MMPapers 2 - Educação para A Informação

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MIDIAMAKERS PAPERS #2

Educação
para
a informação

Leitura crítica das mídias


e avaliação da informação
MídiaMakers Papers é uma série de textos e recursos que têm o intuito de ajudar o
professor a introduzir a educação midiática nas escolas. Com conteúdo original somado a
uma curadoria de recursos adicionais de diversas fontes, nosso objetivo é ajudar o aluno a
navegar com confiança e segurança no ambiente informacional, atuando como consumidor
crítuco e produtor ativo de conteúdo na sociedade digital.

Criado por: Mariana Ochs, [email protected]


www.midiamakers.org
Twitter: @midiamakers
Facebook: midiamakers

MídiaMakers Papers #2: Educação para a Informação, maio 2019

Exceto onde indicado, o conteúdo deste livreto é licenciado sob a licença Creative Commons
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Ícones: FontAwesome

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ochs, Mariana
Educação para a informação [livro eletrônico] /
Mariana Ochs. -- São Paulo, SP : Ed. da Autora, 2022.
-- (MídiaMakers papers ; 2)
PDF

ISBN 978-65-00-50848-2

1. Cultura digital 2. Educação - Finalidade e


objetivos 3. Letramento digital 4. Mídias digitais
5. Professores - Formação 6. Redes sociais I. Título.
II. Série.

22-123828 CDD-370.1
Índices para catálogo sistemático:

1. Educação midiática 370.1

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380


Educação para
a informação

“A educação funciona como um instrumento


para facilitar a integração da geração mais
jovem com a lógica do sistema atual, o que
pode gerar conformidade ou se transformar
na prática da liberdade, meio pelo qual homens
e mulheres lidam de forma crítica e criativa
com a realidade e descobrem como participar
na transformação do seu mundo”
Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido
“Para sermos cidadãos digitais
capacitados, todos nós precisamos
saber como navegar, como compartilhar,
em que informações confiar e o mais
importante, como expandir as fronteiras
dos nossos conhecimentos.”
Fundação Mozilla1
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 3

E
Letramento e inclusão digital
m uma época em que a internet Aprender
media boa parte das nossas a aprender
O modelo abaixo,
relações – de entretenimento, criado pela Mozilla
aprendizado, trabalho, e até as Foundation¹, define
o letramento da
nossas relações pessoais –, torna-se cada internet como
“saber ler, escrever
vez mais importante o letramento para o uso e participar” nesse
adequado, seguro, ético e responsável desse ambiente. As
habilidades que
ambiente. A ubiquidade dos smartphones permitem buscar,
faz com que grande parte da população avaliar, sintetizar e
produzir informação
mundial tenha acesso ao ambiente digital; online, são, na
verdade, essenciais
mas nem todos sabem lê-lo de forma crítica, para a mais
evitando os seus riscos e aproveitando as importante habilidade
que precisamos ter
oportunidades para seu crescimento pessoal em uma sociedade
com tantas e tão
e melhoria de sua comunidade. Saber ler, velozes mudanças:
escrever e participar na internet é o que aprender a aprender.
Fonte: Mozilla Web Literacy
define, hoje, a inclusão digital.
4 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

No caminho dessa inclusão digital, transmídia. Tudo isso faz com que
porém, existem algumas armadilhas. seja crítico ensinar aos jovens como
A maior delas, e um problema distinguir entre fatos e ficção, opinião
contemporâneo crescente, é e dados, marketing e informação.
navegar adequadamente o ambiente
informacional da sociedade – desde É essencial entender o que estamos
identificar autor e propósito até avaliar lendo. Para que as crianças adquiram o
a qualidade da informação recebida. hábito de relacionar-se com as mídias
de forma mais reflexiva, a escola e
Textos de mídia podem os educadores podem praticar o
uso consistente das cinco perguntas
ser criados para entreter, essenciais da leitura crítica (pág. 5), que
convencer, provocar, ajudam a identificar o autor, formato,
público, conteúdo e propósito de cada
informar ou vender. texto.
Analisar os textos para
entender em que zona de
Mídia e representação
informação se encaixam
é o primeiro passo do Nos filmes, jogos e outros artefatos
da cultura pop que consumimos, a
letramento midiático.
educação midiática nos permite avaliar
questões de representação que
frequentemente estão presentes. Textos
Formando leitores de mídia com grandes audiências
reflexivos têm o potencial de refletir e cristalizar
preconceitos e divisões sociais
O novo cenário da informação é cada arraigados, e o risco de uma leitura não-
vez mais complexo. Nele convivem crítica é que esses sejam naturalizados
veículos profissionais de jornalismo, na sociedade.
blogs individuais e plataformas
colaborativas de publicação, sites Publicidade, filmes e canais do YouTube
anônimos de notícias, e milhares de podem ser terrenos férteis para a
imagens e vídeos, profissionais e disseminação de estereótipos que
amadores, que nos chegam pelas redes causam preconceito e até violência.
sociais, aplicativos de mensagem ou Quando todos os terroristas nos filmes
nossos vários dispositivos conectados. são árabes, e todos os empregados
Técnicas de marketing cada vez são negros, estamos repetindo e
mais sofisticadas, voltadas para os agravando padrões de exclusão. A
consumidores mais jovens, perpassam proliferação de ambientes de criação
seus canais de YouTube favoritos e e publicação independentes tornou
oferecem ambientes de entretenimento possível aumentar a diversidade de
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 5

LENDO A MÍDIA

As 5 perguntas essenciais
para a leitura crítica de mídias
Muitas vezes é difícil ensinar conceitos abstratos, especialmente
para os alunos menores; perguntas, por outro lado, são
memoráveis e impactantes. Podemos ajudá-los a criar o hábito
de analisar rotineiramente as mensagens de mídia segundo
um conjunto de perguntas apropriadas a sua faixa etária e
habilidades:

Palavra-chave Conceito essencial Pergunta essencial

AUTORIA Todos os textos de mídia Quem criou essa


são “construídos”. mensagem?

