de negócio e na forma
de circulação de informações, causou
A sociedade digital, no entanto, reúne uma crise no jormalismo que vem
algumas condições para a ampliação se agravando há alguns anos. O
desse problema em escala jamais vista, mercado encolheu dramaticamente:
com consequências muito sérias. Eis muitas publicações deixaram de existir,
aqui algumas das causas da poluição milhares de jornalistas perderam
informacional, convergindo em uma seus empregos, e os salários foram
“tempestade perfeita”: achatados. Tudo isso prejudicou
o jornalismo profissional, que vem
⊲ PULVERIZAÇÃO DA AUTORIA. se reinventando em publicações
Já vimos que, com a produção e independentes e formatos inovadores,
distribuição de conteúdo cada vez mas muitos deles ainda sem alcance
mais acessíveis, não há mais barreiras expressivo ou viabilidade econômica.
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 13
AVALIE SEUS É difícil confrontar o nosso próprio viés de preconceito, mas é um passo
PRECONCEITOS essencial se você quer ser um bom consumidor da mídia.
ISTO É UMA A sátira é uma forma potente de comentário, que além de nos fazer
PIADA? rir, pode levar a reflexões importantes. Mas também pode ser mal-
entendida – afinal de contas, o humor é subjetivo.
DETETIVES DA IMAGEM
Quando a foto foi usada pela primeira assim for, há uma boa chance de que
vez? Será que ela é mesmo da data eles tenham sido adicionados ou
alegada? Use uma ferramenta de manipulados digitalmente.
verificação como a busca reversa do
Google (abaixo). Procure por distorções ao longo das
bordas de pessoas ou objetos. Estes
Onde foi feita a imagem? Tenha são geralmente fáceis de detectar e
certeza que a foto foi tirada no indicam quando uma imagem foi mal
contexto alegado. Fotos antigas de manipulada.
guerras ou desastres naturais muitas
vezes reaparecem em outro contexto. Faça uma busca reversa no Google.
Basta acessar a busca de imagens
O que as pessoas estão vestindo? (www.images.google.com) e arrastar
Suas roupas se encaixam no estilo do uma imagem para dentro da barra de
país ou na época em que a foto foi busca. Isso permite encontrar imagens
supostamente tirada? semelhantes, sites que incluem
a imagem, e outros tamanhos da
Como está o tempo na foto? Pessoas imagem que você procurou. É possível
com casacos, roupas de calor, neve no também localizar a primeira aparição
solo ouárvores sem folhas são indícios dessa imagem na internet, o que
que ajudam a localizar uma imagem no ajuda a verificar se a data alegada é
tempo e no espaço. verdadeira.
Nome (acrescentar
imagem)
O que é?
Propriedade (empresa
privada, empresa pública,
grupo independente)
Como é financiado?
Tem publicidade?
Liberal ou conservador?
Equilibrado ou partidário?
a tornar-se obsoletos. Afinal, é cada vez contexto maior da rede, o que é muito
mais fácil criar um conteúdo falso com mais eficiente.
aspecto e linguagem profissional, e
absolutamente convincente. Para lidar de
forma mais efetiva com esse problema, Qual o nosso papel?
é preciso ensinar aos alunos uma nova
maneira de ler. Se a desinformação pode estar em
qualquer lugar, aprender a “interrogar a
“O estudo de Stanford informação” não deve ser prerrogativa
dos alunos de jornalismo, e sim uma
confirma o que muitos
habilidade transversal que impacta
professores sabem que é o próprio ato de aprender. Ensinar
verdade: os alunos de hoje os alunos a manter uma postura
saudavelmente cética diante da
não estão preparados para informação deve ser prática habitual de
lidar com a enxurrada de qualquer professor da educação básica,
informações que vêm de seja na aula de ciências ou matemática,
para indicar como um gráfico pode
seus diversos dispositivos ocultar os dados relevantes, ou na
digitais.”17 aula de história, para mostrar como a
informação pode ser usada como arma
Uma pesquisa feita em Stanford18 em determinados contextos políticos.19
concluiu que checadores profissionais
costumam avaliar a confiabilidade Para além da escola, é necessário que
dos sites com uma técnica chamada tenhamos consciência do que estamos
“leitura lateral”. Ao invés de analisar consumindo; a melhor prática é buscar
as suas características itrínsecas, uma dieta informacional equilibrada,
como o design, a qualidade do texto feita de fontes confiáveis e variadas,
ou o conteúdo contido no próprio site buscando ampliar nossa visão de
(como a página “Quem Somos”), esses mundo com pontos de vista diversos.
leitores tendem a não gastar muito
tempo alí. Sua estratégia consiste em Finalmente, é preciso entender que
sair rapidamente do site em questão o jornalismo, quando bem-feito, tem
e navegar pela internet, vendo o que custo, e que apoiar o jornalismo
outras fontes confiáveis dizem sobre profissional e pagar pelo conteúdo
ele. Geralmente abrem várias abas que consumimos é essencial para a
no navegador, coletando diferentes circulação de informação confiável.
informações pela Web para obter um Afinal, a imprensa tem um papel
retrato melhor da página que estão fundamental na manutenção da
investigando. O objetivo é entender democracia e de nossas liberdades.
como essa página se relaciona com
outras, e como está posicionada no
22 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO
Competência n* 7: Mobilizar
práticas de linguagem no universo
digital, considerando as dimensões
técnicas, críticas, criativas, éticas
e estéticas, para expandir as
formas de produzir sentidos, de
engajar-se em práticas autorais e
coletivas, e de aprender a aprender
nos campos da ciência, cultura,
trabalho, informação e vida pessoal
e coletiva.
Base Nacional Comum Curricular
Educar para a informação
é educar para a cidadania.