FORMATO Mensagens de mídia são Quais recursos criativos


construídas utilizando são utilizados para atrair
linguagens criativas que a minha atenção?
têm suas próprias regras.

PÚBLICO Pessoas diferentes Como pessoas diferentes


vivenciam a mesma poderiam entender essa
mensagem de mídia de mensagem de forma
forma diferente. distinta da minha?

CONTEÚDO Mensagens de mídia Quais estilos de vida,


incorporam valores e valores e pontos de vista
pontos de vista. estão representados,
ou omitidos, nesta
mensagem?

PROPÓSITO As mensagens de mídia Porque esta mensagem


são criadas para informar, está sendo enviada?
convencer, obter lucro ou
poder.

Adaptado de Center for Media Literacy


6 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

vozes e discursos nas mídias, mas ainda


O triângulo da mídia há muito que avançar.

Proponha para seus alunos a reflexão:


que grupos estão representados /
excluídos da mensagem? A mensagem


O

tem valor e significado diferente


XT

BL para grupos de pessoas diferentes?


TE

Como IC Seu conteúdo perpetua estereótipos


ler a mídia? O
de gênero ou raça, desigualdade
ou exclusão, ou é inadequado ou
desrespeitoso com algum grupo social?
PRODUÇÃO
Para um grupo minoritário,
O Triângulo da Mídia é uma metodologia ver-se representado na
popular para análise das mensagens de
mídia. Criado pelo educador escocês mídia é a possibilidade
Eddie Dick, o modelo sustenta que a mídia
constrói significado de forma dialógica de ver modelos positivos
não apenas através do texto em sí, mas e fontes de inspiração. É
também através de sua relação com o
público e das escolhas de produção. também a possibilidade
Temas para análise incluem:
de desafiar o status quo e
• Texto: que tipo de texto é esse (canção, trazer novas ideias para a
video game, conto, fotografia..) ? Que
história ele conta? Como ele conta essa sociedade.
história? Há equidade na representação?
Há estereótipos? Que valores esse texto
representa? Esses são os meus valores?

• Público: qual é o público-alvo desse


Todo mundo é autor
texto? Que elementos específicos
endereçam esse público-alvo? Esse texto Hoje em dia é raro ver alguém
tem apelo para mim? Que elementos buscando informações em jornais
deveriam ser mudados para que tivesse? impressos, revistas ou livros; a internet
Quem poderia se incomodar com esse tornou-se a principal fonte de pesquisa
texto?
– seja para planejar uma viagem, fazer
• Produção: quem criou esse texto? um trabalho escolar ou um projeto
Com que propósito? O que eu sei sobre acadêmico. Porém, já que qualquer um
o criador? Que ferramentas ele usou pode publicar na Internet, nem todos os
para atingir seu público-alvo? Quem se sites são igualmente confiáveis.
beneficia desse texto?

Adaptado de Introducing the Media Triangle,


Artigos noticiosos de jornais ou revistas
Michael Barltrop, What Binder Education impressos passam por um processo
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 7

TENHO QUE PESQUISAR, E AGORA?

Avaliando sites e identificando


as melhores fontes para pesquisa
O uso do ambiente digital para pesquisa e curadoria de
informações requer uma avaliação cuidadosa dos resultados
das buscas. É muito comum que as crianças e jovens utilizem
a primeira fonte que aparece nos resultados, sem avaliar a
qualidade ou adequação ou dos sites encontados. Este checklist
ajuda a fazer essa filtragem.

ATUALIDADE: o timing da informação (educacional), .gov (governo dos EUA), .org


Quando as informações foram publicadas (organização sem fins lucrativos) ou .net
ou postadas? A informação foi revista (rede).
ou atualizada? A informação é atual ou
desatualizada para o seu assunto? Os links PRECISÃO: confiabilidade, veracidade e
estão funcionando? exatidão do conteúdo
De onde vem a informação? É apoiada por
RELEVÂNCIA: a importância da evidências? A informação foi revisada ou
informação para as suas necessidades validada por alguém? Você pode verificar
As informações estão relacionadas ao as informações em outra fonte ou com
seu tópico ou respondem à sua pergunta? seu próprio conhecimento? A linguagem
Quem é o público-alvo? A informação está ou o tom parecem tendenciosos e livres
em um nível apropriado, ou seja, não é de emoção? Existem erros de ortografia,
elementar demais ou avançada demais gramática ou de digitação?
para as suas necessidades? Você já olhou
para outras fontes antes de determinar que PROPÓSITO: a razão pela qual a
essa é uma que você usará? Essa fonte informação existe
é boa o suficiente para um trabalho de Qual é o propósito da informação? Informar?
pesquisa acadêmica? Ensinar? Vender? Entreter? Persuadir?
Os autores / patrocinadores esclarecem
AUTORIDADE: a fonte da informação suas intenções ou objetivos? O conteúdo
Quem é o autor / editor / fonte / é informação, opinião ou propaganda?
patrocinador? As credenciais do autor ou O ponto de vista parece objetivo e
afiliações organizacionais são dadas? Quais imparcial? Existe evidência de preconceitos
são? Podem ser verificadas? Quais são as políticos, ideológicos, culturais, religiosos,
qualificações do autor para escrever sobre institucionais ou pessoais?
o tópico? A sua reputação ou credibilidade
pode ser verificada em outros sites? CONCLUSÃO
Esses outros sites representam interesses Depois de avaliar essa fonte, você acha
específicos? Há informações de contato? que vai usá-la para o seu trabalho? Por que
O URL revela alguma coisa sobre o autor ou por que não? Se você não tiver certeza,
ou fonte? Exemplos: com (comercial), .edu explique o motivo.

Fonte: Benedictine University Library Research Guides


8 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

informação que circula na web ou


em redes sociais. Já que é possível
publicar instantaneamente, abre-se a
possibilidade de divulgação de fatos
incompletos, inconsistentes ou não-
verificados, atendendo à demanda
insaciável por informações em tempo
real. Boatos, inverdades e informações
truncadas somam-se a informações
tendenciosas ou falsas para tornar o
O jogo “Não Foi Cabral” cria um percurso ambiente informacional cada vez mais
divertido de leitura crítica de textos complexo.
que encontramos em livros de história,
geografia, ciências, física e outros.
Baixe o PDF aqui para jogar,
A chamada “era da
informação”, como batizou
Manuel Castells, gerou
de publicação muito mais controlado um paradoxo no novo
por editores e revisores, dentro de um
padrão ético e de qualidade, incluindo a
século: o acesso ampliado
exigência de pontos de vistas diversos à informação criou mais
e a verificação dos dados e fatos antes desinformação do que
da publicação. Os autores são, ou citam,
especialistas. O processo de publicação conhecimento.2
é custoso, e exclui os não-profissionais.
Na Internet, por outro lado, veículos Nesse contexto, recai sobre os
profissionais convivem com textos de usuários a responsabilidade de avaliar
autoria de indivíduos ou organizações a qualidade e a credibilidade dos sites
com agendas próprias, e para os que utilizam para se informar, em suas
quais não há exigência de verificações pesquisas ou em seu trabalho. Torna-
internas quanto à precisão ou se cada vez mais crítico educar para a
qualidade da informação. Informações informação.
tendenciosas, textos de autores
pouco qualificados, sátiras e conteúdo
intencionamente enganoso, além do Desinformação: uma
jornalismo pura e simplesmente ruim, tempestade perfeita
nos chegam pelos mesmos canais que
conteúdos jornalísticos de qualidade, Em 2017, o Dicionário Collins elegeu
sem distinção. o termo fake news a palavra do ano.
O dicionário define fake news como
O imediatismo das publicações “informações falsas, muitas vezes
é outro aspecto problemático da sensacionalistas, divulgadas sob o
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 9

POLUIÇÃO INFORMACIONAL

O ecossistema da desinformação:
muito além das notícias falsas
Segundo a dupla de pesquisadores Claire Wardle e Hossein
Derakhshan, o termo “fake news” ou “notícia falsa” é inadequado
para descrever o fenômeno da produção, difusão e consumo de
uma gama variada de informações de má qualidade, a chamada
“poluição informacional”. Eles argumentam que o termo é
ambíguo e simplista para dar conta tanto da natureza quanto da
escala do problema, que comporta as variações abaixo:

FALSA FALSO MANIPULAÇÃO DO


CONEXÃO CONTEXTO CONTEXTO
Quando manchetes, Quando o conteúdo Quando a informação
ilustrações ou legendas genuíno é compartilhado ou imagem genuína
não confirmam o com informação é manipulada para
conteúdo contextual falsa enganar

SÁTIRA OU CONTEÚDO CONTEÚDO CONTEÚDO


PARÓDIA ENGANOSO IMPOSTOR FABRICADO
Não tem Uso enganoso de Quando fontes Conteúdo novo e
intenção de informações reais genuínas são 100% falso, criado
prejudicar, mas para enquadrar imitadas para ludibriar e
tem potencial de uma questão ou prejudicar
enganar comprometer um
indivíduo

MENOS INTENCIONAL MAIS INTENCIONAL

Além de achar o termo “fake news” insuficiente para descrever a


complexidade do problema, os pesquisadores também alertam para
o fato de que há uma apropriação política do termo – quando ele é
usado para atacar e deslegitimar uma notícia ou veículo desfavorável
a algum político ou crença, minando a confiança no jornalismo
profissional. Lembre-se: “fake news” não é aquilo que nos desagrada
ou contraria as nossas crenças.

Fonte: Manual da Credibilidade


Os números da desinformação

Em um estudo do MIT que


investigou a difusão de conteúdo
Deep Fakes: a falso publicado no Twitter entre
nova fronteira da 2006 e 2017, os pesquisadores
desinformação
descobriram que as mentiras
O problema da
desinformação tende a se propagaram-se significativamente
agravar com a chamada mais longe, mais rápido, mais
“mídia sintética” ou
“deep fakes”, simulações
profundamente e de forma mais
produzidas com utilização de ampla do que a verdade em todas
inteligência artificial que são as categorias de informação.
praticamente indistinguíveis
de vídeos reais.
“Indivíduos com acesso
a essa tecnologia podem
As histórias falsas tinham 70% mais
distorcer a informação, probabilidade de serem retweetadas
manipular crenças e assim do que a verdade e alcançaram 1.500
empurrar comunidades pessoas seis vezes mais rapidamente do
ideologicamente polarizadas que artigos precisos.
mais severamente na
MIT Media Lab via Reuters
direção de suas realidades
subjetivas opostas” (The
Guardian). Com essas
tecnologias é possível,
82% dos americanos do ensino médio
por exemplo simular um avaliados não souberam dizer a diferença
político dizendo algo que entre um anúncio marcado como
ele jamais proferiu. Podem “conteúdo patrocinado” e uma notícia real
imaginar como será possível em um site.
manipular opiniões e
Stanford History Education Group
tomadas de decisão nesse
contexto?
Em entrevista ao Estadão, Fenômenos como o “filtro
o cientista político Pablo bolha” impactam a circulação
Ortellado forneceu dados de informações nas mídias
do Grupo de Pesquisa em sociais e acabam por
Políticas Públicas para o exacerbar a polarização da
Acesso à Informação da USP: sociedade, já que muitos
3.500 notícias brasileiras são brasileiros estão recebendo
publicadas por dia, em média, notícias por essas plataformas:
na Web.
Dois terços (66%) dos
Do total, cerca de 200 são brasileiros que estão online
compartilhadas via redes usam as mídias sociais para
sociais. receber notícias.
Num dia de noticiário Um terço (33%) dos jovens
“quente”, os sites que com idades entre 18 e 24 anos
produzem notícias falsas usam as mídias sociais como
atingem picos de audiência. principal fonte de notícias.
Já aconteceu de entre as dez 56% das pessoas que têm
notícias mais lidas no dia, entre 45 e 54 anos têm na
seis serem fabricadas. TV a sua principal fonte de
notícias.
Ainda que o número de
produtores de desinformação Apesar do uso do Facebook
seja limitado, um levantamento estar declinando, 52% da
recente de pesquisadores do população ainda encontra
GPOPAI revela que cerca de notícias no Facebook.
12 milhões de pessoas são o WhatsApp (48%) e YouTube
público alvo para quem cria e (34%) também são fontes de
difunde informação de forma notícias muito populares.
maliciosa. The Reuters Institute
Manual da Credibilidade Digital News Report 2018
12 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

disfarce de notícias.” Nos EUA o termo à publicação. O que antes era restrito
passou a ser brandido livremente por à mídia profissional e profissionais
Donald Trump desde que assumiu a especializados, é hoje prerrogativa de
presidência, e se popularizou. Em todo qualquer cidadão com um smartphone,
o mundo, a circulação de informações que pode criar um blog ou até fazer
falsas vem se tornando uma das um filme. A internet possibilita a
principais estratégias para influenciar circulação de conteúdo sem distinção
opiniões e até eleições. hierárquica entre proveniência
profissional e não-profissional, e não
Consumimos informações necessáriamente dá mais espaço às
notícias profissionalmente produzidas
ruins nas mesmas
ou às opiniões mais qualificadas.
plataformas em que
encontramos o jornalismo ⊲ DEMOCRATIZAÇÃO DAS
FERRAMENTAS DE CRIAÇÃO As
de qualidade, e as pessoas mesmas ferramentas acessíveis
parecem ter cada vez mais permitem a criação de uma enorme
dificuldade em diferenciar variedade de conteúdos enganosos,
desde páginas de jornais impostoras
as duas. e tweets falsos até a chamada mídia
sintética (deep fakes). Operadores
A poluição informacional é um mal-intencionados usam até retratos
fenômeno marcante dos nossos gerados por inteligência artificial para
tempos, mas não é novo. Desde a criar contas falsas nas mídias sociais.4
Antiguidade verifica-se o uso de
informações enganosas para fins de ⊲ FRAGILIDADE ECONÔMICA DO
manipulação política ou ganho pessoal; JORNALISMO PROFISSIONAL A era
a propaganda foi uma arma importante digital, com as inovações disruptivas
em todos os conflitos mundiais.3 nos modelos de negócio e na forma
de circulação de informações, causou
A sociedade digital, no entanto, reúne uma crise no jormalismo que vem
algumas condições para a ampliação se agravando há alguns anos. O
desse problema em escala jamais vista, mercado encolheu dramaticamente:
com consequências muito sérias. Eis muitas publicações deixaram de existir,
aqui algumas das causas da poluição milhares de jornalistas perderam
informacional, convergindo em uma seus empregos, e os salários foram
“tempestade perfeita”: achatados. Tudo isso prejudicou
o jornalismo profissional, que vem
⊲ PULVERIZAÇÃO DA AUTORIA. se reinventando em publicações
Já vimos que, com a produção e independentes e formatos inovadores,
distribuição de conteúdo cada vez mas muitos deles ainda sem alcance
mais acessíveis, não há mais barreiras expressivo ou viabilidade econômica.
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 13

⊲ MÍDIAS SOCIAIS COMO PRINCIPAL


ACESSO ÀS NOTÍCIAS No Brasil, um Use o bom senso. E na
terço das pessoas que têm acesso dúvida, não compartilhe!
à internet usam as mídias sociais É sabido que não devemos confiar em tudo
como fonte de notícias. Isso pode ser que recebemos nas mídias sociais, mas às
bastante problemático, pois é um hábito vezes a tentação de compartilhar é muito
que frequentemente retira o jornalismo grande – sobretudo se a notícia que você
recebeu parece comprovar exatamente a sua
profissional da equação, e favorece um
visão das coisas. Mas cuidado: isso se chama
ambiente onde a desinformação circula “viés de confirmação” e é o que faz a gente
com muita velocidade e alcance. passar adiante as notícias sem checar a sua
veracidade. Afinal, na guerra das mídias
⊲ O FENÔMENO DAS BOLHAS. Quando sociais, fazer valer as nossas crenças parece
temos as plataformas sociais como ser mais importante do que analisar os
diversos aspectos de uma questão complexa.
“porteiros” da informação, recebemos
Para não cair nessa, muitas vezes basta usar
apenas as informações que são o bom senso. Siga algumas dicas:
escolhidas para nós pelos algoritmos,
De onde veio a informação? Recebeu uma
segundo um perfil construído a partir
informação quentíssima no zap? A primeira
de nossos hábitos e pesquisas. Em pergunta é: qual é a fonte? Lembre-se de que
pouco tempo, passamos a ser expostos na internet qualquer um pode criar qualquer
apenas a informações alinhadas às coisa, muitas vezes com más intenções. Se
nossas visões de mundo, e trocamos você não consegue localizar autor ou fonte,
não compartilhe.
informações e conteúdo apenas com
pessoas que têm opiniões semelhantes, É uma informação bombástica? O tom
como se estivéssemos em uma “bolha é alarmista, raivoso ou sensacionalista?
Desconfie. Textos em tom alterado, com
informacional”. No extremo, o fenômeno
letras maiúsculas, exclamações ou muitos
das bolhas causa a polarização da adjetivos são feitos precisamente para
sociedade, como se os grupos opostos manipular as nossas emoções. Indignado ou
vivessem em realidades subjetivas furioso, você terá o impulso de compartilhar
completamente separadas. Nesse imediatamente com meio mundo. É ultrajante
contexto, é impossível encontrar o demais / chocante demais? Então não deve
ser exatamente verdade. Não compartilhe.
terreno comum dos fatos que possibilita
o diálogo necessário à construção de É uma informação “exclusiva”? Pense bem:
na nossa sociedade conectada, é realmente
uma sociedade democrática.
provável que você tenha uma informação
bombástica no seu zap que não está na
⊲ VIÉS DE CONFIRMAÇÃO. “É a mídia? Claro que não. Não compartilhe.
tendência de se lembrar, interpretar ou
Ainda assim está tentado? Faça pelo menos
pesquisar por informações de maneira o básico: uma rápida busca no Google com
a confirmar crenças ou hipóteses um trecho do título e as palavras “fake”
iniciais. As pessoas demonstram esse ou “falso” revelará se a informação já foi
viés quando reúnem ou se lembram checada e desbancada por algum veículo de
de informações de forma seletiva, mídia ou agência de checagem. Sem isso, já
sabe, não? Não compartilhe!
ou quando as interpretam de forma
14 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

tendenciosa. Tal efeito é mais forte em


Profissão factchecker questões de forte carga emocional e em
Segundo o site Politize!, o fact-checking, ou crenças profundamente arraigadas.”5
checagem de fatos, é “o ofício de conferir a Esse efeito faz com que as notícias
veracidade das informações — se são 100% enganosas se espalhem com maior
verdade, se contêm algum exagero, algum alcance e velocidade, sobretudo dentro
dado inflado ou diminuído, a fonte de certa
de nossas bolhas.
informação, o método de coleta de um dado
ou estatística, etc.”6 Esse tipo de apuração
sempre fez parte da rotina das redações “O mercado de ideias já
profissionais; no entanto, com a proliferação
de informações falsas e distorcidas, na
sofre com a corrosão da
internet ou proferidas por figuras públicas e verdade, pois o nosso
disseminadas na mídia, essa função acabou
por adquirir existência autônoma. ambiente de informação
em rede interage de forma
“No fact-checking, o jornalismo assume a
responsabilidade de confrontar declarações tóxica com nossos vieses
públicas, com base em dados confiáveis e
fatos comprováveis”, afirma a pesquisadora
cognitivos. Deep fakes irão
Taís Seibt.7 Ao elencar as fontes consultadas agravar esse problema de
e, muitas vezes, expor o processo de
verificação, o fact-checking acaba por expor forma significativa.” 8
o processo jornalístico em sí, com o benefício
de educar o leitor sobre a prática do
jornalismo e os critérios de confiabilidade. ⊲ BAIXO LETRAMENTO
INFORMACIONAL. O Brasil combina um
A primeira agência de checagem autônoma
de que se tem notícia é a americana alto grau de analfabetismo funcional
FactCheck.org, fundada em 2003 para com um uso elevado das redes. Ou
verificar as informações e dados citados por seja, mesmo as camadas da população
políticos na imprensa. No Brasil, as principais que mal sabem decodificar informação
agências são:
estão recebendo e repassando
LUPA, um projeto do grupo Piauí, tem
conteúdo nas redes muito ativamente.
parceria com o Canal Futura para ações O baixo letramento informacional,
educativas (www.lupa.news); ou seja, a falta de habilidade de ler
criticamente a internet, torna essa
AOS FATOS, mantida por grants e parcerias, camada da população especialmente
é criadora da HQ Fabio Fato (www.aosfatos.
vulnerável à desiformação.
org);

TRUCO, da Agência Pública, lançou o vídeo


“Quer que desenhe?” para explicar o fact- A desinformação traz
checking. (www.apublica.org/checagem/)
consequências
Fontes: Politize! e Taís Seibt
Quando há um um baixo grau de
letramento informacional e uma
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 15

PASSO A PASSO DA VERIFICAÇÃO

Essa informação é confiável?


Antes de repassar, verifique.
O fenômeno da informação de má qualidade circulando na
internet não é novo – desde 1990 o site snopes.com está
dedicado a desbancar a “desinformação viral”, um conceito
amplo que vai de distorções e reportagens cheias de erros até
memes satíricos e notícias completamente fabricadas. Nos últimos
anos o fenômeno se intensificou e se sofisticou; ainda assim, é
possível tomar alguns cuidados para não ser vítima de informação
enganosa. Siga os passos abaixo*:

CONSIDERE Muitas vezes, determinar a veracidade da notícia é tão simples quanto


A FONTE consultar qual é a fonte, usando a máxima “diga-me de onde veio
e eu te direi quem és”! Procure avaliar a credibilidade dessa fonte
consultando outros sites.

VÁ ALÉM DA Todas manchetes são um pouco provocadoras por definição. E mesmo


MANCHETE a manchete de um veículo confiável não conta a história toda. Leia a
matéria completa antes de formar uma opinião.

BUSQUE O uso de um pseudônimo ou a não-identificação de um autor é um


O AUTOR dos principais sinais de alerta para uma informação falsa. Se encontrar
o autor, pesquise um pouco para conhecer seu perfil, reputação ou
credenciais, ou mesmo desobrir se ele pode ter interesses ocultos.

QUAL É A Notícias geralmente apoiam as suas informações com dados e


EVIDÊNCIA? citações que podem ser verificados pelo leitor para uma leitura mais
aprofundada.

VERIFIQUE Notícias antigas trazem informação datada e de outro contexto. Leia


A DATA com alguma desconfiança.

AVALIE SEUS É difícil confrontar o nosso próprio viés de preconceito, mas é um passo
PRECONCEITOS essencial se você quer ser um bom consumidor da mídia.

CONSULTE OS Sempre que houver incerteza a respeito de uma informação, o leitor


ESPECIALISTAS deve consultar suas fontes conhecidas e de confiança.

ISTO É UMA A sátira é uma forma potente de comentário, que além de nos fazer
PIADA? rir, pode levar a reflexões importantes. Mas também pode ser mal-
entendida – afinal de contas, o humor é subjetivo.

*Adaptado de FactCheck.org, Annenberg Public Policy Center, Univ da Pennsylvania


“Devemos ensinar às crianças, desde
muito jovens, as habilidades de
aprendizado lateral, incluindo: como
interrogar a informação ao invés de
simplesmente consumí-la; verificar a
informação antes de compartilhá-la;
rejeitar posição e popularidade como
indicadores de qualidade; entender que
quem envia a informação nem sempre
é a fonte; e reconhecer os preconceitos
implícitos que todos carregamos. Menos
que isso é um desperdício de tempo e
recursos.”
Sam Wineburg, Stanford History Education Group
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 17

penetração intensa de desinformação, discurso de ódio e até o genocídio.12


toda a sociedade sofre, pois isso
impacta a qualidade das tomadas de O campo da saúde pública é
decisão. Falsificações manipulam o especialmente sensível à proliferação
eleitorado e impactam a discussão e a de desinformação, com consequências
aprovação de políticas públicas. graves ao atingir uma população mais
vulnerável, como crianças e idosos.
Além disso, ao impedir a convivência Segundo o Ministério da Saúde, o
com ideias divergentes, a polarização principal alvo de desinformação são as
corrói o próprio princípio de um vacinas.13 Mas boatos sobre supostos
governo democrático, que precisa alimentos “milagrosos”, falsas curas,
escutar e atender a diversos segmentos alimentos ou remédios supostamente
da população em sua diversidade. contaminados também assolam a
“À medida em que a qualidade das população, levando o Ministério a criar
informações no geral diminui, a um canal específico para combater
inteligência de todos os membros da esse problema e disseminar a
sociedade e de todas as diferentes contrainformação.14
organizações que a tornam funcional,
no geral, diminui.” afirma Aviv Ovadya,
pesquisador da Universidade de Formando bons leitores
Columbia.9
Dada a variedade de tipos e
“Quando você só acredita ambientes em que circula e o alcance
da desinformação, as tentativas de
no que quer, não há como
combatê-la através de soluções
existir a democracia” tecnológicas ou regulação têm sido
Aviv Ovadya tardias e imperfeitas, ou, ainda, acabam
por esbarrar no direito à liberdade de
expressão.
A desinformação orquestrada já
impactou processos eleitoriais em Plataformas como o Facebook vêm
diversos países, como Estados Unidos, experimentando com informação
Índia, Inonésia e Brasil.10 As informações contextual para qualificar as fontes
falsas também podem insuflar o de um conteúdo jornalístico. Alguns
discurso de ódio e alimentar a violência. consórcios de mídia têm explorado
Na Índia, boatos disseminados pelo ideias inovadoras, como a criação de
WhatsApp fizeram com que uma uma espécia de “etiqueta nuticional”
população linchasse vários jovens, que identificaria quem produziu a
erroneamente acusados de um informação e em que contexto —
crime.11 Em Myanmar, uma campanha mas são soluções que não atuam
orquestrada no Facebook contra a em escala e, sobretudo, não atigem
minoria étnica Rohingyia alimentou o a comunicação de um para um, nos
18 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

serviços de mensagens, o grande palco


das informações enganosas.

Nem mesmo o factchecking, embora


seja uma atividade cada vez mais
necessária, consegue atacar todas
as vertentes do problema. E a
contrainformação que esses serviços
Discurso de ódio: produzem dificilmente consegue ter
o que é e como combater o mesmo alcance da desinformação
A desinformacão torna-se especialmente original.
perigosa quando é utlizada para alimentar
preconceito e violência. Segundo o projeto A razão para isso é que esse problema
SaferLab, da ONG Safernet, “o discurso de é humano, e não tecnológico; como
ódio está situado num equilíbrio complexo
os autores de um grande estudo do
entre direitos e princípios fundamentais,
incluindo a liberdade de expressão e a
MIT escreveram em 2018, boatos e
defesa da dignidade humana. De maneira informações falsas atingem tantas
geral, o discurso de ódio costuma ser pessoas e se espalham tão rápido
definido como manifestações que atacam online “porque os humanos, e não os
e incitam ódio contra determinados grupos robôs, são mais propensos a espalhá-
sociais baseadas em raça, etnia, gênero,
las”.15 Somos atraídos por aquilo que
orientação sexual, religiosa ou origem
nacional.”16 nos provoca emoções fortes, como
surpresa, medo, indignação ou repulsa;
O projeto forma jovens de 16 a 25 anos,
esse tipo de conteúdo, portanto,
sobretudo aqueles que não costumam ter
voz, ajudando-os a adotar práticas que acaba sendo o mais comentado e
tornam a internet um lugar melhor. compartilhado.
Entre as boas práticas sugeridas pelo Toolbox
Crie Sua Contranarrativa estão: A melhor solução para
Entenda o contexto É fundamental praticar combater a desinformação
a empatia para entender o contexto do seu
interlocutor. parece estar em nós
Critique argumentos, não pessoas Foque
no conteúdo da mensagem e argumente
mesmos: claramente é
respeitosamente. preciso formar leitores
Aceite divergências Nem toda discussão é
uma briga. Saiba conviver com outros pontos
melhores.
de vista.

SaferLab é o o projeto da SaferNet dedicado


E o que seria um leitor preparado para
a combater o discurso de ódio e equipar os realizar a leitura crítica do ambiente
jovens para que produzam contranarrativas. informacional e midiático? Muitos
Conheça o projeto aqui. especialistas têm argumentado que os
checklists de verificação não só criam um
falso senso de confiança, como tendem
MÍDIAMAKERS PAPERS #2 19

DETETIVES DA IMAGEM

Devo confiar no que vejo? Fotos


também enganam!
Grande parte da informação que recebemos hoje é visual:
memes, stories e imagens que circulam no Whatsapp trazem
informação de forma ágil, mas pouco reflexiva. Mas se é verdade
que uma imagem vale mil palavras, então a mensagem visual
precisa ser tratada com o mesmo olhar crítico que os textos,
pois tem a mesma capacidade de trazer desinformação. Existem
técnicas para investigar a origem e a veracidade do conteúdo
visual. Para saber se uma foto é o que diz ser, observe:

Quando a foto foi usada pela primeira assim for, há uma boa chance de que
vez? Será que ela é mesmo da data eles tenham sido adicionados ou
alegada? Use uma ferramenta de manipulados digitalmente.
verificação como a busca reversa do
Google (abaixo). Procure por distorções ao longo das
bordas de pessoas ou objetos. Estes
Onde foi feita a imagem? Tenha são geralmente fáceis de detectar e
certeza que a foto foi tirada no indicam quando uma imagem foi mal
contexto alegado. Fotos antigas de manipulada.
guerras ou desastres naturais muitas
vezes reaparecem em outro contexto. Faça uma busca reversa no Google.
Basta acessar a busca de imagens
O que as pessoas estão vestindo? (www.images.google.com) e arrastar
Suas roupas se encaixam no estilo do uma imagem para dentro da barra de
país ou na época em que a foto foi busca. Isso permite encontrar imagens
supostamente tirada? semelhantes, sites que incluem
a imagem, e outros tamanhos da
Como está o tempo na foto? Pessoas imagem que você procurou. É possível
com casacos, roupas de calor, neve no também localizar a primeira aparição
solo ouárvores sem folhas são indícios dessa imagem na internet, o que
que ajudam a localizar uma imagem no ajuda a verificar se a data alegada é
tempo e no espaço. verdadeira.

Há evidências do idioma Utilize o TinEye. Acesse a ferramenta


comprovando a localização? Procure no site www.tineye.com para verificar
por sinais de linguagem em placas de onde e quando a imagem foi utilizada,
trânsito, fachadas de lojas e outdoors. mesmo se ela tiver sofrido alterações,
e checar se o contexto é real.
A iluminação é consistente? A direção
das sombras é sempre a mesma? Os
objetos próximos estão iluminados da Dicas compiladas pelo grupo Caçadores
mesma maneira, ou alguns parecem de Balela do primeiro Mediathon Educação
mais apagados ou brilhantes? Se para a Informação.
20 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

QUEM É QUEM NA MÍDIA

Por trás da mídia:


conheça o que você consome
Você sabe de onde vem o jornalismo que você consome? Quem
produz, para quem é feito, como é financiado? Essas perguntas
nos ajudam a entender as diferenças entre os diversos veículos
para que possamos buscar um cardápio variado de fontes de
informação. Uma boa atividade para a sua sala de aula é escolher
uma gama variada de sites e veículos de jornalismo, desde os
maiores até a mídia independente e o jornalismo especializado,
e preencher uma “ficha técnica” de cada um. Além do site de
cada veículo, os alunos podem consultar também o Mapa do
Jornalismo Independente e o Media Ownership Monitor.

Ficha Técnica dos Veículos

Nome (acrescentar
imagem)

O que é?

Propriedade (empresa
privada, empresa pública,
grupo independente)

Com ou sem fins


lucrativos?

Foco do jornalismo (tem


um nicho específico ou é
generalista?)

Como é financiado?

Tem publicidade?

Ligado a algum grupo de


interesse? (político,
religioso)

Ligado a alguma causa ou


organização ativista?

Liberal ou conservador?

Equilibrado ou partidário?

Algo diferente ou original


a respeito do assunto que
cobre, na forma que
investiga ou em que
apresenta a informação?

Copie e adapte esta atividade neste link.

©2019 ​MídiaMakers​ - ​[email protected]


MÍDIAMAKERS PAPERS #2 21

a tornar-se obsoletos. Afinal, é cada vez contexto maior da rede, o que é muito
mais fácil criar um conteúdo falso com mais eficiente.
aspecto e linguagem profissional, e
absolutamente convincente. Para lidar de
forma mais efetiva com esse problema, Qual o nosso papel?
é preciso ensinar aos alunos uma nova
maneira de ler. Se a desinformação pode estar em
qualquer lugar, aprender a “interrogar a
“O estudo de Stanford informação” não deve ser prerrogativa
dos alunos de jornalismo, e sim uma
confirma o que muitos
habilidade transversal que impacta
professores sabem que é o próprio ato de aprender. Ensinar
verdade: os alunos de hoje os alunos a manter uma postura
saudavelmente cética diante da
não estão preparados para informação deve ser prática habitual de
lidar com a enxurrada de qualquer professor da educação básica,
informações que vêm de seja na aula de ciências ou matemática,
para indicar como um gráfico pode
seus diversos dispositivos ocultar os dados relevantes, ou na
digitais.”17 aula de história, para mostrar como a
informação pode ser usada como arma
Uma pesquisa feita em Stanford18 em determinados contextos políticos.19
concluiu que checadores profissionais
costumam avaliar a confiabilidade Para além da escola, é necessário que
dos sites com uma técnica chamada tenhamos consciência do que estamos
“leitura lateral”. Ao invés de analisar consumindo; a melhor prática é buscar
as suas características itrínsecas, uma dieta informacional equilibrada,
como o design, a qualidade do texto feita de fontes confiáveis e variadas,
ou o conteúdo contido no próprio site buscando ampliar nossa visão de
(como a página “Quem Somos”), esses mundo com pontos de vista diversos.
leitores tendem a não gastar muito
tempo alí. Sua estratégia consiste em Finalmente, é preciso entender que
sair rapidamente do site em questão o jornalismo, quando bem-feito, tem
e navegar pela internet, vendo o que custo, e que apoiar o jornalismo
outras fontes confiáveis dizem sobre profissional e pagar pelo conteúdo
ele. Geralmente abrem várias abas que consumimos é essencial para a
no navegador, coletando diferentes circulação de informação confiável.
informações pela Web para obter um Afinal, a imprensa tem um papel
retrato melhor da página que estão fundamental na manutenção da
investigando. O objetivo é entender democracia e de nossas liberdades.
como essa página se relaciona com
outras, e como está posicionada no
22 EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO

NOTAS 15 Science, The spread of true and false news


online
1 Mozilla, Alfabetização Web
16 SaferLab, O que é discurso de ódio
2 Taís Seibt, Quem lê tanta notícia (falsa)?
16 Quartz, In the age of fake news, here’s how
3 Common Sense Media, Fake News: Historical schools are teaching kids to think like fact-
Timeline checkers

4 The Verge, ThisPersonDoesNotExist.com 17 Wineburg, Sam; McGrew, Sarah: Lateral


uses AI to generate endless fake faces Reading and the Nature of Expertise: Reading
Less and Learning More When Evaluating
5 Wikipedia, Viés de confirmação Digital Information, disponível em https://purl.
stanford.edu/yk133ht8603
6 Politize, Checagem de fatos: um novo nicho
no jornalismo 18 Quartz, In the age of fake news, here’s how
schools are teaching kids to think like fact-
7 Taís Seibt, O que é fact-checking e onde checkers
encontrar fatos verificados

8 The Guardian, You thought fake news was


bad? Deep fakes are where truth goes to die

9 Buzzfeed, He Predicted The 2016 Fake


News Crisis. Now He’s Worried About An
Information Apocalypse

10 Valor, Estudo diz que 90% dos eleitores de


Bolsonaro acreditaram em fake news

11 Wired, How whatsapp fuels fake news and


violence in India

12 New York Times, A Genocide Incited on


Facebook, With posts prom Myanmar’s military

13 Estadão, Ministério da Saúde identifica 185


focos de fake news e reforça campanhas

14 Portal Ministério da Saúde, Ministério da


Saúde lança serviço de combate a fake news
Competências gerais
na BNCC do Ensino MídiaMakers Papers
Fundamental:

Competência n* 5: Compreender, Leia também:


utilizar e criar tecnologias digitais
de informação e comunicação de MídiaMakers Papers #1:
forma crítica, significativa, reflexiva Introdução à Educação Midiática
e ética nas diversas práticas
sociais (incluindo as escolares) MídiaMakers Papers #3:
para se comunicar, acessar e Busca e propriedade intelectual
disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas MídiaMakers Papers #4:
e exercer protagonismo e autoria na Criar para aprender:
vida pessoal e coletiva. mídias digitais na escola

Competências específicas Disponíveis em:


de linguagens e suas www.midiamakers.org
tecnologias para o Ensino
Médio:

Competência n* 7: Mobilizar
práticas de linguagem no universo
digital, considerando as dimensões
técnicas, críticas, criativas, éticas
e estéticas, para expandir as
formas de produzir sentidos, de
engajar-se em práticas autorais e
coletivas, e de aprender a aprender
nos campos da ciência, cultura,
trabalho, informação e vida pessoal
e coletiva.
Base Nacional Comum Curricular
Educar para a informação
é educar para a cidadania.

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